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2)
A. DIABETES
I. Definição
II. Importância
IV. Diabetes
V. Farmacologia do diabetes
1. Biguanidas:
Mecanismo de ação:
● Ativação da AMPPK (PTN cinase AMP, estimula a translocação de GLUT4
independente de glicose);
Vantagens:
● Não aumenta a liberação de insulina, diminui a resistência ao hormônio;
Efeitos colaterais:
● Induz pouca perda de peso;
● Sabor metálico;
● Anorexia;
● Diminuição da absorção intestinal de B12;
● Diarreia;
● Náusea;
● Vômito;
Uso:
● 1ª linha no tratamento da DM II;
Exemplos:
● Metformina;
Mecanismo de ação:
● Bloqueio do canal de K+ na célula pancreática, de forma que ocorre a
despolarização pelo acúmulo de carga positiva, e a célula libera mais
insulina;
● Mimetizam ATP;
Vantagens: (Sulfonilureias)
● Secreção de glucagon (não depende de insulina!);
● Diminuição da depuração hepática de insulina (não depende de insulina);
● Tempo de ação curto, para reduzir o risco de hipoglicemia: ideal é usar
antes da alimentação. Evita o pico de glicemia e diminui o risco de
hipoglicemia (t1/2 não é longo);
● Usada em associação com metformina;
● (Sulfonilureias e glinidas): rápida absorção, t1/2 curto;
Efeitos colaterais:
● Bloqueio do canal de K+ em outras células;
● Aumento do peso, pelo efeito anabolizante da insulina;
● Hipoglicemia (promove diretamente liberação de insulina, independente
de ter ou não glicose sendo reabsorvida);
Uso:
● DM tipo II (depende da produção de insulina);
Exemplos:
● (Sulfonilureias): Tolbutamida (1ª geração), Glipizida (2ª geração), Glimepirida
(2ª geração);
● (Glinidas): Nateglinida, Repaglinida;
Mecanismo de ação:
● (Agonista GLP 1): Mimetiza o GLP 1, estimulando a liberação de insulina
pelas células pancreáticas;
● (Inibidor DPP 4): Impede o DPP 4 de agir, aumentando o efeito do GLP 1
nas células pancreáticas;
Vantagens:
● Liberação de insulina dependente de glicose (o efeito é glicose
dependente: GLP 1 só é produzido quando tem glicose), o que diminui os
riscos de hipoglicemia;
● Promovem perda de peso (principalmente agonistas GLP 1);
Efeitos colaterais/desvantagens:
● Caros;
● Não estão disponíveis pelo SUS;
● (Agonistas de GLP 1): só administrados por via subcutânea (seringa ou
caneta), e os demais fármacos, por via oral;
● Pode induzir pancreatite ou câncer de pâncreas;
Uso:
● DM tipo II (depende da produção de insulina);
Exemplos:
● (Agonistas GLP 1): Liraglutida, Exenatida;
● (Inibidores DPP 4): Sitagliptina, Vildagliptina;
4. Glitazonas:
Mecanismo de ação:
● Agonistas do PPAR γ (se ligam ao receptor, formam complexo que vai para
o núcleo e se liga em regiões promotoras do DNA. Em geral, genes
associados ao metabolismo de CHO e LIP);
Vantagens:
● Diminui resistência à insulina no tecido periférico;
● Diminui produção hepática de glicose;
Efeitos colaterais:
● São menos usadas, porque é a classe que mais promove risco de IC, morte
cardiovascular e infarto do miocárdio (principalmente Rosiglitazona);
Uso:
● DM tipo II (depende da produção de insulina);
Exemplos:
● Rosiglitazona, Pioglitazona;
Mecanismo de ação:
● Inibe a recaptação da glicose, diminui a absorção de glicose, e,
consequentemente, a glicemia;
Vantagens:
● Uma vez que o transportador no TCP do néfron é altamente eficaz, esse é
um bom alvo farmacológico;
Efeitos colaterais:
● Risco de infecções no TGU (pela glicose na urina);
● Cansaço;
● Poliúria;
● Perda de peso;
● Desidratação;
● Acidose;
● Caros;
Uso:
● DM tipo II (depende da produção de insulina);
Exemplos:
● Empagliflozina, Dapagliflozina, Canagliflozina;
6. Insulinas:
As insulinas podem ser usadas tanto no diabetes tipo I, quanto no tipo II. Não
dependem da produção do hormônio, diferentemente dos demais fármacos
mencionados.
Podem ser usados análogos, que são insulinas com modificação em algum aa de
cadeia. Pode ser usada insulina de porco em alguns casos.
Existe mais de uma formulação: uma única não é vantajosa, uma vez que a
insulina não é liberada de forma homogênea em todo o organismo. Depende do
momento. E existem técnicas para manipular a preparação. Como exemplo, se
tem os períodos pós-prandial e “resto do dia”. No primeiro, é bom que se tenha
um pico de insulina, uma insulina semelhante à liberação de fase I, mas no
segundo, o ideal é que seja semelhante aos níveis basais ou da fase II de liberação.
Nesse sentido, três formulações merecem destaque:
● Insulina de ação rápida e curta (perto das refeições): insulina zínquica
cristalina regular (insulina humana!), 30-45 min. antes das refeições;
insulina Aspart (análogo, substituição de prolina por ác. aspártico em B28);
LisPro (análogo, substituição de lisina por prolina em B28 e B29);
● Insulina de ação intermediária (dissolução mais gradual): NPH, suspensão
de insulina isófana (insulina + protamina neutra de Hagedom, que une
monômeros e demora tempo para que eles se soltem, o que promove essa
dissolução gradual);
● Insulina de ação longa (início muito lento, pico de ação prolongado e mais
ou menos plano): Detemir e Glargina;
De todas elas, qual seria a mais ideal? Um “pâncreas artificial”, que ainda não
existe. O que existe é um detector de glicemia na pele, que tem uma bomba
acoplada e que libera insulina de acordo com as necessidades captadas pelo
detector e mimetizando, ao máximo, o cenário fisiológico. Com relação ao que já
se tem, associar uma formulação de ação rápida com outra de ação mais
prolongada é interessante. E o efeito é que a insulina tende a normalizar,
aproximar do fisiológico. A longo prazo, seu uso tende a reverter as alterações que
estão causando resistência à insulina. Existe também a via nasal de administração
(Afrezza - inalável, efeito rápido, mas não se sabem os efeitos de uso crônico).
No caso da DM gestacional, a metformina pode ser usada, insulinas também,
mas com mais restrições.
Existem diferentes formulações:
Posologia:
● Via IV, IM ou subcutânea. 1 unidade = quantidade de insulina necessária
para reduzir o nível de glicemia de jejum do coelho para 45 mg/dL;
● Existem esquemas de aplicação:
Efeitos colaterais:
● Hipoglicemia (sintomas primários: ansiedade, fome, tremor, sudorese,
palpitação): tratamento leve, ingerir glicose; grave, injetar glicose e/ou
glucagon;
● Edema;
● Lipoatrofia e lipohipertrofia;
B. OBESIDADE
1. Anfetaminas:
Mecanismo de ação:
● Estimula a atividade autonômica do SNC: libera NOR, estimula ativação
simpática. À medida que promove atividade autonômica, promove lipólise
e age no SNC (centro de controle do apetite), promovendo sensação de
saciedade.
● SNDRA (serotonin-noradrenaline-dopamine-releasing-agents):
recompensadores e reforçadores, facilitação do efeito de monoaminas
(melhorador físico, cognitivo,
Desvantagens:
● Efeito passa com o tempo:
Pelo que se vê no gráfico, no início a perda de peso é relativamente rápida, mas
isso vai se estabilizando. Quanto à magnitude do efeito, é de 10%, e vários
fármacos são assim, apenas 10% de perda de peso em relação ao início (100 para
90kg).
Ou seja, lidar com obesidade não é fácil! As medidas não farmacológicas
desempenham aqui um papel fundamental! O fármaco pode motivar, mas 10% é
muito pouco! Leva tempo, emagrecer é difícil!
Efeitos adversos:
● Potencial de abuso;
● (Sibutramina): SCOUT (Sibutramine Cardiovascular Outcomes), estudo
realizado que relacionou sibutramina com maior risco cardiovascular. Por
causa disso, outros países baniram a droga, mas no Brasil ela ainda é
permitida. Predispõe à cardiopatia isquêmica.
Uso:
● Obesidade;
● TDAH
Exemplos:
● Sibutramina, Fentermina, Mazindol, Femproporex, Efedrina; (banidos no
Brasil, exceto a Sibutramina)
Mecanismo de ação:
● Inibe lipases, impedindo a clivagem das cadeias de lipídeos, o que resulta
em menor absorção de gordura. É um inibidor irreversível das lipases
gastrointestinais que hidrolisam triglicerídeos em monoacilgliceróis e
ácidos graxos, promovendo sua excreção. “Novo milagre para a obesidade”
na época, hoje não se fala mais tanto dele;
Vantagens:
● Nem precisa ser absorvido para atuar: age no lúmen, nas lipases liberadas.
Por conta disso, não tem efeitos (nem mesmo colaterais!) centrais, só locais.
Se liga covalentemente no sítio ativo da serina das lipases gástrica (10-30%)
e pancreática (50-70%) e salivar (influência mínima);
● A depuração do fármaco se dá, principalmente, pelas fezes. Uma
porcentagem pequena é eliminada pelos rins, em virtude da pequena
absorção;
● Cerca de 30% das gorduras ingeridas atravessam o tubo sem serem
digeridas e absorvidas;
● É administrado antes ou junto com a refeição;
Efeitos adversos:
● Esteatorreia;
● Flatulência;
● Incontinência fecal;
● Baixa absorção de vitaminas lipossolúveis;
Uso:
● Obesidade;
Exemplos:
● Orlistate;
3. Agonistas GLP 1:
Mecanismo de ação:
● Reposicionamento! Agem em GLP 1 (semelhança estrutural com
glucagon), promovendo liberação de insulina, saciedade, inibindo o
esvaziamento gástrico (GLP 1 é um neurotransmissor central que promove
isso):
Vantagens:
● Cardioprotetor (no caso de obesos com IC, é benéfico);
● Neuroprotetor;
Efeitos adversos:
● Caros;
● Não estão disponíveis pelo SUS;
● (Agonistas de GLP 1): só administrados por via subcutânea (seringa ou
caneta), e os demais fármacos, por via oral;
● Pode induzir pancreatite ou câncer de pâncreas;
Uso:
● Obesidade, DM tipo II;
Exemplos:
● Liraglutida (pode ser 2 administrações diárias), Semaglutida (1 vez na
semana, subcutânea; agora, via oral!);
● O nome comercial para diabetes e obesidade muda, mas é o mesmo
fármaco!;
OBS.: cuidado com o gráfico! Aquela perda de 10% vale para todos eles, mas
mudar a escala do gráfico pode ter efeitos visuais que enganam:
Parece que muda muita coisa, que uma linha está bem distante da outra, mas é
apenas 10%!
4. Combinações:
I. Fisiologia
Quanto ao transporte em si, existem duas vias: a via endógena e a via exógena.
Antes disso, é preciso ter presente que todas as lipoproteínas são formadas,
metabolizadas e depuradas. A via exógena se inicia com a ingestão de LIP pela
dieta. A partir das micelas, a gordura presente na luz intestinal é internalizada
pelos enterócitos pelo transportador NPC1L1 (PTN 1 semelhante a Niemann-Pick).
Esses lipídeos Ela transporta lipídeos da dieta para a periferia e o fígado. Vitaminas
lipossolúveis, triglicerídeos, colesterol da dieta e da bile compõem o quilomícron
(QM), que é formado no enterócito, alcança o ducto torácico, passa pela circulação
sistêmica e depois é metabolizado pelo fígado. Ele contém ApoE, ApoB48 (em
torno da qual os lipídeos são armazenados) e ApoC2. Os QM, nos tecidos muscular
e adiposo, que secretam a enzima lipase lipoproteica, sofrem ação dela, que
hidrolisa triglicerídeos e tira AG do centro hidrofóbico, com a ajuda da sua
cofatora (vão saindo e entrando no tecido como fonte de energia -músculo- ou
síntese de triglicerídeos -tecido adiposo-). No diabético (tipo I ou II sem insulina),
essa enzima não funciona bem, o que pode levar a uma hipertrigliceridemia. O
QM, hidrolisado pela lipase lipoproteica, se torna QMr (remanescente de QM,
aquele que perdeu grande parte do teor de triglicerídeo do seu centro
hidrofóbico) , e eles são rapidamente retirados da circulação pelo fígado, pela
interação ApoE (a concha externa do QMr permanece igual à do QM) com o
receptor de ApoE na membrana do hepatócito. As HDLs podem atuar como
doadoras ou aceptoras de PTNs… HDLs nascentes/pré-HDLs são aceptoras, de
forma que o QMr, ao interagir com elas, perde fragmentos da sua concha externa,
principalmente aquelas com uma região hidrofóbica pequena, que é o caso da
ApoC2. Perde ApoC, perde capacidade de metabolização intravascular, precisa ser
depurada! Esse raciocínio se repete mais vezes! Isso é relevante também porque a
HDL é parcialmente constituída do excesso de concha externa perdida pela VLDL
e IDL, mas também de QM, durante sua hidrólise pela lipoproteína lipase (LPL),
lipase lipoproteica. Consequentemente, no caso de uma hipertrigliceridemia, no
caso da diabetes, se não se tem a retirada dos triglicerídeos do centro hidrofóbico
dos QMs, não se tem continuidade do processo, não se tem fragmentação da
concha externa, e se reduzem os níveis de HDL (hipertrigliceridemia e baixa de
HDL estão relacionadas). O fígado endocita o QM via receptor de
remanescente/receptor de ApoE, para depuração, e tem início a via endógena.
Antes disso, se tem a liberação da gordura dietética no fígado, de vitaminas, para
que sejam distribuídas por todo o organismo, passando a constituir o pool
hepático de LIP dos hepatócitos.
A via endógena é aquela que transporta LIP hepáticos para a periferia. A PTN
MTP (proteína microssomal de transferência de triglicerídeos) promove a
lipidação, que é a aglomeração do pool hepático de gordura em torno da ApoB
(dessa vez, apoB100, sintetizada no fígado). A PTN MTP é mais ativa com AG
saturado, mais do que colesterol! Por isso, reduzir o consumo de gordura saturada
é importante, através do consumo de frutos do mar, por exemplo, que são ricos
em colesterol mas têm pouca gordura saturada). Forma-se, assim, a VLDL, a
principal enzima que sai do fígado. A VLDL vai para os mesmos capilares de onde
veio o QM, e acontece o mesmo (é degradada pela LPL, nos tecidos adiposo e
muscular, perde seus triglicerídeos e parte da concha externa é fragmentada, se
tornando HDL nascente). A VLDL contém ApoE, ApoC2 e ApoB100, principalmente.
O restante, o remanescente tem aumento na densidade e redução no diâmetro, e
se torna uma IDL=remanescente de VLDL. A quantidade de colesterol e
triglicerídeos é quase a mesma (os triglicerídeos são removidos pela LPL, o
colesterol não). A VLDL não é capaz de se ligar ao receptor B/E, nem ao receptor
de remanescente, por mudanças conformacionais nas apoproteínas B e E. Com o
IDL, é diferente. A partícula tem dois caminhos:
I. Ser recaptada pelo fígado como as demais, via receptor de
remanescente/receptor de ApoE ou receptor de LDL/receptor B/E;
II. Como a produção de IDL é grande, nem tudo é recaptado. Ela pode sofrer
um catabolismo adicional, modificações mediadas pela HDL. Essas
modificações incluem a perda de ApoE para a HDL, e a perda do colesterol.
Essa última se dá pela ação da enzima CETP (proteína de transferência de
colesterol esterificado), que transfere ésteres de colesterol presentes no
centro hidrofóbico da IDL em troca de triglicerídeos do centro hidrofóbico
do HDL (o destino dessas partículas é ser depuradas, ou seja, HDL está
eliminando colesterol por esse mecanismo). Ou seja, faz IDL perder
triglicerídeos, apoE, e ganhar colesterol, se tornando uma LDL (muito
colesterol + só ApoB100= LDL);
A LDL, por sua vez, é fruto de uma ação mais longa. Poucas vezes ela é
secretada! Por isso, se como muita gordura saturada, secreto muita VLDL, formo
mais IDL e LDL. A LDL=remanescente de IDL, e é a principal transportadora de
colesterol na circulação. Transporta para os tecidos extra-hepáticos, que contém
receptor para LDL na membrana, que reconhece a PTN ApoB100 (receptor LDL ou
receptor B/E). Esse receptor está presente também nos hepatócitos, mas também
são abundantes em outras células do organismo, ao contrário do receptor E, que é
mais abundante nos hepatócitos. Esse transporte é eficaz porque os receptores de
LDL estão saturados, no fígado, pelo IDL, de forma que ele fica disponível para os
tecidos periféricos e é captado por eles. A síntese endógena de colesterol gasta
ATP, de forma que é mais fácil “pegar” o colesterol pronto.
Com relação à HDL, a nascente pode ser sintetizada no fígado ou intestino, ou
são parcialmente constituídas a partir da fragmentação das conchas externas de
outras lipoproteínas ricas em triglicerídeos (QM, VLDL, IDL). Contém ApoA1, ApoE,
ApoC2. O fígado sintetiza a pré-β-HDL, que contém pouco colesterol e
fosfolipídios, enfim, pouco LIP no cerne, e, por isso, pode receber. Vai captando,
até que se torne madura (α-HDL). Ela vai captando as proteínas e se formando.
Faz o transporte reverso de colesterol: retira colesterol livre (sempre livre, nunca
esterificado) das células ou mesmo das placas de aterosclerose (por isso é
protetor) através da ação de uma PTN de membrana. Uma PTN importante nesse
processo é a PLTP (PTN de transferência de fosfolipídios): ela é ubiquamente
expressa em tecidos animais, e tem como função a transferência de fosfolipídios e
colesterol (efluxo de lipídeos), das células para lipoproteínas. Tem função sozinha,
mas quando associada a um transportador específico, associado a HDL, tem sua
função máxima. Esse transportador é o ABCA1 (transportador A1 cassete de ligação
ao ATP), que usa ATP como fonte de energia (é controlador limitante da taxa de
efluxo do colesterol livre para ApoA1, do HDL). Para que não se perca, esse
colesterol transferido é esterificado, o que acontece por ação da enzima LCAT e
seu cofator, doa grupo acil (AG) para reação. Esse colesterol tem dois destinos:
pode ser transferido para IDL, formando LDL, ou então voltar para o fígado, via
receptor SRB1 (não é endocitado! O que o fígado faz é retirar o colesterol do HDL,
esvaziando: a isso se chama transporte reverso do colesterol). Esse é o único
processo pelo qual o colesterol livre dos tecidos periféricos é transportado para o
fígado para o metabolismo ou excreção. Se o HDL retira colesterol em excesso, por
que transferir para LDL e voltar para a circulação? Colesterol é de origem animal,
era difícil de conseguir! É um atalho: tira de 1 tecido, vai para o outro que precisa
mais. Senão, teria que tirar, virar VLDL, passar todo o processo, e então ser
transferido. HDL pode entregar colesterol para a superfície, mas a probabilidade
de isso acontecer é baixa.
Alguns aspectos importantes: lipoproteínas com ApoC estão majoritariamente
entregando LIP para a periferia. Lipoproteínas sem ApoC, com apoB e apoE, estão
sendo depuradas pelo fígado. Quais as lipoproteínas que mais permanecem no
plasma? IDL ou LDL? LDL! IDL tem ApoB e ApoE, enquanto LDL tem apenas
apoB. Ela pode ser depurada! (por isso, existem faixas saudáveis! Ela é,
inevitavelmente, formada!), mas demora mais para que essa depuração ocorra, t1/2
plasmático é maior, a depuração por LDL-R é menor.
Com relação ao receptor LDL-R, ele está presente na superfície das células, e
forma regiões específicas, invaginações, domínios cobertos por clatrina. Quando a
lipoproteína se liga ali, e se forma uma vesícula com receptor + LDL. A clatrina sai,
forma-se um endossoma, e o receptor de LDL é reciclado, volta para a superfície.
O endossoma contendo LDL, ApoB100 e demais componentes se funde com o
lisossoma, as enzimas lisossomais degradam o LDL, liberando aa e AG livre. O
colesterol também é liberado na forma livre, mas o excesso de colesterol rompe a
membrana, extravassa. Por conta disso, esse colesterol livre é esterificado pela
enzima ACAT (acil-CoA-acil transferase), enzima que usa AG para esterificar
colesterol, e assim ele é armazenado (muito colesterol livre na célula estimula
enzima ACAT, que esterifica o excesso). Existe outra coisa que o colesterol em
excesso faz que é o feedback negativo da síntese endógena do colesterol pela
célula. A síntese do colesterol é um processo complexo e que envolve múltiplas
etapas e múltiplos substratos. A etapa limitante envolve a enzima
HMG-CoA-redutase, que converte HMG-CoA em ácido mevalônico (etapa
limitante porque tem sítios suscetíveis, tem múltiplos mecanismos de controle,
reguladores da síntese). Um terceiro mecanismo envolve fatores nucleares do
colesterol, que impedem a expressão do mRNA do receptor de LDL. Ou seja, por
conta dos 3 mecanismos (captação externa cai, síntese cai, e armazenamento),
praticamente não existe colesterol dentro da célula… o problema é fora dela!
Um último detalhe é o que se refere à Ox-LDL. Se a LDL atinge níveis altos, se
acumula no espaço intravascular, e pode ser oxidada. É potencialmente
aterogênica, porque é prontamente capturada por macrófagos que podem
conduzir à aterosclerose.
Por fim, existe uma PTN produzida pelo fígado, a PCSK9, que se liga ao complexo
LDL/LDL-R (na vesícula) e induz a degradação do receptor. Ou seja, quanto
maiores os níveis dessa PTN, maior a velocidade de degradação do receptor. É
uma PTN circulante, que tem afinidade pelo receptor LDL. Compete com ApoB e
ApoE, e, além disso, é endocitada, aumentando a degradação de LDL-R como
mencionado. Algumas pessoas têm ganho de função da PCSK9, e consequente
hipercolesterolemia primária.
II. Dislipidemias
Outro escore que se usa é o de Fredrickson, que era muito usado, mas foi
abandonado pela pouca colaboração para a decisão terapêutica. Quanto às
consequências, xantomas/xantelasmas (acúmulo de lipídeos na pele ou tecido
subcutâneo), arco senil (acúmulo de lipídeos na periferia da córnea), além de
pancreatite aguda (hipertrigliceridemia), doença arterial coronariana e déficit
neurológico (abetalipoproteinemia, caracterizada pela ausência de apoB no
plasma, em função da inabilidade de fazer sua síntese; e analfalipoproteinemia,
pela inabilidade de sintetizar apoA). Os três últimos são mais raros.
III. Tratamento
1. Estatinas
Aspectos históricos:
● Maior faturamento da história da indústria farmacêutica;
● Primeiro foi descoberto o colesterol; aí, a Compactina foi isolada do fungo
do arroz, e reduz o colesterol; aí, a proposta foi que reduz também em
humanos! Mas, foi retirada de mercado (uma delas, a Cerivastatina), porque
tem risco de miopatia;
Vantagens:
● Primeira escolha: modo primário para terapia da maioria das
hiperlipidemias;
● Usada como prevenção primária e secundária (já teve evento isquêmico,
placa aterosclerótica);
● Alta eficácia (reduz LDLc) e boa segurança (poucos efeitos colaterais);
● Efeitos pleiotrópicos (“aquilo que o fármaco faz fora da ação central dele”,
que é reduzir o colesterol, no caso): melhora a disfunção endotelial, é
antiaterosclerótica -evita a ruptura plaquetária, a formação do trombo,
mantém a estabilidade -, inibe a agregação e ativação plaquetária, ou seja,
o efeito não se limita à redução de colesterol;
Mecanismo de ação:
● Inibidores competitivos reversíveis específicos da HMG-CoA redutase
(enzima chave para síntese endógena, etapa limitante da síntese de
colesterol pela célula);
● Inibe conversão de HMG-CoA (3-hidroxi-3-metilglutaril) em mevalonato,
porque têm estrutura parecida com substrato da enzima: o baixo colesterol
intracelular estimula a síntese de receptores de LDL, de partículas com
ApoB e ApoE -up-regulation-, retirando LDL da circulação. Além disso, o
baixo colesterol diminui a secreção de VLDL;
Farmacocinética:
● Via oral;
● Horário de administração relacionado ao t½: curto, administração noturna,
porque a síntese de colesterol é máxima à noite (varia de 2 horas
-sinvastatina-, até 19 horas);
● Efeito observado dentro de 2 semanas;
● Lovastatina e Sinvastatina são pró-fármacos;
● Fluvastatina pode interagir com Varfarina;
● A maioria é metabolizada pelo fígado. No caso de problemas hepáticos,
existem duas alternativas, que são metabolizadas de outra maneira:
Pravastatina e Rosuvastatina;
Exemplos:
● Sinvastatina/Zocor: protótipo, componente básico do SUS, RENAME,
Relação Nacional de Medicamentos que são contemplados pelo SUS;
● Atorvastatina/Lipitor: componente especializado do SUS;
● Lovastatina/Mevacor: componente especializado do SUS;
● Fluvastatina: componente especializado do SUS;
● Pravastatina: componente especializado do SUS;
2. Ezetimiba
Mecanismo de ação:
● Inibe NPC1L1 (PTN-C1 semelhante a Niemann Pick) nos enterócitos, o
transportador da borda em escova, atua mais na formação de QM;
○ Diminui a absorção de colesterol, diminui a quantidade de colesterol
que chega no fígado pela via exógena, o pool hepático de colesterol,
o que aumenta a expressão celular de LDL-R mas pode levar a um
aumento compensatório na síntese endógena de
colesterol(HMG-CoA redutase), que faz LDLc aumentar novamente;
● Solução? Associar com estatinas! Muitas vezes, a própria estatina não
promove a queda de LDL que se esperava. Nesse caso, a sua associação
com ezetimiba é sinérgica (mais que a soma dos efeitos): se diminui a
entrada de colesterol, o que está chegando de fora, pela ezetimiba, e se
diminui também a síntese endógena, pela estatina;
3. Resinas catiônicas
Mecanismo de ação:
● Inibem a reabsorção de sais biliares: aumentam a síntese de sais biliares
pela vesícula, o que consome o colesterol, e aumentam a captação
hepática de colesterol, pelo aumento da expressão de LDL-R;
● Superexpressão da enzima que sintetiza ácidos biliares à partir de
colesterol (colesterol 7α-hidroxilase);
Vantagens:
● Moléculas grandes (não são absorvidas pelo intestino): não têm efeitos
sistêmicos;
Reações adversas:
● Desconforto GI: constipação, náusea, flatulência, azia)
Uso:
● Administrados de 1 a 4 horas antes da refeição, porque têm que estar no
intestino no momento do esvaziamento biliar, quando os sais biliares são
liberados na luz intestinal;
● O pó deve ser misturado com 120 a 180 mL de água, suco de fruta, sopas,
mas nunca engolido a seco;
● Suspensões previamente preparadas reduzem os efeitos colaterais GI;
● Podem diminuir a absorção de qualquer fármaco absorvido pela via oral,
por isso outros fármacos devem ser administrados de 1 a 3 horas depois;
Exemplos:
● Colestiramina: pó higroscópico e insolúvel;
● Colestipol: pó higroscópico e insolúvel;
● Colesevelam: gel insolúvel em água;
4. Fibratos
Mecanismo de ação:
● Agonistas do PPAR-α (receptor alfa ativado pelo proliferador de
peroxissoma), que se liga ao DNA-PPRE (elementos responsivos ao
proliferador de peroxissomas), que se liga ao fator transcricional, que regula
a expressão gênica: (não é o PPAR-γ da DM!!!!!)
○ Estimula a síntese de ApoA1, ApoA2 nos hepatócitos, aumentando a
HDL plasmática;
○ Reduz a síntese de ApoC3 nos hepatócitos e aumenta a expressão da
LPL nos leitos vasculares dos músculos, o que aumenta a captação
de AG nas células musculares e a oxidação de AG nessas mesmas
células, reduzindo o TG plasmático;
○ Aumenta a oxidação de AG nos hepatócitos, reduzindo a síntese, e,
consequentemente, os níveis plasmáticos de TG;
Vantagens:
● Primeira escolha para hipertrigliceridemias;
● Primeira escolha para aumentar HDL, junto com niacina;
Reações adversas:
● Náusea, vômito, diarreia, dispepsia, mialgia;
● Aumento do risco de miopatias, em associação com estatinas;
● Aumento da excreção biliar de colesterol, que pode levar a cálculos biliares;
Exemplos:
● Genfibrozila: RENAME;
● Fenofibrato: RENAME;
● Bezafibrato;
● Etofibrato;
5. Niacina/Ácido nicotínico/Vitamina B3
Vantagens:
● Fármaco mais eficaz para promover aumento de HDL (provavelmente, por
ação na CEPT);
● Primeira escolha para aumentar HDL, junto com fibratos;
Reações adversas:
● Rubor e prurido cutâneo: dependente de prostaglandinas, que cessam
com o uso de AAS (AINE). Mas, esse efeito está sujeito à taquifilaxia, de
modo que passa ao longo do tempo, permitindo retirar o AINE:
○ Fosfolípides são convertidos pela PLA2, fosfolipase A2, em ácido
araquidônico, AA, que pela ação das ciclooxigenases 1 (constitutiva) e
2 (induzível), COX1 e COX2, é convertida em prostaglandinas e
tromboxano A2, e pela ação das lipooxigenases, é convertido em
leucotrienos;
○ O ácido nicotínico interage com o receptor GRP109A, aumenta os
níveis de cálcio e estimula a entrada de cálcio e a ativação da nos
vasos, o que promove a vasodilatação responsável pelo rubor;
○ AAS inibe a COX1 e a COX2, evitando a conversão do AA em
prostaglandinas e a vasodilatação causada por elas;
● Desconforto GI;
● Miopatias (rara em monoterapia, mais quando associada à estatinas);
6. Inibidores da PCSK9
Mecanismo de ação:
● Inibem a PCSK9, que marcam LDL-R para degradação, o que aumenta a
meia vida do receptor (ao invés de 12 horas, fica 18 horas na membrana),
aumentando a capacidade de retirar LDL da circulação;
Uso:
● Pacientes com risco cardiovascular elevado, tratados com estatinas,
associado ou não a ezetimiba, que não tenham alcançado metas de LDLc
ou não HDLc;
Exemplos:
● Alicorumabe: Ac anti-PCSK9; injeção subcutânea que é dada a cada 2
semanas);
● Evolucumab: Ac anti-PCSK9; injeção subcutânea que é dada uma vez ao
mês;
D. TGI
I. Fisiologia
1. Úlcera péptica:
Fatores protetores:
● Muco;
● Prostaglandinas;
Antagonistas H2:
● Mecanismo de ação: inibem a secreção ácida estimulada pela histamina.
Bloqueio do receptor H2.
● Vantagens: segunda escolha para quem não pode tomar inibidor da
bomba de prótons; primeira escolha no caso da gravidez, porque são bem
seguros (exceto a cimetidina, que bloqueia receptores androgênicos na
dose farmacológica, é antagonista de receptor androgênico, o que pode
desenvolver ginecomastia em homens, por exemplo); via oral;
● Desvantagens/efeitos adversos: não é bloqueio covalente, é reversível (fluxo
grande de histamina desloca do lugar); aumento rebote da secreção de
gastrina -se para de tomar o remédio, vai ficar pior do que antes, pelo
aumento no número e na atividade das células G; diarreia, tontura, dor
muscular, erupções cutâneas transitórias;
● Exemplos: cimetidina, famotidina, ranitidina, nizatidina;
Antiácidos:
● Mecanismo de ação: aumentam o pH do lúmen (HCl + base -o antiácido!- =
sal + H20);
● Vantagens: efeito local, não tem receptor;
● Desvantagens/efeitos adversos: secreção ácida rebote;
● Exemplos: hidróxido de alumínio (Al(OH)₃/sal produzido: AlCl3), que pode
causar constipação e acumular, pela depuração difícil; hidróxido de
magnésio (Mg(OH)2/sal produzido: MgCl2), que pode causar efeito laxativo;
a indústria, hoje, combina esses dois últimos. Além deles, bicarbonato de
sódio (NaHCO3/sal produzido: NaCl + CO2) e carbonato de cálcio (CaCO3/sal
produzido: CaCl2);
Antieméticos:
● Vômito: resposta defensiva do organismo para eliminar material tóxico ou
irritante (bactérias, fármacos citotóxicos, liberação de mediadores nas
células ECL e ativação de fibras eferentes vagais). O controle é feito pela
zona do gatilho quimiorreceptora (quimiorreceptores, receptores D2 e
5-HT3), TGI (mecanorreceptores, quimiorreceptores, 5-HT3), centro do
vômito (H1 e M1) e sistema vestibular (H1 e M1). O reflexo inclui respostas
parassimpáticas e atividade motora eferente, (contração do TGI é
necessária);
● Antagonistas H1: ação no núcleo vestibular e no centro do vômito. Uso em
cinetose (“(...) o resultado de uma incompatibilidade entre o movimento
que se enxerga e a sensação percebida pelos ouvidos, mais
especificamente pelo aparelho vestibular”, é o enjoo de movimento, “(...)
uma perturbação no reconhecimento do movimento feito pelo sistema
vestibular, pois o corpo está parado, mas o ambiente está em movimento,
gerando conflito de informações e perturbação do equilíbrio corporal”).
Efeitos colaterais são sonolência e sedação (com cinarizina e ciclizina,
menos), e alguns exemplos desses fármacos: cinarizina, ciclizina, meclizina,
dimenidrinato -Dramin-, prometazina -fenergan-;
● Antagonistas muscarínicos: ação antiemética relacionada com ação no
núcleo vestibular e centro do vômito. Exemplos: escopolamina (hioscina),
buscopan que é muito usado para cólicas. Usada em cinetose, e como
efeitos colaterais, tontura, amnésia, e efeitos relacionados aos receptores
muscarínicos:
○ (lembrar que M1, M3 e M5 estão acoplados à PTN Gq, e M2 e M4, à PTN
Gi): M1, M2, M4 e M5 estão em neurônios do SNC, mas tem mais M1 e
M5, M2 tem pouco e M4 mais ou menos, ou seja, prevalece a inibição
dos dois primeiros, a depressão do SNC, o que leva ao relaxamento
da musculatura lisa, dilatação de ureteres, alívio de broncoespasmo.
Além disso, reduz secreção glandular (M3 lá, ou seja, causa boca
seca), relaxa a musculatura ciliar e da íris (aumenta pressão
intraocular, porque se relaxo a musculatura, o caminho para drenar o
humor aquoso da câmara posterior, onde ele é produzido, para a
câmara anterior, onde se localiza o canal de Schlemm, fica mais
estreito. Se uso pilocarpina, agonista muscarínico, estimulo a
contração dessa musculatura e facilito a drenagem), diminui a
contração do TGI e TGU (retenção urinária);
● Antagonista de receptores 5-HT3: ação na zona de gatilho quimiorreceptora
e nas terminações do nervo vago no TGI. Uso em náusea e vômito
pós-operatório, ou causado por radioterapia/agentes citotóxicos. É bem
tolerado, e exemplos dessa classe são: ondansetrona, granisetrona,
tropisetrona, dolasetrona;
● Antagonistas de receptores de dopamina (D2): ação na zona de gatilho
quimiorreceptora, e nas terminações do nervo vago no TGI. Mesmo uso que
a classe de cima. Efeitos adversos: sedação, hipotensão, efeitos
extrapiramidais -distonias e discinesia tardia-. Exemplos: metoclopramida
(plasil), domperidona, clorpromazina, ferfenazina, proclorperazina,
trifluoroperazina;