Você está na página 1de 8

“O que caracteriza a economia política bur Enquanto que o Direito Econômico visa

guesa é que ela vê na ordem capitalista não uma apu rar assuntos que interessem à ordem
fase transitória do progresso histórico, mas a jurídica econômica – inclusive
forma absoluta e definitiva da produção social”. constitucionalmente prevista, como na
(Karl Marx) Constituição da República Federativa do
Brasil de 1988 (artigo 170 e se guintes) – a
Economia Política vêm a ater-se em alçada
social e nos institutos que incidem
1 Notas introdutórias diretamente por sobre a ordem política de
um grupo de pessoas, transpassando por
O desenvolvimento econômico das diver estudos acerca da Sociologia e Filosofia
sas sociedades ao longo do mundo, em (bem como das ideias dos principais
muitos pontos, se expressa análogo, tendo pensadores de cada uma destas
em vista as formas e/ou procedimentos disciplinas), que estruturam fun
utilizados para o crescimento efetivo dos damentalmente o complexo aparato social.
grupos sociais em sua política e nas No moderno pensamento de construção
relações de poder entre as órbitas internas e científica não se admite mais uma forma
até mesmo internacionais destes, estanque de se criar ramos autônomos em
repercutindo no plano constitucional das absoluto sem que haja pontos de tangência
diferentes ordens econômicas e dos siste de uma área formalmente posta (positivista,
mas financeiros que expressam e compõem ou escrita), como é o Direito Econômico,
os Estados efetivamente constituídos, com uma outra área de desígnio
conforme se entende da sua instituição, sob propedêutico (subjetivista), como é a
a Teoria Geral do Estado (Território, Povo, Economia Política. Assim sendo, no que
Governo e Soberania). diz respeito à estrutura dicotômica Direito
Segundo estudos, há tempos já elabora x Economia, tem-se que
dos, se aceita que as Ciências Econômicas contemporaneamente ambos os campos
apresentam-se com tamanha abrangência conglobam um sistema mais complexo (e
que acabam abarcando uma série de outras completo) da análise de inserção das
ciências correlatas a ela – nas áreas sociais Ciências Econômicas no planisfério legal
aplicadas e humanas, precipuamente – por das Ciências Jurídicas.
fazer frente a um fator primordial de cres Contudo, é foco do artigo em questão a
cimento de determinada sociedade, qual investigação em apartado do Direito Eco
seja, uma economia próspera que supram nômico e da Economia Política a título de
as necessidades deste determinado grupo ilustração das características peculiares que
de indivíduos. Dessa forma, a inserção do expressam, assim como a gênese e base
segmento econômico em campos bastante conceitual originárias de cada uma, para, ao
delineados como o Direito e a Política, em final, elaborar uma linha de pensamento
certo, seria inevitável, o que faz surgir rami onde efetivamente os mesmos se inter-
ficações tais quais aquelas investigadas no relacionam, na hodierna maneira de se
presente trabalho: o Direito Econômico e a estudar tais ramos econômicos.
Economia Política.
Muito embora o núcleo temático de ambas
se apresente o mesmo (Teoria das Ciências 2 O direito econômico
Econômicas), cada qual padece de peculiari
dades que delineiam suas finalidades 2.1 Breve análise histórica
básicas.
Luiz Fernando Vescovi Ao que dispõe acerca do marco histórico
que faz frente ao surgimento do ramo do
Di-
56 PERSPECTIVA, Erechim. v.34, n.126, p. 55-72, junho/2010
O DIREITO ECONÔMICO E A ECONOMIA POLÍTICA: UMA INTERDISCIPLINARIDADE NECESSÁRIA

reito Econômico, bastante dificultoso é loca PERSPECTIVA, Erechim. v.34, n.126, p. 55-72, junho/2010
de Weimar (1919), instituindo a Primeira
lizar o momento exato (como evento
República Alemã, com o término do
inicial) deste, vez que o complexo aparato
temeroso período da Primeira Guerra
jurídico, nos ordenamentos econômicos,
Mundial. Ainda, afirma que tal
nasce con comitantemente com a estrutura
Constituição – juntamente com aquelas
econômica propriamente dita (Economia
outras inspiradas e sucedidas por esta –
Aplicada) e
com maior frequência após o período da
política de um determinado Estado. Dos
Segunda Guerra Mundial (1939-1945) é que
ensinamentos de Celso Ribeiro Bas tos, efetivamente contribuíram para a inserção e
extrai-se que o período de marco desen consolidação deste ramo do Direito, por
volvimentista do Direito Econômico como tratar de assuntos concernentes à Economia
uma composição jurídica afim de regular a em sentido jurídico, preocupando-se com a
intervenção estatal na Economia conota do normatização constitucional que inter-rela
momento pós-Primeira Guerra Mundial cionava (e inter-relaciona até hoje) o Direito
(1914-1918), especificamente quando da à Economia e aos assuntos de ordem social,
noção trazida de Estado do Bem-Estar por meio de expressões tais como: “ordem
Social (Welfare State) (BASTOS, 2003, p. jurídico-econômica, ordem econômica e so
51). A tí tulo de esclarecimento, tal cial, ordem econômica e ordem econômica
movimento, “tam bém conhecido como e financeira” (BAGNOLI, 2006, p. 15).
Estado-providência é um tipo de
Indiferente o marco nevrálgico
organização política e econômica que
destinado ao inicio do Direito Econômico
coloca o Estado (nação) como agente da no mundo, percebe-se que relevante é a sua
promoção (protetor e defensor) social e alocação junto ao domínio da Economia,
organizador da economia. Nesta orientação, por parte do Estado, às atividades
o Estado é o agente regulamentador de toda peculiares daquela. O desenvolvimento do
vida e saúde social, política e econômica do pensamento econômico se fez de tamanha
país em parceria com sindicatos e empresas monta a aquiescer textos constitucionais de
privadas, em níveis diferentes, de acordo todo o globo para uma forma
com a nação em questão. Cabe ao Estado intervencionistamente relativizada, isto é,
do Bem-Estar Social garantir serviços retirando o absolutismo exacerbado deste
públicos e proteção à população” das mãos do Estado e dando respaldo ao
(WIKIPÉDIA. Estado de Bem-Estar Estado Democrático de Direito, por meio
Social). da livre-concorrência à ordem econômica
Entretanto, ao que dispõe Vicente Bag de uma nação, enraizando de vez um Di
noli, sua gênese dar-se-ia sob outro prisma, reito Econômico efetivo e eficaz desde sua
levando-se em consideração uma gama de concepção como subespécie jurídica até o
situações atreladas, principalmente a aconte momento atual.
cimentos junto à crise do direito tradicional,
bem como das Grandes Guerras Mundiais
2.2 Base conceitual
que assolaram o mundo, ou mesmo a inter
venção estatal no domínio econômico Em que pese a estrutura de estudo do
(BAG NOLI, 2006, p. 01). Direito Econômico apresente-se um tanto
Não obstante, fixa, o autor supracitado, quanto abrangente (especialmente
na ideia de que o momento inaugural de fundamen tado na análise histórica descrita
inferência do Direito Econômico se faz acima), os conceitos trazidos à baila
mais fortemente, em sentido global, após a expressam certa linearidade (padronização)
promulgação da Constituição da República vez que seus objetivos principais são
bastante concisos
57 Luiz Fernando Vescovi

O Direito Econômico será, assim, cons


e herméticos, tal como se pode confirmar tituído por um corpo orgânico de
com a previsão constitucional esculpida no normas condutoras da interação do
artigo 170 e seus incisos, da Constituição poder eco nômico público e do poder
da República Federativa do Brasil. econômico privado e destinado a reger
Segundo preceituação acerca do a política econômica (FONSECA,
moderno Direito Econômico, Celso 2002, p. 19).
Ribeiro Bastos entende-o da seguinte
forma, enfatizando seu sentido autônomo Por fim, trazem-se as assertivas de
no plano jurídico: Washington Peluso Albino de Souza, com
pletando a estrutura sistêmica do Direito
Pode-se conceituar o Direito Econômico por meio de subsídios da
Econômico como sendo o ramo
atuação do Direito na órbita da Política
autônomo do Direito que se destina a
Econômica:
normatizar as medidas adotadas pela
Política Econômica através de uma Direito Econômico é o ramo do Direito
ordenação jurídica, é dizer, a nor que tem por objeto a juridicização, ou
matizar as regras econômicas, bem seja, o tratamento jurídico da política
como a intervenção do Estado na econômica e, por sujeito, o agente que
economia (BASTOS, 2003, p. 51). dela participe. Como tal, é o conjunto
Na compreensão de Nelson Nazar a res de normas de conteúdo econômico que
peito do assunto em questão, por seu turno, as
este vai mais longe afirmando existir um segura a defesa e harmonia dos
ramo efetivamente conhecido como Direito interesses individuais e coletivos, de
Econômico e que, entretanto, não se pode acordo com a ideologia adotada na
confundir com o que se entende por Direito ordem jurídica (SOUZA, 2003, p. 23).
da Economia, vez que cada um deles
expressa características diversas, assim Mesmo havendo unanimidade acerca do
como finalida des antagônicas. O grau de que corrobora o instituto em apreço –
abrangência do Direito da Economia é conforme avençado acima –, não há, ainda,
maior do que o que compete ao segmento uma aceitação pacífica de que o Direito
específico do Direito Econômico Econômico expresse autonomia plena.
(NAZAR, 2004). Da base con ceitual Celso Antônio Bandeira de Mello entende
proposta retira-se: ser este um sustentáculo que se encontra
O Direito Econômico dirige-se ao atrelado ao Direito Administrativo que, por
estudo dos problemas colocados pela sua vez, de tém autonomia jurídico-
interven ção do Estado na Economia, científica (NAZAR, 2004, p. 29). Para
analisando também os temas tanto, não se entrará em maiores detalhes
decorrentes desse assunto principal sobre de tal discrepância ideológico-
(NAZAR, 2004, p. 26). doutrinária por não ser objeto de pesquisa
Nas palavras de João Bosco Leopoldi no do presente trabalho.
da Fonseca, percebe-se a interconexão Os objetivos de tal ramo, portanto,
existente entre os pólos de poder de ordem encontram-se muito bem delineados, o que
pública e privada interagindo-se (por meio acaba por retirar tamanha importância dada
da intervenção do Estado em várias à sua autonomia ou não para o Direito. O
situações, em especial na adoção de que realmente importa na investigação do
políticas que dire cionem a relação entre os
Direito Econômico para a atuação do
ramos jurídico e econômico) e se
integrando, a fim de formar o complexo do Estado é sua eficácia interventiva frente ao
ramo jurídico-econômico em estudo: ordenamento jurídico que cada Estado
apresenta, bem

58 PERSPECTIVA, Erechim. v.34, n.126, p. 55-72, junho/2010


O DIREITO ECONÔMICO E A ECONOMIA POLÍTICA: UMA INTERDISCIPLINARIDADE

NECESSÁRIA como o alcance e manutenção das políticas

econômicas pleiteadas por parte deste. tegram a Economia Política (investigada em


momento oportuno), tais como: a moeda, o
preço, o câmbio, e crédito, etc., caracterizan
2.3 Finalidade primordial
do a interdisciplinaridade existente entre
Contemplando os dados históricos e con eles.
ceituais acima descritos, pode-se afirmar
que o Direito Econômico expressa
PERSPECTIVA, Erechim. v.34, n.126, p. 55-72, junho/2010
importância na manutenção do Estado
como organismo so berano frente às 3 Principais institutos
comunidades internacionais e que, por essa investigados pelo direito
razão (dentre outras) necessita constituir econômico
uma estrutura econômica forte e concisa, a
fim de estabelecer bases sólidas para o seu Pela efetiva abrangência de disciplinas
desenvolvimento regional, social e político. e sistemáticas próprias que se expressa ao
Nesse ínterim, fica a cargo do ramo eco segmento do Direito Econômico (como é ca
nômico do Direito dispor normas e fontes racterístico das vertentes do Direito
positivadas que organizem a Economia de Público), uma infinidade de leis e textos
uma nação, como Estado soberano pré normativos contemplam o aparato
constituído, por meio de textos legais que estrutural deste, como um todo,
ponderem temáticas tais quais: a produção, colacionando assuntos diversos que
interessem à correlação entre o Direito e a
a distribuição, a circulação e o consumo de
Economia, conforme acima apontado. Para
riquezas, seja em órbita nacional ou supra
tanto, atém-se, na presente pesquisa, à ave
nacional (BASTOS, 2003, p. 52). riguação, em linhas gerais, tão-somente de
Tal finalidade, ainda, a ser alcançada e seus principais institutos, a saber: a) a
mantida pelo Direito Econômico seria jus Ordem Econômica Constitucional; b) a
tamente de equilibrar e organizar (compor intervenção do Estado no domínio
e intermediar) os pontos de averiguação da econômico; c) o abuso de poder
economia propriamente dita (economia econômico; d) o Conselho Admi
aplicada), precipuamente por meio de nistrativo de Defesa Econômica (CADE); e
normas jurídicas emanadas do Estado e) as agências reguladoras.
(dentre outras), através da disciplina Acerca da Ordem Econômica Consti
macroeconômica das relações que se tucional, vem esculpido no artigo 170 da
estabelecem por sobre o po Constituição da Republica Federativa do
der econômico público e o poder Brasil de 1988 que esta se encontra fundada
econômico privado, que se confrontam na valoração do trabalho humano e na livre
(FONSECA, 2002, p. 18-19). iniciativa, a fim de assegurar a todos a exis
Assim sendo, compreende-se como um dos tência digna, embasado nos preceitos da jus
tiça social e de acordo com os princípios
principais objetivos do Direito Econômi co
que lhes são peculiares. Os princípios
a normatização de áreas de estudos que in
previstos, portanto, no artigo privada, respectiva mente (BAGNOLI,
supramencionado são: I – soberania 2006, p. 76).
nacional; II – propriedade privada; III – No que toca ao tema do poder
função social da propriedade; IV – livre econômico, conceitua Celso Ribeiro
concorrência; V – defesa do consumidor;
Bastos:
VI – defesa do meio ambiente; VII –
redução das desigualdades regionais e O poder econômico surge naturalmente
sociais; VIII – busca do pleno emprego e; da organização da atividade de presta
IX – tratamento favorecido para as ção de serviços e geração de bens. Esta
empresas de pequeno porte constituídas atividade dá lugar ao lucro, ao dinheiro;
sob as leis brasileiras e que tenham sua portanto, este poder, sem dúvida, tem
grande influência em qualquer tempo
sede e administração no país.
histórico (BASTOS, 2003, p. 229-230).
Ainda, o parágrafo único do mesmo
texto normativo assegura a todos o livre Especificamente à problemática do abu so
exercício de qualquer atividade econômica, de poder econômico, tem-se a previsão
constitucional, em seu artigo 173, §4º: “a
lei reprimirá o abuso de poder econômico
59 que vise à dominação dos mercados, à
eliminação
Luiz Fernando Vescovi

independentemente de autorização de
órgãos públicos, salvo nos casos previstos da concorrência e ao aumento arbitrário dos
em lei. Tamanha relevância expressa o rol lucros”.
de princípios acima descritos que a Interessante ressaltar a crítica plausível
Constituição da Republica Federativa do elaborada por João Bosco Leopoldino da
Brasil lhes ou torgou status de normas Fonseca quando descreve o grave erro do
pétreas do sistema, ou seja, inamovíveis do Constituinte de 1988 que menosprezou a im
texto constitucional em razão de instituir a portância da matéria em questão alocando-a
estrutura econômica básica do Brasil. em simples parágrafo de artigo ao invés de
Nesse norte, percebe-se a tentativa figurar em artigo próprio (FONSECA,
constitucional de delegar a atividade 2002).
também à iniciativa particular, descaracteri Ressalte-se que, ainda conforme o autor
zando, portanto, um absolutismo do poder supracitado, o teor descrito pelo dispositivo
público junto ao setor econômico, por meio em tela apresenta-se como sendo o contrape
de planejamentos e/ou parcerias entre so da atuação estatal com o intuito de defen
ambos. Ao que dispõe sobre a intervenção der e garantir o livre exercício das empresas
do Es tado no domínio econômico, este no mercado (FONSECA, 2002).
pode atuar sob diversas maneiras, sendo de Ao que dispõe sobre o Conselho
forma direta, quando por meio de uma Adminis trativo de Defesa Econômica
empresa pública ou de uma sociedade de (CADE), este foi instituído no ano de
economia mista, ou então de forma 1962, com a promul gação da Lei n.º 4.137.
indireta, quando fomentando a atividade Com sede no Distrito Federal e jurisdição
econômica explorada pelos par ticulares por sobre todo o territó rio nacional,
(NAZAR, 2004, p. 53). A mesma expressa finalidade de regular a repressão
classificação pode ser utilizada para ilustrar ao abuso de poder econômico (BAGNOLI,
o Estado como agente econômico, atuando 2006, p. 145). Em 1994, com o advento da
com poder controlador e fiscalizatório no Lei n.º 8.884, transformou-se em autarquia
desem penho das atividades dos entes federal vinculada ao Ministério da Justiça.
particulares, ou ainda no que tange à sua O CADE compõe-se de 7 (sete) inte
exploração em parceria com a iniciativa grantes, se constitui de 1 (um) Presidente e
6 (seis) Conselheiros, escolhidos dentre ci institucionais, deverá estar constituído de
dadãos com idade superior a 30 (trinta) quorum mínimo de 05 (cinco) integrantes
anos, instituídos de alto conhecimento (BAGNOLI, 2006).
jurídico ou econômico e reputação ilibada. Outro instituto estudado pelo Direito
Dentre os poderes outorgados ao CADE, Econômico diz respeito às agências regu
têm-se os de julgamento de atos de ladoras que, por seu turno, apresentam-se
concentração, processos de conduta e como órgãos estatais (autarquias de regime
manifestação acerca de consultas; o especial) destinado a controle, regulamen-
exercícios de suas atribuições

60 PERSPECTIVA, Erechim. v.34, n.126, p. 55-72, junho/2010


O DIREITO ECONÔMICO E A ECONOMIA POLÍTICA: UMA INTERDISCIPLINARIDADE NECESSÁRIA

tação e fiscalização de serviços de ordem concebida a estrutura do Direito


pública os quais sua execução foi transpas Econômico, já anteriormente analisada, a
sada à iniciativa privada (NAZAR, 2004). Economia Po lítica, por sua vez, expressa
A instituição destas é objeto de forte influência tanto de elementos
investigação do Direito Administrativo, políticos propriamente ditos quanto de
para tanto, como tais empresas (privadas) economia pura, aplicada à sociedade, sem
também irão concorrer no mercado, com o se abster, de forma profícua, a segmentos
condão de prestação de serviços de maior substancialmente jurídicos, vez que a este
eficiência, menor custo, melhor qualidade se tem especificamente o ramo do Direito
e preço mais acessível ao consumidor final, Econômico.
expressa característica importante de
análise por parte do Direito Econômico
PERSPECTIVA, Erechim. v.34, n.126, p. 55-72, junho/2010
(FONSECA, 2002). De forma contrária às dissensões dou
Todavia, seja o Direito Econômico um trinárias existentes acerca da formação do
segmento jurídico de largo alcance, onde se Direito Econômico, a evolução do pensa
tem a atuação do Estado nos limites confe mento econômico, como Economia
ridos pela Constituição da República Fede Política, se apresenta pacificada e, segundo
rativa do Brasil de 1988 e possibilidades de preleções de J. Petrelli Gastaldi, tem-se que
autorização, concessão e permissão da pres a Economia se desenvolveu por meio de
tação de serviços públicos ao setor privado, fases e diferentes períodos a que sofreu a
percebe-se que o seu exercício institucional humanidade. Inicial mente, com a fase da
deve sempre ser regido segundo os ditames economia natural, os grupos de pessoas
principiológicos básicos previstos no caput utilizavam-se de configu rações primitivas
do artigo 37 da Constituição da República de subsistência, tais como: a caça, a pesca
Federativa do Brasil (legalidade, impessoa e as primeiras formas arcaicas de
lidade, moralidade, publicidade e agricultura. Tais agrupamentos humanos,
eficiência), caracterizando-se, assim, como com o passar do tempo, foram progredindo
um ramo pe culiar de Direito Público, suas atividades e, na medida em que alber
conferido ao poder do Estado, este último, gavam novas técnicas no aproveitamento de
eivado de Soberania (ente soberano).
recursos oriundos da natureza, bem como as
ideias iniciais de ciência e de propriedade,
se fez aparecer unidades aferidoras de
4 A economia política produtos que, por seu turno, geraram as
primeiras formas de escambo
4.1 Breve análise histórica (GASTALDI, 2005). Para que melhor se
Diferentemente da maneira de como foi compreenda acerca do instituto, tem-se por
escambo “a transação ou contrato em que
cada uma das partes entrega um bem ou estruturas de ordem comercial e financeira.
presta um serviço para receber o bem ou Compreende-se do Século XVI ao XVIII;
serviço que a outra lhe entrega ou presta a V) Revolução Filosófica e Industrial:
ela, sem que um dos bens seja mo eda, ou caracterizada pelo lapso temporal de 1.750
seja, uma aplicação monetária, que alguns a 1.850 d.C., é a fase histórica na qual o
estudiosos chamam de dinheiro, que é a pen samento econômico constitui seu
moeda aceita, ou em circulação-forçada” substrato científico, por meio de sua
(WIKIPÉDIA. Escambo). principal escola (Fisiocracia), tal como o
surgimento de re nomados economistas,
Em verdade, sabe-se que esta maneira
tanto de pensamentos clássicos quanto
rudimentar de trocas acima delineada foi liberais. Ainda, é neste mo mento que surge
criada tendo em vista as necessidades que o importante e mundialmen te reconhecido
foram sendo implementadas ao longo do de Adam Smith, pelas suas ideias e nova
senvolvimento humano, bem como de maneira de estruturação do sistema
certas características que se originaram a econômico da época (GASTALDI, 2005).
época e que, para a manutenção do grupo Importante marco histórico atinente ao
social, pre cisavam ser exauridas e/ou progresso da Economia Política diz respeito
adaptadas, respec tivamente. Dentre tais ao momento em que foi empregada tal ex
características, podem se destacar as pressão pela primeira vez, junto ao pensa
diferentes situações geográficas e o meio- mento econômico. Sabe-se que o desenvol
ambiente em que viviam; o início do vimento desta disciplina específica inicia-se
crescimento populacional e a gênese de no Século XVII, com a publicação da obra
espaços estáveis de convivência humana, os do francês Antoine de Montchrétien,
intitulada Traité d’Économie Politique, em
61
1615, ao
Luiz Fernando Vescovi

quais originaram as primeiras cidades qual lhe outorgou a designação de criador


(polis) e o berço da civilização da expressão, muito embora na Grécia
Antiga (com Platão e Aristóteles) e na
(GASTALDI, 2005). De maneira sintética,
Idade Média (com os escolásticos) já
o autor supracitado traz à baila outras 5
haviam resquícios de exploração desse
(cinco) fases que se julga relevante, no que
segmento de conotação econômica
tange à evolução linear do pensamento
(ROSSETTI, 2002).
econômico, e em especial, do segmento da
Economia Política, a saber: I) Antiguidade A Economia, portanto, desenvolve-se
Clássica: é o período inicial, compreendido concomitantemente e proporcionalmente ao
entre os anos 4.000 aos 1.000 desenvolvimento do homem, vez que uma
a.C., no qual ocorreu grande parte dos acon não haveria de existir sem que a outra lhe
tecimentos sociais e, consequentemente, ensejasse justificativa de existência, isto é,
também econômicos, do Antigo Testamento a Economia é parte integrante de um cresci
e Novo Testamento, descritos na Bíblia Sa mento social do homem em agrupamento
grada Cristã; II) Antiguidade: é o momento de pessoas para se alcançar um bem-
histórico que abrange a civilização greco comum. Fica justificado, então, o fato de
romana (1.000 a.C.) até a queda do Império que diferen tes formas econômicas se
Romano do Ocidente (476 d.C.); III) Idade apresentaram ao longo da história pelas
Média: é o período entendido por Era diversas etapas em que a humanidade
Medie val ou Feudalismo, que contempla os atravessou. Nas palavras de J. Petrelli
anos 500 aos 1.500 d.C.; IV) Gastaldi, a Economia assim se classi fica:
Mercantilismo: im portante momento a) economia natural: quando o valor das
histórico-econômico, por fazer frente ao coisas que se desejava permutar era aferido
movimento do Capitalismo, pelas suas pelo confronto das necessidades das partes
intervenientes na operação; b) economia pensamento e do incremento econômico
monetária: quando o valor das coisas deixa que se assegura uma forte inserção da
de ser aferido pelas necessidades e sim por carga política dada a ela e, por tal razão,
uma unidade monetária (moeda), como prova-se a origem do instituto em apreço
meio legal de aquisição e liberação dos com a designação de Economia Política. É
bens; e c) economia creditória ou fato que a incidência e o crescimento
fiduciária: quando a moeda é substituída ideológico da Economia e da Política
pelos títulos de crédito que exercem trilham caminhos convergentes, o que
funções e poderes aquisitivos e de caracteriza um segmento econômico de
pagamento, constituindo antecipações de feição majoritariamente política, ou seja,
numerário, com base na confiança pessoal com proporções menores de aplicação de
(GASTALDI, 2005, p. 71). outros institutos, tal como o Direito, por
É por esta estrutura básica do exemplo.

62 PERSPECTIVA, Erechim. v.34, n.126, p. 55-72, junho/2010

Você também pode gostar