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AO JUÍZO DA VARA DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE SALVADOR/BA

   

(NOME E QUALIFICAÇÃO DA ASSISTIDA), sob o patrocínio da Defensoria


Pública do Estado da Bahia, por um dos seus membros, constituído na forma do art. 148, I, da
Lei Complementar Estadual nº 26/06, devendo ser intimado pessoalmente na Rua Arquimedes
Gonçalves, nº 331, Jardim Baiano, Salvador – BA, vem, perante V. Exa., ajuizar

AÇÃO ORDINÁRIA DE OBRIGAÇÃO DE FAZER


CUMULADA COM PEDIDO DE LIMINAR

Contra o ESTADO DA BAHIA, pessoa jurídica de direito público, representado pelo


Procurador Geral do Estado da Bahia, com endereço funcional na 3ª Avenida, nº 310, Centro
Administrativo da Bahia, Salvador, Bahia, pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir
aduzidos.

1. DA GRATUIDADE JUDICIÁRIA

Inicialmente, pede que sejam deferidos os benefícios da Justiça Gratuita, com fulcro
na Lei nº 1.060/50, vez que a Autora não possui condições de arcar com as custas processuais
e honorários advocatícios, sem prejuízo do próprio sustento e do de sua família, razão pela
qual é assistida pela Defensoria Pública do Estado da Bahia.

2. DOS FATOS

A Autora prestou concurso publico para a função de (FUNÇÃO) conforme edital


(NÚMERO), sendo aprovada nas provas, conforme planilha em anexo da Secretaria de

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Administração Penitenciária e Ressocialização da Bahia, documentação encartada aos autos
do processo.

De mais a mais, a Autora obteve na prova objetiva de conhecimentos específicos 6,00


pontos, alcançando a classificação 18ª. Por conseguinte, a Autora restou aprovada na única
etapa do concurso e habilitada no certame, atendendo ao requisito do capítulo VIII, item 2, do
edital, que exigia nota igual ou superior a 5,2 (cinco pontos e dois décimos), ou seja, o
equivalente ao acerto de 13 questões.

Ademais, eram previstas 05 (cinco) vagas para a função de auxiliar (FUNÇÃO), para
o local de trabalho de Salvador, o que colocou a Autora apenas na expectativa de ser
convocada.

Frise-se que o processo seletivo simplificado foi executado pelo (NOME), através do
Departamento (NOME), nos termos do edital em anexo, bem como que se trata de seleção
para contratação por tempo determinado, em Regime Especial de Direito Administrativo –
REDA.

Acontece que, para surpresa da Autora, passados quase 07 (sete) meses de sua
aprovação e homologação do processo seletivo simplificado, aquela teve conhecimento de
que a convocação teria ocorrido exclusivamente no Diário Oficial do Estado da Bahia, no dia
19 de junho de 2011, não tendo sido utilizados outros instrumentos de convocação, a exemplo
do correio, e-mail ou contato telefônico.

De outra banda, em leitura ao Edital nº SEAP/01/2012, de 19 de setembro de 2012, o


Estado da Bahia, através do Secretário de Administração Penitenciária e Ressocialização do
Estado da Bahia, assevera que a convocação da Autora e dos demais candidatos habilitados se
dará exclusivamente através do Diário Oficial do Estado da Bahia, em grave violação ao
princípio da publicidade plena.

Nestes termos, o Edital que tinha por finalidade a convocação dos aprovados, indicava
a necessidade de apresentar diversos documentos, a exemplo de cópias de RG, CPF, Título de
Eleitor, comprovante de votação e demais documentos, tendo a Autora deixado de comparecer
em 19 de junho de 2013, data agendada para apresentação da documentação e contratação
pelo Regime Especial de Direito Administrativo – REDA.
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Além da publicação no Diário Oficial do Estado da Bahia, não se tentou mais
nenhuma forma de localização da Autora, o que implicou enormes prejuízos a mesma, já que
não teve conhecimento de sua convocação. Deve-se registrar que existem outros meios de
convocação dos aprovados em processo seletivo e a Secretaria da de Administração
Penitenciária e Ressocialização do Estado da Bahia deveria ter esgotado os mesmos.

Com efeito, o prazo da Autora para ser contratada pelo Regime Especial de Direito
Administrativo – REDA ocorreu exclusivamente no dia 19 de junho de 2013, ou seja, em
apenas um dia.

Tal ato é ilegal e arbitrário somente restando a via judicial para repor o mais
rapidamente possível o direito violado da Autora, qual seja, garantir sua vaga no processo
seletivo simplificado previsto no Edital nº (NÚMERO), da Secretária de Administração
Penitenciária e Ressocialização do Estado da Bahia, para a função (FUNÇÃO).

3. DO DIREITO
3.1. DA OBRIGAÇÃO DE FAZER

O direito da Autora está livre de qualquer dúvida razoável, dada a evidência de plano
pela simples análise do edital do concurso e da argumentação fática aqui esposada.

A falta de preocupação da Secretaria da Administração Penitenciária e Ressocialização


do Estado da Bahia, órgãos vinculados ao Estado da Bahia, em usar de outros meios de
comunicação para a convocação da Autora, caracterizam uma conjuntura que trouxe enorme
prejuízo a mesma e aos outros candidatos que foram excluídos do processo seletivo
simplificado.

Resta violado também o princípio da confiança, uma vez que gerou na Autora uma
expectativa legítima de convocação através de outros meios existentes hodiernamente. A
proteção da confiança é necessária para estabilização das relações entre a Administração
Pública e os administrados.

A chamada dos aprovados para contratação através de uma única forma viola o
princípio da isonomia e da efetiva publicidade, pois a Autora confiou na sua convocação,
portanto, agiu da mais pura boa-fé.
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A publicidade é um princípio inerente ao Estado Democrático de Direito. A eficácia
dos atos administrativos fica condicionada a efetiva publicidade dos seus atos, que não se
resume a mera publicação de atos no Diário Oficial, pois exige ampla divulgação dos atos
administrativos, inclusive por meio de outros atos reconhecidamente utilizados na sociedade
moderna.

Não é razoável que uma pessoa acompanhe através do Diário Oficial, diariamente,
pelo lapso de quase 01 ano, uma publicação oficial, no aguardo da convocação de um
concurso realizado, mormente quando é realizado em fases.

Evidente que o resultado de uma primeira fase, a qual normalmente a Administração


informa, é comum que os candidatos a acompanhem. Então a partir daquele momento, a
Administração Pública, está obrigada a fazer a intimação pessoal do candidato. Esse é o
entendimento dos tribunais pátrios, consoante abaixo transcrito:

DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. MANDADO DE


SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO. MUNICÍPIO DE SÃO
SEBASTIÃO. EDITAL N.º 001/2015. CARGO DE PROFESSOR DE
INGLÊS. APROVAÇÃO NO CERTAME. NOMEAÇÃO DA
CANDITADA. VEICULAÇÃO DO ATO APENAS PELA IMPRENSA
OFICIAL. ENTENDIMENTO DAS CORTES SUPERIORES NO
SENTIDO DE QUE É DESARRAZOÁVEL EXIGIR QUE OS
CANDIDATOS LEIAM DIARIAMENTE O DIÁRIO OFICIAL PARA
NÃO SEREM DESAVISADAMENTE AFETADOS NOS SEUS
DIREITOS. A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA TEM O DEVER DE
INTIMAR PESSOALMENTE O CANDIDATO QUANDO HÁ O
DECURSO DE TEMPO RAZOÁVEL ENTRE A HOMOLOGAÇÃO
DO RESULTADO E A DATA DA NOMEAÇÃO, MESMO QUE NÃO
HAJA PREVISÃO NO EDITAL, EM ATENÇÃO AOS PRINCÍPIOS
CONSTITUCIONAIS DA PUBLICIDADE E DA RAZOABILIDADE.
PRECEDENTES JURISPRUDENCIAIS. SENTENÇA PELA
CONCESSÃO DA ORDEM MANDAMENTAL. REMESSA OFICIAL.
ART. 14, §1º, DA LEI N.º 12.016/2009. REMESSA CONHECIDA.
SENTENÇA CONFIRMADA. DECISÃO UNÂNIME (TJAL Remessa
Necessária Cível 0700550-79.2018.8.02.0037. Rel. Des. Pedro Augusto
Mendonça de Araújo. 2ª Câmara Cível. Publicação: 16/04/2021)

Assim, com base no princípio da razoabilidade, é absolutamente razoável que, passado


algum tempo, o órgão público deve notificar pessoalmente o candidato.

Para além disso, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça firmou-se no sentido


de que, em obséquio ao princípio constitucional da publicidade, a convocação de candidato
aprovado na primeira fase para a realização das subsequentes etapas de concurso público não
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pode se dar por meio de simples publicação no Diário Oficial, cuja leitura diária por quase um
ano, período decorrido no caso concreto desde a homologação até o malfadado chamamento
para a apresentação de documentos, é tarefa desarrazoada que não se poderia exigir da Autora.

O Superior Tribunal de Justiça continua ensinando, vejamos:

De acordo com o princípio da publicidade, expressamente previsto no texto


constitucional (art. 37, caput da CF), os atos da Administração devem ser
providos da mais ampla divulgação possível a todos os administrados e,
ainda com maior razão, aos sujeitos individualmente afetados. Se não
está previsto no Edital do concurso, que é a lei do certame, a forma
como se daria a convocação dos habilitados para a realização de sua
segunda etapa, referido ato não pode se dar exclusivamente por
intermédio do Diário Oficial, que não possui o mesmo alcance que outros
meios de comunicação, sob pena de violação ao princípio da publicidade.
(STJ; AgRg no REsp 959999 / BA). (destaque nosso)

Com o desenvolvimento de uma sociedade cada vez mais marcada pela


crescente quantidade de informações que são oferecidas e cobradas
habitualmente, seria de todo irrazoável exigir que um candidato, uma vez
aprovado na primeira etapa de um concurso público, adquirisse o
hábito de ler o Diário Oficial do Estado diariamente, por mais de 08
anos, na esperança de se deparar com sua convocação. (STJ; RMS 24716
/ BA) (destaque nosso)

É importante não se olvidar que, em termos de concurso público, o interesse


não é tão-somente do candidato, mas também da Administração, que busca
selecionar os melhores, e que, por formalidades, pode acabar impedindo o
ingresso de excelentes servidores públicos em seus quadros. (STJ; RMS
20851 / MS)

Por outro lado, o edital do concurso não previu a convocação exclusivamente por
meio do Diário Oficial do Estado da Bahia, tendo em vista que previu este como uma das
formas de convocação. Para tanto, o Superior Tribunal de Justiça:

Não mencionando o Edital que a convocação de candidatos seria feita


exclusivamente por intermédio do Diário Oficial, a Administração está
obrigada, também, a divulgar a chamada, mediante publicação em jornal de
grande circulação (Lei nº 8.112/90). (STJ; REsp 341447 / DF) (destaque
nosso)

Assim, na linha dos precedentes, a ação deve ser julgada procedente para reconhecer a

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Autora o direito de ser novamente convocada para a apresentar a documentação exigida no
edital e a contratação pelo regime especial de direito administrativo – REDA.

4. DA NECESSIDADE DE CONCESSÃO DA LIMINAR: DO FUMUS BONI


IURIS E DO PERICULUM IN MORA

Sem a disponibilização de novo prazo para a Autora entregar a documentação para o


processo seletivo simplificado em apreço, ante a flagrante ilegalidade da conduta da
Administração Pública, permitirá seu alijamento deste certame e está impedindo sua
contratação para a função de (FUNÇÃO).

In casu, estão presentes os pressupostos para a concessão da liminar, especialmente, a


possibilidade de ineficácia da ação que no final vier a ser julgada procedente, pois já terá sido
preenchida a vaga da Autora por outro candidato, ou expirado o prazo de validade do certame.

Restou demonstrada a verossimilhança do direito, pois está evidente a plausibilidade


da fundamentação do pedido da Autora, ensejando com urgência a concessão da medida
liminar. Os fatos acima elencados indicam a procedência da argumentação fática e jurídica.

Após análise dos fatos e das provas colacionadas a presente inicial, não surgem
dúvidas de que a Autora não atendeu ao prazo de apresentação da documentação para
contratação pelo regime especial de Direito Administrativo – REDA, por culpa exclusiva da
metodologia de convocação dos aprovados no concurso pela Secretária de Administração
Penitenciária e Ressocialização do Estado da Bahia, portanto, presente está a prova
inequívoca dos fatos articulados.

Se a Autora tiver que aguardar o final da ação, após todas as fases processuais e
recursos cabíveis, provavelmente, não suportará tamanha aflição em aguardar a prestação
jurisdicional definitiva.

Atendidos os requisitos do Código de Processo Civil Brasileiro, imperiosa é a


concessão da medida liminar inaudita altera pars, pois é notório o perigo da demora no
acolhimento da pretensão, eis que, neste caso, implicará em lamentável prejuízo a Autora que
verá muito estudo, dedicação e disciplina em ser aprovada no concurso não lograr resultado.

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5. DOS PEDIDOS 

 Diante do exposto, requer a V.Exª: 

a) Que seja concedido o benefício da Assistência Jurídica Gratuita, conforme


fundamentação supra; 

b) Que seja determinada a citação do Réu, na pessoa de um dos seus


Procuradores, para, querendo, contestar a presente ação, ciente de que os fatos aqui alegados,
se não contestados, serão tidos como verdadeiros;

c) Que seja o pedido de liminar, acima formulado, deferido, inaudita altera pars,
para determinar que o Réu convoque novamente a Autora para entregar a documentação
pertinente a função de (FUNÇÃO), da Secretária de Administração Penitenciária e
Ressocialização do Estado da Bahia, através de todos os meios de comunicação disponíveis,
bem como que determine a contratação da Autora pelo regime especial de direito
administrativo, com a percepção da remuneração e demais vantagens atinentes a função, sob
pena de multa diária no valor de R$1.000,00 (hum mil reais), na hipótese de descumprimento,
tendo em vista a flagrante violação do seu direito;

d) Ao final, que seja julgado procedente o pedido veiculado através da presente


ação, mantendo em definitivo a liminar concedida, determinando ao Réu que convoque
novamente a Autora para entregar a documentação pertinente a função de auxiliar de saúde
bucal, local de trabalho Salvador, da Secretária de Administração Penitenciária e
Ressocialização do Estado da Bahia, através de todos os meios de comunicação disponíveis,
bem como que determine a contratação da Autora pelo regime especial de direito
administrativo – REDA, com a percepção da remuneração e demais vantagens atinentes a
função, sob pena de multa diária no valor de R$1.000,00 (hum mil reais), na hipótese de
descumprimento, tendo em vista a flagrante violação do seu direito;

e) A intimação do membro do Ministério Público para atuar no feito como custus


legis; 

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f) A condenação da parte ré ao pagamento das custas processuais e honorários
advocatícios, estes fixados em 20% (vinte por cento) sobre o valor da condenação, a serem
revertidos à Escola Superior da Defensoria Pública do Estado da Bahia – ESDEP;

g) Protesta provar o alegado por todos os meios de provas em direito admitidos,


sem exceção, especialmente a documental acostada aos autos do processo, inclusive com o
depoimento pessoal do Autor, juntada de novos documentos, prova pericial e testemunhal. 

Dá-se a causa o valor de R$ 678,00 (seiscentos e setenta e oito reais). 

Nestes termos,

Pede Deferimento 

Salvador, 7 de May de 2023. 

(nome dx defensorx púlicx)


DEFENSORX PÚBLICO

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