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Unidade 3 – Teoria da Empresa e empresário

1 – Empresa

A empresa tem 4 perfis, sendo eles: a) subjetivo (empresário); b) objetivo/patrimonial


(estabelecimento); c) funcional (atividade econômica); d) corporativo ou institucional
(instituição – empresa como o resultado da organização do pessoal, formada pelo
empresário e colaboradores). O Brasil adotou, com predominância, o perfil funcional,
definindo a empresa como a atividade econômica organizada. O conceito de empresa
não está expresso no Código, mas, é inferido a partir da definição de empresário.

2 - Empresário (arts. 966-980 do Código Civil)

- Art. 966 define a figura do empresário e do não empresário:

Empresário é aquele que exerce profissionalmente (abandona-se o termo habitualidade)


atividade econômica organizada, voltada para a produção ou circulação de bens ou de
serviços. É obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de Empresas
Mercantis, a cargo das Juntas Comerciais.

Não empresário: não se consideram empresários aqueles que exercem profissão


intelectual, de natureza artística, literária, científica, ainda que com o concurso de
auxiliares e colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de
empresa.

- Partindo do conceito de empresário, é possível identificar o conceito de sociedade


empresária. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que
tem por objeto o exercício de atividade própria do empresário sujeito a registro; e,
simples, as demais (art. 982 do Código Civil).

Exceções: A sociedade por ações, independentemente de seu objeto, é considerada


sociedade empresária (art. 982 do Código Civil). A sociedade cooperativa é considerada
simples, independentemente de seu objeto, mas, o seu registro dá-se na Junta
Comercial (art. 982 do Código Civil). O empresário rural cuja atividade rural constitua
sua principal profissão poderá requerer inscrição no Registro Público de Empresas
Mercantis, caso em que, depois de inscrito, ficará equiparado ao empresário rural (art.
971 do Código Civil). O mesmo raciocínio aplica-se às sociedades que tenham por
objeto o exercício de atividade própria de empresário rural (art. 984 do Código Civil).

ATENÇÃO: NOVA EXCEÇÃO - Associação que desenvolva atividade futebolística


em caráter habitual e profissional poderá optar pela inscrição no Registro Público
de Empresas Mercantis, caso em que, com a inscrição, será considerada
empresária, para todos os efeitos.” (parágrafo único do art. 971 do Código Civil)
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3 - Empresário individual x sociedade empresária x empresa individual de


responsabilidade limitada

O empresário individual, como regra, responde com todo o seu patrimônio, pelas suas
dívidas decorrentes do exercício da atividade. Embora tenha CNPJ, trata-se de pessoa
natural. Por outro lado, a sociedade é pessoa jurídica de direito privado, sendo pessoa
distinta de seus sócios. A depender do tipo societário, os sócios poderão responder de
forma limitada ou ilimitada.

É concedido tratamento favorecido, diferenciado e simplificado ao empresário rural e ao


pequeno empresário. Pequeno empresário é dispensado das exigências do art. 1.179
do Código Civil (seguir sistema de contabilidade, com base na escrituração uniforme de
seus livros, balanço patrimonial e o de resultado econômico).

Para fins do disposto no art. 68 da Lei Complementar n. 123/2206, o pequeno


empresário é o empresário individual caracterizado como microempresa na forma desta
Lei Complementar que aufira receita bruta anual até o limite previsto no § 1o do art. 18-
A da referida Lei.

A empresa individual de responsabilidade limitada foi instituída pela Lei n. 12.441/2011,


como pessoa jurídica de direito privado. Era constituída por uma única pessoa titular da
totalidade do capital, devidamente integralizado, que não poderia ser inferior a 100
(cem) vezes o maior salário-mínimo vigente no País. O nome empresarial devia ser
formado pela inclusão da expressão "EIRELI" após a firma ou a denominação social da
empresa individual de responsabilidade limitada. A pessoa natural que constituísse
empresa individual de responsabilidade limitada somente poderia figurar em uma única
empresa dessa modalidade. A empresa individual de responsabilidade limitada também
poderia resultar da concentração das quotas de outra modalidade societária num único
sócio, independentemente das razões que motivaram tal concentração. Poderia ser
atribuída à empresa individual de responsabilidade limitada constituída para a prestação
de serviços de qualquer natureza a remuneração decorrente da cessão de direitos
patrimoniais de autor ou de imagem, nome, marca ou voz de que seja detentor o titular
da pessoa jurídica, vinculados à atividade profissional. Aplicavam-se à empresa
individual de responsabilidade limitada, no que coubesse, as regras previstas para as
sociedades limitadas. Somente o patrimônio social da empresa responderia pelas
dívidas da empresa individual de responsabilidade limitada, hipótese em que não se
confundiria, em qualquer situação, com o patrimônio do titular que a constituísse,
ressalvados os casos de fraude. Com a entrada em vigor da Lei n. 14.195/2021, o art.
41 dispõe que “As empresas individuais de responsabilidade limitada existentes
na data da entrada em vigor desta Lei serão transformadas em sociedades
limitadas unipessoais independentemente de qualquer alteração em seu ato
constitutivo”. Mais recentemente, a Lei n. 14.382/2022 revogou, expressamente, o
art. 980-A do Código Civil, tendo se operado a a extinção das EIRELIs no cenário
brasileiro.

4 - MEI (microempreendedor individual)

De acordo com o §1º do art. 18-A da Lei n. 123/2006, o MEI é o empresário individual
que se enquadre na definição do art. 966 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 -
Código Civil, ou o empreendedor que exerça as atividades de industrialização,
comercialização e prestação de serviços no âmbito rural, que tenha auferido receita
bruta, no ano-calendário anterior, de até R$ 81.000,00 (oitenta e um
mil reais), que seja optante pelo Simples Nacional e que não esteja impedido de
optar pela sistemática. Ver portalmeiempreendedor.org.
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Não poderá optar pela sistemática de recolhimento prevista no caput deste artigo o
MEI: I - cuja atividade seja tributada na forma dos Anexos V ou VI da Lei Complementar
n. 123/2006, salvo autorização relativa a exercício de atividade isolada na forma
regulamentada pelo CGSN; II - que possua mais de um estabelecimento; III - que
participe de outra empresa como titular, sócio ou administrador; ou V - constituído na
forma de startup.

5 - Startups

O art. 65-A da Lei Complementar n. 123/2006 tratava da definição de startup, da


seguinte forma:

Art. 65-A. É criado o Inova Simples, regime especial simplificado que


concede às iniciativas empresariais de caráter incremental ou
disruptivo que se autodeclarem como startups ou empresas de
inovação tratamento diferenciado com vistas a estimular sua criação,
formalização, desenvolvimento e consolidação como agentes
indutores de avanços tecnológicos e da geração de emprego e renda.

§ 1º Para os fins desta Lei Complementar, considera-se startup a


empresa de caráter inovador que visa a aperfeiçoar sistemas, métodos
ou modelos de negócio, de produção, de serviços ou de produtos, os
quais, quando já existentes, caracterizam startups de natureza
incremental, ou, quando relacionados à criação de algo totalmente
novo, caracterizam startups de natureza disruptiva.

§ 2º As startups caracterizam-se por desenvolver suas inovações em


condições de incerteza que requerem experimentos e validações
constantes, inclusive mediante comercialização experimental
provisória, antes de procederem à comercialização plena e à obtenção
de receita.

§ 3º O tratamento diferenciado a que se refere o caput deste artigo


consiste na fixação de rito sumário para abertura e fechamento de
empresas sob o regime do Inova Simples, que se dará de forma
simplificada e automática, no mesmo ambiente digital do portal da
Rede Nacional para a Simplificação do Registro e da Legalização de
Empresas e Negócios (Redesim), em sítio eletrônico oficial do governo
federal, por meio da utilização de formulário digital próprio, disponível
em janela ou ícone intitulado Inova Simples.

§ 4º Os titulares de empresa submetida ao regime do Inova Simples


preencherão cadastro básico com as seguintes informações:

I - qualificação civil, domicílio e CPF;


II - descrição do escopo da intenção empresarial inovadora e definição
da razão social, que deverá conter obrigatoriamente a expressão
“Inova Simples (I.S.)”;
III - autodeclaração, sob as penas da lei, de que o funcionamento da
empresa submetida ao regime do Inova Simples não produzirá
poluição, barulho e aglomeração de tráfego de veículos, para fins de
caracterizar baixo grau de risco, nos termos do § 4º do art. 6º desta Lei
Complementar;
IV - definição do local da sede, que poderá ser comercial, residencial
ou de uso misto, sempre que não proibido pela legislação municipal ou
distrital, admitindo-se a possibilidade de sua instalação em locais onde
funcionam parques tecnológicos, instituições de ensino, empresas
juniores, incubadoras, aceleradoras e espaços compartilhados de
trabalho na forma de coworking; e
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V - em caráter facultativo, a existência de apoio ou validação de


instituto técnico, científico ou acadêmico, público ou privado, bem
como de incubadoras, aceleradoras e instituições de ensino, nos
parques tecnológicos e afins.

§ 5º Realizado o correto preenchimento das informações, será gerado


automaticamente número de CNPJ específico, em nome da
denominação da empresa Inova Simples, em código próprio Inova
Simples.

§ 6º A empresa submetida ao regime do Inova Simples constituída na


forma deste artigo deverá abrir, imediatamente, conta bancária de
pessoa jurídica, para fins de captação e integralização de capital,
proveniente de aporte próprio de seus titulares ou de investidor
domiciliado no exterior, de linha de crédito público ou privado e de
outras fontes previstas em lei.

§ 7º No portal da Redesim, no espaço destinado ao preenchimento de


dados do Inova Simples, deverá ser criado campo ou ícone para
comunicação automática ao Instituto Nacional da Propriedade
Industrial (INPI) do conteúdo inventivo do escopo da inciativa
empresarial, se houver, para fins de registro de marcas e patentes, sem
prejuízo de o titular providenciar os registros de propriedade intelectual
e industrial diretamente, de moto próprio, no INPI.

§ 8º O INPI deverá criar mecanismo que concatene desde a recepção


dos dados ao processamento sumário das solicitações de marcas e
patentes de empresas Inova Simples.

§ 9º Os recursos capitalizados não constituirão renda e destinar-se-ão


exclusivamente ao custeio do desenvolvimento de projetos de startup
de que trata o § 1º deste artigo.

§ 10. É permitida a comercialização experimental do serviço ou produto


até o limite fixado para o MEI nesta Lei Complementar.

§ 11. Na eventualidade de não lograr êxito no desenvolvimento do


escopo pretendido, a baixa do CNPJ será automática, mediante
procedimento de autodeclaração no portal da Redesim. [...]

* A redação acima não está mais em vigor, tendo sido alterada


pela Lei Complementar 182/2021.

Tal dispositivo legal teve a sua redação alterada com a Lei Complementar
182/2021, que passou a regular as startups.

O art. 4º do Marco Legal das Startups (Lei Complementar n. 182/21) assim define
startups:

Art. 4º São enquadradas como startups as organizações


empresariais ou societárias, nascentes ou em operação recente,
cuja atuação caracteriza-se pela inovação aplicada a modelo de
negócios ou a produtos ou serviços ofertados.
§ 1º Para fins de aplicação desta Lei Complementar, são
elegíveis para o enquadramento na modalidade de tratamento
especial destinada ao fomento de startup o empresário
individual, a empresa individual de responsabilidade limitada, as
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sociedades empresárias, as sociedades cooperativas e as


sociedades simples:
I - com receita bruta de até R$ 16.000.000,00 (dezesseis milhões
de reais) no ano-calendário anterior ou de R$ 1.333.334,00 (um
milhão, trezentos e trinta e três mil trezentos e trinta e quatro
reais) multiplicado pelo número de meses de atividade no ano-
calendário anterior, quando inferior a 12 (doze) meses,
independentemente da forma societária adotada;
II - com até 10 (dez) anos de inscrição no Cadastro Nacional da
Pessoa Jurídica (CNPJ) da Secretaria Especial da Receita
Federal do Brasil do Ministério da Economia; e
III - que atendam a um dos seguintes requisitos, no mínimo:
a) declaração em seu ato constitutivo ou alterador e utilização
de modelos de negócios inovadores para a geração de produtos
ou serviços, nos termos do inciso IV do caput do art. 2º da Lei nº
10.973, de 2 de dezembro de 2004; ou
b) enquadramento no regime especial Inova Simples, nos
termos do art. 65-A da Lei Complementar nº 123, de 14 de
dezembro de 2006.
§ 2º Para fins de contagem do prazo estabelecido no inciso II do
§ 1º deste artigo, deverá ser observado o seguinte:
I - para as empresas decorrentes de incorporação, será
considerado o tempo de inscrição da empresa incorporadora;
II - para as empresas decorrentes de fusão, será considerado o
maior tempo de inscrição entre as empresas fundidas; e
III - para as empresas decorrentes de cisão, será considerado o
tempo de inscrição da empresa cindida, na hipótese de criação
de nova sociedade, ou da empresa que a absorver, na hipótese
de transferência de patrimônio para a empresa existente.

6 - Condições/requisitos para o exercício da empresa:

Profissionalidade, intuito lucrativo, capacidade, ausência de impedimentos. Podem


exercer a atividade de empresário os que estiverem em pleno gozo da capacidade civil
e não forem legalmente impedidos (art. 972 do Código Civil). A pessoa legalmente
impedida de exercer atividade própria de empresário, se a exercer, responderá pelas
obrigações contraídas (art. 973 do Código Civil).

* O registro, embora constitua uma das obrigações do empresário, não é condição


para que este seja considerado como tal.

Observações: O menor emancipado pode exercer a empresa. Excetuada a hipótese do


art. 974 do Código Civil (continuação da empresa, mediante autorização judicial –
diferente de emancipação), o menor não emancipado não pode exercer individualmente
a empresa. De acordo com o §3٥ do art. 974, o registro público de empresas
mercantis poderá registrar contratos/alterações de sociedade que envolva sócio
incapaz, desde que atendidos os seguintes pressupostos: a) sócio incapaz não
exercer a administração; b) capital social integralizado; c) sócio incapaz
devidamente assistido ou representado. Em caso de incapacidade superveniente, o
incapaz poderá continuar a empresa antes por ele exercida, enquanto capaz, mediante
autorização judicial. Emancipação, autorização e revogação desta devem ser averbadas
no Registro Público de Empresas Mercantis.

Quanto aos impedimentos legais (não se relacionam com capacidade), normalmente


vigoram para o exercício individual da empresa. Funcionários públicos proibidos do
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exercício individual, mas, podem ser sócios de sociedades limitadas, sociedades


anônimas e em comandita. Falidos não podem exercer empresa. Médicos não podem
cumular farmácia com medicina.

Cônjuges casados no regime da comunhão universal de bens ou no da separação


obrigatória (art. 1.641 do Código Civil – pessoas acima de 70 anos; quem precisar de
suprimento judicial para casar; pessoa que se casarem sem observar as causas
suspensivas da celebração do casamento) não podem contratar sociedade entre si ou
com terceiros (art. 977 do Código Civil). Proibição não se aplica a sociedades
constituídas antes da vigência do Código Civil de 2002.

O empresário pode, sem outorga conjugal, alienar ou gravar de ônus reais os imóveis
que integrem o patrimônio da empresa (art. 978 do Código Civil. Exceção à regra do art.
1.647 do Código Civil).

Pactos, declarações antenupciais, títulos de doação, herança ou legado, de bens


clausulados de incomunicabilidade ou inalienabilidade, devem ser averbados no
Registro Público de Empresas Mercantis. De igual modo, o divórcio, para ser oponível
a terceiros (art. 979-980 Código Civil de 2002).

7 - Texto de referência

IN DREI n. 81, de 10 de junho de 2020.

VIDO, Elisabete. Curso de direito empresarial. São Paulo: RT, 2015.

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