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CUIDADO

INTEGRAL AO
RECÉM NASCIDO
E A CRIANÇA

Nathália Ribas Machado


Reanimação
cardiorrespiratória em
neonatologia e pediatria
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar os objetivos da reanimação cardiorrespiratória em neona-


tologia e pediatria.
 Reconhecer as intervenções na parada cardiorrespiratória dos pacien-
tes recém-nascido e pediátrico.
 Descrever a atuação do enfermeiro na parada cardiorrespiratória dos
pacientes recém-nascido e pediátrico.

Introdução
Parada cardíaca é a cessação súbita e inesperada da atividade bombe-
adora do coração, a qual ocasiona a morte súbita se não for corrigida
imediatamente. Morte súbita é um evento não traumático, não violento,
inesperado e resultante de parada cardíaca ou parada cardiorrespiratória
(PCR). Os esforços de reanimação podem restaurar a atividade espontânea
do coração antes que o cérebro seja permanentemente lesado.
Quando ocorre uma PCR em uma unidade hospitalar, a equipe mul-
tidisciplinar é acionada para iniciar a ressuscitação cardíaca do paciente.
A equipe que assiste a PCR se divide entre realizar a massagem cardíaca,
administrar medicamentos, contar o tempo da parada e entre uma me-
dicação e outra e ventilar o paciente.
Neste capítulo, você vai aprender os objetivos da reanimação cardior-
respiratória e irá identificar as intervenções e a atuação do enfermeiro na
PCR em pacientes recém-nascido e pediátrico.
2 Reanimação cardiorrespiratória em neonatologia e pediatria

Objetivos da reanimação cardiorrespiratória em


neonatologia e pediatria
O paciente em PCR fica inconsciente (não responde), não respira e não tem
pulso. O atendimento cardíaco de emergência tem a finalidade de fornecer
tratamento eficaz, tão rápido quanto possível, para esses corações que param
de bombear. Esse atendimento é realizado de acordo com o suporte básico
de vida (SBV ou BLS, do inglês basic life support) e o suporte avançado de
vida pediátrico (SAVP ou PALS, do inglês advanced life support). Em geral,
o SAVP se dá a partir do SBV, porém, caso o paciente já esteja intubado e
sendo monitorizado no momento em que a PCR ocorrer, pode-se pular algu-
mas etapas e proceder com as medidas avançadas, como o uso de drogas e
desfibrilação, por exemplo.
O SBV tenta dar ao paciente uma via respiratória pérvia, ventilação ade-
quada e circulação mecânica aos órgãos por meio de compressões torácicas,
enquanto o SAVP tenta restaurar a circulação espontânea e tem a reanimação
cerebral como o objetivo mais importante.
Segundo a American Heart Association (2018), na ressuscitação cardio-
pulmonar (RCP) em adultos, são priorizadas as compressões cardíacas de
alta qualidade e a desfibrilação imediata em relação à respiração resgate e
ao manejo da via aérea, seguindo o processo CAB (circulação, via aérea,
respiração, do inglês circulation, airway, breathing). Nas crianças, a parada
cardíaca tem diferenças inerentes se comparada à parada cardíaca em adultos.
Em bebês e crianças, a parada cardíaca por asfixia é mais comum do que
a parada cardíaca de um evento cardíaco primário, portanto, a ventilação
pode ter maior importância durante a ressuscitação de crianças, seguindo o
método ABC (via aérea, respiração, do inglês airway, breathing, circulation)
e compressões torácicas.
Mesmo em ambientes hospitalares de alto risco, paradas cardíacas e RCPs
são relativamente incomuns, além disso, os membros das equipes de reanimação
podem ser diferentes em cada parada cardíaca, portanto, o desempenho ideal
depende de planejamento e prática colaborativa interdisciplinar e preventiva
rigorosa. Resultados excelentes podem ocorrer após uma RCP de alta qua-
lidade bem coreografada com compressões torácicas efetivas, ventilação e
desfibrilação precoce.
Em sua maioria, as crises pediátricas que necessitam de RCP podem ser
evitadas. Normalmente, elas são decorrentes de acidentes com veículos moto-
rizados, afogamentos, queimaduras, inalações de fumaça, quedas, envenena-
mentos, sufocações e engasgamentos. Outras causas de parada cardiopulmonar
Reanimação cardiorrespiratória em neonatologia e pediatria 3

em crianças são laringoespasmo e edemas causados por infecções do trato


respiratório superior e síndrome de morte súbita do recém-nascido.
Bradicardia, bradipneia, respirações irregulares, pulsos fracos, tempo
de enchimento capilar lento, hipotensão, cianose e moteamento são sinais
que precisam ser tratados imediatamente antes que evoluam para uma PCR
(MAROSTICA et al., 2018). Ao realizar a RCP, procura-se restabelecer a
respiração e a circulação do paciente depois de os batimentos cardíacos e a
respiração pararem. A RCP é um procedimento de apoio vital básico que é
realizado em vítimas de PCR.
O momento da RCP é crítico, por essa razão, o paciente tem acesso imediato
ao atendimento de emergência, no qual serão realizadas pronta e imediatamente
as manobras de RCP e a desfibrilação, quando necessária, o que aumenta, e
muito, as suas chances de sobrevida. Os cinco componentes da RCP de alta
qualidade são:

 garantir compressões torácicas com taxa adequada;


 garantir compressões torácicas de profundidade adequada;
 permitir recuo total do peito entre as compressões;
 minimizar as interrupções nas compressões torácicas;
 evitar ventilação excessiva (AMERICAN HEART ASSOCIATION,
2018).

Intervenções na parada cardiorrespiratória dos


pacientes recém-nascido e pediátrico
A parada cardíaca ou respiratória pediátrica intra-hospitalar pode ser po-
tencialmente evitada quando há reconhecimento precoce e intervenção do
paciente em deterioração. As compressões torácicas devem ser imediata-
mente iniciadas por um dos integrantes da equipe multidisciplinar, enquanto
um segundo colaborador se prepara para iniciar as ventilações com uma
bolsa-válvula-máscara (BVM). A ventilação é extremamente importante em
pediatria devido à grande porcentagem de paradas por asfixia, sendo que
os melhores resultados são obtidos por uma combinação de compressões
e ventilações torácicas. Infelizmente, às vezes as ventilações são atrasadas
porque os equipamentos (p.ex., bolsa, máscara, oxigênio, via aérea) precisam
ser mobilizados. As compressões torácicas exigem as mãos de apenas um
membro da equipe disposto.
4 Reanimação cardiorrespiratória em neonatologia e pediatria

A eficácia do SAVP depende de RCP de alta qualidade, a qual requer taxa


de compressão adequada (pelo menos 100 compressões por minuto) e profun-
didade de compressão correta (pelo menos 1/3 do diâmetro anteroposterior do
tórax ou aproximadamente 4 cm em lactentes e 5 cm em crianças), de modo
a permitir o completo recuo do tórax após cada compressão, minimizando,
portanto, as interrupções nas compressões e evitando a ventilação excessiva
(AMERICAN HEART ASSOCIATION, 2018).
Os motivos para não realizar a RCP de alta qualidade incluem desatenção
do resgatador aos detalhes, fadiga do socorrista e interrupções longas ou
frequentes para proteger a via aérea, verificar o ritmo cardíaco e mover o
paciente. As compressões torácicas ótimas são mais bem administradas quando
a vítima está em uma superfície firme.
Enquanto um socorrista faz as compressões torácicas e outro procede
com as ventilações, outros socorristas devem obter um monitor/desfibrilador,
estabelecer acesso vascular e calcular e preparar os medicamentos previstos.
Em caso de ritmos não chocáveis, como a atividade elétrica sem pulso (AESP)
e assistolia, é necessário continuar a RCP com o mínimo de interrupções
possíveis nas compressões torácicas. Outra pessoa da equipe de enfermagem
deverá obter o acesso vascular e administrar as medicações solicitadas pelo
médico enquanto a RCP é continuada.

As medicações são solicitadas pelo médico que estiver atendendo a parada cardíaca.
Em geral, a mesma dose de epinefrina é repetida a cada 3 a 5 minutos, sendo assim, é
necessário que alguém da equipe faça a contagem do tempo de parada.

As drogas raramente são indicadas na ressuscitação do recém-nascido. A


bradicardia no recém-nascido é geralmente o resultado de inflação pulmonar
inadequada ou hipoxemia profunda, e o estabelecimento de ventilação adequada
é o passo mais importante para corrigi-la. Entretanto, se a frequência cardíaca
permanecer menor que 60/min apesar da ventilação adequada com oxigênio
a 100% (preferencialmente por tubo endotraqueal) e compressões torácicas,
indica-se a administração de epinefrina ou volume, ou ambos.
A dose IV (intravenosa) de epinefrina recomendada é de 0,01 a 0,03 mg/kg.
Doses IVs mais altas não são recomendadas, pois existe a chance de hiperten-
Reanimação cardiorrespiratória em neonatologia e pediatria 5

são exagerada, função miocárdica diminuída e pior função neurológica após


a administração de doses IVs na faixa de 0,1 mg/kg. Enquanto o acesso IV
está sendo obtido, a administração de uma dose mais alta (0,05 a 0,1 mg/kg)
pelo tubo endotraqueal pode ser considerada, no entanto, a administração IV
de 0,01 a 0,03 mg/kg por dose é a via preferida.
A expansão do volume deve ser considerada quando a perda de sangue é
conhecida ou suspeitada (pele pálida, má perfusão, pulso fraco) e quando a
frequência cardíaca do bebê não respondeu adequadamente a outras medidas
de ressuscitação. Uma solução cristaloide isotônica ou sangue podem ser úteis
para a expansão de volume na sala de parto. A dose recomendada é de 10 mL/kg,
que pode ser repetida se houver necessidade.
Uma vez que o paciente mantém a via aérea pérvia pela intubação endo-
traqueal, um socorrista deve realizar compressões contínuas no peito a uma
taxa de pelo menos 100 por minuto, sem pausa, para ventilação. O segundo
socorrista fornece ventilações a uma taxa de uma respiração a cada seis se-
gundos (10 respirações por minuto). O compressor deve inverter com quem
estiver na ventilação a, aproximadamente, cada 2 min para evitar fadiga e, por
consequência, a deterioração na qualidade e na taxa de compressões torácicas.
O ritmo deve ser verificado a cada 2 min com o mínimo de interrupções nas
compressões torácicas. Caso o ritmo seja não choque, deve-se continuar com
os ciclos de RCP e medicações até que haja evidência de ressuscitação ou se
decida encerrar o esforço. Se a qualquer momento o ritmo se tornar chocável,
é preciso realizar um choque e a retomada imediata das compressões torácicas
por 2 min antes de verificar novamente o ritmo.
Os ritmos chocáveis são fibrilação ventricular (FV) e taquicardia ventri-
cular sem pulso (TVSP). A desfibrilação é o tratamento definitivo para FV.
O resultado do choque é melhor se os socorristas minimizarem o tempo entre
a última compressão e o choque, dessa forma, os socorristas precisam estar
preparados para coordenar (breves) interrupções nas compressões torácicas
para liberar choques, além de retomar as compressões imediatamente após
o choque.
6 Reanimação cardiorrespiratória em neonatologia e pediatria

O acesso vascular é essencial para administrar medicamentos e retirar amostras de


sangue. A obtenção de acesso venoso periférico pode ser um desafio em lactentes
e crianças durante uma emergência. O acesso intraósseo (IO) pode ser rapidamente
estabelecido com complicações mínimas por provedores com níveis variados de
treinamento. Ressalta-se que o tempo gasto tentando estabelecer acesso venoso
periférico em uma criança gravemente doente ou ferida deve ser limitado.

O acesso venoso periférico é aceitável durante a ressuscitação se puder ser


colocado rapidamente, porém, a colocação pode ser difícil em uma criança
gravemente doente. Embora um cateter venoso central possa fornecer acesso
mais seguro em longo prazo, sua colocação requer treinamento e experiência,
e o procedimento pode ser demorado, por essa razão, o acesso venoso central
não é recomendado como a via inicial de acesso vascular durante uma emer-
gência. Se ambos os acessos — central e periférico — estiverem disponíveis,
os medicamentos devem ser administrados na circulação central, pois alguns
deles (p.ex., adenosina) são mais eficazes quando administrados próximos
ao coração, enquanto outros (p.ex., cálcio, amiodarona) podem ser irritantes
quando infundidos em uma veia periférica. O comprimento de um cateter
central pode contribuir para o aumento da resistência.
O acesso vascular (IO ou IV) é o método preferido para a administração de
drogas durante a RCP, no entanto, caso não seja possível, drogas lipossolúveis,
como lidocaína, epinefrina, atropina e naloxona, podem ser administradas
pelo tubo endotraqueal. É possível que os efeitos não sejam uniformes com a
traqueia quando comparados aos da administração IV; se a RCP estiver em
andamento, as compressões torácicas precisam ser interrompidas rapidamente
e, em seguida, serão administradas as medicações, seguidas por uma descarga
de pelo menos 5 mL de solução salina normal e cinco ventilações consecutivas
de pressão positiva.
Os desfibriladores são manuais ou automáticos (DEA), com formas de
onda monofásicas ou bifásicas, e identificam a presença de ritmo chocável e
não chocável. Em crianças com mais de 25 kg ou oito anos, utilizam-se as pás
para adultos. Em crianças de 1 a 8 anos, com menos de 25 kg, são utilizadas as
pás pediátricas, enquanto em crianças ainda menores, a alternativa é colocar
uma das pás no seu dorso.
Reanimação cardiorrespiratória em neonatologia e pediatria 7

Se a desfibrilação restaurar com sucesso um ritmo organizado (ou se houver


outras evidências de ressuscitação ou pulsações visíveis em uma forma de
onda arterial, nos casos de pacientes com cateter de pressão arterial média),
verifica-se o pulso da criança para determinar se há um ritmo de perfusão. Se
o pulso estiver presente, os cuidados pós-ressuscitação deverão ser iniciados.

Atuação do enfermeiro na parada


cardiorrespiratória do recém-nascido
Os passos iniciais da reanimação do recém-nascido incluem manter a tempe-
ratura normal da criança, posicioná-la para abrir a via aérea, aspirar secreções,
caso a via aérea pareça obstruída ou se for necessária a ventilação por pressão,
secar a criança (a menos que o recém-nascido seja prematuro e se use cobertor
envoltório de plástico) e estimulá-la a respirar.
A temperatura de admissão dos recém-nascidos não asfixiados é um forte
preditor de mortalidade em todas as idades gestacionais, já que os bebês pre-
maturos são especialmente vulneráveis. A hipotermia também está associada
a morbidades graves, problemas respiratórios, hipoglicemia e sepse tardia.
Recomenda-se que a temperatura de recém-nascidos não asfixiados seja man-
tida entre 36,5 e 37,5 °C desde o nascimento até a admissão e a estabilização.
Deve-se evitar a sucção desnecessária, pois isto ajuda a prevenir o risco
de bradicardia induzida devido à aspiração da nasofaringe. A deterioração
da complacência pulmonar, a oxigenação e a velocidade do fluxo sanguíneo
cerebral que acompanham a sucção traqueal em neonatos intubados no CTI
(Centro de Terapia Intensiva) Neonatal também sugerem a necessidade de
cautela no uso da aspiração imediatamente após o nascimento.
Caso o recém-nascido apresente tônus muscular fraco e esforços respi-
ratórios inadequados no líquido amniótico meconial, os passos iniciais da
ressuscitação precisam ser concluídos sob o aquecedor radiante. O PPV deve
ser iniciado se o lactente não estiver respirando ou a frequência cardíaca for
inferior a 100 bpm após a conclusão das etapas iniciais. Portanto, o início
da ventilação no primeiro minuto de vida em crianças que não respiram ou
respiram de forma ineficaz deve ser enfatizado. A intervenção apropriada
para apoiar a ventilação e a oxigenação precisa ser iniciada conforme indicado
para cada criança individualmente, o que pode incluir intubação e sucção se
a via aérea estiver obstruída. Caso a frequência cardíaca esteja menor que 60
bpm, apesar de ser a ventilação adequada (via tubo endotraqueal, se possível),
indica-se a realização de compressões torácicas.
8 Reanimação cardiorrespiratória em neonatologia e pediatria

Como a ventilação é a ação mais eficaz na ressuscitação neonatal e as


compressões torácicas são propensas a competir com a ventilação efetiva,
os socorristas devem garantir que a ventilação assistida seja administrada de
forma ideal antes de iniciar as compressões torácicas. Há duas técnicas que
são utilizadas: compressão com os dois polegares ao redor do tórax e apoio
nas costas (técnica de dois polegares) e compressão com dois dedos com uma
segunda mão apoiando as costas (técnica de dois dedos).

Como a técnica dos dois polegares gera pressões arteriais e de perfusão coronária mais
elevadas, mas com menos fadiga do socorrista, a técnica de duas mãos circundantes
é sugerida como o método preferido.

Recomenda-se que as compressões e as ventilações sejam coordenadas


para evitar a entrega simultânea. O peito deve poder se expandir novamente
durante o relaxamento, mas os polegares do resgatador não devem sair do
peito. As diretrizes da American Heart Association (AHA) orientam o uso de
uma proporção de 3:1 de compressões para ventilação, com 90 compressões
e 30 respirações para atingir aproximadamente 120 eventos por minuto para
maximizar a ventilação a uma taxa alcançável. Na Figura 1, é possível ver
a ilustração de como realizar compressões cardíacas com a técnica dos dois
polegares.
Reanimação cardiorrespiratória em neonatologia e pediatria 9

Figura 1. Compressão cardíaca: técnica dos dois polegares.


Fonte: CPR and First Aid (2019, documento on-line).

Cada evento deverá ser distribuído em aproximadamente meio segundo, com


a expiração ocorrendo durante a primeira compressão após cada ventilação.
Uma razão de compressão para ventilação de 3:1 é usada para a reanimação
neonatal, na qual o comprometimento das trocas gasosas é quase sempre a
principal causa de colapso cardiovascular, no entanto, quando a origem pode
ser considerada cardíaca, usam-se razões mais altas, como, por exemplo, 15:2
(AMERICAN HEART ASSOCIATION, 2018).
Respirações, frequência cardíaca e oxigenação precisam ser reavaliadas
periodicamente, sendo que as compressões torácicas coordenadas e as ventila-
ções devem continuar até que a frequência cardíaca espontânea seja ≥ 60 por
minuto. Ressalta-se que interrupções frequentes de compressões devem ser
evitadas, pois isto compromete a manutenção artificial da perfusão sistêmica
e a manutenção do fluxo sanguíneo coronariano.
A medida atual para determinar o progresso bem-sucedido na ressuscitação
neonatal é avaliar a resposta da frequência cardíaca. Outros dispositivos, como
a oximetria de pulso, por exemplo, podem ser úteis para determinar quando
ocorre o retorno da circulação espontânea (RCE).
10 Reanimação cardiorrespiratória em neonatologia e pediatria

Atuação do enfermeiro na parada


cardiorrespiratória do paciente pediátrico
Assim que a criança não estiver respondendo e sem respirar, deve-se pedir
ajuda. Nesse momento, é separado um desfibrilador e a RCP iniciada ime-
diatamente (com oxigênio suplementar, se disponível). O monitor de ECG
(eletrocardiograma) ou os eletrodos do DEA são anexados assim que estiverem
disponíveis. Durante a ressuscitação, a ênfase deve ser dada ao fornecimento
de RCP de alta qualidade (proporcionando compressões torácicas de taxa
e profundidade adequadas, permitindo a completa retração do tórax após
cada compressão, minimizando interrupções nas compressões e evitando
ventilação excessiva).
A RCP pode ser administrada pelo enfermeiro ou pelo técnico de enfer-
magem, enquanto isso, o médico determinará o ritmo cardíaco da criança
pelo ECG ou, se estiver usando um DEA, o dispositivo dirá se o ritmo é
chocável ou não chocável. Pode ser necessário interromper temporariamente
as compressões torácicas para determinar o ritmo da criança, enquanto isso,
outro membro da equipe de enfermagem ficará responsável por preparar e
administrar as medicações solicitadas pelo médico.
A qualidade da liderança da equipe de ressuscitação à beira do leito
afeta o desempenho da equipe. Os princípios de gestão de recursos de crise
sugerem que as equipes de ressuscitação funcionam melhor quando a equipe
souber quem está liderando os esforços de ressuscitação, quais são seus papéis
individuais e como devem se comunicar e trabalhar juntos da maneira mais
eficaz. Em geral, o médico lidera a parada cardíaca, enquanto o enfermeiro
lidera sua equipe, posicionando cada membro em sua devida função.
A técnica das mãos em torno do polegar é recomendada. Nela, circunda-
-se o peito da criança com as duas mãos, os dedos são espalhados ao redor
do tórax e os polegares colocados juntos no terço inferior do esterno. Nesse
momento, o esterno é comprimido vigorosamente com os polegares. Depois
de cada compressão, deve-se deixar o tórax recuar completamente, pois a
reexpansão completa do tórax melhora o fluxo de sangue que retorna ao
coração e, portanto, o fluxo sanguíneo para o corpo durante a RCP.
Durante a RCP pediátrica, o recuo incompleto da parede torácica é comum,
particularmente quando os socorristas ficam fadigados. O recuo incompleto
durante a RCP está associado a maiores pressões intratorácicas e à diminuição
significativa do retorno venoso, da perfusão coronariana, do fluxo sanguíneo
e da perfusão cerebral. Caso haja evidência de trauma que sugira lesão na
coluna vertebral, faz-se um impulso da mandíbula sem inclinação da cabeça
Reanimação cardiorrespiratória em neonatologia e pediatria 11

para abrir a via aérea. Como a manutenção de uma via aérea patente e o for-
necimento de ventilação adequada é importante na RCP pediátrica, pode-se
usar uma manobra de inclinação da cabeça: elevação do queixo se o impulso
da mandíbula não abrir a via aérea.
Com apenas um socorrista, usa-se uma relação de compressão para ventila-
ção de 30:2. Para RCP com dois ou mais socorristas, um provedor deve realizar
compressões torácicas, enquanto o outro mantém as vias aéreas abertas e
realiza ventilações na proporção de 15:2. As ventilações devem ter interrupções
mínimas nas compressões torácicas (AMERICAN HEART ASSOCIATION,
2018). A ventilação pode ser realizada por meio de um dispositivo de barreira,
caso o profissional hesite em realizar respiração boca a boca (dispositivos de
barreira não reduzem o baixo risco de transmissão da infecção e alguns podem
aumentar a resistência ao fluxo de ar), ou então pode ser utilizada a BVM.
A ventilação com BVM requer treinamento para garantir as seguintes
habilidades: selecionar o tamanho correto da máscara, abrir as vias aéreas,
fazer uma boa vedação entre a máscara e a face, fornecer ventilação efetiva
e avaliar a eficácia dessa ventilação (STONE et al., 2016). Para lactentes e
crianças pequenas, é utilizada uma bolsa autoinflável com um volume de pelo
menos 450 a 500 mL. Em crianças mais velhas ou adolescentes, uma bolsa
autoinflável para adultos (1000 mL) pode ser necessária para alcançar com
segurança o aumento do tórax.
A ventilação eficaz com bolsa-máscara requer uma vedação apertada entre
a máscara e o rosto do paciente. A via aérea é aberta ao levantar a mandíbula
em direção à máscara, o que proporciona uma boa vedação, em seguida,
a bolsa é apertada até que o peito se eleve. Como a ventilação efetiva com
bolsa-máscara requer etapas complexas, a ventilação com bolsa-máscara não
é recomendada para um único profissional durante a RCP. Durante a RCP, o
profissional solitário deve usar técnicas de dispositivo de boca de barreira para
a ventilação. A ventilação com bolsa-máscara pode ser fornecida de forma
eficaz durante a RCP com duas pessoas.
Se uma via aérea avançada estiver em vigor, os ciclos de compressões são
de 100 por minuto continuamente sem pausas para ventilações. São fornecidas
de 8 a 10 respirações por minuto (respiração a cada 6 a 8 segundos), tendo
o cuidado de evitar a ventilação excessiva no ambiente estressante de uma
parada pediátrica.
A equipe deve coordenar as compressões torácicas e o fornecimento de
choque para minimizar o tempo entre as compressões e a entrega do choque
e para retomar a RCP, começando com as compressões imediatamente após a
entrega do choque. O DEA solicitará, ao resgatador, que o ritmo seja reanalisado
12 Reanimação cardiorrespiratória em neonatologia e pediatria

a cada 2 min. A entrega de choque deve, idealmente, ocorrer o mais rápido


possível após as compressões. Veja, na Figura 2, um algoritmo de como a
equipe multidisciplinar deve proceder em uma PCR em pacientes pediátricos.

Qualidade da RCP
Algoritmo de PCR em adultos — Atualização de 2018
• Comprima com força (pelo menos
1 5 cm) e rapidez (100-120 min) e
aguarde o retorno total do tórax.
• Minimize interrupções nas
Inicie a RCP compressões.
• Forneça oxigênio • Evite ventilação excessiva.
• Acople o monitor/desfibrilador • Alterne as pessoas que aplicam as
compressões a cada 2 minutos ou
antes se houver cansaço.
• Sem via aérea avançada, relação
compressão-ventilação de 30:2.
Sim Não • Capnografia quantitativa com
Ritmo
2 forma de onda
chocável? – Se PETCO2 < 10 mmHg, tente
9 melhorar a qualidade da RCP.
FV/TVSP Assistolia/AESP • Pressão intra-arterial
– Se pressão na fase de
relaxamento (diastólica)
< 20 mmHg, tente melhorar a
3 qualidade da RCP.
3 Choque
Carga do choque para desfibrilação
4
• Bifásica: recomendação do
RCP 2 min fabricante (p. ex., dose inicial de
• Acesso IV/IO 120 a 200 J); se desconhecida, usar
máximo disponível.
A segunda dose e as subsequentes
devem ser equivalentes, podendo
ser consideradas doses mais altas.
• Monofásica: 360 J.
Ritmo Não
Tratamento medicamentoso
chocável?
• Dose IV/IO de epinefrina:
Sim 1 mg a cada 3 a 5 minutos.
• Dose IV/IO de amiodarona:
5 Primeira dose: bolus de 300 mg.
5 Choque Segunda dose: 150 mg.
6 10 OU
Dose IV/IO de lidocaína:
RCP 2 min RCP 2 min Primeira dose: 1 a 1,5 mg/kg.
• Epinefrina a cada 3 a 5 min • Acesso IV/IO Segunda dose: 0,5 a 0,75 mg/kg.
• Considere via aérea avançada, • Epinefrina a cada 3 a 5 min
capnografia • Considere via aérea avançada, Via aérea avançada
capnografia
• Intubação endotraqueal ou via
aérea supraglótica avançada.
• Capnografia com forma de onda ou
Não Sim capnometria para confirmar e
Ritmo Ritmo monitorar o posicionamento do
chocável? chocável? tubo endotraqueal.
• Quando houver uma via
Sim aérea avançada, administre
1 ventilação a cada 6 segundos
(10 ventilações/min) com
7 Choque Não compressões torácicas contínuas.

8 11 Retorno da circulação
espontânea (RCE)
RCP 2 min RCP 2 min
• Trate causas reversíveis • Pulso e pressão arterial.
• Amiodarona ou lidocaína • Aumento abrupto prolongado no
• Trate causas reversíveis PETCO2 (normamente 40 ≥ mmHg).
• Sinal de onda espontâneo na
pressão arterial com monitorização
intra-arterial.
Não Sim
Ritmo Causas reversíveis
chocável?
• Hipovolemia
12 • Hipóxia
• Hidrogênio, íon (acidose)
• Se nenhum sinal de retorno Vá para • Hipo-/hipercalemia
da circulação espontânea 5 ou 7 • Hipotermia
(RCE), vá para 10 ou 11 • Tensão no pneumotórax
• Se RCE, vá para Cuidados • Tamponamento cardíaco
• Toxinas
pós-PCR • Trombose pulmonar
• Trombose coronária

Figura 2. Algoritmo de PCR utilizado em pediatria. PETCO2: pressão parcial de CO2.


Fonte: Adaptada de American Heart Association (2018).
Reanimação cardiorrespiratória em neonatologia e pediatria 13

Cuidados imediatos pós-parada


cardiorrespiratória nos pacientes
recém-nascido e pediátrico
Os objetivos do atendimento pós-ressuscitação são preservar a função neuro-
lógica, prevenir lesões de órgãos secundários, diagnosticar e tratar a causa da
doença e permitir que o paciente chegue a um centro de atendimento terciário
pediátrico em ótimo estado fisiológico. A reavaliação frequente do paciente é
necessária, pois o estado cardiorrespiratório pode se deteriorar.
Os bebês que precisam de ressuscitação correm risco de deterioração depois
que seus sinais vitais voltam ao normal. Uma vez que a ventilação efetiva e/
ou a circulação tenham sido restabelecidas, a criança deve ser mantida ou
transferida para um ambiente onde possa ser proporcionado monitoramento
e cuidados antecipados.
Como uma saturação arterial de oxi-hemoglobina de 100% pode correspon-
der a uma PaO2 (pressão arterial parcial de O2) entre 80 e aproximadamente
500 mmHg, pode ser razoável — quando o equipamento necessário estiver
disponível — que o socorrista desmame oxigênio para atingir uma saturação
de oxi-hemoglobina inferior a 100%, mas igual ou maior que 94%. O objetivo
de tal abordagem é alcançar a normoxemia e, ao mesmo tempo, garantir que
a hipoxemia seja estritamente evitada. De forma ideal, o oxigênio é titulado
para um valor adequado à condição específica do paciente.

Deve-se monitorar a frequência cardíaca e a pressão sanguínea e repetir as avaliações


clínicas em intervalos frequentes até que o paciente fique estável. Um ECG de 12
derivações pode ser útil para identificar a causa da parada cardíaca. Depois disso, são
puncionados dois cateteres venosos seguros e coletados exames laboratoriais para
analisar gases sanguíneos venosos ou arteriais, eletrólitos séricos, glicose e concentra-
ções de cálcio. Com base no resultado do lactato sérico e da SatO2 (saturação arterial
de oxigênio), a oferta de oxigênio tecidual é ajustada. Uma radiografia de tórax deve
ser realizada para avaliar a posição do tubo endotraqueal, o tamanho do coração e
o estado pulmonar.

A temperatura precisa ser verificada continuamente até a estabilização


do paciente. Com isso, deve ser considerada a monitorização de diurese
14 Reanimação cardiorrespiratória em neonatologia e pediatria

com um cateter de demora, sendo que a diminuição da produção de urina


(< 1 mL/kg por hora em lactentes e crianças ou < 30 mL/hora em adolescentes)
pode ser causada por condições pré-renais (p. ex., desidratação, perfusão
sistêmica inadequada), dano isquêmico renal ou uma combinação de fatores.

AMERICAN HEART ASSOCIATION. Destaques das atualizações focadas em recomen-


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de Vida Cardiovascular e Suporte Avançado de Vida em Pediatria. Estados Unidos,
2018. Disponível em: https://eccguidelines.heart.org/wp-content/uploads/2018/10/2018-
-Focused-Updates_Highlights_PTBR.pdf. Acesso em: 15 jul. 2019.
CPR AND FIRST AID. Pediatric basic life support and cardiopulmonary resuscitation quality.
Estados Unidos, 2019. Disponível em: https://eccguidelines.heart.org/index.php/circu-
lation/cpr-ecc-guidelines-2/part-11-pediatric-basic-life-support-and-cardiopulmonary-
-resuscitation-quality/. Acesso em: 15 jul. 2019.
MAROSTICA, P. J. C. et al. Pediatria: consulta rápida. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2018.
STONE, C. K. et al. Current emergências pediátricas: diagnóstico e tratamento. Porto
Alegre: AMGH, 2016. (Série Lange).

Leituras recomendadas
SILVA, L. S.'A. A Parada Cardiorrespiratória (PCR) na criança em uma Unidade de Pronto
Atendimento: uma estratégia educativa permanente para a Enfermagem. 2014. Mo-
nografia (Especialização em Enfermagem Urgência e Emergência) — Universidade
Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2014. Disponível em: https://repositorio.ufsc.
br/handle/123456789/173595. Acesso em: 15 jul. 2019.
TAVEIRA, R. P. C. Atuação do enfermeiro na equipe de saúde durante parada cardiorrespira-
tória em Unidade de Terapia Intensiva pediátrica: proposta de protocolo. 2018. Dissertação
(Mestrado em Enfermagem Assistencial) — Universidade Federal Fluminense, Niterói,
2018. Disponível em: https://app.uff.br/riuff/bitstream/1/8803/1/Rodrigo%20Pereira%20
Costa%20Taveira.pdf. Acesso em: 15 jul. 2019.
VILAS BOAS, M. I. R. Atuação e dificuldades do profissional enfermeiro frente a uma parada
cardiorrespiratória (PCR) pediátrica: uma revisão literária. 2014. Monografia (Especia-
lização em Enfermagem Urgência e Emergência) – Universidade Federal de Santa
Catarina, Florianópolis, 2014. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/bitstream/
handle/123456789/173610/MARIA%20IVONE%20RAMOS%20VILAS%20BOAS-EMG-TCC.
pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 15 jul. 2019.

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