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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 34ª VARA

CRIMINAL DO RIO DE JANEIRO

Processo n. ...

Heitor Rodrigues, já qualificado nos autos do processo em epígrafe, vem, por


intermédio de seu advogado infra-assinado, com procuração em anexo,
interpor RECURSO DE APELAÇÃO, com fulcro no art. 593, I, do Código de
Processo Penal, em face da respeitável sentença prolatada por este douto juízo a quo,
que condenou Heitor por tentativa de roubo majorado pelo uso de arma de fogo.

Em sequência, requer seja o recurso recebido e encaminhado ao Egrégio Tribunal de


Justiça do Estado do Rio de Janeiro, já com as razões inclusas, com as garantias de
estilo.

Nestes termos,
Pede deferimento
Rio de Janeiro, 15 de maio de 2017
Advogado
OAB

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

APELANTE: Heitor Rodrigues


APELADO: Ministério Público

PROCESSO n. ...

RAZÕES DE RECURSO DE APELAÇÃO


EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA
COLENDA CÂMARA

1. DOS FATOS

Desejando comprar um novo carro, Heitor Rodrigues, 20 anos, decidiu praticar um


crime de roubo em um estabelecimento comercial, com a intenção de subtrair o dinheiro
constante do caixa. Sozinho, dirigiu-se ao estabelecimento comercial, nele ingressou e,
quando restava apenas um cliente, simulou portar arma de fogo e o ameaçou de morte, o
que fez com que este cliente saísse.

Após, antes de subtrair qualquer quantia do caixa, Heitor notou que havia apenas um
funcionário e que utilizava cadeira de rodas. Arrependido, Heitor deixa o local sem nada
subtrair, mas, já do lado de fora da loja, foi surpreendido por policiais militares. Estes
realizam a abordagem, verificam que não havia nenhuma arma com ele.

AV. PASTOR MARTIN LUTHER KING JR. Nº 126, SALA 300-D, DEL CASTILHO/RJ
CEP: 20765-971 – TEL: (21) 3296-6743
O Ministério Público requereu a conversão da prisão em flagrante em preventiva e
denunciou Leonardo como incurso nas sanções penais do Art. 157, § 2º, inciso I, c/c o
Art. 14, inciso II, ambos do Código Penal.

O juiz da 34ª Vara Criminal da Capital converteu a prisão em flagrante em preventiva e


recebeu a denúncia, sendo que o processo teve o seu prosseguimento regular.

O homem ameaçado de morte jamais fora ouvido em juízo. Em juízo, o apelante


confirma integralmente os fatos, destacando que se arrependeu do crime que praticaria.
Constavam no processo a Folha de Antecedentes Criminais do acusado sem qualquer
anotação e a Folha de Antecedentes Infracionais, ostentando uma representação pela
prática de ato infracional análogo ao crime de tráfico, com decisão definitiva de
procedência da ação socioeducativa.

Em memoriais o Ministério Público requereu a condenação nos termos da denúncia.

O advogado de Heitor, contudo, renunciou aos poderes, razão pela qual, de imediato, o
magistrado abriu vista para a Defensoria Pública apresentar alegações finais.

Em sentença, o juiz julgou procedente a pretensão punitiva estatal.

No momento de fixar a pena-base, reconheceu a existência de maus antecedentes em


razão da representação julgada procedente em face de Leonardo enquanto era
inimputável, aumentando a pena em 06 meses de reclusão.

Na terceira fase, incrementou o magistrado em 1/3 a pena, justificando ser desnecessária


a apreensão de arma de fogo, bastando a simulação de porte do material diante do temor
causado à vítima. Com a redução de 1/3 pela modalidade tentada, a pena final ficou
acomodada em 4 (quatro) anos de reclusão.

O regime inicial de cumprimento de pena foi o fechado, justificando o magistrado que o


crime de roubo é extremamente grave e que atemoriza os cidadãos do Rio de Janeiro
todos os dias.

Intimado, o Ministério Público apenas tomou ciência da decisão.

2. DOS DIREITOS

2.1. Preliminares

a) Da nulidade

Em sede de alegações finais, o advogado constituído do apelante renunciou, sendo que o


douto magistrado a quo abriu vista para a Defensoria Pública apresentar alegações
finais. Ocorre que, diante da renúncia do advogado constituído, Leonardo deveria ter
sido intimado para que optasse entre a constituição de novo defensor ou que ficasse
assistido pela Defensoria Pública. Ao não intimar o acusado para que optasse pela
constituição de novo advogado, o magistrado violou os princípios da ampla defesa,

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sendo que houve evidente prejuízo, pois as alegações finais foram apresentadas sem
nenhum contato do Defensor Público com o acusado.

Assim, cabível é a nulidade da sentença e de todo o processo desde o momento da


apresentação das alegações finais.

2.2 Do mérito

a) Da desistência voluntária

O réu se arrependeu e desistiu de praticar o delito antes mesmo de sua consumação ao


ver o funcionário do estabelecimento com dificuldades de locomoção. Assim, está
caracterizada a desistência voluntária, nos termos do art. 15, do Código Penal, e o
acusado só responde pelos atos já praticados. Certo que não deve se levantar a hipótese
da tentativa do delito, pois a tentativa se configura quando, iniciada a execução, o crime
não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. O que houve foi
desistência voluntária, que não se confunde com a tentativa.

Assim, como houve desistência voluntária, Heitor apenas responderia pelos atos já
praticados. Restou comprovado o crime de ameaça ao cliente que estava no local,
contudo ele jamais fora ouvido em juízo. O crime de ameaça, previsto no art. 147 do
Código Penal, é de ação pública condicionada a representação, como esta nunca
ocorreu, Heitor não pode ser condenado por este delito pela ocorrência da decadência.
Isto posto, deve o apelante ser absolvido do crime de roubo.

2.3 Da subsidiariedade

Na rara hipótese de ser mantida a condenação do apelante, com base no princípio da


eventualidade expomos os seguintes argumentos:

a) Dosimetria da Pena

No momento de fixar a pena-base, o juízo a quo reconheceu a existência de maus


antecedentes em razão da representação julgada procedente em face de Heitor
Rodrigues enquanto era inimputável, aumentando a pena em 06 meses de reclusão.
Ocorre que a decisão definitiva de procedência da ação socioeducativa não deve ser
considerada como maus antecedentes, fundamentando o aumento de pena acima do
mínimo legal. Assim, a pena deve ser fixada em seu mínimo legal.

No que diz respeito à segunda fase da dosimetria deve ser reconhecida a atenuante da
menoridade relativa prevista no art. 65, I do Código Penal, sendo que Heitor possui
apenas 20 anos de idade. Também deve se reconhecer a atenuante da confissão
espontânea, prevista no art. 65, III, d, do Código Penal.

No que diz respeito a terceira fase da dosimetria da pena, deve ser afastada a incidência
da causa de aumento de pena pelo uso de arma de fogo, pois não há nenhuma prova de
sua utilização nem mesmo o laudo pericial, requisito fundamental na apuração do fato,
nos termos do art. 158, do Código de Processo Penal.

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b) Do regime menos gravoso

A opinião do julgador sobre a gravidade abstrata do crime não é motivação idônea para
a imposição de regime mais severo do que o permitido segundo a pena aplicada, nos
termos da súmula 718 do Supremo Tribuna Federal, sendo que à luz da súmula 719 do
Supremo Tribunal Federal a imposição de regime mais severo do que a pena aplicada
exige motivação idônea. Deve, portanto, ser aplicado o regime aberto ou semiaberto, a
depender da pena aplicada.

c) Da suspensão condicional da pena

Deve ser reconhecida a redução máxima de 2/3 da tentativa, devido ao iter


criminis percorrido, o que enseja a aplicação da suspensão condicional da pena.

3. PEDIDOS

Diante de todo o exposto, requer aos Nobres Julgadores, o PROVIMENTO do presente


recurso, bem como a reforma da sentença a fim de:

a) nulidade da sentença proferida pelo juízo a quo e de todo o processo desde


apresentação das alegações finais;

b) reconhecimento da desistência voluntária, nos moldes do art. 15 do Código Penal;

c) absolvição de Heitor;

d) fixação da pena em seu mínimo legal;

e) reconhecimento das atenuantes da menoridade relativa (art. 65, I, do Código Penal) e


da confissão espontânea (art. 65, III, d, do Código Penal);

f) a aplicação do regime aberto ou semiaberto, a depender da pena aplicada, pelo


reconhecimento das súmulas 718 e 719, ambas do Supremo Tribunal Federal;

g) provimento do recurso com a consequente expedição do alvará de soltura.

Nestes termos
Pede deferimento
Rio de Janeiro, 15 de maio de 2017
Advogado
OAB

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