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Botucatu/2023
1. Introdução:
Epidemiologia da Hepatite A no mundo:
As infecções pelo Vírus da Hepatite A (VHA) são muito prevalentes em
todo o mundo, com alta endemicidade em países pobres 1 como África Subsaariana
e Sudeste Asiático. Entretanto, apesar dessa quantidade significativa nesses países,
acredita-se que muitos casos são subestimados tanto pela falta de recurso
laboratorial disponível nas unidades de saúde como também a falta de experiência
do profissional em se atentar para esse diagnóstico.
Dados atuais mostram que, no mundo, o número de casos diagnosticados
de Hepatite A aumentou 13,9 % de 139,54 milhões em 1990 para 158,94 milhões
em 2019. Ao analisar com mais detalhes as regiões mais acometidas, observam-se
que a China apresentou, cerca de um terço dos casos de hepatite A no mundo,
seguido por Índia, Qatar e Afeganistão 2. Em países com a economia mais
fortalecida, como os Estados Unidos e a Europa Ocidental, o VHA possui baixos
índices de infecção, mas a susceptibilidade ao vírus de adultos não imunes é maior
que em países pobres 3,4.
A disparidade encontrada acima é preocupante, pois, se, por um lado temos
um território com alta disseminação do vírus e uma população sendo contaminada,
apresentando sinais e sintomas, podendo, inclusive, evoluir com gravidade, por outro
temos uma população vulnerável que, apesar de não ter a circulação do vírus no
território, o indivíduo pode viajar para lugares endêmicos da doença, contaminar-se e
despertar os sinais e sintomas no local de origem e disseminar a doença.
No Brasil, algumas doenças são de notificação compulsória, dentre elas as
hepatites virais (A, B, C, D e E) 5. Essa estratégia tem como objetivo ajudar os
profissionais de saúde a entenderem a disseminação de algumas doenças no território e a
implementação de medidas de saúde pública com o intuito de prevenir a transmissão e as
formas graves da doença através da vacinação, quando possível. No território nacional,
encontram-se algumas diferenças de prevalência de VHA.
Entre os anos de 2000 a 2021, foram notificados 718.651 casos de hepatites
no Brasil, dentre elas 168. 175 (23,4%) são referentes aos casos de Hepatite A,
264.640 (36,8%) aos de hepatite B (38,9%), 279.872 (38,9%) aos de Hepatite C e
4.259 (0,6%) aos de Hepatite D. A variação do número de casos existe, demonstrando
a região Nordeste concentra a maior proporção das infecções pelo vírus A (30,1%).
Na região Sudeste verificam-se as maiores proporções dos vírus B e C, com 34,2% e
58,4%, respectivamente. Por sua vez, a região Norte acumula 73,7% do total de casos
de hepatite D (ou Delta) 6.
O Vírus da Hepatite A, identificado primeiramente em 1973, pertence à
família Picornaviridae e ao gênero Hepatovirus (9). Trata-se de um patógeno cujo
material genético é uma única fita de RNA 7 e apresenta como principal forma de
transmissão fecal oral através da ingesta de água e alimentos contaminados ou por
contato com uma pessoa contaminada 8. Para a aquisição do patógeno, alguns
fatores de risco devem ser considerados como: usuários de drogas ilícitas, viajantes
que visitarão áreas endêmicas do vírus, homens que fazem sexo com homens
(HSH), profissionais de laboratório que trabalham com o VHA. Alguns indivíduos
estão mais susceptíveis a ter doença mais grave como hepatopatia por álcool,
hepatite autoimune, co infectados com hepatite B e C além de pessoas que vivem
com HIV (PVHIV)9.
Após o contato com o agente, ele se dissemina na corrente sanguínea e
chega até o fígado, principal órgão envolvido na doença, evoluindo com destruição
dos hepatócitos 10. Após um período de incubação médio de 14 a 28 dias, os
principais sinais e sintomas associados são fadiga, febre, náusea, vômito e, nos
casos mais graves, icterícia 11. A doença é autolimitada, e, em geral, não costuma
causar complicações. As crianças menores, expostas ao vírus, não apresentam
sintomas da doença, mas crianças mais velhas e adultos geralmente desenvolvem
sintomas mais graves como insuficiência hepática aguda e morte 12. A insuficiência
hepática aguda ocorre em menos de 1% dos casos e, desses, 31% necessitam de
transplante emergencial, 13 o que aumenta a mortalidade do paciente. Até o presente
momento, não há antiviral específico para tratamento de pessoas doentes pelo
VHA, mas existe o método mais seguro de evitar a complicação dessa doença
através da vacinação.
A vacina contra VHA foi introduzida no calendário vacinal brasileiro em
2014. Trata-se de uma vacina de vírus inativado, muito eficaz, baixa
reatogenicidade e apresenta taxas de soroconversão de 94% a 100% e, a princípio,
foi indicada para crianças de 12 meses até menores de dois anos 14. Em 2017, o
trabalho publicado por Chen et al analisou as características clínicas e
epidemiológicas de um surto de hepatite A que aconteceu em Taiwan no período
de junho de 2015 a agosto de 2016. Para esse estudo, também foram analisadas as
características dos pacientes no período pré surto, janeiro de 2001 a maio de 2015.
Esses dados mostraram uma maior prevalência de doença pelo VHA em HSH e
HIV, além de evidenciar que o curso clínico, ou seja, o tempo que o paciente
permanece com os sinais e sintomas, é maior, eles são mais sintomáticos e
possuem um período mais prolongado de doença comparado com a população em
geral 15. Atualmente, além da vacina para VHA, a Sociedade Brasileira de
Imunizações (SBI) preconiza que os pacientes HIV sejam imunizados contra
influenza, pneumocócica conjugada 13 valente (VCP13) pneumocócica
polissacarídica 23- valente (VPP23), Haemophilus influenzae b, hepatite b, HPV,
meningocócica conjugadas (Men C ou Men ACWY), meningocócica b, herpes
zoster inativada e covid 19 16.
Após a publicação desses dados, o ministério da Saúde do Brasil, em
2018, ampliou a indicação da vacina para VHA para pessoas que tenham prática
sexual com contato oral-anal, com priorização para gays e HSH 17. Gradativamente,
a vacina contra o VHA foi disponibilizada e atingiu uma cobertura vacinal (CV)
satisfatória no ano de 2014. Após 2015, houve uma queda da CV em todas as
regiões do país e, apesar da baixa cobertura, não se evidenciou aumento dos
números de casos de VHA entre 2014 e 2018. Entretanto, a partir desse ano, as
taxas de doença pelo VHA não continuaram em queda o que pode corresponder a
tendência de enfraquecimento do reforço vacinal no Brasil 18. O cenário piorou
com a pandemia de covid 19.
Em março de 2020, quando declara a pandemia por COVID 19, a
cobertura vacinal em todo o mundo declinou. Na Inglaterra, por exemplo, três
semanas após a introdução do distanciamento social (20 de março de 2020), houve
uma queda de 19,8% em doses da vacina sarampo-caxumba-rubéola, em relação ao
mesmo período de 2019 19. Em Michigan (EUA), a completude do esquema vacinal
para crianças de cinco anos caiu de 67,0% para 49,7% em maio de 2020. Aos 16
meses, verificou-se que a cobertura vacinal contra o sarampo diminuiu de 76,1%
para 70,9% 20. No Brasil, a queda da cobertura vacinal aconteceu principalmente
em crianças com faixa etária entre zero e 2 anos 21.O que predispõe ao retorno de
doenças imunopreviníveis além de deixar os contactantes domiciliares susceptíveis ao
adoecimento.
3. JUSTIFICATIVA
4. MÉTODOS.
5. CRONOGRAMA
(3)
HAVELAAR, A. H. et al. World Health Organization Global Estimates and Regional
Comparisons of the Burden of Foodborne Disease in 2010. PLOS Medicine, v. 12,
n. 12, p. e1001923, 3 dez. 2015.
(4)
WOOTEN, D. A. Forgotten but Not Gone: Learning From the Hepatitis A Outbreak
and Public Health Response in San Diego. Topics in Antiviral Medicine, v. 26, n. 4,
p. 117–121, 1 jan. 2019.
(5)
NACIONAL, I. PORTARIA GM/MS No 217, DE 1o DE MARÇO DE 2023 -
DOU - Imprensa Nacional. Disponível em:
<https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-gm/ms-n-217-de-1-de-marco-de-2023-
467447344>. Acesso em: 8 abr. 2023.
(6)
(7)
NAJARIAN, R. et al. Primary structure and gene organization of human hepatitis A
virus. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of
America, v. 82, n. 9, p. 2627–2631, 1 maio 1985.
(8)
JACOBSEN, K. H. Globalization and the Changing Epidemiology of Hepatitis A
Virus. Cold Spring Harbor Perspectives in Medicine, v. 8, n. 10, p. a031716, 2 mar.
2018.
(9)
LANGAN, R. C.; GOODBRED, A. J. Hepatitis A. American Family Physician, v.
104, n. 4, p. 368–374, 1 out. 2021.
(10)
CAO, G. et al. The global trends and regional differences in incidence and mortality
of hepatitis A from 1990 to 2019 and implications for its prevention. Hepatology
International, v. 15, n. 5, p. 1068–1082, 3 ago. 2021.
(11)
HAMMOND, S. Hepatitis A. Workplace Health & Safety, v. 69, n. 3, p. 142–142, 8
fev. 2021.
(12)
JACOBSEN, K. H. Globalization and the Changing Epidemiology of Hepatitis A
Virus. Cold Spring Harbor Perspectives in Medicine, v. 8, n. 10, p. a031716, 2 mar.
2018. (13)
CASTANEDA, D. et al. From hepatitis A to E: A critical review of viral hepatitis.
World Journal of Gastroenterology, v. 27, n. 16, p. 1691–1715, 28 abr. 2021.
(14)
SUPERINTENDÊNCIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE GERÊNCIA DE
IMUNIZAÇÕES E REDE DE FRIO Atualizado em 15/07/2014 Nota Informativa -
Vacina Hepatite A
(15)
CHEN, N.-Y. et al. Clinical characteristics of acute hepatitis A outbreak in Taiwan,
2015–2016: observations from a tertiary medical center. v. 17, n. 1, 20 jun. 2017.
(16)
(17)
Nota Informativa no 10/2018 - COVIG/CGVP/.DCCI/SVS/MS | Departamento de
Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis.
Disponível em: <http://antigo.aids.gov.br/pt-br/legislacao/nota-informativa-no-
102018-covigcgvpdiahvsvsms>. Acesso em: 26 maio. 2023.
(18)
(19)
MCDONALD, H. I. et al. Early impact of the coronavirus disease (COVID-19)
pandemic and physical distancing measures on routine childhood vaccinations in
England, January to April 2020. Eurosurveillance, v. 25, n. 19, 14 maio 2020.
(20)
CRISTI A. BRAMER, M. P. H. et al. Decline in Child Vaccination Coverage During
the COVID-19 Pandemic — Michigan Care Improvement Registry, May 2016–May
2020. MMWR Morb Mortal Wkly Rep, 2020.
(21)
ABREU, I. R. et al. Impact of the COVID-19 pandemic on vaccination coverage in
children in Brazil: A literature review. Research, Society and Development, v. 11,
n. 14, p. e213111436227–e213111436227, 24 out. 2022.