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Impacto da COVID 19 no Status vacinal e Susceptibilidade ao vírus da

Hepatite A em pacientes portadores do Vírus da Imunodeficiência Humana


(HIV), atendidos em um Serviço de Ambulatório Especializado em
Infectologia (SAEI) no interior de São Paulo

Douglas Nascimento da Silva, Rosana Maria Barreto Colichi, Luciano


Barbosa, Ivana Gonçalves, Sebastião Pires Ferreira Filho.

Botucatu/2023
1. Introdução:
Epidemiologia da Hepatite A no mundo:
As infecções pelo Vírus da Hepatite A (VHA) são muito prevalentes em
todo o mundo, com alta endemicidade em países pobres 1 como África Subsaariana
e Sudeste Asiático. Entretanto, apesar dessa quantidade significativa nesses países,
acredita-se que muitos casos são subestimados tanto pela falta de recurso
laboratorial disponível nas unidades de saúde como também a falta de experiência
do profissional em se atentar para esse diagnóstico.
Dados atuais mostram que, no mundo, o número de casos diagnosticados
de Hepatite A aumentou 13,9 % de 139,54 milhões em 1990 para 158,94 milhões
em 2019. Ao analisar com mais detalhes as regiões mais acometidas, observam-se
que a China apresentou, cerca de um terço dos casos de hepatite A no mundo,
seguido por Índia, Qatar e Afeganistão 2. Em países com a economia mais
fortalecida, como os Estados Unidos e a Europa Ocidental, o VHA possui baixos
índices de infecção, mas a susceptibilidade ao vírus de adultos não imunes é maior
que em países pobres 3,4.
A disparidade encontrada acima é preocupante, pois, se, por um lado temos
um território com alta disseminação do vírus e uma população sendo contaminada,
apresentando sinais e sintomas, podendo, inclusive, evoluir com gravidade, por outro
temos uma população vulnerável que, apesar de não ter a circulação do vírus no
território, o indivíduo pode viajar para lugares endêmicos da doença, contaminar-se e
despertar os sinais e sintomas no local de origem e disseminar a doença.
No Brasil, algumas doenças são de notificação compulsória, dentre elas as
hepatites virais (A, B, C, D e E) 5. Essa estratégia tem como objetivo ajudar os
profissionais de saúde a entenderem a disseminação de algumas doenças no território e a
implementação de medidas de saúde pública com o intuito de prevenir a transmissão e as
formas graves da doença através da vacinação, quando possível. No território nacional,
encontram-se algumas diferenças de prevalência de VHA.
Entre os anos de 2000 a 2021, foram notificados 718.651 casos de hepatites
no Brasil, dentre elas 168. 175 (23,4%) são referentes aos casos de Hepatite A,
264.640 (36,8%) aos de hepatite B (38,9%), 279.872 (38,9%) aos de Hepatite C e
4.259 (0,6%) aos de Hepatite D. A variação do número de casos existe, demonstrando
a região Nordeste concentra a maior proporção das infecções pelo vírus A (30,1%).
Na região Sudeste verificam-se as maiores proporções dos vírus B e C, com 34,2% e
58,4%, respectivamente. Por sua vez, a região Norte acumula 73,7% do total de casos
de hepatite D (ou Delta) 6.
O Vírus da Hepatite A, identificado primeiramente em 1973, pertence à
família Picornaviridae e ao gênero Hepatovirus (9). Trata-se de um patógeno cujo
material genético é uma única fita de RNA 7 e apresenta como principal forma de
transmissão fecal oral através da ingesta de água e alimentos contaminados ou por
contato com uma pessoa contaminada 8. Para a aquisição do patógeno, alguns
fatores de risco devem ser considerados como: usuários de drogas ilícitas, viajantes
que visitarão áreas endêmicas do vírus, homens que fazem sexo com homens
(HSH), profissionais de laboratório que trabalham com o VHA. Alguns indivíduos
estão mais susceptíveis a ter doença mais grave como hepatopatia por álcool,
hepatite autoimune, co infectados com hepatite B e C além de pessoas que vivem
com HIV (PVHIV)9.
Após o contato com o agente, ele se dissemina na corrente sanguínea e
chega até o fígado, principal órgão envolvido na doença, evoluindo com destruição
dos hepatócitos 10. Após um período de incubação médio de 14 a 28 dias, os
principais sinais e sintomas associados são fadiga, febre, náusea, vômito e, nos
casos mais graves, icterícia 11. A doença é autolimitada, e, em geral, não costuma
causar complicações. As crianças menores, expostas ao vírus, não apresentam
sintomas da doença, mas crianças mais velhas e adultos geralmente desenvolvem
sintomas mais graves como insuficiência hepática aguda e morte 12. A insuficiência
hepática aguda ocorre em menos de 1% dos casos e, desses, 31% necessitam de
transplante emergencial, 13 o que aumenta a mortalidade do paciente. Até o presente
momento, não há antiviral específico para tratamento de pessoas doentes pelo
VHA, mas existe o método mais seguro de evitar a complicação dessa doença
através da vacinação.
A vacina contra VHA foi introduzida no calendário vacinal brasileiro em
2014. Trata-se de uma vacina de vírus inativado, muito eficaz, baixa
reatogenicidade e apresenta taxas de soroconversão de 94% a 100% e, a princípio,
foi indicada para crianças de 12 meses até menores de dois anos 14. Em 2017, o
trabalho publicado por Chen et al analisou as características clínicas e
epidemiológicas de um surto de hepatite A que aconteceu em Taiwan no período
de junho de 2015 a agosto de 2016. Para esse estudo, também foram analisadas as
características dos pacientes no período pré surto, janeiro de 2001 a maio de 2015.
Esses dados mostraram uma maior prevalência de doença pelo VHA em HSH e
HIV, além de evidenciar que o curso clínico, ou seja, o tempo que o paciente
permanece com os sinais e sintomas, é maior, eles são mais sintomáticos e
possuem um período mais prolongado de doença comparado com a população em
geral 15. Atualmente, além da vacina para VHA, a Sociedade Brasileira de
Imunizações (SBI) preconiza que os pacientes HIV sejam imunizados contra
influenza, pneumocócica conjugada 13 valente (VCP13) pneumocócica
polissacarídica 23- valente (VPP23), Haemophilus influenzae b, hepatite b, HPV,
meningocócica conjugadas (Men C ou Men ACWY), meningocócica b, herpes
zoster inativada e covid 19 16.
Após a publicação desses dados, o ministério da Saúde do Brasil, em
2018, ampliou a indicação da vacina para VHA para pessoas que tenham prática
sexual com contato oral-anal, com priorização para gays e HSH 17. Gradativamente,
a vacina contra o VHA foi disponibilizada e atingiu uma cobertura vacinal (CV)
satisfatória no ano de 2014. Após 2015, houve uma queda da CV em todas as
regiões do país e, apesar da baixa cobertura, não se evidenciou aumento dos
números de casos de VHA entre 2014 e 2018. Entretanto, a partir desse ano, as
taxas de doença pelo VHA não continuaram em queda o que pode corresponder a
tendência de enfraquecimento do reforço vacinal no Brasil 18. O cenário piorou
com a pandemia de covid 19.
Em março de 2020, quando declara a pandemia por COVID 19, a
cobertura vacinal em todo o mundo declinou. Na Inglaterra, por exemplo, três
semanas após a introdução do distanciamento social (20 de março de 2020), houve
uma queda de 19,8% em doses da vacina sarampo-caxumba-rubéola, em relação ao
mesmo período de 2019 19. Em Michigan (EUA), a completude do esquema vacinal
para crianças de cinco anos caiu de 67,0% para 49,7% em maio de 2020. Aos 16
meses, verificou-se que a cobertura vacinal contra o sarampo diminuiu de 76,1%
para 70,9% 20. No Brasil, a queda da cobertura vacinal aconteceu principalmente
em crianças com faixa etária entre zero e 2 anos 21.O que predispõe ao retorno de
doenças imunopreviníveis além de deixar os contactantes domiciliares susceptíveis ao
adoecimento.

Logo, diante dos fatos elucidados acima, levando-se em consideração


que os casos de hepatite A não estavam regredindo como esperado, além da
ampliação da cobertura vacinal para VHA ter acontecido em 2018 , dois anos antes
da pandemia de COVID 19 e, nesse período, os pacientes não tiveram acesso as
salas de vacina de rotina, os pacientes HIV positivos podem se deslocar para áreas
de transmissão do vírus e a atual situação epidemiológica no momento, o trabalho
se faz de extrema importância para rastrear o status vacinal e o perfil sorológico
para VHA nos pacientes que vivem com HIV.
2. OBJETIVOS

2.1 OBJETIVOS GERAIS:


 Identificar o status vacinal de pacientes que vivem com HIV.
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
 Identificar status sorológicos dos pacientes vacinados para VHA.
 Identificar o perfil de pacientes não vacinados.
 Identificar fatores de riscos para doenças imunopreviníveis.
 Identificar o impacto da pandemia de covid 19 no status vacinal.

3. JUSTIFICATIVA

Levando-se em consideração a parcela de pacientes HIV positivos que vivem


na comunidade, as diferenças sociais que impactam no consumo de água
potável, a pandemia de COVID 19 na redução da cobertura vacinal, a maior
chance de complicações após a infecção pelo VHA nessa população e a
diminuição de dados na literatura sobre a resposta vacinal nesses pacientes, esse
trabalho trará uma resposta sobre esse tema e desencadeará uma ação
secundária.

4. MÉTODOS.

O trabalho será executado no Serviço de Ambulatório Especializado em


Infectologia (SAEI) Domingos Alves Meira (DAM) situado no município de
Botucatu-Sp. Trata-se de um serviço que faz acompanhamento de pacientes que
vivem com HIV (PVHIV) e Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) e
conta com aproximadamente amanhã eu darei essa resposta
Trata-se de um estudo retrospectivo, cujos dados serão recrutados de
prontuário hospitalar de pacientes atendidos no SAEI no período de janeiro de
2018 a junho de 2023 (pré pandemia, durante a pandemia e pós pandemia).
Critérios de Inclusão: pacientes acima de 18 anos que fazem
acompanhamento no SAEIDAM e infectados pelo HIV.
Critério de exclusão: pacientes abaixo de 18 anos e HIV negativo.
Através de uma ficha padronizada, os seguintes dados serão coletados
como: dados demográficos, contagem de linfócitos T Cd4, data da vacinação para
hepatite A e demais vacinas contempladas no cartão vacinal do adulto HIV
positivo e data da conversão sorológica pós vacina para VHA.
Análise estatística: será feita uma estatística descritiva dos dados, o
teste quiquadradado para verificar associação entre duas variáveis e o teste de
comparação de proporções ao nível de 5% de significância. Para isso, será utilizado
o programa estatístico SigmaStat 3.5.

5. CRONOGRAMA

ETAPAS Primeiro Segundo Terceiro Quarto


Trimestre Trimestre Trimestre Trimestre
Levantament x x x x
o
Bibliográfico
Submissão no x
CEP
Coleta de x x
dados
Análise dos x
dados
Redação do x
trabalho
Publicação x
(1)
JACOBSEN, K. H. Globalization and the Changing Epidemiology of Hepatitis A
Virus. Cold Spring Harbor Perspectives in Medicine, v. 8, n. 10, p. a031716, 2 mar.
2018
(2)
CAO, G. et al. The global trends and regional differences in incidence and mortality
of hepatitis A from 1990 to 2019 and implications for its prevention. Hepatology
International, v. 15, n. 5, p. 1068–1082, 3 ago. 2021.

‌(3)
HAVELAAR, A. H. et al. World Health Organization Global Estimates and Regional
Comparisons of the Burden of Foodborne Disease in 2010. PLOS Medicine, v. 12,
n. 12, p. e1001923, 3 dez. 2015.
(4)
WOOTEN, D. A. Forgotten but Not Gone: Learning From the Hepatitis A Outbreak
and Public Health Response in San Diego. Topics in Antiviral Medicine, v. 26, n. 4,
p. 117–121, 1 jan. 2019.
(5)
NACIONAL, I. PORTARIA GM/MS No 217, DE 1o DE MARÇO DE 2023 -
DOU - Imprensa Nacional. Disponível em:
<https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-gm/ms-n-217-de-1-de-marco-de-2023-
467447344>. Acesso em: 8 abr. 2023.
(6)

Hepatites Virais | 2022. [s.l: s.n.]. Disponível em: <https://www.gov.br/saude/pt-


br/centrais-de-conteudo/publicacoes/boletins/epidemiologicos/especiais/2022/
boletim-epidemiologico-de-hepatites-virais-2022-numero-especial>.

(7)
NAJARIAN, R. et al. Primary structure and gene organization of human hepatitis A
virus. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of
America, v. 82, n. 9, p. 2627–2631, 1 maio 1985.
‌(8)
JACOBSEN, K. H. Globalization and the Changing Epidemiology of Hepatitis A
Virus. Cold Spring Harbor Perspectives in Medicine, v. 8, n. 10, p. a031716, 2 mar.
2018.
‌(9)
LANGAN, R. C.; GOODBRED, A. J. Hepatitis A. American Family Physician, v.
104, n. 4, p. 368–374, 1 out. 2021.
(10)
CAO, G. et al. The global trends and regional differences in incidence and mortality
of hepatitis A from 1990 to 2019 and implications for its prevention. Hepatology
International, v. 15, n. 5, p. 1068–1082, 3 ago. 2021.

(11)
HAMMOND, S. Hepatitis A. Workplace Health & Safety, v. 69, n. 3, p. 142–142, 8
fev. 2021.
(12)
JACOBSEN, K. H. Globalization and the Changing Epidemiology of Hepatitis A
Virus. Cold Spring Harbor Perspectives in Medicine, v. 8, n. 10, p. a031716, 2 mar.
2018. (13)
CASTANEDA, D. et al. From hepatitis A to E: A critical review of viral hepatitis.
World Journal of Gastroenterology, v. 27, n. 16, p. 1691–1715, 28 abr. 2021.
(14)
SUPERINTENDÊNCIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE GERÊNCIA DE
IMUNIZAÇÕES E REDE DE FRIO Atualizado em 15/07/2014 Nota Informativa -
Vacina Hepatite A
(15)
CHEN, N.-Y. et al. Clinical characteristics of acute hepatitis A outbreak in Taiwan,
2015–2016: observations from a tertiary medical center. v. 17, n. 1, 20 jun. 2017.
(16)

 Calendários de vacinação SBIm pacientes especiais – 2022-2023 SBIm – Sociedade


Brasileira de Imunizações. v . 0 9 . 1 1 . 2 0 2 2. [s.l: s.n.]. Disponível em:
<https://sbim.org.br/images/calendarios/calend-sbim-pacientes-especiais.pdf>.
Acesso em: 25 jan. 2023.

(17)
Nota Informativa no 10/2018 - COVIG/CGVP/.DCCI/SVS/MS | Departamento de
Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis.
Disponível em: <http://antigo.aids.gov.br/pt-br/legislacao/nota-informativa-no-
102018-covigcgvpdiahvsvsms>. Acesso em: 26 maio. 2023. 

(18)

BRITO, W. I. DE et al. Vacinação universal contra hepatite A no Brasil: análise da


cobertura vacinal e da incidência cinco anos após a implantação do
programa. Revista Brasileira de Epidemiologia, v. 23, 2020. 

(19)
MCDONALD, H. I. et al. Early impact of the coronavirus disease (COVID-19)
pandemic and physical distancing measures on routine childhood vaccinations in
England, January to April 2020. Eurosurveillance, v. 25, n. 19, 14 maio 2020.

(20)
CRISTI A. BRAMER, M. P. H. et al. Decline in Child Vaccination Coverage During
the COVID-19 Pandemic — Michigan Care Improvement Registry, May 2016–May
2020. MMWR Morb Mortal Wkly Rep, 2020.

(21)
ABREU, I. R. et al. Impact of the COVID-19 pandemic on vaccination coverage in
children in Brazil: A literature review. Research, Society and Development, v. 11,
n. 14, p. e213111436227–e213111436227, 24 out. 2022. 

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