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DIREITO ADMINISTRATIVO Marinela

ORGANIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

01. FORMAS DE PRESTAÇÃO DA ATIVIDADE ADMINISTRATIVA


Quando se fala em atividade administrativa, deve-se ter em mente que ela é prestada de várias formas.
Ora o Estado presta diretamente, ora particulares prestam serviços públicos.

Inicialmente, temos aquelas atividades que são prestadas pelo centro da administração. Falamos em
administração direta, neste caso. Então, se quem presta o serviço é o centro da administração, falamos em
centralização (são os entes políticos – União, Estados, Distrito Federal e Municípios).

No decorrer dos anos, muitos serviços foram retirados desse núcleo e foram transferidos para outras
pessoas, em busca da melhor prestação desse serviço. Assim, se retiramos do centro e vamos transferir para
outras pessoas, há o que se chamamos de descentralização.

Mas quais pessoas podem receber esses serviços que eram prestados de forma centralizada? A
descentralização pode ser a transferência da administração direta para indireta ou para os particulares.

Se a atividade é deslocada para uma nova pessoa, há descentralização. Agora, se a atividade é


distribuída dentro da própria pessoa jurídica, há o que se chama de desconcentração, que nada mais é do
que uma forma de distribuição interna de competências. Ex: Se o serviço é deslocado de um Ministério ‘A’ para
o Ministério ‘B’, isso é uma desconcentração, pois há deslocamento da atividade dentro da mesma pessoa, que
neste caso é a União.

No concurso pode vir a questão para diferenciar descentralização da desconcentração. Vamos resolver
isso:
 Na descentralização, pressupõe uma nova pessoa.
Pergunta CESPE: “a descentralização pressupõe uma nova pessoa, que pode ser física ou jurídica”. V
ou F? É Verdadeiro, podendo ser pessoa física ou jurídica. Pense, por exemplo, na permissão de serviço
público ou na autorização de serviço público (como ocorre com os taxistas). É fato que na maioria dos casos a
descentralização ocorre para pessoas jurídicas, mas é possível ser para pessoa física, como no caso de
permissão ou autorização de serviço público.

 Entre a Administração Direta e a Indireta, existe hierarquia? Não há hierarquia, mas há o


controle administrativo. Hierarquia é relação de subordinação. Controle é fiscalização. Então, existe entre a
administração direta e indireta uma forma de fiscalização, que é o controle administrativo.

 Na desconcentração, como visto, a distribuição do serviço ocorre dentro de órgãos da mesma


pessoa. Então, podemos dizer que há hierarquia, já que há subordinação entre os entes da mesma pessoa
jurídica.

Agora uma observação importante: Descentralização política, que é aquela que ocorre entre entes
políticos, não é matéria de direito administrativo. É estudada em Constitucional, em matéria de repartição
constitucional de competência. Aqui, estudamos a descentralização administrativa, que é aquela que ocorre
entre a administração direta para a indireta ou para os particulares.

A Descentralização administrativa ocorre em duas situações:


 Descentralização por OUTORGA: significa transferir a titularidade e a execução do serviço
(transfere-se a titularidade + serviços público). O Estado vai dar o domínio do serviço. Aquele
que vai receber o serviço, passará a ser dono deste serviço. Então, é algo importante, que não
pode ser dado a qualquer pessoa. Então, se for assim, já dá pra perceber que a
descentralização por outorga só pode ser através de lei.
Além disso, há divergência doutrinária, mas a maioria entende que a titularidade não pode sair
das mãos do Poder Público, então somente quem poderia receber a outorga de serviço são as
pessoas da administração indireta de direito público (que são somente as autarquias e as
fundações públicas de direito público). A minoria da doutrina entende que qualquer pessoa da
administração indireta poderia receber serviço público por outorga.
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 Descentralização por DELEGAÇÃO: A administração retém a titularidade e transfere somente


a execução do serviço (transfere somente a execução do serviço).
Ela pode ser feita por lei às pessoas jurídicas de direito privado (ex: empresas públicas e
sociedades de economia mista). Ela também pode ser feita por contrato, delegada aos
particulares (concessionárias e permissionárias de serviços públicos. Ex: empresas de
telefonia, de transportes públicos). Por fim, essa delegação pode ser feita por ato
administrativo, a exemplo da autorização do serviço (ex: serviço de táxi e despachante – são
serviços descentralizados por delegação ao particular, através de ato administrativo).

CESPE: O Poder Público pode outorgar a concessão de serviço público ao particular. V ou F? Quem
pensa em “outorga”, pensa logo que não seria o caso de outorga, já que esta deve ser à pessoas jurídicas de
direito público. Mas a outorga nesta questão foi utilizada no sentido vulgar, no sentido de que o poder público
poderia dar o serviço público ao particular. A questão na fala que a concessão por “outorga”. Na verdade, isso
aconteceu porque o art.175 da CF usa a expressão outorga em seu sentido vulgar.

Obs.: Delegação de Serviço Notarial (art.236, CF): Aqui há uma delegação de função, diferentemente
do que estamos estudando aqui. O serviço notarial, apesar de ser considerado um serviço publico, é prestado
por particular, mas ele deve prestar concurso público. O particular que recebe essa delegação é chamado de
particular em colaboração com o Estado. A CF/88 disse que deveria haver concurso para cartório. Ocorre que
muitos Estados não fizeram concurso público, sendo que apenas distribuíram as delegações para pessoas
determinadas. O CNJ vem fiscalizando e declarando que essas serventias foram atribuídas de forma errada,
declarando vagos os cartórios. Só em 2011, mais de seis mil cartórios foram declarados vagos em decorrência
dessa problemática. Veremos mais afundo esse tema quando estudarmos servidores públicos.

02. ORGANIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO DIRETA


Com se dá a relação entre o Estado e o seu agente? Sabemos que o agente representa a vontade do
Estado. O Estado, enquanto pessoa jurídica, depende do agente para manifestar sua vontade. No decorrer dos
anos, surgiram 03 teorias para justificar essa relação. Vejamos:

a) Teoria do Mandato: funciona como um contrato feito entre o cliente e o advogado. O Estado celebra
um contrato de mandato com o agente. Então surge a dúvida: se o Estado celebra o contrato de
mandato com o agente, quem assina o contrato por parte do Estado? Não tem ninguém. O estado não
pode manifestar essa vontade sozinho. Deveria haver alguém para assinar no lugar dele. Então, essa
teoria não foi aceita.

b) Teoria da Representação: é semelhante à tutela e curatela. O Estado é tratado como incapaz, sendo
necessário que haja um representante para ele. Mas será que o Estado é um sujeito incapaz? Claro
que não, pois ele responde por seus atos. Essa teoria não pode ser aceita, pois o Estado não pode ser
equiparado a um incapaz, vez que o Estado responde pelos seus agentes, sendo, portanto,
plenamente capaz.

c) Teoria do Órgão ou Teoria da Imputação: por esta teoria, todo poder decorre da vontade da lei. O
agente atua com se fosse o Estado. A vontade do agente é a vontade do Estado e vice-versa. Então,
esse poder não vem de contrato, de manifestação de vontade, mas sim, decorre da vontade da lei. O
agente manifesta a vontade do Estado através de previsão legal (por imputação legal). É justamente
por causa dessa teoria que surge a responsabilidade civil do Estado quando um agente público causa
dano a um particular. O Estado responde pelo ato praticado dos seus agentes.

03. ÓRGÃOS PÚBLICOS


É a organização interna da administração pública. A Administração pública foi subdividida, foi
distribuída, em vários centros especializados de competência. A idéia é: vou especializar esse centro, esse
núcleo e, consequentemente, vou prestar melhor o serviço público.

Portanto, órgão público nada mais é do que um centro especializado de competência, nada mais é
do que um núcleo especializado de competência. Então, a Administração foi distribuída em vários núcleos, em
vários centros, cada centro com uma especialidade, o que gerou a subdivisão em órgãos públicos, tudo em
busca da melhor eficiência do serviço.
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E na administração indireta, será que há essa subdivisão? Pense em uma autarquia (Ex: INSS). A
autarquia é gigante, sendo que em cada cidade tem um núcleo. Lá dentro do INSS, temos um setor que cuida
dos benefícios, temos outro setor que cuida da parte jurídica etc. Disso podemos concluir que, há uma
especialização da competência dentro da Administração indireta.

Portanto, há órgão público tanto na administração direta quanto na indireta.

3.1. CARACTERÍSTICAS DOS ÓRGÃOS PÚBLICOS

Órgão público não tem personalidade jurídica. Personalidade jurídica, como sabemos, é a aptidão
para ser sujeito de direitos e obrigações.
Se o órgão público não tem personalidade jurídica, ele não pode ser sujeito de direitos e nem de
obrigações. Então, quem responde por seus atos é a pessoa jurídica a que ele pertence.
Vamos ver um exemplo: imagine que um motorista de um ministério atropela uma pessoa. Quem paga
a indenização? Como o motorista é agente público vinculado à um ministério, que é órgão federal, quem
deverá indenizar será a União.

Duas crianças brigam na escola municipal, sendo que uma fura o olho da outra. Quem responde? Se a
criança está na escola, o dever de vigilância, de cuidado é da Escola. Mas a escola é um órgão público, ou
seja, não tem personalidade jurídica. Então, a escola está fora. Será que é a prefeitura? Também não, já que a
prefeitura é outro órgão público. Assim, neste caso, quem responde é a pessoa jurídica, isto é, o município é
quem deverá pagar a indenização.

Órgão público não pode ser sujeito de direito, não pode ter obrigação. Então surge a questão: O órgão
público pode assinar contrato? Pode ser parte em contrato?

Órgão público faz licitação. Órgão público cuida da gestão do contrato, podendo executar o contrato.
Mas será que ele celebra o contrato? Não. Ele não pode ser sujeito de obrigação. Órgão público pode licitar,
pode executar o contrato, mas o instrumento de contrato é celebrado pela pessoa jurídica ao qual ele está
vinculado. Então, se for um órgão vinculado ao município, ele vai licitar e executar o contrato, mas o contrato
será estabelecido pelo município, que é a pessoa jurídica à qual ele está vinculado.

Quem assina os contratos da União, levando-se em conta o tamanho da União? A lei pode permitir a
delegação ao chefe do órgão que celebre os contratos. Por exemplo: a lei pode delegar ao Ministro a atribuição
de assinar os contratos celebrados pela União, naquela determinada área.

Art. 37, §8º, da CF: Este dispositivo trata do contrato de gestão. O contrato de gestão pode ser
celebrado entre órgãos públicos e entre administradores.

§ 8º A autonomia gerencial, orçamentária e financeira dos órgãos e entidades


da administração direta e indireta poderá ser ampliada mediante contrato, a ser
firmado entre seus administradores e o poder público, que tenha por objeto a
fixação de metas de desempenho para o órgão ou entidade, cabendo à lei
dispor sobre: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

Esse dispositivo é inconstitucional, segundo a doutrina administrativista, já que órgão não celebra
contrato. Outra crítica à este dispositivo é em relação aos contratos celebrados entre os administradores.
Contrato celebrado entre dois administradores é contrato administrativo? É claro que não. Isso é um contrato
entre particulares. Para ser contrato administrativo, deve o Estado estar presente. Contrato entre entes da
administração está certo. Agora, contrato entre órgãos e contrato entre administradores, segundo a doutrina,
está errado. Então, a esse dispositivo decorrente da EC 19/98, seria inconstitucional. Ocorre que ele ainda está
em vigor e se cair em prova, assinalá-lo.

E se o órgão tem CNPJ, como dizer que ele não tem personalidade jurídica? O Cadastro Nacional de
Pessoa Jurídica foi criado pela Receita Federal, para, especialmente, controlar a receita das pessoas jurídicas
e pessoas físicas, através do Imposto de Renda. Então, apesar de órgão público não ter personalidade jurídica,

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ele tem CNPJ porque movimenta dinheiro. CNPJ é uma ficção tributária e não tem qualquer relação com a
personalidade jurídica.

O órgão público, que não tem personalidade jurídica, pode ir a juízo? Veja, se ele não tem
personalidade jurídica, isto é, se ele não é sujeito de direito e obrigação, teoricamente, ele não poderia ir à juiz.
Quem vai à juízo é a pessoa jurídica que o representa.

Mas vem a doutrina e diz: espólio, nascituro, massa falida, também não tem personalidade jurídica,
mas podem ingressar em juízo. Então, excepcionalmente, em algumas raras circunstâncias, o órgão público
poderá figurar em juízo, na busca de algumas prerrogativas.

O órgão vai a juízo em busca de prerrogativas funcionais (ligadas ao exercício de sua função) e
normalmente como sujeito ativo.

A Câmara Municipal é um órgão do município. Ela recebe uma verba chamada duodécimo. Esse
duodécimo serve para a câmara manter suas despesas. Quem repassa esse valor é o prefeito. Imagine que
um prefeito brigou com a câmara. Ele não faz o repasse. Pergunta: será que a câmara municipal pode ir à juiz
discutir esse repasse? A jurisprudência entende que é perfeitamente possível, já que a câmara vai na busca de
suas prerrogativas funcionais e como sujeito ativo.

Quando o órgão público vai à juízo, ele pode ter representação própria? Depende muito da estrutura da
administração. Tem órgãos públicos que terão representação própria, mas tem órgãos que serão
representados pelas procuradorias. Então, lembre: tudo depende da lei que cria, sendo possível o órgão ter
representação própria.

3.2. CLASSIFICAÇÃO DOS ÓRGÃOS PÚBLICOS

3.2.1. Classificação quanto à POSIÇÃO NA ESTRUTURA DO ESTADO

a) Órgão Independente: (lembre-se que o nome deve servir para alguma coisa). Órgão
independente é aquele que goza de independência, isto é, não sofre qualquer relação
de subordinação. Existe controle (fiscalização), mas não subordinação, não há
hierarquia. Exemplo: os Poderes executivo, legislativo e judiciário são independentes entre
si. Então, é só pensar no comando de cada um desses poderes: Presidência, Prefeituras,
Tribunais, Presidência da República, Governadoria de Estado, Prefeitura Municipal, Casas
Legislativas (Congresso, Assembléia, Câmara), Tribunais e Juízos monocráticos. Então,
independentes são os comandos de cada um dos Poderes, lembrando que os Poderes
são independentes e harmônicos entre si e que entre um poder e outro não existe relação
de subordinação, mas existe controle.

b) Órgãos Autônomos: Órgão autônomo goza de autonomia, que significa uma ampla
liberdade, mas que está vinculado (subordinado hierarquicamente) aos órgãos
independentes. Ex: Ministérios, Secretaria Estaduais e Municipais. Para memorizar: Por
exemplo, abaixo da Presidência da República, descendo na estrutura estatal, quem
aparece logo em seguida como longa manus da Presidência? Os Ministérios. Marinela
entende que, na estrutura administrativa, estariam aqui o Ministério Público e o Tribunal de
Contas. Eles não poderia ser órgãos independentes, já que não estão não tripartição de
Poderes. Mas, administrativamente, eles seriam órgãos autônomos.

c) Órgãos Superiores: Eles possuem poder de decisão, mas não goza nem de autonomia e
nem de independência. Eles estão subordinados (hierarquicamente) aos órgãos
anteriores. Ex: Gabinetes e as Procuradorias.

d) Órgãos Subalternos: São órgãos que não têm poder de decisão, sendo chamados de
órgãos de mera execução. Ex: a zeladoria, almoxarifado e as chamadas seções
administrativas (como a seção de recursos humanos).
3.2.2 Quanto à ESTRUTURA
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a) Órgão Simples: é aquele que não tem outros órgãos agregados à sua estrutura. Ele não
tem ramificação. Exemplo: Gabinete da Presidência. Não tem desmembramentos.
b) Órgão Composto: é aquele órgão que tem ramificações, tem desdobramentos. Ex:
Postos de saúde e hospitais frente à Secretaria de Saúde. Escolas e delegacias de ensino
são ramificações (subdivisões) da Secretaria de Educação.

Obs.: É o órgão complexo? Órgão complexo não existe. Isso é classificação de ato e não de órgão.

3.2.3. Quanto à ATUAÇÃO FUNCIONAL

a) Órgão singular ou unipessoal: a tomada de decisão é feita por um único servidor.


Exemplo: Presidência da República, Prefeitura, Juízo monocrático.

b) Órgão Colegiado: a tomada de decisão é colegiada, coletiva, já que o órgão é composto


por vários agentes. Ex: Casas Legislativas e Tribunais.

04. ORGANIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO INDIRETA

4.1. Características comuns às todas as pessoas da administração indireta


São pessoas que compõe a Administração Indireta: Autarquias, Fundações, Sociedade de Economia
Mista e Empresas Públicas. São, portanto, essas quatro pessoas jurídicas que compõe a administração
indireta.
Vamos ver as características comuns à todas elas:

a) Personalidade Jurídica própria: significa que elas podem ser sujeito de direito e obrigação.
Desta forma, quem responde pelos seus atos? Imagine um motorista de uma autarquia que
atropela uma pessoa. De quem a vítima vai cobrar esse prejuízo? Cobrará da própria autarquia, já
que ela tem personalidade jurídica própria, sendo que as pessoas jurídicas da administração
indireta respondem pelos seus atos.

b) Receita e Patrimônio próprios: as pessoas jurídicas da administração indireta possuem receita e


patrimônio próprios, independentemente da origem desse valor. Então, não importa de onde vem
o dinheiro, mas se ele for repassado à essa pessoa jurídica, o dinheiro e o patrimônio é da própria
pessoa jurídica da administração indireta.

c) Autonomia técnica, administrativa e financeira: as pessoas jurídicas da administração indireta


gozam de autonomia, seja ela técnica, administrativa e financeira. Veja que elas não terão
autonomia política, que é a capacidade de legislar. Nem mesmo a agência reguladora, que é uma
espécie de autarquia, tem essa autonomia política. Agência reguladora normatiza, regula para
complementar a lei.

d) Criação e Extinção dependem de Lei: a criação e a extinção das pessoas jurídicas da


administração indireta estão previstas na regra do art. 37, XIX: “lei específica cria autarquia e
autoriza a criação de empresa pública, de sociedade de economia mista e de fundação e lei
complementar definirá finalidade desta última. Então, a lei cria ou autoriza a criação de uma
pessoa jurídica da administração indireta. Essa é, portanto, a primeira premissa: é preciso lei, seja
para criar, seja para autorizar a criação. Mas que tipo de lei? Lei ordinária.
Essa lei ordinária deve ser específica. Ela não pode cuidar de vários assuntos ao mesmo tempo,
sendo que cada pessoa jurídica deverá ter a sua lei.
Essa lei ordinária específica cria a autarquia ou autoriza a criação da fundação, empresa pública
e da sociedade de economia mista. Qual a diferença entre criar e autorizar a criação?
A lei que cria, já especifica a criação. Ela já faz tudo. Basta a lei. Agora, a lei que autoriza a
criação não é auto-suficiente. Ela autoriza a criação, mas dependerá de registro para a
constituição da pessoa jurídica da administração indireta.

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E onde é feito o registro? Depende da natureza da pessoa jurídica. Se for pessoa jurídica de
natureza empresarial, será registrada na junta comercial. Se tiver natureza civil, será registrada no
CRPJ.
Em decorrência do “paralelismo de forma”, exige-se lei para extinguir a pessoa jurídica da
administração indireta. Se a lei criou a autarquia, é necessário lei para extinguir. Se a lei autorizou
a criação, é necessária lei autorizando a extinção.

A parte final do art. 37, XIX diz que (...) lei complementar definirá finalidade desta última. De quem a CF
está falando? É a fundação. Aqui, na verdade, há duas leis diferentes. Uma é a Lei Complementar que trará as
finalidades das fundações públicas, trará um rol de finalidades. Essa lei, porém, não autoriza a criação da
fundação, já que ela é, na verdade, uma lei abstrata. É necessária uma lei ordinária autorizando a criação da
fundação.

Mas de que tipo de fundação pública está se tratando? Fundação de direito público ou fundação de
direito privado? Então, vamos entrar no estudo da fundação, sendo que depois não voltaremos ao estudo dela.

FUNDAÇÕES PÚBLICAS

Conceito: Fundação é um patrimônio personalizado, isto é, patrimônio destacado por um fundador


para uma finalidade específica. É o que os clássicos chamavam: universitas bonorum.

Categorias: pensando no fundador, as fundações se dividem em duas categorias:


 Se o fundador for um particular, temos a fundação privada.
 Se o fundador for o poder público, temos a fundação pública.

Portanto, o primeiro rótulo vem em decorrência do fundador.


Mas o direito administrativo não cuida das fundações privadas, que são estudadas no direito civil.
Devemos estudar as fundações públicas.

Agora, em relação ao regime atribuído pelo administrador público à fundação pública, teremos dois
regimes:
 Fundação pública de direito público.
 Fundação pública de direito privado.

O ideal seria existir apenas a fundação pública de direito público. Mas, na prática, doutrina e
jurisprudência majoritários entendem que existe a fundação pública de direito privado. Ela, em tese, teria mais
liberdade de atuação, sendo que seria mais fácil de ser utilizada para fraudar.

A fundação pública de direito público nada mais é do que uma espécie de autarquia. Ela é chamada
de autarquia fundacional.
Então surge a dúvida: se ela é espécie do gênero autarquia, a lei cria ou autoriza a criação? A lei cria.
Ela é espécie de autarquia, então a lei deve criar essa pessoa jurídica. Dessa forma tudo que for estudado para
autarquia, servirá para o estudo dessa fundação pública de direito público.

Já a fundação pública de direito privado é chamada de fundação governamental. Ela tem um


regime semelhante ao da empresa pública e da sociedade de economia mista. Desta forma, se ela segue o
regime semelhante ao da empresa pública e da sociedade de economia mista, será que a lei cria ou autoriza a
criação? Aqui, a lei autoriza a criação. Portanto, tudo que será estudado para a empresa pública e sociedade
de economia mista, servirá para essa fundação pública de direito privado.

Portanto, voltando ao art.37, XIX, parte final, percebemos que está falando em fundação pública
de direito privado, já que a CF diz que a Lei autoriza a sua criação. Essa é a posição da doutrina
majoritária e que orienta o STF.
Ocorre que há divergência. Hely Lopes entende que toda fundação pública é de direito privado. Esse
entendimento dele é antigo, de antes da Constituição Federal de 1988. Celso Antonio Bandeira de Mello, por
outro lado, diz que toda fundação pública deve ser de direito público.
Agora, continuamos a ver as características das pessoas jurídicas da administração indireta.
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e) Não tem fins lucrativos: não ter fins lucrativos significa não ser criada para o lucro. Mas o lucro pode
acontecer só que o objetivo não é obter lucro. Cria-se uma pessoa jurídica da administração indireta
para finalidade específica. Uma autarquia ou fundação, por exemplo, é criada para prestar serviços
públicos. Já as sociedades de economia mista e empresas públicas podem ser criadas para dois fins:
para prestar serviços públicos ou para exercer atividade econômica.
Mas enxergar que uma empresa pública e uma sociedade de economia mista não têm fins lucrativos é
sempre mais difícil. Mas isso está escrito na CF, no art. 173: “o Estado não intervirá na atividade
econômica, exceto, através das empresas públicas e sociedades da economia mista quando isso for
imprescindível à segurança nacional e ao interesse coletivo”.
Para explorar atividade econômica, o Estado só poderá fazer isso, por imperativos de segurança
nacional ou relevante interesse coletivo. Se o Estado vai constituir para um desses dois fins, o seu
objetivo não é lucro. Não pode ser lucro. Nem mesmo na atividade econômica pode visar ao lucro.
Dessa forma, pode o Estado abrir a fábrica de canetas? Se fosse interesse coletivo (e não é), se fosse
imperativo de segurança nacional (o que não é), mas não é, então, não pode abrir a fábrica de canetas.
Com isso, não se diz que as saciedades de economia mista e as empresas públicas não podem ter
lucro. Claro que podem. Só que elas não foram criadas (e nem poderiam ser) para esse fim.

f) Têm finalidade específica: essa finalidade é definida na lei de criação. É o princípio da


especialidade.As pessoas jurídicas da administração indireta são criadas pela administração direta e
estão presas a uma finalidade específica – então, toda pessoa da indireta tem uma finalidade
específica. é importante saber isso por causa das vantagens inerentes a essa finalidade específica.
vamos ver adiante que uma autarquia, por exemplo, tem imunidade tributária na sua finalidade
específica. há situações que ficam condicionadas a essa finalidade especifica. E esta finalidade
especifica é o princípio da especialidade

g) Não existe hierarquia entre a Administração Direta e Indireta : Entre a Administração Direta e a
Administração Indireta existe hierarquia? Não. Aprendemos que isso é descentralização, e que na
descentralização não há hierarquia. O que há é controle. As pessoas jurídicas da Administração
Indireta não sofrem subordinação, mas estão sujeitas a controle. Que tipo de controle pode aparecer
aqui?
Citemos alguns exemplos: Será que o Poder Legislativo (que é Administração Direta) controla a
Administração Indireta? O TC nada mais é do que um longa manus do Legislativo, que o TC está na
Administração Direta e controla a indireta. Até 2005, A posição do STF é de que o TC não tinha
competência para controlar sociedade de economia mista. Em 2005, o STF muda de opinião e o TC
pode controlar toda a Administração Indireta.
Outro exemplo: CPI dos Correios. Correio é empresa pública. É a Direta controlando a Indireta, via
poder legislativo utilizando CPI. Agora o exemplo do Poder Judiciário controlando a Administração
Indireta. Quando ele controla o ato de uma autarquia, está fazendo o controle na Administração
Indireta. Executivo controla Indireta? Sim. Executivo controla Administração Indireta através da
supervisão ministerial. O que tem de muito importante na supervisão ministerial?

Supervisão ministerial – quem faz isso? O Ministério competente. Se a autarquia é na saúde, o


Ministério é o da Saúde. Se é na educação, o Ministério da Educação. A supervisão ministerial abarca três
controles:
 Controle de finalidade (controle finalístico) – Verifica se a pessoa jurídica está
cumprindo a finalidade para a qual foi criada.
 Controle de receitas e despesas – isso tem que estar no orçamento e sujeitas às regras
orçamentárias.
 Livre escolha e livre exoneração do Dirigente – Em supervisão ministerial, o Chefe do
Executivo pode nomear o dirigente da Administração indireta. Mas se não existe hierarquia, como
se dá essa escolha? O presidente não manda na autarquia, mas escolhe quem manda. Na verdade,
a lei estabelece e na prática, o Presidente nomeia e exonera livremente. Se ele escolhe quem
manda, é mais ou menos a mesma coisa. Infelizmente a supervisão ministerial pode viabilizar a
nomeação dos dirigentes e isso está previsto na lei de cada pessoa jurídica: o presidente nomeia e
exonera livremente. Isso, com certeza, compromete a autonomia, a liberdade dessa pessoa jurídica.

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Duas exceções merecem atenção especial e já caíram em concurso. Excepcionalmente, o


Presidente da República, vai depender de ter o nome que escolheu aprovado pelo Senado Federal.
E isso, a Constituição excepciona no seu art. 52: Banco Central e demais situações previstas em lei.
De quais hipóteses estamos falando? Das Agências Reguladoras. E isso não porque está no art. 52,
mas porque cumpre a exigência do art. 52 em lei específica. Repetindo: Via de regra, a supervisão
ministerial garante livre nomeação, com livre exoneração, excepcionalmente, essa nomeação
depende de prévia aprovação do Senado Federal. Essa regra está no art. 52, da CF que fala
expressamente no caso do Banco Central e ainda diz que haverá prévia aprovação do Senado, em
outras situações previstas em lei. E nessas situações previstas em lei, hoje vamos encontrar as
agências reguladoras. Hoje: Banco Central e Agência Reguladoras – nesses casos, o Presidente
não pode se valer da livre nomeação com livre exoneração. O Presidente só pode mandar embora
em caso de condenação.

4.2. AUTARQUIAS

As autarquias são pessoas jurídicas de direito público. Elas servem para prestar atividade típica de
Estado. Mas veja que as autarquias não prestam qualquer atividade, mas somente atividades típicas do
Estado.
O regime das autarquias é praticamente o mesmo da Administração Direta. O que muda é que a Adm.
Direta é um ente político e a autarquia é um ente administrativo. Então, sempre lembrar da Administração
Direta e raciocinar: o que serve para a Administração Direta, serve para a Autarquia. A autarquia, por ser de
uma pessoa jurídica de direito público, tem quase o mesmo regime da administração direta.

Atenção: todas as características estudadas anteriormente, são plenamente aplicáveis às autarquias.

4.2.1. Regime Jurídico das Autarquias


Os atos praticados pelas autarquias são atos administrativos, isto quer dizer, ele goza de presunção de
legitimidade, de imperatividade e autoexecutoriedade.

Os contratos celebrados pelas autarquias também são contratos administrativos. A conseqüência disso
é que, a autarquia está sujeita à licitação (sujeita, portanto, à lei 8666/93). Mas cuidado: se os contratos
celebrados pelas autárquicas são contratos administrativos, deve-se lembrar que além da licitação, os
contratos terão cláusulas exorbitantes.

4.2.2. Responsabilidade Civil das Autarquias


As autarquias estão sujeitas às mesmas regras da responsabilidade civil do Estado. Assim, submetem-
se ao art. 37, §6º da CF
Art. 37, § 6º, CF: “As pessoas jurídicas de direito público e as pessoas jurídicas
de direito privado prestadoras de serviço público respondem pelos atos que
seus agentes que, nessa qualidade, causarem prejuízos a terceiros.”

Basta lembrar que as autarquias são pessoas jurídicas de direito público, sendo, por isso, responsável
pelos atos que seus agentes praticarem contra terceiro.

Ademais, a responsabilidade civil será objetiva, ou seja, as autarquias respondem independentemente


de culpa.
Excepcionalmente, entretanto, a responsabilidade das autarquias poderá ser subjetiva quando se tratar
de responsabilidade civil por omissão (posição majoritária). Ocorre que ultimamente a nossa jurisprudência
vem afastando a responsabilidade subjetiva.

Portanto, na responsabilidade civil por dano é objetiva. E na omissão, a responsabilidade é subjetiva

A responsabilidade das autarquias será subsidiária, isto é, cobra-se primeiro da autarquia e se ela não
tiver dinheiro para pagar, cobra-se do Estado. A responsabilidade, neste caso, é subsidiária, onde existe uma
ordem a ser obedecida: Primeiro a autarquia e depois o Estado.

CESPE: “O Estado responde objetivamente por ato de autarquia”. V ou F? A vítima cobra da autarquia.
A responsabilidade, nesse caso, é objetiva. Se a autarquia não tem dinheiro, a vítima aciona o Estado, que só
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responde em um segundo momento. Para cobrar do Estado agora, a vítima vai ter a seu favor a teoria objetiva
ou a teoria subjetiva? Ela continua com o mesmo conjunto probatório. Responsabilidade da vítima no que
tange ao conjunto probatório de culpa ou dolo continua o mesmo. O que precisa ser entendido aqui é o
seguinte: a responsabilidade subsidiária não compromete o fato de ser objetiva. Quando se fala em
responsabilidade objetiva significa independente da prova da culpa. Se a base é a objetiva e a subjetiva o
elemento que distingue é a culpa ou dolo. Se a base é a responsabilidade solidária e subsidiária, o que
distingue é a ordem de preferência. Quando se fala que a responsabilidade do Estado é objetiva por ato de
autarquia, o enfoque é a culpa e o dolo. Nesta linha, um conceito exclui o outro. Ou vai ser objetiva ou vai ser
subjetiva. Quando se fala em solidária e subsidiária, fala-se em ordem de preferência. Nessa linha, um conceito
também exclui o outro.

Essa idéia serve para qualquer situação em que o Estado transfere o serviço público. A partir do
momento que descentraliza o serviço, não pode lavar as mãos quanto a isso. A partir do momento que
transfere, continua sendo responsável, mas é uma responsabilidade subsidiária. Essa idéia serve para uma
autarquia, para uma concessionária ou uma permissionária de serviço, para qualquer prestação de serviço.

Portanto, o Estado responde objetivamente e subsidiariamente por ato de autarquia. Então, a resposta
da questão estava correta.

4.2.3. Bens das Autarquias

Bens autárquicos são bens de pessoa pública, ou seja, são tratados como bens públicos. Assim, se o
bem pertence a uma pessoa jurídica de direito público, não há divergência de que ele será público.

Se ele é um bem público, deve seguir todo o regime dos bens públicos. Isso significa que:

 Os bens públicos são, em regra, inalienáveis. Assim, não podem ser alienados, via de regra, mas
em algumas situações poderão ser alienados. Alguns autores dizem, por outro lado que os bens
públicos são alienáveis de forma relativa ou de forma condicionada. As condições para venda estão
previstas no art.17 da lei 8666/93.

 Os bens públicos são impenhoráveis. Desta forma, eles não poderão ser objeto de penhora, de
arresto ou de sequestro.

A penhora significa restrição dentro de uma ação de execução, que serve para garantir o cumprimento
de uma obrigação.

O arresto e o sequestro são cautelares típicas, que servem para proteger uma futura penhora. Imagine
que o credor começa a observar que o devedor está dilapidando seu patrimônio, sendo que no futuro
não terá condições de arcar com a obrigação. Assim, o credor poderá ajuizar uma cautelar de arresto
ou de sequestro com o fim de resguardar os bens do devedor para garantir uma futura penhora.
(cautelar de arresto serve para bens indeterminados. Já a cautelar de sequestro serve para bens
determinados).

Na verdade, as cautelares de arresto e sequestro ficam prejudicadas quando se tratar de autarquias, já


que é incabível a penhora.

 Os bens públicos não podem ser objeto de oneração. Ou seja, os bens públicos não podem ser
objeto de direito real de garantia (penhor, hipoteca ou anticrese).
Penhor é direito real de garantia, que não se confunde com penhora ou hipoteca. O penhor (e a
hipoteca) não acontece em ação judicial, i.e., eles ocorrem extrajudicialmente (garantia fora do juízo). É
o que ocorre quando se entrega um bem móvel (um anel) em garantia na Caixa Econômica Federal e
recebe um empréstimo. Então, conclui-se que o penhor é um direito real de garantia sobre bens
móveis.

A hipoteca, por outro lado, é um direito real de garantia sobre bens imóveis (ex: hipoteco minha
chácara para receber um empréstimo).
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Por último, a anticrese é um direito real de garantia em que o credor explora o patrimônio do devedor e
o produto da arrecadação serve para saldar o débito.

Portanto, os bens públicos não podem ser objeto de direito real de garantia.

 Os bens públicos são imprescritíveis. Isso significa que eles não podem ser objeto de prescrição
aquisitiva (leia-se: usucapião). Então, não cabe usucapião de bem público, mas o Poder Público pode
usucapir bem de particular.

Pergunta: se os bens públicos não podem ser objeto de garantia, qual é a certeza que a pessoa
jurídica de direito público (autarquia) vai cumprir seus compromissos?

A garantia para os débitos judiciais das autarquias é o precatório (art. 100, CF).

O regime de precatório é uma forma de pagamento organizado por ordem cronológica de


apresentação.

O grande problema é que geralmente o Estado não tem dinheiro para pagar tudo de uma vez. E se a
Administração não tiver disponibilidade orçamentária a fila pára.

Os débitos de autarquia também são pagos com precatório. Mas cada autarquia tem a sua fila própria.
Assim, se for o INSS, se for o INCRA, cada um vai ter a sua fila. Não vale a fila geral.

Débito de natureza alimentar segue ordem cronológica de apresentação? Débito de natureza alimentar
segue fila de precatório, com a diferença que a fila é própria e não geral. Tem ordem cronológica de
apresentação. Ordem de alimentos também tem que ser obedecida, sendo que a fila é especial. Em tese, essa
fila é mais rápida.

4.2.4. Prazo Prescricional


Nas ações contra a autarquia possuem prazo qüinqüenal, i.e., o prazo é de 05 anos, consoante dispõe
o Decreto 10.910/32.

E o prazo para reparação civil, é de 05 anos também? Existia muita divergência doutrinaria sobre o
prazo de reparação civil. Uns diziam que era 03, outros que era 05. Mas o STJ, em decisões recentes, diz que
mesmo no caso de reparação civil, o prazo prescricional de ações de reparação civil contra o Estado (contra a
autarquia) será de 05 anos.

4.2.5. Procedimentos Financeiros


Quanto ao procedimento financeiro, as autarquias estão sujeitas às regras de contabilidade pública,
portanto, sujeitas às leis de responsabilidade fiscal (LC 101/00 e a lei 4.320/64).

4.2.6. Regime Processual das Autarquias


As autarquias possuem tratamento de Fazenda Pública nos processos. Isto corresponde a ter prazo
dilatado e direito à reexame necessário
.
Em relação aos prazos dilatados, aplica-se a regra do art.188 do CPC: prazo em quádruplo na
contestação e prazo em dobro nos recursos.

Agora em relação ao reexame necessário, o art. 475 do CPC diz que independentemente da vontade
de recorrer, os processos promovidos contra as autarquias deverão ser reexaminados pelo Tribunal
competente.

Mas veja que o reexame necessário não é uma regra absoluta. Exemplo: Se caísse na prova:
“toda decisão em face de autarquia tem reexame necessário.” Verdadeiro ou falso? Falso. Art. 475, do CPC.
Ele traz duas exceções: não vai ter reexame necessário quando a causa envolver até 60 salários mínimos ou
quando o assunto já for decidido pelo Pleno do Tribunal. No mais, há exigência do reexame.

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“Qual é a consequência jurídica da ausência do reexame?” O juiz não lembrou; guardaram o processo;
o serventuário não mandou. Qual é a consequência disso? A decisão não produz trânsito em julgado. Não faz
coisa julgada. Ausência de reexame necessário quando deveria ter sido obrigatoriamente levado ao
tribunal, faz com que a decisão não produza coisa julgada.

4.2.7. Regime tributário das Autarquias


O art. 150, VI da CF trata da imunidade recíproca. Isso significa que um ente não pode instituir imposto
em face de outro município. Mas atenção, a imunidade recíproca não impede que se seja cobrada taxas e
contribuições de melhoria dos outros entes.

O art. 150, §2º estende a imunidade recíproca às autarquias, mas não de forma absoluta. É extensivo
às autarquias nas suas finalidades específicas. Então, lembre-se: autarquia não paga imposto na sua finalidade
específica (esta finalidade especifica é aquela para qual a autarquia foi criada).

Se alguém doa para autarquia uma fazenda que não sabe o que fazer com ela. Não está usando para
sua finalidade específica. Pagará ITR? Sim. Não está na finalidade-fim. Então, paga. Caso recente julgado pelo
STF: caso de autarquia que locou o bem. Autarquia provou que o resultado do aluguel usava na finalidade e o
STF reconheceu a sua imunidade. A idéia é justamente finalidade específica. E isso não tem nada a ver com
taxa e não tem nada a ver com contribuição. O privilégio é só para imposto na finalidade específica e só.

4.2.8. Regime de Pessoal das Autarquias


Se a autarquia é pessoa jurídica de direito público, então quem trabalha nela é um servidor público.

O servidor que trabalha na autarquia está sujeito ao Regime Jurídico Único (RJU). Significa que só é
possível um regime: ou todo celetistas ou todos estatutários.

4.2.9. Exemplos de Autarquias


INSS, INCRA e UNIVERSIDADES FEDERAIS.

4.2.10. Autarquias Territoriais


Autarquia territorial nada mais é do que os territórios. Hoje não existe mais nenhum território, mas
poderia ser perfeitamente criado um território. Quando eles existiam no Brasil, havia necessidade de classificá-
lo em alguma coisa. Precisava-se dar à ele uma personalidade jurídica de direito público. Mas não se podia dar
à ele a natureza de ente político. Então, o que se fazia era dar à ele personalidade de autarquia, só que ele não
tem nada a ver com a autarquia.

O território, apesar de estar na lista de autarquia, de fato não tem nada de autarquia. O território tem
toda uma gestão própria que não tem nada a ver com autarquia. Autarquia é ente administrativo, para prestar
atividade administrativa. E território não é tem nada a ver com isso. É um degrau abaixo do ente político.

4.2.11. Conselhos de Classe e Autarquias


Os conselhos de classe surgiram no Brasil sendo chamados de autarquias profissionais. Em 1998,
sobrevém a lei 9649/98, que atribui natureza jurídica de direito privado aos conselhos de classe.

Os conselhos de classe exercem uma atividade muito importante, que á fiscalização do exercício da
atividade. É o poder de policia exercido pelos conselhos de classe. Mas veja que problema: poder de policia
nas mãos de particular? Isso é possível? Essa matéria foi levada ao STF, que disse na ADI 1717, que os
conselhos de classe exercem sim o poder de policia. Desta forma, em nome da segurança jurídica, o conselho
de classe não pode ter natureza privada. Com isso, declarou a lei 9649/98 inconstitucional, sendo que a
autarquia que era pessoa jurídica de direito privado volta a ser considerada pessoa jurídica de direito público,
isto é, autarquia.

A anuidade cobrada pelo conselho de classe tem natureza tributária, ou seja, é uma contribuição
parafiscal. A consequência pelo não-pagamento significa cobrança via execução fiscal, se a anuidade tem
natureza de contribuição (tributária), a cobrança será feita via execução fiscal. Ademais, a contabilidade dos
conselhos de classe é pública, sendo que será controlada pelo Tribunal de Contas.

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Por fim, o conselho de classe está sujeito à concurso público

Caso da OAB – A história foi a seguinte: a OAB já vinha trilhando um caminho diferenciado desde o
seu estatuto. A OAB diz, no seu estatuto que a anuidade não tem natureza tributária, considerando que do não-
pagamento não cabe execução fiscal. Será cobrado via execução comum. Consequentemente, já que não tem
tributo, aí vem o absurdo, o Tribunal de Contas não precisa controlar. O Supremo já entendia nesse sentido. E
já que não é tributo, a contabilidade não precisa ser pública. Então, a OAB já escapava do TC e da
contabilidade pública. O estatuto da OAB diz que quem trabalha lá é celetista (art.79). Nesse momento, havia
no Brasil, o regime múltiplo, admitindo os dois regimes gerais possíveis. O PGR, então, faz o seguinte
raciocínio: “pode até ser celetista, mas tem que ser celetista com concurso público. Esse dispositivo tem que
ter uma interpretação conforme.” E o PGR ajuíza uma ADI buscando uma interpretação conforme deste artigo
79, ou seja, que o Supremo batesse o martelo exigindo concurso público dando, assim uma interpretação
conforme a esse artigo. O que o STF decidiu? Está na ADI 3026.

Para o STF, a OAB não é uma entidade da Administração Indireta da União. A Ordem é um serviço
público independente, categoria ímpar no elenco das personalidades jurídicas existentes no direito brasileiro. A
OAB não está incluída na categoria na qual se inserem essas que se tem referido como "autarquias especiais"
para pretender-se afirmar equivocada independência das hoje chamadas "agências". Por não consubstanciar
uma entidade da Administração Indireta, a OAB não está sujeita a controle da Administração, nem a qualquer
das suas partes está vinculada.

Ficou difícil entender isso, porque todas as autarquias estão na Administração Indireta. Se a OAB
continua sendo autarquia e não está na Administração Indireta, não dá para entender mais nada. O Supremo
diz o que é a autarquia: Categoria ímpar no elenco das pessoas jurídicas existentes no Brasil. E o que é
uma categoria ímpar? Publica ou privada? O STF deu à ela uma personalidade “sui generis”.

Da autarquia federal, quem julga as causas é a Justiça Federal. E no caso da OAB? É tudo diferente.
Se o argumento é de que tem tamanha importância, que tem função constitucional, ela precisava justamente
ter regime público, com tudo o que uma administração indireta tem. E não o contrário. Ela hoje só tem os
privilégios da autarquia e não as obrigações das autarquias. Em resumo: o que está sedimentado na
jurisprudência:
 A anuidade da OAB não é tributária, sendo sua cobrança feita via execução comum.
 Tribunal de Contas não controla.
 Contabilidade não é pública.
 Não precisa fazer concurso público.

Hoje: os processos da OAB continuam na Justiça Federal, continua tendo prerrogativas de autarquia,
mas as obrigações, não.

Consequência da ADI 3026: Os demais conselhos não querem fazer concurso e passaram a ajuizar
ações perante o STF. Logo que a primeira ação foi ajuizada, teve um conselho, o de farmácia, que até
conseguiu escapar do concurso, mas dias depois o STF voltou atrás, exigindo o concurso. Mas isso tudo foi em
sede de liminar em mandado de segurança. Nada em definitivo. Na prática, fazem concurso? Não.

4.2.12. Autarquias de Regime Especial


Autarquia de regime especial é uma autarquia comum, mas que terá algumas regras especiais.
Este termo foi utilizado, originariamente, para tratar das universidades públicas. Aqui a especialidade
decorria de duas características:

 A escolha dos dirigentes/reitores, que é feita por eleição. Vê-se que é uma exceção, já que nas
pessoas jurídicas da administração indireta a escolha dos dirigentes é feita, via de regra, pelo
Chefe do Executivo, que tem livre nomeação e livre exoneração. Então, na universidade
pública a escolha do reitor é por eleição.

 Maior autonomia e liberdade. Aqui diz respeito à grade curricular, ou seja, em matérias
pedagógicas. Assim, a liberdade é para definir a sua grade curricular, a sua autonomia
pedagógica.

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Portanto, no caso das universidades, o regime especial decorre dessas duas características: escolha
dos dirigentes por eleição e maior autonomia.

Acontece que, além das universidades públicas, começaram a surgir outros grupos de autarquias com
regimes especiais, que são as agencias reguladoras.

4.2.12.1. AGÊNCIAS REGULADORAS


As agências reguladoras são autarquias de regime especial.
A partir de 1995, o Governo Brasileiro institucionalizou a ideia de que precisava se tornar mais enxuto e
mais eficiente. Então, a idéia foi privatizar, ou seja, vamos transferir para os particulares, que isso fará com que
o serviço fique mais eficiente, tornando a máquina administrativa mais enxuta.

Há então, privatizações (que foi a venda) e desestatizações (transferência da execução dos serviços).
A Política Nacional de Desestatização (PND) transferiu algumas atividades à outras pessoas, que precisariam
ser controladas pelo Governo. Justamente neste ponto surgem as Agências Reguladoras, que serviriam para
controlar e fiscalizar os serviços que foram transferidos.

O papel desenvolvido pelas agências reguladoras é novo? Claro que não, pois o Estado sempre
controlou. A novidade decorre apenas do nome “agências reguladoras”. Este nome foi, na verdade, copiado do
direito norteamericano, com a idéia de dar credibilidade.

Regime Especial das Agências Reguladoras:


Ela só é autarquia de regime especial por causa de três características:

a) Função: a agência reguladora tem a função de normatizar, controlar e fiscalizar, diversas atividades.
Repare que a sua função de normatizar, fiscalizar e controlar é complementar à lei, i.e., ela não
substitui a lei, mas define normas complementares à lei. Assim, a doutrina defende que ela possui mais
liberdade, mais autonomia do que as demais pessoas jurídicas.
Atenção: a agência reguladora não legisla. Ela apenas define normas técnicas complementares às
normas legais.

b) Escolha dos dirigentes: a escolha é especial, isto é, a nomeação ou investidura é especial. A


nomeação depende de prévia aprovação do Senado Federal, para posterior nomeação pelo Presidente
da República. Então, a diferença com uma autarquia comum decorre do fato de que o Presidente
indica e o Senado aprova, para posterior nomeação pelo Presidente da Republica.

c) Mandato Fixo: O dirigente terá um mandato de prazo fixo, que dependerá da lei da cada agência.
Assim, há prazo de 03 anos, de 04 anos, tudo dependendo da lei especifica da agência. Há, inclusive,
um projeto de lei que pretende unificar o prazo para 04 anos, mas não poderá ser coincidente com o
ano em que toma posse o Presidente da República.
Perceba uma regra muito importante: o dirigente, que possui mandato fixo, só sairá antes do prazo se
tiver condenação ou renúncia, sendo que, nos casos das agências reguladoras, o mandato não é de
livre exoneração. Foi o que aconteceu com a ANAC, no acidente da TAM. A dirigente não queria
desocupar o cargo, já que ela não poderia ser mandada embora. Para sair, só por uma condenação ou
no caso de renúncia.

Observação: Prazo de quarentena - o dirigente da agência reguladora, quando desocupar o cargo, deverá
ficar afastado da iniciativa privada que atue no mesmo ramo de atividade, por um período correspondente,
regra geral, à 4 meses. Mas há prazos diferenciados, como 12 meses. O detalhe é que, mesmo afastado, ele
ficara recebendo sua remuneração pelo prazo de quarentena.

Regime Jurídico das Agências Reguladoras


É o mesmo regime as autarquias, mas há duas regras especiais que merecem atenção.

1. Licitação nas Agências Reguladoras: em regra, as autarquias, assim como as agências


reguladoras, estão sujeitas à licitação. Em 1997, sobreveio a lei 9472, que instituiu a ANATEL, que disse que

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ela teria um procedimento próprio de licitação. Assim, disse que a agência reguladora estaria fora da lei
8666/93 e terá um procedimento próprio de licitação. Teria como modalidade licitatória o pregão e a consulta.
Essa lei foi questionada no STF, na ADI 1668. O STF disse que a agência reguladora não pode ficar
fora da lei 8666/93, mas que poderia seguir duas modalidades especificas de licitação: pregão e consulta.

Quando o pregão foi inserido pela lei 9472/97, era modalidades especificas das agências reguladoras.
Mas a partir de 2000, o pregão acabou sendo utilizado pele União e, somente a partir de 2002, o pregão deixa
de ser modalidade especifica das agências. Hoje, o pregão está regulamentado para todos os entes da
Federação. A consulta, entretanto, é a modalidade específica da agência, que só a agência tem.

2. Regime de Pessoa das Agencias Reguladoras: a lei 9986/00 ;e a norma geral das agencias
reguladoras. Essa lei diz que o pessoal das agencias seriam de contrato temporário com regime celetista. A
matéria foi levada ao Supremo que, em sede de cautelar de ADI (2310), reconhece a inconstitucionalidade
dessa regra. Essa contratação temporária é inconstitucional. Não é possível contrato temporário para
necessidade permanente. Só que o STF decide isso em sede de cautelar e comunica o Governo: “não pode ter
agência reguladora com temporários porque estamos diante de uma necessidade permanente”.

Quando o STF decide isso, o Presidente da República edita a MP 155/03, alterando a Lei 9.986, para,
no lugar dos temporários, criar cargos públicos. Então surge a duvida: como se cria cargo público no Brasil?
Cargo público tem que ser criado por lei, só que mais de 4 mil cargos foram criados por medida provisória. A
MP foi convertida na Lei 10.871 que a alterou a lei 9.986 e disse que para as agências reguladoras vale o
regime de cargo. Retiramos o temporário, já que não pode ser temporário, aplicamos o regime de cargo.
Vamos aplicar daqui pra frente e vamos fazer concurso público.

Se há uma lei que é objeto de controle de constitucionalidade, mas essa lei, durante a ADI é alterada, o
que acontece com a ADI? Perde o objeto e a ação é extinta. O STF extinguiu a ação porque a lei foi alterada e
perdeu o objeto. Assim, quando a lei 10.871 foi introduzida, a ADI perdeu o objeto, considerando que a 9.986
foi alterada.

A partir da extinção da ADI, o Presidente editou várias MP’s, todas convertidas em lei, prorrogando
aqueles contratos temporários que o Supremo já tinha declarado inconstitucionais. Só que o STF disse: os
temporários que estão em andamento, continuam até o seu termo final. Enquanto isso, a agência reguladora
faz concurso. Em 2007 venceu o prazo dos temporários e o Presidente da República fez o quê? Editou outra
MP. E prorrogou de novo os contratos temporários, alguns dos quais foram prorrogados até o final de 2009. E o
STF, não disse nada? E aí temos hoje mais uma ação tramitando no STF, a ADI 3678. Mas o STF não
resolveu nada ainda sobre isso.

O que é preciso entender: hoje, o regime de pessoal da agência, pela lei, deve ser o estatutário
(cargo público).

Exemplos de agências reguladoras


Controla e fiscaliza serviços públicos: ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica; ANATEL –
Agência Nacional de Telecomunicações; ANS – Agência Nacional de Saúde; ANVISA – Agência Nacional de
Vigilância Sanitária; ANTT – Agência Nacional de Transporte Terrestre; ANTAQ – Agência Nacional de
Transportes Aquaviários; ANAC – Agência Nacional de Aviação Civil; ANA – Agência Nacional de Águas; ANP
– Agência Nacional do Petróleo e ANCINE – Agência Nacional de Cinema (esta ultima agencia foi criada por
Medida Provisória e até hoje não foi convertida em lei).

Nem tudo que tem nome de agência é agência reguladora. E tem agência que é agência reguladora e
que não tem nome de agência. Na verdade, há algumas impropriedades. Exemplos: ABIN (Agência Brasileira
de Inteligência), que não passa de um órgão da Administração Direta; AEB – (Agência Espacial Brasileira), que
é apenas uma autarquia, não sendo uma agência reguladora.

Esqueceram de dar o nome de agência para a CVM (Comissão de Valores Mobiliários). Esta tem
natureza de agência reguladora, mas não leva o nome de agência reguladora. E como saber se é agência
reguladora? Somente pela lei que a regulamenta é possível saber se é ou não agência reguladora.

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4.2.12.1. AGÊNCIAS EXECUTIVAS

Imagine que a sua casa está meio velha, precisando de uma reforma. O que você precisa para
melhorar sua casa, torná-la mais eficiente? Sem dinheiro, sem chance. Mas você não precisa de dinheiro para
começar a planejar. Realiza o plano de trabalho e vai precisar de recursos para executar o projeto. Essa
mesma idéia: projeto, dinheiro e autonomia você vai levar para a agência executiva.
A agência executiva, nada mais é, do que uma velha autarquia, do que uma velha fundação que está
sucateada, que está precária. Esta autarquia/fundação vai realizar um plano de modernização, de
reestruturação.

Ela faz um plano de trabalho, de reestruturação, vai até a Administração Direta e diz: “eu tenho esse
plano de trabalho e vou reestruturar tudo isso mas para isso eu preciso de autonomia e preciso de mais
dinheiro,senão eu não consigo ser eficiente”. Então, a administração direta celebra com essa velha autarquia
um contrato, chamado de contrato de gestão, que viabiliza o contrato de trabalho para que o sonho se realize.
A autarquia/fundação vai se tornar eficiente.

A Lei nº 9.649/98 (tem caído muito pouco em prova de concurso) – diz que agência executiva nada
mais é do que autarquia ou fundação que se transforma em agência executiva em busca da eficiência. Com o
objetivo de se tornar uma pessoa jurídica mais eficiente, essa autarquia ou fundação realizar um plano
estratégico de reestruturação, de modernização. Com esse plano, ela vai até a Administração Direta e, para
executar esse plano, celebra com a Administração Direta, um contrato de gestão. Portanto, nada mais é do que
um projeto de mudança, para que se torne uma pessoa jurídica eficiente e execute o projeto de reestruturação.

O contrato de gestão é um contrato que dá mais autonomia e liberdade a quem já tinha um dever de
eficiência. O contrato de gestão vai dar à essa pessoa jurídica mais autonomia e mais recursos públicos (mais
do que a própria lei de criação).

A condição de agência executiva é de contrato temporário (enquanto tiver em andamento o contrato


de gestão). Exemplo: INMETRO

RESUMO
As autarquias:
- São pessoa jurídica de direito publico. Prestam atividades típicas de Estado.
- Possuem o mesmo regime dos entes da administração Direta.
- Atos praticados pelas autarquias são atos administrativos.
- Contratos praticados pelas autarquias são contratos administrativos (tem cláusulas exorbitantes).
- Devem licitar.
- A responsabilidade civil das autarquias é a mesma do art. 37, §6º, da CF.
- A responsabilidade é objetiva. E na omissão, a responsabilidade é subjetiva.
- A responsabilidade da autarquia é subsidiária.
- Os bens das autarquias são bens públicos.
- Os bens são, em regra, inalienáveis (ou alienáveis de forma condicionada - inalienabilidade relativa).
- Os bens são impenhoráveis.
- Os bens públicos não podem ser objeto de oneração (direito real de garantia)
- Os bens públicos não podem ser objeto de usucapião.
- A garantia para os débitos judiciais das autarquias é o precatório (art. 100, CF).
- Nas ações de reparação civil contra o Estado (contra a autarquia) prazo para propositura é de 05
anos (STJ e STF).
- Sujeitas às regras de contabilidade pública (lei de responsabilidade fiscal).
- Tem tratamento de fazenda pública: prazo dilatado e direito à reexame necessário.
- Autarquia não paga imposto na sua atividade fim (atividade específica), já que possui imunidade
recíproca.
- Territórios eram chamados de autarquia territorial.
- Conselhos de Classe são considerados autarquias e possuem as seguintes regras:
- Anuidade do conselho de classe tem natureza tributária.
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- Consequência natural do não-pagamento da anuidade (dada sua natureza tributária): cabe


execução fiscal.
- Estão sujeitas ao controle pelo Tribunal de Contas
- Suas regras de contabilidade são públicas.
- Estão sujeitas a concurso público.
- OAB não é considerada uma autarquia, mas sim uma entidade sui generis, entidade impar, possuindo
as seguintes regras:
- A anuidade da OAB não é tributária, sendo sua cobrança feita via execução comum.
- Tribunal de Contas não controla.
- Contabilidade não é pública.
- Não precisa fazer concurso público.

4.3. EMPRESAS PÚBLICAS E SOCIEDADES DE ECONOMIA MISTA

As empresas públicas e sociedades de economia mista são chamadas de “empresas estatais”, ou seja,
são aquelas em que o Estado deve estar presente, deve participar.

Mas toda empresa que o Estado participa, é empresa estatal? Não. Se o Estado participa e ela segue
um regime próprio, será empresa estatal, do contrário, não.

4.3.1. EMPRESA PÚBLICA

Empresa pública é pessoa jurídica de direto privado, que segue um regime misto ou híbrido, ou seja,
uma parte pública e outra parte privada.

A empresa pública é pessoa jurídica de direito privado em que o capital é exclusivamente público.

Quando se fala em capital exclusivamente público (e o Cespe já perguntou isso), não precisa ser de um
único ente. Pode-se ter a União com o Estado, o Estado com Município, a União com Autarquia. Então, pode-
se ter mais de um ente, desde que o capital seja exclusivamente público. O que não cabe é pessoa privada
nessa construção.

Finalidades das empresas públicas: elas podem ser prestadoras de serviço público e exploradora de
da atividade econômica.

Constituição: Empresa pública pode ser constituída sob qualquer modalidade empresarial (pode ser
LTDA, S/A etc.).

4.3.2. SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA

Sociedade de economia mista é pessoa jurídica de direito privado, que também segue um regime
híbrido, ou seja, parte pública e parte privada.

O nome sociedade de economia mista diz respeito ao capital e, em sendo assim, essa sociedade de
economia mista tem capital misto. Isso significa: parte pública e parte privada. Mas observe que o comando
da sociedade de economia mista deve está nas mãos do poder público, isto é, a maioria do capital votante
deve estar nas mãos do poder público.

Finalidades da sociedade de economia mista: são as mesmas finalidades da empresa pública,


podendo ser prestadora de serviço público ou exploradora da atividade econômica.

Constituição: toda sociedade de economia mista somente poderá ser constituída na forma de S.A.
(Sociedade Anônima).

Diferenças entre as empresas públicas e sociedade de economia mista

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1. Capital: a empresa pública tem capital exclusivamente público e a sociedade de economia mista tem
capital misto.

2. Constituição (formação): formas de criação dessas empresas: enquanto a empresa pública pode ser
de qualquer modalidade, a sociedade de economia mista só pode ser S.A

3. Competência para julgamento de suas ações. Essa diferença esta presente quando a empresa é
federal. A diferença não aparece para as empresas estaduais e nem para as empresas municipais.
Estamos falando aqui do art. 109, da CF. Se nós temos uma empresa pública federal, de quem é a
competência para julgar as ações em que é parte? Justiça Comum Federal (empresa pública federal
está na lista do art. 109). Quando a empresa é uma sociedade de economia mista, sendo ela federal,
não está no rol do art.109. Se não está no rol do art. 109, qual é a saída? Quem julga as ações que
tenham em algum dos pólos a sociedade de economia mista? Justiça Comum Estadual. Se nessa ação
tem como parte sociedade de economia mista federal, a competência é da justiça estadual. Mas se,
nessa ação a União tiver interesse, quiser participar como interessada, o processo vai para a Justiça
Federal.

Portanto, a sociedade de economia mista federal como parte, é julgada na justiça estadual, mas se
dessa ação a União for interessada, a União puxa esse interesse para a Justiça Federal. Se a empresa
pública ou a sociedade de economia mista é estadual ou municipal, quem justa é a justiça comum
estadual. As diferenças só estão presentes se forem empresas federais. Sendo estaduais ou
municipais, tudo se resolve na estadual

STF, Súmula 517, As sociedades de economia mista só têm foro na Justiça


Federal, quando a União intervém como assistente ou opoente.

STF, Súmula 556. É competente s Justiça comum para julgar as causas em


que é parte sociedade de economia mista

Regime Jurídico das EP e SEM

Se as empresas públicas e sociedades de economia mista prestam serviço público, o regime será mais
público do que privado.

Por outro lado, se elas exploram atividade econômica, o regime será mais próxima do regime privado.

Qual é a dificuldade da prova? Saber se em determinado aspecto ela é mais pública ou mais privada. E
aí vocês têm que guardar o seguinte: Se a empresa pública ou a sociedade de economia mista é prestadora de
serviço público, apesar de ser uma pessoa jurídica de direito privado, o seu regime, apesar de privado, é
híbrido, é um mix de público com privado. Não é verdadeiramente privada. Se ela presta serviço público, esse
regime híbrido puxa mais para o público do que para o privado. Vai ter mais regrinhas do regime público do que
do privado. Se aproxima mais das autarquias do que de empresa privada. Se presta serviço público tem mais
cara de autarquia do que de empresa privada. É mais público do que privado. Aí na prova aparece: derroga o
regime privado, aplica-se o regime público.

O art. 173 da CF/88: este artigo diz que o Estado não intervirá na atividade econômica, salvo através
das empresas públicas e sociedades de economia mista quando isso for imprescindível à segurança nacional e
relevante interesse coletivo. De qualquer maneira, a segurança nacional e interesse coletivo são razoes de
interesse público.

A CF no mesmo art. 173, § 1º, diz que essas pessoas jurídicas prestadoras de atividade econômica
poderão, por lei específica, ter estatuto próprio. Se elas poderão, por lei específica, ter estatuto próprio,
pergunta-se: em quais situações? O § 1º enumera: elas poderão ter estatuto próprio nas seguintes situações e
você vai encontrar 5 incisos no § 1º. Eu lhe pergunto: se elas poderão ter estatuto próprio, por lei específica,
mas se essa lei não veio ainda, qual deverá ser a regra aplicada a essas empresas? Que regras serão
seguidas por essas empresas enquanto não vier a lei? Em tese, deverá ser a regra geral da empresa pública

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DIREITO ADMINISTRATIVO Marinela

ou da sociedade de economia mista, conforme o caso. Um dia, ela vai ter estatuto próprio. Mas se o estatuto
ainda não veio, elas caem na regra geral.

Contratos das Empresas Públicas e Sociedade de Economia Mista

Teve uma segunda fase da AGU, há alguns anos atrás que perguntou o seguinte: “A empresa pública
não precisa licitar na sua atividade-fim”. Disserte.
As empresas públicas e sociedades de economia mista que prestam serviço público precisam licitar
(art. 37, XXI, CF). Além disso, a lei 8666/93, no art. 1º também fala do dever da empresa pública licitar.

Entretanto, se a empresa pública explora atividade econômica, prevê o art. 173, §1º, III, que a empresa
pública e a sociedade de economia mista exploradoras de atividade econômica poderão ter estatuto próprio
para licitações e contratos. Mas como foi visto acima, esta lei específica ainda não existe, devendo elas
seguirem a lei 8666/93, que é norma geral.

Então, devemos concluir que as empresas públicas e sociedade de economia mista hoje obedecem a
regra geral, prevista na lei 8666/93, que traz hipóteses de dispensas e inexigibilidades. Assim, muitas vezes na
prática, estas empresas não licitam porque se encaixam nas hipóteses de dispensas ou inexigibilidades.

Dois exemplos de dispensa e inexigibilidade de licitação para EP e SEM, que caem em concurso:
Hipótese de dispensa – dispensa de licitação no art. 24, da Lei 8.666, parágrafo único. Ele traz limites
de dispensa dobrados. Além da agência executiva, também vão ter esse privilégio as empresas públicas e as
sociedades de economia mista. Então, normalmente, a dispensa de licitação é de 10% de limite do convite, o
que significa 8 e 15 mil reais. Porem, para empresa pública e sociedade de economia mista, os limites da
dispensa são de 20%, ou seja, dobrados: 16 (obras e serviços) e 30 mil (obras de engenharia). Na prática, elas
começam fugindo pela licitação com o valor do contrato.

Hipótese de inexigibilidade – (é o que foi exigido na prova da AGU). Inexigibilidade de licitação: art.
25, da Lei 8.666. O art. 25 diz que a licitação é inexigível quando a competição for inviável, em especial nos
seguintes casos: Quando a competição for inviável. O rol do art. 25 não é taxativo. Ele é exemplificativo. O que
significa dizer que, sempre que a minha competição for inviável, minha licitação vai ser inexigível, estando ou
não no rol do art. 25, que é meramente exemplificativo.

Empresa pública serve para serviço público (razão de interesse público) e atividade econômica
(segurança nacional e relevante interesse coletivo, também razões de interesse público). Se a minha licitação
prejudica a atividade fim desta empresa (serviço público, segurança nacional, interesse coletivo), ela estará
prejudicando o interesse público? Sim. E se é assim, a competição é viável? Não. E sendo assim, a licitação é
exigível? Não. O que era para ser respondido lá na prova da AGU sobre a empresa pública não ser obrigada a
licitar na sua atividade-fim? A licitação só vai ser exigível quando a competição for viável. Se a licitação
prejudicar a atividade-fim, isso compromete o interesse público e, se é assim, falta pressuposto jurídico e se
falta pressuposto jurídico, falta condição de viabilidade para a competição e se falta isso, a licitação vai ser
inexigível e isso porque o rol do art. 25 é exemplificativo. Assim, para que a licitação seja viável, tem que
atender ao interesse público.

Em resumo: A empresa pública e as sociedade de economia mista estão sujeitas à Lei nº 8.666 e,
como regra, estão sujeitas ao dever de licitar. Excepcionalmente, se praticarem atividade econômica, poderão
ter estatuto próprio, mas até hoje o estatuto não veio (art. 173, § 1º, III, da CF). Na prática, elas não licitam
porque, estando sujeitas à Lei nº 8.666, a lei traz dispensas e inexigibilidades. E citamos dois exemplos: elas
têm dispensa pelo limite dobrado (20% das demais pessoas jurídicas) e falamos sobre inexigibilidade, o que é
muito importante e que diz respeito à atividade-fim. Sempre que a licitação prejudicar a atividade-fim dessa
empresa, a competição se torna inviável, porque a licitação só é viável se ela proteger interesse público. Este é
o chamado pressuposto jurídico. À licitação que prejudica o interesse público falta pressuposto jurídico.
Faltando pressuposto jurídico a licitação se torna inviável e a licitação se torna inexigível. E isso quase não é
reconhecido na prestação do serviço público. Os autores só reconhecem para a atividade econômica em que a
licitação vai, efetivamente, comprometer a atividade-fim.
Responsabilidade civil das Empresas Públicas e Sociedade de Economia Mista

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Fernanda
DIREITO ADMINISTRATIVO Marinela

Empresa pública e sociedade de economia mista estão sujeitas ao art. 37, 6º, da CF, está sujeita á
responsabilidade civil do Estado? Depende da finalidade.

“§ 6º - As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado


prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes,
nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso
contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.”

Empresa pública e sociedade de economia mista estão sujeitas ao art. 37, § 6º? Depende. Se ela
presta serviço público, sim, mas se explora atividade econômica, está fora.

Qual vai ser a teoria aplicável a esta empresa? Se temos empresa pública e sociedade de economia
mista, temos que lembrar que está sujeita ao art. 37, § 6º, qual é a regra geral: o Brasil segue como regra a
teoria objetiva, mas excepcionalmente pode ser subjetiva.

Se ela não tiver patrimônio para pagar a dívida, o Estado pode ser chamado para pagar? O Estado é
responsável na teoria subsidiária, seguindo a responsabilidade com ordem de preferência. Primeiro paga a
empresa. Se a empresa explorar atividade econômica não está sujeita ao art. 37, 6º, e, neste caso, no que diz
respeito aos danos causados, a legislação aplicável é o direito civil. Aplicando o direito civil, a teoria regra é ser
subjetiva. No direito civil é ser subjetiva. Mas lá há situações em que a teoria é objetiva (relação de consumo,
por exemplo). Mas a regra geral é ser subjetiva. E se é atividade econômica, o Estado não vai ser chamado à
responsabilidade. O Estado está fora, não responde pelos atos desta empresa. Quem paga é a própria
empresa. E se ela não tiver dinheiro? Problema dela com a vítima. O Estado não será chamado. É como se
fosse uma empresa privada.

Bens das Empresas Públicas e Sociedade de Economia Mista

Os bens das empresas públicas e sociedades de economia mista seguem o regime de bem público?
Em regra, o bem da EP e SEM são privados. Isso significa que são alienáveis, penhorados, onerados etc.

No entanto, a doutrina majoritária diz que estes bens são privados, salvo quando estiverem
diretamente ligados à prestação de serviço público. O fundamento para isso é o princípio da continuidade do
serviço público.

Bem de empresa pública é penhorável? É verdadeiro, pois são bens privados.

Bem de empresa pública, prestadora de serviço público, é penhorável? Também está certo. O bem só
será impenhorável se estiver diretamente ligado à prestação do serviço.

Magistratura Federal, Magistratura MG e Magistratura do Trabalho: Bicicleta dos correios é


penhorável?

A ECT possui natureza de empresa pública, que presta serviço postal com exclusividade (exclusividade
reconhecida pela ADPF 46 – leitura obrigatória). Em razão dessa exclusividade, ela ganhou tratamento de
Fazenda Pública, ou seja, tratamento muito semelhante à autarquia. Assim, seus bens são considerados
públicos, sendo, conseqüentemente, impenhoráveis. Portanto, a bicicleta dos correios é impenhorável.

Outra conseqüência decorrente dessa semelhança com a autarquia, é que os correios pagam seus
débitos judiciais com o regime de precatório.

STF: Exclusividade é diferente de monopólio: este é para atividade econômica, enquanto a


exclusividade é para serviço público.

Regime Tributário das Empresas Públicas e Sociedade de Economia Mista

Quando elas prestam serviço público, com exclusividade, ganham imunidade recíproca (são imunes ao
pagamento de impostos).

Por outro lado, se prestam serviço público de forma não exclusiva, seguem a regra do art.150, §3º, da
CF. Assim, se quem arcar com as despesas são os usuários, elas não poderão ter privilégios tributários.
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Se as EP e SEM forem exploradoras de atividade econômica, somente terão privilégio tributário se os


particulares também tiverem. O art. 173, § 2º, diz assim:

“§ 2º - As empresas públicas e as sociedades de economia mista não poderão


gozar de privilégios fiscais não extensivos às do setor privado.”

Se a iniciativa privada ganhar uma isenção, a empresa pública vai ganhar também. Mas, se a iniciativa
privada não tiver a isenção, a empresa pública também não vai ter.
Regime Falimentar para Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista.
Elas não estão sujeitas ao regime falimentar. Esta é a posição majoritária, apesar de Celso Antonio
entender de modo diferente.

Regime de Pessoal das Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista.

O pessoal que trabalha nas EP e SEM são servidores de ente de direito privado. Então, eles não são
servidores públicos, apesar de terem tratamento de servidor em algumas circunstancias.

Eles titularizam emprego público, ficando sujeitos ao regime celetista.

Entretanto, eles se equiparam aos servidores públicos em algumas situações:


 Para fins de concurso público.
 Para fins de regime de não acumulação (não podem cumular, salvo nas hipóteses previstas na
CF).
 Para fins de teto remuneratório, salvo quando não receberem dinheiro para custeio. Se a
empresa não depende da União e vive do seu próprio dinheiro, não precisa se preocupar com
o teto.
 Para fins penais, também se enquadram no conceito de funcionário público do art. 327 do CP.
 Estão sujeitos à lei de improbidade administrativa (Lei 8429/92).
 Estão sujeitos aos remédios constitucionais.

Então, eles se equiparam aos servidores públicos em todas essas questões acima. No entanto, eles
são diferentes dos servidores públicos no que diz respeito à dispensa.

O TST, na Súm. 390, diz que o empregado da EP e SEM não tem estabilidade do art.41 da CF/88.
Consequentemente, o TST editou uma orientação jurisprudencial (OJ 247), dizendo que a sua dispensa será
imotivada. Essa OJ traz uma ressalva que diz: “salvo no caso da ECT – empresa de correios e telégrafos”.

No que diz respeito à ECT, o STF declarou a matéria de repercussão geral, contudo não julgou o
mérito (RE 589.998).

A situação da Empresa de Correios e Telégrafos (ECT)


Uma última observação: Mas a OJ 247 faz uma ressalva dizendo assim: “a dispensa é imotivada, exceto
quando se tratar de empregado da Empresa de Correios e Telégrafos. Então, hoje o TST faz essa ressalva. E
por que essa ressalva? Por que esse cuidado com a ECT? O que acontece com a ECT: eu contei sobre a
prova da magistratura federal em que se perguntava sobre a penhorabilidade da bicicleta. Essa empresa ficou
na moda depois da CPI dos Correios. Depois da CPI, processo administrativo virou obrigatório. A ECT é uma
empresa pública, todavia, desde 1969, pelo Decreto 509/69, esta empresa tem tratamento de fazenda
pública. O que significa dizer: tratamento de autarquia, o que significa dizer: o mesmo regime das pessoas
jurídicas de direito público. Mas por que isso se mantém até hoje? Temos uma nova Constituição que previu a
empresa pública. Por que, então, esse tratamento diferenciado para a ECT? O art. 21, X, da CF fala a respeito
do serviço postal. A nossa CF, em vários dispositivos, diz assim: “Compete a tal ente prestar o serviço e diz em
seguida: pode ser prestado diretamente ou via concessão, permissão e autorização”.
Então, em vários dispositivos da nossa Constituição, quando trata de serviço público, já diz que é da
competência tal, mas pode ser prestado via concessão, permissão e autorização. Quando você chega no art.
21, X, que fala justamente de serviço postal, vê que esse dispositivo não prevê concessão, permissão e

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DIREITO ADMINISTRATIVO Marinela

autorização. Só diz que compete à União prestar o serviço posta. Ponto. Mas, Fernanda, esse serviço já não
estava nas mãos de uma empresa pública? Ah! Então a gente resolve. Em vez de tirar da empresa pública e
dar à União para que a União se vire, nós trocamos: vamos dar à empresa pública o mesmo regime da União,
dando a ela o tratamento de Fazenda Pública porque quem deveria prestar o serviço era a União. E tem mais:
essa empresa vai prestar esse serviço com monopólio, com exclusividade, porque a CF não introduziu a idéia:
pode fazer concessão, permissão e autorização. Você entendeu que a ECT tem tratamento de FP porque era
um serviço que era ser da União. Já que era da empresa desde 1969, continua com ela, mas vamos manter
essa empresa com tratamento de FP e com exclusividade, já que a CF não Prevê par ela concessão,
permissão e autorização, estabelecendo para ela um serviço exclusivo.

E a lojinha dos Correios que fica ali perto da minha casa, que é uma empresa privada? Fernanda, você
não disse que é exclusivo? E o que acontece com essas empresas que distribuem as cargas da mesma forma
que os correios? Aí você tem DHL, Entrega Express, etc. Mas essas empresas não levam cartas. Elas levas
caixas, mas carta não. Mas e se você colocar a carta na caixa? Leva do mesmo jeito. Igualzinho a empresa de
correios. E cadê, então, a exclusividade? A loja da esquina é privada, então não é exclusiva da ECT. A
empresa Entrega Express, DHL, prestam o mesmo serviço. Então, não é exclusivo. Então, o que significa essa
tal exclusividade da ECT?

Fofoca, bomba: A PF resolveu tomar providências sobre essas empresas exploradoras de serviço. Já
que é exclusiva dos Correios, você Expressa, você DHL não pode prestar isso. E começa a pressionar essas
empresas no que diz respeito a atividade, dizendo: é ilegal porque a ECT tem a exclusividade. Essas empresas
ajuízam, então, a ADPF nº 46, buscando o reconhecimento dessa ausência de exclusividade. Que, na verdade
não tem nada de exclusivo nesse serviço, que, apesar de a Constituição não falar em permissão, concessão ou
autorização, esse serviço nunca foi e já não era exclusivo. Esta ADPF não está decidida ainda. Está na
confusão. E qual é a confusão? A lojinha da esquina é uma empresa privada. Num dado momento, a empresa
de Correios e Telégrafos precisava investir na distribuição da correspondência, precisava criar novas unidades,
comprar mais equipamentos, enfim, ampliar suas atividades. Em vez de investir diretamente, decidiu criar
franquias que não tem licitação e não tem natureza de concessão. E a ECT, que tem tratamento de fazenda
pública, cria um regime de franquias que não tem nada a ver com serviço público previsível para a Fazenda
Pública. Aquela lojinha é mesmo privada e o regime é de Franquia.

Em 1994, o TCU resolve apertar e disse para a ECT: Resolva o que vai ser, resolva o que quer ser. Se
você é exclusiva, tudo bem. Vai ter tratamento de fazenda pública, mas se você não é exclusiva, esqueça, você
não pode ter tratamento de Fazenda Pública. E aí, então, a lojinha continua lá. Depois de muita confusão, no
ano passado foi aprovada a Lei 11.668/08 que diz que a ECT vai ter que acabar com o regime de franquias,
que a ECT vai ter que fazer licitação e concessão de serviço para transferir para a lojinha da esquina. A ECT
não pode continuar com regime de franquia. Vai ter que fazer licitação com concessão de serviço. Agora, os
contratos de franquia que estão aí ficam prorrogados por mais 2 anos. Essa matéria foi levada ao STF por meio
da ADI 4.155 e o STF ainda não resolveu. O que na verdade se discute é: para que mais 24 meses? Faça logo
licitação! Não precisa de 24 meses de prorrogação de contrato. Se essas empresas vai fazer licitação, se vão
fazer concessão de serviço público, significa dizer, é exclusivo ou não é exclusivo? Não. Não é exclusivo e se é
assim, o que diz a sua intuição sobre o tratamento de fazenda pública? Tem que acabar, o que imaginamos é o
que vai acontecer. Mas não há nada reconhecido sobre isso. A gente imagina que depois da lei 11.678, que
por mais que prorrogue, vai fazer a concessão e, por isso, não tem exclusividade. Por isso, não tem por que
ser Fazenda Pública.

O que significa ter tratamento de Fazenda Pública para a ECT? EM qualquer circunstância, ela goza de
imunidade tributária recíproca. O que mais você vai lembrar aqui? Os seus bens são impenhoráveis e são
protegidos. Se os bens estão protegidos, qual é a garantia de que um dia o credor vai receber o seu dinheiro?
Precatória. É empresa publica que segue regime de precatório.

Diante deste fato: impenhorabilidade, imunidade e precatório, como você enxerga agora a informação
de que até a CPI dos correios ela não fazia processo? Não parece muito mais grave? Se ela tem benesses de
Fazenda Pública, tem que ter o ônus da Fazenda Pública. Antes, não fazia licitação, dispensava os
empregados, etc. Empresa pública tem dispensa imotivada de empregados. Então ela escolheu ser fazenda
pública para a imunidade, para a proteção dos bens e para o precatório. Então, a dispensa é imotivada com
exceção da ECT, que tem tratamento de Fazenda Pública. Se você quer ser Fazenda Pública para os
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DIREITO ADMINISTRATIVO Marinela

privilégios, você também tem que ser fazenda publica para o regime de pessoal e não poderá dispensar seus
empregados imotivadamente. Essa posição se consolida no TST a partir de 2007. Isso é muito recente.

A ECT é uma empresa pública com uma situação especial. Mas me dê outro exemplo de empresa
pública: Caixa Econômica Federal. Infraero também está nessa lista.

05. CONSÓRCIOS PÚBLICOS (LEI 11.107/05)


O nosso ordenamento jurídico, desde 1993, tinha um instituto chamado de “consórcio”. Só. Sem o
“público”. Esse consórcio (que não era público) tinha uma natureza de reunião de esforços para a finalidade
comum. Eram lá os consórcios e convênios que existiam (ou existem ainda) lá na Lei 8.666/83 (art. 119). Esses
consórcios e convênios continuam existindo.

Por exemplo: A universidade federal faz um convênio com a Administração para realização de estágio,
dar aos alunos da universidade chance de estagiar na Administração. A Administração faz um convênio ou
consórcio para uma finalidade comum, uma pesquisa, por exemplo. Era um instrumento de realização de
esforços. Mas para esse instrumento, bastava reunir esforços e executar um objetivo e ponto final.

Em 2005 criam os tais consórcios públicos que são os tais da Lei 11.107. Desses consórcios nascem
uma nova ou novas pessoas jurídicas. Desses consórcios surgem as chamadas associações públicas. Aqui a
situação é bem diferente: não é só busca de objetivos comuns com reunião de esforços. Aqui também há a
busca de objetivo comum. Aqui existe a união de entes políticos. União, Estados, Municípios e DF.

Os entes políticos, buscando um objetivo comum, para executar esse objetivo comum, celebram o
chamado contrato de consórcio.

Natureza jurídica do consórcio público: nada mais é do que contrato (entes reunidos em uma
finalidade comum). Deste contrato de consórcio (consórcio público com natureza de contrato) nasce uma nova
pessoa jurídica. Essa nova pessoa jurídica é chamada de “associação”.

União, Estados e Municípios, por exemplo, constituem um contrato de consórcio, criam uma nova
pessoa jurídica para, por exemplo, cuidar de uma área que deve ser preservada. Podem constituir um contrato
de consórcio para, por exemplo, cuidar da reciclagem do lixo.

Essa nova pessoa jurídica nascida do consórcio entre entes políticos, chamada de associação,
pertence à Administração indireta. Essa nova pessoa jurídica, essa associação que compõe a Administração
Indireta. Mas é de direito público ou de direito privado? Ele pode criar associação de direito público e pode criar
associação de direito privado. Olha o absurdo: entes políticos que celebram contrato e criam uma pessoa
jurídica de direito público que tem natureza de autarquia. Autarquia que nasceu de um contrato. Ela tem que
ser criada por lei!Imaginem mais: Desse consórcio público, reunião de entes políticos, nasce uma pessoa de
direito privado. O ente político cria a associação que vai gastar o dinheiro como privada.

A associação pode ter natureza jurídica de direito público. Neste caso, terá natureza de autarquia e é
modalidade de autarquia hoje (conselhos de classe, por exemplo). Apesar de nascer do contrato, o que deveria
ser por meio de lei, cada ente político vai ter que autorizar por lei. Apesar da autorização legislativa de cada
ente que participa do consórcio, ela surge do contrato.

Se é pessoa jurídica de direito privado, vai ter um regime híbrido que é parecido (não é igual) com a
empresa pública e com a sociedade de economia mista. A lei diz como deve ser. É privado, mas é híbrido. A lei
11.107/05 diz em quais situações a associação se parece com a empresa pública. Não é em todos os aspectos
não, mas é um regime parecido.

Esse tema já caiu muito mais em concurso. Hoje, não vem sendo cobrado muito. O estado imaginava
que essa seria a sétima maravilha, mas não há muitos consórcios na praça, só alguns na área ambiental, que
são os mais utilizados. Por esta razão, o tema não é mais tão cobrado em concurso. Mas recomendo a leitura
da Lei 11.107/05. Não precisa estudar doutrina sobre isso.

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DIREITO ADMINISTRATIVO Marinela

Agora, fechamos administração indireta de verdade e vamos agora aos entes de cooperação. A
próxima matéria peguei do material de 2009.

ENTES DE COOPERAÇÃO ou PARAESTATAIS ou TERCEIRO SETOR

 Primeiro setor: Estado.


 Segundo setor: Iniciativa privada, mercado.
 Terceiro setor: Organizações Não-Governamentais.
 Quarto setor: Atividade Informal (pirataria, banca de camelô, atividade informal, incluindo a
criminalidade) – a economia hoje já reconhece o quarto setor, em razão da força da atividade
informa.

Vamos falar sobre o “Terceiro Setor”. As organizações não governamentais que estão no 3º setor e
que, quando cooperam com o Estado, são chamadas de entes de cooperação. São as organizações que
ajudam o Estado.

Entes de Cooperação – Estão fora da Administração. Atuam ajudando o Estado, mas não estão
dentro da Administração. Significa, então, entes paraestatais (aquilo que está ao lado do Estado).

Os entes de cooperação são pessoas jurídicas de direito privado, que desenvolvem atividade de
interesse público.

01. SERVIÇO SOCIAL AUTÔNOMO ou SISTEMA “S”


(SESC, SENAI, SEBRAE etc.).

O sistema S tem por finalidade incentivar, apoiar, fomentar as diversas categorias profissionais. Por
isso fala-se em sistema S na indústria, no transporte etc.

Apesar de desenvolver atividade de interesse publico, eles não prestam serviço publico.
Em relação a sua remuneração, o serviço social autônomo vive de duas receitas importantes: ele pode
receber dotação orçamentária e pode, ainda, ser beneficiário da parafiscalidade.

O que significa parafiscalidade? Para lembrar disso, tem que saber dois conceitos tributários:
Competência tributária: competência é a aptidão para criar tributos (só os entes políticos tem). É
indelegável.

Capacidade tributária: aptidão para cobrar tributo. Essa é delegável. Pode ser delegada. Sendo que a
delegação é o que chamamos de parafiscalidade. Parafiscalidade nada mais é do que a delegação da
capacidade tributária. Ou para pessoas de direito público ou para pessoas de direito privado prestadoras de
serviço público.

O Serviço Social Autônomo vai cobrar as chamadas contribuições parafiscais. Na sua maioria não
cobram diretamente esta contribuição. Você paga enquanto empresa, junto com outro tributo, outras verbas, ao
INSS e o INSS é que faz o repasse ao serviço social autônomo. Então, ele não vai à empresa cobrar. Ele é
cobrado junto com outro tributo e é repassada para o serviço social autônomo. É assim que funciona.

Se esta pessoa jurídica receber recurso público, orçamentário, participa direto no orçamento, se cobra
tributo, qual é o seu regime jurídico? Ela licita? O TC vai controlar? Quem trabalha nela é empregado ou é
servidor?

Vimos que o SSA é beneficiário da parafiscalidade. Por esta razão, por cobrar tributos e por receber
recursos orçamentários, o regime dessas pessoas jurídicas fica um pouco bagunçado, confuso.

Tribunal de Contas: o Tribunal de Contas controla essas pessoas jurídicas, porque tem recurso
orçamentário, porque tem dinheiro público, porque tem tributo envolvido. Portanto, o TC pode realizar controle
sobre Serviço Social Autônomo.

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Licitação: eles devem licitar, porém, com um procedimento simplificado de licitação.


Empregados: são empregados privados (regime da CLT).
Privilégios: Não possuem privilégios tributários e nem processuais.

02. ORGANIZAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL DE INTERESSE PÚBLICO (OSCIP)

A OSCIP foi definida, constituída, pela lei 9.790/99.

A OSCIP tem como objetivo a reestruturação da administração. Vamos imaginar que a Administração
tivesse com um departamento de informática desatualizado, precário, precisando de programadores, de
computadores etc. Para melhorar isso, tem tese, a Administração teria que contratar mão-de-obra e licitar. O
que ela faz hoje? Ela realiza um plano, um projeto de modernização e, com esse projeto ela vai a uma
organização da sociedade civil de interesse público (OSCIP) que vai viabilizar esse projeto de modernização: a
OSCIP faz a contratação de mão-de-obra que é vinculada à OSCIP. Não é servidor público. Ele não faz parte
da Administração. Encerrado o plano de modernização, fica encerrado o vínculo. A OSCIP deveria ser usada
para projetos específicos da Administração como digitalização de documentos.

O instrumento da OSCIP é chamado de termo de parceria. Ela realiza com a Administração um termo
de parceria. A nossa doutrina diz que isso é, na verdade, um contrato. a lei fala em parceria, mas a doutrina diz
que é contrato. Esse termo de parceria realizam um projeto de modernização na Administração, a empresa
leva mão-de-obra, leva os computadores e recebe como por isso? O pagamento é feito via recursos públicos,
mas não recursos orçamentários. A OSCIP celebra ermo de parceria, executa plano de modernização, a
Administração paga com recursos públicos, mas não recursos orçamentários. A OSCIP não recebe
diretamente do orçamento.

Além disso, as OSCIP’s tem que existir a pelo menos um ano no mercado naquele ramo de atividade.
Não existe um controle de qualidade. Basta existir há um ano no mercado.

A OSCIP é pessoa privada mesmo. Não sofre administração de servidores. Não tem ingerência dos
administradores na sua gestão. É uma empresa privada.

A OSCIP parece uma boa idéia para suprir a necessidade da Administração. Mas o que vem
acontecendo hoje? O Ministério do Trabalho já vem tomando algumas providências quanto a isso. Você deve
guardar que a Administração faz um esforço muito grande para fugir do concurso público. A Administração
criou vários mecanismos para travar o concurso público. Você deve lembrar da terceirização de segurança, de
serviços gerais, etc. Depois vieram os sistemas de cooperativas. Os cooperados prestavam serviços à
Administração. O Ministério do Trabalho questionou isso e declarou a ilegalidade. Agora, começam a se utilizar
OSCIP’s para a mesma finalidade. O controle dos órgãos de controle vem apertando o cerco contra a OSCIP
porque a Administração fingia um plano de trabalho e a OSCIP mandava a mão de obra que a Administração
precisava e nisso o parente entra, o amigo entra, etc. Mais uma vez um instrumento de burla ao concurso. Com
esse uso inadequado, o Ministério do Trabalho apertou. Houve casos de extinção por conta disso. Mais de mil
pessoas foram contratadas via OSCIP. Era plano de trabalho de mil pessoas. A idéia é boa, mas não pode ser
usada como fraude ao concurso público e o Ministério Trabalho vem realizando isso com bastante rigor

03. ORGANIZAÇÃO SOCIAL (OS)

A Organização Social foi definida pela Lei 9.637/98. Também é pessoa jurídica de direito privado,
sendo que nasce da extinção de estruturas da Administração Pública. Essa informação é muito importante. há
um órgão da Administração e o Estado decide extingui-lo. Pega a atividade que o órgão prestava, pega os
bens da atividade, os servidores que trabalhavam nesse órgão e dá para a OS. Mas a OS não é pessoa
privada que está fora da Administração? E o que o servidor público vai fazer lá? Por que os bens públicos vão
parar lá? A OS é uma vergonha.

Está prevista na Lei 9.637/98, é pessoa jurídica de direito privado, que nasce da extinção de estruturas
da Administração. Extinto o órgão, alguém vai ter que prestar a atividade. O Estado pega os bens, os
servidores e o que o órgão tem, dá para a OS. Mas por meio de que mecanismo dá isso? O Estado transfere o

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serviço e tudo o mais por meio do chamado contrato de gestão. A Administração cria a organização social
com a extinção da estrutura da Administração. Transfere tudo para a pessoa privada via contrato de gestão.

Contrato de Gestão – serve para transferir bens públicos, para transferir servidores públicos e
recursos orçamentários. Vai dar à organização social tudo isso.
Para que a OS efetivamente cubra essa ineficiência, deveria ter alguma experiência no assunto. Mas
se a pessoa nunca fez o negócio, começa a fazer de hoje, a chance de dar certo é mínima. A OS não é uma
pessoa jurídica que já existia. Ela nasce no mundo jurídico com o contrato de gestão, não tem controle, padrão
de qualidade, nada disso. O Estado dá a atividade para uma pessoa jurídica que não tem preexistência.

Di Pietro chama essa entidade de “entidade fantasma”. Isso porque, além de ser uma OS, tem como
pré-requisito, para existir, o contrato de gestão. Mas como ela pode celebrar um contrato de gestão se ela
sequer existe? Como pode celebrar um contrato sem existir? Daí o nome “fantasma”.

E para completar, a Administração dessa OS tem participação dos servidores. A gestão, o Conselho de
Administração dessa organização social é composta de servidores públicos. Então, o que se tem? Eu,
administrador, acabo com o órgão e dou tudo para a pessoa privada que é a OS. Eu transfiro para a pessoa
privada, mas vou administrar. O que parece isso a seus olhos? É só para ser privada! Ele continua no cargo e
vai participar do Conselho de Administração da OS, pega o dinheiro e usa como privado fosse.

Dentro dessa idéia, a matéria foi levada para o STF. A organização social serve para prestar serviços
não exclusivos do Estado. Só para alertar: nem toda OS tem safadeza (não é para generalizar), mas que é um
bom instrumento para isso, com certeza, é. Ela serve para colaborar com a saúde, com a pesquisa, com o
meio ambiente, no ensino, tudo matéria muito importante para se colocar na mão do particular. Ela não presta
efetivamente o ensino, mas mecanismos de implemento pra o ensino. Seus elementos são secundários.

Com relação à licitação e esse foi o ponto levado ao STF. Por receber recursos públicos, deveria ser
controlada pelo Tribunal de Contas, mas esse controle não é efetivo. O TC deveria controlar, já que há recurso
orçamentário. Se o TC deveria controlar, o que deve acontecer com a licitação, nesse caso? Ela tem ou não
que licitar? Sim. Deveria licitar, se não fosse o art. 24, XXIV, da Lei 8.666, que diz que a Organização Social
tem dispensa de licitação. Esse artigo diz que essas pessoas jurídicas tem dispensa de licitação. Esse inciso é
muito truncado e confuso. O que a doutrina fala sobre isso?

Marçal Justen Filho traz, talvez, a posição mais aceita pela doutrina: ele separa esse dispositivo em
duas partes. O dispositivo diz: A OS tem dispensa de licitação nos contratos decorrentes do contrato de gestão.
Ele fala sobre isso no seu livro de licitações e contratos (para concurso não precisa, mas se você trabalha com
isso, é ótimo ter). Se a Administração vai contratar com a OS, nesse caso, teria que licitar. Esse caso não é
para dispensa. Presta atenção: a OS, pelo artigo citado, tem dispensa de licitação nos contratos decorrentes do
contrato de gestão. Quando a Administração celebra um contrato de gestão em si teria que licitar. A história é:
quando a Administração vai contratar a OS deveria licitar. Da Administração para OS teria que licitar. Da OS
para os contratos decorrentes, não precisa porque tem dispensa.

A matéria foi levada ao TCU e ao STF. O que o TCU conclui? Que a Administração teria que fazer o
contrato de gestão com a OS por meio de licitação, porque a lei não abarca essa hipótese de dispensa. O
artigo garante a dispensa para os contratos decorrentes. O TCU até reconhece que a Administração deveria
licitar para celebrar o contrato com a OS, mas a forma como a OS é definida na lei, ou seja, não existe, é
incompatível com o instituto da licitação. Então, ela celebra um contrato antes disso. Não tem como fazer
licitação. Da forma como ela foi criada, não tem como participar de licitação.

A matéria foi levada ao STF e está sendo discutida na ADI 1.923. Para que o STF conceda uma
cautelar na ADI quais são os requisitos? Periculum in mora e fummus boni iuris. A Lei é de 1998. Se passaram
vários anos nessa situação, tem periculum in mora? O STF indeferiu a cautelar porque não há periculum in
mora para se decidir em cautelar e vai decidir no mérito quando julgará com mais propriedade

04. AS ENTIDADES DE APOIO

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Fernanda
DIREITO ADMINISTRATIVO Marinela

Este segundo grupo de entes de cooperação, eu critico bastante, acho absurdo. Você, com certeza,
que fez universidade pública, já notou, ou já ouviu falar, de instituições que são criadas dentro das
universidades públicas. Se você faz uma pós-graduação na universidade pública vai pagar. E pode cobrar? O
Supremo já disse: não pode! Mas, como é que é feita essa cobrança? Na verdade você não paga a
universidade, mas a essa instituição, que existe dentro da universidade, mas tem natureza de fundação, ente
de cooperação. É chamada de entidade de apoio.

Você se lembra do escândalo da FENATEC? A Fenatec funciona dentro do Cespe, ou seja, da UNB. É
uma fundação que existe dentro da UNB e é sobre esta entidade de apoio que vamos falar agora. Por exemplo,
você faz um mestrado e recebe uma bolsa paga pelo CNPQ. Também é isso. A instituição vai usar esse
dinheiro para investir na pesquisa, inclusive oferecendo bolsas de mestrado, de doutorado. São entidades de
apoio, seres dentro de outro ser. A idéia parece boa. Eu cobro a pós-graduação, que nem é uma fortuna e uso
o dinheiro para investir na pesquisa. Mas quem deveria investir na pesquisa é o Governo, o Estado. E nós, que
já pagamos todos os impostos, somos obrigados a pagar mais uma vez para investir na pesquisa. Só que esse
ser usa a autarquia que usa o dinheiro que você paga como se particular fosse. Você tem, então, um Estado
que deveria fazer e não cobrar de novo por isso e tem uma pessoa jurídica como pano de fundo que faz uso
desse dinheiro como se privada fosse.

A entidade de apoio pode ter natureza ou de fundação ou de associação. Alguém me perguntou: como
é que elas são criadas pelo poder público e não são fundações públicas? Só que elas não são criadas pelo
poder público, mas pelos mas pelos próprios servidores da universidade. Ela é criada pelo quadro de
servidores da universidade, e não pela universidade. Vimos que a fundação instituída pelo poder público é
pública. Neste caso, isso não acontece. Por serem instituídas por particulares, são pessoas privadas. Então
são fundações ou associações privadas, do regime privado. Elas funcionam dentro da própria universidade
pública e também existem dentro de hospitais públicos. Mas o mais comum é dentro da universidade. Para as
universidades, elas já estão regulamentadas. Há lei disciplinando isso. É a lei 8.958/94. Não precisa ler essa
lei. Só saber que ela existe. Para os hospitais públicos não tem lei disciplinando, mas elas já existem.

Essas entidades funcionam dentro da universidade e quem atende nessa fundação? Os próprios
servidores da universidade. Quem está lá na entidade de apoio é o servidor que é pago pela universidade. Elas
funcionam com personalidade própria na salinha da Universidade, com os servidores da Universidade e não
paga para isso. Mas recebe dinheiro, arrecada e usa com finalidade de pesquisa (ou deveria ser), mas usa o
dinheiro como pessoa privada, sem os rigores do regime público. Não tem que licitar, não está sujeita ao
Tribunal de Contas, enfim, não tem nada de público porque são pessoas privadas. Não tem nada de público na
história, salvo o quadro de pessoal e a sede.

Por tudo isso é bastante criticada. Representa um abuso do particular em cima do público. Ainda que o
objetivo seja nobre, a falta de fiscalização gera abusos. A fundação banca mestrados e doutorados no exterior,
compra computadores, etc. A idéia é boa, mas não é aceitável. Tudo isso enquanto as universidades públicas
estão abandonadas, sucateadas.

No site do Ministério do Planejamento há muitas informações sobre isso. São entidades de apoio e são
listadas, organizadas. Uma universidade pode ter mais de uma entidade.

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