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DURKHEIM, Émile. As Regras do Método Sociológico. 3ª. Ed.

São Paulo: Martins Fontes,


2007.

Elizeu de Melo Maciel


Suelen Monique Conceição Sales

INTRODUÇÃO
“Até o presente momento, os sociólogos se preocuparam em caracterizar e definir o método
que aplicam aos estudos dos fatos sociais. É assim que, em toda a obra de Spencer, o
problema metodológico não ocupa nenhum lugar [...] Stuart Mills, [...] fez senão passar sob o
crivo de sua dialética o que Comte havia dito. (P. XXII).
“Assim, fomos levados, pela força mesma das coisas, a elaborar um método que julgamos
mais definido, mais exatamente adaptado à natureza particular dos fenômenos sociais[...]. ”
(P. XXXIV).

Capítulo I
O QUE É UM FATO SOCIAL?
“Antes de procurar qual método convém ao estudo dos fatos sociais, importa saber quais fatos
chamamos assim.”. (P. 1).
“Quando desempenho minha tarefa de irmão, de marido ou cidadão, quando executo os
compromissos que assumi, eu cumpro os deveres que estão definidos, fora de mim e de meus
atos, no direito e nos costumes. [...] eis aí, portanto, maneiras de agir, de pensar e de se sentir
que apresentam essa notável propriedade de existirem foras das consciências individuais. [...]
se tento violar as regras do direito, elas reagem contra mim para impedir meu ato...”. (P. 1-2).
“Em se tratando de máximas puramente morais, a consciência pública reprime todo ato que as
ofenda através da vigilância que exerce sobre a conduta dos cidadãos e das penas especiais
que se dispõe. [...] eis, portanto uma ordem de fatos que apresentam características muito
especiais: consistem em maneiras de agir, pensar e de sentir, exteriores ao indivíduo que são
dotadas de um poder de coerção em virtude do qual esses fatos se impõe a ele. “. (P. 3)
“Sendo hoje, incontestável, porém, que a maior parte de nossas ideias e de nossas tendências
não é elaborada por nós, mas nos vem de fora, elas só podem penetrar em nós impondo-se; eis
que tudo o que significa nossa definição. [...] mas existem outros fatos que, sem apresentar
essas formas cristalizadas, têm a mesma objetividade e a mesma ascendência sobre o
indivíduo. É o que chamamos de correntes sociais.”. (P. 4).
“Aliás, pode-se confirmar por uma experiência a definição do fato social: basta observar a
maneira como são educadas as crianças. Quando se observam os fatos tais como são e tais
como sempre foram, salta aos olhos que toda educação consiste num esforço contínuo para
impor a criança maneiras de ver, de sentir e de agir às quais ela não teria chegado
espontaneamente. [...]. Assim não é sua generalidade que pode servir para caracterizar os
fenômenos sociológicos. Um Pensamento que se encontra em todas as suas consciências
particulares, um movimento que todos os indivíduos repetem nem por isso são fatos sociais.”.
(P. 6).
“Um fato social se reconhece pelo poder de coerção externa que exerce ou é capaz de exercer
sobre os indivíduos; e a presença desse poder se reconhece, por sua vez, seja pela existência
de alguma sanção determinada, seja pela resistência que o fato opõe a toda tentativa
individual de fazer-lhe violência.”. (P. 10).
“Nossa definição compreenderá, portanto, todo o definido se dissermos: É fato social toda
maneira de fazer, fixada ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior;
ou ainda, toda maneira de fazer que é geral na extensão de uma sociedade dada e, ao mesmo
tempo, possui uma existência própria, independentemente de suas manifestações
individuais.”. [P. 13]

Capítulo II
REGRAS RELATIVAS À OBSERVAÇÃO DOS FATOS SOCIAIS
“A primeira regra e a mais fundamental é considerar os fatos sociais como coisas. ” [P. 15].
I
“No momento em que uma nova ordem de fenômenos torna-se objeto de ciência, eles já se
acham representados no espírito, não apenas por imagens sensíveis, mas por espécies de
conceitos grosseiros formados [...] O homem não pode viver em meio às coisas sem formar a
respeito delas ideias, de acordo com as quais regula sua conduta. ” [p.15].
“[...] Em vez de observar as coisas, de descrevê-las, de compará-las[...] Em vez de uma
ciência de realidades, não fazemos mais do que uma análise ideológica. ” [p.16].
“As noções que acabamos de mencionar são aquelas notiones vulgares ou praenotiones que
ele assinala na base de todas as ciências nas quais elas tomam o lugar dos fatos. São os idola,
fantasmas que nos desfiguram o verdadeiro aspecto das coisas e que, no entanto, tomamos
como as coisas mesmas. E é por esse meio imaginário não oferecer ao espírito nenhuma
resistência que este, não se sentindo contido por nada, entrega-se a ambições sem limite e
julga possível construir, ou melhor, reconstruir o mundo com suas forças apenas e ao sabor de
seus desejos. ” [P. 18].
"Sentimos sua resistência quando buscamos libertar-nos delas" [p. 19].
"Em toda ordem de pesquisas, com efeito, é somente quando a explicação dos fatos está
suficientemente avançada que é possível estabelecer que eles têm um objetivo qual é esse
objetivo" [p.25].
“[...] os fenômenos sociais são coisas e devem ser tratados como coisa [...] é trata-los na
qualidade de data que constituem o ponto de partida da ciência. ” [p.28].
"[...]considerar fenômenos sociais em si mesmos, separados dos sujeitos conscientes que os
concebem; é preciso estudá-los de fora, como coisas exteriores, pois é nessa qualidade que
eles se apresentam a nós. ” [P. 28].
“O caráter convencional de uma prática ou de uma instituição jamais deve ser presumido. ”
[P. 29].
II
“[...] para assegurar a realização prática da verdade que acaba de ser estabelecida, não basta
oferecer uma demonstração teórica nem mesmo compenetrar-se dela [...] submeteremos a
uma disciplina rigorosa, cujas as regras principais, corolários de precedente, iremos formular.
1) [...]. É preciso descartar sistematicamente todas as prenoções [...] o sociólogo, tanto no
momento em que determina o objeto de suas pesquisas, como no curso de suas
demonstrações, proíba-se resolutamente o emprego daqueles conceitos que se formaram fora
da ciência e por necessidades que nada têm de cientifico. ” [P. 32-33].
“2) [...] O primeiro procedimento do sociólogo deve ser, portanto, definir as coisas de que ele
trata, a fim de que se saiba e de que ele saiba bem o que está em questão. [...] Além do mais,
visto ser por essa definição que é constituído objeto mesmo da ciência, este será uma coisa ou
não, conforme a maneira pela qual essa definição foi feita. Para que ela seja objetiva, é
preciso evidentemente que exprima os fenômenos, não em função de uma ideia do espírito,
mas de propriedades que lhe são inerentes. ” [p.35].
“Jamais tomar por objeto de pesquisas senão um grupo de fenômenos previamente definidos
por certos caracteres exteriores que lhes são comuns, e compreender na mesma pesquisa
todos os que correspondem a essa definição. ” [p.36].
“Ao proceder dessa maneira, o sociólogo, desde seu primeiro passo, toma imediatamente
contato com a realidade. ” [P. 37].
“Visto ser pela sensação que o exterior das coisas nos é dado, pode-se, portanto, dizer, em
resumo: a ciência, para ser objetiva, deve partir, não de conceitos que se formaram sem ela,
mas da sensação. É dos dados sensíveis que ela deve tomar diretamente emprestados os
elementos de suas definições iniciais. ” [P. 44].
“3) mas a sensação é facilmente subjetiva. Assim é de regra, nas ciências naturais, afastar os
dados sensíveis que correm o risco de ser demasiado pessoais ao observador, para reter
exclusivamente os que apresentam um suficiente grau de objetividade. ” [
p. 44].
“Pode-se estabelecer como princípio que os fatos sociais são tanto mais suscetíveis de ser
objetivamente representados quanto mais completamente separados dos fatos individuais que
os manifestam. ” [P. 45].
“De fato, uma sensação é tanto mais objetiva quanto maior a fixidez do objeto ao qual ela se
relaciona; pois a condição de toda objetividade é a existência de um ponto de referência,
constante e idêntico, ao qual a representação pode ser relacionada e que permite eliminar tudo
que ela tem de variável, portanto, de subjetivo. ” [P. 45].
“Quando, portanto, o sociólogo empreende a exploração de uma ordem qualquer de fatos
sociais, ele deve esforçar-se em considerá-los por um lado em que estes se apresentem
isolados de suas manifestações individuais. É em virtude desse princípio que estudamos a
solidariedade social em suas formas diversas e sua evolução através do sistema das regras
jurídicas que as exprimem. ” [P. 46].
“É preciso abordar o reino social pelos lados onde ele mais se abre à investigação científica.
Somente a seguir será possível levar mais adiante a pesquisa e, por trabalhos de aproximação
progressivos, cingir pouco a pouco essa realidade fugidia, da qual o espírito humano talvez
jamais possa se apoderar completamente. ” [P. 47].

Capítulo 3
REGRAS RELATIVAS À DISTINÇÃO ENTRE NORMAL E O PATOLÓGICO
“A observação, conduzida segundo as regras precedentes, a observação confunde duas ordens
de fatos muito dessemelhantes em alguns de seus aspectos: os que são como deviam ser, e os
que deviam ser diferentes do que são, isto é, os fenômenos normais e os fenômenos
patológicos. ” [P. 49].
“Se, portanto, encontrarmos um critério objetivo para distinguir cientificamente a saúde da
doença nas diferentes ordens de fenômenos sociais, a ciência estará em condições de
esclarecer a prática permanecendo fiel ao seu próprio método. ” [P. 51].
I
“A saúde seria o estado de um organismo em que as possibilidades de sobrevivência atingem
o máximo, e como doença, pelo contrário, tudo o que tem por efeito diminuir tais
possibilidades, poder-se-ia dizer que o critério de distinção entre ambas seria a maneira pela
qual uma e outra afetam aquelas. ” [P. 53].
“A doença não nos deixa sempre desamparados, num estado de desadaptação irremediável;
ela apenas nos constrange a uma outra adaptação, diferente da exigida da maioria de nossos
semelhantes. ” [P.54].
“[...] Chamaremos normais os fatos que se apresentam mais gerais, e daremos aos outros o
nome de mórbidos ou patológicos” [P.58].
“Um fato social não pode, portanto, ser dito normal para uma espécie social determinada,
senão em relação com uma fase igualmente determinada, de seu desenvolvimento [...]” [P.59].
II
“[...] o caráter normal do fenômeno será, com efeito, incontestável, se demonstrarmos que o
sinal exterior que de primeiro o tinha revelado não era puramente aparente, mais fundado na
natureza das coisas[...]” [P. 61].
“[...] a normalidade do fenômeno será explicada pelo simples fato de estar ligada às condições
de existência a espécie considerada, seja como um efeito mecanicamente necessário dessas
condições, seja como um meio que permite aos organismos adaptarem-se a elas. ” [P.62].
“Após ter estabelecido pela observação que o fato é geral, irá até às condições que no passado
determinaram esta generalidade e indagará em seguida se estas condições ainda existem no
presente ou se, pelo contrário, se modificaram. No primeiro caso, terá o direito de considerar
o fenômeno como normal e, no segundo, de recusar-lhe este caráter. ” [63].
“[...] uma vez constatada a generalidade do fenômeno[...] podemos formular as três regras
seguintes:
1) Um fato social é normal para um tipo social determinado, considerada em uma fase
determinada de seu desenvolvimento, quando ela se produz na média das sociedades
dessa espécie, consideradas na fase correspondente de sua evolução
2) Os resultados do método precedente podem ser verificados mostrando-se que a
generalidade do fenômeno se deve às condições gerais da vida coletiva no tipo social
considerado.
3) Essa verificação é necessária quando esse fato se relaciona a uma espécie social que
ainda não consumou sua evolução integral. ” [P. 65].
III
“O que é normal é simplesmente a existência da criminalidade, desde que, para cada tipo
social, atinja e não ultrapasse determinado nível, que talvez não seja impossível fixar
utilizando as regras precedentes. ” [P. 67].
“[...] o crime é normal é normal porque uma sociedade que dele estivesse isenta seria
inteiramente impossível. ” [P. 68].
“O crime é, portanto, necessário; ele se liga às condições fundamentais de toda a vida social e,
por isso mesmo, tem sua utilidade; pois estas condições de que é solidário são, elas próprias,
indispensáveis à evolução normal da moral e do direito. ” [P.71].

Capítulo IV
REGRAS RELATIVAS À CONSTITUIÇÃO DOS TIPOS SOCIAIS
“Visto que um fato social só pode ser qualificado de normal ou anormal em relação a uma
espécie social determinada, o que precede implica que um ramo da sociologia é dedicado à
constituição dessas espécies e à sua classificação. ” [P. 77].
I
“O verdadeiro método experimental tende, antes, a substituir os fatos vulgares – que só são
demonstrativos com a condição de serem numerosos e que, portanto, permitem apenas
conclusões sempre suspeitas[...] [P. 80].
II
"Pode-se inclusive precisar ainda mais o princípio dessa classificação. Sabe-se, sem dúvida,
que as partes constitutivas de qualquer sociedade são sociedades mais simples do que a
sociedade resultante. Um povo é o produto da reunião de dois ou vários povos que o
precederam. Assim, conhecendo a sociedade mais simples que tenha existido, não
necessitaremos, para estabelecer nossa classificação, senão de ficar sabendo de que maneira
esta sociedade se ajusta interiormente, e como se vão ajustando os compostos que dela
derivam." [P. 83].
"Por sociedade simples é preciso pois compreender toda a sociedade que não englobe outras
mais simples do que ela; que não apenas está atualmente reduzida a um único segmento, mas
ainda que não apresenta nenhum traço de alguma segmentação anterior" [P. 83-84]. 
“[...] os fenômenos sociais devem variar, não segundo a natureza dos elementos componentes,
mas segundo seu modo de composição[...} ” [P.86].
III
“[...] um mesmo elemento só pode compor-se consigo mesmo, e os composto que dele
resultam só podem, por sua vez, compor-se entre si, segundo um número de modos limitado
[...] como é o caso dos segmentos sociais. ” [P.88].
“ Os atributos distintivos da espécie não recebem, portanto da hereditariedade um acréscimo
de força que lhe permita resistir às variações individuais. ” [P. 89].

Capítulo V
REGRAS RELATIVAS À EXPLICAÇÃO DOS FATOS
“A constituição das espécies é essencialmente um modo de agrupar os fatos a fim de
Facilitar a sua interpretação; a morfologia social encara os verdadeiros problemas
Da explicação científica. Qual é o método desta? ”. [P. 91].
I
“Mostrar que um fato é útil não é explicar como ele surgiu nem como ele é o que é[…] É a
causas de um outro gênero que elas devem a sua existência. ” [P. 92].
“Mas, visto que cada um desses fatos é uma força e essa força domina a nossa, visto que cada
um tem uma natureza que lhe é própria, ter desejo ou vontade deles não poderia ser suficiente
para conferir-lhes existência. ” [P. 93].
“[…] a dualidade dessas duas ordens de pesquisa é que um fato pode existir sem servir a nada,
seja porque jamais teve ajustado a algum fim vital, se porque, após ter sido útil, perdeu toda a
sua utilidade e continuou a existir pela simples força do hábito. ” [P. 93}.
“Portanto, quando se procura explicar um fenômeno social, é preciso pesquisar separadamente
a causa eficiente que o produz e a função que ele cumpre. ” [P. 97].
“[…] para explicar um fato de ordem vital, não basta explicar a causa do qual ele depende, é
preciso também, ao menos na maior parte dos casos, encontrar a parte que lhe cabe no
estabelecimento dessa harmonia geral. ” [P.99].
II
“O método seguido normalmente pelos sociólogos é essencialmente psicológico
Capítulo VI
Regras relativas à administração da prova

Conclusão
“ A sociologia não é, pois, o anexo de nenhuma outra ciência; constitui ela mesma uma
ciência distinta e autônoma, e o sentimento do que a realidade social apresenta de especial é
até de tal modo necessário ao sociólogo que somente uma cultura especialmente sociológica
pode prepara-lo para compreender os fatos sociais. ” [P.149-150].

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