Você está na página 1de 1

Na realidade, Eunomo mistura aqui à sua maneira o testemunho bíblico e patrístico

sobre a glorificação, na qual cada criatura participa, cada santo comunga o logos
que se faz presente a cada um multiplicando de modo visível sua glória incriada:
ela está presente em sua totalidade e em cada um, mas não como uma parte para cada
um. É isso que Cristo ensinou[17] e que foi experienciado no dia de
Pentecostes[18]. Esta é a glória que o Pai e o Espírito aportam ao Logos. Isso
significa que não existem universais em Deus e que ele sustenta não apenas as
espécies, mas cada porção singular da existência, em todas as suas múltiplas
formas. Assim, o indivíduo jamais é sacrificado por Cristo para um pretenso bem
comum, mas, ao mesmo tempo, o bem comum é o bem de cada qual em particular.

A meditação pietista e filosófica a respeito da Bíblia, assim como a crítica


bíblica conduzida dentro de tais quadros de referência constituem vias sem saída,
que não conduzem às realidades designadas por Cristo, tanto no Novo como no Antigo
Testamento. A Bíblia não é a Revelação, ela não é a Palavra de Deus; mas ela trata
dessas realidades. A Revelação e a Palavra de Deus são comunicadas aos humanos
unicamente pela aquisição, por meio da purificação, do estado de iluminação e, a
partir daí, do estado de glorificação ou theosis, que perpetua, de geração em
geração, o Pentecostes, como fundamento e pivô da tradição e da sucessão
apostólicas.

****Não pode existir nenhum tipo de reconciliação fora do Mistério da Cruz, que,
por sua vez, é idêntico à glorificação. Ninguém pode se tornar amigo de Deus se não
tomar voluntariamente sua própria cruz e não seguir a Cristo. Ser glorificado
implica ser crucificado, o que significa, por outro lado, ter o poder em Deus de
transformar o amor próprio interessado num amor semelhante ao amor de Deus, que não
busca seu próprio interesse.

Essas distinções pressupõem o fato de que é o coração e não o intelecto o centro da


espiritualidade e o lugar onde se forma o teólogo, e também do fato de que o
coração normalmente não funciona como deveria.

A prece no Espírito – ou “prece noética” – também é chamada de lembrança incessante


de Deus. É isto que foi esquecido depois da queda, causando o escurecimento da
faculdade noética e o endurecimento do coração.
O resultado do mau funcionamento das faculdades noéticas são as relações anormais
entre Deus e o homem, bem como entre os homens, e a utilização prática tanto de
Deus como do homem caído para obter aquilo que cada um entende ser sua segurança e
felicidade. O deus ou os deuses que o homem imagina que existem fora da iluminação
não passam de projeções psicológicas de sua necessidade de segurança. Devido ao
medo e à ansiedade, suas relações com os outros e com Deus são sempre utilitárias.
Apesar disso, todo indivíduo é sustentado pela glória, a luz, o poder, a graça,
etc., incriadas, criativas e que o suportam a partir de Deus, mesmo que ele não
seja membro do Corpo de Cristo por não ter sido conduzido à iluminação pela
purificação da faculdade noética em seu coração. A reação contrária a essa relação
direta ou comunhão com Deus vai do endurecimento do coração – isto é, o sopro que
apaga a centelha da graça – à experiência da glorificação dos santos. Isso
significa que todos os homens são iguais em possuir a faculdade noética, mas não na
qualidade ou grau de seu funcionamento.

John cita a memoria como um espaço para Deus que acolhe outras coisas caso não ache
Deus

Você também pode gostar