Você está na página 1de 6

 Introdução

O Transtorno Bipolar (TBP) é um transtorno de humor no qual o indivíduo


apresenta oscilações entre pontos altos do temperamento (mania) e baixos (depressão).
É uma condição psiquiátrica crônica que acomete cerca de 1-2% da população, sendo
que, por vezes a sintomatologia do TBP pode ser tão intensa que interfere diretamente
na vida social, afetiva e ainda profissional do indivíduo, sendo necessária a internação
em alguns casos. Estudos apontam que existe uma predisposição genética para o
desenvolvimento da doença.
 Episódios Bipolares
Pessoas com Transtorno Bipolar podem experienciar episódios maníacos,
hipomaníacos, depressivos e mistos.
Episódio maníaco: De acordo com o DSM-IV a mania é definida como o humor
expansivo
ou irritável, durando pelo menos 1 semana. Nos episódios de mania podem estar
presentes sintomas psicóticos como alucinações, delírios e pensamentos confusos e
desorganizados, sendo que, esses episódios desestabilizam o cotidiano da pessoa. Para
que um episódio seja definido como mania tem de apresentar ao menos 3 dos 7
sintomas abaixo:
1. Autoestima aumentada ou grandiosidade;
2. Diminuição da necessidade de sono (com cerca de 3 horas de sono por dia o
indivíduo se sente descansado);
3. Indivíduo mais falante do que seria habitualmente;
4. Fuga de ideias ou sensação de que os pensamentos estão acelerados;
5. Distratibilidade (a atenção é facilmente desviada para estímulos externos
irrelevantes);
6. Aumento sobressalente em desempenhar múltiplas tarefas ou desassossego e
agitação psicomotora;
7. Envolvimento excessivo em atividades prazerosas com alto potencial para
consequências desagradáveis como compras compulsivas, indiscrições ou imprudências
sexuais ou ter julgamento deficitário para investimentos financeiros.
Episódio hipomaníaco: A sintomatologia da hipomania se assemelha à da mania, porém
em graus mais leves, mas ainda são perceptíveis a outras pessoas. Não compromete o
cotidiano do indivíduo ou apresenta sintomas psicóticos. Os sintomas da hipomania
duram pelo menos 4 dias.
Episódio depressivo: Os episódios depressivos têm ações desestabilizadoras em
diferentes aspectos da vida do paciente, tendo em vista que os sintomas trazem
sensação de angústia e culpa. Pacientes que tem esses episódios podem também
apresentar os sintomas psicóticos antes descritos. Em um episódio depressivo, a pessoa
fica com o humor deprimido, sente tristeza e tem sensação de vazio por pelo menos
duas semanas. Além disso, tem perda de interesse ou prazer em grande parte do tempo,
assim como apresenta no mínimo quatro dos seguintes sintomas:
1. Cansaço ou falta de energia;
2. Apresentar-se perceptivelmente mais vagaroso ou mais agitado sem ser capaz
de se acalmar;
3. Mudanças notáveis no apetite e peso;
4. Problemas no sono, dormir demais ou ter dificuldade para dormir;
5. Sentir-se inútil ou culpabilizar-se excessivamente;
6. Dificuldades de concentração, pensamento ou tomada de decisões;
7. Pensar recorrentemente em suicídio ou morte.
Episódios mistos: O indivíduo apresenta episódios de mania e depressão
simultaneamente por no mínimo uma semana, desestabilizando significativamente seu
cotidiano. A pessoa experiencia mudanças de humor rápidas (ora feliz, ora triste, ora
irritável, ora inquieto), além dos pensamentos culpabilizadores e da vontade de suicidar-
se, podendo ser necessária a internação.
 Tipos de TBP
O Transtorno Bipolar pode ser dividido em tipo I, tipo II, ciclotímico ou ainda não
especificado ou misto, quando não se enquadra nas categorias anteriores.
Transtorno Bipolar do tipo I: Nesse tipo ocorre um claro episódio maníaco ou
maníaco
psicótico com duração de pelo menos uma semana, além da depressão maior que pode
se estender de duas semanas a meses. Qualquer episódio de mania passado ou presente
serve para satisfazer o critério desta categoria, sendo que mais de 90% dos pacientes
com esse tipo de TBP apresentam outros episódios maníacos.
Transtorno Bipolar do tipo II: Esse se caracteriza por um episódio hipomaníaco com
um
ou mais episódios depressivos maiores, nunca apresentando episódios maníacos
completos. É comum que os indivíduos apresentem depressão grave. Esse tipo de TBP
deve ser investigado quando aspectos atípicos (relacionamentos caóticos ou abuso de
substâncias como, por exemplo, automedicação) forem notados. Nesses casos, fazer uso
de um afetivograma pode ser produtivo.
Ciclotimia: Aqui as oscilações de humor são tidas como menos graves. Se caracteriza
por um histórico crônico (relato de pelo menos dois anos) de humor variável entre
hipomania e sintomas depressivos leves (não necessariamente um quadro de
depressão). Geralmente, os ciclotímicos não se apresentam voluntariamente aos
serviços de saúde mental, são trazidos por tentativa de suicídio, problemas em relações
e uso excessivo de substâncias. Os pacientes com ciclotimia podem responder bem ao
tratamento medicamentoso.
Transtorno Bipolar não especificado ou misto: A sintomatologia sugere TBP, porém
não se enquadra em número ou tempo nos tipos previamente descritos. O paciente pode
apresentar sintomas de depressão leve e hipomania, mas por um período inferior a 2
anos ou ainda o paciente pode apresentar episódios de depressão e elevações no humor
leves e de curta duração, os quais não podem ser classificados como mania ou
hipomania.
 Fisiopatologia
A causa exata da sintomatologia apresentada no TBP não está clara, mas
alterações nos níveis de neurotransmissores como noradrenalina, serotonina,
dopamina, GABA e glutamato parecem estar relacionados com modificações
intracelulares nos neurônios corticais, podendo levar alguns desses neurônios a
alterações metabólicas ou mesmo à morte dando origem às alterações de humor e
estágios de mania e depressão.

 Diagnóstico Diferencial
O diagnóstico diferencial da mania inclui mania secundária por agentes
simpaticomiméticos ou estimulantes, hipertireoidismos, AIDS ou por distúrbios
neurológicos. É comum existir o abuso de álcool ou de outras substâncias pelo
julgamento prejudicado ou impulsividade aflorada, bem como, tentativa de se
automedicar e tentar combater os distúrbios do sono.
 Tratamento
O tratamento farmacológico pode diminuir os sintomas do paciente em fase
aguda. Por conta disso, é considerado a opção de primeira linha contra o Transtorno
Bipolar. As medicações que mais são utilizadas no TBP são estabilizadores de humor;
antipsicóticos atípicos e ansiolíticos (benzodiazepinas), que são utilizados por curtos
períodos para aliviar ansiedade, inquietação, pânico ou insônia; e antidepressivos se
associados a estabilizadores de humor. O lítio é um estabilizador de humor que vem
sendo usado desde a década de 60 e continua sendo o pilar de escolha para o
tratamento e profilaxia do TBP, ajudando a diminuir o número de casos de suicídio.
Outros estabilizadores de humor também são utilizados, mas possuem efeitos adversos,
o que os torna inadequados para alguns pacientes. O lítio também possui seus pontos
negativos, não podendo ser usado em pacientes com doença renal e, além disso, causa
hipotireoidismo em 10-20% dos pacientes, podendo ainda produzir doenças cutâneas
leves, hiperparatireoidismo, ganho leve de peso e tremor. As seguintes tabelas do “Guia
para cuidadores de pessoas com transtorno bipolar” ilustram sucintamente os
medicamentos mais utilizados:
Além do tratamento medicamentoso, a terapia com psicólogo pode aumentar a
qualidade de vida do paciente e o sucesso do tratamento. Ainda para casos mais graves
e resistentes a medicamento, a eletroconvulsoterapia (ECT) deve ser considerada,sendo
eficaz para estabilizar o humor e evitar suicídios, uma vez que, a ECT reduz a depressão
grave e ajuda a prevenir sintomas de outros episódios. A confusão temporária ou perda
de memória podem acontecer quando se faz uso dessa terapia.

Você também pode gostar