Você está na página 1de 8

Os benefícios da arte para inclusão do aluno com deficiência

Maria Nancy Nunes de Matos1


RESUMO
Este trabalho objetiva analisar e ampliar conhecimentos sobre “Os benefícios da
arte para inclusão do aluno com deficiência”. Sabemos que a inclusão atualmente é um
direito de todos os cidadãos, e independe de sua condição física, social, religiosa, política ou
étnica e as escolas tanto de Educação Infantil, quanto do Ensino Fundamental devem
possuir as Salas de Recursos Multifuncionais (SRM) para que possam ter maior e amplo
Atendimento Educacional Especializado AEE), de acordo com a LDB 9.394/96 -Artigo 58 -
Parágrafo 2º - O Atendimento Educacional será feito em classes, escolas ou serviços
especializados, sempre em função das condições específicas dos alunos, quando não for
possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular. Para realização deste
trabalho foram feitos levantamentos teóricos de diferentes autores que discorrem sobre este
tema e, a partir da leitura e análise destes conteúdos, mesclando com as minhas
experiências de 54 anos de docência e desde 1992 com experiencias em Educação Especial,
e em seguida a Inclusiva, busco ampliar os conhecimentos na prática pedagógica da arte e
seus benefícios para a inclusão do aluno com deficiência, seguindo as orientações da Base
Nacional Comum Curricular (BNCC) que direcionam através de seus objetivos de
aprendizagem e desenvolvimento.
Palavra-Chave: Arte. Deficiência. Educação Inclusiva.

1-Doutora em Teologia em Educação Cristã 2-Doutoranda em Ciências da Educação


3-Mestra em Ciências da Educação 4-Esp. Neurociências e Aprendizagem
5-Esp. NeuroPsicopedagogia 6-Esp. Psicopedagogia Clinica e Institucional
7-Esp. Ciências Políticas 8-Esp. Educação Especial Inclusiva
9-Esp. Adm. Es. Sup. e Orientação 10-Esp. Educação Infantil e Anos Iniciais
11-Esp. em História e Cult. Afro-brasileira 12-Graduada em História –Licenciatura-
INTRODUÇÃO
A palavra Arte tem origem no latim “ars” que significa “habilidade” podendo ser
entendida como manifestação cultural em que o ser humano expressa seus pensamentos,
sentimentos, emoções de seu passado, presente ou futuro.
A arte é uma forma de comunicação universal desde a antiguidade e cada povo
possuí sua cultura artística e seu potencial foi se desenvolvendo e se modificando no tempo
e no espaço, e está presente nas relações do ser humano, tanto no dia a dia familiar, quanto
na escola, na comunidade em suas mais diferentes linguagens artísticas, como na dança, na
música, na pintura, no teatro, na escultura, na literatura, no cinema, na fotografia, na
história em quadrinhos, na arte digital.
Desde a antiguidade, os portadores de necessidades especiais sempre foram
considerados seres retardados, aleijados, excepcionais, dentre outras definições, além de
serem vistos como uma maldição, ou um castigo para a família e, por isso, deveriam viver
isolados da sociedade, pois, até o século XV não havia explicação para as deficiências e até
que a Ciência conseguisse explicá-las, estes continuaram a serem vistos como uma maneira
sobrenatural de existência humana.
Segundo a Lei Diretrizes e Bases 9.394/96 em seu Artigo 26. - Os currículos da
educação infantil, do ensino fundamental e médio devem ter uma base nacional comum, a
ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte
diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da
economia e dos educandos. (Redação dada pela Lei 12.796/2013) Parágrafo 2º. O ensino da
arte, especialmente em suas expressões regionais, constituirá componente curricular
obrigatório da educação básica (Redação dada pela Lei 13.415/2017). Deste modo, a arte é
benéfica para todas as pessoas com deficiência (PcD), sobre isso, Matias (2017) diz,

“As linguagens artísticas mudam a sociedade, abre espaços para a


criatividade, o olhar e pensamentos críticos dando oportunidades
para os educandos se desenvolverem, conhecendo novas formas de
aprender (...) o entendimento de que a arte na educação é uma forma
de conhecimento na qual se estabelecem relações sociais e afetivas
significativas que promovem a construção de conhecimentos”.

A arte em todas as suas manifestações contribui de forma prazerosa no processo do


desenvolvimento cognitivo, motor e afetivo de todas as pessoas, principalmente com
deficiência e nesse caso, a família é a base do processo educativo de forma assistemática e
deve contribuir, estimulando de forma natural suas habilidades artísticas, sem impor
regras.
DESENVOLVIMENTO
Segundo Bossi (1991) a arte é transformadora e permiti que o aluno realize
atividades envolvendo a mente, o coração, os olhos, os ouvidos, as mãos; que pensa, recorda,
sente, observa, escuta, fala, toca e experimenta. Eis porque a arte transforma a vida
humana individual e coletiva abrindo espaços para a criatividade, ampliando o olhar e
pensamentos críticos dando chances para o aluno se desenvolver através de novas formas
de aprender.
Na história da humanidade há inúmeros relatos de exclusão de pessoas com
deficiência e eram tratadas com os mais diferentes e humilhantes adjetivos, como aleijados,
cegos, mongoloides, enjeitados, débil mental, mancos, surdos-mudos, etc. segundo relatos
de Mendes (2006) no Brasil a pessoa com deficiência foi maltrata por séculos, sendo
marginalizada e discriminada pela exclusão tanto no convívio social quanto educacional.
Nos anos 1960, pais e parentes de deficientes organizaram-se e surgiram as
primeiras críticas a segregação. Teóricos começaram a atentar para o processo de
normalização, isto é, para a adequação destes à sociedade, quando, na oportunidade, a luta
pelos Direitos Humanos se intensificou e este movimento estava relacionado com o
crescimento dos movimentos das minorias sociais, associado a outros fatores tais como o
avanço científico, questionamentos sociológicos a respeito das práticas discriminatórias no
mundo e, finalmente, ao avanço tecnológico como, por exemplo, no terreno das
comunicações que passou a disseminar de forma rápida e eficiente, as informações,
proporcionando conhecimentos e discussões sociais sobre os diferentes meios de exclusão
sociais que aconteciam pelo mundo.
Em 1990, na realização da Conferência Mundial de Educação Para Todos,
estabeleceu-se que as necessidades básicas fossem oferecidas a todos pela universalização
de acesso, promoção da igualdade de oportunidades, ampliação dos meios e conteúdo, como
também a melhoria do ambiente de estudo, segundo UNESCO, (1994, pág. 18),

“Essa atitude de ordem mundial teve como fator primordial, a crença de


que a pobreza e a miséria verificada no mundo eram produtos, em grande
parte, da falta de conhecimento a respeito dos direitos e deveres, por parte
da população, e acreditando, ainda, que a própria falta de direito à
educação, que é básica (e do acesso à informação) constituía fonte de
injustiça social para com os desfavorecidos e substancialmente para os
portadores de necessidades especiais”.

Em junho de 1994, portanto, dirigentes de vários países, inclusive do Brasil,


assinaram a Declaração de Salamanca, um dos mais importantes documentos de
garantia de direitos educacionais. E em um dos seus capítulos proclama as escolas
regulares inclusivas como sendo o meio mais eficaz ao combate à discriminação e à
injustiça social, e determina ainda, que as escolas devem acolher todas as crianças,
independentemente, de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais e
linguísticas. Conforme a UNESCO (1994, pág. 15) afirma:

“A Conferência de Salamanca proporcionou uma oportunidade única de


colocação da Educação Especial dentro da estrutura de “Educação para
Todos” firmada em 1990 (...) Ela promoveu uma plataforma que afirma o
princípio e a discussão da prática de garantia de inclusão de todas as
crianças com necessidades educacionais especiais nessa iniciativa e a
tomada de seus lugares de direito numa sociedade de aprendizagem”.

Desta forma, há um apelo aos governantes que busquem colocar em prática a


inclusão e a participação dos portadores de necessidades especiais no cenário social e
educacional, de acordo com a declaração, acima citada, a escola inclusiva deve
proporcionar igualdade de condições para que todas as crianças, independentemente de
sua necessidade especial, tenham acesso ao conhecimento de forma conjunta com as demais
crianças.
Na primeira LDB do Brasil, a Lei Diretrizes e Bases nº 4.024, de 20 de dezembro
de 1961 em seu artigo 88º, proclama o direito dos alunos com deficiência, que poderiam se
integrar fruindo das mesmas situações do ensino comum, isso vinha contribuir às
discussões mundiais sobre o reconhecimento do valor humano das Pessoas com Deficiência,
bem como, dos direitos que eles possuíam.
A segunda LDB do Brasil, a Lei Diretrizes e Bases 5.692, de 11 de agosto de 1971, de
acordo com seu Artigo 9º -Os alunos que apresentarem deficiências físicas ou mentais, os
que se encontrem em atraso considerável quanto á idade regular de matrícula e os
superdotados deverão receber tratamento especial, de acordo com as normas fixadas pelos
competentes Conselhos de Educação. Este Artigo dá mais ênfase às escolas especiais e
substitui o artigo 88º da LDB 4.024/1961.
A terceira LDB do Brasil, Lei Diretrizes e Bases 9.394, de 20 de dezembro de 1996,
estabelece diretrizes e bases da Educação Nacional e em seu Capitulo V, nos Artigos 58º,
59º e 60º se refere à Educação Especial e a Resolução CNE/CEB Nº 02, de 11 de setembro
de 2001, institui Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica,
objetivando construir condições para a inclusão dos alunos que apresentam necessidades
educacionais no ensino regular.
A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, Lei nº 13.146, de 6 de julho
de 2015, sendo um conjunto de dispositivos destinados a assegurar e a promover, em
igualdade de condições com as demais pessoas, o exercício dos direitos e liberdades
fundamentais por pessoas com deficiência, visando a sua inclusão social e cidadania e em
seu,
Artigo 28. III -projeto pedagógico que institucionalize o atendimento
educacional especializado, assim como os demais serviços e adaptações razoáveis
para atender às características dos estudantes com deficiência e garantir o seu
pleno acesso ao currículo em condições de igualdade, promovendo a conquista e
o exercício de sua autonomia;”
Desta forma, no Projeto Político Pedagógico (PPP) deve ser incluído as
manifestações artísticas que está centrada nas Linguagens: artes visuais, dança, música
e teatro dos Componentes Curricular da Base Nacional Curricular (BNCC) que amplia
as habilidades com a arte, como sabemos que os Parâmetros Curriculares Nacionais.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs -1998) em suas Estratégias para
Educação de Alunos com Necessidades Educacionais Especiais, ampliam e oferecem
estratégias para nossa visão sobre a arte na educação e são os responsáveis pelo
reconhecimento da dança, da música e do teatro como linguagens com sua própria gama
de conhecimentos específicos, mas a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) propõe
todo um percurso na ampliação ao acesso do aluno nas experiencias estéticas nas aulas
de arte, onde são protagonistas expressando seus próprios sentimentos e criatividade no
processo educacional artístico.
A arte é um ramo da educação capaz de atender a todos que dela necessita como
também esclarecer que todos se educam sem segregação e discriminação e a família é a
grande aliada e parceira da escola para a identificação e atendimento das necessidades do
aluno, inclusive no acompanhamento do seu desenvolvimento. Mesmo que essa
participação seja de suma importância, na realidade, percebe-se que as famílias ainda têm
certo receio em desenvolver um trabalho em prol de uma educação inclusiva.
O professor tem uma função importantíssima, uma vez que é o orientador dos
trabalhos a serem executados pelos alunos. Ele tem o dever de dar suporte a todos que
precisarem, e o mais importante para tal, são buscar conhecimentos e não ficar baseando-
se somente naqueles recebidos durante a formação ou da equipe pedagógica ou copiados
da internet, mas dar oportunidade para que o aluno desenvolva suas potencialidades
criativas através das linguagens artísticas.
A capacitação dos docentes, neste sentido, é um dos modos de começarmos a
mudança na qualidade do ensino com vista a criar contextos educacionais inclusivos,
capazes de proporcionar a aprendizagem a todos os alunos, respeitando ritmos, tempos,
superando barreiras físicas, psicológicas, espaciais, temporais e culturais.
O professor de Educação Especial Inclusiva sabe que o Atendimento Educacional
Especializado (AEE) é um serviço de apoio à sala de aula comum e que o público-alvo são
os alunos com deficiências, transtornos globais do desenvolvimento, altas
habilidades/superdotação, partindo desta consciência torna-se necessário estar sempre se
atualizando e assim desenvolver atividades artísticas de forma natural, mas planejada.
Observa-se que, através da produção artística, a criança percebe o mundo a sua
volta, constrói ideias, formula normas e regras, descobre novas formas e novos prazeres,
vivencia o seu dia-a-dia, a sua realidade e transporta a vida real para a vida imaginária é o
que afirma FISHER (1981, pág. 39),

“[...] a arte capacita o homem para compreender a realidade e o ajuda não


só a suportá-la como a transformá-la, aumentando-lhe a determinação de
torná-la mais humana e mais hospitaleira para a humanidade e, essa
transformação só é possível pelo trabalho que dá um novo significado às
relações do homem com seu meio, estabelecendo elos, vínculos,
redimensionando a existência humana.”

Assim sendo, a prática artística na inclusão de alunos com deficiência estimula a


imaginação e a criatividade, além de despertar vocações que podem se desenvolver em
direção às áreas de criação e expressão e, também, predispõe ao aprendizado, abrindo
portas para o conhecimento, despertando a atenção, o interesse e facilitando a
memorização.
Ao expor sobre inclusão educacional e o uso da arte, Ferreira (2001) explica que a
arte não serve apenas ao ambiente social, mas também aos aspectos físico, emocional e
psicológico, tendo em vista que cada movimento traçado deve ser analisado e, cada novo
passo, é uma expressão de avanço na aprendizagem, sendo importante ser trabalhada como
como um canal de prazer no aprendizado e não como recreação.
Desta forma, a arte é essencial porque leva o indivíduo a superar seus limites,
vencer os obstáculos, criando novas ferramentas de aprendizagem, mas este é um processo
demorado, que pode levar anos, até que o indivíduo supere suas dificuldades e limitações,
mas através das manifestações artísticas, o portador de necessidades especiais encontra o
caminho da socialização e compreende que existem pessoas ao seu redor que são diferentes
e estes, por sua vez, entram em contato com um novo ser, uma pessoa que, apesar de sua
condição física, também é humano e tem capacidade para aprender e expressar suas
emoções, bem como de conviver em sociedade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Partindo do que foi exposto até o momento, é possível perceber que a educação
inclusiva como proposta educacional, tende a modificar os conceitos sociais, buscando
reorganizar a sociedade, ao mesmo tempo em que visa a interação entre todos os indivíduos.
É possível compreender que o papel do professor nesta nova proposta de ensino é
o de intermediador, ou seja, colocar diante dos alunos os desafios de convivência com as
diferenças físicas e culturais, buscando novas propostas pedagógicas para que o fazer
educacional seja de forma prazerosa e que todos participem e aprendam.
Para isso, um dos caminhos é o uso das artes nas práticas diárias de ensino em que
todas as linguagens artísticas sejam incluídas, pois, as manifestações artísticas, desde a
antiguidade, constituem um momento de expressão dos sentimentos e dos conceitos que o
indivíduo tem sobre o mundo que o cerca.
Nesse sentido, o docente pode usar de diferentes meios como a música, a dança, o
teatro, o desenho, as artes visuais e até mesmo o brincar. Não há julgamentos de valores,
pelo contrário, através da arte, a professora entenderá o mundo da criança, especialmente
dos alunos com deficiência e, com isso, buscará novas propostas e práticas pedagógicas que
possam atender a todos de forma justa e igualitária.
Ao analisar a importância da arte na educação de aluno com deficiência, se conclui
que esta, além de atuar como facilitadora da aprendizagem e formadora de personalidades,
mostra-se como geradora de opiniões, formando indivíduos críticos de sua realidade social
e promovendo a interação entre os personagens da educação de modo geral, especialmente
quando se trata de uma educação voltada para a inclusão social e educacional.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
-BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Parâmetros Curriculares Nacionais.
Brasília: MEC/SEMT, 1998.
______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Base Nacional Comum
Curricular. Brasília: MEC, 2017. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/.
Acesso em: 12 de dezembro de 2022.
-SANTOS, M. Educação Inclusiva e a Declaração de Salamanca. MEC/SEE, 2000.
-BRASIL. MEC. Secretaria de Educação Especial. Educação para todos: EFA 2000.
Avaliação: políticas e programas governamentais em educação especial. Brasília:
MEC/SEESP, 2000.
-BOSSI, Alfredo. Reflexões sobre a Arte. 4 ed. São Paulo: Ática, 1991.
-UNESCO (1994). Declaração de Salamanca sobre princípios, políticas e práticas na área
das necessidades educativas especiais. Conferência Mundial de Educação Especial.
Salamanca, Espanha.
-FISHER, E. A necessidade da arte. Editora Ulisseia. 1981
-BRASIL. Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961. Fixa as Diretrizes e Bases da
Educação Nacional.
-BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional -LDB 5.692/1971.
-BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB. 9394/1996.
- FERREIRA, S. Imaginação e linguagem no desenho da criança. Campinas: Papirus, 2001.
-SILVA, T. T. Identidade e Diferença. A perspectiva dos Estudos Culturais. Petrópolis,
Vozes, 2005.

Você também pode gostar