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AÇÕES CONSTITUCIONAIS

PROCEDIMENTOS ESPECIAIS JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA – FAPAL (aula 12)


(CONTINUAÇÃO...) MANDADO DE INJUNÇÃO art. 5º LXXI da CF/1988 (primeira constituição) e Lei
13.300/2016
Art. 5.º, LXXI: “Conceder-se-á MANDADO DE INJUNÇÃO sempre que a falta de norma regulamentadora
torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à
nacionalidade, à soberania e à cidadania.

Aula anterior – “COMPETÊNCIA DOS JUÍZES DE PRIMEIRO GRAU — os juízes de primeiro grau são
competentes para apreciar writs injuncionais quando a omissão reportar-se a normas municipais.
Mas, na prática, pouquíssimos serão os casos, porque as lacunas relativas ao âmbito local, e até mesmo
estadual, circunscrevem-se à órbita das leis federais, praticamente exaustivas quanto aos direitos
tutelados pelo mandado de injunção.
O intuito do constituinte foi claro: concentrar nas mãos dos tribunais o poder decisório, com vistas a
uniformizar critérios para colmatar lacunas, evitando decisões conflitantes em mandados de injunção 1.

...
Indeferimento da inicial, aplica o 321, do CPC, manda sanar o vício (Enunciado 392 do FPPC)

Negativa pelo relator (RECURSO): Art. 6º A petição inicial será desde logo indeferida quando
a impetração for manifestamente incabível ou manifestamente improcedente.

Parágrafo único. Da decisão de relator que indeferir a petição inicial, caberá agravo, em
5 (cinco) dias, para o órgão colegiado competente para o julgamento da impetração.

Muito cuidado neste ponto. O agravo interno de que trata esta situação é o previsto no art. 6º, parágrafo
único, da Lei nº 13.300/2016, não se aplicando, portanto, o art. 1.021 do CPC/2015. Isso é importante porque
o agravo interno previsto no CPC/2015 tem prazo de 15 dias, mas a Lei do MI, que é especial, fixa o prazo
reduzido de 5 dias.
Caso necessário exibir documento: - “art. 4º, § 2º Quando o documento necessário à prova do alegado
encontrar-se em repartição ou estabelecimento público, em poder de autoridade ou de terceiro, havendo
recusa em fornecê-lo por certidão, no original, ou em cópia autêntica, será ordenada, a pedido do
impetrante, a exibição do documento no prazo de 10 (dez) dias, devendo, nesse caso, ser juntada cópia à
segunda via da petição.”
- LIMINAR
A Lei nº 13.300/2016 não prevê a possibilidade de concessão de medida liminar. Antes da regulamentação,
o STF já possuía precedentes afirmando não ser cabível liminar.
Parecer do MP em 10 dias
- SENTENÇA OU ACÓRDÃO
Esgotado o prazo para manifestação do MP, com ou sem parecer, os autos serão conclusos para decisão
(sentença ou acórdão).

1
BULOS, Uadi Lamego. Curso de Direito Constitucional, 8ª ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 790.

1
- EFICÁCIA OBJETIVA DA DECISÃO
- CORRENTE NÃO-CONCRETISTA: Segundo esta posição, o Poder Judiciário, ao julgar procedente o mandado
de injunção, deverá apenas comunicar o Poder, órgão, entidade ou autoridade que está sendo omisso. Para
os defensores desta posição, o Poder Judiciário, por conta do princípio da separação dos Poderes, não pode
criar a norma que está faltando nem determinar a aplicação, por analogia, de outra que já exista e que
regulamente situações parecidas.
É uma posição considerada mais conservadora e foi adotada pelo STF (MI 107/DF) até por volta do ano de
2007.
- CORRENTE CONCRETISTA: Para esta corrente, o Poder Judiciário, ao julgar procedente o mandado de
injunção e reconhecer que existe a omissão do Poder Público, deverá editar a norma que está faltando ou
determinar que seja aplicada, ao caso concreto, uma já existente para outras situações análogas.
É assim chamada porque o Poder Judiciário irá "concretizar" uma norma que será utilizada a fim de
viabilizar o direito, liberdade ou prerrogativa que estava inviabilizada pela falta de regulamentação.
I – Quanto à necessidade ou não de concessão de prazo para o impetrado, a posição concretista pode
ser dividida em:
a) CORRENTE CONCRETISTA DIRETA (deverá ocorrer imediatamente): o Judiciário deverá
implementar uma solução para viabilizar o direito do autor e isso deverá ocorrer
imediatamente (diretamente), não sendo necessária nenhuma outra providência, a não ser a
publicação do dispositivo da decisão.
- Concretista intermediária individual, quando expirar o prazo, caso o impetrado não edite a
norma faltante, a decisão judicial garantirá o direito, liberdade ou prerrogativa apenas ao
impetrante.
b) CORRENTE CONCRETISTA GERAL (ultra partes ou erga omnes): a decisão que o Poder
Judiciário der no mandado de injunção terá efeitos erga omnes e valerá para todas as demais
pessoas que estiverem na mesma situação. Em outras palavras, o Judiciário irá "criar" uma
saída que viabilize o direito, liberdade ou prerrogativa e esta solução valerá para todos. Ex: na
corrente concretista intermediária geral, quando expirar o prazo assinalado pelo órgão
judiciário, se não houver o suprimento da mora, a decisão judicial irá garantir o direito,
liberdade ou prerrogativa com eficácia ultra partes ou erga omnes.

POSIÇÃO ADOTADA NO DIREITO BRASILEIRO


Qual é a posição adotada pelo STF? A Corte inicialmente consagrou a corrente não concretista. No entanto,
em 2007 houve um overruling (superação do entendimento jurisprudencial anterior) e o STF adotou a
corrente concretista direta geral (STF. Plenário. MI 708, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 25/10/2007).
A Lei nº 13.300/2016 tratou sobre o tema? SIM. Aumentando a polêmica em torno do assunto, a Lei nº
13.300/2016 determina, como regra, a aplicação da corrente concretista individual intermediária.
Acompanhe:
*PRIMEIRA PROVIDÊNCIA é fixar prazo para sanar a omissão:

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Se o juiz ou Tribunal reconhecer o estado de mora legislativa, será deferida a injunção (= ordem, imposição)
para que o impetrado edite a norma regulamentadora dentro de um prazo razoável estipulado pelo julgador.
*SEGUNDA ETAPA, caso o impetrado não supra a omissão:
Se esgotar o prazo fixado e o impetrado não suprir a mora legislativa, o juiz ou Tribunal deverá:
• estabelecer as condições em que se dará o exercício dos direitos, das liberdades ou das prerrogativas
reclamados; ou
• se for o caso, as condições em que poderá o interessado promover ação própria visando a exercê-los.
*Exceção em que a primeira providência poderá ser dispensada:
O juiz ou Tribunal não precisará adotar a primeira providência (fixar prazo) e já poderá passar direto para a
segunda etapa, estabelecendo as condições, caso fique comprovado que já houve outro(s) mandado(s) de
injunção contra o impetrado e que ele deixou de suprir a omissão no prazo que foi assinalado nas ações
anteriores.
Em outras palavras, se já foram concedidos outros mandados de injunção tratando sobre o mesmo tema e o
impetrado não editou a norma no prazo fixado, não há razão lógica para estipular novo prazo, devendo o juiz
ou Tribunal, desde logo, estabelecer as condições para o exercício do direito ou para que o interessado possa
promover a ação própria.
Em suma:
Desse modo, em regra, a Lei nº 13.300/2016 determina a adoção da corrente concretista intermediária (art.
8º, I). Caso o prazo para a edição da norma já tenha sido dado em outros mandados de injunção
anteriormente propostos por outros autores, o Poder Judiciário poderá veicular uma decisão concretista
direta (art. 8º, parágrafo único).
Art. 8º Reconhecido o estado de mora legislativa, será deferida a injunção para: I -
determinar prazo razoável para que o impetrado promova a edição da norma
regulamentadora; II - estabelecer as condições em que se dará o exercício dos direitos,
das liberdades ou das prerrogativas reclamados ou, se for o caso, as condições em que
poderá o interessado promover ação própria visando a exercê-los, caso não seja
suprida a mora legislativa no prazo determinado. Parágrafo único. Será dispensada a
determinação a que se refere o inciso I do caput quando comprovado que o impetrado
deixou de atender, em mandado de injunção anterior, ao prazo estabelecido para a
edição da norma.

E quanto à EFICÁCIA SUBJETIVA, a Lei nº 13.300/2016 adotou a corrente individual ou geral? Em regra, a
corrente individual.
• No mandado de injunção individual, em regra, a decisão terá eficácia subjetiva limitada às partes (art. 9º).
• No mandado de injunção coletivo, em regra, a sentença fará coisa julgada limitadamente às pessoas
integrantes da coletividade, do grupo, da classe ou da categoria substituídos pelo impetrante (art. 13).
Excepcionalmente, será possível conferir eficácia ultra partes ou erga omnes.

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A Lei nº 13.300/2016 afirma que poderá ser conferida eficácia ultra partes ou erga omnes à decisão, quando
isso for inerente ou indispensável ao exercício do direito, da liberdade ou da prerrogativa objeto da
impetração (art. 9º, § 1º).

COISA JULGADA NO MANDADO DE INJUNÇÃO COLETIVO


Art. 13. No mandado de injunção coletivo, a sentença fará coisa julgada limitadamente
às pessoas integrantes da coletividade, do grupo, da classe ou da categoria substituídos
pelo impetrante, sem prejuízo do disposto nos §§ 1º e 2º do art. 9º. Parágrafo único.
O mandado de injunção coletivo não induz litispendência em relação aos individuais,
mas os efeitos da coisa julgada não beneficiarão o impetrante que não requerer a
desistência da demanda individual no prazo de 30 (trinta) dias a contar da ciência
comprovada da impetração coletiva.
AÇÃO DE REVISÃO: Art. 10. Sem prejuízo dos efeitos já produzidos, a decisão poderá ser revista, a pedido de
qualquer interessado, quando sobrevierem relevantes modificações das circunstâncias de fato ou de direito.
Parágrafo único. A ação de revisão observará, no que couber, o procedimento estabelecido nesta Lei.
HABEAS DATA:
CF, art. 5, LXXI e Lei 9.507/97
Habeas data é o instrumento constitucional colocado ao dispor das pessoas físicas ou jurídicas, brasileiras e
estrangeiras, para que solicitem ao Poder Judiciário a exibição ou a retificação de dados constantes em
registros públicos ou privados.
*anteriormente era atendido pelo Mandado de Segurança
- Enquanto o HABEAS DATA resguarda o direito de obter informações sobre a pessoa do impetrante ou
retificação de dados (CF, art. 5, LXXII), os direitos de informação e de certidão são protegidos pelo
MANDADO DE SEGURANÇA (CF, art. 5, LXIX).
- Inspiração no direito constitucional português e espanhol
NATUREZA JURÍDICA: O habeas data possui natureza jurídica mista ou ambivalente.
Ao mesmo tempo que apresenta a face de uma autêntica ação mandamental (concede ao impetrante o
direito líquido e certo de obter informações), logra a índole constitutiva (possibilita a retificação de dados).
Entendimento do STF: "O habeas data configura remédio jurídico-processual, de natureza constitucional, que
se destina a garantir, em favor da pessoa interessada, o exercício de pretensão jurídica discernível em seu
tríplice aspecto: (a) direito de acesso aos registros existentes; (b) direito de retificação dos registros
errôneos e (c) direito de complementação dos registros insuficientes ou incompletos. Trata-se de relevante
instrumento de ativação da jurisdição constitucional das liberdades, que representa, no plano institucional,
a mais expressiva reação jurídica do Estado às situações que lesem, efetiva ou potencialmente, os direitos
fundamentais da pessoa, quaisquer que sejam as dimensões em que estes se projetem" (STF, HD 7S/DF, Rei.
Min. Celso de Mello, D/U de 19-10-2006).
Lei 9.507/97 - Art. 7° Conceder-se-á habeas data:

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I - para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registro
ou banco de dados de entidades governamentais ou de caráter público;
II - para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo;
III - para a anotação nos assentamentos do interessado, de contestação ou explicação sobre dado verdadeiro
mas justificável e que esteja sob pendência judicial ou amigável.

CABIMENTO: Interesse de agir e a negativa do órgão que detém a informação, necessário o prévio
esgotamento na via administrativa.
Súmula 2 do STJ: NÃO CABE O HABEAS DATA (CF, ART. 5., LXXII, LETRA "A") SE NÃO HOUVE RECUSA DE
INFORMAÇÕES POR PARTE DA AUTORIDADE ADMINISTRATIVA.
- Petição inicial deverá ser instruída com prova: (art. 8º)
I - da recusa ao acesso às informações ou do decurso de mais de dez dias sem decisão;
II - da recusa em fazer-se a retificação ou do decurso de mais de quinze dias, sem decisão; ou
III - da recusa em fazer-se a anotação a que se refere o § 2° do art. 4° ou do decurso de mais de quinze dias
sem decisão.

LEGITIMIDADE ATIVA
PN e PJ (personalíssimo)
Legitimidade extraordinária e direito coletivo (quando os filiados autorizem de forma expressa), mas não há
substituição processual.
Legitimidade passiva
Aqueles que detiverem os dados passiveis de exibição ou retificação

COMPETÊNCIA
Competência do Supremo Tribunal Federal — compete ao Supremo processar e julgar, originariamente,
habeas data contra atos do Presidente da República, das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado
Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da República e do próprio Supremo Tribunal
Federal. Também compete à Corte Colenda julgar, em sede de recurso ordinário, o habeas data em única
instância pelos Tribunais Superiores, se denegatória a decisão (CF, art. 102, II, a; Lei n. 9-507/97, art. 20, II,
a). Finalmente, compete ao Supremo processar e julgar habeas data ajuizado em face dos Conselhos
Nacionais de Justiça e do Ministério Público (CF, art. 102,1, r— inciso acrescentado pela EC n. 45/2004).
Competência do Superior Tribunal de Justiça — compete ao STJ processar e julgar, originariamente, habeas
data contra ato de Ministro de Estado, dos Comandantes da Marinha, Exército e Aeronáutica, ou do próprio
Tribunal (CF, art. 105,1, b— redação dada pela EC n. 23/99; Lei n. 9.507/97, art. 20, I, b). Em grau de recurso
ordinário, compete ao STJ julgar habeas data quando a decisão for proferida em única instância pelos
Tribunais Regionais Federais (Lei n. 9.507/97, art. 20, II, b).

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Competência do Tribunal Superior Eleitoral — compete ao TSE julgar, em grau de recurso ordinário, habeas
data denegado pelos Tribunais Regionais Eleitorais (CF, art. .121, § 4a, V).
Competência dos Tribunais Regionais Federais — compete aos TRFs processar e julgar, originariamente,
habeas data conrra ato do próprio Tribunal ou do juiz federal (CF, art. 108,1, c, Lei n. 9.507/97, art. 20,1, c).
Em grau de recurso, compete aos TRFs julgar habeas data quando a decisão for.proferida por juiz federal (Lei
n. 9.507/97, art. 20, II, c).
Competência dos juizes federais — compete aos juizes federais processar e julgar habeas data contra atos
de autoridade federal, excetuados os casos de competência dos Tribunais Federais (CF, art. 109, VIII; Lei n.
9.507/97, art. 20,1, d).
Competência da Justiça do Trabalho — compete à Justiça laborai processar e julgar habeas data quando o
ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição (CF, art. 114, IV— inciso acrescido pela EC n.
45/2004).
Competência da Justiça estadual — cabe às constituições dos Estados-membros regular a competência da
Justiça Estadual, no que tange ao processo e julgamento do habeas data.
Competência dos Juizes estaduais - compete aos juizes estaduais processar e julgar habeas data no, casos
em que todas as demais instâncias judiciárias não forem competentes (Lei n. 9.507/97, art. 20,1, f).

DECISÃO — na decisão, se julgar procedente o pedido, O JUIZ MARCARÁ DATA E HORÁRIO PARA QUE O
COATOR APRESENTE AO IMPETRANTE AS INFORMAÇÕES A SEU RESPEITO, constantes de registros ou
bancos de dados, OU APRESENTE EM JUÍZO A PROVA DA RETIFICAÇÃO, OU DA ANOTAÇÃO FEITA NOS
ASSENTAMENTOS DO IMPETRANTE (Lei n. 9.507/97, art. 13).

Renovação do pedido — o pedido de habeas data poderá ser renovado se a decisão denegatória não lhe
houver apreciado o mérito (Lei n. 9.507/97, art. 18).

RECURSO DE APELAÇÃO — da sentença que conceder ou negar habeas data caberá recurso de apelação. A
Lei n. 9.507/97 não previu a possibilidade de duplo grau de jurisdição, a exemplo do que fez a Lei n. 1.533/51,
ao regular o mandado de segurança. Mesmo assim, entendemos que, por força do devido processo legal
material, faz-se possível, em sede de habeas data, invocar o reexame necessário. Podem interpor recurso de
apelação o próprio impetrante, o Ministério Público, o coator, as entidades governamentais e as pessoas
jurídicas de natureza privada. O prazo recursal segue o Código de Processo Civil, contado em dobro para a
Fazenda Pública e para o Ministério Público (CPC, art. 188).

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