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Universidade de São Paulo – Faculdade de Direito do Largo São Francisco

Uenes Batista de Oliveira – n° USP 14679302


Teoria Geral do Estado I (DES0125)
Professora Maria Paula Dallari Bucci

“LEVIATÔ – DE THOMAS HOBBES – FICHAMENTO


Capítulos XIII, XIV, XV, XVII, XVIII, XIX, XX, XXI

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CAPÍTULO XIII
Da condição natural da humanidade relativamente à sua felicidade e miséria:

- Para Hobbes, a natureza humana está fortemente ligada à questão da igualdade entre os
homens;
- Conjunto corpo-espírito: homens iguais entre si em termos de faculdades físicas e espirituais;
- Homens potencialmente iguais em termos de capacidade: embora não sejam exatamente iguais
entre si, dispõem, ao todo, de um conjunto igualmente amplo de habilidades, competências e
aptidões;
- Prudência: experiência adquirida por parte de indivíduos que se encontrem sob as mesmas
condições (tempo corrido, totalidade humana, entrega/dedicação) para o seu alcance;
- Egoísmo/vaidade: os homens, em sua totalidade, fazem de sua sabedoria um instrumento para
se considerarem os mais sábios, afirmando-a em maior grau perante a dos outros;
- Esperança ao alcance dos fins: cenário propenso a desconfiança entre os homens, a conflitos,
ao cerceamento da vida e da liberdade (por exemplo: algo sendo impossível de ser conquistado
pela totalidade dos que o buscam);
- Força e/ou astúcia (conservação): maneira através da qual, antecipadamente, a garantia de um
fim, no cenário conflitante, é razoavelmente possível;
- Representação do poder como garantia da conservação: para além da simples conquista de
algo, está ligada, portanto, ao domínio sobre os homens, o que acaba gerando – em um cenário
em que não haja respeito entre os homens – desprazer, subestimação, discórdia e destruição →
guerra;
- Discórdia (causas): competição (em razão do lucro), desconfiança (em razão da segurança),
glória (em razão da reputação) → paixões;
- Guerra: está ligada ao tempo (quando há vontade/disposição de travá-la), em que todo homem
é inimigo de todo homem, com ataques e destruições de uns em relação aos outros, em que não
há sociedade e em que o temor pelo perigo e pela morte – mediante um autogoverno – é
constante – guerra de todos os homens contra todos os homens;
- Exemplos: determinados lugares da América não possuem qualquer espécie de governo ou
poder que seja comum para todos → passagem de um “governo” pacífico para uma guerra civil;
- Justo X injusto: por não haver governo ou poder comum e, portanto, leis, não há injustiça, isto
é, na guerra, nada é injusto;

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- Outras consequências da guerra: sem a existência de propriedade, ou ainda, diferença entre o
que é de alguém e o que é do próximo;
- Leis: meios que seriam capazes de proibir as ações derivadas das paixões mencionas, no estado
de natureza hobbesiano, por parte dos homens, considerando-se o seu conhecimento e a pessoa
que as faria;
- Leis da natureza (lex naturalis): estabelecidas pela razão, visam a possibilidade de
escapamento do estado de natureza, havendo as paixões, em parte, como o medo da morte, o
desejo para buscar uma vida confortável e a esperança de alcançá-la, e a própria razão, em outra
parte, com normas que sejam capazes de gerar acordos entre os homens, para esse alcance.

CAPÍTULO XIV
Da primeira e Segunda leis naturais, e dos contratos:

- As leis da natureza proíbe o homem que ponha em risco a sua vida, assim como o que é
necessário à sua preservação → enquanto obrigação;
- Direito de natureza (jus naturalis): liberdade que cada homem possui quanto ao uso de seu
próprio poder – em termos de autoconservação – tanto em relação à sua própria natureza quanto
em relação à sua vida em si, utilizando de meios que acha mais adequados a esse fim →
enquanto liberdade de fazer ou de omitir;
- Direito a todas as coisas (guerra iminente): incluindo os corpos dos outros (na condição de
governo de cada homem mediante a sua própria razão);
- A sua renúncia ocorreria face à defesa da paz e à autodefesa;
- Ao contrário disso, a condição de guerra estaria presente;
- Renúncia ou transferência do direito: ato voluntário, que visa o bem e a segurança para si
mesmo, acontecendo a partir da consideração de outro direito – transferido – ou bem esperado;
- O direito à resistência, em um cenário de risco a própria vida por parte de outro homem, é
impossível de ser renunciado ou transferido, em razão da inexistência de que qualquer retorno
de benefício próprio caso o faça;
- Contrato: translação, troca mútua de direitos (por transferência, mais direta, incorporando o
direito em si, ou por tradição, a ser entregue algum tempo depois), podendo ocorrer por
expressão (palavras, seja no presente, seja no futuro) ou por inferência (consequência de
palavras, merecimento do cumprimento do contrato por parte do outro contratante devido ao
próprio poder e à necessidade do contratante);

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Quando a primeira parte cumpre o contrato é racional que a segunda faça o mesmo: (i) já que
não cumprir significaria seu malefício frente ao poder civil.
- Pacto/convenção: entrega de algo, no momento da transferência, por parte de um dos
contratantes, sendo a entrega da parte do outro contratante determinada para posteriormente;
- Observância de promessa/fé: confiança no cumprimento da entrega por parte do contratante
após a firmação do contrato, como acontece em um contrato de compra e de venda, sendo a
promessa equivalente a um pacto;
- Violação de fé: quando não há o cumprimento por parte do contratante (caso o seu caráter seja
voluntário);
- Doação: quando a transferência do direito não ocorre mutuamente entre as partes, baseada na
esperança (merecimento do cumprimento da transferência do direito a partir da benevolência
do doador);
- O direito pode ser transferido, por expressão de palavras, no passado, no presente ou no futuro;
- Qualquer suspeita razoável, mesmo que mínima, em relação ao descumprimento do contrato
por parte dos contratantes, quando ambos se valem da confiança um no outro, torna nulo tal
pacto;
- Paixões humanas como ambição e avareza, nos vínculos contratuais a partir de palavras,
tornam inviável uma maior garantia de cumprimento por parte de um dos contratantes, mesmo
que um deles já tenha realizado a sua parte do contrato;
- A existência de um poder coercitivo, isto é, de um poder comum que esteja acima dos
contratantes e que lhes cause medo, que seja dotado de direito e de força suficientes ao exercício
do cumprimento contratual, seria a maneira através da qual o pacto não seria nulo.

CAPÍTULO XV
De outras leis de natureza:

- Enquanto medida e origem da justiça, tod devem respeitar o pacto ou contrato (lei natural),
pois a sua ruptura seria uma injustiça (não poderia existir antes do próprio pacto/contrato);
- O “justo” e o “injusto” são condutas que devem ser vigiadas por parte de um poder maior,
nesse caso não considerando a figura do Estado, visto que não se pensavam ainda sobre ela;
- A justiça reside na questão do que é devido a cada parte, como acontece em um contrato/pacto,
sendo que, caso este não exista, a segurança não é garantida, sobretudo no que diz respeito à
vida;

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- Qualquer desrespeito ao pacto é irracional, assim como a conquista do poder por meio da
rebelião, o que, em ambas as situações, colocaria a vida em risco;
- No caso em que determinado indivíduo é considerado inapto no que se refere ao respeito ao
contrato/pacto, isso também deve ser válido para a celebração de seus benefícios;
- Ainda sobre a lei natural, ao receber determinada coisa de alguém, o indivíduo deve fazer o
possível para que não perca a estima de quem o atribuiu;
- O passado, por exemplo, pode ser perdoado, caso o seu objetivo levasse em consideração um
benefício futuro; no caso de punição, isso deve ocorrer apenas considerando a perspectiva de
bem futuro em si, e não como resposta a atitudes anteriores;
- Outros pressupostos que funcionam como leis naturais: ninguém deve desrespeitar outro
indivíduo, o que causaria sentimentos como ódio e desavença; naturalmente, os homens devem
se reconhecer como iguais, portanto não se deve assumir diferenças entre os homens
(logicamente, o direito não pode ser reservado a apenas um homem, o que desrespeitaria a
igualdade comum);
- A condição de igualdade também vale no sentido de tratar os indivíduos do mesmo modo, sob
a mesma medida, sem favorecimento de um em detrimento de outro (nesse caso em uma
condição de julgamento por parte de um juiz, por exemplo);
- Quanto a coisas que não possam ser divididas, estas devem ser usufruídas por parte de quem
as detêm, de maneira mútua;
- Aqueles que são responsáveis pela garantia e pela manutenção da paz são os que detêm maior
salvaguarda, sendo chamados de “mediadores da paz”, sendo que, em casos de contestação,
admite-se que as partes participantes submetam-se a um “arbítrio”;
- Com a intenção de saírem do estado de guerra de todos contra todos (condição natural), os
homens pensam uma vida melhor e “mais satisfatória”, em que haja a garantia de segurança,
pois, pensando-se somente nas leis naturais, estas não são suficientes a esse objetivo (as atitudes
dos homens têm origem em suas paixões);
- Com esse “contrato”, o homem cederá a força enquanto instrumento de aplicação,
comportando, portanto, apenas as suas próprias forças para a autodefesa;
- Independentemente de estarem ou não inseridos em agrupamentos, podem haver dois
cenários: a submissão de grupos menores por parte de grupos maiores e, caso em seu interior
prevaleçam as vontades individuais e não as do grupo em sua representação, a indeterminação
quanto à aplicação do uso da força a partir de um consenso entre os seus membros.

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CAPÍTULO XVII
Das causas, geração e definição de um:

- As atitudes dos homens mediadas a partir de suas paixões é regra, sendo que, após a sua união
contra um mal comum, voltam a agir de acordo com os seus próprios interesses, isso inclui a
luta pela sua honra e pela sua dignidade;
- Para Hobbes, a felicidade do homem é atingida somente ao compará-la com a do outro, sendo
que só é possível tirar prazer daquele que é considerado menor (em termos de suas faculdades);
- Os homens são dotados da razão, sendo possível, por exemplo, que “advoguem” em causa
própria;
- Ambição: mesmo que mais “confortáveis”, os homens tendem sempre a buscar posições
maiores.

CAPÍTULO XVIII
Dos direitos dos soberanos por instituição:

- Pensando-se na garantia da paz aos homens, a única forma de torná-la possível reside na
instrução de seu poder (seja a um outro indivíduo, seja a uma assembleia), isto é, tornam-se
uma só representação a partir da concessão da sua imagem, ou ainda, ação;
- No debate acerca de concessões, é a partir da criação do Estado que há a comportação,
mediante as concessões realizadas por parte dos contratantes, dos direitos e dos recursos;
- Quem recebe os direitos e os recursos, nesse caso o Estado, é denominado como “soberano”,
sendo denominado como “súditos” aqueles que a ele os concedem;
- Tipos de Estado: “Estado por aquisição”, isto é, a representação daquele cujo poder é obtido
mediante a “sarça natural” e “Estado por instituição”, aquele cujo poder têm origem no
contrato/pacto em si.

CAPÍTULO XIX
Das diversas espécies de governos por instituição, e da sucessão do poder soberano:

- A diferença entre os Estados reside na diferença entre os soberanos, havendo três espécies de
governo: a monarquia, cuja soberania é sustentada em um homem ou em uma assembleia de
homens, a democracia, em que, a partir de uma assembleia, todos têm o direito de participar,

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seja direta, seja indiretamente, e a aristocracia, marcada pela não partipação integral do povo,
mas apenas de determinados homens;
- É a partir dos direitos que há a constituição da essência da soberania, que se diferencia da dos
súditos, tendo em vista que são direitos incomunicáveis e inseparáveis;
- A alienação desses direitos vai contra a paz e a sua defesa, então aproximando do estado de
guerra;
- Sobre o poder do soberano, este não pode ser transferido sem que ele o consinta,
não pode ser alienado e não pode ser acusado de injúria;
- O soberano não pode ser morto ou punido por seus súditos, além do fato de ser juiz em relação
ao que é necessário à paz, de ser o único legislador e de ser o responsável pela escolha dos
magistrados, conselheiros, comandantes, funcionários e ministros e pela determinação das
recompensas, dos castigos, das honras e das ordens;

- Independentemente de qual seja a decisão, não apenas quem toma, nesse caso a representação
soberana, deve acatá-la como se a ele fosse direcionada, mas também quem contra ou a favor
dela são, como de w decisão deles partisse;

- O contrato não pode ser rompido sem o consentimento por parte do soberano, mesmo que seja
para a institucionalização de outro;
- O soberano é o responsável, mediante o seu arbítrio, pela designação dos homens que
ocuparão os cargos públicos;
- Ainda, o soberano é o responsável por decidir acerca de questões tangentes a guerras e
conflitos que tenham relação com outras nações;
- Para qualquer punição a um homem pelo crime cometido, esta deve estar, de maneira prescrita,
inserida na lei, a princípio;
- Pensando-se na garantia da manutenção da paz, para que ela seja possível, é necessário que
medidas sejam realizadas quanto à eternidade artificial da vida (direito de sucessão), sendo a
decisão em torno dela de responsabilidade do soberano;
- O homem livre é aquele que não é restringido de fazer aquilo que tem vontade, sendo o medo
e a liberdade, no entanto, compatíveis, haja vista que realizar determinada coisa por medo, mas
por vontade própria, sustenta a ideia de liberdade.

CAPÍTULO XX
Do domínio paterno e despótico:

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- O poder soberano adquirido a partir do uso da força tem a sua autorização consistindo no
medo em relação à morte ou ao cativeiro;
- Assim como os do Estado por instituição, os direitos e as consequências da soberania são os
mesmos;
- O domínio pode ser adquirido por geração, a exemplo do domínio que o pai tem sobre os
filhos, ou por conquista, a exemplo do domínio do senhor sobre o seu servo (despótico).

CAPÍTULO XXI
Da liberdade dos súditos:

- Os homens são dotados da liberdade de agir em todas as espécies de ações não previstas pelas
leis;
- A liberdade dos súditos reside nas coisas que o soberano permitiu, devendo ela, ainda, ser
derivada do fim da instituição soberana;
- O súdito, por sua vez, tem liberdade em todas aquelas coisas que não podem ser transferidas
a partir de um pacto/contrato.

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