Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Cristian Boragan2
Camila Torres Ituassu3
RESUMO
Através de revisão bibliográfica, este artigo analisa os pontos de contato entre o psicólogo
estadunidense Carl Rogers, sua abordagem centrada na pessoa e aplicação detalhada desta no livro Os
grupos de encontro com o processo de coaching, principalmente no coaching humanista. Através
destes pontos, são traçados os prós e contras da abordagem rogeriana no processo de coaching, mais
precisamente nos grupos do coaching empresarial.
INTRODUÇÃO
Há várias formas para começar um artigo em que o tema central é balizado pela
gestão de pessoas, algumas um tanto conhecidas e outras, nem um pouco usuais. Exemplo:
começar com Charles Bukowski, poeta estadunidense da segunda metade do século XX,
conhecido por sua literatura de caráter autobiográfico, que narra aventuras de um alcoólatra
em bares, corridas de cavalo e hotéis baratos, praticamente um mendigo (L&PM EDITORES,
2016). Em forma de prosa, disse Bukowski:
1
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Gestão de Pessoas da
Universidade Católica Dom Bosco em 2016 para a obtenção do título de especialista..
2
Jornalista, Redator, Blogueiro, Psicanalista, Hipnólogo, Especialista em Literatura e Mestre em Comunicação.
E-mail: crisboragan@gmail.com.
3
Psicóloga, Mestre em Psicologia, Professora da UCDB, Coach, Consultora de Empresas. Orientadora do curso
de Pós-graduação. E-mail: camilaituassu@yahoo.com.br.
2
Chiavenato (IBIDEM) afirma ser esta uma questão comum na maioria das
empresas. Os profissionais estudam e são treinados para funções específicas, sejam médicos,
engenheiros, arquitetos etc. O problema é que, quando galgam patamares na hierarquia
corporativa, precisam lidar com pessoas, administrá-las para que os resultados sejam
alcançados, ou pelo menos buscados mais e mais em um nível em que todos ganhem: clientes,
empresas e colaboradores. Como “treinar” estas pessoas no trato com outro ser humano? É
4
Daniel Goleman é um psicólogo estadunidense que ficou famoso nos anos de 1990 ao afirmar que, além da
inteligência cognitiva e racional, cada ser humano possui também uma inteligência emocional.
3
Em comum com Rogers, o coaching traz a ideia que os recursos para a mudanças
já existem dentro do próprio indivíduo ou grupo, a grande questão-chave do processo é como
contribuir para fazer tal potencial emergir para que, desta maneira, certos objetivos sejam
alcançados.
A ligação entre Rogers e o coaching já existe e provas serão dadas mais adiante. O
que interessa de fato é uma das ferramentas de Rogers usadas para terapia e que podem ser
transpostas para o coaching: os grupos de encontro (Rogers, 2002).
Como sempre, as coisas simples são aquelas que mais transformam o mundo.
Durante o processo terapêutico Rogers percebeu que sempre que fosse extremamente sincero
com o paciente sobre os próprios sentimentos, em outras palavras, que demonstraria raiva se
5
tivesse raiva, demonstraria amor e assim o sentisse, cansaço, entre outros sentimentos, daria
abertura para a pessoa em processo de terapia fazer o mesmo, sendo possível, dessa forma
para ela, aceitar a si própria, seus problemas, qualidades e limitações...
Por falar em processo, eis outro ponto valorizado por Carl Rogers. Por que as
metas finais devem ser tão valorizadas em vez do processo? A trilha é mais importante que a
linha de chegada, segundo Rogers, pois é lá em que se aprende a lidar com as fraquezas, é lá
também que é possível descobrir o que realmente é viável ou não realizar. Neste ponto a vida
passa a ter sentido. Não raras às vezes, por exemplo, este autor ouve alguém dizer que a época
em que estava guardando dinheiro para comprar um carro era mais interessante que agora, que
possui o veículo. O processo de aquisição do carro foi o lugar onde a pessoa descobriu seus
potenciais.
Educação autodirigida pode ser entendida como um método pelo qual uma escola
não possui currículos acadêmicos, ementas ou tarefas destinadas a ‘ensinar’ os alunos.
Levando-se em conta a curiosidade natural da criança, o professor perde suas características
autoritárias e passa a ser um ‘facilitador’ da aprendizagem, vai ensinar apenas aquilo que as
crianças solicitarem. Se o aluno decidir que nada quer aprender, assim será respeitado.
um poder autoritário e repressor e o laissez-faire, termo em francês que designa o não intervir
absoluto.
Em seu livro Grupos de Encontro, Rogers pretende lançar as bases, não para um
mero grupo de trabalho, mas, como ele mesmo afirma; “é evidente que houve e haverá sempre
grupos enquanto o homem sobreviver neste planeta. Mas estou empregando a palavra num
sentido particular, o da experiência intensiva” (ROGERS, 2002, p.1). Em suma, o que Rogers
propõe é um grupo baseado em sua própria teoria centrada na pessoa. O psicólogo prossegue
e delinea o uso dos grupos: “estes grupos têm funcionado em inúmeras situações diversas.
Tem sido realizados nas indústrias, universidades, intituições religiosas, nas agências
governamentais, instituições educacionais e penitenciárias” (IBIDEM, p.2). Como reforço ao
estudo, Rogers cita o trabalho do psicólogo estadunidense Kurt Lewin, realizado em 1947,
que desenvolveu a ideia de que os grupos são “importantes para o treino das capacidades
humanas” (IDEM, p.3).
caminha para a aceitação do seu ser global – emotivo, intelectual e físico – tal como ele é,
incluindo as suas potencialidades” (IDEM).
O dicionário Martins Fontes segue na mesma linha e afirma que coaching deriva
da palavra, coach, em inglês. Como substantivo, essa se refere a um tutor particular, em outras
palavras, um profissional especialista na preparação de um indivíduo, alguém atua no
treinamento de esportistas ou na preparação de atores e cantores. (FONTES, 2005).
Rabaglio (IDEM) afirma ainda que o coaching trabalha com metas de pequeno,
médio e curto prazo. Além disso, este autor diz que o coaching identifica os pontos fortes e
fracos do indivíduo e, sendo processo, auxilia em como lidar com eles. Isto faz pensar, ainda
segundo Rabaglio (IDEM), em uma forma estruturada de desenvolvimento de pessoas, grupos
e equipes sobre o cenário organizacional.
Para Motter Junior (2012), o coaching se assemelha muito mais a uma filosofia:
“o coaching pode ser visto mais como filosofia geral e de perspectivas do que um estilo
particular de liderança” (IBIDEM, p. 21). Como uma filosofia, o coaching possui influência
de vários campos do conhecimento, que culminam em moldar seu modus operandi. A cada
nova influência, um novo jeito de fazer coaching e assim surgem as escolas de pensamento,
que norteiam as perspectivas de trabalho, sempre de acordo com as influências que recebeu ou
preceito dos seus executores. Cristina Gaspar (2016), consultora de coaching e palestrante,
mostra algumas destas escolas:
● G.R.O.W.: uma sigla que forma a palavra crescer, em inglês. Cada letra
corresponde a uma etapa. Por exemplo, a letra G quer dizer goal, que, em
inglês, significa meta;
● NEUROCOACHING: uma corrente moldada principalmente pela biologia
e seus estudos sobre o cérebro e o sistema nervoso, correlacionando estes
com o comportamento;
● FILOSÓFICO: prioriza a mudança de comportamento através das
percepções, em outras palavras, através dos diferentes olhares sobre as
coisas;
● ONTOLÓGICO: tem como objeto de trabalho o domínio do ser
observador. Este, através do exame e atenção das coisas ao redor, modifica
o próprio comportamento e, a partir daí, pode realizar transformações
nunca antes tentadas, obtendo, com isso, resultados diferentes.
em Londres, Inglaterra (ICC, 2016) fala da ligação do coaching com Carl Rogers ao explicar
sua metodologia humanista:
Drummond e Bitart (2010) também são entusiastas da ligação entre Carl Rogers e
o coaching humanista:
o coaching não tem como objetivo a transmissão de conteúdo, mas sim, de facilitar a
aprendizagem aos moldes de Carl Rogers.
Para validar seus grupos de encontro, Rogers cita as pesquisas do dr. Jack Gibb
(1970). Este acredita que grupos possuem forte apelo terapêutico, mas, para ter eficácia,
precisam primeiramente se ajustar à organização: família, vida, empresa e ambiente da
pessoa. Sobre o que se processa nos grupos, Gibb afirma: “Ocorrem mudanças na
sensibilidade, na capacidade de dirigir os sentimentos, na direção da motivação, nas atitudes
para com o eu e sua interdependência” (GIBB apud ROGERS, 2002, p. 138). Rogers define
ponto a ponto esta frase de Gibb. Alguns dos pontos interessam a este artigo, como a
definição que Rogers dá sobre motivação: “por direção de motivação, Gibb refere-se a
conceitos como atualização do eu, autodeterminação, compromisso [o grifo é meu] e direção
interior” (IDEM).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ainda sim, não se trata da simples transposição de uma coisa na outra, uma vez
que, por vezes, as teorias de Rogers e a do coching têm objetivos bem diferentes. Um viés
negativo, a saber, está na proposta de abertura às emoções proposta por Rogers. Pode
funcionar muito bem no âmbito familiar, das amizades, mas será tão funcional assim no
campo corporativo, lugar onde as competições internas por cargos são elevadas? Em outras
palavras, teria algum trabalhador a coragem de se expor sem reservas, como aquela proposta
por Rogers, em um ambiente onde o seu colega quer a sua vaga? O autor deste artigo acredita
que não ou que pode ser algo muito difícil de acontecer ou até mesmo intimidador. Porém,
15
usada com a devida parcimônia e adaptação, os grupos de Rogers podem muito bem funcionar
para os objetivos do coaching.
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Luis Cesar G. de. Gestão de Pessoas. São Paulo: Atlas, 2006.
DRUMMOND, J.; BIDART, M. Coaching com Psicodrama. São Paulo, Revista Potenciar.
Ano 1. pp. 3 – 30, 2010.
FONTES, Martins. Password: English dictionary for speakears of portuguese. São Paulo:
Martins Fontes, 2005.
16
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido, 17ª. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
GASPARINI, Cláudia. 5 atitudes típicas de quem não tem inteligência emocional. Revista
Exame. Disponível em <
http://exame.abril.com.br/carreira/noticias/5-atitudes-tipicas-de-quem-nao-tem-inteligencia-e
mocional > Acesso em 10/4/2016.
GIBB, Jack. The effects os the human relations training. IN: ROGERS, Carl. Os grupos de
encontro. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
KRAUSZ, Rosa. Coaching executivo: a caminho da liderança. São Paulo: Nobel, 2007.
20do%20sucesso%20em%20Coaching%20(APROVA%C3%87%C3%83O%20JUNHO-2012
)%20Web.pdf?sequence=1 > Acesso em 13/7/2013.
ROGERS, Carl (1902 – 1987). A terapia centrada no paciente. São Paulo, Martins, 1951.
_______. De pessoa para pessoa, o problema de ser humano. 3ed. São Paulo: Pioneira,
1987.