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Estabilizantes de Humor

O que é um Estabilizador de Humor?


Estabilizador de Humor é um tipo de medicamento utilizado para equilibrar as oscilações
entre euforia e depressão nos pacientes com Transtorno Bipolar. As amplas possibilidades de
estabilizadores permitem a escolha daqueles que melhor se adaptam a cada paciente.
Eles atuam sobre os neurotransmissores, os quais agem na atividade elétrica dos neurônios
e, dessa forma, previnem os episódios de mania e euforia e, alguns deles, também atuam na
depressão. Os fármacos tidos como os de primeira linha são o carbonato de lítio, o ácido
valproico e a carbamazepina.
Título: Psiquiatria de Bolso

Coordenadores: Raquel Serrano; Pedro Cabral Barata; Guadalupe Marinho;


Mário J. Santos Local: Amadora Edição: Edição de Autor Data de edição:
Dezembro de 2019

Como são usados no tratamento?


Estabilizadores de humor são usados tanto na fase aguda (episódios depressivos ou de
mania). como na fase de manutenção do tratamento do transtorno bipolar. Na fase de
manutenção, procura-se principalmente evitar recaídas.
Como há vários tipos de estabilizador, cada um com seu perfil de efeitos único, não se pode
dizer que algum seja eficaz para todos os casos. É comum no início do tratamento tentar (sob
orientação médica) diferentes medicamentos para encontrar o ideal.
E os efeitos colaterais dos estabilizadores de humor?
Como qualquer medicamento, há diferentes possíveis efeitos colaterais associados com cada tipo de
medicamento estabilizador de humor. Ajustes de dose podem resolver boa parte dos efeitos colaterais.
Frequentemente, o benefício do uso do estabilizador supera algum possível desconforto.
Em caso de grande incômodo ou dúvidas, é importante conversar com o médico responsável para
avaliar o caso e talvez mudar o tratamento.
Não pare de tomar o medicamento prescrito a não ser por pedido do médico.
Procure o médico se você notar os seguintes sintomas que são incomuns com o uso de estabilizadores
de humor:
. Vermelhidão na pele ou feridas em mucosas;
. Fala empastada (arrastada) ou confusão mental.

CARBAMAZEPINA
Há décadas é utilizada como tratamento de primeira linha para casos de mania aguda.

OXCARBAZEPINA
Trata-se de uma adição mais recente à lista de estabilizadores. A oxcarbazepina foi desenvolvida a
partir de uma alteração da molécula da carbamazepina.

LÍTIO
Além de ser usado para tratamento de mania e de depressão no transtorno bipolar, é eficaz na
manutenção e prevenção de recaídas; é também o único tratamento aprovado na prevenção de
suicídio. Uma curiosidade: O elemento lítio foi descoberto no começo do século XIX pelo Patriarca
da independência do Brasil, José Bonifácio de Andrada e Silva.

ÁCIDO VALPRÓICO E DIVALPROATO DE SÓDIO


As duas medicações são bastante semelhantes, sendo o divalproato de sódio mais bem tolerado pelos
pacientes. São remédios usados especialmente para sintomas de mania e para manutenção.

LAMOTRIGINA
Como alguns outros estabilizadores de humor, a lamotrigina é também pode ser usada como
antiepiléptico. A lamotrigina é usada para sintomas depressivos, em geral associada a outro
estabilizador de humor.
Psicofarmacologia de antidepressivos
Os medicamentos antidepressivos agem diretamente no sistema nervoso com o objetivo de
modular a produção e a liberação de substâncias responsáveis pelo humor. São, portanto,
indicados para o controle da depressão quando há redução do humor e presença de tristeza,
angústia ou desmotivação pela vida.
Assim, essas drogas atuam no cérebro, modificando e corrigindo os eventos neuroquímicos
que estejam desregulados. Diversos tipos de antidepressivos têm sido amplamente
empregados para tratamento de diversos quadros clínicos ligados às disfunções emocionais,
sobretudo quando o humor é afetado em um grau significativo.
Vale destacar, entretanto, que os medicamentos antidepressivos são não causam dependência.
Contudo, devem ser prescritos e monitorados para que tenham uma eficácia terapêutica
consoante ao reequilíbrio da perturbação depressiva que se almeja atingir.
Outro aspecto relevante é o tempo de ação terapêutica dos medicamentos antidepressivos,
que é relativamente mais lento quando comparado aos psicoestimulantes. Depois de iniciado
o tratamento, a expectativa de melhoria dos sintomas depressivos é de cerca de 15 dias. Nesse
sentido, é importante orientar o paciente e explicar esses detalhes.

No Brasil, qual é a faixa etária mais afetada pela depressão?

Apesar de ser uma doença mais associada aos jovens, os últimos dados indicam que os idosos lideram
o ranking dos mais afetados pelas crises depressivas. O alerta é baseado na última Pesquisa Nacional
de Saúde, realizada em 2019 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

 Atualmente, cerca de 13% da população entre os 60 e 64 anos de idade tem a doença;


 Globalmente, a depressão afeta 264 milhões de pessoas de todas as idades;
 Em idosos, 50% das causas estão relacionadas ao abandono familiar e ao senso de inutilidade,
típico da perda de autonomia;
 Os sintomas depressivos são precursores de outros transtornos e influenciam em até 30% o
desenvolvimento do Alzheimer e do Parkinson.

Uma das características marcantes da depressão é que a doença se manifesta de forma distinta de
acordo com o perfil dos pacientes. Na terceira idade, por exemplo, esse transtorno se manifesta de
forma diferente dos jovens. Nestes, a doença influencia mudanças bruscas de comportamento que
podem, inclusive, desencadear outros distúrbios psíquicos.
Em mulheres, os sintomas da depressão podem ser mais intensos. A carga hormonal e as mudanças
gradativas após a menopausa tornam as mulheres mais vulneráveis aos desajustes emocionais. Os
sinais mais típicos são as alterações no apetite, irregularidades no sono, desânimo e falta de interesse
em realizar atividades antes consideradas prazerosas.

Quais os principais desafios ligados à preservação da saúde mental?


O advento de medicamentos antidepressivos tornou a depressão um problema médico, passível de
tratamento. Nas últimas cinco décadas, a psicofarmacologia da depressão evoluiu muito e
rapidamente. Os primeiros antidepressivos - os antidepressivos tricíclicos (ADTs) e os inibidores da
monaminooxidase (IMAOs) - foram descobertos através da observação clínica. Os ADTs
apresentavam boa eficácia devido à sua ação, aumentando a disponibilidade de norepinefrina e
serotonina. Seu uso foi limitado em função do bloqueio de receptores de histamina, colinérgicos e
alfa-adrenérgicos que acarretavam efeitos colaterais levando à baixa tolerabilidade e risco de
toxicidade. Da mesma forma, o uso dos IMAOs ficava comprometido em função do risco da interação
com tiramina e o risco de crises hipertensivas potencialmente fatais. A nova geração de
antidepressivos é constituída por medicamentos que agem em um único neurotransmissor (como os
inibidores seletivos de recaptação de serotonina ou de noradrenalina) ou em múltiplos
neurotransmissores/receptores, como venlafaxina, bupropion, trazodona, nefazodona e mirtazapina,
sem ter como alvo outros sítios receptores cerebrais não relacionados com a depressão (tais como
histamina e acetilcolina).
Os antidepressivos não influenciam de forma acentuada o organismo normal em seu estado basal,
apenas corrigem condições anômalas. Em indivíduos normais não provocam efeitos estimulantes ou
euforizantes como as anfetaminas. Aproximadamente 70% dos pacientes com depressão se
beneficiam com os ADTs, mas 30% a 40% falham na resposta ao primeiro ensaio farmacológico,
necessitando outra classe de antidepressivos ou mesmo eletroconvulsoterapia.

Quais são as principais classes de antidepressivos?


Os antidepressivos podem ser classificados de acordo com a estrutura química ou as propriedades
farmacológicas. A estrutura cíclica (anéis benzênicos) caracteriza os antidepressivos heterocíclicos
(tricíclicos e tetracíclicos). Os ADTs se dividem em dois grandes grupos: as aminas terciárias
(imipramina, amitriptilina, trimipramina e doxepina) e as aminas secundárias (desmetilimipramina,
nortriptilina e protriptilina). Maprotilina e amoxapina são antidepressivos tetracíclicos. As
características farmacológicas da maprotilina se assemelham aos ADTs e ela será abordada dentro
desta classe de antidepressivos.
Atualmente os antidepressivos, preferencialmente, são classificados em função da ação
farmacológica, mais útil na prática clínica porque os antidepressivos de nova geração não
compartilham estruturas comuns. Atualmente podemos dividi-los de acordo com o mecanismo de
ação proposto, aumentando a eficiência sináptica da transmissão monoaminérgica (particularmente de
neurônios noradrenégicos e/ou serotonérgicos). Medicamentos antidepressivos produzem aumento na
concentração de neurotransmissores na fenda sináptica através da inibição do metabolismo, bloqueio
de recaptura neuronal ou atuação em autoreceptores pré-sinápticos.

 Inibidores da Monoaminoxidase (iMAO)


A esse grupo pertencem os psicofármacos indicados para diversas finalidades terapêuticas no controle
de transtornos psiquiátricos. Em específico, eles são uma boa alternativa para controlar a depressão
maior refratária, muito embora provoquem diversas interações medicamentosas.
Nessa classe, os mais conhecidos são:

 Isocarboxazida;
 Moclobemida;
 Fenelzina;
 Selegilina;
 Tranilcipromina.

Mecanismos de ação
Ainda que o mecanismo de ação dos iMAO não esteja bem estabelecido, estudiosos sustentam a
hipótese de que eles estimulam a neurotransmissão dopaminérgica, noradrenérgica e serotonérgica.
Em tese, esses fármacos promovem o bloqueio da monoamina oxidase, uma importante enzima
mitocondrial presente em diversos órgãos. Essa enzima diminui a ação desses neurotransmissores.
Assim, a sua inibição leva ao aumento dessas substâncias e da concentração delas nas sinapses
neuronais.
As atuações terapêuticas dos iMAOS são importantes para o tratamento de:

 bulimia nervosa;
 transtorno de pânico;
 transtorno de ansiedade generalizada;
 transtorno depressivo persistente refratário;
 depressão maior unipolar;
 transtorno bipolar;
 Doença de Parkinson.

Contraindicações e efeitos adversos
Assim como a maioria dos fármacos, os iMAOs também são contraindicados em pacientes que usam
determinadas medicações. Essa orientação se justifica devido ao risco de interação medicamentosa.
Um exemplo clássico dessas medicações são os inibidores da recaptação da serotonina, que podem
provocar toxicidade serotoninérgica. Sendo assim, para a utilização dessa terapia, o médico deve
realizar uma avaliação criteriosa do paciente e, principalmente, conferir as demais medicações em
uso.
Somado a isso, é preciso ter bastante cuidado ao prescrever iMAOs não seletivos, pois eles são
contraindicados em quem tem insuficiência cardíaca congestiva, feocromocitoma e doença hepática.
Os efeitos adversos dessas drogas podem variar conforme o gênero: os iMAOS podem causar
sobrepeso em mulheres e disfunção sexual em homens. Inclusive, essa última pode levar à
impotência.

 Antidepressivos Tricíclicos (ADT)
O composto iminodibenzil deu origem aos Antidepressivos Tricíclicos, ou simplesmente, ADTs. A
droga foi descoberta por Thiele e Holzinger em 1891. Curiosamente, elas são chamadas de “drogas
sujas”, já que suas propriedades antidepressivas foram descobertas ao mero acaso.
Mas alguns anos depois passaram a ser opção de escolha para tratamento da depressão,
principalmente porque a imipramina tem a estrutura semelhante à da clorpromazina. Além disso, a
imipramina é um dos principais representantes dessa classe de antidepressivos.
Conhecidos há mais de 100 anos e amplamente empregados para intervenções antidepressivas, os
ADTs mais conhecidos são:

 imipramina;
 desipramina;
 amitriptilina;
 nortriptilina;
 clomipramina.

Mecanismos de ação
Os ADTs são drogas rapidamente absorvidas após a administração oral. Em linhas gerais, a absorção
completa ocorre após um período de 4 horas. Outra característica de sua farmacodinâmica é que eles
ligam-se, em altas proporções, às proteínas do sangue.
Depois de sua administração oral, e mesmo que a droga seja totalmente absorvida no intestino, apenas
uma fração muito pequena dela estará disponível biologicamente. Entre outras razões, isso se deve à
baixa disponibilidade resultante do efeito de primeira passagem.
O processo metabólico dos ADTs depende da ação do fígado, pois esse é o órgão mais importante
para a metabolização dos ADTs, cuja meia-vida é longa: cerca de 20 a 30 horas.
O estado de equilíbrio plasmático ou steady-state também segue a mesma tendência: depende de cerca
de 5 meias-vidas para ser alcançado. Por essa razão, esses fármacos começam a fazer efeito após 1
semana.

Contraindicação
Em geral, os ADTs são contraindicados nos casos de interação com outros fármacos que dependem de
metabolismo hepático. Isso para evitar a sobrecarga do órgão.

 Inibidores Seletivos da Recaptação da Serotonina (ISRS)
Essa classe de antidepressivos é a mais famosa, pois é amplamente empregada. Desde o surgimento
da fluoxetina, no final da década de 1990, que os ISRS são as drogas de primeira escolha contra os
malefícios da depressão.
São várias razões que os colocam em primeiro lugar no ranking dos antidepressivos mais conhecidos.
Os ISRS induzem uma boa resposta aos tratamentos e apresentam vantagens seletivas em relação aos
antidepressivos convencionais. Assim, eles conquistaram o mercado porque, além dos benefícios, têm
menor custo e menos risco de efeitos colaterais.
Os ISRS também são indicados para tratamento da dor crônica neuropática. Outra característica é que
apresentam meias-vidas prolongadas, o que facilita o tratamento ao permitir administração em dose
única diária.
Além da fluoxetina, outros representantes desse grupo são:

 paroxetina;
 sertralina;
 citalopram;
 fluvoxamina.

Por fim, esses fármacos também demonstram bons resultados no tratamento de outros distúrbios
psiquiátricos, tais como:

 transtorno obsessivo-compulsivo;
 transtorno do pânico;
 transtorno de ansiedade generalizada;
 transtorno de ansiedade social (fobia social);
 bulimia.

Mecanismo de ação
Os ISRS são drogas de absorção lenta e completa pelo trato gastrointestinal. Elas podem ser ingeridas
junto às refeições, pois, nesse caso, não sofrem alterações significativas em suas concentrações
plasmáticas. Suas concentrações no sangue atingem o pico máximo entre 3 e 8 horas após
administração oral.
Os ISRS inibem, seletivamente, a recaptação de serotonina apenas, e não da dopamina. Com isso, eles
elevam a concentração de serotonina dentro da fenda sináptica, o que aumenta a disponibilidade da
substância.
Outro aspecto positivo — e favorável ao tratamento com esse grupo de medicamentos antidepressivos
— é em relação aos efeitos adversos no organismo. Esses inibidores apresentam menor toxicidade
hepática e cardiovascular, o que reduz os efeitos colaterais e promove uma melhor adesão ao
tratamento.

Contraindicações e efeitos adversos
Vale destacar, finalmente, que não se aconselha o uso concomitante de ISRS e iMAO, devido ao risco
de desencadear a síndrome serotoninérgica. Tal quadro pode levar a complicações potenciais como a
coagulação intravascular disseminada (CID), rabdomiólise e elevar as chances de óbito.
Por segurança, também é importante evitar o uso de ISRS concomitantemente com bebidas alcóolicas.
Considerando o desgaste que o álcool provoca nas células hepáticas, o ideal é orientar o paciente
sobre essa questão e estimular a conscientização dele quanto a esses riscos.

Alguns outros medicamento anti-depressivos:

 Inibidor seletivo de recaptura de 5-HT/NE (ISRSN)


 Inibidores de recaptura de serotonina e antagonista alfa 2 (IRSAs)
 Inibidor seletivo de recaptação de norepinefrina (ISRN)
 Inibidor seletivo de recaptura de dopamina (ISRD)
 Antidepressivo noradrenérgico e específico serotoninérgico (ANES)

Conclusão sobre a psicofarmacologia de antidepressivos


O avanço da pesquisa em psicofarmacologia de antidepressivos vem oferecendo aos pacientes
substâncias com perfis farmacocinéticos, de tolerância e de interações com outras drogas bastante
diferentes entre si. Apesar disto, os mecanismos de ação propostos para cada um deles permanecem
vinculados às teorias monoaminérgica, de aumento da oferta de neurotransmissores na fenda
sináptica, e da subsensibilização de receptores pós-sinápticos.1
Comparando os novos antidepressivos aos clássicos ADTs e IMAOs, verifica-se um esforço no
sentido de aperfeiçoar cada vez mais a ação em sítios receptores determinantes da eficácia clínica,
evitando aqueles responsáveis pelos efeitos colaterais. Do amplo espectro de ação dos antidepressivos
clássicos passou-se aos ISRSs, melhor tolerados, seguros na superdosagem e de ação praticamente
restrita à inibição da recaptação da serotonina. Apesar dos estudos existentes igualarem sua eficácia
aos ADTs, permanecem dúvidas em relação à resposta terapêutica em deprimidos graves.23
Diferenças em farmacocinética e potencial de interações medicamentosas tornam o grupo
heterogêneo, passível de indicações em diferentes situações clínicas. Os novos antidepressivos
buscavam aliar o amplo espectro de ação dos antidepressivos clássicos à tolerabilidade e segurança
dos ISRSs. Assim surgiram moclobemida, trazodona, nefazodona, bupropion, reboxetina, mirtazapina
e venlafaxina, entre outros. Também são diferentes nos aspectos farmacocinéticos e no potencial de
interação com outras substâncias, tornando-os úteis clinicamente em diversos grupos de pacientes.
Para vários antidepressivos novos a segurança em gestantes e lactentes ainda não foi estabelecida.
Quanto a amplidão do espectro de ação neuroquímico corresponde a um real ganho em termos de
eficácia clínica requer ser testado de maneira mais consistente.

Centro de Atenção Psicossocial - CAPS

Os Centros de Atenção Psicossocial - Caps são serviços de saúde de caráter aberto e comunitário
voltados aos atendimentos de pessoas com sofrimento psíquico ou transtorno mental, incluindo
aquelas com necessidades decorrentes do uso de álcool, crack e outras substâncias, que se encontram
em situações de crise ou em processos de reabilitação psicossocial.
Nos estabelecimentos atuam equipes multiprofissionais, que empregam diferentes intervenções e
estratégias de acolhimento, como psicoterapia, seguimento clínico em psiquiatria, terapia ocupacional,
reabilitação neuropsicológica, oficinas terapêuticas, medicação assistida, atendimentos familiares e
domiciliares, entre outros.

Os caps se constituem nas seguintes modalidades:


 Caps I: Atendimento a todas as faixas etárias, para transtornos mentais graves e persistentes,
inclusive pelo uso de substâncias psicoativas; atende cidades e ou regiões com pelo menos 15
mil habitantes.
 Caps II: Atendimento a todas as faixas etárias, para transtornos mentais graves e persistentes,
inclusive pelo uso de substâncias psicoativas; atende cidades e ou regiões com pelo menos 70
mil habitantes.
 Caps I: Atendimento a crianças e adolescentes, para transtornos mentais graves e
persistentes, inclusive pelo uso de substâncias psicoativas; atende cidades e ou regiões com
pelo menos 70 mil habitantes.
 Caps AD: Álcool e Drogas: Atendimento a todas faixas etárias, especializado em transtornos
pelo uso de álcool e outras drogas, atende cidades e ou regiões com pelo menos 70 mil
habitantes.
 Caps III: Atendimento com até 5 vagas de acolhimento noturno e observação; todas faixas
etárias; transtornos mentais graves e persistentes inclusive pelo uso de substâncias
psicoativas; atende cidades e ou regiões com pelo menos 150 mil habitantes.
 Caps AD III: Álcool e Drogas: Atendimento com de 8 a 12 vagas de acolhimento noturno e
observação; funcionamento 24h; todas faixas etárias; transtornos pelo uso de álcool e outras
drogas; atende cidades e ou regiões com pelo menos 150 mil habitantes.
 Caps AD IV: Atendimento a pessoas com quadros graves e intenso sofrimento decorrentes do
uso de crack, álcool e outras drogas. Sua implantação deve ser planejada junto a cenas de uso
em municípios com mais de 500.000 habitantes e capitais de estado, de forma a maximizar a
assistência a essa parcela da população. Tem como objetivos atender pessoas de todas as
faixas etárias; proporcionar serviços de atenção contínua, com funcionamento 24h, incluindo
feriados e fins de semana; e ofertar assistência a urgências e emergências, contando com
leitos de observação.

Cuidado e atenção psicossocial


O objetivo dos Caps é atender as pessoas com transtorno mental severo e persistente e seus familiares.
A equipe profissional do Caps está habilitada para prestar o cuidado em atenção psicossocial,
buscando preservar a cidadania da pessoa, o tratamento no território e seus vínculos sociais.

Gestão Autônoma da Medicação (GAM)

“A GAM foi formulada inicialmente no Quebec em 1993, a partir da mobilização de usuários e


trabalhadores de serviços de saúde mental e acadêmicos preocupados com o respeito aos direitos
humanos, à cidadania e ao protagonismo de pessoas que fazem uso de medicação psiquiátrica
(Rodriguez Del Barrio; Poirel, 2007). Neste contexto, a GAM constituiu um posicionamento
estratégico na área da saúde que advoga a autonomia - individual e coletiva - e a participação ativa
dos usuários nas decisões sobre o uso e o não uso de medicação psiquiátrica; um posicionamento
que aposta na ampliação da rede de conexões existenciais (Merhy; Feuerwerker; Silva, 2012) e nas
relações de gestão compartilhada de processos coletivos em saúde (Passos et al., 2013).
A estratégia GAM foi inicialmente construída e pesquisada, tanto no Quebec quanto no Brasil, com
usuários considerados portadores de “transtornos mentais severos e persistentes” (Brasil, 2002). A
versão brasileira do Guia da GAM foi adaptada a partir de uma pesquisa multicêntrica (Onocko-
Campos et al., 2012a) em Centros de Atenção Psicossocial II (Caps II), serviço de atenção
especializada em saúde mental. O Guia da GAM consiste num conjunto de questões para
problematizar a relação com o uso de medicamentos psiquiátricos e a autonomia nos processos de
cuidado em saúde mental (Onocko-Campos et al., 2012b).
Em dez anos, um processo contínuo de pesquisa e implementação da GAM na Rede de Atenção
Psicossocial (Renault, 2015; Silveira; Moraes, 2018; Zambillo; Palombini, 2017) conduziu a
experimentações recentes em diversos serviços da rede - Caps Infantojuvenil (Caliman et al., 2018);
Caps Álcool e outras Drogas e Atenção Básica (Caron, 2019). Na pesquisa da qual tratamos aqui
foram acompanhados processos de construção de dispositivos GAM em Unidades Básicas de Saúde
(UBS) que oportunizaram um trabalho de formação em serviço e apoio e a experimentação de
práticas de cuidado compartilhado com trabalhadores, usuários e acadêmicos, que podem contribuir
para práticas de atenção psicossocial comunitária na atenção básica. Tais experiências constituíram
um processo de capilarização da estratégia GAM em 2017 e 2018 na cidade de São Paulo, no bairro
da Vila Brasilândia, em duas UBS e um Caps III Álcool e outras Drogas (Caron, 2019).”

Procedimentos metodológicos: uma pesquisa-apoio


“Consideramos ter sido esta uma pesquisa-apoio, na qual o pesquisador acadêmico, além de estudar
a construção da GAM como dispositivo, era também apoiador dos coletivos de trabalhadores,
gestores e usuários em quatro espaços de encontro: reuniões regionais; reuniões gerais de equipe;
oficinas de apoio com trabalhadores e gestores; grupos GAM com usuários e trabalhadores. Os
trabalhadores da área de abrangência da Supervisão Técnica de Saúde (STS) da Freguesia do Ó e
Vila Brasilândia interessados em conhecer a GAM participaram de uma formação inicial conjunta.
Uma parte deles se organizou para iniciar a construção do dispositivo localmente e o pesquisador-
apoiador foi convidado para facilitar oficinas de apoio em cada unidade e acompanhar os grupos
GAM com os usuários.
1. Reuniões regionais: realizadas bimensal ou mensalmente. Estes encontros reuniam trabalhadores -
agentes comunitários, farmacêuticos, enfermeiras, assistentes sociais, psicólogos, médicos, técnicos -
gestores das unidades e da STS, estagiários e docentes da Pontifícia Universidade Católica.
Constituiu-se, assim, em cada território um espaço de avaliação dos processos de construção do
dispositivo. Após a constituição dos grupos GAM nas unidades, os usuários passaram a participar
dos encontros regionais.
2. Reuniões gerais de equipe: em cada unidade eram feitas reuniões gerais com toda a equipe para
tratar de questões relativas à GAM na unidade, sem periodicidade definida. Estas reuniões, com 40 a
60 trabalhadores, tratavam de problemas relativos ao medicamento psiquiátrico na rotina de
trabalho na UBS e em sua área de abrangência. As reuniões gerais aprofundaram a relação da
equipe com a proposta da GAM e se tornaram um espaço de discussão e conhecimento sobre o
território e o trabalho.
3. Oficinas de apoio: em cada unidade eram realizadas semanalmente encontros com um grupo de
trabalhadores e eventualmente as gestoras das unidades, configurando um coletivo de apoio aos
trabalhadores e de problematização da atenção psicossocial naqueles territórios. As oficinas
constituíram um dispositivo coletivo transdisciplinar de produção de um plano comum em torno da
estratégia GAM. Inicialmente foi feita uma análise do território, notadamente as relações entre o
serviço, profissionais e usuários quanto à prescrição e uso de medicação psiquiátrica, o que
propiciou formular um desenho dos problemas em torno do uso de psicofármacos e um projeto local
baseado na perspectiva GAM. A partir dessa formulação, usuários foram convidados a participar de
encontros semanais. Estas oficinas, então, se constituíram em espaço de acompanhamento dos
processos instaurados pelo dispositivo.
4. Grupos GAM com usuários e trabalhadores: em cada unidade, semanalmente, trabalhadores eram
moderadores de um grupo GAM com usuários de medicação psiquiátrica sobre o uso de medicação e
a autonomia do usuário. Os participantes podiam fazer uso auxiliar de uma ferramenta específica - o
Guia da GAM (Onocko-Campos et al., 2012b). Nestes grupos, os participantes se dispunham em roda
e se cultivava um posicionamento de lateralidade com o outro; o modo de relação proposto era de
compartilhamento e cogestão (Melo et al., 2015).”

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