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GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA

SECRETARIA DA SAÚDE DO ESTADO DA BAHIA - SESAB


SUPERINTENDÊNCIA DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE - SAIS
CENTRO DE INFORMAÇÕES ANTIVENENO - CIAVE

ANTÍDOTOS

Podemos conceituar o antídoto como sendo o medicamento ou produto químico que age
sobre o veneno, ou concomitantemente, opondo-se aos seus efeitos, através de diferentes
mecanismos.

O veneno, como qualquer outro fármaco, para desempenhar sua ação, necessita ser
absorvido, distribuído a um ou vários locais no organismo, sofrer uma biotransformação e
posterior excreção. Em qualquer uma destas fases, o antídoto pode agir contra o veneno,
através de ações físicas e químicas.

O prognóstico do paciente intoxicado depende da exatidão do diagnóstico e da rapidez e


eficácia das condutas terapêuticas. Além disso, em alguns casos, a utilização de antídotos
específicos torna-se imprescindível.

Vale ressaltar que os antídotos também apresentam toxicidade, sendo necessário o


conhecimento da sua cinética e dinâmica no organismo humano. A avaliação da necessidade
de sua indicação deve ser acompanhada por uma utilização correta e pela prevenção de
possíveis riscos, observando-se a sua eficácia e contra-indicações.

Infelizmente, em relação ao número de venenos quase ilimitado, dispõe-se de um reduzido


número de antídotos. Além disto, as indústrias farmacêuticas não tem interesse na sua
produção, uma vez que são produtos de aplicação restrita e que requerem embalagens em
quantidades e concentrações especiais. Em conseqüência, ocorrem dificuldades na sua
aquisição. Poucos são produzidos pela indústria, sendo a maioria obtida através de
farmácias de manipulação.

Nas tabelas a seguir são mostrados os principais antídotos e medicamentos de suporte, sua
indicação terapêutica, apresentação e via de administração.
SECRETARIA DA SAÚDE DO ESTADO DA BAHIA
CENTRO DE INFORMAÇÕES ANTIVENENO – CIAVE
Centro Estadual de Referência em Toxicologia

BANCO DE ANTÍDOTOS E MEDICAMENTOS DE SUPORTE

1. ANTÍDOTOS ESPECÍFICOS

1.1. INDUSTRIALIZADOS
Nº NOME INDICAÇÃO APRESENTAÇÃO UNIDADE VIA DE
(AGENTE TÓXICO) COMERCIAL ADMINISTRAÇÃO
1. Deferoxamina (DESFERAL®) ferro; hemocromatose liofilizado 500 mg cx. c/ 10 f.a. I.V. / I.M.
2. Dimercaprol, BAL arsênico; chumbo; ouro; mercúrio; sol. 100 mg cx. c/ 5 amp I.M.
bismuto; antimônio 1 ml
3. Pralidoxima (CONTRATHION®) Pesticidas organofosforados liofilizado 200 mg cx c/ 5 fa c/ 200 mg I.V.
4. Terra de Fuller ingestão de paraquat pó pote c/ 60g lavagem gástrica

1.2. MANIPULADOS
Nº NOME INDICAÇÃO APRESENTAÇÃO UNIDADE VIA DE
(AGENTE TÓXICO) COMERCIAL ADMINISTRAÇÃO
1. Álcool etílico absoluto metanol; etilenoglicol sol. a 99º GL amp. c/ 10 ml I.V.
2. Azul de metileno metahemoglobinizantes sol inj a 1 % amp c/ 5 ml I.V.
3. Carvão ativado adsorvente (ampla indicação) pó pote c/ 30 g V.O.
4. EDTA sódico metais sol. inj. 20% amp. c/ 5 ml I.M. / I.V.
5. Hipossulfito de sódio cianetos sol. inj. 25% f.a. c/ 10 ml I.V.
6. Nitrito de amila cianetos sol. p/ inalação 0,2g amp. inalação
7. Nitrito de sódio cianetos sol. inj. 3% amp. c/ 10 ml I.V.
8. Penicilamina cobre, mercúrio, chumbo, sais de zinco, cáps. de 250mg vd. c/ 50 cáps. V.O.
sais de cromo
9. Sulfato de sódio catártico salino pó Pct c/ 7,5g V.O.
10. Sulfato de magnésio catártico salino pó Pct c/ 15g V.O.
Obs.: O antídotos desta tabela são obtidos através de farmácias de manipulação.

2. ANTÍDOTOS NÃO ESPECÍFICOS E MEDICAMENTOS DE SUPORTE


Nº NOME INDICAÇÃO APRESENTAÇÃO UNIDADE VIA DE
(AGENTE TÓXICO) COMERCIAL ADMINISTRAÇÃO
1 n-acetilcisteína paracetamol sol. inj a 10% cx. c/ 5 amp. I.V.
2 n-acetilcisteina paracetamol 600 mg cx. c/ 16 env. V.O.
3 Ácido Folínico trimetroprima; pirimetamina; metanol sol. inj. 50 mg f.a. c/ 50 mg I.V.

1
Nº NOME INDICAÇÃO APRESENTAÇÃO UNIDADE VIA DE
(AGENTE TÓXICO) COMERCIAL ADMINISTRAÇÃO
4 Amido* iodo metálico; tintura de iodo pó cx. c/ 200 g V.O.
5 Atropina organofosforado e carbamato sol. inj. 0,250 mg cx. c/100 amp de 1 ml I.V
6 Biperideno fenotiazínicos; butirofenonas; sol. inj. 5 mg cx c/ 5 amp de 1 ml I.V.
metoclopramida.
7 Dexametasona picada por insetos bisnaga c/ 10 g bisnaga TÓPICO
8 Fenitoína digitálicos sol. inj. 250 mg cx. c/50 amp c/5 ml I.V.
9 Flumazenil benzodiazepínicos sol. inj. 0,5 mg cx. c/ 5 amp I.V.
10 Gluconato de cálcio 10% fluoretos e latrodectismo sol. inj. 10% cx. c/ 100 amp. 10 ml I.V.
11 Hidrocortizona profilaxia de reação anafilática na sol. inj 500 mg cx c/ 50 fa I.V.
soroterapia
12 Hidróxido de alumínio ingestão de fosfatos e fluoretos suspensão fr c/ 120 ml V.O.
13 Lidocaína s/ vasoconst. escorpião sol. inj 2% cx c/ 50 amp 5 ml infiltração
14 Naloxona opiáceos sol. inj. 0,4 mg cx. c/10 amp. 1ml I.V.
15 Neostigmine atropina sol. inj. 0,5 mg cx. c/ 50 amp. I.V.
16 Nitroprussiato de sódio ergotamina, cocaína liofilizado c/ 50 mg cx. c/ 5 amp 50 mg I.V.
17 Permanganato de potássio anfetaminas, estricnina comp. 100 mg env. c/ 10 comp. em lavagem gástrica

18 Prometazina profilaxia de reação anafilática na sol. inj. 50 mg cx c/ 50 amp. I.M.


soroterapia
19 Propranolol beta-adrenérgicos; amp 1 mg c/ 1 mL cx c/ 1 amp I.V.
álcool;cocaína;paraquat
20 Protamina heparina sol. inj. a 1% amp. c/ 5 ml I.V.
21 Hidroxocobalamina cianetos pó p/ sol. inj. 5 g cx. c/ 1 fr I.V.
22 Vitamina C metahemoglobina tóxica sol. inj. 500 mg cx. c/ 50 amp. de 5 ml I.V.
23 Vitamina K hidroxicumarínicos sol. inj. 10 mg cx. c/ 50 amp. I.V.
* Pode ser adquirido em mercearias ou supermercados.

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PRINCIPAIS MEDICAMENTOS UTILIZADOS COMO
ANTÍDOTO NO TRATAMENTO DE INTOXICAÇÕES

Antídotos locais, sistêmicos e antagonistas

Indicação em intoxicação Posologia

n-Acetilcisteína 600mg Acetaminofen (paracetamol) V.O.: Dose inicial de 140mg/Kg por via oral em
solução a 5% em veículo de sabor agradável. A
seguir, 70mg/Kg, cada 4 horas, durante 3 dias.

n-Acetilcisteína 10% inj Acetaminofen (paracetamol) Uso endovenoso:


1º) Regime de 20 Horas (adotado para casos até
9 horas após a ingesta): dose inicial de 150mg /
Kg em 200mL de soro glicosado (SG) 5% para
correr em 15 minutos. Em seguida, 50mg/Kg em
500mL de SG 5% para correr em 4 horas.
Posteriormente, 100mg/Kg em 1 litro de SG 5%
para correr em 16 horas. (Dose total: 300mg/Kg
nas 20 horas).
2º) Regime de 48 Horas (adotado para casos de
atendimento 10 a 24 horas após a ingesta):
Dose inicial (ataque): 140mg/Kg em SG 5% para
correr em 1 hora. Em seguida, iniciar
administração de 12 doses consecutivas de 70mg
/ Kg diluídas em SG 5%, para correr em  1 hora,
com intervalo de 4 horas entre o início de cada
administração. (Dose total: 980mg/Kg ao longo de
48 horas).

Álcool absoluto Metanol e etilenoglicol Caso leve - 0,5mL/Kg da solução a 50% V.O.
Caso grave - dose de ataque: 8,8 mL/Kg de etanol
em solução a 10% em soro glicosado a 5%, I.V.
- dose de manutenção: 1,4mL/Kg/hora
em soro glicosado a 5%, I.V.
Obs.: Procurar manterá a alcoolemia + 100mg/dL.

Atropina Organofosforados e Adulto: 0,5-1mg, I.V.


carbamatos Crianças: 0,01-0,005mg/Kg, I.V.
Repetir doses em intervalos curtos até
aparecimento de sinais de intoxicação atropínica
ou melhora do paciente.

Azul de metileno a 2% Anilina e derivados, sulfona, 1-2mg/Kg por via I.V., lentamente. Repetir, se
piridium, nitritos e nitratos necessário, 1-2 vezes.

Carvão ativado Várias substâncias* Adulto: 30g/dose até de 4/4 horas em suspensão
aquosa.
Criança: 1g/Kg/dose até de 4/4 horas em
suspensão aquosa.
Obs.: V.O. ou através da sonda de lavagem.

Deferoxamina Ferro Utilizar em pacientes sintomáticos c/ níveis de ferro


sérico superiores a 350mcg/dL.
Adulto/criança:
- 90 mg/Kg a cada 8 horas (máximo de 1g/dose),
não excedendo total diário de 6g, por via I.M; ou,
- 15mg//Kg/h (máximo de 90mg/h em 8h) por via I.V.
Pacientes em choque: iniciar com 1g, seguido de
duas doses de 500mg cada 4 horas.

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Antídotos locais, sistêmicos e antagonistas (cont.)

Indicação em intoxicação Posologia

Dimercaprol (BAL) Arsênico, chumbo, mercúrio, 5mg/Kg/dose, IM:


o o
bismuto, antimônio, ouro. 1 . e 2 . dias: 4/4 horas;
2,5 a 3,0mg/Kg/dose, IM:
o o
3 . e 4 . dias: 6/6 horas;
o o
5 . ao 10 . dia: 12/12 horas
a
No caso de intoxicação por mercúrio: 1 . dose –
o
5mg/Kg, IM, cada 8-12 horas no 1 . dia e depois
2,5-3,0 mg/Kg, IM, cada 12-24 horas, até
completar 10 dias.

EDTA cálcico Chumbo e urânio I.M. (sem diluir): 50-70mg/Kg/dia, em duas doses;
IV (diluído em SF ou SG): infusão em 1 hora. 50-
70mg/Kg/hora, em duas doses.
Em encefalopatia saturnina: uso associado ao BAL
e penicilamina, 30-40mg/Kg/dia, IM, cada 4 horas.

Flumazenil Benzodiazepínicos Dose inicial de 0,2-0,3mg I.V. em 15 seg. Repetir


com intervalos de 1 minuto até obtenção do grau
desejável de consciência ou até um total de 2mg.

Hipossulfito (tiossulfato) de Cianeto Uso posterior ao nitrito de sódio, na dose de 12,5


sódio mg em adultos (50mL de solução a 25%, IV) e 0,4
mg/Kg até o máximo de 12,5 mg/Kg em crianças.

Nitrito de sódio Cianeto Administração endovenosa, 300mg em adultos (10


mL da solução a 3%) em três a cinco minutos e 4,5
a 10,0 mg/Kg - de acordo com o nível de
hemoglobina (Quadro I) - em crianças.

Obs.: Os nitritos de amila e de sódio e o tiossulfato de sódio são produtos manipulados, utilizadas no
tratamento de intoxicações por cianeto e são usadas em conjunto, sendo denominados por alguns profissionais
como “kit cianeto”. O primeiro produto é de difícil aquisição, em função das sua alta volatilidade. O objetivo do uso
dos nitritos de amila e de sódio é a produção de taxa alta de metahemoglobina, que possui ferro férrico (trivalente,
+++
HbFe ) e que tem maior afinidade pelo cianeto que a citocromo oxidase. A ampola de nitrito de amila é rompida
e o conteúdo despejado em uma gaze, através da qual o paciente fará uma inalação durante 20 a 30 segundos a
cada minuto. Concomitantemente, prepara-se a solução de nitrito de sódio para administração endovenosa,
300mg em adultos (10 mL da solução a 3%) em três a cinco minutos e 4,5 a 10,0 mg/Kg - de acordo com o nível
de hemoglobina - em crianças. Deve-se tomar cuidado no uso dos nitritos, pois quando administrados de forma
rápida podem resultar em hipotensão arterial grave por serem potentes vasodilatadores. Caso necessário, utilizar
nova ampola de nitrito de amila a cada três minutos enquanto não se administra o nitrito de sódio.
Reação 1: HbFe++ + NO2 -  HbFe+++
hemoglobina nitrito metahemoglobina

+++
A metahemoglobina formada compete com a citocromo-oxidase (Cit-Fe ) pelo íon cianeto formando a
cianometahemoglobina (HbFeCN).

Reação 2: HbFe+++ + CN-  HbFeCN + Cit-Fe+++


metahemo- cianeto cianometahemo- citocromo
globina globina oxidase

A desintoxicação real é então conduzida pela administração de tiossulfato de sódio - na dose de 12,5mg
em adultos (50mL de solução a 25%, IV) e 0,4 mg/Kg até o máximo de 12,5 mg/Kg em crianças - em que reage
com o íon cianeto formando tiocianato, substância relativamente atóxica que é prontamente excretada na urina.
4
rodanese
-
Reação 3: Na2S2O3 + CN SCN-oxidase SCN-
tiossulfato cianeto tiocianato

Esta reação final é lentamente reversível por ação da tiocianato-oxidase. Isto explica porque os sintomas
às vezes reaparecem após o tratamento inicial. Quando do reaparecimento dos sintomas, o processo de
tratamento descrito deve ser repetido, em doses fracionadas.
O grau de metahemoglobina pode ser maior que o desejado para a desintoxicação. Haverá necessidade
de se administrar, lentamente, azul de metileno a 1%, 1 a 2mg/Kg IV, quando atingir valores acima de 30%.

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