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2ª EDIÇÃO

RIO DE JANEIRO
2019

REALIZAÇÃO
ESCOLA NACIONAL DE SEGUROS

SUPERVISÃO E COORDENAÇÃO METODOLÓGICA


DIRETORIA DE ENSINO TÉCNICO

ASSESSORIA TÉCNICA
JONAS STIPP DE ANDRADE - 2019
ALUIZIO JOSÉ BASTOS BARBOSA JUNIOR – 2018

PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO


ESCOLA NACIONAL DE SEGUROS – GERÊNCIA DA ESCOLA VIRTUAL
PICTORAMA DESIGN

EDIÇÃO
PLANO B EDUCAÇÃO

É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, ou de partes dele,


sob quaisquer formas ou meios, sem permissão expressa da Escola.

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca da ESCOLA NACIONAL DE SEGUROS

E73d Escola Nacional de Seguros. Diretoria de Ensino Técnico.


Direito e legislação do seguro / Supervisão e coordenação metodológica da Diretoria de
Ensino Técnico; assessoria técnica de Jonas Stipp de Andrade.
-- 2.ed.
-- Rio de Janeiro : ENS, 2019.
189 p. ; 28 cm

Formato: E-book.
ISBN: 978-85-7052-691-5

1. Direito do seguro. 2. Seguro – Leis, decretos. 3. Corretor de seguros –


Profissão – Leis, decretos. I. Andrade, Jonas Stipp de. II. Título.

0018-2211 CDU 368:347(072)

DIREITO E LEGISLAÇÃO DO SEGURO


A
Escola Nacional de Seguros promove, desde 1971, diver-
sas iniciativas no âmbito educacional, que contribuem
para um mercado de seguros, previdência complementar,
capitalização e resseguro cada vez mais qualificado.

Principal provedora de serviços voltados à educação continuada, para


profissionais que atuam nessa área, a Escola Nacional de Seguros ofe-
rece a você a oportunidade de compartilhar conhecimento e experiên-
cias com uma equipe formada por especialistas que possuem sólida
trajetória acadêmica.

A qualidade do nosso ensino, aliada à sua dedicação, é o caminho


para o sucesso nesse mercado, no qual as mudanças são constantes
e a competitividade é cada vez maior.

Seja bem-vindo à Escola Nacional de Seguros.

DIREITO E LEGISLAÇÃO DO SEGURO


SUMÁRIO
INTERATIVO

DIREITO DO SEGURO

1. DIREITO E O SEGURO NO BRASIL: NOÇÕES 11


INTRODUÇÃO 12

BREVES NOÇÕES SOBRE O DIREITO 14


O que é o Direito 14
Direito Objetivo e Subjetivo 15
Direito Público e Privado 16
Fontes do Direito 16
A Constituição Federal de 1988 17
As Normas Infraconstitucionais 18
FIXANDO CONCEITOS 1 20

2. O CONTRATO DE SEGURO 22
CONCEITO LEGAL DO CONTRATO DE SEGURO 23

ELEMENTOS DO CONTRATO DE SEGURO 23


Risco 24
Interesse Segurável 24
Garantia 25
Prêmio 25
Empresarialidade 26
PARTES DO CONTRATO DE SEGURO 26
Proponente 26
Segurado 26
Seguradora 27
Beneficiário 27

DIREITO E LEGISLAÇÃO DO SEGURO


Estipulante 27
OBRIGAÇÕES DAS PARTES 27
Pagamento do Prêmio 27
Concessão da Garantia 29
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO CONTRATO DE SEGURO 32
Bilateral 32
Oneroso 32
Aleatório ou Comutativo 32
Solene 33
Consensual 33
Nominado 33
Adesão 34
INSTRUMENTOS CONTRATUAIS 34
Proposta 34
Apólice 37
Endosso ou Aditivo 39
Averbação 39
Bilhete 40
FIXANDO CONCEITOS 2 41

3. O SEGURO E O CÓDIGO CIVIL 43


CONSIDERAÇÕES INICIAIS 44

DISPOSIÇÕES COMUNS AOS SEGUROS DE DANOS E DE PESSOAS 44


Riscos Predeterminados 45
Boa-Fé na Conclusão e na Execução do Contrato do Seguro 45
Efeitos do Descumprimento do Dever de Informação que
Influi na Aceitação da Proposta ou na Tarifação do Prêmio 46
Ato Doloso do Segurado, do Beneficiário ou do Representante de um deles 47
Agravamento do Risco 49
Contratação por Meio de Agente Autorizado da Seguradora 50
Renovação Automática 51
Mora do Segurado 51
Mora da Seguradora 53

DIREITO E LEGISLAÇÃO DO SEGURO


Importância do Aviso de Sinistro 53
Aplicação Subsidiária do Código Civil aos Seguros Regidos por Leis Específicas 54
DISPOSIÇÕES RELATIVAS AOS SEGUROS DE DANOS 55
Transferência do Contrato de Seguro a Terceiro 55
Rateio Proporcional 56
Novo Seguro sobre Mesmo Interesse Segurável e Mesmo Risco 57
Sub-Rogação 58
Seguro de Responsabilidade Civil 59
DISPOSIÇÕES RELATIVAS AOS SEGUROS DE PESSOAS 61
Fixação do Capital Segurado e Contratação de Mais de um
Seguro sobre o Mesmo Interesse 61
Instituição do(a) Companheiro(a) como Beneficiário(a) 62
Seguro sobre a Vida de Terceiro 63
Indicação e Substituição do Beneficiário 64
Efeitos da Não Indicação de Beneficiário ou da
Invalidade (Parcial ou Total) da Cláusula Beneficiária 65
Transação para Pagamento Reduzido do Capital Segurado 66
Suicídio 67
Vedação à Exclusão de Certos Riscos 67
Sub-Rogação 68
Seguro Coletivo 68
A Exceção Contida no Artigo 802 do Código Civil 69
PRESCRIÇÃO 70
Prescrição do Segurado Contra a Seguradora no Seguro de Responsabilidade Civil 70
Prescrição do Segurado Contra a Seguradora nos Demais Seguros 72
Prescrição do Segurado em Grupo 73
Prescrição do Beneficiário 73
Prescrição do Terceiro Contra a Seguradora no Seguro de Responsabilidade Civil Obrigatório 74
Aviso de Sinistro como Causa Suspensiva da Prescrição 74
FIXANDO CONCEITOS 3 76

4. O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR 78


ORIGEM E OBJETIVOS 79

CONCEITO DE CONSUMIDOR 79

DIREITO E LEGISLAÇÃO DO SEGURO


ENQUADRAMENTO DA ATIVIDADE SECURITÁRIA COMO SERVIÇO 80

VULNERABILIDADE E HIPOSSUFICIÊNCIA DO CONSUMIDOR 81

DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR 82


Direito à Informação 83
Direito à Proteção Contra a Publicidade Enganosa e Abusiva 83
Direito à Facilitação da Defesa dos Direitos, Inclusive com a Inversão do Ônus da Prova 85
GARANTIA DE COGNOSCIBILIDADE 86

RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO FORNECEDOR PELO FATO DO SERVIÇO 86

RESPONSABILIDADE SUBJETIVA DO
PRESTADOR DE SERVIÇO PROFISSIONAL LIBERAL 88

PRESCRIÇÃO PARA A AÇÃO DE


RESPONSABILIDADE CIVIL PELO FATO DO SERVIÇO 89

DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA 90

OFERTA 90

RECUSA DO FORNECEDOR EM CUMPRIR A OFERTA 92

SOLIDARIEDADE 92

PRÁTICAS ABUSIVAS 93
Venda Casada 93
Seguro Não Solicitado 94
Comercialização de Seguro cujo Contrato Não Tenha Sido Submetido à
Aprovação da SUSEP ou Esteja em Desacordo com as Normas Regulamentares 94
Prazo para Cumprimento da Obrigação 95
COBRANÇA DE DÍVIDA JÁ PAGA 95

CLÁUSULAS ABUSIVAS 96

CONTRATO DE ADESÃO 98

FIXANDO CONCEITOS 4 100

ESTUDOS DE CASO 102


GABARITO 104
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 106

DIREITO E LEGISLAÇÃO DO SEGURO


LEGISLAÇÃO DO SEGURO

1. O SISTEMA NACIONAL DE REGULAÇÃO,


SUPERVISÃO E FISCALIZAÇÃO DE SEGUROS
PRIVADOS, DE PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR
ABERTA, CAPITALIZAÇÃO E CORRETAGEM 109
AS PRINCIPAIS NORMAS LEGAIS E REGULAMENTARES 110

O SISTEMA NACIONAL DE REGULAÇÃO, SUPERVISÃO


E FISCALIZAÇÃO DE SEGUROS PRIVADOS, DE PREVIDÊNCIA
COMPLEMENTAR ABERTA, CAPITALIZAÇÃO E CORRETAGEM 111

COMPETÊNCIAS DOS ÓRGÃOS QUE COMPÕEM O SISTEMA NACIONAL


DE REGULAÇÃO, SUPERVISÃO E FISCALIZAÇÃO DE SEGUROS PRIVADOS,
PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR ABERTA, CAPITALIZAÇÃO E CORRETAGEM 115
Compete ao Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) 115
Compete à Superintendência de Seguros Privados (SUSEP) 120
Compete ao Conselho de Recursos do Sistema Nacional de Seguros
Privados, de Previdência Privada Aberta e de Capitalização (CRSNSP) 125
AS OPERAÇÕES DE SEGUROS PRIVADOS 126

OS SEGUROS OBRIGATÓRIOS 131

RESSEGURO – LEI COMPLEMENTAR Nº 126/2007 132


A Atuação do IRB Brasil RE 132
Das Normas Regulamentadoras do Resseguro e da Sociedade Corretora de Resseguros 135
FIXANDO CONCEITOS 1 137

2. O CORRETOR DE SEGUROS 140


A LEI QUE REGULA A PROFISSÃO DE CORRETOR DE SEGUROS 141

O PAPEL DE INTERMEDIADOR DO CORRETOR DE SEGUROS 142

REQUISITOS PARA O EXERCÍCIO PROFISSIONAL E REGISTRO NA SUSEP 145


O Corretor de Seguros – Profissional Autônomo 145
As Corretoras de Seguros Pessoas Jurídicas 151
O QUE SÃO EMPRESAS INDIVIDUAIS DE RESPONSABILIDADE LIMITADA (EIRELI) 153

DIREITO E LEGISLAÇÃO DO SEGURO


HABILITAÇÃO TÉCNICO-PROFISSIONAL 155

REQUERIMENTO DE REGISTRO NA SUSEP 156

INEXISTÊNCIA DE LIMITAÇÃO TERRITORIAL


PARA A ATUAÇÃO DO CORRETOR DE SEGUROS 157

OS PREPOSTOS DO CORRETOR 158

DIREITOS E DEVERES DO CORRETOR 161


Deveres Básicos do Corretor 161
Direito à Comissão de Corretagem 162
Dever de Registro das Propostas e de Demonstração à SUSEP 164
Dever de Repasse do Prêmio Recebido 165
Restrições Profissionais 167
AS RESPONSABILIDADES DO CORRETOR DE SEGUROS 169

A RESPONSABILIDADE DO CORRETOR DE SEGUROS E O


CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR (CDC) 173

A RESPONSABILIDADE PENAL E O CÓDIGO PENAL 175

A RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA OU PROFISSIONAL 176

A AUTORREGULAÇÃO DO MERCADO DE CORRETAGEM


(LEI COMPLEMENTAR Nº 137/2010) 181

O INSTITUTO BRASILEIRO DE AUTORREGULAÇÃO DO MERCADO DE


CORRETAGEM DE SEGUROS, DE RESSEGUROS, DE CAPITALIZAÇÃO E DE
PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR ABERTA – IBRACOR 183

FIXANDO CONCEITOS 2 184

ESTUDO DE CASO 186


GABARITO 187
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 188

DIREITO E LEGISLAÇÃO DO SEGURO


UNIDADE
01
DIREITO
e o SEGURO
no BRASIL:
NOÇÕES
UNIDADE 1

Após ler esta unidade, você deverá ser capaz de: TÓPICOS
DESTA UNIDADE
■■ Avaliar a importância do ■■ Reconhecer a importância
direito para os contratos de da Constituição Federal de
seguros e entender como 1988.
INTRODUÇÃO
o seguro surgiu no Brasil. ■■ Conhecer a estrutura do
■■ Definir o que é direito e ordenamento jurídico BREVES NOÇÕES
quais são suas principais brasileiro. SOBRE O DIREITO
fontes. ■■ Identificar e FIXANDO CONCEITOS 1
distinguir as normas
infraconstitucionais.

DIREITO DO SEGURO 11
UNIDADE 1

INTRODUÇÃO
Uma das questões dentre as várias que são feitas por estudantes tem a ver
com a importância do estudo do Direito.

Antes de começarmos, tente responder: qual a importância do direito na


atividade profissional?

A resposta para essa questão é simples: a importância do direito é trazer


ordem, certeza, paz, segurança e justiça, que são finalidades do direito,
não se podendo confundir com o próprio direito, já que não se pode con-
fundir o objeto com a sua finalidade.

Portanto, o direito é um instrumento que existe para evitar conflitos e, não


sendo possível evitá-los, existe também para solucioná-los. Daí se dizer
que a função precípua do direito é trazer segurança jurídica, tendo como
fim concretizar a justiça, isto é, o que é justo.

O direito é uma das peças fundamentais para os profissionais e para a comu-


nidade, pois é por meio dessa fonte que se tem a base das informações,
dos conceitos, das normas e das regras que norteiam a vida em sociedade.

É preciso nos conscientizarmos da importância do seguro para a socie-


dade e para o cidadão, compreendermos o real e concreto alcance do
contrato de seguro e buscarmos as informações relevantes para cada tipo
contratual, firme no propósito de bem utilizarmos esse importante instru-
mento de desenvolvimento econômico e social, com o objetivo de nos pro-
tegermos contra os infortúnios próprios da vida em sociedade.

Porém, você pode estar se perguntando: o que isso tem a ver com o pro-
fissional da área de seguros?

A resposta é: tem tudo a ver!

DIREITO DO SEGURO 12
UNIDADE 1

Muitas vezes, o profissional da área de seguros não sabe como agir quan-
do se depara com alguma questão jurídica em seu dia a dia. Isso pode
gerar um grande impacto, por vezes desastroso, para ele próprio e para
quem está ao seu redor.

O profissional de seguros não pode alegar que não cumpriu uma norma por-
que não é conhecedor de uma lei particular. Ao contrário, é fundamental que
os profissionais estejam atentos a todas as normas e regras, além de suas
atualizações, para fazer um trabalho ético e a contento para os seus clientes.

O dever de gerir os contratos intermediados pelo corretor está expres-


samente destacado pelas normas legais, de forma que os corretores de
seguros devem, mais que nunca, administrar o andamento e o cumprimen-
to do contrato, seja pelo lado de seus clientes-segurados ou pela segura-
dora garantidora do contrato, uma vez que deixam de atuar como meros
intermediários para assumirem a função de gerente contratual.

O corretor deve, a partir de então, esclarecer e comunicar ao seu cliente de


toda e qualquer ocorrência oriunda das obrigações contratuais, sob pena
de ser responsabilizado civil e profissionalmente por falha na prestação do
serviço de corretagem.

É consenso que o profissional de seguro deve ter consciência de que será


responsabilizado por qualquer dano que cause a alguém. Por isso, é tão
importante seguir os preceitos éticos e jurídicos no atendimento a qual-
quer segurado. Porém, nem sempre as questões jurídicas são tão claras,
já que esses profissionais têm uma formação muito voltada apenas para a
área securitária.

Os temas abordados neste material estão relacionados às obrigações, aos


direitos e aos deveres do segurado, da seguradora e do corretor.

O conhecimento sobre as normas legais relativas ao contrato de seguro,


incluindo quais são suas partes e suas principais obrigações, reúne infor-
mações indispensáveis ao exercício da atividade profissional securitária.

O Código Civil Brasileiro, instrumento legal que vem regulamentando as


principais regras relativas ao contrato de seguro, estabelece penalidades
gravíssimas que podem ocasionar a perda do direito à indenização, entre
elas a má-fé do segurado ou da seguradora quando de sua efetivação, bem
como as consequências da mora, ou seja, atraso do pagamento do prêmio.

As disposições relativas ao Seguro de Danos são institutos cujo conheci-


mento é indispensável para a orientação do segurado, como a possibilida-
de da transferência da apólice a terceiros e o instituto da sub-rogação, que
implica o ressarcimento à companhia seguradora quando o dano sofrido
pelo segurado é causado por terceiro.

Em relação ao Seguro de Pessoas e sua possibilidade de contratação sem


limite de valores, a indicação do companheiro como beneficiário e as nor-

DIREITO DO SEGURO 13
UNIDADE 1

mas relativas ao suicídio são informações que colaboram o conhecimento


prático da vida profissional.

O instituto da prescrição, ou seja, a perda do direito à ação judicial em virtu-


de do tempo, é de conhecimento indispensável ao corretor de seguros, uma
vez que, chamado a acompanhar o processo de sinistro, estará apto a orien-
tar o segurado quanto ao prazo para reivindicar judicialmente seus direitos.

As disposições relativas ao Código de Defesa do Consumidor e sua prote-


ção na relação de consumo, a qual inclui a atividade securitária, estabelece
uma série de regras de interesse do profissional de seguro, inclusive aque-
las relativas à sua responsabilidade no exercício de suas funções.

Assim, o profissional de seguros estuda a disciplina Direito do Seguro no


início do curso em virtude de sua relevância em termos de conhecimento,
servindo como alicerce que sustentará as demais informações necessárias
para sua formação profissional.

Bom estudo!

BREVES NOÇÕES SOBRE O DIREITO

—— O que é o Direito
Antes de tudo, precisamos entender o que é Direito e como ele surgiu.
O Direito nasceu junto com a civilização, sob a forma de costumes que
se tornaram obrigatórios. Por mais que mergulhemos no passado, sempre
encontraremos o Direito, ainda que em estágio rudimentar, regulando as
relações humanas tendo em vista que, indiscutivelmente, a sociedade não
consegue se autorregular.

Essas regras de procedimento, disciplinadoras da vida em sociedade,


recebem o nome do Direito.

O Direito é uma ciência social que tem por objeto o estudo das normas
jurídicas, de seus elementos, de seus atributos, de sua interpretação e apli-
cação. São as normas jurídicas que regulam as situações entre os sujeitos
e são capazes de assegurar a convivência e a paz social.

A vida em sociedade seria impossível sem a existência de um certo número


de normas reguladoras do procedimento dos homens, por estes mesmos jul-
gadas obrigatórias, e acompanhadas de punições para os transgressores. É
a punição que torna a norma respeitada. A coação, ou possibilidade de cons-
tranger o indivíduo à observância da norma, torna-se inseparável do Direito.

DIREITO DO SEGURO 14
UNIDADE 1

O Direito é, também, um fenômeno social, pois surge, essencialmente, das


relações sociais intersubjetivas, a exemplo do que ocorre com outros fenô-
menos sociais, como a religião e a política, entre outros.

Desse modo, sendo o Direito um fenômeno social, nada mais natural do


que admitirmos que o Direito é dinâmico, visto que, à medida que a socie-
dade muda seus conceitos, naturalmente, o Direito também se adapta a
essa nova sociedade.

Podemos citar inúmeros exemplos em que o Direito se modificou em virtu-


de de a própria sociedade ter se modificado (ex.: Lei do Divórcio, direito a
voto das mulheres, entre outros).

O chamado Direito Positivo (ou Direito escrito) consiste num conjunto orde-
Importante nado e sistemático de normas jurídicas obrigatórias que o Estado, fazendo
uso de suas competências, impõe à sociedade.
O Direito positivo é imposto à As normas jurídicas possuem, portanto, um caráter coercitivo, ou seja, não
sociedade pelo Estado a partir estão sujeitas ao livre-arbítrio da vontade individual. Elas regem condutas
de um conjunto sistemático de essenciais para o convívio social, o bem coletivo, o equilíbrio das relações
normas jurídicas. humanas e a manutenção da ordem.

As normas jurídicas estão divididas em regras e princípios. As regras impõem,


permitem ou proíbem uma conduta de forma imperativa. Um exemplo de
regra está no inciso I do art. 162 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB – Lei nº
9.503/1997, que trata das infrações de trânsito e prevê que dirigir veículo sem
possuir Carteira Nacional de Habilitação ou Permissão para Dirigir constitui
infração gravíssima, sujeitando o infrator a multa e apreensão do veículo.

Já os princípios enunciam valores ou abrigam direitos, mas não qualificam


juridicamente as condutas. Pode ser citado, como exemplo, o princípio da
dignidade da pessoa humana, presente no art. 1º, III, da Constituição Federal
de 1988. Este princípio trata do respeito à identidade e à integridade de todo
e qualquer ser humano.

—— Direito Objetivo e Subjetivo


Importante A palavra “direito” tem diferentes sentidos ou acepções, tornando-se pratica-
mente impossível reuni-las numa única fórmula significativa. As mais impor-
Direito objetivo tantes são traduzidas pelas expressões direito objetivo e Direito subjetivo.
Conjunto de regras vigentes O Direito objetivo designa o Direito enquanto regra de ação, isto é, o con-
que definem relações junto de regras vigentes num determinado momento para reger as relações
humanas. humanas, que são impostas, coativamente, à obediência de todos. Temos
Direito subjetivo como exemplo o Código Civil, o Código Penal ou a Lei do Inquilinato.

Ação facultativa que deriva da O Direito subjetivo, a seu turno, encerra o poder de ação derivado da nor-
norma que o indivíduo pode ma, isto é, a faculdade ou prerrogativa de o indivíduo invocar a lei em seu
usar a seu favor. interesse. Assim, ao direito subjetivo de uma pessoa corresponde sempre

DIREITO DO SEGURO 15
UNIDADE 1

o dever de outra, que, se não o cumprir, poderá ser compelida a observá-lo


através de medidas judiciais. Desta forma, se um inquilino não paga o alu-
guel, o proprietário tem o direito subjetivo de promover o despejo.

—— Direito Público e Privado


O Direito pode ser dividido em dois ramos básicos: Direito Público e Direito
Privado. Esta famosa classificação do Direito já era, de certa forma, conhe-
cida na antiga Roma.

O Direito público disciplina os interesses gerais da coletividade e se carac-


Importante teriza pela imperatividade de suas normas, que não podem nunca ser afas-
tadas por convenção dos particulares.
A Constituição Federal não
será objeto de deliberação Já o Direito Privado versa sobre as relações dos indivíduos entre si, tendo
a proposta de emenda na supletividade de seus preceitos a nota característica, isto é, vigora ape-
que tende a abolir a forma nas enquanto a vontade dos interessados não disponha de modo diferen-
federativa de Estado, o voto te que o previsto pelo legislador.
direto, secreto, universal Desta forma, ocorre que:
e periódico; a separação
dos poderes e os direitos e
Direito Público
garantias individuais.
Regula os interesses predominantes da sociedade, considerada
como um todo. Nas relações de Direito Público, o Estado participa
como sujeito ativo (titular do poder jurídico) ou como sujeito pas-
sivo (destinatário do dever jurídico), mas sempre como órgão da
sociedade e, portanto, sem perder a posição de supremacia ou
poder de império. Exemplos: cobrança de impostos, ação criminal,
matéria constitucional, entre outros.

Direito Privado
Regula as relações entre particulares. Nas relações jurídicas de Direi-
to Privado, o Estado pode participar como sujeito ativo ou passivo,
em regime de coordenação com os particulares, isto é, dispensando
sua supremacia ou poder de império. Exemplos: contrato de seguro,
locação de bens, cobrança de dívidas, casamento, entre outros.

—— Fontes do Direito
As fontes do Direito são a sua origem primária, o seu modo de expres-
são, a partir das quais os intérpretes do Direito e o Poder Judiciário, no
exercício de sua função julgadora, se socorre para buscar a solução dos
conflitos apresentados. A palavra “fonte” deriva do latim fons, fontis, que
significa “nascente”, designando tudo o que origina ou produz algo. A
expressão “fontes do Direito”, portanto, encerra uma metáfora para indi-
car a própria gênese do Direito, ou seja, os meios pelos quais se formam
as regras jurídicas.

DIREITO DO SEGURO 16
UNIDADE 1

As principais fontes do Direito são as seguintes:

Lei
É a norma jurídica escrita, comum e obrigatória, emanada pelo
Poder competente e provida de sanção (força coercitiva). A expres-
são “lei”, portanto, abrange toda e qualquer norma jurídica, este-
ja ela inserida na Constituição, em lei complementar, lei ordinária,
decreto ou regulamento, entre outros.

Costume
É a “norma jurídica que resulta de uma prática geral, constante
e prolongada, observada com a convicção de que é juridicamen-
te obrigatória”. Como as leis escritas não compreendem todo o
Direito, existem as normas costumeiras, também chamadas con-
Saiba mais suetudinárias, que obrigam, igualmente, ainda que não constem
de preceitos aprovados por órgãos competentes. Quando o caso
A Jurisprudência vem concreto não se enquadra em qualquer norma jurídica existente
ganhando importância como no ordenamento, essa omissão legislativa exige que o juiz dê a
fonte do Direito, principalmente sentença com base nos costumes.
a Jurisprudência sedimentada
nos tribunais superiores, Doutrina
relativa ao seguro, que será É o resultado do estudo de pensadores (juristas e filósofos) sobre
estudada mais à frente. o Direito, expresso em livros, pareceres e outros trabalhos. A dou-
trina desempenha o papel de guia para o julgador e de subsídio e
orientação para o legislador.

1 A única exceção é feita à Jurisprudência


chamada “Súmula Vinculante”, É o conjunto de reiteradas decisões dos tribunais sobre determi-
que versa exclusivamente sobre nada matéria. A interpretação e a aplicação das normas jurídicas
matéria constitucional e somente pelos tribunais repetidas vezes sobre um mesmo assunto tendem
pode ser emitida pelo Supremo a criar precedentes que poderão ser invocados pelas partes e apli-
Tribunal Federal, devendo,
cados pelos juízes a casos análogos. Pode haver decisões confli-
necessariamente, ser observada
pelos outros tribunais. Ressalte- tantes dentro do mesmo tribunal até que a questão seja pacifica-
se a Súmula Vinculante 32: “O da, o que em nada desnatura o valor das decisões proferidas pelo
ICMS não incide sobre alienação Poder Judiciário. O entendimento predominante sobre determina-
de salvados de sinistro pelas da matéria num tribunal pode ser pacificado por meio da chamada
seguradoras”. “súmula”, a qual, no entanto, não é imperativa.1

—— A Constituição Federal de 1988


O ordenamento jurídico brasileiro é composto por inúmeras normas jurídi-
cas, e a Constituição Federal de 1988 ocupa a mais alta posição hierárqui-
ca, sendo conhecida, inclusive, como lei fundamental ou magna.

DIREITO DO SEGURO 17
UNIDADE 1

A Constituição deve ser entendida como a lei fundamental e supre-


ma de um Estado, que contém normas referentes à estruturação
do Estado, à formação dos poderes políticos, forma de governo
e aquisição do poder de governar, distribuição de competências,
direito, garantias e deveres dos cidadãos. Além disso, é a Consti-
tuição que individualiza os órgãos competentes para a edição de
normas jurídicas, legislativas ou administrativas.
(SILVA, 1996, p. 246).

Uma vez que a Constituição Federal é a lei fundamental e suprema do Esta-


do brasileiro, é nela que está o fundamento de toda autoridade, e somente
ela confere poderes e competências governamentais. Além disso, as normas
que integram o ordenamento jurídico brasileiro somente serão válidas quan-
do o seu conteúdo estiver em conformidade com as normas constitucionais.

Desse modo, as normas, sejam elas leis, resoluções, circulares, portarias ou


qualquer outra espécie que, de alguma forma, contrariem a Constituição, são
chamadas inconstitucionais e, consequentemente, não possuem valor jurídico.

Por intermédio da chamada Emenda Constitucional, a Constituição Federal


pode ser objeto de alteração, com a finalidade de se adaptar às modifica-
ções da sociedade e do Estado.

A Emenda Constitucional é promulgada pela mesa da Câmara dos Deputa-


dos e do Senado Federal, sendo necessário, para tal, a aprovação por 3/5
dos membros de ambas as Casas Legislativas em duas sessões.

Assim, a própria Constituição proíbe expressamente que haja qualquer


tentativa de alterá-la em relação a essas matérias.

—— As Normas Infraconstitucionais
Importante Abaixo da Constituição Federal estão todas as outras normas jurídicas,
também chamadas de normas infraconstitucionais.

A iniciativa das leis complementares Podemos estabelecer a seguinte hierarquia entre as normas com base no
e ordinárias cabe a: art. 59 da Constituição Federal de 1988:
■■ Qualquer membro ou Comissão da

Câmara dos Deputados, do Senado Lei complementar


Federal ou do Congresso Nacional. Tem a finalidade de dispor sobre matérias que lhe são reservadas
pela Constituição Federal. Sua edição depende de quórum privi-
■■ Presidente da República.
legiado e maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional,
■■ Supremo Tribunal Federal. como ocorreu com a Lei Complementar nº 126/2007, que dispõe
■■
sobre as operações de cosseguro, as contratações de seguro no
Tribunais Superiores.
exterior, as operações em moeda estrangeira do setor securitário,
■■ Procurador-Geral da República. a política de resseguro, retrocessão e sua intermediação.
■■ Cidadãos (na forma e nos casos
previstos na Constituição).

DIREITO DO SEGURO 18
UNIDADE 1

Lei ordinária
Elaborada pelo Poder Legislativo em sua função típica de legislar.
Sua edição pode ocorrer por quórum simples, presente a maioria
absoluta dos membros do Congresso Nacional. Para ser elabora-
da, a lei ordinária passa pelas seguintes fases: iniciativa, aprova-
ção, sanção, promulgação e publicação, como a Lei nº 4.594/1964,
que regula a profissão de corretor de seguros.

Lei delegada
É aquela elaborada pelo Poder Executivo por delegação do Poder
Legislativo. Refletem, sem dúvida, a contemporânea tendência do
Direito Público quanto à admissibilidade de o Legislativo delegar
ao Presidente da República poderes para elaboração de leis em
casos expressos. As leis delegadas comparam-se às leis ordiná-
rias, pelas quais podem ser alteradas ou revogadas.

Saiba mais Medida provisória


É aquela emanada pelo Poder Executivo, com força de lei e vali-
A Medida Provisória nº 719/2016 dade por 60 dias, prorrogáveis uma única vez por igual período.
alterou a Lei nº 8.374/1991 Assim, a vigência máxima das medidas provisórias é de 120 dias.
referente ao Seguro Obrigatório Tais normas devem ser, nesse prazo, apreciadas pelo Poder Legis-
para Embarcação (DPEM). lativo, a fim de serem transformadas em lei ordinária ou revogadas.
A medida provisória não apreciada pelo Poder Legislativo em 120
dias perde sua eficácia por decurso de prazo.

Decreto e resolução
São normas que regulamentam disposições previstas em lei.
Ambos são redigidos por autoridades administrativas competen-
tes. Como exemplo temos as resoluções relativas ao seguro edita-
das pelo CNSP.

A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer mem-


bro ou Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do
Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal
Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos
cidadãos, na forma e nos casos previstos na Constituição.

É importante destacar que, antes da Constituição de 1988, havia a figura


do decreto-lei, que era o ato normativo emitido unicamente pelo chefe do
Poder Executivo, sem a necessidade de referendo do Congresso.

Com a atual Constituição, essa figura foi extinta. Contudo, aqueles decre-
tos-leis cujo conteúdo não contraria a atual Constituição Federal, como o
Decreto-Lei nº 73/1966, que cria o Sistema Nacional de Seguros Privados,
permanecem válidos e são tidos como recepcionados constitucionalmente.

DIREITO DO SEGURO 19
FIXANDO CONCEITOS

FIXANDO CONCEITOS 1

MARQUE A ALTERNATIVA CORRETA


1. É correto afirmar que o Direito que consiste em um conjunto ordenado e
sistemático de normas jurídicas obrigatórias que o Estado impõe à sociedade
fazendo uso de suas competências é denominado:

(a) Direito positivo ou escrito.


(b) Direito costumeiro ou consuetudinário.
(c) Direito público ou privado.
(d) Direito objetivo ou subjetivo.
(e) Direito natural ou ordinário.

2. O conjunto de repetidas decisões judiciais dos tribunais sobre certa


matéria, criando precedentes que podem ser aplicados a casos semelhan-
tes, denomina-se:

(a) Doutrina.
(b) Costume.
(c) Subjetiva.
(d) Lei.
(e) Jurisprudência.

3. A Constituição Federal somente pode ser alterada por meio de:

(a) Decreto.
(b) Lei ordinária.
(c) Emenda.
(d) Lei delegada.
(e) Medida provisória.

DIREITO DO SEGURO 20
FIXANDO CONCEITOS

4. É correto definir o Direito como sendo:

(a) A particularidade do que é justo e correto, como o respeito à igual-


dade de todos os cidadãos.
(b) Norma ou conjunto de normas que tem o objetivo de regularizar o
funcionamento de algo, de uma instituição, atividade, entre outras,
em um lugar e um tempo determinado.
(c) É o princípio básico de reconhecimento e preservação da cultura
nacional.
(d) Um conjunto legislativo advindo da Câmara dos Deputados Federais.
(e) Um conjunto de normas de procedimento, disciplinadoras da vida
em sociedade, de caráter obrigatório.

5. A norma legal infraconstitucional emanada pelo Poder Executivo, com


anotações: força de lei e validade por 60 dias, prorrogável uma única vez
por igual período, é o(a):

(a) Lei complementar.


(b) Constituição Federal.
(c) Medida provisória.
(d) Lei ordinária.
(e) Decreto.

6. O Direito é um(a):

(a) Ciência humana.


(b) Ciência social.
(c) Ciência exata.
(d) Conjunto de regras morais.
(e) Lei.

DIREITO DO SEGURO 21
O CONTRATO
02 de SEGURO
UNIDADE 2

Após ler esta unidade, você deverá ser capaz de: TÓPICOS
DESTA UNIDADE
■■ Definir o que é o contrato ■■ Distinguir as garantias
de seguro e identificar concedidas nos Seguros CONCEITO LEGAL DO
seus elementos. de Danos e de Pessoas. CONTRATO DE SEGURO
■■ Diferenciar as obrigações ■■ Descrever as partes do ELEMENTOS DO CONTRATO
do contratante e da contrato de seguro, seus DE SEGURO
contratada. instrumentos e suas
principais características. PARTES DO CONTRATO
DE SEGURO

OBRIGAÇÕES DAS PARTES

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS
DO CONTRATO DE SEGURO

INSTRUMENTOS CONTRATUAIS

FIXANDO CONCEITOS 2

DIREITO DO SEGURO 22
UNIDADE 2

CONCEITO LEGAL DO CONTRATO


DE SEGURO
Para entendermos o contrato de seguro, é importante começarmos pelo
art. 757 do Código Civil, que permite identificar os principais elementos
que o compõem:

“Art. 757. Pelo contrato de seguro o segurador se obriga, mediante


o pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo do segurado,
relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados.

Parágrafo único. Somente pode ser parte, no contrato de seguro,


como segurador, entidade para tal fim legalmente autorizada.”

Inicialmente, estudaremos os cinco elementos que compõem o contrato


de seguro para, em seguida, identificarmos as partes que integram o con-
trato e suas respectivas obrigações.

Posteriormente, serão abordadas as principais características desse con-


trato, bem como seus principais instrumentos.

ELEMENTOS DO CONTRATO
DE SEGURO
O contrato de seguro é constituído de cinco elementos: o risco, o interes-
se segurável, a garantia, o prêmio e a empresarialidade.

DIREITO DO SEGURO 23
UNIDADE 2

—— Risco
O risco é a causa do contrato de seguro, já que o proponente recorre
à seguradora com a finalidade de reduzir ou eliminar as consequências
negativas que possam ser experimentadas em razão de sua ocorrência.

O risco deve ser um evento possível, futuro, incerto ou de data incerta, e


que não depende somente da vontade das partes.

Nesse caso, a possibilidade significa que o risco deve ser algo sujeito a se
manifestar no plano físico.

O risco deve ser futuro, porque o seguro, via de regra, não admite a cober-
tura de eventos verificados antes da celebração do contrato.

O Código Civil que, se a seguradora, ao tempo do contrato, souber que


não há risco ao segurado a ser coberto e, apesar disso, chega a expedir a
apólice, pagará em dobro o prêmio estipulado (art. 773). Estabelece, ainda,
que não se inclui na garantia o sinistro provocado por vício intrínseco da
coisa segurada quando não declarado pelo segurado (art. 784).

Vale lembrar que a noção de risco está claramente vinculada à de interes-


se segurável ou segurado, já que é necessário que o proponente/segura-
do tenha interesse legítimo em minorar ou eliminar as perdas que possam
advir pela verificação do risco.

Assim, o contrato de seguro deve especificar claramente os riscos cober-


tos, indicando, para isso, as coberturas (garantias) contratadas. Também os
riscos excluídos (coberturas ou garantias) não contratados devem, igual-
mente, aparecer em destaque.

Dessa forma, a obrigação da seguradora somente abrange aqueles riscos


expressamente contratados, que devem ser limitados e particularizados
nas condições (cláusulas) do contrato de seguro, não se obrigando por
outros (arts. 757 e 760 do Código Civil).

Os riscos cobertos pelos contratos de seguros, em regra, nominam as


coberturas inerentes aos mais variados ramos e/ou modalidades de segu-
ros oferecidos no mercado, como incêndio, roubo, colisão, acidentes pes-
soais, morte, vendaval, inundação, alagamento etc.

Nos Seguros de Danos, o risco compreenderá todos os prejuízos resultan-


tes ou consequentes das providências adotadas pelo segurado para evitar
o sinistro, minorar o dano ou salvar a coisa (art. 779 do Código Civil).

—— Interesse Segurável
O interesse segurável é o objeto do contrato de seguro, pois é sobre ele
que recai a garantia.

DIREITO DO SEGURO 24
UNIDADE 2

Pela “teoria da necessidade”, é indispensável que aquele que propõe a


contratação do seguro tenha interesse concreto – o qual deve ser sempre
legítimo e, em alguns casos, também econômico – em prevenir os danos
ou perdas que possam afetar o bem sobre o qual recai o risco.

Nos Seguros de Pessoas, todavia, o Código Civil admite que o interesse


seja presumido em certos casos (art. 790, parágrafo único, do Código Civil).

O interesse não é uma coisa, mas, sim, a relação existente entre o segura-
do e a coisa ou pessoa sujeita ao risco.

Embora não coincida com a própria coisa a ser segurada, o interesse deve
corresponder a um bem que esteja exposto a risco, ou seja, que possa
desaparecer ou deteriorar-se (como é o caso de mercadorias transporta-
das), perder-se, extinguir-se ou sofrer limitações (a exemplo do que ocorre
com a vida e as faculdades humanas), ou, até mesmo, a um fato que pode
não se realizar (como ocorre nos Seguros de Crédito ou de Garantia de
Obrigações Contratuais).

—— Garantia
É o terceiro elemento do contrato e consiste na obrigação da seguradora com
relação à proteção do interesse legítimo do segurado: ela deve assegurá-la.

Portanto, ela se perfaz na promessa que a seguradora faz ao segurado de


que honrará o compromisso assumido, de acordo com as cláusulas cons-
tantes do contrato, em reparar algum prejuízo ou pagar um capital deter-
minado, ao cabo de um termo final. Dessa forma, o contrato de seguro
garante ao segurado a indenização em caso de sinistro coberto.

Vale lembrar que o limite dessa garantia deve estar previsto no contrato, na
forma do art. 760 do Código Civil. A prestação que corresponde à garantia
somente deve ser entregue se o segurado não estiver em mora (atraso) no
pagamento do prêmio quando ocorrer um sinistro coberto.

—— Prêmio
O prêmio é o quarto elemento do contrato de seguro e consiste na obriga-
ção daquele que contrata o seguro para fazer jus à garantia que pretende
obter da seguradora.

Para fixação do prêmio, além de serem considerados o risco, a importância


segurada e a duração do seguro, são utilizados, também, elementos esta-
tísticos e financeiros.

Ao aceitar a proposta de seguro, a seguradora leva em conta as informa-


ções prestadas pelo proponente para definir a taxa do prêmio, que consi-
dera, portanto, apenas os riscos e as coberturas que a seguradora preten-
de assumir.

DIREITO DO SEGURO 25
UNIDADE 2

A falta de seu pagamento nas condições legais e contratualmente estabe-


lecidas gera a perda do valor segurado, na forma do art. 763 do Código
Civil. Entretanto, a aplicação desse dispositivo deve ser feita com muito
cuidado, pois há situações excepcionais em que o inadimplemento do prê-
mio não acarretará a perda do direito à indenização ou capital segurado.

—— Empresarialidade
A empresarialidade é o quinto elemento do contrato. Significa que a segu-
radora deve ser, necessariamente, uma entidade legalmente autorizada a
exercer a atividade seguradora, ou seja, deve ser uma pessoa jurídica (art.
757, parágrafo único, do Código Civil).

O art. 24 do Decreto-Lei nº 73/1966 já se referia a esse elemento ao colo-


cá-lo como condição para o exercício da atividade securitária no país, pre-
vendo que somente podem operar em Seguros Privados as sociedades
anônimas e, em casos excepcionais, como Seguro-Saúde e acidente do
trabalho.

O mesmo decreto-lei aponta as sociedades seguradoras como integran-


tes do Sistema de Seguros Privados, disciplinando a forma da autorização
para o seu funcionamento, estabelecendo critérios para suas operações e
fixando o regime de sua fiscalização e liquidação.

PARTES DO CONTRATO
DE SEGURO

—— Proponente
É o titular do interesse legítimo segurável, relativo a pessoa ou coisa. Deve
ser plenamente capaz de exercer os atos da vida civil para que possa assinar
a proposta de seguro, sob pena de nulidade ou anulabilidade. O proponente
pode acumular a condição de segurado, de beneficiário e de estipulante.

—— Segurado
É a pessoa física ou jurídica sobre quem recai o risco. Pode, ou não, ser o
proponente do seguro. Pode, também, acumular a condição de estipulante
ou de beneficiário.

DIREITO DO SEGURO 26
UNIDADE 2

—— Seguradora
É a empresa legalmente constituída sob a forma de sociedade anônima
que concede a garantia.

—— Beneficiário
É aquele em favor de quem se institui a garantia. Pode ser pessoa física
ou jurídica.

—— Estipulante
É a pessoa física ou jurídica que contrata seguro por conta de terceiros,
equiparando-se, por isso, ao segurado para efeito de celebração e de
manutenção do contrato. Pode, eventualmente, acumular a condição de
beneficiário. O estipulante representa os interesses do grupo segurado
perante à seguradora.

Saiba mais
De acordo com o art. 2ª da Resolução CNSP nº 107/2004, é expressamente vedada
a atuação, como estipulante ou subestipulante, de corretoras de seguros, bem como
seus respectivos sócios, dirigentes, administradores, empregados, prepostos ou repre-
sentantes, corretores autônomos, sociedades seguradoras, A vedação não se aplica
quando a estipulação, por tais pessoas, for feita na condição de empregadores em
favor de seus empregados.

OBRIGAÇÕES DAS PARTES


A obrigação assumida por aquele que contrata o seguro é a de pagar o
prêmio, e a obrigação assumida pela seguradora é a de conceder a garan-
tia. Estudaremos essas obrigações, detalhadamente, a seguir.

—— Pagamento do Prêmio
A obrigação de pagar o prêmio é assumida por aquele que contrata o
seguro, ou seja, o proponente.

DIREITO DO SEGURO 27
UNIDADE 2

Normalmente, essa obrigação incumbe ao segurado, já que, via de regra, o


seguro é contratado pela própria pessoa sobre a qual recai o risco de que
ela pretende se proteger por meio do seguro.

No entanto, há casos em que uma pessoa pode deter interesse legítimo


em contratar seguro para proteção contra um risco que recai sobre outra
pessoa ou sobre o patrimônio. Nesse caso, a obrigação de pagar o prêmio
é da pessoa que propôs a contratação do seguro e que pode, eventual-
mente, acumular a condição de beneficiária.

Já nos seguros estipulados por uma pessoa física ou jurídica, a obrigação de


repassar o prêmio à seguradora é do estipulante, que representa o grupo segu-
rado na forma do § 1º do art. 801 do Código Civil.

O Código Civil trata da obrigação de pagamento do prêmio no art. 763:

“Art. 763. Não terá direito a indenização o segurado que estiver


em mora no pagamento do prêmio, se ocorrer o sinistro antes
de sua purgação.”

Assim, em princípio, na hipótese de o sinistro ocorrer em uma data na qual


o pagamento do prêmio não esteja em dia, segurado ou beneficiário não
terão direito à indenização ou capital.

Contudo, a interpretação e a aplicação desse artigo, conforme jurispru-


dência dominante no Judiciário brasileiro, serão objeto, neste manual, de
seção específica: “Mora do Segurado”.

É importante esclarecer que o fato de o risco não se verificar no curso da


vigência da garantia não afasta a obrigação de pagamento do prêmio,
exceto quando o contrário tenha sido ajustado entre as partes ou esteja
previsto em lei especial. É o que estabelece o art. 764 do Código Civil:

“Art. 764. Salvo disposição especial, o fato de se não ter verifi-


cado o risco, em previsão do qual se faz o seguro, não exime o
segurado de pagar o prêmio.”

Tal dispositivo legal protege o segurador em função da própria natureza


do negócio, tendo por resultado final a proteção do grupo segurado. Pelo
princípio do mutualismo, mesmo que o risco não se verifique em razão do
segurado, o prêmio servirá para indenizar outros segurados integrantes
do grupo.

O art. 758 do Código Civil prevê que o comprovante de pagamento do


prêmio, na falta da apólice ou do bilhete, serve para provar a existência do
contrato de seguro:

“Art. 758. O contrato de seguro prova-se com a exibição da apólice


ou do bilhete do seguro, e, na falta deles, por documento compro-
batório do pagamento do respectivo prêmio.”

DIREITO DO SEGURO 28
UNIDADE 2

Com este artigo, a lei aumenta a possibilidade do consumidor de provar a


existência do contrato de seguro utilizando, além da apólice ou do bilhete,
qualquer documento que comprove o pagamento do prêmio.

Na realidade, a lei cria apenas uma presunção relativa de existência do


contrato de seguro, que pode ser afastada por prova em contrário. Nesse
sentido, a interpretação do artigo mencionado deve ser feita em conjunto
com a Circular SUSEP nº 251/2004.

O art. 8º dessa circular prevê que os contratos de seguro terão início de


vigência a partir da recepção da proposta pela seguradora somente quando
as propostas tenham sido recepcionadas com adiantamento de valor pelo
proponente, com a exceção de algumas hipóteses citadas na mesma circular.

Nada impede, no entanto, que a seguradora prove que recusou a proposta,


dentro dos prazos estabelecidos no art. 2º da Circular SUSEP nº 251/2004,
comprovando que restituiu ao proponente, na forma do § 3º do art. 8º, o
valor do prêmio que havia sido pago e de que o sinistro ocorreu depois
Fique por dentro disso.

A presunção de existência do Em se tratando de Seguros de Danos, a seguradora deverá comprovar


contrato de seguro que decorre também, que o sinistro ocorreu depois do prazo mencionado no §2º do art.
da exibição do comprovante do 8º da Circular SUSEP nº 251/2004. Com isso, fica afastada a presunção de
pagamento do prêmio pode ser existência do contrato de seguro que decorre do comprovante do paga-
afastada, ainda, no caso de a mento do prêmio.
seguradora provar que o prêmio
foi pago por meio de cheque não
compensado.
——Concessão da Garantia
A obrigação que a seguradora assume no contrato de seguro consiste em
conceder uma garantia em prazo e condições que serão estabelecidos
pelas partes. Todavia, o Código Civil traz algumas disposições específicas
sobre o tema.

Garantia nos Seguros de Danos


Nos Seguros de Danos, a prestação que vai representar a concessão da
garantia pela seguradora pode se caracterizar pelo pagamento de uma
indenização ou pela reposição da coisa, se prevista no contrato:

“Art. 776. O segurador é obrigado a pagar em dinheiro o prejuízo


resultante do risco assumido, salvo se convencionada a reposição
da coisa.”

A prestação devida pela seguradora, na ocorrência de sinistro coberto,


consiste, a rigor, no pagamento de determinado valor.

Excepcionalmente, o Código Civil autoriza a reposição da coisa segurada,


possível apenas nos Seguros de Danos, desde que prevista em cláusula
contratual, devendo contar com a concordância do segurado no momento
da regulação.

DIREITO DO SEGURO 29
UNIDADE 2

Quando previsto em cláusula em contratos de seguro por adesão, a repo-


sição da coisa deve também contar com a concordância do segurado no
momento da regulação.

Além disso, o valor da garantia concedida pela seguradora também não


pode ultrapassar o valor do interesse segurado no momento da celebra-
ção do contrato (“conclusão do contrato”), sob pena da perda do direito ao
valor do seguro pelo segurado. É o que prevê o art. 778 do Código Civil,
que veda o chamado Sobresseguro:

“Art. 778. Nos seguros de dano, a garantia prometida não pode


ultrapassar o valor do interesse segurado no momento da conclu-
são do contrato, sob pena do disposto no art. 766, e sem prejuízo
da ação penal que no caso couber.”

Tal fato vem corroborar a máxima de que o objetivo do seguro não é o de


enriquecer o segurado, mas, sim, assegurar a reposição do interesse segu-
rável ou uma compensação por sua avaria ou perda.

Essas vedações decorrem do chamado princípio indenitário, típico dos


Seguros de Danos, que consiste na noção de que o segurado deve rece-
ber da seguradora indenização que permita a recomposição do estado
anterior (status quo ante) do seu patrimônio. Portanto, o segurado não
deve receber indenização superior ao seu efetivo prejuízo.

Existe uma exigência de caráter técnico que justifica tal medida. Trata-se
do princípio do mutualismo, viabilizado através da aplicação da lei dos
grandes números, determinando que cada componente do grupo efetue
um pequeno pagamento. Tal contribuição é somada a centenas ou milha-
res de outras, objetivando a satisfação de prejuízos comuns a qualquer
grupo. Portanto, não é possível o pagamento que exceda o valor dos pre-
juízos ocorridos.

A contratação do seguro por um percentual estimado do valor do interesse


segurável é admitida excepcionalmente, permitindo um ajuste do valor da
garantia para mais ou para menos. Nos Seguros de Automóveis, o valor da
garantia pode ser fixado com base num percentual sobre o valor do bem
calculado por uma determinada instituição. Um bom exemplo disso são os
Seguros de Automóveis cuja garantia pode ser fixada entre 90% e 110% da
tabela divulgada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE).

De acordo com o art. 779 do Código Civil, a garantia deve, necessaria-


mente, abranger os prejuízos que o segurado sofrer para evitar o sinistro,
minorar o dano ou salvar a coisa:

“Art. 779. O risco do seguro compreenderá todos os prejuízos


resultantes ou consequentes, como sejam os estragos ocasiona-
dos para evitar o sinistro, minorar o dano, ou salvar a coisa.”

DIREITO DO SEGURO 30
UNIDADE 2

Este artigo traça norma de natureza técnica, determinando a abrangência


da cobertura. Assim, a cobertura alcançará também os prejuízos oriundos
das despesas no sentido de se evitar o sinistro, quando possível, ou redu-
zir a extensão do dano, já que o objetivo foi salvar a coisa, sendo que os
lucros cessantes e danos emergentes não estão abrangidos no dispositivo.

Finalmente, nos Seguros de Responsabilidade Civil, a garantia deve abran-


ger as perdas e danos que o segurado causou a terceiro na forma do art.
787 do Código Civil, conforme será estudado oportunamente.

Garantia nos Seguros de Pessoas


Nos Seguros de Pessoas, a prestação que representará o cumprimento da
obrigação da seguradora corresponderá a um capital, fixado no contrato,
cujo caráter não é indenizatório, mas meramente compensatório, já que a
vida e as faculdades humanas são inapreciáveis economicamente.

Diferentemente do que ocorre nos Seguros de Danos, o proponente, nos


Seguros de Pessoas, tem a liberdade de fixar o valor da garantia e de
contratar mais de um seguro sobre o mesmo interesse, com a mesma ou
com mais de uma seguradora (art. 789 do Código Civil). Dessa forma, nada
impede que o corretor venha a intermediar Seguro de Vida para um segu-
rado que já o possui em outras seguradoras. Todavia, o exercício desses
direitos deve observar a boa-fé.

Nos Seguros de Pessoas, o capital segurado que representa a garantia não


pode ser consumido pelas dívidas do beneficiário nem integrar o inventá-
rio do segurado falecido, por não constituir herança, conforme estabelece
o art. 794 do Código Civil:

“Art. 794. No Seguro de Vida ou de Acidentes Pessoais para o caso


de morte, o capital estipulado não está sujeito às dívidas do segu-
rado, nem se considera herança para todos os efeitos de direito.”

Este artigo expressa a finalidade do seguro, sua importância e os valores a


ele relativos, determinando, ainda, que o capital segurado não responderá
por dívidas, não sendo considerado herança.

Nos termos da legislação, os beneficiários de um Seguro de Vida recebe-


rão o valor integral da indenização, que não poderá ser utilizado para paga-
mento de dívidas da pessoa falecida. Assim, fica caracterizada a finalidade
social do contrato de seguro, pois será o único valor, decorrente da morte
do segurado, que o beneficiário receberá livre de qualquer desconto.

DIREITO DO SEGURO 31
UNIDADE 2

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO
CONTRATO DE SEGURO
No Direito Civil brasileiro, os contratos se classificam em: unilaterais ou
bilaterais; onerosos ou gratuitos; comutativos ou aleatórios; nominados ou
inominados; consensuais ou reais; solenes ou não solenes; e de adesão.

A classificação dos contratos é importante para indicar suas características


e como são compostos. Desse modo, os profissionais do seguro poderão
avaliar os efeitos jurídicos dos contratos.

Os contratos se classificam em função da formação das obrigações que os


originam, das vantagens que podem trazer para as partes, da realidade da
contraprestação, dos requisitos exigidos para a sua formação, do papel que
tomam na relação jurídica, do modo de execução, do interesse que tem a
pessoa com quem se contrata e da sua regulamentação, legal ou não.

O contrato de seguro é classificado, por sua natureza jurídica, em:

—— Bilateral
O contrato de seguro é bilateral porque gera obrigações para ambas as
partes. A obrigação da seguradora é de garantia e a do proponente é de
pagamento do prêmio. O não cumprimento (inadimplemento) da obrigação
por uma das partes, ao menos como regra, impede que a mesma exija da
outra o cumprimento da obrigação que lhe compete, ressalvada a jurispru-
dência sobre a mora do segurado, que estudaremos a seguir.

—— Oneroso
O contrato de seguro é oneroso porque ambas as partes almejam um
benefício. O proponente busca uma garantia, que se traduz na proteção
de um interesse legítimo contra determinados riscos. A seguradora almeja
o recebimento do prêmio com o qual formará o fundo comum destinado a
saldar a prestação correspondente à garantia.

—— Aleatório ou Comutativo
O contrato de seguro é considerado aleatório para uns e comutativo para outros.

Para os que defendem que o contrato de seguro é aleatório, tal defesa se


baseia no argumento de não existir correspondência entre as prestações
das partes, relacionadas às obrigações que assumiram.

DIREITO DO SEGURO 32
UNIDADE 2

Quando da celebração do contrato, enquanto a seguradora tem a certeza


de que receberá o prêmio do segurado, este último (ou o beneficiário por
ele designado) não tem a certeza de que receberá a indenização ou capital
segurado, pois tal prestação (que materializa a obrigação da seguradora)
só se verificará na hipótese de ocorrer um sinistro coberto.

Contudo, há quem defenda que o contrato de seguro seria contrato comu-


tativo, visto que, conforme já apresentado na definição do art. 757 do Códi-
go Civil, a seguradora se obriga a cobrir riscos predeterminados, ou seja,
já saberia, de antemão, exatamente o tamanho da contraprestação a que
estaria sujeita nessa relação contratual.

—— Solene
O contrato de seguro é solene porque o consentimento das partes deve
ser dado na forma prescrita pela lei.

Em geral, esse consentimento é manifestado de forma escrita: o propo-


nente apresenta proposta em formulário impresso, preenchido e assinado,
e a seguradora manifesta sua aceitação mediante a emissão do bilhete,
certificado ou apólice.

O consentimento da seguradora no sentido de aceitar a proposta poderá, igual-


mente, prescindir da forma escrita. Isso ocorrerá quando a seguradora deixar
decorrer, sem manifestação formal, o prazo estabelecido nas normas regula-
mentares, atualmente de 15 (quinze) dias, para aceitar ou recusar a proposta. O
decurso desse prazo sem manifestação da seguradora acarretará a aceitação.

—— Consensual
O contrato de seguro é consensual porque a manifestação de vontade de
ambas as partes, no mesmo sentido, faz surgir o contrato. Contratos con-
sensuais são os que se formam com a simples anuência das partes, não se
exigindo nenhuma outra formalidade.

Assim, a apresentação da proposta pelo próprio segurado (ou um terceiro),


somada à aceitação dela pela seguradora, configura o vínculo contratual.

—— Nominado
O contrato de seguro é nominado (ou típico) porque se trata de espécie de
contrato regulamentada pela legislação (Código Civil, Código de Defesa
do Consumidor, Resoluções do CNSP e Portarias da SUSEP).

DIREITO DO SEGURO 33
UNIDADE 2

—— Adesão
O contrato de seguro é contrato de adesão, pois a seguradora, na maioria
dos casos, redige unilateralmente as cláusulas e as submete à aprovação
do órgão regulador competente, restando ao proponente aderir ao seu
conteúdo sem possibilidade de propor mudanças no clausulado.

A exceção ocorre nos seguros de grandes riscos, nos quais as partes,


em razão da complexidade do risco e do envolvimento econômico do
interesse segurável, discutem e ajustam conjunta e previamente as cláu-
sulas contratuais.

INSTRUMENTOS CONTRATUAIS
A partir de agora, vamos estudar os cinco instrumentos contratuais do con-
trato de seguro: proposta, apólice, endosso ou aditivo, averbação e bilhete.

—— Proposta
É o instrumento pelo qual o proponente manifesta, perante a seguradora, a
sua vontade de contratar o seguro. Nesse documento, o proponente deve
descrever o mais detalhadamente possível o interesse segurável e os ris-
cos a que está sujeito, conforme estabelece o art. 759 do Código Civil:

“Art. 759. A emissão da apólice deverá ser precedida de proposta


escrita com a declaração dos elementos essenciais do interesse a
ser garantido e do risco.”

As informações constantes da proposta, sejam aquelas previamente


impressas no formulário pela seguradora, sejam aquelas prestadas pelo
proponente, integram o contrato de seguro.

A proposta é um instrumento poderoso para a adequada seleção de risco


pelo segurador, pois pode ser acompanhada de questionário de avaliação
de risco. Nos Seguros de Automóveis, por exemplo, o questionário de
avaliação de risco é conhecido como “perfil”. Nos Seguros de Pessoas, o
questionário de avaliação de risco é chamado de “declaração de saúde
e atividade”.

DIREITO DO SEGURO 34
UNIDADE 2

A proposta não precisa, necessariamente, ser assinada pelo proponen-


te. Pode ser assinada pelo corretor de seguros ou pelo representante
A Lei nº 4.594/1964 regula a
legal do proponente, conforme o art. 13 da Lei nº 4.594/1964, o art. 9º do
profissão de corretor de seguros.
­Decreto-Lei nº 73/1966 e o art. 1º da Circular SUSEP nº 251/2004. Veja os
Todo profissional que atue em
corretagem de seguros deve artigos descritos a seguir:
conhecer essa lei.
www.planalto.gov.br
Lei nº 4.594/1964:
“Art. 13. Só ao corretor de seguros devidamente habilitado nos ter-
mos desta lei e que houver assinado a proposta deverão ser pagas
as corretagens admitidas para cada modalidade de seguro, pelas
respectivas tarifas, inclusive em caso de ajustamento de prêmios.”

Decreto-Lei nº 73/1966:
“Art. 9º. Os seguros serão contratados mediante propostas assi-
nadas pelo segurado, seu representante legal ou por corretor
habilitado, com emissão das respectivas apólices, ressalvado o
disposto no artigo seguinte.”
Circular SUSEP nº 251/2004:
Vale a pena Art. 1°. A celebração ou alteração do contrato de seguro somente
ler na íntegra poderá ser feita mediante proposta assinada pelo proponente, seu
representante legal ou por corretor de seguros habilitado, exceto
Circular SUSEP nº 251/2004 – quando a contratação se der por meio de bilhete.
dispõe sobre a aceitação
Já o questionário de avaliação de riscos deve, necessariamente, ser preen-
da proposta e sobre o início
chido e assinado pelo segurado, única pessoa capaz de prestar de for-
de vigência da cobertura nos
ma verdadeira e completa as informações solicitadas pela seguradora por
contratos de seguros
meio desse documento.
e dá outras providências.
www.susep.gov.br As declarações inexatas, se resultarem de má-fé do proponente, do cor-
retor ou de seu representante legal, podem implicar a perda do direito
ao valor do seguro, conforme o art. 766 do Código Civil, dispositivo que
estudaremos mais adiante.

A seguradora dispõe de um prazo específico para se manifestar sobre a


proposta. O art. 2º da Circular SUSEP nº 251/2004 aborda tal prazo, que é
de 15 dias contados a partir da data do recebimento da proposta, seja para
seguros novos ou renovações, bem como para alterações que impliquem
modificação do risco. O § 5º daquele artigo reduz o prazo para sete dias
quando se tratar de contrato de Seguro do Ramo Transportes, cuja cober-
tura se restrinja a uma viagem apenas.

O prazo para a seguradora se manifestar sobre a proposta admite suspen-


são na forma dos parágrafos 1º a 3º do mencionado artigo.

De acordo com o § 4º, ficará a critério da seguradora a decisão de informar,


ou não, por escrito, ao proponente, ao seu representante legal ou ao corre-
tor de seguros sobre a aceitação da proposta. Contudo, em se tratado de
recusa, deve haver comunicação formal e justificada.

DIREITO DO SEGURO 35
UNIDADE 2

Decorrido o prazo para manifestação sem que a seguradora se manifeste,


tal silêncio implicará a aceitação tácita, conforme se infere do § 6º do refe-
rido artigo, bem como do art. 432 do Código Civil.

Com base nessas premissas, o art. 4º da mesma circular define a data em


que a proposta é considerada aceita:

Art. 4º. A data de aceitação da proposta será:

I – aquela em que a sociedade seguradora se manifestar expres-


samente, observados os prazos previstos no art. 2º desta Circular;

II – a de término dos prazos previstos no art. 2º desta Circular, em


caso de ausência de manifestação formal, por parte da sociedade
seguradora.

Os Seguros de Danos e os Seguros de Pessoas com cobertura de risco


submetem-se a essa sistemática, uma vez que as Circulares SUSEP
nº 256/2004 e 302/2005 não tratam do tema.

É importante mencionar que os seguros contratados por meio de bilhete


dispensam a proposta escrita, como, por exemplo, o Seguro DPVAT.

O contrato é um negócio jurídico e requer, para sua validade, a observância


dos requisitos do art. 104 do Código Civil: agente capaz; objeto lícito, possí-
vel, determinado ou determinável; e forma prescrita ou não defesa em lei.
Importante
Além disso, sendo o contrato um negócio jurídico bilateral, a vontade das
A capacidade de fato é a aptidão partes é, também, um requisito para sua validade. Para que a manifestação
da pessoa para exercer seus de vontade das partes seja válida, é indispensável que elas tenham capa-
direitos na vida civil por si mesma, cidade de fato.
sem necessidade de assistência ou
Uma vez que o exercício dos direitos (capacidade de fato) pressupõe que a
de representação por um terceiro.
pessoa tenha consciência e vontade para tanto, a lei exige que o exercício
dos direitos por determinadas pessoas se verifique com a observância de
certas formalidades.

Dispõe o art. 5º do Código Civil Brasileiro:

“Art. 5º. A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando


a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil.”

Desta forma, as pessoas que firmarem a proposta, bem como os corretores


de seguro, para exercerem suas atividades, deverão ser pessoas maiores
e capazes.

Deve-se reforçar que o parágrafo único do art. 5º do Código Civil estabe-


lece hipóteses excepcionais em que o menor de 18 anos pode se tornar
plenamente capaz ao exercício dos atos da vida civil, quais sejam:

DIREITO DO SEGURO 36
UNIDADE 2

I – pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro,


mediante instrumento público, independentemente de homologa-
ção judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver
dezesseis anos completos;

II – pelo casamento;

III – pelo exercício de emprego público efetivo;

IV – pela colação de grau em curso de ensino superior;

V – pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de


relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com
dezesseis anos completos tenha economia própria.

Quando se trata de pessoas jurídicas, às pessoas jurídicas, a proposta de


seguro deve ser assinada por quem tenha poderes para administrá-la (art.
47 do Código Civil).

Considerando que a contratação por pessoa jurídica de Direito Público dis-


pensa a intermediação de corretor, interessa, para efeito deste estudo, a
pessoa jurídica de Direito Privado.

Dispõe o art. 44 do Código Civil Brasileiro, que são pes-


soas jurídicas de direito privado:

■■ as associações;
■■ as sociedades;
■■ as fundações;
■■ as organizações religiosas;
■■ os partidos políticos;
■■ as empresas individuais de responsabilidade limitada.

Os atos constitutivos da pessoa jurídica de Direito Privado (contrato ou


estatuto social) indicam quem são os seus administradores, estabelecendo
os limites dos poderes que lhes são outorgados.

—— Apólice
A apólice, a exemplo do bilhete, é emitida pela seguradora para formalizar
a aceitação da proposta e, consequentemente, a contratação do seguro.

Por isso é que o art. 758 do Código Civil prevê que a apólice é um dos
meios de provar a existência do contrato de seguro:

DIREITO DO SEGURO 37
UNIDADE 2

“Art. 758. O contrato de seguro prova-se com a exibição da apóli-


ce ou do bilhete do seguro, e, na falta deles, por documento com-
probatório do pagamento do respectivo prêmio.”

A existência da apólice de seguro, portanto, presume a existência do contra-


to de seguro e, por conseguinte, de garantia na vigência nela especificada.

Contudo, essa presunção é relativa e pode ser afastada, por exemplo, no


caso de a seguradora provar que o contrato de seguro foi cancelado antes
do prazo previsto para término de sua vigência por determinado motivo.

O art. 760 do Código Civil estabelece que a apólice deve ser nominativa,
à ordem ou ao portador:

Art. 760. A apólice ou o bilhete de seguro serão nominativos, à


ordem ou ao portador, e mencionarão os riscos assumidos, o início
e o fim de sua validade, o limite da garantia e o prêmio devido, e,
quando for o caso, o nome do segurado e o do beneficiário.

Parágrafo único. No Seguro de Pessoas, a apólice ou o bilhete


não podem ser ao portador.”

A apólice nominativa é aquela que contém o nome do segurado e, quan-


do for o caso, do beneficiário por ele indicado.

A apólice à ordem contém o nome do segurado, e a cláusula à ordem


permite que ela seja transferida pelo segurado a terceiro, mas somente pelo
chamado endosso em preto, que é aquele datado e feito com assinatura do
endossante e do endossatário (conforme o § 2º do art. 785 do Código Civil).

A apólice ao portador é aquela que confere os direitos por ela garantidos


a quem a portar, ou seja, a possuir.

A emissão de uma apólice à ordem ou ao portador deve ser objeto de


acordo entre o proponente e a seguradora. Nesse caso, a sua transmissão
implica a transferência do crédito decorrente da garantia.

É importante observar que o artigo mencionado veda a emissão de apóli-


ces ou bilhetes ao portador nos Seguros de Pessoas.

O mesmo dispositivo prevê que a apólice deve conter informações essenciais:


riscos assumidos; o início e o fim de sua validade; o limite da garantia e o prê-
mio devido; e, quando for o caso, o nome do segurado e o do beneficiário.

O art. 761 do Código Civil deixa claro que, quando houver cosseguro, a
apólice deverá conter as informações sobre ele e informar o nome da
seguradora que administrará o contrato:

DIREITO DO SEGURO 38
UNIDADE 2

Art. 761. Quando o risco for assumido em cosseguro, a apólice


Isto é básico indicará o segurador que administrará o contrato e representará os
demais, para todos os seus efeitos.
Verifica-se o Cosseguro quando
duas ou mais sociedades O cosseguro é uma forma utilizada pelo segurador para a pulverização do
seguradoras, em determinada risco que lhe foi transmitido pelo segurado. Sob a ótica do segurado, ele
apólice e com a anuência estará contratando com várias seguradoras ao mesmo tempo, ficando con-
do segurado, distribuem figurada a divisão de responsabilidades entre várias companhias.
percentualmente o risco entre
A apólice também deve estar acompanhada das suas condições, ou seja,
si. Cada seguradora responderá
das cláusulas que regem o contrato de seguro.
por sua cota-parte no pagamento
da indenização securitária na As condições de apólice se dividem em condições gerais, que se refe-
proporção do risco que assumiu. rem aos ramos de seguro; condições especiais, que se referem às moda-
lidades do ramo; e condições particulares, que dispõem sobre ajustes
específicos feitos entre segurado e seguradora. As condições particulares
estão presentes, via de regra, nos seguros de médios e grandes riscos.

Assim, as cláusulas das condições particulares prevalecem sobre as das


condições especiais. As cláusulas das condições especiais, por sua vez,
prevalecem sobre as cláusulas das condições gerais.

As condições de apólice não devem contrariar as normas legais nem as


regulamentares e precisam ser previamente aprovadas pelo órgão regula-
dor competente.

—— Endosso ou Aditivo
São instrumentos contratuais utilizados em função da necessidade de se
modificarem dispositivos contratuais, de se acrescentarem dispositivos
novos ou de se incluírem bens na cobertura.

O endosso ou aditivo é utilizado para formalizar modificações, correções


ou acréscimos na apólice.
Exemplos: substituição de um veículo segurado, aumento da importância
segurada, alteração de um dado pessoal do segurado.

—— Averbação
A averbação é o instrumento típico das apólices denominadas abertas ou
de averbação e é usada para individualizar detalhes variáveis sobre o risco.

Nos seguros de transportes, por exemplo, por meio da apólice aberta, o


segurado faz as averbações dos embarques realizados, agilizando, deste
modo, a contratação do seguro.

Pode ser provisória ou definitiva.

DIREITO DO SEGURO 39
UNIDADE 2

—— Bilhete
O bilhete, a exemplo da apólice, é emitido pela seguradora para formalizar
a contratação do seguro. A principal diferença é que os seguros contra-
tados por bilhete dispensam a apresentação de proposta, bem como a
emissão de apólice. O já citado art. 758 do Código Civil prevê que o bilhete
é um dos meios de provar a existência do contrato de seguro.

O art. 10 do Decreto-Lei nº 73/1966 autoriza a contratação de seguros por


simples emissão de bilhete mediante solicitação do interessado. Contudo,
cabe ao Conselho Nacional de Seguros Privados, órgão encarregado de
estabelecer a Política Nacional de Seguros Privados, regulamentar as hipó-
teses em que se admite a contratação de seguro por bilhete, padronizando
as suas cláusulas e os impressos necessários:

“Art. 10. É autorizada a contratação de seguros por simples emissão


de bilhete de seguro, mediante solicitação verbal do interessado.

§ 1º O CNSP regulamentará os casos previstos neste artigo, padroni-


zando as cláusulas e os impressos necessários.”

Exemplos de seguros contratados por bilhete são: Danos Pessoais causa-


dos por Veículos Automotores Terrestres (DPVAT), Acidente Pessoal Indivi-
dual e Incêndio Residencial.

DIREITO DO SEGURO 40
FIXANDO CONCEITOS

FIXANDO CONCEITOS 2
Marque a alternativa correta
1. A pessoa física ou jurídica que contrata um seguro por conta de terceiros
é o(a):

(a) Beneficiário. (b) Estipulante. (c) Ressegurador.


(d) Seguradora. (e) Segurado.

2. Analise se as proposições são verdadeiras ou falsas e depois marque a


alternativa correta:

( ) Nos Seguros de Danos, a garantia pode, excepcionalmente, consistir


na reposição da coisa segurada.
( ) Nos Seguros de Danos, vigora a regra de que o valor da garan-
tia concedida pode ultrapassar o valor do interesse segurado no
momento da contratação.
( ) Nos Seguros de Pessoas, a garantia tem natureza indenizatória.
( ) Nos Seguros de Pessoas, o capital segurado constitui herança.

(a) V, F, V, F. (b) V, F, F, F. (c) F, V, F, V.


(d) F, V, V, F. (e) F, V, V, V.

Marque a alternativa correta


3. O instrumento no qual devem ser descritos para a seguradora o interes-
se segurável e o risco é o(a):

(a) Proposta. (b) Apólice. (c) Endosso.


(d) Averbação. (e) Bilhete.

4. A pessoa sobre a qual recai o risco segurável é o(a):

(a) Seguradora. (b) Estipulante. (c) Segurado.


(d) Beneficiário. (e) Ressegurador.

DIREITO DO SEGURO 41
FIXANDO CONCEITOS

5. Pelo princípio indenitário, que vigora nos Seguros de Danos, é correto


afirmar que:

(a) É lícito ao segurado auferir lucro com o seguro.


(b) O seguro serve como uma espécie de investimento.
(c) A indenização visa à recomposição do estado anterior do patrimônio
do segurado.
(d) O segurado pode receber indenização superior ao prejuízo sofrido.
(e) O segurado deve contratar garantia que supere o valor do interesse
segurável.

6. Sendo o contrato um negócio jurídico bilateral, a vontade das partes


é, também, um requisito para sua validade. Para que a manifestação de
vontade das partes seja válida, é correto afirmar ser indispensável que elas
tenham:

(a) Responsabilidade.
(b) Habilitação.
(c) Qualificação.
(d) Instrução.
(e) Capacidade de fato.

DIREITO DO SEGURO 42
O SEGURO
03
e o CÓDIGO CIVIL
UNIDADE 3

Após ler esta unidade, você deverá ser capaz de: TÓPICOS
DESTA UNIDADE
■■ Reconhecer os principais ■■ Aplicar a transferência de
dispositivos do Código Civil contrato para terceiros e o CONSIDERAÇÕES INICIAIS
aplicáveis aos Seguros de rateio proporcional.
Danos e de pessoas. DISPOSIÇÕES COMUNS AOS
■■ Exemplificar a contratação SEGUROS DE DANOS E DE
■■ Entender que a seguradora de mais de um seguro PESSOAS
responde apenas pelos para o mesmo interesse
riscos predeterminados no segurável. DISPOSIÇÕES RELATIVAS
contrato de seguro. AOS SEGUROS DE DANOS
■■ Descrever a sub-rogação
■■ Estabelecer a importância e identificar quando ela DISPOSIÇÕES RELATIVAS
da boa-fé para o contrato ocorre. AOS SEGUROS DE PESSOAS
de seguro. ■■ Diferenciar o Seguro de PRESCRIÇÃO
■■ Reconhecer os efeitos de Responsabilidade Civil e o
declarações inexatas e de Seguro Coletivo. FIXANDO CONCEITOS 3
ato doloso praticado pelo ■■ Aplicar a instituição
segurado, pelo beneficiário
e substituição de
ou por seus representantes.
beneficiários e o seguro
■■ Identificar a ocorrência do sobre a vida de terceiros.
agravamento do risco e ■■ Reconhecer os efeitos
das regras de contratação
da invalidade da cláusula
por agente autorizado.
beneficiária, da transação
■■ Descrever a renovação com pagamento reduzido
automática, a mora do e do suicídio.
segurado e da seguradora ■■ Descrever os diversos
e o aviso de sinistro.
casos de prescrição e a
relação com pretensão.

DIREITO DO SEGURO 43
UNIDADE 3

CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O contrato de seguro está disciplinado de forma especial no Códi-
go Civil (Lei nº 10.406/02), que contém um capítulo inteiramente
Saiba Mais dedicado a ele (arts. 757 a 802).

Estude o capítulo Seguro no Esta unidade divide-se em três seções: uma contendo disposições gerais
Código Civil. Leia: TEPEDINO, aplicáveis tanto aos Seguros de Danos quanto de Pessoas (arts. 757 a
Gustavo et al. Código Civil 777), outra contendo disposições específicas sobre Seguros de Danos
interpretado conforme a (arts. 778 a 788) e, finalmente, outra contendo disposições específicas
Constituição da República. sobre Seguros de Pessoas (arts. 789 a 802).
Rio de Janeiro: Renovar, 2004. O estudo do contrato de seguro feito a seguir é baseado, essencialmente,
Art. 757 a 802. nesses artigos (dispositivos).

DISPOSIÇÕES COMUNS AOS SEGUROS


DE DANOS E DE PESSOAS
Vamos começar esta unidade analisando as disposições semelhantes aos
Seguros de Danos e de Pessoas, que inclui o estudo dos riscos predetermi-
nados, o conceito de boa-fé, os efeitos da inexatidão das informações ou de
ato doloso pelo segurado, o agravamento do risco, a contratação de agente
autorizado, a renovação automática do seguro, a mora do segurado e da
seguradora, o aviso de sinistro e os seguros regidos por leis específicas.

DIREITO DO SEGURO 44
UNIDADE 3

—— Riscos Predeterminados
A seleção de riscos é indispensável para o sucesso da atividade seguradora.

Por esse motivo, o art. 757 do Código Civil prevê, claramente, que a segu-
radora somente está obrigada a cobrir os riscos predeterminados no
contrato de seguro:

Art. 757. Pelo contrato de seguro o segurador se obriga, mediante


o pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo do segurado,
relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados.

Parágrafo único. Somente pode ser parte, no contrato de seguro,


como segurador, entidade para tal fim legalmente autorizada.

—— Boa-Fé na Conclusão e na
Execução do Contrato do Seguro
A boa-fé é um princípio que rege todos os contratos. Ela se divide em duas
acepções: uma objetiva e outra subjetiva.

Boa-Fé Objetiva
Na sua acepção objetiva, a boa-fé desempenha várias funções. A mais
importante delas corresponde a um padrão de comportamento, um mode-
lo de conduta que deve ser observado pelos contratantes e os obriga a
observar e cumprir determinados deveres.

Esses deveres dividem-se, basicamente, em três grupos:

Deveres de informação Deveres de lealdade Deveres de proteção


e esclarecimento e cooperação Exemplo: o dever da seguradora
Exemplo: o dever do proponen- Exemplo: o dever do segurado de proteger os dados pessoais
te de informar à seguradora, na de cooperar com a seguradora fornecidos pelo segurado, im-
proposta, tudo o que souber no sentido de adotar todas as pedindo que eles sejam indevid-
sobre o interesse segurável e o providências que estejam ao seu amente acessados por terceiros
risco, conforme se extrai do art. alcance para minorar o dano ou ou transferidos a estes. Se a
759 do Código Civil. Se descum- salvar a coisa segurada, conforme seguradora deixar de adotar to-
prir, de algum modo, esse dever estabelece o art. 779 do Código das as medidas que estiverem ao
de informação, o proponente Civil. Se o segurado descumprir seu alcance para, razoavelmente,
estará violando a boa-fé objetiva; esse dever, ele estará violando a evitar que isso ocorra, estará des-
boa-fé objetiva. cumprindo a boa-fé objetiva.

DIREITO DO SEGURO 45
UNIDADE 3

O art. 765 do Código Civil trata, especificamente, da boa-fé objetiva no


contrato de seguro e deixa claro que as partes devem considerá-la tan-
to no momento da celebração do contrato (fase de “conclusão”) quanto
durante sua vigência, quando as partes devem cumprir suas obrigações
(fase de “execução”):

Art. 765. O segurado e o segurador são obrigados a guardar, na


conclusão e na execução do contrato, a mais estrita boa-fé e veraci-
dade, tanto a respeito do objeto como das circunstâncias e declara-
ções a ele concernentes.

A boa-fé objetiva, no contrato de seguro, é exigida com mais energia, con-


sistência e profundidade do que em outros contratos. Isto porque, no segu-
ro, o elemento da confiança tem maior peso, já que a seguradora aceita
conceder a garantia baseada nas informações que lhe são prestadas pelo
proponente sobre o interesse segurável, o objeto do contrato.

Boa-Fé Subjetiva
Na sua acepção subjetiva, a boa-fé contrapõe-se à noção de má-fé.

De acordo com o entendimento predominante na doutrina e na jurispru-


dência, age contrariamente à boa-fé (ou seja, age de má-fé) quem procede
com dolo.

O dolo consiste em manobras ou maquinações feitas com o propósito de


2 Enunciado 372 do Conselho obter uma declaração de vontade que não seria emitida se o declarante
da Justiça Federal espelha não fosse enganado por outra pessoa.
claramente essa realidade
quando prevê o seguinte: Assim, age dolosamente o contratante que procede de forma a enganar,
“Enunciado 372 – em caso de iludir e prejudicar o outro contratante.
negativa de cobertura securitária
por doença preexistente, cabe Como a boa-fé deve ser presumida, quando a seguradora se recusar a
à seguradora comprovar que o pagar a indenização ou o capital segurado baseada na suspeita de má-fé
segurado tinha conhecimento do segurado ou do beneficiário, ela deverá fazer prova dessa alegação se
inequívoco daquela”.
for acionada judicialmente.2

—— Efeitos do Descumprimento
do Dever de Informação que
Influi na Aceitação da Proposta
ou na Tarifação do Prêmio
O art. 766 do Código Civil estabelece as consequências para o descum-
primento do dever de informação pelo segurado ou pelo seu represen-
tante, no caso de a informação inexata ou omitida influir na decisão da
seguradora de aceitar a proposta ou na tarifação do prêmio.

DIREITO DO SEGURO 46
UNIDADE 3

Art. 766. Se o segurado, por si ou por seu representante, fizer


declarações inexatas ou omitir circunstâncias que possam influir
na aceitação da proposta ou na taxa do prêmio, perderá o direito à
garantia, além de ficar obrigado ao prêmio vencido.

Parágrafo único. Se a inexatidão ou omissão nas declarações


não resultar de má-fé do segurado, o segurador terá direito a
resolver o contrato, ou a cobrar, mesmo após o sinistro, a diferen-
ça do prêmio.

Nesse dispositivo, o legislador distinguiu, claramente, duas hipóteses e


seus respectivos efeitos:

■■ Na hipótese de a omissão de uma informação ou prestação de


uma informação inexata decorrer comprovadamente de má-fé do
segurado ou de seu representante, o segurado perderá o direito à
garantia e ficará obrigado ao pagamento do prêmio vencido.
■■ Na hipótese de a omissão ou inexatidão não decorrer de má-fé do
segurado ou de seu representante (ou seja, se for fruto de um mero
descuido), a seguradora, na altura em que descobrir o problema:
»» Se ainda não tiver ocorrido um sinistro, poderá optar por resol-
ver (ou seja, “cancelar”) o contrato de seguro, ou mantê-lo em
vigor, cobrando a diferença de prêmio.
»» Se já tiver ocorrido um sinistro, não poderá cancelar o contra-
to, restando-lhe como única alternativa pagar a indenização ou
capital, abatendo, do valor a ser pago, a diferença de prêmio.

—— Ato Doloso do Segurado,


do Beneficiário ou do
Representante de um deles
O dever de proteção recíproco dos contratantes, derivado da boa-fé objeti-
va, exige do segurado, do beneficiário e dos representantes de ambos que
se abstenham da prática de determinados atos.

Um dos princípios típicos do contrato de seguro é o princípio do absen-


teísmo, segundo o qual tais pessoas devem se portar, em relação ao
interesse segurado, como se não houvesse seguro. Isto significa que sua
conduta deve ser no sentido de não querer, de não aumentar e de não
provocar o risco.

O art. 762 do Código Civil torna nulo o contrato de seguro especificamen-


te em relação aos atos dolosos do segurado, do beneficiário e de seus
representantes:

DIREITO DO SEGURO 47
UNIDADE 3

“Art. 762. Nulo será o contrato para garantia de risco proveniente


de ato doloso do segurado, do beneficiário, ou de representante
de um ou de outro.”

Desse modo, os atos do segurado, do beneficiário ou de seus represen-


tantes que decorrerem de dolo direto (também chamado de dolo puro)
ou de dolo indireto (também chamado de dolo eventual) irão gerar a
nulidade do contrato.

No dolo puro ou direto, o agente tem a intenção de alcançar o resultado


danoso, ou seja, quer produzi-lo. Exemplo disso ocorre quando, nos Seguros
de Pessoas, o beneficiário encomenda a terceiro a morte do segurado, fazen-
do-o com o propósito de receber o capital segurado por morte acidental.

No dolo eventual ou indireto, o agente não tem a intenção de alcançar


o resultado danoso, mas este é mencionado e, apesar disso, a pessoa se
porta de maneira indiferente, ou seja, assume o risco da produção desse
resultado. Exemplo disso ocorre nos Seguros de Automóveis, quando o
segurado, apenas com o objetivo de cortar caminho para chegar ao seu
destino, decide seguir por uma via na contramão e acaba provocando
uma colisão.

Observe que estão fora do alcance do art. 762 do Código Civil os atos
culposos, que são aqueles por meio dos quais o agente não quer alcançar
o resultado danoso, mas atua com imprudência, negligência ou imperícia.

■■ A negligência evidencia-se, usualmente, pela omissão. Relaciona-se,


principalmente, com a desídia. É a ação necessária que se deixou
de praticar, como consertar uma marquise que está em mau esta-
do de conservação; deixar de efetuar manutenção obrigatória em
equipamentos, conforme determinação do fabricante; viajar sem
fazer revisão no veículo; e demais condutas assemelhadas;
■■ A imprudência é a ação que não deveria ser praticada. Na impru-
dência, o sujeito procede precipitadamente ou sem prever inte-
gralmente as consequências da ação, como, por exemplo, colocar
objetos soltos no parapeito da janela de um apartamento;
■■ A imperícia é a ação praticada sem a habilidade ou competência
3 O Superior Tribunal de Justiça necessária para fazê-lo, ou seja, o sujeito age ou deixa de agir com ou
entendeu que a participação em sem a habilidade técnica que deveria possuir como profissional habi-
disputa automobilística – “racha” – litado (médico, motorista, engenheiro), como no caso de instalação
configura agravamento intencional
elétrica realizada por quem não tem conhecimento de eletricidade.
do risco, por ato consciente e
voluntário, ensejando a perda da A prática de ato doloso pelo segurado, pelo beneficiário ou pelo represen-
cobertura securitária. (STJ REsp tante de um deles é difícil de ser provada de forma contundente. Por isso,
1368766/RS. Recurso Especial a jurisprudência tem admitido que a seguradora, para comprovar que a
2012/0251038-0. Dje 06/04/2016.
indenização ou o capital segurado não devem ser pagos com base nesse
Disponível em: www.stj.jus.br.
Acesso em 03 out. 2016). dispositivo, utilize a chamada prova indiciária, consistente em fortes evi-
dências, em flagrantes indícios de dolo.3

DIREITO DO SEGURO 48
UNIDADE 3

—— Agravamento do Risco
O agravamento do risco se caracteriza pela alteração do estado original
4 Em julgamento mais recente
de risco, ou seja, pela modificação, na vigência do contrato de seguro,
sobre o tema, o Superior Tribunal
de Justiça enfrentou hipótese na da situação de risco original, isto é, presente quando da celebração do
qual o segurado caiu de uma alta contrato.
torre metálica, onde subira para
ter acesso à vista panorâmica, O agravamento do risco pode decorrer de vários fatores. Por exemplo, de
tendo ficado paraplégico. O um ato doloso ou culposo do segurado, como resultado de uma condu-
tribunal entendeu que não ta do segurado que não seja culposa, bem como de um fato totalmente
caracteriza agravamento de risco alheio à sua vontade.
o ato do segurado que constitui
“comportamento aventureiro O agravamento do risco é tratado nos arts. 768 e 769 do Código Civil. O
razoável e previsível na vida das art. 768 trata do agravamento intencional do risco:
pessoas, como também acontece
com escalada de árvores, “Art. 768. O segurado perderá o direito à garantia se agravar
pedras, trilhas íngremes, e coisas intencionalmente o risco objeto do contrato.”
semelhantes” (BRASIL. Superior
Tribunal de Justiça. Recurso Recente decisão do Superior Tribunal de Justiça se deu no sentido de
Especial 795.027/RS. Relator:
que a intencionalidade citada no artigo está vinculada à própria ocorrên-
Ministro Aldir Passarinho Júnior.
cia do sinistro.4
Brasília, 18 de março de 2010.
Disponível em: www.stj.jus.br.
Isso significa que o agravamento do risco, na forma do art. 768 do Código
Acesso em 28 out. 2010).
Civil, só se caracteriza quando o segurado age com dolo; portanto, com o
intuito de aumentar o risco ou desencadear o sinistro.

O art. 769 do Código Civil trata do agravamento do risco decorrente de


um “incidente”:

Art. 769. O segurado é obrigado a comunicar ao segurador, logo


que saiba, todo incidente suscetível de agravar consideravelmente
o risco coberto, sob pena de perder o direito à garantia, se provar
que silenciou de má-fé.

§ 1º O segurador, desde que o faça nos 15 dias seguintes ao recebi-


mento do aviso da agravação do risco sem culpa do segurado, pode-
rá dar-lhe ciência, por escrito, de sua decisão de resolver o contrato.

§ 2º A resolução só será eficaz trinta dias após a notificação,


devendo ser restituída pelo segurador a diferença do prêmio.

Para incidência do dispositivo, o agravamento deve ser “considerá-


vel”, ou seja, aumentar substancialmente o estado original de risco.
Tão logo constate o agravamento, o segurado deve comunicar o fato
à seguradora.

Feita a comunicação pelo segurado, a seguradora poderá, até 15 dias


depois de avisada e desde que não tenha havido sinistro, optar por resol-
ver (cancelar) o contrato, comunicando sua decisão ao segurado, ou

DIREITO DO SEGURO 49
UNIDADE 3

poderá mantê-lo, caso em que deverá cobrar a diferença de prêmio. Se


tiver ocorrido sinistro, a seguradora poderá descontar a diferença de prê-
mio da indenização.

No caso de resolução (cancelamento), esta somente produzirá efeitos após


30 dias do recebimento da notificação pelo segurado, conforme o § 2o do
art. 769. Portanto, se nesse intervalo ocorrer um sinistro, o pagamento da
indenização ou capital é devido. Findo esse prazo, e se não tiver ocorrido
sinistro, a resolução (cancelamento) produzirá seus efeitos, cabendo ao
segurado o direito à restituição da diferença de prêmio.

Se o segurado não informar o agravamento e um sinistro ocorrer, o segu-


rado somente perderá o direito à indenização ou capital se a seguradora
puder provar que o silêncio do segurado sobre o agravamento foi inten-
cional (proposital).

—— Contratação por Meio de Agente


Autorizado da Seguradora
A contratação de seguros pode ocorrer de forma direta, entre segurado e
seguradora, e mediante intermediação.

A contratação intermediada pode ser feita por um corretor de seguros ou


por um agente autorizado da seguradora.

O agente autorizado da seguradora mantém com esta última uma relação


contratual. Tal figura está prevista no art. 775 do Código Civil:

“Art. 775. Os agentes autorizados do segurador presumem-se


seus representantes para todos os atos relativos aos contratos que
agenciarem.”

Assim, o agente autorizado representa os interesses da seguradora,


podendo intermediar operações de seguro diretamente com o segurado
interessado. Esse agente autorizado pode ser pessoa física ou jurídica, e a
seguradora responde solidariamente pelos atos praticados por esse repre-
sentante caso ele cause dano ao segurado ou a terceiros.

O agente autorizado da seguradora não se confunde, portanto, com


a figura do corretor de seguros, o qual, por força do art. 17 da Lei nº
4.594/1964 e de normas regulamentares, não pode ser sócio, adminis-
trador, procurador, despachante ou empregado de sociedade segura-
dora. Na qualidade de intermediário com total independência em rela-
ção à seguradora, o corretor de seguros deve ter em vista os interesses
do proponente/segurado.

DIREITO DO SEGURO 50
UNIDADE 3

—— Renovação Automática
De acordo com o art. 774 do Código Civil, a renovação automática (“recon-
dução tácita”) do contrato de seguro, por força de cláusula contratual,
somente poderá ocorrer uma única vez:

“Art. 774. A recondução tácita do contrato pelo mesmo prazo, median-


te expressa cláusula contratual, não poderá operar mais de uma vez.”

Tal norma possui como objetivo a proteção do segurado relativa ao cálculo


do prêmio ou dos aspectos de mudança do risco. Dessa forma, a renova-
ção automática por prazo indeterminado constituiria obstáculo no acompa-
nhamento constante do risco e sua eventual modificação.

Portanto, excetuados o Seguro-Saúde e os seguros celebrados por prazo


indeterminado, a renovação dos demais seguros com base em cláusula de
renovação automática e pelo mesmo prazo ajustado originalmente somen-
te poderá ocorrer uma única vez e por igual prazo. Depois disso, a renova-
ção dependerá da concordância do segurado.

—— Mora do Segurado
O art. 763 do Código Civil estabelece o seguinte:

“Art. 763. Não terá direito a indenização o segurado que estiver


em mora no pagamento do prêmio, se ocorrer o sinistro antes de
sua purgação.”

Esse artigo, no entanto, deve ser interpretado em conjunto com as normas


regulamentares editadas pela SUSEP, que abrandam a sua aplicação quan-
do presentes algumas condições.

O art. 7º da Circular SUSEP nº 251/2004 prevê que, nos contratos de segu-


ro cujas propostas tenham sido recepcionadas sem pagamento do prêmio,
o início da vigência da cobertura deverá coincidir com a data de aceitação
da proposta ou com outra data acordada entre as partes.

Assim, se antes da aceitação ocorrer um sinistro, não haverá cobertura.


Porém, se depois da aceitação ocorrer um sinistro e o segurado ainda não
tiver pago o prêmio apenas porque a primeira parcela ainda não venceu,
haverá cobertura. Em uma outra hipótese, se, depois da aceitação, a pri-
meira parcela de prêmio vencer e não for paga, não haverá cobertura.

As normas regulamentares estabelecem, também, situações em que have-


rá a chamada cobertura técnica. Exemplo disso está no § 1º do art. 8º da
mesma circular, segundo o qual, nos Seguros de Automóveis, a vigência da
garantia tem início, via de regra, a partir da realização da vistoria, indepen-
dentemente de ter havido pagamento do prêmio.

DIREITO DO SEGURO 51
UNIDADE 3

Já quando se tratar de veículo novo, ou de renovação com o mesmo segu-


rado, a vigência começa na recepção da proposta, independentemente de
pagamento do prêmio.

Nos Seguros de Danos, se a recusa da proposta ocorrer no prazo regu-


lamentar, a cobertura prevalecerá por mais dois dias úteis, contados da
data em que o proponente, seu representante ou corretor tiverem ciência
formal da recusa, conforme o § 2º do art. 8º da mencionada circular.

O problema maior se situa naqueles casos em que, na vigência da garantia,


o pagamento dos prêmios, que vinha sendo feito de forma regular, deixa
5 A título de exemplo dessa
de ocorrer.
hipótese, merece ser citado o
seguinte julgado do Superior
Na visão da seguradora, essa inadimplência acarreta, num primeiro
Tribunal de Justiça: “A Segunda
momento, a chamada suspensão de cobertura, que, em geral, é fixada por
Seção desta Corte Superior
consagrou o entendimento cláusula contratual em 90 dias. Para a seguradora, se durante esse prazo
de que o mero atraso no ocorrer um sinistro, não haverá direito, por parte do segurado ou do bene-
pagamento de prestação do ficiário, à indenização ou ao capital.
prêmio do seguro não importa
em desfazimento automático Cessado o prazo de suspensão, sem que o pagamento dos prêmios tenha
do contrato, pois exige-se, ao sido regularizado, a seguradora considera resolvido (cancelado) o contrato
menos, a prévia constituição por força de cláusula contratual, que consta do contrato de seguro, preven-
em mora do segurado pela
do o cancelamento automático.
seguradora, mediante notificação
ou interpelação.” Agravo Todavia, já é dominante no Poder Judiciário o entendimento de que os
Regimental no Agravo de
efeitos do atraso no pagamento do prêmio (suspensão de cobertura e can-
Recurso Especial nº 625.973/
CE. Publicada em 04/08/2015. celamento do contrato) só se produzem se o responsável pelo pagamento
Disponível em: www.stj.jus.br. dos prêmios (segurado, beneficiário ou estipulante, conforme o caso) for
Acesso em 03 out. 2016. Além notificado pela seguradora de sua inadimplência.
disso, o Conselho de Justiça
Federal editou o Enunciado 371, Assim, para o Poder Judiciário, se a seguradora não notificar o responsável
que tem a seguinte redação: pelo pagamento dos prêmios, seja quanto à suspensão da cobertura, seja
“Enunciado 371 “ a mora do quanto ao cancelamento do contrato, não poderá se recusar a pagar a
segurado, sendo de escassa indenização ou capital.5
importância, não autoriza a
resolução do contrato, por atentar Já nos seguros contratados por estipulante, os efeitos do atraso no paga-
ao princípio da boa-fé objetiva”.
mento do prêmio dependerão de onde provêm os recursos para saldá-lo.

No seguro não contributário (que o Código Civil denomina seguro “à conta


de outrem”), no qual o prêmio é integralmente custeado com recursos do
estipulante, a seguradora pode se recusar a cobrir o sinistro no caso de
inadimplência. É o que estabelece o art. 767 do Código Civil:

“Art. 767. No seguro à conta de outrem, o segurador pode opor


ao segurado quaisquer defesas que tenha contra o estipulante,
por descumprimento das normas de conclusão do contrato, ou de
pagamento do prêmio.”

DIREITO DO SEGURO 52
UNIDADE 3

Desse modo, o segurado ou beneficiário terá que exigir do estipulante o


valor equivalente ao da indenização ou do capital que não puderam cobrar
da seguradora.

—— Mora da Seguradora
O atraso da seguradora no pagamento da indenização ou capital segurado
torna necessária a atualização monetária do valor respectivo, na forma do
art. 772 do Código Civil:

“Art. 772. A mora do segurador em pagar o sinistro obriga à atua-


lização monetária da indenização devida segundo índices oficiais
regularmente estabelecidos, sem prejuízo dos juros moratórios.”

Uma vez caracterizada a mora do segurador no pagamento da indenização,


fica o segurador obrigado à atualização da quantia indenizatória, incluindo
os juros moratórios. É a única hipótese em que o segurador efetuará um
pagamento superior ao limite máximo de garantia, conforme determina o
art. 781 do Código Civil Brasileiro. Como estudamos na Unidade 2, o art.
778 do Código Civil proíbe a prática de Sobresseguro para o pagamento
indenizatório em dia.

Nos Seguros de Danos, a mora da seguradora estará caracterizada depois


de vencido o prazo previsto na cláusula de liquidação de sinistros cons-
tante da apólice que, de acordo com o art. 33, § 1º, da Circular SUSEP nº
256/2004, é de 30 dias, contados da entrega de todos os documentos
básicos previstos nesse artigo.

Como a seguradora tem a faculdade de pedir outros documentos, o prazo


poderá ser suspenso, na forma do § 2º do mesmo artigo, retomada a con-
tagem após o primeiro dia útil subsequente à entrega pelo segurado.

O § 3º do artigo (a exemplo do art. 772 do Código Civil) dispõe que a mora


da seguradora acarretará atualização e juros de mora, esclarecendo que
isso deverá constar de cláusula contratual.

Nos Seguros de Pessoas, a sistemática é semelhante, como previsto no


art. 72 da Circular nº 302/2005 da SUSEP.

—— Importância do Aviso de Sinistro


O aviso de sinistro é o meio pelo qual o segurado, o beneficiário ou o esti-
pulante levam ao conhecimento da seguradora a ocorrência do evento em
tese coberto pelo contrato de seguro.

DIREITO DO SEGURO 53
UNIDADE 3

É essencial que o corretor de seguro oriente o segurado sobre a importân-


cia da comunicação do aviso de sinistro, evitando divergências e conflitos.

Além disso, o aviso de sinistro influi na contagem do prazo prescricional


para o exercício da pretensão do segurado em face da seguradora.

O Código Civil tratou do aviso de sinistro no art. 771:

“Art. 771. Sob pena de perder o direito à indenização, o segurado


participará o sinistro ao segurador, logo que o saiba, e tomará as
providências imediatas para minorar-lhe as consequências.

Parágrafo único. Correm à conta do segurador, até o limite fixado


no contrato, as despesas de salvamento consequente ao sinistro.”

É importante notar que o legislador não fixou um prazo para a efetivação


do aviso. Esta omissão se deve, possivelmente, ao fato de que a fixação do
prazo deve ser feita levando em consideração as peculiaridades de cada
ramo. Portanto, seria adequado que as normas regulamentares disciplinas-
sem a matéria.

O fato é que o art. 39 da Circular SUSEP nº 256/2004 (que trata dos Segu-
ros de Danos) e o art. 74 da Circular SUSEP nº 302/2005 (que trata das
garantias de risco nos Seguros de Pessoas) vedam expressamente a inclu-
são, nos contratos de seguro, de cláusula que disponha sobre a fixação de
prazo máximo para a comunicação de sinistro.

Com isso, essa vedação retira a eficácia da penalidade estabelecida pelo


art. 771 do Código Civil, que é a perda do direito à indenização ou capital.

—— Aplicação Subsidiária do
Código Civil aos Seguros
Regidos por Leis Específicas
Determinados seguros são disciplinados por leis específicas.

Mediante isso, as disposições gerais sobre o contrato de seguro, constan-


tes dos arts. 757 a 777 do Código Civil (Seção I do Capítulo do Seguro no
Código Civil), serão aplicadas apenas subsidiariamente a esses seguros:

“Art. 777. O disposto no presente Capítulo aplica-se, no que cou-


ber, aos seguros regidos por leis próprias.”

Isso significa que os arts. 757 a 777 do Código Civil somente se aplica-
rão a esses seguros naquilo em que a lei especial for omissa.

DIREITO DO SEGURO 54
UNIDADE 3

DISPOSIÇÕES RELATIVAS
AOS SEGUROS DE DANOS
Em relação ao Seguro de Danos, vamos estudar as disposições de transfe-
rência do contrato de seguro a terceiro, do rateio proporcional da indeniza-
ção, do contrato de mais de um seguro para o mesmo interesse segurável,
da sub-rogação e do Seguro de Responsabilidade Civil.

—— Transferência do Contrato
de Seguro a Terceiro
O art. 785 do Código Civil, que trata da transferência do contrato de
seguro a terceiro em consequência da alienação ou da cessão do bem
objeto do seguro:

“Art. 785. Salvo disposição em contrário, admite-se a transferência do


contrato a terceiro com a alienação ou cessão do interesse segurado.

§ 1º Se o instrumento contratual é nominativo, a transferência só


produz efeitos em relação ao segurador mediante aviso escrito
assinado pelo cedente e pelo cessionário.

§ 2º A apólice ou o bilhete à ordem só se transfere por endosso


em preto, datado e assinado pelo endossante e pelo endossatário.”

O dispositivo, portanto, admite a transferência do contrato de Seguro de


Danos a Terceiros se houver a alienação ou a cessão do interesse segu-
rado. Assim, por exemplo, se João vender o seu veículo para Maria, João
também poderá, via de regra, transferir para Maria o contrato de seguro.

Por conta da frase “salvo disposição em contrário” contida no artigo, que


deve ser entendida como uma ressalva, a exceção à regra ocorrerá quando
houver, no contrato de seguro, cláusula que vede a transferência do contra-
to de seguro ou, ainda, se for editada lei especial que impeça, em determi-
nado ramo, a transferência do contrato de seguro pelo segurado a terceiro.

Os parágrafos do art. 785 do Código Civil criam formalidades para a eficá-


cia da cessão.

De acordo com dispositivo, quando a apólice ou o bilhete forem nominati-


vos (ou seja, quando informarem o nome do segurado), a transferência do
contrato de seguro somente produzirá efeitos em relação à seguradora
mediante aviso escrito assinado pelo cedente (segurado) e pelo cessioná-
rio (aquele que pretende passar a ser o segurado).

DIREITO DO SEGURO 55
UNIDADE 3

Também de acordo com o dispositivo, a apólice ou o bilhete que contive-


rem a cláusula à ordem somente se transferem por endosso em preto,
que é aquele no qual o titular da apólice ou bilhete (endossante), no verso
do documento, indica o nome do beneficiário do endosso (ou seja, informa
o nome do endossatário) e, em seguida, data e assina.

Sem a observância a essas formalidades, a transferência do contrato de


seguro seria, de acordo com a lei, ineficaz.

Entretanto, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é no sentido de


6 Súmula 465, que diz: “Súmula
465. Ressalvada a hipótese de que a transferência do contrato de seguro a terceiro é eficaz, mesmo quan-
efetivo agravamento do risco, do não comunicada à seguradora, naqueles casos em que a seguradora
a seguradora não se exime do não prova que o risco tenha sido agravado por conta dessa transferência6.
dever de indenizar em razão da
transferência do veículo sem a Portanto, prevalece no Judiciário o entendimento de que a obrigação da
sua prévia comunicação”. seguradora de indenizar persiste, mesmo que o veículo e o seguro sobre
ele sejam transferidos pelo segurado a terceiro sem comunicação à segu-
radora. A seguradora somente ficará liberada da obrigação de indenizar
pelo sinistro ocorrido com o “novo segurado” se provar que a transferência
do seguro para ele significou um aumento real do risco.

É importante ressaltar que o corretor de seguro deve ser cauteloso ao


orientar o segurado em relação à transferência do contrato de seguro sem
a notificação ou anuência da companhia seguradora, pois, em caso de
eventual recusa da indenização, a questão será resolvida judicialmente.

—— Rateio Proporcional
Quando o contrato de seguro garante menos do que vale o interesse segu-
rável, o chamado de infrasseguro, pode ou não, conforme o caso, haver a
aplicação do rateio proporcional no caso de um sinistro parcial, previsto no
art. 783 do Código Civil:

“Art. 783. Salvo disposição em contrário, o seguro de um interes-


se por menos do que valha acarreta a redução proporcional da
indenização, no caso de sinistro parcial.”

Portanto, em princípio, quando não houver correspondência entre a importân-


cia segurada (ou limite máximo indenizatório) e o valor em risco no momento
do sinistro, e este for parcial, a indenização deve ser reduzida na proporção
do prêmio pago. Isto porque o segurado é considerado segurador de si mes-
mo em relação àquela parte do risco para a qual não contratou o seguro.

Para saber quando a regra é aplicável, é fundamental verificar o tipo de


seguro contratado e, também, o que foi ajustado pelas partes no contrato
de seguro (em face da ressalva “salvo disposição em contrário”, constante
do dispositivo).

DIREITO DO SEGURO 56
UNIDADE 3

Nos Seguros a 1º Risco Absoluto, o segurado pode fazer a sua própria


avaliação e estimar qual o dano máximo provável a que seus bens estão
expostos, fixando a importância segurada (ou limite máximo indenizatório)
em função disso. Portanto, nesse tipo de seguro, não é preciso haver cor-
respondência entre valor em risco e importância segurada (ou limite máxi-
mo indenizatório), de modo que não haverá aplicação de regra de rateio
proporcional no caso de um sinistro parcial.

Nos Seguros a 1º Risco Relativo também não é preciso haver correspon-


dência entre importância segurada (ou limite máximo indenizatório) e valor
em risco, mas é necessária a declaração do valor em risco na proposta. Se
na regulação de um sinistro parcial for verificado que o valor em risco, no
momento do sinistro, é superior ao valor em risco declarado na proposta,
isto significa que duas situações podem ter ocorrido:

■■ No momento da contratação, o segurado informou um valor em


risco que não correspondia à realidade.
■■ No momento da contratação, o segurado informou um valor em ris-
co que correspondia à realidade, mas este, na vigência do contra-
to, elevou-se e, apesar disso, o segurado não solicitou a emissão
de endosso e, consequentemente, não pagou prêmio adicional.
Tanto em um caso quanto no outro, a regra do rateio proporcional
é aplicável.

Finalmente, nos Seguros a Risco Total, é necessária a correspondência


entre a importância segurada (ou limite máximo indenizatório) e o valor em
risco. Se no momento do sinistro parcial for verificado que a importância
segurada (ou limite máximo indenizatório) é menor do que o valor em risco,
deverá ser aplicada a regra do rateio proporcional.

—— Novo Seguro sobre Mesmo


Interesse Segurável e Mesmo Risco
Agora, vamos estudar casos em que mais de um contrato de seguro é fir-
mado para o mesmo interesse segurável.

O Código Civil, conforme o art. 782, autoriza o titular do interesse já segu-


rado a instituir novo seguro sobre esse interesse e contra o mesmo risco
junto a outra seguradora. Para isso, basta que comunique sua intenção, por
escrito, à primeira seguradora, indicando a soma pela qual pretende fazer
o novo seguro:

Art. 782. O segurado que, na vigência do contrato, pretende obter


novo seguro sobre o mesmo interesse, e contra o mesmo risco
junto a outro segurador, deve previamente comunicar sua intenção
por escrito ao primeiro, indicando a soma por que pretende segu-
rar-se, a fim de se comprovar a obediência ao disposto no art. 778.

DIREITO DO SEGURO 57
UNIDADE 3

A necessidade de contratar um novo seguro para o mesmo interesse e o


mesmo risco pode decorrer de vários motivos: insuficiência superveniente
da garantia originalmente contratada em virtude da elevação do valor em
risco; risco de insolvência da primeira seguradora; e existência de mais de
um titular para o mesmo interesse, visando a proteger o mesmo risco, entre
outros motivos.

O seguro voltado para unidade residencial em condomínio edilício é um


exemplo da última hipótese mencionada. O condomínio está obrigado, por
força do art. 20, alínea “g”, do Decreto-Lei nº 73/1966, a contratar Seguro
Incêndio para todas as unidades. Todavia, o proprietário de uma unidade
pode preferir contratar um segundo Seguro Incêndio para a sua unida-
de, temendo que a apólice contratada pelo condomínio seja, por exemplo,
cancelada por inadimplência.

A comunicação prévia à primeira seguradora exigida pelo dispositivo tem


por finalidade desestimular a fraude e impedir o sobresseguro (art. 778 do
Código Civil).

Sempre que houver mais de um seguro ligado ao mesmo interesse e ao


mesmo risco, a regulação do sinistro deverá ser feita com base na cláusula
de concorrência de apólices que, de acordo com o art. 26 da Circular
SUSEP nº 256/2004, deverá constar das condições gerais do seguro, nos
termos definidos por esse órgão regulador.

A aplicação dessa cláusula fará com que, apurado o valor do prejuízo, cada
seguradora participe, no pagamento da indenização, na proporção do ris-
co que segurou.

—— Sub-Rogação
O termo “sub-rogação” significa a substituição de uma pessoa pela outra.
Quando falamos precisamente em relação ao pagamento com sub-roga-
ção, esta significa a substituição de um credor por outro.

Embora a sub-rogação, tanto legal quanto contratual, esteja prevista nos


arts. 346 e 347 do Código Civil, o art. 786 trata de forma específica dessa
substituição nos Seguros de Danos:

Art. 786. Paga a indenização, o segurador sub-roga-se, nos limites


do valor respectivo, nos direitos e ações que competirem ao segu-
rado contra o autor do dano.

§ 1º Salvo dolo, a sub-rogação não tem lugar se o dano foi causado


pelo cônjuge do segurado, seus descendentes ou ascendentes,
consanguíneos ou afins.

§ 2º É ineficaz qualquer ato do segurado que diminua ou extinga,


em prejuízo do segurador, os direitos a que se refere este artigo.

DIREITO DO SEGURO 58
UNIDADE 3

Portanto, a seguradora indeniza o segurado e, por força da sub-rogação,


pode exercer contra o terceiro (que causou o dano ao segurado) o direito
de regresso, ou seja, de obter o ressarcimento do quanto indenizou.

Assim, a importância da sub-rogação no contrato de seguro está relacionada


ao valor do prêmio (seguro com perfil), uma vez que, considerando a possi-
bilidade de eventual sinistro ser de responsabilidade de terceiro e não do
segurado, a quantia paga a título de prêmio estará sujeita a uma redução,
com possibilidade de ressarcimento à seguradora dos prejuízos indenizados.

Conforme o § 1º, a sub-rogação não se verifica quando o causador do dano


ao segurado for seu cônjuge, descendente, ascendente, consanguíneo ou
afim. O parágrafo único não faz alusão ao(à) companheiro(a), mas a aplica-
ção do dispositivo deve ser estendida a ele(a).

Quando o causador do dano tiver agido dolosamente, há uma exceção e,


nesse caso, a seguradora ficará sub-rogada.

Finalmente, qualquer ato do segurado que vise a impedir ou limitar o direi-


to de sub-rogação da seguradora é ineficaz em relação a esta.

—— Seguro de Responsabilidade Civil


O Código Civil tratou de forma específica do Seguro de Responsabilidade
Civil no art. 787:

Art. 787. No seguro de Responsabilidade Civil, o segurador garante


o pagamento de perdas e danos devidos pelo segurado a terceiro.

§ 1º Tão logo saiba o segurado das consequências de ato seu,


suscetível de lhe acarretar a responsabilidade incluída na garantia,
comunicará o fato ao segurador.”

§ 2º É defeso ao segurado reconhecer sua responsabilidade ou


confessar a ação, bem como transigir com o terceiro prejudicado,
ou indenizá-lo diretamente, sem anuência expressa do segurador.

§ 3º Intentada a ação contra o segurado, dará este ciência da lide


ao segurador.

§ 4º Subsistirá a responsabilidade do segurado perante o terceiro,


se o segurador for insolvente.

No Seguro de Responsabilidade Civil, a garantia concedida pela segurado-


ra deve cobrir, necessariamente, as perdas e danos que o segurado cau-
sou a terceiro.

É importante mencionar que, apesar de estarmos diante de um seguro de


dano, o seguro de responsabilidade civil não possui característica de seguro

DIREITO DO SEGURO 59
UNIDADE 3

indenitário, mas, sim, atua através de reembolso, cabendo à seguradora reem-


Importante bolsar as despesas decorrentes de danos causados pelo segurado a tercei-
ros, provenientes de sentença judicial transitada em julgado, isto é, em que
No caso de um taxista sofrer uma não cabe mais recurso, ou acordo celebrado com a anuência da seguradora.
colisão em que outro motorista é
o culpado: As perdas e danos compõem-se de danos emergentes (prejuízos decor-
rentes direta e imediatamente do evento, sofridos pelo terceiro) e lucros
Danos Emergentes
cessantes (tudo aquilo que o terceiro, razoavelmente, deixou de lucrar em
Prejuízo direto, ou seja, o conserto
razão do dano causado pelo segurado).
do carro e despesas hospitalares.
O § 1º reforça a importância de o segurado efetuar o aviso de sinistro que,
Lucros Cessantes
no caso, consistirá em comunicar à seguradora a ocorrência de qualquer
Quantia que o taxista deixou de
evento do qual possa resultar a sua responsabilidade civil perante terceiro.
receber, visto que seu instrumento
de trabalho foi danificado. Já o § 2º deixa claro que é vedado ao segurado praticar determina-
dos atos sem a anuência prévia e expressa da seguradora. Esses atos
consistem em reconhecer sua responsabilidade (admitir sua culpa extra-
judicialmente), confessar a ação (reconhecer a procedência do pedido
formulado em ação judicial pelo terceiro em face do segurado), transigir
7 Merece ser citado o seguinte
com o terceiro ou indenizá-lo diretamente (fazer acordo judicial ou extra-
julgado do Superior Tribunal de
judicial com o terceiro).
Justiça: “Se não há demonstração
de que a transação feita pelo
Há uma tendência de o Poder Judiciário considerar que os atos mencio-
segurado e pela vítima do
acidente de trânsito foi abusiva,
nados no § 2º, se praticados pelo segurado, somente serão ineficazes em
infundada ou desnecessária, mas, relação à seguradora quando, por exemplo, o reconhecimento da respon-
ao contrário, sendo evidente que sabilidade ou da procedência do pedido pelo segurado se mostrar incom-
o sinistro de fato aconteceu e o patível com o caso concreto (ou seja, os fatos, à luz do Direito, mostrarem
acordo realizado foi em termos que a culpa é do terceiro), ou quando o valor pago pelo segurado, a título
favoráveis tanto ao segurado
de indenização ao terceiro, exceder substancialmente aquele que seria
quanto à seguradora, não há
razão para exigir a regra
devido por força de uma condenação judicial.7
do art. 787, § 2º, do CC em
O § 3º estabelece que quando o terceiro ajuizar ação de responsabilida-
direito absoluto a afastar
o ressarcimento do segurado”. de civil contra o segurado, e este for citado para se defender, deverá dar
Recurso Especial: 1133459/RSP. conhecimento à seguradora da existência do processo judicial.
Publicada em 03/09/2014.
Disponível em: www.stj.jus.br. Finalmente, o § 4º deixa claro que se a seguradora se tornar insolvente,
Acesso em 03 out. 2016. caberá ao segurado pagar ao terceiro, com recursos próprios, a totalida-
Essa tendência é reflexo do de da indenização.
enunciado 373 do Conselho de
Justiça Federal: “Enunciado 373 –
Embora defesos pelo § do art. 787 Aprenda mais sobre este assunto
do Código Civil, o reconhecimento
da responsabilidade, a confissão
Leia: TZIRULNIK, Ernesto et al. O Contrato de Seguro de
da ação ou a transação não
acordo com o novo Código Civil Brasileiro. São Paulo:
retiram do segurado o direito à
garantia, sendo apenas ineficazes Revista dos Tribunais, 2003.
perante a seguradora.”

DIREITO DO SEGURO 60
UNIDADE 3

DISPOSIÇÕES RELATIVAS
AOS SEGUROS DE PESSOAS
Inicialmente, cabe esclarecer que são considerados Seguros de Pes-
soas apenas os Seguros de Vida e de Acidentes Pessoais.

Nesta seção, vamos estudar as disposições referentes ao Seguros de Pes-


soas, como a fixação do capital segurado, a contratação de mais de um
seguro para o mesmo interesse segurável, a indicação de companheiro(a)
como beneficiário(a), o seguro sobre a vida de terceiro, a substituição do
beneficiário, os efeitos da invalidade da cláusula beneficiária e da não indi-
cação de beneficiário, o pagamento reduzido do capital segurado, o suicí-
dio, a proibição de se excluir certos riscos do contrato de seguro, a sub-ro-
gação, o seguro coletivo e a exceção referente ao art. 802 do Código Civil.

—— Fixação do Capital Segurado


e Contratação de Mais de um
Seguro sobre o Mesmo Interesse
Nos Seguros de Pessoas, a lei prevê, em princípio, a liberdade do propo-
nente para fixar o valor da garantia (ou seja, do capital segurado) e con-
tratar mais de um seguro sobre o mesmo interesse com a mesma ou com
mais de uma seguradora. É o que prevê o art. 789 do Código Civil:

“Art. 789. Nos seguros de pessoas, o capital segurado é livre-


mente estipulado pelo proponente, que pode contratar mais de
um seguro sobre o mesmo interesse, com o mesmo ou diversos
seguradores.”

A liberdade na fixação do capital segurado e a possibilidade de contrata-


ção de mais de uma garantia sobre o mesmo interesse se justifica pelo fato
de a vida e de as faculdades humanas serem economicamente inestimá-
veis. Daí decorre, inclusive, a natureza meramente compensatória (e não
indenizatória) do capital segurado.

Isso não significa, contudo, que o exercício desses direitos pelo propo-
nente não deva e nem possa sofrer limitações. Embora não se faça à livre
contratação nos Seguros de Pessoas, o segurador possui critérios próprios
de análise e subscrição do risco.

O valor da garantia concedida pela seguradora, embora não tenha caráter


indenizatório, deve guardar compatibilidade com o aspecto econômico do
interesse segurável.

DIREITO DO SEGURO 61
UNIDADE 3

Assim, por exemplo, o capital segurado para o risco de morte deve ser
suficiente para garantir ao beneficiário, que dependa economicamente do
segurado, a certeza de sua subsistência após o falecimento dele.

Mesmo quando essa dependência econômica não existir, mas mantendo a


legitimidade do interesse segurável, a fixação do capital segurado não
pode ser incompatível com a condição financeira do segurado (se couber
a ele custear o prêmio) ou do beneficiário (se couber a ele instituir o seguro
sobre a vida do segurado, pagando os prêmios).

Aprenda mais Nos casos, por exemplo, da fixação de uma ou mais garantias isoladamen-
te ou em conjunto, em que o valor do prêmio correspondente comprome-
sobre este assunto te substancialmente a renda de quem deve pagá-lo ou, ainda, quando o
valor da(s) garantia(s) contratada(s) representa(m), para o segurado ou o
Leia MARTINS, João Marcos de beneficiário, uma substancial vantagem econômica, há incompatibilidade
Brito. O Contrato de Seguro: do contrato de seguro com o aspecto econômico do interesse envolvido.
Comentado conforme as
disposições do novo Código Em tais hipóteses, além de estarem presentes indícios de possível frau-
Civil. Rio de Janeiro: Forense de, o direito de fixar livremente o capital segurado e de contratar mais de
Universitária, 2003 uma garantia está sendo exercido de forma claramente abusiva, violando a
­
boa-fé objetiva (art. 187 do Código Civil).

—— Instituição do(a) Companheiro(a)


como Beneficiário(a)
O art. 793 autoriza a instituição do(a) companheiro(a) como beneficiário(a)
se, no momento em que ela ocorrer, o segurado for solteiro, separado de
fato, separado judicialmente ou mesmo viúvo:

“Art. 793. É válida a instituição do companheiro como beneficiário,


se ao tempo do contrato o segurado era separado judicialmente,
ou já se encontrava separado de fato.”

Vale lembrar que somente podem ser considerados companheiros aque-


les que vivam em união estável, reconhecida pela Constituição Federal de
1988 ­(art. 226, § 3º), e tal como definida no art. 1.723 do Código Civil:

Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável


entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública,
contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constitui-
ção de família.

§ 1º A união estável não se constituirá se ocorrerem os impedimen-


tos do art. 1.521; não se aplicando a incidência do inciso VI no caso
de a pessoa casada se achar separada de fato ou judicialmente.

§ 2º As causas suspensivas do art. 1.523 não impedirão a caracte-


rização da união estável.

DIREITO DO SEGURO 62
UNIDADE 3

As causas que impedem a união estável são as mesmas que impedem o


8 As causas que impedem a casamento civil.8
união estável estão mencionadas
no art. 1.521 do Código Civil: Além disso, o art. 1.727 do Código Civil prevê que “as relações não eventuais
“Art. 1.521. Não podem casar: entre o homem e a mulher, impedidos de casar, constituem concubinato”.
I – os ascendentes com os
descendentes, seja o parentesco Portanto, conclui-se que o(a) concubino(a) não pode ser indicado como
natural ou civil; II – os afins em beneficiário.
linha reta; III – o adotante com
quem foi cônjuge do adotado Finalmente, as uniões entre pessoas do mesmo sexo (uniões homoafeti-
e o adotado com quem o foi vas) são reconhecidas atualmente como entidade familiar, merecendo a
do adotante; IV – os irmãos,
mesma proteção que recebem as famílias constituídas pela união de pes-
unilaterais ou bilaterais, e demais
colaterais, até o terceiro grau soas de sexos diferentes.
inclusive; V – o adotado com
Dessa forma, o art. 793 também se aplica aos companheiros do mesmo sexo.
o filho do adotante; VI – as
pessoas casadas; VII – o cônjuge
sobrevivente com o condenado
por homicídio ou tentativa de
—— Seguro sobre a Vida de Terceiro
homicídio contra o seu consorte.”
A legitimidade do interesse segurável tem particular importância no seguro
instituído por uma pessoa sobre a vida de outra, regulado pelo art. 790 do
Código Civil:

“Art. 790. No seguro sobre a vida de outros, o proponente é obri-


gado a declarar, sob pena de falsidade, o seu interesse pela pre-
servação da vida do segurado.

Parágrafo único. Até prova em contrário, presume-se o interes-


se, quando o segurado é cônjuge, ascendente ou descendente
do proponente.”

O dispositivo exige que, ao propor a contratação de seguro sobre a vida de


terceiro, o proponente declare o seu interesse segurável. Nesse caso, o inte-
resse, além de legítimo, deve ser econômico. A seguradora pode não se con-
tentar com a mera declaração, exigindo a comprovação do interesse alegado.

Tal interesse estará presente, por exemplo, quando ficar comprovada a


existência de dependência econômica do proponente em relação ao
segurado, bem como quando for demonstrada a existência de obrigação
pecuniária do segurado com o proponente.

O parágrafo único cria uma exceção à necessidade de declaração e com-


provação do interesse, pois presume a existência dele quando o propo-
nente é uma das pessoas mencionadas no trecho em questão: cônjuge,
ascendente ou descendente do segurado. Em tais hipóteses, como há pre-
sunção de que o interesse exista, não cabe discutir se ele teria conteúdo
econômico, além do afetivo.

Cabe notar que a presunção mencionada no parágrafo único é relativa, ou


seja, admite “prova em contrário”.

DIREITO DO SEGURO 63
UNIDADE 3

O parágrafo único não cita o(a) companheiro(a), mas tal dispositivo se apli-
ca a ele(a) também.

—— Indicação e Substituição
do Beneficiário
Em relação à substituição do beneficiário, a regra determina que o segurado
pode, durante a vigência do contrato, alterar a cláusula beneficiária estabele-
cida quando da contratação. No entanto, essa regra comporta duas exceções.
Tanto a regra quanto as exceções estão previstas no art. 791 do Código Civil:

“Art. 791. Se o segurado não renunciar à faculdade, ou se o segu-


ro não tiver como causa declarada a garantia de alguma obriga-
ção, é lícita a substituição do beneficiário, por ato entre vivos ou
de última vontade.

Parágrafo único. O segurador, que não for cientificado oportuna-


mente da substituição, desobrigar-se-á pagando o capital segura-
do ao antigo beneficiário.”

Dessa forma, não existindo circunstância legal que o impeça, pode o segu-
rado, por ato intervivos (endosso) ou de última vontade (testamento), subs-
tituir o beneficiário do contrato de seguro. Exemplo: ex-cônjuge pelo(a)
atual companheiro(a).

Há casos em que o Seguro de Pessoas é instituído para garantir uma obri-


gação assumida pelo segurado perante terceiro (ex.: Seguro Prestamista).
Nessa hipótese, em razão da própria função social e econômica do seguro,
a cláusula beneficiária não poderá ser alterada pelo segurado.

Há outras situações em que o Seguro de Pessoas é instituído com a finali-


dade de evitar que a morte ou a invalidez do segurado possa, por exemplo,
levar à ruína um negócio (ex.: Seguro de Sucessão Empresarial).

Nesse caso, o beneficiário é a pessoa jurídica que poderá, com a morte ou


invalidez do segurado, sofrer perdas financeiras. Em tal situação, o segura-
do deve renunciar ao direito de substituir o beneficiário indicado, pois, do
contrário, a função social e econômica do contrato será frustrada.

A renúncia (que precisa ser expressa) deve ser formalizada por meio de
instrumento à parte do contrato de seguro, datado e assinado pelo segura-
do. Se ela for objeto de cláusula constante do contrato e se este possuir a
característica da adesão, o segurado poderá, posteriormente, alegar que a
renúncia lhe foi imposta, de modo a invalidá-la.

DIREITO DO SEGURO 64
UNIDADE 3

—— Efeitos da Não Indicação de


Beneficiário ou da Invalidade (Parcial
ou Total) da Cláusula Beneficiária
O art. 792 do Código Civil aponta a solução para os casos em que o segu-
rado deixa em branco a cláusula beneficiária, bem como para as hipóteses
em que a indicação do beneficiário não pode ser considerada válida:

Saiba mais
O art. 1.790 do Código Civil estabelece as condições para que o(a) companheiro(a)
participe da sucessão:
Art. 1.790. A companheira ou o companheiro participará da sucessão do outro, quanto aos
bens adquiridos onerosamente na vigência da união estável, nas condições seguintes:
I – se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma quota equivalente à que por lei
for atribuída ao filho;
II – se concorrer com descendentes só do autor da herança, tocar-lhe-á a metade do
que couber a cada um daqueles;
III – se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito a um terço da herança;
IV – não havendo parentes sucessíveis, terá direito à totalidade da herança.

Art. 792. Na falta de indicação da pessoa ou beneficiário, ou se


por qualquer motivo não prevalecer a que for feita, o capital segu-
rado será pago por metade ao cônjuge não separado judicialmen-
te, e o restante aos herdeiros do segurado, obedecida a ordem da
vocação hereditária.

Parágrafo único. Na falta das pessoas indicadas neste artigo,


serão beneficiários os que provarem que a morte do segurado os
privou dos meios necessários à subsistência.

A situação que cria maior dificuldade é a da cláusula beneficiária que no


momento da regulação e pagamento do capital segurado revela-se inválida.
Exemplo disso é quando a beneficiária nomeada é concubina do segurado.

Se nenhum beneficiário foi indicado, ou se a indicação for considerada


inválida, o pagamento do capital segurado será feito na forma do artigo.

De acordo com o dispositivo, metade do capital deve ser pago ao cônjuge


não separado judicialmente. Todavia, deve ser admitido o pagamento a
companheiro(a) de união heterossexual ou homossexual pelos motivos já
mencionados.

DIREITO DO SEGURO 65
UNIDADE 3

No tocante à outra metade do capital segurado, é preciso verificar que a


regra da sucessão hereditária mudou e que o Código Civil vigente incluiu
o cônjuge sobrevivente como herdeiro legal nas condições estabelecidas
no art. 1.829.

Assim, dependendo do regime de bens do casamento, o cônjuge pode


vir a participar, com os demais herdeiros, da divisão dessa parte do capital
segurado. O(A) companheiro(a) também pode vir a participar da divisão
dessa outra metade nas hipóteses do art. 1.790 do Código Civil.

Fique por dentro


O texto do art. 1.829 do Código Civil, que trata da ordem da vocação hereditária, é o
seguinte:
Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:
I – aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado
este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória
de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da
herança não houver deixado bens particulares;
II – aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III – ao cônjuge sobrevivente;
IV – aos colaterais.

É importante reiterar que seguro não constitui herança (conforme art. 794
do Código Civil) e que o art. 792 apenas se utiliza da ordem da vocação
hereditária como um critério para dividir metade do capital segurado.

—— Transação para Pagamento


Reduzido do Capital Segurado
O art. 795 do Código Civil veda qualquer transação, entre seguradora e
segurado ou beneficiário, para pagamento reduzido do capital, sob pena
de nulidade:

“Art. 795. É nula, no seguro de pessoa, qualquer transação para


pagamento reduzido do capital segurado.”

Portanto, se o segurado falece em razão de doença e se a seguradora


e o beneficiário fizerem acordo pelo qual a primeira pague ao segundo
quantia inferior ao valor original do capital segurado previsto para o risco
de morte natural, tal transação é nula.

DIREITO DO SEGURO 66
UNIDADE 3

É importante mencionar que há casos em que, em face da própria nature-


za da cobertura e do risco ocorrido, o segurado fará jus ao recebimento
de um percentual do capital segurado. É o que ocorre, por exemplo, no
caso de invalidez parcial e permanente por acidente, em que o segura-
do é submetido a uma avaliação médica que determinará seu percentual
de incapacidade e terá direito a receber da seguradora capital segurado
proporcional a ele. Não há, aí, qualquer nulidade. Ela somente existirá se a
seguradora oferecer, e o segurado aceitar, o pagamento de quantia inferior
à apurada como sendo devida.

—— Suicídio
O suicídio do segurado é tratado no art. 798:

“Art. 798. O beneficiário não tem direito ao capital estipulado


quando o segurado se suicida nos primeiros dois anos de vigên-
cia inicial do contrato, ou da sua recondução depois de suspenso,
observado o disposto no parágrafo único do artigo antecedente.

Parágrafo único. Ressalvada a hipótese prevista neste artigo, é


nula a cláusula contratual que exclui o pagamento do capital por
suicídio do segurado.”

De acordo com o dispositivo, o suicídio não estará coberto se ocorrer nos


dois primeiros anos de vigência do contrato.

Também de acordo com o dispositivo, se a cobertura for suspensa por


inadimplência, mas os prêmios em atraso forem quitados ainda no prazo
de suspensão, reabilitando a cobertura, deve-se contar novamente o prazo
de dois anos, assim o suicídio não estará coberto se ocorrer nesse período.

—— Vedação à Exclusão de Certos Riscos


O art. 799 do Código Civil veda a inclusão, no contrato de seguro, de cláu-
sula que exclua a cobertura de risco decorrente da utilização de meio de
transporte mais arriscado, da prestação de serviço militar, da prática de
esporte ou de atos de humanidade em auxílio de terceiro:

Art. 799. O segurador não pode eximir-se ao pagamento do


seguro, ainda que da apólice conste a restrição, se a morte ou a
incapacidade do segurado provier da utilização de meio de trans-
porte mais arriscado, da prestação de serviço militar, da prática
de esporte, ou de atos de humanidade em auxílio de outrem.

Nada impede, contudo, que, por questão de política comercial, a segu-


radora se recuse a aceitar esses riscos ou preveja um prêmio maior para
­cobri-los, como no caso da prática de esportes perigosos. Para isso, é

DIREITO DO SEGURO 67
UNIDADE 3

necessário que o questionário de avaliação de risco que acompanha a


proposta formule perguntas que permitam à seguradora identificar a pos-
sibilidade desses riscos se verificarem.

Caso o segurado, no momento da contratação do seguro, não esteja sujei-


to a um desses riscos, mas essa situação se altere no curso do contrato de
seguro, ele deverá comunicar o fato à seguradora para que esta, conforme
as circunstâncias, calcule e cobre a diferença de prêmio.

—— Sub-Rogação
O art. 800 do Código Civil veda a sub-rogação da seguradora nos Seguros
de Pessoas.

Art. 800. Nos seguros de pessoas, o segurador não pode sub-ro-


gar-se nos direitos e ações do segurado, ou do beneficiário, contra
o causador do sinistro.

Portanto, pago o capital segurado, conforme o caso, ao segurado ou ao


beneficiário, a seguradora não se sub-roga no valor respectivo. Por causa
disso, se o sinistro tiver sido causado por culpa ou dolo de terceiro, a segu-
radora não poderá exigir deste o ressarcimento do quanto pagou.

O motivo para essa proibição é simples. Quando o sinistro sofrido pelo segu-
rado for causado culposa ou dolosamente por um terceiro, haverá para o
próprio segurado, se sobreviver, ou para seus herdeiros, se o segurado fale-
cer, pretensão de reparação de danos contra o terceiro. Se a lei admitisse a
sub-rogação da seguradora nos Seguros de Pessoas, o valor do capital pago
por ela teria que ser, obrigatoriamente, abatido do valor da condenação
eventualmente imposta ao terceiro na ação de reparação de dano movida
pelo segurado ou pelos herdeiros dele. Daí resultaria um anacronismo, pois
o capital segurado, que tem natureza compensatória, estaria sendo abatido
de uma indenização fixada judicialmente e de típica natureza indenizatória.

Além disso, a vedação permite que a reparação civil do segurado ou dos her-
deiros dele contra o terceiro, causador do dano, seja a mais ampla possível.

—— Seguro Coletivo
O art. 801 do Código Civil autoriza que o Seguro de Pessoas seja estipulado
por pessoa física ou jurídica que mantenha vínculo com o grupo em provei-
to do qual o seguro é contratado:

“Art. 801. O seguro de pessoas pode ser estipulado por pessoa


natural ou jurídica em proveito de grupo que a ela, de qualquer
modo, se vincule.

DIREITO DO SEGURO 68
UNIDADE 3

§ 1º O estipulante não representa o segurador perante o grupo


segurado, e é o único responsável, para com o segurador, pelo
cumprimento de todas as obrigações contratuais.

§ 2º A modificação da apólice em vigor dependerá da anuência


expressa de segurados que representem três quartos do grupo.”

O estipulante é o responsável pelo cumprimento de todas as obrigações


contratuais assumidas com a seguradora, inclusive pela arrecadação e
pagamento dos prêmios de seguro.

O § 1º deixa claro que o estipulante não é representante da seguradora.


No caso, uma melhor redação do dispositivo seria se o mesmo tivesse,
objetivamente, afirmado que o estipulante representa o grupo segurado.

O § 2º dispõe que a modificação da apólice em vigor dependerá da con-


cordância expressa de segurados que representem ¾ (três quartos) do
grupo, o que constitui um grande complicador do ponto de vista prático,
pela dificuldade de implementação.

Entretanto, vale ressaltar que não é qualquer modificação da apólice que


precisará ser submetida a essa aprovação, mas apenas aquelas que pos-
sam prejudicar os interesses do grupo segurado.

—— A Exceção Contida no Artigo


802 do Código Civil
Há determinados seguros e coberturas que, aparentemente, podem ser
tidos como Seguros de Pessoas, mas que, na realidade, são típicos Segu-
ros de Danos. O Seguro-Saúde e a cobertura de Assistência Funerária são
exemplos disso.

Para que não haja dúvida a esse respeito, o art. 802 do Código Civil dei-
xa claro que os arts. 789 a 801 do mesmo código (Seção III do Capítulo
do Seguro no Código Civil) não se aplicam às garantias de reembolso de
despesas hospitalares ou de tratamento médico, nem de custeio das des-
pesas de luto e de funeral do segurado:

Art. 802. Não se compreende nas disposições desta Seção a


garantia do reembolso de despesas hospitalares ou de trata-
mento médico, nem o custeio das despesas de luto e de funeral
do segurado.

DIREITO DO SEGURO 69
UNIDADE 3

PRESCRIÇÃO
Para entendermos o conceito de prescrição, primeiro precisamos estudar
o conceito de pretensão.

A pretensão é o poder de, pelas vias judiciais, exigir de alguém uma deter-
minada prestação, positiva ou negativa.

Quando um direito subjetivo é violado, o titular desse direito passa a ter


uma pretensão contra aquele que cometeu a violação.

Essa pretensão deve ser exercida dentro de um prazo específico, previsto em lei.

A prescrição é o fenômeno que extingue a pretensão: passado o prazo


fixado pela lei sem que a pretensão seja exercida, esta é extinta. Por isso,
essa prescrição é chamada de extintiva (porque extingue a pretensão do
titular de um direito).

Tudo isso está previsto no art. 189 do Código Civil:

Art. 189. Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se


extingue, pela prescrição, nos prazos a que aludem os arts. 205 e 206.

Em suma, a prescrição consiste na extinção, pelo decurso de determinado


prazo previsto em lei, da pretensão do titular de um direito subjetivo que
foi violado.

Assim, o corretor de seguro deve estar atento ao estudo dos prazos pres-
cricionais a fim de orientar o segurado no sentido de que, no caso de recu-
sa do pagamento da indenização por parte da seguradora, esse é o prazo
limite durante o qual o segurado pode pleitear judicialmente os direitos
que entende possuir.

Estudaremos, a seguir, os prazos prescricionais nos quais o segurado e o bene-


ficiário para exigir o cumprimento do contrato de seguro pela seguradora.

—— Prescrição do Segurado Contra


a Seguradora no Seguro de
Responsabilidade Civil
De acordo com o art. 206, § 1º, inciso II, do Código Civil, o prazo prescricio-
nal a que se sujeita o segurado para exigir da seguradora o cumprimento
do contrato de seguro é de um ano.

Precisamente nos Seguros de Responsabilidade Civil, esse prazo pode ser


contado de duas formas diferentes. Ambas estão previstas na alínea “a”
do dispositivo:

DIREITO DO SEGURO 70
UNIDADE 3

“Art. 206. Prescreve:


§ 1º Em um ano: [...]
II – a pretensão do segurado contra o segurador, ou a deste contra
aquele, contado o prazo:
a) para o segurado, no caso de seguro de responsabilidade civil,
da data em que é citado para responder à ação de indenização
proposta pelo terceiro prejudicado, ou da data que a este indeniza,
com a anuência do segurador;” (n.g.)

A leitura da alínea “a” permite identificar claramente duas hipóteses:

■ A primeira é a do segurado que é citado para responder a uma


ação de responsabilidade civil movida pela vítima do dano; caso
em que o prazo de um ano para que o segurado exerça a sua pre-
tensão de reembolso em face da seguradora tem início na data
em que o segurado é citado para a ação movida pela vítima; e

Aplicação prática do prazo prescricional no


Seguro de Responsabilidade Civil
Exemplo: na vigência de um Seguro de Automóvel, mais precisamente em 04/08/2018, o
segurado provocou um acidente que causou lesões físicas ao motorista do outro veículo. A
vítima promoveu ação de reparação de danos em face do segurado. A vítima e o segurado
fizeram um acordo nesse processo judicial em 07/10/2018 e o valor ajustado no acordo foi
pago pelo segurado à vítima em 10/10/2018. A prescrição da pretensão do segurado, de
reembolso do quanto pagou, que é de um ano, teve início na data do pagamento feito à
vítima (10/10/2018).

■ A segunda é a do segurado que efetua pagamento à vítima do


dano a título de indenização, caso em que o prazo de um ano para
que o segurado exerça a sua pretensão de reembolso em face da
seguradora tem início na data do mencionado pagamento.
9 Como exemplo disso, O fato é que o Superior Tribunal de Justiça tem entendido que, tanto em
deve ser citado o seguinte
um caso quanto no outro, o prazo prescricional do segurado em face da
precedente: BRASIL. Superior
Tribunal de Justiça. Agravo seguradora terá início somente na data do pagamento feito à vítima.
Regimental nos Embargos de
Para aquele tribunal, quando o segurado for citado para responder a uma
Declaração no Recurso Especial
nº 1413595/RS. Relator: Ministro ação de responsabilidade civil movida pela vítima, e quando ele for reque-
Ricardo Villas Boas Cueva. rer a citação da seguradora para participar da demanda, o prazo de um
Brasília, 20 de maio de 2016. ano para que ele, segurado, exerça, em face da seguradora, a sua preten-
Disponível em: www.stj.jus.br. são de reembolso somente terá início na data em que pagar a indeniza-
Acesso em 04 out. 2016.
ção à vítima.9

DIREITO DO SEGURO 71
UNIDADE 3

—— Prescrição do Segurado Contra a


Seguradora nos Demais Seguros
Nos demais seguros, o mesmo art. 206, § 1º, inciso II, estabelece, na alí-
nea “b”, que a contagem do prazo de um ano seja, nos demais seguros, a
partir da ciência do fato gerador da pretensão:

“Art. 206. Prescreve:


§ 1º Em um ano: [...]
II – a pretensão do segurado contra o segurador, ou a deste contra
aquele, contado o prazo:
[...]
b) quanto aos demais seguros, da ciência do fato gerador da
pretensão;”

A ciência do fato gerador da pretensão pode variar, dependendo das cir-


cunstâncias.

No caso do Seguro de Pessoas, quando a cobertura pretendida pelo segu-


rado for a de Invalidez, seja por doença, seja por acidente, aplica-se a
Súmula nº 278 do Superior Tribunal de Justiça:

“Súmula 278. O termo inicial do prazo prescricional, na ação de


10 A título de exemplo, deve ser indenização, é a data em que o segurado teve ciência inequívoca
citado o seguinte julgado: BRASIL.
da incapacidade laboral.”
Superior Tribunal de Justiça.
Agravo Regimental no Agravo De acordo com julgados do Superior Tribunal de Justiça, a ciência inequí-
de Instrumento nº 1158070/BA.
voca da invalidez pelo segurado, não importando se por doença ou por aci-
Relator: Ministra Maria Isabel
Gallotti. Brasília, 13 de agosto de dente, é a data da concessão da aposentadoria pelo órgão de Previdência.10
2015. Disponível em: www.stj.jus.br.
Nos demais casos, a ciência do fato gerador da pretensão é a data em que
Acesso em 04 out. 2016.
o segurado tem conhecimento do sinistro.

Aplicação prática do prazo prescricional da


pretensão do segurado em face da seguradora
Exemplo 1: na vigência de um Seguro de Automóvel, o segurado e seu veículo se envol-
vem em uma colisão, precisamente em 04/03/2018. A prescrição da pretensão do segu-
rado, que é de um ano, teve início na data da ciência do fato gerador da pretensão, que é
04/03/2018.
Exemplo 2: na vigência de um Seguro de Vida e Acidentes com cobertura para invalidez
por doença, o segurado recebe de seu médico assistente, em 05/07/2018, a notícia de
diagnóstico de uma doença que acarreta sua invalidez total e permanente. Entretanto,
somente em 08/08/2018, o órgão de previdência oficial lhe concedeu aposentadoria por
invalidez. A prescrição da pretensão do segurado, em face da seguradora, que é de um
ano, começou a correr em 08/08/2018.

DIREITO DO SEGURO 72
UNIDADE 3

—— Prescrição do Segurado em Grupo


Nos Seguros Coletivos ou em grupo, é importante mencionar que o prazo
prescricional do segurado, em face da seguradora, é, igualmente, de um
ano, já que o art. 206, § 1º, inciso II, alínea “b”, do Código Civil não faz dis-
tinção entre os seguros individuais e coletivos.

Além disso, o STJ editou a Súmula 101, com o seguinte teor:

Súmula 101. A ação de indenização do segurado em grupo contra


a seguradora prescreve em um ano.

—— Prescrição do Beneficiário
11 Apesar de a literalidade da lei não Na vigência do Código Civil de 1916, o prazo prescricional de que o beneficiá-
deixar dúvida de que o prazo do rio dispunha para exercer, em face da seguradora, a sua pretensão de rece-
beneficiário para propor ação em
bimento do capital segurado era de 20 anos (art. 177 do Código Civil de 1916).
face da seguradora é de três anos,
vale mencionar que dois recentes Esse prazo foi reduzido pelo Código Civil atual, que entrou em vigor em 11
julgados do Superior Tribunal de
de janeiro de 2003.
Justiça decidiram que esse prazo
seria maior, mais precisamente de De acordo com o art. 206, § 3º, inciso IX, do Código Civil, a pretensão do
dez anos (art. 205 do Código Civil).
beneficiário em face da seguradora prescreve em três anos:11
Neste sentido, há precedentes
no STJ, como, por exemplo, este: “Art. 206. Prescreve:
BRASIL. Superior Tribunal de
Justiça. Agravo Regimental no § 3º Em três anos: [...]
Agravo em Recurso Especial nº IX – a pretensão do beneficiário contra o segurador, e a do ter-
266841/RO. Relator: Ministro Raul ceiro prejudicado, no caso de seguro de responsabilidade civil
Araujo. Brasília, 03 de agosto de
obrigatório.”
2015. Disponível em: www.stj.jus.br.
Acesso em 04 out. 2016.

Aplicação prática do prazo prescricional da pretensão do beneficiário


Exemplo : em um Seguro de Vida, o segurado faleceu em 02/02/2018 e o beneficiário
teve conhecimento do óbito no mesmo dia. A prescrição da pretensão do beneficiário,
em face da seguradora, que no Código Civil vigente é de três anos, começou a correr em
02/02/2018.

DIREITO DO SEGURO 73
UNIDADE 3

—— Prescrição do Terceiro Contra


a Seguradora no Seguro de
12 A título exemplificativo, pode Responsabilidade Civil Obrigatório
ser citado o seguinte julgado:
BRASIL. Superior Tribunal de A pretensão de terceiro contra a seguradora também é regulada pelo art. 206,
Justiça. Agravo Regimental no § 3o, inciso IX do Código Civil, que você aprendeu na seção anterior, pres-
Recurso Especial nº 1322977/ crevendo em igual prazo de três anos.
SP. Relator: João Otávio de
Noronha, 12 de agosto de 2015. O Superior Tribunal de Justiça tem observado, criteriosamente, esse prazo
Disponível em: www.stj.jus.br. no julgamento das demandas envolvendo Seguro Obrigatório de Respon-
Acesso em 04 out. 2016.
sabilidade Civil, como as ações envolvendo o Seguro DPVAT.12

Recentemente, aquela corte editou a Súmula 405, confirmando esse prazo:

“Súmula 405. A ação de cobrança do seguro obrigatório (DPVAT)


prescreve em três anos.”

—— Aviso de Sinistro como Causa


Suspensiva da Prescrição
Há várias causas que impedem, suspendem ou interrompem o prazo pres-
cricional. Elas estão previstas nos arts. 197, 198, 199 e 202 do Código Civil.

Para os objetivos pretendidos por este estudo, importa, de forma particular,


uma das causas suspensivas do prazo prescricional: o aviso de sinistro.

A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça consolidou o entendimen-


to de que o aviso de sinistro é uma causa (ou condição) suspensiva do
prazo prescricional (art. 199, I, do Código Civil).

Assim, o aviso de sinistro suspende o prazo prescricional até que a segura-


dora informe se vai, ou não, pagar a indenização ou capital segurado. Por
isso, esse tribunal editou a Súmula 229:

13 A Súmula 229 do STJ é Súmula 229. O pedido de pagamento de indenização à Segura-


constantemente aplicada nas dora suspende o prazo de prescrição até que o Segurado tenha
decisões judiciais, inclusive ciência da decisão.
daquela própria corte. Exemplo
disso é o seguinte julgado: É importante mencionar que, embora a súmula se refira apenas ao segura-
BRASIL. Superior Tribunal de do, ela também se aplica ao beneficiário.
Justiça. Agravo Regimental no
Recurso Especial nº 1536431/MG. Portanto, a prescrição tem início na ciência do fato gerador da pretensão, é
Relator: Ministro Moura Ribeiro. suspensa pelo pedido de pagamento de indenização/capital à seguradora
Brasília, 28 de agosto de 2015. (aviso de sinistro) e volta a correr na data em que o segurado ou beneficiá-
Disponível em: www.stj.jus.br.
rio é comunicado da decisão da seguradora.13
Acesso em 04 out. 2016.

DIREITO DO SEGURO 74
UNIDADE 3

Deste modo, não há fluência de prazo entre a data do aviso de sinistro e


a data da resposta da seguradora. Além disso, o prazo decorrido entre a
ciência do fato gerador da pretensão e o aviso de sinistro deve ser consi-
derado para efeito de contagem (não pode ser descartado).

Aplicação prática de como o Aviso de Sinistro Suspende a Prescrição


Exemplo: na vigência de um Seguro de Automóvel, precisamente em 05 de maio de 2018, o
segurado e seu veículo se envolvem em uma colisão. A prescrição da pretensão do segurado,
em face da seguradora, teve início nessa mesma data. O aviso de sinistro foi feito em 05 de
junho de 2018, suspendendo a fluência da prescrição. O segurado foi informado da recusa em
05 de julho de 2018, data em que a prescrição voltou a correr. Entre a ciência do fato gerador
da pretensão (05 de maio de 2018) e o aviso de sinistro (05 de junho de 2018), decorreu um
mês. Assim, a partir da recusa da seguradora, o segurado terá 11 meses para ajuizar a ação de
cobrança em face da primeira.

DIREITO DO SEGURO 75
FIXANDO CONCEITOS

FIXANDO CONCEITOS 3

Marque a alternativa correta


1. Se, avisada pelo segurado sobre o agravamento, a seguradora decidir
cancelar o contrato de seguro, a garantia:

(a) Estará automaticamente terminada.


(b) Vigerá por mais 30 dias, contados da notificação ao segurado.
(c) Vigerá por mais 15 dias, contados da notificação ao segurado.
(d) Será suspensa até que o segurado se manifeste.
(e) Será suspensa até que o segurado pague a diferença de prêmio.

2. Analise se as proposições são verdadeiras ou falsas e depois marque a


alternativa correta:

( ) O contrato de seguro nunca pode ser renovado automaticamente.


( ) A mora do segurado só fica caracterizada se ele for notificado pela
seguradora.
( ) O risco decorrente de ato doloso do segurado torna nulo o contrato
de seguro.
( ) A ação de indenização do segurado em grupo contra a seguradora
prescreve em cinco anos.

(a) V, F, V, F.
(b) V, V, F, F.
(c) F, V, F, V.
(d) F, V, V, F.
(e) V, V, V, V.

Marque a alternativa correta


3. Podemos afirmar que, nos Seguros de Pessoas, é válida a instituição do
companheiro como beneficiário se, na data da contratação:

(a) O segurado também for beneficiário de um seguro instituído pelo


companheiro.
(b) O companheiro não tiver filhos.
(c) O segurado for solteiro, viúvo, divorciado ou estiver separado de fato
ou judicialmente.
(d) O companheiro figurar como dependente do segurado na Previdên-
cia Social.
(e) O companheiro for maior de idade.

DIREITO DO SEGURO 76
FIXANDO CONCEITOS

4. No seguro instituído pelo proponente sobre a vida de terceiro, é correto


afirmar que:

(a) Somente será beneficiário o filho mais velho.


(b) O proponente não poderá ser casado ou ter companheiro.
(c) O proponente precisa declarar, em qualquer caso, o interesse segu-
rável.
(d) O proponente não precisa declarar o interesse segurável se for côn-
juge, companheiro, ascendente ou descendente do segurado.
(e) A Cláusula beneficiária jamais poderá ser alterada.

5. Em relação ao agravamento do risco no contrato de seguro, é correto


afirmar que:

(a) O prazo para o segurado comunicar à seguradora um fato que agra-


vou o risco é de 60 dias.
(b) Independentemente do agravamento do risco, o segurado sempre
terá direito à indenização.
(c) A seguradora não precisa ser avisada sobre um incidente que agra-
ve o risco.
(d) O segurado perderá o direito à garantia se agravar intencionalmente
o risco objeto do contrato.
(e) A garantia jamais será afetada pela ocorrência do agravamento do
risco se o segurado estiver em dia com o pagamento do prêmio.

6. É correto afirmar que o pagamento com sub-rogação significa:

(a) A isenção de responsabilidade da seguradora em indenizar.


(b) O dever do beneficiário de repassar à seguradora os valores recebi-
dos de terceiros.
(c) A obrigatoriedade da seguradora de indenizar terceiros.
(d) A substituição de um credor por outro.
(e) O dever do segurado de indenizar eventuais vítimas de sinistros.

DIREITO DO SEGURO 77
O CÓDIGO
DE DEFESA
do CONSUMIDOR
04 UNIDADE 4

Após ler esta TÓPICOS


unidade, você deverá DESTA UNIDADE
ser capaz de:
■■ Reconhecer quem pode ser ORIGEM E OBJETIVOS PRESCRIÇÃO PARA A AÇÃO DE
RESPONSABILIDADE CIVIL
considerado consumidor
CONCEITO DE CONSUMIDOR PELO FATO DO SERVIÇO
conforme o Código de
Defesa do Consumidor. ENQUADRAMENTO DA ATIVIDADE DESCONSIDERAÇÃO DA
SECURITÁRIA COMO SERVIÇO PERSONALIDADE JURÍDICA
■■ Diferenciar vulnerabilidade e
hipossuficiência. OFERTA
VULNERABILIDADE E
■■ Descrever os principais HIPOSSUFICIÊNCIA
direitos básicos do DO CONSUMIDOR RECUSA DO FORNECEDOR EM
CUMPRIR A OFERTA
consumidor.
DIREITOS BÁSICOS DO
■■ Definir os conceitos de CONSUMIDOR SOLIDARIEDADE
garantia de cognoscibilidade,
oferta e solidariedade. GARANTIA DE PRÁTICAS ABUSIVAS
COGNOSCIBILIDADE
■■ Descrever o que é fato COBRANÇA DE DÍVIDA JÁ PAGA
de serviço e quando a RESPONSABILIDADE OBJETIVA
seguradora pode ser DO FORNECEDOR PELO CLÁUSULAS ABUSIVAS
FATO DO SERVIÇO
responsabilizada por defeito
CONTRATO DE ADESÃO
na prestação RESPONSABILIDADE SUBJETIVA
do serviço. DO PRESTADOR DE SERVIÇO FIXANDO CONCEITOS 4
PROFISSIONAL LIBERAL
■■ Identificar práticas e
cláusulas abusivas na
relação de consumo.
■■ Compreender quando
um contrato pode ser
considerado de adesão.

DIREITO DO SEGURO 78
UNIDADE 4

ORIGEM E OBJETIVOS
Vamos começar esta unidade tratando da finalidade do Código de Defe-
sa do Consumidor (Lei nº 8.078/1990), também conhecido como CDC.
Ele contém normas de ordem pública e de interesse social que têm por
objetivo atender às necessidades dos consumidores brasileiros, respei-
tando sua dignidade, sua saúde e sua segurança, protegendo seus inte-
resses econômicos, melhorando sua qualidade de vida e promovendo
a transparência e a harmonia nas relações de consumo. Além disso, o
CDC prestigia os critérios da vulnerabilidade e da hipossuficiência do
consumidor.

O CDC foi editado conforme a ótica constitucional e também por força do


art. 48 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, para imple-
mentar a Política Nacional das Relações de Consumo, prevista nos arts.
5º, XXXII, e 170, V, da CRFB/1988.

CONCEITO DE CONSUMIDOR
Primeiramente, precisamos entender o conceito de consumidor. O art. 2º
do Código de Defesa do Consumidor prevê que “consumidor é toda pes-
soa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como des-
tinatário final”.

No entanto, além do consumidor padrão, a lei define ainda três outros tipos
de consumidores, denominados consumidores por equiparação.

O primeiro tipo de consumidor por equiparação é a coletividade de pes-


soas, ainda que indetermináveis, que tenha participado de relações de
consumo (CDC, art. 2º, parágrafo único). O Objetivo desta equiparação é
permitir a defesa geral, ou em bloco, de toda uma classe de consumidores,
inclusive os não identificados.

O art. 2º, parágrafo único, do Código de Defesa do Consumidor comple-


ta-se com o art. 81, que trata dos interesses difusos, coletivos e individuais
homogêneos, que podem ser defendidos mediante ação civil pública.

O segundo tipo de consumidor por equiparação são as pessoas prejudi-


cadas por danos causados por produtos ou serviços (CDC, art. 17).

E o terceiro tipo refere-se a pessoas expostas a certas práticas comer-


ciais previstas no Código de Defesa do Consumidor, como ofertas, publici-
dades, métodos abusivos, cobrança de dívida, banco de dados ou cadas-
tros de consumidores (CDC, art. 29).

DIREITO DO SEGURO 79
UNIDADE 4

Curiosidade
A doutrina diverge sobre o conceito de “destinatário final”. Existem, basicamente, duas
correntes a esse respeito:
Finalista: para esta corrente, é considerado consumidor somente aquele não profissio-
nal que adquire produto ou contrata serviço, esgotando em si mesmo o consumo (ex.:
pai de família que adquire um computador para uso doméstico).
Maximalista: para esta corrente, basta que o consumidor seja o destinatário final daquele
produto ou serviço específico, não importando se esse produto ou serviço foi empregado
para transformar ou produzir outro produto ou prestar outro serviço (ex.: empresa que
adquire tecido para confeccionar roupas para venda).

ENQUADRAMENTO DA ATIVIDADE
SECURITÁRIA COMO SERVIÇO
O art. 3º, § 2º, do CDC enquadra a atividade securitária no conceito de
serviço:

“Art. 3º. Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou pri-


vada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonaliza-
dos, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação,
construção, transformação, importação, exportação, distribuição
ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.

§ 1º Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.

§ 2º Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de con-


sumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária,
financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das rela-
ções de caráter trabalhista.”

Desse modo, fica claro que, nas relações entre segurado e seguradora, na
medida em que o segurado se enquadre no conceito de destinatário final
do seguro, aplicam-se também as regras do Código de Defesa do Consu-
midor, além das regras do Código Civil e da regulamentação expedida pelo
CNSP – Conselho Nacional de Seguros Privados – e pela SUSEP – Supe-
rintendência de Seguros Privados.

DIREITO DO SEGURO 80
UNIDADE 4

VULNERABILIDADE E HIPOSSUFICIÊNCIA
DO CONSUMIDOR
Um dos princípios da Política Nacional das Relações de Consumo estabe-
lecida pelo CDC é o reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no
mercado de consumo, conforme art. 4º, inciso I, desse código:

“Art. 4º. A Política Nacional das Relações de Consumo tem por


objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o
respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus
interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem
como a transparência e harmonia das relações de consumo, aten-
didos os seguintes princípios: (Redação dada pela Lei nº 9.008, de
21 de março de 1995.)

I – reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado


de consumo [...].”

A vulnerabilidade do consumidor consiste na presunção legal da sua fragi-


lidade frente ao poderio econômico do fornecedor e ao fato de este gozar
de melhores condições técnicas e jurídicas. Esta situação de fragilidade
torna o consumidor mais suscetível a ser iludido, enganado ou ludibriado
pelo fornecedor.

A vulnerabilidade se divide em três tipos:

Técnica
É aquela em que o comprador não possui conhecimentos específi-
cos sobre o produto ou serviço que está adquirindo ou contratan-
do, podendo ser mais facilmente enganado. Exemplo disso são os
produtos eletroeletrônicos adquiridos por uma pessoa idosa que
tenha dificuldades em lidar com esse tipo de equipamento.

Científica ou jurídica
É aquela que consiste na falta de conhecimentos científicos especí-
ficos e/ou jurídicos que crie uma situação de desvantagem evidente
do consumidor em relação ao fornecedor de produtos ou serviços.
Exemplo disso são os contratos bancários, como o de empréstimo,
ou as cláusulas de uma apólice de seguro, quando celebrados por
um consumidor com dificuldade ou pouca instrução.

DIREITO DO SEGURO 81
UNIDADE 4

Fática ou socioeconômica
Ocorre quando o fornecedor, seja por sua posição de monopó-
lio fático e por seu grande poder econômico, seja em razão da
essencialidade do produto ou do serviço que oferece, impõe sua
superioridade a todos os consumidores que com ele contratam.
Exemplo disso são os softwares e licenças para uso de softwares
da Microsoft, quando adquiridos por um profissional liberal (enge-
nheiro, economista) que não entenda de informática.

A vulnerabilidade técnica e científica é presumida para o consumidor não


profissional e para o consumidor pessoa física.

É importante que você perceba que o consumidor profissional é presumi-


do não vulnerável quando adquire produto ou serviço sobre o qual detém
considerável conhecimento técnico em razão do seu ofício.

Presume-se, igualmente, não vulnerável o consumidor pessoa jurídica por-


que goza de condição econômica para contratar determinados profissio-
nais para orientar técnica e juridicamente sua decisão de adquirir determi-
nado produto ou serviço.

Já a hipossuficiência é uma característica pessoal do consumidor, que


pode advir de sua condição econômica, social, cultural ou qualquer outra
capaz de influir no seu juízo sobre a relação tratada.

Assim, podemos concluir que vulnerabilidade e hipossuficiência não se


confundem:

“A vulnerabilidade é um traço universal de todos os consu-


midores, ricos ou pobres, educadores ou ignorantes, cré-
dulos ou espertos. Já a hipossuficiência é marca pessoal,
limitada a alguns – até mesmo a uma coletividade –, mas
nunca a todos os consumidores.”
(BENJAMIN, 2001, p.148)

DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR


Agora, vamos estudar os direitos básicos do consumidor: o direito à infor-
mação, o direito à proteção contra publicidade enganosa e abusiva e o
direito à facilitação da defesa de seus direitos.

DIREITO DO SEGURO 82
UNIDADE 4

—— Direito à Informação
O Código de Defesa do Consumidor estabelece no art. 6º, inciso III, como
direito básico do consumidor a informação:

“Art. 6º. São direitos básicos do consumidor: [...]

III – a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e


serviços, com especificação correta de quantidade, características,
composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como
sobre os riscos que apresentem;

Portanto, o dever de informar é princípio fundamental do Código


de Defesa do Consumidor.

Assim, na sistemática implantada pelo CDC, o fornecedor está


obrigado a prestar todas as informações acerca do produto e do
serviço, suas características, qualidades, riscos, preços, etc., de
maneira clara e precisa, não se admitindo falhas ou omissões.

Trata-se de um dever exigido mesmo antes do início de qual-


quer relação. A informação passou a ser componente necessá-
rio do produto e do serviço, que não podem ser oferecidos no
mercado sem ela.

Sabendo disso, a seguradora deve fornecer ao segurado informações cla-


ras, precisas e completas sobre o seguro contratado ou em vias de contra-
tação e, principalmente, sobre eventuais restrições envolvidas no produto
em questão, como, por exemplo, os riscos excluídos. O mesmo ocorre em
relação a corretor que tem o dever de informar ao segurado de forma clara
e precisa, todos os elementos constantes do contrato a ser assinado.

—— Direito à Proteção Contra a


Publicidade Enganosa e Abusiva
O art. 6º, inciso IV, prevê que também é direito básico do consumidor a
proteção contra a publicidade enganosa e abusiva:

Art. 6º. São direitos básicos do consumidor: [...]


IV – a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, méto-
dos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas
e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos
e serviços [...].

DIREITO DO SEGURO 83
UNIDADE 4

De acordo com a lei, é enganosa qualquer modalidade de informação ou


comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, capaz
de induzir o consumidor a erro a respeito da natureza, das características,
da qualidade, da quantidade, das propriedades, da origem, do preço e de
quaisquer outros dados a respeito dos produtos ou dos serviços oferecidos.

Um exemplo é a vinculação de publicidade nos contratos de Seguro de


Vida, em que o segurado teria direito ao resgate da totalidade do valor
pago a título de prêmio, quando, na realidade, tem direito a somente um
determinado percentual.

Logo, o efeito da publicidade enganosa é induzir o consumidor a acreditar


em alguma coisa que não corresponda à realidade do produto ou serviço
em si ou relativamente a seu preço, forma de pagamento, ou, ainda, a sua
garantia, entre outros. O consumidor enganado pensa que está em uma
situação, mas, de fato, está em outra.

É importante que você perceba que o conceito de publicidade enganosa


não se limita àquelas publicidades que, sabidamente, contenham informa-
ções falsas, mas também engloba aquelas que, embora não contenham
informações literalmente falsas, sejam feitas de tal modo que induzam o
consumidor a erro.

O CDC proíbe as propagandas abusivas, incluindo como tal, entre outras, a


publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que incite à violência,
explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamen-
to e experiência da criança, desrespeite valores ambientais, ou que seja
capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou peri-
gosa à sua saúde ou segurança.

O caráter da abusividade não tem necessariamente relação direta com o


produto ou serviço oferecido, mas, sim, com os efeitos da propaganda que
possam causar algum mal ou constrangimento ao consumidor.

Vale lembrar que publicidade enganosa e abusiva são dois conceitos dis-
tintos que o CDC distingue no art. 37:

Art. 37°. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva.

§ 1° É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação


de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer
outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir a erro o consu-
midor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade,
propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produ-
tos e serviços.

DIREITO DO SEGURO 84
UNIDADE 4

§ 2° É abusiva, dentre outras, a publicidade discriminatória de qualquer


natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição,
se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança,
desrespeita valores ambientais ou que seja capaz de induzir o consu-
midor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou
segurança.

§ 3° Para os efeitos deste código, a publicidade é enganosa por omissão


quando deixar de informar sobre dado essencial do produto ou serviço.

—— Direito à Facilitação da Defesa


dos Direitos, Inclusive com a
Inversão do Ônus da Prova
A facilitação da defesa de seus direitos em juízo também constitui direito
básico do consumidor, conforme estabelece o do art. 6º, inciso VIII, do CDC.

Art. 6º. São direitos básicos do consumidor: [...]


VIII – a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inver-
são do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a
critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipos-
suficiente, segundo as regras ordinárias de experiências.
Um dos meios que a lei prevê para promover essa facilitação é a inversão
do ônus da prova em favor do consumidor. O ônus de provar as alegações
incumbe, via de regra, a quem ajuíza a ação. O Código de Defesa do Con-
sumidor possibilita que o ônus da prova seja invertido, ou seja, imposto ao
fornecedor do produto ou serviço, para facilitar a defesa dos direitos do
consumidor principalmente considerando toda a questão da vulnerabilida-
de técnica já exposta anteriormente.

Essa inversão acontecerá a critério do juiz quando este entender que o


consumidor é hipossuficiente e quando as alegações do consumidor lhe
parecerem verossímeis (ou seja, tiverem aparência de verdade). Dessa for-
ma, no caso de recusa por parte da seguradora de indenização em virtude
de agravamento intencional do risco, pode ser determinada a inversão do
ônus da prova, cabendo à seguradora, e não ao segurado, comprovar a
sua ocorrência.

A inversão do ônus da prova é faculdade do juiz, sendo necessário apenas


um dos requisitos apresentados no dispositivo, quer sejam: a verossimi-
lhança das alegações (ou seja, terem aparência de verdade) ou, de forma
alternativa, a hipossuficiência.

DIREITO DO SEGURO 85
UNIDADE 4

GARANTIA DE
COGNOSCIBILIDADE
14 Para confirmar isso, basta A garantia de cognoscibilidade significa que o contrato não obrigará o con-
verificar que, com relação aos sumidor (embora obrigue o fornecedor) se, ao emitir sua declaração de
Seguros de Danos, o art. 3º, Anexo vontade no sentido de contratar, este não havia tido prévio conhecimento
I, da Circular SUSEP
do clausulado do contrato.
nº 256/2004 prevê que “as condições
contratuais do seguro deverão Como requisito indispensável para que o contrato de consumo possa obri-
estar à disposição do proponente
gar o consumidor, o fornecedor deve cumprir a garantia de cognoscibilida-
previamente à assinatura da
respectiva proposta, devendo de, prevista no art. 46 do CDC:
este, seu representante legal ou
“Art. 46. Os contratos que regulam as relações de consumo não
seu corretor de seguros assinar
declaração, que poderá constar da obrigarão os consumidores, se não lhes for dada a oportunidade
própria proposta, de que tomou de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os respec-
ciência das referidas condições tivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a com-
contratuais”. Em relação aos preensão de seu sentido e alcance”.
Seguros de Pessoas com cobertura
de risco, o art. 97 da Circular Portanto, se, ao preencher a proposta de seguro, o consumidor não tiver
SUSEP nº 302/2005 prevê que tido prévio conhecimento das cláusulas contratuais, a garantia de cognos-
“as condições contratuais do
cibilidade não terá sido cumprida, de modo que o contrato obrigará o for-
seguro deverão estar à disposição
necedor (seguradora), sem obrigar o consumidor (proponente).
do proponente previamente à
assinatura da respectiva proposta
É importante mencionar que as normas regulamentares editadas pela
de contratação, no caso de plano
individual, ou da proposta de
SUSEP prestigiam a garantia de cognoscibilidade ao exigirem que o pro-
adesão, no caso de plano coletivo, ponente tenha prévio conhecimento das cláusulas que regerão o contrato
devendo o proponente, seu de seguro.14
representante ou seu corretor
de seguros assinar declaração,
que poderá constar da própria
proposta, de que tomou ciência
das condições contratuais”.
Finalmente, com relação aos
RESPONSABILIDADE OBJETIVA
Seguros de Pessoas com cobertura
de Sobrevivência, o art. 68 da DO FORNECEDOR PELO
Circular SUSEP nº 339/2007
prevê que “o regulamento FATO DO SERVIÇO
atualizado do plano será colocado
à disposição do proponente,
previamente à contratação, sendo A seguir, você pode conferir no art. 14 do CDC, que trata da responsabilida-
obrigatoriamente remetido ao
de do fornecedor pelo fato do serviço, prevê o seguinte:
segurado no ato da inscrição, como
parte integrante da proposta”,
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente
e o parágrafo único estabelece
que “no plano coletivo, a entrega da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
do regulamento será efetuada, consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem
também, ao estipulante, na data da como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua
assinatura do contrato”. fruição e riscos.

DIREITO DO SEGURO 86
UNIDADE 4

§ 1º O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que


o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as
circunstâncias relevantes, entre as quais:
I – o modo de seu fornecimento;
II – o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III – a época em que foi fornecido.
§ 2º O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de
novas técnicas.
§ 3º O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quan-
do provar:
I – que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;
II – a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
§ 4º A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será
apurada mediante a verificação de culpa.

O chamado fato do serviço é o defeito na prestação do serviço, de que


resulta o chamado “acidente de consumo”. O defeito, como causador do
acidente de consumo, é o elemento gerador da responsabilidade civil obje-
tiva (ou seja, que não depende da comprovação de culpa do fornecedor).

No contrato de seguro, somente como exceção, ocorrerá o fato do serviço


15 O Superior Tribunal de Justiça e, consequentemente, o chamado “acidente de consumo”.
já se manifestou diversas vezes
a respeito desse tema, decidindo Alguns exemplos de fato do serviço no contrato de Seguros de Automóveis
que a recusa da seguradora em são: defeito mecânico do carro reserva fornecido ao segurado e demora
pagar o capital segurado ou excessiva e injustificada da seguradora, nos Seguros de Automóveis, em
a indenização não constitui o autorizar reparos no veículo.
chamado “fato do serviço”, mas,
sim, inadimplemento contratual, É importante mencionar que a recusa da seguradora em pagar a indeni-
sujeito à ação de cobrança a
zação securitária ou o capital segurado, por ausência de cobertura ou por
ser promovida pelo segurado
outro fundamento contratual ou legal, consiste em mero inadimplemento
(ou beneficiário, se for o caso)
no prazo previsto no Código contratual e, portanto, não constitui fato do serviço.15
Civil para as ações envolvendo
contrato de seguro. A propósito,
De acordo com o art. 14 do CDC, a responsabilidade do fornecedor pelo
pode ser citado o seguinte fato do serviço é objetiva, ou seja, prescinde da demonstração da culpa do
julgado: BRASIL. Superior fornecedor.
Tribunal de Justiça. Agravo
Regimental no Recurso Especial Assim, basta ao consumidor provar o defeito na prestação do serviço, o dano
nº 1321897/SP. Relator: Ministro sofrido e o nexo de causalidade (relação de causa e efeito) entre um e outro
Carlos Alberto Menezes Direito. para que seja reconhecida a obrigação do fornecedor de reparar o dano.
Brasília, 06 de agosto de 2007.
Disponível em: www.stj.jus.br. A responsabilização do réu passa a ser objetiva, já que res-
Acesso em 04 out. 2016.
ponde, independentemente da existência de culpa, pela
reparação dos danos causados aos consumidores. A alte-
ração da sistemática da responsabilização, retirando-se o
requisito de prova da culpa, não implica dizer que a vítima
nada tenha de provar. Ao contrário, cabe-lhe comprovar

DIREITO DO SEGURO 87
UNIDADE 4

o dano e o nexo de causalidade entre este e o produto


ou serviço. Lembre-se, contudo, que em relação a estes
elementos o juiz pode inverter o ônus da prova quando ‘for
verossímil a alegação’ ou quando o consumidor for ‘hipos-
suficiente’, sempre de acordo com as ‘regras ordinárias de
experiência’ (art. 6º, VIII). (BENJAMIN, 2001, p.156).

De acordo com o § 3º do art. 14 do CDC, o fornecedor somente estará exo-


nerado de responsabilidade se provar:

■■ A culpa do próprio consumidor;


■■ A culpa de terceiro (o terceiro deve ser alguém totalmente estra-
nho à relação de consumo. Não é considerado terceiro a pessoa
física ou jurídica que foi subcontratada pelo fornecedor para pres-
tar o serviço);
■■ Que o serviço prestado não é defeituoso.
■■ A ocorrência de caso fortuito ou de força maior com base na regra
geral constante no art. 393 do Código Civil.

RESPONSABILIDADE SUBJETIVA
DO PRESTADOR DE SERVIÇO
PROFISSIONAL LIBERAL
De acordo com o art. 14, § 4º, do CDC, a responsabilidade do profissional
liberal é subjetiva, ou seja, deve ser aferida mediante a verificação de cul-
pa. É a única exceção ao princípio de responsabilização objetiva do CDC.

O profissional liberal é prestador de serviço solitário, que faz do seu conhe-


cimento uma ferramenta de sobrevivência.

O corretor de seguros pessoa física, que exerce sua atividade de maneira


autônoma, enquadra-se nesse conceito de profissional liberal. Portanto, se
causar um dano a um segurado ou beneficiário, sua responsabilidade é
subjetiva (ou seja, deverá ser apurada mediante a verificação de culpa).
Um exemplo acontece quando o corretor se esquece de protocolar a pro-
posta de renovação de seguro, com consequente recusa da seguradora
em indenizar o segurado em caso de sinistro.

DIREITO DO SEGURO 88
UNIDADE 4

PRESCRIÇÃO PARA A AÇÃO DE


RESPONSABILIDADE CIVIL
PELO FATO DO SERVIÇO
Como vimos na unidade anterior, o art. 26 define que o prazo prescricional
no qual o segurado pode exigir o cumprimento do contrato por parte da
seguradora é de um ano.

Eventualmente, a pretensão do segurado em face da seguradora pode


submeter-se a uma prescrição diferente de um ano. É o que ocorre quando
a pretensão do segurado em face da seguradora é de reparação de dano
pelo chamado fato do serviço.

Conforme já mencionado, fato do serviço é o defeito na prestação do ser-


viço, previsto no art. 14 do CDC, acarretando a responsabilidade objetiva
do fornecedor.

Isso ocorre quando a prestação devida pela seguradora ao segurado con-


siste, efetivamente, na execução de um serviço, não importando se este for
prestado por terceiro.

Se houver defeito ou falha na prestação do serviço, a responsabilidade da


seguradora pelos danos causados ao segurado é objetiva, e somente será
afastada se comprovada uma das excludentes de responsabilidade previs-
tas no § 3º do art. 14 do CDC.

Nesse caso, a ação que o segurado moverá contra o segurador não terá
como objeto o inadimplemento contratual do pagamento de indenização
ou um capital (caso em que se aplica a prescrição de um ano do Código
16 Eis o caso julgado pela Seção Civil), mas, sim, a reparação dos danos sofridos pelo fato do serviço (caso
de Direito Privado: BRASIL. em que se aplica a prescrição do art. 27 do CDC):
Superior Tribunal de Justiça.
Recurso Especial nº 146.186/ “Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos
RJ, Rel. Ministro Ari Pargendler,
danos causados por fato do produto ou do serviço prevista na
Rel. p/ Acórdão Ministro Aldir
Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir
Passarinho Júnior. Brasília, 12 de
dezembro de 2001. do conhecimento do dano e de sua autoria.”

17 A título de exemplo, pode ser A Seção de Direito Privado do Superior Tribunal de Justiça consolidou
citado o seguinte precedente: esse entendimento em julgamento ocorrido no ano de 2002 16 , conforme
BRASIL. Superior Tribunal de o Recurso Especial nº 146.186 – RJ, publicado no DJ de 19/12/2002. Desde
Justiça. Agravo Regimental no então, essa interpretação vem sendo mantida.17
Recurso Especial nº 995890/RN.
Relator: Ministro Antonio Carlos É importante destacar, que a norma dispõe que o início da contagem do
Ferreira. Brasília, 12 de novembro de prazo prescricional se dá a partir do conhecimento do dano e conhecimen-
2013. Disponível em: www.stj.jus.br. to de sua autoria. Somente a partir da conjugação dos dois elementos que
Acesso em 06 out. 2016.
se pode considerar iniciado o curso do prazo prescricional.

DIREITO DO SEGURO 89
UNIDADE 4

DESCONSIDERAÇÃO DA
PERSONALIDADE JURÍDICA
O art. 28 do CDC autoriza o juiz a desconsiderar a personalidade jurídica
do fornecedor em determinadas hipóteses:

“Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da


sociedade, quando, em detrimento do consumidor, houver abuso
de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou
violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração tam-
bém será efetivada quando houver falência, estado de insolvência,
encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por
má administração.”

Esse dispositivo permite que, presentes as situações excepcionais nele


previstas, a personalidade jurídica do fornecedor seja afastada para que se
verifique a responsabilização do acionista e dos administradores da segu-
radora, chamando-os a responder com seus bens pessoais pelo prejuízo
causado ao consumidor. Da mesma forma, se uma corretora de seguro vier
a ser condenada ao pagamento de uma indenização relativa a danos cau-
sados a um segurado, e tiver sua personalidade jurídica desconsiderada
pelo juiz, seus sócios serão diretamente responsabilizados.

O verdadeiro objetivo da aplicação da desconsideração é retirar o escudo


criado personificação jurídica das sociedades, com o objetivo de atingir
aqueles sócios que agiram em desacordo com os interesses sociais, res-
ponsabilizando-os pelas obrigações adquiridas, possibilitando o alcance
do patrimônio pessoal dos mesmos.

OFERTA
Pelo sistema do CDC, qualquer informação ou publicidade dirigida a uma
coletividade ou a um determinado consumidor que contiver os elementos
essenciais para o negócio (coisa e preço) deve ser considerada como ofer-
ta vinculante, bastando ao consumidor o consenso.

A noção de oferta do CDC equivale a de um negócio jurídico unilateral,


pois vincula, ou seja, obriga, o fornecedor (art. 30 do Código de Defesa do
Consumidor).

DIREITO DO SEGURO 90
UNIDADE 4

Pode, por exemplo, ser dirigida a uma coletividade indeterminada de pes-


soas quando veiculada em jornal ou outro meio de comunicação; ou diri-
gida a um específico consumidor quando endereçada pelo correio à resi-
dência de certa pessoa.

Pelo sistema do CDC, qualquer informação ou publicidade dirigida a uma


coletividade ou a um determinado consumidor que contiver os elementos
essenciais para o negócio (coisa e preço) deve ser considerada como ofer-
ta vinculante, bastando do consumidor o consenso.

No seguro, contudo, há uma peculiaridade típica dos contratos aleatórios


(ou seja, fundados no risco): a maioria dos contratos de seguro deve ser
precedida de uma proposta do segurado, tendo a seguradora a prerroga-
tiva de aceitar, ou não, aquele risco.

Porém, uma vez que a seguradora o aceite, as condições constantes da


oferta que ela veiculou, e que conquistou aquele consumidor (isso quando
o segurado puder ser entendido como tal), integram o contrato e prevale-
cem sobre qualquer cláusula em sentido contrário.

Curiosidade
A teoria da desconsideração da pessoa jurídica foi originalmente invocada no ano de
1809, nos Estados Unidos, onde foi denominada disregard of legal entity ou lifting the
corporate veil, expressão que significa “desconsideração da personalidade jurídica e
levantamento do véu da personalidade jurídica”.
Essa teoria foi invocada no caso Bank of the United States contra Deveaux. O art. 3º, II,
da Constituição Americana limita a jurisdição das Cortes Federais às controvérsias entre
“cidadãos” de diferentes estados americanos. Todavia, o juiz Marshall, com o objetivo
de manter a jurisdição de uma Corte Federal sobre aquele caso, adotou a referida
teoria para “olhar além do véu” da empresa (no caso, o banco) e, assim, alcançar seus
sócios. Como estes eram cidadãos de diferentes estados americanos, o juiz Marshall
concluiu que o caso poderia permanecer sob a jurisdição de uma Corte Federal.

É importante mencionar que o art. 31 do CDC prevê a forma pela qual toda
oferta feita pelo fornecedor ao consumidor deve ser realizada:

“Art. 31. A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem


assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em
língua portuguesa sobre suas características, qualidades, quanti-
dade, composição, preço, garantia, prazos de validade e origem,
entre outros dados, bem como sobre os riscos que apresentam à
saúde e segurança dos consumidores.”

DIREITO DO SEGURO 91
UNIDADE 4

RECUSA DO FORNECEDOR EM
CUMPRIR A OFERTA
Caso o fornecedor se recuse a cumprir uma oferta feita ao consumidor,
este terá ao seu dispor as alternativas previstas no art. 35 do CDC:

Art. 35. Se o fornecedor de produtos ou serviços recusar cumpri-


mento à oferta, apresentação ou publicidade, o consumidor pode-
rá, alternativamente e à sua livre escolha:

I – exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da ofer-


ta, apresentação ou publicidade;
II – aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente;
III – rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia eventual-
mente antecipada, monetariamente atualizada, e a perdas e danos.

Dessa forma, verifica-se que a norma dá ao consumidor alternativas para


o exercício de seu direito e que ele escolhe livremente (cumprimento for-
çado da oferta, aceitação de outro produto ou serviço, ou a rescisão do
contrato). A opção por qualquer das hipóteses previstas é feita sem que
o consumidor tenha que apresentar qualquer justificativa ou fundamento.
Basta a manifestação da vontade; apenas sua exteriorização objetiva.

SOLIDARIEDADE
De acordo com o art. 34 do CDC, o fornecedor é solidariamente responsá-
vel pelos atos praticados por seus prepostos e representantes que causem
dano ao consumidor:

Art. 34. O fornecedor do produto ou serviço é solidariamente


responsável pelos atos de seus prepostos ou representantes
autônomos.

Portanto, a seguradora responde, solidariamente, com seus prepostos e


agentes autorizados, pelos atos destes que causem dano ao segurado ou
ao beneficiário. Assim, o corretor de seguros também é solidariamente res-
ponsável pelos atos praticados por seus prepostos que causem dano ao
segurado ou ao beneficiário.

DIREITO DO SEGURO 92
UNIDADE 4

Saiba mais
A regra é: havendo pluralidade de devedores, cada um é responsável por apenas uma
parte da dívida. Porém, quando houver solidariedade passiva, mesmo aquele que deve
apenas uma parte fica responsável por toda a dívida, se for escolhido pelo credor para
cumprir a obrigação, conforme o art. 904 do Código Civil. Isso representa uma vanta-
gem para o credor que, em vez de receber de cada devedor o que lhe é devido, pode
cobrar e receber totalmente a dívida de uma única pessoa, cabendo ao devedor que
pagou a dívida ser restituído pelos demais devedores solidários.

PRÁTICAS ABUSIVAS
O CDC traz um rol de práticas consideradas abusivas em seu art. 39. Esse
rol não é taxativo, razão pela qual o juiz pode, em cada caso concreto, ana-
lisando a conduta do fornecedor, identificar outras práticas que contenham
característica de abusividade.

Serão destacadas, a seguir, algumas das práticas listadas no art. em questão.

—— Venda Casada
Entre as práticas consideradas abusivas pelo CDC, e por ele vedadas, está
a chamada venda casada, prevista no inciso I do art. 39:

Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre


outras práticas abusivas:

I – condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao forne-


cimento de outro produto ou outro serviço, bem como, sem justa
causa, a limites quantitativos.

A norma proíbe a conhecida “operação casada” ou “venda casada”, por


meio da qual o fornecedor pretende obrigar o consumidor a adquirir um
produto ou serviço apenas pelo fato de ele estar interessado em adquirir
outro produto ou serviço.

A venda casada ocorre, por exemplo, quando, para conceder um emprés-


timo ao correntista para a aquisição de um veículo, o gerente da ins-
tituição financeira impõe, como condição, a contratação de um Seguro
Residencial.

DIREITO DO SEGURO 93
UNIDADE 4

Porém, não constitui venda casada a exigência pela instituição ou agente


financeiro, que concede ao consumidor um empréstimo ou financiamento,
18 A Súmula 473 foi editada pelo
Superior Tribunal de Justiça, em
da contratação de Seguro Prestamista, destinado a liquidar o saldo devedor
13/06/2012, que dispõe: no caso de morte, invalidez ou desemprego do consumidor segurado. Nes-
“O mutuário do SFH não pode ser te caso, o seguro é condição essencial para a concessão do empréstimo ou
compelido a contratar o seguro financiamento, constituindo garantia da obrigação assumida pelo consumidor.
habitacional obrigatório com a
instituição financeira mutuante ou Todavia, conforme já decidiu o Superior Tribunal de Justiça, o consumidor
com a seguradora por ela indicada”. não está obrigado a contratar o Seguro Prestamista com seguradora per-
Disponível em: www.stj.jus.br. tencente ao mesmo grupo financeiro da instituição ou agente financeiro
Acesso em 06 out. 2016.
que lhe concede o empréstimo ou o financiamento.18

—— Seguro Não Solicitado


Outra prática abusiva muito comum, prevista no inciso III do art. 39, consis-
te no fornecimento de produto ou serviço não solicitado previamente pelo
consumidor:

Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre


outras práticas abusivas: [...]
III – enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia, qual-
quer produto, ou fornecer qualquer serviço [...].

Assim, a norma é taxativa em proibir o envio ou a entrega ao consumidor


sem que este tenha previamente solicitado qualquer produto ou serviço.

Alguns serviços fornecidos sem solicitação implicam graves violações aos


direitos do consumidor, podendo causar-lhes severos danos.

Um exemplo bem comum ocorre quando, sem que haja solicitação do con-
sumidor, a administradora de cartão de crédito insere, na fatura do consu-
midor, cobrança de seguro contra furto ou roubo do cartão.

—— Comercialização de Seguro
cujo Contrato Não Tenha Sido
Submetido à Aprovação da SUSEP
ou Esteja em Desacordo com
as Normas Regulamentares
O inciso VIII do art. 39 do CDC veda a comercialização de produto ou ser-
viço que esteja em desacordo com as normas regulamentares ou que não
tenha sido submetido à aprovação do órgão regulador competente, quan-
do houver:

DIREITO DO SEGURO 94
UNIDADE 4

Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre


outras práticas abusivas: [...]
VIII – colocar, no mercado de consumo, qualquer produto ou ser-
viço em desacordo com as normas expedidas pelos órgãos ofi-
ciais competentes ou, se normas específicas não existirem, pela
Associação Brasileira de Normas Técnicas ou outra entidade cre-
denciada pelo Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e
Qualidade Industrial (Conmetro) [...].

Desse modo, é importante que você tenha sempre em mente que as segu-
radoras não podem comercializar contratos de seguro que não tenham
sido submetidos à prévia aprovação da SUSEP ou que se mostrem incom-
patíveis com as normas regulamentares vigentes.

—— Prazo para Cumprimento


da Obrigação
De acordo com o inciso XII do art. 39 do CDC, constitui prática abusiva do
fornecedor a ausência de fixação de um prazo para cumprimento de sua
obrigação:

Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre


outras práticas abusivas: [...]
XII – deixar de estipular prazo para cumprimento de sua obrigação
ou deixar a fixação de seu termo inicial a seu exclusivo critério.

Trata-se de uma norma de especial importância. O fornecedor tem que


estipular quando cumprirá sua obrigação ou quando terá início sua obriga-
ção. Constitui prática abusiva não o fazer.

O prazo para que a seguradora liquide o sinistro nos Seguros de Danos,


de acordo com o art. 33, § 1º, da Circular SUSEP nº 256/2004, é de 30 dias,
contados da entrega de todos os documentos básicos previstos naquele
artigo. O prazo é o mesmo para os Seguros de Pessoas com cobertura de
Risco, conforme o art. 72 da Circular SUSEP nº 302/2005.

Assim, é essencial que esse prazo conste da cláusula de liquidação de


sinistros do contrato de seguro.

COBRANÇA DE DÍVIDA JÁ PAGA


De acordo com o art. 42 do CDC, o consumidor que for cobrado indevida-
mente por dívida já paga tem direito a exigir do fornecedor a restituição em
dobro do valor pago a mais:

DIREITO DO SEGURO 95
UNIDADE 4

Art. 42. Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não


será exposto a ridículo, nem será submetido a qualquer tipo de
constrangimento ou ameaça.

Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida


tem direito à repetição do indébito, por valor igual ao dobro ao
que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e juros
legais, salvo hipótese de engano justificável.

Vale lembrar que a cobrança de uma dívida é ação regular do credor em


relação ao devedor. O CDC, obviamente, não a impede. O credor continua
podendo cobrar, porém as ações que ele está autorizado a praticar somen-
te podem ser aquelas que não configurem abuso do seu direito.

O que está proibido, portanto, é a chamada cobrança abusiva. Não pode


o credor utilizar-se de ameaça, coação, constrangimento físico ou moral,
interferir com seu trabalho, descanso ou lazer, nem promover sua exposi-
ção ao ridículo.

O não cumprimento de tal disposição constitui crime de conformidade com


o art. 71 do CDC:

Art. 71. Utilizar, na cobrança de dívidas, ameaça, coação, constrangimento


físico ou moral, afirmações falsas incorretas ou enganosas ou de qualquer
outro procedimento que exponha o consumidor, injustificadamente, a ridí-
culo ou interfira com seu trabalho, descanso ou lazer:

Pena Detenção de três meses a um ano e multa.

Por outro lado, salvo engano justificável, o consumidor terá direito ao


valor igual ao dobro, por quantia que tenha sido cobrada e paga de for-
ma indevida e excessiva.

Assim, por exemplo, se o prêmio de seguro mensal for pago por meio de
débito automático em conta corrente do segurado e o desconto de uma
mesma parcela for feito em duplicidade, a seguradora terá que restituir em
dobro o valor indevidamente debitado, caso não tenha uma justificativa
plausível para o erro.

CLÁUSULAS ABUSIVAS
A cláusula abusiva é aquela que é notoriamente desfavorável à parte mais
fraca na relação contratual, que é, mais frequentemente, o consumidor.

O art. 51 do CDC traz um extenso rol de cláusulas consideradas abusivas.


Esse rol também não é exaustivo, podendo o juiz, em cada caso, identificar a
presença, no contrato questionado pelo consumidor, de cláusulas abusivas.

DIREITO DO SEGURO 96
UNIDADE 4

Para fins deste estudo, merece destaque a previsão contida no inciso IV e


no § 1º do art. 51:

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas con-
tratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:
[...]
IV – estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que
coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam
incompatíveis com a boa-fé ou a equidade.
[...]
§ 1º Presume-se exagerada, entre outros casos, a vantagem que:
I – ofende os princípios fundamentais do sistema jurídico a que
pertence;
II – restringe direito ou obrigações fundamentais inerentes à natu-
reza do contrato, de tal modo a ameaçar seu objetivo ou o equilí-
brio contratual;
III – se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, consi-
derando-se a natureza e o conteúdo do contrato, o interesse das
partes e outras circunstâncias peculiares ao caso.

Assim, a existência de cláusula abusiva no contrato de consumo torna invá-


lida a relação contratual pelo rompimento do equilíbrio entre as partes,
já que tal cláusula estará presente em contrato de adesão cuja redação
coube ao fornecedor.

É fundamental que não se confunda a cláusula abusiva, vedada pelo art. 51


do CDC, com a cláusula restritiva, admitida pelo mesmo código no art. 54,
§ 4º, a qual será estudada a seguir.

Curiosidade
Entre a segunda metade do século XVIII e a primeira do século XX, ocorreram profundas
transformações no mundo, com destaque para o desenvolvimento científico e tecnológico,
a Revolução Industrial e os movimentos sociais destinados a alcançar direitos e garantias
para as relações de trabalho. Nesse período surgiu, nos Estados Unidos, o movimento con-
sumerista, que alterou substancialmente as relações entre consumidor e fornecedor.
A massificação dos meios de produção e fornecimento, a necessidade de facilitar e
abreviar a circulação dos bens e serviços e o dirigismo estatal exigiram a padronização
dos contratos de consumo por meio da fixação de cláusulas unilaterais e previamente
dispostas pelos fornecedores, impondo a utilização de instrumentos práticos, rápidos e
uniformes. Surgiu, assim, o contrato de adesão, que estudaremos a seguir.

DIREITO DO SEGURO 97
UNIDADE 4

CONTRATO DE ADESÃO
No contrato de adesão, a participação do consumidor limita-se à aceita-
ção em bloco de uma série de cláusulas elaboradas antecipadamente
pelo fornecedor. Caracteriza-se, assim, por permitir que seu conteúdo seja
antecipadamente elaborado por uma das partes, eliminando a negociação
quanto ao conteúdo das cláusulas que, normalmente, precede a formação
de um contrato.

A maioria dos contratos de consumo caracteriza-se pela adesão, seja por-


que ela implica redução de custos para o fornecedor, seja porque acarreta
a uniformidade de tratamento dos consumidores.

O contrato de adesão tem, portanto, a função de agilizar os negócios jurídi-


Saiba mais cos, permitindo que um maior número de consumidores tenha acesso mais
fácil/rápido a produtos e serviços.
Contratos no código de defesa do
consumidor: o novo regime das Porém, justamente pelo fato de o conteúdo dos contratos de adesão ser
relações contratuais. 4. ed. São redigido unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, suas
Paulo: Revista dos Tribunais, 2004 cláusulas, muitas vezes, têm caráter de abusividade. Além disso, não é
incomum a prática de oferta em não conformidade com as regras do Códi-
go de Defesa do Consumidor.

O contrato de seguro, na maioria dos casos, é de adesão, pois as cláusulas


contratuais são redigidas pela seguradora e submetidas à aprovação do
órgão regulador competente (SUSEP) para posterior comercialização, res-
tando ao consumidor aderir ao seu conteúdo.

A característica de adesão, contudo, não estará presente quando as cláu-


sulas contratuais do seguro forem livremente ajustadas entre as partes,
em igualdade de condições, o que ocorre, normalmente, em seguros de
grandes riscos.

O dispositivo do Código de Defesa do Consumidor que disciplina especi-


ficamente os contratos de adesão é o art. 54, que estabelece os critérios
para que estes possam obrigar o consumidor e, ainda, para que suas cláu-
sulas possam ser consideradas válidas.

Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido


aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateral-
mente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consu-
midor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo.

§ 1º A inserção de cláusula no formulário não desfigura a natureza


de adesão do contrato.

§ 2º Nos contratos de adesão admite-se cláusula resolutória, des-


de que alternativa, cabendo a escolha ao consumidor, ressalvan-
do-se o disposto no § 2º do artigo anterior.

DIREITO DO SEGURO 98
UNIDADE 4

§ 3º Os contratos de adesão escritos serão redigidos em termos


claros e com caracteres ostensivos e legíveis, cujo tamanho da
fonte não será inferior ao corpo doze, de modo a facilitar sua com-
preensão pelo consumidor.

§ 4º As cláusulas que implicarem limitação de direito do consumi-


dor deverão ser redigidas com destaque, permitindo sua imediata
e fácil compreensão.”

Dessa forma, os contratos de seguro se utilizam, frequentemente, das cláu-


sulas restritivas, autorizadas pelo § 4º do art. 54 do CDC.

Como a seguradora pode particularizar os riscos que pretende assumir,


não estando obrigada a pagar indenização ou capital segurado por aque-
les que não se dispôs a cobrir (conforme o art. 757 do Código Civil), é
fundamental que o contrato de seguro contenha cláusulas restritivas que
informem claramente quais riscos estão cobertos e quais estão excluídos.

Para que essas cláusulas restritivas sejam válidas, sua redação deve aten-
der aos requisitos estabelecidos pelo art. 54 do CDC.

DIREITO DO SEGURO 99
FIXANDO CONCEITOS

FIXANDO CONCEITOS 4

Marque a alternativa correta


1. O Código de Defesa do Consumidor foi elaborado e editado em 1990
para cumprir um mandamento contido no(a):

(a) Constituição Federal de 1988.


(b) Código Civil.
(c) Código Comercial.
(d) Código de Processo Civil.
(e) Código Tributário Nacional.

Analise as proposições a seguir e depois, marque a alternativa


correta
2. Sobre o contrato de adesão, é correto afirmar que:

I – Suas cláusulas são redigidas unilateralmente pelo fornecedor.


II – Deve ser escrito em termos claros e com caracteres ostensivos e
legíveis.
III – É proibido pelo Código de Defesa do Consumidor.
IV – Não pode conter cláusulas restritivas.

Agora assinale a alternativa correta:


(a) Somente I é proposição verdadeira.
(b) Somente II é proposição verdadeira.
(c) Somente I e II são proposições verdadeiras.
(d) Somente I e IV são proposições verdadeiras.
(e) I, II, III e IV são proposições verdadeiras.

Marque a alternativa correta


3. De acordo com o Código de Defesa do Consumidor, o fornecedor de
produtos e serviços, em relação aos atos praticados por seus prepostos e
representantes que causem dano ao consumidor, é considerado:

(a) Parcialmente responsável.


(b) Administrativamente responsável.
(c) Responsável tributário.
(d) Solidariamente responsável.
(e) Penalmente responsável.

DIREITO DO SEGURO 100


FIXANDO CONCEITOS

4. Constitui prática abusiva:

I – Enviar ao consumidor produto ou serviço não solicitado.


II – Inserir cláusula restritiva de direito no contrato.
III – Fazer venda casada.
IV – Descumprir a garantia de cognoscibilidade.

Agora assinale a alternativa correta:


(a) Somente I é proposição verdadeira.
(b) Somente II é proposição verdadeira.
(c) Somente IV é proposição verdadeira.
(d) Somente I e III são proposições verdadeiras.
(e) Somente III e IV são proposições verdadeiras.

5. Analise se as proposições são verdadeiras ou falsas e depois marque a


alternativa correta:

( ) A vulnerabilidade do consumidor é a presunção legal de sua fragili-


dade no mercado de consumo.
( ) Só o consumidor profissional tem direito à inversão do ônus da prova.
( ) A publicidade inteira ou parcialmente falsa é enganosa.
( ) O direito à proteção contra a publicidade abusiva e enganosa é direito
básico do consumidor.

(a) V, F, V, V. (d) F, F, V, F.
(b) V, F, F, V. (e) F, F, F, F.
(c) F, V, F, V.

6. É correto afirmar que a prática abusiva estabelecida pelo Código de


Defesa do Consumidor, denominada “venda casada” ou “operação casa-
da”, é legalmente definida como:

(a) Operação que envolve mais de um consumidor na mesma relação


de consumo.
(b) Prática consistente na alienação de imóveis ou empreendimentos
imobiliários.
(c) A permuta ou escambo entre fornecedor e consumidor de produtos
diferentes.
(d) Condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao forneci-
mento de outro produto ou outro serviço, bem como, sem justa cau-
sa, a limites quantitativos.
(e) Prestação de serviços consistente na realização de eventos festivos
sem o consentimento dos consumidores.

DIREITO DO SEGURO 101


ESTUDO DE CASO

ESTUDOS DE CASO

Caso 1
Luísa aliena a propriedade de seu veículo a João e, para documentar essa
venda, assina o documento único de trânsito em favor dele. Além disso,
pretendendo transferir o seguro do automóvel juntamente com a proprie-
dade do bem, e sendo a apólice nominativa, Luísa e João fazem aviso
escrito à seguradora, datado e assinado por ambos. No entanto, uma das
cláusulas dessa apólice veda a transferência do contrato de seguro a ter-
ceiro. Pergunta-se: o instrumento particular firmado por Luísa em favor de
João é eficaz?

Caso 2
Laura contrata um Seguro de Vida e Acidentes e indica sua mãe, Carmem,
como beneficiária. Na vigência do contrato de seguro, Carmem falece. Lau-
ra, no entanto, não substitui a beneficiária falecida por outra pessoa. Ainda
na vigência dessa apólice, Laura falece em razão de risco coberto. Todavia,
a segurada não tinha cônjuge ou companheiro, nem deixou outros herdei-
ros legais. Pergunta-se: é possível que alguém se habilite ao recebimento
do capital segurado?

Caso 3
João contrata um Seguro de Vida Individual com garantia adicional de
Assistência Funeral. Por essa garantia, a seguradora se compromete a
contratar terceiros para realizar o funeral (capela, urna, flores, carro funerá-
rio). O segurado falece, e a beneficiária comunica o sinistro. A seguradora
informa que providenciará o serviço funerário. A empresa contratada pela
seguradora para prestá-lo acerta com a beneficiária os detalhes, mas, no
dia e horário combinados para o funeral, nenhum dos serviços é fornecido.
A beneficiária se vê obrigada a providenciar tudo por conta própria. Mais
tarde, impetra ação judicial contra a seguradora. Esta, em sua defesa, ale-
ga que está isenta de responsabilidade, porque a hipótese é de culpa de
terceiro. Pergunta-se: o fundamento da defesa da seguradora procede?

DIREITO DO SEGURO 102


ESTUDO DE CASO

Caso 4
Márcia contrata um seguro residencial com cobertura para Incêndio, Rou-
bo, Responsabilidade Civil, Moradia Temporária e outras, além de lhe ter
sido concedido, adicionalmente, um serviço de assistência residencial 24
horas. Na vigência da apólice, um pequeno vazamento ocorre na cozinha
da residência. Márcia decide acionar o bombeiro hidráulico oferecido pelo
serviço de assistência da seguradora para realizar o reparo. O bombeiro
tenta efetuar o reparo, mas, por imperícia, acaba provocando o rompimen-
to do cano e a completa inundação da residência da segurada. Em função
disso, diversos bens são danificados, causando prejuízo a Márcia. Pergun-
ta-se: a ação a ser proposta por Márcia para obter a reparação do dano
está sujeita a qual prazo prescricional?

Caso 5
A viúva de um segurado, beneficiária de um seguro de vida, vivenciando
uma série de dificuldades financeiras, ingressa com o pedido de indeni-
zação a uma seguradora. A seguradora informa que haverá uma demora
significativa para efetuar o pagamento, propondo o pagamento imediato,
mas com uma redução de 20% do valor do capital segurado. Em razão da
necessidade, a beneficiária aceita, assinando o respectivo recibo e dando
quitação. Agora responda: assiste ainda algum direito à beneficiária?

Caso 6
Determinado cidadão realiza uma série de compras em uma grande loja
de departamentos, com pagamento a crédito por financiamento fornecido
pela própria empresa. Após estar inadimplente em mais de três mensalida-
des, e não tendo a empresa êxito na cobrança da dívida, o departamento
financeiro entra em contato com o empregador do consumidor, informan-
do o ocorrido e solicitando providências para que seu empregado compa-
reça à loja a fim de saldar o débito. Agora responda: existe algum tipo de
irregularidade em tal cobrança?

Caso 7
Um consumidor sofre severos danos em relação a um determinado produto
fabricado por uma empresa. O consumidor ingressa em juízo e a sentença
determina que a empresa deve efetuar o pagamento de uma indenização
em dinheiro. O consumidor não consegue receber o que lhe é devido, pois
a empresa utiliza uma série de expedientes para não efetuar o pagamen-
to, alegando, inclusive, que não possui dinheiro nem bens. Disserte sobre
quais direitos são assegurados ao consumidor, pelo Código de Defesa do
Consumidor, a fim de facilitar o recebimento do que lhe é devido.

DIREITO DO SEGURO 103


GABARITO

GABARITO

Fixando Conceitos
UNIDADE 1 UNIDADE 2 UNIDADE 3 UNIDADE 4

1–A 1–B 1–B 1–A

2–E 2–B 2–D 2–C

3–C 3–A 3–C 3–D

4–C 4–C 4–D 4–D

5–C 5–C 5–D 5–A

6–B 6–E 6–D 6–D

Estudos de Caso
Caso 1
Não, pois o contrato de seguro veda expressamente a transferência do
seguro juntamente com a propriedade do veículo, e tal vedação é permiti-
da pelo art. 785 do Código Civil.

Caso 2
Sim. De acordo com o parágrafo único do art. 792 do Código Civil, se não
houver beneficiário designado, ou se por qualquer motivo não puder pre-
valecer a indicação de beneficiário feita pelo segurado, serão beneficiários
os que provarem que a morte do segurado os privou dos meios necessá-
rios à subsistência. Portanto, qualquer pessoa que preencha esse requisito
poderá se habilitar ao recebimento do capital segurado.

Caso 3
Não. A hipótese é de defeito na prestação, pois a garantia adicional de
Auxílio Funeral consiste na prestação de um serviço ao beneficiário do
seguro, que, embora executado por terceiro, é oferecido pela seguradora,
sendo portanto, sua obrigação contratual. Deste modo, aplica-se à segura-
dora a responsabilidade objetiva do art. 14 do Código de Defesa do Consu-
midor. O fornecedor estará exonerado da obrigação de indenizar apenas
se provar a ocorrência de uma das excludentes de responsabilidade men-
cionadas no § 3º daquele artigo ou de caso fortuito ou força maior. No caso
concreto, a empresa contratada pela seguradora para prestar o serviço, e
que deixou de fazê-lo, não pode ser considerada “terceiro” em relação à
seguradora, razão pela qual esta não pode arguir em sua defesa a culpa de
terceiro para tentar se eximir de sua responsabilidade.

DIREITO DO SEGURO 104


GABARITO

Caso 4
A ação será de reparação de dano pelo fato do serviço (defeito na prestação
do serviço), baseada no art. 14 do Código de Defesa do Consumidor, subme-
tendo-se, portanto, à prescrição de cinco anos, prevista no art. 27 do CDC.

Caso 5
Dispõe o Código Civil que é nula, no seguro de pessoa, qualquer transa-
ção para pagamento reduzido do capital segurado. Diante de tal circuns-
tância, a beneficiária poderá ainda pleitear judicialmente a diferença do
capital segurado, uma vez que a transação é nula.

Caso 6
Dispõe o Código de defesa do Consumidor que, na cobrança de débi-
tos, o consumidor inadimplente não será exposto a ridículo, nem será
submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça. A cobrança
de uma dívida é ação regular do credor em relação ao devedor. O CDC,
obviamente, não a impede. Entretanto, na situação apresentada, ficou
caracterizada a cobrança abusiva, em local de trabalho, prática proibida
pelo Código do Consumidor.

Caso 7
De conformidade com o Código de Defesa do Consumidor, o juiz poderá
desconsiderar a personalidade jurídica da empresa. O dispositivo permi-
te que, na situação exposta, a personalidade jurídica do fornecedor seja
afastada para que se verifique a responsabilização do acionista ou dos
administradores da empresa, chamando-os a responder com seus bens
pessoais pelo prejuízo causado ao consumidor.

DIREITO DO SEGURO 105


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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DIREITO DO SEGURO 106


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DIREITO DO SEGURO 107


O SISTEMA
NACIONAL de
REGULAÇÃO,
01
SUPERVISÃO e FISCALIZAÇÃO de SEGUROS
PRIVADOS, de PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR
ABERTA, CAPITALIZAÇÃO e CORRETAGEM
UNIDADE 1

Após ler esta unidade, você deverá ser capaz de: TÓPICOS
DESTA UNIDADE
■■ Identificar as principais ■■ Diferenciar cosseguro,
normas jurídicas sobre resseguro e retrocessão. AS PRINCIPAIS NORMAS LEGAIS
Seguros Privados, E REGULAMENTARES
■■ Definir quais são os
Previdência Complementar
seguros legalmente O SISTEMA NACIONAL DE
Aberta, Capitalização,
obrigatórios no país. REGULAÇÃO, SUPERVISÃO E
Resseguros e Corretagem.
FISCALIZAÇÃO DE SEGUROS
■■ Entender os fundamentos
■■ Descrever a composição PRIVADOS, DE PREVIDÊNCIA
das operações de COMPLEMENTAR ABERTA,
do Sistema Nacional de
seguro e resseguro no CAPITALIZAÇÃO E CORRETAGEM
Regulação, Supervisão
Brasil e suas normas
e Fiscalização de
regulamentadoras. COMPETÊNCIAS DOS ÓRGÃOS
Seguros Privados, de QUE COMPÕEM O SISTEMA
Previdência Complementar ■■ Compreender e NACIONAL DE REGULAÇÃO,
Aberta, Capitalização e saber distinguir as SUPERVISÃO E FISCALIZAÇÃO DE
Corretagem. responsabilidades SEGUROS PRIVADOS, PREVIDÊNCIA
administrativa, civil e penal COMPLEMENTAR ABERTA,
■■ Distinguir as competências CAPITALIZAÇÃO E CORRETAGEM
do corretor de seguros.
do CNSP, da SUSEP e do
CRSNSP. AS OPERAÇÕES DE
SEGUROS PRIVADOS

OS SEGUROS OBRIGATÓRIOS

RESSEGURO – LEI COMPLEMENTAR


Nº 126/2007

FIXANDO CONCEITOS 1

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 109


UNIDADE 1

AS PRINCIPAIS NORMAS LEGAIS


E REGULAMENTARES
Vamos começar esta unidade estudando as normas legais e infralegais.

Contudo, você pode estar se perguntando: qual a importância dessas normas?

A resposta é: muita importância!

Os profissionais que pretendem atuarnos setores de Seguros Privados,


Previdência Complementar Aberta,Capitalização e Resseguros, bem como
a corretagem de seguros, devem conhecer as principais normaslegais e
infralegais regulamentares que se aplicam a tais atividades.

Conforme já falamos, essas atividades são regidas por um conjunto de


normas legais e infralegais regulamentares (ex.: resoluções editadas pelo
Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) e circulares emanadas
pela Superintendência de Seguros Privados (SUSEP), as quais dispõem
sobre a atividade dos seguros privados. São elas:

Constituição da República Federativa do Brasil (CRFB): a Constituição


da República Federativa do Brasil, de 1988, estabelece em seu art. 21, inci-
so VIII, que compete à União: “Administrar as reservas cambiais do País e
fiscalizar as operações de natureza financeira, especialmente as de crédito,
câmbio e capitalização, bem como as de seguros e de previdência privada”.
No art. 22, inciso VII, dispõe que compete privativamente à União legislar
sobre “política de crédito, câmbio, seguros e transferência de valores”.

Lei nº 4.594/1964 (com alterações posteriores): regula a profissão de


corretor de seguros.

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 110


UNIDADE 1

Decreto nº 56.903/1965: regula a profissão de corretor de seguros de


Vida e de Capitalização, de conformidade com o art. 32 da Lei nº 4.594, de
29 de dezembro de 1964.

Decreto-Lei nº 73/1966: dispõe sobre o Sistema Nacional de Seguros Priva-


dos, regula as operações de seguros e resseguros e dá outras providências.

Decreto-Lei nº 261/1967: institui e regulamenta o Sistema Nacional de


Capitalização.

Decreto nº 60.459/1967: regulamenta o Decreto-Lei nº 73, de 1966.

Lei nº 8.078/1990: cria o Código de Defesa do Consumidor.

Lei Complementar nº 109/2001: dispõe sobre o Regime de Previdência


Complementar e dá outras providências.

Lei nº 10.406/2002 (o Código Civil, de 2002): contém disposições sobre


a corretagem e seguros.

Lei Complementar nº 1126/2007: dispõe sobre a política de resseguro,


retrocessão e sua intermediação, as operações de cosseguro, as contra-
tações de seguro no exterior e as operações em moeda estrangeira do
setor securitário; altera o Decreto-Lei nº 73/1966, e a Lei nº 8.031/1990.
Esse decreto-lei criou o Programa Nacional de Desestatização.

Lei Complementar nº 137/2010: autoriza a participação da União em


fundo destinado à cobertura suplementar dos riscos do Seguro Rural,
revogando e alterando disposições do Decreto-Lei nº 73/1966, instituindo,
inclusive, as autorreguladoras da corretagem.

O SISTEMA NACIONAL DE REGULAÇÃO,


SUPERVISÃO E FISCALIZAÇÃO DE
SEGUROS PRIVADOS, DE PREVIDÊNCIA
COMPLEMENTAR ABERTA,
Vale a pena CAPITALIZAÇÃO E CORRETAGEM
ler na íntegra
Por força das alterações Os assuntos relacionados a Seguros e Capitalização eram conduzidos no
promovidas no Decreto-Lei nº âmbito do Departamento Nacional de Seguros Privados e Capitalização
73/1966, pela Lei Complementar (DNSPC), vinculado ao então Ministério da Indústria e do Comércio, na for-
nº 126/2007, recomenda-se a ma do Decreto nº 24.782/1934.
leitura do texto integral atual
Em 21 de novembro de 1966, foi editado o Decreto-Lei nº 73, que, no art.
daquele Decreto-Lei.
35, criou a Superintendência de Seguros Privados (SUSEP), para a qual
www.planalto.gov.br

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 111


UNIDADE 1

foram transferidos todo o acervo e a documentação do antigo DNSPC.


Cabe acrescentar que, em 1979, a SUSEP passou a ser subordinada ao
Ministério da Fazenda.

Foi esse mesmo Decreto-Lei que instituiu, no art. 8º, o Sistema Nacional de
Seguros Privados (SNSP), o qual, originalmente, tinha a seguinte composição:

■■ Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP).

Vale a pena ler ■■ Superintendência de Seguros Privados (SUSEP).

na íntegra ■■ Instituto de Resseguros do Brasil (IRB).


■■ Sociedades autorizadas a operar em seguros privados.
A Lei Complementar nº 126/2007,
■■ Corretores habilitados.
que dispõe sobre a política de
resseguro e retrocessão e dá Com a promulgação, em 15 de janeiro de 2007, da Lei Complementar nº 126, que,
outras providências, constitui um entre outras matérias, dispôs sobre a política de resseguros e retrocessão,
importantíssimo marco para o promovendo a abertura do mercado ressegurador brasileiro em definitivo, a
resseguro no Brasil redação do art. 8º do Decreto-Lei nº 73/1966 foi modificada, de modo que o
www.planalto.gov.br Sistema Nacional de Seguros Privados passou a ter a seguinte configuração:

■■ Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP).


■■ Superintendência de Seguros Privados (SUSEP).
■■ Resseguradores;

Comentário ■■ Sociedades autorizadas a operar em seguros privados.


■■ Corretores habilitados.
Antes da entrada em vigor
O art. 192 da Constituição Federal de 1988, que trata do Sistema Financeiro
da Lei Complementar nº
Nacional, previa originalmente que a autorização e o funcionamento dos
126/2007, quando ainda
estabelecimentos de Seguro, Previdência e Capitalização, que compõem
havia o monopólio estatal do
o referido sistema, seriam objeto de lei complementar.
resseguro no Brasil, exercido
pelo Instituto de Resseguros do Assim, com a promulgação da Constituição Federal em 5 de outubro de
Brasil (IRB), cuja denominação 1988, o Decreto-Lei nº 73/1966 passou a ter status de lei complementar, já
social atual é IRB Brasil RE, que, desde a época da edição da referida Constituição, o referido decreto-
este fazia parte diretamente do -lei era o único diploma legal que dispunha sobre as operações de Seguros
Sistema Nacional de Seguros Privados no país, tanto é que a própria Lei Complementar 126/2007 efetuou
Privados. Com a quebra alterações ao teor original do Decreto-Lei nº 73/1966, o que, indubitavelmen-
desse monopólio, outros te, comprova a vigência e eficácia desse diploma legal.
resseguradores puderam
passar a atuar no mercado O art. 192 da Constituição Federal foi objeto de sucessivas emendas cons-
brasileiro, e o próprio IRB titucionais. A última foi a Emenda Constitucional nº 40, de 29 de maio de
permaneceu funcionando 2003. A redação atual daquele dispositivo é a seguinte:
como ressegurador, mais
Art. 192. O sistema financeiro nacional, estruturado de forma a
precisamente na modalidade
promover o desenvolvimento equilibrado do País e a servir aos
de ressegurador local.
interesses da coletividade, em todas as partes que o compõem,
abrangendo as cooperativas de crédito, será regulado por leis

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 112


UNIDADE 1

complementares que disporão, inclusive, sobre a participação do


capital estrangeiro nas instituições que o integram.

Como até hoje não foi editada nenhuma lei complementar tratando das
operações de Seguros Privados no país, o Decreto-Lei nº 73/1966, conti-
nua a ser recepcionado pela Constituição Federal de 1988 com status de
lei complementar.

Com base nisso, a competência para formular a política de Seguros Priva-


dos, para legislar sobre suas normas gerais e para fiscalizar as operações do
mercado nacional é do Governo Federal, conforme estabelecido no art. 7º do
referido Decreto-Lei:
Art. 7º. Compete privativamente ao Governo Federal formular a
política de seguros privados, legislar sobre suas normas gerais e
fiscalizar as operações no mercado nacional (Redação dada pelo
Decreto-Lei nº 296/1967).

Já as sociedades de capitalização, pertencem ao Sistema Nacional de


Capitalização, instituído pelo art. 3º do Decreto-Lei nº 261/1967, tendo os
seguintes integrantes:
■■ Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP).
■■ Superintendência de Seguros Privados (SUSEP).
■■ Sociedades autorizadas a operar em Capitalização.

Com a promulgação da Constituição Federal em 5 de outubro de 1988,


o Decreto-Lei nº 261/1967 foi recepcionado pelo texto constitucional com
status de lei complementar, a exemplo do que ocorrera com o Decreto-Lei
nº 73/1966.
Em 26 de agosto de 2010, foi editada a Lei Complementar nº 137/2010, que
modificou a redação dos parágrafos do art. 3º do Decreto-Lei nº 261/1967,
conforme segue:
Art. 3º [...]

§ 1º Compete privativamente ao Conselho Nacional de Seguros Pri-


vados (CNSP) fixar as diretrizes e normas da política de capitalização
e regulamentar as operações das sociedades do ramo, relativamen-
te às quais exercerá atribuições idênticas às estabelecidas para as
sociedades de seguros, nos termos dos incisos I a VI, X a XII e XVII
a XIX do art. 32 do Decreto-Lei nº 73, de 21 de novembro de 1966.

§ 2º A Susep é o órgão executor da política de capitalização traça-


da pelo CNSP, cabendo-lhe fiscalizar a constituição, organização,
funcionamento e operações das sociedades do ramo, relativamen-
te às quais exercerá atribuições idênticas às estabelecidas para as
sociedades de seguros, nos termos das alíneas “a”, “b”, “c”, “g”, “h”,
“i”, “k” e “l” do art. 36 do Decreto-Lei nº 73/1966. (NR)

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 113


UNIDADE 1

Já as Entidades Abertas de Previdência Complementar, eram regidas


pela Lei nº 6.435/1977, que, nos arts. 8º e 9º, atribuía ao órgão norma-
tivo e executivo do Sistema Nacional de Seguros Privados (portanto, à
SUSEP) o poder de regulamentar e fiscalizar as Entidades Abertas de
Previdência Privada, prevendo, ainda no art. 10, que tais entidades seriam
reguladas não apenas pelas disposições da mencionada lei, mas também
pela legislação aplicável às sociedades seguradoras.

Porém, em 29 de maio de 2001, a Lei Complementar nº 109, que dispõe


sobre o regime de Previdência Complementar, revogou, expressamente, a
Lei nº 6.435/1977.

Mesmo assim, o art. 73 da Lei Complementar nº 109/2001 prevê que as


entidades abertas serão reguladas também, no que couber, pela legislação
aplicável às sociedades seguradoras. O art. 74, por sua vez, estabelece
que as funções do órgão regulador e do órgão fiscalizador serão exer-
cidas, no que toca às entidades abertas, pelo Ministério da Fazenda, por
intermédio do Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) e da Supe-
rintendência de Seguros Privados (SUSEP).

Assim, podemos entender que o CNSP exerce, no âmbito do Sistema


Nacional de Seguros Privados, do Sistema Nacional de Capitalização,
bem como do Regime de Previdência Privada Complementar (somente no
que se refere às entidades abertas), as mesmas atribuições. A situação da
SUSEP é assemelhada à do CNSP no âmbito de atuação, ainda que com
competências distintas.

No âmbito da previdência privada complementar, tem-se, por exemplo, a


Resolução CNSP nº 345/2017, que dispõe sobre as coberturas passíveis
de serem oferecidas a entidades fechadas de previdência complementar
por sociedades seguradoras autorizadas a operar em seguro de pessoas
e sobre os correspondentes planos de seguro ou de pecúlio. Dessa forma,
resta evidente a competência de fixar diretrizes do CNSP.

Por tais razões é que se pode falar na coexistência legal de dois Sistemas
distintos, sendo um o de “Seguros Privados” e o outro o de “Capitalização”,
conforme acabamos de estudar.

Considerando as competências privativas do órgão regulador (CNSP) e


do órgão supervisor e fiscalizador (SUSEP), bem como a atuação e ope-
racionalidade das sociedades seguradoras e resseguradoras; sociedades
de capitalização; sociedades de vida e previdência; entidades abertas de
previdência complementar; corretores de seguros e de resseguros; cor-
retores de vida, de capitalização e de previdência complementar aber-
ta, pode-se dizer que foi estabelecido um integrado Sistema Nacional de
Regulação, Supervisão e Fiscalização para tais setores, mercados e ativi-
dades, assim constituídos:

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 114


UNIDADE 1

Órgãos Oficiais:

■■ Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) – regulador.


■■ Superintendência de Seguros Privados (SUSEP) – supervisor
■■ e fiscalizador.
Administrados, supervisionados e fiscalizados:

■■ Resseguradores.
■■ Sociedades autorizadas a operar em seguros privados, incluindo
as de vida e previdência.
■■ Entidades abertas de Previdência Complementar.
■■ Sociedades de Capitalização.
■■ Corretores habilitados.

COMPETÊNCIAS DOS ÓRGÃOS QUE COMPÕEM


O SISTEMA NACIONAL DE REGULAÇÃO,
SUPERVISÃO E FISCALIZAÇÃO DE
SEGUROS PRIVADOS, PREVIDÊNCIA
COMPLEMENTAR ABERTA,
CAPITALIZAÇÃO E CORRETAGEM

Agora, vamos estudar as competências dos órgãos do Sistema Nacional


de Regulação, Supervisão e Fiscalização.

—— Compete ao Conselho Nacional


de Seguros Privados (CNSP)
O Decreto-Lei nº 73/1966 criou, por meio do art. 32, o Conselho Nacional
de Seguros Privados (CNSP), um órgão colegiado, sem personalidade jurí-
dica, integrante da estrutura do Ministério da Fazenda, composto, atual-
mente, na forma da Lei nº 10.190/2001 (que deu nova redação ao art. 33 do
Decreto-Lei nº 73/1966), pelos seguintes membros:

■■ Ministro de Estado da Fazenda ou seu representante;


■■ Superintendente da Superintendência de Seguros Privados (SUSEP).
■■ Um representante do Ministério da Justiça.
■■ Um representante do Ministério da Previdência e Assistência Social.

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 115


UNIDADE 1

■■ Um representante do Banco Central do Brasil.


■■ Um representante da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Sua principal responsabilidade consiste na fixação das diretrizes e normas
da política de seguros privados estabelecida pelo Governo Federal. Cabe
analisar, a seguir, cada uma das competências atribuídas ao CNSP pelo
referido Decreto-Lei:

Art. 32. É criado o Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP),


ao qual compete privativamente (artigo retificado pelo Decreto-Lei
nº 296/1967).

I – fixar as diretrizes e normas da política de seguros privados;

Comentário
No inciso I, fica claro que o CNSP, integrante da estrutura do Ministério da Fazenda, é
o órgão responsável por fixar as diretrizes e as normas da política de Seguros Privados
no país. O referido conselho, baseado na política econômica estabelecida pelo Minis-
tério da Fazenda, delimita a política de Seguros Privados, e esta deve estar, portanto,
inteiramente integrada à política econômica. É necessário compreender que formular
ou fixar as diretrizes e normas da política de Seguros Privados é competência privativa
do Poder Executivo, bem como enviar proposição de normas legais ao Poder Legisla-
tivo, assim como editar decretos e medidas provisórias. Os órgãos jurisdicionados ao
Ministério da Fazenda, no caso, o CNSP e a SUSEP, têm a competência privativa de
editar normas infralegais, resoluções e circulares, respectivamente.

II – regular a constituição, organização, funcionamento e fiscaliza-


ção dos que exercerem atividades subordinadas a este Decreto-Lei,
bem como a aplicação das penalidades previstas;

III – estipular índices e demais condições técnicas sobre tarifas,


investimentos e outras relações patrimoniais a serem observadas
pelas sociedades seguradoras;

Comentário
Trata-se de mais uma atribuição relacionada à política econômica do país, objetivando
evitar que as seguradoras apliquem tarifas/preços fora da realidade econômica ou,
então, possam extrapolar o poder que exercerão nas operações que conceberão. O
CNSP é o órgão controlador dos respectivos índices.

IV – fixar as características gerais dos contratos de seguros;

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 116


UNIDADE 1

Comentário
O Código Civil e o Código de Defesa do Consumidor tratam das normas gerais — e
algumas específicas — a respeito dos contratos. Por exemplo, o Código Civil estabele-
ce limites para os contratos de adesão, mas não fixa as respectivas cláusulas. Cabe ao
CNSP delimitar essas características gerais, sempre respeitando as normas já expressas
nos referidos códigos.

V – fixar normas gerais de contabilidade e estatística a serem


observadas pelas sociedades seguradoras;

Comentário
Ao fixar as normas gerais de contabilidade e estatística que deverão ser observadas
pelas sociedades seguradoras, o CNSP acaba exercendo uma espécie de controle em
relação à gestão das próprias sociedades, zelando pelos investimentos dos segurados,
bem como pelo lastro de capital necessário para garantir possíveis e futuras indeniza-
ções, além da veracidade dos lançamentos para efeitos tributários.

VI – delimitar o capital das sociedades seguradoras e dos ressegu-


radores; (inciso alterado pela Lei Complementar nº 126/2007).

Comentário
É outra atribuição com características de proteção, no sentido de garantir o cumpri-
mento das obrigações assumidas pelas sociedades seguradoras. Esse inciso teve a
redação alterada pela Lei Complementar nº 126/2007, a qual deu nova concepção às
operações de resseguro.

VII – estabelecer as diretrizes gerais das operações de resseguro;

Comentário
Como vimos, a Lei Complementar nº 126/2007 estabeleceu uma sistemática específica
para as operações de resseguro. O CNSP é o órgão responsável por estabelecer as
diretrizes gerais dessas operações.

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 117


UNIDADE 1

VIII – disciplinar as operações de cosseguro (inciso alterado pela


Lei Complementar nº 126, de 2007);
IX – (inciso revogado pela Lei Complementar nº 126/07);
X – aplicar às sociedades seguradoras estrangeiras autorizadas a
funcionar no País as mesmas vedações ou restrições equivalentes
às que vigorarem nos países da matriz, em relação às sociedades
seguradoras brasileiras ali instaladas ou que neles desejem esta-
belecer-se;

Comentário
O inciso X estabelece como atribuição do CNSP um princípio de direito internacional,
denominado “princípio da reciprocidade”, pelo qual se dá ao estrangeiro o mesmo
tratamento deferido ao nacional no país de origem daquele.

XI – prescrever os critérios de constituição das sociedades segu-


radoras, com fixação dos limites legais e técnicos das operações
de seguro;

Comentário
As sociedades seguradoras devem ser concebidas na forma jurídica de sociedades
anônimas, cabendo ao CNSP estabelecer os critérios pelos quais poderão ser efetiva-
mente constituídas.

XII – disciplinar a corretagem de seguros e a profissão de corretor;

Comentário
A corretagem de seguros e a profissão de corretor de seguros devem ser disciplinadas
pelo CNSP, ao qual compete estabelecer as suas diretrizes e os seus requisitos. É preciso
registrar que a Lei nº 4.594/1964 estabelece os requisitos necessários para o exercício
da profissão de corretor de seguros, exigindo o seu competente registro junto à SUSEP.
A Circular SUSEP nº 510/2015, com alterações promovidas pelas Circulares SUSEP nos
514/2015, 520/2015 e 532/2016, dispõe sobre o registro de corretor de seguros, de capi-
talização e de previdência, pessoa física e pessoa jurídica, e sobre a atividade de correta-
gem de seguros, de capitalização e de previdência.

XIII – (inciso revogado pela Lei Complementar nº 126/2007);

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 118


UNIDADE 1

XIV – decidir sobre sua própria organização, elaborando o respec-


tivo Regimento Interno;

Comentário
O próprio CNSP estabelecerá a sua organização, ditando como serão realizadas as suas
atividades, compondo, inclusive, o seu próprio regimento interno.

XV – regular a organização, a composição e o funcionamento de


suas Comissões Consultivas;

Comentário
O CNSP está autorizado a criar e a manter comissões consultivas com o objetivo não
somente de analisar questões específicas, mas também de dirimir dúvidas sobre questões
que lhe sejam apresentadas.

XVI – regular a instalação e o funcionamento das Bolsas de Seguro.

Comentário
Embora haja previsão legal para regulação, instalação e funcionamento das Bolsas de Se-
guro, na realidade, elas não existem, e não há qualquer marco regulatório nesse sentido.

XVII – fixar as condições de constituição e extinção de entidades


autorreguladoras do mercado de corretagem, sua forma jurídica,
seus órgãos de administração e a forma de preenchimento de car-
gos administrativos;

XVIII – regular o exercício do poder disciplinar das entidades autor-


reguladoras do mercado de corretagem sobre seus membros,
inclusive do poder de impor penalidades e de excluir membros;

XIX – disciplinar a administração das entidades autorreguladoras


do mercado de corretagem e a fixação de emolumentos, comis-
sões e quaisquer outras despesas cobradas por tais entidades,
quando for o caso. (NR)

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 119


UNIDADE 1

Comentário
O CNSP editou, em abril de 2011, a Resolução nº 233, que dispõe sobre as condições
de constituição, organização, funcionamento e extinção de entidades autorreguladoras
do mercado de corretagem de seguros, resseguros, de capitalização e de previdência
complementar aberta, na condição de auxiliares da SUSEP, e dá outras providências. Tal
resolução foi alterada pela Resolução CNSP nº 251/2012 e regulamentada pela Circular
SUSEP nº 435/2012.

No ano de 2004, foi aprovada a Resolução CNSP nº 111, a qual teve por
Vale a pena objetivo adequar as competências do CNSP às determinações contidas no
ler na íntegra Decreto-Lei nº 73/1966.

Essa resolução praticamente reproduziu as mesmas atribuições presentes


A Resolução nº 233/2011
no Decreto-Lei nº 73/1966. Além disso, conforme exposto anteriormente, a
do CNSP estabelece, no
Lei Complementar nº 137, de 2010, ampliou ainda mais as competências do
art. 3º, que “as entidades
CNSP, com a instituição das entidades autorreguladoras do mercado de
autorreguladoras terão por
corretagem.
objetivo zelar pela observância

—— Compete à Superintendência
às normas jurídicas, em
especial pelos direitos dos
consumidores, e fomentar
a elevação de padrões
de Seguros Privados (SUSEP)
éticos dos membros do
O art. 36 do Decreto-Lei nº 73/1966 atribui à Superintendência de Seguros
mercado de corretagem, bem
Privados (SUSEP) a missão de executar a política traçada pelo CNSP e,
como as boas práticas de
entre outras obrigações, conferiu-lhe, de forma especial, a missão de fis-
conduta no relacionamento
calizar a constituição, a organização, o funcionamento e as operações das
profissional com segurados,
sociedades seguradoras.
corretores e sociedades
seguradoras, resseguradoras, A SUSEP é uma entidade autárquica pertencente aos quadros da adminis-
de capitalização e entidades tração federal indireta, dotada de personalidade jurídica de Direito Público.
abertas de previdência É o órgão responsável pela fiscalização e supervisão dos mercados de
complementar”. Seguros, Resseguros, Previdência Complementar Aberta, Capitalização e
www.susep.gov.br Corretagem.

Seus poderes estão estabelecidos no art. 36 do Decreto-Lei nº 73/1966,


cujo texto é o seguinte:

Art. 36. Compete à SUSEP, na qualidade de executora da política


traçada pelo CNSP, como órgão fiscalizador da constituição, orga-
nização, funcionamento e operações das sociedades seguradoras:

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 120


UNIDADE 1

Comentário
Nesse artigo, fica claro que as competências e atividades finalísticas da SUSEP devem,
obrigatoriamente, seguir a política traçada pelo CNSP. Dessa forma, ela deve fiscalizar a
constituição, a organização, o funcionamento e as operações das sociedades seguradoras
com independência, incentivando o desenvolvimento do setor, mas nos limites da política
estabelecida pelo CNSP.

a) processar os pedidos de autorização para constituição, organiza-


ção, funcionamento, fusão, encampação, grupamento, transferên-
cia de controle acionário e reforma dos estatutos das sociedades
seguradoras, opinar sobre os mesmos e encaminhá-los ao CNSP;

Comentário
Assim, as sociedades seguradoras devem submeter seus processos de constituição,
organização, funcionamento, fusão, encampação, grupamento, transferência de controle
acionário e reforma dos estatutos à SUSEP para fins de processamento, análise e cumpri-
mento das condicionantes legais, bem como para fins de encaminhamento ao CNSP.

b) baixar instruções e expedir circulares relativas à regulamentação


das operações de seguro, de acordo com as diretrizes do CNSP;

Comentário
A SUSEP, por meio de circulares e instruções normativas, edita normas e instruções com-
plementares com vistas ao cumprimento das diretrizes estabelecidas pelo CNSP.

c) fixar condições de apólices, planos de operações e tarifas a serem


utilizadas obrigatoriamente pelo mercado segurador nacional;

Comentário
O CNSP estabelece os índices e as demais condições técnicas a respeito das tarifas a se-
rem observadas pelas sociedades seguradoras no caso de seguros cujos prêmios são tari-
fados. A SUSEP, por sua vez, cumpre tais determinações, fixando, nos limites estabelecidos
pelo referido conselho, as condições das apólices e os respectivos planos de operações.

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 121


UNIDADE 1

d) aprovar os limites de operações das sociedades seguradoras,


de conformidade com o critério fixado pelo CNSP;

Comentário
O CNSP deverá estabelecer os critérios para os limites de operações das sociedades
seguradoras. Esses critérios devem ser observados pela SUSEP no exercício de suas ativi-
dades de controle e de fiscalização das referidas sociedades.

e) examinar e aprovar as condições de coberturas especiais, bem


como fixar as taxas aplicáveis (alínea retificada pelo Decreto-Lei nº
296/1967).

Comentário
As seguradoras, muitas vezes, propõem coberturas especiais. Cabe à SUSEP examinar tais
propostas, aprová-las e estabelecer as taxas que poderão ser exercidas por elas.

f) autorizar a movimentação e liberação dos bens e valores obriga-


toriamente inscritos em garantia das reservas técnicas e do capital
vinculado;

Comentário
As sociedades seguradoras, quando constituídas, devem obrigatoriamente manter reserva
de bens e valores como lastro para suas operações. Esses bens e valores poderão, em
algumas oportunidades, ser liberados ou movimentados. São os denominados bens garan-
tidores das reservas técnicas. Cabe à SUSEP analisar as respectivas razões e circunstân-
cias dessas liberações ou movimentações, quando necessárias ou justificáveis, podendo
ou não dar a autorização.

g) fiscalizar a execução das normas gerais de contabilidade e esta-


tística fixadas pelo CNSP para as sociedades seguradoras;

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 122


UNIDADE 1

Comentário
É evidente que a contabilidade de uma empresa possui estreita relação com as obriga-
ções tributárias, haja vista estabelecer um diagnóstico de suas operações financeiras. O
CNSP fixa as normas contábeis e de estatísticas que deverão ser seguidas pelas socieda-
des seguradoras, cabendo à SUSEP fiscalizar o seu cumprimento.

h) fiscalizar as operações das sociedades seguradoras, inclusive o


exato cumprimento deste Decreto-Lei, de outras leis pertinentes,
disposições regulamentares em geral, resoluções do CNSP e apli-
car as penalidades cabíveis;

Comentário
Assim, por esse texto legal, constata-se que a SUSEP é o órgão responsável pela fisca-
lização das operações securitárias, zelando pelo cumprimento do universo de leis que
versam sobre seguros, inclusive as que tratam do regime repressivo. Obviamente, o poder
fiscalizador somente se completa se aliado ao poder delegado e constituído de aplicar as
penalidades cabíveis. Caso o operador do seguro cometa qualquer infração, será a SUSEP
a responsável pela realização do respectivo procedimento administrativo sancionador, que
apenará o infrator. As formalidades dos processos administrativos sancionadores, por força
de determinação legal, inclusive da Constituição Federal, devem garantir os direitos funda-
mentais dos administrados (o devido processo legal, o contraditório e a ampla defesa).

i) proceder à liquidação das sociedades seguradoras que tiverem


cassada a autorização para funcionar no País;

Comentário
A liquidação e o encerramento das atividades de uma sociedade seguradora, em decor-
rência de má gestão administrativa, implicam consequências danosas para a imagem do
mercado. Nos regimes especiais, conforme previsto pelo Decreto-Lei nº 73/1966, a so-
ciedade supervisionada pela SUSEP, antes da decretação de sua liquidação extrajudicial,
ainda passa pela direção fiscal (com um diretor fiscal indicado pela SUSEP) e pela interven-
ção. A Lei Federal nº 6.024/1974 dispõe sobre a intervenção e a liquidação extrajudicial de
instituições financeiras.

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 123


UNIDADE 1

j) organizar seus serviços, elaborar e executar seu orçamento;

Comentário
A SUSEP está organizada e estruturada em função do contido no Decreto nº 7.409/2009,
e de seu regimento interno. A título de ilustração, o regimento interno atual está contido no
anexo da Resolução CNSP nº 338/2016, o qual pode ser, no curso do tempo, mantido, altera-
do ou revogado quando for editado outro em substituição ao atual.

k) fiscalizar as operações das entidades autorreguladoras do mer-


cado de corretagem, inclusive o exato cumprimento deste Decre-
to-Lei, de outras leis pertinentes, de disposições regulamentares
em geral e de resoluções do Conselho Nacional de Seguros Priva-
dos (CNSP), e aplicar as penalidades cabíveis; e

l) celebrar convênios para a execução dos serviços de sua com-


petência em qualquer parte do território nacional, observadas as
normas da legislação em vigor.

Comentário
Esses dispositivos estão relacionados à fiscalização, pela SUSEP, das operações das enti-
dades autorreguladoras e ao cumprimento da legislação pertinente. É importante salientar
que as entidades autorreguladoras são entidades de direito privado autorizadas a funcionar
como órgãos auxiliares da SUSEP, na forma da Resolução nº 233/2011 do CNSP, que foi alte-
rada pela Resolução CNSP nº 251/2012 e regulamentada pela Circular SUSEP nº 435/2012.

Importante
Relativamente à competência da SUSEP, convém registrar que a Lei Complementar
nº 126/2007, no seu art. 3º, parágrafo único, estabelece o seguinte:
“Art. 3º. A fiscalização das operações de cosseguro, resseguro, retrocessão e sua
intermediação será exercida pelo órgão fiscalizador de seguros, conforme definido
em lei, sem prejuízo das atribuições dos órgãos fiscalizadores das demais cedentes.
Parágrafo único. Ao órgão fiscalizador de seguros, no que se refere aos ressegu-
radores, intermediários e suas respectivas atividades, caberão as mesmas atribui-
ções que detém para as sociedades seguradoras, corretores de seguros e suas
respectivas atividades.”

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 124


UNIDADE 1

—— Compete ao Conselho de Recursos


do Sistema Nacional de Seguros
Privados, de Previdência Privada
Aberta e de Capitalização (CRSNSP)
O Conselho de Recursos do Sistema Nacional de Seguros Privados,
de Previdência Privada Aberta e de Capitalização (CRSNSP) é um
órgão integrante da estrutura básica do Ministério da Fazenda e surgiu
com o advento da Medida Provisória nº 1.689-5/1998.

A referida medida provisória apresentou o CRSNSP como órgão inte-


grante do Ministério da Fazenda, mas suas atribuições foram então esta-
belecidas pelo Decreto nº 2.824/1998, alterado pelo Decreto nº 8.051/2013
e revogado pelo Decreto nº 8.634/2016, publicado no D.O.U de 13 de
janeiro de 2016.

A principal atribuição do CRSNSP consiste no julgamento, em última ins-


tância administrativa, dos recursos interpostos em face das decisões pro-
feridas pela SUSEP, em processos administrativos sancionadores.

O fato de o CRSNSP ser a última instância recursal administrativa não sig-


nifica que os supervisionados não possam buscar a tutela jurisdicional do
Estado pela via judicial.

O CRSNSP será integrado por dez conselheiros titulares e respectivos


suplentes, de reconhecida capacidade técnica e possuidores de conheci-
mentos especializados nas matérias de competência do Conselho, obser-
vada a seguinte composição:

I - três conselheiros titulares e dois suplentes indicados pelo Ministério da


Fazenda;
II - dois conselheiros titulares e um suplente indicados pela Superintendên-
cia de Seguros Privado; e
III - cinco conselheiros titulares e respectivos suplentes indicados, em lista trí-
plice, pelas entidades representativas dos mercados de seguro, de previdên-
cia privada aberta, de capitalização, de resseguro e de corretagem de seguro.

Comentário
A composição, a organização e o funcionamento do CRSNSP serão fixados no Regimento
Interno, o qual foi aprovado na forma do anexo à Portaria Ministério da Fazenda nº 38/2016,
recentemente alterada pela Portaria 477/2018.

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 125


UNIDADE 1

O Presidente do Conselho terá como Presidente o representante do Minis-


tério da Fazenda, designado pelo Ministro do Estado da Fazenda.

Comentário
Portanto, o número de representantes no CRSNSP revelou a valorização da participação
das entidades privadas nas decisões de última instância na esfera administrativa.

Uma importante inovação do Decreto nº 8.051/2013 foi a possibilidade de


Ato do Ministro da Fazenda criar Câmara Extraordinária, em caráter tempo-
rário, para reduzir a quantidade de recursos pendentes de julgamento ou
acelerar seu julgamento no Conselho.

A Câmara Extraordinária será composta pelos Conselheiros Suplentes e


presidida por representante do Ministério da Fazenda.

Comentário
É importante destacar que, junto ao CRSNSP, atuam Procuradores Federais, da estrutura da
Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), com a atribuição de zelar pela fiel obser-
vância das leis, decretos, regulamentos e demais atos normativos.

AS OPERAÇÕES DE
SEGUROS PRIVADOS
As operações de seguros privados no Brasil estão representadas pelas
várias modalidades de seguros facultativos, assim como os obrigatórios.

É o Decreto-Lei nº 73/1966, que estabelece as normas das operações de


Seguros Privados no território nacional. Convém analisar, nesse aspecto,
alguns de seus dispositivos:

Art. 1º. Todas as operações de seguros privados realizados no


País ficarão subordinadas às disposições do presente Decreto-Lei.

Art. 2º. O controle do Estado se exercerá pelos órgãos instituídos


neste Decreto-Lei, no interesse dos segurados e beneficiários dos
contratos de seguro.

Art. 3º. Consideram-se operações de seguros privados os segu-


ros de coisas, pessoas, bens, responsabilidades, obrigações,
direitos e garantias.

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 126


UNIDADE 1

Parágrafo único. Ficam excluídos das disposições deste Decre-


to-Lei os seguros do âmbito da Previdência Social, regidos pela
legislação especial pertinente.

Comentário
Em outras palavras, pode haver interesse segurável relativo a coisas, pessoas, bens,
responsabilidades, obrigações, direitos e garantias. Isso revela a abrangência das
operações de seguros. O Código Civil apresentou os seguros em duas categorias, a
saber: os Seguros de Danos e os Seguros de Pessoas. A Circular SUSEP nº 554/2017
alterou a Circular nº 535/2016, de modo que esta última consolida a codificação dos
ramos de seguro, além de dispor sobre as coberturas contidas nos planos de seguro.
Embora a circular esteja elaborada para fins de contabilização, a leitura dos ANEXOS I
e II dessa última circular é muito interessante para que se compreendam a dimensão e
a abrangência dos ramos e grupos de seguros. Como se conclui da leitura do art. 3º do
Decreto-Lei nº 73/1996, operações em Seguros Privados têm uma enorme abrangên-
cia. Um exemplo interessante sobre a abrangência e as dimensões do seguro está
justamente no Seguro de Responsabilidade Civil de diretores e administradores de
pessoas jurídicas, também conhecido como RC D&O, em referência às palavras em
inglês Directors and Offices.
A Circular SUSEP nº 553/2017 foi editada recentemente, estabelecendo diretrizes
gerais aplicáveis a esse tipo de seguro. É interessante perceber que, embora seja esse
um Seguro de Responsabilidades (grupo), sua abrangência, em termos de proteção,
transcende uma única categorização, visto que protege pessoas físicas que exerçam,
ou tenham exercido, cargos de gestão, por seus atos ilícitos e culposos praticados no
exercício das funções de gestão e que tenham causado danos a terceiros, sejam eles
de natureza material, financeira, corporal, ambiental, entre outros, além de descumpri-
mento de obrigações como as tributárias, de modo que pode ser contratado pela pes-
soa jurídica, à qual os administradores estão vinculados. Com isso, pode-se perceber
que as operações em Seguros Privados têm elevado grau de complexidade.

Comentário
Esse dispositivo estabelece que os seguros relacionados à Previdência Social, a exemplo
do Seguro de Acidentes do Trabalho, não são regulados pelo Decreto-Lei nº 73/1966. A
Previdência Social é regida pela Lei nº 8.213/1991, não sendo alvo de análise no presen-
te estudo.

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 127


UNIDADE 1

O art. 4º trata do cosseguro, do resseguro e da retrocessão:


Cosseguro
Ocorre quando duas ou mais
sociedades seguradoras, com a “Art 4º. Integra-se nas operações de seguros privados o sistema
anuência do segurado e com relação de cosseguro, resseguro e retrocessão, por forma a pulverizar os
a determinada apólice, distribuem riscos e fortalecer as relações econômicas do mercado.
percentualmente o risco entre si.
Parágrafo único. Aplicam-se aos estabelecimentos autorizados
Resseguro
É um mecanismo de repartição a operar em resseguro e retrocessão, no que couber, as regras
de riscos por meio do qual um estabelecidas para as sociedades seguradoras (Incluído pela Lei
segurador, de forma facultativa nº 9.932, de 1999).”
ou automática, cede a sua
responsabilidade, no todo ou
em parte, a um ressegurador.
Assim como o segurado procura
Comentário
garantir-se contra os efeitos
dos riscos por meio do seguro, O Cosseguro, o Resseguro e a Retrocessão são opera-
também o segurador procura ções que viabilizam a pulverização ou a distribuição dos
resguardar-se dos prejuízos riscos assumidos nas operações de seguros.
tecnicamente desaconselháveis
por meio do resseguro. Uma
sociedade seguradora pode
transferir os riscos que assumiu O inciso I do art. 5º do Decreto-Lei nº 73/1966, estabelece as metas a
a um ressegurador. Este sistema serem atingidas pela política de seguros privados.
é muito utilizado em casos de
coberturas com valores vultosos. Art. 5º. A política de seguros privados objetivará:
Retrocessão
Consiste na operação de transferência I – promover a expansão do mercado de seguros e propiciar con-
de riscos de resseguro de um dições operacionais necessárias para sua integração no processo
ressegurador para um retrocessionário econômico e social do País;
(que pode ser um outro ressegurador
ou uma sociedade seguradora local).

Comentário
A política de Seguros Privados concentra seus esforços no crescimento do mercado
de seguros. Não se trata de uma expansão desenfreada a qualquer custo, mas sim de
forma harmônica com o processo econômico e social do país. Esta é uma das razões
pelas quais as operações de Seguros Privados são controladas pelo Ministério da Fa-
zenda, por intermédio do CNSP e da SUSEP, responsável pela formulação da política e
manutenção da ordem econômica do Brasil.

II – evitar evasão de divisas, pelo equilíbrio do balanço dos resulta-


dos do intercâmbio, de negócios com o exterior;

III – firmar o princípio da reciprocidade em operações de seguro,


condicionando à autorização para o funcionamento de empresas
e firmas estrangeiras a igualdade de condições no país de origem
(Redação dada pelo Decreto-Lei nº 296/1967).

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 128


UNIDADE 1

Comentário
O princípio da reciprocidade é do direito internacional, pelo qual se aplica ao estran-
geiro tratamento semelhante ao dado ao nacional em terras estrangeiras. Dessa forma,
objetiva-se, dentro do possível, conferir a uma sociedade seguradora estrangeira o
mesmo tratamento dado a uma seguradora nacional no país de origem da primeira pelo
governo local.

IV – promover o aperfeiçoamento das sociedades seguradoras;

Comentário
Ao determinar que seja promovido o aperfeiçoamento das sociedades seguradoras, a
lei objetiva, assim, o desenvolvimento do setor com modernidade e com as melhores
práticas de mercado no emprego da tecnologia na operacionalidade de seus controles
internos

V – preservar a liquidez e a solvência das sociedades seguradoras;

Comentário
Um dos objetivos do controle exercido pela lei, principalmente a de proteção ao
consumidor, é a preservação da liquidez e solvência do mercado supervisionado pela
SUSEP, ou seja, estabelecer regras que promovam maior segurança no concernente
à capacidade econômico-financeira das empresas de poderem cumprir efetivamente
suas obrigações. Seguindo as determinações legais e a adoção de padrões interna-
cionais recomendados pela International Association of Insurance Supervisors (IAIS –
entidade internacional que congrega supervisores de seguros de vários países), com
foco na solvência, novas regras de capital e controles internos, a SUSEP vem adotan-
do, na sua estrutura fiscalizatória, progressivamente, a supervisão contínua nas empre-
sas por ela controladas.

VI – coordenar a política de seguros com a política de investimen-


tos do Governo Federal, observados os critérios estabelecidos
para as políticas monetária, creditícia e fiscal.

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 129


UNIDADE 1

Comentário
Quando o presidente da República é empossado, escolhe e nomeia seus ministros
de Estado, que passam a exercer cargos de confiança, demissíveis ad nutum, ou seja,
podem ser demitidos, a qualquer tempo, por iniciativa e vontade de quem os nomeou.
Cada ministro de Estado exerce sua função somando suas competências ao plano de
governo estabelecido pelo chefe do Executivo, ou seja, pelo presidente da República. O
Ministério da Fazenda e o Banco Central do Brasil (BACEN), observadas as suas compe-
tências legais, formulam as diretrizes da política monetária, creditícia e fiscal. O objetivo
desse inciso, portanto, é estabelecer conexões harmônicas entre essas estratégias e as
de formulação de política securitária.

Conclui-se, assim, que o objetivo essencial da norma legal foi o de pro-


mover a expansão do mercado de seguros de forma ordenada, sempre
procurando preservar os interesses dos segurados e buscar o equilíbrio
no relacionamento deles com as sociedades supervisionadas, além do
necessário e importante acompanhamento das operações de Seguros e
Resseguros, Capitalização e Previdência Complementar Aberta.

Vale dizer que todos os recursos financeiros que constituem os bens garan-
tidores das reservas técnicas das sociedades supervisionadas estão vincu-
lados à SUSEP. Embora esse modelo de vinculação tenha sido combatido
e considerado conservador por outros países, ele se mostrou plenamente
eficaz diante da recente crise financeira mundial (2008/2010), pois o setor
de seguros brasileiro, englobando Resseguros, Capitalização e Previdência
Complementar Aberta, não só atravessou ileso tal período de crise, como
ainda registrou o crescimento da atividade e o desenvolvimento de excelen-
tes oportunidades de negócio. Isso demonstrou, efetivamente, a consistên-
cia do modelo do processo regulatório de seguros adotado no país.

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 130


UNIDADE 1

OS SEGUROS OBRIGATÓRIOS
Os seguros obrigatórios são aqueles determinados por lei e que especifi-
cam quais situações devem, compulsoriamente, ser cobertas.

Os seguros legalmente obrigatórios constam do art. 20 do Decreto-Lei nº


73/1966.

Art. 20. Sem prejuízo do disposto em leis especiais, são obrigató-


rios os seguros de: (Regulamento)

a) danos pessoais a passageiros de aeronaves comerciais;

b) responsabilidade civil do proprietário de aeronaves e do trans-


portador aéreo;

c) responsabilidade civil do construtor de imóveis em zonas urba-


nas por danos a pessoas ou coisas;

d) bens dados em garantia de empréstimos ou financiamentos de


instituições financeiras públicas;

e) garantia do cumprimento das obrigações do incorporador e


construtor de imóveis;

f) garantia do pagamento a cargo de mutuário da construção civil,


inclusive obrigação imobiliária;

g) edifícios divididos em unidades autônomas;

h) incêndio e transporte de bens pertencentes a pessoas jurídicas,


situados no País ou nele transportados;

i) ............ (revogado pela Lei Complementar nº 126, de 2007);

j) crédito à exportação, quando julgado conveniente pelo CNSP,


ouvido o Conselho Nacional do Comércio Exterior (CONCEX);

k) danos pessoais causados por veículos automotores de vias ter-


restres e por embarcações, ou por sua carga, a pessoas transpor-
tadas ou não;

l) responsabilidade civil dos transportadores terrestres, marítimos,


fluviais e lacustres, por danos à carga transportada.

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 131


UNIDADE 1

Parágrafo único. Não se aplica à União a obrigatoriedade estatuí-


da na alínea “h” deste artigo.

Que tal ilustrarmos isso com um exemplo? Pense nos veículos automotores
que trafegam pelas vias públicas impõem riscos à sociedade. Em razão des-
se risco em potencial, é necessário o pagamento do seguro obrigatório, o
Seguro DPVAT, cujo objetivo principal é auxiliar a vítima de acidentes de trân-
sito em seus gastos médicos e hospitalares, além de proporcionar o paga-
mento de indenização aos beneficiários em caso de morte do acidentado.

É necessário salientar, também, que o pagamento do seguro obrigatório


não afasta o direito da vítima, ou de seus sucessores e/ou dependentes
econômicos, de exigir em juízo indenização específica para reparação
dos danos sofridos em decorrência do evento. Assim, por exemplo, uma
vítima de acidente de trânsito poderá receber o valor correspondente
ao seguro obrigatório (DPVAT) e, também, propor ação de reparação de
dano em face do causador do acidente, visando receber pensionamen-
to temporário ou vitalício (conforme o caso), além de indenização por
danos materiais, morais e estéticos (se houver dano dessa natureza),
entre outras verbas.

RESSEGURO – LEI COMPLEMENTAR


Nº 126/2007
Vamos estudar, a seguir, os órgãos que regulam o Resseguro no Brasil e
suas normas regulamentadoras.

—— A Atuação do IRB Brasil RE


Antes do advento da Lei Complementar nº 126/2007, as operações de res-
seguro constituíam monopólio do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB).

O IRB, na condição de empresa mista com controle estatal, foi criado pelo
Decreto-Lei nº 1.186/1939, a partir de uma iniciativa do então presidente
Getúlio Vargas, numa época marcada pelo nacionalismo, em que a pro-
teção da indústria local era tida como uma das mais importantes funções
do Governo.

Nessa época, o mercado de seguros começava a melhor se desenvolver


no país, formado, principalmente, por seguradoras estrangeiras. As brasi-
leiras não tinham capacidade de assumir grandes riscos, e, nesse cenário,
o Governo decidiu criar um ressegurador nacional único sob a forma de
empresa de capital misto, com metade das ações detidas pelo Estado e o

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 132


UNIDADE 1

restante por um pool de seguradoras, sem direito a voto. Além disso, havia
a obrigatoriedade da realização do resseguro por meio desse ressegura-
dor, nascendo aí o aspecto monopolístico que, durante muitos anos, viria a
marcar essa atividade no país.

Com essa medida, pretendeu-se fortalecer o desenvolvimento do merca-


do segurador nacional e aumentar a capacidade seguradora das socieda-
des do país, retendo maior volume de negócios na economia brasileira, ao
mesmo tempo em que captaria mais poupança interna.

Em 1966, com a edição do Decreto-Lei nº 73/1966, que criou o Sistema


Nacional de Seguros Privados, atribuiu-se ao IRB uma série de compe-
tências regulatórias e fiscalizatórias, posteriormente regulamentadas pelo
Decreto nº 60.459/1967.

Com o passar do tempo, no entanto, o modelo monopolista e centralizador


que regia a atividade do IRB, começou a dar demonstrações de esgota-
mento, deixando de atender plenamente às novas exigências do mercado.

Foi então que a Emenda Constitucional nº 13/1996, alterou o art. 192, inciso
II, da Constituição Federal, extinguindo a expressão “órgão oficial ressegu-
rador”. Este foi o primeiro passo para a quebra do monopólio.

Em 17 de junho de 1997, a Medida Provisória nº 1.578/1997 convertida na


Lei nº 9.482/1997, transformou o IRB em sociedade por ações, passando a
denominar-se IRB-Brasil Resseguros S.A. Essa MP viria a ser convertida na
Lei nº 9.482/1997.

No dia 20 de dezembro de 1999, foi aprovada a Lei nº 9.932/1999, que


transferiu as atribuições regulamentares e fiscalizatórias até então exercidas
pelo IRB-Brasil Re para a Superintendência de Seguros Privados – SUSEP.

No dia 29 de maio de 2003, foi aprovada a Emenda Constitucional nº 40,


que permitiu a regulamentação do art. 192 da Constituição Federal.

Em 16 de janeiro de 2007, foi publicada no DOU a Lei Complementar nº


126/2007, que dispõe sobre a política de resseguro, retrocessão e sua
intermediação, pondo fim ao monopólio até então detido pelo IRB.

Mesmo assim, por cautela, no sentido de salvaguardar a estabilidade do


mercado naquele momento, e prepará-lo para um novo cenário que se
impunha por determinação legal, manteve-se, ainda, reserva de mercado
ligada ao IRB, que foi estabelecida no art. 11 da citada lei.

Finalmente, no dia 17 de abril de 2008, com o advento da Resolução nº


168/2007 do CNSP, verificou-se a abertura formal do mercado de ressegu-
ros no Brasil a novos resseguradores.

Por força das mudanças viabilizadas pela Lei Complementar nº 126/2007, o


IRB Brasil RE foi autorizado a continuar exercendo suas atividades de Res-

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 133


UNIDADE 1

seguro e de Retrocessão na qualidade de ressegurador local, conforme se


extrai do art. 22 da mencionada lei:

Art. 22. O IRB-Brasil Resseguros S.A. fica autorizado a continuar exer-


cendo suas atividades de resseguro e de retrocessão, sem qualquer
solução de continuidade, independentemente de requerimento e
autorização governamental, qualificando-se como ressegurador local.

Nessa linha, a Lei Complementar nº 126/2007, no seu art. 4º, apresenta as


qualificações dos resseguradores, apresentando as condições para o exercí-
cio da atividade de ressegurador eventual (parágrafo primeiro) e de ressegu-
rador local (parágrafo segundo), conforme se depreende da leitura a seguir:

Art. 4º.

I – ressegurador local: ressegurador sediado no País constituído


sob a forma de sociedade anônima, tendo por objeto exclusivo a
realização de operações de resseguro e retrocessão;

II – ressegurador admitido: ressegurador sediado no exterior, com


escritório de representação no País, que, atendendo às exigências
previstas nesta Lei Complementar e nas normas aplicáveis à ati-
vidade de resseguro e retrocessão, tenha sido cadastrado como
tal no órgão fiscalizador de seguros para realizar operações de
resseguro e retrocessão; e
III – ressegurador eventual: empresa resseguradora estrangeira
sediada no exterior sem escritório de representação no País que,
atendendo às exigências previstas nesta Lei Complementar e nas
normas aplicáveis à atividade de resseguro e retrocessão, tenha
sido cadastrada como tal no órgão fiscalizador de seguros para
realizar operações de resseguro e retrocessão.
§ 1º É vedado o cadastro a que se refere o inciso III do caput deste
artigo de empresas estrangeiras sediadas em paraísos fiscais, assim
considerados países ou dependências que não tributam a renda ou
que a tributam a uma alíquota inferior a 20% (vinte por cento) ou,
ainda, cuja legislação interna oponha sigilo relativo à composição
societária de pessoas jurídicas ou à sua titularidade (Renumerado
do parágrafo único pela Lei complementar nº 137, de 2010).
§ 2º Equipara-se ao ressegurador local, para fins de contratação
de operações de resseguro e de retrocessão, o fundo que tenha
por único objetivo a cobertura suplementar dos riscos do segu-
ro rural nas modalidades agrícola, pecuária, aquícola e florestal,
observadas as disposições de lei própria (Incluído pela Lei comple-
mentar nº 137, de 2010).

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 134


UNIDADE 1

Comentário
Essa categorização adotada pela lei complementar serve não somente para organizar
melhor as operações de resseguro e congêneres, como também — e principalmen-
te — para adotar uma política de maior controle sobre as empresas estrangeiras que
porventura atuem em território nacional, cuidando, sobretudo, de impedir a participação
daquelas sociedades que sejam sediadas em paraísos fiscais (vide transcrição, a seguir,
do art. 4º, III, § 1o, da Lei Complementar nº 126, de 2007), sobre as quais não se permi-
tam, de forma transparente, as devidas operações tributárias.

—— Das Normas Regulamentadoras


do Resseguro e da Sociedade
Corretora de Resseguros
O art. 12 da Lei Complementar nº 126/2007 atribuiu ao CNSP a competên-
cia para regulamentar as operações de resseguro, retrocessão, de corre-
tagem de resseguro e, ainda, a atuação dos escritórios de representação
dos resseguradores admitidos:

Art. 12. O órgão regulador de seguros estabelecerá as diretrizes


para as operações de resseguro, de retrocessão e de corretagem
de resseguro e para a atuação dos escritórios de representação
dos resseguradores admitidos, observadas as disposições desta
Lei Complementar.

Parágrafo único. O órgão regulador de seguros poderá estabelecer:

I – cláusulas obrigatórias de instrumentos contratuais relativos às


operações de resseguro e retrocessão;

II – prazos para formalização contratual;

III – restrições quanto à realização de determinadas operações de


cessão de risco;

IV – requisitos para limites, acompanhamento e monitoramento de


operações intragrupo; e

V – requisitos adicionais aos mencionados nos incisos I a IV deste


parágrafo.

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 135


UNIDADE 1

Saiba mais
Fazendo uso dessa competência, o CNSP editou uma série de resoluções visando
regulamentar a referida Lei Complementar. Algumas dessas Resoluções foram objeto de
normatização pela SUSEP. Todos esses atos normativos podem ser consultados no site da
SUSEP (www.susep.gov.br).

No que se refere à corretagem de resseguros, a Lei Complementar nº


126/2007, art. 8º, § 2º, estabeleceu o seguinte:

Art. 8º. A contratação de resseguro e retrocessão no País ou no


exterior será feita mediante negociação direta entre a cedente e o
ressegurador ou por meio de intermediário legalmente autorizado.
.........
§ 2º. O intermediário de que trata o caput deste artigo é a corre-
tora autorizada de resseguros, pessoa jurídica, que disponha de
contrato de seguro de responsabilidade civil profissional, na forma
definida pelo órgão regulador de seguros, e que tenha como res-
ponsável técnico o corretor de seguros especializado e devida-
mente habilitado.
A fim de regulamentar esse dispositivo, o CNSP editou a Resolução nº
173/2007 (alterada posteriormente pela Resolução nº 248/2011, e pela
Resolução nº 330/2015), que dispõe sobre a atividade de corretagem de
resseguros, dando outras providências.

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 136


FIXANDO CONCEITOS

FIXANDO CONCEITOS 1

Marque a alternativa correta.


1. É correto afirmar que se tratam de seguros de caráter obrigatório, em
conformidade com o Decreto-Lei nº 73/1966:

(a) Bens dados em garantia de empréstimos ou financiamentos de ins-


tituições financeiras públicas e garantia do pagamento a cargo de
mutuário da construção civil, inclusive obrigação imobiliária.
(b) Responsabilidade civil de estabelecimentos industriais e edifícios
divididos em unidades autônomas.
(c) Vida, acidentes pessoais e danos pessoais a passageiros de aero-
naves comerciais.
(d) Saúde, previdência complementar e responsabilidade civil do pro-
prietário de aeronaves e do transportador aéreo.
(e) Compreensivo residencial, comercial e empresarial contra o risco de
incêndio.

Marque a alternativa correta.


2. O Sistema Nacional de Seguros Privados (SNSP) é formado por uma
série de órgãos, pessoas e entidades. Podemos afirmar que o SNSP é
constituído, dentre outros órgãos, pelo(a):

I) Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP).


II) Sindicato de Corretores de Seguros (SINCOR).
III) Confederação Nacional do Comércio (CNC).
IV) Superintendência de Seguros Privados (SUSEP).

Assinale a alternativa correta:


(a) Somente I, II e IIII são proposições verdadeiras.
(b) Somente I e IV são proposições verdadeiras.
(c) Somente III e IV são proposições verdadeiras.
(d) Somente I, II e IV são proposições verdadeiras.
(e) Somente II e III são proposições verdadeiras.

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 137


FIXANDO CONCEITOS

Marque a alternativa correta


3. De acordo com a legislação vigente, o órgão que integra o Sistema Nacio-
nal de Seguros Privados, responsável pela fiscalização da atividade do cor-
retor de seguros, é o(a):

a) FENACOR
b) FUNENSEG
c) CNC
d) SUSEP
e) FENASEG.

4. O Decreto-Lei nº 73, de 1966, que instituiu o Sistema Nacional de Segu-


ros Privados, definindo seus objetivos, considera, também, como integra-
dos nas operações de seguros privados:

a) Os sistemas de cosseguro, resseguro e retrocessão.


b) Somente os Seguros de Danos.
c) Somente os Seguros de Pessoas.
d) Somente os Seguros de Responsabilidade.
e) Somente os Seguros de Bens.

5. De acordo com a legislação vigente, o órgão integrante do Sistema


Nacional de Seguros Privados responsável pela autorização da movimen-
tação e liberação dos bens e valores obrigatoriamente inscritos em garan-
tia das reservas técnicas e do capital vinculado é o(a):

a) Ministério da Fazenda
b) FENASEG.
c) SUSEP.
d) CVM.
e) CRSNSP.

6. O órgão regulador que estabelece as diretrizes gerais das operações de


resseguro é o(a):

a) FENACOR b) IRB c) SUSEP d) FENASEG e) CNSP.

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 138


FIXANDO CONCEITOS

7. Podemos afirmar que é de competência do Conselho Nacional de Segu-


ros Privados (CNSP):

(a) O julgamento, em última instância administrativa, dos recursos inter-


postos em face das decisões proferidas pela SUSEP, em processos
administrativos sancionadores.
(b) Proceder à liquidação das sociedades seguradoras que tiverem cas-
sada a autorização para funcionar no país.
(c) Fiscalizar a execução das normas gerais de contabilidade e estatísti-
ca fixadas pelo CNSP para as sociedades seguradoras.
(d) Fixar as características gerais dos contratos de seguros.
(e) Fixar condições de apólices, planos de operações e tarifas a serem
utilizadas obrigatoriamente pelo mercado segurador nacional.

8. O controle do Estado será exercido pelos órgãos instituídos pelo Decre-


to-Lei nº 73, de 1966, sendo eles o CNSP e a SUSEP, no interesse dos(as):

a) Sociedades seguradoras e resseguradoras.


b) Segurados e beneficiários dos contratos de seguros.
c) Entidades de classe: FENASEG e FENACOR.
d) Sociedades corretoras, seguradoras e resseguradoras.
e) Corretores de seguros e securitários.

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 139


O CORRETOR
de SEGUROS
02 UNIDADE 2

Após ler esta unidade, você deverá ser capaz de: TÓPICOS
■■ Conhecer a lei federal ■■ Reconhecer a inexistência
DESTA UNIDADE
que regula a profissão de limitação territorial para
de corretor de seguros e atuação do corretor de A LEI QUE REGULA A PROFISSÃO
DE CORRETOR DE SEGUROS
disciplina a atividade de seguros.
corretagem de seguros. O PAPEL DE INTERMEDIADOR
■■ Descrever os direitos e DO CORRETOR DE SEGUROS
■■ Reconhecer como funciona deveres do corretor de
o sistema sindical no qual seguros. REQUISITOS PARA O EXERCÍCIO
PROFISSIONAL E REGISTRO
se insere o corretor de NA SUSEP
■■ Compreender e
seguros e as principais
saber distinguir as REQUISITOS PARA O EXERCÍCIO
entidades que representam
responsabilidades PROFISSIONAL E REGISTRO
seus interesses. NA SUSEP
administrativa, civil e penal
■■ Definir quais são os do corretor de seguros. O QUE SÃO EMPRESAS
requisitos para o exercício INDIVIDUAIS DE
■■ Identificar as sanções RESPONSABILIDADE
da atividade de corretagem LIMITADA (EIRELI)
administrativas aplicáveis
de seguros e como se
aos corretores de seguros, HABILITAÇÃO
procede à habilitação
bem como aos seus TÉCNICO-PROFISSIONAL
técnico-profissional.
prepostos e às sociedades
REQUERIMENTO DE
■■ Estabelecer os critérios corretoras de resseguros. REGISTRO NA SUSEP
necessários para o ■■ Definir a importância INEXISTÊNCIA DE LIMITAÇÃO
requerimento de registro
da autorregulação e do TERRITORIAL PARA A
na SUSEP e para o registro ATUAÇÃO DO CORRETOR
Instituto Brasileiro de DE SEGUROS
de prepostos do corretor.
Autorregulação.
OS PREPOSTOS DO CORRETOR

AS RESPONSABILIDADES DO
CORRETOR DE SEGUROS

A RESPONSABILIDADE DO
CORRETOR DE SEGUROS E
O CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR (CDC)

FIXANDO CONCEITOS 2

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 140


UNIDADE 2

A LEI QUE REGULA A PROFISSÃO


DE CORRETOR DE SEGUROS
Diante da importância da participação do corretor nas operações de
seguro, houve a necessidade de regulamentar a atividade, com a fixação
Vale a pena de princípios, deveres e direitos. Assim, foi editada a Lei nº 4.594/1964.
Antes dela, a profissão do corretor de seguros era exercida com base na
ler na íntegra experiência individual de cada um, passada de geração em geração.

Todo profissional que atua Em função da determinação contida no art. 32 da Lei nº 4.594/1964, foi
em corretagem de seguros deve editado o Decreto nº 56.903/1965, que regula a profissão de corretor de
conhecer detalhadamente o Seguros de Vida e de Capitalização. Cabe mencionar que, de acordo com
teor da Lei nº 4.594/1964, que o art. 29 da referida lei, seus dispositivos não se aplicam a operações de
regula a profissão de corretor cosseguro e de resseguro entre as sociedades seguradoras.
de seguros. Consulte o texto
É importante observar que, além da referida lei, o Código Civil de 2002,
integral no site da Presidência da
nos seus arts. 722 a 729, inovou em relação ao Código anterior ao dispor
República.
sobre a corretagem de um modo geral.
www.planalto.gov.br

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 141


UNIDADE 2

O PAPEL DE INTERMEDIADOR
DO CORRETOR DE SEGUROS
Mas, afinal, qual o papel do corretor de seguros? O papel de intermediador
do corretor de seguros não se define exclusivamente pelo que estabelece a
legislação específica, ou seja, pela Lei nº 4.594/1964, e pelo Decreto-Lei nº
73/1966. Deve, também, pautar-se pelo que estabelece o Código Civil, seja
em relação à disciplina do contrato de seguro (arts. 757 a 802), ou no que diz
respeito ao que estabelece sobre a atividade da corretagem (arts. 722 a 729).
Estes últimos são objeto de análise a seguir. É importante ressaltar que os
artigos a seguir referem-se à corretagem de forma geral, sendo que a corre-
tagem de seguros possui legislação especial.

Saiba mais Art. 722. Pelo contrato de corretagem, uma pessoa, não ligada a
outra em virtude de mandato, de prestação de serviços ou por
qualquer relação de dependência, obriga-se a obter para a segun-
A atividade de corretagem
da um ou mais negócios, conforme as instruções recebidas.
de seguros teria surgido em
Portugal, no ano de 1578, e o Art. 723. O corretor é obrigado a executar a mediação com a
papel do corretor já consistia diligência e prudência, e a prestar ao cliente, espontaneamente,
em intermediar as relações todas as informações sobre o andamento do negócio. (Redação
entre segurados e seguradoras. dada pela Lei nº 12.236, de 2010.)
A contratação de seguro Parágrafo único. Sob pena de responder por perdas e danos, o
somente era válida quando corretor prestará ao cliente todos os esclarecimentos acerca da
intermediada por um corretor de segurança ou risco do negócio, das alterações de valores e de
seguros, e a remuneração dele outros fatores que possam influir nos resultados da incumbência.
era custeada pelos segurados (Incluído pela Lei nº 12.236, de 2010.)

Comentário
O art. 723 estabelece as obrigações básicas do corretor
e sua responsabilidade civil perante seus clientes.

Art. 724. A remuneração do corretor, se não estiver fixada em lei,


nem ajustada entre as partes, será arbitrada segundo a natureza
do negócio e os usos locais.

Comentário
Quando a legislação não estabelecer o valor de remuneração
a ser recebido pelo corretor, será pautada pela natureza do
negócio e pelos usos locais, ou seja, pelos costumes.

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 142


UNIDADE 2

Art. 725. A remuneração é devida ao corretor uma vez que tenha


conseguido o resultado previsto no contrato de mediação ou ainda
que este não se efetive em virtude de arrependimento das partes.

Comentário
Atingido o resultado útil com a celebração do contrato, a remune-
ração será devida, ainda que o negócio não venha a se efetivar
por arrependimento das partes.

Art. 726. Iniciado e concluído o negócio diretamente entre as par-


tes, nenhuma remuneração será devida ao corretor, mas, se, por
escrito, for ajustada a corretagem com exclusividade, terá o corretor
direito à remuneração integral, ainda que realizado o negócio sem
a sua mediação, salvo se comprovada sua inércia ou ociosidade.

Comentário
Assim, concretizado o negócio sem a intermediação do corretor, a
remuneração não será devida, salvo se houver ajuste, por escrito,
de exclusividade no que concerne à corretagem, situação em
que o corretor terá direito à remuneração integral, excetuando-se
os casos de comprovada inércia ou ociosidade de sua parte. É
importante, neste caso, que o corretor esteja sempre em contato
com seus clientes.

Art. 727. Se, por não haver prazo determinado, o dono do negócio
dispensar o corretor, e o negócio se realizar posteriormente, como
fruto da sua mediação, a corretagem lhe será devida; igual solução
se adotará se o negócio se realizar após a decorrência do prazo
contratual, mas por efeito dos trabalhos do corretor.

Comentário
Este artigo é muito importante para o corretor, haja vista que a
remuneração de corretagem sempre será devida quando houver
seu trabalho ou sua participação na mediação, ainda que seja
dispensado antes da concretização do negócio.

Art. 728. Se o negócio se concluir com a intermediação de mais


de um corretor, a remuneração será paga a todos em partes iguais,
salvo ajuste em contrário.

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 143


UNIDADE 2

Comentário
Este artigo dispõe sobre a cocorretagem, ou seja, o trabalho reali-
zado por dois ou mais corretores, inclusive como deve ser paga a
remuneração pelo trabalho por eles realizado, quando não há um
acordo prévio de quanto cabe a cada um.

Art. 729. Os preceitos sobre corretagem constantes deste código


não excluem a aplicação de outras normas da legislação especial.

Comentário
Pela redação deste artigo, entende-se que as disposições sobre a corretagem previs-
tas no Código Civil não excluem a aplicação de outras normas da legislação especial
(Corretagem de Seguro), por exemplo, a Lei nº 4.594/1964 e o Decreto-Lei nº 73/1966.

Ainda em relação ao contido no art. 729 do Código Civil, a própria Lei nº


4.594/1964, em seu art. 1º, alterada pelo Decreto-Lei nº 73/1966, no seu art.
122, cuidou de estabelecer um conceito formal para a profissão do corre-
tor, destacando a função de intermediação exercida, inclusive as pessoas
jurídicas dessa relação, conforme o comentário a seguir.

Comentário
A Lei nº 4.594/1964, em seu art. 1º, dispõe:
Art. 1º. O corretor de seguros, seja pessoa física ou jurídica, é o intermediário legalmen-
te autorizado a angariar e a promover contratos de seguros, admitidos pela legislação
vigente, entre as sociedades de seguros e as pessoas físicas ou jurídicas, de Direito
Público ou Privado.
Igual procedimento adotou o Decreto-Lei nº 73, de 1966, no seu art. 122, tendo suprimido, no
entanto, a expressão “público”.
Art. 122. O corretor de seguros, seja pessoa física ou jurídica, é o intermediário legal-
mente autorizado a angariar e promover contratos de seguros entre as sociedades
seguradoras e as pessoas físicas ou jurídicas de Direito Privado.
Vale recordar que, conforme já mencionado, o Decreto-Lei nº 73/1966 foi recepcionado pela
Constituição Federal com status de lei complementar. Assim, ante o princípio da hierarquia das
leis, o art. 122 do Decreto-Lei nº 73/1966 prevalece sobre o contido na parte final da redação do
art. 1º da Lei nº 4.594/1964.
Portanto, o corretor de seguros só pode intermediar contratos de seguros entre socieda-
des de seguros e as pessoas naturais e jurídicas de Direito Privado.

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 144


UNIDADE 2

Diante de tudo que você aprendeu até aqui, podemos concluir que o papel
do corretor de seguros, na condição de integrante do Sistema Nacional
de Seguros, é promover a ligação entre os interesses dos segurados (os
quais representa) e das sociedades seguradoras, o que faz na condição de
intermediador.

No exercício dessa intermediação, compete ao corretor de seguros:

Identificar as necessidades daquele que pretende contratar o


seguro (proponente).

Orientar o proponente sobre os tipos de seguro que deve contra-


tar para garantir seu patrimônio, sua vida, faculdades humanas e
saúde, além de outros interesses seguráveis que titularize.

Buscar no mercado as opções de seguro mais adequadas para o


cliente.

Advertir o segurado sobre a importância de prestar informações


verdadeiras e completas acerca do interesse segurável e do risco.

Esclarecer ao segurado o sentido e o alcance das cláusulas con-


tratuais.

Assistir o segurado durante toda a vigência do seguro, inclusive na


realização de aviso de sinistro e no fornecimento de documentos
e informações durante o processo de regulação.

REQUISITOS PARA O EXERCÍCIO


PROFISSIONAL E REGISTRO
NA SUSEP
Agora vamos estudar os principais requisitos para que corretores e segu-
radoras atuem profissionalmente no mercado.

—— O Corretor de Seguros –
Profissional Autônomo
Como se trata de categoria econômica relevante para o cumprimento
da missão de desenvolvimento da economia nacional, a própria Lei nº
4.594/1964, regulamentadora da profissão, dispõe, no parágrafo único do
art. 2º, que o número de corretores é ilimitado, em disposição harmô-
nica com o texto da atual Constituição Federal, que assegura a liberdade
profissional, como se constata da redação do art. 5º, inciso XIII:

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 145


UNIDADE 2

Art. 5º. ...


...
XIII – é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão,
atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer.

O art. 2º da Lei nº 4.594/1964, dispõe:

Art. 2º. O exercício da profissão de corretor de seguros depende


da prévia obtenção do título de habilitação, o qual será concedido
pelo Departamento Nacional de Seguros Privados e Capitalização,
nos termos desta lei.

Comentário
O referido artigo condicionou o exercício da profissão à obtenção de título de habilita-
ção junto à SUSEP para o exercício da profissão, a qual depende do preenchimento de
requisitos da Lei nº 4.594/1964, entre os quais está incluída a necessidade de aprovação
em exame de habilitação. Convém consignar que a Resolução CNSP nº 249/2012, com
alterações promovidas pelas Resoluções CNSP nºs 252/2012, 258/2012 e 318/2014,
estabeleceu as disposições sobre a habilitação, registro profissional e atividade dos
corretores de seguros de ramos elementares e dos corretores de seguros de vida,
capitalização e previdência, bem como seus prepostos.

Além disso, a lei nº 4.954/1964, em seu art. 3º, prevê os requisitos a serem
atendidos por todos os interessados em realizar a intermediação de con-
tratos de seguro, preenchidas todas as qualificações profissionais que a lei
estabelecer, conforme o art. 5º, inciso XIII, da Constituição Federal.

Art. 3º. O interessado na obtenção do título a que se refere o arti-


go antecedente requererá ao Departamento Nacional de Seguros
Privados e de Capitalização, indicando o ramo de seguro a que
pretende se dedicar, provando documentalmente:

a) ser brasileiro ou estrangeiro com residência permanente;

b) estar quite com o serviço militar, quando se tratar de brasileiro


ou naturalizado;

c) não haver sido condenado por crimes a que se referem as


Seções II, III e IV do Capítulo VI do Título I; os Capítulos I, II, III, IV, V,
VI e VII do Título II; o Capítulo V do Título VI; Capítulos I, II e III do
Título VIII; os Capítulos I, II, III e IV do Título X e o Capítulo I do Título
XI, parte especial do Código Penal;

d) não ser falido;

e) ter habilitação técnico-profissional referente aos ramos requeridos.

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 146


UNIDADE 2

Para que você não tenha qualquer dúvida, a seguir vamos comentar cada
um desses requisitos.

Ser brasileiro ou estrangeiro com residência permanente


Embora a alínea “a” do art. 3º da citada lei não se refira ao brasilei-
ro naturalizado, é possível concluir que ele está inserido naquele
dispositivo, pois a alínea seguinte (“b”) faz menção expressa a ele.

Comentário
A naturalização tácita não foi adotada pela Constituição de 1988, dispondo apenas sobre
a naturalização expressa, a qual se divide em ordinária ou comum e extraordinária. A ordi-
nária é concedida ao estrangeiro com idoneidade moral que resida no Brasil por 1 (um) ano
ininterrupto, desde que seja originário de países de língua portuguesa. A extraordinária
pode ser concedida a qualquer estrangeiro com domicílio no Brasil por mais de 15 (quin-
ze) anos ininterruptos e sem condenação penal. Ressalta-se, porém, que a naturalização
não importa a aquisição da nacionalidade ou radicação no Brasil do cônjuge ou filhos do
recém-naturalizado.

Saiba mais No que concerne ao requisito residência permanente, pode-se entender se


tratar do local onde o indivíduo estabeleceu e organizou a sua vida familiar.

Foi o poeta Olavo Bilac, em


torno de 1915, que desencadeou Estar quite com o serviço militar, quando se tratar
ferrenha campanha em favor de brasileiro ou naturalizado.
da obrigatoriedade do serviço O serviço militar é obrigatório por força de lei (art. 143 da Constitui-
militar, ressaltando que o quartel ção Federal). Estão isentos do serviço militar, em tempo de paz, os
seria uma escola de civismo. eclesiásticos e as mulheres. Entretanto, poderão estar sujeitos a
Inclusive, em sua homenagem, outros encargos que a lei lhes atribuir. Aquele que alegar qualquer
a data do seu nascimento, 16 imperativo de consciência ou de ordem religiosa para eximir-se do
de dezembro, foi consagrada serviço militar estará sujeito à prestação de serviços alternativos
como Dia do Reservista. A Lei determinados por lei.
do Serviço Militar foi promulgada
De acordo com o art. 5º da Lei do Serviço Militar nº 4.375, de 17/08/1964, o
em 1964, mas entrou em vigor
brasileiro fica isento da apresentação do documento de situação militar a partir
em janeiro de 1966, com a
de janeiro do ano em que completar 46 (quarenta e seis) anos de idade.
publicação do respectivo
regulamento.
Não haver sido condenado por crimes a que se refe-
rem as Seções II, III e IV do Capítulo VI do Título I; os
Capítulos I, II, III, IV, V, VI e VII do Título II; o Capítulo
V do Título VI; Capítulos I, II e III do Título VIII; os
Capítulos I, II, III e IV do Título X e o Capítulo I do
Título XI, parte especial do Código Penal.
Inicialmente, é necessário esclarecer que, segundo o art. 5º, LVII,
da Constituição Federal, a pessoa somente poderá ser considerada

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 147


UNIDADE 2

culpada após o trânsito em julgado da sentença penal condenató-


ria (em que não caiba mais recurso). Para ampliar conhecimentos, o
interessado pode fazer uma leitura dos dispositivos acima mencio-
nados do Código Penal e, também, dos abaixo relacionados:

»» dos crimes contra a inviolabilidade do domicílio (art. 150);


»» dos crimes contra a inviolabilidade de correspondência (arts.
151 e 152);
»» dos crimes contra a inviolabilidade dos segredos (arts. 153 e 154);
»» dos crimes contra o patrimônio (artigos 155 a 180);
»» dos crimes contra os costumes (artigos 227 a 232);
»» dos crimes contra a incolumidade pública (artigos 250 a 285);
»» dos crimes contra a fé pública (artigos 289 a 311); e
»» dos crimes contra a Administração Pública (artigos 312 a 327).

Não ser falido


Trata-se da decretação de falido em processo judicial, com trânsito
em julgado da respectiva decisão.

Ter habilitação técnico-profissional referente aos ramos


requeridos
Atualmente, o interessado em exercer a profissão de corretor de
seguros, todos os ramos, primeiramente tem que obter aprova-
ção em exame ou curso de habilitação junto à Escola Nacional de
Seguros – FUNENSEG. Posteriormente, ele deverá solicitar seu
registro à SUSEP.

A exigência de habilitação técnico-profissional feita pelo art. 3º da Lei


nº 4.594/1964, deve ser cumprida na forma do art. 4º da mesma lei, com
a redação que lhe foi dada pela Lei nº 7.278/1984:

Art. 4º. O cumprimento da exigência da alínea “e” do artigo ante-


rior poderá consistir na observância comprovada de qualquer das
seguintes condições:

a) haver concluído curso técnico profissional de seguros, oficial ou


reconhecido;

b) apresentar atestado de exercício profissional anterior a esta Lei,


fornecido pelo sindicato de classe ou pelo Departamento Nacional
de Seguros Privados e Capitalização.

Fique atento, pois o art. 3º da Lei nº 4.594/1964, determina a comprovação


documental dos referidos requisitos.

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 148


UNIDADE 2

Cabe acrescentar que a mesma lei estabelece a seguinte vedação ao exer-


cício da atividade de corretagem de seguros, aplicável também aos pre-
postos do corretor:

Art. 17. É vedado aos corretores e aos prepostos:

a) aceitarem ou exercerem empregos de pessoa jurídica de Direito


Público, inclusive de entidade paraestatal;

b) serem sócios, administradores, procuradores, despachantes ou


empregados de empresa de seguros.

Parágrafo único. O impedimento previsto neste artigo é extensi-


vo aos sócios e diretores de empresa de corretagem.

Editado dois anos mais tarde, o Decreto-Lei nº 73/1966 previu, no art. 123,
o seguinte:

Art. 123. O exercício da profissão de corretor de seguros depende


de prévia habilitação e registro.

§ 1º A habilitação será feita perante a SUSEP, mediante prova de


capacidade técnico-profissional, na forma das instruções baixadas
pelo CNSP.

Cabe lembrar, como vimos na unidade 5, que o art. 32 inciso XII, do


Decreto-Lei nº 73/1966 atribuiu ao CNSP a competência privativa para
disciplinar a corretagem de seguros e a profissão de corretor de seguros.

Além disso, o decreto nº 60.459/1967, editado para regulamentar o Decre-


to-Lei nº 73/1966, ratificou, no inciso XIV do art. 21, a competência do CNSP
para dispor sobre a corretagem de seguros e a respectiva profissão.

Conforme pontuado, em 2012, o CNSP editou a Resolução nº 249/2012,


que dispõe sobre a atividade dos corretores de seguros de ramos ele-
mentares e dos corretores de seguros de vida, capitalização e previdência,
bem como seus prepostos, e que veio a ser alterada pela Resolução nº
252/2012 e, posteriormente, pelas Resoluções CNSP nos 258/12 e 318/14.

A exemplo do contido no art. 3º, III, da Lei nº 4.594/1964, o art. 4º da Reso-


lução nº 249/2012, prevê que a habilitação técnico-profissional é requisito
para a concessão do registro:

Art. 4º. É requisito necessário à concessão de registro profissional


de corretor de seguros pela SUSEP, prevista no § 3º do art. 123 do
Decreto-Lei nº 73, de 21 de novembro de 1966, a apresentação do
comprovante de aprovação no Exame Nacional para Habilitação Téc-
nico-Profissional para Corretor de Seguros ou do certificado de con-
clusão do Curso de Habilitação Técnico-Profissional para Corretor de
Seguros, expedidos pela Escola Nacional de Seguros – FUNENSEG
ou por outra instituição de ensino autorizada pela SUSEP. (Artigo
alterado pela Resolução CNSP nº 258/2012)

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 149


UNIDADE 2

Parágrafo único. O certificado de conclusão do Curso de Habilita-


ção Técnico-Profissional para Corretor de Seguros será fornecido
com base em aferições de aproveitamento e frequência, segundo
critérios estabelecidos pela SUSEP.

A par disso, o art. 4º-A da referida Resolução exige o atendimento a todos


os demais requisitos previstos no art. 3º da Lei nº 4.594/1964, para a obten-
ção do registro profissional de corretor de seguros, tendo acrescido a eles
as vedações contidas no art. 17 da citada lei:

Art. 4º - A. São condições necessárias à atuação profissional de


corretor de seguros:
(Artigo acrescentado pela Resolução CNSP nº 252/2012)
I – ser brasileiro ou estrangeiro com residência permanente no País;
II – estar quite com o serviço militar e a justiça eleitoral, quando
se tratar de brasileiro com idade entre dezoito e quarenta e cin-
co anos;
III – não haver sido condenado por crimes a que se referem as
Seções II, III e IV do Capítulo VI do Título I; os Capítulos I, II, III, IV, V, VI
e VII do Título II; o Capítulo V do Título VI; os Capítulos I, II, III e IV do
Título X e o Capítulo I do Título XI, parte especial do Código Penal.

IV – não ser falido;


V – não exercer cargo ou emprego em pessoa jurídica de Direito
Público;
VI – não manter relação de emprego ou de direção com sociedade
seguradora.

§1° O cumprimento das condições constantes deste artigo poderá


ser efetuado por meio de declarações, a critério da SUSEP.
§2° Os documentos que comprovam o atendimento às condições
constantes deste artigo devem estar disponíveis à fiscalização da
SUSEP.
Lembrando que, para a obtenção do registro na SUSEP, o interessado
deve, ainda, cumprir as disposições estabelecidas pela Circular SUSEP
nº 510, de 22 de janeiro de 2015.

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 150


UNIDADE 2

—— As Corretoras de Seguros
Pessoas Jurídicas
Sociedades Empresárias
A expansão do setor de Seguros, Capitalização e Previdência Complemen-
tar Aberta, com maior participação no PIB nacional, foi verificada a partir de
1994, em virtude da estabilização da moeda e condições econômicas mais
favoráveis. Assim, houve a exploração de novos nichos de mercado, e,
com isso, as oportunidades de negócios vêm exigindo, dos corretores de
seguros mais profissionalização, capacitação e especialização. As próprias
entidades e sociedades dos mercados supervisionados têm demonstrado
a preferência em operar e cadastrar corretores sob a forma de sociedades.

A Lei nº 4.594/1964, exige, no parágrafo 1º do art. 3º, que as sociedades


corretoras de seguros tenham sede no país e sejam organizadas segundo
as leis brasileiras.

Já a Resolução CNSP nº 249/2012, alterada pela Resolução nº 252/2012,


estabelece, no art. 11, que a concessão de registro de corretor de seguros,
constituído sob a forma de pessoa jurídica, somente será outorgada às
empresas regularmente constituídas, que estejam organizadas sob a for-
ma de sociedades simples ou empresárias:

Art. 11. A concessão de registro de corretor de seguros constituído


sob a forma de pessoa jurídica somente será outorgada às socie-
dades regularmente constituídas, que estejam organizadas sob a
forma de sociedades simples ou empresárias.

De acordo com o art. 1.150 do Código Civil, o empresário e a sociedade


empresária vinculam-se ao Registro Público de Empresas Mercantis, a car-
go das Juntas Comerciais; e a sociedade simples, ao Registro Civil das
Pessoas Jurídicas.

Além disso, as empresas corretoras de seguros, dependendo de seu porte


econômico, podem ser constituídas sob a forma de sociedades anônimas,
regidas pela Lei nº 6.404/1976, com as alterações das Leis nº 9.457/1997,
e nº 10.303/2001.

O Código Civil possui um capítulo inteiro dedicado ao Direito da Empresa


(arts. 966 a 1.195), cuja leitura é recomendada para melhor aprofundamento no
tema. Os corretores de seguros que pretenderem constituir uma sociedade
corretora de seguros devem buscar a orientação de advogados e contadores.

É importante mencionar que o art. 12 da Resolução CNSP nº 249/2012,


alterada pela Resolução nº 252/2012, estabelece a seguinte condição para
a constituição de uma sociedade corretora:

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 151


UNIDADE 2

Art. 12. A constituição de uma sociedade corretora, seja para atuar


no ramo de Danos, no segmento de capitalização ou, ainda, em
capitalização, no ramo de Pessoas ou em previdência complemen-
tar aberta, deve ter como diretor técnico, no caso de sociedade
por ações, ou administrador, no caso de sociedade por cotas de
responsabilidade limitada, um corretor habilitado para o segmento
de atuação da referida sociedade.

A Resolução nº 249/2012 dispõe, ainda, de forma semelhante ao art. 17 da


Lei nº 4.594/1964, sobre as condições para que seja concedido o registro
de corretora de seguros para a pessoa jurídica:

Art. 13. Não será concedido registro às sociedades cujos sócios e


ou diretores:
I – aceitem ou exerçam emprego em pessoa jurídica de direito
público; ou
II – mantenham relação de emprego ou de direção com sociedade
seguradora.
Sobre o registro na SUSEP, devem sempre ser observadas as disposições
da Circular SUSEP nº 510/2015.

Sociedades Cooperativas
Os corretores de seguros podem se organizar, também, sob a forma de
sociedades cooperativas.

O CNSP editou a Resolução nº 175/2007, que dispõe sobre cooperativas


de corretores de seguros. Posteriormente, a SUSEP baixou normas com-
plementares através da Circular SUSEP nº 367/2008.

Já a Circular SUSEP nº 374/2008, dispôs sobre os procedimentos de regis-


tro de sociedades cooperativas de corretores de seguros, dando outras
providências.

A sociedade cooperativa tem por objetivo a defesa da economia individual


dos seus sócios. No art. 3º da Lei nº 5.764/1971, assim está definido o con-
trato entre os sócios (cooperados):

Art. 3º. Celebram contrato de sociedade cooperativa as pessoas


que reciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou serviços
para o exercício de uma atividade econômica, de proveito comum
sem objetivo de lucro.

A cooperativa difere de uma empresa pelo fato de visar à prestação de


serviços aos seus cooperados sem objetivo de lucro. Assim sendo, a coo-
perativa representará os interesses dos cooperados, além de organizar e
operar todas as atividades necessárias, a fim de possibilitar ao cooperado
auferir o melhor rendimento possível, respeitando e cumprindo plenamen-
te a legislação aplicável.

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 152


UNIDADE 2

A cooperativa de corretores de seguros, por ser uma típica cooperativa


de trabalho de profissionais da respectiva profissão regulamentada, pos-
sibilitará aos cooperados prestar serviços aos seus clientes por intermé-
dio da cooperativa.

Cabe à cooperativa efetuar o processamento operacional da produção


dos seus cooperados junto às seguradoras e, nesse caso, conforme pre-
visão legal, atuar como corretora de seguros pessoa jurídica, distinguin-
do-se, porém, das sociedades corretoras de seguros constituídas sob a
forma empresarial.

São necessários, no mínimo, 20 corretores de seguros, pessoas naturais,


habilitados legalmente, para a constituição de uma sociedade cooperativa.

Sua constituição requer a realização de uma assembleia para aprovação


do estatuto social, integralização do capital social, definição da sede.

Posteriormente, deve ser providenciado o registro da ata de constituição


e do estatuto social na Junta Comercial da Unidade Federativa onde ficar
instalada a sede, na Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), atra-
vés de sua unidade regional correspondente, no CNPJ (emitido pelo Minis-
tério da Fazenda), na Prefeitura Municipal e na SUSEP.

O quadro de associados da sociedade cooperativa de corretores de segu-


ros deve ser formado, obrigatoriamente, por corretores de seguros, pes-
soas naturais ou jurídicas, gozando do livre exercício profissional. Todos
os sócios das pessoas jurídicas corretoras de seguros que participem de
sociedade cooperativa deverão ser corretores de seguros registrados na
SUSEP e em pleno gozo do livre exercício profissional.

O QUE SÃO EMPRESAS INDIVIDUAIS


DE RESPONSABILIDADE
LIMITADA (EIRELI)
O Corretor de Seguros pode constituir sua sociedade na forma Simples,
Simples Limitada ou uma EIRELI – Empresa Individual de Responsabilidade
Limitada –, na qual não é necessário ter um ou mais sócios.

É possível também transformar a sociedade já existente em EIRELI.

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 153


UNIDADE 2

Saiba mais
A seguir, você pode conferir trechos contidos no Livro sobre EIRELI (www.fenacor.org.br):
Trata-se de nova modalidade de pessoa jurídica criada pela Lei nº 12.441/2011,
que garante ao seu titular uma separação entre o seu patrimônio particular e o
da EIRELI, a partir do registro no registro público competente (Registro Civil de
Pessoas Jurídicas ou Registro Público de Empresas).
A Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI) é uma pessoa
jurídica unipessoal, o que significa que é composta por apenas um titular, sem
a participação de sócios. Não se confunde com a figura do empresário, nem do
microempreendedor individual (MEI), que é um tipo de empresário, pois estes
não têm personalidade jurídica, nem limitação de responsabilidade ao capital
declarado. Também não se confunde com a sociedade, pois esta tem que con-
tar com a pluralidade de sócios. O nome “empresa” é usado na EIRELI de forma
não técnica, como acontece normalmente na legislação e no próprio Código
Civil, quando, por exemplo, trata sobre escrituração de livros. Quando a lei usa
o nome “empresa”, muitas vezes está se referindo à pessoa jurídica, não se
preocupando com o detalhamento se é de organização simples ou empresarial.
Os elementos do ato de constituição serão basicamente os previstos na nor-
ma das sociedades limitadas (arts. 1.052 a 1.087 do Código Civil brasileiro),
podendo prever, como norma subsidiária, a lei das sociedades anônimas e, na
omissão, ficam valendo as normas das sociedades simples.
Os elementos que precisam de maior atenção são a administração e o capi-
tal. Este terá que ser totalmente integralizado no valor de 100 (cem) salários
mínimos e não precisa ser representado em quotas. A administração não deve
permitir que haja confusão entre o patrimônio particular do titular com o da
pessoa jurídica e deve ser garantida a continuidade da EIRELI mesmo diante do
impedimento temporário ou permanente do titular. A pessoa natural que consti-
tuir empresa individual de responsabilidade limitada somente poderá figurar em
uma única empresa dessa modalidade.
No site da Fenacor (www.fenacor.org.br/download/eireli.pdf), está disponível uma suges-
tão de contratos de constituição e legislação.

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 154


UNIDADE 2

HABILITAÇÃO
TÉCNICO-PROFISSIONAL
No exercício do poder regulamentar que lhe foi atribuído, o CNSP tem a
competência de editar resoluções, disciplinando não apenas a profissão
de corretor de seguros, mas, também, a própria atividade de corretagem.

Em 15 de fevereiro de 2012, a SUSEP, autorizada pelo CNSP, ad referendum


do referido Conselho (na forma do art. 5º, § 1º, da Resolução CNSP
nº 111/2004), editou a Resolução nº 249/2012, que dispõe sobre a ativida-
de dos corretores de seguros de Ramos Elementares e dos corretores de
seguros de Vida, Capitalização e Previdência.

É importante relembrar, como foi visto, que a Resolução CNSP nº 249/2012


foi alterada pelas Resolução CNSP nº 252/2012 e, posteriormente, pela
Resolução CNSP nº 318/2014.

De acordo com o art. 3º da Resolução CNSP nº 249/2012, a habilitação


técnico-profissional prevista no § 1º do art. 123 do Decreto-Lei nº 73/1966,
será concedida mediante aprovação em Exame Nacional de Habilitação
Técnico-Profissional para Corretor de Seguros ou em Curso de Habilitação
Técnico-Profissional para Corretor de Seguros.

A SUSEP editou, em seguida, a Circular nº 428/2012, que dispõe sobre a


realização de Curso de Habilitação de Corretores de Vida, de Capitaliza-
ção e de Previdência e dá outras providências.

Ainda não foi editada pela SUSEP uma circular disciplinando a habilitação téc-
nico-profissional para Ramos Elementares. Até que isso ocorra, esta se rege-
rá, por analogia, pelas disposições contidas na Circular SUSEP nº 428/2012.

De acordo com o art. 6º da Resolução CNSP nº 249/2012, “a comprovação


prévia de conclusão de curso de ensino médio em estabelecimento educa-
cional reconhecido é requisito básico para a inscrição do candidato no Exa-
me Nacional para Habilitação Técnico-Profissional para Corretor de Seguros
ou no Curso de Habilitação Técnico-Profissional para Corretor de Seguros”.

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 155


UNIDADE 2

REQUERIMENTO DE
REGISTRO NA SUSEP
O requerimento de registro na SUSEP deve ser efetuado na forma estabe-
lecida no art. 3º da Circular SUSEP nº 510/2015:

Art. 3º. O requerimento de registro de que trata o artigo ante-


rior deverá ser efetuado por meio de formulário contendo dados
cadastrais do corretor de seguros e declarações, e ser encaminha-
do por meio digital, por intermédio do sítio eletrônico da SUSEP na
rede mundial de computadores.

§ 1º Tratando-se de corretor de seguros, pessoa física, o requeri-


mento a que se refere o caput deverá ser acompanhado de cópia
digitalizada do comprovante de aprovação no Exame Nacional de
Habilitação Técnico-Profissional para Corretor de Seguros ou no
Curso de Habilitação Técnico-Profissional para Corretor de Segu-
ros, promovido pela Escola Nacional de Seguros – FUNENSEG ou
por outra instituição autorizada pela SUSEP, referente aos ramos
requeridos.

§ 2º Tratando-se de corretor de seguros, pessoa jurídica, o reque-


rimento a que se refere o caput deverá ser acompanhado de cópia
digitalizada do ato constitutivo, contrato ou estatuto social, devida-
mente arquivado no registro competente.

Além da documentação mencionada naquele artigo, também aquela listada


no artigo 9º da citada Circular deverá acompanhar o requerimento de registro:

Art. 9º. Para efeito de composição de banco de dados, que fica-


rá à disposição para posteriores fiscalizações, o requerimento de
registro deve ser acompanhado da seguinte documentação, enca-
minhada por meio digital, por intermédio do sítio eletrônico da
SUSEP na rede mundial de computadores.

I – tratando-se de corretor de seguros, pessoa física, são exigidos


os seguintes documentos:
a) carteira de identidade, válida em todo o território nacional;
b) comprovante de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas – CPF;
c) comprovante de quitação com a justiça eleitoral ou recibo de
votação da última eleição;
d) comprovante de quitação com o serviço militar, quando se tratar
de brasileiro com idade entre dezoito e 45 anos;
e) comprovante de residência ou declaração de endereço, firmada
pelo próprio, nos termos da Lei nº 7.115/1983; e

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 156


UNIDADE 2

II – tratando-se de corretor de seguros pessoa jurídica, o adminis-


trador técnico deverá apresentar os seguintes documentos:
a) os enumerados no inciso I deste artigo, relativamente a seus
administradores, cotistas ou detentores de participação qualificada;
b) comprovante de inscrição no Cadastro Nacional de Pessoas

Importante Jurídicas – CNPJ; e

§1º. É obrigatório constar do ato constitutivo, estatuto ou contrato


Uma vez concedido, o social do corretor de seguros pessoa jurídica que o administrador
registro será válido por prazo técnico seja corretor de seguros registrado na SUSEP, cabendo-
indeterminado, conforme prevê o -lhe o uso do nome da empresa, relativamente aos atos de corre-
§ 1º do art. 2º da referida Circular. tagem e aos documentos encaminhados à SUSEP.

INEXISTÊNCIA DE LIMITAÇÃO
TERRITORIAL PARA A
ATUAÇÃO DO CORRETOR
DE SEGUROS
Não existe qualquer imposição legal estabelecendo limites territoriais para
o exercício profissional do corretor de seguros, cuja atuação pode se dar
em todo o território nacional.

O corretor de seguros, pessoa natural ou jurídica, pode atuar em todo o ter-


ritório nacional, valendo o seu único registro na SUSEP, para todos os esta-
dos da Federação em que pretenda operar, inclusive no Distrito Federal.

O art. 5º, inciso XIII, da Constituição Federal dispõe que:

Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residen-
tes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igual-
dade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
...
XIII – é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão,
atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer.

O assunto foi tratado com propriedade pelo procurador federal, lotado na


SUSEP, Dr. Marcello Teixeira Bittencourt, conforme a seguir:

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 157


UNIDADE 2

A imposição de limitação territorial seria uma violação direta


ao dispositivo previsto no art. 5º, XIII, da Constituição Fede-
ral, uma vez que não existe lei que venha a estabelecer limi-
tes para o exercício profissional do corretor de seguros.

(BITTENCOURT, 2004, p. 59)

OS PREPOSTOS DO CORRETOR
A Lei nº 4.594/1964, permite, também, que o corretor de seguros (todos os
ramos) venha a ter prepostos, cuja finalidade é auxiliá-lo no exercício de
suas atividades, funcionando como seus representantes, agindo em seu
nome e sob sua responsabilidade e cuidado profissional.

Os prepostos são de livre escolha do corretor. Portanto, devem ser pes-


soas de sua confiança.

Contudo, para que não haja qualquer dúvida quanto à atuação dos prepos-
tos, o art. 12 da Lei nº 4.594/1964, estabelece que eles devem ser registra-
dos na SUSEP, mediante requerimento do corretor de seguros, desde que
atendam aos requisitos exigidos pelo art. 3º da referida lei.

Art. 12. O corretor de seguros poderá ter prepostos de sua livre


escolha, bem como designar, entre eles, o que o substitua nos
impedimentos ou faltas.

Parágrafo único. Os prepostos serão registrados no Departa-


mento Nacional de Seguros Privados e Capitalização, mediante
requerimento do corretor e preenchimento dos requisitos exigi-
dos pelo art. 3º.

A parte final do parágrafo único do art. 12 da Lei nº 4.594/1964, estabelece


que o preposto do corretor de seguros deve ter a habilitação técnico-pro-
fissional, nos termos da alínea “e” do art. 3º do referido diploma legal.

O CNSP, fazendo uso da competência que lhe foi atribuída pelo art. 32, inci-
so XI, do Decreto-Lei nº 73/1966, editou a Resolução nº 295, de 295/2013,
dispondo sobre a atividade de Preposto de Corretor de Seguros e de Pre-
vidência Complementar Aberta, e requisitos básicos para sua nomeação e
registro junto à SUSEP (alterada pelas Resoluções 307/2014 e 334/2015).

A seguir, estão pontuadas algumas definições e exigências contidas na


supracitada Resolução.

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 158


UNIDADE 2

O corretor de seguros, pessoa física ou jurídica, poderá nomear, sob sua


responsabilidade e na forma prevista em tal norma infralegal, prepostos
de sua livre escolha, inclusive aquele que o substituirá nos impedimentos
eventuais (art. 1º).

O preposto que substituir o corretor de seguros em seus impedimentos


legais deverá estar registrado como corretor de seguros perante a SUSEP
(§ 2º do art. 1º).

Como se observa, o CNSP estabeleceu dois tipos de prepostos, para duas


situações distintas, a saber: uma para os impedimentos eventuais do cor-
retor de seguros, e outra para seus impedimentos legais (que deverá estar
registrado na SUSEP como corretor de seguros). Consideram-se impedi-
mentos legais aqueles previstos na Lei nº 4.594/1964 (art. 17, alíneas “a” e
“b”), e no Decreto-Lei nº 73/1966 (art. 125, alíneas “a” e “b”).

■■ Considera-se preposto a pessoa física designada por único corre-


tor de seguros, atuando exclusivamente em seu nome e sob sua
responsabilidade (art. 2º). Assim, o preposto, pessoa física, somen-
te poderá se vincular a um corretor de seguros.
■■ Cabe à SUSEP a concessão de registro de preposto (art. 3º).
■■ Cada corretor de seguros, pessoa física, poderá registrar, no máxi-
mo, 10 (dez) prepostos (§ 2º do art. 3º).
■■ O requerimento de registro deverá ser efetuado pelo corretor de
seguros, por meio de formulário contendo dados cadastrais do
preposto (art. 4º).
■■ Para efeito de composição de banco de dados que ficará à dis-
posição para posteriores fiscalizações, o requerimento do regis-
tro deve ser acompanhado da seguinte documentação, relativa a
cada preposto (§ 1º do art. 4º):
a) carteira de identidade, válida em todo o território nacional;
b) comprovante de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas – CPF;
c) comprovante de quitação com a justiça eleitoral;
d) comprovante de quitação com o serviço militar, quando se
tratar de brasileiro com idade entre 18 e 45 anos; e
e) comprovante de residência.

■■ O cumprimento da obrigação de apresentação da documentação


acima, junto à SUSEP, deverá ser efetuado a partir de 1º de junho
de 2015 (§2º do art. 4º).
■■ Essa documentação deverá ficar arquivada em poder do corretor
de seguros responsável, à disposição da fiscalização da SUSEP,
enquanto durar o vínculo com os prepostos registrados na SUSEP,
sem prejuízo do atendimento às demais exigências normativas
aplicáveis (§3º do art. 4º).

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 159


UNIDADE 2

■■ É vedado ao preposto de corretor de seguros atuar por conta pró-


pria no mercado de corretagem de seguros (art. 5º).
■■ Aplicam-se ao preposto as condições para atuação profissional do
corretor de seguros, bem como os impedimentos a este imposto
(§1º do art. 5º), cujo cumprimento desse disposto será efetuado
por meio de declarações (§2º do art. 5º).
■■ O corretor de seguros deverá assegurar que seus prepostos man-
tenham as condições necessárias ao exercício de suas atividades
(§1º do art. 6º), e o não atendimento a essa condição, a qualquer
tempo, ensejará o cancelamento do seu registro perante a SUSEP
(§2º do art. 6º).
■■ No § 3º do art. 6º, está expresso que o corretor de seguros deverá,
assim que tomar conhecimento do descumprimento por parte de
seu preposto de qualquer condição prevista nos artigos 4º e 5º da
citada Resolução, requerer o cancelamento de seu registro.
■■ Sem qualquer motivação, o corretor de seguros poderá, a qual-
quer tempo, requerer o cancelamento do registro de seu preposto,
mediante requerimento encaminhado à SUSEP (art. 7º).
As alterações cadastrais dos prepostos de corretores de seguros obede-
cerão ao disposto nos normativos da SUSEP que dispõem sobre registro
de corretor de seguros (parágrafo único do art. 7º).

■■ Em caso de irregularidade administrativa, estará o preposto de cor-


retor de seguros sujeito à instauração de processo administrativo
sancionador pela SUSEP para aplicação das sanções cabíveis, pre-
vistas nas normas específicas, sem prejuízo da responsabilidade
do corretor de seguros que requereu a sua inscrição (art. 8º).
■■ A SUSEP expedirá novo registro de preposto de corretor de segu-
ros àquele que, na data da publicação da Resolução CNSP nº 295,
de 2013, vinha atuando como preposto de corretor de seguros ou
cujo pedido de registro estiver arquivado nas bases de dados da
SUSEP em data anterior à publicação da referida Resolução (art. 9º).
■■ A emissão desse novo registro está condicionada à ratificação
pelo corretor de seguros da relação de seus prepostos, bem como
o cumprimento da documentação exigida para a composição do
banco de dados (parágrafo único do art. 9º).
■■ Não se aplica a limitação de inscrição de 10 (dez) prepostos em
relação ao corretor pessoa física, quando ele já tiver um quantitati-
vo superior já registrado na SUSEP, antes da vigência da Resolução
CNSP nº 295, de 2013 (art. 9-A). No caso de haver cancelamento
desses registros, o corretor pessoa física somente poderá cadastrar
novos prepostos junto à SUSEP até o limite de 10 (dez) prepostos.

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 160


UNIDADE 2

■■ O corretor de seguros deverá comprovar a certificação técnica dos


seus prepostos na forma disciplinada pelo CNSP (art. 10).
A Resolução CNSP nº 295/2013, foi publicada no DOU de 28 de outubro de
2013, e a sua vigência ficou estabelecida em 180 (cento e oitenta) dias, conta-
dos da data de sua publicação, iniciando-se, portanto, em 26 de abril de 2014.

DIREITOS E DEVERES DO CORRETOR


A seguir, vamos estudar os direitos e deveres dos profissionais de corretagem.

—— Deveres Básicos do Corretor


A Lei nº 4.594/1964, além de prever as exigências de qualificação profissional
para a atuação na corretagem, também estabelece os deveres básicos a serem
observados pelos habilitados, de forma a integrá-los no mercado de trabalho.

O art. 5º da referida Lei diz:

Art. 5º. O corretor, seja pessoa física ou jurídica, antes de entrar no


exercício da profissão, deverá:

a) prestar fiança em moeda corrente ou em títulos da dívida públi-


ca, no valor de um salário-mínimo mensal, vigente na localidade
em que exercer suas atividades profissionais – (Alínea revogada
– vide comentário a seguir).

b) estar quite com o imposto sindical (atual contribuição sindical).

c) inscrever-se para o pagamento do Imposto de Indústrias


e Profissões.

Comentário
A alínea “a” do art. 5º da Lei nº 4.594/1964 foi revogada pela Lei Complementar nº
137/2010. Conforme já mencionado, o imposto sindical é a atual contribuição sindical.

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 161


UNIDADE 2

Nota
A contribuição sindical está prevista nos arts. 578 a 591 da CTL e antes era recolhida
compulsoriamente. Com o advento da Lei nº 13.467/2017, passou a ser facultativa,
estando condicionada à autorização prévia e expressa dos que participarem de uma
determinada categoria econômica ou profissional
Observe o que dispõem os arts. 578 e 579 da CLT:

Art. 578: As contribuições devidas aos sindicatos pelos participantes


das categorias econômicas ou profissionais ou das profissões liberais
representadas pelas referidas entidades serão, sob a denominação de
contribuição sindical, pagas, recolhidas e aplicadas na forma estabe-
lecida neste Capítulo, desde que prévia e expressamente autorizadas.
(Redação dada pela Lei n.º 13.467, de 13 de julho de 2017)

Art. 579. O desconto da contribuição sindical está condicionado à


autorização prévia e expressa dos que participarem de uma determi-
nada categoria econômica ou profissional, ou de uma profissão liberal,
em favor do sindicato representativo da mesma categoria ou profissão
ou, inexistindo este, na conformidade do disposto no art. 591 desta Con-
solidação. (Redação dada pela Lei n.º 13.467, de 13 de julho de 2017).

Ressalte-se que o caráter facultativo da contribuição sindical, em relação ao dispositivo le-


gal citado, vem sendo tema de discussões entre entidades de classe e o Poder Judiciário.

Comentário
O Imposto de Indústrias e Profissões (IIP) foi substituído pelo Imposto Sobre Serviços de
Qualquer Natureza (ISSQN), conhecido também como Imposto Sobre Serviços (ISS), con-
forme disposto no inciso III do art. 156 da Constituição Federal. O ISS é um tributo munici-
pal e incide sobre as operações realizadas pelos corretores. Normalmente, as sociedades
seguradoras fazem a retenção na fonte desse imposto.

—— Direito à Comissão de Corretagem


A retribuição pecuniária devida ao corretor de seguros, em razão da sua
participação profissional na intermediação do seguro, tem o nome de
comissão de corretagem e se encontra expressamente assegurada no
art. 13 da Lei nº 4.594/1964, conforme transcrição abaixo:

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 162


UNIDADE 2

Art. 13. Só ao corretor de seguros devidamente habilitado nos ter-


mos desta Lei e que houver assinado a proposta deverão ser pagas
as corretagens admitidas para cada modalidade de seguro, pelas
respectivas tarifas, inclusive em caso de ajustamento de prêmios.

Comentário
Para fazer jus ao recebimento da comissão de corretagem, além de intermediar o contra-
to de seguro, o corretor deve ser habilitado nos termos da respectiva Lei, bem como ter
assinado a proposta. As comissões serão pagas de acordo com a modalidade do seguro
intermediado, respeitados os parâmetros das respectivas tarifas.

§ 1º Nos casos de alterações de prêmios por erro de cálculo na


proposta ou por ajustamentos negativos, deverá o corretor restituir
a diferença da corretagem.

Comentário
Assim, o corretor deverá restituir a diferença da comissão recebida caso tenha havido
qualquer erro de cálculo na proposta ou se existir ajustamento negativo.

§ 2º Nos seguros efetuados diretamente entre o segurador e o segu-


rado, sem interveniência de corretor, não haverá corretagem a pagar.

Comentário
A comissão de corretagem, portanto, somente é paga ao corretor quando houver a
intermediação dele na operação de seguro. Na realidade, verifica-se que a presença do
corretor de seguros não é obrigatória, conforme disposto na alínea “b” do art. 18 da Lei nº
4.594/1964. Na venda direta, ou seja, naquela em que não há a presença do corretor, a
comissão é revertida para o Fundo de Desenvolvimento Educacional do Seguro, adminis-
trado pela Escola Nacional de Seguros – FUNENSEG (art. 19 da Lei nº 4.594/1964).

Em relação à comissão de corretagem, observe que:

■■ o corretor somente terá direito à comissão de corretagem se assi-


nar a proposta de seguro, presumindo-se que aquele profissional
foi o mesmo que assinou e intermediou o contrato de seguro;

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 163


UNIDADE 2

■■ se nenhum corretor participar da contratação do seguro, como


menciona o § 2º do art. 13 da Lei nº 4.594/1964, não haverá comis-
são de corretagem a ser paga a ele. No entanto, por determinação
do contido no art. 19 da Lei nº 4.594/1964, com a alteração promo-
vida pela Lei nº 6.317/1975, a comissão de corretagem é obrigatória
e é revertida para a Escola Nacional de Seguros Escola Nacional
de Seguros – FUNENSEG, conforme exposto mais adiante no item
Formas de Contratação e Aceitação de Propostas;
■■ cada modalidade de seguro tem sua tabela de tarifas e prêmios, os
quais servem de base para cálculo de comissão de corretagem a ser
paga aos profissionais que intermedeiam os contratos de seguros;
■■ o valor da comissão de corretagem deverá, necessariamente,
guardar proporção com o montante do prêmio; e
■■ o eventual erro na fixação do prêmio imporá o dever de restituição
parcial da corretagem.

—— Dever de Registro das Propostas


e de Demonstração à SUSEP
O corretor de seguros deve manter registro das propostas por ele encami-
nhadas às seguradoras e todos os assentamentos relacionados aos negó-
cios de que participou. É o que determina a Lei nº 4.594/1964, em seu art.
14, transcrito abaixo:

Art. 14. O corretor deverá ter o registro devidamente autenticado


pelo Departamento Nacional de Seguros Privados e de Capitali-
zação, das propostas que encaminhar às sociedades de seguros,
com todos os assentamentos necessários à elucidação dos negó-
cios em que intervier.

Tal medida se justifica para impor ao corretor uma disciplina administrativa


e organizacional no exercício de suas funções, a fim de garantir aos segu-
rados, que nele confiaram, a preservação dos registros de todos os atos
relacionados ao negócio empreendido.

Esses registros permitirão que o órgão oficial de fiscalização verifique o


cumprimento das atividades dos corretores, razão pela qual esse registro
deverá estar sempre à disposição da fiscalização da SUSEP, como prevê o
art. 16 da Lei nº 4.594/1964:

Art. 16. Sempre que for exigido pelo Departamento Nacional de


Seguros Privados e de Capitalização e no prazo por ele determina-
do, os corretores e prepostos deverão exibir os seus registros, bem
como os documentos nos quais se baseiam os lançamentos feitos.

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 164


UNIDADE 2

Comentário
Trata-se de uma medida administrativa com o objetivo de impor ao corretor a disciplina
organizacional. De certa forma, garante aos segurados a preservação dos registros dos
negócios empreendidos. Assim, sempre que o corretor for arguido pela SUSEP, no sentido
do cumprimento de suas atividades, deverá ter à disposição os referidos registros e apre-
sentá-los no prazo determinado pelo órgão fiscalizador.

Comentário
A Circular SUSEP nº 510/2015 dedica o Capítulo III ao estabelecimento de normas sobre
a escrituração em registro obrigatório das propostas de seguro, admitindo o emprego de
sistema de processamento de dados eletrônicos ou mecanizados na escrituração, assim
como o arquivo das propostas.
O prazo para a guarda da documentação da produção do corretor de seguros, cujo
registro é obrigatório inclusive para eventuais comprovações no âmbito administrativo ou
judicial, vem definido na Circular SUSEP nº 74/1999, em sua tabela de temporalidade, e
também na Circular SUSEP nº 277/2004.

—— Dever de Repasse do Prêmio Recebido


Cabe ao corretor de seguros, no exercício da intermediação que caracte-
riza a atividade, repassar às seguradoras as necessidades do segurado. O
pagamento do prêmio deve ser realizado pelo segurado, conforme expos-
to mais adiante.

No entanto, na maioria das vezes, ocorre de o segurado entregar ao corre-


tor, diretamente, o valor correspondente ao prêmio ou parte dele, no caso
de fracionamento em parcelas.

Ocorrendo essa hipótese, deve o corretor fazer imediatamente o repasse


da importância recebida à seguradora, conforme prevê o art. 15 da Lei nº
4.594/1964, transcrito a seguir:

Art. 15. O corretor deverá recolher incontinenti à Caixa da Segura-


dora o prêmio que porventura tiver recebido pelo segurado para o
pagamento do seguro realizado por seu intermédio.

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 165


UNIDADE 2

Comentário
Um dos requisitos de aperfeiçoamento do contrato de seguro é o recebimento, pela se-
guradora, do valor correspondente ao prêmio. Dessa forma, o corretor de seguros deverá
repassar à seguradora o prêmio porventura recebido. Se não o fizer, pode estar incorren-
do em crime de apropriação indébita.
Dependendo da situação fática, o segurado ou pretenso segurado pode estar sem a devi-
da cobertura (à sua revelia) e, em caso de sinistro, não fazer jus à indenização.

O Código Penal assim dispõe, em seu art. 168, sobre a apropriação indébita:

Art. 168. Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse


ou a detenção:

Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa (Redação alterada


para adequar-se ao disposto no art. 2º da Lei nº 7.209, de 11/07/1984,
DOU 13/7/1984, em vigor seis meses após a data da publicação).

Aumento de pena

§ 1º A pena é aumentada de um terço, quando o agente recebeu


a coisa:

I – em depósito necessário;
II – na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário, inventarian-
te, testamenteiro ou depositário judicial;
III – em razão de ofício, emprego ou profissão.

Comentário
É estabelecido liame de confiança entre a seguradora e o corretor, bem como entre o cor-
retor e o segurado. O valor do prêmio recebido pelo corretor pertence à seguradora.
O corretor apenas detém a sua guarda provisória. Na hipótese de o corretor dolosamente
(com a intenção) não repassar o prêmio à seguradora, incorrerá no crime de apropriação
indébita, sujeitando-se às penalidades fixadas na lei, bem como à aplicação de sanções
administrativas pela SUSEP e à reparação do dano por meio de ação cível promovida pelo
segurado e pela seguradora. Ressalte-se que as esferas penal, administrativa e cível são
independentes, sendo que, tecnicamente, dependendo da produção de provas, poderão
resultar em decisões diversas. No entanto, se os mesmos elementos de provas forem leva-
dos a todos os autos, pode haver uma uniformização nas respectivas decisões.

Objetivando certa padronização, maior segurança e controle com relação


ao valor dos prêmios recebidos, está estabelecido, por força de lei (art. 8º
da Lei nº 5.627/1970), que a cobrança de prêmios seja feita, obrigatoria-
mente, por meio de instituição bancária, conforme disposições da própria

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 166


UNIDADE 2

SUSEP e do Banco Central do Brasil, tendo aquela o poder discricionário


de dispensa da cobrança bancária caso os prêmios tenham valor igual ou
inferior a 25% do maior salário mínimo vigente no país, além dos prêmios
de Seguro de Vida Individual.

É importante observar que a Lei nº 5.627/1970, no seu art. 8º, dispôs sobre o
pagamento dos prêmios de seguros, conforme transcrição seguinte:

Art. 8º. A cobrança de prêmios de seguros será feita, obrigato-


riamente, através da instituição bancária, de conformidade com
as disposições da SUSEP em consonância com o Banco Central
do Brasil.

Parágrafo único. A SUSEP poderá dispensar da cobrança bancá-


ria os prêmios de valor igual ou inferior a 25% (vinte e cinco por
cento) do maior salário mínimo vigente no País, bem como os prê-
mios de seguro de vida individual.

De qualquer forma, evitar prejuízos à seguradora ou aos segurados, além


de ser uma obrigação, resulta, enfim, numa melhoria de imagem, confiança
e segurança no profissional da corretagem de seguros.

—— Restrições Profissionais
Algumas restrições de cunho profissional são legalmente impostas aos cor-
retores de seguros, conforme na redação do art. 17 da Lei nº 4.594/1964:

Art. 17. É vedado aos corretores e seus prepostos:

a) aceitarem ou exercerem empregos de pessoa jurídica de Direito


Público, inclusive de entidade paraestatal;

b) serem sócios, administradores, procuradores, despachantes ou


empregados de empresa de seguros;

Parágrafo único. O impedimento previsto neste artigo é extensivo


aos sócios e diretores de empresa de corretagem.

Também, a redação do art. 125 do Decreto-Lei nº 73/1966, alíneas “a” e “b”,


parágrafo único, que estabeleceu o seguinte:

Art. 125. É vedado aos corretores e seus prepostos:

a) aceitar ou exercer emprego de pessoa jurídica de Direito Público;

b) manter relação de emprego ou de direção com sociedade segu-


radora.

Parágrafo único. Os impedimentos deste artigo aplicam-se tam-


bém aos sócios e diretores de empresas de corretagem.

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 167


UNIDADE 2

Comentário
O respectivo artigo proíbe aos corretores de seguro o exercício de algumas atividades,
empregos ou funções. Estas proibições não objetivam cercear o exercício da profissão,
mas impor maior isenção às atividades de corretagem, uma vez que o corretor deve
exercer o seu labor como consultor do segurado sem vínculos que possam macular essa
relação de confiança. Não pode haver confusão entre o exercício dessas diversas funções.
Os referidos impedimentos atingem, também, os sócios e diretores de empresas de
corretagem.
Os objetivos da proibição são claros. A intenção do legislador é impedir que o corretor
seja ligado a qualquer entidade ou órgão da administração pública que tenha personali-
dade jurídica de direito público, de forma a evitar qualquer confusão entre o exercício
das funções nos respectivos órgãos públicos com o da corretagem.

Cabe mencionar que o art. 4º-A da Resolução 249/2012, alterada pela


Importante Resolução nº 252/2012, traz as mesmas vedações nos incisos V e VI:

Entende-se, portanto, Art. 4º -A. São condições necessárias à atuação profissional de


que o corretor não é corretor de seguros:
um representante das (Artigo acrescentado pela Resolução CNSP nº 252/2012)
seguradoras. O seu I – ser brasileiro ou estrangeiro com residência permanente no País;
compromisso, naturalmente, II – estar quite com o serviço militar e a justiça eleitoral, quando
é com os segurados, que são se tratar de brasileiro com idade entre dezoito e quarenta e
seus verdadeiros clientes e cinco anos;
que, por desconhecimento em III – não haver sido condenado por crimes a que se referem as
seguros, dele dependem e Seções II, III e IV do Capítulo VI do Título I; os Capítulos I, II, III,
nele confiam para orientação IV, V, VI e VII do Título II; o Capítulo V do Título VI; os Capítulos I,
no momento de proteção II, III e IV do Título X e o Capítulo I do Título XI, parte especial do
patrimonial e de benefícios. Código Penal.
Enfim, a legislação em vigor IV – não ser falido;
determina que o corretor V – não exercer cargo ou emprego em pessoa jurídica de
não pode manter vínculo Direito Público;
empregatício com as VI – não manter relação de emprego ou de direção com
sociedades seguradoras, sociedade seguradora.
sociedades de capitalização
Todas essas restrições se aplicam, consequentemente, às corre-
e Entidades Abertas de
toras pessoas jurídicas, tanto quanto às pessoas naturais que as
Previdência Complementar
dirigem e as representam. Nesse sentido, o elenco de vedações
e, também, com entidades
será, também, imposto aos diretores e sócios das corretoras que
públicas de direito público.
se formam na qualidade de pessoa jurídica.

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 168


UNIDADE 2

Ampliando conhecimentos
Para um melhor entendimento da definição da personalidade jurídica das entidades e do
conceito de pessoa jurídica de direito público, na qual é vedado ao corretor de seguros
exercer ou aceitar emprego, convém transcrever os ensinamentos do mestre Hely Lopes
Meirelles (2016, p. 261):
“Entidade é pessoa jurídica, pública ou privada. Na organização política e administrativa
brasileira, as entidades classificam-se em estatais, autárquicas, fundacionais, empresariais
e paraestatais”.
Entidades estatais: pessoas jurídicas de direito público (União, estados-Membros, muni-
cípios e Distrito Federal).
Entidades autárquicas: pessoas jurídicas de direito público, de natureza meramente ad-
ministrativa, criadas por lei específica, para a realização de atividades, obras ou serviços
descentralizados da entidade estatal que as criou.
Entidades fundacionais: pessoas jurídicas de direito público ou pessoas jurídicas de
direito privado, devendo a lei definir as respectivas áreas de atuação.
Entidades empresariais: pessoas jurídicas de direito privado, instituídas sob a forma de
sociedade de economia mista ou empresa pública, com a finalidade de prestar serviço
público que possa ser explorado no modo empresarial ou exercer atividade econômica de
relevante interesse coletivo.
Entidades paraestatais: pessoas jurídicas de direito privado que, por lei, são autorizadas
a prestar serviços ou realizar atividades de interesse coletivo ou público, mas não exclusi-
vos do Estado (SESI, SESC, SENAI e outros).

AS RESPONSABILIDADES DO
CORRETOR DE SEGUROS
A atividade dos corretores de seguros se encontra regulada pela
Lei nº 4.594/1964, e pelo Decreto-Lei nº 73/1966. Reforça-se que a
corretagem encontra disposições nos arts. 722 a 729 do Código Civil
(Lei nº 10.406/202).

Os dois primeiros diplomas legais mencionados se referem às responsabi-


lidades do corretor de seguros, da seguinte maneira:

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 169


UNIDADE 2

Lei nº 4.594/1964

Art. 20. O corretor responderá profissional e civilmente pelas


declarações inexatas contidas em propostas por ele assinadas,
independentemente das sanções que forem cabíveis a outros res-
ponsáveis pela infração.

Art. 21. Os corretores de seguros, independentemente de respon-


sabilidade penal e civil em que possam incorrer no exercício de
suas funções, são passíveis das penas disciplinares de multa, sus-
pensão e destituição.

Decreto-Lei nº 73/1966

Art. 126. O corretor de seguros responderá civilmente perante os


segurados e as sociedades seguradoras pelos prejuízos que cau-
sar, por omissão, imperícia ou negligência no exercício da profissão.

Art. 127. Caberá responsabilidade profissional, perante a SUSEP,


ao corretor que deixar de cumprir as leis, regulamentos e resolu-
ções em vigor, ou que der causa dolosa ou culposa a prejuízos às
sociedades seguradoras ou aos segurados.

É importante que você também tenha em mente que o corretor de seguros


tem responsabilidade civil em caso de dano causado por seus prepostos,
conforme dispõe o art. 932 do Código Civil:

Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:

[...]

III – o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais


e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em
razão dele [...].

Assim, as sociedades seguradoras responderão pelos atos de todos aque-


les que agirem em seu nome, como: seus prepostos, agenciadores, geren-
tes de banco, assessorias de seguros (empresas terceirizadas que prestam
serviço a sociedades seguradoras).

O corretor de seguros não deve ser confundido com o agente autorizado


da seguradora, haja vista que não representa as sociedades seguradoras;
ao contrário, exerce sua atividade com autonomia e independência, defen-
dendo sempre os interesses do segurado.

Vale lembrar, mais uma vez, o que dispõe o art. 723 do Código Civil, que
trata da responsabilidade civil do corretor de um modo geral, a qual se
aplica, também, ao corretor de seguros:

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 170


UNIDADE 2

Art. 723. O corretor é obrigado a executar a mediação com a


diligência e prudência, e a prestar ao cliente, espontaneamente,
todas as informações sobre o andamento do negócio. (Redação
dada pela Lei nº 12.236, de 2010.)

Parágrafo único. Sob pena de responder por perdas e danos, o


corretor prestará ao cliente todos os esclarecimentos acerca da
segurança ou risco do negócio, das alterações de valores e de
outros fatores que possam influir nos resultados da incumbência.
(Incluído pela Lei nº 12.236, de 2010).

Importante
O agente autorizado da seguradora é a pessoa natural ou jurídica que mantém com
esta última uma relação contratual (contrato de trabalho, de prestação de serviços, de
agência ou de outro tipo). Tal figura está prevista no art. 775 do Código Civil:
“Art. 775. Os agentes autorizados do segurador presumem-se seus representantes
para todos os atos relativos aos contratos que agenciarem.”
Assim, o agente autorizado representa os interesses da seguradora. Portanto, esta
pode ser responsabilizada pelas ações ou omissões do agente que causarem dano ao
segurado ou a terceiros.
O agente autorizado da seguradora não se confunde, portanto, com o corretor de seguros,
o qual, por força do art. 17 da Lei nº 4.594/1964 e de normas regulamentares, não pode ser
sócio, administrador, procurador, despachante ou empregado de sociedade seguradora.
Na qualidade de intermediário com total independência em relação à seguradora, o
corretor de seguros deve ter em vista os interesses do proponente/segurado.

O corretor de seguros deve, assim, ficar atento às disposições contidas no


art. 723 do Código Civil, pois, em caso de responsabilização e eventual
condenação judicial, poderá responder por perdas e danos em decorrência
de prejuízos que vier a dar causa a segurados ou sociedades seguradoras.

O texto a seguir é um trecho do artigo publicado na Folha de S. Paulo, em


27/09/1994, pelo consultor Antonio Penteado Mendonça, de seguinte teor:

Um corretor de imóveis também é o intermediário entre o


vendedor e o comprador, mas, após a concretização da
venda, a sua tarefa termina, já que não há mais nada para
ele fazer com relação ao negócio. O mesmo sucede com
o corretor de valores: encerrada a transação, encerra-se o
seu trabalho.

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 171


UNIDADE 2

Com o corretor de seguros, isso não ocorre. Pelo contrá-


rio. Em verdade, o seu trabalho começa depois da ven-
da da apólice, já que, durante o seu período de vigência,
ele deve cuidar para que o segurado tenha o risco ade-
quadamente coberto. Assim, cabe ao corretor, depois da
emissão da apólice, a obrigação de acompanhá-la para
mantê-la atualizada no que tange a valores e coberturas.

Isto é, cabe ao corretor de seguros aconselhar ao segu-


rado as alterações necessárias, que são feitas através de
documentos específicos – os endossos – para permitir que
o risco continue coberto mesmo depois de modificado.

Quer saber mais sobre as atribuições do corretor? O procurador federal


Marcello Teixeira Bittencourt, lotado na Procuradoria da SUSEP, define, na
obra Manual de Seguros Privados, as atribuições do corretor de seguros:

Realizar cotações dos prêmios securitários junto às sociedades


seguradoras;

Auxiliar o segurado no preenchimento da proposta de seguros


privados;

Protocolar a proposta de seguros nas sociedades seguradoras;

Receber a apólice de seguros e remeter ao endereço do segura-


do, após verificar se há alguma pendência contratual;

Assessorar o segurado ao longo do período contratual;

Manter contato com a sociedade seguradora, na hipótese de ocor-


rência de sinistro; e

Realizar os endossos e as averbações solicitadas pelos segurados


ao longo do período contratual.

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 172


UNIDADE 2

Dessa forma, de acordo com as disposições legais supracitadas, podemos


concluir que o corretor de seguros possui, no exercício da sua profissão: a
responsabilidade civil, a responsabilidade penal e a responsabilidade profis-
sional ou administrativa, esta última perante a SUSEP, que poderá aplicar as
sanções administrativas previstas na lei e nas normas regulamentares.

A RESPONSABILIDADE DO CORRETOR
DE SEGUROS E O CÓDIGO DE
DEFESA DO CONSUMIDOR
(CDC)
De acordo com as disposições legais já descritas, é pacífica a responsa-
bilidade civil do corretor de seguros perante seus clientes segurados e os
seguradores, pelos prejuízos que causar por dolo ou culpa (imprudência,
imperícia ou negligência) no exercício da profissão.

Com o CDC, a responsabilidade civil do corretor foi ampliada, uma vez


que é ele que faz a oferta do seguro ao segurado. Por essa razão, o cor-
retor deve prestar-lhe informações adequadas, claras e precisas sobre os
diferentes serviços à sua disposição, com especificação correta de suas
características, qualidade e preço, destacando todas as restrições de seus
direitos (exclusões de cobertura).

O corretor de seguros deve, também, atentar para o disposto nos arts. 14


e 34 do CDC.

O art. 14 trata da responsabilidade civil pelo fato do serviço, ou seja, pelo


dano decorrente de defeito na prestação de serviço ao consumidor.

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente


da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos relativos à prestação de serviços, bem
como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua
fruição e riscos.

§ 1º. O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que


o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as
circunstâncias relevantes, entre as quais:
I – o modo de seu fornecimento;

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 173


UNIDADE 2

II – o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;


III – a época em que foi fornecido.

§ 2º. O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de


novas técnicas.

§ 3º. O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quan-


do provar:
I – que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;

II – a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

§ 4º. A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apu-


rada mediante a verificação de culpa.

Portanto, a responsabilidade civil da pessoa jurídica corretora é objetiva


(independe da existência de culpa). Tal responsabilidade somente será
afastada se a corretora provar uma das excludentes de responsabilidade
previstas no parágrafo 3º do art. 14.

Já a responsabilidade civil do corretor de seguros que exerça sua ativida-


de de maneira autônoma, deve ser aferida mediante a verificação de culpa.

Já o art. 34 trata da responsabilidade solidária entre o fornecedor e seus


prepostos ou representantes:

Art. 34. O fornecer do produto ou serviço é solidariamente respon-


sável pelos atos de seus prepostos ou representantes autônomos.

A SUSEP, em diversos processos administrativos, reiteradas vezes já se


manifestou no sentido da obrigatoriedade do uso de uma das expressões:
“corretora de seguros ou corretagem de seguros” seja na denominação
social ou nome de fantasia, na forma da Circular SUSEP nº 510/2015, com
a exceção prevista na Circular SUSEP nº 520/2015, em papel timbrado,
cartões de visitas, propagandas e publicidade.

O uso isolado da palavra seguros é próprio para definir uma sociedade


seguradora. Dois exemplos são:

■■ Mata Atlântica “Seguros” – uso correto para identificar a sociedade


seguradora.
■■ Mata Atlântica “Corretora de Seguros” ou Mata Atlântica “Correta-
gem de Seguros”: uso correto, identificando-se, de pronto, tratar-
-se de uma sociedade corretora de seguros.
Portanto, o uso indevido da palavra seguros por sociedades corretoras de
seguros, sem a identificação ou inserção das expressões “corretora” ou
“corretagem”, constitui publicidade enganosa, passível de punição com
aplicação de penalidades pela SUSEP.

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 174


UNIDADE 2

Com os direitos básicos apresentados pelo CDC em favor do consumi-


dor, o corretor de seguros deverá, entre outras coisas, fornecer informação
completa ao segurado a respeito do serviço prestado, não podendo alegar
desconhecimento, haja vista se tratar de profissional habilitado, que tem a
obrigação de conhecimento a respeito da matéria.

Além disso, o direito à inversão do ônus da prova, quando assimilada


pelo juiz, obriga o corretor a fazer prova a respeito da sua alegação, tirando
essa obrigação “dos ombros” do consumidor. Desta forma, demonstrado
se tratar de consumidor hipossuficiente, o qual esteja em situação des-
vantajosa na relação de consumo, bem como sendo verossímeis as suas
alegações, o juiz poderá inverter a obrigação de provar, transferindo-a ao
corretor (prestador de serviço).

Ressalte-se também que, em se tratando de corretor pessoa jurídica, o magis-


trado poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade, atingindo
o patrimônio dos sócios, proprietários, como vimos na unidade anterior.

O corretor de seguros, pessoa natural ou jurídica, deve estar atento às


normas do Código de Defesa do Consumidor, inclusive no que diz respeito
às formas de publicidade admitidas, bem como à objetividade e clareza das
cláusulas restritivas de direito, as quais comportam os riscos não cobertos.

A RESPONSABILIDADE PENAL
E O CÓDIGO PENAL
Como qualquer outro profissional no exercício de suas atividades, o cor-
retor de seguros está sujeito à tipificação de seus eventos ilícitos penais,
acaso cometidos, nos termos da legislação específica – Código Penal.

Assim, na hipótese de o corretor de seguros receber importância para


pagamento do prêmio de seguro e não a repassar à seguradora, pode-
rá estar incorrendo no crime de apropriação indébita, capitulado pelo
Código Penal.

Há de ficar claro que a responsabilidade penal (penalidade prevista pelo


Código Penal) não exclui a responsabilidade civil (dever de indenizar pre-
juízos causados), nem, tampouco, a responsabilidade profissional ou admi-
nistrativa do corretor (sanção a ser aplicada pela SUSEP ao profissional).

Os cancelamentos de registro impostos pela SUSEP, geralmente, são


decorrentes de corretores de seguros que se apropriam de valores de
segurados, cujos prêmios deveriam ser por eles repassados incontinenti à
seguradora, conforme prevê a Lei nº 4.594/1964.

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 175


UNIDADE 2

A RESPONSABILIDADE
ADMINISTRATIVA
OU PROFISSIONAL
Os corretores de seguros, pessoas naturais ou jurídicas, e as sociedades
corretoras de resseguros estão sujeitos à fiscalização da SUSEP, a qual
poderá aplicar-lhes sanções administrativas fixadas em lei e em normas
regulamentares.

A lei que regula a profissão de corretor de seguros (Lei nº 4.594/1964),


além das responsabilidades penal e civil, trata também da responsabilida-
de profissional ou administrativa do corretor de seguros, pessoa natural
ou jurídica. Esta responsabilidade administrativa se encontra claramente
prevista no art. 21 da mencionada lei:

Art. 21. Os corretores de seguros, independentemente de respon-


sabilidade penal e civil em que possam incorrer no exercício de
suas funções, são passíveis das penas disciplinares de multa, sus-
pensão e destituição.

Cerca de dois anos depois da promulgação da referida lei, sobreveio a edi-


ção do Decreto-Lei nº 73/1966, que, no art. 128, repete o mesmo elenco de
Saiba mais sanções, além de prever que estas devem ser aplicadas pela Superinten-
dência de Seguros Privados (SUSEP) por meio de processo administrativo:
A Resolução CNSP nº 243/2011
dispõe sobre sanções Art. 128. O corretor de seguros estará sujeito às penalidades
administrativas no âmbito seguintes:
das atividades de Seguro,
a) multa;
Cosseguro, Resseguro,
b) suspensão temporária do exercício da profissão;
Retrocessão, Capitalização,
c) cancelamento do registro.
Previdência Complementar
Aberta, de corretagem e Parágrafo único. As penalidades serão aplicadas pela SUSEP, em
auditoria independente; disciplina processo regular, na forma prevista no art. 119 desta Lei.
o inquérito e o processo
administrativo sancionador no Além disso, a lei Complementar nº 126/2007 estabelece no art. 21, o
âmbito da Superintendência de seguinte descumprimento das normas relativas ao resseguro, à retroces-
Seguros Privados (SUSEP) e das são e à corretagem de resseguros:
entidades autorreguladoras do
Art. 21. As cedentes, os resseguradores locais, os escritórios
mercado de corretagem e dá
de representação de ressegurador admitido, os corretores e
outras providências
corretoras de seguro, resseguro e retrocessão e os prestado-
(www.susep.gov.br).
res de serviços de auditoria independente bem como quais-
quer pessoas naturais ou jurídicas que descumprirem as nor-

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 176


UNIDADE 2

mas relativas à atividade de resseguro, retrocessão e


corretagem de resseguros estarão sujeitos às penalidades
previstas nos arts. 108, 111, 112 e 128 do Decreto-Lei nº 73, de 21
de novembro de 1966, aplicadas pelo órgão fiscalizador de
seguros, conforme normas do órgão regulador de seguros.

É importante registrar que os arts. 108, 111, 112 e 128 do Decreto-Lei nº 73/66
foram alterados pela Lei Complementar nº 126/2007.

No que toca às normas regulamentares, o CNSP editou a Resolução CNSP nº


243, de 2011, e alterações posteriores, que dispõe sobre sanções administra-
tivas no âmbito das atividades de seguro, cosseguro, resseguro, retrocessão,
Capitalização, Previdência Complementar Aberta, de corretagem e auditoria
independente; disciplina o inquérito e o processo administrativo sancionador
no âmbito da Superintendência de Seguros Privados – SUSEP – e das entida-
des autorreguladoras do mercado de corretagem e dá outras providências.

O art. 2º dessa Resolução prevê que a prática das infrações


administrativas nela previstas levam às seguintes sanções
administrativas:

a) advertência;
b) multa de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a R$ 1.000.000,00 (um
milhão de reais);
c) multa no valor igual à importância segurada ou ressegurada,
no caso das operações de seguro, cosseguro ou resseguro sem
autorização;
d) suspensão temporária do exercício da atividade;
e) inabilitação para o exercício de cargo ou função do serviço público
ou em empresa pública, sociedades de economia mista e respecti-
vas subsidiárias, entidades de Previdência Complementar, socieda-
de de capitalização, instituições financeiras, sociedades segurado-
ras e resseguradoras, pelo prazo de 2 (dois) a 10 (dez) anos; e
f) cancelamento do registro.

Todavia, de acordo com a redação do § 1º desse mesmo artigo, os corre-


tores de seguros, pessoas naturais e jurídicas, bem como as sociedades
corretoras de resseguros, além de seus prepostos, estão sujeitos apenas
à aplicação das seguintes sanções administrativas no âmbito dos proces-
sos administrativos sancionadores instaurados pela Superintendência de
Seguros Privados (SUSEP), abaixo discriminadas, sem prejuízo daquelas
estabelecidas no âmbito da autorregulação:

a) multa;
b) suspensão temporária do exercício da atividade; e
c) cancelamento do registro.

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 177


UNIDADE 2

O § 2º do mencionado artigo prevê que as referidas sanções poderão ser


aplicadas pela SUSEP cumulativamente, sempre que couber, e, ainda, de
forma fundamentada.

Do § 3º daquele artigo se extrai que nenhuma infração ficará configurada


quando o descumprimento das normas regulamentares ocorrer por motivo
de caso fortuito ou força maior, quando devidamente comprovados.

Segundo o § 4º do mesmo artigo, se não houver dolo por parte do infrator,


e, ainda, a depender da gravidade da infração e dos antecedentes dele, o
órgão julgador poderá, a seu critério, deixar de aplicar a sanção, substituin-
do-a por uma mera recomendação ao infrator quando entender que isso é
suficiente ao atendimento dos objetivos da regulação setorial.

Cabe acrescentar que a referida Resolução categorizou as infrações e as


respectivas sanções pela sua natureza, separando-as da seguinte forma:

■■ operações sem autorização;


■■ infrações contábeis;
■■ infrações societárias;
■■ infrações pertinentes aos produtos e à sua comercialização;
■■ infrações aos mecanismos de supervisão;
■■ infrações que afetam a solvência;
■■ infrações pertinentes às intermediações;
■■ infrações aos prestadores de serviços de auditoria independente
e de avaliações atuariais; e
■■ demais infrações.
O artigo 4º da referida Resolução prevê que a sanção de multa será apli-
cada de acordo com os limites e critérios nela indicados “sempre que,
a juízo da SUSEP, a aplicação exclusiva da pena de advertência for ina-
dequada ou insuficiente para cumprir com os objetivos da repressão e
da prevenção da pena”. Nesse aspecto, o texto da Resolução merece
adequação, uma vez que estabelece que a sanção de multa se aplica ao
corretor de seguros, mas afasta a aplicação da pena de advertência, por
ausência de previsão legal.

A seguir, você pode conferir alguns exemplos de infrações praticadas pelo


corretor de seguros, pessoa natural ou jurídica, e pela sociedade corretora
de resseguros, que acarretam a incidência da sanção de multa:

■■ realizar atividade de corretagem sem a devida autorização: mul-


ta de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) a R$ 1.000.000,00 (um
milhão de reais) (conforme art. 18);

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 178


UNIDADE 2

■■ não escriturar as operações nos livros e registro da contabilidade,


com atualidade ou fidedignidade, nos termos da legislação: mul-
ta de R$ 10.000,00 (dez mil reais) a R$ 200.000,00 (duzentos mil
reais) (conforme art. 19);
■■ não manter atualizadas, perante a SUSEP, informações sobre a ins-
talação ou alteração de filiais, sucursais, agências ou representa-
ções, seus atos constitutivos ou não comunicar qualquer alteração
relativa à sua atividade: multa de R$ 10.000,00 (dez mil reais) a R$
100.000,00 (cem mil reais) (conforme art. 22);
■■ arquivar ou publicar atas e atos societários sem a prévia homo-
logação da SUSEP: multa de R$ 10.000,00 (dez mil reais) a R$
50.000,00 (cinquenta mil reais) (conforme art. 25);
■■ omitir ou sonegar informações que deva comunicar à SUSEP: mul-
ta de R$ 10.000,00 (dez mil reais) a R$ 500.000,00 (quinhentos mil
reais) (conforme art. 36);
■■ encaminhar na forma incorreta ou incompleta à SUSEP as informações
que deve prestar, nos termos da legislação: multa de R$ 10.000,00
(dez mil reais) a R$ 100.000,00 (cem mil reais) (conforme art. 37);
■■ impedir ou dificultar, por qualquer forma, o exercício do poder de
polícia administrativa da SUSEP, como (i) não fornecer relatórios,
demonstrações financeiras, livros e registros obrigatórios ou con-
tas estatísticas, quando solicitado, (ii) não atender, no prazo e na
forma fixada, às solicitações da autarquia, (iii) impedir o acesso
às dependências da fiscalizada: multa de R$ 20.000,00 (vinte mil
reais) a R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais) (conforme art. 38);
■■ falsificar quaisquer documentos ou prestar informação fal-
sa à SUSEP: multa de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) a R$
1.000.000,00 (um milhão de reais) (conforme art. 39);
■■ não repassar imediatamente à sociedade seguradora, ressegura-
dora, de Previdência Complementar Aberta ou de capitalização,
na forma da legislação, o valor recebido em razão de atividade
de intermediação: multa de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a R$
50.000,00 (cinquenta mil reais) (conforme art. 56);
■■ cobrar do segurado qualquer outro valor relativo ao seguro, além
daqueles especificados pela sociedade seguradora: multa de R$
5.000,00 (cinco mil reais) a R$ 100.000,00 (cem mil reais) (confor-
me art. 57);
■■ exercer a atividade de corretagem tendo vínculo profissional, em
desacordo com a legislação, com sociedade seguradora, ressegu-
radora, de capitalização ou de Previdência Complementar Aberta:
multa de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a R$ 200.000,00 (duzentos
mil reais) (conforme art. 58);

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 179


UNIDADE 2

■■ intermediar resseguro com ressegurador estrangeiro que não


atenda, quando exigível pela legislação, aos requisitos para atuar
no país: multa de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a R$ 500.000,00
(quinhentos mil reais) (conforme art. 59); e
■■ não observar os deveres assumidos por entidade autorregulado-
ra do mercado de corretagem que funcione como órgão auxiliar
da SUSEP: multa de R$ 10.000,00 (dez mil reais) a R$ 500.000,00
(quinhentos mil reais) (conforme art. 71).
A sanção de suspensão temporária do exercício da atividade ou da profissão
pelo período mínimo de 30 dias e máximo de 180 dias será, de acordo com
o art. 5º da Resolução, aplicada às infrações graves, que gerem efetivo pre-
juízo à entidade ou a terceiros, sempre que o infrator for considerado rein-
cidente ou, ainda, quando não der cumprimento à determinação da SUSEP.

A sanção administrativa de suspensão temporária do exercício da profis-


são quando aplicada ao corretor de seguros pessoa natural ou jurídica,
que não mantiver atualizado perante a SUSEP seus atos constitutivos e
endereço, bem como quando não comunicar qualquer outra alteração
relativa a sua atividade, perdurará enquanto a irregularidade não for sana-
da, não se aplicando os prazos de que trata o caput (parágrafo único, do
art. 5º incluído pela Resolução CNSP nº 293/2013).

A sanção de cancelamento de registro é a mais grave de todas e está pre-


vista no art. 7º da citada Resolução, que dispõe o seguinte:

Art. 7º A pena de cancelamento de registro será aplicada ao cor-


retor de seguros, pessoa natural ou jurídica, que tenha sido, nos
últimos cinco anos, condenado à pena de suspensão por infração
da mesma natureza ou quando a infração cometida também for
capitulada como crime ou, ainda, quando o infrator tiver sofrido
condenação criminal, com trânsito em julgado, por ato praticado
no exercício da profissão.

Parágrafo único. A SUSEP não concederá novo registro ao cor-


retor de seguros, pessoa natural ou jurídica, penalizado na forma
do caput deste artigo, durante o prazo de cinco anos, contados da
data do cancelamento do registro.

Na aplicação de qualquer sanção administrativa, a SUSEP deverá conside-


rar, de forma sucessiva, a gradação de determinados critérios definidos na
Resolução CNSP nº 243, de 2011, definidos no art. 9º. São eles os seguintes:

■■ as sanções administrativas cabíveis dentro dos limites mínimos e


máximos previstos na Resolução;
■■ as circunstâncias administrativas da infração; e
■■ as circunstâncias agravantes e atenuantes estabelecidas na mes-
ma Resolução.

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 180


UNIDADE 2

As circunstâncias administrativas são, de acordo com o art. 10, a gravidade


da infração e seus efeitos, a capacidade econômica do infrator, os seus
antecedentes e o ganho obtido com o ato ilícito.

As circunstâncias agravantes da sanção administrativa são as seguintes


(conforme o art. 11):

■■ ter o infrator obtido vantagem indevida ou dissimulado a natureza


ilícita da infração;
■■ ter a infração ocorrido em detrimento de menor de 18, maior de
60 (sessenta) anos ou de pessoa portadora de deficiência física,
mental ou sensorial, interditada ou não; e
■■ deixar o infrator de atender à recomendação da SUSEP para tomar
providências que evitem ou mitiguem as consequências da infração.
As circunstâncias atenuantes da sanção administrativa são as seguintes
(conforme o art. 12):

■■ ter o infrator utilizado, na tentativa de resolução de conflito de


interesses, de ouvidoria ou de sistema similar reconhecido pela
SUSEP;
■■ ter o infrator evitado ou mitigado as consequências da infração até
o julgamento do processo em primeira instância; e
■■ a confissão da infração.
Para finalizarmos essa seção, é importante que você saiba que caberá
recurso total ou parcial sobre a decisão proferida em primeira instância,
dirigido ao CRSNSP, no prazo de 30 dias, contados da ciência efetiva ou
da divulgação oficial da decisão recorrida.

A AUTORREGULAÇÃO DO
MERCADO DE CORRETAGEM
(LEI COMPLEMENTAR Nº
137/2010)
A autorregulação consiste na criação de normas e procedimentos de con-
dutas pelos integrantes de uma categoria profissional, bem como no poder
para fiscalizar o cumprimento e aplicar sanções, tudo, naturalmente, em
estrita observância às leis e normas regulamentares em vigor.

Assim, por meio da autorregulação, haverá a uniformização de procedi-


mentos de fiscalização e ações preventivas que melhor disciplinem a ati-

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 181


UNIDADE 2

vidade de corretagem de seguros e, principalmente, maior celeridade na


análise e julgamento de denúncias.

A Lei Complementar nº 137/2010 alterou dispositivos do Decreto-Lei nº


73/66 e da Lei Complementar nº 126/2007 para instituir a autorregulação
do mercado de corretagem. Criou, com isso, um novo marco regulatório no
tocante ao disciplinamento, à fiscalização e ao modelo punitivo a correto-
res, constituindo um avanço nas relações dos corretores com seus pares
de mercado, os consumidores e a própria sociedade em si.

Já a Resolução nº 233/2011 do CNSP, alterada pela Resolução CNSP nº


251/2012, dispôs sobre as condições de constituição, organização, funcio-
namento e extinção de entidades autorreguladoras do mercado de Corre-
tagem de Seguros, Resseguros, de Capitalização e de Previdência Com-
plementar Aberta na condição de auxiliares da SUSEP.

O art. 2º, inciso I, da mencionada resolução define a entidade autorregula-


dora como sendo aquela constituída com personalidade jurídica de Direito
Privado autorizada a funcionar como órgão auxiliar da SUSEP, na forma
da mencionada Resolução, e com a incumbência de fiscalizar, processar,
julgar e aplicar sanções por infrações a normas de conduta, por ela volun-
tariamente estabelecidas e também àquelas previstas na legislação, prati-
cadas por seus membros associados.

O art. 3º da resolução estabelece que o objetivo das entidades autorregu-


ladoras é o de “ zelar pela observância às normas jurídicas, em especial
pelos direitos dos consumidores, e fomentar a elevação de padrões éticos
dos seus membros associados, bem como as boas práticas de conduta no
relacionamento profissional com segurados, corretores, pessoas naturais
e jurídicas, e sociedades seguradoras, resseguradoras, de Capitalização e
Entidades Abertas de Previdência Complementar”.

Com a finalidade de regulamentar a referida Resolução, a SUSEP editou


a Circular nº 435/2012. O art. 1º estabelece que dependem de prévia e
expressa aprovação da SUSEP a constituição, transformação, autorização
para operar e o cancelamento da autorização para operar de entidades
autorreguladoras do mercado de corretagem de Seguros, de Resseguros,
de Capitalização e de Previdência Complementar Aberta, na condição de
órgãos auxiliares da SUSEP, de que tratam as Resoluções CNSP nº 233, de
1º de abril de 2011, e nº 251, de 9 de abril de 2012.

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 182


UNIDADE 2

O INSTITUTO BRASILEIRO DE AUTORREGULAÇÃO


DO MERCADO DE CORRETAGEM
DE SEGUROS, DE RESSEGUROS, DE
CAPITALIZAÇÃO E DE PREVIDÊNCIA
COMPLEMENTAR ABERTA – IBRACOR

No dia 1º de julho de 2013, na sede da Fenacor, foi realizada a assembleia


de constituição do Instituto Brasileiro de Autorregulação do Mercado de
Corretagem de Seguros, de Resseguros, de Capitalização e de Previdên-
cia Complementar Aberta (IBRACOR). Essa assembleia foi composta pelos
fundadores mantenedores (FENACOR e sindicatos filiados).

Em outubro de 2013, a SUSEP, por meio de Portaria publicada no Diário


Oficial da União, aprovou o funcionamento do IBRACOR; o seu Estatuto
Social; e homologou a eleição e posse dos integrantes do Conselho Dire-
tor, do Conselho Fiscal e do Ouvidor, efetivos e suplentes. A Portaria entrou
em vigor a partir do dia 15 de outubro de 2013.

Os atuais mantenedores do IBRACOR são: a FENACOR e os Sindicatos de


Corretores de Seguros a ela vinculados. Os SINCOR/CE e do SINEC/RN,
embora filiados à FENACOR, não são mantenedores do IBRACOR.

O IBRACOR funciona na cidade do Rio de Janeiro, no mesmo endereço da


FENACOR. Ainda será definido quando e onde serão instaladas as suas
unidades regionais.

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 183


FIXANDO CONCEITOS

FIXANDO CONCEITOS 2

Marque a alternativa correta


1. O corretor de seguros, elemento integrante do Sistema Nacional de
Seguros Privados, promovendo a ligação entre os interesses dos segura-
dos e das sociedades seguradoras, possui as responsabilidades:

(a) Profissional, penal e trabalhista.


(b) Civil, penal, administrativa e profissional.
(c) Civil, trabalhista e administrativa.
(d) Civil, penal e tributária.
(e) Civil, trabalhista e tributária.

2. Se o corretor não repassar à seguradora o prêmio que receber do segu-


rado, estará praticando um crime denominado:

(a) Furto.
(b) Roubo.
(c) Extorsão.
(d) Apropriação indébita.
(e) Estelionato.

3. Em relação à área de atuação territorial, é correto afirmar que o corretor


de seguros:

(a) Somente poderá atuar no município onde estiver inscrito.


(b) Somente poderá atuar no estado da Federação onde requereu ins-
crição.
(c) Poderá atuar em todo o território nacional.
(d) Terá vedada sua atuação no Distrito Federal.
(e) Poderá atuar exclusivamente na região metropolitana onde requerer
inscrição.

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 184


FIXANDO CONCEITOS

4. Nos seguros efetuados diretamente entre o segurador e o segurado,


sem a interveniência do corretor de seguros, é correto afirmar que:

(a) O segurado será beneficiado com um valor de prêmio menor, uma


vez que não houve comissão.
(b) Os valores serão destinados a um fundo de amparo aos corretores,
mantido pelo SINCOR.
(c) A seguradora será punida pela SUSEP, pois a intermediação do cor-
retor é sempre obrigatória.
(d) A comissão devida será paga ao corretor mais antigo da listagem de
inscrição do Sindicato dos Corretores da região.
(e) A importância relativa à comissão será recolhida ao Fundo de Desen-
volvimento Educacional de Seguro, administrado pela FUNENSEG.

5. Trata-se do órgão integrante do Sistema Nacional de Seguros Privados


que possui competência para conceder inscrição ou registro ao corretor
de Seguros:

(a) FENACOR.
(a) Sindicato dos Corretores.
(b) SUSEP.
(c) CNSP.
(d) FUNENSEG.

6. É correto afirmar que o uso indevido da palavra “seguros” por socieda-


des corretoras de seguros, sem a identificação ou inserção das expres-
sões “corretora” ou “corretagem”, constitui:

(a) Crime contra a ordem pública.


(b) Publicidade enganosa, podendo a SUSEP aplicar penalidade.
(c) Uso indevido do nome e da imagem.
(d) Crime contra a economia popular.
(e) Sanção tributária por desvio de finalidade.

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 185


ESTUDO DE CASO

ESTUDO DE CASO

Caso 1
Uma sociedade seguradora e uma empresa privada, esta última na con-
dição de estipulante, celebraram a contratação de um Seguro coletivo de
Vida e Acidentes, tendo como grupo segurado os empregados da segun-
da. A contratação foi feita sem a intermediação de qualquer corretor (pes-
soa natural ou jurídica). Agora responda: a quem deve ser paga a comissão
de corretagem neste caso?

Caso 2
Um corretor de seguros, pessoa natural, devidamente registrado na
SUSEP, envia a uma sociedade seguradora uma proposta de seguro con-
tendo informações inverídicas sobre o interesse segurável e o risco, além
da assinatura falsificada do suposto proponente, tudo com o objetivo de
viabilizar a contratação fraudulenta de um Seguro de Pessoas. Agora res-
ponda: a que tipo de sanção administrativa esse profissional está sujeito?

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 186


GABARITO

GABARITO

Fixando Conceitos
UNIDADE 1 UNIDADE 2

1–A 1–B

2–B 2–D

3–D 3–C

4–A 4–E

5–C 5–B

6–E 6–B

7–A

8–B

Estudos de Caso
Caso 1
Quando nenhum corretor (pessoa física ou jurídica) participar da contrata-
ção do seguro, o valor equivalente à comissão de corretagem que seria
devida, caso tivesse havido intermediação, deverá ser revertido para a
Fundação Escola Nacional de Seguros – FUNENSEG –, na forma do art. 19
da Lei nº 4.594/1964.

Caso 2
De acordo com o art. 39, da Resolução CNSP nº 243/2011, a sanção admi-
nistrativa aplicável à sociedade corretora de resseguros que falsificar qual-
quer documento ou prestar informação falsa à SUSEP é a multa, cujo valor
pode variar de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) a R$ 1.000.000,00 (um
milhão de reais), sem prejuízo da responsabilidade penal e civil a serem
determinadas na esfera judicial. As esferas administrativa, civil e penal são
independentes entre si.

LEGISLAÇÃO DO SEGURO 187


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAUMHART, R. Ética em negócios. Tradução de Álvaro Cabral. Rio de
Janeiro: Expressão e Cultura, 1971.

BITTENCOURT, M. T. Manual de seguros privados. Rio de Janeiro:


Lumen Juris, 2004.

DINIZ, M. H. Código Civil anotado. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2002a.

ESCOLA NACIONAL DE SEGUROS.Diretoria de Ensino Técnico. Legis-


lação e organização profissional. Assessoria técnica de Gumercindo
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______. Diretoria de Ensino Técnico. Legislação e organização pro-


fissional. Assessoria técnica de Aluízio José Bastos Barbosa Junior.
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Escola Nacional de Seguros – www.ens.edu.br

Imprensa Nacional – www.in.gov.br

Tudo Sobre Seguros – www.tudosobreseguros.org.br

Presidência da República – Planalto – www.planalto.gov.br

Superintendência de Seguros Privados – www.susep.gov.br

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