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13 A Organizações das Nações Unidas, no seu momento fundador, atribuiu a si

mesma a competência para definir em que circunstâncias é que o uso da força é


aceitável nas relações internacionais, nomeadamente em casos de legítima defesa
contra uma agressão ou em casos de manifesta ameaça à paz e segurança
internacional. Que normas criadas mais recentes têm permitido que respostas
militares multilaterais passassem também a ser tidas em conta?
Como/por que surgiram essas normas? Exponha de forma essas normas têm sido
consolidadas/adaptadas ao longo dos últimos 30 anos.

Nos últimos 30 anos, várias normas foram desenvolvidas para permitir respostas
militares multilaterais em situações que ameaçam a paz e a segurança internacionais.
Duas normas importantes que têm desempenhado um papel significativo nesse
sentido são o princípio da responsabilidade de proteger (R2P) e a doutrina da
intervenção humanitária.

O princípio da responsabilidade de proteger (R2P) foi adotado pela Assembleia Geral


das Nações Unidas em 2005. Ele estabelece que os Estados têm a responsabilidade de
proteger sua população contra genocídio, crimes de guerra, limpeza étnica e crimes
contra a humanidade. No entanto, se um Estado não cumprir essa responsabilidade, a
comunidade internacional pode intervir de forma coletiva e em conformidade com o
direito internacional para proteger a população em risco. O R2P ampliou a noção de
soberania estatal, reconhecendo que os Estados têm obrigações para com seus
próprios cidadãos e que a comunidade internacional pode intervir quando essas
obrigações não forem cumpridas.

A doutrina da intervenção humanitária surgiu como uma resposta às crises


humanitárias e aos abusos massivos dos direitos humanos. Ela argumenta que, em
certos casos, quando um Estado é incapaz ou não está disposto a proteger sua própria
população contra atrocidades, a comunidade internacional pode intervir militarmente
para prevenir ou pôr fim a essas violações. Embora a intervenção humanitária não
tenha uma base legal claramente estabelecida no direito internacional, ela foi invocada
em várias ocasiões, como nos casos da intervenção na Somália (1992), Kosovo (1999) e
Líbia (2011).

Essas normas têm sido consolidadas e adaptadas ao longo dos últimos 30 anos através
de debates e discussões internacionais. Organizações não governamentais,
acadêmicos, líderes políticos e diplomatas desempenharam papéis importantes na
promoção dessas normas e na definição de seus limites e critérios. Além disso, o
Conselho de Segurança das Nações Unidas desempenha um papel central na
autorização de ações militares multilaterais, como estabelecido no Capítulo VII da Carta
das Nações Unidas.

No entanto, é importante observar que o uso da força multilateral ainda é objeto de


controvérsias e desafios. Há debates em torno da interpretação e aplicação dessas
normas, bem como preocupações sobre o abuso ou uso seletivo da intervenção militar.
Portanto, a consolidação e adaptação contínuas dessas normas são necessárias para
garantir que o uso da força multilateral seja conduzido de maneira legítima,
proporcional e de acordo com o direito internacional.

OUTRA RESPOSTA

Nos últimos 30 anos, várias normas foram criadas e evoluíram para permitir respostas
militares multilaterais em casos que envolvem o uso da força nas relações
internacionais. Algumas dessas normas incluem a responsabilidade de proteger (R2P),
a proibição da intervenção armada não autorizada e ações baseadas em resoluções do
Conselho de Segurança das Nações Unidas.

A responsabilidade de proteger (R2P) é um princípio que foi adotado pela Assembleia


Geral das Nações Unidas em 2005. Ele estabelece que os Estados têm a
responsabilidade primária de proteger suas populações contra genocídio, crimes de
guerra, limpeza étnica e crimes contra a humanidade. No entanto, quando um Estado
não é capaz ou não está disposto a proteger sua população, a comunidade
internacional, através das Nações Unidas, pode intervir de maneira apropriada e em
conformidade com o direito internacional.

Outra norma importante é a proibição da intervenção armada não autorizada, que se


baseia no princípio da não intervenção nos assuntos internos dos Estados. Isso significa
que, em geral, os Estados não têm o direito de usar a força contra outro Estado sem
uma base legalmente justificada, como a autodefesa ou uma autorização do Conselho
de Segurança das Nações Unidas.

No entanto, nos casos em que há uma manifesta ameaça à paz e segurança


internacional, o Conselho de Segurança das Nações Unidas tem autoridade para adotar
medidas coercitivas, incluindo o uso da força, de acordo com o Capítulo VII da Carta
das Nações Unidas. Essas medidas são legitimadas pela autoridade do Conselho de
Segurança e são consideradas respostas multilaterais.

Ao longo dos últimos 30 anos, essas normas foram consolidadas e adaptadas por meio
de práticas diplomáticas, debates e negociações entre os Estados membros das Nações
Unidas. Houve casos em que a comunidade internacional respondeu a crises
humanitárias, como os conflitos na antiga Iugoslávia, Ruanda e Líbia, aplicando essas
normas.

No entanto, a aplicação dessas normas nem sempre tem sido consensual, e questões
como a interpretação das ameaças à paz e segurança internacional e a legitimidade do
uso da força têm sido objeto de debates acalorados. Além disso, a efetividade dessas
normas em garantir a paz e a segurança internacional tem sido questionada em alguns
casos, levando a discussões sobre a necessidade de reforma e aprimoramento do
sistema internacional.

Em resumo, nos últimos 30 anos, normas como a responsabilidade de proteger, a


proibição da intervenção armada não autorizada e a autorização do Conselho de
Segurança têm permitido que respostas militares multilaterais sejam consideradas em
casos de legítima defesa e manifesta ameaça à paz e segurança internacional. Essas
normas foram consolidadas e adaptadas através de práticas diplomáticas e
negociações, embora ainda haja desafios e debates em relação à sua interpretação e
efetividade.
14 De que falamos exatamente quando falamos em “intervencionismo global” ou,
de forma mais lata, numa “ordem mundial liberal” ou de uma “paz liberal” em
que esse intervencionismo assente? Em que consistem as críticas que lhe são
habitualmente feitas? Elabore a sua resposta tendo em conta as diferentes
manifestações ilustrativas dessa tendência

Quando falamos em "intervencionismo global" ou "ordem mundial liberal", estamos nos


referindo a uma abordagem que defende a promoção e proteção dos valores liberais,
como a democracia, os direitos humanos, o livre comércio e o Estado de Direito, por
meio de intervenções e ações internacionais. Essa abordagem pressupõe que a
estabilidade e a paz internacional podem ser alcançadas através da disseminação desses
valores e da influência de atores internacionais, como organizações internacionais e
Estados mais poderosos.

Uma "paz liberal" é uma expressão usada para descrever a ideia de que sociedades
democráticas e interconectadas, onde os direitos humanos são respeitados e o comércio
é livre, tendem a ter menos conflitos entre si e a estabelecer uma paz duradoura.

No entanto, o intervencionismo global e a ordem mundial liberal também são


frequentemente criticados. Algumas das principais críticas são as seguintes:

Soberania e autodeterminação: O intervencionismo global pode ser visto como uma


violação da soberania dos Estados, pois implica na interferência nos assuntos internos
de outros países. Isso pode ser percebido como uma imposição de valores e interesses
ocidentais sobre outras nações, desconsiderando sua autonomia e autodeterminação.

Imperialismo e neocolonialismo: Críticos argumentam que o intervencionismo global


pode ser uma forma de imperialismo ou neocolonialismo, em que Estados mais
poderosos impõem sua vontade sobre Estados mais fracos, muitas vezes com
motivações econômicas ou geopolíticas ocultas.

Consequências não intencionais: Intervenções militares e ações unilaterais podem ter


consequências imprevistas e negativas, como o colapso do Estado, aumento da
instabilidade e surgimento de grupos extremistas. Além disso, a intervenção pode gerar
ressentimento e hostilidade, minando a própria paz e estabilidade que se busca alcançar.
Seletividade e hipocrisia: Algumas críticas apontam que o intervencionismo global é
frequentemente seletivo, com intervenções ocorrendo em alguns casos, enquanto outras
situações de violações dos direitos humanos ou ameaças à paz são ignoradas. Isso
levanta questões de hipocrisia e interesses geopolíticos subjacentes nas intervenções.

Falta de legitimidade e representatividade: O intervencionismo global muitas vezes é


percebido como uma imposição de vontade por atores externos, sem levar em
consideração a legitimidade e representatividade dos governos locais. Isso pode minar a
aceitação das intervenções e gerar resistência local.

As diferentes manifestações ilustrativas do intervencionismo global incluem


intervenções militares, imposição de sanções econômicas, pressão diplomática,
interferência em processos políticos internos e promoção da governança democrática.
Exemplos dessas manifestações incluem as intervenções no Iraque, Afeganistão e Líbia,
as sanções contra a Rússia e o Irã, e a interferência em processos eleitorais e
governamentais em diversos países ao redor do mundo.

Em suma, o intervencionismo global e a ordem mundial liberal são abordagens que


buscam promover valores liberais e alcançar a estabilidade internacional através de
intervenções e ações internacionais. No entanto, eles são alvo de críticas relacionadas à
soberania, imperialismo, consequências não intencionais, seletividade, falta de
legitimidade e representatividade.

10 Ao referirmo-nos ao modelo de segurança europeia pós-Guerra Fria, identifica-


se
commumente uma “arquitetura de segurança europeia”, deixando transparecer
que um conjunto de organizações internacionais de geometria variável aqui
têm/tiveram um papel diferenciado. Identifique essas organizações, expondo qual o
papel exato de cada uma nessa arquitetura de segurança, bem como a evolução do
papel de cada uma delas e, por fim, a articulação entre todas elas.
No contexto da segurança europeia pós-Guerra Fria, várias organizações internacionais
desempenharam papéis diferentes na arquitetura de segurança europeia. Aqui estão
algumas das principais organizações e seus papéis:

Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN): A OTAN é uma aliança militar


defensiva composta por países da Europa e América do Norte. Seu objetivo inicial era a
defesa coletiva contra a ameaça soviética durante a Guerra Fria. Após a queda do Muro
de Berlim, a OTAN se expandiu para o leste, incorporando vários países do antigo bloco
soviético. A OTAN desempenha um papel central na garantia da segurança coletiva dos
Estados membros, mantendo uma estrutura militar e mecanismos de consulta e
cooperação.

Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE): A OSCE é uma


organização regional de segurança que visa promover a segurança, estabilidade e
cooperação na Europa. Ela reúne a maioria dos países europeus, incluindo os da União
Europeia (UE), Rússia e outros Estados da Eurásia. A OSCE atua como um fórum para
o diálogo político, resolução de conflitos, monitoramento de eleições, observação de
direitos humanos e promoção da cooperação econômica.

União Europeia (UE): Embora a UE seja principalmente uma organização econômica e


política, ela também desempenha um papel na arquitetura de segurança europeia.
Através da Política Externa e de Segurança Comum (PESC) e da Política de Segurança
e Defesa Comum (PSDC), a UE busca promover a segurança e a estabilidade em seu
território e além. A UE realiza operações militares e civis de gestão de crises,
desenvolve capacidades de defesa comuns e coopera com outras organizações, como a
OTAN e a OSCE.

Conselho da Europa: O Conselho da Europa é uma organização intergovernamental que


promove os direitos humanos, a democracia e o Estado de Direito. Embora não seja uma
organização de segurança em si, desempenha um papel importante na promoção de
normas e padrões relacionados à segurança humana e direitos fundamentais na Europa.
Essas organizações interagem e coordenam suas atividades dentro da arquitetura de
segurança europeia. A OTAN e a UE têm uma relação de cooperação e
complementaridade, onde a UE visa desenvolver suas próprias capacidades de defesa,
enquanto a OTAN continua a desempenhar um papel central na defesa coletiva e na
garantia de segurança militar.

A OSCE, por sua vez, colabora com a UE e a OTAN em várias áreas, como prevenção
de conflitos, gestão de crises e monitoramento eleitoral. As três organizações trabalham
em conjunto para promover a segurança e a estabilidade na Europa, cada uma
contribuindo com suas próprias perspectivas e mecanismos específicos.

O Conselho da Europa desempenha um papel transversal, fornecendo orientações em


relação aos direitos humanos, o Estado de Direito e a democracia, que são elementos
fundamentais para a segurança e a estabilidade na região europeia.

Em suma, essas organizações internacionais, como a OTAN, a OSCE, a UE e o


Conselho da Europa, desempenham papéis distintos, mas complementares, na
arquitetura de segurança europeia, trabalhando em conjunto para promover a segurança,
a estabilidade, os direitos humanos e a cooperação na região.

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