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CENTRO SOCIOECONÔMICO
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO
CURSO DE ADMINISTRAÇÃO
Florianópolis
2023
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Florianópolis
2023
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Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado para obtenção do título de bacharel em
Administração e aprovado em sua forma final pelo Curso de Administração.
___________________________
Profª. Ana Luiza Paraboni
Coordenadora de Trabalho de Curso
Banca examinadora
____________________________
Prof. Marcos Baptista Lopez Dalmau, Dr.
Orientador
___________________________
Profª. Dra. Márcia Barros de Sales
Universidade Federal de Santa Catarina
___________________________
Prof. Dr. Leandro Dorneles dos Santos
Universidade Federal de Santa Catarina
Florianópolis, 2023.
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AGRADECIMENTOS
Agradeço, com muito carinho a (ao):
Professor Marcos Dalmau, pela parceria e orientação desde o primeiro dia e em todo o
processo para construção desse trabalho e pelas palavras de motivação para realização do
mesmo.
Agradeço com todo meu coração minha mãe Luciana, minha avó Terezinha e meus
irmãos e tios, que em todos os momentos me incentivaram mesmo estando mais de 600km de
distância para que eu vivesse ao máximo essa fase da vida. Nunca terei palavras para expressar
minha gratidão e nada seria possível sem o apoio e amor de vocês.
Ao meu companheiro de vida, Luís, que está comigo desde o início da faculdade e em
todos os momentos dessa jornada, principalmente nos de desespero, me incentivou em cada
passo para a conclusão deste trabalho.
E agradeço também a todos meus amigos, colegas e professores, que de alguma forma
fizeram parte nesse processo de graduação pois considero um dos momentos mais importantes
na minha vida.
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RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo analisar o possível alinhamento acerca das
políticas de promoção da cultura de diversidade, equidade e inclusão racial no ambiente
corporativo com as práticas de Employer Branding. O conceito de Employer Branding ou marca
empregadora está associado ao estímulo das pessoas trabalharem em alguma organização. Com
a alta competitividade, a gestão da marca empregadora passou a ser fundamental, e apesar da
inclusão de minorias permear a gestão de recursos humanos de algumas empresas, o mercado
de trabalho ainda precisa evoluir muito nesse sentido, especialmente no que tange a diversidade
étnico-racial. Para comparar as políticas de gestão de marca empregadora para diversidade
racial a partir das 100 maiores empresas listadas no Ranking Monitor Empresarial de Reputação
Corporativa (Merco) de melhor reputação corporativa no Brasil nos anos de 2019 a 2021. Para
análise comparativa, a triangulação foi conseguida por meio da análise de dados secundários
para a apresentação e caracterização das empresas escolhidas e foram levadas em consideração
as seguintes variáveis: Gestão da Diversidade, Grupos de afinidade, Política de diversidade e
Recrutamento e Seleção. Identificou-se uma preocupação da gestão de recursos humanos e da
alta administração em ter uma cultura e ambiente diverso. Conclui-se que as políticas estão
alinhadas aos conceitos de Employer Branding pela preocupação das mesmas, com acesso e
recursos voltados para identificarem lacunas e fomento de ações para novos projetos e
programas para pessoas negras. Um processo que deve ser analisado e mensurado de perto, para
que os colaboradores atuais e possíveis candidatos sejam impactadas positivamente e a marca
empregadora da empresa seja fortalecida durante toda a jornada de experiência do colaborador.
ABSTRACT
The present work aims to analyze the possible alignment of policies to promote a culture
of diversity, equity, and racial inclusion in the corporate environment with Employer Branding
practices. The concept of Employer Branding is associated with encouraging people to work
for an organization. With the high competitiveness, employer brand management has become
fundamental, and although the inclusion of minorities permeates the human resources
management of some companies, the labor market still needs to evolve a lot in this sense,
especially in terms of ethno-racial diversity. To compare employer brand management policies
for racial diversity from the top 100 companies listed in the Corporate Reputation Business
Monitor (Merco) ranking of best corporate reputation in Brazil in the years 2019 to 2021. For
comparative analysis, triangulation was achieved through the analysis of secondary data for the
presentation and characterization of the chosen companies and the following variables were
taken into: Diversity Management, Affinity Groups, Diversity Policy, and Recruitment and
Selection. It was identified a concern of the human resources management and top management
to have a diverse culture and environment. It is concluded that the policies are aligned with the
concepts of Employer Branding by their concern, with access and resources aimed at identifying
gaps and promoting actions for new projects and programs for black people. A process that
must be closely analyzed and measured, so that current employees and potential candidates are
positively impacted and the company's employer brand is strengthened throughout the
employee's experience journey.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Ilustração da estrutura do Employer Branding ........................................................ 22
Figura 2 - Escala de atratividade do empregador ..................................................................... 23
Figura 3 - Estrutura do Employer Value Proposition ............................................................... 27
Figura 4 - O mix da marca empregadora .................................................................................. 29
Figura 5 - Pontos de contato de Employee Experience: oportunidades de aprimorar interações
entre Recursos Humanos-Colaborador ..................................................................................... 30
Figura 6 - Composição por raça das 500 maiores empresas do Brasil de 2001 a 2010 ........... 41
Figura 7 - Colaboradores negros, por categoria funcional e gênero - Brasil (%) ..................... 57
Figura 8 - Estágio Natura 2021 no Facebook ........................................................................... 58
Figura 9 - Interação do Estágio Natura 2021 no Facebook ...................................................... 59
Figura 10 - Diversidade em órgãos de governança e empregados da AMBEV ....................... 64
Figura 11 - Jornada de Equidade Racial na Ambev ................................................................. 66
Figura 12 - Depoimento sobre o BOCK nas redes sociais da AMBEV ................................... 67
Figura 13 - Evento De Portas Abertas ...................................................................................... 68
Figura 14 - Comitê de Diversidade & Inclusão da Ambev ...................................................... 69
Figura 15 - Ampliação da representatividade negra em contratações e promoções da AMBEV
.................................................................................................................................................. 70
Figura 16 - Conscientização sobre a pauta ............................................................................... 70
Figura 17 - Fomentação da diversidade e da inclusão no ecossistema ..................................... 71
Figura 18 – Afro empreendedores: a plataforma que conecta afro empreendedores á grandes
empresas ................................................................................................................................... 71
Figura 19 - AfroON: plataforma de desenvolvimento para afroempreendedores .................... 72
Figura 20 - Estágio Ambev: Jornada #AlémDosRótulos ......................................................... 73
Figura 21 - Divulgação do Programa de Estágio Representa 2019 .......................................... 75
Figura 22 - Divulgação do Programa de Trainee #AlémdosRótulos 2020............................... 78
Figura 23 - Indicador de Diversidade Magalu 2019 ................................................................. 83
Figura 24 - Divulgação do Trainee Magalu 2021..................................................................... 86
Figura 25 - Página do Trainee Magalu na plataforma 99jobs.com .......................................... 87
Figura 26 - Divulgação do Trainee Magalu 2022..................................................................... 88
Figura 27 - Levantamento de termos e palavras-relacionadas do Programa de Trainee Magalu
2021 .......................................................................................................................................... 89
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Pilares de EVP ........................................................................................................ 28
Quadro 2 - Empresas destaques no ranking durante o período de 2019-2021 ........................ 46
Quadro 3 - Caracterização das empresas .................................................................................. 46
Quadro 4 - Categorias de Análise ............................................................................................. 48
Quadro 5 - Razão de ser, crenças e visão Natura ..................................................................... 51
Quadro 6 - A tríade organizacional da Ambev ......................................................................... 61
Quadro 7 - Evolução da Divulgação dos Programas de Estágio Ambev 2020-2022 ............... 76
Quadro 8 - Evolução da Divulgação dos Programas de Trainee Ambev 2013-2022 ............... 79
Quadro 9 - Evolução da Divulgação dos Programas de Trainee Magalu 2011-2022 .............. 94
Quadro 10 – Política de diversidade étnico-racial com participação da liderança ................. 102
Quadro 11 – Política de diversidade étnico-racial com participação da liderança ................. 104
Quadro 12 – Políticas de promoção da diversidade étnico-racial .......................................... 106
Quadro 13 – Políticas de Recrutamento e Seleção ................................................................. 111
11
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Interesse em Programa de Trainee x Trainee nos últimos 5 anos no Brasil .......... 96
Gráfico 2 - Criação das políticas de estímulo à diversidade étnico-racial................................ 98
Gráfico 3 - Políticas/Ações de Diversidade étnico-racial por etapa da employee experience109
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 14
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA..................................................................................... 19
1. INTRODUÇÃO
A alta competitividade empresarial e busca constante de atração e retenção de talentos
nas organizações tem feito emergir um novo conceito na área de gestão de pessoas alinhado à
imagem e valorização da marca da própria organização – employer branding (REIS, BRAGA,
2016). Este conceito, que por meio de técnicas e meios qualificados, é capaz de unir o poder do
Marketing somando o lado humanizado dos Recursos Humanos (SHARE, 2019).
O conceito Employer Branding (EB) – traduzido para o português, “marca
empregadora” – começou a ser usado em 1990. Sua principal função é construir uma imagem
sólida com credibilidade para a empresa em questão com relação à sua reputação no mercado
de trabalho. Trata-se de um conceito que visa caracterizar uma corporação enquanto
empregadora, e não como marca corporativa de modo geral.
Dentre todos os pilares possíveis que constroem uma proposta de valor ao empregado,
vem crescendo o enfoque na questão da diversidade (KUSÇU, OKAN, 2010; PEUZZO, 2021).
A prática evidencia ainda mais a maior presença nas empresas - mas também o registro de
algumas ausências – de mulheres, negros, pessoas com deficiência, população LGBT (Lésbicas,
Gays, Bissexuais e Transgêneros)1 e outros grupos ensejam discussões sobre preconceito e
igualdade de oportunidades (SALES, 2016).
Desse modo, a questão da diversidade tem se consolidado na pauta empresarial em todo
o mundo, principalmente em razão das diferenças na força de trabalho. Aspectos como gênero,
etnia, orientação sexual, idade, crença religiosa ou limitações físicas, por exemplo, assinalam a
heterogeneidade, demandando práticas que harmonizem lucro e justiça social (ALVES, 2004;
FLEURY, 2000; COX, 1994).
Apesar da inclusão de minorias permear a gestão de recursos humanos de algumas
empresas, o mercado de trabalho ainda precisa evoluir muito nesse sentido. Especialmente no
que tange a diversidade étnico-racial. Essa carência é sentida nos diversos setores, sendo ainda
mais perceptível nos maiores níveis hierárquicos. Segundo Ferreira e Mattos (2007), apesar de
os negros serem personagens fundamentais na construção e no desenvolvimento de nosso país,
houve um processo de desqualificação sistemática deles. Na visão desses autores, criaram-se
referências estigmatizantes de ordem física, intelectual e social associadas à pessoa negra.
1
Atualmente a sigla alterou-se para LGBTQIA+, como um acrônimo para lésbicas, gays, bissexuais,
transgêneros e queer, com um sinal “+” para reconhecer as orientações sexuais ilimitadas e identidades de gênero
usadas pelos membros dessa comunidade.
15
2
A morte de George Floyd levou à explosão do que pode ter sido, segundo o The New York Times, a
maior manifestação da história americana (BUCHANAN et al., 2020).
3
A morte de João Alberto Silveira Freitas, homem negro espancado em uma unidade do supermercado
Carrefour em Porto Alegre (RS) no Dia da Consciência Negra em 2020. Nos dias seguintes ao ocorrido,
manifestantes protestaram contra o racismo em Porto Alegre e em outras cidades do Brasil (Globo, 2022).
16
Um levantamento do Instituto Ethos (2016) com 117 das 500 maiores empresas do país,
constatou-se o que já era percebido: o quadro das pessoas negras nas empresas é de desigualdade
e sub-representação. Os números da pesquisa mostraram que os profissionais negros são
maioria entre aprendizes e trainees, com 57,5% e 58,2%, respectivamente. Ao subir na pirâmide
hierárquica das organizações, representam 6,3% na gerência. No quadro executivo, a proporção
é ainda menor, caindo para apenas 4,7%. Ao se fazer o recorte de gênero, a situação é ainda
mais preocupante: as mulheres negras ocupam apenas 8,2% dos cargos de supervisão, 1,6% de
gerência e 0,4% no quadro de executivos.
A partir dessas considerações, foi escolhido uma seleção das maiores empresas do Brasil
para comparar as políticas de gestão de marca empregadora (employer branding) para
diversidade racial a partir das 100 maiores empresas listadas no Ranking Merco (Monitor
Empresarial de Reputação Corporativa) de 2021, um monitor corporativo de referência na
América Latina que avalia a reputação das empresas desde 2000. É um instrumento de avaliação
reputacional lançado em 2000, baseado numa metodologia multistakeholder composta por seis
avaliações e mais de vinte fontes de informação. A Merco atualmente produz oito monitores
(Merco Empresas, Merco Líderes, Merco Responsabilidade e Governo Corporativo, Merco
Talento, Merco Talento Universitário, Merco Consumo, Merco Digital e MRS) e está presente
em mais de quinze países.
Os dados disponíveis no relatório foram analisados por meio de uma análise de
conteúdo, tendo as categorias disparidades de cargos por gênero, disparidades de cargos por
raça, discriminação no mercado de trabalho, políticas de gestão da diversidade de gênero,
políticas de gestão da diversidade racial e a efetividade das ações e políticas de gestão da
diversidade como norteadores do trabalho.
Considerando o exposto, a presente pesquisa se propõe a responder o seguinte
questionamento:
As políticas de estímulo à diversidade étnico-racial praticadas pelas melhores
empresas do Brasil, estão alinhadas aos conceitos de employer branding?
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1.2 OBJETIVOS
1.2.3 Justificativa
alta administração das grandes empresas e para áreas de recursos humanos das pequenas e
médias, dado que há um reflexo do racismo estrutural que ocorre em outras esferas da sociedade
no quadro de funcionários das organizações.
No decorrer da nossa trajetória acadêmica e profissional, somos interpelados por
diversas temáticas que tangem nosso campo de atuação. Neste universo de temáticas e vivências
profissionais, deparo-me inquietada e confrontada por uma realidade na qual estou inserida.
Neste sentido, a partir desta vivência, surge esta pesquisa. Provocada por essa realidade, o que
qualifica ainda mais essa pesquisa, e não somente, como também mostrando a importância
dessa pesquisa no âmbito acadêmico e que o resultado dela ultrapasse os muros da universidade
e gere um efeito positivo de transformação das empresas e dessa realidade que me cerca.
Como um incentivo a mais que ratifica a importância do estudo, pude observar que em
todos os espaços que ocupei, organizações que atuei, muitas vezes, fui a única funcionária
autodeclarada negra. Tal fato sempre me gerou um atravessamento, incomodando-me e desta
forma, em diversos momentos senti falta de vozes negras e mais representatividade. Sendo
assim, confrontada por esta realidade, e incentivada por ela a realizar essa pesquisa, faço votos
de que outros acadêmicos/as e pesquisadores/as possam explorar mais o mercado empresarial,
a partir dos sujeitos que ocupam esse espaço, questionando as identidades ali presentes, de
forma que se torne mais plural, diversa, que haja mais representatividade, ampliando esses
espaços para as próximas gerações.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Neste capítulo serão apresentadas as principais referências teóricas que guiarão
posteriormente a análise do estudo proposto.
Após cerca de uma década recebendo praticamente nenhuma atenção por parte dos
acadêmicos de recursos humanos, o tema começou a ganhar importância com o surgimento de
guias, a promoção de conferências anuais e o lançamento de inúmeros livros sobre EB, que
projetaram o assunto de forma a atingir tamanha relevância que não havia mais como não torná-
lo um objeto de estudo (EDWARDS, 2010).
Aggerholm, Andersen e Thomsen (2011) em seu estudo “Conceitualização da marca
do empregador em organizações sustentáveis” 4 menciona os seguintes pontos com respeito à
marca do empregador:
a) "Uma noção estática de inside-out (dentro para fora) da marca do empregador: as
propostas de marca do empregador são definidas pelos estrategistas de marca com base na
identidade da marca, conceitualizada como características essenciais estáveis e duradouras, ou
o DNA da marca;
b) A exposição e transmissão das propostas de marca do empregador, internamente (ou
externamente);
c) Uma prática linear de marca do empregador que envolve posições estáticas de
remetente (empregador) e receptor (empregados);
d) Um canal para melhorar as experiências dos clientes e a organização".
Com base em uma revisão dos três conceitos de branding apresentados, Aggerholm,
Andersen e Thomsen (2011) destaca o “branding interno” como um conceito para assegurar
que os funcionários cumpram a promessa da marca aos clientes externos; e o “employer
branding” como uma forma de recrutar os candidatos certos, a fim de assegurar uma entrega de
alta qualidade da promessa da marca aos interessados externos. Os estudos mencionaram
"processos sustentáveis de marca do empregador apresentam três características distintas":
(1) A ancoragem e o apoio à estratégia corporativa geral, sendo assim uma disciplina
estratégica de branding;
(2) A co-criação de valores, ou seja, a renegociação contínua de valores com as partes
interessadas de acordo com seus interesses e expectativas; e
(3) O estabelecimento de relações empregador-empregado sustentáveis, orientadas para
uma reflexão contínua sobre as necessidades mútuas, bem como sobre as expectativas atuais e
futuras".
4
Conceptualizing employer branding in sustainable organizations, publicado na revista Corporate
Communications: An International Journal, v. 16, n. 2, pp. 105-123, 2011.
22
muito mais do que apenas um slogan, ou o nome, ou uma imagem, mas sim um conjunto que
envolve todos esses aspectos. A maneira com que uma organização se posiciona no mercado e
como impacta de alguma forma as pessoas, é o verdadeiro significado de uma marca
(CLAVERY, 2020).
Ao longo dos últimos cinquenta anos, os valores diferenciadores das organizações,
enquanto entidades atrativas – quer para os seus colaboradores, quer para o mercado de trabalho
– foram sofrendo alterações significativas (CARDOSO, 2016).
Berthon et al. (2005) desenvolveram a Escala de Atratividade do Empregador
(EmpAt), integrando dimensões consideradas em outras taxonomias, particularmente, os
aspectos funcionais, psicológicos e econômicos da atratividade proposta por Ambler e Barrow
(1996), e consiste nos itens conforme a Figura 2:
Figura 2 - Escala de atratividade do empregador
a caracterizam como empregador e a diferenciam das outras com quem compete”. A estrutura
proposta pelo autor pode ser observada na Figura 3, a seguir.
Transpondo o conceito para o mundo da gestão de capital humano, o EVP será, pois, o
conjunto único de benefícios que um empregado recebe em troca das competências,
conhecimento, experiência e motivação que traz para uma empresa – a essência do empregador,
que deve ser única e inimitável (MINCHINGTON, 2006).
Segundo Clavery (2020), é fundamental que para que os talentos de fato acreditem na
veracidade das promessas de valores, os pilares dessa proposta de valor estejam conectados. A
autora aponta 5 pilares, que são: recompensas ou benefícios; oportunidades; organização;
trabalho e, por fim, pessoas, conforme o Quadro 1:
Quadro 1 - Pilares de EVP
Recompensas ou Organização,
Oportunidades Trabalho Pessoas
Benefícios identidade e cultura
Qualidade de
Planos de
Salários Ética Viagens colaboradores
Desenvolvimento
(colegas)
Responsabilidade Gerenciamento de
Férias Treinamentos Inovação
social pessoas
Posicionamento de Relações
Plano de Saúde Mobilidade Localização
mercado interpessoais
Estabilidade
Vale-Refeição Cultura Rotinas
organizacional
Convênios Outros
Outros
Para ajudar tanto na avaliação da realidade atual da marca do seu empregador, quanto
no planejamento de como entregar a proposta de marca do empregador (EVP) desejada, Barrow
e Mosley (2011) desenvolvem uma lista de 12 dimensões-chave chamada “employer brand
mix” de mix de marca empregadora. A proposição está dividida em 12 áreas em dois grandes
grupos:
I. Visão Geral: o primeiro relacionado ao contexto e política organizacional mais
ampla;
29
O termo Employee Experience (EE) diz respeito à trajetória que o colaborador passa
dentro da empresa, desde o momento da sua entrada até seu desligamento na mesma. A
percepção da empresa na visão do funcionário é moldada por todas as interações que passou
durante todo esse trajeto. (MAYLETT, WRIDE, 2017)
Todas as interações que um colaborador teve com a empresa, desde o momento da
contratação até o desligamento, é considerado como a experiência do colaborador, ou seja, o
Employee Experience é tudo o que as pessoas encontram e observam ao longo da sua trajetória
em uma organização (LEE, 2021).
A imagem a seguir representa uma trajetória completa de Employee Experience, onde
cada uma das fases apresentadas tem sua importância no processo de engajamento e retenção,
e fortalece o sentimento de pertencimento:
Figura 5 - Pontos de contato de Employee Experience: oportunidades de aprimorar interações entre Recursos
Humanos-Colaborador
pontos de contato com a organização. Uma grande responsabilidade é assegurar que a marca do
empregador esteja sendo claramente comunicada em cada ponto dos seus principais marcos:
1. Atração: é uma das etapas mais importantes para empresas que desejam ter
times de alta performance, funcionários engajados e alinhados com os valores
organizacionais.
a. Conheceu a empresa por meio de um funcionário;
b. Acesso ao site da empresa;
c. Pesquisa no Glassdoor;
2. Recrutamento e Seleção: é fundamental verificar se as qualificações do
candidato atendem aos anseios e necessidades da empresa.
a. Primeiro contato com o recrutador;
b. Dinâmicas de grupo;
c. Entrevistas na empresa;
d. Feedback do processo seletivo;
3. Onboarding: promove a interação com os futuros colegas, contribui para o
treinamento e aumenta a proximidade do profissional com a empresa.
a. Pré-boarding
b. Primeiro dia na empresa;
c. Integração;
d. Infraestrutura;
e. Acompanhamento;
f. Feedback;
4. Desenvolvimento: necessário manter um ciclo de treinamentos é eficaz para
promover o aprendizado dos times e as capacitações podem ocorrer por setor ou
por meio de estratégias, focando em um colaborador específico.
a. Participação em treinamento;
b. Feedback dos colegas de trabalho;
c. Relacionamento com líderes
d. Relacionamento com equipe;
e. Pesquisa de Clima Organizacional;
f. Abertura à inovação;
5. Promoção:
32
a. Avaliação de Desempenho;
b. Plano de Carreira;
c. Oportunidade interna;
d. Onboarding na nova função;
6. Retenção: momento de invevestir no crescimento do profissional, a organização
conquista espaço no mercado, atrai e retém talentos.
a. Reconhecimento por entrega;
b. Celebrações e comemorações;
c. Remuneração;
d. Acesso a benefícios;
e. Promoção;
f. Oportunidade no concorrente;
g. Mentoring
7. Separação: identificar o tipo de separação (voluntária ou involuntária) e minorar
os impactos negativos para empresa e o trabalhador.
a. Pré-separação (terapia de casal);
b. Demissão;
c. Entrevista de desligamento;
d. Último dia na empresa;
8. Alumni: fomenta redes de conexão entre os talentos e executivos que,
independente do momento profissional, participaram da empresa.
a. Networking com ex-colegas;
b. Avaliação no Glassdoor.
São evidenciados 8 (oito) processos específicos e seus marcos mais importantes, que
se adequam as 3 (três) etapas mais genéricas conceituadas anteriormente. Mas cada empresa
apresenta suas particularidades e objetivos, assim é de suma importância que seja deixado claro
o que se esperada em cada momento, mas também dar voz e ouvir o colaborador, de forma a
constantemente aprimorar a experiência (WEBBER, 2019).
Segundo Santos (2017), esse novo termo (EB) alinhado com a práticas de marketing e
gestão de pessoas (EE), busca explorar como a reputação e valorização da marca de uma
empresa pode influenciar a atração de talentos e combinada com outros mecanismos, auxiliar
na retenção dos que já estão alinhados aos objetivos, valores e cultura de uma determinada
organização.
33
5
Benchmarking é uma prática organizacional de padrões de desempenho corporativo. Segundo
Spendolini, (1994, p.10), é “um processo contínuo e sistemático para avaliar produtos, serviços e processos de
trabalho de organizações que são reconhecidas como representantes das melhores práticas, com a finalidade de
melhoria organizacional”.
36
Cox (1994, apud FLEURY, 2000, p. 21) enumera os possíveis ganhos para as empresas
na utilização da gestão da diversidade:
1. Atrair e reter os melhores talentos no mercado de trabalho;
2. Promover a criatividade e a inovação;
3. Facilitar a resolução de problemas;
4. Desenvolver a flexibilidade organizacional;
5. Reconhecimento de que pessoas de origens diferentes têm talentos diferentes e
habilidades diferentes e que podem contribuir para o crescimento da empresa.
Esses pontos estão relacionados com pontos relacionados à gestão de pessoas (atração,
seleção, desenvolvimento) e inovação dentro da empresa, a partir de uma gama de pessoas com
repertórios, vivências e conhecimentos diferentes para agregar à organização.
Permeando as discussões sobre diversidade nas empresas entre Recursos Humanos e
Alta Administração, é identificado a forte atuação dos chamados “Grupos de Afinidade”. Um
grupo de afinidade – ou Employee Resource Group (ERG) em inglês – é um subgrupo afiliado
de funcionários dentro de uma organização que compartilham qualidades, interesses ou
objetivos. De acordo com Briscoe e Safford (2010), os “Grupos de Afinidade” com foco em
diversidade podem ser definidos como grupos de funcionários(as) que atuam dentro de uma
organização e compartilham uma identidade em comum, seja ela definida por aspectos étnico-
raciais, identidade de gênero, orientação sexual, pessoa com deficiência, além de valores ou
interesses compartilhados.
A maioria desses grupos, hoje, recebe algum financiamento corporativo, bem como
suporte tecnológico e de pessoal, embora os níveis e valores variem muito, e a adesão costume
ser voluntária com líderes do grupo eleitos pelos membros (Welbourne, Rolf e Schlachter,
2015).
Há benefícios evidentes que podem fazer com que uma força de trabalho diversificada
produza um trade-off 6 positivo. Isto é o que torna uma força de trabalho diversificada atraente
no ambiente global contemporâneo. Os benefícios da diversidade no local de trabalho incluem
adaptabilidade rápida, disponibilidade de uma maior variedade de técnicas alternativas para a
solução de problemas, fornecimento em serviço e alocação de recursos (DUKE, 2012;
GREENBERG, 2015).
6
Trade-offs são definidos como “troca de uma coisa em troca de outra: especialmente a renúncia de
um benefício ou vantagem por outro considerado mais desejável” (Angus Leppan et al., 2010, p. 231).
37
Ambra (2018), nos apresenta que há algumas vantagens para as empresas que
implantaram a gestão da diversidade, tais como:
• Redução de problemas jurídicos, exposição negativa e reivindicação
diante do risco de preconceito e discriminação;
• Construção de ambientes organizacionais mais ricos, representativos e
estimulantes;
• Mobilização e capitalização de forças criativas por conta da maior riqueza
de análise de colaboradores multiculturais;
• Abertura para uma sociedade e uma economia mais globalizadas;
• Resposta aos questionamentos éticos e morais em torno da igualdade de
oportunidades e direitos;
• A empresa apresenta um grande potencial de inovação, de performance e
criatividade por conta da diversidade de ideais, pensamentos e culturas.
Heitner et al., (2013) propõe três elementos essenciais para definição do sucesso com
relação aos esforços de diversidade: o primeiro, o ciclo de vida do empregado, que pode incluir
informações relativas a novos contratados, promoções e desenvolvimento; o segundo, a
percepção dos líderes, ou seja, modelos de liderança e gestão implementados; e finalmente a
cultura organizacional, determinada por aspectos tangíveis e intangíveis como a sensação de
segurança, confiança, disponibilização dos recursos necessários.
Alves e Silva (2004) explicam que o conceito de gestão da diversidade compreende,
portanto, a adoção de estratégias administrativas que garantam que os atributos pessoais, ou de
determinado grupo, sejam considerados recursos para melhorar o desempenho da organização.
Como o racismo é uma concepção que pressupõe a superioridade de uma raça sobre
outras, visando justificar atitudes de preconceito e discriminação contra indivíduos
considerados inferiores, sua prática rompe com o princípio da igualdade. Assim, racismo passa
a ser entendido como uma conduta discriminatória referente à raça, cor, descendência, origem
nacional ou étnica, que tenha por objeto ou efeito anular ou restringir o reconhecimento, o gozo
ou o exercício, em condições de igualdade, dos direitos humanos e de liberdades fundamentais,
conforme se encontra definido na Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de
Discriminação Racial (ONU, 1966).
Conforme aponta Almeida (2018), o racismo pode ser visto como uma excelente
tecnologia de controle social, porquanto naturaliza o pagamento de salários inferiores a
trabalhadoras e trabalhadores minoritários:
Outro efeito importante do racismo para o “crescimento” [econômico] é servir de
instrumento de dissuasão dos trabalhadores brancos, que pensarão duas vezes antes
de reivindicar aumento salarial em uma situação em que poderiam ser substituídos a
qualquer tempo por negros ou imigrantes, geralmente mais baratos e, por serem mais
suscetíveis ao desemprego, mais facilmente disponíveis no mercado como “exército
de reserva de mão de obra (ALMEIDA, 2018, P20).
Almeida (2018) ainda nos explica, de forma didática, que o racismo pode ser
classificado em três concepções: individualista, institucional e estrutural. Isso depende dos
critérios considerados, ou seja, quanto às relações estabelecidas entre racismo e subjetividade,
racismo e Estado e, por fim, racismo e economia.
De acordo com o autor, o racismo individualista é entendido como um tipo de
“patologia” ou anormalidade, um fenômeno ético ou psicológico de caráter individual ou
coletivo, atribuído a grupos isolados. Ele defende que essa perspectiva pode não admitir a
existência de “racismo”, somente de “preconceito”, e, nessa linha de raciocínio, não haveria
sociedades ou instituições racistas, somente indivíduos racistas, que agem isoladamente ou em
grupo (ALMEIDA, 2020).
No que tange ao racismo institucional, Almeida (2020, p. 37) afirma que essa
concepção não se resume a comportamentos individuais, mas sim ao funcionamento das
instituições, que conferem às pessoas, às vezes indiretamente, desvantagens e privilégios,
baseados tão somente na raça. Por fim, o conceito de racismo estrutural, associado à relação
racismo e economia, é apresentado como:
O racismo é uma decorrência da própria estrutura social, ou seja, do modo “normal”
com que se constituem as relações políticas, econômicas, jurídicas e até familiares,
não sendo uma patologia social e nem um desarranjo institucional. O racismo é
estrutural. Comportamentos individuais e processos institucionais são derivados de
uma sociedade cujo racismo é regra e não exceção. O racismo é parte de um processo
social que ocorre “pelas costas dos indivíduos e lhes parece legado pela tradição”.
39
7
De acordo com o dicionário, Raça é definida como a divisão tradicional e arbitrária dos grupos humanos,
determinada pelo conjunto de caracteres físicos hereditários como a cor da pele, formato da cabeça, tipo de cabelo,
dentre outros (HOUAISS et al., 2006).
40
Junior (2017), nos apresenta que após longas batalhas, foi aprovado o Estatuto da
Igualdade Racial em 2010 por meio da Lei 12.288 de julho de 2010. O Estatuto, em que pesem
as críticas aos muitos cortes que sofreu para a sua aprovação, é um instrumento de discussão
acerca da efetivação do combate ao racismo no Brasil.
De acordo com Junior (2017), as ações afirmativas criadas com foco no mercado de
trabalho pelo Estatuto foram:
• Apoio a programas de diversidade étnica nas empresas, públicas e privadas;
• Incentivo à contratação e a promoção de funcionários afrodescendentes;
• Programa de erradicação do trabalho infanto-juvenil (PETI) com ênfase nas
famílias afro-brasileiras;
• Estabelecimento de cotas raciais em concursos públicos, criação do sistema de
reserva de vagas em concursos públicos através da Lei 12.990 de junho 2014.
As medidas de ação afirmativa têm relação direta com as práticas de gerenciamento
dos recursos humanos. Obter uma participação mais justa dos grupos sub-representados no local
de trabalho exige mudanças nos procedimentos de recrutamento e seleção, assim como nas
decisões sobre treinamento e promoção, entre outras coisas. Os métodos tradicionais de seleção
oferecem prognósticos inadequados sobre o desempenho no emprego de pessoas que sofrem
discriminação, já que se baseiam em noções tendenciosas sobre justiça e mérito8 (TOMEI,
2005).
A Figura 6 traz os resultados de pesquisas realizadas em 2001, 2003, 2005, 2007 e
2010 pelo Instituto Ethos, visando mapear o perfil social, racial e de gênero das 500 maiores
empresas que atuam no Brasil.
Com exceção da pesquisa realizada em 2001, que enfocou apenas o corpo diretivo das
empresas, percebe-se que em todos os levantamentos subsequentes o percentual de negros
decresce na medida em que se sobe na hierarquia organizacional. No nível executivo,
representavam apenas 1,8% em 2003, tendo esse percentual apresentado um pequeno
acréscimo, passando para 3,4, 3,5 e 5,3 nos anos de 2005, 2007 e 2010 respectivamente. Já nas
posições gerenciais, a participação teve uma elevação maior, saltando de 8,8% em 2003 e 9%
em 2005, para 17% em 2007, mas caindo ao patamar de 13,2% em 2010. Todavia, tendo em
vista que os negros (pretos e pardos) totalizavam 48% da população brasileira em 2004, 49,5%
8
O mérito não é um conceito nem estático nem absoluto, mas relativo e dinâmico. A noção e o valor
associados a certas competências ou atitudes no trabalho são de fato socialmente construídas e moldadas a partir
de relações de poder. Ver: TOMEI, M. “Discrimination and equality at work: A review of concepts”. In:
International labour review, v. 142, n. 4, 2003.
41
Figura 6 - Composição por raça das 500 maiores empresas do Brasil de 2001 a 2010
Sob o enfoque da natureza, a pesquisa é básica (i. e., pesquisas que visam a construir
conhecimentos sobre um objeto de estudo específico, sem quaisquer comprometimentos com
áreas aplicadas).
De acordo com os objetivos, optou-se por uma pesquisa exploratória, para melhor
entendimento das políticas de promoção à diversidade e estratégias de employer branding
utilizados pelas empresas. Malhotra (2006) argumenta que a pesquisa exploratória auxilia o
pesquisador a entender e definir melhor as proposições em questão, tratando-se de uma pesquisa
de maior flexibilidade e com informações abrangentes. A autora ainda complementa que neste
tipo de pesquisa os dados obtidos são qualitativos e, diante disso, faz-se a análise deste
conteúdo.
O método utilizado, portanto, foi o de multicasos, uma vez que se identificou e
caracterizou, em mais de uma organização, o maior número possível de informações detalhadas
sobre a problemática e ações referente às variáveis selecionadas. A esse respeito Bruyne et al.
(1982) observam que os estudos de múltiplos casos em organizações formais, por meio de
pesquisas não comparativas, tendem a recorrer a formas integradas de coleta e análise de dados
e informações.
O estudo de caso é crescentemente usado nas ciências socais por proporcionar uma
visão global do problema, obtida por meio do estudo profundo de um ou de poucos objetos,
gerando um conhecimento detalhado do assunto, tarefa muito difícil de atingir com outros
métodos. Apesar de haver objeções quanto à dificuldade de generalização, seu emprego leva
em consideração características particulares de cada caso, demonstrando aspectos que o
diferenciam (Gil, 2002).
Com relação aos fins, este estudo sobre políticas de ações afirmativas para diversidade
étnico-racial das melhores empresas do país é essencialmente exploratório, pois o tema não foi
43
abordado sob esse enfoque; além disso, é descritivo na medida em que caracteriza e descreve
as ações adotadas por cada empresa no período pesquisado.
Segundo Ruiz (1992), as pesquisas exploratórias constituem o primeiro estágio de toda
pesquisa científica, cujo objetivo central é auxiliar na compreensão dos problemas referentes
ao estudo. Desse modo, a pesquisa não tem a intenção de quantificar o desenvolvimento
proposto pelas ações, mas sim verificar a forma como se desenvolveu a política para a gestão
da marca empregadora das empresas.
Diante disso, a abordagem de investigação terá um enfoque na pesquisa qualitativa,
identificando as práticas de diversidade realizadas pelas empresas em análise, focando,
principalmente, nas estratégias de employer branding desenvolvidas pelos mesmos.
Menga Lüdke e Marli André (1999), afirmam que uma pesquisa não seria somente
quantitativa, pois na escolha das variáveis o pesquisador estaria operando com aspectos
qualitativos. Também não seria somente qualitativa, porquanto haveria quantificação na
escolha das variáveis a serem estudadas.
Assim, conforme os objetivos específicos pretendeu-se identificar, mapear e comparar
as políticas e ações típicas de cada empresa, identificando características que permitissem
configurá-las como parte de uma estratégia de employer branding.
Esta pesquisa se propôs, como objetivo geral, analisar o possível alinhamento acerca
das políticas de promoção da cultura de diversidade, equidade e inclusão racial no ambiente
corporativo com as estratégias de Employer Branding. E, por esse motivo, foram construídos
outros três objetivos específicos para servirem de guia para o atingimento do objetivo geral.
44
uma "marca patronal" (MERCO 2021). O sexto monitor, a mais recente adição à família Merco,
é a avaliação das Empresas com a melhor Responsabilidade Corporativa e Governança
Corporativa, realizada pela primeira vez em conjunto a Merco Empresas em 2011.
Alguns desses monitores já transcenderam a esfera espanhola: atualmente, tanto Merco
Empresas como Merco Líder são produzidos. Merco Empresas e Merco Líderes na Colômbia,
Argentina, Chile, Equador, Peru, México, Brasil, Bolívia e Costa Rica, México, Brasil, Bolívia
e Costa Rica; e Merco Talento na Colômbia, Peru, Argentina e Chile. De imediato, está prevista
a expansão desses monitores, sempre começando com Merco Empresas e Merco Líderes, para
Empresas e Líderes Merco, para outros países americanos e europeus (MERCO, 2022).
Assim, ao longo dos anos, a Merco vem consolidando sua importância como um um
instrumento de referência para medir a reputação das organizações, através de um processo
simultâneo de metodologia um processo simultâneo de melhoria metodológica, que vem
ocorrendo todos os anos desde o início da Merco e de desenvolvimento geográfico e setorial
MERCO (2021).
3.3.2 EMPRESAS
A escolha das empresas utilizadas neste estudo foi feita com base na lista de empresas
do ranking fornecido pelo MERCO (Monitor Empresarial de Reputação Corporativa) que
divulgou uma listagem com o ranking de 100 empresas com melhor reputação no Brasil nos
anos de 2019, 2020 e 2021. Com base nesse ranking, o critério de seleção foi a avaliação de
dos resultados de marcas presentes nos três anos no estudo, com a sua posição no ranking no
período, pontuação do monitor e posição no período anterior.
A pesquisa de campo da oitava edição do Monitor Empresarial de Reputação
Corporativa (Merco) foi realizada no Brasil entre julho e dezembro de 2021, com um total de
3865 entrevistas. A metodologia da pesquisa inclui cinco ondas de avaliação, com 16 diferentes
grupos/fontes de informação (MERCO, 2022).
De acordo com a MERCO (2022), a partir da primeira listagem são feitas entrevistas
com diversos outros grupos, incluindo população geral, analistas financeiros, ONGs, sindicatos,
associações de consumidores, jornalistas econômicos, catedráticos de universidades,
representantes do governo e gestores de mídias sociais, além do Merco Digital, por meio do
qual é realizada a avaliação dos canais e das mídias sociais
46
Na etapa final, também é feita uma avaliação de méritos a partir de uma pesquisa
respondida pelas próprias empresas. Além do ranking de 100 empresas, também realiza o
ranking de 100 líderes com melhor reputação no país (MERCO 2022).
Ao analisar os três anos do ranking, percebe-se que Natura e Ambev recorrentemente
ocuparam as duas primeiras posições, enquanto a Magazine Luiza foi a empresa top 10 que
mais subiu posições.
foram avaliadas as divulgações dos processos nas redes sociais de cada uma das empresas. Por
meio das informações obtidas, foi possível a identificação das estratégias utilizadas pelo setor
de gestão de pessoas e recrutamento de cada uma delas, identificando o uso das técnicas de
employer branding em cada organização sobre a diversidade étnico-racial.
Neste estudo, a triangulação foi conseguida por meio da análise de dados secundários
para a apresentação e caracterização das empresas escolhidas. Como método de coleta de dados,
a análise documental é uma fonte de informação preciosa para uma primeira base de
conhecimento (Bowen, 2009).
Com o propósito de melhor conhecer as variáveis de estudo foram coletados dados
secundários e dados primários. A coleta de dados foi realizada, primeiramente, pelo
reconhecimento e pela identificação dos dados oriundos de fontes secundárias. Foi concretizada
uma análise documental por meio de documentos como relatório de EGS, relatórios anuais,
página de relação com investidores e informações contidas em seu domínio (site).
Para se atingir o objetivo específico, a) “conhecer as práticas de employer branding das
empresas como um estímulo para inclusão de profissionais negros e negras em seu quadro de
colaboradores” foi construída a Fundamentação Teórica deste estudo, que serviu como base
para formulação do tópico 2 do presente trabalho que, por sua vez, dispôs os conhecimentos
necessários sobre o tema para que o objetivo principal pudesse ser concluído. O segundo
objetivo específico é o objetivo b) “mapear as formas de promoção ao respeito à diversidade
étnico-racial no ambiente organizacional” e, para atingi-lo, foi construído o tópico 4 de Estudo
de Caso. O desenvolvimento do estudo possibilitou uma análise das práticas adotadas pelas
empresas de diferentes setores: Natura (Cosméticos e Perfumaria), AMBEV (Bebidas) e
Magazine Luiza (Varejo). Para ambos os objetivos foi necessária a coleta de dados nos portais
de relações com investidores, redes sociais e sites oficiais das organizações analisadas.
E para o atingimento do terceiro objetivo específico c) “Comparar se as informações
acerca das ações e práticas destas empresas estão perceptíveis e possuem valor para o público-
alvo”, o tópico 4.4 de Análise Comparativa foi criado. Esse tópico e seus subtemas utilizaram
a base de dados coletadas das ações e práticas das empresas e da fundamentação teórica com
os conceitos de employer branding (EB).
48
Dentre as limitações, podem ser incluídas a disponibilidade de dados das empresas, que
na maioria dos casos divulgam apenas as informações encontradas nos relatórios anuais e para
investidores, além do tamanho da amostra. Neste sentido, há um tamanho pequeno de acesso às
informações das empresas sobre seu quadro de funcionário e ações que estão fazendo de
estímulo à diversidade étnico-racial. É difícil encontrar relações e generalizações significativas
a partir dos dados, já que os dados requerem um tamanho amostral maior para garantir uma
tendência, uma distribuição representativa de grupos de pessoas, objetos, processos, entre
outros.
Podem ser apontadas como limitações de acesso da pesquisadora dentro das
organizações. O estudo não contempla a percepção dos colaboradores negros presentes nessas
instituições para responderem perguntas sobre suas experiências e participação nessas ações e
que surgiram com o desenvolvimento do trabalho. Desta forma, acredita-se que há uma
49
necessidades de pesquisas futuras sobre a temática racial envolvendo o employer branding, pois
também não foram encontrados estudos nacionais desta temática em específico.
50
4. ESTUDOS DE CASO
Neste capítulo serão apresentados os dados das empresas analisadas e os resultados
obtidos a partir da coleta de dados para solucionar o problema de pesquisa e atingir os objetivos
específicos. O estudo foi dividido contemplando as categorias de análise que se desejava
investigar, subdividido através das categorias de análise escolhidas, totalizando em quatro
elementos que possibilitaram analisar o uso dessas informações nas empresas.
4.1 NATURA
Razão de ser: Nossa razão de ser é criar e comercializar produtos e serviços que promovam o
bem-estar/estar bem. Bem-estar é a relação harmoniosa, agradável, do indivíduo consigo mesmo,
com seu corpo. Estar bem é a relação empática, bem-sucedida, prazerosa, do indivíduo com o
outro, com a natureza da qual faz parte.
Crenças: A vida é um encadeamento de relações. Nada no universo existe por si só, tudo é
interdependente. Acreditamos que a percepção da importância das relações é o fundamento da
grande revolução humana na valorização da paz, da solidariedade e da vida em todas as suas
manifestações. A busca permanente do aperfeiçoamento é o que promove o desenvolvimento dos
indivíduos, das organizações e da sociedade. O compromisso com a verdade é o caminho para a
qualidade das relações. Quanto maior a diversidade das partes, maior a riqueza e a vitalidade do
todo. A busca da beleza, legítimo anseio de todo ser humano, deve estar liberta de preconceitos e
manipulações. Seu valor e sua longevidade estão ligados à sua capacidade de contribuir para a
evolução da sociedade e seu desenvolvimento sustentável.
Visão: A Natura, por seu comportamento empresarial, pela qualidade das relações que estabelece
e por seus produtos e serviços, será uma marca de expressão mundial, identificada com a
comunidade das pessoas que se comprometem com a construção de um mundo melhor através da
melhor relação consigo mesmas, com o outro, com a natureza da qual fazem parte, com o todo.
Natura é a de gerar impacto positivo, que seria a redução ou mitigação dos efeitos de suas
atividades, e a promoção do bem social, ambiental, econômico e cultural. (RELATÓRIO
ANUAL NATURA, 2018).
Em 2020, o Grupo Natura &Co concluiu a compra da Avon Products (AVON),
aprovando a incorporação da fabricante norte-americana de cosméticos com conselho de
administração da empresa, em um negócio que criou o quarto maior grupo de beleza do mundo
e avaliou a rival norte-americana de 130 anos em cerca de US$ 2 bilhões (GLOBO, 2020).
Observa-se que a companhia organiza as formulações de suas estratégias orientada por
todos os valores que o Grupo busca em sua preocupação com o desenvolvimento sustentável
em sua cadeia produtiva em todas as etapas, nos seus meios de contato com o consumidor e nos
colaboradores.
Em 2020, a Natura foi reconhecida como um dos melhores lugares para trabalhar no
mundo, ocupando a 24ª colocação do ranking World’s Best Workplaces 2020. O índice,
revelado durante o evento global Virtual List Reveal & Celebration, é resultado do trabalho de
pesquisa realizado pela Great Place to Work (GPTW)9, consultoria global considerada uma
autoridade em cultura empresarial, em parceria com a revista americana Fortune. (NATURA,
2020). O GPTW indica quais são as melhores empresas, na perspectiva dos colaboradores, para
trabalhar. Para isso, a organização realiza uma pesquisa com os colaboradores, na qual avalia
uma série de critérios relacionados ao ambiente de trabalho, clima organizacional e gestão de
pessoas (GPTW, 2022).
O ranking reconheceu 25 organizações do mundo inteiro que se destacaram por criar
experiências excepcionais para funcionários, relações de alta confiança e ambientes de trabalho
justos e igualitários. A Natura, única empresa brasileira a figurar no ranking, foi selecionada
entre mais de 10 mil organizações que participaram da pesquisa, que envolveu 10,2 milhões de
funcionários em 92 países. Para ser elegível, a empresa precisa ser nomeada para cinco ou mais
listas nacionais de Best Workplaces (melhores ambientes de trabalho, em inglês) através de
escritórios globais da GPTW e possuir 5 mil funcionários ou mais ao redor do mundo. As
9
O Great Place to Work® (traduzido como Melhores Lugares para Trabalhar) é uma consultoria global
que apoia organizações a obterem melhores resultados por meio de uma cultura de confiança, alto desempenho e
inovação. Ele surgiu a partir de uma proposta da editora para que Robert escrevesse um livro indicando as 100
melhores empresas da América para os trabalhadores. Dos anos 80 até hoje, o selo cresceu e ganhou cada vez mais
reputação no mercado (GPTW, 2022).
53
baseia em raça que pode ocorrer em instituições, com promoção da igualdade racial e
de ações afirmativas;
● Eficientes (Pessoas com Deficiência): o objetivo é criar um ambiente de
negócios mais inclusivo para transformar positivamente a vida das pessoas com
deficiência.
A partir dos grupos, a proposta da Natura é amplificar as vozes representativas na
empresa e ter processos e benefícios cada vez mais inclusivos. Para potencializar a atuação dos
grupos e oferecer oportunidades de desenvolvimento, formalizou-se o papel das lideranças de
cada frente com metas atreladas ao seu desenvolvimento. São dois líderes de cada grupo,
colaboradores de distintas áreas da Natura, que agora dedicam parte de sua carga horária a essas
atividades e têm uma meta anual atrelada ao trabalho desenvolvido no grupo . Cada grupo
também conta com um representante da alta liderança como sponsor 10(NATURA, 2020).
Em 2021, com o objetivo de ter uma força produtiva tão diversa quanto o país onde atua,
a Avon Brasil lançou o Projeto DIVA (Diversidade + Avon), que engloba iniciativas focadas
na equidade étnico-racial, atraindo novos talentos e investindo no desenvolvimento da equipe.
O DIVA promove a conscientização do tema entre líderes, funcionários, força de vendas,
parceiros e clientes. Uma das primeiras atividades foi a criação de um evento virtual no canal
do YouTube da Avon conhecido como “Divas da liderança”, que promoveu atividades, mesas-
redondas e pocket classes focados na equidade étnico-racial e de gênero, e incluiu temas como
ancestralidade, poder pessoal, crenças limitantes, inteligência emocional, gestão de pessoas e
marca pessoal. O projeto DIVA ajudará a Avon Brasil a alcançar a meta de 30% de mulheres
negras em cargos de gestão até 2023 (NATURA, 2021).
Para promover mais diversidade e inclusão em todas as marcas grupo Natura &Co,
formado por Natura, Avon e The Body Shop, a companhia criou o Programa Avante, de
aceleração de carreira dos funcionários que se autodeclaram pretos ou pardos.
A proposta é aumentar a presença de pessoas negras em posições gerenciais da equipe
no Brasil, valorizando a potência desses profissionais. Para ter resultados efetivos, o Avante
começou a ser estruturado em 2021 considerando as barreiras que as pessoas negras encontram
ao longo da carreira. Em seguida, em janeiro, um processo seletivo interno foi iniciado. Dos
10
Sponsor(ou patrocinador) é uma pessoa ou um grupo de pessoas que fornece recursos e suporte
financeiro para o projeto.Pela definição do PMBOK® “Uma pessoa ou grupo que fornece os recursos e suporte
para o projeto, programa ou portfólio, sendo responsável pelo sucesso do mesmo” (ARTIA, 2022).
56
173 inscritos, 30 foram selecionados, sendo 77% mulheres, de todas as regiões do Brasil e
marcas do grupo (EXAME, 2022).
Com o objetivo de acelerar a carreira de funcionários negros, visando amplificar a
representatividade de pessoas pretas em posições gerenciais, o projeto consiste em etapas de
desenvolvimento individual, mentorias e workshops para que os profissionais desenvolvam
habilidades e competências necessárias para assumir cargos de liderança no médio a curto prazo
(EXAME, 2022).
De acordo com a figura apresentada no Relatório Anual de 2019, 32% dos colaboradores
da Natura são autodeclarados negros (pretos e pardas). Desse total, 0,6% estão no nível
Gerencial, 12,4% no Administrativo e 18,9% no Operacional (NATURA, 2019).
estimulados a gerar diferenciação e valor para o negócio por meio de habilidades técnicas e
pessoais (EXAME, 2022).
Nessa direção, o compromisso era de aumentar a representatividade étnico-racial no
quadro de colaboradores nos diferentes cargos da empresa, buscando entender as diferentes
questões étnicas de cada localidade onde a empresa atua (NATURA, 2010).
O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) divulga anualmente
o Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH), que contém dados e análises sobre questões
como acesso da população a direitos como saúde e educação em todo o mundo. Mas o que
sempre chama mais atenção no relatório é o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), famoso
ranking que gera notícia toda vez que o Brasil sobe ou desce degraus - na última edição, em
dezembro (2020), o país caiu cinco posições e ficou em 84º entre 189 países (UOL, 2021).
O IDH é uma ferramenta criada em 1990 para medir o progresso das nações sem ter
indicadores escancaradamente econômicos, como o PIB, no centro da questão. A Natura queria,
então, adaptar esse índice para avaliar a qualidade de vida de suas revendedoras, as chamadas
consultoras Natura. Em 2013, O economista e ex-consultor do PNUD, Flávio Comim,
desenvolveu, a partir de paradigmas da ONU, o Índice de Desenvolvimento Humano de
Consultoras e Consultores Natura (IDH-CN). Ou seja, a metodologia original do IDH foi
adaptada para fins corporativos (UOL, 2021).
A Natura identificou que esse índice é menor para consultoras negras que têm, em
média, uma renda familiar menor, em relação a consultoras brancas. Trata-se de um universo
de 1,2 milhão de pessoas espalhadas pelo país. São 92% mulheres, 67% casadas, 78% com
filhos. Em média, têm 12,4 anos de estudo, ante 9,3 anos do brasileiro em geral. A empresa
passa a se comprometer com a promoção de meios para o aumento da renda de consultoras
negras, por meio do seu modelo de negócios. Paralelamente, com o apoio do Movimento
Natura, programa que investir em educação, intensificará os programas de letramento racial e
acolhimento às vítimas de discriminação racial e a formação já está disponível para toda a base
de consultoras. Além disso, a empresa vai estender a central de acolhimento para Consultoras
vítimas de violência doméstica para atender também casos de racismo – com auxílio
psicológico, social e jurídico (EXAME, 2020).
Em paralelo, a empresa está trabalhando com consultorias de recursos humanos
especializadas em diversidade étnico-racial, para atrair mais mulheres negras para a Força de
Vendas (consultoras). Além das iniciativas de atração, busca-seagora impulsionar as ações que
61
garantam o desenvolvimento desses colaboradores, para que cada vez mais eles ocupem cargos
em todos os níveis da empresa (NATURA, 2020).
4.2 AMBEV
2. Nossa gente é a nossa força. Pessoas excelentes que são reconhecidas e crescem no
Nossa gente ritmo do seu talento. Grandes talentos entregam o hoje e transformam para o futuro.
3. Selecionamos, desenvolvemos e retemos pessoas que podem ser melhores que nós.
Somos reconhecidos pela diversidade e entrega de nossos times.
7. Buscamos atender com excelência e criar parcerias sólidas com os nossos clientes,
que são a conexão com cada consumidor(a).
62
Com uma cultura organizacional guiada por esses valores, a empresa vem desde 2019
buscando ser uma empresa que “gera valor para toda a sociedade direciona nossas decisões de
negócio e impacta em todo o ciclo: no modo como nos relacionamos com stakeholders, na
forma de fazer produtos, de vendê-los e de nos conectarmos aos consumidores” (AMBEV,
2020).
Em 2018, a Ambev fez uma mudança na estrutura hierárquica da empresa para
fomentar o crescimento orgânico e a iniciativa ganhou o nome de Organizing for Growth11. O
termo, traduzido do inglês para crescimento organizacional, é um estágio que uma empresa
atinge quando pode considerar a expansão e pode buscar opções adicionais para gerar mais
receita. O crescimento organizacional é frequentemente uma função das tendências de
crescimento da indústria, do ciclo de vida dos negócios e do desejo dos proprietários de criação
de valor patrimonial. Há muitas maneiras pelas quais uma empresa ou organização pode
alcançar o crescimento (INDEED, 2021).
Foram criadas unidades de negócio independentes para cada um dos seis países em
que operam. A mudança vem ao encontro do conceito de dono, um dos pilares da cultura
Ambev. Outro programa que obteve destaque em 2018 foi o Comitê de Gente, uma iniciativa
que começou há sete anos no setor de supply chain com ótimo resultado, agora expandido para
vendas. Trata-se de colher informações detalhadas das necessidades dos times nas operações e
fazer uma avaliação de como essas necessidades são abordadas (AMBEV, 2019).
Em seu modelo de negócio, o pilar ‘Nossa Gente’ é tratado evidenciado como
“apostamos na criatividade e na autonomia da nossa gente. Diversidade, empatia, aprendizado
11
As empresas precisam decidir quanto e quando a personalização local deve superar os padrões globais
e os benefícios da escala, levando em consideração fatores como o produto ou serviço que está sendo criado, as
condições de mercado, a cultura interna e as habilidades dos gerentes envolvidos. Em alguns casos, a
personalização necessária pode ser tão pequena quanto permitir que as pessoas trabalhem em um idioma local; em
outros, tão grande quanto criar uma unidade de negócios totalmente nova com diferentes fornecedores e clientes
(traduzido e adaptado de McKinsey, Preparing your organization for growth, 2011).
63
e empreendedorismo estão no centro da nossa receita. Em 2020, foram mais de 1,2 milhão de
horas de treinamentos para 25.432 pessoas no Brasil” (AMBEV, 2020).
Com metas compartilhadas e trabalhos conduzidos em equipe, desde 2019 a área de
Gestão e Gente tem focado sua atuação em três grandes frentes que fortalecem sua cultura de
inovação:
● A disponibilização de estruturas mais modernas e investimentos contínuos em
tecnologia e a aplicação de uma cultura de metodologias ágeis;
● O recrutamento e desenvolvimento de talentos do futuro, com mapeamento de
competências a serem desenvolvidas dentro do nosso time e olhar voltado para a
diversidade e para uma cultura de aprendizado contínuo;
● Otimização da experiência dos funcionários, que prioriza processos mais
simplificados e com menos burocracias, garantindo uma experiência mais produtiva e
leve.
Desde 2021, a empresa anunciou que estava iniciando um momento de evolução
cultural, guiada por 3 novos principais valores que os guiarão para serem a Ambev que
acreditam: “Escuta Ativa, Colaboração e Visão de Longo Prazo, cada um abarcando outras
competências que devem fazer parte do nosso jeito de ser. Queremos continuar com a nossa
capacidade de realização, a energia e a paixão que nos trouxeram até aqui, mas precisamos ir
além.” (AMBEV, 2021).
trazido no levantamento de 2019, foi o baixo número de mulheres e de negros sócios da empresa
(AMBEV, 2020).
O Censo de 2021 mostrou que 48% da população geral da Ambev são pessoas negras
(pretas e pardas); 47% são brancas; 1,2% amarelos; e 0,6% indígena. Em cargos de liderança,
25% se autodeclaram negros. São formados também 75% de homens (cis ou trans) e 25% de
mulheres (cis ou trans). Em cargos de liderança, 36% são mulheres, número 50% maior do que
cinco anos atrás. Há também mais de 100 pessoas trans contratadas (AMBEV, 2022).
Nos últimos anos, a Ambev reconheceu que tinha uma longa jornada pela frente sobre
a temática racial e assumiu compromissos importantes para promover uma agenda de equidade
dentro e fora da companhia. Segundo a empresa, sua jornada de rumo à equidade racial é
recente, mas já começou a deixar legados importantes e tem objetivos claros para os próximos
anos (AMBEV, 2022).
66
Figura 18 – Afro empreendedores: a plataforma que conecta afro empreendedores á grandes empresas
O Programa de Estágio tem como foco atrair jovens talentos, treiná-los, engajá-los e
estimulá-los. No processo de atração, a companhia tem os programas Next e Liga dos
Estagiários, que são baseados em estruturas de empresas juniores para que os jovens tenham
autonomia para aprimorar sua própria carreira, além de receberem um acompanhamento que
gera conhecimento. Pelo Next, o estagiário tem oportunidades únicas, como bate-papo com o
presidente e a diretoria, autonomia para conduzir um projeto da área. Em 2018, 62 jovens
passaram pelo programa Next. Já a Liga de Estagiários é uma iniciativa gerida pelos próprios
estudantes com o objetivo de desenvolver o potencial total de cada um por meio do
envolvimento em projetos de impacto no negócio (AMBEV, 2019).
Em 2021, o Programa de Estágio Ambev, foi dividido entre Jornada #AlémDosRótulos,
Ambev Expo e Day Challenge. Elementos que combinados, permitiram a estreia do metaverso
12
corporativo.
12
Metaverso nada mais é do que um espaço coletivo e compartilhado na web associado a tecnologias que
recriam a experiência física no ambiente digital, formando relacionamentos que são, ao mesmo tempo, online e
offline. O recurso nasce como uma estratégia omnichannel, interligando diferentes ferramentas para estreitar a
relação físico-digital e aprimorar a experiência do usuário (FORBES, 2021).
74
Este tipo de processo gamificado é bem parecido com o famoso story das redes sociais,
e permite aos candidatos conhecerem mais sobre a empresa e responder a diversos tipos de
desafios de lógica, fit/match cultural, segundo a PushStart, empresa responsável por vários
processos seletivos gamificados da Ambev/AbInbev ao longo de 2021 no Brasil e na América
Latina (PUSHSTART, 2021).
O processo foi uma oportunidade também de conhecer a cadeia produtiva do campo
ao copo, através de textos explicativos e vídeos com a participação de colaboradores da Ambev
de diferentes áreas. A Jornada Além dos Rótulos contou também com uma versão PCD, para
que os candidatos com deficiência pudessem ser incluídos no processo seletivo. Essa Jornada
já vem sendo utilizada há muitos processos, ficando cada vez mais robusta e sólida em seus
resultados tanto na seleção de participantes, como um NPS (Net Promoter Score, ou Pontuação
do Promotor Líquido) de excelência, mostrando como a gamificação é uma ótima ferramenta
em processos de recrutamento e seleção (PUSHSTART, 2021).
Segundo a PushStart, em um metaverso Ambev, os candidatos puderam criar o seu
próprio avatar (representação da imagem dos jogadores dentro de um game ou plataforma) com
mais de 20 milhões de possibilidades de customização com diferentes tipos de cabelo, roupa,
acessórios e tons de pele. Além disso, era possível falar com NPCs (personagem não jogável)
que representavam os colaboradores Ambev. Ao falar com cada NPC os candidatos podiam
saber mais sobre a própria Ambev, receber dicas sobre o Day Challenge, como usar o Zoom,
como participar de uma dinâmica de grupo e muito mais (PUSHSTART, 2021).
A etapa Ambev Expo contou também com vídeos e materiais sobre a área de interesse
(Business, Supply ou Tech), e acesso à área do happy hour digital para falar com outros
candidatos dando dicas sobre o grande dia (PUSHSTART, 2021).
Para universitários negros, a Ambev criou o Representa, um programa de estágio
exclusivo e complementar ao nosso programa de estágio tradicional, com o intuito de derrubar
barreiras à representatividade negra na companhia.
75
Estágio
Representa 2020
Estágio
Representa 2021
Estágio Ambev
2022
Estágio
Representa 2022
Estágio Ambev
2022
Estágio
Representa
2022
Trainee Ambev
2013
Trainee Ambev
2016
Trainee Ambev
2017
Trainee Ambev
2018
80
Trainee Ambev
2019
Trainee Ambev
2019
Trainee Ambev
2021
Trainee Ambev
2021
81
Trainee Ambev
2022
Trainee Ambev
2022
muitas conquistas e isso só é possível graças ao trabalho mão na massa, atitude de dono e o
espírito coletivo, presentes no DNA do Magalu (99JOBS, 2021).
13
Equânime: diz-se de quem julga com serenidade, moderação, equidade, compreensão, humanidade,
retidão, imparcialidade (VADE MECUM BRASIL, 2022).
84
segundo a empresa, como infrações que levam ao afastamento imediato do colaborador por
justa causa.
Um canal específico foi criado, em junho de 2017, para receber reclamações desse
tipo. Em 2019, cinco denúncias de assédio foram analisadas e três delas foram julgadas
procedentes. Os colaboradores envolvidos foram penalizados de acordo com a política de
consequências da companhia. Foram cinco incidentes de discriminação. Além do Canal da
Mulher, exclusivo para violência doméstica, o Magalu conta com outros dois canais para
manifestações dos colaboradores. Um deles é o Disque Luiza, diretamente ligado à presidente
do Conselho de Administração, Luiza Helena, que faz questão de dar retorno a todos os
denunciantes. Por isso, é solicitado que os colaboradores se identifiquem (MAGAZINE
LUIZA, 2019).
ordenamento pátrio. A referida empresa foi pioneira na abertura de seleção para cargos
gerenciais exclusivamente para negros (RESENDE, TOSTES, 2021).
No processo de recrutamento divulgado pela empresa, há a justificativa de que o
histórico da população negra brasileira, a anulação de tais pessoas e a ausência de
oportunidades, justificam a ação afirmativa empresarial. O debate acerca do trainee abriu uma
disputa nas redes sociais entre os que elogiaram a medida e os que acusaram a empresa de
“racismo reverso”14 com brancos, usando a hashtag #MagazineLuizaRacista.
Figura 26 - Divulgação do Trainee Magalu 2022
14
A expressão racismo reverso, semanticamente vazia, circula no mundo desde pelo menos os anos 1970,
justamente quando começa o processo de aquisição de direitos pela população negra nos Estados Unidos. A
expressão surge como discurso de oposição aos direitos civis conquistados pelos negros. Logo no início dos anos
1970, movimentos supremacistas brancos passaram a denunciar um suposto "genocídio branco", "que seria
promovido por casamentos interraciais, com o negro ocupando lugares de destaque na sociedade (TAB UOL,
2021).
89
Uma pesquisa feita pela Refinaria de Dados, empresa especializada na coleta e análise
de informações digitais, 38% das menções feitas ao tema foram positivas, ante 17% negativas
– o que reflete até uma mudança no comportamento da sociedade, cada vez mais preocupada
com a pluralidade. Há um novo perfil de consumidor, que se mobiliza por questões ambientais,
raciais ou de diversidade de gênero (ESTADÃO, 2020).
A pesquisa contemplou dados do período 17 de Setembro de 2020 até 24 de Setembro
de 2020, buscou analisar a polaridade de publicações relativas ao programa de trainee anunciado
pela Magalu em 18 de setembro, feito em parceria com a Agência Fato Relevante e Fórum
Brasil Diverso. Durante o período observado, foram analisadas postagens de 386 mil usuários
sobre o assunto nas principais redes sociais (Facebook, Twitter, Instagram e Linkedin), a
maioria (38%) sendo menções positivas, mas o percentual de menções negativas foi alto, sendo
17% foram identificadas como negativas (REFINARIA DOS DADOS, 2020).
Segundo a análise, ao avaliar o conteúdo e keywords (palavras-chave) relacionadas mais
utilizadas nas postagens, encontramos em primeiro lugar a palavra programa, tendo sido
mencionado em 17 mil publicações, seguida de ‘vaga’ (também com 17 mil menções),
‘trainee’, ‘ação’ e ‘minoria’ com 14 mil menções cada, ‘impacto’ ‘social’ seguem com 11 mil
menções. Quando observamos de perto outras palavras relacionadas aos termos mais
mencionados, encontramos as seguintes palavras:
O número de candidatos sempre foi baixíssimo. Por isso a decisão de criar um programa
exclusivo (CNN BRASIL, 2020).
Além da forte repercussão nas redes sociais e mídia, ao todo foram recebidas 11
denúncias em que a varejista é acusada de promover “prática de racismo”, uma vez que, nas
palavras de um dos denunciantes, “impede que pessoas que não tenham o tom de pele desejado
pela empresa” participem do processo seletivo (INFOMONEY, 2020).
Para o MPT, a política da empresa é legítima e não existe ato ilícito no processo de
seleção, já que a reserva de vagas à população negra é plenamente válida e configura ação
afirmativa, além de “elemento de reparação histórica da exclusão da população negra do
mercado de trabalho digno”. Essa exclusão, segundo o Ministério Público, se traduz na falta de
oportunidades de acesso ao emprego, na desigualdade de remuneração e na dificuldade de
ascensão profissional, “quando comparado aos índices de acesso, remuneração e ascensão
profissional da população branca” (INFOMONEY, 2020).
O MPT também ressaltou no indeferimento que ações afirmativas como a do Magazine
Luiza possuem amparo na Constituição Federal, no Estatuto da Igualdade Racial (lei
12.288/2010) e na Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as Formas de
Discriminação Racial, da qual o Brasil é signatário. Além disso, são objeto de atuação
estratégica e prioritária do próprio MPT, por meio do Projeto Nacional de Inclusão Social de
Jovens Negras e Negros no Mercado de Trabalho, consolidado em 2018 na Nota Técnica do
Grupo de Trabalho de Raça (INFOMONEY, 2020).
Para o ano de 2022, não poderia ser diferente. O Programa de Trainee 2022 foi iniciado
em 2021 em nova parceria com a 99jobs. A empresa responsável pelo processo anterior, fez
uma pesquisa para entender a perspectiva dos aprovados, levando um diagnóstico para a
liderança do Magalu. Os ajustes necessários foram discutidos abertamente, mas, o que
realmente importa é que o movimento de reparação social e inclusão está sendo construído a
várias mãos, com espaços para vozes pretas ecoarem e também promoverem as transformações
mais que necessárias dentro de ambientes com alto potencial de impulsionar mudanças sociais
(99JOBS, 2021).
92
e uma visão de todo o negócio. Além disso, durante todo o programa terão um curso de inglês,
acompanhamento e apoio de mentores que irão auxiliar a atingir os melhores resultados
(99JOBS, 2022).
Além do manifesto sobre o programa evidenciado na plataforma da 99jobs.com e nas
redes sociais do Magalu, a empresa fez um vídeo do Trainee 2021 chamado “Legado”,
conforme abaixo:
Figura 31 - Programa de Desenvolvimento do Trainee Magalu 2022
costumam virar analistas seniores em alguma área da empresa, cargo abaixo de uma posição de
liderança.
Quadro 9 - Evolução da Divulgação dos Programas de Trainee Magalu 2011-2022
2011
Programa
Trainee
Magazine Luiza
“Vem ser
2014
Trainee”
Magazine Luiza
“Vem ser
Trainee” 2015
Magazine Luiza
Trainee
Magazine Luiza 2017
95
Trainee
Magazine Luiza
2018
Trainee
Magazine Luiza
2019
Trainee
Magazine Luiza
Exclusivo para 2021
negros
Trainee
Magazine Luiza
Exclusivo para 2022
negros
Neste contexto, independente do real desejo por trás desse movimento que moveu até
outras grandes companhias a criação de processos semelhantes, seja por estratégia de marketing
ou por benchmarking, em comum, essas empresas buscaram ampliar a diversidade dos novos
funcionários e, principalmente, prepará-los para que ocupam novas posições e cargos de
liderança.
A ideia da empresa é que, nos cargos de liderança, presente no corporativo dos
escritórios, o número de pessoas negras represente a demografia brasileira, ou seja, 56,1% do
quadro. Esses números apresentados hoje pela companhia não eram uma realidade em setembro
de 2019 quando o Magalu decidiu adotar uma política de diversidade. (UOL, 2021).
Com intuito de atender aos três objetivos específicos delimitados por esse trabalho: a)
Conhecer as práticas de employer branding das empresas como um estímulo para inclusão de
profissionais negros e negras em seu quadro de colaboradores; b) Mapear as formas de
promoção ao respeito à diversidade étnico-racial no ambiente organizacional; c) Comparar se
as informações acerca das ações e práticas destas empresas estão perceptíveis e possuem valor
para o público-alvo; neste tópico serão explicitadas as análises resultados foram analisados as
etapas coletadas de ponto de contato da jornada do colaborador na employee experience de cada
política e estratégias de employer branding, levando em consideração as seguintes variáveis:
Gestão da Diversidade, Grupos de afinidade, Política de diversidade e Recrutamento e Seleção.
Com este grupos nas empresas, ajudar a fomentar um sentido de comunidade entre os
trabalhadores negros. Ao reunir empregados com experiências, interesses e objectivos
partilhados, estes grupos podem ajudar a criar um sentido mais forte de pertença e de ligação
dentro da organização. Além de desempenharem um papel importante na promoção da
diversidade e dos objetivos de inclusão, sensibilizando os trabalhadores negros, educando os
colegas sobre a cultura e história negras, e promovendo a competência cultural e a inclusão no
local de trabalho. Atuam como uma consultoria interna, que ajuda a empresa validar iniciativas,
posicionamentos e políticas de inclusão.
Em todas as organizações analisadas os grupos de afinidade foram as primeiras ações
tomadas com foco na diversidade e os responsáveis por impulsionar a mudança. Os grupos de
afinidade podem também ser uma força poderosa para impulsionar a mudança dentro da
organização. Ao defender políticas e programas que apoiam o avanço dos trabalhadores negros,
estes grupos podem ajudar a promover uma cultura mais inclusiva e equitativa no local de
trabalho.
No Quadro 10 foram elucidadas os fatores-chave que a inclusão de um grupo de
afinidade pode acrescentar dentro das empresas:
Quadro 10 – Política de diversidade étnico-racial com participação da liderança
Fatores-chave Descrição
Apoio nas fases de Os grupos de afinidade podem também desempenhar um papel no apoio
Recrutamento, Seleção e a aos esforços de recrutamento e retenção. Ao promover o empenho da
Retenção organização na diversidade e inclusão, e ao criar um ambiente
acolhedor e de apoio aos empregados negros, estes grupos podem
ajudar a atrair e reter os melhores talentos.
Sistema de apoio/consultoria Podem ser uma ferramenta valiosa no apoio à diversidade e inclusão
interna dos negros nas empresas ao fornecer um sistema de apoio, fomentar um
sentido de comunidade, promover a diversidade e os objectivos de
inclusão, impulsionar a mudança e apoiar o recrutamento e a retenção,
podendo ajudar a criar uma cultura de trabalho mais diversificada,
equitativa e inclusiva.
Fundamental no papel social das Não podemos desconsiderar que as organizações têm um papel
organizações importante a desempenhar na promoção de políticas e práticas que
apoiam e elevam a população negra. Eis algumas das principais formas
através das quais as organizações podem promover políticas para a
população negra é com a criação de políticas de D&I que abordem
explicitamente os desafios únicos enfrentados pelos trabalhadores
negros e assegurar que as suas vozes sejam ouvidas e valorizadas.
Promoção e valorização da As organizações podem promover um ambiente de trabalho de apoio
diversidade que valoriza a diversidade e fomenta um sentimento de pertença para
todos os empregados. Isto inclui proporcionar um local de trabalho
seguro e inclusivo onde todos os empregados, incluindo os empregados
negros, se sintam confortáveis em ser eles próprios e em partilhar as
suas experiências.
Benefícios no ambiente externo Isto não só beneficia os trabalhadores e comunidades negras, mas
também a organização como um todo, promovendo a diversidade,
equidade e inclusão e fomentando uma cultura de trabalho mais
solidária e inclusiva.
103
Benefícios no ambiente externo As organizações podem usar a sua influência para defender mudanças
políticas a nível local, estadual e federal que apoiem os negros e
enfrentem o racismo estrutural. Isto inclui o apoio a iniciativas que
abordem questões como a reformas por meio de políticas públicas,
isenções tributárias, e fomento da empregabilidade no mercado.
Fonte: elaborada pela autora, em 2022.
A partir destes dados, podemos entender que para criar uma cultura diversa e inclusiva
dentro das organizações e comunicá-la de forma clara na jornada do employee experience é de
demasiada complexidade, mas com os grupos de afinidade o processo se torna mais concreto,
simples e democrático pois a empresa consegue dar voz para colaboradores e atrair novas
pessoas. A empresas analisadas têm tratado a diversidade como prioridade e investido em
práticas inclusivas, em especial a partir de processos seletivos afirmativos.
O problema é quando as organizações se concentram exclusivamente em captar esses
colaboradores e se esquecem de um detalhe: como podemos manter esses talentos engajados,
acolhidos e crescendo profissionalmente dentro da corporação?
Pois um programa de diversidade e inclusão bem-sucedido inclui diferentes práticas e
demanda um planejamento que vai além de ações isoladas de recrutamento, e para isso, faz-se
necessário:
I. Alinhamento com a cultura da empresa;
II. Liberdade dos funcionários para criação dos grupos de afinidade e suas
iniciativas;
III. Acomapanhamento próximo das estratégias de D&I da empresa com o grupo de
afinidade no curto e longo prazo;
IV. Dar espaço e voz para esses grupos agregarem em cada etapa da jornada
colaborador, desde a atração até a retenção e desenvolvimento dos colaboradores
e possíveis candidatos;
V. Proporcionar um ambiente acolhedor para que aliados, e não somente pessoas
negras participem dessas iniciativas, pois é necessário um engajamento da
empresa como um todo.
Ambev 2020 Formação do Comitê de Equidade Racial com especialista externos e liderança
interna
Ambev 2020 Plano com criação de 13 objetivos, com formas de mensuração e prazos de
atingimento claros
Ambev 2020 De Portas Abertas para profissionais negras e negros
Magalu 2020 Workshop para capacitação de toda a liderança e da equipe de Recursos Humanos do
Magalu
Magalu 2021 Mentoria exclusiva para candidatos negros
Natura 2020 Programa de estágio com foco em equidade oferecendo mentoria conduzida por
colaboradores negros
Natura 2020 Mentoria exclusiva para candidatos negros
Natura 2019 Programas de estágio diferenciado (mentorias, sem inglês como pré-requisito)
107
Natura 2019 Cursos de inglês gratuitos para os candidatos não aprovados no programa de estágio
Natura 2020 Programa de estágio com foco em equidade oferecendo mentoria conduzida por
colaboradores negros
Natura 2020 Adaptação do Programa de estágio com inscrição e chatbot no Facebook
15
Modus operandi é uma expressão em latim que significa "modo de operação".
Utilizada para designar uma maneira de agir, operar ou executar uma atividade seguindo
geralmente os mesmos procedimentos.
108
processo de seleção justo e imparcial pode ajudar a criar uma imagem positiva
da organização.
• Envolvimento dos empregados: o nível de envolvimento e satisfação dos
empregados é outro factor chave na análise da marca do empregador. Uma mão-
de-obra empenhada e satisfeita tem mais probabilidades de falar positivamente
sobre a organização, o que pode ajudar a melhorar a sua reputação como
empregador.
• Reputação e visibilidade: a reputação e visibilidade da organização na indústria
e entre os potenciais empregados é um fator importante na análise das estratégias
de employer branding adotadas. Isto inclui fatores como a sua presença online,
cobertura midiática, e reputação geral no mercado como o Ranking MERCO
utilizado na coleta de dados.
Ao analisar estes fatores e identificar áreas de melhoria, as organizações podem
desenvolver estratégias para reforçar a sua marca e melhorar a sua reputação. As organizações
apresentaram mostraram-se eficientes ao seguir estes passos, pois estão lapidando em um
mercado cada vez mais acirrado e competitivo, seja com empresas nacionais ou internacionais,
uma estratégia de marca empregadora que demonstra o compromisso da sua organização com
a diversidade e inclusão de profissionais negros, e que ajude a atrair e reter os melhores talentos
negros do mercado.
114
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