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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE FÍSICA

COMPUTAÇÃO E INFORMAÇÃO QUÂNTICA I - PPG - UFF

GABRIEL DE OLIVEIRA ESTEVES DIAS

COMPUTAÇÃO QUÂNTICA COM ÓPTICA


NÃO-LINEAR

NITERÓI
2022
LISTA DE FIGURAS

1 Representação do processo de conversão paramétrica descendente. Retirada


e adaptada de [1] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
2 Esquema de beamsplitter mostrando duas portas de entrada e duas de saída
[2]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BS Beamsplitter

CPD Conversão Paramétrica Descendente


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

2 CONCEITOS BÁSICOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
2.1 Óptica não-linear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
2.2 Conversão paramétrica descendente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
2.3 Fotodetectores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
2.4 Manipulação dos estados dos fótons . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

3 FÓTONS E QUBIT . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
3.1 Modos espaciais e de polarização como qubits . . . . . . . . . . . . . . . . 11
3.2 Operações sobre um qubit . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

4 COMPUTAÇÃO QUÂNTICA E ÓPTICA NÃO-LINEAR . . . . 13


4.1 Phase Shifter . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
4.2 Beamsplitter -BS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
4.3 Meio Kerr não-linear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

5 CONCLUSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
4

1 INTRODUÇÃO

A teoria da computação clássica que permeia até os dias de hoje, teve seu desen-
volvimento por volta de 1930, com seus principais nomes sendo Alan Turing e Alonzo
Church, mesmo eles tendo desenvolvido modelos teóricos distintos, o objetivo de de-
finir de forma eficiente a resolução de tarefas através de algoritmos matemáticos era
o mesmo. De forma básica, a computação clássica se baseia no processamento da
informação codificada em bits.

Com tudo, nas últimas décadas vem surgindo um novo estilo de computação,
onde se embasa em conceitos e efeitos da mecânica quântica, com o intuito de se
implementar mais potência e funcionalidade no processo de informação de forma
similar a computação clássica, mas codificadas nos chamados qubits (bits quânticos).

No entanto, a construção de um computador quântico exige um extremo controle


dos estados quânticos, junto ao desenvolvimento de dispositivos que sejam capazes
de manipular esses estados com uma boa precisão, devido a fragilidade desses esta-
dos quânticos e sua interação com o meio. Dessa forma o desenvolvimento de um
computador quântico é extremamente complexo, visto que há necessidade de termos
qubits físicos estáveis, juntamente com sistemas quânticos de dois níveis que devam
ser bem isolados do ambiente e ao mesmo tempo sejam acessíveis para medição e
controle, para que possa ser possível implementar portas lógicas universais e assim
haver o processamento de informação.

Diversos sistemas físicos podem ser utilizados para implementar essa computa-
ção, tendo o qubit como meio básico para isso e o que irá ser utilizado como qubit
irá depender do sistema utilizado. Neste trabalho iremos abordar de forma introdu-
tória a implementação da computação quântica através da óptica não-linear, onde
teremos como qubits modos ópticos dos fótons, como o espacial e o de polarização.
5

2 CONCEITOS BÁSICOS

Antes de entrar no assunto principal deste trabalho, é necessário definir certos


conceitos, que o permeiam. Já foi mencionado que considerar os modos ópticos do
fóton como fonte de nossos qubits, assim se faz necessário uma breve definição de
como se pode produzir fótons únicos [3], a matemática por trás da detectação desses
fótons e como manipular seus estados.

2.1 ÓPTICA NÃO-LINEAR

Antes da discussão da presença da óptica não-linear na computação quântica, é


necessário entender minimamente o que é considerado óptica não-linear. Essa área
consiste no estudo dos efeitos gerados por conta da modificação das propriedades
ópticas de um material por conta da presença de luz [3]. O tipo de luz que é mais
usada para esse estudo é a luz laser, por ela ser suficientemente intensa de tal forma
que ela consegue ocasionar essa mudança nas propriedades ópticas do material. Esse
efeito de não-linearidade do material ocorre por conta do meio do material, ter uma
resposta não-linear com o campo elétrico óptico [4].

De forma a entender melhor o que seria a não-linearidade óptica, considere um


material com um momento de dipolo por unidade de volume P(t) (ou polarização),
que dependa do campo elétrico, E(t), aplicado sobre ele. Se formos considerar o caso
da óptica linear, teríamos a polarização dependendo linearmente do campo elétrico,
descrita da seguinte forma:
P(t) = 0 χ(1) E(t), (2.1)

onde 0 é a permissividade do vácuo e χ(1) é a susceptibilidade linear. Agora levando


em conta o caso da óptica não-linear, a maneira como a polarização depende do
campo elétrico pode ser descrita por uma forma mais geral da Equação 2.1, onde a
polarização é expressa através de uma série de potências do campo elétrico:

P(t) = 0 [χ(1) E(t) + χ(2) E2 (t) + χ(3) E3 (t) + ...], (2.2)

onde χ(2) e χ(3) são as susceptibilidades ópticas de segunda e terceira ordem [4],
6

sendo elas tensores de ordem 2 e ordem 3, respectivamente, já que o campo elétrico


e a polarização são grandezas vetoriais. Assim, através da Equação 2.2 é possível
ver um dependência da polarização em relação ao campo elétrico que não é mais
linear.

2.2 CONVERSÃO PARAMÉTRICA DESCENDENTE

A conversão paramétrica descendente (CPD) é um processo relacionado a óptica


não-linear, que possibilita a produção de fótons únicos [3]. Para a ocorrência desse
processo é necessário o bombeio de um feixe laser intenso, com frequência ωp , sobre
um meio não-linear (um cristal, por exemplo) que possua um susceptibilidade óptica
de segunda ordem, de tal forma que o feixe de bombeio é aniquilado e convertido
em outros dois fótons gêmeos e emaranhados, sinal e complementar, de frequências
menores dadas por ωs e ωc respectivamente. Geralmente o emaranhamento obser-
vado nesses fótons é observado considerando a polarização como grau de liberdade.
Esse processo é ilustrado na Figura 1.

Figura 1: Representação do processo de conversão paramétrica descendente. Reti-


rada e adaptada de [1]

De tal forma que ωb = ωs + ωi . Na visão quântica, esta relação expressa a


conservação de energia no processo, indicando que um fóton do feixe de bombeio
é aniquilado e convertido em outros dois fótons. O Hamiltoniano que descreve o
processo de CPD é dado por [3]:

H =∝ eiθ χ(2) âkp,ωp â†ks,ωs â†ki,ω + e−iθ χ(2) â†kp,ωp âks,ωs âki,ωi , (2.3)
i

onde θ é uma fase para tornar a Equação 2.3 mais geral, â e ↠são os operadores de
aniquilação e criação do formalismo do oscilador harmônico quântico. É natural que
7

esses operadores apareçam, devido ao fato de que a dinâmica do campo quantizado


é mapeado na dinâmica de infinitos osciladores harmônicos.

O fóton de bombeio pode ser descrito por um estado coerente, |αi, dado por:

2 /2
X αn
|αi = e−|α| √ |ni , (2.4)
n=0 n!

com |ni sendo os autoestado de energia de n-fótons. Estamos levando em conta


que o feixe de bombeio é intenso, para que ocorra a CPD, assim o estado do fóton
pode ser descrito por um estado coerente clássico [3], de tal forma que âkp,ωp →
αp . Agrupando todos os fatores em um único número complexo ξ ∝ αp χ(2) eiθ , a
Hamiltoniana que descreve o processo de CPD, toma a seguinte forma:

HCP D =∝ ξâ†ks,ωs â†ki,ω + ξ ∗ âks,ωs âki,ωi . (2.5)


i

Podemos ver na Equação 2.5 que o operador do bombeio, acabou virando um parâ-
metro da Hamiltoniana e também que os fótons de bombeiam foram convertidos em
dois fótons com energias mais baixas, como já mencionado, por isso esse processo
recebe o nome de conversão paramétrica descendente.

2.3 FOTODETECTORES

Os dispositivos capazes de realizar a detectação de fótons, são conhecidos como


fotodetectores, esses dispositivos são capazes de gerar um sinal macroscópico quando
atingidos por um fóton, esse sinal nada mais que um pulso elétrico que é registrado
e processado por algum tipo de dispositivo de aquisição de dados. Considerando
uma situação ideal, onde todo fóton que atinge o detector é capaz de produzir um
sinal no mesmo sem a ocorrência de sinais fantasmas [3], é possível definir dois tipos
de fotodetectores, um de número de fótons e um sem resolução de número.

Pensando no caso do fotodetector de número de fótons, que fornece quantos


fótons existem em um determinado modo óptico, os resultados de detectação pos-
síveis estão relacionados a um POVM (P̂ (n) ). Esse tipo de formalismo de medida é
adequado para descrever experimentos onde o sistema é medido uma única vez e,
portanto, não é de interesse o estado do sistema após a medida. No caso do detector
8

que estamos considerando, o nosso POVM será um operador projetor no estado de


Fock [3] de n fótons, dado por:

P̂ (n) = |ni hn| , (2.6)

de tal forma que a probabilidade de detectar n fótons em um estado de entrada


misto ρ é dada por:
p(n|ρ) = T r[P̂ (n) ρ] = hn| ρ |ni , (2.7)

P̂ n = I, garante que a soma das probabilidades seja 1.


P
onde o fato de que n

Mas infelizmente esse tipo de detector é um caso quase hipotético, por conta da
imensa precisão que ele necessita ter, mas são de grande importância quando se
olha no ponto de vista do processamento de informação quântica, de tal forma que
a um imenso empenho na criação desses dispositivos. Agora um fotodetector sem
resolução de fótons, não consegue distinguir diferentes números de fótons, a única
coisa que consegue é indicar se há a existência de algum fóton ou não no modo
óptico.

2.4 MANIPULAÇÃO DOS ESTADOS DOS FÓTONS

Para que seja possível montar um circuito físico, no qual possamos simular o
processo de computação, é necessário que consigamos manipular os estados ópticos
dos fótons de nosso sistema, três dispositivos principais são espelhos, ’phase shifters’
e divisores de feixes (BS - do inglês beamsplitters) [2].

Os espelhos, altamente reflexivos no caso, refletem os fótons permitindo a mani-


pulação da trajetória dos mesmos. ’Phase shifter’ nada mais é que uma placa trans-
parente para a frequência do fóton de interece, que possui um índice de refração n
diferente do índice n0 do espaço livre, que o fóton estava propagando anteriormente.
A propagação em tal meio, por uma distância L, gera uma mudança de fase do fóton
de eikL , onde k = nω/c0 , sendo c0 a velocidade da luz no vácuo. Dessa forma se
compararmos um fóton se propagando uma distância L por uma ’phase shifter’, com
um fóton percorrendo a mesma distância L por um meio livre, esse que passou pelo
’phase shifter’ terá uma mudança de fase de ei(n−n0 )Lω/c0 , se comparado ao outro.
9

Figura 2: Esquema de beamsplitter mostrando duas portas de entrada e duas de


saída [2].

Um BS é dispositivo capaz de misturar dois modos ópticos distintos, como mostra


a Figura 2, ele consiste de um pedaço de vidro, onde uma fração R, da luz incidente,
é refletida e transmite 1 − R da luz incidente. É conveniente definir um ângulo θ
para o BS, dado por cos θ = R, onde esse ângulo serve como parametrização da
reflexão parcial, e não como um indicativo da orientação física do BS. Os feixes de
entrada e de saída de um BS, podem ser relacionados da seguinte forma:

aout = ain cos θ + bin sin θ

bout = −ain sin θ + bin cos θ, (2.8)

onde de forma clássica a e b são os campos elétricos de radiação de entrada (in) e


de saída (out).

Um último dispositivo bem útil, que é devido a óptica não-linear, é o meio Kerr
[4]. Ele consiste de um meio onde o índice de refração é proporcional a intensidade
total da luz I. De forma a entender melhor esse efeito e como ele está ligado a óptica
não-linear, iremos considerar um meio não-linear que leve em conta a contribuição
de terceira ordem para a polarização, de maneira similar a Equação 2.2, teremos:

P̃ (3) (t) = 0 χ(3) Ẽ 3 (t), (2.9)

onde foi considerado que o campo elétrico aplicado é monocromático, por facilidade,
e é dado por:
Ẽ(t) = ε cos ωt, (2.10)

se usarmos a seguinte identidade trigonométrica:


1 3
cos3 ωt = cos 3ωt + cos ωt, (2.11)
4 4
10

a polarização pode ser reescrita como:

1 3
P̃ (3) (t) = 0 χ(3) ε3 cos 3ωt + 0 χ(3) ε3 cos ωt. (2.12)
4 4

Da Equação 2.12 teremos que o segundo termo que descreve o comportamento não-
linear da polarização, de tal forma que ele é o responsável pelo comportamento
não-linear do índice de refração do meterial, quando esse é propagado por um fóton
de frequência ω [4]. O comportamento do índice de refração n (efeito Kerr) pode
ser descrito da seguinte maneira [4]:

n(I) = n0 + n2 I. (2.13)

onde o n0 é o índice de refração linear usual e n2 é o termo que caracteriza o efeito


causado pela não-linearidade do meio, ele é descrito por:

3
n2 = χ(3) , (2.14)
2n20 0 c

e I = 21 n0 0 cε2 é a intensidade do feixe incidente. Esse efeito tem sua relevância,


pois ele causa uma mudança de fase de ein2 ILω/c0 no feixe incidente.
11

3 FÓTONS E QUBIT

Um qubit, deve ser um sistema físico de dois níveis, cujos os estados formam
um espaço de Hilbert bidimensional. Já foi mencionado anteriormente que teremos
como qubits os modos ópticos dos fótons, dessa forma não serão os fótons em si
responsáveis por compor um qubit, mas sim seus modos ópticos. A utilização dos
modos ópticos do fóton como qubit tem sua vantagem pelo fato das operações com
qubits únicos podem ser implementadas com alta precisão.

A forma mais comum de se implementar um modo óptico como qubit é a ’dual-


rail’ onde o qubit é carregado por uma sobreposição de dois modos ópticos de um
único fóton, podendo ser modos espaciais, de polarização [3]. Outra forma de imple-
mentação existente é a ’single-rail’, onde nesse caso o qubit só é carregado por um
único modo óptico, onde o grau de liberdade do qubit será o número de fótons, mas
em contra partida, operações de qubits únicos não conservam o número de fótons
fazendo com que essa representação não seja tão fáceis de serem implementadas.

3.1 MODOS ESPACIAIS E DE POLARIZAÇÃO COMO QUBITS

A representação que vamos usar para o qubit de um fóton único será a ’dual
rail’. Primeiramente vamos tratar os qubits como dois modos espaciais separados
a1 e a2 , onde a base computacional do sistema vai ser dada por:

|0i = â†1 |0, 0i12 = |1, 0i12

|1i = â†2 |0, 0i12 = |0, 1i12 , (3.1)

onde â†1 e â†2 são os operadores criação, já que a absorção e emissão de fótons é
governada por eles, e |0, 0i12 é o estado de vácuo. A Equação 3.1 nos diz que o qubit
é um fóton criado no modo espacial 1 ou no modo espacial 2. Esses estados são
definidos como autoestados da matriz de Pauli Z, é possível também termos a base
computacional em termos dos autoestados das matrizes de Pauli X e Y [3].

Agora vamos considerar qubits como dois modos de polarização ortogonais de


um fóton como o mesmo modo espacial, duas direções comuns de serem usadas são
12

as direções horizontal (H ) e vertical (V ), dessa forma a base computacional do


sistema pode ser definida como:

|0i = â†H |0, 0iHV = |1, 0iHV = |Hi

|1i = â†V |0, 0iHV = |0, 1iHV = |V i , (3.2)

onde â†H e â†V são os operadores criação, ou seja, o qubit é um fóton no modo de
polarização H, criado por â†H ou no modo de polarização V , criado por â†V . Esses
estados também podem ser definidos como autoestados da matriz de Pauli Z, e da
mesma maneira que para o caso dos modos espaciais é possível também termos a
base computacional em termos dos autoestados das matrizes de Pauli X e Y .

3.2 OPERAÇÕES SOBRE UM QUBIT

As operações sobre 1 qubit devem representar rotações sobre a esfera de Bloch e


as matrizes de Pauli são geradoras dessas rotações. No caso que estamos tratando
que são os modos ópticos dos fótons, as matrizes de Pauli são as geradoras de trans-
formações nos modos espaciais e nos modos de polarização [3]. Para exemplificar
vamos considerar os modos espaciais.

É possível descrever as operações sobre os qubits como transformações nos modos


espaciais a1 e a2 , onde o Hamiltoniano que descreve descreve uma transformação
geral, nesses dois modos é dado por:

H(θ, φ) = θeiφ â†1 â2 + θe−iφ â†2 â1 , (3.3)

levando a uma transformação [3] nos operadores de criação e aniquilação, da seguinte


forma:

â1 → cos θâ1 − ie−iφ sin θâ2

â2 → −ie−iφ sin θâ1 + cos θâ2 , (3.4)

onde θ é referente a reflectividade do BS e φ é referente a mudança de fase imple-


mentada por ’phase shift’, isso mostra que as operações sobre os qubits podem ser
implementadas fisicamente por uma associação de BS’s e ’phase shifters’ [3].
13

4 COMPUTAÇÃO QUÂNTICA E ÓPTICA NÃO-LINEAR

Nesse capítulo vamos fazer uma descrição quântica dos dispositivos ópticos [2]
já mencionados anteriormente e analisar a implementação desses dispositivos para
realizar transformações unitárias em qubits, na representação ’dual-rail’, de modos
espaciais para realizar um processo de computação quântica, utilizando a óptica
não-linear.

Dessa forma vamos analisar separadamente como um ’phase shifter’, um BS e


um meio Kerr atuam em qubits de modos espaciais.

4.1 PHASE SHIFTER

Esse dispositivo atua de forma análoga a uma evolução temporal, nos modos que
passam por ele. Como o meio de um ’phase shifter’ possui um índice de refração
maior, o feixe que passa por ele diminui de velocidade, dessa forma o feixe que passa
por esse dispositivo leva um tempo ∆ = (n − n0 )L/c0 a mais que um outro feixe
percorrendo a mesma distância L. Assim, a atuação desse dispositivo é nula em um
estado de vácuo (onde não temos fóton): P |0i = |0i, mas no estado de fóton único
teremos P |1i = ei∆ |1i.

O operador P pode ser considerado como uma porta lógica para o estado ’dual-
rail’, do forma a retardar a fase do modo em relação a outro modo que percorra a
mesma distância sem interagir com o ’phase shifter’. Dessa forma, considerando um
estado ’dual-rail’ c0 |01i + c1 |10i, sofrerá uma transformação para c0 e−i∆/2 |01i +
c1 ei∆/2 |10i, onde essa operação é identica a uma rotação em torno do eixo z, dada
por:
c0 e−i∆/2 |01i + c1 ei∆/2 |10i (4.1)

Rz (∆) = e−iZ∆/2 , (4.2)

onde comparando com a base computacional (Equação 3.1) teremos |0i = |01i e
|1i = |10i e Z é operador da matriz de Pauli correspondente.
14

4.2 BEAMSPLITTER -BS

Um BS atua de forma a misturar dois modos distintos, descritos pelos operadores


de criação e aniquilação, o Hamiltoniano que descreve esse dispositivo é dado por:

HBS = iθab† − a† b, (4.3)

onde esse dispositivo realiza a seguinte transformação unitária:

B = exp θ(ab† − a† b) ,

(4.4)

Aplicando o operador B em a e b, teremos que:

BaB † = a cos θ + b sin θ

BbB † = −a sin θ + b cos θ. (4.5)

É possível ver que essas transformações, Equação 4.5, são análogas ao caso clássico
descrito na Seção 2.4, só que agora a e b são operadores.

Se atuarmos B como uma porta lógica, primeiramente da forma B |00i = |00i,


isso significa que quando não há fótons em nenhum dos modos de entrada, não
existirá fóton algum na saída, mas se existr por exemplo um fóton no modo a
(lebrando que |1i = a† |0i), teremos que:

B |01i = Ba† |00i = Ba† B † B |00i = (a† cos θ + b† sin θ) |00i = cos θ |01i + sin θ |10i .
(4.6)
Logicamente, de maneira similar teremos que B |10i = cos θ |10i−sin θ |01i. Usando
a base computacional para modos espaciais, B pode ser escrito como:
 
cos θ − sin θ
B=  = eiθY , (4.7)
sin θ cos θ

que nada mais é que uma rotação em torno do eixo y.

Assim, usando o fato de que BS’s e ’phase shifter’ realizam rotações Ry e Rz


respectivamente, a combinação desses dois dispositivos é capaz de gerar qualquer
operação unitária de qubit único, no qubit óptico. Isso nada mais é que consequência
do teorema que afirma que qualquer operação unitária de um único qubit pode ser
15

gerada a partir de rotações em torno de z Rz (α) = exp{−iαZ/2} e rotações em todo


de y Ry (β) = exp{−iβY /2} [2], assim qualquer porta U pode ser expressada como:

U = eiα Rz (γ)Ry (β)Rz (δ). (4.8)

4.3 MEIO KERR NÃO-LINEAR

O que chama mais atenção em um meio Kerr, é o fato dele cruzar a modulação
de fase entre dois modos de luz. Esse efeito é descrito classicamente pelo termo n2
da Equação 2.13, que consiste em uma interação entre fótons, mediada pelos átomos
do meio Kerr [2]. O Hamiltoniano que descreve esse efeito é dado por:

H = −χ(3) a† ab† b, (4.9)

onde a e b são referentes a dois modos que propagam pelo meio e χ(3) é a susceptibi-
lidade não-linear de terceira ordem, já apresentada em Seção 2.4. Considerando um
cristal de comprimento L como nosso meio Kerr, teremos a seguinte transformação
unitário representando a ação desse meio:

(3) La† ab† b


K = eiχ . (4.10)

Se combinarmos um meio Kerr com BS’s, é possível construir uma porta controlada
CN OT . A atuação de K em estados de fóton, fornece o seguinte [2]:

K |00i = |00i (4.11)

K |01i = |01i (4.12)

K |10i = |10i (4.13)


(3) L
K |11i = eiχ |11i , (4.14)

fazendo a identificação χ(3) L = π, de tal forma que K |11i = − |11i. Vamos agora
considerar dois estados de ’dual-rail’, ou seja, quatro modos de luz. Eles vivem em
um espaço que é gerado por quatro estados de base |e00 = |1001ii, |e01 = |1010ii,
|e10 = |0101ii, |e11 = |0110ii. Observe que a ordem usual foi invertida de dois modos
para o primeiro par, por conveniência (isso é facilmente realizável, usando espelhos).
Agora, considerando que o meio Kerr é aplicado para atuar sobre os dois modos do
16

meio, encontraremos que K |ei i = |ei i para todo i, exceto no caso em que K |e11 i =
− |e11 i. Isso se torna útil porque podemos fatorar a CN OT da seguinte maneira:

UCN = (I ⊗ H)K(I ⊗ H), (4.15)

onde:
     
1 0 0 0 1 1 0 0 1 0 0 0
     
 1 −1 0 0
     
 0 1 0 0   0 1 0 0 
 , (I ⊗ H) = √1 

UCN = ,K =  

 0 0

0 1  2
 0 0 1 1



 0 0 1 0 

     
0 0 1 0 0 0 1 −1 0 0 0 −1
(4.16)
onde K é o operador do meio Kerr, definido anteriormente, com χ(3) L = π e H
é a porta Hadamard de um qubit que pode ser implementada com BS’s e ’phase
shifter’, pois como foi discutido na Seção 4.2, a combinação desses elementos pode
gerar qulquer transformação unitária. Assim, uma porta CN OT pode ser construída
usando um meio Kerr, BS’s e ’phase shifters’.

Como através de lasers atenuados podemos produzir fótons únicos e detectá-


los com fotodetectores, dessa forma, teoricamente, é possível realizar computação
quântica, implementando esses componentes ópticos [2].
17

5 CONCLUSÃO

Os fótons únicos são relativamente simples de serem gerados e medidos, e quando


considerada a representação de ’dual-rail, operações arbitrárias de qubit único são
possíveis de serem realizadas. Contudo um problema existente é o fato de que a
interação de fótons é difícil [2], os melhores meios Kerr não-lineares são muito fracos,
sendo assim não fornecendo uma modulação de fase cruzada de π entre estados
de fóton único. Isso porque como um índice de refração não-linear é geralmente
produzido usando um meio que esteja próximo a uma ressonância óptica, sempre irá
ocorrer um absorção associada à não-linearidade.

Com isso a construção de computadores quânticos com os componentes ópticos


não-lineares tradicionais se torna difícil [2]. Contudo, com o estudo do computador
quântico óptico, é possível adquirir informações sobre a natureza da arquitetura e
design do sistema de um computador quântico.
18

REFERÊNCIAS

[1] SOUZA, C. E. R. d. et al. Aplicações do momento angular orbital da luz à


computação e informação quântica. Programa de Pós-graduação em Física, 2010.

[2] NIELSEN, M. A.; CHUANG, I. L. Quantum information and quantum compu-


tation. Cambridge: Cambridge University Press, v. 2, n. 8, p. 23, 2000.

[3] KOK, P.; LOVETT, B. W. Introduction to optical quantum information proces-


sing. [S.l.]: Cambridge university press, 2010.

[4] BOYD, R. W.; SHI, Z.; LEON, I. D. The third-order nonlinear optical suscepti-
bility of gold. Optics Communications, Elsevier, v. 326, p. 74–79, 2014.

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