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Solidariedade nas Relações de Consumo Colunas | Carta Forense
ÉRICO DE PINA CABRAL
CONSUMIDOR
A Solidariedade nas Relações de Consumo
04 /0 5 /2 0 10 p or Ér ico d e P i na C ab ra l
Em regra, as obrigações são fracionadas entre os diversos credores e devedores (art. 257 do CC) e cada um é
responsável apenas a sua quotaparte. A solidariedade entre os protagonistas é exceção e obriga cada um ao
pagamento de toda a dívida ou permite a cada um o recebimento de toda a dívida (art. 264 do CC). As regras sobre
solidariedade previstas no CC são também aplicadas no direito do consumidor, ressalvadas algumas situações.
Ao contrário do direito civil, no direito do consumidor, a solidariedade passiva entre os fornecedores (e não a
fracionariedade) é a regra geral estabelecida no art. 7º, parágrafo único do CDC: "Tendo mais de um autor a ofensa,
todos responderão solidariamente pela reparação dos danos previstos nas normas de consumo". O mesmo dispositivo
é repetido pelo § 1º do art. 25 e diluído através dos arts. 12, 14, 18, 19 e 20 do CDC. Neste sentido, "o art. 14 do
CDC estabelece regra de responsabilidade solidária entre os fornecedores de uma mesma cadeia de serviços, razão pela
Promotor de Justiça e Coordenador do CAO
qual as "e;bandeiras"e;/marcas de cartão de crédito respondem solidariamente com os bancos e as administradoras de de Defesa do Consumidor no Ministério
cartão de crédito pelos danos decorrentes da má prestação de serviços." (STJ REsp. 1.029.454RJ 3ª Turma j. Público de Goiás. Mestre e Direitos Difusos
01.10.2009 rel. Min. Nancy Andrighi, DJe 19.10.2009). Assim, se o defeito no freio do veículo novo causou o e Coletivos pela PUCSP. Professor de
acidente de consumo, o consumidor lesado pode acionar o fabricante do veículo ou do sistema de freios ou os dois Direito do Consumidor no Curso Axioma
Jurídico. Autor do Livro "Inversão do ônus
conjuntamente.
da prova no processo civil do consumidor"
Editora Método (indicado entre os
O art. 13 do CDC dispõe que nos acidentes de consumo (fato do produto) causados por defeito do produto, a finalistas ao Prêmio Jabuti de 2008).
responsabilidade do comerciante é subsidiária e ele só será solidariamente responsável junto com o fabricante, o
conteúdos anteriores
construtor, o produtor ou o importador quando estes não puderem ser identificados ou não conservar adequadamente
os produtos perecíveis. No que se refere aos vícios de qualidade dos produtos e serviços (arts. 18 a 20 do CDC), a
solidariedade entre comerciante, prestador de serviços e fabricante é incondicional. Assim, se a tv não sintoniza, o
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relógio novo atrasa e o refrigerador não gela, o consumidor pode acionar tanto o comerciante quanto o fabricante ou
os dois.
A renúncia à solidariedade, prevista no art. 282 do CC é cabalmente vedada no CDC por força do art. 25 caput: "É EDIÇÃO DO MÊS
vedada a estipulação contratual de cláusula que impossibilite, exonere ou atenue a obrigação de indenizar prevista Imposto sobre Grandes Fortunas
nesta e nas seções anteriores." Ou seja, mesmo que os diversos fornecedores estabeleçam cláusula contratual que
afaste a solidariedade entre eles, tal cláusula não prevalece em face ao consumidor e qualquer um dos fornecedores ou
todos conjuntamente podem ser acionados pela reparação dos danos.
O art. 283 do CC estabelece que o devedor que satisfizer a dívida por inteiro tem o direito de regresso, pelo qual,
poderá exigir uma quotaparte igual de cada um dos codevedores. Ou seja, se A, B e C devem 90 a D, aquele que
pagar a totalidade do débito tem direito a receber 30 de cada um dos outros dois. No direito do consumidor a
solidariedade passiva é imperfeita, pois, o art. 13, parágrafo único, assegura ao fornecedor solidário que pagou os
danos ao consumidor, o direito de regresso contra os demais apenas naquilo que corresponde à participação de cada
um no resultado danoso. Como explica Nelson Rosenvald, o pagamento da reparação integral ao consumidor, por
qualquer dos réus, não implica na divisão proporcional do valor indenizado e cada fornecedor arcará perante aquele
que pagou, por sua correspondente participação na causação do evento. "Vale dizer, nas relações internas entre
fornecedores, o direito de regresso será exercido de acordo com a medida do nexo causal de cada um dos envolvidos
com o acidente de consumo." (Direito das obrigações, 4ª ed. Lumen Juris, 2009, p. 261). Assim, por exemplo, se o
defeito no freio do veículo novo causou o acidente, o fabricante do veículo que indenizar o consumidor pode regredir
até na totalidade da indenização contra o fabricante do freio.
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Noutro passo, observase que o STJ tem sedimentado algumas hipóteses de quebra do princípio geral da solidariedade
nas relações de consumo: Nome...
Email...
a) Na negativação indevida do consumidor no banco de dados, ao teor do art 7º, parágrafo único, tanto o comerciante
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credor quanto o banco de dados da empresa arquivista deveriam responder solidariamente pelos danos causados. Mas,
decidiu o STJ que "o órgão mantenedor do cadastro de restrição ao crédito é parte legítima para figurar no pólo
passivo de ação de compensação por danos morais decorrentes do registro, sem prévia comunicação, de dados pessoais
EDIÇÕES
de consumidor." (STJ REsp. 901.584RJ 3ª Turma j. 17.09.2009 rel. Min. Nancy Andrighi, DJe 02.10.2009).
http://www.cartaforense.com.br/conteudo/colunas/asolidariedadenasrelacoesdeconsumo/5553 1/2
01/06/2016 A Solidariedade nas Relações de Consumo Colunas | Carta Forense
AUTORES
Neste passo, "o credor não é parte legítima para figurar no pólo passivo de ação pela qual o devedor pugna por
CURSOS
indenização por danos morais decorrentes da inscrição de seu nome nos cadastros de inadimplentes, sem que tenha
sido previamente comunicado do ato. Isso porque a responsabilidade pela inclusão do nome do devedor no cadastro CONCURSOS
incumbe à entidade que o mantém, e não ao credor, que apenas informa a existência da dívida" (STJ AgRg no Ag
835.201RS 3ª Turma j. 24.04.2007 rel. Min. Nancy Andrighi, DJU 14.05.2007). MODELOS DE PEÇAS E CONTRATOS
Desta forma, "constitui obrigação do credor providenciar, junto ao órgão cadastral de dados, a baixa do nome do
devedor após a quitação da dívida que motivou a inscrição, sob pena de assim não procedendo em tempo razoável,
responder pelo ato moralmente lesivo, indenizando o prejudicado pelos danos morais causados." (STJ REsp.
746.817SC 4ª Turma j. 17.08.2006 rel. Min. Aldir Passarinho Junior DJU 18.09.2006, p. 327).
b) Na relação médico/hospital, o STJ tem decidido que "a responsabilidade objetiva, nele prevista para o prestador de
serviços, no presente caso, o hospital, circunscrevese apenas aos serviços única e exclusivamente relacionados com o
estabelecimento empresarial propriamente dito, ou seja, aqueles que digam respeito à estadia do paciente (internação),
instalações, equipamentos, serviços auxiliares (enfermagem, exames, radiologia), etc e não aos serviços técnicos
profissionais dos médicos que ali atuam, permanecendo estes na relação subjetiva de preposição (culpa)." (STJ
REsp. 258.389SP 4ª Turma j. 16.06.2006 rel. Min. Fernando Gonçalves, DJU 16.06.2005).
c) Na veiculação de publicidade abusiva, mais uma vez, o STJ quebrou o princípio geral da solidariedade no CDC
para individualizar a conduta e excluir a responsabilidade das empresas de comunicação pela veiculação de
publicidade enganosa ou abusiva. Ou seja, pela publicidade enganosa ou abusiva responde somente o fornecedor
anunciante. "As empresas de comunicação não respondem por publicidade de propostas abusivas ou enganosas. Tal
responsabilidade toca aos fornecedoresanunciantes, que a patrocinaram (CDC, Arts. 3º e 38). IV O CDC, quando
trata de publicidade, impõe deveres ao anunciante não às empresas de comunicação (Art. 3º, CDC)." (STJ REsp.
604.172SP 3ª Turma j. 27.03.2007 rel. Min. Humberto Gomes de Barros, DJU 21.05.2007, p. 568).
d) Noutro caso e de forma surpreendente, com fulcro no art. 12 do CDC, o STJ confirmou a responsabilidade
exclusiva do fabricante pela venda feita pelo comerciante de produtos estragados e com prazo de validade vencido: "o
comerciante e o fabricante estão inseridos no âmbito da cadeia de produção e distribuição, razão pela qual não podem
ser tidos como terceiros estranhos à relação de consumo. A eventual configuração da culpa do comerciante que coloca
à venda produto com prazo de validade vencido não tem o condão de afastar o direito do consumidor de propor ação
de reparação pelos danos resultantes da ingestão da mercadoria estragada em face do fabricante." (STJ REsp.
980.860SP 3 ª Turma j. 23.04.2009 rel. Min. Nancy Andrighi, DJe 02.06.2009).
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weigle correia 14/02/2014 21:04:06
Perfeito.. Eu entendi tudo o que eu não estava conseguindo entender sobre o CDC. Obrigado por compartilhar sua
sabedoria.
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