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01/06/2016 A 

Solidariedade nas Relações de Consumo ­ Colunas | Carta Forense

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ÉRICO DE PINA CABRAL
CONSUMIDOR
A Solidariedade nas Relações de Consumo
04 /0 5 /2 0 10   p or Ér ico  d e P i na  C ab ra l

 
Em  regra,  as  obrigações  são  fracionadas  entre  os  diversos  credores  e  devedores  (art.  257  do  CC)  e  cada  um  é
responsável  apenas  a  sua  quota­parte.  A  solidariedade  entre  os  protagonistas  é  exceção  e  obriga  cada  um  ao
pagamento de toda a dívida ou permite a cada um o recebimento de toda a dívida (art. 264 do CC). As regras sobre
solidariedade previstas no CC são também aplicadas no direito do consumidor, ressalvadas algumas situações. 
 
Ao  contrário  do  direito  civil,  no  direito  do  consumidor,  a  solidariedade  passiva  entre  os  fornecedores  (e  não  a
fracionariedade) é a regra geral estabelecida no art. 7º, parágrafo único do CDC: "Tendo mais de um autor a ofensa,
todos responderão solidariamente pela reparação dos danos previstos nas normas de consumo". O mesmo dispositivo
é  repetido  pelo  §  1º  do  art.  25  e  diluído  através  dos  arts.  12,  14,  18,  19  e  20  do  CDC.  Neste  sentido,  "o  art.  14  do
CDC estabelece regra de responsabilidade solidária entre os fornecedores de uma mesma cadeia de serviços, razão pela
Promotor de Justiça e Coordenador do CAO
qual as "e;bandeiras"e;/marcas de cartão de crédito respondem solidariamente com os bancos e as administradoras de de Defesa do Consumidor no Ministério
cartão  de  crédito  pelos  danos  decorrentes  da  má  prestação  de  serviços."  (STJ  ­  REsp.  1.029.454­RJ  ­  3ª  Turma  ­  j. Público de Goiás. Mestre e Direitos Difusos
01.10.2009  ­  rel.  Min.  Nancy  Andrighi,  DJe  19.10.2009).  Assim,  se  o  defeito  no  freio  do  veículo  novo  causou  o e Coletivos pela PUC­SP. Professor de

acidente  de  consumo,  o  consumidor  lesado  pode  acionar  o  fabricante  do  veículo  ou  do  sistema  de  freios  ou  os  dois Direito do Consumidor no Curso Axioma
Jurídico. Autor do Livro "Inversão do ônus
conjuntamente.
da prova no processo civil do consumidor"
 
­ Editora Método (indicado entre os
O  art.  13  do  CDC  dispõe  que  nos  acidentes  de  consumo  (fato  do  produto)  causados  por  defeito  do  produto,  a finalistas ao Prêmio Jabuti de 2008).
responsabilidade  do  comerciante  é  subsidiária  e  ele  só  será  solidariamente  responsável  junto  com  o  fabricante,  o
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construtor, o produtor ou o importador quando estes não puderem ser identificados ou não conservar adequadamente
os  produtos  perecíveis.  No  que  se  refere  aos  vícios  de  qualidade  dos  produtos  e  serviços  (arts.  18  a  20  do  CDC),  a
solidariedade  entre  comerciante,  prestador  de  serviços  e  fabricante  é  incondicional. Assim,  se  a  tv  não  sintoniza,  o
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relógio novo atrasa e o refrigerador não gela, o consumidor pode acionar tanto o comerciante quanto o fabricante ou
os dois.
 
A  renúncia  à  solidariedade, prevista no art. 282 do CC é cabalmente vedada no CDC por  força  do  art.  25  caput:  "É EDIÇÃO DO MÊS
vedada  a  estipulação  contratual  de  cláusula  que  impossibilite,  exonere  ou  atenue  a  obrigação  de  indenizar  prevista Imposto sobre Grandes Fortunas
nesta  e  nas  seções  anteriores."  Ou  seja,  mesmo  que  os  diversos  fornecedores  estabeleçam  cláusula  contratual  que
afaste a solidariedade entre eles, tal cláusula não prevalece em face ao consumidor e qualquer um dos fornecedores ou
todos conjuntamente podem ser acionados pela reparação dos danos.
 
O  art.  283  do  CC  estabelece  que  o  devedor  que  satisfizer  a  dívida  por  inteiro  tem  o  direito  de  regresso,  pelo  qual,
poderá  exigir  uma  quota­parte  igual  de  cada  um  dos  co­devedores.  Ou  seja,  se A,  B  e  C  devem  90  a  D,  aquele  que
pagar  a  totalidade  do  débito  tem  direito  a  receber  30  de  cada  um  dos  outros  dois.  No  direito  do  consumidor  a
solidariedade  passiva  é  imperfeita,  pois,  o  art.  13,  parágrafo  único,  assegura  ao  fornecedor  solidário  que  pagou  os
danos  ao  consumidor,  o  direito  de  regresso  contra  os  demais  apenas  naquilo  que  corresponde  à  participação  de  cada
um  no  resultado  danoso.  Como  explica  Nelson  Rosenvald,  o  pagamento  da  reparação  integral  ao  consumidor,  por
qualquer  dos  réus,  não  implica  na  divisão  proporcional  do  valor  indenizado  e  cada  fornecedor  arcará  perante  aquele
que  pagou,  por  sua  correspondente  participação  na  causação  do  evento.  "Vale  dizer,  nas  relações  internas  entre
fornecedores, o direito de regresso será exercido de acordo com a medida do nexo causal de cada um dos envolvidos
com o acidente de consumo." (Direito das obrigações,  4ª  ed.  Lumen  Juris,  2009,  p.  261). Assim,  por  exemplo,  se  o
defeito no freio do veículo novo causou o acidente, o fabricante do veículo que indenizar o consumidor pode regredir
até na totalidade da indenização contra o fabricante do freio.
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Noutro passo, observa­se que o STJ tem sedimentado algumas hipóteses de quebra do princípio geral da solidariedade
nas relações de consumo: Nome...
  E­mail...
a) Na negativação indevida do consumidor no banco de dados, ao teor do art 7º, parágrafo único, tanto o comerciante
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credor quanto o banco de dados da empresa arquivista deveriam responder solidariamente pelos danos causados. Mas,
decidiu  o  STJ  que  "o  órgão  mantenedor  do  cadastro  de  restrição  ao  crédito  é  parte  legítima  para  figurar  no  pólo
passivo de ação de compensação por danos morais decorrentes do registro, sem prévia comunicação, de dados pessoais
EDIÇÕES
de consumidor." (STJ ­ REsp. 901.584­RJ ­ 3ª Turma ­ j. 17.09.2009 ­ rel. Min. Nancy Andrighi, DJe 02.10.2009).

http://www.cartaforense.com.br/conteudo/colunas/a­solidariedade­nas­relacoes­de­consumo/5553 1/2
01/06/2016 A Solidariedade nas Relações de Consumo ­ Colunas | Carta Forense
  AUTORES
Neste  passo,  "o  credor  não  é  parte  legítima  para  figurar  no  pólo  passivo  de  ação  pela  qual  o  devedor  pugna  por
CURSOS
indenização  por  danos  morais  decorrentes  da  inscrição  de  seu  nome  nos  cadastros  de  inadimplentes,  sem  que  tenha
sido  previamente  comunicado  do  ato.  Isso  porque  a  responsabilidade  pela  inclusão  do  nome  do  devedor  no  cadastro CONCURSOS
incumbe à entidade que o mantém, e não ao credor, que apenas informa a existência da dívida" (STJ ­ AgRg no Ag
835.201­RS ­ 3ª Turma ­ j. 24.04.2007 ­ rel. Min. Nancy Andrighi, DJU 14.05.2007). MODELOS DE PEÇAS E CONTRATOS
 
Desta  forma,  "constitui  obrigação  do  credor  providenciar,  junto  ao  órgão  cadastral  de  dados,  a  baixa  do  nome  do
devedor  após  a  quitação  da  dívida  que  motivou  a  inscrição,  sob  pena  de  assim  não  procedendo  em  tempo  razoável,
responder  pelo  ato  moralmente  lesivo,  indenizando  o  prejudicado  pelos  danos  morais  causados."  (STJ  ­  REsp.
746.817­SC ­ 4ª Turma ­ j. 17.08.2006 ­ rel. Min. Aldir Passarinho Junior ­ DJU 18.09.2006, p. 327).
 
b) Na relação médico/hospital, o STJ tem decidido que "a responsabilidade objetiva, nele prevista para o prestador de
serviços, no presente caso, o hospital, circunscreve­se apenas aos serviços única e exclusivamente relacionados com o
estabelecimento empresarial propriamente dito, ou seja, aqueles que digam respeito à estadia do paciente (internação),
instalações,  equipamentos,  serviços  auxiliares  (enfermagem,  exames,  radiologia),  etc  e  não  aos  serviços  técnicos­
profissionais  dos  médicos  que  ali  atuam,  permanecendo  estes  na  relação  subjetiva  de  preposição  (culpa)."  (STJ  ­
REsp. 258.389­SP ­ 4ª Turma ­ j. 16.06.2006 ­ rel. Min. Fernando Gonçalves, DJU 16.06.2005).
 
c)  Na  veiculação  de  publicidade  abusiva,  mais  uma  vez,  o  STJ  quebrou  o  princípio  geral  da  solidariedade  no  CDC
para  individualizar  a  conduta  e  excluir  a  responsabilidade  das  empresas  de  comunicação  pela  veiculação  de
publicidade  enganosa  ou  abusiva.  Ou  seja,  pela  publicidade  enganosa  ou  abusiva  responde  somente  o  fornecedor
anunciante.  "As  empresas  de  comunicação  não  respondem  por  publicidade  de  propostas  abusivas  ou  enganosas.  Tal
responsabilidade  toca  aos  fornecedores­anunciantes,  que  a  patrocinaram  (CDC, Arts.  3º  e  38).  IV  ­  O  CDC,  quando
trata de publicidade, impõe deveres ao anunciante ­ não às empresas de comunicação (Art. 3º, CDC)." (STJ ­ REsp.
604.172­SP ­ 3ª Turma ­ j. 27.03.2007 ­ rel. Min. Humberto Gomes de Barros, DJU 21.05.2007, p. 568).
 
d)  Noutro  caso  e  de  forma  surpreendente,  com  fulcro  no  art.  12  do  CDC,  o  STJ  confirmou  a  responsabilidade
exclusiva do fabricante pela venda feita pelo comerciante de produtos estragados e com prazo de validade vencido: "o
comerciante e o fabricante estão inseridos no âmbito da cadeia de produção e distribuição, razão pela qual não podem
ser tidos como terceiros estranhos à relação de consumo. A eventual configuração da culpa do comerciante que coloca
à venda produto com prazo de validade vencido não tem o condão de afastar o direito do consumidor de propor ação
de  reparação  pelos  danos  resultantes  da  ingestão  da  mercadoria  estragada  em  face  do  fabricante."  (STJ  ­  REsp.
980.860­SP ­ 3 ª Turma ­ j. 23.04.2009 ­ rel. Min. Nancy Andrighi, DJe 02.06.2009).
 

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weigle correia 14/02/2014 21:04:06
Perfeito.. Eu entendi tudo o que eu não estava conseguindo entender sobre o CDC. Obrigado por compartilhar sua
sabedoria.

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