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Dossiê Inclusão

https://revistadigitalformacaoemdialogo.blogspot.com/
ISSN: 2317-0794

INTRODUÇÃO ÀS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS INCLUSIVAS NA EDUCAÇÃO DE GUAPIMIRIM


COMO FERRAMENTA DE TRANSFORMAÇÃO NO MUNICÍPIO
Jéssica Arantes de Azevedo
Sônia Moreira Araujo Paes
Resumo
Guapimirim é um município do Estado do Rio de Janeiro, localizado num vale formado pela base do Pico Dedo
de Deus, com cerca de 60 mil habitantes, 70% de área de proteção ambiental, rico patrimônio histórico,
emancipado de Magé há 29 anos e com uma história, em curso, de avanços significativos na Educação Especial.
Com fins de analisar as práticas pedagógicas em Guapimirim e difundir o conhecimento com vistas à
transformação do cenário, através de políticas públicas com o objetivo de eliminar barreiras de acesso ao
currículo, o presente relato de experiência é fundamentado na observação e análise das legislações vigentes e de
referenciais teóricos para promoção de inclusão, na rede municipal de ensino, por meio da construção de uma
Diretriz Municipal da Educação Especial Inclusiva, documento que compõe o Currículo Municipal com ênfase na Base
Nacional Comum Curricular – DMEEI. Compreendendo que a inclusão não se resume à inserção do aluno com
deficiência na escola, é inoportuno aguardar as condições ideais para a promoção de inclusão, antes, a
Coordenação Municipal se propôs a iniciar um rearranjo educacional, começando pelo investimento em formação
continuada, ou seja, no conhecimento teórico, necessário, para lidar com a diversidade e empreender práticas
pedagógicas inclusivas.
Palavra-Chave: educação, transformação e práticas pedagógicas inclusivas.

Abstract
Guapimirim is a municipality in the state of Rio de Janeiro, located in a valley formed by the base of Pico Dedo
de Deus, with about 60 thousand inhabitants, 70% of environmental protection area, rich historical heritage,
emanated from Magé for 29 years and with an ongoing story of significant advances in Special Education. In
order to analyze the pedagogical practices in Guapimirim and disseminate knowledge with a view to transforming
the scenario through public policies with the objective of eliminating barriers to access to the curriculum, this
experience report is based on the observation and analysis of current legislation and of theoretical references to
promote inclusion in the municipal school system, through the construction of a Municipal Directive of Inclusive
Special Education, document that compose the Municipal Curriculum with emphasis in the Common National
Curricular Base – DMEEI. Understanding that inclusion is not just about the inclusion of students with
disabilities in school, it is inappropriate to wait for the ideal conditions for the promotion of inclusion, rather, the
Municipal Coordination proposed to start an educational rearrangement, starting with the investment in
continuing education, ie , in the theoretical knowledge, necessary to deal with diversity and undertake inclusive
pedagogical practices.
Keywords: education, transformation and inclusive pedagogical practices.

Resumen
Guapimirim es un municipio del estado de Río de Janeiro, ubicado en un valle formado por la base del Pico Dedo
de Deus, con cerca de 60 mil habitantes, 70% del área de protección ambiental, rico patrimonio histórico,
emanado de Magé durante 29 años y con Una historia en curso de avances significativos en Educación Especial.
Para analizar las prácticas pedagógicas en Guapimirim y difundir el conocimiento con miras a transformar el
escenario a través de políticas públicas con el objetivo de eliminar las barreras de acceso al currículum, este
informe de experiencia se basa en la observación y análisis de la legislación vigente y de referencias teóricas para
promover la inclusión en el sistema escolar municipal, a través de la construcción de um Directiva Municipal de
Educación Especial Inclusiva, documento que compone el Currículo Municipal con énfasis en la Base Curricular
Nacional Común – DMEEI. Entendiendo que la inclusión no se trata solo de la inclusión de estudiantes con
discapacidades en la escuela, es inapropiado esperar las condiciones ideales para la promoción de la inclusión,
más bien, la Coordinación Municipal propuso comenzar una reorganización educativa, comenzando con la
inversión en educación continua, es decir , en el conocimiento teórico, necesario para abordar la diversidad y
emprender prácticas pedagógicas inclusivas.
Palabra-clave: educación, transformación y prácticas pedagógicas inclusivas.

Revista Digital Formação em Diálogo Rio de Janeiro, vol. 3, nº 5, março de 2020. . 180
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ISSN: 2317-0794

INTRODUÇÃO ÀS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS INCLUSIVAS NA EDUCAÇÃO DE GUAPIMIRIM


COMO FERRAMENTA DE TRANSFORMAÇÃO NO MUNICÍPIO.
Jéssica Arantes de Azevedo 1
Sônia Moreira Araujo Paes2

A construção do processo de inclusão em Guapimirim


O Município de Guapimirim participou do
3
promovido
pel e
tem, entre outros objetivos, o de acompanhar
esses . Nesta
perspectiva, Guapimirim apresentará nas próximas páginas um relato de experiência sobre o tema Introdução às
Práticas Pedagógicas Inclusivas na Educação de Guapimirim como Ferramenta de Transformação no Município.

Nas últimas décadas, ampliou-se a construção de discursos de cunho humanitário como respeito às minorias,
maior tolerância à diversidade étnica, superação das desigualdades sociais, destacando, neste processo histórico,
as conquistas já alcançadas pelas pessoas com deficiência. Neste contexto, o município de Guapimirim iniciou,
efetivamente, sua trajetória na Educação Especial em 2008 com a necessidade da criação de duas turmas de
Classe Especial. Em 2015 já totalizava 115 alunos integrados. No ano seguinte foram implementadas quatro salas
de recursos e em 2019 a Rede Municipal de Ensino ampliou esse número para 10 espaços de atendimento
especializado que contemplam aproximadamente 250 alunos matriculados no AEE 4, público alvo da SRM5, e
mais de 300 alunos incluídos nas salas regulares da Rede Municipal de Ensino, que contempla aproximadamente
8 mil alunos atualmente.

Compreendendo que a demanda de alunos incluídos cresceu significativamente ao longo dos últimos anos, e
continua crescendo, percebeu-se a necessidade de elaborar a DMEEI6 para organizar o trabalho da Educação
Especial Inclusiva em Guapimirim. Através desta diretriz, normatizou-se uma série de serviços, tais como o

1
Graduada em História (2012) e Pedagogia (2014)– UNIVERSO. Especialista em Gestão Pedagógica – ESTÁCIO.
Atualmente Coordenadora da Educação Especial Inclusiva na Secretaria Municipal de Educação de Guapimirim.
2
Graduada em Pedagogia (1978) – SUAM. Especialista em Estimulação Essencial ao Desenvolvimento – UFRJ (1990) e em
Fonoaudiologia (1992) – FRASCE. Especialista em Gestão Estratégica da Qualidade em Educação – DDG - Educação &
Consultoria (2001) e em Educação Especial e Neuropsicopedagogia (2015) – UCAM. Diretora Pedagógica do Centro
Educacional Nova Luz (1982 – 2013). Atualmente Coordenadora da Educação Especial Inclusiva na Secretaria Municipal de
Educação de Guapimirim.
3
Síndromes causadas por sífilis, toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus e herpes.
4
Atendimento Educacional Especializado.
5
Sala de Recursos Multifuncional.
6
Diretriz Municipal da Educação Especial Inclusiva, documento que revisa a legislação vigente e dialoga com as Secretarias
Municipais de Assistência Social e Direitos Humanos (SMASDH) e Sáude, construído coletivamente, com fins de nortear as
ações das unidades escolares da rede municipal de ensino de Guapimirim.
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atendimento domiciliar e hospitalar, que iniciou em Guapimirim no ano de 2016, o atendimento em sala de
recursos, o esclarecimento das atribuições dos profissionais de apoio escolar conforme prevê a LBI 13.146/15 e
dos professores da classe especial e da sala regular inclusiva, os serviços ofertados pelo intérprete de Libras e o
Braillista transcritor, matrícula no AEE e a exigência de laudo indevida para o acesso ao currículo, adaptação
curricular de pequeno e grande porte, flexibilização curricular, adaptação de carga horária/temporalidade,
terminalidade específica, entre outros aspectos.

Além disso, uma ação que vem sendo inserida no município de Guapimirim, e possui seu espaço registrado nesta
diretriz, é o cuidado compartilhado em nível intersetorial, uma relação de parceria entre a Educação, Saúde,
Assistência Social, e estreitamento de vínculos com outras esferas do poder público como o Conselho Tutelar e o
Conselho Municipal dos Direitos da Criança e Adolescente (CMDCA). Este grupo de pessoas, denominado Nós
da Rede representa a complexidade simbólica de um nó, (encontrado na saúde pública, educação e assistência
social), mas também consiste na apresentação de uma metáfora no que se refere ao entrelace de uma rede e sua
relação com a integração desse coletivo em buscar estratégias para minimizar os possíveis danos causados aos
usuários destes serviços.

O município oferta encontros mensais para discutir fluxo, promover formação continuada e diálogo entre esses
pares, criar protocolos de melhoria no fluxo de atendimento, discutir caminhos para difundir esse conhecimento
para a sociedade civil, os componentes do Nós da Rede têm como objetivo desconstruir a ideia de assistência
emergencial, ou seja, tratar os pacientes apenas quando eles já estão doentes, e praticar a atenção primária,
compreendendo que a Estratégia Saúde da Família (ESF) se fortalece como uma porta de entrada ao Sistema
Único de Saúde (SUS) e consiste em uma atenção primária. Esta parceria também pretende, através da ESF7,
realizar os encaminhamentos de alunos 8 para Centro de Referência da Assistência Social (CRAS), Centro de
Referência Especializado da Assistência Social (CREAS), Centro de Assistência Psicossocial e Saúde Mental
(CAPS), Ambulatório de Saúde Mental e o Centro Integrado de Neuropsiquiatria Infanto Juvenil. Todos esses
serviços seguem um fluxo de atendimento, onde a porta de entrada dos alunos da Rede Municipal é a ESF, por
meio do preenchimento da ficha do cuidado compartilhado, anexa a Diretriz Municipal da Educação Especial
Inclusiva.

A partir desta diretriz compreendeu-se a necessidade de elaborar um plano que norteasse todas as ações no
sentido de impulsionar as unidades escolares para uma metanoia9 em Guapimirim. Neste sentido, empreendeu-se

7
Estratégia Saúde da Família.
8
Para esse cuidado compartilhado os envolvidos no Nós da Rede elaboraram formulário de encaminhamento a ESF padrão
para Educação e Saúde, de modo que todos os aspectos importantes para os médicos da atenção básica são contemplados
nesta ficha do cuidado compartilhado, preenchida pelas unidades escolares. Esse foi o caminho encontrado para melhorar o
fluxo, diminuindo o tempo de espera e a busca por informações (relatório do aluno, anamnese, etc) dos atores envolvidos
neste processo.
9
Do grego metanoein, significa mudança do próprio pensamento.
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uma série de ações para a promoção de transformação da educação, neste município, com vistas à inclusão de
alunos com deficiências, transtornos funcionais específicos 10 ou em situação de necessidade educacional especial,
uma delas é a formação continuada que é ofertada mensalmente, à equipe da educação especial inclusiva
(professor da sala de recursos, intérprete de Libras, braillista transcritor, professores da classe especial, pedagogo
do atendimento domiciliar e hospitalar), abordando alguns temas sugeridos pela própria equipe e outros pela
coordenação, dinamizados pela coordenação e/ou pelos componentes do grupo, tais como Estágios do
Desenvolvimento Infantil, Currículo Funcional, Elaboração de adaptação/flexibilização curricular e PEI11,
Transtornos Funcionais Específicos, Síndrome de Down, Autismo, Deficiência Intelectual, Visual e auditiva,
Esquizofrenia, além de oficinas para produção do protocolo de avaliação psicoeducacional PEP-R12, material
estruturado e provas operatórias de Piaget.

Compreendendo que a formação continuada é o caminho para a difusão do conhecimento e para a promoção de
práticas pedagógicas inclusivas, é imprescindível a viabilização de grupos de estudos para os professores sobre os
estágios do desenvolvimento infantil, destacando os três tipos de conhecimento 13, segundo Piaget, e a relação
entre aprendizagem e afetividade. Neste sentido, a neurociência aponta para a emoção como um recurso
pedagógico primordial e um fator essencial para que a aprendizagem significativa aconteça. A emoção favorece a
aprendizagem significativa. E, portanto, não é possível dissociar a cognição da emoção. É preciso afetividade
para afetar o outro.
Quem separou desde o início o pensamento do afeto fechou definitivamente para si mesmo o
caminho para a explicação das causas do próprio pensamento, porque a análise determinista do
pensamento pressupõe necessariamente a revelação dos motivos, necessidades, interesses,
motivações e tendências motrizes do pensamento, que lhe orientam o movimento nesse ou
naquele aspecto. De igual maneira, quem separou o pensamento do afeto inviabilizou de
antemão o estudo da influência reflexa do pensamento sobre a parte afetiva e volitiva da vida
psíquica, uma vez que o exame determinista da vida do psiquismo exclui, como atribuição do
pensamento, a força mágica de determinar o comportamento do homem através do seu próprio
sistema, assim como a transformação do pensamento em apêndice dispensável do
comportamento, em sua sombra impotente e inútil. (VIGOTSKI, 2001:16)

Nesta perspectiva, o município de Guapimirim, através da Coordenação de Educação Especial Inclusiva se


organiza e trabalha no empreendimento de ações que promovam uma verdadeira metanoia com vistas à
operacionalização da inclusão, de fato, no cotidiano escolar e para além dos muros da escola compreendendo e
difundindo que “ não existem no processo educacional e que todos independentes de suas
dificuldades têm direito a uma escola que promova uma aprendizagem cognitiva, motora, afetiva e soc .”
(RELVAS, 2012:19) Diante disso, Wallon não restringe o ser humano, no que diz respeito à aprendizagem, a um

10
É o conjunto de sintomas que provocam uma série de distúrbios na aprendizagem, tais como: dislexia, disgrafia,
disortografia, discalculia, transtornos de atenção e hiperatividade, entre outros.
11
Planejamento Educacional Individualizado.
12
Perfil Psicoeducacional Revisado (PEP-R), adaptado por Maria Elisa Granchi Fonseca.
13
Conhecimento físico, lógico matemático e social.

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único aspecto, mas propõe um estudo integrado do desenvolvimento humano com vistas à motricidade, cognição
e afetividade. (GALVÃO, 1995:32).
Segundo Azevedo:
É importante considerar que o corpo para a aprendizagem é essencial, uma vez que somos
formados de pólos positivos e negativos, ou seja, eletricidade. E os estímulos externos percorrem
os nervos (visuais, auditivos, tecido nervoso) que conduzem a força, ou seja, o potencial de ação
desse estímulo, que é a sinapse elétrica, bidirecional, conduzindo o impulso nervoso até o corpo
celular por meio dos dendritos, onde as portas da membrana plasmática se abrem para que as
substâncias necessárias (armazenadas no corpo da célula) sejam conduzidas pelo axônio,
envolvido pela bainha de mielina, com objetivo de produzir neurotransmissores nas fendas
sinápticas. Essa troca de informações sinápticas por neurotransmissão é denominada sinapse
química, que é unidirecional e tem como função promover a comunicação neuronal. Essa
conexão é fundamental para a formação de memórias e, consequentemente, de consolidação da
aprendizagem no hipocampo e cerebelo, através da memória de longo prazo, que só é concebida
através da repetição por estímulos diversos. [...] Por isso Wallon destaca a importância da
motricidade, para além das ações pensadas pelo indivíduo, pois o corpo expressa seus
sentimentos e percepções através de uma linguagem corporal, inclusive, a afetividade é
demonstrada através deste corpo, por meio dos gestos e expressões faciais, de forma específica,
ao longo do desenvolvimento humano, ou seja, da infância a vida adulta, conforme a apropriação
pelo sujeito, da cultura e dos aspectos cognitivos que aprimorarão o ato motor. (AZEVEDO,
2019, no prelo)

Desse modo, o 1º Encontro de Inclusão teve como objetivo a difusão da Diretriz Municipal da Educação
Especial Inclusiva e o 2º Encontro de Inclusão abordar o tema autismo, que alcançou mais de 450
profissionais da educação. Portanto, mais de 16 palestras foram promovidas ao longo de 2019
abordando diferentes teóricos, e os aspectos cognitivos, sócioafetivos e psicomotores para as escolas e
creches municipais a partir da necessidade das unidades escolares de aprofundar conhecimentos sobre a
temática, com vistas à compreensão da importância do corpo e da afetividade para uma aprendizagem
significativa.

Outra iniciativa da Educação Especial Inclusiva foi à implementação do Projeto Piloto de Práticas Pedagógicas
Inclusivas (PPI), oferecido e desenvolvido numa unidade escolar do Ensino Fundamental Anos Iniciais, que
surgiu a partir da necessidade encaminhada pela própria escola, no ano de 2018, a partir da solicitação de
avaliação de um grupo de alunos que a escola considerava ter esgotado suas possibilidades de atuação
pedagógica. A partir de então, houve assessoria pedagógica, semanal, aos professores, formação continuada,
construção do plano de ensino e do plano de ação com base no interesse dos alunos depois da realização de um
brainstorming14 com a equipe técnico-pedagógica e com os alunos, criação de tema para projeto gerador em 2020,
desenho de logo pelos alunos, e votação da comunidade escolar e local para escolher a logo que representará o
projeto. A assessoria pedagógica continuará no ano de 2020 por parte desta coordenação.

14
Tempestade de ideias é uma técnica utilizada para resolução de problemas específicos, desenvolvimento de novas ideias ou
projetos com foco na criatividade.
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Percebendo a necessidade de repensar o acolhimento e a inclusão das pessoas com transtornos funcionais
específicos ou deficiências15, na rede municipal de ensino, criou-se o Projeto Todo dia é dia de Incluir, que tem
como objetivo romper com o paradigma do evento a cada data anunciada pelo calendário cívico envolvendo a
Educação Especial Inclusiva, encaminhando e enfatizando a operacionalização de propostas relacionadas à
organização do ambiente físico, do ambiente psicossocial e estratégias de promoção de inclusão, na rotina da
escola com vistas ao desenvolvimento pleno de todos os alunos. O Projeto Todo dia é dia de Incluir, é uma forma
de sensibilizar os profissionais da educação, conscientizar sobre a importância da prática pedagógica inclusiva e a
necessidade de renovação do olhar sobre o outro enquanto ser incompleto e limitado, independente das
deficiências constatadas por um CID16.

Além disso, foi organizado um calendário para visitas técnicas, como forma de prestar assessoria as unidades
escolares e as salas de recursos multifuncionais, instrumentalizarem a equipe escolar na elaboração da adaptação
curricular e do planejamento educacional especializado, com o objetivo de auxiliar os professores e contribuir à
promoção de práticas pedagógicas inclusivas.

Fato é que mudança de cenário apresenta desafios, pois pressupõe quebra de paradigmas, renovação do
entendimento, disposição para aprender, indisposição com grupos de pessoas para tentar abrir novos horizontes,
busca por recursos e tantas outras coisas. Compreende-se que a inclusão passa pelo amor dedicado ao outro, mas
principalmente, pelo conhecimento de como ajudar esse outro. Em função disso, a formação continuada tornou-se
um instrumento primordial para oportunizar a metanoia, que passa pela cognição, e dar o suporte necessário para
as unidades escolares, inclusive, propondo políticas públicas para a terminalidade específica, atendimento
domiciliar e hospitalar, entre outros. Acreditamos ser esse o caminho para receber as crianças acometidas pela
síndrome congênita do zika vírus e outras STORCHs: promoção de inclusão por meio de conhecimento, recursos
e amor.
Referências

AZEVEDO, Jéssica Arantes. Docência e Afetividade: os (des) caminhos para uma aprendizagem
significativa em sala de aula. Rio de Janeiro, p. 21-35, 2019. No prelo.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil - 1988.
BRASIL. Decreto nº 3.956 – 14/09/2001– Promulga a Convenção Interamericana para a Eliminação de
Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência (Convenção da Guatemala).
BRASIL. Decreto nº 6.094/2007 – Dispõe sobre a implementação do Plano de Metas Compromisso
Todos pela Educação.
15
É toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade
para o desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano.
16
A Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde, frequentemente designada
pela sigla CID (em inglês: International Statistical Classification of Diseases and Related Health Problems - ICD) fornece
códigos relativos à classificação de doenças e de uma grande variedade de sinais, sintomas, aspectos anormais, queixas,
circunstâncias sociais e causas externas para ferimentos ou doenças. O CID 10 é utilizado desde 1990, mas a partir de 2022 o
CID 11 entrará em vigor com atualizações
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BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN 9394 – 20/12/1996.


BRASIL. Lei Nº 13.005 24/06/2014 – Aprova o Plano Nacional de Educação .
BRASIL. Lei Nº 13.146 - 06/07/2015 – Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência.
BRASIL. Lei Nº 8.069 – 13/07/1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente.
BRASIL. Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva –
MEC/SECADI/2008.
BRASIL. Resolução Nº 4 MEC/CNE/CEB 02/10/2009– Institui diretrizes operacionais para o
atendimento educacional especializado na Educação Básica, que deve ser oferecido no turno
inverso da escolarização, prioritariamente nas salas de recursos multifuncionais da própria escola
ou em outra escola de ensino regular.
ESPANHA. Declaração de Salamanca: Sobre princípios, política e práticas na área das
necessidades educativas especiais 1994.
GALVÃO, Izabel. Henri Wallon – Uma concepção dialética do desenvolvimento infantil. Coleção: Educação
e Conhecimento. Rio de Janeiro: Vozes, 1995.
TAILÂNDIA. Declaração Mundial sobre Educação para Todos: Satisfação das necessidades
básicas de aprendizagem Jomtien, 1990.
VIGOTSKI, L. S. A construção do pensamento e da linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

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