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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA

DISCIPLINA: Operações Unitárias com Sistemas Sólido-Fluido (DEQ0515)


DOCENTE: Katherine Carrilho de Oliveira Deus

ELUTRIAÇÃO

INTRODUÇÃO

A elutriação, assim como o peneiramento, é uma técnica de separação sólido-sólido


utilizada para a obtenção de frações com tamanhos especificados. Diferentemente do
peneiramento, a elutriação consiste em separar as partículas através de um fluxo ascendente de
fluido no qual, dependendo da velocidade do fluido, certas partículas serão arrastadas e outras
serão coletadas no fundo do equipamento.

PRINCÍPIOS BÁSICOS

A seletividade da operação depende tanto das características das partículas como


densidade, tamanho e forma, como das características do fluido (densidade, viscosidade e
velocidade de escoamento).
Como sabe-se da interação entre as partículas e os fluidos, as partículas sólidas
apresentam o que chamamos de velocidade terminal que é a velocidade no qual a força de
arraste se iguala a força gravitacional e a partícula cai com velocidade constante. Dessa forma
tem-se que, para que uma determinada faixa de tamanhos de partícula seja coletada no topo do
elutriador a velocidade do fluido deve ser superior a velocidade terminal dessas partículas.
Analogamente, para uma determinada faixa de tamanhos ser coletada no fundo do elutriador, a
velocidade do fluido deve ser menor que a velocidade terminal.
A velocidade do fluido (ascendente) e a velocidade terminal (sempre descendente) tem
sentidos opostos e a velocidade das partículas sólidas no interior do equipamento seria a soma
vetorial dessas duas velocidades. Quando a velocidade do fluido é superior a velocidade
terminal a resultante da soma vetorial seria a velocidade da partícula com sentido ascendente e,
dessa forma, ela sobe. Quando a velocidade do fluido é menor que a velocidade terminal a
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resultante seria para baixo e com isso as partículas caem. No caso em que a velocidade do fluido
é igual a velocidade terminal as partículas ficam “paradas” no interior do equipamento.
Os elutriadores são basicamente cilindros (colunas) com uma base cônica para facilitar
a remoção do material pelo fundo, no qual tem-se a alimentação pela lateral da coluna e duas
saídas nas extremidades, o overflow pelo topo e o underflow pelo fundo. A área que influencia
o escoamento do fluido é a área da seção transversal que depende apenas do diâmetro da coluna.
Pode-se utilizar elutriadores em série, com diâmetros crescentes, para obter uma melhor
separação. Variando o diâmetro, varia-se a velocidade do fluido, que faz com que, partículas
com velocidades terminais cada vez menores e, consequentemente, diâmetros cada vez
menores, sejam coletadas.
Se conseguirmos avaliar o caso em que a velocidade do fluido é igual a velocidade
terminal saberemos o tamanho das partículas que ficariam “paradas” e, consequentemente, o
tamanho das partículas que saem pelo underflow (tamanhos maiores) e o tamanho das partículas
que saem pelo overflow (tamanhos menores). As partículas que saem na corrente de overflow
são aquelas que são elutriadas. Com isso, se conhecermos a velocidade do fluido de elutriação
é possível calcular o diâmetro da partícula através das equações previamente conhecidas
oriundas do estudo da interação partícula-fluido.
Na separação de misturas com dois materiais diferentes (com densidades diferentes)
tem-se o conceito de partículas equitombantes que são aquelas que, tendo densidades diferentes
e sob as mesmas condições, caem com a mesma velocidade terminal e, dessa forma, não podem
ser separadas por elutriação. Nesse caso, o material com a menor densidade é chamado de leve
e o material com a maior densidade é chamado de pesado. Com isso tem-se que, nas operações
de separação, tanto na corrente de fundo quando ns corrente de topo poderão ter partículas de
diferentes tamanhos de leve e pesado misturadas. Para avaliar essa separação utiliza-se a razão
de sedimentação que foi originada do conceito das partículas equitombantes. Dessa forma tem-
se que a velocidade terminal de determinado tamanho de partícula do material leve é igual a
velocidade terminal de determinado tamanho de partícula do material pesado de acordo com a
Equação (1).

4 dp,L (ρs,L−ρ)g 4 dp,P (ρs,P −ρ)g


√ =√ (1)
3 ρCD,L 3 ρCD,P

Fazendo-se as simplificações pertinentes e deixando em função da razão entre os


diâmetros das partículas de leve e pesado chega-se na Equação (2).
dp,L (ρs,P−ρ) CD,L
𝑍= = (2)
dp,P (ρs,L −ρ) CD,P
3

Essa razão entre os diâmetros da partícula de leve e de pesado é chamada de razão de


sedimentação (Z) e é avaliada como o maior tamanho da partícula leve que está junto com o
menor tamanho da partícula de pesado no fundo do elutriador. Dessa forma, quanto maior o
valor de Z, mais fácil será para separar essas partículas já que maior será o tamanho da partícula
leve em comparação a de pesado para que elas sejam equitombantes. Isso ocorre porque quanto
maior for a partícula de leve maior será a força de arraste atuando sobre ela facilitando a
elutriação.
Para alterar a razão de sedimentação pode-se modificar a densidade do fluido de
elutriação (atuando nas forças de empuxo, campo e arraste) ou modificar a viscosidade ou
velocidade do fluido de elutriação (atuando na força de arraste).
Se a lei de Stokes for válida chega-se facilmente à representação da razão de
sedimentação (Z) de acordo com a Equação (3).
1⁄
ρS,P−ρ 2
Z=( ) (3)
ρS,L −ρ

Já para o caso de validade do regime de Newton, tem-se que Z pode ser escrito como na
Equação (4).
1
ρS,P−ρ
Z=( ) (4)
ρS,L −ρ

Para que seja efetuada a separação completa do material leve e pesado é necessário
manter a razão de sedimentação acima do valor considerado limite que é o caso das partículas
equitombantes apresentado nas Equação (2), (3) e (4).
Nos cálculos dos elutriadores, para se ter o material leve puro no topo, precisa-se
conhecer a velocidade terminal da menor partícula do pesado (a que tem menor probabilidade
de sedimentar). Conhecendo-se a velocidade terminal da menor partícula do pesado, pode-se
calcular o diâmetro da maior partícula do leve que terá essa mesma velocidade terminal e
consequentemente irá sedimentar juntamente com as partículas do pesado, uma vez que a
velocidade do fluido será ligeiramente menor que essa. Dessa forma, a partir da distribuição de
tamanhos dos materiais consegue-se saber qual a faixa de tamanhos da partícula leve, que estará
pura do topo, que corresponde ao menor diâmetro do material leve até o diâmetro no qual irá
sedimentar juntamente com as partículas de pesado. Assim, tem-se apenas material leve no topo
e uma mistura de leve e pesado no fundo. O contrário também é válido quando se deseja que o
material pesado esteja puro no fundo.
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REFERÊNCIAS:

CREMASCO, M. A. Operações Unitárias em Sistemas Particulados e Fluidomecânicos.


Editora: Blucher, 2012.

PEÇANHA, R. P. Sistemas Particulados: Operações Unitárias envolvendo partículas e


fluidos. 1. ed. Editora: Elsevier, 2014.

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