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1. Prevenção cardiovascular:
● Níveis de prevenção atuais:
- Primordial: prevenir a instalação de fatores de risco que possam desencadear agravo por
meio de mudanças do estilo de vida.
- Primária: paciente com fatores de risco, necessitando remover para evitar adoecimento +
promoção da saúde. (Ex. controlar HAS, DM, dislipidemia).
- Secundária: paciente é doente assintomático, devendo ser feito diagnóstico precoce, ainda
na fase pré-clínica na tentativa de retardar a progressão.
- Terciária: paciente é doente sintomático, necessitando de reabilitação e controle das
complicações após a doença já estar na fase clínica.
- Quaternária: medidas para proteger o paciente ao evitar medidas excessivas cujos danos
podem superar os benefícios.
- Redução do risco de adoecimento iatrogênico.
- Polifarmácia e intervenções desnecessárias.
● Fisiopatologia:
● Continuum cardiovascular é um quadro idealizado em 2016 para mostrar que a maioria das DCV,
embora existam muitas, se comportam de uma forma contínua, ou seja, que começa lá nos fatores de
risco e vai se tornando doença.
● Os fatores de risco se multiplicam (não somam).
● HAS - colesterol elevado + DM e resistência insulínica + tabagismo - atrapalham a autonomia e
função do vaso sanguíneo = disfunção endotelial - aterosclerose - DAC - isquemia - AVC - trombose
coronariana - IAM - arritmias - remodelamento do coração - dilatação cardíaca - ICC - estágio final
da DAC.
● Estratificação de risco:
● Existem várias formas de se calcular o risco cardiovascular, como calculadoras que estimam o risco
de evento CV fatal ou não fatal em 10 anos (ESC SCORE 2 risk prediction algorithms; ASCVD risk
calculator plus) e a tabela abaixo.
● Leva em consideração nível da PA; presença de fator de risco cardiovascular + presença de lesão de
órgão alvo ou comorbidades.
● Quanto mais elevada a PA, maior o risco.
● A presença de 3 fatores de risco ou mais já eleva o risco cardiovascular para alto, assim como a
presença de LOA, DRC estadio 3, DM e DCV estabelecida.
● Fatores de risco:
● O endotélio íntegro é não permeável, não aderente e capaz de induzir o relaxamento. Ou seja, dentre
as várias substâncias produzidas pelo endotélio, ele produz vasoconstritores (endotelina e
angiotensina II) e dilatadores (predomina a ação do ON). Então quando íntegro há homeostase da
parede cardiovascular.
● No entanto, quando somos submetidos a carga dos fatores de risco (HAS, DM, tabagismo,
hiperlipidemia), eles passam a agredir o endotélio de diferentes formas.
● HAS: estresse de cisalhamento, a pressão esmaga o endotélio.
● DM: provoca uma lesão mais clínica, a glicação das porteiras, levando a degeneração do epitélio.
● Tabagismo: agressão química, levando a degeneração do vaso.
● Hiperlipidemia; inflamação do endotélio, aumentando a permeabilidade do mesmo e permitindo a
entrada de moléculas.
● O endotélio lesado é permeável, aderente e incapaz de induzir o relaxamento.
● Aterotrombose:
● Processo progressivo e generalizado.
● Ao longo do tempo vamos depositando substâncias no endotélio vascular - aterosclerose - ruptura do
vaso pela fragilidade da placa = aterotrombose - angina instável, IAM, AVCi/AIT, isquemia
periférica, morte cardiovascular.
● 50% dos IAM são fatais.
● Dislipidemias:
● Importante risco CV.
● LDL é o mais relevante fator de risco modificável para DAC.
● Existe ampla evidência demonstrando que níveis mais baixos de LDL se associam a redução
proporcional de desfechos CV, incluindo IAM, AVC e morte CV.
● Aumentando o nível de colesterol, aumenta-se a predisposição à ocorrência de aterosclerose e a
chance de isquemia vascular.
● A dieta tem ampla relação com o nível de colesterol no sangue, mas não é o único fator
responsável.
● Processo de transporte de lipídeos:
- Via exógena: quando consumimos gordura animal nós ingerimos 200-700 mg de colesterol,
fabricamos mais no nosso fígado e depositamos na nossa bile 1000mg/dia (fabricamos mais
do que consumimos). Esse colesterol vai para o intestino delgado é absorvido através de
vasos e chega na circulação na forma de quilomícron - partícula muito grande que é
quebrada e se une a APOC-ii e APoE, essas vem do HDL e formam o quilomicron maduro -
sofre ação da lipase lipoproteica (LPL) e reduz ainda mais o tamanho da molécula, retirando
a ApoC-II, sendo assim direcionada (quilomícron remanescente) para o fígado, onde tem o
receptor específico para ApoE - transformado em colesterol livre que é armazenado na bile.
- Via endógena: chegando ao fígado, esse produz VLDL nascente e adiciona ApoB-100 -
VLDL maduro = ApoC-II e apo-E provenientes do HDL - LPL endotelial quebra o VLDL
maduro em LDL que é uma molécula intermediária - concentra o colesterol.
● VR e alvos terapêuticos:
● Baixo risco: LDL <130 e não-HDL-c <160.
● Risco intermediário: LDL <100 e não HDL-c <130.
● Risco alto: LDL <70 e não HDL-c < 100.
● Risco muito alto: LDL <50 e não HDL-c < 80.
● A hipertrigliceridemia é um fator de risco independente para DCV, em especial DAC, mas não está
claro se causa aterosclerose.
● Fibratos: Triglicérides >500 ou dislipidemia mista com predomínio de hipertrigliceridemia.
● Resinas são pouco usadas atualmente: inibidores de PCSK9 são muito potentes e usados nas
hipercolesterolemias familiares, principalmente na homozigótica.
● Ácido nicotínico quase não usa mais.
● Ácidos graxos, ômega 3 ajudam no TGC, mas tem indicações muito restritas.
● HAS:
● Quanto maior a PA, maior o risco CV.
● Valores:
○ PA ótima: < 120 e < 80
○ PA normal: 120-129 e/ou 80-84
○ Pré-hipertensão: 130-139 e/ou 85-89
○ Hipertensão estágio I: 140-159 e/ou 90-99
○ Hipertensão estágio II: 160-179 e/ou 100-109
○ Hipertensão estágio III: > 180 e/ou > 110
● Tratamento:
- Não medicamentoso: MEV.
- Medicamentoso: a maioria já inicia com combinação de fármacos: IECA ou BRA + BCC ou
diurético.
- A monoterapia só controla 25% dos hipertensos. Uso em estágio 1 de baixo risco ou muito
idosos/ frágeis.
- Se não controlar: terapia tripla, sendo 2 IECA ou BRA + BCC ou diurético.
- A 4ª opção de medicamento é a Espironolactona (efeito colateral - ginecomastia).
- A 5ª opção são os BB, simpatolíticos centrais, alfabloq e vasodilatadores.
- BB indicações específicas: IC, pós-IAM, angina, controle da FC, mulheres jovens com
potencial para engravidar, em geral, em combinação com outros fármacos.
- Diretriz europeia sugere terapia já iniciada com 2 medicamentos estando em um só
comprimido. E se precisar de 3 ainda, poderia usar os 3 em um mesmo comprimido.
● Metas pressóricas:
● Diabetes Mellitus:
● DM1: devido a destruição autoimune das células beta, geralmente levando a insuficiência absoluta
de insulina, incluindo DM autoimune latente na idade adulta (LADA).
● DM2: devido a uma perda progressiva de secreção de insulina das células beta, frequentemente
associada ao contexto da resistência à insulina.
● DMG: diagnosticada no 2º ou 3º trimestre.
● Outras DM: MODY, induzida por drogas (Ex: glicocorticóides)...
● Diagnóstico:
○ Glicada ≥ 6,5%.
○ Glicemia em jejum ≥ 126.
○ Glicemia 2h após 75g de glicose ≥200.
○ Glicemia ao acaso ≥200.
● Fisiopatologia:
● Pâncreas produz menos insulina + resistência insulínica + participação e outros fatores.
● Complicações do diabetes:
○ Macrovasculares: doença cardiovascular e doença cerebrovascular.
○ Microvasculares: retinopatia, nefropatia, neuropatia e doença vascular periférica.
● Tratamento:
● Assistência multiprofissional.
● Dieta/ tratamento da obesidade/ atividade física.
● Manejo do fator de risco.
● Tratamento otimizado.
● Redução de complicações crônicas.
● Medicamentos de destaque:
● Inicial: metformina +MEV.
● Se tem DCV ou renal: iSGLT2 (melhora IC) ou GLP-1 (reduz doença aterosclerótica).
● Tabagismo:
● Os efeitos CV são maléficos. Por isso, a DCV é a principal causa de óbito entre os fumantes.
● Diagnóstico de dependência do tabaco:
0-2 muito baixa; 3-4 baixa; 5 média; 6-7 elevada; 8-10 muito elevada.
Sobrecargas atriais:
● Ocorre por aumento do volume em um dos átrios.
● Representa dificuldade de esvaziamento do átrio.
● SAE: aumento da duração da onda P/ da 2ª parte dessa. (+ 2 quadradinhos)
● SAD: aumento da amplitude da onda P/ da primeira parte. (+ 2 quadradinhos)
● Principais tipos de arritmias cardíacas: arritmia sinusal, bradicardia sinusal, taquicardia sinusal,
flutter atrial, fibrilação atrial, taquicardia atrial, extrassistole e escape atrial, extrassístole e escape
ventricular, taquicardia ventricular, flutter ventricular, fibrilação ventricular…
Bloqueios atrioventriculares:
● Primeiro grau: intervalo PR aumentado.
● Segundo grau Mobitz I/Wenckebach: intervalo PR vai aumentando até não conduzir.
Bradicardia sinusal
● FC< 50 bpm.
● Presença de onda P antes de todo QRS.
Pausa/parada sinusal
● Interrupção temporária da atividade do nó sinusal, observada no ECG como desaparecimento das
ondas P de segundos a minutos.
Bradicardia sinusal
Pausa/parada sinusal
Extrassístole ventricular
● QRS alargado.
● 2 QRS seguidos.
● Podem ter 2 juntas/ seguidas (bigeminismo).
Taquicardia sinusal, atrial focal e atrial multifocal
Flutter atrial
● São descargas elétricas muito rápidas que fazem com que os átrios se contraiam muito rápido.
Fibrilação atrial
● Durante a fibrilação atrial, os impulsos elétricos são desencadeados a partir de muitas áreas no
interior e em torno do átrio, não somente a partir de uma área única, paredes atriais se estremeçam
em vez de se contraírem.
Flutter atrial
Fibrilação atrial
Classificação da FA
● Fibrilação atrial paroxística: <7d.
● Fibrilação atrial persistente: >7d.
● Fibrilação atrial permanente: não há intenção de tentar-se reverter para ritmo sinusal.
● Condutas da FA:
3. Doença arterial coronariana aguda e crônica:
● DAC é o resultado da obstrução das artérias coronárias.
● SCA: refere-se aos episódios de doença arterial coronariana instável.
● Atinge 5-8% dos adultos > 40 anos no Brasil.
● O IAM pode ser a 1ª manifestação da DAC. (não deveria)
● SCA ≠ DAC: síndrome é um conjunto de sinais e sintomas que definem uma determinada patologia
ou condição, sendo que os fatores que causam os sinais e sintomas nem sempre são conhecidos. Já a
doença é um distúrbio da função de determinado órgão, que está relacionado a causas e sintomas
específicos.
● A dor torácica de origem cardíaca pode ser isquêmica (angina estável, instável ou IAM) ou não
isquêmica (pericardite, SCA, valvular).
● Já a dor torácica de origem não cardíaca pode ser gastroesofágica (DRGE, espasmo esofagiano e
úlcera péptica) ou não gastroesofágica (pneumotórax, embolia pulmonar, síndrome pós-covid,
músculo-esquelética psico-emocional).
● Localização da dor de origem isquêmica: centro do tórax, irradiando para ombro, braço esquerdo e
principalmente mandíbula, pescoço e costas (interescapular).
ECG na DAC:
Supra de ST na SCA
● Supra feliz: concavidade para cima tem causas benignas (pericardite, repolarização precoce), porém
também pode ser um IAM em fase mais precoce (nas primeiras horas).
● Supra triste: concavidade para baixo - pensar em IAM.
● Áreas: anterosseptal (VI, V2, V3, V4), anterolateral (V4, V5, V6, DI e aVL), lateral alta (DI e
aVL), anterior extensa (VI a V6 em DI e aVL), inferior (D2, D3 e aVF) e dorsal (V7 e V8 com
imagem recíproca em VI, V2 e V3).
● IAM septal (anteroseptal): V1 + V2 + v3
● IAM anterolateral: V2 + V3 + V4 + V5 + D1 + aVL
● Tipos de SCA:
- MINOCA: infarto do miocárdio com artérias coronárias normais*.
- INOCA: isquemia sem infarto do miocárdio.
- TINOCA: artérias tortuosas, alteração anatômica.
- Causas: trombo, dissecção, espasmo…
● *Síndrome do coração partido/ de Takotsubo: IAM com dor típica, aumento da troponina, ECG com
supra, CAT com coronária normais. Geralmente por espasmo. Grave.
● Colchicina: demonstrou benefício para paciente com angina grave que não melhorou com outros
tratamentos.
● Rivaroxabana (Xarelto): melhora para alguns com risco alto.
● Conclusão:
- MINOCA: MEV.
- Lesão leve: MEV.
- Extensa obstrução: se o tratamento não funcionar angioplastia ou cirurgia.
- Muito alto risco: clínica + revascularização (cirurgia ou angioplastia).
4. Valvopatias cardíacas:
● Desdobramento de B2:
- Desdobramento fixo: CIA.
- Desdobramento acentuado: sobrecarga de VD, BRD.
- Desdobramento paradoxal: sobrecarga de VE, BRE.
● Sopros e irradiações:
- Aórticos: irradiam para fúrcula e carótida. Melhores audíveis fletindo o tórax para frente na
expiração.
- Mitrais: irradiam para a axila esquerda. Melhores audíveis em decúbito lateral esquerdo.
Sopros:
Patologia Sopro Causas Observações Observações
Endocardite infecciosa:
● Lesão endotelial com deposição de fibrina e plaquetas, podendo ter aumento de vegetação.
● FR: prótese valvar, S. epidermidis, S. aureus e enterobactérias gram-negativas, uso de drogas,
desordem valvar adquirida.
● C: sopro cardíaco, petéquias e nódulos de Osler, embolização sistêmica, febre baixa, mal estar,
fadiga, perda ponderal, artralgias e calafrios.
● D: hemocultura, sorologias, critérios de Duke.
● T: antibioticoterapia e em alguns casos cirurgia.
● Estágios (ACC/AHA):
- A: risco de desenvolver IC, sem doença estrutural ou sintomas. Controlar FR.
- B: Doença estrutural presente, sem sintomas. Considerar IECA, b-bloq, antag mineralocorticoides.
- C: Doença estrutural presente, com sintomas. Tto clínico otimizado, equipe multidisciplinar,
considerar TRC, CDI e tratamento cirúrgico.
- D: IC refratária ao Tto clínico - requer intervenção especializada. Todas as medidas acima +
considerar transplante cardíaco e dispositivos de assistência ventricular.
● Sintomas:
- Típicos: dispneia, ortopneia, dispneia paroxística noturna, fadiga, intolerância ao exercício.
Bendopneia (dispneia 30 seg após se curvar para frente, por exemplo, ao amarrar os sapatos) (↑
pressão de enchimento ventricular).
- Menos típicos: tosse noturna, ganho de peso, dor abdominal, perda de apetite, perda de peso,
noctúria e oligúria.
● Sinais:
- Mais específicos: pressão venosa jugular elevada, reflexo hepatojugular, 3ª bulha cardíaca, impulso
apical desviado para a esquerda.
- Menos específicos: crepitações pulmonares, taquicardia, hepatomegalia, ascite, extremidades frias,
edema periférico.
● Causas de edema:
- ↑ Pressão hidrostática do capilar por cardiomiopatia, doença pericárdica ou doença valvar.
● Diagnóstico:
● Diagnóstico da ICFEp:
● Tratamento ICFEr:
- SGLT2i. (Dapagliflozina, Empagliflozina) (remodela ventrículo)
- IECA ou BRA. (Captopril)
- Beta-bloqueador para diminuir FC. (Bisoprolol, Carvedilol)
- Espironolactona.
- Para alguns pacientes com retenção de fluido: diuréticos.
● Sinais de IC avançada:
- Sintomas severos e persistentes (NYHA classe III ou IV).
- IAM, AVE.
- FEVE ≤ 30%.
- Anormalidades valvares inoperáveis.
- Doenças cardiovasculares congênitas inoperáveis.
- Aumento persistente de BNP ou NT-próBNP.
- Episódios de congestão pulmonar necessitando de altas doses de diurético.fi