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Tribunal de Justiça / São Paulo DIR.

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CÓDIGO PENAL - COM AS ALTERAÇÕES VIGENTES

Enfim, nos crimes contra a fé pública protege-se a


Crimes Contra a Fé Pública confiança (fé) das pessoas nas coisas e documentos, que
fazem parte da vida e das relações sociais.

A "Fé Pública" é a indispensável confiança que os


indivíduos precisam e devem depositar nas ações dos Documento Público e Documento Particular
homens, do Estado e na coisas organizadas, disciplinadas
e administradas — direta ou indiretamente — pelo Poder
Público. “Documento” é todo escrito, que retrate um ato ou um
fato. Quando construído para comprovar a formação ou
Para CARRARA conceito de fé pública alcançava mais existência de um ato ou de fato, chama-se instrumento.
que a confiança no exercício do cargo e função pública
pelas pessoas, abrangendo também a fidedignidade que o Será particular o documento que quaisquer pessoas
Estado confere a determinadas coisas, como os documen- escreverem sem vínculo com a atividade pública — e será
tos em geral, o selo, a moeda etc. público o documento redigido em razão do ofício público.

E.MAGALHÃES NORONHA ensina que "A fé pública é Todo documento — particular ou público — geram
uma realidade e é um interesse que a lei deve proteger. Sem certeza e confiança da veracidade da ocorrência do fato ou
ela seria impossível a vida em sociedade. Fruto da civiliza- ato nele registrado.
ção e do progresso — pois seria incompreensível ou inútil
nas sociedades primitivas — hoje constitui um bem do qual Claro que essa “fé” é maior nos documentos públicos,
a vida comunitária não pode absolutamente prescindir. Com bastando sua origem para que sejam considerados autênti-
efeito, o homem tem necessidade de acreditar na veracidade cos. Por isso mesmo, os documentos públicos fazem prova
ou genuinidade de certos atos, documentos, sinais, símbolos plena, sempre que apresentados no original, ou em
etc., empregados na multiplicidade das relações diárias, em traslado ou em certidão.
que intervém. A atividade civil, o mundo dos negócios etc.,
A lei penal tutela —protege — a confiabilidade (fé) dos
carecem deles e daí a natural crença ou confiança de todos
documentos, tanto dos públicos, como dos particulares.
em que eles atestam ou provam a veracidade das relações
jurídicas e sociais. Não se trata de bem particular ou
E.MAGALHÃES NORONHA, invocando lições de outros
privado. Ainda que, no caso, haja ofensa real ou perigo de
autores, ensina que “Maggione define documento público,
lesão ao interesse de uma pessoa, é ofendida a fé pública,
fazendo-o à luz do art.2.699 do Código Civil Italiano; Man-
isto é, a crença ou convicção geral da genuinidade e valor
zini dá-nos conceito um tanto prolixo; Lombardi escreve:
dos documentos, atos etc., prescritos ou usuais para aquelas “Pode dizer-se, assim, documento público aquele que é feito
relações" — (in "Direito Penal", 4º Vol., 5ª ed. Saraiva, 1972, p.118). por oficial público ou pessoa a ele equiparada, na forma le-
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gal e no exercício de suas funções e no exercício de suas fun- possa causar conseqüências no campo jurídico (caracterís-
ções, seja para um fim de direito público inerente a essas ticas apresentadas por Heleno C. Fragoso). Nesse sentido:
funções, seja para receber declarações particulares de RT, 445:336, 354:555 e 522:359. Não constituem docu-
vontade e verdade e atribuir-lhes fé pública”; e, finalmente, mentos os papéis inócuos, os que retratam fatos ou
Fabiani diz: “Qualquer documento (legislativo, administra- manifestações de vontade sem importância jurídica” — (in
tivo, judiciário) feito por oficial público, no exercício de suas “Código Penal Anotado”, 3ª ed. DIS, Saraiva, 1998, anotação ao art.
funções, é documento público, ao qual se dirige a proteção 298/CP).
penal”.

Percorrendo-se as várias definições dos juristas, podemos


dizer que são característicos do documento público: a Falsidade de Títulos e outros Papéis Públicos
qualidade da pessoa de quem ele emana, isto é, o funcioná-
rio público; a competência ratione loci, materiae e officii; e Falsificação de Papéis Públicos
a forma legal.” — [in Direito Penal, vol.4, 17ª ed., 1986, Ed. Saraiva,
p.140]
Art.293 - Falsificar, fabricando-os ou alterando-as:
alterando-as
Em analisando o documento particular, E. MAGALHÃES
NORONHA, define-o de forma simples e concisa: “o que é I - tributário, papel selado
selo destinado a controle tributário,
feito sem intervenção de funcionário ou de alguém que ou qualquer papel de emissão legal destinado à
tenha fé pública”. Acrescenta ainda: “Não tem o documento arrecadação de tributo;
tributo;
particular forma especial, devendo, porém, apresentar Obs.: redação modificada pela Lei nº 11.035/2004, para excluir o
característicos que o individualizem. A transcrição no selo postal e a estampilha pela expressão mais abrangente “selo
registro público ou o reconhecimento da firma não mudam destinado a controle tributário” — e a expressão arrecadação de
sua natureza, embora esses atos seja públicos. Particular “imposto ou taxa”, por arrecadação de “tributo”, gênero que
abarca outras espécies, além dessas duas.
também é o documento público nulo por preterição de
formalidade substancial.” — [in Direito Penal, vol.4, 17ª ed., 1986, II - papel de crédito público que não seja moeda de
Ed. Saraiva, p.145].
curso legal;
legal
São exemplos padrões de documentos públicos as
III - vale postal;
postal
Cédulas de Identidade, a Carteira Nacional de Habilitação
para dirigir, as Carteiras de Identidade como a funcional
IV - cautela de penhor, caderneta
caderneta de depósito de
da Ordem dos Advogados do Brasil, de Delegados, de
caixa econômica ou de outro estabelecimento
Fiscais, de Promotores, Juízes, etc., a própria Carteira de
mantido por entidade de direito público;
público
Trabalho, o Certificado de Alistamento, o de Reservista,
o de Isenção do Serviço Militar, as escrituras públicas, os
formulários de Guia de Recolhimento de Tributos, a Guia V - talão, recibo, guia, alvará ou qualquer outro
do INSS, o Telegrama, o Diploma de Curso Superior, documento relativo a arrecadação
arrecadação de rendas
Papéis Autenticados — e são equiparados a documentos públi
públicas ou a depósito ou caução por que o
públicos: 1º) o documento emitido por entidade paraesta- poder público seja responsável;
responsável
tal (as autarquias); 2º) o título ao portador ou transmissí-
vel por endosso: notas promissórias, cheques, duplicatas, VI - bilhete, passe ou conhecimento de empresa de
letras de câmbio, conhecimentos de depósito etc.; 3º) as transporte administrada pela União, por Estado
ações de sociedade comercial (sociedade anônima e ou por Município:
Município
sociedade em comandita por ações): preferenciais,
ordinárias, nominativas ou ao portador etc.; 4º) os livros Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
mercantis: obrigatórios ou facultativos (RTJ, 66:348); e
5º) o testamento particular (hológrafo). § 1º - Incorre na mesma pena quem:

Ensina DAMÁSIO E.JESUS serem características do I - usa, guarda, possui ou detém qualquer dos papéis
documento particular: “1ª) forma escrita: não abrange as falsificados a que se refere este artigo;
fotografias, cópias não autenticadas de documentos,
pinturas, gravações etc. A escrita deve ter sido aposta em II - importa, exporta, adquire, vende, troca, cede,
coisa móvel; 2ª) autor determinado: a escrita anônima empresta, guarda, fornece ou restitui à circulação
não configura documento; 3ª) deve conter uma manifes- selo falsificado destinado a controle tributário;
tação de vontade ou a exposição de um fato: a simples
aposição de uma assinatura em papel em branco não III - importa, exporta, adquire, vende, expõe à venda,
constitui documento. Papel assinado em branco: é falsida- mantém em depósito, guarda, troca, cede, em-
de material forjar documento que lhe fora confiado para presta, fornece, porta ou, de qualquer forma,
preenchimento (RT, 528:321); se não lhe foi confiado: utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício
RT, 571:310. Da mesma forma, não consistem em docu- de atividade comercial ou industrial, produto ou
mentos os papéis com escritos ininteligíveis ou sem mercadoria:
sentido; 4ª) relevância jurídica: é necessário que o escrito
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a) em que tenha sido aplicado selo que se destine 6 Ação Física (§ 2º):
(§ 2º):
a controle tributário, falsificado; incrimina-se a supressão (eliminação ou remoção) de
carimbo ou sinal indicativo de sua inutilização, com o fim
b) sem selo oficial, nos casos em que a legislação de torná-los novamente utilizáveis.
tributária determina a obrigatoriedade de sua
aplicação. 6 Elemento Subjetivo do Injusto:
o dolo. Sem modalidade culposa.
Obs.: redação modificada pela Lei nº 11.035/2004, para
incluir outras condutas típicas, além do uso dos
papéis falsificados. 6 Ação Física (§ 3º):
(§ 3º):
pune-se o uso dos papéis referidos no caput.
§ 2º - Suprimir, em qualquer desses papéis, quando
legítimos, com o fim
fim de torná-los novamente 6 Elemento Subjetivo do Injusto:
utilizáveis, carimbo ou sinal indicativo
indicativo de sua o dolo. Inexistente a forma culposa.
inutilização.
inutilização
6 Ação Física (§ 4º):
(§ 4º):
Pena -reclusão, de um a quatro anos, e multa. pune-se a conduta de quem, tendo recebido os papéis na
ignorância da falsificação ou alteração, os usa à circula-
§ 3º - Incorre na mesma pena quem usa, depois e
ção, depois de conhecer a falsidade ou alteração.
alterado, qualquer dos papéis a que se refere o
parágrafo anterior.
anterior
6 Elemento Subjetivo do Injusto:
o dolo. Não há punição a título de culpa.
§ 4º - Quem usa ou restitui à circulação, embora
recebido de boa fé, qualquer dos papéis falsifica-
dos ou alterados, a que se referem este artigo e 6 Ação Penal:
Penal pública incondicionada.
o seu § 2º, depois de conhecer a falsidade ou
alteração, incorre na pena de detenção,
detenção, de seis
meses a dois anos, ou multa.
multa Petrechos de Falsificação

§ 5º - Equipara-se a atividade comercial, para os fins do Art.294 - Fabricar,


Fabricar, adquirir, fornecer, possuir ou guardar
inciso III do § 1º, qualquer forma de comércio objeto especialmente
especialmente destinado à falsificação
irregular ou clandesti
clandestino, inclusive o exercido em de qualquer dos papéis referidos no artigo
vias, praças ou outros logradouros públicos e em anterior.
anterior
residências.
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
Obs.: § 5º acrescido pela Lei nº 11.035, de 22.12.2004, para
alcançar também o sacoleiro e os micro ou pequenos
empresários, que fazem dessa falsidade meio para seu 6 Sujeito Ativo: qualquer pessoa.
descaminho.
6 Sujeito Passivo: o Estado.
6 Sujeito Ativo: qualquer pessoa.
6 Objeto da Tutela Penal: a fé pública.
6 Sujeito Passivo: o Estado.
6 Ação Física:
6 Objeto da Tutela Penal: a fé pública em face da ordem as ações incriminadas são: a) fabricar; b) adquirir; c)
tributária
fornecer; d)possuir;
d) e) guardar.
6 Ação Física (caput
caput):
(caput):
6 Elemento Subjetivo do Injusto:
a incriminação é falsificar, dar aparência enganosa a fim
o dolo. Não há punição a título de culpa.
de passar por original. Meios previstos: a) fabricando-os;
b) alterando-os.
6 Ação Penal:
Penal pública incondicionada.
6 Elemento Subjetivo do Injusto:
o dolo. Não há forma culposa. Art.295 - Se o agente é funcionário público, e comete o
crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a
6 Ação Física (§ 1º):
(§ 1º): pena de sexta parte.
pune-se não apenas o uso de qualquer dos papéis públicos
indicados nos incisos do caput, como qualquer interferên-
cia no processo de falsificação ou uso do papel falsificado, Falsidade Documental
agora também a guarda e o depósito, que antes não eram
alcançados.
Falsificação do Selo ou Sinal Público
6 Elemento Subjetivo do Injusto:
o dolo. Não há forma culposa. Art.296 - Falsificar, fabricando-os ou alterando-os:
alterando-os
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I - selo público destinado a autenticar atos oficiais Falsificação de Documento Público
da União, de Estado ou de Município;
Município
Art.297 - Falsificar,
Falsificar, no todo ou em parte, documento
II - selo ou sinal atribuído por lei a entidade de público, ou alterar documento público verda-
direito público, ou a autoridade, ou sinal deiro:
deiro
público de tabelião:
tabelião
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
§ 1º - Se o agente é funcionário público, e comete o
§ 1º - Incorre nas mesmas penas:
penas crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a
pena de sexta parte.
parte
I - quem faz uso do selo ou sinal falsificado;
§ 2º - Para os efeitos penais, equiparam-se a docu-
II - quem utiliza indevidamente o selo ou sinal mento público o emanado de entidade paraes-
verdadeiro em prejuízo de outrem ou em prove- tatal, o título ao portador ou transmissível por
ito próprio ou alheio. endosso,
endosso, as ações de sociedade comercial, os
livros mercantis e o testamento particular.
particular
III - quem altera, falsifica ou faz uso indevido de
marcas, logotipos, siglas ou quaisquer outros 6 Sujeito Ativo: qualquer pessoa.
símbolos utilizados ou identificadores de órgãos
ou entidades da Administração Pública. 6 Sujeito Passivo:
o Estado, primeiramente, e a pessoa em prejuízo de quem
Obs.: inciso III acrescido pela Lei nº 9.983/00.
foi o falso praticado, secundariamente.
§ 2º - Se o agente é funcionário público, e comete o
crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a 6 Objeto da Tutela Penal: a fé pública, especialmente a
pena de sexta parte.
parte autenticidade dos documentos.

6 Sujeito Ativo: qualquer pessoa. 6 Ação Física:


são duas as condutas previstas: a) falsificar, no todo ou
6 Sujeito Passivo: o Estado, primeiramente. em parte, documento público; b) ou alterar documento
público verdadeiro, em qualquer das hipóteses, é impres-
6 Objeto da Tutela Penal: a fé pública, especialmente os cindível que a falsificação seja idônea para enganar
sinais públicos de autenticidade. indeterminado número de pessoas e que seja capaz de
causar prejuízo para outrem, pois o falso inócuo não
configura o delito.
6 Ação Física (caput):
caput): a ação é falsificar, que tem a
significação de apresentar como verdadeiro o que não é.
6 Elemento Subjetivo do Injusto:
A falsificação, para caracterizar o crime, em qualquer de
o dolo. Não há punição a título de culpa.
suas modalidades, deve ser apta a enganar a generalidade
das pessoas, ela pode ser feita: a) fabricando; b) alteran- 6 Ação Penal:
Penal
do. pública incondicionada, sendo necessário exame de corpo
de delito.
6 Ação Física (§ I):
(§ 1º, I):
pune-se quem faz uso do selo ou sinal falsificado, usando- § 3º - Nas mesmas penas incorre quem insere ou faz
o em sua destinação normal e oficial. inserir:
6 Ação Física (§ II):
(§ 1º, II): I - na folha de pagamento ou em documento de
incrimina-se quem utiliza indevidamente, o selo ou sinal informações que seja destinado a fazer prova
verdadeiro, agindo em prejuízo de outrem ou em proveito perante a previdência social, pessoa que não
próprio ou alheio. possua a qualidade de segurado obrigatório;
6 Ação Física (§ III):
(§ 1º, III): II - na Carteira de Trabalho e Previdência Social
quis a inovação legal alcançar também quem altera, do empregado ou em documento que deva
falsifica ou faz uso indevido das simbologias que associam produzir efeito perante a previdência social,
o documento à Administração Pública — de que sempre declaração falsa ou diversa da que deveria ter
resulta a aparência de documento público ou oficial, sido escrita;
provido de fé.
III - em documento contábil ou em qualquer outro
6 Elemento Subjetivo do Injusto: documento relacionado
relacionado com as obrigações da
o dolo. Não há forma culposa. empresa perante a previdência social, declara-
ção falsa ou diversa da que deveria ter cons-
6 Ação Penal:
Penal pública incondicionada. tado.
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§ 4º - Nas mesmas penas incorre quem omite, nos § único - Se o agente é funcionário público, e comete o
documentos mencionados no § 3º, nome do crime prevalecendo-se do cargo, ou se a falsifi-
segurado e seus dados
dados pessoais, a remunera- cação ou alteração é de assentamento de
ção, a vigência do contrato de trabalho ou de registro civil, aumenta-se a pena de sexta
prestação de serviços. parte.
Obs.: §§ 3º e 4º acrescidos pela Lei nº 9.983/00.
6 Sujeito Ativo:
No § 3º, inovação legislativa teve por propósito tratar qualquer pessoa, não precisando, necessariamente, ser
com rigor aqueles que falsificam folhas de pagamento, quem redige o documento. Se o agente for funcionário
livros de registros e mesmo carteiras de trabalho: claro é
público, vide § único.
o dolo de produzir prova de filiação a pessoas não filiadas,
para que se credenciem estas à conquista de benefícios
6 Sujeito Passivo: primeiramente, o Estado; secundaria-
previdenciários: respondem eles também pela falsidade de
mente, a pessoa prejudicada pela falsidade.
documento público,
público a despeito de serem eventualmente
particulares tais documentos.
6 Objeto da Tutela Penal:
a fé pública, especialmente e genuinidade do documento.
No § 4º quis-se coibir a omissão, que desprotege os
segurados, impedindo-os de se credenciarem à conquista
de benefícios previdenciários. 6 Ação Física:
são três as modalidades alternativamente previstas: a.
omitir declaração que dele devia constar. b. inserir
declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita. c.
Falsificação de Documento Particular
fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser
escrita.
Art.298 - Falsificar, no todo ou em parte, documento
particular ou alterar
alterar documento particular
6 Elemento Subjetivo do Injusto:
verdadeiro:
verdadeiro
o dolo. Não há forma culposa.
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
6 Ação Penal:
Penal pública incondicionada.

6 Sujeito Ativo: qualquer pessoa. Esse tipo de crime tem essa denominação porque ele
representa a falsidade da "idéia", já que o documento é,
6 Sujeito Passivo: exterior e materialmente, perfeito.
o Estado, primeiramente; secundariamente, a pessoa
prejudicada pela falsidade. Significa que o documento é falso em seu conteúdo, ou
seja, suas declarações são mentirosas, embora ele satisfaça
6 Objeto da Tutela Penal: todos os requisitos para sua validade formal. Nenhuma
a fé pública, especialmente a autenticidade dos documen- perícia comprova o falso ideológico, porque ele não é
tos. documento rasurado ou alterado em sua aparência
instrumental, mas sim documento preenchido
preenchido com
6 Ação Física: perfeição,
perfeição porém falso, viciado no conteúdo,
conteúdo com pala-
as condutas previstas são idênticas às do artigo anterior. vras que lá não deveriam estar, ou sem palavras, que lá
deveriam constar.
6 Elemento Subjetivo do Injusto:
o dolo. Não há forma culposa. Enfim, "bom de corpo, "ruim de alma".

6 Ação Penal:
Penal pública incondicionada. Importante considerar que só o crime de falsidade
ideológica quem "omite, ou nele faz constar a declaração
falsa, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou
alterar a verdade" sobre fato juridicamente relevante.
Falsidade Ideológica
Se essa, ou uma dessas condições não estiver compro-
Art.299 - Omitir, em documento público
público ou particular, vada, ainda que se tenha feito um documento de conteú-
declaração que dele devia constar, ou nele do falso, não se terá praticado crime de falsidade ideoló-
inserir ou fazer inserir declaração falsa ou gica.
diversa da que devia ser escrita, com o fim de
prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a Não se trata de crime próprio de funcionário público:
verdade sobre fato juridicamente relevante: qualquer pessoa pode cometê-lo.

Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o docu- Trata-se de crime contra a fé pública, por que as
mento é público, e reclusão de um a três anos, e pessoas devem confiar nos documentos e a falsificação
multa, se o documento é particular. destes elimina a confiança das pessoas, gerando a insegu-
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rança de todos em todas as relações jurídicas. É, portanto, Pena - detenção, de dois meses a um ano.
para proteger a fé que devem inspirar todos os documen-
tos, que se pune a falsificação destes, não importando se 6 Sujeito Ativo:
o documento é público ou particular. só o funcionário público, em razão de seu ofício.

Atenção: Se as "mentiras" (falsidades) lançadas no 6 Sujeito Passivo: o Estado.


documento (público ou particular), tiverem por propósito
fraudar a fiscalização tributária, ou a evasão (não paga- 6 Objeto da Tutela Penal:
mento, total ou parcial) de tributo — o crime não será o a fé pública, especialmente a das certidões e atestados.
de "falsidade ideológica" deste artigo, mas "Crime contra a
Ordem Tributária", previsto numa lei nova, a de nº
6 Ação Física:
8.137/90 (27/DEZ/90) art.1º e 2º — e a pena será de 2
são dois os núcleos empregados: atestar ou certificar.
a 5 anos de reclusão (mais multa).
Pune-se o funcionário público que, em razão de função
pública, atesta ou certifica falsamente.
E se essa conduta atentatória à ordem tributária for
cometida por um funcionário público (no exercício de
suas funções), a pena será aumentada (agravada) de 1/3 6 Elemento Subjetivo do Injusto:
até a metade — e não de apenas 1/6, como se agrava o dolo. Não há punição a título de culpa.
para a simples falsidade ideológica, prevista neste § único.
6 Ação Penal:
Penal pública incondicionada.

Embora não esteja dentre os crimes próprios com


Falso Reconhecimento de Firma ou Letra funcionários públicos, este crime só pode ser cometido
por funcionário público,
público já que a falsidade do atestado ou
Art.300 - Reconhecer, como verdadeira, no exercício de certidão é praticada em razão do ofício e, portanto, só
função pública, firma ou letra que o não seja.
seja pelo funcionário público ao executar a sua função.

Pena:
Pena reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o docu- Tem-se aqui uma espécie do gênero "falsidade ideológi-
mento é público;
público e de um a três anos, e multa, se ca".
o documento é particular.
particular Embora a lei fale que a certidão ou atestado habilite
alguém a obter cargo público, isenção de ônus ou serviços
6 Sujeito Ativo: de caráter público, ou outra vantagem, para a caracteriza-
somente o funcionário com fé pública para reconhecer, ção do crime Não é necessário que o funcionário público
embora possa haver partícipe sem essa qualidade. cometa a falsidade com tal intuito, bastando que tenha
vontade de atestar ou certificar em desacordo com a
6 Sujeito Passivo: primeiramente o Estado, e, secundaria- verdade. Se, simplesmente, incorrer em erro (imprudên-
mente, a pessoa prejudicada. cia, ou negligência, ou imperícia), então não haverá
crime, pois é necessário o dolo (vontade de falsear).
6 Objeto
Objeto da Tutela Penal: a fé pública, especialmente a
autenticação de documentos.
Importante, porém, que o atestado ou falsidade permi-
ta alguém -- pelo menos potencialmente -- possa obter
6 Ação Física:
qualquer vantagem em razão dela. ¿ E se ele não tiver
o núcleo é reconhecer. Pune-se o reconhecimento, como
verdadeira, de firma ou letra que não o seja. nenhum lucro ??? Veja bem: não é imprescindível que o
beneficiário consiga essa vantagem. Basta que o atestado
6 Elemento Subjetivo/Injusto: (ou certidão) tenha esse potencial liberatório.
exige-se o dolo, ainda que eventual. Não há punição a
título de culpa. Atenção: não confunda o "gênero" da falsidade ideoló-
gica,
ica com os casos especiais, em que também há uma
6 Ação Penal:
Penal pública incondicionada. "mentira no conteúdo", mas que constituem outro crime
(com nome diferente): já vimos que, se a falsidade tem
por propósito a sonegação de tributos, o crime é contra a
ordem tributária. Se, entretanto a falsidade foi praticada
Certidão ou Atestado Ideologicamente Falso num atestado ou numa certidão (e não é para sonegar
tributos), então, o crime não será o do art.299 e sim o do
Art.301 - Atestar ou certificar falsamente, em razão da art.301/CP.
função pública, fato ou circunstância que
habilite alguém a obter cargo público, isenção Cuidado (!),
(!) porque já houve concurso público, em que
de ônus ou de serviço de caráter público, ou tal pequena e delicada diferença foi questionada.
qualquer outra vantagem:
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Forma Qualificada
Falsidade Material
de Atestado ou Certidão § 2º/art.301 - Se
o crime é praticado com o fim de lucro,
aplica-se, além da pena privativa de liberda-
§ 1º/art.301 - Falsificar,
no todo ou em parte, atestado
atestado ou de, a de multa.
certidão, ou alterar o teor de certidão ou de
atestado verdadeiro, para prova de fato ou Trata-se do mesmo crime, havendo o legislador penal
circunstância
circunstância que habilite alguém a obter aumentado a pena, acrescendo-a de multa, se se com-
cargo público, isenção de ônus ou de serviço provar que o autor do delito agiu com finalidade de obter
de caráter público, ou qualquer outra vanta- lucro.
gem:
Não importa se o falsificador conseguiu ou não o lucro,
Pena - detenção, de três meses a dois anos. o que importa é que sua "inspiração" foi a obtenção de
lucro.
A diferença entre a falsidade ideológica e a material é
que na primeira, o documento é modificado (adulterado) E se não se comprovar tal motivação (lucro), então não
em seu conteúdo, seja pelo acréscimo de palavra, seja pela se caracterizará a forma qualificada, mas sim a simples,
substituição, seja pela supressão. ou seja, a do § 1º do art.301/CP.

Já na falsidade material a ação criminosa incide sobre 6 Sujeito Ativo:


o instrumento, que corporifica o documento, seja por qualquer pessoa (crime comum quanto ao sujeito).
rasura, risco, raspagem, apagamento, ou mesmo inserção
de caracteres (letras ou palavras), que modifiquem a 6 Sujeito Passivo: o Estado.
aparência do documento.
6 Objeto da Tutela Penal:
Enquanto nenhuma perícia comprova a materialidade a fé pública, especialmente a das certidões e atestados.
do falso ideológico, porque ele não é um corpo adul-
terado, mas sim um documento preenchido com aparên- 6 Ação Física:
cia perfeita — a falsidade material, ao contrário, pode ser nesta a falsidade é material: o agente falsifica, no todo ou
apurada por perícia técnica, já que a modificação do em parte, ou altera o teor de certidão ou atestado verda-
instrumento, obrigatoriamente, deixa vestígios materiais.
deiro.
Também a fabricação de documentos falsos é de
6 Elemento Subjetivo do Injusto:
natureza material, já que o “corpo” é falso, seja no papel,
o dolo. Inexiste forma culposa.
ou nos carimbos, ou no formulário, ou na assinatura, etc.
6 Ação Penal:
Penal pública incondicionada.
Enfim, o documento falsificado ideologicamente, é
"bom de corpo, "ruim de alma" — enquanto o documento
falsificado materialmente é foi elaborado com a alma boa,
mas seu “corpo ruim” faz aparentar uma alma ruim. Falsidade de Atestado Médico

O que se pretende neste parágrafo primeiro é proteger


documentos especiais, como atestados de boa conduta, de Art.302 - Dar o médico,
médico, no exercício da sua profissão,
miserabilidade, de serviços na FEB, de ter servido como atestado falso:
falso
jurado, de ser profissional sindicalizado, etc., — importan-
tes por permitirem às pessoas se habilitarem a obter cargo Pena - detenção, de um mês a um ano.
público, justiça gratuita, isenção fiscal, prisão especial em
crime comum, e outras vantagens que a lei confere. § único - Se o crime é cometido com o fim de lucro,
aplica-se também multa.
multa
Reafirme-se: quer-se evitar que tais documentos,
devidamente emitidos (“alma boa”) tenham seu corpo 6 Sujeito Ativo:
modificado (“corpo ruim”), para aparentar conteúdo somente o médico (crime próprio quanto ao sujeito).
diverso do verdadeiro.
6 Sujeito Passivo: o Estado.
A falsificação material de “parte” se dá pela rasura,
inserção de letras, ou palavras, etc., no corpo do docu- 6 Objeto da Tutela Penal:
mento válido — enquanto falsificação material do “todo” a fé pública, especialmente com relação aos atestados
se configura com a fabricação de documento aparente- médicos.
mente bom, seja pelo emprego de papel ou formulário,
senão assinaturas falsas... enfim, um documento que não 6 Ação Física:
foi emitido pelo Poder Público, mas que tem aparência de é dar (fornecer, entregar) atestado falso.
tê-lo sido.
8 = DIR. P E N A L Tribunal de Justiça / São Paulo
6 Elemento Subjetivo do Injusto: 6 Ação Física:
o dolo. Não há modalidade culposa. a conduta incriminada é fazer uso (empregar, utilizar).
Requer-se que o agente conheça a falsidade do docu-
6 Ação Penal:
Penal pública incondicionada. mento que usa. Não haverá crime se faltar ao documento
requisito necessário à configuração do falso.

6 Elemento Subjetivo do Injusto:


Reprodução ou Adulteração o dolo. Não há forma culposa.
de Selo ou Peça Filatélica
6 Ação Penal:
Penal pública incondicionada.
Art.303 - Reproduzir ou alterar selo
selo ou peça filatélica
que tenha valor para coleção, salvo quando a
reprodução ou a alteração está visivelmente
Supressão de Documento
anotada na face ou no verso do selo ou peça:
peça

Pena - detenção, de um a três anos, e multa. Art.305 - Destruir, suprimir ou ocultar, em benefício
próprio ou de outrem, ou em prejuízo alheio,
§ único - Na mesma pena incorre quem, para fins de documento públi
público ou particular verdadeiro,
comércio, faz uso do selo ou peça filatélica.
filatélica de que não podia dispor:
dispor

6 Sujeito Ativo: qualquer pessoa. Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa, se o docu-
mento é público, e reclusão, de um a cinco anos,
6 Sujeito Passivo: e multa, se o documento é particular.
o Estado, primeiramente, e a pessoa prejudicada, secun-
dariamente. 6 Sujeito Ativo:
qualquer pessoa, incluindo o proprietário do documento
6 Objeto da Tutela Penal: que não possa dele dispor.
a fé pública, especialmente a tutela de selos e peças
filatélicas. 6 Sujeito Passivo:
primeiramente, o Estado; secundariamente, a pessoa
6 Ação Física: prejudicada com a supressão.
São: a) reproduzir; b) alterar. Ressalva a lei que a condu-
ta não será criminosa quando a reprodução ou alteração 6 Objeto da Tutela Penal:
está visivelmente anotada na face ou no verso do selo ou a fé pública, especialmente a segurança do documento
peça. como prova.

6 Elemento Subjetivo do Injusto: 6 Ação Física:


o dolo. Não há forma culposa. três os núcleos alternativamente indicados: a) destruir; b)
suprimir; e c) ocultar. Desaparece a antijuridicidade quan-
6 Ação Penal:
Penal pública incondicionada. do o agente pode, livremente, desfazer-se do documento.

6 Elemento Subjetivo/Injusto:
o dolo e o elemento subjetivo do tipo relativo ao especial
Uso de Documento Falso fim de agir: finalidade de benefício próprio ou de outrem
ou de prejuízo alheio. Não há modalidade culposa.
Art.304 - Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados
falsificados
ou alterados, a que se referem os arts. 297 a 6 Ação Penal:
Penal pública incondicionada.
302:
302
Há que se atentar que este tipo penal está inserto
Pena - a cominada à falsificação ou à alteração. dentre os que tutelam a “fé pública” — particularmente a
segurança/confiabilidade dos documentos — e, por isso,
6 Sujeito Ativo: não se trata de crime próprio de funcionário público, e,
qualquer pessoa. Todavia, predomina, o entendimento de assim, pode ser cometido, por qualquer pessoa, e até
que o autor do falso não pode responder, também, pelo mesmo pelo próprio dono do documento, que, não tendo
uso, ou vice-versa. direito de usá-lo, vem a destruí-lo, ou o suprime, senão o
esconde (oculta), para se beneficiar (ou mesmo para
6 Sujeito Passivo: beneficiar outra pessoa) — ou apenas para prejudicar
o Estado, primeiramente, a pessoa prejudicada com o uso, outra pessoa.
secundariamente.
Interessante observar ainda que o crime se caracteriza-
6 Objeto da Tutela Penal: a fé pública. rá apenas se um documento verdadeiro for destruído, ou
Tribunal de Justiça / São Paulo DIR. P E NAL =9

suprimido, senão ocultado: se alguém o fizer com um É importante observar também que a lei só prevê a
documento falsificado o crime não se caracterizará, pois é punição do crime doloso, ou seja, quando o agente agir
circunstância elementar do tipo que a ação recaia sobre com vontade livre e consciente de destruir, suprimir ou
um “documento verdadeiro”. ocultar o objeto material: se por acidente, a pessoa deixar
cair tinta sobre um documento, tornando-o inelegível, não
Mais que isso, há de ser um documento verdadeiro de haverá o crime, pois a lei não prevê a figura culposa.
que o agente criminoso “não podia dispor”: assim, p.ex., se
um moribundo decide não receber uma nota promissória, ............................................
de que era credor, ainda que tenha ele o intuito de nada
deixar para a algum potencial herdeiro, ou queira benefi-
ciar o pai de uma ex-amante, a destruição desse documen-
to de crédito (verdadeiro) é perfeitamente válida, já que Falsa Identidade
ele tinha o direito de dispor desse crédito e respectivo
documento.
Art.307 - Atribuir-se ou atribuir falsa identidade para
O tipo deste art.305/CP pode ceder lugar ao crime obter vantagem, em proveito próprio ou alhe-
tributário: se um comerciante esconde, destrói ou suprime io, ou para causar dano a outrem:
outrem
algumas notas fiscais, para fugir à respectiva tributação,
não cometerá o crime de “Supressão de Documento” — Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa, se o
mas o crime de sonegação fiscal, previsto na Lei nº 8.137, fato não constitui elemento de crime mais grave.
de 27-12-1990.
6 Sujeito Ativo:
Ativo
Da mesma foram não haverá crime de “Supressão de qualquer pessoa (crime comum quanto ao sujeito).
Documento” se se tratar de documento judicial ou mesmo
de um processo, se a ação for praticada por procurador ou 6 Sujeito Passivo:
advogado: nesse caso haverá crime de “Sonegação de Papel primeiramente, o Estado; secundariamente, a pessoa
ou Objeto de Valor Probatório”, previsto no art.356/CP prejudicada.
(ver adiante). Registre-se, a propósito, que há uma
decisão publicada em Revista dos Tribunais (vol.nº 529, 6 Objeto da Tutela Penal:
p.310), em que reconhece que a supressão de autos de a fé pública, especialmente em relação à identidade
processo caracteriza o crime do art. 356 do Código Penal. pessoal.
DAMÁSIO E.JESUS anota várias particularidades sobre
6 Ação Física:
a originalidade do “documento”, que podem afetar a
a ação punível é atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa
caracterização do crime: “O documento deve ser original
identidade. A lei consigna que a ação deve visar a obter
(JTACrimSP, 69:136). Não mais existindo este, pode
haver delito contra a cópia autêntica. Não há crime, vantagem, em proveito próprio ou alheio, ou causar dano
entretanto, quando a conduta visa à cópia autêntica do a outrem.
documento que ainda existe. Nesse caso, pela facilidade
de obtenção de outros traslados, cópias e certidões, não 6 Elemento Subjetivo/Injusto:
há dano à fé pública, inexistindo, por isso, o delito em o dolo e o elemento subjetivo do tipo relativo ao especial
tela, podendo subsistir outro, como o dano e o furto. fim de agir. Não há punição há título de culpa.
Nesse sentido: RT, 506:325, 520:392 e 543:351; RJTJSP,
53:301. Duplicata: não há crime enquanto sem aval ou 6 Ação Penal:
Penal pública incondicionada.
aceite (RT, 542:341, 545:312 e 559:371); sendo possível
a substituição pela triplicata, não há delito por ausência
de prejuízo (TJSP, ACrim 69.022, RT, 646:270) — Valor Art.308 - Usar, como próprio, passaporte, título de
probante: O documento deve ser insubstituível e sem eleitor, caderneta de reservista ou qualquer
valor de prova: RT, 520:392, 320:392, 447:375 e 623:282 documento de identidade alheia ou ceder a
(v.v.); TJSP, ACrim 69.022, RJTJSP, 121:305 e 306 — outrem, para que dele se utilize, documento
documento
Restauração do documento: Se possível, não há crime: dessa natureza, próprio ou de terceiro:
terceiro
RT, 447:375. Assim, não há crime se existe registro que
possibilite a recomposição do documento (TJSP, RvCrim Pena - detenção, de quatro meses a dois anos, e multa, se
110.497, RT, 676:296). Não é suficiente, entretanto, a o fato não constitui elemento de crime mais grave.
mera possibilidade de restauração. É necessário que se
propicie a reconstituição (TJSP, RvCrim 110.497, RT, 6 Sujeito Ativo:
Ativo qualquer pessoa.
676:296 e 297) — Rasgar duplicata na parte do aceite,
onde aposta a assinatura: Inexistência de crime, diante da
6 Sujeito Passivo: o Estado (principal).
possibilidade de emissão de triplicata (TJSP, ACrim 69.02-
2, RJTJSP, 121:305) — (in “Código Penal Anotado” -
6 Objeto da Tutela Penal:
apud Direito Informatizado Saraiva nº 1 - 3ª ed. em CD-
ROM, 1998, anotação ao art.305/CP). a fé pública, no que concerne à identidade pessoal.
10 = DIR. P E N A L Tribunal de Justiça / São Paulo
6 Ação Física: Eis aí o fundamento para que o concurso público seja
são duas as condutas previstas: a) usar, como próprio, efetivamente disputado, desenvolva-se como um processo
qualquer documento de identidade alheia; b) ceder a de seleção real e eficiente, em que se possa apurar o
outrem, para que dele se utilize, documento dessa nature- conhecimento dos candidatos e aprovar os melhores, os
za, próprio ou de terceiro. de maior Quociente de Inteligência, nunca os de imoral “QI
QI
- Quem Indica”.
6 Elemento Subjetivo do Injusto:
é o dolo. Inexiste forma culposa. O conteúdo das provas há de ser sempre sigiloso, para
que o certame — disputa, concorrência — seja honesto,
6 Ação Penal:
Penal pública incondicionada. escorreito, digno de crédito e livre de fraudes.

............................................ A procura por empregos públicos, qualificados pela


estabilidade dos cargos públicos, tem aumentado, e,
proporcionalmente, a descompostura ético-moral tem
alentado candidatos e pessoas relacionadas ao mecanismo
Das Fraudes em Certames de Interesse Público do processo de seleção e concursos.
(Incluído pela Lei 12.550. de 2011)

Os tipos penais genéricos, tutelando a Administração


Art.311-A- Utilizar ou divulgar, indevidamente, com o fim Pública, (a) de “violação de sigilo funcional”, apenado com
de beneficiar a si ou a outrem, ou de compro- detenção de 6 meses a 2 anos (art.325/CP), ou (b)o de
meter a credibilidade do certame, conteúdo “violação de sigilo de proposta de concorrência”, também
conteúdo
punido com detenção, de 3 meses a 1 ano (art.326/CP —
sigiloso de:
não atendiam a necessidade de repressão a tal fraude
específica, mormente porque os concursos públicos, não
I - concurso público;
raro, são terceirizados a empresas especializadas.
II - avaliação ou exame públicos; A Lei nº 12.550/2011 não só criou um tipo específico,
definindo-o como crime “contra a fé pública” — como
III - processo seletivo para ingresso no ensino estabeleceu pena mais gravosa (de 1 a 4 anos de reclu-
superior; ou são), qualificando o crime de resultar “dano à administra-
ção pública” (pena de reclusão, de 2 a 6 anos) — e,
IV - exame ou processo seletivo previstos em lei: ademais, agravando a sanção em a (um terço), se o crime
for cometido por funcionário público.
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Aclare-se que na expressão “concurso público” restringe-
§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem permite ou se ao processo de seleção de pessoal para a Administração
facilita, por qualquer meio, o acesso de pessoas pública (direta ou indireta) — não compreendendo o
não autorizadas às informações mencionadas no concurso, modalidade de licitação prevista na Lei das
caput. Licitações (Lei nº 8.666/93), já tutelada, especificamente,
no art.326/CP.
§ 2º - Se da ação ou omissão resulta dano à adminis-
tração pública: Por final, a inclusão de ferramentas outras de seleção
para cargos ou vagas em serviços públicos — estágio,
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. vestibular de ingresso em faculdades etc (incisos I a IV) —
são referências exemplificativas, como evidencia o inc.IV,
§ 3º - Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o fato ao aclarar que também abrange qualquer exame ou
é cometido por funcionário público. processo seletivo previstos em lei.
Obs.: artigo, incisos e §§ incluídos pela Lei 12.550/2011.

Sabidamente, até por importante às relações sociais e


ser dirigido à população, o serviço público é regido por Crimes contra a
princípios éticos e morais rígidos: os servidores públicos
Administração Pública:
devem ser a “nata” da nação brasileira.
Crimes praticados por Funcionário Público
O objetivo dos concursos públicos não é apenas de
garantir a igualdade de acesso aos cargos públicos a todos
os brasileiros.
Os crimes que serão tratados em seguida, são todos
crimes próprios de funcionários públicos contra a adminis-
Muito além dessa igualdade, busca-se aparelhar a
tração em geral. Por isso, são chamados de crimes funcio-
prestação dos serviços públicos com os melhores, os mais nais, já que praticados pelas pessoas que se dedicam à
aptos, e os mais preparados servidores, de sorte a alcançar realização das funções ou atividades do Estado. Também
a excelência e a garantir um elevadíssimo nível de qualida- são chamados de crimes de responsabilidade.
responsabilidade
de.
Tribunal de Justiça / São Paulo DIR. P E NAL = 11

Pertencem à classe dos chamados crimes especiais, condutas "dolosas" (quando agem "por querer"). A conduta
porque exigem uma qualidade do sujeito ativo, no caso a "culposa" (quando produz o resultado "sem querer", mas
de ser ele funcionário público.
público por "negligência" ou por "imprudência" ou por "imperícia")
só é criminosa, quando a lei, especificamente, a prevê
¿Mas os "particulares" não podem cometer um desses como crime. Dentre os crimes contra a Administração
crimes??? Podem em "co-autoria", isto é, quando "concor- Pública, só há o § 2º do art.312, prevendo, expressamen-
rerem de qualquer modo" para a prática de um desses cri- te, o peculato culposo. Significa que os demais crimes aqui
mes por um funcionário público: nesse caso, a condição estudados não são punidos na modalidade culposa.
pessoal do agente (ser funcionário público) comunica-se São crimes contra a Administração Pública,
Pública praticadas
ao co-autor (cúmplice), porque faz parte do próprio crime especialmente pelo fun funcionário público,
público o "peculato"
(tipo penal) e é imprescindível para a caracterização do (subtrair ou se apropriar de coisa pública - art.312 + §§
delito (a circunstância elementar dele). e art.313 do Cód.Penal), o "extr "extravio, sonegação ou
inutilização de livro ou documento" (sumir com um livro
Portanto, cometem crime contra a administração ou documento da repartição - art.314 do Cód.Penal), "o
pública, tanto (a
a) o funcionário público no sentido estrito, "emprego irregular de verbas ou rendas públicas" (apli-
como (bb) qualquer pessoa que exerça cargo, emprego ou car o dinheiro público de forma diferente à prevista na lei
função pública, mesmo que sem remuneração ou transito- - art.315 Cód.Penal), a "concussão" (exigir dinheiro ou
riamente e, ainda, © qualquer particular em "co-autoria". vantagem em razão da função - art.316/Cód.Penal), o
"excesso de exação" (cobrar tributo além do que a pessoa
¿ E quem pode ser considerado funcionário público??? deve ou de forma humilhante - art.316-§ 1º CP), a
Só o concursado, ou também o comissionado, o temporá- "corrupção passiva"
passiva" (pedir ou aceitar caixinha - art.317
rio, os Juízes, Prefeitos, Deputados, Ministros, Promotor, CP), a "prevaricação" (deixar de fazer o serviço, por sen-
etc ??? timento ou interesse pessoal - art. 319/CP), a "condes-
cendência criminosa" (deixar de responsabilizar o subor-
Quem define quem é funcionário público é o Art. 327, dinado infrator - art.320/CP), a "advocacia criminosa"
que determina que "considera-se funcionário público, para (defender interesse alheio junto da administração - art.
efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem 321/CP), a "violência arbitrária" (praticar violência no
remuneração, exerce cargo, emprego, ou função pública", exercício da função - art.322/CP), o "abandono de
esclarecendo seu § 1º, que "Equipara-se a funcionário função" (largar, abandonar o cargo por mais de 30 dias -
público quem exerce cargo, emprego ou função, em entidade art.323/CP), o "exercício funcional ilegalmente antecipa-
paraestatal". do ou prolongado" (exercer a função sem atender as
exigências legais - art.324/CP), a "violação de sigilo
E há casos em que a qualidade do funcionário público funcional" (contar segredo que soube no cargo - art.325
ainda obriga a um apenamento maior, porque maior é sua CP) e a "violação de sigilo de proposta de concorrência"
"traição", mais reprovável é sua conduta --- como o (devassar o segredo das cartas de propostas de concorrên-
determina o § 2º: "A pena será aumentada da terça parte cia pública - art. 326/CP).
quando os autores dos crimes previstos neste capítulo
forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de
direção ou assessoramento de órgão da administração Peculato
direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou ( Artigo 312 e § § 1º, 2º e 3º/ CP )
fundação instituída pelo poder público."

A razão do agravamento da pena é porque o crime é Art.312 - Apropriar-se


Apropriar-se o funcionário público de dinheiro,
mais grave e censurável, quando alguém que o pratique valor ou qualquer outro bem móvel, público ou
seja alguém que tivesse "confiança" do Estado ou da particular, de que tem a posse em razão do
entidade paraestatal. A traição à confiança depositada nos cargo, ou desviá-lo
desviá-lo em proveito próprio ou
ocupantes de cargos em comissão ou de função de alheio:
direção... etc — obriga à maior reprovação da conduta e
à aplicação de uma pena maior. Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.

Há que se ter muita atenção a um outro aspecto: estes < Sujeito Ativo:
crimes só são punidos na modalidade dolosa (quando o o funcionário público, sendo possível a participação de
agente o pratica querendo praticar). Assim, por exemplo, pessoas que não o sejam.
se uma pessoa inutilizar sem querer (por acidente, ou por
ser estabanada) um livro (ou processo ou documento), < Sujeito Passivo:
que estava confiado à custódia de um funcionário, aquela o Estado e toda Pessoa Jurídica de Direito Público; even-
pessoa terá agido com "culpa": será obrigada a indenizar tualmente, também o particular prejudicado.
o prejuízo que causar, mas não terá cometido o crime do
artigo 337/CP em diante. < Objeto da Tutela Penal:
o patrimônio da Administração Pública em geral.
A regra geral é que as pessoas só respondem pelas
12 = DIR. P E N A L Tribunal de Justiça / São Paulo
< Ação Física: < Sujeito Ativo:
a ação é apropriar-se, dando o funcionário ao objeto o funcionário público, sendo possível a participação de
material destinação diversa daquela que lhe fora confiada. pessoas que não o sejam.

< Elemento Subjetivo/Injusto: o dolo. < Sujeito Passivo:


o Estado e toda Pessoa Jurídica de Direito Público; even-
< Ação Penal:
Penal pública incondicionada, independentemen- tualmente, também o particular prejudicado.
te da aprovação de contas pelo órgão competente.
< Objeto da Tutela Penal:
Este crime, em regra, só poderá ser cometido por o patrimônio da Administração Pública em geral.
funcionário público. Cometerá "peculato" o funcionário
público que ficar (para ele mesmo ou desviar para outra < Ação Física:
pessoa) com o dinheiro (ou qualquer bem), que recebeu a subtração pelo funcionário público, ou sua concorrência
em razão de seu cargo. para a subtração; a conduta pode ser em proveito próprio
ou alheio.
¿Poderá uma pessoa "comum" (que não seja funcionário
público) cometer esse crime??? Excepcionalmente sim ! < Elemento Subjetivo/Injusto:
Segundo o art.327 do Código Penal, funcionário público o dolo. A ação culposa está prevista no § 2º.
é "quem, embora transitoriamente, ou sem remuneração,
exerce cargo, emprego, ou função pública", o que permite a < Ação Penal:
Penal pública incondicionada.
conclusão de que a pessoa nomeada pelo Juízo como
"Depositário" de um bem, está prestando, transitoriamente Trata o parágrafo também de crime de peculato. A
e sem remuneração, uma função pública, ou seja, guar- modalidade porém é de "peculato-furto". Chama-se
dando para a Justiça um bem que a Justiça deveria guar- "peculato-furto", porque nesta hipótese o funcionário
dar e conservar. público não tem a posse do "bem", valor ou dinheiro, mas
se vale de sua condição de funcionário e das facilidades
Assim, o depositário é considerado, nessa hipótese, um que esta condição lhe dá, para subtraí-lo.
"funcionário público". Ao desviar em seu próprio proveito
(vendendo-o e ficando com o preço) o bem, que a Justiça Também ocorre se o funcionário público, ao invés de
lhe entregara para guardar, cometerá o crime de peculato subtrair, auxilia outra pessoa a subtraí-lo. Nesse auxílio,
(art.312/CP). o funcionário público faz prevalecer a facilidade que lhe
proporciona a qualidade de ser funcionário público.
Além disso, o "particular" também poderá cometer esse
crime, como "co-autor", ou seja, ajudando o funcionário § 2º/art.312 - Se o funcionário público concorre culposa-
público a praticá- lo. Imagine que o Diretor de uma Escola mente para o crime de outrem:
receba materiais (cimento, etc), para a construção de uma
quadra em sua Escola --- mas acerca com o Pena - detenção, de três meses a um ano.
caminhoneiro/transportador, para ambos desviarem parte
da mercadoria, deixando-a com terceiro, de quem recebe- Vimos que os crimes próprios dos funcionários públicos
rão um dinheiro e dividirão tal "lucro": esse caminhoneiro só são punidos na modalidade dolosa, ou seja, não havia
será "co- autor" do peculato cometido pelo Diretor da punição, se o funcionário público não tiver a intenção de
Escola, e receberá a mesma pena que ele. praticar o crime, isto é, se o praticar "sem querer"
(culposamente: ou por imprudência, ou por negligência,
Atenção:
Atenção pelo que vimos até agora, se uma pessoa pegas- ou por imperícia).
se uma matéria prima pertencente à União e
produzisse algum produto novo, teoricamente tal pessoa Esta é a única exceção: nos dois crimes anteriores o
estaria cometendo crime de "peculato", já que tal matéria funcionário público, conscientemente, age com a vontade
prima empregada na produção do bem era de proprie- de se apropriar do bem ou de subtraí-lo. Diz-se, então,
dade do poder público. que ele agiu com "dolo".

Mas de acordo com uma nova Lei,


Lei a de nº 8.176/91,
8.176/91 de Quando, todavia, o funcionário não quer participar do
8/fev/91, art.2º, se uma pessoa "produzir bens ou explorar "desvio" ou da "subtração", mas acaba, sem querer,
querer auxili-
matéria-prima pertencentes à União", sem a devida ando alguém a desviar ou a subtrair, seja porque foi
autorização --- não cometerá crime de "peculato", e sim imprudente, seja porque foi negligente, seja porque foi
crime de usurpação. imperito, este funcionário também responde pelo crime
de peculato, porém na modalidade "culposa" e não na
§ 1º/art.312 - Aplica-se
Aplica-se a mesma pena, se o funcionário, dolosa.
embora não tendo a posse do dinheiro, valor
ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja Como o funcionário não teve dolo, mas só culpa
subtraído, em proveito próprio ou alheio, (imprudência, imperícia ou negligência), a pena é menor
valendo-se de facilidade que lhe proporciona tanto na quantidade (só de três meses a um ano) quanto
a qualidade de funcionário. na qualidade (em vez de reclusão, apenas detenção).
Tribunal de Justiça / São Paulo DIR. P E NAL = 13

§ 3º/art.312 - No caso do parágrafo anterior, a reparação < Sujeito Ativo: o funcionário público; possível a partici-
do dano, se precede à sentença irrecorrível, pação de pessoas que não o sejam.
extingue a punibilidade; se lhe é posterior,
reduz de metade a pena imposta. < Sujeito Passivo: o Estado e outras Pessoas Jurídicas de
Direito Público; eventualmente, o particular prejudicado.
Reconhecendo mais uma vez a menor gravidade da
participação do funcionário público no peculato "culposo", < Objeto da Tutela Penal:
o Código Penal neste parágrafo ainda permite a ele o patrimônio da Administração Pública.
livrar-se da pena, desde que, antes da condenação, "pague
o prejuízo" à administração. Se pagar depois, apenas reduz < Ação Física:
a pena na metade. a ação é apropriar-se, mas apenas do objeto que recebeu:
ou por erro de outra pessoa; ou no exercício de seu cargo.
¿ O que é "sentença irrecorrível" ? É aquela a que não
cabe mais nenhum recurso, ou seja, está pronta para ser < Elemento Subjetivo/Injusto: o dolo.
executada. A sentença é proferida pelo Juiz de Direito,
que julgou o processo. Se o réu (ou a acusação) "não < Ação Penal:
Penal pública incondicionada.
gostou", pode interpor um recurso chamado apelação,
pedindo ao Tribunal que reveja o caso e dê uma nova
Muitas pessoas, por erro, às vezes pagam à Administra-
decisão (chama-se "acórdão").
ção Pública importância indevida, ou, até, esquece de
pegar um bom troco. Aquele que, no exercício de um
Assim, quando o Juiz de Direito julga o caso e declara
cargo ou função pública (de caixa, por exemplo), se
que o réu é culpado, essa sentença é "recorrível" --- porque
aproveita dessa situação e se apropria do dinheiro ou
ainda é possível interpor um recurso. Neste parágrafo a
utilidade que recebeu por erro daquela pessoa, cometerá
palavra "sentença" está empregada no sentido de "decisão",
"peculato mediante erro de outrem".
ou seja, tanto a decisão do Juiz de Direito (sentença),
como a decisão dos Tribunais ("acórdão"). E mesmo a
decisão do Tribunal também é "recorrível", porque há Por se tratar de um crime menos grave o peculato
Tribunais superiores, que poderão rever o caso e proferir doloso normal (art.312), já que o funcionário foi "tentado"
um novo "acórdão" --- isso até o caso chegar ao Supremo por uma situação anormal, a pena é menor que a daquele.
Tribunal Federal (a última instância em nosso País).
Aqui também é necessário, para a caracterização do
Mas para recorrer, é necessário que a lei preveja o cabi- crime, que o funcionário público tenha tido a intenção de
mento de um recurso e que a parte interessada (o réu ou se apropriar do dinheiro, ou seja, que aja com dolo: se o
a acusação) interponham o recurso no prazo marcado tal funcionário caixa não percebeu que ficou com o
pela lei. Quando a lei não previr recurso, ou a parte dinheiro, não cometerá tal crime.
interessada (réu ou acusação) não recorrer no prazo legal,
a sentença se tornará "irrecorrível".

Significa, pois, que o réu (funcionário público que teria Peculato via Informática
cometido peculato culposo) terá um "tempão" para pagar
e ficar livre da pena: poderá pagar a qualquer tempo,
desde que antes de sua condenação se tornar "irrecorrível". Benfazeja a reforma pena introduzida com a Lei nº
Poderá "discutir" sua culpa em todas as instâncias, e, se ao 9983/00 (de 14.7.00) descrevendo novas condutas típico-
final perceber que será mesmo condenado, pagará o penais contra a Administração Pública — contrariando a
débito e se livrará da responsabilização criminal. velha praxe de se encerrarem os tipos na legislação
esparsa, optando por sua inclusão no Código Penal, ainda
Atenção:
Atenção a extinção da punibilidade pelo pagamento só que lhe acrescendo sub-artigos, para sua melhor adequa-
é possível no peculato culposo. Se o funcioná- ção no sistema desse codex.
rio for acusado de peculato doloso, não ficará
livre da condenação, pagando o prejuízo. Dois novos tipos foram acrescentados às figuras
peculatárias já descritas: ambas praticáveis pela via da
informática — já não sem tempo, pois não são poucos os
funcionários, que têm acesso aos sistemas de dados e
Peculato Mediante Erro de Outrem computação e, com uma simples alteração da base de
dados, ou do sistema de Informações, fortunas poderão
ser desviadas dos cofres públicos.
Art.313 - Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade
que, no exercício do cargo, recebeu por erro de Confira as novas descrições típicas, que estão vigendo
outrem: desde 15/OUT/00 (embora a lei fosse publicada em
14.7.00, estabeleceu ela uma vacatio legis de 90 dias):
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
14 = DIR. P E N A L Tribunal de Justiça / São Paulo
Inserção de Dados Falsos partícipe) praticam o mesmíssimo crime, ou seja, é
em homicida quem dispara o revólver e quem lhe emprestou
Sistema de Informações o revólver para tal fim. Ocorre, porém, que este tipo
penal é próprio do “funcionário autorizado”, ou seja, só ele
Art.313-A - Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a comete este delito. Assim, se um “outro funcionário”
inserção de dados falsos,
falsos, alterar ou excluir praticar a alteração da base de dados, esse outro funcio-
indevida
indevidamente dados corretos nos sistemas nário praticará o crime previsto no artigo seguinte
informatizados ou bancos de dados da Admi- (art.313-B/CP), enquanto o “funcionário autorizado”, que
nistração Pública com o fim de obter vantagem facilitou seu acesso aos dados, este praticará o crime deste
indevida para si ou para outrem ou para causar art.313-A/CP e não o mesmo crime daqueloutro.
dano:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e Modificação ou Alteração Não Autorizada


multa. de Sistema de Informações

O tipo penal, em si mesmo, não oferece novidade, Art.313-B - Modificar ou alterar, o funcionário, sistema de
limitando-se à previsão da inserção de dados falsos — qual informações ou programa
programa de informática sem
a alteração ou exclusão indevida de dados corretos — no autorização ou solicitação de autoridade com-
sistema informatizado da Administração Pública.... petente:
naturalmente, com o propósito de obter vantagem
indevida, para si ou para outrem. Pena - detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois)
anos, e multa.
Há de se entender aqui por vantagem indevida tanto a
obtenção ou extravio de recursos ou créditos, como a § único - As penas são aumentadas de um terço até a
liberação de débitos, ou desoneração de qualquer ordem metade se da modificação ou alteração resulta
patrimonial. dano para a Administração Pública ou para o
administrado.
O lançamento da figura típica dentre os tipos de
peculato deixa claro que a vantagem indevida há de ser Duas características distinguem este tipo penal do
patrimonial. anterior: primeiramente, qualquer funcionário público
poderá cometê-lo, desde que não tenha autorização para
A descrição típica tem exata adequação aos episódios mexer no sistema de informações ou no programa de
ocorridos no DETRAN-SP, onde as multas aplicadas a informática; em segundo lugar, embora esteja dente os
motoristas eram excluídas do banco de dados, livrando os crimes de peculato, que pressupõe intenção de conquista
proprietários de veículos de seu pagamento, quando de de vantagem material (patrimonial) indevida, a prática
seu licenciamento. deste crime do art.313-B não é associada à pretensão
material, ou seja, para sua configuração não é necessário
Assim, se o servidor público apenas deletasse (apagasse) que o agente queira obter vantagem material indevida,
os dados, para livrar o motorista infrator da pontuação nem para si, nem para outrem.
punitiva do CTB, não se configuraria o crime aqui previs-
to, já que a vantagem seria de natureza meramente moral Assim, p.ex., configurar-se-á o crime o simples fato de
ou administrativa e não patrimonial. um funcionário qualquer acessar o sistema público de
dados e dali excluir (deletar) o registro de uma condena-
Uma característica destaca-se no tipo penal: trata-se de ção criminal, tornando “limpa” sua ficha ou a de outrem.
crime próprio, já que não pode ser cometido por qualquer Igualmente, um servidor público qualquer que deletar
funcionário público, mas apenas pelo “funcionário autori- (apagar) os dados do cadastro do DETRAN, para livrar
zado”, ou seja, apenas aquele que tem a incumbência (ou um motorista infrator da pontuação punitiva do CTB. Ou
liberdade) para efetuar os lançamentos de dados no nos o funcionário que, para se vingar de um amigo, lançar seu
sistemas informatizados ou bancos de dados da Adminis- nome (ou de sua empresa) no Cadastro de Inadimplentes
tração Pública. (CADIN), causando-lhe embaraços.

Assim, se um funcionário abelhudo, estranho ao serviço Um funcionário público também cometerá o crime se,
— aproveitar-se de haver o “funcionário autorizado” ido ao invés de apagar ou incluir dados, modificar o respecti-
ao banheiro — invadir o setor, e digitar dados falsos, para vo software de informática, programando-o para nunca ler
obter vantagem indevida (para si ou para outrem) — não determinados dados, e, com isso, preservar intactos os
terá cometido o crime previsto neste art.313-A/CP dados, porém ocultos — o que significaria, da mesma
(cometerá o do artigo seguinte). forma, sonegar o conhecimento da informação do sistema.

Mais um aspecto merece destaque: há aqui outra Perceba-se que o objetivo da tutela penal é a preserva-
exceção ao princípio da unidade do crime: pela regra da ção dos dados dos sistemas de informações e dos respecti-
co-autoria (art.29/CP), o autor e o cúmplice (co-autor ou vos programas de informática.
Tribunal de Justiça / São Paulo DIR. P E NAL = 15

¿Poderá o funcionário autorizado praticar o delito Também este delito visa à proteção da boa ordem da
deste artigo??? Não e Sim. “Não”, se a alteração indevida Administração Pública, a qual, para alcançar suas finalida-
tiver por propósito a obtenção de vantagem indevida ou des, precisa guardar seus livros e documentos e tê-los à
a causação de dano, hipótese em que se configurará o disposição para suas necessidades. Há livros de registros
crime do artigo anterior; e “Sim” se ele agiu sem intenção de todas as atividades públicas, bem como documentos
de conquistar a vantagem indevida ou causar dano. que comprovam tais atividades.

Anote-se, outrossim, que a causação de dano não é Os livros e documentos são necessários tanto para a
circunstância elementar do tipo, ou seja, o crime restará própria administração pública comprovar que seus atos
configurado independentemente de o agente haver tido ou são praticados de acordo com a lei, quanto para expedir
não a intenção de causar dano à Administração Pública ou certidões a particulares que dela precisem.
a algum administrado: o eventual resultado danoso
funcionária apenas como causa de aumento da pena (de
A guarda de tais livros e documentos, naturalmente, só
a a ½), ex vi do § único do artigo.
pode ser feita por funcionários públicos. Dessa forma, o
delito de extravio, sonegação ou inutilização de livro ou
Por final, merece atenção que o resultado danoso
documento, só pode ser do funcionário público e, ainda
importará aumento de pena apenas se prejudicar (a) à
Administração Pública ou (b) ao administrado — não se assim, o funcionário público que esteja no exercício do
autorizando a exasperação, se o prejudicado foi terceira cargo de guardar o livro ou os documentos.
pessoa: é que a lei distinguiu, expressamente, na causa de
aumento “se da modificação ou alteração resulta dano Pune portanto, a lei, ao funcionário público que, no
para a Administração Pública ou para o administrado”.
administrado exercício da função de guardar o livro ou os documentos,
trair a confiança da administração pública e a ela causar
Fosse da intenção do legislador agravar a punição, o prejuízo de tal tipo de conduta.
diante de resultado danoso a qualquer pessoa, teria usado
a expressão ampla “outrem” ou “a terceiros”.... etc — mas Usa a lei vários verbos para definir a conduta do
não só empregou denominação específica “administrado”, criminoso: "extraviar" é o mesmo que desviar, ou seja,
como ainda o artigo definido “o”. Assim, só haverá o mudar o destino ou o fim para onde era encaminhado;
aumento da pena, se o dano afetar àquela pessoa, a quem "sonegar" significa a não apresentação do livro; é a
se refiram os dados alterados ou excluídos e não a ocultação intelectual ou fraudulenta, do livro ou dos
qualquer outra pessoa — como, p.ex., os consulentes, que documentos; já "inutilizar" quer dizer tornar imprestável
resultem enganados pelo falsidade do registro modificado. o livro ou os documentos, estragá-los, arruiná-los.

Por "livros" compreendem-se todos os livros de regis-


tros, notas, atas, lançamentos, termos, protocolos. "Docu-
Extravio, Sonegação ou Inutilização
de Livro ou Documento mentos" são os arquivos, museus, projetos, provas de
concursos, pareceres, relatórios, autos de processo
administrativo, escrituras, etc. Necessariamente, porém,
o livro ou os documentos que sofrerem o extravio, a
Art.314 - Extraviar livro oficial ou qualquer documento,
sonegação ou a inutilização devem ter relação com a
de que tem a guarda em razão do cargo; sone-
administração pública, pouco importando se o livro ou do-
gá-lo ou inutilizá-lo, total ou parcialmente:
cumento é público ou particular.
Pena - reclusão, de um a quatro anos, se o fato não
constitui crime mais grave.
Emprego Irregular de Verbas ou Rendas Públicas
< Sujeito Ativo: o funcionário público, sendo possível a
participação de pessoas que não o sejam.

< Sujeito Passivo: Art.315 - Dar às verbas ou rendas


rendas públicas aplicação
o Estado e Pessoas Jurídicas de Direito Público. diversa da estabelecida em lei:

< Objeto da Tutela Penal: Pena -detenção, de um a três meses, ou multa.


a Administração Pública em geral.
< Sujeito Ativo: o funcionário público com poder de
< Ação Física: três tipos de ação: a) extraviar; b) sonegar; dispor das verbas/rendas.
c) inutilizar (total ou parcialmente).
< Sujeito
Sujeito Passivo: o Estado e as Pessoas Jurídicas de
< Elemento Subjetivo/Injusto: Direito Público.
o dolo. Não é crime a conduta culposa.
< Objeto da Tutela Penal: a legalidade orçamentária da
< Ação Penal:
Penal pública incondicionada. Administração Pública.
16 = DIR. P E N A L Tribunal de Justiça / São Paulo
< Ação Física: < Sujeito Passivo: o Estado; a Pessoa Jurídica de Direito
é dar aplicação diversa da estabelecida em lei às verbas ou Público; a pessoa que se submeteu à extorsão.
rendas públicas; desviar da previsão orçamentária legal
para outra não prevista. < Objeto da Tutela Penal:
a moralidade e credibilidade da administração pública.
< Elemento Subjetivo/Injusto:
é o dolo. Não há crime na ação culposa. < Ação Física: é exigir a vantagem indevida para si ou
para outrem; basta a simples exigência, e o recebimento
< Ação Penal:
Penal pública incondicionada. da vantagem é mero exaurimento do crime.

A administração pública outra coisa não faz senão < Elemento Subjetivo/Injusto:
aplicar dinheiro arrecadado do povo. É princípio moral o dolo. Não é crime a conduta culposa.
que esse dinheiro deva ser aplicado nos exatos termos da
lei, isto é, de forma regular, não sendo admitido nenhum < Ação Penal:
Penal pública incondicionada.
"capricho" dos administradores públicos que são encarre-
gados dessa aplicação. É este crime conhecido como a extorsão praticada pelo
funcionário público no exercício da função ou a pretexto
Ocorre que a lei sempre prevê a forma e os fins em que dela. Ocorre quando o funcionário público exige, não
importa se para si mesmo ou para dar a outra pessoa,
deverão ser gastas as verbas públicas. Assim, afora
uma vantagem indevida de alguém, aproveitando-se, para
disposições especiais, de regra há um orçamento anual,
formular a exigência, de seu cargo ou da função que
elaborado pelo Poder Executivo e aprovado por lei do
exerça. Mesmo que o funcionário não esteja no exercício
Poder legislativo, prevendo todos os gastos da adminis-
da função, ou não a tenha ainda assumido, se a exigência
tração pública em todo o ano seguinte ao da aprovação.
de vantagem indevida foi em razão da função, configu-
Se a pessoa que tem o poder administrativo de gastar
ra-se o crime de concussão.
aquelas verbas e rendas públicas não a gastar nos fins pre-
vistos no orçamento, praticará o crime de "emprego Este é o crime de que são acusados, comumente,
irregular de verbas ou rendas públicas". muitos funcionários de Delegacias de Trânsito: exigirem
"caixinhas" ou "propinas" para aprovarem candidatos a
Evidentemente, este crime também só poderá ser carteira de motorista.
praticado pelo funcionário público que dispuser do poder
de empregar as rendas e verbas públicas. Assim, se um Atenção:
Atenção se o funcionário público cometer essa ação ex-
governador de estado usar do dinheiro do povo para dar torsiva, tendo a específica intenção de deixar de
festas e distribuir medalhinhas, deixando de aplicar as lançar ou cobrar tributo ou contribuição social,
verbas naquilo que determina o orçamento, terá praticado ou cobrá-los parcialmente --- ele não cometerá
tal crime. o crime deste art.316/CP e sim um outro crime.
crime

Também se o orçamento não previr a "doação de É que o art.3º, inc.II, de uma nova Lei,
Lei a de nº 8.137/-
ambulâncias" a municípios de outros estados (ou do 90 (27/DEZ/90), estabelece que, nessa hipótese, haverá
mesmo Estado), mas o Governador, para capricho ou "crime tributária "exigir,
crime funcional contra a ordem tributária":
"bondade" sua resolver fazer tal doação, terá por igual solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou
empregado as verbas públicas indevidamente. indiretamente, ainda que fora da função ou antes de iniciar
seu exercício, mas em razão dela, vantagem indevida; ou
"Verbas" são os recursos destinados pela lei orçamentá- aceitar promessa de tal vantagem, para deixar de lançar ou
ria para as despesas de serviços ou investimentos previstos cobrar tributo ou contribuição social, ou cobrá-los
no orçamento. As rendas públicas são o dinheiro que a parcialmente".
Fazenda pública aufere direta ou originariamente por suas
atividades "lucrativas". Veja que a pena é bem mais rigorosa: de 3 a 8 anos de
reclusão, mais multa.

Concussão
Excesso de Exação

Art.316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou


indiretam
indiretamente, ainda que fora da função ou §1º/art.316 - Se o funcionário exige tributo
tributo ou contribui-
antes de assumi-la, mas em razão dela, vanta- ção social que sabe ou deveria saber indevido,
gem indevida: ou quando devido, emprega na cobrança
meio vexatório ou gravoso, que a lei não
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. autoriza.
autoriza

< Sujeito Ativo: funcionário público, sendo possível a Pena -reclusão de 3 (três) a 8 (oito) anos, e
participação de particulares. multa.
Tribunal de Justiça / São Paulo DIR. P E NAL = 17

< Sujeito Ativo: o funcionário público. § 2º/art.316 - Se o funcionário desvia, em proveito próprio
ou de outrem, o que recebeu indevidamente
< Sujeito Passivo:
Passivo: o Estado; a Pessoa Jurídica de Direito para recolher aos cofres públicos:
Público; o particular prejudicado.
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
< Objeto da Tutela Penal: a administração pública.
< Sujeito Ativo: o funcionário público.
< Ação
Ação Física: duas distintas: 1) exigência indevida e 2)
cobrança vexatória. < Sujeito Passivo:
Passivo: o Estado; a Pessoa Jurídica de Direito
Público; o particular prejudicado.
< Elemento Subjetivo/Injusto:
o dolo, não havendo forma culposa. < Objeto da Tutela Penal: a administração pública.

< Ação Penal:


Penal pública incondicionada. < Ação Física:
é desviar o dinheiro da arrecadação de impostos, taxas ou
Atenção:
Atenção este artigo foi modificado pelo art.20 da Lei nº emolumentos recolhidos por exigência indevida.
8.137 (27/DEZ/90), que, além de acrescentar
< Elemento Subjetivo/Injusto:
uma nova hipótese ("ou indevido também
ou deveria saber indevido"),
o dolo. Não há tipicidade culposa.
tornou a pena muito mais grave: antes a pena privativa de
liberdade era apenas de "detenção" e havia a alternativa de
< Ação Penal:
Penal pública incondicionada.
poder ser aplicada exclusivamente a pena de multa; agora
a pena privativa de liberdade já não é alternativa (sempre
Em verdade, tem-se aqui mais uma modalidade de
vai dar "cadeia"), é mais grave (de 3 a 8 anos de reclusão) peculato. Está, todavia, sob o nome de "excesso de exação",
e a multa é cumulativa, obrigatória. porque o funcionário vai se apropriar, desviando em
proveito próprio ou alheio, a importância que recebera
É dever de todos os funcionários cobrar impostos, taxas indevidamente no excesso de exação e que deveria
e emolumentos. Não pode porém, cobrar qualquer desses recolher aos cofres públicos.
se não for devido. Se, sabendo que o imposto, ou taxa, ou
emolumento, não é devido e, mesmo assim cobrá-lo, o A pena, obviamente, é maior, porque, além do dano à
funcionário público cometerá crime de "excesso de cobran- Administração Pública que serviu de instrumento ao
ça", ou seja, excesso de exação (sinônimo de cobrança). funcionário público, para que este cobrasse valor indevido
do particular, há um dano também ao contribuinte, que
Para a caracterização do crime, entretanto, é necessário terá muito maior dificuldade de obter a restituição, já que
que fique provado que o funcionário SABIA que o imposto a importância não entrou nos cofres públicos.
ou taxa ou emolumento que cobrou não era devido. evido E,
agora, com a reforma da lei, se ficar provado que ele tinha Também neste crime o agente precisa ter vontade,
condições de saber, ou seja, se pela natureza de sua fun- intenção (o dolo) de desviar a importância, em proveito
ção ele "deveria er que o imposto não era devido, já
deveria saber
saber" próprio ou alheio.
será o suficiente para que ele seja responsabilizado
criminalmente --- caso exija o pagamento desse tributo E atenção:
atenção o dinheiro arrecadado indevidamente não
indevido. poderá chegar a ser recolhido aos cofres públicos. Se isso
ocorrer, o crime já será o de peculato (art.312/CP), pois,
Para executar qualquer cobrança, o funcionário público com o recolhimento, o valor se incorporará ao patrimônio
deve ser moderado e não exceder a forma permitida em público e este é que será desfalcado.
lei, sempre com respeito à condição humana do cidadão
que está cobrando. Se o funcionário público, na cobrança
de qualquer imposto, taxa ou emolumento, mesmo que
Corrupção Passiva
devido (se indevido estaremos diante do crime anterior:
excesso de exação), empregar meio vexatório (que
humilhe, envergonhe, desonre) o devedor, ou que torne
o débito mais caro ou dispendioso, o funcionário comete- Art.317 - Solicitar ou receber,
receber, para si ou para outrem,
rá crime de excesso de exação, nessa segunda modalida- direta
direta ou indiretamente, ainda que fora da
de. função ou antes de assumi-la, mas em razão
dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa
de tal vantagem:
Portanto, o § 1º do art. 316 contém dois tipos de
crimes, sob o mesmo nome de exação: um de cobrança de
Pena - reclusão de dois a doze anos, e multa.
tributo indevido e outro de tributo devido, porém feita (a
cobrança) de modo vexatório ou mais gravoso para o Obs.: a Lei n° 10.763, de 13/11/2003 elevou a pena mínima
devedor. Claro que a forma da cobrança não pode ser de “um” para “dois” anos, e a pena máxima de “oito”
autorizada por lei. Se for, não se configurará o crime. para “doze” anos de reclusão. O claro objetivo é o
combate à corrupção dos agentes públicos.
18 = DIR. P E N A L Tribunal de Justiça / São Paulo
< Sujeito Ativo: o funcionário público, mesmo que fora da vantagem indevida; ou aceitar promessa de tal vantagem,
função ou ainda antes de assumi-la; nessas hipóteses o para deixar de lançar ou cobrar tributo ou contribuição
funcionário deverá praticar o crime em razão da função social, ou cobrá-los parcialmente".
pública.
E veja que a pena é bem mais rigorosa: de 3 a 8 anos
< Sujeito Passivo: o Estado; a Pessoa Jurídica de Direito de reclusão, mais multa.
Público; o prejudicado.
§ 1º/art.317 - A pena é aumentada de um terço, se, em con-
< Objeto da Tutela Penal: seqüência da vantagem
vantagem ou promessa, o
a credibilidade e a moralidade da Administração Pública. funcionário retarda ou deixa de praticar qual-
quer ato de ofício ou o pratica infringindo
infringindo
< Ação Física: dever funcional.
três: (a) solicitar; (b) receber; © aceitar promessa.
Traz este parágrafo uma situação de agravamento da
< Elemento Subjetivo/Injusto: pena de corrupção passiva, quando o funcionário público,
o dolo. Não é crime a conduta culposa. que solicitara ou recebera a vantagem ou aceitara a
promessa de tal vantagem, ainda vem a retardar (muito
< Ação Penal:
Penal pública incondicionada. comum a oficial de justiça, pedidos e vantagens para
"segurar mandados") ou deixar de praticar qualquer ato de
Da mesma forma como a concussão é a extorsão do ofício (também comum a oficial de justiça, para "não citar
funcionário público, a corrupção é o "rufianismo" pratica- réus" ou não encontrar bens para penhora, etc), ou
do pelo servidor. Para sua caracterização não é necessário praticar ato de ofício infringindo dever funcional (comum
que o funcionário receba vantagem indevida, bastando em repartições burocráticas, pessoas corrompem funcio-
apenas que "solicite". Não faz diferença se o solicitado ou nários para serem passadas à frente de outros).
recebido seja uma vantagem indevida. É suficiente o
servidor aceitar a promessa da vantagem. § 2º/art.317 - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou
retarda ato de ofício, com infração de dever
A rigor, a grande maioria dos funcionários públicos de funcional, cedendo a pedido de influência de
repartições burocráticas, está sempre cometendo crime de outrem:
corrupção passiva, através de recebimento das famosas
"caixinhas", para que um documento qualquer saia mais Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
rapidamente, ou através das promessas de "cafezinho" ou
"cervejinha", caso aprontem qualquer papelada com maior Trata-se aqui da corrupção passiva "gratuita", ou seja,
presteza. aquela em que a vantagem indevida é representada pelo
"puxassaquismo" ou "agrado" a terceira pessoa. Configu-
Preste muita atenção para a sutil diferença entre os ra-se quando o funcionário (puxa-saco) pratica, ou deixa
crimes de "concussão" e de "corrupção passiva": se há de praticar ou retardar a prática de ato de ofício, in-
exigência, há concussão; mas se há simples "solicitação", fringindo seu dever funcional, para atender a pedido ou
haverá "corrupção passiva". pressão (influência) de outra pessoa. Imagine o Oficial
de Justiça, que, ao invés de proceder à citação de um réu,
O crime de corrupção passiva tanto se dá com (a a) a numa ação de despejo por falta de pagamento, atende a
solicitação, como com (b b) o recebimento. Quando o um amigo, que lhe pede para "segurar" o mandado por al-
funcionário "pede", ocorre a corrupção passiva, mas não gum tempo, para que tal réu arrume dinheiro para purgar
haverá corrupção ativa; apenas quando o funcionário a mora (pagar o aluguel atrasado).
recebe é que há o outro lado da moeda (a corrupção
ativa) já que algum particular deu (ofereceu) tal vanta- Terá se vendido, recebendo em pagamento a "amizade",
gem. Tais pequenas diferenças já foram objeto de ques- ou "gratidão" desse amigo. É tudo questão de "moeda". Há
tionamento em concurso (Sumaré, nº 47). os que seguram mandado, porque querem agradar a
alguma autoridade, ou a algum ricaço influente, etc (são
Atenção:
Atenção se o funcionário público solicitar ou receber a "puxa-sacos" vocacionados, que prostituem o serviço
vantagem indevida, mas o fizer com a específi- público, servindo à sua vocação).
ca intenção de deixar de lançar ou cobrar tributo ou
contribuição social,
social ou cobrá-los parcialmente --- ele não
cometerá o crime previsto neste art.317/CP e sim um
crime com outro nome. Prevaricação

O art.3º, inc.II da Lei de nº 8.137 (27/DEZ/90) estabe-


lece que, nessa hipótese haverá "crime funcional contra a Art.319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente,
ordem tributária": "exigir, solicitar ou receber, para si ou ato de ofício ou praticá-lo contra disposição
para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da expressa de lei, para satisfazer
satisfazer interesse ou
função ou antes de iniciar seu exercício, mas em razão dela, sentimento pessoal:
Tribunal de Justiça / São Paulo DIR. P E NAL = 19

Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. ou se faltar o sentimento pessoal, o erro do funcionário
será mera infringência disciplinar (administrativa): não
< Sujeito Ativo: o funcionário público. haverá crime de prevaricação.

< Sujeito Passivo: o Estado. Houve uma questão, num concurso da Comarca de
Pirassununga (nº 1), anulada, porque mencionava uma
< Objeto da Tutela Penal: a Administração Pública. conduta errada do Oficial de Justiça, mas não mencionava
que ele agira para "satisfazer sentimento ou interesse
< Ação Física: pessoal".
três: (a) retardar, indevidamente, ato de ofício; (b) deixar
de praticar, indevidamente, ato de ofício; © praticar o ato Atenção:
Atenção Vimos que o "sentimento pessoal" (qual o interes-
com transgressão de disposição expressa de lei. se pessoal) é essencial para a caracterização do
crime de prevaricação. Vimos, ainda, que é indiferente a
< Elemento Subjetivo/Injusto: natureza (nobre ou odiosa) desse sentimento. Há,
o dolo. Não há punição a título de culpa. entretanto, um tipo de sentimento, que a lei abomina:
considera-o tão odioso, que estabelece que o crime nem
< Ação Penal:
Penal pública incondicionada. será de prevaricação, mas um outro
outro crime,
crime com pena
muito maior.
É crime demasiadamente cometido no funcionalismo
público. Verifica-se quando o funcionário público, por O art.8º, inc.I a VI, da Lei nº 7.853/89, de 24/OUT/89
qualquer sentimento pessoal (inveja, ciúmes, ódio, amor, (Lei de Direitos da Pessoa Portadora
Portadora de Deficiência),
Deficiência
dó, etc), ou para satisfazer um seu interesse pessoal estabelece:
(promoção, recebimento de comissão legal, ou vantagem
funcional ou na carreira, ou proteção de um seu direito na Art.8º - Constitui crime punível com reclusão de 1 (um) a
vida particular, ou de um seu familiar, ou amigo, etc.) 4 (quatro) anos, e multa:
pratica algum ato, contrariamente a uma expressa disposi-
ção da lei, ou retarda ou deixa de praticar, indevidamen- I - recusar, suspender, procrastinar, cancelar ou
te, um ato de seu ofício. Para a caracterização desse fazer cessar, sem justa causa, a inscrição de
crime, entretanto, deve ficar provado que o funcionário aluno em estabelecimento de ensino de qualquer
público agiu com a vontade (dolo) de satisfazer interesse curso ou grau, público ou privado, por motivos
ou sentimento pessoal. derivados da deficiência que porta;

"Interesse
Interesse é a relação psicológica com que uma pessoa
Interesse" II - obstar, sem justa causa, o acesso de alguém a
pretende ocorra um ato, ou um fato, ou com que se qual, quer cargo público, por motivos derivados
vincula ela a um objeto ou objetivo. Assim, por exemplo, de sua deficiência;
o Oficial de Justiça penhora insuficiente de bens do
Executado, deixando de penhorar um bem qualquer (e III - negar, sem justa causa, a alguém, por motivos
necessário para a suficiência da penhora), porque já derivados de sua deficiência, emprego ou traba-
estava comprando para si (ou para sua esposa) tal bem. lho;
O Oficial de Justiça prevaricou, pois deixou de praticar o
ato de seu ofício (penhorar os bens suficientes ao paga- IV - recusar, retardar ou dificultar internação ou
mento do principal, custas, honorários, etc), para atender deixar de prestar assistência médico-hospitalar e
a seu interesse pessoal de adquirir aquele bem (que ambulatorial, quando possível, a pessoa portado-
deixou de incluir na penhora). ra de deficiência;

"Sentimento
Sentimento é sinônimo de emoção, ou paixão. É o
Sentimento" V - deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem justo
amor, o ódio, a piedade, o partidarismo, a vingança, a motivo, a execução de ordem judicial expedida na
subserviência ("puxassaquismo"), etc. E pouco importa se ação civil a que alude esta Lei;
o sentimento é nobre (solidariedade humana, altruísmo,
piedade, magnanimismo, etc) ou não. Haverá prevarica- VI - recusar, retardar ou omitir dados técnicos
ção, por exemplo, se o Oficial de Justiça, deixar de pro- indispensáveis à propositura da ação civil objeto
ceder à citação de um réu em ação de despejo por falta de desta Lei, quando requisitados pelo Ministério
pagamento, porque se apiedou com a miséria, o número Público.
de filhos, o desemprego, etc., do mesmo.
Confira que as condutas previstas na Lei de Direitos da
Mas é importante não esquecer: não basta que o Pessoa Portadora de Deficiência) são todas de idênticas à
funcionário tenha agido errado (praticando, ou deixando de prevaricação — mas não constituem crime de prevari-
de praticar ou retardando ato de seu ofício, infringindo cação, porque há uma previsão legal específica (configu-
seu dever funcional). É imprescindível que ele aja errado rando um outro crime),
crime quando o "sentimento pessoal" é
e tenha a específica intenção de "satisfazer ou um interesse o de "discriminação contra a pessoa deficiente".
ou um sentimento pessoal". Se faltar o interesse pessoal,
20 = DIR. P E N A L Tribunal de Justiça / São Paulo
Art.319-A- Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente < Ação Física:
público, de cumprir
cumprir seu dever de vedar ao duas: a) deixar de responsabilizar subordinado que
preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio cometeu infração no exercício do cargo; b) não levar o
ou similar, que permita a comunicação com fato ao conhecimento da autoridade competente, quando
outros presos ou com o ambiente externo: lhe falte competência.

Pena:
Pena detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. < Elemento Subjetivo/Injusto:
o dolo. Não é crime a conduta culposa.
Obs.: artigo acrescentado pela Lei nº 11.466/2007.

< Ação Penal:


Penal pública incondicionada.
Descreve-se aqui um tipo especial de prevaricação,
visando a criminalizar, especificamente, a negligência ou
Procura a lei prevenir neste delito o acumpliciamento
o acumpliciamento do Diretor de Penitenciária, ou dos
de chefes com funcionários públicos, ou o chamado
Agentes Penitenciários, com os presos.
"apadrinhamento". Evidentemente, na administração
pública, não há um "dono" do negócio, um "patrão" que
Curioso é que a pena do tipo especial é a mesmíssima
fique atento aos prejuízos materiais ou morais que os
prevista para o tipo genérico, a revelar que se não preten-
empregados pratiquem: todos são empregados do povo.
deu agravar essa conduta — apenas aclarando a crimino-
sidade da conduta, que, em verdade, já se inseria no
É natural, portanto, que os funcionários públicos não se
gênero.
insurjam, nem se revoltem, nem "entreguem" (denunciem,
delatem) um colega, se souberem que este vem pratican-
Registre-se, ainda, que o novo tipo penal emerge da
do infrações prejudiciais aos interesses públicos; de regra,
crise do sistema penitenciário e seu domínio pelas organi-
todos se omitem por "coleguismo", não se importando com
zações criminosas, como PCC, Comandos, etc. — e só foi
o prejuízo público conseqüente da ação danosa do
construído como resposta política à pressão social contra
funcionário.
tal desgoverno.
Para zelar contra tais condutas lesivas aos interesse pú-
Sujeito Ativo do crime é o Diretor de Penitenciária e/ou
blicos, determina a estrutura administrativa que os Chefes
Agente Público, e, ademais, apenas aquele que tenha o
punam os funcionários infratores, ou se não tiverem
dever de vedar o acesso do preso a aparelho de comunica-
competência para aplicar a punição, devem tais Chefes
ção: trata-se, pois, de crime próprio.
comunicar à Autoridade competente, para que esta tome
as providências cabíveis.
Outrossim, o preso beneficiário da conduta não será
partícipe do delito, limitando-se sua conduta a se caracte-
Ocorre, entretanto, que é muito comum que Chefes não
rizar como falta grave do condenado à pena privativa de
entreguem seus "peixinhos", seus protegidos, ou mesmo
liberdade, caso ele tenha “em sua posse, utilizar ou
funcionários de que tenham dó, ou compaixão e, por
fornecer aparelho telefônico, de rádio ou similar, que bondade (indulgência), nem lhes aplicam a punição, nem
permita a comunicação com outros presos ou com o ambien- comunicam o fato ao superior competente.
te externo” (art.50/LEP - Lei nº 7.210/84).
Não permite, portanto, a lei penal, que o Chefe tenha
compaixão e seja "bonzinho" (indulgente) com o funcioná-
Condescendência Criminosa rio que cometeu infração no exercício do cargo. Se o Che-
fes for indulgente e não "entregar" (denunciar) o fato à
autoridade competente, também ele Chefe praticará o
crime de condescendência criminosa [o Chefe só tem a
Art.320 - Deixar o funcionário público, por indulgência,
obrigação de comunicar o fato à autoridade competente,
de responsabil
responsabilizar subordinado que cometeu
quando não for ele, o Chefe,
Chefe a pessoa (autoridade) com-
infração no exercício do cargo ou, quando lhe
petente para aplicar a pena].
faltar competência, não levar o fato ao conhe-
cimento da autoridade competente:
Observe-se que este crime só ocorrerá se houver uma
infração (crime ou falta administrativa), mas que deve
Pena - detenção, de quinze dias a um mês,
estar relacionadas com a administração pública, isto é,
ou multa.
ligada ao exercício do cargo. Assim, se o funcionário
< Sujeito Ativo:
público praticou um crime qualquer (adultério, briga na
o funcionário hierarquicamente superior ao servidor
rua, sedução, aborto, furto, etc.), que nada tenha com o
infrator.
exercício de sua função pública, seu Chefe nada terá nem
a punir nem a comunicar.
< Sujeito Passivo: o Estado.
Atenção:
Atenção este crime é muito parecido com o de "prevarica-
< Objeto da Tutela Penal:
ção". Na verdade, o crime de "condescendência
a organização disciplinar da Administração Pública.
criminosa" é apenas uma forma especial do crime de
Tribunal de Justiça / São Paulo DIR. P E NAL = 21

prevaricação — porque também aqui há uma omissão estabelece que, nessa hipótese, haverá "crime funcional
(deixar de praticar), com o objetivo de atender ao sen- contra a ordem tributária": "patrocinar, direta ou indireta-
timento pessoal (indulgência, piedade, condescendência). mente, interesse privado perante a Administração Fazendá-
ria, valendo-se da qualidade de funcionário público". E a
Por isso, em muitos concursos já houve questão explo- pena será bem mais rigorosa: de 1 a 4 anos de reclusão,
rando essa delicada diferença --- e candidatos afoitos mais multa.
confundindo os dois crimes: se a questão mencionar que
o Chefe deixou de responsabilizar um funcionário infrator Assim, se um Oficial de Justiça --- representando uma
"por indulgência" (por dó, compaixão), o crime será o de pessoa que tem um débito tributário --- apresenta-se à
"condescendência criminosa". Mas se o Chefe não responsa- repartição fiscal para "fazer um acerto" ou "parcelar" o
bilizou o faltoso porque este seria suspenso e, sendo seu débito daquele contribuinte/devedor, tentando se prevale-
inquilino, não lhe pagaria o aluguel --- então terá agido cer do fato de que foi ele quem cumpriu o mandado de
"por interesse pessoal" --- e tal conduta não é condescen- citação na respectiva execução fiscal --- estará cometendo
dência criminosa, e sim a mais pura "prevaricação". o "crime funcional contra a ordem tributária e não o crime
de "advocacia administrativa".
Importante a diferença, até porque a pena do crime de
prevaricação é mais grave (detenção de 3 meses a um
ano, ou multa) que a prevista para o crime de condescen- § único/art.321- Se o interesse é ilegítimo:
dência criminosa (detenção de 15 dias a um mês, ou
multa). Pena - detenção, de três meses a um ano, além da multa.

O interesse defendido (advogado) pelo funcionário


Advocacia Administrativa público se não for legítimo agravará a pena, aumentan-
do-a para 3 meses a um ano, além da multa. Se defender
interesse de terceiros dentro da Administração já é errado,
Art.321 - Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse será odioso se tal interesse ainda for contrário à lei
privado
privado perante a administração pública, (ilícito).
valendo-se da qualidade de funcionário :

Pena - detenção, de um a três meses, ou multa. Violência Arbitrária

< Sujeito Ativo:


qualquer funcionário público; possível a participação de Art.322 - Praticar violência, no exercício de função ou a
particulares. pretexto de exercê-la:

< Sujeito Passivo: o Estado. Pena - detenção, de seis meses a três anos, além
da pena correspondente à violência.
< Objeto da Tutela Penal: a Administração Pública. < Sujeito Ativo:
o funcionário público; possível a participação de particu-
< Ação Física: lar.
é patrocinar, advogar, reivindicar interesse alheio, privado,
interesse junto à Administração Pública, independente- < Sujeito Passivo:
mente de ser justo ou lícito. o Estado; secundariamente, quem sofre a violência.

< Elemento Subjetivo/Injusto: < Objeto da Tutela Penal:


o dolo. Não há forma culposa. o Estado e a pessoa que sofre a violência.

< Ação Penal:


Penal pública incondicionada. < Ação Física:
praticar a violência física (excluída a violência moral)
Muitos funcionários públicos aproveitam-se de sua contra a pessoa visada;
condição de funcionário, para, estando dentro da adminis-
tração pública, defenderem interesses de terceiras pesso- < Elemento Subjetivo/Injusto:
as. Aquele que o fizer cometerá o crime de advocacia o dolo. Não há modalidade culposa.
administrativa.
< Ação Penal:
Penal pública incondicionada.
' Atenção:
Atenção se o funcionário público atuar dentro
da administração pública fazendária, ou A urbanidade, a lhaneza, a gentileza, a cortesia, o
seja, no setor em que os contribuintes deduzem requeri- respeito ao próximo, devem ser a tônica do tratamento
mentos e pretensões fiscais --- ele não cometerá o crime dispensado pelo funcionário público a todos os cidadãos
previsto neste art.321 e sim um outro crime com outro que se relacionarem com a administração pública.
nome. O art.3º, inc.III, da Lei nº 8.137 (27/DEZ/90)
22 = DIR. P E N A L Tribunal de Justiça / São Paulo
O funcionário público que --- seja no exercício de suas § 2º - Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa
funções, seja a pretexto de exercê-la --- praticar violência de fronteira:
física contra qualquer "administrado", cometerá o crime de
violência arbitrária e responderá, também, pela pena Pena - detenção, de um a três anos, e multa.
relativa à violência física (exemplo: lesões corporais, art.
129/CP). Este crime é muito cometido por fiscais de < Sujeito Ativo:
Prefeitura, policiais, etc. o funcionário público em exercício de cargo público.

Corrente minoritária (BENTO DE FARIA e outros) entende < Sujeito Passivo: o Estado.
que a violência não precisaria ser física, bastando a
violência moral, como a humilhação, a injúria, etc. < Objeto da Tutela Penal:
a continuidade e regularidade dos serviços da Administra-
Mas a interpretação predominante na Doutrina, ção Pública.
baseando-se em NELSON HUNGRIA — um dos pais do
Código Penal — entende que a expressão “violência” < Ação Física:
refere-se, exclusivamente, à violência física, pois, quando é abandonar — deixar de exercer, de executar as funções
quis se referir à “vis compulsiva”, a lei penal menciona-a do cargo público.
como “grave ameaça”.
< Elemento Subjetivo/Injusto:
Esse entendimento também domina a jurisprudência,
o dolo. Inexiste tipicidade culposa.
valendo como exemplo este acórdão do Tribunal de
Justiça de São Paulo: “Violência simplesmente moral,
< Ação Penal:
Penal pública incondicionada.
constituída pela intimidação por ameaça, não basta ao
reconhecimento do delito do art.322 do CP., sem prejuízo
Este crime visa a proteger o funcionamento, a
de eventual configuração de exercício arbitrário ou abuso
de poder. É que sempre que o estatuto básico menciona organização e a estabilidade administrativa contra a
a “violência” tout court, quer referir-se à vis corporalis ou desídia ou relapsia funcional. Assim, o funcionário público
vis physica, empregada contra a pessoa, pois, quando não pode abandonar o cargo público que exerça. Se o
também trata da vis compulsiva, usa da expressão “grave fizer, a menos que o tenha feito em situação que a lei
ameaça” — (in Juricrim-Franceschini, 4/450). permita, estará praticando o crime de abandono de
função.
Assim, a despeito da polêmica sobre o tema, o candida-
to, questionado em concurso publico, deverá responder É no perigo que representa o abandono, que reside
pela insuficiência da violência moral para a caracterização o crime. Se, todavia, esse perigo se concretizar, ou seja, se
do crime. do abandono resultar prejuízo público, a pena será bem
maior, tanto na "cadeia" quanto na multa.
Revogação ?!
Preventivamente, a lei com sabedoria, considerando
Por derradeiro — embora alguns poucos considerassem que nas faixas de fronteira a administração pública deve
o art.322 revogado pela Lei n° 4898/65, que define o ser mais efetiva, mais atenta, mais presente, porque
crime de “abuso de autoridade” — a jurisprudência se representa a própria garantia da segurança nacional,
assentou pelo entendimento de que não se operou tal define o abandono de função crime ainda mais grave e,
revogação, até porque o crime de abuso de poder é crime por conseguinte, aumenta em muito a pena de detenção
contra a administração da justiça, enquanto o de violência e também a multa.
arbitrária é crime praticado por funcionário contra a
Administração Pública em geral — como o distinguiu e Atenção:
Atenção "abandonar" não é, simplesmente, deixar
julgou o Supremo Tribunal Federal — (in RTJ vol.56, p.131) de ir trabalhar. É necessário que tal falta se
prolongue por um determinado tempo, ininterruptamen-
te. Segundo o art. 63 do Estatuto dos Funcionários
Públicos Civis do Estado de São Paulo (Lei nº 10.261/68)
Abandono de Função só haverá o "abandono" se o funcionário "interromper o
exercício por mais de 30 (trinta) dias consecutivos" --- e o
art.256-§ 1º daquela Lei dispõe que: "Considerar- se-á
Art.323 - Abandonar cargo público, fora dos casos abandono de cargo o não comparecimento do funcionário
permitidos em lei: por mais de 30 (trinta) dias consecutivos "ex vi" do artigo
63".
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou Significa que só haverá crime de abandono, se o
multa. funcionário faltar durante 31 dias ou mais. Se ele faltar 30
dias (exatinhos) e aparecer para trabalhar no 31º dia, não
§ 1º - Se do fato resulta prejuízo público: haverá tal crime (naturalmente, será punido, mas sua
infringência será apenas disciplinar, não constituindo
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
crime).
Tribunal de Justiça / São Paulo DIR. P E NAL = 23

E preste atenção:
atenção as faltas devem ser "consecuti- Justiça é removido para outra Comarca, ele não poderá
vas", ou seja, se ele faltou 29 cumprir os mandados --- que lhe haviam sido confiados,
dias, apareceu no 30º (e trabalhou), depois faltou mais 30 e que ele ainda não cumprira --- para "atualizar" seu
dias, apareceu no 31º dia, depois sumiu mais 30 dias e serviço antes de ir embora.
voltou no 31º dia --- ele terá faltado 89 dias (muito mais
que os 30 dias), mas não cometeu crime de "abandono", Da mesma forma, se já foi mandado embora e ainda
porque suas faltas não foram consecutivas (ininterruptas): tinha mandados a cumprir. Não poderá mais cumpri-los.
será punido apenas disciplinarmente. Identicamente, se foi suspenso e estava com o serviço
atrasado: não poderá nem atualizar seu serviço, durante
sua suspensão, nem poderá ajudar a algum coleguinha,
que precise de ajuda.
Exercício Funcional Ilegalmente
Antecipado ou Prolongado Funcionário Público só age se tem a posse e o
exercício de seu cargo.

Art.324 - Entrar no exercício de função pública antes


de satisfeitas as exigências legais, ou continu-
ar a exercê-la, sem autorização, depois de Violação de Sigilo Funcional
saber oficialmente
oficialmente que foi exonerado, removi-
do, substituído ou suspenso:
Art.325 - Revelar fato de que tem ciência em razão do
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, cargo e que deva permanecer em segredo, ou
ou multa. facilitar- lhe a revelação:
< Sujeito Ativo:
o funcionário público, e até mesmo o exonerado. Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou
multa, se o fato não constitui crime mais
< Sujeito Passivo: o Estado. grave.

< Objeto da Tutela Penal: a Administração Pública. < Sujeito Ativo: o funcionário público (e também o
funcionário aposentado ou posto em disponibilidade,
< Ação Física: duas: a) entrar no exercício de função ainda vinculado à administração).
pública antes de satisfeitas as exigências legais; b) con-
tinuar a exercê-la, depois de saber oficialmente que foi < Sujeito Passivo: o Estado; eventualmente o particular
exonerado, removido, substituído ou suspenso. prejudicado com a revelação do sigilo.

< Elemento Subjetivo/Injusto: < Objeto da Tutela Penal: a regularidade de funciona-


o dolo. Inexiste forma culposa. mento da administração pública.

< Ação Penal:


Penal pública incondicionada. < Ação Física:
duas: (a) revelar, ou comunicar, dar conhecimento a
Ao contrário do crime anterior, que procura evitar o outrem; e (b) facilitar a revelação, propiciando o acesso ao
vazio na administração pública, o delito previsto aqui segredo.
procura evitar que o funcionário que já tenha sido exone-
rado (afastamento não punitivo), ou removido (transferi- < Elemento Subjetivo/Injusto:
do), substituído ou suspenso, continue a exercitar suas é o dolo. Não há punição a título de culpa.
funções, se não estiver autorizado a fazê-lo.
< Ação Penal:
Penal pública incondicionada.
Também ocorre tal crime quando o funcionário
público começa a exercitar função pública antes de O Estado tem necessidades de manter segredos, a
satisfazer as exigências legais (p.ex., a posse, eventuais fim de que possa, em certos casos, realizar com eficácia
"inspeção médica", comprovação de quitação com o serviço suas tarefas e cumprir propósitos de interesse público. Se
militar, certificado de bom procedimento, fiança, etc.). é verdade que, democraticamente, os atos administrativos
devem ser públicos, não é menos verdade que, ainda que
É o funcionamento regular e normal da atividade temporária ou transitoriamente, certas providências são
administrativa que se procura proteger contra a indébita sigilosas.
intromissão do funcionário público, que ainda não pode
exercer o cargo ou que já não mais o poderia. Ao funcionário que, por seu cargo, delas participe ou
que as conheça, incumbe "guardar sigilo", não as revelan-
E veja bem: mesmo que o funcionário tenha "boa do nem facilitando que sejam reveladas. Se "fofocar",
intenção", ele não poderá continuar a exercer a função cometerá o crime de "violação de sigilo funcional".
pública sem autorização. Assim, p.ex., se um Oficial de
24 = DIR. P E N A L Tribunal de Justiça / São Paulo
Atenção: espelhando o direito constitucional garan- - Se não há segredo de justiça, não há dever de sigilo.
tido pelo "habeas-data" --- foi editada a Lei nº Não havia, efetivamente, sigilo a ser preservado. Aliás,
8.159/91),
8.159/91 que estabeleceu que "Todos têm direito a conquanto haja alguns processos com ínsita e inerente
receber dos órgãos públicos informações de seu interesse necessidade de sigilo [art. 155-II, do Cód.Proc. Civil (fora
particular ou de interesse coletivo ou geral, contidas em do programa), e especialmente seja aplicável ao processo
documentos de arquivos, que serão prestadas no prazo da de busca e apreensão, é de se observar que apenas "A
lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo justificação prévia far-se-á em segredo de justiça, se for
sigilo seja imprescindível à segurança da Sociedade e do indispensável" [art.841, CPCiv.].
Estado, bem como à inviolabilidade da intimidade, da vida
privada, da honra e da imagem das pessoas" [art.4º] e em Noutras palavras, só haveria dever de sigilo, se o Juiz
seu art.6º previu que "Fica resguardado o direito de a determinasse (se a considerasse indispensável). Além
indenização pelo dano material ou moral decorrente da disso, a justificação precede ao deferimento do pedido.
violação do sigilo, sem prejuízo das ações penal, civil e Como a questão dizia que foi "mantido o réu como
administrativa". depositário", significa que já se superara a fase da "justifi-
cação" e, portanto, do sigilo. Definitivamente, assim, não
Assim, todos os documentos arquivados nas reparti-
havia como falar-se em crime de violação de sigilo funcio-
ções públicas podem ser consultados por qualquer pessoa
nal.
--- desde que haja, comprovadamente, um interesse dessa
pessoa, ou um interesse geral (coletivo, público).
Violação de Sigilo Funcional Via Informática
Mas veja bem: "Os documentos cuja divulgação ponha
em risco a segurança da sociedade e do Estado, bem como
aqueles necessários ao resguardo da inviolabilidade da
intimidade, da vida privada, da honra e da imagem das Art.325/§ 1º - Nas mesmas penas deste artigo incorre
pessoas, são originariamente sigilosos" [art. 23-§ 1º/Lei nº quem:
8.159/91], e o sigilo será preservado durante 30 anos, se
for relativo à "segurança da sociedade e do Estado" e se for I- permite ou facilita, mediante atribuição, forneci-
referente à "inviolabilidade da intimidade, da vida privada, mento e empréstimo de senha ou qualquer outra
da honra e da imagem das pessoas" devendo ser preserva- forma, o acesso de pessoas não autorizadas a
do durante até 100 anos, a contar da data de sua produ- sistemas de informações ou banco de dados da
ção. Administração Pública;
No próprio Código de Processo Civil há previsão
expressa de alguns processos, em que se deverá observar II - se utiliza, indevidamente, do acesso restrito.
o "segredo de Justiça": aqueles (a a ) em que o exigir o
interesse público; (bb) que dizem respeito a casamento, Também este parágrafo é resultado da modernização do
filiação, separação dos cônjuges, conversão desta em Código Penal, introduzida pela Lei nº 9.983/00, que previu
divórcio, alimentos e guarda de menores (art.155-I e II do a prática de velhos crimes através dos mecanismos da
Cód.Proc.Civil). Quanto ao interesse público, naturalmen- informática.
te quem o declarará, para fundamentar e impor o "segredo
de Justiça", será o Juiz de Direito. A base de informações (dados) é hoje valioso patrimô-
nio, porquanto o conhecimento de informações sigilosas
Assim, se um "curioso" chegar num cartório e quiser pode gerar negócios vultosos: imagine, p.ex., quem saiba
ver uma ação de alimentos, ou de investigação de paterni- que uma avenida asfaltada cruzará uma determinada zona
dade, ou qualquer outra ação, que implique violação da rural, em dois anos: certamente, procurará os fazendeiros,
intimidade das pessoas --- o "curioso" não poderá ter adquirirá terras, pagando preços a alqueires e, futuramen-
acesso àqueles autos (mesmo que se intitule advogado, te, os loteará, vendendo lotes por m², obtendo lucro
salvo se já o é no mesmo processo). fabuloso; ninguém ignora os escândalos nacionais da
maxi-desvalorização do Real (e maxi-valorização do
O direito de consultar os autos e de pedir certidões
dólar) e os astronômicos lucros obtidos por banqueiros e
de seu atos é restrito às partes e as seus procuradores
cúmplices de autoridades governamentais.
(art.155-§ único do CPCi). Se o Escrevente (ou o Oficial
de Justiça) lhe entregar os autos, cometerá o crime do
A preservação do sigilo de informações é fundamental
art.325/CP.
à ordem econômica, à moral e à licitude das relações
Questão curiosa foi elaborada em um concurso sociais — e sua devassa hoje pode ser feita pelo simples
público, em que se pretendia-se saber se "falsa" ou "verda- acesso a banco de dados, onde tais informações são
deira" a assertiva: "Em busca e apreensão de veículo, não armazenadas.
deferido expressamente o segredo de Justiça, ao revés,
mantido o réu como depositário, não comete violação de Essa a razão pela qual tutela o sistema de informações
sigilo funcional o escrivão do feito se, antes do cumprimento ou o banco de dados da Administração Pública, contra o
da liminar e da citação, ofereceu o advogado do réu contes- acesso espúrio de pessoas não autorizadas — punindo o
tação, máxime se já ajuizara cominatória versando sobre o funcionário que o permita ou facilite, de qualquer modo.
mesmo objeto e contra o autor da busca e apreensão".
Tribunal de Justiça / São Paulo DIR. P E NAL = 25

Igualmente, o funcionário que tiver credenciamento nas compras ou subfaturados nas vendas --- e com isso se
para “acesso restrito” ao sistema de informações ou ao enriquecendo espertalhões (que não raro pagam comis-
banco de dados — só poderá utilizá-lo consentaneamente sões para funcionários públicos, que os ajudam, ou que
com os interesses do serviço público: se utilizar indevida- com eles se ajustam).
mente desse seu acesso, igualmente cometerá o crime.
Em toda concorrência pública há a apresentação dos
Art.325 - ................................... preços e condições de pagamento, qualidade do produto,
etc. Cada "concorrente", dentro de um prazo, apresenta
§ 2º - Se da ação ou omissão resulta
resulta dano à Adminis- sua proposta, que é mantida em segredo (se um não
tração Pública ou a outrem: souber a proposta do outro, todos se empenharão em
apresentar a melhor proposta possível), até que num dia
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. pré-determinado, todas as propostas são abertas e ana-
lisadas, ganhando a concorrência a melhor proposta.
Define-se aqui um tipo qualificado: se da violação do
sigilo — via informática — resultar qualquer tipo de dano Confira, portanto, que o segredo é fundamental: com
(prejuízo), à Administração Pública ou a outrem), então ele se obtém o melhor preços/condições e se impede a
o delito será outro, e muito mais grave, como o revela a fraude de um concorrente (que iria apresentar um preço
pena cominada. bem baixinho) apresentar uma proposta só um pouquinho
melhor que a dos demais, o suficiente para ganhar a
De fato, ao invés da detenção a pena será de reclusão — concorrência.
e não mais de apenas 6 meses a 2 anos, mas de 2 a 6 anos
— e a sanção pecuniária não mais será alternativa (ou) e Será criminoso (art.326/CP) e poderá pegar cadeia
sim cumulativa, como o revela a conjunção aditiva “e”. (detenção de 3 meses a 1 ano e multa) o funcionário
público que devassar o sigilo (antigamente, punham-se os
envelopes selados no bico de uma chaleira; estes se
descolavam, liam-se as propostas e os envelopes eram
Violação de Sigilo de Proposta de Concorrência novamente colados --- o cúmplice do funcionário, por sua
vez, apresentava sua proposta já sabendo qual era a
menor proposta do concorrente e, assim, garantia-se da
Art.326 - Devassar o sigilo de proposta de concorrência vitória, com um preço às vezes apenas um tostãozinho
pública, ou proporcionar
proporcionar a terceiro o ensejo menor que o dos outros).
de devassá-lo:
Atenção-1:
Atenção-1 a Lei nº 8.666/93, em seu art.94 previu a
Pena - detenção, de três meses a um ano, e seguinte conduta criminosa: "Devassar o si-
multa. gilo de proposta apresentada em procedimento licitatório,
ou proporcional a terceiro o ensejo de devassá-lo". Pena:
Pena
< Sujeito Ativo: o funcionário público cujas funções se Detenção, de 2 (dois) a 3 (três anos), e multa.
vinculam às concorrências.
Confira tratar-se da mesmíssima
mesmíssima conduta prevista
< Sujeito Passivo: o Estado; também os concorrentes neste art.326/CP,
art.326/CP mas com a pena bem aumentada. Antes
eventualmente prejudicados. era de "detenção, de três meses a um ano, e multa" e agora
passa a ser de "detenção, de 2 (dois) a 3 (três) anos, e
< Objeto da Tutela Penal: multa. Enfim, está revogado o art.326/CP.
art.326/CP
a moralidade, lisura e igualdade nas concorrências
públicas. Atenção-2:
Atenção-2 a pena de multa não será a prevista, ordina-
riamente, pelo Código Penal. Segundo o art.
< Ação Física: 99 da Lei nº 8.666/93,
8.666/93 "A pena de multa cominada nos
duas: a) devassar, conhecer o conteúdo; b) proporcionar art.89 a 98 desta Lei consiste no pagamento de quantia
o devassamento; dar ensejo a que terceiro devasse. fixada na sentença e calculada em índices percentuais, cuja
base corresponderá ao valor da vantagem efetivamente
< Elemento Subjetivo/Injusto: obtida ou potencialmente auferível pelo agente".
o dolo. Inexiste modalidade culposa.

< Ação Penal:


Penal pública incondicionada.
Conceito de Funcionário Público
A Administração Pública só pode adquirir ou alienar
bens, fazendo o "melhor negócio possível", tanto na quali-
dade, como no preço e condições de pagamento. Esse é Art.327 - Considera-se funcionário público, para os
o objetivo da concorrência pública: evitar que o dinheiro efeitos penais, quem, embora transitoriamente
público seja esbanjado, jogado fora, por maus administra- ou sem remuneração, exerce cargo público,
dores, ou mesmo por falcatruas, preços superfaturados emprego ou função pública.
26 = DIR. P E N A L Tribunal de Justiça / São Paulo
§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exer- a função é permanente, ou transitória --- se é remunerada
ce cargo, emprego ou função em entidade ou gratuita. Se a pessoa está exercendo uma função
paraestatal, e quem trabalha para empresa pública, será considerada funcionário público e responde-
prestadora de serviço contratada ou conveniada rá pelos crimes que cometer nessa qualidade.
para a execução de atividade típica da Adminis-
Pública.”
tração Pública. Finalmente, registre-se que tal "equiparação" só é
A parte destacada (itálico) deste“§1º” foi alterado pela Lei nº 9.983/00, (de
válida para a sujeição ativa (aquele que comete o crime),
14.7.00), em vigor desde 15.X.00. ou seja, não tem valor para a sujeição passiva (aquele que
sofre o crime). Assim, se uma pessoa ofender um Gerente
A extensão do conceito de funcionário público, para
do Banco do Brasil (função de direção), não cometerá
efeitos penais, visa à melhor proteção penal da Adminis- crime de desacato (ofensa sofrida pelo funcionário pú-
tração Pública, já que a terceirização e a parceria são hoje blico, no exercício da função, ou em razão dela --- ver
fenômenos pelos quais estabelece-se uma invasão de art.331/CP), já que tal Gerente não é equiparado (para
particulares (não detentores de cargos ou funções fins de sujeição passiva) a funcionário público. Mas esse
públicas) tanto no acervo de bens materiais, como no mesmo Gerente cometerá "peculato" (art.312/CP), se
complexo de informações e registros da Administração meter a mão no dinheiro do Banco.
Pública.

De conseguinte, todos os agentes das empresas presta-


doras de serviço, ou de entidades conveniadas para Usurpação de Função
execução de atividade típica da Administração Pública —
todos poderão ser sujeitos ativos de crimes próprios dos
funcionários públicos. O funcionário público que exercer função que não é de
sua “competência”, ou seja, que não diz respeito ao seu
§ 2º - A pena será aumentada da terça parte quando cargo, estará cometendo o crime de usurpação de função.
os autores previstos neste capítulo forem
ocupantes de cargos em comissão ou de fun- Art.328 - Usurpar o exercício de função pública:
pública
ção de direção ou assessoramento de órgão da
administração direta, sociedade de economia Pena - detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, e
mista, empresa pública ou fundação instituída multa.
pelo poder público.
§ único - Se do fato o agente aufere vantagem:
vantagem
Importantíssimo considerar aqui o quanto é extensivo
o conceito legal de "funcionário público". Para o Código Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
Penal, verdadeiramente, não importa que a pessoa seja
efetivamente um funcionário público: é indispensável, Ensina-nos o Prof. FERNANDO CAPEZ que o fato típico
sim, que exerça uma função pública — ou seja aquela “consubstancia-se no verbo usurpar, isto é, tomar, apoderar-
atividade típica e própria do Poder Público, mesmo se. No caso, o particular executa, ilegitimamente, atos de
quando exercida por uma pessoa estranha à Administra- ofício, sem que tenha a qualidade de funcionário público,
ção Pública. isto é, sem que tenha sido legalmente investido na função
pública. Não basta tão-somente que o particular se intitule
Por isso que os "Jurados", o "eleitor" (que trabalha no funcionário público: é necessário que efetivamente pratique
processo eleitoral, em dia de eleição), o "juiz de paz", etc., algum ato funcional. A mera atribuição da qualidade de
são funcionários públicos --- para efeitos penais. funcionário público configura o delito do art. 45 da Lei das
Contravenções Penais... Trata-se de crime comum. Qualquer
Observe que também os funcionários das Autarquias um pode praticá-lo. Segundo Hungria, nada impede,
(Banco Central, INSS, etc) são considerados funcionários inclusive, que o funcionário público usurpe função estranha
públicos, para efeitos penais, já que o Código a tanto equi- à sua, isto é, exerça função pública alheia. Ressalva Noro-
para "quem exerce cargo, emprego ou função em entidade nha que é preciso que as funções se distingam e estremem”
paraestatal". (—in Curso de Direito Penal, parte especial, vol.3, 6ª ed., Ed. Saraiva,
pp.485-486)

E algumas pessoas, que trabalham em Sociedades de


Economia Mista (Banco do Brasil, Banco do Estado,
Petrobrás, Telesp, CEESP, etc), ou em Empresas Públicas
(Correios, etc) ou em Fundação Pública Crimes contra a Administração Pública:
(Tv-Cultura/Fundação Pe.Anchieta) --- também poderão
ser responsabilizadas criminalmente, como se funcionári- Crimes praticados por Particular
os públicos fossem: aquelas pessoas que exercem "cargos
em comissão ou de função de direção ou assessoramento"
(apenas estas, isto é, o funcionário comum não). Estes crimes, como bem salienta o título do capítulo,
podem ser praticados por particular, pelo "estranho" ao
É importante atentar para o seguinte: pouco importa se quadro administrativo.
Tribunal de Justiça / São Paulo DIR. P E NAL = 27

O funcionário público, entretanto, também poderá ser < Sujeito Passivo: o Estado; secundariamente, o funcio-
sujeito ativo desses crimes. Em todo crime há sempre um nário ou a pessoa que o auxilia na execução do ato
(a) sujeito ativo e (b) um sujeito passivo. O sujeito ativo administrativo legal.
é aquele que comete o crime, e o sujeito passivo é aquele
que sofre a ação criminosa, ou seja, o titular do bem ou < Objeto da Tutela Penal: a administração pública.
interesse, a que a lei está procurando proteger. Nos crimes
previstos nos artigos seguintes, o sujeito ativo é qualquer < Ação Física: é opor-se, contrapor-se, oferecer resistência.
pessoa, tanto podendo ser um "particular", como até
podendo ser o próprio funcionário público. < Elemento Subjetivo/Injusto:
Subjetivo/Injusto: o dolo. Inexiste forma
culposa.
Mas o sujeito passivo será sempre o Estado (Administra-
ção Pública, seja a federal ou a estadual ou a municipal), < Ação Penal:
Penal pública incondicionada.
que será sempre a "vítima" da ação criminosa. Assim, no
crime de "resistência", embora a eventual ação física do O Estado tem obrigações para com a sociedade e as
sujeito ativo seja direcionada contra um funcionário executa por intermédio dos funcionários públicos. Como
público, é a Administração Pública que é prejudicada, por em todo ato administrativo se presume que haja legalida-
não poder executar seu ato. de e interesse público, a nenhum particular é permitido
opor-se à execução de ato administrativo legal (se o ato
No crime de "desobediência", a ordem legal é de um for ilegal não há crime).
funcionário, mas ele apenas age para que se cumpra um
interesse público da Administração Pública, que será a Além da necessidade que o ato seja legal, é também
prejudicada. indispensável que o funcionário que o esteja executando
também seja competente ( investido da autorização legal
Da mesma forma, no "desacato", a ofensa é dirigida para o exercício daquela atividade ou função).
contra um funcionário, mas ele é apenas parte de um todo
(Administração Pública), que é atingido diretamente pelo Mas veja bem: se o ato praticado pelo funcionário não
menoscabo, pela humilhação, sendo desrespeitada. É o for legal,
legal quem resiste a ele não cometerá crime. Se, por
que acontece em todos os demais crimes aqui previstos. ex., o Oficial de Justiça recebe um cheque de um amigo e
vai cobrá-lo, pretendendo "penhorar" (pegar) algum bem
É relevante tal consideração, porque num concurso do devedor, este devedor deverá não só resistir, como até
público perguntou-se sobre a sujeição passiva do crime do poderá dar umas "porradas" (bem dadas) nesse Oficial de
art.332 do Cod.Penal (crime de "exploração de prestígio"): Justiça.
também é o Estado (Administração Pública), que se
prejudica com essa ação criminosa. Da mesma forma não haverá crime se o ato for legal,
mas o funcionário não tiver "competência" (atribuição
Nesse caso a lei quer proteger o respeito, prestígio e legal) para praticá-lo. Assim, por exemplo, quem deve
crédito da Administração de Justiça. fazer um arresto é o Oficial de Justiça. Se aparecer no
local o servente do Fórum (ou mesmo um escrevente
Essa tarefa é prestada pela Administração Pública: ela, qualquer) e pretender pegar qualquer bem, a pessoa pode
pois, é a "vítima" (sujeito passivo). e até deve lhe dar umas "porradas", porque ele não tem
"poder" para tal ato. Se lhe der tais boas e merecidas "por-
radas", impedindo-o de proceder ao arresto, terá feito
muito bem e não cometerá crime de resistência. Essa
Resistência resistência só será criminosa se o particular se empenhar
com violência ou grave ameaça. Imagine-se que o particu-
lar, presenciando um Oficial de Justiça despejar uma
Art.329 - Opor-se à execução de ato legal, mediante família miserável, apenas ordene: "não faça isso", ou
violência ou ameaça a funcionário competente suplique "não faça isso, por favor". Objetivamente, está se
para executá-lo ou a quem lhe esteja prestan- opondo a que o funcionário execute seu ato legal. Sua
do auxílio : resistência, todavia, não é criminosa. Não há que se falar
em "desobediência", porque o funcionário não está dando
Pena - Detenção, de dois meses a dois anos. qualquer ordem ao particular.

§ 1º - Se o ato, em razão de resistência, não se Muitas vezes o funcionário público vale-se do auxílio de
executa: outrem. Se a ameaça ou a violência for contra este
"auxiliador", também caracterizará o crime de "resistência".
Pena - reclusão, de um a três anos. Ex.: o oficial de justiça que é, ou agredido, ou ameaçado,
para não realizar um despejo. Ou o caminhoneiro que
§ 2º - As penas deste artigo são aplicáveis sem
sem pre- auxilia o oficial de justiça no despejo, e é agredido ou
juízo das correspondentes à violência. ameaçado, para não transportar os bens do despejo, a fim
de que, assim, se evite a realização do despejo.
< Sujeito Ativo: qualquer pessoa.
28 = DIR. P E N A L Tribunal de Justiça / São Paulo
Se, em razão da resistência, o ato não se realizar, a está dando uma ordem, que deverá ser obedecida pela
pena será maior. Em qualquer caso, há ainda a pena testemunha. Se a testemunha se recusar a comparecer ao
correspondente à violência, se esta (violência) se concreti- Fórum no dia e hora marcado, estará cometendo crime de
zou. Assim, se a pessoa, para impedir o despejo, deu uns desobediência.
murros no Oficial de Justiça (ou no caminhoneiro),
lesionando-o (machucando), ele será condenado pelo Claro que se esse mesmo Juiz de Direito mandar o
crime de resistência e por crime de lesões corporais Oficial de Justiça chamar um mecânico para consertar seu
(art.129/CP), ou seja, pela violência praticada. Se foi automóvel, tal mecânico só irá se quiser: o Juiz de Direito
além, e matou (!) um dos dois, responderá pelo homicídio não tem poderes para tanto, e, assim, se o mecânico o
(art.121) e pelo crime de resistência. "mandar às favas" nenhum crime terá cometido, porque
tal "ordem" não é legal.

Questão interessantíssima foi formulada num Concurso


Desobediência (Patrocínio Paulista nº 30): "Citado pelo Oficial de Justiça,
numa execução, para pagar o débito ou nomear bens à
penhora, o devedor não faz nem uma coisa, nem outra",
Art.330 - Desobedecer ordem legal de funcionário perguntando se cometeria crime de "desobediência,
público: resistência ou desacato".

Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa. Não há crime de "desobediência" porque a lei civil
determina como "pena" (sanção) a obrigação de o próprio
< Sujeito Ativo: qualquer pessoa. Oficial de Justiça penhorar os bens; não há "resistência"
porque este não empregou qualquer violência para im-
< Sujeito Passivo: o Estado. pedir qualquer ação do funcionário público; muito menos
haveria "desacato", porque não foi mencionada qualquer
< Objeto da Tutela Penal: ofensa contra o Oficial de Justiça.
a imperatividade e a executoriedade das ordens da
administração pública. A questão é inteligente, exigindo do candidato conheci-
mento sobre três figuras penais (três crimes) e o raciocí-
< Ação Física: nio sobre uma situação de fato. Fique atento.
é desobedecer, deixar de se submeter à ordem legal de
funcionário público. ' Atenção:
Atenção se uma pessoa deixar de atender a uma
ordem judicial, ou a uma requisição do
< Elemento Subjetivo/Injusto: Ministério Público — relativa a Lei de Direitos da Pessoa
o dolo. Não é crime a conduta culposa do delito. Portadora de Deficiência --- não cometerá crime de
"desobediência
desobediência --- mas um crime especial e muito mais
desobediência"
< Ação Penal:
Penal pública incondicionada. grave. É o que estabelece o art.8º, inc.I a VI, da Lei, nº
7.853/90 (de 24/OUT/89):
Este delito é uma espécie do de "resistência", em que o
agente vai se opor a um ato legal, porém sem molestar o "Constitui crime punível com reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos,
funcionário público, nem o ameaçando, nem dirigindo e multa:
violência contra ele. Limita-se a, passivamente, não ...................................................
cumprir a ordem legal dada pelo funcionário público. A lei V - deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem justo motivo,
prevê a possibilidade de os funcionários públicos (Juiz, a execução de ordem judicial expedida na ação civil a
Delegado, Policiais, Oficiais de Justiça, etc.), darem ou que alude esta Lei;
transmitirem ordens a serem cumpridas por particulares
(ou mesmo funcionários públicos outros, que a devam VI - recusar, retardar ou omitir dados técnicos indispensáveis
cumprir). à propositura da ação civil objeto desta Lei, quando
requisitados pelo Ministério Público".
Se o destinatário da ordem não a cumprir, cometerá
crime de desobediência. Todavia, se para não cumprir,
ainda empregar violência ou ameaça, o crime será o de
resistência, sem prejuízo de responder também pelo crime Desacato
relativo à violência.

Mas veja bem: só haverá crime de desobediência, se a Art.331 - Desacatar funcionário público no exercício da
ordem dada pelo funcionário público for uma ordem função ou em razão dela :
legal,
legal ou seja, baseada em lei que lhe dê poderes para dar
a ordem. Assim, quando um Juiz de Direito "intima" (via Pena - detenção, de seis meses a dois anos,
Oficial de Justiça, por mandado) uma pessoa a compare- ou multa.
cer em Juízo, para prestar depoimento, tal Juiz de Direito
Tribunal de Justiça / São Paulo DIR. P E NAL = 29

< Sujeito Ativo: qualquer pessoa. Obs.:A


Obs.: redação deste artigo foi alterada pela Lei nº 9.127/95
(de 16/11.95). A redação anterior era: "Obter, para si ou
para outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a pretexto de
< Sujeito Passivo:
influir em funcionário público no exercício da função".
o Estado; também o funcionário ofendido.
Assim, foram incluídos no tipo penal três novos tipos de
< Objeto da Tutela Penal:
conduta: a ação de solicitar (basta apenas pedir), a de
o respeito à função pública e à administração pública.
exigir (imposição coativa) e a de cobrar (reclamar posteri-
ormente a vantagem antes prometida ou ajustada). Outra
< Ação Física:
alteração fundamental foi o aumento da pena mínima:
é desacatar, menoscabando, ofendendo e humilhando.
antes era de apenas 1 (um) ano e agora foi agravada para
2 (dois) anos de reclusão.
< Elemento Subjetivo/Injusto:
o dolo. Inexiste forma culposa.
Alterou-se, ainda, a fração de aumento da pena relativo
à "venda e difamação"do funcionário público. Antes a pena
< Ação Penal:
Penal pública incondicionada.
era aumentada de apenas l/3 e agora será aumentada da
metade (½), caso o agente criminoso alegue (ou apenas
Este é o crime de injúria contra funcionário público,
insinue) que parte do dinheiro será entregue para corrom-
que está no exercício da função, ou quando a ofensa só
per o funcionário.
lhe é dirigida, porque tem a função pública. A moral do
funcionário público, no exercício de sua função ou em
E, especialmente para fins de concurso, observe-se que
razão dela deve ser protegida pela lei, mais do que o pró-
o nomem juris da figura típica (nome do crime) também
prio cidadão, porque a desmoralização do funcionário
foi mudado: antes chama-se "exploração de prestígio"e,
público é o desacreditamento da própria Administração
doravante, é denominado de "tráfico
tráfico de influência".
Pública.
< Sujeito Ativo:
É por isso que a injúria contra funcionário público que
qualquer pessoa (inclusive o funcionário público).
esteja trabalhando, ou a injúria proferida contra ele por
causa de seu trabalho (função), é vista como crime
< Sujeito Passivo: o Estado.
especial e não como crime de injúria. Dessa forma, a ação
penal é pública já que o interesse é público, da Adminis-
< Objeto da Tutela Penal: a Administração Pública.
tração Pública, e não pessoal, apenas do funcionário.
< Ação Física:
"Desacato" é ofensa, humilhação, espezinhação, agres-
foram incluídos no tipo penal três novas formas de
são, qualquer ação que ofenda a dignidade, o prestígio e
conduta: a ação de solicitar (basta apenas pedir), a de
o decoro da função pública.
exigir (imposição coativa) e a de cobrar (reclamar posteri-
ormente a vantagem antes prometida ou ajustada).
Não é preciso que o servidor público se sinta ofendido,
bastando que o fato seja insultuoso: palavrões, gestos
< Elemento Subjetivo/Injusto:
obscenos, vaia, ameaça, empurrões, bofetada, soco, agres-
é o dolo específico. Não há modalidade culposa.
são, etc., tudo isso dispensa questionar-se se o funcionário
se sentiu ofendido.
< Ação Penal:
Penal pública incondicionada.
Atenção: não é possível desacato sem a presença do
Há trapaceiros que, alardeando prestígio, gabando-se
funcionário público.
de possuírem influência junto à Administração, expõem
ao descrédito geral o prestígio, a consideração e o respeito
que ela deva ser junto à coletividade.
Tráfico de Influência
Este crime visa a punir todos aqueles que, a pretexto de
usarem de sua influência junto a funcionário no exercício
Art.332 - Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou de função, venham a obter vantagem ou promessa de
para outrem, vantagem ou promessa de vanta- vantagem. Visa, pois, a punir os que "vendem" a adminis-
gem, a pre
pretexto de influir em ato praticado tração.
por funcionário público no exercício da fun-
ção: Se tal trapaceiro, para melhor "vender sua influência",
ainda alegar ou insinuar que o funcionário público
Pena - reclusão, de 2 (dois) a cinco anos, e multa. também receberá uma parte do "Preço", a pena então será
metade e não mais apenas de a (um
aumentada da metade
§ único - A pena é aumentada da metade, se o agente terço) (um terço) --- conforme alteração imposta pela Lei
alega ou insi
insinua que a vantagem é também nº 9127/95.
destinada ao funcionário.
Ainda recentemente, "auto-escolas" cobravam de alunos
30 = DIR. P E N A L Tribunal de Justiça / São Paulo
"caixinhas" para aprovação em exame de motorista e
alegavam que tais "caixinhas" seriam dadas aos examina- Impedimento, Perturbação ou
dores. Cometiam, pois, o crime de "exploração de prestí- Fraude de Concorrência
gio", que deverá ter a pena agravada da metade.

Art.335 - Impedir, perturbar ou fraudar concorrência


pública ou venda em hasta pública, promovida
Corrupção Ativa pela administração federal, estadual ou muni-
cipal, ou por entidade paraestatal; afastar ou
procurar afastar concorrente ou licitante, por
Art.333 - Oferecer ou prometer
prometer vantagem indevida a meio de violência, grave ameaça, fraude ou
funcionário público, para deter-miná-lo a oferecimento de vantagem:
praticar, omitir ou retardar ato de ofício:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa,
Pena - reclusão de dois a doze anos, e multa. além da pena correspondente à violência.
Obs.: a Lei n° 10.763, de 13/11/2003 elevou a pena mínima de
“um” para “dois” anos, e a pena máxima de “oito” para § único - Incorre na mesma pena quem se abstém de
“doze” anos de reclusão. O claro objetivo é o combate à concorrer
concorrer ou licitar, em razão da vantagem
corrupção dos agentes públicos. oferecida.
oferecida
§ único - A pena é aumentada de um terço, se, em < Sujeito Ativo: qualquer pessoa.
razão
razão da vantagem ou promessa, o funcioná-
rio retarda ou omite ato de ofício, ou a pratica
< Sujeito Passivo:o
Passivo: Estado.
infringindo dever funcional.
< Objeto da Tutela PenPenal: a administração pública,
< Sujeito Ativo: qualquer pessoa.
principalmente o seu patrimônio.
< Sujeito Passivo: o Estado.
< Ação Física:
duas diversas hipóteses: (A) impedimento, perturbação ou
< Objeto da Tutela Penal:
fraude da concorrência ou hasta pública; onde estão
a moralidade da administração pública.
previstos os seguintes núcleos: 1) impedir; 2) perturbar;
< Ação Física: 3) fraudar. (B) afastamento ou tentativa de afastamento
duas alternativas: (a) oferecer e (b) prometer. de concorrente ou licitante; as ações incriminadas são
afastar ou procurar (tentar) afastar. No § único pune-se o
< Elemento Subjetivo/Injusto: concorrente ou licitante que se abstém, ou seja, deixa de
o dolo específico. Não há crime culposo. participar ou desiste da participação, em razão da vanta-
gem oferecida. A abstenção por motivo diverso é atípica.
< Ação Penal:
Penal pública incondicionada.
< Elemento Subjetivo/Injusto:
Como toda moeda, a corrupção também tem dois o dolo. Na 2ª segunda figura, há, ainda, o elemento
lados: o do funcionário público que, como vimos, comete subjetivo do tipo revelado pelo especial fim de agir, ocorre
crime de corrupção passiva, e o do particular, que comete o mesmo no § único (1ª figura - dolo genérico, 2ª figura
delito de corrupção ativa. e § único - dolo específico). Inexiste punição a título de
culpa.
O particular que oferecer ou prometer vantagem
(caixinha, cafezinho, cervejinha, hora extra, etc.) indevida < Ação Penal:
Penal pública incondicionada.
ao funcionário, para que este pratique ou deixe de
praticar ou atrase a prática de um ato de seu ofício,
cometerá crime de corrupção ativa.
Inutilização de Edital ou Sinal
Veja bem: basta o oferecimento ou promessa. Se o
funcionário público "cair na cantada" e retardar, ou omitir,
ou praticar o ato, infringindo dever funcional, a pena do Art.336 - Rasgar ou, de qualquer forma, inutilizar ou
corruptor ativo será aumentada de um terço. conspurcar edital afixado por ordem de funci-
onário público; violar ou inutilizar selo ou
Mas veja bem: a corrupção ativa pressupõe o "suborno" sinal empregado,
empregado, por determinação legal ou
do funcionário para "omitir ou retardar ato de ofício". Se por ordem de funcionário público, para iden-
um particular dá a um funcionário público uma "caixinha" tificar ou cerrar qualquer objeto:
objeto
para ele, num domingo, polir seu carro, não haverá
qualquer crime (esse detalhe já foi questionado em Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.
concurso público).
Tribunal de Justiça / São Paulo DIR. P E NAL = 31

< Sujeito Ativo: qualquer pessoa. e o fizer, não se valendo das vantagens de seu cargo de
funcionário público do Estado, terá praticado este delito
< Sujeito Passivo: o Estado. do artigo 337 e não o do artigo 334 do Código Penal.

< Objeto da Tutela Penal: a administração pública. É necessário que não se esqueça que o livro ou docu-
mento deverá estar sob a custódia (guarda,depósito) de
< Ação Física: duas: 1ª) edital: as ações previstas são: (a) um funcionário público. Se estiver com um particular, não
rasgar; (b)inutilizar;
(b) e © conspurcar. 2ª) sinal ou selo: haverá o crime deste artigo, a menos que tal particular
(a) violar; (b) inutilizar. esteja em serviço público.

< Elemento Subjetivo/Injusto: Atenção: também este crime só é punido na modalida-


em ambas as figuras é o dolo. Inexiste punição a título de de dolosa (quando o agente o pratica querendo praticar).
culpa. Assim, se uma pessoa inutilizar sem querer (por acidente,
ou por ser estabanado) um livro (ou processo ou docu-
< Ação Penal:
Penal pública incondicionada. mento), que estava confiado à custódia de um funcioná-
rio, aquela pessoa terá agido com "culpa" (negligência,
imprudência, imperícia): será obrigada indenizar o
prejuízo que causar, mas não terá cometido o crime do ar-
Subtração ou Inutilização de Livro ou Documento tigo 337/CP adiante. Tal delicado aspecto já foi questiona-
do num concurso.

Art.337 - Subtrair, ou inutilizar, total ou parcialmente,


livro oficial, processo ou documento confiado
à custódia de funcionário, em razão de ofício,
Crimes contra a Administração da Justiça
ou de particular em serviço público:

Pena - reclusão, de dois a cinco anos, se o fato não cons-


titui crime mais grave. Prevêem-se, nesta espécie de crimes, as condutas que
afetarão a prestação do serviço jurisdicional pelo Estado.
< Sujeito Ativo: qualquer pessoa.

< Sujeito Passivo: o Estado.


Denunciação Caluniosa
< Objeto da Tutela Penal: A organização e os registros da
Administração Pública.
Art.339 - Dar causa a instauração de investigação polici-
al ou de processo judicial,
judicial, instauração de
< Ação Física: qualquer uma das duas seguintes: (a)
investigação administrativa,
administrativa, inquérito civil ou
subtrair, retirar; (b) inutilizar, tornar imprestável ou
ação de improbidade contra alguém,
inútil, total ou parcialmente. Para a tipificação há a
imputando-lhe crime de que o sabe inocente:
inocente
necessidade de que o objeto esteja confiado ao funcioná-
rio, em razão de ofício, ou de particular em serviço
Obs.: destaque em itálico acrescido pela Lei nº 10.028/2000
público.
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
< Elemento Subjetivo/Injusto: o dolo. Não há tipicidade
culposa. § 1º - A pena é aumentada de sexta parte, se o
agente se serve de anonimato ou de nome
< Ação Penal:
Penal pública incondicionada. suposto.
suposto
O crime previsto no artigo 314 é próprio de funcionário § 2º - A pena é diminuída de metade, se a imputa-
público, enquanto o previsto neste artigo é cometido por ção é de prática de contravenção.
contravenção
qualquer pessoa. O funcionário público só praticará o
crime previsto neste artigo atuando como co-autor, isto é, < Sujeito Ativo: qualquer pessoa.
auxiliando ou ajudando o particular a praticar o crime.
< Sujeito Passivo: o Estado (primeiramente) e a pessoa
O funcionário público poderá praticar esse delito, acusada caluniosamente.
também, se atuar como estranho, isto é, não como fun-
cionário público, quer dizer, sem se valer de sua condição < Objeto da Tutela Penal: o interesse da justiça, primei-
de funcionário público, sem se aproveitar de seu cargo. ramente, e a honra da pessoa acusada, secundariamen-
P.ex., se um funcionário de Estado resolver subtrair um te.
livro, ou inutilizar um documento da prefeitura municipal
32 = DIR. P E N A L Tribunal de Justiça / São Paulo
< Ação Física: Pune-se a agente que dá causa a instaura-
ção de investigação policial ou de processo judicial — Comunicação Falsa de Crime ou Contravenção
ou a “instauração de investigação administrativa,
inquérito civil ou ação de improbidade”, novas hipóteses
acrescidas Lei nº 10.028,
10.028 de 19.10.2000 — já que hoje Art.340 - Provocar a ação da autoridade, comu-nicando-
não são poucas as denúncias contra agentes público, lhe a ocorrência de crime ou de contravenção
motivando a instauração de investigação administrativa, que sabe não se ter verificado:
verificado
inquérito civil ou ação de improbidade — muitas vezes
imputando-lhes crimes ou infrações sabidamente Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
inocorrentes.
< Sujeito Ativo: qualquer pessoa.
< Elemento Subjetivo/Injusto: é o dolo direto, não
bastando o dolo eventual, pois o agente precisa saber, < Sujeito Passivo: o Estado.
sem dúvida, que o imputado é inocente. o crime não
punido a título de culpa. < Objeto da Tutela Penal: administração da justiça.

< Ação Penal:


Penal pública incondicionada. < Ação Física: é provocar. Incrimina-se o comportamento
de quem provoca a ação de autoridade (policial ou
Atenção: o art.19, da Lei nº 8.429/92 (lei da improbi- judiciária), comunicando-lhe a ocorrência de crime ou
dade administrativa), prevê que “Constitui crime a de contravenção que sabe não se ter verificado.
representação por ato de improbidade contra agente
público ou terceiro beneficiário quando o autor da < Elemento Subjetivo/Injusto: o dolo direto. Não há
denúncia o sabe inocente” — cominando para o delito a forma culposa do delito.
pena: de detenção de seis a dez meses e multa.
< Ação Penal:
Penal pública incondicionada.
O propósito dessa previsão criminal é evitar a levianda-
de de pessoas, que desejam atingir a honra do agente
público ou de terceira pessoa — conspurcar seu nome de
ou causar-lhe embaraço — seja por interesse político Auto-Acusação Falsa
(adversários), ou partidário (eleições), ou seja por
sensacionalismo (jornalismo), ou outro interesse qual-
quer. Art.341 - Acusar-se, perante a autoridade, de crime
inexistente ou praticado por outrem:
outrem
¿E se o Ministério Público promover — a ação civil
pública — ou a ação penal — ou requisitar instauração de Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa.
inquérito policial (art.22/Lei nº 8.229/92), para apurar a
responsabilidade criminal do agente público e/ou terceira < Sujeito Ativo: qualquer pessoa.
pessoa — denunciado por quem os sabia inocentes???
< Sujeito Passivo: o Estado.
Responderá o calunioso pelo crime desse art.19, ou
pelo crime do art.339/CP??? < Objeto da Tutela Penal: administração da justiça.
A previsão do tipo penal especial (art.19, da Lei nº < Ação Física: pune-se a conduta de acusar-se de crime
8.429/92) pareceria excluir a responsabilidade pelo crime inexistente ou praticado por outrem. É indispensável,
de denunciação caluniosa, que é de natureza geral porém, que a auto-acusação seja feita perante autorida-
(art.339/CP), o que seria um contra-senso, já que benefici- de (policial ou judicial), e não a quem não detenha tal
aria o infrator, pois a pena do primeiro é muito inferior à autoridade.
deste segundo (reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e
multa). < Elemento Subjetivo/Injusto: é o dolo. Inexiste modali-
dade culposa.
Distinga-se, porém, que os dois tipos penais têm
propósito distinto: o primeiro (art.19/Lei nº 8.429/92) < Ação Penal:
Penal pública incondicionada.
vista a proteger a honorabilidade pessoal do agente
público ou de terceira pessoa — enquanto o segundo
tutela a “Administração da Justiça”, para que se não
desprestigie ela com apurações infundadas. Falso Testemunho ou Falsa Perícia

De conseguinte, o agente responderá pelos dois delitos,


em concurso formal:
formal “Quando o agente, mediante uma só Art.342- Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a
ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou
verdade como testemunha, perito, contador
ntador,
contador,
não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se
tradutor
tradutor ou intérprete em processo judicial, ou
iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer
administrativo, inquérito policial, ou em juízo
caso, de um sexto até metade...” (art.70/CP)
arbitral:
Tribunal de Justiça / São Paulo DIR. P E NAL = 33

Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. expressamente (mudando os fatos), ou negando (dizendo
que não aconteceram os fatos) ou calando (dizendo que
Atenção:
Atenção o caput deste art.342 sofreu duas pequena não sabe ou não viu) e ficar provado que seu testemunho
alterações pela Lei nº 10.268 (de 31.08.2001). Pri- foi falso (prova-se na comparação com os demais
meiramente, incluiu-se o contador
ontador dentre aqueles que depoimentos e com as demais provas do processo),
têm o dever de testemunhar. E, de outro lado, corrigiu-se responderá pelo crime de falso testemunho. Em caso de
o equívoco do texto anterior, que sugeria a existência de engano ou esquecimento fica excluído o dolo, não se
“processo policial”, quando só há o procedimento do configurando o crime.
inq policial — onde também tais personagens da
inquérito policial”
prova oral não podem mentir, negar ou calar a verdade. Mas em juízo (processo judicial), ou na delegacia
(inquérito policial), ou perante a administração pública
Na essência, preserva-se válida a estrutura do tipo (processo administrativo), ou mesmo em juízo arbitral —
penal anterior: não são só as testemunhas as únicas pessoas a prestar
colaboração. Às vezes a pessoa que decidirá (juiz, delega-
< Sujeito Ativo: quem tenha a qualidade de estar sendo do ou administrador) precisa do auxílio de um perito
testemunha, perito, tradutor ou intérprete. (pessoa que conhece profundamente certos ramos técni-
cos e com quem o juiz busca as informações para melhor
< Sujeito Passivo: Estado; eventualmente, a pessoa conhecer o fato). Exemplo: para saber se o réu é louco, o
prejudicada. juiz precisará de conhecimentos psiquiátricos. Como ele,
juiz, nada sabe sobre psiquiatria, determina a um mé-
< Objeto da Tutela Penal: a veracidade das provas na
dico-psiquiatra que examine o réu e elabore um laudo,
Administração da Justiça.
dizendo se o réu é ou não louco.
< Ação Física: qualquer uma das três seguintes: (a) fazer
Outras vezes o juiz recebe no processo um documento
afirmação falsa; (b) negar a verdade; © calar a verdade.
escrito em língua estrangeira. Como não conhece bem o
idioma precisará de uma pessoa para traduzi-lo: nomeará
< Elemento Subjetivo/Injusto: o dolo. Não é crime a
um tradutor, que traduzirá tal documento para que ele,
conduta culposa.
juiz, saiba o seu conteúdo.
< Ação Penal
Penal: pública incondicionada (a sentença final
ficará subordinada ao proferimento da decisão daquele Noutras vezes, a testemunha, ou mesmo o réu, ou a ví-
outro processo em que se deu o falso testemunho ou tima, podem ser estrangeiros, que só falam em sua língua
perícia). estrangeira: ¿como o juiz entenderá e compreenderá o
fato que eles contarão ? Nesse caso, nomeará um in-
Todas as pessoas que são chamadas a colaborar com a térprete que, conforme a testemunha, ou réu, ou vítima,
Justiça têm a obrigação de dizer a verdade, porque se não forem contando o fato, irá ele, intérprete, traduzindo a
a disserem estarão ajudando a fazer injustiças, tanto narrativa ao juiz.
absolvendo quem deveria ser condenado, quanto conde-
nando um inocente. Nem o perito, nem o tradutor, nem o intérprete
poderão faltar com a verdade, nem mentindo, nem
O testemunho é um meio de prova importantíssimo negando, nem calando sobre a verdade.
para a descoberta da verdade de um fato ocorrido, bem
como sobre a culpa ou a inocência de um acusado. Assim, Da mesma forma que a testemunha, tais "colaboradores"
quando uma pessoa for chamada a prestar depoimento do juízo responderão pelo crime de falso testemunho ou
(ser testemunha de um fato) deve contar ao Juiz (ou falsa perícia.
Delegado, se à Polícia for chamado, ou à Autoridade
Administrativa, se for chamado a uma repartição pública, É importante observar também que o crime deste artigo
ou mesmo se convocado por Juízo Arbitral), toda a tem um nome: "falso testemunho ou falsa perícia". Aliás,
verdade que sabe (viu ou ouviu). quase todos os crimes do Código Penal têm um nome.
Assim, quem mata comete "homicídio", quem machuca
Esclareça-se que o “Juízo Arbitral” constitui uma outrem comete "lesão corporal", funcionário público que
espécie de “justiça particular”, em que as partes em desvia bem da repartição pratica "peculato", etc. A
conflito nomeiam um “árbitro” para solucionar sua testemunha tem o dever de comparecer a Juízo e de falar
pendência e se obrigam a obedecer à decisão, que por ele a verdade.
for proferida: previsto na lei n° 9.307/96,, até para
desafogar o Judiciário e contribuir para o restabelecimen- Três, portanto, são seus deveres: o 1º é comparecer (se
to do equilíbrio entre as partes, naturalmente, o Juízo não comparece, pode ser processada por desobediência);
Arbitral também pode precisar de testemunhas ou de o 2º é falar (se se recusar a falar, comete crime de falso
peritos, senão de contador, ou de tradutor ou intérprete — testemunho; e o 3º é falar somente a verdade (se mentir
e não pode ficar sem a proteção contra a eventual falsida- também comete crime de falso testemunho).
de destes personagens.
Significa que, sempre que a testemunha comparecer a
A pessoa que deixar de dizer a verdade, seja mentindo
34 = DIR. P E N A L Tribunal de Justiça / São Paulo
juízo, ou ela falará a verdade (e não cometerá nenhum Haverá suborno quando a testemunha (ou perito, ou
crime), ou ela (aa) mentirá, ou (b
b) se negará a falar: em tradutor, ou intérprete) aceitar qualquer vantagem
qualquer dessas duas hipóteses, o nome do crime será o (dinheiro, emprego, utilidades, etc.) para praticar o falso
mesmo: segundo o art.342/Cód.Penal tal crime tem o testemunho ou falsa perícia ou falsa tradução ou falsa
nome de "falso testemunho ou falsa perícia" (esse aspecto foi interpretação.
questionado nas provas de Pirassununga e de Taubaté).
Mas são duas e distintas as causas de exasperação
Atenção:
Atenção não se deve confundir "testemunha" com "víti- (aumento) da pena: a par da (1) inspiração mercenária do
ma" ou "acusado". Estas pessoas também pres- agente (suborno) — a pena será também agravada (2) se
tam depoimentos, mas não têm compromisso o falso testemunho ou falsa perícia for praticada em (a)
(obrigação) de dizer a verdade. Aliás, o réu tem processos penais ou (b) em processos civis, em que a
até o "direito" de mentir --- embora sua palavra administração pública seja parte.
seja prova (contra ou a favor dele).
O texto anterior já previa o agravamento para a men-
Da mesma forma, a lei dispensa a vítima da obrigação tira praticada em processo penal: esse tipo de processo
de dizer a verdade. Sua palavra é prova, mas sempre tem por objeto a liberdade humana — e nada é mais
tomada com alguma desconfiança, porque ele, compreen- odioso que a produção de uma injustiça, conduzindo ao
sivelmente, pode estar afetado pelo fato criminoso que cárcere um inocente, ou expondo vítima e sociedades à
sofreu (a situação de "vítima" e suas declarações falsas foi absolvição de um culpado — situações que provocarão,
objeto de questão em concurso público: Patrocínio ainda, um desgastante desprestígio ao Poder Judiciário.
Paulista). Eis aí razões suficientes para o aumento da pena.

Outra questão interessante foi formulada em prova da Veja-se, portanto, que a lei não distingue se a mentira
Comarca de Sumaré, indagando se um réu poderia mentir foi em favor ou contra o RÉU. Basta que tenha sido
num outro processo, em que figurava como testemunha. praticada para surtir efeito em processo penal, para que
Sabidamente, a condição de alguém de ser o "réu" dá-lhe o prestador de falso testemunho ou falsa perícia deva
o direito de mentir apenas no próprio processo em que é sofrer uma punição maior.
o réu. Se foi arrolado como "testemunha" em outro proces-
so, terá ali o dever de dizer a verdade: cometerá crime de Mas a grande novidade da alteração legal é a proteção
falso testemunho se mentir e sua pena ainda será agrava- contra as mentiras, que foi dada aos processos civis, em
da, por ser a mentira destinada à produção de prova em que a administração pública seja parte.
processo penal.
Explica-se tal tutela especial ao fato de que tais Entida-
§ 1º/art.342 - As penas aumentam-se de um sexto a um des pertencem à Fazenda Pública — e há de se dar um
terço, se o crime é praticado mediante zelo especial na defesa dos interesses do patrimônio
suborno ou se cometido
cometido com o fim de público.
obter
obter prova destinada a produzir efeito
em processo penal, ou em processo civil Há de se lembrar aqui, que Administração Pública
em que for parte entidade da administra- direta são todos os Órgãos e Agentes do Governo, em
ção pública direta ou indireta. qualquer das rês quatro esferas administrativas: União,
Estados, Distrito Federal e Municípios.
Obs.:
Obs. § 1º tem redação dada p/Lei nº 10.268/01. O texto
anterior dispunha: “Se o crime é cometido com o fim de
obter prova destinada a produzir efeito em processo pe- E a Administração Pública indireta
in são as Autarquias, as
nal: Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa”. Empresas Públicas, as Sociedades de Economia Mista e as
Fundações Públicas — todas com autonomia administrati-
O texto atual tem redação símile à a disposição do va, mas estruturadas no dinheiro público.
anterior § 2º do art.342, que previa que “As penas aumen-
tam-se de um terço, se o crime é praticado mediante Assim, em qualquer hipótese, se a mentira se der num
suborno”. processo cível, em que a Administração Pública direta ou
indireta seja parte — tal falso testemunho ou falsa perícia,
A nova redação é mais branda, prevendo agravação de etc., acarretará prejuízo ao patrimônio público — razão
1
/6 (um sexto) a a (um terço), enquanto a exasperação bastante para que o legislador o proteja da indústria das
anterior era inflexivelmente fixa de a (um terço). fraudes, mentiras, falcatruas e outros golpes.

Assim, se a mentira, pura e simples, já não é tolerada ¿E a mentira em processo trabalhista, ou processo cível
pela lei, menos ainda será se ela, se for praticada porque entre pessoas comuns? A discriminação expressa do (a)
alguém pagou (subornou) o mentiroso para faltar com a processo penal e (b) processo civil, em que a administra-
verdade no processo. Sem dúvida é mais odiosa a mentira ção pública seja parte — deixa claro que não haverá
inspirada na cupidez, no interesse pela pecúnia, a mentira agravamento da pena se a mentira se der em outro tipo de
mercenária. processo.
Tribunal de Justiça / São Paulo DIR. P E NAL = 35

Insista-se na distinção: o falso testemunho ou falsa Se já foi proferida a sentença, então a retratação será
perícia (sem suborno) praticados em processo civil, inútil e o dano da mentira já se consumou — e, por isso,
trabalhista, ou administrativo — sofrerá a sanção do caput não há mais tempo para a retratação e o mentiroso será
do art.342/CP e será punido com reclusão de um a três punido pelo crime de falso testemunho.
anos.

E sempre que a falsidade tiver inspiração mercenária


(suborno), então a pena será aumentada de 1/6 (um sexto) Corrupção Ativa de Testemunha ou Perito
a a (um terço).

Igual aumento haverá se o falso testemunho ou a falsa Art.343 - Dar, oferecer


oferecer ou prometer dinheiro ou qual-
perícia foi praticado em processo criminal, ou em processo quer outra vantagem a testemunha, perito,
cível, em que a Administração Pública figure como parte contador, tradutor ou intérprete, para fazer
contador,
ativa (= autora) ou passiva (= ré). afirmação falsa, negar ou calar a verdade em
depoimento, perícia, cálculos, traduçã
tradução ou
§ 2º/art.342 - O fato deixa de ser punível se, antes da interpretação:
sentenç
sentença no processo em que ocorreu o
ilícito, o agente se retrata ou declara a
Pena - reclusão, de três a quatro anos, e multa.
verdade.
verdade
Obs.:
Obs. § 2º tem redação dada p/Lei nº 10.268/01 (de 31.08.2001). O texto Obs.: este artigo foi modificado pela Lei nº 10.268/01. A redação anterior dispunha:
anterior dispunha: “O fato deixa de ser punível, se, antes da sentença, o “Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou qualquer outra vantagem a testemu-
agente se retrata ou declara a verdade”. nha, perito, tradutor ou intérprete, para fazer afirmação falsa, negar ou calar
a verdade em depoimento, perícia, tradução ou interpretação, ainda que a
oferta ou promessa não seja aceita: Pena - reclusão, de um a três anos, e
A alteração legislativa obriga que a retratação se dê no multa”.
mesmo processo em que se deu a mentira.
Três alterações observam-se no novo texto em relação
Antigamente, o mentiroso era chamado à polícia e lá se ao anterior: (1) acresceu-se o contador como alvo da
retratava, dizendo que havia mentido e corrigindo seu corrupção ativa; (2) excluiu a expressão “ainda que a
depoimento. Nem sempre o desmentido era levado ao oferta ou promessa não seja aceita”; e (3) aumentou-se o
processo, o que causava transtornos à Justiça, pois uma quantum da pena, antes de 1 a 3 anos, agora de 3 a 4
decisão era proferida, baseando-se na prova produzida em anos.
Juízo, enquanto na Polícia (ou num processo criminal)
ficava um desmentido. Disso decorriam muitas ações A inclusão do contador dentre os passíveis da corrupção
rescisórias, para anular aquela ação, onde a sentença fora passiva visa apenas a declarar a importância de seus
inspirada na mentira. cálculos para a segurança e seriedade da administração da
Justiça — eliminando-se discussão sobre estar ele incluso
Doravante, o mentiroso só escapará a punição, se sua ou não na expressão “perito”, válvula de escape para
retratação se der no mesmíssimo processo, em que ele muitas absolvições.
testemunha falsamente, ou fizera falsa perícia, etc. Não
bastará, portanto, que ele se retrate no inquérito policial, A exclusão da expressão — “ainda que a oferta ou
nem na ação penal.
promessa não seja aceita” — não foi mais que retirada de
um texto inútil: se para a conduta já basta oferecer, ou
Continua, porém, a retratação sendo uma "colher de
apenas prometer — já se tinha desnecessário dispor sobre
chá", que a lei dá aos mentirosos: antes que sua mentira
a aceitação ou recebimento do suborno, pois em tais
produza algum dano, corrija-a a tempo — mas no próprio
processo em que mentiu. hipóteses está implícito que não houve nem o pagamento,
nem a aceitação.
Sabidamente, o falso testemunho só vai ser danoso à
Administração da Justiça, quando o Juiz de Direito for Por fim, o aumento da pena visa a melhor proteger tais
julgar o caso --- oportunidade em que deverá se basear profissionais e sua credibilidade auxiliares da Justiça, e,
nas provas e no depoimento falso. reflexamente, mais segurança às decisões, que se baseiem
em cálculos, conclusões periciais, traduções, etc.
Trata-se, em verdade, de um incentivo da lei, para que
a verdade sempre aflore e contribua para a realização da § único - As penas aumentam-se de um sexto a um
Justiça. Assim, se antes da sentença a pessoa resolver terço, se o crime é cometido com o fim de
dizer a verdade, ela procurará o mesmo Juízo da causa e obter prova destinada a produzir efeito em
se disporá a contar a verdade, desfazendo a mentira. Só processo penal ou em processo civil em que for
nessa hipótese, ficará livre da punição. parte entidade da administração pública direta
indireta.
ou indireta.
Mas muita atenção: hás duas premissas básicas, ou seja, Obs.: este § único foi modificado pela Lei nº 10.268/01 (de 31.08.01). A redação
(1) a retratação deve se dar perante o mesmíssimo Juízo anterior dispunha: “Se o crime é cometido com o fim de obter prova destinada
a produzir efeito em processo penal, aplica-se a pena em dobro”.
e processo em que foi feito o falso testemunho, ou falsa
perícia, etc. e (2) a retratação deve se dar antes de o Juiz A alteração deste § único é similar à do § 1º do
proferir sentença. art.342/CP, quanto à inclusão, como causa de aumento da
36 = DIR. P E N A L Tribunal de Justiça / São Paulo
pena — da hipótese de a corrupção ativa do Auxiliar da < Elemento Subjetivo/Injusto:
Justiça haver se dado em processo cível, em que for parte a o dolo. Inexiste forma culposa.
administração pública direta ou indireta.
< Ação Penal:
Penal pública incondicionada.
E também aqui se afrouxou o aumento da pena: no
texto anterior o aumento era de “o dobro” da pena, e,
agora, tão somente de 1/6 (um sexto) a a (um terço).
Coação no Curso do Processo
Explica-se tal tutela especial contra a corrupção ativa de
Auxiliares da Justiça — em processos em que a Adminis-
tração Pública Direta ou Indireta for parte — pelo fato de Art.344 - Usar de violência ou grave ameaça, com o fim
que tais Entidades pertencem à Fazenda Pública — e há de favorecer interesse próprio ou alheio,
de se dar um zelo especial na defesa dos interesses do contra autoridade,
autoridade, parte, ou qualquer outra
patrimônio público. pessoa que funciona ou é chamada
chamada a intervir
em processo judicial, policial ou administrati-
Mais uma vez, relembre-se que, por Administração vo, ou em juízo arbitral:
arbitral
Pública direta entendem-se todos os Órgãos e Agentes do
Governo, em qualquer das quatro esferas administrativas: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa, além da
União, Estados, Distrito Federal e Municípios. pena correspondente à violência.
E na Administração Pública indireta
in compreendem-se
< Sujeito Ativo: qualquer pessoa.
as Autarquias, as Empresas Públicas, as Sociedades de
Economia Mista e as Fundações Públicas — todas com
< Sujeito Passivo:
autonomia administrativa, mas estruturadas no dinheiro
o Estado; secundariamente, a pessoa que sofre a coação.
público.

Assim, em qualquer hipótese, se alguém investir para < Objeto da Tutela Penal: a administração da justiça.
corromper (ativamente) um desses Auxiliares da Justiça,
que atue num processo cível, em que a Administração < Ação Física:
Pública direta ou indireta seja parte — tal investida é "usar de violência ou grave ameaça, com o fim de favore-
corruptora poderá acarretará prejuízo ao patrimônio cer interesse próprio ou alheio contra autoridade...".
público — razão bastante para que o legislador o proteja
da indústria das fraudes, mentiras, falcatruas e outros < Elemento Subjetivo/Injusto:
golpes. o dolo e o elemento subjetivo do tipo referente à especial
finalidade da ação (com o fim de favorecer interesse
¿E a investida corruptora de perito, contador, tradutor, próprio ou alheio). Inexiste forma culposa.
etc., feita em processo trabalhista, ou processo cível entre
pessoas comuns? A discriminação expressa do (a) < Ação Penal:
Penal pública incondicionada.
processo penal e (b) processo civil, em que a administra-
ção pública seja parte — deixa claro que não haverá
agravamento da pena se o corruptor ativo agir em outro
tipo de processo.
Exercício Arbitrário das Próprias Razões

Análise do Tipo
Art.345 - Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfa-
< Sujeito Ativo: qualquer pessoa. zer pretensão, embora legítima, salvo quando
a lei o permite:
permite
< Sujeito Passivo: o Estado; secundariamente, a pessoa
que tiver sido prejudicada pela falso testemunho ou Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa,
perícia. além da pena correspondente à violência.

< Objeto da Tutela Penal:


Penal: a administração da justiça, § único - Se não há emprego de violência, somente se
especialmente a veracidade das provas. procede mediante queixa.
queixa

< Ação Física: (a) dar; (b) oferecer; © prometer. < Sujeito Ativo: qualquer pessoa.
Incrimina-se a dação, oferta ou promessa a testemunha,
perito, tradutor ou intérprete, para fazer afirmação falsa, < Sujeito Passivo: o Estado e a pessoa prejudicada.
negar ou calar a verdade em depoimento, perícia, tradu-
ção ou interpretação. < Objeto da Tutela Penal: a administração da justiça.
Tribunal de Justiça / São Paulo DIR. P E NAL = 37

< Ação Física: < Elemento Subjetivo/Injusto:


o código emprega a expressão fazer justiça pelas próprias o dolo específico. Não forma culposa.
mãos. Visa-se, com ela, à punição de quem, tendo ou acre-
ditando ter direito contra outra pessoa, em vez de recor- < Ação Penal:
Penal pública incondicionada.
rer à justiça, arbitrariamente satisfaz sua pretensão.
A prestação da Justiça à Sociedade e às pessoas é
< Elemento Subjetivo/Injusto: atividade importantíssima e dela depende a própria paz
o dolo e o elemento subjetivo do tipo referente ao especial social. Desta maneira, a lei preocupa-se em evitar todas as
fim de agir. Inexiste forma culposa. condutas que possam impedir que a Justiça seja prestada.

< Ação Penal:


Penal de iniciativa privada ou pública. Como vimos no art.342, a lei considera crime o falso
testemunho, exatamente porque se não punir tal compor-
tamento, não se conseguirá fazer Justiça, já que todas as
pessoas arrumariam testemunhas para provar suas men-
Subtração, Supressão ou Danificação
tiras e conseguirem os interesses pedidos em juízo. O pro-
de Coisa no Legítimo Poder de Terceiro
cesso se tornaria uma competição de mentiras: ganharia
quem mentisse mais. Mas há outras formas de se impedir
Art.346 - Tirar, suprimir, destruir ou danificar coisa que a Justiça não seja realizada. Assim, a lei também
própria, que se acha em poder de terceiro por proíbe as fraudes e os embustes, isto é, define como
determinação judicial ou convenção:
convenção criminosas as condutas que procurem deturpar o lugar das
coisas ou das pessoas, com o intuito de induzir (levar) o
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e juiz em erro.
multa.
< Sujeito Ativo: somente o proprietário da coisa; mas Inovar significa alterar, modificar, mudar, deformar.
pode haver participação de 3ºs. Não é toda alteração, todavia, que caracteriza a conduta
criminosa. É necessário que a alteração seja artificiosa,
< Sujeito Passivo: isto é, feita com eficiência, com artimanha, bem feita, de
o Estado; secundariamente, a pessoa prejudicada. tal sorte que consiga enganar.

< Objeto da Tutela Penal: a administração da Justiça. "Inovar artificiosamente" o estado de lugar de coisa é a
modificação do local ou ambiente de qualquer móvel ou
< Ação Física: imóvel. Por exemplo, mudando-se o lugar dos marcos de
a) tirar; b) suprimir; c) destruir; d) danificar. limites de uma propriedade poderá ela ficar maior ou
menor; plantando-se ou derrubando-se árvores mu-
< Elemento Subjetivo/Injusto: dar-se-á o estado de um terreno, ou de um prédio;
o dolo. Inexiste forma culposa. abrindo-se ou fechando-se uma janela de um prédio,
poderá estar sendo retirada a prova de um processo
< Ação Penal:
Penal pública incondicionada. qualquer. O mesmo acontecerá com pessoas, como
fazendo-se nela uma operação plástica, para mudar-lhe a
aparência, ou uma vasectomia, para que ela fique impo-
tente de gerar e consiga provar que o filho não poderia
Fraude Processual ser seu (numa ação de reconhecimento de paternidade),
etc. Já se disse que a inovação deve ser, necessariamente,
artificiosa, não pode ser a natural: assim se a árvore
Art.347 - Inovar artificiosamente, na pendência de cresceu naturalmente, ou se um raio a derrubou, não
processo civil ou administrativo, o estado de haverá inovação, nem fraude processual.
lug
lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim de
induzir a erro o juiz ou o perito: Também o crescimento da barba de uma pessoa não é
inovação, embora sua aparência tenha sido mudada. Isto
Pena - detenção, de três meses a dois anos, e porque é algo natural.
multa.
< Sujeito Ativo: É importante que se considere que só haverá tal crime
qualquer pessoa, ainda que tenha interesse direto na se houver um processo, civil ou administrativo, em
causa. andamento. Se não houver o processo em que se pretende
introduzir aquela modificação fraudulenta, não haverá
< Sujeito Passivo: o Estado. crime.

< Objeto da Tutela Penal: a Administração da Justiça. § único - Se a inovação se destina a produzir efeito em
processo penal ainda que não iniciado, as
< Ação Física: penas aplicam-se em dobro.
inovar (modificar, alterar) praticada artificiosamente.
38 = DIR. P E N A L Tribunal de Justiça / São Paulo
< Sujeito Ativo:
Ativo Art.4º - Constitui também abuso de autoridade:
qualquer pessoa, ainda que tenha interesse direto na
causa. a) ordenar ou executar medida privativa da liberdade individu-
al, sem as formalidades legais ou com abuso de poder;
< Sujeito Passivo: o Estado.
b) submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame ou
< Objeto da Tutela Penal: a Administração da Justiça. a constrangimento não autorizado em lei;

< Ação Física:


Física c) deixar de comunicar, imediatamente, ao juiz competente a
aqui a inovação visa à produção de efeito em processo prisão ou detenção de qualquer pessoa;
penal,
penal pouco importando se o processo penal já foi
d) deixar o juiz de ordenar o relaxamento de prisão ou deten-
instaurado, ou ainda será deflagrado. O que interessa é
ção ilegal que lhe seja comunicada;
que a inovação destine-se à ação penal.
e) levar à prisão e nela deter quem quer se proponha a prestar
< Elemento Subjetivo/Injusto: o dolo específico. Não fiança, permitida em lei;
forma culposa.
f) cobrar o carcereiro ou agente de autoridade policial carcera-
< Ação Penal:
Penal pública incondicionada. gem, custas, emolumentos ou qualquer outra despesa,
desde que a cobrança não tenha apoio em lei, quer quanto
Da mesma forma que no crime de falso testemunho, a à espécie, quer quanto ao seu valor;
gravidade do crime aumenta se a fraude (inovação
artificiosa) for praticada para surtir efeito em processo g) recusar o carcereiro ou agente de autoridade policial recibo
crime. Não importa se para absolver ou condenar o Réu. de importância recebida a título de carceragem, custas,
Naturalmente, o desvalor da conduta é maior, já que no emolumentos ou de qualquer outra despesa;
processo penal estão envolvidos interesses nobilíssimos,
como a responsabilidade criminal, a culpa (lato sensu) ou h) o ato lesivo da honra ou do patrimônio de pessoa natural ou
a inocência de alguém. Por isso que a pena será dobrada:
dobrada jurídica, quando praticado com abuso ou desvio de poder ou
de 6 meses até no máximo de 4 anos. sem competência legal;

i) prolongar a execução de prisão temporária, de pena ou de


medida de segurança, deixando de expedir em tempo
Exercício Arbitrário ou Abuso de Poder oportuno ou de cumprir imediatamente ordem de liberdade.
( artigo 350 )
Pena - detenção, de um mês a um ano.
Art.350 - Ordenar ou executar medida privativa de liberdade individual,
sem as formalidades legais ou com abuso de poder:
......................................................

Art.350 - Revogado pela lei nº 4898/65:


§ único - Na mesma pena incorre o funcionário que:
que
Art.3º - Constitui abuso de autoridade qualquer atentado:
I - ilegalmente recebe e recolhe alguém a prisão, ou
a) à liberdade de locomoção; a estabelecimento destinado a execução de pena
privativa de liberdade ou de medida de seguran-
b) à inviolabilidade do domicílio; ça;
ça

c) ao sigilo da correspondência; < Sujeito Ativo: só o responsável ou funcionário do


estabelecimento (crime próprio).
d) à liberdade de consciência e de crença;
< Sujeito Passivo: o Estado e a pessoa recolhida.
e) ao livre exercício de culto religioso;
< Objeto da Tutela Penal: a administração da justiça.
f) à liberdade de associação;
< Ação Física:
g) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício do o núcleo é cumulativo, pois a ação punida é receber e
voto; recolher.
h) ao direito de reunião; < Elemento Subjetivo/Injusto:
o dolo. Não há punição a título de culpa.
i) à incolumidade física do indivíduo;
< Ação Penal:
Penal pública incondicionada.
j) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício
profissional.
Tribunal de Justiça / São Paulo DIR. P E NAL = 39

II - prolonga a execução de pena ou de medida de


segurança, deixando de expedir em tempo Exploração de Prestígio
oportuno ou de executar imediatamente a ordem
de liberdade.
Art.357 - Solicitar ou receber dinheiro ou qualquer
< Sujeito Ativo: outra utilidade, a pretexto de influir em juiz,
só as autoridades ou funcionários competentes para jurado, órgão do ministério público, funcioná-
expedir ou cumprir a ordem de soltura (crime próprio). rio de justiça, perito, tradutor, intérprete ou
testemunha:
< Sujeito Passivo:
o Estado e a pessoa retida ilegalmente. Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.

< Objeto da Tutela Penal: a administração da justiça. § único - As penas aumentam-se de um terço, se o agente
alega, ou insinua que o dinheiro
dinheiro ou utilidade
< Ação Física: também se destina a qualquer das pessoas
o crime é omissivo: o agente "deixa" de expedir (oportuna- referidas neste artigo.
mente) ou de cumprir (incontinenti) a ordem de soltura.
< Sujeito Ativo: qualquer pessoa.
< Elemento Subjetivo/Injusto:
o dolo. Não há forma culposa. < Sujeito Passivo: o Estado.

< Ação Penal:


Penal pública incondicionada. < Objeto da Tutela Penal: a Administração da Justiça.

< Ação Física: a) solicitar, pedir; b) receber, aceitar.


III - submete pessoa que está sub sua guarda ou
custódia a vexame ou a constrangimento não < Elemento Subjetivo/Injusto:
Subjetivo/Injusto o dolo; inexiste tipicidade
autorizado em lei.
lei culposa.

IV - efetua, com abuso de poder, qualquer diligência.


diligência < Ação Penal:
Penal pública incondicionada.

< Sujeito Ativo: Vimos que art.322 trata de delito semelhante. Aqui
só o funcionário público (delito próprio). neste artigo o crime é o mesmo, com a especialidade de
que se protege, especificamente, a administração da
< Sujeito Passivo: justiça, e se procura punir quem "vende" influência em
o Estado e o particular que sofre o abuso. Juiz, Jurado (cidadão comum que atua como Juiz de Fato
perante o Juiz), Promotor Público, funcionário da Justiça,
< Objeto da Tutela Penal: a administração da justiça. Perito, Tradutor, Intérprete ou Testemunha. Não é
preciso, aqui como lá, que, efetivamente, o "vendedor" vá
< Ação Física: influenciar qualquer desses "funcionários da Justiça". Basta
é o abuso com que o agente efetua a diligência, ou seja, o que solicite ou receba dinheiro a tal pretexto, porque,
ato judicial, de natureza civil ou criminal. É possível haver assim agindo, já estará lesando a credibilidade, o respeito
abuso ao executar a diligência fora dos casos, como da e o conceito que a Justiça deve ter junto à coletividade.
forma permitida por lei. Também nesse crime especial, se "o vendedor de prestígio"
alegar ou insinuar que o dinheiro será destinado a um
< Elemento Subjetivo/Injusto: daqueles funcionários da Justiça, a pena será aumentada
o dolo. Inexiste forma culposa. de a.

< Ação Penal:


Penal pública incondicionada.
40 = DIR. P E N A L Tribunal de Justiça / São Paulo

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