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P E NAL =1
E.MAGALHÃES NORONHA ensina que "A fé pública é Todo documento — particular ou público — geram
uma realidade e é um interesse que a lei deve proteger. Sem certeza e confiança da veracidade da ocorrência do fato ou
ela seria impossível a vida em sociedade. Fruto da civiliza- ato nele registrado.
ção e do progresso — pois seria incompreensível ou inútil
nas sociedades primitivas — hoje constitui um bem do qual Claro que essa “fé” é maior nos documentos públicos,
a vida comunitária não pode absolutamente prescindir. Com bastando sua origem para que sejam considerados autênti-
efeito, o homem tem necessidade de acreditar na veracidade cos. Por isso mesmo, os documentos públicos fazem prova
ou genuinidade de certos atos, documentos, sinais, símbolos plena, sempre que apresentados no original, ou em
etc., empregados na multiplicidade das relações diárias, em traslado ou em certidão.
que intervém. A atividade civil, o mundo dos negócios etc.,
A lei penal tutela —protege — a confiabilidade (fé) dos
carecem deles e daí a natural crença ou confiança de todos
documentos, tanto dos públicos, como dos particulares.
em que eles atestam ou provam a veracidade das relações
jurídicas e sociais. Não se trata de bem particular ou
E.MAGALHÃES NORONHA, invocando lições de outros
privado. Ainda que, no caso, haja ofensa real ou perigo de
autores, ensina que “Maggione define documento público,
lesão ao interesse de uma pessoa, é ofendida a fé pública,
fazendo-o à luz do art.2.699 do Código Civil Italiano; Man-
isto é, a crença ou convicção geral da genuinidade e valor
zini dá-nos conceito um tanto prolixo; Lombardi escreve:
dos documentos, atos etc., prescritos ou usuais para aquelas “Pode dizer-se, assim, documento público aquele que é feito
relações" — (in "Direito Penal", 4º Vol., 5ª ed. Saraiva, 1972, p.118). por oficial público ou pessoa a ele equiparada, na forma le-
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gal e no exercício de suas funções e no exercício de suas fun- possa causar conseqüências no campo jurídico (caracterís-
ções, seja para um fim de direito público inerente a essas ticas apresentadas por Heleno C. Fragoso). Nesse sentido:
funções, seja para receber declarações particulares de RT, 445:336, 354:555 e 522:359. Não constituem docu-
vontade e verdade e atribuir-lhes fé pública”; e, finalmente, mentos os papéis inócuos, os que retratam fatos ou
Fabiani diz: “Qualquer documento (legislativo, administra- manifestações de vontade sem importância jurídica” — (in
tivo, judiciário) feito por oficial público, no exercício de suas “Código Penal Anotado”, 3ª ed. DIS, Saraiva, 1998, anotação ao art.
funções, é documento público, ao qual se dirige a proteção 298/CP).
penal”.
Ensina DAMÁSIO E.JESUS serem características do I - usa, guarda, possui ou detém qualquer dos papéis
documento particular: “1ª) forma escrita: não abrange as falsificados a que se refere este artigo;
fotografias, cópias não autenticadas de documentos,
pinturas, gravações etc. A escrita deve ter sido aposta em II - importa, exporta, adquire, vende, troca, cede,
coisa móvel; 2ª) autor determinado: a escrita anônima empresta, guarda, fornece ou restitui à circulação
não configura documento; 3ª) deve conter uma manifes- selo falsificado destinado a controle tributário;
tação de vontade ou a exposição de um fato: a simples
aposição de uma assinatura em papel em branco não III - importa, exporta, adquire, vende, expõe à venda,
constitui documento. Papel assinado em branco: é falsida- mantém em depósito, guarda, troca, cede, em-
de material forjar documento que lhe fora confiado para presta, fornece, porta ou, de qualquer forma,
preenchimento (RT, 528:321); se não lhe foi confiado: utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício
RT, 571:310. Da mesma forma, não consistem em docu- de atividade comercial ou industrial, produto ou
mentos os papéis com escritos ininteligíveis ou sem mercadoria:
sentido; 4ª) relevância jurídica: é necessário que o escrito
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a) em que tenha sido aplicado selo que se destine 6 Ação Física (§ 2º):
(§ 2º):
a controle tributário, falsificado; incrimina-se a supressão (eliminação ou remoção) de
carimbo ou sinal indicativo de sua inutilização, com o fim
b) sem selo oficial, nos casos em que a legislação de torná-los novamente utilizáveis.
tributária determina a obrigatoriedade de sua
aplicação. 6 Elemento Subjetivo do Injusto:
o dolo. Sem modalidade culposa.
Obs.: redação modificada pela Lei nº 11.035/2004, para
incluir outras condutas típicas, além do uso dos
papéis falsificados. 6 Ação Física (§ 3º):
(§ 3º):
pune-se o uso dos papéis referidos no caput.
§ 2º - Suprimir, em qualquer desses papéis, quando
legítimos, com o fim
fim de torná-los novamente 6 Elemento Subjetivo do Injusto:
utilizáveis, carimbo ou sinal indicativo
indicativo de sua o dolo. Inexistente a forma culposa.
inutilização.
inutilização
6 Ação Física (§ 4º):
(§ 4º):
Pena -reclusão, de um a quatro anos, e multa. pune-se a conduta de quem, tendo recebido os papéis na
ignorância da falsificação ou alteração, os usa à circula-
§ 3º - Incorre na mesma pena quem usa, depois e
ção, depois de conhecer a falsidade ou alteração.
alterado, qualquer dos papéis a que se refere o
parágrafo anterior.
anterior
6 Elemento Subjetivo do Injusto:
o dolo. Não há punição a título de culpa.
§ 4º - Quem usa ou restitui à circulação, embora
recebido de boa fé, qualquer dos papéis falsifica-
dos ou alterados, a que se referem este artigo e 6 Ação Penal:
Penal pública incondicionada.
o seu § 2º, depois de conhecer a falsidade ou
alteração, incorre na pena de detenção,
detenção, de seis
meses a dois anos, ou multa.
multa Petrechos de Falsificação
§ 4º - Nas mesmas penas incorre quem omite, nos § único - Se o agente é funcionário público, e comete o
documentos mencionados no § 3º, nome do crime prevalecendo-se do cargo, ou se a falsifi-
segurado e seus dados
dados pessoais, a remunera- cação ou alteração é de assentamento de
ção, a vigência do contrato de trabalho ou de registro civil, aumenta-se a pena de sexta
prestação de serviços. parte.
Obs.: §§ 3º e 4º acrescidos pela Lei nº 9.983/00.
6 Sujeito Ativo:
No § 3º, inovação legislativa teve por propósito tratar qualquer pessoa, não precisando, necessariamente, ser
com rigor aqueles que falsificam folhas de pagamento, quem redige o documento. Se o agente for funcionário
livros de registros e mesmo carteiras de trabalho: claro é
público, vide § único.
o dolo de produzir prova de filiação a pessoas não filiadas,
para que se credenciem estas à conquista de benefícios
6 Sujeito Passivo: primeiramente, o Estado; secundaria-
previdenciários: respondem eles também pela falsidade de
mente, a pessoa prejudicada pela falsidade.
documento público,
público a despeito de serem eventualmente
particulares tais documentos.
6 Objeto da Tutela Penal:
a fé pública, especialmente e genuinidade do documento.
No § 4º quis-se coibir a omissão, que desprotege os
segurados, impedindo-os de se credenciarem à conquista
de benefícios previdenciários. 6 Ação Física:
são três as modalidades alternativamente previstas: a.
omitir declaração que dele devia constar. b. inserir
declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita. c.
Falsificação de Documento Particular
fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser
escrita.
Art.298 - Falsificar, no todo ou em parte, documento
particular ou alterar
alterar documento particular
6 Elemento Subjetivo do Injusto:
verdadeiro:
verdadeiro
o dolo. Não há forma culposa.
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
6 Ação Penal:
Penal pública incondicionada.
6 Sujeito Ativo: qualquer pessoa. Esse tipo de crime tem essa denominação porque ele
representa a falsidade da "idéia", já que o documento é,
6 Sujeito Passivo: exterior e materialmente, perfeito.
o Estado, primeiramente; secundariamente, a pessoa
prejudicada pela falsidade. Significa que o documento é falso em seu conteúdo, ou
seja, suas declarações são mentirosas, embora ele satisfaça
6 Objeto da Tutela Penal: todos os requisitos para sua validade formal. Nenhuma
a fé pública, especialmente a autenticidade dos documen- perícia comprova o falso ideológico, porque ele não é
tos. documento rasurado ou alterado em sua aparência
instrumental, mas sim documento preenchido
preenchido com
6 Ação Física: perfeição,
perfeição porém falso, viciado no conteúdo,
conteúdo com pala-
as condutas previstas são idênticas às do artigo anterior. vras que lá não deveriam estar, ou sem palavras, que lá
deveriam constar.
6 Elemento Subjetivo do Injusto:
o dolo. Não há forma culposa. Enfim, "bom de corpo, "ruim de alma".
6 Ação Penal:
Penal pública incondicionada. Importante considerar que só o crime de falsidade
ideológica quem "omite, ou nele faz constar a declaração
falsa, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou
alterar a verdade" sobre fato juridicamente relevante.
Falsidade Ideológica
Se essa, ou uma dessas condições não estiver compro-
Art.299 - Omitir, em documento público
público ou particular, vada, ainda que se tenha feito um documento de conteú-
declaração que dele devia constar, ou nele do falso, não se terá praticado crime de falsidade ideoló-
inserir ou fazer inserir declaração falsa ou gica.
diversa da que devia ser escrita, com o fim de
prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a Não se trata de crime próprio de funcionário público:
verdade sobre fato juridicamente relevante: qualquer pessoa pode cometê-lo.
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o docu- Trata-se de crime contra a fé pública, por que as
mento é público, e reclusão de um a três anos, e pessoas devem confiar nos documentos e a falsificação
multa, se o documento é particular. destes elimina a confiança das pessoas, gerando a insegu-
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rança de todos em todas as relações jurídicas. É, portanto, Pena - detenção, de dois meses a um ano.
para proteger a fé que devem inspirar todos os documen-
tos, que se pune a falsificação destes, não importando se 6 Sujeito Ativo:
o documento é público ou particular. só o funcionário público, em razão de seu ofício.
Pena:
Pena reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o docu- Tem-se aqui uma espécie do gênero "falsidade ideológi-
mento é público;
público e de um a três anos, e multa, se ca".
o documento é particular.
particular Embora a lei fale que a certidão ou atestado habilite
alguém a obter cargo público, isenção de ônus ou serviços
6 Sujeito Ativo: de caráter público, ou outra vantagem, para a caracteriza-
somente o funcionário com fé pública para reconhecer, ção do crime Não é necessário que o funcionário público
embora possa haver partícipe sem essa qualidade. cometa a falsidade com tal intuito, bastando que tenha
vontade de atestar ou certificar em desacordo com a
6 Sujeito Passivo: primeiramente o Estado, e, secundaria- verdade. Se, simplesmente, incorrer em erro (imprudên-
mente, a pessoa prejudicada. cia, ou negligência, ou imperícia), então não haverá
crime, pois é necessário o dolo (vontade de falsear).
6 Objeto
Objeto da Tutela Penal: a fé pública, especialmente a
autenticação de documentos.
Importante, porém, que o atestado ou falsidade permi-
ta alguém -- pelo menos potencialmente -- possa obter
6 Ação Física:
qualquer vantagem em razão dela. ¿ E se ele não tiver
o núcleo é reconhecer. Pune-se o reconhecimento, como
verdadeira, de firma ou letra que não o seja. nenhum lucro ??? Veja bem: não é imprescindível que o
beneficiário consiga essa vantagem. Basta que o atestado
6 Elemento Subjetivo/Injusto: (ou certidão) tenha esse potencial liberatório.
exige-se o dolo, ainda que eventual. Não há punição a
título de culpa. Atenção: não confunda o "gênero" da falsidade ideoló-
gica,
ica com os casos especiais, em que também há uma
6 Ação Penal:
Penal pública incondicionada. "mentira no conteúdo", mas que constituem outro crime
(com nome diferente): já vimos que, se a falsidade tem
por propósito a sonegação de tributos, o crime é contra a
ordem tributária. Se, entretanto a falsidade foi praticada
Certidão ou Atestado Ideologicamente Falso num atestado ou numa certidão (e não é para sonegar
tributos), então, o crime não será o do art.299 e sim o do
Art.301 - Atestar ou certificar falsamente, em razão da art.301/CP.
função pública, fato ou circunstância que
habilite alguém a obter cargo público, isenção Cuidado (!),
(!) porque já houve concurso público, em que
de ônus ou de serviço de caráter público, ou tal pequena e delicada diferença foi questionada.
qualquer outra vantagem:
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Forma Qualificada
Falsidade Material
de Atestado ou Certidão § 2º/art.301 - Se
o crime é praticado com o fim de lucro,
aplica-se, além da pena privativa de liberda-
§ 1º/art.301 - Falsificar,
no todo ou em parte, atestado
atestado ou de, a de multa.
certidão, ou alterar o teor de certidão ou de
atestado verdadeiro, para prova de fato ou Trata-se do mesmo crime, havendo o legislador penal
circunstância
circunstância que habilite alguém a obter aumentado a pena, acrescendo-a de multa, se se com-
cargo público, isenção de ônus ou de serviço provar que o autor do delito agiu com finalidade de obter
de caráter público, ou qualquer outra vanta- lucro.
gem:
Não importa se o falsificador conseguiu ou não o lucro,
Pena - detenção, de três meses a dois anos. o que importa é que sua "inspiração" foi a obtenção de
lucro.
A diferença entre a falsidade ideológica e a material é
que na primeira, o documento é modificado (adulterado) E se não se comprovar tal motivação (lucro), então não
em seu conteúdo, seja pelo acréscimo de palavra, seja pela se caracterizará a forma qualificada, mas sim a simples,
substituição, seja pela supressão. ou seja, a do § 1º do art.301/CP.
Pena - detenção, de um a três anos, e multa. Art.305 - Destruir, suprimir ou ocultar, em benefício
próprio ou de outrem, ou em prejuízo alheio,
§ único - Na mesma pena incorre quem, para fins de documento públi
público ou particular verdadeiro,
comércio, faz uso do selo ou peça filatélica.
filatélica de que não podia dispor:
dispor
6 Sujeito Ativo: qualquer pessoa. Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa, se o docu-
mento é público, e reclusão, de um a cinco anos,
6 Sujeito Passivo: e multa, se o documento é particular.
o Estado, primeiramente, e a pessoa prejudicada, secun-
dariamente. 6 Sujeito Ativo:
qualquer pessoa, incluindo o proprietário do documento
6 Objeto da Tutela Penal: que não possa dele dispor.
a fé pública, especialmente a tutela de selos e peças
filatélicas. 6 Sujeito Passivo:
primeiramente, o Estado; secundariamente, a pessoa
6 Ação Física: prejudicada com a supressão.
São: a) reproduzir; b) alterar. Ressalva a lei que a condu-
ta não será criminosa quando a reprodução ou alteração 6 Objeto da Tutela Penal:
está visivelmente anotada na face ou no verso do selo ou a fé pública, especialmente a segurança do documento
peça. como prova.
6 Elemento Subjetivo/Injusto:
o dolo e o elemento subjetivo do tipo relativo ao especial
Uso de Documento Falso fim de agir: finalidade de benefício próprio ou de outrem
ou de prejuízo alheio. Não há modalidade culposa.
Art.304 - Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados
falsificados
ou alterados, a que se referem os arts. 297 a 6 Ação Penal:
Penal pública incondicionada.
302:
302
Há que se atentar que este tipo penal está inserto
Pena - a cominada à falsificação ou à alteração. dentre os que tutelam a “fé pública” — particularmente a
segurança/confiabilidade dos documentos — e, por isso,
6 Sujeito Ativo: não se trata de crime próprio de funcionário público, e,
qualquer pessoa. Todavia, predomina, o entendimento de assim, pode ser cometido, por qualquer pessoa, e até
que o autor do falso não pode responder, também, pelo mesmo pelo próprio dono do documento, que, não tendo
uso, ou vice-versa. direito de usá-lo, vem a destruí-lo, ou o suprime, senão o
esconde (oculta), para se beneficiar (ou mesmo para
6 Sujeito Passivo: beneficiar outra pessoa) — ou apenas para prejudicar
o Estado, primeiramente, a pessoa prejudicada com o uso, outra pessoa.
secundariamente.
Interessante observar ainda que o crime se caracteriza-
6 Objeto da Tutela Penal: a fé pública. rá apenas se um documento verdadeiro for destruído, ou
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suprimido, senão ocultado: se alguém o fizer com um É importante observar também que a lei só prevê a
documento falsificado o crime não se caracterizará, pois é punição do crime doloso, ou seja, quando o agente agir
circunstância elementar do tipo que a ação recaia sobre com vontade livre e consciente de destruir, suprimir ou
um “documento verdadeiro”. ocultar o objeto material: se por acidente, a pessoa deixar
cair tinta sobre um documento, tornando-o inelegível, não
Mais que isso, há de ser um documento verdadeiro de haverá o crime, pois a lei não prevê a figura culposa.
que o agente criminoso “não podia dispor”: assim, p.ex., se
um moribundo decide não receber uma nota promissória, ............................................
de que era credor, ainda que tenha ele o intuito de nada
deixar para a algum potencial herdeiro, ou queira benefi-
ciar o pai de uma ex-amante, a destruição desse documen-
to de crédito (verdadeiro) é perfeitamente válida, já que Falsa Identidade
ele tinha o direito de dispor desse crédito e respectivo
documento.
Art.307 - Atribuir-se ou atribuir falsa identidade para
O tipo deste art.305/CP pode ceder lugar ao crime obter vantagem, em proveito próprio ou alhe-
tributário: se um comerciante esconde, destrói ou suprime io, ou para causar dano a outrem:
outrem
algumas notas fiscais, para fugir à respectiva tributação,
não cometerá o crime de “Supressão de Documento” — Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa, se o
mas o crime de sonegação fiscal, previsto na Lei nº 8.137, fato não constitui elemento de crime mais grave.
de 27-12-1990.
6 Sujeito Ativo:
Ativo
Da mesma foram não haverá crime de “Supressão de qualquer pessoa (crime comum quanto ao sujeito).
Documento” se se tratar de documento judicial ou mesmo
de um processo, se a ação for praticada por procurador ou 6 Sujeito Passivo:
advogado: nesse caso haverá crime de “Sonegação de Papel primeiramente, o Estado; secundariamente, a pessoa
ou Objeto de Valor Probatório”, previsto no art.356/CP prejudicada.
(ver adiante). Registre-se, a propósito, que há uma
decisão publicada em Revista dos Tribunais (vol.nº 529, 6 Objeto da Tutela Penal:
p.310), em que reconhece que a supressão de autos de a fé pública, especialmente em relação à identidade
processo caracteriza o crime do art. 356 do Código Penal. pessoal.
DAMÁSIO E.JESUS anota várias particularidades sobre
6 Ação Física:
a originalidade do “documento”, que podem afetar a
a ação punível é atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa
caracterização do crime: “O documento deve ser original
identidade. A lei consigna que a ação deve visar a obter
(JTACrimSP, 69:136). Não mais existindo este, pode
haver delito contra a cópia autêntica. Não há crime, vantagem, em proveito próprio ou alheio, ou causar dano
entretanto, quando a conduta visa à cópia autêntica do a outrem.
documento que ainda existe. Nesse caso, pela facilidade
de obtenção de outros traslados, cópias e certidões, não 6 Elemento Subjetivo/Injusto:
há dano à fé pública, inexistindo, por isso, o delito em o dolo e o elemento subjetivo do tipo relativo ao especial
tela, podendo subsistir outro, como o dano e o furto. fim de agir. Não há punição há título de culpa.
Nesse sentido: RT, 506:325, 520:392 e 543:351; RJTJSP,
53:301. Duplicata: não há crime enquanto sem aval ou 6 Ação Penal:
Penal pública incondicionada.
aceite (RT, 542:341, 545:312 e 559:371); sendo possível
a substituição pela triplicata, não há delito por ausência
de prejuízo (TJSP, ACrim 69.022, RT, 646:270) — Valor Art.308 - Usar, como próprio, passaporte, título de
probante: O documento deve ser insubstituível e sem eleitor, caderneta de reservista ou qualquer
valor de prova: RT, 520:392, 320:392, 447:375 e 623:282 documento de identidade alheia ou ceder a
(v.v.); TJSP, ACrim 69.022, RJTJSP, 121:305 e 306 — outrem, para que dele se utilize, documento
documento
Restauração do documento: Se possível, não há crime: dessa natureza, próprio ou de terceiro:
terceiro
RT, 447:375. Assim, não há crime se existe registro que
possibilite a recomposição do documento (TJSP, RvCrim Pena - detenção, de quatro meses a dois anos, e multa, se
110.497, RT, 676:296). Não é suficiente, entretanto, a o fato não constitui elemento de crime mais grave.
mera possibilidade de restauração. É necessário que se
propicie a reconstituição (TJSP, RvCrim 110.497, RT, 6 Sujeito Ativo:
Ativo qualquer pessoa.
676:296 e 297) — Rasgar duplicata na parte do aceite,
onde aposta a assinatura: Inexistência de crime, diante da
6 Sujeito Passivo: o Estado (principal).
possibilidade de emissão de triplicata (TJSP, ACrim 69.02-
2, RJTJSP, 121:305) — (in “Código Penal Anotado” -
6 Objeto da Tutela Penal:
apud Direito Informatizado Saraiva nº 1 - 3ª ed. em CD-
ROM, 1998, anotação ao art.305/CP). a fé pública, no que concerne à identidade pessoal.
10 = DIR. P E N A L Tribunal de Justiça / São Paulo
6 Ação Física: Eis aí o fundamento para que o concurso público seja
são duas as condutas previstas: a) usar, como próprio, efetivamente disputado, desenvolva-se como um processo
qualquer documento de identidade alheia; b) ceder a de seleção real e eficiente, em que se possa apurar o
outrem, para que dele se utilize, documento dessa nature- conhecimento dos candidatos e aprovar os melhores, os
za, próprio ou de terceiro. de maior Quociente de Inteligência, nunca os de imoral “QI
QI
- Quem Indica”.
6 Elemento Subjetivo do Injusto:
é o dolo. Inexiste forma culposa. O conteúdo das provas há de ser sempre sigiloso, para
que o certame — disputa, concorrência — seja honesto,
6 Ação Penal:
Penal pública incondicionada. escorreito, digno de crédito e livre de fraudes.
Pertencem à classe dos chamados crimes especiais, condutas "dolosas" (quando agem "por querer"). A conduta
porque exigem uma qualidade do sujeito ativo, no caso a "culposa" (quando produz o resultado "sem querer", mas
de ser ele funcionário público.
público por "negligência" ou por "imprudência" ou por "imperícia")
só é criminosa, quando a lei, especificamente, a prevê
¿Mas os "particulares" não podem cometer um desses como crime. Dentre os crimes contra a Administração
crimes??? Podem em "co-autoria", isto é, quando "concor- Pública, só há o § 2º do art.312, prevendo, expressamen-
rerem de qualquer modo" para a prática de um desses cri- te, o peculato culposo. Significa que os demais crimes aqui
mes por um funcionário público: nesse caso, a condição estudados não são punidos na modalidade culposa.
pessoal do agente (ser funcionário público) comunica-se São crimes contra a Administração Pública,
Pública praticadas
ao co-autor (cúmplice), porque faz parte do próprio crime especialmente pelo fun funcionário público,
público o "peculato"
(tipo penal) e é imprescindível para a caracterização do (subtrair ou se apropriar de coisa pública - art.312 + §§
delito (a circunstância elementar dele). e art.313 do Cód.Penal), o "extr "extravio, sonegação ou
inutilização de livro ou documento" (sumir com um livro
Portanto, cometem crime contra a administração ou documento da repartição - art.314 do Cód.Penal), "o
pública, tanto (a
a) o funcionário público no sentido estrito, "emprego irregular de verbas ou rendas públicas" (apli-
como (bb) qualquer pessoa que exerça cargo, emprego ou car o dinheiro público de forma diferente à prevista na lei
função pública, mesmo que sem remuneração ou transito- - art.315 Cód.Penal), a "concussão" (exigir dinheiro ou
riamente e, ainda, © qualquer particular em "co-autoria". vantagem em razão da função - art.316/Cód.Penal), o
"excesso de exação" (cobrar tributo além do que a pessoa
¿ E quem pode ser considerado funcionário público??? deve ou de forma humilhante - art.316-§ 1º CP), a
Só o concursado, ou também o comissionado, o temporá- "corrupção passiva"
passiva" (pedir ou aceitar caixinha - art.317
rio, os Juízes, Prefeitos, Deputados, Ministros, Promotor, CP), a "prevaricação" (deixar de fazer o serviço, por sen-
etc ??? timento ou interesse pessoal - art. 319/CP), a "condes-
cendência criminosa" (deixar de responsabilizar o subor-
Quem define quem é funcionário público é o Art. 327, dinado infrator - art.320/CP), a "advocacia criminosa"
que determina que "considera-se funcionário público, para (defender interesse alheio junto da administração - art.
efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem 321/CP), a "violência arbitrária" (praticar violência no
remuneração, exerce cargo, emprego, ou função pública", exercício da função - art.322/CP), o "abandono de
esclarecendo seu § 1º, que "Equipara-se a funcionário função" (largar, abandonar o cargo por mais de 30 dias -
público quem exerce cargo, emprego ou função, em entidade art.323/CP), o "exercício funcional ilegalmente antecipa-
paraestatal". do ou prolongado" (exercer a função sem atender as
exigências legais - art.324/CP), a "violação de sigilo
E há casos em que a qualidade do funcionário público funcional" (contar segredo que soube no cargo - art.325
ainda obriga a um apenamento maior, porque maior é sua CP) e a "violação de sigilo de proposta de concorrência"
"traição", mais reprovável é sua conduta --- como o (devassar o segredo das cartas de propostas de concorrên-
determina o § 2º: "A pena será aumentada da terça parte cia pública - art. 326/CP).
quando os autores dos crimes previstos neste capítulo
forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de
direção ou assessoramento de órgão da administração Peculato
direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou ( Artigo 312 e § § 1º, 2º e 3º/ CP )
fundação instituída pelo poder público."
Há que se ter muita atenção a um outro aspecto: estes < Sujeito Ativo:
crimes só são punidos na modalidade dolosa (quando o o funcionário público, sendo possível a participação de
agente o pratica querendo praticar). Assim, por exemplo, pessoas que não o sejam.
se uma pessoa inutilizar sem querer (por acidente, ou por
ser estabanada) um livro (ou processo ou documento), < Sujeito Passivo:
que estava confiado à custódia de um funcionário, aquela o Estado e toda Pessoa Jurídica de Direito Público; even-
pessoa terá agido com "culpa": será obrigada a indenizar tualmente, também o particular prejudicado.
o prejuízo que causar, mas não terá cometido o crime do
artigo 337/CP em diante. < Objeto da Tutela Penal:
o patrimônio da Administração Pública em geral.
A regra geral é que as pessoas só respondem pelas
12 = DIR. P E N A L Tribunal de Justiça / São Paulo
< Ação Física: < Sujeito Ativo:
a ação é apropriar-se, dando o funcionário ao objeto o funcionário público, sendo possível a participação de
material destinação diversa daquela que lhe fora confiada. pessoas que não o sejam.
§ 3º/art.312 - No caso do parágrafo anterior, a reparação < Sujeito Ativo: o funcionário público; possível a partici-
do dano, se precede à sentença irrecorrível, pação de pessoas que não o sejam.
extingue a punibilidade; se lhe é posterior,
reduz de metade a pena imposta. < Sujeito Passivo: o Estado e outras Pessoas Jurídicas de
Direito Público; eventualmente, o particular prejudicado.
Reconhecendo mais uma vez a menor gravidade da
participação do funcionário público no peculato "culposo", < Objeto da Tutela Penal:
o Código Penal neste parágrafo ainda permite a ele o patrimônio da Administração Pública.
livrar-se da pena, desde que, antes da condenação, "pague
o prejuízo" à administração. Se pagar depois, apenas reduz < Ação Física:
a pena na metade. a ação é apropriar-se, mas apenas do objeto que recebeu:
ou por erro de outra pessoa; ou no exercício de seu cargo.
¿ O que é "sentença irrecorrível" ? É aquela a que não
cabe mais nenhum recurso, ou seja, está pronta para ser < Elemento Subjetivo/Injusto: o dolo.
executada. A sentença é proferida pelo Juiz de Direito,
que julgou o processo. Se o réu (ou a acusação) "não < Ação Penal:
Penal pública incondicionada.
gostou", pode interpor um recurso chamado apelação,
pedindo ao Tribunal que reveja o caso e dê uma nova
Muitas pessoas, por erro, às vezes pagam à Administra-
decisão (chama-se "acórdão").
ção Pública importância indevida, ou, até, esquece de
pegar um bom troco. Aquele que, no exercício de um
Assim, quando o Juiz de Direito julga o caso e declara
cargo ou função pública (de caixa, por exemplo), se
que o réu é culpado, essa sentença é "recorrível" --- porque
aproveita dessa situação e se apropria do dinheiro ou
ainda é possível interpor um recurso. Neste parágrafo a
utilidade que recebeu por erro daquela pessoa, cometerá
palavra "sentença" está empregada no sentido de "decisão",
"peculato mediante erro de outrem".
ou seja, tanto a decisão do Juiz de Direito (sentença),
como a decisão dos Tribunais ("acórdão"). E mesmo a
decisão do Tribunal também é "recorrível", porque há Por se tratar de um crime menos grave o peculato
Tribunais superiores, que poderão rever o caso e proferir doloso normal (art.312), já que o funcionário foi "tentado"
um novo "acórdão" --- isso até o caso chegar ao Supremo por uma situação anormal, a pena é menor que a daquele.
Tribunal Federal (a última instância em nosso País).
Aqui também é necessário, para a caracterização do
Mas para recorrer, é necessário que a lei preveja o cabi- crime, que o funcionário público tenha tido a intenção de
mento de um recurso e que a parte interessada (o réu ou se apropriar do dinheiro, ou seja, que aja com dolo: se o
a acusação) interponham o recurso no prazo marcado tal funcionário caixa não percebeu que ficou com o
pela lei. Quando a lei não previr recurso, ou a parte dinheiro, não cometerá tal crime.
interessada (réu ou acusação) não recorrer no prazo legal,
a sentença se tornará "irrecorrível".
Significa, pois, que o réu (funcionário público que teria Peculato via Informática
cometido peculato culposo) terá um "tempão" para pagar
e ficar livre da pena: poderá pagar a qualquer tempo,
desde que antes de sua condenação se tornar "irrecorrível". Benfazeja a reforma pena introduzida com a Lei nº
Poderá "discutir" sua culpa em todas as instâncias, e, se ao 9983/00 (de 14.7.00) descrevendo novas condutas típico-
final perceber que será mesmo condenado, pagará o penais contra a Administração Pública — contrariando a
débito e se livrará da responsabilização criminal. velha praxe de se encerrarem os tipos na legislação
esparsa, optando por sua inclusão no Código Penal, ainda
Atenção:
Atenção a extinção da punibilidade pelo pagamento só que lhe acrescendo sub-artigos, para sua melhor adequa-
é possível no peculato culposo. Se o funcioná- ção no sistema desse codex.
rio for acusado de peculato doloso, não ficará
livre da condenação, pagando o prejuízo. Dois novos tipos foram acrescentados às figuras
peculatárias já descritas: ambas praticáveis pela via da
informática — já não sem tempo, pois não são poucos os
funcionários, que têm acesso aos sistemas de dados e
Peculato Mediante Erro de Outrem computação e, com uma simples alteração da base de
dados, ou do sistema de Informações, fortunas poderão
ser desviadas dos cofres públicos.
Art.313 - Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade
que, no exercício do cargo, recebeu por erro de Confira as novas descrições típicas, que estão vigendo
outrem: desde 15/OUT/00 (embora a lei fosse publicada em
14.7.00, estabeleceu ela uma vacatio legis de 90 dias):
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
14 = DIR. P E N A L Tribunal de Justiça / São Paulo
Inserção de Dados Falsos partícipe) praticam o mesmíssimo crime, ou seja, é
em homicida quem dispara o revólver e quem lhe emprestou
Sistema de Informações o revólver para tal fim. Ocorre, porém, que este tipo
penal é próprio do “funcionário autorizado”, ou seja, só ele
Art.313-A - Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a comete este delito. Assim, se um “outro funcionário”
inserção de dados falsos,
falsos, alterar ou excluir praticar a alteração da base de dados, esse outro funcio-
indevida
indevidamente dados corretos nos sistemas nário praticará o crime previsto no artigo seguinte
informatizados ou bancos de dados da Admi- (art.313-B/CP), enquanto o “funcionário autorizado”, que
nistração Pública com o fim de obter vantagem facilitou seu acesso aos dados, este praticará o crime deste
indevida para si ou para outrem ou para causar art.313-A/CP e não o mesmo crime daqueloutro.
dano:
O tipo penal, em si mesmo, não oferece novidade, Art.313-B - Modificar ou alterar, o funcionário, sistema de
limitando-se à previsão da inserção de dados falsos — qual informações ou programa
programa de informática sem
a alteração ou exclusão indevida de dados corretos — no autorização ou solicitação de autoridade com-
sistema informatizado da Administração Pública.... petente:
naturalmente, com o propósito de obter vantagem
indevida, para si ou para outrem. Pena - detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois)
anos, e multa.
Há de se entender aqui por vantagem indevida tanto a
obtenção ou extravio de recursos ou créditos, como a § único - As penas são aumentadas de um terço até a
liberação de débitos, ou desoneração de qualquer ordem metade se da modificação ou alteração resulta
patrimonial. dano para a Administração Pública ou para o
administrado.
O lançamento da figura típica dentre os tipos de
peculato deixa claro que a vantagem indevida há de ser Duas características distinguem este tipo penal do
patrimonial. anterior: primeiramente, qualquer funcionário público
poderá cometê-lo, desde que não tenha autorização para
A descrição típica tem exata adequação aos episódios mexer no sistema de informações ou no programa de
ocorridos no DETRAN-SP, onde as multas aplicadas a informática; em segundo lugar, embora esteja dente os
motoristas eram excluídas do banco de dados, livrando os crimes de peculato, que pressupõe intenção de conquista
proprietários de veículos de seu pagamento, quando de de vantagem material (patrimonial) indevida, a prática
seu licenciamento. deste crime do art.313-B não é associada à pretensão
material, ou seja, para sua configuração não é necessário
Assim, se o servidor público apenas deletasse (apagasse) que o agente queira obter vantagem material indevida,
os dados, para livrar o motorista infrator da pontuação nem para si, nem para outrem.
punitiva do CTB, não se configuraria o crime aqui previs-
to, já que a vantagem seria de natureza meramente moral Assim, p.ex., configurar-se-á o crime o simples fato de
ou administrativa e não patrimonial. um funcionário qualquer acessar o sistema público de
dados e dali excluir (deletar) o registro de uma condena-
Uma característica destaca-se no tipo penal: trata-se de ção criminal, tornando “limpa” sua ficha ou a de outrem.
crime próprio, já que não pode ser cometido por qualquer Igualmente, um servidor público qualquer que deletar
funcionário público, mas apenas pelo “funcionário autori- (apagar) os dados do cadastro do DETRAN, para livrar
zado”, ou seja, apenas aquele que tem a incumbência (ou um motorista infrator da pontuação punitiva do CTB. Ou
liberdade) para efetuar os lançamentos de dados no nos o funcionário que, para se vingar de um amigo, lançar seu
sistemas informatizados ou bancos de dados da Adminis- nome (ou de sua empresa) no Cadastro de Inadimplentes
tração Pública. (CADIN), causando-lhe embaraços.
Assim, se um funcionário abelhudo, estranho ao serviço Um funcionário público também cometerá o crime se,
— aproveitar-se de haver o “funcionário autorizado” ido ao invés de apagar ou incluir dados, modificar o respecti-
ao banheiro — invadir o setor, e digitar dados falsos, para vo software de informática, programando-o para nunca ler
obter vantagem indevida (para si ou para outrem) — não determinados dados, e, com isso, preservar intactos os
terá cometido o crime previsto neste art.313-A/CP dados, porém ocultos — o que significaria, da mesma
(cometerá o do artigo seguinte). forma, sonegar o conhecimento da informação do sistema.
Mais um aspecto merece destaque: há aqui outra Perceba-se que o objetivo da tutela penal é a preserva-
exceção ao princípio da unidade do crime: pela regra da ção dos dados dos sistemas de informações e dos respecti-
co-autoria (art.29/CP), o autor e o cúmplice (co-autor ou vos programas de informática.
Tribunal de Justiça / São Paulo DIR. P E NAL = 15
¿Poderá o funcionário autorizado praticar o delito Também este delito visa à proteção da boa ordem da
deste artigo??? Não e Sim. “Não”, se a alteração indevida Administração Pública, a qual, para alcançar suas finalida-
tiver por propósito a obtenção de vantagem indevida ou des, precisa guardar seus livros e documentos e tê-los à
a causação de dano, hipótese em que se configurará o disposição para suas necessidades. Há livros de registros
crime do artigo anterior; e “Sim” se ele agiu sem intenção de todas as atividades públicas, bem como documentos
de conquistar a vantagem indevida ou causar dano. que comprovam tais atividades.
Anote-se, outrossim, que a causação de dano não é Os livros e documentos são necessários tanto para a
circunstância elementar do tipo, ou seja, o crime restará própria administração pública comprovar que seus atos
configurado independentemente de o agente haver tido ou são praticados de acordo com a lei, quanto para expedir
não a intenção de causar dano à Administração Pública ou certidões a particulares que dela precisem.
a algum administrado: o eventual resultado danoso
funcionária apenas como causa de aumento da pena (de
A guarda de tais livros e documentos, naturalmente, só
a a ½), ex vi do § único do artigo.
pode ser feita por funcionários públicos. Dessa forma, o
delito de extravio, sonegação ou inutilização de livro ou
Por final, merece atenção que o resultado danoso
documento, só pode ser do funcionário público e, ainda
importará aumento de pena apenas se prejudicar (a) à
Administração Pública ou (b) ao administrado — não se assim, o funcionário público que esteja no exercício do
autorizando a exasperação, se o prejudicado foi terceira cargo de guardar o livro ou os documentos.
pessoa: é que a lei distinguiu, expressamente, na causa de
aumento “se da modificação ou alteração resulta dano Pune portanto, a lei, ao funcionário público que, no
para a Administração Pública ou para o administrado”.
administrado exercício da função de guardar o livro ou os documentos,
trair a confiança da administração pública e a ela causar
Fosse da intenção do legislador agravar a punição, o prejuízo de tal tipo de conduta.
diante de resultado danoso a qualquer pessoa, teria usado
a expressão ampla “outrem” ou “a terceiros”.... etc — mas Usa a lei vários verbos para definir a conduta do
não só empregou denominação específica “administrado”, criminoso: "extraviar" é o mesmo que desviar, ou seja,
como ainda o artigo definido “o”. Assim, só haverá o mudar o destino ou o fim para onde era encaminhado;
aumento da pena, se o dano afetar àquela pessoa, a quem "sonegar" significa a não apresentação do livro; é a
se refiram os dados alterados ou excluídos e não a ocultação intelectual ou fraudulenta, do livro ou dos
qualquer outra pessoa — como, p.ex., os consulentes, que documentos; já "inutilizar" quer dizer tornar imprestável
resultem enganados pelo falsidade do registro modificado. o livro ou os documentos, estragá-los, arruiná-los.
A administração pública outra coisa não faz senão < Elemento Subjetivo/Injusto:
aplicar dinheiro arrecadado do povo. É princípio moral o dolo. Não é crime a conduta culposa.
que esse dinheiro deva ser aplicado nos exatos termos da
lei, isto é, de forma regular, não sendo admitido nenhum < Ação Penal:
Penal pública incondicionada.
"capricho" dos administradores públicos que são encarre-
gados dessa aplicação. É este crime conhecido como a extorsão praticada pelo
funcionário público no exercício da função ou a pretexto
Ocorre que a lei sempre prevê a forma e os fins em que dela. Ocorre quando o funcionário público exige, não
importa se para si mesmo ou para dar a outra pessoa,
deverão ser gastas as verbas públicas. Assim, afora
uma vantagem indevida de alguém, aproveitando-se, para
disposições especiais, de regra há um orçamento anual,
formular a exigência, de seu cargo ou da função que
elaborado pelo Poder Executivo e aprovado por lei do
exerça. Mesmo que o funcionário não esteja no exercício
Poder legislativo, prevendo todos os gastos da adminis-
da função, ou não a tenha ainda assumido, se a exigência
tração pública em todo o ano seguinte ao da aprovação.
de vantagem indevida foi em razão da função, configu-
Se a pessoa que tem o poder administrativo de gastar
ra-se o crime de concussão.
aquelas verbas e rendas públicas não a gastar nos fins pre-
vistos no orçamento, praticará o crime de "emprego Este é o crime de que são acusados, comumente,
irregular de verbas ou rendas públicas". muitos funcionários de Delegacias de Trânsito: exigirem
"caixinhas" ou "propinas" para aprovarem candidatos a
Evidentemente, este crime também só poderá ser carteira de motorista.
praticado pelo funcionário público que dispuser do poder
de empregar as rendas e verbas públicas. Assim, se um Atenção:
Atenção se o funcionário público cometer essa ação ex-
governador de estado usar do dinheiro do povo para dar torsiva, tendo a específica intenção de deixar de
festas e distribuir medalhinhas, deixando de aplicar as lançar ou cobrar tributo ou contribuição social,
verbas naquilo que determina o orçamento, terá praticado ou cobrá-los parcialmente --- ele não cometerá
tal crime. o crime deste art.316/CP e sim um outro crime.
crime
Também se o orçamento não previr a "doação de É que o art.3º, inc.II, de uma nova Lei,
Lei a de nº 8.137/-
ambulâncias" a municípios de outros estados (ou do 90 (27/DEZ/90), estabelece que, nessa hipótese, haverá
mesmo Estado), mas o Governador, para capricho ou "crime tributária "exigir,
crime funcional contra a ordem tributária":
"bondade" sua resolver fazer tal doação, terá por igual solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou
empregado as verbas públicas indevidamente. indiretamente, ainda que fora da função ou antes de iniciar
seu exercício, mas em razão dela, vantagem indevida; ou
"Verbas" são os recursos destinados pela lei orçamentá- aceitar promessa de tal vantagem, para deixar de lançar ou
ria para as despesas de serviços ou investimentos previstos cobrar tributo ou contribuição social, ou cobrá-los
no orçamento. As rendas públicas são o dinheiro que a parcialmente".
Fazenda pública aufere direta ou originariamente por suas
atividades "lucrativas". Veja que a pena é bem mais rigorosa: de 3 a 8 anos de
reclusão, mais multa.
Concussão
Excesso de Exação
< Sujeito Ativo: funcionário público, sendo possível a Pena -reclusão de 3 (três) a 8 (oito) anos, e
participação de particulares. multa.
Tribunal de Justiça / São Paulo DIR. P E NAL = 17
< Sujeito Ativo: o funcionário público. § 2º/art.316 - Se o funcionário desvia, em proveito próprio
ou de outrem, o que recebeu indevidamente
< Sujeito Passivo:
Passivo: o Estado; a Pessoa Jurídica de Direito para recolher aos cofres públicos:
Público; o particular prejudicado.
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
< Objeto da Tutela Penal: a administração pública.
< Sujeito Ativo: o funcionário público.
< Ação
Ação Física: duas distintas: 1) exigência indevida e 2)
cobrança vexatória. < Sujeito Passivo:
Passivo: o Estado; a Pessoa Jurídica de Direito
Público; o particular prejudicado.
< Elemento Subjetivo/Injusto:
o dolo, não havendo forma culposa. < Objeto da Tutela Penal: a administração pública.
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. ou se faltar o sentimento pessoal, o erro do funcionário
será mera infringência disciplinar (administrativa): não
< Sujeito Ativo: o funcionário público. haverá crime de prevaricação.
< Sujeito Passivo: o Estado. Houve uma questão, num concurso da Comarca de
Pirassununga (nº 1), anulada, porque mencionava uma
< Objeto da Tutela Penal: a Administração Pública. conduta errada do Oficial de Justiça, mas não mencionava
que ele agira para "satisfazer sentimento ou interesse
< Ação Física: pessoal".
três: (a) retardar, indevidamente, ato de ofício; (b) deixar
de praticar, indevidamente, ato de ofício; © praticar o ato Atenção:
Atenção Vimos que o "sentimento pessoal" (qual o interes-
com transgressão de disposição expressa de lei. se pessoal) é essencial para a caracterização do
crime de prevaricação. Vimos, ainda, que é indiferente a
< Elemento Subjetivo/Injusto: natureza (nobre ou odiosa) desse sentimento. Há,
o dolo. Não há punição a título de culpa. entretanto, um tipo de sentimento, que a lei abomina:
considera-o tão odioso, que estabelece que o crime nem
< Ação Penal:
Penal pública incondicionada. será de prevaricação, mas um outro
outro crime,
crime com pena
muito maior.
É crime demasiadamente cometido no funcionalismo
público. Verifica-se quando o funcionário público, por O art.8º, inc.I a VI, da Lei nº 7.853/89, de 24/OUT/89
qualquer sentimento pessoal (inveja, ciúmes, ódio, amor, (Lei de Direitos da Pessoa Portadora
Portadora de Deficiência),
Deficiência
dó, etc), ou para satisfazer um seu interesse pessoal estabelece:
(promoção, recebimento de comissão legal, ou vantagem
funcional ou na carreira, ou proteção de um seu direito na Art.8º - Constitui crime punível com reclusão de 1 (um) a
vida particular, ou de um seu familiar, ou amigo, etc.) 4 (quatro) anos, e multa:
pratica algum ato, contrariamente a uma expressa disposi-
ção da lei, ou retarda ou deixa de praticar, indevidamen- I - recusar, suspender, procrastinar, cancelar ou
te, um ato de seu ofício. Para a caracterização desse fazer cessar, sem justa causa, a inscrição de
crime, entretanto, deve ficar provado que o funcionário aluno em estabelecimento de ensino de qualquer
público agiu com a vontade (dolo) de satisfazer interesse curso ou grau, público ou privado, por motivos
ou sentimento pessoal. derivados da deficiência que porta;
"Interesse
Interesse é a relação psicológica com que uma pessoa
Interesse" II - obstar, sem justa causa, o acesso de alguém a
pretende ocorra um ato, ou um fato, ou com que se qual, quer cargo público, por motivos derivados
vincula ela a um objeto ou objetivo. Assim, por exemplo, de sua deficiência;
o Oficial de Justiça penhora insuficiente de bens do
Executado, deixando de penhorar um bem qualquer (e III - negar, sem justa causa, a alguém, por motivos
necessário para a suficiência da penhora), porque já derivados de sua deficiência, emprego ou traba-
estava comprando para si (ou para sua esposa) tal bem. lho;
O Oficial de Justiça prevaricou, pois deixou de praticar o
ato de seu ofício (penhorar os bens suficientes ao paga- IV - recusar, retardar ou dificultar internação ou
mento do principal, custas, honorários, etc), para atender deixar de prestar assistência médico-hospitalar e
a seu interesse pessoal de adquirir aquele bem (que ambulatorial, quando possível, a pessoa portado-
deixou de incluir na penhora). ra de deficiência;
"Sentimento
Sentimento é sinônimo de emoção, ou paixão. É o
Sentimento" V - deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem justo
amor, o ódio, a piedade, o partidarismo, a vingança, a motivo, a execução de ordem judicial expedida na
subserviência ("puxassaquismo"), etc. E pouco importa se ação civil a que alude esta Lei;
o sentimento é nobre (solidariedade humana, altruísmo,
piedade, magnanimismo, etc) ou não. Haverá prevarica- VI - recusar, retardar ou omitir dados técnicos
ção, por exemplo, se o Oficial de Justiça, deixar de pro- indispensáveis à propositura da ação civil objeto
ceder à citação de um réu em ação de despejo por falta de desta Lei, quando requisitados pelo Ministério
pagamento, porque se apiedou com a miséria, o número Público.
de filhos, o desemprego, etc., do mesmo.
Confira que as condutas previstas na Lei de Direitos da
Mas é importante não esquecer: não basta que o Pessoa Portadora de Deficiência) são todas de idênticas à
funcionário tenha agido errado (praticando, ou deixando de prevaricação — mas não constituem crime de prevari-
de praticar ou retardando ato de seu ofício, infringindo cação, porque há uma previsão legal específica (configu-
seu dever funcional). É imprescindível que ele aja errado rando um outro crime),
crime quando o "sentimento pessoal" é
e tenha a específica intenção de "satisfazer ou um interesse o de "discriminação contra a pessoa deficiente".
ou um sentimento pessoal". Se faltar o interesse pessoal,
20 = DIR. P E N A L Tribunal de Justiça / São Paulo
Art.319-A- Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente < Ação Física:
público, de cumprir
cumprir seu dever de vedar ao duas: a) deixar de responsabilizar subordinado que
preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio cometeu infração no exercício do cargo; b) não levar o
ou similar, que permita a comunicação com fato ao conhecimento da autoridade competente, quando
outros presos ou com o ambiente externo: lhe falte competência.
Pena:
Pena detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. < Elemento Subjetivo/Injusto:
o dolo. Não é crime a conduta culposa.
Obs.: artigo acrescentado pela Lei nº 11.466/2007.
prevaricação — porque também aqui há uma omissão estabelece que, nessa hipótese, haverá "crime funcional
(deixar de praticar), com o objetivo de atender ao sen- contra a ordem tributária": "patrocinar, direta ou indireta-
timento pessoal (indulgência, piedade, condescendência). mente, interesse privado perante a Administração Fazendá-
ria, valendo-se da qualidade de funcionário público". E a
Por isso, em muitos concursos já houve questão explo- pena será bem mais rigorosa: de 1 a 4 anos de reclusão,
rando essa delicada diferença --- e candidatos afoitos mais multa.
confundindo os dois crimes: se a questão mencionar que
o Chefe deixou de responsabilizar um funcionário infrator Assim, se um Oficial de Justiça --- representando uma
"por indulgência" (por dó, compaixão), o crime será o de pessoa que tem um débito tributário --- apresenta-se à
"condescendência criminosa". Mas se o Chefe não responsa- repartição fiscal para "fazer um acerto" ou "parcelar" o
bilizou o faltoso porque este seria suspenso e, sendo seu débito daquele contribuinte/devedor, tentando se prevale-
inquilino, não lhe pagaria o aluguel --- então terá agido cer do fato de que foi ele quem cumpriu o mandado de
"por interesse pessoal" --- e tal conduta não é condescen- citação na respectiva execução fiscal --- estará cometendo
dência criminosa, e sim a mais pura "prevaricação". o "crime funcional contra a ordem tributária e não o crime
de "advocacia administrativa".
Importante a diferença, até porque a pena do crime de
prevaricação é mais grave (detenção de 3 meses a um
ano, ou multa) que a prevista para o crime de condescen- § único/art.321- Se o interesse é ilegítimo:
dência criminosa (detenção de 15 dias a um mês, ou
multa). Pena - detenção, de três meses a um ano, além da multa.
< Sujeito Passivo: o Estado. Pena - detenção, de seis meses a três anos, além
da pena correspondente à violência.
< Objeto da Tutela Penal: a Administração Pública. < Sujeito Ativo:
o funcionário público; possível a participação de particu-
< Ação Física: lar.
é patrocinar, advogar, reivindicar interesse alheio, privado,
interesse junto à Administração Pública, independente- < Sujeito Passivo:
mente de ser justo ou lícito. o Estado; secundariamente, quem sofre a violência.
Corrente minoritária (BENTO DE FARIA e outros) entende < Sujeito Passivo: o Estado.
que a violência não precisaria ser física, bastando a
violência moral, como a humilhação, a injúria, etc. < Objeto da Tutela Penal:
a continuidade e regularidade dos serviços da Administra-
Mas a interpretação predominante na Doutrina, ção Pública.
baseando-se em NELSON HUNGRIA — um dos pais do
Código Penal — entende que a expressão “violência” < Ação Física:
refere-se, exclusivamente, à violência física, pois, quando é abandonar — deixar de exercer, de executar as funções
quis se referir à “vis compulsiva”, a lei penal menciona-a do cargo público.
como “grave ameaça”.
< Elemento Subjetivo/Injusto:
Esse entendimento também domina a jurisprudência,
o dolo. Inexiste tipicidade culposa.
valendo como exemplo este acórdão do Tribunal de
Justiça de São Paulo: “Violência simplesmente moral,
< Ação Penal:
Penal pública incondicionada.
constituída pela intimidação por ameaça, não basta ao
reconhecimento do delito do art.322 do CP., sem prejuízo
Este crime visa a proteger o funcionamento, a
de eventual configuração de exercício arbitrário ou abuso
de poder. É que sempre que o estatuto básico menciona organização e a estabilidade administrativa contra a
a “violência” tout court, quer referir-se à vis corporalis ou desídia ou relapsia funcional. Assim, o funcionário público
vis physica, empregada contra a pessoa, pois, quando não pode abandonar o cargo público que exerça. Se o
também trata da vis compulsiva, usa da expressão “grave fizer, a menos que o tenha feito em situação que a lei
ameaça” — (in Juricrim-Franceschini, 4/450). permita, estará praticando o crime de abandono de
função.
Assim, a despeito da polêmica sobre o tema, o candida-
to, questionado em concurso publico, deverá responder É no perigo que representa o abandono, que reside
pela insuficiência da violência moral para a caracterização o crime. Se, todavia, esse perigo se concretizar, ou seja, se
do crime. do abandono resultar prejuízo público, a pena será bem
maior, tanto na "cadeia" quanto na multa.
Revogação ?!
Preventivamente, a lei com sabedoria, considerando
Por derradeiro — embora alguns poucos considerassem que nas faixas de fronteira a administração pública deve
o art.322 revogado pela Lei n° 4898/65, que define o ser mais efetiva, mais atenta, mais presente, porque
crime de “abuso de autoridade” — a jurisprudência se representa a própria garantia da segurança nacional,
assentou pelo entendimento de que não se operou tal define o abandono de função crime ainda mais grave e,
revogação, até porque o crime de abuso de poder é crime por conseguinte, aumenta em muito a pena de detenção
contra a administração da justiça, enquanto o de violência e também a multa.
arbitrária é crime praticado por funcionário contra a
Administração Pública em geral — como o distinguiu e Atenção:
Atenção "abandonar" não é, simplesmente, deixar
julgou o Supremo Tribunal Federal — (in RTJ vol.56, p.131) de ir trabalhar. É necessário que tal falta se
prolongue por um determinado tempo, ininterruptamen-
te. Segundo o art. 63 do Estatuto dos Funcionários
Públicos Civis do Estado de São Paulo (Lei nº 10.261/68)
Abandono de Função só haverá o "abandono" se o funcionário "interromper o
exercício por mais de 30 (trinta) dias consecutivos" --- e o
art.256-§ 1º daquela Lei dispõe que: "Considerar- se-á
Art.323 - Abandonar cargo público, fora dos casos abandono de cargo o não comparecimento do funcionário
permitidos em lei: por mais de 30 (trinta) dias consecutivos "ex vi" do artigo
63".
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou Significa que só haverá crime de abandono, se o
multa. funcionário faltar durante 31 dias ou mais. Se ele faltar 30
dias (exatinhos) e aparecer para trabalhar no 31º dia, não
§ 1º - Se do fato resulta prejuízo público: haverá tal crime (naturalmente, será punido, mas sua
infringência será apenas disciplinar, não constituindo
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
crime).
Tribunal de Justiça / São Paulo DIR. P E NAL = 23
E preste atenção:
atenção as faltas devem ser "consecuti- Justiça é removido para outra Comarca, ele não poderá
vas", ou seja, se ele faltou 29 cumprir os mandados --- que lhe haviam sido confiados,
dias, apareceu no 30º (e trabalhou), depois faltou mais 30 e que ele ainda não cumprira --- para "atualizar" seu
dias, apareceu no 31º dia, depois sumiu mais 30 dias e serviço antes de ir embora.
voltou no 31º dia --- ele terá faltado 89 dias (muito mais
que os 30 dias), mas não cometeu crime de "abandono", Da mesma forma, se já foi mandado embora e ainda
porque suas faltas não foram consecutivas (ininterruptas): tinha mandados a cumprir. Não poderá mais cumpri-los.
será punido apenas disciplinarmente. Identicamente, se foi suspenso e estava com o serviço
atrasado: não poderá nem atualizar seu serviço, durante
sua suspensão, nem poderá ajudar a algum coleguinha,
que precise de ajuda.
Exercício Funcional Ilegalmente
Antecipado ou Prolongado Funcionário Público só age se tem a posse e o
exercício de seu cargo.
< Objeto da Tutela Penal: a Administração Pública. < Sujeito Ativo: o funcionário público (e também o
funcionário aposentado ou posto em disponibilidade,
< Ação Física: duas: a) entrar no exercício de função ainda vinculado à administração).
pública antes de satisfeitas as exigências legais; b) con-
tinuar a exercê-la, depois de saber oficialmente que foi < Sujeito Passivo: o Estado; eventualmente o particular
exonerado, removido, substituído ou suspenso. prejudicado com a revelação do sigilo.
Igualmente, o funcionário que tiver credenciamento nas compras ou subfaturados nas vendas --- e com isso se
para “acesso restrito” ao sistema de informações ou ao enriquecendo espertalhões (que não raro pagam comis-
banco de dados — só poderá utilizá-lo consentaneamente sões para funcionários públicos, que os ajudam, ou que
com os interesses do serviço público: se utilizar indevida- com eles se ajustam).
mente desse seu acesso, igualmente cometerá o crime.
Em toda concorrência pública há a apresentação dos
Art.325 - ................................... preços e condições de pagamento, qualidade do produto,
etc. Cada "concorrente", dentro de um prazo, apresenta
§ 2º - Se da ação ou omissão resulta
resulta dano à Adminis- sua proposta, que é mantida em segredo (se um não
tração Pública ou a outrem: souber a proposta do outro, todos se empenharão em
apresentar a melhor proposta possível), até que num dia
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. pré-determinado, todas as propostas são abertas e ana-
lisadas, ganhando a concorrência a melhor proposta.
Define-se aqui um tipo qualificado: se da violação do
sigilo — via informática — resultar qualquer tipo de dano Confira, portanto, que o segredo é fundamental: com
(prejuízo), à Administração Pública ou a outrem), então ele se obtém o melhor preços/condições e se impede a
o delito será outro, e muito mais grave, como o revela a fraude de um concorrente (que iria apresentar um preço
pena cominada. bem baixinho) apresentar uma proposta só um pouquinho
melhor que a dos demais, o suficiente para ganhar a
De fato, ao invés da detenção a pena será de reclusão — concorrência.
e não mais de apenas 6 meses a 2 anos, mas de 2 a 6 anos
— e a sanção pecuniária não mais será alternativa (ou) e Será criminoso (art.326/CP) e poderá pegar cadeia
sim cumulativa, como o revela a conjunção aditiva “e”. (detenção de 3 meses a 1 ano e multa) o funcionário
público que devassar o sigilo (antigamente, punham-se os
envelopes selados no bico de uma chaleira; estes se
descolavam, liam-se as propostas e os envelopes eram
Violação de Sigilo de Proposta de Concorrência novamente colados --- o cúmplice do funcionário, por sua
vez, apresentava sua proposta já sabendo qual era a
menor proposta do concorrente e, assim, garantia-se da
Art.326 - Devassar o sigilo de proposta de concorrência vitória, com um preço às vezes apenas um tostãozinho
pública, ou proporcionar
proporcionar a terceiro o ensejo menor que o dos outros).
de devassá-lo:
Atenção-1:
Atenção-1 a Lei nº 8.666/93, em seu art.94 previu a
Pena - detenção, de três meses a um ano, e seguinte conduta criminosa: "Devassar o si-
multa. gilo de proposta apresentada em procedimento licitatório,
ou proporcional a terceiro o ensejo de devassá-lo". Pena:
Pena
< Sujeito Ativo: o funcionário público cujas funções se Detenção, de 2 (dois) a 3 (três anos), e multa.
vinculam às concorrências.
Confira tratar-se da mesmíssima
mesmíssima conduta prevista
< Sujeito Passivo: o Estado; também os concorrentes neste art.326/CP,
art.326/CP mas com a pena bem aumentada. Antes
eventualmente prejudicados. era de "detenção, de três meses a um ano, e multa" e agora
passa a ser de "detenção, de 2 (dois) a 3 (três) anos, e
< Objeto da Tutela Penal: multa. Enfim, está revogado o art.326/CP.
art.326/CP
a moralidade, lisura e igualdade nas concorrências
públicas. Atenção-2:
Atenção-2 a pena de multa não será a prevista, ordina-
riamente, pelo Código Penal. Segundo o art.
< Ação Física: 99 da Lei nº 8.666/93,
8.666/93 "A pena de multa cominada nos
duas: a) devassar, conhecer o conteúdo; b) proporcionar art.89 a 98 desta Lei consiste no pagamento de quantia
o devassamento; dar ensejo a que terceiro devasse. fixada na sentença e calculada em índices percentuais, cuja
base corresponderá ao valor da vantagem efetivamente
< Elemento Subjetivo/Injusto: obtida ou potencialmente auferível pelo agente".
o dolo. Inexiste modalidade culposa.
O funcionário público, entretanto, também poderá ser < Sujeito Passivo: o Estado; secundariamente, o funcio-
sujeito ativo desses crimes. Em todo crime há sempre um nário ou a pessoa que o auxilia na execução do ato
(a) sujeito ativo e (b) um sujeito passivo. O sujeito ativo administrativo legal.
é aquele que comete o crime, e o sujeito passivo é aquele
que sofre a ação criminosa, ou seja, o titular do bem ou < Objeto da Tutela Penal: a administração pública.
interesse, a que a lei está procurando proteger. Nos crimes
previstos nos artigos seguintes, o sujeito ativo é qualquer < Ação Física: é opor-se, contrapor-se, oferecer resistência.
pessoa, tanto podendo ser um "particular", como até
podendo ser o próprio funcionário público. < Elemento Subjetivo/Injusto:
Subjetivo/Injusto: o dolo. Inexiste forma
culposa.
Mas o sujeito passivo será sempre o Estado (Administra-
ção Pública, seja a federal ou a estadual ou a municipal), < Ação Penal:
Penal pública incondicionada.
que será sempre a "vítima" da ação criminosa. Assim, no
crime de "resistência", embora a eventual ação física do O Estado tem obrigações para com a sociedade e as
sujeito ativo seja direcionada contra um funcionário executa por intermédio dos funcionários públicos. Como
público, é a Administração Pública que é prejudicada, por em todo ato administrativo se presume que haja legalida-
não poder executar seu ato. de e interesse público, a nenhum particular é permitido
opor-se à execução de ato administrativo legal (se o ato
No crime de "desobediência", a ordem legal é de um for ilegal não há crime).
funcionário, mas ele apenas age para que se cumpra um
interesse público da Administração Pública, que será a Além da necessidade que o ato seja legal, é também
prejudicada. indispensável que o funcionário que o esteja executando
também seja competente ( investido da autorização legal
Da mesma forma, no "desacato", a ofensa é dirigida para o exercício daquela atividade ou função).
contra um funcionário, mas ele é apenas parte de um todo
(Administração Pública), que é atingido diretamente pelo Mas veja bem: se o ato praticado pelo funcionário não
menoscabo, pela humilhação, sendo desrespeitada. É o for legal,
legal quem resiste a ele não cometerá crime. Se, por
que acontece em todos os demais crimes aqui previstos. ex., o Oficial de Justiça recebe um cheque de um amigo e
vai cobrá-lo, pretendendo "penhorar" (pegar) algum bem
É relevante tal consideração, porque num concurso do devedor, este devedor deverá não só resistir, como até
público perguntou-se sobre a sujeição passiva do crime do poderá dar umas "porradas" (bem dadas) nesse Oficial de
art.332 do Cod.Penal (crime de "exploração de prestígio"): Justiça.
também é o Estado (Administração Pública), que se
prejudica com essa ação criminosa. Da mesma forma não haverá crime se o ato for legal,
mas o funcionário não tiver "competência" (atribuição
Nesse caso a lei quer proteger o respeito, prestígio e legal) para praticá-lo. Assim, por exemplo, quem deve
crédito da Administração de Justiça. fazer um arresto é o Oficial de Justiça. Se aparecer no
local o servente do Fórum (ou mesmo um escrevente
Essa tarefa é prestada pela Administração Pública: ela, qualquer) e pretender pegar qualquer bem, a pessoa pode
pois, é a "vítima" (sujeito passivo). e até deve lhe dar umas "porradas", porque ele não tem
"poder" para tal ato. Se lhe der tais boas e merecidas "por-
radas", impedindo-o de proceder ao arresto, terá feito
muito bem e não cometerá crime de resistência. Essa
Resistência resistência só será criminosa se o particular se empenhar
com violência ou grave ameaça. Imagine-se que o particu-
lar, presenciando um Oficial de Justiça despejar uma
Art.329 - Opor-se à execução de ato legal, mediante família miserável, apenas ordene: "não faça isso", ou
violência ou ameaça a funcionário competente suplique "não faça isso, por favor". Objetivamente, está se
para executá-lo ou a quem lhe esteja prestan- opondo a que o funcionário execute seu ato legal. Sua
do auxílio : resistência, todavia, não é criminosa. Não há que se falar
em "desobediência", porque o funcionário não está dando
Pena - Detenção, de dois meses a dois anos. qualquer ordem ao particular.
§ 1º - Se o ato, em razão de resistência, não se Muitas vezes o funcionário público vale-se do auxílio de
executa: outrem. Se a ameaça ou a violência for contra este
"auxiliador", também caracterizará o crime de "resistência".
Pena - reclusão, de um a três anos. Ex.: o oficial de justiça que é, ou agredido, ou ameaçado,
para não realizar um despejo. Ou o caminhoneiro que
§ 2º - As penas deste artigo são aplicáveis sem
sem pre- auxilia o oficial de justiça no despejo, e é agredido ou
juízo das correspondentes à violência. ameaçado, para não transportar os bens do despejo, a fim
de que, assim, se evite a realização do despejo.
< Sujeito Ativo: qualquer pessoa.
28 = DIR. P E N A L Tribunal de Justiça / São Paulo
Se, em razão da resistência, o ato não se realizar, a está dando uma ordem, que deverá ser obedecida pela
pena será maior. Em qualquer caso, há ainda a pena testemunha. Se a testemunha se recusar a comparecer ao
correspondente à violência, se esta (violência) se concreti- Fórum no dia e hora marcado, estará cometendo crime de
zou. Assim, se a pessoa, para impedir o despejo, deu uns desobediência.
murros no Oficial de Justiça (ou no caminhoneiro),
lesionando-o (machucando), ele será condenado pelo Claro que se esse mesmo Juiz de Direito mandar o
crime de resistência e por crime de lesões corporais Oficial de Justiça chamar um mecânico para consertar seu
(art.129/CP), ou seja, pela violência praticada. Se foi automóvel, tal mecânico só irá se quiser: o Juiz de Direito
além, e matou (!) um dos dois, responderá pelo homicídio não tem poderes para tanto, e, assim, se o mecânico o
(art.121) e pelo crime de resistência. "mandar às favas" nenhum crime terá cometido, porque
tal "ordem" não é legal.
Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa. Não há crime de "desobediência" porque a lei civil
determina como "pena" (sanção) a obrigação de o próprio
< Sujeito Ativo: qualquer pessoa. Oficial de Justiça penhorar os bens; não há "resistência"
porque este não empregou qualquer violência para im-
< Sujeito Passivo: o Estado. pedir qualquer ação do funcionário público; muito menos
haveria "desacato", porque não foi mencionada qualquer
< Objeto da Tutela Penal: ofensa contra o Oficial de Justiça.
a imperatividade e a executoriedade das ordens da
administração pública. A questão é inteligente, exigindo do candidato conheci-
mento sobre três figuras penais (três crimes) e o raciocí-
< Ação Física: nio sobre uma situação de fato. Fique atento.
é desobedecer, deixar de se submeter à ordem legal de
funcionário público. ' Atenção:
Atenção se uma pessoa deixar de atender a uma
ordem judicial, ou a uma requisição do
< Elemento Subjetivo/Injusto: Ministério Público — relativa a Lei de Direitos da Pessoa
o dolo. Não é crime a conduta culposa do delito. Portadora de Deficiência --- não cometerá crime de
"desobediência
desobediência --- mas um crime especial e muito mais
desobediência"
< Ação Penal:
Penal pública incondicionada. grave. É o que estabelece o art.8º, inc.I a VI, da Lei, nº
7.853/90 (de 24/OUT/89):
Este delito é uma espécie do de "resistência", em que o
agente vai se opor a um ato legal, porém sem molestar o "Constitui crime punível com reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos,
funcionário público, nem o ameaçando, nem dirigindo e multa:
violência contra ele. Limita-se a, passivamente, não ...................................................
cumprir a ordem legal dada pelo funcionário público. A lei V - deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem justo motivo,
prevê a possibilidade de os funcionários públicos (Juiz, a execução de ordem judicial expedida na ação civil a
Delegado, Policiais, Oficiais de Justiça, etc.), darem ou que alude esta Lei;
transmitirem ordens a serem cumpridas por particulares
(ou mesmo funcionários públicos outros, que a devam VI - recusar, retardar ou omitir dados técnicos indispensáveis
cumprir). à propositura da ação civil objeto desta Lei, quando
requisitados pelo Ministério Público".
Se o destinatário da ordem não a cumprir, cometerá
crime de desobediência. Todavia, se para não cumprir,
ainda empregar violência ou ameaça, o crime será o de
resistência, sem prejuízo de responder também pelo crime Desacato
relativo à violência.
Mas veja bem: só haverá crime de desobediência, se a Art.331 - Desacatar funcionário público no exercício da
ordem dada pelo funcionário público for uma ordem função ou em razão dela :
legal,
legal ou seja, baseada em lei que lhe dê poderes para dar
a ordem. Assim, quando um Juiz de Direito "intima" (via Pena - detenção, de seis meses a dois anos,
Oficial de Justiça, por mandado) uma pessoa a compare- ou multa.
cer em Juízo, para prestar depoimento, tal Juiz de Direito
Tribunal de Justiça / São Paulo DIR. P E NAL = 29
< Sujeito Ativo: qualquer pessoa. e o fizer, não se valendo das vantagens de seu cargo de
funcionário público do Estado, terá praticado este delito
< Sujeito Passivo: o Estado. do artigo 337 e não o do artigo 334 do Código Penal.
< Objeto da Tutela Penal: a administração pública. É necessário que não se esqueça que o livro ou docu-
mento deverá estar sob a custódia (guarda,depósito) de
< Ação Física: duas: 1ª) edital: as ações previstas são: (a) um funcionário público. Se estiver com um particular, não
rasgar; (b)inutilizar;
(b) e © conspurcar. 2ª) sinal ou selo: haverá o crime deste artigo, a menos que tal particular
(a) violar; (b) inutilizar. esteja em serviço público.
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. expressamente (mudando os fatos), ou negando (dizendo
que não aconteceram os fatos) ou calando (dizendo que
Atenção:
Atenção o caput deste art.342 sofreu duas pequena não sabe ou não viu) e ficar provado que seu testemunho
alterações pela Lei nº 10.268 (de 31.08.2001). Pri- foi falso (prova-se na comparação com os demais
meiramente, incluiu-se o contador
ontador dentre aqueles que depoimentos e com as demais provas do processo),
têm o dever de testemunhar. E, de outro lado, corrigiu-se responderá pelo crime de falso testemunho. Em caso de
o equívoco do texto anterior, que sugeria a existência de engano ou esquecimento fica excluído o dolo, não se
“processo policial”, quando só há o procedimento do configurando o crime.
inq policial — onde também tais personagens da
inquérito policial”
prova oral não podem mentir, negar ou calar a verdade. Mas em juízo (processo judicial), ou na delegacia
(inquérito policial), ou perante a administração pública
Na essência, preserva-se válida a estrutura do tipo (processo administrativo), ou mesmo em juízo arbitral —
penal anterior: não são só as testemunhas as únicas pessoas a prestar
colaboração. Às vezes a pessoa que decidirá (juiz, delega-
< Sujeito Ativo: quem tenha a qualidade de estar sendo do ou administrador) precisa do auxílio de um perito
testemunha, perito, tradutor ou intérprete. (pessoa que conhece profundamente certos ramos técni-
cos e com quem o juiz busca as informações para melhor
< Sujeito Passivo: Estado; eventualmente, a pessoa conhecer o fato). Exemplo: para saber se o réu é louco, o
prejudicada. juiz precisará de conhecimentos psiquiátricos. Como ele,
juiz, nada sabe sobre psiquiatria, determina a um mé-
< Objeto da Tutela Penal: a veracidade das provas na
dico-psiquiatra que examine o réu e elabore um laudo,
Administração da Justiça.
dizendo se o réu é ou não louco.
< Ação Física: qualquer uma das três seguintes: (a) fazer
Outras vezes o juiz recebe no processo um documento
afirmação falsa; (b) negar a verdade; © calar a verdade.
escrito em língua estrangeira. Como não conhece bem o
idioma precisará de uma pessoa para traduzi-lo: nomeará
< Elemento Subjetivo/Injusto: o dolo. Não é crime a
um tradutor, que traduzirá tal documento para que ele,
conduta culposa.
juiz, saiba o seu conteúdo.
< Ação Penal
Penal: pública incondicionada (a sentença final
ficará subordinada ao proferimento da decisão daquele Noutras vezes, a testemunha, ou mesmo o réu, ou a ví-
outro processo em que se deu o falso testemunho ou tima, podem ser estrangeiros, que só falam em sua língua
perícia). estrangeira: ¿como o juiz entenderá e compreenderá o
fato que eles contarão ? Nesse caso, nomeará um in-
Todas as pessoas que são chamadas a colaborar com a térprete que, conforme a testemunha, ou réu, ou vítima,
Justiça têm a obrigação de dizer a verdade, porque se não forem contando o fato, irá ele, intérprete, traduzindo a
a disserem estarão ajudando a fazer injustiças, tanto narrativa ao juiz.
absolvendo quem deveria ser condenado, quanto conde-
nando um inocente. Nem o perito, nem o tradutor, nem o intérprete
poderão faltar com a verdade, nem mentindo, nem
O testemunho é um meio de prova importantíssimo negando, nem calando sobre a verdade.
para a descoberta da verdade de um fato ocorrido, bem
como sobre a culpa ou a inocência de um acusado. Assim, Da mesma forma que a testemunha, tais "colaboradores"
quando uma pessoa for chamada a prestar depoimento do juízo responderão pelo crime de falso testemunho ou
(ser testemunha de um fato) deve contar ao Juiz (ou falsa perícia.
Delegado, se à Polícia for chamado, ou à Autoridade
Administrativa, se for chamado a uma repartição pública, É importante observar também que o crime deste artigo
ou mesmo se convocado por Juízo Arbitral), toda a tem um nome: "falso testemunho ou falsa perícia". Aliás,
verdade que sabe (viu ou ouviu). quase todos os crimes do Código Penal têm um nome.
Assim, quem mata comete "homicídio", quem machuca
Esclareça-se que o “Juízo Arbitral” constitui uma outrem comete "lesão corporal", funcionário público que
espécie de “justiça particular”, em que as partes em desvia bem da repartição pratica "peculato", etc. A
conflito nomeiam um “árbitro” para solucionar sua testemunha tem o dever de comparecer a Juízo e de falar
pendência e se obrigam a obedecer à decisão, que por ele a verdade.
for proferida: previsto na lei n° 9.307/96,, até para
desafogar o Judiciário e contribuir para o restabelecimen- Três, portanto, são seus deveres: o 1º é comparecer (se
to do equilíbrio entre as partes, naturalmente, o Juízo não comparece, pode ser processada por desobediência);
Arbitral também pode precisar de testemunhas ou de o 2º é falar (se se recusar a falar, comete crime de falso
peritos, senão de contador, ou de tradutor ou intérprete — testemunho; e o 3º é falar somente a verdade (se mentir
e não pode ficar sem a proteção contra a eventual falsida- também comete crime de falso testemunho).
de destes personagens.
Significa que, sempre que a testemunha comparecer a
A pessoa que deixar de dizer a verdade, seja mentindo
34 = DIR. P E N A L Tribunal de Justiça / São Paulo
juízo, ou ela falará a verdade (e não cometerá nenhum Haverá suborno quando a testemunha (ou perito, ou
crime), ou ela (aa) mentirá, ou (b
b) se negará a falar: em tradutor, ou intérprete) aceitar qualquer vantagem
qualquer dessas duas hipóteses, o nome do crime será o (dinheiro, emprego, utilidades, etc.) para praticar o falso
mesmo: segundo o art.342/Cód.Penal tal crime tem o testemunho ou falsa perícia ou falsa tradução ou falsa
nome de "falso testemunho ou falsa perícia" (esse aspecto foi interpretação.
questionado nas provas de Pirassununga e de Taubaté).
Mas são duas e distintas as causas de exasperação
Atenção:
Atenção não se deve confundir "testemunha" com "víti- (aumento) da pena: a par da (1) inspiração mercenária do
ma" ou "acusado". Estas pessoas também pres- agente (suborno) — a pena será também agravada (2) se
tam depoimentos, mas não têm compromisso o falso testemunho ou falsa perícia for praticada em (a)
(obrigação) de dizer a verdade. Aliás, o réu tem processos penais ou (b) em processos civis, em que a
até o "direito" de mentir --- embora sua palavra administração pública seja parte.
seja prova (contra ou a favor dele).
O texto anterior já previa o agravamento para a men-
Da mesma forma, a lei dispensa a vítima da obrigação tira praticada em processo penal: esse tipo de processo
de dizer a verdade. Sua palavra é prova, mas sempre tem por objeto a liberdade humana — e nada é mais
tomada com alguma desconfiança, porque ele, compreen- odioso que a produção de uma injustiça, conduzindo ao
sivelmente, pode estar afetado pelo fato criminoso que cárcere um inocente, ou expondo vítima e sociedades à
sofreu (a situação de "vítima" e suas declarações falsas foi absolvição de um culpado — situações que provocarão,
objeto de questão em concurso público: Patrocínio ainda, um desgastante desprestígio ao Poder Judiciário.
Paulista). Eis aí razões suficientes para o aumento da pena.
Outra questão interessante foi formulada em prova da Veja-se, portanto, que a lei não distingue se a mentira
Comarca de Sumaré, indagando se um réu poderia mentir foi em favor ou contra o RÉU. Basta que tenha sido
num outro processo, em que figurava como testemunha. praticada para surtir efeito em processo penal, para que
Sabidamente, a condição de alguém de ser o "réu" dá-lhe o prestador de falso testemunho ou falsa perícia deva
o direito de mentir apenas no próprio processo em que é sofrer uma punição maior.
o réu. Se foi arrolado como "testemunha" em outro proces-
so, terá ali o dever de dizer a verdade: cometerá crime de Mas a grande novidade da alteração legal é a proteção
falso testemunho se mentir e sua pena ainda será agrava- contra as mentiras, que foi dada aos processos civis, em
da, por ser a mentira destinada à produção de prova em que a administração pública seja parte.
processo penal.
Explica-se tal tutela especial ao fato de que tais Entida-
§ 1º/art.342 - As penas aumentam-se de um sexto a um des pertencem à Fazenda Pública — e há de se dar um
terço, se o crime é praticado mediante zelo especial na defesa dos interesses do patrimônio
suborno ou se cometido
cometido com o fim de público.
obter
obter prova destinada a produzir efeito
em processo penal, ou em processo civil Há de se lembrar aqui, que Administração Pública
em que for parte entidade da administra- direta são todos os Órgãos e Agentes do Governo, em
ção pública direta ou indireta. qualquer das rês quatro esferas administrativas: União,
Estados, Distrito Federal e Municípios.
Obs.:
Obs. § 1º tem redação dada p/Lei nº 10.268/01. O texto
anterior dispunha: “Se o crime é cometido com o fim de
obter prova destinada a produzir efeito em processo pe- E a Administração Pública indireta
in são as Autarquias, as
nal: Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa”. Empresas Públicas, as Sociedades de Economia Mista e as
Fundações Públicas — todas com autonomia administrati-
O texto atual tem redação símile à a disposição do va, mas estruturadas no dinheiro público.
anterior § 2º do art.342, que previa que “As penas aumen-
tam-se de um terço, se o crime é praticado mediante Assim, em qualquer hipótese, se a mentira se der num
suborno”. processo cível, em que a Administração Pública direta ou
indireta seja parte — tal falso testemunho ou falsa perícia,
A nova redação é mais branda, prevendo agravação de etc., acarretará prejuízo ao patrimônio público — razão
1
/6 (um sexto) a a (um terço), enquanto a exasperação bastante para que o legislador o proteja da indústria das
anterior era inflexivelmente fixa de a (um terço). fraudes, mentiras, falcatruas e outros golpes.
Assim, se a mentira, pura e simples, já não é tolerada ¿E a mentira em processo trabalhista, ou processo cível
pela lei, menos ainda será se ela, se for praticada porque entre pessoas comuns? A discriminação expressa do (a)
alguém pagou (subornou) o mentiroso para faltar com a processo penal e (b) processo civil, em que a administra-
verdade no processo. Sem dúvida é mais odiosa a mentira ção pública seja parte — deixa claro que não haverá
inspirada na cupidez, no interesse pela pecúnia, a mentira agravamento da pena se a mentira se der em outro tipo de
mercenária. processo.
Tribunal de Justiça / São Paulo DIR. P E NAL = 35
Insista-se na distinção: o falso testemunho ou falsa Se já foi proferida a sentença, então a retratação será
perícia (sem suborno) praticados em processo civil, inútil e o dano da mentira já se consumou — e, por isso,
trabalhista, ou administrativo — sofrerá a sanção do caput não há mais tempo para a retratação e o mentiroso será
do art.342/CP e será punido com reclusão de um a três punido pelo crime de falso testemunho.
anos.
Assim, em qualquer hipótese, se alguém investir para < Objeto da Tutela Penal: a administração da justiça.
corromper (ativamente) um desses Auxiliares da Justiça,
que atue num processo cível, em que a Administração < Ação Física:
Pública direta ou indireta seja parte — tal investida é "usar de violência ou grave ameaça, com o fim de favore-
corruptora poderá acarretará prejuízo ao patrimônio cer interesse próprio ou alheio contra autoridade...".
público — razão bastante para que o legislador o proteja
da indústria das fraudes, mentiras, falcatruas e outros < Elemento Subjetivo/Injusto:
golpes. o dolo e o elemento subjetivo do tipo referente à especial
finalidade da ação (com o fim de favorecer interesse
¿E a investida corruptora de perito, contador, tradutor, próprio ou alheio). Inexiste forma culposa.
etc., feita em processo trabalhista, ou processo cível entre
pessoas comuns? A discriminação expressa do (a) < Ação Penal:
Penal pública incondicionada.
processo penal e (b) processo civil, em que a administra-
ção pública seja parte — deixa claro que não haverá
agravamento da pena se o corruptor ativo agir em outro
tipo de processo.
Exercício Arbitrário das Próprias Razões
Análise do Tipo
Art.345 - Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfa-
< Sujeito Ativo: qualquer pessoa. zer pretensão, embora legítima, salvo quando
a lei o permite:
permite
< Sujeito Passivo: o Estado; secundariamente, a pessoa
que tiver sido prejudicada pela falso testemunho ou Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa,
perícia. além da pena correspondente à violência.
< Ação Física: (a) dar; (b) oferecer; © prometer. < Sujeito Ativo: qualquer pessoa.
Incrimina-se a dação, oferta ou promessa a testemunha,
perito, tradutor ou intérprete, para fazer afirmação falsa, < Sujeito Passivo: o Estado e a pessoa prejudicada.
negar ou calar a verdade em depoimento, perícia, tradu-
ção ou interpretação. < Objeto da Tutela Penal: a administração da justiça.
Tribunal de Justiça / São Paulo DIR. P E NAL = 37
< Objeto da Tutela Penal: a administração da Justiça. "Inovar artificiosamente" o estado de lugar de coisa é a
modificação do local ou ambiente de qualquer móvel ou
< Ação Física: imóvel. Por exemplo, mudando-se o lugar dos marcos de
a) tirar; b) suprimir; c) destruir; d) danificar. limites de uma propriedade poderá ela ficar maior ou
menor; plantando-se ou derrubando-se árvores mu-
< Elemento Subjetivo/Injusto: dar-se-á o estado de um terreno, ou de um prédio;
o dolo. Inexiste forma culposa. abrindo-se ou fechando-se uma janela de um prédio,
poderá estar sendo retirada a prova de um processo
< Ação Penal:
Penal pública incondicionada. qualquer. O mesmo acontecerá com pessoas, como
fazendo-se nela uma operação plástica, para mudar-lhe a
aparência, ou uma vasectomia, para que ela fique impo-
tente de gerar e consiga provar que o filho não poderia
Fraude Processual ser seu (numa ação de reconhecimento de paternidade),
etc. Já se disse que a inovação deve ser, necessariamente,
artificiosa, não pode ser a natural: assim se a árvore
Art.347 - Inovar artificiosamente, na pendência de cresceu naturalmente, ou se um raio a derrubou, não
processo civil ou administrativo, o estado de haverá inovação, nem fraude processual.
lug
lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim de
induzir a erro o juiz ou o perito: Também o crescimento da barba de uma pessoa não é
inovação, embora sua aparência tenha sido mudada. Isto
Pena - detenção, de três meses a dois anos, e porque é algo natural.
multa.
< Sujeito Ativo: É importante que se considere que só haverá tal crime
qualquer pessoa, ainda que tenha interesse direto na se houver um processo, civil ou administrativo, em
causa. andamento. Se não houver o processo em que se pretende
introduzir aquela modificação fraudulenta, não haverá
< Sujeito Passivo: o Estado. crime.
< Objeto da Tutela Penal: a Administração da Justiça. § único - Se a inovação se destina a produzir efeito em
processo penal ainda que não iniciado, as
< Ação Física: penas aplicam-se em dobro.
inovar (modificar, alterar) praticada artificiosamente.
38 = DIR. P E N A L Tribunal de Justiça / São Paulo
< Sujeito Ativo:
Ativo Art.4º - Constitui também abuso de autoridade:
qualquer pessoa, ainda que tenha interesse direto na
causa. a) ordenar ou executar medida privativa da liberdade individu-
al, sem as formalidades legais ou com abuso de poder;
< Sujeito Passivo: o Estado.
b) submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame ou
< Objeto da Tutela Penal: a Administração da Justiça. a constrangimento não autorizado em lei;
< Objeto da Tutela Penal: a administração da justiça. § único - As penas aumentam-se de um terço, se o agente
alega, ou insinua que o dinheiro
dinheiro ou utilidade
< Ação Física: também se destina a qualquer das pessoas
o crime é omissivo: o agente "deixa" de expedir (oportuna- referidas neste artigo.
mente) ou de cumprir (incontinenti) a ordem de soltura.
< Sujeito Ativo: qualquer pessoa.
< Elemento Subjetivo/Injusto:
o dolo. Não há forma culposa. < Sujeito Passivo: o Estado.
< Sujeito Ativo: Vimos que art.322 trata de delito semelhante. Aqui
só o funcionário público (delito próprio). neste artigo o crime é o mesmo, com a especialidade de
que se protege, especificamente, a administração da
< Sujeito Passivo: justiça, e se procura punir quem "vende" influência em
o Estado e o particular que sofre o abuso. Juiz, Jurado (cidadão comum que atua como Juiz de Fato
perante o Juiz), Promotor Público, funcionário da Justiça,
< Objeto da Tutela Penal: a administração da justiça. Perito, Tradutor, Intérprete ou Testemunha. Não é
preciso, aqui como lá, que, efetivamente, o "vendedor" vá
< Ação Física: influenciar qualquer desses "funcionários da Justiça". Basta
é o abuso com que o agente efetua a diligência, ou seja, o que solicite ou receba dinheiro a tal pretexto, porque,
ato judicial, de natureza civil ou criminal. É possível haver assim agindo, já estará lesando a credibilidade, o respeito
abuso ao executar a diligência fora dos casos, como da e o conceito que a Justiça deve ter junto à coletividade.
forma permitida por lei. Também nesse crime especial, se "o vendedor de prestígio"
alegar ou insinuar que o dinheiro será destinado a um
< Elemento Subjetivo/Injusto: daqueles funcionários da Justiça, a pena será aumentada
o dolo. Inexiste forma culposa. de a.
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