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Uma Proposta Indecente Emma Wildes 1
Uma Proposta Indecente Emma Wildes 1
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Wildes, Emma
Edição Digital
Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, locais
ou fatos, terá sido mera coincidência.
SUMÁRIO
Capa
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Epílogo
Notas
Não havia dúvida sobre isso, o homem tinha um toque mágico quando se
tratava de cavalos, e os rumores davam conta de que sua habilidade era ainda
maior quando se tratava de mulheres.
— Ele ganhou, então por que não estaria satisfeito? — Caroline observou a
forma alta do duque desaparecer no camarote com um leve tremor na boca
do estômago.
Agradecida por ter o calor do sol para culpar pelo rubor em suas faces,
Caroline mentiu descaradamente.
para
frente,
seus
olhos
castanhos
se
estreitaram
— Bem, parece... ou então dizem por aí, você sabe... que o belo duque e seu
amigo lorde Manderville que, como se ouviu dizer, herdou a reputação de
seu pai como um libertino de primeira ordem, fizeram uma aposta ultrajante
sobre qual deles seria o melhor amante.
— Sério? — Caroline usava o que ela esperava que fosse uma expressão
muito branda.
— Sim, mas até onde eu sei eles não negaram. A aposta está devidamente
registrada nos livros da White2, e os palpites sobre quem vai ganhar estão se
acumulando em quantidade recorde. Aqueles dois estão sempre
protagonizando escândalos, mas realmente se superaram desta vez.
— Eu esperaria que você dissesse isso, já que é tão pudica. Não posso
precisar se é bárbaro, mas certamente está além dos limites, mesmo para
esses célebres libertinos. No entanto, ainda mais apostas estão sendo feitas
sobre a rapidez com que eles conseguirão encontrar alguém adequado para
consentir em provar o que cada um tem a oferecer. É loucamente perverso,
mas dois dos homens mais bonitos da Inglaterra farão o possível para dar
prazer à escolhida. Imagine o que está reservado para a dama que concordar.
Bem, ela era bastante consciente de sua reputação fria e impassível, mas,
ainda assim, ser chamada de pudica fazia Caroline se sentir na defensiva.
— Eu não sou exatamente uma velha matrona mimada. Posso entender por
que uma mulher sucumbiria a um homem bonito e encantador, capaz de
seduzir sem esforço. Certamente esses dois se qualificariam, já que
supostamente praticaram o suficiente.
— É verdade, mas eu nunca dei a entender que você seja velha ou definhada,
muito pelo contrário. — Sua amiga suspirou com ênfase dramática. — Mas
você não é muito acessível, Caroline. Sei que se protege desde o seu
casamento e da morte de Edward, mas, sendo honesta, você precisa se deixar
viver novamente. Se quisesse, metade de Londres estaria prostrada a seus
pés, querida. É jovem e bonita.
— Obrigada.
— É verdade. Homens fariam filas com flores e sonetos. Não há motivo para
definhar em solidão eterna.
— Não há de quê, mas não é isso. — A atitude desdenhosa não era por que
Nicholas não se importava com as corridas. Seus cavalos eram sua paixão, e
ele era competitivo a ponto de ser um defeito, mas a caligrafia elegante no
bilhete à sua frente o intrigava. Ergueu os olhos e estendeu o pedaço de
pergaminho usando dois dedos. — Veja isto, Derek.
Uma proposta com um desafio. Nossa dama misteriosa tem coragem. Isso
me atrai.
enfrentar.
— Nós não temos que fazer isso, você sabe — Nicholas lembrou ao seu
companheiro, observando seu rosto para avaliar a reação, percebendo que o
conhaque lhe trouxera um brilho ao rosto que o fazia parecer maduro e
introspectivo. — Foi uma brincadeira impulsiva entre dois amigos e nós
tendemos a ser um pouco competitivos um com o outro, o que não é segredo.
Derek assentiu.
— O que faz você pensar que ela é jovem? Aliás, talvez precisemos decidir
o que vamos dizer se nenhum de nós a achar atraente. Isso pode ser um
ponto complicado.
Nicholas teve que concordar com esse ponto. Embora não acreditasse que
uma mulher precisava ser uma beldade estonteante para atrair seu interesse,
parte da química sexual era atração mútua.
A noite se estabeleceu em um padrão de estrelas brilhantes e algumas nuvens
altas e vivas, e o luar obscuro tornou-se visível do lado de fora da janela. Em
um movimento preguiçoso, ele reabasteceu sua bebida e colocou o
decantador perto o suficiente para que seu convidado fizesse o mesmo.
Lentamente, disse:
especulo que ela seja linda, pois o tom do bilhete demonstra certa confiança
de que a aprovaremos.
— Eu acho que você está certo. — Olhos azuis mostraram o usual tom
provocante de seu humor, mas sua boca franziu-se. — Agora eu realmente
mal posso esperar para conhecê-la. Você vai escrever a resposta ou eu
escrevo? Precisamos descobrir um lugar apropriado para encontrá-la
também, já que ela exige total sigilo.
— Vamos deixar a moça decidir. Ela é quem quer impedir que sua identidade
seja conhecida.
— Suponho que devamos, apesar de nossa aposta nos ter elevado a um nível
diferente de libertinagem, como você deve perceber, Nick.
Bem, é claro que havia certo encanto. Ele era Rothay. Gostava de mulheres.
Gostava da suave anuência, de seus corpos fascinantes, a melodia do riso
feminino, as palavras acaloradas sussurradas, trocadas na cama durante um
interlúdio apaixonado, o resultado preguiçoso da culminação carnal. Em sua
opinião, não havia nada parecido com aquele suspiro particular que uma
mulher liberava quando se estava dentro dela, sentindo a força de suas unhas
em seus ombros nus.
Mas amor, não. Satisfazer seu corpo era uma coisa; seu coração, outra.
Ele simplesmente não era um homem capaz de cometer o mesmo erro duas
vezes. Destreza sexual não era um problema. Desde a morte de seu pai,
quando tinha dezessete anos, começara a buscar notoriedade e conseguira
conquistá-la. Sem pensar, murmurou:
— Não — a resposta foi firme. Seu velho amigo o conhecia muito bem.
A última coisa que queria era desenterrar fantasmas do passado. Tomou um
longo gole de seu copo, reclinou-se em sua cadeira e emendou: — Estou
ansioso para isso, quaisquer que sejam nossos motivos.
Eles estavam sentados em sua sala formal de visitas, as altas janelas abertas
para o ar quente da manhã, a elegante combinação de móveis marfim e
dourados refletindo seu próprio gosto; uma redecoração que ela fizera depois
da morte de Edward. Canapés de brocado, duas cadeiras graciosas —
cheiro era uma onda de prazer floral, especialmente em um dia tão lindo.
— Sinto muito por ter estado fora quando o senhor veio na semana passada.
Santo Deus, ele parecia tanto com Edward, com aqueles mesmos olhos azuis
frios...
Os olhos de pálpebras pesadas olhavam para ela com sua habitual avaliação
fria.
Era como ser cobiçada por uma ave de rapina, pensou com desgosto. Não,
um abutre, pronto para pegar a carne de seus ossos se ela não se protegesse.
Ela se empertigou ao ouvir seu tom de posse e pela presunção de que ele
poderia ditar qualquer coisa sobre sua vida, quanto mais ensiná-la sobre
decoro.
— Fui com Melinda Cassat e seu marido, então, não estava sozinha. O
— Ah, mas não vamos esquecer que a senhora é minha prima viúva, então,
eu preciso me preocupar.
— Por favor, não se preocupe. — Ela não queria nada mais do que afastar
definitivamente qualquer associação com a família Wynn. Franklin sempre a
deixava desconfortável. Se pudesse apostar, o interesse dele em seu bem-
estar tinha pouco a ver com sua pessoa e tudo a ver com quanto dinheiro
Edward lhe deixara. Por sorte, o testamento conseguiu resistir aos protestos.
O caso todo fora apenas mais uma lição de como sua independência lhe
custara caro.
— Eu sou uma viúva — ela lembrou a ele em dura reprovação. Então, como
fora ele quem a visitara e insistia em fazer presunções, acrescentou
imprudentemente: — Com minha própria fortuna.
anunciara
seu
visitante
indesejado,
Caroline
sentia-se
Se Franklin soubesse o que era, ele com grande prazer mancharia o seu
nome, e ela não nutria ilusões sobre o que seria capaz de fazer se tivesse a
chance.
— Estou feliz que a senhora tenha gostado, minha querida, mas saiba que
estou sempre à sua disposição. — Franklin se recostou na cadeira, como se
pretendesse ficar por ainda mais tempo, cruzando as pernas —
elegantemente vestidas — sobre os tornozelos.
O ligeiro tom sugestivo de sua voz a fez reprimir um arrepio. Disposição.
Caroline assentiu, mas foi apenas uma inclinação duvidosa de sua cabeça
para cobrir sua repulsa. Em sua experiência amarga, a família Wynn tinha
uma tenacidade que era difícil ignorar, então, um confronto direto não era
uma boa ideia.
— Eu agradeço a oferta.
— Ainda estou ansioso por uma estada sua na casa de campo para que
possamos discutir assuntos como este em nosso tempo livre. Minha mãe vai
me acompanhar, naturalmente.
Embora Franklin tivesse dito que ela poderia usar a casa se quisesse,
recusava-se a aceitar qualquer coisa dele, até mesmo sua hospitalidade.
Quão difícil era manter-se ali, composta, com total calma e a serenidade que
a fazia parecer tão inacessível para os mais impiedosos senhores.
Franklin insistiu:
— Quanto a Londres, atrevo-me a dizer modestamente que posso aconselhá-
la sobre quais convites aceitar ou recusar. Afinal, tenho mais experiência.
O cômodo estava quente demais ou era apenas ela? Caroline lutou contra o
desejo de se abanar e sorriu em vez de fazê-lo.
Ele queria o dinheiro dela. Caroline tinha uma sensação repugnante de que
ele também desejava seu corpo, mas, nem sob ameaça de morte ela
concordaria com essa ideia.
Talvez.
Pareceu passar uma eternidade até que ele olhasse para o relógio ormolu e se
levantasse.
Ela preferia ser atropelada por uma manada de elefantes em fuga, mas de
alguma forma conseguiu formar um sorriso banal.
— Possivelmente.
folha de papel com dedos que tremiam de uma forma traidora enquanto lia a
resposta para sua imprudente proposta.
Doera. Diabos, ler isso em tinta impressa o ferira. Mais do que ele esperava,
embora seu tio Thomas já tivesse lhe contado sobre a proposta de casamento
e sobre o sim, e também dera sua opinião sobre o enlace, comentando que se
tratava de uma união adequada.
Mesmo assim, a pontada de dor que acometera Derek ao olhar para as letras
em negrito do anúncio público, enquanto sentia as implicações da situação se
instalarem em sua alma, abrira um ferimento em carne viva que ainda
sangrava.
Isso estimulou o debate absurdo da outra noite. Nicholas tinha seus próprios
demônios a rondá-lo. Derek estava bem ciente de que seu amigo tivera uma
experiência infeliz que fazia com que mantivesse a guarda alta, por mais
encantador que tentasse parecer. Nick não falava sobre isso e ele não fazia
perguntas sobre o arremedo de romance que se revelou como avareza
calculada, em vez de um sentimento profundo por parte da mulher com
quem Nicholas pensara que iria se casar. Era um acordo tácito entre eles de
não discutir o assunto, não violado durante os dez anos de amizade.
Sem dúvida, Annabel gostava menos dele agora do que nunca. Se isso fosse
possível. Por que ele nunca percebeu que estava apaixonado por ela até que
fosse tarde demais?
Porque ele era um idiota, claro. A jovem amava outra pessoa. Lorde Alfred
Hyatt era um tipo decente, até onde ele sabia, o que só piorava as coisas. Se
Annabel estivesse se casando com um biltre, ele poderia razoavelmente
expressar uma objeção, mas o homem não era isso, então não poderia
objetar, e ela nunca ouviria seu conselho de qualquer maneira.
— Meu Senhor?
tinha ideia de quanto tempo poderia ter ficado sentado ali, em contemplação
sombria. Subiu os degraus até sua casa, assentiu em agradecimento ao lacaio
que abriu a porta e foi direto para o escritório.
Ele afundou na cadeira atrás de sua mesa e olhou suas cartas não abertas
com um olhar cansado.
No topo, havia um envelope simples sem selo, apenas com seu nome escrito
em uma caligrafia precisa na frente.
Curioso, ele arrancou-o da pilha e abriu-a.
Nenhuma assinatura, mas ele reconheceu a escrita do bilhete que havia lido
antes. Bem, a senhora fora rápida, ele precisava admitir. Era uma suposição
fácil adivinhar que Nicholas tinha recebido uma missiva semelhante.
Tudo bem, pensou com resignação feroz. Por que não comparecer, por que
não fazer o melhor para provar sua proeza sexual? No mínimo, teria uma
distração de seu estado atual de autopiedade apática, além de poder se
divertir com uma mulher calorosa e disposta.
Se ele fechasse os olhos, talvez pudesse fingir que estava fazendo amor com
Annabel.
As palmas das mãos dela estavam úmidas debaixo das luvas enquanto ela
afundava em uma cadeira, e o véu parecia sufocá-la. Caroline chegou cedo
—
pois não tinha intenção de fazer uma grande entrada caso os dois homens já
estivessem ali — e tentou ignorar alguns tremores internos.
Bela sedutora sensual que você é, ela zombou de si mesma, nem um pouco
certa de que, mesmo que tivesse chegado tão longe, não quisesse sair
correndo da sala. As vigas enegrecidas no teto baixo pareciam muito
próximas, e uma risada estridente de algum cliente bêbado ecoou com
clareza. O cheiro de cerveja velha derramada pendia como um manto.
Não. Ela endureceu a coluna e ergueu o véu para tomar um gole rápido do
copo. Vivera até aquele momento a sufocante existência de uma mulher que
nunca se arriscava. Nunca tivera a oportunidade de fazê-lo. Era uma chance
imoral e escandalosa de realizar algo tão ousado e completamente fora de
suas características, que ela simplesmente não conseguia deixar passar. Uma
Era uma viúva, então, eles não estariam roubando sua inocência.
Ela não queria nada deles, exceto a sensual promessa implícita na própria
natureza de sua aposta, o que pretendia deixar claro.
Não deveria?
Ela teria que argumentar? Com dois libertinos tão experientes, seu palpite
era de que tudo que eles exigissem fosse consentimento. Suas reputações já
estavam solidificadas.
— Minha senhora, você tem um convidado. — O estalajadeiro obsequioso
apareceu na porta irregular e então correu para longe, para ser substituído
por uma figura alta e sombria, um homem que parou por um segundo antes
de entrar com sua graça predatória habitual.
Rothay.
Ele estava tão bonito como sempre, tão imponente quanto cada sussurro, e o
sedutor levantar de sua boca era apenas parte de sua persona célebre. Seu
olhar inspecionou seu decote e o sorriso se alargou lentamente.
Bom, ele estava intrigado. Contanto que ela não perdesse a coragem e
Algo brilhou em seus olhos, talvez uma percepção de que reconheceu sua
voz. Ele se curvou educadamente, o movimento fluido e natural. Quando se
reergueu, parecia que sua cabeça estava menos de trinta centímetros abaixo
do teto afundado.
— Boa noite.
— Vamos esperar pelo Senhor Manderville? Tomei a liberdade de pedir um
pouco de vinho. Por favor, sirva-se. Também pedi que não tenhamos um
servo. Pareceu... prudente.
Que escolha irônica de palavras. Nada sobre o que ela estava fazendo era
prudente.
— Eu nunca diria uma coisa dessas. Mas admito livremente estar mais
curioso sobre você. O que a levou a nos contatar, se me é permitido
perguntar?
A garrafa de vinho estava na mesa junto com os copos, e ele chegou a tomar
um gole, mas ela tinha a sensação de que estava intensamente interessado
em sua resposta, apesar da aparente indiferença de seu gesto.
O que ele achava? Que ela era uma mulher desesperada e solitária, tão
carente de atenção masculina que se deitaria com dois homens só para ter
um pouco de carinho? Bem, provavelmente era algo lógico, ela supunha,
mas não o caso. Se quisesse companhia masculina, poderia encontrá-la
facilmente.
Mesmo com sua reputação de ser uma mulher fria, cansara de afastar
potenciais pretendentes. Quanto à solidão, certamente preferia ser viúva do
que esposa, então, tudo vinha com um preço.
Pagou o suficiente e era por isso que estava ali. Sentia-se insatisfeita?
Sim, porque havia algo faltando em sua vida, como uma parte gritante de um
quebra-cabeça inacabado que arruinava a imagem. Encontrar aquela peça e
encaixá-la em seu espaço era importante. Afetava todo o seu futuro de todas
as maneiras concebíveis.
A paixão física era um mistério elusivo. Ela não via uma forma de
permanecer respeitável e resolver isto.
pecado, era do tipo mais delicioso. De alguma forma, cercado pelo ambiente
insípido, seu poder era potencializado.
E o que aconteceu em seu leito conjugal certamente não parecia ter nada a
ver com amor, então, ela não tinha certeza se o termo se aplicava. Mas a
compaixão não lhe interessava. Sua ajuda, sim.
— Não julgue a todos nós com muita severidade a partir dos fracassos de um
único exemplo de nosso gênero.
— Não deveria? — Seria bom se ela soasse como quem está flertando, mas
temia não conseguir.
— Na verdade, não. — Seu olhar mais uma vez voltou-se para o volume de
carne pálida acima de seu corpete. — Assim como toda mulher é única,
imagino que também sejamos todos diferentes. Por natureza, acho que os
homens são mais egoístas no geral. Sinto muito pela sua experiência
anterior, mas, mais uma vez, nem todos nós somos iguais.
Caroline sentiu o calor tentador dos olhos dele sobre ela como se tivesse
passado um dedo pela sua pele. Então, novamente, seu carisma não estava
em questão. Eles eram muito desiguais, mas ela não tinha intenção de deixá-
lo saber disso. Com equilíbrio frio, disse:
— Talvez o senhor tenha a chance de provar seu ponto de vista, Sua Graça.
Beber o vinho era impossível sem levantar o véu, então ela tocou a haste de
seu copo, hesitantemente, observando o homem do outro lado do mesa com
contemplação cautelosa.
O conde entrou na sala e deu-lhe a mesma avaliação que seu amigo fizera,
um olhar que se prolongou por um momento no decote de seu vestido da
moda e terminou no pano que escondia suas feições. Um sorriso travesso
revelava dentes retos brancos.
um prazer conhecer-lhe.
— Os dois conhecem.
— Ah, achei que sua voz parecia culta e talvez familiar. Não podemos ser
conhecidos próximos, ou eu a teria reconhecido com mais certeza. Tenho
bons ouvidos para esse tipo de coisa. — Seu sorriso era tão angelical quanto
o do duque era maliciosamente atraente. Enquanto Nicholas Manning
exalava um ar quase perigoso de intensidade, o conde era de uma graça
masculina preguiçosa e despreocupada.
Em suma, eram honrosos à sua maneira, ou ela certamente esperava que sim.
Estava prestes a arriscar sua reputação nessa suposição. O véu fora uma
medida de segurança, para o caso de se recusarem por qualquer motivo.
Mesmo que não cheguemos a um acordo esta noite, quero que ninguém
saiba que alguma vez sequer o considerei. — Sem pensar, ela citou baixinho:
— A cada palavra, uma reputação morre.
— Dou minha palavra sobre isso também. — Derek Drake acenou com a
cabeça loira, e seus olhos apenas se estreitaram um pouco, enquanto ele
olhava para o rosto protegido. — Seu segredo está seguro aqui.
De todos os rostos que ele esperava ver por trás daquele véu, Caroline Wynn
não era um deles. Nicholas considerara demoradamente qual das damas de
seu conhecimento poderia contemplar a participação em sua pequena
rivalidade ultrajante, mas a mulher sentada do outro lado da mesa nunca lhe
ocorreu.
Este era exatamente o seu caso. Talvez independência tivesse sido a escolha
errada da palavra. O que ele valorizava era um pouco mais complexo.
Nicholas sentiu-se um pouco alarmado. Procurou algo diplomático para
dizer.
— Sua Graça, não tenho intenção de me casar de novo. Eu não preciso, pois
sou autossuficiente financeiramente. E ainda que algum dia me case
novamente, não seria da conta de meu marido o que fiz ou com quem fiz
alguma coisa, de qualquer maneira. — Ela deu a ambos um olhar desafiador.
Até parece que não seria, Nicholas pensou, mas admirou a maneira como ela
ergueu o queixo e os desafiou a dizer o contrário. Eram dois pesos e duas
medidas, ele sabia disso.
Os homens gostavam de mulheres promíscuas, mas raramente se casavam
com elas.
— Desde que fiquei viúva, tenho mais liberdade. Ninguém jamais pensaria
que eu faria uma coisa dessas, de qualquer maneira.
— Talvez o senhor realmente não saiba nada sobre mim, Sua Graça.
Ela poderia ter a aparência deliciosa de uma Vênus encarnada, mas nunca
lhe ocorrera que a sensualidade pudesse ferver sob aquele exterior tentador.
depois outro.
Mas aqueles olhos expressivos eram algo completamente diferente. Ele sabia
quando afetava uma mulher, e aquela parecia ser uma daquelas situações.
Com a reservada Lady Wynn? Isto era incrivelmente interessante.
Derek interveio:
Diabos, ela era uma perspectiva muito tentadora. Se eles realmente iriam
passar por isso, Lady Wynn era uma candidata cativante. Era opinião comum
que ela tinha uma verdadeira beleza, com aquele cabelo pesado e lustroso
emoldurando um rosto delicado com maçãs do rosto altas, um nariz pequeno
e reto, uma boca rosada e macia e seus olhos incomuns, de cílios longos e
largos. O fato de ela ser de uma graciosidade esbelta e ter um corpo
curvilíneo e esguio, era algo que muitos homens notavam e comentavam. A
plenitude de seus seios sob o corpete de seu vestido elegante atraiu o olhar
de Nicholas.
Ela realmente era sincera, Nicholas decidiu, e sua resistência inicial à ideia
desapareceu.
Já fazia um tempo desde se sentira desta forma, mas Lady Wynn era uma
jovem fascinante. Como sua personalidade sempre fora distante e fria, algo
que jamais procurara em uma amante, nunca a considerara em nenhum
contexto, especialmente o que estavam discutindo atualmente. Ele falou sem
pensar.
Derek se virou para olhá-lo, com um lampejo de surpresa nos olhos pelo
período sugerido.
Uma semana?
De onde vinha a sugestão impulsiva, Nicholas não tinha certeza, mas sentia
que uma noite com a bela mulher sentada à sua frente não seria suficiente. O
mistério do porquê de ela ter feito algo tão inesperado mexia com ele e o
atraía ainda mais.
O que quer que Lady Wynn esperasse, obviamente não era aquilo. Ela
pareceu desconcertada por um momento, mas depois assentiu devagar. Um
cacho solto de seus cabelos acobreados roçou a coluna de marfim de seu
pescoço e ele observou-o deslizar ao longo de sua pele macia com uma
fascinação quase involuntária. Ela disse:
— Suponho que, se cheguei até aqui, posso concordar com isso. Vou dar
uma desculpa para desaparecer por esse tempo todo.
Excelente.
Uma explosão de uma pequena briga entre alguns dos clientes extremamente
questionáveis na taverna ecoou pela sala, junto com algumas palavras
ásperas que não eram para os ouvidos de uma senhora, mas ela sequer
piscou.
Uma semana com uma mulher que ele nem conhecia era mais do que
impulsivo, era absolutamente irracional. Normalmente, uma noite aqui e ali
era demais, em seu distanciamento lendário, porque suas relações
transitórias não exigiam nada além de diversão passageira. Ele não mantinha
uma amante, porque não precisava de uma. A maioria das damas costumava
entediá-lo em prazo muito curto e ele dava como certo que se desejasse
companhia feminina, poderia tê-la sempre que quisesse.
No entanto, uma voz insidiosa sussurrou em sua cabeça, dizendo que o status
inexperiente de Lady Wynn na arte do prazer sexual a tornava mais cativante
do que a maioria. Ele não estava interessado em deflorar uma virgem, mas
ela não era uma, e sua beleza deslumbrante e feminilidade delicada
anulavam seu senso de cautela sobre o conhecimento de que ela ainda era
jovem e muito desejável no mercado de casamentos.
Ela afirmara claramente que não queria se casar novamente, e ele acreditou,
pois a convicção em seu tom inconfundível.
Uma semana para iniciá-la nos prazeres da carne parecia uma distração
bastante agradável de sua agenda lotada. O Parlamento estava em recesso, e
ele poderia deixar seu administrador ciente de como encontrá-lo, caso fosse
necessário...
Ela corou. Que notável. Palavras grosseiras não tinham o mesmo efeito de
um olhar.
Ele relaxou em sua cadeira, também olhando para sua bela companheira,
como se a aprovasse por inteiro. — Desde que Lady Wynn entenda as
implicações do que aconteceria com sua reputação, caso sejamos
descobertos.
Nenhum de nós jamais dirá uma palavra, mas a tentativa de discrição não é
infalível.
Ela não sorriu de volta, mas simplesmente olhou para ele com aqueles olhos
notáveis, a única traição de qualquer emoção era demonstrada no leve tremor
de seus lábios.
Parecia? Talvez, mas esta confiança era alimentada pelo pouco que sabia
sobre ela. Talvez tivesse sido por isso que sugerira uma semana inteira. Ela
era um enigma em um mundo que ele considerava muito previsível.
— Eu acredito que isso esteja resolvido, então — disse ela, ficando de pé.
— Não, obrigada, Sua Graça. Mesmo aqui, prefiro não ser vista com o
senhor.
Não era o caso de Derek, mas, novamente, ele também não esperava divertir-
se.
O que ele queria não tinha nada a ver com entretenimento. Seus motivos
eram mais parecidos com autoflagelação.
Isso era muito produtivo, ele pensou em auto zombaria, enquanto rodopiava
pelo salão. Sua parceira era muito baixa, e como Derek era um homem alto,
acreditava que parecessem um pouco ridículos juntos. Em voz alta, ele disse:
— Sim, adorável.
Esse tipo de conversa banal certamente lhe renderia a incrível fama de ser
um amante maravilhoso, não é verdade? Para sua sorte, Amélia pareceu
achar sua resposta gratificante, pois sorriu como se ele tivesse dito algo
inteligente.
— Bastante.
— Parece razoável.
— Você nunca passou em sua vida uma quantidade de tempo similar a essa
com uma mulher, além de, talvez, sua mãe.
A duquesa viúva era uma figura formidável, apesar do fato de que mal
chegava ao ombro do filho. Uma beleza de renome no seu tempo, ela ainda
exercia uma grande quantidade de poder social em todos os círculos certos.
— E nem mesmo ela, uma vez que passei a ter idade suficiente para evitá-
la. Eu gosto da minha mãe, mas pensar em uma semana com seus conselhos
constantes me faz estremecer.
— Por isso fiquei surpreso com sua sugestão. Você não conhece Lady Wynn.
— Para Derek, era muito mais fácil se concentrar na aposta frívola do que
em seu próprio estado miserável.
— Está me dizendo que se oporia a ter alguém tão adorável em sua cama por
tanto tempo?
Foi uma atitude idiota, mas ele examinou a sala com um olhar inquieto e
perscrutador.
E a encontrou.
Vamos dizer que está resolvido? — Eles eram amigos há muito tempo. Uma
década, desde que se conheceram em Cambridge em seu primeiro ano na
universidade, e havia uma nota desconhecida na voz de Nick. Derek
relembrou a versão mais jovem do duque de Rothay, ainda sofrendo por sua
— Ela o intriga.
— Um pouco.
Já era hora, com todas as mulheres que tinham ido e voltado da vida de
Nicholas, que alguém o fizesse.
Derek riu.
— Muito. Talvez você possa enganar outra pessoa, mas não a mim.
— Eu gostaria que você não usasse o termo enredar. Isso me faz pensar na
armadilha de um caçador ilegal e em um animal ferido.
Na avaliação de Derek, essa era uma descrição adequada. Só Deus sabia que
ele se sentia dolorosamente pressionado contra uma limitação de vocabulário
por muito menos do que isso. Com inflexão neutra, respondeu:
Ela não o intriga? — Com mil demônios, Annabel e Hyatt estavam no salão
agora, rodopiando entre os dançarinos ao som de uma música popular. Seu
rosto estava corado como uma rosa, a luz brilhando em seu cabelo pálido, e
em um vestido de seda cor de rosa ela parecia... Arrebatadora. Cativante.
Tão bonita que o peito dele doía. Hyatt também parecia feliz e, infelizmente,
embora não fosse particularmente bom em julgar a aparência de outros
homens, Derek sabia que o homem era considerado atraente pelas mulheres.
Sem dúvidas não era um pensamento encorajador, mas ele de fato não
conseguia se lembrar de já ter estado tão desanimado em sua vida, de
qualquer maneira.
— Derek?
Oh, inferno, ele fez uma pergunta, não foi? Removido abruptamente de
— Eu sinto muito.
Nicholas deve ter notado algo estranho em seus modos, mas felizmente não
mencionou isso.
O único consolo era que eles tinham uma regra não oficial, mas inviolável
entre eles: nada de perguntas intrusivas. Um acordo de cavalheiros entre dois
homens que respeitavam a privacidade um do outro.
— Não. Eu tenho certeza de que você vai se sair muito bem também. Mas
lembre-se, é de mim que ela vai lembrar.
ansioso.
definido, seu considerável busto fazendo parecer que ela poderia cair no
chão.
— Não é — ela disse em um sussurro sibilante — algo com que uma pessoa
deveria se surpreender, eu suponho.
Sobre ela.
Ela tinha feito isso. Ofereceu-se a dois patifes desonrosos, concordou com
uma aposta perversa que a arruinaria aos olhos de toda a sociedade, se fosse
descoberta, e a colocaria diretamente no caminho da desgraça e do
escândalo.
Tudo por uma boa causa, uma pequena voz interior lembrou a ela com
inabalável praticidade.
Sua sanidade.
— Com certeza, Lady Wynn, você já ouviu falar sobre a mais recente
aventura deles.
Deus do céu, estava quente e não ajudava em nada ter uma falange de
mulheres mais velhas e matronas por todo lado, encurralando-a
Manderville também, como um deus grego, era tão bonito que parecia
aquecer a sala com sua presença, seus brilhos mútuos fazendo deles o centro
das atenções com ou sem sua infâmia atual.
Oito pares de olhos se fixaram nela. O círculo das viúvas, a maioria delas
pelo menos duas décadas mais velhas do que Caroline, era seu bastião atual
contra qualquer homem que se aproximasse. Era seguro se acomodar em um
canto com elas em vez de aceitar qualquer oferta de dança ou, ainda menos
atraente, desfrutar de um flerte.
Caroline murmurou:
— Tenho certeza de que minha opinião não importaria para nenhum deles.
Sua impertinência mútua é lendária. Acho o assunto totalmente
desagradável.
Outras vozes murmuraram, todas concordando com ela. Mas, por mais que o
grupo pudesse protestar contra o comportamento dos dois senhores em
questão, elas certamente não pareciam ter muita dificuldade em observá-los
de longe.
Ela era, é claro, a inalcançável e distante Lady Wynn. Era natural que
desprezasse uma conversa sobre algo tão discordante com sua própria
existência plácida e reclusa.
No final das contas, não conseguia mais fingir que o tópico do belo duque
era monótono e a entediava. Desculpou-se e saiu para os jardins atrás da
Havia alguns outros convidados no terraço, então ela se esgueirou para onde
os canteiros e arbustos formais estavam dispostos. Vagando por um caminho
escuro, sob um punhado de estrelas acima de um cobertor de diamantes no
céu noturno, ela tentou avaliar suas emoções agora agitadas.
Isso era realmente algo que ela poderia fazer? Uma atribuição secreta para
liquidar uma aposta feita entre dois senhores que admitiram estar sob a
influência de uma grande quantidade de vinho na época?
Seu rosto se aqueceu e ela ficou grata por não haver ninguém para
testemunhar. A avaliação masculina descarada que o duque lhe reservara na
hospedaria não era algo pelo qual não tivesse passado antes, mas sua própria
reação foi muito inesperada.
Por alguma razão, ele não a afetara dessa maneira. Talvez sua parte na
aposta tivesse definido a dinâmica de sua interação desde o começo. A
reunião fora uma escolha sua. Que conceito novo, ter uma escolha.
Sua saia roçou nas folhas lustrosas de algum arbusto conforme ela passava, e
uma flor branca espalhou pétalas sobre o tecido em uma enxurrada, como
uma explosão em uma tempestade de neve. A fragrância era doce, inocente e
sedutora. Ela as afastou distraidamente, virando o rosto na direção de uma
brisa muito bem-vinda.
Pelo menos seus pretensos amantes pareciam capazes de honrar seu pedido
para manter sua identidade em segredo. Nenhum deles tinha sequer olhado
para ela no decorrer da noite.
Ninguém em Londres tinha outra coisa para conversar a não ser aquela
aposta infernal? A xícara tremulou no pires quando ela a colocou de lado e
uma pequena porção de chá derramou sobre a borda. Annabel Reid rangeu
os dentes e esperou que ninguém notasse, fazendo o seu melhor para parecer
o mais composta possível.
Parte da atual onda de interesse surgira, ela sabia, pelo aparecimento de
ambas as partes envolvidas no baile de Branscum na noite anterior. Eles
ficaram conversando por um bom tempo e, como de costume, aparentemente
indiferentes aos sussurros crescentes. Juntos, eram como sempre
impressionantes; o duque com sua boa aparência sombria e impressionante,
além do ar natural de poder que emanava dele tão facilmente, e Derek
Drake, a quem ela conhecia desde que podia andar, com sua devastadora
beleza e charme sem esforço.
Profundamente.
Completamente.
— Sinto muito, minha querida senhorita Reid, mas você não é parente de
Manderville?
Annabel olhou para cima, percebendo com pesar que o assunto era com ela.
Um grupo de oito senhoras a olhava com expectativa, entre elas sua
— Não, não. De modo algum. Seu tio é meu guardião. Esta é a extensão do
parentesco.
Era a verdade. Não havia laços de sangue. Thomas Drake e seu pai tinham
sido amigos íntimos por toda a vida, e este vínculo fora profundo o
suficiente para que providências fossem tomadas para no caso de o pior
acontecer — e acontecera —, que seu cuidado fosse confiado a seu velho
amigo. Ela ficara completamente desnorteada quando, aos oito anos, seus
pais morreram em um acidente de barco. Mas não importavam seus
pensamentos sobre o infame sobrinho dele, Derek, porque Sir Thomas era
um homem maravilhoso, e ele e sua esposa Margaret a tinham tratado como
sua própria filha. De certa forma, uma vez que nunca foram capazes de
terem seus próprios filhos, Annabel se perguntou se ela não fora uma bênção
para eles como eram para ela. De qualquer forma, embora amasse Thomas e
Margaret, Derek era outra história completamente diferente.
Todas olharam para ela com expectativa. Claro, porque estavam falando
sobre Derek Drake e quando seu nome era mencionado em uma sala cheia
de mulheres ele não passava despercebido.
Maldito fosse.
Sim, era um pouco irritante saber que ele realmente possuía a casa que ela
considerava como seu lar. Seu guardião era o irmão mais novo do conde
falecido, pai de Derek. Sobre esse assunto, ela tinha a desconfortável
impressão de que fora Derek a fornecer seu dote. Quando Annabel
perguntou a Margaret abertamente, ela foi evasiva sobre o assunto e
Margaret não era de mentir, então isso fora resposta suficiente. Thomas ia
bem financeiramente, mas Derek detinha a verdadeira riqueza da família.
Isso era uma ironia. O homem que ela amara no passado dando dinheiro
como um incentivo para outro homem se casar com ela.
— Ele é uma década mais velho — Annabel apontou —, então não o via
com tanta frequência. Quando eu tinha oito anos, ele foi para Cambridge e
parece preferir Londres a Berkshire. Nós raramente o vemos. Mesmo quando
estamos na cidade, ele tem sua própria casa.
Outra dama, ela tinha quase certeza de que seu noivo a chamara de tia Ida,
murmurou:
— Ele na verdade tem muitos interesses comerciais e é mais fácil ter acesso
a seus advogados e administradores enquanto estiver na cidade.
Ela o adorara quando era criança. Com seu sorriso travesso e humor fácil,
ele fora um herói para uma garota que de repente ficou órfã. Em retrospecto,
reconhecia sua gentileza em suportá-la, uma vez que o seguia por toda parte.
Que um jovem de dezoito anos tivesse tido tempo para dar um pônei a uma
criança e ensiná-la a cavalgar era um ponto a seu favor, mas ainda assim... o
homem era um patife desprezível. A aparência angelical que a natureza lhe
conferira era o pior tipo possível de fraude. Ele deveria ter vários chifres e
um rabo bifurcado para combinar com seus olhos hipnotizantes e aquelas
feições bem esculpidas.
Uma das primas de Alfred riu, seu rosto jovem mostrando um leve rubor. —
— Ele está sempre cercado por escândalos — disse a tia magra novamente,
mas havia um brilho malicioso em seus olhos. — Não foi há alguns meses
que Lorde Tanner ameaçou nomear Manderville em seu processo de divórcio
contra a esposa por motivos de adultério?
Depois que o interminável chá terminou, ela ficou grata por ser entregue à
carruagem que a aguardava. Logo estaria casada e sua associação com Derek
Drake seria cortada de uma vez por todas. Bem, não completamente, porque
sua tia e tio o tinham em alta conta, e considerava Thomas e Margaret como
seus pais, mas pelo menos não teria mais que suportar sua companhia com
muita frequência. Além disso, quando o fizesse, Alfred estaria ao seu lado e
isso ajudaria.
Ajudar com o quê? A pergunta silenciosa a fez olhar pela janela enquanto o
veículo se movia.
Sobre ele.
Era linda e muito reservada. Exatamente o que eles precisavam para o seu
pequeno interlúdio.
Não era muito tarde, lembrou a si mesma, para pedir a Huw que desse a
volta para levá-la de volta a Londres e esquecer essa louca escapada. Além
do risco que estava assumindo, depois que as próximas semanas
terminassem, como se sentiria?
Como uma prostituta por oferecer-se a dois dos mais célebres patifes da
sociedade?
Pelo contrário, ela disse a si mesma com firmeza quando o veículo parou e
seu estômago revirou, era parte da aposta entre ele e o conde que ambos
— Olá, Sua Graça. — Caroline conseguiu manter o tom de voz, embora seu
pulso estivesse acelerado. O duque se elevou sobre ela e seus ombros
pareciam assustadoramente largos.
Seus olhos escuros olhavam para ela com um leve resquício de humor.
— Espero que você esteja preparada para uma semana de vida rústica.
Tão rápido? Caroline não tinha certeza do que ele quis dizer com essa
observação e uma habitual incerteza a dominou. Invocando cada grama de
bravura, murmurou em um tom frio.
Agora ele definitivamente parecia divertido, a julgar pela forma como sua
boca finamente modelada se contorceu.
— Falou como a famosa e fria Lady Wynn. Por favor, tenha em mente que
só mencionei chá.
Ela estava bem ciente de sua reputação de ser distante e fria. Foi por isso que
embarcara naquela aventura.
— Sim, nós sabemos. — Ele ainda segurava a mão dela, seus longos dedos
envolvendo-a de forma leve. Era uma liberdade, mas dadas as
circunstâncias, como ela poderia objetar?
Ele se inclinou para frente, perto o suficiente para que seu hálito quente
roçasse a orelha de Caroline.
Para seu alívio, ele não disse mais nada e soltou sua mão.
— Vamos entrar?
Ela passou por ele e entrou na sala de estar, mais do que um pouco abalada
pela breve intimidade de seu contato. Não importava o quanto os arredores
fossem campestres — ela notou, agradecendo pela distração bem-vinda —,
com seus painéis de madeira polida, belos pisos e tetos altos, o
Nicholas Manning olhou ao redor. O corredor levava a uma área aberta com
uma lareira muito grande, com cadeiras e sofás reunidos em círculos. Do
outro lado, uma escadaria esculpida e graciosa se curvava para cima.
O tom seco de sua voz demonstrou a Caroline que sua referência à herança
era autodepreciativa, e ela deu uma risadinha, apreciando sua falta de
presunção.
— Eu duvido que a maioria das pessoas sentiria pena de você por causa de
um excesso de riqueza, Sua Graça.
Mas, assim como qualquer outra coisa, também possui suas desvantagens. A
Sra. Sims irá mostrar-lhe o seu quarto e, quando estiver pronta, por favor,
junte-se a mim para um refresco.
A governanta era idosa. Sua voz suave exibia um leve sotaque escocês, e ela
escoltou Caroline até um belo quarto com uma vista gloriosa do jardins dos
fundos, com janelas abertas que deixavam entrar o doce aroma de rosas que
desabrochavam. Para uma casa de campo, os móveis eram certamente ricos,
embora datados, e a cama grande era revestida de seda azul-claro; o tapete
luxuriante e estampado de marfim, rosa e índigo. O efeito geral fazia com
que ela se sentisse como uma convidada de honra, mas não podia deixar de
se perguntar se aquela suíte elegante não deveria pertencer à dona da casa.
No entanto, seria necessário mais do que um belo quarto para atingir este
objetivo. Ela olhou para a porta ao lado e sentiu mais um tremor de
antecipação.
Um conto de fadas que se preze não estava completo sem uma linda donzela.
No entanto, sentado agora em frente à encantadora Lady Wynn, ele não tinha
certeza se fora um erro tão grande, no fim das contas.
Até mesmo o jeito como ela tomava um gole de chá, com um suave levantar
das mãos, os lábios mal tocando a borda da xícara, era reservada e contida.
Seu olhar parecia focado em algum objeto distante não identificável,
Ele mal podia esperar para arrancá-lo de seu corpo, decidiu com impaciência
incomum. O volume sob o decote modesto atraía seu olhar, provocando
especulações nada cavalheirescas sobre como seria tocar e saborear aqueles
seios tentadores.
— Chame-me de Nicholas.
— Se o senhor quiser.
Minha mãe morreu quando eu era criança, e meu pai era um homem
ocupado, então, passei muito tempo em Londres com minha tia, quando não
estava na escola. Foi ela quem providenciou meu debut e meu casamento.
— Irmãos ou irmãs?
— Não.
Extrair conversa de uma mulher não costumava ser uma tarefa tão difícil.
Mulheres com intelecto não o incomodavam como acontecia com alguns dos
outros homens de seu convívio. Ele também gostou da forma apaixonada
como ela lhe contou tudo isso.
— Quem mais?
Até que ele dirigiu a conversa de volta para sua família. O entusiasmo
desapareceu de sua expressão e ela voltou a prestar mais atenção à sua xícara
de chá.
— Como disse antes, eu morava com minha tia. Ela morreu apenas um mês
depois de Edward.
Ele não pôde evitar que suas sobrancelhas se arqueassem com o tom cortante
que ela usou.
— Entendo.
Ela o olhou por cima da borda da xícara e depois colocou-a de lado com o
que parecia ser um cuidado deliberado. Aqueles luminosos olhos cinzentos,
tão adoráveis, enquadrados por grossos cílios que mais pareciam rendas,
eram muito diretos.
— Perdoe-me, mas, não, você não entende. Nunca foi casado com um
homem de quem não gosta muito. Nunca foi subserviente aos caprichos de
outra pessoa e, por favor, admita que percebe a diferença entre os gêneros
em nossa sociedade, que permite que os cavalheiros com títulos façam
apostas extravagantes que enaltecem sua falta de virtude, enquanto as
mulheres são julgadas mais severamente por manterem as suas.
Por um momento, Nicholas não soube o que dizer. Lady Wynn não flertava,
ele já havia percebido isso, e aparentemente tinha a capacidade de ir direto
ao ponto e ser agradavelmente honesta. Depois de uma pequena pausa, ele
inclinou a cabeça.
Eles podiam não se conhecer muito bem, mas tinham isso em comum.
— Não acredite em todos os rumores sobre mim, mas esse está correto.
ele, mas, de uma maneira abstrata, talvez fosse. Em sua defesa, ele não se
envolvera com ninguém que pudesse levar o jogo da sedução de maneira
séria. Ele sorriu com indolente preguiça despreocupada.
— É claro que sim. — Desde Helena, ele achava que os casos amorosos
eram mais fáceis de serem mantidos simples e puramente por prazer físico.
— Bem, ninguém sabe que estou aqui, Sua Graça. Estamos sozinhos,
anônimos e livres para fazermos o que quisermos.
— Conversar?
evidente que, apesar de sua compostura, ela mostrava-se muito nervosa, mas
também consciente dele como homem.
Os olhos cinzentos brilhavam, e seu tom de voz soou abafado quando ela
respondeu:
— Não, se eu não quisesse dizê-lo. — Ele era sincero. Seduzir mulheres para
levá-las para a cama não incluía falsos elogios. Não precisava de coerção, e
se ela não concordava com seu comentário, era mais inocente do que ele
imaginara. Certamente alguém com sua beleza extraordinária deveria ter
recebido homenagens poéticas suficientes para durarem por uma vida inteira.
— Já que não é a primeira vez que ouve algo assim, por que não confiar na
minha sinceridade?
Com muita delicadeza, ele tocou o cabelo dela, apenas um roçar das costas
de seus dedos sobre aqueles fios vibrantes e sedosos. A cor fazia com que se
lembrasse do outono pelo rico tom de marrom com reflexos de vermelho.
Algumas mechas soltas emolduravam seu rosto oval e brincavam ao redor da
esbelta coluna de marfim de seu pescoço. A cor quente combinava com ela,
apesar de sua reputação fria e distante.
Estava prestes a fazer outra aposta imprudente de que ela não era fria de
fato. Seu marido obviamente fora um imbecil entre quatro paredes, mas seria
um deleite para Nicholas mostrar-lhe os benefícios do prazer mútuo entre um
homem e uma mulher.
Qualquer resposta que ela pudesse lhe dar foi silenciada quando ele inclinou-
se e tomou seus lábios. Suas mãos se posicionaram na cintura fina, em um
aperto firme, mas não insistente, conforme ele suavemente moldava suas
bocas juntas. Quando se tratava de mulheres, costumava confiar em seus
instintos. Ele já havia percebido que, naquele caso, a persuasão seria mais
Que diabos?
Parecia impossível que uma mulher casada há vários anos nunca tivesse sido
beijada de maneira íntima, mas ele pôde sentir uma reação hesitante à
exploração de sua língua, como se ela não tivesse a menor ideia do que fazer.
Àquela altura, ela estava aninhada contra a crescente ereção dele, de modo
que não havia dúvidas sobre o que sua sugestão implicava. Mas, novamente,
não era para isso que estava lá? Caroline assentiu. Nicholas se afastou,
pegou a mão dela e sorriu.
Ela não sorriu de volta, mas olhou para ele por um momento, com seus olhos
incríveis arregalados e suas bochechas coradas. Não era um mal sinal, ele
notou quando ela permitiu que ele a levasse para dentro e subisse as escadas
para o quarto. A casa estava quieta no final da tarde, a Sra. Sims, sem
dúvida, ocupada em organizar os preparativos para a inesperada visita. Não
havia tempo para convocar mais funcionários, e já que sabia que Caroline
valorizava o anonimato, não levou nenhum dos seus, exceto o motorista. Até
mesmo seu valete permanecera em Londres, então, o quarto estava vazio e,
quando fechou a porta, soube que permaneceriam em total privacidade por
quanto tempo quisessem. A governanta tinha instruções para não perturbá-
— Conveniente, não é?
Nicholas sorriu, seu olhar cálido admirando o quanto ela parecia graciosa e
feminina no ambiente masculino de seu quarto. Os móveis eram exagerados
em tamanho, a cama grande estava em um estrado, as proporções enormes e
a madeira esculpida escura tinham séculos de idade. Um de seus augustos
antepassados posava com roupas aristocráticas em um retrato sobre a lareira.
Sua ereção pulsava desde aquele beijo, forçando o material justo de suas
calças.
Ela não resistiu quando ele soltou seu longo cabelo para que caísse pelas
costas. Parecia uma seda quente enquanto se derramava sobre suas mãos, e a
fragrância veranil era doce e feminina. Depois de desabotoar o vestido, ele a
beijou suavemente de forma tranquila, tomando cuidado para não apressá-la
ou alarmá-la. Levantando-a em seus braços, levou-a para a cama e tirou os
calçados e as meias com a mesma habilidade, admirando sua nudez com
puro apreço masculino enquanto se sentava para tirar as próprias botas.
Vestida apenas com seu chemise, ela era perfeita, uma Vênus de cabelos
castanho-avermelhados sob o sol poente do fim da tarde que entrava pelas
janelas altas, com seus membros macios e a pele pálida e impecável,
emoldurada por uma torrente de madeixas brilhantes. Os seios fartos
tremiam a cada respiração, e seus belos olhos pareciam mais escuros,
dilatados, a singular cor prateada temperada pela paixão.
Ou medo.
Ele baixou as mãos, a camisa aberta até a cintura, sem saber como lidar com
essa inesperada reviravolta.
— Nós não temos que fazer isso, você sabe. É só dizer. Podemos beber
vinho ao sol, e você pode partir amanhã, se quiser.
Ele não estava acostumado a nada menos do que uma total ansiedade de suas
parceiras, então, a resposta era um retumbante sim. No entanto, agir com
diplomacia parecia a melhor opção. Nicholas disse devagar:
— Acho bem óbvio que você não está totalmente à vontade, minha senhora.
A aposta foi feita em um momento estúpido entre dois cavalheiros que
terminaram com ressacas pesadas na manhã seguinte. Por mais que sua
presença na minha cama seja atraente para mim, você não precisa continuar
com a sua oferta.
— Não admira que o seu charme seja lendário, Rothay, mas você acha que
eu me voluntariei levianamente? Das damas de seu conhecimento, devo ser a
menos provável de ser encontrada em sua cama, mas estou aqui, e cabe a
você me seduzir, correto?
Ela tinha razão. Uma mulher temerosa e nervosa não era o que ele ou Derek
tinham em mente, é claro, mas ela se apresentou, eles concordaram, e
Nicholas estava ansioso para ficar sozinho com ela.
— Só se você quiser.
Por que diabos ela estava lá, se a ideia de compartilhar sua cama a fazia ficar
pálida e tremer de medo?
— É o que eu quero.
Era assustador.
— Você é virgem? — ele fez a pergunta em voz baixa, sem saber como
agiria se ela dissesse sim. Não iria fingir que não notara a reação dela ao seu
beijo. Aquilo não tinha mais nada a ver com a aposta ridícula. Para ela, ele
começava a perceber, nunca fora, na verdade.
Mais do que um pouco perdido, Nicholas continuou parado ali. Ele sabia
tudo sobre os jogos sexuais que homens e mulheres jogavam juntos, mas não
era o caso. Aquilo não tinha nada a ver com sedução despreocupada. Ele
sentou-se e tocou-a, apenas uma leve pressão no queixo, de modo a fazer
com que o rosto dela se virasse na direção dele. Lágrimas brilhavam em seus
cílios, o que ele percebeu com um pequeno choque de desânimo.
Mas aqui estava ela, quase sem roupa, com os cabelos soltos, na cama dele.
Caso se acovardasse agora, a oportunidade escaparia.
Nicholas inclinou-se para frente e, para sua surpresa, em vez de tomar sua
boca em outro beijo devastadoramente perverso, ele levou os lábios aos seus
traidores cílios molhados. Beijou suas lágrimas com suavidade e, ao mesmo
tempo, alguns de seus medos. Quando se deitou ao lado dela e a puxou para
si, ela fez o melhor que pôde para relaxar, mesmo dentro do círculo forte de
seus braços.
Ela desejava ter alguma ideia do que ele queria dizer, mas não podia nem
arriscar um palpite.
Em sua propriedade isolada, em sua cama, presa em seus braços. Por que
mais, de fato, exceto pelos esclarecimentos que ela esperava que ele lhe
trouxesse?
Muito lentamente, ele inclinou a cabeça mais uma vez. Seus lábios se
tocaram, se uniram.
Era agradável. Não, esta não era uma palavra boa o suficiente. Era mais que
agradável. A pressão provocante de sua boca a fazia estremecer.
— Tudo o que vou fazer é provar você. — Sua voz continha uma nota rouca
e leve enquanto sussurrava contra sua pele. — Nada mais. Posso?
Ela percebeu que os dedos dele seguravam a fita que amarrava o corpete de
seu chemise, e ele estava pedindo permissão para abri-la.
Pedindo permissão. Isso era certamente novo em sua experiência. Pensar que
sua vontade seria considerada era reconfortante.
Mas a ideia de que ele queria vê-la nua era decididamente inquietante.
Era um dilema. Por mais que a última coisa que quisesse fosse que Nicholas
simplesmente erguesse sua saia e seguisse em frente, sentia-se constrangida
com a ideia de ficar nua diante dele, ou qualquer outra pessoa, à luz do dia,
ainda por cima. Sabia que nada seria fácil, mas, enquanto ele esperava
educadamente em silêncio, sentiu um estranho lampejo de confiança.
Ela não pôde deixar de fechar os olhos ao sentir o deslizar de seus dedos por
sua pele sensível. A palma quente acomodava completamente um de seus
seios e, para sua surpresa, o olhar cálido aliviava algumas de suas
apreensões.
Aqueles olhos. Escuros como a meia-noite, sedutores como o pecado,
emoldurados por cílios longos e grossos em contraste com as linhas
cinzeladas de suas feições. Quando permitiu que suas pálpebras se
erguessem, Caroline o fitou, percebendo de súbito que ele estava esperando,
parado, apoiado em um cotovelo e observando sua expressão enquanto
mantinha a mão em seu seio.
Esperando pelo quê? Caroline não fazia ideia. Era humilhante, e ela
desprezava Edward ainda mais por sua ignorância.
Já que era óbvio que ele fora capaz de enxergar através do disfarce de viúva
equilibrada a partir do momento em que a beijara no terraço, parecia inútil
disfarçar.
— Você não está acostumado com mulheres como eu — ela respondeu com
o máximo de dignidade possível, apesar das circunstâncias — e,
consequentemente, não está acostumado a perder.
Porque ela era um fracasso total na cama. Ele estava acostumado com as
senhoras urbanas e sofisticadas que usualmente conquistava. A distância
entre aquelas senhoras habilidosas e sua inépcia era imensa.
— A perder? — Ele sorriu, então, como um menino, mas a conotação da
curva inebriante de seus lábios era puramente a de um homem adulto.
Mesmo em sua situação delicada, ela sentiu a promessa com um leve arrepio
de
— Sinto escárnio?
Ela gostou de seu tom de provocação leve, e isso começava a aliviar sua
apreensão. Não era de se admirar que dezenas de mulheres tivessem
sucumbido, ela pensou, conforme uma estranha onda de calor se avolumava
por entre suas coxas. Apesar de sua altura impressionante e força óbvia, ele
lhe transmitia a impressão de poder sem ameaça, de carisma masculino sem
dominação. Até mesmo seu sorriso carregava uma promessa quente e
sensual.
Talvez sua ideia escandalosa e impulsiva não tivesse sido tão ruim, afinal.
Ah, sim, ela estaria arruinada para sempre se alguém descobrisse, mas podia
valer a pena.
Quando ele abaixou a cabeça e levou o bico do mamilo à boca, ela reprimiu
um frágil suspiro com esforço, embora tivesse a impressão de que ele o
havia sentido. A ideia de um homem adulto querer sugar seus mamilos era
surpreendente, mas enquanto ele cuidava de um seio e depois do outro,
Caroline percebeu que era maravilhoso. Uma luxuriosa sensação de prazer
começou lentamente a cativar seu corpo enquanto ele provava e acariciava.
Sua boca quente traçava os contornos do vale entre eles, deslizando para
baixo e retornando para os bicos, agora rígidos e reluzentes.
Mas tudo o que ela fazia era ficar parada, deitada, e tinha certeza de que
deveria haver mais do que isso.
Uma das mãos de dedos longos do duque deslizou pela lateral da perna de
Caroline, acariciando a parte de baixo de seu joelho. De alguma forma, era
delicioso. Caroline nunca pensara que aquele lugar fosse tão sensível.
pé de volta sobre a cama. Quando ele tomou seus lábios em outro daqueles
beijos demorados e íntimos, sua boca se demorou na dela, e ele fez o mesmo
com a outra perna, até que ela ficasse com as duas ligeiramente separadas, e
embora o chemise ainda cobrisse seu sexo, a posição sugestiva fez a bainha
deslizar para o topo de suas coxas.
Ele já a havia chamado de fria, e isso não ficava muito longe de frígida.
Este fora o motivo do desprezo de Edward, então, ela abriu a boca para se
defender, mas nenhuma palavra saiu.
Ela ficou rígida, em estado de choque total, tão atordoada que nem se opôs à
maneira como ele ergueu sua camisa, expondo-a da cintura para baixo.
A boca de Nicholas roçou seu ponto mais íntimo, acomodando-se nele por
completo. A sensação resultante, enquanto a língua mergulhava entre suas
dobras femininas era... uma revelação.
O diabólico duque tinha a boca entre suas pernas, a seda escura de seu
cabelo roçava a parte interna das coxas e sua língua atrevida começava a
fazer algumas coisas muito interessantes.
Pequenos choques de prazer inundaram seu corpo, e ela torceu as mãos nos
lençóis, como se a ideia de segurar em algo pudesse impedi-la de voar para
longe. Suas sensibilidades afrontadas dominaram sua mente por apenas um
momento e a levaram para longe em um delírio arrebatador.
Oh, Deus!
Nicholas riu, um som breve, que vibrou contra o sexo latejante de Caroline,
e ela percebeu que dissera as palavras em voz alta. Em circunstâncias
normais, teria sido o suficiente para fazê-la corar, mas nada daquilo era
normal. Ele segurou seu corpo, mantendo-a escrava de sua posse erótica, e
ela afastou ainda mais suas coxas, erguendo um pouco os quadris enquanto
uma estranha antecipação se construía.
Era isso. Era por isso que as mulheres sussurravam por trás de suas mãos,
agitavam seus leques e falavam do belo duque de cabelos escuros com
insinuações reverentes e astutas, além de suspiros ardentes. Quando o prazer
erótico tomou conta dela, Caroline estremeceu em uma reação involuntária.
Não havia nenhuma maneira de silenciar um gemido e uma vez que este
escapou, descobriu que nenhum outro som importava, apenas a misteriosa
necessidade que crescia dentro dela. Foi mágico, indescritível, cativante. Seu
sangue aqueceu, seu pulso disparou e ela se arqueou em um movimento
involuntário para aumentar a pressão daquela boca sedutora.
Algo que encontrou ou talvez ela mesma tivesse sido encontrada. Uma
alegre explosão, como se estivesse despencando de uma grande altura, tendo
o ar arrancado de seus pulmões, fazendo-a soltar um pequeno grito quando a
alegria física a percorreu, fazendo-a arquear-se e estremecer.
Uma parte dela queria arrancar o sorriso de satisfação de seu rosto, mas
outra, a parte que a colocara naquela situação exatamente por aquele motivo,
queria agradecer-lhe do fundo do coração.
— E então?
A MULHER TÃO DELICIOSAMENTE ESPARRAMADA SOBRE SUA
CAMA ERA UM
Aqueles lábios carnudos e macios que ele beijara eram da mesma cor dos
mamilos, ambos escurecidos até um tom rosado por causa de seus beijos.
Tudo, desde o delicado arco de suas sobrancelhas, à linha reta de seu nariz
pequeno, passando pelo formato de seu queixo, sustentava uma feminilidade
quase frágil. Ele tinha que admitir, estava cativado por sua aparência física.
Isso mostrava que a oferta de Caroline para julgar sua aposta imatura não era
apenas o capricho de uma viúva entediada, mas uma lição de coragem.
Ela dera um grande passo para libertar-se daquele medo inato que a
mantinha tão fria e distante.
— E então?
Ele ainda sentia o gosto dela, o resíduo doce do gozo em seus lábios.
— Acho que é injusto da minha parte perguntar como estou indo até agora,
então, vou me expressar de outra maneira. Gostaria de se vestir e dar um
passeio nos jardins? Eles ficam muito bonitos nesta época do ano. Eu
tinha me esquecido disso, porque faz muito tempo que não venho para cá,
mas dei um passeio enquanto a esperava chegar e foi um momento adorável.
— Mas você não... isso é... — Um rubor vívido inundou suas bochechas e
sua mão deslizou para a bainha da chemise, mas não a puxou para baixo para
se cobrir, embora fosse fácil adivinhar que queria fazê-lo... Seu olhar
desviou-se para a evidente excitação de Nicholas, visível através do tecido.
— Eu posso esperar.
Seu pênis ereto concordava com ela de todo o coração, mas se quisesse
conquistar sua confiança, era melhor ir com calma. Ele estendeu a mão,
ajeitou o chemise por cima das coxas e segurou o laço de seu corpete,
arrependendo-se imediatamente ao cobrir o que era, sem dúvida, o melhor
par de seios que ele já havia tocado e provado.
Enquanto fazia a pergunta, deu-se conta que ela ainda não tinha feito uma
coisa. Mesmo que a tivesse beijado, provado seus deliciosos seios e a levado
ao clímax com sua boca, Caroline não o tocara, nem uma única vez. Nada
dos dedos dela em seu cabelo, nem aquele aperto revelador em seus ombros,
nem mesmo uma mão descansando em suas costas.
Nicholas fez um voto silencioso de que antes que aquela semana terminasse,
conseguiria mudar isso. Tinha a sensação de que ganhar sua confiança em
um nível intelectual era tão importante quanto conquistar seu lindo corpo.
— Eu não quero… desapontar você. — A ideia era tão ridícula que ele
sentiu sua boca se contorcer.
— Eu juro que não fez nada de errado. Estou intrigado por você de muitas
maneiras, minha senhora. Agora, então, vamos dar um passeio no jardim e
talvez nos conheçamos um pouco melhor? Os amantes devem ter mais em
comum do que o ato sexual, não acha? Apesar do que dizem, eu não valorizo
uma mulher apenas pelo prazer físico que ela pode me proporcionar.
Era verdade, mas com uma pequena licença poética. A proximidade
emocional também não era o objetivo de Nicholas. Esse era um caminho
desastroso que ele escolheu não trilhar. Gostava de ser amigo de suas
amantes, não mais do que isso. Pelo menos abria caminho para uma
separação mais amigável.
— Vejo que você está determinado a ganhar essa aposta. Quem poderia
adivinhar que o duque diabólico teria essa sensibilidade romântica?
— Quando estou com uma mulher bonita, quero conhecer tudo dela, não
apenas seu corpo.
Mas, pelo diabo, era o que ele queria. Derek consumiu meio copo de vinho
em um único gole. A ideia de suportar o resto da noite o fazia querer sair
correndo pela porta. No entanto, se fizesse isso, seu segredo humilhante seria
exposto ao mundo, e era um que ele precisava guardar a todo custo. Se não
pudesse ter o que queria, pelo menos gostaria de manter algum vestígio de
orgulho masculino.
Mas, maldito inferno, por que Annabel tinha que parecer tão bonita?
Claro que sim, lembrou a si mesmo com honestidade sardônica. Sem dúvida,
ela era a mulher mais adorável da sala e, usando um vestido decotado de
seda azul-claro, que destacava seus olhos e os cabelos dourados, bem... ela
estava deslumbrante. Embora ele fizesse o possível para se mostrar
indiferente em sua pose casual, com um ombro encostado na parede, Derek a
observava, seu olhar pensativo acompanhando-a pela sala enquanto ela se
misturava com os convidados, aceitava parabéns e, o pior de tudo, agraciava
os seus interlocutores com um daqueles sorrisos deslumbrantes...
— Sim.
Derek preferiu não comentar. Hyatt não era o único idiota encantando
naquela sala.
— Sua tia Margaret pensou que uma festa familiar tranquila antes do grande
baile de noivado seria melhor. Eu concordo que é muito bom estarmos todos
juntos. Quando a celebração formal acontecer, haverá uma grande comoção.
Estou feliz que tenha podido vir.
Derek mal conseguia discernir o que fora servido, poderia até ter sido cola.
Ele bebera muito durante todo o jantar e não deu mais do que algumas
mordidas. Soltou um grunhido que poderia ter significado qualquer coisa e
procurou por mais vinho. Era verdade que uma reunião familiar com trinta
pessoas da família era melhor do que um salão de festas cheio de
convidados, mas apenas superficialmente. Ainda precisou apresentar uma
performance confiável de indiferença ou, pior ainda, alegria pelo casal feliz,
além de dedicar-se à conversinha apropriada com tias-avós e primos
distantes. Isso explicava sua posição em um canto da sala, tão fora de vista
quanto possível.
Mas ele era o conde, sua presença fora solicitada por sua tia Margaret, a
quem era genuinamente afeiçoado, e o melhor que podia fazer era aguentar
com a maior imparcialidade possível, dadas as circunstâncias.
O que ela precisava, Derek pensou com uma reflexão nada bem-vinda,
era das mãos dele. Sobre ela, tocando cada centímetro delicioso, causando
prazer inesquecível e intenso...
Ter que participar do jantar já era ruim o suficiente, mas discutir como a
mulher que ele amava lidaria com seu casamento com outra pessoa era
infinitamente pior. Derek olhou para o outro lado da sala, notando a maneira
como a luz da vela proporcionava ricos reflexos dourados ao cabelo pálido e
empertigou-se. Ela era teimosa. Também brilhante, bonita e estava perto
demais, mesmo em uma sala lotada. Ele disse:
— Eu preciso de mais vinho. Por favor, dê-me licença.
— Sim, não posso deixar de notar que você parece um pouco infeliz. Mas o
vinho é a solução? — a pergunta tranquila de Thomas impediu Derek de
fugir. Ele congelou e se virou.
Infeliz era um eufemismo, mas ele achara que tinha feito um bom trabalho
ao esconder como se sentia.
Thomas continuou:
— Eu tentei ficar imparcial, mas decidi que não farei bem a ninguém com
isso. Já pensou em dizer como se sente?
— Ela me despreza.
Para seu crédito, Thomas não o olhou com desaprovação. Nem surpresa.
— Supus que poderia ser algo assim. Lembro-me que a senhora em questão
o perseguiu durante toda a sua estada. Não fico surpreso ao descobrir que
você acabou sucumbindo.
Não, ele não deveria ter sucumbido. Poderia ter sido a maior fraqueza de sua
vida. Derek disse de forma explosiva:
— Sim?
A um sorriso.
Sim, ele sabia que ela nutria uma paixonite por ele. No começo, divertiu-se
ao perceber isso, porque estava bem acostumado com mulheres a persegui-
lo, e era um jogo do qual gostava, mas não estava familiarizado com o fato
de ser o objeto de adoração de uma adolescente inocente. Depois, passaram-
se vários anos, e ela passou a não mais parecer a criança cativante que
costumava segui-lo por toda parte, mas transformara-se em uma jovem
muito bonita. Mais do que apenas sua transformação física de menina para
mulher, também era inteligente, articulada e, como seu tio já havia indicado,
mais do que capaz de expressar sua opinião sobre a maioria dos assuntos.
Mesmo quando mais nova, era aventureira, ansiosa pela vida e determinada
a superar a horrenda tragédia de perder os pais de uma só vez naquele
terrível acidente.
Provavelmente, ter ficado órfã em tão tenra idade fosse a explicação para sua
natureza resiliente e autoconfiante, ou talvez este fosse apenas um detalhe
inato de sua personalidade, mas o que quer que fosse, ele gostava de seu ar
de independência. Sempre gostara. Para a menina, fora algo encantador. Para
a
Para sua surpresa, ele passara a pensar nela muitas vezes, mesmo quando
estava em Londres, e ela, em Berkshire. Analisando em retrospecto,
percebeu que visitara Manderville Hall com mais frequência do que o
necessário e Annabel era o motivo. Sua risada, a tendência que ela tinha de
se inclinar para frente quando argumentava, a inteligência antiquada, que ela
não fazia nenhum esforço para esconder... tudo isso o atraía. Como era
possível?
Ele, de todas as pessoas, interessado em uma jovem que mal saíra da escola?
Não.
Ou estava?
Então ela disse: Não pare. Em um sussurro inocente sem fôlego que o trouxe
de volta à fria realidade.
Não pare. Ela estava louca? Claro que ele tinha que parar.
Ele tinha vinte e sete anos, e ela ainda não tinha feito dezoito. Ele era um
libertino com uma formidável reputação de devassidão, uma que talvez nem
merecesse, e ela era a inocente protegida de seu tio. A menos que desejasse
desposá-la, não deveria colocar um dedo nela, muito menos encorajar sua
paixão.
Então, num ato ainda mais covarde do que beijá-la, ele resmungou alguma
desculpa, saiu do cômodo abruptamente e a evitou o resto do dia porque não
tinha ideia de como lidar com os tumultuosos sentimentos de culpa,
confusão e algo um pouco mais difícil de definir. Quando isso acontecera?
Quando a criança se transformara em mulher e quando foi que percebeu a
mudança?
Além disso, em que momento começara a se sentir atraído? Não apenas por
sua recém-descoberta maturidade, não apenas pela forma como o olhava e se
movia de maneira diferente, mas por ela. O brilho de sua risada, sua
sagacidade vibrante, o olhar singular ao fitá-lo.
Mas tinha.
Mais tarde naquela noite, quando Isabella Bellvue o encurralou na estufa, ele
não resistiu a seus avanços. Faria qualquer coisa para tirar a imagem do rosto
de Annabel de sua mente. Por sua má sorte, ou talvez destino, Annabel veio
procurá-lo.
Ele chegou à conclusão de que não iria arrancá-la tão facilmente de sua vida,
mas isso pouco importava agora. Ela o dispensara ficando noiva de outro
homem.
Thomas olhou para onde ela estava, ao lado de seu noivo, com uma
expressão pensativa.
— O que eu notei, Derek, é que ela não está feliz, não importa o tipo de
fachada que apresente em público. Eu acho que Hyatt é um homem amável,
e ela gosta dele o suficiente, mas não é um caso de amor. Não da parte dela.
Uma conversa como aquela e um copo vazio? Nenhum dos dois era atraente.
Derek fez um gesto impotente com a mão.
— Talvez uma opção diferente lhe desse outra direção. Diga-me, se ela fosse
livre e você pudesse persuadi-la a lhe dar uma segunda chance, estaria
disposto a se casar com ela?
— Sim.
Bom Deus, ele nem sequer hesitou. Precisava de algo mais forte que vinho.
— Viu? Você não age como um tolo o tempo todo, exceto pela sua recente e
ultrajante aposta com Rothay...
— Não foi a minha melhor ideia — admitiu Derek, sentindo-se estremecer
por dentro. — Mas o anúncio de noivado de Annabel surgiu no
— Como agora?
Deus sabe que você o aperfeiçoou passando por uma infinidade de camas ao
longo dos anos. Não deixe que toda essa prática seja desperdiçada quando
algo importante está em jogo.
Ele a surpreendeu.
Não que ainda não se sentisse nervosa por causa da noite que os aguardava,
mas Nicholas Manning tinha uma habilidade singular de conseguir carregar
a maior parte da conversa sem monopolizá-la, e ela já notara que ele
pertencia a uma espécime rara de homem que não desejava falar mais sobre
si mesmo do que qualquer outra coisa.
Seus cavalos eram outra história. Ficou claro que seu passatempo era
como uma obsessão, e ela vira em primeira mão em Ascot o quão bem
sucedido ele era.
— Norfolk ganhou naquele dia — ele disse a ela, com um leve sorriso
extravagante e nostálgico, ao final de uma história, tocando seu copo de
vinho após o jantar. — Com um osso lacerado. Ele não queria sair do círculo
dos vencedores. Nunca vi tanta coragem. Meu treinador chorou. Admito que
também verti uma lágrima ou duas.
— Acho que sim. Quando menino, eu fugia do meu tutor, mas ele sabia que
poderia me encontrar nos estábulos, se eu, misteriosamente, não aparecesse
para minhas aulas. Eu ainda considero o livro de puro-sangues mais
interessante do que o latim e antigo Grego.
Imaginá-lo como criança a intrigou. O motivo, ela não tinha certeza, talvez
porque sua própria infância tivesse sido tão sombria.
— Uma irmã mais velha — ele respondeu prontamente. — Ela é casada com
um barão e tem três filhas. Charles trabalha para o Departamento de Guerra
em uma área que ninguém realmente menciona.
— E a sua mãe?
E o seu pai?
Era justo. Ela perguntara a ele sobre sua família. Caroline balançou a cabeça.
— O primo do meu marido, o atual lorde Wynn, é tudo o que posso chamar
de família e, no caso dele, prefiro não fazer isso.
— Ele é inconveniente?
— Posso ajudar?
Ela era a dona de sua própria vida, e isto fora algo duramente conquistado.
Que declaração simples. Mesmo assim, tão poderosa. Também não era parte
do flerte, não de uma maneira suave, como ela esperava, mas infinitamente
mais persuasivo porque evocava a possibilidade de sinceridade e não apenas
de sedução.
fato de ele ter sido capaz de perceber tão facilmente que ela estava nervosa e
com medo poderia ter sido humilhante, mas a sensibilidade demonstrada foi
inesperada.
Um libertino perceptivo. Humm. Essa era uma faceta interessante pela qual
ela não esperava.
Mas, novamente, nunca soubera o que poderia esperar.
Entre seu pai indiferente e seu marido cruel e dominador, ela não tinha uma
opinião elevada sobre os homens em geral. Talvez uma revelação sexual não
fosse tudo o que levaria daquela semana luxuriosa.
Ela recuperou sua postura fria como quem se envolve em um manto. Com a
intimidade da refeição e a caminhada romântica no jardim mais cedo —
onde ele a presenteara com algumas rosas, chegando a colocar uma atrás de
sua orelha —, deixar as palavras escaparem foi mais fácil do que ela
imaginou.
Sua reputação era formidável, mas fofocas nem sempre eram confiáveis.
Ele brincou com a haste de sua taça de vinho. A luz bruxuleante das velas
incidia sobre suas feições refinadas, destacando a perfeição de sua elegante
estrutura óssea e fazendo seu cabelo negro brilhar.
— Em outras palavras, uma vez que você escolhe uma mulher em meio à
sua multidão de admiradoras ansiosas, ela se torna sua?
— Você faz com que isso soe muito ridículo. Como escolher uma égua de
uma cavalaria.
Ela não era boa com brincadeiras espirituosas. Houve muito pouca prática
em sua vida.
— Inveja o quê?
— A noção de que você tinha alguma privacidade em sua juventude e sua
capacidade de ser franca com suas opiniões. Desde o berço, sempre fui
lembrado, a todo momento, do fato de ser o herdeiro ducal e, acredite em
mim, ensinaram-me a ser político em meu discurso a partir do instante em
que pronunciei minha primeira palavra. Um título vem com certo nível de
responsabilidade e inevitável crítica social.
Ele respondeu com uma veemência tão suave que ela lutou contra o vívido
rubor que a ênfase na palavra “prazer” lhe provocou, tentando, pelo menos,
reagir com igual sofisticação.
Ela começava a concordar, embora ele não tivesse respondido sua pergunta.
Nicholas riu.
— Você é certamente direta, minha cara. Por favor, não me diga que tenho a
reputação de ser um sujeito desagradável.
— Ah, uma artimanha para atrair jovens donzelas para a minha cama, é isso?
— Algo brilhou em seus olhos escuros.
Aborrecimento, talvez? Não, ela não o conhecia bem o suficiente para julgar.
— Bem, sim.
Nicholas olhou para ela, com seu corpo alto e magro paralisado e uma
expressão enigmática.
Talvez ela tivesse sido franca demais. Caroline sentiu um lampejo de alarme
de que a próxima coisa que ele faria seria cancelar a aposta. Para seu alívio,
ele continuou:
— Mas você é muito tentadora, minha senhora, e agora que entendo suas
razões para estar aqui, sinto-me mais do que honrado. — Ele acrescentou em
um tom quase informal: — Se o seu marido desprezível ainda estivesse vivo,
eu acabaria com sua vida sem valor em um único segundo.
Ela nunca tivera um defensor. Quando criança, fora protegida por sua tia
solteira autocrática, e ela mal tinha dezoito anos quando se casou. O arranjo
fora completamente negociado sem o seu consentimento, mas não percebera
a realidade devastadora até a noite de núpcias. Quando descobriu quão cruel
e insensível era o homem com quem fora forçada a se casar, ela o deixou e
foi para sua casa em York. Seu pai a enviou de volta, e Deus foi testemunha
do quanto sofrera por esse lapso de julgamento. As contusões levaram
semanas para desaparecer.
— Eu o odiava. — Era difícil manter a voz casual, mas ela fez o melhor que
pôde. — A lógica me faz supor que nem todos os homens são como ele, mas
a experiência às vezes supera o bom senso.
E ela também.
Talvez devesse estar entediado, mas realmente não era o caso. Caroline era
forte, sincera, distante... e ainda vulnerável, completamente feminina, e, em
sua opinião, corajosa de uma maneira singular.
Sempre.
Quando chegaram ao corredor do andar de cima, Nicholas decidiu pelo
quarto dela, pensando que, se usassem o dele novamente, Caroline se sentiria
mais uma vez dominada e em terreno incerto.
antes de entrar. — E você está certo. Eu posso viver sem uma aia.
Ele deu uma olhada superficial no mobiliário, não tendo certeza se já havia
prestado atenção. Não sendo casado, nunca se preocupara em observar o
quarto adjacente.
— Estou feliz que o quarto lhe agrade e que eu possa ser gentil e servi-la.
Deixe-me despir-te.
— Acabei de ofendê-lo?
Ele pegou os ombros dela e a segurou com uma suave pressão de suas mãos
para que se virasse.
Deixe-me mostrar-lhe.
Ele a ergueu nos braços, afinal, com cuidado, como se ela fosse uma peça de
vidro, e a levou para a cama de dossel. Daquela vez, removeu tudo,
incluindo seu chemise, de modo que Caroline se repousava nua e exuberante
sob o brilho das velas, acesas para sua conveniência ao se recolher. Nicholas
despiu-se deliberadamente, retirando o paletó, a gravata, a camisa e as botas
enquanto a observava, dando-lhe todas as oportunidades para dizer-lhe para
parar ou pedir que cobrisse seu corpo exposto.
Era fácil adivinhar que o marido a procurava à noite, no escuro, para exercer
seus direitos de uma maneira que Nicholas imaginava que tinha mais a ver
com uma brutalidade egoísta do que qualquer outra coisa. Todos
concordavam que era impossível que um homem violasse sua esposa, pois
esta era essencialmente sua propriedade, mas ele discordava. Se uma mulher
estivesse relutante e despreparada, era um crime pegar o que não era dado
livremente.
Ele subiu na cama ao lado dela e não fez nada mais do que tocar seu lábio
inferior, traçando a curva encantadora com um dedo exploratório.
— Você tem sido muito prolixo com seus elogios, Nicholas. — Os cílios de
Caroline baixaram uma fração, mas ela não se afastou e parecia muito menos
tensa do que estivera no encontro deles durante a tarde.
Deixe-a assumir a liderança. Parecia uma ideia melhor, porque ele não
queria assustá-la ou apressá-la.
Apesar de seu passado, ele tinha a sensação de que ela seria uma boa aluna.
Os seios nus e macios roçaram seu peito, e ele reprimiu um gemido, sentindo
o longo cabelo cair sobre os dois. Sem fazer nada além de tocá-la nas costas,
ele traçou a curva de sua espinha, deixando-a controlar o ato. Seus dedos se
emaranharam em suas madeixas, e um baixo som de aprovação escapou da
garganta de Caroline enquanto continuava a beijá-lo com crescente
confiança.
Ambos estavam sem fôlego quando ela finalmente se recostou.
— Melhor?
— Muito.
Sua ereção pulsava com cada batida de seu coração, e Nicholas não podia
esperar para estar dentro de Caroline, mas se sentiu relutantemente divertido
quando o olhar dela foi direto para o membro duro e inchado contra seu
estômago. Ela parecia cautelosa, mas ele foi encorajado por um vislumbre de
interesse em seus olhos.
— Caso você não tenha notado, seu gênero tem direitos que nos são
negados.
Ela tinha um bom argumento, mas era difícil falar enquanto seus dedos
exploravam seu membro rígido por inteiro.
— Vamos começar um debate intelectual sobre este assunto? Acho que você
não vai gostar das minhas opiniões sobre ele. — Ela o acariciou, olhando
para baixo, entre as pernas dele, enquanto segurava seus testículos.
Para alguém com total falta de experiência, ela certamente estava fazendo
um bom trabalho em despertá-lo para um estado quase febril. Pesado? Ele
estava prestes a explodir apenas pelo toque inocente, e isso o assustava.
Queria ir devagar, pelo menos até que ela entendesse o jogo que ele sabia tão
bem como jogar.
pouco confusa.
Maldição.
Ele a tocou então. Em toda parte. Cada toque, cada carícia, pontuada por
doces beijos suaves e palavras sussurradas. O ponto de pulsação logo acima
do mergulho da clavícula. A delicada curvatura de seu cotovelo. Sua língua
passando rapidamente pelo punho. O seu dedo mindinho em sua boca,
tomado com ternura provocativa, enquanto acariciava seu ombro nu e a
segurava contra si. Era uma exploração, uma jornada de conhecimento e
persuasão. Ambos nus, peles quentes se tocando, conforme ele lhe fazia
amor sem realmente penetrá-la.
O primeiro suspiro ofegante fez com que Nicholas compreendesse que sua
paciência estava sendo recompensada, o seguinte gemido o encorajou ainda
mais, e quando a mão dele escorregou por entre suas coxas e ele a estimulou
com uma leve pressão, ela o agarrou com urgência.
E ele considerou esta resposta muito poderosa, porque sabia que envolvia
risco, confiança e uma dúzia de coisas que ele abandonara, quando se tratava
de paixão, há pelo menos uma década.
O impacto foi extraordinário. Ela não confiava facilmente. Bem, nem ele,
então tinham isso em comum, embora suas reservas fossem diferentes. No
entanto, se o erguer de seus quadris em súplica significasse alguma coisa, era
um sinal de que ela estava superando esse problema. Nicholas, por sua vez,
pensou ter fechado a porta com firmeza na cara dos seus fantasmas.
A delicada estreiteza de sua passagem fez com que ele hesitasse por um
momento em uma vertiginosa onda de necessidade. Os músculos internos do
sexo de Caroline se apertaram ao redor de seus dedos invasores enquanto
tentava começar a explorar a promessa do paraíso.
A expressão em seu rosto dizia tudo o que ele precisava saber, e ele se sentiu
aliviado, mesmo quando o suor começou a fazer sua pele formigar por conta
do esforço para não se mover para colocar entre aquelas adoráveis coxas − e
possuí-la. Caroline parecia saciada, até mesmo atordoada, com a boca
entreaberta, os olhos arregalados, um leve rubor nas bochechas por causa da
liberação sexual.
Foi toda a permissão que ele precisava para se mover. Para ajustar-se no
lugar certo, usar seu novo poder sobre ela para abrir ainda mais suas pernas
e, em seguida, alcançar o próprio prazer.
Uma vozinha — uma que ele queria banir para o inferno —disse-lhe que não
era a hora certa.
Ainda não.
— Você o quê?
— Eu gostei daquilo.
— Você não pode ter as duas coisas. Ou eu entendo de mulheres, e foi por
isso que você decidiu participar desta aposta em primeiro lugar, ou eu não
sei de nada. Qual dos dois?
Movendo a boca para o ouvido dela, Nicholas disse, com um tom rouco:
— Tudo bem, eu admito que não a conheço tão bem quanto gostaria.
Melhor assim?
— Sim.
Deus no céu, vê-lo na noite anterior já não fora ruim o suficiente? Seu rosto
ainda doía pelo esforço de sorrir durante a pequena festa que Margaret
organizara. A comemoração fora um gesto carinhoso, e ela sabia que
Thomas e Margaret não queriam mais do que apoiar sua decisão de se casar
com Alfred. Todos os Drake sempre a trataram como parte da família e
estavam maravilhosamente entusiasmados com o casamento, mas,
infelizmente, era esperado que Derek fosse convidado para tudo. Ele sempre
fora, mas geralmente recusava os entretenimentos mundanos. Exceto pela
noite anterior, quando apareceu inesperadamente, pecaminosamente bonito e
extremamente entediado. Ele também saiu cedo, escapando não muito
depois do jantar. Annabel conseguiu ser educada durante sua breve troca de
amabilidades, mas precisava mesmo passar por tal provação novamente tão
cedo?
Que escolha havia? Ela deveria ter corrido para o seu quarto e alegado uma
dor de cabeça quando tivera a chance, em vez de hesitar na porta.
Poderia ter mandado sua aia descer com a notícia de que não se juntaria a
eles para o chá, porque estava indisposta. Só não pensou rápido o suficiente.
— Sim — ela murmurou em uma mentira descarada, porque seu estômago
de repente se contorceu em nós —, parece ótimo.
Eles entraram juntos, e embora ela desejasse não ter que reconhecer a
presença do Conde de Manderville, quando ele educadamente se levantou,
rangeu os dentes e deu um firme meneio de cabeça. Tudo era tão familiar; o
movimento das cadeiras azuis cobertas de brocado, o velho piano no canto, o
tapete creme e índigo em um padrão oriental, até o carrinho de chá
estacionado próximo à polida mesa antiga, mas tudo parecia diferente com
ele ali.
Sempre fora assim. Se ele estivesse no ambiente, ela não notava mais nada e
sentia um feroz ressentimento pela própria aflição.
— Derek passou por aqui no momento certo, e eu insisti que ficasse para o
chá.
Annabel não disse nada, desviando o olhar, sabendo que não havia
possibilidade de Thomas e Margaret não terem notado o estado atual de
animosidade entre o sobrinho e ela mesma. Uma vez, Thomas chegou a
tentar investigar, mas ela não pretendia contar a ninguém sobre o fatídico
beijo ou sobre o que tinha testemunhado pouco depois.
lo como ser humano, mas agora entendia que suas falhas excediam em muito
suas virtudes. Os rumores eram todos verdadeiros. Tudo o que ele queria era
uma voluntária inocente. Tamanha insensibilidade revirava seu estômago.
Quantos corações ele tinha partido além do dela? O que ela achava ser amor
fora uma ilusão, nada mais do que isso.
— …torta?
— O quê?
Margaret murmurou:
— Oh, querida.
Maldito fosse, pois ele demorou a escolher um, fazendo-a segurar o prato
como uma serviçal submissa. Sem dúvidas deveria dormir com elas também,
refletiu calorosamente, sem ter certeza se estava mais brava consigo mesma
por perder seu autocontrole tão rápido ou com ele por achar a situação
cômica.
Derek nunca aparecia para o chá. Especialmente quando sabia que ela estaria
presente.
Ele era o único que usava o apelido. Sempre o fizera, desde que ela era uma
criança. Mas não era mais uma menina, era uma mulher, e o som familiar e a
maneira suave como soou, provocou-lhe memórias que seria melhor rejeitar.
Não, Alfred não era arrojado ou excitante, mas era seguro. Em defensiva, ela
apontou:
A implicação de que Derek não pertencia a essa categoria fora clara. Ou ela
certamente esperava que soasse assim, porque era exatamente o que
queria dizer.
Annabel podia ser muito menos experiente do que ele, mas não perdeu a
insinuação sexual. Para sua completa e total mortificação, chegou a corar.
Apenas Derek poderia dizer uma coisa dessas e sair impune. Estava
acostumado a usar sua aparência e facilidade de se desculpar por qualquer
tipo de pecado. Funcionava com todas as outras pessoas, maldito fosse. Mas
não com ela. Não mais.
Derek não tinha mais esse poder sobre ela. Abdicara disso no dia em que a
beijara e depois partira seu coração com uma traição casual que zombara de
seus sentimentos.
— Até mesmo a mais selvagem das criaturas pode ser domada quando feito
da forma correta.
— Nem todos valem o esforço — ela disparou de volta.
— Foi linda.
Não, ele não apenas falou. O elogio fora tão suave, tão sincero na inflexão
em seu tom, que ela ficou momentaneamente surpresa. Olhou-a de um jeito
que somente ele conseguia olhá-la e, por um único momento, ela esqueceu
que Thomas e Margaret estavam lá.
Mesmo que tivesse sido sincero, o que importava? Por que ela se preocupava
com o que um homem tão imoral e de má reputação pensava a seu respeito?
Por que escolhera o vestido com tanto cuidado na noite anterior só porque
sabia que ele estaria lá?
Simplesmente não era possível ficar tão perto dele por mais um minuto. A
percepção a inundou e fez um surto de pânico sufocá-la. Certamente era
mais confortável quando os dois se evitavam, embora não estivesse
convencida de que ele chegara a este ponto. Um beijo insignificante não
seria tão importante para um libertino de seu status. Era ela quem estava
dando muita ênfase ao assunto.
Mas ainda assim... aquele beijo. O toque suave, mas firme de seus lábios,
enquanto possuíam os dela, o deslizar da língua, a sensação tentadora de
seus braços segurando-a com força. Seu perfume, seu gosto, o suspiro baixo
e ressonante em sua boca, tão inebriante quanto qualquer bebida...
Não. Ela não devia se lembrar. Era irritante que ainda estivesse gravado em
sua mente.
de montar e pairava sobre o pomo de sua sela enquanto seu cavalo passeava
Caroline estava bem ciente de que era alvo das atenções e do charme de
Rothay por uma razão deliberada — a aposta escandalosa —, mas sentia-se
mais do que disposta a aceitar a fantasia.
Era uma mudança agradável em sua rotina mundana e nem todo o seu prazer
tinha a ver com seu despertar sexual recém-descoberto. Um homem atraente
prestando atenção nela era algo ao qual poderia se acostumar, especialmente
porque se sentia surpreendentemente confortável em sua presença. Talvez
fosse apenas a intimidade sexual, mas talvez fosse outra coisa.
Embora eles ainda não tivessem consumado o ato sexual em si, sentia-se
cada vez menos apreensiva e mais curiosa. Até aquele momento ele lhe
concedera toda a atenção, o prazer luxuriante de seu toque era esclarecedor,
mas ele não exigira nada para si mesmo.
Ela o olhou de relance. Também não usava paletó, o linho fino de sua camisa
cobrindo os ombros largos, a roupa aberta no pescoço, revelando a pele
bronzeada, sua postura na sela, ereta e graciosa. Ele cavalgava todos os dias
e pedira que os cavalos fossem enviados com antecedência, já que não
mantinha nenhum em Essex. Sua montaria era um garanhão magnífico que
combinava com seu cavaleiro, elegante e poderoso, e a égua cinza malhada
na qual ela cavalgava era o animal mais bem-educado que já havia montado.
— Bem, não. Não era exatamente isso o que eu estava pensando, mas já que
mencionou, até agora as coisas correram muito bem.
— No que você estava pensando, então? — Ela afastou uma mecha solta de
cabelo de sua bochecha e avaliou o rosto dele curiosamente.
Com Edward jamais teria ousado. Nem ela provavelmente teria querido
saber. Com Nicholas, já sentia que poderia perguntar qualquer coisa,
livremente, com impunidade.
— Passo muito tempo na cidade. Muito tempo acordado até tarde nas festas
e saraus, muito tempo no meu clube, muito tempo no meu escritório e com
meus advogados. — Ele deu de ombros, seu cabelo preto lustroso, quase
azulado, como o de um corvo com a asa inclinada ao sol. — Sempre digo a
mim mesmo que saberei quando for a hora de amenizar a minha vida para
um padrão menos agitado.
— Você ainda é jovem, embora eu imagine que sua família espere que
cumpra seu dever.
Não era da sua conta, mas, de alguma forma, ela se ouviu dizendo:
— Mas você está relutante?
— Não.
Apaixonar-se não é algo que eu espero que aconteça comigo, nem iria querer
isso. Acho que nem acredito que seja possível.
Se ela contasse a alguém, ele seria mais perseguido do que nunca por jovens
ansiosas para conquistarem não apenas seu título e sua fortuna, mas seu
coração. No entanto, não faria isso. Então, Caroline apontou, com verdade
infalível:
— Eu tenho a sensação de que será um pouco difícil fingir que não nos
conhecemos depois que esta semana acabar. Disseram-me que uma mulher
não esquece seu primeiro amante.
Não havia dúvida de que ele estava absolutamente correto, porque o que
Edward fizera com ela o desqualificava para aquele rótulo.
Nicholas não poderia ser mais diferente, e embora o corpo de Caroline não
fosse virginal, ele estava certo sobre ser seu primeiro amante.
Era maravilhoso perceber, mas ela estava perdendo seus medos, sentindo-se
ansiosa por isso.
Talvez ansiosa demais.
Caroline pigarreou.
— Tenho certeza de que é verdade, pois você está certo, não vou esquecer
sua... bondade.
Infelizmente, ela sabia, por experiência própria, que ele estava errado. Era
como um banho de água fria. Silenciosamente, disse:
— Nem todos eles, Nicholas. Eu gostaria de poder dizer isso com menos
segurança.
Ela não queria pensar em seu casamento sombrio, não em um dia tão
glorioso, não quando estava com o homem mais atraente da Inglaterra e eles
tinham o resto do que prometia ser uma semana muito memorável pela
frente.
Lançou-lhe, então, um sorriso travesso.
— Tudo.
— Acho que posso aprender com você, minha fria Lady Wynn, tanto quanto
aprenderá comigo esta semana.
A luz do sol filtrada pelas árvores caía sobre a grama verde na pequena
clareira; o som tranquilo do rio proporcionava um efeito calmante.
— Isso é importante?
Era muito importante, porque desde o momento em que eles tinham saído da
cama naquela manhã, Nicholas passara a avaliar seu desejo irresistível de
possuí-la mais uma vez. No entanto, uma cama não era necessária, não com
um local romântico isolado disponível, e ele não queria esperar até que se
recolhessem para fazer amor com ela.
Conter-se era necessário, mas por quanto tempo mais ele precisaria se
segurar?
Infelizmente, a resposta era simples. Até que Caroline estivesse pronta.
Havia uma enorme diferença entre o que permitia que ele fizesse e o que
queria que fizesse. A qualquer momento, desde sua chegada, ela teria
permitido. Mas certamente na tarde e na noite anteriores ela não sentira o
desejo que ele imaginara que sentiria, apenas rendição.
Mas se as coisas fossem do jeito que ele queria e pretendia, ela iria aprender.
Não sabia exatamente por que estava tão fascinado pela adorável, mas
inexperiente, Lady Wynn, porém, era um fato. Parte disso tinha a ver com a
franqueza dela; parte, com sua beleza, e, para sua surpresa, ele se perguntava
se parte não tinha também a ver com a sugestão de vulnerabilidade quando
ela o olhava com aqueles gloriosos olhos prateados.
Seu sorriso era muito raro e o fascinava. Assim como a mulher, era uma
mistura de reserva e sensualidade subjacente, ele pensou, olhando para ela.
Preguiçosamente, falou devagar:
— Pode tentar.
— Ela morreu de uma infecção no pulmão — disse ela, com um baixo tom
de voz —, perto do fim do meu décimo sexto ano de vida. Ainda sinto
falta dela.
Isso deu a Nicholas uma abertura para que conduzisse o assunto, com
intenção deliberada, de volta para sua família.
Ele enrolou uma longa folha de grama entre os dedos, observando o rosto
dela sob os cílios ligeiramente abaixados.
Ela o olhou.
O único tipo de consolo real que sabia como lhe oferecer era físico, e seu
corpo, no momento, o instigava a prosseguir.
O inchaço de sua ereção foi imediato, e seu coração já batia mais rápido
enquanto admirava a glória elegante de sua beleza. Seu prazer era reforçado
pelo som do movimento suave da água, quase inaudível acima de sua própria
respiração acelerada. Nicholas murmurou:
— Dispa-se para mim. Eu quero assistir. Não há nada mais excitante do que
o corpo de uma mulher sendo revelado pouco a pouco.
Bem, isso não era exatamente verdade. Assistir a uma mulher beijar seu
corpo e tomar seu pênis rígido em sua boca podia ser ainda melhor, mas
Caroline não estava pronta para tal. Aquela semana deveria ser dedicada ao
prazer dela, e não apenas por causa daquela maldita aposta. Nenhuma
mulher tão bonita e inatamente sensual deveria ter medo da intimidade
sexual.
— Não pare agora — ele disse persuasivamente. — O melhor está por vir.
Lá estava ela, uma bela sedutora, usando a mão para manter o corpete
fechado.
Queria ter certeza de que Caroline soubesse que, com ele, sempre teria
escolha. Geralmente preferia assumir a liderança em jogos sexuais, mas
estava disposto a fazer concessões para se certificar de que ela nunca se
sentisse oprimida.
— Tenho certeza de que você está ciente de que é considerado muito bonito.
Existe alguma razão pela qual não posso admirá-lo da mesma maneira?
Sua resposta foi direta o suficiente. Mais uma vez, não havia truques.
Por um momento ele parou, com a bota na mão, inebriado pela pura glória
do corpo nu de Caroline, sentindo sua admiração aumentar por saber que ela
era sua para ser possuída.
Havia algo sobre o cenário do bosque, a maneira como a luz do sol tocava
sua pele acetinada com um brilho dourado, o som musical dos pássaros nas
árvores... tudo isso elevava a excitação a um novo nível. Era primitivo,
elementar e, quando conseguiu livrar-se de suas calças, descobriu, surpreso,
que suas mãos tremiam.
Nicholas com certeza esperava que sim, porque estava mais do que pronto.
Quando ela se ajoelhou ao seu lado, ele segurou sua cintura e puxou-a para
cima de seu corpo faminto, desejando um beijo cálido. Foi menos contido do
que na noite anterior, mas ela não pareceu se importar, respondendo de
forma não tão hesitante daquela vez. Ao senti-la enroscar os dedos em seu
cabelo, um lampejo de triunfo manifestou-se através de sua excitação, e a
rigidez dos mamilos de Caroline contra seu peito falava muito sobre o quão
longe ela chegara em um tempo muito curto.
Claro, então ela teria seu tempo com Derek. Um tremor de insatisfação se
Reprimir tal pensamento era um reflexo emocional. Ele não era um homem
ciumento. Ou nunca fora antes, pelo menos. Considerando sua aposta ilícita,
aquele parecia ser um mau momento para adquirir o hábito.
Ele girou de lado para que o cabelo dela se derramasse contra a grama em
uma massa luxuriante e reluzente. Roçou a boca em sua mandíbula e lambeu
um caminho ao longo de sua clavícula, acariciando a elegante curva de sua
garganta. Caroline arqueou-se embaixo dele com a respiração acelerando.
— Fale comigo.
— Eu poderia jurar, Rothay, que você gostaria de fazer outra coisa além de
conversar, ou seu corpo reage assim o tempo todo? — Ela se moveu
sugestivamente contra seu pênis rígido. — Parece que sim.
Se seu sorriso não pareceu malicioso, ele certamente pretendia que fosse.
— Oh, eu vou fazer amor com você, eventualmente, isso não está em
questão, mas há uma grande variedade de maneiras para isso. Eu só me
pergunto se você percebe o quão excitante pode ser quando os amantes
dizem um ao outro como estão se sentindo e, ainda mais importante, o que
querem.
— Eu não tenho ideia do que você quer dizer, mas suspeito que já saiba
disso, de qualquer maneira.
Ele sabia. O jogo de sedução era tão estranho para ela quanto um beijo
romântico.
Havia alguns canalhas por aí, e ela não era apenas bonita, mas uma herdeira.
Nicholas esperava que escolhesse sabiamente.
Perceber que se importava com o que aconteceria com ela depois da semana
designada o surpreendeu. Talvez estivesse simplesmente tentando redimir o
sexo masculino aos olhos de Caroline, pois desde o início da conversa
percebera que sua figura paterna não fora muito melhor do que o falecido
Lorde Wynn. Ela não dissera isso em tantas palavras, mas pôde perceber a
dor subjacente em sua voz.
Não se tratava de uma insinuação sexual, nem algo dito com um bater de
cílios ou um sorriso sedutor, mas Nicholas sentiu-se inesperadamente
tocado, não apenas pela simples afirmação, mas pelo próprio sentimento. Era
conhecido por ser um monte de coisas, ele sabia bem disso, mas duvidava
que bondoso estivesse entre elas. As pessoas não se importavam se ele era
um ser humano decente. Riqueza, aparência e uma abundância de charme
superficial eram geralmente mais do que suficientes. O homem real não era
o foco da maioria das mulheres que conhecia.
Descobriu que não sabia exatamente o que dizer, e isso o deixou inquieto.
— Obrigado.
— Esse não era o tipo de coisa que você queria ouvir, não é? Não sou boa
nisso.
— Foi perfeito.
Ele sorriu.
mas, querida Caroline, por mais que eu ame o assunto das corridas, podemos
guardar o tópico para quando você não estiver nua em meus braços?
A risada suave de Caroline roçou sua bochecha.
— Você é o especialista no que deve ser feito neste tipo de situação, não eu.
— Beije-me.
Isso certamente não era uma dificuldade. Ele reivindicou sua boca, imitando
escandalosamente o que adoraria fazer em seu corpo com pequenos impulsos
de sua língua. Ela respondeu lindamente, com dedos entrelaçados em seus
cabelos e o seu calor sedutoramente insinuante contra ele.
Uma preguiçosa tarde de verão, árvores por todos os lados e uma amante
deitada sobre a grama perfumada. Era como viver em um sonho passado na
antiguidade grega, e se ele fosse o sátiro, o papel provavelmente se
encaixaria. Apenas um pouquinho depravado, mas essa experiência só
beneficiaria sua companheira. Nicholas movimentou-se levemente, puxando-
a para mais perto.
pôde reprimir um som baixo, sentindo o prazer ainda em guerra com uma
sombra de descrença por seu comportamento devasso. Bem, ela estava nua
nos braços do deliciosamente malicioso Nicholas Manning. Que mulher não
agiria com sensualidade?
Era empoderador, e por mais que a razão para eles estarem juntos em
primeiro lugar fosse, ao mesmo tempo, frívola e um potencial caldeirão de
desgraças, com os braços de Nicholas ao redor dela e seus hábeis dedos
fazendo mágica, ela decidiu que valia a pena.
Podia sentir a pressão quente de sua ereção, a longa e rígida extensão entre
eles enquanto Nicholas a segurava e acariciava. Duas vezes antes ele negara
o prazer a si mesmo, e Caroline tinha a sensação de que faria isso novamente
se não fosse ela a iniciar a consumação real.
Para sua surpresa, ela desejava que acontecesse. Não para testar se as
acusações de Edward, suportadas com dentes cerrados e medo de fracasso,
eram ou não verdadeiras. Não, de forma alguma. Ela queria porque sofria,
sentia-se incompleta e sabia intuitivamente que o homem que a segurava
contra si tinha o poder de curá-la.
Seu toque era mágico. Como seria experimentar uma parte mais potente
dele?
Ela se mexeu. Não foi realmente consciente, apenas um sinal sutil desse
novo anseio. Nicholas entendeu perfeitamente. Aqueles dedos
questionadores deslizaram de sua intimidade, e ele murmurou em seu
ouvido:
— Tem certeza?
Uma vez que não estava disposta a levar seu atual estado de imprudência em
consideração, assentiu. Lá estava ela, no meio do dia, em um vale isolado,
sem uma roupa sequer, aninhada nos braços de um notório libertino depois
de concordar em entregar seu corpo a dois homens que ela mal conhecia...
Então, sim, por que não apenas dar o próximo passo, mas aproveitá-lo o
máximo possível?
— Sim. Diga.
— Eu quero você.
Era neste ponto que o pesadelo poderia ressurgir. Enquanto ele se movia
acima dela e afastava suas coxas com os joelhos, Caroline esperou que o
pavor a atingisse. A investida de seu membro rígido entre suas pernas
deveria ter lhe causado um sobressalto de repulsa e resignação, mas, em vez
disso, o que a acometeu foi uma surpreendente onda crescente de
antecipação.
— Sim — ela sussurrou, olhando em seus olhos escuros. — Sim, por favor.
— Como eu iria recusar? — Nicholas não sorriu, mas em vez disso prendeu
seu olhar enquanto forçava apenas o suficiente para que a ponta inchada de
seu pênis a penetrasse.
E depois mais.
Muito mais. Profundamente, incrivelmente fundo. Tudo dele.
Era algo que Caroline nunca imaginara e certamente nada semelhante ao que
experimentara antes.
Dedos gentis tocaram seu rosto, e ele não se moveu. Havia rubor da
excitação em seu rosto, e seus olhos escuros pareciam mais intensos.
— Caroline?
— Eu vou devagar.
— Não acho que seja necessário. — Ela usou o pé para tocar a parte de trás
da panturrilha dele, esfregando-a sugestivamente. — Eu não sou frágil.
— Se você...
A mensagem era aparentemente clara, pois ele deslizou seu membro para
fora, em uma fricção tentadora, apenas para investir novamente, de tal forma
que a sensação provocou arrepios em cada terminação nervosa de seu corpo.
Foi uma revelação perceber como um mesmo ato poderia ser doloroso e
degradante com um homem e nada menos do que arrebatador com outro.
O cabelo escuro e sedoso roçou seu pescoço enquanto ele se movia naquele
ritmo erótico, mantendo uma intensidade peculiar em seu rosto.
A maneira como ele disse seu nome, com uma entonação rouca, enquanto se
movia em ritmo erótico dentro dela, aumentava o prazer sensual. O calor da
antecipação chamuscou sua pele, acariciada pela brisa quente da tarde.
Era tudo impossível. Impossível desejar tanto algo quanto ansiava pela
deliciosa explosão de êxtase; impossível acreditar que estava ali, à margem
de um rio em uma tarde ensolarada, nua e abandonada com seu amante;
impossível sentir uma alegria tão tumultuosa.
colocar seus talentos como amante à prova em uma aposta pública, tornava-o
capaz de fazê-la sentir-se sensual e desejada em seus braços.
Era algo deliberado e impessoal, e ela precisava lembrar-se disso para não
ser atraída para uma falsa percepção de suas intenções.
Ela não apenas parecia mais uma conquista fácil, como pedira
descaradamente por isso.
— Esta foi uma das minhas ideias mais inspiradas. — Nicholas interrompeu
seus pensamentos com um de seus sorrisos desarmantes, seus olhos escuros
sombreados por pálpebras semicerradas. A luz solar dourava os contornos de
seu corpo musculoso. Aquelas altas maçãs do rosto aristocráticas
sombreavam levemente suas bochechas. — Devemos dar uma volta como
esta todas as tardes enquanto estivermos aqui.
— Você faz esse tipo de coisa com frequência? — Caroline encontrou força
suficiente para erguer a cabeça e observar sua expressão. O doce aroma da
grama se elevava ao redor deles, misturado com a fragrância ainda mais
terrosa da relação sexual.
— Não percebi que não estava sendo clara. — Ela tentou um sorriso. —
— Fazer amor? Não. As manchas verdes nos meus joelhos são únicas para
você. — Ele roçou o lábio inferior de Caroline com um leve toque de seu
dedo. — Eu não desejava esperar até mais tarde para tocá-la novamente, e
por que perder este lindo dia neste lugar isolado?
A única coisa decente que Edward fizera fora deixá-la bem o bastante para
ser autossuficiente, e ela suspeitava que isso fora feito para intimidar
deliberadamente Franklin, já que os dois nunca gostaram um do outro. Ficou
chocada quando ouviu a quantia de sua herança, mas não tão surpresa quanto
o novo Lorde Wynn. Felizmente, Edward fora tão implacável em seus
negócios como era em todos os outros aspectos, e amarrou tudo muito bem,
— Eu diria que sinto muito, mas, de alguma forma, não acho que você
deseje simpatia pela perda.
— Você percebe que, desta vez, se decidir se casar novamente, pode ser à
sua escolha.
O tom brando de sua voz a fez inclinar a cabeça para trás e olhar para o rosto
dele.
— Eu tenho medo disso, não vou negar. Quem pode dizer o que um homem
se tornará depois que os votos forem ditos? Edward pareceu encantador o
suficiente no primeiro contato, mas você está certo, ele não era a minha
escolha. Minha tia e meu pai arranjaram o casamento, e eu não fui
consultada.
O homem que a abraçava não teceu comentários. Era uma prática bastante
comum organizar uma união sem a contribuição da noiva.
Caroline murmurou:
Por mais que tentasse soar imparcial e pragmática, ela ainda se lembrava do
desdém de Edward por seu fracasso em lhe dar um herdeiro. Sempre esperou
um também. Alguém para amar e que, por sua vez, pudesse amá-la.
Também tinha a esperança que seu marido fosse menos cruel caso lhe desse
um filho, tendo em vista que era algo que queria tanto. Talvez a deixasse em
paz, ao menos enquanto estivesse grávida.
o dever de alguns. Mas há muitos homens que ignorariam isso por causa de
sua beleza extraordinária, Caroline.
Que maneira diplomática de dizer que um homem como ele não poderia
arriscar ter uma esposa estéril. Não quando era sua responsabilidade
continuar a linhagem direta de sua família e posição. Ela entendia. Desde o
seu casamento, passara a conhecer muito melhor como o mundo funcionava.
— Me parece maravilhoso.
Ele sorriu de uma maneira que fez algo derreter dentro dela.
O carinho veio com tanta facilidade, e era usado com a confiança fácil de um
homem que sabia exatamente o que as mulheres queriam ouvir de seus
lábios.
Fosse como fosse, Caroline sabia que o desejava novamente; queria sentir
sua paixão, seu toque cuidadoso, saber que o agradava como mulher.
— O senhor está bem ciente de que não está indo bem, porque tem sido
testemunha da maior parte. Hoje à noite, no jantar, foi um exemplo perfeito.
Acredito que ela não tenha dirigido mais do que uma dúzia de palavras a
mim e, em seguida, alegou uma dor de cabeça novamente, deixando a mesa
mais cedo.
Jogado em uma cadeira no escritório, pousando uma taça de vinho do porto
na beirada de uma mesa marroquina incrustada com pedras polidas
brilhantes, ele fez o que acreditava ser uma pergunta infrutífera:
— Para sua tia Margaret, você quer dizer? — Thomas se inclinou para trás e
balançou a cabeça. — Não que eu saiba, mas descobri que há uma
conspiração feminina interessante que consiste em manter silêncio sobre
confissões românticas, o que é incrível em criaturas que não concebem bem
a ideia de segredo, em nenhum outro aspecto.
— Não posso acreditar que Annabel não tenha comentado sobre a minha
presença repentina aqui tantas vezes.
— Eu ainda digo que você deve se esforçar para conversar com ela a sós.
— Eu tentei, em várias ocasiões. É muito óbvio que ela não está interessada.
— Ele fez um gesto desesperado com a mão, lembrando-se daquelas
tentativas com um pesar que não era característico nem desejado. —
— A opinião que Annabel tem de mim faz o fundo do mar parecer um topo
de montanha.
— Ah...
Bem, o que diabos aquilo significava? Mesmo se Derek não tivesse sido
mencionado no imbróglio da adorável Sra. Tanner, o momento não poderia
ter sido pior. O escândalo do divórcio dos Tanner acontecera quando ele
finalmente admitiu sua incapacidade de ignorar o incidente com Annabel e
continuar sua vida. Não poderia deixar Annabel de lado. E ver seu nome ser
mencionado como a provável fonte da indignação do Lorde Tanner, embora
o rumor fosse falso, não ajudara em nada à sua causa. Phoebe Tanner
protegera seu verdadeiro amante, que devia se assemelhar a Derek em altura
e cor, pois o infeliz cavalheiro escapara pela janela quando foram
descobertos por seu marido enfurecido, daí o erro. Ter um sólido álibi para a
noite em questão ajudou a provar que suas negações de culpabilidade eram
verdadeiras, mas o que ficava na mente das pessoas não era sua inocência
comprovada, mas o calor do escândalo.
explicar suas ações naquela fatídica tarde na biblioteca, mas, para sua
consternação, não obteve resposta alguma. Tinha bastante certeza de que
Annabel nem se dera ao trabalho de ler.
Derek disse:
— Que palavra? — Ele resistiu servindo-se de outra taça. Beber demais não
iria resolver seus problemas, embora tivesse testado severamente aquele
método.
— Amor — disse Thomas, suavemente. — Eu acho que você vai ter que
praticar proferi-la.
Acima da lareira havia uma pintura de um cão com uma raposa sem vida aos
seus pés, e Derek concentrou sua atenção nela para se distrair. A razão que
levava um artista a escolher representar animais mortos em uma pintura era
um mistério para ele.
Amor. Não, ele não tinha certeza se poderia falar com eloquência sobre o
assunto. A carta continha um pedido de desculpas e a súplica por uma
chance de falar com ela, mas sem declarações floridas. Sabia como agradar
uma mulher com um elogio bem feito, como sussurrar as palavras certas em
seu ouvido quando ela estava em sua cama, como fazê-la suspirar apenas
com o toque correto, mas não sabia nada sobre dizer aquelas três palavras
simples.
Eu te amo.
Thomas continuou.
— Você tem que dizer isso. As mulheres precisam ouvir. Elas gostam de
ouvir e é importante construir um vínculo forte. Admitir de má vontade que
você se casaria com ela é muito diferente de explicar como se sente.
— Demorou um ano.
Bem, esse era um argumento sólido. Ele tomara a decisão, mas atrasado em
doze cruciais meses.
— Seu estado atual de desconforto me diz que você está sendo sincero,
Derek. Mas não irá progredir muito se simplesmente aparecer e encará-la
com fúria nos olhos cada vez que ela mencionar o nome de Lorde Hyatt.
A observação foi muito pertinente. Derek fez uma pequena careta e se virou.
— No ano passado, fiz o melhor que pude para me convencer de que era
uma paixonite que passaria como qualquer outra.
— O senhor acha que ela está tentando me deixar com ciúmes? — Sentiu-se
ridículo só de perguntar, mas realmente queria saber.
percebeu e talvez até mesmo tenha feito a conexão entre a sua partida e a
mudança de comportamento dela. Da parte de Annabel, não acho que seja
consciente, porque ela não é uma pessoa vingativa. Mas creio que queira que
você acredite que não nutre mais sentimentos em relação à sua pessoa.
Confio em você.
Na época.
— Ah.
Talvez o beijo o tivesse assustado não apenas porque temia prender-se a uma
única mulher, mas por um medo interior de que não merecia confiança e
emoção.
minha vida. Eu poderia ir embora o mais rápido possível e fingir que nunca
havia acontecido ou poderia considerar uma opção na qual nunca havia
pensado antes, que era o casamento. Optei pela primeira, mas não deu certo.
— Pensei que isto seria mais agradável do que jantar dentro da casa. Está
uma noite linda, não acha?
Caroline aceitou a cadeira que lhe era oferecida, acomodando-se com graça,
as saias de seda esvoaçando enquanto ela se sentava e as ajustava com uma
mão delicada. Sua expressão era um pouco confusa enquanto olhava para os
gigantescos arranjos florais espalhados em vasos por toda parte, enquanto o
perfume das flores preenchia o ar. A mesa também fora bem feita.
inspiração.
Ele era o mais impressionado. Ela costumava preferir vestidos em tons de
verde ou cinza, mas naquela noite estava mais do que deslumbrante em um
vestido azul índigo, a pureza de sua pele marcada pela cor escura, a massa
pesada de seu cabelo ruivo erguida em um coque de estilo simples que se
adequava à sua beleza clássica. Havia uma única safira aninhada no tentador
vale entre seus seios deliciosos, com um tamanho de gema não opulento,
mas cortada em uma forma oval perfeita e sustentada por uma fina corrente
de ouro em volta do pescoço delgado.
— É assim que tem que ser. Senhoras tão adoráveis como você devem fazer
pouco mais do que decorar o mundo ao seu redor.
Ela o olhou, seus cílios ligeiramente abaixados, o brilho da chama das velas
competindo com a luz das estrelas para iluminar seu rosto e graciosos
ombros nus.
Nicholas esperou, curioso com o que ela quase disse, contando com a
habitual falta de rodeios de Caroline para descobrir do que se tratava.
Quando ela não prosseguiu, perguntou suavemente:
— Eu estava prestes a dizer algo que tenho certeza de que você acharia
alarmante e ingênuo, então, não vou ser tão franca.
Diga-me.
Ela o olhou do outro lado da mesa íntima, seus lábios macios separando-se
por uma fração de milímetro.
O intelecto, na verdade, podia ser tão atraente quanto todas as outras partes
deliciosas de uma mulher; ele decidiu, ainda sentado em frente a ela,
observando a luz do luar dourar seus cabelos.
— Você acha que a teoria tem alguma validade? Um artigo foi apresentado
recentemente à Royal Society, que sugeriu a mesma coisa. Na época, achei a
suposição intrigante. Acredita-se que uma onda catastrófica de uma erupção
vulcânica a quilômetros de distância tenha engolido a grande cidade e a
devastado.
Não havia nada de infantil nela, ele pensou, enquanto deixava o olhar vagar
por sua forma flexível e sedutora.
— Disse, de fato.
— Não.
— Para uma mulher bonita, você tem uma notável falta de presunção.
Ela o olhou com uma incerteza pungente, seus olhos adquirindo uma cor
luminosa impressionante.
Ele concordou. Também não achava que ela tivesse. Algo muito
A dança continuou, e o momento adquiriu uma qualidade idílica que ele não
tinha oportunidade de experimentar com muita frequência em sua vida
atribulada. Mas que homem, ele filosofou, não iria gostar de desfrutar de
uma noite tão requintada, tendo uma mulher desejável em seus braços e
sabendo que aquela valsa silenciosa e íntima era apenas o prelúdio de outro
tipo de dança que aconteceria quando ele a levasse para sua cama. Sua
ereção já aumentava, enrijecendo-se constrangedoramente contra o tecido
das calças justas.
— Eu quero você.
Em poucos passos ele cruzou as lajes e abriu caminho através das portas
francesas, abertas à agradável noite. A Sra. Sims estava no corredor principal
e pareceu surpresa quando eles apareceram, seu olhar preocupado fixando-se
em Caroline.
Seu amante.
Não importava como acontecera nem quão curto seria seu tempo juntos, o
carismático Nicholas Manning era seu amante, mesmo que por apenas uma
semana.
Ela desejou poder compartilhar sua indiferença com a opinião dos outros,
mas, novamente, Nicholas já estava muito acostumado a ser examinado a
cada passo. O esplendor de sua boa aparência sombria, a extensão de sua
fortuna e a posição exaltada de seu título o tornavam um alvo natural de
interesse. Se a sociedade descobrisse sua participação na aposta perversa, ela
ganharia uma reputação tão duvidosa quanto a dele, e este era um
reconhecimento que preferia evitar.
— Eu preciso de você nua. — As palavras não foram ditas com ternura, mas,
sim, com uma urgência convincente.
Se Edward lhe dissesse aquelas mesmas palavras, sua vontade seria sair
correndo do quarto. Com o duque diabólico, ela apenas sentou-se e
descalçou
— Está perfeito.
Porque ele não iria machucá-la. Sabia disso. Medo era a última coisa em sua
mente quando ele puxou as calças pelos quadris magros e colocou-se por
cima dela. Não seria do feitio dele forçá-la a algo, e ela definitivamente o
queria de todas as formas possíveis. Sua investida foi impetuosa, mas,
mesmo durante o momento de urgência impaciente e completa, ele fez uma
pausa, interrompendo a penetração na metade do ato carnal, perguntando
com voz rouca:
— Eu preciso de você.
Oh, Deus.
Seus quadris se ergueram a um comando que ela nem sabia que dera quando
Nicholas começou a se mover. Ele deslizou para trás e, em seguida, investiu
em posse total novamente, com tanta força que ela arfou. Uma sensação
delirante saturou seus sentidos, assumiu seu corpo faminto, e ela se banhou
em sua glória, no ostensivo apelo carnal como uma droga. Sob o tecido fino
da camisa, os músculos dele estavam rígidos de tensão.
Caroline deixou a cabeça cair para trás enquanto gemia de prazer, e ele
murmurou algo incompreensível.
Embora duvidasse que ele pudesse se dar conta disso, a ideia de fazer o
Duque de Rothay, seguro, experiente e diabólico, perder o controle era
empoderadora, inebriante. Caroline fechou os olhos para que ele não pudesse
ver o brilho repentino de suas lágrimas. Elas eram de alegria, uma suave
evidência de sua percepção de que todos os golpes dolorosos e o escárnio
que experimentara nas mãos de seu marido estavam sendo apagados com
cada toque carinhoso, cada sorriso verdadeiro e cada beijo selvagem e
luxurioso.
Lá estava ela, pela segunda vez em uma noite, dizendo o que se passava por
sua mente. O que esperava? Uma declaração de afeto de um homem que mal
a conhecia? Ele poderia ter explorado cada centímetro de seu corpo, mas
poucos dias na companhia um do outro dificilmente constituíam um
relacionamento profundo, e suas circunstâncias incomuns tinham que ser
levadas em consideração.
Felizmente, ele era muito mais experiente nas complexidades dos contatos
casuais entre homens e mulheres e deu de ombros, parecendo ignorar as
implicações de sua observação inoportuna. O último botão de seu vestido se
soltou, e ele sorriu de maneira quixotesca.
— Essa aposta infernal nos uniu, então não vou me arrepender. Neste
momento, você está aqui... — ele deslizou seu vestido para baixo e expôs
seus seios rijos sob a fina camisola — e tão carnalmente disponível.
Mais tarde, satisfeita e sonolenta, ela ponderou o futuro com uma sensação
surreal de introspecção fatalista. Aninhada em seus braços, era fácil sentir-se
desejada, sentindo sua presença imponente como um símbolo da mudança
monumental em sua vida.
Ele era o problema, ela percebeu, olhando para onde a brisa da noite
gentilmente erguia as cortinas. Uma vez que tudo era tão novo, tão glorioso,
ficava difícil separar a realidade da fantasia.
Ele conversava com ela. Isto era mais atraente do que sua inegável
habilidade em despertar seu corpo. Se tivesse simplesmente feito o que ela
esperava e a tivesse arrastado para o quarto durante toda a semana, talvez ela
não se sentisse tão perturbada. Em vez disso, fora cuidadoso, gentil e
atencioso em todos os sentidos.
Mas incomodava.
— Você parece cansada, minha filha querida, quase apática, e não tem se
alimentado bem. Agora mesmo, ao provar seu vestido de noiva, mal
ofereceu uma opinião, mesmo quando lhe perguntaram diretamente.
Era tudo verdade, e como Margaret era como uma mãe para ela, Annabel
achava difícil não confessar o que realmente a incomodava. Exceto que não
podia. Se dissesse em voz alta, teria que realmente pensar sobre o assunto, e
isso estava fora de questão.
explicou ela, com uma verdadeira pontada de culpa. Não se tratava de uma
mentira. Os detalhes eram realmente um pouco esmagadores, mas também
não representavam o verdadeiro motivo de sua abstração.
— Tudo bem, então, mas você pode mostrar mais entusiasmo pelos detalhes.
E, sim, o vestido de noiva é um desses detalhes.
Houve uma longa pausa, enquanto o único ruído era o som das rodas sobre
as pedras e o chamado do vendedor ocasional vendendo mercadorias em
uma esquina. Então Margaret assentiu com o rosto sério.
— Se tem certeza de que deseja continuar com isso, sabe que farei o meu
melhor para torná-lo um evento maravilhoso do qual você lembrará para
sempre.
— Alfred é carinhoso, generoso e gentil. Além disso, é possível que seja fiel,
que não é algo que a maioria das esposas pode esperar. Por que eu não iria
querer continuar com o compromisso?
— Significa que estou preocupada. Acho que, por qualquer motivo, você não
está realmente feliz com o casamento, tanto quanto finge o contrário.
Ela não ficaria tão abalada, tão abertamente infeliz, se Derek, de repente, não
surgisse em todos os lugares para onde olhava. No ano anterior, mal o vira,
mas nos últimos cinco dias ele fora jantar três vezes, tomar chá duas vezes e
até aparecera em uma pequena apresentação musical da filha de um dos
amigos de Margaret. Seu comportamento sem precedentes gerara mexericos
por toda a sala, e a pobre jovem ficara tão nervosa por ter o infame conde na
plateia que praticamente destruíra todas as interpretações de Bach e Mozart
de uma maneira que teria feito os dois compositores estremecerem.
lo, e ela desprezava a si mesma e ainda mais a ele por fazê-la nutrir uma
dúvida sequer.
Em parte, era aquela maldita carta que ele lhe escrevera. Estava guardada em
uma gaveta no fundo do armário, o conteúdo inviolado, um símbolo de sua
indiferença.
Mas todo dia, sem falta, ela se perguntava o que a carta poderia dizer e
tornava-se mais tentador do que nunca abri-la e lê-la.
E então o toque de seus lábios nos dela. Suave, terno, cedendo e exigindo,
roubando o ar de seus pulmões.
Mas então outra memória a invadiu, uma do mesmo homem que a tomara
tão gentilmente em seus braços abraçando outra mulher.
— Estou feliz.
— Perdoe-me.
pessoas a quem ele poderia praticamente atropelar em uma calçada, por que
tinha que ser o homem que ele menos queria ver em toda a cidade?
— Sim, de fato.
— Junte-se a mim para uma bebida. Há uma pequena taverna no fim da rua
que serve um uísque decente.
Amigável e urbano, o noivo de Annabel o olhou com expectativa. Pessoas e
carruagens passavam por ali, e talvez fosse o barulho e a distração, ou talvez
ele simplesmente se sentisse um idiota naquele momento, diante da irônica
ideia de tomar uma bebida de forma amigável com seu adversário, mas
Derek não conseguiu inventar uma desculpa rápida sem parecer rude.
Mas que inferno! Hyatt provavelmente nem sabia que eles eram adversários.
— Um uísque me parece uma boa ideia — ele murmurou, e isso não era
mentira. Talvez tomasse uma garrafa inteira, pensou enquanto começavam a
andar.
Maldição.
Isso não era o que ele esperava ouvir. Derek ergueu uma sobrancelha.
— Sim?
— Que dilema?
— Bem… tem a ver com mulheres, é claro. Eu vou adivinhar que no curso
de seus... er... muitos relacionamentos do passado, você tenha descoberto
exatamente o que as agrada quando se trata de presentes.
Derek ficou observando-o, imaginando que ato ruim poderia ter cometido
para que o destino desejasse puni-lo, colocando o próprio homem que estava
prometido à mulher que amava a pedir-lhe conselhos sobre o que a agradaria
para celebrar suas núpcias. Relembrando rapidamente sua vida inteira,
decidiu que, mesmo em seus momentos menos angelicais, nada vinha à
mente que fosse ruim o suficiente para justificar essa tortura em particular.
— Estou perdido, mas quero acertar, e tenho certeza de que você entende.
Derek pigarreou.
— O que se compra para uma amante e para uma esposa são duas coisas
diferentes, tenho certeza. Duvido que possa ajudar muito. Annabel não é
vaidosa o suficiente para cobiçar joias ou perfumes caros, receio.
Quanto mais rápido terminasse, mais rápido poderia dar uma desculpa
plausível e sair.
dela um pouco melhor, talvez não tivesse estragado tudo. — Nós realmente
não nos falamos com frequência.
Pela primeira vez, Derek tomou nota da vigilância nos olhos do outro
homem.
Tio Thomas dissera que achara que lorde Hyatt havia notado o
comportamento de Annabel na reunião de noivado. Talvez o homem fosse
perceptivo de outras maneiras também. Thomas percebera, afinal. Talvez
Hyatt também tivesse identificado um rival.
— Ela mencionou isso para mim uma vez. — Hyatt recostou-se um pouco
em sua cadeira, com um olhar atento, e, embora não fosse abertamente
hostil, uma nova expressão se estabeleceu. — Preciso dizer que ela fica
bastante tensa quando seu nome surge.
— Acho que a partir do momento em ela teve idade suficiente para entender
todas as fofocas, decidiu que eu era muito menos heroico do que pensava
quando mais nova. — Ele tomou outro gole de seu copo. — Ela está
absolutamente certa, é claro.
— Entendo. — Hyatt parecia sem graça. — Quem sabe como uma mulher
vai reagir às coisas?
Era difícil saber como responder, então Derek se recusou a fazê-lo. Em vez
disso, terminou sua bebida e pousou o copo fazendo um barulho agudo.
— Desculpe não poder ajudá-lo com uma ideia brilhante para um presente.
E como diabos ele iria suportar isso, Derek não tinha certeza. Pior do que
Não. Ele não iria discutir sobre a viagem de lua de mel. A palavra
— Annabel sempre teve um senso de aventura. Tenho certeza de que ela vai
adorar. Agora, se você me der licença...
— Esse senso de aventura já se estendeu a você, Manderville?
— O quê?
Suponho que a maioria das mulheres o faça, então, talvez não seja algo
incomum. Mas talvez signifique alguma coisa.
Este era o ponto em que Derek deveria ser capaz de declarar que nunca a
tocara. Mas ele a tocara, provara-a, e por mais que um beijo dificilmente
significasse que ele a havia comprometido, ainda não se sentia livre de
culpa.
— Fique certo de que a honra de Annabel está intacta. Obrigado pela bebida.
Uma vez fora, andou pela rua com propósito claro, fazendo as pessoas
saírem de seu caminho.
Era um bom ou um mau sinal? Annabel poderia odiá-lo ainda mais se ele
fosse uma causa de disputa entre ela e seu futuro marido. Mas Hyatt
mencionara o comportamento dela, não o dele.
Ele precisava falar com Annabel. Não havia uma única dúvida sobre isso.
Era surpreendente para Nicholas perceber que gostava da suavidade da
aurora. Não que fosse preguiçoso − ele normalmente tinha muitas coisas a
fazer −, mas geralmente ficava acordado até tarde e raramente se levantava
assim que o sol surgia no horizonte. Depois de algumas manhãs deitado na
cama e vendo o céu clarear, ele percebeu que gostava disso.
É claro que não doía ter uma mulher encantadora ao seu lado também, ele
decidiu, e talvez essa fosse a razão pela qual de repente desenvolvera um
apego sentimental pelo nascer do sol depois de vinte e oito anos ignorando-o
completamente.
Caroline dormia como uma criança, de lado, com uma mão sob a bochecha,
a respiração suave e lenta. Contudo, ela certamente não era infantil de
nenhuma outra forma, com aquele corpo voluptuoso nu, parcialmente
coberto pelos lençóis de seda, os seios cheios e rosados expostos e muito
tentadores. Seu cabelo rico caía sobre os ombros pálidos e decorava o
cobertor em um lustroso conjunto de cachos desordenados. Em repouso, ela
se parecia com o que ele supunha ser o ideal da mulher perfeita, toda
sensualidade graciosa e o charme evidente.
Mas ela acordava cedo, e ele descobriu que gostava de acordar com ela.
Certamente, assim que a sala se iluminou o suficiente para que a mobília não
se parecesse apenas com formas vagas, e para que a luz contra as cortinas
fechadas lançasse um brilho cálido ao tapete oriental, ela se mexeu.
— Bom dia.
Caroline sorriu e girou para lhe dar um sorriso sonolento. Com uma
modéstia um pouco tardia e desnecessária, ela puxou o lençol por sobre os
seios nus enquanto piscava, despertando.
— Bom dia.
— É muito cedo para me encantar com seu charme, Rothay. — Ela riu e se
alongou preguiçosamente mais uma vez.
— E se eu estiver sendo sincero?
Mas não disse nada. Articular seus verdadeiros sentimentos era mais difícil
do que imaginava. Com isso, ele tinha pouca prática. Normalmente era mais
fácil simplesmente ir embora.
Seu caso com Helena lhe ensinara muitas coisas. Manter o apego ao mínimo,
porque isso não poderia trazer nada além de tristeza em sua vida.
Ele sorriu quando ela gesticulou para a tela que discretamente escondia o
sanitário do resto do quarto.
Tal ideia fez com que ele estreitasse os olhos, sentindo uma onda de
aborrecida possessividade abrandar seu desejo por um momento. Caroline,
deitada de lado, com aqueles cachos ruivos e sedosos se derramando sobre
os ombros e costas, mordeu o lábio inferior, arregalando um pouco os olhos.
Além disso, ela era muito jovem e casável para ser sua amante, e a
possibilidade de que fosse infértil era um risco muito grande para considerar
um tipo diferente de arranjo.
Na verdade, ele mal podia acreditar que a opção tivesse lhe ocorrido, mesmo
de improviso.
— Nada está errado, muito pelo contrário. — Ele estendeu a mão e tocou
primeiro seu rosto; em seguida, deslizou seus dedos levemente pelo arco de
seu pescoço. — A manhã está gloriosa, e eu a tenho nua ao meu lado. O que
poderia estar errado, minha querida?
— ASSIM.
E o que ele queria, ao que parecia, era que ela se sentasse sobre seus
quadris esguios.
Havia apenas um leve rubor sobre sua pele, e seu peito musculoso se erguia
com um ritmo ligeiramente acelerado.
— Algumas mulheres gostam muito. Vamos ver se você será uma delas.
Seu pênis ereto ergueu-se com força contra o abdome plano, a ponta
brilhando com evidências líquidas de seu desejo. Caroline se balançou um
pouco para frente, enquanto as mãos dele ainda a guiavam, e colocou os
dedos ao redor da carne inchada, conforme se levantava e posicionava o
membro em sua entrada feminina.
Ela só precisava inclinar um pouco o corpo para que a sensação fosse divina
ao ponto de fazê-la estremecer em resposta. O atrito era deliciosamente
escorregadio e quente, e eles se observavam enquanto seus corpos
alcançavam o ápice ao mesmo tempo. Para cima, para baixo, para cima de
novo... Santo Deus, ela não aguentou, especialmente quando ele encaixou a
mão entre eles e fez algo muito perverso com o polegar no lugar certo.
— Eu acho que agora seria um bom momento, minha querida — as palavras
foram ditas em um silvo por entre seus dentes cerrados. Os quadris dele se
arquearam ao mesmo tempo em que ela descia ainda mais.
— Acho que você gostou de ser um pouco mais aventureira. Há mais para
aprender, você sabe, e ainda temos três dias.
Uma parte rebelde de seu cérebro traduzia isso. Apenas três dias?
— Sinto-me confiante de que você sabe tudo o que há para saber, Rothay.
— Ela conseguiu erguer a cabeça e esperou que sua expressão parecesse tão
suave quanto ela pretendia demonstrar. Queria soar desapegada, indiferente,
mais parecida com as mulheres a quem ele estava acostumado, porque se
pudesse efetivamente personificar uma daquelas sofisticadas beldades da
sociedade, então talvez pudesse assumir sua atitude blasé sobre relações
sexuais superficiais. Uma parte perversa de Caroline era intensamente
curiosa e a obrigou a fazer a pergunta que estava no fundo de sua mente
desde o momento em que o conhecera.
Lá estava de novo, um flash de algo em seu rosto; algo que ela não entendia
muito bem.
Caroline lançou a ele um olhar tão cético quanto era capaz em seu estado de
felicidade lânguida, seu corpo ainda cantarolando e o sexo de Nicholas ainda
dentro dela.
Uma vez que ele já havia confessado que não estava interessado em
casamento, algo que ela compreendia, Caroline precisava tentar ignorar o
lampejo irracional de tristeza por se sentir aparentemente incluída naqueles
incontáveis números de amantes do passado. Isso não deveria importar,
lembrou a si mesma com uma lógica implacável, porque ela entendia o jogo
ao qual se juntara, e ele certamente cumprira sua parte no trato.
Aquela era a semana mais adorável de sua vida, mas ele a esqueceria, e uma
forte sensação de tristeza a preencheu por conta de tal verdade indiscutível.
Ele não era um amante constante, e certamente nunca prometera ser, então,
ela não tinha nenhum direito a expectativas de qualquer tipo.
— Você percebe, Sua Graça, que vai ser duramente pressionado para superar
o seu gesto romântico da noite passada.
Mesmo que ela saísse daquele arranjo sem nada, guardaria eternamente as
memórias de terraços iluminados pela lua e braços fortes ao seu redor
enquanto se moviam em uma dança silenciosa e bonita.
Uma sobrancelha de ébano se ergueu, e um sorriso se formou, lento e
infinitamente diabólico; um verdadeiro tributo ao seu apelido.
— Para ser melhor que Lorde Manderville? Você o conhece melhor do que
eu, mas imagino que, como ele faz parte da aposta, dará um braço para
superá-lo.
Ele murmurou:
Isso provocou uma gargalhada que ela não conseguiu reprimir, mas tinha a
sensação de que seu riso soava um pouco trêmulo.
— Não que eu queira alimentar sua arrogância, mas duvido que precise se
preocupar, de qualquer forma.
Teria sido melhor se ela fosse uma boa mentirosa. Em vez disso, disse
simplesmente:
— Sim.
Tudo o que ele queria era ter uma breve conversa civilizada.
Bem, isso não era tudo o que queria, mas se contentaria com a chance de se
declarar.
A janela estava entreaberta por causa da noite quente, e ele contara com isso.
Empoleirou-se pela fresta e ouviu o murmúrio de vozes lá dentro, esperando
a empregada de Annabel sair. Quando o som suave da porta se fechou,
preparou-se, esperando que o objeto de sua visita não gritasse até acordar a
casa inteira.
Para sua sorte, suas costas estavam viradas enquanto ele afastava as cortinas
e entrava no quarto. Sentada à sua penteadeira, ela não notou sua entrada
precipitada até que o viu através do espelho e seus olhos se arregalaram.
— Não. Se você gritar, todos nesta casa saberão que estou no seu quarto.
Sua boca, que estava aberta, se fechou. Annabel se virou na cadeira com
tanta violência que quase caiu no chão. Ela recuperou seu equilíbrio e
nivelou um olhar indignado para ele. Suas bochechas coraram em um tom
rosado.
— Saia daqui.
Ele quase riu da tentativa de tratamento formal. Desde que Annabel era uma
criança, ela sempre o chamara pelo primeiro nome, mas, em seu atual estado
de tristeza, Derek não conseguia achar nada engraçado, então, simplesmente
lançou a ela o que esperava ser um olhar neutro.
— Eu tentei. Caso você não tenha notado, bebi mais xícaras de chá insípido
esta semana do que em todo o ano passado. Fui a festas das quais nunca
consideraria participar quando estava perfeitamente são e me convidei para
jantar aqui em várias noites. Com você, minha querida, é impossível ficar
sozinho por um minuto. Esta é minha solução. A menos que queira um
escândalo, é melhor não anunciar minha presença.
Ela o olhou como se ele realmente fosse louco, e Derek não poderia culpá-la.
Maldição! Aquela era a casa de seu tio, e ele podia entrar pela porta da frente
a qualquer hora, sendo muito bem-vindo. No entanto, até mesmo Thomas,
que era tão maleável, não permitiria sua entrada no quarto de Annabel.
— Você esqueceu minha carta? Por favor, não me diga que não a recebeu,
Annie.
— Por que escreveu? Por que está fazendo isso? — Como se de repente ela
notasse que não usava nada mais do que uma camisola, ergueu a mão até o
corpete e a prendeu ali. — Alfred não iria apreciar sua presença em meus
aposentos.
Com mil diabos, ela parecia deliciosa vestindo nada além de algodão e renda
branca, seus cabelos dourados soltos em volta dos ombros, o rosto desviado,
permitindo que ele estudasse a perfeição de seu perfil. Cílios longos
desenhavam sombras sobre suas bochechas.
— Não até eu dizer algumas coisas. — Derek não se moveu de onde estava,
perto da janela, mas apoiou um ombro contra o parapeito. Se ele se
aproximasse, não tinha certeza se poderia prometer uma conduta
cavalheiresca. — Posso falar?
Você é você.
— Sim, eu sou eu. Um homem. Aquele que tem as falhas normais de todos
os outros homens.
Não é inocente?
Derek sentiu o peito se apertar, rejeitando aquela ideia. Involuntariamente
deu um passo à frente.
— Claro que não. Se está se referindo a Alfred, ele nunca faria isso. Nem
todo mundo é como você.
Havia aquela palavra novamente, lançada contra ele como uma flecha
farpada. Sentiu-se aliviado, de qualquer maneira. Não, Hyatt não tocara nela,
o que explicava o ressentimento do homem e sua interpelação no encontro
— Não sou santo. Jamais reivindiquei ser um. Mas também não sou
irresponsável. É por isso que estou aqui agora. Nunca tive a oportunidade de
me desculpar pelo que aconteceu, exceto no papel, e aparentemente não é o
suficiente para você.
Uma brisa suave agitava as cortinas atrás das costas de Derek. Ele disse,
com entonação de sussurro:
Ele sabia que ela lembrava. Ela sabia que ele sabia disso. Os olhos de
Annabel brilharam.
— De fato, eu me lembro daquele dia. De todo ele.
Lutando por uma calma que realmente não sentia, ele disse:
— Não posso ver como um simples beijo pode estar relacionado ao seu
comportamento sórdido e repugnante.
— Eu sei que te desiludi, mas não foi intencional. Além disso, aquele beijo
foi tudo, menos simples, e nós dois sabemos disso.
Maridos irados por toda parte poderiam corroborar com esta afirmação;
Lorde Tanner por exemplo. Quando essa história veio à tona, admito que não
fiquei surpresa.
— Eu nunca quis ser canonizado. Tudo o que posso dizer é que o caso
Tanner não me envolvia. Não tive nada a ver com isso. Não sei o que mais
você ouviu, mas, acredite em mim, o que mais fiz no ano passado foi pensar
em você.
— Tudo por causa de um beijo? Perdoe meu ceticismo, mas saiba que é
difícil de acreditar.
Esperando que ela pudesse ouvir a sinceridade em sua voz, ele disse a
verdade.
Mas certamente não havia mais como evitá-lo. Não quando ele estava ali, em
seu maldito quarto, com toda a beleza masculina de seu rosto parecendo
sombria e esculpida sob a luz fraca, seu cabelo loiro espesso roçando a gola
de uma fina camisa de linho que enfatizava a impressionante largura de seus
ombros. Calções pretos e botas chamavam atenção para o longo
comprimento de suas pernas, mas ele não usara casaco nem gravata para sua
escalada arriscada.
O fato de ele ter feito isso era desconcertante, e sua última declaração a
deixou sem palavras. Derek repetiu, no mesmo tom rouco:
— Aquele beijo que nunca deveria ter acontecido mudou minha vida, Annie.
Por minha honra, juro que é verdade.
A memória era ainda muito dolorosa, como uma ferida aberta que se
recusava a sarar adequadamente, então, ela disse, com amarga convicção:
Ele contraiu os lábios, e ela soube que tinha ido longe demais.
— Confesso que não estou surpreso que você tenha uma opinião baixa sobre
mim, porque deixou isso claro o suficiente. Mas nós também nos
conhecemos há muito tempo, então você não pode me conceder a gentileza
de me ouvir? — Seus olhos, tão vividamente azuis, exibiam um olhar de
súplica que não lhe era característico. — Com certeza está curiosa para saber
o que pode haver de tão importante a ser dito que me fez até arriscar meu
pescoço para podermos conversar.
Só não estava certa de que seria capaz de resistir. Talvez não chegasse nem
perto do grau de sofisticação e experiência dele, mas pelo menos era
inteligente o bastante para admitir e sabia que seria imprudente baixar a
guarda até mesmo por um momento. Derek Drake era perigoso para seu grau
atual de insatisfação em relação ao seu casamento.
— Minha família e eu provemos para você durante todos esses anos, e isso
deve valer para alguma coisa.
— Isso não é justo. — Ela se empertigou, olhando para ele. — É minha
culpa ter ficado órfã?
— Não, claro que não. — Sua expressão implacável não mudou. — Mas
acho que estou sendo bastante razoável. Você pelo menos me deve a chance
de me defender. Podemos conversar?
Ele era o conde, seu título o tornava responsável em termos financeiros pela
propriedade que ela considerava sua casa, e, sim, sua família era mais do que
generosa com ela, Annabel sabia disso. Ela realmente lhe devia alguma
coisa, nem que fosse em respeito a Thomas e Margaret.
— Tudo bem.
— Apenas diga o que você acha que é tão incrivelmente importante e saia.
Se alguém te encontrasse no meu quarto a qualquer hora, mesmo
completamente vestido, eu estaria arruinada.
Infelizmente, esta era a mais pura verdade. Por mais complacente que Alfred
fosse, ela duvidava que até mesmo ele entendesse.
— Nada do que aconteceu naquele dia foi previsto. Eu não pretendia beijar
você e, mais tarde, não pretendia sequer tocar em Isabella Bellvue, e não fui
mais longe do que isso. Se você bem se lembra, eu a evitei por dias.
— Não? Bem, escute. — Sua voz continha uma espécie de diversão sombria.
— Se você quer ouvir algo absurdo, posso elucidar. Naquela tarde, quando a
segurei em meus braços, percebi que só tinha uma escolha quando se tratava
de você, e era recuar ou prosseguir com intenções honradas. Não vou negar
que a segunda ideia me abalou completamente. Quando Isabella se
aproximou de mim mais tarde, eu ainda estava tentando negar que precisava
tomar uma decisão. A noção de que minha vida mudaria tão drasticamente
não era fácil de reconhecer. Não sou o primeiro homem a fugir da ideia de
amor, muito menos de casamento.
Além disso, ela se lembrava bem da expressão em seu rosto antes que ele
deixasse a biblioteca tão abruptamente. Havia a possibilidade de Derek estar
dizendo a verdade.
Ele continuou.
— Suponho que pensei que um interlúdio com uma mulher disposta poderia
curar minha loucura momentânea.
A percepção de que seu coração tinha começado a bater mais rápido era
irritante.
— E curou? — Annabel perguntou num tom tão frio quanto possível, mas as
palmas das mãos estavam úmidas. Havia uma expressão no rosto de Derek
que ela nunca vira antes e embora ele ainda parecesse imponente e muito
masculino, existia uma sugestão de vulnerabilidade para um homem que ela
sempre vira como invencível.
— Não. Como acabei de dizer, não aconteceu nada além do que você viu.
Annabel retrucou:
— Perdoe-me por não ter muita simpatia por ela. Ainda assim, o que
aconteceu já pareceu mais do que suficiente para mim. Ela estava meio
despida e você estava... — Annabel parou, envergonhada. Sem dúvida,
Derek havia tocado seios de tantas mulheres que o evento não tivera sequer
significado.
— Isso é porque você ainda é muito inocente, o que faz parte do nosso
problema. Confie em mim, há muito mais.
— Confiar em você? Por favor. Além disso, não temos um problema mútuo.
Não há nada que compartilhemos — ela cuspiu cada palavra
deliberadamente.
— Vamos lá, Annie, isso não é verdade. — A expressão em seu rosto era
dura, quase acusadora. — Você me evita. Deus sabe que tentei ficar longe de
você. Não está funcionando. Para nenhum de nós. Outras pessoas notaram.
— Deixe Alfred fora desta… desta discussão ridícula. Não sei por que
estamos debatendo, em primeiro lugar. — Suas mãos se fecharam em
punhos, e seu estômago parecia estranho, como se tivesse engolido algo
indigesto. — Como você poderia saber o que ele acha?
— O que mais posso oferecer senão a verdade? É por isso que estou aqui.
Derek continuou parado, ainda incrivelmente belo, mesmo sem seu charme
notável em evidência. Em vez disso, a expressão em seu rosto estava
exposta, aberta, nada como seu habitual fascínio carismático e misterioso.
Derek suspirou e passou os dedos pelos cabelos espessos. Ela não fazia ideia
de como ele conseguia se tornar ainda mais atraente quando despenteado,
mas, de alguma forma, era exatamente isso que acontecia.
— Dito assim, certamente parece ruim o suficiente. Você não vai facilitar
para mim, vai? E como eu disse, não aplaquei nada.
— Annie, eu te amo.
Maldito, ele não deveria ser capaz de provocar aquele tipo de reação nela.
— Foi por isso que fez uma aposta na frente de toda a alta sociedade para
descobrir quem é o amante mais talentoso da Inglaterra? Esse tipo de
ostentação não vem de um homem que seria fiel a uma única mulher.
Por favor, eu não posso acreditar que ele está falando sério.
— Assim como escalar uma parede no escuro e subir por uma janela
encarnando um personagem de um conto romântico.
Mesmo rejeitando a ideia de que ele pudesse tocá-la, uma parte traidora de
Annabel desejava que fizesse isso.
Mais três passos... talvez quatro, e ele poderia tomá-la em seus braços
novamente e...
— Annie...
Ignorar a súplica rouca em sua voz foi a coisa mais difícil que ela fez em sua
vida.
— Por favor.
Se ele a tocasse uma vez, apenas uma vez, ela poderia desmoronar.
Para seu horror absoluto, uma lágrima correu por sua face em um deslize
lento e quente, pingando em suas mãos que estavam fechadas com tanta
força em seu colo que as juntas doíam.
E pensar que prometera nunca derramar outra lágrima por Derek. Como ele
se atrevia a mentir para ela depois de uma miríade de ofensas?
Por um momento ele apenas ficou ali, parado, e então, para sua surpresa,
assentiu e fez o que ela pediu sem dizer mais uma palavra, saindo pela janela
e desaparecendo de vista.
Deixando-a sozinha.
de seu desespero, Derek decidiu enquanto andava os dois quarteirões até sua
própria casa, mas não acontecera. Além disso, seu brilhante plano havia
falhado por causa de uma única lágrima.
De suas falhas − tantas que mal conseguia contar —, crueldade não era uma
delas. A expressão no rosto de Annabel lhe dissera tudo o que precisava
saber sobre o que já tinha feito e se tivesse seguido em frente e tentado
seduzi-la, teria odiado a si mesmo.
Então o jogo não estava perdido, ele só precisava repensar sua estratégia.
Para começar, admitiria a derrota naquela aposta ridícula. Não iria passar
uma semana com a deliciosa Lady Wynn. Poderia aceitar isso. E se houvesse
a menor chance de Annabel mudar de ideia e ele arruinasse todas as suas
chances, reforçando ainda mais sua reputação já não tão pura? Esperava que
Nicholas estivesse se divertindo, mas Derek duvidava seriamente que
pudesse agir com igual entusiasmo. Não com toda a sua felicidade futura
pesando na balança.
A única mulher que ele queria era Annabel. Com ou sem ela, tinha a
sensação de que seus dias de libertino tinham acabado.
Nicholas leu o bilhete pela segunda vez e depois colocou-o de lado, pesando
suas opções. Realmente havia apenas uma.
— Más notícias? — Caroline o olhou do outro lado da mesa, preocupada e
franzindo a testa.
Ele estava ansioso por outro passeio ao longo do rio e, talvez, persuadi-la a
nadar no final da tarde. Ela confessara que sempre quisera aprender. Pensar
em Caroline nua dentro d'água oferecia algumas possibilidades tentadoras.
Ela realmente sentia que fora ele a lhe dar alguma coisa? Nicholas a olhou,
percebendo como o quanto era confortável sentar-se e desfrutar de algo tão
mundano quanto um simples almoço apenas porque gostava de sua
Lá estava outra vez aquela honestidade refrescante que ele achava tão
encantadora.
Ela estava certa, claro, criados costumavam fofocar. Sua casa estava fora de
questão.
— Não em Londres, não com discrição. Você tem muito pouco a perder se
formos ligados de maneira escandalosa. Eu tenho muito. Então, receio que
terei que recusar.
A luz do sol que entrava pela janela comprida iluminava seu brilhante cabelo
ruivo como se aquecido pelo fogo. Ela usava um vestido de dia amarelo
pálido de musselina que a fazia parecer muito jovem, como uma estudante
inocente. Mas Nicholas poderia atestar, depois dos recentes e satisfatórios
dias de edificação sexual, que havia uma mulher apaixonada sob aquele
exterior recatado. Os homens iriam sentir isso, pois o que antes era uma
atitude indiferente agora fora substituído por uma confiança feminina.
Inferno.
Talvez essa separação fosse benéfica. Ele estava desapontado, mas ter seu
interlúdio interrompido poderia pelo menos abafar as pontadas irracionais do
que acabaria sendo interpretado como ciúme. Quem era ele para pedir-lhe
que não seguisse com a segunda metade da aposta? Não tinha nenhum
direito sobre ela, e Caroline simplesmente recusaria educadamente qualquer
outro tipo de envolvimento.
Não havia como negar a linha tênue sobre a qual uma mulher precisava
andar em uma sociedade julgadora, não importando que lado ela escolhesse,
virtude ou não. Se preferisse manter a fachada fria, que assim fosse. Ele
certamente era capaz, e mais experiente do que ela, de se desprender dos
envolvimentos sexuais.
Ela assentiu com a cabeça, com uma expressão ilegível naqueles olhos
cinzentos de cílios longos.
O fascínio inesperado que ela exercia sobre ele estava longe de acabar.
Era uma questão de melancolia, algo que já tivera muito em sua vida, e de
prudência, o que era bem melhor.
O duque de Rothay exercera um profundo efeito em seu bom senso.
De onde ela estava, podia ver o terraço onde haviam se sentado e tomado
chá − bem, na verdade, ele bebera seu conhaque habitual −, e onde depois
valsaram ao som de uma melodia silenciosa. Talvez ela devesse ter
concordado em encontrá-lo novamente. Será que se tivesse feito isso não
estaria se sentindo tão... desolada?
Nada a respeito dele fora como ela esperava, exceto por suas habilidades
sexuais lendárias. O homem justificara sua reputação no quesito com
facilidade. O que ela não previra fora o olhar pensativo em seu rosto
enquanto eles discutiam sua visita às mesquitas bizantinas, sobre as quais ela
apenas lera, a indulgência às suas perguntas incessantes, sua atitude
agradável em relação à abordagem mundana e cautelosa à sociedade de
Caroline...
Ele não era esnobe, e com sua linhagem e fortuna, certamente poderia ser.
Ela até o pegara um dia nos estábulos, conversando com seu cocheiro, Huw,
Nobre e criado riram ao mesmo tempo, e Caroline sentiu algo pelo homem
que nada tinha a ver com sua persuasiva perícia sexual.
Se fosse honesta consigo mesma, e não era algo fácil, ela sabia muito pouco
sobre o amor. Seu pai frio certamente não inspirava essa emoção, sua tia não
era nem cálida nem maternal, e Edward fora um pesadelo. Talvez o
problema fosse que, pela primeira vez em sua vida, alguém a tratara com
cortesia, ternura e, acima de tudo, como se fosse uma pessoa com
pensamentos e sentimentos próprios. Dentro e fora da cama eles discutiram
tudo, desde política até História, e se ela discordasse de sua opinião, ele se
interessava em saber o porquê. O conceito de uma discussão amigável era
novo, e Nicholas, com sua confiança formidável e inteligência apurada, não
era de modo algum o malandro egocêntrico que imaginara. Isso a confundia,
e ela sabia que era lamentavelmente suscetível, o que não ajudava em nada.
O
jogo, no qual Nicholas era tão experiente, era novo para ela, e, sendo uma
principiante, Caroline fez o impensável e se apaixonou.
Isso a fez se sentir tola, desajeitada e nada sofisticada. Mesmo que ele
quisesse se envolver em um caso, isso provavelmente significava que ela não
passaria de um desvio incomum de sua rotina regular de amantes
experientes, e Caroline era suficientemente pragmática para saber disso.
— Foi muito bom ter Sua Graça por aqui, devo dizer.
— Sim.
— Eu sempre quis que Sua Graça desenvolvesse um gosto por este lugar.
É muito agradável aqui, embora eu suponha que não seja muito emocionante
para um homem jovem. Lembro-me dele quando menino, e sempre foi um
pouco precoce, capaz de conseguir doces extras com o cozinheiro e enganar
seu professor. Puxou à mãe, sem dúvidas, mas acabou se tornando um bom
homem, não importa o que digam sobre ele.
Não tinha certeza se estava mais surpresa pela mulher ter ousado falar sobre
isso com ela ou por saber tanto, mas Caroline não pôde deixar de perguntar:
— Ah, sim. Fiquei na Rothay House por anos. — A empregada alisou seu já
perfeito avental com um maneirismo inconsciente. — Quando quis algo
menos cansativo, ele me ofereceu esta posição. Minhas articulações doem
terrivelmente às vezes e é calmo o suficiente aqui.
Isso era verdade. Tinha a beleza pacífica que Caroline preferia, e mais de
uma vez ela pensara em vender a casa em Londres e comprar um lugar lindo
e isolado como aquele.
— Sua Graça pediu que eu lhe dissesse que se a senhora quiser usar a
Tenterden Manor a qualquer momento, será sempre bem-vinda.
O gesto atencioso fez brotar lágrimas em seus olhos. Se já não estivesse com
vontade de chorar estupidamente pela partida de Nicholas, isso aconteceria
naquele momento. Fora apenas uma observação casual, mas ele se lembrara.
Então, teria que lidar com sua mãe, sua irmã mais velha e seu cunhado.
Parecia que agora ele teria que jantar em família. Olhou para o relógio, com
uma expressão que esperava que não fosse de óbvio desalento. Uma noite
calma, jantando em seu clube, estava fora de questão agora.
— Parece ótimo.
A inquietação dele nada tinha a ver com qualquer plano, mas, sim, com uma
jovem muito adorável que ocupara seus pensamentos durante todas as
últimas horas. Será que Caroline teria escolhido ficar? Seus sentimentos
estavam decididamente misturados. Ele podia claramente imaginá-la
dormindo na cama onde compartilharam tantas horas de prazer, e isso o
deixou inquieto.
Por quê? Ele não tinha certeza. Normalmente costumava sair sem olhar para
trás.
— Não tenho planos específicos, mas também cheguei hoje. Estive fora da
cidade.
— O que lhe faz pensar que há uma mulher? Eu tenho uma dúzia de razões
para deixar a cidade e faço isso com bastante frequência.
Bom Deus, isso era exatamente o que ele não precisava. Todas as mulheres
eram tão perspicazes ou apenas mães com seus filhos? Ele sorriu e balançou
a sua cabeça. Era um homem adulto e pouco inclinado a discutir sobre tal
assunto, especialmente porque Caroline era o problema.
— Correu bem.
Pelo menos ela aceitou a dispensa, embora Nicholas sentisse que a discussão
estava longe de terminar. Trocaram apenas mais alguns gracejos.
— Terei prazer em jantar com duas das minhas mulheres favoritas, e você
sabe que eu gosto de Charles. Apenas me deixe trocar de roupa. Estou um
pouco empoeirado. A carruagem não me atraiu esta tarde, então, escolhi
caminhar.
— Obrigado, Thomas.
Tímido e sério, com cabelos ruivos e uma pele sardenta, o jovem apressou-se
em pegar cada peça de roupa que era descartada.
— Foi... satisfatória.
Caroline claramente recusara novos encontros, então, ele não tinha escolha.
Nicholas não sabia exatamente o que ele fazia para o Ministério da Guerra,
mas sabia que era altamente respeitado em todos os círculos, e suspeitava
que seu trabalho tivesse algo a ver com inteligência militar.
— Nicholas... que bom ver você. — Peyton se aproximou com um copo de
Claret e lançou-lhe um olhar agradável sobre a borda. — Fiquei sabendo que
esteve fora da cidade.
— Isso tem alguma coisa a ver com a sua pequena competição com
Manderville?
Não tinha muita certeza do porquê de ter ficado tão surpreso que alguém
tivesse conseguido adivinhar tão facilmente. Ainda mais Charles, que era tão
— Eu me ausentei por cinco dias e não devo a ninguém uma explicação, por
Deus. — Muito raramente sentia que seu status o tornava imune às mesmas
regras que governavam homens de posição menos privilegiada, mas aquele
não era o caso. Por que deveria explicar a alguém sobre o seu paradeiro? A
Inglaterra já exigia muito de seu tempo.
— Eu não disse que é verdade. Mas todo mundo quer conhecer o resultado.
Permita que nós, homens casados, vivamos por intermédio suas façanhas,
sim? Há mais especulações sobre quem pode julgar sua contestação
heterodoxa do que sobre o resultado. Uma quantia razoável de dinheiro está
sendo apostada em sua pequena disputa.
— Receio ter ficado mimada. Nosso tempo tem estado tão bom que quase
esqueci como ele pode ficar horrível.
— Você parece mais quieta do que de costume esta tarde, minha querida.
— Alfred sorriu para ela. — Fico feliz em saber que é o tempo e que nada
mais está errado.
Tudo.
Segundo Derek, Alfred notara a tensão. Pior ainda, ele havia confrontado
Derek sobre isso.
Ela olhou para o noivo e se perguntou o porquê de tantas dúvidas. Parecia o
mesmo de sempre, elegantemente vestido na última moda, com as botas
polidas até brilharem, o cabelo castanho penteado para trás de um rosto que,
embora não fosse precisamente bonito, era certamente muito atraente. Os
mesmos olhos castanhos, o mesmo nariz, a mesma boca, mas em vez de se
sentir tranquilizada por sua presença, por alguma razão insana, Annabel
começava a duvidar se aquele casamento era mesmo o que queria.
Eu te amo.
Desnecessário seria dizer que ela não acreditou nele, e mesmo se o fizesse,
não importaria. Ele não era o tipo de homem que seria fiel, e ela não era o
tipo de mulher que poderia se casar com alguém que não fosse. Fim da
discussão.
Não que ele tivesse proposto casamento, de qualquer maneira. Derek Drake
não era do tipo que oferecia compromisso honesto a qualquer mulher.
Tudo o que ele queria era o uso transitório de seus corpos. A partir daquele
beijo devastador de um ano atrás, Annabel soube que ele estava atraído por
ela e suspeitava que sua invasão impetuosa ao seu quarto e subsequente
declaração se originava da noção que não poderia tê-la.
Porque não havia nenhuma maneira de ela ser tão tola a ponto de acreditar
que seus sentimentos eram sinceros.
— …mal atravessou a rua antes de tropeçar e cair de cabeça aos pés dela.
Quais são as chances disso? — Alfred riu, o pesado anel de sinete no dedo
brilhando enquanto ele levava a xícara à boca.
Talvez, sim, meu senhor. Posso pedir desculpas por ser uma companhia tão
pouco interessante?
— Não precisa, minha querida, você sabe disso. Ficaremos casados por
muitos, muitos anos, e eu imagino que teremos nossos dias de humores
adversos.
Muitos, muitos anos. De alguma forma, isso não ajudava em seu dilema.
Alfred se levantou.
assentiu.
Seu noivo se aproximou e pegou a mão dela, levando-a aos lábios, apenas
roçando as costas de seus dedos com a boca antes de soltá-la. Ele disse:
— Até amanhã, minha querida, e espero que o que quer que esteja
entristecendo-a seja resolvido. Se houver algo que eu possa fazer, você sabe
que tudo o que precisa é me pedir.
Aquele momento muito fatídico na biblioteca era certamente parte do
problema. Então, uma ideia se apoderou de Annabel. Ela levantou-se de
repente.
— Beije-me.
Ela inclinou o rosto para cima e perguntou, no que esperava que fosse um
tom suave e persuasivo:
Ele estava certo, e a porta mantinha-se aberta, assim qualquer criado poderia
vê-los, além de Margaret poder passar apressada a qualquer momento, mas
Annabel não se importava. Se houvesse alguma coisa que pudesse fazer para
apagar aquela memória perturbadora, estava disposta a assumir o risco.
Além disso, eles iriam se casar em poucos meses.
Por sua vez, ele olhou para sua boca e, em seguida, colocou a mão
levemente em sua cintura.
Infelizmente, tudo acabou muito rapidamente. Tudo o que ele fez foi
pressionar os lábios fechados contra os dela pelo espaço de dois, talvez três
Daquela vez a terra não se despedaçou. Daquela vez, com o homem com
quem concordara em se casar, o beijo fora uma experiência bastante realista.
Depois que ele se foi, ela sentou-se, extremamente desanimada, e olhou para
um vaso de cristal com rosas de estufa que ficava em cima de uma mesa
polida de parquet do outro lado da sala. Alfred as trouxera alguns dias antes
e várias das flores amarelas tinham começado a murchar, ficando marrom
nas bordas, as pétalas começando a cair.
— Boa noite, meu senhor. Sim, de fato ele está. Na mesa de sempre.
— Obrigado.
— A pedido do primeiro-ministro.
— De fato.
Na verdade, o tom da missiva fora um pouco brusco, e Derek estava
compreensivelmente curioso sobre a semana de seu amigo no campo e nos
braços de Lady Wynn.
— Diga-me, foi um alívio sair? Você estava lá... há o quê? Cinco dias?
— Depende da mulher.
— Ah, é?
— Mais do que isso. — Nicholas deu a ele o que só poderia ser descrito
como um olhar reprovador.
O tom curto de aviso não era o que ele esperava de um homem que levara
uma mulher adorável para uma semana de prazer sexual. Ele recostou-se um
pouco na cadeira.
A resposta foi um pequeno grunhido que não lhe ofereceu muita coisa em
termos de informação, mas fez Derek imaginar que algo incomum estava
acontecendo. Ele ficou surpreso o suficiente com a ansiedade de seu amigo
em conseguir que a dama chegasse ao campo, e agora Nicholas parecia
Derek também vinha agindo de forma intratável nos últimos tempos, mas
isso era devido à sua situação insustentável com Annabel.
— Olha quem está falando. Se eu recebesse uma moeda para cada vez que
você tem estado de péssimo humor nos últimos meses, minha fortuna
aumentaria significativamente.
Bem, isso era difícil de negar; em vez disso, Derek tomou uma boa golada
de seu copo. Ainda não estava pronto para contar ao amigo sobre o desastre
de um ano atrás e os erros que se seguiram, que pareciam piorar tudo.
Thomas sabia, e isso era o suficiente.
Nos fundos, alguém riu com vontade, e o som rouco sobrepôs-se à conversa
murmurada. Derek se sentiu confuso.
— Correndo o risco de parecer obtuso, embora não seja a primeira fez que
faço isso, você pode elaborar?
O que quer que tivesse acontecido em Essex, fora mais que um simples
arranjo sexual. Derek tentou parecer descompromissado e terminou seu
primeiro copo de uísque enquanto assimilava esse novo desenvolvimento.
Pelo diabo, o infame Rothay estava com ciúmes! Derek percebeu isso com
uma leve nota de surpresa.
Mesmo que não tivesse mais a intenção de tocar a dama em questão, não
poderia deixar passar esta oportunidade de verificar se estava certo.
Com certeza, algo brilhou nos olhos escuros de seu amigo; algo como uma
selvageria deliberada. Nicholas rosnou:
— Recorra a este linguajar novamente, e eu vou...
Nicholas murmurou:
— Cuidado?
Uma vez que Derek cometera o imperdoável pecado de resistir aos seus
próprios sentimentos, ele entendia muito bem como isso poderia afetar a
vida de um homem. Mas também sabia que velhos hábitos demoravam a
morrer.
Talvez Nicholas não estivesse pronto para admitir que estava, pelo menos,
encantado, possivelmente algo mais.
Bem, Derek podia não ser capaz de resolver seu próprio problema com
Annabel, mas talvez pudesse ajudar Nicholas. Enquanto permaneceu sentado
naquele local, o germe de uma ideia lhe ocorreu, e ele refletiu, pairando
sobre o copo de uísque, mas sem bebê-lo.
Sim, talvez ele devesse fazer os preparativos para seu encontro com a dama,
mas não com o propósito insinuado por Nicholas.
Já era tarde, ela estava cansada e o visitante se recusara a dar seu nome ao
mordomo. Caroline franziu a testa para as letras enigmáticas rabiscadas no
cartão simples, e então percebeu quem devia ser com um lampejo de
consternação.
Ele certamente não perdera tempo em procurá-la. Era difícil decidir se ficava
lisonjeada ou irritada. Por sorte, ainda se encontrava vestida, porque tinha
cochilado na sala enquanto lia depois do jantar. Levar uma bandeja para seu
quarto era mais fácil do que passar pelo ritual formal na sala de jantar
sozinha. Os criados também não esperavam que ela voltasse a fazê-lo, então,
frango frio, queijo e pão fresco podiam ser comidos facilmente no andar de
cima. Ela fazia isso com bastante frequência. Sentar-se à mesa longa,
sozinha, era melhor do que jantar com Edward, mas, ainda assim, fazia com
que se sentisse melancólica e enfatizava sua solidão.
Rothay tivesse tornado sua vida mais difícil, em vez de funcionar como uma
cura para sua melancolia.
Caroline olhou-se no espelho, alisou o cabelo e depois desceu para ver o que
Derek Drake queria discutir com ela que não podia esperar até uma hora
mais civilizada.
— Boa noite. Como a senhora deve perceber, eu posso ser tão inventivo
quanto vós, minha senhora. Também vim caminhando, só para ter certeza de
que ninguém prestaria atenção em cavalos ou carruagens.
Ela murmurou:
— Fico feliz, naturalmente, que o senhor tenha tomado o cuidado de se
certificar de que ninguém iria reconhecê-lo, mas estou um pouco confusa
sobre o motivo de sua visita, especialmente a esta hora.
Ela não estava ansiosa para dizer a Derek Drake que havia mudado de ideia
sobre sua parte na aposta. Ele iria querer saber o porquê. Um patife
sofisticado como o conde provavelmente se divertiria com sua ingenuidade
se ela lhe contasse a verdade. Embora tivesse certeza de que não era a
primeira mulher a se apaixonar tão rapidamente pelo Duque de Rothay,
ainda tentava entender seus sentimentos e ser o mais objetiva possível sobre
a situação.
Outra parte infeliz de sua decisão era que, se Derek e Nicholas decidissem
que a aposta ainda existia e ainda quisessem resolvê-la, isso significaria que
Nicholas entreteria outra mulher com seu charme luxuoso e suas habilidades
gloriosas na cama.
O que ela esperava? Que depois dela ele se tornaria um celibatário? Ele
pedira para vê-la novamente e ela negara. Aquilo era o fim.
Qualquer que fosse sua expressão, Derek conseguia lê-la. Claro que
conseguia, ele era experiente com as mulheres e estava familiarizado com o
seu humor em todos os aspectos. Ele deu uma risada curta.
Ele queria?
O ambiente em torno dela, com seu cheiro vago de couro e uísque, pareceu
desvanecer-se. Caroline olhou para o homem alto do outro lado da sala e
sentiu uma pontada de... O quê? Esperança? Felicidade?
— Eu não posso continuar com isso, de qualquer maneira — ela fez sua
confissão em voz baixa enquanto tentava compreender o que ele queria lhe
dizer. — Estava decidida a enviar um recado ao senhor. Lamento a
desistência, mas devo...
até contar a Nicholas que ela achava que havia se apaixonado por ele.
Não.
— Razões pessoais — ela respondeu com o que esperava que fosse uma
rejeição sucinta do assunto. — Mais uma vez, peço desculpas por recuar.
— Essas razões pessoais giram em torno de um duque muito teimoso e
independente?
Durante anos ela enganou a todos acreditando ser fria e insensível. Agora
parecia que havia perdido essa habilidade. Caroline pigarreou.
Ele continuou.
— Não se desculpe pela perda do nosso tempo juntos, Lady Wynn. Isso não
ia acontecer de qualquer maneira, com ou sem o que quer que exista entre a
senhora e Nick. Desisti de ligações sem sentido com mulheres que valorizam
apenas prazer passageiro. Deixe-me ser brutalmente honesto com você. A
aposta foi o resultado direto de um momento frustrado devido ao anúncio de
que a mulher que amo com todo meu coração e minha alma vai se casar com
outro homem.
O relógio preso à parede sempre fizera tanto barulho? Ela lidava com suas
contas naquela sala e nunca percebera isso antes. Era o único som a se
intrometer no silêncio mortal que se estabelecera enquanto ela olhava para
seu visitante com uma surpresa indisfarçada.
— Não, meu senhor, não estou rindo dessa parte infeliz do seu discurso.
Mas deve admitir que tudo isso é muito cômico de certa forma. Nicholas
essencialmente me disse, enquanto estávamos em Essex, que ele só quer se
casar por amor. E aqui está você, me dizendo que seu coração supostamente
inviolado foi partido. Ninguém na alta sociedade acreditaria.
— Quem é ela?
Ela registrou a informação com descrença. Miss Reid era muito jovem e
completamente ingênua, de rosto inocente. Fora ela a responsável por
capturar o coração do anjo perverso? Uma jovem mal saída da infância e
protegida de seu tio, ainda por cima? Não que a jovem não fosse muito
bonita, mas ele não se divertia com moças de família. Era de conhecimento
comum.
Ela estava mais do que interessada, esse era o problema, mas temia se
equivocar.
— Eu não acho que o duque e eu nos conheçamos há tempo suficiente para
avaliar a profundidade de nossos sentimentos.
— Ele ficou com ciúmes esta tarde quando falou comigo. Reconheço a
emoção muito bem. Estava preocupado com a senhora, inquieto, infeliz,
irritado consigo mesmo, confuso...
— Desta forma está fazendo soar como uma doença terrível, meu senhor.
Ele poderia estar certo? Era irracional esperar que sim. Apesar disso,
Caroline lançou-lhe um olhar desamparado e confuso.
Ela realmente estava sentindo pena de um dos homens mais bonitos, ricos e
charmosos da Inglaterra?
Caroline começava a perceber por que Nicholas era tão amigo de seu
famigerado companheiro.
Mesmo tendo dito isso, sua voz falhou, e ela tentou engolir o nó em sua
garganta. Olhou para os dedos entrelaçados no colo por um momento e
depois endireitou os ombros.
— Apesar de minha oferta para julgar a aposta e os últimos dias que passei
com o duque, não estou interessada em um caso de amor casual. Como há
todas as chances de eu ser estéril, nada além disso será possível entre nós.
Isso era verdade. Ela certamente nunca pensou que não seria capaz de
conceber antes de se casar.
Ela estava mesmo tendo uma discussão profunda com um famoso libertino
sobre o assunto de romance e casamento?
— Não sabemos se ele tem algum sentimento por mim além da atração
física.
— Pelo contrário, você não o viu esta tarde. — Derek se empertigou. —
Diga-me, minha senhora. Se houvesse uma única palavra para descrever seu
— Mágico.
Ele assentiu com a cabeça, com um brilho nos olhos que dizia a Caroline que
sua tentativa de esconder seus sentimentos fora falha.
Caroline preferira a torrada simples. Ela bebia leite com seu chá, mas não o
tomava com açúcar. Quando o sol batia em seu cabelo, a cor cintilante
tornava-se única, como…
— Você certamente está em outro mundo, querido. O que tanto o distrai esta
manhã?
Aqueles que ele não mudaria, mas sete dias fora o combinado.
Sim, Caroline lhe devia mais dois. Ela recusara, mas talvez ele pudesse fazê-
la mudar de ideia. Estava ficando obcecado com o pensamento.
— Tem sido uma semana agitada. — Ele colocou sua xícara ao lado de seu
prato com cuidado exagerado e levou o guardanapo à boca. — Sinto muito
se estou ignorando a senhora. Por favor, me perdoe.
Do outro lado da mesa, ela franziu a testa para ele, mexendo ociosamente o
chocolate na xícara.
— Que expressão?
Ele suspirou com resignação. No final das contas, era sua culpa estar sentado
ali, pensando em Caroline. Se iam começar um interrogatório, ele só podia
responsabilizar a si mesmo.
A Duquesa de Rothay sempre fora perspicaz. Mas Nicholas não estava com
vontade de responder a perguntas e, mesmo que estivesse, duvidava que ela
gostasse das respostas.
Até agora.
— Parece que sua mente estava em outro local. E você ficou quieto a
semana toda, recusando-se a nos acompanhar a qualquer lugar.
Ela estava certa. Ele parara de frequentar a ronda habitual de saraus e vários
tipos de entretenimentos, principalmente porque queria evitar Caroline.
la. Geralmente conhecia sua própria mente. Seu atual estado de inquietação
o incomodava da mesma forma como se sentira em relação a Helena uma
década atrás. Só que naquela época o interesse fora estimulado por uma
paixão infantil, e ele não era mais um menino.
em sua voz.
Sua mãe não podia ser facilmente enganada. Uma sobrancelha se arqueou, e
suas feições aristocráticas tornaram-se uma caricatura de ceticismo.
— Você está sempre terrivelmente ocupado, Nicholas. Esse não pode ser o
motivo. Althea também notou. Você parece um pouco… não sei… distante.
— Isso faz com que você vá para a cama em uma hora razoável e se levante
ao amanhecer? — Sua mãe olhou para ele com um escrutínio atento que o
fez sentir como se tivesse cinco anos de idade novamente, sendo pego em
uma mentira descarada. — Você geralmente tem uma rotina bem diferente.
Os debates no Parlamento sempre aconteceram. Com muita frequência, na
verdade. Acho que você está sendo evasivo e me pergunto por quê.
Desde seu retorno de Essex, ele não vinha dormindo muito bem.
— Você está planejando comparecer ao baile dos Harrison esta noite, não é?
Acredito que Charles e Althea irão para a ópera, e eu apreciaria sua
companhia.
Ele não mentira. Não de todo. Não havia nada de errado, o problema era que
algo não estava certo. A preocupação ridícula não se limitava a pensamentos
errantes durante o café da manhã. Na noite anterior, ele sonhara com uma
pele macia e acetinada ao lado da dele, cabelos ruivos lustrosos se
derramando sobre seios perfeitos e um prazer incandescente misturado ao
Ele lidou com sua excitação sozinho, pensando nela. Não era algo que
fizesse com frequência. Não tinha necessidade. Quando se tratava de sexo,
havia mulheres dispostas a resolverem o problema por ele.
Com Derek.
Não, felizmente, não. Era perversamente satisfatório saber que Derek não
poderia desaparecer imediatamente. Estaria ocupado com questões políticas.
Quaisquer arranjos que pudesse fazer com Caroline teriam que ser adiados
por um tempo curto.
O passeio até a periferia da cidade não foi tão agradável por causa das ruas
molhadas de toda a chuva dos últimos dias, mas foi bom sair, no entanto.
Passara tempo suficiente em salas de reuniões abafadas e confinado em seu
escritório. O responsável pelo estábulo cumprimentou-o com um sorriso
largo e um tapinha informal nas costas com sua mão corpulenta. A posição
que ele ocupava não importava em nada, assim como sua linhagem de
sangue, pois, no estábulo, O'Brien era tratado como um rei, suas decisões
eram invioláveis, e Nicholas — vencendo ou não — confiava nele
implicitamente.
— E Baikal?
Uma de suas aquisições mais jovens ainda não tivera seus talentos postos a
prova, mas o irlandês insistira que ele deveria comprar o potro por um preço
exorbitante, e Nicholas não hesitou nem por um minuto.
— É verdade?
— Desculpe, sua graça. — Uma jovem mão estável pegou o intruso ofensivo
e segurou o animal balançando-o na dobra de seu braço. — Este aqui é o
indisciplinado da matilha.
Nicholas olhou para o cachorrinho que se contorcia, mas em vez de ver uma
língua rosa tentando lamber furiosamente o rosto do menino e um canino
peludo, imaginou um vale arborizado e uma linda mulher nua em seus
braços, deitada, aproveitando a languidez proporcionada pelo intenso prazer,
enquanto tentava mais uma vez extrair informações sobre a vida dela.
“Meu pai nunca se importou em ‘perder tempo’ com qualquer coisa que
considerasse um incômodo. Quando criança, eu queria desesperadamente
um filhote, mas ele sempre dizia não, e minha tia não podia nem ouvir falar
disso... Não importa agora, é claro...”
Mas mesmo assim − mesmo inebriado após toda atividade carnal −, ele
ouviu na voz de Caroline que era importante. Ele também discerniu outra
coisa. O pai dela incluía sua única filha na categoria de incômodo. Viajar até
York e torcer o pescoço do homem insensível poderia ser fascinante.
O jovem assentiu.
— Seis deles.
— Pegue uma carruagem de aluguel, se quiser, e deixe meu nome fora disso.
A senhora vai adivinhar que vem de mim.
— Claro.
Sorrindo, ele subiu para se banhar e trocar de roupa. Podia sentir o cheiro de
cavalos e urina de cachorro, sentindo-se com humor sarcástico, mas na
verdade fora uma tarde satisfatória.
Caroline não teve escolha a não ser deixar que Franklin a segurasse pelo
braço enquanto subia os degraus, pois ele chegara como uma aparição vinda
do nada. Se não tivesse certeza de que a ideia era ridícula, poderia acusá-lo
de ficar vagando no beco perto da casa, antecipando seu retorno.
Na verdade, sim, ela o considerava assim, sempre que conseguia deixar suas
proezas sexuais de lado. Poderia considerar que conversara com ele naqueles
cinco dias mais do que com qualquer outra pessoa durante toda a vida. Só
podia culpá-lo, porque sempre parecia interessado no que ela tinha a dizer.
Suas palavras foram ditas em uma tentativa de bom humor, mas Caroline
lembrava-se bem da quantia que precisara pagar aos advogados para que
estes provassem que seu legado era legítimo.
Não havia ilusões. Ele não era um amigo, mas pelo menos sua capacidade de
vingança era muito menos evidente que a de Edward. Quando ela se instalou
em frente a ele na sala de visitas formal e pediu refrescos, ficou em silêncio,
esperando que ele declarasse o propósito de sua visita. Deveria haver um,
disso ela não tinha dúvida.
— Obrigada.
Era uma coisa neutra para dizer. A verdade era que ela suspeitava que
Edward não gostava de Franklin porque eles eram um pouco parecidos
demais. O homem abriu as mãos em um gesto suplicante.
— O quê?
— Claro. Você já sabe que estou preocupado com você. Ele alega que desde
o dia em que você se casou com Edward e se tornou uma Wynn, não tem
mais obrigações de pai.
Obrigações. Ficou chocada ao pensar que seu pai havia colocado dessa
forma, mas infelizmente podia imaginá-lo dizendo exatamente isso. Caroline
cerrou as mãos no tecido do vestido, amassando a seda frágil.
— Toda mulher precisa de proteção. Desde que seu luto acabou, mais de um
homem se aproximou de mim oferecendo-lhe casamento.
Caroline sentia-se furiosa não apenas por pensar que ele arrogantemente
supunha que podia interferir em seus assuntos matrimoniais, mas porque
outros faziam o mesmo.
— Minha senhora?
— Perdoe-me, mas isso acabou de ser entregue. O homem que o trouxe disse
que não havia bilhete, mas que a senhora reconheceria a fonte do... er...
Por um momento, Caroline ficou sem palavras, olhando para o filhote nas
mãos do mordomo, o corpinho peludo remexendo-se contra o colete. Mal
começou a se perguntar quem poderia lhe enviar um presente tão incomum
quando a verdade surgiu num piscar de olhos, como um relâmpago numa
tempestade de verão.
Norman, que gostava que a rotina da casa corresse de uma maneira calma e
organizada, parecia duvidar da nova adição.
Como a verdade não poderia ser dita, ela não respondeu. Em vez disso,
inclinou-se e colocou no chão seu mais novo amigo, que rapidamente pulou
sobre um sofá bordado, pulando dele logo em seguida, só para correr de
volta para ela e pisar em seus pés. Deu um latido curto, como se pedisse
aprovação por esse feito maravilhoso. Ela o fez, curvando-se para acariciar
uma orelha felpuda.
lindo e sensual Duque de Rothay era presunçoso, de fato, mas, naquele caso,
o gesto tocara seu coração com inexplicável e profunda emoção. Se ele
tivesse enviado diamantes, ela teria pensado que ele era generoso e
romântico, mas aquele era realmente um presente esplêndido, pois
significava que ele ouvira mais do que apenas as palavras dela quando lhe
contara sobre sua decepção na infância. Ouvira o que estava intrínseco à fala
isolada e o pequeno encolher de ombros. Rezou para que Derek estivesse
certo, e se
Seu tom suave e quase ameaçador a fez olhar para cima e endireitar-se, um
lampejo de alarme fazendo seu estômago se contorcer. Nicholas não poderia
saber que Lorde Wynn estaria lá quando o filhote fosse entregue, mas o
momento fora terrível. Franklin a olhava com os olhos apertados, a boca
franzida.
— É de Melinda, tenho certeza — ela improvisou, sabendo que não era uma
boa mentirosa, esperando que ele não notasse o rubor em suas bochechas. —
Eu acredito que ela mencionou que um dos spaniels de seu marido era uma
cadela prestes a ter uma ninhada.
Ela olhou para a porta depois que ele saiu, imaginando o que poderia
significar aquele comentário enigmático. Isso a deixava inquieta, porque
enquanto jurava a si mesma que ele não poderia forçá-la a fazer qualquer
coisa que não quisesse, Franklin parecia ter uma opinião diferente.
Um puxão agudo na bainha de seu vestido atraiu sua atenção para baixo, e
ela pegou o presente de Nicholas, segurando a exuberante bola de pelos
contra o peito. Um pouco de amor incondicional em sua vida seria bom,
pensou ela, incapaz de reprimir um sorriso ao afastar Lorde Wynn de sua
mente.
A sala de jogos como sempre mantinha uma aura de fumaça de tabaco
encoberta pelo cheiro de conhaque e Claret, e as janelas abertas para a noite
quente não eram capazes de purificar o ar. As conversas eram
ocasionalmente estridentes, pontuadas por gargalhadas, mas à mesa deles a
atmosfera era contida. Derek assistiu em silêncio quando o homem à sua
frente jogou suas cartas e recolheu os ganhos com outra mão.
Só que, para um homem que tinha a fortuna do diabo a sorrir para si, ele não
parecia particularmente feliz. Nicholas exibia uma curva singular em seus
lábios, e qualquer um que o conhecesse além de um contato casual
reconheceria como irritação. Derek supunha saber o motivo.
— Não sou eu que estou dando as cartas. Você está insinuando alguma
coisa?
O jovem podia estar um pouco alcoolizado também, mas não tanto a ponto
de não reconhecer o sinal de advertência na voz de Nicholas.
— Foi?
Daí o mau humor instável do duque, porque ninguém sabia melhor do que
Derek como era estar perto da mulher que você deseja e não conseguir se
aproximar dela. Caroline estava lá, Nicholas sabia disso, e ele precisava ficar
longe enquanto outros homens valsavam e flertavam com ela. Uma postura
de contenção até então desconhecida para um homem que normalmente
poderia ter o que queria, especialmente quando se tratava do sexo mais justo.
Não que ele estivesse em uma situação melhor, pensou Derek, pois Annabel
também estava lá, linda, vestida em tule rosa pálido, os cabelos claros
erguidos para mostrar a linha graciosa de seu pescoço e os ombros de cetim.
Ele poderia, é claro, chamá-la para dançar, já que ninguém pensaria muito
sobre isso, dada a sua conexão familiar com seu tutor, mas ele imaginava
que ela iria negá-lo se tentasse se aproximar. Ser desprezado em público
causaria fofoca, e, embora não se importasse tanto consigo próprio, duvidava
que ser alvo de sussurros indiretos a deixaria feliz. Ele não tinha
— Só uma palavra de advertência, George, hoje à noite Nick está com tanta
sorte quanto o próprio Satanás. Ele não pegou uma única mão ruim.
— Por falar em sorte, como vai a disputa entre vocês dois? Quando
ouviremos o grande anúncio?
Podia ser um erro incomodar Nicholas em seu atual estado de ânimo, mas
fazê-lo reconhecer seu ciúme era parte do plano.
— Não apressar a senhora, você quer dizer. Saiba que todo mundo está
interessado em tentar descobrir quem ela é. Dê-nos uma dica agora.
Nicholas olhou para a mão como se fosse a coisa mais fascinante do mundo.
— Não.
— Ela é linda?
Claramente um aviso.
O olhar frio em seus olhos escuros declarou que o assunto estava encerrado.
Houve um breve silêncio após sua partida abrupta. Ele saiu da sala com
passos determinados, como se tivesse um destino definido em mente. Um
dos outros jogadores murmurou:
— Eu digo, ele não se encontra em seu estado normal esta noite, não é?
George bufou.
— Nicholas, o que você está fazendo? — Ela ficou parada ali, sem entrar
completamente na carruagem, transformando a pergunta em um sussurro
ultrajado.
— Eu falei com o seu cocheiro. Ele nos levará por um caminho mais longo
até sua casa. Então, por favor, entre antes que alguém comece a especular.
Isso finalmente a fez entrar, e o jovem galês que a levou até Essex fechou a
porta. Ela se sentou no banco com um gracioso farfalhar de saias de seda e,
um momento depois, o veículo começou a se mover. Luminosos olhos
prateados olhavam para ele, mas estava escuro e ele não conseguia avaliar o
— Fui cuidadoso.
Ele realmente sentia-se muito feliz por ter tido tempo de falar com o jovem.
Durante o período em que Caroline ficara com ele em Essex, ele e seu
cocheiro discutiram sobre cavalos, um amor mútuo natural. Ali, aristocrata e
servo ficavam nivelados com facilidade.
Além disso, Huw obviamente sabia exatamente onde sua patroa passara as
noites, então, ele não hesitara quando Nicholas fez seu pedido.
— Eu não tenho certeza se você sabe ser discreto, Rothay — ela comentou
em um tom ácido, mas um pequeno sorriso curvou sua boca.
— Por você, estou disposto a dar o meu melhor. — Ele relaxou um pouco,
familiarizado com aquela expressão suave no rosto de uma mulher.
Não que saber que uma mulher desejava sua companhia tivesse sido tão
importante para ele antes, mas com ela, era. Muito importante. Por mais
incrível que pudesse parecer, ele queria saber que ela sentira falta dele da
mesma forma como ele sentia a dela.
— Derek não dirá nada, ninguém em Essex foi informado do seu sobrenome
e só você pode falar pelo seu cocheiro, mas ele parece ser leal o suficiente.
Nós não seremos descobertos.
— Deve ser bom ter sempre essa garantia de que a vida seguirá conforme
seus desejos.
— Eu não deveria — sua resposta foi tranquila. — Você não deveria estar
aqui.
— Deveria, sim. Estamos sozinhos. Seu motorista adiará nossa chegada até
eu lhe dar um sinal. Quero apresentar-lhe as alegrias de fazer amor em uma
carruagem. É um pouco apertado, tenho que admitir, mas pode ter resultados
deliciosos.
— De alguma forma, tenho certeza de que é uma arte que você já praticou
com frequência. — Apesar de seu tom seco, ela fez o que ele pediu e
mudou-se para ocupar o assento oferecido. Um suspiro suave escapou
quando ele mudou de ideia e a ergueu nos braços, colocando-a em seu colo.
Seu traseiro tentador aninhou-se contra sua virilha, e ele endureceu ainda
mais.
— Você me observou? — Sua garganta arqueou para trás para lhe dar maior
acesso, fazendo a pergunta soar suave como uma nuvem.
Admitir que ele não fora capaz de evitar parecia tão imprudente quanto
entrar em sua carruagem. Sua ideia de retirar-se para a sala de jogos também
não ajudara em nada. Então, murmurou:
— Eu notei.
A admissão foi feita em voz baixa e seus olhos brilhavam como joias sob a
luz fraca.
Então, eles tinham notado um ao outro. Nicholas não queria pensar muito
sobre isso. Caroline estava se tornando uma distração em sua vida e o que
deveria fazer era ficar longe dela até que a febre passasse. Mas, em vez
disso, lá estava ele, roubando alguns momentos de seu tempo como um
ladrão
Aquilo era ridículo. Ele tinha dezenas de lugares para onde poderia fugir.
E em vez disso passou quase uma hora sentado em uma carruagem escura.
Esperando.
Por ela.
Humm.
— Nicholas...
— Shh...
Ele tomou sua boca em um beijo ardente, porque não queria conversar, nem
analisar os motivos de sua presença. Então, sua língua abriu passagem,
encontrando e roçando a dela. Os braços de Caroline se entrelaçaram em seu
pescoço, e ela se inclinou para o abraço, apoiando seu peso delicado e
flexível à estrutura muito maior de Nicholas. Pelo menos o medo
desaparecera completamente, ele pensou enquanto explorava sua boca
vagarosamente com um prazer incandescente, e pelo modo como ela o
beijava de volta, não havia dúvidas de que estava muito disposta.
A carruagem sacudiu, balançando-se levemente quando pegaram uma curva.
Com corpos e bocas unidos, eles se moveram contra o movimento.
Acalme-se.
dedos ao longo da parte interna de uma coxa quente e macia para encontrá-la
quente e úmida, mas ele aceitaria aquela condição, pois era tudo o que
poderiam ter.
— Quantas vezes em nosso conhecimento eu vou ter que pedir perdão por
minha arrogância? Você quer isso, Caroline?
— Isso foi uma objeção às implicações da sua presença, não à sua pessoa.
— Ela se inclinou mais perto e beijou-o, seus lábios úmidos, seu corpo meio
nu se esfregando contra ele. Quando ela recuou, sussurrou: — Já aceitei o
risco, então, por favor, não o desperdice. Pensei muito em você, Nicholas.
— Eu sou um idiota egoísta. O risco é todo seu, e eu não lhe dei uma
escolha.
A mão dela deslizou para baixo e tocou a protuberância entre as pernas dele.
Ela se sentia perversa, mas também sentia uma liberdade estranha enquanto
embainhava a ereção dentro de seu corpo necessitado. Montada sobre o colo
dele, começou a se mover ao ouvir os sons de seus movimentos para cima e
para baixo. Mãos fortes seguravam seus quadris, e ele investia dentro dela
arqueando o corpo, obviamente impaciente, mas ainda controlado, trocando
olhares enquanto se moviam em direção a um objetivo erótico comum.
— Acho que eu gostaria de não fazer mais nada além de andar de carruagem
pelo resto da minha vida.
— Não me tente. Como deve ter notado, o autocontrole não é meu atributo
mais forte quando se trata de você. Sugestões como esta apenas me
incentivarão.
— Sim.
fato de ele ter tomado tal atitude a fazia sorrir, embora fosse algo
irresponsável e imprudente.
Lembrava-a de quem ele era, e ela desejou ter força suficiente em seu corpo
para sair de seu colo. Ainda estava de pernas abertas sobre Nicholas, com o
sexo dele dentro dela, a protuberância de suas saias ao redor de ambos.
Podia sentir o tecido das calças contra a parte interna das suas coxas.
— Sim.
— Como assim?
Seu ciúme deveria ser algo passageiro, como uma criança que vê alguém
brincando com seu brinquedo favorito.
Caroline murmurou:
— Por nada. Parecia uma criatura bastante simpática e você mencionou que
queria um.
— Foi muito atencioso. — Ela tocou sua bochecha, apenas um leve encostar
de dedos. — Ou um suborno calculado, para me manter em suas boas graças,
talvez. — O canto da boca de Nicholas se contorceu em diversão.
Com a mesma facilidade atlética que ele usou para colocá-la lá, Nicholas a
ergueu de seu colo. Galantemente, ofereceu-lhe o lenço para que enxugasse
as coxas, ajeitou as calças e bateu três vezes no teto da carruagem. Em tom
neutro, disse:
Uma viúva estéril provavelmente não era nada do que a elegante duquesa
tinha em mente para seu lindo e extremamente qualificado filho.
Onome no cartão a fez sentir uma surpresa muito real. Annabel franziu a
testa, sem saber como interpretar a inesperada visita de uma mulher que mal
conhecia, mas assentiu, pois não conseguia pensar em nenhuma razão na
terra para não receber Lady Wynn.
Por outro lado, não conseguia pensar em uma única razão para a jovem
viúva visitá-la. Ela disse ao criado que trouxe o cartão:
— Por favor, leve-a para a sala de visitas. Já estou indo para lá.
Alguns instantes depois, ela entrou na sala formal, vendo sua hóspede
sentada em uma das cadeiras cobertas de seda verde-clara, que contrastavam
com o colorido de seu vestido vibrante. Linda de uma forma extremamente
delicada, usando em um vestido de dia creme, bordado com minúsculas
flores azuis, seu cabelo brilhante preso em um coque simples e pesado, Lady
Wynn a observava com aqueles olhos cinzentos de cílios longos, que eram
sua verdadeira assinatura.
— É questionável?
Quem pode dizer, talvez nos surpreendamos. Acho que temos muito em
comum, afinal de contas.
— Bem, por um lado, não somos distantes em idade. Além disso, ambas
estamos virtualmente sozinhas no mundo de algumas maneiras. Você, devido
à morte de seus pais, e eu, porque meu pai ignora minha existência. Não
vamos esquecer que eu me casei com um homem a quem não amava, e você,
até onde sei, está prestes a fazer a mesma coisa.
— Eu não sei. Foi por isso que vim falar com você.
— Peço desculpas, minha senhora, mas não consigo entender por que se
preocuparia.
Exceto aquele beijo sem paixão, é claro, uma voz insidiosa sussurrou.
— Concordo. Ele é um homem correto, até onde eu sei. — Lady Wynn deu
um pequeno suspiro, pouco mais que um respirar superficial. — Mas você o
ama?
Ninguém lhe perguntara isso. Ninguém. Nem seu tutor, nem Margaret, nem o
próprio Alfred. Isso a afetou, e Annabel já se sentia bastante abalada quando
pensava em suas núpcias, graças a Derek. Em sua vida, não conseguia
pensar em como responder à pergunta que nunca esperava que fosse feita a
ela.
— Entendo.
— Ele é gentil.
Ela odiava perceber que a concordância fora feita com um toque de simpatia.
— E generoso.
— E adequado.
Por que aquilo estava acontecendo? Por que uma mulher que ela nem
conhecia de repente surgia, respondendo às suas maiores dúvidas? Era o pior
momento possível.
— Por favor, me diga por que você acha que isso é da sua conta?
Derek.
— Eu implorei?
Bem, Lady Wynn tinha razão, ela não implorara, mas, ainda assim, Annabel
se sentia indignada. E com ciúme. Um ciúme que, de uma forma, envolvia
sua alma, sua mente e definitivamente a boca do estômago. Neste havia uma
pequena bola preta, pesada como chumbo. Ela se empertigou.
Composta e ainda olhando para ela daquele enervante jeito empático, Lady
Wynn sacudiu a cabeça.
— Ele nunca tocou mais do que em minha mão. Mais do que isso, nem
tentou.
A situação estava ficando mais desconcertante a cada momento.
— É uma história bastante complicada, mas a versão curta é que eu acho que
ele é realmente um homem muito decente e, sem sombra de dúvida, mais do
que um pouco apaixonado por você. Daí minha presença aqui. Sim, ele
desejou que eu falasse com você, porque, segundo ele mesmo, seu charme
habitual não tem efeito sobre a senhorita.
Mas o protesto não foi dito com convicção suficiente. Annabel ainda podia
vê-lo, ali em seu quarto e ouvir aquela declaração pungente. Eu te amo…
— Eu entendo que a reputação do conde lhe faz hesitar. Isso me diz que você
não está apenas interessada em sua aparência, título e riqueza. Ele não é
perfeito, mas às vezes esses são os libertinos pelos quais nos apaixonamos.
Foi preciso muita coragem para atravessar a porta do sobrado dos Drake, e
seria ainda mais difícil admitir seu atual estado de paixão por Nicholas
Manning. No entanto, Caroline prometera a Derek ajudá-lo e, pela expressão
no rosto de Annabel Reid, o conde estava completamente certo sobre os
sentimentos dela por ele. A postura de seu corpo indicava certa
vulnerabilidade, além de uma angústia pungente, algo que ela transformara
em raiva defensiva apenas com a menção do nome de Lorde Manderville.
Ele estava certo. Miss Reid não era de todo indiferente. A julgar pelo rubor
em suas faces, ela era exatamente o oposto.
— Falo sim. — Caroline fingiu uma indiferença que não sentia. — Mas não
vim aqui para falar sobre a minha loucura, mas sobre a sua. Diga-me, acha
que pode se casar com Lorde Hyatt e não se arrepender da decisão?
— Se eu não achasse que ele era uma escolha sensata, não teria aceitado sua
proposta.
— Eu tive um ideal romântico uma vez, Lady Wynn, e descobri que era
baseado em uma fábula, um mito que criei em minha própria mente tola. Já
que é óbvio que Derek falou com você sobre mim, já deve saber que me
apaixonei por ele no passado. Sua aparência e charme viraram minha cabeça,
e eu ainda não tinha sido apresentada à sociedade, então, estava
particularmente suscetível. Sonhava que um dia ele poderia retribuir meus
sentimentos. Sabia de sua reputação, mas de alguma forma isso não
importava. Como uma tola, fantasiei que, por mim, ele mudaria.
— Ele me contou sua versão da história e devo admitir que acredito que seu
pesar, tanto por prejudicar você quanto por perder sua consideração, é
sincero.
A jovem de pé junto ao piano polido alisou a saia com a mão trêmula, num
gesto inconsciente, mantendo o olhar muito direto.
— E você acredita que Lorde Hyatt pode consertar seu coração partido?
— Acredito que ele me tratará bem, teremos filhos e nos daremos bem
juntos. Ele não está apaixonado por mim, tanto quanto eu posso dizer, e, na
verdade, é um alívio. Isso significa que queremos exatamente a mesma coisa
do nosso casamento. Companheirismo e uma família.
— Seremos amigos — a resposta foi rápida, mas algo reluziu nos olhos da
outra mulher.
verdade sobre meu próprio casamento, estou disposta a fazê-lo com você.
Sei que eu estava lamentavelmente desinformada sobre o que esperar, e os
resultados foram desastrosos. Nossas circunstâncias não são idênticas, mas
há semelhança
suficiente
para
que
eu
sinta
que
posso
ajudá-la,
Por um momento, Annabel pareceu ter um debate interior, mas então virou-
se e se sentou de novo em frente a Caroline em um sofá de brocado.
— Eu não tenho certeza — ela confessou em uma voz que continha uma
leve oscilação — exatamente de qual pode ser motivo pelo qual quero ouvir
o que você tem a dizer, mas eu quero.
Talvez fosse por covardia, mas Caroline meio que esperara ser rejeitada para
não precisar falar sobre algo que fizera o possível para esquecer.
— Isso pode ser embaraçoso para nós duas, mas farei o meu melhor.
— Nem Margaret conversa muito sobre isso comigo. Ela promete explicar
antes do casamento.
Embora fosse apenas alguns anos mais velha, Caroline se sentia muito mais
sofisticada, embora o custo de sua educação tivesse sido muito caro.
Annabel não era boba e seu olhar se aguçou quando olhou para cima.
— Pelo duque?
Sim, ela definitivamente dissera demais. Esperava que a senhorita Reid fosse
confiável, mas Caroline acabara de se associar aos dois homens.
Derek Drake afirma amar você, e com seu título e fortuna ele dificilmente
seria um homem inelegível, isso sem mencionar que você acabou de me
dizer que não tem sentimentos profundos por Lorde Hyatt.
Recentemente, toda a cidade de Londres ficou ciente de que o nome dele foi
citado junto ao de uma adúltera em um divórcio extremamente escandaloso.
— Tudo bem, eu admito isso, mas mesmo que ele esteja sendo sincero sobre
seus sentimentos por mim, quem pode dizer se vai durar?
— Ele se sente culpado. Admitiu isso. Então agora inventou uma maneira
de consertar e se desculpar pelo que aconteceu antes. Bem, não tenho certeza
se estou disposta a perdoar ou esquecer, e sua capacidade de amar de forma
duradoura ainda é uma dúvida muito real em minha mente.
Caroline entendia muito bem. Ela tinha plena consciência das implicações de
estar apaixonada por alguém com uma reputação como a de Manderville.
Por um momento, elas apenas olharam uma para a outra no que parecia uma
promessa comum de irmandade.
QUERIDA ANNIE:
Será que tenho o direito de lhe pedir que me perdoe pelas minhas ações em
Manderville Hall há alguns meses? Ponderei a questão longamente e não
posso sequer responder a mim mesmo. Tudo o que sei é que gostaria de
poder apagar a memória de suas expressões quando saiu da estufa naquela
noite. Se eu pudesse erradicar o ato, tenha certeza de que o faria. Eu
assumo total responsabilidade. Afinal de contas, sou mais velho, mas
aparentemente nenhuma sabedoria veio com esses anos a mais.
Não posso te dizer como anseio por vê-la sorrir para mim mais uma vez.
Sinceramente,
O que poderia ter acontecido se ela tivesse lido isso quando lhe fora
entregue? O ponto era discutível, porque ainda estava chocada e desiludida,
mas certamente fora significativo que não a tivesse jogado fora. Poderia
parte de tudo ser culpa dela? Afinal, Derek não pedira para se tornar seu
cavaleiro mítico, o galante príncipe de seus sonhos, o belo herói de suas
fantasias de menina. Ele era apenas um homem e, portanto, falível.
Ele não é perfeito, mas às vezes esses são os libertinos pelos quais nos
apaixonamos...
Annabel construíra uma imagem dele que não era real, e quando esta não se
confirmou, seu mundo foi destruído. Ele não se eximira de culpa, ela se
lembrou, pensando na condessa em seus braços, mas, novamente, talvez não
fosse inteiramente culpa dele também.
Ela não.
A sala de reuniões abafada não era a escolha ideal. Derek sentiu-se inquieto
e se remexeu na cadeira. A sessão parecia interminável, e ele começava a
sentir dor de cabeça. Só quando os bocejos na câmara assumiram proporções
epidêmicas, Lorde Norton pareceu perceber há quanto tempo vinha falando e
finalmente se calou, sem nunca ter chegado a um argumento válido.
Então agora restava a Derek duas escolhas. Ele poderia vestir sua fantasia
ridícula e visitar Caroline na madrugada para pedir detalhes sobre a
conversa, ou poderia entrar no quarto de Annabel novamente e perguntar a
ela.
Nenhuma das duas parecia muito boa. Ambas as ideias foram precipitadas
nas primeiras ocasiões.
Droga.
Estava claro que teria que presumir que tudo correra bem. Mas por que
deveria pensar que sim? Não havia razão para isso. Annabel o dispensara de
forma completamente fria.
Bem, não exatamente. Não friamente. Ela o dispensara com uma lágrima
indesejada deslizando por sua bochecha, e sua voz não continha o tom usual.
Isso lhe dava uma esperança que talvez fosse falsa, mas ele não queria
desistir. Se falhasse, se o que Caroline dissera a Annabel não causasse
nenhuma impressão, seria porque ele arruinara as coisas a um ponto sem
volta, mas ainda pretendia ajudar Nicholas.
— Não que não seja sempre agradável ver você, mas não passamos uma
tarde excruciante juntos? — Nicholas entrou e fechou a porta atrás de si. —
Se veio aqui para reclamar do argumento de Lorde Norton, vou ter que
confessar que parei de prestar atenção na metade do seu discurso.
— Não, não vim por isso. Não me pergunte também. Quando o primeiro-
ministro se afastou e começou a roncar, vamos ser francos, ele perdeu o
público.
Havia motivos para que o duque de Rothay fosse considerado uma lenda.
Ele permaneceu relaxado em sua cadeira, mas seus olhos escuros exibiram
um certo brilho que Derek podia reconhecer. Uma pequena pausa quase
infinitesimal foi feita.
Por que, de fato? Era a pergunta mais correta. Derek não se deixaria enganar.
Ou, pelo menos, esperava que não.
Seria verdade? Não, não era. Se assim fosse, seu amigo não se mostraria tão
cuidadosamente indiferente. A perfídia de Helena deixara algumas cicatrizes
permanentes. Derek entendia, mas lembrou-se do olhar no rosto de Caroline
quando ele perguntou se seus sentimentos estavam comprometidos.
— Quando isso acabar, pelo menos não teremos mais que lidar com essa
ridícula aposta — disse Derek em uma voz introspectiva. — Para começar,
foi uma ideia estúpida, mas a atenção que recebemos deixou a sociedade
bastante desconfortável.
Idiota teimoso.
Nicholas abriu a boca para dizer algo mais, mas fechou-a e permaneceu em
silêncio. Tamborilou os dedos na mesa em um gesto inquieto, e depois
parou também, como se percebesse que o movimento traía seus sentimentos.
Satisfeito que tudo tivesse corrido de acordo com o plano, Derek ficou de pé.
Derek mal conseguiu reprimir uma risada. Não que gostasse da tortura que
seu amigo estava infligindo a si mesmo, mas sentia empatia por saber que
Nicholas nunca ficaria em paz até que chegasse à conclusão sozinho.
— Então, suponho que veremos o que a moça terá a dizer quando tudo isso
acabar.
Seu amigo nem sequer piscou. Mas também não lançou suas rápidas réplicas
habituais. Derek saiu, refletindo que pelo menos as sementes tinham sido
plantadas. A questão era: dariam frutos?
Mas que escolha ela tinha? Annabel finalmente se forçou a virar e olhar no
espelho comprido. Sim, era uma criação adorável, a saia azul-gelo de cetim,
uma sobreposição de renda dando um efeito etéreo. Era justo perto da
cintura e depois se transformava em um corpete modesto, mostrando apenas
uma sugestão da curva superior de seus seios. Pequenas pérolas foram
bordadas ao longo das mangas e do decote, o brilho refletido na luz.
— É natural ficar nervosa, não? Todas as noivas se sentem assim. Vai passar.
Você está uma visão neste vestido. Ele vai cair de joelhos, tomado de amor.
A lógica equivocada de que uma peça de roupa poderia inspirar uma emoção
que ela tinha certeza de que Alfred não sentia por ela deu a Annabel o desejo
macabro de rir, mas ela não o fez. Em vez disso, suas mãos se fecharam nas
laterais do corpo, e ela sacudiu a cabeça.
— Querida, por que não pedimos que uma das garotas te ajude a se trocar?
Podemos discutir isso em casa e depois voltarmos para uma última
adaptação em algum outro momento.
Margaret estava certa, claro. Deus, por que isso tinha que ser tão
complicado? Por que ela não podia simplesmente amar a ele, ao invés de
outra pessoa?
— Querida Annabel, tenho olhos. Não lhe perguntei depois do último ajuste
se você ainda desejava continuar com o casamento?
As lágrimas ainda estavam lá, ardendo atrás de suas pálpebras. O que mais
Margaret notara? A bondosa simpatia nos olhos da mulher mais velha a
confundiu ainda mais.
— Além disso, quando o rosto de uma noiva em potencial atinge certo tom
de verde toda vez que experimenta seu vestido de casamento, algo está
definitivamente errado.
— Eu sei.
— Estou muito feliz que você tenha chegado a essa conclusão antes do
casamento e não no dia seguinte.
— Lady Wynn? Uma mentora estranha. Eu não sabia que vocês eram
amigas.
— Nós não éramos particularmente próximas, não até outro dia. Ela é amiga
de Derek.
— Eu normalmente não discutiria esse assunto com você, mas duvido que
seja verdade. Não ouvi nenhuma fofoca a respeito.
Eles sabiam de seu coração despedaçado. Como ela julgava ter sido capaz de
esconder isso?
momento para que não me dê um discurso usual sobre libertinos, pois não
poderei dar uma resposta elegante. Este é o mesmo homem que
recentemente fez uma aposta ultrajante baseada em sua… bem…
Ela corou. Mesmo que pudesse ter algumas — bem, uma quantidade
embaraçosa, de fantasias sobre como seria estar em seus braços − era uma
coisa bem diferente falar sobre isso.
— Diga-me a diferença.
Annabel sussurrou:
— O amor é uma coisa milagrosa, minha filha querida. Não subestime isso.
Uma unha comprida percorreu seu peito nu, fazendo-o abrir os olhos.
Nicholas piscou, começando a se sentar, depois gemeu e se jogou para trás.
— Onze, querido.
Ele olhou para a mulher sentada na beira da cama − na cama, pelo amor de
Deus −, com os olhos apertados. O quarto era de um rosa resplandecente.
— Não muito.
Elaine arqueou uma delicada sobrancelha. Ela era uma ruiva luxuriosa com
curvas opulentas, uma década mais velha do que ele, e, embora tivessem tido
um caso breve e muito casual anos atrás, conseguiram permanecer amigos.
Quando seu marido idoso morreu e a deixou em uma batalha financeira com
os credores, Nicholas usou sua influência para ajudar a livrá-
Elaine murmurou:
Ele tinha a sensação sinistra de que ela estava certa. O que diabos acontecera
na noite anterior? Como acabara com sua ex-amante? Ele fora a uma
pequena reunião, ouvira uma fedelha terrível profanar Bach ao piano, e
então... fora Manderville quem sugerira que jogassem um de seus jogos de
azar favoritos? Poderia ter sido, mas ele simplesmente não conseguia se
lembrar.
— Conversa? — Ao dizer isso, ele percebeu duas coisas. A primeira era que
estava sem camisa, mas ainda usava as calças. Alguém atencioso havia
tirado suas botas, graças a Deus, já que ele duvidava que tivesse sido sensato
o suficiente para fazê-lo. A segunda era que ela trouxera chá, e Nicholas
nunca se sentira tão grato por ver uma bandeja e uma chaleira fumegante
quanto com qualquer outra coisa em sua vida.
Elaine percebeu para onde ele estava olhando e moveu-se com um pequeno
sorriso para lhe servir uma xícara.
Com esforço, ele se ergueu para uma posição meio sentada e aceitou sua
oferta com gratidão. Depois de um gole feliz, ele murmurou:
Recuou um pouco e olhou-o com uma clara diversão que lhe provocou certa
preocupação.
— Você queria ter uma discussão profunda e significativa sobre um assunto
que nunca pensei que discutiríamos.
Amor.
— Sim, de fato, você estava. Deve ter sido por isso me disse o nome dela.
Com mil diabos, ele quebrara sua palavra para Caroline. Sua cabeça doía
mais do que nunca, embora soubesse que podia confiar que Elaine seria
discreta.
— Você não precisa parecer tão alarmado. Não vou dizer nada sobre o seu
envolvimento incomum com Lady Wynn.
Ele era um idiota. Um bêbado idiota que traía confidências. Perceber isso
não melhorou em nada seu humor.
— O quê?
— Que você acha que se apaixonou pela bela viúva fria do falecido Lorde
Wynn.
— Eu disse isso?
Realmente vai permitir que ela saia com Manderville por uma semana se
você é tão contrário à ideia? Por que simplesmente não diz a ela a verdade?
A perfídia estava completa. Ele não só revelara a verdade sobre seu tempo
juntos em Essex, mas também sobre a aposta em si e a participação de
Caroline nela. Maldito inferno.
Mesmo que o chá estivesse escaldante, ele tomou uma grande quantidade.
Silêncio.
Maldição.
— Ela não está interessada em se casar novamente. Deixou isso bem claro.
— Gostaria de ouvir os conselhos que lhe dei ontem à noite, agora que você
está em condições de lembrar?
— Desde que tive a descortesia de invadir sua casa sem ser convidado, beber
em um estupor e dormir em sua cama, suponho que seria rude recusar.
O sorriso desapareceu.
Aquele nome era algo que ele dificilmente gostaria de ouvir enquanto sua
cabeça estivesse latejando como um tambor de um pelotão francês.
— Você — ele disse com o que esperava soar como calma — coloca muita
ênfase em algo que eu já esqueci.
— De alguma forma eu duvido disso. Fui testemunha, lembra? Foi por isso
que você acabou na minha cama, por um curto tempo. Depois que
terminamos, de repente você se tornou o Duque Diabólico, e a sedução
casual tomou o lugar do que sei de memória que era uma abordagem muito
mais aberta e menos cínica da vida.
− e atraiu-o com provocação sexual e por sua situação como uma mulher
indefesa e sozinha.
Só que ela não estava sozinha. Ele descobriu isso de uma maneira que
abalou seu mundo.
Não. Caroline não era nada como Helena. Ele estava certo disso.
Quase.
— Eu acho que é um bom sinal que tenha levado tão pouco tempo para
ter seus sentimentos tão envolvidos. Ela parece perfeita para você, se quer
minha opinião.
Elaine olhou para ele com olhos preocupados e uma expressão solene. Ela
disse suavemente:
— Temo muito que você esteja deixando Helena te fazer de bobo pela
segunda vez.
— Minha senhora?
— Sim?
Seu olhar tornou-se mais atento ao olhar para o jovem. Sua pele tinha
assumido uma cor mais escura.
Claro. Huw sabia sobre a aposta e sua participação nela. Havia permanecido
nos aposentos dos criados em Tenterton Manor durante seus cinco dias com
Nicholas. Provavelmente tinha adivinhado. E lá estava ele, com o chapéu na
mão, uma leve camada de poeira no uniforme devido ao caminho que
percorreram. Seu cabelo era escuro e encaracolado, e emoldurava um rosto
com uma expressão que era uma mistura de constrangimento e preocupação.
Era comovente.
— Fazer o quê?
Como aquele era o mesmo jovem que os guiara por Londres enquanto
faziam amor em sua carruagem, ela não pôde deixar de corar. Mas, ainda
assim, se irritou um pouco com a suposição de que Rothay podia ter alguma
opinião sobre o que ela fazia ou deixava de fazer. Afinal, o homem não se
declarara para ela em nenhum momento.
Ela queria mais. Sim, ela queria, ou não estaria naquele momento se
encontrando com Lorde Manderville em uma hospedaria campestre pouco
atraente.
Os criados sabiam tudo. Era um detalhe do qual muitas vezes se esquecia,
porque, no passado, nunca fizera nada de ultrajante.
— Em primeiro lugar, por que acha que estou aqui? Realmente espero que
Vossa Graça não goste do que vou fazer.
— Entendo.
Huw gostava dele. Caroline também. Ela gostava demais dele para sua
própria paz de espírito. Nicholas era infinitamente agradável. Isso não estava
O que quer que ela pudesse dizer em seguida foi silenciado pela entrada do
homem por quem esperava. Ou melhor, não era bem isso. Ela podia estar
esperando por Lorde Manderville. Mas suas esperanças – e desejos −
estavam em Nicholas.
— Minha senhora.
— Obrigada, Huw.
Ele hesitou por um momento e depois saiu.
— Vamos ficar alguns dias. Minha correspondência deve ter chegado a você
na semana passada.
Será que Nicholas se importaria o suficiente para surgir e impedir o que ele
pensava que iria acontecer?
A teoria de Derek era de que ele faria isso. Caroline não tinha a mesma
confiança, mas, ao mesmo tempo, não conhecia Nicholas como seu amigo
conhecia. Mas queria conhecê-lo. Deus do céu, como ela ansiava por outra
dança sob o luar ou, melhor ainda, acordar de forma preguiçosa ao lado dele
novamente, sentindo seus braços ao redor dela, o sopro de sua respiração
contra sua bochecha enquanto ele dormia...
Caroline, que olhava pela janela para uma ovelha com dois cordeirinhos que
a seguiam lado a lado, virou-se e sorriu.
— O que você precisa saber é que tem minha gratidão eterna. Tudo o que
disse a ela teve o efeito desejado.
— Não.
— Entendo. Eu esperava...
— Você honestamente acha que ela diria a mim, uma mera conhecida, algo
tão pessoal? Eu falei muito mais do que ela, mas, para ser sincera, milorde,
acho que a moça já estava inclinada a romper com Lorde Hyatt. —
terminado, que vá ser fácil reconquistá-la. O amor que sente por você não
está em questão; mas, sim, sua confiança. Esta é uma mercadoria que, uma
vez danificada, não é tão facilmente substituída.
— Você vai me dar uma lição sobre mulheres, minha senhora? Os rumores
dizem que sou um especialista, devo avisar-lhe.
Seu charme certamente era palpável. Não era de admirar que Annabel Reid
tivesse se apaixonado por ele. Se Caroline não estivesse tão envolvida com
Nicholas Manning, provavelmente teria sido suscetível. Ela sorriu.
— Se não fosse pela aposta, você e Nick ainda seriam apenas conhecidos
que se cumprimentam com um mero movimento de cabeça; Annabel ainda
estaria planejando o casamento dela e eu ainda me consideraria impotente
para mudar as coisas. Acho que não posso me arrepender da aposta agora.
Derek riu.
— Ah, virá.
Sua confiança era reconfortante, mas ela não tinha certeza se compartilhava
da mesma opinião.
— Por vários motivos, mas principalmente por causa dos onze dias.
— Onze dias?
— Ele sabia exatamente quantos dias se passaram desde que vocês dois
retornaram de Essex. Talvez eu não saiba muito sobre pessoas em geral, mas
sei sobre a espécie masculina, já que sou eu mesmo um representante. Ter
noção exata de uma contagem do tipo não é algo de nossa natureza. Ele
contou os dias. Isso diz tudo.
Lorde Manderville sorriu, sua boca bem formada era uma curva juvenil.
Caroline não era conseguira esconder sua expressão quando ele confessou
ser
A resposta fora clara, ele pensou com severa auto repreensão: porque estava
desconfiado de que ela o obrigaria a fazer coisas ridículas como cavalgar em
alta velocidade por horas até uma pequena hospedaria para impedi-la de
resolver uma aposta juvenil muito imprudente.
Ele amava Derek como um irmão. Essa interferência era tanto para salvar
sua amizade quanto qualquer outra coisa.
Não, não era, ele disse a si mesmo com honestidade. Era egoísta, porque ele
não podia suportar pensar nos dois juntos.
O proprietário olhou sua roupa cara e julgou corretamente seu status social.
Ele subiu as escadas de dois em dois degraus, como se a pressa àquela hora
tardia pudesse fazer a diferença. Na porta correta, ele parou, rígido e detido,
quando ouviu uma pequena risada ofegante. Feminina e familiar. Em Essex,
ele a ouvira com frequência, geralmente sussurrada em seu ouvido enquanto
eles estavam juntos na cama. Espontânea, livre e tão adorável
quanto o resto daquela mulher quando não continha todo seu bom humor em
uma fachada gelada de desapego.
Nicholas ergueu a mão para bater e pausou, outra cena retornando à sua
mente, como um fantasma passando à luz fraca do corredor.
Helena havia desaparecido. Ele sabia, porque tinha ciência de todos os seus
movimentos, a graça fluida de seu corpo enquanto ela dançava, a curva de
seu sorriso, o balanço de seus quadris enquanto caminhava.
Porque sabia. Acontecera com ele, afinal de contas. Aquele olhar sensual, a
breve pressão em seu braço, a delicada e sutil cena de sedução.
Santo Deus, ele os ouviu. Ela dissera estar apaixonada por ele, mas, ainda
assim, vivia um momento de paixão com outro homem. Ele nem precisava
entrar no quarto para saber que era verdade.
Não, não era a mesma cena que ele invadira há uma década.
O alívio o deixou sem palavras. Ou talvez fosse outra coisa, algo parecido
com mortificação. No silêncio resultante, ele conseguiu dizer com
brilhantismo:
— Olá.
O quê?
— Não para mim, claro, uma vez que estou saindo. Tenho certeza de que
Lady Wynn gostaria de ouvir o que você tem a dizer. Entre em contato
comigo quando voltar para Londres.
Mas era difícil ficar muito irritado ao ser deixado sozinho com Caroline.
— Estava.
— Eu não sei por que estou aqui, na verdade. — Ele passou a mão pelos
cabelos, nervoso, e respirou irregularmente. — Exceto que eu realmente não
poderia aceitar a ideia de você seguir com a segunda parte desta aposta.
— Eu vim por você — disse ele com simples honestidade. — O que isso
significa exatamente, você será obrigada a me ajudar a entender.
— Bem — ela disse com a mesma voz pragmática, primitiva, típica de Lady
Wynn, embora a ansiedade em seus olhos desmentisse o comportamento —,
eu não estou convencida disso.
Não era simplesmente desejo. Desejo era algo que ele conhecia bem. Já
sentira muitas e muitas vezes. Era o combustível que alimentava a fábrica de
fofocas e o que o impedira de pensar em Helena no passado.
Aquilo era diferente. Fora diferente desde o momento em que ele a beijou
naquela tarde quente no terraço em Essex e teve o primeiro sabor de sua
hesitante, mas ávida, paixão.
Apenas isso.
Desejo.
Era demais esperar que este desejo não tivesse sido a única coisa que o
levara até ali?
Ele era tão alto, tão masculino e poderoso quanto ela se lembrava, e tão
intimidador quanto na última vez em que trocaram olhares em um salão de
baile lotado.
Porém ele parou diante de sua cadeira e estendeu a mão em vez de fazer algo
mais presunçoso como arrebatá-la em seus braços.
Era um símbolo do que ela esperava que ele oferecesse. Não apenas prazer
passageiro, mas uma união mais significativa. Nicholas fora de Londres para
impedi-la de cumprir sua oferta de julgamento, e Lorde Manderville saíra,
como planejado, deixando-os em paz. Tudo estava indo bem até aquele
momento.
Caroline aceitou a mão, entrelaçando seus dedos nos dele enquanto permitia
que ele a puxasse gentilmente, colocando-a de pé.
Afinal, qual seria o problema de dizê-lo? Bem, talvez fosse um risco, mas
Nicholas viajara por uma boa distância para interferir e, embora Derek
jurasse que isso aconteceria, ainda assim, a surpreendera e a emocionara.
O duque diabólico não era apenas charme naquele momento... e ela adorava
isso. Amava a necessidade ardente em seu abraço, amava a falta de finesse.
Ele era capaz de fascinar de forma planejada e persuasiva, de seduzir
tentadoramente, mas o que acontecia ali era algo totalmente diferente. Suas
mãos percorreram seu corpo, e eles se entregaram.
Uma mecha de ébano roçou sua bochecha. Uma boca quente e exigente
possuía a dela, e Caroline sentiu o comprimento rígido de sua ereção mesmo
através das camadas de suas roupas. Não importava que estivessem em um
quarto pequeno, o céu escuro não tinha significado, todo o seu mundo era
um único homem.
Um único homem.
Sim, ele estava lá. Isso deixava o corpo de Caroline tenso e necessitado.
— Estou feliz.
Suas mãos eram mágicas. Ela não tinha chance, mas não queria uma. Seu
vestido foi retirado e afastado de seus ombros tão rapidamente que ela mal
percebeu que o tecido escorregava e se acumulava no chão. Chemise, meias
e sapatos foram descartados com a mesma rapidez, e ele a ergueu,
depositando seu corpo nu sobre a colcha.
— Isso sim faz valer a pena ter percorrido todo o caminho de Londres até
aqui — disse ele, enquanto começava a se despir deliberadamente, seu olhar
Como ela sentira falta daquilo. A evidente audácia em seu olhar e a onda de
excitação profunda revirando seu estômago. Ele tirou a roupa e, por um
momento, ficou parado ali, como se percebesse, com a mesma força
frenética de necessidade, quão importante era o momento para os dois.
Caroline adorava o modo hábil com que as mãos dele se moviam sobre seu
corpo, a sensação quente da boca em seu pescoço enquanto ela se arqueava
em seu abraço, o cheiro de sua pele. Já estava molhada e receptiva, ansiosa
para senti-lo dentro dela. Foi natural abrir as pernas, um convite que ele não
recusaria. Nicholas apoiou o peso em seus antebraços e aceitou a oferta, seus
joelhos afastando suas coxas um pouco mais, enquanto se preparava para
penetrá-la.
Por um momento ele fez uma pausa, deixando evidente sua hesitação por
conta da tensão em sua forma musculosa.
Não era uma surpresa perceber que ele ainda estivesse tendo problemas para
compreender suas próprias ações.
A ponta de sua ereção descansou contra a abertura dela, mas ele não se
mexeu.
— Imaginar você com Derek… Ah, inferno, você com qualquer um... foi
mais do que eu pude suportar. Estava me torturando.
Ela captou o tom rouco e profundo de sua voz. Que Nicholas Manning, o
amante diabólico de tantas mulheres, com seu carisma suave e experiente,
que era comentado em sussurros por onde quer que ele fosse, estivesse
— Por que não se deitaria com Derek? Esse era o acordo. As mulheres o
acham infinitamente atraente.
— O acordo foi antes — ela disse a ele, com um tom calmo e direto.
— Antes do quê? — Seus olhos se estreitaram apenas uma fração. Ela podia
sentir o calor dele, a evidência de seu desejo pressionando sua pele
arrepiada, o ligeiro tremor em seus braços mostrando a quantidade de
controle que lhe custava não completar o ato que ambos queriam tão
desesperadamente.
Caroline nunca dissera eu te amo a ninguém em sua vida, mas também não
achava que tivesse amado alguém antes. Sua mãe, talvez, quando criança,
mas realmente não se lembrava dela. Seu pai, frio, severo e distante, sua tia
indiferente e obediente, e muito menos Edward, que ela detestava, nunca lhe
inspiravam sentimentos calorosos. Nicholas cortejara não apenas seu corpo,
mas também sua alma com seu toque gentil, hábil e um sorriso irresistível.
Fora necessária apenas uma silenciosa dança ao luar no terraço para que ela
se perdesse.
— Desde que você me tocou... Desde Essex... eu entendi que não poderia ir
adiante. Eu disse a Derek, assim que voltamos, que retirava minha oferta.
A última coisa que queria era que ele se sentisse assim. Ela estendeu a mão e
tocou os lábios dele com a ponta do dedo.
— Não. Eu não sei como chamar, mas não foi assim. Derek especulou que
poderia fazer você rever seus sentimentos se pensasse que eu pretendia ir
adiante com minha parte na aposta.
Ela não pôde deixar de rir do seu tom de repulsa, mas ainda se sentia
envergonhada quando disse:
— Estou feliz que tenha acontecido, porque... — os quadris dela se
arquearam um pouco para enfatizar o ponto — estamos aqui agora. Assim.
Você se importaria...?
Sua declaração ousada pareceu satisfazê-lo, pois seu sorriso tinha uma
qualidade lupina.
Ele rosnou:
Sua investida foi rápida, impetuosa, forte o suficiente para fazê-la ofegar.
— Sim.
Não, ela não podia se imaginar fazendo algo tão íntimo, tão maravilhoso,
com ninguém além do homem que se movia com ela naquele momento,
ambos buscando... encontrando...
A conclusão foi arrebatadora, o prazer tão agudo que ela sentiu como se o
mundo parasse e o céu caísse. Eles estremeceram juntos, envoltos pela
sensação, exaustos e satisfeitos enquanto se esparramavam em um
emaranhado de braços e pernas, ambos relutantes em falar até mesmo
quando suas respirações começaram a diminuir para um ritmo normal.
Nicholas seguiu o ritmo dela. Mesmo nua em seus braços, seu corpo úmido
após a paixão tempestuosa, uma parte dela ficou atônita com a descrença do
que realmente havia acontecido. Um longo dedo traçou um caminho desde
sua mandíbula e acariciou seu lábio inferior. Olhos escuros a observavam
sob o véu de cílios semicerrados. Nicholas sorriu, mas não era o habitual
curvar calculado e preguiçoso de seus lábios. Em vez disso, parecia quase
melancólico, que era uma palavra que ela jamais teria associado ao duque de
Rothay.
— O quê?
Isso significava que ele nunca iria oferecer mais do que o que eles tinham
acabado de compartilhar? Não sabendo como responder, Caroline se aninhou
contra ele, silenciosa, incerta, sentindo sua felicidade desaparecer aos
poucos.
— Caroline?
Suavemente, ele tocou o queixo dela, forçando seu rosto a se inclinar para
que eles olhassem um para o outro.
Como ela desejou que pudesse ser indiferente. Mas não podia. Sussurrou,
então:
— Eu me apaixonei por você. Por aquele homem, não pelo duque diabólico,
mas pelo verdadeiro.
Três dias. Fazia três dias desde que ele retornara a Londres daquela pequena
hospedaria onde deixara Nicholas e Caroline se divertindo imensamente.
Derek, por outro lado, não estava se divertindo nada. Ficar longe da casa do
tio fora uma tortura, mas ele dificilmente queria surgir à sua porta como um
abutre espreitando uma corça logo depois que a dissolução do noivado de
Annabel se tornasse pública, então, ele esperou.
Era tarde. Talvez ele devesse ir a White ou ao Brook's, sentar-se num canto
com uma garrafa de uísque e…
Ele poderia ter ficado alarmado, mas era muito difícil, se tivesse que
adivinhar, que invasores tivessem pernas tão bem torneadas. Nem usavam
vestidos de noite de seda em tons de marfim. Surpreendido, Derek congelou
em sua cadeira.
Ela estava ali, com seus cabelos dourados e pele de marfim, o queixo
inclinado para cima em um ângulo suave, um olhar desafiador em seus olhos
azuis.
Ele olhou para trás, perguntando se era algum tipo de alucinação absurda.
— Bom Deus, Annie, você sabe que não. Thomas e Margaret sabem que está
aqui?
Além disso, quero avançar e não gastar mais um minuto imersa nessa
batalha interna que parece impossível de resolver. Você não está interessado
no que me trouxe aqui?
Foi a mesma pergunta que ele fez para ela na noite em que se viu
desesperado o suficiente para invadir seu quarto.
Mas não era verdade. Ele pôde perceber pela vulnerabilidade em seus olhos.
Assim, dada a permissão, ela hesitou, tão linda sob o brilho fraco da
lamparina, a cor marfim de seu vestido fazendo-a parecer mais inocente e
jovem do que nunca. Exceto que era decotado o suficiente para mostrar
modestamente as curvas superiores de seus seios fartos e não havia nada de
infantil a respeito dela. Era uma mulher sedutora em todos os sentidos,
incluindo seu espírito independente.
E era cativante, embora ele não precisasse disso. Já era um cativo.
— Fiquei sabendo.
Ela não tentou fingir que não sabia do que ele estava falando.
— Sim, imagino que todo mundo já deva saber que rompi meu compromisso
com Alfred. Eu me senti péssima fazendo isso, mas não tão terrível quanto
lhe teria feito se nos casássemos. Ele não ficou particularmente surpreso, eu
acho, assim como você previu.
Teria sido mais eficaz se a voz dela não tivesse falhado. Não muito, apenas
um único engate em seu discurso, mas foi o suficiente.
— Vou tentar não ser — ele murmurou. — Nem estou certo se tenho
algum motivo para ser presunçoso. Tenho? Exceto, talvez, sua chegada e
presença não convencionais aqui a esta hora.
— Eu percebi — ele admitiu com humor sombrio. — Nunca paguei tão caro
por um erro.
— Eu nem sei por que deveria falar com você. O ano passado tentei
reconciliar o homem que eu achava que conhecia com quem você realmente
é, e não gostei do exercício. Me dê uma razão lógica para confiar em você.
Nenhuma parte dele pensou que seria fácil. Havia certa vantagem, e uma
desvantagem, em conhecer alguém muito bem. Ela amava totalmente, mas
sofria pela traição com a mesma quantidade de paixão. Derek hesitou um
pouco e disse baixinho:
— Annie, entendo que fui insensível e idiota no ano passado. Por favor, não
faço objeção a nenhum dos dois rótulos. Mas, colocando-se no meu lugar,
você não consegue entender que o que estava acontecendo entre nós era
proibido e estranho? Você era tão jovem, e lá estava eu, com essa reputação
da qual não consigo me livrar e que posso ter herdado do meu pai.
— Antes?
— Antes de você.
— Foi o que acabei de pedir — Derek não podia acreditar que tinha dito
aquilo tão facilmente, abandonando sua liberdade sem hesitação ou
arrependimento. — Sim, quero que você se case comigo. Que seja minha
esposa.
Ele ficou imóvel, cada músculo em seu corpo ficando tenso. Atordoado e
abalado, ele olhou para ela.
— O quê?
Sem palavras, ele sentiu seu corpo reagir, embora emocionalmente fosse
resistente à sugestão. Depois de um momento, conseguiu falar:
— Eu estava...
— Sim, eu sei — ela interrompeu, olhando para ele, seu semblante coberto
por delicadas sombras e curvas sob a luz bruxuleante. — Você estava
embriagado na época, mas, ainda assim, a ideia deve ter vindo de alguma
forte convicção e quero que prove isso. Para mim.
— Não vamos contar a ele. — Ela chegou perto o suficiente para colocar a
mão em seu peito. Através do linho fino de sua camisa, ele pôde sentir a
leve pressão. — Eu quero. Sem dúvidas, sem chance de você mudar de ideia,
sem volta para nenhum de nós. Se há uma coisa que eu sei sobre você é que
não seduz jovens mulheres inocentes. Mesmo quando disse a mim mesma
que odiava você, não contava esse como um dos seus pecados.
— São genuínas — ele protestou, sem saber como proceder, porque receber
uma proposta sexual de uma jovem normalmente comportada estava fora dos
limites de suas experiências. Sua dúvida era insultante até certo ponto, mas
ele também não lhe dera muitos motivos para confiar nele.
A convicção em sua voz o desfez. Maldito inferno, o que ele deveria fazer?
Candidatar-se à santidade? A mulher que ele queria mais que tudo na terra
pedia que ele a levasse para cama. Além disso, uma voz traidora sussurrava
em seu cérebro de que havia bastante fofoca sobre o rompimento de seu
noivado, então, não poderiam formalizar seu relacionamento imediatamente
sem que os sussurros aumentassem em proporções ensurdecedoras, por isso,
um casamento rápido e discreto estava fora de questão.
— Então me beije.
Ele queria tocá-la, beijar aqueles lábios rosados e suaves, segurá-la contra
ele e fazê-la imaginar tudo que poderia fazer com ela.
O que ele faria. Sabia como dar prazer a uma mulher, como provocar
aqueles suspiros e movimentos sutis, como levá-la à beira do êxtase e lançá-
Annabel o olhou, tão bonita que fez sua respiração ficar presa na garganta.
— Você entende o quanto isso é importante para mim? — Sua voz estava
baixa, seus olhos embaçados.
— No ano passado — ele lhe informou, um pouco à flor da pele — eu passei
a entender muito sobre amor platônico, Annie.
Ele não aguentou. O desejo de tocá-la era intenso. Assim como o brilho azul
nos olhos dela. Derek a segurou contra ele. Deslizou os polegares pelas
laterais de suas faces, agora úmidas de lágrimas traidoras, encostando seus
lábios sobre as sobrancelhas dela.
— Annie.
— Sim.
observá-la. Olhar nos olhos dela, esperando, rezando para ver a mesma luz
brilhante que estivera lá há um ano, antes de esta desaparecer e destruí-lo.
Eu te amo.
Quando ele disse isso daquela vez, não houve hesitação. Nenhuma ideia de
que ele se sentia como se estivesse saltando de um precipício para uma
morte dolorosa, não houve eco de incerteza.
— Como assim?
— Esse foi um beijo muito romântico, e eu não achei que você conseguiria
superar o primeiro. Quero mais.
— Desta vez não vai ser nada como o que aconteceu no ano passado, eu
prometo a você — o tom alterado de sua voz fez com que ela sentisse um
arrepio de antecipação.
O homem não pedia pouco. Queria sua confiança, queria-a entregue aos seus
braços e em sua cama, mas também todos os seus sonhos? Annabel
Ela podia não ser experiente como as mulheres com as quais ele geralmente
se envolvia, mas estava aninhada em seus braços e podia sentir a
protuberância na frente de suas calças. Um calor aqueceu suas bochechas e
ela pressionou o rosto em chamas contra o peito dele.
Ele não permitiu. Longos dedos seguraram seu queixo e o inclinaram para
que seus olhares se encontrassem.
— Annabel?
— Eu quero você — ela confessou.
O custo fora alto, mas como ela ansiara ouvi-lo dizer aquelas palavras.
— Não pare — pediu ela. Foram as mesmas duas palavras que proferira um
ano antes, mas agora tinham muito mais significado.
— Não vou parar — ele assegurou. Seus olhos estavam escurecidos, seus
cílios abaixados. — Eu não poderia nem se tentasse. Se você está sendo
sincera, venha comigo.
Seu marido.
Não havia como voltar atrás, ela pensou enquanto dava cada passo, sentindo
o aperto firme e quente de seus longos dedos ao redor dos dela.
Bem, isso não era exatamente verdade, porque mesmo que sentisse o estado
de excitação de Derek quando a beijara, sabia que ele a deixaria partir se sua
coragem falhasse.
— Você ainda tem certeza? — ele perguntou como se estivesse lendo seus
pensamentos, com a mão na maçaneta ornamentada da primeira porta no
corredor superior. — Eu ainda posso te levar para casa e espero que possa
entrar sem ser detectada, mas, de qualquer forma...
Realmente não havia como voltar atrás. Ela rompera o compromisso com
Alfred, arriscara sua reputação escapando da casa, despira sua alma e fizera
aquela oferta ultrajante.
— Annie... Annie — ele murmurou contra sua boca, suas mãos livrando-a de
suas vestes, movendo-se através de sua carne.
Não houve tempo para ficar envergonhada ou tímida, pois ele apenas a
despiu e a ergueu do chão, colocando-a na cama. Era larga, macia e espaçosa
o suficiente para que, mesmo quando ele tirou a camisa e as calças do corpo,
juntando-se a ela, todo másculo, grande, imponente e excitado, ainda
houvesse espaço.
— Eu preciso de você. — Seu olhar a queimou, e ela sabia que ele falava a
verdade, sentindo o calor latejante de sua ereção contra seu quadril. Braços
fortes a puxaram para si, e, por mais que ela devesse estar com medo,
simplesmente... não estava.
— Vou te dar prazer até você gritar. — Ele prometeu, mordiscando ao longo
de seu pescoço. — Até você chamar meu nome.
— Faça isso.
— Porque você quer ser comprometida. Porque você não quer voltar atrás.
— Sim.
Meu amor…
Era assim que acontecia? Era sobre isso que as mulheres sussurravam?
Oh, Deus, até ela perceber que sua boca estava em um lugar que ela nunca
sonhou que alguém iria querer provar, e ele realmente falara sério quando
prometeu que a beijaria em todos os lugares. O arrebatamento incandescente
produzido pelo beijo escandaloso entre suas coxas abertas fez sua mente
girar. Derek afastou as pernas para ter melhor acesso, abaixou a cabeça
novamente e ganhou um grito revelador que ela não pôde evitar.
— Perfeito — ele murmurou, sua boca ainda se movendo contra sua carne
sensível. — Relaxe, Annie. Deixe acontecer. Nós vamos fazer isso da
maneira correta. Quero você ligada a mim para sempre.
Ou para puxá-lo para mais perto. Já não sabia dizer ao certo, uma vez que
seu corpo fora completamente escravizado.
Foi incrível.
Tão esmagador que ela mal percebeu quando ele a ajustou sobre a cama,
colocando-se sobre ela, investindo dentro de seu corpo. Seu sexo a penetrou,
a princípio apenas uma pressão brusca, e depois mais plenamente, tomando
posse real de seu corpo.
Ainda abalada pela profundidade do prazer que ele lhe dera, Annabel não
resistiu, ainda flutuando no relaxamento pós-clímax, deixando-o separar as
coxas dela ainda mais
— Eu nunca fiz isso antes — ele sussurrou contra seus lábios, afundando um
pouco mais, esticando sua passagem feminina com uma investida
inexorável. — Se eu cometer um erro, me perdoe.
Ele inteiro. Ela inteira. Juntos. Era desconfortável, mas a dor era
insignificante comparada à maravilha de estarem tão unidos, tão perto.
— Eu sempre quis ser — ela disse a ele, ferozmente triunfante, suas unhas
marcando seus ombros musculosos levemente. — Para sempre.
Ele ficou parado, dentro dela, mas sem se mover. O rosto de Derek exibia
uma expressão intensa e atípica, em desacordo com seu habitual charme
preguiçoso.
— Você ainda não disse o que quero ouvir. Este parece o momento perfeito.
Sei que sou egoísta, mas mesmo que você tenha me dado a coisa mais
preciosa que uma mulher pode dar a um homem, eu quero mais do que sua
inocência, Annie. Por favor, diga.
Ela olhou em seus olhos azuis, movida pelo apelo em sua voz.
Ele estava, ela notou, erguendo a mão para tocar o canto de seu olho,
sentindo a umidade da lágrima.
— Derek.
— Acabou? — ela perguntou, sua voz sem fôlego por um motivo que ela
não entendia muito bem, uma estranha excitação substituindo qualquer
sensação de medo.
— Não. — Seu sorriso familiar surgiu, um do qual ela sentira tanto falta,
impudente e infantil, a curva de seus lábios tão inebriante quanto o copo de
um bom vinho. — Agora que a declaração mútua de nossos sentimentos está
concluída, vamos selar o compromisso como você pediu. Acredite, nós não
estamos perto de terminar. Deixe-me te mostrar.
Derek começou a se mover, fluido, poderoso, contra ela, dentro dela. Seu
membro deslizou para trás e depois investiu novamente. Para a surpresa de
Annabel, a fricção foi, a princípio, uma sensação interessante, mas logo se
transformou em algo totalmente diferente.
— Mais uma vez, Annie — insistiu ele, com os olhos pesados. — Para mim.
De novo.
O que ele poderia querer?, ela se perguntou freneticamente até que sentiu
aquela tensão interessante que a levava a arquear a coluna. Suas coxas se
apertaram em torno dos quadris dela, que emitiu um som muito pouco
delicado, um gemido rasgado vindo de sua garganta.
Incrível.
Inacreditável.
músculos duros e rígidos, e ela sentiu um fluido quente pulsar dentro dela.
Norman, longe da sua juventude, não tinha força suficiente para expulsar
Franklin Wynn, que era duas décadas mais jovem e infinitamente mais
determinado. Caroline praguejou silenciosamente, de forma muito pouco
feminina, e murmurou:
Seu primo – não que ela aceitasse o relacionamento de bom grado – usava
um tom de ameixa daquela vez, algo que Caroline notou enquanto ele
entrava
Pense…
Caroline sentiu um calafrio, apesar do sol quente da manhã que entrava pelas
janelas e dava à sala arejada um brilho suave.
— É mesmo?
— Claro. De onde o senhor tirou uma ideia tão absurda?
— Onde, de fato?
Seria muito difícil manter algum jogo de gato e rato enquanto seu coração
batia como os cascos de um dos cavalos fabulosos de Nicholas no páreo.
Ela se sentiu fraca com a percepção horrível de que ele realmente sabia.
De todas as pessoas, Franklin era a última que ela gostaria de ter como
adversário. Tentou desesperadamente manter a compostura. Fora sua única
defesa contra Edward, e Caroline certamente precisava dela naquele
momento terrível.
— Você tem alguma razão para vir aqui e lançar esta acusação escandalosa
sobre mim?
— Querida, você parece pálida de repente. Posso pegar algo para você?
Saia, sua mente gritou. Desapareça. Mas, por outro lado, ela não queria que
ele se fosse até que entendesse o propósito de sua visita em primeiro lugar.
— De fato. A senhora está adorável. Gosto dessa cor, mas sua beleza é
inegável, não importa o que esteja usando. Ou quando não está usando nada,
tenho certeza. Suspeito que vou achá-la ainda mais atraente quando estiver
nua na minha cama, com as pernas abertas como a bela prostituta que provou
ser.
— Não importa que coisas sujas você diga sobre mim, não serei sua
— Nem eu quero que seja. — Seu tom continha algo de zombaria, e ele
sorriu de uma maneira que faria um réptil parecer atraente. — Estou
propondo casamento. Sua moral duvidosa é algo que posso ignorar quando
considero a fortuna que ganharei.
— Nunca.
Era um blefe, mas ela não se importava. Tudo o que queria era tê-lo longe.
— Tenho a prova dos homens que contratei para vigiarem você, minha
querida Caroline. Além de uma declaração por escrito do estalajadeiro. Ele
diz que você chegou com um homem e saiu com outro. Achou que ninguém
iria notar? Se isso faz com que se sinta melhor, a esposa do estalajadeiro
achou a chegada dramática do duque bastante romântica, mas, novamente,
eu entendo que a maioria das mulheres caia sob o feitiço de Rothay. Ela foi
capaz de descrever todos vocês três perfeitamente.
— Por que você me seguiria? — A última coisa que ela queria era continuar
aquela conversa, mas ele era claramente um inimigo, e lidar com Edward lhe
ensinara que era bom ser capaz de avaliar suas táticas. Isso a ajudou a
sobreviver com o mínimo possível de danos, ou ela esperava que
sim.
— O dinheiro.
— Saia — ela ordenou, orgulhosa por sua voz soar era firme e definitiva.
— E seus protestos de laço familiar não significam nada para mim, então,
por favor, sinta-se livre para nunca mais aparecer.
Ele deu outro passo à frente e ficou perto o suficiente para tocá-la.
— Esta casa deveria ser minha. Assim como você. Tudo o que foi de
Edward deve ser meu. O título significa pouco sem a fortuna que ele deixou
para você. Estou determinado a ganhá-la de uma forma ou de outra.
Seu tom frio enviou um arrepio por sua espinha. Alarmada, ela ainda se
recusou a recuar.
A investida repentina a pegou desprevenida. Não que ela confiasse nele, mas
senhores distintos de calças cor de lavanda, com renda nos punhos e cartões
em relevo não costumavam agarrar suas anfitriãs nem cobrir suas bocas com
mãos implacáveis.
— Sua puta fria. O tempo todo olhando para mim como se eu fosse um
parasita, evitando minhas visitas, fingindo não estar em casa quando eu sabia
muito bem que estava. Meu primo devia gostar muito de você para lhe
deixar toda a fortuna, então também quero ter um gostinho. Vou insistir
nisso, não importa o quanto tente negar. Depois, você será obrigada a me
aceitar ou banir a ideia de uma vida respeitável.
Não.
Não.
no chão.
improvisada porque ainda estava cedo para aparecer, mas sentira-se ansiosa
para agradecer a alguém que considerava uma amiga recém-descoberta e
compartilhar a notícia de seu futuro casamento.
Ela enxugou o rosto com o lenço de Annabel. Era difícil dizer se a umidade
vinha de lágrimas ou da água que mantivera as rosas frescas até ali. Ela
olhou para Annabel com olhos prateados que brilhavam.
— Obrigada.
— De modo nenhum.
Sim, definitivamente eram lágrimas. Não que Annabel a culpasse. Ela estaria
chorando baldes em circunstâncias semelhantes. Acomodou-se ao lado de
Caroline, ignorando o tecido úmido do sofá e pegou a mão trêmula da outra
mulher.
Suponho que isso seja inegável. Quando percebi as intenções dele, era tarde
demais para pedir ajuda.
Ambas examinaram o homem deitado no chão como se ele fosse uma pilha
desagradável de lixo.
— Eu imagino.
Um tremor sacudiu os ombros delgados de Lady Wynn. Ela pareceu
perceber que suas saias estavam desgrenhadas e as ajustou com mais
firmeza.
— Por favor, não me diga que vai permitir que ele escape impune. Sou uma
testemunha se ele tentar negar.
Wynn na cabeça com um vaso cheio de flores foi um bom começo para o
pagamento de uma dívida alta, mas ela estava disposta a fazer mais.
Apesar de estar encharcada com água e parecer quase devastada em seu
próprio sofá, Lady Wynn conseguiu vestir uma armadura ao seu redor.
— Não vejo como você pode ficar tranquila se o homem não pagar pela
afronta. Concordo que a acusação perante um magistrado é a melhor saída.
Você não me parece o tipo de mulher que o deixaria escapar depois de fazer
tão vil.
A aposta. Por um momento, Annabel não entendeu e então ficou claro o que
a outra mulher poderia estar dizendo.
dois homens que afirmam serem amantes excepcionais? Eu sabia dos riscos,
suponho, então fui eu que provoquei a atual situação. Ambos me
prometeram o anonimato, mas subestimei o interesse de Franklin pela minha
herança. Ele quer se casar comigo para lucrar, e quando eu recusei sua oferta
encantadora, ele tentou me violentar. Ele ficará mais vingativo do que nunca
depois disso.
Annabel murmurou:
Annabel não pôde deixar de lembrar como a mulher sentada ao lado dela
explicara as diferenças que poderiam haver entre dois amantes em seu
encontro anterior. Se seu ex-marido era um homem horrível — e parecia ser
algo genético —, isso significava que o duque de Rothay era o homem que...
Como foi que Caroline se referira a ele? Tornou o amor mais prazeroso do
que se podia imaginar? Como Annabel agora sabia muito bem o que ela
quisera dizer, começava a se perguntar sobre o relacionamento amoroso de
Lady Wynn com o infame Rothay. Ela perguntou baixinho:
Com o que parecia ser um cansaço infinito, Caroline deixou cair a mão no
colo.
A vida real não era tão simples assim. Não havia ninfas, nem querubins com
flechas bem miradas... ou talvez houvesse. Difícil de dizer. Ele fora atingido,
isso era certo, e embora tivesse chegado à conclusão de que não poderia se
recuperar da ferida, ainda precisava lidar com as consequências.
— Você queria falar comigo? — Sua mãe entrou na sala, um olhar indagador
em seu rosto, tão adorável como sempre, vestida de seda rosa, seu cabelo
escuro penteado e perfeito. Diamantes brilhavam em seu pescoço e pulso.
Ele se curvou.
Por que enviar um lacaio quando você pode ir me ver a qualquer momento?
que foi?
— Entendo. Devo estar mal informada. Não sabia que você estava
cortejando alguém. De fato, tenho certeza de que teriam me contado se você
estivesse. A sociedade presta muita atenção a cada movimento seu.
Sua mãe se arrepiou. Olhos escuros brilharam e seu tom foi gelado.
— Eu não vou censurar você, embora nem sempre tenha aprovado todas as
fofocas. No entanto, jovens bonitos com títulos e fortunas tendem a ter
mais tentações do que outros. Talvez seja apenas uma desculpa de mãe, mas
eu sempre descarto a maioria dos sussurros como exageros.
Essa era a parte complicada. Primeiro de tudo, ele não tinha certeza se
Caroline o aceitaria. Ela disse que não queria se casar novamente, mas
também disse que o amava. Havia também o outro problema a resolver.
— Caroline Wynn.
Ela digeriu.
— Não?
Ter seus parentes contra ela a machucaria mais, e ele simplesmente não
poderia aceitar isso.
— Por que diabos ela não aceitaria? — Sua mãe parecia indignada.
— Eu esperava que você aprovasse mesmo assim. Althea vai gostar dela.
A senhora vai gostar dela, tenho certeza. Mais importante, eu gosto dela.
Não sou indiferente ao meu dever, mãe. Percebo que o título e a propriedade
iriam para um primo distante, caso eu não consiga ter um filho. É um diabo
de um dilema ter que decidir se vale a pena sacrificar a felicidade pessoal ao
me casar com alguma jovem que pode ou não me dar um filho do sexo
masculino. Nunca achei a ideia atraente, muito menos agora. Eu só tenho
essa vida.
— E ela vai completá-la? — a pergunta foi feita suavemente, o olhar da mãe
fixo em seu rosto.
Nicholas não fizera nada além de ponderar sobre o assunto desde seu retorno
de Aylesbury.
nós dois gostamos da obra de Mozart, mas ela acha que Hayden é o maior
mestre.
— Combinando isso ao nível de entusiasmo que sinto por seu inegável apelo
feminino, foi uma espécie de revelação. Ela me interessa.
— Você aprova?
Lá estava ele, um homem crescido, um influente duque, desesperado pela
aprovação de sua mãe. Ainda assim, era importante para ele que sua família
abraçasse o compromisso sem reservas.
— Se ela recusá-lo, deixe-me falar com ela. Ela vai concordar, marque
minha palavra. Quanto a possibilidade de não terem filhos, podemos apenas
esperar e ver. Embora todos geralmente culpem a mulher, pode ser que o
marido dela tenha sido o culpado. Talvez não seja um problema. Neste
assunto, a fertilidade não é uma garantia, de qualquer maneira. O conde de
— Imploro seu perdão, sua Graça, mas há um jovem lá fora que insiste em
vê-lo imediatamente. Ele se recusa a declarar qual é o assunto, mas pediu
para informar que o nome dele é Huw. Isso foi tudo o que me disse. Eu o
teria mandado embora, mas ele jura que o senhor desejará falar com ele.
O jovem motorista de Caroline fora vê-lo? Isso não era não convencional o
suficiente para deixá-lo alarmado, e a palavra imediatamente não ajudou em
nada. Nicholas assentiu.
Ansiava acordar todas as manhãs com ela ao seu lado. Durante todos aqueles
quilômetros ele contemplou a palavra casamento com certeza crescente.
Com o problema da possível desaprovação de sua mãe fora do caminho,
tudo o que precisava fazer era persuadir Caroline de que poderia ser um
marido adequado.
Como ele disse à sua mãe, Caroline não estava interessada em seu status
financeiro ou social, mas ele sabia muito bem que não gostava de sua
reputação. Só isso − além de sua oposição a abandonar o controle sobre sua
própria vida − já poderia fazê-la recusá-lo. Infidelidade era um dado à parte,
especialmente para os homens. Certamente ele nunca considerara a lealdade,
exceto nos termos mais abstratos, mas, novamente, nunca a prometera a
qualquer mulher.
Ele ofereceria a Caroline, se ela o aceitasse.
Seria amor?
— O que há de errado?
— Minha... minha senhora não sabe que estou aqui, Sua Graça — o jovem
gaguejou. — Eu tomei a decisão de vir.
— É ele, senhor. Lorde Wynn, o bastardo. Pensei que o senhor deveria saber.
— Ele está sempre se esgueirando. Ela não quer vê-lo, então ele espera, ou
manda um de seus lacaios esperarem e verem se ela está em casa. — As
mãos do jovem esmagaram seu chapéu, as juntas visivelmente
embranquecendo. — E nesta manhã, ele entrou, passando por Norman, e
então ele... ele... bem, sua graça, não há uma boa maneira de dizer isso. Ele
tentou fazer o que queria com ela, e fez.
Mas logo estará de volta para importuná-la, marque o que digo. Em roupas
extravagantes ou em trapos, conheço sua espécie. Ele quer o dinheiro dela.
Não é segredo. Como minha senhora não tem interesse, ele queria arruiná-la
e forçá-la a se casar.
— Esperei por Annabel por muito tempo. Você me culpa por querer um
casamento rápido agora que ela concordou?
— Não tenho certeza de que Derek esteja preocupado com o que as pessoas
irão dizer, minha querida. Além disso, a felicidade conquista as opiniões das
pessoas que logo verão que se trata de um caso de amor, então, logo
perderão o interesse. As controvérsias mantém a sociedade em
— Estou feliz que não haja objeção, então. Que tal amanhã à tarde?
— Derek! Amanhã?
— Eu acredito — ele disse —, porque sei exatamente o que você quer dizer.
Seu estômago se revirou. Será que ela havia mudado de ideia? Depois da
paixão doce e calorosa que compartilharam...
Desculpem, estou atrasada. Estava com uma... amiga. Eu... bem, Derek,
posso falar com você?
Ele fora surpreendido pela ausência dela, mas Margaret dissera que ela saíra
com sua aia para resolver alguns assuntos, e sua tia não parecera
Como ele seria capaz de andar de mãos dadas com ela até a beira de um
penhasco, não discutiu. Depois de um momento, quando estavam perto dos
fundos, no canto mais afastado da casa, ela soltou a mão dele e se virou em
sua direção.
Seus olhos azuis, os que ele achava tão adoráveis, com aqueles cílios
dourados- escuros e o profundo tom de cobalto, encaravam-no
acusadoramente.
— Precisa admitir que você começou com isso. Precisa ajudá-la agora.
Maldito inferno. Ele abriu a boca para dizer algo que nem sabia o que era,
mas Annabel o impediu.
— Destruí-la como?
— Lorde Wynn sabe que ela se ofereceu para ser sua juíza. Posso dizer
Sua história, contada em palavras rápidas e concisas, fez com que sentisse
uma onda de raiva quando ouviu falar sobre o dilema de Caroline e as
intenções nefastas de Wynn. Quando Annabel terminou, Derek ficou furioso
e só podia imaginar como Nicholas se sentiria.
— Se ele seguir com esta ameaça, Wynn vai cometer o último erro de sua
vida miserável — disse ele por entre os dentes. — Nick vai arrancar cada
membro dele. Mais do que isso, ele vai matá-lo.
— Ela não quer atraí-lo para ela desse jeito. Quando e se ele for procurá-
la, ela prefere que não seja porque sente a responsabilidade de salvá-la do
que ela chama de sua própria loucura, mas porque a ama e a reconhece de
livre e espontânea vontade. Eu simpatizo com suas ideias.
— Com certeza.
— Você entendeu mal — disse Nicholas em seu tom mais aristocrático, frio
e implacável —, não me importo se Lorde Wynn quer me receber ou não.
Eu vou vê-lo.
O criado registrou corretamente tanto o olhar em seu rosto quanto a
convicção em sua voz. Ele era jovem e quinze centímetros mais baixo do
que Nicholas, e sua expressão consternada mostrava que ele se sentia mal
preparado para lidar com a situação. O lacaio limpou a garganta e disse:
Ele foi levado para o que parecia ser uma sala de visitas formal, com mobília
sobressalente e não muito pobre, mas bem desgastada. Por saber que
Caroline tinha herdado a casa de Wynn, o lugar provavelmente era alugado.
anteriormente.
O homem tocara em Caroline. Mais do que isso, ele sem dúvida a assustara.
— Não faço ideia do porquê. Não sei o que aquela puta fria disse a você,
mas...
— Ah, por favor, Rothay, ela não é apenas mais uma das suas parceiras de
cama casuais? Você as muda como troca de camisas. Além disso, acho difícil
acreditar que isso possa afetá-lo. Ela é uma prostituta, oferecendo-se para
abrir as pernas para dois homens diferentes. Por que você se importaria se
ela me oferecesse os mesmos favores?
Ele respirou fundo, sabendo que se tocasse Wynn naquele momento, poderia
simplesmente quebrar-lhe o pescoço.
Não olhe para ela, não entre em contato com ela, se ela comparecer a um
baile e você estiver lá, saia imediatamente. Pelo menos nos próximos meses,
sugiro que passe alguns dias no campo até que meu temperamento esfrie. Se
estiver na cidade e nos depararmos, posso não responder pelo meu
autocontrole. Acho que essa parte é bastante clara.
Wynn abriu a boca como se objetasse, mas sabiamente a fechou. Seus olhos
pálidos haviam se reduzido a fendas e suas mãos tremiam. Os homens que
aterrorizavam as mulheres raramente eram qualquer coisa além de covardes,
e Wynn não era exceção.
— Deixe-me continuar. Se você disser uma palavra vil sobre ela, eu vou te
destruir. Socialmente, financeiramente, de todas as maneiras possíveis. A
família Manning tem influência em todos os cantos da Inglaterra e também
no Continente. O príncipe regente é meu amigo. Você será evitado,
destituído e banido. Se lhe agrada testar minha palavra, espalhe o boato de
que Caroline estava envolvida de alguma forma com essa aposta.
— Seu lacaio não parecia inclinado a recusar minha entrada, com Nick já
aqui. Vejo que tudo parece muito civilizado, embora eu admita que, quando
ouvi o duque de Rothay chegar, esperava derramamento de sangue.
incomodar Lady Wynn e não sofrer por isso. Vejo que você chegou antes.
— Eu sei que matá-lo tem um apelo definitivo, mas se você pretende deixá-
lo viver sua vida miserável, é aconselhável que o solte agora, Nick.
Seu amigo estava certo, e Nicholas conseguiu afrouxar o aperto com esforço,
recuando. Wynn caiu, sua mão massageando a traqueia, seus olhos pálidos
lacrimejando. Nicholas disse secamente:
— Eu fui lhe contar sobre os eventos desta manhã, mas aparentemente você
já tinha sido informado. — Derek sorriu. — Sinto-me um pouco inútil,
afinal, mas poderia tê-lo ajudado a se livrar do corpo. Duvido que sentissem
falta dele.
— O motorista dela foi me contar. Huw parece ter uma afeição genuína por
ela, e sou grato por isso.
— Você também tem afeição por ela, se sua ida a Aylesbury ou seu estado
atual de afronta forem indicações. — Derek fez uma pausa. —
Quando disse que ela estava sob a proteção do seu nome, eu interpretei
corretamente?
— Ela ainda não concordou, mas tenho esperanças de que Caroline se case
comigo. — Nicholas arqueou uma sobrancelha. — Falando nisso, ouvi
você falar sobre uma 'noiva'. Quando isso aconteceu e quem diabos ela é?
Olharam um para o outro enquanto uma carruagem passava por eles na rua,
o calor da tarde tornando-se um casulo, mas havia diversão mútua
iluminando seus rostos. Nicholas disse:
Era difícil definir suas emoções agitadas, ela pensou enquanto arrancava os
grampos de seus cabelos e pegava uma escova. A catástrofe havia
acontecido, lembrou-se disso enquanto estremecia ante a lembrança das
mãos contundentes de Franklin sobre ela. Mas apesar de ter sido resgatada
pela desenvoltura de Annabel, não tinha ilusões de que o primo de seu
marido manteria seu conhecimento sobre seu papel na aposta em segredo.
Uma parte traidora e ilógica de sua mente não se importava com as fofocas.
Quando colocava na balança a possibilidade de nunca se deitar nos braços de
Nicholas, nunca provar seus beijos sedutores, nunca sentir o calor de seu
sorriso... Bem, o custo do ostracismo social era alto, mas ela sabia que valia
a pena. Ela deixara de simplesmente existir para viver.
— Querida, maldita, eletrizante cidade, adeus! Teus tolos não mais vou
provocar: Este ano em paz, ó críticos, cidadãos, ó prostitutas, durmam em
paz.
O som da batida em sua porta foi superficial, porque esta se abriu antes que
ela pudesse responder. Ao se virar, Nicholas entrou no quarto, parecendo
alto e muito masculino no santuário de cores pastéis e delicadas mobílias.
Ela não pôde evitar um pequeno suspiro de surpresa por sua audácia, embora
já o conhecesse o suficiente para esperar atos tão imprudentes. A situação
tornava-se mais escandalosa a cada instante. Agora o duque diabólico estava
em seu quarto. Toda a criadagem deveria estar curiosa.
Caroline encontrou coragem para falar, ainda chocada pela invasão de seu
quarto.
Por que ele tinha que fazer isso com ela? Logo quando estava tão vulnerável
e abalada.
— Você não deveria estar aqui — ela disse, mas não foi com convicção.
Todo mundo diz que não, mas achei que você poderia precisar de mim.
Ela precisava dele? Deus, sim. Mais do que imaginara, e todas as objeções
por ele ter simplesmente entrado em sua casa e invadido seu quarto
desapareceram. Se tudo já estava em frangalhos, por que se importaria se
todos soubessem que Nicholas se achava no direito de entrar sem ser
anunciado enquanto ela vestia apenas seu chemise? Independentemente de
suas ações, toda Londres ouviria sobre sua associação em breve, então, o
conforto de seus braços era muito tentador.
— Eu... — ela começou, mas parou, sem ter certeza do que dizer. Um
pequeno soluço escapou.
Ele tinha acabado de chamá-la de seu amor? De todas as palavras ternas que
sempre fluíam tão facilmente de seus lábios, Nicholas nunca usara aquelas
antes. Caroline encostou a cabeça no peito dele e se permitiu o luxo de
pensar que ele falava sério. Seu cheiro evocava memórias de interlúdios
idílicos e prazeres luxuriosos.
Chocada, ela se remexeu, levantando a cabeça para poder olhar para o rosto
dele.
— Nicholas...
Ele realmente quisera dizer o que tinha acabado de dizer? Conseguia
enxergar a raiva em seus olhos, apesar do aperto terno de seus braços.
— Você não disse que me ama por causa de quem eu sou, não do que sou?
Não o duque, mas o homem de verdade.
— Você sabe que sim. — Ele a estreitou com mais força, seus braços
embalando-a. — Uma vez, há muito tempo, acreditei nas palavras ‘eu te
amo’
como sendo fruto de um interesse pelo meu coração, não por meu título e
fortuna. Eu era jovem, impetuoso e estúpido, e ela era mais velha e
extremamente mercenária.
Sua boca se curvou naquele sorriso sem humor, seus olhos escuros
sombreados por aqueles longos e grossos cílios.
— Descobri a verdadeira natureza de Helena da maneira mais difícil, tendo o
privilégio de encontrá-la na cama com outro homem. Descobri mais tarde
que ela planejara tudo isso, desde o nosso primeiro encontro. Ela contou a
um de seus outros amantes que bem antes de nos conhecermos estava
interessada em meu título, na fortuna e no prestígio que vinham com ele. Por
isso, ela deliberadamente pediu a um amigo que me apresentasse a ela, caiu
em meus braços com entusiasmo convincente, mas não interrompeu suas
outras associações. Você pode achar isso um pouco difícil de acreditar, mas
aos dezoito anos eu era ingênuo e romântico.
— Compreendo.
— Deus sabe que tentei. Durante a última década, tive amor no sentido
físico, mas mantive minha distância de outra forma. Jurei que nunca mais
cometeria um erro assim. — Ele fez um pequeno e incomum gesto de
impotência com a mão. — Mas, apesar de minha cautela, acredito que você
não esteja mentindo sobre seus sentimentos. Eu não a machucaria para salvar
minha própria pele, e você deixou claro que ser minha amante está fora de
questão. Acho que não temos mais opções a não ser o óbvio. Não ando
pensando em mais nada ultimamente, e isso virou minha vida de cabeça para
baixo.
Ela sentiu uma emoção profunda, tão poderosa que mal conseguia falar.
— Eu acho que, considerando a natureza das promessas e por que elas foram
feitas, sim, acredito que seria uma excelente maneira de recomeçar.
— Como se eu fosse lhe dar uma escolha. Até minha mãe me disse que eu
seria um idiota senão insistisse em um casamento rápido. Ela sempre me dá
muitos conselhos, e eu os aceito com parcimônia, mas neste caso singular,
concordo com ela.
— Ela sabe que sou estéril? — Doía dizer isso. Deus, como doía.
— Ela comentou que você ainda é jovem, e não há provas sobre o assunto.
Além disso, acredito que esteja aliviada ao extremo por me ver contemplar o
casamento, então, não sente nada além de resignação e desapego. Ela acha
que meus sentimentos superam suas preocupações com o legado de títulos e
dinheiro.
Caroline sentiu uma tontura, mas naquele momento era a felicidade que fazia
sua cabeça girar.
— Que escândalo?
— Se Franklin...
— Eu te disse que cuidei disso. Ele não vai dizer uma palavra, confie em
mim.
— Eu confio em você.
— Confia? O suficiente para dar uma chance a um homem que tem uma
reputação como a minha?
Nicholas Manning nervoso? Ela podia sentir o leve tremor em seus longos e
bronzeados dedos enquanto seguravam os dela, e havia uma tensão em torno
de sua boca que ela nunca vira antes. O aristocrata arrogante desaparecera e
em seu lugar estava o homem por quem se apaixonara tão
facilmente, o amante gentil e atencioso que negava a si mesmo para
tranquilizar uma mulher temerosa, o homem que se movimentava em noites
de luar oníricas com danças românticas em terraços e oferecia passeios de
carruagem sensuais e clandestinos.
— Sim.
Nicholas levou uma de suas mãos à boca e deu um beijo nas costas dos
dedos. Uma sobrancelha escura se arqueou.
— Você tem certeza de que quer fazer isso? Não se sentiu bem esta manhã.
Posso chamar a carruagem para voltarmos.
— Isso deve ser feito em algum momento. Agora é um tão bom quanto
qualquer outro.
Era melhor agora, embora ele ainda não soubesse, do que em alguns meses.
A suspeita de que ela poderia estar grávida enchia-a de uma alegria exultante
na qual ainda não podia confiar. Suas regras sempre foram muito pontuais,
mas estava atrasada, e havia algumas outras coisas apontando um dedo nessa
direção, incluindo uma indisposição. Ainda que esvaziar seu estômago em
uma bacia a cada manhã não fosse exatamente uma felicidade, a ideia de
estar esperando um filho dele era o paraíso.
Naquela tarde, no campo em Essex. Fora quando acontecera. De alguma
forma, ela tinha certeza disto.
— Concordo. Vamos acabar com isso o mais rápido possível. Embora eu não
esteja muito ansiosa.
Foi realmente uma ideia dele. Duas licenças especiais, um casamento duplo
discreto, já que nenhum deles tinha interesse em uma grande cerimônia ou
mais escândalos, e nenhum anúncio público de suas núpcias fora feito na
seção da sociedade do jornal. O subterfúgio poupara mais drama para que
pudessem desfrutar de apenas alguns dias juntos, antes que a alta-sociedade
tomasse conhecimento das notícias excitantes de que os dois mais notórios
libertinos de Londres haviam se casado no mesmo dia.
Um deles com uma viúva que tinha a reputação de ser inatingível, mas fora
atraída para a cama de Rothay, e o outro com uma jovem que terminara o
noivado para ceder aos encantos persuasivos de Lorde Manderville. Ou
versões semelhantes seriam espalhadas, embelezadas por uma nuvem de
especulação, sem dúvida.
— Espero que o champanhe não esteja muito quente. Detesto beber qualquer
coisa que não esteja devidamente refrigerada.
Era com isso que ele estava preocupado? A temperatura da bebida que
poderia lhe ser servida? Caroline não pôde evitar uma risada. O som flutuou
no silêncio contínuo e algo estalou, o silêncio sobrenatural foi substituído
por um murmúrio de vozes.
Talvez não fosse um plano tão ruim, afinal. Se Caroline pudesse suportar
aquela noite, então, o pior teria passado.
Até que notou o quão próximo ele a segurava. Muito próximo. Parecia a
noite no terraço de sua propriedade em Essex quando estavam sozinhos.
Naquele dia ela achara escandaloso. Naquele cenário, com os olhos de toda a
sociedade sobre eles, era ainda pior.
Eles não o chamavam de Duque Diabólico por nada. Seu primeiro desejo foi
colocar uma distância decente entre eles. As pessoas já comentariam o
suficiente.
— Não. — Ele a segurou com mais força quando ela tentou se afastar. —
Deixe-os ver.
— Que ser o assunto de todas as fofocas não lhe incomoda? Isso eles já
sabem. No entanto, incomoda a mim.
— Deixe-os ver que eu te amo.
Ela tropeçou na bainha do vestido azul que usara a seu pedido, suas saias
girando em torno de suas pernas enquanto se moviam. Mas o braço dele
estava ao redor de sua cintura, mantendo-a ereta com apoio inflexível, e seus
olhos escuros seguravam os dela, pungentes de emoção. Enquanto a música
tocava, ela perdeu a noção da multidão, das fofocas, dos olhares ávidos.
Uma felicidade que ela não achava possível transformou a noite de
julgamento em triunfo.
Nicholas inclinou a cabeça para que sua boca roçasse a têmpora dela,
enquanto se moviam; o gesto parecendo íntimo demais para quem estava
diante de centenas de testemunhas.
Eu te amo.
Talvez ele estivesse certo. Ela tinha certeza de que os fofoqueiros estavam se
perguntando como a distante Lady Wynn havia capturado o belo e diabólico
duque sem que a sociedade jamais tivesse testemunhado mais do que uma
troca de olhares.
Se não fosse por uma proposta muito indecente, nada teria acontecido.
Seus pés ainda estavam no chão? Ela não sabia dizer. Então, murmurou:
Ele riu, pegando sua referência àquela noite fatídica, quando ele e Derek
fizeram a aposta, mas havia uma expressão séria em seus olhos.
— Não.
— Então? — ele graciosamente a girou em seus braços.
NOTAS
Prólogo
1 Creso, último rei da Lídia, foi famoso pela sua riqueza, a qual foi atribuída
à exploração das areias auríferas do Pactolo, rio afluente do Hermo onde,
segundo a lenda, se banhara o Rei Midas.