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Universidade Federal de Juiz de Fora

Instituto de Ciências Biológicas


Departamento de Bioquímica
Disciplina Bioquímica Fisiológica
Professora Danielle Aragão

Capítulo 2

Hematologia
Julho/ 2021
Conteúdo programático
 Características gerais, funções e componentes do sangue
 Elementos figurados do sangue e Hematopoiese
 Proteínas plasmáticas
 Albumina
 Intercâmbio dos líquidos corporais
 Pressões osmótica e oncótica
 Eritrócitos
 Metabolismo geral
 Eritropoiese e tipos celulares circulantes
 Leucócitos
 Classificação e funções
 Alterações quantitativas e morfológicas
 Plaquetas
 Hemostasia e coagulação
 Distúrbios da coagulação
Meio muito efeito de transporte. Mistura homogênea.

Conceito
O sangue é o meio de transporte e de
distribuição para o corpo. Ele entrega
nutrientes essenciais aos tecidos e remove
produtos de excreção
• Tipo de tecido conjuntivo especializado
• Circulação em sistemas de vasos virtualmente
fechado
Janela do metabolismo.

Funções do sangue
• Transporte
*O2 e CO2
*Minerais e alimentos
*Produtos residuais Excreções
*Hormônios, enzimas e células sanguíneas
• Regulação temperatura corporal
• Manutenção pH
• Coagulação
• Defesa
Plasma: parte líquida e algumas
Ação da gravidade separa os componentes. partículas em suspensão

Componentes sanguíneos
•Porções corpuscular
e líquida (plasmática)
•Partículas em
suspensão –
elementos figurados
do sangue e proteínas
plasmáticas
Porção corpuscular (elementos sólidos):
leucócitos, plaquetas e eritrócitos
Soro: parte
líquida do
Plasma: parte líquida do sangue *Plasma ≠ Soro sangue que
obtida após a centrifugação sem se obtém
que tenha ocorrido coagulação. Ambiente natural, processo de em um tubo
Encontrado no sangue circulante e de ensaio
simulado in vitro com sustâncias coagulação e dosagens séricas que sofreu
anti-coagulantes no tubo. coagulação
O fibrinogênio, por exemplo, é uma proteína muito grande ativada Soro não é encontrado in vivo.
no soro que pode alterar os resultados no exame. Por isso, existem
exames que precisam ser realizados a partir do plasma e outros que precisam ser feitos pelo soro.
Compartimentos líquidos corporais
Plasma: glicose plasmática (as hemácias não morrem imediatamente Outros exames
e a glicose circulante pode ser consumida pelos eritrócitos). O fluoreto de sódio podem ser
é um inibidor da glicose e um anti-coagulante, que gastaria mais energia. feitos por
ambos.

Intracelular: maior composição aquosa

Plasma: parte líquida circulante do sangue

Líquido intersticial: meio de comunicação entre o plasma e o líquido intracelular.


Elementos figurados do sangue
• Eritrócitos (glóbulos vermelhos), leucócitos
(glóbulos brancos) e trombócitos (plaquetas)
• Síntese e renovação = Hematopoiese
– Células- tronco: autorrenovação e potência
– Regulação: citocinas, fator de células-tronco (SCF) e
fatores estimuladores de colônia (CSF) → estímulo da
proliferação celular na medula óssea e diferenciação
das linhagens celulares
– Eritropoietina e trombopoietina: hormônios
envolvidos na diferenciação celular
Na ausência dos hormônios, há diferenciação da série branca (linfócitos e
granulócitos: macrófago, neutrófilo, eusinófilo e basófilo)
Alta renovação e potência (capacidade
em se diferenciar)
Hematopoiese
Eritropoietina: permite que a
diferenciação dos eritrócitos

Trombopoeitina:
permite a fragmentação
das plaquetas.

Monócito: sangue
Macrófago: tecido Em idosos: >linfócitos
e < neutrófilos
Só há monócitos (marcador de
no sangue coletado senescência)

No exame de sangue comum, os linfócitos não


são diferenciados em B e T. Aparece linfócitos.

Bebê: >neutrófilo e < linfócitos


Adulto: >neutrófilo e <linfócito, porém
equilibrado (2 para 1)

Infecção viral: >linfócito e <neutrófilo


(transitório) e também aumenta
monócitos
Infecção bacteriana: >linfócitos totais e
nível de neutrófilos muito aumentado e
também células imatura de neutrófilos
Proporção dos elementos figurados do sangue
Proteínas plasmáticas
• Porção líquida =
plasma
*Proteínas
plasmáticas em suspensão
Maior [] – Albumina
I
I
– Globulina fração de globulina

I
I
– Fibrinogênio e
I
I
protrombina fração

Menor [] – Lipoproteínas fração

Eletroforese: Proteínas são colocadas para correr em um estímulo de carga elétrica e diferença
de PH, e precipitam em pontos isoelétricos.
Plasma
91% água + 9% sólidos dissolvidos ou dispersos
• Proteínas sanguíneas: albumina, globulina e
fibrinogênio Balanço entre água, eletrólitos (sódio, cloreto, potássio e cálcio) e
prótons no ambiente intra e extracelular

*Manutenção da pressão osmótica = regulação de


balanço hídrico e ácido-base
• -globulinas = imunoglobulinas ou anticorpos
• α e β-globulinas = glicoproteínas e lipoproteínas
→ transporte de oligossacarídeos, lipídios,
esteroides e hormônios Auxiliam a albumina
• Fibrinogênio e protrombina = globulinas →
coagulação
Proteínas plasmáticas
Gráfico após eletroforese

(intracelular)

alfa1: fibrinogênio
alfa2: lipoproteínas
alfa, beta e gama: globulinas
Proteínas transportadoras e seus ligantes
Albumina É a principal proteína plasmática.

Regulador osmótico e principal proteína plasmática

• Proteína plasmática predominante Principal função de transporte


• Não apresenta atividades hormonal e enzimática
descritas
Formação depende de um
• Concentração normal = 35 – 45 g/L equilíbrio da ingestão de
aminoácidos
– Dependência do estado nutricional
– Pacientes hospitalizados – grau de hidratação
• Ânion em pH 7,4 (polar) – capacidade de ligação não
seletiva Indivíduos bem nutridos. Mal nutridos prolongam a vida. Além
• Vida útil ~ 20 dias disso, em desnutrição, a albumina começa a ser degrada para
ser utilizada como fonte de aminoácidos.

Em pacientes desidratados, a albumina fica com a concentração aumentada


Capacidade de ligação iònica
Fração pré-albumina
• Ligante de hormônios e mediadores químicos
– TBPA = transporte de tiroxina pequenas
Isso ocorre em quantidades muito
e por isso, exames comuns

– RBP = transporte de vitamina A


não detectam

• Indicador do estado nutricional Utilizada para acompanhar o


tratamento, uma vez que
– Desnutrição aguda indica que o paciente está
respondendo bem.
– Recuperação/Prognóstico
Paciente em desnutrição aguda em recuperação
Composição eletrolítica do plasma

O plasma tem
proteínas
circulantes

No interstício
não há
proteínas (negativa)
Pressões osmótica e oncótica
• Pressão osmótica
– Depende do número de partículas ou moléculas
em solução Principalmente sódio e cloreto
• Pressão oncótica Regulação da capacidade de líquido a partir da presença
de moléculas de alto peso molecular e carga negativa
– Exercida por moléculas de elevado peso molecular
e impermeáveis à membrana
– Também denominada de pressão coloido-
osmótica
– Importância na manutenção da água do plasma e
captação de água do líquido intersticial
Albumina: alto peso molecular e alta densidade de carga negativa - polar (puxa a
água do interstício). Ou seja, prende a água no interior do capilar.

Pressão oncótica
Fígado é maior produtor de proteínas
plasmáticas. Quando há problema hepático,
há impacto na produção de albumina.

Quando a pressão oncótica


do plasma está reduzida a
água tende a migrar para o
líquido
intersticial
Porque a albumina está reduzida

Esteatose hepática grau I ainda não há


alteração da albumina, mas já há
alterações. Então não é o melhor
parâmetro.
Eritrócitos
• Células anucleadas e sem organelas
intracelulares
• Citosol – enzimas do metabolismo e do
sistema de reparo e prevenção de danos Até 120 dias

– Glicólise – fornecimento de ATP:


Suporte energético local, transporte
iônico (Na+, K+ e Ca+2) e produção
de 2,3-BPG, manutenção do estado
ferroso (NADH)
2,3- BPG em baixa concentração indica que hemácia precisa ser renovada
Metabolismo dos eritrócitos
Reticulócito: pode aparecer na coleta do sangue,
após um alto processo de diferenciação. Já é
uma célula anucleada. Quanto maior a [], indica
alta renovação.

Medula óssea
Eritroblastos no sangue periférico indica alta renovação. Pode indicar anemia.

Renovação celular
Os eritrócitos devem ser constantemente
substituídos
• Vida útil ~ 120 dias
• Degradação = globina + grupo heme (íon
ferroso e componente tetrapirrólico)
– Liberação de aminoácidos
– Formação de bilirrubina
Tipos celulares circulantes

Reticulócito

Eritrócitos e reticulócitos – velocidade de


síntese e renovação
Falência
de vários
órgãos,
por
exemplo,
na sepse
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Leucócitos
• Cinco tipos celulares Ordem de proporção

– Neutrófilo, linfócito, monócito, eosinófilo e


basófilo Neutrófilos
fagocitose.
e monócitos: fagocitose. Eosinófilo e basófilos também auxiliam na

• Proteção do organismo Linfócito: imunidade celular e imunidade humoral

– Fagocitose
– Imunidades humoral (mediada por anticorpos) e
celular (linfócitos)
Alterações quantitativas

• Leucocitose = contagem elevada


– Neutrofilia – lesões teciduais, infecções
bacterianas, doenças metabólicas e neoplasias
– Monocitose – infecções bacterianas crônicas e
neoplasias
– Linfocitose – infecções virais, leucemias linfocíticas
e lifomas
– Eosinofilia – alergias, infecções parasitárias e
linfoma de Hodgkin
Alterações quantitativas e morfológicas
Hemograma simples na contagem, mas morfologia é demanda
exames mais complexos Infecção viral pode induzir
neutropenia temporária: >linfócitos e
• Leucopenia = contagem reduzida < neutrófilos

– Neutropenia – alguns medicamentos, doenças


autoimunes e infecções virais
Baixa de neutrófilos,
– Pancitopenia – falência da medula óssea linfócitos e monócitos
• Anormalidades morfológicas
– Doenças benignas – alterações secundárias a
infecções, hipersegmentação de neutrófilos, linfócitos
atípicos, doenças hereditárias (anomalia de Pelger--
Huet e anomalia de May-Hegglin)
– Doenças malignas – doenças clonais originadas de
uma única célula na MO ou tecido linfoide
Hipersegmentação de neutrófilos: Após infecções (bacterianas) ou após anemia
megaloblástica - falta de vitamina B12 e ácido fólico
Linfócitos atípicos: infecções virais
Alterações morfológicas benignas

Após infecções
bacterianas
Linfócitos atípicos
Alterações morfológicas malignas

Células blásticas: malignidade No meio da Bem encontrado na LMA


Nucléolo nas células blásticas diferenciação
Leucemia mieloide aguda Grande quantidade de neutrófilos
hiper-segmentados e com
granulações tóxicas
Núcleo em "nu": núcleo cheio de granulações tóxicas
Bastões Auer (bem específicos
na LMA)
Alterações morfológicas malignas

Blastos (caráter de malignidade alta -> célula progenitora no sangue) e grande


quantidade de basófilos e promielócito
Leucemia mieloide crônica
Ótimas sinalizadores da integridade dos vasos sanguíneos

Plaquetas
• Trombócitos
• Propriedades hemostáticas
– Adesividade
– Agregação
– Difusão
– Liberação de serotonina
– Produção de fator III plaquetário
– Liberação do fator IV plaquetário
– Retração do coágulo
Hemostasia
• Prevenção do excesso de perda sanguínea
• Componentes: parede dos vasos sanguíneos,
plaquetas e fatores da coagulação
• Objetivo = formação de tampão hemostático
seguido de fibrinólise
• Ativação excessiva = formação de trombos
Fatores da coagulação: liberados pela própria plaqueta ou trazidos pelo processo de sinalização
Formação e estabilização do coágulo
Lesão endotelial → contração da musculatura
lisa → redução do fluxo sanguíneo e exposição
do colágeno subendotelial e fator tecidual →
adesão das plaquetas ao colágeno e ativação →
liberação de partículas pró-coagulantes e
alterações de membrana nas plaquetas →
tampão de plaquetas instável → ativação da
cascata da coagulação → formação de fibrina
Exame que avalia a via inicial de
Exame que avalia o mecanismo dos inibidores ativação do fator tedicual

Depende da integridade da
plaqueta

zimogêneo

Participam da regulação da coagulação


Fatores da coagulação
Desordens da coagulação

Teste de triagem Desordem de Causa mais comum da


coagulação indicada por desordem
resultado anormal
Tempo de protrombina Deficiência ou inibição Terapia com varfarina,
Exame pré-operatório de um ou mais fatores Prematuridade,
de coagulação: VII, X, V, Coagulação
II ou fibrinogênio intravascular
disseminada (CID)
Tempo de Deficiência ou inibição Hemofilia (fator VIII),
tromboplastina parcial de um ou mais fatores Doença de natal (fator
ativada (TTPA) de coagulação: XII, XI, IX, IX), Terapia com
Exame pré-operatório VIII, X, V, II ou heparina, Hepatopatia,
fibrinogênio CID
Desordens da coagulação

Teste de triagem Desordem de Causa mais comum da


coagulação indicada por desordem
resultado anormal
Fibrinogênio Condições inflamatórias Baixas concentrações:
ou neoplásicas CID, Hepatopatia,
Terapia fibrinolítica,
Altas concentrações:
Inflamação, Condições
neoplásicas
Desordens da coagulação
Teste de triagem Desordem de Causa mais comum da
coagulação indicada por desordem
resultado anormal
Dímero D Lise do coágulo de Êmbolo pulmonar,
fibrina Trombose venosa
Lise por instabilidade do profunda, CID, Pós-
coágulo após a formação operatório, Infecção,
da rede estável.
Câncer, Gravidez
Leva coágulos circulantes
(aumentado na gravidez
normal)
Tempo de trombina Deficiência ou Terapia com heparina,
anormalidade do CID, Outros inibidores
fibrinogênio ou inibição de trombina,
da trombina pela Hipofibrinogenemia,
heparina ou pelos Disfibrinogenemia
produtos de degradação Condições genéticas
do fibrinogênio (PDF)
Hemofilia
• Tipos
– A = deficiência de FVIII
– B = deficiência de FIX
• Gravidade relacionada à proporção de fator
ativo
– < 1% = grave, 1 a 5% = moderada, 5 a 40% = leve
– Hemorragias de graus variados e em períodos
diferentes (pós cirúrgico, traumas, recorrente…)
Coagulação intravascular disseminada (CID)

• Requer tratamento imediato


• Fatores desencadeadores
– Sepse, doença maligna disseminada e embolia
amniótica
• Formação de pequenos coágulos em todo o
corpo com consumo de todos os fatores da
coagulação e plaquetas
• Resultado = sangramento anormal
• Tratar a causa e infusões de plaquetas, plasma
congelado fresco e criopreciptado
Há consumo de fatores da coagulação que gera o sangramento e gera a hemorragia.
Referências
• BIOQUÍMICA CLÍNICA - Aspectos clínicos e metabólicos. Terceira Edição. William J.
Marshall, Marta Lapsley, Andrew P. Day, Ruth M. Ayling ; tradução Fabrizio Grandi
...[et al.]. – 3. ed. – Rio de Janeiro: Elsevier, 2016. (capítulos 26 e 27)
• Bioquímica médica. John Baynes e Marek Dominiczak. Quinta Edição. Editora: GEN
Guanabara Koogan. 2019. (capítulos 40 e 41)
• BIOQUÍMICA CLÍNICA. Pinto, Wagner de Jesus. – 1. ed. – Rio de Janeiro :
Guanabara Koogan, 2017. (capítulo 33)
• Bioquímica clínica para o laboratório – Princípios e Interpretações. Valter T. Motta.
5. ed. – Rio de Janeiro: MedBook, 2009. (capítulo 13)
• Bioquímica Médica Básica de Marks. Uma abordagem Clínica. Colleen Smith, Allan
D. Marks, Michael Lieberman. 2 ed – Porto Alegre: Artmed, 2007. (capítulo 44 e
45)
• Bioquímica ilustrada de Harper. Victor W. Rodwell, David A. Bender, Kathleen M.
Botham, Peter J. Kennelly, P. Anthony Weil. – 30ª Edição. – Porto Alegre: AMGH.
Mc Graw Hill Education, Artmed. 2017. (capítulos 53 e 54)

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