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Exemplo: Um amigo, no fundo ele é bom. Falando assim pressupõe categoria que é a essência
contraposta aos fenômenos em geral. Há algo que está para além dos fenômenos que é a essência das
pessoas. Istoé hipostasia, que existe em algum lugar uma determinação universal.
Mas aí problema: acesso. Como seres finitos, com linguagem histórica, podem acessar algo, o universal,
para além dos fenômenos. Luta gigante para determinar o que é universal. No momento husserl é o
esgotamento desta tradição. Toda vez que se pressupõe universais no interior da razão não consegue
contaminação do nosso conhecimento particular com os universais pois meu modo de ser é contingente,
histórico, particular. Fenomenologia surge no momento que se tem aporia, parece não ter solução, parece
foi luta inglória. Exatamente é esta situação da qual parte Husserl.
Apresenta saída para o problema: transformação total no modo como a gente pensa. A gestalt é
humanista porque há a fenomenologia.
Exemplo: o síndico do prédio entra aqui e pergunta: o que está acontecendo aqui? Este é o modo
tradicional de perguntar. Parece que algo está acontecendo quando se faz esta pergunta. Um síndico se
tem tendência a teorizar pode ser que crie uma teoria para explicar o que está acontecendo aqui.
O que caracteriza a fenomenologia: que não se pergunte “o que?” mas que se analise os atos que são os
atos de consciência. ESTE É O TRAÇO FUNDAMENTAL DA FENOMENOLOGIA
Exemplo: é comum um paciente aparecer por exemplo num consultório de psicologia e ele ser
transformado em uma teoria. Desta forma se violenta os fenômenos. Porque? Faz com que o fenômeno
apareça como um caso de uma teoria sem que ao mesmo tempo você deixe o fenômeno aparecer. Ele
fica como enquadrado nos limites que a própria teoria oferece para aquele fenômeno.
Ao invés de se partir imediatamente prá pergunta acerca do que é e do modo como aquilo se determina,
tem que se dar um passo atrás e tem que perguntar pelo próprio modo de realização dos atos. Analisar os
atos no momento que se realiza.
Exemplo: ato de anunciar. Quando diz algo: indica no que diz indica algo sobre o que fala.ex. Não vou
falar sobre isto: o que afinal disse, o que ele quis dizer, tem correlato com a realidade.
Isto acontece quando se analisa os atos. E quando se analisa surgem imediatamente correlatos dos atos.
Descobriu que no campo dos atos consciência se encontra presente um campo não investigado: relações
entre os atos e os correlatos específicos dos atos. Ex: ato de lembrar. O ato de lembrar traz
necessariamente uma extensão do lembrar no lembrado. Quando eu penso, o ato de pensar ele produz
uma extensão que é o ato de pensar no pensado. Quando imagino o ato de imaginar me colocar em
relação com o imaginado.
O que tudo isto quer significar: há uma tendência terrível da gente de produzir teorias e transformar
incessantemente os fenômenos em casos das nossas teorias.
Tenta dar um passo atrás e analisar os atos de tal modo que se possa ao mesmo encontrar os correlatos
dos atos antes de a gente construir teorias sobre eles.
Exemplo: o problema da lembrança não é a lembrança. O problema da lembrança são as teorias que
construímos a partir das lembranças. O problema não está na origem da relação entre a lembrança e o
lembrado, mas estão no fato de a gente não deixar estes fenômenos aparecerem mas sempre interpretar
estes fenômenos a partir de histórias que a gente aprende a contar para a gente que são teorias no fundo e
que todo mundo faz. Por exemplo, cada pessoa conta uma história para si mesmo como foi a sua
infância, como foi a relação com seus pais, como foi o período de escola, como foram as relações
amorosas.
O que acontece? Se você já sempre interpreta todas estas lembranças a partir das teorias você não vê o
que aconteceu, mas você fica totalmente escravo das histórias que você aprendeu a contar a partir de
coisas que aconteceram com você.
O que estava descrevendo anteriormente era o que não deixa isto acontecer. O que não deixa isto
acontecer são as teorias que a gente sempre encontra para explicar os correlatos. Os correlatos são os
objetos da consciência. Objetos que não dependem da presença fática do objeto, mas que nascem da
própria consciência.
Tudo isto vai ser decisivo para o conceito de EU porque quando se paga o EU, o eu para Husserl, o eu
empírico, o eu que nós somos, o eu particular, qual é o problema deste eu? Este EU é um agregado. Por
exemplo: quando vocês vieram para cá, com certeza foi a primeira vez que vieram para cá. Quando
vieram tinham uma série de expectativas que estavam movendo vocês ao que ia acontecer aqui. Ao
mesmo tempo você tem lembrança. Vocês só vieram aqui porque são psicólogos e porque interessava
para vocês a relação entre fenomenologia e psicologia. Mas ao mesmo tempo, além de vocês terem a
fantasia, uma imaginação, produzindo uma expectativa específica, uma imagem do que poderia
acontecer aqui, e da lembrança que é necessária para que vocês possam vir para cá, ou seja, eu vim para
cá porque sou psicólogo, isto está ligado com meu percurso, tem relação com meu percurso, com coisas
que aconteceram comigo, com a minha formação. Ao mesmo tempo você tem conceitos que dizem
respeito a idéia de formação. Você quer se formar. A formação transcende o universo das aulas
obrigatórias. Quando pega o empírico ele é uma composição de todos estes elementos. Quando você
pega o que está acontecendo agora é como sobreposição de uma série de coisas que de alguma forma
vão caracterizar isto que está acontecendo aqui. Você tem um pouco de lembrança, um pouco de
imaginação, um pouco de conceito, um pouco de percepção, um pouco de cada uma dessas coisas. O EU
EMPÍRICO, então, é um eu completamente formado a partir de um aglomerado de atos e objetos
correlatos. O eu cotidiano é um eu marcado por uma espécie de falta de evidência. A gente mistura tudo,
de tal forma que a gente não sabe o que é uma lembrança, o que é uma fantasia, o que é uma percepção,
o que é uma viagem. Ou seja, as coisas estão como que presas neste eu que aparece aqui que você não
consegue ter clareza quanto a nada que compõe este eu. Não consegue ver claramente coisa alguma.
Então, qual uma das tarefas fundamentais da fenomenologia de Husserl? É exatamente o de quebrar este
aglomerado que cada um de nós é no âmbito empírico e produzir então uma espécie de separação para
que você consiga ver as coisas com a clareza que é delas. Retirar do aglomerado a gama de lembranças
para que você possa ver a gama de lembranças de tal forma que possa ver da forma como elas são. Pode
tirar deste aglomerado o tanto de fantasia, de imaginação, de projeção, que você tem. Retirar deste
aglomerado o que é percepção fática. Para que então você tenha uma clareza de cada uma destas coisas.
No caso das terapias têm um potencial enorme. Porque o que poderíamos chamar de um transtorno
psíquico nasce justamente deste aglomerado que vai impediando que a gente veja claramente o que cada
coisa é, o que efetivamente aconteceu. O famoso óbvio da Gestatl, não deixa o óbvio aparece. Sempre
enxergando as coisas a partir de um horizonte que entulhe as coisas. Exatamente isto serve para o que
aparece por conta de tendência de produzir teoria em relação ao que aparece. Exemplo: a pouco tempo
descobri que tem um.... no amarelinho da cidade. Um lugar meio fechado, estranho, que você só
encontra se for ao banheiro com muita atenção. Um lugar fechado. Se você encontra na sexta feira a
noite entrando naquele lugar.... olha lá levando a secretária... Existe inúmeras possibilidades: duas
pessoas que querem conversar em paz, que se encontraram naquele momento que queriam escapara da
poluição.... O que acontece com as teorias é que não deixam as coisas aparecerem. Isto que acontece
com a percepção, você teoriza....
Pergunta: excludência realidade e razão?
Resposta: São excludentes mesmo no caso específico das hipostasias. Há intersecção mas o problema é
onde estão os universais.
Platão: mundo das idéias no interior que tem idéias universais de cada coisa. Pensar um lugar na
realidade onde tem universais é uma das formas possíveis. Uma outra forma é pensar na razão que têm
estruturas universais (Kant).
Psicanálise freudiana: vertente psicologizante do universal. Trabalha com estruturas universais. O
psiquismo tem estruturas universais.
A razão está buscando universais mas supõe que está na realidade. Outros dizem que está em mim.
Nos dois casos o problema reaparece: encontrar uma forma de encontrar universais.
(continua)