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(4922) σαρξ

Carne: ‘à maneira da carne’, ‘pertencente ao domínio da carne’, ‘carnal’.

CLÁSSICO: Significa carne de um ser humano em contraste com seus ossos, tendões, etc.

- A transitoriedade é uma marca da σαρξ, quando a energia vital (alma e desejo) vão embora, a
carne e os ossos se extinguem. Em contraste com os seres humanos e os animais, os deuses não
possuem σαρξ, são νους (mente), λογος (razão) e επιστημη (percepção). Nessa ordem de ideias,
a natureza imperecível do ser humano é cada vez mais contrastada com a carne perecível. Nossa
carne morre e é sepultada, mas nosso verdadeiro ser continua vivo.

ANTIGO TESTAMENTO: O equivalente hebraico mais frequente de σαρξ é ‘basar’ e pode


também significar ‘alimento’, ‘carne humana’, ‘corpo humano’, ‘um parentesco’, ‘humanidade’.

- A diferença antropológica entre o AT e a literatura grega é bem perceptível. No AT a carne


denota ser humano como um todo em sua transitoriedade, como alguém que está sujeito à
morte. De acordo com a concepção grega, o ser humano tem carne, mas não é carne.

- O judaísmo, em suas várias formas, associou a carnalidade da pessoa ao seu pecado, mas sem
identificar a carne como a verdadeira causa do pecado.

- À medida que vamos estudando os vários conceitos sobre a carne, vamos descobrindo que os
ensinos rabínicos e os judeus helênicos vão concebendo o corpo humano como uma unidade,
pois ambos são julgados juntos.

NOVO TESTAMENTO: A palavra σαρξ é usada por Paulo mais que todos os outros autores do NT
juntos. O termo no NT também tem vários sentidos; porém, o mais importante para o nosso
estudo é ‘natureza pecaminosa’.

- σαρξ, dependendo do contexto pode significar ‘carne de animais’, ‘carne de pessoas’, ‘corpo
humano’, ‘um espinho na carne, provavelmente é uma enfermidade’, ‘gênero humano’, ‘grau
de parentesco’, etc.

- O termo σαρξ significando natureza pecaminosa é a descrição da existência do ser humano


sem Deus, denota uma natureza impetuosa que se opõe a Deus. Paulo elaborou uma lista de
vícios para exemplificar κατα σαρξ (Gl 5.19-20 → Rm 13.14)

- σαρξ luta contra o Espírito (Gl 5.17), é o ego humano se opondo à Deus.

- σαρξ enfraquece a lei (Rm 8.3); o ego humano a usa para se auto afirmar contra Deus. O único
meio de não estar envolvido na σαρξ é estar em Cristo (Rm 8.9), o Filho de Deus enviado na
semelhança humana, determinado pela σαρξ, para condenar a σαρξ no próprio corpo
cumprindo a justiça que liberta o homem da σαρξ.

- Em o ‘Corpo da carne’ de Cl 1.22 e 2.11, σαρξ é a substância que compõe a existência do corpo
(σομα). Σαρξ não é corporeidade conforme explica Cl 2.18; o anjos, sendo seres não corpóreos,
também possuem σαρξ.
- Também em Ef 2.2-3 σαρξ não é carne e sangue, é a natureza morta que está sujeita as
influências deste mundo.

- 1Pe 2.11 refere-se aos desejos carnais. Por causa desta natureza depravada, Cristo sofreu em
sua carne para nos livrar deste estado de prisão, escravidão, morte (1Pe 4.1-4). O sacrifício de
Cristo julga vivos e mortos (1Pe 4.5). Em 1Pe 4.6 declara que o evangelho foi pregado aos
mortos, ou seja, todos os seres humanos recebem sentença, pois toda humanidade está sem
Deus, por isso, morto em seus delitos e pecados conforme Ef 2.1. O que é nascido da σαρξ é
σαρξ (Jo 3.6). A σαρξ oculta o verdadeiro significado da vida, por isso o evangelho é pregado aos
mortos.

- σαρξ, como natureza pecaminosa, salienta a fragilidade humana em todos os seus aspectos
(Corpo, alma, vontade, intelecto, etc). Todos nascemos vulneráveis por causa do pecado
original.

- σαρξ representa a mentalidade inimiga de Deus. É a perspectiva do ser humano centralizada


no ‘eu pecaminoso’ que busca independência, que se imagina autossuficiente de Deus (ex Rm
8.5-8).

- Rm 8.13 e Gl 6.8 demonstra a íntima relação da σαρξ /carne com a morte. Morte é o resultado
inevitável de um modo de vida carnal.

(5393) σωμα

Corpo, corpóreo, em forma corpórea.

CLÁSSICO: σωμα significava originalmente o cadáver de um ser humano ou de um animal.


Depois passou a ser usado como tronco, o corpo inteiro e, por extensão, a pessoa como um
todo. À medida em que a filosofia grega desenvolveu a ideia de alma e corpo como sendo as
substâncias que formam o homem, σωμα passou a significar aquilo que é mortal. Σωμα é o
organismo físico, os gregos usavam o termo para explicar a natureza do funcionamento do
estado. Os filósofos estoicos por enfatizaram πνευμα (alma) e νους (mente, razão) acabaram
influenciando a desvalorização do corpo como se fosse contrário à alma.

ANTIGO TESTAMENTO: O AT não possui um dualismo que corresponda à ideia grega de corpo e
alma. No NT grego encontramos duas palavras para descrever o ser humano (σωμα e σαρξ), no
AT hebraico apenas ‘basar’. Na LXX, σωμα denota a variedade de sentidos da palavra ‘basar’.
Σωμα pode significar cadáver (1Sm 31.10) e até mesmo costas (1Rs 14.9). No entanto, o
significado básico de σωμα é a pessoa como um todo (Lv 15.11, 16).

- Na literatura judaica posterior, o corpo em conexão com a alma passa a ser discutido com a
ótica da morte; pois a morte separa o corpo da alma.

NOVO TESTAMENTO: No NT σωμα reflete amplamente os sentidos que a palavra possuía no


grego clássico, e, em geral também no AT. Σωμα no NT significa ‘cadaver’ (Mt 27.52 / Lc 17.37).
- σωμα¸ como ‘santuário de Deus’ pode ser ressuscitado (Jo 2.21).

- Paulo explica que σωμα é o corpo, no caso de Cristo, a plenitude da divindade habita
corporalmente (Cl 2.9).

- O aspecto físico do corpo é salientado quando se ensina que σωμα produz substancias (Mc
5.29) e que precisa ser sustentado com alimento (Tg 2.16). Os olhos é lâmpada do σωμα (Mt
6.22). Entretanto, Mt 6.25 ensina que a vida como um todo não se resume no σωμα, embora
σωμα faça parte da vida.

- Hb 10.10 e 1Pe 2.24 σωμα é o corpo físico que é ofertado. O σωμα dos animais e o σωμα de
Jesus são evidentemente o organismo físico. Paulo, também usa σωμα em 1Co 5.3 e Gl 6.17
como a fisicalidade.

- Apesar de σωμα ser frequentemente usado para descrever o corpo, não quer dizer que o corpo
é um acessório do homem, algo inferior à alma. O homem é constituído de duas partes, ambas
essenciais para existência humana. Não existe vida somente da alma, sem o corpo não há vida
(2Co 5.1-10).

(3567) μετανοια.

Mudança de ideia, arrependimento, conversão.

CLÁSSICO: Literalmente μετανοια significa mudança de ideia. Contudo, a sociedade grega nunca
pensou numa mudança radical de vida.

ANTIGO TESTAMENTO: μετανοια aparece apenas 5x na LXX com sentido de exigência de que as
pessoas abandonassem o mal e voltassem para a Lei mosaica. Eram os profetas que exigiam essa
mudança.

NOVO TESTAMENTO: Diferente do CLÁSSICO e ANTIGO TESTMENTO, enfatiza a decisão de


mudança da vontade (νους). A ênfase dada à esta mudança de mente pode ser melhor
compreendia comparando com o contraria da μετανοια, em Rm 2.5 encontramos o termo
αμετανοια.

- João Batista chamou o povo ao arrependimento, mas o arrependimento seguido de frutos (Mt
3.2,8). A mensagem de João Batista corresponde ao padrão do AT, porém, com tom de urgência
bem mais acentuado. No AT a motivação estava vinculada à desmotivação para com a injustiça
social e a idolatria. Para João Batista o motivo do arrependimento é que o Reino do céu havia
chegado (Mt 3.2) e somente por meio do arrependimento seria possível estabelecer um novo
relacionamento com Deus e escapar do julgamento (Mt 3.10).

- Jesus pregou a mesma mensagem de João Batista (Mt 4.17), a diferença é que JB aguardava
aquele que haveria de vir. Sendo Jesus o ‘esperado’ denunciou as cidades que não se
arrependeram (Mt 11.20-24 / 12.38-42). À partir de Jesus a μετανοια não é mais uma obediência
a uma lei, mas a uma pessoa, ou seja, ao discipulado.

- Jesus não veio chamar os justos à μετανοια, mas os pecadores (Lc 5.32). A μετανοια é seguida
pela alegria da vida, pois o morto (νεκρος) volta a viver (ζοη) (Lc 15.24, 32).

- Em Atos os sermões dão ênfase na μετανοια (At 2.38 / 20.21).

- De fato, a palavra μετανοια não aparece com muita frequência no NT, mas a ideia da conversão
é muito bem explicada. Paulo explica que uma pessoa, pela fé, morreu e ressuscitou com Cristo
(μετανοια), se revestiu do novo homem. João representa a μετανοια como um novo
nascimento, uma passagem da morte para vida, das trevas para luz.

- Em Hb 6.4-8 temos um texto que, embora difícil de compreender, rejeita a possibilidade de um


segundo arrependimento, visto que μετανοια tem caráter absoluto. A μετανοια como um ato
humano degenera-se em algum momento da vida cristã em apostasia. Se Deus não levar à
μετανοια, não é possível levantar da morte (Hb 12.16-17).

(2188) επιστρεφω.

Virar, tornar, voltar, ser convertido.

CLÁSSICO: O termo era usado para descrever uma virada abrupta e intencional do corpo ou do
pensamento.

ANTIGO TESTAMENTO: Ocorre várias vezes no AT grego (LXX) e significa retornar, no sentido
teológico de ser convertido, de mudança de comportamento retornando a Deus. Entretanto,
pelo fato dos homens estarem permeados pelo mal e resistirem em retornar a Deus (2Cr 36.13),
para voltarem-se, recebem de Deus disposição (Jr 24.7).

- Nos livros históricos do AT o chamado ao arrependimento é para todo Israel, mas os profetas,
principalmente Jeremias e Ezequiel, enfatizam a conversão do indivíduo. Eles olham para além
do seu tempo, quando na nova aliança, Deus concederá um novo coração e espírito (Jr 33.31-34
/ Ez 11.19).

- Nos círculos judaicos helênicos aceitavam o conceito de conversão teológica; aqueles que se
voltam para Deus são perdoados e não continuam no pecado, mas guardam os mandamentos.

NOVO TESTAMENTO: επιστρεφω ocorre várias vezes no NT, metade das vezes significa
simplesmente ‘voltar’, ‘retornar’, ‘desviar’ (2Pe 2.22). Outro significado é de conversão teológica
(Mc 4.11-12 / Lc 1.16-17 / Lc 22.32 / At 15.19 / 2Co 3.16).

- επιστρεφω significa um novo retorno da vontade humana a Deus, um abandono da cegueira


e do erro (At 26.18 / 1Pe 2.25). Como se percebe, επιστρεφω envolve uma troca de senhores.
Os que anteriormente estavam sob o senhorio de Satanás (Ef 2.1-1), passa para o senhorio de
Deus; abandona as trevas e vem para a luz (Ef 5.8).
- επιστρεφω envolve fé em Jesus Cristo (At 11.21) e resulta no perdão dos pecados (At 3.19 /
26.18).

- επιστρεφω implica na mudança fundamental no todo da vida do indivíduo que é demonstrada


pelas obras (At 26.20). O convertido passa a servir a Deus cm consciência limpa (Hb 9.14).

(4098) παλιγγενεσια.

Renascimento, regeneração.

CLÁSSICO: παλιγγενεσια é um substantivo composto de palin (novamente) e genesis


(nascimento, origem). Usavam essa palavra no dia a dia para explicar a renovação de alguma
coisa, para o fim de um cativeiro, restauração da saúde.

- παλιγγενεσια também era usada nas religiões de mistério helênica, ensinava que as divindades
que morriam, despertava para outra vida. Deste modo, os iniciados poderiam participarem do
poder vivificante e renovador da divindade.

ANTIGO TESTAMENTO: παλιγγενεσια não ocorre na LXX, a expressão mais próxima é a de Jó


14.14: ‘heos palin genomai’ (Se um homem morre, ele viverá novamente). Não há neste texto
qualquer sugestão de renascimento como ocorre no NT. No entanto em Ez 11.19 lemos sobre a
renovação escatológica em que Deus transformará integralmente seu povo. Essa mudança vem
como uma benção futura da salvação; benção que o próprio Senhor trará, pois as pessoas não
podem, por si mesmas produzirem (Gn 6.5 / Jr 13.23). Só Deus pode criar um novo coração (Sl
51.10).

- Devemos notar que as promessas do NT sobre a regeneração têm seus fundamentos no AT (Is
11.1-16 / Is 65.17).

- Para o pensamento estoico grego, a παλιγγενεσια ocorre em ciclos, para o pensamento judaico
é uma transformação única.

NOVO TESTAMENTO: παλιγγενεσια ocorre 2x.

- Mt 19.28 a παλιγγενεσια é o acontecimento que se dará quando Jesus se assentar em seu


glorioso trono. Refere-se a um evento escatológico que terá como consequência a renovação
do mundo. Ocorrerá no fim dos tempos (Ap 21.1-5). É o novo ciclo da vida para aqueles que
participam do Reino de Deus.

- Tt 3.5 declara que ‘ele nos salvou com o lavar regenerador e renovador do Espirito Santo’.
Παλιγγενεσια é um ato redentor realizado por Deus nos que nada podiam fazer por si mesmos
(Tt 3.3-4). A παλιγγενεσια é metaforicamente apresentada como se fosse um batismo (Tt 3.3-4
→ Ef 5.26), no qual o regenerado recebe o dom do Espírito (At 2.38).
(1164) γενναω.

Gerar, tronar-se o pai, nutrir, fazer nascer de novo, regenerar.

CLÁSSICO: γενναω era usado para informar que o pai gerou e a mãe deu a luz.

ANTIGO TESTAMENTO: γενναω nunca é usado nas passagens que ensinam que Israel era o
primogênito de Deus, ou que Deus é pai de Israel. O AT se distancia dos mitos pagãos de
procriação. Israel é povo de Deus por eleição, não por procriação natural.

NOVO TESTAMENTO: Várias ocorrências de γενναω no NT, o contexto define o significado.

- At 13.33, Hb 1.5 γενναω denota a proclamação do verdadeiro Filho e rei de Deus.

- João usa a expressão γενναω εκ para descrever a origem do crente. A verdadeira existência
está em Deus por meio de Jesus. João 3.3 elucida a questão do velho homem que precisa de
uma nova origem. O ser humano precisa nascer de Deus (1Jo 2.29; 3.9, 4.7).

- Em 1Pe 1.3 γενναω é resultado da grande misericórdia divinae pelo fato fundamental da
ressurreição de Jesus. Γενναω só é possível por meio da palavra do Deus vivo (1Pe 1.23).

(2785) καινος.

Novo, novidade, renovação.

CLÁSSICO: γενναω é aquilo que é novo em comparação com o que até então não existia.

ANTIGO TESTAMENTO: Na LXX καινος segue o mesmo conceito do grego clássico, é ‘algo novo
que antes não estava ali’. Pode ser uma casa nova, uma capa nova, um odre novo; mas pode ser
também uma aliança ou coração novo que antes não existia. ‘Eu faço nova todas as coisas’ (Is
42.9 / Is 48.6). καινος também é o conceito para novos céus e nova terra (Is 65.17).

- καινος se estende desde o íntimo do ser humano até as dimensões universais do novo mundo.
O καινος resultara num cântico novo (Sl 33.3 / 40.3 / 144.9 / 149.1).

NOVO TESTAMENTO: Também segue o grego clássico no sentido de algo que não existia (Mt
9.27 / Mt 27.60 / Mc 1.27). No entanto, refere-se a tudo que está ligado à obra redentor de
Cristo. Nova aliança (Lc 22.20). Novo mandamento (Jo 13.34). Nova criação (2Co 5.17 / Gl 6.15).
Novo homem (Ef 2.15). Novos céus e nova terra (1Pe 3.13).

- Por meio da obra redentora de Cristo a antiga aliança se tornou antiquada (Hb 8.13).

- A nova criação de Deus abrange também a natureza (Rm 8.18-22).


- Os que vencem as tentações recebem uma pedra branca na qual está escrito o novo nome (Ap
2.17). Essa pedra branca era usada para dar livre acesso ao portador às assembleias reais. O
nome não é o do portador, mas de quem dá autorização ao portador. Nosso nome de ingresso
para as alegrias eternas é o nome de Cristo. Nosso Salvador torna possível a nova realidade.

- Em Jesus Cristo está a esperança universal de todas as coisas serem feitas novas (Ap 21.5).

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