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LEMBRETE

Pare de mexer no celular


enquanto você está comendo!

OK

ESPORTE SONO SAÚDE CLÍNICA

Papel metabólico das Melatonina, triptofano e Celular e alimentação, Colágeno hidrolisado, o


vitaminas do complexo B glicina, o que os estudos qual é o impacto à saúde? que dizem os estudos?
no esporte. Beta alanina falam sobre na relação com Comportamento alimentar Aplicações terapeuticas
nas artes marciais. Zinco a qualidade do sono? e risco de transtornos em do CBD.
e magnésio na síntese Mecanismo do ciclo atletas.
proteica muscular. sono-vigília.
EDITOR CHEFE DIRETOR DE EDIÇÃO EQUIPE DE APOIO EQUIPE DE APOIO EQUIPE DE APOIO EQUIPE DE APOIO
Rodolfo Peres João Pinheiro Larissa Túllio Isabela Bozza Gustavo Messora Gabriela Motta

plenitude
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Celular e alimentação: impactos na saúde. 04

CBD: aplicações terapêuticas 08

Mecanismo do ciclo sono-vigília. 14

Melatonina. 20
Triptofano. 26
Glicina na qualidade de sono e prática esportiva. 31

Comportamento alimentar e risco de transtornos em Atletas. 38

Zinco e magnésio: síntese proteica e funcionamento muscular. 47

Complexo B: metabolismo energético e seu papel no esporte. 53

Suplementação de beta alanina em praticantes de artes marciais. 61


Colágeno hidrolisado: o que dizem os novos estudos? 67
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LEMBRETE
Pare de mexer no celular
enquanto você está comendo!

OK

COLUNA NUTRIÇÃO CLÍNICA

Celular e alimentação:
impactos na saúde.
plenitude 04
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A globalização tem promovido, ao logo das


últimas décadas, grandes mudanças em nosso
Estudos acerca do assunto

Alguns estudos realizados no Brasil com crianças


padrão alimentar. Soma-se a este contexto um
e adolescentes demonstraram a associação
aumento significativo do uso de celulares, o que
entre o tempo passado em frente às telas a
vem impactando de forma negativa a adoção de
inúmeros problemas de saúde, incluindo
uma alimentação balanceada (1).
hipertensão arterial, síndrome metabólica e

O smartphone é hoje um dos principais meios sobrepeso (4).

de tecnologia e é amplamente utilizado no


Um longo período de tempo em frente a telas
mundo devido aos seus inúmeros benefícios
como celulares está também associado a um
para a sociedade, por ser um meio de
baixo consumo de frutas e vegetais e ao
comunicação extremamente rápido e por sua
consumo em excesso de alimentos mais
alta capacidade de interação e
calóricos e palatáveis, como aqueles ricos em
compartilhamento de conteúdo (2).
açúcar, gordura e sódio. Outros estudos também
demonstraram uma associação a distúrbios
No entanto, algumas desvantagens vêm sendo
alimentares (4).
experimentadas, dentre elas o isolamento social,
comportamentos viciosos e interferências no
Já é sabido que o problema da obesidade vem
comportamento alimentar. Isso porque o uso de
sido atribuído, em grande parte, a uma
celulares envolve a utilização das mãos, ato
alimentação desbalanceada, a qual oferece uma
necessário também para comer (2). Além disso,
enorme variedade de alimentos palatáveis,
observa-se que o uso de telas é uma experiência
calóricos e preparados para serem consumidos
complexa, caracterizando-se pela presença de
de forma rápida e prática. Além do mais, o estilo
inúmeros meios de comunicação e atividades de
de vida das pessoas tem mudado nas últimas
forma simultânea e consequente uso da atenção
décadas, com uma crescente necessidade de
em diferentes níveis e concomitantemente,
realizar várias tarefas ao mesmo tempo aliada à
resultando em uma forma de comer distraída ou
interação com dispositivos eletrônicos, como os
sem atenção (3).
celulares, levando as pessoas a comer enquanto
realizam atividades que confundem o foco dos
sinais de saciedade e estímulos sensoriais
advindos do alimento e sinais gástricos.

plenitude 05
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Sendo assim, o “comer distraído” ou “comer sem A técnica do comer consciente como aliada
atenção” tem sido associado a um crescente
Comer enquanto realizamos várias tarefas ao
aumento do IMC (5).
mesmo tempo, tais como trabalhar, assistir à
Em roedores, foi descoberto que a distração televisão ou dirigir um carro enquanto
diminui e retarda o processamento de almoçamos, pode resultar em uma quantidade
informações relacionadas ao paladar no córtex maior de alimento ingerido, porém sem observar
cerebral. Em humanos, no entanto, tem sido os sinais de saciedade.
sugerido que a distração atenua a percepção do
Na ausência da autoconsciência, as pessoas
paladar devido a uma capacidade de atenção
comem sem se atentarem à qualidade e à
reduzida, levando a um consumo exagerado (5).
quantidade de comida que colocam em sua
Os comportamentos sedentários como o uso de boca. Este fenômeno chama-se comer sem
celulares estão colaborando para o aumento da atenção plena ou comer sem consciência,
obesidade entre as crianças americanas. As taxas comportamento que pode resultar em inúmeras
de obesidade quase dobraram em pessoas de 2 consequências negativas, sendo a obesidade é
a 19 anos entre o final dos anos 80 e início dos uma delas (8).
anos 90. Outro estudo concluiu que
adolescentes que passam mais tempo em frente Dentro deste cenário, algumas abordagens têm

às telas têm maior propensão a desenvolver se mostrado bastante eficazes no que tange aos

obesidade e síndrome metabólica quando comportamentos alimentares disfuncionais,

adultos, fatores que elevam o risco de doenças como a prática de mindfulness (atenção plena),

cardiovasculares e AVC. Uma dica dos que caracteriza-se pelo estado de consciência

especialistas é manter os celulares longe do local que eleva-se através da atenção ao momento

onde são feitas as refeições e aproveitar estes presente, de maneira proposital, sem qualquer

momentos para preparar refeições com a família, tipo de julgamento.

por exemplo (7).

plenitude
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Tendo em vista as questões relacionadas ao


comer e ao alimento, o mindfulness passa a ter
uma vertente conhecida como mindful eating
ou “comer com atenção plena”, a qual
recomenda que façamos nossas escolhas
alimentares de forma consciente e observando
atentamente os sinais de fome e saciedade que
o corpo apresenta e também a toda experiência
no momento da refeição, observando sem
julgamento as emoções que sentimos antes,
durante e depois de comer e também com foco
nos sentidos sensoriais com relação à comida,
como aroma, textura, sabor e temperatura (9).

Alguns princípios do mindful eating que podem


ser facilmente aplicados e exercitados em nossa
rotina alimentar são: Saborear o alimento,
observando atentamente a textura e o som que
o alimento emite através da mastigação;
observar o que estamos sentindo antes de entrar
em contato com o alimento, como os sinais de
fome física e emocional (barriga roncando, falta
de energia, estresse); não julgar, ou seja, evitar
frases como “não deveria” ou se prender a regras
rígidas de dieta; estar totalmente presente. Evitar
realizar várias tarefas ao mesmo tempo e se
desligar das distrações, deixando o celular,
televisão, computador, livros etc. para outro
momento e realmente aproveitar a refeição (10).

plenitude 07
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COLUNA NUTRIÇÃO CLÍNICA

CBD - Aplicações
Terapêuticas
plenitude 08
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A Cannabis Sativa ou popularmente


conhecida como maconha, é uma planta de
Dentre a composição da planta, o CDB é o
composto mais presente constituindo cerca de
40% dela. Foi isolado pela primeira vez na década
origem asiática que possui em sua composição
de 40, mas só a partir dos anos 60 que se iniciou
aproximadamente mais de 700 substâncias,
pesquisas com grande foco nas propriedades
sendo as mais conhecidas em todo o mundo a
terapêuticas que a substância pode
delta-9-tetrahicannabidiol (THC) e cannabidiol
proporcionar, como redução da ansiedade,
(CBD).
amenizar crises de convulsão em pacientes com
epilepsia e outras doenças do sistema nervoso
O THC é a substância da planta capaz de causar
central.
efeitos psicoativos, alterando a nossa sensação
de bem estar, humor, euforia e outros. Desse
A partir dos primeiros achados científicos que
modo, ele é utilizado para uso quase que
forneciam algum sinal de eficácia do CDB para
exclusivamente como recreativo. Já o CDB
as doenças já citadas, indústrias farmacêuticas
possui diversos efeitos ansiolíticos, que podem
iniciaram investimentos mais robustos visando
ser usados para o tratamento de algumas
encontrar possíveis descobertas terapêuticas
doenças do sistema nervoso.
sobre a substância.

As pesquisas científicas realizadas sobre a C. O CDB não apresenta afinidade significativa para
sativa eram focadas quase que exclusivamente o receptor CB1 localizado no sistema nervoso
em desvendar como o THC provocava os efeitos responsável por reconhecer o THC e gerar os
psicoativos e alucinógenos no organismo e efeitos de euforia, alegria, sensação de bem estar
possíveis efeitos colaterais do uso continuo, bem e outros. Alguns dos efeitos psicoterapêuticos
como por que o usuário de THC apresenta sinais que o CDB pode proporcionar ao organismo
clássicos de uso, como olhos avermelhados, parece ser mediado pelo receptor 5-HT1A, dessa
dilatação das pupilas, vasodilatação, sonolência e forma, pelo menos dois sistemas estão
aumento do apetite. envolvidos com os efeitos gerados pela C. sativa,
o sistema endocanabinóide e o sistema
serotoninérgico.

plenitude 09
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Os primeiros relatos de uso da C. sativa como MECANISMO DE AÇÃO


tratamento para algumas enfermidades, como
Embora não seja ainda completamente
dores reumáticas, distúrbios intestinais, malária e
esclarecido pela ciência os principais
problemas no sistema reprodutor feminino
mecanismos de ação pelo qual o CDB pode
datam do início da farmacopeia chinesa, a mais
trazer os seus benefícios, alguns estudos
antiga do mundo. Há relatos também do uso da
sugerem que a substância não atue
planta na Índia para o tratamento da insônia,
especificamente nos receptores
febre e disenteria (RIBEIRO, 2014; CRIPPA;
dopaminérgicos, estes por sua vez são
ZUARDI; HALLAK, 2010).
responsáveis por provocar os efeitos de euforia,
alegria ou agitação.
O THC é a substância da planta capaz de causar
efeitos psicoativos, alterando a nossa sensação
O CDB atua em diversos sistemas neuronais e
de bem estar, humor, euforia e outros. Desse
também no sistema endocanabinóide, que por
modo, ele é utilizado para uso quase que
sua vez possui muitos neurotransmissores
exclusivamente como recreativo. Já o CDB
responsáveis pela sensação de bem estar, como
possui diversos efeitos ansiolíticos, que podem
GABA, Serotonina e Glutamato. O CBD é capaz
ser usados para o tratamento de algumas
de facilitar a sinalização dos endocanabinóides
doenças do sistema nervoso.
através da inibição da recaptação ou hidrólise
enzimática da anandamida. A anandamida é
As pesquisas científicas realizadas sobre a C.
uma molécula endógena produzida pelo nosso
sativa eram focadas quase que exclusivamente
organismo capaz de provocar efeitos ansiolíticos,
em desvendar como o THC provocava os efeitos
analgésicos e antidepressivos.
psicoativos e alucinógenos no organismo e
possíveis efeitos colaterais do uso continuo, bem
como por que o usuário de THC apresenta sinais
clássicos de uso, como olhos avermelhados,
dilatação das pupilas, vasodilatação, sonolência e
aumento do apetite.

plenitude 10
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A molécula de anandamida é formada através Pacientes com epilepsia, ansiedade, Parkinson e


do ácido araquidônico, um acido graxo essencial esclerose múltipla também podem se beneficiar
da família dos ômegas 6. Sugere-se que os do uso de CDB. Pesquisas indicam que a
efeitos psicoterapêuticos produzidos através do substância pode provocar efeitos ansiolíticos
uso do CDB estejam relacionados ao aumento similares a fármacos já testados para pacientes
da anandamida, contudo mais pesquisas são com ansiedade, ela também possui efeito
necessárias para compreender melhor o sedativo. Em uma pesquisa realizada com 6
mecanismo de ação pelo qual o CDB e a indivíduos portadores de Parkinson foi
anandamina possam trazer efeitos benéficos administrado 150mg/dia de CDB e observou-se
para as pessoas com distúrbios e doenças do melhora na qualidade do sono e redução
sistema nervoso. significativamente nos sintomas da doença

APLICABILIDADE DO CDB EM DOENÇAS DO


A esclerose múltipla é uma doença
SISTEMA NERVOSO
neurodegenerativa com prevalência maior em

A esquizofrenia é uma doença psiquiátrica que entre adultos, o uso da C. sativa para redução dos

acomete o sistema nervoso central e possui sintomas apresentados pela doença ainda é

caráter multifatorial, ela é classificada em três bem discutido, contudo, alguns países passaram

tipos de sintomas: positivos, negativos e a utilizam o medicamento naxibimol. Este

cognitivos. Os sintomas positivos estão fármaco possui em sua composição os dois

relacionados com alucinações, os sintomas componentes de maior relevância da planta, o

negativos são descritos como perda de THC e CDB na proporção de 1:1, ele é indicado

motivação e os sintomas cognitivos afetam a para espasticidade da doença.

atenção e a memória. O uso de CDB possui


FUTURO DO CDB
atividade antipsicótica e pode reduzir os
sintomas descrito para a doença, contudo, ainda O Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou
não se sabe ao certo como o CDB pode reduzir uma resolução no ano de 2014 normatizando o
esses sintomas. uso do CDB para pacientes com epilepsia.
Recentemente, a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (ANVISA) autorizou a importação do
produto para o tratamento de outras doenças do
sistema nervoso.

plenitude 11
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FUTURO DO CDB

O Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou


uma resolução no ano de 2014 normatizando o
uso do CDB para pacientes com epilepsia.
Recentemente, a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (ANVISA) autorizou a importação do
produto para o tratamento de outras doenças do
sistema nervoso.

Dessa forma, podemos concluir que CDB


apresenta propriedades psicoterapêuticas e
antipsicóticas de grande relevância para o
tratamento de sintomas em diversas doenças
que acometem o sistema nervoso. Contudo,
mais estudos e pesquisas são necessários para
elucidar melhor como a substância é capaz de
promover melhoras clínicas em pacientes
acometidos com tais enfermidades, além de
esclarecer doses usuais para o tratamento em
cada tipo de doença, bem como níveis supra
fisiológicos que podem levar a efeitos colaterais.

@nutri.matheussquena

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SELEÇÃO ESPECIAL: SONO

Mecanismo do ciclo
sono-vigília
plenitude 13
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O sono é um fenômeno universal em todas as


espécies estudadas até agora, e é um estado
Em humanos saudáveis, a vigília (W) é
caracterizada por baixa voltagem (10-30 V) e
fisiológico com motilidade e responsividade rápida (16-25 Hz) atividade eletroencefalográfica
reduzida a estímulos sensoriais. Segue um ciclo (EEG) cortical [2]. A excitação comportamental é
regular a cada noite e existem duas formas evidente no eletromiograma (EMG) pela
básicas de sono: sono de ondas lentas (SWS) e atividade de alta amplitude nos músculos
sono de movimento rápido dos olhos (REM) [1]. posturais, particularmente no pescoço (Fig. 1).

O ciclo sono-vigília, que se repete com A passagem de W para SWS é caracterizada por
periodicidade aproximada do ciclo dia-noite de frequências progressivamente mais lentas e
24h, é o exemplo prototípico de um atividades de voltagem mais altas no EEG.
comportamento que demonstra um ritmo
O estágio 1 é caracterizado por
circadiano. Os ritmos circadianos também são
aproximadamente 5 minutos da transição de W
discerníveis nas propriedades fisiológicas e
para SWS, que inclui movimentos oculares
bioquímicas do corpo humano, como
lentos e rolantes e atividade de EEG de baixa
temperatura corporal central e corticosteróides e
voltagem e frequência mista. O estágio 2,
níveis de melatonina.
geralmente subsequente ao estágio 1, é
O ciclo sono-vigília é mantido por diferentes caracterizado por rajadas de sono. O sono REM
sistemas neuro anatômicos e neuroquímicos. A geralmente segue o estágio 4 e é caracterizado
interação multifacetada dos sistemas Glutamato, por atonia muscular, ativação de várias áreas do
Noradrenalina (NA), Adenosina (DA), Serotonina cérebro, como o córtex, e movimentos oculares
(5-HT), Hipocretina (HCRT), Acetilcolina (ACh) e que ocorrem de forma fásica, espasmos
histaminérgicos são necessários para a geração e musculares e alterações significativas na pressão
manutenção de vigília (W). Esses centros neuro arterial e na taxa de respiração. Além disso, os
anatômicos se projetam para o córtex cerebral, padrões de EEG dos neurônios durante o sono
subcorticais e tronco cerebral. De acordo com REM se assemelham aos do W.
diversos estudos, as taxas de disparo desses
núcleos foram descritas como mais altas durante
o W, enquanto sua atividade diminui durante o
SWS e se torna completamente silenciosa
durante o sono REM.

plenitude 14
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O ciclo sono-vigília observado em humanos Durante todo o estado de alerta neurônios do


saudáveis apresenta uma progressão no início prosencéfalo são ativos. (Fig. 2). Os neurônios
do sono caracterizada pela atividade do EEG do laterais do hipotálamo são considerados como
estágio 1 ao estágio 4. Em seguida, esta atividade sendo um “interruptor de vigília” através do qual
é seguida pela presença do sono REM. A o hipotálamo exerce o controle do sono e da
sequência se repete ciclicamente ao longo da vigília, uma vez que começam a disparar antes
noite em intervalos de 90-100 minutos [3]. da transição do sono para W [4]. Dentre as
múltiplas projeções enviadas pelo hipotálamo
O ciclo sono-vigília observado em humanos
lateral, vários grupos têm indicado conexões
saudáveis apresenta uma progressão no início
excitatórias para diversas áreas promotoras de
do sono caracterizada pela atividade do EEG do
vigília, como núcleos adrenérgicos,
estágio 1 ao estágio 4. Em seguida, esta atividade
histaminérgicos, dopaminérgicos e colinérgicos
é seguida pela presença do sono REM. A
[4].
sequência se repete ciclicamente ao longo da
noite em intervalos de 90-100 minutos [3]. No início do século XX, Constantine von
Economo sugeriu que o hipotálamo estava
ligado ao ciclo sono-vigília. Seus estudos
mostraram que o hipotálamo anterior estava
presumivelmente associado ao sono, enquanto
o hipotálamo posterior estava relacionado ao
estado de alerta.

(Figura 1). O ciclo sono-vigília em humanos é caracterizado por diferentes


estágios. Nesta figura, podemos notar que durante a vigília há uma atividade de
baixa voltagem vista no eletroencefalograma (EEG). A transição da vigília para o
Estágio 1 apresenta no EEG uma atividade mais lenta. O estágio 2 é caracterizado
pela presença de complexos K e fusos do sono. Durante o Estágio 3, as ondas
delta estão presentes no EEG e estão presentes mais de 50% do tempo no
Estágio 4. Durante o sono REM, o padrão de EEG apresenta novamente baixa
voltagem e atividade fásica que lembra a vigília. A atividade no eletromiograma
(EMG) é maior durante a vigília e diminui ao longo dos estágios do sono até
praticamente ausente durante o sono REM. Abreviaturas: EEG,
eletroencefalograma; EOG, eletrooculograma; EMG, eletromiograma; REM, sono
de movimento rápido dos olhos.
(Figura 2). A distribuição cerebral dos núcleos reguladores da vigília é mostrada
neste desenho.

plenitude 16
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Mecanismos neuroquímicos de indução e Núcleo supraquiasmático (NQS)


manutenção da vigília
Dois mecanismos básicos na modulação do
O despertar é gerado e mantido pela atividade sono são reconhecidos: um mecanismo
de vários sistemas de excitação empregando homeostático e um mecanismo circadiano. A
diferentes neuroquímicos [6]. Entre essas primeira determina que uma determinada cota
moléculas estão a histamina [5], glutamato [7- 8], de duração e intensidade do sono precisa ser
noradrenalina (NA) [9-10], Adenosina (DA) [6, 11], 5- obtida em um curto período e que as
hidroxitriptamina (5-HT) [12-13], ACh [14] e necessidades atuais dependem da história
neurônios contendo hipocretina (HCRT) [15-16]. imediata de sono-vigília do indivíduo.

Hipocretina (HCRT) o importante fator de vigília O mecanismo circadiano, circadiano (do latim
“circa diem” – “cerca de um dia”) está
A vigília é mantida pela ação de diversas áreas
presumivelmente localizada no núcleo
cerebrais e seus transmissores específicos, como
supraquiasmático (NQS) do hipotálamo. Esses
a hipocretina (HCRT). O HCRT-1 e -2, (também
núcleos funcionam como “relógios mestres” que
denominados orexina A e B, respectivamente)
reiniciam e sincronizam os ritmos circadianos
são dois neuropeptídeos derivados do mesmo
dos tecidos periféricos.
precursor cuja expressão é restrita a alguns
milhares de neurônios no hipotálamo lateral [17- Acredita-se que alterações no NQS, bem como
18]. Os neurônios HCRT estão localizados entre o outras, estão subjacentes aos distúrbios do sono
fórnice e os tratos mamilotalâmicos no em pessoas idosas. Mesmo no envelhecimento
hipotálamo lateral de onde as fibras HCRT se saudável este relógio endógeno parece
projetam por todo o cérebro e medula espinhal, enfraquecer, resultando em tempo de sono
incluindo várias áreas implicadas na regulação alterado e fases de sonos menos consolidadas.
do ciclo sono-vigília [19-20] (Fig. 2). [27]

Essas projeções excitam os principais sistemas


de excitação, incluindo o histaminérgico [21],
noradrenérgico [22] e serotoninérgico [23, 24],
bem como os neurônios colinérgicos localizados
no núcleo tegmental látero-dorsal [25] e
prosencéfalo basal [26]

plenitude 17
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Núcleo Pré-Óptico Ventrolateral Acetilcolina (ACh): Tem sido repetidamente


demonstrado que o sono REM é gerado pela
O núcleo VLPO está localizado na área pré-óptica
atividade de núcleos colinérgicos específicos [32-
do hipotálamo anterior. Este núcleo representa
33] (Fig. 3) Verificou-se que o conteúdo
um centro “gerador de sono”, que se opõe ao
extracelular de ACh é maior durante o sono REM
efeito de despertar do hipotálamo posterior [28]
em comparação com W e SWS.
(Fig. 3).

Acetilcolina (ACh): Tem sido repetidamente


demonstrado que o sono REM é gerado pela
atividade de núcleos colinérgicos específicos [32-
33] (Fig. 3) Verificou-se que o conteúdo
extracelular de ACh é maior durante o sono REM
em comparação com W e SWS.

Adenosina: A adenosina (AD) é um produto do


metabolismo natural que tem sido relacionado à
promoção do sono. A AD pode ser um fator
(Figura 3) O desenho representa os centros indutores do sono. A atividade de hipnagógico, aumentando o SWS em resposta
VLPO induz o sono, em grande parte através da inibição das áreas promotoras
de vigília (ver Fig. 2). Abreviaturas: LC, locus coeruleus; LDT, núcleo tegmental ao despertar. O mecanismo proposto sugere
látero-dorsal; LH, hipotálamo lateral; TMN, núcleo tuberomamilar; PPT, núcleo
que AD atua em um autorreceptor AD-1 em
tegmental pedunculopontino.

neurônios colinérgicos no prosencéfalo basal [36]


O mecanismo neuroquímico de indução de e que as projeções colinérgicas do prosencéfalo
indução e manutenção do sono. basal inibem os neurônios GABA no VLPO. Desta
forma, AD desinibe a projeção GABAérgica
Ácido gama-aminobutírico (GABA): O GABA é o
indutora do sono do VLPO, induzindo o sono [35-
principal neurotransmissor inibitório no cérebro
35-36].
contido nos neurônios do prosencéfalo basal e
da área pré-óptica. Vários estudos
demonstraram que a taxa de descarga desses
neurônios é maior durante o sono do que
durante W [30]. Consistente com seu papel na
modulação do sono, os neurônios contendo
GABA na área pré-óptica exibem uma expressão
aumentada de Fos durante o sono [31].

plenitude 18
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Noradrenalina: As propriedades promotoras de


vigília da noradrenalina (NA) envolve Alfa 1-
adrenorreceptores que estão associados a uma
despolarização pelo fechamento dos canais de
K+, enquanto os alfa 2- adrenorreceptores estão
ligados a uma hiperpolarização pela abertura de
canais de K+.

Drogas que antagonizam o alfa 1-


adrenorreceptores facilitam o início do sono,
provavelmente por bloquearem a ação pós-
sináptica de NA em diferentes neuronios alvos.
Em contraste, os antagonistas dos alfa 2-
adrenoreceptores retardam o sono. Ao contrário
dos efeitos descritos acima, os agonistas dos
receptores alfa 2-adrenérgicos inibem a liberação
de NA e diminuem a W [37].

O ciclo sono-vigília envolve a expressão de cerca


de mais de 10.000 transcritos que são expressos
no córtex cerebral e em várias estruturas
cerebrais. Dada a expansão do conhecimento na
área do sono, é realmente ambicioso descrever
todos os sistemas neuroanatômicos e
neuroquímicos envolvidos na modulação do
sono.

plenitude 19
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SELEÇÃO ESPECIAL: SONO

Melatonina

plenitude 20
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A tendência social moderna é marcada pela


escassez de tempo para exercer todas as
A melatonina é o principal hormônio secretado
pela glândula pineal1 e é responsável por sinalizar
atividades demandadas no período de apenas a hora do dia e a época do ano em mamíferos,
24 horas, contendo longas jornadas de visto que seu padrão de secreção define a “noite
expediente e trabalho por turnos. Tal contexto biológica” (2). Em 1958, a melatonina foi
expõe o ser humano a uma condição de descoberta e isolada da glândula pineal bovina,
desregulação intensa de todos os seus por Aaron Lerner6 e, nos dias atuais, é
mecanismos fisiológicos, especificamente de um relacionada com a regulação biológica
de seus principais: o ciclo circadiano. importante dos ritmos circadianos, sono, humor
e até mesmo na reprodução, crescimento
O ciclo circadiano consiste em um mecanismo
tumoral e envelhecimento (3).
endógeno, e sua regulação ocorre ao longo das
24 horas do dia, por meio dos condutores A melatonina é o principal hormônio secretado
centrais, denominados núcleos pela glândula pineal1 e é responsável por sinalizar
supraquiasmáticos (SNC), além de envolver a a hora do dia e a época do ano em mamíferos,
expressão de diversos genes5. Nos dias atuais, visto que seu padrão de secreção define a “noite
esse ritmo é frequentemente desregulado biológica” (2). Em 1958, a melatonina foi
devido à tendência social moderna de comer e descoberta e isolada da glândula pineal bovina,
dormir em horários irregulares, por exemplo. por Aaron Lerner6 e, nos dias atuais, é
relacionada com a regulação biológica
Nos últimos anos, a biologia do sono vem sendo
importante dos ritmos circadianos, sono, humor
cada vez mais elucidada em diversos estudos. O
e até mesmo na reprodução, crescimento
sono é um fenômeno psicofisiológico complexo,
tumoral e envelhecimento (3).
fundamental para uma cognição ideal, função
imunológica e saúde geral do indivíduo (1.) A O núcleo supraquiasmático é influenciado pela

melatonina, ou 5 metoxi - N -acetiltriptamina, por luz do ambiente durante o dia e pela melatonina

sua vez, é um hormônio secretado durante a noite (19), sendo assim, a desregulação

exclusivamente à noite pela glândula pineal, e dos ritmos circadianos e a secreção de

está relacionada com a regulação de todo o ciclo melatonina representam uma interferência

circadiano. Além da idade, comportamentos comum no trabalho por turnos e outros

comuns, como a exposição à luz no período da distúrbios circadianos.

noite, influenciam diretamente na desregulação


da secreção desse hormônio (2).
plenitude 21
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O SUMÁRIO

A luminosidade é um fator de extrema Por isso é recomendado que não haja nenhum
importância para a secreção da melatonina por estímulo das luzes, como a de smartphones,
meio da glândula pineal à noite, em condições computadores e televisão (2).
normais de claro/escuro, visto que a via principal
Melatonina e sua influência no esporte
para a síntese desse hormônio parte das células
ganglionares da retina, que recebe os impulsos O sono inadequado pode afetar negativamente

claro-escuro, que atingem o núcleo o organismo, comprometendo o metabolismo

supraquiasmático do hipotálamo através do dos carboidratos, o apetite, a ingestão de energia

trato retino-supraquiasmático. Posteriormente, e a síntese de proteínas, gerando um impacto

os estímulos atingem o núcleo paraventricular desfavorável no estado nutricional, metabólico e

do hipotálamo, medula espinhal e gânglio endócrino de um atleta e, consequentemente,

cervical superior, e a indução da síntese da seu desempenho e recuperação (7). Com o ciclo

melatonina ocorre após a estimulação de de carboidratos afetado, ocorre uma diminuição

receptores b e a-noradrenérgicos e, assim, é nos estoques de glicogênio pelo fígado e

liberada na circulação e sua distribuição para músculo, afetando a reserva de energia que seria

todos os órgãos devido à sua lipossolubilidade (2). utilizada durante o exercício físico. A privação do
sono mostrou ainda um aumento do hormônio
Ao ser secretada, grande parte (cerca de 70%)
de estresse circulante, além de aumentar o
circula pela corrente sanguínea ligada à
catabolismo e reduzir o anabolismo, impactando
albumina, e por não ocorrer estoque, difunde-se
na taxa de reparo muscular, por isso o sono é
em todo o corpo. Em humanos, a produção de
visto como fundamental na recuperação pós-
melatonina se dá na infância, decaindo
exercício ou na redução da fadiga.
gradativamente a partir da puberdade, e
atingindo menor quantidade na velhice, devido à Antes de iniciar o uso de suplementos para a
calcificação da glândula pineal (2). melhora do sono devemos, primeiramente,

A secreção da melatonina ocorre à noite, com melhorar a alimentação desses atletas, pois

início cerca de 2 horas antes do horário de existem estratégias nutricionais capazes de atuar

dormir, sendo que sua produção é suprimida nos neurotransmissores que impactam

pela interrupção do escuro por luz artificial, positivamente o sono (8).

principalmente pela luz azul.

plenitude 22
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Além dos alimentos ricos em melatonina, No grupo dos vegetais, o tomate16 e o pimentão
devemos nos atentar ao consumo de alimentos (8) seriam os mais benéficos, podendo ser
ricos em triptofano, pois eles aumentam a encontrada também nos cogumelos (8). Já nas
síntese de serotonina que, por sua vez, é leguminosas e sementes podemos observar
convertida em melatonina (7). O triptofano tem altas doses de melatonina na mostarda branca e
sua fonte dietética encontrada no leite, peru, preta (8). O processo de germinação de
frango, peixe, ovos, semente de abóbora, feijão, leguminosas também se mostrou eficaz nos
amendoim, queijo e vegetais de folhas verdes (7). aumentos dos seus níveis de melatonina. Um
estudo mostrou que sementes de soja
Existem vários alimentos que contêm
germinadas tiveram um aumento de 400%, em
melatonina, porém, a sua concentração nos
relação às sojas cruas (17,18). Nas sementes de
alimentos varia muito, de espécie para espécie,
feijão foi observado um aumento 11 vezes maior
podendo também ser distribuída de forma
do que nas sementes cruas (17,18). As oleaginosas
desigual em um animal ou planta por causa das
apresentaram teores de melatonina, e as que se
diferentes características dinâmicas biofísicas nos
sobressaíram foram as nozes e o pistache (13).
órgãos (8). O que também pode influenciar no
teor de melatonina é o ambiente onde as plantas Alguns estudos mostram que uma alimentação
são cultivadas, incluindo temperatura, duração adequada, com atenção especial para os
da exposição a luz solar, processo de alimentos que contêm vitaminas do complexo B
amadurecimento e tratamento agroquímico (8). e magnésio, pode ser um fator chave para o
aumento da concentração de melatonina nos
As fontes dietéticas de melatonina, de origem
níveis sanguíneos (7). A vitamina B12 auxilia na
animal, podem ser encontradas em ovos e
secreção de melatonina, enquanto a B6 está
peixes, sendo detectada também no leite
envolvida na síntese de serotonina a partir do
materno e nos leites fornecidos por outros
triptofano.
animais (8,10). Nos cereais foi constatada no trigo,
cevada e aveia, mas, segundo um estudo, no pão
encontramos concentrações mais altas no miolo
do que na crosta (9,11). Nas frutas podemos
perceber altas taxas nas uvas (14), cerejas (15) e
morangos (16).

plenitude 23
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A niacina (B3) pode ser sintetizada Pesquisadores sugerem que isso pode ser
endogenamente a partir do triptofano, através benéfico durante os períodos de treinamento de
da via da quinurenina, sendo necessário pré-temporada, e nos casos de treinamento
consumir uma quantidade suficiente de niacina duplo, onde os atletas são obrigados a produzir
para inibir a atividade de 2,3-dioxigenase, o que desempenhos múltiplos em curto espaço de
provocará um efeito poupador de triptofano, tempo (7,12). Nesse contexto, foi sugerido que a
aumentando sua disponibilidade para síntese de melatonina pode ser sintetizada na mitocôndria,
serotonina e melatonina (7). O folato (B9) e a tornando-a, juntamente com seus metabólitos,
piridoxina (B6) participam da conversão de disponível para proteger o músculo contra o
triptofano em serotonina (7). estresse oxidativo, aumentando também os
efeitos protetores da glutationa, vitamina C e
Estudos relatam que o magnésio aumentaria a
trolox (que é um análogo solúvel em água da
secreção de melatonina, promovendo o início do
vitamina E), através da regeneração por processo
sono, atuando como um antagonista do GABA,
de transferência de elétrons (7).
que é um neurotransmissor inibitório do sistema
nervoso central, reduzindo a atividade dos Existem relatos que o kiwi contém uma gama
neurônios em várias regiões do cérebro (7). O de nutrientes capaz de beneficiar o sono, a saúde
magnésio tem sua função também na produção e a recuperação, já que apresenta uma
da enzima N-acetiltransferase, que converte 5-HT capacidade antioxidante, conteúdo enzimático,
em N-acetil-5-hidroxitriptamina, podendo ser polifenólico e fitoquímico (7). Os nutrientes
convertida em melatonina (7). presentes incluem serotonina, vitamina C,
vitamina E, vitamina K, vitamina B9, antocianinas,
Na recuperação, os atletas podem sofrer com dor
carotenoides, betacaroteno, luteína, potássio,
muscular de início tardio, que leva à redução da
cobre e fibras (7). Com esse composto de
qualidade do sono. A suplementação do suco de
nutrientes, foi sugerido que ele pode atuar
cereja azeda, nas dosagens de 30ml, duas vezes
sinergicamente, afetando vários processos
ao dia, por 7 dias, se mostrou benéfica nas
fisiológicos e metabólicos, como melhora da
atividades de sprint intermitente, sendo capaz de
saúde do trato gastrointestinal e função intestinal
reduzir a queda pós-exercício no desempenho
(7).
funcional (12).

plenitude 24
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Um estudo foi capaz de demonstrar que o Deve ser salientado que os benefícios da
consumo de dois kiwis, uma hora antes de melatonina não são dependentes da dose, ou
dormir, por quatro semanas, melhorou seja, tomar em maior quantidade não o ajudará
significativamente a duração total do sono e a a adormecer mais rápido.
eficiência do sono (7). Sugere-se que o conteúdo
de serotonina pode contribuir para melhora do
sono, enquanto as altas concentrações de
antioxidantes podem suprimir a expressão de
radicais livres e citocinas inflamatórias (7). O alto
teor de folato no kiwi também contribui para a
melhora do sono. Mesmo que o consumo de
folato seja facilmente encontrado na dieta, ele
acaba sendo destruído muitas vezes pelo
cozimento ou processamento, o que não ocorre
com o kiwi, já que normalmente é consumido
em sua forma crua (7).

Considerações finais

A demanda da sociedade moderna, proporciona


um número cada vez maior de pessoas que
trabalham em horários considerados não
convencionais, como o trabalho em turnos e
noturno.

A suplementação de melatonina pode ser uma


grande aliada para regular o ciclo do sono e, para
isso, deve ser tomada cerca de 30 minutos antes
de se deitar. As doses recomendadas são entre
500mcg (0,5mg) e 5mg para se obter benefícios.
Comece com 500mcg e, caso não seja eficiente,
aumente para 3-5mg.

plenitude 25
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SELEÇÃO ESPECIAL: SONO

Triptofano

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O aminoácido triptofano foi descoberto em


meados de 1900, por Hopkins e Cole, que
De acordo com as Dietary Reference Intakes
(DRIs), a recomendação de ingestão diária de
isolaram sua estrutura a partir da caseina (5). triptofano é de 8,5mg/kg/dia.

Classificado posteriormente como um dos oito De acordo com as Dietary Reference Intakes
aminoácidos essenciais (aminoácidos que (DRIs), a recomendação de ingestão diária de
devem ser fornecidos através da dieta), seu triptofano é de 8,5mg/kg/dia.
armazenamento tecidual é relativamente baixo
O aminoácido é altamente biodisponível em
e sua concentração plasmática é a mais baixa
alimentos como aveia, banana, cacau, ameixa
dentre todos os aminoácidos (14). Fatores
seca, cereais integrais, queijo, frango, amendoim
dietéticos influenciam diretamente em sua
(11).
concentração tecidual que, por sua vez,
influencia a captação pelo cérebro. Além síntese de serotonina, o triptofano é
essencial em outras vias metabólicas, como a via
Dentre todos os aminoácidos, apenas a fração L da quinurenina (cujos detalhes serão abordados
(levógira) pode ser utilizada na síntese de adiante), e em algumas outras funções do
proteínas e é capaz de ultrapassar a barreira Sistema Nervoso Central (SNC), como a
hematoencefálica, com isso, sabe-se que a fração participação da síntese de dopamina,
ativa desse aminoácido é o L-triptofano (8). norepinefrina e melatonina (11).

O L-triptofano é um precursor da síntese de Triptofano e humor

serotonina. A síntese de serotonina ocorre em


O principal transtorno de humor incapacitante
duas etapas, e seu bom andamento é
no mundo é a depressão. Alguns mecanismos
dependente da concentração de triptofano (3).
que influenciam a ocorrência do transtorno estão
A maior parte desse aminoácido está ligada à parcialmente elucidados, um deles é a hipótese
albumina plasmática, impedindo sua da deficiência de monoaminas.
ultrapassagem pela barreira hematoencefálica,
limitando a síntese central de serotonina (6.) As
frações de L-triptofano que ultrapassam a
barreira hematoencefálica, são hidroxiladas a 5-
hidroxitriptofano, cuja etapa é a considerada
limitante na síntese de serotonina (6).

plenitude 27
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Essa hipótese amparou diversos estudos com os Alguns autores discutem que, em indivíduos
principais agentes terapêuticos utilizados no saudáveis e sem histórico de depressão, a
tratamento da depressão: os inibidores seletivos depleção de triptofano não apresenta associação
e/ou combinados de recaptação de serotonina, positiva com o transtorno de humor. No entanto,
cuja efetividade se dá em parte pelo aumento ao avaliar indivíduos previamente deprimidos
dos níveis sinápticos de serotonina e em fases remissivas, a baixa do aminoácido
noradrenalina, e subsequente ativação de pareceu estar correlacionada com nova
receptores pós-sinápticos serotoninergicos e agudização de sintomas (6).
noradrenérgicos (6).
Sabendo que há intrínseca correlação entre os

Os efeitos da depleção de triptofano e sua níveis de triptofano, a produção de serotonina

influência nos transtornos de humor, são influenciando diretamente na produção de

amplamente estudados. Uma metanálise, que melatonina e impactando a qualidade do sono,

avaliou trabalhos realizados entre 1966 e 2006, pode-se constatar que a ingestão deficiente de

postulou que o grupo de indivíduos com maior triptofano é um fator contribuinte para piora da

depleção de triptofano, apresentou humor qualidade do sono, adiamento de seu início e

depressivo mais acentuado (12). despertares noturnos, podendo gerar um


mecanismo de retroalimentação na piora dos
Na literatura há diversas conclusões análogas, transtornos de humor, uma vez que a deficiência
como ilustrado em um estudo de 2001, realizado de sono pode estar relacionada a um pior
com uma amostra pequena, de apenas 10 prognóstico de sintomas ansiosos e depressivos.
participantes, com diagnóstico de depressão. Os
Salienta-se que o intuito principal dos dados
achados concluíram que a correlação entre
discutidos em literatura é estabelecer uma
depleção de triptofano e a piora dos sintomas
correlação entre a depleção dos níveis de
depressivos foi estatisticamente significativa (13).
triptofano e a baixa de serotonina ocasionando

Foram realizados alguns ensaios clínicos e pré- piora nos transtornos de humor, não havendo

clínicos, visando avaliar a depleção de triptofano robustez que sustente causalidade. Enfoca-se

e correlação com humor depressivo. também que os dados até hoje obtidos não
correlacionam ingestão dietética elevada do
aminoácido com remissão e tampouco melhora
dos sintomas citados, referem-se somente à sua
depleção.

plenitude 28
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Via das quinureninas Estudos realizados em modelos animais,


demonstram que o acúmulo central de
Seguido da síntese proteica, a via das
quinurenina traz por consequência déficits
quinureninas é a segunda via mais importante
cognitivos comportamentais e de memória (4).
do triptofano, sendo responsável por cerca de
90% de seu catabolismo (11).
O acúmulo de quinurenina no SNC pode
ocasionar certa neurotoxicidade, modulando
É inerente a correlação entre a via das
negativamente a cognição, distúrbios de humor
quinureninas e a inflamação, resposta
e contribuindo com a perpetuação de um
imunológica e alterações na neurotransmissão,
estado de inflamação crônica de baixo grau.
devido aos metabólitos gerados. Sabe-se ainda
que ela pode apresentar associação positiva no Considerações finais

estabelecimento de neurodivergências, como a O triptofano é um aminoácido não essencial,


esquizofrenia, e demais desordens psiquiátricas, altamente biodisponível e amplamente utilizado
como depressão. em diversas vias bioquímicas importantes, sendo
algumas delas a síntese proteica, a via das
O metabolismo do triptofano em quinurenina é
quinureninas e a via de conversão de triptofano
dependente da expressão da enzima
em serotonina.
indoleamina-2,3-dioxigenase (IDO1),
amplamente encontrada nos tecidos, e da Amplamente estudado, discute-se que sua

triptofano-2,3-dioxigenase (TDO), localizada nas depleção pode acentuar sintomas depressivos e

células hepáticas (7) . É muito bem elucidado distúrbios de humor em indivíduos predispostos.

que a IDO1 é altamente induzida por citocinas


No entanto, até o presente momento, ainda não
inflamatórias, salientando-se o interferon gama
há robustez que embase a afirmação que a
(7). Tal apontamento bioquímico evidencia que
ingestão suprafisiológica, como a
condições altamente inflamatórias irão ampliar o
suplementação de triptofano, possa regular
desvio do triptofano para quinurenina,
positivamente as condições citadas.
retroalimentando as vias inflamatórias, sendo
vários metabólitos da via também
imunorreativos.

plenitude 29
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Sabe-se também que a via das quinureninas é


modulada por citocinas inflamatórias, e que,
sendo um metabólito com capacidade de
ultrapassar a barreira hematoencefálica, seu
acúmulo no SNC gera neurotoxicidade e a piora
clínica dos distúrbios de humor.

Alguns autores discutem o papel do exercício


físico na prevenção da neurotoxicidade, uma vez
que o músculo esquelético possui um
importante papel regulatório no deslocamento
periférico das quinureninas, evitando seu
acúmulo no cérebro.

Ainda são necessários mais estudos para que se


possa estabelecer um consenso em relação à
suplementação e/ou modulação de consumo,
conforme dito anteriormente. No entanto, as
hipóteses quanto ao equilíbrio metabólico e a
importância do manejo da inflamação, devido ao
seu relevante papel na via das quinureninas, são
promissoras para discussões futuras.

plenitude 30
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SELEÇÃO ESPECIAL: SONO

Glicina na qualidade de
sono e prática esportiva

plenitude 31
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H enri Braconnot, químico francês, ainda no


ano de 1820 foi pioneiro nos estudos referente à
Além disso pode ser suplementada em cápsulas
ou pó, de maneira exógena em doses de 1-5g/dia
temática ao isolar a glicina de ácidos hidrolisados divididas em duas ou quatro porções. A
de proteínas. Após largos anos, a glicina (2- suplementação de glicina é recomendada sob
aminoacético) ainda é pouca disseminada, prescrição médica ou nutricional, quando há
porém com fortes evidências sobre sua uma baixa ingestão de proteínas dietéticas por
importância no organismo humano e animal. alguma razão [3].
Aminoácido versátil conectado a várias vias
Encontramos recomendações nutricionais em
metabólicas e crucial para vários processos
doses amplas de glicina visto que é de fácil
fisiológicos. Possui um amplo espectro de
acesso, com ótimo custo x benefício, além de um
características de defesa contra diferentes lesões
sabor adocicado podendo ser adicionada a uma
e doenças [1].
ampla variedade de bebidas. Porém como tudo

Tamanha importância, que nosso organismo na vida, quando suplementada em doses

produz naturalmente glicina a partir de glioxilato, excessivas pode ser tóxica para o organismo.

via serina, betaína, de treonina e durante a Ressalto então a importância da orientação

síntese endógena de L-carnitina. Por sua vez, a profissional na utilização exógena [3].

glicina pode ser utilizada em diferentes rotas


Níveis ideais de glicina são necessários para a
metabólicas [2].
síntese de purinas, creatina, grupo heme,

Nosso organismo demanda diariamente, algo glutationa e colágeno. A contribuição da glicina

próximo a dois gramas de glicina. A ingestão para manter a estrutura do colágeno é crucial [2].

necessária de glicina pode ser facilmente


Quando há escassez de forma severa (crônica) de
conquistada quando alimentos como carnes,
glicina, falhas do sistema imunológico, baixo
ovos, aves, peixes, laticínios, alguns vegetais como
crescimento, metabolismo descompensado de
leguminosas (feijão, grão de bico e soja) e
nutrientes, e outros efeitos indesejáveis na saúde
castanhas (do Pará, de caju, amêndoas) são
resultam deste déficit [1].
inseridos em nossa rotina alimentar. Ampliar o
paladar e variar nas escolhas diárias é
fundamental [1].

plenitude 32
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Ao que diz respeito aos receptores de glicina (GlyRs) em áreas selecionadas do cérebro, funções fisiológicas
importantes como ritmos respiratórios, controle motor, tônus musculares e processamento sensorial, bem
como a dor, são regulados por eles [4].

(Figura 3) O desenho representa os centros indutores do sono. A atividade de VLPO induz o sono, em grande parte através da inibição das áreas promotoras de vigília (ver Fig.
2). Abreviaturas: LC, locus coeruleus; LDT, núcleo tegmental látero-dorsal; LH, hipotálamo lateral; TMN, núcleo tuberomamilar; PPT, núcleo tegmental pedunculopontino.

Percursora então de uma série de biomoléculas Diariamente impactamos nosso organismo


e responsável por suprimir a glicação de através de radicais livres gerados pelo estresse,
proteínas, seu consumo em níveis ideais exerce exercícios físicos extenuantes, alimentação
uma ampla gama de efeitos protetores. Inibição desbalanceada, oscilação hormonal, distúrbios
da hipertrofia cardíaca e aterosclerose, controle do sono, e tantas outras formas. Promovendo
da síndrome metabólica e da diabetes, proteção respostas através de antioxidantes conseguimos
hepática quando este fígado é exposto ao reduzir a amplitude destes impactos, além de
excesso de álcool ou ácidos graxos, mitigação da promover uma saúde íntegra, como melhora da
inflamação e melhor qualidade de sono são composição intestinal, produção adequada de
alguns dos seus desfechos clínicos [3]. neurotransmissores, efeitos anti-inflamatórios,
manutenção da integridade celular e tecidual,
modulação do equilíbrio ácido-base no
organismo, dentre outros benefícios [3] [5].

plenitude 33
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Conforme já comentado anteriormente, a glicina Responsável por manter articulações fortes e


participa da síntese de Glutationa. Poderoso saudáveis, ainda inibe a formação e progressão
antioxidante que ajuda a proteger nossas células da calcificação nas artérias humanas. Portanto, a
contra danos oxidativos causados por radicais glicina também é um componente
livres, mas que em déficit (falta) de glicina no proeminente dos tecidos conjuntivos e da matriz
organismo, menores níveis de glutationa são extracelular [2].
produzidos. Isto já acontece naturalmente
Estudos atuais demonstram a relação positiva
conforme ocorre o avanço da idade. Desta
entre sensibilidade à insulina e concentração
maneira, a suplementação exógena de glicina
plasmática de glicina. Após perda de peso em
pode ser mais uma possível estratégia
pacientes obesos, e após um programa de
nutricional com notável impacto em pessoas
exercícios de 6 meses em indivíduos com
idosas com dietas relativamente baixas em
excesso de peso resistentes à insulina, os níveis
proteínas, principalmente em vegetarianos e
de glicina se elevaram quando comparados aos
veganos [3].
valores basais. A partir do momento que
Além disso, duas reações enzimáticas
sabemos da importância da insulina em diversos
dependentes de ATP resultam na formação de
processos metabólicos, corroboramos a glicina
glutationa em humanos. Saber que a glicina é
então para promoção de saúde mental, física, na
fundamental na primeira etapa bioquímica da
síntese proteica, síntese hormonal, entre outras
síntese de creatina, nos faz valorizar ainda mais
funções. A questão é que ainda muito se discute
este importante aminoácido, tanto na utilização
sobre os mecanismos envolvidos nesses
clínica, quanto esportiva [2].
processos para uma compreensão íntegra [2].

Ampliando nossa reflexão para a importância do


Outra investigação, agora realizada em ratos em
colágeno no corpo humano, estudos
consumo de uma dieta rica em frutose,
demonstram que esta proteína é densamente
observou-se ações de efeitos benéficos tanto na
concentrada e dependente de glicina. O
sensibilidade à insulina, quanto em relação à
colágeno é a proteína extracelular de maior
pressão arterial, aos ácidos graxos livres séricos e
abundância em nosso organismo, qual fornece
estoques de gordura intra-abdominal [3].
sustentação estrutural para músculos, pele,
cartilagem, sangue, ossos e ligamento.

plenitude 34
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Vale ressaltar que ainda foi associada na redução Três milhões de pessoas em todo o mundo
da pressão arterial sistólica e nos marcadores de sofrem de narcolepsia, distúrbio crônico do sono
estresse oxidativo. Ao administrar 5g de glicina que causa sonolência diurna de forma excessiva.
paralelamente com 25g de glicose em um teste Cataplexia é um sintoma comum (e grave) desse
oral de tolerância à glicose, o estudo demonstrou distúrbio, que é a redução ou perda repentina e
que a glicemia foi impactada de maneira indesejada de tônus do músculo esquelético
atenuada, quando comparada com a resposta à (atonia motora) durante a vigília. Desta maneira,
glicose de forma isolada. A glicina teve um a capacidade de participar das atividades
impacto discreto na secreção de insulina [3]. normais do dia a dia é influenciada de forma
proporcional, a depender da gravidade de
Um dado certo é que alto é o número de pessoas
episódios de cataplexia [6].
que relutam para conseguirem relaxar e usufruir
beneficamente da noite de sono. Sabemos da Caracterizamos o sono de movimento rápido
importância do volume de horas dormidas, bem dos olhos (REM) por movimentos oculares
como da qualidade destas para nossa saúde de rápidos, ativação cortical, sonhos vívidos, paralisia
forma sistêmica. do músculo esquelético e espasmos musculares.

O nosso relógio biológico é regulado através da Ocorre através da interação de sistemas de

luz que chega à nossa retina e também pela neurotransmissores no tronco cerebral,

temperatura do corpo. Para que o organismo prosencéfalo e hipotálamo. GABA e glicina

entenda que é hora de dormir ele precisa participam destas reações, e aprofundar nas

perceber uma queda de temperatura corporal investigações de como esses circuitos interagem

[6]. com o núcleo subceruleus (conhecido também


por sublaterodorsal) é importante para
Há muito tempo a glicina é considerada um concretizar se a interrupção em sua
neurotransmissor inibitório no tronco cerebral e comunicação está subjacente à
na medula espinhal, desempenhando diversas narcolepsia/cataplexia e ao distúrbio
funções no sistema nervoso central. Evidências comportamental do sono REM (RBD) [6].
demonstram que este aminoácido pode atuar
promovendo qualidade de sono, função
cognitiva (foco, atenção, memória), além de
reduzir a sonolência e cansaço durante o dia [7].

plenitude 35
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A glicina na prática terapêutica visando melhora


da qualidade de sono é uma abordagem nova,
mas aparentemente segura. No entanto, apesar
da evidência clínica de sua eficácia, os detalhes
de seu mecanismo permanecem pouco
compreendidos, assim necessitando de maiores
embasamentos.

De qualquer forma, o consumo de todos os


macronutrientes precisam ser garantidos em
suas quantias diárias, a depender da condição
clínica e objetivos atuais. Conhecemos nesta
conversa alguns alimentos que se combinados,
já entregam carboidratos, fibras, proteínas,
lipídios, vitaminas e minerais e água, em suas
composições. Busque o acompanhamento
nutricional e médico para potencializar sua
qualidade de vida, com saúde íntegra.

plenitude 36
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COLUNA NUTRIÇÃO ESPORTIVA

Comportamento alimentar
e risco de transtornos em
Atletas

plenitude 38
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A melhora de composição corporal por


métodos adequados e a prática saudável de
Existem evidências que um baixo peso corporal
e deficit energético severo em atletas,
exercício físico trazem benefícios à saúde e à principalmente do sexo feminino, são grandes
qualidade de vida. Por outro lado, quando se fala contribuidores de risco para desenvolver um
em esporte competitivo, algumas práticas para comportamento alimentar desordenado e
atingir o objetivo de perda de peso não são transtornos alimentares [10–12].
consideradas benéficas a saúde [1]. O Atleta
A ingestão da quantidade de energia adequada
possui uma constante preocupação e associação
do atleta deve ser levada como primordial para
da sua imagem corporal ao desempenho
funções corporais e desempenho. Essa ingestão
atlético. Muitas das vezes essa imagem sofre
contempla a quantidade necessária de
distorção devido a fatores ambientais,
macronutrientes, micronutrientes e água. O
temperamentais, genéticos e fisiológicos que
suporte nutricional faz a manutenção da saúde,
podem levar a comportamentos de risco para os
maximiza o desempenho, auxiliando nas
transtornos alimentares [2,3]. A composição
adaptações do metabolismo, e previne lesões.
corporal é constantemente associada ao
Em certos casos, quando há uma estratégia
desempenho no esporte, estudos relatam a
periodizada e gradual, há uma redução de
maior incidência de transtornos alimentares em
gordura corporal e melhora seu desempenho,
atletas em relação aos não atletas, sendo
gerando uma composição corporal saudável
sensíveis ao tipo de modalidade, sexo e idade
consequentemente minimizando o uso de
[1,2,4–7]. Em um estudo publicado na European
práticas de risco à saúde para perda de peso e
Journal of Sport Science em 2013, a prevalência
risco para possíveis transtornos alimentares [5].
de transtornos está entre 0-19% em atletas
masculinos e entre 6-45% em atletas do sexo A imagem corporal é como o corpo se apresenta,
feminino [8]. Tem-se uma linha tênue em compreendendo aspectos fisiológicos,
algumas modalidades de resistência e de psicológicos e sociológicos. Essa imagem pode
categorias por peso entre comportamentos ser fragmentada em como o atleta percebe o
saudáveis e aumento do desempenho no curto seu corpo (tamanho, peso), satisfação perante ao
prazo [9]. que vê e seu comportamento [2].

plenitude 39
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O SUMÁRIO

De acordo com o Manual Diagnóstico e Fatores ambientais como treinadores, pares,


Estatístico de Transtotornos Mentais (DSM-V), meio social, família e a mídia também tiveram
transtornos alimentares são caracterizados por um peso em relação a necessidade de
uma perturbação persistente na alimentação ou aprovação do atleta perante aos outros [1,2,7–11]. A
no comportamento relacionado à alimentação ausência de orientação e informação profissional
que resulta no consumo ou na absorção alterada da área de nutrição também é consenso
de alimentos e que compromete principalmente em atletas que possuem o
significativamente a saúde física ou o auxílio somente do treinador como preparador
funcionamento psicossocial [13]. Pode-se dividir físico [1,5,11]. Tem-se ansiedade competitiva e
esses transtornos alimentares em anorexia estresse emocional sendo discutida como um
nervosa, bulimia nervosa e transtorno de possível gatilho nos momentos pré, durante e
compulsão alimentar, nos quais possuem uma pós competição [10,11,16]. Por fim, o que mais
frequência e gravidade documentada. Em segrega a prevalência e incidência de desordens
adicional, temos as desordens alimentares alimentares com risco de transtornos pela
(conhecidas como “comer transtornado”), que literatura é o tipo de modalidade em relação a
são as mesmas atitudes com menor frequência sua categorização e período competitivo ou não
e gravidade, porém preocupantes podendo ser competitivo, o sexo, idade, status puberal e
marcadores de risco para o desenvolvimento de rendimento [2,8,15,17]. Segundo o International
transtornos subsequentes. Em ambos os casos, Olympic Committee consensus statement
faz-se necessário respectivamente o diagnóstico publicado em 2019, quanto mais elite o atleta se
por um profissional ou percepção da rede de enquadra maior a prevalência desses transtornos
apoio do atleta para tratamento de preferência alimentares, podendo chegar até 60% [15].
em sua fase inicial [14,15].
Modalidades de risco

A etiologia dos transtornos ou desordens É visto na maioria dos estudos que participantes

alimentares no atleta é ligada a uma rede de esportes possuem um alto risco em

multifatorial que depende diretamente a comparação a população em desenvolver

motivos variados vistos na literatura [9]. O transtornos alimentares. Em muitas das

principal motivo citado é o desejo de melhorar a modalidades o desempenho esportivo está

sua percepção corporal e com isso ter um maior ligado diretamente a magreza, baixa gordura

rendimento pelo menor peso do corpo e/ou corporal, peso ou volume muscular específico.

melhora da composição.

plenitude 40
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O SUMÁRIO

Esportes de resistência (conhecidos como E por fim, o esporte que pela literatura possui
endurance) se beneficiam do baixo peso por maior evidência em relação a prevalência de
serem sensíveis a gravidade, são eles o triatlon, transtornos alimentares clínicos, são as
corridas de longa distância, esqui, ciclismo, nado modalidades que possuem categorias de peso
[4,11,14,18]. Em um estudo publicado em 2001 pela como as lutas [9,14,17]. Um artigo publicado em
Revista de Nutrição da PUC Campinas relata 2007 no Journal of Sports Science and Medicine,
uma relação entre corredoras de longa distância apresentou uma maior prevalência de
e o diagnóstico de transtorno alimentar de compulsão alimentar (52%) e transtornos
gravidade clínica, tendo uma incidência de 16% alimentares subclínicos (11%) em comparação
nessas atletas [11]. As modalidades que possuem com grupo controle de não atletas [9].
uniformes que aparentam a forma do corpo
Métodos não seguros para perda de peso:
também são vistos como risco, são eles: natação,
voleibol [1]. É encontrado na literatura alguns métodos não
seguros que aumentam o risco para transtorno
Na literatura é frequentemente citado esportes
alimentar. Um dos mais utilizados é o excesso de
estéticos e acrobáticos, que para otimizar as
exercício físico extenuante para diminuir ainda
manobras, e ter uma vantagem biomecânica, a
mais rápido o peso corporal. Em um artigo
magreza é usada como vantagem competitiva,
publicado na Revista de psiquiatria clínica da
são eles: dança, patinação artística, ginastica,
Universidade de São Paulo no ano de 2002,
nado sincronizado, fisioculturismo [5,7,11,14,17].
concluiu-se que em 78% das pessoas com
Nessas categorias o transtorno alimentar possui
transtornos alimentares, utilizavam a prática de
uma incidência entre 15 a 62% [7]. No caso
exercício físico excessivo e que 60% dessas eram
fisioculturismo temos em adicional à valorização
atletas de competição antes do início do quadro
de um grande volume de massa muscular,
alimentar comprometido [19]. Em contrapartida,
modificando constantemente a estratégia
utilizavam a dieta com uma severa restrição
nutricional entre o ganho de massa muscular
energética, em alguns casos é citado tipos de
conhecido como bulking, gerando um excesso
dietas como hiperproteicas (com excesso de
de energia (superavit calórico) e o cutting, que é a
proteína) e hipoglicídica (deficiência severa de
perda de gordura, que gera uma deficiência
carboidrato), dietas líquidas, jejum de longas
energética (deficit calórico).
horas, pular refeições [1–4,7,9–11,20].

plenitude 41
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O SUMÁRIO

Inclusive, foi definido pelo comitê olímpico RED-S O diagnóstico de risco tem como base da análise
(deficiência de energia relativa ao esporte) que integral do atleta. Seus preparadores e grupo de
relaciona-se diretamente com uma apoio devem estar atentos em relação a sinais e
inadequação energética que acaba não sintomas dos transtornos alimentares e
atendendo as demandas no metabolismo e comportamentos desordenados. Um estudo
gasto energético total (GET). Para o esporte verificou que atletas de ambos os gêneros, com
utiliza-se a disponibilidade energética (DE), é baixo peso corporal, têm maior prevalência de
dada pelo consumo calórico, subtraído o gasto desenvolver os transtornos alimentares, e os seus
calórico no exercício físico em relação a massa mecanismos clínicos estão relacionados à
magra do indivíduo. Números em mulheres desregulação endócrina [21].
menores do que 30 kcal/KgFFFM/d indicam
Os principais transtornos alimentares
efeitos negativos, para homens ainda não há um
prevalentes em atletas de elite possuem fatores
balanço ideal pela literatura, mas o que se
de risco que se dividem em temperamentais,
destaca é o uso de 45kcal/KgFFFM/d [5,17].
ambientais, genéticos e fisiológicos [13]. A baixa
Também foram observados alguns dos métodos
autoestima por modalidades sensíveis a peso,
ainda mais radiciais como o uso de drogas
julgamentos estéticos, a depressão e ansiedade
laxativas, anorexígenas, diuréticos, ou purgações
por uma constante pressão por peso adequado
como vomito após comer ou então o ato de
em pesagens ou exigência de treino, a
comer, mastigar e cuspir a comida para não
vulnerabilidade e o perfeccionismo são citados
ingerir (transtorno de ruminação) [2,13,20].
na literatura como fatores de risco para os
Transtorno alimentares e diagnóstico
transtornos acima [9,10].
O diagnóstico de risco tem como base da análise
Durante os anos foram aprofundados os estudos
integral do atleta. Seus preparadores e grupo de
sobre os comportamentos alimentares para
apoio devem estar atentos em relação a sinais e
mulheres em relação aos homens, entretanto é
sintomas dos transtornos alimentares e
visto que em ambos principalmente nos
comportamentos desordenados. Um estudo
períodos competitivos, parecem agravar alguns
verificou que atletas de ambos os gêneros, com
comportamentos como restrição alimentar,
baixo peso corporal, têm maior prevalência de
distúrbios de imagem corporal e distúrbios da
desenvolver os transtornos alimentares, e os seus
imagem corporal [1,2].
mecanismos clínicos estão relacionados à
desregulação endócrina [21].

plenitude 42
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O SUMÁRIO

A anorexia e bulimia nervosa, tem maior Consequências para saúde e desempenho


prevalência em adolescentes e atletas femininas, esportivo
acometendo menos o sexo masculino devido ao
As estratégias e comportamentos adotados para
padrão do corpo atlético [2]. Um estudo indica
melhora da auto imagem corporal podem
que atletas femininas de elite apresentam maior
comprometer o desempenho do atleta caso não
risco de desenvolvimento de desordens
sejam adequadas [1,5]. Como medida de
alimentares [22].
performance no esporte, tem-se a VO2 máx, que
Para atletas do sexo masculino, há um aumento é a capacidade máxima do corpo para captar e
do risco de desordens alimentares quando há transportar o O2. Em um estudo com ciclistas de
uma pressão para manutenção de um peso estrada, os atletas que possuem maiores riscos
específico corporal. Há evidência que em torno para transtornos e desordens alimentares,
de 25% dos atletas utilizam técnicas de risco de possuem o menor VO2 [3,11]. A sobrecarga
transtornos alimentares para diminuir a gordura cardiovascular pode estar ligada diretamente a
corporal [3]. Inclusive, nesses atletas incorre uma essa diminuição do desempenho [3]. Uma
preocupação em excesso em ralação a consequência que pode explicar essa diminuição
dismorfismo muscular ou vigorexia, que é o é a anemia ferropriva, que tende a causar
sentir-se insuficientemente musculoso ou diminuição do VO2 máx, capacidade aeróbica do
grande devido a uma distorção corporal. Esse atleta, diminuindo a resistência. Essa anemia é
transtorno pode-se evidenciar em esportes vista devido a ingestão inadequada ou de baixa
estéticos como fisiculturismo, que envolve a biodisponibilidade, perda via intestino,
busca da perfeição corporal, e são fatores de risco transpiração e menstruação ou hemólise
por abuso do uso de anabolizantes, overtraining intravascular [11]. O estoque de glicogênio
e estão ligados com diretamente com muscular também é uma medida que auxilia
transtornos alimentares [23,24]. em relação a performance, sofrendo uma
depleção, que pode causar em uma redução
adicional no desempenho e aumento da fadiga
e câimbras devido a hipocalcemia pela
desidratação intensa e aumento de lactato
[3,5,20].

plenitude 43
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O SUMÁRIO

Um deficit calórico severo a longo prazo, pode Pela posição oficial do Colégio Americano de
acarretar distúrbios metabólicos e fisiológicos Medicina do Esporte, pode afetar a função
[2,5,17]. Tais restrições, a curto espaço de tempo menstrual (amnorréia), saúde óssea (osteopenia
produzem diminuição da taxa metabólica basal, e osteoporose), sistema endócrino,
prejuízos das funções músculo-esquelética, hematológico, metabólico, de crescimento e
cardiovascular, endócrina, termorregulatória e desenvolvimento, cardiovascular, gastrointestinal
dificuldade de concentração e atenção [2]. Na e imunológico [6]. As consequências são
literatura, há em adicional consequências principalmente a diminuição da resistência,
amplamente citadas como: resposta aumento de risco de lesões, treinamento com
imunológica e reparação tecidual deficiente, uma resposta prejudicada, julgamento afetado,
queda de rendimento, fraturas, deficit de diminuição da coordenação e concentração,
desenvolvimento e crescimento, tríade da sinais de irritabilidade e depressão, diminuição
mulher atleta, desidratação, aumento de risco de estoques de glicogênio [1,2,5,6,12,18,25]. Em
para lesões, aumento da viscosidade sanguínea e contrapartida, a tríade dos atletas masculinos
sobrecarga cardiovascular. Existem evidências ainda não é oficial, porém foi citada em um
que a baixa ingestão alimentar em atletas em estudo, a baixa testosterona substituindo a
ambos os sexos pode comprometer o disfunção menstrual na tríade da mulher atleta
desempenho a longo prazo, porém também a [12].
curto prazo [1,2,5,6,12,18,25].
Tratamento e prevenção
Tríade mulher atleta vs homem atleta Para o tratamento desse atleta, é necessário uma
A saúde da atleta feminina vem sendo discutida equipe multidisciplinar com uma abordagem e
por muitos autores, sendo citada uma síndrome. terapia individualizada e integrativa, no qual os
A tríade da mulher-atleta refere-se a atletas que profissionais trabalhem juntos em relação a
apresentam o risco de desenvolverem alimentação, adequação de peso, macro e
desordens alimentares, disfunções menstruais e micronutrientes, e a reinserção do atleta ao
osteoporose [10]. esporte [5,11].

plenitude 44
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O SUMÁRIO

A educação nutricional é primordial para o atleta Na grande maioria dos estudos a ferramenta
e o seu grupo de apoio (familiares, amigos e utilizada é a EAT-26 (Eating Attitudes Test) que é
treinadores), em alguns casos, dependendo da um questionário de autorrelato que consegue
sua intensidade, mesmo com reabilitação prever a prevalência de transtornos clínicos, em
nutricional e reinserção ao esporte, esse atleta contrapartida se mostra falho em algumas
pode não retornar aos níveis iniciais de aptidão desordens alimentares a nível subclínico e
física e muscular [2,14,20]. Com a educação também por ser autorrelato, possuindo
alimentar e diagnóstico feito por um médico, o evidências de omissões [1,8]. Ferramentas como
treinador e seu grupo de apoio, podem IMC podem causar interpretações errôneas
identificar qualquer tipo de atitude que se devido ao alto peso muscular dos atletas, assim
enquadre nos sinais e sintomas de possíveis como exercícios excessivos em atletas que
transtornos alimentares clínicos ou de risco de possuem um treinamento orientado muito
desordens alimentares [8]. pesado. Cita-se em alguns casos de atletas
vegetarianos que usam dessa estratégia para
Quando existe uma equipe multidisciplinar
camuflar a alimentação desordenada [5]. Outro
trabalhando em conjunto, principalmente com
caso seria a prática de exercícios em excesso, a
um nutricionista esportivo atuando em um
rotina do atleta é muito intensa, para detecção é
plano periodizado, respeitando as necessidades
necessário estar atento aos sintomas de
nutricionais de períodos pré, durante e pós
“overtraining”. A prevalência de exercícios
competição; acompanhando frequentemente o
intensos e excessivos entre os atletas, tem uma
atleta, traçando metas alcançáveis e sustentáveis
variação de 39% a 45%, mas em alguns
de curto prazo e longo prazo, fazendo com que
subgrupos pode chegar a 80% [20]
haja uma redução nas técnicas extremas a
prevenção desses comportamentos, diminui-se É possível considerar percepção da imagem

a incidência de um contínuo ciclo de corporal associado a prevalência do atleta em

comportamento alimentar desordenado relação a comportamentos alimentares

[2,5,8,9,12]. É necessário a prevenção das dietas desordenados [2,4,7–11,14,15,17,20,23,24]. O

com deficit calóricos extremos, otimizando-as e problema não vem sendo a composição corporal

adequando-as em relação a ingestão dos e o baixo percentual de gordura em si, e sim

nutrientes adequados, atleta precisa reaprender quais são as estratégias para alcançar esse

e reinterpretar os sinais fisiológicos de fome e objetivo e como é feito a sua manutenção [1,2,5].

saciedade [13,20].

plenitude 45
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O SUMÁRIO

A grande maioria dos estudos foram feitos Seu grupo de apoio, pares, meio social, família e
principalmente com atletas mulheres e mídia possuem um peso em relação a imagem
adolescentes, e pouco ainda se sabe sobre o corporal do atleta. Como fatores de risco são
atleta do sexo masculino, portanto, é necessário utilizadas estratégias inadequadas e radicais
aprofundamento quando é falado no atleta em como excesso de exercícios, restrição energética
geral. Foi concluído em 2019, um ensaio clínico severa, fármacos como diuréticos e laxantes e
publicado no International Journal of Eating indução de vômitos. Essas atitudes podem
Disorder para verificar a redução de longo prazo comprometer o desempenho do atleta e podem
dos episódios de compulsão alimentar em atleta ser comportamentos alarmantes e de risco para
por meio do Famale Athlete Body (FAB) versus desenvolvimento de transtornos alimentares.
um grupo controle. O FAB é programa Além do risco de transtornos esses métodos
comportamental para redução de risco de inadequados a curto e médio prazo podem
transtornos alimentares, e foram feitas sessões diminuir a taxa metabólica basal, aumentar risco
de 3 horas por semana com intervenção de 3 de lesões, prejuízos na função muscular,
semanas, abordagens de intervenção para cardiovascular, endócrino, termorregulatória,
desassociar o ideal de magreza como resposta imunológica, podendo chegar até
performance. O grupo controle recebeu uma perda de rendimento. São necessários mais
apostila sobre a tríade da mulher atleta. A estudos para intervenção e desvinculação do
mudança da forma de comportamento da padrão de magreza como marcador de
equipe, das atletas como um todo, teve maior desempenho de performance atlética e
redução de episódios de compulsão objetiva e diminuição da prevalência de transtornos
subjetiva e maior redução no diagnóstico de alimentares nessa classe e como o método de
transtorno alimentar [26]. Essa abordagem deve educação nutricional será implementado.
ser estudada amplamente por outros tipos e
categorias de atletas como modelo de
intervenção e diminuição do risco.

Conclui-se que o risco para transtornos


alimentares está presente com mais frequência
em algumas modalidades que são
principalmente categorizadas por peso, estéticas
e acrobáticas e de endurance. A magreza, baixa
gordura corporal ou volume muscular específico
estão vinculadas para o atleta como
performance no esporte.

plenitude 46
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COLUNA NUTRIÇÃO ESPORTIVA

Zinco e Magnésio - Síntese


proteica e funcionamento
muscular

plenitude 47
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O SUMÁRIO

O
abundante
músculo esquelético, o tecido mais
do nosso organismo tem a
O organismo de um adulto saudável tem
aproximadamente 21 a 28 g de magnésio, 50-
capacidade de manter o crescimento e funções 60% do mesmo pode ser encontrado nos ossos,
normais através das proteínas e renovação 25-30% no tecido muscular, 20-25% em outros
celular. Se por um lado, o músculo saudável tecidos e apenas 1% desse mineral se encontra
apresenta capacidade regenerativa em virtude no sangue (3). Alimentos como Semente de
da proliferação, diferenciação e autorrenovação abobora, amêndoa, avelã, castanha do brasil,
das células satélites, por outro, ele regula o castanha de caju e nozes se destacam como
equilíbrio da síntese e degradação proteica, alimentos fonte desse mineral (4).
através de mecanismos para manter sua massa
O mineral está presente como íon Mg 2+, que
e tamanho (1).
pode se ligar ao trifosfato de adenosina (ATP)
Neste contexto, os minerais são indispensáveis para formar o complexo Mg-ATP. Tal complexo
ao organismo, pois atuam na regulação do funciona como fonte primária de energia e é
metabolismo corporal, incluindo os processos- indispensável para diversas funções fisiológicas,
chave no aproveitamento de energia e no inclusive contração muscular (5). E devido ao seu
rendimento físico (2). papel na produção e armazenamento de
energia, função muscular normal e manutenção
O magnésio (Mg), o quarto mineral mais
dos níveis das concentrações de glicose
abundante no organismo, está envolvido em
plasmática, o mesmo tem sido
mais de 300 reações metabólicas no nosso
significativamente relacionado ao desempenho
corpo, age como cofator na síntese proteica, na
físico e estudado como um auxílio ergogênico
produção e no armazenamento de energia
para atletas (4,6).
celular, na síntese de DNA e RNA, na
estabilização das membranas mitocondriais e no
O exercício físico é capaz de regular a distribuição
metabolismo da glicose e insulina (3). Esse
e utilização do Mg, enquanto o mesmo participa
mineral ainda atua na transmissão nervosa, na
de atividades de força e funções
excitabilidade cardíaca, na condução
cardiorrespiratórias, demonstrando uma relação
neuromuscular, na contração muscular, no
recíproca entre o exercício e o Mg no organismo
tônus vasomotor e na pressão arterial (3).
(5).

plenitude 48
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O SUMÁRIO

Em resposta ao exercício, o Mg é transportado Em geral, o Mg desempenha um papel


para locais na qual a energia está sendo gerada importante no metabolismo da glicose através
(5). O exercício afeta o metabolismo do Mg e há de (1) vias de homeostase da glicose; (2)
uma resposta alternada dependendo da regulação da fosforilação; e (3) atuando como
intensidade do exercício (7). Durante o exercício cofator para muitas enzimas-chave, como
de resistência a longo prazo, o Mg sérico tende a piruvato desidrogenase e creatina quinase (10).
mudar do soro para eritrócitos ou músculo para
apoiar a função do exercício. Por outro lado, o A hipótese de que a hipomagnesemia poderia

exercício de curta duração pode reduzir o prejudicar o desempenho físico teve início com o

volume plasmático/sérico, resultando na relato de que tenista com espasmos musculares

elevação dos níveis séricos de Mg (8). apresentou valores plasmáticos de Mg


(0,65mM/L) abaixo do preconizado. Os espasmos
O mecanismo subjacente da melhora da força cessaram em poucos dias após a administração
induzida pelo Mg provavelmente se deve a sua de 500mg/d de suplemento de Mg (11)
função na síntese proteica e no metabolismo
energético, cooperando para o processo de Atletas que não consomem quantidades

contração e relaxamento muscular (5). adequadas de magnésio não são imunes a uma
resposta inflamatória crônica e precisam estar
O metabolismo da glicose e a glicólise são cientes das possíveis consequências que isso
processos chave para a produção de energia pode ter para sua saúde e desempenho atlético
durante o treinamento. O Mg pode influenciar o a curto e longo prazo (6). A deficiência de Mg
desempenho através da via metabólica da pode levar a a fraqueza muscular, espasmos e
glicose (9). Uma vez que o Mg-ATP é a molécula tremores, além de irritabilidade, redução de
direta utilizada na prática do exercício, a atenção e confusão mental(3)
produção de energia depende do estado celular
desse mineral. Nesse sentido, tal processo é Em modelos animais, a suplementação de Mg

prejudicado quando há suprimento inadequado aumentou a disponibilidade de glicose no

de Mg (5). músculo, sangue e cérebro, bem como a


depuração de de lactato muscular durante o
exercício (9).

plenitude 49
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Em um estudo que examinou o efeito da A falta de zinco impede a fusão do mioblasto,


suplementação de magnésio nos níveis de enquanto a fusão do mioblasto depende da
glicose e insulina em desportistas em repouso ou disponibilidade adequada de zinco (13). O Zn é
exaustão, os pesquisadores descobriram que a amplamente distribuído nos alimentos.
suplementação de Mg por 4 semanas foi Alimentos ricos em zinco incluem carne
benéfica para a utilização da glicose nas fases vermelha, alguns frutos do mar, grãos integrais e
sedentária e ativa (12). alguns cereais matinais fortificados (4).

O fornecimento adicional de Mg pode reduzir as Perdas no suor, com consequente redução do


necessidades de oxigênio para as células zinco plasmático em atletas pode levar à fadiga e
musculares durante o exercício físico, a decréscimo na capacidade de endurance.
corroborando para a otimização dos Além disso, a deficiência desse mineral, pode
movimentos físicos (5). levar a anorexia, perda de peso corporal, fadiga
crônica e risco elevado de osteoporose (2). A
O Zinco (Zn) por sua vez é um micronutriente ingestão desse mineral é bem variada entre os
com propriedades antioxidantes e anti- grupos de atletas de diferentes modalidades, no
inflamatórias conferindo estabilidade estrutural entanto, evidencias demonstram que a
às membranas celulares (3). Um adulto saudável deficiência prevalece entre as mulheres (2).
dispõe de aproximadamente 2-3g de Zn
O Mg e o Zn são dois minerais importantes no
distribuídos em todos os tecidos, líquidos e
que diz respeito ao metabolismo energético, e
secreções, sendo que 60% do mesmo é
assim, importantes no que diz respeito ao
armazenado no músculo esquelético, 30% no
desempenho do exercício físico. Evidencias
osso, 5% no fígado e pele, 2 a 3% em outros
sustentam a hipótese de que ambos promovem
tecidos e apenas 0,5% encontra-se no sangue (3).
força e melhora na função cardiorrespiratória de
Uma vez que a maior concentração de zinco atletas (2). Os valores de referencia da ingestão
encontra-se disponível no tecido muscular, sua dietética para Mg de acordo com as DRIs para
deficiência se torna uma grande preocupação um homem adulto são de 420mg/dia e para
para a fisiologia muscular (13). Foi demonstrado mulher 320mg/dia. Já os valores preconizados
em modelo animal que a deficiência marginal de para Zn são de 11mg/dia e 8mg/dia, para homem
Zn afeta negativamente a recuperação da lesão e mulher respectivamente (4).
muscular (14).

plenitude 50
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Em resumo, o Mg e Zn são minerais essenciais


envolvidos no metabolismo energético, função
cardiorrespiratória e ações musculares. O
desempenho do exercício pode ser
comprometido com o suprimento deficientes
dos mesmos. Neste contexto quando a ingestão
por meio da alimentação não é atingida, a
suplementação pode melhorar a eficiência do
metabolismo energético e parâmetros de
desempenho em exercícios aeróbicos e
anaeróbicos.

plenitude 51
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COLUNA NUTRIÇÃO ESPORTIVA

Vitaminas do complexo B:
metabolismo energético e
seu papel no esporte

plenitude 53
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E
elas:
xistem oito tipos de vitamina do tipo B, sendo
vitamina B1 (tiamina), vitamina B2
Apenas pequenas quantidades
armazenadas no fígado, portanto, é necessária
são

(riboflavina), vitamina B3 (niacina), vitamina B5 uma ingestão diária de alimentos ricos em


(ácido pantotênico), vitamina B6 (piridoxina), tiamina.
vitamina B7 (biotina), vitamina B9 (ácido fólico) e
A vitamina B1 também é fundamental para
vitamina B12 (cobalamina). Todas essas oito
metabolizar aerobicamente os carboidratos e
vitaminas compõe o que chamamos de
gorduras. Além disso, também é necessário para
complexo B, são solúveis em água
o metabolismo do BCAA, o que aumenta com
(hidrossolúveis) e cada uma desempenha
atividade física, especialmente exercícios de
funções corporais importantes, o que será mais
resistência.
bem explicado no decorrer deste artigo.

Uma das respostas da importância da vitamina


As vitaminas do complexo B possuem várias
B1 no esporte se dá principalmente por essas
funções importantes no corpo, incluindo
diversas funções metabólicas dependentes,
produção de energia, síntese de hemoglobina,
assim, uma deficiência de tiamina pode
funções imunológicas adequadas e construção e
prejudicar o metabolismo de carboidratos e
reparação do tecido muscular (1). Já que
resultar no acúmulo de ácido lático. Em um
possuímos inúmeras funções, devemos então
estudo, Suzuki e Itokawa (3) encontraram que a
melhor compreender cada uma dessas
suplementação de alta dose de tiamina (100
vitaminas:
mg/d) por 3 dias diminuiu significativamente o
Tiamina (Vitamina B1)
número de queixas após o exercício em uma
A tiamina é importante para o metabolismo de avaliação subjetiva de fadiga. Por isso, o baixo
carboidratos, gorduras e proteínas, nível de tiamina pode afetar o desempenho do
especialmente os aminoácidos de cadeia exercício; no entanto, a prevalência de deficiência
ramificada (BCAAs) (leucina, isoleucina e valina) parece ser baixa em indivíduos ativos.
(1). Sua principal função metabólica é de servir
como coenzima em muitas reações-chave na
produção de energia, que são utilizadas durante
a atividade física. Esse nutriente desempenha
um papel vital no crescimento e função de várias
células (2).

plenitude 54
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Fontes alimentares e ingestão adequada: A Segundo alguns pesquisadores (4), o exercício


tiamina é encontrada em uma variedade de físico pode aumentar a necessidade desse
alimentos, como grãos integrais e produtos de nutriente por ocorrer uma redução na absorção
grãos enriquecidos, carne de porco, fígado, nozes, associados ao treinamento. Em um estudo, o
legumes, e vegetais de folhas verdes. Atletas em status de riboflavina diminuiu durante um curto
risco para baixo status de tiamina são aqueles período de aumento da atividade física em
que restringem a ingestão dietética ou que auto homens adultos cujo status de riboflavina era
selecionam dietas com alimentos com baixo teor adequado (5). Assim, com base na pesquisa até o
de tiamina. A RDA para tiamina é de 1,1 e 1,2 mg/d momento, os atletas podem precisar de mais
para mulheres e homens adultos, riboflavina do que a população em geral e mais
respectivamente (2). do que a RDA atual. No entanto, os atletas
podem manter um bom status para a riboflavina
Riboflavina (Vitamina B2) com uma dieta energicamente adequada.

A riboflavina é uma componente chave das


Fontes alimentares e ingestão adequada: A
coenzimas envolvidas com o crescimento de
ingestão adequada de riboflavina pode
células, produção de energia e quebra de
facilmente ser alcançada consumindo
gorduras, esteroides e medicamentos (2). A
regularmente leite e produtos lácteos, ovos,
maior parte da riboflavina é usada
grãos integrais e cereais, carnes magras e
imediatamente e não armazenada no corpo, de
brócolis. A RDA para riboflavina é de 1,1 e 1,3 mg
modo que quantidades excessivas são
para mulheres e homens adultos,
excretadas na urina. Um excesso de riboflavina
respectivamente. (2)
na dieta, geralmente de suplementos, pode fazer
com que a urina fique amarela brilhante. Niacina (Vitamina B3)

Embora a deficiência de vitamina B2 seja rara, Conhecida também como ácido nicotínico, a
podem causar algumas manifestações clínica, forma biologicamente ativa se encontra em
uma falta grave desse nutriente pode afetar a forma de coenzimas, conhecidas por
conversão da vitamina B6 em sua coenzima, e nicotinamida adenina dinucleotídio (NAD+) e seu
até mesmo a conversão de triptofano em derivado fosforilado, nicoltidamida adenina
niacina. dinucleotídio fosfato (NADP+).

plenitude 55
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O SUMÁRIO

Essas coenzimas têm participação importante Fontes alimentares e ingestão adequada: A


na degradação de glicose e glicogênio, sendo ingestão adequada de riboflavina pode
assim, suas produções possuem um papel facilmente ser alcançada consumindo
essencial no exercício físico. regularmente carne vermelha, fígado de boi,
aves, arroz, cereais fortificados, nozes e
Em um estudo realizado por Trost et al. (6), os
leguminosas. A dose dietética recomendada
pesquisadores demostraram que indivíduos
(RDA) para adultos com mais de 19 anos é de 16
submetidos a estímulos no cicloergômetro a 65%
mg NE para homens, 14 mg NE para mulheres,
VO2máx, consumindo 500mg de niacina (ácido
18 mg NE para mulheres grávidas e 17 mg NE
nicotínio) antes e, após, doses de 100mg
para lactantes. A niacina é medida em
ingeridas 15, 30 e 45min, preveniu o aumento
miligramas (mg) de equivalentes de niacina (NE).
sérico de ácidos graxos (AG), comparados ao
Um NE equivale a 1 miligrama de niacina ou 60
grupo controle, sugerindo a diminuição de
mg de triptofano (2).
oxidação de AG pós-exercício. Esses resultados
deram suporte à hipótese de que o aumento do Ácido pantotênico (vitamina B5)
metabolismo de lipídeos durante o exercício e na
A vitamina B5, ou ácido pantotênico é usado
recuperação é um fator importante no efeito de
para produzir a coenzima A (CoA), um composto
consumo de oxigênio pós-exercício, conhecido
químico que ajuda as enzimas a construir e
como efeito EPOC, uma vez que a niacina atuou
quebrar os ácidos graxos, além de desempenhar
como bloqueadora da utilização dos lipídeos
outras funções metabólicas, e a proteína
como substrato.
transportadora de acila, que também está

Portanto, o excesso de niacina pode interferir no envolvida na construção de gordura (2). O ácido

metabolismo das gorduras, sendo um efeito pantotênico é encontrado em uma ampla

prejudicial, uma vez que a atenuação da variedade de alimentos. As bactérias no intestino

utilização de AG irá causar uma maior também podem produzir algum ácido

dependência dos estoques de glicogênio como pantotênico, mas não o suficiente para atender

substrato energético, consequentemente, uma às necessidades alimentares.

maior taxa de consumo de glicogênio pode


acelerar o processo de fadiga.

plenitude 56
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Como o ácido pantotênico ajuda a quebrar as Piridozina (vitamina B6)


gorduras, foi estudado por um papel potencial
A vitamina B6, ou piridoxina possui sua forma
na redução dos níveis de colesterol em pessoas
ativa em coenzima conhecida por Piridoxal 5'
com dislipidemia. Esta é uma condição na qual
fosfato (PLP). A PLP auxilia mais de 100 enzimas a
há uma concentração anormalmente alta de
desempenhar várias funções, incluindo a quebra
gordura ou lipídios no sangue (por exemplo, LDL
de proteínas, carboidratos e gorduras; manter
colesterol “ruim”, triglicerídeos) e baixos níveis de
níveis normais de homocisteína (já que níveis
HDL “bom” colesterol. Baixos níveis de CoA
elevados podem causar problemas cardíacos); e
podem impedir a quebra e eliminação de
apoiando a função imunológica e a saúde do
gorduras no sangue (7). Também foi proposto
cérebro (2).
que o ácido pantotênico pode ter um efeito
antioxidante que reduz a inflamação de baixo
A maioria das reações enzimáticas qual a
grau, que está presente nos estágios iniciais da
vitamina B3 está envolvida, estão relacionadas ao
doença cardíaca .
metabolismo de aminoácidos. Como a PLP, está
firmemente ligada ao glicogênio fosforilase do
Fontes alimentares e ingestão adequada: O
fígado e músculo esquelético. Essa enzima
ácido pantotênico é encontrado em quase todos
catalisa a degradação de glicogênio em glicose
os alimentos vegetais e animais até certo ponto,
para manter a glicemia em níveis normais ou
porque a vitamina é encontrada em todas as
para ser utilizada como fonte de energia (glicose-
células vivas. As melhores fontes são carne
6-fosfato produzida no músculo).
bovina, frango, vísceras, cereais fortificados e
alguns vegetais. A dose diária recomendada
O exercício crônico praticado por atletas pode
(RDA) para homens e mulheres com mais de 19
causar imunossupressão, e a ingestão reduzida
anos é de 5 mg por dia. Para gravidez e lactação,
de vitamina B6, ou um status deficiente deste
a quantidade aumenta para 6 mg e 7 mg por
nutriente pode estar associados a uma função
dia, respectivamente (2).
do sistema imunológico prejudicada, devido as
diminuições da produção de interleucina-2 e da
proliferação de linfócitos (1).

plenitude 57
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Fontes alimentares e ingestão adequada: A Fontes alimentares e ingestão adequada: a


vitamina B6 é encontrada em uma variedade de biotina você encontra facilmente em bife de
alimentos de origem animal e vegetal como: bife fígado, ovos cozidos, salmão, abacate, carne de
de fígado, atum, salmão, cereais fortificados e porco, batata doce, nozes e sementes. Uma RDA
grão de bico. A dose dietética recomendada não existe para a biotina porque não há
(RDA) para homens de 14 a 50 anos é de 1,3 mg evidências suficientes para sugerir uma
por dia; 51+ anos, 1,7 mg. A RDA para mulheres de quantidade diária necessária para a maioria das
14 a 18 anos é de 1,2 mg; 19-50 anos, 1,3 mg; e 51+ pessoas saudáveis. Em vez disso, existe um nível
anos, 1,5 mg. Para gravidez e lactação, a de IA (Ingestão Adequada), que é assumido para
quantidade aumenta para 1,9 mg mcg e 2,0 mg, garantir a adequação nutricional. A IA para
respectivamente (2). biotina para homens e mulheres com 19 anos ou
mais e para mulheres grávidas é de 30
Biotina (vitamina B7)
microgramas por dia. As mulheres lactantes
A biotina desempenha um papel vital em ajudar precisam de 35 microgramas por dia.
as enzimas a quebrar gorduras, carboidratos e
Ácido Fólico (vitamina B9)
proteínas nos alimentos. Também ajuda a
regular os sinais enviados pelas células e a A forma natural da vitamina B9, o folato é solúvel
atividade dos genes (2). em água e naturalmente encontrada em muitos
alimentos. Também é adicionado aos alimentos
Suplementos de biotina são frequentemente
e vendido como suplemento na forma de ácido
“glamourizados” como um tratamento para
fólico.
perda de cabelo e para promover cabelos, pele e
unhas saudáveis. Embora uma deficiência de O folato ajuda a formar DNA e RNA e está
biotina possa certamente levar à perda de cabelo envolvido no metabolismo das proteínas.
e problemas de pele ou unhas, as evidências que Desempenha um papel fundamental na quebra
mostram um benefício da suplementação são da homocisteína, um aminoácido que pode
inconclusivas. exercer efeitos nocivos no corpo se estiver
presente em grandes quantidades. Esse
nutriente também é necessário para produzir
glóbulos vermelhos saudáveis e para a reparação
de células e tecidos danificados.

plenitude 58
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Assim, as necessidades de folato podem ser Cobalamina (vitamina B12)


maiores com o exercício, uma vez que o tecido
A vitamina B12 é necessária para formar glóbulos
muscular danificado precisa ser reparado. ​ Além
vermelhos e DNA. É também um ator-chave na
de ser fundamental durante os períodos de
função e no desenvolvimento das células
crescimento rápido, como durante a gravidez e o
cerebrais e nervosas. A vitamina B12 se liga à
desenvolvimento fetal.
proteína dos alimentos que comemos. No
Fontes alimentares e ingestão adequada: Uma estômago, o ácido clorídrico e as enzimas
grande variedade de alimentos contém folato desvinculam a vitamina B12 em sua forma livre. A
naturalmente, mas a forma que é adicionada aos partir daí, a vitamina B12 se combina com uma
alimentos e suplementos, o ácido fólico, é mais proteína chamada fator intrínseco para que
bem absorvida. Este enriquecimento dos possa ser absorvida mais abaixo no intestino
alimentos ajudou a aumentar a ingestão média delgado.
de ácido fólico em cerca de 100 mcg/dia (2). Boas
fontes de folato incluem: vegetais de folhas Dificilmente encontramos status de cobalamina

verdes escuras, feijões, amendoim, sementes de deficientes devido à variedade de produtos e

girassol, frutas frescas, grãos integrais, fígado, suplementos alimentares fortificados com

frutos do mar e ovos. A dose dietética vitamina B12. Uma pesquisa examinou os status

recomendada para folato está listada em de vitamina B12 em mulheres atletas e não

microgramas (mcg) de equivalentes dietéticos encontraram deficiência; entretanto, mais da

de folato (DFE). Homens e mulheres com 19 anos metade das atletas consumiam algum tipo de

ou mais devem apontar para 400 mcg de DFE. suplemento nutricional contendo vitamina B12,

Mulheres grávidas e lactantes precisam de 600 em destaque a whey protein (8).

mcg de DFE e 500 mcg de DFE,


A vitamina B12 juntamente com o ácido fólico,
respectivamente. As pessoas que bebem álcool
são necessários níveis adequados para uma
regularmente devem buscar pelo menos 600
melhor resposta do metabolismo de metionina e
mcg de DFE de folato diariamente, pois o álcool
manter os níveis sanguíneos de homocisteína
pode prejudicar sua absorção.
baixos (9). Altas concentrações plasmáticas de
homocisteína são reconhecidas como fator de
risco coronariano. Hermann et al. (10)
investigaram os efeitos de três tipos diferentes de
exercícios de endurance nas concentrações
plasmáticas de homocisteína em 100 atletas.
plenitude 59
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Os indivíduos que realizaram a maratona Reconhecer as fontes e as necessidades de


tiveram os níveis de homocisteína aumentados suplementação podem fazer com que se
em 64%. Além disso, 25% dos atletas de atinjam melhores níveis de desempenho
endurance níveis altos de homocisteína esportivo e prevenção de doenças, melhora do
associados a baixas concentrações de vitamina sistema imunológico e melhores respostas
B12 e folato. Os autores concluíram que os metabólicas ofertadas pela dieta dos atletas.
exercícios de endurance podem induzir a um
considerável aumento de homocisteína.

Fontes alimentares e ingestão adequada: as


principais fontes de vitamina B12 se encontram
em peixes, mariscos, fígado, carne vermelha,
ovos, aves, produtos lácteos, cereais enriquecidos,
levedura nutricional fortificada e leite de soja ou
arroz enriquecido. A dose diária recomendada
para homens e mulheres com 14 anos ou mais é
de 2,4 microgramas (mcg) por dia. Para gravidez
e lactação, a quantidade aumenta para 2,6 mcg
e 2,8 mcg diariamente, respectivamente (2).

Considerações finais

Ter um bom conhecimento sobre as vitaminas


do complexo B se faz importante pelo
reconhecimento dessas diversas funções
relacionadas à saúde e ao esporte. Essas
vitaminas ajudam uma variedade de enzimas a
fazer seus trabalhos, desde a liberação de energia
de carboidratos e gorduras até a quebra de
aminoácidos e o transporte de oxigênio e
nutrientes que contêm energia pelo corpo.

plenitude 60
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COLUNA NUTRIÇÃO ESPORTIVA

Beta alanina: suplementação


para praticantes de artes
marciais

plenitude 61
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C
de
onsistem as artes marciais em um conjunto
técnicas desenvolvidas para que os
Desta toada, o cuidado com a alimentação
adequada e um treinamento eficiente são dois
praticantes executem defensa, ataque ou dos pilares para uma boa performance esportiva,
submeta seu oponente. De origem sendo que, no tocante ao aspecto nutricional,
majoritariamente asiática, as artes marciais são implementam-se cada vez mais ferramentas
derivadas de técnicas de guerra e são divididas para auxiliar na performance do atleta.
em diversos graus, organização de técnicas de
Deste modo, a utilização de suplementação
combate, coerência nos movimentos,
adequada e condizente com a rotina do atleta
desenvolvimento físico, mental e espiritual.
vem crescendo paulatinamente, e, cada vez

Dentre as artes marciais mais conhecidas, mais, o mercado de suplementos lança novos

observamos o kung fu, karatê, aikido, krav magá, produtos destinados a esse público.

judô, jiu-jitsu, muay thai e o taekwondo.


Um suplemento que vem ganhando destaque

Atualmente, as artes marciais são praticadas no por sua utilização no meio esportivo é a beta

mundo inteiro, consistindo algumas delas em alanina. A suplementação desta substância tem

modalidades Olimpíadas, presente em como finalidade retardar fadiga muscular e

academias e centro de treinamentos melhorar o desempenho esportivo. O referido

especializados mundo afora. suplemento atua diretamente no aumento dos


níveis de carnosina muscular, um sistema de
A procura na performance esportiva cresce tamponamento do músculo que tem como
exponencialmente entre os praticantes de artes finalidade remover os H+ e controlar o PH.
marciais, sendo certo admitir que este público
cada vez mais busca na ciência métodos de Mecanismo

melhorar o seu desempenho no tatame ou nos


A carnosina é um dipeptídeo intracelular
ringues.
citoplasmático composto por aminoácidos beta
alanina e L-histidina, e é encontrado em altas
concentrações no músculo esquelético. O
principal desempenho da carnosina no músculo
é o tamponamento intracelular do íons de H+.

plenitude 62
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Nos exercícios de alta intensidade, a fonte de Mecanismo


energia ativada é a glicólise anaeróbica. Ao longo
Tendo em vista a busca pela melhora da
da atividade, o ácido lático se separa do lactato e
performance nos campeonatos e até mesmo no
começa a produzir os íons de H+. Esse processo
dia a dia do praticante de artes marciais a qual
vai ganhando proporção e supera a capacidade
cresce exponencialmente, faz mister a divisão do
de tamponamento intracelular,
campo de eficácia do composto em estudo.
consequentemente o PH do músculo cai devido
ao acúmulo máximo de H+. Essa acidose leva a Em se levando em conta praticantes que

uma cascada metabólica que contribui treinam em alta intensidade e querem melhorar

consequentemente para fadiga, prejudicando o o seu desempenho durante suas sessões ou em

praticante no exercício. competições, a suplementação se encaixa de


uma forma eficiente. Estudos mostram a eficácia
Sabendo-se que a beta alanina é um dos dessa suplementação através de várias sessões
precursores de síntese da carnosina dentro da de exercícios de alta intensidade e em sessões
fibra muscular, a elevação da concentração de únicas de exercício com duração de 60 a 240
carnosina auxiliaria a capacidade do músculo em segundos.
combater essa mudança do PH durante o
Na literatura, entretanto, é de se observar a
exercício, tornando uma estratégia interessante
inexpressividade da eficácia, especialmente em
para postergar a fadiga do atleta.
sessões de exercícios com menos de 60

Deste modo, a proposta da suplementação de segundos e baixa intensidade, onde não se

beta alanina é a de aumentar a concentração de observa o desgaste necessário para a ação de

carnosina, através do substrato fornecido pelo um suplemento que busca retardar a fadiga

componente principal do suplemento muscular.

administrado ao praticante, retardando o efeito


Recomendações de uso
dessa fadiga trazendo o melhor desempenho
durante atividade. No tocante a forma de administração, a
suplementação de beta alanina para gerar sua
eficácia precisa ser administrada de forma
contínua, pois é necessário que se atinja
determinada concentração da substância no
organismo no individuo, bem como manter o
referido nível de concentração estável.

plenitude 63
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O SUMÁRIO

Todavia, boa parte dos praticantes consomem o Para se evitar esse tipo de sintoma, recomenda-
produto de forma aguda, ou seja, faz sua se consumir a suplementação em pequenas
ingestão apenas no seu no pré-treino. Tal doses fracionadas durante o dia ou em capsulas
informação, entretanto, se ampara em com liberação controlada.
informações contidas nos rótulos dos produtos
Recomenda-se a suplementação de 3,2 a 6,4
fornecidos para o consumidor, onde a dosagem
gramas de beta alanina diariamente. Essa
média recomendada na maioria dos produtos é
dosagem pode ser fracionada de 4 até 8 vezes ao
de 2 gramas por dose, a ser ingerido pouco
decorrer do dia, notadamente após as refeições,
tempo antes do início da sessão de treinamento.
para evitar o efeito colateral indesejado e
Desta feita, o consumidor acreditando no rotulo
incomodo que pode derivar do consumo de
do produto que adquiriu, consome o composto
uma só vez. Anote-se que a dosagem prescrita
de forma equivocada, causando com que a
dependerá da conduta do profissional que esteja
informação incorreta que comumente é
acompanhando o praticante, de modo a
veiculada no mercado e nos rótulos dos
adequar o uso da substância com a real
produtos, faz com que a suplementação perca
necessidade do atleta.
sua eficácia, apenas causando efeito colateral e
não forneça o desempenho desejado e esperado Estudos apontam a eficácia exprimida de forma
com a correta ingestão. interessante quando a suplementação é
fornecida em capsulas com liberação controlada
Existe um efeito colateral ao administrar a
podendo conter até a dose mais alta de
suplementação de beta alanina, a chamada
recomendação que seria de 6,4 gramas.
parestesia, mais conhecida como coceira. Não
obstante, esse sintoma é desencadeado quando Esse tipo de método, de administração
o produto é consumido em uma dose única e fracionada do composto, demonstrou o
em concentração elevada de suplemento, sendo aumento de carnosina muscular em até 40% e
certo que, em média, o referido efeito demora eliminou todos os possíveis sintomas de
em média 1 hora para desaparecer após a parestesia sendo certo que a adaptação da
ingestão. suplementação para gerar os efeitos desejados é
de 3 a 4 semanas consecutivos, de uso crônico
para potencializar o aumento da carnosina.

plenitude 64
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Eficacia da suplementação

As artes marciais em geral entram no protocolo


de atividades de alta intensidade. Dentro dessa
classificação, vários estudos mostram uma
eficácia positiva da suplementação de beta
alanina em diversas modalidades. Na literatura
são encontrados estudos com atletas e
praticantes amadores de boxe, judô e jiu-jitsu.

Em geral a suplementação foi direcionada em


grupos controles e placebos para entender se
método de suplementação seria realmente
eficiente, onde a quantidade utilizada variou
entre as dosagens de 4,8 a 6,4 gramas,
fracionadas durante o dia e com duração crônica
de 4 semanas. Dentro da recomendação,
percebe que houve uma melhora significativa no
desempenho dos indivíduos, haja vista o retardo
da fadiga muscular que tem por consequência a
elevação do desempenho desportivo.

Diante das evidências, a suplementação de beta


alanina é uma boa estratégia para a melhora de
performance de praticantes de artes marciais,
lembrando que a alimentação adequada,
treinamento eficiente, sono regulado, saúde
intestinal e saúde mental formam a base para
uma excelente performance, sendo a
suplementação apenas a cereja do bolo.

plenitude 65
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COLUNA NUTRIÇÃO CLÍNICA

Colágeno hidrolisado:
o que dizem os novos
estudos?
plenitude 67
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O colágeno é uma das proteínas mais


importantes para o corpo. Sua estrutura primária
O uso do CH apresenta inúmeras vantagens,
como o custo-benefício; maior carga terapêutica;
é formada a partir dos aminoácidos glicina (33%), maior e melhor absorção e distribuição no corpo;
prolina e hidroxiprolina (22%). Até então foram incolor; odor neutro; melhor solubilidade; e baixa
identificados quase 28 tipos de colágenos, que se capacidade de desencadear uma reação
diferenciam de acordo com a quantidade e alérgica. Nos estudos recentes, o CH vem sendo
posição dos aminoácidos, assim como o tipo de utilizado de maneira muito abrangente. Desde
ligação. Desses, alguns se destacam: colágeno um ingrediente para suplementos e alimentos
tipo I (pele, ossos, dentes, tendões, ligamentos, funcionais, devido a sua atividade antioxidante e
ligaduras vasculares e órgãos); colágeno tipo II antimicrobiana, até para a melhora da saúde
(cartilagens); colágeno tipo III (pele, músculos e cognitiva.
vasos sanguíneos). As principais fontes de
APLICAÇÕES CLÍNICAS DO COLÁGENO
extração do colágeno são o tecido bovino, a pele
HIDROLISADO
suína e as fontes marinhas (peixes e outros
invertebrado). Composição corporal

O colágeno hidrolisado (CH) é obtivo através da


Kirmse, et al. avaliou, os efeitos da
desnaturação do colágeno nativo, processo
suplementação de peptídeos de colágeno
térmico que implica na separação das estruturas
hidrolisado e exercício de resistência na
da molécula, seguida pela hidrolise, processo
composição corporal, força e adaptações das
químico ou enzimático que quebra as estruturas
fibras musculares em 57 homens jovens e ativos.
em partículas menores na presença de água.
Os indivíduos receberam 1,5g/dia de peptídeos
Suas propriedades funcionais (capacidade
de colágeno hidrolisado e placebo durante 12
antioxidante, atividade microbiana e
semanas. A suplementação foi associada com
biodisponibilidade) estão relacionadas com a
três sessões de treino de força por semana. Ao
composição e o grau de hidrólise.
final, não houve diferenças significativas, ambos
os grupos apresentaram melhora da
composição corporal e leve aumento de força.

plenitude 68
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O SUMÁRIO

Já no estudo conduzido por Hegemann, et al, 25 Após 4 semanas, observaram que a ingestão
homens jovens foram submetidos a diária do CH alterou de maneira positiva a
suplementação de 15g de peptídeo de colágeno estrutura cerebral e melhorou a função cognitiva
ou um placebo dentro de 60 minutos após a de linguagem na população estudada.
sessão de treinamento de força, três vezes por
Após 4 semanas, observaram que a ingestão
semana, durante 12 semanas, e chegaram à
diária do CH alterou de maneira positiva a
conclusão de que a combinação do treinamento
estrutura cerebral e melhorou a função cognitiva
de força com a suplementação de colágeno traz
de linguagem na população estudada.
efeitos mais significativos para o aumento da
massa livre de gordura e força do que apenas Articulações e estrutura óssea
com o treino resistido. Porém, ao levar em
Um estudo duplo-cego randomizado e
consideração a fonte proteica associada ao
controlado por placebo investigou a utilização do
treino, tanto o estudo elaborado por Oikawa, et
suplemento de colágeno hidrolisado tipo II na
al. quanto o Giglio, et al. concluíram que a
redução de dor e rigidez articular e melhora da
suplementação de Whey Protein foi mais
mobilidade em 90 adultos de 40 a 65 anos que já
eficiente para melhora da composição corporal
apresentavam desconforto nas articulações. Os
do que a suplementação de colágeno.
participantes receberam 2,5g/dia de CH ou
Função Cognitiva
placebo durante 8 semanas e, ao final do

Em 2008, Pei, et al. estudou os efeitos neuro acompanhamento, houve redução significativa

protetores dos peptídeos de colágeno de dor e rigidez articular, assim como a melhora

hidrolisado em camundongos fêmeas de 20 da mobilidade (MOHAMMED, A.; HE, S. 2018).

meses comparando com um grupo controle


Konig, et al. investigou o efeito da
idoso, concluindo que a suplementação de CH
suplementação de 5g/dia de peptídeos de
pode facilitar o aprendizado e a memória em
colágeno versus placebo durante 12 meses em
camundongos idosos, reduzindo estresse
102 mulheres pós menopausa com redução da
oxidativo no cérebro e aumentando expressão
densidade mineral óssea. A administração do
de proteínas importantes para saúde cerebral. Já
colágeno aumentou a formação óssea e reduziu
em 2019, Koizumi, et al. avaliou os efeitos da
a degeneração óssea.
suplementação de 5g de colágeno hidrolisado
durante 4 semanas em 30 indivíduos saudáveis
de 49 e 63 anos.

plenitude 69
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O SUMÁRIO

Muitos ensaios clínicos demonstram alguma Outro estudo avaliou a suplementação de CH


eficácia do CH em paciente com questões em conjunto com coenzima Q10 (10ml/dia de
articulares e ósseas, porém, o impacto é muito xarope composto por 4000mg de CH, 50mg de
maior quando utilizado como tratamento CoQ10, 80mg de Vitamina C, 920 µg de Vitamina
precoce em comparação com os prognósticos A e 150 µg de Biotina) em 34 mulheres saudáveis
avançados. Então, suplementação de CH é algo com idades entre 40 a 65 anos durante 12
para ser considerado na prevenção de semanas, obtendo melhora da densidade
degeneração óssea e articular, mas há dúvidas dérmica, redução de rugas e melhora da
quanto a sua eficácia para tratar e reverter a suavidade da pele. Porém, alterações de
doença articular avançada. Mais estudos são hidratação, espessura da derme e firmeza da
necessários para confirmar a eficácia do pele não foram significativas (ZMITEK, et al. 2020).
colágeno para pacientes com alterações Além da melhora da qualidade da pele, os
articulares e ósseas. peptídeos de colágeno hidrolisados estão sendo
estudados quanto ao seu efeito fotoprotetor
Pele
(proteção conta os raios UVB). Peng, et al. avaliou
Em um estudo realizado por Campos, et al., 46 a aplicação tópica de CH na pele de 48
mulheres saudáveis de 45 a 59 anos foram camundongas fêmeas expostas a irradiação
divididas em dois grupos e submetidas a UVB. Os resultados mostraram um efeito
suplementação de 500mg/dia de CH e placebo fotoprotetor positivo devido as propriedades
durante 90 dias. Ao final do período, houve uma antioxidantes e anti-inflamatórias, além de
redução significativa de rugas e aumento da diminuir a degradação das fibras e colágeno e
densidade dérmica, além da melhora da elastina e melhorar a densidade dérmica.
estrutura e redução da degradação das fibras de
colágeno. Evans, et al. observou um resultado O envelhecimento da pele pode ser acelerado
parecido ao avaliar a suplementação de 10g/dia por fatores ambientais, como a exposição aos
de CH em 45 mulheres de 45 a 60 anos durante raios UVB, visto que essa situação aumenta o
12 semanas (redução de rugas e melhora da processo de glicação. No estudo elaborado por
elasticidade, hidratação e firmeza da pele). Lee, et al. foi investigado a aplicação tópica de CH
no braço de 22 mulheres asiáticas durante 4
semanas.

plenitude 70
educação
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O SUMÁRIO

O colágeno hidrolisado também vem


apresentando resultados promissores quando
utilizado como coadjuvante no tratamento e
cicatrização de úlceras de pressão, como mostra
o estudo realizado por Sugihara, et al. que avaliou
a suplementação de 5g/dia de CH em 112
indivíduos com úlceras de pressão em estágio II
ou III durante 16 semanas.

A suplementação do colágeno hidrolisado


continua sendo algo muito polêmico. Por mais
segura que seja, existem dúvidas quanto a sua
real eficácia. Inúmeras pesquisas ainda precisam
ser direcionadas aos seus benefícios para a
prática clínica. Porém, vale ressaltar que,
pensando em questões estética, uma
alimentação adequada em proteínas,
carboidratos, vitaminas e minerais, assim como
um ambiente hormonal favorável, pode
estimular a síntese natural do colágeno.

@juliacestarinutri

plenitude 71
educação
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Use suas lágrimas como vírgulas invertidas,
para escrever os capítulos mais nobres dos
seus dias mais tristes.
Augusto Cury - escritor

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