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Copyright © 2022 por Brenda Paiva

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Proibida a reprodução, no todo ou em parte, através de quaisquer
meios, sem o consentimento do(a) autor(a) desta obra.
 
 
REVISÃO
Stephany Cardozo Gomes
 
CAPA
Giulia Design
 
DIAGRAMAÇÃO
Camila Cocenza
 
 
Esta é uma obra de ficção. Todos os nomes, lugares,
acontecimentos e descrições são fruto da mente da autora.
Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.
 
 
 
Texto revisado conforme o Novo Acordo Ortográfico da Língua
Portuguesa.
Sumário
Atenção!
Dedicatória
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Epílogo
Nota da Autora
Agradecimentos
 
Ouça a trilha sonora oficial do livro no Spotify:
 
 
Oi, meus amores! Primeiro de tudo, eu gostaria de te agradecer
por ter escolhido esse livro dentre tantos para ler, espero muito que
você goste, se apaixone, se divirta e suspire com esse casal, assim
como aconteceu comigo.
Esse livro é o segundo de uma série, o primeiro se chama “Tudo
Para Dar Certo”. E por mais que possa ser lido de maneira
independente, sugiro que comece a leitura pelo primeiro, para não
pegar spoiler.
Agora vamos aos alertas? “Tudo para dar Errado” é uma
comédia romântica leve que contém um toque místico sutil, mas que
pode abordar alguns temas sensíveis, como: maus tratos infantis,
relacionamento abusivo, luto, abuso de bebidas alcóolicas e drogas
ilícitas, cenas explícitas de sexo e violência.
Conheça seu limite. Caso se sinta desconfortável em algum
momento, pare imediatamente a leitura.
 
Desde já, boa leitura.
 
 
 
Para todas as garotas que já olharam as
estrelas e pediram por um amor. Eu espero, de
coração, que ele não seja tão louco quanto o
mocinho desse livro.
 
 
Madison Jensen
Alguns meses atrás
 
— Eu vou morrer sozinha — reclamei para ninguém em
específico.
E não, não estava sendo dramática. A cada dia perdia ainda
mais minhas esperanças de encontrar o amor da minha vida. Minha
cara metade. Alma gêmea. Metade da laranja. A tampa da minha
panela de pressão.
Minhas últimas apostas estavam naquela vela que achei na
internet em uma promoção imperdível! Não era todo dia que uma
romântica como eu conseguia achar justamente o objeto que lhe
traria o seu amor.
— Querida, não é melhor fazer o ritual lá na nossa parte do
gramado? — perguntou Amber, parecendo achar graça das pétalas
que espalhei em formato de coração pela grama.
— Achei aqui melhor, senti uma energia diferente nesse lugar —
revelei sem perder a concentração na minha preciosa vela.
Ela não queria ficar em pé e a grama fofa também não ajudava.
Sabia que minhas amigas não estavam conseguindo levar todo o
ritual a sério, mas faziam tudo para me ajudar, sem questionar. Scar,
Sienna e Amber topavam qualquer coisa que eu inventava quando
estava sem esperanças. Por mais quantas dificuldades uma pessoa
precisava passar para encontrar a sua alma gêmea? Que coisa!
Não deveria ser tão difícil.
Eu deveria esbarrar com ele na rua, e ele me pegaria no ar e
nossos olhos se encontrariam, suspiraríamos enfeitiçados um pelo
outro.... E então... E então... Bem, aqui eu o reconheceria e
seríamos felizes para sempre. Entretanto, a realidade era que todos
os meus encontros, até agora, foram um total fracasso.
Sempre tinha alguma coisa que atrapalhava. Ou o hálito era
ruim, e ninguém quer que o amor da sua vida tenha mau hálito.
Tudo bem que um creme dental resolveria, no entanto, e se ele não
quisesse usar com frequência? O que eu faria? Não, descartado.
O outro tinha a linha da vida muito curta. Ok, eu não deveria
dispensar uma pessoa só pelo fato de ela estar condenada a morrer
cedo. Coitado, que culpa tinha? Eu iria ao enterro dele com toda
certeza, mas também não queria ficar viúva logo e passar o resto da
vida sofrendo.
 Depois de todo o esforço que tive até agora, exigia no mínimo
uns 50 anos de convivência. Não aceitava menos do que isso.
Teve até um que pareceu preencher todos os requisitos, só que
ele era de sagitário. Eu não tinha nada contra as pessoas de
sagitário, porém não éramos compatíveis. Isso era óbvio,
comprovado cientificamente. Qualquer site de compatibilidade de
signos poderia me tirar essa dúvida, eu sou de peixes e era
impossível darmos certo. Descartado.
— E a senhorita? Onde dormiu mesmo? — Amber se voltou
para Scar, minha amiga morena linda.
Parecia que elas estavam em uma conversa com a Sienna e
nem mesmo notei.
— Relaxando — Scar respondeu se inclinando no gramado
para pegar mais sol.
— Durante dois dias? — brinquei, lembrando que ela sumiu por
dois dias para “relaxar” com algum cara.
Segurei o meu papel, com todos os requisitos de um homem
perfeito para mim, e tentei acender minha vela vermelha.
— Estava com muita tensão no corpo, precisava relaxar — Scar
se defendeu.
A vela finalmente acendeu! Dei um suspiro aliviada e sorri para
as minhas amigas que me olhavam confusas, sem entenderem
nada do meu ritual do amor. Eu sei que não deveria estar fazendo
isso aqui debaixo da janela dos nossos vizinhos, mas a energia
estava tão boa que não resisti.
— Essa vela foi um achado — expliquei, sorrindo para elas. —
Só tinha sobrado uma no site, com certeza isso é um sinal.
— Querida, o que essa vela faz exatamente? — questionou
Sienna, comendo, com toda a elegância que possuía, a maçã que
trouxe em uma cestinha, acho que ela pensou que faríamos um
piquenique.
— Ela vai atrair a energia dele para a minha — contei me
sentindo animada. — Depois do cara de sexta-feira, já estava
perdendo as esperanças.
— Qual era o problema dele? — perguntou Scar.
— Muito baixo. — Ajeitei as pétalas no lugar, para formar um
coração perfeito à nossa volta.
— O da semana passada não era muito alto? — Amber tentou
lembrar e confirmei com um aceno.
— Talvez você devesse deixar as coisas acontecerem —
Sienna aconselhou, porém eu nunca escutava esses conselhos.
Não iria perder tempo com alguém quando era óbvio que não era
ele.
— Vocês não entendem... Uma alma gêmea reconhece a outra
de primeira. Você sente a conexão, e eu não sinto nada —
resmunguei frustrada. — Me sinto tão vazia. Acho que toparia sentir
qualquer coisa, até mesmo ódio.
— Dê uma chance pra esses caras com quem você sai, pelo
menos os conheça. Não pode esperar que a pessoa certa
simplesmente caia do céu — sugeriu Amber, mas assim que minha
amiga loira fechou a boca, um homem caiu quase em cima de mim!
UM HOMEM.
As meninas saíram gritando assustadas e eu o olhei sem
entender de onde ele tinha surgido. Ele caiu de cara no gramado, e
eu só consegui ver as costas musculosas sob a camiseta branca,
enquanto ele se contorcia de dor.
Podia ser um sinal do universo? Tinha que ser!
— AI MEU PAU! — gritou o cara, agonizando na grama e
bagunçando todo o meu ritual no processo.
Quando ele se virou, consegui ver o rosto do sujeito. E bem...
mesmo com o rosto corado de dor, ele é perfeitamente lindo, de tirar
o fôlego. Estava próximo demais, e cheirava tão bem... à canela, um
aroma convidativo e suave. De repente senti um calor estranho
subindo pelo meu corpo.
Poderia ser ele... mas “ai meu pau”? Era assim que o amor da
minha vida se apresentaria para mim? Estava esperando algo mais
romântico. Olhei para cima procurando o lugar do qual ele tinha
surgido e vi os vultos de quatro cabeças saindo apressadas da
janela que ficava acima de onde estávamos sentadas.
— Colin? Como caiu aqui? — Amber riu ao reconhecê-lo.
Hum, Colin? Esse é o nome dele? É lindo, poderíamos colocar
como segundo nome do nosso primeiro filho.
— Maddie, onde você disse que comprou essa vela? — Scar
questionou relaxada.
Coloquei as mãos na boca em choque ao me lembrar da vela!
Procurei ela pelo gramado e a encontrei completamente amassada.
Ele caiu em cima da minha vela! Ah, se não fosse a minha alma
gêmea iria pagar caro, porque tinha acabado de arruinar toda a
minha vida amorosa.
Olhei para ele exigindo explicações e o idiota finalmente se
dignou a me encarar. Seus olhos me avaliaram de cima a baixo de
um jeito bem sugestivo e tentei, com tudo de mim, não corar, não
queria parecer tola na sua frente.
  No entanto, o jeito sujo com que passou os olhos pelo meu
decote e a cara dele de quem não valia nada... não sei,
repentinamente senti como se todo o ar à minha volta tivesse
esquentado.
 — Olá... — Ele tentou me dar um sorriso sedutor e tive certeza
que era capaz de deixar muitas pernas bambas pelo caminho.
Os seus dentes eram muito brancos, os olhos azuis levemente
caídos e o cabelo de um tom castanho claro, com alguns fios
dourados refletidos pelo sol. Tinha um ar sarcástico de malandro, e
o seu olhar entregava uma confiança de quem parecia ter certeza
que era capaz de seduzir qualquer pessoa com aquele sorriso.
Definitivamente, alguém de quem eu deveria manter distância.
Ele seguiu o olhar para a vela amassada no chão e voltou a
apertar o pênis com a mão, parecendo se lembrar da dor.
— Essa vela amassou meu pau e minhas bolas — reclamou
rouco.
Ora, era só o que me faltava.
— Seu pênis que amassou minha vela — corrigi e me levantei
para olhá-lo de cima. — E agora? O que vou fazer?
Ele me lançou um olhar divertido, do tipo que não dava a
mínima e ali eu soube que aquela criatura só podia ser de sagitário.
Não era minha alma gêmea coisa nenhuma. E se fosse, esse era o
maior castigo que a vida poderia me enviar.
A pessoa amassava minha vela, estragava o meu ritual,
arruinava todas as minhas chances de conhecer o amor da minha
vida e ainda ficava de deboche.
Eu estava reclamando de não sentir nada por ninguém? Pois
bem, já não era problema. Senti como se fogo escorresse pelas
minhas veias, mas não era o que eu estava procurando, não era
amor.
Era algo mais forte e real.
Era ranço.
 
Colin Scott
 
— Se você quiser botar gelo no meu pau, eu aceito. — Pisquei
para a baixinha ruiva à minha frente.
Ela tinha se levantado, talvez na tentativa de parecer mais
ameaçadora, só que ela era uma coisinha fofa de um metro e
cinquenta e cinco, no máximo.
A ruiva vestia um macacão jeans que valorizava os seus seios
cheios e grandes, os culpados por eu ter caído no meio da festinha
das minhas vizinhas. Vou anotar essa regra para vida: Não se
incline demais na janela para ver os peitos deliciosos da sua vizinha
se está a espiando.
Estreitei os olhos até conseguir ver a garota direito. A luz do sol
refletia no seu rosto e... foda-se, senti um aperto no peito porque
não me lembrava de ter visto algo tão lindo antes. Os cachos ruivos
estavam meio presos em um coque bagunçado, deixando alguns
fios soltos emoldurando o seu rosto angelical. A boca dela parecia
um botão rosa, o nariz era pequenininho e salpicado com algumas
sardas, espalhadas estrategicamente na ponta.
Ela era tão perfeita que parecia uma obra de arte em que o
artista decidiu dar uma última pincelada, colocando apenas poucas
sardas ali. E os seus olhos... porra! Senti meu coração errar uma
batida, eram de um tom esmeralda lindo.
A garota parecia tão enfezada por eu ter amassado sua maldita
vela que não resisti a olhá-la com divertimento, mostrando que
estava pouco me importando para aquilo. E foi naquele momento
que a baixinha perdeu toda a paciência comigo, ela avançou na
minha direção, mas Sienna a alcançou antes.
— Não se estresse com isso — sua amiga a consolou —,
vamos achar outra.
A pequena ia dizer mais alguma coisa quando apareceram os
quatro cretinos que também estavam espiando, junto comigo, da
janela.
— O que vocês estavam fazendo? — perguntou Drake, olhando
curioso para as pétalas espalhadas no gramado.
Ele nem se dignou a verificar se eu não tinha quebrado algum
osso, e eu nem me dignei a ficar surpreso. Ele era o maior
fofoqueiro do bairro, jamais perderia um furo desses.
Benjamin e Peter ficaram mais distantes da confusão, e Johnny
foi o único que veio me ajudar a levantar.
— O que vocês estavam fazendo? — A ruiva se virou para
Drake exigindo explicações. — Nos espionando?
Eu negaria até a morte, mas os idiotas do Peter e Benjamin
ficaram envergonhados e nos entregaram.
— Não estávamos “espionando”. O que pensa que somos?
Pervertidos? — Tentei me fazer de ofendido enquanto me apoiava
no ombro de Johnny para ficar de pé, e senti uma dor bem na porra
das minhas bolas.
Vela dura do cacete.
— O que estavam fazendo então? — Ela olhou para mim
convencida, querendo ouvir a minha desculpa e Johnny me lançou
aquele olhar que dizia: “Pelo amor de Deus, não arrume confusão,
Colin”.
— Não é você que deveria estar fazendo as perguntas aqui,
baixinha — afrontei, tentando, com tudo de mim, não sorrir ao ver a
expressão de horror que atravessou o seu rosto.
— Baixinha? — repetiu ofendida. — Quem você está chamando
de baixinha? — Ela ajeitou a coluna para parecer mais alta e senti
uma necessidade incontrolável de provocá-la.
— Tem outra aqui? — Olhei em volta, procurando outro gnomo
escondido no nosso gramado.
— Só tem uma coisa baixa aqui e não é a minha altura — ela
atirou, lançando um olhar para a minha virilha e os caras riram da
alfinetada.
Ora, ora...
— Mas que pequena atrevida... — Sorri, achando graça. — Meu
bem, entre no meu quarto por 10 minutos que lhe mostro como não
tem nada baixo aqui.
O que me custava dar em cima dela, não é mesmo?
— Nem fodendo. — Ergueu a sobrancelha para mim, recusando
se mostrar afetada.
— Pena! Era fodendo mesmo. — Lhe dei o meu melhor sorriso
e ela corou. Foi involuntário, a cor tomou conta das suas bochechas,
porém foi uma das coisas mais lindas que já vi.
E sexy.
— Por que vocês não fodem depois? — sugeriu Drake. —
Quero saber o que estavam fazendo.
— Estávamos fazendo um ritual — explicou Amber, finalmente
se recuperando dos risos que minha queda lhe proporcionou.
— E um ritual muito sério, por sinal — enfatizou a ruiva.
Rá! Eu sabia!
— Eu disse! — Apontei para o meu próprio peito e olhei
convencido para todos eles. — Ela estava fazendo bruxaria!
— Bruxaria? — A baixinha começou a rir. — E você? O que
estava fazendo lá em cima? Isso ainda não ficou claro aqui.
— Estávamos investigando. — Dei de ombros sem querer lhe
dar explicações, era ela que estava se metendo nas nossas terras.
— O que eu estava fazendo não tem relevância aqui. É você que
estava fazendo bruxaria no nosso gramado.
— Seu gramado? Essa parte do gramado é nossa — a atrevida
mentiu com toda convicção que a sua altura podia proporcionar.
Não era, a parte do gramado era nossa.
— Essa parte do gramado é nossa — Drake saiu em defesa do
nosso território.
— Não é — a bruxinha continuou a mentir e Amber foi para o
lado da amiga, pronta para defendê-la.
— Claro que é nossa — afirmou Amber da maneira mais cínica
possível.
— Não é — Johnny se intrometeu também, já achando demais
esse assalto à nossa propriedade. — Vocês estão literalmente
embaixo da janela do Drake.
As duas olharam para cima como se estivessem vendo a janela
pela primeira vez. Ah, mas já era demais!
— Não há uma delimitação aqui que separe o gramado —
Sienna também veio ajudar suas amigas.
— Não tem como concluir qual parte é de vocês e qual não é —
Scar informou se sentando de novo no gramado, sem dar muita
importância para nossa discussão.
Amber e Johnny continuaram a trocar farpas, porém não prestei
muita atenção, estava intrigado. O que diabo elas estavam fazendo?
Para que era a vela? Estavam tentando nos enfeitiçar? Tomar nossa
casa? Nossa sanidade?
— Olha só que atrevimento... — Balancei a cabeça
negativamente para elas. — Estão querendo tomar nossas terras.
Johnny se virou para mim sem entender.
— Nossas terras? — perguntou Drake, confuso.
— Sim! — Estalei os dedos na cara dos idiotas. — Essa garota
aqui é nitidamente perigosa. — Apontei para a baixinha cínica. —
Tudo isso é muito suspeito. Ela vem aqui, faz esses rituais na nossa
janela, se nega a dizer do que se trata, diz que o gramado é dela.
Está armando alguma coisa, vocês não veem?
Olhei para eles em busca de apoio, só que todos olharam para
a ruiva e ela lhes deu um sorriso cheio de covinhas. Ah, eu não ia
cair naquilo. Aquela garota não tinha nada de inocente e doce, era
fachada. Ela estava armando alguma coisa, podia sentir, e meu
radar não falhava.
Tudo bem, na maioria das vezes falhava. Contudo, não iria
confiar naquele gnomo fofo.
— Oh, cara! — Drake suspirou encantado. — Ela é tão fofa.
— Não me parece perigosa. — Johnny Jackson sorriu para ela
como se quisesse apertá-la e revirei os olhos.
— Gostei da aura de vocês, meu nome é Madison, mas podem
me chamar de Maddie — se apresentou dando um sorriso
simpático.
— Eu não gostei da sua — interferi antes que ela resolvesse
manipular todo mundo ali com as suas covinhas. — Você pode ter
enganado eles, só que vou descobrir exatamente o que você anda
fazendo aqui. — Apontei para todas aquelas coisas espalhadas no
gramado.
— Boa sorte. — Ela me deu um olhar convencido, bem diferente
do inocente de uns segundo atrás.
— Estão vendo? Ela é cínica. — Me virei para conferir se todos
viram o mesmo que eu.
— Colin... — Johnny me chamou cansado, daquele jeito que
implorava para que eu calasse a boca.
— Não — interrompi-o. — O que essa vela que amassou meu
pau significa, hein? Vocês não podem estar querendo achar isso
tudo normal. Tem alguma coisa de muito errado com essa garota.
E tinha, como ninguém via?
— Colin... — Drake alertou, pedindo com o olhar para não criar
confusão com a vizinhança.
Vizinhança muito perigosa, por sinal. Coitados! Não sei o que
seria deles sem mim.
— Escutem — continuei tentando colocar juízo nas suas
cabeças, como era terrível ser o único sensato do grupo. — Ela
estava fazendo algum ritual no nosso gramado. Daqui a pouco
estará entrando na nossa casa e roubando nossas cuecas.
Se já não tivesse feito isso, estou me lembrando agora que
senti falta de duas cuecas na minha gaveta nessa manhã.
— Como é? — Benjamin olhou para mim parecendo achar que
eu tinha enlouquecido enquanto Peter prendia o riso.
— Sim, isso é perigoso — enfatizei apontando para a ruiva. —
Não devemos confiar nessa garota.
Tudo nela me cheirava a perigo, até a sua altura. Nunca
conheci alguém tão baixo e isso deveria significar alguma coisa
também. Todos olharam novamente para ela e o gnomo sorriu
docemente.
— Oh! Você parece uma princesinha — elogiou Peter,
suspirando. Bufei, desistindo deles e fui caminhando até minha
casa, mas decidi virar uma última vez e olhá-la.
Ela tirou um cacho ruivo da frente do rosto e o colocou atrás da
orelha, o movimento chamou minha atenção para as sardas na
ponta do seu nariz e eu quis voltar para contar quantas tinham,
passar os dedos na sua pele, saber se era macia... Ela era daquele
tipo de mulher que poderia facilmente te seduzir.
Meu Deus, se não tomasse cuidado a ruiva ia mesmo enfeitiçar
todo mundo ali. Era bom lembrar que morava ao lado de uma garota
manipuladora, cheia de segredos e perigosa.
Altamente perigosa.
— Isso não acabou. Você não me engana, não importa o quão
gostosa seja — afirmei sem desviar o olhar dela e a cretina teve a
audácia de sorrir em desafio, como se me convidasse a entrar em
um campo de batalha com ela.
Ah, eu iria de muito bom grado.
Que comecem os jogos.
Colin Scott
Dias atuais
 
Me espreguicei na cama sabendo que já estava atrasado. Tinha
colocado o despertador para esperar mais uns cinco minutinhos.
O problema era que eu estava nesses cinco minutinhos a mais
de uma hora.
Levantei da cama sentindo uma dor de cabeça do caralho. Não
era recomendável sair e chegar às quatro da manhã em casa se
tinha aula no dia seguinte.
Também não era recomendável chegar no treino de ressaca.
Mas é o que temos pra hoje.
Tomei um banho demorado. Bati uma. Conferi as mensagens no
meu celular e sem surpresa nenhuma, vi convites para festas, fodas,
nudes, alguém falando de hóquei e trabalhos da faculdade. Nada de
interessante. Vesti uma calça jeans, passei perfume e mesmo assim
ainda não sentia que tinha acordado completamente.
Algumas pessoas precisavam de café para despertar, outras de
um alongamento, às vezes uma corrida ou até uma punheta resolvia
o problema. No meu caso, eu só diria que meu dia começava de
fato depois de espionar minha vizinha.
Não era como se eu fosse um stalker... só achava que era bom
manter os olhos nela.
Peguei meu binóculo e fui até a minha janela. A janela do quarto
dela já estava aberta. Madison sempre acordava primeiro que eu.
O gnomo estava tomando chá enquanto anotava alguma coisa
no seu bloquinho, sentada à escrivaninha. Ela vestia uma blusa
listrada por dentro do macacão jeans. Seu cabelo estava solto, e o
rio de cachos ruivos perfeitos descia pelos seus ombros, chegando
até a cintura.
Me inclinei mais na janela e vi o jeito que ela assoprava o chá.
Sua boca linda se entreabria e soltava o ar devagar, espalhando a
fumaça pelo seu rosto corado. Madison colocou um cacho atrás da
orelha e suspirou enquanto continuava anotando no seu bloquinho.
O que deveria ser?
— Cara, você tá de ressaca... — Drake abriu a porta do meu
quarto e me pegou no flagra.
Ele parou no lugar, se encostou na porta e balançou a cabeça
em repreensão para mim.
— Eu não estou espionando ela — menti apontando o meu
binóculo para ele, que apenas ergueu a sobrancelha em deboche.
— Não estou. Estava vendo o telhado da casa das meninas —
menti de novo.
— Oh, é mesmo? — Drake ironizou, se aproximando da janela.
— Sim, veja. — Dei o binóculo para ele. — O telhado da casa
delas está péssimo, a qualquer momento o teto pode desabar sobre
a cabeça delas.
— Não sabia que você era engenheiro — Drake zombou vendo
pelo binóculo o telhado delas.
— Só sou um ótimo vizinho. — Dei de ombros, indo vestir a
minha camiseta.
— Queria saber o que tem de tão interessante em ficar olhando
Maddie o dia todo — comentou Drake, se inclinando para ver melhor
a ruiva.
— Eu não fico olhando pra ela o dia todo — me defendi, tirando
o binóculo da mão dele. — Só acho a garota estranha. — Dei de
ombros.
E era. Pura curiosidade.
— Uhum... — murmurou Drake.
— Você também não está atrasado? — perguntei querendo
acabar com aquela conversa.
— Estou — Drake cedeu e peguei a chave do carro antes de
descer as escadas da casa. — Você sabe que o treinador vai comer
o nosso cu, não é?
Estalei a língua em provocação.
— Daqui pro fim da tarde a ressaca passa.
— Não vamos nunca mais beber assim em dia de semana —
Drake determinou apontando o dedo para mim.
— Nunca mais. — Pisquei para ele em companheirismo.
Drake sempre dizia isso. Entretanto, era só eu aparecer no seu
quarto chamando que ele se coçava para ir.
Era o famoso fogo no rabo.
 
 Madison Jensen
 
Nada cheirava melhor do que tinta fresca.
Não era o melhor cheiro do mundo, mas quando isso
representava arte, eu sentia como se estivesse inspirando vida. O
aroma me consumia e eu conseguia visualizar todo o quadro,
apenas por respirar esse cheiro.
Sentir o peso suave do pincel, se sujar de tinta, sentir o seu
cheiro... eram as melhores partes de pintar uma tela. Me faziam
parte da obra. Por um segundo eu era tão única e especial como
ela.
Passei o pincel pelo contorno do esboço, manchando a tela
branca. Transformando o nada em tudo.
Sabia que o professor estava falando alguma coisa para a
turma, conseguia ouvir a sua voz ao fundo. Porém, quando eu
pintava, minha concentração era apenas naquele mundo.
Nas cores. Na sensação de prazer que aquilo me dava.
Conseguia até sentir o meu coração batendo no ritmo das ondas em
que eu estava desenhando. Em uma conexão.
Estávamos entrelaçados. Enquanto eu criava o quadro, ele me
desenhava também.
— Muito bonito — elogiou alguém atrás de mim.
Me assustei e acabei borrando o traço que estava fazendo. Que
porcaria. Borrou de um jeito que ficaria muito difícil retocar depois.
Suspirei frustrada e coloquei os pincéis de lado.
— Obrigada — agradeci erguendo o olhar e encontrando Derek
Hard com os braços cruzados analisando criticamente meu
desenho.
Aquilo era novidade. Derek não costumava falar muito comigo.
Olhei em volta e vi que o professor já estava recolhendo o seu
material, dando por encerrada a aula.
— Por nada. — Derek se aproximou mais de mim, ficando ao
meu lado para ver a tela de outro ângulo. — Se eu fosse você não
colocaria as mesmas cores em um só quadro, acho que deveria
variar um pouco.
Analisei minha tela com preocupação, mas não encontrei o
mesmo tom ali. Eram diferentes tipos de azul, e quando eu
finalizasse o quadro seria possível enxergar todos eles, seria
interessante.
Não queria ser grosseira em dispensar o conselho dele, por isso
apenas sorri em agradecimento.
— Espero que fique bom, o Sr. Stone é exigente — falei citando
o nosso professor.
Eu morria de medo do homem e também era uma grande
admiradora do trabalho dele. Sr. Stone era conhecido no meio
artístico por saber coordenar o jogo de cores perfeitamente em uma
tela, o que era justamente o meu estilo de pintura.
— Eu posso ajudar — ofereceu Derek, ficando de frente para
mim. — Entendo dessa parte, estou nisso a mais tempo.
Derek estava no último semestre do curso de arte, já ia se
formar, no entanto tinha decidido cursar essa disciplina só agora.
Era muito gentil da parte dele me oferecer ajuda, só que quase não
éramos próximos. Por que isso agora?
Será que estava tão ruim assim que ele se sentiu na obrigação
de me ajudar?
— Obrigada, eu posso mostrar pra você quando finalizar —
respondi, limpando minhas mãos sujas no avental e me levantando
do banquinho.
A aula tinha acabado mais cedo. O que eu agradeci, já que
tínhamos passado a tarde toda ali.
— Então... — Derek coçou a nuca, parecendo querer falar mais
alguma coisa comigo.
— Sim? — Ergui o olhar para ele enquanto guardava meu
material.
— Você vai fazer alguma coisa hoje à noite? — soltou de uma
vez.
— Hoje... — Franzi a testa tentando me lembrar se deixei
alguma atividade atrasada. — Não, nada planejado.
— Ótimo! O que acha de ir ao cinema? Você quase não sai com
o pessoal.
Senti minhas bochechas esquentarem e sabia que estava
ficando vermelha. Não sabia se ele estava só me chamando para
sair com o pessoal do curso ou se era um convite para um encontro.
— Ah, seria ótimo. — Coloquei minha bolsa no ombro para não
ter que ficar olhando para ele. — Quem vai junto?
— O pessoal de sempre — desconversou e me estendeu o seu
celular. — Pode me dar o seu número?
Acenei com a cabeça e digitei o meu número no celular dele,
sem saber se estava concordando em ir para um encontro ou não.
— Aqui. — Entreguei o celular para ele.
— Perfeito, eu falo com você. — Derek piscou para mim, se
despediu e saiu da sala junto com os outros alunos.
Suspirei confusa e segui pelo corredor até o refeitório.
Eu tinha acabado de topar ir a um encontro? Derek era bonito,
tinha os olhos e o cabelo castanho, a pele um pouco bronzeada, e
eu podia admitir que o achava interessante. Entretanto, não sabia
dizer se era recíproco.
Ele ou qualquer outra pessoa do meu curso não falavam muito
comigo. Derek não mentiu quando disse que eu quase não
socializava. Costumava ficar mais sozinha no campus, mas isso era
culpa da minha timidez.
Quase nunca eu iniciava uma conversa com alguém que
estudava comigo. Provavelmente, ele estava apenas sendo
educado ao me convidar para sair com eles.
Comprei meu sanduíche vegetariano e me sentei em uma mesa
vazia no canto do refeitório lotado. Tirei da minha bolsa meu
bloquinho de notas, querendo verificar minha lista do dia.
 
1. Meditar.
2. Beber um chá quentinho.
3. Enviar mais currículos.
4. Enviar solicitações de estágios.
5. Dizer um elogio a alguém.
6. Sorrir para pessoas desconhecidas.
7. Não pensar coisas negativas sobre as pessoas. Por
mais que elas sejam negativas.
8. Não perder a paciência com Colin.
9. Fingir que não percebi que ele estava me espionando
hoje de manhã.
10. Não brigar com Colin hoje.
11. Não pensar em Colin.
12. Não deixar Colin dominar minha lista.
 
— Ele até hoje não respondeu minhas mensagens — uma
garota da mesa ao lado falou para a amiga e percebi que elas
estavam olhando para alguém por cima do meu ombro.
Algumas pessoas no refeitório começaram a se virar na mesma
direção e eu já sabia quem tinha acabado de entrar ali. Meu corpo
sentia.
Me considerava uma pessoa sensitiva. Sabia quando a energia
de um lugar estava boa, leve, pesada, ou... densa. Vibrante.
Irritante. E era assim que ficava logo que Colin Scott chegava em
um ambiente. Eu conseguia sentir a energia dele de longe.
Ou o atrito.
— Eu mandei duas mensagens e ele não respondeu —
continuou a garota da mesa, um pouco ansiosa.
— Ele tá olhando pra cá — a outra avisou.
— Eu acho que é pra mim. — A garota se inclinou na mesa e eu
comi o meu sanduíche, tentando não prestar atenção, mesmo que
fosse inevitável. — A gente se pegou no banheiro uma vez, foi no
segundo ano. Será que ele se lembra?
— Ele tá vindo — a outra informou em um tom que pedia para a
amiga parar de falar.
Fechei o meu bloquinho, porque se fosse Colin mesmo ele não
perderia a oportunidade de me espionar. E encher o meu saco.
Olhei discretamente por cima do ombro e encontrei Colin
caminhando ao lado de Drake até a minha mesa.
Odiava o fato de ele ser tão atraente... alto, musculoso e
atlético. Estava vestindo uma camiseta preta que desenhava bem o
seu corpo e a sua correntinha prata, que não tirava do pescoço, só o
deixava mais charmoso. Eu não podia descrevê-lo de outro jeito, ele
era muito gato, em um nível que seria até covardia compará-lo com
qualquer outro homem.
Seus braços musculosos de fora e aquelas veias à mostra me
deixavam um pouco ofegante.
 Assim que meus olhos encontraram com os dele o idiota piscou
para mim, como se soubesse que eu estava o secando. Ergui a
sobrancelha em desgosto e virei para frente de novo, mas podia
sentir o sorriso dele atrás de mim.
Ele sempre se divertia quando conseguia me irritar. E eu tinha
que lhe dar o devido crédito. Se tinha uma coisa que Colin Scott
sabia fazer divinamente bem era tirar a minha paciência.
 
Colin Scott
 
Era incrível como eu sempre conseguia enxergá-la de longe,
parecia que meus olhos acabavam procurando por um cabelo ruivo
cacheado, mesmo a quilômetros de distância.
E isso me dava bastante confiança na minha visão, levando em
conta que a garota tinha só um metro e meio de altura. Jamais
ficaria míope.
— Olha só quem está aqui. — Drake bateu nas minhas costas e
desviei o olhar na mesma hora.
— Quem? — Virei-me como se tivesse a visto naquele
momento. — Ah, Madison! Não tinha visto ela — menti. — É tão
pequena que às vezes se perde na multidão, deveria vestir cores
mais chamativas.
— Sei... — Drake ironizou. — Antes de você ir irritá-la saiba que
o nosso treino começa daqui a pouco.
— Eu não vou irritá-la — comentei caminhando em direção ao
meu gnomo. — Vou só dar um olá, é sempre bom manter uma
relação saudável com a vizinhança.
Percebi que a ruiva me deu uma secada e pisquei em
atrevimento para ela, que ficou um pouco vermelha e irritadinha.
Passei por trás da sua cadeira e sentei estrategicamente perto
dela.
— Boa tarde — cumprimentei jogando o braço na sua cadeira, e
encostando sem querer no seu ombro.
Assim que encarei o seu rosto ela me olhou com desgosto,
nitidamente chateada por ter me encontrado nessa manhã.
Sorri para ela.
— Ora, Madison, desse jeito eu posso até pensar que não está
feliz em me ver — provoquei e a ruiva revirou os olhos.
— Não estou.
— Ei, baixinha. — Drake passou beijando a cabeça dela e
sentou na outra cadeira.
— Oi, Colin — uma garota da mesa ao lado da nossa me
cumprimentou.
Não fazia ideia de quem era.
— Oi. — Acenei de volta, sorrindo. — Como vai?
— Bem... eu estou esperando a sua resposta, viu? — ela
murmurou de brincadeira e franzi a testa sem entender.
— Pode deixar. — Pisquei, mesmo sem saber do que ela estava
falando.
— Ela te mandou mensagem — sussurrou Madison para mim.
— E você não respondeu.
— Como sabe disso? — sussurrei de volta, me inclinando mais
na direção dela, sentindo o seu cheiro de cereja. — Anda pior do
que Drake na fofoca?
Drake me deu o dedo do meio, mas ficou atento, querendo ouvir
tudo da nossa conversa.
— Como soube disso? — ele perguntou interessado.
— Elas estavam falando ainda agora. — Madison deu de
ombros e mordeu o último pedaço do seu sanduíche. — Ela disse
que vocês... — Ela apontou o dedo para mim e suas bochechas
ficaram coradas.
Sorri sem conseguir me segurar.
— Que nós... — incentivei de provocação.
Adorava quando ela ficava desconcertada.
— Você sabe — ela resmungou.
— Não lembro dela — confessei.
E realmente, não lembrava.
— Isso é péssimo — Drake repreendeu e ergui a sobrancelha
em ironia para ele.
— Responda depois — mandou Madison. — Ela vai ficar
magoada.
— Vou responder — menti e o celular dela, que estava em cima
da mesa, acendeu com uma mensagem de um número
desconhecido.
Número desconhecido: Derek aqui, linda.
Número desconhecido: Então, confirmado, né? Cinema hoje.
Madison tentou travar a tela, só que eu já tinha lido.
Hum. Quem diabo era Derek?
Linda? Que intimidade era essa?
Senti um amargor na boca e tive que estralar o pescoço, pois de
repente meu corpo ficou tenso. Longe de mim me importar com
quem ela saía, mas quem era ele?
— Encontro hoje? — perguntei, tentando não soar interessado
nos planos dela. E não estava. Ela tinha a vida dela, não era da
minha conta o que fazia, com quem fodia...
A pequena corou envergonhada e colocou o celular no bolso do
macacão.
— Não é da sua conta — foi tudo o que disse.
— Você o conhece direito? — questionei direto e ela revirou os
olhos.
— Não muito, mas ele é do meu curso.
— Como vai sair com um cara que nem conhece? — repreendi
tentando fazê-la desistir.
— E como você quer que eu o conheça sem sair com ele? —
devolveu, erguendo o ombro.
— Isso é perigoso, e se ele for um psicopata?
— Nem vou me abalar — ironizou, olhando para mim. —, eu já
moro ao lado de um.
Dei de ombros como se não me importasse porque Drake já
estava começando a me olhar de um jeito estranho. E não me
importava, de verdade, nem mesmo gostava dela.
— Bem, eu já vou indo. — Ela se levantou e deu um abraço em
Drake.
Quando se virou para mim, apenas ergueu a sobrancelha como
se dissesse: “espero que não nos encontremos tão cedo”. Ergui a
minha de volta e ela balançou a cabeça.
O gnomo seguiu para fora do refeitório e fiquei observando-a
até sumir completamente da minha vista.
Nós vivíamos brigando, e eu curtia implicar com ela. No entanto,
me dava um aperto estranho no peito imaginar que ela iria sozinha
encontrar uma pessoa que não sabia quem era. Poderia ser um
cara perigoso, alguém que lhe fizesse mal.
E ela era tão pequena...
Fazia sentido? Talvez não, porém eu tinha que ver por mim
mesmo quem era esse cara.
— Colin! — Drake chamou do meu lado e pisquei, só então
percebendo que ele já estava de pé.
Me levantei e seguimos para o treino, torcendo silenciosamente
que a nossa cara de ressaca já tivesse passado.
— O que você acha de vizinhos que não se preocupam com o
bem-estar das suas vizinhas? — perguntei para Drake.
— Eu acho que de alguma forma você vai usar essa conversa
pra me convencer que é razoável ir no encontro da Maddie —
respondeu meu amigo. — Mas não é, deixe a garota em paz.
— Você não está entendendo nada. — O dispensei com um
aceno. — Não vou no encontro dela, não me interesso pelo que ela
faz da vida.
— Tá bom. — Drake riu.
— Só estava comentando que isso é perigoso até pra gente.
— Oh, é mesmo? — ironizou me dando corda.
— É, e se ela levar esse cara pra casa depois? Ele pode ser
perigoso, e talvez você tenha esquecido que ela mora ao nosso
lado. Ou seja, todos corremos perigo.
— Essa foi a melhor desculpa que você arrumou pra persegui-
la? Achei que era mais criativo que isso.
Revirei os olhos.
— Não vou persegui-la, não me importo com ela — enfatizei, só
que ele pareceu não acreditar.
— Eu sei que você vai dar um jeito de aparecer lá pra estragar
tudo — ele concluiu e eu tive que rir daquilo.
— Não vou ficar perseguindo a Madison por aí. Só estava
comentando... — Dei de ombros. — Tenho mais o que fazer do que
ficar verificando com quem ela sai.
Só iria dar uma olhada nele.
Primeiro de tudo, quem era Derek? E por que nunca ouvi falar
dele? Ela nem tinha o número salvo, podia ser um stalker.
E de stalker na sua vida, já bastava eu.
 
 
 
 
Colin Scott
 
Madison já tinha saído para o seu encontro.
Ela estava com um vestido azul, que desenhava perfeitamente
as suas curvas. Os seus seios fartos eram segurados pela alcinha
que estava amarrada no seu pescoço.
Vi tudo pela janela do meu quarto, com o meu binóculo. Aquele
tinha sido o melhor investimento que já fiz. Sem ele eu não poderia
ver cada expressão do seu rosto do meu quarto, ou a cor do seu
brinco, até mesmo as sardas na ponta do nariz eu conseguia pegar
com um bom zoom.
Assim que ela entrou no carro, eu desci as escadas depressa e
fui até a casa ao lado. Entrei na casa das minhas vizinhas e segui
para o quarto da pessoa que iria ao cinema comigo.
Podia chamar alguma garota que já fiquei, porém ficaria na
obrigação de dar atenção a ela. A solução perfeita era Scar. Poderia
passar a noite toda na minha perseguição e ela não estaria nem aí.
As vantagens de se ter uma amiga mulher.
— Scar? — Bati despretensiosamente na porta dela.
Mas não recebi resposta.
— Scar? — Bati novamente e quando não ouvi nada, decidi
entrar.
  Ela estava andando pelo quarto com fones de ouvido.
Arrumava a cama, já se preparando para dormir. Assim que me viu,
tirou um fone e foi logo me avisando:
— Eu estou morta. — Ela bocejou afofando o seu travesseiro.
— Sem condições de sair hoje.
— Está virada desde ontem? — perguntei me encostando na
porta.
Scar confirmou com um aceno.
— Estava fazendo hora extra.
— Pro lugar que vamos você pode dormir à vontade —
argumentei e ela ergueu a sobrancelha em deboche.
— Tenho aula cedo amanhã. Nada nem ninguém vai me fazer
sair desse quarto — determinou me esperando ir embora.
— Você que sabe... — murmurei dando de ombros e passando
pela porta. — Eu iria te pagar o dobro da sua hora extra apenas pra
assistir filme.
Fechei a porta, mas esperei no corredor.
Três.
Dois.
Um.
— Como é? — Scar saiu do quarto ansiosa, e estreitou os olhos
em desconfiança. — O dobro?
— Exatamente — confirmei.
— Por que não disse logo? — Scar foi procurar os sapatos e
quando voltou, parou no meio do caminho. — Espera — disse se
virando para mim. — Eu só vou se for cinco vezes a hora extra.
Pisquei perplexo.
— Cinco vezes? O que é isso? Um assalto? — reclamei, só que
ela não deu importância.
— Meu tempo é caro — avisou.
— Tá — resmunguei, olhando para o quarto de Madison.
Sorri ao imaginar a cara dela quando me visse. Ficaria puta.
— Que tara é essa de ir pro cinema hoje? — Scar perguntou,
seguindo o meu olhar.
— Tem um lançamento que quero ver — menti seguindo para
as escadas.
— Um minuto. — Scar foi até o quarto de Madison e abriu a
porta de uma vez. — Rá! Eu sabia. — Ela me deu um sorriso
convencido. — Você vai atrás da Maddie!
Balancei a cabeça em negação para ela.
— De onde você tira essas coisas? Nem sei onde ela está.
— Sei... — murmurou desconfiada.
E não sabia mesmo. Por isso não podia perder tempo, ainda
tinha que passar em todos os cinemas de Providence.
 
Madison Jensen
 
Eu: Oi.
Eu: Cheguei já.
Me encostei em uma parede e alisei o meu vestido azul, que
estava um pouco amassado. Ele já estava um pouco velho, contudo
continuava lindo.
Era relativamente curto, chegava até o meio das minhas coxas,
soltinho em um estilo bem romântico, mas preso pelo pescoço, de
um jeito que valorizava os meus seios. Coloquei também um salto,
só para não parecer muito baixa e esperava mesmo que não
estivesse arrumada demais.
Estava nervosa? Sim. Se fosse um encontro com as pessoas do
meu curso, eu não falava muito com quase ninguém e ficaria
deslocada.
Se fosse um encontro só com Derek... bem, eu tinha dado um
tempo nos encontros desde o dia em que fiz o ritual fracassado com
a minha vela. Não queria mais criar expectativa para outra
frustração e que a verdade seja dita: estava ficando caro sair toda
sexta-feira.
Hoje mesmo ia gastar o resto do dinheiro que tinha guardado
para o mês. Minha situação financeira nunca foi fácil, o momento
mais “confortável” da minha vida estava sendo aquele. Eu vivia de
um dinheiro reservado para mim, ele era bem pouco, porém eu era
bolsista e sempre aprendi a viver com o mínimo, então dava conta.
Até ser expulsa da fraternidade com as meninas no início do
semestre. Meu novo aluguel não era nada barato e isso me obrigou
a enviar meu currículo para vários lugares semana passada.
— Ei, você está linda.
Levantei o olhar depressa e encontrei Derek parado na minha
frente, vestindo uma camisa xadrez e calça jeans.
— Você também. — Sorri para ele e olhei em volta, procurando
as outras pessoas.
É, era um encontro.
— Demorei muito? Eu deveria ter pego você, mas fiquei preso
na aula até agora.
— Ah, sem problema. — Coloquei minha bolsa no ombro, um
pouco nervosa. — Você tem aula de noite também?
— Tenho algumas, esse semestre está puxado. — Derek seguiu
para a fila em que comprava os ingressos e o acompanhei logo
atrás.
— Eu imagino, o último deve ser o mais difícil.
— O último é o que você menos se esforça. — Derek entrou na
fila e virou de frente para mim.
Ele desceu o olhar pelo meu vestido de um jeito discreto e
acabou focando no meu decote por mais tempo do que deveria.
Joguei suavemente o meu cabelo para a frente, querendo tampar a
visão e olhei para o cartaz de filmes ao nosso lado, um pouco
desconcertada.
— Você gosta dos filmes da Marvel? — ele perguntou.
— Gosto sim — respondi sorrindo.
A fila andou e seguimos mais para frente.
— Não achei que fizesse o seu estilo — comentou, se
aproximando um pouco mais de mim.
Eu poderia reagir, incentivar ou recuar a investida dele, no
entanto paralisei no lugar logo que vi, por cima do seu ombro, Colin
Scott caminhando em nossa direção como se fosse o dono do lugar.
Ele tinha a postura descontraída, as mãos dentro dos bolsos da
sua calça preta, vestindo uma camiseta branca e deixando os
braços fortes à mostra. O seu maldito colar prata deixava tudo pior,
parecia que tudo nele era sexy.
O jeito de andar, como arqueava a sobrancelha em ironia, a
curva que seus lábios faziam quando sorria, os dentes brancos, os
olhos azuis... até mesmo a sua barba por fazer era atraente, com
alguns fios castanhos e outros loiros. Se ele não fosse altamente
insuportável, eu até poderia me sentir atraída por ele.
A maioria das pessoas ali eram universitárias e o
reconheceram, as garotas na nossa frente na fila o avaliaram de
cima a baixo e eu odiava o fato de ele ser tão aclamado assim.
— Isso só pode ser brincadeira — murmurei frustrada e Derek
virou para trás, procurando o que tinha chamado a minha atenção.
— Colin Scott — foi tudo o que Derek disse.
— Sim — concordei de má vontade. — É ele.
Colin estava olhando em volta, como se procurasse alguma
coisa. E assim que seus olhos pousaram em mim, ele abriu um
sorriso felino.
Ele desceu o olhar pelas minhas pernas e subiu lentamente sua
avalição pelas minhas coxas, saboreando cada parte do meu corpo,
sem deixar nada de fora. Ele me encarava como se eu estivesse...
nua, eu quase me senti acariciada por onde os seus olhos
passaram. Prendi a respiração e soltei o ar quente devagar pela
boca quando minha pele se arrepiou.
Era terrível ficar assim só com o jeito sujo que o cretino me
olhava.
Quando finalmente ele chegou ao meu rosto Colin fez um “O”
com a boca, como se estivesse em choque por me ver ali.
— Madison! Você aqui! — Colin comentou surpreso e veio até
nós. — Quanta coincidência!
— Eu diria azar — corrigi seca.
Sinceramente, eu tinha que verificar o meu horóscopo. Sempre
que ia a algum encontro esse infeliz tinha que sair justo para o
mesmo lugar?
— Que coisa, hein? — Colin balançou a cabeça abismado. —
Parece que toda vez que tenho um encontro você aparece.
— Olha só, eu ia dizer a mesma coisa — debochei, forçando um
sorriso.
— Eu poderia até pensar que você anda me seguindo... —
jogou a indireta no ar.
Mas era muita cara de pau.
— Eu tenho mais o que fazer da minha vida — disse afiada. —
Pra falar a verdade, eu acho que é você que anda me seguindo —
atirei de volta, lembrando das vezes em que ele me espionou pela
janela da sua casa.
— Eu? — Colocou a mão no peito, horrorizado com a ideia. —
Por que faria uma coisa dessas? Em um dia de semana, que
poderia estar em casa estudando... O que ganharia com isso?
— Infernizar a minha vida, que é só isso que você sabe fazer.
Colin revirou os olhos.
— Nem tudo é sobre você, Madison. Eu vim assistir um filme
com Scarlett.
— Scar? — Franzi a testa sem acreditar naquela coincidência,
até ver minha amiga caminhando em nossa direção, fazendo
algumas cabeças a secarem por trás.
Ela pareceu quase aliviada por nos encontrar ali.
Minha amiga era gata. Do tipo que realmente chamava atenção.
Ela tinha o cabelo castanho escuro, longo e liso. Um corpo
espetacular, a pele levemente bronzeada e cheia de tatuagens.
Entretanto, o que a fazia exótica eram os seus olhos de tom lilás
raro.
— Eu sou Derek — meu encontro se apresentou e eu fiquei
mortificada ao perceber que tinha esquecido completamente dele.
— Prazer — Colin disse em um tom seco e apertou a mão dele.
— Graças a Deus — Scar disse ao nos alcançar. —, já estava
cansada de rodar em cinemas.
— Oi, querida. — Me inclinei para beijar o seu rosto. — Como
assim rodar pelos cinemas? — perguntei sem entender e Colin
estreitou os olhos para ela.
— Eu vou comprar a pipoca — Scar avisou do nada com um
olhar provocativo, me dando outro beijo antes de sair.
— Vocês estão em um encontro também? — questionou Derek
e senti uma pontada no meio do peito.
Baixei o olhar depressa, encarando os meus saltos gastos. Eles
eram amigos, nunca tinha percebido qualquer coisa nesse sentido
entre os dois. Será que...
— Não — esclareceu Colin e ergui o olhar para ele. — A gente
é amigo, só viemos assistir um filme.
Estranhamente, me senti bem com aquilo.
— Então, que filme vamos assistir? — Colin perguntou
animado.
Vamos?
— Algum da Marvel — respondeu Derek.
— E você vai assistir com a gente? — Ergui uma sobrancelha
em desafio.
Eu não iria ficar trancada em uma sala por horas com ele, já era
obrigada a morar ao seu lado. E ainda não tinha certeza se ele
estava aqui como stalker ou se era só coincidência.
Colin adotou um olhar magoado nitidamente fingido.
— Bem... — Suspirou Colin. — Se estamos atrapalhando vocês
assim, é melhor vermos outra sessão.
Como era cínico.
— Eu concordo — afirmei satisfeita, sem cair no seu joguinho.
— Nunca foi minha intenção forçar a minha presença aqui —
continuou o seu drama.
— Pois não force. — Sorri tranquila para ele.
— Nunca fui tão insultado em toda a minha vida — declarou e
Derek o olhou um pouco desconcertado.
— Você pode assistir com a gente, cara. Sem problemas —
decidiu o meu encontro e quis matá-lo ali.
— Oh! Obrigado, Derek! — Colin agradeceu e deu dois tapas
nas costas de Derek, acho que era para ser de um jeito amigável,
mas acabou saindo um pouco forte demais. — Entretanto, eu não
ficaria mais aqui nem se me implorassem, tenho orgulho.
Maravilha!
— Só vou aceitar o convite — continuou ele, acabando com
toda a minha alegria —, em respeito à Scarlett. — Ele apontou para
Scar que tinha chegado com as pipocas.
Ela revirou os olhos e chegou nossa vez de comprar os
ingressos. Para meu total desgosto, Colin escolheu as poltronas ao
lado das nossas para assistir “Capitão América”.
Seguimos pela sala do cinema em silêncio. Entrei na nossa
fileira e sentei na poltrona que escolhi, quando olhei para o lado vi
que Colin tinha passado na frente de Derek. Ele sentou na maior
cara de pau no lugar do meu encontro, ao meu lado. Meu colega de
curso não viu outra opção, sentou na poltrona que era do Colin,
ficando ao lado da Scarlett.
— Você sentou no lugar dele — avisei a Colin.
— Ah, não! — Colin arregalou os olhos em susto. — Perdão,
cara!
Esperamos ele se levantar para trocar de lugar, mas não
aconteceu.
— Não acha melhor a gente trocar de lugar? — Derek ofereceu,
apontando para a cadeira dele.
— Não precisa — Colin o dispensou com um aceno. — Vai
atrapalhar as pessoas de trás.
— O filme não começou — lembrei-o.
— Pois é, só que eu não posso ficar me levantando assim —
inventou Colin, esticando as pernas de um jeito relaxado no
assento. — Eu tive uma lesão no joelho hoje no treino. — Ele
massageou o local fazendo uma expressão de dor que não acreditei
nem por um segundo.
— Eu não sei se você notou, mas vim ao cinema com ele —
sussurrei perto do ouvido do idiota para Derek não escutar. —
Vamos querer conversar.
— Podem conversar. — Colin se sentou de uma forma em que
eu podia enxergar Derek perfeitamente.
Olhei para meu encontro, pedindo desculpas silenciosamente
pelo meu vizinho inconveniente. Derek deu de ombros, dizendo que
estava tudo bem.
Scarlett apenas balançou a cabeça em negação sem tirar os
olhos da tela.
— Então, de onde vocês se conhecem mesmo? — Derek puxou
assunto.
— Somos vizinhos — respondeu Colin.
— Infelizmente — resmunguei baixinho, porém acabou saindo
alto demais.
— Não entendo porque tanto desprezo. — Colin olhou para
Derek arrasado. — Nunca fiz nada a ela.
Faça-me o favor.
— Eu posso listar uma série de coisas que você já me fez. —
Se era para lavar a roupa suja, eu podia fazer isso com gosto. — A
começar por me bisbilhotar com o binóculo.
O louco até já desconfiou que eu estava escondendo um corpo
e um dia a polícia apareceu na minha casa achando estranho a
elevação no meu gramado. Sabe o pior de tudo? Ele disse para os
policiais que eu tinha um metro e quarenta. Fiquei tão revoltada que
joguei um saco de farinha de trigo nele.
— Com um binóculo? — Derek arregalou os olhos surpreso.
— Sim! — confirmei, feliz por ter alguém do meu lado ali.
— Pelo amor de Deus, Madison, conte a história direito pra ele.
Podem pensar que sou um stalker louco — reclamou Colin,
decepcionado comigo.
— E não é? — atirei de volta.
— Não, eu estava apenas cumprindo um dever que me foi dado
— afirmou.
— Que dever? — Ergui a sobrancelha.
— Eu não sei se vocês sabem, mas eu sou o líder da
associação de moradores da nossa rua — comentou Colin com
orgulho.
 Que história era essa?
— Que associação? — questionei.
— Da nossa rua — Colin respondeu como se fosse óbvio.
— E por que eu nunca soube dela?
— Porque só aceitam membros acima de um metro e sessenta.
— O babaca deu de ombros.
— Que absurdo! — declarou Derek, revoltado pela minha
exclusão e Scarlett apenas bufou em seu assento.
— A questão é que eu sou o líder — continuou Colin. — Ganhei
por votação democrática.
— O descaso do século — fiz questão de debochar, porém
Colin me ignorou.
— Cabe a mim a defesa e bem-estar de todos os moradores,
por isso comprei o binóculo, é por mera precaução. Vocês não têm
ideia do que eu já tive que enfrentar naquela rua, é um lugar
bastante perigoso.
— Nisso eu tenho que concordar — ironizei balançando a
cabeça para ele.
— Tiveram muitos assaltos por lá? — Derek se inclinou na
nossa direção, interessado.
— Não muito — falou Colin. —, mas soube de uma vez em que
a polícia estava desconfiada que alguém da vizinhança escondia um
corpo.
Olha, é cada uma que eu tenho que aguentar.
— Que isso não saia daqui — avisou Colin cauteloso e revirei
os olhos.
— E era verdade? — Derek perguntou.
— Parece que não — Colin informou e todos suspiraram
aliviados, até mesmo o pessoal da fileira de trás, que parecia estar
escutando atentamente aquele absurdo. — No entanto, ainda tenho
um pé atrás com a elevação de um certo gramado. Algo parece ter
sido enterrado ali.
— Não foi — afirmei, estreitando os olhos para Colin. — Mas
pode ser.
— Que horror! — exclamou alguém da fileira da frente,
prestando atenção na nossa conversa.
— E onde fica essa elevação? — Derek indagou curioso.
Colin ficou um momento em silêncio, deixando o suspense no ar
e podia sentir que algumas pessoas estavam comendo as suas
pipocas mais devagar para ouvir a mentira que ele iria soltar a
seguir.
— No gramado da casa da Madison — soltou de uma vez,
fazendo graça e várias cabeças giraram na minha direção.
Scarlett riu e fiquei feliz que ao menos alguém estava se
divertindo.
— É bom você se mudar — Derek aconselhou.
— Acredite, se eu pudesse já estava bem longe — garanti a ele,
entediada. — Aquele lugar tem de tudo, até pervertidos — joguei a
indireta.
— Pervertidos? — Colin ergueu a sobrancelha.
— Sim, você não se lembra? — Sorri, animada para também
fazê-lo passar vergonha. — Daquele vizinho que estava olhando os
meus peitos pela janela.
— Não me lembro disso. — Colin deu de ombros, só que eu
podia ver que ele queria rir.
— Eu me lembro, suspeito que todos os dias ele ainda me
espiona.
Colin revirou os olhos.
— De onde você tira essas coisas? — Colin disse abismado.
— E a história da elevação no seu gramado? — questionou
Derek, preocupado. — A polícia foi investigar?
— Foi sim — Colin contou. — Passaram o dia procurando um
fugitivo de um metro e quarenta.
Meu deus, que ódio!
— Um metro e quarenta? — repetiu Derek, incrédulo.
Ouvi um ruído estranho e vi que era Scar prendendo o riso.
— Sim, era tão pequeno que ninguém conseguia pegar. Eu
soube que ele entrava nas casas pra pegar farinha de trigo.
O quê?
— Farinha de trigo? — Franzi a testa sem acreditar no rumo
daquela conversa.
— Sim — concordou Colin, triste. — Era viciado.
— Oh, Deus! — Alguém da fileira da frente murchou triste.
— Essa situação é terrível mesmo — concordou Derek,
apiedado.
— Viciado em farinha de trigo? — ironizei e Colin me
repreendeu com o olhar.
— Não é bonito debochar do vício das pessoas, Madison —
disse o babaca.
— Também não é bonito inventar histórias sem pé nem cabeça
— pontuei.
O filme começou e todas as luzes se apagaram. Me encostei
melhor na poltrona, não querendo mais estender a conversa, mas
não pude deixar de alfinetar.
— Eu jamais vi tamanha mentira contada em uma só história —
murmurei baixinho e Colin sorriu.
— Eu sou bem informado dos babados da rua pois eu sou líder
da associação. — Piscou para mim e estalou a língua.
— Só se for a associação dos loucos.
— Maddie — chamou Derek e tentei vê-lo por cima de Colin. —
Se você quiser, a gente pode passar na sua casa depois, pra falar
daquele quadro.
Senti meu rosto esquentar, pois sabia o que aquilo significava, e
ele falou bem na frente do Colin e da Scar. Eu não queria estender,
ele poderia pensar que eu estava disposta a algo mais se fôssemos
para o meu quarto.
— Pode ser. — Sorri e sentei direito no assento, fugindo do
olhar dele.
— A gente combina depois — Derek garantiu e Colin esticou
mais as pernas grandes, parecendo incomodado com a sua
posição, estralou o pescoço e cruzou os braços na frente do peito.
Permaneci em silêncio e tentei me concentrar no filme por um
tempo, porém senti o meu verdadeiro problema com cinemas: frio.
Abracei o meu corpo e me encolhi no assento, coloquei o meu
cabelo espalhado para frente, querendo produzir calor de qualquer
jeito. Senti o braço musculoso de Colin roçando no meu e foi um
alívio.
Me inclinei mais para ele, só um pouquinho, no entanto o
suficiente para sentir o calor do seu corpo. Não deveria ter feito isso,
pois fiquei praticamente colada ao seu corpo. Quis muito que
nossas poltronas tivessem aquele braço no meio, mas não tinham, e
eu estava próxima demais.
Colin tinha um cheiro gostoso. Era até difícil resistir encostar o
nariz na sua camiseta, além disso ele era quentinho. A sala estava
gelada demais... não tinha problema em me aproximar um pouco
mais.
Sabíamos que nos odiávamos e não queríamos ficar perto um
do outro. Então, se eu me aproximasse dele, com toda certeza, não
era com segunda intenção. Tudo o que eu queria era calor...
Ah, tudo bem.
Encostei a cabeça no ombro dele bem devagar e Colin ficou
imediatamente tenso quando sentiu que estava deitando no seu
ombro. Meu coração acelerou em nervosismo e fiquei morrendo de
medo de ele entender aquilo errado.
Eu não estava dando em cima dele. Imediatamente me afastei e
fiquei ereta no lugar.
— Eu só estava com frio, não entenda errado... — sussurrei
baixinho, constrangida.
Ele não me respondeu. Tomei um susto no momento em que o
braço forte dele me envolveu e me puxou para o seu corpo.
— Pode me agarrar vai — provocou de brincadeira —, eu sei
que é um sonho seu.
— Até parece — murmurei e mirei Derek do outro lado olhando
para nós de um jeito estranho. — Eu estou morrendo de frio —
expliquei, não querendo que ele pensasse que Colin e eu tínhamos
alguma coisa. — A gente se odeia — completei, só para deixar bem
claro.
Derek estreitou os olhos desconfiado, mas depois acenou com
a cabeça.
— Se não quiser ir pra sua casa — jogou meu encontro. —, a
gente pode fazer outra coisa.
— Claro. — Sorri para ele.
Era o mínimo, nem tivemos a oportunidade de conversar direito.
E me dava a saída para não ter que voltar para casa com ele.
Colin ficou calado, nos dando espaço, porém o seu braço
começou a me apertar com um pouco mais de força. Senti a sua
mão na minha cintura, ela era quente, como todo o corpo dele. O
seu polegar foi acariciando meu quadril e eu tive que respirar fundo.
De repente senti uma vontade de apertar as pernas uma na
outra, e foi exatamente o que fiz. Ele suspirou do meu lado, quase
satisfeito e passou a acariciar minha cintura, causando arrepios no
meu corpo.
Fechei os olhos tentando controlar meu próprio corpo, respirei
fundo, e quando os abri de novo, peguei Colin me olhando
atentamente. Ficamos nos encarando até ele entreabrir os lábios e
colocar a ponta da língua para fora.
Respirei fundo, sentindo minha própria boca ficar seca ao vê-lo
lambendo os lábios, molhando-os sem tirar os olhos de mim.
Não consegui desviar daquele gesto, fiquei quase hipnotizada
pela sua língua. Ela parecia travessa, assim como ele. Sem
perceber, acabei me pegando entreabrindo os meus lábios, sentindo
um calor que vinha de dentro.
A pegada dele ficou mais firme, sua mão desceu pelo meu
quadril em uma carícia que estava me deixando levemente trêmula.
Sabe aquele frio? Passou. Estava tão quente que eu poderia
me abanar ali.
A mão dele chegou na minha coxa nua, descansando ali. Não
me atrevi a me mexer, fiquei ali sentindo o peso da sua mão na
minha perna. O contato das peles.
E ele era tão cheiroso... desci o olhar pelo seu pescoço. Tudo
nele era masculino, ele tinha músculos até nas laterais do pescoço e
as veias pulsantes eram excitantes.
E eu não deveria estar prestando atenção nisso ali.
Ou em qualquer outro momento.
Subi o olhar depressa e o encontrei com a sobrancelha
arqueada, daquele jeito cafajeste dele e o odiei com todas as
minhas forças para compensar essa atração que eu sentia subir
pelo meu corpo.
Ele me deu um sorriso sexy e o seu polegar girou em círculos
em volta da minha coxa. Me arrepiei toda e torci, com tudo de mim,
para que ele não percebesse.
— Com frio, pequena? — perguntou, passando o polegar de
leve pelos pelinhos arrepiados da minha coxa.
Estávamos próximos, de um jeito que o hálito quente e gostoso
dele atingiu minha boca.
— Uhum — confirmei, sem conseguir dizer uma palavra
coerente.
O sorriso diabólico do cretino cresceu, como se soubesse que
meu arrepio não tinha nada a ver com o frio, e ele subiu o carinho
até chegar no limite do meu vestido. Seu dedo passeou bem onde o
tecido terminava, como se quisesse subi-lo um pouco mais.
Ok, estava excitada. Podia sentir a minha calcinha úmida. Isso
era muito, mas muito ruim.
Ele estava mesmo tentando subir mais o meu vestido no meio
do cinema? Do lado do meu encontro?
Colin com certeza achava que eu era boba e tudo bem, estava
sentindo meu rosto esquentar. Ele deveria estar se vangloriando
disso, só que eu não o deixaria saber que eu tinha uma leve atração
por ele.
Leve. Que fique claro.
Sem tirar os olhos dele, toquei com a ponta do dedo a sua mão
e Colin ficou um pouco tenso quando nossos dedos se tocaram.
Você também sente esse atrito? Pode ser química. Ou ódio.
— Cuidado com a mão — sussurrei baixinho e fiquei orgulhosa
de mim mesma por ter conseguido soar de um jeito firme.
Colin não podia brincar comigo.
Seria uma jogada perigosa, e eu garantiria que não sairia
perdendo.
Colin Scott
 
— Cuidado com a mão.
Seus dedos gelados apertaram a minha mão que estava em
cima da sua coxa macia e gostosa. Ela não desviou o olhar nem por
um segundo e não consegui evitar sorrir, convencido.
— Por quê? — sussurrei de volta, sentindo meu pau endurecer.
— Ela está te incomodando?
Apertei de leve sua coxa gostosa e Madison respirou fundo,
deixando um suspiro escapar entre os seus lábios e quis muito
descobrir o gosto deles. Queria chupar a sua língua atrevida e
mordiscar o seu lábio inferior.
A pequena engoliu em seco e me lançou um olhar irritado. Ela
estava com raiva por se sentir atraída por mim, algo que eu
compreendia bem. Também sentia essa mesma irritação desde o
maldito dia em que a conheci.
Meu maior prazer era irritá-la, mas admitia com tranquilidade
que se Madison me desse mole, eu a foderia até deixá-la assada.
Era só sexo e não era preciso gostar da pessoa para isso.
— Eu não estou com frio aí. — Ergueu uma sobrancelha ruiva
em afronta.
— Desculpe. — Alisei a pele dela uma última vez, quase me
despedindo, sabendo que provavelmente nunca mais teria outra
oportunidade de tocá-la ali de novo. Então, subi minha mão até a
sua cintura, sem conseguir soltá-la de vez. — Achei que como
estava toda arrepiada, só poderia ser de frio.
Claro que eu não podia deixar passar essa. Sorri para a
pequena, e a vi estreitar os olhos em ironia, sabendo que eu estava
provocando-a.
— Às vezes tenho arrepios involuntários — mentiu, voltando a
prestar atenção no filme, dando por encerrada nossa interação.
  Contudo, ela não saiu do meu abraço e eu continuei
segurando-a. Poderia ficar calado, deixá-la em paz, só que era algo
mais forte do que eu.
— Deveria ir no médico ver isso — aconselhei, me divertindo ao
ouvi-la suspirar —, com certeza não é normal ter arrepios
involuntários.
— Não acontece com muita frequência — inventou o gnomo.
— Então é só quando está comigo? — provoquei.
— Sim — afirmou, dando de ombros. — Acontece mais quando
encontro com pessoas desagradáveis.
Sorri e ela encostou mais a cabeça no meu peito, relaxada.
— Deveríamos ter escolhido O Batman — reclamou Derek, o
cuzão.
Tudo bem, ele não era um psicopata, mas ainda assim podia
ser perigoso. Tudo indicava que Derek era um cara bacana e era
nesses que deveríamos ficar de olho.
Por esse motivo, e apenas esse, ainda me sentia na obrigação
de atrapalhar o seu encontro. Ser líder da associação inexistente de
moradores me dava deveres, e um deles era saber se os meus
vizinhos não estavam se envolvendo com quem não deveriam.
— Eu acho um pouco sombrio demais, porém também gosto. —
Madison se desencostou um pouco do meu peito para vê-lo melhor.
— Outro dia eu levo você pra assistir também — convidou e a
ruiva assentiu, dando um sorriso envergonhado para ele.
Apertei mais minha mão na cintura dela e respirei fundo. Como
diabos ele sabia que teriam outro encontro?!
Que cara pau no cu! Quem se convidava logo no primeiro
encontro para ir na casa da garota assim? Ok. Eu fazia isso, e para
piorar no meu caso nem mesmo encontro tinha.
— Como sabe que ele não é perigoso? — sussurrei no ouvido
dela e Madison se aconchegou de novo em mim para ouvir melhor.
— Por que eu acharia que ele é perigoso? — perguntou
confusa.
— Ele me parece estranho — afirmei com o cenho franzido.
— Estranho? — Ela virou de frente para mim, sem entender. —
Por quê? O que ele fez?
— Sei lá. — Dei de ombros. — Ele não falou nada de errado até
agora, está se comportando muito bem e isso é suspeito.
— E por que isso deveria ser suspeito?
— Eu desconfio de pessoas normais demais.
— Isso não faz o menor sentido. — Ela revirou os olhos.
— Estou dizendo, Madison — afirmei convicto. — Tem algo de
muito errado com esse cara. E meu radar não falha.
— Ah, é? — debochou ela, rindo. — Do mesmo jeito que não
falhou quando achou que eu estava escondendo um corpo?
— Até hoje ainda desconfio daquela elevação do gramado.
— Então por que você não cava pra ver o que tem lá? — Ela
riu. — Seria uma cena impagável.
— Oh, vocês dois — reclamou alguém da fileira de trás. —
Podem falar mais baixo?
— Desculpe. — Madison olhou para trás arrependida e depois
se encolheu no meu braço.
Gostava daquilo e a apertei mais, protegendo-a do olhar
assassino do pessoal.
— Se eu fosse você, não sairia com ele de novo — aconselhei
baixinho.
— Se eu fosse você, cuidaria da própria vida — respondeu no
mesmo tom.
— Não me importo com o que você faz da sua vida — continuei,
porque realmente não me importava. — Só estou dando meu
conselho como um bom vizinho.
Ela revirou os olhos.
— Você não é um bom vizinho — lembrou ela. — É um péssimo
vizinho.
— Deveria dizer isso para todas as pessoas que votaram em
mim para líder da associação.
— Shhhhh! — alguém da fileira da frente chiou, incomodado
com a nossa conversa.
Madison olhou para mim e estreitou os olhos, desconfiada.
— Essa associação existe mesmo?
— Óbvio — menti, tentando manter o rosto o mais sério
possível.
— Ninguém nunca falou disso, nunca teve uma reunião...
— Teve sim, na nossa sede principal. No entanto, você nunca
foi convidada. Tem uma placa enorme na entrada, informando:
“Gnomos não passarão”.
— Ah, seu idiota! — Madison me deu um tapa no braço e eu
não me aguentei mais, tive que rir.
— SHHHHHHHH!
Muitas cabeças se viraram na nossa direção e nos
repreenderam com o olhar. Eu ergui as mãos em rendição enquanto
Madison saía tímida de perto de mim e sentava direito na sua
poltrona.
Me virei para o pessoal irritado do cinema.
— Desculpa, eu vou calar a boca agora — prometi a eles,
baixando as mãos.
— Está tudo bem aí? — perguntou Derek e Scar inclinou a
cabeça para nos olhar.
— Está sim — garantiu Madison, sorrindo para eles. —
Desculpe pelo barulho.
Ele assentiu com a cabeça e voltou a atenção para o filme. Scar
me olhou de um jeito que avisava que a sua hora estava ficando
mais cara pela conversa paralela. Apenas estreitei os olhos para
aquela golpista.
É, estava difícil encontrar bons funcionários hoje em dia.
— Olha só o que você fez — sussurrou Madison, constrangida.
— Você pode, por favor, parar de atrapalhar? — repreendi a
ruiva. — Têm pessoas que pagaram por isso.
— Ora — resmungou zangada. — É você que não cala a boca
um minuto.
— Quem começou a querer se agarrar em mim aqui, foi você —
acusei tirando meu corpo fora.
Madison se virou irritada na minha direção e ergui os braços
para me defender do seu ataque.
— Vocês podem parar com isso?
Olhei para o lado e encontrei uma mulher muito irritada com a
cabeça inclinada entre as nossas poltronas.
— Perdão, senhora — Madison pediu, arrependida.
A mulher voltou a se sentar direito, mas se pudesse lançar
facas com os olhos, já estaríamos mortos.
— Me lembre de nunca mais vir ao cinema com você — avisei
para a ruiva, que me encarou irritada, quase implorando para eu
calar a boca. — Nunca passei tanta vergonha na vida.
— Colin... — ameaçou ela já sem paciência. — Se não calar a
sua boca, eu não respondo por mim.
— Veja só o caso dessa pobre senhora. — Apontei com o
polegar para a mulher atrás de nós. — Você está estragando a noite
dela.
— E você a minha — revidou.
— Eu estava doido pra assistir esse filme — continuei,
contrariado. — Saí da minha casa achando que ia ter um pouco de
paz, e você aparece aqui, me perseguindo...
— Ah, por favor! — exclamou indignada.
— Shhhhhhh! — A senhora atrás de nós bateu o pé no chão
enfezada.
— Depois de hoje eu nunca mais terei coragem de aparecer
nesse cinema de novo — constatei.
— Se você não calar a sua boca... — Madison deixou a frase
morrer, carregada de ódio.
— Eu? — Coloquei a mão no meu próprio peito. — Veja só o
transtorno que você está causando, espero que a sua entrada seja
proibida aqui...
— Ah, já chega!
Madison se levantou com tudo, puta da vida, mas bem naquele
momento um garoto de uns 9 anos passou na nossa fileira com um
pote de pipoca e um copo enorme de refrigerante. A ruiva acabou
desequilibrando o menino, que caiu de quatro no chão entre as
minhas pernas e derramou a sua pipoca e bebida em cima do
Derek.
Alguém traga um Oscar pra esse garoto.
— Meu Deus do céu! — exclamou Madison, indo ajudar o
garoto entre as minhas pernas.
— Mas que porra! — Derek se levantou todo molhado de Coca-
Cola.
Meu Deus, eu quis muito rir.
— Isso é um absurdo! — disse alguém que também tinha sido
banhado de refrigerante.
— Você está bem, querido? — Madison perguntou com carinho,
tentando levantar o garoto que estava de quatro.
O pobre coitado se levantou e ainda estava tentando entender o
que tinha acontecido. Assim que ele viu toda a sua pipoca
espalhada pelo cinema, começou a chorar.
— Ah, não! Não chore — consolou a ruiva, alisando as costas
do garoto.
— Olha só que confusão — lamentei levantando da poltrona e
colocando as mãos no quadril. — Que tragédia. — Balancei a
cabeça em negação ao ver toda a sujeira que Madison tinha feito no
cinema.
— Isso tudo é culpa sua! — a ruiva acusou, apontando o dedo
no meu peito, porém depois disso ninguém conseguiu ouvir mais
nada, pois todos começaram a falar ao mesmo tempo.
Derek tentava torcer a sua camisa ensopada, Scar apenas
cruzou as pernas e continuou a comer a sua pipoca como se
estivesse assistindo a um show. O menino continuava chorando
enquanto Madison me ameaçava de morte e as pessoas do cinema
pediam que fôssemos expulsos da sala. Era tanta gritaria que não
consegui ouvir ninguém.
Em algum momento um funcionário do cinema chegou na nossa
fileira e indicou que nos retirássemos. Fomos “convidados a sair”.
Dei graças a Deus, pois do jeito que estava logo iríamos ser
linchados. Puxei Madison pela mão e nos guiei pelo meio da
confusão e gritaria até chegar na porta da saída.
— Meu Deus, eu vou matar você! — afirmou a ruiva assim que
chegamos do lado de fora.
— Eu? Foi você que derrubou o coitado do garoto, não deixou
ninguém assistir ao filme, porque não ficava quieta um minuto —
acusei.
Ela me olhou sem acreditar.
— Olha aqui. — Apontou o dedo perigosamente na minha cara
e dei um passo para trás, temeroso. — Você vai me levar pra casa,
porque não vou gastar dinheiro pedindo um carro. Quando eu
chegar vou fazer uma maldição pra você sumir da minha vida!
Encarei-a, abismado com o impacto daquela revelação.
— Que bosta! Se você podia fazer isso o tempo todo porque
demorou tanto? — perguntei chateado e ela não se dignou a me
responder.
Madison virou as costas para mim e saiu caminhando até o meu
carro, sem dizer uma palavra. Puta da vida. Ah cara, como eu
adorava vê-la assim. Assim que ela chegou na porta da minha
Lamborghini cruzou os braços, esperando que eu destravasse.
— E eu queria mesmo assistir o “Capitão América” — reclamei
destravando o carro e ela me lançou um olhar mortal, mas não falou
nada, parecia que estava praticando um voto de silêncio.
Entramos e saí do estacionamento.
— Se ficar calada faz parte da sua bruxaria, continue, por favor
— incentivei e ela apenas encarou a janela para não me olhar. —
Farei o que precisar, se quiser eu até lhe dou minhas cuecas.
— O quê? — Ela girou a cabeça na minha direção.
— Eu disse que posso dar umas cuecas.
— E o que eu vou fazer com as suas cuecas? — perguntou sem
entender, com o cenho franzido.
— Suas bruxarias. — Dei de ombros, não entendia da mecânica
dos seus rituais.
Ela me olhou como se eu tivesse enlouquecido.
— A única coisa que me daria prazer em fazer com as suas
cuecas seria queimá-las.
— É um fetiche estranho — pontuei, dando de ombros. — Mas
cada um com seus gostos.
Madison se encostou direito no assento e respirou fundo.
— Quando eu chegar em casa — disse para si mesma. —, vou
meditar.
A ruiva começou a inspirar e expirar devagar. Não entendia
como uma pessoa toda “zen” podia perder a paciência com tanta
facilidade.
— Oh Deus! — exclamou do nada e quase bati o carro com o
susto. — A gente esqueceu da Scar! — Ela pegou o celular
depressa e começou a digitar. — Ela disse que vai ficar por lá e
mandou te avisar que o cinema fica cada vez mais caro.
Pilantra...
— O que isso quer dizer? — Madison perguntou, guardando o
celular.
— A situação financeira dos cinemas. — Balancei a cabeça em
revolta. — Se soubesse quanto esses funcionários andam cobrando
por hora extra...
— Ai meu Deus — ela disse do nada de novo, murchando triste
com as mãos no rosto. — Nunca mais vou ter coragem de olhar na
cara do Derek.
— Fique tranquila, Derek uma hora dessas deve estar coberto
de Coca-Cola. — Ri ao lembrar dele torcendo a camisa todo
molhado.
Não me segurei, gargalhei.
— Está feliz? — questionou emburrada. — Estragou meu
encontro!
— Foi você que estragou seu encontro, e o meu filme —
completei o mais importante.
— Eu estou pouco me importando com seu filme, Colin.
— Pois deveria — avisei, olhando-a de lado. — Paguei caro, e
aquele pobre menino... Meu Deus, Madison! Como você dorme à
noite fazendo isso com crianças? — indaguei revoltado.
— Oh, tadinho — lembrou triste.
— Levando em conta todo o transtorno que ele sofreu, acho que
vai ficar traumatizado...
— Ah, já chega! — ela me interrompeu impaciente. — Tudo isso
é culpa sua!
— Sua meditação não anda funcionando — provoquei, virando
o carro em direção à nossa rua.
— Eu não aguento passar mais um minuto com você!
— Pois dê graças a Deus que chegamos em casa. — Sorri para
ela enquanto estacionava o carro em frente à minha casa.
Madison mal esperou as portas destravarem e já saiu do carro.
Tirei a chave da ignição e também saí, porém assim que fiquei de
pé, um sapato foi jogado em mim e desviei por pouco.
— Mas o que é isso? — perguntei divertido, vendo o gnomo tirar
o outro salto do pé.
Dei a volta no carro, querendo me proteger e ela correu atrás de
mim descalça, segurando seu salto alto como se fosse uma arma.
— E o papo da meditação? — Sorri sem conseguir parar de
provocá-la.
— Você está se divertindo, não é? — Jogou com ódio o seu
outro sapato em mim.
Desviei de novo dando mais uma volta no carro, fugindo dela.
Madison pegou a sua bolsa do ombro e a arremessou com tudo na
minha direção, dessa vez quase me atingiu.
— Eu espero que o seu celular não esteja aí dentro — lembrei-
a, mas o gnomo estava possuído, deu a volta no carro de novo e eu
tive que ir para o gramado ou iríamos ser atropelados se ficássemos
rodando na rua.
— Olha, se você vai tirar toda a sua roupa pra jogar em cima de
mim, sugiro que a gente suba pro meu quarto — flertei escolhendo
um péssimo momento para dar uma cantada.
— Eu nunca tiraria minha roupa pra você! — berrou a ruiva,
indo pegar os seus saltos do chão.
Preferi ficar seguro no meu gramado.
— Nunca diga nunca — alertei, estalando a língua. — Não
sabemos o dia de amanhã, hein.
— Eu sei o dia de amanhã. — Apontou para o próprio peito,
convicta. — Amanhã eu irei rezar pra que a gente não se encontre
nunca mais — afirmou, pegando a sua bolsa.
— Pois eu espero que o seu santo seja forte! Você reza daí —
avisei, indo para a porta da minha casa. —, que eu rezo daqui.
— Pode deixar — disse a enfezada caminhando até sua casa
descalça.
Não deveria, porém reparei no jeito que a sua bunda gostosa
rebolava a cada passo. Esperei ela entrar na sua casa e só então
abri a porta da minha.
Quando entrei, dei de cara com Drake, ele estava encostado na
janela da sala comendo uma banana.
— Eu devo perguntar o que vocês estavam fazendo correndo
ao redor do seu carro? — Ele se virou de frente para mim.
— Cara, eu sempre soube que você era fofoqueiro, mas não do
tipo que espiona a vizinhança pela janela. — Bati nas suas costas
em companheirismo.
— Ah, não. Essa função eu deixo pra você. — Ele piscou para
mim.
— Nunca espionei ninguém na minha vida — menti e segui para
a cozinha, querendo tomar um energético.
— Qual foi a desculpa que deu? — perguntou Drake, curioso. —
Pra aparecer no encontro dela.
Ergui a sobrancelha, me fazendo de desentendido.
— Encontro? De quem? — Olhei em volta, perdido.
Drake revirou os olhos.
— Então me diga como a Maddie voltou pra casa contigo? —
Ele encostou o quadril na bancada e cruzou os braços.
— Foi uma coincidência. — O dispensei com um aceno. —
Combinei de ver um filme com a Scar, e acredita que Madison foi
pro mesmo cinema? — Balancei a cabeça abismado.
Drake riu.
— Você andou por toda a cidade procurando ela, não foi? — ele
concluiu, gargalhando.
— Sinceramente... não sei de onde você tira essas coisas. —
Revirei os olhos, indo para o meu quarto. — Se eu fosse você,
procuraria um médico, Drake — aconselhei.
— Se eu fosse você, também procuraria um — ele disse de
volta.
Não o respondi. Subi para o meu quarto um pouco satisfeito ao
perceber que ainda estava com o cheiro da minha pequena na
camiseta.
É, no fim das contas deu tudo certo.
 
Madison Jensen
 
— Deu tudo errado — choraminguei entrando no quarto da
Sienna.
Scar tinha ficado no cinema, Amber provavelmente estava
dormindo com o Johnny, então me restava reclamar da vida para a
minha dançarina favorita.
Ela seria a vítima da vez.
— O encontro não foi bom? — perguntou Sienna, sentando na
cama e deixando o seu livro de lado.
— Eu o odeio — resmunguei me jogando em sua cama e
abraçando o seu travesseiro.
— Ele foi desagradável? — Ela tirou um cacho da frente do meu
rosto com carinho.
— Muito! — afirmei, me lembrando de como ele ficou enchendo
meu saco a noite toda.
— Tentou alguma coisa? — Sienna me olhou preocupada e
pensei um pouco.
Ele tentou, tentou subir o meu vestido, me deixou um pouco
ofegante...
— Tentou — afirmei em um suspiro quente ao me lembrar do
jeito com que a mão dele apertou minha coxa.
— Mas você parece que gostou... — Sienna sorriu.
— Não gostei. — Balancei negativamente a cabeça, um pouco
ruborizada. — Não gosto dele, na verdade, não o suporto.
— E o que mais aconteceu? — Ela estreitou os olhos para mim.
— Ele me provocou a noite inteira, ficou inventando histórias
sem sentido e me fez perder a paciência de um jeito que eu joguei
meus saltos nele — contei, virando para olhar o teto do quarto da
minha amiga.
Tudo ali era rosa. Cada parte do cômodo tinha um tom rosa
claro e branco, parecia perfeito e impecável. A cara da Sienna. Tudo
nela era assim. O seu corpo era como o de uma bailarina, esguio,
delicado, magro e firme. Ela tinha a postura impecável, o cabelo
longo e ondulado, loiro platinado, quase branco. Os olhos eram de
um azul quase acinzentado.
Ela parecia uma Barbie.
— Querida, se não o suporta...
— Eu o odeio — corrigi possessa ao me lembrar da cara
divertida do idiota fugindo da minha perseguição. — Nunca
encontrei uma pessoa na minha vida de quem tivesse mais
antipatia.
— Até mais que Colin? — questionou surpresa e a olhei
confusa.
— Estamos falando dele mesmo.
— Mas e o seu encontro?
— Eu joguei um litro de Coca-Cola nele — revelei, me sentindo
péssima por ter deixado Derek todo sujo.
— Meu bem, essa história está ficando confusa — ela concluiu.
— Meu encontro foi por água abaixo e Colin é o culpado —
resumi, me sentando na cama dela. — Agora, depois de tudo o que
aconteceu comigo essa noite, o mínimo que você deveria fazer era
me deixar dormir aqui. — Sorri para Sienna mostrando minhas
covinhas e ela revirou os olhos.
— Pode dormir — cedeu em um suspiro —, só não me sufoque
a noite toda.
— Pode deixar. — Beijei o seu rosto e fui até o meu quarto
pegar meu pijama.
Sempre quando tinha um dia péssimo eu tentava subornar
minhas amigas para dormir com elas. Se pudesse faria isso todos
os dias, mas nem elas, que me amavam, aguentavam tantos
abraços durante a noite.
Eu adorava dormir agarrada com alguém. Nunca tive isso na
minha vida e sempre fui muito carinhosa, então quando cheguei na
faculdade e consegui fazer amizade com as meninas, elas se
tornaram minha primeira família.
Torcia muito para que meu príncipe encantado também
gostasse desse meu lado.
Lembrando disso, fui até a minha janela e olhei as estrelas.
Elas foram minhas primeiras amigas da vida, minhas
companheiras nos meus momentos mais solitários e também minha
salvação.
— Pode dizer pro amor da minha vida que eu já estou pronta?
— sussurrei para elas. — Ele já pode cair do céu.
Fechei a janela com um sorriso ao constatar um fato curioso: O
ódio da minha vida também caiu do céu.
Ou de uma janela.
Madison Jensen
 
Já tinha passado da hora de acordar.
O ruim de ser uma pessoa que naturalmente acordava cedo era
que às vezes você gostaria de dormir até tarde, mas o seu corpo
não deixava. Ele já sabia o momento de levantar.
Sentei na cama da Sienna e vi a bailarina dormindo do meu
lado, toda espalhada no colchão.
— Continue sonhando — desejei, dando um beijo suave na sua
testa sem acordá-la.
Sienna suspirou baixinho e abraçou ainda mais o seu
travesseiro. Eu podia sentir a sintonia dos seus sonhos daqui. Eles
eram tranquilos, e ter sonhos bons era o melhor remédio que
alguém poderia ter.
Levantei da cama e fui para o meu quarto me preparar para
uma boa meditação. Estava precisando depois de jogar meus
sapatos em Colin na noite passada. Alguns minutos com ele eram
suficientes para me desalinhar.
Abri a janela do meu quarto e vi que o dia estava lindo.
Ensolarado, quentinho, o ar estava puro. Geralmente eu fazia
meditação dentro do quarto mesmo, mas fiquei com vontade de
sentir um pouco daquela energia.
Peguei meu cobertor que usava para meditação e desci para a
nossa varanda. Assim que abri a porta o ar da manhã me tocou.
Sim, ele me tocou. O senti dentro da minha alma, me acalmando
como um feitiço.
Estendi o cobertor na varanda e sentei em cima dele, pronta
para manter aquela paz em mim quando percebi um movimento na
casa ao lado. Ajeitei a minha postura, tentando me concentrar,
porém a curiosidade venceu e olhei de canto para o gramado ao
lado.
Sabe aquele ar puro da manhã? Pois é, ele sumiu. Virou vapor.
Bem quente, por sinal.
Colin Scott estava lavando o seu carro. Ele vestia apenas uma
calça preta de corrida.
Sim, estava com o seu tanquinho de fora.
— Oh Meu Deus... — murmurei, debilmente em choque, não
conseguindo desviar o olhar do seu peitoral suado.
Colin estava com a mangueira ligada, terminando de limpar o
seu carro. Tinha um pano na outra mão e passava estrategicamente
pelo capô, deixando-o brilhante. Observei o jeito que a sua mão era
grande, grossa e lembrei de como foi senti-la apertando minha
coxa...
Subi a minha avaliação pelo seu peitoral até encontrar uma gota
de água que estava escorrendo pelo seu abdômen. Desenhando os
músculos. Fiquei com vontade de pintar aquilo. O tanquinho dele
molhado era uma obra de arte, só precisava de alguém para colocar
na tela.
Senti minha boca ficar seca, molhei meus lábios um pouco
ofegante e quando finalmente cheguei no seu rosto, o peguei
olhando para mim com o sorriso convencido.
Mas que coisa! Não era possível nem secar o seu vizinho em
paz mais?
— Se tudo o que você queria era me ver sem camisa, era só ter
dito — ele provocou.
Senti minhas bochechas esquentarem, contudo não desviei o
olhar. Mesmo que estivesse morta de vergonha.
— Você tem uma autoestima invejável — falei, tentando soar o
mais firme e desinteressada possível. — Eu só estava reparando no
carro.
Virei de frente, sem conseguir continuar encarando-o.
— Sei... se você quiser, eu te empresto o meu binóculo. Dá pra
olhar bem algumas partes com um bom zoom — ele comentou
despretensiosamente e tive que virar mais uma vez para ver a sua
cara de pau.
Ele estava mesmo me contando que conseguia olhar partes do
meu corpo da sua janela?
— Você sabia que posso te denunciar por isso? — foi tudo o
que consegui dizer.
O canto da boca dele se ergueu.
— Pelo quê? — perguntou o cínico.
— Por me espionar todo dia. — Ergui a sobrancelha sem sair da
minha posição.
Não podia deixá-lo me desconcentrar. Balancei a cabeça e virei
para frente novamente. Coloquei cada mão em cima de um joelho e
fechei os olhos, tentando fingir que Colin não existia. Por mais que
fosse quase impossível.
— Não sei do que você está falando — se fez de desentendido
e fiquei com vontade de revirar os olhos, mas me contive. — Não
sou eu quem acorda cedo pra assediar meus vizinhos pela
varanda... ainda mais usando a desculpa de que está meditando.
Não iria cair naquilo.
Estava em paz. Ele não iria me estressar, não importava o que
dissesse. Inspirei e expirei profundamente, tentando me concentrar
no ar da manhã.
— Sabe, eu acho isso demais — continuou e suspirei
profundamente. — Você é completamente obcecada por mim.
— Faça-me o favor. — Bufei em deboche e ri daquilo.
— Vive me perseguindo e me secando...
— Ai, Colin — o interrompi entredentes. — Você não tem nada
melhor pra fazer?
Ele pareceu pensar um pouco.
— Nada melhor do que isso.
Fiquei com vontade de olhá-lo, só que não o fiz. Meu coração
meio que acelerou. Odiava admitir, porém gostava de sentir seus
olhos em mim. Era quase como se minha alma estivesse sendo
tocada.
Eu sentia essa sensação quando abria a minha janela pela
manhã e ele me observava, eu sentia um arrepio no corpo.
Ansiedade, quase expectativa de acidentalmente nossos olhares se
cruzarem.
E foi essa mesma sensação que me alertou que ele estava bem
concentrado em mim naquele momento.
— Você sente prazer em irritar as pessoas? — perguntei,
ajeitando mais a minha postura e o ouvindo desligar a mangueira.
— Sinto... — Ele estava se aproximando. — Adoro quando você
tenta me bater.
Involuntariamente me peguei sorrindo daquilo.
— Eu nunca te bati — rebati, o sentindo cada vez mais perto.
— Não me importaria de receber uns arranhões. — Ele já
estava na minha varanda.
Podia sentir o seu corpo e o seu cheiro bom. Próximo demais.
— É sadomasoquista? — provoquei, sentindo o seu olhar atento
sobre mim.
— Não, você é? — A voz dele ficou mais grave, grossa.
 Em que momento o dia tinha ficado tão quente assim? Senti o
suor se acumulando no meio dos meus seios e escorrendo entres
eles. Assim como estava em outras partes do meu corpo...
— Eu... eu... não vou falar com você sobre isso — gaguejei
sabendo que estava toda vermelha.
Baixei um pouco a minha cabeça, tentando esconder o meu
rosto. Mas o problema era que meus cachos estavam presos e ele
podia ver tudo.
— Por que não? Esse é um ótimo papo para se ter entre
vizinhos pela manhã. — Podia sentir o seu sorriso de satisfação em
me ver envergonhada.
— Por que você mesmo lava? — perguntei tentando mudar de
assunto. — O carro.
— Não gosto que ninguém passe a mão no que é meu —
respondeu e senti o ar ficar cada vez mais denso.
Engoli em seco.
— Eu estou tentando meditar — avisei baixinho para ele parar
de me atrapalhar.
— Perfeito, eu também estou precisando — falou e dessa vez
eu abri os olhos em susto.
— Como é? — perguntei o vendo dar a volta na minha varanda
para se sentar do meu lado, no chão.
— Eu também ando muito estressado ultimamente. — Passou a
mão no cabelo molhado e estreitei os olhos para ele.
— Você não sabe meditar — lembrei e Colin imitou a minha
posição, colocando as mãos em cima dos joelhos.
Ele ergueu a sobrancelha afrontosamente para mim e tive que
sorrir daquilo. Ele estava ridículo.
— Ajeita mais a postura — instruí tocando as suas costas com a
ponta do dedo.
Um erro. Ele tensionou os músculos e eu retirei a mão
depressa.
— Respira fundo — mandei, me virando para frente e voltando
a fechar os olhos. — E tenta se concentrar.
— Em quê?
— Tenta pensar em algo que te acalme — aconselhei baixinho.
— Às vezes a gente passa tempo demais convivendo com os outros
e esquecemos como é se conectar consigo mesmo. É prazeroso
esse momento. Apenas escute a sua respiração, o seu peito
subindo e descendo — sussurrei devagar e podia senti-lo se
acalmando. — Apenas sinta isso.
Ele respirou com calma. Podia sentir o som do ar indo embora
do seu corpo e retornando.
— É maravilhoso, não é? — perguntei para ele depois de um
tempo.
— O quê?
— Essa energia — expliquei, sentindo o meu corpo realmente
ceder, meus músculos relaxando, mas bem consciente da presença
dele. — É palpável.
— Você não faz isso todo dia — falou e aquilo chamou a minha
atenção.
— Você realmente está por dentro da minha rotina — brinquei.
— Estou — admitiu e senti sua presença, como se
estivéssemos ligados.
— O que você fica vendo...
— Você acorda mais cedo do que eu — me interrompeu. — Às
vezes quando acordo cedo demais consigo te ver na janela, sentada
pegando sol.
Me virei para ele, porém Colin estava com os olhos fechados,
seguindo na posição da meditação por mais que estivesse
consciente da minha atenção.
— Você se encosta na janela e abraça os joelhos enquanto olha
pro céu — contou em um suspiro e meu coração amoleceu. — Teve
um dia que você fechou um olho e colocou a mão em frente ao
rosto, como se estivesse pintando as nuvens.
Coloquei a mão no rosto em susto, um pouco acanhada, mas
também me sentindo... especial.
— Você fecha os olhos quando a luz do sol chega no seu rosto,
e suspira contente, como se alguém estivesse te entregando um
presente — ele continuou. Ah, Colin. — Têm dias que faz chá e leva
pra janela. Assopra e o vapor toca o seu rosto, bem em cima das
sardas na ponta do nariz.
Toquei as sardas em questão em um movimento involuntário. E
senti um sorriso bobo crescer no meu rosto ao escutar aquilo.
— Um cacho sempre escapa do seu coque, ele toca o canto da
sua boca e você o coloca atrás da orelha... — ele sussurrou, quase
como se contasse um segredo. — Nem todo dia você medita, às
vezes pinta dentro do quarto e seus macacões estão sempre sujos
de tintas. Acende velas de cores diferentes à noite e as cheira
enrugando a ponta do nariz, isso faz com que as suas covinhas
apareçam.
Senti uma vontade estranha de abraçá-lo. Seria ridículo, e
provavelmente Colin ficaria sem graça, todavia quis tocá-lo.
— Colin... — chamei, ele abriu aqueles olhos azuis e me olhou
sem desviar. Não sei quanto tempo ficamos ali apenas nos olhando,
mas respirei fundo antes de perguntar. — Por quê?
Ele observou cada canto do meu rosto, e não consegui
sustentar o olhar. Foquei no seu queixo, sem ter coragem de
encará-lo.
— Eu não sei — revelou perdido e pareceu sincero.
— Obrigada por isso — me peguei dizendo um pouco ansiosa.
— Pelo quê? — perguntou confuso.
Por fazer eu me sentir especial para alguém. Eu não sei se já fui
especial para alguém antes.
— Por ser um stalker atento — brinquei e ergui o olhar,
encarando-o.
Colin sorriu e acabei dando um sorriso envergonhado de volta.
— Sempre à disposição — murmurou.
— Bom dia...
Viramos em susto para frente e encontramos Drake parado na
entrada da varanda. Ele alternou o olhar entre nós, parecendo
estranhar estarmos sentados um ao lado do outro harmonicamente.
— Bom dia — desejei e Drake estreitou os olhos, desconfiado.
— O que vocês estão fazendo?
— Meditando — respondeu Colin e Drake lhe lançou um olhar
incrédulo.
— Não quer tentar também? — convidei, afastando para o lado
caso ele quisesse se sentar com a gente.
— Oh, obrigado, mas acho que eu não ficaria bem com as
pernas cruzadas no jeans. — Drake sorriu e eu tive que concordar.
Seria engraçado colocá-lo sentado na nossa varanda. Drake era
enorme, perto de mim era uma vergonha. Ele tinha quase dois
metros, musculoso do tipo que chamava atenção. Além de ser muito
bonito, claro. Meu amigo tinha a pele negra, olhos verdes e um
sorriso que conseguia arrancar suspiros.
— Não é muito cedo pra mendigar comida? — provocou Colin e
Drake passou por nós com cuidado.
— Eu vim apenas desejar bom dia, caso tenha um café da
manhã pronto será uma mera coincidência — se defendeu Drake.
Ele ia entrando na casa, mas bem nesse momento Sienna abriu
a porta com uma cara de quem tinha acabado de acordar. Ela
bocejou e olhou para cada um de nós.
— O que estão fazendo? — ela perguntou, me vendo no chão
com Colin.
— Meditação — expliquei.
— Então não tem café pronto? — Drake deu uma boa olhada
em Sienna vestida na sua camisola rosa curtinha.
Ela apenas ergueu a sobrancelha em afronta.
— Só pelo atrevimento, vocês não vão comer antes de
apararem o gramado — ela mandou, apontando para a nossa
grama.
— Por que eu fui incluso nisso? — reclamou Colin já se
levantando.
— Porque sim — ela se espreguiçou e me levantei também,
percebendo que não iria mais meditar hoje.
— E aparem direito — mandei, antes de seguir minha amiga e
fechar a porta na cara deles.
— Você e Colin estavam meditando? Juntos? — Sienna ergueu
o canto da boca, achando graça.
— Nem chegamos a meditar mesmo. — Dei de ombros,
tentando não pensar nas coisas que ele me disse.
— Pensei que estivesse zangada com ele — ela pontuou.
— Estou sempre zangada com ele.
Sienna beijou a minha testa e prendeu o cabelo enquanto
seguia para a cozinha. Me inclinei na nossa janela da sala, vendo os
dois indo aparar o nosso gramado.
— Veja só como eles são eficientes — elogiei com um sorriso.
— Só fazem isso pela comida — retrucou Scarlett descendo as
escadas.
Assim que a vi lembrei imediatamente do meu encontro
desastroso.
— Derek ficou com muita raiva ontem? — perguntei logo, ainda
me sentindo péssima por ter constrangido ele.
— Nadinha — ela ironizou, se jogando no nosso sofá. — Foi
tanta confusão que ninguém mais conseguiu assistir o filme.
— Ele deve estar com ódio. Nem sei como vou olhar pra cara
dele na aula — lamentei.
— Não olhe — aconselhou Scar, ligando a televisão. — Ele vai
superar.
— Eu espero... — Suspirei, pegando o meu celular na mesinha
da sala.
Não sabia se ele queria falar comigo ou não, mas eu queria ao
menos pedir desculpas por tudo.
Eu: Oi, Derek.
Eu: Sinto muito por ontem, de verdade.
Eu: Foi uma confusão, eu não tive tempo de me despedir nem
pedir desculpas.
Me espantei quando o vi digitar imediatamente. Esperava
mesmo que não fosse me xingando.
Derek: Não fiquei com raiva.
Derek: Só não gostei que não conseguimos ficar sozinhos.
Derek: Depois vamos resolver isso.
Sentei no sofá ao lado da Scar, ainda sem curtir muito aquilo.
Ficou parecendo que ele só queria ficar sozinho comigo, não me
conhecer.
— Ele disse que quer ficar sozinho comigo — comentei
debilmente e Scar estreitou os olhos.
— Eu o ouvi sugerindo isso ontem, mas... você quer? — ela
perguntou com cuidado e abri a boca sem saber o que dizer.
Eu não era virgem. Tinha transado com um cara que me levou a
alguns encontros no primeiro ano da faculdade. Queria saber como
era e cheguei a gostar bastante, ele foi atencioso e nos vimos por
algum tempo depois disso, entretanto descobri que não sou boa em
manter uma relação com alguém de maneira casual.
Eu precisava do romance também, por isso ele foi o meu único
parceiro. Ainda não tinha me aberto para outra pessoa nesse
sentido.
— Eu queria conhecer ele primeiro. — Dei de ombros.
Scar me olhou com carinho e se sentou para ficar mais perto de
mim.
— Se não se sentir à vontade é só avisar pra ele. — Ela piscou.
— E se ele te convidar pra outro encontro, só vá se realmente
quiser, não porque ficou com vergonha de recusar. — Scar apertou
a ponta do meu nariz sabendo que eu fazia muito isso.
— Depois de ontem, acho que ninguém mais vai me chamar pra
sair. — Ri em tom depreciativo.
— Não seja dramática...
Deitei a cabeça no ombro dela e ficamos assistindo televisão
até ver o casal mais lindo da vizinhança aparecer na sala abraçado.
Amber estava agarrada à Johnny pela cintura, enquanto ele a
abraçava com um braço.
Era difícil ser solteira nessa casa.
— Café? — Amber se desvencilhou de Johnny e se inclinou na
bancada da cozinha.
— Quase pronto — avisou Sienna. — Já pode chamar os
meninos.
— Ainda não vieram aqui? — perguntou Johnny surpreso,
olhando em volta.
— Estão aparando a grama. — Apontei para o nosso gramado.
Amber foi até a janela para chama-los. Scar e eu tampamos os
ouvidos, já prontas para os berros.
— GENTE, O CAFÉ ESTÁ PRONTO! — Amber gritou e com
certeza o aviso chegou até no outro bairro.
— Não tem jeito melhor de começar o dia — zombou Scar,
coçando o ouvido.
— Você deveria colocar como despertador do seu celular. —
Piscou Amber em provocação e foi abraçar o seu namorado por
trás. — Como foi o seu encontro ontem, querida? — Amber
perguntou para mim, interessada.
— Foi... — Tentei buscar uma palavra que o definisse. — Único.
— O que aconteceu? — Johnny me olhou por cima do ombro.
Abri a boca para responder, mas Colin e Drake entraram na
casa, sujos de grama, bem na hora. Inclinei a cabeça na direção de
Colin, como se aquilo explicasse tudo.
E explicava, pois Johnny apenas balançou a cabeça em
negação, entendendo.
 
Colin Scott
 
Johnny suspirou cansado e se virou para beijar a cabeça da sua
namorada. Era triste ver como ele ficou rendido. Era um de nós.
Nosso capitão. Firme. Sério.
Agora? Se derretia só em olhar para a namorada.
— Veja isso. — Cutuquei Drake. — Pobre homem — comentei
apenado.
Drake suspirou tristemente em concordância.
— O que me consola é saber que nunca ficaremos assim. —
Drake deu tapinhas nas minhas costas em companheirismo.
— Jamais, irmão — afirmei convicto, indo me sentar à mesa.
Madison veio para a cozinha e se inclinou no balcão para pegar
uma fruta. Foi difícil não babar em cima da sua legging que
desenhava a bunda deliciosa e redonda dela. Fiquei com vontade
de abaixar o tecido e passar a mão na pele macia. Dar um tapinha
só para ver a carne balançar na minha cara...
— Colin. — Johnny estalou os dedos na minha cara, chamando
a minha atenção.
 Pigarreei e todos já estavam se sentando à mesa.
— Sim? — Cocei a nuca, desviando o olhar da bunda da ruiva.
— A comida está aqui — Scar provocou apontando para a
mesa.
— Obrigado por avisar. — Ergui a sobrancelha para ela.
— Aliás, sobre os honorários... — a pilantra jogou. — Eles
tiveram um aumento de preço pelo constrangimento incluído.
A cara nem tremia.
— Que honorários? — perguntou Amber, confusa e Madison se
sentou à minha frente.
— Era sobre uma pesquisa que estávamos fazendo — inventei,
me inclinando para me servir.
Amber ia perguntar mais alguma coisa, mas o seu celular
começou a tocar em cima da mesa.
— E os gêmeos? — questionou Johnny enquanto Amber
atendia o telefone.
— Dormindo até agora — Drake respondeu.
— Parabéns! — Amber desejou para a pessoa na linha. — Eu já
ia ligar... — Ela foi interrompida pela outra pessoa. — Mas está em
cima da hora — ela argumentou, olhando preocupada para Johnny.
Seu namorado ergueu a sobrancelha, sem saber sobre o que
era a ligação.
— A gente não pode ir — Amber se desculpou. — Temos aula,
Johnny tem treino e as passagens? — Era possível ouvir a pessoa
falando. — Compradas? Já? Ele tem jogo amanhã!
Ela conversou mais um pouco, nos deixando curiosos e depois
desligou a ligação, animada.
— Hoje é aniversário do papai — Amber explicou. — Ele não ia
fazer nada, porém resolveu dar uma festa hoje à noite! Já comprou
as nossas passagens...
— Eu tenho jogo amanhã — lembrou Johnny.
— Eu sei, vamos depois do seu treino e voltamos antes do jogo
amanhã. Você pode ir, amor? — ela suplicou com um sorriso grande
e Johnny suspirou passando a mão no cabelo.
Ele ia ceder...
— Posso — Johnny concedeu e um sorriso diabólico nasceu no
meu rosto.
Como um ímã, todos na mesa viraram lentamente as suas
cabeças na minha direção.
— Se divirta. — Apontei meu garfo para Johnny, que apenas
estreitou os olhos para mim. — Não se preocupe com nada, eu
cuido de tudo aqui.
O silêncio na mesa foi tanto que era possível ouvir a respiração
de cada um ali.
— Colin... — Johnny rosnou ameaçadoramente.
— Amor, o seu olho esquerdo está tremendo. — Amber apontou
para o olho do namorado.
— Eu tenho tudo sob controle — garanti, me encostando
relaxadamente na cadeira. — Façam uma boa viagem.
— Vamos ficar bem. — Sienna sorriu para Johnny, tentando
acalmá-lo.
— Se eu souber que você... — ele avisou e bufei o
interrompendo.
— Não seja neurótico. — O dispensei com um aceno. —
Quando você voltar, vai encontrar tudo exatamente como deixou.
Não precisa agir como se fôssemos animais selvagens.
— E será só por uma noite — Drake tranquilizou Johnny. — O
que Colin pode fazer em um dia?
Madison abriu a boca para falar alguma coisa, mas logo a
fechou, achando melhor não dar sua opinião.
— Sim, capitão. — Pisquei para Johnny. — O que posso fazer
em um dia?
Johnny estreitou os olhos para mim e apertou a faca na sua
mão, em um aviso claro de que me cortaria no meio se eu fizesse
besteira.
— Por favor — pediu Scar para o capitão. — Não demorem
mais que o necessário.
Revirei os olhos. Como eram dramáticos. Eu tinha tudo sob
controle.
Colin Scott
 
Caminhei sorrateiramente até o armário de Drake. Tínhamos
acabado de sair do banho, Johnny e o resto do time ainda estavam
no chuveiro. Era o momento perfeito.
— Quero falar com você — falei, me encostando no armário ao
lado do dele e colocando a toalha em volta do meu pescoço.
Drake ergueu a sobrancelha desconfiado e se aproximou com
um brilho de animação no rosto.
— Você vai dar uma festa, não é? — ele perguntou.
Revirei os olhos.
— Lógico que não — neguei. — Pelo menos, não na nossa
casa.
— Então na casa de quem? — Drake ergueu a sobrancelha
curioso e vi por cima do seu ombro o nosso japonês chegando no
vestiário e nos encarando com a cara de quem suspeitava de
alguma coisa.
Taylor Hunt estava secando o seu cabelo preto liso na toalha,
mas seus olhos escuros de ascendência japonesa não desviaram
de nós.
— Johnny vai viajar hoje... — soltou Taylor, como quem não
queria nada.
— Vai — confirmei, cruzando os braços em frente ao peito.
— E você não vai dar uma festa? — perguntou Taylor intrigado,
largando a toalha e indo se vestir.
— Não. — Dei de ombros.
Ele e Drake murcharam tristes.
— Porém... — continuei e o brilho deles voltou. — Vou fazer
uma pequena reunião para comemorarmos a despedida do Johnny.
— Despedida do Johnny? Ele só vai passar uma noite fora —
Taylor pontuou, confuso.
Drake olhou em volta, vendo se Johnny tinha voltado do banho.
Caminho livre. Fui até o meu armário e peguei as minhas roupas
também. Não dava para ser o único de toalha ali.
— Sim, contudo já é motivo pra celebrarmos — lembrei e Taylor
ergueu o ombro em concordância.
— Ele está sabendo dessa despedida? — Quis saber Drake.
— Claro que não, será surpresa. Só iremos chamar os íntimos
— avisei.
— E que horas começa? — Taylor perguntou.
— Depois que Johnny for embora — respondi e os dois se
viraram para mim em sincronia.
— Como é? — Drake franziu a testa sem entender. — A festa
de despedida é pra ele, e o próprio não estará presente?
Balancei a cabeça em negação. Eu tinha mesmo que pensar
em tudo.
— Exatamente. — Pisquei para eles. — Vamos comemorar a
despedida dele. Assim que ele se despedir — concluí o óbvio.
— Isso está ficando confuso — constatou Taylor.
— Ainda bem que quem organiza as festas sou eu. — Me virei
para os dois e comecei a me vestir.
— E se der merda? — Drake questionou atrás de mim.
— Não seja pessimista — garanti despreocupado, fechando o
zíper da minha calça. — Eu tenho tudo sob controle, não vai ser
como das outras vezes.
Eles gemeram só em lembrar. Drake nem sei porque, ele
sempre achava um jeito de escapar na última hora. O cara sumia e
só voltava quando a merda tinha sido resolvida, sem ninguém saber
por onde ele andava.
Tudo bem. Johnny talvez tivesse alguns motivos para ficar
nervoso... tivemos pequenos incidentes nas minhas festas. Teve
uma em que convidei uma galera aleatória que conheci pelo
campus.
Eles pareciam gente boa e foram para a festa. O problema era
que eles eram atores pornôs. Eu sabia que conhecia aquelas
garotas de algum lugar!
A questão é que eles nos deram a ideia de fazer um filme no
improviso. Topei na hora, claro. Fiz questão de me sacrificar para
ajudar na arte do cinema.
O inconveniente foi que quase todo mundo quis se sacrificar
junto comigo, e acabou virando uma orgia. Alguém ligou para a
polícia e foi todo mundo preso. Johnny e o treinador do time tiveram
que nos tirar de lá. Aprendi muitas coisas nesse dia, mas nunca vou
entender o que atores pornôs estavam fazendo no nosso campus.
Se era algum curso novo da faculdade, eu gostaria de entrar.
A segunda festa foi do caralho! Colocamos um plástico gigante
na rua e jogamos um gel vermelho em cima para todos poderem
deslizar com roupas de banho. Foi foda. Tão foda que fomos parar
na cadeia de novo.
Infelizmente trancamos a rua e gerou um engarrafamento.
Sobre a última festa? Foi a pior de todas. Também deu ruim, e
talvez eu jamais consiga esquecer aquele maldito dia.
No entanto... tudo era diferente agora. Éramos novos homens.
Adultos. Maduros. Que já passaram pela cadeia. Que conhecem os
limites do bom senso. Não existia mais espaço para problemas no
nosso currículo.
— Drake... mais uma coisa — chamei, terminando de me calçar.
Drake se aproximou novamente e Johnny chegou bem na hora,
estreitando os olhos para nós. Travamos no lugar e ele apenas
passou do nosso lado, altamente desconfiado.
Nosso capitão abriu o armário, fingindo estar apenas trocando
de roupa, porém atento a tudo o que dizíamos.
— Estava pensando no que vamos assistir hoje à noite —
comentei para Drake.
— Algo leve, o treino hoje me deixou morto. — Drake apertou a
nuca, adotando uma cara de cansado. — Só quero passar a noite
dormindo.
— Eu também. — Suspirou Taylor. — Depois que eu cair na
cama hoje, nada mais me tira.
— Eu tenho tanta coisa pra estudar ainda — contei para eles,
que me encararam apiedados. — Vou passar a madrugada inteira
com a cara enfiada nos livros.
Johnny apenas me olhou por cima do ombro com uma
expressão de tédio no rosto, de quem não acreditava naquilo.
— Então minha ligação será bem entediante — Johnny nos
avisou, fechando o seu armário. — Vou fazer uma videochamada à
noite, só pra saber como andam as coisas em casa.
Nos entreolhamos.
— Talvez a gente nem consiga atender. — Dei de ombros. —
Todo mundo tão cansado, vamos dormir cedo.
— Oh, vocês vão atender. — Johnny nos deu um sorrio
convencido. — Nem que eu ligue para cada aluno da universidade.
Alguém atenderá.
Iria recolher os celulares de todos antes de entrarem.
— E se ninguém atender... — falou como se estivesse lendo os
meus pensamentos. — Vou chamar o treinador pra passar por lá, só
pra conferir se está tudo bem.
Bufei.
— Sua fé em nós é chocante. — Apontei o dedo para ele.
— Eu estou de olho em tudo — concluiu e lhe dei um sorriso
tranquilo.
Depois eu que era o stalker.
— Não temos nada a esconder, capitão. — Peguei a minha
mochila e puxei Drake para fora comigo.
Assim que saímos do vestiário, eu o avisei:
— Drake, não saia espalhando por aí sobre isso.
— Claro que não — garantiu o fofoqueiro.
— Será apenas para os íntimos.
— Pode confiar. — Ele piscou para mim. — Ninguém irá saber
de nada por mim, sou um túmulo.
Acenei em paz. Sabia muito bem o que ele iria fazer.
 

 
— Todo mundo do campus está falando que vai rolar alguma
coisa aqui hoje — avisou Sienna, entrando na nossa casa com uma
roupa de ginástica rosa.
Sorri sem tirar a concentração do vídeo game que estava
jogando com Drake na sala.
— De onde você tirou isso? — perguntei cinicamente.
— Alguém andou dizendo por aí. — Ela deu de ombros e se
sentou na nossa poltrona. Senti o seu olhar sobre nós. — Algum
fofoqueiro.
— Esse pessoal inventa cada coisa... — Drake estalou a língua
para ela em provocação, sem desviar da tela.
— Eu não estou sabendo de nada — mentiu Taylor deitado no
outro sofá, apenas assistindo nosso jogo.
— Vocês não têm vergonha na cara — ela murmurou. —
Espero que chamem a polícia.
— Não vão chamar — garanti, quase fazendo um ponto no jogo.
— E se formos presos, você vem junto — brinquei.
— Pode ficar na cela com a gente — Drake ironizou e vi de
canto que ela revirou os olhos.
Jogamos um pouco em silêncio até ouvirmos Johnny e Amber
descerem pelas escadas. O casal carregava duas malas grandes,
parecia que iam passar um mês fora.
— Vão passar mais de uma noite? — Sienna perguntou, indo
ajudar a amiga.
— Não, eu só fiquei em dúvida do que vestir hoje. — Amber deu
de ombros.
— Então resolveu levar tudo — completou Sienna, pegando
uma bolsa da mão de Amber.
Saímos do jogo e nos levantamos para ajudá-los também. Já
tinha um carro parado esperando por eles, então colocamos as
malas no banco de trás.
— Oh, que prestativo da parte de vocês — agradeceu Amber,
sorrindo para nós.
— Por nada. — Sorri de volta.
— Boa viagem! — Drake piscou para eles.
— Se divirtam! — Taylor desejou.
— Se eu souber...
— Ora, deixa disso. — Bufei interrompendo o capitão e bati nas
suas costas. — Relaxa! Eu cuido de tudo aqui — garanti.
— Não esqueçam de levarem os cachorros pra passear.
— Vamos levar — prometi e o empurrei para dentro do carro.
Ele entrou e Amber foi logo em seguida, empolgada, fazendo
Johnny ficar preso entre a namorada e as malas. Sienna jogou
beijinhos para eles.
— Aproveitem a noite. — Ela acenou.
— Vocês também. — Amber acenou de volta.
— Vamos passar a noite estudando — avisei e quando Johnny
se inclinou para falar mais alguma coisa, Drake fechou a porta do
carro na cara dele.
— Atendam a minha ligação — Johnny mandou, apontando o
dedo para nós.
— Certo. Vá com Deus. — Dei dois tapinhas no vidro da janela,
avisando ao motorista que ele já podia ir.
Ficamos na calçada, acenando harmonicamente para eles
enquanto o carro seguia pela rua. E durante todo o caminho Johnny
ficou olhando para trás, tentando nos ver até o carro virar a esquina,
como um maníaco.
Parecia um louco.
Assim que ele sumiu da nossa vista, um caminhão enorme
dobrou a outra esquina da nossa rua, seguido por uma quantidade
incontável de carros, buzinando para nós.
— Vão passar a noite estudando — Sienna balançou a cabeça
em repreensão.
Eu não disse qual seria o estudo.
— Vou deixar os cachorros dormirem no quarto do Johnny —
avisei.
— Não é melhor eles ficarem no gramado? — sugeriu Sienna.
— Jennifer Aniston iria cagar tudo. — Dei de ombros.
Ainda era estranho falar aquilo em voz alta, mas a verdade era
que Jennifer Aniston era uma cagona. Amber tinha talento nato para
nomes de cachorros, Jennifer Aniston, Brad Pitt e Angelina Jolie
viviam um triângulo amoroso canino. Ou um trisal, ainda não tinha
tirado uma conclusão.
— Pergunta importante. — Taylor se virou do nada para mim. —
Tyler está convidado? — perguntou sobre o irmão gêmeo.
Drake e Sienna ficaram em silêncio, observando a minha
reação. Não gostava nem de mencionar a última festa, pois sentia
toda a minha raiva e frustração voltando com força.
Sabia que Tyler deveria estar por perto. Olhei por cima do
ombro e vi que o gêmeo traiçoeiro estava encostado na porta da
casa.
Tyler Hunt era idêntico ao seu irmão, a diferença estava na
quantidade de maconha que usava e na raiva que me fazia passar.
Não respondi Taylor, apenas segui para dentro de casa em
silêncio. Tyler abriu espaço para não esbarrar comigo e segui para o
meu quarto sem olhar para ele.
Eu sei que todos pensavam que toda aquela bosta podia ser
deixada de lado. Mas doeu. Não foi brincadeira. Eu ainda sentia
aquela pontada no meu peito. Não queria sentir aquilo nunca mais.
Foi sério.
Passei o dedo pela minha corrente no pescoço, minha eterna
companheira, e desci até alcançar o pingente. Era aquilo que me
fazia lembrar do perigo.
Era aquilo que me alertava que eu deveria parar.
Nada de binóculo. Nada de ficar olhando para ela da minha
janela. Nada de persegui-la nos seus encontros.
Eu não gostava dela. Não a suportava.
 

 
Um carrinho de golfe desgovernado caiu na piscina. Pessoas
estavam pulando das janelas do segundo andar direto na água. E
ainda tinha um pessoal em cima do telhado jogando golfe (Achei a
ideia genial, por sinal).
 Entretanto, ninguém morreu. Pelo menos, não que eu saiba.
— Adorei a sua roupa — elogiou a garota de biquíni ao meu
lado.
Eu estava só com uma cueca e uma camisa social aberta.
— A sua também está ótima — brinquei, olhando para o seu
corpo completamente à mostra no biquíni minúsculo.
Ela não estava vestida a caráter. O tema da festa era
“executivos seminus”, por mais que a desculpa que inventei para o
evento fosse o aniversário da minha vizinha ruiva insuportável.
Até comprei um bolo para provar.
— Obrigada... só que ainda acho que você está muito vestido —
ela flertou e eu sorri para ela.
— Achei que se tirasse a camisa, seria muita humilhação pros
outros caras — provoquei e ela riu. — Vou pegar uma bebida —
avisei, me afastando dela.
Não estava a fim hoje. E se alongasse a conversa iria ser mais
difícil sair.
Rodeei a piscina passando pelas pessoas, já ia entrar na sala
quando vi algo que me fez paralisar no lugar. Foi como se o ar
tivesse sumido do mundo. Madison Jensen estava...
Puta que pariu, ela estava deslumbrante.
A ruiva estava usando um vestido branco colado ao corpo,
tomara que caia. Os seus seios grandes estavam sufocados, a pele
sedosa balançava à medida que ela caminhava. A baixinha estava
usando um salto e todas as suas curvas naquele corpo violão
estavam em destaque.
O cabelo cacheado tinha sido preso em um coque desajeitado,
fazendo algumas mechas escaparem de um jeito sexy.
Tão linda que fiquei com vontade de guardá-la só para mim.
Minha boca ficou seca, de um jeito que água nenhuma no
mundo mataria a minha sede. Quis passar o braço por aquela
cintura estreita e a pressionar contra meu corpo. Foder com aquele
corpo delicioso até esquecer o meu próprio nome. Ouvir o seu
suspiro no pé do meu ouvido... que porra, senti meu pau endurecer.
Madison parou para conversar com Johnny, e eu não consegui
me mexer. Estava hipnotizado.
Percebi alguns caras a secando de longe e juro que se ninguém
tinha morrido ainda, agora era o momento. Enxerguei Tyler se
aproximando dela chapado, ele sorriu para a ruiva de brincadeira e
para o meu total espanto e desespero, Madison puxou Tyler pela
camiseta do nada e o beijou.
Paralisei em choque no lugar. Não estava acreditando naquilo.
Tyler ficou um instante em choque também, mas logo passou a
corresponder. Ele enfiou a porcaria da língua na boca dela! NA
MINHA FRENTE.
As mãos do filho da puta desceram pela cintura de Madison e a
apertaram contra o peito dele, sentindo toda a textura do seu corpo.
Desgraçado do caralho!
Ainda tinha uma gota de sanidade no meu corpo. E foi isso que
me impediu de ir até lá e tirá-lo de cima dela, meter um murro na
cara dele pela ousadia e pegá-la para mim...
 No entanto, aquilo era perigoso. A corrente prata pesou no meu
pescoço, me avisando que aquilo era um abismo e que se eu me
permitisse cair, a queda seria feia. Muito feia.
Senti no meio do peito uma pontada de dor. Foi uma dor
estranha, porém tão real, que se alastrou pelo meu corpo.
Desviei o olhar do beijo e saí pela casa, querendo acabar com
tudo. Cheguei no disjuntor de energia e o desliguei com tanta força
que quase o quebrei. Tudo ficou escuro.
Algumas pessoas acenderam as lanternas dos celulares e
consegui ver que Tyler e Madison tinham se separado em um susto.
Ela ainda estava com a boca borrada de batom, suas bochechas
vermelhas de vergonha e ela baixou o olhar um pouco tímida.
E não fui eu que fiz aquilo nela. Não era eu. Não foi comigo. Foi
com outra pessoa.
Apertei o pingente na minha mão sentindo meu coração
acelerar.
Estava imune. Estava imune a isso. Não gostava dela. Eu
sempre soube aprender com os erros dos outros. Aquilo nunca
aconteceria comigo. E eu estava certo disso. Passei anos com essa
certeza.
Nunca aconteceria comigo.
Colin Scott
 
— Eu estou convidado? — Tyler falou atrás de mim.
Ele tinha me seguido até o quarto. O que já achei bastante
corajoso, contando que vinha fugindo de mim como o diabo foge da
cruz.
— Depende do que você pretende fazer nessa festa — joguei a
indireta em deboche, virando de frente para ele e o encontrando
encostado na minha porta.
Tyler ergueu as mãos em rendição.
— Eu não vou chegar perto dela — prometeu, engolindo em
seco. — Nem vou olhar na direção dela. Juro pelo amor que tenho
pela minha vida.
Estreitei os olhos, desconfiado. Não curti como ele disse aquilo.
Ficou parecendo que eu tinha sentimentos pela garota, e não era o
caso.
— Não tenho interesse algum na Maddie, eu fui a vítima —
alegou Tyler e bufei.
— Uma vítima muito ativa — ironizei.
— Mas é verdade! Ela que me atacou...
— Ela tem um metro e quarenta, como diabos ela te atacou? —
perguntei.
— Ela tem um pouco mais de um metro e quarenta — pontuou
Tyler com cuidado.
— Não me interessa o tamanho dela — disse, pouco me
importando com aquilo. — A questão é que você não me pareceu
alguém que estava sendo atacado.
— Só correspondi, o que queria que eu fizesse? — Ele abriu os
braços. — Você no meu lugar faria a mesma coisa.
Ah, se eu estivesse no seu lugar estaria a fodendo até hoje. Só
que não estava. Quem pegou ela foi ele. E pensar nisso foi
suficiente para me fazer perder a paciência.
— E por acaso você pretende fazer de novo? — perguntei
caminhando em sua direção.
Tyler deu um passo para trás, temeroso.
— Nunca mais! — garantiu Tyler, balançando negativamente a
cabeça para enfatizar. — Eu sei que você é a fim dela.
Dei um passo para trás em susto com aquele absurdo. Eu não
era a fim dela. Só curtia implicar com ela, era diferente.
— O quê?
— Eu sei que você é a fim dela — repetiu e tive a certeza que
meu ex-amigo tinha acabado de ficar louco.
— Tyler, eu acho que a sua maconha está vencida — avisei
com cuidado.
Ele revirou os olhos.
— Toda vez que alguém olha na direção da Maddie, você fica
puto. — Ele deu de ombros, como se fosse óbvio.
E eu ri. Gargalhei.
— Ai Deus... — Limpei o canto dos olhos. — Você entendeu
tudo errado.
Ele cruzou os braços em frente ao peito.
— E foi? — perguntou Tyler, entediado.
— Sim — disse em um suspiro, me recuperando do riso. — Ela
é minha inimiga. — Apontei para meu próprio peito. — É antiético os
seus amigos ficarem com as suas inimigas, todo mundo sabe disso.
— Eu não sabia disso.
— Pois agora sabe — afirmei duro, esquecendo o bom humor.
— Fique bem longe dela.
— Tá, tá. — Tyler me dispensou com a mão, pouco interessado
no meu ataque.
— Estou te fazendo um favor... — murmurei. — Ela é perigosa.
Pode levar um homem à loucura.
Tyler ergueu a sobrancelha para mim em divertimento.
— Isso eu posso ver.
Revirei os olhos, mas logo o silêncio pesou entre nós. Parecia
que faltava alguma coisa...
— Você quer jogar vídeo game? — perguntei e ele sorriu,
concordando com um movimento de cabeça.
Sorri de volta para o cretino e o segui para a sala.
— Sabe, a gente precisa se abraçar para selar a paz — ele
jogou e lhe dei o dedo do meio, me deitando no sofá.
Dava tempo de jogar uma partida antes da casa começar a
encher de gente. Acreditei quando Tyler disse que não queria nada
com a pequena, ele nunca tinha demonstrado interesse nela.
Entretanto, era bom reforçar.
Madison era aquele tipo de garota que se você não tomasse
cuidado, poderia estar comendo na mão dela em pouco tempo.
Não desejava a minha inimiga nem para o meu pior inimigo.
 
Madison Jensen
 
 Assim que vi mais cedo, pela janela do meu quarto, os carros
estacionando na nossa rua, pensei que realmente poderia ser
apenas uma breve reunião dos amigos do Colin. Mas não demorou
para que o som ficasse tão alto a ponto de a casa começar a tremer.
A cara de pau era tanta que eles tinham usado a desculpa de
ser uma despedida para Johnny. Tinha até uma faixa na entrada da
casa que dizia: “Johnny Jackson, vá em paz. Sentiremos a sua
falta”.
Pelo jeito a pessoa que escreveu aquilo não mediu muito bem
as palavras, pois todo mundo que passava ali perguntava se tinha
acontecido alguma coisa e oferecia as suas condolências.
— Eu sinto muito. — Uma garota apareceu do meu lado e
apertou o meu ombro em conforto. — O talento dele era inestimável.
— Ele não morreu — esclareci depressa. — Talvez mate a
pessoa que escreveu aquilo, mas continua vivo.
A garota olhou confusa para a faixa e depois para mim. Ela
abriu e fechou a boca várias vezes, porém resolveu entrar sem dizer
mais nada.
Não sei como ela conseguiu, pois a entrada da casa estava tão
lotada que eu não via como alguém poderia passar ali. Por isso
tínhamos decidido ficar do lado de fora, onde o show estava
acontecendo.
Sim, eles tinham colocado um palco enorme no gramado e uma
banda universitária estava tocando. Tudo parecia profissional, tinha
até led de iluminação por todo lugar, simulando um show.
— Por que ninguém encontra o meu clitóris? — resmungou
Sienna perto do meu ouvido, revoltada.
A abracei pela cintura, temendo que ela fosse cair.
— O que eu tenho que fazer?! — perguntou ela para mim como
se eu tivesse mesmo a resposta.
— Querida, eu não sei...
— Devo colocar um GPS na minha vagina? — interrompeu-me
apontando para a própria vagina.
Sienna não esperou por uma resposta, ela apenas virou o seu
drink de uma vez. Estava bêbada, o que era engraçado, pois ela
continuava parecendo uma modelo sem um único fio de cabelo fora
do lugar.
— Será que está faltando luz? — continuou a reclamar e a olhei
confusa.
— Luz? — Franzi a testa. — Na sua vagina?
— Isso! — Estalou os dedos animada por ter sido
compreendida.
Sorri para a bêbada.
— Eu tenho certeza que a sua vagina é iluminada — gritei no
seu ouvido, tentando ser escutada em meio à música alta.
— Obrigada. — Ela sorriu. — E ela é mesmo! Abençoada!
— Quem? — perguntou Scar, chegando ao nosso lado com
mais bebidas.
— Minha vagina — respondeu Sienna, tirando um drink da mão
dela. — É sério, ela tem uma pintinha marrom bem em cima de
onde fica o clitóris — confidenciou Sienna e Scar engasgou.
Olhei em volta assustada, com medo das pessoas terem
escutado aquele detalhe sobre a vagina da minha amiga. Só que
tinha tanta gente ali que era impossível alguém estar prestando
atenção à nossa conversa.
— Como é? — Scar tentou recuperar o fôlego.
— Tem um sinal em cima do meu clitóris. Eu nasci com um
semáforo e ainda assim ninguém encontra! — Sienna fungou e
talvez ela tivesse chegado naquela fase dos bêbados que só
querem chorar.
Era fofo. A abracei apertado.
— Vai dar tudo certo, querida. — Dei tapinhas nas suas costas.
— “Ninguém encontra” ou só o seu namorado? — Scar jogou a
indireta com cara de deboche.
— Michael é míope — Sienna justificou enquanto me abraçava
de volta.
— E onde ele está mesmo? — Olhei em volta, procurando o
namorado dela, contudo era complicado encontrar qualquer pessoa
ali.
Se alguém se perdesse, talvez eu nunca mais visse a pessoa
na vida. A festa se estendia pela rua de um jeito que não era
possível ver o fim no mar de universitários.
— Não sei. — A bailarina fungou no meu cabelo e deu de
ombros de um jeito delicado. — Provavelmente comprando uns
óculos.
Eu ri e Sienna fez uma cara de reprimenda para mim, mas
estava tão engraçada que não consegui levar a sério. Fiquei na
ponta do pé e beijei o seu rosto.
— Como Colin vai se livrar desse pessoal antes do Johnny
chegar? — gritei para Scar.
Sabia que ela estava por dentro de tudo.
— Não faço a menor ideia. — Ela riu.
— Estou me sentindo culpada — revelei —, Johnny deve estar
preocupado uma hora dessas.
— Não está — Sienna determinou, bebendo mais um pouco da
sua bebida. — Nesse momento ele deve tá encontrando o clitóris da
namorada dele.
Era provável.
— MENINAS!
Olhamos as três para trás e vimos Drake caminhando em nossa
direção, abrindo caminho entre as pessoas. Ele estava sem camisa,
segurando um corpo sem vida em cima do ombro como se não
pesasse nada. E para ele deveria ser nada mesmo.
— O que é isso? — perguntou Scar, olhando para o corpo
jogado em cima do ombro dele.
Drake virou de costas e vimos que era Tyler, quase apagado.
— Meu Deus, Tyler. — Dei dois tapinhas no seu rosto até ele
acordar. — Você está bem? O que ele usou?
— Nada — respondeu Drake, rindo. — Ele é ótimo pra maconha
e péssimo pra bebida. Tomou três cervejas e apagou.
— Tyler, você está sentindo alguma coisa? — perguntei
preocupada, tentando abrir o olho dele.
— Não... — disse Tyler em um suspiro. — Eu morri.
— COLIN, TYLER MORREU! — gritou Drake por cima do
ombro e me ergui na ponta do pé, tentando ver Colin entre a
multidão.
— JÁ ESTAVA NA HORA! — gritou Colin de volta e consegui
vê-lo vindo até nós.
Também estava sem camiseta, exibindo seus músculos. Colin
vestia apenas uma calça jeans, e seu cabelo castanho estava
levemente bagunçado, de um jeito charmoso.
Era incrível como as pessoas abriam espaço para ele passar,
como se fosse um rei carismático e amado.
À medida que ele foi chegando mais perto, consegui ver que o
louco estava segurando um aspirador de pó. Quando os nossos
olhos se encontraram, ele abriu um sorriso.
— Não lembro de tê-la convidado — Colin provocou, segurando
o seu aspirador.
— Não lembro de ter pedido sua permissão — devolvi.
— Mas a festa é minha. — Deu de ombros de um jeito relaxado,
doido para me ver perder a paciência.
— Se está incomodado, pode se retirar. — Pisquei em
provocação.
Colin sorriu com o atrevimento e resolveu finalmente analisar
Tyler, jogado no ombro do amigo.
— Ele melhorou? — perguntou Colin a Drake.
— Não — negou Drake. — Ele morreu.
— Triste. — Suspirou Sienna bêbada, olhando apenada para
Tyler.
— Pra quê o aspirador de pó? — perguntou Scar curiosa.
— Eu não faço a menor ideia. Um cara colocou isso no meu
ombro e depois sumiu. — Colin deu de ombros.
Quem levava um aspirador de pó a uma festa?
— Interessante — ironizou Scar, rindo.
— Espero que esteja planejando limpar tudo depois que eles
forem embora — avisei, apontando para a bagunça.
— Pode ficar tranquila, meu aspirador é muito potente —
garantiu, erguendo o cano do aspirador, porém o gesto me pareceu
obsceno, como tudo o que saía da boca dele.
— Certo. — Engoli em seco e temi que estivesse vermelha, por
isso mudei logo de assunto. — Você falou com alguma autoridade?
Pra colocar esse palco aqui?
— Claro — Colin afirmou e fiquei mais tranquila.
— Qual? — quis saber.
— Eu. — Colin abriu os braços e sorriu.
— Você sabe que isso pode dar problema, não é? — lembrei. —
Ninguém vai conseguir dormir com esse show.
— Não sei se você lembra, mas moramos em uma rua de
universitários — comentou despreocupado. — Está todo mundo
aqui.
— E se alguém quiser dormir? — questionou Sienna curiosa,
chupando o canudo do seu drink.
— Será acordada — Drake respondeu rindo e ajeitando melhor
Tyler sobre seu ombro.
Sienna ergueu o ombro tranquila, só que logo em seguida ela
pulou animada, quando começou a tocar um rap pesado.
— Ah! Vamos dançar! — Ela puxou Scar e eu na direção do
palco.
Drake e Colin nos seguiram, indo para o nosso lado, nos
protegendo de sermos esmagadas pela multidão. Várias pessoas os
cumprimentavam com tapinhas no ombro, algumas olhavam com
estranheza para Tyler, porém não questionavam nada. Eles eram
tão estimados que poderiam até estar carregando um corpo morto
por aí e ninguém questionaria.
A minha altura não me permitia enxergar para onde Sienna
estava nos levando. Só sabia que era possível sentir o chão tremer
de tanta gente pulando ao som da música.
Senti uma mão quente tocando as minhas costas e vi, por cima
do ombro, que era Colin bem atrás de mim. Ele colocou o corpo ao
lado do meu, me poupando de ser empurrada sem querer.
O meu coração acelerou à medida que aquela mão me apertava
mais. Cada vez mais quente e pesada. Ele me puxou para mais
perto, quase em um abraço. E eu fui. Me esquecendo que ele
estava sem camiseta.
Coloquei as mãos no abdômen nu de Colin. Era tão definido.
Quando ergui os olhos, o encontrei me olhando de volta com seu
típico sorriso sacana. Tirei as mãos imediatamente e tentei me
distanciar, mas o cretino não deixou.
Me manteve colada ao seu corpo até chegarmos onde Sienna
queria, perto do palco. Estava cheio, entretanto mesmo com as
pessoas se esbarrando, Sienna achou um jeito de soltar o seu lado
dançarina. Ela levantou o drink, rebolando e derramando a metade
nas pessoas ao redor.
As luzes de led iluminavam praticamente toda a nossa rua e as
pessoas espalhadas por todo canto, fazia um efeito bonito. Olhei
para cima, encantada com as luzes e encontrei Colin ainda atrás de
mim. Ele não tinha tirado a mão das minhas costas.
Travei no lugar assim que nossos olhos se encontraram, e ele
passou o braço pela minha cintura, chegando até a minha barriga,
sem tirar os olhos de mim. Me puxou para o seu corpo e senti seu
peito firme e quente nas minhas costas.
— Você... — murmurei, engolindo em seco, nervosa.
Em um movimento involuntário toquei com a ponta dos dedos o
seu braço que me prendia. Tomei cuidado para que a palma da
minha mão não encostasse na sua pele, não queria que ele sentisse
as minhas cicatrizes.
— Você... você está me segurando — avisei debilmente, como
se ele estivesse fazendo aquilo sem perceber.
O canto da sua boca se ergueu em um sorriso.
— Eu sei — respondeu, acariciando a minha cintura por cima da
blusa.
Respirei fundo sem saber o que dizer. Senti meu rosto
esquentar e desviei o olhar, virando de frente para as meninas.
Senti os olhares de algumas pessoas em nós, umas curiosas,
outras estranhando. Parecíamos um casal, visto de longe.
— Vão pensar que temos alguma coisa — murmurei para ele.
— Hum? — Colin inclinou a cabeça na minha direção e sua
respiração soprou no meu rosto.
Você é muito cheiroso.
— Vão pensar que temos alguma coisa — repeti próxima do
seu ouvido.
— Por quê? — ele ironizou, podia sentir o seu sorriso.
— Por causa disso. — Apontei para o seu braço, e ele me
apertou mais ainda, quase como se temendo que eu saísse dali do
nada.
— O que tem? Isso é algo que vizinhos fazem — provocou e
ergui a sobrancelha para ele. — Veja Drake carregando Tyler, é algo
normal.
— Você não está me carregando — lembrei-o.
— Se é isso que você quer. — Ele deu de ombros me virando
de frente, pronto para me levantar, contudo desviei dele de última
hora, dando um passo para trás.
— Não se atreva. — Apontei o dedo para o louco, fazendo uma
cara séria, mesmo que estivesse com vontade de sorrir.
— Foi você que pediu. — Colin ergueu as mãos, segurando o
seu aspirador de pó no ombro.
As luzes de led ficaram brancas e começaram a piscar
rapidamente, fazendo os movimentos de todo mundo ali ficarem
mais lentos, como se estivessem em câmera lenta. Colin se
aproveitou daquilo para se aproximar em um passo.
Estávamos próximos demais. Uma pessoa dançando me
empurrou sem querer e Colin me pegou pelo braço de novo, me
equilibrando no lugar.
— Acho interessante... — disse em um sorriso charmoso. —
Como você sempre arranja um jeito de se jogar em mim.
Revirei os olhos.
— Eu já fui bastante assediado na vida, mas você ultrapassa
todos os limites às vezes — ele provocou e ergui a sobrancelha
cinicamente.
— Como você é iludido. — Balancei a cabeça em negação.
Ele ia falar mais alguma coisa, no entanto consegui enxergar,
por cima do seu ombro, uma chama, como se algo estivesse
pegando fogo do outro lado da rua.
— O que é aquilo? — Apontei para o local.
Colin ergueu a cabeça para ver melhor.
— Uma fogueira. Isso faz parte de algum ritual seu? —
perguntou ele para mim.
— Ritual meu? — Apontei para o meu próprio peito, confusa.
— Sim, depois daquela vela, eu espero de tudo — justificou e
nem me dignei a responder aquilo.
— Vou ver o que é isso — informou, me soltando. — Fica aqui
— mandou antes de se distanciar.
Era incrível como os homens nunca aprendiam. Quando eles
mandavam uma mulher fazer alguma coisa, era lógico que ela faria
justamente o contrário.
Me virei para as meninas, só que elas estavam distraídas
dançando com Drake e Tyler, que milagrosamente tinha recuperado
o movimento das pernas.
Segui Colin, passando pela multidão até chegar na fogueira. Se
tratava de um grupo que parecia ter um estilo meio hippie. Eles
eram novos, podia chutar que eram calouros.
— Ei, pessoal — Colin os cumprimentou. — O que vocês estão
fazendo aí?
— Uma revolução, cara... — respondeu um deles, de um jeito
relaxado. — Vamos implantar a luz na nossa geração, prezamos
pela paz.
— Que ótimo! — Colin sorriu para ele. — Mas podem fazer isso
sem a fogueira?
— Ela é essencial para simbolizar a nossa libertação.
— Certo, certo — Colin disse, sem se importar com a liberdade
deles. — Só não queimem ninguém, ok?
— Pode deixar. — O outro acenou para Colin, feliz por ele ter
entendido a sua revolução.
— Pra quê é o aspirador de pó? — perguntou um deles,
curioso.
— Pra aspirar toda a sujeira do mundo. — Colin ergueu o cano
do aspirador e todos que estavam ao redor da fogueira, fizeram um
“O” com a boca, em admiração.
Observei abismada Colin dar meia-volta, como se o problema
estivesse resolvido.
— Você vai deixar essa fogueira aí? — perguntei e ele parou no
lugar em susto.
— Não pedi pra você ficar lá? — Colocou as mãos no quadril.
— E quem te disse que eu iria obedecer? — debochei e
consegui ver o brilho de divertimento nos seus olhos.
— Você não consegue, não é? Ficar um segundo longe de mim.
Dai-me paciência.
— Você vai pedir pra eles apagarem a fogueira?
— Você viu o que ele disse. — Colin sorriu despreocupado. — É
uma revolução pela paz...
— Colin — interrompi entredentes, porém quando o seu sorriso
aumentou, vi que não conseguiria nada com aquilo.
Ele queria me estressar, da maneira mais lenta e maníaca
possível. Por isso respirei fundo e adotei outra tática.
— Colin... — chamei de um jeito manhoso e o jogador de
hóquei estreitou os olhos desconfiado, já alerta para a minha
manipulação. — Você pode, por favor, pedir para eles apagarem
isso? É perigoso.
Ele olhou para a fogueira atrás de nós.
— Não seja exagerada.
— Colin — implorei, mostrando minhas covinhas —, por favor.
Ele olhou para mim e respirou fundo, passando a mão no
cabelo, zangado.
— Tá — resmungou e me deu as costas, indo conversar com o
pessoal da fogueira de novo.
Adorava quando ele ficava com raiva. Talvez fosse coisa de
inimigo, gostar de ver o outro bravo. Entretanto, Colin ficava... sexy,
até mesmo com um aspirador de pó pendurado no ombro.
Colin Scott
 
Malditas covinhas.
Eu deveria ter mais força de vontade. Era só ela falar com
jeitinho que me derretia? Deveria ser o líder da associação dos
idiotas.
Segurei meu aspirador de pó sobre o ombro e me aproximei
novamente dos calouros revolucionários. Sorri para eles e apontei o
cano do meu aspirador na direção deles.
— Pessoal, infelizmente vão ter que apagar a fogueira.
— Por quê? — perguntou um deles, decepcionado por não ter o
símbolo do seu protesto aceso.
— Parece que o líder da associação dos moradores não gostou
muito disso — menti.
— Ora, quem é esse idiota? — questionou o calouro.
Um pobre coitado manipulado por uma ruiva de um metro e
meio.
— Eu poderia dizer que isso é perigoso — apontei para a
fogueira —, mas a verdade é que tem um gnomo que está
enchendo o meu saco.
— Como é? — perguntou o calouro com a testa franzida.
— Só apaguem isso — mandei firme e já iria fazer mais
considerações, quando um par de pernas torneadas desviou minha
atenção dos revolucionários.
— Colin! — A dona das pernas acenou para mim.
Era a mesma garota do refeitório, a que Madison me pediu para
responder.
— Olá. — Sorri para ela.
— Saudades! Você não me respondeu — falou decepcionada
enquanto o calouro tirou a própria camiseta e começou a abanar o
fogo, fazendo-o subir mais ainda.
— Mas o que é isso? — perguntei para o idiota que estava
atiçando o fogo.
— Estou apagando o fogo — esclareceu confuso.
— Você não vai apagar o fogo, abanando-o — informei com
toda a paciência do mundo. — É bom buscar água, uma torneira, sei
lá, qualquer coisa.
— Tá bom — ele saiu zangado.
Me virei para a garota novamente, só que ela sumiu para trás
da fogueira e tirou uns fogos de artifício de dentro de uma sacola.
Que porra era essa?
— O que é isso? — perguntei para ela, e a garota gesticulou
com a mão para eu repetir.
— O QUE É ISSO NA SACOLA? — gritei.
— FOGOS DE ARTIFÍCIO — respondeu um dos revolucionários
que estava a ajudando.
— Cuidado — avisei. — Não joguem isso na fogueira!
Várias cabeças se viraram na minha direção, sem ouvir direito
pelo som alto da música.
— OS FOGOS DE ARTIFÍCIO — gritei para eles e apontei para
o fogo. — NA FOGUEIRA.
Todos eles deram um passo para trás ao mesmo tempo.
— TEM CERTEZA? — perguntou a garota, temerosa.
— ÓBVIO — gritei de volta para os idiotas e eles arregalaram
os olhos, perplexos.
Que gente maluca.
O que eles queriam fazer? Jogar os fogos de artifício na
fogueira?
Acenei para eles e já ia me virando quando vi os loucos jogando
todos os fogos na fogueira de uma vez. Corri na direção deles
tentando impedir, contudo já era tarde.
P.O.R.R.A.
MAS QUE PORRA.
— MAS QUE PORRA — xinguei para os jumentos e ouvi
algumas pessoas gritarem.
Todo mundo correu ao mesmo tempo, logo que começou o
show de luzes dos fogos saindo da fogueira. Larguei meu aspirador
de pó e gritei que era tiroteio para todos abaixarem a cabeça.
Tudo bem que os fogos pareciam fracos e a maioria estava
saltando para cima, no entanto algum deles poderia muito bem
pegar em alguém.
Uma multidão começou a correr para todos os lados e tinha um
milhão de coisas com que me preocupar ali, mas só pensei em uma:
meu gnomo.
Passei pelas pessoas procurando um vestígio de cabelo ruivo, e
a cada segundo que não encontrava ficava mais preocupado.
Alguém podia ter esbarrado nela. Podia tê-la machucado.
Os fogos não paravam, os gritos estavam por todo lado. Todo
mundo correndo, luzes de todas as cores, e nada da minha
pequena.
— Maddie! — gritei, começando a sentir meu coração palpitar
na garganta e minhas mãos suarem.
Olhei para cada canto até finalmente achá-la.
Assim que nossos olhos se encontraram, nós dois paramos no
lugar. Ela estava assustada e puta ao mesmo tempo, porém correu
na minha direção mesmo assim. E eu corri na dela.
 Não sei se ela ia me bater ou me abraçar, talvez os dois. Não
esperei para saber. Passei meu braço pelas suas pernas e a
coloquei em cima do meu ombro com cuidado.
— Colin! O que você tá fazendo? — perguntou ela, tentando se
erguer no meu ombro.
Não respondi, apenas caminhei o mais rápido possível até a
minha casa. Quando cheguei na varanda vi que o último fogo de
artifício atingiu o telhado da casa das meninas. Que merda do
caralho!
O fogo não chegou a se espalhar, logo apagou, só que o
telhado já era.
— Meu Deus! E os cachorros? — Madison tentou se virar para
enxergar melhor e esfregou a sua bunda na minha cara no
processo.
— Estão na minha casa — tranquilizei, tentando desviar do seu
traseiro. — Dá pra parar de se mexer?
— Se você me colocar no chão — condicionou e não obedeci.
Pelo que podia ver da minha varanda, os fogos tinham acabado
e ninguém se machucou. Suspirei aliviado.
— Bem... — disse, tentando ser otimista. — Até que não teve
um estrago tão grande assim.
Ela ficou um segundo em silêncio.
— Não — comentou Madison, abismada. — Você não acabou
de dizer isso, Colin.
— Ninguém se machucou — assegurei, tentando ver se alguém
tinha se ferido, mas pelo jeito todo mundo só parecia querer voltar
para a festa de novo.
— E a casa? — O gnomo fez questão de apontar.
— Vamos dar um jeito — afirmei tranquilo e podia sentir os seus
olhos se revirando atrás de mim.
Desci da varanda e caminhei um pouco pela calçada, tentando
encontrar o pessoal.
— E quando você pretende me soltar? — resmungou Madison.
— Quando eu achar que você não vai me atacar assim que
colocar os pés no chão.
— Pois pode me manter aqui pelo resto da vida — se
acomodou melhor em mim, quase me abraçando para se segurar.
Era tão pequena que eu só precisava segurar com um braço
para mantê-la no lugar.
— Que merda! — xinguei do nada ao lembrar de uma coisa.
— O que foi? — perguntou ela, preocupada.
— Deixei meu aspirador de pó pra trás.
— Veja pelo lado positivo — falou irônica. — Você tem uma
desculpa pra não limpar a rua.
— Uma ótima desculpa — debochei e parei no lugar quando
finalmente enxerguei Drake.
Ele estava andando ao lado de Scarlett, Sienna, Tyler e Taylor.
Assim que eles nos viram, nossos olhares disseram tudo: “É,
estamos fodidos”.
— Colin — chamou Madison.
— Oi, pequena.
— E agora? O que a gente vai fazer? — Suspirou preocupada.
— Não precisa se preocupar — avisei relaxado. — Somos todos
adultos prudentes aqui, vamos assumir a responsabilidade pelo que
fizemos.
 

 
— Eu acho que a culpa disso tudo é sua. — Apontei para Tyler,
logo que todos se sentaram na sala da nossa casa.
Ele ergueu os olhos assustado.
— Minha? — Colocou a mão no próprio peito, incrédulo.
— Sim — afirmei. — Você conhecia aquele pessoal da
maconha, poderia muito bem ter me avisado que eram loucos. —
Coloquei as mãos no quadril.
— Eu estava morto. — Tyler alegou, caindo no sofá. — Pra falar
a verdade, a culpa disso é do Drake! — Apontou para Drake, que
levou um susto.
— O quê? E o que eu fiz? — perguntou Drake, confuso.
— Me embebedou!
— Você só bebeu três cervejas. — Drake mostrou para ele os
seus três dedos.
— O que foi suficiente, ainda estou querendo vomitar. — Tyler
apertou a barriga e Scarlett saiu de perto dele imediatamente.
— Eu acho que a culpa disso é do Taylor — Drake acusou,
olhando desconfiado para Taylor.
E todos fizeram o mesmo. Taylor estava mesmo com o
comportamento muito suspeito.
— Eu nem estava com vocês! — se defendeu Taylor, indignado.
— E é por isso mesmo. Onde você estava quando deveria
cuidar de tudo? — questionou Drake, cruzando os braços em frente
ao peito.
— Não sou babá. — Taylor tirou o corpo fora. — E Colin? A
ideia disso tudo não foi dele?
Olhei em choque para o meu amigo.
— Que feio, Taylor — murmurei em negação para ele. — Que
feio! Querendo sair fora acusando um inocente!
— Um inocente? — Madison virou para mim em deboche.
Aquele gnomo manipulador...
— Agora finalmente chegamos na causadora de toda a
confusão aqui. — Levantei da poltrona e abri os braços, pronto para
defender minha tese. — Madison que começou tudo, foi ela que quis
interromper o protesto.
— Que protesto? — questionou Scarlett, curiosa.
— O protesto contra a paz que eles queriam fazer — informei.
— Contra a paz? — Taylor enfatizou em dúvida e ergueu a
sobrancelha.
— Não sei se era contra ou a favor — Dei de ombros. — Porém,
Madison fez questão que eu fosse interromper a revolução deles.
A ruiva cruzou os braços e adotou uma expressão entediada,
esperando mais do meu discurso.
— E eu tenho testemunhas. — Estalei os dedos, chamando a
atenção de todos. — Sienna, Drake, Scarlett e Tyler estão de prova
em como Madison me seguiu mesmo quando eu implorei pra ela me
deixar em paz. Depois disso a mesma ficou enchendo o meu saco
até eu ir interromper um protesto importantíssimo.
— Bem... — Drake pediu desculpas para Madison com o olhar.
— Eu vi você indo atrás dele, bruxinha.
Me virei para Sienna, esperando ouvir o que ela tinha a dizer
sobre aquilo.
— Meu namorado não encontrou o meu clitóris — ela disse e
virou o copo de bebida que estava segurando.
Todos a olhamos em choque com aquela revelação, sem saber
o que dizer.
— Bem... — Cocei a nuca um pouco desconsertado. — Isso é
realmente terrível.
— Isso foi no momento da explosão? — perguntou Taylor,
tentando entender qual a conexão daquele fato com o assunto
discutido.
— Não, foi antes — contou Sienna. — E em todos os outros
momentos da minha vida.
É, o que poderíamos falar?
— É lamentável — ajudou Tyler, apiedado e Madison alisou as
costas da amiga em consolo.
— Talvez ele seja escondido demais — ela continuou e acho
que nunca fiquei tão sem palavras em uma conversa como estava
naquela ocasião. — O meu clitóris — ela explicou quando ninguém
disse nada.
— Nós entendemos, querida — falou Scarlett.
— Se você quiser que eu procure... — ofereceu Drake,
descaradamente e todos o olhamos em repreensão.
Ele ergueu as mãos em rendição, sabendo que não era uma
boa hora para dar em cima da bailarina.
— E você, Scarlett? — perguntou Taylor, querendo mudar de
assunto. — Qual o seu depoimento?
Scarlett suspirou.
— Eu estava dançando e minutos depois tudo o que vi foi uma
explosão. Todo mundo começou a correr e Tyler disse que estava
tendo uma premonição.
— E estava — confirmou Tyler, convicto.
— Não era o filme que você assistiu na semana passada, não?
— Madison sugeriu.
— Pode ser, ou eu estava tendo uma visão — respondeu.
— Sim — continuou Scarlett. — Depois disso só vi Colin
passando correndo agarrado com a Maddie.
— Opa! — alertei indignado.
— Espera aí! — Madison se levantou revoltada.
— Não estávamos agarrados — eu e a ruiva falamos ao mesmo
tempo.
— Eu vou tomar nota disso — garantiu Taylor, anotando tudo no
seu celular. — Alguém tem mais alguma coisa a dizer? — Ele
ergueu o olhar para todos os presentes.
— Eu tenho. — Madison levantou a mãozinha. — Colin estava
no local da explosão, ele foi pra lá querendo resolver tudo e o que
aconteceu logo em seguida? Quase todo mundo morreu.
— “Quase todo mundo morreu” — repeti em deboche. — Não
seja dramática...
— Eu senti a premonição — interrompeu Tyler.
— Pouco me importa — murmurei. — A questão aqui é que
deveríamos todos culpar a Madison.
— Ora e por quê? — A ruiva colocou as mãos no quadril.
— Por que você é a mais fofa aqui, e quando Johnny chegar...
— joguei o suspense no ar e engolimos em seco ao mesmo tempo.
— Ele vai ficar puto — constatou Drake, nervoso.
— Ele pensa que nesse momento estamos estudando, não que
acabamos de botar fogo na casa — falei em um suspiro.
— Acabamos? — repetiu Madison. — Quem quase botou fogo
em tudo aqui foi você.
— Não chegamos nessa conclusão ainda. — Apontei meu dedo
para ela.
— Eu cheguei — disse a pequena.
— Quão grave é a nossa situação? — perguntou Scarlett para
mim.
Suspirei e me sentei na poltrona.
— Eu conversei com os bombeiros sobre a casa de vocês —
revelei. — Tenho tudo sob controle, não foi nada muito grave.
Todos suspiraram aliviados, até Sienna ficou mais animada,
sentando direito no sofá para me ouvir.
— O que aconteceu foi que o fogo de artifício explodiu no
telhado, destruindo a metade do teto. Alguns canos também
estouraram e por isso molharam a casa, que infelizmente é feita de
uma madeira de péssima qualidade. — Eles foram murchando à
medida que fui falando. — Mas — Tentei animá-los. — O lado bom
disso tudo é que a madeira já estava bem gasta, então a água
apenas terminou de acabar com ela, deixando a casa inabitada.
Eles me encararam em silêncio.
— Esse é o lado bom? — Madison perguntou murcha.
— Exatamente — confirmei, dando de ombros. — A casa já
estava horrível mesmo, a qualquer momento ela ia cair sobre as
suas cabeças. Então, de certa forma, eu acabei salvando a vida de
todo mundo. — Abri os braços. — Eu sei, podem me agradecer.
Ninguém falou nada.
— Estão muito emocionados, eu entendo. — Dispensei eles
com um aceno.
— Então... — murmurou Sienna, em choque. — Estamos sem
casa? De novo?
— Dentro do mesmo semestre — lembrou Scarlett. — Acho que
nosso destino é ficarmos sem teto.
— Não precisam se desesperar — garanti. — Vocês podem
morar aqui enquanto a casa entra em reforma.
— A casa entra em reforma? — repetiu Madison. — E quem vai
pagar por isso?
— É nesse momento que vocês agradecem a Deus, porque
além de lindo, gostoso e talentoso, ele ainda me fez rico. — Pisquei
para elas, que apenas viraram os olhos.
— E onde a gente vai ficar aqui? — questionou Scarlett,
olhando ao redor da nossa casa.
— Tem cinco quartos, a gente se organiza. — Drake deu de
ombros. — Um fica com o Johnny e a Amber.
— E é aqui que vamos focar a nossa energia — chamei a
atenção deles para o meu plano. — Quando Johnny chegar vai
querer matar todos nós.
— Ou só você — alfinetou o gnomo cínico e a ignorei.
— O fato é que sei como vamos sair dessa — continuei. —
Usaremos a loira como escudo, assim que Johnny souber que
Amber vai ter que morar com ele, ficará imediatamente satisfeito.
— Isso até ele lembrar que vai dividir a casa com mais sete
pessoas. — Riu Drake, já prevendo a confusão.
— Ele não é tão terrível assim... — Não terminei de falar, pois o
meu celular começou a tocar.
Era uma videochamada de Johnny. Cada um ali arregalou os
olhos e se agarrou ao assento, assustado.
— Todos fiquem calmos — mandei, atendendo com um sorriso
falso no rosto. — Olá, capitão.
A cara rabugenta de Johnny surgiu na tela, olhando tudo ao
redor com desconfiança. Amber apareceu ao fundo, acenando
alegremente para mim.
— Onde você está? — ele perguntou.
— Nem um “boa noite” primeiro? — repreendi de brincadeira,
mas ele apenas revirou os olhos.
— Boa noite — desejou Amber, atrasada.
— Boa noite — devolvi, piscando para ela. — Estou na sala. —
Dei de ombros, mostrando mais um pouco da nossa sala.
— Cadê todo mundo?
Rá! Ele estava crente que estávamos dando uma festa. Era
ótimo ver essa cara de surpresa.
Ok. Estávamos, porém ela já tinha acabado.
— Já foram dormir. Fui o único que fiquei acordado, estava
estudando — menti coçando a nuca, fingindo cansaço.
Todos começaram a acenar positivamente para mim, aprovando
minha atuação. Nem pude agradecer de volta pois Johnny estava
olhando para tudo em volta.
— Pode virar a câmera? Queria ver se vocês não botaram fogo
na casa. — Ele estreitou os olhos e Amber bocejou ao seu lado.
Drake e Taylor começaram a fazer movimentos com a cabeça,
dizendo para negar.
 — Botar fogo na casa? — Forcei uma risada. — Você acha que
somos crianças? Está tudo bem aqui — disse, gesticulando com o
braço para eles se abaixarem.
Seria cômico, se já não fosse trágico. As meninas foram para
trás do sofá, se escondendo. Drake e Taylor se jogaram no chão de
uma vez e Tyler olhou em volta, perdido, até resolver se agachar.
Virei a câmera achando que estavam escondidos, entretanto o
gnomo tinha sido lento. Madison ainda estava passando as pernas
pelo sofá e quando olhou o celular na sua direção, parou no lugar.
— Maddie? — chamou Amber, sem acreditar e ela abriu a boca
sem saber o que dizer.
— Oi. — A ruiva acenou debilmente. — Eu... eu...
Balancei a cabeça negativamente para ela.
— Ela veio pedir uma xícara de chá — esclareci, aparecendo na
tela. — Você sabe como Madison é, adora arranjar uma desculpa
pra passar um tempo comigo.
Madison fez uma cara de escárnio.
— Eu só vim falar com os meninos — o gnomo desconversou,
vindo para o meu lado.
— Eles não estavam dormindo? — perguntou Amber, confusa.
Perfeito.
— E estão — continuei a mentira. —, estávamos meditando.
— A essa hora? — Johnny franziu a testa estranhando e
Madison apenas confirmou com um aceno de cabeça, sem
conseguir mentir em voz alta.
— Sim, a concentração é melhor — expliquei.
— Vocês dois... estão sozinhos... — Amber comentou, sem filtro
como sempre.
Eles olharam para o meu peito nu e depois para Madison, que
estava com o cabelo um pouco bagunçado por ter sido carregada
em cima do meu ombro.
— Ah meu Deus, não é isso que vocês estão pensando — ela
se apressou a esclarecer.
Preferi permanecer em silêncio.
— Certo... — Johnny disse desconcertado e Amber deixou o
queixo cair, chocada. — Acho melhor deixar vocês dois sozinhos.
A ruiva cobriu o rosto com as mãos, tampando as bochechas
vermelhas com uma expressão de horror.
— Eu já estava indo pra casa! — ela disse, morta de vergonha.
A casa que está sem teto?
— Ora, vocês não precisam parar só porque a gente ligou —
argumentou Amber, abismada e se virou para o namorado. — Amor,
deixa eles em paz.
— Sim — Bocejei, colocando meu braço em volta dos ombros
do gnomo. — Estamos mortos.
Ela ficou tensa, provavelmente querendo chutar as minhas
bolas. E eu estava fazendo de tudo para não rir da sua cara
enfezada.
— É melhor a gente ir — cedeu Johnny. — Boa noite.
— Boa noite pra vocês. — Amber piscou sugestivamente. —
Maddie, Maddie... — zombou ela. — Quem diria, hein?
Madison estava com a cara de quem queria se esconder para
sempre.
— Boa noite. — Sorri e desliguei na cara deles.
Gargalhei e o gnomo revoltado me empurrou.
— Ai que ódio! — ela disse.
— Pelo menos, funcionou — Scarlett pontuou se levantando.
— Em que quartos vamos ficar? — perguntou Sienna se
espreguiçando.
— Pode ficar no meu — cedeu Taylor para ela. — Eu sou o
único inofensivo aqui.
Sienna enlaçou o braço no dele depressa, já ocupando a vaga.
— Eu não vou dormir no mesmo quarto que vocês. — Scarlett
apontou para mim, Tyler e Drake.
— Pode ficar com o meu quarto, eu durmo com um dos
meninos — cedeu Tyler.
— Obrigada! — agradeceu ela.
Todos olhamos ao mesmo tempo para a ruiva, esperando ela
falar em que quarto queria ficar, mas Madison estava me encarando
e só então a ficha caiu para mim.
Nós dois.
Morando na mesma casa.
Iríamos nos matar em um dia.
E todos na sala pareciam pensar a mesma coisa, pois o silêncio
reinou.
— Infelizmente, eu não posso dividir o meu quarto com
ninguém. Terei que ficar sozinha — informou Scarlett do nada.
— Eu também não, já vou ficar com o Taylor — Sienna puxou
Taylor para a escada.
— E Tyler terá que ficar no meu quarto, já que Colin não está
falando com ele — Drake revelou, também subindo para os quartos.
— Ora, de onde você tirou isso? — perguntei em desespero. —
Já fizemos as pazes! Lógico que ele pode ficar no meu quarto!
— Eu ainda não me sinto preparado pra essa intimidade, Colin
— Tyler me dispensou. — Não vamos dividir a cama logo depois da
reconciliação.
— Assim não sobra espaço — disse Madison, nervosa,
entendendo a mensagem deles. — Não posso dormir com Colin!
A ruiva riu de tão absurda e louca que era a ideia. Eu tive que rir
junto, porque eles só podiam estar de brincadeira, porém a piada
acabou quando todos subiram apressadamente as escadas.
— Boa noite — se despediu Drake.
— Isso só pode ser brincadeira! — Madison correu atrás deles.
— Eu não vou ficar no mesmo quarto que Colin.
— Lamento, querida. — Sienna se virou para jogar um beijo por
cima do ombro.
— Eu não posso ficar com a Madison — avisei, nervoso. — Ela
vai encher o quarto de incenso, pode me matar asfixiado.
— Tadinho — murmurou Scarlett em ironia e eles sumiram da
minha vista.
Madison foi atrás deles apressadamente e a segui.
— Alguém pode trocar de lugar comigo? — tentou Madison.
— Todos estamos muito felizes com as nossas acomodações —
Tyler comentou satisfeito.
— Eu não estou feliz — lembrei-os, entretanto eles bateram as
portas dos seus quartos e nos deixaram sozinhos no corredor.
Quase pude ouvir os risos de cada um. Desgraçados.
Que inferno. Eu não ia dormir com a ruiva, ficaria de pau duro a
noite toda.
Ela suspirou do meu lado e a olhei de canto. Estava cansada e
nitidamente com vergonha. E eu não sabia lidar com o seu lado
tímido e doce, ficava mais suscetível a fazer tudo o que ela
quisesse. Mais do que já era normalmente.
E não queria ficar perto demais de alguém tão perigosa assim.
— Você pode ficar com o quarto — avisei, entrando no meu
quarto para usar o banheiro. — Vou só tomar um banho e depois
vou pro sofá da sala.
— Não precisa...
— Não tem problema — interrompi-a, fechando a porta do
banheiro.
Que porra!
Ela ia dormir na minha cama? Deixar seu cheiro no meu quarto?
Iria tê-la andando de pijama pela casa? O que era isso? Tortura?
Definitivamente, o lugar mais seguro para mim era a sala.
 
Madison Jensen
 
Os lençóis tinham o cheiro bom de canela dele. Eram macios e
limpos, como tudo no quarto. Tinha muito espaço, acho que era um
dos maiores quartos da casa. A cama era enorme, com certeza
cabia nós dois ou até três pessoas. Ele não precisava dormir na
sala...
Balancei a cabeça para afastar aquele pensamento. Não podia
ficar com pena dele, tinha que lembrar que se tratava de Colin Scott,
a pessoa mais insuportável que existia.
Mas o jeito que ele correu para me pegar quando os fogos
explodiram... meu coração bobo e emocionado quase parou,
achando que ele podia estar procurando por mim. O que era tolice,
Colin nem gostava de mim.
E era recíproco. Toda a minha compaixão naquele momento se
baseava exclusivamente em um dever moral, era o quarto dele, eu
não podia chegar e expulsá-lo assim.
Eu não o queria comigo, todavia, dormir no sofá? Nesse frio?
Estava frio para mim, pelo menos. Era confortável?
Que coisa!
Me levantei depressa, antes que mudasse de ideia, e fui até a
sala na ponta do pé. Colin estava acordado assistindo televisão, ele
vestia apenas uma calça moletom cinza, o peito nu. Achei
desnecessário, para quê exibir tantos músculos a essa hora da
noite?
Me encostei na parede, sem me aproximar muito.
— Colin... — chamei baixinho, sem saber como falar.
Estava com receio de ele rir da minha preocupação boba. Colin
ergueu o olhar para mim, surpreso por me ver ali.
— O que foi, pequena?
Fiquei olhando para ele sem saber o que dizer. Não queria dar o
braço a torcer e revelar que estava com pena dele, nem podia
convidá-lo para subir, seria estranho.
— O que está assistindo? — perguntei, abraçando o meu
próprio corpo para me aquecer.
— Hóquei — respondeu sem tirar os olhos de mim. — Não está
conseguindo dormir?
— Não... quer dizer, estou — gaguejei e me calei para respirar
fundo. — Tudo certo, eu só queria dizer que você não precisa dormir
aqui. — Apontei para o sofá.
Ele demorou para entender que eu estava sugerindo que ele
subisse, contudo quando processou a informação, um sorriso foi
crescendo lentamente no seu rosto.
— Então, você está preocupada comigo, hein? — provocou de
propósito.
— Não! — me apressei a negar, desconcertada. — Só que não
vejo problema em dividir a cama. — Assim que fechei a boca, me
dei conta do duplo sentido e o sorriso dele ficou maior. — O espaço!
Não vejo problema em dividir o espaço.
Tinha certeza que estava toda vermelha e o babaca estava
gostando de me ver passar vergonha. Meu Deus, de quem tinha
sido a ideia de ir até ali?
Minha, claro.
— Enfim, você entendeu. — Virei as costas para ele e subi as
escadas o mais rápido possível.
Burra, burra, burra.
Deitei na cama de novo e me cobri com o lençol dele, morrendo
de frio. Claro que ele ia zombar de mim, era só isso que sabia fazer
da vida.
— Desculpa, pequena.
Olhei assustada para trás e o vi entrando no quarto. Colin
fechou a porta e veio deitar ao meu lado na cama.
— E eu aceito o convite, o sofá estava me matando. — Ele fez
uma cara de dor que não acreditei muito.
— Não me importo — menti, virando de costas para ele.
— Por que está toda embrulhada?
— Eu costumo sentir muito frio — revelei.
— Eu sou quente... — garantiu sugestivamente.
— Nunca — afirmei, agarrando mais o meu lençol para jamais
ceder àquela tentação.
— Você que sabe. — Bocejou. — Boa noite.
— Boa noite.
Tentei fechar os olhos e dormir, só que ainda estava
incomodada por ele ter ficado se achando quando fui chamá-lo.
— Eu não estava preocupada com você — soltei. — Só me
senti culpada.
— Sei... — debochou.
— Por mim, você poderia dormir debaixo de uma ponte que eu
não me importaria.
— Olha, se queria tanto dormir comigo, era só ter me falado
antes — provocou o cretino.
— Nem por todo o ouro do mundo, Colin.
— Não precisava ter botado fogo na própria casa pra isso...
— E se você continuar a querer tirar a minha paciência, vou
botar fogo na sua também — ameacei.
— Eu não duvido disso nem por um segundo.
— Que bom. — Puxei mais o meu lençol, pronta para não trocar
mais nenhuma palavra com ele. — Boa noite — desejei de má
vontade.
— Eu só peço que você não se atire pra cima de mim, por favor.
— Pelo amor de Deus — murmurei, revirando os olhos.
— Eu sei que pode pensar que agora que vamos dividir o
mesmo quarto tem alguma chance comigo — continuou ele e
respirei devagar, tentando manter a paz dentro de mim. —, mas eu
creio que sempre deixei bem claro que nunca nos envolveremos.
— É cada uma. — Bufei.
— Às vezes fico cansado de toda essa perseguição. —
Suspirou Colin e eu tive que rir.
— Ai, Colin... — Limpei o canto dos olhos. — Tudo que eu
quero de você é distância.
E para provar meu ponto peguei dois travesseiros para formar
uma barreira entre nós. Quando o olhei, fiquei realmente tentada a
matá-lo asfixiado, porém não queria ir para a cadeia antes de
conhecer o amor da minha vida.
Terminei de ajeitar os travesseiros entre nós e voltei a me virar
de costas para ele, tentando esquecer que estávamos na mesma
cama.
— Obrigado por isso — ele agradeceu, se referindo à barreira.
— Me sinto mais seguro agora.
— Fico feliz em saber disso — ironizei.
O pior de tudo era que ele estava certo mesmo, a barricada era
para sua proteção. Eu era excessivamente carinhosa e Colin tinha o
corpo grande, musculoso, quente, cheiroso e acolhedor. Eu não
podia garantir que não cederia à tentação e o agarraria no meio da
noite, mesmo com todo o ódio acumulado.
— Tenha uma péssima noite — sussurrei para ele e podia sentir
o seu sorriso mesmo sem vê-lo.
— Tenha uma péssima noite, gnomo.
Sorri comigo mesma e agradeci por ele não poder me ver.
Achava engraçado quando ele me chamava de gnomo, entretanto
não podia deixar que Colin soubesse disso, se não deixaria de usar
o apelido.
Também sentia meu coração acelerar assim que ouvia
“pequena”. Era fofo. E fazia com que eu me sentisse especial.
Mesmo que não passasse de uma breve mentira.
Colin Scott
 
Abri os olhos percebendo que tinha acordado bem cedo. Virei
de lado e vi que meu gnomo já não estava mais ali, mas todo o
quarto estava com o seu cheiro de cereja.
Sorri ao lembrar do jeito que ela ficou irritada na noite anterior,
ou como foi até a sala me chamar, toda acanhada e vermelha. Tinha
uma queda por essa garota quando ficava corada, era linda demais
para sanidade de qualquer um.
O seu lado da cama estava arrumado, e eu notei na noite
anterior que ela dormia encolhidinha e agarrada ao travesseiro.
Senti ciúme do objeto, queria que ela me procurasse assim que
sentisse frio, eu resolveria o seu problema.
Resolveria todos os seus problemas, faria qualquer coisa que
me pedisse se ela me deixasse abraçá-la à noite.
— O som da sua respiração é tranquilo — a voz meiga de
Madison soou atrás de mim e me virei surpreso para ver que a
garota estava sentada na minha janela.
A ruiva ainda estava com o mesmo pijama da noite passada,
sentada na janela aberta, olhando para o céu e segurando uma
xícara de chá. Do mesmo jeito que a encontrava de manhã
enquanto espiava pelo binóculo.
Era estranho finalmente ver aquela imagem de perto, a luz do
sol refletia no seu rosto de um jeito que o iluminava todo. Ela tinha o
cabelo preso em um coque bagunçado e alguns cachos desciam
suavemente por seu pescoço.
— Que horas são? — perguntei ao perceber que era cedo
demais.
— Cedo. — Deu de ombros. — Eu acho que devo ter acordado
você quando fui fazer meu chá — disse em um tom de desculpas.
— Sem problemas. — Sentei na cama e espreguicei meu corpo.
Pela manhã a luz do sol entrava no meu quarto de um jeito que
batia de frente para a minha cama, então fiquei cego por uns alguns
segundos até caminhar ao seu encontro. Sentei na outra ponta da
janela, de frente para a pequena, e assim que meus olhos se
acostumaram com o brilho consegui ver melhor seu rosto de perto.
Madison estava olhando para mim admirada, e me dei conta de
que estava com o peitoral nu. Ela corou e desviou o olhar para
encarar o céu de novo.
— Fiz chá pra você também — falou desconcertada, tirando um
cacho ruivo da frente do rosto.
— Eu não tomo chá — respondi um pouco hipnotizado pela
imagem à minha frente.
Que porra.
Ela era linda demais. As sardas salpicadas na ponta do nariz, a
boca rosada carnuda, os cachos caindo ao redor do seu rosto, os
olhos cor esmeralda em um tom vivo, vistos pela luz da manhã... era
tão perfeita que me senti em um momento precioso, só por poder
olhá-la de perto.
Madison também parecia hipnotizada, porém olhando para sua
própria paisagem no céu. Ela respirou fundo e fechou os olhos, feliz.
— Não é lindo? — perguntou distraída, jogando levemente a
cabeça para trás, deixando-se ser banhada pela luz. — Quase uma
obra de arte.
— Tenho que concordar — comentei sem conseguir desviar do
seu rosto.
Ela sorriu discretamente, relaxada, ainda com os olhos
fechados.
— O som da sua respiração... — disse, aproximando a xícara
de chá da sua boca. — É tranquilo.
— Tranquilo?
— Sim, e isso quer dizer que você teve um sonho bom —
contou com convicção.
— Não costumo lembrar dos meus sonhos — revelei e ela abriu
os olhos, intrigada.
— Eu sempre lembro dos meus, às vezes anoto. Podem ser
cheios de significados. É bom sonhar.
Quando olho pra você é quase como se eu estivesse dentro de
um.
— Não me diga que você passou a noite acordada só me
ouvindo respirar, isso é meio bizarro — provoquei e ela sorriu de um
jeito que as suas covinhas apareceram.
Madison inclinou a cabeça um pouco mais para o lado, a luz do
sol banhou o seu pescoço, e eu quis muito dar um beijo ali ou sentir
o seu cheiro vindo diretamente daquela pele sedosa.
— Como você mesmo sabe — Ela inclinou a xícara na minha
direção. —, eu gosto de ver o sol nascer às vezes.
— É algum tipo de ritual?
— Não, eu só acho o ar da manhã puro. — Ela respirou
profundamente, como se demonstrasse o que dizia. — É limpo, o
som dos pássaros, o clima... a energia nesse horário é limpa,
entende?
— Acho que sim.
Eu sentia aquilo, ficar olhando-a se banhar da luz do sol me
dava uma certa paz.
— E é uma visão linda de se apreciar também. — A ruiva deu
de ombros.
— É uma beleza única — me peguei dizendo sem perceber e
admirei o jeito que os lábios dela se entreabriram para ela soprar o
chá. — Algo que eu poderia me acostumar a ver todos os dias.
Madison ergueu o olhar para mim e aquilo, de alguma forma,
me atingiu no meio do peito. Seus olhos estavam mais iluminados,
acho que alegres, e eu não entendi o motivo.
— Você pode... — começou um pouco envergonhada, e suas
bochechas ficaram coradas. — Você pode me acompanhar se
quiser, nunca tive companhia pra fazer isso — falou de uma vez,
parecendo tomar coragem.
Uma sensação estranha fez meu coração apertar. Era uma
ânsia de puxá-la para meu colo e enterrar o rosto naquele cabelo
cheio de cachos. Respirei fundo e cocei a barba por fazer.
— Se eu conseguir acordar no horário...
— Eu acordo você. — Ela piscou para mim, deixando claro que
teria muito prazer em atormentar meu sono.
— Já estou vendo que não terei muitos benefícios nisso —
brinquei.
— Eu faço chá pra você — barganhou.
— Não sei se você me escutou, mas não bebo chá. — Ergui a
sobrancelha para ela. — Agora se você quiser me dar outro tipo de
chá...
Madison revirou os olhos.
— Tem muitos benefícios pra alma acordar esse horário —
insistiu. — Você vai se sentir mais leve durante o dia, garanto. E não
é todos os dias, só às vezes.
A ruiva me olhou um pouco ansiosa, ela queria companhia para
aqueles momentos.
— Se é realmente tão bom assim, pode me acordar — acabei
cedendo e ela tentou esconder o sorriso atrás da sua xícara.
Nunca tinha me passado pela cabeça que talvez ela se sentisse
sozinha quando fazia essas coisas. Era estranho que quisesse até
mesmo minha companhia, nos odiávamos.
— Você pegou tudo ontem à noite? — perguntei, me lembrando
que entramos na sua casa na noite passada para tirar o essencial
das meninas de lá.
— Ainda faltam algumas coisas.
— Eu pego pra você — ofereci me levantando e não consegui
ficar sem provocá-la. — Já trouxe seus vibradores?
Madison virou para mim mortificada.
— Como você sabe que tenho um vibrador? — questionou com
os olhos arregalados.
— Pode usá-lo como se eu não estivesse aqui, não vou me
incomodar. — Caminhei até o banheiro vendo que ela ia pegar um
travesseiro para jogar em mim. — Sinta-se em casa.
— Seu cretino. — Ela jogou o travesseiro, mas consegui fechar
a porta do banheiro antes.
— Lembre-se que você fica leve depois de ver o sol nascer —
cantarolei pra ela.
— Não tem como ficar muito tempo assim se vou dormir com
você.
Claro que eu não podia deixar passar essa escolha de palavras.
— Isso é verdade, se dormisse comigo realmente, sairia assada
e gozada — provoquei e tinha quase certeza que ela estava toda
vermelha naquele momento.
— Você não tem vergonha na cara? — perguntou.
— Olha que engraçado — comentei. — Essa é uma pergunta
que minhas professoras sempre me faziam na escola.
— Eu não vou ficar discutindo pela porta do banheiro —
resmungou, mesmo que fosse exatamente isso que estávamos
fazendo.
— É interessante, levando em conta que estou pelado nesse
momento.
Baixei minha calça moletom e meu pau saltou com uma puta
ereção matinal. E a causa disso tinha um metro e cinquenta e cinco
de altura, e estava do outro lado da porta tomando chá.
— Não preciso saber dessas coisas — respondeu
desconsertada.
— Claro que precisa, somos colegas de quarto agora.
— O fato de termos passado cinco minutos em uma conversa
sem brigar não faz de nós “colegas”.
— Se queria ser mais do que isso era só ter falado, pequena. —
Sorri e entrei no chuveiro.
— Meu Deus, você se acha tanto. — Quase podia senti-la
revirando os olhos.
— Só interpreto suas indiretas. — Deixei a água me molhar e
segurei o meu pau entre os dedos, dando bombeadas certeiras
nele.
Estava totalmente grosso e duro. Salivei quando imaginei as
pernas da ruiva em volta da minha cintura, me pressionando.
— Acho incrível a sua capacidade de transformar qualquer
conversa em algo sujo — ela continuou reclamando.
Isso, continua falando, minha gostosa.
— É um talento meu — murmurei, tentando não gemer.
Senti minhas bolas pesarem e o líquido do pré gozo já estava
se formando na cabeça do meu pau. Imaginei que socava e saía da
sua boceta apertada e meladinha, enquanto minha pequena
arranhava minhas costas. Deslizando pelo meu pau, o deixando
alargá-la toda.
— Ah — falou como se tivesse acabado de lembrar de algo. —
Tenha cuidado com as minhas telas e o meu telescópio.
— Pode deixar — garanti ofegante, batendo punheta em um
ritmo mais rápido. — E as suas calcinhas? Já pegou?
Sorri, sabendo que ela ficaria enfezada.
— Eu não vou nem responder isso. — Suspirou resmungando.
— Nunca deixaria você pegar nas minhas calcinhas.
Imaginei aquela voz gostosa dela sussurrando baixinho no meu
ouvido, me pedindo para fazê-la gozar. Mordi o lábio inferior para
segurar um gemido e acelerei a punheta, tendo a imagem viva dos
seus seios balançando, roçando os bicos endurecidos no meu peito.
— Já disse... — provoquei jogando a cabeça para trás,
deixando a água molhar meu rosto e peitoral, escorrendo até meu
pau. — Nunca é uma palavra muito forte.
— Têm coisas na vida que temos certeza, como: amanhã o sol
vai nascer...
— “Eu nunca darei pra você”? — sugeri em rima. — Está
vendo? Deveria mesmo dar pra mim, faço até poesia.
Sorri e passei o polegar na cabeça do meu pau, fazendo
movimentos circulares para depois acelerar mais. Dessa vez não
resisti, soltei um gemido rouco preso no fundo da garganta.
Lambi meu lábio inferior molhado e me imaginei chupando
aqueles peitos deliciosos enquanto comia a bocetinha da ruiva.
Tinha quase certeza que se metesse nela iria ficar me melando,
sufocando meu pau...
Isso foi o suficiente para sentir minha porra chegando a
qualquer momento.
— Colin? Está bem? — perguntou ela preocupada, e a imaginei
gemendo meu nome baixinho.
— Melhor impossível — ironizei, sem conseguir deixar de me
divertir com a inocência dela.
Madison ficou um instante em silêncio.
— Desculpa — pediu envergonhada. — Eu vou sair do quarto,
você deve estar em um momento íntimo.
— Você não faz ideia do quanto — provoquei ofegante e o
orgasmo veio.
A porra saiu espirrando para todo lado, e senti o alívio gostoso
para caralho de gozar logo pela manhã. Renovado, era como tomar
um bom café da manhã. Para ser melhor mesmo, só se eu gozasse
dentro dela.
— Ah meu Deus — ela sussurrou alto demais ao se dar conta
do que eu estava fazendo. — Você... eu... — gaguejou.
Passei o sabonete e terminei de tomar banho rapidamente, pois
queria pegar sua cara em choque. Enrolei a toalha na cintura e abri
a porta do banheiro bagunçando meu cabelo, tirando o excesso de
água.
— Sim? — Sorri ao vê-la paralisada no meio do quarto, com a
boca aberta e segurando sua xícara de chá. — Se quiser me
oferecer aquele chá agora, eu aceito — flertei descaradamente.
Ela fechou a cara e jogou o chá no meu peito, mas o líquido
nem estava mais quente.
— Seu filho da mãe! — Virou para sair do quarto, toda
vermelha. — Eu não vou dividir o quarto com você!
— É uma necessidade humana — justifiquei de maneira
inocente, seguindo-a. — Você também precisa disso.
— Não preciso, não — Ela desceu as escadas, zangada e eu a
segui só de toalha.
— Veja, alguma hora você também vai ter que gozar — me
defendi, ela entrou na cozinha e eu fui atrás. — Você goza de um
lado e eu do outro, podemos até marcar os horários pra ficar algo
mais organizado — aconselhei, porém não percebi que Sienna e
Tyler estavam lá naquele momento.
Sienna estava cozinhando o nosso café da manhã e parou com
a frigideira na mão ao ouvir o que eu tinha falado. Tyler estava
levando sua maconha à boca, entretanto também paralisou no lugar
ao me escutar.
— Isso não vai dar certo — avisou Madison para eles. — Eu
não posso ficar no mesmo quarto que ele.
— O que ele fez, querida? — perguntou Sienna, deixando a
frigideira de lado.
— Gozei — respondi, dando de ombros. — Agora sou proibido
até disso nessa casa?
— É — Tyler concordou comigo tragando a sua maconha. —,
proibir a gente até de gozar é foda.
— Mas não quando eu estiver dentro do quarto! — avisou
Madison, puta.
— Meu Deus, foi na sua frente? — Sienna se virou para a
amiga, horrorizada.
— Não — Madison se apressou a explicar. — Ele estava no
banheiro.
— E em que lugar você quer que eu me masturbe agora? —
perguntei colocando as mãos no quadril, só que a toalha quase caiu.
Peguei-a antes que mostrasse meu pau.
— A gente estava conversando! — informou Madison,
concentrada na trilha de poucos pelos que tinha no meu abdômen.
— Vocês estavam conversando enquanto se masturbavam no
banheiro? — perguntou Tyler, confuso.
— O quê? Não! — negou Madison, contudo estreitei o olhar
para Tyler, desconfiado.
— E se for? O que você tem a ver com isso? — Me virei para
ele, ciumento e Tyler ergueu as mãos.
— Nada — disse temeroso. — Só estava curioso.
— Espero que esteja lembrado da nossa conversa de ontem. —
Apontei o dedo para ele em tom de ameaça.
— Jamais esquecerei! — garantiu Tyler, engolindo em seco e
relaxei um pouco.
Não queria ser cuzão, mas era foda. Acabava me lembrando
que ele pegou a minha pequena e isso me atormentaria para
sempre, inferno.
— Que conversa? — Madison se intrometeu, curiosa.
— Sobre áreas proibidas — respondi.
— Áreas proibidas? — Sienna alternou o olhar entre nós, um
pouco perdida.
Eu ia inventar alguma coisa, porém uma voz, que conhecia
bem, assustou todo mundo na cozinha.
— COLINNNNNNNN!
Cada um de nós estremeceu e adotou uma cara diferente de
espanto. Estávamos fodidos. Ou só eu, levando em conta que
nessas horas Johnny só lembrava do meu nome.
— SEU FILHO DE UMA...
— A coitada da minha mãe não tem nada a ver com isso —
lembrei, me virando para Johnny, que estava puto da vida atrás de
mim. — Você chegou cedo! — Sorri para ele.
— EU NÃO POSSO SAIR UM DIA QUE VOCÊS BOTAM FOGO
NA CASA! — Johnny avançou para cima de mim, no entanto fui
rápido e rodeei a bancada da cozinha, segurando minha toalha.
— Que história é essa? — perguntei, me fazendo de
desentendido. — A casa está impecável, veja. — Apontei para
nossa própria casa.
— E a casa das meninas, seu merda? — Johnny rodeou a
bancada, pronto para me matar, e eu corri para a sala, enquanto as
meninas e Tyler tentavam se meter entre nós.
— Você não pode querer que eu dê conta de todas as casas da
vizinhança — me justifiquei.
— VOCÊ DEU UMA FESTA! — berrou Johnny.
— Foi uma pequena reunião — corrigi, indo para a área da
piscina.
— Foi um acidente, Johnny — Sienna tentou ajudar, indo atrás
de nós.
— Não precisamos de violência — aconselhou Madison.
— Onde é que deixei meu celular? — Tyler procurou o celular
pela sala, provavelmente querendo gravar tudo.
— Como é que você destruiu a casa? — Johnny veio para cima
de mim e tentei fugir, mas ele agarrou minha toalha, e acabou
puxando-a com força, me deixando nu.
Cobri meu pau com as mãos, só que era tarde, todo mundo já
tinha visto meu material. Madison e Sienna estavam chocadas, de
queixos caídos, e Tyler me encarou abismado.
— Cara, você tem um pauzão — falou Tyler.
— Obrigado. Eu acho — disse sem saber se deveria agradecer
ou não.
— Eu vou matar você — ameaçou Johnny com uma voz fatal e
comecei a rodear a piscina, segurando o meu pau.
— Não quer esperar ao menos eu me vestir? — provoquei, mas
pelo olhar dele, era um péssimo momento para piadas. — Pense
nos meus filhos — tentei apelar para o seu lado sensível.
— Que filhos? — perguntou Madison, assustada.
— Os que eu ainda terei — avisei fugindo.
— O que é isso? — Drake gritou de algum lugar e olhei para
cima, vendo que o fofoqueiro estava em uma das janelas do
segundo andar, olhando tudo.
— Johnny chegou e quer matar Colin — informou Sienna.
— E por que ele está nu? — Drake questionou.
— Parece que ele e Maddie estavam juntos no banheiro antes
— Tyler contou e Madison ficou vermelha como uma pimenta.
— Isso é mentira! — disse a ruiva, revoltada.
— Você vai pagar pela reforma! — Johnny avisou, possesso.
— Eu vou pagar — garanti, escapando dele. — Os cachorros
estão bem! Está todo mundo bem! Só maravilha.
— Só maravilha! — debochou Johnny sem paciência.
Entrei na sala de novo e Johnny veio logo atrás, achei que ele ia
conseguir me alcançar, porém meu gnomo entrou no meio de nós
dois.
Era engraçado vê-la tão pequena entre nós dois tentando me
defender, sendo que era a pessoa que mais queria me matar
minutos antes.
— Pense no lado positivo! — Madison ficou na frente do
capitão, e ele parou para ouvi-la. — Amber vai morar aqui!
A expressão de Johnny mudou imediatamente e suspirei
aliviado, pois já estava ficando cansado de correr. O louco que me
perseguia colocou as mãos no quadril e pensou um pouco sobre
aquilo.
Resolvi ajudar.
— Vocês serão obrigados a morarem juntos — contribuí,
falando exatamente o que ele queria ouvir.
— Humm — resmungou Johnny, mais calmo.
Peguei minha toalha e enrolei na minha cintura sem sair da mira
de Johnny.
— As meninas vão ficar aqui e estão todos muito felizes —
avisei.
— Eu não estou feliz — lembrou Madison.
— Nem eu — Dei de ombros. — No entanto, é o que restou pra
nós.
— Como assim? — Johnny olhou para mim e Madison com
interesse.
— Estamos no mesmo quarto — avisei como se isso explicasse
tudo, esperando que pelo menos ao ver minha infelicidade ele
ficasse um pouco satisfeito.
E foi o que aconteceu, um sorriso diabólico cresceu no rosto do
cretino.
— Então, você vai ter que dormir com a Maddie — Johnny disse
contente.
— Sim, veja. — Suspirei para ele. — Não tem penitência pior.
— É recíproco, acredite — avisou Madison.
— Bem... — Johnny bateu as mãos, muito bem resolvido com a
vida. — Parece que tudo se ajeitou, não é mesmo?
Não para mim.
— Exatamente — concordei falsamente.
— Ótimo. — Johnny veio até mim e deu dois tapinhas fortes
demais nas minhas costas. — Você tem tudo sob controle, Colin.
— É o que eu sempre digo. — Pisquei para nosso capitão.
— Espero que essa reforma demore o máximo de tempo
possível — desejou o Johnny, alegre.
— Ora, não vamos ser pessimistas também — reclamei,
desejando que a obra terminasse naquele minuto.
— E espero que nenhum de vocês esteja de ressaca — avisou
ameaçadoramente, olhando as horas no celular. — Temos jogo
daqui a algumas horas.
— Em recompensa, garanto todos os gols — prometi e Johnny
suspirou aliviado.
Ele sabia que eu podia ser irresponsável, cínico, cara de pau
nas horas vagas, festeiro, cafajeste e safado, mas no hóquei... eu
me garantia.
Madison Jensen
 
— Depressa — cantarolou Amber provocativamente, nos
lembrando que estávamos atrasadas.
A loira andava na frente, nos guiando em uma corrente pelas
fileiras lotadas do estádio de hóquei da universidade. Eram tantos
estudantes que ficava difícil até caminhar entre os assentos.
Os jogos de hóquei em casa eram sagrados na Brown, todo
mundo era fã do esporte ali, deveria ser um dos requisitos para a
admissão na universidade. A aclamação dos meninos não era à toa.
— Não vamos achar lugar — avisou Sienna.
— Não estou vendo nenhuma cadeira vaga — concordei
olhando ao redor, se quiséssemos sentar teria que ser nas pernas
de alguém.
— Relaxem. — Sorriu Amber e continuou a nos guiar
justamente para onde ficavam os melhores lugares, o pessoal fazia
fila por aqueles assentos, tínhamos que ter chegado antes do
estádio abrir para sentar ali.
Olhei para o horário no celular um pouco apreensiva, estava
bem perto de começar a “recepção”, e se acontecesse enquanto
ainda estivéssemos de pé ficaríamos presas ali.
Era uma tradição dos torcedores, geralmente todas as luzes do
estádio se apagavam e eles chamavam os jogadores de hóquei
para o gelo.
— Não é melhor a gente procurar um lugar mais pra cima? —
perguntou Scar olhando para o seu relógio de pulso, parecendo ter
a mesma preocupação que eu.
— Aqui! — Amber andou passando entre as pernas dos
torcedores sentados até chegar à quatro caras acomodados nos
melhores lugares. — Chegamos! — ela gritou para eles e os garotos
estreitaram os olhos para nós.
Assim que nos reconheceram, eles sorriram e se levantaram
dos assentos, cedendo-os como se estivessem sentados ali apenas
para guardá-los.
— OBRIGADA — Amber agradeceu a eles e acenou
alegremente em despedida.
Sentamos depressa antes que alguém pegasse os lugares, de
onde estávamos eu conseguia ver claramente o rinque de
patinação. Sorri animada para ver o jogo dali.
— Agradeça ao Johnny por isso. — Me virei para Amber,
sabendo que aquilo era um privilégio por ela ser namorada do
capitão.
— Não só ele — ela respondeu. — Os meninos fazem questão
de acenarem pra gente daqui.
— Ow! — Sienna se derreteu com a consideração deles. —
Eles são uns fofos quando querem.
— É por isso que vão ganhar hoje — decidiu Scar, competitiva.
E eu também. Hóquei era um jogo violento e cheio de
velocidade, mas aprendi a amar. Torcer pelos nossos jogadores se
tornou minha religião.
— Obrigado por me esperarem! — Tyler ironizou atrás de nós,
sentando em um assento bem atrás de Scar.
— Também recebeu tratamento privilegiado? — perguntou Scar,
vendo que ele também tinha conseguido um lugar.
— Sempre — respondeu, colocando um boné na cabeça.
— Como amiga do capitão, também tive privilégios — disse
uma voz que eu reconheci na hora.
Me virei para ver Nelly e Benny sentando ao lado de Tyler. Nelly
era amiga da Amber, elas faziam o mesmo curso juntas. A
chamávamos de Coca-Cola por ela ser muito acelerada.
— Você tem mais privilégios do que eu. — Amber jogou um
beijo para ela.
Nelly cumprimentou a todas nós e Benny apenas deu um aceno
distante, meio tímido. Ele também estudava com Amber e Nelly, era
ruivo, magro, usava óculos e eu desconfiava que ele já teve uma
queda pela Amber.
— Bem, se preparem pro barulho. — Amber abriu a sua bolsa e
nos mostrou a sua buzina à ar.
Cocei imediatamente meu ouvido.
— Ah, merda! — reclamou Tyler, sabendo que iria ficar surdo.
— Oh, Deus — suspirou Sienna, tampando involuntariamente
as suas orelhas.
— Você pode pelo menos gritar mais baixo hoje? — pediu Nelly.
— Claro. — Amber sorriu diabolicamente.
Descansei minha cabeça no ombro da Scar, porém bem nesse
momento todas as luzes se apagaram, deixando o estádio lotado
totalmente escuro. Todos os torcedores começaram a gritar
loucamente e peguei a mão da Scar ao meu lado.
Adorava sentir aquela vibração.
A maioria das pessoas ficaram em pé enquanto outras subiram
em cima dos seus assentos para conseguirem ver melhor o rinque
de patinação, que nesse momento estava na completa escuridão.
Eu e Amber subimos em cima das nossas cadeiras e ficamos
esperando os gritos se acalmarem, até que se fez um silêncio total.
Um silêncio de respeito.
Não era possível enxergar nada naquele escuro, mas podíamos
ouvir cada torcedor prendendo a respiração em ansiedade. Alguém
em algum lugar começou a bater o pé ritmadamente no chão do
estádio, e o silêncio era tanto que o som ecoou por todo o ambiente.
E isso foi suficiente para todos nós seguirmos o movimento.
Batemos o pé e as mãos em conjunto, fazendo um único som.
Começamos de maneira lenta até o barulho ficar tão alto ao ponto
de sentir a estrutura vibrar sobre os pés.
Estávamos em uma sintonia perfeita, chamando os jogadores
para o gelo.
— Vem! — alguém gritou, puxando o coro e o seguimos.
— VEM!
O telão do estádio acendeu com o número cinco. E era
possível sentir a ansiedade da multidão, passamos a acelerar o
ritmo das batidas e acompanhar a contagem regressiva do telão, o
único brilho no escuro.
— VEM!
Quatro.
— VEMM!
Três.
— VEMMM!
Dois.
— VEMMMM!
Todos os torcedores prenderam a respiração e paralisaram no
lugar.
Um.
Uma luz se acendeu rapidamente no rinque e os jogadores de
hóquei entraram correndo pelo gelo. O efeito que tinha era de estar
vendo relâmpagos voando sobre o gelo, pois as luzes na pista
apagavam e acendiam rapidamente.
A multidão se agitou e todo mundo começou a gritar e pular
loucamente. Pulei em cima do meu assento e me segurei em Amber
para não cair junto com ela.
A agitação era tanta que senti a estrutura do estádio vibrar e
alguém podia facilmente ficar surdo ali, algumas pessoas tiraram as
camisas do corpo para girá-las no ar e Amber apertou a sua buzina,
só piorando a confusão.
Scarlett pegou minha mão quando o som da buzina vibrou por
todo o estádio e várias pessoas começaram a usar as suas também.
De repente as luzes do rinque pararam de piscar e finalmente foi
possível ver todos os jogadores deslizando no gelo.
Os gritos aumentaram ainda mais assim que os meninos
acenaram para a multidão, e um único nome se sobressaiu em meio
aos berros descontrolados dos universitários.
Não era novidade para ninguém.
Ele era o jogador mais carismático.
O mais exibido.
E infelizmente, o mais aclamado ali.
Colin Scott.
Colin era de longe o jogador que chamava mais atenção, ele
patinava ao redor do rinque apontando o seu taco para a multidão,
saudando todos que gritavam loucamente por ele com um sorriso de
derreter calcinhas.
Era impossível não ficar admirada com a maneira com que ele
conseguia encantar todo mundo assim, era um carisma quase
magnético. Eu mesma sempre tinha que me segurar para não gritar
o seu nome junto com o coro, meu papel ali era fingir estar sempre
torcendo contra ele.
Era o que uma boa inimiga deveria fazer.
Se ele soubesse que na verdade eu assistia todos os jogos
seguindo os seus passos, torcendo para ele fazer gols, e com o
coração apertado quando algum jogador o machucava, me zoaria
para sempre.
Colin já era convencido o suficiente sem a minha ajuda.
— Ele adora isso — gritei no ouvido da Scar, como eu ainda
estava em cima do assento, conseguimos ficar da mesma altura.
— Ele ama. — Scar sorriu, achando graça da aclamação que
Colin recebia.
Minha amiga tatuada me abraçou pela minha cintura com
carinho, e eu como não dispensava abraços, aproveitei para agarrá-
la também.
— Tomara que não seja muito violento hoje — gritei no ouvido
dela, e Scar me olhou de um jeito que parecia achar fofo o que falei.
— Não se preocupe, meu bem. Ele não vai se machucar.
— Não estou preocupada com Colin — menti, constrangida por
ela ter percebido que minha atenção estava nele. — Só não gosto
dessas partes do jogo.
— Uhum — murmurou Scar divertida.
Abracei-a mais apertado e dei um beijo quentinho no seu rosto.
Não falei mais nada, pois ela poderia pensar que eu tinha algum tipo
de sentimento secreto por Colin.
O que não era verdade.
Voltei meu olhar para o rinque e vi que Colin já não estava mais
espalhando acenos para os torcedores, todos os jogadores da
Brown estavam reunidos em um canto, discutindo sobre o jogo.
Colin se encostou de maneira relaxada na estrutura, escutando
com cara de tédio o que Johnny dizia. Em algum momento ele
desviou a atenção do seu capitão e olhou diretamente para mim, me
encontrando com muita facilidade no estádio lotado.
Seu olhar era do tipo satisfeito e convencido por me pegar
concentrada apenas nele. Revirei os olhos, mas não resisti a sorrir
diabolicamente em sua direção e mover os lábios de um jeito que
ele entendesse. “Espero que tenha um péssimo jogo”.
Colin sorriu para mim e moveu os lábios de um jeito
provocativo. “Nem se você me desse aquele chá”.
Balancei a cabeça em repreensão para ele e tentei esconder
meu sorriso. Johnny o cutucou com o seu taco de hóquei, fazendo
Colin voltar sua atenção para a conversa deles.
Outro segredo que eu guardava em relação a Colin Scott: podia
odiar abertamente meu inimigo, porém torcia por ele em silêncio.
 
Colin Scott
 
O jogo estava zerado.
Johnny geralmente precisava de três jogadores o marcando
direito ou ele saía correndo como foguete. Como ele era muito
marcado, minha função ali, como atacante, costumava ser tentar
fazer os pontos eu mesmo ou passar o disco para ele.
Resumindo, toda a movimentação do jogo dependia de mim.
O problema daquela noite? Harvard só colocou a porra de um
marcador para Johnny. O cara parecia um armário e não deixava
nada chegar no nosso capitão, Johnny não conseguia nem ver a cor
do disco.
  Resolvendo assim, jogar toda a sua marcação para cima de
mim, e eu estava tão preso quanto Johnny. O lado bom era que os
nossos defensores também não deixavam os atacantes deles
passarem.
Fazíamos pontos? Não, contudo eles também estavam na
merda. Placar zerado.
— Eles estão putos — murmurou Johnny do meu lado, bebendo
na sua garrafinha de água.
— Alguém aqui não está? — Passei a mão no meu cabelo,
bagunçando-o.
Todo mundo estava irritado, a cada um minuto rolava briga.
— Acabou o tempo — gritou nosso treinador atrás de nós,
apontando para o rinque de um jeito que indicava bem o quanto ele
estava com raiva.
Deslizei para minha posição e a porra da minha marcação já se
preparou para seguir todos os meus passos. Tinha que dar o crédito
a eles, os caras eram bons no que faziam.
Esperei o juiz apitar e estralei o pescoço, pronto para queimar a
adrenalina dentro de mim. Ergui os olhos para a multidão que nos
assistia e foquei em uma certa ruiva que sempre conseguia roubar
minha atenção nos jogos.
Eu sabia onde ela se sentava em toda partida, costumava dar
uma olhada nela vez ou outra. Era quase um hábito. E sabe o mais
engraçado? Ela sempre estava olhando para mim de volta.
Nossos olhares se cruzaram e eu soube que ela estava
preocupada, porém a pequena ergueu um canto da boca, em um
meio sorriso. Não era um sorriso completo, todavia era o suficiente
para aparecer uma covinha.
O suficiente para ela me dizer que estava tudo bem eu não
conseguir fazer o meu melhor hoje.
O suficiente para eu sentir o meu coração errar uma batida. Que
merda, ela precisava ser tão linda?
Sorri de volta para ela ficar tranquila, e o som do apito soou pelo
estádio. O disco deslizou no gelo sob o controle do atacante do
outro time, desviei dos dois caras que estavam me marcando, mas
um deles me deu uma ombrada que quase me desequilibrou. Me
estabilizei e corri da marcação, indo atrás do atacante de Harvard.
Prendi a respiração quando o filho da puta ia chegando no
nosso goleiro, só que Drake não deixou. Ele se chocou contra o
outro jogador, arremessando-o para longe. A nossa galera da Brown
gritou em comemoração pela jogada e eu peguei o disco, sem
perder tempo.
Vi os dois caras que estavam me marcando correndo na minha
direção com tudo, prontos para me esmagarem. Sorri para eles, e
fingi que ia para a esquerda.
Esperei-os começarem a correr na direção para eu virar e
seguir pela direita, equilibrei o disco no taco e vi que outro jogador
estava na minha frente, pronto para me atrapalhar.
Joguei o disco entre as suas pernas abertas e ele virou de
costas, um pouco perdido com meu movimento. No entanto,
enquanto o idiota processava o lance, eu já tinha dado a volta nele e
recuperado o disco novamente.
Arriscado? Com toda certeza, podia ouvir meu treinador me
chamando de desgraçado, mas também podia escutar a plateia
gritando meu nome.
Olhei para Johnny e vi que o capitão ainda estava trancado,
seria um tiro no escuro jogar para ele, então segui sozinho.
Eu estava bem próximo do goleiro de Harvard, e ele já se
preparou para me pegar. Entretanto, surpreendi todo mundo quando
comecei a deslizar para trás, quase brincando com a paciência
deles.
— COLINNN! — Johnny gritou, pronto para me matar e não
consegui evitar rir do desespero dele.
Eu tenho tudo sob controle, capitão.
O goleiro saiu da sua posição, pensando que eu ia jogar o disco
para outro jogador perto de mim. Só que não foi isso que fiz, voltei
na direção do gol e aproveitei que o goleiro saiu da sua posição
para driblá-lo com tanta facilidade que chegou a ser ridículo.
Ouvi os gritos ansiosos da multidão e finalmente meti o disco
com tudo na rede.
O estádio tremeu com os pulos.
Abri os braços e deslizei lentamente pelo gelo. Olhei para
Johnny e sorri para ele.
— Vai pode admitir, eu deixo. — Pisquei para o capitão que
quase infartou com meu lance. — Eu sou foda.
Ele revirou os olhos.
— Só no gelo — cedeu, aliviado por termos feito o gol.
Eu era considerado um jogador um pouco polêmico? Sim. No
entanto, entregava resultado.
Me chamavam de debochado, provocador, exibicionista e que
tinha o terrível hábito de matar todos do coração com lances
arriscados demais. Uma difamação, lógico.
Minha mágica no hóquei era justamente essa, ninguém
conseguia prever o que eu faria. Nem os treinadores, torcedores,
adversários ou meus próprios companheiros de time. Só sabiam que
no final dava certo.
Deslizei para minha posição inicial e esperei o disco entrar em
circulação de novo. Sabia que os caras de Harvard estavam putos
comigo, eles odiavam quando eu curtia com a cara deles assim no
gelo.
E eu tinha que usar isso ao meu favor.
 Assim que o juiz apitou novamente, os dois marcadores vieram
me trancar, mas corri deles. Desviei rapidamente e fui roubar o
disco.
Consegui, só que sabia que não ia demorar muito para todos os
jogadores irem para cima de mim, eu tinha poucos segundos e não
poderia chegar ao goleiro. Não dava tempo.
Então patinei muito rápido, como se tivesse a intenção de seguir
até o gol. Ouvi os xingamentos desesperados dos nossos jogadores
reservas, me avisando que não era possível e os suspiros aflitos
dos torcedores.
Quando senti que os jogadores de Harvard estavam chegando
perto de mim, prontos para me derrubarem e distraídos, corri mais
rápido e joguei o disco discretamente para a direita.
Continuei correndo, dando a impressão para quem via que
ainda estava com o disco, pois movia o meu taco de um lado para o
outro rapidamente.
Assim que os caras me alcançaram, meteram seus tacos entre
os meus pés e só então se deram conta de que eu não estava mais
com o disco. Não estava comigo.
Estava com Johnny Jackson.
Sorri para o marcador de Johnny, que me olhou puto por ter
caído na minha distração. Todo mundo da torcida levantou das suas
cadeiras em gritos e Johnny correu.
Ou melhor, voou.
Ninguém pegava ele, os pobres coitados ainda tentaram, só que
não tinha como. Enquanto ainda piscávamos tentando processar
onde estava o vulto de Johnny, ele já tinha marcado o gol.
Uma buzina alta para caralho começou a soar pelo estádio e
Johnny sorriu, apontando o taco na direção da sua maluca. Ele veio
até mim e bateu nas minhas costas.
— Seu gênio filho da puta — murmurou em elogio.
— Louco — gritou Taylor para mim, com um sorriso de
admiração no rosto.
— Mas eficiente. — Apontei meu taco para ele e Taylor bateu o
dele no meu em comemoração.
Estava ganho. Só tínhamos que segurar o placar até acabar o
tempo.
Olhei para a multidão e procurei por Madison. Não queria, ainda
assim era mais forte do que eu. Sempre procurava por ela. A
pequena estava sorrindo e me olhando admirada. Fiquei satisfeito
por ela não estar sentada tão longe como de costume, era bom
poder vê-la de perto.
Me acalmava.
Valeu a pena pagar uma boa quantia para guardarem o lugar
dela.
 
 Colin Scott
 
O lado de fora do estádio estava um inferno. Geralmente,
sempre que saíamos do vestiário depois do jogo, os torcedores
ficavam do lado de fora esperando por nós. Recebíamos os
parabéns, lamentações ou até mesmo ameaças quando perdíamos
e depois conseguíamos nos despedir deles.
Pois é, não foi o que aconteceu daquela vez.
Ganhamos como o esperado e assim que saímos, encontramos
uma multidão enlouquecida. Me perdi dos meninos no meio da
confusão e não consegui encontrar mais ninguém.
— Lembra de mim? — uma garota perguntou atrás mim,
enquanto outros estudantes batiam nas minhas costas em
comemoração.
Virei para ver quem era e fiquei orgulhoso de mim mesmo por
reconhecê-la. Nós já tínhamos transado, foi no dia em que conheci
Madison e caí na sua maldita vela. Fiquei muito feliz em descobrir
que meu pau ainda funcionava depois de ter sido amassado, ele
aguentou uma noite inteira de sexo a três. Eu, ela e uma amiga sua
fodemos por horas.
E quando digo por horas, quero dizer por horas mesmo. As
duas saíram de pernas bambas no dia seguinte.
— Claro que lembro, como poderia esquecer? — Sorri para ela
cinicamente.
Só não me peça pra lembrar o seu nome.
— Eu também não consegui esquecer. — Os olhos dela
desceram pelo meu corpo e pisquei sugestivamente para ela
quando voltou a me encarar. — Você tem planos hoje à noite?
A garota era gata e eu estava com tesão reprimido mesmo.
Olhei para o seu corpo em provocação, como ela tinha feito comigo.
Poderia levá-la para casa, resolver minhas bolas roxas.
Só que existia um empecilho: Meu tesão reprimido era por outra
pessoa.
— Hoje fiquei de sair com o pessoal. — Sorri para ela e nem
estava mentindo.
Olhei por cima das centenas de cabeças ali, tentando ver se
encontrava Johnny, Drake ou os gêmeos.
— Você nunca mais me procurou depois daquele dia — jogou a
indireta, erguendo a sobrancelha desconfiada. — Está saindo com
alguém? Namorando?
Não consegui me segurar. Ri alto.
— Não nessa vida.
— Estou te achando muito quietinho ultimamente, Colin Scott...
— Eu sempre fui. — Coloquei a mão no peito em inocência e
ela me lançou um olhar entediado.
— Odeio inflar o seu ego, mas tenho algo pra falar. — Passou a
mão no meu pescoço e se aproximou para conseguir falar perto do
meu ouvido. Me inclinei para ouvir. — Eu ainda lembro da sua
pegada no meu corpo, amei o jeito que me chupou e o seu pau é
definitivamente o maior que já sentei. — A língua dela lambeu de
leve meu pescoço. — Colin, a gente se encaixou tão bem que eu
não consegui mais pensar em outra coisa. Fico molhada só de
lembrar... resolve o nosso problema.
Passei o braço pela sua cintura e aproximei minha boca do seu
ouvido.
— Acredite, quem sai perdendo dessa sou eu — murmurei
dando um beijo casto no seu rosto, deixando claro que não ia rolar.
Soltei-a e a garota estreitou os olhos. Não com raiva, porém
estranhando minha resposta. Não julgava, se tinha algo que eu não
costumava fazer era dispensar sexo.
— Certo... — disse confusa. — Se mudar de ideia, é só me
avisar.
— Pode deixar. — Pisquei em despedida.
Ok, eu estava com um problema e vinha ignorando isso a algum
tempo para o bem da minha própria sanidade.
Aquela tinha sido a última garota com quem transei. E isso foi a
alguns meses, exatamente no dia em que conheci minha pequena.
Eu nunca fiquei tanto tempo sem sexo desde que entrei em uma
boceta pela primeira vez. Não sabia explicar que merda tinha
acontecido comigo.
As coisas tinham mudado. O que eu queria mudou.
Sentia vontade de tocar uma certa pele macia, beijar a curva de
um certo pescoço delicado e sentir um certo cheiro doce de cereja.
Queria ouvir o som de um certo gemido, beijar com calma uma certa
mãozinha pequena, ver covinhas na hora do sexo, bochechas
coradas de vergonha quando me ouvisse falar putaria. E queria,
mais do que tudo, ver um certo cabelo ruivo cacheado espalhado no
meu peito depois de gozar...
Fodido. Essa era a minha definição, fodido.
Pensava nela. Podia admitir isso, eu só sentia vontade de
transar com uma única pessoa, de um jeito tão intenso que não
conseguia entrar outra na minha cabeça. Algo completamente novo
para mim, nunca tinha passado por esse tipo de problema antes.
Resultado? Alguns meses de punheta pensando em uma única
pessoa. Tinha virado um especialista em punhetas, ganharia com
facilidade de qualquer adolescente na puberdade.
Passei pela multidão procurando o pessoal, só que não
consegui encontrar ninguém. Peguei meu celular e vi que Drake
avisou que eles estavam em um bar. Os filhos da puta nem me
esperaram, só enviaram a localização dizendo que todo mundo já
estava lá.
— Colin?
Bloqueei a tela e olhei para frente, encontrando meu gnomo
parado com as mãos em frente ao corpo e vestindo outra roupa,
diferente da que a vi quando estava na arquibancada. Madison
usava agora um vestido branco de alcinha um pouco curto e colado,
sapatilhas rosa bebê e segurava uma bolsa no ombro.
Como alguém conseguia ser extremamente adorável e sexy ao
mesmo tempo?
— O que ainda faz aqui? Pensei que estava com as meninas —
falei, me dando conta que ela estava sozinha.
— Eu fui trocar de roupa no banheiro e logo que saí de lá não
encontrei mais ninguém. Meu celular descarregou, já ia pedir o
telefone de alguém emprestado.
— Olha, se isso é uma tática sua pra ficar sozinha comigo... —
provoquei e ela revirou os olhos. — Vou logo avisando que não sou
tão fácil assim.
— Você pode me emprestar o seu celular? — Estendeu a mão
pequena, me ignorando.
— E o que eu ganho com isso?
— Sumo imediatamente da sua vista.
Entreguei o celular para ela.
— Você sabe negociar — murmurei em aprovação.
Madison digitou o número de alguém na tela e esperou a
pessoa atender.
— Alô? É a Maddie... — Consegui ouvir uma voz zangada do
outra lado da linha. — Desculpa! Eu estou bem, é que meu celular
tinha descarregado... — Ela se calou e a outra pessoa parecia estar
brigando com ela. Madison suspirou. — Tá bom, eu encontrei com o
Colin, acho que posso ir com ele.
Balancei a cabeça negativamente só para contrariá-la.
— Eu já chego aí, desculpa. Estou bem. — Ela pausou de novo
para escutar algo. — Prometo, não vou fazer mais isso. Eu já chego
aí, beijo — disse carinhosamente e desligou, devolvendo o celular
para mim.
— Deixa eu adivinhar, era a Scar? — joguei o palpite.
— Exatamente. — Madison segurou melhor a sua bolsa. — Elas
acabaram indo pro bar com os meninos, achando que eu já tinha ido
pra lá.
— Então vamos pra lá. — Indiquei o estacionamento à nossa
frente e fomos caminhando. — Por que trocou de roupa? —
perguntei querendo jogar conversa fora.
Ok, eu queria saber se ela estava se arrumando para alguém.
Queria saber quem era esse alguém. Nome e endereço de
preferência. Era sempre bom ficar de olho em quem cercava o
gnomo.
— Estamos de protesto. — Deu de ombros e entrou no carro
quando destravei a porta. — Não vamos mais sair com vocês com
as mesmas roupas que vamos pro jogo.
— E as meninas não te esperaram sair do banheiro? —
estranhei, pois elas tinham aquela coisa de só irem ao banheiro
juntas, sempre grudadas.
Tirei o carro do estacionamento e coloquei a localização que
Drake me passou no GPS.
— Eu fui depois, fiquei esperando ver... — Ela se interrompeu
envergonhada e olhou para a janela, escondendo o rosto de mim.
— Esperando ver...? — incentivei ao ver que ela não continuou.
— Nada — respondeu.
— Algum jogador sair? — arrisquei. — Do outro time?
Ela abraçou a bolsa que segurava e não respondeu. Fiquei
desconfiado.
— É fã de algum deles? — Tentei lembrar se a peguei olhando
para alguém do outro time, mas se tinha, não percebi.
— O que é isso? Um interrogatório?
— Não — falei em um tom desinteressado. — Pouco me
importo com o que você faz.
— Igualmente — devolveu.
— Ou quem espera.
— Que bom — resmungou.
— Só tome cuidado... — alertei. — Jogadores de hóquei não
prestam.
— Você mais que ninguém sabe disso, não é? — disse o
gnomo, afiada.
— Exatamente. — Balancei a cabeça em concordância. — Por
isso aconselho ficar longe deles.
— E como sabe que não quero apenas algo casual? — Ela se
virou para mim, afrontosa.
— Você não curte isso. — Dei de ombros, sem me importar.
Infelizmente. Se curtisse você não me escaparia tão fácil.
— Como pode ter tanta certeza? — Ela parecia ofendida. — Eu
posso gostar de sexo como todo mundo.
Olhei-a de lado, divertido e consegui ver que estava putinha por
eu pensar que ela não fazia sexo.
— Oh, é mesmo? — debochei, querendo dar corda para a
conversa.
— Você não acredita — constatou zangada. —, mas eu não sou
uma santa.
Tentei com tudo de mim não rir.
— Hummm... — foi tudo o que consegui murmurar, só para
atiçar.
— Já fiz de tudo — revelou, tentando sair por cima e olhei de
relance para ela.
— De tudo? — Ergui a sobrancelha em desafio.
— Sim — afirmou, mesmo que suas bochechas tenham ficado
em tom rosado. — Já experimentei muitas coisas.
— Já transou em um carro?
É, né... foi ela que começou, eu só estava terminando. Voltei a
atenção para a direção e a ouvi suspirar ao meu lado.
— Claro que já. — Deu de ombros, como se fizesse isso todos
os dias.
— Madison... — cantarolei. — Quer dizer que um anjo casto
como você já deu umas sentadas em alguém no banco da frente?
Eu não deveria cutucar a onça assim, porém não aguentei.
Paramos em um sinal e eu percebi que o clima no carro mudou.
Era perigoso olhar para ela, só que foi isso que fiz.
A ruiva tinha cruzado as pernas e o movimento fez com que o
seu vestido meio curto subisse um pouco, mostrando as suas coxas
gostosas. Subi lentamente o olhar por seu corpo delicioso, os
quadris largos, a cintura estreita e os seios fartos.
Ela tinha soltado a bolsa nos pés e consegui ver todo o seu
corpo no vestido com calma. Quando meu olhar alcançou o seu
rosto, ela já havia virado para me encarar também e... Puta que me
pariu.
Eu sabia que aquela criaturinha tinha um lado cínico e
manipulador, entretanto nada me preparou para a expressão dela
naquele momento. A garota olhava diretamente para mim, ela
arqueou uma sobrancelha ruiva e um canto da sua boca gostosa se
ergueu, em um sorriso perigoso.
— Você acha... — sussurrou arrastado em tom muito safado, a
voz dela daquele jeito conseguiu deixar meu pau totalmente duro.
—... que eu faria uma coisa dessas?
A boca deliciosa acentuou mais o sorriso diabólico, deixando à
mostra a covinha. Quase me perguntando se eu acreditava que
aquele ser tão encantador conseguia pensar em putaria.
Engoli em seco e senti o meu pau endurecer, pulsando em
tesão.
— Acho — afirmei, soltando o ar quente pela boca e apertando
o volante com força.
Ela não desviou o olhar.
— Mas você não disse que eu era um anjo casto? — a cínica
sussurrou com aquele sorriso que eu jamais esqueceria.
Estava mais para um demônio.
Desci o olhar pelo seu corpo novamente e a imaginei subindo e
descendo no meu pau, lambuzando-o, quicando em mim com
aquela cara de safada que estava agora.
— E um anjo como você sabe dar uma sentada? — perguntei
baixinho, usando o mesmo tom dela.
Sorri em provocação, apenas para irritá-la mais, doido para vê-
la revidar. Cheguei a pensar que ela fosse corar, só que não foi isso
que aconteceu. Ela queria me foder gostoso ali.
E estava tendo sucesso.
— Quem experimentou nunca reclamou — comentou com
aquele sorriso travesso e travei a mandíbula com força.
Senti vontade de dar uns tapas na sua bunda safada e marcá-la
como minha, para não deixar nunca ninguém pensar em encostar
nela.
— E quem foi que experimentou? — perguntei
ameaçadoramente, sentindo algo amargo, que jamais senti na vida,
escorrer pelas minhas veias.
— Você já quer informação demais. — Ergueu a sobrancelha e
virou o rosto para a frente, quebrando nosso contato.
Ela não estava conseguindo manter a pose comigo por muito
tempo, uma hora iria começar a ficar envergonhada. O recado foi
dado, Madison queria me avisar que se brincasse com ela eu iria me
queimar também.
Pelo jeito era verdade, me queimei feio. Senti uma dor profunda,
uma pontada no meio do peito, a mesma que me atingiu quando vi
Tyler segurando sua cintura e enfiando a língua na boca que eu
queria só para mim.
Quis matá-lo por tocá-la, era complemente minha. E era aqui
que o problema crescia: ela não era minha. Nunca foi.
O sinal ficou verde e segui o caminho em silêncio, tentando não
pensar em quem comeu meu gnomo.
— Então, quer dizer que você anda se divertindo... — Estalei a
língua em provocação.
Tentei não demonstrar o quanto estava irritado por saber que
alguém estava passeando no seu parquinho. Madison respirou
fundo e olhou para a janela. Apostava com tudo de mim que ela
estava toda vermelha.
— Você não é o único que pode — murmurou.
— Com toda certeza. — Balancei a cabeça em concordância. —
Só avise ao seu amigo Derek que está com outro, não engane o
pobre rapaz — avisei, querendo sondar quem era esse “outro”.
Ela virou para mim.
— Pensei que não gostasse dele.
— Passei a ter empatia pelo coitado agora que sei que é feito
de trouxa — alfinetei.
— Feito de trouxa? Eu só saí com ele uma vez — argumentou.
— Você deveria ter vergonha desse seu comportamento —
repreendi. — Ele com toda certeza criou expectativas de um
relacionamento...
— Com um único encontro? — interrompeu cínica. — O qual
você fez questão de atrapalhar?
— Eu fiz questão de atrapalhar? — disse horrorizado. — Você
que anda me perseguindo em todos os lugares.
— Ai, Colin — resmungou zangada. — Eu tenho preguiça de
você.
— Pois pode dormir. — Apontei para o banco de trás. —
Aproveite pra pensar nas pessoas que anda iludindo.
— Faça-me o favor — reclamou estressada. — Que moral você
tem pra falar isso?
— Eu não ando saindo com ninguém — alertei, apontando o
dedo na sua direção acusatoriamente.
Ela deu um tapa na minha mão, a tirando da frente do seu rosto.
— Com quem eu ando saindo não é da conta de ninguém.
— Muito menos da minha. — Dei de ombros, fingindo
desinteresse. — Só acho...
— Ai, pelo amor de Deus! — Se virou para mim tão estressada
que achei que começaria a arrancar os cabelos ali. — Você pode
calar a boca por um segundo?
— Você vai envelhecer antes da hora se continuar assim —
comentei e ela só me encarou em silêncio, possessa.
— Preciso sair desse carro — avisou olhando o GPS. — Falta
muito?
Realmente, já estávamos rodando há um bom tempo e nada de
chegar no bar. Estávamos em uma avenida deserta, quase sem
iluminação e aquela não era a direção na qual universitários
querendo encher o rabo de bebida iriam.
Olhei para o destino que botei no GPS e não acreditei no que vi.
— Estamos bem longe de chegar — foi tudo o que respondi.
— Meu Deus, onde é esse lugar?
— No Canadá.
— O quê? — ela perguntou como se não tivesse ouvido bem.
— De acordo com o GPS estamos indo pro Canadá.
— E o que eles estão fazendo no Canadá? — Balançou a
cabeça sem entender.
Dei de ombros, sem saber o que diabos se passava na cabeça
daqueles loucos.
— Botei exatamente o endereço que Drake me mandou. — Dei
meu celular para ela ver a mensagem.
Fiz o retorno já querendo ir na direção oposta do Canadá. Não
estava a fim de passar frio.
— Acho que mandou sem querer, deve estar bêbado —
constatou Madison franzindo a testa ao ler as mensagens. — Ele tá
dizendo que vai morar na Tailândia.
— Que seja feliz.
— O lado bom é que podemos voltar logo pra casa. — Ela
suspirou um pouco cansada. — Vou dormir um pouco e...
O carro fez um barulho estranho, como se estivesse morrendo,
o que era quase impossível pois era um modelo zerado. Mirei o
painel e mais uma vez não acreditei no que estava vendo.
Que merda hein.
— O que foi agora? — questionou Madison.
Não era o nosso dia.
— Estamos sem gasolina. — Foi só o tempo de encostar o
carro no acostamento da avenida que ele apagou de vez.
— Como assim “estamos sem gasolina”? — ela repetiu
debilmente. — Você não botou?
— Pensei que dava pra chegar até o próximo posto —
justifiquei, erguendo as mãos em rendição.
A verdade? Nem tinha olhado para isso desde que entrei no
carro. Culpa exclusivamente dela, claro, que ficou me distraindo.
— Hoje não é meu dia. — Murchou triste. — Ou o seu —
Ergueu o indicador na minha direção, decidindo colocar toda a culpa
em mim —, pois o meu horóscopo não me deu a mínima dica disso.
— Se eu fosse você processaria o site — aconselhei em ironia e
peguei meu celular para avisar ao seguro, eles cobriam esse tipo de
situação.
— Não é um site — ela explicou, se encostando no banco. —
São as estrelas. Tudo tem um significado na vida.
— Até ter uma noite bosta?
— Até isso — confirmou convicta.
— Pois eu acho que o significado disso é sermos assaltados.
Veja que emocionante. — Pisquei para ela e empurrei meu banco
mais para trás.
— Não vamos ser assaltados.
— Como pode ter certeza?
— Não estava no meu horóscopo. — Deu de ombros,
despreocupada.
Balancei a cabeça em negação para ela.
— Se você diz... — Fechei os olhos e descansei no assento,
querendo tirar um cochilo enquanto não chegavam. — Avisei o
seguro, logo eles vêm.
Quando ela não me respondeu virei para encará-la. Madison
estava olhando a janela do carro encantada. Ela mirava as estrelas
do céu através do vidro como se fosse uma criança em uma loja de
doces.
A pequena parecia fascinada. Seu cheiro doce de cereja
preencheu o carro, ele era divinamente suave. Fresco. Inspirei
profundamente e não consegui desviar o olhar dela.
Madison virou o rosto na minha direção com um sorriso
brilhante, mostrando suas covinhas e eu suspirei, sabendo que faria
tudo o que ela quisesse.
Roubaria a lua, lhe daria as estrelas, pararia o tempo no
momento em que o sol fosse nascer só para vê-la feliz. Não existia
uma única coisa nesse mundo que eu não faria pela minha inimiga.
E isso que era um ódio de respeito.
Madison Jensen
 
Só podia ser um sinal do destino.
Tudo bem, eu não merecia um sinal do destino já que passei a
noite toda mentindo descaradamente.
A primeira nem foi uma mentira, só omissão. A pessoa que
fiquei esperando sair do vestiário era o idiota que esqueceu de botar
gasolina no carro. Isso que dava ser curiosa demais.
A segunda mentira foi bem mentirosa mesmo. Eu nunca tinha
transado dentro de um carro, ou em qualquer outro lugar mais
inusitado. Talvez devesse fazer uma lista sobre isso...
A questão era que Colin parecia tão convicto sobre a minha vida
que senti a necessidade de surpreendê-lo. Foi infantilidade, mas
mesmo assim o universo quis me presentear.
Toquei o vidro da janela do carro com a ponta dos dedos e olhei
para o brilho das estrelas acima de nós. Tudo o que fazemos na
vida nos leva a algum lugar, nem que seja apenas para apreciar as
estrelas pela janela de um carro. Era mágico.
Virei para Colin sorrindo e ele já estava olhando para mim. O
tom azul dos seus olhos me fazia ter vontade de pintá-los, podia
sentir o pincel sob meus dedos, sendo arrastado com cuidado por
uma tela branca, manchando-a. Eu queria pegar a sua beleza e
transformá-la em arte.
Só que o engraçado naquele momento era que ele me olhava
como se eu fosse uma obra de arte.
E acho que nunca me senti tão apreciada na vida. Não queria
deixar aquilo passar, não podia desviar o olhar.
— Você consegue ver? — sussurrei e estava tão silencioso ao
nosso redor que era como se existisse só nós dois no mundo.
— O quê? — respondeu no mesmo tom, parecendo hipnotizado
por alguma coisa que via dentro de mim.
Sentia que ele conseguia enxergar minha alma.
— As estrelas — expliquei, tocando o vidro da janela com a
ponta dos dedos outra vez, sem tirar os olhos dele.
Colin desceu o olhar pelo meu nariz e senti que estava
contando todas as minhas sardas.
— Consigo. — Suspirou baixinho. — Elas são perfeitas.
Não sei quanto tempo ficamos parados ali. Ele traçou cada
canto do meu rosto, encarou minha boca e entreabri os lábios,
deixando escapar uma respiração pesada.
Tinha uma energia entre nós. Ela era carregada, eletrizante,
vibrava tanto que era quase palpável. Podia senti-la escorregar
pelos meus dedos.
— Tem um significado — me peguei dizendo ao me lembrar que
ele não levou a sério antes. — Tudo tem um significado.
Colin olhou para as estrelas e as mirou em silêncio.
— É isso que me guia... — Encostei a testa no vidro da janela.
— O brilho delas.
Era uma noite bonita, e a avenida deserta tinha tão pouca
iluminação que permitia ver melhor as estrelas dali. Era um ótimo
lugar para se apreciar, um lugar que eu não conhecia.
Elas piscavam e as constelações estavam bem à vista. Não
dava para ver a lua, só o show de luzes brilhantes acima de nós.
— Eu também tenho um guia — Colin falou e me virei para ele,
curiosa.
Ele me deu um sorriso leve e apertou entre os dedos o pingente
do colar que sempre usava no pescoço. Fiquei intrigada, Colin abriu
o pingente com o polegar, me mostrando o que tinha dentro.
Era uma moeda.
Ela era prata como a corrente, antiga e gasta. Não deveria ter
valor monetário algum, mas parecia ser a coisa mais valiosa do
mundo para Colin. E eram esses os bens que eu mais admirava.
— Como ela te guia? — perguntei com curiosidade.
— Eu faço uma pergunta e ela me responde. “Cara” sempre é
sim, “coroa” é não — explicou, estendendo a moeda para mim. —
Ela é meu destino.
Olhei-o admirada, querendo tocar na moeda.
— Posso? — questionei, sem saber se podia tocar ou não.
Colin confirmou com um aceno de cabeça e me olhou com
carinho. Peguei a moeda com cuidado, com medo de tocar em um
bem tão precioso. Coloquei-a na palma da minha mão e pensei no
que poderia perguntar a ela.
— Ela decidiu tudo por mim, das decisões mais bobas até as
mais importantes — continuou e deu de ombros. — Pode parecer
tolice dar tanto poder ao acaso, mas...
— Não é tolice — interrompi-o, séria. —, nem acaso. É destino.
Ele estreitou os olhos para mim, me encarando de um jeito
diferente.
— E o que é destino pra você?
Observei o brilho azul dos seus olhos.
— A força que move tudo — sussurrei, apertando a moeda na
minha mão. — O caminho que seguimos, as decisões que
tomamos... ele pode ser até mesmo uma pequena moeda.
Colin ergueu o canto da boca em um sorriso satisfeito.
— Pode usar o meu. — Se encostou tranquilamente no banco,
no entanto parecia ansioso para saber aonde o seu destino me
levaria.
Fechei os olhos e tentei pensar no que perguntar. Não queria
perguntar nada muito sério, nada que fosse para sempre. Eu só
queria o agora. Estava parada no meio de um lugar que não
conhecia, onde era possível ver as estrelas de um jeito diferente.
Isso tinha que significar alguma coisa.
Abri os olhos e observei o céu de novo. Dali, não era possível
ver a lua, a noite estava linda para eu não a ver daquele lugar. Era o
sensato a se fazer? Não, podia ser perigoso sair do carro à procura
da lua em um lugar que era desconhecido. Porém, eu não queria o
sensato, queria o que era mágico.
— Devo ir atrás da lua?
Joguei a moeda para cima e a vi girar no ar. Foi rápido,
entretanto consegui visualizar o movimento até prendê-la entre as
minhas mãos. Era tão bom aquele sentimento de expectativa do que
estava por vir, tirei a palma de cima e vi o resultado.
Cara.
— “Cara” é sempre sim — repetiu Colin, ainda encostado no
banco e se divertindo com a minha interação com a sua moeda.
Sorri para ele. Amei aquilo.
— Então eu tenho que procurar a lua — avisei, abrindo a porta
do carro com empolgação.
Olhei para o céu noturno e admirei a beleza. Suspirei e fechei
os olhos, sentindo a vibração gostosa de ser banhada por aquele
brilho.
— Aonde pensa que vai? — perguntou Colin, aparecendo ao
meu lado.
— Eu tenho que procurar a lua — avisei caminhando pela rua,
tentando vê-la.
— Aqui?
— Sim. — Dei de ombros.
— Com toda a certeza vai dar pra ver do carro quando a gente
voltar pra casa — alertou, andando ao meu lado.
— No entanto, perderia toda a magia da coisa. — Sorri para ele.
— É perigoso...
— Você trancou o carro? — interrompi-o.
— Sim.
— Então não tem perigo — continuei a andar animadamente. —
Foi você mesmo que me disse que eu poderia ser guiada pelo
destino.
Apertei mais a moeda entre os meus dedos, e Colin parecia
relaxado com isso, confiante de que eu cuidaria dela. Alguns poucos
carros ainda passavam ali, mas nada de pedestres.
 Éramos só eu e ele.
— Deveria saber que ia inventar alguma coisa assim —
resmungou, só que eu podia perceber o humor em sua voz.
— Logo você tentando me convencer a fazer algo sensato? —
Ergui a sobrancelha para ele.
— Eu tenho os meus dias.
— Ah, eu estou me sentindo tão livre! — exclamei empolgada e
comecei a olhar ao redor do céu.
Colin balançou a cabeça e colocou as mãos nos bolsos da
calça.
— Você é maluca.
— Você também. — Pisquei em sua direção. — Contudo, são
exatamente essas pessoas que sabem o que estão fazendo.
O carro foi ficando cada vez mais distante à medida que nós
andávamos. Tinham algumas árvores altas e prédios que nos
impediam de ver tudo completamente, e a lua deveria estar
escondida entre eles.
— Ali! — Colin apontou para uma árvore e dei alguns passos
para trás, tentando ver a luz.
 Ele não esperou, passou o braço forte pela minha bunda e me
ergueu com extrema facilidade. Me segurei nos seus ombros para
me equilibrar melhor e olhei para ele, um pouco ofegante com o
movimento.
Que homem bonito. Admirei a sua boca, que parecia sempre ter
um sorriso, seu maxilar com a barba por fazer, o cabelo castanho
macio, e quando cheguei nos olhos, os encontrei em mim.
— Ela está ali. — Piscou em provocação e inclinou a cabeça na
direção da lua. Me virei para vê-la.
Lá estava ela. Brilhante, cheia e inchada. Era tão linda que
suspirei apaixonada. Apertei a moeda entre os dedos e a agradeci
em silêncio.
— Eu adorei o seu destino — sussurrei para Colin, me
segurando melhor nele.
Era quase um abraço. Mas eu ainda podia usar a desculpa de
que precisava me equilibrar.
— Eu também gosto dele. — Os braços dele me apertaram
mais também, e pude senti-lo aproximar mais o seu rosto do meu
cabelo.
Tinha a impressão de que ele estava me cheirando, pois
respirava profundamente. Fiquei um pouco arrepiada e nervosa, não
lembrava de já ter ficado tão próxima dele como estava naquele
momento. Em todos os sentidos.
Me concentrei no brilho da lua e bem entre a rua em que
estávamos parados consegui ver outro brilho mais distante. Ele se
sobressaía sobre os prédios e árvores.
Era uma roda gigante.
— Colin — chamei. — Tem um parque ali.
Apontei na direção e ele estreitou os olhos.
— Ah, não. — Negou com a cabeça. — Não vamos, já estamos
bem longe do carro.
— Esse é um momento único — argumentei e ele me colocou
no chão.
— Garanto que esse parque vai estar aí todo dia.
— Mas nós estamos aqui agora. — Sorri, tentando convencê-lo
e Colin colocou as mãos no quadril.
— Esse lance das covinhas não funciona comigo.
Que mentira, funcionava sim.
— Que bom que não é você que decide. — Peguei a moeda e a
joguei para cima.
Quando a peguei entre as mãos e a coloquei em cima da minha
palma, não me surpreendi com o resultado.
— Cara. — Mostrei e ele balançou a cabeça negativamente
para mim.
— Olha, ter te mostrado essa moeda está me custando caro.
— Foi você que não botou gasolina. — Dei de ombros e fui
caminhando em direção ao parque.
— O lado bom é que não vamos ser assaltados — lembrou em
ironia, me seguindo. — Não estava no horóscopo.
— Exatamente — confirmei. — E nós vamos andar na roda
gigante — avisei. — E você que vai pagar tudo.
— Esse horóscopo não acerta uma...
— Eu nunca andei na roda gigante antes — disse a vendo girar
entre os prédios, grande e brilhante.
— Nunca? — perguntou surpreso.
— Nem fui em um parque.
— Que tipo de infância você teve? — ele falou em tom de
brincadeira.
A mais solitária que existe.
— Tinha um parque perto de onde eu morava — contei,
sentindo uma nostalgia ao lembrar daquela época. — Eu me lembro
que à noite ia pra lá e ficava vendo as outras crianças brincando. Lá
tinha carrossel, montanha-russa, roda gigante, maçã do amor. Tudo.
— E por que não entrava? — ele franziu a testa sem entender.
— Não tinha condição — expliquei, lhe dando um meio sorriso.
Talvez algumas pessoas sentissem vergonha de admitir isso,
mas nunca foi problema para mim.
— O que seus pais faziam? — Sondou com cuidado.
Percebi que estava curioso, porém tentava não ser invasivo.
— Eu não os conheci — respondi tranquilamente, aquilo não me
machucava mais.
Colin parou de andar e me olhou de um jeito muito estranho.
— Onde você morava, pequena? — perguntou com carinho,
quase como se quisesse me pegar nos braços e me apertar forte.
— Não sinta pena de mim, Colin. — Sorri e olhei para cima,
admirando aquela paisagem acima de nós. — Quem não tem teto,
ganha o céu. E as estrelas ainda vêm de brinde.
 Assim que voltei meu olhar para Colin, ele ainda estava parado
no lugar, olhando para o meu rosto e parecendo um pouco perdido.
— Eu nunca poderia sentir pena de você — declarou com a voz
rouca. — Sinto pena de quem não é como você.
Continuei olhando-o, sentindo uma sensação boa no peito.
Acho que era acolhimento. Quis agradecê-lo por dizer aquilo, me
aproximar e tocá-lo de alguma forma.
Respirei fundo e estendi a mão para ele.
Minhas mãos eram feias. Elas tinham calos e cicatrizes que
nunca saíram com o tempo. Eu não gostava que ninguém tocasse
nas palmas. E quando deixava alguém pegá-las era porque essa
pessoa tinha se tornado importante para mim.
Era o momento em que eu oferecia uma das minhas maiores
inseguranças.
— Vem — chamei-o, querendo fazer com que ele seguisse
nosso caminho. Nosso destino.
Colin tirou a mão do bolso e pegou a minha. Logo que ele a
segurou na sua eu percebi que ele notou a textura diferente. Ela era
áspera, ótima para segurar um pincel e desenhar, porém não era
agradável para se segurar entre os dedos.
Colin não virou a minha mão para ver o que tinha nela ou
perguntou o que tinha acontecido. Ele a apertou mais na sua e a
levou até os lábios, beijando o torso em reverência.
Segurei a respiração e senti o hálito quente dele contra a minha
pele. Eu senti aquele gesto na alma.
— Pra qualquer lugar — disse e entrelaçou os dedos nos meus.
Minha mão era pequena em relação a dele, no entanto elas se
encaixaram de um jeito perfeito. Eu quase pude ouvir os nossos
corações batendo em sintonia.
Fiquei um pouco vermelha e virei para frente, não querendo que
ele visse o quanto estava tocada por ele ter beijado minha mão. Eu
caminhei e ele me seguiu, deixando ser guiado por mim.
Era estranho caminhar de mãos dadas com alguém, mas ao
mesmo tempo era bom. Não me sentia tão sozinha.
E não lembrava quando foi a última vez que me senti assim.
Colin Scott
 
Se ela estivesse me chamado para o inferno, eu iria com prazer.
Nesse instante, faria qualquer coisa por ela. Sua mãozinha
áspera e com calos era de longe o bem mais precioso que já
segurei entre os dedos. Passei o polegar pelo seu torso macio e a
senti um pouco nervosa por estar segurando minha mão.
Queria perguntar o que aconteceu com os seus pais, onde
viveu, quem a criou, se alguém lhe fez algum mal, como sua mão
ficou assim. Queria saber tudo. Só que esse não era o momento, eu
só queria vê-la feliz.
— Então você nunca comeu maçã do amor?
— Não que me lembre. — Franziu a testa, parecendo tentar
lembrar.
— Tem que perguntar pra moeda — brinquei e ela tentou puxar
a mão que segurava a minha para jogar.
Não deixei. Segurei-a com mais firmeza e estendi a outra mão,
pedindo pela moeda.
— Me dá aqui — pedi e Madison me entregou a moeda,
confusa.
Joguei-a para cima e a peguei no ar com uma única mão
facilmente. Abri a palma e vi o resultado.
— Coroa — revelei e ela murchou. — Podemos fazer assim, eu
compro uma pra mim e você prova.
— Isso é trapaça.
— Não. — Estalei a língua, negando. — É apenas um pequeno
desvio do caminho.
— Acho que devemos seguir o destino à risca — aconselhou o
gnomo.
— Eu às vezes faço algumas alterações lá e outras aqui. —
Entrelacei mais os nossos dedos. — Se temos um destino trilhado, é
preciso fazer alguns desvios ou perde a graça.
Ela suspirou.
— Será só um pequeno desvio.
— Exato — disse satisfeito, adorava corromper as pessoas.
Caminhei ao seu lado de mãos dadas até alcançarmos o
parque. Parecíamos um casal de namorados, quem nos visse
naquele momento jamais adivinharia que nos odiávamos.
Comprei as nossas entradas e entramos no parque. Estava
lotado, cheio de crianças e adultos circulando, o que me fez lembrar
que não era tão tarde assim.
— O que vai ser primeiro? — perguntei para ela e a ruiva
pensou um pouco.
— Andar de carrossel é muito infantil pra pessoas da nossa
idade?
Sim.
— Claro que não — menti ofendido. — Quantos anos acha que
eu tenho?
Ela revirou os olhos.
— O suficiente para subir em cima de um cavalo de brinquedo.
— Me puxou na direção do brinquedo.
— Se faz tanta questão de dar uma cavalgada hoje...
— Sem piadas de duplo sentido — me interrompeu
ameaçadoramente. — Aqui está cheio de crianças.
— E a graça é justamente essa, podemos falar tudo que elas
não vão entender nada — avisei, entrando na fila junto com ela.
— Você que pensa.
Soltamos as mãos assim que ela entrou na minha frente na fila
e isso me deixou... frustrado. Quis continuar tocando-a. Motivo? Não
fazia ideia, só queria minha pequena perto de mim.
Fiquei atrás dela, bem próximo, o bastante para sentir o seu
cheiro suave. Esperamos as crianças com os pais entrarem e
quando chegou nossa vez ela quis ir para um lado diferente do meu,
mas não deixei.
Passei o braço pela sua cintura e a trouxe comigo até o cavalo.
— O que está fazendo? — perguntou confusa.
— Não vou passar essa vergonha sozinho — avisei sentando
no cavalo de brinquedo e a puxando para coloca-la sentada de lado
na minha frente, quase no meu colo.
— Nem tem ninguém que a gente conheça aqui — disse,
ajeitando a saia do vestido que subiu com o movimento.
— Nunca se sabe. — Coloquei a mão na sua barriga e a
pressionei contra meu corpo, quase como um pedido para ela
relaxar comigo.
Madison cedeu e encostou as costas no meu peitoral. Tentei
não pensar na sua bunda gostosa e redonda roçando no meu pau.
Com certeza não era bom ter uma ereção ali.
Apertei mais meu braço em volta da sua cintura e alisei a curva
da sua barriga com o polegar. Ela ficou tensa e eu podia sentir
minha pele queimar por tê-la tão perto assim. Baixei a cabeça um
pouco e enterrei meu nariz naqueles cachos ruivos. Não estava tão
na cara que eu estava querendo cheirá-la para quem visse de fora,
porém era esse meu objetivo.
Sempre foi. Ela era uma droga e eu o viciado. Sempre queria
um pouco dela, um pouco do seu cheiro, sua voz, da pele, do seu
lado romântico. Queria só um pouco dela, acho que isso era o
suficiente para me manter vivo, como o ar que respirava.
— É a sua primeira vez no carrossel? — sussurrei perto do seu
ouvido.
— É. — Ela suspirou e se agarrou no meu braço quando o
brinquedo começou a andar.
Ela respirou profundamente, apostava que estava afetada por
nossa proximidade. Trouxe o seu corpo um pouco mais para perto e
ela descansou a cabeça no meu peito conforme foi se adaptando ao
andar do carrossel.
Do jeito que ela estava eu conseguia ver bem de frente os seus
seios sufocados dentro do vestido. Eles eram grandes, apostava
que se eu os segurasse nas mãos ainda escapariam. Já imaginei
mais de uma vez como seria colocá-los na boca, qual gosto teriam.
Queria babá-los, passar a língua bem devagar nos seus bicos até
senti-los ficarem durinhos.
Meu pau ficou duro pela segunda vez só naquela noite. Que
maravilha.
Lembrei do que ela falou no carro e senti raiva novamente ao
me lembrar que talvez algum verme desprezível esteja fazendo
exatamente aquilo com os seios dela.
Apertei meu abraço na sua cintura possessivamente e não
aguentei. Enterrei o rosto no seu pescoço e dei um beijo suave ali,
querendo apagar a lembrança de qualquer homem que a tenha
tocado desse jeito na vida.
— Colin? — Ela virou para mim, confusa por eu ter dado um
beijo no seu pescoço do nada.
— Quem é ele?
Ela franziu a testa de um jeito fofo.
— Ele quem?
— O cara com quem está saindo — fui direto e dei outro beijo
no seu pescoço, sem me importar em como aquilo pareceria.
Sua pele era macia, fresca, cheirosa. Do tipo que eu tinha que
me esforçar para não ficar ali por muito tempo. Levantei o olhar para
ela e encontrei a ruiva toda envergonhada.
— O cara que estou saindo? — sussurrou desconsertada,
quase com medo de alguém ouvir nossa conversa.
— Sim — confirmei, alisando a sua cintura com o polegar. —
Quem é ele?
Ela abriu e fechou a boca várias vezes.
— Eu... não quero falar sobre isso. — Virou para frente e fiquei
incomodado.
Não afastei meu rosto do seu pescoço, pelo contrário, dei outro
beijo ali, dessa vez mais demorado e quente. Senti o seu corpo se
arrepiar contra o meu, e inspirei o seu cheiro mais uma vez.
— É alguém que eu conheço? — continuei com a minha
investigação.
— Pra quê você quer saber? — perguntou sem entender. — Eu
não pergunto sobre as garotas com que você sai.
Não tem garota nenhuma, faz um bom tempo.
— Curiosidade. — Dei de ombros, fingindo não me importar. —
Nunca te vi com alguém fixo.
Ela virou o rosto para mim de novo e dessa vez ficamos muito
próximos. Nossos narizes quase se roçaram. Tentei não olhar para a
sua boca, mas foi involuntário. A boca rosada e os lábios brilhantes
me tentavam de um jeito que eu tinha que usar toda a força do meu
corpo para não beijá-la.
— É sério? — indaguei me aproximando mais, tão próximo que
nossas bocas estavam a centímetros uma da outra. — O que vocês
têm, é sério?
Ela olhou no fundo dos meus olhos daquela vez.
— Não — negou suavemente. — Eu nunca tive nada sério com
ninguém.
Eu não sabia explicar o porquê, porém aquilo me acalmou.
Ninguém tinha pegado o seu coração ainda. Me abaixei e dessa vez
beijei o seu queixo.
Foi perto da boca, e senti que ela prendeu a respiração
achando que eu a beijaria. O engraçado foi que minha pequena não
recuou, só me esperou. Quis tanto subir, só pegar o lábio inferior
dela entre os dentes, sugá-lo, sentir aquela língua tímida entrar na
minha boca...
Fechei os olhos com força e apertei mais o meu braço em torno
dela. Tinha que parar com aquilo. Dei um último beijo no seu queixo
e voltei a ficar ereto no lugar, só a segurando pelo braço.
Ela ficou um pouco ofegante e voltou a olhar para frente.
Percebi que alguns pais olhavam para nós em repreensão, talvez
achando que estávamos falando putaria no meio do brinquedo.
Passei meu outro braço pela cintura dela, colando-a
completamente ao meu corpo e a protegendo dos olhares deles.
Madison veio e ficou aconchegada comigo até nosso tempo ali
acabar.
Descemos do cavalo e eu fui comprar a maçã do amor dela.
Madison ainda estava sem entender o meu interrogatório, só que
também decidiu não entrar mais no assunto.
— Ainda acho que é trapaça — avisou, pegando a maçã da
minha mão.
— Um pequeno desvio — corrigi, seguindo para a fila da roda
gigante.
— Você tem medo de altura? — perguntou, ficando ao meu
lado.
— Não, você tem?
Ela olhou para cima e acompanhou até onde a roda gigante ia.
Engoliu em seco e percebi que a chance de ser vomitado naquela
noite era grande.
— Talvez não. — Mordeu sua maçã meio temerosa.
— Eu conheci uma pessoa que morreu em uma roda gigante.
— Ela caiu de lá? — Ela virou para mim.
— Não, foi de ataque cardíaco fulminante.
Madison apenas me encarou.
— Eu não vou me estressar com você. Nada pode me tirar do
sério hoje — decidiu.
— Olha, estou me sentindo desafiado. — Pisquei para ela e
chegou nossa vez de entrar na cabine.
Me sentei logo e ela ficou parada do lado de fora, parecendo
pensar se entrava ou não.
— Deixa de besteira. — Estiquei minhas pernas de maneira
relaxada no assento. — É bem firme.
Ela entrou e a cabine começou a balançar para frente e para
trás. A ruiva se desequilibrou e caiu sentada no lugar ao lado do
meu. Fechei a trava antes que ela decidisse sair e o brinquedo
começou a girar, a impedindo de ir embora.
Madison olhou em volta, nervosa.
— Eu não vou morrer — repetiu para si mesma.
— Claro que não — confirmei. — Não estava no horóscopo.
— Não me faça te jogar daqui — ameaçou, se segurando nas
laterais.
— Eu não morreria, ainda estamos muito baixo. — Subíamos
lentamente. — Deixe pra fazer isso quando estivermos lá em cima.
— Vou me lembrar disso. — Madison mordeu o último pedaço
da sua maçã e virou para mim. — Aliás, obrigada pela maçã.
— Por nada. — Sorri.
A ruiva fechou os olhos suavemente e respirou fundo. Era
quase como se estivesse meditando, eu consegui acompanhar o
seu corpo se acalmando, sua respiração regulando para um ritmo
calmo, as pálpebras descansando fechadas e o seu peito subindo e
descendo lentamente.
É, talvez eu devesse praticar aquilo também.
Estiquei o meu braço atrás dela, me sentindo leve só por ver o
seu progresso de calmaria. Ela conseguiu ficar em paz apenas
meditando, mesmo morrendo de medo. Assim que abriu os olhos de
novo, já estávamos no topo da roda.
Os seus olhos esmeralda se arregalaram surpresos, e ela sorriu
maravilhada com a vista do céu dali. Maddie descansou no assento,
e jogou a cabeça levemente para trás, encostando no meu braço.
— Você sente isso? — perguntou com um sorriso no rosto,
ainda mirando as estrelas.
— O quê?
— A magia.
Sorri para ela.
— Você acredita mesmo nisso? — questionei curioso e ela virou
para mim. — Em magia. Acredita mesmo nisso? De verdade?
Ela observou cada traço do meu rosto.
— Você não acredita? — devolveu a pergunta.
Não acreditava. Achava que as coisas no mundo eram claras e
reais.
— Não. — Sorri em um pedido de desculpas silencioso por não
compartilhar da sua visão de mundo.
Madison ficou alguns segundos apenas me olhando em silêncio,
pensativa. Fiquei esperando pela sua resposta e ela veio. A ruiva
estendeu a mão e tocou o meu rosto com calma, em uma carícia
suave. Fui pego de surpresa, só que não me mexi, fiquei com medo
de ela se afastar.
Quis fechar os olhos, apreciar aquele carinho, mas também não
queria perder nada do que os seus olhos esmeralda me diziam.
— Você já olhou pro céu à noite em algum momento da sua
vida? — ela perguntou baixinho e eu esqueci até mesmo onde
estávamos.
Eu podia ver as estrelas brilhantes atrás dela e naquele instante
foi como se estivéssemos perdidos no céu. Flutuando no espaço.
Em um lugar só meu e dela.
— Já — confirmei.
— Eu também. — Ela continuou a acariciar a minha barba por
fazer. — Já passou pela sua cabeça que talvez você tenha olhado
para o céu no mesmo dia e hora que eu olhei? Antes de nos
conhecermos, em algum dia, talvez você tenha admirado a mesma
estrela que eu.
Respirei fundo, tocando a mão dela que descansava no meu
rosto, a pegando com a minha.
— Nunca pensei nisso — confessei.
— Isso é magia — afirmou com tanta certeza que aquilo me
tocou. — É conexão.
Apertei a sua mão na minha, queria roubá-la para mim, nem
que fosse só por um segundo. Eu entendia o que ela queria dizer,
porém aquilo para mim ainda não era magia.
— Isso não seria coincidência? — argumentei, preso ao olhar
dela. — Admirar o céu é uma coisa simples da vida, pensei que
magia fosse algo extraordinário.
— As coisas simples da vida são extraordinárias — explicou
descendo o carinho pelo meu pescoço e engoli em seco. — Você já
sorriu hoje?
Confirmei sem conseguir deixar de sorrir com carinho para ela,
e a pequena sorriu timidamente de volta. Me aproximei mais, a
aconchegando no meu corpo e ela ficou tão próxima... tão próxima
que nossas testas quase se tocaram.
— Isso é mágico — continuou em um sussurro. — Sorrir,
inspirar o ar da manhã, sonhar, até chorar. Pra mim, magia é até
mesmo a energia que vibra entre nós. — Ela desceu o carinho até
chegar no pingente no meu pescoço e tocá-lo com carinho. — É até
mesmo uma moeda antiga.
Não me importei com nada, só inclinei mais na sua direção e
encostei suavemente a minha testa na sua, roçando nossos narizes.
Segurá-la assim era tão bom, tão precioso, que eu não queria largar
mais. Fiquei com medo do maldito tempo da roda-gigante. Iria
acabar, ela sairia de perto de mim, e eu ficaria só com o seu cheiro
como lembrança.
— Eu vou tentar adotar essa filosofia de vida — disse,
respirando com calma no mesmo ritmo dela.
— É incrível, não é? — Ela sorriu ainda segurando o meu
pingente. — Como a magia se esconde em coisas tão simples, acho
que por isso ela é preciosa. Não costumamos dar atenção para
aquilo que vemos todos os dias.
Ela ergueu o olhar para me encarar e não consegui me mover.
Um cacho ruivo descia em ondas no meio do seu rosto, fiquei
tentado a tirá-lo da frente, uma desculpa para tocar na sua pele
macia. Madison olhou para a minha boca e um sorriso se desenhou
em mim.
Respirei fundo, sentindo um peso estranho no meu peito. Eu ia
me inclinar mais na sua direção, mas a roda gigante parou de uma
vez, dando um susto na ruiva.
Passei meu braço pela sua cintura e a puxei para mim. E ela
veio.
— Eles estão tirando o pessoal — avisei, apontando para baixo.
— Acabou nosso tempo.
Madison olhou para baixo, triste.
— Foi bom enquanto durou.
— Foi sim.
Virei para frente e fechei os olhos, tentando acalmar as batidas
do meu coração. Que merda! Isso não era nada bom. Eu deveria
ficar longe dela, não estar quase tentando beijá-la em um parque.
Tirei meu celular do bolso para ver as horas e vi que o seguro já
tinha resolvido o nosso problema, estavam esperando por nós.
— Já temos que ir. — Mostrei a mensagem a ela.
Chegou nossa vez de sair da cabine, eu saltei do assento e
esperei por ela. Nós caminhamos com uma certa distância um do
outro até a saída do parque. Estava sentindo aquela sensação de
querer tocá-la, contudo precisava me controlar.
— Tenho que fazer mais uma pergunta — ela avisou,
estendendo a mão para mim.
A olhei de lado e ergui o canto da boca em um sorriso enquanto
lhe entregava a moeda.
— Colin se arrepende de ter passado a noite em um parque ao
invés de ir a uma festa? — A ruiva jogou a moeda para cima e deu
coroa.
— Essa moeda não sabe de nada. — Pisquei e continuei a
caminhar.
— Ela sabe de muita coisa — provocou me acompanhando.
— Tome cuidado com ela — pedi, apontando para a ruiva.
— Ela está segura comigo — garantiu, segurando-a com
cuidado na mão.
Eu não precisava explicar a importância, ela entendia. Não
precisava contar quem me deu ou que história tinha por trás.
E eu confiava tanto na minha pequena que ela foi a única
pessoa que já deixei tocar naquela moeda. Era engraçado o
contexto daquilo, no entanto eu literalmente entreguei meu destino
nas suas mãos cheias de marcas.
E não tinha lugar mais nobre para se estar.
 
Madison Jensen
 
Colin pegou o carro e seguimos para casa em silêncio. Em
nenhum momento ele pareceu querer voltar para encontrar o
pessoal, só seguimos em um silêncio agradável para casa.
Quando chegamos eu subi diretamente para o quarto, ainda
estava com a moeda dele. E sabia que Colin me pediria de volta.
Abri minha mão e a vi ali, estava dando cara, mesmo que eu não
tivesse feito qualquer pergunta, ela estava me dizendo sim.
Ouvi Colin abrindo a porta atrás de mim, e se aproximando aos
poucos. Podia sentir o seu calor, o aroma gostoso, o som da sua
respiração. Tudo. Ele ficou tão próximo que a sua respiração soprou
no meu cabelo.
Me senti atraída, como se um ímã puxasse o meu corpo, e virei
de frente para ele. Olhei para aqueles olhos azuis e fiquei presa
neles.
A mão dele veio até o meu pescoço em um toque suave e
engoli em seco, ansiosa. Colin não costumava encostar em mim
assim, geralmente sempre mantinha uma certa distância física. Não
vinha e simplesmente me acariciava do nada, ele tinha feito isso
mais de uma vez só naquela noite.
Passou o polegar pela veia pulsante do meu pescoço e me
arrepiei toda. Meu coração acelerou e seus olhos me faziam querer
me aproximar cada vez mais.
A mão dele subiu mais, senti o seu polegar passear em torno da
minha bochecha. Tocando minha pele com cuidado, carinho, de uma
forma que nunca fui tocada antes. Colin parecia um pouco nervoso,
como se quisesse desesperadamente fazer algo, no entanto
estivesse se segurando.
Seu polegar passou pela minha boca e minha respiração quente
o tocou, sua pele nos meus lábios. Colin respirou profundamente e
sussurrou para mim:
— Me dá, pequena — implorou sem desviar os olhos de mim.
— A moeda.
Eu deveria entregá-la, era dele, só que não consegui me mover.
Não lembrava de ter recebido carinho assim alguma vez na vida, era
raro de acontecer. Queria ficar ali só mais um pouco...
Colin se inclinou mais para mim, colando nossos corpos. Podia
senti-lo em todo lugar. Fechei os olhos e respirei fundo quando seu
polegar acariciou o meu rosto, suspirei me inclinando mais na sua
mão, apreciando o contato.
— É minha — disse com a voz um pouco rouca, e sua outra
mão também passou suavemente pela minha pele, colocando meu
rosto entre elas de um jeito cuidadoso. — Só minha — enfatizou
baixinho. — Pra cuidar, proteger, não deixar ninguém machucar... eu
preciso dela. Assim que a coloco no peito sinto o meu coração se
acalmar, como se estivesse completo.
Inclinei o rosto entre as mãos dele e suspirei, não queria abrir
os olhos. Se abrisse, voltaríamos a ser Colin e Maddie. Duas
pessoas que não deveriam estar quase se abraçando desse jeito.
— Preciso tê-la comigo — continuou e eu me arrepiei. Senti a
fragrância gostosa de canela entrar em mim. — Preciso carregá-la
pra minha vida de qualquer jeito. Preciso tocá-la, estar perto dela.
Não tem um único dia em que eu não a queira.
Senti um aperto no peito, queria me aproximar mais dele.
Queria tocá-lo, sentir mais o seu cheiro, escutar a sua voz... Abri os
olhos e o encontrei olhando diretamente para mim. Engoli em seco e
coloquei a mão que estava com a moeda em seu peito firme, bem
em cima do pingente.
Senti o coração dele bater.
— É sua — confirmei, colocando a pequena moeda dentro do
pingente.
Quando ia tirando minha mão do seu peito Colin foi mais rápido
e a segurou, ele a levou até os lábios e a beijou tão carinhosamente
que meu coração derreteu um pouco.
— Obrigado — agradeceu sem soltar minha mão.
Continuei olhando-o e percebi que seus dedos estavam
massageando a palma da minha mão, tocando nas marcas que
tinham ali.
— Como foi que elas ficaram assim? — Ergueu a sobrancelha,
esperando pela minha resposta.
Baixei o olhar e me afastei dele. Sabia que não eram macias e
bonitas, mas ficava um pouco constrangida em ser analisada assim.
— Já vou dormir, Colin — avisei em tom ameno, pegando
minhas coisas que estavam espalhadas pelo seu quarto.
Entrei no banheiro, e no momento em que ia fechando a porta,
ousei olhar para ele de novo. Ainda estava parado no mesmo lugar
e olhava para mim com um sorriso carinhoso no rosto.
— Só pra você saber, eu nunca toquei em algo tão precioso na
minha vida. — Ele piscou para mim. — Obrigado pela honra.
Sorri e abaixei os olhos sem conseguir encará-lo, sentindo meu
coração apertar.
— Eu que agradeço — agradeci e fechei a porta do banheiro,
me encostando nela depressa.
Virei para o espelho e vi que estava toda vermelha, e ele nem
tinha dito nada demais. Era ridículo, Colin podia estar só brincando
comigo.
Estava me sentindo extremamente tola, mas ainda assim fiquei
com um sorriso no rosto. Podia sentir o seu toque em mim, o beijo
que deu no meu queixo, como segurou a minha mão, podia sentir
até o formato do seu sorriso.
 Logo que me troquei voltei ao quarto e ele não estava mais lá.
Deitei na cama um pouco apreensiva.
Colin Scott era marcante e eu não julgava todas as garotas que
já caíram na dele. Tê-lo tão perto assim era muito perigoso. Por isso
peguei minha lista de coisas a fazer do dia e rabisquei um tópico
que não podia faltar.
“Lembrar que odeio Colin Scott, mesmo quando ele não é tão
odiável assim”.
Colin Scott
 
— Vamos limpar a piscina, aparar a grama e ver como anda a
construção — informou Johnny em tom de comando.
Quase a beijei...
— As meninas sempre terão prioridade em usar o banheiro —
continuou o capitão.
Ela percebeu que eu estava falando dela no lugar da moeda?
— Colin.
Não precisava ter dito que pensava nela todos os dias. Uma vez
na semana já era suficiente.
— Colin!
— O quê? — Olhei assustado para Johnny, que estava parado
no meio da sala com as mãos no quadril.
— Você ouviu o que eu disse?
— Claro que sim — menti, me espreguiçando. — Já acabou a
reunião de condomínio?
Levantei do sofá, animado para o fim daquele inferno.
— Não — respondeu Tyler, frustrado.
— Pode se sentar — mandou Johnny, apontando para mim. —
Você que é o causador de tudo isso.
— Eu? — Coloquei a mão no peito em choque. — Saiba que já
discutimos isso aqui, e ainda não encontramos um culpado.
— Pois eu encontrei. — Johnny ergueu a sobrancelha
cinicamente. — Voltando às regras, também iremos colocar o lixo
pra fora...
— Espere um momento. Eu quero saber por que só nós iremos
fazer tudo aqui? — interrompi o capitão ao me dar conta de que as
meninas não estavam naquela reunião.
— É verdade. — Drake se inclinou no sofá, parecendo, só
naquele instante, se dar conta de que estávamos sozinhos ali. —
Por que só nós temos que fazer tudo?
— Porque foram vocês que destruíram a casa delas. — Johnny
deu de ombros e eles suspiraram em um consentimento silencioso.
— Então quer dizer que foi isso que viramos? Pau-mandados?
— perguntei a eles e ninguém falou nada. — Elas nos fazem de
escravos. E isso é desde que se mudaram pra cá. — Levantei e fui
para o centro da sala. — Nós colocamos o lixo delas pra fora,
aparamos o gramado da casa delas. Até pegamos as bostas que os
cachorros delas fazem na nossa porta.
— Os cachorros são meus também — lembrou Johnny.
— Não é sobre os cachorros — dispensei o comentário dele
com um aceno. — É sobre termos virado capachos.
— Eu concordo com isso — Taylor me apoiou da sua poltrona.
— Por que aparamos o gramado delas mesmo?
— É mesmo — disse Tyler, confuso. — Por que diabos fazemos
isso?
— Porque somos idiotas — respondi por eles. — Elas nos
manipulam, vejam o que aconteceu com Johnny. — Apontei para o
nosso capitão, que tinha se sentado em um canto e me lançava um
olhar entediado. — Vocês querem ficar desse jeito? Completamente
controlado por uma mulher?
Todos olharam para Johnny, que se limitou a revirar os olhos.
— No meu caso nunca vai acontecer — Taylor tirou o corpo fora
e para ele era fácil falar, não gostava de mulher.
— É triste — concordou Tyler.
— Elas entram na nossa cabeça — continuei meu discurso, e
ele era completamente verdadeiro. Eu já me sentia enlouquecido. —
Chegam mansas e quando menos esperamos estamos limpando as
bostas dos cachorros delas.
— Os cachorros não são...
— Não interessa de quem são os cachorros — interrompi o pau-
mandado. — Nós que limpamos as fezes deles.
— A gente faz tudo o que elas querem. — Drake cruzou os
braços em frente ao peito, reflexivo.
— Exatamente! — Estalei os dedos para eles, tentando acordá-
los. — Vamos, galera! Homens! — incentivei e eles se levantaram
inspirados. — Reajam.
Johnny balançou a cabeça em negação para nós, parecendo
estar sentindo uma profunda vergonha alheia.
— Mulher nenhuma manda em nós! — discursei.
— É isso mesmo! — disse Drake.
— Não vamos mais aparar grama nenhuma! — decidi.
— Exatamente! Não somos capachos — determinou Taylor.
— Mas e se elas pedirem? — perguntou Tyler, apreensivo. — O
que vamos dizer?
Eles se entreolharam sem saber o que fazer. Balancei a cabeça
negativamente para eles, eu tinha que fazer tudo ali.
— Vocês vão dizer não — expliquei o óbvio. — Elas não têm
mais controle sobre nós. De agora em diante não seremos mais
moles! Não iremos fazer tudo o que elas querem só porque pedem
com jeitinho. Isso chega a ser ridículo — enfatizei, colocando as
mãos no quadril.
— Colin... — chamou meu gnomo, descendo as escadas e
atrapalhando toda a nossa revolução. Assim que ela nos viu
reunidos no meio da sala nos lançou um olhar curioso. — O que
vocês estão fazendo?
— Um protesto — informou Taylor.
Ela estava suja de tinta. Usava um macacão jeans curto e uma
blusa listrada por baixo. Tão linda que tive que me segurar para não
ir até ela e pegá-la nos braços, beijar cada sarda na ponta do seu
nariz, perguntar o que ela queria e atender todos os seus pedidos.
Ainda bem que na noite passada dormi no sofá, precisava ficar
longe. Estava completamente fora de controle.
— Sim? — disse sem conseguir tirar os olhos dela.
— Você pode me ajudar a trazer o meu material de desenho pra
cá? — pediu, indicando a área externa da piscina. — Queria pintar
aqui fora.
Não queria tirar as coisas dela do meu quarto, queria encontrar
tudo seu lá.
— Tem certeza? — perguntei, erguendo a sobrancelha.
— Sim, eu já sujei o chão, sua escrivaninha e a colcha da cama
— informou sem arrependimentos.
Pode sujar tudo de tinta, minhas roupas, os sapatos... não vou
me importar.
— Pelo jeito meu quarto irá receber uma nova decoração. —
Suspirei, fingindo frustração e a segui.
— E quanto à nossa revolução? — Tyler abriu os braços,
abismado que abandonei o movimento.
— Vai ter que esperar uns minutos — avisei, olhando-o por cima
do ombro.
— Continuando — Escutei Johnny falar em uma voz cansada
enquanto eu subia as escadas. —, vamos aparar o gramado delas...
Entrei no quarto e peguei todo o material da pequena. Ela ainda
estava meio acanhada comigo, a sentia um pouco tímida depois da
noite passada, e aquilo me causava um aperto no peito. Não queria
que ela se distanciasse de mim, deveria ter calado a minha maldita
boca.
Fiquei tentando tocá-la, não resisti a beijar qualquer canto que
me cedesse, isso com toda certeza iria afastá-la. E só esse
pensamento foi o suficiente para me causar calafrios. Queria meu
gnomo perto de mim, mesmo que fosse me odiando.
Levei o seu material para a área da piscina e Madison
agradeceu com um sorriso acanhado.
— Pode voltar pro seu protesto — brincou sem olhar para mim,
concentrada na sua tela.
— O movimento agradece — ironizei e fiquei parado ali.
Deveria ir embora? Sim, porém eu queria ficar. Levei meus
dedos até o seu queixo e a obriguei, com delicadeza, a olhar para
mim. Madison prendeu a respiração, apreensiva.
Você continua sendo a coisa mais preciosa que já toquei na
vida.
A luz do sol refletia no seu rosto, e consegui ver com clareza as
suas sardas na ponta do nariz. Ela olhou para cada canto do meu
rosto, quase tentando adivinhar o que eu iria fazer.
— Colin...?
Me aproximei e ela fechou os olhos em expectativa. Beijei o seu
nariz, bem em cima das suas sardas e ela soltou um suspiro em
prazer. Senti sua respiração e estava tão perto daquela boca...
Me afastei, deixando-a com um olhar confuso e ela tocou a
ponta do nariz um pouco perdida.
— Você acabou de beijar as minhas sardas?
— Elas são irresistíveis. — Sorri e peguei a sua outra mão, a
levei até os lábios e a beijei fazendo uma reverência.
Quando ergui o olhar, a peguei com as bochechas coradas de
vergonha. Ela tinha o olhar perdido e confuso, ainda com a mão no
rosto, tocando o lugar em que a beijei. Era uma imagem que iria
guardar só para mim.
Soltei a sua mão e me virei, antes que ela exigisse explicações.
Nem eu mesmo sabia porque continuava a fazer essas coisas.
Fui para o lado de fora da casa e encontrei os pobres coitados
aparando o gramado das nossas vizinhas. Como não tinha utilidade
contribuir com aquela escravidão, passei para verificar como estava
a obra.
Paguei uma boa quantia à empresa que estava reformando
para que trabalhassem até nos fins de semana. As meninas
deveriam querer a casa pronta o mais rápido possível.
Assim que entrei na casa, vi que a madeira do piso estava
realmente desgastada. O lado bom era que elas teriam uma reforma
completa. Cumprimentei os homens que estavam trabalhando ali e
subi para os quartos. O encanamento já tinha sido remendado,
porém o teto continuava fodido.
Sabia que Johnny era a criatura mais metódica da terra, ele iria
querer saber por que ainda não começaram a resolver o problema
ali.
— Por que ainda não mexeram no teto? — perguntei ao Sr.
Ferrari, o empreiteiro responsável pela obra.
Recebi ótimas indicações dele, era experiente no ramo, e sua
idade entregava. Ele deveria ter uns 57 anos, tinha o cabelo e a
barba bem grisalhos.
— Ninho de passarinho — foi tudo o que o Sr. Ferrari
respondeu.
Me inclinei em sua direção, provavelmente não tendo escutado
direito.
— Como é?
— Parece que um passarinho fez um ninho bem embaixo do
telhado, e estamos proibidos de mexer lá até eles nascerem — ele
explicou como se aquilo fizesse sentido.
O encarei sem acreditar.
— Como sabe quando eles vão nascer? — perguntei e o
homem pareceu pensar.
— Não sei.
— E enquanto isso a casa fica sem teto? — Coloquei as mãos
no quadril.
Jamais vi tamanha loucura.
— Ordens das donas da casa — respondeu dando de ombros e
eu já sabia quem era a “dona” que deu aquela ordem ridícula. —
Deixe-me mostrar.
Ele foi em direção à uma escada que dava ao telhado, e eu o
segui. Quando chegamos pude ter uma visão de toda a rua ali de
cima. Parte da estrutura do telhado estava destruída e foi por cima
dela que andamos.
— Aqui está. — O Sr. Ferrari apontou para o ninho de
passarinho.
Realmente tinham ovos ali, não sabia como tinham sobrevivido
aos fogos de artifício, mas o ninho estava intacto.
— Esses ovos são mais resistentes que a madeira dessa casa
— ironizei abismado.
— A madeira dessa casa é péssima mesmo — ele concordou.
— Infelizmente não podemos mexer no telhado, a ordem veio de
uma garota ruiva, ela deveria ter em torno de um metro e cinquenta
e cinco...
— É muita gentiliza sua dar pra ela um metro e cinquenta e
cinco — o elogiei, interrompendo o homem. — Sabemos que ela
não tem nem um metro e meio de altura, mas esse é um assunto
delicado.
O Sr. Ferrari deu de ombros.
— Enfim, ela disse que não podemos mexer no ninho, nem
mesmo mudá-lo de lugar enquanto os passarinhos não nascerem e
aprenderem a voar.
 Era muita ousadia.
— Aprenderem a voar? Meu Deus, isso vai demorar quanto
tempo? — Não consegui evitar rir daquele absurdo.
— Não faço ideia — resmungou frustrado. — Ela mandou ficar
longe deles, disse que qualquer interferência nossa prejudicaria todo
o processo.
— Ela não entende nada disso. — Balancei a cabeça e olhei o
ninho. — Nem sabe reconhecer quando um passarinho está morto
quem dirá quando vão nascer.
— Como é? — perguntou o homem, sem entender.
— Eu vou conversar com ela — informei, olhando para a minha
casa. — Não podemos ficar de plantão esperando esses bichos
voarem.
O homem suspirou aliviado.
— Ainda bem que tem alguém sensato nesse lugar, todos os
jovens que vieram aqui até agora me pareceram um pouco sem
juízo — comentou.
— Eu sou o mais sensato deles, de fato — concordei com ele,
olhando para as janelas dos quartos da nossa casa.
Me aproximei mais da beirada do telhado e consegui enxergar
Madison perto da janela do meu quarto com ninguém menos do que
Derek, o cuzão.
Filho da puta. De onde ele tinha surgido?
— Não faz vinte minutos que eu a beijei no nariz — disse
zangado. —E ela já estava com outro?
— Oh! — O empreiteiro olhou na mesma direção que eu. —
Essa é a garota dos pássaros!
— A própria — resmunguei, tentando ver melhor o que eles
estavam fazendo. — E eles ainda estão no meu quarto!
— Que desgosto. — Suspirou o Sr. Ferrari, indignado. — Mas
você é jovem — Ele bateu nas minhas costas em consolo. —, vai
superar isso.
Ela riu de algo que o babaca falou. Ele se inclinou na janela e
sorriu de volta, depois eles foram para um canto que fugia do meu
campo de visão.
Se meu binóculo estivesse comigo tudo poderia ser resolvido.
Me inclinei mais na beirada do telhado.
— Misericórdia! — O homem correu atrás de mim. — Você irá
encontrar outra moça! Isso não é o fim do mundo!
— Eu posso garantir que é! — afirmei, indo mais para o limite
do telhado e me inclinando o máximo que conseguia.
Consegui vê-los! O idiota estava mostrando algo no celular dele
para Madison, os dois estavam próximos demais. Com toda certeza
era só uma tática dele para se aproximar.
— E ela jogou um litro de refrigerante nele! — Me inclinei um
pouco mais e quase caí.
— DEUS DO CÉU — gritou o Sr. Ferrari atrás de mim. — VOCÊ
TEM A VIDA TODA PELA FRENTE!
Me coloquei de quatro na estrutura, tentando me equilibrar
melhor. Olhei para baixo e vi que os meninos e todos os
trabalhadores da construção estavam reunidos embaixo, olhando
assustados para mim.
— O QUE DIABOS VOCÊ ESTÁ FAZENDO AÍ, SEU IDIOTA?
— gritou Johnny preocupado.
— VERIFICANDO O ANDAMENTO DA OBRA — gritei de volta
para manter a minha dignidade.
— Pense com cuidado em tudo o que está jogando fora por
uma garota — murmurou o empreiteiro louco, nervosamente e eu
revirei os olhos. Que homem dramático.
Drake não perdeu tempo, tirou o celular do bolso e começou a
me filmar.
— PODE GUARDAR ISSO — avisei a ele e voltei a olhar para
janela do meu quarto.
Madison olhava seriamente para o celular, concentrada e o
desgraçado estava secando a sua bunda sem ela perceber. Quis
matá-lo ali mesmo. Me levantei em um impulso e quase caí de novo.
— OH MEU DEUS — todos gritaram ao mesmo tempo, em
tensão e quando olhei novamente para baixo, vi que as meninas
também chegaram para ver o espetáculo.
Provavelmente Drake já tinha espalhado a notícia. Amber
começou a rir, Sienna estava genuinamente preocupada e Scar
parecia estar dividida entre ficar curiosa ou filmar também.
— VOCÊ VAI CONSERTAR ESSE TELHADO
PESSOALMENTE? — gritou Tyler, tentando entender o que eu fazia
ali.
— SIM — confirmei, observando Madison sumir novamente do
meu campo de visão.
Não podia perder tempo. Passei pela estrutura quebrada do
telhado apressadamente, a cada passo que dava alguém gritava
mais alto ainda, o empreiteiro já estava perto de ter um infarto.
— PRA QUÊ ESSA PRESSA? ENLOUQUECEU? — perguntou
Taylor, confuso e nervoso.
— Preciso ir ao banheiro! — inventei, conseguindo finalmente
sair do telhado para as escadas.
Desci e consegui ouvir os suspiros de alívio deles. Assim que
cheguei no gramado, todo mundo veio tentar ver se eu estava bem.
— Estou ótimo e inteiro! — Pisquei e abri os braços. — Mas
preciso usar o banheiro agora, é urgente.
Entrei depressa na casa e passei direto pelas escadas, só que
adivinha quem estava descendo bem naquele momento?
— Meu grande amigo! — Dei um sorriso abertamente falso e fui
cumprimentar o cuzão. — Eu queria falar com você mesmo!
Derek me olhou surpreso e sorriu como um idiota.
— Comigo? — Colocou a mão no próprio peito, surpreso.
— Sim. — Comecei a empurrá-lo até a sala. — O que você
estava fazendo no meu quarto?
Ele se virou para mim assustado, provavelmente não sabia que
o quarto era meu.
— Eu... — Derek coçou a nuca desconsertado. — Eu não sabia
que era o seu quarto, queria só convidar a Maddie pra um evento...
— Ah, sim! — interrompi, empurrando-o mais na direção da
porta. — Que evento?
Ergui a sobrancelha, deixando claro que não ia sair dali até ele
me falar.
— Beneficente — contou. — Em prol dos animais.
— Perfeito! — disse cinicamente, abrindo a porta para ele ir
embora. — Como somos amigos, você pode contar com a minha
presença com toda certeza.
Derek não ficou feliz com aquilo.
— Claro — disse, forçando um sorriso.
Me encostei na porta e apontei para fora, indicando que ele não
era mais bem-vindo ali. O babaca passou sem se atrever a olhar
para mim de novo.
— E Derek? — chamei e ele se virou. — Cuidado pra onde você
olha — murmurei sério, em um tom ameaçador.
O idiota engoliu em seco e acenou com a cabeça, entendendo o
recado. Fechei a porta na cara dele e suspirei zangado. Filho da
puta atrevido.
— Derek — chamou Madison, descendo as escadas. Ela olhou
ao redor confusa e parou no meio do caminho ao me ver parado na
porta. — Colin, você viu o Derek? Eu jurei que o escutei...
— Nosso pobre amigo Derek foi embora — lamentei para ela,
indo para a cozinha. Ela me seguiu. — Ele disse que estava com
uma dor de cabeça terrível, enxaqueca.
— Enxaqueca? Ele estava falando comigo ainda pouco, estava
ótimo.
Estava mesmo, eu percebi pelo jeito que secou a sua bunda.
— Pois é, mas essas dores vêm e vão. — Forcei um sorriso e
abri a geladeira, tirando um energético dali. — Você não estava
pintando lá fora?
— Estava, porém ele apareceu dizendo que queria dar uma
olhada nos meus quadros.
— Hummmm — murmurei balançando a cabeça. — Eu sei bem
no que ele quer dar uma olhada.
A ruiva franziu a testa, confusa.
— Quem era o cara que saiu daqui? Parecia nervoso —
perguntou Scarlett, entrando na cozinha.
— Eu acho que era meu colega de curso — respondeu
Madison, preocupada.
— Por que você o botou pra fora? — Drake chegou logo atrás,
dirigindo a pergunta para mim.
— Só estava ajudando-o, parece que ele estava com problemas
de estômago — informei, tomando meu energético e Madison virou
para mim desconfiada.
— Você disse que ele estava com enxaqueca.
— Enxaqueca, dores no estômago... — Dei de ombros. — Creio
que esteja com uma virose forte, pode até mesmo ser contagioso.
Se eu fosse você, manteria distância dele. — Apontei para ela,
entretanto a ruiva revirou os olhos.
— Ele estava ótimo. Me convidou pra um evento...
Arregalei os olhos para ela em choque.
— Não — eu disse perplexo, colocando o meu energético na
bancada. — O evento beneficente de hoje? Eu vou também!
— Você? — Madison ergueu a sobrancelha sem acreditar em
mim.
— Que evento é esse? — perguntou Scarlett, curiosa.
— Em prol dos animais. — Lancei um olhar convencido para o
gnomo. — Derek convidou todos nós.
— Ah — disse Drake murcho, sem a mínima vontade de ir.
— E nós iremos, claro — afirmei, vendo Scarlett e Drake
perderem o brilho, provavelmente querendo inventar alguma
desculpa. — Todos aqui queremos contribuir com a causa animal,
não é?
Scarlett me estrangulou com o olhar.
— Claro — respondeu a morena tatuada com um sorriso
forçado.
— Sim — confirmou Drake sem muita vontade e Madison olhou
para eles com um sorriso no rosto.
— Vai ser muito importante qualquer doação, eu sei que vocês
não querem ir...
— Ora, lógico que queremos. — Abri os braços quando Johnny
e Amber entraram na cozinha. — Todo mundo aqui vai!
— Ah, pra onde? — perguntou Amber, empolgada.
— Pra um evento beneficente — resumiu Drake.
— O que diabos você estava fazendo em cima do telhado? —
Johnny questionou sem paciência.
— Consertando-o, lógico. — Suspirei cansado. — Parece que
tenho que fazer tudo aqui.
— O telhado? — Madison virou para mim preocupada. — Não
pode consertar ainda, tem ovos lá.
— E era sobre isso mesmo que eu ia falar. — Apontei para
aquele gnomo ambientalista. — Eu não vou barrar a obra até os
seus passarinhos aprenderem a voar.
— Do que vocês estão falando? — Johnny alternou o olhar
entre nós.
— Lógico que vai — mandou Madison, revoltada. — Eles vão
morrer se mexer no ninho.
— Não é um assunto meu. — Dei de ombros, mas não ia matar
os bichos.
— O que você tem contra os pássaros, hein? — Madison se
virou para mim, zangada. — Quer matar todos eles.
— Nem cite aquele maldito ator — disse irritado.
— De novo a história daquele passarinho? — Drake tentou
entender do que estávamos falando.
— Eu não vou paralisar uma reforma pra esperar aqueles ovos
chocarem! — avisei para ela.
— Que ovos? — Amber olhou ao redor da cozinha, procurando
os ovos.
— Você não vai encostar naquele ninho! — ameaçou a ruiva. —
Vai atrapalhar todo o processo se o tirar do lugar.
— Não me interessa o processo deles, eu vou reformar aquele
telhado. — Apontei para o telhado, determinado.
Todos ali desistiram de entender a discussão, balançaram as
cabeças, confusos e saíram da cozinha, nos deixando com o dilema
do ninho.
Madison estava puro ódio.
— Você vai esperar eles nascerem — ela determinou
entredentes.
— Se você quiser abrir uma maternidade pra chocar ovos, fique
à vontade, porém não será naquele telhado — afirmei irredutível.
— O telhado não é seu.
— Só que eu sou o dono da reforma. — Apontei para meu
próprio peito. — E vou deixar aquela casa do jeito que a encontrei.
— Que ótimo. — Ela me lançou um olhar irônico. — Por que
você a encontrou com os ovos no lugar.
— E ainda quer que eu os espere aprender a voar. — Eu tive
que rir. Não, gargalhei daquela loucura. — O que quer que eu faça?
Que comece a dar aulas de voo a eles?
Ela não estava achando graça.
— Você não vai tirar aquele ninho dali — disse em tom
determinado e ameaçador. — Eu estou dormindo no mesmo quarto
que você, vou infernizar a sua vida!
Nem pisquei, isso ela já fazia.
— Arranje outro lugar pra aquele ninho, eu não vou ficar
vigiando...
— A mãe deles não vai encontrar, seu idiota!
— Por quê? Ela é cega? — Coloquei as mãos no quadril.
— Você é tão sem coração assim? — perguntou.
— Pra quê você quer esse tanto de passarinho? — disse,
abismado com aquela obsessão dela. — Pra falar a verdade, acho
que está tendo uma infestação na vizinhança. Nunca vi um lugar
com tanto pássaro.
— Eu não quero ficar com os passarinhos! Os quero livres.
— Ótimo — falei passando por ela. — Então os deixe em paz, já
estou me sentindo sufocado por eles.
— Colin — chamou e eu virei para ela.
Madison estendeu a mão, determinada e eu sabia o que aquela
pilantra iria pedir.
— A moeda — pediu decidida.
— Não preciso consultá-la, sei que aqueles ovos vão sair dali.
— Vão mesmo, mas voando e no tempo deles — ela continuou
com a mão estendida e eu suspirei derrotado.
Tirei a moeda do pingente e mostrei para ela.
— Eu faço — avisei, segurando a moeda. Respirei fundo e
perguntei: — Devo tirar a porcaria do ninho do telhado?
Joguei-a para cima, peguei-a no ar e coloquei a moeda no torso
da minha mão, quando tirei a palma de cima, suspirei com o
resultado.
Coroa.
— Destino. — A ruiva diabólica deu um sorriso convencido. —
Não se preocupe, Colin. — Ela deu tapinhas no meu ombro. — Você
pode verificar todas as manhãs como anda o voo deles.
Sorri sem me dar por vencido.
— Ou posso fazer a reforma no telhado com eles lá mesmo. —
Dei de ombros. — Só perguntei se deveria tirá-los ou não.
— Então faça a outra pergunta. — Ergueu a sobrancelha em
desafio.
Era melhor não fazer, aquela moeda só estava fodendo com a
minha vida ultimamente.
— Tá — cedi de má vontade. — Fique com o seu maldito ninho.
Ela me deu um sorriso verdadeiro e eu suspirei, pois era o meu
ponto fraco. Me virei, deixando-a ali sozinha com a sua vitória, ainda
tinha que estudar antes de ir ao evento infernal. Tinha prova no dia
seguinte.
A que nível cheguei? Adiando uma reforma para esperar
passarinhos, que nem mesmo nasceram, voarem e gastando
minhas noites em eventos beneficentes dos quais nem sabia da
existência.
Tudo para ver um certo sorriso verdadeiro direcionado para
mim. Aquelas covinhas ainda seriam a minha ruína.
Colin Scott
 
— Eu acho que isso é uma bunda — sussurrou Drake,
apontando para o quadro à nossa frente.
Olhei a pintura e podia admitir que estava na dúvida. Assim que
vi pensei que era mesmo uma bunda, mas depois de um tempo
comecei a achar que poderia ser outra coisa.
— Não sei. — Dei uns passos para trás, tentando ter uma outra
perspectiva da imagem. — Talvez seja um pedaço de pão.
— Um pedaço de pão? — Amber se inclinou mais para frente,
procurando ver melhor.
— Cortado no meio — expliquei a eles.
Era difícil entendermos o conceito daquelas artes, não éramos
da área. O lugar estava lotado do pessoal do curso de artes. Tinham
quadros, esculturas e performances por todo lado, parecia uma
grande galeria, as paredes eram extremamente brancas, mas
possuíam umas partes mais escuras, dependendo da arte
apresentada. Se comprássemos qualquer coisa ali estaríamos
ajudando, todo o dinheiro arrecadado iria para ações que
favorecessem o meio ambiente.
Estava sendo uma experiência interessante, tinha de tudo.
Pessoas nuas fingindo serem animais selvagens, bundas pintadas
em um quadro, ou um pedaço de um pão. Ainda não tinha entrado
em um consenso.
— Eu acho que vou comprar esse quadro — disse Amber,
intrigada. — Ele me instiga a pensar, sabe? Poderia ser uma bunda,
mas também um pedaço de pão.
— Profundo — concordei.
— Ele pode ser tudo. — Drake inclinou a cabeça para olhar a
obra por outro ponto de vista.
— Ou nada — completou Amber, querendo rir.
— Se eu fosse você compraria mesmo esse quadro. — Passei
o braço pelos ombros de Amber. — Eu fico pensando na reação do
Johnny encontrando ele no quarto de vocês.
— Seria impagável — provocou Amber com divertimento e
olhou ao redor procurando o namorado.
— Ele está no segundo andar com os gêmeos, vá em frente —
incentivei, ela piscou para mim e foi atrás da pessoa responsável
pelo pagamento das obras.
— O que eu compro aqui? — perguntou Drake, tentando achar
algo do seu interesse.
— Tem de tudo. — Literalmente.
Queria ter visto alguma obra da Madison, porém ela avisou que
não se inscreveu a tempo. Dava para perceber que ela não era
muito conhecida entre as pessoas do seu curso, ficava mais
retraída. A ruiva só cumprimentou algumas pessoas de longe e foi
mostrar algumas obras para Scarlett e Sienna.
Elas estavam no mesmo andar que nós, então eu conseguia vê-
la, mesmo de longe, explicando detalhadamente tudo para as
meninas. Eu conseguia perceber que elas escutavam e davam
atenção a cada palavra que o gnomo falava, mesmo que arte visual
não fosse muito a praia delas.
Madison estava com uma blusa colorida listrada e uma saia
jeans meio curta. Ela tinha pegado as suas mechas da frente e as
amarrado em um penteado para trás, deixando uma cascata de
cachos descendo até alcançar a sua bunda empinada.
A ruiva não era totalmente magra, seu corpo tinha curvas que a
desenhavam perfeitamente. Ela era a peça que eu queria ali.
Fiquei satisfeito por ver o cuzão bem distante. Derek a
cumprimentou assim que chegamos, no entanto manteve distância.
Não por interferência minha, ele apenas pareceu preferir andar com
seus amigos. Provavelmente a teria deixado sozinha se não
tivéssemos vindo.
Ele não sabia o quanto aquela garota era valiosa.
— Você precisa aprender a disfarçar melhor — aconselhou
Drake ao meu lado.
Olha quem fala. Virei para ele com a sobrancelha erguida.
— E você não? Não pense que não percebo pra onde olha —
revelei a ele, já tinha notado aquilo fazia um tempo.
Drake fechou a cara na mesma hora. Pensei que estivesse com
raiva, contudo depois soltou um suspiro derrotado.
— Vai passar — falou passando a mão no cabelo, um pouco
tenso. — Uma hora vai passar.
Apertei o seu ombro em companheirismo.
— Eu também sempre digo isso pra mim — contei baixinho, não
querendo que ninguém escutasse aquilo. — Mas a verdade é que
só piora.
Drake estreitou os olhos para mim, parecendo satisfeito por me
ver admitir. Era desesperador, porém verdadeiro, a cada dia sentia
que a queria mais. De um jeito que eu logo não conseguiria mais
disfarçar. Ou recuar.
— Pensei que não gostasse dela — zombou Drake.
— Vá a merda. — Dei o dedo do meio para ele e o mesmo riu.
Ela me tinha na mão e isso era irritante. Me via fazendo
exatamente tudo o que ela queria, pensando nela todos os dias,
sentindo ciúme de quem chegasse muito perto. Só que também
adorava tirá-la do sério.
Ficava quase excitado quando Madison ficava putinha e
direcionava toda sua raiva para mim.
— Está difícil — alguém falou atrás de mim.
— Está mesmo — concordei, pensando no meu próprio
problema.
— Você também percebeu a falta de interesse? — perguntou a
pessoa que estava reclamando e virei para ver quem era.
Encontrei um homem de meia idade atrás de mim, tinha cabelo
preto e pele negra. Ele olhava com decepção para os alunos do
curso que estavam expondo suas obras ali. Parecia ser o professor.
— Eles aceitam se exporem, até ficam nus, entretanto quando é
pra participar de uma atividade que só vai exigir uns minutos, fogem
— resmungou o homem.
— E qual seria a atividade? — Drake perguntou curioso.
Eu também fiquei. O negócio deveria ser bem entediante para
fazer pessoas que ficavam, tranquilamente nuas no meio de todo
mundo, fugirem.
— Pensamos em fazer uma peça pequena, só uma breve
apresentação, no fim do período. Só que simplesmente ninguém
quer pegar os papéis. — Franziu a testa chateado. — Eu mesmo
escrevi a adaptação do roteiro, tive todo o trabalho. Cada
arrecadação iria ser destinada para associações de proteção aos
animais.
— Ninguém se inscreveu? — Por um momento, tive pena do
homem.
Era péssimo criar um projeto e não ter ninguém.
— Os alunos que se inscreveram só aceitaram pegar os papéis
pequenos, parece que quanto menos aparecerem, melhor.
Só podia ser uma peça muito vergonhosa.
— É sobre o quê? — questionou Drake pensando a mesma
coisa.
— Romeu e Julieta — respondeu o homem. — Só que
adaptado, uma sátira curta.
Acenei com a cabeça para ele. Nem julgava o pessoal, me
lembrava que assisti à peça uma vez quando era criança e fiquei
perdido. Era um morrendo, depois acordando, o outro se matando,
depois morrendo de novo. No final, só entendi que todo mundo
morreu.
Fiquei traumatizado.
— Vale ponto? — perguntei o principal.
— Não — ele respondeu.
Ninguém iria participar mesmo, o homem não sabia negociar.
Se ele queria fazer os alunos passarem vergonha, que pelo menos
oferecesse algo em troca.
— Com toda certeza vai surgir alguém — menti em consolo e já
ia seguindo para a próxima exposição quando vi Madison passar
perto de nós, explicando a próxima obra para Scarlett e Sienna.
Sorri diabolicamente. Que Deus me perdoasse, todavia não
podia deixar passar essa. Não depois de ela ter me obrigado a vigiar
um ninho de passarinho em cima do seu telhado.
— Olha aquela aluna ali. — Apontei para Madison. — Ela é uma
excelente atriz.
E nem estava mentindo.
— Oh, é mesmo? — O homem a observou, animado e Drake
balançou a cabeça em repreensão para mim.
— Sim — confirmei. — Eu já a vi atuar e posso garantir, é
exemplar.
— É mesmo? Estou dando aula pra ela esse semestre —
contou. — Mas ela me parece ser tão tímida...
— Só fachada. — Dispensei o comentário com um aceno. — Eu
mesmo fico impressionado com a capacidade dela de atuação.
Drake colocou as mãos no quadril e ficou apenas me
encarando, sem acreditar naquilo.
— É tão apaixonada pela dramaturgia que os cachorros dela se
chamam Brad Pitt, Angelina Jolie e Jennifer Aniston — contei e o
professor ergueu as sobrancelhas, surpreso.
— Quais trabalhos ela já fez? — perguntou impressionado.
— Por que não pergunta a ela? — ofereci, vendo-a se
aproximar mais com as meninas. — Madison! — chamei e ela se
virou para mim em susto.
Primeiro ela estreitou os olhos confusa, depois quando viu
quem estava ao meu lado ficou genuinamente zangada. E olha que
nem sabia o que eu estava fazendo.
— Sim? — Ela deixou as meninas para trás e se aproximou
com um falso sorriso no rosto. — Como vai, Sr. Stone? —
cumprimentou o professor com cautela.
— Muito bem. — Ele sorriu para ela. — Este jovem estava me
contando sobre o seu talento nas artes cênicas.
Ela me lançou um olhar afiado.
— Oh, é mesmo? — perguntou, tentando ser simpática com o
professor.
— Eu nem quero ver no que isso vai dar — Drake sussurrou
para mim, se distanciando de fininho. Covarde.
— Não sei se chegou a ver, mas estou tentando montar uma
peça, com a apresentação daqui a algumas semanas — comentou o
professor e eu não consegui decifrar a expressão dela. — Nada
muito profissional, porém tudo o que arrecadarmos será destinado
aos animais.
— Estávamos aqui pensando se você não poderia ser a Julieta.
— Sorri e se ela pudesse, me mataria naquele momento.
Madison respirou fundo antes de olhar para seu professor.
— Muito nobre. — Sorriu para ele. — Só que infelizmente eu
não acho que exista uma Julieta ruiva.
— Nada que uma peruca não resolva — ajudei, dando de
ombros e ela me encarou com ódio. — Pense nos animais que irá
ajudar, Madison. Logo você, que estava implorando para
esperarmos os seus pintos voarem.
— Como é? — perguntou o Sr. Stone, confuso.
— Pois vai esperar pra sempre — ela disse sem muita
paciência. — Pelo que eu saiba, pintos não voam.
— Passarinhos — corrigi sem dar muita importância para aquilo.
— Então — O professor se virou para ela, empolgado. —, o que
acha?
Cocei a minha barba por fazer, tentando esconder o sorriso.
— Eu realmente...
— Só falta apenas você e o Romeu — implorou o homem.
Madison parou um momento e eu podia ver as engrenagens na
sua cabecinha. Ela estreitou os olhos para ele e sorriu
malandramente.
— Oh, e falta um Romeu? — perguntou animada.
Animada demais para o meu gosto.
— Sim, ainda não apareceu ninguém para a vaga — ele
revelou, frustrado.
É, tinha dado minha hora. Tentei dar um passo para trás, no
entanto o gnomo vingativo não me deixou escapar.
— Meu Deus, Colin! — murmurou abismada e sorridente. —
Você não disse um dia desses que tinha um sonho de participar de
uma peça?
Que safada.
— Pois é — Estreitei os olhos para ela. —, mas minha agenda
anda tão cheia...
— Não é problema — interrompeu a criatura cruel e se virou
para o professor. — Podemos ensaiar só alguns dias da semana?
— Claro! — concordou animado por ter resolvido todo o seu
problema.
— Eu realmente estou impossibilitado de...
— Meninas! — chamou Madison alto o bastante para chamar a
atenção de todos ali. Scarlett e Sienna se viraram para nós,
curiosas. — Vocês sabiam que Colin vai atuar como Romeu?
Que ser desprezível e baixo (literalmente). Ela se virou para
mim e me deu um olhar de pura satisfação. Várias pessoas me
olharam, procurando uma confirmação. Bem, eu não iria tomar no
cu sozinho.
— Exatamente. — Sorri confirmando e passei o braço pelos
ombros da pequena. — E Madison será minha Julieta.
Ela ficou rígida. Provavelmente estava contente por me foder,
só que irritada por ter se fodido. Eu também estava dividido entre
esses dois estados de espírito.
Resumindo, nós nos fodemos.
E nem era do jeito que eu queria.
 
Madison Jensen
 
Nunca fui uma pessoa violenta. Sempre gostei de resolver os
conflitos de forma pacífica, porém estava sentindo vontade de matar
Colin Scott. Que cretino! Desgraçado, infeliz...
— Querida, quer falar sobre isso? — perguntou Sienna,
dirigindo.
Foi difícil escutá-la entre os risos da Amber.
— Não — respondi emburrada.
— Pense no lado positivo — disse Amber, recuperando o
fôlego. — O Romeu morre no final.
— O lado ruim é que não é a Julieta que mata ele — comentou
Scar com divertimento do banco da frente.
Olhei com cara de tédio para as duas.
— Não acredito que você comprou o desenho de uma bunda
pra botar no nosso quarto — disse Johnny, balançando a cabeça
para a namorada.
— Pode ser um pão. — Ela o abraçou e deitou a cabeça no
peito dele. — A gente tenta adivinhar toda noite antes de dormir.
Johnny revirou os olhos, mas abraçou de volta sua maluca.
— Você pode tentar sair dessa peça — aconselhou Johnny,
olhando para mim por cima do ombro.
— Já me comprometi. — Suspirei frustrada. — Nesse momento
eu só quero matar o Colin mesmo.
— Já estamos chegando — cantarolou Scarlett, ansiosa pela
confusão.
Assim que o carro parou na porta de casa, eu desci e subi direto
para o quarto do babaca. Abri a porta determinada, peguei as
cuecas dele da gaveta e joguei todas em cima da cama, junto com
algumas peças de roupas.
— Isso é um pouco estranho. — Ouvi a voz do infeliz atrás de
mim. Colin tinha ido no próprio carro e eu estava torcendo para que
ele demorasse séculos, não acreditava que tínhamos que dividir a
mesma casa. — Você vai usar as minhas cuecas agora?
Me virei para ele, possessa.
— Fora! — Apontei para fora e ele olhou para trás como se não
tivesse entendido, fazendo graça. — Você vai dormir no sofá!
Joguei as cuecas em cima do idiota, que as pegou no ar e se
encostou na entrada na porta relaxadamente.
— Você está me expulsando do meu próprio quarto? —
perguntou erguendo a sobrancelha, no entanto podia ver o brilho de
divertimento nos seus olhos.
— Estou — falei ameaçadoramente, jogando o resto das cuecas
em cima dele. — E se pudesse, te expulsava da casa, da faculdade,
do país!
Ele continuou encostado na parede.
— Você quer que eu durma só de cueca?
Não tinha paciência. E eu era uma pessoa paciente, só que ele
conseguia extrair cada gota. Era um dom que só ele tinha.
— Você pode dormir como quiser. — Fui até ele e o empurrei
para fora. — Com tanto que seja no sofá. E bem longe de mim!
— Olha, você é muito cínica — disse, erguendo as mãos. — A
culpa disso tudo é sua. Se tivesse me deixado consertar o telhado...
— Foi você que explodiu o telhado!
— E foi você que me mandou apagar aquela fogueira —
argumentou, porém, fechei a porta na cara dele.
— Suma daqui! — gritei para a porta.
— Eu moro aqui! — ele gritou de volta.
— Pois desapareça!
— Se você tivesse me deixado consertar a porcaria do
telhado...
— Por que você tá segurando essas cuecas? — perguntou
Taylor para Colin de algum lugar.
Peguei meus incensos e acendi três de uma vez. Precisava de
paz, meditação, autocontrole e distância de quilômetros de Colin
Scott. Passei a fumaça do incenso em todo quarto.
Precisava limpar o ambiente, escutar uma boa música, treinar a
minha respiração e assistir desenho animado. Porque sim, sempre
que brigava com Colin aquele era meu ritual para me acalmar.
Meu celular vibrou no bolso e o peguei, vendo que Colin tinha
me mandado mensagem.
Ódio da minha vida: Eu preciso do resto das minhas roupas.
Eu: Não.
Ódio da minha vida: Eu entendo que deve ser um sonho me
ver andando pela casa só de cueca, mas está um pouco frio.
Mordi o lábio inferior em dúvida. Não podia ficar com pena dele,
era um cretino. Tinha me colocado de propósito em uma peça,
queria matar meus passarinhos e ainda tinha destruído a minha
casa.
Não, não iria ficar me sentindo culpada. Seria firme e dura.
Eu: Problema seu.
Ódio da minha vida: Pois tenha uma péssima noite.
Eu: Igualmente.
Ódio da minha vida: Espero que tenha pesadelos.
Eu: Pode deixar, sonharei com você.
Ódio da minha vida: Tire pelo menos minhas cuecas da cama,
me sentirei menos assediado.
Eu: Tenha uma péssima noite, Colin.
Ódio da minha vida: Tenha uma péssima noite, gnomo.
Bloqueei a tela do celular e suspirei derrotada. Me joguei na
cama grande e olhei para o lado, onde estavam jogadas suas
cuecas. Lembrei de quando ele beijou a ponta do meu nariz e me
peguei sorrindo.
Gostava quando ele me tocava, gostava de senti-lo por perto,
mesmo quando o queria longe. Adorava vê-lo com raiva, amava
ganhar as nossas discussões, gostava até de ficar irritada com ele.
E nunca senti tantos sentimentos misturados e confusos por uma
mesma pessoa.
Alisei o seu lado da cama e meu sorriso cresceu um pouco.
— Boa noite, seu idiota.
Levantei e acendi uma vela aromatizante, uma que me
trouxesse bons sonos. Assim que deitei na cama novamente vi a luz
da chama dançar pelo quarto. Fechei os olhos e pedi em silêncio
para sonhar mesmo com ele.
Era melhor do que os meus sonhos de costume.
 
Madison Jensen
 
Noventa, noventa e um, noventa e dois...
Estava demorando demais. Olhei para trás e vi que as luzes
ainda estavam acesas dentro da tenda vermelha. Aquilo significava
que eu ainda não podia entrar.
Voltei minha atenção para as estrelas de novo e continuei a
contá-las. Não deveria ficar tão ansiosa assim, mas sentia muita
falta dela. Vovó ficava a maior parte do tempo longe, ela era um
espírito livre, como gostava de dizer.
Então era normal eu passar dias sozinha, semanas, e tiveram
raras situações em que cheguei a passar meses só. Quando ela
chegava em casa, tudo o que eu queria era abraçá-la até o
momento em que partisse outra vez.
— Charlatã! — alguém gritou e olhei para trás.
Era a mulher que vovó estava atendendo. Ela saiu da tenda
transtornada, chorava muito e eu me levantei do chão depressa,
querendo perguntar se ela estava bem.
— MENTIROSA! — Continuou a apontar para a tenda vermelha
e decidi não me aproximar.
Já vi pessoas saindo de todo jeito dali. Algumas não queriam
aceitar o futuro, passado ou até mesmo presente. Vovó costumava
dizer que o destino estava escrito, só que nem por isso deveríamos
mexer com ele.
A mulher passou zangada e acabou esbarrando em mim.
Tropecei, quase caindo para trás. Assim que ela me viu, parou no
lugar. Não sabia se estava se preparando para pedir desculpas ou
para me tornar o alvo do seu ódio.
— Quantos anos você tem? — perguntou e percebi que o seu
rosto estava inchado de chorar.
Respirei fundo, apreensiva.
— Doze — respondi.
— Ela também te envolve nesse esquema?
Balancei a cabeça depressa, apreensiva.
— Bruxa — disse sem tirar os olhos de mim. — Bruxa
mentirosa.
Dei um passo para trás, com medo e ela saiu andando, talvez
sem rumo, só querendo fugir. Olhei para a tenda novamente e a luz
ainda estava acesa.
Eu só podia entrar depois que se apagasse, era uma regra
nossa. E eu não quebrava as regras da vovó. Só que ela estava
demorando tanto...
Respirei fundo e andei até a tenda. Senti um calafrio passar
pelo meu corpo quando passei pela cortina vermelha. Vovó estava
paralisada atrás da sua bola de cristal. O incenso espalhava uma
fumaça suave no ambiente e a vela brilhava em cima da mesa.
Me aproximei dela e vi que os seus olhos estavam em outro
lugar. Outra dimensão. Ela estava ali e ao mesmo tempo não
estava. Se eu fizesse qualquer pergunta, ela responderia. E talvez
aquela fosse minha única chance de saber.
Tremi com medo de ela acordar do seu transe e me pegar ali,
mas segui em sua direção e quando fiquei ao seu lado, ela virou a
cabeça lentamente para mim.
— O que quer saber? — perguntou em uma voz distante,
sussurrada.
Ela estendeu a mão para mim e eu coloquei a minha sobre a
dela. Seus dedos passaram por cada linha que tinha, traçando cada
cicatriz e calos que conquistei.
Baixei o olhar, envergonhada, e falei baixinho aquilo que queria
saber do fundo do meu coração.
— Sobre o amor.
Não a encarei, olhei para o chão e esperei seus dedos
passearem sobre a minha mão feia. Era vergonhoso admitir, porém
eu pensava em um príncipe encantado. Assim como as pessoas
que procuravam vovó, eu também sonhava em encontrar o meu.
Eu não queria muito, não pedia por riquezas ou pelo mundo aos
meus pés, eu só queria ter alguém. Eu só não queria mais ser
sozinha. Eu queria que alguém lembrasse do meu aniversário,
queria ter alguma pessoa para contar como foi o meu dia, mesmo
que tenha sido o mais entediante possível.
Alguém que se importasse comigo. Eu prometia amá-lo
profundamente e dar o meu coração em troca. Faria presentes para
ele, escreveria cartas, lhe daria flores e o abraçaria todos os dias.
Ela suavizou o aperto na minha mão e senti a sua respiração
tranquilizar.
— Não precisa procurar pelas estrelas, elas simplesmente vêm
até você toda noite — contou. — Elas estão te procurando também
e por isso brilham. Elas querem que você as note, as veja, estão
completamente atraídas pela sua luz.
Senti meu coração acelerar e ela pegou minha outra mão,
colocou as duas uma do lado da outra e traçou a linha que tinha na
mão esquerda e seguia até a direita.
— O que respira o mesmo ar está fadado a se encontrar —
revelou, seguindo a linha das minhas mãos. — Porque está ligado,
vivo e conectado.
Ela soltou as minhas mãos e dei um passo para trás. Não
deveria ter feito aquilo, ela me avisou e tudo o que foi dito ali só me
deixou mais confusa.
Me apressei a apagar a vela em cima da mesa antes que ela
acordasse.
— Maddie? — perguntou confusa, assim que me distanciei da
mesa. — Entrou depois da luz se apagar? — Deu um sorriso cheio
de rugas e aquilo aqueceu meu coração.
Iria mentir para ela pela primeira vez na vida.
— Sim. — Fui até ela e beijei seu rosto cansado. — A senhora
demorou a acordar.
— Estou ficando velha — brincou, se levantando da cadeira
com dificuldade. Logo que ela ficou de pé eu a abracei pela cintura.
— Senti sua falta — falei, me sentindo um pouco emocionada.
— Eu também, meu bem. — Acariciou o meu cabelo. — Por
que está chorando?
Funguei e a apertei mais.
— A mulher que saiu daqui foi um pouco grossa — menti.
— Não pense mais nisso — aconselhou com carinho. —
Esqueça essa noite.
Mas não esqueci. Não estava mais sozinha. Tinha uma estrela,
em algum lugar do universo que estava brilhando apenas para mim.
Ela estava me procurando. E o que respira o mesmo ar está fadado
a se encontrar.
 
O sol não tinha nascido ainda, contudo estava quase lá. Desci
as escadas ainda de pijama e fui fazer o meu chá. Assim que peguei
a xícara quente caminhei até a sala da casa, procurando por Colin.
Parei em choque em frente ao sofá ao ver que ele realmente
dormiu só de cueca. Meu deus, Colin era tão grande que ocupava
quase todo o sofá. Seu corpo era todo musculoso, desde as pernas
torneadas até o pescoço, de um jeito que fiquei tentada a imaginar
coisas indecentes.
Era tão bonito... seu cabelo macio e castanho estava um pouco
bagunçado, a barba por fazer com alguns fios loiros só dava um
charme a mais. Tentei não olhar para a corrente no seu peitoral, que
subia e descia em movimentos tranquilos pela sua respiração, como
se estivesse em um sonho bom.
Tinha vontade de saber com o que ele sonhava. Sonhos eram
importantes demais para serem esquecidos logo que se acordava.
O céu já estava começando a ficar mais claro, o azul estava
mudando para um tom suave, então não perdi tempo.
— Colin — chamei, o cutucando.
Nada.
Não deveria, mas ele estava tão lindo dormindo que não resisti
a tocá-lo no rosto. Me agachei na altura do seu rosto, passei os
dedos por seu maxilar e o senti relaxar ao receber o meu carinho.
Ele se inclinou na direção da minha mão e seus olhos mexiam de
um lado para o outro, fechados.
Ele estava em outro mundo, em um sonho bom. Eu podia sentir
aquilo, a vibração chegava em mim, como a magia em que ele não
acreditava.
— Colin. — Usei um tom mais manso e ele suspirou. — Acorda.
Ele abriu os olhos, quase como se eu comandasse o seu corpo.
Esfregou os olhos e observou ao redor, para ter certeza que eu
estava mesmo ali.
— Levanta, a gente vai perder o sol nascendo — avisei ficando
de pé na frente dele.
— E não estávamos brigados? — perguntou com uma voz
rouca e se sentou no sofá, me olhando de cima a baixo de um jeito
engraçado.
— Sempre estamos brigados, não é por isso que eu vou te
deixar escapar das obrigações — alertei, bebendo o meu chá.
Ele continuou a observar o meu pijama com um sorriso
tranquilo.
— Estou tentando entender o que é isso que você está usando.
— Ele riu, passando a mão no cabelo bagunçado.
— Um pijama. — Dei de ombros e segui para a área da piscina,
esperando-o vir logo atrás.
Ainda não tinha usado os meus pijamas na frente dele, porém
estava perdendo a vergonha. Gostava de pijamas com capuz, tinha
uns com coelhos, outros com pandas, o que eu estava usando
naquele momento era um de elefante. Me deixava com as orelhas
de elefante, eles eram quentinhos e macios, e eu me sentia
abraçada por um urso de pelúcia.
Colin demorou um pouco a vir, tinha ido ao banheiro,
provavelmente para escovar os dentes. Quando chegou na área
externa já estava vestido com uma calça moletom.
— Isso não é pra ser usado em crianças? — provocou,
sentando justamente na espreguiçadeira em que eu estava, próximo
demais.
— Como serve em mim, não vejo problema — disse, tentando
não prestar atenção no jeito em que ele se aproximava, aos poucos,
de mim.
— Como quiser, Julieta — brincou e virei para ele com um olhar
vingativo.
— O lado bom é que se tiver um balcão, eu vou te empurrar de
lá.
— Eu não duvido disso. — Ele se aproximou mais, de um jeito
que sua coxa musculosa encostava na minha. — Me conta uma
coisa, você além de dormir com as minhas cuecas também curte me
observar dormir? Estou começando a me sentir intimidado.
Revirei os olhos e bebi o meu chá.
— Você tem sonhos bons, é uma pena que não lembre deles —
lamentei, olhando para cima.
O sol ainda não tinha aparecido, mas as cores em borrões já
eram visíveis. Nuvens perfeitas já banhavam o céu, a imagem me
fazia lembrar de um conto de fadas.
— Como pode ter certeza, pequena? — perguntou suavemente
e senti seu olhar em mim.
— Já disse, o som da sua respiração. — Dei de ombros. — E
também consigo sentir a tranquilidade. É triste que eles sejam
perdidos.
— O lado bom é que não tenho pesadelos. — Ele estralou o
pescoço, se espreguiçando. — Nunca senti aquela sensação que as
pessoas tem “de cair” no sonho.
Virei para ele curiosa.
— Então não sabe como é cair?
Ele sorriu de lado.
— Eu caí em cima de você, não foi? — Piscou. — E também já
pulei de paraquedas.
— Já? — Arregalei os olhos. — E como foi?
Ele pensou um pouco.
— Não pensei muito na hora, só me joguei — falou e acreditei
completamente. Conseguia imaginá-lo fazendo esse tipo de loucura
sem pensar duas vezes. — Aproveitei a sensação, senti uma
adrenalina da porra, depois calmaria. Quando cheguei no chão
fiquei energizado, quis ir de novo.
— E foi?
— Não, a moeda não deixou — disse, pegando na corrente em
seu peito e fiquei satisfeita que ele ouviu a moeda.
— Sem desvios?
— Sem desvios. — Sorriu de um jeito que seus olhos se
inclinaram para baixo, o deixando mais charmoso.
  Assim que percebi que estava olhando-o demais, virei para
frente, vendo o sol chegar. Joguei o meu capuz de elefante para
trás, deixando meu cabelo pegar um pouco da luz do sol.
— Obrigado por ter me acordado — agradeceu e eu assenti
para ele, sem encará-lo.
Estava muito hipnotizada pela obra de arte acima de nós.
Fechei um olho e coloquei minha mão na frente do rosto, imaginei
que estava segurando um pincel e o céu era a tela. Tentei capturar
as cores.
— Você conhece William Turner? — perguntei a ele enquanto
fingia pintar.
— Do Piratas do Caribe?
Eu ri, sabia que ele diria aquilo.
— Não, o artista. Ele era um artista impressionista, o meu
favorito. Não é tão conhecido, mas ele tentava capturar a luz do sol
nas suas pinturas. — Virei para ele. — Os quadros dele podem
parecer um borrão de cores pra maioria das pessoas, porém era a
luz do sol que ele tentava eternizar.
Colin inclinou a cabeça de lado.
— A luz do sol já não está eternizada?
— Não, a luz do sol é um momento — expliquei. — Um
momento que não se repete, como esse. — Apontei para o espaço
entre nós. — É único, nunca mais veremos outro nascer do sol
como esse, amanhã ele será outro. Turner tentava pegar essa luz,
quando olho pros quadros dele consigo perceber a sua vontade de
transformar um acontecimento em arte, ele fazia pinceladas rápidas,
tentava pintar o quadro antes que o sol desaparecesse. Era único.
Ele me olhou de um jeito diferente. Talvez admirado, como se
seus olhos estivessem sorrindo.
— Seus quadros são um pouco assim — contou e fiquei
surpresa que ele tivesse prestado atenção nisso. — Você tenta
pegar o nascer do sol também?
— Não — neguei, assoprando o meu chá. — Eu não tento
capturar a luz, tento capturar a sensação e colocar isso no quadro.
Acho que é nisso que somos diferentes.
Sorri para ele e coloquei um cacho rebelde atrás da orelha.
— Se alguém te pintasse agora... seria melhor do que qualquer
nascer do sol — revelou sem tirar os olhos de mim e um sorriso
involuntário cresceu no meu rosto. — Acho que se você fosse
pintada em todas as fases, inclusive quando está brava, ainda seria
perfeita.
Meu coração acelerou, estava sentindo minhas bochechas
esquentarem, entretanto não desviei o olhar.
— Eu não sou perfeita — lembrei-o um pouco acanhada.
— Pra mim, você é.
Colin pegou minha mão entre as suas com carinho, tocou
levemente nas minhas marcas e as beijou. Acho que ele tinha
gostado de fazer aquilo, e eu também gostei.
— Quem fez isso com você? — perguntou sem tirar os olhos de
mim.
Ele me tocava com ternura, cuidado, proteção, contudo o seu
olhar entregava que estava um pouco zangado. Percebi esse
mesmo olhar logo que ele as notou pela primeira vez.
Colin tentava não demonstrar que estava bravo com aquilo, no
entanto era possível perceber.
— Quem fez isso com você, meu amor? — repetiu quando não
respondi.
Fechei os olhos, sentindo o peso daquelas palavras.
— A vida. — Sorri tristemente, olhando para ele. Colin respirou
fundo, talvez um pouco angustiado. — Eu estou bem — garanti,
sentindo uma pontada de alegria no peito por ouvir o “meu amor”.
Só as meninas usam termos carinhosos comigo. De alguma
forma aquilo vindo dele, era especial.
— Não vai mais acontecer — garantiu seguro. — Nunca mais.
Era uma promessa estranha de se fazer. O olhei com carinho e
apertei minha mão na dele.
— Como pode ter certeza? — questionei com um sorriso suave.
— Eu nunca deixaria qualquer coisa te machucar. — Deu outro
beijo na minha mão. — Sou seu inimigo, só eu posso te irritar,
pequena.
Sorri para aquela lógica dele.
— E só você pode me machucar?
Ele negou com a cabeça, sério.
— Eu posso te provocar, fazer você perder a paciência e ficar
brevemente irritada. Mas machucar? Nunca espere isso de mim. —
Apertou mais minha mão entre as suas.
 Assenti tranquilamente para ele. Sabia disso.
— Você não me deixa brevemente irritada — avisei de
brincadeira, tentando falar seriamente. — Você me deixa muito
irritada.
— Eu só sei fazer as coisas bem feitas. — Piscou e olhou em
volta. — Acho que nosso momento passou.
Olhei para o céu e vi que o sol já estava ali, tinha nascido.
Acabou.
— Passou — concordei um pouco triste.
— Foi único — concluiu, ainda segurando minha mão.
Me virei para ele e sorri em despedida. Levantei e minha mão
deslizou com pesar na dele, Colin fez uma careta, quase como se
sentisse uma dor física pela separação.
— Tenho uma entrevista daqui a pouco — revelei, bebendo o
que restou do meu chá.
— De emprego? — questionou surpreso.
— Sim — confirmei e segui para a sala.
— Não sabia que estava procurando emprego — disse atrás de
mim.
— Eu enviei uns currículos e me responderam esses dias —
avisei, indo deixar a xícara na cozinha. Colin veio me seguindo,
parecendo querer saber do meu dia. — É em um café perto do
campus.
— Perto do seu prédio?
Pensei um pouco.
— Não, fica meio distante.
— E como vai ir todos os dias? — Ele se encostou na bancada
da cozinha em uma posição tranquila, porém tinha um tom de
preocupação na sua voz que não conseguiu disfarçar.
— Eu vou me preocupar com isso se eles me contratarem —
brinquei, dando de ombros.
— Eu te deixo lá agora — ofereceu. — Tenho prova hoje e vou
passar a manhã na biblioteca.
Me virei para ele surpresa.
— Obrigada. — Sorri em agradecimento, ajeitando meu capuz
na cabeça. Ia subindo as escadas quando me virei e apontei o dedo
para ele. — Não pense que não estou zangada, ainda vai ter volta.
Ele colocou as mãos nos bolsos da calça moletom preta e me
olhou com um sorriso travesso no rosto. Estava tão gato, com o
peito de fora, a corrente brilhante, os olhos azuis. Ele tinha que ser
tão lindo?
— Ansioso por isso — avisou, mordendo o lábio inferior. —
Adoro quando você fica vingativa.
Revirei os olhos e dei as costas para ele.
Estava com pressa, tinha um emprego para conquistar. Questão
de necessidade, todo o dinheiro que vovó conseguiu me deixar, tudo
o que eu já juntei com os trabalhos que fiz no passado, estava no
fim. Precisava voltar a ser adulta.
A questão era que eu sempre fui adulta, até mesmo quando era
uma criança.
 
Colin Scott
 
Deixei minha pequena no lugar que ela ia ter a entrevista
sabendo que a vaga já era sua. Tudo o que Madison se propunha a
fazer, fazia bem. Isso indicava que eu teria que descobrir os horários
em que ela iria entrar e sair, apareceria por “acidente” ali todos os
dias e a levaria para casa.
Que desculpa teria para aquilo? Não fazia a menor ideia.
Meu coração quase foi parar na boca no instante em que vi que
ela tinha me acordado. Não gostava quando meu gnomo se
distanciava. Pensei que fosse ficar uns três dias sem falar comigo e
aquilo era o mesmo que me ferir. Preferia que ela me atirasse
pedras, a me ignorar.
Senti vontade de pegá-la nos braços assim que a vi tão perto de
mim. Só que eu não podia, tudo o que me foi dado até agora foi
beijar sua mão. Suas preciosas mãos. Não iria mais insistir para
saber o que aconteceu, ela não se sentia à vontade, era nítido.
No entanto, se algum dia eu encontrasse a pessoa que fez
aquilo com ela, essa pessoa estaria morta. Nunca senti tanta raiva
na vida, era um sentimento pesado de proteção que vinha do fundo
do meu peito, me torturava saber que alguém machucou meu bem
precioso.
Segui para a biblioteca da universidade querendo estudar antes
da prova de Relações Internacionais. Sim, eu cursava Ciências
Políticas, tinha que usar a minha lábia para alguma coisa útil na
vida.
Estacionei o carro e caminhei até a biblioteca. Me sentia... leve.
Acordar cedo para ver o nascer do sol realmente melhorava o dia.
Minha pequena tinha razão.
Ou talvez fosse por vê-la feliz, falando sobre as coisas que
gosta. Isso me deixava satisfeito.
 Logo que entrei no ambiente percebi alguns olhares na minha
direção, acenei para alguns conhecidos que me parabenizaram pelo
jogo e avistei, à distância, umas duas garotas com quem já tinha
transado. Era engraçado, um semestre atrás eu estaria indo até lá e
jogaria conversa fora.
Naquele momento eu não sentia qualquer vontade, mesmo
estando em uma seca terrível há meses. Tudo o que eu queria era
esperar, nem que fossem mil anos, só para poder beijar sardas na
ponta de um nariz.
Sentei em um canto e senti o meu celular vibrar. Tirei-o do bolso
para ver a mensagem.
Benjamin: Lembrado que dia é hoje?
Eu: Dia de prova?
Benjamin: Não. Aniversário do Peter, os caras estão marcando
uma surpresa hoje.
Benjamin: Mandaram te avisar, certeza que não se lembrou.
Eu: Lógico que lembrei.
Não tinha lembrado, mas não admitiria.
Eu: Onde vai ser?
Benjamin: Vamos sair hoje pra boate que aquela sua amiga
trabalha. Peter tá tentando pegar ela, quem sabe ela não se
sensibiliza quando descobrir que é aniversário dele.
Eu ri alto. Várias pessoas olharam feio para mim e pedi
desculpas baixinho.
Eu: Scarlett?
Benjamin: Exato, a do cabelo preto liso e tatuada.
Eu: E o que ele quer fazer? Implorar por um presente de
aniversário dela?
Benjamin: Sim.
Eu: Me diga o horário, jamais perderia esse fora épico. Vou até
avisar pro Drake fazer a cobertura completa.
Benjamin: Colin, se ele levar um fora, não fique enchendo o
saco dele. É o aniversário do cara.
Eu: Eu? Jamais faria uma coisa dessas.
Benjamin: Apareça às 21hrs! É surpresa, não pode atrasar.
Saí da conversa dele e entrei no grupo da nossa casa. Sabia
que como não tinha treino hoje, provavelmente os babacas também
não iriam se lembrar do aniversário do Peter.
Eu: FESTA HOJE.
Johnny: Nem por cima do meu cadáver.
Amber: Onde???
Drake: Onde??
Sienna: Pra mim, não dá.
Tyler: Pode levar maconha?
Taylor: Vou encaminhar essa mensagem pra mamãe.
Tyler: Tomar no cu.
Taylor: Eu já como alguns.
Eu: Fico feliz em saber que anda bem alimentado, Taylor. Mas
eu só passei pra avisar que vamos pro trabalho da Scar hoje.
Eu: 21hrs.
Scar: Tenho até medo.
Amber: Vamos nos comportar. Prometo.
Johnny: É SEGUNDA-FEIRA.
Eu: Sim, papai, mas hoje é aniversário do Peter. Esqueceu?
Ninguém digitou nada. Ele tinha esquecido.
Johnny: Claro que não. Estava lembrado.
Johnny: Todo mundo vai hoje às 21hrs.
Taylor: Sim, capitão.
Drake: Sim, capitão.
Tyler: Sim, capitão.
Amber: Sim, mozão.
Eu: Sim, papai.
Sienna: Eu não vou poder ir hoje! Combinei de sair com
Michael.
Scar: Já estarei lá de toda forma.
Esperei meu gnomo digitar alguma coisa, só que talvez ela
ainda estivesse na entrevista. De toda maneira, eu faria minha
especialidade: encheria o saco dela até topar.
Colin Scott
 
Tinha gabaritado a prova.
Não saiu o resultado ainda, mas sabia que era dez. Sempre me
saí melhor nas provas discursivas, meus professores costumavam
falar que eu tinha uma ótima articulação e sabia usar as palavras.
Cheguei a sair cedo da prova, porém passei o dia no campus,
assistindo aula e estudando na biblioteca. Quando percebi já era
tarde da noite e pelo jeito ia chegar atrasado para o aniversário do
Peter.
Abri a porta de casa apressado e encontrei Sienna descendo as
escadas com uma roupa elegante, colocando um brinco na orelha.
— Está atrasado — ela avisou, descendo.
Olhei ao redor procurando por Madison, só que não a vi ali.
Nem sabia se tinha dado certo a sua entrevista.
— Você disse que não conseguiria ir — lembrei, indo até a loira
platinada e dando um beijo na sua bochecha.
— Eu sei... — Suspirou frustrada e olhou para o seu vestido,
meio triste.
— Ei — chamei suavemente. — O que foi?
— Ele não vem — murmurou baixinho, alisando a roupa sem
olhar para mim.
— Por quê? — perguntei, por mais que não estivesse surpreso.
— Disse que tinha surgido um imprevisto. — Ela ergueu os
olhos para mim e me deu um sorriso autodepreciativo. — Mas eu vi
que um dos amigos dele postou uma foto deles em um bar.
Ah, querida. Michael é um grande pau no cu.
— E como você está um espetáculo hoje, não pode ficar em
casa triste — elogiei tentando arrancar um sorriso genuíno dela. E
consegui.
— Eu não sei se estou com ânimo pra sair.
— Sabe, Si — joguei a ideia como quem não queria nada. — Se
você quiser que a gente bata nele por você, é só avisar.
Ela riu.
— Eu aviso. — Sienna enxugou o canto do olho, tentando não
borrar a maquiagem. — Obrigada por isso.
— Você merece mais. — Beijei a sua testa e ela me abraçou.
— Eu não sei se quero ir hoje... — falou e a abracei de volta.
— Está proibida de ficar em casa — avisei.
— Ele está com aquele cara que joga hóquei com vocês, o que
eu não gosto. Podem aparecer lá hoje e eu não quero esse
encontro.
— Qual? — Franzi a testa, não sabendo daquilo.
— Charles Moore. — Ela se afastou com uma cara de desgosto.
E tinha sentido. Charles era um pé no saco, e eu sabia que ele
era da mesma fraternidade do namorado da Sienna. Contudo, ele
não apareceria hoje, quase não interagia com o pessoal do time.
— Garanto que ele não foi convidado — prometi, já subindo as
escadas. — Você vai, Sienna.
Ela me deu um sorriso suave.
— Eu vou — decidiu e piscou em provocação para mim. — E
ela está lá em cima.
— Quem? — Ergui a sobrancelha me fazendo de desentendido
e Sienna apenas revirou os olhos.
— Não a estresse — disse em comando. — Ela já passou a
noite me ajudando.
— Francamente, o que vocês pensam que eu sou? Uma criança
de 5 anos? — Balancei a cabeça repreensivamente para a Sienna e
subi as escadas até o meu quarto. — Madison — cantarolei abrindo
a porta, pronto para estressá-la. — Madison, Madison...
Parei no lugar em choque com o que vi ali. Meu quarto tinha
virado uma floresta. Ele era grande, tinha espaço de sobra para
caber umas quatro pessoas ali, no entanto era tanta planta
espalhada, que quase não consegui caminhar dentro dele.
Ainda para completar, tinham vários incensos e velas
aromatizantes acesos ao redor das plantas. O que era aquilo? Ela
queria incendiar aquela casa também?
— O que é isso? — Coloquei as mãos no quadril, exigindo
satisfação. — Um velório? Um exorcismo?
Procurei meu gnomo pelo quarto e vi que a luz do banheiro
estava ligada.
— Olha aqui, essas plantas vão sumir daqui nesse exato
momento — avisei decidido.
Madison saiu do banheiro segurando um incenso e seguiu para
apagar as velas acesas, sem me dar atenção.
— Eu não vou dormir no meio dessa mata. — Caminhei em sua
direção. — O que diabos é isso?
— Estou harmonizando as plantas — respondeu se agachando
entre elas, pegando as folhas entres as mãos, parecendo sentir a
textura delas. — Elas acabaram de ser compradas e precisam ser
purificadas.
Aquilo não fazia o mínimo sentido para mim.
— E isso tem que ser no meu quarto?
— Elas precisam de um lugar fechado que seja meio aberto pra
absorverem a energia — informou, tocando as folhas com carinho.
— Eu tenho certeza que tem outro lugar “meio fechado e meio
aberto” que não seja o meu quarto.
Ela estava muito enganada se achava que eu cederia às suas
maluquices.
— Já acabou. — Ela revirou os olhos e passou a verificar a
próxima planta. — Eram só duas horas, elas não podem ficar muito
tempo aqui. Precisam da luz do sol e de um ambiente tranquilo.
— Ótimo, pois as tire daqui.
— O quarto não é seu — lembrou e virou o rosto para mim. —
Ele é nosso.
Ele era. Nosso. E eu gostava para caralho de como aquilo
soava na boca dela. Me agachei também, para ficarmos na mesma
altura, por mais que fosse impossível.
— Ele é nosso — concordei. Tudo o que é meu, pode ser seu
também. Eu não me importo. — Contudo, não vou dormir com essas
plantas.
— Ainda não decidi se você pode voltar pra cama. — Ergueu a
sobrancelha desafiadoramente e eu percebi que ela estava se
divertindo.
— As minhas costas não aguentam mais aquele sofá —
barganhei e ela não pareceu sentir piedade.
— Tudo depende de como você vai se comportar. — Deu de
ombros. — E as plantas não são minhas, são da Sienna. Eu só
estou purificando-as.
— Não me importo com isso, contanto que as tire logo daqui.
— Vou tirar — resmungou levantando.
Levantei junto e quando a vi limpando as mãos pequenas no
macacão jeans percebi que ela não conseguiria levar tantas plantas
para o andar debaixo sozinha.
— Você trouxe tudo isso pra cá sozinha? — perguntei, zangado
por ninguém ter vindo ajudá-la.
— Não, Drake e Sienna me ajudaram. — Ela se inclinou para
pegar um jarro, mas eu fui mais rápido.
Agarrei-a pela cintura e passei o braço pelas suas pernas, a
erguendo. Madison deu um gritinho de surpresa e se segurou nos
meus ombros.
— O que é isso?
— Você vai atrasar todo mundo — avisei, levando-a até o
banheiro. — É aniversário do Peter hoje.
— Eu preciso acordar cedo amanhã...
— Deu certo a entrevista?
— Eles disseram que iam me ligar, porém acho que não ficaram
muito empolgados comigo — ela contou, murcha. — Vou continuar
enviando mais currículos.
Me inclinei e beijei seu rosto, pegando-a de surpresa.
— Quem perde são eles, pequena. — Pisquei e entrei no
banheiro com ela nos braços. — Eu te trago pra casa na hora que
quiser ir embora.
— Eu nem sou muito amiga do Peter. — Ela tirou um cacho do
meio da face, um pouco vermelha por eu ter a beijado ali.
— Pois saiba que ele exigiu que você fosse — menti e ela me
olhou sem acreditar.
— Por quê? — perguntou cinicamente.
Porque eu não quero ir para nenhum lugar sem você.
— Estamos perdendo tempo. — A coloquei no chão e recuei um
passo. — Você está atrasando todo mundo.
Ela abriu a boca para falar mais alguma coisa, só que fechei a
porta na sua cara.
— Pare de atrasar — disse, antes de começar a carregar os
malditos vasos.
— Cuidado com as plantas! — mandou.
Revirei os olhos, mas levei as plantas com cuidado. Era
importante para ela. Então era para mim também.
 
 
— Parabéns, irmão. — Bati nas costas de Peter.
— Como presente você deveria me prometer que vai parar de
me dar susto no gelo — disse Peter, bêbado.
— Vai ter que se contentar com um relógio. — Dei um meio
sorriso e estendi o presente para ele.
Peter Roberts e Benjamin Nelson eram os jogadores do time
mais próximos de nós. Alguns dos caras ficavam meio intimidados
de se aproximarem da gente, muitos por conta do pedestal que nos
botavam. Todo mundo sabia que Johnny, Drake, Taylor e eu
entraríamos para os profissionais. Ou era o que os jornais
esportivos apostavam.
Aquilo nos dava uma certa fama antecipada, todos do time eram
muito amigos, mas percebíamos um respeito a mais quando
falavam com a gente. Exemplo disso era hoje, em que todo o time
estava sentado ao redor da nossa mesa, entretanto mantinham um
certo distanciamento, quase como se com medo de invadirem nosso
espaço.
  — Será que eles pensam que a gente morde? — perguntei
para Drake, virando minha cerveja.
— Eu mordo — Taylor brincou do nosso lado.
— Você não anda mordendo ninguém — provoquei, me
encostando na poltrona e olhando em volta. — Está comportado
demais ultimamente.
As meninas tinham ido dançar e eu não conseguia ver minha
pequena dali. O lugar estava lotado e era mal iluminado.
— E você não? — Taylor ergueu a sobrancelha ironicamente e
senti várias cabeças girando na minha direção.
— Agora querem um relatório das minhas fodas? — perguntei a
eles desafiadoramente.
— Não. — Drake deu de ombros, satisfeito por me provocar. —
Só é um pouco curioso.
— Realmente. — Benjamin amarrou seu cabelo loiro comprido
em um rabo de cavalo enquanto me analisava criticamente. —
Quando foi a última vez que te vi com uma garota mesmo?
— Eu nunca saí por aí contando com quem durmo — falei a
verdade. — Só estou em um período sabático — inventei e todos na
mesa reviraram os olhos.
— Tá bom. — Peter riu em deboche.
Procurei por um cabelo ruivo entre as garotas que estavam ali e
não achei Madison. Ela estava com uma saia curta de couro preta e
um body branco colado ao corpo, tão gostosa que senti meu pau
endurecer assim que a vi.
Gostosa e desaparecida.
— Combinou de encontrar alguém aqui? — perguntou Peter.
— Não — respondi e me virei para ele, querendo tirar o foco de
mim. — Quando vai tentar a sorte com a Scar?
— Agora mesmo — respondeu, encorajado pelo álcool.
— É isso aí! Quanto mais cedo for a humilhação, melhor —
incentivei, apontando para Drake. — Não esqueça de fazer a
cobertura.
— Não vou levar um fora. — Peter se levantou convencido. — É
meu aniversário.
O encarei sem acreditar.
— De onde você tirou que as meninas vão se jogar aos seus
pés só por que é seu aniversário? — Ri alto e ele me deu o dedo do
meio.
— Veja e aprenda — informou, indo atrás da minha amiga.
— Eu não perderei isso por nada na vida. — Me levantei, o
seguindo e Drake veio logo atrás, pronto para reportar a fofoca.
Peter seguiu até o bar, onde Scarlett estava no caixa. Ela
trabalhava como recepcionista, mas também ficava no caixa do bar
quando a boate estava muito cheia.
— Você quer um conselho de amigo? — Coloquei o braço em
volta dos ombros de Peter e segui em direção ao balcão. —
Conheço uma cantada que ela adora.
Peter me olhou um pouco desconfiado, sem saber se eu estava
falando sério ou não. Revirei os olhos.
— Sou seu amigo, cara, quero só ajudar — garanti com
confiança e Peter confirmou com a cabeça.
Sussurrei uma cantada certeira para ele e bati nas suas costas,
empurrando-o. Peter se inclinou no balcão e sorriu sedutoramente
para Scarlett.
Ela parou no lugar ao nos ver ali, e seu olhar dizia que sabia
que estávamos aprontando alguma coisa. Drake e eu sentamos nos
bancos disponíveis, preparados para assistir a cena.
— Oi, gata. — Peter piscou para Scarlett de um jeito
convencido. — Você não é um durex usado, mas eu te acho super
descolada.
Drake riu e Scar encarou meu amigo perplexa, parecendo não
conseguir acreditar no que acabou de ouvir. Ela mediu Peter com o
olhar, e ele não era de se jogar fora. O aniversariante era alto, tinha
a pele negra, cabelo preto, e por mais que não fosse muito
musculoso, como o resto do time, tinha um perfil atlético. No
entanto... ela não estava interessada.
— Como é? — Scar ergueu a sobrancelha e Peter se virou para
mim com ódio.
— Sempre funcionou comigo — me defendi, dando de ombros e
Peter voltou sua atenção para minha amiga, determinado.
— Eu não sei se você sabe, hoje é o meu aniversário.
Era melhor ter ficado com as minhas cantadas... Scar balançou
a cabeça para Peter, quase prendendo o riso.
— Parabéns. — Ela indicou o lugar cheio atrás de nós. — Quem
sabe você não consegue alguém disposto a te dar um presente em
outro lugar, hein?
Peter assentiu derrotado e bati nas costas dele em consolo.
— Tudo na vida é assim — citei sabiamente. — Um dia a gente
perde e no outro também.
Peter me deu o dedo do meio e Drake riu atrás de mim.
— Pelo menos você ganhou um “parabéns” — zombou Drake.
— O lado bom é que ela estava certa — Peter apontou animado
para outra garota que estava de olho nele.
— Dessa vez treine as cantadas direito — aconselhei.
— Você ainda me paga. — Peter apontou o dedo para mim e
seguiu atrás da garota que estava lhe secando.
— Que merda de cantada foi aquela, hein? — perguntou Drake,
rindo.
— Tenho melhores. — Pisquei em ironia.
— O show vai começar. — Senti mãos baterem nas minhas
costas e me virei para encontrar Scar atrás de nós.
— Acabou o turno? — perguntou Drake a ela.
— Não, porém vocês vão me ver em ação pela primeira vez —
ela disse, desfazendo o coque do cabelo longo e liso.
— Meu Deus, não me diga que vai começar a tirar a roupa aqui
— brinquei e ela revirou os olhos.
— Não pense que não sei que você mandou o coitado me jogar
aquela cantada ridícula. — Ela pontuou e passou os dedos pelo seu
próprio cabelo, penteando.
Alguns caras que estavam ao redor secaram Scar
descaradamente. Ela, como todas as garotas que trabalhavam ali,
estava de uniforme. Entretanto, elas tinham que usar um estilo meio
provocador. Scar estava com uma saia curta preta, uma blusa
decotada da mesma cor e saltos altos.
— Você é recepcionista, barman, caixa... o que mais vai fazer
aqui? — Drake olhou em volta, tentando saber qual era a outra
função dela.
— Eles pagam mais pra quem é multitarefas. — Ela deu de
ombros e vimos uns caras subirem no palco da boate, instalando
uns instrumentos. Uma banda iria tocar. — Chegou minha hora —
Scar avisou, se distanciando.
Eu e Drake trocamos um olhar perdido. Ela passou pelas
pessoas na pista de dança e subiu no palco com agilidade. Alguém
desligou o som e a galera começou a gritar agitada pelo que viria.
— Mas o que ela vai...
Me calei quando Scar passou pela banda e pegou uma guitarra.
Ela segurou o instrumento com propriedade, o posicionou no corpo
e passou a dedilhar as cordas, fazendo o som se alastrar pelo lugar.
As pessoas gritaram empolgadas, e alguns funcionários pararam o
que estavam fazendo para vê-la.
Scar fechou os olhos e passou a tocar o instrumento, fazendo
um som do caralho. Não era coisa de amador, ela realmente tocava
muito, muito bem. Passava os dedos pelas cordas da guitarra
rapidamente, porém de um jeito delicado, o som que fazia me
deixou impressionado.
Aquilo era talento.
— Você sabia disso? — Drake se virou pra mim tão abismado
quanto eu.
— Não. — Balancei a cabeça, sorrindo admirado.
Scar permanecia de olhos fechados e mexia a cabeça no ritmo
da música. Como se estivesse em um mundo só seu.
— Ela é foda, não é? — disse Sienna orgulhosa do nosso lado.
Nós viramos e encontramos Sienna e Madison um pouco
ofegantes. Elas pareciam estar dançando. Minha ruiva tinha desfeito
o penteado, e seus cachos estavam espalhados pelo corpo, de um
jeito selvagem e sexy. Quis saber se ela ficava desse jeito depois de
gozar.
Desci o meu olhar lentamente, o seu body estava colado no
corpo cheio de curvas, e imaginei a sensação de ter aquelas pernas
em volta da minha cintura enquanto metia fundo nela.
Era horrível ficar babando em cima de algo que não podia ter. E
ainda considerar seu, mesmo que não fosse.
— Você está bem? — perguntou Madison olhando pra mim,
talvez vendo a tensão no meu corpo.
Estralei o pescoço e tentei controlar o tesão que se acumulava
no meu pau.
— Me pega no colo? — pedi e ela me olhou sem entender.
— O quê?
— Eu quero dizer que andei de avião hoje — completei e ela
apenas me olhou por um momento antes de prender o riso.
— Você está começando a se superar — disse Drake.
— Foi criativo — Sienna apoiou, erguendo o ombro.
— Eu não sou demaquilante — continuei sem desviar o olhar da
ruiva. — Mas adoraria tirar o seu batom.
Madison estava tentando, com tudo de si, não rir. E eu queria
ver aquelas covinhas nesse instante.
— Você não é um piso molhado — disse, me aproximando dela
aos poucos. — Mas eu estou pronto para te passar o rodo.
Ela mordeu o lábio inferior, segurando o riso. E eu me aproximei
mais, tirei o cabelo bagunçado dela da frente do rosto, revelando
aquela pele cheirosa e macia.
O decote dela, o pescoço um pouco suado. Eu queria chupá-la,
beijar aquela boca e fodê-la até sua boceta não aguentar mais.
— Acabou? — ela perguntou, erguendo a sobrancelha.
Pelo canto do olho vi que Sienna puxou Drake pela pista,
querendo nos deixar sozinhos. E ele se deixou ser levado, indo para
longe com a loira. Te devo uma, Si.
— Você tem um mapa? — Acariciei o pescoço da minha
pequena e a senti se inclinar mais na direção do meu corpo.
Estava excitada, podia apostar. Passei o braço pela sua cintura,
colando-a no meu peito. Consegui inspirar o seu cheiro gostoso
para cacete e ao olhar para baixo vi que seus mamilos estavam
durinhos na roupa.
— Não — respondeu um pouco ofegante, e se segurou nos
meus braços. Percebi que ela estava sentindo a textura dos
músculos.
— Uma pena, porque eu me perdi no brilho dos seus olhos.
Era para ter soado de um jeito tosco, porém acabei sendo
sincero. Levei minha mão, que alisava o seu pescoço, até a boca
dela. Tracei com o polegar os lábios carnudos e Madison os
entreabriu para mim.
— Alguém já caiu nessas suas cantadas? — ela perguntou em
ironia, enlaçando os braços em volta do meu pescoço, em um meio
abraço.
A apertei pela cintura, prendendo-a. Colando os seus seios no
meu peitoral. Não queria ninguém vendo aqueles bicos salientes,
eles eram só para mim.
— Sempre funciona — murmurei muito próximo, meu hálito
soprou o rosto dela. Apertei-a ainda mais e me inclinei perto do seu
ouvido. — Você não usa uma calcinha... — sussurrei e percebi que
a pele dela arrepiou, eu tinha elevado nossa brincadeira. — Usa um
porta-joias.
Madison riu e se ergueu um pouco nos saltos. Ela respirou um
pouco perto da minha orelha e eu quase gemi em frustração.
Segurei-a mais forte, querendo me certificar de que ela não sairia
dali tão cedo. Tinha certeza que ela estava sentindo o meu pau
duro, ele estava roçando na sua barriga.
— Você acertou — sussurrou em uma voz arrastada.
— É um porta-joias? — Tirei os cachos dela do pescoço e dei
um beijo bem demorado no seu rosto.
Ela derreteu um pouco nos meus braços.
— Não... sobre a calcinha — revelou e eu fiquei um pouco
tenso. — Não estou usando.
Puta que pariu, quer me foder?
— Só acredito vendo. — Desci a mão que descansava em suas
costas e a coloquei no seu quadril, bem próxima da curva da sua
bunda gostosa.
Um lugar que eu desejava muito comer. Apertei-a mais, roçando
mais um pouco meu pau duro e ela conseguiu senti-lo com
facilidade.
Madison ainda estava com o rosto enterrado na curva do meu
pescoço, e acho que aquilo a deixou mais corajosa.
— Vai ter que acreditar na minha palavra — sussurrou e desci
mais minha mão, até chegar na sua bunda.
Descansei ela ali, não apertei a bunda cheia e gostosa dela,
apenas alisei de leve, só o suficiente para excitá-la. E pela sua
respiração ofegante no meu pescoço, estava conseguindo.
— É difícil. — Beijei o seu ombro. — Sei que você mentiria só
pra me enlouquecer.
Ela se afastou um pouco, o bastante para nossos narizes se
roçarem. Descansei a testa na dela com carinho, sentindo a energia
eletrizante entre nós.
— Eu te enlouqueço? — perguntou tão próxima da minha boca,
que eu quase a peguei pelo pescoço e a beijei.
— Não teve um único dia em que você não me enlouqueceu —
respondi, sincero.
Ela levou a mãozinha até o meu peito e o alisou com calma.
Deu uns tapinhas ali em atrevimento.
— Isso é interessante, eu sempre pensei que você já fosse
louco. — O canto direito da sua boca se ergueu, mostrando uma
covinha.
Me inclinei sobre ela e beijei aquele furinho charmoso no seu
rosto.
— Tem mais alguma cantada ridícula guardada? — ela
perguntou.
— Eu achei essa sua roupa péssima — comentei, deslizando
minhas mãos pela sua cintura esbelta.
— Achou? — Ela olhou para o próprio body, procurando um
defeito.
— Achei. Se eu fosse você, o tiraria — aconselhei e ela ergueu
a sobrancelha em divertimento.
— Essa até foi boa.
Eu já ia enterrar o rosto no seu pescoço, mas senti uma mão
forte bater nas minhas costas. Me afastei um pouco da minha
pequena e vi Drake parado ao nosso lado.
— O que você quer? — resmunguei zangado por ele atrapalhar
o meu momento.
— Hora dos parabéns. — Ergueu as mãos em sinal de desculpa
com um sorriso no rosto.
Assenti e entrelacei os meus dedos com o da Madison. Drake
olhou surpreso para as nossas mãos unidas, porém não disse nada.
Já ela, apenas me deixou guiá-la.
Seguimos para a nossa mesa e deixei Madison ali. Todo mundo
já tinha voltado, olhei para Johnny em um aviso silencioso de que já
estava na hora e ele me seguiu até o palco.
Eu e Johnny tínhamos programado um bolo surpresa para
Peter, e iríamos fazer um pequeno discurso para o nosso goleiro.
Havia falado com o cara que estava no comando do som antes.
Scar já tinha parado de tocar quando subimos no palco, ela
colocou a guitarra de lado e nos deu espaço para falarmos no
microfone. Assim que peguei o microfone todo mundo se calou em
expectativa. Tentei encontrar Peter no meio da multidão, só que não
consegui vê-lo.
— Boa noite, pessoal! — cumprimentei o público que gritou de
volta. A maioria ali eram universitários da Brown e já conheciam a
gente. — Hoje é o aniversário do nosso goleiro! O cara não sabe
jogar uma cantada decente, mas é uma ótima pessoa. Sempre me
chama de filho da puta nos jogos, pega todos os discos que
deixamos passar e não perde uma festa minha!
Algumas pessoas riram e finalmente Peter voltou para nossa
mesa. Os caras bateram nas costas dele em comemoração.
— Vou passar a palavra pro nosso capitão, que diferente de
mim, tem um ótimo discurso ensaiado. — Entreguei o microfone a
Johnny, que começou a falar sobre como Peter entrou para o time e
sua trajetória no hóquei.
Olhei para nossa mesa de novo e encontrei Madison em pé,
junto com Amber e Sienna. Estreitei os olhos e percebi que um cara
estava bem atrás dela, a secando.
Senti meu corpo todo ficar tenso, ainda assim tentei não prestar
muita atenção naquilo. Só que o desgraçado se inclinou para falar
algo no ouvido da minha pequena.
Em um impulso, peguei o microfone da mão de Johnny, no meio
do seu entediante discurso. Quase pude ouvir o suspiro de alívio do
pessoal.
— Eu só queria acrescentar mais algumas palavras. — Sorri
sem tirar os olhos do cara que continuava dizendo alguma asneira
no ouvido do meu gnomo. — Eu acho que a característica que mais
admiro em Peter é o seu respeito.
Johnny olhou para mim com o cenho franzido, estranhando
aquilo. O cara colocou a mão nas costas da Madison e ela se
distanciou gentilmente, negando com a cabeça em um movimento
educado.
Tomar no olho do cu, seu caralho!
— Colin! — Johnny me chamou e só então percebi que falei
aquilo em voz alta.
— Me desculpem — pedi, passando a mão no meu cabelo. — O
que eu estava dizendo, era que não vemos Peter dando em cima da
mulher dos outros! — murmurei puto da vida e todos olharam para
Peter, desconfiados.
O aniversariante olhou em volta um pouco perdido.
— Não vemos Peter tentando passar a mão em garotas que já
disseram que não estão interessadas!
Várias cabeças se viraram repreensivamente em direção à
Peter, que estava perplexo.
— Colin, o que é isso? — Johnny tentou tirar o microfone da
minha mão, mas nesse momento o filho da puta se inclinou de novo
para falar algo no ouvido da minha ruiva, e botou de novo a mão na
cintura dela.
Ele ia morrer.
— Olha, isso já está demais! — gritei revoltado. — Saiba que
quando eu chegar aí vou quebrar a porra da sua cara! — Apontei
para a nossa mesa e Peter colocou a mão no peito, nervoso. —
Pode tirar as mãos de cima da minha pequena!
Johnny tirou o microfone da minha mão depressa.
— Perdão por isso — o capitão pediu desculpas, e eu desci do
palco determinado a tirar o merda de perto dela.
As pessoas foram abrindo espaço para mim, querendo saber da
confusão. Logo que cheguei na nossa mesa todos me olharam
assustados.
— O que foi isso? — perguntou Taylor, nervoso.
— Pelo amor de Deus! — Peter se aproximou de mim,
erguendo as mãos de um jeito temeroso. — Eu não sabia que você
tinha alguma coisa com aquela garota.
— Que garota? — Franzi a testa, tentando ver Madison por
cima do ombro dele.
— A que eu estava ficando ainda agora — ele explicou como se
fosse óbvio.
— Ela é ruiva e tem um metro e quarenta de altura? — Ergui a
sobrancelha para ele.
Peter pensou um pouco.
— Não.
— Então não tenho nada com ela — informei, passando por ele
e indo atrás do meu gnomo.
Ela estava do lado da Amber, ainda tentando se livrar do cara
que estava dando em cima dela. Senti vários olhares em mim, o
pessoal procurando entender o que estava acontecendo.
Cheguei perto da Madison e passei o braço possessivamente
pela cintura dela, a puxando para mim. A ruiva olhou assustada para
a minha mão na sua cintura.
— Colin... o que é isso? — sussurrou perto do meu ouvido.
— O que você quer aqui? — perguntei diretamente para o outro
cara, que acompanhou a minha mão na cintura dela e entendeu
tudo.
— Colin! — Drake se aproximou tentando me chamar, mas o
ignorei.
— Eu estava só conversando com ela...
— Por que não conversa comigo, então? — Ergui a sobrancelha
cinicamente.
— Bem, já deu nossa hora. — Madison tentou me puxar para
longe dele, forçando um sorriso. — Devíamos ir pra casa.
A apertei mais contra meu corpo.
— Olha, você não me disse que era comprometida — o cara
falou para Madison.
— E eu não sou. — Ela olhou em volta, perdida.
— Ela é — acrescentei por cima.
Madison ficou na minha frente e colocou as mãos no quadril,
exigindo uma explicação.
— Eu sou? — disse em deboche. — Com quem? — Ela ergueu
a sobrancelha.
— Gente... — murmurou Amber querendo rir. — Eu estou
chocada!
— É, já deu nossa hora — informei passando o braço pelas
pernas dela e a pegando de surpresa.
Coloquei a ruiva por cima do meu ombro e minha mão ficou
estrategicamente na sua bunda, para ninguém conseguir ver a sua
calcinha. Se bem que ela disse que nem estava usando.
— Você ficou louco? — Madison perguntou por cima das
minhas costas.
Peguei a bolsa dela em cima da mesa e cada pessoa da boate
nos olhou perplexa. Quando me distanciei do pessoal, apenas vi
eles acenando debilmente em despedida, sem saberem o que
estava acontecendo.
— Olha, você vai dormir no sofá hoje! — ela informou enquanto
passávamos pelas várias pessoas que nos olhavam.
 Assim que chegamos do lado de fora da boate a coloquei no
chão.
— O que foi isso? — exigiu saber apontando para dentro da
boate, puta da vida.
Um ataque de ciúme, só que não sei se cairia bem te explicar
isso agora.
— Você estava sendo perturbada e eu fui lá te ajudar. — Dei de
ombros. — Deveria me agradecer.
Ela colocou as mãos no quadril e estreitou os olhos.
— Sabe o que eu acho? — disse desconfiada. — Que você
estava com ciúme.
Coloquei a melhor expressão de choque que consegui no rosto.
— Eu? — Coloquei a mão no meu peito. — Com ciúmes? Não
sou ciumento.
— Você estava com raiva — pontuou.
— Eu estava pensando na situação do país — argumentei
colocando a mão nas costas dela e a guiando na direção do meu
carro.
— Na situação do país — ela repetiu em tom de deboche.
— Sim, anda tudo muito caro ultimamente — continuei.
Ela parou no meio do caminho e apenas me olhou em silêncio.
— Na maioria do tempo eu não sei o que se passa na sua
cabeça.
— E nem eu na sua, quem é que batiza plantas?
— Eu não estava batizando — corrigiu. —, era harmonizando.
Revirei os olhos e me senti satisfeito por saber que meu quarto
já estava livre daquela floresta. Falando nisso...
— Eu não posso dormir no sofá, minhas costas estão me
matando — menti, colocando as mãos nas costas.
— Pode dormir na cama — ela cedeu, virando de frente para
mim. — Mas vai ter que fazer uma coisa — disse em comando.
Olhei-a com desconfiança.
— O que pode ser pior do que esperar ovos de passarinho
chocarem, não é mesmo?
— Saiba que vai ter troco, Colin! — Ela apontou para a boate.
— Sempre terá troco.
— Estou ansioso por isso. Pode queimar todas as minhas
cuecas se quiser, contanto que você me deixe dormir na nossa
cama. — Pisquei de brincadeira e ela suspirou derrotada.
— Vamos, seu louco. — Ela estendeu sua mão, esperando que
eu a pegasse.
Tinha percebido que ela gostava quando andávamos de mãos
dadas. O que era perfeito, eu receberia qualquer migalha que ela
me desse. E como estava condenado a segui-la, apenas segurei
sua mão e entrelacei nossos dedos.
— Vamos, gnomo.
Eu iria para qualquer lugar com você.
 Colin Scott
 
Madison me obrigou a assistir desenho animado para que eu
pudesse voltar para a cama.
Eu tentei barganhar, tentei colocar pelo menos “A Espada era a
Lei”, pelo bem da minha dignidade. Mas ela queria assistir “A Bela e
a Fera”. Ou seja, me restou sentar no sofá da sala e acompanhá-la.
— É cada humilhação que eu me submeto pra dormir na minha
própria cama... — me interrompi ao ver que ela tinha pegado no
sono.
Sua cabeça estava inclinada no sofá, com os olhos fechados e
a boca entreaberta. Me levantei e fui até ela, me agachando na sua
frente. Seus cachos caíam suavemente pelo seu rosto, eles eram
tão lindos que fiquei tentado a cortar uma mecha daquele cabelo e
carregá-la comigo. Ter um pedaço seu.
Só que isso seria invasivo demais.
Tirei o cabelo da frente do seu rosto e o coloquei para trás,
revelando a pele sedosa do seu decote. Ela tinha escolhido um
pijama de adulto daquela vez e achei, por um segundo, que fosse
para me provocar. Estava vestindo um short curtinho e uma blusa de
alcinha.
Nada de orelhas de elefante. O problema era que eu a achava
sexy de todo jeito.
— Ei, pequena — chamei baixinho e ela não acordou.
Desliguei a televisão antes de pegá-la nos braços. Ela se agitou
por um minuto e achei que fosse acordar, porém só suspirou contra
meu peito. Chegando no quarto a coloquei na cama, Madison se
virou de lado e sua bunda gostosa ficou bem à mostra.
Ia ser uma noite longa...
Tirei a camiseta e fiquei apenas de calça moletom. Deitei no
meu lado da cama e virei a cabeça para olhá-la. Sentiria falta
daquilo quando a casa delas fosse reformada. Senti o seu cheiro
suave de cereja espalhado pelo quarto e suspirei relaxado.
Fechei meus olhos pesados e em algum momento senti um
corpo quente se aproximando de mim. Abri os olhos e encontrei os
seus abertos, me fitando.
Ela estava acordada. E me abraçando. Madison abraçou meu
abdômen e estava deitando a cabeça no meu peito quando a peguei
no flagra.
— Eu não estou dando em cima de você — disse apressada,
com as bochechas coradas. — É que gosto de dormir abraçada.
Sorri para ela.
— Vou fingir que acredito nisso.
Ela enrugou a ponta do nariz, entretanto não me soltou e eu a
abracei com ternura de volta. A senti relaxar contra meu corpo e
enterrei o rosto no seu cabelo enquanto fazia carinho nas suas
costas.
Ouvi o seu suspiro satisfeito e ela se aconchegou mais em mim,
quase como um gato que é alisado.
— Minha vó costumava fazer carinho em mim antes de dormir
— contou e aquilo me pegou de surpresa.
Ela tinha dito que não conheceu os pais e por um segundo
imaginei que tivesse sido criada em alguma instituição ou orfanato.
Temi que as marcas nas suas mãos fossem de maus-tratos.
Fiquei aliviado em saber que tinha alguém por ela.
— Teve uma época em que eu estava com dificuldade pra
dormir. Ela vinha e cantava pra mim.
Suspirei, sentindo um aperto no peito ao imaginá-la criança.
— O que ela cantava? — perguntei e ela se levantou um pouco,
só o suficiente para eu poder ver o seu rosto.
— É uma canção em que ela pedia para a lua e as estrelas
protegerem o meu sonho. — O canto da sua boca se ergueu
levemente. — Costumava funcionar. Quer ouvir?
 Assenti meio hipnotizado com o brilho dos seus olhos. Madison
respirou fundo e cantou sem desviar os olhos de mim.
— A Lua é minha protetora e amiga.  Traz beleza aos meus
sonhos e vida. As Estrelas no alto são minha felicidade.  Brilhando
gentilmente e com serenidade. Quando fecho os olhos, não vão me
desapontar. Mantendo-me segura até o Sol raiar.
Sua voz era suave, bonita e calma. Eu não resisti. Quando ela
parou de cantar eu segurei com calma o seu rosto entre as mãos e
o aproximei do meu. Descansei a testa na dela, rocei nossos narizes
e ficamos ali. Respirando o mesmo ar.
— Canta pra mim — pedi, próximo demais da boca dela, quase
podia senti-la. — Canta pra mim.
Ela não se afastou. Pelo contrário, me abraçou pelo pescoço e
descansou a testa perto da minha. A abracei, adorando tê-la em
cima de mim, sentindo seu corpo em todos os lugares.
E ela cantou. Ela cantou até eu sentir os meus olhos pesarem.
Cantou no meu ouvido até eu sentir meu coração se acalmar.
Cantou até eu sentir uma paz inexplicável me dominar. A abracei
sem conseguir largá-la e tive medo que no instante em que
acordasse ela não estivesse mais ali. Que ela não passasse de um
fruto da minha imaginação. Que fosse sumir a qualquer momento.
Eu não aguentaria, precisava tê-la comigo.
 Logo que meu corpo cedeu e eu adormeci, ainda podia ouvi-la.
No fundo dos meus sonhos, eu podia escutá-la. A sua respiração foi
a minha companheira durante a noite.
E nunca me senti tão conectado a alguém na vida.
Eu só queria aquilo. Todos os dias da minha vida. Até meu
último suspiro.
 
Madison Jensen
 
Coloquei uma calça legging preta e um moletom. Iria bem cedo
ao campus hoje, Sr. Stone tinha avisado para a turma que a aula
hoje seria no auditório. Olhei para Colin deitado na cama, dormindo
e caminhei até ele silenciosamente.
Toquei com carinho o seu rosto, passei o polegar nos cantos
dos seus olhos e beijei a sua testa.
— Tenha um bom dia, meu maluco — desejei baixinho e saí do
quarto.
Sorri comigo mesma, sentindo meu coração acelerar e minhas
bochechas um pouco quentes. Ainda podia sentir os braços fortes
dele me segurando, o calor do seu corpo. Quis ficar para sempre ali.
— Alguém acordou de bom humor...
Me virei assustada e vi Drake me olhando com um sorriso no
rosto.
— Os benefícios do incenso e meditação. — Dei de ombros e
ele fez uma cara de quem não estava acreditando muito naquilo.
— Sei... — ele disse em provocação e desceu comigo até a
cozinha.
Assim que chegamos, nos deparamos com Sienna cozinhando.
Ela ainda estava de pijama, usando um short branco muito curto e
uma camiseta rosa. Ela estava de costas para nós e dançava com
os fones de ouvido.
Sienna sempre fazia isso em casa, desde quando morávamos
na fraternidade. Acabamos nos acostumando a vê-la passar pelos
corredores dançando.
— Ela não desliga a pilha nunca, não é? — perguntou Drake do
meu lado, sentando na bancada atrás dela.
— Nunca — respondi, achando graça por ela ainda não ter
notado nossa presença.
Parecia que a música tinha chegado no refrão, pois ela rebolou
a bunda de um jeito bem sensual. Desceu devagar, flexionando as
coxas, todo o seu corpo acompanhava o movimento, até o cabelo
jogado para trás seguia o passo.
Senti Drake um pouco tenso do meu lado e quis muito rir, pois
ela não fazia ideia que estava nos dando uma visão privilegiada da
sua bunda. Sienna subiu devagar, rebolando de um jeito que eu
duvidei se suas nádegas não tinham vida própria. Uma banda subia
devagar e a outra ia logo em seguida, ela controlava a velocidade.
— Que porra... — resmungou Drake baixinho, segurando a
bancada com tanta força que achei que fosse quebrá-la.
Eu estava para avisá-la da nossa presença quando ela virou de
frente para nós. Sienna parou no lugar com os olhos arregalados,
ela tirou com calma os fones da orelha.
— Bom dia — disse um pouco ofegante, alternando o olhar
entre Drake e eu.
— Bom dia — cumprimentei tentando não rir.
— Só se for pra vocês — Drake falou frustrado, passando a
mão pelo cabelo.
Sienna olhou para ele com a respiração ainda pesada, ela
ergueu a sobrancelha em ironia e Drake ergueu a dele de volta. Ok,
tinha uma tensão no ar.
— Bem, eu já vou indo. — Rodeei a bancada e dei um beijo na
bochecha de Sienna antes de pegar uma maçã.
— Não vai esperar pelo café? — ela perguntou.
— Não, não quero me atrasar — menti, acenando para eles.
A verdade era que achei aquela situação engraçada e não quis
ficar ali para atrapalhar. E também sempre era bom chegar
adiantada.
 

 
O Sr. Stone não tinha marcado a aula no auditório, foi no teatro
da universidade. Por um segundo eu realmente esqueci daquela
peça, a vergonha me consumia só de imaginar me apresentar. Mas
eu era estudante de Artes Visuais, entendia um pouco de atuação,
mesmo que fosse só na teoria.
Entrei no teatro e me surpreendi ao encontrar todos os alunos
da sala sentados no chão do palco. Me aproximei um pouco
acanhada e pelo que conseguia ver, eles estavam lendo um roteiro.
— Ei, você veio!
Me virei e Derek apareceu ao meu lado com um sorriso no
rosto. Não tinha falado com ele desde o evento beneficente. Para
falar a verdade, ele mal falou comigo lá também.
— Oi. — Sorri educadamente.
— E aí? Estava sabendo da peça? Conseguiu uma vaga? — ele
perguntou se aproximando mais.
Ergui a sobrancelha surpresa.
— Eu pensei que ninguém quisesse participar. Eu sou a Julieta
— revelei, abrindo os braços de brincadeira.
— Agora que vale hora extracurricular, todo mundo quer. Você
conseguiu o melhor papel. — Ele balançou a cabeça em aprovação
para mim, abismado.
— Eu não passei por um teste... pra falar a verdade, não sou
muito boa em atuação — contei, segurando minha bolsa no ombro,
me sentindo insegura.
— Sério? Você me parece ótima. — Derek desceu o olhar para
os meus seios, como se aquilo fosse o suficiente para me fazer
atriz.
Minhas bochechas coraram imediatamente.
— Eu vou tentar dar uma olhada no roteiro — falei baixando o
olhar e me distanciando dele.
Fui para as coxias do teatro para respirar melhor, distante de
todo mundo. Estava me sentindo nervosa. Iria matar Colin por me
meter nisso.
Meu celular vibrou no bolso e o peguei para ver a mensagem
que tinha chegado. Falando no diabo...
Ódio da minha vida: Já está na aula?
Eu: Estou.
Ódio da minha vida: Eu poderia ter te deixado se tivesse me
esperado.
Eu: Você estava dormindo, não quis atrapalhar.
Ele demorou a responder e bloqueei a tela, mas logo em
seguida recebi uma foto. Colin estava no vestiário de hóquei, ele
tirou uma foto sua, com um olho aberto e outro fechado, fazendo
uma careta engraçada.
Meu Deus, que homem bonito...
Ele estava sentado em um banco, acho que trocando de roupa.
Na foto só aparecia até o peitoral nu e musculoso dele, a corrente
brilhando, o cabelo castanho iluminado. Fiquei distraída olhando
para ele que nem vi que estava digitando.
Ódio da minha vida: Essa sua obsessão por me ver dormindo
é assustadora, mas pode ficar com a foto.
Ódio da minha vida: Se quiser outras mostrando outras partes
do corpo também... posso fornecer.
Eu: O que eu faria com isso?
Ódio da minha vida: Quer mesmo que eu diga?
Eu: Melhor não.
Ódio da minha vida: Você poderia vender também, meus
nudes valem ouro.
Eu: Eu acho incrível como funciona a sua autoestima...
Eu: Ah, saiba que hoje você corre sérios riscos de dormir no
sofá.
Ódio da minha vida: O que eu fiz agora?
Eu: Me colocou pra atuar nessa peça! Meu professor mandou
todos os alunos virem pro teatro hoje, e vou ter que passar
vergonha na frente de todo mundo.
Ódio da minha vida: Eu passo vergonha com você, quando
sair do treino posso passar aí.
Eu: Você não tem aula?
Ódio da minha vida: Tenho, até 18hrs, mas posso matar
alguma.
Eu: Não tem problema, vem depois das 18hrs.
Ódio da minha vida: Vocês vão passar o dia todo atuando?
Eu: Na mensagem o professor dizia que a “atividade” iria até à
noite.
Ódio da minha vida: Então apareço depois da aula. Prometo
passar vergonha também.
Sorri para o celular ao ler a mensagem.
Eu: Você sabe o que é isso? Pensei que não tivesse vergonha
na cara.
Ódio da minha vida: Por você, eu arranjo um pouco.
Ah, Colin... como você diz coisas assim para uma pessoa
romântica e tola?
Eu: Você não tinha que estar no gelo já?
Ódio da minha vida: Tinha, já estão gritando por mim.
Ódio da minha vida: Até à noite.
Eu: Até.
Em um impulso abri a câmera do meu celular e tirei uma foto
minha fazendo bico. Saiu engraçada também, meu cabelo estava
bonito naquele dia e gostei da foto. Mandei para Colin de
brincadeira, mas logo me arrependi.
Ele visualizou e demorou a responder. Fiquei com vergonha, já
ia apagar quando ele mandou uma mensagem.
Ódio da minha vida: Você é a coisa mais linda que eu já vi na
vida.
Ódio da minha vida: Eu vou guardar ela, meu amor.
Suspirei e desliguei o celular, assim que olhei meu reflexo na
tela vi que estava com uma cara de boba. E suspirando como idiota.
— Você já incorporou a Julieta.
Ergui o olhar em susto, vendo que o Sr. Stone estava parado na
minha frente com um sorriso acolhedor no rosto.
— Bom dia, professor — cumprimentei depressa.
— Ótimo dia — respondeu animado. — Madison Jensen, certo?
O observei em choque.
— Isso mesmo — confirmei, surpresa e lisonjeada.
Eu sempre ficava calada nas aulas, era estranho saber que o
professor sabia meu nome.
— Eu queria mesmo falar com você. Tenho uma proposta pra
fazer — disse com um sorriso e aquilo chamou minha atenção.
— Uma proposta... — repeti cautelosa.
— Sim! O nosso Romeu falou tanto do seu talento naquele dia
que achei que você poderia ser a pessoa que eu estava procurando.
Ah, Colin, você vai mesmo dormir no sofá.
— É mesmo? — Forcei um sorriso.
— Escute, eu sei que o que vou pedir é muito. No entanto,
estou disposto a dar uma oportunidade de ouro também — informou
e fiquei em silêncio querendo saber do que ele estava falando. —
Vou precisar de uma pessoa experiente em Teatro pra me ajudar.
Preciso que venha em todos os ensaios, veja como o pessoal está
indo, como está o andamento, e até mesmo ajudar nessa parte mais
prática.
O encarei perplexa. Eu não entendia muito disso, era péssima.
— Vai ser um trabalho, eu sei que isso necessita tempo e
dedicação — ele continuou depressa, interpretando o meu silêncio
como uma negativa. E era, realmente. — Por isso será remunerado,
você irá receber um salário e quando passar a apresentação estou
disposto a recomendar você pra vaga de estágio na minha galeria.
MEU DEUS. Sim! Mil vezes sim! Colin, você acabou de voltar
pra cama!
— Eu aceito — falei automaticamente e o sorriso dele cresceu.
— Ah, isso é ótimo! Eu dei uma olhada nos seus quadros mais
cedo e posso dizer que gosto muito de como você coordena as
cores na tela. Capta realmente a sensação dos momentos. Tem
muito talento.
Meu coração. Ele iria sair pela boca naquele momento.
— É... é... — gaguejei. — É uma honra saber que o senhor
gostou.
— Eu agradeço demais por essa ajuda. — Ele deu tapinhas no
meu ombro ao passar por mim, dando o assunto por encerrado. —
Confesso que a maioria dos alunos não parece ter muita
experiência, você vai ser de muita ajuda na performance.
Ele foi andando para o palco e me deixou para trás com aquele
problema para lidar. Estava ferrada. “Você vai ser de muita ajuda”.
Que horrível. Meu Deus. Precisava contar a ele que não atuava,
mas também sentia uma dor no peito ao ter essa oportunidade
jogada no lixo. Precisava de um emprego e esse dinheiro resolveria
o meu problema no momento, depois talvez eu conseguisse um
estágio, o que já estava nos meus planos, para o próximo semestre.
E um estágio na galeria dele! Umas das mais renomadas. Isso
poderia me abrir portas quando me formasse. Só podia ser
brincadeira.
O que fazer? Falar a verdade? Enganar um homem gentil e
honesto que me ofereceu uma oportunidade?
Que coisa!
Peguei o meu celular de novo e digitei mais uma mensagem
para Colin.
Eu: Estou com um dilema, preciso da moeda.
Eu: O dilema também é culpa sua.
Eu: Ainda não decidi se você vai ou não dormir no sofá.
Como ele estava no treino não iria me responder tão cedo.
Guardei o celular e me escondi atrás da parede sem saber o que
fazer.
Se fosse aceitar aquilo, teria que estudar dia e noite. Eu
conseguia. Só precisava fingir alguns dias, depois disso nunca mais
teria que ver nada de artes cênicas na vida.
Era difícil coisas boas assim acontecerem comigo. Quase não
tive oportunidade nenhuma na vida, só eu sei como não foi fácil
conseguir uma bolsa na universidade. Não podia deixar isso passar.
Mas também não gostava de mentir.
Colin, como você se mete e me mete nessas coisas?
 
Colin Scott
 
Como eu me metia nessas coisas?
Assim que passei pela porta, todos que estavam no palco do
teatro se viraram para mim, alguns eu conhecia de festas. E só tinha
uma explicação para tanta gente ter se interessado de última hora, a
palavra mágica de qualquer universitário: valia ponto ou horas
extras.
Procurei meu gnomo pelos assentos, entretanto não a
encontrei. Infelizmente acabei dando de cara com alguém que não
queria mesmo ver.
— Você aqui? — Derek ergueu a sobrancelha para mim
afrontosamente.
O merdinha estava sentado ao lado de uma garota morena. Ele
levantou o olhar, surpreso e logo fechou a cara ao me ver.
— Sim. — Nem me dignei a virar na sua direção. — Estou
procurando a minha ruiva. Você a viu?
Não teria sido mais claro nem se eu tivesse mijado em cima
dela.
— Não — respondeu em um resmungo. — Ela sumiu faz um
tempo... e eu não sabia que era a sua ruiva.
O encarei firme e ergui o canto da boca em ironia.
— Por que você precisaria saber?
A garota ao lado dele me olhou de cima a baixo.
— De quem vocês estão falando? — ela perguntou interessada.
— Madison Jensen — respondi.
— Ah, ela está lá dentro. — A morena apontou para os
bastidores do teatro. — Eu a vi estudando ali mais cedo.
— Obrigado. — Pisquei em agradecimento e não olhei mais
para Derek.
Subi no palco sem atrapalhar o pessoal que estava lá e passei
por uma parte mais escura, onde ficavam as cortinas e o controle do
som e luzes. Era uma estrutura bonita e antiga da universidade.
Depois de andar um pouco achei que Madison não estivesse
por ali, foi quando a vi sentada no chão em um canto escuro, lendo
um livro.
Ah, mas que garota linda.
Madison estava com o livro aberto entre as pernas e com a
cabeça inclinada para frente, fazendo o cabelo ruivo cair em cachos
perfeitos em volta do seu rosto. Uma única luz iluminava o
ambiente, deixando tudo meio na sombra, porém permitindo
enxergá-la perfeitamente.
Me aproximei assobiando em provocação, chamando a sua
atenção.
— Você nasceu no dia 10 de outubro? — perguntei indo sentar
no chão com ela, na sua frente.
Ela ergueu o olhar para mim e me deu um sorriso alegre,
contente por me ver. E aquele sorriso fez o meu dia, iria guardá-lo
só para mim.
— Não, por quê?
— Porque você é dez de dez — joguei e ela me encarou por um
tempo, perplexa.
— Se continuar assim, você vai morrer solteiro. — Ela balançou
a cabeça em divertimento.
— Eu vou te falar a verdade. — Me inclinei na sua direção e ela
se inclinou também, interessada em me ouvir. — Até poderia ficar
comigo mesmo, mas vou deixar essa oportunidade pra você.
Ela revirou os olhos, rindo.
— Ai, Colin... — Suspirou, me olhando. — Como você consegue
me fazer te odiar e rir ao mesmo tempo?
— Fácil, você nunca me odiou. — Dei de ombros, me
encostando na outra parede à sua frente e esticando as pernas.
— Não... — Ela me encarou pensativa. — Eu odeio
principalmente não conseguir te odiar. Nem mesmo por um
segundo.
Conhecia aquela citação. A olhei com a mesma intensidade.
— Nem mesmo só por te odiar — completei e ela estreitou os
olhos surpresa.
— Você conhece? O filme “10 coisas que eu odeio em você”?
— Sou o Romeu — Pisquei para ela. —, preciso conhecer as
adaptações de Shakespeare.
— É uma das minhas favoritas — ela disse, passando as
páginas do seu livro. — Adoro como eles começam se odiando e
depois descobrem que era algo a mais.
— Ele não a odiava — me peguei dizendo, observando como o
seu dedo passava distraidamente pelas páginas. — Ela também
nunca o odiou.
Ficamos olhando para o livro, quase hipnotizados pelas
páginas. Talvez eu estivesse com medo do que ia encontrar se a
encarasse. E ela também.
— É Romeu e Julieta — ela contou baixinho, passando o dedo
pelo papel e eu assenti em silêncio.
— Estudando o personagem?
— Sim, precisamos fazer isso direito — ela disse, finalmente
erguendo os olhos e aquele verde esmeralda me atingiu. — Temos
que fingir bem.
— Fingir bem... — repeti, inclinando a cabeça de lado sem
conseguir tirar os olhos dela, observando cada traço do seu rosto.
— Sim. — Ela engoliu em seco.
Observei a pele macia do seu pescoço e quis muito aproximar o
nariz dali, inspirar o cheiro dela e sentir os seus pelinhos se
arrepiarem. Respirei fundo para não ficar de pau duro só por estar
perto dela.
Levantei em um impulso e estendi a mão para ela, a chamando
para ficar de pé.
— Então vamos começar — chamei e ela não tirou os olhos de
mim, presa.
Quando sua mão tocou a minha senti um arrepio passar pelo
corpo, uma energia que exalava dela. Era uma pureza que me fazia
querer segurá-la nos braços e não soltar nunca mais.
— Vamos — concordou com as bochechas coradas. Ela se
levantou, colocando o livro dentro da bolsa e puxando o roteiro
impresso.
Seguimos para mais perto do palco, onde o pessoal ensaiava.
Nós ficamos no canto, atrás das cortinas grandes, onde ninguém
poderia nos ver. Sozinhos.
— Precisamos entender a história primeiro. — Madison deu
uma olhada no roteiro e foi para a minha frente.
Ela acabou ficando na mira do canhão de luz do teatro, que
estava apontando para os bastidores. Alguém deveria ter esquecido
de desligar, mas naquele momento não me importei em avisar. Eu
perdi o fôlego por um segundo.
  Sempre achei os seus cachos perfeitos, porém ali, sob a luz,
eles brilhavam tanto que pareciam raios de sol. As suas sardas na
ponta do nariz me faziam querer apenas ficar parado, olhando para
elas o dia todo. Madison apertou os olhos por conta da luz e quando
finalmente os abriu completamente... puta que pariu! Aquele verde
esmeralda ficou tão iluminado que minhas mãos coçaram para
segurar o seu rosto e beijar, em reverência, cada pedaço dela.
— Podemos começar pela parte em que eles se viram pela
primeira vez — ela sussurrou para mim um pouco nervosa. — É
onde começa a nossa interação.
Apenas assenti debilmente, sem conseguir pronunciar uma
palavra coerente. Ela respirou fundo e olhou para o papel em suas
mãos.
— Ele a viu à distância, e assim que botou os olhos nela...
— Ficou sem chão — interrompi-a, fazendo ela erguer os olhos
para mim. Me aproximei devagar, sem conseguir resistir. — Ele a
quis... mais do que qualquer coisa que já tenha pensado em querer
na vida — sussurrei como se contasse um segredo e ela entreabriu
os lábios para deixar o ar pesado sair. — Era como se um pedaço
da sua alma estivesse solto pelo mundo e ele nem soubesse que o
tinha perdido.
Ela encarou cada canto do meu rosto e sua respiração ficou
ansiosa, apreensiva.
— Depois disso, ele ficou tão obcecado que a observou de
longe — continuei, dando mais um passo para frente.
Pensei que a pequena fosse dar um passo para trás, mas ela
ficou parada, apenas me esperando chegar. Madison ergueu o
canto da boca, em um meio sorriso.
— Ele a via pela varanda, procurando por ela — completou,
colocando um cacho ruivo atrás da orelha.
— Parecia que o coração dele só voltava a bater direito quando
a via — contei, sentindo um aperto no peito. Queria chegar mais
perto, pegá-la para mim e enterrar o rosto no seu pescoço macio. —
Ficar olhando-a era tão bom que ele jurou que aquilo pudesse ser o
suficiente. Jurou de corpo e alma que jamais iria querer mais.
— Ele quis tudo — ela continuou, ofegante.
Sim, ele quis tudo.
— Ela era tão perfeita... — murmurei tocando o seu rosto, ela
fechou os olhos e mordeu o lábio inferior, quase reprimindo o desejo
de se deixar ser acariciada. — Não tinha como resistir.
Madison engoliu em seco e acenou com a cabeça, sem abrir os
olhos. Ela soltou o lábio que prendia e ele pareceu brilhante pela luz
do canhão. Passei o polegar pela sua bochecha macia e quente, ela
suspirou e nunca fiquei tão hipnotizado por algo na vida.
Por que você tinha que fazer isso comigo, pequena? Por quê?
— O que ele fez? — perguntei, segurando o seu rosto com um
cuidado e zelo que eu nem sabia existir em mim. — Quando a
conheceu.
Alisei o canto dos seus olhos, a incentivando a abri-los. E ela
obedeceu. Madison abriu aqueles olhos e eu soube ali, que talvez
daqui a dez anos ela não se lembraria nem mesmo do meu nome,
só que eu guardaria o jeito que a minha pequena me olhou naquele
instante.
Seria uma lembrança que levaria comigo. Um pedaço dela.
Poderia ser o suficiente.
— Ele a beijou — ela pronunciou as palavras com calma.
Era demais. Não consegui. Me inclinei na sua direção com um
medo pesando no meu peito, sabendo que se fizesse aquilo não
teria volta. A corrente fria ao redor do meu pescoço avisava, porém
eu não me importava em cair. Estava me jogando do penhasco.
Então eu finalmente beijei Madison Jensen.
A puxei para mim e toquei os lábios nos seus sutilmente. Senti
todo o meu corpo se arrepiar, e o dela se derreter nos meus braços.
Segurei o seu pescoço, enterrando os dedos naqueles cachos e a
trazendo para mais perto, pressionando os seus seios no meu
peitoral.
Madison entreabriu os lábios, quase me suplicando para
experimentar a sua boca. Passei a língua vagarosamente no seu
lábio inferior, provando o gosto delicioso dele, e o peguei entre os
dentes, o sugando. Ela gemeu e suas mãos foram para o meu
pescoço, me puxando mais para si.
Desci minha mão pela sua cintura, sentindo as curvas do seu
corpo e a ergui com um único braço, a trazendo para ficar na minha
altura. Madison ofegou surpresa, e enfiei a língua na sua boca doce
e quente.
Senti a sua língua tímida tocar a minha, e isso foi suficiente para
fazer o meu pau ficar muito duro, quase sufocado. A apertei mais e
pelo jeito como ela gemeu manhosa na minha boca, tinha certeza
que estava melada.
Meu braço a segurava com tanta segurança e aquilo parecia tão
certo, quase doeu saber que teria que soltá-la em algum momento.
Se pudesse, a carregaria comigo assim.
Madison enterrou os dedos no meu cabelo e abri minha boca
para receber os seus gemidos e a sua língua, querendo tudo dela. A
pequena chupou o meu lábio, prendendo entre os seus, e a imaginei
fazendo exatamente aquilo com o meu pau.
Existiam beijos que te deixavam excitado, beijos que você
sentia a outra pessoa gostando, se derretendo, mas aquilo... Foda-
se! Era a porra de uma conexão.
Era a própria química exalando e se derramando à medida que
eu me aproximava mais.
Puxei o seu cabelo para segurá-la no lugar enquanto tirava e
metia a língua naquela boca gostosa, a fazendo ofegar e enlaçar as
pernas ao redor da minha cintura. Minha ereção roçou nela e isso a
fez gemer mais ainda, antes de me puxar para mais perto.
Segurei a sua bunda para mantê-la no lugar e isso parece que
fez minha pequena voltar à realidade. Eu percebi o seu corpo
derreter nos meus braços, ela me abraçou, sabendo que tínhamos
que nos separar.
A abracei de volta, forte, a prendendo. Não iria soltá-la. Não iria.
Me recusava.
A beijei uma última vez antes de Madison encostar a testa na
minha e segurar o meu rosto entre suas mãos, ofegante. Rocei meu
nariz no seu, querendo qualquer contato. Minha respiração se
misturando com a sua, e a tensão no ar.
Quando ela se afastou, só o suficiente para me olhar, eu senti o
tempo parar. Tinha confusão nos seus olhos, ela estava perdida.
Tinha dor, prazer, ansiedade e algo a mais.
Se existia mesmo magia nesse mundo, ela estava nessa
energia que exalava entre nós.
— É isso... — ela falou meio triste e isso fez meu coração doer.
— É exatamente isso. — Continuou tocando o meu rosto com
carinho.
Segurei a sua mãozinha calejada e perfeita que me acariciava e
a beijei, sem entender do que ela estava falando.
— “Isso” o quê? — perguntei a olhando atentamente, e ela me
deu um sorriso melancólico.
— O jeito que você está me olhando agora. — Seus olhos foram
para o meu peito, como se não estivesse com coragem de me
encarar. — Você está indo bem.
Teve algum dia em que eu não te olhei desse jeito?
— E como eu estou olhando? — perguntei, mesmo que
estivesse com medo da resposta.
Suas bochechas coraram e ela continuou sem me olhar, sem
jeito e envergonhada.
— Como se estivesse apaixonado por mim — sussurrou e eu
senti uma vontade absurda de abraçá-la.
Madison desenrolou as pernas da minha cintura, querendo que
eu a colocasse no chão, mas não o fiz.
— Por que você está triste? — perguntei com cuidado.
— É que você fez tão bem... por um segundo achei que fosse
real. — Ela fechou os olhos por um momento e uma única lágrima
escorreu pelo seu rosto. Aquilo me quebrou.
Queria lhe proteger, nunca deixar qualquer coisa machucá-la.
Preferia ser cortado ao meio do que vê-la chorar. Encostei a testa na
dela como se aquilo pudesse tirar tudo, o que ela estivesse
sentindo, e transferir para mim.
Não existe nada mais real do que a forma como te olho.
— Ah, meu amor, te ver chorar é o mesmo que me matar —
revelei, me sentindo estrangulado.
A apertei em um abraço e beijei a sua testa com carinho.
Madison me olhou surpresa.
— Eu gosto quando você me chama assim — contou, a ponta
do seu nariz estava vermelha, a deixando adoravelmente linda.
Sorri para ela.
— Vou sempre te chamar assim, meu amor — determinei,
dando um beijo na ponta do seu nariz e segurando o seu rosto.
Ela suspirou ao sentir o beijo.
— Desculpa por isso — pediu, encostando a cabeça no meu
ombro, como se quisesse esconder o rosto. A coloquei no chão,
porém continuei a abraçando. — Devo estar na TPM.
Beijei o seu cabelo e apertei o meu amor com cuidado. Se
pudesse a colocaria dentro de mim, em segurança.
— Por me agarrar? — brinquei, cheirando os seus cachos. —
Não tem que se desculpar, eu sempre soube que tinha uma queda
por mim.
Ela ergueu o rosto para mim com uma cara de tédio.
— Você não tem jeito — repreendeu com bom humor e revirou
os olhos. Ela encarou a minha corrente e pegou o pingente, pedindo
permissão. — Preciso da moeda.
— Você pode usá-la sempre. — Beijei a sua testa uma última
vez ao me afastar.
Tirei a moeda do pingente e entreguei a ela. A pequena fechou
os olhos, parecendo fazer uma pergunta em silêncio e jogou a
moeda para cima. Ela a pegou no ar e colocou na sua outra palma.
Deu cara.
— “Cara” é sempre sim — repeti e Madison suspirou.
— Seu destino está me metendo em uma confusão — ela
confessou, me devolvendo a moeda.
— Ele costuma fazer isso comigo também. Em que confusão
ele te meteu?
Madison me explicou a situação com o seu professor e eu não
sabia se ria ou se sentia pena dela.
— E isso tudo é culpa sua — acusou depois de contar tudo,
indo pegar a sua bolsa para irmos embora.
— Veja bem, você vai conseguir um estágio — lembrei o lado
positivo.
— Mas eu não sei atuar...
— A gente aprende — provoquei com duplo sentido e percebi
que ela estava se lembrando do beijo, pois ficou quieta e caminhou
em silêncio ao meu lado.
Ela ainda pensava que eu estava atuando. O que foi aquilo para
ela? Só um momento? Madison não queria nada comigo, ela já tinha
deixado isso claro tantas vezes que já era para eu ter entendido.
— Colin Scott? — alguém me chamou e olhei por cima do
ombro para ver quem era.
O professor da Madison.
— Podemos falar por um segundo? — ele pediu, segurando
uma pasta.
— Claro. — Puxei Maddie pela cintura e dei um beijo na sua
testa antes de me afastar. — Me espera aqui, pequena.
— Tá bem — ela murmurou debilmente, um pouco em choque
pelo gesto de carinho em público.
Revirei os olhos. Se ela soubesse que por mim só andaríamos
de mãos dadas...
 Ah, pequena, o que você fez comigo?
 
Madison Jensen
 
O Sr. Stone provavelmente estava falando dos horários dos
ensaios para Colin. Observei os dois de longe e me encostei na
parede, sentindo o meu coração disparar.
Foi real? Era só encenação? Brincadeira?
— Ei, linda. Você sumiu.
Derek apareceu do meu lado e ergui os olhos para ele, sem
saber de onde ele tinha surgido. Logo atrás, o pessoal também já
estava indo embora.
— Ah, eu estava lá dentro. — Apontei para os bastidores.
— Fiquei sabendo — ele murmurou em uma expressão um
pouco chateada. — Então, estava pensando em irmos comer
alguma coisa agora. Com fome?
Estava faminta, contudo, preferia comer em casa. Além disso,
não queria sair de novo com Derek, não sentia que tínhamos
química. Como não queria ser grosseira, inventei uma desculpa.
— Desculpa, é que a minha amiga está fazendo o jantar pra
todo mundo e seria uma desfeita comer em outro lugar. — Sorri para
ele, encolhendo os ombros.
— Oh, eu podia ir com você — se ofereceu. — Não iria
atrapalhar, a gente poderia dar uma olhada nas falas depois. Sr.
Stone disse que você ajudaria o pessoal.
Coloquei uma mecha atrás da orelha sem saber como sair
daquela situação. Foi meio inconveniente ele se convidar assim, e
meio que eu já estava obrigada a ajudá-lo com a peça.
— A casa está bem cheia, você sabe, com a reforma...
— Não me importo, eu só queria passar um tempo com você —
me interrompeu e aquilo parecia ser a coisa que toda a garota
gostaria de ouvir.
  Contudo, aquilo não me tocou em nada. Mesmo assim fiquei
sem jeito de inventar outra desculpa, ele poderia ficar magoado e eu
não queria isso.
— Ah, claro. Vamos adorar te receber lá — convidei por
educação.
— Receber aonde? — a voz de Colin se sobressaiu, zangada.
Virei para ele e senti uma vontade estranha de abraçá-lo. Eu
gostava de contato, entretanto não me lembrava de ter sentido essa
necessidade de tocar alguém só por estar perto.
— Derek vai lá pra casa — soltei de uma vez e a expressão de
Colin foi ininteligível.
Ele só levantou o olhar para Derek e fingiu um sorriso nada
amigável.
— Perfeito — foi tudo o que ele disse antes de pegar minha
mão e entrelaçar nossos dedos.
Algumas pessoas olharam para o gesto com espanto. Eu
também. Parecia que estávamos juntos.
Ele não estava se importando. E eu também não me importaria.
Entrelacei os dedos nos dele e acenei para Derek em despedida,
antes de ir caminhando até o carro de Colin.
Gostei demais de sentir suas mãos, sua boca, sua língua... que
inferno.
Por favor, Colin, não me machuca.
Madison Jensen
 
Assim que abri a porta da casa, encontrei Tyler jogado no sofá
tragando um baseado.
— Temos visita! — avisei para ele, indicando para esconder sua
maconha.
— Quem? — Tyler perguntou sem muito interesse.
— A polícia — debochou Colin mal-humorado, entrando na casa
junto comigo.
Tyler se levantou assustado e revirei os olhos.
— É um amigo meu — o acalmei e fui até a cozinha. — Si —
chamei, olhando em volta.
Sienna estava montando nossa mesa de jantar. Ela ergueu o
olhar para mim com um sorriso.
— Boa noite, meu bem.
— Mais uma pessoa vem comer aqui hoje — avisei em um tom
de desculpa e seu sorriso morreu.
— Aqui? — Ela apontou para a casa, alarmada.
— Sim — confirmei, entendendo a sua preocupação.
— Tyler, você escondeu...
— Não tem com o que se preocupar! — Tyler entrou na cozinha,
interrompendo Sienna. — Escondi os afrodisíacos no potinho de
bombons da sala.
Sienna lhe lançou um olhar cético, mas logo limpou as mãos na
saia.
— Certo, então me ajuda aqui a arrumar a mesa — ela pediu e
fomos ajudá-la a pegar os pratos.
— Já está pronto? — Amber perguntou, colocando a cabeça
para dentro da cozinha. — Estou morrendo de fome...
— Prontinho. — Sienna piscou para ela. — Pode chamar o
pessoal.
Amber sorriu empolgada.
— GENTEEE! O JANTAR ESTÁ PRONTOOOO! — gritou
Amber, tão alto que senti meus ouvidos coçarem um pouco.
Pouco tempo depois todos chegaram, ansiosos. Até poderia se
pensar que não viam comida há meses.
— Hummmm... — murmurou Taylor em aprovação, sentando-
se. — O que é hoje?
— Camarão — respondeu Sienna, sentando com elegância à
ponta da mesa. — Não vão se acostumando, quando a gente voltar
pra casa eu não vou ficar fazendo jantar pra vocês.
— Graças a Deus que estamos esperando os ovos chocarem —
lembrou Colin, já se inclinando para fazer seu prato, porém me
curvei para frente e espetei a sua mão com o meu garfo.
— Estamos esperando visita — o recordei e várias cabeças se
viraram para mim.
— Quem? — perguntou Scar.
— Quem? — Johnny franziu a testa, curioso.
— Quem? — Amber olhou em volta como se a pessoa
estivesse escondida em algum lugar.
— Eu não gosto de receber visita — resmungou Taylor.
— Eu não gosto de dividir comida — avisou Drake.
— Eu não gosto de ficar olhando pra comida sem poder comer.
— Tyler suspirou.
— Eu não gosto da visita — revelou Colin.
— É só um...
A campainha tocou, me interrompendo e me levantei para
atender, deixando-os curiosos. Abri a porta para Derek e ele me
saudou com um sorriso.
— Ei, você demorou um pouquinho — falei com simpatia, dando
espaço para ele entrar.
Derek estava segurando uma sacola.
— Eu trouxe alguns chocolates pra você. — Ele estendeu a
sacola para mim e eu sorri agradecida.
— Obrigada! — Indiquei o caminho e fechei a porta.
Chegamos na cozinha e vi que todos estavam com as cabeças
inclinadas, tentando ver quem era.
— Pessoal, esse é o Derek — apresentei e cada um o olhou de
cima a baixo. Colin só ergueu a sobrancelha cinicamente.
— Você é o cara que saiu correndo daqui naquele dia! — Scar
se lembrou, estalando os dedos.
— Sim, cara, você melhorou? — perguntou Drake, preocupado.
— Estava com um problema de estômago.
Sentei na cadeira e Derek se sentou ao meu lado, olhando para
Drake com confusão. Me senti péssima por não ter perguntado
sobre a sua saúde, entretanto suspeitava que isso não passava de
uma invenção da criatura que estava à minha frente.
— Como é? — perguntou Derek.
— Sim! Você saiu daqui correndo pra ir ao banheiro — Colin fez
questão de informar. — Espero que a comida não te faça mal —
disse de um jeito que era quase como se ele estivesse torcendo por
isso.
— Oh! — Derek pegou na própria barriga, ainda um pouco
perdido. — Obrigado, eu acho.
— Podemos comer? — questionou Tyler, entediado.
— Sim — cedeu Sienna.
Eles se serviram e eu coloquei no meu prato carne de soja com
purê de batata. Minha amiga sabia da minha dieta vegetariana e
tinha a gentileza de sempre fazer algo para me incluir nas refeições.
Ela não tinha nenhuma obrigação, mas fazia, e isso me deixava com
o coração quentinho.
— Então, Derek... — começou Colin, com um sorriso no rosto.
— O que você veio fazer aqui mesmo?
Arregalei os olhos para ele e quase me inclinei para espetá-lo
de novo. Que grosseria.
— Eu vim passar um tempo com a Maddie — Derek respondeu
sem se abalar, sorrindo para mim e estendendo o braço para
descansá-lo atrás da minha cadeira.
Me esquivei involuntariamente, tentando escapar do toque.
Colin apenas olhou o braço de Derek jogado atrás da cadeira e
ergueu, ameaçadoramente, a sobrancelha para ele.
— Eu estou me sentindo um pouco tonta. — Scar massageou a
testa e a analisei com preocupação.
— Eu também — Drake disse, meio zonzo.
— Meu Deus, será o camarão? — Sienna se virou para o prato,
nervosa.
— Eu estou bem — Johnny informou, colocando mais um
pedaço na boca.
— Eu também — disse Amber, dando de ombros.
— Talvez Derek tenha passado alguma coisa pra vocês. —
Colin apontou o garfo para o convidado e todos viraram para Derek
com desconfiança.
— Eu não tenho nada. — O pobre coitado ergueu as mãos.
— Não é bom você ficar muito próxima dele, Madison — Colin
aconselhou sorrateiramente.
Balancei a cabeça em negação para ele.
— Estou muito bem, Colin. Obrigada — disse entredentes,
sabendo muito bem que ele queria constranger Derek.
— Mas todos nós sabemos que você tem alergia a camarão —
mentiu Colin.
De onde ele tirava essas coisas?
— De onde você tirou...
— Querida! Eu não sabia disso. — Sienna estudou o meu rosto
com apreensão.
— É mentir...
— Ela já está começando a ficar vermelha. — Amber apontou
para o meu rosto.
Deveria estar vermelha mesmo, todavia era por que todo mundo
estava olhando para mim.
— Você está bem? — Derek se virou para mim atenciosamente,
querendo tocar o meu rosto.
— Não toque nela — ameaçou Colin zangado, dando um susto
em todos. Ele paralisou no lugar ao se dar conta de que estávamos
olhando para ele e se ajeitou calmamente na cadeira. — Madison já
está passando mal, pode ficar pior se pegar a sua doença.
— Que doença? — Derek balançou a cabeça, perdido.
— Nossa... — Scar murmurou debilmente.
— Nossa... — repetiu Drake no mesmo tom.
— Você chegou a comer o camarão? — perguntou Tyler para
mim, preocupado.
— Você não é vegetariana? — questionou Derek e eu abri a
boca para responder, só que Colin falou por cima.
— Deus, ela está ficando ainda mais vermelha! — Colin fez um
alarde e quis matá-lo.
— Eu estou bem, não sou alérgica a camarão — falei enfezada,
sem tirar os olhos do cínico à minha frente.
— Não brinque assim com a sua saúde — repreendeu Colin de
um jeito sério, que fez cada um ali acreditar nele.
— Meu Deus, devemos ir ao hospital? — Taylor já ia se
levantando.
— Você está bem mesmo? — Johnny estreitou os olhos, me
observando.
— Claro que estou, isso é coisa do Colin. — Apontei para o
louco.
— Nossa... — disse Drake de novo, com uma cara meio
chapada.
— Você está muito perto do camarão — disse Colin com
sabedoria. — Vamos todos mudar de lugar. — Ele se levantou e
pegou o seu prato, forçando todos a pegarem o próprio prato e
mudarem para a cadeira ao lado.
— Isso é ridículo — tentei falar, mas Amber pegou o meu prato
e o colocou no lugar do dela, enquanto se mudava para a próxima
cadeira.
— Com a saúde não se brinca — cantarolou Amber, parecendo
se divertir com aquele rodízio.
— Você está mesmo bem? — Johnny se inclinou, tentando me
ver melhor.
— Eu nem como camarão...
— Uma vez eu conheci uma pessoa que morreu comendo
camarão — Colin me interrompeu novamente e todos na mesa
pararam com os garfos a caminho da boca.
— Ela se engasgou? — Tyler perguntou, temeroso.
— Não — informou Colin. — Levou um tiro, só que estava
comendo camarão na hora.
O encaramos em silêncio.
— Chocante... — Drake murmurou meio distraído.
— Nossa... — disse Scarlett mais uma vez.
— Vocês têm certeza que estão bem mesmo? — Derek olhou
para Drake e Scar com preocupação.
— Deve ser a corrente de ar. — Colin apontou para a janela
aberta.
— O quê? — Johnny franziu a testa.
— Corrente de ar? — repeti em deboche.
— Sim, eu soube que algumas pessoas no campus andaram
ficando adoecidas por conta disso — mentiu e apenas balancei a
cabeça para ele. Era inacreditável. Tão inacreditável que me
perguntava como alguém conseguiu acreditar. — Deveríamos
mudar de lugar — aconselhou, levantando da mesa com o seu prato
e obrigando todos a seguirem a dança da cadeira de novo.
— Meu Deus — murmurou Derek, carregando o seu prato para
a próxima cadeira. — Todos os dias os jantares são assim?
— Oh não! — respondeu Amber com bom humor. — Ontem nós
comemos lasanha.
Johnny riu e beijou a cabeça dela com carinho. Drake soltou um
soluço tão alto que nos assustou.
— Vocês são lindos... — Scarlett sorriu para nós.
— Vocês andaram usando alguma coisa? — Taylor perguntou
para eles.
— Não — Drake negou, enfiando o garfo na mão do Tyler.
— Ai! — Ele deu um pulo com a espetada.
— Oh... — Scarlett começou a rir.
É, eles tinham usado alguma coisa.
— É essa corrente de ar — insistiu Colin, convicto.
— Meu Deus do céu! — Olhei para ele sem acreditar que ia
continuar insistindo naquilo.
— Conheci pessoas que morreram disso — continuou Colin.
— Você conhece muitas pessoas que morreram, não? —
zombei.
— Deveríamos mudar de lugar — Colin avisou, se levantando
novamente e Tyler o seguiu, forçando cada um a mudar de cadeira.
— Eu já estou tonto — disse Taylor, passando para a próxima
cadeira com o seu prato.
— Já chega disso! — Johnny resmungou para Colin, irritado.
Quando pensei que ia finalmente poder comer em paz, Drake
jogou a cabeça para trás e simplesmente dormiu. Nós o olhamos em
choque. Tyler deu dois tapinhas no rosto dele, mas parecia
apagado.
— Tinha alguma coisa nos bombons da sala — disse Scar,
relaxada demais.
Me virei para Tyler e ele ergueu as mãos.
— Vai passar daqui a pouco — ele garantiu.
— Então, Derek... — Colin se virou para Derek, sem se importar
com o amigo morto. — O que você quer com o nosso gnomo?
Senti minhas bochechas corarem. Meu Deus, que pessoa
inconveniente!
— Gnomo? — Derek se virou para mim e me analisou,
parecendo medir minha altura. — Maddie não é tão baixa assim.
Ah, que gentileza... Sorri agradecida, porém Colin gargalhou e
me virei para frente com ódio. Alguém vai dormir no sofá hoje.
— Olha, você é engraçado. — Colin limpou o canto dos olhos e
ergui o dedo do meio para ele.
— Sério — insistiu Derek. — Você deve ter um metro e
sessenta, no mínimo.
Aquilo fez o meu dia.
— Ah, obrigada! — Sorri contente. — É bem próximo disso, na
verdade tenho um e cinquenta e sete.
Quando me virei para a frente percebi que todos à mesa se
calaram, concentrados nos próprios pratos. Colin respirou fundo,
mas em algum momento ele soltou outra gargalhada.
Mais alta dessa vez.
O pior de tudo foi Amber, que o acompanhou.
— O quê? Acham que eu estou mentindo? — perguntei,
olhando para cada um com raiva.
— Nunca... — Colin colocou a mão na barriga, se recuperando
da risada. — Tem dias que chego a achar que você tem um e
oitenta.
Ele riu mais e Amber gargalhou descontroladamente.
— Pois saiba que é verdade! — aleguei, apontando meu garfo
na sua direção. — Eu me medi com Sienna, ela que viu a minha
altura. — Todos se viraram para Sienna, que estava olhando para o
seu prato com muito interesse. — E Sienna não mente — fiz
questão de acrescentar.
Sienna ficou vermelha.
— Sienna, Sienna... — Colin estalou a língua provocativamente
para ela. — Que feio, hein.
Sienna estreitou os olhos para Colin, forçando um sorriso.
— Não sei do que você está falando — ela disse, o ignorando e
voltando a comer.
— Isso realmente não é importante... — Johnny tentou ajudar
em consolo.
— Sim — concordou Colin. — Todos sabemos que você mede
um e quarenta.
Aí já chega!
— Pegue a fita métrica — disse decidida, sem desviar o olhar
daquele cretino.
— Isso é mesmo necessário? — Sienna perguntou para nós
dois.
— Podemos deixar isso de lado? — sugeriu Johnny de maneira
sensata.
— Não, Johnny. — Colin se levantou sério e imponente. — É
bom resolvermos de uma vez por todas essa questão.
Johnny revirou os olhos.
— Eu pego a fita métrica. — Amber se dispôs animada,
levantando e saindo da cozinha.
— Mas pra quê isso? — Derek perguntou sem entender.
— Ela tem um complexo de altura. — Scarlett apontou para mim
com o seu garfo e iria desculpá-la só porque não estava no seu
normal.
— Eu não tenho um complexo de altura — neguei, me
levantando quando Amber voltou com a fita.
Colin rodeou a mesa e eu me coloquei de costas para a parede,
erguendo os ombros. O movimento fez com que os meus seios
ficassem mais à mostra e Colin os secou descaradamente.
— É a minha altura que você está medindo aqui — lembrei-o
com repreensão.
Colin piscou em divertimento e colocou a fita ao meu lado.
— Aqui está a resposta que todos queríamos saber — ele disse
e todo mundo correu, ansiosos para olhar minha altura.
Menos Drake, coitado, que continuava dormindo na cadeira.
— E então? — perguntei observando a cara que estavam
fazendo.
— Bem... podemos atestar que Sienna mente sim — Amber
provocou e Sienna a beliscou.
— Você tem exatamente um e cinquenta e cinco — disse Tyler,
ainda comendo seu camarão. Ele tinha trazido o prato junto.
— Quero saber o que aconteceu com os dois centímetros a
mais. — Colin coçou a barba por fazer, abismado e arranquei a fita
métrica da sua mão.
— Você vai dormir no sofá! — decidi, saindo dali e seguindo
para o nosso quarto.
Ele veio atrás.
— De novo?
— Sim! — Abri a porta e fui direto para a sua gaveta de cuecas.
— Mas que culpa eu tenho se você perdeu dois centímetros? —
provocou com um sorriso inocente no rosto.
— Toda! — Comecei a jogar as cuecas nele e o empurrei para
fora do quarto.
— Olha, essa sua obsessão pelas minhas cuecas está ficando
estranha. Eu vou dar umas pra você de consolo.
Não ia cair naquilo. Ele queria que eu ficasse ali brigando, no
entanto respirei fundo, tentando me conectar com a minha paz
interior. Passei por um Colin coberto de cuecas e desci novamente
para a cozinha.
— Eu nunca tive um jantar assim em toda a minha vida —
contou Derek assim que entrei.
— Sério? Nunca comeu camarão? — Amber franziu a testa,
impressionada.
— Eu me estressei à toa — falei, me sentando de novo à mesa,
arrependida por ter caído na provocação de Colin. — Não deveria
ter dado corda pra ele.
Colin entrou na cozinha carregado de cuecas.
— Vai dormir no sofá de novo? — perguntou Johnny com um
sorriso no rosto, achando graça.
— Parece que sim. — Colin se encostou na parede atrás de
Derek, cruzando os braços.
— Vocês dormem no mesmo quarto — Derek comentou, não
como uma pergunta, porém estranhando aquilo.
— Você foi lá em cima naquele dia — lembrei ele.
— Isso, nós dividimos a cama — enfatizou Colin e arregalei os
olhos.
— Cada um do seu lado — esclareci depressa, antes que
pensassem outra coisa.
— Então... — Derek se levantou, passando a mão no cabelo. —
Eu já vou indo.
Suspirei aliviada.
— Não, Derek... — Colin balançou a cabeça, fingindo decepção.
— Estávamos esperando que ficasse até a sobremesa.
— Ah, se insiste... — Derek ia se sentando novamente, mas
Colin o puxou pela camisa de volta.
— Só que não é bom você ficar muito tempo aqui, pode passar
alguma coisa a alguém — informou Colin, levando Derek consigo
até a porta.
Segui atrás deles.
— Até, Derek. — Acenei para ele em simpatia.
— Até. — Ele acenou de volta antes de Colin fechar a porta na
sua cara de uma vez.
— Que cara chato — murmurou Colin, se virando para mim. —
Por que você o convidou?
— Eu não o convidei, ele insistiu em vir. — Dei de ombros. — E
você não precisava ser grosseiro assim.
Ele parou na minha frente, zangado.
— Ele estava dando em cima de você — constatou, apontando
para a porta. — Teve o atrevimento até de colocar o braço atrás da
sua cadeira!
— E o que você tem com isso? — perguntei erguendo a
sobrancelha.
Eu não queria nada com Derek, já tinha decidido isso. Mas
também queria que Colin me falasse. Foi real? Senti um aperto no
peito e minhas mãos suaram. Precisava que ele dissesse alguma
coisa. E nem sabia o que era.
Ficamos nos olhando em um silêncio tenso.
— Tem razão, não tenho nada com isso. — Ele se virou
chateado, dando por encerrada a nossa conversa. — Vou ficar logo
por aqui. — Apontou para o sofá e aquilo, de alguma forma, doeu.
O que ele queria? Estava querendo brincar comigo? Era uma
provocação? Um jogo?
Baixei os olhos e fui para o quarto. Estava cansada, só queria
dormir. Tomei um banho demorado com direito a cabelo lavado,
coloquei uma camisola curta e abri a janela para me sentar nela.
Peguei meu bloquinho e preenchi minhas metas para o dia
seguinte.
 
1. Elogiar a Amber.
2. Abraçar a Scar quando ela não estiver esperando.
3. Dizer que amo a Sienna.
4. Agradecer pelas coisas boas da minha vida.
5. Olhar o céu.
6. Rir por qualquer besteira.
7. Encontrar o amor da minha vida.
8. Fazer carinho nos cachorros.
9. Não ser grosseira com ninguém (Abre uma exceção
para Colin).
10. Não odiar tanto assim o Colin Scott.
11. Não pensar em Colin Scott.
12. Não deixar que Colin Scott domine minha lista.
 
  Contudo, ele sempre dominava. Olhei as minhas outras listas
no bloquinho e constatei abismada que todas tinham esse maldito
tópico. Até mesmo a lista de exigências para o amor da minha vida
era meio que descrevendo uma pessoa totalmente oposta a ele!
Suspirei frustrada e olhei para cima. O céu estava limpo, sem
nuvens, as estrelas bem à vista. Eu queria esquecer aquilo, mas
mesmo depois de anos, as palavras ainda sopravam vivas na minha
mente.
— Não precisa procurar pelas estrelas, elas simplesmente vêm
até você toda noite — sussurrei para elas.
Colin Scott
 
Todo mundo já tinha ido dormir.
Eu tirei minha camiseta e fiquei apenas de calça jeans no sofá
da sala. Encarei o teto e segurei o pingente que descansava no
meio do meu peito.
— Obrigado por ter me levado até ela — agradeci sabendo que
dentre todos os caminhos, ele escolheu aquele para mim.
Ela ficou magoada. Foi aquilo, aquele breve brilho nos seus
olhos que me acendeu uma esperança. Um talvez. Um quase.
Olhei para as escadas e apertei mais o pingente na minha mão.
Desculpa, mas dessa vez eu vou ignorar de novo os seus
conselhos.
Respirei fundo e me levantei. Caminhei até o quarto crendo que
provavelmente minha pequena deve estar dormindo. Abri a porta,
porém parei no lugar ao ver que ela estava sentada na janela com
uma camisola rosinha curta.
A luz do quarto estava apagada, só que era possível vê-la pela
claridade da noite que entrava no quarto através da janela aberta.
Madison olhou para mim e senti uma sensação estranha no fundo
do meu peito.
Como se estivesse tendo um déjà vu.
— Eu acabei de ter um déjà vu — disse sem desviar o olhar e
ela inclinou a cabeça de lado, curiosa. O movimento fez com que
um rio de cachos ruivos deslizasse sobre os seus ombros. — Agora,
você na janela olhando as estrelas.
Ela estreitou os olhos para mim.
— Eu fico tão confusa quando isso acontece — confessou. —
Sempre tento lembrar de onde vem e nunca consigo.
— Falha na matrix. — Me encostei na porta.
— Ou apenas uma memória que não conseguimos lembrar. —
Deu de ombros suavemente.
— Não deveria estar dormindo? — perguntei me aproximando.
— O que está fazendo?
Ela desviou o olhar para o céu quando me sentei em sua frente
na janela.
— Procurando — respondeu distraída.
— Procurando o quê?
Ela ficou um momento em silêncio e cheguei a achar que ela
não responderia.
— Você já ouviu falar sobre a lenda chinesa do fio vermelho do
destino? — Ela suspirou, se encostando melhor na janela e voltando
a me encarar.
— Não — neguei e ela ergueu a sobrancelha, perguntando
silenciosamente se eu realmente queria ouvir. — Me conta — pedi e
ela me deu um sorriso suave.
— Tem uma versão diferente na China e no Japão. Diz que
todos nós nascemos ligados a alguém, através de uma fita que é
amarrada no nosso dedo mindinho. — Ela tocou o seu dedo
mindinho com o meu para demonstrar e eu os entrelacei,
prendendo-a.
Apenas uma desculpa para tocá-la.
— E a fita não se parte? — perguntei olhando para nossos
dedos.
— Não — ela murmurou baixinho. — Ela estica, emaranha, mas
nunca quebra. — Madison ficou um instante em silêncio. — Essa
pessoa que está segurando a outra metade da fita está por aí, em
algum lugar. Ela não sabe que você existe, não sabe o seu nome,
qual a cor dos seus olhos, nem os seus gostos ou defeitos. No
entanto, ainda sonha com você.
— Como? — disse, sem conseguir separar os nossos dedos.
— Conexão — explicou e para exemplificar ela puxou o seu
dedo para si, como estava unido com o meu, eu fui junto, me
aproximando do seu rosto. Me aproximando perigosamente. — Um
sempre leva o outro, eles se atraem como ímã, se puxam mesmo
sem saber. Está destinado que se encontrem, que se topem. Um
quer o outro, mesmo sem fazer ideia da sua existência.
Abri minha mão e entrelacei todos os meus dedos nos dela. Era
algo que passei a gostar de fazer.
— Era isso que estava procurando aqui? — Apontei para as
estrelas no céu.
— Não, não preciso — ela respondeu pensativa, parecendo
lembrar de alguma coisa. — Não preciso procurar as estrelas, elas
vêm até mim toda noite.
Nunca conheci alguém tão apaixonada pela vida, alguém que
conseguisse ver a profundidade em tudo. Ela transformava coisas
banais em especiais apenas com um ponto de vista otimista.
Apertei sua mão delicada na minha e senti aquela vontade
absurda de me aproximar. Me inclinei para frente e ela veio na
minha direção, como se estivéssemos em sincronia.
Minha testa tocou a dela e fechei os olhos enquanto roçava o
nariz no seu.
— Era real — disse engolindo em seco, sentindo o seu cheiro
de cereja e ela suspirou, soprando o ar para mim. — Eu sempre te
olhei daquele jeito.
Ela inclinou a cabeça de lado sem se afastar.
— Colin... — Ela respirou fundo, com medo.
— Eu não suporto mais ficar longe de você — contei, alisando o
seu pescoço.
Minha boca estava próxima a dela. A cada palavra que dizia, eu
conseguia sentir o seu hálito gostoso e só queria aquilo para mim.
Se achei que provando iria amenizar aquela obsessão por ela,
estava muito enganado. Só me deixou mais viciado.
— Não faz isso comigo — sussurrou em uma voz magoada e se
afastou um pouco, só o suficiente para poder olhar nos meus olhos.
Meu coração apertou no peito ao perceber que ela pensava que
eu estava tentando brincar com ela, machucá-la.
— Eu jamais machucaria você. — Olhei no fundo dos seus
olhos. — Morreria antes de fazer isso.
Ela mirou, perdida, cada canto do meu rosto.
— Não teve um único dia em que eu não te olhei desse jeito —
confessei e ela tocou o meu maxilar, alisando a minha barba por
fazer com carinho. — Não posso mais ficar longe.
Ela absorveu cada palavra que eu disse e voltou a descansar a
testa na minha.
— Então não fica. — Suspirou e foi como se tivesse injetado
adrenalina na minha veia.
— Nunca mais — garanti, agarrando sua cintura e a puxando
para meu colo de uma vez.
Maddie abraçou meu pescoço em susto, para se segurar no
lugar e eu a firmei pela cintura, pressionando-a contra o meu corpo.
Ela se distanciou de mim o bastante para eu poder ver o seu rosto e
desceu as mãos lentamente pelo meu pescoço, sentindo meus
músculos tensionarem à medida que recebia o seu toque.
Como se estivesse enfeitiçado, minha pele se arrepiou quando
ela passou aquelas mãos pequenas e quentes pelo meu peitoral.
Meu coração deu uma acelerada. Todo o quarto ficou quente. O
corpo dela era macio em cima do meu, cada curva gostosa se
encaixava perfeitamente. Meu pau pulsou apenas por senti-la perto,
senti sua respiração soprar nos meus lábios e os encarei. Ela
colocou a língua para fora e molhou o lábio inferior lentamente.
Cheio, rosado, brilhante e gostoso para caralho.
 Assim que ergui os olhos para ela de novo, nos encontramos.
Ela estava me encarando com o mesmo desespero e desejo.
Toquei o seu rosto com carinho e ela fechou os olhos ao sentir o
toque, apreciando-o. Era como se meu corpo comandasse o seu,
assim como ela fazia com o meu. A porra da sintonia.
Enterrei os dedos nos seus cachos, sentindo-os roçarem na
minha pele e me aproximei dela com um aperto estranho no peito.
Inspirei o seu aroma doce e encostei o nariz no seu pescoço. Sua
respiração estava pesada, sentia o seu corpo ansioso, assim como
o meu. Ela apertou mais o meu pescoço, precisando de um suporte
e eu coloquei minha outra mão nas suas costas, a apertando contra
o meu peitoral outra vez.
Os seus seios ficaram presos em mim. Eu os senti
endurecerem, pesados e meu pau ficou duro embaixo do seu corpo.
Subi lentamente até a sua boca, a beijando de um jeito quente e
lento.
E foi como beber água depois de uma temporada no deserto.
Não entrei com tudo, segurei-a como se ela fosse a coisa mais
preciosa do mundo e provoquei, tirando a língua quando ela vinha
na minha direção querendo mais. Ela gemeu, abrindo mais a boca,
e o som fez o meu pau se erguer irritado, pedindo atenção.
Respirei fundo, a pegando mais forte e mordiscando o lábio
inferior, ele era macio, gostoso, quente. O chupei, molhando-o,
deixando inchado e logo que o soltei ela ofegou, enterrando os
dedos no meu cabelo e me puxando para perto em um desespero
manhoso.
Sorri e deixei de provocação. Enfiei minha língua na sua boca
gostosa. Sua língua veio tocando a minha e o contato fez nós dois
suspirarmos excitados. Ela me beijou, mordeu meu lábio e colocou a
língua deliciosa dentro da minha boca. A chupei com vontade,
sugando tudo.
Quando a soltei, tirei os seus cachos do caminho e segui para o
seu pescoço. Ela inclinou a cabeça de lado, o oferecendo para mim
e vi a sua boca toda marcada, vermelha e inchada. Não resisti, a
beijei de novo antes de descer para o seu pescoço. A pele quente
tinha uma veia bem à vista, tensa e pulsante.
Encostei o meu nariz ali, apenas respirando o seu cheiro e a
sentindo arrepiar. Ela se contorceu para frente, esfregando aqueles
seios em mim. A segurei no lugar e beijei com cuidado o seu
pescoço, antes de abrir os lábios para chupar a região.
Ela choramingou perto do meu ouvido e todo o meu corpo se
arrepiou. Rocei meu pau nela e a segurei com mais firmeza. Suguei
o seu pescoço, dando uma chupada para marcá-la. Queria deixar
marcado, para quando qualquer um a visse soubesse que ela era só
minha.
 Logo que soltei a pele inflamada, lambi o local, passei a língua
com calma, deixando o pescoço bem babado. Madison estava tão
arrepiada que senti seus mamilos duros roçando em mim. Desci as
mãos pela sua bunda redonda até chegar na sua coxa grossa.
Passei a mão nos pelinhos arrepiados da sua perna, apertando
a coxa, tentando tomar posse de tudo dela. Desci as lambidas pelo
seu decote, dando sugadas lentas no seu seio, deixando um rastro
de saliva.
 Assim que ergui o olhar para ela, a peguei olhando para mim
com os olhos zonzos de tesão. Sua boca estava aberta e ela
respirava pesadamente, ofegante. Deveria estar com a bocetinha
toda melada, sufocada dentro da calcinha. Imaginei o tecido
roçando nas suas dobras lambuzadas e aquilo fez com que a
lambida que dava no seu decote ficasse mais intensa.
Quando cheguei no limite da camisola parei no lugar, não sabia
se podia ir mais além. Queria chupar aqueles peitos, colocá-los na
boca, sentir os mamilos endurecerem na minha língua, chupá-los,
vê-los balançarem na minha cara. Mas não sabia se era demais
para ela.
Só que foi a pequena que decidiu por mim.
Madison abaixou um ombro e deixou a alça da camisola cair,
expondo o seio. Quase salivei. Puta merda!
Ele era grande, cheio, macio, com o mamilo rosado arrepiado e
marcado pelas minhas chupadas. Gemi em frustração e me enterrei
entre eles.
Todo o sangue do meu corpo estava no pau naquele momento,
ele estava tão duro que podia explodir na boxer. Puxei o meu amor
para mim e abocanhei o bico com tudo, chupei, molhando-o e
passei a língua ao redor, para provocá-la.
Aquilo a fez suspirar muito alto e se contorcer toda no meu colo.
Os gemidos dela eram manhosos e porra... aquilo era perfeito. Ela
era perfeita. E só minha.
— Geme pra mim — pedi entre as chupadas e ela enterrou os
dedos no meu cabelo, me impedindo de sair dali.
Suguei mais forte, dando mamadas curtas, até parar e seguir
para o outro. Baixei a outra alça da camisola e liberei o outro seio,
abocanhando-o. Passei a minha barba por fazer entre eles,
arranhando de leve e ela rebolou no meu colo.
Fiquei tenso com o movimento e estalei o pescoço, tentando
aliviar o tesão acumulado. Podia sentir cada veia do meu corpo
pulsar, querendo esfregar nela.
Subi os beijos até alcançar a boca dela de novo. E ela me
recebeu ansiosa, agarrou o meu rosto entre as suas mãos e me
beijou gostoso. Meti a língua nela como queria fazer na sua boceta
e segurei os seus seios babados nas mãos, massageando-os.
Ela ofegou na minha boca e aquele, definitivamente, virou o
meu som favorito do mundo. Melhor do que qualquer música.
Passei os polegares pelos mamilos inchados e melados,
pressionando de leve. Eles eram pesados e escapavam da minha
mão, era uma delícia segurá-los assim, fiquei imaginando passar o
pau entre eles, sentir a cabeça tocando naquela pele macia e
sensível dela.
Cutuquei Madison com o meu pau outra vez, fazendo-a sentir o
quanto estava duro por ela.
— Colin... — choramingou e quem gemeu, dessa vez, fui eu.
Cacete, ela chamando meu nome desse jeito era tudo o que eu
sempre quis ouvir.
— Quer parar? — perguntei dolorosamente, já sentindo minhas
bolas pesarem.
Afastei do nosso beijo para poder olhá-la e Madison balançou a
cabeça em frustração.
— Não — respondeu, mordendo o lábio inferior e quando ela o
soltou eu a beijei novamente.
A puxei para o meu peito, escondendo seus seios nus no meu
peitoral e segurei o seu rosto com carinho. Ela rebolou de novo no
meu pau, e eu sabia que iria me foder se ficasse naquela posição.
Tirando que estávamos na janela, poderia passar uma pessoa de
madrugada na rua e ninguém iria vê-la nua.
Me levantei com ela no colo, a pequena ainda estava com os
seios chupados pressionados contra mim e agarrada ao meu
pescoço. Madison deu um gritinho surpreso e a levei até a nossa
cama.
Sentei, me encostando na cabeceira, com ela ainda em meu
colo, e a ruiva não perdeu tempo. Colocou cada perna de um lado
do meu quadril e eu sabia que estava muito fodido. Ela queria dar
umas esfregadas.
A puxei pelo quadril para mim, beijando-a enquanto descia as
mãos pelas suas coxas macias. Entrei por dentro da camisola e
segurei a sua bunda cheia na mão. Dei um tapinha ali e ela se
inclinou para frente, roçando no meu pau.
— Caralho... — murmurei estralando o meu pescoço, tenso.
Cada parte do meu corpo arrepiou e meu pau já estava erguido
no limite. Eu estava no limite.
— Quer parar? — ela devolveu a pergunta de brincadeira,
ofegante, alisando meu peito.
Fechei os olhos por um momento e adorei sentir aquela mão
carinhosa passando pelos meus braços. Apertei a bunda dela contra
mim, fazendo-a roçar no meu pau de novo. E a peguei pela cintura,
segurando-a bem junto do meu corpo. Mordi o seu lábio inferior e
travei o maxilar ao sentir uma necessidade de melar o meu pau
nela.
Desse jeito eu ia gozar só com as reboladas que ela estava
dando.
— Quero fazer você gozar — Madison disse, passando a mão
pelo meu abdômen, descendo cada vez mais e chegando
perigosamente perto do meu pau.
Ah, inferno.
Não sei quantas vezes a imaginei falando exatamente isso no
meu ouvido. Gemi em frustração. Era real. Eu a tinha, finalmente.
Chupei a sua língua, que ela colocou na minha boca, e alisei as
suas costas, sentindo-a se contorcer.
— Antes de qualquer coisa eu preciso da sua boceta — avisei,
passando o braço pelas suas costas macias e a pressionando
contra o meu corpo.
Estoquei mais uma vez meu pau nela, fazendo-a senti-lo duro e
a pequena abriu a boca para soltar um gemido desejoso, se
agarrando no meu pescoço.
Ela enterrou o rosto ali e me deu uma mordida, para conter o
próprio tesão. Adorei senti-la me babando, a saliva espalhada pela
minha pele. Apertei sua bunda entre os dedos e a sua boceta se
esfregou no meu pau.
Passei a mão pelo seu cabelo, virando o rosto dela na minha
direção com ternura e a beijei. Desci os dedos pela curva da sua
bunda cheia até chegar perto da boceta, onde a calcinha dela
estava totalmente úmida.
Desci os beijos pelo seu pescoço e Madison ofegou excitada,
dando uma esfregada involuntária em mim. A segurei no lugar, pelo
meu próprio bem, até finalmente empurrar a calcinha de lado e
melar os meus dedos naquela boceta deliciosa.
Puta merda.
Passei a língua devagar no seu pescoço, babando a pele como
gostaria de estar fazendo entre os lábios da sua boceta macia. Alisei
os lábios externos, fingindo que ia meter nela e a pequena cravou
as unhas nos meus ombros, ansiosa, querendo sentar em cima dos
meus dedos de uma vez.
A abracei com um braço, protetoramente, e ela me abraçou de
volta, escondendo o rosto na curva do meu pescoço. Percebi que
ela estava um pouco envergonhada. Queria que eu estocasse logo
e a alargasse, mas estava acanhada demais para pedir.
E isso fez com que meu lado protetor falasse mais alto.
— Eu vou cuidar de você, meu amor — prometi, beijando o seu
ombro e sentindo o cheiro doce do seu cabelo.
Ela relaxou aos poucos e começou a espalhar beijos
demorados pelo meu ombro, descendo pelo peitoral. Suspirei
trêmulo ao senti-la tão perto de mim, me oferecendo tudo. Meu
Deus, eu era tão louco por essa garota...
A beijei, segurando o seu corpo com carinho, e voltei a
masturbá-la.
Tudo o que meu pau pedia naquele momento era para ser
tocado, porém me controlei e alisei a sua entrada melada, afastei os
lábios externos dela e lambuzei meus dedos antes de seguir para o
clitóris. Quando o toquei todo o seu corpo estremeceu, suas pernas
flexionaram no meu colo e Madison deu uma esfregada em cima do
meu pau, enterrando mais o rosto no meu pescoço e gemendo em
agonia.
— Por favor... — implorou e massageei o seu clitóris com o
polegar enquanto finalmente metia dois dedos nela.
Era como eu imaginava. Deliciosa. Segurando a sua boceta na
minha mão, ela parecia ser gordinha, deveria ser boa de morder e
dar uns tapinhas com o pau. Ela tinha pelinhos curtos ao redor,
macia, quente, muito melada, apertada e minha.
Somente minha.
Tudo o que eu queria era enterrar o rosto ali e só sair no dia
seguinte quando ela me expulsasse.
Madison contraiu mais ao sentir meus dedos nela, se agarrou
em mim e eu a abracei de volta, a beijando enquanto metia os dois
dedos na sua boceta gostosa. Minha pequena apertava e sugava
meus dedos, eu os tirava sufocados e melados de dentro dela.
Quando sentia os seus músculos relaxando estocava de novo e com
esse ritmo lento ela se desmanchava em cima de mim.
A alarguei devagar para depois aumentar a velocidade, podia
ouvir os seus gemidos ofegantes pelo quarto, o som dos meus
dedos lambuzados entrando e saindo, o jeito que ela rebolava em
cima de mim. Sentindo os seus mamilos endurecidos roçando no
meu peitoral.
— Colin... — Suspirou logo que acelerei a massagem no clitóris
e estoquei os dedos mais fundo, abrindo-a mais para mim.
— Isso — incentivei, acelerando tanto que ela começou a
rebolar desesperada em cima de mim. — Chama só o meu nome.
Madison quase chorou e continuou a se esfregar no meu colo
como se sua vida dependesse disso. A afastei um pouco de lado,
tirando os dedos de dentro e ela me olhou sem entender, frustrada.
Passei os dedos melados pela sua boceta nos seus mamilos e logo
voltei a masturbá-la.
Minha pequena jogou o próprio cabelo para trás, me dando livre
acesso aos seus seios, mostrando-os melados da sua lubrificação
para mim. Meu pau pesado deu uma pulsada ao ver ela se exibindo
assim.
A boceta dela contraiu nos meus dedos, fechando-os e eu
passei a comê-la com eles mais rapidamente. Madison subia e
descia em desespero, balançando aqueles mamilos na minha cara.
Era tentação demais, minhas bolas iriam explodir.
Ela parecia ter esquecido a vergonha e amei aquilo. Me inclinei
e passei a língua entre eles, bem devagar, totalmente diferente do
jeito que ela quicava em cima de mim.
Inspirei o cheiro dos bicos enrugados e lambuzados. Cerrei os
dentes para não pensar no quanto queria entrar dentro daquela
boceta e abocanhei o mamilo com vontade, sentindo seu gosto. Era
deliciosa.
— Tão gostosa... — murmurei, saboreando a sua pele.
Minha ruiva desceu suas mãos até tocar o meu pau por cima da
calça e porra... Sacanagem, hein. Eu quase gozei com o jeito que
ela o apertou. Era um aperto suave, mas firme, querendo senti-lo e
eu gemi, sugando o seu seio.
Ela estava muito perto de gozar, podia sentir sua boceta
melando toda a minha mão, o jeito que esfregava o clitóris em
agonia no meu polegar. Estava para gozar, ainda assim conseguiu
abrir o meu zíper.
Passei para o outro mamilo, passando a língua devagar ao
redor dele, provando aquele gosto da bocetinha dela. Quando a
senti tocando a minha cueca levantei o olhar para encará-la.
E ela me olhou de volta.
— Posso? — perguntou meio ofegante, sem deixar de rebolar
toda manhosa na minha mão.
— É tudo seu — respondi, passando a língua no mamilo e ela
acompanhou o movimento. Não desviei.
Ela entrou com a mão pequena na minha cueca e segurou o
meu pau duro para cacete. Prendi o seu bico entre os dedos para
me conter e puni-la. A sua mão era fria contra o pau que já estava
erguido e quente, com todo o sangue do corpo ali.
— Se machucar... — murmurou um pouco insegura e diminuiu a
velocidade com que descia e subia nos meus dedos. — Os calos da
minha mão... se machucar, você me diz.
Soltei o mamilo dela com uma última chupada, e ele saiu da
minha boca balançando um pouco, babado e vermelho. Segui
dando beijos carinhosos pelo seu colo até chegar na boca dela.
— Você é toda perfeita — sussurrei, beijando o seu queixo e ela
o inclinou para mim, gostando do jeito com que eu a estava tocando.
Esfreguei mais o seu clitóris e a pequena voltou a rebolar. — Tão
linda que meu coração chega a apertar quando te olho. — Beijei a
sua boca com calma e ela suspirou, abrindo-a e colocando a língua
na minha.
Ela voltou a apertar meu pau com mais confiança e gemi no
nosso beijo.
— Você não precisa fazer nada — falei, a abraçando e
masturbando a sua boceta mais rápido. — Eu só te quero perto de
mim. Só isso. — Era a verdade.
Ela não precisava me tocar ou me agradar, eu só a queria ali.
Abraçá-la, sentir o seu cheiro. Acordar do seu lado, tê-la comigo.
Estava completamente obcecado.
— Eu quero te tocar — ela decidiu e me beijou mais enquanto
tentava fechar a mão ao redor do meu pau.
Não conseguiu. Sua mão era pequena, meu pau grosso. Ela
fechou até onde deu e passou a me masturbar. Meu coração deu
uma acelerada e involuntariamente esfreguei ele na sua mão
gostosa, sentindo a lubrificação sair pela cabeça.
Madison passou a contrair mais a boceta e soube que ia gozar.
Estoquei mais, tentando tocar lá no fundo e ela ofegou em
desespero no nosso beijo, liberando o seu orgasmo.
Minha mão ficou completamente encharcada e ela sufocou os
meus dedos dentro dela. Quando senti seus músculos relaxaram
tirei os dedos da sua boceta, mas continuei a massagear o clitóris
inchado com calma.
Ela continuou a me beijar e passou a se dedicar a bater uma
punheta no meu pau, passando o polegar pela cabeça, espalhando
a lubrificação pela região bem esticada da ereção.
A apertei mais em mim e tirei a minha mão da sua calcinha,
querendo cheirá-la. Chupei os meus próprios dedos, lambendo tudo
dela.
Madison olhou o gesto e passou a aumentar a velocidade com
que me masturbava. Ela não conseguiu ir muito rápido porque o
meu pau não estava totalmente solto na cueca boxer.
 No entanto, era o suficiente para gozar.
Vê-la ali, tentando me agradar, com os seios de fora, os cachos
ruivos ao redor do seu rosto, gozada. Olhando para o meu corpo
com os olhos zonzos de desejo. Foi o meu fim.
Senti a porra sair pelo meu pau, escorrendo entre os seus
dedos delicados. Queria ver, só que ela ainda estava no meu colo e
não iria tirá-la dali nunca.
Um alívio misturado com prazer e tesão se acumulou no meu
corpo. Meu coração disparou e respirei ofegante até sentir a última
gota escorrer pelo talo duro.
Encostei meu corpo satisfeito do orgasmo na cabeceira da
cama e Madison tirou a mão de dentro da minha cueca, toda
melada. Ela a levou até a boca e colocou a língua para fora,
provando o gosto.
— Puta que pariu... — Passei a mão pelo cabelo me sentindo
satisfeito para caralho com aquela imagem.
— Eu queria sentir o gosto — explicou, cobrindo os seios com
braço de um jeito tímido, sem me olhar.
Sorri de lado.
— Ei, meu amor — chamei me erguendo e a abraçando bem
apertado. — Você é tão perfeita... — elogiei, beijando o seu ombro
nu.
E só minha. Apenas minha. Nunca vou deixar ninguém te
roubar de mim.
Ela deitou a cabeça no meu ombro, suspirando.
— Você também.
Alisei as suas costas e beijei os seus cachos, até ela relaxar um
pouco mais. A segurei mais firme contra meu corpo e levantei,
levando-a para o banheiro.
— Colin — chamou em repreensão, enlaçando as pernas em
volta da minha cintura e abraçando o meu pescoço.
— Vamos entrar no chuveiro. — Beijei o seu rosto e a coloquei
em cima da pia.
— A gente não precisa ir juntos — ela pediu com as bochechas
vermelhas. — Eu prefiro sozinha — explicou em tom de desculpas.
Ela desviou o olhar e percebi que era demais para ela. Chegaria
o dia em que ficaria completamente nua na minha frente sem ter
vergonha, porém seria no tempo dela.
— Pode ir primeiro. — Pisquei e beijei a ponta do seu nariz,
saindo do banheiro. — E Madison?
Ela ergueu o olhar para mim, ainda sentada na pia.
— Você não é um pescoço... — comecei e ela franziu a testa
sem entender o rumo da conversa. — Mas mexeu com a minha
cabeça.
Ela me olhou em silêncio antes de soltar uma risada.
— Isso é tão ridículo. — Limpou o canto dos olhos. — Nem
acredito que caí nessas cantadas de segunda.
— Eu avisei. — Estalei a língua, fechando a porta — Nunca
diga nunca.
Tinha certeza que ela tinha revirado os olhos.
Fui usar o outro banheiro da casa, no fim do corredor. Tomei
banho e voltei para cama me sentindo leve. Madison saiu do
banheiro cheirando ao seu perfume de cereja. Levantei o edredom
que estava me cobrindo, em um convite silencioso para entrar ali no
casulo e ela veio, me abraçando.
Deitei de lado, a enlaçando de conchinha e enterrando o rosto
nos seus cachos. Me senti como se finalmente tivesse voltado para
casa depois de um longo dia cansativo. Entrelacei os dedos nos
dela, e minha pequena virou nossas mãos para beijar a minha.
Um sorriso se desenhou no meu rosto ao ver o jeito que ela era
amorosa.
— Eu não sei o que fiz pra merecer você — sussurrei no ouvido
dela, a apertando mais, com carinho. — No entanto, vou fazer valer
a pena — prometi.
Ela deu outro beijo na minha mão antes de cair no sono.
Eu também caí.
Mas foi de quatro por ela.
Madison Jensen
 
Senti um carinho suave no meu rosto, o que me fez suspirar e
querer dormir só mais um pouco.
— Ei, pequena.
Abri os olhos e a primeira coisa que vi foi Colin inclinado sobre
mim com um sorriso no rosto.
— Oi... — murmurei ainda sonolenta, me espreguiçando e ele
se aproximou para beijar o meu rosto. Senti o seu perfume gostoso
de canela e acariciei o cabelo dele. — Por que você acordou cedo?
Ele me deu outro beijo suave na bochecha.
— Eu fiz chá de camomila pra você — falou e virei meu rosto
para ele, surpresa.
— Você fez chá pra mim? — Ergui a sobrancelha.
— Fiz. — Deu de ombros.
Sorri agradecida.
— Isso foi gentil. — Acariciei o seu rosto e Colin pegou a minha
mão para beijá-la.
— Também trouxe umas frutas. — Ele saiu da cama e pegou
uma bandeja que estava em cima da mesinha do quarto. Nela tinha
o chá e algumas frutas, todas cortadas e arrumadas em um
pratinho. — Não sei o que vegetarianos podem ou não comer, então
trouxe só isso.
Coloquei a mão no rosto um pouco espantada e um sorriso
involuntário cresceu no meu rosto. Ninguém nunca tinha feito isso
para mim.
— Está perfeito, obrigada. — Me sentei na cama e peguei a
xícara de chá.
— Eu sou um fofo, não é? — Ele piscou em ironia e desceu o
olhar pelo meu corpo sob a camisola, me fazendo lembrar da noite
passada.
Meus mamilos endureceram e minha respiração ficou mais
pesada. Nunca tinha me sentido tão atraída por alguém assim,
podia me sentir ficando excitada só por olhá-lo. Não sabia se
haveria uma próxima vez, mas queria que houvesse.
Adorei cada segundo que ele me tocou. Não quis que
acabasse, queria que o tempo parasse ali, no momento em que ele
ainda me queria desse jeito. Me abraçando à noite e dizendo coisas
lindas no meu ouvido.
No entanto, não ficaria criando ilusões, sabia que Colin não
gostava de nada sério na vida dele. E não seria eu a pressionar
aquilo ou tentar mudá-lo. Para falar a verdade, não mudaria nada
nele. Gostava do maluco exatamente como era, até mesmo com
todos os seus defeitos.
Só cuidaria do meu coração quando Colin seguisse em frente.
Aquele órgão tolo e emocionado estava cada dia mais cedendo
mais um pedaço ao meu inimigo.
— Está ótimo — elogiei o seu chá com um sorriso.
— Me tornarei um especialista em pouco tempo. — Ele se
esticou, deitando na cama e descansando a cabeça no punho
fechado.
Observei o seu abdômen enquanto saboreava o chá. O vapor
subiu pelo meu rosto e aqueceu todo o ambiente. Os músculos se
contraíam no seu tanquinho a cada respiração dele, quando o toquei
ontem senti que era duro. Colin era muito gostoso, e eu não
costumava usar essa palavra para definir qualquer um.
Ele era algo para se admirar mesmo.
Desci minha análise pela sua calça jeans até chegar no zíper
fechado. Não cheguei a vê-lo completamente ontem à noite, apenas
toquei. Sabia que era bem grande, soube no dia que Johnny tirou a
toalha dele. Fiquei um pouco assustada quando não consegui
fechar minha mão em volta do seu pau.
E a dúvida ficou na minha cabeça.
Será que cabia?
— A gente tenta devagarinho até caber tudo — Colin respondeu
e arregalei os olhos, me dando conta de que falei aquilo em voz alta.
— Eu não vou te rasgar no meio, só vai ser deliciosamente
apertado. — O canto da boca dele se ergueu e coloquei a mão no
rosto, mortificada de vergonha.
— Eu... eu... não sei do que você está falando — gaguejei,
pegando depressa uma maçã na bandeja. — Estava pensando nas
frutas. — Mordi um pedaço. — Elas parecem enormes.
Ele jogou a cabeça para trás e riu alto. Fechei a cara.
— Você quer dormir no sofá de novo hoje à noite? — perguntei
emburrada.
— Madison... — murmurou em tom provocativo. — Nunca
pensei que você fosse tão safada assim.
Soltei a maçã e ergui a sobrancelha cinicamente.
— Eu não estava falando do seu pênis.
— Nós dois sabemos que estava — ele continuou com aquele
sorriso irritante no rosto e quis muito cutucá-lo. — E é pau —
pronunciou a palavra de um jeito sujo. — Pode falar, não dói.
— Nem tem muito o que falar mesmo. — Dei de ombros de um
jeito afrontoso e desci o olhar pela sua calça. — Quase não o vejo
— menti.
Ele arqueou a sobrancelha e estreitou os olhos para mim, em
divertimento.
— Quer ver? — perguntou de um jeito que fez um arrepio
passar pelo meu corpo.
— Obrigada pelo chá — agradeci bebendo o último gole, me
levantei e deixei a xícara em cima da mesinha antes de seguir até o
banheiro.
Só que Colin foi mais rápido. Quando me dei conta ele já tinha
passado o braço musculoso pela minha cintura e me virado de
frente para o seu corpo.
— É sempre bom lembrar, se quiser me oferecer um chá
também... — ele disse, tirando o meu cabelo do caminho para beijar
o meu pescoço.
Suspirei, percebendo minhas pernas ficarem fracas assim que
senti a sua boca na minha pele. Fiquei na ponta dos pés para falar
perto do seu ouvido.
—Você disse que não gostava de chá — brinquei e ele me
segurou pelo quadril, perigosamente perto da bunda, me fazendo
sentir a sua grande ereção.
— Passei a adorar.
— Dessa vez você precisa se esforçar mais — provoquei. — Já
foi olhar se os ovos chocaram?
Ele se afastou de mim só o suficiente para poder ver o meu
rosto. Colin ergueu a sobrancelha em desafio.
— Agora eu tenho que chocar os ovos dos seus passarinhos?
— ele disse balançando a cabeça em negação para mim.
— Exatamente. — Sorri e beijei o seu peito em um impulso,
bem onde ficava o pingente da corrente.
Ele estava tão cheiroso que o abracei também. Colin não
perdeu tempo, me prendeu nos braços e me apertou tanto que achei
que queria me colocar dentro de si. E eu o apertei de volta.
Colin enterrou o rosto no meu cabelo e ficamos ali, até eu me
afastar para beijar de novo o peito dele. Peguei a sua corrente entre
os meus dedos.
Eu estava com a pergunta presa na garganta, mas não sabia se
ele iria ou não me falar sobre isso. Resolvi arriscar.
— Quem te deu? — Segurei o pingente entre as mãos e ele
ficou um tempo em silêncio.
Beijou a minha testa com calma.
— Alguém que não está mais aqui — contou baixinho.
Senti uma dor no meio do peito e o abracei pela cintura. Deitei a
cabeça no seu tórax, escutando o seu coração bater.
— Eu sinto muito — murmurei o apertando.
— Já faz um bom tempo — ele garantiu em consolo, beijando a
minha cabeça. — Eu agradeço pela moeda, ela me levou até você.
Suspirei contra ele e levantei a cabeça, olhando-o com carinho.
— Você pode conversar comigo, se quiser — ofereci, querendo
que se sentisse acolhido.
Colin pegou o meu rosto entre as suas mãos e encostou os
lábios na ponta do meu nariz.
— Eu sei disso, e um dia eu vou falar sobre isso — prometeu
olhando nos meus olhos. — Mas agora a gente precisa ir pro
campus, eu vou te deixar na aula. — Ele sorriu para quebrar o clima
triste.
Confirmei com um aceno e entrei no banheiro.
Era estranho saber que Colin também tinha cicatrizes. Eu só
esperava poder beijá-las assim como ele fez com as minhas na
palma da mão.
 
Colin Scott
 
— Você não é um GPS quebrado — flertei, virando a esquina.
— Mas me deixa sem rumo.
Madison riu alto.
— Você planeja isso ou só vem naturalmente? — perguntou
quando parei em frente ao prédio dela.
— Um pouco dos dois. — Pisquei para ela e tirei o cinto de
segurança, para me inclinar mais.
Toquei o seu rosto e me aproximei aos poucos. Meu gnomo
prendeu a respiração, ansiosa e eu a beijei com calma. Senti um
aperto no coração por poder fazer aquilo, me aproximar dela assim.
Tê-la perto.
Inspirei o seu cheiro e a beijei com vontade. Meu pau inchou na
calça quando a senti chupando levemente minha língua, roçando
com a dela. Gemi em frustração e a puxei mais para mim, pela
cintura.
Ela segurou o meu rosto, enterrando os dedos no meu cabelo e
suspirou ofegante durante o nosso beijo. Mordisquei o seu lábio
inferior, passando a língua nele antes de me afastar. Fiquei com
vontade de avisá-la que estava toda marcada, com a boca inchada
e vermelha, porém apenas toquei a região com carinho.
— Que horas você vai sair hoje?
— Não muito tarde, só que ficarei estudando na biblioteca —
lembrou.
— Me espera à noite no campus, te levo pra casa — disse,
beijando o seu queixo.
— Mas o seu prédio é longe do meu. — Franziu a testa.
— Me espera lá — pedi, dando um último beijo na sua boca
gostosa.
— Tá bom. — Ela colocou um cacho atrás da orelha e sorriu em
despedida.
Saiu do carro e algumas pessoas que passavam ali, olharam
para nós dois, surpresos. E como eu adorava fazê-la passar
vergonha, buzinei, a fazendo olhar para trás assustada.
— Seu nome é wi-fi? — gritei colocando o braço para fora do
carro, chamando atenção de quem passava.
Ela me olhou divertida e balançou a cabeça em negação para
mim, sabendo que já vinha outra cantada.
— Não — gritou de volta.
— Sério? Porque estou sentindo nossa conexão daqui. — Sorri
e ela soltou uma risada gostosa.
— Você é ridículo — constatou e quando percebeu que era alvo
de atenção, se encolheu. Ela acenou para mim em despedida. —
Vou ficar te esperando.
Acenei de volta e observei a sua bunda rebolar de um lado para
o outro até ela entrar, e só então segui para o meu prédio no
campus.
Não admitiria a ela, entretanto me incomodava que estivesse
tendo que aprender sobre algo que não queria para poder se
manter. Ficava com vontade de perguntar se estava com dificuldade
financeira, queria ajudá-la. Cuidar dela. Contudo, sabia que não
podia simplesmente oferecer dinheiro, ela recusaria. E também tinha
o lado positivo do estágio, iria ajudá-la.
Tudo o que podia fazer era estar ali apoiando, mesmo que
tivesse que encarnar a própria Meryl Streep.
Os cachorros das minhas vizinhas não tinham nomes de atores
à toa.
 

 
Tinha chegado atrasado na aula de Relações Internacionais,
mas só pela cara de decepção coletiva do pessoal suspeitava que
ninguém tinha ido muito bem na prova.
— Já saiu a nota? — perguntou Charles Moore, sentando do
meu lado do nada.
— Já está no sistema. — Estiquei as pernas de um jeito
relaxado.
— Vem bomba pra mim — Charles resmungou, jogando a
cabeça para trás em preocupação.
— Dá pra recuperar. — Dei de ombros, tentando não puxar
muito assunto com ele.
Charles Moore era do nosso time de hóquei e cursava o mesmo
curso que eu, mas não éramos próximos. Não tinha nada contra o
cara...
Tá, eu tinha sim. Ele com certeza não era da associação dos
“quem come quieto, come mais”, ficava falando no vestiário de toda
a garota que pegava. Dava detalhes e chegava a ser cuzão.
Tirando o fato de que vivia brigando com o treinador. Ele era o
jogador reserva do Taylor, e estava sempre puto por ficar no banco.
Além disso, Charles era da mesma fraternidade do Michael, e só por
Sienna não gostar dele isso já seria motivo suficiente.
Qualquer pessoa que fosse amiga do pau no cu do namorado
dela já deveria ser olhada com desconfiança. Ou seja, eu gostava
de manter distância.
— Você acha que tirou quanto? — ele perguntou.
— Não faço ideia — menti para encurtar a conversa.
Já tinha olhado no sistema. Dez.
— Você é bom nas discursivas, né? — Charles continuou,
porém só dei de ombros. — Cara, não sei como você consegue dar
conta. Tira nota boa, joga bem, não falta treino, só anda em festa e
ainda tem tempo de foder todo mundo.
Não fodo há alguns meses, mas estou bem satisfeito com isso.
— Corte o último item. — Estalei a língua de brincadeira.
Charles riu e alguns alunos da frente olharam repreensivamente
para nós. Acenei com a cabeça, pedindo desculpas e uma garota
suspirou para mim.
— Comeu ela também? — questionou Charles, olhando a
garota.
Pior de tudo? Comi. Em uma festa que estava mais parecendo
uma suruba. Senti um peso estranho no peito, nunca tinha pensado
em como meu passado poderia me prejudicar agora. Madison sabia
que eu não valia um centavo antes... talvez isso a fizesse pensar
melhor.
E só esse pensamento foi o bastante para sentir um calafrio
passar pelo meu corpo.
— Não ando fazendo nada ultimamente — enfatizei. — Estou
com alguém.
Ele se virou para mim em choque e depois começou a rir de
novo. A professora ergueu a sobrancelha, incomodada. Eu ergui a
minha de volta, em silêncio, avisando que também estava.
O cara era a porra de um cu.
— Que conversa é essa? — Charles debochou, limpando os
olhos. — Nunca te vi nem andando com nenhuma garota... tirando
as suas vizinhas. — Ele terminou a frase e se virou para mim como
se tivesse acabado de fazer uma descoberta. — Puta que pariu,
elas estão morando com vocês! Está fodendo com alguma delas?!
Soltei o ar pelas narinas, tentando me controlar e virei
lentamente para ele.
— Onde eu meto a porra do meu pau não é da sua conta —
falei baixo e firme. — E se andar falando qualquer coisa das nossas
garotas por aí... a bomba não vai ser só nas notas.
Charles revirou os olhos, achando que eu não estava falando
sério.
— Espero que não seja a namorada do Michael... eu bem que
avisei pra ele que não era confiável deixar aquela garota morando
com vocês. Ela tem cara de santinha, mas gosta de provocar, hein
— continuou e eu apenas ergui a sobrancelha, avisando
silenciosamente que se ele continuasse não iria falar mais por um
bom tempo.
Charles percebeu que eu não estava de brincadeira e engoliu
em seco. Ele ergueu as mãos e virou para a frente. Tentei me
acalmar, não me estressaria com aquilo...
— Putz! — ele falou do nada, parecendo ter acabado de
lembrar mais alguma coisa. — O pessoal do time disse que você
saiu com a ruiva montada no ombro! Cara, eu nem acreditei nisso
quando me falaram, ela é bem gostosinha mesmo, só que das
quatro eu acho a mais esquisita.
— Como é? — perguntei, vendo se ele tinha coragem de repetir
aquilo.
— A garota fica corada por tudo, eu só a vejo andando sozinha
pelo campus. E os macacões que ela usa não são nada sexys. Só é
conhecida porque virou amiga de vocês mesmo. — Ele deu ombros.
— No entanto, confesso que comeria fácil. Deu uma olhada nos
peitos dela já? Deve ser ótimo meter a cara ali. Sempre achei que
ela desse fácil mesmo...
Me levantei em um impulso, segurei a porra da sua camiseta
com uma mão e meti um murro na cara do merda. Charles caiu para
trás na cadeira, sem conseguir reagir.
Os alunos começaram a gritar assustados e a professora parou
a aula em choque. Peguei o filho da puta caído e enfiei mais um
murro na cara dele.
Charles caiu para trás de novo, mas dessa vez se levantou em
um impulso, fugindo. Ele saiu do meu alcance, passando depressa
pela fileira das cadeiras com a mão no nariz, que estava sangrando.
— Você ficou doido?! — Charles perguntou, tentando passar
pelos alunos que estavam se levantando, nervosos.
— Vamos, Charles! — Abri os braços para ele em deboche. —
Você não estava tão corajoso ainda agora? — ironizei, o alcançando
em três passos.
Vi pelo canto do olho que começaram a filmar, não me importei,
dei mais um murro nele.
— Fala dela de novo! — ameacei entredentes bem perto do
rosto dele, o segurando pela camiseta.
Alguns caras se aproximaram para tentar me tirar de cima dele,
mas ergui o olhar avisando para não se meterem. Eles recuaram.
— Se eu ver você falando, olhando ou ao menos pensando na
minha pequena de novo... — avisei o puxando para mais perto e
Charles balançou a cabeça de lado para o outro, tentando me dizer
que não faria nada disso, zonzo. — Mesmo que seja só uma breve
secada, eu vou te pegar — alertei, dando mais um soco nele e
largando-o como um saco de lixo no chão.
Ele não iria mais falar sobre a minha pequena, não iria nunca
mais citar o nome dela em nenhum lugar. Zoar as suas roupas ou
jeito. E muito menos olharia para os seus seios, cacete.
Ergui as mãos em rendição para a plateia me assistindo, e dei
um sorriso a eles.
— Tivemos um pequeno desentendimento — expliquei,
piscando em provocação.
É, eu estava muito fodido.
 

 
Coloquei os meus patins e ajeitei a minha corrente no peito,
indo vestir a camiseta.
— O que ele fez? — a voz de Johnny soou atrás de mim, me
fazendo lembrar que a qualquer momento eu iria receber a minha
punição.
Todos do time pararam de se vestir para me ouvirem, no
vestiário. Fofoca rolava rápido ali.
— Ele falou umas coisas das nossas garotas que eu não gostei
— revelei e Drake ergueu a sobrancelha, me pedindo para ser mais
específico. — Insinuou umas coisas sobre a Sienna e desrespeitou
a minha ruiva — expliquei, dando de ombros.
Sabia que iria ter consequências. Talvez eu ficasse no banco
nos próximos jogos ou fosse suspenso da temporada, porém não
me arrependia.
— É... — Assobiou um calouro no canto, em provocação. —
Depois de ter saído com ela montada no ombro, eu não duvidava de
mais nada mesmo.
Os caras riram.
— Você deu quantos socos nele? — perguntou Johnny e virei
para trás, vendo que o capitão estava com o canto da boca erguido.
— Uns quatro, eu acho.
— Quebrou o nariz? — Drake questionou duro, o único que não
estava achando graça.
— O nariz dele ficou um pouco fodido — falei.
— Ótimo. — Johnny deu uns tapinhas nas minhas costas e
fiquei um minuto perdido.
Ele nunca falava só “ótimo”, sempre tinha um longo discurso
sobre bom comportamento e responsabilidade.
— Não vai me dar um sermão? — provoquei abrindo os braços,
esperando a bronca. — Sobre não se meter em confusões e ser um
adulto responsável?
Johnny me deu o dedo do meio antes de seguir para o rinque
de gelo.
— Não abusa da sorte. — Peter apontou o dedo para mim. —
Treinador tá puto.
Estremeci, sabendo que ele iria me procurar daqui a pouco. Não
era legal esmurrar os seus companheiros de time, ainda mais em
uma sala de aula cheia.
Peguei a minha camiseta e a vesti, pronto para receber a minha
penitência. Os caras passaram dando tapinhas nas minhas costas
em consolo. Retribuí, só que uma coisa me chamou atenção.
Taylor.
Ele ficou encostado no seu armário o tempo todo, esperando
todo mundo ir para o rinque. Parecia que estava querendo
conversar comigo.
— Você está bem? — Taylor perguntou olhando para a minha
mão.
Ela tinha ficado um pouco marcada nas juntas, entretanto
estava tudo ok. Sem dor. Éramos jogadores de hóquei, não
quebrávamos fácil.
— Sem dor. — Sorri de lado, mas quando ele não me
acompanhou, fiquei sério. — Quer me dizer alguma coisa, irmão?
Taylor suspirou cansado e veio sentar do meu lado.
— Eu vou ficar no banco no próximo jogo — ele soltou e franzi a
testa sem entender.
— Por quê?
— Tive uma lesão no joelho. — Taylor pegou no próprio joelho,
apertando. — Foi ontem, eu falei pro treinador e já tínhamos
concordado em deixar Charles assumir minha posição nos próximos
jogos. Só queria te avisar, caso vocês tenham que jogar juntos.
— Não acho que o treinador vá me deixar jogar. — Dei de
ombros e estreitei os olhos. — Quando foi essa sua lesão? Estava
bem nos treinos.
— É uma dor que vem às vezes — ele desconversou e não sei
porque, aquilo me deixou desconfiado. Taylor não era de mentir.
— Tem certeza que está tudo bem? — perguntei apertando o
seu ombro, tentando passar confiança.
— Tenho, sim. — Ele me deu um sorriso e bateu nas minhas
costas, em consolo, quando se levantou. — O treinador não vai te
suspender.
Não tinha tanta certeza.
— COLIN!
Estremeci ao ouvir os berros do nosso treinador. Oscar Green
não era um homem que pegava leve com os seus jogadores. “Colin”
parecia ser o nome favorito dele e de Johnny durante os jogos. E na
vida. Eles sempre queriam me matar nas jogadas arriscadas, porém
davam o braço a torcer assim que dava certo.
Troquei um olhar com Taylor em despedida e segui para a sala
do Sr. Green.
— Boa tarde, Sr. Green — cantarolei ao entrar na sala, tentando
melhorar o humor do homem.
Não funcionou.
— Seu merdinha do caralho! — Ele passou a mão na careca,
talvez buscando arrancar os cabelos que ele não tinha.
— Bem... — murmurei me sentando na cadeira em frente a
dele, cruzando os braços em frente ao peito. — Pelo jeito alguém
está mal-humorado hoje.
— Eu já tive que te tirar da cadeia, de festas sem noção com
atores pornôs...
— Eu não sabia que eram atores pornôs — pontuei, porque
tudo tinha que vir em minha defesa ali.
—...tive que aguentar as suas ressacas nos treinos, o jeito
como corrompeu todos os jogadores a participarem de orgias...
— Minha Nossa Senhora, até a vida sexual do time é minha
culpa agora? — perguntei abismado.
— E ainda aturo os seus deboches no gelo! — Ele ignorou a
minha pergunta. — Agora você deu pra esmurrar pessoas no meio
da aula?
Estalei a língua.
— Sabe como é, a gente tem que inovar às vezes — provoquei
e o Sr. Green estava a um passo de me estrangular.
— Eu só não vou te suspender... — Ele tentou buscar uma
justificativa.
— Por que eu sou insubstituível? — sugeri e ele estreitou os
olhos para mim, suspirando cansado.
— Sim — cedeu, se jogando na cadeira. — Precisamos de você
nos jogos. No entanto, vai passar o dia todo trancado na porra
dessa sala assistindo aulas sobre autocontrole.
Revirei os olhos.
— Eu não sou violento, nunca me meti em brigas antes —
argumentei.
— É a sua punição — avisou. — Vai ficar aqui até as nove!
Aquilo fez meu pulso acelerar.
— Até as noves? — Arregalei os olhos. — Olha, eu não posso,
combinei de buscar uma pessoa.
— Vai ficar na merda dessa sala o dia todo — determinou firme.
Que porra!
— Eu posso pegar o meu celular?
— Não — ele negou e se levantou.
— Treinador. — Levantei junto, o seguindo até a porta. — Eu
combinei de pegar uma garota à noite, se eu não avisar que vou
demorar, ela vai ficar me esperando até ficar tarde...
— Sério? Você quase foi suspenso da temporada e está
preocupado com garotas?! — Ele balançou a cabeça em negação
como se eu não tivesse jeito.
— Não com garotas, mas com uma garota — expliquei.
— Eu não vou te dar o celular, Colin. Esse dia é pra você ficar
prestando atenção nas aulas que vou passar no slide.
Fala sério!
— Olha, meu histórico já não contribui muito ao meu favor e se
eu não avisar que vou demorar, ela vai ficar pensando que não me
importo. — Respirei fundo, tentando fazê-lo entender. — Só que eu
me importo. Ela é importante pra mim.
Sr. Green apenas ergueu a sobrancelha cinicamente, sem
acreditar naquilo.
— Estou falando sério! Eu sou louco por essa garota desde que
a conheci e ela finalmente me deu uma chance. Se eu falhar logo
agora no começo, tenho medo que não haja outra nunca mais. —
Olhei para ele deixando claro o meu desespero. — Eu nunca tive
algo tão precioso assim nas mãos, por favor, não me faça perder
isso.
Ele me encarou durante um tempo e depois esfregou os olhos,
cedendo.
— Vou pegar a porcaria do celular. Onde tá?
Suspirei aliviado.
— No vestiário.
Sr. Green saiu da sala e pouco tempo depois voltou com o meu
celular. Eu o peguei e assim que a tela acendeu apareceu a foto que
Madison me mandou. Tinha colocado como tela de fundo e bloqueio
logo que ela me enviou.
— Foi por causa dela? — o treinador perguntou. — A briga.
Alisei a tela do celular, bem onde ficavam as sardas na ponta do
seu nariz. Já sentindo uma saudade absurda dela.
— Foi.
Sr. Green suspirou ao meu lado.
— Você vai ser draftado na primeira rodada. Assim como
Johnny, Drake e Taylor. Contudo, você vai ser aquele jogador que os
patrocinadores mais vão buscar, vai ser aquele que os fãs mais vão
querer ter perto e provavelmente vai ser o que mais vai chamar a
atenção da mídia. Tudo o que faz aqui irá refletir na sua carreira. —
O treinador apertou meu ombro. — Então não saia esmurrando mais
ninguém por aí.
Acenei positivamente, entendendo o recado.
— Vou voltar daqui a 10 minutos, e você vai assistir essas
malditas aulas — mandou.
— Obrigado, treinador — agradeci e ele fechou a porta, me
deixando sozinho.
Destravei a tela e entrei na conversa com Madison.
Eu: Tive um problema no treino, vou conseguir sair hoje só às
21hrs.
Meu gnomo: Aconteceu alguma coisa? Você tá bem?
Eu: Nada demais. Estou sim, meu amor.
Eu: Você ainda quer que eu te pegue? Pode esperar?
Meu gnomo: Posso sim, não tem problema.
Ela digitou, mas não enviou nada. Depois ela digitou de novo e
mais uma vez não enviou nada. Sorri porque sabia que
provavelmente ela queria dizer algo, porém estava com vergonha.
Podia sentir dali as suas bochechas corando.
Na terceira vez ela finalmente digitou e mandou.
Meu gnomo: Eu já estou com saudades de você.
Um sorriso involuntário cresceu no meu rosto e chegou até o
coração. Tive que me segurar para não ir até ela naquele momento
e a abraçar bem forte. Sentir o seu cheiro, dizer o quanto eu penso
nela o tempo todo.
Eu: Eu sinto a sua falta todos os dias, em todos os momentos,
minha pequena.
Acho que é preciso de uma vida inteira pra suprir isso. Cheguei
a digitar, só que não enviei.
Como meu tempo estava curto, li as outras mensagens que
recebi e uma delas fez o meu sangue gelar.
Mãe: Feliz aniversário, querido! Que você aproveite o seu dia.
Mãe: Eu queria te ligar hoje... se tiver um tempo, me fala, ok?
Eu esqueci. Hoje era aquele dia. O dia mais triste do ano.
Costumava lembrar quando chegava perto, mas dessa vez esqueci.
Eu: Obrigado, mãe.
Abri a outra conversa. A conversa da outra pessoa, além da
minha mãe, que nunca esquecia aquele dia.
Cameron Payne: Feliz aniversário!
Ele sabia que eu não gostava desse dia, ainda assim todo ano
me mandava a mesma mensagem. Era curta, direta e fria. No
entanto, era o jeito que Cameron Payne achava de me dizer que se
importava.
Agradeci a ele e entrei novamente na conversa com Madison.
Era tolo, porém eu queria que ela soubesse. Digitei e refleti se
enviava ou não. Não era um dia feliz. Entretanto, era um dia que eu
queria passar com ela.
Eu: Hoje é o meu aniversário.
E você conseguiu tornar o dia mais triste do ano suportável,
pequena.
Madison Jensen
 
Observei os slides passarem me sentindo um pouco ansiosa.
Já passava das nove horas. Não tinha quase ninguém no
prédio, e eu decidi ir para a sala exclusiva do pessoal do curso de
artes. Era nela que aconteciam as maiores exposições. Era gigante,
toda branca e os slides tinham uma resolução fantástica, era
possível ver todos os detalhes das imagens que colocávamos para
refletirem nos telões.
Mandei mensagem para Colin avisando que estaria ali, mas ele
não me respondeu de volta. Sua última mensagem foi me dizendo
que era seu aniversário.
A primeira coisa que pensei foi que fazia sentido ele ser de
escorpião. A segunda foi que o seu ascendente deveria ser em
sagitário. E a terceira foi a mais racional: Por que ninguém sabia o
dia do aniversário dele?
Aniversários eram importantes, eu passei todos os meus
sozinha antes de vir para a universidade. Quando conheci Amber,
Scar e Sienna tudo mudou, porém ainda doía lembrar que antes não
tinha ninguém que se importava com o dia em que nasci.
Por isso passei em uma lojinha mais cedo e comprei um
presente. Era sem valor, Colin com certeza podia comprar o que
quisesse e eu não tinha muito dinheiro, foi o que podia dar.
— É aquele artista?
Suspirei ao escutar aquela voz atrás de mim. Olhei por cima do
ombro e vi Colin caminhando na minha direção. Ele se sentou ao
meu lado em silêncio e ficou observando as imagens passarem nos
slides.
Me encostei direito na cadeira e também analisei as obras à
nossa frente.
— É aquele artista? — repetiu depois de um tempo apenas
olhando as imagens.
— É — contei. — William Turner.
As obras dele que pus para passarem eram parecidas. Todas
eram pinturas do pôr do sol, o céu mesclado de cores, deixando
claro as pinceladas rápidas na tela.
— Você consegue perceber a pressa dele pra captar a luz? —
Apontei para os traços da pintura. — Ele misturava a tinta, e
suspeito que nem chegava a mudar de pincel enquanto pintava.
Tinha poucas horas pra acabar o quadro, tudo dependia do
momento em que o sol decidisse desaparecer.
Colin encarou tudo um pouco pensativo.
— Pra mim parece só um quadro um pouco borrado —
comentou e eu ri.
— Pra mim é uma pessoa tentando colocar todas as cores do
céu dentro de uma tela. A mágica da arte é justamente essa —
expliquei. — Pegar algo simples e encher de significado. Poderia ser
banal... Mas na verdade é extraordinário. Depende de como a gente
quer olhar. — Virei para ele e o encontrei me olhando. — Como a
sua moeda.
— Então, minha moeda é uma obra de arte? — perguntou com
o canto da boca erguido.
— Sim — confirmei com um aceno. — Arte é tudo o que pode
ser subjetivo e concreto ao mesmo tempo, assim como o seu
destino. — Toquei a sua corrente e peguei o pingente na minha
mão.
Colin olhou para cada canto do meu rosto, quase como se
quisesse gravar meus detalhes.
— A sua moeda já foi de alguém antes de você tê-la —
continuei, alisando o seu pingente. — Ela já passou por outras
mãos, já viu outras histórias, ela já definiu outros destinos... e você
carrega todos eles. Tudo isso pesa em um único objeto. — Apertei a
moeda. — E isso é arte.
— E é mágico — ele completou, sabendo o que eu falaria, com
um meio sorriso.
— Exatamente. — Soltei o seu pingente e peguei a mão dele, a
guiando até descansá-la no meu colo. Colin me encarou curioso,
esperando para ver o que eu faria. — Magia vem das coisas mais
simples da vida, tudo depende do significado que atribuímos a elas.
— Pisquei e peguei o seu presente na minha bolsa.
Era uma pulseira da sorte. Custou bem pouco, comprei em uma
lojinha que costumava frequentar, era a única em Providence que
vendia esses itens místicos.
— É o seu presente — contei e percebi que Colin ficou
emocionado. — Ele é simples, mas extraordinário. — Abri a pulseira
e coloquei em volta do seu pulso. — É uma pulseira da sorte. Você
pode precisar nos jogos.
Ele olhou a pulseira, amarrada no seu punho, em silêncio e
engoliu em seco.
— É perfeita. — Ergueu os olhos e vi que estavam marejados.
— É o presente mais especial que eu poderia ter ganhado, depois
de você.
Alisei o seu maxilar e Colin fechou os olhos ao sentir o meu
toque. Ele pegou a minha mão e beijou a palma com tanto carinho
que chegou a tocar o meu coração.
— Feliz aniversário — desejei e peguei na minha bolsa uma
caixinha.
Comprei um cupcake também, era o que dava para comprar
com o dinheiro. Ele era grande e veio embalado em uma caixinha
bonita.
Abri a caixinha e mostrei para ele o doce.
— Você precisa fingir que tem uma vela nele e fazer um pedido
— mandei, olhando firme e Colin sorriu com ternura.
— Certo — concordou, pegando a caixinha.
Esperei ele fechar os olhos, porém Colin passou o braço pela
minha cintura e me pegou desprevenida ao me colocar no seu colo.
Abracei o seu pescoço e ele me olhou com um sorriso no rosto.
— Faz comigo — pediu e eu concordei.
Colin encostou a testa na minha e fechamos os olhos juntos, em
sintonia. Entrando em um mundo nosso. Rocei o nariz com o dele
de leve, sentindo a sua respiração. Ele colocou o cupcake entre nós
e pensei em um pedido.
Soprei a vela imaginária pedindo que Colin tivesse um
aniversário maravilhoso. Ele soprou ao mesmo tempo e nos
olhamos com a pergunta pesando entre nós.
— O que você pediu? — perguntei sem conseguir me segurar.
— Duas coisas — revelou, beijando a minha boca. — Que você
fosse sempre feliz.
— Mas o aniversário é seu...
— O segundo pedido foi que você nunca sumisse da minha
vida.
Sorri e alisei a sua boca, fazendo carinho ali.
— Eu pedi pra que você tivesse um ótimo aniversário — revelei
e Colin me abraçou bem apertado, descansando o rosto no meu
pescoço e respirando ali.
— Foi maravilhoso — ele falou tão baixinho que eu quase não o
ouvi. — Só me promete que vai estar no próximo.
— Prometo. — O abracei de volta e ficamos em silêncio.
Estávamos tão unidos que por um momento eu pensei que
poderíamos ser um só.
— Por que ninguém sabe que é seu aniversário? — questionei
alisando as suas costas e Colin me apertou mais, dando um beijo
demorado no meu pescoço.
— Não é um dia feliz — sussurrou contra a minha pele.
— É o dia que você nasceu — murmurei, acariciando o seu
braço até chegar na sua mão para entrelaçar nossos dedos. — É
um dia feliz pra mim.
Colin voltou a encostar a testa na minha, quase como se
precisasse desse contato íntimo.
— Poxa, e eu pensei que infernizasse a sua vida — brincou
com um sorriso.
— Inferniza — concordei provocativamente. — Só que sem
você nela tudo seria muito entediante.
Ele encostou a boca na minha em um beijo ansioso, entreabri
os lábios e a sua língua encontrou com a minha, roçando e me
deixando ofegante. Colin segurou a minha cintura com firmeza, me
pressionando contra o seu corpo.
— Você é tão preciosa... — disse, fazendo as palavras entrarem
na minha boca. — Tão linda e tão minha.
Ele se afastou só o suficiente para poder me olhar de perto.
— Me dá mais um presente? — perguntou observando as
ondas dos meus cabelos. Acenei confirmando sem nem saber o que
ele queria. — Queria um cacho, só uma mecha — falou segurando
um cacho meu.
Respirei fundo e senti meu coração acelerar.
— Dou... — concordei, sentindo as minhas bochechas
esquentarem. — O que você vai fazer com isso?
— Guardar. — Deu de ombros suavemente. — Carregar
comigo.
— Eu corto quando chegarmos em casa.
Colin soltou um suspiro satisfeito.
— Em casa. — Ele me deu um beijo e se levantou comigo. —
Nossa casa.
Peguei minhas coisas e segurei a mão dele, olhando nos seus
olhos.
— Nossa — falei e ele guardou o cupcake antes de sairmos da
sala.
Caminhamos pelo prédio até chegarmos ao gramado do
campus. Estava vazio. Era estranho passar por ali e não encontrar
ninguém, sempre tem estudantes sentados debaixo das árvores, se
reunindo em grupos na grama ou passando apressados com os
seus livros.
Olhei para cima, para as estrelas brilhando acima de nós,
piscando em uma luz magnífica. Aquilo me deu uma nostalgia da
minha infância, um déjà vu.
— Acabei de ter um déjà vu — contei enquanto caminhávamos
pelo gramado.
— Consegue lembrar? — perguntou interessado. — De onde
veio a lembrança?
— Sim — comentei com um sorriso e ele me olhou de canto. —
Quando eu era criança comprava um cupcake no meu aniversário
também. Eu ia pra janela do meu quarto e cantava parabéns pra
mim mesma. Fingia que estava assoprando a vela imaginária, como
a gente fez hoje, e fazia um pedido.
Senti o seu olhar mais intenso, ele apertou mais a minha mão
na sua.
— Quem comemorava com você? — questionou curioso.
— Ninguém. — Dei de ombros e olhei para o céu. — Eu olhava
para as estrelas da minha janela. E parecia que elas me olhavam de
volta, me desejando parabéns. Eu sentia que era observada por
elas. — Me virei para ele. — Era real.
Colin me encarou com ternura.
— Era sim. — Ele beijou a minha testa. — Você disse que tinha
uma avó... — sondou com cuidado.
Descansei a cabeça no seu peito.
— Um dia — disse, me referindo às dúvidas que ele tinha sobre
o meu passado.
— Um dia. — Colin me apertou com cuidado contra si, quase
como uma promessa de que também falaria do seu.
Caminhamos em silêncio e assim que chegamos perto do carro
olhei para o seu punho, onde estava a pulseira da sorte, e percebi
uns machucados leves nos seus dedos.
— O que foi isso? — Toquei as manchas e Colin suspirou
cansado.
— Eu me meti em uma briga. — Passou a mão no cabelo. —
Talvez você veja uns vídeos meus circulando por aí, batendo em um
cara no meio da aula...
— O quê? — Virei para ele, assustada.
— Ele me provocou — justificou. — E não me arrependo.
Colin passou por mim e abriu a porta do carro para eu entrar.
Sentei no banco debilmente, tentando processar aquilo. Ele deu
meia volta e entrou no carro, um pouco apreensivo.
— Você levou suspensão dos jogos? — perguntei assim que ele
ligou o carro e saiu do estacionamento.
— Não — disse, me tranquilizando. — Minha punição foi assistir
umas aulas chatas sobre autocontrole. O ruim é que parece que vou
ter que jogar com ele...
— Ele é do time? Quem é?
— Charles Moore — respondeu com desgosto. — Por favor, me
diga que não o conhece.
Não conhecia.
— Não sei quem ele é — avisei.
— Ótimo — ele disse com raiva, parecendo lembrar do motivo
da briga. — Se ele chegar perto de você, me avise.
Franzi a testa com aquilo.
— Por que chegaria? Ele me conhece?
— Sabe quem você é — resmungou.
Não conhecia nenhum Charles Moore, só focava nos meninos
quando assistia os jogos, deveria saber quem eu era apenas por
andar com eles. Será que...
— Ele falou alguma coisa de mim? — sugeri e Colin estralou o
pescoço, respondendo implicitamente a minha pergunta. — O que
ele disse?
Colin suspirou e pegou a minha mão sem tirar os olhos do
trânsito. A beijou com carinho.
— Nada demais. — Senti o seu hálito quente contra a minha
pele.
— Você fez isso por mim? — perguntei, sentindo uma sensação
estranha no peito.
Sempre fui sozinha. Eu nasci sozinha, cresci sozinha e virei
uma mulher sozinha. Era sempre eu por mim. E mais ninguém. Não
por escolha, eu queria uma companhia, amigos, uma família... só
não me foi dado. Era um sentimento de estar jogada no mundo.
Era errado agredir alguém, sabia disso. No entanto, não
consegui evitar sentir que uma pessoa se importava comigo, estava
ali por mim.
Colin parou no sinal e virou o rosto na minha direção, sério.
— Eu não consigo pensar em uma única coisa nesse mundo
que eu não faria por você — disse como se fosse uma certeza da
vida que ele simplesmente decidiu aceitar.
Olhei nos seus olhos e o meu coração bateu, por um segundo,
em um ritmo diferente. Talvez no mesmo ritmo do dele.
— Eu também sempre vou te proteger — prometi, por mais que
fosse ridículo.
E Colin me olhou... daquele jeito. O mesmo olhar que recebi no
teatro, o mesmo olhar que ele me dava quando achava que eu não
estava vendo, o mesmo olhar que me direcionava nos momentos
em que me espiava.
Você sempre me olhou assim?
Ele pegou a minha mão e entrelaçou apenas os nossos dedos
mínimos, como tínhamos feito quando estávamos sentados na sua
janela.
— Eu sempre vou estar com você — falou, segurando o meu
mindinho.
— Eu sempre vou estar com você — repeti como um juramento.
E de repente, depois de todo esse tempo, eu não estava mais
sozinha.
 
Colin Scott
 
Me encostei no balcão da cozinha me permitindo respirar
aliviado. Senti o peso ir embora do meu peito logo que ela não ficou
zangada ao saber da briga.
Olhei minha pulseira da sorte sabendo que aquele tinha sido o
aniversário mais especial de todos os meus 23 anos. Não
importavam todos os outros que já tive, ou todos os presentes que
já recebi, até mesmo os mais caros.
Aquele tinha sido perfeito, só por poder sentir o cheiro dela
enquanto fazia um pedido e assoprava uma vela imaginária.
E eu estava fodidamente apaixonado por ela. Nunca fui bom em
ouvir conselhos mesmo. Não importa o quanto as coisas pudessem
dar errado. Não importa se amanhã ela decidir não ficar mais
comigo. Não importa se ela nunca conseguir sentir o mesmo. Ou se
eu for me machucar em algum momento.
Não importava. Eu estava entregando o meu coração e se ele
fosse quebrado no final, tudo bem. Estava em boas mãos. E pelo
tempo que ela decidisse ficar com ele, eu seria grato.
Toquei a minha corrente gelada no pescoço e senti o seu peso.
Era quase como se me prendesse, não permitindo que eu me
jogasse completamente. Respirei fundo e depois de muitos anos
finalmente a tirei do pescoço.
Passei-a pela cabeça e foi libertador. Senti o ar mudar, meu
corpo mais leve. Era uma corrente de um prisioneiro e eu tinha me
libertado. Beijei o pingente, onde estava a moeda, e a coloquei no
bolso na calça.
Não tinha mais volta. Eu era completamente de Madison
Jensen.
— Seu outro presente — aquela voz meiga falou atrás de mim e
virei para encontrar minha pequena encostada na entrada da
cozinha.
Ela estava vestindo uma camisola preta curta, decotada, do tipo
que valorizava os seus seios e desenhava cada curva do corpo. A
sequei descaradamente, mas logo me obriguei a focar no que
Madison segurava.
Era o cacho que pedi.
— Você cortou... — conclui me aproximando.
— É seu. — Ela me olhou com um sorriso no rosto.
O cacho estava amarrado na ponta, ele era pequeno e não faria
diferença entre os outros no seu cabelo enorme e cheio. Peguei o
cacho e o alisei com carinho. Senti um aperto no peito, como se ela
estivesse me entregando mais do que uma mecha, e eu tivesse que
cuidar como nunca cuidei de nada na minha vida antes.
— É meu — concordei, a olhando nos olhos e beijando o canto
da sua boca macia. — E eu vou ser digno disso.
Ela suspirou pesadamente e a beijei, puxando o seu corpo para
mim. Madison abraçou o meu pescoço, se erguendo na minha
direção. Provei a sua boca gostosa até deixá-la sem fôlego.
— Obrigado — agradeci, dando um último beijo na sua boca. —
Eu vou guardar com carinho.
Ela assentiu e se afastou para me olhar direito.
— O que você quer fazer? — perguntou com a sobrancelha
erguida. — Ainda é seu aniversário. Podemos acordar todo mundo...
— Não — neguei, encostando o nariz no dela. — Só eu e você
hoje.
— Tudo bem — concordou, voltando a me abraçar. — E o que
você quer fazer? Tem que pensar com cuidado, você tem duas
horas pra pedir o que quiser.
Abracei-a apertado e lembrei do que Madison me disse mais
cedo. Doeu ouvir que comemorava o seu aniversário sozinha,
imaginei uma garotinha pequena e ruiva sentada na janela com um
sorriso cheio de covinhas. Aquilo me causava uma pontada no peito,
e eu só queria tê-la conhecido antes, queria poder ter estado lá com
ela, dizer que nunca esteve sozinha.
Afastei o seu cabelo e enterrei o rosto no seu pescoço cheiroso,
inspirando aquele aroma que exalava dela.
— A gente pode ver as estrelas no seu telescópio — sugeri e a
ouvi suspirar perto do meu ouvido.
— Você já usou um telescópio? — perguntou curiosa.
— Nunca, mas já usei um binóculo, conta? — brinquei e ela se
afastou, balançando a cabeça em negação para mim.
— Vem — chamou, segurando a minha mão. — Ele está lá fora.
Madison me guiou para a área externa da piscina, o seu
telescópio estava no gramado, na parte em que Sienna estava
plantando para fazer o jardim. Quando chegamos ali, me surpreendi
ao encontrar uma certa cagona deitada ao pé do instrumento ótico.
Jennifer Aniston balançou o rabo assim que nos viu chegar,
Madison se agachou para fazer carinho na barriga dela, que se
abriu toda, querendo mais.
— Pelo menos ela não fez cocô aqui. — Me abaixei para coçar
a orelha da cachorra e Madison foi ajustar o telescópio.
— Vou trocar de lente — avisou, mexendo no aparelho. — Qual
planeta você quer ver?
Olhei para cima e cocei a nuca, sem saber. Não entendia muito
disso.
— Saturno — pedi, voltando a alisar o pelo da Jennifer Aniston.
— Só um minuto... — murmurou distraída, olhando pela lente,
concentrada.
Estava sexy. Não sei o que tinha de tão erótico em vê-la mexer
em um telescópio com propriedade. Talvez fosse a camisola
provocadora ou a bunda erguida bem na minha direção... Desviei
antes que começasse a ficar duro ali.
— Vem — chamou, gesticulando para me aproximar.
Levantei e a abracei por trás, descansando o queixo
suavemente sobre a sua cabeça. Ela me deu espaço para poder
olhar e me inclinei, vendo o planeta através da lente.
— Puta merda — foi tudo o que consegui dizer.
Era inacreditável. Não brilhava tanto, porém era magnífico, o
planeta tinha o tom meio amarelo, dourado, e era possível ver um
arco o rodeando, mesmo que a imagem fosse um pouco borrada.
Simplesmente fantástico.
— Isso é magnífico — falei sorrindo, sem conseguir sair dali.
— É incrível, não é? — Ela suspirou do meu lado. — Pensar
que eles estão tão longe e são tão enormes...
— Faz tudo parecer pequeno — concordei, a sentindo me
abraçar por trás e não perdi tempo em segurar a sua mão na minha.
— Eu não sei se isso faz sentido, só que todos os meus problemas
parecem insignificantes agora.
 Ela riu.
— Faz sentido sim.
Jennifer Aniston entrou no nosso abraço, parecendo querer ver
as estrelas também. Me afastei do telescópio, dando espaço para
Madison apontar para outro planeta.
Estava impressionado. Como passei a vida toda sem ver isso?
Era maravilhoso. Olhei para as estrelas no céu enquanto minha
pequena estava inclinada sobre o aparelho e senti o que ela vinha
tentando me mostrar.
— Estamos debaixo de uma obra de arte — conclui e Madison
me olhou por cima do ombro com um sorriso no rosto.
— Exatamente. — Piscou. — Por isso é um pecado não olhar
pro céu.
 Assenti sem conseguir tirar os olhos dela. A pequena voltou a
ajustar a lente e não deixei de observá-la. Estava me sentindo grato.
Obrigado por trazer magia à minha vida. Obrigado por estar na
minha vida. Obrigado por me deixar entrar. Obrigado por passar o
meu aniversário comigo.
— Pronto. — Ela se virou para mim. — Venha ver Júpiter.
— Vem aqui — chamei estendendo a mão.
Ela pegou e a puxei para mim, sentei na espreguiçadeira atrás
de nós e a coloquei no meu colo. Madison não discutiu, apenas
deitou a cabeça no meu ombro. A abracei, rodeando o seu corpo
com os braços e dando beijos na sua testa.
Ficamos olhando para o céu e lembrei de uma citação de
Shakespeare. Encostei a boca perto do seu ouvido e sussurrei:
— Duvides que as estrelas sejam fogo.
Ela se virou na minha direção com a sobrancelha erguida.
— Você está fazendo o dever de casa — murmurou em
aprovação e ergui o canto da boca.
— Estava treinando cantadas mais originais.
Ela revirou os olhos com um sorriso no rosto, mas logo parou
para me encarar com um olhar suave.
— Duvides que o sol se mova — continuou o verso.
— Duvides que a verdade seja mentira... — mas nunca duvides
do meu amor. Não disse em voz alta a última parte, contudo ela
sabia.
Aquilo ficou entre nós, mesmo que só por um momento.
Madison desceu o olhar pelo meu peito e franziu a testa, intrigada.
— Você tirou a corrente — observou, passando a mão no meu
peito.
— Decidi aposentar ela. — Beijei o seu queixo e levantei da
espreguiçadeira, trazendo-a junto.
— Por quê? — perguntou Madison, preocupada. — Era algo
importante.
— Ela significava outra coisa também. Algo que não está mais
funcionando pra mim.
Seguimos para dentro da sala e Jennifer Aniston veio nos
seguindo para deitar em cima do sofá como se fosse proprietária da
casa.
— E a moeda? — questionou curiosa.
— Ainda está aqui. — Bati no bolso da calça. — Sempre vou
usá-la, só não vai ficar presa ao meu pescoço. Agora... — Fiquei na
sua frente e a sequei de cima a baixo. — Se você não quiser que eu
te pegue aqui, sugiro que vá correndo para a nossa cama.
Madison me olhou por exatos dois segundos antes de sorrir
afrontosamente. Dei um passo na sua direção e ela deu um para
trás, me provocando. Ergui a sobrancelha e a pequena atrevida me
deu as costas, subindo lentamente as escadas, em um aviso tácito
de que não seria eu a pegá-la.
Seria ela que me pegaria. E estava ansioso por isso.
Colin Scott
 
Madison entrou no quarto primeiro e eu fui logo atrás. Fechei a
porta atrás de mim e percebi todo o ar mudar. Ela estava diferente.
Caminhei em sua direção e quando a pequena se virou para mim,
foi com uma confiança que me deixou fraco.
Segurei o seu rosto nas mãos e me aproximei, sentindo o seu
perfume gostoso. Ela se ergueu e abraçou o meu pescoço, me
pegando de surpresa ao me dar um beijo quente para caralho.
A ruiva passou a língua em torno do meu lábio, provocando e
abri a boca, ansioso para chupá-la. Madison colocou aquela língua
molhada e quente na minha boca, tocando a minha. Assim que me
inclinei para mordiscar o seu lábio, ela recuou.
A encarei confuso, observei os seus seios cheios subindo e
descendo pelas respirações ansiosas, com os mamilos durinhos na
camisola. Seu cabelo espalhado entre eles e sua cara de quem
estava molhada e excitada.
Ergui a sobrancelha, silenciosamente perguntando se ela queria
que eu me afastasse. E o que recebi como resposta foi um
movimento negativo com a cabeça.
Meu pau pulsou quando entendi o que ela queria. Madison
queria ficar no controle. A imaginei rebolando em cima de mim
freneticamente e só a ideia fez minha boca ficar seca.
— Sou todo seu. — Abri os braços em divertimento, me
encostando na escrivaninha, mostrando que ela poderia fazer o que
quisesse comigo.
Madison se aproximou, se encaixando entre as minhas pernas
abertas. O que não foi nada bom para o meu pau duro, que só
queria dar um esfregada naquele corpo gostoso.
— Eu só preciso... — Ela enlaçou o meu pescoço de novo e
encostou a boca bem perto da minha, o suficiente para sentir o seu
hálito quente e excitante. —... que você me deixe fazer o que eu
quero. — Seus dedos entraram no meu cabelo e a provocadora me
puxou para o beijo mais erótico da minha vida.
Ela colocou a língua na minha boca com a propriedade de quem
invadia um território. Foi lenta, de um jeito calmo de quem sabia que
estava me enlouquecendo, já que eu não podia puxá-la e foder com
a sua boceta ali mesmo.
Gemi e rocei a minha língua com a dela em um beijo molhado.
Ela me puxou mais para si e a abracei, pressionando o seu corpo
gostoso no meu. Madison chupou meu lábio inferior e depois passou
para a minha língua.
Que porra... Meu Deus, que inferno!
Ela sugou a minha língua como se estivesse chupando meu pau
e sabia que aquela era a intenção da cretina. Puxei o seu quadril
para mim, fazendo-a sentir minha ereção pesada e inchada.
Esfregando de leve nela.
Madison gemeu, soltando a minha língua e indo beijar o meu
pescoço. Joguei a cabeça para trás, a deixando lamber tudo. E foi
exatamente o que a minha pequena fez. Ela passou a língua pelas
minhas veias pulsantes, bem onde eu era sensível.
Meu corpo todo arrepiou e estremeci, roçando o pau nela de
novo, sem conseguir me controlar. Podia gozar só por tê-la nos
braços lambendo a porra do meu pescoço.
Madison desceu as mãos perigosamente perto do meu
abdômen e não perdi tempo. Tirei a minha camiseta de uma vez e
ela olhou meu corpo com nítido desejo.
Você deve estar tão molhadinha nesse momento.
— Vem aqui, pequena — chamei, e minha voz saiu rouca de tão
excitado que estava.
Ela passou os braços pelo meu pescoço e voltou a me beijar. A
abracei e enterrei os dedos naqueles cachos, querendo mantê-la no
lugar. Desci a outra mão para a sua bunda e a banda se encaixava
quase toda na minha mão.
— Feita pra mim — murmurei em sua boca, metendo a língua
nela e a fazendo gemer baixinho. Apertei a bunda, a puxando para
esfregar a sua virilha no meu pau. — Feita pra receber meus tapas.
— Bati de leve na carne cheia e ela choramingou, querendo mais.
— Você disse que ia ficar quieto — repreendeu, me puxando
para si.
— É bom você saber — sussurrei, indo falar perto do seu
ouvido, a sentindo suspirar e derreter nos meus braços. — Eu nunca
fico quieto. — Mordisquei o lóbulo da sua orelha, babando-o.
Ela espremeu as pernas uma na outra e desceu aquelas
mãozinhas para alisar meu abdômen, sentindo as dobrinhas e meu
sangue gelou. Madison chegou no zíper da minha calça, abrindo-o.
O som do deslizar do zíper foi suficiente para fazer minhas
bolas chorarem e meu pau se erguer, ansioso. Toquei seu rosto,
querendo beijar aquela boca, mas Madison me fodeu ali.
Ela se ajoelhou na minha frente.
Ah, cacete.
— Madison... — avisei, respirando pesadamente.
— Você disse que era todo meu — respondeu sem me olhar,
encarando o meu pau na calça, completamente erguido.
— E sou — concordei, tocando o seu rosto perfeito. — Todo
seu.
Ela abaixou minha boxer e a ajudei, descendo mais a calça para
soltar totalmente o meu pau. Ele saltou para fora ereto, vermelho,
duro e cheio de veias. A cabeça estava lambuzada pela lubrificação
e eu sabia que ela nunca o colocaria todo na boca.
— Meu Deus — foi tudo o que ela disse, assustada. Sua boca
fez um “O” de surpresa e foi fofo.
Ergui o canto da boca em um sorriso, alisando a sua bochecha.
— Não precisa querer colocar tudo — avisei, porém ela lambeu
os lábios sem tirar os olhos do meu pau, que estava quase
implorando pela atenção dela.
Gemi quando ela se aproximou e respirou pesadamente perto, o
ar quente tocando a cabeça sensível. Enterrei os dedos no seu
cabelo e ela finalmente o abocanhou.
Puta que pariu, a boca dela era a porra do céu.
Gemi, torcendo o pescoço para aliviar a tensão do meu corpo,
queria estocar na sua boca, só que não podia. Madison chupou
apenas a cabeça, rodando a língua pela pele e me fazendo gemer.
Apertei ainda mais o seu cabelo, mas sem machucar. Meu medo era
de ser demais para ela, por isso respirei fundo, tentando controlar a
vontade de meter com tudo.
Minha pequena soltou a cabeça em um estalo, deixando tão
babado ao ponto de pingar saliva. Logo que ela ergueu os olhos
para mim... de joelhos, pagando um boquete. Meu Deus, eu gozaria
só por vê-la assim.
— Não precisa se conter — ela pediu, lambendo a cabeça sem
tirar os olhos de mim. Que porra! — Não precisa se conter comigo
— disse, voltando a colocar na boca.
Trinquei os dentes com força e segurei com mais firmeza o seu
cabelo, querendo foder aquela boca atrevida.
— Se for demais ou machucar... — Gemi quando ela chupou
com mais força, me avisando sutilmente que queria tudo. Merda.
Estoquei na sua boca do jeito que ela queria. E a ruiva pareceu
gostar. Gemeu e se inclinou para frente ansiosa, esfregando os
seios nas minhas coxas.
Fodi mais rápido, segurando o seu cabelo e vendo os seus
lábios ficarem esticados ao redor do meu pau, indo ao limite. Até a
boquinha dela foi feita só para mim, na medida certa.
Travei o maxilar com força. Ela não conseguia engolir nem até a
metade, entretanto me dava muito tesão ver a minha pequena me
chupando de joelhos.
Madison babou bem o meu pau, ele deslizava na sua boca com
facilidade, deixando um eco ao sair. Logo em seguida eu fazia
questão de voltar a preencher sua boca, metendo com movimentos
curtos. Alisei o seu rosto com carinho, me sentindo protetor, com
medo de a machucar ou assustá-la.
Estoquei um pouco mais fundo, tocando na sua garganta, só
para dizer com todo o meu corpo que ela era minha. Só minha.
Senti que ela sugou mais e quis passar meu pau em todo o seu
corpo para marcar território.
Ela deu uma última chupada e depois passou a língua
lentamente pela cabeça em formato de cogumelo. Aquela língua
quente e melada, babando o meu pau duro, deixando a pele
vermelha e brilhante... Minhas bolas pesaram e meu coração
acelerou, querendo meter mais.
Madison voltou a me chupar e alisei o seu queixo macio e
delicado que me engolia. Ela abriu mais a boca para mim, babando
tudo ao redor, fazendo a saliva escorrer pelo talo.
— Isso... — incentivei ofegante, travando o maxilar. Suas unhas
cravaram no meu quadril, me puxando mais para si e fazendo os
músculos se contraírem. — Boca gostosa — gemi, revirando os
olhos e sentindo um tesão do cacete.
Me forcei a me concentrar naquela visão do paraíso, não queria
perder nada. Ela de joelhos, me pagando um boquete, sua cabeça
ruiva indo e vindo com movimentos certeiros, os lábios sugando o
meu pau, sua língua tímida passando ao redor. Era tudo demais.
Alisei o seu queixo com carinho, porque não conseguia
simplesmente não deixar de ser cuidadoso com ela, mesmo
recebendo um oral. Por mais que ela me pedisse, não conseguia.
Madison inclinou a cabeça de lado, tentando me engolir mais e
percebi que estava começando a cansar o seu pescoço. Acariciei a
sua nuca e com muita dor e sacrifício, tirei o meu pau de dentro
daquela boca quente e úmida.
Ele saiu erguido, irritado, pulsando, bem babado, tinha saliva
escorrendo até as bolas e toda a minha força de vontade foi usada
para não me masturbar ali. A pequena ergueu o olhar confusa e
ofegante, sua boca estava toda melada e vermelha, acariciei a
região tentando respirar fundo.
— Você...
— Estava começando a machucar você, meu amor — falei,
tentando acalmar o meu coração acelerado.
Ela ergueu a sobrancelha e lambeu novamente o meu pau, me
fazendo suspirar tremulamente.
— Você vai me matar — alertei, ela levantou o canto da boca e
simplesmente tirou a camisola, mostrando os seios para mim.
Meu Deus, eu estava fodido. Não existia um homem na terra
que resistiria a isso. Ela estava nua, vestindo apenas uma calcinha
pequena que mal cobria a sua boceta. Senti minhas bolas pesarem
e meu pau pulsar violentamente para cima, querendo ser chupado
novamente.
Ela colocou a mão em volta dele, o segurando e passou a me
masturbar com velocidade. Joguei a cabeça para trás, estocando
com vontade na mão perfeita dela. Não me segurei, olhei para baixo
outra vez e peguei o seu cabelo com firmeza, do jeito que ela tinha
me pedido.
Passei eu mesmo a bater a punheta pois estava desesperado
para gozar, estava perto. E queria me derramar bem nos seios dela.
Madison inclinou a cabeça para trás, oferecendo o seu pescoço
macio e sedoso.
Passei o pau ali, alisando a região da pele e acelerando ainda
mais, sentindo as bolas pesadas. O orgasmo veio. A porra saiu
espirrando para fora do meu pau e escorrendo pelos seios dela. Os
mamilos rosados melados ficaram tão perfeitos que quis guardar a
imagem para sempre.
Madison passou o polegar entre os seios, o molhando com o
sêmen e depois o colocou na boca, me levando à loucura.
— O que eu faço com você, hein? — brinquei ofegante, a
puxando para cima.
Assim que ela se levantou a peguei no colo, erguendo-a do
chão. Ela riu e se segurou em mim pelo pescoço.
— Eu preciso dizer? — devolveu atrevidamente.
Não, não precisava. Tentei com tudo de mim não a secar nua
nos meus braços, mas foi difícil. Caminhei com a pequena até a
cama, a deitando no colchão. Tirei o resto da roupa e subi para ficar
por cima do seu corpo.
Ela me olhou ansiosa, abrindo as pernas para me deixar
encaixar ali. Peguei o seu rosto com carinho e a beijei
demoradamente, provando o gosto do meu próprio pau.
— Colin — gemeu manhosa o meu nome e a puxei mais para
mim, colando os seus seios nus no meu peitoral.
Segurei a sua bunda e esfreguei a entrada da sua boceta no
meu pau ainda endurecido. Seu clitóris deveria estar pulsando, pois
ela choramingou e se esfregou toda no meu pau. Ele roçou a sua
calcinha pequena e alisei as suas coxas macias até chegar na
boceta.
Passei o dedo por cima da calcinha úmida, e isso foi o suficiente
para ela erguer os quadris em desespero, precisando ser tocada.
Segurei a sua calcinha e me afastei dela só o bastante para tirá-la
do seu corpo, deixando-a completamente nua.
Boceta deliciosa.
Gordinha, com pelinhos ruivos ao redor e toda melada.
Aproximei o rosto da entrada e inspirei o seu cheiro gostoso, quis
esfregar meu rosto ali. Lambi bem devagar a entrada e a escutei
gemer o meu nome, se esfregando nos lençóis.
— Bota as pernas em cima dos meus ombros — mandei e ela
nem questionou, só obedeceu imediatamente, colocando cada coxa
em cima dos meus ombros, deixando a boceta bem aberta na minha
cara.
Soprei de leve ali, onde os lábios melados estavam prestes a
escorrerem de tão molhada que ela estava. Lambi ao redor antes de
passar a língua entre eles, a fazendo se contorcer toda. A segurei
no lugar, colocando as mãos em volta do seu quadril, apoiei os
cotovelos na cama, para me firmar, e ergui o quadril dela de uma
vez, deixando a boceta na altura do meu rosto.
— Colin... o quê? — ela perguntou confusa, porém logo se
calou quando a chupei.
Enfiei a língua bem na entrada lambuzada, gemendo ao sentir o
gosto dela. Meti e tirei devagar, a enlouquecendo.
Madison passou a rebolar os quadris e como eles estavam
erguidos, só fez com que as coxas dela prendessem a minha cara
ali. Tudo estava perfeito, podia morar naquela boceta. A lambi bem,
escutando minha pequena gemer e subi para chupar o seu clitóris
inchado.
Passei a língua em cima dele e ela segurou o meu cabelo com
força, me puxando para mais perto. Rodeei em volta dele, a
deixando mais melada ainda.
— Colin... por favor, eu preciso — implorou e sorri contra a sua
boceta, estalando a língua bem em cima do clitóris. — Por favor...
— Você precisa pedir com as palavras certas — provoquei,
querendo muito ouvi-la falar putaria para mim.
Isso me rendeu um puxão de cabelo, fazendo meu sorriso
crescer mais. Me dediquei a chupá-la até o limite.
— Por favor... — pediu mais uma vez e ergui o olhar para ela,
afrontosamente. — Eu quero gozar.
Sorri de forma sacana.
— Agora sim. — Pisquei para ela e esfreguei a língua no seu
clitóris com firmeza.
Ela gozou segundos depois, rebolando na minha cara. Soltei o
seu quadril na cama e a pequena caiu toda derretida. Me inclinei
sobre o seu corpo e abocanhei os seios cheios ainda lambuzados
da minha porra, dando alguns beijos.
Madison me puxou para cima ansiosa e beijei a sua boca,
querendo que ela sentisse o nosso gosto misturado. Segurei o seu
corpo nu embaixo do meu, totalmente rendido e submisso.
— Gostosa. — Ofeguei na sua boca e ela abriu as pernas
desejosa, fazendo meu pau duro cutucar a sua boceta melada de
gozo. A cabeça passou pelos lábios abertos e travei o maxilar para
me impedir de estocar com tudo ali.
Mordisquei o seu lábio inferior uma última vez, a soltando para
pegar uma camisinha. Deslizei o preservativo pela minha ereção e
não consegui me impedir de apreciar a minha pequena jogada na
cama. Nua. Gozada. E ansiosa para ser preenchida pelo meu pau.
Subi nela aos poucos e a peguei de surpresa quando a virei de
lado comigo.
— Colin... — Franziu a testa confusa e excitada.
Peguei a sua coxa e a coloquei em cima do meu quadril, a
puxando mais para mim. Passei o braço protetoramente pela sua
cintura e beijei a sua boca gostosa.
— Vai ser mais gostoso assim de ladinho — falei no meio do
nosso beijo e ela choramingou, me puxando mais para si. — Só até
eu meter tudo, pra não machucar.
Guiei meu pau até a sua entrada e ela já veio jogando os
quadris, querendo sentar. Segurei a sua bunda cheia e macia,
empurrando-a na direção da minha ereção. Comecei a entrar
naquela boceta apertada e tive que trincar os dentes para me
controlar. Mordi o seu pescoço para conter um gemido e ela me
abraçou, arranhando minhas costas, tentando puxar mais o meu
quadril para frente.
Esfreguei o pau na sua boceta um pouco, só para acalmá-la, só
que parece que teve o efeito contrário. Madison tremeu nos meus
braços, contraiu a boceta gostosa, me estrangulando e começou a
rebolar em mim. Foi uma delícia senti-la se alargando até o limite.
Quando quase botei tudo, a pequena fez uma cara de dor e parei
imediatamente.
— Doendo, meu amor? — perguntei preocupado, alisando das
suas costas até a bunda.
— Um pouco... — Ofegou com as bochechas coradas, ela
escondeu o rosto no meu pescoço e voltou a rebolar, me deixando
zonzo de tesão. — Não para, por favor.
— Mas se estiver doendo...
— Por favor! — pediu desesperada, rebolando e sorri, beijando
a sua bochecha e metendo de uma vez.
Porra. Eu senti o corpo dela se arrepiar. E o meu também. Sua
boceta derreteu, estava tão melada que era possível ouvir assim
que deslizei de volta para estocar com tudo. Madison gemeu, vindo
esfregar o quadril com o meu e percebi que ela gostava quando
metia com força.
Cravei os dedos na sua bunda para mantê-la no lugar e
comecei a bombear freneticamente. Madison estremeceu da cabeça
aos pés nos meus braços e tentou abrir mais as pernas, se
chocando comigo.
— Colin... — chamou, jogando a cabeça para trás e aproveitei
para chupar o seu pescoço.
Estoquei no mesmo ritmo, enterrando meu pau até o talo na sua
bocetinha melada. Minhas bolas pesadas chegavam a tocar a sua
virilha, e tive que segurar a sua bunda com mais força ou ela iria me
fazer gozar se continuasse rebolando desesperadamente daquele
jeito.
Os dedos da minha mão iriam ficar marcados na sua pele e isso
me causou uma puta satisfação. Era a marcação de um território,
não tinha nada nela que não fosse só meu, para proteger, cuidar,
comer...
Os seios dela balançavam entre nós, suados, pesados e
excitados. Lambi o seu pescoço e levei o polegar até a sua boca.
— Chupa — mandei em um tom autoritário e vi nos seus olhos
que ela gostou.
A pequena abriu a boca e sugou o meu dedo, passando a
língua ao redor, me deixando louco. Fodi com mais força e ela
mordeu o meu polegar levemente, avisando que iria gozar. Tirei o
dedo da sua boca todo babado e o levei até o bico do seio excitado,
passei ao redor com calma e Madison me puxou mais para si.
Fiquei rodeando o mamilo provocativamente até descer para o
clitóris. Bastou que tocasse no seu clitóris, o esfregando de leve que
Madison gozou no meu pau.
Cacete. Ela contraiu repetidamente, minhas bolas doeram de
tão pesadas e estoquei uma última vez. Gozando junto com ela,
derramando o sêmen na camisinha.
Respiramos pesadamente, ofegantes, tentando buscar ar. Senti
o seu peito subir e descer no ritmo do meu.
Quando o seu coração se acalmou, Madison me abraçou,
beijando o meu pescoço. Peguei a sua mão e a beijei com zelo,
carinho e reverência. Estou completamente apaixonado por você.
Ela suspirou, se aconchegando em mim e alisei as suas costas
em um carinho suave, plantando beijos no seu ombro nu. Estava tão
bom tê-la assim que senti medo de perdê-la e a apertei mais no
nosso abraço.
— Eu tenho sido só seu desde que te conheci — contei, dando
outro beijo demorado no seu ombro. — Não estive com mais
ninguém desde aquela festa.
Precisava que ela soubesse, que tivesse confiança em mim.
Madison se afastou só o suficiente para me olhar. Vi no seu rosto as
sobrancelhas erguidas em susto. Seria cômico se não fosse trágico.
— Que festa?
Sorri para a sua cara de espanto.
— A que aconteceu depois que caí em cima de você, no dia que
nos conhecemos.
Ela arregalou os olhos e sua boca fez um “O” em choque.
— Meu Deus... — disse perdida, mas do nada ela começou a
rir. — Meu Deus, você sempre foi a fim de mim!
Revirei os olhos.
— Olha quem fala — provoquei, estalando a língua. — Não foi
você que botou fogo na própria casa só pra parar na minha cama?
— Ai, Colin... — murmurou em um tom de deboche. — Está
mais fácil você ter feito isso do que eu.
Estava.
— Você vai negar até o fim. — Balancei a cabeça em negação
para ela e a peguei de surpresa ao erguê-la enquanto levantava da
cama. — Banho junto ou separado? — perguntei com ela nos
braços.
— Junto — disse, olhando para mim com um olhar divertido.
Beijei a ponta do seu nariz e entrei com ela no banheiro, a
colocando no chão.
— Tenho algo muito importante pra falar — avisei descartando a
camisinha.
Madison se virou para mim curiosa, sem ter mais vergonha de
estar completamente pelada na minha frente.
— Eu não sou um ovo... — disse provocando e ela revirou os
olhos. — Mas quando te vi fiquei mexido.
Ela tentou ficar séria, porém não conseguiu. Riu alto.
— Você é tão idiota...
— Não ria. — A peguei pela cintura e a levei para dentro do
box. — Foram essas cantadas que te deixaram nua, hein.
— Colin — alertou. — Não esqueça que sempre tem o sofá te
esperando.
— O sofá hoje é da Jennifer Aniston, gnomo. — Pisquei, ligando
o chuveiro e fazendo a água cair em cima de nós.
Ela me abraçou e eu suspirei baixinho. Era difícil acreditar que o
mundo continuava girando quando eu o sentia parar só por ela me
abraçar. Era uma sensação gostosa saber que ela estava ali nos
meus braços e não iria sair.
Ah, meu amor, como você chega assim e muda tudo na minha
vida?
 Madison Jensen
 
Quando saí da cama hoje de manhã senti uma leve dor no meio
das pernas, mas era uma sensação gostosa. Meu corpo estava
satisfeito, leve e energizado. Para falar a verdade eu já podia esquecer
a meditação, os abraços, o chá ou respirar o ar puro da manhã, tudo o
que eu precisava para começar bem o dia era ter Colin Scott dentro de
mim.
Isso melhorou tanto meu humor que passei o dia sorrindo para
qualquer pessoa. O que me rendeu olhares estranhos, talvez o porteiro
do meu prédio tenha pensado que eu estava dando em cima dele, só
que nem me importei. Estava feliz. Tinha para quem voltar e abraçar
quando chegasse em casa.
Dizer que estava com saudades e sentir o seu cheiro. Estava
contando as horas para vê-lo de novo, provavelmente o atacaria. Colin
me pareceu bem carinhoso, porém não sei se estava preparado para
ver o quanto eu era pegajosa. E também queria outras coisas...
Queria tirar a sua camiseta, tocar o corpo definido, colocá-lo na
boca de novo... Meu Deus, será que eu tinha me tornado uma safada?
Corei só de lembrar de como me ajoelhei na sua frente e olhei ao redor
só para conferir se alguém estava prestando atenção em mim.
Para meu alívio, todos estavam concentrados nos próprios textos.
Como eu deveria estar no meu próprio trabalho, afinal, estava sendo
paga. Tinha recebido hoje o pagamento adiantado pela ajuda na peça,
e por mais que a quantia me ajudasse, também fazia me sentir culpada.
O que me confortava era saber que eu estava mesmo fazendo um
trabalho para ele. O Sr. Stone não estava mentindo quando disse que
não teria tempo de organizar tudo, fiquei responsável pelo figurino,
cenário, analisar falhas no roteiro, verificar se cada um estava
conseguindo decorar as falas e ver como andavam as atuações. A
parte que mais me deixava insegura era sobre a minha própria atuação,
tinha passado a manhã vendo vídeos de outras peças para imitar
expressões, decorando minha parte e ensaiando em frente ao espelho.
Até que não fiquei tão ridícula quanto achei que ficaria. Meu lado
otimista me dizia que tudo daria certo. Por mais que fosse muito
trabalho e ainda tivesse minhas aulas, eu precisava daquela renda e
ainda me daria oportunidades de ouro.
Meu celular apitou no bolso e vi que estava na hora da minha
última aula, daria tempo só de passar no refeitório para comer alguma
coisa. Peguei minha bolsa e acenei em despedida para o pessoal que
estava ensaiando em cima do palco do teatro.
Quando ia passando pela porta da saída esbarrei em um corpo
grande que me fez tombar para trás.
— Desculpa — pedi, me equilibrando e olhando para a pessoa.
Era Derek. Ele sorriu abertamente ao me reconhecer.
— Ei, pensei que você estivesse aqui mesmo — cumprimentou.
Coloquei minha bolsa no ombro e sorri de volta em simpatia para
ele, ainda que me sentisse um pouco acanhada. Derek tinha se
convidado para jantar comigo pensando que eu estava disposta a
alguma coisa, mas não estava. E ainda foi praticamente posto para fora
por Colin.
— Pois é, eu estou ajudando o Sr. Stone — contei sem jeito, sem
saber como me desculpar. — Derek, eu deveria me desculpar pelo
jantar, Colin foi um pouco grosseiro e...
— Ele sempre é — interrompeu Derek, dando de ombros.
Senti uma pontada estranha no peito, era incômodo misturado com
proteção. Quis defender meu maluco. Colin não é grosseiro, pelo
contrário, quase todo mundo o adorava por ser simpático até demais.
— Ele não é sempre assim — expliquei, entretanto Derek ergueu a
sobrancelha ironicamente.
— Comigo ele é, mas eu até entendo — ele colocou as mãos no
bolso da calça e me olhou de cima a baixo. — Eu entendi tudo errado,
não sabia que vocês estavam juntos.
Pisquei debilmente e meu coração deu uma acelerada. Tínhamos
alguma coisa, eu não sabia se era um relacionamento, contudo
significava muito para mim.
— Então... — Derek coçou a nuca quando eu não disse nada e
olhou para mim um pouco ansioso. — Vocês são exclusivos? Ou
podem ver outras pessoas?
Arregalei os olhos em choque com a pergunta. Se bem que era um
bom questionamento. Eu abri e fechei a boca algumas vezes, sem
saber o que dizer. Acreditava que sim. Ele tinha dito que me esperou
por meses, isso tinha que valer de algo.
Será que Colin era do tipo que gostava de relacionamentos
abertos? Ou pior, será que não tínhamos nada sério e eu estava me
iludindo?
— Somos exclusivos — respondi com uma confiança que não
sentia e passei por ele. — Eu já estou atrasada, a gente de se vê
depois. — Sorri e acenei.
Derek murchou decepcionado e acenou de volta, entrando no
teatro logo em seguida. Segui para o refeitório me sentindo insegura.
Colin me deu a entender que o que estávamos construindo era algo só
nosso, e eu sentia verdade nisso.
Só que ninguém falou nada sobre exclusividade, e me dava uma
dor física pensar nele com outra pessoa. Era bom tirar a pedra do
caminho. Em um impulso peguei o celular e mandei uma mensagem a
ele.
Eu: Podemos ficar com outras pessoas?
Colin respondeu imediatamente.
Ódio da minha vida: Como é???
Mordi o canto da unha sem saber como começar, não ia perguntar
se estávamos tendo um relacionamento. Era muito cedo e ainda
poderia parecer que estava forçando a barra.
Meu celular tremeu com outra mensagem dele.
Ódio da minha vida: Que papo é esse??
Eu: Eu só queria saber se o que temos envolve outras pessoas ou
não.
Ódio da minha vida: Não envolve.
Ódio da minha vida: Nunca.
Ódio da minha vida: Em hipótese nenhuma.
Ódio da minha vida: Você anda querendo sair com alguém?
Eu: Não!
Eu: Eu só não sabia se era exclusivo.
Ódio da minha vida: Onde você está?
Franzi a testa com a pergunta aleatória e respondi que estava
chegando no refeitório. Ele só mandou um “Tá” e depois não falou mais
nada. Ok... pelo menos eu sabia que Colin era só meu por enquanto.
Revirei os olhos para a minha própria tolice e assim que entrei no
refeitório encontrei uma cena inédita que jamais pensei em ver na vida:
Amber estava sentada em uma mesa junto com Bethany e Scarlett.
Chocante. Parei no lugar de tão incrédula que fiquei. Não era
ilusão, elas estavam sentadas juntas amigavelmente.
  Bethany é a líder da nossa antiga fraternidade e ela sempre foi
horrível com Scar. As duas viviam se alfinetando e passaram os anos
em que vivemos juntas brigando. Nunca gostei muito da Bethany, já
perdi a conta de quantas vezes desejei que o seu cabelo caísse... o que
não aconteceu, todos os seus fios loiros e lisos pareciam fixos na
cabeça.
A única de nós que era amiga dela era a Amber, o que era
compreensível. De quem Amber não gostava? As meninas me falaram
que elas tinham conversado e que Bethany estava tentando mudar.
Achei fofo, mas nunca pensei que as encontraria juntas como se
fossem amigas. Ainda era algo estranho de se ver, não consegui
disfarçar a surpresa.
Comprei o meu sanduíche vegetariano e caminhei até a mesa
delas. Logo que Bethany me viu chegar ergueu a sobrancelha em
divertimento.
— Surpresa, não é? — provocou e tive que rir ao olhar para as três
sentadas ali.
— Em estado de choque — corrigi, sentando ao lado da Scar.
— Estamos fingindo nos suportar — Scar brincou.
— E até estão indo bem — elogiou Amber para as duas.
— Quem ver de longe pode até pensar que somos civilizadas. —
Piscou Scar para Bethany.
— Já está indo pra casa? — Amber perguntou para mim, ansiosa,
com a cara de quem queria alguma coisa.
— Não, vim só comer alguma coisa, ainda tenho mais uma aula —
respondi, mordendo o meu sanduíche e ela enrugou a ponta do nariz
em desapontamento. — No entanto, não vai demorar, quer fazer
alguma coisa hoje?
O rosto de Amber se iluminou e ela quase pulou da cadeira.
— Eu estou tão entediada! — ela resmungou. — Faz séculos que a
gente não sai.
— O aniversário do Peter não foi um dia desses? — lembrei e
Amber revirou os olhos.
— Não conta... todo mundo foi embora cedo naquele dia —
retrucou.
— Só foi emocionante pra você, querida. — Scar apontou para
mim. — Que saiu de lá carregada.
Minhas bochechas esquentaram ao lembrar daquele dia e Amber
começou a gargalhar muito alto, chamando a atenção das pessoas ao
redor.
— Ai... — Amber limpou o canto dos olhos. — Foi tão engraçado!
— Eu soube dessa história. — Bethany estreitou os olhos para mim
com um sorriso no rosto. — Quem diria, hein, Maddie? Você e Colin
Scott...
Eu ainda não tinha falado para as meninas que fiquei com ele e
não queria contar ali. Baixei os olhos constrangida e pensei em um jeito
de fugir do assunto.
— Falando no diabo... — comentou Scar, olhando por cima do meu
ombro.
Não era possível! Olhei para trás em susto e vi não só Colin, como
a maioria do time de hóquei caminhando em nossa direção. Ele tinha os
olhos azuis fixos em mim e estava vestindo o moletom do time, que só
o deixava mais atraente.
Eles chamavam atenção de longe por serem enormes, percebi que
nem todos os meninos estavam ali. Só encontrei Johnny, Drake e Peter,
o resto dos jogadores deveriam ser reservas pois eu não lembrava dos
seus nomes, por mais que já tenha os visto.
Todos os gigantes sentaram à nossa mesa como se tivessem sido
convidados. Colin puxou uma cadeira do meu lado e passou o braço
atrás da minha em um gesto possessivo. Um movimento que não
passou despercebido por ninguém.
— É... — Bethany balançou a cabeça em aprovação. — Isso
explica muita coisa.
Johnny e Drake trocaram um olhar intrigado, enquanto Amber e
Scar sorriram convencidas, sem nenhuma surpresa. Contudo, os
olhares delas diziam que iam me encher de perguntas depois.
 Eu só queria sumir. Me encolhi mais na cadeira e isso fez com que
me aconchegasse mais no corpo firme de Colin, ele estava tão
cheiroso. Era tão bom ficar perto, e eu já estava com saudade...
Me aproximei um pouco do seu rosto para falar perto do seu
ouvido.
— Eu senti a sua falta — falei baixinho para ninguém mais ouvir.
Colin me puxou para si, dando um beijo demorado na minha testa.
Ele inspirou profundamente, percebi que estava sentindo o meu cheiro
e aquilo deu uma acalmada no meu coração.
— Se você continuar me dizendo essas coisas eu vou ter que te
sequestrar, meu amor — murmurou e não me importei mais se tinha
alguém olhando, só sorri e descansei a cabeça no seu ombro.
Nunca dispensaria carinho gratuito. Escondi o rosto no seu pescoço
pois sabia que estávamos sendo alvo de atenção e ainda me sentia
desconsertada. Colin me segurou mais apertado, protetoramente e
ficou dando beijos no meu cabelo.
— OOOOW QUE LINDOS! — falou Amber alto demais, toda
derretida. — Eles não são lindos, amor? — perguntou.
— São, princesa — respondeu Johnny a ela.
Colin riu e eu revirei os olhos, mas ainda me recusando a olhá-los.
Queria ficar naquele casulo que o pescoço dele me oferecia, um lugar
perfeito e só meu.
Eles começaram uma conversa sobre hóquei e senti que já não
estavam nos observando tão atentamente. No entanto, Colin continuava
a fazer carinho em mim, ele levou a mão ao meu cabelo, enterrando os
dedos nos meus cachos e alisando a minha nuca.
— Não tem mais aula hoje? — perguntou, beijando a minha testa.
Me afastei só o suficiente para vê-lo. Encarei os seus olhos azuis
lindos e suspirei.
— Tenho sim.
Ele ficou olhando para as minhas sardas no nariz, parecendo
contá-las. Já tinha pegado Colin fazendo isso algumas vezes e era
engraçado.
— Eu vou ficar te esperando — disse, tirando o meu cabelo da
frente do rosto. — Que papo foi esse de ficar com outras pessoas?
Mordi o lábio inferior para conter o riso e balancei a cabeça.
— Alguém me perguntou se o que tínhamos era exclusivo e eu
fiquei sem saber o que dizer — confessei.
Seus olhos me consumiram, me encarando com intensidade.
— Quem perguntou isso?
Respirei fundo, sabendo como isso soaria estranho.
— Derek.
Colin apenas levantou a sobrancelha cinicamente e sabia que
estava zangado. Não comigo, para falar a verdade nunca o vi realmente
zangado comigo.
— Você é ciumento — brinquei. — Isso vem do seu signo.
O canto da sua boca se ergueu.
— Que bom que eu sempre posso colocar a culpa nele. — Colin se
aproximou mais. — Vamos fazer um trato?
O olhei desconfiada, porém assenti.
— Eu sou ciumento com você — admitiu, dando de ombros. —
Confesso que sempre fui bem tranquilo, só que desde que te conheci
eu quero tudo só pra mim — explicou, alisando o meu pescoço e o olhei
sem saber o que dizer, sentindo a minha respiração ficar mais pesada.
E quente.
— E qual é o trato? — perguntei, esquecendo que estávamos em
um lugar público e nem ligando para a conversa paralela que acontecia
na mesa.
— Se algum dia isso te incomodar você me avisa e eu paro
imediatamente. E se algum dia eu perceber que isso está te
machucando, eu vou embora — sussurrou para mim.
Meu coração doeu ao ouvir isso, não o queria distante de mim. E o
ciúme dele não me incomodava, pelo contrário, tinham momentos em
que até era excitante.
— Você não vai a lugar nenhum — determinei, enlaçando o seu
pescoço e sorrindo para ele. — Eu não deixo.
Colin sorriu de volta e encostou a testa na minha.
— Ótimo — respondeu baixinho. — Porque ainda quero cuidar de
qualquer parte sua que me oferecer.
E se for o meu coração todo?
Suspirei e encostei a cabeça no seu ombro. Colin beijou o meu
cabelo e ficamos prestando atenção na conversa do pessoal. Bethany
estava convidando todo mundo para fazerem uma festa na nossa antiga
fraternidade. Olhei de canto para Scar, esperando a sua reação e ela
parecia tranquila em ir, por mais que tenha sido muito rejeitada pelas
meninas de lá.
— Se não tiver nada de casas pegando fogo dessa vez... —
Johnny jogou a indireta para Colin, que bufou do meu lado.
— Em minha defesa, eu nunca dei uma festa pra uma casa pegar
fogo. — Colin colocou a mão no peito. — Aquela foi a primeira vez.
— Agora você é um homem comprometido. — Drake lançou um
olhar satisfeito para nós. — Não pode mais ficar metido nessas festas
de caráter duvidoso.
Aquilo era tão absurdo que eu ri. Não conseguia imaginar Colin
longe de festas, pessoas ou até mesmo de confusão. Ele me olhou de
canto, fingindo estar ofendido.
— Pode rir à vontade. — Colin se encostou relaxadamente na
cadeira. — Mas de agora em diante eu só ando acompanhado.
Revirei os olhos, entretanto quando o olhei, percebi que estava
falando sério mesmo.
— Ah, Maddie... — Suspirou Johnny, parecendo que alguém havia
tirado o peso do mundo das suas costas. — Você não tem ideia do
quanto sempre serei grato.
— Você sabe que ele ainda vai te dar trabalho, não é? — Pisquei
para o capitão.
— Cara... logo você entrou pra coleira. — Um dos jogadores que eu
não lembrava o nome balançou a cabeça em negação para ele.
— Não teve jeito. — Colin lhe lançou um olhar resignado e beijou a
minha testa.
— Como foi que isso aconteceu mesmo? — perguntou Peter,
curioso.
Colin se inclinou na direção dele com um sorriso convencido.
— Se você soubesse as cantadas que joguei nela...
Bufei revirando os olhos, Scar riu e Peter deu o dedo do meio para
Colin.
— Então, vamos mesmo dar uma festa hoje? — perguntou Bethany
para nós.
Colin me puxou para si e beijou o meu ombro.
— Vamos — determinou ele por todos nós. — Se você quiser
deixar por minha conta... — sugeriu a ela.
Bethany deu de ombros.
— Contanto que não bote fogo lá também — provocou Drake e
Bethany lançou um olhar para ele.
Drake tinha sentado bem longe dela, parecia quase estar fugindo
da loira. Eu podia estar criando coisas na minha cabeça, só que ele
parecia desconfortável na presença dela. E Bethany estava se
divertindo, talvez percebendo o mesmo que eu.
— Tem extintor de incêndio? — Colin perguntou à líder da
fraternidade.
— Tem — ela respondeu rindo.
— Ótimo, então estamos todos seguros — confirmou Colin,
tranquilo.
— Da próxima vez me escuta — afrontei, erguendo a sobrancelha
para ele. — Se alguém acender uma fogueira, a apague a tempo.
Colin aproximou o rosto do meu.
— Você está disposta a apagar a minha? — perguntou com um
meio sorriso e revirei os olhos.
Meu Deus, essas cantadas são perigosas mesmo. Você começa
rindo e quando menos percebe já está nua e abrindo as pernas.
 
Colin Scott
 
Um carrinho de supermercado passou ao meu lado em alta
velocidade, quase me atropelando. Alguém poderia morrer. Tanto quem
estava apenas assistindo quanto quem andava no próprio carrinho.
Sim. Universitários maiores de idade, adultos, estavam dentro de
carrinhos de supermercado apostando corrida no meio da rua. Essa foi
a geração que meus avôs pediram a Deus.
E de quem foi a ideia? Minha, claro.
Não participei, só joguei a ideia e o pessoal comprou. Era bem mais
divertido só ficar vendo os carrinhos desceram rua abaixo.
— Você sabe que a qualquer momento alguém pode acabar se
machucando, não é? — perguntou Johnny, preocupado.
Bufei e bati nas suas costas em consolo.
— Você acha que eu não pensei em tudo? — Abri os braços e pelo
jeito que ele me olhou, achava. — Convidei o pessoal da Medicina
justamente por isso, se alguém precisar de uma ambulância é só gritar
por eles.
Johnny apenas me encarou em silêncio.
— Você está falando daqueles estudantes ali? — Ele apontou para
um grupo que estava do lado de fora da casa, brincando de virar doses
de tequila e quem não conseguisse tirava uma peça de roupa. Estavam
quase todos seminus.
Era o pessoal da Medicina.
— Johnny, Johnny — cantarolei para ele, estalando a língua. —
Você acha que todas as minhas festas deram certo à toa?
— O que é “dar certo” pra você? — ele debochou, mas o ignorei.
— Se os futuros médicos não puderem socorrer ninguém, temos
aqueles carinhas ali. — Apontei para uns caras que tinha conhecido em
um bar de Providence e sempre os convidava quando fazia algo. —
Eles são de uma funerária e fazem o serviço com um ótimo desconto.
Johnny ficou parado, me encarando por uns trinta segundos. Tentei
não rir, porém era muito bom curtir com a cara dele.
— Não vou nem dar atenção a isso. — O capitão balançou a
cabeça em negação e seguimos para o gramado da fraternidade.
A última vez que fomos ali tinha sido anos atrás, quando Johnny
conheceu Amber. A casa era enorme e tinham tantas meninas morando
ali que não sei como davam conta de decorar os nomes de todas. Elas
quase surtaram logo que nos viram chegar com as bebidas e as caixas
de som.
Pareciam divertidas e meio deslumbradas por sermos jogadores de
hóquei. Elas correram para abraçar Amber assim que a viram e as
nossas garotas pareceram meio deslocadas de início, por isso tratamos
de sentar em um canto só nosso com elas.
Como a casa estava simplesmente lotada e Tyler queria ficar no
gramado para tragar a sua maconha, sentamos todos do lado de fora,
em uma rodinha só nossa debaixo de uma árvore que ficava no quintal
da casa.
Johnny e eu tínhamos saído apenas para dar uma olhada na
corrida de carrinhos. Não queria ficar por muito tempo longe da minha
pequena. Passei pelos universitários até conseguir vê-la... Foda-se!
Meu coração ia dar esse salto toda vez que eu a visse?
Consegui enxergá-la de longe, estava com um macacão curtinho
verde, da cor dos seus olhos. A blusa branca de alcinha por baixo
deixava a pele sedosa de fora. Ela tinha trançado apenas duas mechas
da parte da frente do cabelo, e as colocado soltas junto com os cachos
que desciam perfeitos.
Madison estava rindo com Sienna de algo que Drake disse. Ela
estava tão envolta ali que nem notou que era observada, contudo em
algum momento ergueu os olhos para mim e seu sorriso congelou,
deixando as covinhas à mostra.
Ela inclinou a cabeça na direção da nossa rodinha, me chamando
para me aproximar e sentar ali.
Você fica comigo pra sempre?
— Isso é tão satisfatório — murmurou Johnny, batendo nas minhas
costas para me despertar do meu transe.
— O quê? — perguntei para ele, voltando a caminhar na direção
deles.
— Te ver fodido assim. — Ele piscou convencido e lhe dei o dedo
do meio sem negar.
Chegando, sentei atrás de Madison, a pegando de surpresa.
Encostei minhas costas no tronco atrás de mim e a coloquei entre as
minhas pernas como um casal, puxando o seu corpo para descansar as
costas no meu peito. E ela veio, se aconchegou e se deixou ser
abraçada por mim.
Todos sentados na grama nos olharam em expectativa.
— E então? Vocês não têm nada a dizer? — sugeriu Scar,
esperando um anúncio formal.
— Estamos juntos — revelei e os meninos deram um estalo de
decepção.
— Bosta! — Tyler resmungou tirando a carteira do bolso.
— Não podiam esperar uma semana? — Drake reclamou tirando a
dele também.
— Incrível como a gente sempre perde pra elas — Johnny suspirou
e todos começaram a jogar o dinheiro para Scar.
— É tão bom. — Sienna esticou as pernas na grama e nos olhou
de canto. — Ganhar deles e ver vocês juntos.
— Espera. — Madison se inclinou para frente, entendendo tudo. —
Vocês apostaram isso?
Nem fiquei surpreso. Eles se entreolharam como se fosse óbvio.
— Querida, você achou que nós botamos vocês no mesmo quarto
pra quê? — Scar ergueu a sobrancelha para ela e Madison se virou
para mim, indignada.
— Você sabia disso?
Ergui as mãos com um sorriso relaxado no rosto.
— Não fazia ideia — confessei e ela revirou os olhos.
— Mereço que comprem ao menos um sorvete pra mim se estavam
apostando às minhas custas. — A ruiva apontou para as meninas e
voltou a se encostar no meu peito.
— Pode deixar. — Amber piscou para ela.
Notei mais uma vez Taylor um pouco distante. Meu amigo estava
calado demais, com um olhar apreensivo. Talvez estivesse pensando
no problema do seu joelho, ele não estava treinando com a gente.
Ficava de canto só nos observando jogar para não prejudicar a lesão.
Sienna também percebeu que ele estava mais calado e o abraçou
de lado, dando um beijo no seu rosto.
— Tristinho? — perguntou, alisando o cabelo preto liso dele.
Taylor sorriu para ela, mas logo engoliu em seco. Parecia querer
nos dizer uma coisa, no entanto estava sem coragem.
— Pode falar. — Madison sorriu docemente para ele, sentindo a
sua apreensão.
Todos estavam meio aéreos à nossa conversa, só que quando
viram que estávamos esperando Taylor dizer alguma coisa, se
inclinaram na direção dele para ouvir.
— Fofoca? — Drake perguntou interessado, fazendo Scar e Amber
estreitaram os olhos curiosas.
Johnny tirou a maconha de Tyler de uma vez e o maconheiro olhou
para o capitão, abismado.
— O que foi? — perguntou o idiota, perdido.
— O teu irmão vai falar alguma coisa — respondi a ele.
Taylor esfregou as mãos uma na outra, ansioso e me deixando
nervoso. O que diabo ele ia dizer?
— Anda! Estou ficando nervosa — Amber insistiu.
— Ok... — Taylor suspirou. — Eu me meti em um problema.
Hum. Eu me metia em um todo dia.
— Tráfico de drogas? — sugeriu Drake e Taylor negou.
— Assalto? — tentou Scar.
— Não — ele respondeu.
— Está ficando com um professor casado da universidade? —
perguntou Sienna, quase animada por ter adivinhado.
— Meu Deus, bem específico — provoquei.
— Me pareceu empolgante. — Ela deu de ombros.
— Não — Taylor riu do palpite.
— Tráfico de pessoas? — disse Amber e nos voltamos para ela,
assustados. — Todo mundo deu um palpite — se defendeu.
Tyler se virou para o irmão, impaciente já.
— Fala logo!
Taylor coçou a nuca e suspirou.
— Eu meio que estava envolvido com um cara... e ele não era o
que eu pensava — revelou e à medida que foi contando, nos
aproximamos mais para ouvir. — Ele disse que gostava de mim e eu
acreditei, só que na verdade... ele... — Taylor se calou, um pouco
vermelho.
— Oh querido, pode nos contar. — Madison alisou o braço dele, em
um carinho.
— Ele gravou um vídeo nosso e está ameaçando mostrar pro papai
— Taylor contou olhando para Tyler, sabendo que o pai deles não sabia
ainda que Taylor era gay.
Caralho.
— Que filho da puta — xingou Drake.
— E o pior... em troca ele quer o meu lugar no time, que eu fique de
reserva.
Assim que Taylor fechou a boca os meninos e eu trocamos um
olhar, sabendo quem era a pessoa que ficaria na posição dele se Taylor
fosse para o banco. Charles Moore.
— Como é? — Tentei me controlar. — Aquele merdinha está te
ameaçando?
Precisava de uma confirmação e Taylor confirmou, engolindo em
seco.
— Isso é grave, Taylor. — Johnny olhou sério para o amigo. —
Podemos abrir uma denúncia.
— De quem vocês estão falando? — perguntou Sienna, perdida. —
Conhecem o cara?
— Charles Moore — expliquei, pois ela sabia quem era a peça.
— Não — Sienna fechou os olhos e Madison se virou para mim.
— Aquele? — perguntou minha pequena com os olhos
arregalados.
— Exatamente — confirmei, passando os braços pela sua cintura.
— Eu fui idiota. — Taylor coçou os olhos, que estavam
lacrimejados, e as meninas correram para abraçar ele.
— Quem perde é ele. — Madison beijou a testa dele.
— Claro que não foi! — Amber consola. — Vamos acabar com ele.
— Exatamente — concordou Scar, alisando as costas de Taylor. —
Eu quero vingança.
— Eu quero o endereço desse cara! — Tyler determinou.
— Eu também queria — disse Taylor, soltando uma risada pela cara
de revolta de todo mundo. — Queria invadir a casa dele e quebrar o seu
maldito celular com o meu vídeo.
Ele falou como quem não quer nada, mas ficamos em silêncio e
nos entreolhamos com um sorriso diabólico no rosto. Era quase como
se cada um ali estivesse lendo o pensamento do outro.
— Não! — determinou Johnny, já prevendo tudo. — Ninguém vai
fazer nada, vamos abrir uma denúncia...
— Esse cara falou merda das meninas — Drake murmurou
zangado, interrompendo Johnny.
— Como é? — perguntou Sienna sem saber daquela parte.
— Qual é, Johnny? — incentivei o capitão.
— Colin... — ele alertou, sabendo que eu acabaria convencendo o
pessoal.
— Quem aqui quer resolver tudo como uma pessoa madura e abrir
uma denúncia no campus? — perguntei entediado e apenas Johnny
levantou a mão. — E quem aqui quer resolver as coisas do meu jeito?
— Abri os braços empolgado e todos levantaram as mãos.
Johnny esfregou as sobrancelhas, cansado.
— E qual é a sua ideia brilhante? — ironizou ele, esperando o pior.
Sorri para o capitão, adorando ver a sua cara de medo.
— Nós vamos invadir a casa dele. — Dei de ombros como se fosse
óbvio e cada um ali gritou em aprovação.
Menos Johnny, que apenas me encarou com o olho esquerdo
tremendo. Talvez ele tivesse um infarto até o fim da noite.
Ainda bem que eu tinha convidado o pessoal da funerária.
Colin Scott
 
— Eu vou dizer o que vamos fazer — determinei, me
levantando e vários olhos me observaram atentamente. — Primeiro
de tudo: precisamos de meias ou calcinhas.
Todos franziram a testa em confusão.
— Como é? — perguntou Taylor, se inclinando na minha direção
para ouvir melhor.
Revirei os olhos.
— Não sei se vocês sabem, mas a premissa de um bandido é
não ser identificado — esclareci o óbvio e eles balançaram a cabeça
positivamente, entendendo tudo.
— Eu fico com essa parte! — Amber levantou a mão, animada
para participar.
— Ótimo. — Pisquei para ela. — Enquanto isso eu vou em casa
pegar o nosso transporte de fuga, a minivan.
Cada um ali deu uma estremecida ao lembrar que quase
morremos na última vez em que entramos naquela maldita minivan.
Contudo, foi divertido.
— E nesse meio tempo eu vou me embebedar pra tomar
coragem. — Sienna levantou pronta para procurar uma bebida.
Beijei a cabeça ruiva do meu gnomo e segui para o meu carro.
Dirigi até a nossa casa e peguei a minivan de noves lugares de
Johnny. Nunca entendi porque diabos ele a tinha, porém era útil
quando queríamos sair todos juntos, como para invadir uma
residência.
A volta para a festa não deve ter durado nem trinta minutos.
Estacionei perto da árvore em que estávamos sentados e procurei
por eles, só que não acreditei no que vi.
Todos estavam escondidos em um canto com gorros pretos
cobrindo a cara, eles cortaram buracos na região dos olhos e da
boca, e me perguntei como conseguiam respirar. Amber tentava
passar o gorro na cabeça de Johnny enquanto ele resmungava
alguma coisa para ela, Sienna segurava uma garrafa de vodka
debaixo do braço e já parecia mesmo bêbada.
Meu Deus, como eu ia liderar um assalto com um grupo de
bêbados?
Baixei o vidro da janela e coloquei o braço para fora,
assobiando para chamar a atenção deles. Amber conseguiu me ver
e acenou alegremente de volta, chamando os outros para irem até a
minivan.
Eles correram para dentro do veículo, depressa, com medo de
serem vistos. Mas porra, como diabo não se chamava atenção com
aquela coisa na cara? Gargalhei sem conseguir me aguentar.
— Você está achando tudo muito engraçado, não é? —
resmungou Johnny, entrando no banco do passageiro ao meu lado.
— Saiba que se formos presos você vai ser apontado como
mandante da quadrilha.
— Pode deixar. — Pisquei para ele e esperei todos entrarem no
carro.
Quando a porta foi fechada saí da rua e segui para o nosso
destino. Olhei para a minha pequena pelo retrovisor, muito fofa
sentada no seu assento com o gorro preto na cara. Achei um
absurdo cobrirem o seu rosto com aquilo.
— Está conseguindo respirar, meu amor? — perguntei
preocupado e ela ergueu os olhos verdes para mim.
— Não muito — respondeu, tentando abrir mais o buraco da
boca para chegar até o nariz.
— Vamos morrer asfixiados antes mesmo de chegarmos lá —
reclamou Johnny cruzando os braços e quando olhei de canto para
ele, ri.
Ri alto para caralho. Ele estava ridículo!
— Olha... — Enxuguei o canto do olho. — Nunca pensei que
encontraria nosso capitão nessas condições.
— Você está impecável, Johnny. — Drake riu também.
— Foi ideia minha esses gorros, peguei da Bethany — admitiu
Amber com orgulho. — Ela até me agradeceu, comprou todos pra
uma festa de Halloween do ano passado e nunca mais usou.
— Não esperava menos de você, Amber — elogiei e ela me
estendeu o meu.
— Aqui está o seu. — Jogou no meu colo.
— Eu boto assim que chegar, obrigado — agradeci.
— Meu Deus, eu estou tão empolgada. — Amber quase pulou
do assento.
— Por que, querida? — perguntou Taylor ao lado dela.
— Esse é o meu primeiro assalto — revelou sorrindo.
— O meu também! — Sienna se virou para ela, animada.
— Com o tempo você se acostuma. — Scar deu tapinhas no
ombro da bailarina e pegou seu litro de vodka para tomar um gole.
— Liga o som, Colin — pediu Tyler, nervoso. — Preciso de
coragem.
Liguei o som e coloquei um rap do Eminem. Eles começaram a
bater o pé no piso do carro no ritmo da música, animados. Em
algum momento alguém começou a cantar e logo todo mundo
entrou na onda.
— Sabe do que precisamos? — perguntou Scar a eles,
segurando a garrafa na mão. Já estava bêbada. — De uma arma!
Todo mundo levantou as mãos e gritou em comemoração.
— De jeito nenhum! — determinou Johnny, se virando e
fazendo os loucos do banco de trás murcharem tristes. — Ninguém
aqui vai pegar em arma.
— Pode ser de brinquedo — Scar insistiu e ele negou em um
movimento de cabeça.
— Mas como vamos fazer um assalto sem arma? — perguntou
Sienna, confusa.
— Iremos inovar. — Dei de ombros.
— Eu tenho uma ideia! — Drake se inclinou no banco,
chamando nossa atenção. — Vamos comprar uma caixa de
camisinhas!
Ninguém disse nada, apenas o encararam em silêncio.
— E o que vamos fazer com isso? — perguntou Madison com
cuidado.
— Quando eu era adolescente comprei uma caixa de camisinha
e enchi de água para jogar no meu primo — contou Drake.
— Meu Deus, eu já fiz isso também! Genial, Drake — Amber o
elogiou.
— Genial — concordei, dobrando a esquina. — A próxima
parada é na farmácia.
— Vocês ficaram loucos? — Johnny se virou de novo para olhar
os bancos de trás. — Querem invadir a casa do cara no meio da
noite com essa coisa na cabeça e jogar balões de água nele? O que
é isso? Estão na quinta-série?
Revirei os olhos e se fez um silêncio no carro pelo sermão.
— Não são balões de água — revidei. — São camisinhas.
Johnny tentou passar a mão no cabelo, só que não deu certo
por conta do gorro, o que o deixou ainda mais irritado. Quis rir,
porém não achei que era o melhor momento.
— Ah, eu quase esqueci! Achei umas calcinhas também. —
Amber puxou da bolsa dela algumas peças.
— Pegamos das meninas da fraternidade — avisou Madison. —
No entanto, não sei se estão todas limpas.
— Que horror — Taylor torceu o nariz em nojo.
— Era o que tinha. — Amber deu de ombros.
— Chegamos! — avisei, estacionando o carro na farmácia e
assim que parei eles tiraram os gorros da cabeça e saíram
empolgados da minivan.
Fui atrás dos loucos e logo que entrei na farmácia vi que
algumas pessoas nos olharam assustadas. Não entendi o motivo
até notar que Sienna e Amber tinham esquecido de tirar o disfarce
da cabeça, estavam parecendo duas assaltantes. A atendente era
uma mulher de meia idade séria e arregalou os olhos no instante em
que nos viu.
— Estamos indo pra uma festa à fantasia! — Abri os braços
para acalmar todo mundo.
Algumas pessoas suspiraram aliviadas, enquanto outras
continuaram a nos encarar com desconfiança. Johnny se apressou
a tirar o tecido da cabeça das meninas.
— Tem certeza que não querem usar as calcinhas? — Amber
chegou do meu lado, já sem o gorro, estendendo as calcinhas.
Talvez a intenção dela fosse ser discreta e falar baixo. Mas
Amber não sabia ser discreta e muito menos falar baixo. Vários
olhos se viraram na nossa direção e eu forcei um sorriso para a
loira.
— Não é necessário.
— Você tem certeza? Assim não nos confundem com bandidos
— ela insistiu, me mostrando a variedade de calcinhas na sua bolsa.
— Muito obrigado, Amber, prefiro ficar com outro mesmo.
Ela deu de ombros e Drake seguiu com a caixa de camisinhas
até a atendente. A mulher olhou para nós, para as calcinhas na mão
da Amber e para as camisinhas com uma expressão de horror
profunda.
— Não é isso que a senhora está pensando — Johnny se
apressou a explicar.
— Deveríamos levar curativo também — aconselhou Taylor,
chegando por trás. — Caso alguém se machuque.
Oh maravilha! Um casal que estava com duas crianças saiu de
fininho, tentando ficar o mais distante possível de nós.
— Precisamos de algemas também — Scar disse e apontou
para a loja do outro lado da rua. — Tem um sex shop ali, vamos
comprar. — Ela saiu, puxando Sienna com ela.
A atendente estava horrorizada, podia ler os seus pensamentos.
Me inclinei no balcão, tentando melhorar a nossa situação.
— Nós não estamos indo pra uma suruba — avisei sério e ela
abriu a boca em choque.
— Colin, eu acho melhor você ficar calado — aconselhou
Johnny.
— Achei uma arma! — Madison gritou empolgada e viramos
para ela em susto.
Corri na direção do meu gnomo, com medo de ela se machucar.
— O quê? — Johnny caminhou depressa até ela.
— Meu Deus — Tyler comentou para a atendente em elogio. —
Essa farmácia está de parabéns, tem de tudo mesmo!
Peguei o objeto da mão dela e suspirei aliviado. Era uma arma
de brinquedo que atirava água. Muito provavelmente era das
crianças que saíram praticamente correndo com os pais.
— Olha, você acabou de me dar um susto. — Passei a mão
pelo cabelo, frustrado e a pequena riu.
— Você achou mesmo que eu ia pegar em uma arma de
verdade? — perguntou, balançando a cabeça em negação para mim
e estava tão linda com os cachos levemente bagunçados, que a
abracei.
— Claro que não, você só pega na minha arma — murmurei
baixinho e ela me beliscou na barriga.
— Pronto! — Drake se virou para nós com a sua caixa de
camisinhas. — Podemos ir.
— Cadê as meninas? — Amber procurou por Scar e Sienna,
olhando para a loja do outro lado da rua, porém não as encontrou.
Andamos um pouco, tentando achá-las. Começamos a ligar
para elas quando passamos por duas ruas e não encontramos
nada.
— Você viu pra qual direção elas foram? — perguntei a Taylor.
— Não. — Ele balançou a cabeça negativamente.
— E se tiver acontecido alguma coisa? — perguntou Drake,
nervoso.
Olhei em volta das ruas, preocupado e paralisei no lugar
quando finalmente enxerguei as duas bêbadas. Não era possível...
Lá estavam elas. Sienna e Scarlett do outro lado da rua,
sentadas tranquilamente em uma mesa, comendo um McLanche
Feliz e acenando alegremente para nós.
Ficamos alguns minutos parados apenas olhando para elas,
talvez sem reação. Até que as duas resolveram vir até nós.
— Compramos pra vocês também! — Sienna estendeu o
pacote para Drake, que o recebeu sem conseguir dizer nada.
— Nós temos que invadir uma casa — lembrei-as com calma e
Scar revirou os olhos.
— Eu sei, não esquecemos das algemas. — A morena
estendeu uma algema felpuda e cor de rosa para mim.
— Bem ameaçador — debochou Tyler, rindo.
— Eu gostei. — Madison pegou a algema. — É fofo.
— Ótimo — chamei todos. — Vamos logo acabar com isso.
Segurei a mão da minha pequena e voltamos para a minivan,
determinados.
Não era bom perder o foco.
 

 
— Me dê a sua mão — pediu Amber para Drake.
— Pra quê? — perguntou ele.
— Pra eu subir na janela. — Ela apontou para a janela aberta
da casa da fraternidade em que Charles Moore morava.
Era também a mesma do namorado da Sienna e por incrível
que parecesse, ela não tinha a chave da casa.
— Você tem certeza que sabe qual é o quarto dele? — Scar
perguntou a Taylor.
— Absoluta — confirmou convicto.
Drake juntou as mãos para Amber e ela tentou subir na janela,
mas Johnny a pegou pela cintura, colocando sua namorada de volta
no chão.
— Vamos nos acalmar — ele pediu a ela. — Primeiro de tudo,
ninguém aqui vai falar um “ai”! Vamos ficar em silêncio.
Acenamos positivamente em silêncio para o capitão. Pressionei
os lábios, tentando conter o riso. Não conseguia levar o cara a sério
quando ele usava um gorro furado na cara. Me obrigaram a vestir o
meu, porém nada se comparava a ver Johnny Jackson todo sério e
carrancudo usando um.
— Vamos tentar entrar pelas portas dos fundos — disse Johnny,
seguindo para trás da casa, entretanto Amber o puxou pelo braço.
— Amor, eu sei tudo sobre assaltos — explicou ela. — Sempre
assisti os canais na televisão. O pessoal sempre entra pela janela.
Concordamos como se aquilo fizesse sentido e o capitão
suspirou, juntando as mãos para ela subir na janela, condenado a
fazer tudo o que a loira pedia. Ela sorriu alegremente para ele e foi a
primeira a subir.
Drake deu a mão para Sienna e Scar entrarem logo em seguida
e eu coloquei a minha pequena para cima. Como ela era baixinha
tive que a levantar até o limite. Entrei na casa escura e Taylor foi me
passando as duas camisinhas cheias de água.
Não sabia o que diabos iríamos fazer com aquilo, no entanto
Amber insistiu para trazer por precaução. Assim que entrei entreguei
os balões d´água para a loira e segurei a mão da Madison, a
puxando para trás de mim em proteção. Não era possível ver quase
nada ali, os caras daquela fraternidade não eram normais. Quem
não deixava uma única luz acesa?
— Todos aqui? — sussurrou Johnny em comando, olhando para
cada um.
Amber ia abrindo a boca para responder quando corremos para
impedir. Sienna colocou depressa a mão na boca da amiga.
— Querida, você não sabe sussurrar — Sienna explicou
baixinho e Amber acenou positivamente.
— Vamos subir — mandou Johnny, andando devagar pelas
escadas, quase com medo de ouvir a madeira ranger.
Estava tudo em um silêncio assombroso. Andamos na ponta do
pé e do nada a porta da frente da sala se abriu, revelando a silhueta
assustadora de um homem parado na entrada. A mão da Madison
estremeceu na minha.
Scar apontou a arma de brinquedo para o homem e Sienna
soltou um grito em susto. Drake se apressou em tampar a boca dela
com cuidado, para abafar o som. Taylor colocou a mão no peito
quase tendo um infarto.
— Ei, gente, sou eu! — Tyler caminhou na nossa direção, se
revelando. — A porta estava aberta!
— Seu idiota! — rugiu Taylor na direção dele. — Você quase me
matou de susto.
Senti a tensão do momento ir embora e soltamos um suspiro
coletivo de alívio. Abracei Madison e ela enterrou o rosto no meu
peito.
— O que foi? — perguntou Tyler sem entender, fechando a
porta atrás de si.
— Ora “o que foi”? — brigou Taylor. — Como é que entra assim
matando todo mundo de susto?
— Parem de falar! — sussurrou Johnny para os gêmeos. — Vão
acordar eles.
  No mesmo instante ouvimos alguém abrindo alguma porta no
andar de cima. Nos agachamos no chão de uma vez. A pessoa
falou alguma coisa e logo em seguida fechou a porta de novamente.
— Silêncio! — ordenou Johnny, olhando feio para nós.
— Cara, tá difícil te levar a sério com essa coisa na cara —
Drake avisou e Johnny deu o dedo do meio para ele.
— Vamos — chamei, subindo as escadas na frente. Quando
chegamos no corredor dos quartos me virei para Taylor. — Qual é o
quarto dele?
Eles vieram na ponta dos pés, em completo silêncio. Taylor
olhou para os quartos e pareceu indeciso entre duas portas.
— Essa aqui. — Apontou para a direita.
— Tem certeza? — perguntou Madison a ele.
— Tenho — disse com convicção.
Scar testou a maçaneta, a encontrando aberta e entrou no
quarto com tudo. Sienna, Amber e Madison a seguiram, nos
deixando para trás e tomando controle da situação.
— Mãos pra cima! — Amber mandou, erguendo as camisinhas
cheias de água.
O cara, que estava dormindo, sentou na cama em um susto,
completamente aterrorizado.
— Seu filho da puta! — xingou Sienna e até eu fiquei assustado
com o linguajar da bailarina.
Johnny se apressou em fechar a porta do quarto quando todo
mundo entrou. Ele ligou a luz e... bem, era o quarto errado. Aquele
não era Charles Moore, não sabia quem era o pobre coitado. Ele
apenas olhava perdido para cada um de nós.
— Você deveria ter vergonha do que fez. — Amber balançou a
cabeça para ele. — Transar com o nosso amigo e gravar um vídeo
sem ele saber? Quem faz isso?
É, pelo jeito Amber não sabia quem era Charles. Ou ela era
míope. O rosto do rapaz se iluminou assim que ela falou a última
parte.
— Meu Deus — ele implorou, vendo a arma de brinquedo na
mão da Scar. — Eu juro que gravei com o consentimento dele!
Amber se virou para Taylor em busca de orientação, mas nosso
amigo apenas balançou a cabeça negativamente para ela, tentando
avisar que aquele não era Charles. Contudo, talvez ela apenas
tenha entendido que não foi com o seu consentimento.
— Não mostrei o vídeo pra ninguém — o rapaz continuou a
falar. — E nem sei porque ele está tão preocupado se fui eu a parte
mais prejudicada.
— A parte mais prejudicada? — debochou Amber, revoltada.
— Amber... — Sienna tentou chamá-la.
— Claro que sim! — o cara argumentou. — Foi o meu rosto que
apareceu! E não fale como se ele não tivesse gostado também.
Amber ficou vermelha e ela se virou para Taylor novamente
para confirmar.
— Eu acho que ele gostou... — ela comentou em tom de
dúvida, esperando uma confirmação da parte de Taylor, que nesse
momento cobriu o rosto com as mãos, horrorizado com a situação.
— Eu garanto que ele gostou! — disse o outro, emburrado. — O
vídeo mesmo prova isso! E eu que deveria ficar com raiva por ele
espalhar essa história pra todo mundo.
— Espere um minuto — pediu Johnny, entrando no meio deles
para acabar com a confusão. — Eu acho que houve um mal-
entendido aqui.
— Eu também — disse Amber, convicta. — Você está se
achando na razão só porque o fez gozar? Isso é o mínimo.
Madison enterrou o rosto no meu peito, morta de vergonha. E vi
os queixos de todos caírem em choque com o rumo da conversa.
— O mínimo? — O cara sentado na cama ficou zangado. —
Você sabe quanto tempo demorou?
— Pelo amor de Deus — Taylor entrou na conversa, querendo
sumir. — Me deixe explicar...
— Não, Taylor — Amber o interrompeu, alisando o seu braço
em conforto. — Você não deve explicações a ele. Cada um tem o
seu próprio tempo, uns demoram mais que outros e ele precisa
entender isso.
— Quem diabos é esse cara? — perguntou franzindo o cenho,
confuso. — E o que ele tem a ver com o meu boquete?
Meu Deus, que baixaria.
— Nada! — Taylor se apressou a esclarecer.
— Ainda desfaz de você — Amber deu um passo para trás,
enojada. — Depois de conhece-lo tão intimamente.
— Amber, entramos no quarto errado — falei de uma vez por
todas para ela. — Esse não é o cara.
A loira piscou debilmente, processando a revelação. Ela se
virou para o rapaz, que ainda estava sentado na sua cama
esperando uma explicação, e ficou toda vermelha. Não de
vergonha, eu a conhecia tempo suficiente para saber que estava
prendendo o riso.
— O que é isso? — perguntou a vítima, vendo Amber ficar toda
inchada.
Johnny entendeu que ela estava prestes a gargalhar e a pegou
pela cintura, a fazendo derrubar as camisinhas no chão do quarto,
tampando a sua boca com a mão para abafar o riso.
— Desculpe por isso — pediu Drake, abrindo a porta do quarto
e deixando Johnny passar com Amber para o corredor.
— Não sabemos nada sobre o seu boquete — contei para
tranquilizá-lo e peguei a mão da minha garota para sairmos.
— Não saia desse quarto — mandou Scar, apontando a arma
de brinquedo para ele. — E você nunca nos viu aqui.
Ela fechou a porta do quarto na cara dele logo que saímos.
Suspiramos em silêncio e Amber tentou, com tudo de si, controlar o
riso. Assim que ela olhou para mim, eu caí na risada também.
Enterrei o rosto no pescoço do meu gnomo, que estava morta
de vergonha.
— Meu Deus, que situação — Madison murmurou baixinho, em
tom divertido.
— Afinal, onde é o quarto do cara do nude? O certo — Tyler
perguntou com as mãos na cintura.
Taylor ainda estava tentando recuperar o fôlego, ele apontou
para o outro quarto e estreitamos os olhos na sua direção.
— Tem certeza? — perguntou Drake uma última vez.
— Agora sim.
Drake abriu a porta do outro quarto com tudo, novamente. E
mais uma vez uma pessoa se sentou na cama em susto ao nos ver
entrar e nos trancar com ele ali dentro. Dessa vez ligamos a luz
primeiro e sim, aquele era o merdinha do Charles Moore.
— É ele? — Amber perguntou para nós e confirmamos com um
aceno. — Mãos pra cima! — mandou, repetindo a sua encenação
anterior.
Charles olhou para nós e por mais que estivéssemos com
aqueles gorros ridículos, era óbvio que ele nos reconheceria. Ainda
estava com os hematomas que deixei no seu rosto e aquilo me
deixava bem satisfeito. Puxei Madison para trás de mim, não
querendo que ela tivesse qualquer contato com ele, quase me
arrependendo de tê-la deixado vir junto.
— O que vocês querem aqui? — ele perguntou se levantando,
mas Johnny foi até ele e colocou a mão no seu ombro, o
empurrando de volta para a cama.
— O celular — foi tudo o que o capitão disse, em um tom
autoritário que ninguém ousava desobedecer.
Os gêmeos puxaram as meninas para trás dos seus corpos
também, em um gesto protetor, para o caso desse merda tentar
alguma coisa.
Charles ergueu o queixo em afronta e Johnny inclinou a cabeça
na direção de Drake, sem desviar os olhos dele. O babaca mediu
meu amigo com o olhar, vendo com certo temor que Drake o
quebraria no meio com a facilidade com que se parte um palito de
dente.
Charles engoliu em seco e pegou o celular em cima da sua
escrivaninha.
— O que vocês querem comigo? — Ergueu a sobrancelha para
Johnny, porém o capitão não respondeu, só jogou o celular para
Tyler.
O nosso maconheiro da computação o pegou no ar e começou
a mexer no aparelho, procurando os vídeos. Assim que o filho da
puta reconheceu Taylor, ele entendeu tudo. Estreitou os olhos e deu
um sorriso debochado na direção do meu amigo.
— Você já foi chorar pros seus amigos? — zombou Charles.
Tinha um olhar de mágoa em Taylor, senti um aperto no peito
por ele. Era alguém sensível e era horrível vê-lo ser enganado e
usado assim.
— Você ia se foder de um jeito ou de outro. — Taylor deu de
ombros.
— Você não se garante sozinho, não é? — Charles continuou a
provocar.
Madison saiu de trás de mim e foi segurar a mão de Taylor, em
conforto. A energia dela era algo tão puro que pareceu acalmar meu
amigo. E o ambiente ruim daquele lugar. Me virei para Charles,
erguendo a sobrancelha em um aviso para ele calar a porra da
boca.
Amber estremeceu, talvez com medo de que as coisas saíssem
do controle, só que nunca faríamos nada com elas ali.
— Eu ficaria quieto se fosse você — aconselhou Johnny, saindo
de perto dele.
— Vai ser assim — Taylor determinou sério. — Eu não vou
participar do jogo de amanhã, por que já menti pro treinador.
Era a semifinal do Frozen Four, porra! Olhei para Taylor, porém
ele me entregou um olhar resignado. Já tinha sustentado toda a
mentira para o treinador sobre o seu joelho, perderia a confiança
dele se falasse a verdade. Os olhos de Charles se iluminaram em
satisfação por conseguir o que queria e quis muito quebrar a cara
dele. Era uma puta injustiça.
— Depois disso acabou — avisou Taylor. — Vou voltar pro gelo
e você vai mofar no banco.
Charles travou o maxilar em afronta, querendo dizer mais
alguma coisa. Ele tentou olhar para cada um de nós, parecendo
querer identificar todos ali presentes. Drake se colocou na frente de
Sienna, pois sabia que Charles a conhecia.
O pau no cu ousou encarar Madison por um segundo, mas logo
desviou quando estreitei os olhos em aviso.
— Tyler... — chamei, sem desviar o olhar do bosta.
— Só um minuto — respondeu o hacker, provavelmente
demorando para se livrar de tudo.
Charles reconheceu Scar. Percebi pela forma como seus olhos
se acenderam, ele a secou de cima a baixo com nítido interesse.
Chegou a ser nojento.
— Uau... — murmurou em aprovação e a garota tatuada se
encostou na parede tranquila, sem se abalar. — Eu já te imaginei
nesse quarto mais de uma vez, entretanto não foi desse jeito. —
Charles torceu a boca quando viu o olhar estranho de Taylor para
ele. — Sou bi — esclareceu.
Taylor deu de ombros sem se importar. Scarlett tirou o gorro do
rosto, deixando o seu cabelo preto e liso livre, ela olhou para
Charles de um jeito calmo. O canto da sua boca se ergueu
sutilmente em um sorriso, que não acompanhava a sua expressão
carregada de sarcasmo.
Seus olhos lilases o perfuravam em um alerta silencioso. Aquilo
era um sinal de perigo.
— Você tem medo deles, não é? — ela perguntou em tom
manso, quase como o de uma serpente antes de atacar a sua
presa. — Está certo, mas é bom ter cuidado comigo também.
Ela ficou o encarando fixamente por dez segundos e eu não só
vi, como senti Charles se arrepiar. Ele sentiu medo. E aquilo foi
palpável no ar. Estava carregado. Scar não desviou, o seu olhar
calmo permaneceu e somente aquilo foi suficiente para fazê-lo
estremecer de leve.
Me aproximei de Madison e a puxei para mim. Estava
completamente arrependido de tê-la trazido, queria ela bem distante
daquilo.
— Terminei. — Tyler jogou o celular dele na sua cama, o
fazendo suspirar aliviado.
— Boa sorte no jogo amanhã — desejou Drake em um tom de
deboche, avisando que iria dar muitos empurrões nele.
Charles não respondeu, apenas pegou o celular, provavelmente
na tentativa de conseguir recuperar alguma coisa. No entanto, não
ficamos para ver o desenrolar, Tyler nunca falhava nisso.
Saímos do seu quarto o deixando, com toda certeza, muito
pensativo. Seguimos para o carro e quando entramos na minivan
ficamos um minuto em silêncio, antes de todos começarem a gritar
em comemoração de uma só vez.
— Ai, meu Deus! Vocês viram a cara dele? — perguntou Amber,
animada.
— Quase se cagou. — Taylor se jogou no assento, satisfeito.
— Ele tremeu na base! — Sienna riu.
— Querida, me ensina a fazer aquilo? — Madison perguntou
para Scar.
Scar começou a rir para ela.
— Um dia eu ensino — respondeu rindo.
— A gente deveria fazer isso mais vezes — Drake aconselhou e
Johnny revirou os olhos.
— Bom — chamei, olhando todos pelo retrovisor. — Qual a
próxima parada?
— Gente — falou Tyler, pensativo e o olhei em expectativa. —
Eu acho que podia ter deletado os vídeos de casa.
Ninguém disse nada.
— E você fala isso só agora? — ironizou Johnny.
— Eu só lembrei agora — se defendeu o hacker.
— Foi bem mais divertido ver ele quase se mijar. — Scar deu de
ombros.
— E outra... — Madison tirou do bolso do macacão as algemas
rosas. — Não usamos as algemas.
Minha mente pervertida projetou várias imagens dela com
aquelas algemas... Lhe lancei um olhar pelo retrovisor e quando
meu gnomo o encontrou, ficou docemente desconcertada. Era tão
linda envergonhada.
Liguei o carro e o som do rap que estava tocando antes se
projetou no veículo. Eles começaram a cantar de novo e saí dali
cantando pneu.
É, valeu a pena, mesmo que tenha sido a invasão mais
desorganizada que eu já vi na vida.
Colin Scott
 
Dou ou não uns empurrões em Charles Moore hoje?
Joguei a moeda para cima esperançoso, mas quando a peguei
no ar deu coroa. Suspirei e guardei ela no meu bolso odiando ter
que ser sensato. Ainda tinha que comprar uma nova corrente para
ela, uma que correspondesse ao meu novo status de pau mandado.
Doeu no coração ter que ir para Princeton jogar as semifinais
sem ela, porém Madison quis ficar acompanhando de casa dessa
vez. Scar não podia ir por conta do trabalho e a pequena não queria
deixá-la sozinha.
Me encostei no elevador e esperei ele chegar até a cobertura. O
prédio era enorme, tinha um estilo moderno, só que também casava
com o clássico. Tudo parecia que era feito de ouro, cheirava a
coisas caras, poderosas e inacessíveis.
Assim como o seu dono.
 No momento em que o elevador apitou, eu nem me surpreendi
com o tamanho do apartamento. Andei pela cobertura
silenciosamente, vendo como era essa nova casa dele.
Cameron Payne não gostava de ficar no mesmo lugar por muito
tempo, além de mudar constantemente de universidade também
dormia em apartamentos diferentes às vezes. Ele podia, claro, já
que tinha milhares de prédios espalhados pelo país.
— Colin Scott? — perguntou uma voz feminina atrás de mim e
me virei para ver uma mulher de meia idade que parecia trabalhar
ali.
— Sim — confirmei e a mulher olhou para o relógio na parede
da sala.
— Ele vai sair do quarto daqui a dois minutos — avisou,
apontando para o quarto no fim do corredor.
— Obrigado — agradeci e sorri com o quanto o cara conseguia
ser metódico com disciplina.
Caminhei em direção ao quarto de porta enorme e passado os
exatos dois minutos a porta se abriu, revelando o bilionário.
Cameron estava com um short preto de academia, uma camiseta
sem manga da mesma cor, que preenchia toda a sua musculatura, e
tênis de corrida, pronto para treinar.
Ele fechou a porta atrás de si e passou a mão no seu cabelo
loiro curto, erguendo os olhos muito azuis para mim em ironia.
— Você demorou pra vir — disse, passando por mim e dando
um tapinha nas minhas costas.
— Esse é o seu jeito de dizer que sentiu a minha falta? —
zombei e fomos até a academia que tinha dentro da sua cobertura.
— Esse é o meu jeito de achar que você viria encher o saco
antes — respondeu, indo pegar uma corda.
Fui para a esteira querendo correr um pouco. Eu sabia que o
louco iria estar fazendo alguma atividade física, por isso já vim de
calça moletom e tênis, preparado para me aquecer antes do jogo.
Cameron foi para a área mais livre ao meu lado e começou a pular
corda.
Não de um jeito normal, como alguém que passou a noite
fodendo, mas rápido, tão rápido que eu quase não conseguia ver a
corda passando pelo seu corpo ou ele erguendo as pontas dos pés.
— Um dia você vai infartar — comentei, aumentando a
velocidade da esteira.
— Todos nós — debochou. — Seu pessoal se preparou pra
perder hoje?
Ri sarcasticamente. Cameron era o capitão do time de hóquei
da Universidade de Princeton, e eu sei que não era legal
confraternizar com o inimigo antes do jogo, só que bem... sabíamos
separar as coisas.
— É bom você começar a aprender a perder. — Aumentei a
velocidade da esteira, sentindo meus músculos tencionarem de um
jeito bom. — Nós vamos pras finais.
Cameron pulou mais depressa. Ouvi a corda bater rapidamente
no chão, e assim começou a nossa disputa silenciosa de quem
aguentava mais. Meu corpo já estava no ápice da adrenalina e se
não fôssemos atletas já teríamos caído mortos.
Podia ficar no ritmo que estava correndo até o dia seguinte,
porém o filho da puta aumentava a velocidade da corda e isso me
obrigava a ir mais rápido na esteira. Eu aprendi a gostar de
adrenalina com Cameron, nossa “brincadeira” nada saudável,
quando éramos mais novos, era disputar esses ritmos insanos.
Ele sempre ganhava, óbvio. Eu apenas curtia a adrenalina, já o
loiro precisava explodir a energia até não aguentar mais. Ele
praticava todos os tipos de esportes possíveis, quanto mais violento,
mais chamava a sua atenção.
Olhei-o de lado assim que senti que meu corpo já não
aguentava mais. Cameron me olhou de volta, com um meio sorriso
irônico de quem sabia que eu iria entregar em breve.
Fui mais rápido só para não dar o braço a torcer e ele me
acompanhou, batendo a corda tão depressa que o som ecoou pela
academia. Apertei no botão da esteira respirando com calma e
parando.
Me segurei nas laterais até recuperar o fôlego.
— Você está melhorando — elogiou o babaca, parando de pular
corda como se não tivesse feito nenhum esforço. — Quase me
cansei dessa vez.
— Vá à merda. — Ergui o dedo do meio para ele e fui me
encostar na parede.
Sentei no chão, esticando as pernas para evitar câimbra. A
sensação era boa, uma energia eletrizante, como quem poderia
voltar a correr naquele momento. Talvez essa fosse a real loucura
dos atletas, se testarem.
— Aqui. — Cameron chutou meu pé e me entregou uma
garrafinha de água.
Tomei da mão dele e o loiro veio sentar na minha frente, se
encostando na esteira e esticando as pernas também. Cameron
estava suado, mas não ofegante.
— O que aconteceu? — perguntou do nada e olhei para ele
sem entender.
Cameron inclinou a cabeça na direção do meu peito, onde
ficava minha corrente. Virei a garrafinha de água em cima da minha
cabeça para refrescar um pouco, já me sentindo zerado novamente.
— Não consegui. — Dei de ombros, me encostando na parede
outra vez e Cameron estreitou os olhos, desconfiado. — Eu me
apaixonei — contei de uma vez e o bilionário ergueu os olhos azuis
sutilmente.
Estava surpreso, por mais que a sua expressão permanecesse
inalterada. Suspirei e apertei a minha nuca, onde costumava sentir a
minha corrente prata.
— Não consegui controlar — expliquei. — Achei que no instante
em que eu sentisse chegar pudesse dar um passo pra trás e fugir...
só que na verdade eu só quis ficar mais perto, cada vez mais e
quando menos percebi já não tinha como voltar.
Cameron ficou um minuto em silêncio, absorvendo aquilo.
— Sem medos, então? — perguntou, sabendo bem o que a
corrente significava para mim.
— Eu sei que ela pode me machucar, mesmo sem querer —
confessei, sentindo um aperto no peito. — Porém liguei o foda-se, a
quero pra mim, não importa se isso for me quebrar depois.
Notei o choque passar pelos seus olhos ao me ver daquele
jeito. Ele assentiu e logo que me encarou por um momento, já sabia
qual era o assunto que iria tocar.
— Você se entendeu com ela? — perguntou. — Com a sua
mãe.
Fechei os olhos, ainda sentindo aquele peso no peito. Eu a
amava, só não tínhamos a mesma relação de antes. Talvez nunca
conseguíssemos voltar para o que já fomos.
— Ela me deu parabéns no meu aniversário, mas ainda quero
um pouco mais de tempo — disse. — Preciso de um pouco mais de
tempo.
Cameron suspirou em entendimento.
— É Colin... — Estalou a língua em zoação. — Você está
fodido.
Ele ergueu a ponta da sua camiseta para limpar o suor da testa.
Isso fez com que a sua tatuagem aparecesse. Era uma mão
feminina, dedilhando um piano e fazendo as notas subirem até
chegarem perto do seu coração.
— Cuidado — Cameron aconselhou, se encostando mais
relaxadamente na esteira e soltando a camiseta. — Tente não ficar
obcecado. — Ele piscou com um sorriso cínico.
Estreitei os olhos na direção de onde ficava a tatuagem.
Respirei fundo e finalmente resolvi fazer a pergunta proibida.
— Quem é ela, Cameron?
Ele paralisou no lugar e todo o ar de deboche que ostentava foi
embora. O bilionário se virou para mim com a sobrancelha
levantada, surpreendido com a ousadia. Sustentei o olhar, pois
sabia que ele tinha capacidade de colocar medo em qualquer um,
entretanto não conseguia fazer isso comigo.
Ficamos nos encarando até Cameron desviar e olhar para a
parede de vidro que tinha na academia. A vista era incrível, dava
uma visão privilegiada do céu.
Ele ficou apenas olhando para ela durante um tempo e pensei
que não fosse me responder.
— Eu não sei — falou.
— Como...
— Não fique obcecado, Colin — me interrompeu firme, com o
maxilar travado. — Não fique pensando nela ou no cheiro que
deixou em você quando foi embora. Não fique tentando lembrar do
som da sua voz. Não a torne um vício. Não tente procurar aquela
sensação em outras pessoas, não vai encontrar. — Ele fechou os
olhos com força. — Não acorde todos os seus malditos dias
pensando em como seria se pudesse tocá-la. E não seja idiota ao
ponto de procura-la só pra vê-la mais uma vez, mesmo sem ter a
menor garantia de que ela se lembre de você.
Fiquei parado, o encarando. Era tão estranho ouvir esse tipo de
coisa vindo dele que passei a enxergar Cameron com outros olhos
ali. Era estranho até mesmo saber que existia uma pessoa nesse
mundo com quem ele se importasse.
Queria fazer mil perguntas, no entanto sabia que nenhuma seria
respondida.
— Eu já estou obcecado — confessei.
Desde que a vi pela primeira vez.
Cameron abriu os olhos e me encarou com a sua típica
expressão de cinismo, erguendo o canto da boca em um sorriso.
— Você está tão fodido. — Ele se levantou e foi colocar as suas
luvas de boxe. — Eu espero mesmo que você não a perca, Colin —
desejou antes de começar a socar o saco da academia com
movimentos calculados.
Não iria. Era minha e eu daria, todos os dias, motivos para ela
ficar.
Observei o bilionário bater no saco cada vez mais forte, com
raiva. Me encostei na parede e suspirei, sem tirar os olhos da cena
à minha frente.
Quem é ela, Cameron?
 
Madison Jensen
 
Eles ainda não tinham chocado.
Observei a futura mamãe se acomodar direito no seu ninho,
aquecendo os ovinhos. Era tão fofa que dava vontade de tocá-la,
mas sabia que isso só a assustaria. Fiquei olhando o ninho de
longe, sem me atrever a chegar perto ou fazer barulho para assustá-
la.
Desci do telhado da minha casa e passei pelos homens que
estavam trabalhando nos ajustes da nossa madeira “estragada”,
como gostavam de dizer. No começo alguns ficaram com raiva de
mim por não deixar mexer no teto, porém logo que dei um sorriso
cheio de covinhas para eles e ofereci brownie se derreteram.
Acenei para o empreiteiro e voltei para casa. Assim que entrei
encontrei Scar na sala tirando os sapatos dos pés, parecia cansada.
Exausta.
— Qual foi o último dia em que você dormiu? — perguntei,
fechando a porta atrás de mim.
Ela pensou enquanto se jogava no sofá. Scar suspirou de alívio
por esticar as pernas e me sentei ao seu lado, para alisar o seu
cabelo.
— Eu não me lembro... — murmurou, fechando os olhos e
respirando fundo ao sentir meus dedos deslizarem pelo seu cabelo.
— Bom que hoje vamos ser só nós duas — brinquei, me
inclinando para beijar a sua testa. — E eu não vou te obrigar a sair
comigo.
Ela sorriu suavemente, ainda com os olhos fechados. Talvez
estivesse pensando em dormir ali mesmo.
— Perfeito — sussurrou e fiquei olhando para ela.
Era tão bonita que chegava a causar um certo impacto quando
vista de perto. Deslizei o meu dedo pelo seu nariz perfeito e ela
sorriu, achando graça do toque.
— Tentando saber se eu fiz uma rinoplastia? — brincou e abriu
os olhos.
Ali estava. Aquele tom lilás brilhante. Não importava a
explicação que eu recebesse, sempre acharia a cor dos seus olhos
mágica.
— Estava pensando no quanto você é bonita — contei e ela se
derreteu.
— Você é perfeita, querida. — Ela apertou o meu nariz de
brincadeira. — Agora me conte o que está rolando entre você e o
nosso maluco.
Suspirei, já sentindo a falta do cheiro dele. Encostei as costas
no sofá e Scar colocou a cabeça no meu colo, para que eu
continuasse a fazer carinho no seu cabelo.
— Eu... — comecei com certa vergonha, sem saber como dizer
aquilo. — Eu dormi com ele.
Ela ergueu a sobrancelha, me dizendo para continuar, mas pela
sua cara estava se contendo para não gritar de empolgação.
— Acho que ele gosta de mim. — Dei de ombros. — Eu estou
gostando dele. E sei que Colin é impulsivo, amanhã pode mudar de
ideia...
— Ah, meu bem — ela me interrompeu. — Ele é louco por você.
Sabia que ganhei uma grana extra só pra acompanhar ele naquele
dia do cinema? — contou e meu queixo foi para o chão.
Belisquei o seu braço e ela riu.
— Não brigue comigo — se defendeu. — Sabia que uma hora
vocês iam acabar se pegando.
— Não acredito que ele atrapalhou meu encontro de propósito.
— Balancei a cabeça, mesmo que no fundo já soubesse disso.
— Ele sempre quis você, querida. — Piscou para mim. — A
única pessoa que não sabia disso era você.
— Pelo jeito... — Ri de mim mesma.
Scar bocejou e eu continuei a fazer carinho no seu cabelo.
— Você vai dormir daqui a pouco — pontuei e ela negou, porém
bocejou novamente, fechando os olhos cansados.
— Música — ela sussurrou pegando o celular e colocando uma
música clássica para tocar.
Scarlett às vezes dormia ouvindo sons mais suaves. Era um
conjunto bonito de instrumentos, todos tocando de um jeito
harmônico.
— Te acordo pra ver o jogo? — perguntei.
— Acorda — pediu quase inconsciente, entretanto sabia que ela
não acordaria nunca.
Podia ver as manchas escuras debaixo dos seus olhos, estava
morta. E eu entendia bem essa sensação, já passei por ela antes.
Scar não falava abertamente, contudo, sabíamos que ela não tinha
uma família para lhe bancar, era bolsista assim como eu.
Quando a conheci tive aquele reconhecimento imediato. Uma
pessoa solitária sabe enxergar outra. Nós nos identificamos. Tem
aquela dor silenciosa, aquele olhar de quem pede para ser amada e
aceita.
E nós fomos.
— Você sente? — ela perguntou se referindo à música.
O som se alastrou pela sala silenciosa. Era tão suave que
realmente dava uma sensação de calmaria, um momento de paz.
Era apenas piano e violino, pelo que eu podia perceber, mas
conseguia deixar tudo perfeito quando tocado em harmonia.
— Sinto — disse, continuando a passar os dedos pelo seu
cabelo liso e grosso.
Scar fechou os olhos em um suspiro e pegou a minha mão, a
abrindo para dedilhar sobre ela ao som da música. Adorava quando
ela fazia isso. Mostrava aceitação, pelas minhas cicatrizes, e
também era como se ela estivesse me dando um pedaço seu.
Era um momento nosso. Era nosso jeito de dizer que tínhamos
questões sobre o nosso passado que faziam quem éramos hoje.
Scar tocou a ponta do dedo na minha palma assim que a
música se deixou ir apenas pelo piano, ela dedilhou como se
estivesse na frente do instrumento produzindo o som. Um sorriso
suave de satisfação se desenhou no seu rosto, passando a emoção
que sentia.
— É a sua forma de magia — constatei a observando.
— É o que você quiser que seja — ela completou, entrando na
música.
Senti o seu corpo ceder ao sono. Scar tentou até o último
segundo ficar acordada para sentir a música, porém não aguentou.
Em algum momento senti ela parar de tocar na palma da minha mão
e sua respiração se tornar suave demais.
Tinha adormecido. Estava em outro lugar. Em um lugar bom, eu
podia sentir. Tinham dias que seus sonhos não eram tão tranquilos
e aquilo indicava pesadelos, que eu não sabia de onde vinham,
ainda assim em certos momentos ela conseguia transmitir paz no
sono.
E me dava um certo alívio saber que ela tinha lugares bons para
retornar quando seu corpo desligava. Assim como Colin.
— Pra onde você vai quando sonha? — sussurrei, não
querendo acordá-la.
Alisei uma última vez o seu cabelo e tirei a sua cabeça de cima
do meu colo com cuidado. Recolhi os seus sapatos jogados na sala
e fui pegar a bolsa dela para levar ao seu quarto. No entanto, assim
que puxei a bolsa de cima do sofá, ela se abriu e deixou cair um
caderno.
Estava aberto em uma página, como se ela estivesse
escrevendo nele antes de o colocar dentro da bolsa. Minha intenção
não era ler, entretanto meus olhos passaram involuntariamente
pelas primeiras palavras da página e quando percebi consumi tudo.
 
“Se você encontrasse um gênio e ele te concedesse três
pedidos, o que pediria?
Eu sei, é uma perguntei estranha, mas foi a que um cara
bêbado me fez hoje no balcão do bar. Pensei que a primeira coisa
que pediria seria libertar o próprio gênio, me causa calafrios pensar
nele preso tendo que servir a alguém.
A segunda? Bem, dinheiro. Ele resolve a maioria dos
problemas, não é?
E a terceira... eu gostaria de voltar no tempo.
Voltaria para aquele dia, em específico. Voltaria para o
momento em que virei de costas e comecei a caminhar para longe
de você. Eu teria olhado para trás. Me faltou coragem na hora, e
quando eu olhei você não estava mais lá.
E então eu não tinha nada.
Eu tinha o seu cheiro, tinha a sua voz, o toque, mas não o seu
rosto. Eu não sabia que isso iria me assombrar depois, não sabia
que olharia para todas as pessoas e pensaria que poderiam ser
você.
Eu não sabia que sonhar com aquele momento se tornaria o
meu refúgio.
É patético, eu sei. E me desculpa por isso, mas eu te guardei
em um lugar especial e se não fosse por aquele momento, eu não
teria nenhuma lembrança boa e pura para guardar na memória.
Obrigada por ter sido a minha primeira.
E me desculpa por não saber a cor dos seus olhos. Qual seria a
sensação? De tê-los olhando diretamente para os meus?
Seria exatamente o meu terceiro pedido. Eu queria mudar de
decisão, no último segundo, olharia para trás e te encontraria me
encarando. Sim, eu senti os seus olhos me seguindo.
Eu os senti. E nunca fui tão cuidada e protegida na vida como
naquele instante em que você me observou. Você quis que eu
ficasse, mas me deixou ir. Sempre vou ser grata por isso.
Você chegou a pensar em mim de novo? Mesmo que eu fosse
só uma vaga memória?
Por favor, se algum dia você me ver na rua, acena para mim?
Mesmo que já tenham se passado anos. Mesmo que você esteja
com outra pessoa do seu lado. Acena para mim? Pode ser de longe,
pode só inclinar a cabeça de lado ou me olhar por um tempo, só o
suficiente para eu saber que é você.
Eu não atrapalharia sua vida, juro. Sorriria de volta, acenaria e
pronto.
Talvez ali acabasse. Talvez a gente nunca mais chegasse a se
esbarrar de novo e tudo bem. Eu só queria ver os seus olhos.
Guardaria o seu rosto na memória, no mesmo lugar em que te
conservei. Talvez eu caminhasse até você e dissesse que consegui.
Eu fiz amigos, demorou, mas consegui. Encontrei pessoas que me
acolheram, eu as amo e acho que sou amada por elas. Queria que
você soubesse disso.
Por favor, pensa em mim, nem que seja muito raramente. Não
me deixa ser patética sozinha.
Me permita assombrar os seus sonhos também...”
 
Acabou. A página terminava naqueles três pontos e não ousei
passar a diante para saber o que tinha nas outras. Parecia ser um
tipo de diário, ou uma carta a alguém muito específico.
Fechei o caderno, o colocando dentro da bolsa e sentindo uma
tristeza me abater. Precisei sentar no sofá e olhar para a garota
dormindo tranquila. Respirei fundo sentindo um aperto estranho no
peito. Quis abraçá-la e dizer que a amava muito.
Senti uma lágrima deslizar pelo meu rosto e caminhei até Scar,
me agachando na altura do seu rosto e sussurrando para ela aquela
mesma maldição que me acompanhou até hoje:
— O que respira o mesmo ar está fadado a se encontrar.
Eu sempre carreguei aquela frase comigo e ela nunca fez tanto
sentido como naquele momento. Talvez eu a estivesse guardando
durante todos esses anos apenas para poder dizê-la ali.
Beijei suavemente a sua testa e suspirei.
— Todos nós atormentamos os sonhos de alguém — falei
baixinho aquilo que sempre acreditei. — Somos os sonhos de
alguém, mesmo sem saber.
Colin Scott
 
Lições aprendidas do dia: Não irrite seu adversário antes do
jogo. Cameron estava mais agressivo que o normal, e sabia que
isso era porque eu tinha cutucado a porra da ferida dele.
O babaca estava comprando briga de graça. Nada de novo,
claro, mas dessa vez ele estava mesmo descendo a porrada. O
hóquei era ótimo para qualquer um que quisesse liberar a
agressividade, as regras do jogo permitiam isso, e alguns jogadores
usavam essa brecha para deixarem as coisas mais violentas.
Exemplo disso era Drake, tinham jogos que ele só queria brigar
e quando isso acontecia a nossa vitória era certa.
— Você não podia ficar mais agressivo hoje? — joguei a ideia
para Drake e ele ergueu a sobrancelha.
— Está me pedindo pra quebrar a cara de alguém em
específico? — perguntou em deboche.
Dei de ombros.
— Se você quiser quebrar a cara do Charles pode ficar à
vontade. — Apontei para o merdinha sentado ao nosso lado, ele
estava se achando por estar no gelo.
Às vezes deslizava na frente do Taylor apenas de provocação,
parecendo uma criança de cinco anos mostrando um brinquedo
novo para a outra. Taylor estava puto, podia ver. Ficava no banco
apenas batendo o pé de um jeito impaciente, muito provavelmente
torcendo para que Charles levasse um empurrão violento.
Para nossa infelicidade, Cameron ainda não tinha esbarrado
com ele.
Bebi minha água depressa vendo que o tempo já estava para
acabar, logo voltaríamos para o gelo. O lado bom era que
estávamos ganhando de 2x1, o negócio era manter até terminar o
jogo ou arriscar outro gol, porém se eles empatassem... tudo fodia.
— Cuidado — alertou Taylor, sentando do meu lado. — Hoje ele
não está de brincadeira. — Inclinou a cabeça na direção de
Cameron, que já tinha pegado o seu taco para retornar ao gelo.
Meu amigo de infância era um jogador polêmico assim como eu.
Tínhamos isso em comum, a gente curtia debochar da cara dos
adversários e surpreender com jogadas perigosas. A diferença era
que eu usava estratégia e velocidade para isso, já Cameron utilizava
força e violência.
Era aquele tipo de jogador que entrava no gelo pronto para
provocar todo mundo e torcia pelo caos. O típico jeitinho de
psicopata.
— Não sendo eu... — Dei de ombros de brincadeira e Johnny
me lançou um olhar em repreensão.
— Eu disse pra você não ir atormentar ele antes do jogo —
alfinetou o capitão.
— Só batemos um papo. — Pisquei em provocação.
— Não sei o que você andou conversando com o cara — Drake
deu um tapinha nas minhas costas. —, entretanto peça desculpas
logo.
Eu só perguntei sobre uma garota, se soubesse que isso levaria
todos os jogadores para o hospital tinha ficado quieto... mentira, eu
teria perguntado mesmo assim.
— Todo mundo vai sair vivo. — Me levantei e peguei o meu
taco.
Fui para o rinque e esperei cada um ficar na sua posição. Olhei
para a arquibancada e me deu um certo vazio por saber que
Madison não estava ali. Recebi a sua mensagem me desejando um
bom jogo, ela disse que estaria acompanhando de casa e o conforto
era saber que meu gnomo estava me assistindo naquele momento.
Beijei a minha pulseira da sorte, que estava amarrada no meu
pulso, e o gesto não passou despercebido pelos jogadores, nem
pelas meninas na arquibancada. Sienna, Amber, Tyler e uma amiga
de curso da Amber estavam sentados perto do rinque e mantinham
os olhos atentos na minha direção.
Ajustei o meu capacete quando o juiz apitou, avisando que o
disco estava solto no gelo. O som mal ecoou pelo estádio e já
começou a adrenalina.
Todos os jogadores começaram a correr atrás do disco em
tempo recorde, uns esbarrando nos outros. Deslizei para o meio da
confusão, mas um jogador atacante do outro time já tinha pegado o
disco. Ele saiu correndo em direção ao nosso gol e segurei a
respiração achando que ia dar merda, no entanto Drake deu um
empurrão tão forte nele, que o jogador foi arremessado para o outro
lado.
O disco ficou perdido no meio do gelo. Patinei depressa até ele,
só que o filho da puta o pegou mais rápido que eu.
Cameron Payne dominou o disco no taco com propriedade e
parou no lugar, me encarando com a sobrancelha erguida.
— E então? — incentivou o babaca, levantando o canto da boca
em um sorriso competitivo.
Olhei ao redor, vendo que os outros jogadores já vinham até
nós e tentei tomar a posse dele. Cameron me driblou depressa, de
sacanagem, e Drake logo surgiu do meu lado. Nosso jogador
defensivo tentou empurrar Cameron, só que o loiro deslizou com
facilidade.
Outros jogadores foram tentar tomar o disco do bilionário. Um
deles foi Charles Moore, ele foi cheio de si até Cameron, me
empurrando para fora do caminho no processo e Drake foi tentar
ajudar o merdinha.
Charles meteu a porra do taco na frente do Drake, impedindo a
sua passagem e foi para cima do Cameron. PORRA!
O cara era maluco?
Cameron deslizou para trás, surpreso com o ataque e Charles
foi atrás dele novamente. A tensão no gelo era grande, todos os
jogadores pararam no lugar, abismados com a ousadia. A qualquer
momento a porrada seria grande.
Johnny se aproximou de mim com um olhar aterrorizado, quase
me pedindo para fazer alguma coisa, contudo, dei de ombros. Ou
Charles era muito, mas muito burro, ou ele queria morrer.
Cameron apenas ergueu a sobrancelha para ele, o desafiando
uma última vez a ir para cima de novo. Charles foi. Fiz uma careta,
já prevendo a tragédia, e os jogadores foram um pouco para trás, já
sabendo o que ia acontecer. O movimento foi tão rápido, que só
consegui acompanhar pois estava prestando bastante atenção.
Cameron segurou o taco habilidosamente com uma só mão,
controlando a posse do disco. Ele esperou Charles vir na sua
direção e quando o idiota chegou perto, Cameron bateu o seu braço
livre bem no meio das pernas de Charles. O impacto foi forte para
caralho. Tanto que o corpo de Charles voou para cima, o fazendo
cair com tudo de costas no gelo.
O braço de Cameron pareceu um ferro acertando fortemente
nas pernas fracas do outro. Escutei o som do estalo e a galera da
torcida gritou em empolgação. Algumas garotas cobriram o rosto em
horror para a violência e enquanto todo mundo via Charles gemendo
no chão, Cameron só arremessou o disco em direção ao gol com
força.
Meu pulso acelerou quando olhei para Peter, porém o nosso
goleiro não conseguiu pegar, passou por entre as suas pernas. Ele
tinha ficado um pouco desatento com o movimento.
— Puta merda! — xingou Peter, frustrado.
Eles empataram.
Olhei por cima do ombro para Johnny. Ele estava puto também.
— Quer morrer, porra?! — brigou Johnny chegando perto de
Charles, quase o chutando. — Morre! Mas não entrega o jogo junto!
Me coloquei na frente do capitão, tentando acalmar todo mundo
que se aglomerava ao redor.
— Ele quebrou minha perna! — choramingou Charles, torcendo
o rosto em dor.
O juiz apontou para Cameron, avisando que teria punição pelo
“excesso”. A equipe médica apareceu ao nosso redor, se agachando
para examiná-lo e o treinador estava a um passo de surtar. Olhei
para o idiota se contorcendo no gelo e não consegui me segurar.
— Tem merda na cabeça? — perguntei para Charles, só para
confirmar.
— Olha, como a pessoa pode ser tão idiota a esse ponto... —
Drake apenas balançou a cabeça em negação, sem sentir nem um
pouco de pena.
— O quê? — perguntou Charles e se virou para nós, zangado.
— Ele estava com o disco, eu tinha que fazer alguma coisa.
Johnny apenas o encarou sem conseguir dizer nada. E eu
também. Meu Deus, qual era a dele? Esse cara não assistia aos
nossos jogos? Só patinava no gelo por diversão?
Peter perdeu a paciência e se agachou na altura do rosto dele.
— Primeira regra básica do hóquei. — Nosso goleiro estalou os
dedos na cara do babaca para ele prestar bem atenção. — Nunca
compre briga com aquele cara. — Peter inclinou a cabeça na
direção de Cameron.
— Se perdermos esse jogo por sua causa, juro que eu mesmo
te mando pro hospital — prometeu Johnny, apontando o dedo na
cara de Charles.
— Não quebrou nada — avisou o médico e ouvi o treinador
suspirar aliviado.
— Está com sorte hoje. — Pisquei para Charles tranquilo, no
entanto ele não prestou atenção na provocação.
— E o braço dele? Como não quebrou? — perguntou Charles e
o treinador suspirou profundamente. Ele apenas apontou para o
banco, avisando para Charles sair dali imediatamente.
O idiota foi levado na maca, olhando feio para algo atrás de
mim. Me virei e encontrei Cameron encostado relaxadamente no
canto do rinque com os braços cruzados, apenas esperando o jogo
começar de novo, parecia quase entediado. O loiro ergueu o canto
da boca em zombaria e acenou para Charles em despedida.
Não consegui evitar soltar uma risada. Era cômico ver Charles
emburrado, sendo levado como uma criança na maca e tentando
lançar olhares ameaçadores.
— Você está achando engraçado? — reclamou Johnny,
aparecendo do meu lado.
— Claro que não. — Fechei a cara na mesma hora. — É uma
situação terrível.
O capitão revirou os olhos.
— É o seguinte, tente com tudo de si mandar o disco pra mim
— avisou e ergui a sobrancelha para ele.
— Eu tenho uma ideia melhor... — sugeri e Johnny estreitou os
olhos, desconfiado. — Você confia em mim?
— Não — respondeu imediatamente.
— E é por isso que você é o capitão. Sempre sensato.
— Colin...
— Você pode ser rápido o quanto for, entretanto quando chegar
no gol eles vão te cercar e o disco não passará — avisei para ele. —
Chegando perto do gol, joga pra mim. Tenta tirar o disco do chão,
que vou estar logo atrás para pegar.
Johnny arregalou os olhos, surpreso.
— Acha que pega no ar?
Sorri para ele.
— Não vamos ser draftados na primeira rodada à toa, capitão.
— Bati nas suas costas, o empurrando para a sua posição.
Johnny saiu um pouco inseguro e eu sabia que era arriscado,
mas a graça das jogadas perigosas era essa. Podia dar certo ou
muito errado.
O juiz tirou Cameron do jogo, por um tempo, como punição e
substituímos Charles por outro jogador defensivo. Assim que o apito
soou a loucura foi a mesma.
Eles tentaram várias vezes fazer gols para virarem o placar,
porém seguramos bem. Só depois de muitas tentativas consegui
pegar no disco, aproveitei a marcação falha e o joguei para Johnny.
Aquela emoção da plateia começou ao verem o astro com o
disco, ele voou no gelo e como toda a atenção estava voltada para o
capitão do nosso time, consegui ficar bem atrás, despercebido.
Como eu previ, cercaram Johnny bem na hora de arremessar.
Já tinha um jogador posicionado quase em frente ao gol justamente
para prevenir esse momento. Me preparei atrás deles, meio distante
e levei a pulseira da sorte do meu amor próxima da boca, até onde
consegui, queria dar um beijo, só que não dava por causa do
capacete.
Johnny ergueu o disco no taco, o jogando para trás no ar. Todos
os torcedores acompanharam o movimento em susto, sem
entenderem porque o capitão estava arremessando para longe do
gol.
Respirei fundo em concentração, sem me distrair. Vi o disco
vindo com tudo na minha direção e bati o taco estrategicamente
nele, o jogando de volta para a rede do gol, fazendo ele passar por
cima do ombro do goleiro, que olhou perdido para o lance.
Puta que pariu, entrou.
Entrou mesmo.
Entrou, cacete!
— CARALHO! — xingou Johnny, tirando o capacete da cabeça
em choque.
Os torcedores se levantaram em um só movimento, ouvi os
gritos enlouquecidos do pessoal dos dois times e os jogadores
reservas começaram a bater os tacos no chão em um sinal de
respeito pelo lance.
— Porra! Você vai valer cada milhão que vão te pagar nos
profissionais. — Drake passou o braço pelos meus ombros, rindo.
— Pode tatuar meu nome na testa já — provoquei, recebendo
um tapa na nuca.
Tinha acabado de conseguir virar o jogo ao nosso favor mais
uma vez, em uma jogada foda. A plateia começou a gritar o meu
nome e eu ergui o taco para eles em comemoração, no entanto a
minha cabeça estava só em um lugar.
Será que ela viu?
Será que sentiu orgulho?
Será que não tem um dia da minha vida em que eu não queira
estar com ela?
Será que ela topa ser minha para sempre?
 

 
— Como se sente indo pras finais? — perguntei para Taylor ao
sair do estádio da Universidade de Princeton.
Conseguimos segurar o placar até o fim do jogo e ao que tudo
indicava, tínhamos grandes chances de ganhar o Frozen Four.
— Sinto como se não tivesse ajudado em nada disso —
respondeu cabisbaixo. — Só atrapalhei na verdade.
Parei no lugar e ele suspirou resignado.
— Não foi culpa sua — alertei pela última vez. — Sabe de quem
é a culpa? — Ergui a sobrancelha. — Da falta de camisinha dos pais
dele.
Meu amigo me encarou por uns segundos antes de soltar uma
risada e voltar a caminhar na direção do pessoal.
— Prometo que no próximo jogo vou dar tudo de mim —
murmurou. — Nada mais de distrações desnecessárias.
— Se apegar a alguém não é distração desnecessária — avisei.
Taylor me olhou por cima do ombro, curioso.
— Quem diria... — provocou com um sorriso.
Dei de ombros sem me importar e segui de encontro ao pessoal
que nos esperava no estacionamento. Amber e Sienna queriam sair
para comemorar, todo mundo topou, e se fossem outros tempos eu
iria na hora. Mas toda a minha vontade era voltar correndo para
casa e dormir abraçado com a minha pequena.
— Vou voltar com o pessoal do time no ônibus — falei, me
despedindo deles e talvez meus amigos compreenderam que eu só
estava com saudade de uma certa ruiva, pois nem estranharam.
Passei pela multidão que se acumulava na saída do estádio e
escutei de longe uma voz, que eu conhecia bem, me chamar. Olhei
para trás encontrando Cameron caminhando calmamente na minha
direção.
— Já vai? — perguntou parando, sem se aproximar muito.
— Já — confirmei, piscando para ele. — Não chore no banheiro
à noite, eu sempre volto.
Cameron revirou os olhos e pegou algo no seu bolso, ele jogou
o objeto para mim e peguei no ar com uma só mão.
Abri a palma e olhei sem acreditar para o que ele havia me
dado. Uma corrente de ouro, onde cabia perfeitamente uma moeda
no seu pingente. Ele talvez fosse uma das poucas pessoas que
sabiam o que aquilo significava para mim.
Era como se estivesse me dando uma nova chance, uma
oportunidade para que a minha história tivesse um fim diferente.
Olhei para frente e o encarei em silêncio por um momento.
— Ela está segura comigo — disse, apertando a corrente entre
os dedos. — Eu vou cuidar bem dela, se tornou a coisa mais
preciosa na minha vida.
Ele apenas piscou em entendimento, sabendo que eu não
estava me referindo ao colar. Cameron se virou para ir embora, e o
observei se distanciar.
— É a primeira vez? — perguntei, o fazendo parar no lugar e
me olhar por cima do ombro. — Que você demonstra afeto por
alguém — expliquei sorrindo e ele ergueu o canto da boca em
divertimento.
— Não — negou como se estivesse tendo uma lembrança. —
Teve uma outra vez.
Ficamos nos encarando e eu sabia que não podia perguntar.
Por isso somente me despedi.
— Obrigado, irmão. — Apertei a corrente na mão.
Ele inclinou a cabeça em despedida e seguiu o seu caminho.
Entrei no ônibus, que logo iria sair, e sentei no banco ao lado da
janela, olhando para as pessoas passando ao meu lado.
O ônibus começou a andar e sair do estacionamento para pegar
estrada. Me encostei melhor no assento, suspirando ao sentir a
poltrona acolchoada nas minhas costas, coloquei minha mochila no
chão e tirei dela um certo cacho ruivo.
Alisei o cabelo cortado da pequena e enrolei um dedo na curva
do mesmo. Amava o jeito como eles se formavam, podia passar o
dia vendo ela colocá-los atrás da orelha, ou só passando a escova
com delicadeza depois de lavar. Nem sabia se Madison estava
acordada ainda, mas tudo o que eu queria era chegar em casa e
abraça-la até que o seu corpo passasse a fazer parte do meu.
Peguei meu celular para ver se ela tinha mandado alguma
mensagem e vi que mandou várias durante o jogo.
Meu amor: Esse jogo está violento, cuidado.
Meu amor: Acabei de ver que você levou um empurrão... doeu
muito?
Meu amor: Espero que não tenha se machucado.
Meu amor: Acabei de ver o seu lance com o Johnny, estou tão
orgulhosa! Você foi perfeito!
Meu amor: Amber acabou de me contar que você que
conseguiu os lugares pra gente no último jogo! Eu amei ver tudo de
perto.
Meu amor: Acabei passando a noite sozinha, Scar apagou
assim que chegou em casa.
Meu amor: Você vai demorar muito?
Sorri ao ler cada uma das mensagens e me perguntei o que
tinha feito para merecê-la. Se pudesse voaria até ela nesse
momento, só para beijar cada canto do seu rosto e sussurrar no seu
ouvido o quanto era perfeita.
Digitei uma mensagem para ela.
Eu: Não vou demorar, já estou no ônibus.
Eu: Estou morrendo de saudade.
Ela viu na mesma hora e começou a digitar.
Meu amor: A gente se viu hoje de manhã.
Eu: Eu sei, não é um absurdo? Tempo demais.
Meu amor: Não demora, estou aqui fora te esperando. Estava
alinhando os chacras.
O que diabo era chacras?
Eu: Vou chegar daqui a pouco, pequena.
Me encostei no assento e tentei tirar um cochilo enquanto
segurava o cacho dela. Tempos depois já estávamos em
Providence, no estádio da universidade. Peguei o meu carro no
estacionamento e fui para a casa.
Assim que cheguei entrei na sala ansioso, procurando por ela.
Deixei minha mochila em cima do sofá e fui para a área externa da
piscina, vendo Madison ali.
Parei no lugar ao ver a cena à minha frente. A ruiva estava
sentada em uma espreguiçadeira, com um caderno grande de
desenho encostado nas suas pernas, ela tinha um lápis na mão e
estava rabiscando algo na folha, um desenho. Parecia tão
concentrada naquilo que nem me viu chegar.
Ela fazia o lápis passar com tanta suavidade pela folha que era
como se estivesse acariciando-a. Me encostei na parede da área
sem querer atrapalhá-la, poderia passar o dia vendo aquilo. No
entanto, ela me sentiu.
Não viu, porém sentiu. Percebi o momento em que parou de
desenhar e suspirou profundamente, ela levou os olhos até mim e
seu rosto se iluminou. Sorriu, mostrando suas covinhas, e eu só
consegui lhe dar um sorriso calmo de volta.
Era engraçado quando você compreendia que amava alguém.
O corpo parecia se acalmar, em um estranho relaxamento de
aceitação. Talvez tenha sido amor desde o começo e só agora notei.
Olhei para ela e os seus olhos esmeralda brilhantes me
fascinaram por alguns segundos, me deixando cego para qualquer
outra coisa no mundo. Eu não a queria apenas por um tempo ou
alguns meses, muito menos por anos. Era para uma vida e talvez
além disso.
— Você chegou cedo — comentou e fiquei a admirando.
— O ônibus saiu na hora — disse sem me mover e ela me deu
um sorriso suave.
Caminhei na sua direção como se estivesse sendo puxado por
um imã. Me agachei na sua frente em um gesto de rendição e
ficamos com os rostos na mesma altura. Madison me deu toda a
sua atenção, curiosa para saber o que eu estava fazendo.
Peguei aquela mãozinha na minha e a abri para mim, vendo as
cicatrizes e calos na sua palma. Alisei com extremo cuidado a
região, as pontas dos meus dedos tocaram cada uma das cicatrizes
e a senti suspirar perto do meu rosto. Uma eletricidade passando
por nós.
— Você... — sussurrei sem conseguir tirar os olhos daquela
mão. — Só você.
Toquei na minha corrente de ouro nova, que estava no meu
pescoço, e abri o pingente para tirar a moeda. Coloquei o meu
destino na sua palma. Em todos os sentidos possíveis. Era o meu
coração e eu estava entregando para que ela fizesse o que
quisesse com ele, até mesmo me machucar no caminho. Era seu.
A moeda ficou perfeita ali, era como se tivesse sido criada
apenas para poder descansar naquela mão. Toquei a cicatriz mais
grossa dela e beijei. Com amor e carinho. Pedindo silenciosamente
para ela aceitar o meu amor, eu não estava pedindo nada em troca.
Quando ergui o olhar a vi com os olhos marejados, emocionada.
Madison tocou o meu rosto, alisando o maxilar, quase como se
pedisse para explicar o que significava, por mais que ela já
soubesse.
— É seu. — Engoli em seco e ela fechou a mão, segurando a
moeda ali.
— Eu vou cuidar bem dela — prometeu com a voz embargada e
a olhei tranquilo, sabia disso. — É uma honra... — Uma lágrima
desceu pelo seu rosto e eu a limpei com o polegar. — E uma
dualidade — disse. — Pra ter cara, precisa ter coroa. — Ela virou a
moeda na nossa frente, me mostrando os dois lados. — Para ter um
sim, precisa de um não. Para ter o seu lado — Ela pegou a minha
mão, colocando a moeda ali e depois colocou a sua palma em cima
da minha, fechando em uma concha. —, precisa ter o meu também.
Assim que ela me olhou eu não consegui, sentei na
espreguiçadeira e a puxei para o meu colo. Madison me abraçou,
enterrou o rosto no meu pescoço e inspirou profundamente,
sentindo o meu cheiro como eu sentia o dela. Beijei o seu cabelo
percebendo que estava segurando nos braços, naquele momento, a
pessoa mais preciosa do mundo. Era minha e eu iria amá-la todos
os dias, cuidar dela e fazê-la sorrir.
A afastei só o suficiente para podermos nos olharmos. Ainda
tinham lágrimas que desciam pelo seu rosto e eu as beijei com
calma, tirei o meu colar de ouro do meu pescoço e coloquei nela.
Madison o recebeu de bom grado e se ela iria carrega-lo, eu
precisava contar o significado.
— Meu pai morreu no dia do meu aniversário — contei e ela me
encarou em choque.
Seu olhar confuso perseguiu o meu rosto em busca de
respostas.
— Foi antes de vir para a universidade — revelei e ela me
abraçou forte.
— Ele te deu a moeda? — perguntou baixinho, perto do meu
ouvido.
— Deu — sussurrei no mesmo tom dela. — Era um homem
bom e romântico. — Dei um sorriso triste. — Sempre me falava de
como amava a minha mãe, fazia de tudo por ela. Era tão bonito vê-
los juntos que até cheguei a ansiar por isso um dia.
Abracei-a, enterrando o rosto no seu cabelo. Ela estava ali, eu a
amava e era tudo o que eu queria.
— O que aconteceu? — questionou depois de uns minutos em
silêncio, ela alisou as minhas costas suavemente, dizendo com o
gesto que estava tudo bem se eu não quisesse falar.
— O amante dela o matou no meu aniversário — contei e
Madison afastou o rosto para me olhar.
Ela encostou a testa na minha e segurou a moeda com mais
firmeza, entendendo a importância daquilo. Entendendo porque eu
não queria arriscar, entendendo que era difícil para mim entregar o
meu coração quando não podia confiar nem na minha própria mãe.
Foi uma desilusão. Era tudo mentira.
— Você chegou a ver? — perguntou temerosa e neguei com um
movimento de cabeça.
Aquele trauma eu não carregava. Não vi, cheguei tarde demais.
Assim que cheguei em casa a polícia já estava lá, na minha festa
surpresa.
— Passei a usar a corrente prata pra carregar a moeda depois
disso — revelei, tocando o novo colar que descansava no pescoço
macio dela. — Ela simbolizava um aviso de que eu precisava me
manter distante disso.
O amor era perigoso. Ele conseguia destruir com o melhor que
havia em uma pessoa, aprendi isso com o meu pai, dolorosamente.
— E essa? — Tocou na corrente de ouro. — O que significa?
Olhei para ela com um sorriso tranquilo.
— Que você vale a pena.
Madison alisou o meu rosto e me olhou de um jeito diferente,
com uma certa clareza.
— Vou usar com orgulho — jurou.
A pequena abriu a mão que segurava a moeda e ficou olhando
para ela no meio da sua palma, ela permaneceu em silêncio e
quando me olhou novamente senti o impacto.
Era quase do mesmo jeito que ela olhava para o céu. Madison
ficou me encarando e não sei quanto tempo se passou, pois tudo
pareceu parar ali. Um sorriso satisfeito se espalhou no seu rosto.
Ela jogou a moeda para cima sem tirar os olhos de mim e a
pegou no ar. Olhamos juntos para a sua palma, querendo ver o
resultado. Deu cara. Não sabia o que ela tinha perguntado, mas
Madison jogou a moeda novamente para cima e a pegou, me
mostrando mais uma vez o resultado.
Cara.
A olhei confuso, ela apenas sorriu para mim e jogou de novo,
com uma tranquilidade que me intrigou. Deu cara. Três vezes. Se
fosse um dado eu diria que estava viciado.
— O que você está perguntando? — perguntei curioso e ela me
olhou com carinho, pegou a minha mão, colocou a sua por cima da
minha e entrelaçou os nossos dedos.
— Algo que já sei — contou a pequena, jogando a moeda para
cima mais uma vez, dessa vez deixando para eu pegar.
Senti o metal gelado cair sobre a minha mão e quando vi o
resultado... deu cara. Foi então que entendi.
Eu entendi só pelo jeito que ela estava me olhando.
Compreendi o que ela estava perguntando à moeda. E compreendi
a resposta. Ficamos parados no lugar até ela se aproximar, encostar
a testa na minha e suspirar baixinho.
— Oi. — Sua voz saiu em tom calmo.
Toquei o seu rosto sem afastá-la de mim.
— Oi — falei baixinho.
Ela fechou os olhos e roçou o nariz com o meu.
— Eu te esperei demais — sussurrou e senti minha própria
garganta fechar.
Me aproximei mais, tocando a sua boca com a minha. Sentindo
que o mundo de repente ficou mais calmo.
— Queria ter chegado antes. — Minha voz saiu embargada.
Ela abriu os olhos e me encarou serena.
— Você veio no tempo certo.
Segurei o amor da minha vida nos braços com carinho e
proteção, beijei o seu rosto sem conseguir confiar em mim mesmo
para falar, apenas fiquei ali com ela.
Em algum momento deixei a moeda, que estava segurando, cair
próxima dos nossos pés. Escutei o som dela caindo no chão,
girando até finalmente parar com um lado para cima.
Cara.
Ainda podia ouvir a voz do meu pai: cara é sempre sim.
 
Madison Jensen
 
Deslizei a ponta do dedo pelo seu nariz e Colin fechou os olhos
em um suspiro ao sentir o toque. Ele deitou na espreguiçadeira e
me levou junto, por cima do seu corpo. Desci a mão para acariciar a
sua boca perfeita e ele entreabriu os lábios para mim, deixando
escapar outro suspiro quente, que me tocou.
Passei o dedo lentamente pela sua boca macia e vermelha.
Tinha uma marquinha no canto do sorriso que se desenhava com
tanta frequência no seu rosto. Ela dava um charme a mais.
Me inclinei mais perto do seu rosto e o beijei. Era certo. Era
uma junção. Nós. Eu e ele.
Sua língua entrou na minha boca e eu suguei sem resistir.
Queria tudo. Segurei o seu rosto e intensifiquei o beijo, suspirando
ofegante quando senti a sua língua deslizar sugestivamente na
minha boca, entrando e saindo.
Inspirei profundamente, fazendo os meus seios roçarem no
peitoral dele. Me afastei devagar apenas para poder olhá-lo. Eu
queria ver tudo. Colin abriu os olhos e me fitou com desejo, carinho,
ternura e... amor.
Do mesmo jeito que eu o olhava de volta. Era amor. Não havia
uma parte nele que eu não amava. Dei um meio sorriso tranquilo,
me sentindo em paz.
Beijei o seu queixo com calma. O seu cheiro gostoso de canela
me deu uma sensação de estar em casa. Um lugar seguro onde eu
me sentia acolhida e amada. Inspirei profundamente, querendo
absorver tudo dele.
Nunca cheguei a viver isso antes, mas era tão grata... Obrigada
por ter finalmente chegado. Eu fiquei sozinha demais sem você.
— Você é tão lindo — murmurei perto da sua boca e Colin me
encarou protetoramente.
— Vem aqui, amor da minha vida. — Passou os braços em volta
do meu corpo, me apertando contra si.
Ele me puxou para mais um beijo, segurei o seu rosto, o queria
mais perto de mim e acabei esfregando os meus seios doloridos em
seu peitoral no processo. Senti a sua ereção crescendo na calça
jeans, tão duro que fiquei molhada só de imaginar.
Colin se afastou ofegante, o suficiente para poder me olhar. Ele
tirou com cuidado um cacho da frente do meu rosto, o colocando
atrás da orelha. Deslizou os dedos pelo meu rosto tão suavemente
que senti uma vontade estranha de chorar ao receber tanto carinho.
— Faz isso... — pedi, me derretendo sempre que ele me tratava
assim. — Faz isso pra sempre?
Colin me olhou daquele jeito... e percebi com certa tranquilidade
que ele sempre me olhou assim. Desde o começo. Desde a primeira
vez.
O mesmo olhar que me deu no momento em que me entregou o
seu destino, o qual eu carregava agora no pescoço. Era a maior
honra da minha vida, ainda mais depois que soube do significado
por trás. Eu valia a pena.
— Eu vou ser cuidadoso e carinhoso com você todos os dias —
prometeu, beijando a ponta do meu nariz demoradamente. — Vou
contar todas as suas sardas, vou sempre admirar os seus cachos
até mesmo quando eles estiverem brancos. — Pegou um cacho
meu e o beijou com ternura. — Eu vou beijar a sua mão sempre que
te ver, porque você é perfeita demais pra não ser mimada. Vou te
abraçar todas as noites antes de dormir... — jurou baixinho,
aproximando a boca da minha e dei toda a minha atenção ao que
ele ia dizer. — Vou dizer que te amo ao acordar e vou provar isso a
cada hora do dia até o anoitecer.
Colin passou o polegar delicadamente pelo canto dos meus
olhos e ficou os fitando com tanta sinceridade, que eu só consegui
sentir um sorriso genuinamente feliz crescer em mim.
— Eu te amei desde a primeira vez em que você me irritou —
falei para ele, sentindo meu peito apertar.
Colin me deu um sorriso suave e percebi que sua respiração se
alterou ao me ouvir, talvez surpreso. Parecia grato e honrado.
 — Namora comigo — pediu olhando para mim com ansiedade.
— Posso ser exatamente o que você quiser, vou fazer de tudo pra
você ser feliz comigo...
Coloquei um dedo na sua boca, calando-o e balancei a cabeça
negativamente de um lado para o outro. Vi um certo desespero,
misturado com tristeza, no seu rosto e quis apagar aquilo
imediatamente.
— Você já é exatamente o que eu quero — enfatizei. — E eu já
sou sua. — Assim que terminei de falar os seus olhos se acenderam
em satisfação.
Colin se sentou de uma vez, me pegando desprevenida e me
levando junto de si, já que eu estava em cima do seu corpo. Ele
abriu minhas pernas para me encaixar bem em cima da sua virilha,
inchada da ereção. Me segurei nos seus ombros fortes e ele
encostou a testa na minha, segurando o meu pescoço com carinho.
— Repete — pediu. — Repete, por favor. — Suspirou baixinho.
Olhei nos seus olhos e falei sem desviar.
— Eu sou sua.
Suas mãos pesadas e grandes desceram pelo meu corpo, me
fazendo arrepiar toda. Quando finalmente chegou no meu quadril
ele me apertou contra si e eu senti o quanto estava duro. Acabei
roçando o meu clitóris no caminho, tentando buscar um alívio.
Deixei escapar um gemido, inspirei profundamente e lambi o
lábio inferior ao senti-lo ficar seco. Minha boca precisava da língua
dele. E minha boceta... de repente a senti molhar.
— Colin...
— Eu fico duro pra porra quando você fala que é minha. —
Ergueu os quadris, esfregando o pau em mim e pulsei em excitação.
— É tão bom saber que ninguém mais pode te ter... — Subiu a mão
até alcançar a alça da minha blusa e a desceu lentamente, deixando
o seu polegar arrepiar a minha pele no caminho. — Só minha.
Ele se inclinou para beijar a pele com os pelinhos eriçados.
Fechei os olhos e suspirei ao sentir a ponta da sua língua deslizar
pelo ombro. Tentei fechar as pernas, querendo sentir algo esfregar
em mim, me tocar. Abracei os ombros dele, o puxando para mais
perto e Colin subiu a sua lambida.
Sua língua deliciosa babou o meu pescoço e eu joguei a cabeça
para trás, dando uma rebolada em cima da sua ereção. Segurei o
seu cabelo com força. Sedenta.
— Me beija — pedi e a sua outra mão apertou com força minha
bunda, me segurando no lugar.
Eu abri a boca ansiosa, já pronta para pedir novamente quando
ele meteu a língua nela com tudo, me fazendo gemer bem alto.
Contraí a boceta, esfregando os seios nele.
Nunca me senti tão desesperada para ser alargada do que
naquele momento. Tentei tirar a sua camiseta e Colin ergueu os
braços, deixando que eu a arrancasse do seu corpo para voltar a
beijá-lo logo em seguida.
Era tão bom sentir a sua pele cheirosa e firme... adorava o seu
corpo. Deixei a sua boca por um instante para beijar e morder os
seus bíceps. Queria deixar vermelho e marcado. Desci até chegar
no mamilo dele e o abocanhei.
O seu pau se esfregou em mim mais violentamente em
resposta. Colin segurou o meu cabelo com força, me puxando de
volta para a sua boca e Deus... gostei tanto dessa brutalidade.
Ele me deixou bem próxima da sua boca e quando me inclinei
para frente querendo mais, o cretino se afastou, me deixando
desesperada. O aperto no meu cabelo só me deixava mais excitada.
— Eu preciso — pedi, erguendo a sobrancelha para ele
ameaçadoramente.
Colin sorriu sacanamente e jurei que ele iria ficar me
provocando como gostava de fazer. Mas esqueci que ele gostava
mais ainda de me surpreender.
Levantou da espreguiçadeira, me carregando junto com um só
braço, e me pressionou com tudo contra a porta de vidro que dava
de entrada para a sala. Minhas pernas automaticamente se
fecharam em volta da sua cintura.
Comecei a me esfregar nele, porque estava tão gostoso ser
pressionada assim...
Colin segurou meu cabelo com mais força, quase me fazendo
chorar de tesão. Seus dentes fecharam sobre o meu lábio inferior, o
mordiscando forte e talvez eu curtisse tudo com força, porque não
lembrava de querer tanto que alguém tivesse total controle sobre o
meu corpo como naquele momento.
— Me come — implorei e ele se afastou só o suficiente para me
olhar.
Talvez estivesse surpreso. E eu também, porém perdi
completamente a vergonha, só queria o seu pau dentro de mim
imediatamente.
— Repete — disse, passando a língua por cima da minha boca
aberta e ansiosa.
Ele rebolou bem em cima de onde eu estava toda molhada e
percebi que aquilo só o tinha deixado mais duro. Abri mais as
pernas, dando total acesso para ele fazer o que quiser comigo.
— Mete em mim. — Cravei as unhas no seu pescoço
musculoso e Colin trincou os dentes.
Estava tão gato sem camisa e de pau duro na minha frente. Me
esfreguei nele, o fazendo roçar de volta, mesmo que
involuntariamente. O seu corpo não estava aguentando mais.
Colin me apertou tanto contra a porta com os quadris, que senti
meus ossos estralarem. Segurou o meu cabelo com força e gemi
em resposta.
— Vou meter tanto que a sua bocetinha vai ficar assada
amanhã — prometeu e fechei com mais vontade as pernas em volta
da sua cintura.
Ele tirou a minha blusa, deixando os meus seios livres. Assim
que os viu Colin salivou e colocou um na boca, babando o mamilo.
Estremeci de tesão, encharcada. Ele me segurou pela bunda para
me tirar dali e abriu a porta de vidro, entrando na sala comigo.
Pouco me importei se ia chegar alguém, eu só queria dar para ele.
Colin me jogou em cima do sofá grande e veio para cima de
mim. Abri as pernas para sentir o seu pau grande e inchado roçando
na minha virilha. Gemi quando ele esfregou por cima do meu clitóris
e foi chupar os meus seios ainda mais.
Desci para arranhar de leve o seu peitoral e fiquei mais ansiosa
e molhada à medida que chegava naquele abdômen trincado.
Passei pelos gominhos suspirando e sentindo a minha nuca suar de
tanto calor. Toquei a sua calça jeans e ele mordeu delicadamente o
meu peito.
Gemi, sentindo minhas pernas estremecerem e abri a sua calça,
metendo a mão dentro da boxer. Era quente ali e sufocante para o
seu pau, que já se erguia desesperado para ser tocado. Quando
envolvi a minha mão nele, Colin se elevou nos dois braços para me
encarar.
Ele estava tenso. Suas veias do pescoço saltavam para fora de
um jeito sexy, seu maxilar estava travado e os braços fortes
tensionados. Levei o polegar à cabeça, sentindo a lubrificação.
Colin mordeu o lábio inferior sem desviar os olhos de mim.
Ficamos nos fitando, apenas escutando as respirações ofegantes e
pesadas um do outro. Minha boceta contraía se sentindo vazia.
Precisava dele.
Achava incrível como não dava para fechar a mão de tão grosso
que era. Desci e subi com o aperto, começando a masturbá-lo e
Colin gemeu, respirando fundo. Fazendo seu peito subir e descer.
Ele enfiou uma das pernas no meio das minhas e a pressionou
em cima da minha boceta, girando com calma para me provocar.
Conseguiu. Abri as pernas e já não aguentava mais. Precisava
sentir. Ele se apoiou em um cotovelo e levou uma das mãos até a
minha saia, tocando a minha calcinha úmida.
— Tão melada — murmurou perto do meu ouvido, saindo como
um meio gemido.
Virei o rosto de lado e o beijei. Colin chupou a minha língua de
um jeito delicioso, passando a dele na ponta bem devagar. Apertei o
seu pau na minha mão e o seu dedo empurrou a minha calcinha de
lado para tocar bem na minha entrada.
Empurrei o meu quadril para frente em desespero e o seu dedo
deslizou com facilidade para dentro. Sendo engolido.
Colin mordeu o meu lábio, ele segurou a minha mão que estava
tocando o seu pau e a tirou da cueca. Me afastei do nosso beijo sem
entender, mas ele puxou a minha outra mão e as colocou juntas
acima da minha cabeça, prendendo os meus punhos enquanto
continuava a estocar o dedo dentro de mim.
Deixei que ele me segurasse e prendesse, tranquilamente. Ele
colocou o polegar bem em cima do meu clitóris e me esfreguei o
máximo que pude, quase enlouquecendo. Colin ficou olhando os
meus seios balançarem na sua cara, pela posição os bicos ficaram
apontando perto da sua boca e ele não perdeu a oportunidade.
  Mordiscou e lambeu toda a região. Lambeu bem entre eles,
deixando tudo coberto de saliva. Eu estava pronta para gemer
muito, porém quando senti todo o decote babado Colin saiu de cima
de mim, me deixando desorientada.
— O que... — murmurei débil, só que logo fui colocada sentada
no sofá.
Minha visão estava nublada de tanto tesão, logo que abri os
olhos completamente só vi o seu pau na minha frente. Enorme.
Colin estava em pé diante de mim.
— Abre as pernas pra mim, meu amor — pediu com carinho e
obedeci como se fosse um robô.
Ele voltou a colocar o dedo dentro de mim e contorci todo o meu
corpo, me sentindo estremecer e melar mais. Colin meteu e tirou o
dedo rapidamente e gemi na mesma proporção, fechando minhas
pernas involuntariamente ao sentir tanto tesão assim acumulado,
sufocando a sua mão ali.
Ele apontou o pau na direção da minha boca e eu a abri,
chupando a cabeça enorme. Babando bem. Pensei que meu
namorado queria um boquete, entretanto não era isso. Deixou o pau
ficar bem lambuzado para trazer até meus seios e pressionar a
cabeça bem no mamilo inchado pelas chupadas.
Gemi, tendo que me segurar nas suas coxas. Ele repetiu o
movimento com o outro seio e passou o pênis bem entre eles.
— Posso? — perguntou, tocando o meu rosto suavemente e
olhei para cima.
— Pode o quê? — perguntei confusa, já sem conseguir me
concentrar em nada a não ser no seu dedo me masturbando.
Colin ergueu o canto da boca ao ver o meu rosto.
— Foder os seus seios — disse, passando o pau neles, que
estavam babados.
Abri a boca, sentindo os peitos pesados só com a ideia e acenei
com a cabeça, confirmando. Colin pegou as minhas mãos e as
colocou do lado de cada seio, me ensinando a segurá-los para
permitir que o seu pau passasse entre eles de um jeito bem
apertado.
Apertei os seios um no outro, os segurando firme enquanto ele
continuava a meter na minha boceta lambuzada. Abri mais as
pernas, sem deixar de rebolar os quadris, sujando toda a sua mão.
Colin colocou o seu pau entre os meus seios melados e começou a
fodê-los.
Me encostei nas costas no sofá e Colin veio se inclinar em cima
de mim, apoiando um joelho no sofá, se mantendo em pé e meio
inclinado ao mesmo tempo. Esfreguei a minha boceta na sua mão
ao sentir o pau deslizar pelos meus seios... não sei como, mas
aquilo me deixou tão excitada.
A imagem da cabeça inchada do pênis sumindo e aparecendo
entre os meus peitos, os mamilos rosados tão sensíveis, e o pau
chegando no meu queixo... era demais. Coloquei a minha língua
para fora e fiquei lambendo quando encostava na minha boca. Colin
gemeu rouco, passando a ir mais rápido e seu polegar massageou
em volta do ponto mais sensível da minha boceta.
Contraí, prendendo o seu dedo lá e gozei. O orgasmo veio.
Estralei o pescoço e gemi, rebolando descontroladamente na sua
mão. Colin continuou a meter o dedo e se afastou para se agachar
na minha frente, colocando a cabeça entre as minhas pernas. Ele
afastou mais de lado a calcinha e passou a língua bem na entrada,
entre os lábios melados.
Senti a lubrificação sair, melar tudo. Molhando a sua língua
gostosa que lambia cada gota do meu gozo.
Suspirei trêmula. Minhas pernas estavam fracas, letárgicas.
Meu coração disparado contra o peito e a respiração saindo
ofegante. Senti uma gota de suor escorrer na minha nuca, mas...
ainda queria senti-lo dentro de mim.
Me sentei melhor no sofá e olhei para Colin agachado à minha
frente, com a boca vermelha e melada. Ele subiu lentamente pelo
meu corpo, sem desviar, com um olhar predador. Segurei o seu
pescoço e o beijei, amando sentir o meu gosto no beijo.
— De quatro — mandou. Ele me pegou pela cintura com um
único braço e me virou no sofá.
Torci o pescoço ansiosa e me apoiei no braço do móvel,
empinando a bunda para trás. Colin montou atrás de mim e puxou
minha saia, embolada na cintura, para baixo até tirá-la do corpo
junto com a calcinha, me deixando completamente nua.
Rezei para ninguém chegar em casa hoje e olhei para a porta,
temerosa. No entanto, quando senti aquelas mãos grandes e firmes
segurando o meu quadril, esqueci de tudo.
— Vou pegar uma camisinha — informou se afastando, mas
segurei o seu punho antes que ele fosse.
— Tomo anticoncepcional. — Olhei por cima do ombro para ele
e empinei mais a bunda na sua direção, deixando alta.
Colin observou o movimento e gemeu, fazendo uma cara de
dor. Ele alisou cada banda da mesma.
— Estou limpo — prometeu. — Amanhã eu mostro os exames.
Pisquei para ele e Colin afastou meus joelhos, me deixando
mais aberta. Senti a sua língua passar na minha boceta uma última
vez antes do seu corpo cobrir o meu.
Ele colocou o pau na entrada e logo que a cabeça passou, meu
corpo inteiro se arrepiou. Me contorci toda, jogando o quadril para
trás. Era muito bom sentir que ele estava me abrindo, me alargando
inteira. Ainda doía, porém era uma dor gostosa que me fazia querer
mais.
Colin meteu devagarinho, me enlouquecendo. Assim que
chegou na metade eu já estava gemendo e rebolando ansiosa. Ele
ficou roçando um pouco só com a metade até empurrar com tudo,
me preenchendo completamente.
Me senti completa. Sufocada. Mordi meu lábio inferior para não
gritar de tanto tesão. Meu Deus, eu amava o tamanho dele. Era para
deixar qualquer uma incapacitada de sentar decentemente por uns
dias.
— Está bem, pequena? — perguntou, gemendo abafado, todo
tenso para não estocar.
— Estou — respondi em um suspiro ao me permitir deitar mais
a parte da frente do corpo e empurrar a bunda para ele.
— Puta que pariu. — Colin segurou cada lado do meu quadril
com propriedade, como se fosse o dono e começou.
 Bombeou com força, me levando à loucura. Ele batia o quadril
contra a minha bunda, metendo na boceta com tudo. Tirava até a
cabeça para botar tudo dentro de novo. Meu corpo ia para frente
com o impacto e Colin se inclinou sobre as minhas costas para jogar
o meu cabelo para o lado e segurar o meu pescoço no lugar.
Meus mamilos começaram a roçar no sofá e melei tanto o pau
dele que conseguia ouvir o som à medida que ele ia me comendo
com mais força. Podia sentir os seus músculos tensionando contra
mim. Seu peitoral encostou nas minhas costas, me prendendo e foi
tão gostoso.
Seu aperto no meu pescoço passou a ser mais firme e me
segurei para não gemer. Jogava minha bunda para trás, querendo
realmente sentir tudo. Colin estocou tão fundo que suas bolas
bateram na minha boceta. Por mais que fosse impossível, era como
se ele estivesse tocando o meu útero.
Passei a contrair e lambuzar o seu pau duro, que me deixava
esticada e preenchida ao limite. Com certeza ficaria sem poder
sentar amanhã.
Quando ele tocou um certo ponto que me deixou louca, joguei a
cabeça para trás. Todo o meu corpo ficou tenso e rebolei
desesperadamente, querendo mais. Gemi e Colin apertou mais o
meu pescoço, metendo justamente onde me fazia arrepiar inteira.
Ele beijou as minhas costas e aquilo me quebrou. Me fodia sem
pena, quase me rasgando no meio, mas também beijava
carinhosamente as minhas costas.
O seu braço estava apoiado do lado da minha cabeça, peguei a
sua mão e entrelacei os dedos com os meus. Colin veio mais para
mim, soltou o meu pescoço e pegou minha outra mão, a segurando
e colocando cada braço de um lado meu, protetoramente.
Ele beijou o meu rosto virado de lado.
— Eu te amo — sussurrou, ainda metendo firme.
Abri a boca para deixar escapar um suspiro e apertei a mão
dele na minha. Meu corpo inteiro contraiu com a última metida.
Gozei novamente, melando o seu pau. Colin soltou uma das minhas
mãos e a desceu para alisar o meu corpo, das costas até a bunda,
me apertando até gozar.
Senti minha boceta ser preenchida com a sua... porra. E foi
delicioso. Fiquei encharcada, ele gozava muito e eu gostava disso.
Quando saiu de dentro, senti seu gozo pingando e escorrendo
quente pelas minhas coxas.
Colin ficou parado atrás de mim, parecendo apreciar a imagem.
— Você é gostosa pra cacete — disse, alisando a minha bunda.
Eu estava morta. Suspirei cansada e só senti os seus braços
envolvendo minha cintura, puxando meu corpo para si. Colin me
colocou no seu colo com cuidado e beijou o meu rosto.
— Cansada? — perguntou em tom de brincadeira, levantando
do sofá e subindo as escadas até o nosso quarto, sem se preocupar
com o fato de estarmos pelados.
— Muito — disse, descansando a cabeça no seu peito quente,
sentindo aquele cheiro tão bom dele.
Queria que seus braços me abraçassem à noite, queria escutar
a sua respiração e a sensação de segurança e amor que só ele me
dava.
— Meu bem — chamei quando chegamos no nosso quarto e
Colin parou no lugar para me dar a sua atenção, surpreso com o
nome carinhoso. — Eu te amo também. — Toquei o seu rosto e
Colin se derreteu um pouco.
Fechou a porta atrás de si com o pé e pegou a minha mão para
beijá-la, fechando os olhos no processo.
— Não há simplesmente nada nesse mundo que eu não faria
por você — disse, beijando a minha testa e me colocando em cima
da cama.
Olhei apaixonada para ele e Colin ficou me olhando de cima,
até me beijar uma última vez para depois sair e pegar as nossas
roupas jogadas junto com o meu caderno na área externa e na sala.
Aproveitei para tomar um banho e vestir um pijama quentinho.
Só quando deitei novamente na cama que lembrei que Scar ainda
estava na casa. Graças a Deus ela não acordou, esperava de
verdade que estivesse hibernando.
Segurei a minha nova corrente de ouro, sentindo o peso do
pingente. Era isso. Sempre foi. Sorri ao imaginar que era
exatamente o que eu queria, mesmo sem saber. Beijei o pingente
com carinho, prometendo baixinho que sempre cuidaria bem do seu
coração.
Fechei os olhos pedindo por sonhos bons e tranquilos.
Senti os braços dele me envolverem por trás em algum
momento e sua mão segurar a minha. Colin beijou o meu ombro e
inspirou profundamente perto do meu pescoço.
Senti a sua respiração tranquila, mas também ativa, como se
estivesse pensando em alguma coisa. Ele ficou alisando o meu
dedo anelar, aquele em que se colocava uma aliança.
Beijei o seu braço, que me envolvia, e suspirei em paz.
É tão bom estar em casa.
Colin Scott
 
Alguns anos atrás
 
Estava começando a chuviscar, os pingos umedeciam a minha
roupa e a cada minuto a chuva engrossava mais. No entanto, eu
não iria embora, tinha se tornado um ritual. Três meses depois e eu
ainda ia todos os dias no túmulo dele.
Talvez assim ele soubesse que eu ainda o amava. Ela podia ter
o enganado, mas eu o amei. O meu sentimento foi de verdade. Ele
foi amado profundamente, foi o melhor pai, o melhor amigo, meu
maior exemplo e professor.
Eu o amei.
Só queria que isso tivesse sido suficiente para suprir a falta do
amor dela.
A raiva ainda não tinha passado, e talvez eu nunca mais
conseguisse olhá-la de novo. Minha mãe ainda usava a aliança,
ainda chorava, ainda implorava meu perdão, ainda tentava falar
comigo todos os dias, contudo, eu não podia. Seria como se
estivesse o traindo de novo.
O problema era que eu a amava também. Doía ter que ignorá-la
em respeito a ele. Talvez o maior choque da infância fosse descobrir
que os nossos pais não são perfeitos. São seres falhos, que nos
decepcionam e machucam. Tinham vezes em que cabia perdoar e
outras não. Eu ainda não sabia qual era o nível da minha ferida.
Caminhei até chegar na sepultura de Brian Scott, um dos
cirurgiões mais renomados e bem sucedidos do país. Morto aos 49
anos de idade. Pela porra do amante psicopata da esposa.
O cara tinha sido preso, porém ainda não parecia punição
suficiente. Nada seria.
Fiquei apenas parado ali, em frente à sepultura, por um tempo,
sentindo a chuva me molhar. Estava com duas coisas bem
preciosas no meu bolso e não sabia o que fazer com elas.
A primeira era a aliança de casamento dele, eu fiquei com ela. A
segunda era a moeda que ele me deu.
A moeda era minha, Brian Scott me deu quando era um garoto.
Ele me via sempre metido em confusões e fazendo besteiras na
escola, que decidiu deixar todas as minhas decisões nas mãos do
destino. De acordo com ele, a sorte me traria melhores escolhas do
que as quais eu fazia normalmente.
Foi em tom de brincadeira, ainda me lembrava do seu sorriso
assim que me deu de presente. Entretanto, a levei a sério. Até as
decisões mais importantes era ela que tomava.
Pensei em jogá-la fora.... No entanto, ela já fazia parte de mim.
Não podia fazer isso, como também não podia esquecer a lição que
aprendi com a morte dele.
— Está chovendo — avisou alguém atrás de mim.
Sabia exatamente quem era. Fechei os olhos e inclinei a cabeça
para trás, gostando de me molhar.
— Eu vou continuar usando a moeda — falei para Cameron
Payne. — Só não sei o que fazer com a aliança ainda.
Ele se aproximou, até ficar do meu lado, e ficou calado por um
tempo.
— Ela negou — contou Cameron e me virei para ele. — A
herança. Ela negou, tudo vai passar pro seu nome.
Engoli em seco. Não queria aquele dinheiro, mas aquilo me
trouxe esperança. Talvez isso significasse que ela ainda se
importava com ele. Ou era o que meu coração desejava.
— Era o mínimo. — Dei de ombros e Cameron acenou em
concordância.
— Você não quer conversar com ela...
— Não — interrompi duro e olhei para ele em aviso, não falaria
com minha mãe tão cedo. — Já a perdoamos demais. Ele mais do
que eu, me criou mesmo sabendo que não era meu pai...
— Ele era o seu pai — enfatizou Cameron, erguendo a
sobrancelha para mim.
Era. O único pai que tive, me amou mesmo que eu tenha sido
mais um erro dela. Mais uma traição. Compartilhávamos tudo,
menos o mesmo sangue.
— Vou comprar uma corrente — falei, tocando a moeda no
bolso na calça. — Pra guardar a moeda.
Ele olhou para o túmulo, pensativo.
— E a aliança?
— Não sei — revelei, escutando as gotas da chuva baterem na
pedra da sepultura.
Me lembrei da vez em que meu pai se banhou na chuva
comigo. Minha mãe nos acompanhou, ele a segurou pela cintura a
obrigando a se molhar e foi tão divertido... Foi um dia tão feliz que
me peguei sorrindo. Olhei para o lado, vi Cameron ensopado e
aquilo me rendeu uma risada.
— Você está ridículo — murmurei e ele revirou os olhos,
mostrando o dedo do meio para mim.
— Não consegue, não é? Ficar sério por mais de uma hora —
debochou, tirando a água do seu cabelo loiro dourado.
— Eu já chorei demais — pontuei, olhando para a sepultura
novamente e dessa vez sem aquela raiva no meu coração.
Lembrei dos momentos bons, das risadas, dos abraços, das
vezes em que eles reviravam os olhos achando graça de algo que
eu disse. Senti saudade. Mas não ódio. Talvez a chuva tenha
limpado a minha alma.
— Eu já chorei demais — repeti tranquilo, agora para o meu pai
e quase podia sentir o seu sorriso de volta.
De repente senti uma vontade absurda de abraçar a minha
mãe. Não a mulher que o matou. A minha mãe. Aquela que sempre
estava comigo, que beijava a minha testa antes de dormir, que fazia
os meus pratos favoritos quando criança, que me ensinou a andar
de bicicleta e foi o meu porto seguro por todos esses anos.
Queria rir dos nossos momentos junto com ela. No entanto, logo
reprimi esse sentimento. Amar alguém era realmente perigoso.
— Vamos pra casa — chamei Cameron e a chuva parou
quando começamos a caminhar de volta.
O céu foi ficando mais limpo, olhei para cima e me perguntei se
meu pai estava me olhando de volta. Se ele se ressentia comigo por
não conseguir odiá-la completamente.
O amor era uma fraqueza. E podia tentar ficar imune disso. Ou
podia me atingir antes mesmo que eu percebesse chegar.
Peguei a aliança no meu bolso e olhei para ela na minha mão.
Aquilo significava que uma pessoa queria viver o resto da sua vida
com outra. Me parecia uma ideia fantasiosa agora...
 Será que algum dia eu vou sentir vontade de comprar uma para
alguém?
Colin Scott
 
Eu: Preciso de um favor da minha melhor amiga.
Digitei e os três pontinhos já apareceram imediatamente na
conversa.
Sienna: Pensa que eu não sei que você fala isso pras meninas
também?
Eu: Que mentira.
Eu: Só digo quando quero alguma coisa.
Sienna: E o que o digníssimo quer de mim?
Eu: Queria comprar uma coisa pra minha pequena e preciso da
sua opinião.
Sienna era perfeita para isso, não conhecia pessoa mais
feminina e que usasse mais joias do que ela. Ok, minha namorada
não ligava muito para bens materiais, ficava tão satisfeita com
coisas simples que eu poderia dar uma folha de papel que ela seria
a pessoa mais grata do mundo.
 No entanto, isso não significava que eu não fosse lhe dar tudo.
Sienna: Que fofo!!!
Sienna: É roupa? Eu ajudo.
Sienna: Me encontra aqui na estufa.
Olhei para a mensagem, confuso.
Eu: Estufa?
Sienna: Sim, aqui da Universidade.
Sienna: Fica no prédio do pessoal da Botânica.
Eu: Ok.
Guardei o celular no bolso e me virei para Drake, que
caminhava ao meu lado em silêncio. Tínhamos acabado de sair do
treino e acho que o treinador estava tentando nos matar antes das
finais, porque passamos uma hora a mais treinando até gastar cada
energia do nosso corpo.
— Você sabe onde fica a estufa daqui? — perguntei para ele e
Drake pensou um pouco.
— Eu acho que sei... um pouco longe, por quê? — Ergueu a
sobrancelha, curioso.
— Preciso ir lá. — Dei de ombros, desconversando e ele não
deu importância, cansado.
— Cara, dividir o quarto com o Tyler está impossível, acredita
que ele passa a noite me chutando? — disse apertando a nuca. —
Vou passar na casa de uma garota agora, mas não queria dormir
lá...
— Veja as suas opções, é ela ou Tyler.
Drake suspirou e eu entendia. Dormir junto era intimidade
demais. A única pessoa com quem eu aceitaria fazer isso era com a
minha pequena mesmo.
— Quando você se apaixona passa a gostar. — Dei um tapinha
no seu ombro. — Pra falar a verdade acho que nem consigo mais
dormir sem ter o corpo pequeno dela nos braços.
Drake balançou a cabeça em divertimento para mim.
— Interessante como você virou pau-mandado — provocou e
revirei os olhos. — Logo o líder da nossa revolução.
— Eu deixo em suas mãos nossa revolução. — Apontei para
ele. — Já sou líder da associação de moradores. — Abri os braços
em rendição.
— E da associação dos cachorros castrados.
Sim, eu usava a coleira com orgulho agora.
— É a vida — falei, satisfeito demais.
Caminhamos mais um pouco, porém do nada, Drake me lançou
um olhar desconfiado.
— Você vai pegar flores pra ela? — perguntou curioso e o olhei
sem entender. — Na estufa.
— Não — neguei. — Vou encontrar Sienna.
— Hum...
Ele ficou calado, no entanto eu sabia que o espírito fofoqueiro
que habitava nele ia começar a falar mais alto.
— O que vocês vão fazer? — perguntou como quem não quer
nada.
Sorri sem deixar que ele visse.
— Vou pedir um favor pra ela — comentei, me virando para ele
quando chegamos no carro. — Quer vir?
Drake colocou as mãos nos bolsos da calça e tentou parecer
desinteressado. Ele deu de ombros como se não fizesse diferença.
— É bom eu ir. — Ele foi abrindo a porta do meu carro para
entrar. — Você não sabe onde fica a estufa.
Revirei os olhos antes de colocar meus óculos escuros e entrar
no carro.
— Você não ia ver uma garota? — perguntei só de provocação.
— Posso aparecer mais tarde.
Liguei o carro e saí do estacionamento sem pressionar mais.
Não sabia se era só um capricho ou um interesse por alguém que
não podia ter. Drake geralmente não ficava em cima de nenhuma
menina assim. Ele, de todos nós, era o que menos prestava.
Eu não sabia o que ele queria, mas era bom tentar disfarçar
melhor. Ela tinha namorado. Era um merda, entretanto ainda tinha.
Dirigi até a estufa da universidade em silêncio. Era bem longe
de onde ficávamos e ainda não entendia o que ela fazia ali.
— O que ela faz aqui? — perguntei a Drake assim que
entramos na estufa.
O lugar era gigante, espelhado e bonito. Uma estufa de
respeito. Tinham vários estudantes espalhados, cuidando de flores e
plantas que haviam no local. Tentei procurar Sienna entre eles, só
que não achei.
— Ela adora jardinagem — Drake explicou e lembrei das
plantas que Madison estava batizando no nosso quarto.
Sienna realmente tinha plantado elas no jardim e vinha
cuidando delas. Eu sabia que era um interesse porque já a peguei
mexendo na terra, mas não que ia para a estufa da universidade
para passar seu tempo livre.
Andamos pelo lugar gigante até encontrá-la. Sienna estava
sozinha em um canto, rodeada de rosas de diferentes cores, usava
um avental de jardinagem como todo mundo ali, para não se sujar, e
fones de ouvido. Seu cabelo loiro platinado estava preso em um
coque meio bagunçado no alto da cabeça e ela tinha óculos
redondos e grandes no rosto, que a deixavam com ar de cientista.
Era engraçado, quem a conhecesse jamais pensaria que ela
metia a mão na terra, literalmente. Sua postura de bailarina
chamava atenção e o jeito que batia os pés em um ritmo continuo
no chão à medida que escutava música no fone, também.
Assim que ela nos viu abriu um sorriso genuíno, que fez os seus
olhos azuis acinzentados curvarem nos cantos.
— Acharam difícil encontrar? — ela perguntou, tirando o fone de
ouvido e demos a volta nas flores que tinham ao redor dela.
— Drake já sabia onde ficava — respondi, dando um beijo na
sua cabeça.
Drake ficou andando em volta, observando as rosas com
respeito e se inclinando de leve para sentir o perfume.
— Você que as plantou? — ele perguntou olhando para uma em
específico.
— Sim — respondeu Sienna com orgulho e um sorriso
acanhado. — Não são cheirosas? — perguntou como se elas
fossem suas filhas.
— São — confirmou Drake, distraído.
— Só é um pouco frio aqui — comentei, sentindo a umidade do
ar me arrepiar.
— Já me acostumei. — Ela deu de ombros e se virou para mim.
— Então, Romeu, o que você tem em mente?
— Eu queria comprar uma joia — contei, me encostando em um
apoio atrás de mim.
— Que chique — ela murmurou em aprovação. — Podemos ir
ao shopping daqui a pouco.
— Perfeito. — Pisquei para ela.
Drake tinha sentado em um banquinho perto da Sienna e estava
olhando para cada rosa, intrigado com tudo. Ele parecia querer
tocar, no entanto não tinha coragem. Deveria ser interessante vê-las
crescerem aos poucos e ficarem tão bonitas assim. Não sabia
explicar, mas fazer aquilo era, de alguma forma, a cara da Sienna.
— Pode tocar — ela autorizou para Drake e ele se afastou um
pouco das flores.
— Acho melhor não — disse, ainda olhando hipnotizado para
elas. — São delicadas demais, tenho medo de machucar.
Sienna ficou olhando para o meu amigo e pegou a sua mão.
Drake ficou paralisado a observando levar os seus dedos até à
pétala de uma rosa branca. Ele a alisou com carinho, quase
temendo que ela se desmanchasse com o seu toque.
— Elas parecem frágeis — comentou Sienna para Drake,
soltando a sua mão. — Porém, não precisa ter medo, são firmes.
Drake ficou encarando a rosa, deslizando o dedo pelo seu caule
com extremo cuidado. Nunca o vi tocar em algo com tanto carinho.
— Eu já senti esse cheiro em você antes — soltou do nada e
Sienna se virou para ele, surpresa.
Ela lhe deu um sorriso suave, quase agradecido.
— Venho aqui sempre. — A loira tirou os óculos do rosto. — Às
vezes fico com o cheiro delas.
Sienna colocou os óculos no colo e ficou mexendo no arco
deles, senti que estava um pouco desconcertada. Não consegui
deixar de sorrir para eles. Drake a olhou e tocou o seu queixo com a
mesma reverência que direcionou às flores, a obrigando, com
cuidado, a erguer o olhar.
Olha, isso estava tão bom que por nada no mundo sairia dali
para dar privacidade a eles.
Sienna fitou Drake e ele encarou os seus olhos azuis.
— São lindas — elogiou, se levantando do nada e beijando a
cabeça da loira como eu fiz quando cheguei.
Ela ficou paralisada por um instante, mas logo se recompôs e
se levantou também, limpando as mãos no avental. Sienna
começou a ajeitar as suas coisas e fomos esperá-la do lado de fora.
O momento tinha passado e eu tinha a impressão que aquela
conversa não tinha sido somente sobre rosas.
 

 
Passamos três horas na joalheria. Três horas. A culpa foi
exclusivamente minha, eu sabia disso.
— Nunca mais me chame pra comprar nada com você —
reclamou Drake no banco de trás.
— Eu não chamei — lembrei-o. — E precisava de tempo
também.
— E eu achava que demorava pra comprar sapato — Sienna
resmungou.
Eles não entendiam. Era um anel que eu não queria trocar.
Claro, se ela não gostasse eu compraria outro. Contudo,
simbolizava muita coisa, precisava ser escolhido com calma. E eu
tinha comprado outras coisas. Como um telescópio novo, um kit de
material de pintura, uma calcinha vibradora, além de macacões que
eu achei a cara dela.
E cuecas, para caso ela precisasse jogar mais em mim de novo.
— Pra onde você está indo? — perguntou Drake. — Não vamos
pra casa?
— Não, vamos pro teatro. Bom que vocês já têm o privilégio de
ver a minha atuação — provoquei.
— Isso eu não perderia por nada. — Riu Sienna.
Estacionei na frente do teatro da universidade e deixei todos os
presentes da Madison no carro. Entregaria quando chegássemos
em casa. Ela estava passando a maior parte do tempo no seu novo
“emprego”, eu vinha pegá-la todos os dias e acabava ensaiando
junto com o pessoal. O que não atrapalhava, nem o treino ou a
faculdade, já que quando nos reuníamos em grupo não
demorávamos mais do que quarenta minutos por dia.
E também, eu costumava ensaiar mais sozinho, decorando o
texto no meu tempo livre. Às vezes quando tinha uma folga chegava
a ir em certos encontros que eles organizavam, e até que estava me
saindo bem.
Eles tinham bem mais desenvoltura do que eu, claro, levei
tempo para conseguir relaxar completamente, mas estava confiante
que a minha participação não seria um desastre como pensei no
início. Para a felicidade dos ambientalistas, a maioria dos ingressos
já foram vendidos, então o propósito estava sendo atingido.
Entramos no teatro em silêncio para não atrapalhar o pessoal.
Estava escuro na área dos assentos, o palco iluminado e um
canhão de luz ficava em cima da pessoa que estava encenando no
momento. A cena era da briga de Romeu com o primo de Julieta, na
parte em que ele o mata.
— Você não era o Romeu? — sussurrou Sienna perto de mim.
— Ainda sou — respondi baixinho de volta, entrando em uma
fileira. — Só que como precisei faltar o ensaio de hoje, inventei uma
desculpa. Esse é o meu substituto.
— Eles estão se saindo bem — elogiou Drake.
— Também estudam um pouco de Artes Cênicas, tem uns que
são muito bons — expliquei, sentando ao lado de um homem que
também assistia à peça.
Ficamos bem perto do palco, então dava para ver o rosto de
cada ator dali. Virei de lado e vi que o homem sentado ao meu lado
era o professor da Madison, Sr. Stone.
— Oh, Romeu. — Ele sorriu para mim ao me reconhecer e sorri
de volta.
— Como vai? O senhor conseguiu tempo para vir assistir? —
perguntei a ele pois o homem quase não aparecia.
Ele suspirou, tampando o seu tablet em cima do colo.
— Consegui. — Se virou para o palco, admirado. — Sabia que
iam se sair bem. E a nossa Julieta está organizando tudo
perfeitamente.
Assenti com orgulho da pequena. O homem do nada se virou
para mim e estreitou os olhos, como se tentasse ver melhor o meu
rosto. Estranhei aquilo, mas não comentei.
— Vocês são próximos? — perguntou curioso para mim. —
Você e a Srta. Jensen.
Namorados. O olhei sem entender o porquê da pergunta. O
professor não esperou por uma resposta minha, ele só destravou o
seu tablet na sua perna e me mostrou um quadro.
Era uma pintura com os traços que eu conhecia bem, da
Madison. Fiquei paralisado com a beleza da arte. Tinham várias
cores, a maioria escuras, tons de azul escuro como a noite e
estrelas brilhavam quase para fora do quadro. Ela chegou a
desenhar as nebulosas em vários tons, de um jeito que te instigava
a ficar olhando, e no canto da pintura...
Era eu. Ela me desenhou dormindo. Meu rosto parecia em paz,
descansando e tendo bons sonhos. Me lembrei dela me observando
dormir e dizendo que eu tinha uma respiração tranquila, porém
nunca pensei que ela desenharia o meu rosto.
Ficou tão perfeito... Meu Deus, ela tinha tanto talento.
— Sabe o significado? — questionou o homem e eu já tinha até
esquecido da sua presença.
— Não — respondi, sem conseguir desviar. — Você sabe?
— Também não — respondeu intrigado, voltando a analisar a
pintura. — Essa menina tem muito talento... Ela deixa a sua alma
falar nos seus quadros, como se contasse um segredo. É sobre
sensibilidade, mais do que a técnica em si.
Engoli em seco querendo tocar na tela. Estava com um
sentimento novo no peito. Orgulho.
— Ela é extraordinária — concordei.
— A vaga do estágio é dela — ele soltou e olhei para o homem,
surpreso. — Eu até pensei em reconsiderar... Ela é muito tímida e
às vezes isso pode atrapalhar o artista a se destacar, porque
indiretamente também viramos um produto. Quase não a notei na
sala, entretanto o talento dela fala por si, é sutil e sensível.
Um sorriso cresceu tanto no meu rosto, que fez o homem sorrir
também.
— Você não vai se arrepender — avisei a ele. — Não existe
pessoa mais competente.
Ele acenou e quando se voltou para o palco novamente a
pequena já tinha aparecido. O canhão de luz focou no seu rosto e
consegui ver com clareza todas as sardas na ponta do nariz.
Ela estava bem, adotou uma expressão triste assim que a ama
lhe contou que Romeu seria exilado, eu podia ver o seu desespero e
era incrível como se saía bem em tudo que se propunha a fazer. Em
algum momento o meu substituto chegou e eles se abraçaram, os
braços dele a envolveram e foda-se, eu não era feito de gelo.
Ergui a sobrancelha ameaçadoramente para o cara, mas ele
não viu. Segurou o rosto dela nas suas mãos e começou a recitar as
falas. Juro que, se ele a beijasse acordaria sem a língua no dia
seguinte.
— Aconselho que você não falte mais aos ensaios — sussurrou
Drake na minha direção em provocação.
Sienna riu ao ver a minha cara. Tentei apenas me manter na
minha. O falso Romeu continuou a aproximar o rosto do dela,
alisando a sua bochecha. Senti um aperto no coração, porque sim,
só eu podia fazer isso com ela. Era só minha. Quando essa maldita
peça iria acabar?
Me lembrei do dia em que fomos no parque e a pequena me
contou que estava dormindo com um cara. Será que era ele? Nunca
mais entrei no assunto, foi antes de mim e não ficaria investigando o
seu passado.
O cara beijou a sua testa e ok... Isso já foi demais! Me levantei e
passei por Drake e Sienna, eles tentaram inutilmente me puxar pela
camiseta, porém passei por eles e subi no palco, atrapalhando todo
o ensaio.
— Cheguei. — Sorri para os estudantes, que me olharam
assustados.
Madison franziu a testa, tentando entender o que diabos eu
estava fazendo ali. Sabia que hoje talvez dormisse no sofá.
— Já pode ir. — Apontei para o Romeu impostor e ele olhou
para os outros atores em busca de orientação.
Fui na sua direção e dei um tapa amigável nas suas costas, o
incentivando a ir para os bastidores. Ele seguiu sem entender nada
e assumi o seu lugar, segurando o rosto da pequena nas mãos
como ele estava fazendo.
Ela forçou um sorriso, fingindo bom humor, no entanto estava
com uma cara de quem ia chutar os meus ovos.
— Ficou doido? — sussurrou perto da minha boca.
— Fiquei — respondi no mesmo tom. — De ciúme.
Ela revirou os olhos e voltou a respirar fundo para continuar.
— Já está indo embora? — ela perguntou alto, seguindo o
roteiro da peça. — Preciso ter notícias suas todo dia, a cada hora.
Suspirei em cansaço.
— Meu Deus, que mulher grudenta — provoquei baixinho e ela
ergueu a sobrancelha.
— O sofá te espera hoje, Colin — avisou pertinho e sorri para
ela.
— Não perderei a oportunidade de lhe transmitir o meu amor —
falei alto, recitando o texto do roteiro.
— Vamos nos ver de novo? — perguntou Julieta em um tom
triste.
Não, os dois morrem no final.
— Não duvido nem por um momento — completei
dramaticamente.
Pobre, Romeu. Mal sabia o que lhe esperava.
Madison abriu a boca para dizer a próxima fala, mas estava tão
absurdamente linda que aproximei minha boca da dela com calma.
A ruiva parou no lugar e eu a puxei para mim pela cintura, a
pressionando contra o meu corpo. Segurei o seu rosto e a beijei.
Ela se derreteu. Suspirou na minha boca e a abriu para mim,
passando o braço pelo meu abdômen. Senti o seu cheiro tão bom
me acalmar, parecia que meu coração ficava mais leve quando a
segurava assim tão perto.
Beijei ela até ficarmos ofegantes. Éramos só nós dois ali e não
ouvi nada à nossa volta. Quando a soltei ela ficou manhosa,
vermelha e passei o polegar pelo seu rosto, no nariz, nas bochechas
até terminar na testa.
Ela ficou parada, apenas recebendo o carinho e abraçando a
minha cintura.
— Química — alguém elogiou nos bastidores.
Ergui meu olhar e percebi que o pessoal ainda achava que
estávamos na atuação. Ela escondeu o rosto no meu peito,
envergonhada, entretanto esse era o momento em que o Romeu se
despedia. Era triste, era ali que eles se despediriam para não se
verem nunca mais. Só não sabiam que era a última vez.
Beijei a sua cabeça mais uma vez e me afastei dela.
— Adeus. — Dei um passo para trás e Madison me olhou
desolada, como se eu estivesse mesmo indo embora. Quase doeu
deixá-la parada sozinha no meio do palco. — Eu te amo — falei com
tanta sinceridade que ela sorriu para mim. — Eu te amo mais do já
amei qualquer coisa nesse mundo — continuei, mesmo sabendo
que não estava no roteiro.
Dei mais um passo para trás, sumindo do palco e entrando na
escuridão dos bastidores. Ela ficou parada embaixo do canhão de
luz, ainda olhando na minha direção e em algum momento a luz
apagou, deixando tudo no completo escuro.
As pessoas começaram a bater palma e só senti um corpo
pequeno se chocando com o meu, me abraçando. Ela deitou a
cabeça no meu peito e ficou ali enquanto a abraçava de volta.
— Eu também te amo — declarou contra a minha camiseta.
Era tão bom ouvir aquilo justamente da pessoa pela qual você
faria tudo.
— Eu comprei algo pra você — contei e as luzes voltaram ao
normal no teatro. Pessoas passavam de um lado para o outro,
tentando não nos atrapalhar.
— O quê? — perguntou curiosa.
— Depois eu te dou. — Beijei a sua cabeça.
Talvez eu não desse agora. Talvez eu demore algum tempo.
Talvez alguns anos até. Contudo, estava comigo. Eu sabia o que
queria. Nunca me vi tão certo de algo como daquilo. Madison
ergueu os olhos esmeralda para mim e soube também que queria
uma garotinha ruiva com aqueles olhos um dia.
Queria mais uma parte dela para amar.
— Vocês arrasaram. — Senti uma mão bater nas minhas costas
e olhei por cima do ombro, vendo que era o Romeu Fake.
Madison sorriu para ele.
— Obrigada! Você também foi ótimo — elogiou e ele piscou
para ela antes de sair.
Fiquei o observando sumir da minha vista para finalmente
perguntar.
— Se lembra quando estávamos no parque? Que você disse
que estava com uma pessoa... — joguei a indireta e ela franziu a
testa, até se lembrar e abrir a boca em choque.
— Meu Deus — murmurou vermelha e depois começou a rir.
Fiquei esperando que me desse uma explicação. Ela riu tanto
que acabei tendo que acompanha-la, mesmo sem saber o motivo.
— Eu inventei aquilo — disse do nada e fiquei parado,
processando aquilo.
— O quê?
— Eu inventei — repetiu voltando a me abraçar, ainda com um
sorriso no rosto. — Queria parecer experiente.
Tirei um cacho da frente do seu rosto e balancei a cabeça em
negação para ela.
— Eu não me importaria com isso — avisei e Madison se
ergueu na ponta dos pés para me beijar.
— Eu sei, mas a verdade é que você é o meu segundo —
contou e voltei a beijar a sua testa.
Eu só quero ser o último.
Segurei a sua mão e fomos buscar as suas coisas. O lado de
fora do teatro estava cheio de estudantes indo para a casa e vi
Drake e Sienna acenando para nós de longe. Meu amigo estava no
telefone e parecia me direcionar um olhar ansioso.
— OS OVOS! — ele gritou para mim e franzi a testa.
— Nasceram! — Sienna completou com um sorriso.
— Ah Meu Deus! — Sorriu Madison, animada.
Beijei a sua cabeça e passei o braço pelos seus ombros.
Finalmente! Tinha muitos motivos para comemorar hoje. Talvez eu
desse uma festa...
Sempre era uma opção. Meu amor ganhou um estágio e os
ovos chocaram.
Agora só torcia para que esses passarinhos não voassem tão
cedo, não queria que ela voltasse para a sua casa. Podia ficar
dormindo comigo para sempre.
Madison Jensen
 
A vaga era minha! Sim, a vaga era minha! Não sabia quando o
Sr. Stone iria me dizer oficialmente, estava até com medo de
comemorar e ele mudar de ideia depois, no entanto meu coração foi
a mil assim que Colin me contou exatamente tudo o que meu
professor havia dito.
Podia respirar melhor agora, no próximo semestre teria uma
renda fixa e um trabalho que seria na minha área. Ainda para
completar, os ovinhos chocaram.
— Acha que vai demorar muito pra eles voarem? — perguntou
Scarlett do meu lado.
A abracei pela cintura e descansei a cabeça no seu ombro.
— Nadinha — murmurei em resposta.
Todos nós nos reunimos no telhado para vermos os
passarinhos. O que foi um pouco decepcionante, já que não era
possível enxerga-los de noite pois estavam dormindo. Só dava para
ver a mamãe fofa que dormia em cima do ninho. Subimos no
telhado, em silêncio, apenas para observá-los.
A verdade é que esperamos tanto esses ovos chocarem que
quando aconteceu virou um evento. Amber saiu correndo da aula,
Tyler tentou tirar foto deles e Taylor até se emocionou.
— Precisamos comemorar — determinou Amber empolgada,
tentando falar baixo para não os acordar. — Tanto pelos
passarinhos quanto pela Maddie.
— Verdade — concordou Colin, passando o braço pela minha
cintura e me puxando para si. — Minha namorada de um metro e
quarenta agora é uma artista de renome.
Belisquei o abdômen do idiota.
— Eu tenho um metro e quarenta e você é solteiro — retruquei
afiada.
Ele riu e enterrou o rosto no meu pescoço.
— Um e quarenta? — perguntou, se fazendo de desentendido.
— Disse um metro e setenta.
— Dia de semana — cantarolou Sienna.
— Desde quando isso nos impediu? — Scar ergueu a
sobrancelha para ela.
— Pois vamos descer logo, já está escuro demais — disse
Johnny, pegando a mão da namorada. — Cuidado onde pisam —
alertou, apontando para o telhado destruído.
Colin segurou a minha também e me guiou para descermos
juntos. Eu vi que alguns vizinhos passaram estranhando ao nos
verem reunidos no telhado, mas não questionaram. Talvez já
estivessem acostumados.
As únicas três crianças que moravam na nossa rua passaram
mais de uma vez de bicicleta tentando descobrir o que fazíamos.
Colin gritou para eles que estávamos vendo os ovos chocarem e
creio que isso só os deixou mais confusos. Eram fofos. Três irmãos
que deveriam ter em torno de dez a doze anos.
O triste era que pareciam ter meu namorado como um ídolo.
Tudo o que Colin dizia, os pobres coitados acreditavam. Ou seja,
iriam dar muita dor de cabeça para os pais.
Fomos para casa e me arrumei depressa. Coloquei um vestido
preto tomara que caia, curtinho e colado ao corpo. Calcei uns saltos
e pus brincos prata para completar. Meus cachos estavam ajudando
hoje, ainda assim trancei as duas mechas da frente e depois as
amarrei juntas atrás, deixando-as caírem em uma cascata no resto
do cabelo solto.
Quando saí do banheiro tomei um susto ao ver que o quarto
estava cheio de sacolas. Caminhei até elas sentindo meu coração
acelerar.
Vi as compras no carro logo que voltamos, no entanto, achei
que eram de Sienna, nem cheguei a cogitar que eram presentes
para mim.
Tinha macacões, material de pintura, algumas velas aromáticas,
incensos, um telescópio, dentre outras coisas. Eram tantos
presentes que nem consegui abrir tudo. Sentei na cama e peguei
uma sacolinha vermelha específica porque tinha um cartãozinho
pendurado nela. E eu conhecia bem aquela letra.
“És, para mim, como o alimento para a vida. Ou a chuva amena
para o solo no tórrido verão”.
— Shakespeare. — Sorri ao reconhecer o soneto.
— O próprio.
Ergui o olhar e encontrei Colin encostado na porta com os
braços cruzados em frente ao peito. Ele desceu o olhar pelo meu
vestido, secando cada curva do meu corpo de um jeito que fazia
com que eu me sentisse tão bonita...
— Talvez devêssemos comemorar aqui mesmo — sugeriu
caminhando na minha direção com uma expressão predadora.
Prendi a respiração, ansiosa. Ele parou na minha frente e me
estendeu a mão com calma, a postura totalmente diferente do seu
olhar, que parecia querer me devorar. Peguei a sua mão e Colin me
puxou para ficar em pé.
Como eu estava de salto, fiquei na altura da sua boca. O seu
aroma era tão bom, passei a mão pela sua barba por fazer que
arranhava de leve, mas de um jeito gostoso. Os músculos
contraindo à medida que eu descia o carinho pelo seu pescoço. Não
consegui desviar dos seus olhos nem por um minuto.
— Você ainda tem o verdinho? — perguntou com a voz rouca e
o encarei confusa. — O vibrador — esclareceu.
Fiquei surpresa com a pergunta e mais ainda com o apelido que
ele tinha dado para o meu vibrador. Respirei fundo sentindo o meu
rosto esquentar, porém não desviei. Engoli em seco, excitada e
acenei confirmando.
— Abre o presente — pediu e só então me lembrei que ainda
segurava a sacola vermelha.
Meu Deus, nem tinha agradecido!
— Eu amei a citação — disse, sorrindo na sua direção. — Amei
tudo. — Apontei para os presentes. — Obrigada de verdade, você
não precisava ter me dado essas coisas.
Colin passou as mãos na minha cintura e me pressionou junto
ao seu corpo, tanto que meus seios ficaram sufocados contra o seu
peitoral. Sua perna entrou no meio das minhas, levantando um
pouco o meu vestido. Apoiei as mãos no seu peito para me
equilibrar e de repente todo o ar do mundo sumiu.
Ele se inclinou na minha direção e achei que fosse me beijar.
Aguardei ansiosa, só que não foi isso que Colin fez. Ele desceu o
nariz pelo meu pescoço e inspirou profundamente na minha pele até
descer pelo decote do tomara que caia.
Me arrepiei, quis fechar as pernas, porém não pude, a dele
ainda estava no meio das minhas.
— Abre — mandou naquele tom de comando que me deixava
molhada.
Achei que estivesse falando das pernas e obedeci. A coxa dele
entrou mais e roçou na minha boceta, fazendo o meu corpo todo
vibrar. Colin me segurou mais no lugar e subiu para falar perto do
meu ouvido, soprando a minha pele no caminho.
— Eu quis dizer a sacola — provocou, tocando com a língua na
minha orelha.
Torci o pescoço desejosa. Peguei a sacola e a abri, tirando o
que tinha dentro. Eu não acredito... Era uma calcinha vibratória. Ele
tinha colocado uma citação fofa de Shakespeare do lado de um
vibrador? A calcinha parecia um fio dental preto na parte da bunda,
mas quando chegava na frente tinha um vibrador embutido,
daqueles que apenas massageava o clitóris, roçando em cima.
— É da cor do seu vestido — comentou Colin, descendo o olhar
pelo meu vestido como se eu estivesse nua.
— É — concordei debilmente.
Ele pegou a calcinha da minha mão e desceu as mãos pesadas
pela minha bunda até chegar no limite do vestido. Colin entrou na
roupa, tocando a minha calcinha. Ofeguei quando senti o seu dedo
alisando o tecido úmido. Senti a sua ereção contra a minha barriga,
pesada e dura.
Para minha surpresa, ele se agachou na minha frente e puxou,
com cuidado, a calcinha que eu estava usando para baixo, fazendo-
a deslizar pelas minhas pernas até chegar nos saltos. Colin a tirou
de mim e colocou a nova, fazendo eu ficar cada vez mais excitada
só por sentir o tecido subindo pelas minhas pernas e a sua mão
roçando em mim. Ele ergueu um pouco meu vestido, encaixou a
calcinha na minha bunda, metendo o fio dental nela e deu uma
lambida na minha boceta antes de voltar a ficar em pé.
Eu já estava melada e ofegante. O puxei para um beijo assim
que se levantou, chupei aquela língua sentindo o meu gosto e quis
mesmo passar a noite toda ali, comemorando só nós dois.
 No entanto, o destino não estava ajudando.
— Gente, vamos!
Gemi frustrada ao escutar Amber. Colin soltou um palavrão e
ajustou o meu vestido no lugar protetoramente, para ninguém me
ver caso entrassem no quarto. Peguei a minha bolsa em cima da
cama e nos encaramos uma última vez.
Se passássemos mais um segundo no cômodo, não sairíamos
nunca mais. Por isso o puxei logo para o corredor.
Seria uma noite longa, passaria todos os minutos querendo
sentar nele.
 

 
A boate era bem escura e tinha aquelas luzes neons que faziam
quem estava de branco brilhar no meio da multidão. Pena que meu
vestido era preto. Mas para o meu consolo, eles entregaram para
todo mundo, na entrada, uma pulseira que brilhava no escuro.
Ficamos no andar de baixo e achamos uma mesa no canto,
onde dava para todos se sentarem no sofá em formato de L que
tinha em volta. Contudo, talvez Colin não tivesse entendido aquilo,
já que não me deixou sair do seu colo.
— Hum... tem poste de pole dance ali — murmurou Sienna
interessada, apontando para o poste no centro da boate.
Michael passou o braço pelos ombros dela e sussurrou algo no
seu ouvido. Para a nossa infelicidade, o namorado da minha amiga
tinha resolvido vir junto, ele quase não interagia com ninguém e
ficava grudado em Sienna de um jeito sufocante. Por mais que fosse
sutil, conseguia perceber o incômodo dela.
Amber até tentou conversar com ele para não o excluir, porém
desistiu de lhe dar atenção depois que viu o seu desinteresse.
— Você sabe dançar pole dance? — perguntou Scar curiosa.
— Sei... faz um tempo que não treino, mas sei. — Sienna deu
de ombros e ficou olhando para o poste.
— Eu queria aprender — murmurou Amber, virando a sua
décima garrafa de bebida. — Vamos pegar mais um pouco? —
chamou e era a minha vez de ir com ela.
Levantei do colo do Colin e ele ficou secando descaradamente
a minha bunda. A minha sorte era a escuridão do local ou todo
mundo perceberia.
— Você não fica com dor no corpo? — ele perguntou para mim
e o encarei confusa. — Por carregar toda a beleza do mundo nas
costas.
Ri e balancei a cabeça em negação para ele.
— Essa até que não foi tão horrível assim — elogiei antes de
lhe dar um beijo.
— Estou sempre melhorando — argumentou e Amber me puxou
para segui-la.
Senti os olhos dele em mim, nas minhas costas, na bunda, nas
pernas... era quase palpável. Entramos no meio da pista de dança,
passando pelas pessoas até chegarmos no bar.
— Você está tão gata! — elogiou Amber se inclinando no
balcão, querendo chamar a atenção do barman.
— Você também — devolvi, vendo o quanto a loira estava linda.
Ela se virou para mim empolgada, como se tivesse acabado de
ter uma ideia fantástica.
— Vamos tomar tequila hoje?
Opa! Tequila era a única bebida que conseguia deixá-la bêbada
mesmo. E aquela bolinha de energia alcoolizada era engraçada
demais para dispensar.
— Tem certeza? — perguntei com calma e ela balançou a
cabeça positivamente. — Eu sou fraca pra essas coisas, mas a Scar
consegue te acompanhar...
— Perfeito! — Sorriu sem me deixar terminar, se virou para o
barman e fez o pedido.
— Ei, cachaceira! — uma voz familiar chamou atrás de nós.
Era Nelly, colega de curso da Amber. Ela estava com um
vestido branco e acabava se destacando pela luz neon.
— Ah, você veio! — cumprimentei a abraçando.
— Parabéns pelo estágio. — Ela sorriu para mim.
Meu Deus, tinham contado para todo mundo?
— Ainda não é oficial — expliquei depressa. — Entretanto, acho
que vou conseguir.
— Ansiosa pra assistir à peça.
— O pessoal está arrasando — contei com orgulho. — E Colin...
você sabe como é, não leva nada a sério.
Nelly arregalou os olhos, parecendo se lembrar de algo e seu
rosto perdeu todo o sangue. Olhei em volta sem saber o que tinha
causado essa reação nela.
— Eu fiquei em choque quando soube de vocês! — exclamou,
entrando no seu modo agitado. — Menina, você está bem servida!
Eu ri e confirmei apenas com um aceno, ficando um pouco
vermelha. Estava mesmo. Olhei por cima do ombro, sentindo falta
de Amber, e vi que a trapaceira já estava prestes a virar a segunda
dose de tequila. Meu Deus, que tragédia.
— Querida! — Corri para tirar o copo da sua mão. — Por que
não ficamos só com uma, hein?
— Essa outra é pra Scar — explicou cinicamente, piscando para
mim como se não estivesse prestes a beber a dose.
— Vamos. — Nelly pegou a mão de Amber e a minha, nos
puxando para dentro da multidão de novo. — Benny já chegou
também, está com os meninos.
Nelly nos arrastou de volta à nossa mesa e não sei o que
aconteceu em um período tão curto de tempo. Quando saímos
estava um clima harmônico, agora Drake apontava furiosamente o
dedo para Tyler, que tentava se esconder atrás do Taylor. Johnny
apenas abanava as mãos entre os dois, tentando controlá-los,
Benny assistia a confusão assustado do seu lado e Colin...
Bem, estava encostado no sofá querendo rir.
— O que aconteceu? — perguntei ao meu namorado e ele me
puxou de volta para o seu colo assim que me viu.
— Senti sua falta. — Enterrou o rosto no meu pescoço, beijando
a região.
Passei o braço pelos seus ombros e apontei para a confusão à
nossa frente. Colin abraçou a minha cintura e ficou olhando para os
meninos.
— Algum sem noção inventou de brincar de verdade e desafio,
perguntaram pro Tyler como foi pegar a irmã do Drake — contou a
fofoca.
É, não foi uma boa ideia.
— Quem perguntou isso? — perguntou Nelly, passando por nós
para se sentar no outro canto do sofá, ao lado de Benny.
— Colin — respondeu Scar como se fosse óbvio e nem fiquei
surpresa.
— No dia em que ela foi nos visitar! — Drake apontou o dedo
para Tyler, revoltado. — De baixo do meu nariz. — Drake balançou
a cabeça em negação.
— Podemos esquecer essa história? — implorou Johnny e
Amber se jogou no colo dele, virando o segundo copo de tequila que
ela estava “guardando para a Scar”.
— Com você dormindo logo ao lado... — contribuiu Colin,
incentivando o caos.
— Foi muita sacanagem mesmo — apoiou Amber, apontando o
seu copo para Colin.
Ai quando esses dois se juntavam...
— O que você queria que eu fizesse? — se defendeu Tyler, se
escondendo atrás de Taylor, o usando como escudo.
— Resistisse — respondeu Drake e Tyler bufou.
— Ora, eu duvido que se uma garota entrasse no seu quarto e
tirasse a roupa...
Ah, Tyler! Você não se ajuda também. Drake se levantou, mas
Johnny e Taylor se colocaram na frente dele para empurrá-lo de
volta para o sofá. Amber se levantou junto, já que estava no colo de
Johnny, e bem na hora um garçom chegou na nossa mesa.
— Os camarões chegaram — anunciou o garçom, trazendo
uma bandeja e Sienna foi pegar o prato.
— Olha só! Eu pedi camarão — falou Sienna animada demais,
tentando distrair a atenção do pessoal.
— Ah, eu adoro camarão! — Amber empurrou Johnny para o
sofá de novo e sentou nas pernas dele.
Drake continuou a direcionar olhares cortantes na direção de
Tyler, até ele suspirar e decidir se defender.
— Olha, depois desse dia eu prometi a mim mesmo que nunca
mais faria isso — Tyler jurou e Drake relaxou um pouco.
— Hum... — murmurou Amber, comendo um camarão. — Mas
logo depois você já estava se agarrando com a Maddie.
Fechei os olhos em derrota. Colin ficou imediatamente tenso e
suspirei, sabendo que a confusão estava feita.
— Isso é verdade — concordou Colin, apontando o dedo para o
coitado.
— Eu fui a vítima. — Tyler apontou para o próprio peito e eu ri
só de lembrar do momento.
— A vítima — repetiu Colin em deboche, apertando os braços
na minha cintura.
— É verdade — concordei. — Eu que ataquei ele — falei em
tom de desculpas para Tyler.
E ele deu de ombros.
— Não tem problema — me dispensou com um aceno. — Foi
ótimo.
Bati a mão na minha própria testa, massageando-a só em
imaginar a reação do louco que me segurava no colo. Colin abriu a
boca, em choque com a cara de pau, e se levantou para ir para cima
dele.
Tyler se levantou em susto e começou a dar a volta na mesa,
Johnny e Taylor tentaram ficar entre eles e Drake apenas estendeu
a perna na direção do Tyler, fazendo-o cair em cima do namorado
da Sienna.
— Que porra! — Michael se levantou todo sujo de cerveja,
derramando o próprio copo em si.
Sienna apenas pegou a bandeja de camarão e foi sentar longe
deles, do lado da Scar. Me levantei junto e puxei Colin para se
sentar de volta no sofá.
— Por que não esquecemos isso? — sugeri para todo mundo e
me sentei em cima do meu namorado, o impedindo de ir atrás de
Tyler outra vez.
Ele me abraçou, se acalmando.
— Ainda teve a cara de pau de dizer que foi “ótimo” — Colin
resmungou e beijei a sua testa.
— Isso é porque eu beijo muito bem — brinquei e ele suspirou,
olhando para mim.
— Foi horrível — corrigiu Tyler, indo se sentar bem distante de
nós.
Colin se sentiu melhor com aquilo e revirei os olhos.
— Quem quer pegar mais tequila? — perguntou Amber,
animada.
— Princesa, você não quer parar já? — Johnny se virou para
ela, carinhoso.
— Verdade, amor — concordou sensata, o abraçando. — Por
que não continuamos com a brincadeira?
— Eu acho melhor parar — aconselhou Scar.
— Ah, eu tenho um babado fortíssimo pra contar — Amber falou
e Drake imediatamente se inclinou na sua direção para ouvir. —
Soube que o Colin colocou um piercing no pau.
O quê?
— O quê? — Nelly fez a pergunta por mim, horrorizada.
Todo mundo olhou na nossa direção, assustados e só balancei
a cabeça negativamente, em choque.
— Isso é mentira — foi tudo o que consegui dizer. — Eu vejo
todo dia.
Assim que fechei a boca me dei conta do que disse. Senti meu
rosto esquentar de vergonha e Colin riu.
— Eu não tenho — ele informou para Amber. — Mas já quis
botar.
Amber se virou para Johnny, batendo no seu ombro.
— Você me disse que ele tinha.
— Eu disse que achava que tinha — se defendeu.
— Como o meu pau virou o assunto? — perguntou Colin,
curioso.
Me virei para ele abismada.
— Você já quis botar? — perguntei e ele deu de ombros.
— Sim.
Apenas o encarei firme.
— Não — determinei e ele estreitou os olhos em divertimento
para mim.
— Ia ser a cereja do bolo, gnomo — justificou. — Vamos pegar
o que já é perfeito e deixar ainda mais bonito.
— Não tem cereja do bolo — neguei. — Você não vai fazer isso,
Colin!
— Eu pensei que o pau fosse meu — brincou em provocação.
— Mas quem senta nele sou eu. — Apontei para o meu próprio
peito.
— Boa! — elogiou Sienna e só então percebi que todos ali
estavam prestando atenção na nossa conversa.
— Eu já conheci uma cara com um piercing nos ovos — disse
Scar, assustando todo mundo.
— Nos ovos?! — Drake cobriu a própria região como se
estivesse sentindo dor.
— Meu Deus — disse Benny chocado, ajeitando os óculos no
rosto.
— Que coisa... — Taylor tentou buscar uma palavra para aquilo.
— Inovadora.
— Sim — concordou Scar e eles continuaram a falar sobre o
homem com o piercing nos ovos enquanto eu me virava para Colin,
agora que tinha privacidade.
— Você ia mesmo colocar um piercing? — questionei uma
última vez, só para confirmar tamanha loucura.
Ele não iria colocar piercing algum. Não tinha negociação. Nem
hoje, nem amanhã, nem nunca.
Madison Jensen
 
Colin se aproximou de mim, me segurando mais perto do seu
corpo.
— Sim — sussurrou, me puxando mais para perto. — Pense no
quanto seria gostoso sentir lá dentro.
Senti um arrepio passar pelo meu corpo e toquei o rosto do
maluco, alisando o canto dos seus olhos.
— Você não vai furar o seu pênis — determinei e ele sorriu.
— Fica tão sexy mandona assim — disse, beijando a curva do
meu decote exposto pelo vestido.
Quase no limite do tomara que caia, ofeguei e olhei em volta,
com medo de alguém ter visto. Porém, para o meu alívio, estávamos
na penumbra, o lugar era muito escuro e o pessoal estava entretido
na conversa sobre piercing.
As mãos pesadas de Colin subiram e desceram pela minha
cintura, em uma carícia que me deixou tensa. Suspirei devagar, o ar
de repente ficou mais pesado. Quente. Virei para ele com calma e
peguei Colin secando o meu pescoço, quase como se fosse algo
que ele quisesse lamber.
Quando o seu olhar encontrou com o meu percebi o quanto ele
estava excitado.
— Você quase beijou o meu peito — avisei e Colin não
demonstrou qualquer arrependimento, apenas continuou me
olhando e se aproximou mais.
Fiquei parada com os braços em volta do seu pescoço, o
esperando vir. Ele encostou o nariz perto do meu ouvido, respirando
fundo ali, para depois soprar na minha pele.
— Oh, foi mesmo? — perguntou cinicamente e entreabri os
lábios, sentindo-os secos.
Passei a língua devagar pelo lábio inferior, molhando-o, com
medo de apenas encarar ele e perder a cabeça. Colin desceu a
mão, que alisava minha cintura, para acariciar minha coxa. Assim
que os seus dedos tocaram a minha pele eu espremi as pernas,
nervosa. Trêmula.
Senti a umidade da minha boceta molhando a calcinha. Ele
apertou a minha coxa ao mesmo tempo que encostou levemente os
lábios no meu pescoço, em um beijo suave e... me arrepiei inteira.
Joguei o pescoço mais para o lado, querendo que ele beijasse
tudo mesmo. Colin lambeu a região, sua língua gelada da bebida
que estava tomando fez todo o meu corpo estremecer. Ela passou
tão devagar no meu pescoço, de um jeito tão sugestivo, a saliva
gostosa dele me melando de uma forma que me fez cravar as unhas
nos seus ombros para conter meu gemido.
Juntei as pernas uma na outra e ele percebeu. Colin me
abraçou mais, colocando meu corpo em um casulo protetor. Ele
continuou a deixar beijos demorados no meu pescoço e ombro nu.
Mordiscando de leve e inspirando o meu aroma.
Eu apenas fechei os olhos, querendo muito sentir tudo, ficando
sedenta. Adorei a sensação de me sentir toda lambida, o ar da
boate deixando minha pele mais arrepiada. Ele arranhou a região
com a sua barba por fazer e ali foi o meu limite.
Precisava dele. Olhei em volta e todos continuavam
conversando sem prestar atenção em nós.
— Não podemos fazer essas coisas em público. — Tentei
acordar meu lado racional e bem nesse momento senti o seu pau
duro na minha bunda.
Ah, que coisa gostosa... Fiquei com vontade de afastar a minha
calcinha e senti-lo.
— Quem disse? — provocou, roçando de leve o pau em mim e
me fazendo contorcer todo o corpo no seu colo.
— Colin — gemi, enterrando o rosto na curva do seu pescoço,
querendo sumir e pedir para ele continuar ao mesmo tempo.
Senti o seu cheiro bom, os seus músculos tensos, o jeito que
ele era gostoso... Colin me apertou mais com carinho, alisou o meu
braço nu, sentindo a pele toda arrepiada, e beijou a minha cabeça
com calma.
— Eu cuido de você, meu amor — prometeu, passando o dedo
sugestivamente pelo meu braço, me fazendo querer arrancar toda a
roupa que estava entre nós.
Ergui os olhos para o pessoal novamente, mas para mim, tudo
estava escuro demais, não sabia se era da excitação ou do próprio
ambiente. Colin mexeu um pouco a perna para colocar a mão no
bolso da calça e seu pau duro roçou em mim no processo. Eu
precisava...
Algo vibrou na minha boceta, fazendo-a ficar ainda mais
melada! Todo o meu corpo se contraiu, me fazendo soltar um
gemido agudo bem alto. Apoiei as mãos na mesa, assustando todo
mundo, e fazendo vários pares de olhos se virarem na minha
direção.
A DROGA DA CALCINHA.
Eu esqueci que estava usando, podia sentir que ela estava
vibrando bem em cima do meu clitóris como uma tortura.
— Querida? — perguntou Sienna, preocupada.
— Você está bem? — Nelly estreitou os olhos para mim,
tentando enxergar o que acontecia.
Não. Tem algo vibrando na minha calcinha.
— Estou. — Forcei um sorriso e senti outra vibração apertando
mais o clitóris. QUE INFERNO. — Meu Deus!
Os braços de Colin me apertaram, me trazendo de volta para o
conforto do seu corpo e percebi que o cretino estava querendo rir.
Mordi o lábio inferior, contendo um gemido e respirei fundo,
acalmando o meu coração acelerado.
O pior de tudo era que eu queria que o vibrador apertasse mais.
Queria o pau duro, que cutucava a minha bunda, entrando em mim.
Queria a boca dele na minha, mas não podia ser ali.
O vibrador começou a girar e meu Deus... cravei as unhas com
força nos braços do Colin, quase arrancando um pedaço da sua
pele. Fechei os olhos e tentei controlar o meu corpo.
— É o camarão — explicou Colin para o pessoal. — Ela é
alérgica — mentiu.
— Meu Deus, eu esqueci! — Sienna murmurou, mortificada.
— Tirem o camarão de perto dela! — Drake começou a tirar o
camarão da mesa e todo mundo se levantou para tirar a bandeja de
perto.
— Eu vou leva-la pra tomar um ar. — Colin se levantou comigo,
me mantendo junto ao seu corpo e suspirei de alívio quando minhas
pernas esticaram.
Ainda estavam bambas e ao levantar rocei ainda mais no
vibrador. No entanto, pelo menos, Colin me tiraria dali. Se ele não
me desse um orgasmo nesse minuto seria caso de morte. Dele, no
caso.
— Não! — mandou Taylor e quase chorei. — Temos que levá-la
pro hospital.
Todos assentiram em concordância e as meninas começaram a
pegar as bolsas em cima do sofá para irem embora.
— Não é necessário, eu cuido disso...
— Ela está vermelha — Amber cortou Colin, apontando para o
meu rosto.
Deveria estar mesmo, me sentia sufocada, precisava da pessoa
que estava me abraçando, dentro de mim. Senti o vibrador
aumentar a velocidade e mordi o lábio com força para reprimir o
gemido. Cravei as unhas no abraço de Colin, avisando
silenciosamente para ele pegar a oportunidade e fugir.
— É o camarão — falei, espremendo as pernas e apontando
para a bandeja, meu dedo tremendo de tanto tesão acumulado. —
Tem... tem... — PELO AMOR DE DEUS. — Tem alguma coisa nele,
não comam!
Eles olharam para a bandeja que Drake segurava e deram um
passo para trás, assustados. Colin me segurou mais firme e acenou
em despedida para eles.
— Estamos indo. — Apontou para a bandeja e pegou minha
bolsa em cima do sofá. — Não comam o camarão!
Ele saiu comigo pela boate, passando pelas pessoas enquanto
eu me contorcia no caminho, abraçando o seu corpo como se fosse
o meu bote salva-vidas. Colin entrou em um banheiro e trancou a
porta atrás de si.
Me soltei dele e assim que meu namorado se virou, com um
olhar sedento e ao mesmo tempo divertido, na minha direção, eu
perdi a paciência. Empurrei-o contra a porta com toda a minha força
e o puxei pela camiseta para um beijo, quase rasgando o tecido no
processo.
— Porra... — Ele gemeu ao sentir minha língua deslizando para
dentro da sua boca gostosa.
O maldito vibrador continuava a girar no meu clitóris, fazendo eu
me molhar toda ao ponto de sentir que estava toda melada até na
coxa. Gemi sufocada no beijo, chupando a língua dele.
Colin me puxou para o seu corpo, sabendo que eu precisava de
tudo naquele momento. Ele me ergueu nos braços e enrolei as
pernas na sua cintura depressa, ficando louca ao sentir o seu pau
duro roçando na minha virilha toda lambuzada. Colin nos mudou de
posição, me colocando contra a porta e dando uma esfregada na
minha boceta, bem onde a calcinha já estava fazendo um ótimo
trabalho.
Gemi enlouquecida, jogando minha cabeça para trás e
rebolando descontroladamente nele, girando meu quadril para ter
mais contato. Colin abaixou o meu vestido tomara que caia até a
cintura e meus seios saltaram para fora, livres, balançando no ar à
medida que eu me esfregava mais na sua calça jeans.
Ele os abocanhou, chupando com força o mamilo, babando bem
a região e os deixando duros de excitação. Senti a sua barba por
fazer me arranhar e segurei o seu cabelo, cravando os dedos para
não tirá-lo dali. Porém, Colin se afastou para chupar o outro, deixou
o seio inchado e babado. Assim que senti a sua boca sugando o
outro bico arrepiado, o quis em cada parte do meu corpo.
— Preciso de você — pedi manhosa, rebolando no seu jeans e
sentindo o seu pau pular de tão duro.
Estocou em mim, pressionando o quadril bem em cima da
minha boceta. Gemi tão alto que o som preencheu todo o banheiro
pequeno.
— Ocupado? — Escutei alguém bater à porta atrás de mim,
mas por nada nesse mundo sairia dali.
Colin subiu as lambidas até chegar na minha boca, já aberta
para receber a sua língua.
— Sim! — Colin gritou e abriu mais as minhas pernas para girar
o seu pau bem na minha virilha.
Gemi sem consegui me conter, segurando os seus ombros para
me manter no lugar. Ouvi a pessoa se desculpar e talvez tenha ido
embora. Ou talvez não, pouco me importei.
— Colin, já chega — sussurrei implorando, meu coração
batendo tanto que o sentia na garganta.
Ele mordiscou o meu lábio inferior inchado e me empurrou com
mais força contra a porta, fazendo o seu pau me cutucar e que
inferno... queria rasgar a sua roupa e colocá-lo dentro de mim.
— Olha pra mim — mandou e obedeci imediatamente, faria
qualquer coisa que ele me pedisse.
Ficamos nos encarando enquanto eu enterrei os dedos no seu
cabelo, precisando do contato. Meu clitóris pulsou tanto que senti
minha boceta escorrer de tão melada.
— Agora, Colin — pedi e ele levou uma mão entre nós, até o
zíper da sua calça. Sem desviar de mim.
Quando o senti colocar o pau para fora quase chorei de alívio.
Abri as pernas ansiosa e ele afastou a minha calcinha ensopada
com o polegar, só a parte que ficava na entrada, deixando o vibrador
brincando com o meu clitóris. Colin passou a cabeça do pau na
minha boceta e gemeu ao sentir o quanto estava lambuzada.
— Puta merda, pequena. — Ele trincou os dentes como se
estivesse sentindo dor e o abracei, empurrando o quadril na sua
direção para senti-lo entrar.
Ele gemeu na minha boca e o beijei, segurando o seu pescoço.
Minha língua duelava com a dele enquanto seu pau deslizava para
dentro, me alargando completamente, abrindo caminho.
— Melada pra caralho — murmurou na minha boca, descendo
para mordiscar o meu pescoço. Senti os seus dentes mordendo a
minha pele e minhas pernas tremeram por senti-lo começar a roçar.
— Eu amo sentir entrar gostoso assim — falei, sentindo-o meter
até entrar todo.
Colin empurrou com força, bombeando de uma vez e fazendo o
seu pau ficar enterrado até o talo na minha boceta. Estocou com
tanta vontade que meu corpo bateu contra a porta.
Estremeci dos pés à cabeça de tanto tesão. Comecei a rebolar
desesperada, sentindo o pau sair todo melado e entrar de novo em
mim. Colin continuou metendo com força e senti meu corpo inteiro
vibrar. As suas mãos fortes desceram para minha bunda até
chegarem perto da boceta e ele abriu minhas pernas até o limite,
sentindo o tanto que lambuzei tudo ao redor.
Separou bem minhas coxas e passou a meter o pau até eu
senti-lo lá dentro. Abracei os seus ombros e beijei aquela boca
gostosa, que estava tão próxima da minha. O vibrador girou no meu
clitóris, tremendo e aumentando a pressão. Foi o meu fim.
Gozei, nunca me senti tão melada como naquele momento.
Colin não parou e eu gemi alto. Minha boceta contraiu, esfregando e
esmagando o seu pau. A senti escorrer de tanto gozo.
Colin segurou o meu rosto com uma mão e passou a alisar a
minha bochecha, sem deixar de estocar em mim. Olhei nos seus
olhos azuis e vi tudo ali. Tesão. Vontade. Carinho. Amor.
O puxei para mais um beijo, só porque não conseguia deixar de
beijá-lo. Minhas pernas estavam para cederem, fracas depois do
orgasmo. E ele percebeu, pois me soltou e tirou o pau duro de
dentro de mim.
O senti sair erguido e totalmente lambuzado, tanto que o vi
brilhar sob a luz do banheiro. Inchado, grosso e cheio de veias.
Colin deixou que eu me equilibrasse no chão antes de me
colocar de frente para a pia pequena que havia no local, onde tinha
um espelho bem em cima. Apoiei minhas mãos na louça e empinei
minha bunda para trás, pronta para senti-lo entrar em mim de novo.
Seu corpo surgiu atrás do meu, grande e forte. O seu braço
passou pela minha barriga, me segurando no lugar quando meteu
novamente o pau na entrada da minha boceta. Joguei a cabeça
para trás, gemendo e descansando ela no seu peitoral.
Olhei para frente e ficamos nos encarando enquanto ele
empurrava dando uma rebolada no caminho, tocando o meu ponto
G. Precisei me segurar na pia e inclinar o tronco para frente, meu
corpo inteiro tremeu e joguei a bunda para trás, querendo mais. Seu
pau deslizou pela minha boceta gozada, me fazendo contrair e
sentir outro orgasmo chegar. Achei que estivesse esgotada, mas
não.
Nos olhamos e vi ele descer a mão que me segurava para
dentro da minha calcinha minúscula, a afastando de lado e ele
mesmo passou a massagear o meu clitóris com o polegar. Já estava
tão pulsante... inchado. Torci as pernas e fechei os olhos com força,
rebolando enlouquecidamente de novo.
Quando voltei a abrir os olhos ele puxou mais a minha bunda
para trás e olhou fixamente para mim, para os meus seios
balançando, para os meus olhos e minha boca. E só pela sua
expressão de puro prazer e tesão eu senti minha respiração falhar.
Apertei tanto as mãos na pia que os meus dedos ficaram
brancos. Meu coração acelerou e ele meteu fundo, me fazendo
gemer alto, o som saindo cortante pelas estocadas violentas.
Contraí e mais uma vez gozei. Meu Deus, ia infartar.
Colin enfiou uma última vez em mim, gozando dentro.
Os seus braços me apertaram e suspirei em derrota. Estava me
sentindo saciada, senti o seu pau contraindo dentro de mim,
derramando mais gozo, até a última gota e quis absorver tudo. Ele
travou o maxilar em alívio, tirou o meu cabelo da nuca e passou a
beijar a pele com carinho.
O sêmen quente escorreu pelas minhas coxas assim que o
pênis deslizou para fora, mas daquela vez acho que era tanto meu
quanto dele. Colin me virou de frente e o abracei, morta.
Estava sem equilíbrio, manhosa e ofegante. Ele me encostou na
porta novamente e descansou a testa na minha. Estávamos
ofegantes e ficamos ali, respirando o mesmo ar, esperando nossos
corações se acalmarem.
— Sente meu coração. — Peguei a sua mão e a coloquei entre
os meus seios, bem onde estava a minha corrente de ouro.
Colin passou a mão delicadamente pelos meus seios, alisando
os bicos e dando um beijo carinhoso em cada um antes de cobri-los,
erguendo o meu vestido.
Me deixei ser cuidada. Era bom.
Ele ajeitou a própria calça, depois se abaixou para me limpar e
tirar a calcinha de mim, passando-a pelas minhas pernas. Toda
molhada e pesada. Quando passei os meus saltos por ela Colin a
levou até o nariz, cheirando e guardando no bolso da calça.
— Eu fico com isso — informou e me mostrou o controle da
calcinha, que estava guardado no bolso da sua calça.
Balancei a cabeça em negação para ele, ainda encostada na
porta. Morta. Minha cara com certeza assustaria qualquer pessoa
naquele momento. Estendi a mão para Colin e ele se levantou, me
abraçando.
Beijou a minha testa e eu só deitei a cabeça no seu ombro,
alisando as suas costas perfeitas. Me sentia acolhida, amada, só
queria ficar assim com ele a vida toda.
— Eu te amo — declarei beijando o seu queixo, que era onde
alcançava com os saltos, e sentindo o seu cheiro bom.
Colin me apertou mais, tão forte que conseguiu até acalmar o
meu coração.
— Amor da minha vida — sussurrou pertinho do meu ouvido,
beijando a minha bochecha. — Amor da minha vida — repetiu ao
segurar o meu rosto com proteção.
Me aproximei dele e ficamos roçando os narizes, suspirando um
para o outro e dando beijos despreocupados.
Alguém tentou abrir a porta de novo, nos assustando. Abracei
Colin e ele só gritou para a pessoa que estava ocupado.
Peguei a minha bolsa jogada no banheiro, sem nem me lembrar
de quando a larguei no chão, e saímos de lá com a maior cara
limpa. Tinha uma garota esperando para entrar. Ela nos olhou de
cima a baixo, deixando claro que sabia o que estávamos fazendo.
Fiquei um pouco envergonhada, mas o bom humor venceu.
Enterrei o rosto no peito do Colin e ri.
E fui para a casa com o amor da minha vida.
E fiz amor com ele a noite toda.
 
Madison Jensen
 
Arte não é uma forma de expressar só sentimentos, mas
também magia. Ela se comunica, fala por você, ela se pinta,
desenha, constrói, expressa e cria vida.
O poder que se concentra nas mãos de um artista é gigante. Ele
cria algo novo, coloca no mundo uma coisa que não existia antes.
Ela nasce, cresce e nunca morre. Pode até ser que se deteriore com
o tempo, no entanto se chegou a tocar alguém algum dia, tem o seu
lugar no mundo.
Talvez os sonhos de Colin sejam assim. Eles se perdem no
mundo no instante em que o seu corpo acorda. Eles morrem quando
a realidade chega. Somem do seu alcance, não o permitindo
capturá-los. E tudo o que eu queria era poder dá-los a ele. Seria um
presente, a minha maior prova de amor.
Lhe devolver o que foi perdido, lhe dar o que ele nem sabe que
é seu. E deixar que se eternize, como William Turner tentava fazer
com a luz do sol.
Sempre senti que ele a amava de alguma forma, que acordava
e pensava que a luz seria o seu guia. Sempre achei que ele a queria
para si, capturá-la e conseguir fazer com que ela fizesse parte do
mundo.
Observei Colin respirar tranquilamente, seu peito subindo e
descendo enquanto o ar entrava e saía do seu corpo. Tão bonito...
Ajustei o caderno de desenho nas minhas pernas e continuei a
rabiscar na folha.
Alguns artistas tinham o sol como inspiração, o amanhecer, as
flores, o mar, as estrelas e a própria vida. Eu tinha Colin. Passei a
tornar o meu ritual favorito observá-lo despertar de manhã.
Quando o canto da sua boca se ergueu em um sorriso eu
percebi que ele tinha voltado. Acordou. E era como o momento em
que o sol nascia de manhã, iluminando o quarto.
— Eu sinto os seus olhos em mim — ele murmurou, abrindo os
olhos para me encarar.
Sorri para ele de volta e coloquei um cacho, que estava
atrapalhando minha visão, atrás da orelha.
— Você virou o meu sol — justifiquei e ficamos nos olhando em
silêncio.
Não precisei explicar mais, ele entendeu. Sempre compreendia.
Eu não precisava me esconder dele, ou ter vergonha de
compartilhar meus interesses e crenças. Ele nunca tentava me
ridicularizar, apenas me aceitava como eu era, me amava por
completo.
— Você sempre foi o meu — sussurrou e fiquei com vontade de
pintá-lo exatamente como estava. Cansado depois de ter passado
quase a noite toda dentro de mim, não paramos depois do episódio
do banheiro. — Desde o dia em que caí em cima de você.
Meu sorriso se tornou mais pleno, tranquilo.
— A vela — brinquei e ele me entregou um olhar divertido.
— A maldita vela.
Fechei o meu caderno de desenho e o deixei em um canto para
ir até a cama ficar com ele. Colin abriu os braços, pronto para me
colocar no seu casulo, como fazia todas as noites. Porém, dessa
vez eu apenas me sentei na sua frente. Ele se ergueu, encostando
as costas na cabeceira para me olhar mais de perto.
— Vou te contar uma história. — Ergui a sobrancelha e Colin
me olhou atento, me puxando mais para perto.
— Qual história?
— De uma menina que descumpriu uma regra — contei e seus
olhos suavizarem. Ele tocou o meu queixo com carinho, alisando a
minha pele.
— Que regra ela quebrou?
Peguei a sua mão na minha e a beijei, como ele costumava
fazer comigo. Abri a sua palma entre nós e fiquei traçando as
marcas da sua mão, bem em cima da linha da vida.
— Ela pediu respostas — continuei passando o dedo pela sua
palma, onde alguns acreditavam que se escondia todo o destino de
uma pessoa. — Ela pediu a outra parte.
Ele franziu a testa, buscando entender. Coloquei a minha mão
do lado da sua, bem onde começava a minha linha do coração,
exatamente onde a sua terminava. E elas juntas, uma do lado da
outra, seguiram um mesmo caminho. Ele compreendeu, tocou o
meu dedo mindinho com o seu e os entrelaçou, como no dia em que
fizemos nossa promessa de estarmos sempre um com o outro.
— Exatamente. — Sorri, erguendo o olhar para ele. — A outra
parte.
Colin levou os nossos dedos unidos até ele e beijou o meu, com
carinho e reverência.
— Que resposta ela teve? — perguntou, me olhando de um jeito
tão amoroso que senti meu coração apertar.
— Não precisa procurar pelas estrelas, elas simplesmente vêm
até você toda noite — recitei e ele beijou mais uma vez a minha
mão. — Elas estão te procurando também e por isso brilham. O que
respira o mesmo ar — Apontei para o espaço entre nós. —, está
fadado a se encontrar.
Colin ficou me olhando e se aproximou aos poucos. Suspirei em
expectativa quando ele segurou o meu rosto nas suas mãos e ficou
olhando meus olhos como se fossem a coisa mais fascinante do
mundo.
— A vela era pra isso, luz da minha vida? — perguntou e gostei
tanto daquele nome carinhoso, que me peguei sorrindo.
Confirmei assentindo e Colin beijou demoradamente a ponta do
meu nariz.
— Você ilumina o meu mundo — declarou tão sincero que meu
corpo inteiro se acalmou ao ouvir aquilo. — É a pessoa mais
preciosa do mundo pra mim, não há nada que eu não faria por você.
Nunca pensei que seria possível amar alguém tanto assim. — Tocou
o canto da minha bochecha, onde formava a minha covinha. —
Obrigado por trazer essa paz pro meu coração.
Olhei para cada canto dele. O formato charmoso da sua boca, o
jeito que ela se curvava quando ele sorria, os seus olhos perfeitos,
seu nariz e cada detalhe. Quis gravar tudo.
— Passei tanto tempo pensando em cada característica sua...
— revelei, beijando o seu queixo e o sentindo suspirar de satisfação
por me ter perto. — Eu ficava na janela do meu quarto olhando as
estrelas e pensando se você estaria vendo a mesma que eu.
Ele me abraçou. Passou os braços pela minha cintura e me
puxou para o seu colo. Encostamos a testa um no outro e Colin
roçou o nariz no meu.
— Onde você morava, pequena? — Ele já tinha me feito essa
pergunta antes.
E eu tinha me esquivado. Não por vergonha, apenas por sentir
que não era o momento.
— Eu não tenho pais — falei de novo, mesmo sabendo que ele
já sabia. Colin engoliu em seco e me deu espaço para continuar. —
Fui abandonada ainda bebê em um abrigo... não era ruim — me
apressei a dizer quando enxerguei a dor no seu olhar. — Gostava
de lá.
E era verdade, fui bem cuidada por um tempo. Colin olhou para
as minhas mãos, tocando cada cicatriz e pedindo, silenciosamente,
uma explicação.
— Eu mataria a pessoa que fez isso com você — murmurou
com uma raiva que eu desconhecia. — Nunca teria a deixado se
sentir sozinha, nem por um segundo. Eu sei que você não sente
ódio por ninguém, nem pelas piores pessoas do mundo, mas eu
sinto por você.
Sorri tristemente para ele e balancei a cabeça negativamente.
— Não precisa sentir ódio por mim — disse e ele beijou com
calma cada cicatriz das minhas mãos. — Um dia chegou uma
funcionária nova — continuei e ele me deu toda a sua atenção. —
Ela era rígida demais, batia nas mãos das crianças com uma
palmatória, por qualquer coisa. Se não arrumássemos a cama na
hora certa, se não chegássemos no café no momento em que ela
chamava...
Colin fechou os olhos e parecia sentir a dor que eu já não sentia
mais. Quis apagar aquilo dele, eu estava bem.
— Ela ficou lá por pouco tempo — expliquei. — Alguns meses,
logo descobriram que estava machucando as crianças.
— Ficou tempo o bastante pra te ferir — murmurou com ódio,
tocando em mim com cuidado, como se estivesse com medo de me
machucar.
— Ficou — concordei, olhando as minhas mãos. — No começo
formaram bolhas, depois pensei que fossem sumir, só que aí
cicatrizou...
— Elas são perfeitas — me interrompeu, entrelaçando os dedos
com os meus. — Perfeitas — repetiu me encarando firme.
Obrigada por isso. Suspirei para ele e Colin me encarou,
esperando-me continuar. Parecia ansioso para saber como era cada
passo da minha infância, infelizmente eu não tinha nada de muito
emocionante para contar.
— Quando eu tinha seis anos uma senhora pediu a minha
guarda. — Não consegui terminar de falar sem sentir um sorriso se
abrir no meu rosto.
Era bom falar dela com alguém, poder compartilhar lembranças
gostosas que tivemos.
— A sua vó? — perguntou curioso e assenti.
— Era como eu a via — expliquei com cuidado. — Ela não era a
minha vó mesmo. Todos a chamavam de Ney, mas para mim ela era
vovó.
Ele me entregou um olhar gentil e seu rosto relaxou em quase
um sorriso, por saber que eu tive alguém por mim.
— Eu consigo te imaginar criança... — comentou
relaxadamente. — Pequena, sonhadora, esperançosa e cheia de
ideias românticas sobre o mundo. — Sorri, tirando um cacho do meu
rosto.
— Exatamente. — Tinha boas lembranças e aquela pontada de
saudade, que sempre vinha logo que pensava nela. — Vovó veio de
uma família de cultura cigana, ela era um espírito livre, como
gostava de dizer. Vivia viajando, nunca conseguia ficar muito tempo
no mesmo lugar.
Colin estreitou os olhos surpreso, mas intrigado, vi uma
preocupação passar pelo seu rosto.
— Com quem ela te deixava? — perguntou e dei de ombros.
— Sozinha.
O julgamento estava ali, aquele que sempre vinha quando eu
explicava a nossa dinâmica. Ela viajava por algum tempo e eu me
virava com as coisas de casa. Ney me ensinou a cozinhar, a ir à
escola só, a me virar, e a esperar na nossa casa pelo seu retorno.
Éramos felizes com essa rotina, por mais que no fundo eu me
sentisse só.
Colin franziu a testa não gostando daquilo e dei um beijo bem
entre as suas sobrancelhas, para acalmá-lo.
— Não a veja assim — implorei baixinho. — Era o seu jeito de
viver, ela me amou profundamente, nunca duvidei disso nem por um
dia. Ela me ensinou sobre magia, destino, as estrelas e o universo.
Tudo o que sou hoje teve início nela.
Colin se encostou melhor na cabeceira e me encarou pensativo.
— Qualquer pessoa que tenha conseguido conviver com você,
não importa o tempo que tenha sido, é alguém de muita sorte —
disse e me emocionei.
Eu que tive sorte por tê-la na minha vida.
— O que aconteceu com ela? — questionou, porém pelo seu
olhar, já sabia.
Olhei para a janela do quarto, onde a luz do sol já adentrava,
iluminando o ambiente. O dia estava lindo e o ar puro. O ar. Sempre
ele.
— Ela foi respirar um ar diferente — sussurrei, contando aquele
segredo. — Um dia ela viajou e não voltou mais.
Já estava tão velhinha que não chegou a ser uma surpresa, no
entanto eu senti a dor na época. Como já era maior de idade não
precisei ir para um lar e para a minha surpresa, ela tinha deixado
uma quantia de dinheiro para mim. Era pouco, entretanto foi o
suficiente para me sustentar na faculdade até agora.
— Foi respirar um ar diferente — repetiu Colin e quando o olhei
percebi que estava pensativo, como se testasse as palavras. —
Gostei desse ponto de vista — disse e sorri para ele.
— Tudo no mundo é sobre pontos de vistas — expliquei,
alisando o seu pescoço. — Até o jeito que encaramos a morte.
Você já conseguiu se livrar da dor do seu luto?
— Eu não sou tão positivo como você — explicou, quase como
se tivesse ouvido os meus pensamentos. — Não consigo perdoar
tão fácil assim.
Entendi ali que o seu luto não era sobre o seu pai. Era sobre a
sua mãe. Eram quase duas mortes, uma por uma pessoa que
realmente faleceu e outra por alguém que ele decidiu se afastar.
— Ainda sente raiva? — perguntei com cuidado e ele me
encarou.
Ficou me olhando com uma pontada de tristeza. Colin engoliu
em seco e balançou a cabeça negativamente. Tinha uma culpa
dentro de si, era possível vê-la.
— Eu nunca consegui odiá-la — confessou como se estivesse
tirando um peso das costas ao colocar para fora. — Nem por um
dia. — Ao dizer aquilo, ele baixou o canto da boca em derrota.
— Sua mãe... — comecei insegura, sem saber se ele queria
falar dela comigo. — Você não fala mais com ela? Nem por ligação?
Colin suspirou devagar e senti a dor que carregava no corpo.
Ele queria odiá-la, entretanto não conseguia.
— Ela me liga, eu não atendo. Ela me dá parabéns no meu
aniversário e eu sou breve... ela tenta me ver no natal, e eu invento
uma desculpa — disse apreensivo e senti um aperto no peito. — Dói
saber que eu a machuco. Nunca a tratei mal ou fui grosseiro com
ela, respondo rapidamente as suas mensagens, mas nunca dou
abertura.
— Não consigo te imaginar tratando mal qualquer mulher, Colin
— falei e ele esboçou um sorriso.
— Me acho cruel por afastá-la, só que se não o fizer, acabo
sendo desleal com o meu pai... alguém precisa odiá-la.
— Por quê? — perguntei com carinho. — Se nem ele a odiou.
Ele ficou me encarando, perdido.
— Talvez tenha odiado — murmurou. — Eu não sei, de
verdade.
Assenti, concordando e peguei o meu pingente no peito, o abri e
peguei a nossa moeda. Coloquei-a na mão dele, fechando em
punho e beijando os seus dedos.
— Você pode decidir se atende ou não na próxima vez que ela
ligar — aconselhei, deixando nas mãos do destino.
Ele concordou e ficou olhando para a moeda como se ainda
tivesse mais uma pergunta a fazer.
— Você não me disse onde morava — pontuou. — Com a sua
vó.
— Em um conjunto de trailer bem precário. — Enruguei a ponta
do nariz, sabendo que cara ele faria.
E lá estava. Revolta. Ele parecia querer me pegar e voltar no
tempo para mudar a minha vida. Só que não podíamos mais
lamentar por essas coisas.
— Não passei necessidade — esclareci, sentindo-o se acalmar
um pouco. — Só era muito apertado — brinquei. — Eu gostava de
ficar na janela do meu quarto e a vista do céu de lá era privilegiada.
Ele me deu um sorriso suave, satisfeito por me ver feliz.
— Era lá que cantava os seus parabéns? — perguntou e
confirmei.
— Todos os anos.
Colin pegou o meu rosto entre as mãos e beijou com carinho a
minha testa, demoradamente. Inspirou de um jeito profundo e
quando se afastou quis por a moeda de volta no pingente, mas
neguei com um movimento.
— Você vai carregar o nosso destino. — Empurrei a moeda na
sua direção. — Precisa mais dele do que eu.
Ele ficou me olhando por um momento, porém aquiesceu com
uma nítida satisfação no olhar que não entendi.
— Nosso destino — concordou, pegando com cuidado a moeda
e só então notei o que tinha falado. — Eu quero compartilhar tudo
com você... um dia vai ser a nossa casa, a nossa cama, os nossos
cachorros, até os nossos passarinhos — disse com um olhar
divertido e me peguei sorrindo, por mais que o meu coração
estivesse a mil. — Um dia vão ser os nossos filhos e a nossa vida.
Eu quero tudo isso. Suspirei e sorri para ele.
— No nosso futuro eu vou encontrar tudo isso. — Aproximei o
meu rosto do dele.
— Ansioso por todos os nossos momentos. — Roçou o nariz no
meu.
Eu também, Colin. Eu também.
 

 
Mordi o último pedaço da maçã antes de jogá-la no lixo e ir até
o carro da Sienna. Ela e Scar estavam no gramado ajustando as
coleiras dos cachorros.
— Olha, Brad Pitt, eu juro que se você mijar de novo na minha
calça, eu vou te castrar — prometeu Sienna, apontando o dedo
ameaçadoramente para ele.
O coitado apenas balançou o rabo e a encarou com um olhar
apaixonado.
— Tadinho. — Caminhei na direção deles e acariciei a orelha
dele.
— Colin não vai te deixar hoje? — perguntou Scar, estranhando.
Balancei a cabeça negativamente com um sorriso.
— Ele está de castigo — contei.
Colin ia passar a manhã ensaiando o seu Romeu, até insistiu
para me deixar no campus, mas neguei. Ele às vezes decorava o
texto em casa e como já estava chegando perto da estreia da peça,
era bom que ficasse mais afiado com o roteiro. Apesar da gente
sempre ensaiar em casa e no palco quando conseguíamos conciliar
o horário, combinamos de fazer mais um ensaio no teatro hoje, só
nós dois, depois de todas as aulas.
— Muito bem. — Scar piscou para mim com um meio sorriso.
— Bom dia, pessoas lindas! — desejou Amber, abrindo a porta
da casa e Johnny vinha seguindo-a logo atrás.
— Bom dia — falei de volta.
Eles pegaram os cachorros nas guias, preparados para levá-los
para passear um pouco.
— Já vão? — perguntou Johnny e Sienna assentiu. — Eu vi que
o nosso Romeu já está ensaiando lá em cima — provocou com um
sorriso.
— Quem ele escolheu como Julieta dessa vez? — perguntei
curiosa.
— Tyler — contou Amber, rindo. Ela se despediu de nós,
puxando o namorado junto com os cachorros. — Beijinhos,
meninas!
Sienna mandou um beijo para eles e assim que viramos para
irmos até o carro, demos de cara com três criaturinhas. Ou três
crianças. Os garotos que moravam na nossa rua estavam nas suas
bicicletas, parados na nossa calçada e nos olhando com
desconfiança.
Eu os conhecia. Zach e Miguel deveriam ter uns 12 anos e eram
gêmeos, a única diferença entre eles era que Miguel usava óculos.
O terceiro era Ozzy, muito fofo, deveria ter uns 10.
— Bom dia! — Sorri para eles.
Contudo, não me retribuíram, continuaram de cara fechada.
— Eu sei o que vocês estão aprontando — falou Zach, o mais
velho, apontando para nós.
— Oh é mesmo? — perguntou Scar, se encostando no carro da
Sienna e dando corda.
— Sim — confirmou Miguel. — Eu vi o que vocês fizeram ontem
à noite.
Franzi a testa sem entender e quando olhei para as meninas, vi
que elas estavam tão perdidas quanto eu.
— Você tem namorado? — o garoto gordinho, Ozzy, perguntou
para mim.
— Eu? — Apontei para o meu próprio peito, só para confirmar
que ele estava mesmo falando comigo. O garoto balançou a cabeça
positivamente. — Tenho sim.
Ele murchou triste. Meu Deus, as crianças estavam cada vez
mais precoces.
— Não viemos aqui pra você dar em cima dela — brigou Zach,
se inclinando na sua bicicleta ameaçadoramente. — Viemos aqui
pra dizer que vimos tudo ontem.
— E temos provas! — Miguel levantou o dedo, convicto.
— Do que exatamente? — questionou Sienna, intrigada.
Os gêmeos bufaram cinicamente e o Ozzy me olhou com
ansiedade.
— Onde está o seu namorado? — insistiu e eu tive que rir
daquilo.
— Agora? Sendo o Romeu. — Apontei para a casa atrás de
nós.
Nesse momento a porta da casa se abriu novamente e Colin
saiu de lá apenas de calça moletom. Me fazendo suspirar só por
encarar aquele tanquinho. Ele veio caminhando na nossa direção e
logo passou o braço pelos meus ombros.
— Ei, Alvin e os esquilos — Colin cumprimentou os meninos
sorrindo e olhei para ele sem acreditar naquele apelido.
— Alvin e os esquilos? — repetiu Scar debilmente.
— Eles parecem, admita. — Sorriu para ela, e ela apenas
balançou a cabeça em negação para ele.
Os garotos acharam o máximo, o encararam com o olhar
admirado, apoiando tudo o que saía da boca dele.
— Ei, Colin! — Zach estendeu o punho fechado ao meu
namorado. — Como vai, cara?
— Vou bem. — Colin bateu no punho dele, em parceria. — O
que vocês estão fazendo?
— Estamos investigando — informou o outro com orgulho.
— Muito bem — elogiou Colin em aprovação. — Essa é uma
rua perigosa, fiquem de olho em tudo. Talvez encontrem até gnomos
escondidos nos jardins.
Revirei os olhos, suspirando profundamente. Ele riu e beijou a
minha cabeça.
— Vocês não deveriam estar na escola? — Sienna ergueu a
sobrancelha para eles em divertimento.
— É feriado — mentiu Miguel e os outros dois apenas
balançaram a cabeça, em apoio ao irmão.
— Estávamos jogando beisebol — contou Zach com uma
careta. — Mas acabamos atingindo a janela da outra casa.
— Tivemos que sair fugidos, pedalamos logo pra cá —
completou Miguel.
— Pelo menos pediram desculpas? — perguntei e eles olharam
para Colin.
— Fizemos do jeito que você ensinou. — Zach piscou para o
meu namorado e Colin sorriu orgulhoso.
— Muito bem — elogiou e nos viramos para Colin com a
pergunta implícita no ar. — A regra básica quando se quebra algo
dos vizinhos... — Ele balançou a mão para os garotos, esperando-
os continuarem.
— Fugir e fingir que não fomos nós — repetiram os três com
propriedade.
Apostava que decoravam mais os ensinamentos dele do que
qualquer coisa que viam na escola. Me virei para Colin e o encarei
em repreensão.
— Sinceramente eu não sei quem é pior, você ou as crianças.
— Ele — respondeu Scar por mim.
— E você? — Ozzy se virou para Scarlett, ficando todo
vermelho de vergonha. — Tem namorado?
O menino estava mesmo procurando uma namorada. Ela sorriu
com carinho para ele.
— Não, meu bem.
O rosto de Ozzy se iluminou.
— Se quiser dicas pra conquistar garotas, eu tenho uma
cantadas ótimas. — Colin apontou para ele e belisquei o seu
abdômen.
— Não escute ele, querido. — Me virei para Ozzy com cuidado.
— Pra falar a verdade, nenhum de vocês. — Apontei para todos. —
Ignorem tudo o que ele disser.
— Eu conquistei a ruiva aqui só com um bom papo — se gabou
Colin para eles. — Tanto que ela botou fogo na própria casa só pra
ficar perto de mim.
Ah Deus, dei-me paciência. Os garotos olharam para mim
chocados e revirei os olhos.
— Não levem nada do que ele disser a sério — relembrei.
— Vimos vocês ontem lá em cima. — Miguel apontou para o
teto da casa em reforma.
O esperamos completar o raciocínio. Estava curiosa.
— Eu sei o que estão fazendo. — Zach estreitou os olhos. —
Estão escondendo um corpo ali.
Ok. Colin estava mesmo fazendo escola.
— Intrigante — pontuou Colin. — A elevação desse gramado
sempre me deixou com uma pulga atrás da orelha.
Sienna ergueu a sobrancelha para os meninos.
— Estávamos vendo um ninho de passarinho — explicou
querendo rir. — Os ovinhos chocaram e fomos ver.
Eles ficaram olhando para ela com nítida decepção.
— Ainda não sei se acredito nisso — resmungou Zach,
frustrado.
— Pois continue investigando. — Scar deu um tapinha
incentivador no seu ombro e eles suspiraram cansados, desistindo
da nossa presença.
— Vamos andar mais um pouco — informou Zach, chamando
os outros. — Ainda tem muito o que verificar por aqui.
— Isso é verdade — concordou Colin, piscando para eles.
Os garotos acenaram para nós e saíram pedalando pela rua.
Me virei para Colin e apontei para o meio do seu peito.
— Você vai ensaiar — mandei e ele suspirou, beijando o meu
rosto com carinho.
— Está difícil olhar pro Tyler e dizer pra ele que o amo
profundamente.
Eu daria tudo para ver isso.
— Por favor, diga pra Drake filmar tudo — pediu Sienna, abrindo
a porta do carro.
Ela e Scar entraram e ficaram apenas me esperando.
— Até mais tarde. — Me ergui na ponta dos pés e o beijei. —
No teatro.
— No teatro — repetiu, suspirando ao me largar. — Amo você.
Sorri para ele.
— Eu te amo — disse entrando logo no carro ou ele não me
deixaria ir nunca.
Fiquei o olhando parado com as mãos no bolso do moletom
vendo o carro se distanciar, como se já estivesse com saudade.
Senti que de alguma forma fiquei mais ligada a ele ao saber sobre a
falta que sentia da sua mãe, assim como ele ficou mais ligado a mim
depois de lhe contar sobre a minha história.
Era um “eu te amo” mais vivo, mais pleno. Era um “eu te amo”
que eu sentia se espalhar pelo meu corpo de um jeito que me
deixava letárgica.
Me encostei no banco do carro e vi as meninas me olhando pelo
retrovisor com um sorriso no rosto.
— Vocês são fofos demais — murmurou Scar.
Fiquei um pouco em silêncio antes de contar a elas.
— Eu falei pra ele — disse de uma vez e isso chamou a
atenção delas. — Sobre as minhas mãos. — Mostrei as palmas para
elas. — Contei da vovó... e que era sozinha.
Até encontrar vocês.
— Era — corrigiu Sienna com delicadeza e sorri para elas.
— Era — concordei, olhando para as minhas irmãs de vida.
Toquei as cicatrizes, alisando as dobras com a ponta do dedo.
Sempre as considerei feias, mas ele disse que elas eram perfeitas.
— Ele disse que as minhas mãos são perfeitas. — Suspirei
apaixonada e vi o sorriso discreto de Scar pelo retrovisor.
— Tudo em você é perfeito, meu bem — elogiou ela, piscando
para mim e me inclinei para beijar o seu rosto.
— Tudo em você é perfeito também — devolvi.
Ela me deu um olhar triste e permaneceu em silêncio, como se
não acreditasse naquilo. Sienna e eu nos entreolhamos sabendo
que a camada dela era bem mais profunda do que a minha, embora
não falasse sobre.
Eu só desejava, do fundo do meu coração, que um dia alguém
beijasse todas as suas cicatrizes como Colin fazia com as minhas.
Sendo elas visíveis ou não.
 Colin Scott
 
Girei a moeda sobre a mesa da sala, ela ficou rodando na
minha frente e fiquei apenas observando suas faces passarem.
Cara e coroa. Quando ela finalmente caiu, parando com um lado
para cima, eu fechei os olhos.
Fiquei com medo do que veria.
Podia ligar para ela... ou afastá-la mais, como fazia a cada dia.
Ela merecia essa punição pelo que tinha feito, todos os dias eu
repetia isso para mim mesmo. Porém, ainda continuava sendo a
minha mãe. E, infelizmente, meu coração nunca foi frio.
Senti minha respiração se alterar de ansiedade, queria a minha
pequena ali comigo. Sentia falta da presença do seu corpo no meu.
Queria passar os braços pela sua cintura e a apertar contra meu
peito, beijar os seus cachos, dizer que a amava e segurar as suas
mãos nas minhas com cuidado.
Ela parecia mais preciosa do que nunca para mim agora. Assim
que me contou do seu passado, senti no fundo do meu peito um
instinto primitivo de proteção, de nunca deixar nada feri-la ou
machuca-la e sempre preservar aquela bondade.
Seus pais a deixaram. Foi machucada quando era uma criança,
sem ter como se defender. Madison foi deixada sozinha. E o lado
bom nisso foi que alguém pegou aquela preciosidade para amar,
parecia que tinha lhe dado o carinho que merecia.
Queria voltar no tempo e fazer tudo diferente. Queria lhe avisar
que ela seria muito amada, queria impedir que a machucassem.
Queria dizer a ela que era o amor da vida de alguém, que preenche
o meu coração de um jeito único, como se ele tivesse sido feito
apenas para ela.
Queria abraça-la e não soltar nunca mais.
Não podia fazer nada pelo seu passado, mas o futuro dela seria
diferente. Seria comigo. Madison não comemoraria o seu
aniversário sozinha. E eu não passaria mais o meu em reclusão.
Abri os olhos e vi o resultado da moeda.
Coroa.
— Foda-se — bufei, guardando a moeda no bolso em
frustração.
— Vamos, Romeu!
Olhei por cima do ombro e encontrei Tyler descendo as
escadas, pronto para ensaiar comigo novamente. Minha nova
Julieta não era nada atraente, ignorava todas as minhas juras de
amor e ficava pedindo a cada dois minutos para largarmos aquilo e
irmos jogar vídeo game.
— Sem reclamações dessa vez. — Apontei o dedo para ele e
joguei o roteiro no seu colo assim que Tyler se deitou no sofá.
— Não sei pra quê isso, você já sabe esse texto todo —
resmungou, se apoiando no cotovelo e lendo as falas outra vez.
Eu já tinha decorado tudo. Sabia exatamente todas as minhas
falas, entretanto Madison queria que eu treinasse mais o último ato,
não estava me saindo bem no momento em que todo mundo morria.
O que era compreensível, como iria fazer aquilo sem rir?
— Já, só que preciso me manter sério na última parte —
respondi, me levantando.
— Os dois estão morrendo, o que tem de engraçado nisso? —
Ele abriu os braços sem entender.
— Não sei. — Encolhi os ombros.
Realmente não sabia. A pessoa que conseguia permanecer
séria deveria levar o Oscar, nos ensaios todo mundo ficava com
cara de enterro nos bastidores enquanto via Madison se fingir de
morta. Eu até conseguia me controlar, porém quando chegava o
meu momento de morrer... explodia em risadas.
Tyler se sentou, imponente e ficou lendo o roteiro até chegar na
parte em que paramos. Aqui Romeu tinha sonhado com Julieta,
sonhado que ela o encontrava morto, e era nessa cena que ele
descobria a sua morte.
— Quinto ato — avisou Tyler, se encostando no sofá e cruzando
os braços em frente ao peito.
— Meus sonhos auguram uma novidade prazerosa que não
tarda — recitei reflexivo, como se estivesse falando sozinho.
Continuei as falas até chegar na vez de Tyler. Ele informou, de
um jeito bem tedioso e sem emoção, o momento em que Romeu era
avisado da morte de Julieta.
— Me perdoe por lhe trazer essa má notícia — murmurou o pior
ator do mundo em um bocejo.
Ignorei o idiota e tentei me concentrar na situação do
personagem. Ele estava encarando o luto naquela ocasião e disso
eu entendia. Era como se o mundo abrisse sobre os seus pés, como
se não existisse mais equilíbrio. Era perda. Negação. Raiva. Dor. E
depois... aceitação.
Perdão.
Peguei a moeda no bolso e fiquei olhando para ela. “Coroa” era
sempre não ou tinham momentos em que podia ser um talvez?
Você me perdoa, pai? Se eu disser que sinto falta da minha
mãe?
 
Madison Jensen
 
Sienna estava atrasada para a sua aula, então só nos deixou no
campus e seguiu para o seu prédio. Scar e eu passamos um tempo
na biblioteca estudando, e fofocando também. Quando começou a
ficar tarde seguimos para os nossos prédios, que eram um pouco
longe dali.
A parte ruim de ser universitária era a de caminhar demais, para
quem não tinha carro e estudava nos prédios mais distantes, como
eu. Brown parecia uma cidade, milhares de estudantes e setores,
sempre tinha que ficar rodando de um lado para o outro.
— Vai ficar até tarde hoje? — perguntou Scar, quase chegando
perto de onde seria a sua próxima aula.
— Combinei de encontrar Colin no teatro à noite — contei,
passando o meu braço pelo dela. — E você?
— Também. — Suspirou, encostando a cabeça na minha. —
Tudo o que eu quero são férias...
— Está pertinho — incentivei.
Scar ergueu a cabeça e endireitou a postura do nada, como se
tivesse visto algo.
— Chernobyl — murmurou baixinho e inclinou a cabeça na
direção de dois garotos conversando.
Estavam meio longe, mas os reconheci. Michael e Charles
Moore. Era incrível como o namorado da minha amiga continuava
falando com Charles mesmo depois de tudo o que ele fez. E isso
contando que Charles ainda andou falando da Sienna!
— O namorado do ano. — Scar estalou a língua em escárnio.
— Um dia ela vai terminar. — Tentei ser otimista.
— E nesse dia eu vou soltar foguete — Scar respondeu. — E
esses, só vão destruir o teto da casa dele.
Ri e balancei a cabeça em negação para ela. Passamos perto
deles e assim que nos viram, se afastaram um do outro. Michael
baixou a cabeça e continuou andando como se não quisesse ser
pego na presença do outro. Charles, no entanto, ficou parado no
lugar.
Ele se encostou na parede e ficou nos observando de um jeito
sinistro, tanto que senti um arrepio passar pelo meu corpo.
— Scar...
— Continua andando — ela mandou sem se abalar. — Ele só
quer intimidar.
Assenti e tentei não olhar na sua direção. Só que sentia que ele
estava nos encarando, acompanhando cada passo e foi involuntário
olhar de canto para ele.
Charles tinha se afastado da parede e estava caminhando na
nossa direção. Entretanto, ele andava com dificuldade, como se
estivesse manco. Lembrei do jogo e como quase quebrou a perna.
Subi a minha avaliação e nossos olhares se encontraram.
Ele estava com ódio. E aquilo me deu medo.
Virei para frente depressa e continuei a caminhar como se não
ligasse para a sua presença.
— Ele está manco — avisei para Scar. — Por pouco não
quebrou a perna no último jogo.
— Uma pena, de fato — ela comentou com um sorriso suave.
Fiz uma careta ao lembrar do lance, foi horrível de assistir, foi
quase um milagre o osso não ter se partido no meio.
— O corpo dele foi jogado no gelo como se fosse um saco de
lixo.
— Que bosta — resmungou em frustração. — Agora estou
arrependida de não ter assistido.
Revirei os olhos e soltei uma risada, esquecendo por um
segundo, que havia um louco atrás de nós. Esperava que ele
arranjasse algo melhor para fazer do que ficar nos seguindo.
 
Eu: Já estou aqui.
Ódio (amor) da minha vida: Preso na aula ainda, meu amor.
Ódio (amor) da minha vida: Daqui a uns 30 minutos eu saio.
Eu: Fica tranquilo!
Entrei mais para os bastidores do teatro, procurando algum
canto para desenhar. Acabei entrando em uma sala ampla e cheia
de livros que tinha ali, sentei no chão, me encostando em uma
estante, e apoiei o caderno em cima das minhas pernas.
Continuei a deslizar o lápis em volta do esboço dos olhos de
Colin, levemente caídos de um jeito charmoso, debochados e
sempre com alguma piada na ponta da língua. Os seus olhos
contavam uma história, eles entregavam a sua essência e talvez eu
gostasse de desenhá-los apenas para tê-los em mim quando o
próprio não estivesse por perto.
Quando estava finalizando os cílios escutei a porta fechar atrás
de mim, alguém entrou na sala e girou a chave, se trancando
comigo ali dentro. A pessoa apagou a luz, deixando tudo no escuro.
Olhei em volta em susto e encontrei o contorno de uma sombra
na minha frente. Alguém parado, apenas olhando para mim, e minha
pele inteira se arrepiou.
Levantei depressa, derrubando o caderno no chão e a pessoa
deu um passo para frente. Mancando. Charles.
— Charles — falei e meu coração acelerou em nervosismo.
Ele deu mais um passo na minha direção e tentei ir para trás,
porém a estante de livros atrás de mim me impediu. Charles colocou
cada braço de um lado do meu corpo, me prendendo ali.
Seu rosto ficou próximo demais e não sabia o que ele queria
comigo. Ainda era pelo dia em que fomos na sua casa?
— O que você quer? — perguntei assustada.
— Eu sei — foi tudo o que ele disse com o maxilar travado de
ódio.
Franzi a testa sem entender ao que estava se referindo e aquilo
o irritou mais ainda. Ele pegou o meu queixo de um jeito forte que
me machucou. Tentei sair de perto, bati no seu peito e cheguei a
chutar o meio de suas pernas, mas ele me pressionou contra a
estante com força, fazendo minha cabeça bater nos livros.
Olhei em volta, procurando um jeito de sair. No entanto, Charles
não permitiu, puxou meu rosto de volta para ele, fazendo-me
encará-lo.
— Eu sei — repetiu, só me deixando mais confusa. — Meu pai
conhece a família deles.
Apertou mais o meu queixo e eu quase chorei de dor. Fechei os
olhos, os sentindo lacrimejarem.
— Olha pra mim! — mandou com raiva e abri os olhos,
assustada. — Ele fodeu minha perna. Vai voltar ao normal, só que a
lesão irá me impedir de entrar nos profissionais.
Olhei para baixo, na direção da sua perna. Foi ele que
provocou. Assisti ao jogo e tinha sido outro jogador que o
machucou, não Colin. Eu não tinha nada a ver com aquilo.
— Eu... — Engoli em seco com medo de irritá-lo ainda mais. —
Eu não sabia disso.
Ele estreitou os olhos para mim.
— Foi o seu namorado que mandou ele ir pra cima de mim —
disse, cuspindo as palavras para fora e balancei a cabeça em
negação.
Colin não tinha feito isso.
— Colin não teve nada a ver...
Ele apertou mais o meu queixo, com ódio. E soltei um gemido
agudo pela dor. Meu Deus, ia quebrar a minha mandíbula.
— Eu sei que eles são irmãos! — gritou puto e continuei a
negar. Colin não tinha irmãos. — Cameron Payne ia querer quebrar
a minha perna justamente no dia que eu entro em jogo? Um dia
depois do irmão dele invadir o meu quarto com vocês? Muita
coincidência, não?
Ele estava louco. Entramos no seu quarto por causa do Taylor,
não tinha nada a ver com a lesão no gelo, foi ele que provocou
aquilo. E por que não se resolvia com o próprio Cameron?
— Você entendeu tudo errado...
Charles bateu a minha cabeça de novo contra a estante, com
mais força, e a dor foi insuportável. Gritei com o susto, aquilo foi
perigoso. Senti minha cabeça latejar e ouvi tentarem destrancar a
porta, como se alguém estivesse mexendo no trinco sem conseguir
abri-lo.
Paralisamos os dois no lugar e a porta foi aberta. Cheguei a
pensar que fosse Colin, porém me enganei. Era Scar.
Ela parou no lugar ao nos ver ali e Charles desceu o aperto até
chegar no meu pescoço, em uma ameaça silenciosa para ela se
manter distante ou tentaria me sufocar.
— Ou você sai daqui agora ou vai sobrar pra você — ameaçou
ele sem paciência.
Scar estreitou os olhos para ele e entrou na sala. Charles me
largou, jogando o meu corpo no chão com brutalidade, para ir na
direção dela. Levantei depressa para ajudar a minha amiga, mesmo
que a minha cabeça estivesse latejando.
Charles a empurrou pelos ombros contra a parede ao lado de
uma escrivaninha, fiquei com medo de ela se machucar na mesa.
Fui na direção deles, mas Scar resolveu o problema antes que eu
chegasse perto. Ela pegou um troféu, que estava em cima da
escrivaninha, e o movimento foi tão rápido que meu coração quase
parou.
Scar arremessou o objeto pesado com tudo na cabeça de
Charles, no momento em que ele ia para cima dela novamente. A
pancada o fez gritar e dar um passo para trás, de tão forte que foi o
impacto.
— Sua puta desgraçada! — xingou Charles, colocando a mão
na cabeça que sangrava.
— Scar — chamei-a para sairmos dali e ela me olhou de canto.
— Saia daqui, querida — pediu com tranquilidade antes de dar
um chute muito forte na perna machucada dele, com a ponta do seu
salto para frente.
Meu Deus. Escutei o osso estalar.
Cobri o rosto com as mãos, sentindo uma agonia por ver aquilo.
Ele gritou alto, caindo no chão e começou a xingá-la. Fui na sua
direção e puxei Scar para longe dele, querendo manter distância.
— Está bem? — ela perguntou preocupada e assenti, a levando
para fora da sala.
Não estava, sentia minha cabeça latejar, meu queixo doía e
tinha acabado de presenciar um osso se deslocando, mas só queria
sair logo daquele lugar. Estava com uma energia ruim e eu só queria
me ver livre daquela sensação. Precisava de um incenso.
— Ele te machucou? — Me virei para ela e Scar balançou a
cabeça negativamente.
— Eu vim assistir o ensaio de vocês e acabei escutando seu
grito... — contou se distanciando da porta.
Paramos no lugar ao sentirmos alguém atrás de nós. Olhei por
cima do ombro, temendo que fosse Charles de novo, só que era
Colin. Ele estava parado, nos olhando de cima a baixo, parecendo
tentar entender o que tinha acontecido.
Charles soltou mais um grito na sala e meu namorado estreitou
os olhos na direção da porta, confuso, porém assim que reconheceu
a outra voz, a sua expressão se tornou ameaçadora. Fechei os
olhos, já sabendo a confusão que isso ia dar.
— Colin... — chamei baixinho e seu rosto suavizou um pouco.
Ele veio na minha direção e Scar nos deu espaço.
Colin tocou o meu queixo com carinho, quase com medo de me
machucar.
— Você está bem, meu amor? — questionou aflito e confirmei
para acalmá-lo.
Nesse momento Charles saiu da sala, mancando, dando de
cara com Colin. Meu namorado tensionou os músculos e o encarou
como se fosse parti-lo ao meio, sua postura ficou tão dura que
comecei a tentar puxá-lo para longe, não querendo que ele se
envolvesse em problemas.
— Foi ele? — Colin perguntou de um jeito que nunca o vi falar
antes, quase assassino, sem tirar os olhos de Charles.
— Sua vagabunda! — o babaca xingou, olhando Scar. Ele
ergueu o queixo afrontosamente para Colin, como se quisesse uma
briga.
— Foi ele — Scar respondeu tranquilamente, ela estava
encostada em um canto apenas nos esperando.
Fiquei tensa e Colin pareceu sentir, ele se inclinou rapidamente
para beijar a minha testa com ternura, um beijo que me fez suspirar.
— Nunca mais alguém vai tocar em você — foi tudo o que ele
disse antes de se afastar de mim e empurrar Charles Moore para
dentro da sala, colocando a mão no seu peito.
Colin fechou a porta trás de si com um chute forte, se trancando
com ele lá dentro.
— Meu Deus. — Tentei ir até eles, mas Scar veio segurar o meu
braço com delicadeza.
— Deixe-o resolver, querida — pediu ela, despreocupada.
Enlaçou o braço no meu e me levou para longe, talvez tentando me
distrair. — Então, o que você estava fazendo lá dentro?
Meu caderno de desenho! Olhei por cima do ombro, recordando
que o deixei jogado no chão.
— Eu estava desenhando antes de ele se trancar comigo lá
dentro... — Ao terminar a frase lembrei de uma coisa.
Como ela tinha aberto a porta? Scar entendeu a pergunta
implícita, piscou para mim em divertimento e tirou um grampo do
bolso da sua calça jeans, me mostrando ele antes de guardá-lo
novamente.
Fiquei olhando para ela, porém a garota tatuada ergueu a
sobrancelha sutilmente, avisando que não me contaria.
Ah, Scar, onde você aprendeu isso?
 
Colin Scott
 
Ele tocou nela.
— Charles vai ficar internado por alguns dias — informou
Johnny, se sentando do meu lado.
— Eu sei — disse sem me importar, batendo o pé de um jeito
impaciente enquanto encarava a porta à minha frente, esperando
notícias.
Ela é tão pequena... e ele ainda teve coragem de por a porra
das mãos em cima dela.
— A perna dele quebrou mesmo — continuou Johnny.
— Que bom.
Ele bateu a cabeça dela contra a estante. Esse cara estava tão
fodido.
— Mas isso eu acho que não foi você, suspeito que tenha sido a
Scar — contou em dúvida e encolhi o ombro, indiferente.
Por mim, podia ter quebrado as duas. E todos os ossos do
corpo.
— O lado bom é que ele continua vivo e não vai ter nenhum
dano permanente. Talvez em três ou quatro meses os hematomas
comecem a sair. — Johnny tentou ser otimista e olhei de lado para
ele.
— Não vejo o lado bom nisso.
Os dedos das minhas mãos estavam enfaixados. No entanto,
não sentia dor. Eu o tinha feito prometer, jurar, que jamais iria olhar
ou ao menos pensar nela de novo. Se eu soubesse que chegou
perto dela mais uma vez... não teria saída para ele.
E Charles compreendeu o recado.
— Você foi proibido de jogar nas finais — avisou Johnny e
acenei em confirmação.
Sabia disso. E estava pouco me fodendo. Ela era mais
importante. Era o amor da minha vida e ninguém iria machucá-la.
Nunca. Não enquanto eu respirasse.
— Isso não vai te prejudicar — Johnny informou. — Você vai
perder só um jogo, já que esse é o último, no próximo semestre já
vai estar de volta... isso se não tiver problemas com a justiça.
Ele me lançou um olhar significativo, me dizendo quem eu tinha
que procurar e assenti.
— Eu já liguei pra ele — falei e Johnny respirou mais tranquilo.
— Ele vai dar um jeito.
Cameron sempre dava um jeito.
— Nessas horas é bom o ter como amigo.
Neguei com um movimento, batendo o pé no chão enquanto
esperava a porta à nossa frente abrir.
— Ele não é só um amigo... É minha família — me peguei
dizendo e Johnny bateu nas minhas costas, talvez achando que eu
apenas o considerava demais.
Só que era mais do que isso. Ele era o meu melhor amigo. Foi
quem sempre esteve comigo. Meu irmão. E eu fui a única pessoa
que ele já deixou se aproximar. Éramos do mesmo sangue.
— Colin? — Johnny chamou e o olhei de canto. — Estou
orgulhoso de você.
Parei de bater o pé no chão com aquilo. Fiquei encarando o
meu amigo que mais pegava no meu pé e por quem eu tinha muita
admiração. Johnny Jackson tinha acabado de dizer que estava
orgulhoso de Colin Scott.
E foi justamente quando mandei alguém para o hospital.
— Devo mandar mais pessoas pro hospital? — perguntei,
erguendo o canto da boca em um sorriso e ele revirou os olhos.
— Você cuida dela — explicou e fiquei sério novamente.
Cuidava. Sempre cuidaria.
— Você nunca foi responsável com nada, mas é com ela. — Ele
indicou a porta que estávamos esperando abrir.
— Ela é a pessoa mais importante pra mim — disse. — Eu
sempre vou cuidar dela e a amar, mesmo se um dia ela não me
quiser mais.
Johnny me deu um olhar satisfeito.
— Colin Scott? — chamou a enfermeira, abrindo a porta.
Me levantei depressa. O pessoal que estava em um canto
distante, esperando notícias, se levantou junto. As meninas
juntaram as mãos, preocupadas.
Tínhamos levado Madison para fazer uma tomografia e outros
exames, para ter certeza que não houve nada com ela.
— Algum familiar? — perguntou a enfermeira, nos olhando
confusa.
— Todos nós — respondeu Amber imediatamente.
— Certo. — A mulher sorriu em nossa direção. — Tudo ok com
a mocinha, ela não teve nada sério. Apenas vai ficar com um
inchaço na cabeça e talvez algumas manchas roxas na mandíbula.
Todos suspiraram aliviados e quis, nesse momento, procurar a
sala em que Charles estava internado para terminar o serviço,
porém minha pequena era mais importante. Ela estava bem e logo
estaria sem nenhum machucado. Eu cuidaria dela, não deixaria que
erguesse um garfo, nem para comer.
— Ela está lá dentro, já podem entrar — a mulher se despediu e
olhei para eles, pedindo silenciosamente para ir na frente.
— Pode ir. — Taylor piscou para mim. — Esperamos aqui.
Respirei fundo e entrei na sala, a encontrando sentada em uma
cadeira, tomando uns remédios que lhe foram passados.
— Tem o gosto horrível. — Ela enrugou a ponta do nariz lindo e
me agachei na sua frente, quase pedindo desculpa. — Oi, meu bem.
— Sorriu para mim, mostrando aquelas covinhas que queria ver até
o fim da vida.
— Me desculpa — pedi, sentindo minha garganta fechar e ela
me olhou sem entender.
Tocou o meu rosto com aquelas cicatrizes e beijei a sua
mãozinha.
— Pelo quê? — perguntou confusa.
— Por não ter estado lá pra proteger você. — Senti meu peito
doer por ver o canto do seu rosto tão perfeito machucado.
Eu já tinha quebrado o braço quando era criança, já tinha me
ralado e sofrido empurrões violentos no hóquei, só que nada, nunca,
me doeu tanto quanto vê-la ferida. Nada. Se pudesse sugaria aquilo
e colocaria tudo em mim.
— Você não pode estar em todos os lugares. — Ela sorriu para
mim e se inclinou para beijar a minha testa, voltando a trazer paz
para o meu mundo e luz para a minha vida.
E soube ali, que nunca surgiria um momento perfeito. Talvez
fosse maluco fazer aquilo sendo jovem, porém sabia o que queria.
Eu sempre soube, desde que a vi pela primeira vez.
Me apoiei em um só joelho e peguei a sua mão na minha.
Madison estreitou os olhos, sem entender o que eu estava fazendo.
— Eu fiquei com a aliança do meu pai — contei e ela assentiu,
me dando um olhar triste de consolo. — Ela contava uma história.
Uma história que não deu certo e aquilo me perseguiu, me fez ter
medo. Eu planejei jamais viver isso, mas eu não tinha planejado que
você chegaria — continuei e ela esboçou um sorriso, emocionada.
— Obrigado por ter me esperado. Obrigado por me fazer digno de
você. Obrigado por aguentar as minhas piadas ruins. Obrigado por
rir das minhas cantadas. Obrigado por aceitar carregar o meu
destino. Obrigado por me ensinar sobre arte e magia. Obrigado por
ter me feito pensar em você em cada minuto do meu dia.
Uma lágrima escorreu pelo seu rosto e seu nariz ficou vermelho
na ponta.
— Eu já entreguei o meu coração, só que quero entregar todos
os meus anos também. — Peguei o anel que sempre carregava no
bolso, apenas esperando o momento certo. Abri a caixa e ela se
permitiu chorar. — Casa comigo? Eu sei que somos jovens, não
precisa ser agora. Pode ser quando você quiser, quando
terminarmos a faculdade. Não importa. Mas usa o meu anel?
Ela assentiu, engolindo em seco como se não conseguisse falar
e me estendeu a sua mão. Coloquei o anel no seu dedo e beijei a
mão. Ele era prata e tinha vários diamantes espalhados, como se
fosse o céu à noite, as estrelas que ela gostava de observar.
— Eu uso — ela respondeu, sorrindo para mim sem deixar de
chorar. — Eu caso. E te entrego todos os anos da minha vida.
— Eu quero mais uma coisa — brinquei, indo beijar a sua boca.
Colei os meus lábios nos dela e Madison abraçou o meu
pescoço, me puxando para perto.
— O quê? — perguntou baixinho, roçando os nossos narizes.
— Quero uma casa cheia de crianças ruivas — disse, tirando os
seus cachos da frente do rosto e ela suspirou apaixonada.
— Eu também quero... Entretanto, você precisa me prometer
que não vai ensinar coisas erradas pra elas — provocou com um
sorriso e eu ri.
— É por isso que você será a voz da razão. — Beijei o canto da
sua boca. — E daremos uma moeda pra cada uma delas, deixando
na mão do destino.
Ela concordou e tocou o meu rosto, pensativa.
— E você já se decidiu? — perguntou, tocando a corrente que
descansava no seu peito. — Sobre o seu destino.
Assenti em silêncio. Devolvi a moeda para ela, colocando-a no
seu pingente e me levantando decidido. Sentindo leveza.
— Acho que vou fazer uma ligação. — Pisquei e ela me
encarou com orgulho, estava linda com o seu novo anel.
— Diga a ela que quero conhecê-la — falou e sorri de volta.
— Ela vai te amar. — Beijei a sua cabeça e saí do quarto,
dando espaço para o pessoal falar com a minha noiva.
Minha mulher.
Fui para fora do hospital e peguei o celular. Por um instante,
senti medo, contudo respirei fundo e liguei. Esperei um pouco, até
que fui atendido.
— Colin?
Fechei os olhos ao ouvir aquela voz, sentindo uma vontade
insuportável de chorar. Meu coração acelerou e minha mão
começou a suar frio. Aquela voz... eu senti tanta saudade.
— Meu amor? — Ela estava chorando, sua voz saiu
embargada, provavelmente com medo que eu desligasse. — Você
está bem?
Engoli em seco e coloquei a mão no bolso. Nervoso e inseguro.
— Mãe — foi tudo o que consegui dizer e ela desabou em
choro.
Meu peito apertou, só queria abraçá-la. Toda a raiva, ódio,
rancor, eu deixei para sentir nesses anos. Eu consumi tanto isso,
que se dissipou, não sobrou mais nada. Agora só havia a saudade.
— Oi, querido — respondeu com a voz trêmula.
Eu ainda te amo.
— Senti a sua falta. — Suspirei, sentindo o peso do mundo sair
das minhas costas. Minha mãe ficou em silêncio e a ouvi fungar. —
Senti demais.
Eu não falava ao telefone com ela há anos. Ouvir a sua voz me
trouxe de volta à infância. Me trouxe de volta para aquele amor
materno que nunca me faltou.
— Eu também, querido. — Ela fungou. — Eu também.
— Tem uma pessoa que eu quero te apresentar.
Ela é a minha noiva e creio que você irá amá-la assim que vê-
la.
Madison Jensen
 
Lista de coisas que eu preciso te contar, vovó:
 
1. Fiquei noiva há uma semana atrás.
2. Eu sei, aos 22 anos. Mas não vamos casar
imediatamente, sabe?
3. Também entrei na minha primeira briga, no
mesmo dia em que fiquei noiva. Fiquei com a
cabeça dolorida, no entanto já estou bem!
4. Eu ouço um “eu te amo” todos os dias agora,
sempre de um jeito diferente. Às vezes é um olhar,
um carinho, um cuidado... é muito bom ser amada
assim.
5. Tenho que confessar uma coisa à senhora: Eu
pedi pra ler a minha mão naquele dia. Ainda
consigo ouvir a sua voz pronunciando todo o meu
destino.
6. Obrigada por me dar o meu primeiro vestígio de
magia.
7. Eu te amo, vovó. Sinto a sua falta.
8. E estou indo, nesse momento, participar de uma
peça de teatro, me deseje sorte!
 
Fechei o meu bloquinho depressa, o colocando dentro da bolsa
antes de me olhar no espelho novamente. O camarim estava lotado,
as meninas passavam maquiagem umas nas outras, ajudando na
caracterização, e eu ajustei a minha peruca uma última vez.
Ficava estranha de cabelo castanho. E liso. Contrastava com as
minhas sobrancelhas ruivas, porém as escureci com maquiagem.
Suspirei, decidindo não olhar nenhuma mensagem para não ficar
nervosa. O resto do pessoal parecia bem tranquilo, a maioria já
acostumada com aquilo, o que não era o meu caso.
O lado positivo de tudo isso era que peguei um pouco de
experiência em cênicas. Organizei cada detalhe e na parte dos
bastidores, estava impecável. Olhei outra vez no espelho, me vendo
de um jeito novo.
A pessoa à minha frente era uma mulher de 22 anos que estava
para receber uma proposta tentadora de estágio. Uma artista com
talento. Alguém confiante. Noiva. Parecia tão diferente de mim...,
ainda assim era eu.
Observei meu novo anel, cheio de diamantes espalhados em
volta, e o beijei, virando minha mão aberta para cima. Lembrando do
dia em que apanhei até ganhar aquelas cicatrizes, nem mesmo
recordava o motivo, era muito nova, só senti a dor. Naquela época
estava sozinha, perdida, com medo.
Ergui o olhar novamente para o espelho e então percebi que
tinha um sorriso calmo e sincero no meu rosto.
Estava feliz com a minha vida. E com as minhas cicatrizes.
— Querida... — chamou uma garota loira ao meu lado, tocando
o meu ombro. — Deixa só eu ajeitar a sombra? É um minutinho.
Ela sorriu simpática e a reconheci por trás da caracterização.
Era Rebecca Cavedon, uma garota do meu curso que eu achava um
amor de pessoa. Nunca chegamos a conversar muito porque eu
ficava mais reclusa, no entanto me sentia confiante para começar a
me abrir. Quem sabe fazer novos amigos?
— Claro. — Sorri para ela e a garota puxou uma cadeira do
meu lado.
Ela começou a passar corretivo no meu queixo e sabia que
estava tentando amenizar as manchas que se formaram por Charles
ter apertado demais.
— Dói quando toco? — Rebecca perguntou preocupada, a
notícia do meu encontro com Charles já tinha se espalhado pelo
campus.
Neguei.
— Não, já passou.
— Está nervosa? Você entra daqui a pouco. — Ela olhou as
horas no celular, animada e sorri para ela.
— Um pouco. — Encolhi os ombros. — Eu não me saio tão bem
assim nessa parte de atuação.
Rebecca assentiu e piscou para mim.
— Eu adoro... costumam dizer que sou bem dramática —
contou e ri.
— Você se saiu bem nos ensaios — elogiei.
— Obrigada! — agradeceu alegre e a vi morder o lábio inferior,
como se quisesse falar alguma coisa. — Posso te perguntar algo?
 Assenti curiosa.
— Você teve alguma coisa com o Derek? É que ele me chamou
pra sair esses dias e não sabia se ainda tinha alguma coisa entre
vocês.
Neguei depressa.
— Nós nunca tivemos nada — esclareci, sorrindo para ela. —
Só saímos uma vez e o encontro foi por água a baixo. — Ri por
lembrar daquele dia.
— Então, o caminho está livre?
— Totalmente — confirmei, piscando para ela.
— Bem... — Ela avaliou a minha maquiagem uma última vez. —
Está perfeita, você vai arrasar, Julieta.
Agradeci e me levantei, pronta para entrar. Um leve tremor
passou pelo meu corpo quando vi que estava lotado. Fiquei feliz por
saber que o dinheiro arrecadado iria para uma boa causa, mas
ainda estava nervosa. Respirei fundo, torcendo para o meu Romeu
não começar a rir na parte da morte.
Por que se ele começasse, eu riria também e tudo iria desandar.
 

 
Caí no chão, aliviada por tudo ter ido divinamente bem até
agora. Julieta tinha acabado de adormecer, fingindo a sua morte.
Essa era a parte mais tranquila da peça para mim, tinha apenas que
ficar imóvel, ter respirações leves e controladas. Como fazia
meditação, conseguia me desligar completamente do mundo
exterior assim.
A peça seguiu normalmente e só consegui me atentar ao que
acontecia ao redor quando senti aquele cheiro bom de canela se
aproximando de mim.
Meu Romeu se ajoelhou ao meu lado, tocando o meu rosto com
carinho.
— Ah, meu amor... — recitou, próximo demais do meu rosto. —
Por que continuas tão linda? — perguntou, parecendo sincero.
Ele se inclinou um pouco mais para me beijar. Seus lábios
encostaram nos meus e quis muito corresponder, suspirei na sua
boca e ele se afastou, continuando a seguir o roteiro. Não podia
abrir os olhos para vê-lo, mas senti que me observava.
Colin se aproximou novamente de mim, dando um último beijo
na minha testa. Um beijo demorado. Meio que não gostava de
encenar essas cenas de despedidas com ele. Odiava vê-lo se
despedir, mesmo que não passasse de teatro.
— Ficarei para sempre contigo — prometeu, vindo alisar a
minha bochecha e o público estava tão silencioso, que até a
sensação era a mesma de quando ensaiávamos apenas nós dois.
Ele se distanciou de mim e pareceu estar “bebendo o veneno”.
Fiquei apreensiva, porque sabia que era ali que Colin começava a
rir. Percebi que sua respiração se alterou assim que ele fingiu a
morte e eu pressionei os lábios para me impedir de soltar uma
risada.
Colin caiu depressa do meu lado, quase querendo acabar logo
com aquilo. Abri um único olho para vê-lo ao meu lado e vi que o
meu Romeu estava respirando fundo para controlar a risada.
Os outros personagens entraram em cena e tiveram um breve
diálogo. Então foi a minha vez de acordar novamente.
De fato, essa coisa de morrer, dormir, levantar, morrer de novo,
acabava me deixando zonza.
— Onde está o meu Romeu? — perguntei, olhando em volta
com o cenho franzido.
E não sei para quê, fui olhar na direção da plateia. Foram
apenas uns segundos. Olhei na direção do pessoal, eles estavam
na primeira fileira. E Amber... seu rosto estava todo vermelho e logo
que nossos olhares se encontraram, ela começou a rir.
Johnny a puxou para o seu peito depressa, querendo abafar a
sua risada e algumas pessoas lhe repreenderam. Continuei
procurando o meu Romeu como se não soubesse que ele estava do
meu lado, se fingindo de morto e fazendo de tudo para permanecer
sério.
Virei para ele e coloquei a mão no meu peito, simulando um
susto.
— O que é isso que segura em sua mão, meu verdadeiro amor?
— questionei, tocando o seu rosto.
Percebi que ele ia soltar uma risada e coloquei a mão em cima
da sua boca, impedindo que o som saísse. Para quem estava
assistindo até parecia que a Julieta tentava matar o Romeu pela
segunda vez, sufocado.
— Um cálice! — falei alto demais, querendo me sobressair a
qualquer som que Colin fosse soltar. Belisquei o seu pescoço, o
mandando parar com aquilo. — Um veneno...
O corpo do idiota tremeu de leve ao ouvir a gargalhada abafada
de Amber e o beijei logo. Colando a minha boca na dele de uma
vez, do jeito que estava no roteiro. Julieta acabou ingerindo o
resquício do veneno no beijo com o Romeu e morreu outra vez.
Caí em cima do corpo de Colin, me jogando ao lado do seu
pescoço. Os outros atores começaram a chegar, para dar passagem
à próxima cena, que era com os familiares deles.
— Você não podia ficar parado por um minuto? — reclamei
baixinho, perto do seu ouvido, ainda jogada em cima dele. — Qual a
dificuldade de se fingir de morto?
— Eu não consegui — sussurrou abrindo um único olho, o seu
rosto estava coberto pelo meu corpo e não tinha como o público ver.
— É engraçado... admita.
— Não é — menti.
— Prestou atenção em uma coisa? — perguntou enquanto
ouvíamos os outros atores continuarem a peça. — Tem uma
verdade muito crua nessa cena.
— Qual é? — perguntei curiosa.
— Meus beijos são de matar.
Meu Deus, a cada dia piorava. Ri baixinho e torci para ninguém
pensar que a Julieta estava voltando à vida mais uma vez.
— Você é ridículo.
— Eu tenho uma coisa importante pra falar... — disse, o ato já
quase no final.
— Não pode esperar?
— É sobre o nosso casamento. — Pelo amor de Deus, ele
queria falar disso agora? — Se você for mesmo até o fim, eu juro
que te faço esquecer o Mário.
Franzi a testa. Mário?
— Quem é Mário? — sussurrei confusa.
— Está vendo? Já esqueceu. — Ele riu e graças aos céus a
cortina fechou bem nesse momento.
Belisquei o ombro dele e o idiota me virou, para ficar por cima
de mim.
— Eu te amo — declarou, me beijando.
Nem tive tempo de responder, pois Colin me pegou como se
estivesse com fome. Passei os braços pelo seu pescoço e ele
acariciou todo o meu rosto, metendo a língua na minha boca. Gemi,
já sentindo vontade de aproximar mais o seu corpo do meu.
— Pessoal... — Escutei alguém nos chamar e me afastei um
pouco, apenas para poder ver quem era.
Rebecca nos olhava com divertimento, ela apontou para o
elenco se reunindo no palco para receber os aplausos. Empurrei
Colin para o lado, me recompondo para juntar a dignidade que ainda
me restava.
Levantei, forçando um sorriso sem graça na direção de todo
mundo. Colin passou o braço pela minha cintura e me puxou para
frente do palco quando as cortinas se abriram de novo. Óbvio que
ele amou receber toda a aclamação, eu apenas acenei timidamente
para as pessoas.
 Assim que as cortinas se fecharam, dando fim ao espetáculo,
uma mão tocou o meu ombro. Olhei para o lado e vi o meu
professor nos encarando com orgulho.
— Sr. Stone — cumprimentei com um sorriso. — Como o
senhor está?
— Ótimo. — Ele piscou para mim e Colin deu um último beijo no
meu rosto antes de se afastar, nos dando privacidade. — Podemos
conversar um pouco?
Assenti nervosa e caminhamos para os fundos. O Sr. Stone me
levou para o canto dos bastidores e se virou para mim com um
sorriso no rosto.
— Você fez um trabalho excelente aqui. — Piscou para mim e
pegou algum documento na pasta que carregava consigo.
Me senti em paz ao saber que pude ajudá-lo. Porém, algo
pesava na minha consciência, quando o vi tirar um papel para me
entregar, abaixei a cabeça.
— Eu preciso contar uma coisa — falei, sentindo minha
garganta secar. — Menti pro senhor — soltei de uma vez.
Ergui o olhar temendo o que encontraria, contudo o meu
professor apenas me encarava confuso.
— Colin... — Apontei para o palco. — Aquele dia em que ele
falou que eu era uma “ótima atriz” foi só uma brincadeira. Era pra
me provocar. Na verdade, eu não tinha experiência. — Torci o nariz
e o seu olhar suavizou. — Quando me ofereceu a proposta não
consegui recusar, precisava do dinheiro. — Encolhi os ombros em
sinal de impotência.
— Você nunca tinha participado de um evento assim? —
questionou e confirmei. — Tenho uma pergunta pra lhe fazer e
espero que seja sincera, ok?
Assenti, engolindo em seco.
— Quem pinta aqueles quadros? — perguntou e arregalei os
olhos. — Os que você me entrega na aula.
— Eu — respondi imediatamente, receando que ele pensasse
que não eram meus.
— Então, é apenas isso que preciso saber. — Piscou para mim,
estendendo o documento. — A vaga é sua.
Fiquei parada, olhando para ele durante um minuto inteiro.
Estava na minha frente. Eu me esforcei e a recompensa veio.
Peguei o papel da mão dele e olhei para a proposta de estágio. Era
minha.
— Mais uma pergunta — ele disse, curioso.
— Respondo qualquer pergunta — me apressei a dizer e o
homem riu.
— É só uma curiosidade. — Deu de ombros. — É ele, não é?
Na última pintura.
Meu corpo relaxou. Todos os músculos do meu corpo
descansaram, porque quando lembrava daquele quadro, isso
acontecia comigo. Era uma das coisas mais lindas que eu já tinha
pintado.
— É — contei. — Ele dormindo.
Se tornou o meu sol.
— Nada inspira mais um artista do que um amor genuíno. — Sr.
Stone piscou para mim e apertou o meu ombro antes de ir embora.
É, ele tinha razão.
 

 
Li rapidamente a proposta do estágio, que começaria no
próximo semestre, antes de guardá-la na bolsa. Estava uma loucura
na saída do teatro, veio muito gente assistir. Tirei a caracterização
da peça, deixando os meus cachos livres novamente e saí pela
porta dos fundos, procurando o pessoal.
Como estava cheio acabamos nos desencontrando, não sabia
onde estava Colin. Peguei o celular e mandei mensagem no nosso
grupo.
Eu: Onde vocês estão?
Scar: No estacionamento, só esperando vocês dois.
Guardei o aparelho no bolso e tentei passar pela multidão que
se aglomerava na saída. Como era baixinha, não conseguia ver
ninguém e ainda estava distante do estacionamento. Colin deveria
estar me procurando.
Olhei por cima do ombro, tentando achar algum dos meninos
por ali, mas acabei encontrando outra pessoa.
Alguém que chamou minha atenção.
Parei no lugar, sentindo um reconhecimento estranho, uma
sensação de familiaridade. Ele era alto e forte, se destacava entre
as pessoas que abriam caminho para sua passagem, como se
temessem entrar na sua frente. Eu não era a única a observá-lo,
percebi que algumas cabeças viravam na sua direção
discretamente. Talvez atraídas pela energia, tinha aquele ar de
poder, dominância... e perigo.
Era, definitivamente, um dos homens mais bonitos que já vi.
Tinha um cabelo loiro curto, dourado, vestia uma camiseta preta
colada ao corpo e usava uma calça social da mesma cor.
Caminhava com as mãos dentro dos bolsos, porém era possível ver
o relógio de ouro brilhante.
Quando cheguei aos seus olhos, eu entendi de onde vinha
aquele reconhecimento. Foram aqueles olhos muito azuis que me
fizeram ter a certeza.
Colin tinha mesmo um irmão...
A semelhança, talvez não fosse tão nítida para quem não
conhecia aqueles olhos tão bem, no entanto eu os desenhava
constantemente. Sabia. Ele era o mesmo jogador que derrubou
Charles.
Cameron Payne. Eu sabia quem ele era, por mais que nunca o
tivesse visto pessoalmente.
Parecendo sentir que estava sendo observado, ele se virou para
mim. Nossos olhares se encontraram e ele o desceu até encontrar a
minha corrente de ouro. Franziu a sobrancelha, intrigado e passou a
caminhar na minha direção.
Olhava para mim como se me analisasse clinicamente, até que
parou na minha frente.
— Então você é a garota dele — murmurou observando o meu
queixo, talvez vendo as manchas que ficaram visíveis depois que
retirei a maquiagem.
— E você é o irmão — foi tudo o que consegui dizer, sendo
capaz de ver melhor, a semelhança entre os olhos, de perto.
Cameron arqueou a sobrancelha surpreso, parecendo não
esperar que eu o reconhecesse.
— Onde ouviu isso? — perguntou.
— Os olhos — expliquei.
Ele permaneceu em silêncio e me encarou discretamente, como
se procurasse mais ferimentos em mim.
— Ele te machucou muito? — perguntou e inclinei a cabeça de
lado, curiosa.
— Colin te contou? — questionei e ele apenas confirmou,
assentindo. — Ele não chegou a me ferir muito — falei e vi Colin se
aproximando por trás dele. Assim que nos viu, parou no lugar.
Estava surpreso, intrigado e parecia também aliviado. Ele
caminhou até mim, passou o braço pela minha cintura e beijou a
minha cabeça.
— Você sumiu — murmurou e suspirei ao sentir os seus lábios
encostarem na minha pele.
— Estava muito cheio — expliquei e ele assentiu, virando para o
loiro que nos observava em silêncio.
— É ela — Colin avisou, apertando a minha cintura e Cameron
deu um sorriso sutil enquanto olhava o colar no meu pescoço.
— Percebi.
Sorri para ele em cumprimento e senti que deveria deixá-los a
sós para conversarem. Eu fiquei na ponta dos pés para beijar a
bochecha de Colin antes de sair de lá. Queria entender mais sobre
essa história, contudo daria espaço a eles.
— Eu te espero no estacionamento — falei ao meu namorado e
virei para o loiro. — Foi um prazer te conhecer.
Estendi a minha mão para ele e Colin me apertou mais contra
si, pois sabia que aquilo era um gesto de confiança meu. Cameron
não hesitou em me cumprimentar, no entanto, assim que sentiu a
textura das minhas cicatrizes, algo passou pelos seus olhos. Era
familiaridade.
O loiro apertou minha mão e sua expressão suavizou,
esboçando um sorriso para mim.
— O prazer foi meu. — Piscou e sorri em despedida.
Se você é importante pra ele, é para mim também. O engraçado
foi que senti que ele estava querendo me dizer a mesma coisa.
Colin beijou a minha cabeça e me distanciei deles, querendo
deixá-los a sós. Me afastei, sentindo-me um pouco aliviada.
Confusa, sim, mas aliviada por saber que Colin tinha mais uma
pessoa para amá-lo. Mais uma pessoa em quem talvez tivesse
precisado se apoiar quando seu pai morreu e deixou de falar com a
sua mãe.
Passei pelas pessoas que começavam a se dispersar até
chegar no estacionamento, onde o pessoal deveria estar no
esperando. Procurei por eles e não os achei. Já ia pegar o meu
celular para mandar uma mensagem, quando vi Scar.
Ela estava encostada em uma parede em um canto, olhando
distraída para o céu e com os seus fones de ouvido. Talvez me
esperando chegar. Me aproximei dela aos poucos e percebi que os
seus dedos batiam suavemente na calça jeans, dedilhando um
instrumento imaginário.
Toquei o seu ombro com cuidado e ela se virou para mim com
um sorriso contido. Tirou um fone do ouvido e olhou por cima do
meu ombro, parecendo procurar Colin.
— Eles foram comprar alguma coisa pra comer — ela disse,
apontando para uma lanchonete do outro lado da rua. — Fiquei aqui
por medo de não me achar.
Enlacei o braço no dela, descansando a cabeça no seu ombro
macio.
— Colin está conversando com um amigo, daqui a pouco ele
chega e a gente vai — falei e ela assentiu.
Me entregou um fone, convidando-me a entrar no seu mundo
privado. E eu aceitei. Coloquei-o, suspirando ao ouvir a música. Tão
suave que chegava a acalmar meu coração, se fazia um silêncio
estratégico entre uma nota e outra. Então o piano vinha, com violino
e harpa.
A senti suspirar ao meu lado, voltando a encarar o céu,
pensativa.
— Você acredita mesmo nessas coisas? — perguntou em um
tom reprimido, como se estivesse com medo de externalizar o
pensamento ou ser ouvida.
— Em quê?
— Uma vez você me disse que se uma pessoa olha pra uma
estrela — ela sussurrou e virei para olha-la de perfil. Tão linda que
parecia uma pintura. — E outra pessoa no mundo, na mesma hora e
momento, olhar pra mesma estrela... isso as faz conectadas.
Sorri, voltando a descansar a cabeça no seu ombro.
— Eu acredito — confirmei, tentando achar a estrela que ela
estava admirando. — Acredito que isso faz os corações delas
pulsarem na mesma sintonia, nem que seja só enquanto observam
a mesma estrela.
Senti que ela respirava fundo. Pegou a minha mão e passou a
dedilhar nela, tocando o seu instrumento silencioso.
— Isso é tão bonito... — falou distraída. — Eu não sei em que
ritmo o meu coração bate.
— Talvez no mesmo ritmo de alguma pessoa perdida no mundo
— contei, sentindo os seus dedos dançarem na minha mão.
 
Colin Scott
 
— Comprei um anel pra ela — contei, caminhando ao lado de
Cameron pela parte de trás do teatro.
— Eu vi. — Ele colocou as mãos nos bolsos. — Ela parecia um
pouco machucada no queixo.
Fechei os olhos por um momento, sentia uma dor sempre que
via aquelas manchas. Iriam sair, mas ainda me causava náusea
saber que alguém a tocou.
— Estou metido em muitos problemas? — questionei, me
virando na sua direção e ele sorriu ironicamente.
— Você vai voltar pro time no próximo semestre. — Piscou para
mim. — Sem danos, só um jogo perdido.
— E ele? — perguntei, porque sabia que Cameron tinha vindo
para Providence apenas para conversar com o reitor.
— Vai ser expulso, tanto do time quanto da universidade —
declarou, me fazendo relaxar mais.
— Pensei que eles não fossem o expulsar...
— Teve um preço — ponderou, estralando o pescoço e o olhei
com desconfiança.
— Você pagou pra eles?
Cameron negou.
— Eles concordaram em manter o cara longe, só que em troca
eu tenho que me transferir para cá e cursar o último semestre aqui
— contou e parei no lugar. — Ah, e entrar pro time de vocês
também — completou.
Que merda. Não queria que aquilo o afetasse. O reitor não foi
idiota, com Cameron se formando aqui, daria um reconhecimento a
mais para a universidade e também com ele no time, era quase uma
certeza que ganharíamos o campeonato de hóquei.
— Você não precisa...
— Eu já concordei — me cortou, dando de ombros. — Já ia me
mudar de todo jeito.
Fiquei o encarando por um tempo, sem acreditar.
— Obrigado, irmão — agradeci, sabendo que aquilo era só mais
uma coisa que ele fazia por mim.
Cameron piscou e sorriu para mim antes de caminhar na minha
frente.
— Quem disse que fiz por você? — debochou e revirei os olhos,
rindo daquela mentira. — Gosto de conhecer novos lugares. Estava
pensando em uma universidade nova mesmo.
O acompanhei até chegarmos no estacionamento, indo na
direção de um carro. Provavelmente o mais caro dali. Ele parou um
momento, quando ia abrindo a porta, para olhar o céu, ficou fitando
uma estrela e a pergunta estava presa no fundo da minha garganta.
— É por ela, não é? — perguntei, no entanto Cameron não se
virou para me olhar, continuou admirando a noite.
Vi a sua mão apertar mais a porta do carro, deixando claro que
tinha me ouvido.
— Tudo isso — continuei. — Os apartamentos espalhados, as
mudanças... — Deixei a frase morrer, esperando por algum sinal seu
de que estava prestando atenção.
Ele se virou para mim e me deu um sorriso sem humor.
— Não se meta mais em problemas, Colin. — Entrou no carro e
baixou o vidro para me olhar uma última vez. — A sua garota sabe...
peça pra ela não comentar com ninguém.
Dei um passo para trás e fiquei o encarando, sem entender.
Não tinha falado para ela.
— Os olhos — esclareceu antes de sair com o carro pelo
estacionamento.
Respirei fundo, apertando a nuca. Nunca tinham nos
reconhecido pelos olhos, nem mesmo quando éramos crianças, por
mais que fôssemos bem próximos. Andei um pouco pelo local até
achá-la, estava em um canto escuro e distante com Scar.
As duas estavam tão na sombra que só consegui reconhecê-las
quando me aproximei mais. Assim que o meu amor me viu, se
afastou de Scar e veio na minha direção com uma pergunta
silenciosa no rosto.
Segurei o seu rosto entre as mãos assim que ela ficou na minha
frente e beijei a ponta do seu nariz, sentindo aquele cheiro tão bom
que me acalmava.
— Ele já foi embora? — perguntou e assenti, me afastando só o
suficiente para olha-la. Ela tocou o canto dos meus olhos, alisando a
região. — Por que ninguém sabe disso?
Beijei o seu nariz de novo e suspirei baixinho.
— Os pais de Cameron eram casados — contei do começo,
para ela entender. — E amigos dos meus pais, os quatro tinham
uma relação boa, ou era o que me contavam.
Ela escutou atenta.
— Vocês são irmãos por parte de mãe? — perguntou e neguei,
minha mãe era bem amorosa. Totalmente diferente do que a dele
foi.
— Por parte de pai — comentei, sentindo um gosto agridoce por
saber que meu pai de sangue era alguém que eu não cheguei a
conhecer bem e nem fazia a mínima questão. — O pai do Cameron
teve um caso com a minha mãe enquanto ainda era casado, e então
ela me teve.
Madison me deu um olhar triste e me abraçou bem apertado.
— Ela traiu o meu pai na época — o verdadeiro. — E ele a
perdoou.
Ela suspirou no meu peito.
— Eu entendo.
— Ela errou demais com ele. — Apertei o meu amor precioso
nos meus braços.
— Por que ninguém sabe do parentesco de vocês? —
perguntou e beijei a sua cabeça.
— Isso não é sobre mim — sussurrei. —, essa parte da história
é dele. Tudo o que precisa saber é que cresci com meu irmão,
estudamos nas mesmas escolas. Nos víamos quase sempre e ele
sempre esteve ali pra mim assim como eu sempre estive pra ele.
— Mas ninguém pode saber disso — ela concluiu.
— Foi a única coisa que ele já me pediu na vida. — Abracei o
seu corpo pequeno. — Então vamos manter esse segredo.
— Tudo bem — concordou, beijando o meu peito. — É mais
uma coisa que virou nossa.
Sorri para a garota perfeita.
— Exatamente.
— É bom você saber que Charles me falou sobre isso naquele
dia — contou e ergui a sobrancelha. — Parece que ele também
sabe.
Ok... não sabia como o filho da puta tinha ouvido sobre. Porém,
avisaria a Cameron. Nem mesmo eu entendia o porquê era preciso
esconder isso, só que era importante para ele. Então sempre cumpri
a minha parte.
— Ele foi expulso. Do time e da faculdade — contei, sentindo
aquele peso a menos. — Não vai mais chegar perto de você.
Sorriu para mim.
— Não estou preocupada com isso. — Deu de ombros. —
Depois que Scar quebrou a perna dele, era bom que Charles
tomasse cuidado.
Balancei a cabeça em negação para ela, de brincadeira e
peguei a sua mão, que estava com o anel, na minha, entrelaçando
os nossos dedos.
— Julieta — provoquei e ela estreitou os olhos para mim. —
Tarde demais a conheci, por fim. Cedo demais, sem conhecê-la,
amei-a profundamente — recitei um trecho da peça e Madison
levantou a sobrancelha em divertimento.
— Só Shakespeare pra salvar as suas cantadas.
A cada dia elas melhoravam.
 
Colin Scott
 
Entrei no vestiário com uma tranquilidade que me espantou. Ser
cortado do jogo dói, ainda mais do jogo da final do campeonato,
mas ser cortado sabendo que vou voltar no outro semestre com
tudo e por um motivo que não me arrependia... não tinha aquela
frustração.
Apenas o sentimento de torcer para que ganhássemos essa,
por mais que fosse bem difícil.
Iríamos jogar contra a Universidade da Dakota do Norte, no
espaço deles. Então nossos torcedores estavam bem escassos,
podia-se ouvir a gritaria dos adversários do lado de fora. A galera ali
levava hóquei à sério, assim como era na Brown, um jogo das finais
no território deles era um evento.
Assim que chegamos só vimos uma multidão de pessoas com
camisetas do time e bandeiras balançando no ar. Lógico que
considerava as comemorações da nossa universidade bem mais
animadas, barulho era com a gente. No entanto, eles também não
ficavam para trás.
Passei pelos armários vendo os caras indo para o rinque de
patinação. O treinador optou por deixar mais jogadores defensivos
dessa vez, os atacantes do outro time eram tão bons quantos os
nossos e precisavam de reforço. Então ficariam Drake, Taylor e
Benjamin atrás enquanto Johnny e outro jogador atacante ficariam
prontos para fazerem os gols.
Encontrei o treinador analisando uma pasta, quando me
aproximei dele vi que era a ficha com os nossos nomes, lances,
jogos, faltas e expulsões.
— Como vai ser coordenar um jogo sem mim? — provoquei,
ouvindo Oscar Green suspirar antes de baixar a pasta e se virar
para mim.
— Pelo menos um jogo que não vou infartar — resmungou, indo
para a entrada do rinque e se encostando na parede do corredor,
observando os jogadores ajeitarem o uniforme.
O acompanhei, me encostando na parede paralela a dele,
vendo Johnny falar a estratégia de jogo para Drake.
— Eu disse pra você não se meter mais em confusão —
alfinetou o treinador depois de um tempo em silêncio, mas notei que
não tinha uma real repreensão no seu tom de voz.
— Foi necessário. — Dei de ombros.
Ele suspirou, coçando a sobrancelha grossa.
— Não estou confiante que vamos ganhar hoje — ele soltou e
eu também não estava.
Seria um jogo acirrado e Johnny não me teria para lhe passar o
disco. Contudo, o que me intrigou foi que o Sr. Green não parecia
decepcionado com isso.
— Eles vão dar um jeito — incentivei e o treinador cruzou os
braços em frente ao peito, parecendo tranquilo.
— Cameron Payne vem pro nosso time no próximo semestre —
comentou erguendo a pasta que segurava.
Ah, agora eu entendi esse seu bom humor. Com Cameron no
time era quase uma certeza que ganharíamos o próximo Frozen
Four. Nossa equipe era uma das melhores da liga universitária do
país atualmente, com esse bônus poderíamos ser draftados com
honra.
— Esse jogo ainda não está perdido — ponderei e o treinador
deu de ombros.
— Não estou colocando pressão neles, se perdermos ficamos
em segundo — disse tão despreocupado que fiquei com vontade de
rir.
— O senhor anda fazendo terapia? — perguntei intrigado. —
Está tão calmo que estou assustado.
Ele apenas negou com um movimento relaxado.
— Estou calmo por causa daquela garota ruiva bem ali. — Ele
apontou para a minha ruiva, sentada toda linda e fofa nas
arquibancadas. — Você está apaixonado e isso significa que não vai
mais se envolver em orgias com atores pornôs.
Definitivamente. Eu era só dela e ela só minha.
— Agora sou um homem de responsabilidade. — Estalei a
língua em provocação e ele bufou cinicamente.
— Nem quando você estiver casado e com filhos — ele
debochou e eu ri.
— Pretendo ter tudo isso — revelei, o surpreendendo. — Com
ela.
Sr. Green se virou novamente para Madison, como se estivesse
vendo-a pela primeira vez.
— Garoto, ela te pegou de jeito, não foi?
Suspirei a observando sorrir para Amber, mostrando aquela
covinha perfeita.
— Pegou — concordei.
Os jogadores começaram a entrar no gelo e pisquei para
Johnny quando ele me olhou, desejando boa sorte. Ele se
posicionou junto com os outros, a tensão e ansiedade estavam no
ar. Assim que o juiz apitou, o pessoal da Dakota do Norte se
levantou dos assentos para aplaudir os seus jogadores.
Era bonito de se ver, amava essa energia quando jogávamos
em casa. O capitão do time deles conseguiu tomar posse do disco
primeiro e correu para o nosso gol. O cara era rápido, não no
mesmo nível que Johnny, porém era muito difícil alcançá-lo.
Tentou fazer uma jogada arriscada, arremessando o disco por
cima do nosso goleiro e por sorte, não deu certo. Só que essa sorte
talvez não durasse, eles tinham atacantes fortes e rápidos, logo
iriam furar a nossa barreira. E não tinha ninguém para passar o
disco para o nosso capitão relâmpago.
— Odeio admitir — falou Sr. Green do meu lado. — Mas você
faz falta.
— Eu faço falta pra todo mundo. — Suspirei cansado e ele
revirou os olhos.
Ri e dei um tapinha no seu ombro antes de sair novamente para
sentar ao lado do meu gnomo. Estava lotado demais e normalmente
ficava com medo de alguém machucá-la, se desse alguma briga na
torcida.
O que era engraçado de analisar. Ela sempre foi a minha
prioridade, mesmo quando ainda negava isso para mim mesmo.
 

 
3x1 para eles.
E já estava começando o último tempo do jogo. Ou seja, nosso
time tinha vinte minutos para tentar ganhar antes de acabar. A
galera da Dakota do Norte estava em êxtase, eles comemoravam
tanto que nem tinha como não ficar feliz por eles, pelo menos um
pouco.
Jogar em casa era importante, trazer a vitória para o seu
pessoal, que torcia e estava ali esperando o resultado. Já perdemos
uma vez quando jogamos na Brown e foi terrível causar o desânimo
de todo o campus.
Claro, me senti na obrigação de fazer uma festa. No entanto,
nessa ninguém foi preso. Ou se foi, não me levaram junto.
— Vamos perder, não é? — perguntou o gnomo do meu lado,
encostando a cabeça no meu peito.
Passei o braço pelos seus ombros e encostei o nariz nos seus
cachos, sentindo o cheiro doce e suave de cereja. Beijei ela,
alisando a sua pele. Era gostoso demais a sensação de tê-la nos
braços, só para mim, que eu podia fazer carinho quando quisesse,
sussurrar no seu ouvido que era a garota mais linda do mundo e
que a amava.
— Provavelmente, pequena. — Beijei a sua testa e ela se
encolheu, me abraçando mais de perto.
— Você não está triste?
— Não. — Dei de ombros, tranquilo.
Ficaríamos em segundo, era uma colocação mais que vantajosa
e ainda teriam oportunidades bem melhores para ganhar o Frozen
Four depois.
— Eu também não consigo ficar triste — ela sussurrou no meu
ouvido, com medo de ser ouvida. — Eles estão felizes que nem dá
pra ficar rancorosa.
Pior que era verdade. Olhei para o rinque e vi Johnny
mandando um aceno para Amber, ela balançou a mão alegremente
de volta e gritou bem alto que estava morrendo de orgulho dele. O
capitão se derreteu e sorriu na nossa direção antes de voltar a
atenção ao jogo.
Tinham feito uma pausa, pois um jogador do outro time se
machucou. Ele foi logo substituído e em alguns minutos, o jogo
acabaria. Os meninos pareciam satisfeitos com o resultado, Taylor
estava brilhando na parte defensiva, feliz por poder ter participado
da final.
Peguei a mão da minha pequena e entrelacei nossos dedos,
sentindo as suas cicatrizes. Ela se remexeu no assento e pegou seu
celular do bolso da calça, leu a mensagem enviada e me mostrou a
tela com um sorriso brilhante no rosto.
Era da Scar, ela tinha ficado em casa por conta do trabalho e
também porque precisava usar o fim de semana para estudar. Ela
tinha mandado uma foto no nosso grupo, dos passarinhos mais
famosos da nossa rua. Eles voando.
— Eles voaram! — Minha namorada se virou animada para o
pessoal, mostrando a foto para Amber, Sienna, Tyler, Nelly e Benny.
— Quem são esses? — perguntou Nelly, jogando as suas
tranças box braids para trás do ombro.
— Os nossos passarinhos do telhado! — Amber estalou os
dedos na cara da amiga e ela se lembrou.
— Meu Deus, eles já estão voando? — perguntou chocada.
— Precoces — elogiei.
— Isso quer dizer que nossa casa fica pronta em breve. —
Sienna suspirou aliviada e Tyler murchou no seu assento.
Eu também.
— Quem vai fazer o nosso jantar agora? — Tyler perguntou,
perplexo e Sienna balançou a cabeça em negação para ele.
— Quem vai dormir de conchinha comigo agora? — questionei
no mesmo tom para a pequena nos meus braços.
— Vamos fazer que nem o Johnny e a Amber, às vezes um
dorme no quarto do outro... eu também não sei mais dormir sem ser
de conchinha. — Ela riu, franzindo a testa ao constatar aquilo.
— GOL! — gritou Benny se levantando, o único de nós atento
ao jogo.
Olhei depressa para o gelo e sim! Gol, porra! Drake tinha
conseguido jogar de longe o disco para Johnny, que o estabilizou no
taco e arremessou com tudo na rede, nem precisando correr dessa
vez. O lance se repetiu no telão e fiquei feliz por saber que ao
menos perdemos com uma diferença pequena de apenas um ponto.
O juiz apitou encerrando o jogo e os meninos deslizaram pelo
gelo, indo cumprimentar os jogadores do outro time pela vitória.
— Próxima temporada, eles que nos esperem. — Amber piscou,
animada.
— Não quebre nenhum osso até lá — mandou Sienna,
apontando o dedo na minha cara.
Pisquei para ela.
— Pode deixar, senhora.
— Não vou mentir — disse Benny, se levantando. — Queria que
tivéssemos ganhado.
— Faz parte. — Tyler se espreguiçou.
Todos começaram a se levantar dos assentos, mas permaneci
sentado. Respirei fundo, sentindo uma ansiedade ao saber onde
passaria depois de sair dali.
Minha mãe morava na mesma cidade em que estávamos. Ela
me pediu para a encontrarmos depois do jogo, indo até a sua casa.
Topei porque meu coração pedia por isso, só estava com medo do
que encontraria quando a visse.
Se estaria magoada, machucada ou triste por eu ter me
afastado tanto tempo. Se ainda teríamos o mesmo amor de antes.
Minha noiva percebeu o meu dilema e senti a sua mãozinha
segurar a minha. Ela se inclinou na minha direção e beijou o canto
da minha boca.
— Eu estou com você.
Ela só me disse isso. E assim que olhei para os seus olhos
esmeralda, entendi que era o suficiente.
 

 
A casa bonita e em estilo rústico à minha frente tinha um ar de
aconchego. Arborizada, a porta de madeira e o cheiro que preenchia
o lado de fora deixavam claro que ali era um ambiente acolhedor.
Um lar.
Ela tinha se mudado depois da morte do meu pai e eu nunca
visitei a sua nova casa. Respirei fundo e bati à porta, sentindo uma
mão confiante segurar a minha, me dando apoio.
— Nossa moeda disse que era a hora — ela sussurrou, me
mostrando o colar e sorri para o meu amor, beijando a sua cabeça.
A porta se abriu e fechei os olhos por um momento, usando o
beijo como desculpa para não olhar para frente. Entretanto, Madison
apertou a minha mão em incentivo e meu coração acelerou.
Ergui os olhos para a pessoa parada na porta e o tempo parou.
Na minha frente estava uma mulher morena muito bonita, como
sempre foi, e seus olhos pretos marejaram assim que encontraram
com os meus. Não sei quanto tempo passou enquanto ficamos nos
encarando, talvez tenha sido apenas o tempo que precisávamos.
Em algum momento, uma lágrima deslizou por seu rosto e seu
lábio tremeu levemente. Apertei mais a mão pequena na minha e
respirei fundo, tomando coragem para dar o primeiro passo.
— Mãe...
Ela me deu um sorriso trêmulo, vindo me abraçar. Meus braços
a envolveram forte, sentindo falta dela. Quando olhei de canto para
a ruiva ao meu lado, ela tinha um sorriso suave no rosto e parecia
emocionada.
— Ah, querido — minha mãe murmurou. — Eu senti tanto a sua
falta, tanto, tanto.
Eu também. Foi quase uma vida.
— Eu deveria ter vindo antes — falei, sentindo uma falta de ar
estranha.
Ela se afastou de mim e o seu rosto estava todo molhado,
vermelho. Enxugou rapidamente as lágrimas e se voltou para
Madison, que tinha juntado as mãos em frente ao corpo, apenas nos
esperando acanhada. Minha mãe ficou olhando para as suas
bochechas coradas, e não tinha como ser diferente.
Ela se apaixonou pelo amor da minha vida também.
— Como vai? — perguntou Madison, sorrindo lindamente para
ela.
Passei um braço pela cintura da minha ruiva e a coloquei contra
o meu corpo protetoramente.
— Mãe, essa é a minha noiva — contei e ela ergueu os olhos
surpresa, mas logo passou quando olhou para Madison de novo.
Ela se derreteu ao ver aquelas covinhas e abriu um sorriso
acolhedor de volta para ela.
— Oi, meu bem. — Estendeu a mão para ela e fiquei
apreensivo. — É um prazer conhecer você.
Já ia me adiantando para impedi-la de apertar a mão da minha
mãe, contudo a pequena estendeu logo a sua, a apertando, do
mesmo jeito que tinha feito com Cameron. Minha mãe sentiu as
cicatrizes, deu para perceber. Ela franziu um pouco o cenho, no
entanto rapidamente disfarçou com um sorriso, nos convidando a
entrar.
A casa era toda de madeira, espaçosa, havia um jardim na
varanda da sala, com flores e uma mesinha branca no centro, dando
vida ao ambiente. Em cima da mesa havia vários rolos de lã, me
lembrei que ela gostava de fazer crochê.
Fazia várias coisas para mim, como gorros no natal e luvas,
isso a acalmava. Era uma imagem vívida na minha memória.
— Eu fiz alguns brownies pra vocês — ela disse atrás de mim.
Olhei por cima do ombro e vi que em cima da bancada da
cozinha tinha um banquete. Bolos, brownies, waffles, dentre outras
coisas. Isso me deu uma vontade de chorar, pois vi o leve tremor na
sua mão, ela estava nervosa, com medo que eu fosse embora e
nunca mais a visse.
— Está tudo perfeito — elogiou a pequena, sorrindo para ela.
Minha mãe olhou para ela, apaixonada. Minha garota caminhou
até a bancada e pegou um pedaço de bolo de chocolate,
surpreendendo a dona da casa quando se ergueu na ponta dos pés
para dar um beijo no seu rosto.
— Obrigada — agradeceu, corando um pouco. — Eu vou ficar
ali no jardim um pouco — avisou olhando para mim, me dizendo que
nos daria privacidade para que eu conversasse com ela.
Assenti em entendimento, a observando se distanciar para
sentar na mesa que havia no meio do jardim. Peguei minha mãe
olhando para ela com um sorriso no rosto.
— Ela parece ser um amor — disse sem tirar os olhos da minha
pequena. — Se eu tivesse uma filha ia querer que fosse que nem
ela.
Percebi que Madison escutou, dava para ouvir nossa conversa
de onde estava sentada, por mais que fosse relativamente distante.
Ela ficou um pouco tensa, talvez ansiosa e isso causou um aperto
no meu coração. Queria dividir tudo com ela, até a minha mãe. Era
uma pena não poder dividir o meu pai também, ele teria a amado.
Lembrando disso, tirei do bolso aquilo que não era meu e eu
carregava comigo. Minha mãe se virou para mim, apreensiva e
assim que lhe mostrei o que trouxe, ela chorou.
A aliança de casamento deles.
Ela cobriu a boca com as mãos e notei que ainda usava a sua.
Um alívio tomou conta de mim, não queria que ficasse presa ao
passado, mas precisava saber se ela ao menos o amou.
— Você... o amava? — perguntei, colocando a aliança em cima
da mesa.
Minha garganta ficou seca e ela confirmou com um movimento
de cabeça, sem conseguir falar. Esperei o seu tempo, queria
abraçá-la, porém sabia que precisávamos dessa conversa se
quiséssemos continuar a nossa relação.
— Eu fui idiota — disse depois de um tempo, enxugando o rosto
com a mão trêmula. — Eu o amava, só que fui idiota — repetiu e
peguei a sua outra mão na minha.
Engoli em seco e tentei dar um meio sorriso para lhe acalmar.
— Está tudo bem — incentivei, apertando a sua mão e isso só a
fez chorar ainda mais.
— Estava passando por um momento ruim no meu casamento,
conheci uma pessoa e tudo desandou — falou rapidamente,
atropelando as palavras. — Ele ficou agressivo, pediu pra eu me
separar. E eu ia consertar tudo, terminei com ele, ia contar ao seu
pai, mas...
Foi tarde demais. Pensei em silêncio. Ela apertou a minha mão,
nervosa, era possível perceber todo o seu desespero.
— Não vai embora — implorou, olhando nos meus olhos. — Eu
não consigo perder o meu filho de novo.
Senti o meu coração quebrar. A puxei para mim, abraçando-a
forte.
— Você é minha mãe. — A minha voz saiu embargada. — Eu
sempre vou te amar.
— Ah, meu bebê — choramingou, usando o nome que
costumava me chamar quando criança. — Eu senti tanto a sua falta.
— Me apertou mais e olhei por cima do seu ombro, vendo que
Madison estava na varanda com os olhos em nós, emocionada e me
dando um meio sorriso.
— Eu também — respondi, beijando a sua cabeça e ela se
afastou um pouco.
— Eu guardei tudo, Colin. Tem um quarto lá em cima com tudo
que é seu. — Ela sorriu, apontando para cima. — Guardei todos os
presentes que você me deu, guardei algumas roupas suas, seus
brinquedos, cartas que você me deu e até os seus sonhos.
Era incrível como uma mãe conseguia sempre fazer com que
um filho se sentisse especial.
— Como guardou os meus sonhos? — perguntei curioso,
achando aquilo engraçado e ela me deu um sorriso nostálgico.
— Um dia você simplesmente me disse que não se lembrava
mais deles. Os perdeu, então eu os guardei pra você — explicou,
me deixando confuso. — Ainda não consegue se lembrar?
Neguei com um movimento. Nunca lembrei, acordava e eles
desapareciam.
— Sempre foi assim — falei e ela negou suavemente.
— Toda noite parecia ser o mesmo sonho. Eu achava tão bonito
o jeito com que você os descrevia pra mim, mesmo sendo só uma
criança... É um pecado que os tenha esquecido.
Respirei fundo, sentindo uma certa curiosidade. Nunca senti
falta disso, nunca achei que importasse.
— O que eu contava? — questionei e ela suspirou, dando um
sorriso como se estivesse lembrando do momento.
— Você dizia que era como se estivesse jogado no espaço... —
comentou com um olhar amoroso.
— No espaço? — repeti em divertimento e ela assentiu, me
dando um sorriso de volta.
— Perdido entre as estrelas, “nadando” entre elas, como você
mesmo dizia. No começo achei normal um garoto sonhar com
aventuras espaciais, mas um dia você me disse uma coisa que me
intrigou.
— O quê? — perguntei, vendo-a pegar a aliança de cima da
mesa e a segurar na sua mão com cuidado.
— Você me disse que conseguia ver as estrelas por toda parte,
porém quando olhava para baixo... tudo mudava. Era tão bonito que
logo que você passou a esquecê-los, eu resolvi guarda-los, querido.
— Ela ergueu os olhos e a esperei continuar. — Você via um
conjunto de trailers velhos quando olhava para baixo — murmurou e
senti um arrepio passar pelo meu corpo. — Me disse que tinha uma
garota lá, que ela colocava a cabeça pra fora da janela e ficava te
olhando de volta.
Meu coração parou e apertei a mesa, precisando me equilibrar
em algo, balancei a cabeça em negação. No entanto, minha mãe
girou o anel na mão e continuou a falar.
— Era como se ela não soubesse que você estava vendo-a...
entretanto olhava diretamente pra você e tinham dias em que ela
conversava, teve um em que você me disse que ela trouxe um
cupcake para a janela e assoprou uma vela imaginária em cima
dele.
O ar do mundo sumiu. Meu pulso acelerou e meus olhos
marejaram. Só consegui perguntar uma coisa.
— Como ela era?
Minha mãe suspirou triste, ainda olhando a aliança, quase
fascinada por ela.
— Você nunca a descreveu pra mim. Eu gostava de pensar que
você estava se comunicando com alguém através dos sonhos e das
estrelas.
Balancei a cabeça em negação de novo e quando olhei para a
garota sentada no jardim, a encontrei olhando diretamente para
mim. Senti que o mundo tinha entrado em um silêncio confortável,
pois ela estava me observando do mesmo jeito que admirava as
estrelas à noite.
Os seus olhos derramavam lágrimas silenciosas e ela me deu
um sorriso suave, movimentando os lábios de um que eu
entendesse, como fazia para nos comunicarmos nos jogos.
“Déjà vu”
Minha garganta fechou. Lembrei exatamente do dia em que
disse isso para ela quando a vi sentada na minha janela.
— Eu vou guardar isso lá em cima — minha mãe avisou,
carregando consigo a aliança e assenti, sem desviar da garota no
jardim.
Me levantei e caminhei até ela sem desconectar os nossos
olhos. O amor da minha vida ainda chorava silenciosamente, eu me
agachei na sua frente para que ficássemos na mesma altura.
Ela pegou a minha mão na sua e só então notei que segurava
um fio de lã vermelho da minha mãe, que estava em cima da mesa.
Ela o enrolou em silêncio no meu dedo mindinho e me pareceu um
momento especial.
— Obrigada por ter comemorado os meus aniversários comigo
— sussurrou, sem tirar os olhos da lã enquanto a amarrava no meu
dedo e senti uma lágrima descer pelo meu rosto. — Obrigada por
nunca ter me deixado sozinha. — Ela puxou o fio preso em mim até
a sua própria mão. — Eu prometo que você será a única estrela no
céu que eu vou procurar à noite.
 Assim que ela ia amarrando o fio no seu próprio dedo, a parei,
peguei a lã e coloquei a sua mão sobre a minha, querendo eu
mesmo fazer aquilo.
— Eu prometo que vou sonhar com você todas as noites —
sussurrei de volta, passando a enrolar o dedo dela na lã. — E
quando acordar, você ainda será o meu único sonho.
Dei o último nó e aquilo significou tudo. Eram promessas,
juramentos, um casamento.
— Antes de te ver, eu já te amava — confessei. — Você e eu.
— Puxei o dedo para o meu peito e o fio fez com que ela se
aproximasse, encostando a testa na minha. — Somos sonhos,
somos instantes, somos suspiros, somos errados, somos nós e
somos amarrados um ao outro. Já estava feito.
Ela roçou o nariz no meu e entrelaçou os nossos dedos
mindinhos amarrados, os prendendo ainda mais.
— Já estava feito. — Fechamos os olhos juntos e respiramos o
mesmo ar.
Você nunca precisou procurar pelas estrelas, meu amor. Elas
vêm até você toda noite.
 
 

 
Colin Scott
 
Alguns anos depois
 
— Vamos falar baixinho pra não acordar a mamãe, ok? —
sussurrei, passando o braço pelas suas pernas pequenas para
erguer a outra ruiva da minha vida.
Os braços curtinhos abraçaram ansiosos o meu pescoço, e ela
me apertou forte enquanto eu caminhava pela casa.
— Mas já está de manhã — resmungou no meu ouvido.
Era verdade, já estava começando a amanhecer e daqui a
pouco a luz da minha vida iria acordar para ver o sol nascer e tomar
seu chá. Ela estava atrasada, o que era ótimo para a nossa
surpresa. Dia 22 de fevereiro merecia um evento importante.
Era o dia em que Madison Jensen nasceu, deixando o mundo
um lugar melhor. Astral afastou o rostinho do meu pescoço, para me
olhar, e passei a contar silenciosamente as suas sardas na ponta do
nariz. Amava que ela se parecesse tanto com a mãe, fazia com que
eu quisesse encher a casa de crianças ruivas. Mais um pedaço da
minha pequena para amar.
Mais sardas para contar.
Peguei o bolo em cima da mesa, que ficava no corredor do
nosso quarto, e abri a porta. Ela ainda estava dormindo, debruçada
na cama e odiei atrapalhar os seus sonhos. Às vezes me contava
deles e eu ouvia com atenção, sabendo que eram importantes.
Nunca cheguei a lembrar dos meus, ainda se perdiam no ar
logo que eu abria os olhos, porém acalmava o meu coração saber
que eu a encontrava até quando ia dormia. Todas as noites.
Coloquei Astral em cima da cama e ela sorriu animada,
engatinhando até sua mãe. Fui até a escrivaninha e completei a
nossa lista “Coisas que eu amo em você”, naquele dia eu coloquei
que era o jeito como ela enrugava a ponta do nariz antes de
acordar. Depois de ler a sua lista sobre exigências do amor da sua
vida e ver que ela me descreveu mesmo sem nem perceber, decidi
que deveríamos fazer uma nova. Todo dia eu a preenchia, era a
primeira coisa que ela lia depois de acordar.
Abri só um pouco a janela do quarto, o suficiente para deixar a
luz do sol refletir bem no seu rosto perfeito.
Madison enrugou a ponta do nariz de um jeito fofo, torcendo o
canto da boca e deixando uma covinha aparecer. Suspirei ao me
agachar na sua frente e coloquei a mão sobre a sua barriguinha,
que já estava começando a crescer.
O nosso segundo bebê estava a caminho, já estava de três
meses. Ela abriu os olhos e o verde esmeralda brilhou para mim,
fazendo meu coração errar uma batida, como sempre. A cada dia eu
te amo mais...
— Bom dia. — Ela sorriu para mim e Astral surgiu por trás dela,
dando um beijo demorado na bochecha da mãe.
— Bom dia! — desejou e Madison virou para ela, alisando o seu
rostinho.
— O que você faz acordada antes de mim, meu amor? —
perguntou à filha com carinho e Astral apontou para o bolo.
— Papai vai cantar parabéns pra você — avisou e a minha
esposa se sentou na cama, me olhando com um sorriso brilhante ao
ver o bolo.
O seu colar de ouro brilhava, descansando entre os seus seios.
Deixei o bolo em cima da nossa mesinha e me inclinei para beijar o
seu pescoço cheiroso que estava à mostra, me sentindo inebriado
pelo aroma.
— Eca — reclamou Astral e rimos enquanto eu puxava minha
mulher pela cintura, para mais perto de mim.
— Te amo — sussurrei dando beijos preguiçosos pelo seu
pescoço, me afastei dela e apertei de brincadeira o nariz da sapeca
que nos olhava com cara de nojo. — Te amo também, sua pequena
pilantra.
— Não a chame assim — defendeu Madison, a colocando no
seu colo e ela veio, pois amava ser mimada pela mãe. — Se ela é
danada, é inteiramente culpa sua.
Nossa menina era uma bolha de energia, vivia metida em
confusão e falava mais do que qualquer pessoa na casa. Por quem
será que ela puxou, não é?
— Minha? — Coloquei a mão no peito cinicamente e voltei a
pegar o bolo. — Eu não sei com quem essa pestinha aprende tanta
coisa. — Pisquei em provocação para Astral e a minha filha revirou
os olhos, me fazendo rir.
Assim que minha esposa viu o bolo se emocionou, ela sorriu
lindamente e apertou a filha nos braços. Astral tirou um cacho da
frente do rosto da mãe e beijou a sua bochecha.
Comecei a cantar parabéns baixinho junto com a nossa filha,
me aproximando delas e colocando o bolo em cima da cama.
Quando Madison descesse e fosse na nossa garagem, encontraria
um carro novo enfeitado com um laço gigante e mais tarde teria uma
festa para ela.
No entanto ali, enquanto o sol nascia, seríamos apenas nós
três. Ou quatro, contabilizei admirando o formato da barriguinha da
minha mulher.
 Logo que terminei de cantar e Astral de bater palmas, Madison
já tinha derramado algumas lágrimas. Peguei o fósforo que tinha
trazido comigo e acendi a vela. Ela se inclinou para frente e fechou
os olhos enquanto soprava a vela, apagando a chama.
— O que você pediu, mamãe? — perguntou Astral, já
começando a bocejar.
— Nada. — Madison encolheu os ombros. — Já tenho tudo, só
agradeci.
Sorri para o amor da minha vida, me sentindo em paz. Astral
rastejou da nossa cama e nos avisou que voltaria para o seu quarto,
pois estava muito cansada. Daqui a pouco ela levantava novamente
para ir brincar com as outras crianças e aterrorizar a vizinhança.
— Ontem, sua mãe pediu pra avisar que iria passar o dia com a
gente — ela disse e me inclinei para voltar a beijar o seu pescoço.
Minha mãe fazia isso pelo menos uma vez na semana, ela se
aproximou muito da minha esposa, virou quase uma filha e hoje em
dia ela não conseguia mais viver sem ela e Astral.
— Perfeito — falei assim que minha mulher me abraçou forte,
rindo ao sentir minha barba fazer cócegas nela.
Era domingo, então poderíamos passar o dia na cama. Sem
viagens para jogos de hóquei ou eventos na sua galeria. Depois da
faculdade, fui draftado na primeira rodada, assinando um contrato
milionário. A vida era um pouco agitada com os jogos, mas eu
sempre as carregava comigo quando podia. Minha esposa tinha
mais flexibilidade, por ser dona da sua própria galeria agora, e torcia
por mim em quase todos os jogos.
Desci mais alguns beijos no ombro da luz da minha vida e
encostei a testa na dela, suspirando pertinho.
— Feliz aniversário, pequena — desejei e ela roçou o nariz com
o meu.
— Eu te amo, meu maluco — sussurrou e a abracei, achando
que a nossa paz iria durar por algum tempo.
  Contudo, estava enganado, nunca durava. Escutei o grito
estridente, de uma voz que eu conhecia bem, do outro lado da rua,
avisando que o café da manhã estava pronto.
— Chega a ser impressionante que a gente consiga ouvi-la
daqui — murmurei e Madison me beliscou.
— É melhor irmos logo — aconselhou a ruiva nos meus braços.
Eu já estava faminto, então me levantei puxando-a comigo.
Pronto para começar mais um dia divinamente maluco na nossa
família.
 
Você chegou a olhar as estrelas hoje?
Eu olhei. Da minha janela, nesse exato momento, elas estão tão
lindas que me senti realmente conectada a elas. Enquanto as
observava me perguntei se você também estaria vendo a mesma
que eu. Me perguntei se isso nos faria conectadas. Me perguntei se
você acredita em magia.
É sobre as coisas simples da vida, como admirar as estrelas,
como fechar os olhos e sentir a luz do sol, como ouvir o som da
chuva ou sorrir para alguém. É sentir o seu coração suspirar
enquanto lê um livro. É, às vezes, se conectar com algum
personagem. É se questionar se amores assim existem mesmo.
É sonhar. É ser o sonho de alguém, até mesmo sem saber.
Já parou para pensar no quanto você é especial? Deveria.
“Essa pessoa que está segurando a outra metade da fita está
por aí, em algum lugar. Ela não sabe que você existe, não sabe o
seu nome, qual a cor dos seus olhos, nem os seus gostos ou
defeitos. Mas ainda sonha com você.”
Eu agradeço à Maddie, por ser minha amiga enquanto escrevia
esse livro. Agradeço a ela por existir e me ensinar um pouco sobre a
vida. Agradeço ao Colin por me fazer rir. Agradeço a ele por ser
protetor e tão descontraído. Agradeço a eles por fazerem meu
coração pulsar em um ritmo novo.
Eu os amo profundamente, vivo por eles, sonho com eles.
Fazem parte de mim, é uma extensão da minha alma. E é tão bom
poder compartilhá-los com alguém.
Se você se apaixonou também, obrigada por amá-los junto
comigo.
Essa série pode se chamar “Os Canalhas do Hóquei”, mas para
mim ela é muito mais sobre as mocinhas e como elas encontram um
amor nos seus jogadores de hóquei.
A primeira foi jogando um drink na cara dele. A segunda foi
fazendo um ritual debaixo da janela do seu vizinho.
E a terceira... bem, essa foi algo muito especial e eu espero te
ver lá. No momento em que Scarlett Miller encontra novamente com
Cameron Payne. Sobre essa história... o meu coração chama por
ela tem um bom tempo.
 
 
Esse romance exigiu a participação de pessoas que me
auxiliaram e ajudaram até com os mínimos detalhes. Pessoas que
eu vou levar para a vida e acho que nenhum agradecimento pode
expressar o quão grata eu sou pelo que elas fizeram por mim.
Primeiro eu agradeço a você que chegou até aqui, muito
obrigada por ter escolhido esse livro para ser a sua leitura. Em
segundo, aos meus pais, por sempre me apoiarem em todos os
momentos e entenderem os meus sumiços por estar escrevendo.
Segundo às minhas betas, assessoras, revisora e administradoras
dos dois grupos de leitoras (sem essas meninas eu não sei o que
faria): Tan Wenjun, Bruna Pallazo, Bruna Celestino, Aline Bianca
dos Santos, Stephany C. Gomes, Hanna Câmara, Evelyn
Fernandes, Francielle Gomes e Mayanne Rocha.
Vocês nem sabem o quanto são necessárias na minha vida.
Além de todas as leitoras dos grupos de Whatsapp, que sempre
foram compreensivas comigo, vocês são as melhores pessoas que
eu poderia pedir na minha vida. Obrigada às minhas parceiras
maravilhosas, que aceitaram divulgar esse livro e fizeram um
trabalho incrível.
Também à Camila Cocenza, Maya Passos e Angel Guedelha,
três autoras que desde o início me apoiam em cada passo.
Não posso deixar de agradecer duas amigas minhas, Maria
Carolina Melo e Amanda Rocha. No dia em que tive que falar do
adiamento desse livro, fiquei mal por não conseguir cumprir o prazo
que prometi, chorei o dia inteiro e elas me levaram para comer
chocolate. Me abraçaram e me fizeram rir, quando cheguei em casa
eu me senti muito melhor. Isso não tem preço.
Agradeço à minha amiga Alessandra Mata, que me escuta falar
sobre os meus personagens e livros, às vezes durante horas (você
é uma guerreira). Também ao meu amigo, João Antônio Barros, que
é meu maior panfletador e está sempre disposto a me matar de
vergonha.
Por fim, à minha amiga Maria Eduarda França, que me deixou
passar as minhas férias improvisadas na sua casa e me impediu de
pensar em trabalho por uns dias. Obrigada por ser esse amor de
pessoa.
Eu sou muito grata a todos vocês, de coração.
 
 
Sua avaliação é de extrema importância para mim e para os
futuros leitores. Avalie, comente e compartilhe, se possível.
Contato
Para falar comigo ou acompanhar melhor a série, podem entrar
em contato via Instagram. Vou amar interagir e conversar com
todos.
 
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Obrigada por me acompanharem até aqui!

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