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Direito Ambiental

Caderno em Poesia de Direito Ambiental

Professora: Renata Chamma


Sumário
1. Introdução e processo evolutivo do sistema normativo ambiental 1
a. Histórico 1
b. Conceito de Direito Ambiental 2
c. Processo evolutivo do Sistema Normativo Ambiental vigente 2
d. Lei da Política Nacional do Meio Ambiente ( Lei 6.938/81) 4
2. Tutela Constitucional ambiental 10
a. Principais aspectos constitucionais 10
3. Repartição de competências em matéria ambiental 20
a. Repartição de competências na Constituição Federal 20
i. República Federativa do Brasil 20
ii. Sistema dual de repartição de competências 20
iii. Competência Legislativa (Formal) 21
4. Princípios do Direito Ambiental 28
a. Premissas básicas 28
b. Estudo dos princípios 28
i. Princípio do in dubio pro natura 28
ii. Princípio da dignidade da pessoa humana na visão ambiental
(ecológica) 29
iii. Princípio da solidariedade intergeracional ou solidariedade
diacrônica 34
iv. Princípio do desenvolvimento sustentável ou equidade 35
v. Princípio da prevenção e da precaução 38
5. Política Nacional do Meio Ambiente 52
a. Noções preliminares 52
b. Conceitos 53
c. Objetivos da Política Nacional do Meio Ambiente 55
d. Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) 56
e. Instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente 60
6. Código Florestal - Lei 12.651/12 93
a. Aspectos preliminares 93
b. Espaços territoriais especialmente protegidos 95
7. Sistema Nacional de Unidade de Conservação (SNUC)- Lei 9.985/00
106
a. Noções preliminares 106
b. Modalidades de unidade de conservação 106
c. Órgão do Sistema Nacional de Unidade de Conservação 107
d. Estudo das Unidades de Conservação 108
e. Regras de posse e domínio 109
f. Requisitos para criar e suprimir uma unidade de conservação 112
g. Plano de manejo 116
h. Compensação ambiental 116
8. Responsabilidade Ambiental 119
a. Noções preliminares 119
b. Responsabilidade Civil ambiental 119
c. Responsabilidade Administrativa Ambiental 131
d. Responsabilidade penal ambiental 139
9. Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei 9433/97) 144
a. Noções preliminares 144
b. Fundamentos da Lei 9.433/97 144
c. Objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos 147
d. Instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos 148
e. Cobrança do uso de recursos hídricos 154
f. Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos 155
10. Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/10) 163
a. Noções preliminares 163
b. Conceitos essenciais 163
c. Âmbito de aplicação da Lei 164
d. Base principiológica da Lei 12.305/10 164
e. Objetivos da Política Nacional de Resíduos Sólidos 165
f. Instrumentos da Política Nacional de Resíduos Sólidos 168
g. Proibições trazidas pela Lei 171
1.Introdução e processo evolutivo do
sistema normativo ambiental
a. Histórico
i. Conferências internacionais
● Buscaram compatibilizar os interesses econômicos
e a produção do meio ambiente.
● Com a Revolução Industrial, houve um avanço no
consumo, de modo que os recursos naturais
começaram a apresentar escassez. Ainda,
começaram a surgir problemas de saúde nas
pessoas. Devido a isso, percebeu-se que seria
necessária uma tutela ambiental.
● Conferência Internacional de Estocolmo (1972)
○ Foi realizada uma avaliação em relação a
como se proceder futuramente no que diz
respeito ao crescimento econômico e a
proteção do meio ambiente.
■ 1ª corrente: havia um entendimento
que o crescimento econômico deveria
ocorrer a qualquer custo em
detrimento do meio ambiente e da
saúde
■ 2ª corrente: havia a defesa do
crescimento econômico zero, devendo
se preocupar com o meio ambiente e a
saúde humana.
■ 3ª corrente: o crescimento econômico
deveria ser sustentável, de modo a

1
atender os interesses econômicos, a
proteção do meio ambiente e a saúde
humana.
➢ A partir dessa ideia, começou a
discutir o princípio do
desenvolvimento sustentável
que foi importado para a
Constituição Federal.
b. Conceito de Direito Ambiental
● Ramo autônomo do Direito que busca estabelecer
uma regulamentação para as atividades antrópicas
junto ao meio ambiente para que ele seja
protegido para as presentes e futuras gerações. Isso
porque, na verdade, toda a sociedade é titular do
direito fundamental ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado. O Direito Ambiental
possui a característica da transversalidade, de
modo que ele se relaciona com diversos ramos do
Direito.
○ Há a finalidade de compatibilizar interesses
sociais, econômicos e ambientais.
● Assim, precisamos entender como o Direito
Ambiental progrediu, de modo que, atualmente,
há o Estado Constitucional Ecológico pautado na
Carta Magna Verde.
c. Processo evolutivo do Sistema Normativo
Ambiental vigente 1
i. 1ª fase- individualista ou fase da exploração econômica
desregrada

1
Delimitado pela Doutrina e Jurisprudência

2
● Marco Temporal: 1500 até meados de 1970.
● Conceito: fase marcada por exploração econômica
dos recursos ambientais de forma desregrada. Isso
porque, nesse período, o meio ambiente (recursos
ambientais) eram uma extensão da propriedade
privada, o que significa dizer que todo proprietário
poderia explorar os recursos ambientais, situados
em sua propriedade, sem qualquer
contraprestação do Estado no que diz respeito à
regulamentação.
○ Havia uma omissão legislativa.
● Com o decorrer dos anos e avanço da sociedade2, o
sistema normativo evoluiu, entrando na fase
fragmentária
ii. 2ª fase - fragmentária
● Conceito: os recursos ambientais eram tidos como
meros instrumentos da satisfação humana,
havendo um caráter utilitarista. Assim, essa fase
não tutelava o meio ambiente por si só, mas
determinados recursos ambientais que
representavam determinado valor agregado.
○ Assim, nesse período, foi elaborado o Código
Florestal, Código de Mineração e Decreto das
águas que eram legislações que buscavam
regulamentar recursos que representavam
um valor econômico.
● Declínio da fase fragmentária: a evolução da
sociedade demonstrou uma real potencialidade
danosa do meio ambiente, surtindo como efeito a

2
Avanço da tecnologia e interesses econômicos.

3
necessidade de passar a visualizar o meio
ambiente de uma forma única e não fragmentária.
Então, a partir desse momento, começou a fase
holística.
iii. 3ª fase (Antônio Herman Benjamin) - holística
● Marco Temporal: 1981
● Conceito: o meio ambiente passa a ser tutelado de
uma forma única e integralizada, não sendo mais
tutelado de forma fragmentária.
○ O meio ambiente passa a ser tratado como
um fim em si mesmo. Dessa forma, o meio
ambiente passa a ser tratado como um
macrobem composto por uma série de
recursos ambientais que merecem tutela de
forma integrada.
● Política Nacional do Meio Ambiental: com a Lei
que instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente
(Lei 6938/81), houve a demarcação da fase holística.
● Dentro da fase holística, com o advento da
Constituição de 19883, passou a se considerar a
existência de um Estado Constitucional
Ecológico.
d. Lei da Política Nacional do Meio Ambiente ( Lei
6.938/81)
i. Aspectos essenciais
● Essa lei é uma norma-mãe de todo o
microssistema normativo ambiental, porque,
apesar de não haver no ordenamento jurídico um

3
Foi a primeira Constituição que trouxe um regramento específico do meio ambiente enquanto um
direito fundamental.

4
Código Ambiental, há um microssistema
normativo formado de uma série de leis esparsas
que possuem como regra a tutela do meio
ambiente como objetivo maior.
ii. Conteúdo da Lei
● A Lei 6938/81 é a que traz: princípios do meio
ambiente, conceitos importantes, disposições
sobre responsabilização objetiva quando houver
dano ao meio ambiente (art 14, §1º), objetivos da
política nacional do meio ambiente (art 4º)4, traz o
SISNAMA5, rol de instrumentos que irão consolidar
a política nacional do meio ambiente (zoneamento
ambiental, licenciamento ambiental6, servidão
ambiental, seguro ambiental e concessão florestal).
● A Lei 6938/81 traz o conceito de ambiente, no seu
artigo 3º, I7.
○ Pergunta-se: esse conceito é restritivo ou um
conceito extensivo?
■ Corrente majoritária (doutrinadores:
Ingo Sarlet; Tiago Fensterseifer): o
conceito de meio ambiente adotado é
amplo. Com isso, esse conceito
abrange o meio ambiente nas mais
diversas vertentes:

4
Princípio do poluidor pagador e do usuário pagador.

5
Sistema composto por uma série de órgãos e entidades que representam uma rede irá trabalhar de
uma forma cooperada no que diz respeito à proteção do meio ambiente como direito fundamental.

6
Instrumento de controle e fiscalização.

7
Art 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:
I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e
biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas;

5
➢ Meio ambiente natural: formado
pelos elementos bióticos e
abióticos.
➢ Meio ambiente humano (gênero)
★ Meio ambiente Artificial
(espécie): segundo José
Afonso da Silva, é o
conjunto de bens fechados
e abertos que compõem a
grande maioria das
cidades. Em outras
palavras, há o espaço
público (elemento aberto)
e os espaços fechados
(edificações). O meio
ambiente artificial precisa
estar equilibrado, havendo
uma composição
harmônica entre os
espaços abertos e
fechados.

6
★ Meio ambiente Cultural8
(espécie): é proveniente do
patrimônio cultural
ambiental brasileiro que é
um conjunto de bens
materiais e imateriais que
apresentam um nexo de
identificação entre as
ações dos grupos
formadores da sociedade
brasileira (ex: formas de
expressão e modo de viver).
⇨ Há formas de tutelar
esse patrimônio,
previstas em um rol

8
Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial,
tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória
dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:
I - as formas de expressão;
II - os modos de criar, fazer e viver;
III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações
artístico-culturais;
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico,
paleontológico, ecológico e científico.
§ 1º O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio
cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de
outras formas de acautelamento e preservação.
§ 2º Cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão da documentação governamental e as
providências para franquear sua consulta a quantos dela necessitem. (Vide Lei nº 12.527, de 2011)
§ 3º A lei estabelecerá incentivos para a produção e o conhecimento de bens e valores culturais.
§ 4º Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão punidos, na forma da lei.
§ 5º Ficam tombados todos os documentos e os sítios detentores de reminiscências históricas dos
antigos quilombos.
§ 6 º É facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular a fundo estadual de fomento à cultura até
cinco décimos por cento de sua receita tributária líquida, para o financiamento de programas e
projetos culturais, vedada a aplicação desses recursos no pagamento de: (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 42, de 19.12.2003)
I - despesas com pessoal e encargos sociais; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de
19.12.2003)
II - serviço da dívida; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003)
III - qualquer outra despesa corrente não vinculada diretamente aos investimentos ou ações
apoiados. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003)

7
exemplificativo do
art 216, CF/88, como:
tombamento,
inventário, registro,
vigilância e
desapropriação.
★ Meio ambiente do Trabalho
(espécie): preocupa-se com
a saúde do trabalhador,
buscando analisar as
condições a que o
trabalhador está
submetido, vislumbrando
garantir um meio
ambiente que permita a
sadia e qualidade de vida
do trabalhador.
⇨ Exemplo: Julgado do
STF que tratou do
AMIANTO, substância
cancerígena, que
trouxe muita
discussão, pois há
uma Lei que
regulamenta a
exploração e
utilização desse
AMIANTO. O STF
entendeu que o
artigo que tratava do

8
AMIANTO era
inconstitucional, de
modo que foi
proibido a utilização
do AMIANTO, porque
colocava os
trabalhadores em
condições de risco de
saúde.
★ Meio ambiente do Biotécnico
ou Biológico (espécie): trata dos
organismos geneticamente
modificáveis. No nosso
ordenamento, há a Lei da
Biossegurança cuja base
principiológica é o princípio da
precaução, dispondo que a
manipulação dos organismos
geneticamente modificáveis
seja regulamentada e lastreada
no princípio da precaução, pois,
ainda, não há certeza dos
efeitos negativos (ao meio
ambiente e ao ser humano)
decorrentes desses organismos.
➢ Corrente minoritária: o conceito
adotado de meio ambiente é
restritivo, de tal maneira que será
abordado apenas o meio

9
ambiente natural (elementos
bióticos9 e abióticos10.

9
Elementos que possuem vida. Exemplo: fauna e flora.

10
Elementos que não possuem vida. Ex: solo.

10
2. Tutela Constitucional ambiental
a. Principais aspectos constitucionais
i. Constituição de 1988
● Inaugurou o Estado Constitucional Ecológico;
● É conhecida como Carta Magna Verde;
● A Conferência de Estocolmo foi um fator essencial
para que a Constituição de 1988 abrangesse sobre
a tutela e disposição do meio ambiente em um
determinado Título e Capítulo, sendo a primeira
Constituição brasileira a realizar tal feito.
○ Perceba que havia algumas passagens em
Constituições passadas que tratavam sobre
aspectos envolvendo o meio ambiente,
porém não havia um Título e Capítulo
próprio.
ii. Artigo 225, CF/88
● É o dispositivo que traz totalmente o que é possível
e o que é proibido no que tange ao meio ambiente.
Ainda, as condições e características do direito
fundamental ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado.
○ Porém, é válido ressaltar que há outros
dispositivos que tratam sobre o meio
ambiente na Constituição de 1988.
● Direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado: o meio ambiente ecologicamente
equilibrado passou a ser um direito fundamental,
pautado na solidariedade que perdura com o
passar do tempo, ou seja, é uma solidariedade
intergeracional.

11
○ Há uma preocupação com as futuras
gerações que é titular do direito fundamental
ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado.
○ Esse direito é de terceira geração, sendo um
direito difuso, pois a coletividade
indeterminada de indivíduos que são ligados
entre si por circunstâncias fáticas são
titulares do direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado.
■ Essa titularidade também abrange os
estrangeiros, mesmo que eles estejam
de passagem.
○ O direito fundamental ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado é bifronte, já
que, em seu cerne, apresenta aspectos
positivos (deveres prestacionais) e negativos
(direitos de subjeção).
■ Direitos negativos (subjeção):
prerrogativas que o indivíduo
apresenta para fortalecer
determinados aspectos subjetivos
contra a ação do Estado ou de outro
indivíduo.11
■ Direitos positivos (deveres
prestacionais): a coletividade possui
deveres prestacionais. Ainda, o Poder
Público deve atuar firmemente na
tutela e proteção do meio ambiente

11
Exemplo: você tem direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, de modo que
não pode o Estado ou outros indivíduos violar esse direito.

12
(por exemplo, com a elaboração de
leis).
➢ Até porque existe o princípio da
obrigatoriedade de tutela e
proteção do meio ambiente.
➢ Há um dever prestacional do
Poder Público seja quanto um
dever genérico seja quanto um
dever específico (criação de
espaços territoriais
ecologicamente protegidos e
exigir a elaboração de estudos de
impactos ao meio ambiente).
★ O Poder Público não é
titular do direito
fundamental ao meio
ambiente ecologicamente
equilibrado, de modo que
será o garantir e gestor
desse direito.
○ O direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado é imprescritível
■ Tema 999 STF: Recurso extraordinário
em que se discute, à luz dos arts. 1º, inc.
III, 5º, caput, incs. V e X, 37, § 5º, e 225, §
3º, da Constituição da República, a
imprescritibilidade da pretensão de
reparação civil de dano ambiental.
➢ Isso é possível, porque o próprio
direito é imprescritível, de tal

13
maneira que as próximas
gerações são titulares desse
direito fundamental e elas
podem se voltar contra as
gerações presentes pelos danos
que vierem a ser causados pelo
meio ambiente.
● Há três grupos de normas no artigo 225, CF/88
○ Artigo 225, caput, CF/88: é a regra geral, pois
trouxe um direito fundamental que possui
sua tutela concretizada pelo Poder Público e
coletividade e traz o princípio da
solidariedade intergeracional.
○ Artigo 225, §1º, CF/88: há um dever específico
do Poder Público no que diz a tutela do meio
ambiente.
Recomenda-se a leitura atenta ao dispositivo, a seguir:
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do
povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se
ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo
e preservá- lo para as presentes e futuras gerações.

§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe


ao Poder Público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos
essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e
ecossistemas; (Regulamento)

14
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio
genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à
pesquisa e manipulação de material genético;
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços
territoriais e seus componentes a serem especialmente
protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas
somente através de lei, vedada qualquer utilização que
comprometa a integridade dos atributos que justifiquem
sua proteção;
● Isso é um dever específico do Poder Público.
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou
atividade potencialmente causadora de significativa
degradação do meio ambiente, estudo prévio de
impacto ambiental, a que se dará publicidade;
● Isso é um dever específico do Poder Público.
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego
de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco
para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;
(Regulamento)
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis
de ensino e a conscientização pública para a preservação
do meio ambiente;
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei,
as práticas que coloquem em risco sua função ecológica,
provoquem a extinção de espécies ou submetam os
animais à crueldade.
● Isso é um dever específico do Poder Público.
VIII - manter regime fiscal favorecido para os
biocombustíveis destinados ao consumo final, na forma
de lei complementar, a fim de assegurar-lhes tributação

15
inferior à incidente sobre os combustíveis fósseis, capaz
de garantir diferencial competitivo em relação a estes,
especialmente em relação às contribuições de que
tratam a alínea "b" do inciso I e o inciso IV do caput do
art. 195 e o art. 239 e ao imposto a que se refere o inciso II
do caput do art. 155 desta Constituição. (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 123, de 2022)

§ 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado


a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com
solução técnica exigida pelo órgão público competente,
na forma da lei.
§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao
meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou
jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos
causados.
● Traz a teoria da tríplice responsabilidade.
● Essa norma (e demais parágrafos do art 225)
traz assuntos com possibilidade de
efetivação do direito fundamental
ecologicamente equilibrado, de modo que o
legislador constituinte já estabeleceu de
antemão sua previsão e, futuramente, serão
regulamentados por lei específica (ex: Lei de
Crimes Ambientais)
§ 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a
Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona
Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á,
na forma da lei, dentro de condições que assegurem a

16
preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso
dos recursos naturais.
§ 5º São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas
pelos Estados, por ações discriminatórias, necessárias à
proteção dos ecossistemas naturais.
§ 6º As usinas que operem com reator nuclear deverão ter
sua localização definida em lei federal, sem o que não
poderão ser instaladas.
§ 7º Para fins do disposto na parte final do inciso VII do §
1º deste artigo12, não se consideram cruéis as práticas
desportivas que utilizem animais, desde que sejam
manifestações culturais, conforme o § 1º do art. 215 desta
Constituição Federal, registradas como bem de natureza
imaterial integrante do patrimônio cultural brasileiro,
devendo ser regulamentadas por lei específica que
assegure o bem-estar dos animais envolvidos. (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 96, de 2017)
● Atentar-se a esse artigo, porque é novo.
● Diante desse parágrafo, pergunta-se: a Constituição
Federal possui uma visão ética antropocêntrica ou
uma visão ética biocêntrica?
○ Quando se analisa o artigo 225, caput, CF/88
há, segundo a doutrina, uma visão ética
antropocêntrica, no sentido que o meio
ambiente e seus recursos naturais
correspondem à satisfação de suas
necessidades, em uma visão utilitarista.
○ Todavia, o artigo 225, §7º, CF/88 traz uma
visão ética biocêntrica, porque existe uma

12
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua
função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais à crueldade.

17
preocupação das práticas de crueldade
contra os animais e com a degradação,
devastação e destruição total da flora. Então,
quando observa esse dispositivo, apesar da
Constituição Federal possuir uma visão
antropocêntrica, percebe-se que a
Constituição possui alguns dispositivos que
adota uma visão biocêntrica, fazendo com
que os animais passem agregar um valor
intrínseco agregado.
● Todavia, é válido observar que, com a EC 96/17, às
práticas desportivas com animais não serão
consideradas cruéis desde que tenha uma lei
regulamentando e que essa prática desportiva seja
registrada (forma de proteção da manifestação
culturais).
● A partir desse parágrafo, passou-se a discutir se a
vaquejada é uma prática desportiva que não causa
maus-tratos. Isso porque o STF, até o advento da EC
96/17 sempre possuiu o entendimento que a
vaquejada é uma prática desportiva que
representa uma manifestação cultural. Porém, ela
era considerada inconstitucional, por representar
uma prática que causava crueldade.
○ Porém, com a EC 96/17 passou a ser
permitida a vaquejada, desde que se cumpra
os requisitos. E, há uma Lei que tornou a
vaquejada como uma prática desportiva e
regulamentou como uma manifestação
cultural.

18
○ Resumo: mesmo com o advento da EC 96/17,
o STF possui o posicionamento que a
vaquejada é uma prática inconstitucional.
Isso porque, após o advento da EC, não
houve uma manifestação do STF sobre esse
tema.
■ Porém, na verdade, se tivermos o
registro da vaquejada como
manifestação cultural e se tiver uma lei
regulamentando a prática, não poderá
falar em inconstitucionalidade. Todavia,
o STF ainda não manifestou nesse
sentido.
● Utilização de animais em práticas religiosas13
○ É preciso muita cautela com o entendimento
do STF, pois quando se analisa, friamente,
independente da religião, o sacrifício do
animal, percebe-se que há uma prática cruel.
Todavia, diante de uma construção social
excludente das religiões de matriz-africana14,
o STF entendeu que não é inconstitucional a
utilização de animais em práticas religiosas
como forma de sacrifício.
● É possível utilizar os animais para pesquisas
científicas? Ou isso seria crime ambiental (art 32,
da Lei 9605/9815)?

13
Exemplo: utilizar animais como sacrifício.

14
Em função de um preconceito que existe em relação a essas religiões.

15
Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou
domesticados, nativos ou exóticos:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

19
○ Diz a Lei que, se no caso concreto, existirem
alternativas técnicas que façam com que a
utilização desses animais para pesquisas
científicas não seja mais necessária, estará
diante de um crime ambiental. Então, à luz
da Lei de Crimes Ambientais, somente não
será crime ambiental se não existirem
técnicas alternativas, de modo que, caso
tenham técnicas alternativas que dispensam
a utilização desses animais, terá crime
ambiental.
■ Técnicas alternativas: exemplo: um
determinado animal foi utilizado como
cobaia em determinada pesquisa
científica, porém essa pesquisa foi
gravada e fotografada, de modo que
não seria mais necessária a utilização
do animal.

§ 1º Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que
para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos.
§ 1º-A Quando se tratar de cão ou gato, a pena para as condutas descritas no caput deste artigo será
de reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, multa e proibição da guarda. (Incluído pela Lei nº 14.064, de
2020)
§ 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal.

20
3. Repartição de competências em
matéria ambiental
Deve-se ter muito cuidado a esse assunto, pois, quando costuma cair em provas de
concurso, exige do candidato o entendimento dos Tribunais Superiores.

a. Repartição de competências na Constituição


Federal
i. República Federativa do Brasil
● A República Federativa do Brasil é tricotômica, pois
há três grandes frentes de atuação no que diz
respeito à proteção do meio ambiente e recursos
naturais. As três grandes frentes são: (I) Federal
(II) Estadual e (III) Municipal.
○ Assim, esses entes, por meio dos seus órgão
ou entidades autárquicas, devem atuar em
conjunto de forma descentralizada, porém
dialógica para garantir a efetividade ao
direito fundamental ecologicamente
equilibrado. Com isso, precisa-se de normas
para delimitar o limite de atuação desses
entes, a fim de evitar o exercício do poder de
polícia de forma desorganizada.
ii. Sistema dual de repartição de competências
● A Constituição Federal adotou ora uma
competência legislativa (formal) e ora uma
competência administrativa (material). Assim, ela
estabeleceu as competências de cada ente e seus
limites. Ainda, a Constituição estabelece, de forma

21
expressa, quando a União, Estado e municípios
poderão exercer o poder de polícia ambiental.
iii. Competência Legislativa (Formal)
● A competência legislativa representa a
competência de todo ente federativo elaborar leis
que tratem a respeito do meio ambiente e de seus
recursos. Assim, há uma descentralização dessa
competência legislativa, porque não se concentrou
nas mãos de um único ente.
○ Isso pressupõe a criação de um condomínio
legislativo que terá normas gerais, federais,
estaduais e municipais sobre o meio
ambiente, porém que precisam estar em
harmonia para se ter uma proteção eficiente
do meio ambiente.
● O constituinte elencou, no artigo 22, CF/88, a
competência privativa da União. Além disso,
delimitou a competência dos municípios (referente
a interesses locais). Por fim, a competência dos
Estados é residual, ou seja, o que não é de
competência da União e dos municípios será de
competência dos Estados.
○ Perceba que, no artigo 22, IV, CF/88,
delimitou-se a competência privativa da
União para legislar sobre águas. Nesse ponto,
questiona-se: a água não é um recurso
natural? Então, como compatibilizar a ideia
da descentralização com essa competência
privativa da União?

22
■ Quando verifica-se a competência da
União para legislar sobre as águas não
está dizendo que compete à União
privativamente legislar sobre a
proteção dessas águas enquanto
recurso natural. O que se quer dizer
com esse artigo 22 é que as águas que
são de domínio da União, consoante o
art 20, CF/88, cabe, à União, legislar
privativamente sobre a exploração da
água. Ao fim e ao cabo, é que essa
competência privativa não diz respeito
à competência para legislar sobre a
tutela do meio ambiente e seus
recursos naturais, apenas diz respeito a
determinados assuntos que são
tangenciados ao meio ambiente
(sendo até recursos ambientais).
Porém, não tratam sobre a tutela e
proteção dos recursos ambientais.
● Constituição Federal e o regramento das águas
○ Houve a publicização do regime de águas, o
que significa que ora as águas passaram a ser
de domínio da União e ora de domínio dos
Estados16. Então, há águas que são de
domínio da União, de modo que compete
privativamente à União legislar sobre o
próprio recurso17, mas não sobre a tutela e

16
Não existem águas de domínio unicamente municipal.

17
Por exemplo, exploração econômica.

23
proteção desse recurso, porque, nesse caso,
há a descentralização.
● Características da Competência Privativa da
União
○ A União pode esgotar o assunto. Todavia, o
parágrafo único do artigo 22, permite que
tenha uma delegação dessa competências
aos Estados, desde que (I) delegação seja
feita por uma lei complementar (II)
delegação não seja sobre a totalidade do
assunto, mas pontos objetivos e específicos
elencados no artigo 22, CF/88.
● Qual a regra de produção normativa no que diz
respeito à tutela e proteção do meio ambiente e
seus recursos naturais?
○ A regra possui previsão no artigo 24, VI,
CF/8818. Perceba que esse dispositivo não
contemplou os municípios, de forma que
indaga-se: os municípios possuem
competência legislativa concorrente para
editar normas de tutela e proteção do meio
ambiente e seus recursos naturais?19
■ Resposta: Pela literalidade do
dispositivo, os municípios não possuem
competência legislativa concorrente.

18
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais,
proteção do meio ambiente e controle da poluição;

19
Essa é uma pergunta típica de prova oral.

24
Porém, o STF (Tema 145)20, realizando
uma interpretação sistemática de todo
arcabouço normativo constitucional
ambiente vigente, determinou que, de
fato, os municípios não foram
contemplados pelo artigo 24, CF/88,
porém isso não quer dizer que os
municípios não possam legislar, no
âmbito do seu interesse local, sobre a
tutela e proteção do meio ambiente e
seus recursos naturais, basta ver o
artigo 30, I e II, CF/8821. Ainda, deve-se
lembrar que essas normas municipais
devem estar em harmonia com as
normas da União e dos Estados.

● Critérios e regras de repartição de competência


(parágrafos do artigo 24, CF/88)

20
O município é competente para legislar sobre o meio ambiente com a União e o Estado, no limite
do seu interesse local e desde que tal regramento seja harmônico com a disciplina estabelecida
pelos demais entes federados (art. 24, VI, c/c 30, I e II, da Constituição Federal).
21
Art. 30. Compete aos Municípios:
I - legislar sobre assuntos de interesse local;
II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber; (Vide ADPF 672)

25
○ No âmbito da competência legislativa
concorrente, a União não pode esgotar o
assunto, pois, caso admitisse isso, haveria
uma invasão na competência dos outros
entes. Então, no âmbito da competência
legislativa concorrente, cabe, à União, legislar
normas gerais, por exemplo: Lei 9433/97
(Política Nacional de Recursos Hídricos); Lei
12305/10 (Lei da Política Nacional de Resíduos
Sólidos).
■ Essas normas gerais não afastam a
competência dos Estados e do DF, de
tal maneira que esses entes, no seu
interesse regional, irão suplementar
essas normas gerais editadas
anteriormente pela União.
➢ Cuidado! Pode ser que, em
determinado caso, a União não
tenha legislado de forma geral
sobre determinado assunto22.
Nesse caso, os Estados e Distrito
Federal podem legislar
exercendo sua competência
legislativa plena. Porém, se,
posteriormente, vier a existir uma
norma geral, as normas
estaduais ou distritais não serão
revogadas, de modo que os

22
Exemplo: Até 2009, não havia uma lei geral sobre Política nacional de mudanças climáticas, porém
havia Estados que, exercendo sua competência legislativa concorrente plena diante da omissão
legislativa da União, editaram normas sobre política nacional de mudanças climáticas.

26
dispositivos que são contrários a
posterior norma geral ficarão
com eficácia suspensa.
iv. Competência material / administrativa (art 23 e 25,
CF/88)
● Essa competência, segundo o STF, possui como
finalidade dar executividade às normas de tutela e
proteção que foram editadas em prol do meio
ambiente.
● Essa competência possui relação direta com o
poder de polícia ambiental.
○ Assim, todo e qualquer ente possui
competência para o exercício regular do
poder de polícia ambiental.
○ O poder de polícia ambiental possui como
atribuição a fiscalização das atividades
potencialmente causadoras de danos ao
meio ambiente e à saúde humana, tanto é
assim que o art 23, VI, CF/88 determina que:
"é competência comum da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
proteger o meio ambiente e combater a
poluição em qualquer de suas formas".
■ Exemplo: na cidade do Rio de Janeiro,
foi construído um edifício e houve um
descarte de resíduo sólido no córrego
local, trazendo danos ao meio
ambiente e à saúde da população.
Nesse caso, o responsável pela
edificação é passível de

27
responsabilização pelos danos
causados. Todavia, essa atividade de
construção pode ter sido fiscalizada
por qualquer ente, já que essa
atribuição é de competência material
comum.23
● Artigo 23, parágrafo único, CF/88
Parágrafo único. Leis complementares fixarão
normas para a cooperação entre a União e os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo
em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do
bem-estar em âmbito nacional. (Redação dada
pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)
● Esse parágrafo foi regulamentado pela
Lei Complementar 140/11 que instituiu
uma série de normas de cooperação
que serão observadas quando cada
uma dessas entidades federativas
estiverem desenvolvendo suas ações
administrativas. Por exemplo, uma
dessas ações é o licenciamento
ambiental, de modo que, quando a
União estiver realizando o
licenciamento ambiental, poderá
haver, junto à União, uma série de
manifestações por outros entes, por
exemplo: celebração de acordos

23
É claro que é necessário um diálogo na fiscalização. Por conta disso, que se diz no federalismo de
cooperação ambiental tricotômica, ou seja, existe a atuação de todas entidades federativas, porém
ela deve ser cooperativa e dialógica. Tanto é assim que o detentor da competência do licenciamento
ambiental pode pedir um auxílio para outro ente.

28
técnicos e auxílio administrativo
financeiro24.

24
Isso garante a efetiva tutela do meio ambiente e combate à poluição em todas suas formas.

29
4. Princípios do Direito Ambiental
a. Premissas básicas
i. Diversos doutrinadores tratam a respeito de diferentes
princípios. Nesse sentido, no Caderno25, serão
apresentados os princípios comuns a todos os
doutrinadores, independentemente da nomenclatura
utilizada pelo doutrinador.26
ii. Há princípios específicos, princípios gerais e princípios
hermenêuticos27 que fundamentam o microssistema do
Direito Ambiental.
b. Estudo dos princípios
i. Princípio do in dubio pro natura
● Conceito: no caso concreto, quando se tem dúvida
em relação à atividade causadora ou não ao meio
ambiente e à saúde humana, deve-se atuar em
prol do meio ambiente. Esse princípio foi
expressamente incluído no Acordo de Escazú.
○ Isso relaciona-se à Súmula 618 do STJ28
■ Exemplo: Ministério Público ajuíza uma
ação civil pública contra uma pessoa
jurídica de direito privado, alegando
dano ambiental. O parquet, diante da
sua incapacidade técnica de produzir
as provas, nesse caso, acaba
requerendo a inversão do ônus da

25
Conforme embasamento na aula da professora Renata.

26
Pode ser que um doutrinador use um nome diferente para um mesmo princípio, com outro nome,
tratado por outro doutrinador.

27
Exemplo: princípio do in dubio pro natura e progressividade ambiental

28
A inversão do ônus da prova aplica-se às ações de degradação ambiental.

30
prova, com base na Súmula 618 do STJ,
tendo em vista que a pessoa jurídica
possui capacidade técnica para
produzir as provas. Isso é totalmente
possível, porque há o princípio in dubio
pro natura, de modo que, na dúvida,
deve proteger o meio ambiente.
ii. Princípio da dignidade da pessoa humana na visão
ambiental (ecológica)
● Características
○ Relaciona-se com o mínimo existencial que é
o núcleo que deve ser garantido a todo e
qualquer ser humano para que ele tenha sua
dignidade respeitada. Dentro do núcleo
essencial, há aspectos ambientais relevantes,
de modo que deve garantir uma estabilidade
ambiental suficiente e necessária para que
promova a sadia qualidade de vida do ser
humano.
■ O equilíbrio ambiental faz parte do
núcleo do mínimo existencial. Exemplo:
estabilidade e segurança climática
estão dentro do núcleo duro da
dignidade da pessoa humana.

31
■ Caso do papagaio e dignidade da
pessoa humana - STJ29: uma família
tinha um papagaio que é um animal
silvestre, de modo que ele precisaria
estar registrado junto ao IBAMA.
Todavia, apesar de o papagaio estar há
mais de 18 anos com a família, ele não
possuía o registro. Assim, o STJ analisou
se o mais adequado seria retirar esse
animal e introduzi-lo no seu habitat
natural.
● O princípio da dignidade é relacionado apenas
ao ser humano ou também à criatura?

29
ADMINISTRATIVO. AMBIENTAL. RECURSO ESPECIAL. NÃO CONFIGURADA A VIOLAÇÃO DO ART.
1.022 /CPC. INEXISTÊNCIA DE OMISSÃO, OBSCURIDADE OU CONTRADIÇÃO. MULTA JUDICIAL POR
EMBARGOS PROTELATÓRIOS. INAPLICÁVEL. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 98/STJ. MULTA
ADMINISTRATIVA. REDISCUSSÃO DE MATÉRIA FÁTICA. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. INVASÃO
DO MÉRITO ADMINISTRATIVO. GUARDA PROVISÓRIA DE ANIMAL SILVESTRE. VIOLAÇÃO DA
DIMENSÃO ECOLÓGICA DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE HUMANA. 1. Na origem, trata-se de ação
ordinária ajuizada pela recorrente no intuito de anular os autos de infração emitidos pelo Ibama e
restabelecer a guarda do animal silvestre apreendido. 2. Não há falar em omissão no julgado apta a
revelar a infringência ao art. 1.022 do CPC. O Tribunal a quo fundamentou o seu posicionamento no
tocante à suposta prova de bons tratos e o suposto risco de vida do animal silvestre O fato de a
solução da lide ser contrária à defendida pela parte insurgente não configura omissão ou qualquer
outra causa passível de exame mediante a oposição de embargos de declaração. 3. Nos termos da
Súmula 98/STJ: "Embargos de declaração manifestados com notório propósito de
prequestionamento não têm caráter protelatório". O texto sumular alberga a pretensão recursal,
posto que não são protelatórios os embargos opostos com intuito de prequestionamento, logo,
incabível a multa imposta. 4. Para modificar as conclusões da Corte de origem quanto aos laudos
veterinários e demais elementos de convicção que levaram o Tribunal a quo a reconhecer a situação
de maus-tratos, seria imprescindível o reexame da matéria fático-probatória da causa, o que é defeso
em recurso especial ante o que preceitua a Súmula 7/STJ: "A pretensão de simples reexame de prova
não enseja recurso especial." Precedentes. 5. No que atine ao mérito de fato, em relação à guarda do
animal silvestre, em que pese a atuação do Ibama na adoção de providências tendentes a proteger a
fauna brasileira, o princípio da razoabilidade deve estar sempre presente nas decisões judiciais, já
que cada caso examinado demanda uma solução própria. Nessas condições, a reintegração da ave
ao seu habitat natural, conquanto possível, pode ocasionar-lhe mais prejuízos do que benefícios,
tendo em vista que o papagaio em comento, que já possui hábitos de ave de estimação, convive há
cerca de 23 anos com a autora. Ademais, a constante indefinição da destinação final do animal viola
nitidamente a dignidade da pessoa humana da recorrente, pois, apesar de permitir um convívio
provisório, impõe o fim do vínculo afetivo e a certeza de uma separação que não se sabe quando
poderá ocorrer. 6. Recurso especial parcialmente provido.
(STJ - REsp: 1797175 SP 2018/0031230-0, Relator: Ministro OG FERNANDES, Data de Julgamento:
21/03/2019, T2 - SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DJe 28/03/2019)

32
○ Princípio da dignidade da criatura30: os
animais com seres sencientes não são mais
meros objetos jurídicos, mas sujeitos de
direitos, pois possuem valores intrínsecos, de
modo que devem ter sua dignidade
respeitada.
■ REsp 1797175/SP: ADMINISTRATIVO.
AMBIENTAL. RECURSO ESPECIAL. NÃO
CONFIGURADA A VIOLAÇÃO DO ART.
1.022 /CPC. INEXISTÊNCIA DE OMISSÃO,
OBSCURIDADE OU CONTRADIÇÃO.
MULTA JUDICIAL POR EMBARGOS
PROTELATÓRIOS. INAPLICÁVEL.
INCIDÊNCIA DA SÚMULA 98/STJ.
MULTA ADMINISTRATIVA.
REDISCUSSÃO DE MATÉRIA FÁTICA.
IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ.
INVASÃO DO MÉRITO
ADMINISTRATIVO. GUARDA
PROVISÓRIA DE ANIMAL SILVESTRE.
VIOLAÇÃO DA DIMENSÃO ECOLÓGICA
DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE
HUMANA. 1. Na origem, trata-se de
ação ordinária ajuizada pela recorrente
no intuito de anular os autos de
infração emitidos pelo Ibama e
restabelecer a guarda do animal
silvestre apreendido. 2. Não há falar em
omissão no julgado apta a revelar a

30
Não é unânime a posição de que esse princípio existe, porém há algumas jurisprudências que
tratam sobre.

33
infringência ao art. 1.022 do CPC. O
Tribunal a quo fundamentou o seu
posicionamento no tocante à suposta
prova de bons tratos e o suposto risco
de vida do animal silvestre O fato de a
solução da lide ser contrária à
defendida pela parte insurgente não
configura omissão ou qualquer outra
causa passível de exame mediante a
oposição de embargos de declaração.
3. Nos termos da Súmula 98/STJ:
"Embargos de declaração
manifestados com notório propósito de
prequestionamento não têm caráter
protelatório". O texto sumular alberga a
pretensão recursal, posto que não são
protelatórios os embargos opostos com
intuito de prequestionamento, logo,
incabível a multa imposta. 4. Para
modificar as conclusões da Corte de
origem quanto aos laudos veterinários
e demais elementos de convicção que
levaram o Tribunal a quo a reconhecer
a situação de maus-tratos, seria
imprescindível o reexame da matéria
fático-probatória da causa, o que é
defeso em recurso especial ante o que
preceitua a Súmula 7/STJ: "A pretensão
de simples reexame de prova não
enseja recurso especial." Precedentes.

34
5. No que atine ao mérito de fato, em
relação à guarda do animal silvestre,
em que pese a atuação do Ibama na
adoção de providências tendentes a
proteger a fauna brasileira, o princípio
da razoabilidade deve estar sempre
presente nas decisões judiciais, já que
cada caso examinado demanda uma
solução própria. Nessas condições, a
reintegração da ave ao seu habitat
natural, conquanto possível, pode
ocasionar-lhe mais prejuízos do que
benefícios, tendo em vista que o
papagaio em comento, que já possui
hábitos de ave de estimação, convive
há cerca de 23 anos com a autora.
Ademais, a constante indefinição da
destinação final do animal viola
nitidamente a dignidade da pessoa
humana da recorrente, pois, apesar de
permitir um convívio provisório, impõe
o fim do vínculo afetivo e a certeza de
uma separação que não se sabe
quando poderá ocorrer. 6. Recurso
especial parcialmente provido. (STJ -
REsp: 1797175 SP 2018/0031230-0,
Relator: Ministro OG FERNANDES, Data
de Julgamento: 21/03/2019, T2 -
SEGUNDA TURMA, Data de Publicação:
DJe 28/03/2019)

35
iii. Princípio da solidariedade intergeracional ou
solidariedade diacrônica
● Previsto no artigo 225, caput, parte final, CF/8831 e
na Declaração da Rio 9232 (Cúpula da Terra)
● Conceito: há uma preocupação com as gerações
futuras no que diz ao acesso ao meio ambiente e os
seus recursos, pois elas também são titulares desse
direito. Assim, o Poder Público e a coletividade
deve defender e preservar o meio ambiente para
que as futuras gerações tenham o mesmo acesso
equitativo33 ao meio ambiente e seus recursos.
○ A justiça intergeracional, assim, reconhece
que todas as gerações humanas – do
passado, presente e futuro – possuem igual
posição normativa em relação ao sistema
natural, e as gerações presentes têm o dever
de proteger o ambiente para os ainda não
nascidos. Visão, aliás, de cunho holístico, mas
totalmente compatível com o texto
constitucional de 1988 que permitiu a
elevação do meio ambiente equilibrado a
direito fundamental de novíssima geração ou
de terceira dimensão.34
● Há doutrinadores que tratam o princípio da
solidariedade intergeracional como sinônimo do

31
" (...) impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as
presentes e futuras gerações".

32
O direito ao desenvolvimento deve ser exercido de tal forma que responda equitativamente às
necessidades de desenvolvimento e ambientais das gerações presentes e futuras.

33
Que deve ser analisado no aspecto quantitativo e qualitativo.

34
Disponível em: ConJur - Desenvolvimento sustentável e a solidariedade intergeracional

36
princípio da responsabilidade entre gerações, no
sentido de que a presente geração possui um
dever para com as futuras gerações. Logo, a
atuação do homem, atualmente, no meio
ambiente, não pode ser de forma irracional,
comprometendo o acesso aos recursos naturais
para as futuras gerações.
● Questão de concurso: "a Constituição adotou,
enquanto solidariedade, apenas uma única espécie
de solidariedade". Essa assertiva está errada,
porque a Constituição não faz somente referência
às futuras gerações, porque o artigo 225, caput,
parte final faz menção à presente geração e futura
geração. Logo, há a menção à solidariedade
intrageracional.
iv. Princípio do desenvolvimento sustentável ou
equidade
● Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento (ocorreu em 1983)
○ Segundo a doutrina, foi nessa comissão, que
a ideia de desenvolvimento sustentável foi
vista, pela primeira vez, como um princípio. O
Relatório Brundtland ("futuro comum")
elaborado em 1987 trouxe, pela primeira vez,
os contornos iniciais do chamado princípio
do desenvolvimento sustentável.
■ Cuidado porque, na Conferência de
Estocolmo, a ideia de desenvolvimento
sustentável eclodiu como forma
intermediária de compatibilizar duas

37
correntes filosóficas extremas
(crescimento a qualquer custo e
crescimento zero). Todavia, foi somente
a ideia.
● Conceito: esse princípio permite que a população
atual tenha acesso, utilize e tire proveito dos
recursos ambientais sem comprometer o acesso
das futuras gerações.35
○ Previsão legal: artigo 170, VI, CF/8836; Lei 12.
305/10 (Política Nacional de Resíduos Sólidos)
e Princípio 4 da Declaração da Eco 92 e da
Rio 92.
● Vertentes / balizas do princípio do
desenvolvimento sustentável37
○ Baliza econômica: busca pela lucratividade,
havendo o crescimento econômico.
○ Baliza ambiental: refere-se a necessidade de
tutelar o meio ambiente em função da
capacidade de suporte desse meio
ambiente como fonte de matéria prima
○ Baliza social: o desenvolvimento sustentável
precisa observar a distribuição igualitária de
riquezas.

35
Muitos doutrinadores dizem que o princípio do desenvolvimento sustentável é sinônimo do
princípio da solidariedade intergeracional, porém, para provas de concursos, eles não se confundem.

36
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem
por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os
seguintes princípios:
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto
ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação; (Redação dada
pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003)

37
Para se falar em princípio do desenvolvimento sustentável deve observar essas três balizas

38
■ A poluição está diretamente
relacionada ao grau de pobreza.
➢ Não se pode falar em
desenvolvimento sustentável
enquanto a pobreza for fator
impeditivo para a proteção do
meio ambiente.
★ Exemplo: se tem uma
região extremamente
pobre, significa dizer que o
acesso aos recursos
naturais é mais dificultoso,
de modo que há um
desequilíbrio.
● Conferência Rio + 20: buscou-se alcançar uma
economia verde, implementando de forma mais
efetiva o desenvolvimento sustentável, de modo
que se discutiu que, para alcançar o
desenvolvimento sustentável, a pobreza não deve
existir.
● Questões práticas do Princípio do
Desenvolvimento Sustentável
○ Obsolescência programada ou planejada:
todo bem de consumo passa pela cadeia
produtiva e chega ao consumidor final, com
um determinado tempo de vida útil. Assim,
os bens de consumo estão com um menor
tempo de vida útil. E, a partir disso,
promove-se um aumento do descarte desse
bem após o consumo desse bem, o que

39
acarreta danos ao meio ambiente e à saúde
humana.
■ Exemplo: o tempo de vida útil do
celular é muito pequeno. E, nessa
sociedade de consumo em que
vivemos, há o desequilíbrio da tríade
do desenvolvimento sustentável,
porque pressupõe uma capacidade de
suporte. Então, a utilização de recursos
naturais como fonte de matéria prima
acaba acelerando o esgotamento de
determinados recursos, dado que o
tempo de vida útil dos bens de
consumo está cada vez menor.
● Questão de concurso: uma determinada pessoa
jurídica explorava a pesca de ouriços e a exploração
econômica desses ouriços demonstrava que a
capacidade de renovação desses ouriços demoraria
pelo menos 30 anos. Assim, o órgão ambiental
concedeu a licença ambiental para exploração
desse recurso. Nesse sentido, qual princípio foi
violado nessa ocasião?
○ Resposta: o princípio do desenvolvimento
sustentável, porque ele se relaciona à
capacidade de suporte do meio ambiente.
Então, a partir do momento que
compromete a renovação de um recurso
ambiental, há o comprometimento da tríade.
■ Perceba que o princípio do
desenvolvimento sustentável possui

40
ligação direta com os recursos naturais
renováveis, devendo haver uma
racionalidade e um equilíbrio desses
recursos.
v. Princípio da prevenção e da precaução
● Quando se pensa nesses dois princípios, deve-se
pensar que ambos possuem uma atuação
antecipatória, buscando evitar a ocorrência de um
dano que pode ser conhecido ou desconhecido.
● Princípio da prevenção
○ Conceito: é o princípio segundo o qual, no
caso concreto, existem bases suficientes
concretas para que se tenha conhecimento
do resultado negativo de determinada
atividade. Nesse sentido, há um nexo de
correlação com a atividade desenvolvida e os
riscos e efeitos negativos que dela decorrem.
Isso se torna possível, porque já há uma base
informacional concreta38
○ Há um risco certo
○ Instrumento de aplicabilidade prática que
pode correlacionar esse princípio39
■ Licenciamento ambiental.
● Princípio da precaução
○ Conceito: há uma ausência de bases
informacionais40 e certeza científica em

38
Conhece cientificamente determinada atividade, já possui um conteúdo informacional suficiente
dos efeitos proveniente da atividade.

39
Questão de concurso!

40
Não conhece os procedimentos, tecnologia utilizada e as características do bem que está sendo
manipulado.

41
relação aos danos que poderão ser causados
por determinada atividade. Todavia, isso não
pode ser pretexto para postergar a adoção de
medidas efetivas antecipatórias para evitar a
degradação ambiental.
■ Em função dessa incerteza, há a
potencialidade de ocorrência de graves
danos. Por conta disso, deve atuar de
forma antecipada.
■ Nesse sentido, não há um nexo de
correlação com a atividade
desenvolvida e os riscos e efeitos
negativos que dela decorrem.
○ Instrumento de aplicabilidade prática do
princípio da precaução
■ Inversão do ônus da prova41
○ Campo de abrangência do princípio da
precaução
■ 1ª corrente: há o sentido forte do
princípio da precaução (abordagem
mais radical). Logo, quer dizer que se
deve prezar pelo risco zero.
➢ Exemplo: no caso concreto, há
uma atividade que manipula
organismo que será
geneticamente modificado e,
diante dessa manipulação, não
há total correspondência dos
efeitos negativos que decorrem

41
Tem como base hermenêutica o princípio do in dubio pro natura

42
dessa manipulação. Nesse
exemplo, segundo o sentido
forte, aplica-se o princípio da
precaução como se uma medida
cautelar fosse, inviabilizando e
suspendendo a atividade até que
novos estudos sejam
desenvolvidos, de modo a obter o
informações suficientes.
■ 2ª corrente: há o sentido fraco do
princípio da precaução (abordagem
minimalista). Nesse caso, ainda que
não exista uma base de conhecimento
acerca dos efeitos negativos dessa
atividade, deve-se prezar pelo
desenvolvimento econômico, não
suspendendo a atividade. Porém,
paralelamente, deve-se buscar mais
informações.
■ 3ª corrente: há uma concepção
intermediária de aplicação do
princípio da precaução. Para essa
corrente, deve-se, no caso concreto,
identificar o que é melhor para a saúde
humana e para o meio ambiente.

43
➢ Jurisprudência( RE 627189)42: STF
analisou sobre instalação de
energia e antenas. Nesse caso,
ficou evidenciado que não havia
nenhum estudo que essa
instalação de antenas iria causar
danos ao meio ambiente ou à
saúde. Logo, segundo o STF,
nesse caso, deveria afastar o
princípio da precaução,
prevalecendo o interesse
econômico relevante, sendo,
inclusive, uma atividade de
utilidade pública.
vi. Princípio do poluidor pagador e princípio do usuário
pagador
● Princípio do poluidor pagador
○ Histórico: esse princípio já existe deste a Lei
6938/81

42
Veja um trecho da decisão: "O assunto corresponde ao Tema nº 479 da Gestão por Temas da Repercussão Geral
do portal do STF na internet e trata, à luz dos arts. 5º, caput e inciso II, e 225, da Constituição Federal, da
possibilidade, ou não, de se impor a concessionária de serviço público de distribuição de energia elétrica, por
observância ao princípio da precaução, a obrigação de reduzir o campo eletromagnético de suas linhas de
transmissão, de acordo com padrões internacionais de segurança, em face de eventuais efeitos nocivos à saúde
da população. O princípio da precaução é um critério de gestão de risco a ser aplicado sempre que existirem
incertezas científicas sobre a possibilidade de um produto, evento ou serviço desequilibrar o meio ambiente
ou atingir a saúde dos cidadãos, o que exige que o estado analise os riscos, avalie os custos das medidas de
prevenção e, ao final, execute as ações necessárias, as quais serão decorrentes de decisões universais, não
discriminatórias, motivadas, coerentes e proporcionais. 3. Não há vedação para o controle jurisdicional das
políticas públicas sobre a aplicação do princípio da precaução, desde que a decisão judicial não se afaste da
análise formal dos limites desses parâmetros e que privilegie a opção democrática das escolhas discricionárias
feitas pelo legislador e pela Administração Pública. 4. Por ora, não existem fundamentos fáticos ou jurídicos a
obrigar as concessionárias de energia elétrica a reduzir o campo eletromagnético das linhas de transmissão de
energia elétrica abaixo do patamar legal fixado. 5. Por força da repercussão geral, é fixada a seguinte tese: no
atual estágio do conhecimento científico, que indica ser incerta a existência de efeitos nocivos da exposição
ocupacional e da população em geral a campos elétricos, magnéticos e eletromagnéticos gerados por
sistemas de energia elétrica, não existem impedimentos, por ora, a que sejam adotados os parâmetros
propostos pela Organização Mundial de Saúde, conforme estabelece a Lei nº 11.934/2009.
(STF - RE: 627189 SP, Relator: DIAS TOFFOLI, Data de Julgamento: 08/06/2016, Tribunal Pleno, Data de Publicação:
03/04/2017, grifo nosso)

44
○ Conceito: é a possibilidade de se
responsabilizar a pessoa física ou jurídica que
vier a dar causa a um dano a um meio
ambiente ou à saúde humana.
■ Para parcela da doutrina, esse princípio
é sinônimo de princípio da
responsabilidade. Porém, isso reduz o
alcance do princípio do poluidor
pagador. Isso porque o princípio do
poluidor pagador possui duas
vertentes: (I) repressiva: busca
responsabilizar a pessoa física ou
jurídica causadora de um dano ao
meio ambiente e (II) preventiva:
adota-se medidas para prevenir o dano
ambiental. Então, dizer que o princípio
do poluidor pagador é sinônimo de
princípio da responsabilidade é reduzir
o seu alcance, já que o princípio do
poluidor pagador possui a vertente
preventiva.
■ O princípio do poluidor pagador não
traduz a ideia de que paga para poder
poluir, mas sim a ideia de que irá pagar
se poluir.
➢ Assim, não é confundido com o
princípio do pagador poluidor
que não é admitido no
ordenamento jurídico. Esse
princípio do pagador poluidor

45
traduz a ideia de que pode poluir,
porque está pagando, o que
descabe, no ordenamento
jurídico brasileiro, porque não há
o direito subjetivo à poluição43.
○ Fundamento
■ Primeiramente deve-se partir da
seguinte premissa: há, de um lado,
uma pessoa física ou jurídica enquanto
agente poluidor que está tirando
proveito do meio ambiente ao retirar os
recursos naturais. E, há, de outro lado, a
coletividade, enquanto titular do
direito fundamental ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado e titular
dos recursos naturais que são
utilizados como fonte de
matéria-prima de determinada
atividade. Nesse contexto, quando há
uma exploração de uma atividade e,
em decorrência dessa, há um dano ao
meio-ambiente, haverá uma violação
ao meio-ambiente ecologicamente
equilibrado.
■ Partindo desses pressupostos, tem-se
que o princípio do poluidor pagador
busca internalizar, no custo do
processo produtivo, os valores e
externalidades negativas. Isso é feito

43
Ou seja, não tem o direito subjetivo em causar poluição e trazer prejuízos ao meio
ambiente e à saúde humana.

46
para evitar que a pessoa física ou
jurídica agente poluidora privatiza o
lucro, ao explorar economicamente
determinada atividade, acabando por
socializar com toda coletividade os
prejuízos ao meio-ambiente
(externalidades negativas). Ao fim e ao
cabo, o princípio do poluidor pagador
faz com que o custo inerente às
externalidade negativas sejam
embutidos ao custo do processo
produtivo para evitar privatizar o lucro,
por parte do agente poluidor, e
socializar o prejuízo por parte de toda
coletividade titular do direito
fundamental ao meio-ambiente
economicamente equilibrado.
○ Vertentes
■ Preventiva: adoção de medidas que
possuem a capacidade de evitar que o
dano ocorra.
■ Repressiva: responsabilização do
agente poluidor.

Imagine determinada situação:

Há uma pessoa jurídica de direito privado que explora economicamente


uma atividade, de modo que, em decorrência dessa exploração, acaba
ocorrendo um dano ao meio ambiente. E, esse dano tornou-se objeto de
ação civil pública, proposta pelo Ministério Público, que requereu, em

47
função da súmula 629 STJ, a condenação da pessoa jurídica pela obrigação
de fazer, não fazer, indenizar e danos morais ambientais coletivos. Ato
contínuo, imagine que essa pessoa jurídica foi condenada pela obrigação
de fazer, obrigação de não fazer, obrigação de indenizar e por danos morais
ambientais coletivos. Quando se trata do dano moral de uma forma geral,
ao tentar quantificar esse dano, busca-se trazer um caráter punitivo (caráter
pedagógico), de modo que irá levar em consideração, na quantificação, que
algumas medidas sejam adotadas para evitar novas ocorrências que
causem danos ao meio ambiente.

Quando se analisa esse caráter pedagógico do dano moral, há uma teoria


chamada punitive damages, ou seja, irá condenar a pessoa jurídica a um
dano moral, levando em consideração o caráter punitivo da medida que
nada mais é que o caráter pedagógico.

Assim, no âmbito da responsabilidade civil por danos causados ao meio


ambiente e em função do princípio do poluidor pagador, pode-se aplicar a
teoria do punitive damages?

Segundo a jurisprudência do STJ, não é possível, porque, quando se fala de


caráter punitivo, no seio do direito ambiental, ele fica adstrito à
responsabilidade administrativa e à responsabilidade penal ambiental que
possuem caráter subjetivo. Por outro lado, a responsabilidade civil de
natureza objetiva não pode apresentar o caráter punitivo.

○ Aplicação prática do princípio poluidor


pagador
■ Cláusula do "no meu quintal não" (not
in my backyard)44: essa cláusula traz

44
Consagrada pela Convenção de Basileia.

48
uma proibição ao descarte de
determinados resíduos, produzidos por
países com mais desenvolvimento
tecnológico e econômico, nos
territórios de países menos
desenvolvidos.
● Princípio do usuário pagador
○ Noções preliminares: primeiramente, esse
princípio não se confunde com o princípio do
poluidor pagador, tendo em vista que, no
caso do usuário pagador, há o uso dos
recursos ambientais e não a ocorrência de
uma degradação ambiental. Assim, define-se
o princípio do usuário pagador da seguinte
forma:
■ Todavia, há uma ressalva: o professor
Paulo Affonso Leme Machado
(doutrina minoritária) possui o
entendimento que o princípio do
usuário pagador e do poluidor pagador
são um mesmo princípio, tendo em
vista que o uso traz a poluição.45
○ Previsão legal: artigo 4º, VII, da Lei 6938/81 →
um dos objetivos da política nacional do
meio ambiente é realizar a racionalização do
uso dos recursos naturais, fazendo com que
haja um pagamento de uma
contraprestação pelo uso.

45
Porém, essa não é a corrente majoritária. A corrente majoritária faz a diferenciação entre princípio
do poluidor pagador e do usuário pagador.

49
○ Conceito: aquele que utiliza um
determinado recurso natural que compõe o
meio ambiente no seu sentido de seu
macrobem e que, por via de consequência, é
um direito fundamental de toda coletividade
deve pagar uma contraprestação, com
intuito de tornar mais sustentável e racional a
utilização dos recursos que apresentam
como característica a esgotabilidade.
■ Exemplo: a Lei 9433/97 (Política
Nacional de Recursos Hídricos)
delimita determinados instrumentos,
sendo um deles o pagamento pelo uso
dos recursos hídricos, de modo que
essa contraprestação serve para
potencializar uma racionalização no
uso desses recursos que são tão caros
pelo equilíbrio constitucionalmente
exigido.
○ Finalidade do princípio: busca evitar uma
hiperexploração do recurso, dotado de
escassez, a um custo zero, racionalizando a
conduta da pessoa física ou jurídica que está
utilizando um recurso ambiental que é de
titularidade difusa.
vii. Princípio do protetor recebedor
● Previsão legal: artigo 6º, II, da Lei 12.305/10 (Lei da
Política Nacional de Resíduos Sólidos)
● Conceito: toda pessoa física ou jurídica que prestar
um serviço, em prol da tutela e proteção do

50
meio-ambiente, deve receber uma contraprestação
em virtude desses serviços prestados.
○ Questiona-se: esse pagamento deve ser
pecuniário?
■ Com o advento da Lei 14.119/21, foi
estabelecida a política nacional pelo
pagamento de serviços ambientais, de
modo que, no artigo 3º46, foram
estabelecidas as modalidades de
pagamento, sendo possível vislumbrar
outras formas de pagamento (além da
pecúnia).
viii. Princípio da função socioambiental da propriedade
(gênero): a ideia desse princípio é compatibilizar os
interesses privados da propriedade com os interesses de
tutela e proteção do meio ambiente exigidos no artigo
225, caput, da CF/88. Assim, busca apontar que o direito
de propriedade não é absoluto, já que esse direito possui
uma vertente ecológica, de modo que há a necessidade
de respeitar balizas constitucionais de proteção ao meio
ambiente para exercer o direito de propriedade.
● Princípio da função socioambiental da
propriedade urbana (espécie): a função
socioambiental da propriedade urbana estará

46
Art. 3º São modalidades de pagamento por serviços ambientais, entre outras:
I - pagamento direto, monetário ou não monetário;
II - prestação de melhorias sociais a comunidades rurais e urbanas;
III - compensação vinculada a certificado de redução de emissões por desmatamento e degradação;
IV - títulos verdes (green bonds);
V - comodato;
VI - Cota de Reserva Ambiental (CRA), instituída pela Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012.
§ 1º Outras modalidades de pagamento por serviços ambientais poderão ser estabelecidas por atos
normativos do órgão gestor da PNPSA.
§ 2º As modalidades de pagamento deverão ser previamente pactuadas entre pagadores e
provedores de serviços ambientais.

51
sendo cumprida quando observadas as
determinações previstas no Plano Diretor.
○ Previsão legal: artigo 182 e seguintes da
Constituição Federal (Política Urbana).
● Princípio da função socioambiental da
propriedade rural: na exploração econômica da
propriedade rural, há a necessidade de respeitar o
meio ambiente e proteger os recursos naturais.
○ Previsão legal: artigo 186, CF/88.
ix. Princípio da participação ou democrático (participação
cidadã)
● Conceito: busca trazer a população para debater
sobre as políticas públicas ambientais e também
executar essas políticas. Isso porque a população,
nos termos do artigo 225, caput, CF/88, possui um
dever genérico de preservar o meio-ambiente para
a presente e futuras gerações, de tal maneira que a
população não deve ser um mero espectador,
sendo fundamental uma participação ativa da
população.
● Subprincípios para a concretizar o princípio da
participação
○ Princípio da informação: precisa informar a
população para que ela possa participar do
debate, de modo que essa informação deve
ser transparente,47 clara, objetiva e com uma
linguagem acessível.

47
O princípio da informação tem relação com o princípio da transparência, por conta disso se fala em
transparência reativa (nomenclatura utilizada pelo STJ)

52
○ Princípio da educação: segundo o artigo 225,
§1º, VI, CF/8848 a educação ambiental deve ser
promovida em todos os níveis de ensino.
● Lei de acesso à informação ambiental (Lei
10.650/03)
○ O princípio da participação está fortemente
ligado à lei de acesso à informação ambiental
que proporciona, à população, o acesso às
informações ambientais constantes nos
órgãos e entidades autárquicas que
compõem o Sistema Nacional do Meio
Ambiente.
● Aplicação do princípio da participação
○ Esfera legislativa: há a aplicação desse
princípio por meio da iniciativa popular.
○ Esfera judiciária: há aplicação desse princípio
quando se tem a possibilidade de
propositura de uma ação popular.
○ Esfera administrativa: há aplicação desse
princípio quando se tem a participação da
população em audiências públicas, basta ver
que há a Resolução do CONAMA49 09/87 que
estabelece a audiência pública para
apresentação do relatório de impacto sobre o
meio ambiente de um determinado

48
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do
povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a
preservação do meio ambiente;

49
O CONAMA possui poder normativo para editar atos normativos.

53
empreendimento que está sendo
licenciado.50

50
Essa participação da população é não vinculante.

54
5. Política Nacional do Meio Ambiente
a. Noções preliminares
i. Legislação: Lei nº 6.938/8151
ii. Princípios da política nacional do meio ambiente
● Princípios gerais: previstos no artigo 2º, caput, da
Lei nº 6.938/81.
● Princípios específicos
○ Princípio da Educação Ambiental (artigo 2º,
X, da Lei 6.938/81)52
■ A Constituição Federal, após o advento
da Lei, no artigo 225, §1º, VI53 trouxe a
educação ambiental como uma
incumbência do Poder Público.
➢ Em função desse comando
constitucional, ocorreu o advento
da Lei 9795/99 que dispõe sobre
educação ambiental, sendo
imprescindível a exposição do
seu artigo 1º: "entendem-se por
educação ambiental os
processos por meio dos quais o

51
Lembrar que essa lei deu início à fase holística.

52
Art 2º - A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e
recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao
desenvolvimento sócio-econômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade
da vida humana, atendidos os seguintes princípios:
X - educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade,
objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente.

53
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do
povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a
preservação do meio ambiente;

55
indivíduo e a coletividade
constroem valores sociais,
conhecimentos, habilidades,
atitudes e competências voltadas
para a conservação do meio
ambiente, bem de uso comum
do povo, essencial à sadia
qualidade de vida e sua
sustentabilidade".
b. Conceitos
i. Meio ambiente (art 3º, I)54:
ii. Degradação da qualidade ambiental (art 3º, II): é
alteração adversa das características do meio ambiente.
● Esse conceito é amplo, abrangendo desastres
naturais e danos causados por ação humana.
● O conceito de degradação da qualidade ambiental
não se confunde com poluição
iii. Poluição (art 3º, III): é a degradação da qualidade
ambiental resultante de atividades que direta ou
indiretamente: (a) prejudiquem a saúde, a segurança e o
bem-estar da população; (b) criem condições adversas às
atividades sociais e econômicas; (c) afetem
desfavoravelmente a biota; (d) afetem as condições
estéticas ou sanitárias do meio ambiente e (e) lancem
matérias ou energia em desacordo com os padrões
ambientais estabelecidos.
● Assim, poluição é uma espécie de degradação da
qualidade ambiental, em especial, decorrente das

54
Não custa lembrar que esse conceito reflete uma discussão na doutrina se é adotado um conceito
restrito de meio ambiente com fulcro no artigo 3º, I, da Lei 6938/81 ou se foi adotado um conceito
amplo de meio ambiente. Com isso, vimos que a doutrina moderna entende que o conceito de
meio-ambiente é mais amplo.

56
atividades antrópicas. É claro que o homem precisa
poluir para viver e não apenas sobreviver, porém
existem graus e potencialidades de poluição. É
claro que, quando se tem uma poluição ou
alteração da qualidade ambiental que consegue
ser absorvida pelo meio ambiente, haverá uma
poluição lícita, existindo uma licença ambiental
que permita o desenvolvimento de uma atividade
que venha a causar uma alteração na qualidade do
meio ambiente caracterizada pela poluição.
○ Todavia, é preciso ficar claro que a poluição,
em sua maioria, ganha uma característica de
ilicitude. Isso ocorre quando há uma
atividade não licenciada, de modo que há
uma poluição que interfere e viola preceitos
normativos dentro do microssistema.
■ Questiona-se: a poluição ambiental
será sempre crime ambiental?55

55
Essa pergunta surge pelo fato de que há o artigo 54 da Lei 9605/98 que trata do crime de poluição.
Porém, pela leitura do dispositivo, fica claro que não é qualquer poluição que é considerada crime.

Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em
danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa
da flora:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 1º Se o crime é culposo:
Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa.
§ 2º Se o crime:
I - tornar uma área, urbana ou rural, imprópria para a ocupação humana;
II - causar poluição atmosférica que provoque a retirada, ainda que momentânea, dos habitantes das
áreas afetadas, ou que cause danos diretos à saúde da população;
III - causar poluição hídrica que torne necessária a interrupção do abastecimento público de água de
uma comunidade;
IV - dificultar ou impedir o uso público das praias;
V - ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, ou detritos, óleos ou substâncias
oleosas, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou regulamentos:
Pena - reclusão, de um a cinco anos.
§ 3º Incorre nas mesmas penas previstas no parágrafo anterior quem deixar de adotar, quando assim
o exigir a autoridade competente, medidas de precaução em caso de risco de dano ambiental grave
ou irreversível.

57
➢ Não, aquela poluição que
alcançar níveis que possam
comprometer a saúde humana e
venham causar a mortalidade de
animais e destruição da flora,
com base no disposto no artigo
54, da Lei 9.605/98 somente será
crime ambiental de poluição.
iv. Poluidor (art 3º, IV): é toda pessoa física ou jurídica de
direito público ou privado, responsável direta ou
indiretamente, por atividade causadora de degradação
ambiental.
● Perceba que, por esse conceito, é possível concluir
que o Poder Público pode responder por danos ao
meio ambiente seja na qualidade de garantidor
(poluidor indireto) ou poluidor direto.
v. Recursos ambientais (art 3º, V): a atmosfera, as águas
interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar
territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a
fauna e a flora.
c. Objetivos da Política Nacional do Meio Ambiente
i. Observações iniciais
● Ao estudar a Lei da Política Nacional do Meio
Ambiente é necessário confrontar os objetivos
(previstos no artigo 4º) com os instrumentos
(previstos no art 9º).56 Então, uma saída para
diferenciar objetivos e instrumentos é: quando se

56
Nas provas, costumam cobrar questões em que se tenta confundir o candidato entre as hipóteses
previstas como objetivo e instrumentos.

58
tratar de objetivos, é preciso se questionar "para
que serve a lei"57
ii. Estudo dos objetivos da Política Nacional do Meio
Ambiente
● Imposição, ao poluidor e ao predador, da
OBRIGAÇÃO DE RECUPERAR e/ou INDENIZAR os
danos causados, e ao usuário, de CONTRIBUIÇÃO
PELA UTILIZAÇÃO de recursos ambientais com
fins econômicos (artigo 4º, VII, da Lei nº 6.938/81).
d. Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA)
i. Conceito: é uma rede (conglomerado) de órgãos e
entidades de âmbito federal, estadual, distrital ou
municipal que, diante de uma atuação cooperada
permanente e dialógica, irão atuar, em conjunto - dentro
da descentralização necessária para fins de tutela ao
meio ambiente-, para garantir a efetiva proteção ao
direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado que possui previsão constitucional.
● O SISNAMA atribui a competência a diversas
entidades e órgão para que, dentro de sua esfera
de atuação, eles atuem, de forma descentralizada,
cooperada e dialógica, em prol da proteção do
meio ambiente e dos recursos naturais.
ii. Previsão legal: artigo 6º, da Lei nº 6.938/81.
iii. Órgão do SISNAMA
● Conselho de Governo (órgão superior): possui a
função de assessorar o Presidente da República na
formulação da política nacional e nas diretrizes

57
Logo, quando se questiona para que serve a lei, estará diante dos objetivos. Porém, é preciso que
fique claro: essa saída proposta não é uma regra absoluta.

59
governamentais para o meio ambiente e os
recursos ambientais.
● Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA
(órgão consultivo e deliberativo)
○ Órgão consultivo: irá assessorar, estudar e
propor diretrizes de políticas governamentais
para o Conselho de Governo, o qual atua
assessorando o Presidente da República.
○ Órgão deliberativo: irá deliberar sobre
normas e padrões que precisam ser
compatíveis com o direito fundamental ao
meio ambiente ecologicamente equilibrado
e seus recursos naturais. Então, irá deliberar
as normas que, de fato, irão garantir uma
estrutura de maior proteção ao meio
ambiente. Ainda, irá indicar padrões que
precisam haver compatibilidade com a
capacidade de suporte do meio ambiente,
por exemplo: padrões que envolvem
quantitativo de emissão de gases de efeito
estufa para a atmosfera enquanto agente
poluente.
● Ministério do Meio Ambiente da Presidência da
República (órgão central): será o órgão que irá
centralizar a coordenação, controle e fiscalização
da Política Nacional do Meio Ambiente e diretrizes
governamentais em prol da proteção do meio
ambiente e o crescimento econômico58.

58
Princípio econômico do Estado de Direito.

60
● Órgão executores: possuem a finalidade de
executar e fazer executar a política e as diretrizes
governamentais fixadas para o meio ambiente, de
acordo com as respectivas competências. Os órgão
executores são os seguintes:
○ Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais (IBAMA): entidade
autárquica federal que, por excelência, é
responsável pelo licenciamento ambiental no
âmbito federal.
○ Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade (ICMBio): entidade autárquica
federal, que, por excelência, é a gestora do
sistema nacional das unidades de
conservação.
● Órgão Seccionais: os órgão ou entidades
estaduais responsáveis pela execução de
programas, projetos e pelo controle e fiscalização
de atividades capazes de provocar a degradação
ambiental.
● Órgão Locais: os órgão ou entidades municipais,
responsáveis pelo controle e fiscalização das
atividades capazes de provocar a degradação
ambiental, nas suas respectivas jurisdições.
iv. Estudo do CONAMA
● Conceito: é o órgão consultivo59 e deliberativo60
dentro do Sistema Nacional do Meio Ambiente.

59
Irá assessorar, estudar e propor diretrizes de políticas governamentais para o Conselho de
Governo, o qual atua assessorando o Presidente da República.

60
Irá deliberar sobre normas e padrões que precisam ser compatíveis com o direito fundamental ao
meio ambiente ecologicamente equilibrado e seus recursos naturais

61
● Regulamentação: foi regulamentado pelo Decreto
99274/90.
● Competências do Conselho Nacional do Meio
Ambiente (CONAMA)
○ Possui um poder normativo que permite a
elaboração de atos normativos, por exemplo:
as Resoluções do CONAMA.
■ Questiona-se: essas resoluções do
CONAMA são essencialmente de
conteúdo técnico? São atos normativos
primários61 ou secundários62?
➢ As resoluções do CONAMA são
produções técnicas que
encontram delimitações.
Antigamente, o STF na ADI
307463, possuía o entendimento
de que as resoluções editadas
pelo CONAMA eram atos
normativos secundários, de
modo que retiravam seu
fundamento de validade nas leis,
não se sujeitando ao controle de
constitucionalidade. Porém,

61
Busca na Constituição Federal o seu fundamento de validade.

62
Possui o fundamento de validade extraído da lei.
63
CONSTITUCIONAL. NATUREZA SECUNDÁRIA DE ATO NORMATIVO REGULAMENTAR. RESOLUÇÃO
DO CONAMA. INADEQUAÇÃO DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE. PRECEDENTES.
AGRAVO DESPROVIDO. 1. Não se admite a propositura de ação direta de inconstitucionalidade para
impugnar Resolução do CONAMA, ato normativo regulamentar e não autônomo, de natureza
secundária. O parâmetro de análise dessa espécie de ato é a lei regulamentada e não a Constituição.
Precedentes. 2. Agravo regimental desprovido.

(STF - ADI: 3074 DF, Relator: TEORI ZAVASCKI, Data de Julgamento: 28/05/2014, Tribunal Pleno, Data
de Publicação: 13/06/2014)

62
recentemente, na ADI 554764, o
STF alterou o entendimento de
modo a defender a tese de que
as resoluções editadas pelo
CONAMA são, na verdade, atos
normativos primários que
retiram seu fundamento de
validade no próprio texto
constitucional, sendo passíveis
de controle de
constitucionalidade.
e. Instrumentos da Política Nacional do Meio
Ambiente
i. Artigo 9º, da Lei 6.938/9165: há a previsão de
instrumento de controle, prevenção, informacionais e
econômicos.

64
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. RESOLUÇÃO CONAMA Nº 458/2013. CABIMENTO.
OFENSA DIRETA. ATO NORMATIVO PRIMÁRIO, GERAL E ABSTRATO. PROTEÇÃO DO MEIO
AMBIENTA. DIREITO FUNDAMENTAL. PRINCÍPIOS DA PROTEÇÃO E DA PRECAUÇÃO. FUNÇÃO
SOCIOAMBIENTAL DA PROPRIEDADE. PROIBIÇÃO DO RETROCESSO. PRINCÍPIOS DA PREVENÇÃO
E DA PRECAUÇÃO. INEXISTÊNCIA DE OFENSA. 1. A Resolução impugnada é ato normativo primário,
dotada de generalidade e abstração suficientes a permitir o controle concentrado de
constitucionalidade. 2. Disciplina que conduz justamente à conformação do amálgama que busca
adequar a proteção ambiental à justiça social, que, enquanto valor e fundamento da ordem
econômica ( CRFB, art. 170, caput) e da ordem social ( CRFB, art. 193), protege, ao lado da defesa do
meio ambiente, o valor social do trabalho, fundamento do Estado de Direito efetivamente
democrático (art. 1º, IV, da CRFB), e os objetivos republicanos de “construir uma sociedade livre, justa
e solidária” e “erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais”
(Art. 3º, I e III). 3. Deve-se compreender o projeto de assentamento não como empreendimento em si
potencialmente poluidor. Reserva-se às atividades a serem desenvolvidas pelos assentados a
consideração acerca do potencial risco ambiental. Caberá aos órgãos de fiscalização e ao Ministério
Público concretamente fiscalizar eventual vulneração do meio ambiente, que não estará na norma
abstrata, mas na sua aplicação, cabendo o recurso a outras vias de impugnação. Precedentes. 4. É
assim que a resolução questionada não denota retrocesso inconstitucional, nem vulnera os
princípios da prevenção e da precaução ou o princípio da proteção deficiente. 5. Ação direta julgada
improcedente.
(STF - ADI: 5547 DF 4001523-31.2016.1.00.0000, Relator: EDSON FACHIN, Data de Julgamento:
22/09/2020, Tribunal Pleno, Data de Publicação: 06/10/2020)

65
É um rol exemplificativo.

63
ii. Estudos de alguns instrumentos66
● Concessão florestal (art 9º, XIII): a Lei 6.928/91 não
regulamenta a concessão florestal, de modo que
há a necessidade de se estudar a Lei 11.284/06 que
instituiu a gestão de florestas públicas (uma das
modalidades de gestão de florestas públicas é a
concessão florestal).
○ Conceito: primeiramente, deve-se ficar claro
que toda e qualquer floresta apresenta um
valor econômico e produtos florestais que
apresentam valor agregado (ex: madeira).
Então, por conta disso, o legislador
estabeleceu formas para que a utilização dos
serviços florestais e dos produtos fossem
feitos de maneira mais sustentável, por meio
de um plano de manejo previamente
elaborado. Logo, a concessão florestal,
sendo uma modalidade de gestão de
florestas públicas, é uma delegação onerosa
feita, por parte do Poder Público concedente,
para uma pessoa jurídica consorciada ou não
para fins de exploração econômica de bens,
produtos ou serviços florestais, porque, na
verdade, na licitação na modalidade
concorrência, irá se escolher a pessoa jurídica
que melhor apresenta condições técnicas e
econômicas para, a sua conta e risco, explorar
os serviços, bens e produtos florestais.67

66
Não serão tratados todos os instrumentos, neste momento, de modo que serão tratados
alguns nos próximos capítulos. E, indica-se a leitura do dispositivo.
67
Informações complementares: na concessão florestal, as empresas concessionárias são
selecionadas por processo de concorrência pública, que avalia as propostas técnica e de preço

64
● Zoneamento ambiental (Zoneamento econômico
ecológico): primeiramente, deve-se atentar pelo
fato de que os municípios são divididos por zonas
(ex: zonas residenciais e industriais) para garantir a
melhor gestão e gerenciamento das atividades e
recursos do município.
○ Conceito: é um instrumento de organização
territorial, de modo que deve ser observado
esse zoneamento ambiental quando houver
a necessária implantação de uma atividade
ou um empreendimento de natureza pública
ou privada. Isso porque, quando se for
analisar determinada zona, irá perceber se
terá que proteger mais e de forma mais
efetiva os recursos ambientais que ali se
encontram ou se está diante de um espaço
que permite uma exploração econômica
mais sustentável, porque não há, por
exemplo, uma área ambiental sensível que
demanda um regime de proteção mais
restritivo.
○ O zoneamento econômico ecológico foi
regulamentado pelo Decreto 4297. Porém, é
válido perceber que, quando for estudado o
licenciamento ambiental, a LC 140/11 não
trata apenas da competência dos entes no
que diz respeito à competência ambiental,

recebidas. Em contrapartida ao direito de manejar a área, as concessionárias repassam


periodicamente ao governo valores definidos pelo contrato firmado. A execução dos contratos é
minuciosamente acompanhada pelo Serviço Florestal Brasileiro por meio de ferramentas de
monitoramento florestal.

65
mas também é uma lei que,
regulamentando o artigo 23, parágrafo único,
da CF/88, trouxe normas de cooperação para
que as entidades federativas observem essas
normas quando do exercício de suas ações
administrativas. Dentre as ações
administrativas, compete, à União, aos
Estados e aos Municípios, elaborar o
zoneamento ambiental na respectiva esfera
(regional/federal, estadual e municipal).
■ No artigo 9º, IX, da LC 140/1168, não há a
previsão de que os municípios devem
elaborar o zoneamento municipal. A
Lei dispõe que compete aos
municípios elaborar o plano diretor que
respeitará as limitações do
zoneamento ambiental federal e
estadual existente.
➢ Então, pergunta-se: os
municípios não podem elaborar
o zoneamento ambiental?
★ Primeiramente, deve-se
atentar pelo fato de que
tanto pelo texto da
Constituição Federal e pelo
Estatuto da Cidade que
não são todos os

68
Art. 9º São ações administrativas dos Municípios:
IX - elaborar o Plano Diretor, observando os zoneamentos ambientais;

66
municípios que devem
elaborar o plano diretor.
Logo, o município pode
elaborar o zoneamento
ambiental quando não for
obrigado a elaborar seu
plano diretor (não tiver
plano diretor). Até porque
essa previsão precisa ser
interpretada à luz do artigo
23, da CF/88, sob pena de
inconstitucionalidade,
porque a ação
administrativa de
organização territorial e
zoneamento ambiental é
de competência comum.

67
● Servidão ambiental (art 9-A, 9-B e 9-C)69: é

69
Art. 9º-A. O proprietário ou possuidor de imóvel, pessoa natural ou jurídica, pode, por instrumento
público ou particular ou por termo administrativo firmado perante órgão integrante do Sisnama,
limitar o uso de toda a sua propriedade ou de parte dela para preservar, conservar ou recuperar os
recursos ambientais existentes, instituindo servidão ambiental. (Redação dada pela Lei
nº 12.651, de 2012).
§ 1º O instrumento ou termo de instituição da servidão ambiental deve incluir, no mínimo, os
seguintes itens: (Redação dada pela Lei nº 12.651, de 2012).
I - memorial descritivo da área da servidão ambiental, contendo pelo menos um ponto de
amarração georreferenciado; (Incluído pela Lei nº 12.651, de 2012).
II - objeto da servidão ambiental; (Incluído pela Lei nº 12.651, de 2012).
III - direitos e deveres do proprietário ou possuidor instituidor; (Incluído pela Lei nº
12.651, de 2012).
IV - prazo durante o qual a área permanecerá como servidão ambiental. (Incluído pela
Lei nº 12.651, de 2012).
§ 2º A servidão ambiental não se aplica às Áreas de Preservação Permanente e à Reserva Legal
mínima exigida. (Redação dada pela Lei nº 12.651, de 2012).
§ 3º A restrição ao uso ou à exploração da vegetação da área sob servidão ambiental deve ser, no
mínimo, a mesma estabelecida para a Reserva Legal. (Redação dada pela Lei nº 12.651, de
2012).
§ 4º Devem ser objeto de averbação na matrícula do imóvel no registro de imóveis competente:
(Redação dada pela Lei nº 12.651, de 2012).
I - o instrumento ou termo de instituição da servidão ambiental; (Incluído pela Lei nº
12.651, de 2012).
II - o contrato de alienação, cessão ou transferência da servidão ambiental. (Incluído pela
Lei nº 12.651, de 2012).
§ 5º Na hipótese de compensação de Reserva Legal, a servidão ambiental deve ser averbada na
matrícula de todos os imóveis envolvidos. (Redação dada pela Lei nº 12.651, de 2012).
§ 6º É vedada, durante o prazo de vigência da servidão ambiental, a alteração da destinação da área,
nos casos de transmissão do imóvel a qualquer título, de desmembramento ou de retificação dos
limites do imóvel. (Incluído pela Lei nº 12.651, de 2012).
§ 7º As áreas que tenham sido instituídas na forma de servidão florestal, nos termos do art. 44-A da
Lei no 4.771, de 15 de setembro de 1965, passam a ser consideradas, pelo efeito desta Lei, como de
servidão ambiental. (Incluído pela Lei nº 12.651, de 2012).
Art. 9º-B. A servidão ambiental poderá ser onerosa ou gratuita, temporária ou perpétua.
(Incluído pela Lei nº 12.651, de 2012).
§ 1º O prazo mínimo da servidão ambiental temporária é de 15 (quinze) anos. (Incluído
pela Lei nº 12.651, de 2012).
§ 2º A servidão ambiental perpétua equivale, para fins creditícios, tributários e de acesso aos
recursos de fundos públicos, à Reserva Particular do Patrimônio Natural - RPPN, definida no art. 21
da Lei no 9.985, de 18 de julho de 2000. (Incluído pela Lei nº 12.651, de 2012).
§ 3º O detentor da servidão ambiental poderá aliená-la, cedê-la ou transferi-la, total ou parcialmente,
por prazo determinado ou em caráter definitivo, em favor de outro proprietário ou de entidade
pública ou privada que tenha a conservação ambiental como fim social. (Incluído pela Lei
nº 12.651, de 2012).
Art. 9º-C. O contrato de alienação, cessão ou transferência da servidão ambiental deve ser averbado
na matrícula do imóvel. (Incluído pela Lei nº 12.651, de 2012).
§ 1º O contrato referido no caput deve conter, no mínimo, os seguintes itens: (Incluído
pela Lei nº 12.651, de 2012).
I - a delimitação da área submetida a preservação, conservação ou recuperação ambiental;
(Incluído pela Lei nº 12.651, de 2012).
II - o objeto da servidão ambiental; (Incluído pela Lei nº 12.651, de 2012).
III - os direitos e deveres do proprietário instituidor e dos futuros adquirentes ou sucessores;
(Incluído pela Lei nº 12.651, de 2012).
IV - os direitos e deveres do detentor da servidão ambiental; (Incluído pela Lei nº 12.651,
de 2012).
V - os benefícios de ordem econômica do instituidor e do detentor da servidão ambiental;
(Incluído pela Lei nº 12.651, de 2012).

68
instituída e regulamentada pela própria Lei
6.938/81.
○ Conceito: representa uma verdadeira
renúncia, porque o proprietário e possuidor
de imóvel rural acaba abrindo mão de
explorar economicamente os recursos
ambientais que se encontram na sua
propriedade (posse rural) em prol da
proteção do meio ambiente. Para entender
isso, precisamos adentrar no contexto de
reserva legal que são espécies do gênero
espaços territoriais especialmente protegidos
e são instituídas em decorrência da previsão
legal de um percentual mínimo, ou seja, o
imóvel rural precisa garantir uma cobertura
de vegetação nativa enquanto área de
reserva legal e, quando, por exemplo, há um
percentual menor do que o previsto pela lei,

VI - a previsão legal para garantir o seu cumprimento, inclusive medidas judiciais necessárias, em
caso de ser descumprido. (Incluído pela Lei nº 12.651, de 2012).

§ 2º São deveres do proprietário do imóvel serviente, entre outras obrigações estipuladas no


contrato: (Incluído pela Lei nº 12.651, de 2012).
I - manter a área sob servidão ambiental; (Incluído pela Lei nº 12.651, de 2012).
II - prestar contas ao detentor da servidão ambiental sobre as condições dos recursos naturais ou
artificiais; (Incluído pela Lei nº 12.651, de 2012).
III - permitir a inspeção e a fiscalização da área pelo detentor da servidão ambiental;
(Incluído pela Lei nº 12.651, de 2012).
IV - defender a posse da área serviente, por todos os meios em direito admitidos.
(Incluído pela Lei nº 12.651, de 2012).
§ 3º São deveres do detentor da servidão ambiental, entre outras obrigações estipuladas no
contrato: (Incluído pela Lei nº 12.651, de 2012).
I - documentar as características ambientais da propriedade;
II - monitorar periodicamente a propriedade para verificar se a servidão ambiental está sendo
mantida;
III - prestar informações necessárias a quaisquer interessados na aquisição ou aos sucessores da
propriedade;
IV - manter relatórios e arquivos atualizados com as atividades da área objeto da servidão;
(Incluído pela Lei nº 12.651, de 2012).
V - defender judicialmente a servidão ambiental. (Incluído pela Lei nº 12.651, de 2012).

69
pode solicitar a um vizinho de imóvel rural
que está abrindo mão da exploração
econômica de parcela da sua propriedade e
recursos para que se possa, portanto, ter um
percentual mínimo, exigido pela lei,
garantido.
■ Assim, a servidão ambiental é abrir
mão de parcela da propriedade rural
em prol da proteção do meio
ambiente.
■ A servidão ambiental é instituída por
contrato, termo administrativo ou
escritura pública.
■ A servidão ambiental precisa respeitar
a área mínima de reserva legal que
tem previsão no Código Florestal.
➢ Por exemplo: Renata tem uma
propriedade rural que é
localizada no interior do Rio de
Janeiro. E, diante da previsão do
Código Florestal, a área de
reserva legal deve ser de 20% do
imóvel. Porém, Renata nunca
suprimiu vegetação nativa, ainda
que sustentável, então há 100%
da propriedade garantida.
Imagine que Renata possui um
vizinho, João, que também
precisa ter 20% de reserva legal
do imóvel. Todavia, João não

70
manteve 20% da propriedade e
explorou a totalidade da
propriedade. Nesse caso, João
conversa com Renata pedindo
ajuda para que ele consiga
monetizar protegendo o meio
ambiente, já que ele não tem
cobertura de proteção nativa
conforme determina o Código
Florestal. Assim, Renata,
querendo monetizar, celebra
com João um contrato de
servidão ambiental, renunciando
20% de sua propriedade que
serão garantidos para João que
possui um passivo de 20%.
■ A servidão ambiental pode ser gratuita,
onerosa, por tempo determinado e
indeterminado. Todavia, o tempo
mínimo de servidão ambiental é de 15
anos.
■ Há a necessidade de registrar a
servidão ambiental, junto à matrícula
do imóvel rural. Atualmente, com o
advento do Cadastro Ambiental Rural
(CAR), uma vez a propriedade rural
inscrita nesse cadastro, basta averbar a
servidão rural no CAR.
■ Cuidado! Não há servidão ambiental
dentro de área de reserva legal e área

71
de preservação permanente, tanto é
assim que o limite para instituir uma
servidão ambiental é o percentual
mínimo estabelecido pelo artigo 12, do
Código Florestal.
➢ Exemplo: se a propriedade de
Renata está em uma área da
Floresta da Amazônia legal, há a
necessidade de respeitar 80% da
propriedade como área de
reserva legal, ou seja, pode
explorar economicamente sem
ser de forma sustentável
somente em 20% da área. E, nos
outros 80% da área, precisa-se
garantir uma exploração
econômica sustentável.
● Licenciamento
○ Conceito: é um procedimento administrativo
que faz com que determinada atividade que
vai utilizar determinados recursos naturais e
apresente a potencialidade de causar danos
ao meio ambiente se torne um
procedimento regular, compatibilizando os
interesses econômicos e considerando a
necessidade de preservar o meio ambiente
(respeitando a capacidade de suporte do
meio ambiente). Assim, é o órgão ambiental
competente que irá verificar se o projeto está

72
de acordo com as necessidade legais e
aprovar a operabilidade do empreendimento.
■ Artigo 2º, I, LC 140/1170 e artigo 1º, I,
Resolução CONAMA 237.
○ De quem é a competência para
regulamentar o licenciamento ambiental?
■ O licenciamento ambiental é uma
espécie de ação administrativa de cada
uma das entidades federativas. Nesse
contexto, todas as entidades
federativas, por intermédio de seus
órgãos ou autarquias, poderão
licenciar. Ainda, o licenciamento
ambiental não se confunde com a
fiscalização ambiental que, decorre da
competência material comum, possui
ligação direta com o exercício regular
do poder de polícia, de modo que pode
ocorrer a qualquer momento e por
qualquer ente em relação ao mesmo
caso. Por outro lado, o licenciamento
ambiental, apesar de poder ser
realizado por toda entidade federativa,
no caso concreto, será realizado apenas

70
Art. 2º Para os fins desta Lei Complementar, consideram-se:
I - licenciamento ambiental: o procedimento administrativo destinado a licenciar
atividades ou empreendimentos utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou
potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradação
ambiental;

73
por uma entidade federativa (artigo 13,
caput, LC 140/11)71.
■ Compete, ao CONAMA, regulamentar o
licenciamento ambiental, o que foi
feito pela Resolução CONAMA 237/97
que regulamenta o licenciamento
ambiental ordinário trifásico.
➢ Consequência: A LC 140 não
revogou a resolução CONAMA
dispõe sobre o procedimento em
si, o que não está previsto na LC
140/11.
○ Quais atividades se sujeitam ao
licenciamento ambiental?
■ O Anexo I da Resolução CONAMA
237/97 traz um rol exemplificativo das
atividades potencialmente causadoras
de dano ambiental.
○ Fases do licenciamento ambiental
■ 1ª: Licença prévia (art 8º, I c/c art 18, I,
Resolução CONAMA 237): essa licença
busca aprovar o projeto da atividade e
empreendimento que está se
sujeitando ao licenciamento ambiental.
Precede a essa fase a elaboração dos
estudos de impacto ambiental. Nesta
licença, serão estabelecidas as

71
Art. 13. Os empreendimentos e atividades são licenciados ou autorizados, ambientalmente, por
um único ente federativo, em conformidade com as atribuições estabelecidas nos termos desta Lei
Complementar.

74
condicionantes ou contrapartidas que
decorrem da previsão constante nos
estudos de impacto ambiental. Essa
licença prévia possui um prazo não
superior a 5 anos nos termos do artigo
18, I, Resolução CONAMA 237. 72
➢ Estudos de impacto ambiental:
são espécies do gênero avaliação
de impacto ambiental
(instrumento da Política Nacional
do Meio Ambiente)73.
★ Os estudos de impacto
ambiental de maior
relevância são EIA e RIMA,
consoante o art 225, §1º, IV,
CF/8874. Esses
instrumentos somente são
elaborados na hipótese de
empreendimentos e
atividades que podem
causar significativa
degradação ambiental (art
2º, Resolução CONAMA

72
A licença pode ser renovada.

73
Alguns doutrinadores utilizam o termo estudos de impacto ambiental como sinônimo de impacto
ambiental.
74
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do
povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
IV - exigir, na forma da lei (no nosso sistema normativo o documento que regulamenta é a
Resolução CONAMA 01/86), para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de
significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará
publicidade;

75
01/86)75. Quem financia
esses estudos são
realizados por uma equipe
multidisciplinar que é
contratada pelo
empreendedor. Não é o
órgão ambiental que
financia a elaboração
desses estudos, de modo
que ele apenas analisa,
porém não está vinculado
a esses estudos. Nesse

75
Art. 2º - Dependerá de elaboração de estudo de impacto ambiental e respectivo relatório de
impacto ambiental - RIMA, a serem submetidos à aprovação do órgão estadual competente, e do
IBAMA em caráter supletivo, o licenciamento de atividades modificadoras do meio ambiente, tais
como:
I - Estradas de rodagem com duas ou mais faixas de rolamento;
II - Ferrovias;
III - Portos e terminais de minério, petróleo e produtos químicos;[4]
IV - Aeroportos, conforme definidos pelo inciso 1, artigo 48, do Decreto-Lei nº 32, de 18.11.66;
V - Oleodutos, gasodutos, minerodutos, troncos coletores e emissários de esgotos sanitários;[5]
VI - Linhas de transmissão de energia elétrica, acima de 230KV;[6]
VII - Obras hidráulicas para exploração de recursos hídricos, tais como: barragem para fins
hidrelétricos, acima de 10MW, de saneamento ou de irrigação, abertura de canais para navegação,
drenagem e irrigação, retificação de cursos d'água, abertura de barras e embocaduras, transposição
de bacias, diques;
VIII - Extração de combustível fóssil (petróleo, xisto, carvão);
IX - Extração de minério, inclusive os da classe II, definidas no Código de Mineração;[8]
X - Aterros sanitários, processamento e destino final de resíduos tóxicos ou perigosos;[9]
Xl - Usinas de geração de eletricidade, qualquer que seja a fonte de energia primária, acima de
10MW;
XII - Complexo e unidades industriais e agro-industriais (petroquímicos, siderúrgicos,
cloroquímicos, destilarias de álcool, hulha, extração e cultivo de recursos hídricos);
XIII - Distritos industriais e zonas estritamente industriais - ZEI;
XIV - Exploração econômica de madeira ou de lenha, em áreas acima de 100 hectares ou
menores, quando atingir áreas significativas em termos percentuais ou de importância do ponto de
vista ambiental;
XV - Projetos urbanísticos, acima de 100ha. ou em áreas consideradas de relevante interesse
ambiental a critério da SEMA e dos órgãos municipais e estaduais competentes;
XVI - Qualquer atividade que utilizar carvão vegetal, derivados ou produtos similares, em
quantidade superior a dez toneladas por dia. [
XVII - Projetos Agropecuários que contemplem áreas acima de 1.000 ha. ou menores, neste
caso, quando se tratar de áreas significativas em termos percentuais ou de importância do ponto de
vista ambiental, inclusive nas áreas de proteção ambiental.
XVIII - nos casos de empreendimento potencialmente lesivos ao Patrimônio Espeleológico
NacionaL

76
contexto, existe um crime
ambiental que faz com que
o proponente seja
responsabilizado por esses
estudos, caso tenha algo
fraudulento (art 190). Esses
estudos possuem
conteúdo técnico, de modo
que, tendo em vista o
princípio da participação
cidadã, deve-se permitir
que a população tenha
acesso a esses estudos, o
que será feito através do
RIMA que é uma tradução
de fácil acesso e
linguagem para que a
população possa entender,
de fato, o que estará sujeito
do licenciamento e quais
os efeitos práticos desse
empreendimento,
permitindo que a
população possa participar
audiência pública76. O

76
A Resolução 01/86 prevê que pode se realizar uma audiência pública para se discutir a respeito do
resultado do RIMA. Essa audiência pública está regulamentada pela Resolução CONAMA 09/87 (já
cobrada na prova de juiz do TJRJ). E, essa audiência pública não é obrigatória, todavia veja o que diz
o artigo 2º, da Resolução CONAMA 09/87

Art. 2º . Sempre que julgar necessário, ou quando for solicitado pôr entidade civil, pelo Ministério
Público, ou por 50 (cinqüenta) ou mais cidadãos, o Órgão do Meio Ambiente promoverá a realização
de Audiência Pública. § 1º . O Órgão de Meio Ambiente, a partir da data do recebimento do RIMA,
fixará em edital e anunciará pela imprensa local a abertura do prazo que será no mínimo de 45 dias
para solicitação de audiência pública. § 2º . No caso de haver solicitação de audiência pública e na

77
conteúdo mínimo da EIA e
RIMA está previsto a partir
do artigo 6º, da Resolução
CONAMA 01/86, veja a
seguir:
Art. 6º - O estudo de
impacto ambiental
desenvolverá, no mínimo,
as seguintes atividades
técnicas:
I - Diagnóstico
ambiental da área de
influência do projeto
completa descrição e
análise dos recursos
ambientais e suas
interações, tal como
existem, de modo a
caracterizar a situação
ambiental da área, antes
da implantação do projeto,
considerando:

a) o meio físico - o
subsolo, as águas, o ar e o
clima, destacando os

hipótese do Órgão Estadual não realizá-la, a licença não terá validade. § 3º . Após este prazo, a
convocação será feita pelo Órgão licenciador, através de correspondência registrada aos solicitantes
e da divulgação em órgãos da imprensa local. § 4º . A audiência pública deverá ocorrer em local
acessível aos interessados. § 5º . Em função da localização geográfica dos solicitantes se da
complexidade do tema, poderá haver mais de uma audiência pública sobre o mesmo projeto e
respectivo Relatório de Impacto Ambiental - RIMA.

A professora recomenda realizar a leitura da Resolução CONAMA 09/87.

78
recursos minerais, a
topografia, os tipos e
aptidões do solo, os corpos
d'água, o regime
hidrológico, as correntes
marinhas, as correntes
atmosféricas;

b) o meio biológico e
os ecossistemas naturais -
a fauna e a flora,
destacando as espécies
indicadoras da qualidade
ambiental, de valor
científico e econômico,
raras e ameaçadas de
extinção e as áreas de
preservação permanente;

c) o meio sócio-econômico
- o uso e ocupação do solo,
os usos da água e a
sócio-economia,
destacando os sítios e
monumentos
arqueológicos, históricos e
culturais da comunidade,
as relações de
dependência entre a
sociedade local, os recursos

79
ambientais e a potencial
utilização futura desses
recursos.
II - Análise dos
impactos ambientais do
projeto e de suas
alternativas, através de
identificação, previsão da
magnitude e interpretação
da importância dos
prováveis impactos
relevantes, discriminando:
os impactos positivos e
negativos (benéficos e
adversos), diretos e
indiretos, imediatos e a
médio e longo prazos,
temporários e
permanentes; seu grau de
reversibilidade; suas
propriedades cumulativas
e sinérgicas; a distribuição
dos ônus e benefícios
sociais.

III - Definição das


medidas mitigadoras dos
impactos negativos, entre

80
elas os equipamentos de
controle e sistemas de
tratamento de despejos,
avaliando a eficiência de
cada uma delas.
lV - Elaboração do
programa de
acompanhamento e
monitoramento (os
impactos positivos e
negativos, indicando os
fatores e parâmetros a
serem considerados.
Parágrafo Único - Ao
determinar a execução do
estudo de impacto
Ambiental o órgão
estadual competente; ou o
IBAMA ou quando couber,
o Município fornecerá as
instruções adicionais que
se fizerem necessárias,
pelas peculiaridades do
projeto e características
ambientais da área.
Art. 8º - Correrão por
conta do proponente do
projeto todas as despesas e
custos referentes à
realização do estudo de

81
impacto ambiental, tais
como: coleta e aquisição
dos dados e informações,
trabalhos e inspeções de
campo, análises de
laboratório, estudos
técnicos e científicos e
acompanhamento e
monitoramento dos
impactos, elaboração do
RIMA e fornecimento de
pelo menos 5 (cinco)
cópias,
Art. 9º - O relatório
de impacto ambiental -
RIMA refletirá as
conclusões do estudo de
impacto ambiental e
conterá, no mínimo:
I - Os objetivos e
justificativas do projeto, sua
relação e compatibilidade
com as políticas setoriais,
planos e programas
governamentais
II - A descrição do
projeto e suas alternativas
tecnológicas e locacionais,
especificando para cada
um deles, nas fases de

82
construção e operação a
área de influência, as
matérias primas, e
mão-de-obra, as fontes de
energia, os processos e
técnica operacionais, os
prováveis efluentes,
emissões, resíduos de
energia, os empregos
diretos e indiretos a serem
gerados;
III - A síntese dos
resultados dos estudos de
diagnósticos ambiental da
área de influência do
projeto;
IV - A descrição dos
prováveis impactos
ambientais da implantação
e operação da atividade,
considerando o projeto,
suas alternativas, os
horizontes de tempo de
incidência dos impactos e
indicando os métodos,
técnicas e critérios
adotados para sua
identificação, quantificação
e interpretação;

83
V - A caracterização
da qualidade ambiental
futura da área de
influência, comparando as
diferentes situações da
adoção do projeto e suas
alternativas, bem como
com a hipótese de sua não
realização;
VI - A descrição do
efeito esperado das
medidas mitigadoras
previstas em relação aos
impactos negativos,
mencionando aqueles que
não puderam ser evitados,
e o grau de alteração
esperado;
VII - O programa de
acompanhamento e
monitoramento dos
impactos;
VIII - Recomendação
quanto à alternativa mais
favorável (conclusões e
comentários de ordem
geral).

84
Parágrafo único - O
RIMA deve ser apresentado
de forma objetiva e
adequada a sua
compreensão. As
informações devem ser
traduzidas em linguagem
acessível, ilustradas por
mapas, cartas, quadros,
gráficos e demais técnicas
de comunicação visual, de
modo que se possam
entender as vantagens e
desvantagens do projeto,
bem como todas as
conseqüências ambientais
de sua implementação.

■ 2ª: Licença de instalação (art 8º, II c/c


art 18, II, Resolução CONAMA 237): essa
licença permite que seja iniciada a obra
para implantação do empreendimento
e atividade.77 Ainda, pode ser trazida,
na licença de instalação, contrapartidas
para serem observadas da licença de
operação ou até mesmo condicionar
essa licença à necessidade de respeito
dessas contrapartidas. O prazo para

77
A licença prévia não autoriza o início do empreendimento e atividade.

85
licença de instalação é não superior a 6
anos.78

■ 3ª: Licença de operação (art 8º, III c/c


art 18, III, Resolução CONAMA 237): a
licença que permite a possibilidade de
explorar a atividade. O prazo para
licença de operação é de no mínimo 4
anos e máximo 10 anos. 79
○ A quem compete realizar o licenciamento
ambiental?
■ Primeiramente, deve-se atentar que,
antes do advento da LC 140/11, havia a
regra constante no artigo 10 da Lei
6938/81 que previa que caberia o
licenciamento ambiental aos órgãos
estaduais e, se o dano fosse de
extensão regional ou nacional, caberia
ao IBAMA. Todavia, essa disposição do
artigo 10 trazia diversos conflitos, pois
havia a sobreposição de atuações dos
entes, de forma que não havia uma
regra clara e expressa sobre a
competência de cada um dos entes
federativos. Diante desse contexto, veio
a LC 140 que fixou a competência dos

78
A licença pode ser renovada.

79
A licença pode ser renovada.

86
entes federativos no que diz respeito ao
licenciamento ambiental.
■ Essa competência foi fixada a partir de
determinados critérios de repartição de
competência, quais sejam: (I)
dominialidade do bem; (II) extensão do
impacto ambiental causado e (III) ente
instituidor da unidade de conservação,
no sentido de que o ente que institui
determinada unidade de conservação
será o ente competente para instituir
esse licenciamento.80
➢ Artigo 7º, XIV, LC 140:
competência da União.
➢ Artigo 8º, XIV, LC 140:
competência residual dos
Estados.
➢ Artigo 9º, XIV, LC 140:
competência dos municípios.

80
Em relação a essa regra, há uma exceção: no ato de instituição de licenciamento em uma área de
proteção ambiental (unidade de conservação de uso sustentável), não se valerá do critério do ente
instituidor, valendo-se do artigo 12, parágrafo único, LC 140.

Parágrafo único. A definição do ente federativo responsável pelo licenciamento e autorização a que
se refere o caput, no caso das APAs, seguirá os critérios previstos nas alíneas “a”, “b”, “e”, “f” e “h” do
inciso XIV do art. 7º, no inciso XIV do art. 8º e na alínea “a” do inciso XIV do art. 9º.

Por exemplo, vamos analisar o art 9º, XIV, a, LC 140: imagine que quem instituiu a área de proteção
ambiental foi o IBAMA (União). Porém, nesse caso, não irá observar o critério regra de quem instituiu
a unidade de conservação é quem irá promover o licenciamento, sendo de competência do
município a competência em caso de dano local, veja o disposto no art 9º, XIV, a, LC 140:
XIV - observadas as atribuições dos demais entes federativos previstas nesta Lei Complementar,
promover o licenciamento ambiental das atividades ou empreendimentos:
a) que causem ou possam causar impacto ambiental de âmbito local, conforme tipologia definida
pelos respectivos Conselhos Estaduais de Meio Ambiente, considerados os critérios de porte,
potencial poluidor e natureza da atividade

87
■ Artigo 13, LC 14081: a partir desse
dispositivo, observa-se que somente
uma unidade federativa, por
intermédio de seu órgão ou autarquia,
é que irá proceder o licenciamento
ambiental, de modo que o
licenciamento ambiental não é
múltiplo, mas único. Todavia, apesar de
apenas um ente federativo ser
competente para licenciar no caso
concreto, todos os entes podem
fiscalizar o licenciamento ambiental.82
Ainda, conforme o artigo 13, §1º, apesar
de um ente federativo ser competente
para licenciar, é possível que, no caso
concreto, os outros entes federativos se
manifestem no bojo do licenciamento
ambiental, havendo interesse.83

81
Art. 13. Os empreendimentos e atividades são licenciados ou autorizados, ambientalmente, por
um único ente federativo, em conformidade com as atribuições estabelecidas nos termos desta Lei
Complementar.
§ 1º Os demais entes federativos interessados podem manifestar-se ao órgão responsável pela
licença ou autorização, de maneira não vinculante, respeitados os prazos e procedimentos do
licenciamento ambiental.
§ 2º A supressão de vegetação decorrente de licenciamentos ambientais é autorizada pelo ente
federativo licenciador.
§ 3º Os valores alusivos às taxas de licenciamento ambiental e outros serviços afins devem guardar
relação de proporcionalidade com o custo e a complexidade do serviço prestado pelo ente
federativo.

82
Exemplo: o município licenciou, a União e os Estados podem fiscalizar. Isso porque o
licenciamento não se confunde com a fiscalização que decorre do poder de polícia ambiental.

83
Exemplo: o licenciamento ambiental é de competência do município do Rio de Janeiro, porém
esse licenciamento irá produzir alguns efeitos que irão provocar a intervenção em um patrimônio
público tombado da União. Nesse sentido, a União poderá manifestar interesse no bojo do
licenciamento, porém essa manifestação não irá vincular o órgão ambiental competente para o
licenciamento.

88
○ Imagine a seguinte questão: lei estadual que
possibilita a adoção de um procedimento de
licenciamento ambiental simplificado para
atividades potencialmente causadoras de
dano ao meio ambiental.84
■ Esse questionamento pressupõe que,
dentro da repartição de competência
em matéria ambiental, há a regra do
artigo 24, VI e parágrafos da
Constituição Federal que determina
que compete à União estabelecer
normas gerais sobre proteção e tutela
do meio ambiente. Assim, a União cria
a Lei 6.938/91 que estabelece que o
CONAMA possui um poder normativo
(art 8º, I) de regulamentação do
licenciamento ambiental. Com isso,
houve a elaboração da Resolução
CONAMA 237/97 que determina que
para as atividades elencadas no anexo I
(rol exemplificativo) há a necessidade
do licenciamento ambiental trifásico e
ordinário, porque o licenciamento
ambiental é necessário para as
atividades potencialmente causadoras
do meio ambiente. Todavia, o artigo 12,
§1º, da Resolução CONAMA 237/97

84
Exemplo: Uma lei do Estado do Rio de Janeiro prevê que para atividades potencialmente
causadoras pode se adotar um procedimento de licenciamento ambiental simplificado. Essa lei é
constitucional?

89
prevê que é possível a adoção de um
procedimento simplificado de
licenciamento ambiental, in verbis:
"poderão o do processo de
licenciamento o ser estabelecidos
procedimentos simplificados para as
atividades e empreendimentos de
pequeno potencial de impacto
ambiental, que deverão ser aprovados
pelos respectivos Conselhos de Meio
Ambiente."
➢ Então, essa lei estadual do Rio de
Janeiro que generalizou esse
licenciamento ambiental
simplificado para toda e
qualquer atividade ou
empreendimento ambiental
deverá ser inconstitucional,
porque violou o artigo 24, VI e
parágrafos da Constituição
Federal e a Resolução CONAMA
237/97 que é um ato normativo
primário que retira seu
fundamento de validade da
Constituição Federal.
○ A licença ambiental é uma ato administrativo
sui generis que não é vinculado, de modo
que não garante um direito subjetivo ao
empreendedor. Nesse sentido, essa licença

90
ambiental poderá ser renovada nos termos
do artigo 14, §4º, da LC 140/1185
■ Questiona-se: o empreendedor fez o
requerimento da prorrogação de forma
tempestiva, porém a Administração
Pública não se manifestou. Qual será a
consequência?
➢ Nesse caso, o prazo ficará
automaticamente prorrogado
para o empreendedor até que
tenha a manifestação do órgão
ou entidade autárquica
competente. Ainda, para o ente
público, será instaurada a
competência supletiva, perceba
que isso não está previsto
expressamente no art 14, §4º, LC
140/11, de forma que isso foi
definido pelo STF, na ADI 4757,86

85
§ 4º A renovação de licenças ambientais deve ser requerida com antecedência mínima de 120
(cento e vinte) dias da expiração de seu prazo de validade, fixado na respectiva licença, ficando
este automaticamente prorrogado até a manifestação definitiva do órgão ambiental competente. →
Exemplo: a licença vence no dia 05/02/2023. O prazo para requerimento deve ser feito até 120 dias
anteriores à data de 05/02/2023.

86
Decisão: "O Tribunal, por unanimidade, julgou improcedentes os pedidos de declaração de
inconstitucionalidade dos arts. 4º, V e VI, 7º, XIII, XIV, h, XV e parágrafo único, 8º, XIII e XIV, 9º, XIII e XIV,
14, § 3º, 15, 17, caput e §§ 2º, 20 e 21 da Lei Complementar nº 140/2011 e, por arrastamento, da
integralidade da legislação; e julgou parcialmente procedente a ação direta para conferir
interpretação conforme à Constituição Federal: (i) ao § 4º do art. 14 da Lei Complementar nº 140/2011
para estabelecer que a omissão ou mora administrativa imotivada e desproporcional na
manifestação definitiva sobre os pedidos de renovação de licenças ambientais instaura a
competência supletiva do art. 15 e (ii) ao § 3º do art. 17 da Lei Complementar nº 140/2011, esclarecendo
que a prevalência do auto de infração lavrado pelo órgão originalmente competente para o
licenciamento ou autorização ambiental não exclui a atuação supletiva de outro ente federado,
desde que comprovada omissão ou insuficiência na tutela fiscalizatória. Tudo nos termos do voto da
Relatora. O Ministro Nunes Marques acompanhou a Relatora com ressalvas." Plenário, Sessão Virtual
de 2.12.2022 a 12.12.2022.

91
que determinou que deveria ser
feita uma interpretação
conforme a Constituição desse
dispositivo, de modo que, na
verdade, a omissão ou mora
administrativa imotivada e
desproporcional na
manifestação definitiva sobre os
pedidos de renovação de licença
ambiental instaura-se a
competência supletiva que tem
previsão no artigo 15, LC 140/11.87
Essa competência supletiva é
uma verdadeira substituição
daquele ente federativo que é o
detentor originário da
competência do licenciamento
ambiental por outro ente
federativo.
○ Imagine o seguinte: o empreendedor ainda
não tem a licença de operação, apesar de já
ter feito o requerimento (porém não obteve
resposta da autoridade ambiental). Nesse
caso, o empreendedor poderá praticar as
atividades que decorrem da licença de

87
Art. 15. Os entes federativos devem atuar em caráter supletivo nas ações administrativas de
licenciamento e na autorização ambiental, nas seguintes hipóteses:
I - inexistindo órgão ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente no Estado ou no Distrito
Federal, a União deve desempenhar as ações administrativas estaduais ou distritais até a sua criação;
II - inexistindo órgão ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente no Município, o Estado
deve desempenhar as ações administrativas municipais até a sua criação; e
III - inexistindo órgão ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente no Estado e no
Município, a União deve desempenhar as ações administrativas até a sua criação em um daqueles
entes federativos.

92
operação? Em outras palavras, o
ordenamento jurídico e os Tribunais
Superiores admitem a licença ambiental
tácita?
■ Não é admitida a licença ambiental
tácita. Porém, o Poder Público irá sofrer
sanções conforme o artigo 14, §3º, LC
14088, havendo a competência supletiva
do artigo 15, da LC 140.
○ Qual a diferença entre atuação supletiva e
atuação subsidiária?
■ O artigo 15, LC 140 trata da atuação
supletiva que irá dispor sobre a
substituição daquele ente federativo
detentor das competência originárias
para o licenciamento ambiental
quando ficar evidenciado a ausência de
Conselho de Meio Ambiente ou de
órgão ambiental capacitado e
estruturado.
■ O artigo 16, LC 14089 prevê a atuação
subsidiária que trata de um auxílio e
verdadeira cooperação entre os entes
federativos. Esse auxílio tende a

88
§ 3º O decurso dos prazos de licenciamento, sem a emissão da licença ambiental, não implica
emissão tácita nem autoriza a prática de ato que dela dependa ou decorra, mas instaura a
competência supletiva referida no art. 15.

89
Art. 16. A ação administrativa subsidiária dos entes federativos dar-se-á por meio de apoio técnico,
científico, administrativo ou financeiro, sem prejuízo de outras formas de cooperação.
Parágrafo único. A ação subsidiária deve ser solicitada pelo ente originariamente detentor da
atribuição nos termos desta Lei Complementar.

93
promover o federalismo de cooperação
ambiental tricotômico.
○ Licenciamento ambiental não se confunde
com fiscalização ambiental, de tal maneira
que a fiscalização ambiental pode ser
exercida por todos os entes federativos.
Então, imagine a seguinte situação: o IBAMA
licenciou determinado empreendimento.
Porém, durante a atividade fiscalizatória dos
agentes da Secretaria Municipal do Meio
Ambiente, ficou constatada uma infração
administrativa ambiental. Nesse contexto,
questiona-se: esses agentes municipais
podem lavrar o auto de infração?
■ Deve observar o artigo 17, da LC 14090
que, segundo o STF, deve ser
interpretado à luz da Constituição
Federal, de modo que a competência
para fiscalizar que é atrelada ao ente
licenciante, na verdade, é preferencial.
Ou seja, deve-se ler esse artigo da

90
Art. 17. Compete ao órgão responsável pelo licenciamento ou autorização, conforme o caso, de
um empreendimento ou atividade, lavrar auto de infração ambiental e instaurar processo
administrativo para a apuração de infrações à legislação ambiental cometidas pelo
empreendimento ou atividade licenciada ou autorizada.
§ 1º Qualquer pessoa legalmente identificada, ao constatar infração ambiental decorrente de
empreendimento ou atividade utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente
poluidores, pode dirigir representação ao órgão a que se refere o caput, para efeito do exercício de
seu poder de polícia.
§ 2º Nos casos de iminência ou ocorrência de degradação da qualidade ambiental, o ente federativo
que tiver conhecimento do fato deverá determinar medidas para evitá-la, fazer cessá-la ou mitigá-la,
comunicando imediatamente ao órgão competente para as providências cabíveis.
§ 3º O disposto no caput deste artigo não impede o exercício pelos entes federativos da atribuição
comum de fiscalização da conformidade de empreendimentos e atividades efetiva ou
potencialmente poluidores ou utilizadores de recursos naturais com a legislação ambiental em vigor,
prevalecendo o auto de infração ambiental lavrado por órgão que detenha a atribuição de
licenciamento ou autorização a que se refere o caput.

94
seguinte forma: compete
preferencialmente àquele que licencia
também fiscalizar.
➢ Vamos imaginar que, nesse
exemplo, a Secretaria Municipal
lavrou o auto de infração. Nesse
caso, ato contínuo, a Secretaria
deve comunicar o ente
licenciante para que ele possa
promover as devidas
providências. Se o ente
licenciante se manter inerte,
segue o auto de infração lavrado
pela Secretaria Municipal.
Todavia, se o ente licenciante
lavrar um auto de infração, terá
dois autos de infração, de modo
que, nesse caso, irá prevalecer o
auto de infração lavrado pelo
ente que é o detentor originário
para o licenciamento ambiental,
consoante o artigo 17, §3º, LC 140.
Ainda, em relação ao artigo 17,
§3º, LC 140, o STF interpretou que
a prevalência do auto de infração
lavrado pelo órgão competente
para o licenciamento ambiental
não exclui a competência dos
demais entes federativos, desde
que observada uma omissão ou

95
insuficiência da tutela
fiscalizatória.

96
6. Código Florestal - Lei 12.651/1291
a. Aspectos preliminares
i. As normas, constantes no atual Código Florestal,
podem retroagir para alcançar fatos pretéritos que já
se consolidaram e tornaram-se perfeitos e acabados?
● Para responder essa pergunta, precisa identificar,
no Código Florestal, três grupos normativos:
○ Regime de normas aplicadas ao pequeno
produtor rural, sendo um regime de normas
especial.
○ Regime de normas permanentes que
compõem a maioria das normas do Código
Florestal. E, são normas que possuem um
regime de proteção jurídica mais rígido.
○ Regime de normas previstas na disposição
transitória que está atrelado às áreas
ambientais consolidadas seja área de
preservação permanente ou área de reserva
legal: essas normas, expressamente, preveem
retroatividade, desde que observado o lapso
temporal de análise, qual seja a data de 22 de
julho de 2008.
■ Exemplo: artigo 66 do Código
Florestal.92

91
Recomenda-se fazer a leitura dessa lei e da jurisprudência, porque o Código Florestal é o assunto
mais cobrado.

92
Art. 66. O proprietário ou possuidor de imóvel rural que detinha, em 22 de julho de 2008, área de
Reserva Legal em extensão inferior ao estabelecido no art. 12, poderá regularizar sua situação,
independentemente da adesão ao PRA, adotando as seguintes alternativas, isolada ou
conjuntamente:
I - recompor a Reserva Legal;
II - permitir a regeneração natural da vegetação na área de Reserva Legal;
III - compensar a Reserva Legal.

97
● Assim, em regra, não há possibilidade de uma
norma constante do atual Código Florestal
retroagir para atingir um ato jurídico acabado,
porque deve ser aplicado o princípio do Tempus
regit actum. Porém, se tiver diante de áreas
ambientais consolidadas que são aquelas que
apresentavam passivo ambiental em 22 de julho de
2008, poderá retroagir e alcançar esses fatos por
intermédio de previsão expressa, já que essas

§ 1º A obrigação prevista no caput tem natureza real e é transmitida ao sucessor no caso de


transferência de domínio ou posse do imóvel rural.
§ 2º A recomposição de que trata o inciso I do caput deverá atender os critérios estipulados pelo
órgão competente do Sisnama e ser concluída em até 20 (vinte) anos, abrangendo, a cada 2 (dois)
anos, no mínimo 1/10 (um décimo) da área total necessária à sua complementação.
§ 3º A recomposição de que trata o inciso I do caput poderá ser realizada mediante o plantio
intercalado de espécies nativas com exóticas ou frutíferas, em sistema agroflorestal, observados os
seguintes parâmetros: (Incluído pela Lei nº 12.727, de 2012). (Vide ADC Nº 42) (Vide ADIN Nº 4.901)
I - o plantio de espécies exóticas deverá ser combinado com as espécies nativas de ocorrência
regional;
II - a área recomposta com espécies exóticas não poderá exceder a 50% (cinquenta por cento) da
área total a ser recuperada.
§ 4º Os proprietários ou possuidores do imóvel que optarem por recompor a Reserva Legal na forma
dos §§ 2º e 3º terão direito à sua exploração econômica, nos termos desta Lei.
§ 5º A compensação de que trata o inciso III do caput deverá ser precedida pela inscrição da
propriedade no CAR e poderá ser feita mediante: (Vide ADC Nº 42) (Vide ADIN Nº 4.901)
I - aquisição de Cota de Reserva Ambiental - CRA;
II - arrendamento de área sob regime de servidão ambiental ou Reserva Legal;
III - doação ao poder público de área localizada no interior de Unidade de Conservação de domínio
público pendente de regularização fundiária;
IV - cadastramento de outra área equivalente e excedente à Reserva Legal, em imóvel de mesma
titularidade ou adquirida em imóvel de terceiro, com vegetação nativa estabelecida, em regeneração
ou recomposição, desde que localizada no mesmo bioma.
§ 6º As áreas a serem utilizadas para compensação na forma do § 5º deverão: (Vide ADC Nº 42) (Vide
ADIN Nº 4.901)
I - ser equivalentes em extensão à área da Reserva Legal a ser compensada;
II - estar localizadas no mesmo bioma da área de Reserva Legal a ser compensada;
III - se fora do Estado, estar localizadas em áreas identificadas como prioritárias pela União ou pelos
Estados.
§ 7º A definição de áreas prioritárias de que trata o § 6º buscará favorecer, entre outros, a recuperação
de bacias hidrográficas excessivamente desmatadas, a criação de corredores ecológicos, a
conservação de grandes áreas protegidas e a conservação ou recuperação de ecossistemas ou
espécies ameaçados.
§ 8º Quando se tratar de imóveis públicos, a compensação de que trata o inciso III do caput poderá
ser feita mediante concessão de direito real de uso ou doação, por parte da pessoa jurídica de direito
público proprietária de imóvel rural que não detém Reserva Legal em extensão suficiente, ao órgão
público responsável pela Unidade de Conservação de área localizada no interior de Unidade de
Conservação de domínio público, a ser criada ou pendente de regularização fundiária.
§ 9º As medidas de compensação previstas neste artigo não poderão ser utilizadas como forma de
viabilizar a conversão de novas áreas para uso alternativo do solo.

98
normas constantes de disposição transitória
apresentam uma transitividade expressa.
b. Espaços territoriais especialmente protegidos
i. Área de preservação permanente (artigo 3º, II, do
Código Florestal)93 : é uma área ambiental sensível que
apresenta funções ambientais de suma importância para
o equilíbrio ecologicamente exigido
constitucionalmente. Em regra, segundo o artigo 4º,
caput, as áreas de preservação permanente são
determinadas pelos efeitos da própria lei (ex lege).
Excepcionalmente, o artigo 6º determina que outras
áreas podem ser consideradas área de preservação
permanente, de modo que, nesse caso, precisa de um
despacho do Chefe do Poder Executivo que determina
que essa área é de interesse social e, mais ainda, precisa
que essas áreas cumpram as funções previstas no artigo
6º, do Código Florestal.94
● A partir do artigo 7º, do Código Florestal, tem-se
que "a vegetação situada em Área de Preservação

93
II - Área de Preservação Permanente - APP: área protegida, coberta ou não por vegetação nativa,
com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a
biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das
populações humanas;

94
Art. 6º Consideram-se, ainda, de preservação permanente, quando declaradas de interesse social
por ato do Chefe do Poder Executivo, as áreas cobertas com florestas ou outras formas de vegetação
destinadas a uma ou mais das seguintes finalidades:
I - conter a erosão do solo e mitigar riscos de enchentes e deslizamentos de terra e de rocha;
II - proteger as restingas ou veredas;
III - proteger várzeas;
IV - abrigar exemplares da fauna ou da flora ameaçados de extinção;
V - proteger sítios de excepcional beleza ou de valor científico, cultural ou histórico;
VI - formar faixas de proteção ao longo de rodovias e ferrovias;
VII - assegurar condições de bem-estar público;
VIII - auxiliar a defesa do território nacional, a critério das autoridades militares.
IX – proteger áreas úmidas, especialmente as de importância internacional. (Incluído pela Medida
Provisória nº 571, de 2012).
IX - proteger áreas úmidas, especialmente as de importância internacional. (Incluído pela Lei nº
12.727, de 2012).

99
Permanente deverá ser mantida pelo proprietário
da área, possuidor ou ocupante a qualquer título,
pessoa física ou jurídica, de direito público ou
privado", de modo que, em regra, não caberá a
supressão dessas áreas. E, caso tenha, caberá ao
sujeito que degradou reparar a área. Ainda, cabe
ressaltar que a súmula 623 do STJ prevê que "as
obrigações ambientais possuem natureza propter
rem, sendo admissível cobrá-las do proprietário ou
possuidor atual e/ou dos anteriores, à escolha do
credor"95.
● Em algumas situações é possível a supressão de
vegetação em área de preservação permanente,
quais sejam: questões de utilidade pública,
interesse social e baixo impacto ambiental. Há a
previsão no artigo 3º, VIII; IX e X, do Código Florestal
96
. Ainda, se a cobertura vegetal for de nascente,

95
Nesse ponto, cabe o direito de regresso do atual proprietário em face de quem efetivamente
poluiu.

96
VIII - utilidade pública: (Vide ADIN Nº 4.903)
a) as atividades de segurança nacional e proteção sanitária;
b) as obras de infraestrutura destinadas às concessões e aos serviços públicos de transporte, sistema
viário, inclusive aquele necessário aos parcelamentos de solo urbano aprovados pelos Municípios,
saneamento, gestão de resíduos, energia, telecomunicações, radiodifusão, instalações necessárias à
realização de competições esportivas estaduais, nacionais ou internacionais, bem como mineração,
exceto, neste último caso, a extração de areia, argila, saibro e cascalho; (Vide ADC Nº 42) (Vide ADIN
Nº 4.903)
c) atividades e obras de defesa civil;
d) atividades que comprovadamente proporcionem melhorias na proteção das funções ambientais
referidas no inciso II deste artigo;
e) outras atividades similares devidamente caracterizadas e motivadas em procedimento
administrativo próprio, quando inexistir alternativa técnica e locacional ao empreendimento
proposto, definidas em ato do Chefe do Poder Executivo federal;
IX - interesse social: (Vide ADIN Nº 4.903)
a) as atividades imprescindíveis à proteção da integridade da vegetação nativa, tais como prevenção,
combate e controle do fogo, controle da erosão, erradicação de invasoras e proteção de plantios com
espécies nativas;
b) a exploração agroflorestal sustentável praticada na pequena propriedade ou posse rural familiar
ou por povos e comunidades tradicionais, desde que não descaracterize a cobertura vegetal
existente e não prejudique a função ambiental da área;

100
dunas e restingas somente será possível a
supressão em caso de utilidade pública.
○ Diversos municípios do território nacional
começaram a editar leis permitindo a
construção em faixa marginal de rio em
limite superior ao previsto no Código
Florestal, porque em áreas urbanas
consolidadas. Isso é possível?97

c) a implantação de infraestrutura pública destinada a esportes, lazer e atividades educacionais e


culturais ao ar livre em áreas urbanas e rurais consolidadas, observadas as condições estabelecidas
nesta Lei;
d) a regularização fundiária de assentamentos humanos ocupados predominantemente por
população de baixa renda em áreas urbanas consolidadas, observadas as condições estabelecidas na
Lei nº 11.977, de 7 de julho de 2009;
e) implantação de instalações necessárias à captação e condução de água e de efluentes tratados
para projetos cujos recursos hídricos são partes integrantes e essenciais da atividade;
f) as atividades de pesquisa e extração de areia, argila, saibro e cascalho, outorgadas pela autoridade
competente;
g) outras atividades similares devidamente caracterizadas e motivadas em procedimento
administrativo próprio, quando inexistir alternativa técnica e locacional à atividade proposta,
definidas em ato do Chefe do Poder Executivo federal;
X - atividades eventuais ou de baixo impacto ambiental:
a) abertura de pequenas vias de acesso interno e suas pontes e pontilhões, quando necessárias à
travessia de um curso d’água, ao acesso de pessoas e animais para a obtenção de água ou à retirada
de produtos oriundos das atividades de manejo agroflorestal sustentável;
b) implantação de instalações necessárias à captação e condução de água e efluentes tratados,
desde que comprovada a outorga do direito de uso da água, quando couber;
c) implantação de trilhas para o desenvolvimento do ecoturismo;
d) construção de rampa de lançamento de barcos e pequeno ancoradouro;
e) construção de moradia de agricultores familiares, remanescentes de comunidades quilombolas e
outras populações extrativistas e tradicionais em áreas rurais, onde o abastecimento de água se dê
pelo esforço próprio dos moradores;
f) construção e manutenção de cercas na propriedade;
g) pesquisa científica relativa a recursos ambientais, respeitados outros requisitos previstos na
legislação aplicável;
h) coleta de produtos não madeireiros para fins de subsistência e produção de mudas, como
sementes, castanhas e frutos, respeitada a legislação específica de acesso a recursos genéticos;
i) plantio de espécies nativas produtoras de frutos, sementes, castanhas e outros produtos vegetais,
desde que não implique supressão da vegetação existente nem prejudique a função ambiental da
área;
j) exploração agroflorestal e manejo florestal sustentável, comunitário e familiar, incluindo a extração
de produtos florestais não madeireiros, desde que não descaracterizem a cobertura vegetal nativa
existente nem prejudiquem a função ambiental da área;
k) outras ações ou atividades similares, reconhecidas como eventuais e de baixo impacto ambiental
em ato do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA ou dos Conselhos Estaduais de Meio
Ambiente;

97
Essa discussão é importante, porque o Código Florestal até o ano de 2021 não trazia, em seu texto,
o conceito de área urbana consolidada. Então, os municípios se valiam do disposto na Lei do
Parcelamento Urbano.

101
■ O STJ editou o tema 1010 prevendo
que na vigência do novo Código
Florestal (Lei n. 12.651/2012), a extensão
não edificável nas Áreas de
Preservação Permanente de qualquer
curso d’água, perene ou intermitente,
em trechos caracterizados como área
urbana consolidada, deve respeitar o
que disciplinado pelo seu art. 4º, caput,
inciso I, alíneas a, b, c, d e e, a fim de
assegurar a mais ampla garantia
ambiental a esses espaços territoriais
especialmente protegidos e, por
conseguinte, à coletividade. Assim, o
STJ entendeu que o Código Florestal,
apesar de não ter o conceito de área
urbana consolidada, deveria respeitar
o limite do previsto no artigo 4º, I, a, b,
c, d e e do Código Florestal
➢ Porém, em 2021, o legislador
trouxe a Lei 14.285 e alterou o
Código Florestal inserindo no
artigo 3º, XXVI98 e o artigo 4º,

98
XXVI – área urbana consolidada: aquela que atende os seguintes critérios: (Redação dada pela Lei
nº 14.285, de 2021)

a) estar incluída no perímetro urbano ou em zona urbana pelo plano diretor ou por lei municipal
específica; (Incluída pela Lei nº 14.285, de 2021)

b) dispor de sistema viário implantado; (Incluída pela Lei nº 14.285, de 2021)

c) estar organizada em quadras e lotes predominantemente edificados; (Incluída pela Lei nº 14.285,
de 2021)

d) apresentar uso predominantemente urbano, caracterizado pela existência de edificações


residenciais, comerciais, industriais, institucionais, mistas ou direcionadas à prestação de serviços;
(Incluída pela Lei nº 14.285, de 2021)

102
§1099, de modo que poderá haver
uma lei municipal ou distrital
prevendo limites distintos do
previsto no artigo 4º, I, a, b, c, d e
e, observando as diretrizes
previstas no art 4º, §10. Porém, o
Tema 1010 ainda não foi
cancelado (até a data de março
de 2023), devendo-se
acompanhar tal tema no
decorrer do tempo para saber
seu andamento.

e) dispor de, no mínimo, 2 (dois) dos seguintes equipamentos de infraestrutura urbana implantados:
(Incluída pela Lei nº 14.285, de 2021)

1. drenagem de águas pluviais; (Incluída pela Lei nº 14.285, de 2021)

2. esgotamento sanitário; (Incluída pela Lei nº 14.285, de 2021)

3. abastecimento de água potável; (Incluída pela Lei nº 14.285, de 2021)

4. distribuição de energia elétrica e iluminação pública; e (Incluída pela Lei nº 14.285, de 2021)

5. limpeza urbana, coleta e manejo de resíduos sólidos; (Incluída pela Lei nº 14.285, de 2021)

99
§ 10. Em áreas urbanas consolidadas, ouvidos os conselhos estaduais, municipais ou distrital de
meio ambiente, lei municipal ou distrital poderá definir faixas marginais distintas daquelas
estabelecidas no inciso I do caput deste artigo, com regras que estabeleçam: (Incluído pela Lei nº
14.285, de 2021)

I – a não ocupação de áreas com risco de desastres; (Incluído pela Lei nº 14.285, de 2021)

II – a observância das diretrizes do plano de recursos hídricos, do plano de bacia, do plano de


drenagem ou do plano de saneamento básico, se houver; e (Incluído pela Lei nº 14.285, de 2021)

III – a previsão de que as atividades ou os empreendimentos a serem instalados nas áreas de


preservação permanente urbanas devem observar os casos de utilidade pública, de interesse social
ou de baixo impacto ambiental fixados nesta Lei. (Incluído pela Lei nº 14.285, de 2021)

103
ii. Áreas de reserva legal (artigo 3º, III, da Lei 12.651/12)100:
precisa instituir, conforme o artigo 12, do Código
Florestal101, uma área de reserva legal em uma
propriedade ou posse rural102, de modo que, nessa área,
somente poderá o uso econômico dos recursos
ambientais que ali se encontram de forma sustentável
pautada em uma autorização prévia do órgão ambiental
competente e com base em um plano de manejo
sustentável.
● Na Área de Preservação Permanente a regra é a
não supressão de vegetação, não podendo haver
exploração econômica do recurso. Enquanto que,
na área de reserva legal, permite-se uma
exploração econômica sustentável pautada em
uma autorização prévia do órgão ambiental
competente e com base em um plano de manejo
sustentável.

100
III - Reserva Legal: área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, delimitada nos
termos do art. 12, com a função de assegurar o uso econômico de modo sustentável dos recursos
naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação e a reabilitação dos processos ecológicos e
promover a conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção de fauna silvestre e da
flora nativa;

101
Art. 12. Todo imóvel rural deve manter área com cobertura de vegetação nativa, a título de Reserva
Legal, sem prejuízo da aplicação das normas sobre as Áreas de Preservação Permanente, observados
os seguintes percentuais mínimos em relação à área do imóvel, excetuados os casos previstos no art.
68 desta Lei: (Redação dada pela Lei nº 12.727, de 2012).

I - localizado na Amazônia Legal:

a) 80% (oitenta por cento), no imóvel situado em área de florestas;

b) 35% (trinta e cinco por cento), no imóvel situado em área de cerrado;

c) 20% (vinte por cento), no imóvel situado em área de campos gerais;

II - localizado nas demais regiões do País: 20% (vinte por cento).

102
Não existe área de reserva legal em zonas urbanas, o que a distingue das áreas de preservação
permanente.

104
○ Exceção: no artigo 12, §6º a §8º estão previstos
os casos que a propriedade ou posse rural
não precisará respeitar o percentual da área
de reserva legal.103
○ O possuidor pode escolher em que local da
propriedade rural haverá a delimitação da
área de reserva legal?
■ Perceba que deve observar a
vegetação nativa, porém há a
possibilidade de escolher o local,
observando os requisitos do artigo 14
da Lei 12.651104.
● O artigo 15, Código Florestal prevê que será
admitido o cômputo das Áreas de Preservação
Permanente no cálculo do percentual da Reserva

103
§ 6º Os empreendimentos de abastecimento público de água e tratamento de esgoto não estão
sujeitos à constituição de Reserva Legal. (Vide ADC Nº 42) (Vide ADIN Nº 4.901)
§ 7º Não será exigido Reserva Legal relativa às áreas adquiridas ou desapropriadas por detentor de
concessão, permissão ou autorização para exploração de potencial de energia hidráulica, nas quais
funcionem empreendimentos de geração de energia elétrica, subestações ou sejam instaladas
linhas de transmissão e de distribuição de energia elétrica. (Vide ADC Nº 42) (Vide ADIN Nº
4.901)
§ 8º Não será exigido Reserva Legal relativa às áreas adquiridas ou desapropriadas com o objetivo de
implantação e ampliação de capacidade de rodovias e ferrovias.

104
Art. 14. A localização da área de Reserva Legal no imóvel rural deverá levar em consideração os
seguintes estudos e critérios:
I - o plano de bacia hidrográfica;
II - o Zoneamento Ecológico-Econômico
III - a formação de corredores ecológicos com outra Reserva Legal, com Área de Preservação
Permanente, com Unidade de Conservação ou com outra área legalmente protegida;
IV - as áreas de maior importância para a conservação da biodiversidade; e
V - as áreas de maior fragilidade ambiental.

105
Legal do imóvel105, desde que cumpra os seguintes
requisitos cumulativos:
○ O imóvel precisa estar cadastrado no
Cadastro Ambiental Rural (CAR) que é um
banco de dados que visa garantir o
levantamento de informações acerca dos
imóveis rurais que existem no território
nacional, permitindo um controle e
gerenciamento de atividades que podem
causar danos ao meio ambiente. Esse
cadastro está pautado no princípio da
transparência à luz do que dispõe a
jurisprudência do STJ, sendo um cadastro
obrigatório de forma preferencial nos
Estados e Municípios e, somente na ausência
desses cadastros, fará na União. Esse CAR
compõe o Sistema Nacional de Informações.

105
Art. 15. Será admitido o cômputo das Áreas de Preservação Permanente no cálculo do percentual
da Reserva Legal do imóvel, desde que: (Vide ADC Nº 42) (Vide ADIN Nº 4.901)
I - o benefício previsto neste artigo não implique a conversão de novas áreas para o uso alternativo
do solo;
II - a área a ser computada esteja conservada ou em processo de recuperação, conforme
comprovação do proprietário ao órgão estadual integrante do Sisnama; e
III - o proprietário ou possuidor tenha requerido inclusão do imóvel no Cadastro Ambiental Rural -
CAR, nos termos desta Lei.
§ 1º O regime de proteção da Área de Preservação Permanente não se altera na hipótese prevista
neste artigo.
§ 2º O proprietário ou possuidor de imóvel com Reserva Legal conservada e inscrita no Cadastro
Ambiental Rural - CAR de que trata o art. 29, cuja área ultrapasse o mínimo exigido por esta Lei,
poderá utilizar a área excedente para fins de constituição de servidão ambiental, Cota de Reserva
Ambiental e outros instrumentos congêneres previstos nesta Lei.
§ 3º O cômputo de que trata o caput aplica-se a todas as modalidades de cumprimento da Reserva
Legal, abrangendo a regeneração, a recomposição e a compensação. (Redação dada pela Lei nº
12.727, de 2012).
§ 4º É dispensada a aplicação do inciso I do caput deste artigo, quando as Áreas de Preservação
Permanente conservadas ou em processo de recuperação, somadas às demais florestas e outras
formas de vegetação nativa existentes em imóvel, ultrapassarem: (Incluído pela Lei nº 12.727, de 2012).
I - 80% (oitenta por cento) do imóvel rural localizado em áreas de floresta na Amazônia Legal; e
(Incluído pela Lei nº 12.727, de 2012).

106
○ A área de preservação permanente deve
estar mantida na sua condição originária ou
em processo de recuperação.
○ Essa área não pode ser utilizada para uso
alternativo do solo.
● Artigo 12, §3º, Código Florestal: "Após a implantação
do CAR, a supressão de novas áreas de floresta ou
outras formas de vegetação nativa apenas será
autorizada pelo órgão ambiental estadual
integrante do Sisnama se o imóvel estiver inserido
no mencionado cadastro, ressalvado o previsto no
art. 30".
● Regime jurídico106: artigo 17, do Código Florestal.
Art. 17. A Reserva Legal deve ser conservada com
cobertura de vegetação nativa pelo proprietário do
imóvel rural, possuidor ou ocupante a qualquer
título, pessoa física ou jurídica, de direito público ou
privado.
§ 1º Admite-se a exploração econômica da Reserva
Legal mediante manejo sustentável, previamente
aprovado pelo órgão competente do Sisnama, de
acordo com as modalidades previstas no art. 20.
§ 2º Para fins de manejo de Reserva Legal na
pequena propriedade ou posse rural familiar, os
órgãos integrantes do Sisnama deverão
estabelecer procedimentos simplificados de

106
É um regime jurídico mais flexível do que o de área de preservação permanente. Na APP, deve-se
manter a área (sendo a exceção a supressão de vegetação e exploração econômica) e na Área de
Reserva Legal deve-se conservar, de modo que é permitido a exploração econômica desde que de
forma sustentável previamente autorizada por órgão estadual integrante do SISNAMA e com base
em um plano de manejo.

107
elaboração, análise e aprovação de tais planos de
manejo.
§ 3º É obrigatória a suspensão imediata das
atividades em Área de Reserva Legal desmatada
irregularmente após 22 de julho de 2008, e deverá
ser iniciado o processo de recomposição, no todo
ou em parte, sem prejuízo das sanções
administrativas, cíveis e penais cabíveis, não
extrapolando a 2 (dois) anos essa comprovação,
contados a partir da data da publicação desta Lei
ou, se a conduta for a ela posterior, da data da
supressão da vegetação, vedado o uso da área para
qualquer finalidade distinta da prevista neste
artigo.
§ 3º É obrigatória a suspensão imediata das
atividades em Área de Reserva Legal desmatada
irregularmente após 22 de julho de 2008. (Redação
dada pela Medida Provisória nº 571, de 2012).
§ 3º É obrigatória a suspensão imediata das
atividades em área de Reserva Legal desmatada
irregularmente após 22 de julho de 2008. (Redação
dada pela Lei nº 12.727, de 2012). (Vide ADC Nº 42)
(Vide ADIN Nº 4.902) (Vide ADIN Nº 4.903)
§ 4º Sem prejuízo das sanções administrativas,
cíveis e penais cabíveis, deverá ser iniciado o
processo de recomposição da Reserva Legal em
até dois anos contados a partir da data da
publicação desta Lei, devendo tal processo ser
concluído nos prazos estabelecidos pelo Programa
de Regularização Ambiental – PRA, de que trata o

108
art. 59. (Incluído pela Medida Provisória nº 571, de
2012).
§ 4º Sem prejuízo das sanções administrativas,
cíveis e penais cabíveis, deverá ser iniciado, nas
áreas de que trata o § 3º deste artigo, o processo de
recomposição da Reserva Legal em até 2 (dois)
anos contados a partir da data da publicação desta
Lei, devendo tal processo ser concluído nos prazos
estabelecidos pelo Programa de Regularização
Ambiental - PRA, de que trata o art. 59. (Incluído
pela Lei nº 12.727, de 2012).

109
110
7.Sistema Nacional de Unidade de
Conservação (SNUC)- Lei 9.985/00
a. Noções preliminares
i. No artigo 9º, VI, da Lei 6938/81, há como um dos
instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente a
criação de espaços territoriais especialmente protegidos
pelo Poder Público. Ainda, o artigo 225, §1º, III, CF/88107
estabeleceu o dever específico do Poder Público em criar
espaços territoriais especialmente protegidos.
ii. A lei 9.985/00 irá regulamentar os espaços territoriais
especialmente protegidos (unidades de conservação).
iii. Conceito de unidade de conservação (artigo 2º, I, da
Lei 9985/00)108: as unidades de conservação são uma
delimitação geográfica que apresentam características
naturais relevantes para a garantia de um meio ambiente
equilibrado, de modo que, por conta dessas
características, atrai do Poder Público um regime
específico de gestão e proteção.
b. Modalidades de unidade de conservação
i. Modalidade de proteção integral: com regime de
proteção restritivo, de modo que não é admitido o uso
direto dos recursos ambientais, sendo o objetivo dessa
unidade de conservação a preservação do ecossistema.

107
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem
especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei,
vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua
proteção; (Regulamento)

108
I - unidade de conservação: espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas
jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público,
com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se
aplicam garantias adequadas de proteção;

111
ii. Modalidade de uso sustentável: essa modalidade
permite a exploração econômica de parcela dos recursos
que se encontram na unidade.
c. Órgão do Sistema Nacional de Unidade de
Conservação
i. Artigo 6º, da Lei 9.985/00
Art. 6º O SNUC será gerido pelos seguintes órgãos, com
as respectivas atribuições:
I - Órgão consultivo e deliberativo: o Conselho Nacional
do Meio Ambiente - Conama, com as atribuições de
acompanhar a implementação do Sistema;109
II - Órgão central: o Ministério do Meio Ambiente, com a
finalidade de coordenar o Sistema; e
III - órgãos executores: o Instituto Chico Mendes e o
Ibama, em caráter supletivo, os órgãos estaduais e
municipais, com a função de implementar o SNUC,
subsidiar as propostas de criação e administrar as
unidades de conservação federais, estaduais e
municipais, nas respectivas esferas de atuação.
● Em regra, o órgão que faz a execução é o Instituto
Chico Mendes, de modo que o IBAMA110 possui
função supletiva.
Parágrafo único. Podem integrar o SNUC,
excepcionalmente e a critério do Conama, unidades de
conservação estaduais e municipais que, concebidas
para atender a peculiaridades regionais ou locais,
possuam objetivos de manejo que não possam ser
satisfatoriamente atendidos por nenhuma categoria
109
Fazer uma remissão recíproca com o artigo 6º e 8º, da Lei 6938.

110
Deve-se lembrar que o IBAMA é o órgão que irá realizar o licenciamento ambiental em âmbito
federal.

112
prevista nesta Lei e cujas características permitam, em
relação a estas, uma clara distinção.
d. Estudo das Unidades de Conservação
i. Unidade de Conservação de Proteção Integral (artigo
8º)111: em regra, as atividades antrópicas não são
permitidas. Ou, quando permitidas, serão permitidas pelo
órgão gestor da unidade de conservação diante da
previsão do plano de manejo de uma determinada
unidade que compõe a modalidade de proteção integral.
As espécies são: 112
● Estação ecológica
● Reserva Biológica
● Parque Nacional, Estadual ou Municipal
● Monumento Natural
● Refúgio de Vida Silvestre
ii. Unidade de Conservação de uso sustentável (artigo
14)113: a finalidade dessas unidades é a conservação do
meio ambiente com a possibilidade de explorar
economicamente, desde que de forma racional e

111
Art. 8º O grupo das Unidades de Proteção Integral é composto pelas seguintes categorias de
unidade de conservação:
I - Estação Ecológica;
II - Reserva Biológica;
III - Parque Nacional;
IV - Monumento Natural;
V - Refúgio de Vida Silvestre.

112
Mnemônico para decorar as unidades de conservação: eu Renata prometo memorizar os refúgios
de vida silvestre. Quando lembro dessas unidades, eu comemoro UPI! (unidade de proteção
integral)

113
Art. 14. Constituem o Grupo das Unidades de Uso Sustentável as seguintes categorias de unidade
de conservação:
I - Área de Proteção Ambiental;
II - Área de Relevante Interesse Ecológico;
III - Floresta Nacional;
IV - Reserva Extrativista;
V - Reserva de Fauna;
VI - Reserva de Desenvolvimento Sustentável; e
VII - Reserva Particular do Patrimônio Natural.

113
sustentável, dos recursos que ali se encontram. As
espécies são:
● Área de Proteção Ambiental (APA);
● Área de Relevante Interesse Ecológico;
● Floresta Nacional;
● Reserva Extrativista;
● Reserva de Fauna;
● Reserva de Desenvolvimento Sustentável; e
● Reserva Particular do Patrimônio Natural.
e. Regras de posse e domínio
i. Aspectos essenciais
● Existem unidades de conservação que são de
posse e domínio público, de modo que toda e
qualquer propriedade particular que se encontre
dentro da delimitação geográfica de unidade de
conservação de posse e domínio público será
desapropriada114, porque terá uma
incompatibilidade entre os interesses particulares e
objetivos e finalidades desta unidade de
conservação.
○ Exemplo: Estação Ecológica e Reserva
Biológica.
● Ainda, há unidades de conservação que são de
regime misto/híbrido, ou seja, apesar de serem de
domínio público, podem ser mantidas as
propriedades particulares, não necessitando de
desapropriação caso tenha a compatibilidade entre
os objetivos da unidade com a utilização da terra e

114
A unidade de conservação é criada por um ato do Poder Público, de modo que não é
necessário, primeiramente, realizar a desapropriação, tendo em vista que a desapropriação
é uma consequência da posse e domínio público da unidade de conservação.

114
dos recursos naturais do local pelo proprietários. Se
no caso concreto, houver incompatibilidade, essas
áreas particulares serão desapropriadas.
○ Exemplo: Monumento Natural (Artigo 12 da
Lei 9.985/00)115
● Além disso, há unidades de conservação que,
apesar de serem de domínio público, é
perfeitamente possível que seu uso seja permitido
e delegado às populações tradicionais. Em outras
palavras, o uso desses espaços podem ser
estendidos para as populações tradicionais.
○ Exemplo: Reserva Extrativista (art 18, caput e
§1º)116. No caso da reserva extrativista, o uso
será concedido para populações tradicionais
(populações extrativistas), sendo que, em
regra, essa exploração é destinada para a
subsistência dessa população. Porém, toda e
qualquer propriedade privada que se

115
Art. 12. O Monumento Natural tem como objetivo básico preservar sítios naturais raros, singulares
ou de grande beleza cênica.
§ 1º O Monumento Natural pode ser constituído por áreas particulares, desde que seja possível
compatibilizar os objetivos da unidade com a utilização da terra e dos recursos naturais do local
pelos proprietários.
§ 2º Havendo incompatibilidade entre os objetivos da área e as atividades privadas ou não havendo
aquiescência do proprietário às condições propostas pelo órgão responsável pela administração da
unidade para a coexistência do Monumento Natural com o uso da propriedade, a área deve ser
desapropriada, de acordo com o que dispõe a lei.
§ 3º A visitação pública está sujeita às condições e restrições estabelecidas no Plano de Manejo da
unidade, às normas estabelecidas pelo órgão responsável por sua administração e àquelas previstas
em regulamento.

116
Art. 18. A Reserva Extrativista é uma área utilizada por populações extrativistas tradicionais, cuja
subsistência baseia-se no extrativismo e, complementarmente, na agricultura de subsistência e na
criação de animais de pequeno porte, e tem como objetivos básicos proteger os meios de vida e a
cultura dessas populações, e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da unidade.
(Regulamento)
§ 1º A Reserva Extrativista é de domínio público, com uso concedido às populações extrativistas
tradicionais conforme o disposto no art. 23 desta Lei e em regulamentação específica, sendo que as
áreas particulares incluídas em seus limites devem ser desapropriadas, de acordo com o que dispõe
a lei.

115
encontra no limite dessa unidade de
conservação será desapropriada.
● A Reserva Particular do Patrimônio Natural (art 21
c/c art 14, VII)117118 (RPPN) é a única unidade de
conservação constituída, em sua totalidade, por
áreas particulares. Assim, no ato de instituição
dessa unidade, há uma manifestação expressa do
particular.
○ A finalidade de instituir essa área é monetizar
essa área com a proteção do meio ambiente,
de modo que terá, ainda, o benefício da
isenção do Imposto Territorial Rural.
○ Essa unidade de conservação é gravada com
perpetuidade. Logo, se for transferir a
propriedade, haverá a transferência do
gravame da unidade de conservação.
○ Essa unidade está elencada como de uso
sustentável por um equívoco do legislador,
porque o artigo 21, §2º, III que foi vetado pela

117
Art. 21. A Reserva Particular do Patrimônio Natural é uma área privada, gravada com
perpetuidade, com o objetivo de conservar a diversidade biológica. (Regulamento)
§ 1º O gravame de que trata este artigo constará de termo de compromisso assinado perante o órgão
ambiental, que verificará a existência de interesse público, e será averbado à margem da inscrição no
Registro Público de Imóveis.
§ 2º Só poderá ser permitida, na Reserva Particular do Patrimônio Natural, conforme se dispuser em
regulamento:
I - a pesquisa científica;
II - a visitação com objetivos turísticos, recreativos e educacionais;
§ 3º Os órgãos integrantes do SNUC, sempre que possível e oportuno, prestarão orientação técnica e
científica ao proprietário de Reserva Particular do Patrimônio Natural para a elaboração de um Plano
de Manejo ou de Proteção e de Gestão da unidade.

118
Art. 14. Constituem o Grupo das Unidades de Uso Sustentável as seguintes categorias de unidade
de conservação:
VII - Reserva Particular do Patrimônio Natural.

116
Presidência da República permitia a
exploração econômica de determinados
recursos. Nesse sentido, a partir do momento
que houve esse veto, conforme a doutrina
(Edis Milaré) essa unidade de conservação
passa a apresentar características que a
aproximam das unidades de conservação de
proteção integral.119
■ Alguns Estados da Federação editaram
Decretos (como o Estado do Rio de
Janeiro) estabelecendo que as
Reservas Particulares do Patrimônio
Natural são de uso integral.
○ O Decreto Federal 5746120 regulamenta a
Reserva Particular do Patrimônio Natural.
f. Requisitos para criar e suprimir uma unidade de
conservação
i. Artigo 225, §1º, III, CF/88121: prevê um dever específico de
criação de espaços territoriais especialmente protegidos
pelo Poder Público. Porém, não há uma delimitação da
forma de criação desses espaços. Então, conclui-se que a
criação pode ser feita de forma livre desde que respeite o
regime jurídico de proteção desses espaços. Por outro
119
Atenção! Em provas objetivas, considerar que é uma unidade de conservação de uso sustentável
pela literalidade da lei.

120
Realizar a leitura

121
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do
povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem
especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei,
vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua
proteção;

117
lado, quando for redução (alteração e supressão) dos
limites das unidades de conservação, deve-se ter uma lei
específica.
ii. Artigo 22, caput, da Lei 9985/00122: as unidades de
conservação podem ser criadas por lei ou decreto do
Poder Executivo.
iii. Requisitos para criar uma unidade de conservação
(regra)
● Estudos técnicos: esses estudos irão permitir o
acesso aos limites, dimensão e localização da
unidade de conservação. Os estudos técnicos
sempre serão elaborados.
● Consultar a população local interessada, porque
ela irá sofrer os efeitos positivos e negativos da
instituição de uma unidade de conservação. Caso
não seja realizada a consulta popular, o ato de sua
criação estará viciado123.

122
Art. 22. As unidades de conservação são criadas por ato do Poder Público.
§ 2º A criação de uma unidade de conservação deve ser precedida de estudos técnicos e de consulta
pública que permitam identificar a localização, a dimensão e os limites mais adequados para a
unidade, conforme se dispuser em regulamento.
§ 3º No processo de consulta de que trata o § 2o, o Poder Público é obrigado a fornecer informações
adequadas e inteligíveis à população local e a outras partes interessadas.
§ 4º Na criação de Estação Ecológica ou Reserva Biológica não é obrigatória a consulta de que trata o
§ 2o deste artigo.
§ 5º As unidades de conservação do grupo de Uso Sustentável podem ser transformadas total ou
parcialmente em unidades do grupo de Proteção Integral, por instrumento normativo do mesmo
nível hierárquico do que criou a unidade, desde que obedecidos os procedimentos de consulta
estabelecidos no § 2o deste artigo.
§ 6º A ampliação dos limites de uma unidade de conservação, sem modificação dos seus limites
originais, exceto pelo acréscimo proposto, pode ser feita por instrumento normativo do mesmo nível
hierárquico do que criou a unidade, desde que obedecidos os procedimentos de consulta
estabelecidos no § 2o deste artigo.
§ 7º A desafetação ou redução dos limites de uma unidade de conservação só pode ser feita
mediante lei específica.

123
Há discussões em relação a isso, porque, para o STF, quando se faz uma análise do art 22
verifica-se que ele foi regulamentado pelo Decreto 4340/02 que traz uma redação em que se discute
se, de fato, essa consulta pública é necessária. Porém, essa discussão, por enquanto, não deve ser
feita no atual momento dos estudos, devendo-se ater pela obrigatoriedade, em regra, da consulta
popular.

118
○ A lei traz duas exceções a essa regra (art 22,
§4º, da Lei 9.985/00)124
■ Na criação de Estação Ecológica ou
Reserva Biológica a consulta pública
não é obrigatória, mas facultativa. Isso
porque, sob a luz do artigo 9º125 e art 10
da Lei 9.985126, irá se deparar com duas
unidades de conservação de proteção
integral (finalidade geral: preservação
do ecossistema e impossibilidade de
atividade antrópicas que se justifiquem
pelo uso direto127 dos recursos). Assim,
há uma presunção de interesse público
relevante em relação a essas unidades
de conservação, de tal maneira que
não há motivos para consultar a
população.
iv. Artigo 22, §5º, da Lei 9.985/00: "as unidades de
conservação do grupo de Uso Sustentável podem ser
transformadas total ou parcialmente em unidades do
grupo de Proteção Integral, por instrumento normativo
do mesmo nível hierárquico do que criou a unidade,

124
§ 4º Na criação de Estação Ecológica ou Reserva Biológica não é obrigatória a consulta de que
trata o § 2º deste artigo.

125
Art. 9º A Estação Ecológica tem como objetivo a preservação da natureza e a realização de
pesquisas científicas.

126
Art. 10. A Reserva Biológica tem como objetivo a preservação integral da biota e demais atributos
naturais existentes em seus limites, sem interferência humana direta ou modificações ambientais,
excetuando-se as medidas de recuperação de seus ecossistemas alterados e as ações de manejo
necessárias para recuperar e preservar o equilíbrio natural, a diversidade biológica e os processos
ecológicos naturais.

127
Uso direto: captação, utilização e descarte.

119
desde que obedecidos os procedimentos de consulta
estabelecidos no § 2º deste artigo".
● Explicação: o Chefe do Poder Executivo criou uma
unidade de conservação de uso sustentável,
porém, posteriormente, ele quer transformar uma
parte dessa unidade em uma unidade de proteção
integral. Nesse caso, é possível haver essa
transformação pelo mesmo instrumento que criou
a unidade, por exemplo, se foi criada por decreto,
será transformada por meio de decreto. Essa
previsão existe, porque, quando transforma uma
unidade de conservação de uso sustentável em
unidade de uso integral, está ampliando a margem
de proteção. Ainda, é válido lembrar que deve
haver a consulta popular, exceto se for
transformada em uma Estação Ecológica ou
Reserva Biológica, em que a consulta pública se
torna mera faculdade.
v. Artigo 22, §7º, da Lei 9.985/00128: a desafetação ou
redução dos limites de uma unidade de conservação só
pode ser feita mediante lei específica.
● Questiona-se: a medida provisória, posteriormente
convertida em lei, pode suprimir ou reduzir as
unidades de conservação ou qualquer espaço
territorial especialmente protegido?
○ Não é possível, segundo o STF, porque isso
viola dispositivo constitucional expresso no
sentido que somente lei específica possui
esse poder. Isso porque o processo legislativo

128
Fazer uma remissão, no seu Vade, ao artigo 225, §1º, III, CF/88.

120
ordinário de uma lei não é o mesmo de uma
medida provisória (possui características
próprias não compatíveis com o processo
legislativo ordinário). Além disso, o direito
fundamental ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado é uma cláusula
pétrea.
g. Plano de manejo
i. Conceito: é um documento técnico que traz tudo que
pode e não pode ser feito no âmbito da unidade de
conservação, ressaltando a forma que a unidade de
conservação precisa ser gerida.
● Previsto no artigo 2º, XVII, da Lei 9.985/00129
ii. Artigo 27 da Lei 9.985/00: "as unidades de conservação
devem dispor de um Plano de Manejo."
iii. Prazo do plano de manejo: artigo 27, §3º, da Lei
9.985/00130.
● Por exemplo, o Chefe do Poder Executivo criou
uma unidade de conservação, a partir desse prazo,
ele tem 5 anos para criar o plano de manejo.
Todavia, o Poder Executivo se omite. Ato contínuo,
o Ministério Público ingressa com uma ação civil
pública em face da omissão do Poder Executivo,
requerendo que o Poder Judiciário determine a
elaboração do plano de manejo. Perceba que tal
pedido é possível, porque descabe falar em

129
XVII - plano de manejo: documento técnico mediante o qual, com fundamento nos objetivos
gerais de uma unidade de conservação, se estabelece o seu zoneamento e as normas que devem
presidir o uso da área e o manejo dos recursos naturais, inclusive a implantação das estruturas físicas
necessárias à gestão da unidade;

130
§ 3º O Plano de Manejo de uma unidade de conservação deve ser elaborado no prazo de cinco
anos a partir da data de sua criação.

121
violação ao princípio democrático de separação de
poderes, porque, nesse caso, estará diante de uma
omissão específica que é juridicamente relevante,
porque compromete o próprio sistema da unidade
de conservação.
h. Compensação ambiental
i. Artigo 36, da Lei 9.985/00
Art. 36. Nos casos de licenciamento ambiental de
empreendimentos de significativo impacto ambiental,
assim considerado pelo órgão ambiental competente,
com fundamento em estudo de impacto ambiental e
respectivo relatório - EIA/RIMA, o empreendedor é
obrigado a apoiar a implantação e manutenção de
unidade de conservação do Grupo de Proteção Integral,
de acordo com o disposto neste artigo e no regulamento
desta Lei.
§ 1º O montante de recursos a ser destinado pelo
empreendedor para esta finalidade não pode ser inferior
a meio por cento dos custos totais previstos para a
implantação do empreendimento, sendo o percentual
fixado pelo órgão ambiental licenciador, de acordo com o
grau de impacto ambiental causado pelo
empreendimento. (Vide ADIN nº 3.378-6, de 2008)
§ 2º Ao órgão ambiental licenciador compete definir as
unidades de conservação a serem beneficiadas,
considerando as propostas apresentadas no EIA/RIMA e
ouvido o empreendedor, podendo inclusive ser
contemplada a criação de novas unidades de
conservação.

122
§ 3º Quando o empreendimento afetar unidade de
conservação específica ou sua zona de amortecimento, o
licenciamento a que se refere o caput deste artigo só
poderá ser concedido mediante autorização do órgão
responsável por sua administração, e a unidade afetada,
mesmo que não pertencente ao Grupo de Proteção
Integral, deverá ser uma das beneficiárias da
compensação definida neste artigo.
§ 4º A obrigação de que trata o caput deste artigo poderá,
em virtude do interesse público, ser cumprida em
unidades de conservação de posse e domínio públicos
do grupo de Uso Sustentável, especialmente as
localizadas na Amazônia Legal. (Incluído pela Lei nº
13.668, de 2018)
ii. Conceito: é um instrumento econômico da Política
Nacional do Meio Ambiente (apesar de não estar previsto
na Lei 6938). Essa compensação ambiental surge
quando do procedimento de licenciamento ambiental
em que há a elaboração de um EIA/RIMA constatando a
potencialidade de o empreendimento causar
significativa degradação do meio ambiente. Nesse
contexto, surge, para o empreendedor, o dever de
compensar esses danos por meio da implementação ou
mantendo uma unidade de conservação de proteção
integral, em regra. Perceba que o EIA/RIMA é
pressuposto lógico da compensação ambiental.
● Imagine que, durante a exploração econômica de
determinada atividade, houve um dano ambiental.
Haverá responsabilidade?
○ Depende, devendo analisar:

123
■ O dano ambiental foi o mesmo previsto
no EIA/RIMA: não poderá ser
responsabilizado sob pena de bis in
idem.
■ O dano ambiental é diferente do
previsto no EIA/RIMA: poderá ser
responsabilizado civilmente.

124
8. Responsabilidade Ambiental131
a. Noções preliminares
i. Responsabilidade ambiental (gênero)
● Responsabilidade Civil
● Responsabilidade Administrativa
● Responsabilidade Penal
○ Um sujeito pode ser responsabilizado nas
três esferas. Isso é a teoria da tríplice
responsabilidade ambiental (art 225, §3º,
CF/88)132, a qual pode ser conceituada como
uma pessoa física ou jurídica (direito público
ou privado) pode responder
simultaneamente na esfera administrativa e
penal, independentemente da reparação dos
danos causados na esfera cível, o que afasta a
aplicação do bis in idem, tendo em vista que
são esferas autônomas.
b. Responsabilidade Civil ambiental
i. Previsão legal no artigo 14, §1º da Lei 6938/81133:
perceba que a responsabilidade civil já tem previsão no
ordenamento jurídico desde 1981.
ii. Introdução
● A responsabilidade civil ambiental é um instituto
jurídico, de modo que possui uma base
131
Esse é o tema mais recorrente em provas de concurso público. Deve conhecer a jurisprudência em
relação a esse assunto.

132
§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores,
pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação
de reparar os danos causados.

133
Não confundir isso com as questões previstas na Lei de Ação Civil Pública.

125
principiológica e alguns elementos que precisam
estar presentes para se atribuir a responsabilidade.
○ Princípios da responsabilidade civil
ambiental
■ Poluidor pagador
■ Reparação integral (Reparação in
integrum): esse princípio irá dispor que
a reparação ambiental precisa ser a
mais completa possível, devendo ser
identificada como gênero do qual são
espécies: (I) reparação in natura134 (II)
reparação in pecunia135 (III)
compensação pelo dano ambiental
causado136.
➢ Esse princípio pode ser atrelado à
súmula 629 do STJ: "é admitida a
condenação do réu à obrigação
de fazer ou à de não fazer
cumulada com a de indenizar".
○ Elementos que precisam estar presentes
para se atribuir a responsabilidade
■ Conduta: a conduta pode se dar por
ação ou por omissão, de modo que se
deve avaliar quem está realizando a
conduta ou quem se omite.

134
É a reparação principal que busca trazer o meio ambiente degradado ao seu status quo anterior
(características originárias), sendo uma recomposição dos danos causados ao meio ambiente.

135
É uma reparação secundária que traduz em indenização

136
Não se confunde com a compensação ambiental que ocorre no bojo do licenciamento ambiental.
E essa compensação ocorre quando reparação in natura não foi possível e, por isso, são adotadas
técnicas alternativas de recomposição do dano.

126
➢ Quem é que pratica essa
conduta ou quem se omite?
★ Artigo 3º, IV, da Lei
6938/81137: a pessoa física ou
jurídica podem ser
poluidoras diretas138 ou
indiretas139.
⇨ Exemplo: os
consumidores
possuem uma
responsabilidade
pós-consumo, de
modo que devem
descartar os resíduos
sólidos de forma
adequada. Então,
imagine que a
Renata mora em
uma casa e seu
vizinho possui um
terreno não
edificável, de modo
que Renata começa
a descartar os seus
resíduos nesse
ambiente. Todavia, o

137
IV - poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou
indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental;

138
É quem diretamente dá causa ao dano.

139
É quem não dá causa diretamente ao dano, mas, em razão da sua omissão, incrementa ou
contribui para a possibilidade do dano acontecer.

127
art 47, da Lei 12.
305/10140 prevê uma
proibição expressa
do descarte a céu
aberto de resíduos,
ressalvados os
rejeitos de
mineração. Logo,
nesse caso, a Renata
será poluidora direta.
⇨ Exemplo: o
município em
virtude do seu dever
genérico de proteger
o meio ambiente
para presentes e
futuras gerações
possui a função de
garantidor. Imagine
que, no bairro do Rio
de Janeiro, há um
canil clandestino que
causa maus-tratos
aos animais há mais
de 10 anos, apesar de
inúmeras denúncias.

140
Art. 47. São proibidas as seguintes formas de destinação ou disposição final de resíduos sólidos ou
rejeitos:
I - lançamento em praias, no mar ou em quaisquer corpos hídricos;
II - lançamento in natura a céu aberto, excetuados os resíduos de mineração;
III - queima a céu aberto ou em recipientes, instalações e equipamentos não licenciados para essa
finalidade;
IV - outras formas vedadas pelo poder público.

128
Perceba que é
flagrante a omissão
do Poder Público no
que diz respeito ao
seu poder de polícia
no âmbito
fiscalizatório. Nesse
caso, o Ministério
Público pode
ingressar com uma
ação civil pública em
face dos donos do
canil e do município.
Veja que o município,
nesse caso, é o
poluidor indireto.
⇨ A pessoa jurídica de
direito público pode
ser responsabilizada
por dano ambiental
como poluidor direto
ou indireto.
★ Artigo 14, §1º, da Lei
6938/81141: a
responsabilidade civil por
danos causados ao meio
ambiente é objetiva, de

141
§ 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado,
independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio
ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá
legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio
ambiente.

129
modo que não importa se
os elementos subjetivos do
tipo estão presentes, quais
sejam: dolo ou culpa.142
★ No polo passivo de uma
ação de reparação por
danos ambientais é
possível que estejam
elencados todos aqueles
que contribuíram para a
ocorrência do dano. Dessa
forma, entre os
poluidores143, existe uma
relação de solidariedade.144
Isso é muito importante,
porque, assim, conclui-se
que há, no polo passivo de
uma ação de reparação,
uma formação de um
litisconsórcio passivo
facultativo. E, há uma
responsabilidade ilimitada,
porque precisa garantir de
forma ampla e completa a
reparação do dano

142
Isso é muito importante!
143
Poluidor direto e indireto.

144
Essa solidariedade facilita a reparação ambiental.

130
causado, bastando ver a
súmula 629 do STJ145
➢ Responsabilidade por omissão
do Poder Público: o STJ pacificou
o entendimento no sentido de
que a responsabilidade civil por
danos causados ao meio
ambiente, ainda que por omissão
do Poder Público, mantém a
natureza objetiva, porque o
artigo 14, §1º, da Lei 6.938/81 não
faz qualquer distinção entre ação
ou omissão e entre pessoa
jurídica de direito privado ou
pública. Logo, se o legislador não
faz qualquer distinção, o
intérprete também não pode
fazer. Ainda, essa
responsabilidade será solidária e
ilimitada. Todavia, o STJ, na
súmula 652146, pacificou o
entendimento de que, apesar de
a responsabilidade ser solidária,
terá uma execução subsidiária. A
lógica súmula 652 é que há um
benefício de ordem em prol da
pessoa jurídica de direito público
que esteja sendo

145
"É admitida a condenação do réu à obrigação de fazer ou à de não fazer cumulada com a de
indenizar".
146
"A responsabilidade civil da administração pública por danos ao meio ambiente, decorrente de
sua omissão no dever de fiscalização, é de caráter solidário, mas de execução subsidiária".

131
responsabilizada enquanto
poluidora indireta. Assim,
primeiramente, precisa buscar a
poluição junto ao poluidor direto
e, apenas quando estiver diante
de uma absoluta
impossibilidade, deverá buscar o
poluidor indireto. Perceba que é
a execução que é subsidiária e
que somente ocorrerá essa
subsidiariedade do Poder
Público quando houver a
omissão do dever de fiscalização
do Poder Público (poluidor
indireto).
■ Nexo de causalidade: é o elo de ligação
entre a conduta praticada pelo agente
e o resultado danoso. O nexo de
causalidade é justificado por uma série
de teorias (teoria do risco proveito147,
teoria do risco criado148 e teoria do risco
integral149 150
). Assim, em regra, o risco é
a potencialidade de causação de um

147
No caso concreto, aquele que tirar proveito da exploração de uma determinada atividade e dessa
atividade decorrer um dano ao meio ambiente, ele será responsabilizado, ressalvadas as hipóteses
de exclusão da responsabilidade.

148
Aquele que criou o risco (independente se tirou proveito) será responsabilizado, ressalvadas as
hipóteses de exclusão da responsabilidade.

149
A pessoa física ou jurídica que está explorando uma atividade e, dessa atividade, decorreu o dano
ao meio ambiente, ela irá responder por essa potencialidade, não sendo cabível as excludentes da
responsabilidade.

150
Sendo que a teoria adotada para fins de responsabilidade civil ambiental é a teoria do risco
integral.

132
dano ambiental que pode se consumar
ou se manter potencialmente (não se
consumar). Quando se estuda essa
teoria do risco, é perceptível que, em
regra, o risco se encontra no resultado
(potencialidade de causação do dano
ambiental ou de sua existência)151.
➢ Teoria do risco integral: mesmo
ocorrendo uma excludente da
responsabilidade que irá romper
o nexo de causalidade, haverá a
responsabilidade da pessoa física
ou jurídica.152 Isso porque o nexo
de causalidade, dentro da teoria
do risco integral, funciona como
um fator aglutinante que irá
transportar o risco que,
normalmente se verifica no
resultado, para o ato praticado
pelo agente. Em outras palavras,
o nexo de causalidade funciona
como um fator aglutinante que
irá transportar o risco para o
elemento conduta (núcleo do ato
praticado pelo agente).
★ Observação: esse raciocínio
não é aplicado nas

151
Exceto no caso da teoria do risco integral em que o risco se encontra na conduta.
152
Exemplo: pessoa jurídica transportadora de agrotóxicos e, em razão de forte chuva, acaba
havendo o tombamento do caminhão. Nesse caso, houve a ocorrência de uma exclusão da
responsabilidade, porém, no caso do dano ambiental, haverá a responsabilidade.

133
hipóteses em que sequer
existe um nexo de
causalidade (não está
falando de rompimento de
nexo, mas ausência de
nexo). Basta ver o julgado
do navio Vicunã153 que diz
que uma determinada
pessoa jurídica adquire
material poluente (ex:
produtor rural que adquire
agrotóxico da empresa B.
Essa empresa B, além de
vender, é responsável pelo
transporte do agrotóxico).
E, acaba que o navio
transportador do material
poluente tomba. Nesse
caso, o Ministério Público
ingressou com uma ação
civil pública em face da
empresa A (comprou o
material poluente) e em
face da empresa B
(transportou e vendeu o
material poluente). Os
advogados da empresa A
ingressaram com um
pedido de ilegitimidade

153
REsp 1602106

134
passiva ad causam que foi
aceito pelo STJ. Isso
porque, para a Corte, o
simples fato de se adquirir
uma substância química
com potencialidade lesiva
não é suficiente para
configurar um nexo de
causalidade com o
vazamento da substância
química. Assim, a simples
compra não apresenta
uma potencialidade lesiva
suficiente para que tenha
um nexo de causalidade
com o dano ambiental.
Então, em regra, para
responsabilizar qualquer
pessoa física ou jurídica há
a necessidade da conduta,
nexo de causalidade e
resultado danoso. Porém,
há uma exceção: súmula
623 STJ154, em que prevê
que o atual adquirente,
mesmo que de boa-fé,
pode ser responsabilizado,
perceba que, todavia, a
priori, para alguns

154
"As obrigações ambientais possuem natureza propter rem, sendo admissível cobrá-las do
proprietário ou possuidor atual e/ou dos anteriores, à escolha do credor".

135
doutrinadores há nexo de
causalidade, porque o
passivo ambiental
acompanha a coisa (efeito
permanente) há o nexo de
causalidade com a
conduta omissiva do atual
adquirente em não
recuperar e regularizar a
área degradada. Por outro
lado, há outros
doutrinadores que
defendem que essa
súmula 623 é uma exceção,
não havendo nexo de
causalidade.
■ Resultado danoso: apresenta como o
dano ambiental que é multifacetário e
intergeracional, podendo ser: (I)
material; (II) presente entre o ato
praticado pelo agente e a consolidação
do dano, mas ainda não ocorrida a
reparação; (III) definitivo e (IV) moral.
Há a necessidade de estudar o
resultado danoso diante da reparação
(busca pela reparação do dano
causado). Esses danos são
permanentes de efeito cumulativo que
somente acabará de produzir os efeitos

136
quando o dano for efetivamente
cessado.
➢ Tema 999 STF: a reparação
ambiental é imprescritível,
devendo o dano perdurar, de
modo que as gerações futuras
podem se voltar em relação às
anteriores. Porém, o STF não
definiu se essa reparação é de
natureza in natura ou in pecunia.
Logo, cuidado que na prova (já
caiu na prova objetiva de juiz do
TJSP): "a reparação é
imprescritível".155
➢ STJ: ressalta que é preciso
diferenciar a reparação in
pecunia da in natura, de modo
que a reparação in natura é
imprescritível. Todavia, a
reparação in pecunia é
prescritível (5 anos consoante o
Código Civil).
➢ Dano moral ambiental coletivo: a
jurisprudência e a doutrina
majoritária entende que é
possível a condenação por dano
moral ambiental coletivo que
corresponde a uma violação de
um direito de personalidade de

155
Considerado o gabarito correto.

137
toda coletividade, havendo
relação direta com a integridade
psicofísica que pressupõe uma
sadia qualidade de vida. A
reparação deste dano moral
ambiental coletivo, segundo o
STJ, não está sujeita à teoria dos
danos punitivos e ao princípio da
reparação integral, porque esse é
um dano que se reflete em uma
violação de um direito de
personalidade de toda uma
coletividade.
c. Responsabilidade Administrativa Ambiental
i. Artigo 225, §3º, CF/88156
ii. Noções preliminares
● Exemplo: Renata é proprietária de um imóvel rural
(não constituído como área de reserva legal) e
acaba colocando fogo nessa propriedade sem
autorização do órgão competente, de modo que
acaba sendo fiscalizada pelo órgãos competentes
que lavraram um auto de infração que dará início à
ação para a apuração da prática da infração
administrativa ambiental que, ao final do processo
administrativo instaurado, será aplicado ou não a
sanção administrativa.

156
§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores,
pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de
reparar os danos causados.

138
● Assim, para falar em responsabilidade
administrativa ambiental, há como pressuposto
um exercício regulador do poder de polícia
ambiental fiscalizatório que irá constatar a prática
de uma infração e lavrar um auto de infração
(documento formal) que dará início a um processo
administrativo ambiental. Até 2019, não se falava
em audiência de conciliação para a apuração de
infrações administrativas ambientais. Em 2019, foi
feito um Decreto Federal 9760 (art 97-A)157 que
atualizou o Decreto 6514/08 que traz normas de
processo e julgamento de infrações administrativas
ambientais em âmbito federal e regulamentou a
Lei de Crimes Ambientais158. Porém, esse decreto
6514 foi novamente alterado pelo Decreto 11373/23
que revogou a possibilidade de audiência de
conciliação.

157
Art. 97-A. Por ocasião da lavratura do auto de infração, o autuado será notificado para, querendo,
comparecer ao órgão ou à entidade da administração pública federal ambiental em data e horário
agendados, a fim de participar de audiência de conciliação ambiental. (Revogado pelo Decreto
nº 11.080, de 2022)
§ 1º A fluência do prazo a que se refere o art. 113 fica sobrestada pelo agendamento da audiência de
conciliação ambiental e o seu curso se iniciará a contar da data de sua realização. (Revogado pelo
Decreto nº 11.080, de 2022)
§ 2º O sobrestamento de que trata o § 1º não prejudica a eficácia das medidas administrativas
eventualmente aplicadas.”

158
É uma lei duplamente híbrida que traz normas penais e normas gerais de responsabilidade
administrativa ambiental.

139
○ Artigo 95159 e 96 do Decreto 6514: apesar de,
atualmente, não haver a audiência de
conciliação, o artigo 96, §5º, II160 traz algumas
práticas que serão estimuladas pela
Administração Pública Ambiental para
encerrar de imediato o processo
administrativo ambiental.
iii. Conceito de infração administrativa ambiental
● Artigo 70, caput, da Lei 9695/98161
○ Assim, diante desse conceito, atualmente,
entende-se que a natureza da
responsabilidade administrativa ambiental é
subjetiva,162 segundo a jurisprudência do STJ,
porque essa infração administrativa possui
um caráter punitivo, de modo que sua
natureza será subjetiva (aplica-se a teoria da
culpabilidade), aplicando-se os princípios

159
Art. 95. O processo será orientado pelos princípios da legalidade, finalidade, motivação,
razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica,
interesse público e eficiência, bem como pelos critérios mencionados no parágrafo único do art. 2o
da Lei no 9.784, de 29 de janeiro de 1999.

Art. 95-A. A adesão a uma das soluções legais previstas no inciso II do § 5º do art. 96 será estimulada
pela administração pública federal ambiental, com vistas a encerrar os processos administrativos
federais relativos à apuração de infrações administrativas por condutas e atividades lesivas ao meio
ambiente.

160
§ 5º Do termo de notificação da lavratura do auto de infração constará que o autuado, no prazo de
vinte dias, contado da data da cientificação, poderá:
II - aderir a uma das seguintes soluções legais possíveis para o encerramento do processo:
(Redação dada pelo Decreto nº 11.373, de 2023)
a) pagamento da multa com desconto; (Incluído pelo Decreto nº 11.373, de 2023)
b) parcelamento da multa; ou (Incluído pelo Decreto nº 11.373, de 2023)
c) conversão da multa em serviços de preservação, de melhoria e de recuperação da qualidade
do meio ambiente.

161
Art. 70. Considera-se infração administrativa ambiental toda ação ou omissão que viole as regras
jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente.

162
O STJ, antigamente, entendia que era de natureza objetiva, porque essa espécie de
responsabilidade se aproxima da responsabilidade civil.

140
punitivos, tais como: intranscendência da
pena e individualização da pena.
iv. Competência para lavratura do auto de infração
● Artigo 70, §1º, da Lei 9695/98
§ 1º São autoridades competentes para lavrar auto
de infração ambiental e instaurar processo
administrativo os funcionários de órgãos
ambientais integrantes do Sistema Nacional de
Meio Ambiente - SISNAMA, designados para as
atividades de fiscalização, bem como os agentes
das Capitanias dos Portos, do Ministério da
Marinha.
v. Sanções possíveis de serem aplicadas aos agentes que
estão respondendo pelo processo administrativo
● Artigo 72 da Lei 9695/98: segundo a
jurisprudência e a doutrina é um rol taxativo.
Art. 72. As infrações administrativas são punidas
com as seguintes sanções, observado o disposto no
art. 6º:
I - advertência;
II - multa simples;
III - multa diária;
IV - apreensão dos animais, produtos e
subprodutos da fauna e flora, instrumentos,
petrechos, equipamentos ou veículos de qualquer
natureza utilizados na infração;
V - destruição ou inutilização do produto;
VI - suspensão de venda e fabricação do produto;
VII - embargo de obra ou atividade;
VIII - demolição de obra;

141
IX - suspensão parcial ou total de atividades;
XI - restritiva de direitos.
● O STJ afetou julgados para discutir se há uma
ordem hierárquica entre essas sanções, ou
seja, se há necessidade de aplicar, por
exemplo, a advertência para depois aplicar a
multa simples.
§ 1º Se o infrator cometer, simultaneamente, duas
ou mais infrações, ser-lhe-ão aplicadas,
cumulativamente, as sanções a elas cominadas.
§ 2º A advertência será aplicada pela inobservância
das disposições desta Lei e da legislação em vigor,
ou de preceitos regulamentares, sem prejuízo das
demais sanções previstas neste artigo.
§ 3º A multa simples será aplicada sempre que o
agente, por negligência ou dolo:163 (requisitos para
aplicar a multa simples)
I - advertido por irregularidades que tenham sido
praticadas, deixar de saná-las, no prazo assinalado
por órgão competente do SISNAMA ou pela
Capitania dos Portos, do Ministério da Marinha;
II - opuser embaraço à fiscalização dos órgãos do
SISNAMA ou da Capitania dos Portos, do Ministério
da Marinha.
§ 4º A multa simples pode ser convertida em
serviços de preservação, melhoria e recuperação da
qualidade do meio ambiente.
● A jurisprudência do STJ defende a tese de
que isso não é um direito subjetivo do agente

163
Há a necessidade do elemento subjetivo do tipo.

142
infrator, de modo que, diante das
circunstâncias do caso concreto, fica a cargo
de um poder discricionário da Administração
Pública ambiental. Porém, deve lembrar do
artigo 96, §5º, II que prevê que a conversão da
pena de multa em serviços de preservação e
melhoria do meio ambiente deve ser
estimulada para o encerramento do
processo administrativo. Ao fim e ao cabo,
deve-se prevalecer o entendimento da
jurisprudência do STJ que defende que há a
discricionariedade dessa conversão.
§ 5º A multa diária será aplicada sempre que o
cometimento da infração se prolongar no tempo.
§ 6º A apreensão e destruição referidas nos incisos
IV e V do caput obedecerão ao disposto no art. 25
desta Lei.
§ 7º As sanções indicadas nos incisos VI a IX do
caput serão aplicadas quando o produto, a obra, a
atividade ou o estabelecimento não estiverem
obedecendo às prescrições legais ou
regulamentares.
§ 8º As sanções restritivas de direito são:
I - suspensão de registro, licença ou autorização;
II - cancelamento de registro, licença ou
autorização;
III - perda ou restrição de incentivos e benefícios
fiscais;

143
IV - perda ou suspensão da participação em linhas
de financiamento em estabelecimentos oficiais de
crédito;
V - proibição de contratar com a Administração
Pública, pelo período de até três anos.
vi. Prescrição
● Artigo 21 do Decreto 6514/08
Art. 21. Prescreve em cinco anos a ação da
administração objetivando apurar a prática de
infrações contra o meio ambiente, contada da data
da prática do ato, ou, no caso de infração
permanente ou continuada, do dia em que esta
tiver cessado.
§ 1º Considera-se iniciada a ação de apuração de
infração ambiental pela administração com a
lavratura do auto de infração.
§ 2º Incide a prescrição (prescrição intercorrente)
no procedimento de apuração do auto de infração
paralisado por mais de três anos, pendente de
julgamento ou despacho, cujos autos serão
arquivados de ofício ou mediante requerimento da
parte interessada, sem prejuízo da apuração da
responsabilidade funcional decorrente da
paralisação. (Redação dada pelo Decreto nº 6.686,
de 2008).
§ 3º Quando o fato objeto da infração também
constituir crime, a prescrição de que trata o caput
reger-se-á pelo prazo previsto na lei penal.
§ 4º A prescrição da pretensão punitiva da
administração não elide a obrigação de reparar o

144
dano ambiental. (Incluído pelo Decreto nº 6.686, de
2008).
● Súmula 467 do STJ: "prescreve em cinco anos,
contados do término do processo administrativo, a
pretensão da Administração Pública de promover
a execução da multa por infração ambiental".
● Tema 146 STJ164: se na hipótese inexistir uma
norma específica que trata do prazo de cobrança
da pena de multa aplicada pela prática de uma
infração ambiental, deve-se aplicar o Decreto
20.910/32 no que tange ao prazo de 5 anos.
○ Exemplo: um pescador alugou uma
embarcação de uma empresa X e utilizando
essa embarcação praticou uma infração
ambiental (seja ela infração administrativa ou
crime ambiental). E, imagine que ele praticou
um crime ambiental, de modo que acabou
sendo preso em flagrante. Diante desse caso,
no Tema 1036 do STJ,165 questionou-se, se
para fins de apreensão desses instrumentos
utilizados para a prática de infração, precisa
de alguma habitualidade ou reincidência.
Feito esse questionamento, o STJ decidiu
que, diante do exposto no artigo 25, da Lei

164
É de cinco anos o prazo para a cobrança da multa aplicada ante infração administrativa ao meio
ambiente, nos termos do Decreto nº 20.910/32, o qual que deve ser aplicado por isonomia, à falta de
regra específica para regular esse prazo prescricional.

165
"A apreensão do instrumento utilizado na infração ambiental, fundada na atual redação do § 4º do
art. 25 da Lei 9.605/1998, independe do uso específico, exclusivo ou habitual para a empreitada
infracional"

145
9695/98166, não há a necessidade de qualquer
causa que evidencie a utilização reiterada
desses instrumento, porque, se assim fosse,
acabaria restringindo o alcance da norma.
Ainda, perceba que, nesse exemplo, mesmo
que a embarcação tenha sido alugada, ela
poderá ser apreendida, porém esse terceiro
precisa ter a oportunidade de se manifestar
no bojo do processo. Porém, é mister
salientar que não há um direito subjetivo
desse terceiro se tornar depositário fiel desse
bem, de modo que compete, à
Administração Pública Ambiental, decidir.
d. Responsabilidade penal ambiental
i. Artigo 225, §3º, CF/88167: quando o legislador constituinte
trouxe esse dispositivo, ele, na verdade, trouxe um
mandato de criminalização, ou seja, corresponde a uma
determinação do legislador constituinte ao legislador
ordinário para que ele legisle sobre os crimes ambientais.
ii. Lei 9695/98: é uma lei de natureza híbrida que traz
normas sobre responsabilidade penal ambiental e sobre
responsabilidade administrativa ambiental. Dentro desse
contexto de normas, precisa ter a certeza que o
legislador, além de ter se preocupado em punir a pessoa
física e jurídica pela prática de uma conduta tipificada

166
Art. 25. Verificada a infração (administrativa ou penal), serão apreendidos seus produtos e
instrumentos, lavrando-se os respectivos autos.
167
§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores,
pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de
reparar os danos causados.

146
como crime ambiental, também se preocupou com a
reparação dos danos causados.168
iii. Artigo 2º, da Lei 9695/98169: deve ser analisado em duas
partes:
● Adoção da Teoria Monista: semelhantemente ao
artigo 29, CP170171 todos aqueles que concorreram
para a prática do crime ambiental serão
responsabilizados na medida de sua culpabilidade.
● Previsão da figura do garantidor: algumas
pessoas que se inserem dentro de uma pessoa
jurídica apresentam a qualidade de garantidores,
de modo que, diante de sua omissão penalmente
relevante, irão responder por crime omissivo
impróprio (crime comissivo por omissão). Assim,
quando esses agentes (diretor, o administrador, o
membro de conselho e de órgão técnico, o auditor,
o gerente, o preposto ou mandatário de pessoa
jurídica) sabe que um dos funcionários da pessoa
jurídica, sobre os quais ele tem o poder de
gerência, está praticando um crime ambiental e
esse agente poderia ter atuado para impedir o
crime, irá ser responsabilizado por conta da sua

168
Por exemplo: quando for analisar os institutos despenalizadores irá verificar que a transação penal
é condicionada à prévia composição do dano.

169
Art. 2º Quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos crimes previstos nesta Lei, incide nas
penas a estes cominadas, na medida da sua culpabilidade, (adoção da teoria monista) bem como o
diretor, o administrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto
ou mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de outrem, deixar de impedir
a sua prática, quando podia agir para evitá-la (figura do garantidor).

170
Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na
medida de sua culpabilidade.

171
É importante ressaltar que na ausência de normas dispondo sobre a matéria no âmbito ambiental,
será aplicado subsidiariamente o Código Penal

147
omissão juridicamente (penalmente) relevante (irá
responder por omissão imprópria).
○ A simples figura de uma pessoa como sócia a
faz responsável na figura de garantidor?
■ Segundo o STJ, não é suficiente por si
só, porque, se assim o fizesse, seria
admitir a responsabilidade objetiva
penal, o que não é admitido. Logo, para
essas pessoas serem responsabilizadas,
elas precisam saber da prática do
crime e precisam ter poder de gerência
capaz de impedir o crime.
iv. Responsabilidade penal da pessoa jurídica (artigo 3º,
da Lei 9695/98)172
● Requisitos para haver a responsabilidade da
pessoa jurídica - requisitos cumulativos173
○ A infração seja cometida por decisão de seu
representante legal ou contratual, ou de seu
órgão colegiado
○ A infração tenha sido praticada no interesse
ou benefício da pessoa jurídica.
● A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui
a das pessoas físicas, autoras, co-autoras ou
partícipes do mesmo fato.

172
Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o
disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante
legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade.
Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras,
co-autoras ou partícipes do mesmo fato.

Esse artigo foi considerado constitucional pelo STF.


173
Se faltar esses requisitos não poderá responsabilizar a pessoa jurídica, porque senão estaria diante
da responsabilidade penal objetiva. Lembrar que a natureza da responsabilidade penal é subjetiva
(precisa de dolo ou culpa). Porém, quando se trata de pessoa jurídica, adota-se a teoria da
culpabilidade social.

148
○ A teoria da dupla imputação174 se aplica aos
crimes ambientais?
■ Segundo o STF, não há aplicação da
teoria da dupla imputação, porque isso
dificulta a responsabilização penal das
pessoas jurídicas. Então, é possível que
o Ministério Público ofereça a denúncia
somente em face da pessoa jurídica.
Com isso, a pessoa jurídica de direito
privado responde por crimes
ambientais.
● A pessoa jurídica de direito público responde por
crimes ambientais?175 176
○ 1ª corrente: não é possível, porque seria o
Estado punindo a si mesmo, o que não teria
lógica.
○ 2ª corrente: é possível, porque, na verdade,
não há qualquer distinção feita pelo
legislador constituinte ou ordinário.
v. Institutos despenalizadores
● É possível a aplicação de institutos
despenalizadores. Isso porque há muitos crimes de
menor potencial ofensivo e médio potencial
ofensivo.

174
O Ministério Público, quando do oferecimento da denúncia, deve fazer em face da pessoa jurídica
e da pessoa física simultaneamente, não podendo oferecer denúncia somente em relação à pessoa
jurídica.

175
Essa questão deve ser aprofundada pelos alunos que desejam realizar provas do Ministério
Público, essencialmente na segunda fase.

176
Indicação de leitura: Crimes ambientais e a responsabilidade penal da pessoa jurídica de direito
público

149
● A transação penal (artigo 27, Lei 9695/98)177 é
condicionada à prévia composição do dano,
diferentemente do que ocorre no âmbito do
JECRIM (Lei 9.099).
○ Prévia composição do dano: a doutrina se
posiciona no sentido de que essa prévia
composição não necessariamente é a efetiva
reparação dos danos causados, de modo que,
se estivesse diante de um termo de
ajustamento de conduta em que está
ocorrendo a composição dos danos entre o
titular da ação penal e o agente infrator seria
possível aplicar o artigo 27 da Lei 9.695/98. A
simples celebração de um termo de
ajustamento de conduta não é suficiente
para afastar o trâmite da ação penal.
● Suspensão condicional do processo (artigo 28,
da Lei 9695/98)178: é possível a aplicação.
vi. Princípio da insignificância

177
Art. 27. Nos crimes ambientais de menor potencial ofensivo, a proposta de aplicação imediata de
pena restritiva de direitos ou multa, prevista no art. 76 da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995,
somente poderá ser formulada desde que tenha havido a prévia composição do dano ambiental,
de que trata o art. 74 da mesma lei, salvo em caso de comprovada impossibilidade.
178
Art. 28. As disposições do art. 89 da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, aplicam-se aos crimes
de menor potencial ofensivo definidos nesta Lei, com as seguintes modificações:
I - a declaração de extinção de punibilidade, de que trata o § 5º do artigo referido no caput,
dependerá de laudo de constatação de reparação do dano ambiental, ressalvada a impossibilidade
prevista no inciso I do § 1º do mesmo artigo;
II - na hipótese de o laudo de constatação comprovar não ter sido completa a reparação, o prazo de
suspensão do processo será prorrogado, até o período máximo previsto no artigo referido no caput,
acrescido de mais um ano, com suspensão do prazo da prescrição;
III - no período de prorrogação, não se aplicarão as condições dos incisos II, III e IV do § 1º do artigo
mencionado no caput;
IV - findo o prazo de prorrogação, proceder-se-á à lavratura de novo laudo de constatação de
reparação do dano ambiental, podendo, conforme seu resultado, ser novamente prorrogado o
período de suspensão, até o máximo previsto no inciso II deste artigo, observado o disposto no inciso
III;
V - esgotado o prazo máximo de prorrogação, a declaração de extinção de punibilidade dependerá
de laudo de constatação que comprove ter o acusado tomado as providências necessárias à
reparação integral do dano.

150
● 1ª corrente ( julgados mais antigos): não é possível
aplicar o princípio da insignificância, porque o
direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado precisa ser protegido na sua essência.
● 2ª corrente (tendência do STJ): é possível aplicar o
princípio da insignificância, porém essa aplicação
não é imediata, devendo verificar a existência de
requisitos cumulativos: (I) conduta minimamente
ofensiva (II) ausência de periculosidade do agente
(III) reduzido grau de reprovabilidade do agente e
(IV) inexpressiva ofensa ao bem jurídico tutelado
pela norma.
○ Jurisprudência relacionada: Agravo
Regimental no REsp 1850002179.

179
PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CRIME
AMBIENTAL CONTRA A FLORA. ART. 39 DA LEI N. 9.605/98 PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.
REINCIDÊNCIA ESPECÍFICA. INAPLICABILIDADE. I - A análise da controvérsia apresentada no
recurso especial prescinde do reexame de provas; é suficiente, apenas, a revaloração dos fatos
incontroversos explicitados no acórdão recorrido. II - A aplicação do princípio da insignificância,
como causa de atipicidade da conduta, especialmente em se tratando de crimes ambientais, é
cabível desde que presentes os seguintes requisitos: conduta minimamente ofensiva, ausência de
periculosidade do agente, reduzido grau de reprovabilidade do comportamento e lesão jurídica
inexpressiva. III - No caso dos autos, o delito em análise se trata da supressão de 02 troncos de
árvores nativas, sem autorização do órgão ambiental competente, portanto, não demonstrada a
ínfima ofensividade ao bem ambiental tutelado. Ademais, o Eg. Tribunal de origem consignou que o
agravante é reincidente específico, o que impede o reconhecimento do aludido princípio. Agravo
regimental desprovido.
(STJ - AgRg no REsp: 1850002 MG 2019/0350323-8, Relator: Ministro FELIX FISCHER, Data de
Julgamento: 16/06/2020, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 24/06/2020, grifo nosso)

151
9. Política Nacional de Recursos
Hídricos (Lei 9433/97)
a. Noções preliminares
i. A competência administrativa ou material é dividida em
dois grupos:
● Competência exclusiva da União: competência
para regulamentar a outorga do uso dos recursos
hídricos e instituir o Sistema Nacional de
Gerenciamento dos Recursos Hídricos.
● Competência comum
ii. Essa lei traz uma série de fundamentos, diretrizes,
objetivos e instrumentos. Além disso, irá instituir o
Sistema Nacional de Gerenciamentos dos Recursos
Hídricos e irá tipificar determinados crimes. Assim,
perceba que a Lei de Crimes Ambientais não esgota os
crimes ambientais.
b. Fundamentos da Lei 9.433/97
i. Artigo 1º, da Lei 9.433/97
Art. 1º A Política Nacional de Recursos Hídricos baseia-se
nos seguintes fundamentos:

I - a água é um bem de domínio público;


● Esse inciso nos remete ao regime de dominialidade
das águas que foi estabelecido após o advento da
Constituição Federal. Isso porque, antes da
Constituição Federal, havia o Decreto das Águas
que trazia a previsão de águas particulares. Com o
advento da Constituição Federal, passou a ter o
regime público das águas, de modo que a água

152
pode ser bem de domínio público da União (art 20,
CF/88) ou de domínio público dos Estados (art 26,
CF/88). Atualmente, há a lei 9.433/97 referindo-se
que a água é um bem de domínio público no
sentido de que as águas não são mais particulares
e que elas são de domínio da União e do Estado,
não existindo águas de domínio público dos
Municípios.
○ Consequência: toda e qualquer captação de
águas pressupõe uma autorização do órgão
público federal e estadual, em regra, (art 11 e
seguintes da Lei 9.433/97 ), conhecido como
outorga do uso de recursos hídricos. Perceba
que a água não é de titularidade do Poder
Público, porque a água é um recurso natural
de titularidade difusa, o que há é um regime
jurídico de domínio público das águas.

II - a água é um recurso natural limitado, dotado de


valor econômico;
● A água é um bem dotado de escassez e com valor
econômico, de modo que a água é um elemento
fundamental para a vida que apresenta sinal de
escassez. Com isso, quando se atribui um valor
econômico desse recurso, busca-se racionalizar o
uso desse recurso pela população de forma geral,
evitando uma hiperexploração do recurso a custo
zero. Logo, deve-se relacionar o princípio do usuário
pagador ao fundamento de que a água é um
recurso limitado e com valor econômico.

153
III - em situações de escassez, o uso prioritário dos
recursos hídricos é o consumo humano e a
dessedentação de animais;

IV - a gestão dos recursos hídricos deve sempre


proporcionar o uso múltiplo das águas;

V - a bacia hidrográfica é a unidade territorial para


implementação da Política Nacional de Recursos
Hídricos e atuação do Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos;

VI - a gestão dos recursos hídricos deve ser


descentralizada e contar com a participação do Poder
Público, dos usuários e das comunidades.

ii. A água tem um uso múltiplo, porém um dos


fundamentos da Política Nacional de Recurso Hídricos é
que existem hipóteses extraordinárias que fazem com
que esse uso múltiplo seja reduzido, buscando, de forma
prioritária, um uso singular seja para consumo humano
ou dessedentação dos animais.
iii. Deverá analisar a Política Nacional de Recursos Hídricos
partindo de uma análise das bacias hidrográficas que
se apresentam como a unidade territorial para
implementação da Política Nacional de Recursos
Hídricos. Assim, não irá analisar o território nacional de
forma uníssona. Isso é muito importante, porque cada
bacia hidrográfica irá apresentar o uso preponderante do

154
recurso, de modo que terão bacias que o uso múltiplo
das águas possui uma preponderância na navegação e
uso próprio, por exemplo. E, é, nesse contexto, que os
Comitês de Bacia Hidrográfica irão funcionar como
última instância de deliberação do uso múltiplo das
águas.
c. Objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos
i. Artigo 2º, da Lei 9.433/97180
● Assegurar à atual e às futuras gerações a
necessária disponibilidade de água, em padrões
de qualidade adequados aos respectivos uso:
esse objetivo está diretamente ligado ao preceito
fundamental do princípio da solidariedade
intergeracional ou princípio da responsabilidade
entre gerações, de modo que o uso da água pela
geração atual não pode comprometer o acesso, no
aspecto qualitativo e quantitativo, da água181 pelas
futuras gerações.
d. Instrumentos da Política Nacional de Recursos
Hídricos
i. Artigo 5º, da Lei 9.433/97

180
Art. 2º São objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos:

I - assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões de


qualidade adequados aos respectivos usos;

II - a utilização racional e integrada dos recursos hídricos, incluindo o transporte aquaviário, com
vistas ao desenvolvimento sustentável;

III - a prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de origem natural ou decorrentes do
uso inadequado dos recursos naturais.

IV - incentivar e promover a captação, a preservação e o aproveitamento de águas pluviais.


(Incluído pela Lei nº 13.501, de 2017)

181
Nas suas diversas funcionalidades.

155
Art. 5º São instrumentos da Política Nacional de
Recursos Hídricos:

I - os Planos de Recursos Hídricos;

II - o enquadramento dos corpos de água em classes,


segundo os usos preponderantes da água;

III - a outorga dos direitos de uso de recursos hídricos;

IV - a cobrança pelo uso de recursos hídricos;

V - a compensação a municípios;

VI - o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos.


ii. Estudos de alguns instrumentos

156
● Plano de Recurso Hídrico (art 6º a 8º, da Lei
9.433/97)182: é uma espécie de plano diretor de
recursos hídricos que irá orientar a política de
implementação dos recursos hídricos, de modo
que deve apresentar um lapso temporal extenso,
porque deve buscar atender as gerações futuras.
○ Conteúdo mínimo (art 7º): um dos elementos
de conteúdo são a definição das prioridades
para outorga de direitos de uso de recursos
hídricos e diretrizes e critérios para a
cobrança pelo uso dos recursos hídricos.
Perceba que a outorga e cobrança não se
confundem, de modo que se
complementam.
○ Artigo 8º: Os Planos de Recursos Hídricos
serão elaborados por bacia hidrográfica, por

182
Art. 6º Os Planos de Recursos Hídricos são planos diretores que visam a fundamentar e orientar a
implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e o gerenciamento dos recursos hídricos.

Art. 7º Os Planos de Recursos Hídricos são planos de longo prazo, com horizonte de planejamento
compatível com o período de implantação de seus programas e projetos e terão o seguinte
conteúdo mínimo:

I - diagnóstico da situação atual dos recursos hídricos;

II - análise de alternativas de crescimento demográfico, de evolução de atividades produtivas e de


modificações dos padrões de ocupação do solo;

III - balanço entre disponibilidades e demandas futuras dos recursos hídricos, em quantidade e
qualidade, com identificação de conflitos potenciais;

IV - metas de racionalização de uso, aumento da quantidade e melhoria da qualidade dos recursos


hídricos disponíveis;

V - medidas a serem tomadas, programas a serem desenvolvidos e projetos a serem implantados,


para o atendimento das metas previstas;

VIII - prioridades para outorga de direitos de uso de recursos hídricos;

IX - diretrizes e critérios para a cobrança pelo uso dos recursos hídricos;

X - propostas para a criação de áreas sujeitas a restrição de uso, com vistas à proteção dos recursos
hídricos.

157
Estado e para o País. Assim, para cada bacia
hidrográfica, há um plano de recurso hídrico.
● Outorga de direito do uso dos recursos hídricos
(art 11 a 18, da Lei 9.433/97): é uma autorização
concedida pelo Poder Público que irá viabilizar
para que a pessoa física ou jurídica de direito
público ou privado a fazer a captação e utilização
do recurso hídrico. É essa outorga que irá impor a
quantidade que pode ser utilizada a água e
também impor limites no que se refere à
qualidade.
○ Essa autorização pelo Poder Público (não é
titular do bem) não se refere a uma
disposição desse bem. Há, na verdade, um
controle do uso dos recursos hídricos.

Art. 11. O regime de outorga de direitos de uso de


recursos hídricos tem como objetivos assegurar o
controle quantitativo e qualitativo dos usos da água e o
efetivo exercício dos direitos de acesso à água.

Art. 12. Estão sujeitos a outorga pelo Poder Público os


direitos dos seguintes usos de recursos hídricos:

I - derivação ou captação de parcela da água existente


em um corpo de água para consumo final, inclusive
abastecimento público, ou insumo de processo
produtivo;

158
II - extração de água de aquífero subterrâneo para
consumo final ou insumo de processo produtivo;
● A perfuração de um poço artesiano demanda
outorga?
○ Segundo o STJ, é necessária a outorga para
perfuração do poço artesiano.

III - lançamento em corpo de água de esgotos e demais


resíduos líquidos ou gasosos, tratados ou não, com o fim
de sua diluição, transporte ou disposição final;

IV - aproveitamento dos potenciais hidrelétricos;

V - outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a


qualidade da água existente em um corpo de água.

§ 1º Independem de outorga pelo Poder Público,


conforme definido em regulamento:

I - o uso de recursos hídricos para a satisfação das


necessidades de pequenos núcleos populacionais,
distribuídos no meio rural;
● No meio urbano, em regra, conforme a previsão do
artigo 45 da Lei 11.445/07183, as construções edilícias
devem estar ligadas a redes públicas de
abastecimento de água e esgotamento sanitário.
Se não houver rede pública, a própria Lei 11.445/07

183
Art. 45. As edificações permanentes urbanas serão conectadas às redes públicas de
abastecimento de água e de esgotamento sanitário disponíveis e sujeitas ao pagamento de taxas,
tarifas e outros preços públicos decorrentes da disponibilização e da manutenção da infraestrutura e
do uso desses serviços. (Redação pela Lei nº 14.026, de 2020)

159
permite uma fonte de captação de água alternativa
com a necessária autorização do Poder Público.

II - as derivações, captações e lançamentos


considerados insignificantes;

III - as acumulações de volumes de água consideradas


insignificantes.

§ 2º A outorga e a utilização de recursos hídricos para fins


de geração de energia elétrica estará subordinada ao
Plano Nacional de Recursos Hídricos, aprovado na forma
do disposto no inciso VIII do art. 35 desta Lei, obedecida a
disciplina da legislação setorial específica.

Art. 13. Toda outorga estará condicionada às prioridades


de uso estabelecidas nos Planos de Recursos Hídricos e
deverá respeitar a classe em que o corpo de água estiver
enquadrado e a manutenção de condições adequadas ao
transporte aquaviário, quando for o caso.

Parágrafo único. A outorga de uso dos recursos hídricos


deverá preservar o uso múltiplo destes.

Art. 14. A outorga efetivar-se-á por ato da autoridade


competente do Poder Executivo Federal, dos Estados ou
do Distrito Federal.

§ 1º O Poder Executivo Federal poderá delegar aos


Estados e ao Distrito Federal competência para conceder

160
outorga de direito de uso de recurso hídrico de domínio
da União.

Art. 15. A outorga de direito de uso de recursos hídricos


poderá ser suspensa parcial ou totalmente, em definitivo
ou por prazo determinado, nas seguintes circunstâncias:

I - não cumprimento pelo outorgado dos termos da


outorga;

II - ausência de uso por três anos consecutivos;

III - necessidade premente de água para atender a


situações de calamidade, inclusive as decorrentes de
condições climáticas adversas;

IV - necessidade de se prevenir ou reverter grave


degradação ambiental;

V - necessidade de se atender a usos prioritários, de


interesse coletivo, para os quais não se disponha de
fontes alternativas;

VI - necessidade de serem mantidas as características de


navegabilidade do corpo de água.

Art. 16. Toda outorga de direitos de uso de recursos


hídricos far-se-á por prazo não excedente a trinta e
cinco anos, renovável184.

184
Não é renovável apenas uma vez.

161
● O prazo de outorga é não excedente a trinta e cinco
anos renovável. Há uma discussão se essa
renovação deve respeitar o limite máximo de 35
anos ou se há a possibilidade de inúmeras
renovações, independente do prazo máximo ser 35
anos.
Art. 18. A outorga não implica a alienação parcial das
águas, que são inalienáveis, mas o simples direito de seu
uso.
e. Cobrança do uso de recursos hídricos
i. Artigo 19185, da Lei 9.433/97: toda e qualquer hipótese
que demande a outorga irá demandar o pagamento, de
modo que a outorga não se confunde com o pagamento,
mas se relacionam186 (art 20, da Lei 9.433/97).

Art. 21. Na fixação dos valores a serem cobrados pelo uso


dos recursos hídricos devem ser observados, dentre
outros:

I - nas derivações, captações e extrações de água, o


volume retirado e seu regime de variação;

185
Art. 19. A cobrança pelo uso de recursos hídricos objetiva:

I - reconhecer a água como bem econômico e dar ao usuário uma indicação de seu real valor;

II - incentivar a racionalização do uso da água;

III - obter recursos financeiros para o financiamento dos programas e intervenções contemplados
nos planos de recursos hídricos.

186
Art. 20. Serão cobrados os usos de recursos hídricos sujeitos a outorga, nos termos do art. 12 desta
Lei.

162
II - nos lançamentos de esgotos e demais resíduos
líquidos ou gasosos, o volume lançado e seu regime de
variação e as características físico-químicas, biológicas e
de toxidade do afluente.

Art. 22. Os valores arrecadados com a cobrança pelo uso


de recursos hídricos serão aplicados prioritariamente na
bacia hidrográfica em que foram gerados e serão
utilizados:

I - no financiamento de estudos, programas, projetos e


obras incluídos nos Planos de Recursos Hídricos;
II - no pagamento de despesas de implantação e custeio
administrativo dos órgãos e entidades integrantes do
Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos
Hídricos.

§ 1º A aplicação nas despesas previstas no inciso II deste


artigo é limitada a sete e meio por cento do total
arrecadado.
§ 2º Os valores previstos no caput deste artigo poderão
ser aplicados a fundo perdido em projetos e obras que
alterem, de modo considerado benéfico à coletividade, a
qualidade, a quantidade e o regime de vazão de um
corpo de água.
f. Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos
Hídricos
Art. 32. Fica criado o Sistema Nacional de Gerenciamento
de Recursos Hídricos, com os seguintes objetivos:

163
I - coordenar a gestão integrada das águas;

II - arbitrar administrativamente os conflitos relacionados


com os recursos hídricos;

III - implementar a Política Nacional de Recursos


Hídricos;

IV - planejar, regular e controlar o uso, a preservação e a


recuperação dos recursos hídricos;

V - promover a cobrança pelo uso de recursos hídricos.

Art. 33. Integram o Sistema Nacional de Gerenciamento


de Recursos Hídricos: (Redação dada pela Lei 9.984, de
2000)

I – o Conselho Nacional de Recursos Hídricos; (Redação


dada pela Lei 9.984, de 2000)

I-A. – a Agência Nacional de Águas; (Incluído pela Lei


9.984, de 2000)

II – os Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e do


Distrito Federal; (Redação dada pela Lei 9.984, de 2000)

III – os Comitês de Bacia Hidrográfica; (Redação dada


pela Lei 9.984, de 2000)

164
IV – os órgãos dos poderes públicos federal, estaduais, do
Distrito Federal e municipais cujas competências se
relacionem com a gestão de recursos hídricos;
(Redação dada pela Lei 9.984, de 2000)

V – as Agências de Água. (Redação dada pela Lei 9.984,


de 2000)

Art. 34. O Conselho Nacional de Recursos Hídricos é


composto por:

I - representantes dos Ministérios e Secretarias da


Presidência da República com atuação no
gerenciamento ou no uso de recursos hídricos;

II - representantes indicados pelos Conselhos Estaduais


de Recursos Hídricos;

III - representantes dos usuários dos recursos hídricos;

IV - representantes das organizações civis de recursos


hídricos.

Parágrafo único. O número de representantes do Poder


Executivo Federal não poderá exceder à metade mais um
do total dos membros do Conselho Nacional de Recursos
Hídricos.

Art. 35. Compete ao Conselho Nacional de Recursos


Hídricos:

165
I - promover a articulação do planejamento de recursos
hídricos com os planejamentos nacional, regional,
estaduais e dos setores usuários;

II - arbitrar, em última instância administrativa, os


conflitos existentes entre Conselhos Estaduais de
Recursos Hídricos;

III - deliberar sobre os projetos de aproveitamento de


recursos hídricos cujas repercussões extrapolem o
âmbito dos Estados em que serão implantados;

IV - deliberar sobre as questões que lhe tenham sido


encaminhadas pelos Conselhos Estaduais de Recursos
Hídricos ou pelos Comitês de Bacia Hidrográfica;

V - analisar propostas de alteração da legislação


pertinente a recursos hídricos e à Política Nacional de
Recursos Hídricos;

VI - estabelecer diretrizes complementares para


implementação da Política Nacional de Recursos
Hídricos, aplicação de seus instrumentos e atuação do
Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos
Hídricos;

VII - aprovar propostas de instituição dos Comitês de


Bacia Hidrográfica e estabelecer critérios gerais para a
elaboração de seus regimentos;

166
IX – acompanhar a execução e aprovar o Plano Nacional
de Recursos Hídricos e determinar as providências
necessárias ao cumprimento de suas metas;
(Redação dada pela Lei 9.984, de 2000)

X - estabelecer critérios gerais para a outorga de direitos


de uso de recursos hídricos e para a cobrança por seu
uso.

XI - zelar pela implementação da Política Nacional de


Segurança de Barragens (PNSB); (Incluído pela
Lei nº 12.334, de 2010)

XII - estabelecer diretrizes para implementação da PNSB,


aplicação de seus instrumentos e atuação do Sistema
Nacional de Informações sobre Segurança de Barragens
(SNISB); (Incluído pela Lei nº 12.334, de 2010)

XIII - apreciar o Relatório de Segurança de Barragens,


fazendo, se necessário, recomendações para melhoria da
segurança das obras, bem como encaminhá-lo ao
Congresso Nacional. (Incluído pela Lei nº 12.334, de
2010)

Art. 36. O Conselho Nacional de Recursos Hídricos será


gerido por:
I - um Presidente, que será o Ministro de Estado do Meio
Ambiente e Mudança do Clima; (Redação dada pela
Medida Provisória nº 1.154, de 2023)

167
II - um Secretário-Executivo, que será o titular do órgão
integrante da estrutura do Ministério do Meio Ambiente e
Mudança do Clima responsável pela gestão dos recursos
hídricos. (Redação dada pela Medida Provisória nº 1.154,
de 2023)

Art. 37. Os Comitês de Bacia Hidrográfica terão como


área de atuação:

I - a totalidade de uma bacia hidrográfica;

II - sub-bacia hidrográfica de tributário do curso de água


principal da bacia, ou de tributário desse tributário; ou

III - grupo de bacias ou sub-bacias hidrográficas


contíguas.

Parágrafo único. A instituição de Comitês de Bacia


Hidrográfica em rios de domínio da União será efetivada
por ato do Presidente da República.

Art. 38. Compete aos Comitês de Bacia Hidrográfica, no


âmbito de sua área de atuação:

I - promover o debate das questões relacionadas a


recursos hídricos e articular a atuação das entidades
intervenientes;

II - arbitrar, em primeira instância administrativa, os


conflitos relacionados aos recursos hídricos;

168
III - aprovar o Plano de Recursos Hídricos da bacia;

IV - acompanhar a execução do Plano de Recursos


Hídricos da bacia e sugerir as providências necessárias ao
cumprimento de suas metas;

V - propor ao Conselho Nacional e aos Conselhos


Estaduais de Recursos Hídricos as acumulações,
derivações, captações e lançamentos de pouca
expressão, para efeito de isenção da obrigatoriedade de
outorga de direitos de uso de recursos hídricos, de
acordo com os domínios destes;

VI - estabelecer os mecanismos de cobrança pelo uso de


recursos hídricos e sugerir os valores a serem cobrados;

IX - estabelecer critérios e promover o rateio de custo das


obras de uso múltiplo, de interesse comum ou coletivo.

Parágrafo único. Das decisões dos Comitês de Bacia


Hidrográfica caberá recurso ao Conselho Nacional ou aos
Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos, de acordo
com sua esfera de competência.

Art. 39. Os Comitês de Bacia Hidrográfica são compostos


por representantes:

I - da União;

169
II - dos Estados e do Distrito Federal cujos territórios se
situem, ainda que parcialmente, em suas respectivas
áreas de atuação;

III - dos Municípios situados, no todo ou em parte, em sua


área de atuação;

IV - dos usuários das águas de sua área de atuação;

V - das entidades civis de recursos hídricos com atuação


comprovada na bacia.

§ 1º O número de representantes de cada setor


mencionado neste artigo, bem como os critérios para sua
indicação, serão estabelecidos nos regimentos dos
comitês, limitada a representação dos poderes
executivos da União, Estados, Distrito Federal e
Municípios à metade do total de membros.

§ 2º Nos Comitês de Bacia Hidrográfica de bacias de rios


fronteiriços e transfronteiriços de gestão compartilhada,
a representação da União deverá incluir um
representante do Ministério das Relações Exteriores.

§ 3º Nos Comitês de Bacia Hidrográfica de bacias cujos


territórios abranjam terras indígenas devem ser incluídos
representantes:

I - da Fundação Nacional do Índio - FUNAI, como parte da


representação da União;

170
II - das comunidades indígenas ali residentes ou com
interesses na bacia.

§ 4º A participação da União nos Comitês de Bacia


Hidrográfica com área de atuação restrita a bacias de rios
sob domínio estadual, dar-se-á na forma estabelecida
nos respectivos regimentos.

Art. 40. Os Comitês de Bacia Hidrográfica serão dirigidos


por um Presidente e um Secretário, eleitos dentre seus
membros.

10. Política Nacional de Resíduos Sólidos


(Lei 12.305/10)
a. Noções preliminares
i. Essa lei busca implementar a Política Nacional de
Resíduos Sólidos, garantindo uma melhor gestão e
gerenciamento a respeito dos resíduos sólidos.
b. Conceitos essenciais
i. Resíduo sólido (art 3º, XVI, da Lei 12.305/10):187 está
falando, de forma atécnica, do lixo produzido em virtude
do consumo do produto.

187
XVI- resíduos sólidos: material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades
humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado
a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos
cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos
d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor
tecnologia disponível;

171
● Com a sociedade de consumo, há uma imposição
da redução do tempo de vida útil dos bens de
consumo. Com isso, há uma preocupação em
buscar de certa forma não produzir determinados
resíduos sólidos, reduzir esses resíduos, buscar
reciclagem desses resíduos ou buscar um descarte
adequado.
ii. Rejeitos (art 3º, XV, da Lei 12.305/10)188 são uma espécie
do gênero resíduo sólido que não apresentam
possibilidade de tratamento (porque não é
economicamente viável ou porque não existe tecnologia
apropriada), de modo que somente será possível a
disposição final ambientalmente adequada (faz
geralmente por meio de aterro sanitário).
c. Âmbito de aplicação da Lei
i. Artigo 1º, §1º, da Lei 12.305/10
§ 1º Estão sujeitas à observância desta Lei as pessoas
físicas ou jurídicas, de direito público ou privado,
responsáveis, direta ou indiretamente, pela geração de
resíduos sólidos e as que desenvolvam ações
relacionadas à gestão integrada ou ao gerenciamento de
resíduos sólidos.
● Por exemplo: as pessoas jurídicas que produzem e
geram resíduos sólidos deverão elaborar um plano
de gerenciamento de resíduos sólidos,
independentemente de um plano municipal,
estadual, federal e nacional.

188
XV - rejeitos: resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento e
recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não apresentem
outra possibilidade que não a disposição final ambientalmente adequada;

172
○ Se analisar de uma forma grosseira, aqueles
que produzem resíduos sólidos podem ser
equiparados como agentes poluidores.
ii. Essa lei não se aplica a todo e qualquer resíduo sólido,
bastando ver o artigo 1º, §2º189 que dispõe que os rejeitos
radioativos não serão disciplinados por essa Lei.
d. Base principiológica da Lei 12.305/10
i. Artigo 6º, da Lei 12.305/10
Art. 6º São princípios da Política Nacional de Resíduos
Sólidos:
I - a prevenção e a precaução;
II - o poluidor-pagador e o protetor-recebedor;
III - a visão sistêmica, na gestão dos resíduos sólidos, que
considere as variáveis ambiental, social, cultural,
econômica, tecnológica e de saúde pública;
IV - o desenvolvimento sustentável;

V - a ecoeficiência, mediante a compatibilização entre o


fornecimento, a preços competitivos, de bens e serviços
qualificados que satisfaçam as necessidades humanas e
tragam qualidade de vida e a redução do impacto
ambiental e do consumo de recursos naturais a um nível,
no mínimo, equivalente à capacidade de sustentação
estimada do planeta;
VI - a cooperação entre as diferentes esferas do poder
público, o setor empresarial e demais segmentos da
sociedade;
VII - a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida
dos produtos;

189
§ 2º Esta Lei não se aplica aos rejeitos radioativos, que são regulados por legislação específica.

173
VIII - o reconhecimento do resíduo sólido reutilizável e
reciclável como um bem econômico e de valor social,
gerador de trabalho e renda e promotor de cidadania;
IX - o respeito às diversidades locais e regionais;
X - o direito da sociedade à informação e ao controle
social;
XI - a razoabilidade e a proporcionalidade.
e. Objetivos da Política Nacional de Resíduos Sólidos
i. Artigo 7º, da Lei 12.305/10
Art. 7º São objetivos da Política Nacional de Resíduos
Sólidos:

I - proteção da saúde pública e da qualidade ambiental;

II - não geração, redução, reutilização, reciclagem e


tratamento dos resíduos sólidos, bem como disposição
final ambientalmente adequada dos rejeitos;
● Fazer remissão com o artigo 9º, da Lei
12.305/10190

III - estímulo à adoção de padrões sustentáveis de


produção e consumo de bens e serviços;

190
Art. 9º Na gestão e gerenciamento de resíduos sólidos, deve ser observada a seguinte ordem de
prioridade: não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento dos resíduos sólidos e
disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos.
§ 1º Poderão ser utilizadas tecnologias visando à recuperação energética dos resíduos sólidos
urbanos, desde que tenha sido comprovada sua viabilidade técnica e ambiental e com a
implantação de programa de monitoramento de emissão de gases tóxicos aprovado pelo órgão
ambiental.
§ 2º A Política Nacional de Resíduos Sólidos e as Políticas de Resíduos Sólidos dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios serão compatíveis com o disposto no caput e no § 1o deste artigo e
com as demais diretrizes estabelecidas nesta Lei.

174
IV - adoção, desenvolvimento e aprimoramento de
tecnologias limpas como forma de minimizar impactos
ambientais;

V - redução do volume e da periculosidade dos resíduos


perigosos;

VI - incentivo à indústria da reciclagem, tendo em vista


fomentar o uso de matérias-primas e insumos derivados
de materiais recicláveis e reciclados;

VII - gestão integrada de resíduos sólidos;

VIII - articulação entre as diferentes esferas do poder


público, e destas com o setor empresarial, com vistas à
cooperação técnica e financeira para a gestão integrada
de resíduos sólidos;

IX - capacitação técnica continuada na área de resíduos


sólidos;

X - regularidade, continuidade, funcionalidade e


universalização da prestação dos serviços públicos de
limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos, com
adoção de mecanismos gerenciais e econômicos que
assegurem a recuperação dos custos dos serviços
prestados, como forma de garantir sua sustentabilidade
operacional e financeira, observada a Lei nº 11.445, de
2007;

175
XI - prioridade, nas aquisições e contratações
governamentais, para:

a) produtos reciclados e recicláveis;

b) bens, serviços e obras que considerem critérios


compatíveis com padrões de consumo social e
ambientalmente sustentáveis;

XII - integração dos catadores de materiais reutilizáveis e


recicláveis nas ações que envolvam a responsabilidade
compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos;

XIII - estímulo à implementação da avaliação do ciclo de


vida do produto;

XIV - incentivo ao desenvolvimento de sistemas de


gestão ambiental e empresarial voltados para a melhoria
dos processos produtivos e ao reaproveitamento dos
resíduos sólidos, incluídos a recuperação e o
aproveitamento energético;

XV - estímulo à rotulagem ambiental e ao consumo


sustentável.
f. Instrumentos da Política Nacional de Resíduos
Sólidos
i. Artigo 8º, da Lei 12.305/10191

191
Art. 8º São instrumentos da Política Nacional de Resíduos Sólidos, entre outros:
I - os planos de resíduos sólidos;
II - os inventários e o sistema declaratório anual de resíduos sólidos;
III - a coleta seletiva, os sistemas de logística reversa e outras ferramentas relacionadas à
implementação da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos;

176
ii. Estudo de alguns instrumentos
● Coleta Seletiva: instrumento de segregação dos
resíduos descartados. A partir do momento que
segrega os resíduos, potencializa-se a gestão e o
gerenciamento dos resíduos descartados. É
interessante observar que esse instrumento, em
alguns municípios, já é regra, com previsão em lei
municipal. Assim, o descumprimento dessas
normas de obrigatoriedade de coleta seletiva, faz
com que se tenha responsabilidade civil,
administrativa e penal.

IV - o incentivo à criação e ao desenvolvimento de cooperativas ou de outras formas de associação


de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis;
V - o monitoramento e a fiscalização ambiental, sanitária e agropecuária;
VI - a cooperação técnica e financeira entre os setores público e privado para o desenvolvimento de
pesquisas de novos produtos, métodos, processos e tecnologias de gestão, reciclagem, reutilização,
tratamento de resíduos e disposição final ambientalmente adequada de rejeitos;
VII - a pesquisa científica e tecnológica;
VIII - a educação ambiental;
IX - os incentivos fiscais, financeiros e creditícios;
X - o Fundo Nacional do Meio Ambiente e o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico;
XI - o Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos (Sinir);
XII - o Sistema Nacional de Informações em Saneamento Básico (Sinisa);
XIII - os conselhos de meio ambiente e, no que couber, os de saúde;
XIV - os órgãos colegiados municipais destinados ao controle social dos serviços de resíduos sólidos
urbanos;
XV - o Cadastro Nacional de Operadores de Resíduos Perigosos;
XVI - os acordos setoriais;
XVII - no que couber, os instrumentos da Política Nacional de Meio Ambiente, entre eles:

a) os padrões de qualidade ambiental;

b) o Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras ou Utilizadoras de Recursos


Ambientais;

c) o Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental;

d) a avaliação de impactos ambientais;

e) o Sistema Nacional de Informação sobre Meio Ambiente (Sinima);

f) o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras;

XVIII - os termos de compromisso e os termos de ajustamento de conduta;


XIX - o incentivo à adoção de consórcios ou de outras formas de cooperação entre os entes
federados, com vistas à elevação das escalas de aproveitamento e à redução dos custos envolvidos.

177
● Logística reversa: parte-se do pressuposto de que
a ordem lógica da cadeia produtiva no que tange
ao descarte de bens de consumo deverá ser
invertida. Em outras palavras, busca-se a reinserção
do resíduo descartado na cadeia produtiva para
que ele retorne no primeiro elo da cadeia.
■ Exemplo: imagine que no primeiro elo
da cadeia há o produtor, fabricante e
importador que coloca esse bem à
disposição de um transportador, na
cadeia produtiva. Esse transportador
transporta esse bem de consumo ao
comércio. O consumidor que ocupa o
final dessa cadeia produtiva vai ao
comércio e adquire esse bem de
consumo, de modo que, quando
houver o esgotamento do bem de
consumo, será descartado o bem
(resíduo). Porém, determinados
resíduos precisarão ser descartados de
modo a voltar para a cadeia produtiva
para ser transportado para o primeiro
elo (produtor, fabricante e importador)
para que tenha a destinação ambiental
adequada.
○ Os bens em que é obrigatório ter o sistema
de logística reversa estão previstos no artigo
33, da Lei 12.305/10)192. Ainda, com a

192
Art. 33. São obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa, mediante retorno
dos produtos após o uso pelo consumidor, de forma independente do serviço público de limpeza
urbana e de manejo dos resíduos sólidos, os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes
de:

178
pandemia, foi feito um decreto em que
sujeitou os medicamentos vencidos à
logística reversa.
g. Proibições trazidas pela Lei
i. Artigo 47 a 49 da Lei 12.305/10
Art. 47. São proibidas as seguintes formas de destinação
ou disposição final de resíduos sólidos ou rejeitos:

I - agrotóxicos, seus resíduos e embalagens, assim como outros produtos cuja embalagem, após o
uso, constitua resíduo perigoso, observadas as regras de gerenciamento de resíduos perigosos
previstas em lei ou regulamento, em normas estabelecidas pelos órgãos do Sisnama, do SNVS e do
Suasa, ou em normas técnicas;
II - pilhas e baterias;
III - pneus;
IV - óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens;
V - lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista;
VI - produtos eletroeletrônicos e seus componentes.
§ 1º Na forma do disposto em regulamento ou em acordos setoriais e termos de compromisso
firmados entre o poder público e o setor empresarial, os sistemas previstos no caput serão
estendidos a produtos comercializados em embalagens plásticas, metálicas ou de vidro, e aos
demais produtos e embalagens, considerando, prioritariamente, o grau e a extensão do impacto à
saúde pública e ao meio ambiente dos resíduos gerados. (Regulamento)
§ 2º A definição dos produtos e embalagens a que se refere o § 1o considerará a viabilidade técnica e
econômica da logística reversa, bem como o grau e a extensão do impacto à saúde pública e ao
meio ambiente dos resíduos gerados.
§ 3º Sem prejuízo de exigências específicas fixadas em lei ou regulamento, em normas estabelecidas
pelos órgãos do Sisnama e do SNVS, ou em acordos setoriais e termos de compromisso firmados
entre o poder público e o setor empresarial, cabe aos fabricantes, importadores, distribuidores e
comerciantes dos produtos a que se referem os incisos II, III, V e VI ou dos produtos e embalagens a
que se referem os incisos I e IV do caput e o § 1o tomar todas as medidas necessárias para assegurar
a implementação e operacionalização do sistema de logística reversa sob seu encargo, consoante o
estabelecido neste artigo, podendo, entre outras medidas:
I - implantar procedimentos de compra de produtos ou embalagens usados;
II - disponibilizar postos de entrega de resíduos reutilizáveis e recicláveis;
III - atuar em parceria com cooperativas ou outras formas de associação de catadores de materiais
reutilizáveis e recicláveis, nos casos de que trata o § 1o.
§ 4º Os consumidores deverão efetuar a devolução após o uso, aos comerciantes ou distribuidores,
dos produtos e das embalagens a que se referem os incisos I a VI do caput, e de outros produtos ou
embalagens objeto de logística reversa, na forma do § 1o.
§ 5º Os comerciantes e distribuidores deverão efetuar a devolução aos fabricantes ou aos
importadores dos produtos e embalagens reunidos ou devolvidos na forma dos §§ 3o e 4o.
§ 6º Os fabricantes e os importadores darão destinação ambientalmente adequada aos produtos e
às embalagens reunidos ou devolvidos, sendo o rejeito encaminhado para a disposição final
ambientalmente adequada, na forma estabelecida pelo órgão competente do Sisnama e, se houver,
pelo plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos.
§ 7º Se o titular do serviço público de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos, por acordo
setorial ou termo de compromisso firmado com o setor empresarial, encarregar-se de atividades de
responsabilidade dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes nos sistemas de
logística reversa dos produtos e embalagens a que se refere este artigo, as ações do poder público
serão devidamente remuneradas, na forma previamente acordada entre as partes.
§ 8º Com exceção dos consumidores, todos os participantes dos sistemas de logística reversa
manterão atualizadas e disponíveis ao órgão municipal competente e a outras autoridades
informações completas sobre a realização das ações sob sua responsabilidade.

179
I - lançamento em praias, no mar ou em quaisquer
corpos hídricos;

II - lançamento in natura a céu aberto, excetuados os


resíduos de mineração;
● Quando se descarta um resíduo a céu aberto, está
provocando a formação de lixões a céu aberto, de
modo que foi proibido esses lixões pela Lei
12.305/10 que trouxe prazo para que os municípios
fechassem esses lixões, porque eles trazem
violação à dignidade da pessoa humana e
aumenta a potencialidade de doenças.
● Exemplo: imagine que um hospital público
descarta resíduos sólidos no imóvel não edificado
de João. Nesse caso, o hospital público pode ser
responsabilizado por dano ambiental, de forma
objetiva, solidária (com o João) e ilimitada.

III - queima a céu aberto ou em recipientes, instalações e


equipamentos não licenciados para essa finalidade;

IV - outras formas vedadas pelo poder público.

§ 1º Quando decretada emergência sanitária, a queima


de resíduos a céu aberto pode ser realizada, desde que
autorizada e acompanhada pelos órgãos competentes
do Sisnama, do SNVS e, quando couber, do Suasa.

180
§ 2º Assegurada a devida impermeabilização, as bacias
de decantação de resíduos ou rejeitos industriais ou de
mineração, devidamente licenciadas pelo órgão
competente do Sisnama, não são consideradas corpos
hídricos para efeitos do disposto no inciso I do caput.

Art. 48. São proibidas, nas áreas de disposição final de


resíduos ou rejeitos, as seguintes atividades:

I - utilização dos rejeitos dispostos como alimentação;

II - catação, observado o disposto no inciso V do art. 17;


● Exemplo: João e Maria realizava atividade de
catação em determinado lixão a céu aberto
localizado no município de Duque de Caxias.
Imagine que esse lixão foi fechado, de modo que
João e Maria se sentiram prejudicados e
ingressaram com uma ação indenizatória em face
do Poder Público Municipal. Essa ação deve ser
julgada improcedente, porque à luz do artigo 47, II
c/c artigo 48, II, nos locais em que é vedado o
lançamento in natura a céu aberto é vedada a
atividade de catação. Logo, não houve ato ilícito do
Poder Público,

III - criação de animais domésticos;

IV - fixação de habitações temporárias ou permanentes;

V - outras atividades vedadas pelo poder público.

181
Art. 49. É proibida a importação de resíduos sólidos
perigosos e rejeitos, bem como de resíduos sólidos cujas
características causem dano ao meio ambiente, à saúde
pública e animal e à sanidade vegetal, ainda que para
tratamento, reforma, reúso, reutilização ou recuperação.

182

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