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CURSO MEGE

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Turma: TJ-CE - 1ª Fase (Reta Final)
Material: Rodada 10

MATERIAL DE APOIO
(Rodada 10)
1

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
SUMÁRIO

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DA RODADA ................................................................. 3

1. DIREITO CIVIL ........................................................................................................... 4


1.1. DOUTRINA (RESUMO) ........................................................................................... 5
1.2. LEGISLAÇÃO ........................................................................................................ 35
1.3. JURISPRUDÊNCIA ................................................................................................ 59
1.4. QUESTÕES ........................................................................................................... 78
1.5. GABARITO COMENTADO .................................................................................... 80

2. DIREITO PROCESSUAL CIVIL ................................................................................... 85


2.1. DOUTRINA (RESUMO) ....................................................................................... 86
2.2. LEGISLAÇÃO ...................................................................................................... 160
2.3. JURISPRUDÊNCIA .............................................................................................. 161
2.4. QUESTÕES ......................................................................................................... 185 2
2.5. GABARITO COMENTADO .................................................................................. 188

3. DIREITO DO CONSUMIDOR .................................................................................. 195


3.1. DOUTRINA (RESUMO) ....................................................................................... 196
3.2. JURISPRUDÊNCIA .............................................................................................. 241
3.3. QUESTÕES ......................................................................................................... 242
3.4. GABARITO COMENTADO .................................................................................. 245

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DA RODADA

(Conforme Edital de Abertura)

1. DIREITO CIVIL – Professora Flávia Martins de Carvalho

Do direito das sucessões. Da sucessão em geral. Da sucessão legítima. Da sucessão


testamentária. Inventário e Partilha. (Referente ao ponto 21 do Edital)

2. DIREITO PROCESSUAL CIVIL - Professor Guilherme Andrade

Processo de execução. (Referente ao ponto 20 do Edital)

3. DIREITO DO CONSUMIDOR – Professora Beatriz Fonteles

Defesa do consumidor em juízo. Interesses ou direitos difusos, coletivos e individuais 3


homogêneos. Legitimidade ativa para a propositura de ações coletivas. Ações coletivas
para a defesa de interesses individuais homogêneos. Ações de responsabilidade do
fornecedor de produtos e serviços. Coisa julgada. (Referente ao ponto 3 do Edital)

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
1. DIREITO CIVIL (conteúdo atualizado em 10-04-2018)

APRESENTAÇÃO

Nesta rodada, trataremos sobre dos temas “Sucessões”, “Inventário” e


“Partilha”, que têm alta relevância nos concursos da magistratura e que foi cobrado em
4 das 5 provas analisadas no Raio-X da disciplina. Ou seja, todo cuidado é pouco!

De um modo geral, as questões mesclam a letra da lei com algum entendimento


doutrinário ou jurisprudencial, como é característica da banca CESPE/CEBRASPE. Por
isso, além da leitura dos artigos, é muito importante conhecer a jurisprudência sobre o
tema, que foi cobrada em todas as provas analisadas e cujos principais julgados constam
do material.

Assim, chegamos ao fim da nossa caminhada nessa Reta Final tendo revisado
os temas mais cobrados, cujo conhecimento permitirá a todos um excelente
desempenho.
4
Desejo infinitamente muito sucesso em seus objetivos e permaneço à
disposição para o que for preciso.

Bons estudos!

Flávia Martins de Carvalho.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
1.1. DOUTRINA (RESUMO)

1.1.1. SUCESSÕES

1.1.1.1. SUCESSÕES EM GERAL

O direito sucessório consiste no conjunto de normas que disciplina a


transferência patrimonial de uma pessoa em função de sua morte.

A sucessão hereditária, também chamada de sucessão “mortis causa”, ocorre


quando, em virtude do falecimento de alguém (sucedido ou autor da herança), o seu
patrimônio é transferido a determinadas pessoas, legitimadas a recebê-lo (sucessores),
as quais, assim, substituem-no na titularidade desses bens ou direitos.

1.1.1.1.1. Classificação da sucessão hereditária

a) Quanto à matriz normativa:


5

• Sucessão hereditária legítima (arts. 1.829 a 1.856 do CC):


decorre da lei, que enuncia a ordem de vocação hereditária,
presumindo a vontade do autor da herança. É também
denominada sucessão ab intestato justamente por inexistir
testamento.

• Sucessão hereditária testamentária (arts. 1.857 a 1.990


do CC): tem origem em ato de última vontade do morto, por
testamento, legado ou codicilo, mecanismos sucessórios para
exercício da autonomia do autor da herança.

b) Quanto ao conjunto de bens transmitidos:

• Sucessão hereditária universal (arts. 1.829 a 1.856 do CC):

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
o herdeiro sucede a título universal, pois a ele é deferida uma
fração (quota-parte) ou toda a herança.

• Sucessão hereditária singular (arts. 1.912 a 1.912 do CC):


sucede a título singular o legatário, pois a ele é deferido bem ou
direito determinado.

O direito sucessório é regido, entre outros princípios, pelo Princípio da Saisine,


que consiste no reconhecimento, ainda que por ficção jurídica, da transmissão imediata
e automática do domínio e da posse da herança aos herdeiros legítimos e
testamentários, no instante da abertura da sucessão, que ocorre com a morte.

Assim, aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros


legítimos e testamentários (art. 1.784 do CC).

1.1.1.1.2. Terminologias do Direito Sucessório


6
Autor da herança ou de cujus: é a pessoa que faleceu e deixou patrimônio a ser
transmitido para os seus sucessores. Também é chamado de inventariado, defunto ou
extinto.

Sucessor (herdeiro ou legatário): diz respeito à pessoa que vai dar


continuidade às relações jurídicas (patrimoniais) do falecido, transmitidas em razão do
óbito. Quando o sucessor recebe o patrimônio a título universal é chamado de herdeiro;
caso o sucessor receba a herança a título singular, será chamado de legatário. É possível
ser herdeiro e legatário ao mesmo tempo (princípio da coexistência).

Herdeiro legítimo (necessário ou facultativo) e herdeiro testamentário:


herdeiro legítimo é aquele que recebe a herança por força da lei, ao passo que herdeiro
testamentário é aquele que recebe a herança por vontade expressa do autor da
herança, manifestada através de testamento (ato de última vontade).

Legítima: representa a parcela da herança que é dedicada, forçosamente, aos


herdeiros necessários (por força da lei), mitigando a autonomia privada do titular do

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patrimônio. Conforme art. 1.846 do CC, a legítima corresponde à metade dos bens da
herança.

Doação inoficiosa: é a que excede o limite do patrimônio líquido do doador que


se pode dispor ao tempo da prática do ato, ou seja, é aquela que excede a legítima. O
art. 549 do CC estabelece a nulidade da doação inoficiosa.

Herdeiro universal: em se tratando de herdeiro único, a integralidade do


patrimônio deixado pelo falecido será transferida para a mesma pessoa. É o chamado
herdeiro universal.

1.1.1.1.3. Da herança e sua administração

Com a abertura da sucessão, que se dá com a morte, tem-se a transferência


automática da titularidade da massa patrimonial (princípio da saisine), considerada
como um todo unitário, independentemente de manifestação de aceitação (ou eventual
renúncia) desse(s) novo(s) titular(es).
7
A herança, portanto, é o complexo das relações jurídicas de expressão
econômico-patrimonial e de caráter não personalíssimo deixadas pelo de cujus em razão
de sua morte, que não se confunde com o patrimônio, tendo em vista que ao patrimônio
são agregadas as relações de caráter personalíssimo, que ficam afastadas do complexo
patrimonial que compõe a herança. De acordo com o art. 91 do CC, a herança tem
natureza jurídica de universalidade de direito.

A doutrina aponta como exceções à regra geral da transmissão das relações


jurídicas patrimoniais:

(i) os direitos autorais (art. 41 da Lei 9.610/98);

(ii) usufruto, uso e habitação (art. 1.410, I, do CC);

(iii) enfiteuse (art. 692, III, do CC/16);

(iv) alvará judicial (Lei 6.858/80), pois são hipóteses em que o


direito não se transmite aos herdeiros.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Não obstante a natureza personalíssima dos alimentos, o art. 1.700 do CC
estabelece que “a obrigação de prestar alimentos transmite-se aos herdeiros do
devedor”. A redação do artigo suscita críticas da doutrina, na medida em que não
restringe o pagamento ao limite da herança, tornando possível que um herdeiro acabe
por receber mais do que outro.

A fim de evitar a desigualdade, parte da doutrina entende que haverá


transmissão das obrigações em favor de alimentandos apenas quando estes não sejam
herdeiros do espólio deixado pelo falecido, sob pena de violação, por via oblíqua, do
princípio constitucional de igualdade entre os filhos. O Enunciado 343 das Jornadas de
Direito Civil, por sua vez, estabelece que “a transmissibilidade da obrigação alimentar é
limitada às forças da herança”.

Todos os titulares recebem um direito indivisível consubstanciado na herança,


em regime de condomínio, devendo-se estabelecer a quem compete a sua
administração até que seja realizada a individualização da quota-parte de cada herdeiro.
8
O art. 1.797 do CC estabelece a quem incumbe a administração provisória da
herança.

O patrimônio do falecido, considerado uma massa patrimonial indivisível, de


titularidade conjunta de todos os herdeiros, passa a ser chamado de espólio,
especialmente para fins processuais.

Posteriormente, o juiz nomeará inventariante para administração do espólio,


observada a ordem do art. 617 do CPC/2015, que poderá ou não coincidir com aquele
que estava na administração provisória da herança.

Tanto o administrador provisório quanto o inventariante devem responder


juridicamente pelo espólio, bem como pela prática de atos que possam gerar danos à
massa patrimonial.

O espólio não possui personalidade jurídica, mas tem reconhecida a sua


capacidade postulatória, na forma consagrada pelo art. 75 do CPC/2015. Assim, o
espólio, por meio de seu representante provisório ou definitivo, poderá figurar em juízo
tanto como autor quanto como réu.

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1.1.1.1.4. Da vocação hereditária

Vocação hereditária é o fenômeno através do qual se atribui a alguém as


condições necessárias para a sucessão de pessoa determinada. Dessa forma, a sucessão
depende da existência de sucessores e a existência de sucessores depende da existência
de vocação hereditária.

O art. 1.798 do CC apresenta a regra geral sucessória, segundo a qual


“legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura
da sucessão”. Além da hipótese prevista no art. 1.798, existem situações especiais que
também legitimam a suceder, conforme previsto no art. 1.799 do CC.

Algumas pessoas, no entanto, não possuem legitimidade sucessória passiva,


isto é, estão impedidas de serem nomeadas herdeiras ou legatárias, nos termos do que
dispõe o art. 1.801 do CC. Havendo disposição testamentária em favor de pessoa que
esteja impedida de suceder, ainda que indiretamente, o testamento será nulo (art. 1.802 9
do CC).

1.1.1.1.5. Da aceitação da herança

Aberta a sucessão, o herdeiro tem a faculdade de aceitar ou não a herança. A


aceitação ou adição da herança é o ato jurídico unilateral do herdeiro que confirma a
transmissão da herança em caráter definitivo e irrevogável. Não se deve confundir a
aceitação com a delação da herança, sendo esta expressão que caracteriza a situação
em que, após a morte, a herança é colocada à disposição dos herdeiros, que, assim,
poderão aceitá-la ou não.

A aceitação poderá ser expressa, mediante declaração escrita; tácita, quando


resultar de atos próprios da qualidade de herdeiro; ou presumida, decorrente de
situação provocada pelo interessado em juízo, a fim de obter do herdeiro, manifestação

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de vontade. Entretanto, não se admite que a aceitação se dê por partes ou de modo
condicional ou a termo.

Entende-se que, como a aceitação da herança acrescenta ao patrimônio, não é


necessária a vênia conjugal.

A regra é que o próprio herdeiro manifeste sua aceitação em relação à herança.


Não obstante, o CC apresenta hipóteses em que a aceitação poderá ser feita por
terceiro. São elas:

i) Sucessão no Direito de Aceitação (art. 1.809 do CC): falecendo


o herdeiro antes de declarar se aceita a herança, o poder de
aceitar passa aos herdeiros, a menos que se trate de vocação
adstrita a uma condição suspensiva, ainda não verificada.

ii) Aceitação judicialmente permitida a terceiros em razão de


fraude contra credores (art. 1813 do CC): quando o herdeiro
prejudicar os seus credores, renunciando à herança, poderão 10
eles, com autorização do juiz, aceitá-la em nome do renunciante.
Entretanto, esta aceitação é limitada ao montante dos créditos.

1.1.1.1.6. Da renúncia à herança

Renúncia é a declaração de vontade por meio da qual o herdeiro recusa a


herança que lhe fora encaminhada, de forma irrevogável, tornando insubsistente a
transmissão ficta. Dessa forma, no momento da renúncia, a transmissão tem-se por não
verificada (art. 1.804, parágrafo único, do CC).

A renúncia é um ato de disposição. Dessa forma, é necessária a vênia conjugal,


podendo ser translativa, quando operada em favor de herdeiro específico (haverá
incidência de ITCMD), ou abdicativa, quando a renúncia faz acrescer ao monte (não
haverá incidência de ITCMD).

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
A renúncia é sempre solene, assim, deve constar expressamente de
instrumento público ou de termo judicial (art. 1.806 do CC), não sendo possível que se
dê por partes ou de modo condicional ou a termo (art. 1.808 do CC).

É possível, entretanto, que haja mais de um título sucessório (herança e legado)


para o mesmo beneficiário. Neste caso, o beneficiário poderá repudiar um ou outro (art.
1.804, §2º, CC).

Principal Efeito da Renúncia da Herança - art. 1.810 do CC - Na sucessão


legítima, a parte do renunciante acresce a dos outros herdeiros da mesma classe e,
sendo ele o único desta, devolve-se aos da subsequente.

Impossibilidade de Sucessão do Herdeiro Renunciante - art. 1.811 do CC -


Ninguém pode suceder, representando herdeiro renunciante. Se, porém, ele for o único
legítimo da sua classe, ou se todos os outros da mesma classe renunciarem a herança,
poderão os filhos vir à sucessão, por direito próprio, e por cabeça.

1.1.1.1.7. Dos excluídos da sucessão 11

São hipóteses de exclusão da sucessão a indignidade e a deserdação. Ambas


constituem sanção civil, uma pena de natureza civil, aplicada àquele que se comportou
de forma inaceitável jurídica e moralmente em relação ao autor da herança, impondo
como consequência a perda do direito subjetivo de receber o patrimônio transferido em
razão do óbito do titular da herança.

A indignidade consiste no isolamento do herdeiro por simples incidência da


hipótese legal e por decisão judicial, podendo atingir herdeiro ou legatário (art. 1.815
do CC).

Já a deserdação decorre de ato de última vontade do autor da herança que


afasta herdeiro necessário, sendo imprescindível a confirmação por sentença.

1.1.1.1.7.1. Indignidade x Deserdação

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Embora tenham características semelhantes, não se deve confundir os
institutos da deserdação e da indignidade, cujas principais distinções estão elencadas a
seguir:

Deserdação Indignidade

Somente os herdeiros necessários Qualquer sucessor (herdeiro ou


(CC, art. 1.845) podem ser legatário) pode ser considerado
deserdados. indigno.

Motivo corresponde a um ato Motivo corresponde a um ato


praticado necessariamente antes praticado antes ou depois da
da abertura da sucessão. abertura da sucessão.

Ato praticado em um testamento Exige ação de indignidade, no


pelo próprio titular do patrimônio, prazo decadencial de 4 anos.
com posterior confirmação judicial, 12
no prazo decadencial de 4 anos.

Decorre do testamento celebrado Decorre do trânsito em julgado da


pelo autor da herança com ação de indignidade.
posterior homologação judicial.

Hipóteses de cabimento: CC, arts. Hipóteses de cabimento: CC, art.


1.814 + 1.961 + 1.963. 1.814.

1.1.1.1.8. Da herança jacente e da herança vacante

Herança jacente é aquela em que o falecido não deixou testamento ou


herdeiros notoriamente conhecidos. Esta tem clara feição provisória, pois objetiva ao
final a vacância da herança.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Trata-se de ente despersonalizado, ao qual, juntamente com a herança
vacante, a legislação processual civil brasileira reconhece legitimação ativa e passiva
para demandar judicialmente (art. 75, VI, do CPC/2015).

Assim, ocorrendo o falecimento de alguém sem a existência de testamento ou


herdeiros, tem-se a situação autorizadora do reconhecimento da herança jacente.

O Estado, com o fito de evitar o perecimento dos bens, determina a


arrecadação, a fim de entregar a referida massa patrimonial aos herdeiros que
eventualmente demonstrem tal condição.

Enquanto não surgem herdeiros, o curador dado à herança jacente deve


providenciar a regularização de ativos e passivos da massa patrimonial, sendo
assegurado aos credores o direito de pedir o pagamento das dívidas reconhecidas, nos
limites das forças da herança.

O procedimento de arrecadação é regulado pelo Código de Processo Civil e


prevê a publicação de editais para que se dê ciência da existência de herança jacente.

Decorrido um ano da publicação do primeiro edital, não advindo quaisquer 13


herdeiros, a herança jacente se converte em vacante, conforme determina o art. 1.820
do CC. Se todos os chamados renunciarem, a herança será declarada, desde logo,
vacante (art. 1.823 do CC).

Assim, considera-se herança vacante aquela que não teve qualquer habilitação
de herdeiro, seja por ser desconhecido, seja porque aqueles de que se têm notícias a ela
renunciaram.

1.1.1.2. DA SUCESSÃO LEGÍTIMA

A sucessão legítima, também chamada de sucessão intestada ou ab intestato,


traduz o conjunto de regras que disciplina a transferência patrimonial post mortem, sem
a incidência de um testamento válido, ou ainda em concorrência com o testamento,
ante os limites da disposição testamentária.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Os sujeitos favorecidos pela sucessão legítima são os herdeiros necessários,
assim considerados os descendentes, ascendentes e o cônjuge/companheiro(a),
conforme determinação legal. Havendo herdeiros necessários, o testador só poderá
dispor de metade da herança (art. 1.789 do CC).

A legítima, parte indisponível da herança, tem sua base justificadora na


solidariedade social e familiar. Pretende-se, com isso, garantir um percentual mínimo
de patrimônio capaz de assegurar a subsistência de determinados familiares (herdeiros
necessários).

ATENÇÃO! O Código Civil regulou de forma diferente os direitos sucessórios decorrentes


da união estável (art. 1.790, CC) e do casamento (art. 1.829, CC). Entretanto, no
julgamento do RE 646721 com repercussão geral reconhecida, o STF declarou
inconstitucional o art. 1.790 do CC e firmou a seguinte tese: “No sistema constitucional
vigente, é inconstitucional a distinção de regimes sucessórios entre cônjuges e
companheiros, devendo ser aplicado, em ambos os casos, o regime estabelecido no art. 14
1.829 do CC/2002”. Em decorrência, as normas sucessórias aplicadas aos cônjuges
devem ser estendidas aos companheiros.

1.1.1.2.1. Modos de Suceder

O modo de suceder se refere a que título a classe de herdeiros participa da


sucessão:

• Por Direito Próprio - Nesse caso, está-se sujeito a uma


vocação hereditária direta, ou seja, sem que seja em decorrência
de direito alheio (ex.: filho herda do pai).

• Por Representação - Nesse caso, está-se sujeito a uma


vocação hereditária indireta (em razão de direito alheio), assim,
através da representação (ex.: neto herda do avô).

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
1.1.1.2.2. Modos de Arrecadar

Refere-se à forma que os herdeiros têm acesso aos bens da herança.

• Arrecadação por Cabeça - Diz-se por cabeça a sucessão em


que a herança se reparte um a um, no sentido de cada parte vir
a ser entregue a um sucessor direto (ex.: filhos herdam do pai).

• Arrecadação por Estirpe - Diz-se por estirpe quando a


herança não se reparte um a um relativamente aos chamados a
herdar, mas sim na proporção dos parentes de mesmo grau vivo
ou que, sendo mortos, tenham deixado prole ainda viva (ocorre
sucessão por representação). Os que arrecadam por estirpe
arrecadam na forma do art. 1.855 do CC:
15
“O quinhão do representado partir-se-á por igual entre os
representantes” (ex.: netos herdam do avô).

Representação - art. 1.851 a 1.856 do CC - A representação se dá quando a lei


permite que se convoquem parentes do herdeiro falecido para virem suceder em seu
lugar em tudo aquilo a que teria direito se vivo estivesse (ex.: netos, de pai morto, são
chamados para herdar do avô).

São pressupostos da representação:

i) Morte Prematura de um do Herdeiros - É a morte do herdeiro


em momento anterior a do autor da herança (ex.: morte do pai
anterior a do avô);

ii) Existência de Parentes do Morto Prematuramente - O morto


deve possuir herdeiros autorizados a representar;

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
iii) Autorização da Lei (art. 1.852 e 1.853 do CC) - A lei autoriza a
representação em favor:

a) Dos Descendentes;

b) Dos Colaterais (até sobrinhos - colaterais de 3º grau) - Assim,


não há representação entre cônjuges e ascendentes.

A ordem de sucessão legítima está prevista no art. 1.829 do CC, devendo-se


observar que há uma hierarquia entre as classes. Assim, a classe posterior somente será
chamada a suceder se esgotados os herdeiros da classe anterior, de tal forma que os
mais próximos excluem os mais remotos (Princípio da Proximidade).

1.1.1.2.3. Sucessão do cônjuge/companheiro(a) em concorrência com os


descendentes

16
Nos termos do art. 1.829, I, do CC, havendo cônjuge/companheiro(a)
sobrevivente, este não terá direito de concorrer com o descendente, se o regime de
bens for:

(i) comunhão universal;

(ii) separação obrigatória; ou

(iii) comunhão parcial, se o autor da herança não deixou bens


particulares.

Por outro lado, haverá direito de concorrer com o descendente, se o regime de


bens adotado foi de:

(i) participação final nos aquestos;

(ii) separação convencional; ou

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
(iii) comunhão parcial, se o autor da herança deixou bens
particulares.

O objetivo do legislador foi separar claramente a meação da herança. Assim,


pelo sistema instituído, onde o cônjuge é meeiro e não é herdeiro e vice-versa. Três são
as exceções ao concurso:

1) Na primeira exceção, o cônjuge/companheiro(a) não


concorre com os descendentes quando casado sob o regime da
comunhão universal de bens. Isto porque, neste regime, tem-se,
em favor do cônjuge, a meação de todo o patrimônio, sendo a
outra metade deferida aos descendentes. Evita-se, com isso, o
bis in idem caso o cônjuge/companheiro(a), além da meação,
recebesse a herança sobre toda a fatia patrimonial.

2) A segunda exceção trata da hipótese em que o cônjuge 17


sobrevivente tem como regime de bens do casamento o da
comunhão parcial. Nesta há bens particulares que não se
comunicam, não sendo objeto da meação (art. 1.659, CC); e bens
comuns, que se comunicam e que, portanto, são objeto de
meação (art. 1.660, CC). Nesse caso, o cônjuge concorrerá com
os descendentes apenas nos bens particulares do de cujos, ou
seja, herdará aquilo que não for objeto da meação.

3) A terceira exceção diz respeito ao regime de separação


obrigatória, previsto no art. 1.641 do CC. Sendo esse o regime, o
cônjuge sobrevivente não concorrerá à herança com os
descendentes, pois o regime busca, justamente, a separação do
patrimônio. Entretanto, o mesmo não ocorre com o regime de
separação convencional. Conforme entendimento do STJ: “1. O
cônjuge, qualquer que seja o regime de bens adotado pelo casal,
é herdeiro necessário (art. 1.845, CC); 2. No regime de separação

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
convencional de bens, o cônjuge sobrevivente concorre com os
descendentes do falecido. A lei afasta a concorrência apenas
quanto ao regime da separação legal de bens prevista no art.
1.641 do CC. Interpretação do art. 1.829, I, do Código Civil. (STJ,
Ac. 2ª Seção, REsp. 1.382.170/SP, rel. Min. João Otávio de
Noronha, j. 22.4.2015)”.

Outra questão a ser enfrentada é o teor da Súmula 377 do STF, que assim
dispõe: “No regime de separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos na
constância do casamento”. Percebe-se que, na prática, a Súmula acaba por estabelecer
regime de comunhão parcial onde deveria vigorar a separação legal, motivo pelo qual
sofre fortes críticas por parte da doutrina.

1.1.1.2.4. Sucessão do cônjuge/companheiro(a) em concorrência com ascendente

18
Conforme dispõe o inciso II do art. 1.829, não havendo descendentes, mas
ascendentes, o cônjuge sobrevivente com estes concorrerá, independentemente do
regime de bens adotado. Ressalte-se que não existe direito de representação em relação
aos ascendentes.

1.1.1.2.5. Sucessão do cônjuge/companheiro(a) sem concorrência

Não havendo ascendentes ou descendentes (art. 1.829, III, CC), ao cônjuge


caberá a totalidade da herança, qualquer que seja o regime de bens, inclusive se o
regime for o de separação de bens (legal ou convencional).

Direito real de habitação do cônjuge/companheiro(a) - art. 1.831 do CC - Ao


cônjuge sobrevivente, qualquer que seja o regime de bens, será assegurado, sem
prejuízo da participação que lhe caiba na herança, o direito real de habitação

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
relativamente ao imóvel destinado à residência da família, desde que seja o único
daquela natureza a inventariar.

O direito real de habitação é personalíssimo, tendo como destinação específica


a moradia do titular, que não poderá emprestar ou locar o imóvel. Entretanto, há
entendimento de que, se a renda for utilizada para a manutenção da moradia do
indivíduo, poderá haver a locação. Assim, deve-se analisar cada caso em concreto.

De acordo com o Enunciado 271 das Jornadas de Direito Civil, o cônjuge pode
renunciar ao direito real de habitação nos autos do inventário ou por escritura pública,
sem prejuízo de sua participação na herança. Ressalta-se que parte da doutrina discorda
desta posição, pois afirma tratar-se o direito de habitação de direito fundamental e
irrenunciável. O STJ, por esta mesma razão, entende que o bem de família é
irrenunciável.

1.1.1.2.6. Sucessão dos colaterais

19
O inciso IV do art. 1.829 trata dos colaterais, que somente serão chamados a
suceder, até o 4º grau, na ausência de descendentes, ascendentes ou cônjuge, segundo
a regra de que os mais próximos excluirão os mais remotos.

O CC não traz regras a respeito da sucessão dos colaterais de quarto grau. Pode-
se concluir, em relação a tais parentes, que herdam sempre por direito próprio. Ato
contínuo, como são parentes de mesmo grau, um não exclui o direito do outro.

Vale lembrar que, para excluir da sucessão os herdeiros colaterais, basta que o
testador disponha de seu patrimônio sem os contemplar (art. 1.850, CC). Isto se dá
porque os colaterais compõem a única classe de herdeiros legítimos, mas não
necessários (facultativos).

1.1.1.3. DA SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Como visto, a sucessão poderá ser legítima ou testamentária. Naquela, os
herdeiros recebem por força de lei, conforme ordem de vocação hereditária
estabelecida no art. 1.829, CC. Já na sucessão testamentária, não mais prevalece a
ordem legal, mas sim a vontade do de cujus, que deverá ser expressa através de
testamento ou codicilo.

A sucessão testamentária pode coexistir com a legítima, podendo ocorrer de


um mesmo beneficiário ser herdeiro legítimo e testamentário. Porém, conforme art.
1.857, §2º, a legítima dos herdeiros necessários não poderá ser incluída no testamento,
sob pena de redução das disposições testamentárias à metade disponível. Atenção! O
testamento será válido, apenas reduzida a parcela transferida mediante testamento.

1.1.1.3.1. Do testamento

O testamento é ato personalíssimo, podendo ser mudado a qualquer tempo


(art. 1.858, CC), cuja natureza jurídica é de negócio jurídico unilateral. 20
Trata-se, portanto, de negócio jurídico personalíssimo, revogável, solene e
condicional, por meio do qual alguém realiza disposições de caráter patrimonial ou não
patrimonial para valerem após sua morte.

São válidas as disposições testamentárias de caráter não patrimonial, ainda que


o testador somente a elas se tenha limitado (art. 1.857, §2º, CC).

As disposições testamentárias independem de contrapartida patrimonial. Isto


é feito, pois, caso contrário, seria possível a criação de um contrato oneroso envolvendo
a herança de pessoa viva (pacta corvina), o que é vedado pelo ordenamento jurídico
pátrio.

Entretanto, é possível, em algumas hipóteses disposições de caráter modal


(aquelas que podem envolver a imposição de algum encargo para o beneficiário), desde
que não desnaturem o caráter gratuito do testamento.

Sujeito Ativo – O art. 1.860 do CC enuncia que todos podem testar, salvo os
incapazes e os que, no ato de testar, não tiverem pleno discernimento.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Observações Importantes:

i) Podem testar os maiores de 16 anos e, neste caso, não serão


assistidos (art. 1.860, parágrafo único do CC).

ii) Idade avançada, falência, analfabetismo (art. 1.865 do CC),


surdez (art. 1.866 do CC), cegueira (art. 1.867 do CC) e
enfermidade grave não inibem o indivíduo de testar.

iii) O pródigo pode testar, uma vez que a sua interdição somente
atinge os atos de alienação direta de bens, praticada em vida
(art. 1.782 do CC).

iv) A incapacidade superveniente, após a elaboração do


testamento, não invalida o mesmo (art. 1.861 do CC). Por este
mesmo comando o testamento do incapaz não se valida com a
superveniência da capacidade, sendo necessário fazer novo
testamento. 21

Sujeito Passivo – São os beneficiários (herdeiros e legatários) - Herdeiros são


aqueles que serão titulares de herança baseada em quinhão específico, enquanto os
legatários serão titulares de um bem específico da herança que lhes serão transmitidos por
meio do legado.

A impugnação do testamento pode ser feita no prazo decadencial de cinco


anos, contado o prazo da data do seu registro. Tal registro não é o momento da lavratura
do testamento, pois, como o testamento só se torna eficaz com a morte do seu autor, é
somente a partir daí que se pode questionar a sua existência, validade e eficácia. Ou
seja, aberta a sucessão, o testamento deve ser registrado por ordem judicial, em
procedimento de jurisdição voluntária, e é a partir da data deste registro que se tem o
termo inicial de contagem do prazo.

Questão suscitada pela doutrina é se o prazo decadencial seria aplicável para


nulidades e anulabilidades, haja vista que o código trata de “impugnação”, o que
abarcaria as duas hipóteses. Não obstante, tendo em vista o que dispõe o art. 169 do CC

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
(“O negócio jurídico nulo não é suscetível de confirmação, nem convalesce pelo decurso
do tempo”), parte da doutrina defende que a decadência seria apenas em relação à
anulabilidade, não contemplando a nulidade do ato.

1.1.1.3.2. Formas testamentárias

O testamento pode ter forma ordinária, quando elaborado em uma conjuntura


de normalidade, de acordo com a preferência do testador; ou extraordinária ou
especial, quando realizado em função de circunstâncias peculiares ou de dificuldades
fáticas da vida do testador.

A forma ordinária contempla o testamento público, o cerrado e o particular;


ao passo que de forma especial poderão ser feitos o testamento marítimo, aeronáutico
e militar.

22
OBSERVAÇÃO: Testamento Vital (living will ou diretivas antecipadas) – Não se trata
propriamente de espécie de testamento, razão pela qual não lhe são aplicáveis as regras
e princípios relativos às disposições testamentárias. Através do testamento vital, a
pessoa detalha antecipadamente suas escolhas em relação a tratamento médico futuro,
caso fique impossibilitada de manifestar sua vontade. A Resolução 1.995/2012,
publicada pelo Conselho Federal de Medicina, estabelece as regras para a realização das
diretivas antecipadas que, reitera-se, não se confundem com qualquer espécie de
testamento.

Cabe lembrar que, conforme art. 1.863, “é proibido o testamento conjuntivo,


também chamado de comum ou de mão comum, seja simultâneo, recíproco ou
correspectivo”, entendendo-se como tal aquele elaborado por mais de um sujeito no
mesmo documento.

Em regra, também não se admite no ordenamento pátrio o testamento


nuncupativo ou in extremis, modalidade testamentária em que o testador narra

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
verbalmente suas declarações de última vontade para testemunhas, o que só é admitido
na hipótese excepcional de militar ferido na guerra (art. 1.896, CC).

1.1.1.3.2.1. Testamento Público

É aquele realizado por meio de declaração verbal emanada do testador,


perante tabelião ou seu substituto legal, que se encarrega de transferi-la para livro
próprio, sendo devidamente registrado em cartório.

Qualquer pessoa pode realizar este testamento, com exceção daqueles que não
possam transmitir nenhuma vontade.

Tem como característica a unidade de ato. Dessa forma, esse testamento se


realiza em ato único que tem começo, meio e fim.

Testamento do Surdo - art. 1.866 do CC - O indivíduo inteiramente surdo,


sabendo ler, lerá o seu testamento, e, se não o souber, designará quem o leia em seu
23
lugar, presentes as testemunhas.

Testamento do Cego - art. 1.867 do CC - Ao cego só se permite o testamento


público, que lhe será lido, em voz alta, 2 vezes, uma pelo tabelião ou por seu substituto
legal, e a outra por uma das testemunhas, designada pelo testador, fazendo-se de tudo
circunstanciada menção no testamento.

1.1.1.3.2.2. Testamento Cerrado

Também chamado de testamento místico, o testamento cerrado é aquele cujas


disposições permanecerão desconhecidas dos interessados, pois são mantidas em sigilo,
uma vez que a cédula permanecerá lacrada até o momento de sua abertura.

Depende de atos complementares para sua perfeita realização. Assim, não é


feito em ato único. No primeiro ato ocorre a realização da cédula pelo testador, que
deverá ser complementada por um outro ato oficial de aprovação perante o tabelião
juramentado. O próprio testador é encarregado de guardar o testamento (art. 1.874 do

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
CC). Entretanto, a abertura desse testamento será feita só pelo juiz depois da morte (art.
1.875 do CC).

Qualquer pessoa pode fazer testamento cerrado, exceto o cego e quem não
saiba ou não possa ler (art. 1.872 do CC), que somente poderão testar por instrumento
público. Não obstante, há precedente do STJ afirmando que é válido o testamento
cerrado elaborado por testadora com grave deficiência visual. A conclusão foi no sentido
de que deve prevalecer respeito à vontade real do testador (Resp. 1.001.674/SC).

1.1.1.3.2.3. Testamento Particular

Também chamado de testamento hológrafo, é aquele cuja cédula é realizada


pelo próprio testador ou alguém a seu rogo.

Tem como característica ser realizado por instrumento particular, puro e


simples, sem necessidade de intervenção de qualquer órgão oficial ou tabelião.
24
Demais considerações

A jurisprudência vem mitigando os requisitos formais necessários à


confirmação do testamento em todas as suas modalidades, desde que, no caso
concreto, seja possível identificar a real vontade do testador, restringindo as hipóteses
de nulidade àquelas em que não for possível identificar a sua vontade (ex.: ausência de
assinatura no documento).

1.1.1.3.2.4. Testamento Marítimo

Trata-se da possibilidade de uma pessoa, viajando em navio nacional (de guerra


ou mercante) e, portanto, longe das autoridades administrativas nacionais, testar na
presença de duas testemunhas.

A ideia que rege tal espécie é a impossibilidade material de realizar as


formalidades indispensáveis e haver uma autoridade perante a qual se possa apresentar
a disposição de última vontade.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
1.1.1.3.2.5. Testamento Aeronáutico

É aquele pelo qual quem estiver em viagem, a bordo de aeronave militar ou


comercial, pode testar perante pessoa designada pelo comandante, nos termos do art.
1.888 do CC, ou seja, perante duas testemunhas.

Aplicam-se ao testamento aeronáutico as mesmas particularidades do


testamento marítimo.

1.1.1.3.2.6. Testamento Militar

É aquele realizado por militar engajado ou por civis que prestem serviços às
forças armadas quando em campanha, no exterior ou em território nacional, se
encontrar em praça sitiada ou em local em que as comunicações estiverem 25
interrompidas, desde que não haja tabelião em condições de formalizá-lo.

Excepcionalmente, a lei admite o testamento nuncupativo apenas para o


testamento militar (art. 1.896, CC).

1.1.1.3.2.7. Codicilo

O codicilo é um negócio jurídico unilateral de última vontade, pelo qual o autor


da herança pode dispor sobre o seu enterro e valores de pequena monta.

Por meio dele, seu autor poderá expressar certas manifestações de vontade, a
respeito de providências menores que quer ver atendidas, após a sua morte. Porém, seu
uso é bem restrito, já que não se presta a disposição patrimonial póstuma de maior
volume.

Não há óbice em se manter testamento e codicilo, desde que as disposições


sejam compatíveis (art. 1.882, CC).

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Assim como qualquer espécie de testamento, o codicilo também pode ser
modificado ou revogado. Pode-se revogar o codicilo através de outro codicilo ou
mediante testamento posterior.

1.1.1.3.2.8. Disposições Testamentárias

Trata-se de uma manifestação da vontade, ordinariamente reduzida a termo,


constituindo parte integrante de um testamento.

A disposição testamentária pode ter natureza patrimonial e conter uma


disposição de última vontade sem conteúdo patrimonializado, podendo ser elaborada
com teor simples e direto, sem limitações no plano da eficácia ou estar submetida a uma
condição ou a um encargo, bem como atrelada a certos motivos (art. 1.897, CC).

Especial atenção deve-se ter às hipóteses de nulidade das disposições


testamentárias, previstas no art. 1.900 do CC.
26
1.1.1.3.3. Do Legado

Constitui uma disposição específica sucessória, realizada a título singular.


Assim, entende-se o legado como a atribuição de certo ou certos bens a outrem por
meio de testamento e a título singular. O autor da herança é denominado legante e o
beneficiário é denominado legatário.

O legado não se confunde com a herança, pois se trata de benefício


singularizado. Já a herança, encerra sucessão universalizada; o herdeiro recebe uma
porção indeterminada, ou a totalidade do acervo transmissível do falecido. Ademais, em
regra, os legados nascem de testamentos, enquanto a herança provém da lei ou de
testamento. No entanto, em tese, nada obsta que a própria lei institua legado.

Para afirmar a natureza de certo benefício, pouco importa o nome que o


testador lhe conferiu, mas sim a sua essência. Ainda que o testador afirme deixar um
carro, ou uma casa, como herança, trata-se de legado, que será regido pelas disposições

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
dos arts. 1.912 e ss do CC. A doutrina subdivide os legados em várias modalidades: puro
e simples; com encargo; condicional; a termo, etc.

O prelegado, por sua vez, é o legado deixado a quem já é herdeiro legítimo. A


referência lembra que o herdeiro legal pode ser designado legatário e, em tal caso, pode
renunciar ao legado, e aceitar a herança, ou renunciar a herança, e aceitar o legado (art.
1.808, §1º, do CC), assim como poderá aceitar tanto o legado quanto a herança. Assim,
denomina-se prelegatário ou legatário precípuo aquele que recebe o legado e a
herança.

No legado simples, que incida sobre bens integrantes do acervo, a propriedade


se transmite ao legatário com a abertura da sucessão (art. 1.923, CC), mas não a posse,
de modo que o beneficiário deve pedir o cumprimento da deixa (art. 1.923, §1º, do CC).
Não ocorre, nos legados, a transmissão civil da posse do bem, do falecido para o
legatário, tal qual ocorre com a herança. Assim, como a posse não se transmite por força
de lei ao legatário, ele deve requerer o pagamento do legado.

O art. 1.939 do CC disciplina as hipóteses de caducidade do legado.


27
Por fim, se o legado for de duas ou mais coisas alternativamente, e algumas
delas perecerem, subsistirá quanto às restantes; perecendo parte de uma, valerá,
quanto ao seu remanescente, o legado.

1.1.1.3.4. Direito de acrescer entre herdeiros e legatários

Consiste no direito de o herdeiro ou legatário também receber, respeitada a


proporção do número de contemplados no testamento, a parte que caberia a um outro
herdeiro ou legatário que não pode ou não quis receber a sua herança ou legado.

Assim, dispõe o art. 1.941 do CC que quando vários herdeiros, pela mesma
disposição testamentária, forem conjuntamente chamados à herança em quinhões não
determinados, e qualquer deles não puder ou não quiser aceitá-la, a sua parte acrescerá à
dos co-herdeiros, salvo o direito do substituto.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
1.1.1.3.5. Das substituições testamentárias

É a disposição testamentária na qual o testador chama uma pessoa para


receber, no todo, ou em parte, a herança ou o legado, na falta ou após o herdeiro ou
legatário nomeado em primeiro lugar, ou seja, quando a vocação deste ou daquele
cessar por qualquer causa (art. 1.947 e 1.948 do CC).

Substituição Fideicomissária - art. 1.951 e ss. do CC - Pode o testador instituir


herdeiros ou legatários, estabelecendo que, por ocasião de sua morte, a herança ou o
legado se transmita ao fiduciário, resolvendo-se o direito deste, por sua morte, a certo
tempo ou sob certa condição, em favor de outrem, que se qualifica de fideicomissário.

1.1.1.3.6. Revogação do testamento

A revogabilidade é inerente ao testamento. O testamento pode determinar


28
termo final para a sua eficácia ou ser revogado através de ato solene ou de novo
testamento. Entretanto, não pode haver cláusula que torne o testamento irrevogável.

A revogação pode ser total ou parcial e pode ser expressa ou tácita. Será tácita
quando o novo testamento, embora não cancele explicitamente o anterior, é
incompatível com o seu texto.

Também é hipótese de revogação se o testamento cerrado é aberto ou


dilacerado (art. 1.972, CC).

1.1.1.3.7. Rompimento do testamento

Denomina-se ruptura do testamento a perda da sua eficácia, diante de


ocorrências indicadas em lei (arts. 1.973 a 1.975, CC), supervenientes à sua elaboração,
consideradas tão fortes que se equiparam, por si, a uma revogação.

A ruptura, rupção ou rompimento do testamento é também chamada de


revogação presumida, ficta ou legal. É denominada revogação ficta porque seu

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
fundamento é a presunção de que o testador não teria disposto de seus bens, ou, pelo
menos não teria decidido daquele modo, se tivesse descendente, ou se não ignorasse a
existência do que tinha.

1.1.2. INVENTÁRIO E PARTILHA

1.1.2.1. INVENTÁRIO

O inventário é a forma de se levantar o conjunto de ativos e passivos (débitos


e créditos) que compunham o patrimônio do de cujus e que, com a morte, passa a
compor a herança (monte partilhável).

A conclusão do inventário se dá com a partilha, quando a comunhão forçada


em razão da morte deixa de existir, passando cada sucessor a exercer pleno direito sobre
sua cota.

No inventário há, necessariamente, pluralidade de sucessores, pois, caso haja 29


apenas um herdeiro, este deverá solicitar a adjudicação dos bens.

Desde a assinatura do termo de compromisso até a homologação da partilha,


a administração da herança será exercida pelo inventariante. Enquanto não nomeado,
a administração fica a cargo do administrador provisório.

Prazo de Abertura e Duração – O artigo 1.796 do CC estabelece prazo de 30


dias, a contar da abertura da sucessão (da morte), para instauração do inventário.
Entretanto, este artigo foi derrogado pela Lei 11.441, de 2007, que, ao tratar do
inventário extrajudicial também modificou regras do CPC referentes à modalidade
judicial, estabelecendo o prazo de sessenta dias.

Todavia, com a entrada em vigor do NCPC, o prazo passou a ser de 2 (dois)


meses, conforme art. 611 do NCPC, que também define o prazo de 12 meses para o seu
encerramento, podendo o juiz prorrogar os prazos, de ofício ou a requerimento da
parte.

A Súmula 542 do STF reconhece a constitucionalidade da multa pela


inobservância dos prazos (Súmula 542 - Não é inconstitucional a multa instituída pelo

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Estado-Membro, como sanção pelo retardamento do início ou da ultimação do
inventário).

1.1.2.1.1. Inventário Negativo

Inventário negativo é o inventário realizado em razão da inexistência de bens a


partilhar. Serve para dar segurança jurídica em relação ao inventário e à partilha de
bens, a fim de que nada reste a ser questionado, tratando-se de uma forma útil e
recomendável de resguardo de eventuais interesses de interessados.

1.1.2.1.2. Inventário Administrativo ou Extrajudicial

A Lei 11.441, de 2007, trouxe a possibilidade de realização de inventário


administrativo ou extrajudicial, lavrado por escritura pública, consensualmente, no 30
tabelionato de notas, se todas as partes envolvidas forem capazes, estiverem assistidas
por advogado e concordes e, não houver testamento. Registre-se que, alguns estados,
através de provimentos, vêm autorizando a realização de inventário extrajudicial ainda
quando haja testamento.

Além do inventário tradicional, também o arrolamento e a adjudicação podem


ser realizados através do procedimento administrativo.

Atualmente, o procedimento é previsto no art. 610, §1º e 2º do NCPC e


regulado pela Resolução nº 35 do CNJ. Não preenchidos os requisitos para o inventário
administrativo, torna-se obrigatório o inventário judicial.

1.1.2.1.3. Inventário Judicial

O inventário judicial possui três ritos distintos, a saber:

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
(i) inventário comum ou tradicional (arts. 610 a 638 do NCPC),
com fase distinta da partilha;

(ii) o inventário na forma de arrolamento sumário (art. 659 a 667


do NCPC), quando todas as partes forem capazes e concordes,
qualquer que seja o valor dos bens; e

(iii) o inventário na forma de arrolamento comum (art. 664 do


NCPC), quando, mesmo existindo partes incapazes, o valor dos
bens for igual ou inferior a 1.000 (mil) salários-mínimos.

O inventário judicial é disciplinado como procedimento de jurisdição


contenciosa. O interessado o requererá com a prova do óbito (certidão do óbito); será
nomeado inventariante, na ordem legal. Se houver mais de um herdeiro, todos – quando
não compareçam espontaneamente – serão citados e, ao final, o juiz homologará a
partilha amigável ou julgará fixando a partilha, nos demais casos.

31
1.1.2.1.4. Dos sonegados

O objetivo do inventário é identificar a relação completa dos bens do falecido


que deverão ser partilhados.

O direito possui mecanismos para evitar qualquer conduta atentatória à


identificação dos bens do de cujus, como se dá na hipótese dos sonegados, assim
considerados os bens que, embora devessem ser partilhados, não o foram, em razão de
ocultação daquele que estava em sua administração.

Conforme art. 1.992, “o herdeiro que sonegar bens da herança, não os


descrevendo no inventário quando estejam em seu poder, ou, com o seu conhecimento,
no de outrem, ou que os omitir na colação, a que os deva levar, ou que deixar de restituí-
los, perderá o direito que sobre eles lhe cabia”. Além disso, se o inventariante for o
responsável pela sonegação, será removido do exercício da inventariança.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Há consenso na doutrina e na jurisprudência de que a pena imposta em razão
dos bens sonegados somente é cabível se restar provado o elemento subjetivo (dolo) do
agente. Assim, não basta que os bens não tenham sido trazidos à colação (elemento
objetivo) para que seja aplicada sanção prevista no art. 1.992 do CC.

A ação de sonegados pode ser proposta por qualquer herdeiro ou credor do


espólio, conforme dispõe o art. 1.994 do CC: “Art.1.994. A pena de sonegados só se pode
requerer e impor em ação movida pelos herdeiros ou pelos credores da herança”.

Em caso de condenação, se não forem restituídos os bens sonegados, por já


não os ter o sonegador em seu poder, pagará ele a importância dos valores que ocultou,
mais as perdas e danos (art. 1.995 do CC).

A herança responde pelo pagamento das dívidas do falecido. Desta forma, em


regra, o inventário somente conduzirá a eventual partilha (ou adjudicação) dos bens se
as dívidas do falecido houverem sido pagas. Entretanto, feita a partilha, só respondem
os herdeiros na proporção da parte da herança que receberem (art. 1.997 do CC).

32
1.1.2.1.5. Da colação

Denomina-se colação ou collatio o ato pelo qual o descendente, cônjuge ou


companheiro beneficiado pela transferência gratuita feita pelo de cujus, em vida,
promove o retorno da coisa, ou do seu valor, excepcionalmente, ao monte partilhável,
para garantir a igualdade de quinhões entre os herdeiros necessários.

Assim, o art. 2.002 preconiza que: “Art. 2.002. Os descendentes que


concorrerem à sucessão do ascendente comum são obrigados, para igualar as legítimas,
a conferir o valor das doações que dele em vida receberam, sob pena de sonegação”.

O prazo para tal informação é comum de 15 dias, contado da conclusão das


citações, conforme arts. 627 e 629 do NCPC.

O cálculo dos bens que devem ser colacionados no inventário, ou seja, dos bens
que foram antecipados, por doação, encontra conflito entre o art. 2.004, §1º do CC, que
determina que o cálculo seja feito pelo valor existente na data da liberalidade, e o art.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
639, parágrafo único, do NCPC, que determina que se proceda ao cálculo pelo valor do
bem na data da abertura da sucessão.

1.1.2.1.6. Dispensa da colação

A regra é a que as doações feitas por ascendente a descendente, cônjuge ou


companheiro sejam consideradas como antecipação de herança, sendo obrigatório que
venham à colação.

Entretanto, o doador pode retirar a doação da parcela disponível de seus bens,


preservando a legítima, fazendo doação a quem quer que seja, inclusive para
descendente, cônjuge ou companheiro, sem que esta doação fique obrigada à colação.
Nesse caso, a dispensa da colação deve ser expressa, constando no próprio ato de
liberalidade, não podendo ser superveniente.

A lei excepciona ainda as despesas e gastos ordinários com educação, saúde e


outras despesas essenciais para o beneficiado (art. 2.010 do CC), bem como as doações
33
remuneratórias (art. 2.011 do CC).

1.1.2.2. PARTILHA

Partilhar, como o próprio nome diz, é dividir. Assim, concluída a fase de


inventariança dos bens deixados pelo de cujus, com a quitação das dívidas do falecido
que foram apresentadas pelos credores, bem como recolhida a tributação, e já
delimitado o valor do patrimônio transmitido, é o momento em que o patrimônio
líquido, também chamado de monte partilhável ou monte partível, será dividido entre
os seus sucessores.

Com a partilha cessa a indivisibilidade da herança, pois os bens são divididos


entre os herdeiros que adquirirem, pessoalmente e de forma consolidada, a
propriedade dos seus bens componentes.

Assim como no inventário, a partilha também pode ser judicial ou extrajudicial.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
1.1.2.2.1. Legitimidade para requerer a partilha

O herdeiro pode sempre requerer a partilha, ainda que o testador o proíba,


cabendo igual faculdade aos seus cessionários e credores (art. 2.013 do CC).

Denomina-se sobrepartilha a partilha fracionada e posterior, como decorrência


de situações fáticas específicas que impossibilitaram a realização oportuna. Quando
parte da herança consistir em bens remotos do lugar do inventário, litigiosos, ou de
liquidação morosa ou difícil, poderá proceder-se, no prazo legal, à partilha dos outros,
reservando-se aqueles para uma ou mais sobrepartilhas, sob a guarda e a administração
do mesmo ou diverso inventariante, e consentimento da maioria dos herdeiros (art.
2.021 do CC).

Ficam sujeitos à sobrepartilha os bens sonegados e quaisquer outros bens da


herança de que se tiver ciência após a partilha (art. 2.022 do CC).

A partilha, uma vez feita e julgada, só é anulável pelos vícios e defeitos que
34
invalidam, em geral, os negócios jurídicos, o que poderá ser feito no prazo decadencial
de um ano, conforme parágrafo único do art. 2.027 do CC e 657 (parágrafo único) do
NCPC.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
1.2. LEGISLAÇÃO

LIVRO V

Do Direito das Sucessões

TÍTULO I

Da Sucessão em Geral

CAPÍTULO I

Disposições Gerais

Art. 1.784. Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros
legítimos e testamentários.

Art. 1.785. A sucessão abre-se no lugar do último domicílio do falecido.

Art. 1.786. A sucessão dá-se por lei ou por disposição de última vontade.

Art. 1.787. Regula a sucessão e a legitimação para suceder a lei vigente ao tempo da
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abertura daquela.

Art. 1.788. Morrendo a pessoa sem testamento, transmite a herança aos herdeiros
legítimos; o mesmo ocorrerá quanto aos bens que não forem compreendidos no
testamento; e subsiste a sucessão legítima se o testamento caducar, ou for julgado nulo.

Art. 1.789. Havendo herdeiros necessários, o testador só poderá dispor da metade da


herança.

Art. 1.790. A companheira ou o companheiro participará da sucessão do outro, quanto


aos bens adquiridos onerosamente na vigência da união estável, nas condições
seguintes: (Vide Recurso Extraordinário nº 646.721) (Vide Recurso Extraordinário nº
878.694) – Comentários: O STF declarou este artigo INCONSTITUCIONAL.

I - se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma quota equivalente à que por lei
for atribuída ao filho;

II - se concorrer com descendentes só do autor da herança, tocar-lhe-á a metade do que


couber a cada um daqueles;

III - se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito a um terço da herança;

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
IV - não havendo parentes sucessíveis, terá direito à totalidade da herança.

CAPÍTULO II

Da Herança e de sua Administração

Art. 1.791. A herança defere-se como um todo unitário, ainda que vários sejam os
herdeiros.

Parágrafo único. Até a partilha, o direito dos co-herdeiros, quanto à propriedade e


posse da herança, será indivisível, e regular-se-á pelas normas relativas ao
condomínio.

Art. 1.792. O herdeiro não responde por encargos superiores às forças da herança;
incumbe-lhe, porém, a prova do excesso, salvo se houver inventário que a escuse,
demostrando o valor dos bens herdados.

Art. 1.793. O direito à sucessão aberta, bem como o quinhão de que disponha o co-
herdeiro, pode ser objeto de cessão por escritura pública.

§ 1º Os direitos, conferidos ao herdeiro em conseqüência de substituição ou de direito


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de acrescer, presumem-se não abrangidos pela cessão feita anteriormente.

§ 2º É ineficaz a cessão, pelo co-herdeiro, de seu direito hereditário sobre qualquer


bem da herança considerado singularmente.

§ 3º Ineficaz é a disposição, sem prévia autorização do juiz da sucessão, por qualquer


herdeiro, de bem componente do acervo hereditário, pendente a indivisibilidade.

Art. 1.794. O co-herdeiro não poderá ceder a sua quota hereditária a pessoa estranha à
sucessão, se outro co-herdeiro a quiser, tanto por tanto.

Art. 1.795. O co-herdeiro, a quem não se der conhecimento da cessão, poderá,


depositado o preço, haver para si a quota cedida a estranho, se o requerer até cento e
oitenta dias após a transmissão.

Parágrafo único. Sendo vários os co-herdeiros a exercer a preferência, entre eles se


distribuirá o quinhão cedido, na proporção das respectivas quotas hereditárias.

Art. 1.796. No prazo de trinta dias, a contar da abertura da sucessão, instaurar-se-á


inventário do patrimônio hereditário, perante o juízo competente no lugar da
sucessão, para fins de liquidação e, quando for o caso, de partilha da herança.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
(Comentários: A lei 11.441, de 2007, ao tratar do inventário extrajudicial modificou
regras do Código de Processo Civil referentes à modalidade judicial, estabelecendo o
prazo de sessenta dias. Posteriormente, com o NCPC, o prazo passou a ser de 2 (dois
meses, conforme art. 611).

Art. 1.797. Até o compromisso do inventariante, a administração da herança caberá,


sucessivamente:

I - ao cônjuge ou companheiro, se com o outro convivia ao tempo da abertura da


sucessão;

II - ao herdeiro que estiver na posse e administração dos bens, e, se houver mais de um


nessas condições, ao mais velho;

III - ao testamenteiro;

IV - a pessoa de confiança do juiz, na falta ou escusa das indicadas nos incisos


antecedentes, ou quando tiverem de ser afastadas por motivo grave levado ao
conhecimento do juiz.

CAPÍTULO III
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Da Vocação Hereditária

Art. 1.798. Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no momento


da abertura da sucessão.

Art. 1.799. Na sucessão testamentária podem ainda ser chamados a suceder:

I - os filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas
estas ao abrir-se a sucessão;

II - as pessoas jurídicas;

III - as pessoas jurídicas, cuja organização for determinada pelo testador sob a forma de
fundação.

Art. 1.800. No caso do inciso I do artigo antecedente, os bens da herança serão


confiados, após a liquidação ou partilha, a curador nomeado pelo juiz.

§ 1º Salvo disposição testamentária em contrário, a curatela caberá à pessoa cujo filho


o testador esperava ter por herdeiro, e, sucessivamente, às pessoas indicadas no art.
1.775.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
§ 2º Os poderes, deveres e responsabilidades do curador, assim nomeado, regem-se
pelas disposições concernentes à curatela dos incapazes, no que couber.

§ 3º Nascendo com vida o herdeiro esperado, ser-lhe-á deferida a sucessão, com os


frutos e rendimentos relativos à deixa, a partir da morte do testador.

§ 4º Se, decorridos dois anos após a abertura da sucessão, não for concebido o herdeiro
esperado, os bens reservados, salvo disposição em contrário do testador, caberão aos
herdeiros legítimos.

Art. 1.801. Não podem ser nomeados herdeiros nem legatários:

I - a pessoa que, a rogo, escreveu o testamento, nem o seu cônjuge ou companheiro, ou


os seus ascendentes e irmãos;

II - as testemunhas do testamento;

III - o concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa sua, estiver separado de
fato do cônjuge há mais de cinco anos;

IV - o tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão, perante quem se fizer,


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assim como o que fizer ou aprovar o testamento.

Art. 1.802. São nulas as disposições testamentárias em favor de pessoas não legitimadas
a suceder, ainda quando simuladas sob a forma de contrato oneroso, ou feitas mediante
interposta pessoa.

Parágrafo único. Presumem-se pessoas interpostas os ascendentes, os descendentes, os


irmãos e o cônjuge ou companheiro do não legitimado a suceder.

Art. 1.803. É lícita a deixa ao filho do concubino, quando também o for do testador.

CAPÍTULO IV

Da Aceitação e Renúncia da Herança

Art. 1.804. Aceita a herança, torna-se definitiva a sua transmissão ao herdeiro, desde a
abertura da sucessão.

Parágrafo único. A transmissão tem-se por não verificada quando o herdeiro renuncia à
herança.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Art. 1.805. A aceitação da herança, quando expressa, faz-se por declaração escrita;
quando tácita, há de resultar tão-somente de atos próprios da qualidade de herdeiro.

§ 1º Não exprimem aceitação de herança os atos oficiosos, como o funeral do finado, os


meramente conservatórios, ou os de administração e guarda provisória.

§ 2º Não importa igualmente aceitação a cessão gratuita, pura e simples, da herança,


aos demais co-herdeiros.

Art. 1.806. A renúncia da herança deve constar expressamente de instrumento público


ou termo judicial.

Art. 1.807. O interessado em que o herdeiro declare se aceita, ou não, a herança,


poderá, vinte dias após aberta a sucessão, requerer ao juiz prazo razoável, não maior de
trinta dias, para, nele, se pronunciar o herdeiro, sob pena de se haver a herança por
aceita.

Art. 1.808. Não se pode aceitar ou renunciar a herança em parte, sob condição ou a
termo.

§ 1º O herdeiro, a quem se testarem legados, pode aceitá-los, renunciando a herança;


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ou, aceitando-a, repudiá-los.

§ 2º O herdeiro, chamado, na mesma sucessão, a mais de um quinhão hereditário, sob


títulos sucessórios diversos, pode livremente deliberar quanto aos quinhões que aceita
e aos que renuncia.

Art. 1.809. Falecendo o herdeiro antes de declarar se aceita a herança, o poder de


aceitar passa-lhe aos herdeiros, a menos que se trate de vocação adstrita a uma
condição suspensiva, ainda não verificada.

Parágrafo único. Os chamados à sucessão do herdeiro falecido antes da aceitação, desde


que concordem em receber a segunda herança, poderão aceitar ou renunciar a primeira.

Art. 1.810. Na sucessão legítima, a parte do renunciante acresce à dos outros herdeiros
da mesma classe e, sendo ele o único desta, devolve-se aos da subseqüente.

Art. 1.811. Ninguém pode suceder, representando herdeiro renunciante. Se, porém, ele
for o único legítimo da sua classe, ou se todos os outros da mesma classe renunciarem
a herança, poderão os filhos vir à sucessão, por direito próprio, e por cabeça.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Art. 1.812. São irrevogáveis os atos de aceitação ou de renúncia da herança.

Art. 1.813. Quando o herdeiro prejudicar os seus credores, renunciando à herança,


poderão eles, com autorização do juiz, aceitá-la em nome do renunciante.

§ 1º A habilitação dos credores se fará no prazo de trinta dias seguintes ao


conhecimento do fato.

§ 2º Pagas as dívidas do renunciante, prevalece a renúncia quanto ao remanescente,


que será devolvido aos demais herdeiros.

CAPÍTULO V

Dos Excluídos da Sucessão

Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários:

I - que houverem sido autores, co-autores ou partícipes de homicídio doloso, ou


tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro,
ascendente ou descendente;

II - que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da herança ou incorrerem 40


em crime contra a sua honra, ou de seu cônjuge ou companheiro;

III - que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou obstarem o autor da herança
de dispor livremente de seus bens por ato de última vontade.

Art. 1.815. A exclusão do herdeiro ou legatário, em qualquer desses casos de


indignidade, será declarada por sentença.

§ 1º O direito de demandar a exclusão do herdeiro ou legatário extingue-se em quatro


anos, contados da abertura da sucessão. (Redação dada pela Lei nº 13.532, de 2017)

§ 2º Na hipótese do inciso I do art. 1.814, o Ministério Público tem legitimidade para


demandar a exclusão do herdeiro ou legatário. (Incluído pela Lei nº 13.532, de 2017)

Art. 1.816. São pessoais os efeitos da exclusão; os descendentes do herdeiro excluído


sucedem, como se ele morto fosse antes da abertura da sucessão.

Parágrafo único. O excluído da sucessão não terá direito ao usufruto ou à administração


dos bens que a seus sucessores couberem na herança, nem à sucessão eventual desses
bens.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Art. 1.817. São válidas as alienações onerosas de bens hereditários a terceiros de boa-
fé, e os atos de administração legalmente praticados pelo herdeiro, antes da sentença
de exclusão; mas aos herdeiros subsiste, quando prejudicados, o direito de demandar-
lhe perdas e danos.

Parágrafo único. O excluído da sucessão é obrigado a restituir os frutos e rendimentos


que dos bens da herança houver percebido, mas tem direito a ser indenizado das
despesas com a conservação deles.

Art. 1.818. Aquele que incorreu em atos que determinem a exclusão da herança será
admitido a suceder, se o ofendido o tiver expressamente reabilitado em testamento, ou
em outro ato autêntico.

Parágrafo único. Não havendo reabilitação expressa, o indigno, contemplado em


testamento do ofendido, quando o testador, ao testar, já conhecia a causa da
indignidade, pode suceder no limite da disposição testamentária.

CAPÍTULO VI

Da Herança Jacente 41
Art. 1.819. Falecendo alguém sem deixar testamento nem herdeiro legítimo
notoriamente conhecido, os bens da herança, depois de arrecadados, ficarão sob a
guarda e administração de um curador, até a sua entrega ao sucessor devidamente
habilitado ou à declaração de sua vacância.

Art. 1.820. Praticadas as diligências de arrecadação e ultimado o inventário, serão


expedidos editais na forma da lei processual, e, decorrido um ano de sua primeira
publicação, sem que haja herdeiro habilitado, ou penda habilitação, será a herança
declarada vacante.

Art. 1.821. É assegurado aos credores o direito de pedir o pagamento das dívidas
reconhecidas, nos limites das forças da herança.

Art. 1.822. A declaração de vacância da herança não prejudicará os herdeiros que


legalmente se habilitarem; mas, decorridos cinco anos da abertura da sucessão, os bens
arrecadados passarão ao domínio do Município ou do Distrito Federal, se localizados nas
respectivas circunscrições, incorporando-se ao domínio da União quando situados em
território federal.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Parágrafo único. Não se habilitando até a declaração de vacância, os colaterais ficarão
excluídos da sucessão.

Art. 1.823. Quando todos os chamados a suceder renunciarem à herança, será esta
desde logo declarada vacante.

CAPÍTULO VII

Da petição de herança

Art. 1.824. O herdeiro pode, em ação de petição de herança, demandar o


reconhecimento de seu direito sucessório, para obter a restituição da herança, ou de
parte dela, contra quem, na qualidade de herdeiro, ou mesmo sem título, a possua.

Art. 1.825. A ação de petição de herança, ainda que exercida por um só dos herdeiros,
poderá compreender todos os bens hereditários.

Art. 1.826. O possuidor da herança está obrigado à restituição dos bens do acervo,
fixando-se-lhe a responsabilidade segundo a sua posse, observado o disposto nos arts.
1.214 a 1.222.
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Parágrafo único. A partir da citação, a responsabilidade do possuidor se há de aferir
pelas regras concernentes à posse de má-fé e à mora.

Art. 1.827. O herdeiro pode demandar os bens da herança, mesmo em poder de


terceiros, sem prejuízo da responsabilidade do possuidor originário pelo valor dos bens
alienados.

Parágrafo único. São eficazes as alienações feitas, a título oneroso, pelo herdeiro
aparente a terceiro de boa-fé.

Art. 1.828. O herdeiro aparente, que de boa-fé houver pago um legado, não está
obrigado a prestar o equivalente ao verdadeiro sucessor, ressalvado a este o direito de
proceder contra quem o recebeu.

TÍTULO II

Da Sucessão Legítima

CAPÍTULO I

Da Ordem da Vocação Hereditária

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: (Vide Recurso
Extraordinário nº 646.721) (Vide Recurso Extraordinário nº 878.694) – Comentários:
Conforme entendimento do STF, onde se lê “cônjuge”, deve-se ler “cônjuge ou
companheiro(a)”.

I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este


com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de
bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da
herança não houver deixado bens particulares;

II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;

III - ao cônjuge sobrevivente;

IV - aos colaterais.

Art. 1.830. Somente é reconhecido direito sucessório ao cônjuge sobrevivente se, ao


tempo da morte do outro, não estavam separados judicialmente, nem separados de fato
há mais de dois anos, salvo prova, neste caso, de que essa convivência se tornara
impossível sem culpa do sobrevivente. 43
Art. 1.831. Ao cônjuge sobrevivente, qualquer que seja o regime de bens, será
assegurado, sem prejuízo da participação que lhe caiba na herança, o direito real de
habitação relativamente ao imóvel destinado à residência da família, desde que seja o
único daquela natureza a inventariar.

Art. 1.832. Em concorrência com os descendentes (art. 1.829, inciso I) caberá ao cônjuge
quinhão igual ao dos que sucederem por cabeça, não podendo a sua quota ser inferior
à quarta parte da herança, se for ascendente dos herdeiros com que concorrer.

Art. 1.833. Entre os descendentes, os em grau mais próximo excluem os mais remotos,
salvo o direito de representação.

Art. 1.834. Os descendentes da mesma classe têm os mesmos direitos à sucessão de


seus ascendentes.

Art. 1.835. Na linha descendente, os filhos sucedem por cabeça, e os outros


descendentes, por cabeça ou por estirpe, conforme se achem ou não no mesmo grau.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Art. 1.836. Na falta de descendentes, são chamados à sucessão os ascendentes, em
concorrência com o cônjuge sobrevivente.

§ 1º Na classe dos ascendentes, o grau mais próximo exclui o mais remoto, sem distinção
de linhas.

§ 2º Havendo igualdade em grau e diversidade em linha, os ascendentes da linha


paterna herdam a metade, cabendo a outra aos da linha materna.

Art. 1.837. Concorrendo com ascendente em primeiro grau, ao cônjuge tocará um terço
da herança; caber-lhe-á a metade desta se houver um só ascendente, ou se maior for
aquele grau.

Art. 1.838. Em falta de descendentes e ascendentes, será deferida a sucessão por inteiro
ao cônjuge sobrevivente.

Art. 1.839. Se não houver cônjuge sobrevivente, nas condições estabelecidas no art.
1.830, serão chamados a suceder os colaterais até o quarto grau.

Art. 1.840. Na classe dos colaterais, os mais próximos excluem os mais remotos, salvo o
direito de representação concedido aos filhos de irmãos.
44
Art. 1.841. Concorrendo à herança do falecido irmãos bilaterais com irmãos unilaterais,
cada um destes herdará metade do que cada um daqueles herdar.

Art. 1.842. Não concorrendo à herança irmão bilateral, herdarão, em partes iguais, os
unilaterais.

Art. 1.843. Na falta de irmãos, herdarão os filhos destes e, não os havendo, os tios.

§ 1º Se concorrerem à herança somente filhos de irmãos falecidos, herdarão por cabeça.

§ 2º Se concorrem filhos de irmãos bilaterais com filhos de irmãos unilaterais, cada um


destes herdará a metade do que herdar cada um daqueles.

§ 3º Se todos forem filhos de irmãos bilaterais, ou todos de irmãos unilaterais, herdarão


por igual.

Art. 1.844. Não sobrevivendo cônjuge, ou companheiro, nem parente algum sucessível,
ou tendo eles renunciado a herança, esta se devolve ao Município ou ao Distrito Federal,
se localizada nas respectivas circunscrições, ou à União, quando situada em território
federal.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
CAPÍTULO II

Dos Herdeiros Necessários

Art. 1.845. São herdeiros necessários os descendentes, os ascendentes e o cônjuge.

Art. 1.846. Pertence aos herdeiros necessários, de pleno direito, a metade dos bens da
herança, constituindo a legítima.

Art. 1.847. Calcula-se a legítima sobre o valor dos bens existentes na abertura da
sucessão, abatidas as dívidas e as despesas do funeral, adicionando-se, em seguida, o
valor dos bens sujeitos a colação.

Art. 1.848. Salvo se houver justa causa, declarada no testamento, não pode o testador
estabelecer cláusula de inalienabilidade, impenhorabilidade, e de incomunicabilidade,
sobre os bens da legítima.

§ 1º Não é permitido ao testador estabelecer a conversão dos bens da legítima em


outros de espécie diversa.

§ 2º Mediante autorização judicial e havendo justa causa, podem ser alienados os bens
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gravados, convertendo-se o produto em outros bens, que ficarão sub-rogados nos ônus
dos primeiros.

Art. 1.849. O herdeiro necessário, a quem o testador deixar a sua parte disponível, ou
algum legado, não perderá o direito à legítima.

Art. 1.850. Para excluir da sucessão os herdeiros colaterais, basta que o testador
disponha de seu patrimônio sem os contemplar.

CAPÍTULO III

Do Direito de Representação

Art. 1.851. Dá-se o direito de representação, quando a lei chama certos parentes do
falecido a suceder em todos os direitos, em que ele sucederia, se vivo fosse.

Art. 1.852. O direito de representação dá-se na linha reta descendente, mas nunca na
ascendente.

Art. 1.853. Na linha transversal, somente se dá o direito de representação em favor dos


filhos de irmãos do falecido, quando com irmãos deste concorrerem.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Art. 1.854. Os representantes só podem herdar, como tais, o que herdaria o
representado, se vivo fosse.

Art. 1.855. O quinhão do representado partir-se-á por igual entre os representantes.

Art. 1.856. O renunciante à herança de uma pessoa poderá representá-la na sucessão


de outra.

TITULO III

DA SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA

CAPITULO I

DO TESTAMENTO EM GERAL

Art. 1.857. Toda pessoa capaz pode dispor, por testamento, da totalidade dos seus bens,
ou de parte deles, para depois de sua morte.

§ 1º A legítima dos herdeiros necessários não poderá ser incluída no testamento.

§ 2º São válidas as disposições testamentárias de caráter não patrimonial, ainda que o


testador somente a elas se tenha limitado. 46
Art. 1.858. O testamento é ato personalíssimo, podendo ser mudado a qualquer tempo.

Art. 1.859. Extingue-se em cinco anos o direito de impugnar a validade do testamento,


contado o prazo da data do seu registro.

CAPÍTULO II

Da Capacidade de Testar

Art. 1.860. Além dos incapazes, não podem testar os que, no ato de fazê-lo, não tiverem
pleno discernimento.

Parágrafo único. Podem testar os maiores de dezesseis anos.

Art. 1.861. A incapacidade superveniente do testador não invalida o testamento, nem o


testamento do incapaz se valida com a superveniência da capacidade.

CAPÍTULO III

Das formas ordinárias do testamento

Seção I

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Disposições Gerais

Art. 1.862. São testamentos ordinários:

I - o público;

II - o cerrado;

III - o particular.

Art. 1.863. É proibido o testamento conjuntivo, seja simultâneo, recíproco ou


correspectivo.

Seção II

Do Testamento Público

Art. 1.864. São requisitos essenciais do testamento público:

I - ser escrito por tabelião ou por seu substituto legal em seu livro de notas, de acordo
com as declarações do testador, podendo este servir-se de minuta, notas ou
apontamentos;

II - lavrado o instrumento, ser lido em voz alta pelo tabelião ao testador e a duas 47
testemunhas, a um só tempo; ou pelo testador, se o quiser, na presença destas e do
oficial;

III - ser o instrumento, em seguida à leitura, assinado pelo testador, pelas testemunhas
e pelo tabelião.

Parágrafo único. O testamento público pode ser escrito manualmente ou


mecanicamente, bem como ser feito pela inserção da declaração de vontade em partes
impressas de livro de notas, desde que rubricadas todas as páginas pelo testador, se
mais de uma.

Art. 1.865. Se o testador não souber, ou não puder assinar, o tabelião ou seu substituto
legal assim o declarará, assinando, neste caso, pelo testador, e, a seu rogo, uma das
testemunhas instrumentárias.

Art. 1.866. O indivíduo inteiramente surdo, sabendo ler, lerá o seu testamento, e, se não
o souber, designará quem o leia em seu lugar, presentes as testemunhas.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Art. 1.867. Ao cego só se permite o testamento público, que lhe será lido, em voz alta,
duas vezes, uma pelo tabelião ou por seu substituto legal, e a outra por uma das
testemunhas, designada pelo testador, fazendo-se de tudo circunstanciada menção no
testamento.

Seção III

Do Testamento Cerrado

Art. 1.868. O testamento escrito pelo testador, ou por outra pessoa, a seu rogo, e por
aquele assinado, será válido se aprovado pelo tabelião ou seu substituto legal,
observadas as seguintes formalidades:

I - que o testador o entregue ao tabelião em presença de duas testemunhas;

II - que o testador declare que aquele é o seu testamento e quer que seja aprovado;

III - que o tabelião lavre, desde logo, o auto de aprovação, na presença de duas
testemunhas, e o leia, em seguida, ao testador e testemunhas;

IV - que o auto de aprovação seja assinado pelo tabelião, pelas testemunhas e pelo
48
testador.

Parágrafo único. O testamento cerrado pode ser escrito mecanicamente, desde que seu
subscritor numere e autentique, com a sua assinatura, todas as paginas.

Art. 1.869. O tabelião deve começar o auto de aprovação imediatamente depois da


última palavra do testador, declarando, sob sua fé, que o testador lhe entregou para ser
aprovado na presença das testemunhas; passando a cerrar e coser o instrumento
aprovado.

Parágrafo único. Se não houver espaço na última folha do testamento, para início da
aprovação, o tabelião aporá nele o seu sinal público, mencionando a circunstância no
auto.

Art. 1.870. Se o tabelião tiver escrito o testamento a rogo do testador, poderá, não
obstante, aprová-lo.

Art. 1.871. O testamento pode ser escrito em língua nacional ou estrangeira, pelo
próprio testador, ou por outrem, a seu rogo.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Art. 1.872. Não pode dispor de seus bens em testamento cerrado quem não saiba ou
não possa ler.

Art. 1.873. Pode fazer testamento cerrado o surdo-mudo, contanto que o escreva todo,
e o assine de sua mão, e que, ao entregá-lo ao oficial público, ante as duas testemunhas,
escreva, na face externa do papel ou do envoltório, que aquele é o seu testamento, cuja
aprovação lhe pede.

Art. 1.874. Depois de aprovado e cerrado, será o testamento entregue ao testador, e o


tabelião lançará, no seu livro, nota do lugar, dia, mês e ano em que o testamento foi
aprovado e entregue.

Art. 1.875. Falecido o testador, o testamento será apresentado ao juiz, que o abrirá e o
fará registrar, ordenando seja cumprido, se não achar vício externo que o torne eivado
de nulidade ou suspeito de falsidade.

Seção IV

Do Testamento Particular

Art. 1.876. O testamento particular pode ser escrito de próprio punho ou mediante
49
processo mecânico.

§ 1º Se escrito de próprio punho, são requisitos essenciais à sua validade seja lido e
assinado por quem o escreveu, na presença de pelo menos três testemunhas, que o
devem subscrever.

§ 2º Se elaborado por processo mecânico, não pode conter rasuras ou espaços em


branco, devendo ser assinado pelo testador, depois de o ter lido na presença de pelo
menos três testemunhas, que o subscreverão.

Art. 1.877. Morto o testador, publicar-se-á em juízo o testamento, com citação dos
herdeiros legítimos.

Art. 1.878. Se as testemunhas forem contestes sobre o fato da disposição, ou, ao menos,
sobre a sua leitura perante elas, e se reconhecerem as próprias assinaturas, assim como
a do testador, o testamento será confirmado.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Parágrafo único. Se faltarem testemunhas, por morte ou ausência, e se pelo menos uma
delas o reconhecer, o testamento poderá ser confirmado, se, a critério do juiz, houver
prova suficiente de sua veracidade.

Art. 1.879. Em circunstâncias excepcionais declaradas na cédula, o testamento particular


de próprio punho e assinado pelo testador, sem testemunhas, poderá ser confirmado,
a critério do juiz.

Art. 1.880. O testamento particular pode ser escrito em língua estrangeira, contanto que
as testemunhas a compreendam.

CAPÍTULO IV

Dos Codicilos

Art. 1.881. Toda pessoa capaz de testar poderá, mediante escrito particular seu, datado
e assinado, fazer disposições especiais sobre o seu enterro, sobre esmolas de pouca
monta a certas e determinadas pessoas, ou, indeterminadamente, aos pobres de certo
lugar, assim como legar móveis, roupas ou jóias, de pouco valor, de seu uso pessoal.

Art. 1.882. Os atos a que se refere o artigo antecedente, salvo direito de terceiro, valerão
50
como codicilos, deixe ou não testamento o autor.

Art. 1.883. Pelo modo estabelecido no art. 1.881, poder-se-ão nomear ou substituir
testamenteiros.

Art. 1.884. Os atos previstos nos artigos antecedentes revogam-se por atos iguais, e
consideram-se revogados, se, havendo testamento posterior, de qualquer natureza,
este os não confirmar ou modificar.

Art. 1.885. Se estiver fechado o codicilo, abrir-se-á do mesmo modo que o testamento
cerrado.

[...]

CAPÍTULO VI

Das Disposições Testamentárias

Art. 1.897. A nomeação de herdeiro, ou legatário, pode fazer-se pura e simplesmente,


sob condição, para certo fim ou modo, ou por certo motivo.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Art. 1.898. A designação do tempo em que deva começar ou cessar o direito do herdeiro,
salvo nas disposições fideicomissárias, ter-se-á por não escrita.

Art. 1.899. Quando a cláusula testamentária for suscetível de interpretações diferentes,


prevalecerá a que melhor assegure a observância da vontade do testador.

Art. 1.900. É nula a disposição:

I - que institua herdeiro ou legatário sob a condição captatória de que este disponha,
também por testamento, em benefício do testador, ou de terceiro;

II - que se refira a pessoa incerta, cuja identidade não se possa averiguar;

III - que favoreça a pessoa incerta, cometendo a determinação de sua identidade a


terceiro;

IV - que deixe a arbítrio do herdeiro, ou de outrem, fixar o valor do legado;

V - que favoreça as pessoas a que se referem os arts. 1.801 e 1.802.

Art. 1.901. Valerá a disposição:

I - em favor de pessoa incerta que deva ser determinada por terceiro, dentre duas ou 51
mais pessoas mencionadas pelo testador, ou pertencentes a uma família, ou a um corpo
coletivo, ou a um estabelecimento por ele designado;

II - em remuneração de serviços prestados ao testador, por ocasião da moléstia de que


faleceu, ainda que fique ao arbítrio do herdeiro ou de outrem determinar o valor do
legado.

Art. 1.902. A disposição geral em favor dos pobres, dos estabelecimentos particulares
de caridade, ou dos de assistência pública, entender-se-á relativa aos pobres do lugar
do domicílio do testador ao tempo de sua morte, ou dos estabelecimentos aí sitos, salvo
se manifestamente constar que tinha em mente beneficiar os de outra localidade.

Parágrafo único. Nos casos deste artigo, as instituições particulares preferirão sempre
às públicas.

Art. 1.903. O erro na designação da pessoa do herdeiro, do legatário, ou da coisa


legada anula a disposição, salvo se, pelo contexto do testamento, por outros
documentos, ou por fatos inequívocos, se puder identificar a pessoa ou coisa a que o
testador queria referir-se.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Art. 1.904. Se o testamento nomear dois ou mais herdeiros, sem discriminar a parte de
cada um, partilhar-se-á por igual, entre todos, a porção disponível do testador.

Art. 1.905. Se o testador nomear certos herdeiros individualmente e outros


coletivamente, a herança será dividida em tantas quotas quantos forem os indivíduos e
os grupos designados.

Art. 1.906. Se forem determinadas as quotas de cada herdeiro, e não absorverem toda
a herança, o remanescente pertencerá aos herdeiros legítimos, segundo a ordem da
vocação hereditária.

Art. 1.907. Se forem determinados os quinhões de uns e não os de outros herdeiros,


distribuir-se-á por igual a estes últimos o que restar, depois de completas as porções
hereditárias dos primeiros.

Art. 1.908. Dispondo o testador que não caiba ao herdeiro instituído certo e
determinado objeto, dentre os da herança, tocará ele aos herdeiros legítimos.

Art. 1.909. São anuláveis as disposições testamentárias inquinadas de erro, dolo ou


coação. 52
Parágrafo único. Extingue-se em quatro anos o direito de anular a disposição, contados
de quando o interessado tiver conhecimento do vício.

Art. 1.910. A ineficácia de uma disposição testamentária importa a das outras que, sem
aquela, não teriam sido determinadas pelo testador.

Art. 1.911. A cláusula de inalienabilidade, imposta aos bens por ato de liberalidade,
implica impenhorabilidade e incomunicabilidade.

Parágrafo único. No caso de desapropriação de bens clausulados, ou de sua alienação,


por conveniência econômica do donatário ou do herdeiro, mediante autorização
judicial, o produto da venda converter-se-á em outros bens, sobre os quais incidirão as
restrições apostas aos primeiros.

[...]

TÍTULO IV

Do Inventário e da Partilha

CAPÍTULO I

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Do Inventário

Art. 1.991. Desde a assinatura do compromisso até a homologação da partilha, a


administração da herança será exercida pelo inventariante.

CAPÍTULO II

Dos Sonegados

Art.1.992. O herdeiro que sonegar bens da herança, não os descrevendo no inventário


quando estejam em seu poder, ou, com o seu conhecimento, no de outrem, ou que os
omitir na colação, a que os deva levar, ou que deixar de restituí-los, perderá o direito
que sobre eles lhe cabia.

Art. 1.993. Além da pena cominada no artigo antecedente, se o sonegador for o próprio
inventariante, remover-se-á, em se provando a sonegação, ou negando ele a existência
dos bens, quando indicados.

Art.1.994. A pena de sonegados só se pode requerer e impor em ação movida pelos


herdeiros ou pelos credores da herança.
53
Parágrafo único. A sentença que se proferir na ação de sonegados, movida por qualquer
dos herdeiros ou credores, aproveita aos demais interessados.

Art. 1.995. Se não se restituírem os bens sonegados, por já não os ter o sonegador em
seu poder, pagará ele a importância dos valores que ocultou, mais as perdas e danos.

Art. 1.996. Só se pode argüir de sonegação o inventariante depois de encerrada a


descrição dos bens, com a declaração, por ele feita, de não existirem outros por
inventariar e partir, assim como argüir o herdeiro, depois de declarar-se no inventário
que não os possui.

CAPÍTULO III

Do Pagamento das Dívidas

Art. 1.997. A herança responde pelo pagamento das dívidas do falecido; mas, feita a
partilha, só respondem os herdeiros, cada qual em proporção da parte que na herança
lhe coube.

§ 1º Quando, antes da partilha, for requerido no inventário o pagamento de dívidas


constantes de documentos, revestidos de formalidades legais, constituindo prova

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
bastante da obrigação, e houver impugnação, que não se funde na alegação de
pagamento, acompanhada de prova valiosa, o juiz mandará reservar, em poder do
inventariante, bens suficientes para solução do débito, sobre os quais venha a recair
oportunamente a execução.

§ 2º No caso previsto no parágrafo antecedente, o credor será obrigado a iniciar a ação


de cobrança no prazo de trinta dias, sob pena de se tornar de nenhum efeito a
providência indicada.

Art. 1.998. As despesas funerárias, haja ou não herdeiros legítimos, sairão do monte da
herança; mas as de sufrágios por alma do falecido só obrigarão a herança quando
ordenadas em testamento ou codicilo.

Art. 1.999. Sempre que houver ação regressiva de uns contra outros herdeiros, a parte
do co-herdeiro insolvente dividir-se-á em proporção entre os demais.

Art. 2.000. Os legatários e credores da herança podem exigir que do patrimônio do


falecido se discrimine o do herdeiro, e, em concurso com os credores deste, ser-lhes-ão
preferidos no pagamento. 54
Art. 2.001. Se o herdeiro for devedor ao espólio, sua dívida será partilhada igualmente
entre todos, salvo se a maioria consentir que o débito seja imputado inteiramente no
quinhão do devedor.

CAPÍTULO IV

Da Colação

Art. 2.002. Os descendentes que concorrerem à sucessão do ascendente comum são


obrigados, para igualar as legítimas, a conferir o valor das doações que dele em vida
receberam, sob pena de sonegação.

Parágrafo único. Para cálculo da legítima, o valor dos bens conferidos será computado
na parte indisponível, sem aumentar a disponível.

Art. 2.003. A colação tem por fim igualar, na proporção estabelecida neste Código, as
legítimas dos descendentes e do cônjuge sobrevivente, obrigando também os
donatários que, ao tempo do falecimento do doador, já não possuírem os bens doados.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Parágrafo único. Se, computados os valores das doações feitas em adiantamento de
legítima, não houver no acervo bens suficientes para igualar as legítimas dos
descendentes e do cônjuge, os bens assim doados serão conferidos em espécie, ou,
quando deles já não disponha o donatário, pelo seu valor ao tempo da liberalidade.

Art. 2.004. O valor de colação dos bens doados será aquele, certo ou estimativo, que
lhes atribuir o ato de liberalidade.

§ 1º Se do ato de doação não constar valor certo, nem houver estimação feita naquela
época, os bens serão conferidos na partilha pelo que então se calcular valessem ao
tempo da liberalidade.

§ 2º Só o valor dos bens doados entrará em colação; não assim o das benfeitorias
acrescidas, as quais pertencerão ao herdeiro donatário, correndo também à conta deste
os rendimentos ou lucros, assim como os danos e perdas que eles sofrerem.

Art. 2.005. São dispensadas da colação as doações que o doador determinar saiam da
parte disponível, contanto que não a excedam, computado o seu valor ao tempo da
doação. 55
Parágrafo único. Presume-se imputada na parte disponível a liberalidade feita a
descendente que, ao tempo do ato, não seria chamado à sucessão na qualidade de
herdeiro necessário.

Art. 2.006. A dispensa da colação pode ser outorgada pelo doador em testamento, ou
no próprio título de liberalidade.

Art. 2.007. São sujeitas à redução as doações em que se apurar excesso quanto ao que
o doador poderia dispor, no momento da liberalidade.

§ 1º O excesso será apurado com base no valor que os bens doados tinham, no momento
da liberalidade.

§ 2º A redução da liberalidade far-se-á pela restituição ao monte do excesso assim


apurado; a restituição será em espécie, ou, se não mais existir o bem em poder do
donatário, em dinheiro, segundo o seu valor ao tempo da abertura da sucessão,
observadas, no que forem aplicáveis, as regras deste Código sobre a redução das
disposições testamentárias.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
§ 3º Sujeita-se a redução, nos termos do parágrafo antecedente, a parte da doação feita
a herdeiros necessários que exceder a legítima e mais a quota disponível.

§ 4º Sendo várias as doações a herdeiros necessários, feitas em diferentes datas, serão


elas reduzidas a partir da última, até a eliminação do excesso.

Art. 2.008. Aquele que renunciou a herança ou dela foi excluído, deve, não obstante,
conferir as doações recebidas, para o fim de repor o que exceder o disponível.

Art. 2.009. Quando os netos, representando os seus pais, sucederem aos avós, serão
obrigados a trazer à colação, ainda que não o hajam herdado, o que os pais teriam de
conferir.

Art. 2.010. Não virão à colação os gastos ordinários do ascendente com o descendente,
enquanto menor, na sua educação, estudos, sustento, vestuário, tratamento nas
enfermidades, enxoval, assim como as despesas de casamento, ou as feitas no interesse
de sua defesa em processo-crime.

Art. 2.011. As doações remuneratórias de serviços feitos ao ascendente também não


estão sujeitas a colação. 56
Art. 2.012. Sendo feita a doação por ambos os cônjuges, no inventário de cada um se
conferirá por metade.

CAPÍTULO V

Da Partilha

Art. 2.013. O herdeiro pode sempre requerer a partilha, ainda que o testador o proíba,
cabendo igual faculdade aos seus cessionários e credores.

Art. 2.014. Pode o testador indicar os bens e valores que devem compor os quinhões
hereditários, deliberando ele próprio a partilha, que prevalecerá, salvo se o valor dos
bens não corresponder às quotas estabelecidas.

Art. 2.015. Se os herdeiros forem capazes, poderão fazer partilha amigável, por escritura
pública, termo nos autos do inventário, ou escrito particular, homologado pelo juiz.

Art. 2.016. Será sempre judicial a partilha, se os herdeiros divergirem, assim como se
algum deles for incapaz.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Art. 2.017. No partilhar os bens, observar-se-á, quanto ao seu valor, natureza e
qualidade, a maior igualdade possível.

Art. 2.018. É válida a partilha feita por ascendente, por ato entre vivos ou de última
vontade, contanto que não prejudique a legítima dos herdeiros necessários.

Art. 2.019. Os bens insuscetíveis de divisão cômoda, que não couberem na meação do
cônjuge sobrevivente ou no quinhão de um só herdeiro, serão vendidos judicialmente,
partilhando-se o valor apurado, a não ser que haja acordo para serem adjudicados a
todos.

§ 1º Não se fará a venda judicial se o cônjuge sobrevivente ou um ou mais herdeiros


requererem lhes seja adjudicado o bem, repondo aos outros, em dinheiro, a diferença,
após avaliação atualizada.

§ 2º Se a adjudicação for requerida por mais de um herdeiro, observar-se-á o processo


da licitação.

Art. 2.020. Os herdeiros em posse dos bens da herança, o cônjuge sobrevivente e o


inventariante são obrigados a trazer ao acervo os frutos que perceberam, desde a 57
abertura da sucessão; têm direito ao reembolso das despesas necessárias e úteis que
fizeram, e respondem pelo dano a que, por dolo ou culpa, deram causa.

Art. 2.021. Quando parte da herança consistir em bens remotos do lugar do inventário,
litigiosos, ou de liquidação morosa ou difícil, poderá proceder-se, no prazo legal, à
partilha dos outros, reservando-se aqueles para uma ou mais sobrepartilhas, sob a
guarda e a administração do mesmo ou diverso inventariante, e consentimento da
maioria dos herdeiros.

Art. 2.022. Ficam sujeitos a sobrepartilha os bens sonegados e quaisquer outros bens da
herança de que se tiver ciência após a partilha.

CAPÍTULO VI

Da Garantia dos Quinhões Hereditários

Art. 2.023. Julgada a partilha, fica o direito de cada um dos herdeiros circunscrito aos
bens do seu quinhão.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Art. 2.024. Os co-herdeiros são reciprocamente obrigados a indenizar-se no caso de
evicção dos bens aquinhoados.

Art. 2.025. Cessa a obrigação mútua estabelecida no artigo antecedente, havendo


convenção em contrário, e bem assim dando-se a evicção por culpa do evicto, ou por
fato posterior à partilha.

Art. 2.026. O evicto será indenizado pelos co-herdeiros na proporção de suas quotas
hereditárias, mas, se algum deles se achar insolvente, responderão os demais na mesma
proporção, pela parte desse, menos a quota que corresponderia ao indenizado.

CAPÍTULO VII

Da Anulação da Partilha

Art. 2.027. A partilha é anulável pelos vícios e defeitos que invalidam, em geral, os
negócios jurídicos. (Redação dada pela Lei nº 13.105, de 2015) (Vigência)

Parágrafo único. Extingue-se em um ano o direito de anular a partilha.

58

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
1.3. JURISPRUDÊNCIA

Enunciados das Jornadas de Direito Civil

Enunciado 118 – O testamento anterior à vigência do novo Código Civil se submeterá à


redução prevista no § 1º do art. 1.967 naquilo que atingir a porção reservada ao cônjuge
sobrevivente, elevado que foi à condição de herdeiro necessário.

Enunciado 119 – Para evitar o enriquecimento sem causa, a colação será efetuada com
base no valor da época da doação, nos termos do caput do art. 2.004, exclusivamente
na hipótese em que o bem doado não mais pertença ao patrimônio do donatário. Se, ao
contrário, o bem ainda integrar seu patrimônio, a colação se fará com base no valor do
bem na época da abertura da sucessão, nos termos do art. 1.014 do CPC, de modo a
preservar a quantia que efetivamente integrará a legítima quando esta se constituiu, ou
seja, na data do óbito (resultado da interpretação sistemática do art. 2.004 e seus
59
parágrafos, juntamente com os arts. 1.832 e 884 do Código Civil).

Enunciado 264 – Na interpretação do que seja procedimento indigno do credor, apto a


fazer cessar o direito a alimentos, aplicam-se, por analogia, as hipóteses dos incs. I e II
do art. 1.814 do Código Civil.

Enunciado 265 – Na hipótese de concubinato, haverá necessidade de demonstração da


assistência material prestada pelo concubino a quem o credor de alimentos se uniu.

Enunciado 266 – Aplica-se o inc. I do art. 1.790 também na hipótese de concorrência do


companheiro sobrevivente com outros descendentes comuns, e não apenas na
concorrência com filhos comuns. Comentários: O STF declarou o artigo 1.790
INCONSTITUCIONAL.

Enunciado 267 – A regra do art. 1.798 do Código Civil deve ser estendida aos embriões
formados mediante o uso de técnicas de reprodução assistida, abrangendo, assim, a
vocação hereditária da pessoa humana a nascer cujos efeitos patrimoniais se submetem
às regras previstas para a petição da herança.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Enunciado 268 – Nos termos do inc. I do art. 1.799, pode o testador beneficiar filhos de
determinada origem, não devendo ser interpretada extensivamente a cláusula
testamentária respectiva.

Enunciado 269 – A vedação do art. 1.801, inc. III, do Código Civil não se aplica à união
estável, independentemente do período de separação de fato (art. 1.723, § 1º).

Enunciado 270 – O art. 1.829, inc. I, só assegura ao cônjuge sobrevivente o direito de


concorrência com os descendentes do autor da herança quando casados no regime da
separação convencional de bens ou, se casados nos regimes da comunhão parcial ou
participação final nos aqüestos, o falecido possuísse bens particulares, hipóteses em que
a concorrência se restringe a tais bens, devendo os bens comuns (meação) ser
partilhados exclusivamente entre os descendentes.

Enunciado 527 – Na concorrência entre o cônjuge e os herdeiros do de cujus, não será


reservada a quarta parte da herança para o sobrevivente no caso de filiação híbrida.

Enunciado 528 – É válida a declaração de vontade expressa em documento autêntico,


também chamado "testamento vital", em que a pessoa estabelece disposições sobre o 60
tipo de tratamento de saúde, ou não tratamento, que deseja no caso de se encontrar
sem condições de manifestar a sua vontade. Comentários: O testamento vital não tem
natureza jurídica propriamente de testamento. Vide “Doutrina”.

Enunciado 529 – O fideicomisso, previsto no art. 1.951 do Código Civil, somente pode
ser instituído por testamento.

Enunciado 609 – O regime de bens no casamento somente interfere na concorrência


sucessória do cônjuge com descendentes do falecido.

Enunciado 610 – Nos casos de comoriência entre ascendente e descendente, ou entre


irmãos, reconhece-se o direito de representação aos descendentes e aos filhos dos
irmãos.

Enunciado 611 – O testamento hológrafo simplificado, previsto no art. 1.879 do Código


Civil, perderá sua eficácia se, nos 90 dias subsequentes ao fim das circunstâncias
excepcionais que autorizaram a sua confecção, o disponente, podendo fazê-lo, não
testar por uma das formas testamentárias ordinárias.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Enunciado 612 – O prazo para exercer o direito de anular a partilha amigável judicial,
decorrente de dissolução de sociedade conjugal ou de união estável, extingue-se em 1
(um) ano da data do trânsito em julgado da sentença homologatória, consoante
dispõem o art. 2.027, parágrafo único, do Código Civil de 2002, e o art. 1.029, parágrafo
único, do Código de Processo Civil (art. 657, parágrafo único, do Novo CPC).

SÚMULAS DO STF

Súmula 149 – É imprescritível a ação de investigação de paternidade, mas não o é a de


petição de herança.

Súmula 377 - No regime de separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos na


constância do casamento.

Súmula 542 - Não é inconstitucional a multa instituída pelo Estado-Membro, como


sanção pelo retardamento do início ou da ultimação do inventário
61
JULGADOS DO STJ

Parentes colaterais não são legitimados ativos para a ação de anulação de adoção
proposta após o falecimento do adotante, em virtude da inconstitucionalidade do art.
1.790 do Código Civil declarada pelo Supremo Tribunal Federal. Inicialmente¸ cumpre
destacar que o Plenário do Supremo Tribunal Federal, por meio do RE 878.694-MG
(Tema 809 de Repercussão Geral) e do RE 646.721-RS (Tema 498), declarou que "o art.
1.790 do Código Civil de 2002 é inconstitucional, porque viola os princípios
constitucionais da igualdade, da dignidade da pessoa humana, da proporcionalidade na
modalidade de proibição à proteção deficiente e da vedação ao retrocesso". Com efeito,
extrai-se do voto proferido pelo Ministro Luís Roberto Barroso que o Código Civil, ao
diferenciar o casamento e as uniões estáveis no plano sucessório, promoveu um
retrocesso e uma inconstitucional hierarquização entre as famílias, ao reduzir o nível de
proteção estatal conferido aos indivíduos somente pelo fato de não estarem casados,

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
violando a igualdade, a dignidade da pessoa humana, a proporcionalidade, e
contrariando, ademais, a vedação à proteção insuficiente, bem como a proibição ao
retrocesso. Ainda quanto ao assunto, cumpre registrar que a presente controvérsia foi
julgada de forma semelhante pela Terceira Turma do STJ, no julgamento do REsp
1.332.773-MS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 1/8/2017, conforme divulgação
do Informativo de Jurisprudência n. 609 (13/9/2017). No caso dos autos, porém, o art.
1.790, III, do CC/2002 foi invocado para fundamentar o direito de sucessão afirmado
pelos recorridos (irmãos e sobrinhos do falecido) e consequente legitimidade ativa em
ação de anulação de adoção. É que, declarada a nulidade da adoção, não subsistiria a
descendência, pois a filha adotiva perderia esse título, deixando de ser herdeira, e,
diante da inexistência de ascendentes, os irmãos e sobrinhos seriam chamados a
suceder, em posição anterior à companheira sobrevivente. Nessa linha, considerando
que não há espaço legítimo para o estabelecimento de regimes sucessórios distintos
entre cônjuges e companheiros, a lacuna criada com a declaração de
inconstitucionalidade do art. 1.790 do CC/2002 deve ser preenchida com a aplicação do
regramento previsto no art. 1.829 da atual legislação civil, que estabelece a seguinte 62
ordem de sucessão: I- descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente; II-
ascendentes, em concorrência com o cônjuge; III- cônjuge sobrevivente e; IV- colaterais.
Considerando a ordem de vocação engendrada para o casamento, verifica-se que tanto
a sucessão de cônjuges como a sucessão de companheiros devem seguir, a partir da
decisão do STF, o regime atualmente traçado no art. 1.829 do CC/2002 (RE 878.694/MG,
Rel. Min. Luis Roberto Barroso). Desse modo, na falta de descendentes e de
ascendentes, o companheiro receberá a herança sozinho, exatamente como previsto
para o cônjuge, excluindo os colaterais até o quarto grau (irmãos, tios, sobrinhos,
primos, tios-avôs e sobrinhos-netos). (REsp 1.337.420-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
por unanimidade, julgado em 22/8/2017, DJe 21/9/2017)

O descumprimento de exigência legal para a confecção de testamento público –


segunda leitura e expressa menção no corpo do documento da condição de cego – não
gera a sua nulidade se mantida a higidez da manifestação de vontade do testador. O
propósito recursal volta-se para a análise da validade de testamento público, cujo

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
testador era cego e que não teria cumprido todas as formalidades legais exigidas. Na
hipótese, o testamento público, apesar de produzido em cartório, lido em voz alta pelo
tabelião na presença do testador e de duas testemunhas, suprimiu a exigência legal de
uma segunda leitura e da expressa menção no corpo do documento da condição de cego
do testador. Não é desconhecida a jurisprudência do STJ no sentido de que o testamento
confeccionado, não obstante a ausência de algum elemento tido como indispensável,
reproduz a manifestação de vontade do testador. Esses julgados, não obstante a
reiterada insurgência calcada no art. 166, V, do CC/02 (for preterida alguma solenidade
que a lei considere essencial para a sua validade), traduzem a ideia de primazia da
manifestação da vontade, quando essa não colide com preceitos de ordem pública.
Dessa forma, atendidos os pressupostos básicos da sucessão testamentária – i)
capacidade do testador; ii) atendimento aos limites do que pode dispor e; iii) lídima
declaração de vontade – a ausência de umas das formalidades exigidas por lei, pode e
deve ser colmatada para a preservação da vontade daquele que fez o testamento. E diz-
se assim, pois as regulações atinentes ao instituto têm por fim teleológico, justamente,
a garantia do referido desígnio. Logo, se essa vontade fica evidenciada por uma sucessão 63
de atos e solenidades que coesamente a professam, inclusive, e principalmente, quando
já falecido o autor do testamento, não há razão para, em preciosismo desprovido de
propósito, exigir o cumprimento de norma que já teve o seu fim atendido. Na hipótese
em análise, é certo que as exigências de dupla leitura do teor do testamento (pelo
tabelião e por uma das testemunhas) e a confirmação, no próprio instrumento, da
condição de cegueira do testador têm por objetivo assegurar, no momento de oposição
da assinatura, o espelhamento da pretensão do de cujus em relação aos seus bens. Mas,
quanto à garantia de que o testamento representa a efetiva declaração de vontade do
testador, e que esse tinha plena ciência do que fazia e do seu alcance, fica evidenciada,
tanto a capacidade cognitiva do testador quanto o fato de que o testamento, lido pelo
tabelião, correspondia exatamente à manifestação de vontade do de cujus. (REsp
1.677.931-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, por unanimidade, julgado em 15/8/2017, DJe
22/8/2017)

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL - TESTAMENTO - AUSÊNCIA DE VÍCIO DE
VONTADE - REQUISITOS LEGAIS - PREENCHIMENTO - VALIDADE - FINALIDADE DO ATO
- DELIBERAÇÃO MONOCRÁTICA QUE NEGOU PROVIMENTO AO RECURSO. INSURGÊNCIA
DOS AUTORES DA AÇÃO ANULATÓRIA. 1. O conteúdo normativo dos dispositivos legais
tidos por violados - artigos 104, 138, 145, 166, 167, 171 e seguintes do Código Civil - não
foram objeto de exame pela instância ordinária, razão pela qual incide, na espécie, o
enunciado da Súmula 211/STJ. 2. A jurisprudência desta eg. Corte Superior entende
que, na elaboração de testamento particular, é possível sejam flexibilizadas as
formalidades prescritas em lei na hipótese em que o documento foi assinado por
testador e por testemunhas idôneas. Incidência da Súmula 83/STJ. Precedentes: AgRg
nos EAREsp 365011/SP, Rel. Min. Marco Aurélio Belizze, DJe de 20/11/2015.; REsp
302767 / PR, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, DJe de 24/09/2001; REsp 753261/SP, Rel. Min.
Paulo de Tarso Sanseverino, DJE de 05/04/2011. 3. Agravo interno desprovido. (AgInt no
REsp 1521371/MG, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em
28/03/2017, DJe 03/04/2017)
64
RECURSO ESPECIAL - PROCEDIMENTO DE INVENTÁRIO - TESTAMENTO PÚBLICO -
HERDEIRA PRÉ-MORTA - QUOTA-PARTE - CONVERSÃO EM HERANÇA JACENTE -
IMPOSSIBILIDADE - INTERPRETAÇÃO DO TESTAMENTO - PRINCÍPIO DA SOBERANIA DA
VONTADE DO TESTADOR - APLICABILIDADE - RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO.
INSURGÊNCIA DO MUNICÍPIO. Hipótese: A quaestio iuris a ser enfrentada diz respeito à
determinação do método interpretativo adequado para as disposições testamentárias
controversas, em atenção ao princípio da soberania da vontade do testador, disposto
no art. 1.899 do Código Civil. 1. Na existência de cláusula testamentária duvidosa, que
remete a interpretações distintas, deve-se compreendê-la de modo que melhor se
harmonize com a vontade manifestada pelo testador, em atenção ao princípio da
soberania da vontade desse, insculpido nos artigos 112 e 1.899 do Código Civil. 2.
Quanto à aplicação do princípio da soberania da vontade do testador na interpretação
dos testamentos pode-se determinar as seguintes premissas : a) naquelas hipóteses em
que o texto escrito ensejar várias interpretações, deverá prevalecer a que melhor
assegure a observância da vontade do testador; b) na busca pela real vontade do

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
testador, deve ser adotada a solução que confira maior eficácia e utilidade à cláusula
escrita; c) para poder aferir a real vontade do testador, torna-se necessário apreciar o
conjunto das disposições testamentárias, e não determinada cláusula que,
isoladamente, ofereça dúvida; e d) a interpretação buscada deve ser pesquisada no
próprio testamento, isto é, a solução deve emergir do próprio texto do instrumento. 3.
O instituto da herança jacente foi desenvolvido para proteger o patrimônio do de cujus
de eventuais abusos de terceiros, destinando-o à coletividade, na pessoa do Estado. Em
assim sendo, a mens legis que orienta o instituto é de considerá-lo como a ultima ratio,
isto é, considerar a ocorrência da jacência em última análise quando, de nenhuma outra
forma, for possível atribuir a herança a quem de direito. 4. Na presente hipótese, a
interpretação teleológica do testamento de acordo com a real vontade do testador, em
observância dos artigos 112 e 1.899 do Código Civil, conduz à conclusão de que a
testadora objetivamente desejava que todo seu patrimônio, à exceção das duas obras
legadas ao MAM/RJ, fosse repartido entre sua irmã e os sobrinhos de seu marido e que,
em consequência, a previsão de substituição recíproca escrita na parte final da
disposição testamentária viesse à abranger à irmã pré-morta, sem que houvesse 65
modificação no texto das últimas vontades. 5. Dessa forma, em razão da interpretação
conjunta das disposições testamentárias combinada com a aplicação do princípio da
soberania da vontade do testador associada às peculiaridades do caso concreto, em que
a testadora foi interditada após a feitura do testamento, de modo que ficou inviabilizada
qualquer alteração deste a fim de adequar-se à nova situação fática, conclui-se pela
inexistência de herança jacente na hipótese, devendo a quota-parte da herdeira pré-
morta reverter ao demais herdeiros testamentários 6. Não houve demonstração de
dissídio jurisprudencial, diante da ausência de similitude fática entre os acórdãos, de
maneira que inviável o inconformismo apontado pela alínea c do permissivo
constitucional. 7. Recurso especial desprovido. (REsp 1532544/RJ, Rel. Ministro MARCO
BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em 08/11/2016, DJe 30/11/2016)

DIREITO CIVIL. TERMO INICIAL DO PRAZO PRESCRICIONAL DA AÇÃO DE PETIÇÃO DE


HERANÇA EM RECONHECIMENTO PÓSTUMO DE PATERNIDADE. Na hipótese em que
ação de investigação de paternidade post mortem tenha sido ajuizada após o trânsito

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
em julgado da decisão de partilha de bens deixados pelo de cujus, o termo inicial do
prazo prescricional para o ajuizamento de ação de petição de herança é a data do
trânsito em julgado da decisão que reconheceu a paternidade, e não o trânsito em
julgado da sentença que julgou a ação de inventário. A petição de herança, objeto dos
arts. 1.824 a 1.828 do CC, é ação a ser proposta por herdeiro para o reconhecimento de
direito sucessório ou a restituição da universalidade de bens ou de quota ideal da
herança da qual não participou. Trata-se de ação fundamental para que um herdeiro
preterido possa reivindicar a totalidade ou parte do acervo hereditário, sendo movida
em desfavor do detentor da herança, de modo que seja promovida nova partilha dos
bens. A teor do que dispõe o art. 189 do CC, a fluência do prazo prescricional, mais
propriamente no tocante ao direito de ação, somente surge quando há violação do
direito subjetivo alegado. Assim, conforme entendimento doutrinário, não há falar em
petição de herança enquanto não se der a confirmação da paternidade. Dessa forma,
conclui-se que o termo inicial para o ajuizamento da ação de petição de herança é a data
do trânsito em julgado da ação de investigação de paternidade, quando, em síntese,
confirma-se a condição de herdeiro. REsp 1.475.759-DF, Rel. Min. João Otávio de 66
Noronha, julgado em 17/5/2016, DJe 20/5/2016.

DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. ILEGITIMIDADE DA VIÚVA MEEIRA PARA FIGURAR


NO POLO PASSIVO DE AÇÃO DE PETIÇÃO DE HERANÇA. A viúva meeira que não ostente
a condição de herdeira é parte ilegítima para figurar no polo passivo de ação de
petição de herança na qual não tenha sido questionada a meação, ainda que os bens
integrantes de sua fração se encontrem em condomínio pro indiviso com os bens
pertencentes ao quinhão hereditário. Isso porque eventual procedência da ação de
petição de herança em nada refletirá na esfera de direitos da viúva meeira, tendo em
vista que não será possível subtrair nenhuma fração de sua meação, que permanecerá
invariável, motivo pela qual não deve ser qualificada como litisconsorte passiva
necessária (REsp 331.781-MG, Terceira Turma, DJ 19/4/2004). Deve-se ressaltar, ainda,
a natureza universal da ação de petição de herança, na qual, segundo esclarece
entendimento doutrinário, não ocorre a devolução de coisas destacadas, mas do
patrimônio hereditário: por inteiro, caso o autor seja herdeiro de uma classe mais

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privilegiada; ou de quota-parte, caso seja herdeiro de mesma classe de quem recebeu a
herança (REsp 1.244.118-SC, Terceira Turma, DJe 28/10/2013). Desse modo, o autor terá
o reconhecimento de seu direito sucessório e o recebimento de sua quota-parte, e não
de bens singularmente considerados, motivo pelo qual não haverá alteração na situação
fática dos bens, que permanecerão em condomínio pro indiviso. Assim, caso não se
questione a fração atribuída à meeira, eventual procedência do pedido em nada a
alterará. Ressalte-se que diversa seria a situação se os bens houvessem sido repartidos
entre meeira e herdeiros de forma desigual, e o autor da ação se insurgisse contra a
avaliação e especificação dos bens atribuídos à meeira, alegando prejuízo à metade
destinada aos herdeiros. REsp 1.500.756-GO, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em
23/2/2016, DJe 2/3/2016.

DIREITO CIVIL. HERANÇA DE BEM GRAVADO COM CLÁUSULA DE INCOMUNICABILIDADE.


A cláusula de incomunicabilidade imposta a um bem transferido por doação ou
testamento só produz efeitos enquanto viver o beneficiário, sendo que, após a morte
deste, o cônjuge sobrevivente poderá se habilitar como herdeiro do referido bem,
67
observada a ordem de vocação hereditária. Isso porque a cláusula de
incomunicabilidade imposta a um bem não se relaciona com a vocação hereditária.
Assim, se o indivíduo recebeu por doação ou testamento bem imóvel com a referida
cláusula, sua morte não impede que seu herdeiro receba o mesmo bem. São dois
institutos distintos: cláusula de incomunicabilidade e vocação hereditária. Diferenciam-
se, ainda: meação e herança. Ressalte-se que o art. 1.829 do CC enumera os chamados
a suceder e define a ordem em que a sucessão é deferida. O dispositivo preceitua que o
cônjuge é também herdeiro e nessa qualidade concorre com descendentes (inciso I) e
ascendentes (inciso II). Na falta de descendentes e ascendentes, o cônjuge herda
sozinho (inciso III). Só no inciso IV é que são contemplados os colaterais. Pode-se
imaginar, por exemplo, a hipótese em que um bem é doado ao cônjuge (ou legado a ele)
com cláusula de inalienabilidade. Dá-se o divórcio e o bem, em virtude daquela cláusula,
não compõe o monte a ser partilhado. Outra hipótese, bem diferente, é a do cônjuge
que recebe a coisa gravada com aquela cláusula e falece. O bem, que era exclusivo dele,
passa a integrar o monte que será herdado por aqueles que a lei determina. Monte,

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
aliás, eventualmente composto por outros bens também exclusivos que, nem por isso,
deixam de fazer parte da herança. Não se desconhece a existência de precedente da 4ª
Turma, no qual se decidiu, por maioria, que "estabelecida, pelo testador, cláusula
restritiva sobre o quinhão da herdeira, de incomunicabilidade, inalienabilidade e
impenhorabilidade, o falecimento dela não afasta a eficácia da disposição
testamentária, de sorte que procede o pedido de habilitação, no inventário em questão,
dos sobrinhos da de cujus" (REsp 246.693-SP, DJ 17/5/2004). Ressalte-se, contudo, que
a jurisprudência mais recente do STJ, seguindo a doutrina e a jurisprudência do STF,
voltou a orientar-se no sentido de que "a cláusula de inalienabilidade vitalícia tem
vigência enquanto viver o beneficiário, passando livres e desembaraçados aos seus
herdeiros os bens objeto da restrição" (REsp 1.101.702-RS, Terceira Turma, DJe
9/10/2009). Por outro lado, a linha exegética segundo a qual a incomunicabilidade de
bens inerente ao regime de bens do matrimônio teria o efeito de alterar a ordem de
vocação hereditária prevista no CC/2002 não encontra apoio na jurisprudência
atualmente consolidada na Segunda Seção (REsp 1.472.945-RJ, Terceira Turma, DJe
19/11/2014; REsp 1.382.170-SP, Segunda Seção, DJe 26/5/2015; AgRg nos EREsp 68
1.472.945-RJ, Segunda Seção, DJe 29/6/2015). REsp 1.552.553-RJ, Rel. Min. Maria Isabel
Gallotti, julgado em 24/11/2015, DJe 11/2/2016.

DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. DISCUSSÃO DE CULPA NO DIREITO SUCESSÓRIO E


ÔNUS DA PROVA. Ocorrendo a morte de um dos cônjuges após dois anos da separação
de fato do casal, é legalmente relevante, para fins sucessórios, a discussão da culpa do
cônjuge sobrevivente pela ruptura da vida em comum, cabendo a ele o ônus de
comprovar que a convivência do casal se tornara impossível sem a sua culpa. A
despeito das críticas doutrinárias a respeito do art. 1.830 do CC/2002, no que se refere
principalmente à possibilidade de discussão de culpa como requisito para se determinar
a exclusão ou não do cônjuge sobrevivente da ordem de vocação hereditária, cumpre
definir o sentido e o alcance do texto expresso da lei. Posto isso, observa-se que as
regras trazidas pelo CC/2002, na linha de evolução do direito brasileiro, visam elevar a
proteção conferida ao cônjuge sobrevivente. Registre-se, desse modo, que o tratamento
conferido ao cônjuge pelo CC/1916 considerava a circunstância de que a maioria dos

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
matrimônios seguia o regime legal da comunhão universal. Assim, em caso de
falecimento de um dos cônjuges, o outro não ficava desamparado, já que a metade dos
bens lhe pertencia, porque lhe era conferida a meação sobre a totalidade do patrimônio
do casal. A partir de 1977, com a edição da Lei 6.515 (Lei do Divórcio), o regime legal
passou a ser o da comunhão parcial de bens, de modo que o cônjuge supérstite não
necessariamente ficaria amparado, em caso de morte de seu consorte, já que a meação
incidia apenas sobre os bens adquiridos onerosamente na constância do casamento.
Neste contexto, a doutrina esclarece que a exclusão do direito sucessório do cônjuge
sobrevivente com a simples separação de fato, independente de lapso temporal ou
arguição de culpa, não exprime "o valor da justiça nos casos de abandono de lar por um
dos cônjuges, ou de decretação de separação de fato pelo Poder Judiciário dos consortes
em virtude de tentativa de morte ou injúria grave, de casais unidos, por exemplo, há
mais de vinte anos, e que estão separados de fato há mais de dois anos". Nesse sentido,
a doutrina continua: "seria absurdo defender que uma mulher que conviveu por anos
com seu esposo e contribuiu para a dilatação do patrimônio do casal, em sendo
abandonada por seu marido não tivesse direito à herança do falecido, por ser 69
legalmente apartada da sucessão". Portanto, não há se falar em ilegalidade ou
impertinência da discussão da culpa no vigente direito sucessório. Por fim, cabe ao
cônjuge sobrevivente o ônus de comprovar que a convivência do casal se tornara
impossível sem a sua culpa, a fim de lhe reconhecer o direito sucessório na sucessão de
seu consorte. Isso porque, conforme se verifica da ordem de vocação hereditária
prevista no art. 1.829 do CC/2002, o cônjuge separado de fato é exceção à ordem de
vocação. Ademais, ao alçar o cônjuge sobrevivente à condição de herdeiro necessário,
a intenção do CC/2002 é proteger as relações unidas por laços de afetividade,
solidariedade e convivência para as quais a proximidade e integração de seus membros
são mais relevantes que os laços mais distantes de parentesco. REsp 1.513.252-SP, Rel.
Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 3/11/2015, DJe 12/11/2015.

DIREITO CIVIL. RESPONSABILIDADE DOS HERDEIROS PELO PAGAMENTO DE DÍVIDA


DIVISÍVEL DO AUTOR DA HERANÇA. Em execução de dívida divisível do autor da
herança ajuizada após a partilha, cada herdeiro beneficiado pela sucessão responde

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
na proporção da parte que lhes coube na herança. De fato, os herdeiros e legatários do
autor da herança não respondem pelas dívidas do de cujus acima das forças dos bens
que receberam. Dessarte, com a abertura da sucessão, há a formação de um condomínio
necessário, que somente é dissolvido com a partilha, estabelecendo o quinhão
hereditário de cada beneficiário no tocante ao acervo transmitido. Nesse contexto, a
herança é constituída pelo acervo patrimonial e dívidas (obrigações) deixadas por seu
autor, sendo que aos credores do autor da herança é facultada, antes da partilha dos
bens transmitidos, a habilitação de seus créditos no juízo do inventário ou o ajuizamento
de ação em face do espólio. Ultimada a partilha, o acervo outrora indiviso, constituído
pelos bens e direitos que pertenciam ao de cujus, transmitidos com o seu falecimento,
estará discriminado e especificado, de modo que só caberá ação em face dos
beneficiários, que, em todo caso, responderão até o limite de seus quinhões. Com efeito,
é nítido do exame do art. 1.997, caput, do CC, c/c o art. 597 do CPC (correspondente ao
art. 796 do novo CPC) que, feita a partilha, cada herdeiro responde pelas dívidas
(divisíveis) do falecido dentro das forças da herança e na proporção da parte que lhe
coube, e não necessariamente no limite de seu quinhão hereditário. Portanto, após a 70
partilha, não há cogitar em solidariedade entre os herdeiros de dívidas divisíveis, motivo
pelo qual caberá ao credor executar os herdeiros pro rata, observando a proporção da
parte que lhes coube (quinhão) no tocante ao acervo partilhado. Precedente citado:
REsp 1.290.042-SP, Sexta Turma, DJe 29/2/2012. REsp 1.367.942-SP, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 21/5/2015, DJe 11/6/2015.

DIREITO CIVIL. DIREITO DE HERDEIRO DE EXIGIR A COLAÇÃO DE BENS. O filho do autor


da herança tem o direito de exigir de seus irmãos a colação dos bens que receberam
via doação a título de adiantamento da legítima, ainda que sequer tenha sido
concebido ao tempo da liberalidade. De fato, para efeito de cumprimento do dever de
colação, é irrelevante se o herdeiro nasceu antes ou após a doação, não havendo
também diferença entre os descendentes, se são eles irmãos germanos ou unilaterais
ou se supervenientes à eventual separação ou divórcio do doador. O que deve
prevalecer é a ideia de que a doação feita de ascendente para descendente, por si só,
não é considerada inválida ou ineficaz pelo ordenamento jurídico, mas impõe ao

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
donatário obrigação protraída no tempo, de à época do óbito do doador, trazer o
patrimônio recebido à colação, a fim de igualar as legítimas, caso não seja aquele o único
herdeiro necessário (arts. 2.002, parágrafo único, e 2.003 do CC). Importante destacar
que o dever de colacionar os bens recebidos a título de liberalidade só se dispensa por
expressa manifestação do doador, determinando que a doação seja extraída da parte
disponível de seus bens, o que também não ocorre na hipótese em análise, na qual a
liberalidade de fato configura adiantamento da legítima. Precedentes citados: REsp
730.483-MG, Terceira Turma, DJ 20/6/2005; e REsp 9.081-SP, Terceira Turma, DJ
20/4/1992. REsp 1.298.864-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 19/5/2015,
DJe 29/5/2015.

O valor de colação dos bens doados deverá ser aquele atribuído ao tempo da
liberalidade, corrigido monetariamente até a data da abertura da sucessão. De início,
verifica-se a ocorrência de antinomia entre o Código Civil de 2002 - visto que, no capítulo
IV, "Da Colação", o art. 2.004, caput, estabelece que os bens doados serão trazidos à
colação pelo valor atribuído no ato de liberalidade - e o Código de Processo Civil de 1973,
71
no Capítulo IX, Seção VI, denominada "Das Colações" - em que o art. 1.014, parágrafo
único, determina que os bens recebidos em doação deverão ser calculados pelo valor
que tiverem ao tempo da abertura da sucessão. Essa contradição deve ser solucionada
com observância do princípio de direito intertemporal tempus regit actum. Assim, nas
hipóteses de abertura da sucessão após o início da vigência do Código Civil de 2002,
deve ser aplicada a regra prevista nesse diploma. Dessa forma, consoante se extrai do
texto do art. 2.004 do CC/2002, o valor de colação dos bens deverá ser aquele atribuído
ao tempo da doação. Todavia, apesar da ausência de previsão expressa, o valor dos bens
doados deverá ser corrigido monetariamente até a data da abertura da sucessão para
preservar a igualdade dos quinhões legitimários. Cabe ressaltar que, se o valor atribuído
aos bens no ato de liberalidade não corresponder ao valor que efetivamente possuía à
época, é cabível a realização de avaliação dos bens através de perícia técnica. Ademais,
a interpretação do art. 2.004 do CC/2002 apresentada na I Jornada de Direito Civil
promovida pelo Conselho da Justiça Federal (Enunciado 119), no sentido de que, "para
evitar o enriquecimento sem causa, a colação será efetuada com base no valor da época

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
da doação, nos termos do caput do art. 2004, exclusivamente na hipótese em que o bem
doado não mais pertença ao patrimônio do donatário. Se, ao contrário, o bem ainda
integrar seu patrimônio, a colação se fará com base no valor do bem na época da
abertura da sucessão, nos termos do art. 1.014 do CPC, de modo a preservar a quantia
que efetivamente integrar a legítima quando esta se constituiu, ou seja, na data do óbito
(resultado da interpretação sistemática do art. 2004 e seus parágrafos, juntamente com
os arts. 1.832 e 884 do Código Civil)", não se coaduna com as regras estabelecidas no
Código Civil de 2002 sobre a matéria, bem como afronta o princípio de direito
intertemporal tempus regit actum. (REsp 1.166.568-SP, Rel. Min. Lázaro Guimarães
(Desembargador convocado do TRF da 5ª Região), por unanimidade, julgado em
12/12/2017, DJe 15/12/2017)

O pedido de abertura de inventário e o arrolamento de bens, com a regularização


processual por meio de nomeação de advogado, implicam a aceitação tácita da
herança. A questão abordada no recurso especial cingiu-se a analisar se o pedido de
abertura de inventário e arrolamento de bens, com a regularização processual por meio
72
de nomeação de advogado, implicam a aceitação tácita da herança. Inicialmente, cabe
destacar que a referida demanda foi ajuizada em conjunto pelo pai e irmão da falecida,
sendo que o genitor veio a óbito 30 dias após a realização do ato. Em virtude desse fato,
o inventariante, filho do falecido e irmão da pré-morta, formulou o pedido de renúncia
em nome do genitor à herança da falecida. Com efeito, impõe-se o reconhecimento
tácito da aceitação da herança da filha pré-morta visto ter ocorrido a regularização
processual no inventário por parte do seu genitor, que veio a falecer 30 (trinta) dias após
o ingresso da referida ação. A sua aceitação infere-se da prática de um ato próprio de
quem se reputa herdeiro e demonstra de forma concludente sua intenção em aderir à
herança. O exercício do direito pela via judicial conferiu a qualidade de herdeiro ao pai
do recorrente. (REsp 1.622.331-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, por
unanimidade, julgado em 8/11/2016, DJe 14/11/2016).

DIREITO CIVIL. RESPONSABILIDADE DOS HERDEIROS PELO PAGAMENTO DE DÍVIDA


DIVISÍVEL DO AUTOR DA HERANÇA. Em execução de dívida divisível do autor da

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
herança ajuizada após a partilha, cada herdeiro beneficiado pela sucessão responde
na proporção da parte que lhes coube na herança. De fato, os herdeiros e legatários do
autor da herança não respondem pelas dívidas do de cujus acima das forças dos bens
que receberam. Dessarte, com a abertura da sucessão, há a formação de um condomínio
necessário, que somente é dissolvido com a partilha, estabelecendo o quinhão
hereditário de cada beneficiário no tocante ao acervo transmitido. Nesse contexto, a
herança é constituída pelo acervo patrimonial e dívidas (obrigações) deixadas por seu
autor, sendo que aos credores do autor da herança é facultada, antes da partilha dos
bens transmitidos, a habilitação de seus créditos no juízo do inventário ou o ajuizamento
de ação em face do espólio. Ultimada a partilha, o acervo outrora indiviso, constituído
pelos bens e direitos que pertenciam ao de cujus, transmitidos com o seu falecimento,
estará discriminado e especificado, de modo que só caberá ação em face dos
beneficiários, que, em todo caso, responderão até o limite de seus quinhões. Com efeito,
é nítido do exame do art. 1.997, caput, do CC, c/c o art. 597 do CPC (correspondente ao
art. 796 do novo CPC) que, feita a partilha, cada herdeiro responde pelas dívidas
(divisíveis) do falecido dentro das forças da herança e na proporção da parte que lhe 73
coube, e não necessariamente no limite de seu quinhão hereditário. Portanto, após a
partilha, não há cogitar em solidariedade entre os herdeiros de dívidas divisíveis, motivo
pelo qual caberá ao credor executar os herdeiros pro rata, observando a proporção da
parte que lhes coube (quinhão) no tocante ao acervo partilhado. Precedente citado:
REsp 1.290.042-SP, Sexta Turma, DJe 29/2/2012. REsp 1.367.942-SP, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 21/5/2015, DJe 11/6/2015.

DIREITO CIVIL. DIREITO DE HERDEIRO DE EXIGIR A COLAÇÃO DE BENS. O filho do autor


da herança tem o direito de exigir de seus irmãos a colação dos bens que receberam
via doação a título de adiantamento da legítima, ainda que sequer tenha sido
concebido ao tempo da liberalidade. De fato, para efeito de cumprimento do dever de
colação, é irrelevante se o herdeiro nasceu antes ou após a doação, não havendo
também diferença entre os descendentes, se são eles irmãos germanos ou unilaterais
ou se supervenientes à eventual separação ou divórcio do doador. O que deve
prevalecer é a ideia de que a doação feita de ascendente para descendente, por si só,

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
não é considerada inválida ou ineficaz pelo ordenamento jurídico, mas impõe ao
donatário obrigação protraída no tempo, de à época do óbito do doador, trazer o
patrimônio recebido à colação, a fim de igualar as legítimas, caso não seja aquele o único
herdeiro necessário (arts. 2.002, parágrafo único, e 2.003 do CC). Importante destacar
que o dever de colacionar os bens recebidos a título de liberalidade só se dispensa por
expressa manifestação do doador, determinando que a doação seja extraída da parte
disponível de seus bens, o que também não ocorre na hipótese em análise, na qual a
liberalidade de fato configura adiantamento da legítima. Precedentes citados: REsp
730.483-MG, Terceira Turma, DJ 20/6/2005; e REsp 9.081-SP, Terceira Turma, DJ
20/4/1992. REsp 1.298.864-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 19/5/2015,
DJe 29/5/2015.

DIREITO CIVIL. SUCESSÃO CAUSA MORTIS E REGIME DE COMUNHÃO PARCIAL DE BENS.


O cônjuge sobrevivente casado sob o regime de comunhão parcial de bens concorrerá
com os descendentes do cônjuge falecido apenas quanto aos bens particulares
eventualmente constantes do acervo hereditário. O art. 1.829, I, do CC estabelece que
74
o cônjuge sobrevivente concorre com os descendentes do falecido, salvo se casado: i)
no regime da comunhão universal; ou ii) no da separação obrigatória de bens (art. 1.641,
e não art. 1.640, parágrafo único); ou, ainda, iii) no regime da comunhão parcial, quando
o autor da herança não houver deixado bens particulares. Com isso, o cônjuge supérstite
é herdeiro necessário, concorrendo com os descendentes do morto, desde que casado
com o falecido no regime: i) da separação convencional (ou consensual), em qualquer
circunstância do acervo hereditário (ou seja, existindo ou não bens particulares do
falecido); ou ii) da comunhão parcial, apenas quando tenha o de cujus deixado bens
particulares, pois, quanto aos bens comuns, já tem o cônjuge sobrevivente o direito à
meação, de modo que se faz necessário assegurar a condição de herdeiro ao cônjuge
supérstite apenas quanto aos bens particulares. Dessa forma, se o falecido não deixou
bens particulares, não há razão para o cônjuge sobrevivente ser herdeiro, pois já tem
a meação sobre o total dos bens em comum do casal deixados pelo inventariado,
cabendo a outra metade somente aos descendentes deste, estabelecendo-se uma
situação de igualdade entre essas categorias de herdeiros, como é justo. Por outro

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
lado, se o falecido deixou bens particulares e não se adotar o entendimento ora
esposado, seus descendentes ficariam com a metade do acervo de bens comuns e com
o total dos bens particulares, em clara desvantagem para o cônjuge sobrevivente. Para
evitar essa situação, a lei estabelece a participação do cônjuge supérstite, agora na
qualidade de herdeiro, em concorrência com os descendentes do morto, quanto aos
bens particulares. Assim, impõe uma situação de igualdade entre os interessados na
partilha, pois o cônjuge sobrevivente permanece meeiro em relação aos bens comuns e
tem participação na divisão dos bens particulares, como herdeiro necessário,
concorrendo com os descendentes. A preocupação do legislador de colocar o cônjuge
sobrevivente na condição de herdeiro necessário, em concorrência com os
descendentes do falecido, assenta-se na ideia de garantir ao cônjuge supérstite
condições mínimas para sua sobrevivência, quando não possuir obrigatória ou
presumida meação com o falecido (como ocorre no regime da separação convencional)
ou quando a meação puder ser até inferior ao acervo de bens particulares do morto,
ficando o cônjuge sobrevivente (mesmo casado em regime de comunhão parcial) em
desvantagem frente aos descendentes. Noutro giro, não se mostra acertado o 75
entendimento de que deveria prevalecer para fins sucessórios a vontade dos cônjuges,
no que tange ao patrimônio, externada na ocasião do casamento com a adoção de
regime de bens que exclua da comunhão os bens particulares de cada um. Com efeito,
o regime de bens tal qual disciplinado no Livro de Família do Código Civil, instituto que
disciplina o patrimônio dos nubentes, não rege o direito sucessório, embora tenha
repercussão neste. Ora, a sociedade conjugal se extingue com o falecimento de um dos
cônjuges (art. 1.571, I, do CC), incidindo, a partir de então, regras próprias que regulam
a transmissão do patrimônio do de cujus, no âmbito do Direito das Sucessões, que possui
livro próprio e específico no Código Civil. Assim, o regime de bens adotado na ocasião
do casamento é considerado e tem influência no Direito das Sucessões, mas não
prevalece tal qual enquanto em curso o matrimônio, não sendo extensivo a situações
que possuem regulação legislativa própria, como no direito sucessório (REsp 1.472.945-
RJ, Terceira Turma, DJe de 19/11/2014). Por fim, ressalte-se que essa linha exegética é
a mesma chancelada no Enunciado 270 do Conselho da Justiça Federal, aprovado na III
Jornada de Direito Civil. Precedente citado: REsp 974.241-DF, Quarta Turma, DJe

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
5/10/2011. REsp 1.368.123-SP, Rel. Min. Sidnei Beneti, Rel. para acórdão Min. Raul
Araújo, julgado em 22/4/2015, DJe 8/6/2015.

JULGADOS DO STF

Ementa: Direito constitucional e civil. Recurso extraordinário. Repercussão geral.


Aplicação do artigo 1.790 do Código Civil à sucessão em união estável homoafetiva.
Inconstitucionalidade da distinção de regime sucessório entre cônjuges e
companheiros. 1. A Constituição brasileira contempla diferentes formas de família
legítima, além da que resulta do casamento. Nesse rol incluem-se as famílias formadas
mediante união estável, hetero ou homoafetivas. O STF já reconheceu a “inexistência
de hierarquia ou diferença de qualidade jurídica entre as duas formas de constituição
de um novo e autonomizado núcleo doméstico”, aplicando-se a união estável entre
pessoas do mesmo sexo as mesmas regras e mesas consequências da união estável
heteroafetiva (ADI 4277 e ADPF 132, Rel. Min. Ayres Britto, j. 05.05.2011). 2. Não é 76
legítimo desequiparar, para fins sucessórios, os cônjuges e os companheiros, isto é, a
família formada pelo casamento e a formada por união estável. Tal hierarquização entre
entidades familiares é incompatível com a Constituição de 1988. Assim sendo, o art.
1790 do Código Civil, ao revogar as Leis nº 8.971/1994 e nº 9.278/1996 e discriminar a
companheira (ou o companheiro), dando-lhe direitos sucessórios bem inferiores aos
conferidos à esposa (ou ao marido), entra em contraste com os princípios da igualdade,
da dignidade humana, da proporcionalidade como vedação à proteção deficiente e da
vedação do retrocesso. 3. Com a finalidade de preservar a segurança jurídica, o
entendimento ora firmado é aplicável apenas aos inventários judiciais em que não tenha
havido trânsito em julgado da sentença de partilha e às partilhas extrajudiciais em que
ainda não haja escritura pública. 4. Provimento do recurso extraordinário. Afirmação,
em repercussão geral, da seguinte tese: “No sistema constitucional vigente, é
inconstitucional a distinção de regimes sucessórios entre cônjuges e companheiros,
devendo ser aplicado, em ambos os casos, o regime estabelecido no art. 1.829 do
CC/2002”. (RE 646721, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: Min.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 10/05/2017, ACÓRDÃO ELETRÔNICO
DJe-204 DIVULG 08-09-2017 PUBLIC 11-09-2017)

77

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
1.4. QUESTÕES

1. Suponha que uma pessoa tenha falecido e deixado testamento válido no qual tenha
disposto a propriedade da casa onde residia a sua caseira, ficando o restante dos seus
bens aos herdeiros necessários. Nessa situação,

a) tendo sido a casa alienada a terceiros, considera-se revigorado o legado se for obtida
a anulação do negócio por ocorrência de simulação.

b) ao contrário do que ocorre com os herdeiros necessários, a caseira somente adquirirá


a propriedade após o encerramento da partilha.

c) a posse direta do imóvel será conferida à caseira por consentimento dos demais
herdeiros, não lhe sendo lícito obtê-la por sua própria autoridade.

d) o imóvel, por ser bem individualizado e em razão de os legatários não concorrerem


para o resgate de débitos, deverá ser entregue à caseira desde logo.

e) se for verificado que, após o testamento, a casa foi demolida e reconstruída com 78
algumas transformações, estará configurada a caducidade do legado.

2. No que se refere à exclusão da herança por indignidade, assinale a opção correta.

a) A reabilitação, em testamento ou em outro ato autêntico, é ato personalíssimo do


ofendido.

b) O rol das causas enumeradas na lei civil para exclusão da herança por indignidade é
exemplificativo — numerus apertus.

c) O ato infracional equiparado ao homicídio doloso praticado por menor de dezoito


anos de idade contra ascendente não é causa de indignidade hábil à exclusão da
herança.

d) Como os efeitos da sentença que decreta a indignidade são pessoais, o excluído terá
direito ao usufruto e à administração dos bens que couberem a seus filhos.

e) O direito de demandar a exclusão do herdeiro extingue-se em quatro anos, contados


a partir da data em que ocorrer o fato objeto da indignidade.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
3. A propósito do direito das sucessões, com fundamento nos dispositivos legais, na
doutrina e no entendimento jurisprudencial pátrio, assinale a opção correta.

a) A herança é considerada um bem divisível, antes mesmo da partilha.

b) O filho do autor da herança tem o direito de exigir de seus irmãos a colação dos bens
recebidos por doação, a título de adiantamento da legítima, ainda que não tenha sido
concebido ao tempo da liberalidade.

c) O cônjuge supérstite pode opor o direito real de habitação aos irmãos do cônjuge
falecido, caso eles já fossem, antes da abertura da sucessão, coproprietários do imóvel
em que ela e o marido residiam.

d) O testador só poderá dispor de um terço da herança no caso de haver herdeiros


necessários.

e) O cumprimento de legado de coisa que se determine pelo gênero é impossibilitado


quando a coisa não mais existir entre os bens deixados pelo testador.
79
4. Em relação ao direito das sucessões, assinale a opção correta.

a) Não havendo descendentes ou ascendentes, os herdeiros colaterais do autor da


herança concorrem com o cônjuge sobrevivente.

b) Em se tratando de casamento sob o regime de comunhão parcial de bens, o cônjuge


supérstite concorrerá com os descendentes do cônjuge falecido apenas em relação aos
bens particulares deste.

c) Será rompido o testamento válido se o legatário for excluído da sucessão ou falecer


antes do legante.

d) Não goza da igualdade de condições com filho legítimo o filho adotado no ano de
1980, se a morte do autor da herança tiver ocorrido antes da vigência da Lei n.º
10.406/2012.

e) Tratando-se de sucessão colateral, o direito de representação estende-se ao


sobrinho-neto do autor da herança.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
1.5. GABARITO COMENTADO

1. C

ALTERNATIVA A: INCORRETA

Conforme dispõe o art. Art. 1.939 do CC: “Caducará o legado: II - se o testador, por
qualquer título, alienar no todo ou em parte a coisa legada; nesse caso, caducará até
onde ela deixou de pertencer ao testador”. Assim, tendo em vista que a casa foi alienada
e em se tratando de delegado, operou-se a caducidade.

ALTERNATIVA B: INCORRETA

Conforme estabelece o art. 1.923 do CC: “Desde a abertura da sucessão, pertence ao


legatário a coisa certa, existente no acervo, salvo se o legado estiver sob condição 80
suspensiva”. Assim, pelo princípio da saisine, desde a abertura da sucessão haverá a
transmissão da propriedade tanto aos herdeiros quanto aos legatários, ressalvando-se
que em se tratando de bem imóvel o título deverá ser levado a registro para que se
efetive a transferência de propriedade, independentemente de se tratar de herdeiro ou
legatário.

ALTERNATIVA C: CORRETA

Conforme dispõe o §1º do art. 1.923 do CC: “Não se defere de imediato a posse da coisa,
nem nela pode o legatário entrar por autoridade própria”. Portanto, a assertiva está em
consonância com o que estabelece o Código Civil.

ALTERNATIVA D: INCORRETA

O artigo anterior também justifica o erro da alternativa D.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
ALTERNATIVA E: INCORRETA

O artigo 1.939 do CC dispõe que: “Caducará o legado: I - se, depois do testamento, o


testador modificar a coisa legada, ao ponto de já não ter a forma nem lhe caber a
denominação que possuía”. No caso, a casa deixada à legatária, embora tenha sido
demolida e reconstruída, manteve as mesmas características, pois continuou sendo uma
casa, com algumas transformações, conforme afirma a própria assertiva. Assim, não é
hipótese de caducidade.

2. A

ALTERNATIVA A: CORRETA

Conforme dispõe o art. 1.818 do CC: “Aquele que incorreu em atos que determinem a
exclusão da herança será admitido a suceder, se o ofendido o tiver expressamente
reabilitado em testamento, ou em outro ato autêntico”. Portanto, a reabilitação deve
ser expressa, cabendo somente ao ofendido, razão pela qual a alternativa está correta.
81

ALTERNATIVA B: INCORRETA

Conforme entendimento majoritário na doutrina e acolhido pela jurisprudência, as


causas de indignidade estão taxativamente enumeradas no art. 1.814 do CC, ao
contrário do que afirma a alternativa. Registre-se, entretanto, que há entendimento do
sentido de se atender a finalidade da norma para admitir indignidade por condutas que
se mostrem assemelhadas àquelas previstas no rol do art. 1.814. Nesse sentido, é o
entendimento de Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald.

ALTERNATIVA C: INCORRETA

Embora suscite controvérsia, a alternativa encontra-se incorreta em razão do art. 1.814,


I, do CC, segundo o qual: “São excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários: I – que
houverem sido autores, co-autores ou partícipes de homicídio doloso, ou tentativa
deste, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro,

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
ascendente ou descendente”. Assim, o ato infracional, por possuir todos os elementos
do crime, seria apto a ensejar a indignidade do menor.

ALTERNATIVA D: INCORRETA

Conforme dispõe o parágrafo único do art. 1.816 do CC: “O excluído da sucessão não
terá direito ao usufruto ou à administração dos bens que a seus sucessores couberem
na herança, nem à sucessão eventual desses bens”.

ALTERNATIVA E: INCORRETA

Conforme dispõe o parágrafo único do art. 1.815 do CC: “O direito de demandar a


exclusão do herdeiro ou legatário extingue-se em quatro anos, contados da abertura da
sucessão”.

3. B 82

ALTERNATIVA A: INCORRETA

Conforme dispõe parágrafo único do art. 1.791 do CC: “Até a partilha, o direito dos co-
herdeiros, quanto à propriedade e posse da herança, será indivisível, e regular-se-á
pelas normas relativas ao condomínio”.

ALTERNATIVA B: CORRETA

Conforme REsp 1.298.864-SP: “O filho do morto tem o direito de exigir de seus irmãos
a colação dos bens que estes receberam via doação a título de adiantamento da
legítima, ainda que sequer tenha sido concebido ao tempo da liberalidade. Para efeito
de cumprimento do dever de colação, é irrelevante se o herdeiro nasceu antes ou após
a doação, não havendo também diferença entre os descendentes, se são eles irmãos
germanos ou unilaterais ou se supervenientes à eventual separação ou divórcio do
doador”. (Info 563)

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
ALTERNATIVA C: INCORRETA

O entendimento contrário à assertiva foi firmado no julgamento do Resp 1184492/SE:


“CIVIL. DIREITO REAL DE HABITAÇÃO. INOPONIBILIDADE A TERCEIROS
COPROPRIETÁRIOS DO IMÓVEL. CONDOMÍNIO PREEXISTENTE À ABERTURA DA
SUCESSÃO. ART. ANALISADO: 1.611, § 2º, do CC/16. [...] 2. Discute-se a oponibilidade do
direito real de habitação da viúva aos coproprietários do imóvel em que ela residia com
o falecido. [...] 4. No particular, toda a matriz sociológica e constitucional que justifica a
concessão do direito real de habitação ao cônjuge supérstite deixa de ter razoabilidade,
em especial porque o condomínio formado pelos irmãos do falecido preexiste à abertura
da sucessão, pois a copropriedade foi adquirida muito antes do óbito do marido da
recorrida, e não em decorrência deste evento”.

ALTERNATIVA D: INCORRETA

Conforme dispõe art. 1.789 do CC: “Havendo herdeiros necessários, o testador só 83


poderá dispor da metade da herança”.

ALTERNATIVA E: INCORRETA

Conforme dispõe o art. Art. 1.915 do CC: “Se o legado for de coisa que se determine pelo
gênero, será o mesmo cumprido, ainda que tal coisa não exista entre os bens deixados
pelo testador”.

4. B

ALTERNATIVA A: INCORRETA

Conforme dispõe o Código Civil: “Art. 1.838. Em falta de descendentes e ascendentes,


será deferida a sucessão por inteiro ao cônjuge sobrevivente; Art. 1.839. Se não houver
cônjuge sobrevivente, nas condições estabelecidas no art. 1.830, serão chamados a

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
suceder os colaterais até o quarto grau”. Portanto, havendo cônjuge o colateral não
herda, regra que passou a ser aplicada também aos companheiros.

ALTERNATIVA B: CORRETA

A alternativa está correta, pois se o regime for de comunhão parcial, o cônjuge será
meeiro dos bens comuns, e não herdeiro. Somente se houver bens particulares, ou seja,
que estão fora do patrimônio comum, é que o cônjuge herdará.

ALTERNATIVA C: INCORRETA

Não é hipótese de rompimento, mas sim de caducidade, conforme incisos IV e V do


art.1.939 do CC, que assim estabelecem: “Caducará o legado: IV - se o legatário for
excluído da sucessão, nos termos do art. 1.815; V - se o legatário falecer antes do
testador”.

84
ALTERNATIVA D: INCORRETA

Conforme entendimento acolhido pela jurisprudência, a Constituição de 1988 igualou


os filhos, naturais ou adotivos (art. 227, § 6º). Com isso, os filhos adotivos passaram a
ter os mesmos direitos hereditários que os filhos naturais, ainda que a adoção tenha
ocorrido antes de 1988.

ALTERNATIVA E: INCORRETA

De acordo com o art. 1.853 do CC: “Na linha transversal, somente se dá o direito de
representação em favor dos filhos de irmãos do falecido, quando com irmãos deste
concorrerem”.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
2. DIREITO PROCESSUAL CIVIL (conteúdo atualizado em 04/04/2018)

APRESENTAÇÃO

Olá, amigos estudantes e concurseiros! Nesta rodada, estudaremos o tema


“PROCESSO DE EXECUÇÃO”. O tema em questão foi o mais cobrado nas últimas provas
do Cespe. Geralmente, as questões cobravam os conceitos gerais do tema execução,
bem como alguns entendimentos jurisprudenciais, razão pela qual é importante dar
uma lida nas súmulas e nos julgados que selecionei para vocês. O Cespe, também,
costuma misturar o tema Processo de Execução com o tema Cumprimento de sentença.
No entanto, nosso estudo de hoje ficará limitado ao tema Processo de execução que,
efetivamente, foi o mais cobrado.

Abraços e bons estudos.


85
Guilherme Rodrigues de Andrade.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
2.1. DOUTRINA (RESUMO)

2.1.1. PROCESSO DE EXECUÇÃO

2.1.1.1. CONCEITO DE EXECUÇÃO

A execução consiste no conjunto de meios materiais, previstos em lei, à


disposição do juízo, para que seja possível a satisfação do direito do credor.

2.1.1.2. PRINCÍPIOS

1º Nulla executio sine titulo: significa que NÃO há execução sem título que a
embase, ou seja, exige-se a existência de título que demonstre a possibilidade de que o
crédito representado no título efetivamente exista para justificar essas desvantagens.

2º Princípio da tipicidade dos títulos executivos: significa que só se pode


considerar como título executivo aquilo que está previsto em LEI como tal, trata-se,
86
portanto, de um rol TAXATIVO.

Portanto, as partes NÃO podem, por meio de um acordo de vontades, formar


um título executivo. Exemplo: as partes celebram um contrato e dispensam a assinatura
por duas testemunhas, mas prevêem cláusula expressa no sentido de que aquele
contrato pode valer como título executivo, ainda assim, o contrato NÃO terá força
executiva.

Isso se justifica em razão da gravidade das medidas executivas, que podem


ensejar a invasão patrimonial e a restrição de direitos.

3º Patrimonialidade: significa que a execução é sempre REAL (nunca pessoal!),


ou seja, quem responde pela satisfação do débito é o patrimônio do devedor, e não sua
pessoa, nos termos do artigo 789 do NCPC.

4º Desfecho único: significa que o processo de execução se desenvolve com um


único objetivo: satisfazer o direito do exequente, ou seja, o executado, na melhor das
hipóteses, verá impedida a satisfação do direito com a extinção do processo sem a

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
resolução do mérito, mas jamais terá a possibilidade de obter uma decisão de mérito
favorável a ele (art. 797, do NCPC).

Basicamente na execução NÃO se discute mérito, busca-se apenas a satisfação


do direito, sendo, portanto, impossível uma improcedência do pedido do exequente.

Assim, a única forma de o executado obter uma tutela jurisdicional a seu favor
é por meio de uma nova ação, qual seja, os embargos à execução.

5º Disponibilidade da execução: significa que é permitido ao exequente, a


QUALQUER MOMENTO, ainda que pendentes de julgamento os embargos à execução,
desistir do processo.

Art. 775. O exequente tem o direito de desistir de toda a


execução ou de apenas alguma medida executiva.

a) Concordância da parte contrária: é necessário que o executado concorde


87
com tal desistência? NÃO. É dispensada a concordância do executado para que tal
desistência gere efeitos jurídicos, até porque NÃO se obtém, ao final, decisão de mérito
em favor do executado (princípio do desfecho único).

b) Condicionamento da execução: em que pese se dispense a concordância do


executado para a desistência da execução, na homologação da desistência, o juiz deverá
levar em consideração o princípio da menor onerosidade ao executado, ou seja, a
admissibilidade da desistência está condicionada a não realização, no processo, de atos
que NÃO possam ser anulados sem prejuízo do devedor ou de terceiros.

Exemplo: já tendo sido o patrimônio do devedor arrematado em leilão, não se


admite mais que o exequente desista da execução.

c) Ajuizamento de nova execução mesmo depois da desistência: lembre-se de


que a desistência NÃO é a mesma coisa do que renúncia, pois a renúncia consiste na
situação na qual o indivíduo abre mão do seu direito material. Exatamente por isso que
nada impede que, desistindo da execução, o exequente, posteriormente, ingresse com

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
ação idêntica, desde que comprove o pagamento das custas processuais da primeira
ação.

d) Quem pode desistir: todos os legitimados para propor a execução podem


desistir (exceção: o Ministério Público NÃO pode desistir, porque o Parquet tem sua
atuação processual orientada pelo princípio da indisponibilidade, uma vez que defende
interesses ALHEIOS na execução).

e) Pendência de embargos à execução: a pendência de embargos à execução


impede a desistência da execução? NÃO. A pendência de embargos à execução NÃO
impede a desistência da execução, mas, a depender da matéria alegada em sede de
embargos, variarão os efeitos gerados por essa desistência.

Os embargos à execução versam sobre Os embargos à execução versam sobre


questões meramente PROCESSUAIS questões MATERIAIS.

A desistência da execução enseja a perda Por outro lado, caso os embargos versem
88
do objeto, de forma que os embargos sobre matéria de mérito, a extinção dos
serão extintos SEM resolução do mérito, embargos em razão da desistência da ação
condenando-se o embargado ao executória está CONDICIONADA à
pagamento das custas judiciais e aos concordância do embargante.
honorários advocatícios. Isso ocorre porque, como se trata de uma
Isso ocorre porque, eventual acolhimento questão de mérito, é possível se
da matéria aduzida pelo embargante vislumbrar interesse na continuação dos
somente ensejaria uma extinção do embargos, com a obtenção de uma
processo executório SEM resolução do sentença de mérito a favor do executado.
mérito, de forma que, neste caso, é Assim, a coisa julgada material que seria
DISPENSADA a concordância do formada em tal circunstância impede a
executado para a desistência. propositura do processo de execução
Exemplo: ilegitimidade da parte, falta de novamente, o que NÃO ocorre com a
liquidez do título, etc. simples desistência do processo.

Exemplo: novação, compensação, etc.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
6º Menor onerosidade: como já dito, a execução NÃO é um instrumento de
exercício da vingança privada, de forma que nada justifica que o executado sofra mais
do que o estritamente necessário na busca da satisfação do direito do exequente.

Ou seja, havendo vários meios de satisfação do direito do credor, o juiz


mandará que a execução se faça pelo modo menos gravoso ao executado.

Art. 805. Quando por vários meios o exequente puder promover


a execução, o juiz mandará que se faça pelo modo menos
gravoso para o executado.

Parágrafo único. Ao executado que alegar ser a medida


executiva mais gravosa incumbe indicar outros meios mais
eficazes e menos onerosos, sob pena de manutenção dos atos
executivos já determinados.
89
O que se deseja evitar aqui é o exagero desnecessário. Esse é um dos motivos,
por exemplo, pelos quais NÃO se permite que um bem do devedor seja alienado em
leilão judicial por preço vil.

Art. 891. NÃO será aceito lance que ofereça preço VIL.

Por óbvio, o respeito ao princípio da menor onerosidade NÃO pode sacrificar o


princípio da efetividade da tutela executiva, de forma que, caberá ao juiz, no caso
concreto, em respeito às regras da proporcionalidade e da razoabilidade, encontrar um
meio-termo que evite sacrifícios exagerados tanto ao exequente quanto ao executado.

7º Lealdade e boa-fé processual: significa que as partes, no processo de


execução, NÃO podem realizar atos atentatórios à dignidade da justiça.

Os atos atentatórios à dignidade da justiça estão previstos no art. 774 do NCPC


e nós vamos estudá-los mais detalhadamente em tópico próprio.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
8º Contraditório: por muito tempo se defendeu que não se precisaria
oportunizar o contraditório e a ampla defesa ao executado, uma vez que, no processo
de execução, não se resolve o mérito, de forma que já haveria a presunção da existência
do direito do exequente.

Atualmente, contudo, é tranquila a distinção de mérito e o contraditório na


execução, de forma que indubitavelmente há sim respeito ao contraditório e à ampla
defesa no processo de execução, posto tratar-se de princípios indispensáveis num
Estado Democrático de Direito.

Apesar da função predominantemente material do juiz no processo de


execução, é inegável que exista também cognição acerca de questões incidentes no
processo e, nesse caso, o contraditório é INDISPENSÁVEL.

9º Atipicidade dos meios executivos: significa que os meios de execução são


meramente exemplificativos e, portanto, poderia o juiz adotar outros meios executivos
que não aqueles expressamente consagrados em lei.

Isso decorre do poder geral de cautela dos magistrados. 90

2.1.1.3. LEGITIMADOS

1º Legitimidade Ativa

a) Credor: apesar do termo “credor” ser utilizado tradicionalmente para as


obrigações de pagar quantia certa, o termo neste dispositivo legal deve ser interpretado
de forma ampliativa, englobando qualquer espécie de obrigação.

b) Ministério Público: por óbvio, o MP terá legitimidade para propor a ação de


execução quando defende, em nome próprio, direito próprio (legitimação ordinária),
mas tal situação é bastante rara.

O mais comum é que o MP ingresse com a ação executória em virtude de


legitimação extraordinária, defendendo, assim, em nome próprio, direito alheio. É o que
ocorre, por exemplo, nas ações coletivas, nas quais a legitimação do Ministério Público

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
para ingressar com a respectiva ação de execução independe de sua participação como
autor no processo em que foi formado o título executivo.

c) Espólio, herdeiros ou sucessores: trata-se de legitimidade que decorre na


sucessão causa mortis. Os requisitos legais para a admissão dessa legitimidade são
diferentes, a depender do momento da sucessão:

- ANTES de iniciada a execução: bastará a demonstração, por


provas suficientes, da legitimidade.

- DEPOIS de iniciada a execução: deverá ser instaurado um


processo de habilitação incidente, com a consequente
suspensão do processo principal.

d) Cessionário e subrrogado: tanto na hipótese de cessão de crédito, quanto


na hipótese de sub-rogação, os novos credores NÃO são obrigados a assumir o polo ativo
da demanda judicial já em trâmite, sendo-lhes permitido aguardar o desfecho da
91
demanda para cobrar do antigo credor. Nesse caso, o demandante continua no
processo, mas, a partir da cessão ou da sub-rogação, sua legitimidade passará a ser
extraordinária, considerando que está em nome próprio litigando por um direito que
não mais lhe pertencente.

2º Legitimidade passiva

Art. 779. A execução pode ser promovida contra:

I - o devedor, reconhecido como tal no título executivo;

Trata-se da legitimação ordinária primária. Nesse caso, é irrelevante, para fins


de fixação da legitimação, se o sujeito é realmente o devedor; basta que o título o
aponte como tal para que tenha legitimidade ordinária primária.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
II - o espólio, os herdeiros ou os sucessores do devedor;

Trata-se da legitimação ordinária superveniente. Cumpre lembrar que, uma vez


realizada a partilha dos bens do de cujus, a legitimação restará tão somente àquele
sujeito que ficou em seu quinhão com o débito. Além disso, os herdeiros e os
sucessores só respondem pelas dívidas do de cujus nos limites da herança (é o que se
chama de “benefício de inventário”).

III - o novo devedor que assumiu, com o consentimento do


credor, a obrigação resultante do título executivo;

Trata-se da legitimação ordinária superveniente. Lembre-se de que essa


transferência da dívida a um novo sujeito exige a concordância expressa do credor (CC-
02, art. 299), porque, a partir do momento em que se modifica o devedor,
automaticamente modifica-se também o patrimônio que responderá pela dívida.
92

IV - o fiador do débito constante em título extrajudicial;

Trata-se da legitimação extraordinária. Lembre-se de que tanto o fiador


convencional quanto o fiador judicial poderão, na execução, valer-se do benefício de
ordem, indicando à penhora bens do devedor ANTES que seus próprios bens sejam
objeto de constrição judicial.

Art. 794. O fiador, quando executado, tem o direito de exigir que


primeiro sejam executados os bens do devedor situados na
mesma comarca, livres e desembargados, indicando-os
pormenorizadamente à penhora.

§2º - O fiador que pagar a dívida poderá executar o afiançado


nos autos do MESMO PROCESSO.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Cumpre ressaltar que, nos termos do NCPC, o cumprimento de sentença NÃO
poderá ser promovido em face do fiador, do coobrigado ou do corresponsável que
NÃO tiver participado da fase de conhecimento.

Art. 513. §5º - O cumprimento da sentença não poderá ser


promovido em face do fiador, do coobrigado ou do
corresponsável que não tiver participado da fase de
conhecimento.

V - o responsável titular do bem vinculado por garantia real ao


pagamento do débito;

VI - o responsável tributário, assim definido em lei.

Lembre-se de que NÃO é necessário que o responsável tributário esteja


93
expressamente indicado na certidão da dívida ativa.

2.1.1.4. RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL

1º Conceito

A responsabilidade patrimonial é um instituto do direito processual,


compreendida como a possibilidade de sujeição de um determinado patrimônio à
satisfação do direito substancial do credor.

a) Responsabilidade patrimonial × obrigação

A obrigação, por sua vez, é um instituto do direito material e consiste na


situação jurídica de desvantagem.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
b) Inexistência de responsabilidade pessoal

A responsabilidade pela satisfação das dívidas é meramente patrimonial, nunca


pessoal, NÃO havendo nenhuma possibilidade de o corpo do responsável responder
pela satisfação do direito do credor.

Mas não existe a prisão civil por dívidas alimentares? Nem mesmo a prisão
civil permitida na CF-88 pode ser considerada uma exceção a esse princípio, já que o
encarceramento NÃO é uma forma de satisfação da obrigação, mas mero meio de
coerção. Tanto é verdade que o indivíduo que ficou 01 mês preso, porque devia 03
meses de alimentos, sairá da prisão devendo 04 meses (se a prisão fosse uma forma de
satisfação da obrigação, ele sairia de lá devendo nada).

c) Bens que respondem pela satisfação da execução

94
Em regra, TODOS os bens do responsável patrimonial respondem pelo
cumprimento da obrigação.

Art. 789. O devedor responde com todos os seus bens presentes


e futuros para o cumprimento de suas obrigações, salvo as
restrições estabelecidas em lei.

O que se entende por “bens presentes e futuros”? A interpretação a ser feita


deve ser a seguinte: consideram-se bens presentes aqueles que o devedor já possuía no
momento da instauração do processo executivo, de forma que serão considerados bens
futuros aqueles que foram adquiridos durante o seu trâmite, NÃO se excluindo,
contudo, os bens alienados em fraude.

d) Bens impenhoráveis

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Em que pese se diga que todo o patrimônio do responsável patrimonial
responde pelo crédito do credor, em respeito ao princípio da dignidade humana,
entende-se que o devedor tem direito a um “patrimônio mínimo”, necessário para que
ele e sua família possam desfrutar de uma vida digna, exatamente porque a execução
não pode ensejar a miséria do devedor.

Art. 832. NÃO estão sujeitos à execução os bens que a lei


considera impenhoráveis ou inalienáveis.

Art. 833. São impenhoráveis:

I - os bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não


sujeitos à execução;

II - os móveis, os pertences e as utilidades domésticas que


guarnecem a residência do executado, salvo os de elevado valor
ou os que ultrapassem as necessidades comuns
correspondentes a um médio padrão de vida; 95

Tal impenhorabilidade NÃO serve para manter o padrão de vida do executado,


mas tão somente para a preservação de sua dignidade humana.

O que se entende por “um médio padrão de vida”? É a média nacional de


conforto representativa do padrão médio da sociedade brasileira, tomando-se por base
a conclusão dos índices apontados pelo IBGE.

III - os vestuários, bem como os pertences de uso pessoal do


executado, salvo se de elevado valor;

Os vestuários e pertences de uso pessoal também são impenhoráveis, com


exceção dos bens de elevado valor. Essa análise deverá ser feita pelo juiz no caso
concreto.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
IV - os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as
remunerações, os proventos de aposentadoria, as pensões, os
pecúlios e os montepios, bem como as quantias recebidas por
liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e
de sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os
honorários de profissional liberal, ressalvado o §2º;

A impenhorabilidade do inciso IV possui as seguintes exceções:

1º Esses ganhos serão penhoráveis quando a obrigação for o pagamento de


prestação alimentícia.

Art. 833. §2º - O disposto nos incisos IV e X do caput não se aplica


à hipótese de penhora para pagamento de prestação
alimentícia, independentemente de sua origem, bem como às
importâncias excedentes a 50 (cinquenta) salários-mínimos 96
mensais, devendo a constrição observar o disposto no art. 528,
§8º, e no art. 529, §3º.

2º A LAP (art. 14, §3º, da lei nº 4.717/1965) permite que o réu condenado que
receber dos valores dos cofres públicos tenha um desconto na sua folha de pagamento.

LAP, Art. 14. §3º - Quando o réu condenado perceber dos cofres
públicos, a execução far-se-á por desconto em folha até o
integral ressarcimento do dano causado, se assim mais convier
ao interesse público.

3º Salários de alto valor podem ser penhorados. Trata-se de uma novidade do


NCPC, segundo a qual é possível a penhora de salários acima de 50 salários mínimos.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Art. 833. §2º - O disposto nos incisos IV e X do caput não se aplica
à hipótese de penhora para pagamento de prestação
alimentícia, independentemente de sua origem, bem como às
importâncias excedentes a 50 (cinquenta) salários-mínimos
mensais, devendo a constrição observar o disposto no art. 528,
§8º, e no art. 529, §3º.

4º (Im)Penhorabilidade da RESTITUIÇÃO DO IMPOSTO DE RENDA: Segundo o


STJ, para analisar a possibilidade da penhora dos valores decorrentes de restituição do
imposto de renda, é necessário definir a natureza dos valores restituídos: se são
provenientes de acréscimos patrimoniais, situação em que é possível a incidência do IR,
ou se advêm de salários, proventos ou de outras receitas que gozam do privilégio da
impenhorabilidade contida no art. 833, IV, do CPC (REsp 1.150.738-MG, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 20/5/2010).

5º Penhorabilidade dos HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS: imagine a seguinte


97
situação hipotética: João é advogado e possui dívidas de tributos federais, tendo sido,
inclusive, proposta uma execução fiscal contra ele pela União.

A Procuradoria da Fazenda Nacional, que cobra judicialmente as dívidas da


União, soube que João irá receber vultosa quantia de honorários advocatícios em outro
processo onde lá ele atua como advogado. Diante disso, formulou requerimento
pedindo a penhora, no rosto dos autos, dos honorários que João irá receber.

Os honorários advocatícios podem ser penhorados? Em regra, NÃO. Os


honorários advocatícios (contratuais ou sucumbenciais) são a remuneração do
advogado e, portanto, possuem caráter alimentar. Logo, são, em princípio,
impenhoráveis com base no art. 649, IV, do CPC.

Por que se falou “em regra”? Existe possibilidade de se penhorar a verba dos
honorários? SIM. O STJ entende que o art. 833, IV, do CPC não pode ser interpretado de
forma literal ou absoluta. Em determinadas circunstâncias, é possível a sua relativização.

Se os honorários advocatícios recebidos são exorbitantes e ultrapassam


valores que seriam razoáveis para sustento próprio e de sua família, a verba perde a

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
sua natureza alimentar (finalidade de sustento) e passa a ser possível a sua penhora,
liberando-se apenas uma parte desse valor para o advogado. STJ. 2ª Turma. REsp
1.264.358-SC, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 25/11/2014 (Info 553).

6º Penhorabilidade dos provimentos decorrentes da RESCISÃO DO


CONTRATO DE TRABALHO: as verbas rescisórias estão incluídas nesse inciso IV? SIM. As
quantias referentes à rescisão trabalhista são consideradas verbas alimentares e podem
ser equiparadas a “salário”.

Se a pessoa recebeu um determinado valor como verba rescisória e o depositou


em um fundo de investimento para que ele ficasse rendendo juros, tal quantia poderá
ser penhorada? SIM. Segundo entendeu o STJ, as quantias previstas no inciso IV do art.
833 do NCPC somente manterão a condição de impenhoráveis enquanto estiverem
“destinadas ao sustento do devedor e sua família”. Se tais valores forem investidos em
alguma aplicação financeira, perderão o caráter de impenhorabilidade (REsp 1.330.567-
RS).

Assim, é possível a penhora de valores que, apesar de recebidos pelo devedor


98
em decorrência de rescisão de contrato de trabalho, tenham sido posteriormente
transferidos para fundo de investimento.

Exceção: os valores constantes na poupança até o montante de 40 salários


mínimos, tendo em vista o disposto no inciso X do artigo 833 do NCPC.

7º Penhorabilidade dos valores recebidos por ANISTIADO POLÍTICO a título de


reparação econômica: os valores recebidos por anistiado político a título de reparação
econômica são SUSCETÍVEIS de penhora para a garantia de crédito tributário. Isso
porque a lei nº 10.559/2002, que regulamenta o Regime do Anistiado Político, prevê que
a reparação econômica devida a anistiado político NÃO possui caráter remuneratório ou
alimentar, mas sim “caráter indenizatório” (art. 1º, II, do CPC). Sendo assim, essas verbas
se mostram passíveis de constrição, na medida em que não foram consideradas por lei
como absolutamente impenhoráveis.

O art. 8º do ADCT prevê a concessão de anistia política a pessoas que foram


prejudicadas por perseguições decorrentes de motivação política no período de

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
18/09/1946 até a data de promulgação da CF/88. Além disso, há previsão de que o
anistiado receba uma reparação de natureza econômica a ser paga pela União.

A lei nº 10.559/2002 regulamentou o art. 8º do ADCT e a concessão dessa


anistia.

Imagine agora a seguinte situação hipotética: João recebeu 100 mil reais como
reparação econômica por ter sido anistiado político. Ocorre que ele estava sofrendo
execução fiscal por dívidas decorrentes do não pagamento de impostos.

O juiz da execução determinou a penhora online dos valores contidos na conta


bancária de João, tendo sido penhorados os 100 mil reais recebidos como reparação
econômica.

O executado apresentou embargos à execução pedindo a liberação da quantia,


afirmando que se tratava de verba alimentar (equiparada a salário) e, portanto,
absolutamente impenhorável, nos termos do art. 184 do CTN c/c art. 649, IV do CPC:

A tese defendida pelo executado está correta? NÃO. Os valores recebidos por
anistiado político a título de reparação econômica são suscetíveis de penhora para a 99
garantia de crédito tributário.

V - os livros, as máquinas, as ferramentas, os utensílios, os


instrumentos ou outros bens móveis necessários ou úteis ao
exercício da profissão do executado;

Os bens necessários ou úteis ao exercício profissional também são


impenhoráveis. Tal disposição legal é devida, pois retirar tais bens seria o mesmo que
impedir o executado de obter o necessário para a sua manutenção. Além desse motivo,
parte da doutrina ainda aponta outro fundamento para sua impenhorabilidade: a
realização pessoal do executado, que, caso fosse lhe privado, feriria sua dignidade
humana.

A abrangência dessa regra se limita às pessoas físicas e, quando muito, vale


também para as microempresas e empresas de pequeno porte sempre que a atividade

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
destas se confundir com a do próprio sócio. Essa limitação se faz necessária, senão
poderia beneficiar indevidamente pessoas jurídicas inadimplentes que não mereceriam
tal proteção.

§3º - Incluem-se na impenhorabilidade prevista no inciso V do


caput os equipamentos, os implementos e as máquinas agrícolas
pertencentes a pessoa física ou a empresa individual produtora
rural, exceto quando tais bens tenham sido objeto de
financiamento e estejam vinculados em garantia a negócio
jurídico ou quando respondam por dívida de natureza alimentar,
trabalhista ou previdenciária.

Como é que eu vou saber se o bem profissional deve ser penhorado ou não?
Araken de Assis fixou os seguintes critérios objetivos para tal aferição. Observe:

100
a) Uso constante: ou seja, o objeto deve ser utilizado no dia a
dia do profissional executado, e NÃO apenas de forma
esporádica e rara. Por óbvio, os bens valiosos e pouco utilizados
poderão ser penhorados, já que representam bens supérfluos à
continuação da atividade laborativa do executado. Exemplo:
biblioteca de um advogado, composta pelos livros que ele
comprou ao longo da vida (logo, maioria desatualizados), pois
tem pouca utilidade prática.

b) Quantidade razoável: ou seja, se o bem é utilizado


diariamente pelo executado, mas ele tem o bem em quantidades
excessivas, estes bens poderão sim ser executados. Exemplo: um
taxista que tem uma frota de veículos.

c) Utilidade/necessidade ao trabalho: obviamente, só serão


impenhoráveis os bens em que se demonstre ligação deles com
a atividade exercida pelo executado. Exemplo: uma televisão ou

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
um aparelho de som existente em escritório de advocacia ou
consultório médico, geralmente destinados ao lazer e
relaxamento dos profissionais, devem ser normalmente
penhorados, já que sua ausência em nada afetará seu exercício
profissional.

Por fim, devemos também nos atentar se esse trabalho é o principal meio de
sustento do devedor. Exemplo: funcionário público, cujo salário é suficiente para o seu
sustento, mas que faz bicos como músico a noite, poderia sim ter seus instrumentos
musicais penhorados. Obviamente se os valores obtidos com a atividade paralela forem
necessários ao seu sustento, os bens relativos a ela serão impenhoráveis.

VI - o seguro de vida;

O seguro de vida é impenhorável porque tem caráter alimentar. Observe que


101
NÃO há qualquer prejuízo aos credores, como, por exemplo, desfalque do patrimônio
do falecido, porque o seguro de vida NÃO é herança, não chegando a fazer parte do
patrimônio do de cujus.

VII - os materiais necessários para obras em andamento, salvo


se essas forem penhoradas;

A impenhorabilidade desses bens só é possível quando houver demonstração


clara e inequívoca de que os materiais serão utilizados na obra em andamento. Exceção:
se a obra em andamento tiver sido o objeto da penhora, os referidos materiais
poderão sim ser penhorados.

VIII - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde


que trabalhada pela família;

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
A pequena propriedade rural trabalhada pela família também é impenhorável.
Observe que “pequena propriedade” aqui é até mais ampla do que a norma
constitucional (CF, art. 5º, XXVI e art. 185, I), visto que a única exigência para a
impenhorabilidade é que ela seja trabalhada pela família, pouco importando a natureza
da dívida contraída pelo executado.

IX - os recursos PÚBLICOS recebidos por instituições PRIVADAS


para aplicação compulsória em educação, saúde ou assistência
social;

X - a quantia depositada em caderneta de poupança, até o limite


de 40 (quarenta) salários-mínimos;

O STJ confere interpretação extensiva ao inciso X do art. 833 do NCPC,


permitindo que essa impenhorabilidade abranja outras aplicações financeiras, além
102
da poupança, como é o caso do fundo de investimento, desde que obedecidos os
seguintes requisitos:

a) a quantia depositada seja de até 40 salários mínimos;

b) Seja a única aplicação financeira do devedor;

c) NÃO haja indícios de má-fé, abuso, fraude, ocultação de


valores ou sinais exteriores de riqueza.

ATENÇÃO! Fique atento porque, havendo várias poupanças, o valor de 40 salários


será aferido a partir da SOMA de TODAS elas. Caso contrário, seria muito fácil para
os devedores fraudarem o cumprimento de suas obrigações.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
XI - os recursos públicos do fundo partidário recebidos por
partido político, nos termos da lei;

XII - os créditos oriundos de alienação de unidades imobiliárias,


sob regime de incorporação imobiliária, vinculados à execução
da obra.

O art. 791 do NCPC, que é uma novidade deste diploma legal, trata da penhora
sobre o bem imóvel sujeito ao regime do direito de superfície, reafirmando, assim, a
autonomia entre o direito de propriedade e o direito de superfície.

Assim, se a obrigação tiver por sujeito passivo o proprietário do terreno, os atos


de constrição devem se limitar à penhora do terreno, enquanto que, sendo o obrigado
o superficiário, a penhora deve recair sobre a construção ou plantação.

Art. 791. Se a execução tiver por objeto obrigação de que seja


sujeito passivo o proprietário de terreno submetido ao regime
103
do direito de superfície, ou o superficiário, responderá pela
dívida, exclusivamente, o direito real do qual é titular o
executado, recaindo a penhora ou outros atos de constrição
exclusivamente sobre o terreno, no primeiro caso, ou sobre a
construção ou a plantação, no segundo caso.

§1º - Os atos de constrição a que se refere o caput serão


averbados separadamente na matrícula do imóvel, com a
identificação do executado, do valor do crédito e do objeto sobre
o qual recai o gravame, devendo o oficial destacar o bem que
responde pela dívida, se o terreno, a construção ou a plantação,
de modo a assegurar a publicidade da responsabilidade
patrimonial de cada um deles pelas dívidas e pelas obrigações
que a eles estão vinculadas.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
§2º - Aplica-se, no que couber, o disposto neste artigo à
enfiteuse, à concessão de uso especial para fins de moradia e à
concessão de direito real de uso.

O objetivo deste dispositivo legal é individualizar a responsabilidade


patrimonial do proprietário e do superficiário.

Art. 833. (…)

§1º A impenhorabilidade não é oponível à execução de dívida


relativa ao próprio bem, inclusive àquela contraída para sua
aquisição.

A premissa é a mesma do direito de superfície: a autonomia desses direitos


reais diante do direito de propriedade.
104
Apesar de impenhoráveis, o NCPC autoriza a penhora dos FRUTOS e dos
RENDIMENTOS dos bens inalienáveis.

Art. 834. Podem ser penhorados, à falta de outros bens, os frutos


e os rendimentos dos bens inalienáveis.

2.1.1.5. TÍTULOS EXECUTIVOS

1º Espécies de títulos executivos

Existem duas espécies de títulos executivos: os títulos executivos judiciais e os


títulos executivos extrajudiciais.

TÍTULO EXECUTIVO JUDICIAL. TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Os títulos executivos judicias são aqueles Os títulos executivos extrajudiciais são
formados, em regra, pelo juiz, por meio aqueles formados por ato de vontade das
de uma atuação jurisdicional. partes envolvidas na relação jurídica de

Exceção: a sentença arbitral é direito material.


considerada um título executivo judicial, Exceção: a certidão da dívida ativa e a
mesmo NÃO tendo sido produzida pelo certidão expedida por serventia notarial
Poder Judiciário. são títulos executivos extrajudiciais que

A execução de título executivo judicial se são formados por somente uma das
dá por meio de cumprimento de partes.
sentença, que consiste numa fase A execução de título executivo
processual, adotando-se, aqui, o extrajudicial se dá por meio de ação
chamado sincretismo processual. autônoma de execução, que consiste
numa nova ação.

Somente se consideram títulos executivos aqueles previstos em lei como tais,


105
de forma que as partes NÃO podem criar, por vontade, seus próprios títulos. Isso se
justifica em razão da gravidade das medidas executivas, que podem ensejar a invasão
patrimonial e a restrição de direitos.

Requisitos formais da obrigação exequenda

Para que uma obrigação seja exigível é necessário que ela seja: certa, líquida e
exigível.

Art. 786. A execução pode ser instaurada caso o devedor não


satisfaça a obrigação certa, líquida e exigível consubstanciada
em título executivo.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
CERTA LÍQUIDA EXIGÍVEL

Significa que não deve Significa que já se deve Significa que NÃO há
haver dúvidas sobre quem saber “o quanto se deve”. qualquer impedimento à
são as partes envolvidas Ou seja, NÃO é necessário eficácia atual da obrigação,
(ou seja, os legitimados que o título indique com que resulta do seu
ativos e passivos
na precisão o quantum inadimplemento e da
execução), qual será a debeatur, mas que ausência de termo,
espécie deexecução contenha elementos condição ou
(quantia certa, fazer, não suficientes para a fixação contraprestação.
fazer ou entrega de coisa), do valor devido.
bem como sobre qual bem
Tanto é verdade que o
incidirão os atos
próprio NCPC prevê que a
executivos.
necessidade de elaboração
A certeza, portanto, NÃO de meros cálculos
significa a indiscutibilidade aritméticos NÃO tira a 106
da existência da obrigação, liquidez do título.
visto que contra qualquer
Art. 786. Parágrafo único.
espécie de título executivo
A necessidade de simples
é permitido o ingresso de
operações aritméticas
embargos à execução ou
para apurar o crédito
impugnação.
exequendo NÃO retira a
liquidez da obrigação
constante do título.

2º Títulos executivos JUDICIAIS.

Art. 515. São títulos executivos JUDICIAIS, cujo cumprimento


dar-se-á de acordo com os artigos previstos neste Título:

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
I - as decisões proferidas no processo civil que reconheçam a
exigibilidade de obrigação de pagar quantia, de fazer, de não
fazer ou de entregar coisa;

II - a decisão homologatória de autocomposição judicial;

III - a decisão homologatória de autocomposição EXTRAJUDICIAL


de qualquer natureza;

IV - o formal e a certidão de partilha, exclusivamente em relação


ao inventariante, aos herdeiros e aos sucessores a título singular
ou universal;

V - o crédito de auxiliar da justiça, quando as custas,


emolumentos ou honorários tiverem sido aprovados por decisão
judicial;

VI - a sentença penal condenatória transitada em julgado;

VII - a sentença arbitral;


107
VIII - a sentença estrangeira homologada pelo Superior Tribunal
de Justiça;

IX - a decisão interlocutória estrangeira, após a concessão do


exequatur à carta rogatória pelo Superior Tribunal de Justiça;

§1º - Nos casos dos incisos VI a IX, o devedor será CITADO no


juízo cível para o cumprimento da sentença ou para a liquidação
no prazo de 15 (quinze) dias.

§2º - A autocomposição JUDICIAL pode envolver sujeito


estranho ao processo e versar sobre relação jurídica que NÃO
tenha sido deduzida em juízo.

O tema é melhor abordado no estudo sobre o cumprimento de sentença. Sendo


assim, deixamos de aprofundar o tema, para que possamos fazê-lo em relação aos
títulos executivos extrajudiciais.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
3º Títulos executivos EXTRAJUDICIAIS.

Art. 784. São títulos executivos EXTRAJUDICIAIS:

Vale lembrar que somente são títulos executivos extrajudiciais aqueles


documentos que a LEI FEDERAL expressamente prever como tal, NÃO havendo, no
direito nacional, a possibilidade de criação de título extrajudicial fundado apenas na
vontade das partes envolvidas.

No NCPC, o art. 784 descreve o rol dos títulos extrajudiciais, ainda que existam
outros previstos em leis extravagantes.

I - a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a


debênture e o cheque;

108
Os títulos de crédito descritos no dispositivo legal ora analisado NÃO
necessitam de protestos para que seja considerado como título executivo extrajudicial.
Somente em situações específicas, quando o documento não puder ser considerado um
título executivo em razão da ausência de algum requisito formal, a lei pode exigir o seu
protesto, como é o caso da duplicata sem aceite.

Em razão do princípio da circulabilidade dos títulos de crédito, para o ingresso


da ação executiva, exige-se a instrução da petição inicial com o título original, NÃO
sendo permitida a juntada de fotocópias, ainda que autenticadas. Exceção: o STJ
reconhece como título executivo extrajudicial as duplicatas virtuais, NÃO se exigindo,
para o ajuizamento da execução judicial, a exibição do título.

II - a escritura pública ou outro documento PÚBLICO ASSINADO


pelo devedor;

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
A escritura pública é um ato privativo do tabelião, enquanto que o documento
público pode ser produzido por qualquer agente público.

III - o documento PARTICULAR assinado pelo devedor e por 02


(duas) testemunhas;

Para que o documento PARTICULAR tenha força executiva, é preciso que ele
tenha sido assinado pelo devedor + 02 testemunhas (lembre-se de que, em relação ao
documento PÚBLICO, basta a assinatura do devedor para que o referido documento
tenha título executivo!).

As testemunhas que assinam o documento NÃO precisam estar presentes no


momento da assinatura do mesmo pelo devedor; elas servem tão somente para atestar
que o devedor assumiu a referida responsabilidade de forma livre e consciente.

109
IV - o instrumento de transação referendado pelo Ministério
Público, pela Defensoria Pública, pela Advocacia Pública, pelos
advogados dos transatores ou por conciliador ou mediador
credenciado por tribunal;

V - o contrato garantido por hipoteca, penhor, anticrese ou outro


direito real de garantia e aquele garantido por caução;

VI - o contrato de seguro DE VIDA em caso de morte;

Vale lembrar que o único contrato de seguro que faz título executivo é o
SEGURO DE VIDA, de forma que os demais contratos de seguro demandarão, para a
cobrança do prêmio não pago pela seguradora, a propositura de processo de
conhecimento, pelo rito comum.

VII - o crédito decorrente de foro e laudêmio;

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
VIII - o crédito, documentalmente comprovado, decorrente de
aluguel de imóvel, bem como de encargos acessórios, tais como
taxas e despesas de condomínio;

Observe que é desnecessário contrato escrito de locação, sendo suficiente a


existência de uma prova documental que ateste a existência da locação e dos encargos.

IX - a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, dos


Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, correspondente
aos créditos inscritos na forma da lei;

X - o crédito referente às contribuições ordinárias ou


extraordinárias de condomínio edilício, previstas na respectiva
convenção ou aprovadas em assembleia geral, desde que
documentalmente comprovadas;

XI - a certidão expedida por serventia notarial ou de registro


110
relativa a valores de emolumentos e demais despesas devidas
pelos atos por ela praticados, fixados nas tabelas estabelecidas
em lei;

Trata-se de uma novidade do NCPC, que passou a admitir, assim, a formação,


de forma UNILATERAL, pelo CREDOR de título executivo extrajudicial, tal qual como
ocorre na certidão de dívida ativa.

XII - todos os demais títulos aos quais, por disposição expressa,


a lei atribuir força executiva.

O NCPC permite expressamente, portanto, que leis federais extravagantes


criem título executivo extrajudicial, mas impossibilita que as partes realizem o chamado
“pacto executivo”. São exemplos de títulos executivos extrajudiciais previstos fora do

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
NCPC: os créditos da OAB contra os inscritos / cédula de crédito rural / cédula de crédito
industrial / cédula hipotecária / decisão do plenário do CADE / honorários do árbitro no
compromisso arbitral, etc.

§1º - A propositura de qualquer ação relativa a débito constante


de título executivo NÃO inibe o credor de promover-lhe a
execução.

§2º - Os títulos executivos extrajudiciais oriundos de país


estrangeiro NÃO dependem de homologação para serem
executados.

§3º - O título estrangeiro só terá eficácia executiva quando


satisfeitos os requisitos de formação exigidos pela lei do lugar de
sua celebração e quando o Brasil for indicado como o lugar de
cumprimento da obrigação.

111
2.1.1.6. PROCESSO DE EXECUÇÃO

O processo de execução é cabível, em regra, para a execução dos títulos


executivos EXTRAJUDICIAIS, cuja execução consiste numa nova ação, de forma que
haverá a citação da parte para ingressar no processo.

Art. 824. A execução por quantia certa realiza-se pela


expropriação de bens do executado, ressalvadas as execuções
especiais.

Art. 826. Antes de adjudicados ou alienados os bens, o


executado pode, a todo tempo, remir a execução, pagando ou
consignando a importância atualizada da dívida, acrescida de
juros, custas e honorários advocatícios.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
1º Competência

O NCPC inovou no tema da competência executiva ao regular expressamente a


matéria quanto ao processo de execução nos artigos 781 e 782.

Art. 781. A execução fundada em título extrajudicial será


processada perante o juízo competente, observando-se o
seguinte:

I - a execução poderá ser proposta no foro de domicílio do


executado, de eleição constante do título ou, ainda, de situação
dos bens a ela sujeitos;

Vale lembrar que, havendo cláusula de eleição de foro no título executivo


extrajudicial, esse foro prevalece sobre os demais, independentemente da vontade do
112
exequente.

II - tendo mais de um domicílio, o executado poderá ser


demandado no foro de qualquer deles;

III - sendo incerto ou desconhecido o domicílio do executado, a


execução poderá ser proposta no lugar onde for encontrado ou
no foro de domicílio do exequente;

IV - havendo mais de um devedor, com diferentes domicílios, a


execução será proposta no foro de qualquer deles, à escolha do
EXEQUENTE;

V - a execução poderá ser proposta no foro do lugar em que se


praticou o ato ou em que ocorreu o fato que deu origem ao
título, mesmo que nele NÃO mais resida o executado.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Vale lembrar que a existência de protesto NÃO tem o condão de modificar a
regra de competência, considerando-se o protesto como mera providência de natureza
ADMINISTRATIVA.

2º Espécies de processos executivos

A. PROCESSO DE EXECUÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER E DE NÃO FAZER

Diferentemente da obrigação de pagar quantia certa e da obrigação de


entregar coisa, que se resolvem de forma patrimonial, a execução de obrigação de fazer
e de não fazer exige um comportamento do devedor, o que dificulta a realização de
medidas executivas, uma vez que as medidas executivas devem atingir o patrimônio do
devedor, e não sua pessoa.

B. EXECUÇÃO DAS OBRIGAÇÕES DE FAZER


113
a) Petição inicial: a petição inicial deverá ser instruída com o respectivo título
executivo extrajudicial, sendo sua ausência motivo para que o juiz determine a emenda
da petição inicial, no prazo de 15 dias, por se tratar de vício sanável.

b) Garantia do juízo: por se tratar de uma obrigação de fazer, NÃO há garantia


do juízo, pois ou há a satisfação do direito ou não.

c) Citação: o executado é citado para cumprir sua obrigação no prazo


estabelecido no título executivo e, na ausência de indicação de prazo no título, no prazo
a ser estabelecido pelo juiz, devendo, por óbvio, levar em conta a complexidade do ato
a ser praticado.

Art. 815. Quando o objeto da execução for obrigação de fazer, o


executado será citado para satisfazê-la no prazo que o juiz lhe
designar, se outro não estiver determinado no título executivo.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
d) Redução do valor do título: se o valor da multa previsto no título for
excessivo, o juiz poderá reduzi-lo. Contudo, o poder do juiz NÃO se limita a apenas
reduzi-lo se excessivo, mas o juiz pode modificar o valor tanto para maior quanto para
menor, bem como a periodicidade da multa, pois a função dessa medida é pressionar
psicologicamente o executado e é função do juiz, que pode realizá-la, inclusive, DE
OFÍCIO, adequar a multa e sua periodicidade às circunstâncias do caso concreto.

Art. 814. Parágrafo único. Se o valor da multa estiver previsto


no título e for excessivo, o juiz poderá reduzi-lo.

e) Medidas cabíveis pelo executado: após a citação, o exequente pode adotar


03 posturas:

e.1 - Cumprir a obrigação no prazo fixado pelo título ou pelo juiz.


114
e.2 - Embargar a execução (em 15 dias).

e.3 - Permanecer inerte.

1º Cumprimento da obrigação: aqui, extingue-se a execução, salvo no que diz


respeito à cobrança de honorários e às custas processuais.

2º Embargos à execução: o executado, se não cumprir a obrigação de fazer,


poderá, no prazo de 15 dias, embargar a execução, que poderá ter ou não efeitos
suspensivos.

3º Permanecer inerte: se permanecer inerte, serão determinados atos


executivos com o objetivo de satisfazer a obrigação. Tais atos dependerão se está diante
de uma obrigação de fazer fungível ou infungível, cujas medidas executivas veremos a
seguir.

f) Obrigação fungível: quando se tratar de uma obrigação fungível, que é


aquela que pode ser satisfeita por outros sujeitos além do devedor, há uma quantia
maior de formas para tal satisfação, quais sejam:

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
1º Aplicação de astreintes.

2º Determinação de que a obrigação seja realizada por terceiros.

3º Realização da obrigação pelo próprio exequente ou sob sua


supervisão.

g) Obrigação infungível: tratando-se de obrigação infungível, que é aquela que


só pode ser satisfeita pelo próprio devedor, em razão de suas qualidades pessoais
únicas, só existe como forma procedimento de busca da satisfação do direito do credor:

1º A aplicação de astreintes.

2º Outras medidas de pressão psicológica.

h) Impugnação do serviço prestado: realizada a prestação (seja pelo 115


executado, pelo exequente ou por terceiro), o juiz ouvirá as partes no prazo de 10 dias
e, se não houver impugnação, considerar-se-á satisfeita a obrigação, nos termos do
artigo 818, do NCPC.

Havendo a impugnação de uma ou de ambas as partes, caberá ao juiz resolvê-


la por meio de decisão interlocutória, que será recorrível por agravo de instrumento,
após a instrução probatória, se necessária.

O NCPC autoriza que, se o exequente não esteja satisfeito com o cumprimento


da obrigação, requeira ao juiz, no prazo de 15 dias, para concluí-la ou reparar a
prestação às custas do contratado, nos termos do artigo 819 do NCPC.

i) Conversão em perdas e danos: se mesmo com a realização das medidas


executivas devidas, NÃO for possível a obtenção da tutela específica, será admissível a
conversão da respectiva obrigação em perdas e danos.

O valor das perdas e danos será apurado em liquidação e a execução


prosseguirá como execução para a cobrança de quantia certa.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
OBSERVAÇÃO: será dispensada a liquidação se houver, no caso concreto, a previsão
contratual de multa de natureza compensatória (cláusula penal).

C. EXECUÇÃO DAS OBRIGAÇÕES DE NÃO FAZER

Na obrigação de não fazer, o juiz fixará prazo para que o executado DEIXE de
fazer aquilo que não deveria ter feito.

Art. 822. Se o executado praticou ato a cuja abstenção estava


obrigado por lei ou por contrato, o exequente requererá ao juiz
que assine prazo ao executado para desfazê-lo.

Se, mesmo após a fixação deste prazo, o executado continuar realizando tal 116
ato, o exequente poderá requerer que o juiz mande desfazer o ato às custas do
EXECUTADO, que responderá, ainda, por perdas e danos.

Art. 823. Havendo recusa ou mora do executado, o exequente


requererá ao juiz que mande desfazer o ato à custa daquele, que
responderá por perdas e danos.

Se, contudo, NÃO for possível se desfazer o ato, a obrigação será resolvida em
perdas e danos, cuja liquidação será feita nos próprios autos e o procedimento terá
prosseguimento como uma execução por quantia certa.

Art. 823. Parágrafo único. Não sendo possível desfazer-se o ato,


a obrigação resolve-se em perdas e danos, caso em que, após a

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
liquidação, se observará o procedimento de execução por
quantia certa.

D. EXECUÇÃO DA OBRIGAÇÃO DE ENTREGAR COISA INCERTA

Quando a coisa for INCERTA, ou seja, quando estiver determinada somente


pelo gênero ou pela quantidade (exemplo: 02 sacas de feijão), se a escolha couber ao
EXEQUENTE, ele deverá individualizá-la já na PETIÇÃO INICIAL, mas, se a individualização
cabia ao EXECUTADO, ele será citado para entregar a coisa já individualizada.

Art. 811. Quando a execução recair sobre coisa determinada


pelo gênero e pela quantidade, o EXECUTADO será citado para
entregá-la individualizada, se lhe couber a escolha.

Parágrafo único. Se a escolha couber ao EXEQUENTE, esse


117
deverá indicá-la na petição inicial.

E se a outra parte NÃO concordar com a individualização feita? Se, contudo,


uma das partes NÃO concordar com a escolha feita pela outra, terá o prazo de 15 dias
para impugnar a individualização.

Art. 812. Qualquer das partes poderá, no prazo de 15 (quinze)


dias, impugnar a escolha feita pela outra, e o juiz decidirá de
plano ou, se necessário, ouvindo perito de sua nomeação.

Art. 813. Aplicar-se-ão à execução para entrega de coisa incerta,


no que couber, as disposições da Seção I deste Capítulo.

Uma vez individualizada a coisa, a execução seguirá o trâmite da execução da


obrigação de entregar coisa CERTA.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
E. EXECUÇÃO DA OBRIGAÇÃO DE ENTREGAR COISA CERTA

a) Petição inicial: para que haja o início do processo de execução, é preciso que
o exequente apresente uma petição inicial, que deverá ser instruída com o respectivo
título executivo extrajudicial.

b) Citação: o executado será citado para, no prazo de 15 dias, satisfazer a


obrigação.

Art. 806. O devedor de obrigação de entrega de coisa certa,


constante de título executivo extrajudicial, será citado para, em
15 (quinze) dias, satisfazer a obrigação.

c) Medidas cabíveis pelo executado: após a citação, o exequente pode adotar 118
03 posturas:

c.1 - Cumprir a obrigação no prazo fixado pelo título ou pelo juiz.

c.2 - Embargar a execução (em 15 dias).

c.3 - Permanecer inerte.

1º Cumprimento da obrigação: se, uma vez citado, o executado cumpre a


obrigação, satisfazendo, assim, o direito do credor e, portanto, extinguindo a execução,
salvo no que diz respeito à cobrança de honorários e às custas processuais.

Contudo, antes de ser extinta a obrigação, deve ser conferido prazo ao


exequente para que ele se manifeste acerca da coisa entregue, podendo impugnar se
estiver em desacordo com o estabelecido. Lembra-se, por exemplo, de que o exequente
NÃO está obrigado a receber coisa diversa do fixado, mesmo que de maior valor.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Além disso, havendo prejuízos no que diz respeito ao pagamento de frutos e de
ressarcimento de outros prejuízos, mesmo tendo sido entregue a coisa, a execução
prosseguirá relativa a esses valores.

2º Embargos à execução: o executado, se não cumprir a obrigação de fazer,


poderá, no prazo de 15 dias, embargar a execução, que poderá ter ou não efeitos
suspensivos.

3º Permanecer inerte: se permanecer inerte, serão determinados atos


executivos com o objetivo de se satisfazer a obrigação.

d) Medidas executivas: dentre as medidas coercitivas cabíveis para a satisfação


do direito do credor está a fixação de multa coercitiva, que pode ser feita, inclusive, de
ofício pelo magistrado. Essa multa NÃO precisa ser diária e só será exigida após o
vencimento do prazo legal para o cumprimento da obrigação.

Essa multa pode ser fixada a qualquer tempo.

Além disso, o NCPC prevê expressamente que o magistrado poderá fixar


medida de busca e apreensão (para os bens MÓVEIS) ou, então, a imissão na posse (para 119
os bens IMÓVEIS).

e) Coisa em poder de terceiro: na hipótese de a coisa devida estar no


patrimônio de terceiro e de ter sido desviada de forma fraudulenta, a coisa será buscada
no patrimônio do terceiro e este só será ouvido DEPOIS de depositá-la em juízo (art. 808,
NCPC).

f) Bem NÃO localizado ou, localizado, mas deteriorado: quando o bem NÃO
for localizado ou, então, foi localizado, mas está deteriorado, entende-se que é possível
a conversão em perdas e danos (art. 808, NCPC).

g) Benfeitorias no bem: havendo benfeitorias na coisa, deve ser instaurado um


processo de liquidação de sentença ANTES do processo de execução (art. 810, NCPC).

F. PROCESSO DE EXECUÇÃO DA OBRIGAÇÃO DE PAGAR QUANTIA CERTA

a) Petição inicial

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Para que haja o início do processo de execução, é preciso que o exequente
apresente uma petição inicial, que deverá ser instruída com o respectivo título executivo
extrajudicial.

Mesmo sem pedido expresso do exequente em sua petição inicial, o juiz


poderá, de ofício, intimar a qualquer tempo o executado para indicar os bens possíveis
de penhora, sendo consequência do descumprimento a aplicação de multa de até 20%
do valor exequendo, a qual será revertida em proveito do exequente (multa por ato
atentatório à dignidade da justiça).

A doutrina MAJORITÁRIA entende que é dispensável o pedido de produção de


provas na petição inicial de execução, porque, no processo executivo, NÃO se realiza
a instrução probatória. Contudo, há vozes (minoritárias) na doutrina exigindo sim esse
pedido de produção de provas, não para demonstrar o direito do exequendo, mas para
demonstrar a exequibilidade da execução.

O exequente deverá indicar, ainda, o valor da causa, representado pelo valor


pretendido e o pedido de citação do executado, que NÃO precisa mais ser realizado
120
necessariamente por um oficial de justiça (vide art. 247 do NCPC).

Parágrafo único. O demonstrativo do débito deverá conter:

O objetivo desse dispositivo legal é que o exequente discrimine o máximo


possível como ele chegou ao valor exequendo, permitindo, assim, o controle por parte
do juiz e do executado.

I - o índice de correção monetária adotado;

II - a taxa de juros aplicada;

III - os termos inicial e final de incidência do índice de correção


monetária e da taxa de juros utilizados;

IV - a periodicidade da capitalização dos juros, se for o caso;

V - a especificação de desconto obrigatório realizado.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Art. 799. Incumbe ainda ao exequente:

É preciso cuidado na análise deste dispositivo legal, porque nem todas as


providências nele previstas são requisitos formais da petição inicial.

I - requerer a intimação do credor pignoratício, hipotecário,


anticrético ou fiduciário, quando a penhora recair sobre bens
gravados por penhor, hipoteca, anticrese ou alienação fiduciária;

Nesse caso, apesar de a ausência de intimação gerar a INEFICÁCIA dos atos de


expropriação em relação ao credor pignoratício, hipotecário ou anticrético não intimado
(art. 804, NCPC), NÃO há preclusão temporal para o seu pedido, de forma que, mesmo
NÃO constado da petição inicial, NADA impedirá que o exequente venha posteriormente
121
a fazer o requerimento.

II - requerer a intimação do titular de usufruto, uso ou habitação,


quando a penhora recair sobre bem gravado por usufruto, uso
ou habitação;

III - requerer a intimação do promitente comprador, quando a


penhora recair sobre bem em relação ao qual haja promessa de
compra e venda registrada;

IV - requerer a intimação do promitente vendedor, quando a


penhora recair sobre direito aquisitivo derivado de promessa de
compra e venda registrada;

V - requerer a intimação do superficiário, enfiteuta ou


concessionário, em caso de direito de superfície, enfiteuse,
concessão de uso especial para fins de moradia ou concessão de
direito real de uso, quando a penhora recair sobre imóvel

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
submetido ao regime do direito de superfície, enfiteuse ou
concessão;

VI - requerer a intimação do proprietário de terreno com regime


de direito de superfície, enfiteuse, concessão de uso especial
para fins de moradia ou concessão de direito real de uso, quando
a penhora recair sobre direitos do superficiário, do enfiteuta ou
do concessionário;

VII - requerer a intimação da sociedade, no caso de penhora de


quota social ou de ação de sociedade anônima fechada, para o
fim previsto no art. 876, §7º;

VIII - pleitear, se for o caso, medidas urgentes;

Dessa forma, é cabível, por exemplo, que se pleiteie a penhora online do


devedor antes mesmo de ele ser citado, desde que fique demonstrado o perigo de
ineficácia da medida diante da ciência do executado da existência de demanda judicial. 122

IX - proceder à averbação em registro público do ato de


propositura da execução e dos atos de constrição realizados,
para conhecimento de terceiros.

Este NÃO é um requisito formal da petição inicial.

E se faltar qualquer uma dessas informações na petição inicial da execução?


A ausência de quaisquer desses documentos indispensáveis à propositura da execução
é causa de intimação do exequente para emenda da inicial, havendo, inclusive,
entendimento do STJ no sentido de admitir a juntada do título executivo mesmo APÓS
vencido o prazo de emenda da petição inicial, mas ANTES da extinção terminativa do
processo (art. 801, NCPC).

O pronunciamento que determina a emenda da petição inicial é uma decisão


interlocutória, de forma que será recorrível por agravo de instrumento.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
b) Averbação da execução

Momento: após ter sido admitida a execução pelo juiz, o exequente poderá
obter certidão comprobatória do ajuizamento da execução. Tal certidão servirá ao
exequente para fins de averbação no registro de bens.

Art. 828. O exequente poderá obter certidão de que a execução


foi admitida pelo juiz, com identificação das partes e do valor da
causa, para fins de averbação no registro de imóveis, de veículos
ou de outros bens sujeitos a penhora, arresto ou
indisponibilidade.

Objetivo: qual é o objetivo da averbação da execução? O objetivo da


123
averbação da execução é dar ciência a terceiros e ao próprio executado, ANTES mesmo
da sua citação, de que existe uma ação executiva em trâmite, de forma que qualquer
alienação ou oneração de bens efetuada APÓS a averbação será presumida como fraude
à execução.

Art. 828. §4º - Presume-se em fraude à execução a alienação ou


a oneração de bens efetuada APÓS a averbação.

A averbação da execução, portanto, gera a presunção ABSOLUTA de ciência


acerca da existência da ação executiva e a presunção RELATIVA de fraude à execução.

c) Averbação da execução no cumprimento de sentença

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Embora a averbação da execução esteja prevista na parte de processo de
execução, entende-se que é sim admissível a averbação da execução no caso de
cumprimento de sentença.

d) Responsabilidade

A responsabilidade por eventual abusividade nesta conduta é do EXEQUENTE.

e) Aviso ao juízo

Exatamente para que juiz possa controlar eventual ato abusivo praticado pelo
exequente, o exequente deve informar ao juízo a realização da averbação no prazo de
10 dias, contados da sua concretização.

E se não for feito esse aviso? NÃO existe qualquer consequência prevista em 124
lei, devendo-se entender que a presunção de fraude à execução NÃO será afetada pelo
descumprimento desta exigência legal.

f) Penhora dos bens

Formalizada a penhora sobre bens suficientes para cobrir o valor da dívida, o


exequente providenciará, no prazo de 10 dias, o cancelamento das averbações relativas
aos bens NÃO penhorados.

Art. 828. §2º - Formalizada penhora sobre bens suficientes para


cobrir o valor da dívida, o exequente providenciará, no prazo de
10 (dez) dias, o cancelamento das averbações relativas àqueles
NÃO penhorados.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Tal cancelamento poderá ser determinado, de ofício, pelo magistrado, ou
requerido, pelo executado, quando não for realizado, no prazo hábil, pelo exequente.

Art. 828. §3º - O juiz determinará o cancelamento das


averbações, de ofício ou a requerimento, caso o exequente não
o faça no prazo.

g) Pronunciamento que determina a citação do executado

Citação do executado: após o juízo positivo de admissibilidade da petição inicial


de execução de obrigação de pagar quantia certa, o juízo determinará a citação do
executado, para que ele faça o pagamento da dívida no prazo de 03 dias.

Como é feita a citação do executado? A citação do executado poderá ocorrer


por correios, por oficial de justiça ou por meio eletrônico.
125
Art. 829. O executado será citado para pagar a dívida no prazo
de 03 (três) dias, contado da citação.

ATENÇÃO! NÃO confunda com o prazo para pagamento no cumprimento de sentença


de obrigação de pagar quantia certa, que é de 15 dias.

Fixação de honorários advocatícios

Ao determinar a citação do executado, o juiz fixará, de plano, os honorários


advocatícios, no percentual de 10%.

Se o executado paga o seu débito no prazo legal, o valor dos honorários


advocatícios será reduzido pela METADE. Contudo, se o executado NÃO paga o seu
débito no prazo legal e ainda apresenta embargos à execução, o NCPC determina que,

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
nesse caso, há 02 ações (uma de execução e outra de embargos), de forma que será
possível a fixação de duas verbas de sucumbência, mas o valor total está limitado a 20%
do valor executado.

Art. 827. §2º - O valor dos honorários poderá ser elevado até
20%, quando rejeitados os embargos à execução, podendo a
majoração, caso não opostos os embargos, ocorrer ao final do
procedimento executivo, levando-se em conta o trabalho
realizado pelo advogado do exequente.

Observe que o acréscimo dos honorários advocatícios poderá ocorrer mesmo


quando NÃO há a oposição de embargos pelo executado, desde que o juiz, ao final do
processo, entenda que houve trabalho desenvolvido pelo patrono do exequente que
justifique o aumento.

E qual é o recurso cabível contra essa decisão? O pronunciamento que 126


determina a citação do executado, ao menos no tocante ao capítulo que trata do valor
dos honorários advocatícios, tem natureza de decisão interlocutória, recorrível,
portanto, por meio de agravo de instrumento.

h) Prazo para pagamento

O executado será citado para pagar o seu débito no prazo de 03 dias (ATENÇÃO!
NÃO confunda com o prazo para pagamento no cumprimento de sentença de obrigação
de pagar quantia certa, que é de 15 dias).

Art. 829. O executado será citado para pagar a dívida no prazo


de 03 (três) dias, contado da citação.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Esse prazo de 03 dias conta-se a partir de quando? O termo inicial da contagem
desse prazo é a realização da CITAÇÃO, sendo, portanto, IRRELEVANTE a data da juntada
aos autos do mandado de citação devidamente cumprido, em conformidade com o
disposto no artigo 231, §3º, do NCPC.

i) Arresto executivo

Requisitos: NÃO sendo possível realizar a citação do executado em razão da


sua não localização, mas se for conhecida a localização dos seus bens, caberá ao oficial
de justiça realizar o arresto executivo de tantos bens quantos bastem para garantir a
dívida, nos termos do artigo 830 do NCPC.

Quem realiza: o arresto executivo é realizado pelo oficial de justiça, de ofício.

Citação do executado: nos 10 dias seguintes à efetivação do arresto, o oficial


de justiça procurará o executado 02 vezes em dias distintos.
127
SE O EXECUTADO FOR CITADO. SE O EXECUTADO NÃO FOR CITADO.

Sendo realizada a citação, prossegue-se Se o executado NÃO for encontrado, o


no procedimento regular da execução. exequente será notificado para requerer a

Contudo, o arresto realizado NÃO será citação do executado por edital.


revogado, pois, NÃO sendo realizado o Se o exequente NÃO faz o pedido de
pagamento no prazo de 03 dias, o arresto citação por edital, o arresto é desfeito.
converte-se em penhora. Se o exequente faz o pedido de citação por
edital e o executado é citado, prossegue-
se no procedimento regular da execução.

Se o exequente faz o pedido de citação por


edital e o executado NÃO é citado, o
arresto converter-se-á em penhora.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
De todo modo, havendo citação ficta (seja a por hora certa, em razão de
suspeita de ocultação, ou por edital), caso não haja nenhum advogado constituído nos
autos, o juiz indicará um curador especial, que terá legitimidade para oferecer, inclusive,
embargos à execução, conforme a redação do artigo 72, II, do NCPC e da súmula 196 do
STJ.

Arresto executivo online: é CABÍVEL o arresto executivo online pelo sistema


bacenjud.

Averbação do arresto: se o arresto executivo ou a penhora forem registrados


no cartório competente, presume-se, de forma absoluta, o seu conhecimento por
terceiros.

Art. 844. Para presunção absoluta de conhecimento por


terceiros, cabe ao exequente providenciar a averbação do
arresto ou da penhora no registro competente, mediante
apresentação de cópia do auto ou do termo, 128
independentemente de mandado judicial.

j) Posturas do executado citado

Uma vez citado, o executado poderá ter uma das seguintes posturas:

1º Pagar o débito no prazo legal (de 03 dias).

2º Embargar a execução (prazo de 15 dias).

3º Quedar-se inerte.

1º Pagamento do débito

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
a) Honorários advocatícios: sendo feito o pagamento dentro do prazo legal, o
valor devido dos honorários advocatícios será reduzido pela METADE.

Art. 827. §1º - No caso de integral pagamento no prazo de 03


(três) dias, o valor dos honorários advocatícios será reduzido
pela metade.

E se houver pagamento somente parcial do débito? A doutrina majoritária


entende que NÃO haverá o referido desconto, pois ele só vale para o pagamento
INTEGRAL do débito. Daniel Amorim, contudo, entende que cabe o desconto
proporcional.

b) Extinção da obrigação:

Portanto, a principal consequência do pagamento do débito no prazo legal é a


extinção da obrigação e, consequentemente, do processo.
129
c) Pagamento parcelado

1º Prazo: embora não tenha pago o débito no prazo legal de 03 dias, o NCPC
permite que seja feito o pagamento parcelado do débito dentro do prazo de 15 dias que
o executado tem para apresentar embargos à execução.

Art. 916. No prazo para embargos, reconhecendo o crédito do


exequente e comprovando o depósito de 30% do valor em
execução, acrescido de custas e de honorários de advogado, o
executado poderá requerer que lhe seja permitido pagar o
restante em até 06 (seis) parcelas mensais, acrescidas de
correção monetária e de juros de 1% ao mês.

2º Depósito: para que se admita o pagamento parcelado, o executado deverá


depositar 30% do valor da execução + custas processuais + honorários advocatícios.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Art. 916. No prazo para embargos, reconhecendo o crédito do
exequente e comprovando o depósito de 30% do valor em
execução, acrescido de custas e de honorários de advogado, o
executado poderá requerer que lhe seja permitido pagar o
restante em até 06 (seis) parcelas mensais, acrescidas de
correção monetária e de juros de 1% ao mês.

Contudo, nada impede que o depósito seja realizado em percentual maior do


débito.

3º Parcelamento: o parcelamento do pagamento poderá ser feito em até 06


parcelas mensais, sendo acrescidas de correção monetária + juros de 1% ao mês.

Art. 916. No prazo para embargos, reconhecendo o crédito do


exequente e comprovando o depósito de 30% do valor em
execução, acrescido de custas e de honorários de advogado, o 130
executado poderá requerer que lhe seja permitido pagar o
restante em até 06 (seis) parcelas mensais, acrescidas de
correção monetária e de juros de 1% ao mês.

4º Natureza jurídica: segundo a melhor doutrina, esse pagamento parcelado é


uma espécie de moratória legal.

5º Obrigatoriedade: uma vez preenchidos os requisitos formais, o juiz estará


OBRIGADO a deferir o pedido de pagamento parcelado, ainda que haja manifestação
contrária do exequente. Trata-se, portanto, de um direito potestativo do executado.

6º Renúncia ao direito de embargar: ao optar pelo pagamento parcelado, o


executado estará RENUNCIANDO ao direito de apresentar embargos à execução, em
razão da evidente incompatibilidade lógica entre as duas posturas.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Art. 916. §6º - A opção pelo parcelamento de que trata este
artigo importa RENÚNCIA ao direito de opor embargos.

7º Deferimento do pagamento parcelado: deferida a proposta pelo juiz, o


exequente poderá levantar o valor já depositado, sendo suspensos os atos executivos.

Art. 916. §2º - Enquanto não apreciado o requerimento, o


executado terá de depositar as parcelas vincendas, facultado ao
exequente seu levantamento.

Art. 916. §3º - Deferida a proposta, o exequente levantará a


quantia depositada, e serão suspensos os atos executivos.

E se a parte NÃO concordar com o deferimento do pagamento parcelado? A


decisão que defere o pedido de pagamento parcelado é uma decisão interlocutória,
131
recorrível por agravo de instrumento, mas o indivíduo só poderá alegar, em tese
recursal, o NÃO preenchimento dos requisitos formais do pedido, porque esta é a única
hipótese em que eles seriam indeferidos.

8º Indeferimento do pagamento parcelado: indeferido o pedido de


pagamento parcelado, a execução prosseguirá. E o valor pago a título de depósito? Será
liberado ao exequente e já servirá como quitação daquela parcela do débito.

Art. 916. §4º - Indeferida a proposta, seguir-se-ão os atos


executivos, mantido o depósito, que será convertido em
penhora.

E se a parte NÃO concordar com o indeferimento do pagamento parcelado?


A decisão que indefere o pedido de pagamento parcelado é uma decisão interlocutória,
recorrível por agravo de instrumento.

9º Inadimplemento das parcelas:

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Art. 916. §5º - O não pagamento de qualquer das prestações
acarretará cumulativamente:

I - o vencimento das prestações subsequentes e o


prosseguimento do processo, com o imediato reinício dos atos
executivos;

II - a imposição ao executado de multa de 10% sobre o valor das


prestações não pagas.

2º Embargos à execução

Trataremos de maneira mais detalhada em tópico próprio, mas são cabíveis no


prazo de 15 dias.

132
3º Quedar-se inerte

Quedando-se inerte e tendo passado o prazo legal para o pagamento, o oficial


de justiça voltará ao endereço do executado e realizará a penhora e a avaliação dos
bens.

l) Penhora

1º Conceito: a penhora consiste na individualização e constrição dos bens do


devedor para que eles sejam, posteriormente, transformados em dinheiro e, assim,
satisfaçam o crédito do exequente.

2º Natureza jurídica: entende a doutrina majoritária que a natureza jurídica da


penhora é de ato executivo, ainda que se reconheça uma função cautelar na penhora
ao garantir o juízo.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
3º Efeitos: a penhora produz efeitos processuais e efeitos materiais.

EFEITOS PROCESSUAIS DA PENHORA. EFEITOS MATERIAIS DA PENHORA.

Garantia do juízo. Retirada do executado da posse direta do

Individualização dos bens que suportarão bem penhorado.


a atividade executiva. Ineficácia dos atos de alienação ou de

Direito de preferência ao exequente. oneração do bem penhorado.

4º Quem realiza: em regra, o oficial de justiça é o responsável pela penhora e


avaliação dos bens do devedor. Exceção: a penhora e a avaliação só serão feitas pelo
avaliador nos casos em que se exijam conhecimentos específicos que faltem ao oficial
de justiça.

5º Sobre quais bens recai a penhora: a penhora recairá, em regra, sobre os


133
bens indicados pelo EXEQUENTE. Exceção: a não ser que o próprio EXECUTADO indique
outros bens, quando demonstrar que a substituição dos bens será menos onerosa ao
executado e que também NÃO trará prejuízo ao exequente, e o juiz aceite tal
substituição.

Art. 829. §2º - A penhora recairá sobre os bens indicados pelo


exequente, salvo se outros forem indicados pelo executado e
aceitos pelo juiz, mediante demonstração de que a constrição
proposta lhe será menos onerosa e NÃO trará prejuízo ao
exequente.

De toda forma, deve recair sobre bens suficientes para o pagamento do débito
original + correção monetária + juros + custas + honorários advocatícios.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Art. 831. A penhora deverá recair sobre tantos bens quantos
bastem para o pagamento do principal atualizado, dos juros, das
custas e dos honorários advocatícios.

6º Indicação de bens à penhora pelo executado: como já visto, NÃO há


previsão de nomeação de bens à penhora como uma das posturas admitida pelo
executado, embora tal indicação seja sim possível, quando os bens por ele propostos
torne a execução contra ele menos onerosa, mas também NÃO traga prejuízos ao
exequente.

Assim, o que se observa é que a indicação de bens à penhora pelo executado é


uma mera liberalidade, NÃO interferindo nos atos processuais.

7º Intimação do auto de penhora: o NCPC até prevê a possibilidade de


intimação na pessoa do ADVOGADO do executado, mas, como se trata de ato processual
realizado no começo do processo (03 dias após a citação), dificilmente o executado já
terá constituído advogado nos autos, o que torna frequente a intimação PESSOAL do 134
executado.

Art. 841. Formalizada a penhora por qualquer dos meios legais,


dela será imediatamente intimado o executado.

§1º - A intimação da penhora será feita ao advogado do


executado ou à sociedade de advogados a que aquele pertença.

Por meio de publicação no diário oficial.

§2º - Se NÃO houver constituído advogado nos autos, o


executado será intimado PESSOALMENTE, de preferência por via
postal.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Apesar da previsão legal, Daniel Amorim entende que a via preferencial não é
a postal, mas a eletrônica.

§4º - Considera-se realizada a intimação a que se refere o §2º


quando o executado houver mudado de endereço sem prévia
comunicação ao juízo, observado o disposto no parágrafo único
do art. 274.

Exceção: dispensa-se a intimação formal quando a penhora tiver sido realizada


na presença do executado, porque ele já se reputa intimado desde logo.

Art. 841. §3º - O disposto no §1º não se aplica aos casos de


penhora realizada na presença do executado, que se reputa
intimado.
135
E quando o executado é casado? Será necessária a intimação do cônjuge do
devedor quando penhorado bem IMÓVEL. Exceção: NÃO é intimado o cônjuge do
executado quando forem casados sob o regime da SEPARAÇÃO absoluta de bens.

Art. 842. Recaindo a penhora sobre bem imóvel ou direito real


sobre imóvel, será intimado também o cônjuge do executado,
salvo se forem casados em regime de separação absoluta de
bens.

Observe que tal exigência está limitada à hipótese de penhora de IMÓVEL, NÃO
sendo necessária a intimação do cônjuge não devedor quando a penhora recair sobre
bem de outra natureza.

8º Várias penhoras sobre um mesmo bem: é possível que um mesmo bem seja
penhorado mais de uma vez, de forma que, nesse caso, terá direito de preferência o

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
exequente que primeiro penhorou o bem, desde que seu crédito tenha a mesma
natureza dos créditos dos demais credores.

O que significa dizer “desde que seu crédito tenha a mesma natureza do
crédito dos demais credores”? Assim, se, por exemplo, ainda que um credor
quirografário tenha sido o primeiro a penhorar um bem, um credor com garantia real
terá sempre a preferência, em razão da natureza do seu crédito ser preferencial à do
quirografário.

Art. 797. Ressalvado o caso de insolvência do devedor, em que


tem lugar o concurso universal, realiza-se a execução no
interesse do exequente que adquire, pela penhora, o direito de
preferência sobre os bens penhorados.

Parágrafo único. Recaindo mais de uma penhora sobre o mesmo


bem, cada exequente conservará o seu título de preferência.

136
Lembre-se de que, tendo ocorrido arresto executivo e posterior penhora sobre
o mesmo bem, a data do arresto é considerada para fins de preferência, em razão de
sua natureza de pré-penhora.

A data de registro da penhora serve para o direito de preferência? NÃO. A


doutrina majoritária entende que o registro da penhora NÃO faz parte do ato processual
da penhora, prestando-se, tão somente, para dar ciência erga omnes da realização da
constrição judicial. Assim, entende-se que é a realização da penhora, e não o seu
registro, que determina o direito de preferência.

9º Alienação de bem penhorado: a penhora NÃO retira o domínio do bem do


executado, que poderá livremente dispor do bem penhorado a qualquer momento
antes da expropriação.

Contudo, lembre-se de que a alienação ou a oneração do bem após o início do


procedimento executório pode configurar fraude à execução, de forma que, nesse caso,
o negócio jurídico será VÁLIDO, MAS INEFICAZ perante o exequente. Exceção: salvo na
hipótese de comprovada boa-fé do terceiro adquirente.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
10 Ordem legal da penhora:

Art. 835. A penhora observará, preferencialmente, a seguinte


ordem:

I - dinheiro, em espécie ou em depósito ou aplicação em


instituição financeira;

II - títulos da dívida pública da União, dos Estados e do Distrito


Federal com cotação em mercado;

III - títulos e valores mobiliários com cotação em mercado;

IV - veículos de via terrestre;

V - bens imóveis;

VI - bens móveis em geral;

VII - semoventes;

VIII - navios e aeronaves; 137


IX - ações e quotas de sociedades simples e empresárias;

X - percentual do faturamento de empresa devedora;

XI - pedras e metais preciosos;

XII - direitos aquisitivos derivados de promessa de compra e


venda e de alienação fiduciária em garantia;

XIII - outros direitos.

É possível que esta ordem seja alterada no caso concreto pelo juiz? Exemplo:
existe um bem previsto no inciso IV, mas o magistrado autoriza que seja penhorado
outro do inciso V?

Nos casos envolvendo dinheiro (inciso Nos casos envolvendo os demais incisos.
I).

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
NÃO. A penhora em dinheiro é prioritária. SIM. O juiz pode, nas demais hipóteses,
Isso significa que, pela redação legal, NÃO alterar a ordem prevista no art. 835 do
se pode penhorar nenhum outro bem se CPC, desde que existam circunstâncias do
houver dinheiro disponível. caso concreto que justifiquem a medida.

Art. 835. §1º - É prioritária a penhora em dinheiro, podendo o


juiz, nas demais hipóteses, alterar a ordem prevista no caput de
acordo com as circunstâncias do caso concreto.

Assim, em regra, se existe um carro disponível (inciso IV), NÃO se pode


penhorar apartamento (inciso V), salvo se, no caso concreto, houver circunstâncias que
justifiquem a alteração da ordem legal.

A súmula nº 417 do STJ continua aplicável? Sobre o tema explicado acima, o


STJ possui o seguinte enunciado:
138
Súmula nº 417 do STJ: Na execução civil, a penhora de dinheiro
na ordem de nomeação de bens NÃO tem caráter absoluto.

Diante da redação do §1º do art. 835 acima transcrito, alguns autores passaram
a defender a tese de que esta súmula deveria ser revista pelo STJ. É o caso de Daniel
Assumpção Neves, que sustenta que, agora, a preferência pela penhora em dinheiro
tem caráter ABSOLUTO por imposição legal (NEVES, Daniel Assumpção Neves. Manual
de Direito Processual Civil. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 1164).

É preciso, no entanto, aguardar mais um pouco para saber qual será o


entendimento do STJ porque não é improvável que o Tribunal, mesmo com este novo
dispositivo, continue entendendo que NÃO há caráter absoluto, mantendo-se a súmula.
Fica, contudo, o alerta para discussão do tema em uma eventual prova discursiva ou
oral.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
§2º - Para fins de substituição da penhora, equiparam-se a
dinheiro a fiança bancária e o seguro garantia judicial, desde que
em valor não inferior ao do débito constante da inicial, acrescido
de trinta por cento.

§3º - Na execução de crédito com garantia real, a penhora


recairá sobre a coisa dada em garantia, e, se a coisa pertencer a
terceiro garantidor, este também será intimado da penhora.

11 - Penhora online de dinheiro (BACENJUD): penhora online nada mais é do


que a penhora de dinheiro por meios eletrônicos, com a dispensa do tradicional ofício
escrito. Só poderá ser feita por requerimento do exequente, de modo que o juiz
requisitará informações à autoridade supervisora do sistema bancário sobre a existência
de ativo no nome do executado.

As informações requisitadas estão, contudo, limitadas ao valor a ser


executado. Afinal, não é admissível devassa integral do sigilo bancário do executado e 139
da indisponibilidade total dos seus ativos para garantir execução de valor inferior à
totalidade de dinheiro que o executado mantém em instituições financeiras.

Art. 854. Para possibilitar a penhora de dinheiro em depósito ou


em aplicação financeira, o juiz, a requerimento do exequente,
sem dar ciência prévia do ato ao executado, determinará às
instituições financeiras, por meio de sistema eletrônico gerido
pela autoridade supervisora do sistema financeiro nacional, que
torne indisponíveis ativos financeiros existentes em nome do
executado, limitando-se a indisponibilidade ao valor indicado na
execução.

Em razão da redação legal do NCPC, que estabelece em seu texto de forma


expressa que “para possibilitar a penhora de dinheiro em depósito ou em aplicação
financeira, o juiz, a requerimento do exequente, SEM DAR CIÊNCIA PRÉVIA DO ATO AO

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
EXECUTADO, determinará às instituições financeiras, por meio de sistema eletrônico
gerido pela autoridade supervisora do sistema financeiro nacional, que torne
indisponíveis ativos financeiros existentes em nome do executado” (art. 854).

Assim, atualmente, a penhora de ativos financeiros deve se dar de forma


liminar, 'inaudita altera parte', ou quando for requerido pelo credor durante o trâmite
da execução, inclusive nos executivos fiscais.

12 - Indisponibilidade em caso de conta conjunta: havendo conta conjunta no


qual somente um dos correntistas é o devedor, a indisponibilidade pode recair sobre a
INTEGRALIDADE DOS VALORES, porque o STJ entende que, a partir do momento que as
partes optaram por essa modalidade de depósito bancário, há SOLIDARIEDADE entre
elas, decorrentes da própria vontade das partes. Neste sentido:

Informativo nº 0466. Período: 7 a 18 de março de 2011.


SEGUNDA TURMA. PENHORA ONLINE. CONTA-CORRENTE
CONJUNTA. A Turma entendeu que é possível a penhora online 140
do saldo total de conta-corrente conjunta para garantir a
execução fiscal, ainda que apenas um dos correntistas seja o
responsável pelo pagamento do tributo. Salientou-se que os
titulares da conta são credores solidários dos valores nela
depositados, solidariedade estabelecida pela própria vontade
deles no momento em que optam por essa modalidade de
depósito. Com essas considerações, negou-se provimento ao
recurso especial do ex-marido da devedora, com quem ela
mantinha a conta-corrente. Precedente citado do TST: AIRR
229140-84.2008.5.02.0018, DJe 3/2/2011. REsp 1.229.329-SP,
Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 17/3/2011.

QUESTÃO CONTROVERSA: há, contudo, decisões em sentido contrário:


segundo o entendimento da Terceira Turma do STJ, a penhora de valores depositados
em conta bancária conjunta solidária somente poderá atingir a parte do numerário

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
depositado que pertença ao correntista que seja sujeito passivo do processo executivo,
PRESUMINDO-SE, ante a inexistência de prova em contrário, que os valores constantes
da conta PERTENCEM EM PARTES IGUAIS AOS CORRENTISTAS.

Exemplo: João e Maria possuem uma conta bancária conjunta, na qual estão
depositados 100 mil reais. João é réu em uma execução de título extrajudicial no qual
lhe é cobrado o valor de 70 mil reais. O juiz da execução ordenou a penhora online,
sendo bloqueados 70 mil da referida conta bancária.

Maria apresenta embargos de terceiro pedindo o desbloqueio dos 70 mil reais,


afirmando que esse dinheiro pertencia a ela. Vale ressaltar que Maria não apresentou
nenhum documento comprovando que o dinheiro pertencia realmente a ela.

O que o juiz deverá decidir nesse caso? O pedido de Maria poderá ser
atendido? Em parte. A penhora de valores contidos em conta bancária conjunta é
admitida pelo ordenamento jurídico. No entanto, a constrição não pode se dar em
proporção maior que o numerário pertencente ao devedor da obrigação, devendo ser
preservado o saldo dos demais cotitulares. Em outras palavras, deve ser penhorado
141
apenas o dinheiro que pertence ao executado. Assim, quando se penhora o valor
constante em conta bancária conjunta solidária, deve-se permitir que o cotitular prove
que a quantia penhorada pertence a ele. Logo, Maria poderia ter provado que o dinheiro
penhorado pertencia inteiramente a ela. Nesse caso, a verba seria liberada. Se o
cotitular não executado não conseguir provar que a verba penhorada pertencia
inteiramente a ele, deve-se presumir que a quantia existente na conta bancária era
dividida igualmente entre os cotitulares.

Em outras palavras, como Maria não conseguiu provar que o dinheiro era todo
dela, deve-se considerar que dos 100 mil reais, 50 mil eram seus e a outra metade era
de João.

Dessa forma, em nosso exemplo, o juiz deverá manter penhorados 50 mil reais
e desbloquear os 20 mil reais que, presumidamente, são de Maria.

Neste sentido:

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE
SEGURANÇA. EXECUÇÃO DE HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS.
PENHORA "ON LINE". CONTA CONJUNTA. BLOQUEIO DE
METADE DO VALOR DISPONÍVEL. POSSIBILIDADE. INOVAÇÃO
RECURSAL. DESCABIMENTO.

I - Recaindo a penhora sobre contas bancárias conjuntas, não


havendo prova em contrário, presume-se que cada titular detém
metade do valor depositado, não se podendo inquinar de
teratológica ou manifestamente ilegal, a decisão que permite a
constrição de 50% dos saldos existentes, pertencentes à
executada, co-titular.

II - "Não se pode apreciar, em sede de recurso ordinário,


questões não articuladas na inicial do mandado de segurança e
que não foram objeto de discussão na instância originária, sendo
vedada a inovação recursal" (RMS 27.291/PB, Rel. Min. FELIX
FISCHER, DJ 30.3.09).
142
Agravo Regimental improvido.

(AgRg no AgRg na Pet 7.456/MG, Rel. Ministro SIDNEI BENETI,


TERCEIRA TURMA, julgado em 17/11/2009, DJe 26/11/2009)

13 - Penhora online de valores irrisórios: para se evitar o abuso de direito, é


defesa a penhora online de numerário, caso os valores sejam irrisórios? O STJ firmou
entendimento de que NÃO se pode obstar a penhora online pelo sistema BACENJUD a
pretexto de que os valores bloqueados seriam irrisórios.

14 - Indisponibilidade em caso de execução contra partidos políticos: sendo


executado partido político, o requerimento judicial para a indisponibilidade de valores
será somente em nome do órgão partidário que tenha contraído a dívida executada ou
que tenha dado causa à violação de direitos ou ao dano, ao qual cabe exclusivamente a
responsabilidade pelos atos praticados, na forma da lei.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Art. 854. §9º - Quando se tratar de execução contra partido
político, o juiz, a requerimento do exequente, determinará às
instituições financeiras, por meio de sistema eletrônico gerido
por autoridade supervisora do sistema bancário, que tornem
indisponíveis ativos financeiros somente em nome do órgão
partidário que tenha contraído a dívida executada ou que tenha
dado causa à violação de direito ou ao dano, ao qual cabe
exclusivamente a responsabilidade pelos atos praticados, na
forma da lei.

15 - Tentativa de novas penhoras online: se foi tentada a penhora online e não


se conseguiu êxito, novas tentativas de penhora eletrônica somente serão possíveis se
o exequente (credor) apresentar ao juízo provas ou indícios de que a situação econômica
do executado (devedor) foi alterada, isto é, se o exequente indicar que há motivos
concretos para se acreditar que, desta vez, poderá haver valores depositados em contas
bancárias passíveis de penhora (AgInt no REsp 1600344 / RS).
143
16 - Penhora do percentual do faturamento da empresa

Art. 866. Se o executado NÃO tiver outros bens penhoráveis ou


se, tendo-os, esses forem de difícil alienação ou insuficientes
para saldar o crédito executado, o juiz poderá ordenar a penhora
de percentual de faturamento de empresa.

§1º - O juiz fixará percentual que propicie a satisfação do crédito


exequendo em tempo razoável, mas que NÃO torne inviável o
exercício da atividade empresarial.

§2º - O juiz nomeará administrador-depositário, o qual


submeterá à aprovação judicial a forma de sua atuação e
prestará contas mensalmente, entregando em juízo as quantias
recebidas, com os respectivos balancetes mensais, a fim de
serem imputadas no pagamento da dívida.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
§3º - Na penhora de percentual de faturamento de empresa,
observar-se-á, no que couber, o disposto quanto ao regime de
penhora de frutos e rendimentos de coisa móvel e imóvel.

17 - Segunda penhora: admite-se a realização de uma segunda penhora, desde


que:

a) A primeira tenha sido anulada.

b) os bens obtidos na 1ª penhora foram insuficientes para o


pagamento do débito.

c) o exequente desistiu da 1ª penhora por serem os bens


litigiosos.

Art. 851. Não se procede à segunda penhora, salvo se: 144


I - a primeira for ANULADA;

II - executados os bens, o produto da alienação NÃO bastar para


o pagamento do exequente;

III - o exequente DESISTIR da primeira penhora, por serem


litigiosos os bens ou por estarem submetidos a constrição
judicial.

Ressalte-se que a segunda penhora NÃO se confunde com reforço da penhora,


hipótese na qual haverá um acréscimo patrimonial à penhora já realizada e esse reforço
deve ser pedido pelo exequente (NÃO pode ser determinado de ofício pelo juiz).

18 - Substituição do bem penhorado: o executado pode, no prazo de 10 dias,


contados da penhora, requerer a substituição dos bens penhorados, desde que
comprove que tal substituição ser-lhe-á menos onerosa e de que NÃO trará prejuízos ao
exequente.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Por óbvio, o executado deverá indicar quais bens deverão substituir aqueles
que foram penhorados.

Art. 847. O executado pode, no prazo de 10 (dez) dias contado


da intimação da penhora, requerer a substituição do bem
penhorado, desde que comprove que lhe será menos onerosa e
não trará prejuízo ao exequente.

§1º - O juiz só autorizará a substituição se o executado:

I - comprovar as respectivas matrículas e os registros por


certidão do correspondente ofício, quanto aos bens imóveis;

II - descrever os bens móveis, com todas as suas propriedades e


características, bem como o estado deles e o lugar onde se
encontram;

III - descrever os semoventes, com indicação de espécie, de


número, de marca ou sinal e do local onde se encontram;
145
IV - identificar os créditos, indicando quem seja o devedor, qual
a origem da dívida, o título que a representa e a data do
vencimento; e

V - atribuir, em qualquer caso, valor aos bens indicados à


penhora, além de especificar os ônus e os encargos a que
estejam sujeitos.

§2º - Requerida a substituição do bem penhorado, o executado


deve indicar onde se encontram os bens sujeitos à execução,
exibir a prova de sua propriedade e a certidão negativa ou
positiva de ônus, bem como abster-se de qualquer atitude que
dificulte ou embarace a realização da penhora.

O executado NÃO poderá indicar bens imóveis para substituição da penhora


sem a anuência do seu cônjuge.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Art. 847. §3º - O executado somente poderá oferecer bem
imóvel em substituição caso o requeira com a expressa anuência
do cônjuge, salvo se o regime for o de separação absoluta de
bens.

Quando o cônjuge concorda com a substituição do bem penhorado por um bem


imóvel, o cônjuge NÃO devedor ainda terá direito de ingressar com embargos de
terceiro para garantir sua meação ou há preclusão lógica? Para Daniel Amorim, NÃO há
preclusão lógica, de forma que o cônjuge NÃO devedor poderá SIM apresentar
embargos de terceiros para garantir sua meação. Isso ocorre, porque a preclusão só gera
efeitos endoprocessuais e os embargos de terceiros têm natureza de ação judicial, de
forma que a preclusão ocorrida no processo de execução NÃO pode atingir outra ação
autônoma, como os embargos de terceiro.

Contudo, há quem defenda que, neste caso, houve uma RENÚNCIA do cônjuge 146
não devedor à meação.

Depois do pedido de substituição, o juiz deverá intimar o exequente para que


este se manifeste acerca da substituição dos bens.

Art. 847. §4º - O juiz intimará o exequente para manifestar-se


sobre o requerimento de substituição do bem penhorado.

NÃO é somente o executado que pode pedir a substituição da penhora,


quaisquer das partes podem requerer a substituição da penhora nas seguintes
hipóteses:

Art. 848. As partes poderão requerer a substituição da penhora


se:

I - ela NÃO obedecer à ordem legal;

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
II - ela NÃO incidir sobre os bens designados em lei, contrato ou
ato judicial para o pagamento;

III - havendo bens no foro da execução, outros tiverem sido


penhorados;

IV - havendo bens LIVRES, ela tiver recaído sobre bens já


penhorados ou objeto de gravame;

V - ela incidir sobre bens de baixa liquidez;

VI - fracassar a tentativa de alienação judicial do bem; ou

VII - o executado NÃO indicar o valor dos bens ou omitir


qualquer das indicações previstas em lei.

Parágrafo único. A penhora pode ser substituída por fiança


bancária ou por seguro garantia judicial, em valor não inferior ao
do débito constante da inicial, acrescido de 30%.

147
Essa substituição da penhora NÃO depende de anuência do exequente.

Art. 849. Sempre que ocorrer a substituição dos bens


inicialmente penhorados, será lavrado novo termo.

19 Modificação da penhora: é possível a redução, ampliação ou transferência


da penhora quando o valor de mercado dos bens penhorados tiver sofrido alteração
significativa.

Art. 850. Será admitida a redução ou a ampliação da penhora,


bem como sua transferência para outros bens, se, no curso do
processo, o valor de mercado dos bens penhorados sofrer
alteração significativa.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Como o art. 850 do NCPC NÃO repete a exigência do CPC de 1973 de
requerimento da parte, é correto concluir que o juiz passa a poder determinar a redução
ou ampliação da penhora DE OFÍCIO.

EXCEÇÃO: salvo na execução FISCAL, em razão do previsto no art. 15, II, da LEF.

m) Avaliação

A avaliação consiste na indicação de um valor econômico ao bem penhorado


que servirá para garantir a satisfação do crédito do exequente.

ATENÇÃO! O tema não costuma ser muito cobrado nas provas de concurso,
especialmente, se analisadas as últimas provas da Magistratura elaboradas pelo Cespe.
Desta forma, dispensamos um maior aprofundamento, recomendando, entretanto,
uma leitura atenta dos artigos 870 a 875 do NCPC.
148
n) Expropriação dos bens

NÃO havendo o cumprimento voluntário da obrigação de pagar quantia certa,


o Estado-juiz deve atuar materialmente para que o direito seja coativamente satisfeito,
o que será realizado pela execução por sub-rogação, com a expropriação do bem do
devedor.

Expropriar significa retirar a propriedade do bem do devedor com o objetivo


de, assim, satisfazer o direito do exequente.

Art. 875. Realizadas a penhora e a avaliação, o juiz dará início aos


atos de expropriação do bem.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
1º Expropriação em caso de penhora de DINHEIRO: havendo a penhora em
DINHEIRO, a fase de expropriação se mostra DESNECESSÁRIA, já que o levantamento do
valor penhorado servirá como forma de satisfação do direito do exequente, sem a
necessidade de o juiz praticar qualquer ato material de execução.

2° Espécies de expropriação: atualmente, há 03 espécies típicas de


expropriação:

a) a adjudicação;

b) a alienação (por iniciativa particular ou por leilão judicial);

c) a expropriação de frutos e de rendimentos de empresa ou de


estabelecimento ou de outros bens.

ATENÇÃO! Da mesma forma que mencionado quanto à avaliação, o tema expropriação


de bens não costuma ser cobrado tanto nas provas, razão pela qual recomendamos
149
apenas a leitura dos artigos 876 a 903 do NCPC, a fim de conhecer o procedimento.

2.1.1.7. DEFESAS DO EXECUTADO

As defesas do executado podem ser típicas (como é o caso da impugnação e


dos embargos à execução), que são aquelas legalmente previstas, e também podem ser
atípicas (como é o caso da objeção e da exceção de pré-executividade), que são defesas
criadas pela praxe forense.

1º EMBARGOS À EXECUÇÃO

a) Natureza jurídica dos embargos

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
É tradicional o entendimento de que os embargos à execução têm natureza de
ação, porque essa espécie de defesa faz com que, num mesmo processo, tramitem duas
ações: a execução e os embargos à execução.

Vemos que são ações autônomas, porque o processo de execução busca


somente a satisfação do direito do exequente, NÃO havendo espaço para discussão a
respeito da existência ou dimensão do direito exequente, o que deverá ser feito num
processo cognitivo: os embargos à execução. Assim, temos os embargos como uma ação
de conhecimento incidental ao processo de execução.

Os embargos à execução são distribuídos por dependência e são autuados em


apartado.

Art. 914. §1º - Os embargos à execução serão distribuídos por


dependência, autuados em apartado e instruídos com cópias das
peças processuais relevantes, que poderão ser declaradas
autênticas pelo próprio advogado, sob sua responsabilidade 150
pessoal.

b) Garantia do juízo

Para a interposição de embargos à execução é dispensada qualquer espécie de


garantia do juízo. Em contrapartida, para também não conferir proteção exagerada ao
executado, surgiu a regra de que a regra é de que os embargos à execução NÃO tenham
efeito suspensivo.

Art. 914. O executado, independentemente de penhora,


depósito ou caução, poderá se opor à execução por meio de
embargos.

c) Exceção

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Os embargos à execução FISCAL ainda exigem sim a garantia integral da dívida
para a sua apresentação.

d) Prazos dos embargos

Pela regra do art. 738, caput, os embargos à execução devem ser oferecidos no
prazo de 15 dias, contados da data de juntada aos autos do mandado de citação.

Art. 915. Os embargos serão oferecidos no prazo de 15 (quinze)


dias, contado, conforme o caso, na forma do art. 231.

ATENÇÃO! Não confunda o prazo do CPC com o prazo das execuções fiscais nem com o
prazo da execução trabalhista! 151
Execução CPC:

Prazo para pagamento = 03 dias.

Prazo para embargos = 15 dias.

Execução Fiscal:

Prazo para pagamento = 05 dias.

Prazo para embargos = 30 dias.

Execução trabalhista:

Prazo para pagamento = 48 horas.

Prazo para embargos = 05 dias / 30 dias (para a Fazenda Pública).

Exceção: na execução FISCAL, o prazo para embargos se conta a partir da intimação da


penhora e não da juntada aos autos do mandado de citação.

e) Prazo dos embargos em caso de litisconsórcio passivo

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Havendo litisconsórcio passivo na execução, o prazo para cada um deles
embargar contar-se-á de forma independente, ou seja, para cada executado a
contagem do prazo tem início com a juntada do seu mandado de citação nos autos da
execução (exceção: quando se tratam de cônjuges).

Art. 915. §1º - Quando houver mais de um executado, o prazo


para cada um deles embargar conta-se a partir da juntada do
respectivo comprovante da citação, salvo no caso de cônjuges
ou de companheiros, quando será contado a partir da juntada
do último.

f) Embargos à execução em caso de carta precatória

152
Na execução por carta precatória, o juízo deprecado poderá se valer de
qualquer forma idônea de comunicação (até mesmo pela via eletrônica). O prazo para
apresentação dos embargos à execução contar-se-á, então, a partir da juntada da
comunicação aos autos da execução (e não da devolução da carta precatória ao juízo
deprecante!), o que contribui para diminuição do tempo de duração do processo.

Art. 915. §2º - Nas execuções por carta, o prazo para embargos
será contado:

I - da juntada, na carta, da certificação da citação, quando


versarem unicamente sobre vícios ou defeitos da penhora, da
avaliação ou da alienação dos bens;

II - da juntada, nos autos de origem, do comunicado de que trata


o §4º deste artigo ou, não havendo este, da juntada da carta
devidamente cumprida, quando versarem sobre questões
diversas da prevista no inciso I deste parágrafo.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Art. 915. §4º - Nos atos de comunicação por carta precatória,
rogatória ou de ordem, a realização da citação será
imediatamente informada, por meio eletrônico, pelo juiz
deprecado ao juiz deprecante.

g) Competência

A competência para o julgamento dos embargos à execução é absoluta do juízo


do processo de execução (competência funcional).

Art. 914. §1º - Os embargos à execução serão distribuídos, no


juízo do processo de execução, por dependência, autuados em
apartado e instruídos com cópias das peças processuais
relevantes, que poderão ser declaradas autênticas pelo próprio
advogado, sob sua responsabilidade pessoal.
153

h) Exceção

Essa regra, entretanto, pode ser excepcionada quando a citação do executado


se der por meio de carta, situação em que os embargos serão OFERECIDOS no juízo
deprecante ou no juízo deprecado, MAS A COMPETÊNCIA para julgar a questão
dependerá da matéria alegada.

Regra: em regra, o juízo competente para processar os embargos à execução é


o juízo DEPRECANTE.

Vício na penhora, na avaliação ou na alienação REALIZADA PELO JUÍZO


DEPRECADO: a competência PARA JULGAR os embargos à execução será do juízo
DEPRECADO, porque se trata de atos por ele praticados.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Art. 914. §2º - Na execução por carta, os embargos serão
oferecidos no juízo deprecante ou no juízo deprecado, mas a
competência para julgá-los é do juízo deprecante, salvo se
versarem unicamente sobre vícios ou defeitos da penhora, da
avaliação ou da alienação dos bens efetuadas no juízo
deprecado.

i) Rejeição liminar dos embargos

É possível que os embargos sejam rejeitados sem que o embargado seja ao


menos intimado para se manifestar a respeito das alegações. Isso ocorrerá em 03
situações:

Art. 918. O juiz rejeitará liminarmente os embargos:


154
Segundo o entendimento do STJ, na hipótese de indeferimento liminar dos
embargos, NÃO são devidos honorários advocatícios.

I - quando intempestivos;

II - nos casos de indeferimento da petição inicial e de


improcedência liminar do pedido;

III - manifestamente protelatórios.

Parágrafo único. Considera-se conduta atentatória à dignidade


da justiça o oferecimento de embargos manifestamente
protelatórios.

Com a atual regra de que os embargos à execução não têm mais efeito
suspensivo, sua interposição, de uma maneira geral, não tem mais como ser meramente

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
protelatória. Assim, este dispositivo legal deve ser entendido da seguinte maneira: o
embargo será meramente protelatório quando houver abuso do direito de defesa, ou
seja, a rejeição fundar-se-á no conteúdo das alegações do embargo, e não nos seus
eventuais efeitos. Exemplos de abusos do direito de defesa: litigar contra o texto
expresso de lei ou contra a verdade dos fatos (já definitivamente esclarecidos e
comprovados).

O termo “rejeição” aqui deve ser interpretado em sentido amplo, admitindo-se


tanto a extinção do processo sem resolução do mérito (exemplo: embargos
intempestivos e petição inicial inepta), como também a extinção do processo com
resolução do mérito (exemplo: embargos manifestamente protelatórios).

O que temos certo é de que a rejeição será inaudita altera pars, de modo que
o embargante sequer terá sua pretensão acolhida.

Qual é o recurso cabível em caso de rejeição liminar dos embargos? Essa


decisão que rejeita liminarmente os embargos é recorrível por meio de apelação, SEM
efeitos suspensivos (OBS: é possível o apelante obter efeitos suspensivos por meio de
155
ação cautelar incidental ou pedido de efeito suspensivo ao relator, desde que
preenchidos os requisitos legais).

Exceção: excepcionalmente, a rejeição liminar dos embargos em caso de


PETIÇÃO INEPTA poderá ser uma decisão interlocutória recorrível por agravo de
instrumento. A regra, contudo, é ser uma sentença, recorrível por apelação.

h) Efeito suspensivo

A regra é que os embargos NÃO tenham efeito suspensivo, mas,


excepcionalmente, admite-se o efeito suspensivo.

Art. 919. Os embargos à execução NÃO terão efeito suspensivo.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
1º Requisitos: para que excepcionalmente seja admitido o efeito suspensivo
nos embargos à execução, o embargante terá que provar 04 requisitos CUMULATIVOS
(ou seja, todos eles precisam ser preenchidos no caso concreto):

Art. 919. §1º - O juiz poderá, a requerimento do embargante,


atribuir efeito suspensivo aos embargos quando verificados os
requisitos para a concessão da tutela provisória e desde que a
execução já esteja garantida por penhora, depósito ou caução
suficientes.

a) Pedido expresso do embargante nesse sentido. Ou seja, é


vedada qualquer atuação de ofício do juiz no sentido de
conceder efeitos suspensivos aos embargos.

b) Relevância dos fundamentos defensivos. Ou seja, consiste na


probabilidade de o embargante ter razão em suas alegações. 156
c) Fundado receio de que a continuação da execução cause dano
grave ou dano de difícil reparação.

d) Garantia do juízo. Observe que essa garantia deve ser


INTEGRAL, pois a mera garantia parcial não enseja obtenção do
efeito suspensivo.

Exceção: é possível atribuição de efeitos suspensivos aos embargos mesmo


quando não houve garantia total do juízo nos casos em que essa garantia integral
implicar extremo gravame ao executado, maculando, portanto, o princípio da menor
onerosidade.

Além disso, também temos outra hipótese de exceção sem garantia total: é o
que ocorre nos casos de penhora do faturamento, em que a garantia total só ocorrerá
com a soma dos valores desviados.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
2º Exceção: nos embargos à execução FISCAL, mesmo sendo necessária a
garantia integral do juízo para o oferecimento dos embargos, isso, por si só, NÃO
importa na suspensão automática da execução.

A suspensão dos embargos à execução fiscal é judicial, ou seja, deve ser


analisada pelo juiz quando ficar demonstrado o fumus bonis iuris e o periculum in mora.

3º Ausência de preclusão judicial: observe que o fato de o executado não pedir,


por exemplo, já na inicial, a concessão do efeito suspensivo NÃO cria preclusão judicial,
de modo que ele poderá, sim, pedir os efeitos suspensivos em outro momento.

i) Procedimento dos embargos à execução

Apesar de parcela da doutrina afirmar que o procedimento dos embargos à


execução é um rito ordinário, este não parece ser exatamente o que está previsto no
art. 920 do NCPC, que, embora considerando sua simplicidade estrutural, também não
pode ser considerado rito sumário. Assim, Daniel Amorim afirma que se trata de um
157
procedimento sui generis.

Embora o dispositivo legal determine um procedimento bem concentrado/


rápido, não poderá ser assim, porque os embargos à execução apresentam cognição
profunda, ampla e irrestrita.

A letra da lei não diz como será a forma de citação do embargado, mas a
doutrina afirma ser feita na figura do seu advogado, por meio do Diário Oficial.

j) Revelia

Há grande debate acerca da possibilidade de revelia e de seus efeitos em caso


de embargos à execução. Antes de qualquer coisa, devemos ter claro que revelia
consiste num estado de fato causado pela ausência jurídica de contestação, não se
confundindo com seus efeitos que, além da revelia em si, dependerão de outros
requisitos para que possam ser gerados no caso concreto.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
A revelia pode gerar a não intimação do réu revel? Embora tenha sido citado
e não tenha se manifestado nem instituído advogado nos autos, o ideal seria intimar o
advogado do exequente-embargado, que está constituído no processo de execução. É
claro que os embargos são ações autônomas, mas não podemos desprezar a ligação do
processo de execução com os embargos.

A revelia pode gerar a presunção de veracidade dos fatos contra réu revel?
Como existe um título executivo em que se presume como verdadeiro o direito de
crédito do exequente, por serem estas duas presunções divergentes e opostas, não
podem as duas prevalecer no caso concreto. Assim, admite-se que deva prevalecer a
presunção do título executivo por ser esta uma presunção legal.

l) Matérias que podem ser objeto de embargos à execução

O art. 917 prevê matérias que podem ser alegadas em sede de embargos à
execução na hipótese de execução fundada em título executivo extrajudicial, desde que 158
não tenha como polo passivo a Fazenda Pública, porque, nesse caso, as matérias
alegáveis estão previstas no art. 535.

Art. 917. Nos embargos à execução, o executado poderá alegar:

I - inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação;

II - penhora incorreta ou avaliação errônea;

III - excesso de execução ou cumulação indevida de execuções;

IV - retenção por benfeitorias NECESSÁRIAS ou ÚTEIS, nos casos


de execução para entrega de coisa certa;

V - incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução;

VI - qualquer matéria que lhe seria lícito deduzir como defesa em


processo de conhecimento.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Observe que o exequente-embargado poderá alegar quaisquer outras matérias
de defesa, desde que lícitas.

Honorários advocatícios: o STJ, no Resp 589.772/RS, apesar de reconhecer a


autonomia dos embargos à execução e do processo de execução, entendeu que a SOMA
dos honorários advocatícios da execução e dos embargos não pode superar 20%. O ideal
é fixar, no início, os honorários em 10%. Se o embargante perde, aí fixa mais 10% (se
ganha, faz-se a compensação de honorários).

Nesse mesmo sentido, temos o entendimento da AGU:

Súmula nº 70 da AGU: Os embargos do devedor constituem-se


em verdadeira ação de conhecimento, autônomos à ação de
execução, motivo pelo qual é cabível a fixação de honorários
advocatícios nas 02 ações, desde que a soma das condenações
NÃO ultrapasse o limite máximo de 20%, estabelecido pelo art.
20, §3º, do CPC. 159

Atualmente, com a vigência do NCPC, a discussão perde sentido, tendo em vista


que o artigo 827 estipula que, “ao despachar a inicial, o juiz fixará, de plano, os
honorários advocatícios de dez por cento, a serem pagos pelo executado”. Por sua vez,
o §2º do mesmo dispositivo legal dispõe que “O valor dos honorários poderá ser elevado
até vinte por cento, quando rejeitados os embargos à execução, podendo a majoração,
caso não opostos os embargos, ocorrer ao final do procedimento executivo, levando-se
em conta o trabalho realizado pelo advogado do exequente”.

Observa-se, portanto, que há regra específica para o caso de interposição de


embargos à execução, de maneira que, neste caso (interposição de embargos à
execução), se os embargos forem rejeitados, o valor dos honorários não poderá ser
superior a 20%, somando-se as duas ações. Isto é, o valor dos honorários na execução e
nos embargos, conjuntamente, não poderá ser superior a 20%.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
2.2. LEGISLAÇÃO

Tendo em vista a extensão do tema, excepcionalmente, não transcreveremos


os artigos referentes, eis que já transcritos, em sua quase totalidade, no conteúdo
desta aula.

160

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
2.3. JURISPRUDÊNCIA

Principais Súmulas do Superior Tribunal de Justiça

Súmula 559 do STJ - Em ações de execução fiscal, é desnecessária a instrução da petição


inicial com o demonstrativo de cálculo do débito, por tratar-se de requisito não previsto
no art. 6º da Lei n. 6.830/1980.

Súmula 558 do STJ - Em ações de execução fiscal, a petição inicial não pode ser
indeferida sob o argumento da falta de indicação do CPF e/ou RG ou CNPJ da parte
executada.

Súmula 549 do STJ - É válida a penhora de bem de família pertencente a fiador de


contrato de locação.

Súmula 478 do STJ - Na execução de crédito relativo a cotas condominiais, este tem
preferência sobre o hipotecário. 161
Súmula 453 do STJ - Os honorários sucumbenciais, quando omitidos em decisão
transitada em julgado, não podem ser cobrados em execução ou em ação própria.

Súmula 449 do STJ - A vaga de garagem que possui matrícula própria no registro de
imóveis não constitui bem de família para efeito de penhora.

Súmula 435 do STJ - Presume-se dissolvida irregularmente a empresa que deixar de


funcionar no seu domicílio fiscal, sem comunicação aos órgãos competentes,
legitimando o redirecionamento da execução fiscal para o sócio-gerente.

Súmula 417 do STJ - Na execução civil, a penhora de dinheiro na ordem de nomeação


de bens não tem caráter absoluto.

Súmula 393 do STJ - A exceção de pré-executividade é admissível na execução fiscal


relativamente às matérias conhecíveis de ofício que não demandem dilação probatória.

Súmula 375 do STJ - O reconhecimento da fraude à execução depende do registro da


penhora do bem alienado ou da prova de má-fé do terceiro adquirente.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Súmula 364 do STJ -O conceito de impenhorabilidade de bem de família abrange
também o imóvel pertencente a pessoas solteiras, separadas e viúvas.

Súmula 328 do STJ - Na execução contra instituição financeira, é penhorável o


numerário disponível, excluídas as reservas bancárias mantidas no Banco Central.

Súmula 300 do STJ - O instrumento de confissão de dívida, ainda que originário de


contrato de abertura de crédito, constitui título executivo extrajudicial.

Súmula 279 do STJ - É cabível execução por título extrajudicial contra a Fazenda Pública.

Súmula 270 do STJ - O protesto pela preferência de crédito, apresentado por ente
federal em execução que tramita na Justiça Estadual, não desloca a competência para a
Justiça Federal.

Súmula 268 do STJ - O fiador que não integrou a relação processual na ação de despejo
não responde pela execução do julgado.

Súmula 233 do STJ - O contrato de abertura de crédito, ainda que acompanhado de


extrato da conta-corrente, não é título executivo.
162
Principais julgados dos Tribunais Superiores a partir do ano de 2015

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

RECURSOS REPETITIVOS. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO INDIVIDUAL DE


SENTENÇA COLETIVA E INCIDÊNCIA DE JUROS REMUNERATÓRIOS E EXPURGOS
INFLACIONÁRIOS. RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ). Na
execução individual de sentença proferida em ação civil pública que reconhece o
direito de poupadores aos expurgos inflacionários decorrentes do Plano Verão
(janeiro de 1989): (i) descabe a inclusão de juros REMUNERATÓRIOS nos cálculos de
liquidação se inexistir condenação expressa, sem prejuízo de, quando cabível, o
interessado ajuizar ação individual de conhecimento; (ii) incidem os expurgos
inflacionários posteriores a título de correção monetária plena do débito judicial, que
terá como base de cálculo o saldo existente ao tempo do referido plano econômico, e
não os valores de eventuais depósitos da época de cada plano subsequente. Os juros

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
moratórios, em sua acepção estritamente jurídica, são juros legais, para cuja incidência
se dispensa pedido expresso ou mesmo condenação (art. 293 do CPC – Vide art. 322,
§1º, do NCPC). Aliás, a Súmula 254 do STJ preceitua que: “Incluem-se os juros
moratórios na liquidação, embora omisso o pedido inicial ou a condenação”. De outro
lado, os juros remuneratórios, no mais das vezes, são contratuais, cujo reconhecimento
depende de pedido expresso e, para ser executado, de condenação na fase de
conhecimento. Nesse contexto, a jurisprudência do STJ é tranquila no sentido de não
permitir a incidência de juros remuneratórios na fase de execução se a sentença foi
omissa quanto ao ponto. Noutro giro, importa assinalar que a jurisprudência do STF e
do STJ é firme no sentido de que a correção monetária não consubstancia acréscimo
material ao débito principal, mas mera recomposição do valor real em face da corrosão
inflacionária de determinado período. Por essa ótica, havendo um montante fixo já
definido na sentença – dependente apenas de mero cálculo aritmético –, a inclusão, na
fase de execução individual, de correção monetária não contemplada na sentença não
hostiliza a coisa julgada, antes, a protege, pois só assim o título permanece hígido com
a passagem do tempo em um cenário econômico no qual a inflação não é nula. Nessa 163
medida, para a manutenção da coisa julgada, há de se proceder à correção monetária
plena do débito reconhecido. Assim, os expurgos inflacionários do período de
inadimplemento devem compor o cálculo, estejam ou não contemplados na sentença
exequenda. Saliente-se, por fim, a existência de duas situações que parecem se baralhar
com relativa frequência: (a) uma é a incidência de expurgos inflacionários resultantes de
planos econômicos não previstos na sentença coletiva a valores eventualmente
existentes em contas de poupança em momento posterior; (b) outra é a incidência, no
débito judicial resultante da sentença, de expurgos inflacionários decorrentes de planos
econômicos posteriores ao período apreciado pela ação coletiva, a título de correção
monetária plena da dívida consolidada. REsp 1.392.245-DF, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, Segunda Seção, julgado em 8/4/2015, DJe 7/5/2015 (Informativo 561).

PRIMEIRA TURMA. DIREITO ADMINISTRATIVO, CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL


CIVIL. PAGAMENTO DE PRECATÓRIO PREFERENCIAL. A limitação de valor para o direito
de preferência previsto no art. 100, § 2º, da CF aplica-se PARA CADA PRECATÓRIO de

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natureza alimentar, e não para a totalidade dos precatórios alimentares de
titularidade de um mesmo credor preferencial, ainda que apresentados no mesmo
exercício financeiro e perante o mesmo devedor. De fato, o art. 100, § 2º, da CF (com
a redação dada pela EC 62/2009) delimita dois requisitos para o pagamento preferencial
nele previsto, quais sejam: a) ser o débito de natureza alimentícia; e b) ser o titular do
crédito maior de 60 anos de idade ou portador de doença grave. A norma constitucional
não elencou a impossibilidade de o beneficiário participar na listagem de credor
preferencial por mais de uma vez no mesmo exercício financeiro, perante um mesmo
Ente Político, não podendo, portanto, o exegeta restringir essa possibilidade. RMS
46.155-RO, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 22/9/2015, DJe 29/9/2015
(Informativo 570).

PRIMEIRA TURMA. DIREITO PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. NÃO INCIDÊNCIA DO


PRAZO DO ART. 892 DO CPC EM EXECUÇÃO FISCAL. O prazo de cinco dias previsto no
art. 892 do CPC (vide art. 541 do NCPC) não é aplicável aos depósitos judiciais
referentes a créditos tributários, de tal sorte que SÃO EXIGÍVEIS multa e juros caso o
164
depósito não seja realizado dentro do prazo para o pagamento do tributo. Isso porque,
ao se interpretar a norma processual conforme o princípio da legalidade tributária
estrita, reconhece-se que o prazo para o depósito judicial previsto no art. 892 do CPC
não se aplica às consignatórias de crédito tributário, por incompatibilidade normativa.
Isso porque não se pode ignorar que o crédito tributário é exigível a partir do termo de
vencimento. Inadimplido, por força de lei, é acrescido de juros, multa e correção
monetária. (AgRg no REsp 1.365.761-RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em
9/6/2015, DJe 17/6/2015 (Informativo 564)).

PRIMEIRA TURMA. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. DESCABIMENTO DE FIXAÇÃO DE


HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS EM EXECUÇÃO INVERTIDA. Não cabe a condenação da
Fazenda Pública em honorários advocatícios no caso em que o credor simplesmente
anui com os cálculos apresentados em “execução invertida” (Condenada a Fazenda
Pública ao pagamento de determinada quantia considerada de pequeno valor, esta
prepara uma planilha de cálculos com o valor que é devido e apresenta ao credor, o

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
qual, se concordando, recebe o valor da Fazenda Pública de forma voluntária.), ainda
que se trate de hipótese de pagamento mediante Requisição de Pequeno Valor (RPV).
É certo que o STJ possui entendimento de ser cabível a fixação de verba honorária nas
execuções contra a Fazenda Pública, ainda que não embargadas, quando o pagamento
da obrigação for feito mediante RPV. Entretanto, a jurisprudência ressalvou que, nos
casos de “execução invertida”, a apresentação espontânea dos cálculos após o trânsito
em julgado do processo de conhecimento, na fase de liquidação, com o reconhecimento
da dívida, afasta a condenação em honorários advocatícios (AgRg no AREsp 630.235-RS,
Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 19/5/2015, DJe 5/6/2015 (Informativo 563)).

SEGUNDA TURMA. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. NATUREZA JURÍDICA DO TERMO DE


ACORDO DE PARCELAMENTO PARA FINS DE EXECUÇÃO. O Termo de Acordo de
Parcelamento que tenha sido subscrito pelo devedor e pela Fazenda Pública deve ser
considerado documento público para fins de caracterização de título executivo
EXTRAJUDICIAL, apto à promoção de ação executiva, na forma do art. 585, II, do CPC
(vide art. 784, II, do NCPC), tendo em vista que, segundo o Superior Tribunal de Justiça,
165
documento público é “todo aquele cuja elaboração se deu perante qualquer órgão
público, como, por exemplo um termo de confissão de dívida em repartição
administrativa”. REsp 1.521.531-SE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em
25/8/2015, DJe 3/9/2015 (Informativo 568).

SEGUNDA TURMA. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. IMPOSSIBILIDADE DE OFERECIMENTO


DE RECONVENÇÃO EM EMBARGOS À EXECUÇÃO. É incabível o oferecimento de
reconvenção em embargos à execução. O processo de execução tem como finalidade a
satisfação do crédito constituído, razão pela qual se revela inviável a reconvenção, na
medida em que, se admitida, ocasionaria o surgimento de uma relação instrumental
cognitiva simultânea, o que inviabilizaria o prosseguimento da ação executiva. REsp
1.085.689-RJ, Primeira Turma, DJe 4/11/2009. REsp 1.528.049- RS, Rel. Min. Mauro
Campbell Marques, julgado em 18/8/2015, DJe 28/8/2015 (Informativo 567).

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SEGUNDA TURMA. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. ARREMATAÇÃO DE BEM POR OFICIAL
DE JUSTIÇA APOSENTADO. A vedação contida no art. 497, III, do CC não impede o
oficial de justiça aposentado de arrematar bem em hasta pública. O real significado e
extensão dessa vedação é impedir influências diretas, ou até potenciais, desses
servidores no processo de expropriação do bem. REsp 1.399.916-RS, Rel. Min. Humberto
Martins, julgado em 28/4/2015, DJe 6/5/2015 (Informativo 561).

SEGUNDA TURMA. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. RETENÇÃO DE HONORÁRIOS


CONTRATUAIS EM EXECUÇÃO DE DEMANDA COLETIVA. Na execução de título judicial
oriundo de ação coletiva promovida por sindicato na condição de substituto
processual, não é possível destacar os honorários CONTRATUAIS do montante da
condenação sem que haja autorização expressa dos substituídos ou procuração
outorgada por eles aos advogados. De acordo com o § 4º do art. 22 da Lei 8.906/1994,
“Se o advogado fizer juntar aos autos O SEU CONTRATO DE HONORÁRIOS antes de
expedir-se o mandado de levantamento ou precatório, o juiz deve determinar que lhe
sejam pagos diretamente, por dedução da quantia a ser recebida pelo constituinte, salvo
166
se este provar que já os pagou”. Assim, nos termos do citado artigo, para que haja a
retenção, é imprescindível previsão contratual. No caso dos sindicatos, ainda que seja
ampla sua legitimação extraordinária para defesa de direitos e interesses individuais
e/ou coletivos dos integrantes da categoria que representa, inclusive para liquidação e
execução de créditos – nos termos do art. 8º da CF –, a retenção sobre o montante da
condenação do que lhe cabe por força de honorários contratuais só é permitida quando
o sindicato juntar aos autos, no momento oportuno, o contrato respectivo, que deve ter
sido celebrado COM CADA UM DOS FILIADOS, OU, AINDA, A AUTORIZAÇÃO DESTES
PARA QUE HAJA A RETENÇÃO. Isso porque o contrato pactuado exclusivamente entre
o sindicato e o advogado não vincula os filiados substituídos, em face da ausência de
relação jurídica contratual entre estes e o advogado. Precedente citado: REsp 931.036-
RS, Terceira Turma, DJe 2/12/2009. REsp 1.464.567-PB, Rel. Min. Herman Benjamin,
julgado em 3/2/2015, DJe 11/2/2015 (Informativo 555).

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
SEGUNDA TURMA. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. POSSIBILIDADE DE PENHORA SOBRE
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. Excepcionalmente é possível penhorar parte dos
honorários advocatícios – contratuais ou sucumbenciais – quando a verba devida ao
advogado ultrapassar o razoável para o seu sustento e de sua família. Não obstante a
regra do artigo art. 833, IV, do NCPC, em determinadas circunstâncias, é possível a sua
relativização, como ocorre nos casos em que os honorários advocatícios recebidos em
montantes exorbitantes ultrapassam os valores que seriam considerados razoáveis para
sustento próprio e de sua família, sendo certo que o princípio da menor onerosidade do
devedor, insculpido no art. 805 do NCPC, tem de estar em equilíbrio com a satisfação do
credor, sendo indevida sua aplicação de forma abstrata e presumida. (REsp 1.264.358-
SC, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 25/11/2014, DJe 5/12/2014 (Informativo
553)). OBS: Atualmente, o §2º do artigo 833 do NCPC dispõe que não se aplica à
referida impenhorabilidade quando for o caso de importâncias excedentes a 50
salários mínimos mensais.

TERCEIRA TURMA. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. COBRANÇA DE COTA CONDOMINIAL E


167
PENHORA SOBRE DIREITO AQUISITIVO DECORRENTE DE COMPROMISSO DE COMPRA
E VENDA. Em ação de cobrança de cotas condominiais proposta SOMENTE CONTRA O
PROMISSÁRIO COMPRADOR, não é possível a penhora do imóvel que gerou a dívida –
de propriedade do promissário vendedor –, admitindo-se, no entanto, a constrição
dos direitos aquisitivos decorrentes do compromisso de compra e venda. Não se pode
autorizar a penhora de unidade condominial sobre o qual o executado possui apenas
direito aquisitivo e, portanto, não ostenta a condição de proprietário. Concretamente,
é possível apenas e tão somente a constrição do direito do promissário comprador do
imóvel, e não da propriedade em si. Admitir entendimento contrário equivaleria a
aceitar que bem de terceiro (proprietário) responda por dívida em processo no qual ele
não figurou como parte, circunstância que, inclusive, desafia o disposto nos arts. 568, I,
e 591 do CPC (vide arts. 779, I, e 789, ambos do NCPC. Destaca-se, ainda, que a natureza
propter rem, por si só, não autoriza a ampliação, sem título, dos bens do executado ou
a penhora de bem de propriedade de terceiro. Isso porque, diferentemente dos ônus
reais, em que a coisa responde pela dívida, na obrigação propter rem, o devedor é

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quem responde com todos os seus bens, pois, nessa espécie, é a pessoa que se
encontra vinculada à coisa. (REsp 1.273.313-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,
julgado em 3/11/2015, DJe 12/11/2015 (Informativo 573)).

TERCEIRA TURMA. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. FIXAÇÃO PROVISÓRIA DE


HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS EM EXECUÇÃO E POSTERIOR HOMOLOGAÇÃO DE
ACORDO. O advogado não tem direito à percepção dos honorários fixados no
despacho de recebimento da inicial de execução por quantia certa (art. 652-A do CPC
– vide art. 827, do NCPC), na hipótese em que a cobrança for extinta em virtude de
homologação de acordo entre as partes em que se estabeleceu que cada parte arcaria
com os honorários de seus respectivos patronos, eis que a fixação de honorários no
início da Execução é meramente provisória, pois a sucumbência final será determinada,
definitivamente, apenas no momento do julgamento dos Embargos à Execução, sendo
certo que, ao final, a sucumbência poderá ser majorada, reduzida, invertida ou até
mesmo suprimida, conforme o caso (REsp 1.414.394-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, julgado em 22/9/2015, DJe 30/9/2015 (Informativo 570)).
168

TERCEIRA TURMA. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. DESNECESSIDADE DE EXAURIMENTO


DAS VIAS EXTRAJUDICIAIS PARA A UTILIZAÇÃO DO SISTEMA RENAJUD. A utilização do
sistema RENAJUD com o propósito de identificar a existência de veículos penhoráveis
em nome do executado não pressupõe a comprovação do insucesso do exequente na
obtenção dessas informações mediante consulta ao DETRAN. REsp 1.347.222-RS, Rel.
Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 25/8/2015, DJe 2/9/2015 (Informativo 568).

TERCEIRA TURMA. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. IMPENHORABILIDADE ABSOLUTA DE


VALORES DO FUNDO PARTIDÁRIO. Os recursos do fundo partidário são absolutamente
impenhoráveis, inclusive na hipótese em que a origem do débito esteja relacionada às
atividades previstas no art. 44 da Lei 9.096/1995. Em que pese o fundo seja composto
por fontes de natureza pública e privada (art. 38, da Lei 9.096/95), a partir do momento
que as referidas verbas são incorporadas ao fundo, passam a ter destinação específica

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
prevista em lei (art. 44 da Lei 9.096/1995) e a sujeitar-se a determinada dinâmica de
distribuição, utilização e controle do Poder Público (arts. 40 e 44, §1º, da Lei 9.096/1995
c/c o art. 18 da Resolução TSE 21.841/2004) e, portanto, A NATUREZA JURÍDICA DESSAS
VERBAS PASSA A SER PÚBLICA ou, nos termos do art. 649, XI, do CPC (vide art. 833, XI,
do NCPC), elas tornam-se recursos públicos. REsp 1.474.605- MS, Rel. Min. Ricardo Villas
Bôas Cueva, julgado em 7/4/2015, DJe 26/5/2015 (Informativo 562).

TERCEIRA TURMA. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. VIA ADEQUADA PARA COBRANÇA DE


INDENIZAÇÃO FUNDADA EM CONTRATO DE SEGURO DE AUTOMÓVEL. É a ação de
conhecimento – e não a ação executiva – a via adequada para cobrar, em decorrência
de dano causado por acidente de trânsito, indenização securitária fundada em
contrato de seguro de automóvel, isso porque o contrato de seguro de automóvel não
se enquadra como título executivo extrajudicial, ao contrário do que ocorre com os
contratos de seguro de vida (vide art. 784, VI, do NCPC). Outrossim, cumpre lembrar
que o contrato de seguro é destituído de executividade e as situações nele envolvidas
comumente não se enquadram no conceito de obrigação líquida, certa e exigível, sendo
169
imprescindível, portanto, nessa hipótese, a prévia condenação do devedor e a
constituição de título judicial. REsp 1.416.786-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,
julgado em 2/12/2014, DJe 9/12/2014 (Informativo 553).

QUARTA TURMA. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO DE ALIMENTOS E


IMPOSSIBILIDADE DE EFETUAR O PAGAMENTO DAS PRESTAÇÕES. Em execução de
alimentos pelo rito do art. 733 do CPC (vide arts. 528 a 533 e arts. 911 a 913, todos do
NCPC), o acolhimento da justificativa da impossibilidade de efetuar o pagamento das
prestações alimentícias executadas desautoriza a decretação da prisão do devedor, mas
não acarreta a extinção da execução. (REsp 1.185.040-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
julgado em 13/10/2015, DJe 9/11/2015 (Informativo 573).

QUARTA TURMA. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. ARREMATAÇÃO DE BEM IMÓVEL


MEDIANTE PAGAMENTO EM PRESTAÇÕES. A arrematação de bem imóvel mediante

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pagamento em prestações (art. 690, § 1º, do CPC – vide art. 895 do NCPC) não pode
ser realizada por preço inferior ao da avaliação, mesmo que realizada em segunda
praça (REsp 1.340.965-MG, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 3/9/2015, DJe 11/9/2015
(Informativo 569)). OBS: O NCPC não trouxe a mesma vedação, sendo possível a
arrematação parcelada de bem imóvel (e até mesmo móvel) por valor inferior ao da
avaliação. No entanto, isto somente será possível no segundo leilão, sendo certo que,
no primeiro leilão, a proposta parcelada não poderá ser inferior ao valor da avaliação,
nos termos dos incisos I e II do artigo 895 do NCPC.

QUARTA TURMA. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. IMPOSSIBILIDADE DE EXECUÇÃO


INDIVIDUAL DE SENTENÇA COLETIVA POR PESSOA NÃO FILIADA À ASSOCIAÇÃO
AUTORA DA AÇÃO COLETIVA. O servidor NÃO FILIADO não detém legitimidade para
executar individualmente a sentença de procedência oriunda de ação coletiva –
diversa de mandado de segurança coletivo – proposta por associação de servidores.
Conforme já se manifestou o Supremo Tribunal Federal (RE 573.232-SC, sob o regime do
artigo 543-B do CPC - vide art. 1036 e segs. do NCPC), ao contrário dos mandados de
170
segurança coletivos, a atuação da associação autora da ação coletiva se dá na qualidade
de REPRESENTANTE PROCESSUAL, onde esta atua em nome de outrem, na defesa de
direito deste outrem, sendo imprescindível a autorização expressa dos associados, nos
termos do artigo 5º, XXI da CRFB. Desta forma, se é imprescindível a autorização
expressa dos associados, não é possível que um terceiro não associado, mesmo que
integrante daquela categoria, execute uma sentença coletiva de forma individual, eis
que o título executivo não o beneficiará, já que, em razão da necessidade de autorização
expressa, somente aqueles associados filiados e que autorizaram poderão se beneficiar.
(REsp 1.374.678-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 23/6/2015, DJe 4/8/2015
(Informativo 565)).

QUARTA TURMA. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. ILEGITIMIDADE PASSIVA DE


SOCIEDADES EMPRESÁRIAS INTEGRANTES DE GRUPO ECONÔMICO EM EXECUÇÃO DE
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. Não estão legitimadas a integrar o polo passivo de ação
de execução de honorários advocatícios as sociedades empresárias QUE NÃO

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
FIGURAREM NO TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL, ainda que sejam integrantes do
mesmo grupo econômico da sociedade empresária que firmou o contrato de
prestação de serviços advocatícios. O fato de sociedades empresárias pertencerem a
um mesmo grupo econômico, por si só, não as torna automaticamente solidárias nas
respectivas obrigações, sendo certo que cada pessoa jurídica tem personalidade e
patrimônio próprios, distintos, justamente para assegurar a autonomia das relações e
atividades de cada sociedade empresária, ainda que integrantes de um mesmo grupo
econômico. Somente em casos excepcionais essas distinções podem ser superadas,
motivadamente (art. 50 do CC). Outrossim, segundo o artigo 779, I, do Novo Código de
Processo Civil, a execução poderá ser promovida contra o devedor RECONHECIDO
COMO TAL TÍTULO, o que não ocorre no caso em que o advogado pretende a cobrança
de honorários advocatícios pela prestação de serviço jurídico para determinada
empresa. (REsp 1.404.366-RS, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 23/10/2014, DJe
9/2/2015 (Informativo 555)).

RECURSOS REPETITIVOS. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. EXEQUIBILIDADE DE SENTENÇAS


171
NÃO CONDENATÓRIAS (ART. 475-N, I, DO CPC/1973 – vide art. 515, I, do NCPC)).
RECURSO REPETITIVO. TEMA 889. A sentença, qualquer que seja sua natureza, de
procedência ou improcedência do pedido, constitui título executivo judicial, desde que
estabeleça obrigação de pagar quantia, de fazer, não fazer ou entregar coisa, admitida
sua prévia liquidação e execução nos próprios autos. Com efeito, segundo o artigo 515,
I, do NCPC, “são títulos executivos judiciais as decisões proferidas no processo civil que
reconheçam a exigibilidade de obrigação de pagar quantia, de fazer, de não fazer ou de
entregar coisa”. Analisando o dispositivo legal, observa-se que, para analisar se a
decisão é exequível, basta que ela contenha a identificação integral de uma norma
jurídica concreta, com prestação exigível de dar, fazer, não fazer ou pagar quantia. Neste
sentido, vê-se que até mesmo as sentenças de improcedência e as sentenças
declaratórias podem ter eficácia executiva, desde que, reconhecendo a existência da
obrigação, contenham, em seu bojo, os pressupostos de certeza e exigibilidade (art. 783
e 786 do NCPC), sendo certo que, na ausência de liquidez, é admitida a prévia liquidação,

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
tal qual ocorre com o provimento condenatório (REsp 1.324.152-SP, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, Corte Especial, julgado em 4/5/2016, DJe 15/6/2016 (Informativo n. 585)).

RECURSOS REPETITIVOS. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. TERMO A QUO DO PRAZO


PRESCRICIONAL DAS EXECUÇÕES INDIVIDUAIS DE SENTENÇA COLETIVA. RECURSO
REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC/1973 E RES. STJ N. 8/2008). TEMA 877. O prazo
prescricional para a execução individual é contado do trânsito em julgado da sentença
coletiva, sendo desnecessária a providência de que trata o art. 94 da Lei n. 8.078/1990.
O art. 94 do CDC dispõe que, “Proposta a ação, será publicado edital no órgão oficial, a
fim de que os interessados possam intervir no processo como litisconsortes, sem
prejuízo de ampla divulgação pelos meios de comunicação social por parte dos órgãos
de defesa do consumidor”. Realmente, essa providência (de ampla divulgação midiática)
é desnecessária em relação ao trânsito em julgado de sentença coletiva. Isso porque o
referido dispositivo disciplina a hipótese de divulgação da notícia da propositura da ação
coletiva, para que eventuais interessados possam intervir no processo ou acompanhar
seu trâmite, nada estabelecendo, porém, quanto à divulgação do resultado do
172
julgamento. Diante disso, o marco inicial do prazo prescricional aplicável às execuções
individuais de sentença prolatada em processo coletivo é contado, ante a
inaplicabilidade do art. 94 do CDC, a partir do trânsito em julgado da sentença coletiva.
REsp 1.388.000-PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maio Filho, Rel. para acórdão Min. Og
Fernandes, Primeira Seção, julgado em 26/8/2015, DJe 12/4/2016 (Informativo n. 580).

RECURSOS REPETITIVOS. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. ORDEM DE NOMEAÇÃO À


PENHORA DE COTA DE FUNDO DE INVESTIMENTO. RECURSO REPETITIVO. TEMA 913.
A cota de fundo de investimento não se subsume à ordem de preferência legal
disposta no inciso I do art. 655 do CPC/1973 (ou no inciso I do art. 835 do CPC/2015).
De acordo com o disposto no art. 2º, V, da Lei n. 6.385/1976, as cotas de fundos de
investimento consistem em valores mobiliários ou clubes de investimento em
quaisquer ativos, sendo certo que diversamente do que ocorre com o dinheiro em
espécie, com o dinheiro depositado em conta bancária ou com aquele representado por
aplicações financeiras, as cotas de fundo de investimento encontram-se

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
invariavelmente SUJEITAS AOS RISCOS DE MERCADO, de crédito e de liquidez, o que,
por si só, justifica a diversidade de gradação, para efeito de penhora, imposta pela lei
adjetiva civil. Vê-se, portanto, que as cotas estão incluídas no inciso III do artigo 835 do
NCPC (REsp 1.388.642-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Segunda Seção, por
unanimidade, julgado em 3/8/2016, DJe 6/9/2016 (Informativo n. 589)).

RECURSOS REPETITIVOS. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. RECUSA DE NOMEAÇÃO À


PENHORA DE COTAS DE FUNDO DE INVESTIMENTO. RECURSO REPETITIVO. TEMA 913.
A recusa da nomeação à penhora de cotas de fundo de investimento, reputada
legítima a partir das particularidades de cada caso concreto, não encerra, em si,
excessiva onerosidade ao devedor, violação do recolhimento dos depósitos
compulsórios e voluntários do Banco Central do Brasil ou afronta à impenhorabilidade
das reservas obrigatórias. REsp 1.388.642-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Segunda
Seção, por unanimidade, julgado em 3/8/2016, DJe 6/9/2016 (Informativo n. 589).

173
SEGUNDA TURMA. DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. HIPÓTESE DE
IMPENHORABILIDADE DE IMÓVEL COMERCIAL. É impenhorável o único imóvel
COMERCIAL do devedor quando o aluguel daquele está destinado unicamente ao
pagamento de locação residencial por sua entidade familiar. (REsp 1.616.475-PE, Rel.
Min. Herman Benjamin, julgado em 15/9/2016, DJe 11/10/2016 (Informativo n. 591)).

TERCEIRA TURMA. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. INEXIGIBILIDADE DE OBRIGAÇÃO


FUNDADA EM LEI NÃO RECEPCIONADA PELA CONSTITUIÇÃO. Ainda que tenha havido
o trânsito em julgado, é inexigível a obrigação reconhecida em sentença com base
exclusivamente em lei não recepcionada pela Constituição. Fundado o título judicial
exclusivamente na aplicação ou interpretação da lei ou ato normativo tidas pelo STF
como incompatíveis com a CF, é perfeitamente permitido o reconhecimento da
inexigibilidade da obrigação na própria fase de execução. Por outro lado, fundada a
sentença em preceitos outros, decorrentes, por exemplo, da interpretação da legislação
civil ou das disposições constitucionais vigentes, a obrigação é perfeitamente exigível,
só podendo ser suprimida a partir da rescisão do título pelas vias ordinárias, sob pena
de restar configurada grave ofensa à eficácia preclusiva da coisa julgada material. Isso

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
porque, a partir da entrada em vigor da Lei n. 11.232/2005, que incluiu, no CPC/1973, o
art. 475-L, passou a existir disposição cumprimento de sentença, a inexigibilidade do
título judicial. Essa norma, diga-se de passagem, foi reproduzida, com pequeno ajuste
técnico na terminologia empregada, no art. 525 do CPC/2015. REsp 1.531.095-SP, Rel.
Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 9/8/2016, DJe 16/8/2016 (Informativo n.
588).

Obs: Sob a égide do Novo CPC, para que o devedor possa alegar a inexigibilidade da
obrigação argumentando que o título é baseado em lei incompatível com a
Constituição, exige-se que a decisão do STF seja anterior à formação da coisa julgada,
tendo em vista o disposto no artigo 525, §13. Se for posterior, a matéria não poderá
ser alegada em impugnação, devendo ser proposta ação rescisória, conforme o artigo
525, § 15 do Novo CPC.

TERCEIRA TURMA. DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. PENHORABILIDADE DE BEM DE


FAMÍLIA IMÓVEL DADO EM HIPOTECA NÃO REGISTRADA. A ausência de registro da
174
hipoteca em cartório de registro de imóveis não afasta a exceção à regra de
impenhorabilidade prevista no art. 3º, V, da Lei n. 8.009/1990, a qual autoriza a
penhora de bem de família dado em garantia hipotecária na hipótese de dívida
constituída em favor de entidade familiar. A hipoteca é um direito real de garantia (art.
1.225, IX, do CC) incidente, em regra, sobre bens imóveis e que dá ao credor o poder de
excutir o bem, alienando-o judicialmente e dando-lhe primazia sobre o produto da
arrematação para satisfazer sua dívida. Por um lado, a constituição da hipoteca pode
dar-se por meio de contrato (convencional), pela lei (legal) ou por sentença (judicial) e,
desde então, JÁ TEM VALIDADE INTER PARTES como um direito pessoal. Por outro lado,
nos termos do art. 1.227 do CC, só se dá a constituição de um direito real após a sua
inscrição no cartório de registro de imóveis da circunscrição imobiliária competente.
Assim é que essa inscrição confere à hipoteca a eficácia de direito real oponível erga
omnes. Nesse sentido, há entendimento doutrinário de acordo com o qual “Somente
com o registro da hipoteca nasce o direito real. Antes dessa providência o aludido
gravame não passará de um crédito pessoal, por subsistente apenas inter partes; depois
do registro, vale erga omnes”. Se a ausência de registro da hipoteca não a torna

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inexistente, mas apenas válida inter partes como crédito pessoal, a ausência de
registro da hipoteca não afasta a exceção à regra de impenhorabilidade prevista no
art. 3º, V, da Lei n. 8.009/1990. REsp 1.455.554-RN, Rel. Min. João Otávio de Noronha,
julgado em 14/6/2016, DJe 16/6/2016 (Informativo n. 585).

TERCEIRA TURMA. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. PRÉVIA INTIMAÇÃO NA PRESCRIÇÃO


INTERCORRENTE. Em execução de título extrajudicial, o credor deve ser intimado para
opor fato impeditivo à incidência da prescrição intercorrente antes de sua decretação
de ofício, nos termos do artigo 10, bem como do artigo 921, §5º, ambos do NCPC (REsp
1.589.753-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 17/5/2016, DJe 31/5/2016
(Informativo n. 584)).

QUARTA TURMA. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. APLICAÇÃO DA MULTA POR ATO


ATENTATÓRIO À DIGNIDADE DA JUSTIÇA (ART. 600, III, DO CPC/1973). A multa por ato
atentatório à dignidade da Justiça previsto no art. 600, III, do CPC/1973 (vide art. 774, 175
IV, do NCPC) constitui punição cuja aplicabilidade restringe-se AOS ATOS DO
EXECUTADO EM PROCEDIMENTO EXECUTIVO, tendo em vista que o código se utiliza da
expressão “ato do executado” (REsp 1.231.981/RS, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão,
julgado em 15/12/2015, DJe 3/3/2016 (Informativo n. 578)).

QUARTA TURMA. DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. EXCEÇÃO À


IMPENHORABILIDADE DO BEM DE FAMÍLIA. Na execução civil movida pela vítima, não
é oponível a impenhorabilidade do bem de família adquirido com o produto do crime,
ainda que a punibilidade do acusado tenha sido extinta em razão do cumprimento das
condições estipuladas para a suspensão condicional do processo. Isso porque, aduz o
artigo 3º da Lei n. 8.009/1990, “A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo
de execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se
movido: [...] VI – por ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de
sentença penal condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens”.
Observa-se que a primeira parte do inciso (“por ter sido adquirido com produto de

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crime”) dispensa de condenação criminal transitada em julgado, porquanto inexiste
determinação legal neste sentido. Afinal, caso fosse a intenção do legislador exigir
sentença penal condenatória para a exceção prevista na primeira parte do inciso VI, teria
assim feito expressamente, como o fez com a segunda parte do referido dispositivo.
REsp 1.091.236-RJ, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 15/12/2015, DJe 1º/2/2016
(Informativo n. 575).

Quarta Turma DIREITO PROCESSUAL CIVIL. IMPENHORABILIDADE DA PEQUENA


PROPRIEDADE RURAL. A pequena propriedade rural, trabalhada pela família, é
impenhorável, ainda que dada pelos proprietários em garantia hipotecária para
financiamento da atividade produtiva. REsp 1.368.404-SP, Rel. Min. Maria Isabel
Gallotti, julgado em 13/10/2015, DJe 23/11/2015 (Informativo n. 574).

TERCEIRA TURMA. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. ALIENAÇÃO DE IMÓVEL POR SÓCIO DA


PESSOA JURÍDICA APÓS A CITAÇÃO DESTA E ANTES DO REDIRECIONAMENTO DA 176
EXECUÇÃO. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. FRAUDE À EXECUÇÃO
NÃO CONFIGURADA. A fraude à execução só poderá ser reconhecida se o ato de
disposição do bem for posterior à citação válida DO SÓCIO DEVEDOR, QUANDO
REDIRECIONADA A EXECUÇÃO que fora originariamente proposta em face da pessoa
jurídica. A questão consistiu em determinar se a venda de imóvel realizada POR SÓCIO
de pessoa jurídica executada, após a citação desta, mas antes da desconsideração da
personalidade jurídica da mesma sociedade, configura fraude à execução. De acordo
com o art. 593, II, do CPC/1973 (vide art. 792, IV, do NCPC), depreende-se que, para a
configuração de fraude à execução, deve correr contra o próprio devedor demanda
capaz de reduzi-lo à insolvência. No mais, urge destacar que é indispensável a citação
válida para configuração de fraude à execução (REsp 956.943-PR, Corte Especial, DJe
1/12/2014). Dessa feita, tem-se que a fraude à execução só poderá ser reconhecida se
o ato de disposição do bem for posterior à citação válida do sócio devedor, quando
redirecionada a execução que fora originariamente proposta em face da pessoa
jurídica. Somente com a superveniência da desconstituição da personalidade da
pessoa jurídica é que o sócio da pessoa jurídica foi erigido à condição de responsável

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pelo débito originário desta. Inclusive, este é o entendimento adotado por esta Corte
nas hipóteses de execução fiscal, que pode ser utilizado, por analogia, na espécie (REsp
1.391.830-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, por unanimidade, julgado em 22/11/2016, DJe
1/12/2016 - Informativo n. 594).

TERCEIRA TURMA. IMPENHORABILIDADE. PEQUENA PROPRIEDADE RURAL.


REQUISITOS E ÔNUS DA PROVA. No que concerne à proteção da pequena propriedade
rural, incumbe AO EXECUTADO comprovar que a área é qualificada como pequena,
nos termos legais; E AO EXEQUENTE demonstrar que não há exploração familiar da
terra. A Lei n. 8.009/90 e o ordenamento processual pátrio (CPC/1973, art. 649, VIII; e
CPC/2015, art. 833, VIII) exigem dois requisitos para negar constrição à pequena
propriedade rural: i) que a área seja qualificada como pequena, nos termos legais; e ii)
que a propriedade seja trabalhada pela família. De fato, para fins de hermenêutica,
sempre se deve ter em mente que a impenhorabilidade do bem de família é
irrenunciável, sendo princípio de ordem pública, com escopo de proteção da entidade
familiar, à luz do direito fundamental à moradia. A regra é a impenhorabilidade,
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devendo suas exceções serem interpretadas restritivamente, haja vista que a norma é
voltada para a proteção da família e não do patrimônio do devedor. Partindo dessa
premissa, assim como ocorre na proteção do imóvel urbano, deve ser ônus do
executado - agricultor - apenas a comprovação de que o seu imóvel se enquadra nas
dimensões da pequena propriedade rural. No entanto, no tocante à exigência da prova
de que a referida propriedade é trabalhada pela família, a melhor exegese parece ser a
de conferir uma presunção de que esta, enquadrando-se como diminuta, nos termos da
lei, será explorada pelo ente familiar, sendo decorrência natural do que normalmente
se espera que aconteça no mundo real, inclusive, das regras de experiência (NCPC, art.
375) (REsp 1.408.152-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, por unanimidade, julgado em
1/12/2016, DJe 2/2/2017 – Informativo 596).

TERCEIRA TURMA. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.


INDISPONIBILIDADE DE BENS. INTEGRALIDADE DO PATRIMÔNIO. EXECUÇÃO.
EXPROPRIAÇÃO. ADJUDICAÇÃO DE BEM. COISA DETERMINADA E ESPECÍFICA.

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IMPEDIMENTO. AUSÊNCIA. A indisponibilidade de bens do executado deferida em
ação civil pública não impede a adjudicação de um determinado bem ao credor que
executa o devedor comum com substrato em título executivo judicial. Isso porque, a
Indisponibilidade de bens é apenas uma medida cautelar atípica, analisada com base na
probabilidade do direito e no perigo da demora, visando garantir a satisfação de um
provimento final. Já a expropriação (adjudicação é uma das formas de expropriação) é
o ato final da execução por quantia certa, consistindo no ato da autoridade judicial por
meio do qual se retira coativamente a propriedade ou posse de alguém com o objetivo
de obter-se a prestação suficiente à satisfação do crédito exequendo. Por se tratar de
atuação coativa do Estado, a adjudicação não pode ser impedida pela cautelar atípica
de indisponibilidade de bens, a qual atua sobre o poder de o devedor dispor sobre todo
seu patrimônio de acordo com sua vontade. Ademais, não havendo um direito de
preferência especial de um outro credor sobre um bem determinado do devedor, a
adjudicação não pode ser obstruída pela indisponibilidade, que não impõe a um bem
específico a situação de inalienabilidade ou impenhorabilidade, afastando sua sujeição
à execução (REsp 1.493.067-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, por unanimidade, julgado em 178
21/3/2017, DJe 24/3/2017 – Informativo 600).

QUARTA TURMA. DIREITO PROCESSUAL CIVIL, DIREITO EMPRESARIAL. CONTRATO


PARTICULAR DE CRÉDITO A PESSOA FÍSICA PARA AQUISIÇÃO DE MATERIAL DE
CONSTRUÇÃO. CONSTRUCARD. TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL INEXISTENTE. O
contrato particular de abertura de crédito à pessoa física visando financiamento para
aquisição de material de construção – Construcard –, ainda que acompanhado de
demonstrativo de débito e nota promissória, não é título executivo extrajudicial. O
Construcard é uma linha de crédito voltada às pessoas físicas para a compra de material
de construção, reforma ou ampliação de imóvel residencial, com verbas disponibilizadas
pela Caixa Econômica Federal, por meio de concessão de cartão magnético específico
que disponibiliza determinado crédito a ser usado pelos clientes na medida de suas
necessidades, com a previsão de prazo certo para sua utilização e outro para
amortização da dívida. Ao que se percebe, apesar de haver a disponibilização de
quantia certa; esta poderá ou não ser utilizada pelo cliente, não se sabendo, no

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momento da assinatura do contrato, qual será, ao certo, o valor do débito, as parcelas
devidas e a data de início da contagem dos encargos correspondentes. Sendo assim,
inexiste certeza e liquidez no próprio instrumento, exigências que não são alcançadas
mediante a complementação unilateral do credor com a apresentação de extratos
bancários, porquanto não lhe é dado criar títulos executivos à revelia do devedor, o
presente contrato de abertura de crédito carece de exequibilidade (REsp 1.323.951-PR,
Rel. Min. Luis Felipe Salomão, por unanimidade, julgado em 16/5/2017, DJe 14/6/2017
– Informativo 606).

TERCEIRA TURMA. DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.


LEGITIMIDADE EXTRAORDINÁRIA. DADOS CADASTRAIS DE CORRENTISTAS DE
INSTITUIÇÃO FINANCEIRA CONTRATANTES DE SEGURO E MÚTUO FINANCEIRO. SIGILO
BANCÁRIO. DIREITO PERSONALÍSSIMO. AFASTAMENTO INVIÁVEL. O exercício da
legitimação extraordinária, conferida para tutelar direitos individuais homogêneos em
ação civil pública, não pode ser estendido para abarcar a disposição de interesses
personalíssimos, tais como a intimidade, a privacidade e o sigilo bancário dos
179
substituídos. Desta forma, NÃO PODE o Ministério Público obter informações de
consumidores protegidas pelo sigilo bancário, com o objetivo de colher provas que
demonstrem a utilização reiterada da venda casada como prática de mercado pelas
instituições financeiras, sob pena de se quebrar o sigilo bancário das pessoas que,
sequer, são envolvidas na ação civil pública (REsp 1.611.821-MT, Rel. Min. Marco Aurélio
Bellizze, por unanimidade, julgado em 13/6/2017, DJe 22/6/2017 – Informativo 607).

TERCEIRA TURMA. DIREITO DO CONSUMIDOR E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO COLETIVA.


DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. REMESSA NECESSÁRIA. NÃO CABIMENTO. Não
se admite o cabimento da remessa necessária, tal como prevista no art. 19 da Lei n.
4.717/65, nas ações coletivas que versem sobre DIREITOS INDIVIDUAIS
HOMOGÊNEOS. A questão controvertida se refere à aplicabilidade da remessa
necessária em ação civil pública ajuizada com o objetivo de tutelar direitos individuais
homogêneos de consumidores aderentes a determinados planos coletivos de seguro de
vida. No que se refere à ação civil pública, a controvérsia surge em razão de a Lei
7.347/85 não haver previsto dispositivo que verse sobre a necessidade de reexame por

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Tribunal, sendo certo que a jurisprudência entendeu pela aplicação do artigo 19 da Lei
de Ação Popular às hipóteses de ação civil pública (Lei 7.347/85), tendo em vista a
transindividualidade e relevância para a coletividade como um todo. No entanto, não
são observadas em litígios que versem exclusivamente sobre direitos individuais
homogêneos a “transindividualidade e relevância para a coletividade como um todo”,
sendo, apenas, acidentalmente coletivos. Isso porque a coletivização dos direitos
individuais homogêneos tem um sentido meramente instrumental, com a finalidade de
permitir uma tutela mais efetiva em juízo, carecendo de uma razão essencial ou
ontológica para essa classificação (REsp 1.374.232-ES, Rel. Min. Nancy Andrighi, por
unanimidade, julgado em 26/09/2017, DJe 02/10/2017 – Informativo 612).

TERCEIRA TURMA. DIREITO CIVIL, DIREITO BANCÁRIO. EMBARGOS DE TERCEIRO.


BLOQUEIO DE VALOR DEPOSITADO EM CONTA-CORRENTE CONJUNTA.
SOLIDARIEDADE PASSIVA EM RELAÇÃO A TERCEIROS. DESCABIMENTO.
COMPROVAÇÃO DA TITULARIDADE INTEGRAL DO PATRIMÔNIO. INOCORRÊNCIA.
PENHORA. APENAS DA METADE PERTENCENTE AO EXECUTADO. Em se tratando de
180
conta-corrente conjunta solidária, NA AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DOS VALORES
QUE INTEGRAM O PATRIMÔNIO DE CADA UM, presume-se a divisão do saldo em
partes iguais, de forma que os atos praticados por quaisquer dos titulares em suas
relações com terceiros não afetam os demais correntistas. No que tange à conta
conjunta solidária - objeto da discussão -, cada um dos titulares pode movimentar a
integralidade dos fundos disponíveis, em decorrência da solidariedade ativa em relação
ao banco, havendo uma solidariedade ativa e passiva entre os correntistas apenas em
relação à instituição financeira mantenedora da conta-corrente, de forma que os atos
praticados por quaisquer dos titulares não afetam os demais correntistas em suas
relações com terceiros. Salienta-se, porém, que, por força do disposto no art. 265 do
CC/2002 e considerando que o contrato de conta-corrente é atípico (sem disposição em
lei), a solidariedade na conta-corrente conjunta deve ser expressamente convencionada
entre todas as partes. Diante dessas considerações, aos titulares da referida modalidade
contratual é permitida a comprovação dos valores que integram o patrimônio de cada
um, sendo certo que, na ausência de provas nesse sentido, presume-se a divisão do

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
saldo em partes iguais (REsp 1.510.310-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, por unanimidade,
julgado em 03/10/2017, DJe 13/10/2017 – Informativo 613).

TERCEIRA TURMA. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO PARA ENTREGA DE COISA


INCERTA. CONVERSÃO PARA PROCEDIMENTO EXECUTIVO POR QUANTIA CERTA.
COISA PERSEGUIDA ENTREGUE COM ATRASO. POSSIBILIDADE. É possível a conversão
do procedimento de execução para entrega de coisa incerta para execução por quantia
certa na hipótese em que o produto perseguido for entregue com atraso, gerando
danos ao credor da obrigação , nos termos do artigo 809 combinado com o artigo 813,
ambos do NCPC, aquele o qual dispõe que “o exequente tem direito a receber, além de
perdas e danos, o valor da coisa, quando essa se deteriorar, não lhe for entregue, não
for encontrada ou não for reclamada do poder de terceiro adquirente” (REsp 1.507.339-
MT, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, por unanimidade, julgado em 24/10/2017,
DJe 30/10/2017 – Informativo 614).

181
TERCEIRA TURMA. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. CRÉDITOS VINCULADOS AOS FIES.
RECURSO PÚBLICO RECEBIDO POR INSTITUIÇÃO PRIVADA PARA APLICAÇÃO
COMPULSÓRIA EM EDUCAÇÃO. ART. 649, IX, DO CPC/73. IMPENHORABILIDADE. São
absolutamente impenhoráveis os créditos vinculados ao programa Fundo de
Financiamento Estudantil - FIES constituídos em favor de instituição privada de ensino,
nos termos do artigo 833, IX, do NCPC, segundo o qual “são impenhoráveis os recursos
públicos recebidos por instituições privadas para aplicação compulsória em educação,
saúde ou assistência social”. Frisa-se que o programa Fundo de Financiamento
Estudantil-FIES destina-se à concessão de financiamento a estudantes de cursos
superiores não gratuitos, considerando sua renda familiar mensal bruta per capita, a
qual, atualmente, está limitada a 03 (três) salários mínimos. Trata-se, pois, de recursos
vinculados a um fim social, e, portanto, impenhoráveis. Noutro ângulo, permitir a
penhora desses recursos públicos transferidos às instituições particulares de ensino
poderia frustrar a adesão ao programa e, em consequência, o atingimento dos objetivos
por ele traçados (REsp 1.588.226-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, por unanimidade,
julgado em 17/10/2017, DJe 20/10/2017 – Informativo 614)

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
TERCEIRA TURMA. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO. HONORÁRIOS
SUCUMBENCIAIS. PENHORA. CPC/73. SALDO DO FUNDO DE GARANTIA POR TEMPO
DE SERVIÇO. FGTS. IMPOSSIBILIDADE. Não é possível a penhora do saldo do Fundo de
Garantia por Tempo de Serviço - FGTS para o pagamento de honorários de
sucumbência (REsp 1.619.868-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, por unanimidade,
julgado em 24/10/2017, DJe 30/10/2017 – Informativo 614).

TERCEIRA TURMA. DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS À EXECUÇÃO.


PEQUENA PROPRIEDADE RURAL TRABALHADA PELA ENTIDADE FAMILIAR.
IMPENHORABILIDADE RECONHECIDA. EXECUTADO QUE NÃO RESIDE NO IMÓVEL E
DÉBITO QUE NÃO SE RELACIONA À ATIVIDADE PRODUTIVA. CIRCUNSTÂNCIAS
IRRELEVANTES. A impenhorabilidade da pequena propriedade rural não exige que o
débito exequendo seja oriundo da atividade produtiva, tampouco que o imóvel sirva
de moradia ao executado e à sua família. O art. 5º, XXVI da Constituição Federal
182
estabelece que "a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que
trabalhada pela família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos
decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu
desenvolvimento". Em consecução do mandamento constitucional acima referido, o
Novo Código de Processo Civil, em seu art. 833, VIII, preceituou ser absolutamente
impenhorável a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada
pela família. É evidente que não passou despercebido do constituinte originário o fato
de que o desenvolvimento da atividade agrícola (sujeita às mais variadas intempéries de
tempo e circunstâncias outras), cujo propósito é o de viabilizar o sustento do agricultor
e de sua família — e, não, propriamente, o de gerar lucros —, demandaria, com certa
frequência, a utilização de financiamentos. A especial menção deveu-se, assim, à
necessidade de se salientar que, nem mesmo a dívida oriunda da atividade produtiva,
teria o condão de autorizar a constrição judicial da pequena propriedade rural (REsp
1.591.298-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, por unanimidade, julgado em
14/11/2017, DJe 21/11/2017 – Informativo 616).

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
CORTE ESPECIAL. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. Execução contra a Fazenda Pública. RPV.
Juros de mora. Período compreendido entre a data da elaboração da conta de
liquidação e a expedição do requisitório. Incidência. Julgamento proferido pelo STF no
RE n. 579.431/RS, em regime de repercussão geral. Art. 1.030, II, do CPC/2015. Juízo
de retratação. Em adequação ao entendimento do Supremo Tribunal Federal, a Corte
Especial do STJ adota orientação jurisprudencial no sentido de que incidem juros da
mora no período compreendido entre a data da realização dos cálculos e a da
requisição ou do precatório (EREsp 1.150.549-RS, Rel. Min. Og Fernandes, por
unanimidade, julgado em 29/11/2017, DJe 12/12/2017 – Informativo 617).

SEGUNDA TURMA. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. Embargos à execução. Efeito


suspensivo. Indeferimento. Agravo de instrumento. Possibilidade. Art. 1.015, X, do
CPC/2015. Interpretação extensiva. Paralelismo com o art. 1.015, I, do CPC/2015.
Natureza de tutela provisória. É admissível a interposição de agravo de instrumento
contra decisão que NÃO CONCEDE efeito suspensivo aos embargos à execução, tendo
em vista que deve ser feita uma interpretação extensiva do artigo 1015, X, do NCPC para
183
abarcar, não somente a decisão que revoga efeito suspensivo aos embargos à execução,
mas também à decisão que não à concede. Outrossim, o pedido de efeito suspensivo
nos Embargos, que possuem natureza de ação autônoma, poderia ser visto como
requerimento de tutela provisória de urgência, cujo cabimento do agravo é expresso no
artigo 1015, I, do NCPC (REsp 1.694.667-PR, Rel. Min. Herman Benjamin, por
unanimidade, julgado em 05/12/2017, DJe 18/12/2017 – Informativo 617).

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

EXECUÇÃO PROVISÓRIA DE DÉBITOS DA FAZENDA PÚBLICA: OBRIGAÇÃO DE FAZER E


REGIME DE PRECATÓRIOS

A execução provisória de obrigação de fazer em face da Fazenda Pública não atrai o


regime constitucional dos precatórios, uma vez que não há parâmetro constitucional
nem legal que obste a pretensão de executar provisoriamente a sentença condenatória

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
de obrigação de fazer relativa à implementação de pensão de militar, antes do trânsito
em julgado dos embargos do devedor opostos pela Fazenda Pública. (RE 573872/RS, rel.
Min. Edson Fachin, julgamento em 24.5.2017. (RE-573872) – Informativo 866).

184

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
2.4. QUESTÕES

1. (TJ-PR – 2017, Cespe) Assinale a opção correta de acordo com as normas referentes
ao cumprimento de sentença, ao procedimento monitório e ao processo de execução.

a) As defesas processuais relativas ao controle da regularidade dos atos executórios no


procedimento do cumprimento de sentença somente podem ser arguidas por meio de
impugnação ao cumprimento de sentença.

b) A existência de título executivo extrajudicial não é óbice ao ajuizamento de ação


condenatória, podendo ainda o credor optar pelo ajuizamento de ação monitória, a
despeito da possibilidade de utilização da via executória.

c) É incompatível com o regime de cumprimento provisório da sentença a multa de 10%


prevista como sanção ao executado que, devidamente intimado, deixa de adimplir
voluntariamente a condenação em quantia certa.

d) O protesto da decisão que determine a prestação de alimentos somente poderá ser


feito após o trânsito em julgado da decisão, devendo o autor se valer de outros meios
coercitivos para a efetivação de decisão interlocutória que fixe alimentos.
185

2. (TJ/CE – 2012, Cespe) No que diz respeito à fraude à execução, disciplinada no CPC,
assinale a opção correta.

a) A renúncia do usufruto por parte do devedor, na pendência de processo executivo,


presume a fraude à execução.

b) Verificada a fraude à execução, o credor deverá ajuizar ação própria em face do


devedor, a qual suspenderá o processo executivo até a decisão final.

c) De acordo com o STJ, a alienação de bem penhorado realizada pelo devedor


demandado não dispensa a demonstração da insolvência.

d) A alienação pelo devedor do bem que garanta a execução será eficaz caso não haja a
intimação da penhora.

e) Para que a fraude à execução seja configurada, deve haver prova do dano e pendência
de processo executivo contra o devedor.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
3. (TJ-DFT – 2016, Cespe) Acerca de liquidação de sentença e execução, assinale a
opção correta.

a) A jurisprudência do STJ vem sedimentando o entendimento de que é viável a


formulação de reconvenção em sede de embargos à execução.

b) O termo inicial para a oposição de embargos à execução fiscal é a data da juntada aos
autos do mandado cumprido.

c) O cumprimento de sentença será feito junto aos tribunais no caso de sua competência
originária, sendo essa funcional e absoluta.

d) A sentença arbitral não é legalmente considerada como um título executivo judicial,


para fins de cumprimento de sentença.

e) Com as alterações legislativas realizadas, o cumprimento de sentença passou a ser


considerado um processo autônomo, no escopo do denominado sincretismo processual.

4. (TJ-PB– 2015, Cespe) Acerca do processo de execução, assinale a opção correta com
186
base na legislação e na jurisprudência dos tribunais superiores.

a) O ajuizamento de ação relativa a débito constante de título executivo não impede o


credor de promover a execução do título.

b) O espólio responde pelas dívidas do falecido, de modo que, depois de feita a partilha,
cada herdeiro responderá solidariamente pelo total.

c) Uma ação de execução deve ter como fundamento um título extrajudicial específico,
uma vez que a legislação condena a cumulação de demandas executivas em um mesmo
processo.

d) No direito brasileiro, é inadmissível ação de execução contra a fazenda pública


ajuizada com base em título extrajudicial.

e) O instrumento de confissão de dívida originado a partir de contrato de abertura de


crédito não constitui título executivo extrajudicial.

5. (TJ/AM– 2016, Cespe) Acerca da execução, assinale a opção correta.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
a) Iniciada a execução de título extrajudicial, a fraude contra credores poderá ser
reconhecida em embargos de terceiro, com a consequente anulação do ato jurídico.

b) Tratando-se de execução de título extrajudicial, a fixação de multa para cumprimento


de obrigação específica pelo devedor e a sua conversão em perdas e danos dependem
de requerimento do credor.

c) A citação por hora certa, por ser incompatível com o rito, é vedada no processo de
execução, consoante entendimento sumulado pelo STJ.

d) A averbação da constrição de bem imóvel no cartório de registro de imóveis, embora


prevista na legislação processual civil, não é condição de validade da penhora.

e) As sentenças condenatórias cíveis e penais, ainda que não transitadas em julgado,


constituem títulos executivos judiciais.

187

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
2.5. GABARITO COMENTADO

1. RESPOSTA: B

A – INCORRETA – arts. 518 e 525, §11, ambos do NCPC – “Art. 518. Todas as questões
relativas à validade do procedimento de cumprimento da sentença e dos atos executivos
subsequentes poderão ser arguidas pelo executado nos próprios autos e nestes serão
decididas pelo juiz. / Art. 525, § 11. As questões relativas a fato superveniente ao
término do prazo para apresentação da impugnação, assim como aquelas relativas à
validade e à adequação da penhora, da avaliação e dos atos executivos subsequentes,
podem ser arguidas por simples petição, tendo o executado, em qualquer dos casos, o
prazo de 15 (quinze) dias para formular esta arguição, contado da comprovada ciência
do fato ou da intimação do ato”.

B – CORRETA – Art. 785 do NCPC – “Art. 785. A existência de título executivo extrajudicial
não impede a parte de optar pelo processo de conhecimento, a fim de obter título
188
executivo judicial”. Outrossim, a jurisprudência do STJ orienta no sentido de que não há
impedimento legal para que o credor, possuidor de título executivo extrajudicial, se
utilize do processo de conhecimento ou da ação monitória para a cobrança (AgRg no
AREsp 197026 / DF).

C – INCORRETA - art. 520, §2º, do NCPC – “Art. 520. O cumprimento provisório da


sentença impugnada por recurso desprovido de efeito suspensivo será realizado da
mesma forma que o cumprimento definitivo, sujeitando-se ao seguinte regime: § 2o A
multa e os honorários a que se refere o § 1o do art. 523 são devidos no cumprimento
provisório de sentença condenatória ao pagamento de quantia certa”.

D – INCORRETA – Arts. 528, §1º e 531, ambos do NCPC – “Art. 528, § 1o Caso o
executado, no prazo referido no caput, não efetue o pagamento, não prove que o
efetuou ou não apresente justificativa da impossibilidade de efetuá-lo, o juiz mandará

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
protestar o pronunciamento judicial, aplicando-se, no que couber, o disposto no art.
517. / Art. 531. O disposto neste Capítulo aplica-se aos alimentos definitivos ou
provisórios”.

2. RESPOSTA: C

A – INCORRETA – Informativo nº 0416. Período: 16 a 20 de novembro de 2009.


PRIMEIRA TURMA. EXECUÇÃO FISCAL. FRAUDE. RENÚNCIA. USUFRUTO. A recorrente
aponta violação dos arts. 593, II, do CPC e 185 do CTN, sob o argumento de que houve
fraude à execução fiscal, porquanto já havia ajuizamento de execução fiscal contra as
empresas devedoras, configurando o ato de renúncia ao usufruto evidente tentativa de
frustrar a execução, bastando o conhecimento do devedor de que o bem se encontrava
na iminência de ser constrito. Para o Min. Relator, a renúncia ao usufruto não importa
em fraude à execução, porquanto, a despeito de os frutos serem penhoráveis, o
usufruto é direito impenhorável e inalienável, salvo para o nu-proprietário. Precedentes 189
citados: REsp 242.031-SP, DJ 29/3/2004, e REsp 1.095.644-SP, DJe 24/8/2009. REsp
1.098.620-SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 19/11/2009.

OBS: Existem julgados mais recentes considerando Fraude à Execução a renúncia ao


usufruto, pois, em que pese o usufruto não poder ser penhorado em razão da sua
inalienabilidade (art. 833, I, do NCPC c/c art. 1393 do CC), os frutos podem ser
penhorados. PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO.
OCORRÊNCIA. SANEAMENTO DO ACÓRDÃO. 1. "Os frutos são penhoráveis; o usufruto
não" (REsp 242.031/SP, Rel. Ministro ARI PARGENDLER, TERCEIRA TURMA, julgado em
02/10/2003, DJ 29/03/2004). 2. Decorre da penhorabilidade do bem a possibilidade
de fraude à execução. 3. Frauda a execução o usufrutuário que, titular de usufruto de
onze imóveis, renuncia ao usufruto logo após a expedição de mandado de penhora
dos rendimentos do usufruto (aluguéis). 4. Validade do ato de renúncia, mas ineficaz
até a satisfação do crédito exequendo. 5. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO ACOLHIDOS,

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
SEM EFEITOS INFRINGENTES. (EDcl no AgRg no Ag 1370942/SP, Rel. Ministro PAULO
DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 18/12/2012, DJe 04/02/2013)

B – INCORRETA – “PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO PAULIANA. FRAUDE A CREDORES.


REQUISITOS. ANULAÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO A TÍTULO ONEROSO. VALOR IRRISÓRIO.
OBJETO DE DISCUSSÃO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS E DO CURADOR. ASSISTÊNCIA
JUDICIÁRIA. 1. A ineficácia da alienação de bens em fraude à execução pode ser
reconhecida incidentalmente no curso do processo executivo, em embargos do devedor
ou de terceiro, ao passo que a anulação do ato jurídico por fraude contra credores só
pode ser argüida em ação própria, qual seja, a ação pauliana. TRF 4ª Região, AC
2005.04.01.029800-7/RS”.

C – CORRETA - Direito processual civil. Execução de título extrajudicial. Fraude de


execução. Pressupostos. Análise. Penhora não efetivada. Prova da insolvência do
devedor. Ônus do credor. Para que a alienação ou oneração de bens seja considerada 190
em fraude de execução, quando ainda não realizada a penhora, é necessário que o
credor faça a prova da insolvência de fato do devedor. Não há de se falar em presunção
de insolvência do devedor em favor do credor, portanto, quando ainda não efetivado o
ato de constrição sobre os bens alienados. Isso porque a dispensabilidade da prova da
insolvência do devedor decorre exatamente da alienação ou oneração de bens que já se
encontram sob constrição judicial. Recurso especial provido. (REsp 867.502/SP, Rel.
Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 09/08/2007, DJ 20/08/2007,
p. 277)

D – INCORRETA – Não necessariamente, pois existem outros meios de comprovar a má-


fé do terceiro adquirente (Súmula 375 do STJ - O reconhecimento da fraude à execução
depende do registro da penhora do bem alienado ou da prova de má-fé do terceiro
adquirente.). Nas três primeiras situações do artigo 792, há a averbação no registro do
bem da existência de uma ação fundada em direito real, de um processo executivo, ou
de algum ato constritivo, ocasiões em que se presume a má-fé do terceiro ante

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
averbação. Na quarta hipótese, entretanto, a comprovação da má-fé pode ser feita por
outros meios, não sendo eficaz, automaticamente, a alienação pelo fato de não ter
havido intimação da penhora.

E – INCORRETA – Alguns doutrinadores vem entendendo que o artigo 792 dispensou a


prova do dano em diversas hipóteses. De qualquer maneira, a fraude a execução não
depende da existência de um processo de execução, como se depreende da leitura dos
incisos I e IV do artigo 792. No entanto, o reconhecimento da fraude é feito na fase ou
no processo de execução, ainda que perpetrado antes desse processo ou da fase
procedimental. Isto é, o reconhecimento da fraude à execução terá efeitos retroativos
(ex tunc – desde o momento em que ocorreu).

3. RESPOSTA: C

A – INCORRETA – Informativo nº 0567. Período: 21 de agosto a 2 de setembro de 2015.


191
SEGUNDA TURMA. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. IMPOSSIBILIDADE DE OFERECIMENTO
DE RECONVENÇÃO EM EMBARGOS À EXECUÇÃO. É incabível o oferecimento de
reconvenção em embargos à execução. O processo de execução tem como finalidade a
satisfação do crédito constituído, razão pela qual se revela inviável a reconvenção, na
medida em que, se admitida, ocasionaria o surgimento de uma relação instrumental
cognitiva simultânea, o que inviabilizaria o prosseguimento da ação executiva. Com
efeito, na execução, a doutrina ensina que: "a cognição é rarefeita e instrumental aos
atos de satisfação. Daí a falta de espaço para a introdução de uma demanda do
executado no processo puramente executivo". Dessa forma, como a reconvenção
demanda dilação probatória e exige sentença de mérito, ela vai de encontro com a fase
de execução, na qual o título executivo já se encontra definido, de sorte que só pode ser
utilizada em processos de conhecimento. Por fim, entendimento em sentido contrário
violaria o princípio da celeridade e criaria obstáculo para a satisfação do crédito,
porquanto a ideia que norteia a reconvenção é o seu desenvolvimento de forma
conjunta com a demanda inicial, o que não ocorreria caso ela fosse admitida em sede

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
de embargos à execução, na medida em que as demandas não teriam pontos de contato
a justificar a reunião. Precedente citado: REsp 1.085.689-RJ, Primeira Turma, DJe
4/11/2009. REsp 1.528.049-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em
18/8/2015, DJe 28/8/2015.

B – INCORRETA - Informativo nº 0396. Período: 25 a 29 de maio de 2009. PRIMEIRA


SEÇÃO. RECURSO REPETITIVO. EXECUÇÃO FISCAL. EMBARGOS. A Seção, ao julgar
recurso representativo de controvérsia (art. 543-C do CPC e Res. n. 8/2008 do STJ),
proveu-o em parte, reiterando que o termo a quo para opor embargos à execução fiscal
é contado a partir da data da intimação da penhora, e não da juntada aos autos do
cumprimento do mandado (art. 16, III, da Lei n. 6.830/1980). Precedentes citados: AgRg
no Ag 771.476-RJ, DJ 2/4/2007, e REsp 810.051-RS, DJ 25/5/2006. REsp 1.112.416-MG,
Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 27/5/2009.

C – CORRETA - Art. 516, I, do NCPC – “Art. 516. O cumprimento da sentença efetuar-se- 192
á perante: I - os tribunais, nas causas de sua competência originária”. Segundo Fredie
Didier (DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil: execução / Fredie Didier Jr.,
Leonardo Carneiro da Cunha, Paula Sarno Braga, Rafael Alexandria de Oliveira - 8. ed.
rev., ampl. e atual. - Salvador: Ed . JusPodivm, 2018, p. 485), “trata-se de competência
funcional, cujo descumprimento implica incompetência absoluta”.

D - INCORRETA – Art. 515, VII, do NCPC – “Art. 515. São títulos executivos judiciais, cujo
cumprimento dar-se-á de acordo com os artigos previstos neste Título: VII - a sentença
arbitral”.

E – INCORRETA – A afirmação está incorreta, pois não há um processo autônomo de


execução, mas apenas uma fase de cumprimento de sentença dentro de um processo
sincrético (o processo de conhecimento e o processo de execução são apenas um, divido
em fases distintas). Tanto é assim que, após o trânsito em julgado, após o requerimento
do credor, o devedor é INTIMADO (e não citado) para pagar o valor devido no prazo de

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
15 dias (art. 523 do NCPC), podendo impugnar o cumprimento de sentença nos mesmos
autos (525 do NCPC).

4. RESPOSTA: A

A – CORRETA – Art. 784, §1º, do NCPC – “Art. 784, § 1o A propositura de qualquer ação
relativa a débito constante de título executivo não inibe o credor de promover-lhe a
execução”.

B – INCORRETA – Art. 796 do NCPC – “Art. 796. O espólio responde pelas dívidas do
falecido, mas, feita a partilha, cada herdeiro responde por elas dentro das forças da
herança e na proporção da parte que lhe coube”.

C – INCORRETA – Art. 780 do NCPC – “Art. 780. O exequente pode cumular várias 193
execuções, ainda que fundadas em títulos diferentes, quando o executado for o mesmo
e desde que, para todas elas, seja competente o mesmo juízo e idêntico o
procedimento”.

D – INCORRETA – Súmula 279 do STJ – “É cabível execução por título extrajudicial contra
a Fazenda Pública”.

E – INCORRETA – Súmula 300 do STJ – “O instrumento de confissão de dívida, ainda que


originário de contrato de abertura de crédito, constitui título executivo extrajudicial”. /
Súmula 233 do STJ – “O contrato de abertura de crédito, ainda que acompanhado de
extrato da conta-corrente, não é título executivo”.

5. RESPOSTA: D

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
A – INCORRETA - Súmula 195, STJ - Em embargos de terceiro não se anula ato jurídico,
por fraude contra credores.

B – INCORRETA – Arts. 806, §1º e 814, e 821, Parágrafo único, todos do NCPC – “Art.
806. O devedor de obrigação de entrega de coisa certa, constante de título executivo
extrajudicial, será citado para, em 15 (quinze) dias, satisfazer a obrigação. § 1o Ao
despachar a inicial, O JUIZ PODERÁ FIXAR MULTA por dia de atraso no cumprimento da
obrigação, ficando o respectivo valor sujeito a alteração, caso se revele insuficiente ou
excessivo. / Art. 814. Na execução de obrigação de fazer ou de não fazer fundada em
título extrajudicial, ao despachar a inicial, O JUIZ FIXARÁ MULTA por período de atraso
no cumprimento da obrigação e a data a partir da qual será devida. / Art. 821. Na
obrigação de fazer, quando se convencionar que o executado a satisfaça pessoalmente,
o exequente poderá requerer ao juiz que lhe assine prazo para cumpri-la. Parágrafo
único. Havendo recusa ou mora do executado, sua obrigação pessoal SERÁ
CONVERTIDA EM PERDAS E DANOS, caso em que se observará o procedimento de
execução por quantia certa”.
194

C – INCORRETA - Súmula 196 do STJ –“ao executado que, citado por edital ou por hora
certa, permanecer revel, será nomeado curador especial, com legitimidade para
apresentação de embargos”.

D – INCORRETA - O registro da penhora não é pressuposto da sua validade, mas, sim, de


eficácia erga omnes (perante terceiros).

E – INCORRETA - Art. 515. São títulos executivos judiciais, cujo cumprimento dar-se-á
de acordo com os artigos previstos neste Título: VI - a sentença penal condenatória
transitada em julgado.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
3. DIREITO DO CONSUMIDOR (conteúdo atualizado em 08-04-2018)

APRESENTAÇÃO

Queridos alunos,

A Defesa do Consumidor em Juízo foi escolhida para ser tratada nesta Turma
de Reta Final porque tem sido cobrada de forma regular em provas CESPE/CEBRASPE.

A abordagem no conteúdo programático de Direito do Consumidor costuma


ser simples e muito focada na letra de lei. Por outro lado, são tantos os novos julgados
relacionados a este tema que imaginamos que a Banca venha a abordá-los. É por isso
que o material segue rico de análise jurisprudencial, havendo importantes novidades de
2018 (inclusive Súmula nova)!

Vamos em frente, que essa Reta Final está próxima de acabar!

195
Um abraço!

Beatriz Fonteles.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
3.1. DOUTRINA (RESUMO)

3.1.1. DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

3.1.1.1. CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS COLETIVOS (LATO SENSU)

Sistematicamente, organizaremos nosso estudo na ordem dos dispositivos


legais do CDC, haja vista que partem da definição dos tipos de direitos coletivos (lato
sensu), passando pela legitimidade ativa, por detalhes e possibilidades procedimentais
até chegar à sentença e coisa julgada.

O art. 81 do Código de Defesa do Consumidor prevê:

Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e


das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a
título coletivo.

Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar 196


de:

I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos


deste código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que
sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por
circunstâncias de fato;

II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para


efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível
de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas
entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;

III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim


entendidos os decorrentes de origem comum.

O Título “Da Defesa do Consumidor em Juízo” representou, no Ordenamento


Jurídico Brasileiro, uma inovação extremamente importante, pois os diplomas que

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
tratavam de direitos coletivos até então (ex.: Lei de Ação Civil Pública (LACP) – Lei n.
7.347/85) nem definiam os direitos coletivos, assim como não desciam em minúcias
procedimentais como as trazidas pelo CDC. Em razão disso, com o advento deste
diploma legal, foi incluído o art. 21 à LACP, prevendo a aplicação do mencionado Título
à defesa dos interesses difusos, coletivos e individuais em geral, e não somente àqueles
relacionados às relações consumeristas.

Perceba-se, do caput do art. 81, que a defesa do consumidor em juízo poderá


ser feita: a) individualmente; ou b) a título coletivo. A tutela individual será deduzida
em juízo pelo próprio titular do direito, daí tratar-se de situação de legitimação
ordinária; já a tutela coletiva, dependerá da atuação de legitimados próprios
(legitimação extraordinária, em regra), que serão estudados quando da análise do art.
82 do CDC.

Quanto à classificação ternária dos direitos coletivos (considerados lato sensu),


temos:

197
a) Interesses ou direitos difusos – são aqueles que pertencem,
a um só tempo, a cada um e a todos que estão numa mesma
situação de fato (por isso transindividuais e de natureza
indivisível).

São os interesses ou direitos objetivamente indivisíveis, cujos titulares são


pessoas indeterminadas e indetermináveis, ligadas entre si por circunstâncias de fato.

Os traços característicos dessa categoria são, especialmente, a indivisibilidade


e a indeterminabilidade dos seus titulares (são indeterminados e indetermináveis), que
estão relacionados entre si por circunstâncias de fato.

A referida indivisibilidade confere à coisa julgada em ações coletivas sobre


direitos difusos efeitos erga omnes, no sentido de que a sentença que versar sobre tais
direitos emanará sua eficácia para além das partes do processo, beneficiando a todos os
que, mesmo não tendo composto um dos polos processuais, tiverem ameaçado ou
lesado o direito versado em juízo.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Exemplo: o direito a não ser exposto à publicidade enganosa, veiculada em
determinado meio de comunicação social.

b) Interesses ou direitos coletivos (stricto sensu) – são aqueles


objetivamente indivisíveis, de que seja titular grupo, classe ou
categoria de pessoas, ligadas entre si ou com a parte contrária
por um vínculo jurídico base e, por tal razão, determináveis.

Observe-se que, assim como os direitos difusos, são indivisíveis, mas seus
titulares são determináveis, por integrarem determinado grupo, classe ou categoria de
pessoas. Note-se, ademais, que aqui as circunstâncias que unem os titulares são
jurídicas, e não de fato.

Seus traços característicos são a indivisibilidade e a determinabilidade dos


seus titulares, que integram determinado grupo, categoria ou classe de pessoas,
relacionadas entre si por uma relação jurídica base (que, segundo boa parte da 198
doutrina, pode ser uma relação jurídica entre si ou com a parte contrária).

A coisa julgada referente aos direitos coletivos stricto sensu, em razão de sua
indivisibilidade e determinabilidade de seus titulares, é ultra partes, ou seja, uma
sentença de procedência beneficiará todas as pessoas que estejam na mesma situação
jurídica base que fundamentou a sentença.

c) Interesses individuais homogêneos – a despeito da ausência


de definição legal (que se limita a informar que se tratam
daqueles “decorrentes de origem comum”), são essencialmente
direitos subjetivos individuais (e, portanto, divisíveis), cuja
defesa judicial é passível de ser feita coletivamente. Os titulares
são determináveis e têm em comum a origem do direito, cuja
defesa judicial pode ser feita coletivamente por razões de
conveniência, sem impedir a tutela individual.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Referidos direitos podem ser veiculados coletivamente e/ou individualmente,
se assim o preferir seu titular. Em razão disso, são essencialmente direitos divisíveis.

Os seus traços característicos, por conseguinte, são: a divisibilidade e a


determinabilidade dos titulares (são direitos individuais múltiplos enfeixados para uma
defesa coletiva), em razão de uma causa de origem comum.

Exemplo: pessoas sujeitas a fato de um produto ou serviço, como os moradores


que tiveram suas residências atingidas pela queda de uma aeronave.

ATENÇÃO! Como visto, os direitos individuais homogêneos nada mais são do que
direitos subjetivos individuais que possuem recomendação de serem tratados
judicialmente em conjunto (homogeneidade).

O STJ entende que essa homogeneidade, para estar presente, demanda um número
razoável de consumidores (o que será analisado no caso concreto, vez que não foram
fixados parâmetros quantitativos no julgado abaixo):

“Nas ações em que se pretende a defesa de direitos individuais homogêneos, não


199
obstante os sujeitos possam ser determináveis na fase de conhecimento (exigindo-se
estejam determinados apenas na liquidação de sentença ou na execução), não se pode
admitir seu ajuizamento sem que haja, ao menos, indícios de que a situação a ser
tutelada é pertinente a um número razoável de consumidores. O promovente da ação
civil pública deve demonstrar que diversos sujeitos, e não apenas um ou dois, estão
sendo possivelmente lesados pelo fato de "origem comum", sob pena de não ficar
caracterizada a homogeneidade do interesse individual a ser protegido”.

(REsp 823.063/PR, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em


14/02/2012, DJe 22/02/2012).

Para melhor fixação das definições e diferenças entre cada modalidade,


visualizemos o seguinte quadro comparativo.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Individuais
Difusos Coletivos
homogêneos

Objeto
Indivisível. Indivisível. Divisível.
jurídico

Indeterminados e
Determináveis Determináveis
Titulares indetermináveis
(determinabilidade). (determinabilidade).
(indeterminabilidade).

Relação de Circunstâncias de Relação jurídica


Origem comum.
origem fato. base.

OBSERVAÇÃO: As provas de concurso de magistratura, na disciplina de Direito do


Consumidor, não costumam cobrar conhecimentos além dos expostos acima. Há
variadas questões ou assertivas que cobram a literalidade da definição de cada espécie
de direitos coletivos ou abordam determinado caso hipotético para enquadrá-lo na
200
modalidade correta.

Ex1.: (CESPE/CEBRASPE – TJ/PB – Juiz substituto – 2011). “Os interesses ou direitos


difusos são transindividuais, de natureza indivisível, cujo titular seja grupo, categoria ou
classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por relação jurídica base”.
Assertiva incorreta, haja vista que se trata da definição dos direitos coletivos (art. 81,
parágrafo único, II, CDC).

Ex2.: (CESPE/CEBRASPE – TJ/AM – Juiz substituto – 2016). “O PROCON do Estado do


Amazonas, por intermédio de seu advogado, ajuizou ação civil pública contra
determinada empresa privada de saúde suplementar, pleiteando o reconhecimento
judicial da abusividade da cláusula contratual que prevê aumentos dos valores cobrados
em todo o estado a partir do momento que a pessoa atinge a condição de idoso.
Requereu, também, a restituição dos valores pagos por aqueles indivíduos que já haviam
atingido a idade de sessenta anos. Com referência a essa situação hipotética, assinale a
opção correta de acordo com o tratamento dispensado pelo CDC à defesa do
consumidor em juízo:

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
(...)

b) a hipótese retrata a existência de direitos individuais homogêneos, pois os titulares


podem ser identificados e se encontram em uma mesma situação fática”.

A referida alternativa foi apontada como correta, pois cada consumidor foi lesado (pela
mesma origem comum) numa medida diferente, haja vista que os planos, os valores
pagos a título de reajuste, o número de dependentes e outros fatores podem ser
distintos, o que denota a divisibilidade do direito.

CUIDADO: muitas alternativas se limitam a misturar as definições previstas legalmente.

Para finalizar o estudo do art. 81, é importante ter-se em mente que um mesmo
episódio ou contexto pode dar ensejo ao nascimento de interesses difusos, coletivos
stricto sensu e individuais homogêneos.

3.1.1.2. LEGITIMIDADE ATIVA PARA A TUTELA COLETIVA DO CONSUMIDOR


201
Os legitimados ativos estão elencados no art. 82 do CDC, verbis:

Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados
concorrentemente:

I - o Ministério Público;

II - a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal;

III - as entidades e órgãos da Administração Pública, direta ou


indireta, ainda que sem personalidade jurídica, especificamente
destinados à defesa dos interesses e direitos protegidos por este
código;

IV - as associações legalmente constituídas há pelo menos um


ano e que incluam entre seus fins institucionais a defesa dos

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
interesses e direitos protegidos por este código, dispensada a
autorização assemblear.

§ 1° O requisito da pré-constituição pode ser dispensado pelo


juiz, nas ações previstas nos arts. 91 e seguintes, quando haja
manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou
característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser
protegido.

§ 2° (Vetado).

§ 3° (Vetado).

Antes de iniciarmos a análise de cada um dos legitimados individualmente


previstos, cumpre fazermos algumas observações de caráter geral.

Primeiramente, a despeito do rol de legitimados do art. 82, o art. 90 do CDC


preceitua que “aplicam-se às ações previstas neste título as normas do Código de
Processo Civil e da Lei n. 7.347, de 24 de julho de 1985, inclusive no que respeita ao
202
inquérito civil, naquilo que não contrariar suas disposições”.

Ou seja, assim como há dispositivo específico na LACP – art. 21 - indicando a


aplicação das normas do Título III do CDC (Da Defesa do Consumidor em Juízo) à defesa
em geral dos direitos coletivos, há norma no CDC prevendo a aplicação subsidiária da
LACP às ações que envolvam a defesa do consumidor. Trata-se da integração entre CDC
e LACP. Há importância em saber disso quando se compara o rol de legitimados de um
e outro diploma legal, haja vista que, embora extremamente parecidos, não são
idênticos.

No que tange à natureza da legitimidade, trata-se, em regra, de legitimação


extraordinária por substituição processual, eis que o legitimado atua em nome próprio
para a defesa de direito alheio e propõe a ação isoladamente, sem litisconsórcio com o
suposto titular do direito material que se quer tutelar. Essa é a posição mais aceita na
doutrina atual e na jurisprudência.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
OBSERVAÇÃO: Há, porém, uma situação excepcional envolvendo as associações, já que
não são substitutas processuais. Veremos com calma a seguir.

O caput do art. 82 faz referência aos legitimados concorrentemente. Daí a


doutrina aponta as características da legitimidade ativa, em especial:

a) Exclusividade – os legitimados ativos são apenas aqueles


previstos expressamente pela lei.

b) Concorrente – há uma concomitância de legitimados ativos, e


a atuação de um não exclui a dos demais.

c) Disjuntiva – cada colegitimado pode agir sozinho, caso queira.


O litisconsórcio com qualquer outro colegitimado é facultativo
(como permite a LACP), não sendo necessário o ajuizamento
conjunto.
203
OBSERVAÇÃO: A LACP prevê, em seu art. 5o, § 2o, a possibilidade de litisconsórcio, nos
seguintes termos: “Fica facultado ao Poder Público e a outras associações legitimadas
nos termos deste artigo habilitar-se como litisconsortes de qualquer das partes”.

Trata-se de hipótese de litisconsórcio facultativo.

3.1.1.2.1. O Ministério Público

Trata-se do primeiro legitimado previsto legalmente (há igual previsão no art.


5o, I, da LACP).

Não se exige do Ministério Público pertinência temática, ou seja, não há


exigência de que só possa defender direitos difusos, coletivos ou individuais
homogêneos relacionados a um determinado tema; está autorizado à defesa de direitos
transindividuais de qualquer temática, incluída a consumerista.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
A jurisprudência atual é fecunda com relação a algumas situações em que o
Ministério Público tem legitimidade ativa para atuação coletiva. Entendemos, todavia,
que o estudo mais aprofundado desses casos é muito mais afeto à matéria de Processo
Civil Coletivo (até porque envolvem temas estranhos às relações de consumo, a exemplo
de questões ambientais, urbanísticas etc.) do que à disciplina de Direito do Consumidor,
bem como às provas de Ministério Público, e não de Magistratura.

OBSERVAÇÃO: No que tange à legitimidade do MP para tutelar, em ação coletiva,


direitos individuais homogêneos, apesar de alguns questionamentos doutrinários, o STJ
firmou o entendimento de que o MP tem legitimidade para propor ACP e ação coletiva
com o propósito de velar por direitos difusos e, também, direitos individuais dos
consumidores, ainda que disponíveis.

Nesse sentido:

Novidade 2018 – Súmula 601 do STJ. O Ministério Público tem legitimidade ativa para
atuar na defesa de direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos dos 204
consumidores, ainda que decorrentes da prestação de serviço público.

“O STJ reconhece que o evidente relevo social da situação em concreto atrai a


legitimação do Ministério Público para a propositura de ação civil pública em defesa de
interesses individuais homogêneos.

Verificação, no caso, da relevância dos interesses tutelados notadamente por tratar de


relação de consumo em que atingido um número indeterminado de consumidores”.

(REsp 1554153/RS, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA,


julgado em 20/06/2017, DJe 01/08/2017).

“No que diz respeito à legitimidade do Parquet, a jurisprudência do STF e do STJ assinala
que, quando se trata de interesses individuais homogêneos, a legitimidade do
Ministério Público para propor Ação Coletiva é reconhecida se evidenciado relevante
interesse social do bem jurídico tutelado, atrelado à finalidade da instituição, mesmo
em se tratando de interesses individuais homogêneos disponíveis”.

(AgRg nos EDcl nos EDcl no REsp 1499300/MG, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN,
SEGUNDA TURMA, julgado em 20/09/2016, DJe 29/09/2016).

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Em sequência, algumas situações específicas que envolvem relações de
consumo:

- Súmula 643 do STF: O Ministério Público tem legitimidade para


promover ação civil pública cujo fundamento seja a ilegalidade
de reajuste de mensalidades escolares.

- O Ministério Público é parte legítima para figurar no polo ativo


de ação civil pública e de ações coletivas contra operadoras de
planos de saúde para questionar cláusulas contratuais tidas por
abusivas, seja em face da indisponibilidade do direito à saúde,
seja em decorrência da relevância da proteção e do alcance
social (REsp 1554448/PE, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE
NORONHA, TERCEIRA TURMA, julgado em 18/02/2016, DJe
26/02/2016). 205
- O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil
pública contra a concessionária de energia elétrica com a
finalidade de evitar a interrupção do fornecimento do serviço à
pessoa carente de recursos financeiros diagnosticada com
enfermidade grave e que dependa, para sobreviver, da
utilização doméstica de equipamento médico com
alto consumo de energia (Informativo 523, AgRg no REsp
1.162.946-MG, Rel. Ministro Sérgio Kukina, julgado em
4/6/2013).

- O Ministério Público tem legitimidade para o ajuizamento


de ação civil pública com o objetivo de impedir o repasse e de
garantir a exclusão ou a abstenção de inclusão em cadastros de
inadimplentes de dados referentes a consumidores cujos
débitos estejam em fase de discussão judicial, bem como para
requerer a compensação de danos morais e a reparação de

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
danos materiais decorrentes da inclusão indevida de seus nomes
nos referidos cadastros (Informativo 516, REsp 1.148.179-MG,
Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 26/2/2013).

- O Ministério Público é parte legítima para ajuizar ação civil


pública em defesa de interesses dos mutuários do SFH (ex.:
AgRg no EREsp 633470/CE, Corte Especial, DJ 14/08/2006).

3.1.1.2.2. A União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal

Os entes da Administração Direta não precisam demonstrar pertinência


temática, de modo que eles não estão limitados à defesa, em ação coletiva, de um
determinado tema.

É preciso atentar apenas para os limites territoriais do ente envolvido, a fim de


que esteja presente o interesse processual. Por exemplo, não se vislumbra legitimidade
ativa de um Município X para ajuizar uma ação que visa a beneficiar apenas
206
consumidores residentes em um Município Y.

3.1.1.2.3. As entidades e órgãos da Administração Pública, direta ou indireta, ainda


que sem personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses e
direitos protegidos pelo CDC

Ao contrário dos entes federativos, os entes da Administração Indireta


(autarquias, fundações públicas, sociedades de economia mista e empresas públicas)
precisam demonstrar pertinência temática, ou seja, deverão demonstrar um interesse
direto, relacionado às suas finalidades (até porque o princípio da especialidade rege
essas entidades, conforme art. 37, XIX e XX, da Constituição Federal).

Observe-se que o dispositivo legal menciona expressamente a possível


legitimidade ativa de entes despersonalizados especificamente destinados à defesa
dos interesses e direitos consumeristas.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Em razão disso, admite-se que órgãos de defesa do consumidor
despersonalizados – como os PROCONs – manejem ações coletivas em prol de direitos
dos consumidores.

Podem-se citar dois exemplos admitidos pelo STJ:

- A defesa da coletividade pelo Procon encontra previsão no art.


82, II, do Código Consumerista, razão pela qual é descabida a
alegação de ilegitimidade. Em se tratando de direito individual
homogêneo, cabível a propositura de ação civil pública contra o
reajuste de mensalidades de plano de saúde. Precedentes. (AgRg
no REsp 512.382/DF, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA,
QUARTA TURMA, julgado em 14/08/2012, DJe 28/08/2012).

- Ação civil pública proposta pelo PROCON e pelo Estado de São


Paulo. Anticoncepcional Microvlar. Acontecimentos que se
notabilizaram como o 'caso das pílulas de farinha'. (REsp 207
866.636/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA,
julgado em 29/11/2007, DJ 06/12/2007, p. 312).

3.1.1.2.4. A Defensoria Pública

A legitimidade ativa da Defensoria Pública não está prevista expressamente no


CDC (assim como não estava, até o advento da Lei n. 11.448/2007, na LACP). Boa parte
da doutrina e da jurisprudência, todavia, já a admitia como parte legítima em razão da
previsão do inciso III do art. 82 do CDC, por se tratar de ente integrante da Administração
Pública.

Nesse sentido, já vinha decidindo o STJ (REsp 1.264.116/RS, 2ª T, Rel. Min.


Herman Benjamin, j. 18/10/2011, DJe 13/04/2012; REsp 1.106.515/MG, 1ª T, Rel. Min.
Arnaldo Esteves Lima, j. 16/12/2010, DJe 02/02/2011).

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Atualmente, há previsão expressa na LACP (art. 5o, II), conferindo legitimidade
ativa à Defensoria Pública para o manejo de ACP (lembrando-se que o art. 90 do CDC
permite a aplicação subsidiária da LACP às ações coletivas de consumo).

Vale mencionar que o STF sedimentou tal legitimidade (reconheceu sua


constitucionalidade) ao julgar a famosa ADI 3943, que objetivava a declaração de
inconstitucionalidade do inciso II do art. 5º da Lei 7.347/85 (com a redação dada pela
Lei 11.448/2007).

A doutrina majoritária entende que também não se exige demonstração de


pertinência temática por parte da Defensoria Pública. Destaque-se que há, todavia,
uma limitação constitucional e legal à sua atuação, qual seja: a defesa dos necessitados.

Cumpre, então, saber qual o atual significado do termo “necessitados”, a fim


de legitimar a atuação defensorial. Mais especificamente, há de se saber se alcança
apenas os necessitados financeiramente (ou seja, os hipossuficientes de recursos
financeiros), ou se o termo abrange outros tipos de necessidade.

Após uma posição inicial restritiva, recentemente o STJ, por sua Corte Especial, 208
reinterpretou o conceito de “necessitados”, não o limitando aos carentes de recursos
econômicos, mas estendendo-o aos juridicamente necessitados (ou
“hipervulneráveis”), isto é, os socialmente estigmatizados ou excluídos, as crianças, os
idosos, as gerações futuras. No caso concreto, admitiu a legitimidade da Defensoria para
“promover ação civil pública em defesa de interesses individuais homogêneos de
consumidores idosos que tiveram plano de saúde reajustado em razão da mudança de
faixa etária, ainda que os titulares não sejam carentes de recursos econômicos” (EREsp
1.192.577/RS, Corte Especial, rel. Min. Laurita Vaz, j. 21.10.2015, DJe 13.11.2015).

Esse julgado é emblemático e muito cobrado atualmente. Deve ser essa,


portanto, a posição a ser adotada em provas de concursos públicos que cobrem o
posicionamento da Corte Cidadã.

3.1.1.2.5. As associações

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
A legitimidade ativa das associações é a que demanda maiores requisitos e
cuidados. Diz-se que, para ter legitimidade, a associação precisa demonstrar sua
representatividade adequada, através dos seguintes requisitos:

a) Constituição na forma da lei (“legalmente constituídas”) –


trata-se de requisito formal, para que sejam atendidas as
prescrições legais quanto à criação e ao funcionamento de uma
associação, em especial o previsto no Código Civil (arts. 45 e
seguintes).

b) Pré-constituição – trata-se de requisito temporal, de que a


associação esteja constituída há pelo menos um ano.

Não se trata, porém, de requisito absoluto: há exceções


previstas legalmente em que o julgador pode dispensar esse
requisito, quando houver: (i) manifesto interesse social
evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou (ii) pela 209
relevância do bem jurídico a ser protegido (LACP, art. 5º, § 4º;
CDC, art. 82, § 1º).

Observe-se que compete a análise da dispensa ou não do requisito temporal


ao magistrado atuante no caso específico (a dispensa, portanto, não é automática, e sim
ope judicis). Ademais, pode ser fundamentada em duas situações alternativas:

i) o manifesto interesse social (cujos parâmetros são a dimensão


ou a característica do dano); ou

ii) a relevância do bem jurídico a ser protegido.

Exemplo de dispensa do requisito temporal pode se conferir no famoso


julgamento da “ACP do Glúten” (REsp 1.600.172/GO), por se entender ser “fundamental
assegurar os direitos de informação e segurança ao consumidor celíaco, que está

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
adstrito à dieta isenta de glúten, sob pena de graves riscos à saúde, o que, em última
análise, tangencia a garantia de uma vida digna”.

c) Pertinência temática, objetiva ou finalística (também


denominada de nexo de finalidade) – a defesa dos interesses a
serem tutelados deve estar entre os fins institucionais da
associação ou ser compatível com as finalidades estatutárias da
associação. No que nos interessa, deve incluir entre suas
finalidades institucionais a proteção ao consumidor.

A finalidade, porém, não precisa ser dotada de alto nível de especificidade,


bastando que tenha um nexo compatível entre os fins institucionais e o objeto da ação
coletiva (mas não pode ser muito genérica, que englobaria a defesa de qualquer direito).

Nesse sentido, o STJ não reconheceu legitimidade ativa a associação cujo


“estatuto da associação, ora recorrente, é desmesuradamente genérico, possuindo 210
‘referência genérica a tudo: meio ambiente, consumidor, patrimônio histórico, e é uma
repetição do teor do art. 5º, inciso II, da Lei 7.347/85’”. Para a Corte Cidadã, “as
associações civis necessitam ter finalidades institucionais compatíveis com a defesa
do interesse transindividual que pretendam tutelar em juízo. Embora essa finalidade
possa ser razoavelmente genérica, ‘não pode ser, entretanto, desarrazoada, sob pena
de admitirmos a criação de uma associação civil para a defesa de qualquer interesse,
o que desnaturaria a exigência de representatividade adequada do grupo lesado’.
(REsp 1213614/RJ, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
01/10/2015, DJe 26/10/2015).

NOVIDADE 2018 (Informativo 618 STJ): associação com fins específicos de


proteção ao consumidor não possui legitimidade para o ajuizamento de ACP com a
finalidade de tutelar interesses coletivos de beneficiários do seguro DPVAT (REsp
1.091.756/MG, Segunda Seção, Rel. Ministro Marco Aurélio Bellizze, j. em 13/12/2017).

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
OBSERVAÇÃO: Segundo o STJ, a representatividade adequada de uma associação pode
ser verificada de ofício pelo magistrado, a fim de decidir se possui ou não legitimidade
ativa para propor ação coletiva:

“Com efeito, contanto que não seja exercido de modo a ferir a necessária imparcialidade
inerente à magistratura, e sem que decorra de análise eminentemente subjetiva do juiz,
ou mesmo de óbice meramente procedimental, é plenamente possível que,
excepcionalmente, de modo devidamente fundamentado, o magistrado exerça,
mesmo que de ofício, o controle de idoneidade (adequação da representatividade)
para aferir/afastar a legitimação ad causam de associação. (REsp 1213614/RJ, Rel.
Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 01/10/2015, DJe
26/10/2015).

ATENÇÃO! Questão que merece especial atenção é a relativa à necessidade de


autorização dos associados para que a associação ingresse em juízo na defesa dos seus
direitos. 211

O CDC, na parte final do inciso IV do art. 82, prevê que para a associação atuar
como legitimada ativa está “dispensada a autorização assemblear”. Poder-se-ia, em
princípio, acreditar que referida previsão legal dispensaria as associações de autorização
dos seus associados (em verdadeira substituição processual). Mas não é nesse sentido
que a jurisprudência dos Tribunais Superiores se firmou.

A diferenciação parte da própria previsão constitucional sobre as associações,


nos seguintes termos: “as entidades associativas, quando expressamente autorizadas,
têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente” (art. 5o,
XXI, da CF/88).

ATENÇÃO! A partir dessa previsão, é amplamente majoritário na jurisprudência o


entendimento de que as associações são representantes, e não substitutas processuais,
dos seus associados, exigindo-se autorização expressa dos associados para que estejam
legitimadas a agir.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
STF: RE 573.232/SC (Informativo 746 - Tribunal Pleno, julgado em 14/05/2014,
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-182 DIVULG 18-09-2014 PUBLIC 19-09-2014).

Decidiu que a autorização estatutária genérica concedida à associação não é suficiente


para legitimar sua atuação em juízo na defesa de interesses de seus filiados, sendo
necessário que os associados a autorizem de forma expressa e específica, seja através
de:

- declaração individual; ou

- aprovação na assembleia geral da entidade.

ATENÇÃO! Exceção: O mesmo STF considera que a legitimação das associações para
impetrar Mandado de Segurança Coletivo é extraordinária, vez que o inciso LXX do art.
5º da CF/88 não exige autorização dos associados.

A partir do julgado da Suprema Corte, em sede de Repercussão Geral, o STJ 212


passou a seguir o mesmo entendimento (ex vi REsp 1.165.040/GO, REsp 1.374.678/RJ).
Desse modo, frente à premissa estabelecida pelo STF, o STJ curvou-se a tal
entendimento e já decidiu, por exemplo:

- Associação não tem legitimidade para defender os interesses


dos associados que vierem a se agregar somente após o
ajuizamento da ação de conhecimento – REsp 1.468.734/SP, Rel.
Ministro Humberto Martins, T2, j. em 1o/03/2016;

- O servidor não filiado não detém legitimidade para executar


individualmente a sentença de procedência oriunda de ação
coletiva proposta por associação de servidores (exceto se a
sentença coletiva favorável for proferida em sede de Mandado
de Segurança Coletivo, pelas razões acima explicitadas) – REsp
1.374.678/RJ, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, T4, j. em
23/06/2015.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
No mesmo passo, a recente decisão do STF:

- Beneficiários do título executivo, no caso de ação proposta por


associação, são aqueles que, residentes na área compreendida
na jurisdição do órgão julgador, detinham, antes do
ajuizamento, a condição de filiados e constaram da lista
apresentada com a peça inicial (RE 612.043/PR, Rel. Ministro
Marco Aurélio, Tribunal Pleno, j. em 10/05/2017).

OBSERVAÇÃO: Em caso de dissolução da associação que propôs a ação coletiva, há


possibilidade da sua substituição por outra associação no polo ativo?

Não, mesmo que os interesses discutidos na ação sejam comuns às finalidades de


ambas.
213
A recusa é fundamentada justamente no fato de as associações serem representantes
de seus associados e necessitarem de autorização específica para agir em nome deles
(art. 5o, XXI, da CF), conforme estudado acima.

Esse foi o entendimento do STJ no julgamento do REsp 1.405.697/MG:

“4. Reconhece-se, pois, a absoluta impossibilidade, e mesmo incompatibilidade, de


outra associação assumir o polo ativo de ação civil pública promovida por ente
associativo que, no curso da ação, veio a se dissolver (no caso, inclusive, por
deliberação de seus próprios associados). Sob o aspecto da representação, afigura-se,
pois, inconciliável a situação jurídica dos então representados pela associação
dissolvida com a dos associados do "novo ente associativo", ainda que, em tese, os
interesses discutidos na ação coletiva sejam comuns aos dois grupos de pessoas.

4.1 Na espécie, a partir da dissolução do ente associativo demandante, a subtrair-lhe


não apenas a legitimação, mas a própria capacidade de ser parte em juízo, pode-se
concluir com segurança que os então associados não mais são representados pela
associação autora, notadamente na subjacente ação judicial. Por sua vez, a nova

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
associação, que pretende assumir a titularidade do polo ativo da subjacente ação civil
pública, não detém qualquer autorização para representar os associados do ente
associativo demandante.” (...)

(REsp 1405697/MG, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado
em 17/09/2015, DJe 08/10/2015).

* Não seria aplicável o § 3o do art. 5o da LACP, que prevê, em caso de desistência


infundada ou abandono da ação pela associação legitimada, a assunção da legitimidade
ativa pelo Ministério Publico ou outro legitimado?

Referida possibilidade legal não inclui as associações. Assim, os demais colegitimados


legais poderiam assumir o polo ativo da ação, com exceção das associações.

3.1.1.3. TUTELA ESPECÍFICA E REGRAS PROCEDIMENTAIS

Assim preceituam os arts. 83 e 84 do CDC, verbis:


214
Art. 83. Para a defesa dos direitos e interesses protegidos por
este código são admissíveis todas as espécies de ações capazes
de propiciar sua adequada e efetiva tutela.

Art. 84. Na ação que tenha por objeto o cumprimento da


obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela
específica da obrigação ou determinará providências que
assegurem o resultado prático equivalente ao do
adimplemento.

§ 1° A conversão da obrigação em perdas e danos somente será


admissível se por elas optar o autor ou se impossível a tutela
específica ou a obtenção do resultado prático correspondente.

§ 2° A indenização por perdas e danos se fará sem prejuízo da


multa (art. 287, do Código de Processo Civil).

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
§ 3° Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo
justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz
conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia,
citado o réu.

§ 4° O juiz poderá, na hipótese do § 3° ou na sentença, impor


multa diária ao réu, independentemente de pedido do autor, se
for suficiente ou compatível com a obrigação, fixando prazo
razoável para o cumprimento do preceito.

§ 5° Para a tutela específica ou para a obtenção do resultado


prático equivalente, poderá o juiz determinar as medidas
necessárias, tais como busca e apreensão, remoção de coisas e
pessoas, desfazimento de obra, impedimento de atividade
nociva, além de requisição de força policial.

O art. 83 não oferece maiores dificuldades e deixa claro que, para a defesa dos 215
direitos do consumidor – seja no plano individual ou no coletivo -, são cabíveis todas as
espécies de ação para a efetiva tutela dos seus direitos, sejam de conhecimento –
declaratórias, constitutivas, condenatórias, mandamentais, executivas etc., previstas ou
não no CDC. Para a doutrina, referido dispositivo consagra o princípio da atipicidade das
ações coletivas (ou seja, pode se fazer uso de quaisquer tipos de ações, previstas em
diplomas legais diversos, desde que preenchidos seus requisitos próprios).

Ademais, as tutelas de urgência são plenamente cabíveis, seja de natureza


acautelatória, seja de caráter satisfativo.

Passa-se então à análise do art. 84 do CDC, este sim alvo de muitas questões e
assertivas em provas de concursos públicos de magistratura, em sua maior parte,
cobrando a literalidade de suas disposições.

O art. 84 diz respeito às ações de obrigação de fazer e não fazer, tratando dos
meios à disposição para se obter a tutela específica da obrigação ou que assegurem o
resultado prático equivalente ao do adimplemento.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
O CDC acolheu, como regra, a tutela específica, consubstanciada na entrega
exata do que é pleiteado ou na concessão de um resultado prático equivalente. Ou seja,
se a tutela específica não puder ser materialmente cumprida, a regra é a adoção de
providências que assegurem um resultado prático equivalente ao adimplemento, razão
pela qual o magistrado é dotado de uma série de medidas executivas, como
exemplificadas no § 5o: busca e apreensão, remoção de coisas e pessoas, desfazimento
de obra, impedimento de atividade nociva, requisição de força policial etc.

A doutrina é tranquila em considerar o rol do § 5o meramente exemplificativo,


sendo admitidas outras medidas que assegurem o mesmo fim.

OBSERVAÇÃO: A conversão em perdas e danos é medida excepcional, cabível somente


em duas hipóteses (§ 1o):

- se o consumidor/autor optar pela conversão; ou

- se forem impossíveis a tutela específica ou a obtenção de resultado prático


correspondente. 216
A indenização por perdas e danos se fará sem prejuízo da multa (§ 2o). Ou seja, o
pagamento de perdas e danos não exime o infrator do pagamento de multa nem vice-
versa.

O § 3o do art. 84 prevê os requisitos para a concessão de antecipação de tutela,


liminarmente ou após justificação prévia, citado o réu. Embora sejam essencialmente
similares aos requisitos previstos no CPC, é preciso atentar para a redação específica do
CDC: a) sendo relevante o fundamento da demanda; e b) havendo justificado receio de
ineficácia do provimento final. Trata-se de requisitos cumulativos.

3.1.1.3.1. A multa (astreinte)

O primeiro ponto a ser comentado é que, embora o § 4o do art. 84 faça expressa


referência à multa diária, a doutrina em geral entende ser possível que seja fixada em

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
outra periodicidade (mensal, semestral, anual, por hora etc.). Admite-se, inclusive, que
incida a cada descumprimento; por exemplo, no caso de publicidade enganosa ou
abusiva, a incidência de multa a cada nova veiculação.

Uma das abordagens mais frequentes com relação à multa é quanto à previsão
de que pode ser imposta independentemente de pedido do autor. Ou seja, o
magistrado pode fixá-la inclusive de ofício. São variadas as questões e alternativas –
incorretas – que atrelam a imposição de multa à necessidade de formulação de pedido
pela parte autora.

O juiz poderá, de ofício, não somente fixar a multa, mas majorá-la, reduzi-la,
excluí-la, alterar sua periodicidade etc., tudo de forma que seja suficiente para sua
finalidade coercitiva, em parâmetros razoáveis.

A multa, por possuir função coercitiva (e não reparatória), é cumulável com


eventual indenização por perdas e danos (art. 84, § 2o).

O credor da multa, por sua vez, é(são) o(s) consumidor(es) credor(es) da


obrigação principal, e não o Poder Público. 217

3.1.1.3.2. Outras regras procedimentais

Em sequência, os arts. 87 e 88 do CDC assim preveem:

Art. 87. Nas ações coletivas de que trata este código não haverá
adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e
quaisquer outras despesas, nem condenação da associação
autora, salvo comprovada má-fé, em honorários de advogados,
custas e despesas processuais.

Parágrafo único. Em caso de litigância de má-fé, a associação


autora e os diretores responsáveis pela propositura da ação
serão solidariamente condenados em honorários advocatícios e

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
ao décuplo das custas, sem prejuízo da responsabilidade por
perdas e danos.

Art. 88. Na hipótese do art. 13, parágrafo único deste código, a


ação de regresso poderá ser ajuizada em processo autônomo,
facultada a possibilidade de prosseguir-se nos mesmos autos,
vedada a denunciação da lide.

No que tange às despesas processuais em geral, o art. 87 estabeleceu dois


sistemas distintos:

- Quanto ao adiantamento de despesas processuais  todos os


legitimados estão dispensados do adiantamento;

- Quanto à condenação da parte autora nos ônus da


sucumbência  o CDC faz menção expressa apenas à associação
autora.
218

A condenação da associação autora nos ônus da sucumbência ocorre apenas


nos casos em que haja comprovação de má-fé processual. A contrario sensu, não
havendo litigância de má-fé, não haverá condenação da associação autora.

E o parágrafo único estabelece mais duas regras importantes:

a) em caso de litigância de má-fé e de consequente condenação


nos ônus da sucumbência, a associação e seus diretores
responsáveis pela propositura da ação serão solidariamente
condenados;

b) há uma penalidade prevista equivalente ao décuplo (10x) do


valor das custas.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
OBSERVAÇÃO: A responsabilidade solidária não é de todos os diretores da entidade;
está limitada àqueles responsáveis pela propositura da ação.

Como a condenação em sucumbência é prevista apenas para o caso em que a


associação autora é litigante de má-fé, há uma discussão doutrinária sobre se o mesmo
se aplicaria ou não aos demais legitimados previstos no rol do art. 82 do CDC, havendo
quem entenda que sim e quem negue essa extensão. Essa controvérsia, porém, não
costuma ser objeto de cobrança em provas de concurso. O mais provável é que seja
cobrada a literalidade do dispositivo.

O art. 88, a seu turno, regulamenta o direito de regresso previsto no parágrafo


único do art. 13, este ao prever que aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado
poderá exercer o direito de regresso contra os demais responsáveis, segundo sua
participação no evento danoso.

O direito de regresso pode ser exercido, processualmente: a) nos mesmos


autos; b) em processo autônomo. Cabe ao interessado optar pelo meio que lhe seja 219
mais conveniente.

ATENÇÃO! Diante da previsão do direito de regresso, pode-se questionar: é cabível a


denunciação da lide (por exemplo: comerciante, acionado judicialmente pelo
consumidor, denuncia à lide o fabricante)?

NÃO!

O art. 88 do CDC veda a denunciação da lide expressamente.

** Sabe-se que o art. 13 do CDC refere-se à responsabilidade pelo fato do produto (“o
comerciante é igualmente responsável, nos termos do artigo anterior”).

E quanto ao fato do serviço, é vedada igualmente a denunciação da lide (embora não


haja menção expressa no art. 88)?

Após divergência inicial entre as 3a e 4a Turmas do STJ, entrou-se num consenso (a 3a


Turma reviu seu posicionamento e se alinhou ao da 4a Turma), em que prevaleceu a

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
posição extensiva de que a vedação se aplica também à responsabilidade pelo fato do
serviço. (REsp 1165279, T3, Rel. Ministro Paulo de Tarso Sansevrino, DJe 28/05/2012).

3.1.1.4. AÇÕES COLETIVAS PARA A DEFESA DE INTERESSES INDIVIDUAIS


HOMOGÊNEOS

O art. 91 do CDC prevê:

Art. 91. Os legitimados de que trata o art. 82 poderão propor,


em nome próprio e no interesse das vítimas ou seus sucessores,
ação civil coletiva de responsabilidade pelos danos
individualmente sofridos, de acordo com o disposto nos artigos
seguintes.

220
Todo o Capítulo (inaugurado pelo art. 91 e até o art. 100) refere-se às ações
coletivas para a tutela de direitos individuais homogêneos.

Como visto no início desta Rodada, quando da definição desse tipo de direito,
são interesses essencialmente subjetivos, individuais, mas que, por possuírem uma
origem comum, podem ser mais interessantes de se submeterem a uma tutela coletiva,
e não individual. Depende da análise concreta da conveniência.

A ação coletiva de responsabilidade pelos danos individualmente sofridos é


uma faculdade, e não uma imposição.

Para a ação coletiva somente estão legitimados aqueles previstos no rol do


art. 82 do CDC (o particular, a vítima dos danos e seus sucessores não podem manejar
ação coletiva, embora possam ingressar individualmente em juízo).

Para o STF, trata-se de legitimidade extraordinária (substituição processual),


pois os legitimados defendem, em nome próprio, direito alheio (interesses das vítimas
ou de seus sucessores), com as ressalvas feitas com relação à legitimidade das
associações.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Vamos ao art. 92 do CDC:

Art. 92. O Ministério Público, se não ajuizar a ação, atuará


sempre como fiscal da lei.

Esse dispositivo não oferece maiores dificuldades: há obrigatoriedade de


atuação do Ministério Público, sob pena de nulidade dos atos praticados.

Para o STJ (e conforme se apreende da redação legal), quando o parquet atuar


como parte, será desnecessária sua intervenção como fiscal da ordem jurídica.

O art. 93 trata da competência territorial:

Art. 93. Ressalvada a competência da Justiça Federal, é


competente para a causa a justiça local:

I – no foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano, 221


quando de âmbito local;

II – no foro da Capital do Estado ou no do Distrito Federal, para


os danos de âmbito nacional ou regional, aplicando-se as regras
do Código de Processo Civil aos casos de competência
concorrente.

Observe-se que a definição da competência territorial é feita a partir da


dimensão/âmbito do dano.

Quando o dano ou risco de dano limitar-se ao território de determinado foro,


será de âmbito local. Neste caso, a competência será de juízos (varas) do respectivo
foro. Uma parte da doutrina entende que, caso o dano ou risco abranja poucas
localidades, ainda que em dois estados diferentes (por exemplo, um dano que atinja
duas comarcas vizinhas), continuará sendo de âmbito local e a competência será de
juízos de qualquer um dos foros atingidos ou ameaçados. Essa situação, porém, não tem
previsão legal, mas vem sendo discutida doutrinariamente.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Já se o dano ou ameaça apresenta-se sobre várias comarcas/foros de um
mesmo Estado, será de âmbito regional. Tendo em vista que o dano ou risco se
circunscreve ao território de tal Estado, a competência será de um dos juízos da sua
Capital.

Por fim, o dano ou ameaça de dano de âmbito nacional será aquele que
abranger diversas localidades/comarcas em mais de um Estado da Federação. Há quem
defenda que, além da abrangência, o dano ou ameaça deve ter impacto relevante para
o País. Nesse caso, haveria competência territorial concorrente entre o foro das Capitais
dos Estados envolvidos ou do Distrito Federal.

Essa é uma sistematização para explicar o dispositivo legal, que diz menos do
que deveria:

Classificação do dano Foro competente

- Local: um único ou poucos foros. Juízo do foro atingido (onde ocorreu ou


222
OBS: para parcela da doutrina, pode ser deveria ocorrer o dano).

inclusive em Estados vizinhos.

- Regional: diversos foros de um Estado. Juízo do foro da capital do Estado

OBS: para parcela da doutrina, pode ser atingido ou do DF, se este estiver

de mais de um Estado. envolvido/atingido.

- Nacional: mais de um Estado com Juízo do foro das capitais de quaisquer


impacto relevante. dos Estados e do DF (a competência
territorial é concorrente).

Atente-se que o dispositivo ressalva a competência da Justiça Federal. Assim,


presente uma das situações do art. 109 da CF/88 (em especial o inciso I), a competência
seguirá o ali previsto.

Passa-se ao art. 94 do CDC:

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Art. 94. Proposta a ação, será publicado edital no órgão oficial,
a fim de que os interessados possam intervir no processo como
litisconsortes, sem prejuízo de ampla divulgação pelos meios de
comunicação social por parte dos órgãos de defesa do
consumidor.

Como explicado acima, os consumidores, vítimas de consumo e eventuais


sucessores não estão legitimados a ingressarem com ação coletiva de responsabilidade
pelos danos individualmente sofridos (conforme comentários ao art. 91); a legitimidade
ativa compete aos entes previstos no art. 82 do CDC. Podem, por outro lado, intervir no
processo.

A fim de propiciar tal intervenção, deve ser publicado edital no órgão oficial,
havendo estímulo legal para que a divulgação seja a mais ampla possível.

De acordo com a previsão literal do CDC, trata-se de litisconsórcio ulterior. 223


Parte da doutrina entende que a hipótese mais se aproxima de uma assistência
litisconsorcial. De todo modo, para provas de concurso, o melhor é considerar a
literalidade do CDC (a menos que a questão faça expressa referência à posição da
doutrina).

Para o STJ, não há nulidade no caso de não ser publicado o edital previsto no
art. 94 (REsp 205.481/MG, DJ 01/08/2005).

Os arts. 95 a 98 do CDC tratam da sentença de procedência do pedido na ação


coletiva de responsabilidade pelos danos individualmente sofridos e sobre a posterior
liquidação:

Art. 95. Em caso de procedência do pedido, a condenação será


genérica, fixando a responsabilidade do réu pelos danos
causados.

Art. 96. (Vetado).

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Art. 97. A liquidação e a execução de sentença poderão ser
promovidas pela vítima e seus sucessores, assim como pelos
legitimados de que trata o art. 82.

Parágrafo único. (Vetado).

Art. 98. A execução poderá ser coletiva, sendo promovida pelos


legitimados de que trata o art. 82, abrangendo as vítimas cujas
indenizações já tiveram sido fixadas em sentença de liquidação,
sem prejuízo do ajuizamento de outras
execuções. (Redação dada pela Lei nº 9.008, de 21.3.1995)

§ 1° A execução coletiva far-se-á com base em certidão das


sentenças de liquidação, da qual deverá constar a ocorrência ou
não do trânsito em julgado.

§ 2° É competente para a execução o juízo:

I - da liquidação da sentença ou da ação condenatória, no caso


de execução individual; 224
II - da ação condenatória, quando coletiva a execução.

No caso da sentença de procedência de ação coletiva para a tutela de direitos


individuais homogêneos, será condenatória genérica, vez que não há individualização
do montante devido nem das vítimas a serem ressarcidas. Tais fatores serão apurados
em liquidação de sentença.

São incorretas, desse modo, questões e alternativas que afirmem que a


sentença será certa e específica para cada vítima ou sucessor.

A sentença, assim, limita-se a reconhecer a responsabilidade do réu pelos


danos causados. A verificação da situação de cada uma das vítimas (inclusive se são
vítimas dos fatos/eventos) ocorrerá durante a liquidação. Ou seja, a liquidação não
servirá apenas para quantificar os danos, mas igualmente para reconhecer os titulares
do direito a indenização.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
OBSERVAÇÃO: A liquidação dessas sentenças coletivas, no caso de direitos individuais
homogêneos, é denominada por Dinamarco de liquidação imprópria, uma vez que a
sentença condenatória não identifica cada uma das vítimas do evento, que, portanto,
precisam comprovar não apenas o quantum debeatur, mas igualmente a condição de
vítima do evento reconhecido na sentença (titularidade do crédito). Ou seja, o título é
subjetivamente ilíquido.

Por se tratar de condenação genérica, não se exige, na propositura da ação


coletiva, a descrição exaustiva das situações de todos os envolvidos, bastando que haja
a narrativa da origem do fato e dos danos causados, ainda que de forma exemplificativa.
É esse o entendimento do STJ:

“Em ações coletivas, é suficiente para a caracterização do


interesse de agir a descrição exemplificativa de situações
litigiosas de origem comum (art. 81, III, do CDC), que precisam 225
ser solucionadas por decisão judicial” (REsp 1395875/PE, Rel.
Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
20/02/2014, DJe 07/03/2014).

Para a Corte Cidadã, há um procedimento bifásico:

- Num primeiro momento, caracterizado pela limitação da


cognição às questões fáticas e jurídicas comuns às situações dos
envolvidos;

- Apenas posteriormente, em caso de procedência do pedido, é


que a atividade cognitiva é integrada pela identificação das
posições individuais de cada um dos substituídos.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Diferentemente da ação de conhecimento coletiva (que só pode ser proposta
pelos legitimados ativos do art. 82 do CDC), as respectivas liquidação e execução podem
ser realizadas: a) pelos legitimados coletivos do art. 82; b) pela vítima e seus
sucessores. Ou seja, pode se ter liquidação e execução individual.

Para a execução individual (vítima e sucessores), deve haver a prévia liquidação


individual.

No que tange à execução coletiva, serão por ela abrangidas aquelas situações
individuais que já tiverem sido fixadas as respectivas liquidações. O manejo da execução
coletiva para as liquidações individuais já realizadas até então não impede outras
execuções posteriores (ou anteriores).

O parágrafo único do art. 98 estabelece a competência territorial para a


execução individual e para a coletiva:

Execução individual Execução coletiva


226
Foros concorrentes: Foro único:

- da liquidação da sentença; - da ação condenatória.

- da ação condenatória.

Para a execução individual, o foro da “liquidação da sentença” pode ser o do


seu domicílio (vítima ou sucessores), em aplicação analógica do art. 101, I, do CDC, que
prevê que a ação de responsabilidade civil do fornecedor pode ser proposta no
domicílio do autor. Não faria sentido, não fosse essa possibilidade, diferenciar os foros
concorrentes para a execução individual entre o da liquidação da sentença e o da ação
de conhecimento.

No mesmo passo, já entendeu o STJ, na sistemática dos recursos repetitivos:

“a liquidação e a execução individual de sentença genérica


proferida em ação civil coletiva pode ser ajuizada no foro do

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
domicílio do beneficiário, porquanto os efeitos e a eficácia da
sentença não estão circunscritos a lindes geográficos, mas aos
limites objetivos e subjetivos do que foi decidido, levando-se em
conta, para tanto, sempre a extensão do dano e a qualidade dos
interesses metaindividuais postos em juízo (arts. 468, 472 e 474,
CPC e 93 e 103, CDC)” - REsp 1243887/PR, Rel. Ministro LUIS
FELIPE SALOMÃO, CORTE ESPECIAL, julgado em 19/10/2011, DJe
12/12/2011.

STJ: se a sentença foi proferida em ACP promovida por associação em prol de


interesses individuais homogêneos da categoria por ela representada, as vítimas que
não sejam filiadas à associação não têm legitimidade para promover a liquidação e
execução do título (REsp 1.374.678/RJ, rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 23.06.2015, DJe
04.08.2015).

A fim de finalizar o Capítulo II (“Das ações coletivas para a defesa de interesses


227
individuais homogêneos”), precisamos estudar os arts. 99 e 100 do CDC:

Art. 99. Em caso de concurso de créditos decorrentes de


condenação prevista na Lei n. 7.347, de 24 de julho de 1985 e de
indenizações pelos prejuízos individuais resultantes do mesmo
evento danoso, estas terão preferência no pagamento.

Parágrafo único. Para efeito do disposto neste artigo, a


destinação da importância recolhida ao fundo criado pela Lei n.
7.347 de 24 de julho de 1985, ficará sustada enquanto
pendentes de decisão de segundo grau as ações de indenização
pelos danos individuais, salvo na hipótese de o patrimônio do
devedor ser manifestamente suficiente para responder pela
integralidade das dívidas.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Apesar da redação um pouco obscura, o dispositivo trata de concurso de
créditos, estabelecendo a prioridade de pagamento quando se tem, de um lado, um
mesmo devedor/condenado, e, de outro, múltiplos direitos a serem ressarcidos
(difusos, coletivos e individuais homogêneos, por exemplo). O que o artigo estabelece é
a preferência de pagamento das indenizações individuais (ou seja, os danos de sujeitos
individualmente determináveis – direitos individuais homogêneos).

No que tange aos direitos difusos e coletivos (que são expressamente previstos
na LACP), havendo condenação em dinheiro (por exemplo, dano moral coletivo), a regra
é a destinação do valor a um fundo (Fundo de Direitos Difusos – FDD), cujos recursos
têm destinação vinculada à reconstituição dos bens lesados (art. 13 da LACP).

O parágrafo único explicita que, com relação a um mesmo devedor, já havendo


uma condenação referente à proteção de direitos difusos ou coletivos (stricto sensu) e
existindo ações em curso visando à tutela de interesses individuais homogêneos,
pendentes de recurso, o recolhimento de valor ao fundo ficará sobrestado, até a
resolução das demandas que tutelem direitos individualizados (de modo a assegurar,
assim, a preferência estabelecida no caput do art. 99). A exceção ao sobrestamento é o
228
caso de o patrimônio do devedor ser manifestamente suficiente para responder pela
integralidade das dívidas.

Art. 100. Decorrido o prazo de um ano sem habilitação de


interessados em número compatível com a gravidade do dano,
poderão os legitimados do art. 82 promover a liquidação e
execução da indenização devida.

Parágrafo único. O produto da indenização reverterá para o


fundo criado pela Lei n. 7.347, de 24 de julho de 1985.

Para melhor compreensão do mecanismo previsto no art. 100 é preciso ter em


mente o seguinte: as ações coletivas para a defesa de interesses individuais
homogêneos são propostas por um legitimado coletivo em prol, em tese, de todas as
vítimas/sucessores do evento danoso. A sentença condenatória genérica, em princípio,

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
abarca toda essa universalidade de pessoas (desde que comprovem a titularidade do
direito na fase de liquidação e a extensão do dano sofrido).

Pode ocorrer, porém, de nem todas as vítimas reais do evento se interessarem


em promover as competentes liquidação e execução individual, especialmente se o
valor individual de cada indenização não for atrativo financeiramente (mas, em volume,
for significativo).

Nessas situações, quando a totalidade de créditos individuais não chega a ser


executada (dentro do prazo de 01 ano), faculta-se a execução do resíduo (ou seja, a
diferença entre o valor do prejuízo total causado e as quantias individualmente
executadas por cada vítima/sucessor habilitado) aos legitimados coletivos do art. 82 do
CDC.

Ocorre que esse valor residual executado não reverte diretamente para as
vítimas do evento, e sim para o fundo criado pela LACP (no seu art. 13 e acima
mencionado) – Fundo de Direitos Difusos, cuja finalidade é a reconstituição dos bens
lesados (de forma difusa ou coletiva). A essa forma de reparação/execução a doutrina
229
atribuiu o nome de fluid recovery, haja vista que o benefício às vítimas determináveis
ocorrerá apenas de forma indireta, difusa, fluida.

3.1.1.5. AÇÕES DE RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR DE PRODUTOS E SERVIÇOS

O Capítulo III do Título III (“Da Defesa do Consumidor em Juízo) traz,


adicionalmente ao já estudado nesta Rodada, algumas normas aplicáveis às ações em
geral de responsabilidade do fornecedor, individuais ou coletivas.

Os arts. 101 e 102 do CDC preveem:

Art. 101. Na ação de responsabilidade civil do fornecedor de


produtos e serviços, sem prejuízo do disposto nos Capítulos I e II
deste título, serão observadas as seguintes normas:

I - a ação pode ser proposta no domicílio do autor;

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
II - o réu que houver contratado seguro de responsabilidade
poderá chamar ao processo o segurador, vedada a integração
do contraditório pelo Instituto de Resseguros do Brasil. Nesta
hipótese, a sentença que julgar procedente o pedido condenará
o réu nos termos do art. 80 do Código de Processo Civil. Se o réu
houver sido declarado falido, o síndico será intimado a informar
a existência de seguro de responsabilidade, facultando-se, em
caso afirmativo, o ajuizamento de ação de indenização
diretamente contra o segurador, vedada a denunciação da lide
ao Instituto de Resseguros do Brasil e dispensado o litisconsórcio
obrigatório com este.

Art. 102. Os legitimados a agir na forma deste código poderão


propor ação visando compelir o Poder Público competente a
proibir, em todo o território nacional, a produção, divulgação
distribuição ou venda, ou a determinar a alteração na
composição, estrutura, fórmula ou acondicionamento de 230
produto, cujo uso ou consumo regular se revele nocivo ou
perigoso à saúde pública e à incolumidade pessoal.

A primeira e mais importante norma é a previsão de que o consumidor pode


optar pelo foro de seu domicílio (art. 101, I). Trata-se de uma faculdade/opção, e não
imposição. Nada obsta, por exemplo, que o consumidor abra mão dessa prerrogativa e
opte por foro de eleição previsto contratualmente, conforme sua conveniência.

O STJ também já entendeu desse modo: “Se a autoria do feito pertence ao


consumidor, contudo, permite-se a escolha do foro de eleição contratual, considerando
que a norma protetiva, erigida em seu benefício, não o obriga quando puder deduzir
sem prejuízo a defesa dos seus interesses fora do seu domicílio” (CC 107.441/SP, Rel.
Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 22/06/2011, DJe
01/08/2011).

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
OBSERVAÇÃO: Esse entendimento foi recentemente cobrado em prova de magistratura
(TJ/RS - FAUGRS – 2016 – Juiz Substituto). Considerou-se incorreta a seguinte assertiva:

“O privilégio de foro previsto ao consumidor, no CDC, é uma regra absoluta de


competência, a qual nunca poderá ser dispensada, nem mesmo pelo consumidor, que
assim fica obrigado a demandar ou ser demandado no seu domicílio”.

STJ: “O magistrado pode, de ofício, declinar de sua competência para o juízo


do domicílio do consumidor, porquanto a Jurisprudência do STJ reconheceu que o
critério determinativo da competência nas ações derivadas de relações de consumo é
de ordem pública, caracterizando-se como regra de competência absoluta” (REsp
1032876/MG, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, QUARTA TURMA, julgado em
18/12/2008, DJe 09/02/2009).

A segunda norma (art. 101, II) prevê a possibilidade de chamamento ao


processo da seguradora do réu/fornecedor (não é caso de denunciação da lide), a fim
de propiciar a sua condenação solidária. Trata-se, portanto, de uma situação de 231
intervenção de terceiros expressamente autorizada pelo CDC.

No caso de falência do réu e havendo seguro de responsabilidade, ao


consumidor é facultada a propositura da ação diretamente contra o segurador, vedada
a denunciação da lide ao Instituto de Resseguros do Brasil. Perceba-se que o CDC
permite a ação direta contra a seguradora apenas na hipótese de o réu ter falido.

O STJ, porém, pareceu elastecer essa possibilidade ao editar a Súmula 529:

“No seguro de responsabilidade civil facultativo, não cabe o


ajuizamento de ação pelo terceiro prejudicado direta e
exclusivamente em face da seguradora do apontado causador
do dano”.

Ou seja, a propositura direta é possível, desde que em


litisconsórcio com o causador do dano.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
O art. 102 prevê uma forma de tutela essencialmente preventiva (de cunho
inibitório), visando compelir o Poder Público competente a proibir, em todo o território
nacional, a produção, divulgação, distribuição ou venda de produto caso o uso ou
consumo regular se revelar nocivo ou perigoso à saúde pública e à incolumidade
pessoal, ou a determinar a alteração na composição, estrutura, fórmula ou
acondicionamento desse tipo de produto.

3.1.1.6. COISA JULGADA

Chegamos a um dos pontos mais cobrados em provas objetivas no que tange


ao objeto desta Rodada.

Embora sejam múltiplas as questões e assertivas, a sua quase totalidade cinge-


se à literalidade do CDC (o mais comum é inverter os tipos de coisa julgada com relação
a cada um dos direitos coletivos lato sensu definidos no parágrafo único do art. 81).

Os arts. 103 e 104 do CDC prevêem:


232

Art. 103. Nas ações coletivas de que trata este código, a sentença
fará coisa julgada:

I - erga omnes, exceto se o pedido for julgado improcedente por


insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado
poderá intentar outra ação, com idêntico fundamento valendo-
se de nova prova, na hipótese do inciso I do parágrafo único do
art. 81 [direitos e interesses difusos];

II - ultra partes, mas limitadamente ao grupo, categoria ou


classe, salvo improcedência por insuficiência de provas, nos
termos do inciso anterior, quando se tratar da hipótese prevista
no inciso II do parágrafo único do art. 81 [direitos e interesses
coletivos];

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
III - erga omnes, apenas no caso de procedência do pedido, para
beneficiar todas as vítimas e seus sucessores, na hipótese do
inciso III do parágrafo único do art. 81 [direitos individuais
homogêneos].

§ 1° Os efeitos da coisa julgada previstos nos incisos I e II não


prejudicarão interesses e direitos individuais dos integrantes da
coletividade, do grupo, categoria ou classe.

§ 2° Na hipótese prevista no inciso III, em caso de improcedência


do pedido, os interessados que não tiverem intervindo no
processo como litisconsortes poderão propor ação de
indenização a título individual.

§ 3° Os efeitos da coisa julgada de que cuida o art. 16, combinado


com o art. 13 da Lei n° 7.347, de 24 de julho de 1985, não
prejudicarão as ações de indenização por danos pessoalmente
sofridos, propostas individualmente ou na forma prevista neste
233
código, mas, se procedente o pedido, beneficiarão as vítimas e
seus sucessores, que poderão proceder à liquidação e à
execução, nos termos dos arts. 96 a 99.

§ 4º Aplica-se o disposto no parágrafo anterior à sentença penal


condenatória.

Art. 104. As ações coletivas, previstas nos incisos I e II e do


parágrafo único do art. 81, não induzem litispendência para as
ações individuais, mas os efeitos da coisa julgada erga omnes ou
ultra partes a que aludem os incisos II e III do artigo anterior não
beneficiarão os autores das ações individuais, se não for
requerida sua suspensão no prazo de trinta dias, a contar da
ciência nos autos do ajuizamento da ação coletiva.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Há dois fatores particulares a serem levados em consideração para aferir os
tipos de coisa julgada: a) o tipo de direito coletivo envolvido; e b) o resultado da
sentença (de procedência ou improcedência).

Para os direitos difusos e coletivos stricto sensu, tem-se o seguinte regime de


coisa julgada:

- Sentença de procedência: coisa julgada material erga omnes


(interesses difusos) ou ultra partes (interesses coletivos).

- Sentença de improcedência por insuficiência de provas: haverá


apenas coisa julgada formal. Poderá ser proposta nova
demanda, desde que com prova nova.

- Sentença de improcedência por pretensão infundada: coisa


julgada material.

234
A coisa julgada material no processo coletivo só atinge o seu objeto litigioso,
que é um direito difuso ou coletivo, de modo que não prejudicará os direitos individuais
dos lesados.

Já para os direitos individuais homogêneos tem-se o seguinte regime:

- Sentença de procedência: coisa julgada material erga omnes,


que abrange todos os titulares desses direitos (todas as vítimas
e seus sucessores), também sendo atingidos favoravelmente
pela coisa julgada.

- Sentença de improcedência, por qualquer motivo: coisa


julgada, mas não erga omnes. O impedimento será apenas para
a propositura de nova ação coletiva pelos legitimados coletivos,
sendo possível o manejo de ações individuais propostas por cada
lesado.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Como o tipo de coisa julgada depende do resultado da sentença e, igualmente,
da cognição exauriente ou não do assunto (no sentido de haver provas suficientes), há
duas classificações importantes da coisa julgada nas ações coletivas:

a) Coisa julgada secundum eventum litis – é aquela que se


produz apenas na hipótese de um determinado resultado, em
especial, a procedência do pedido autoral. Na verdade, o que
ocorre com a sentença de procedência é a sua extensão
subjetiva a todos os titulares dos direitos individuais. A
sentença de improcedência (seja com base em cognição
exauriente ou com fundamento em insuficiência de provas) não
impede a propositura da ação por outros interessados. Trata-
se, por exemplo, da previsão para a sentença de procedência nas
ações coletivas que visam a tutelar direitos individuais
235
homogêneos.

OBSERVAÇÃO: Em caso de improcedência, o legitimado original da ação coletiva para


tutela de direitos individuais homogêneos e eventuais vítimas/sucessores que, à vista
da publicação do respectivo edital (conforme art. 94 do CDC), tenham intervido como
litisconsortes ativos não poderão propor a ação a título individual.

A contrario sensu, pois, em caso de improcedência do pedido, os interessados que não


tiverem intervindo no processo como litisconsortes poderão propor ação de indenização
a título individual (art. 103, § 2o, do CDC).

b) Coisa julgada secundum eventum probationis – é aquela que


se produz a depender da cognição exauriente das provas sobre
determinado caso. Aqui, faz fundamental diferença a
improcedência por insuficiência de provas e a improcedência à
vista de provas suficientes. Só haverá coisa julgada em caso de

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
improcedência se tiverem sido esgotados todos os meios de
prova; a improcedência por insuficiência de provas, por outro
lado, não gerará coisa julgada material.

É o caso da coisa julgada material nas ações coletivas para


tutela de direitos difusos (erga omnes) e coletivos (ultra partes).

Direitos
Direitos Difusos Direitos Coletivos Individuais
Homogêneos

Coisa julgada Coisa julgada Coisa julgada


Sentença de
material erga material ultra material erga
procedência
omnes. partes. omnes.

Coisa julgada Coisa julgada Faz coisa julgada


material erga material ultra material em 236
omnes. partes. relação aos

Impede novas Impede novas legitimados


ações coletivas, ações coletivas, coletivos e

mas não prejudica mas não prejudica eventuais


interesses e interesses e litisconsortes que
Sentença de
direitos individuais. direitos individuais. tenham intervido
improcedência
no processo.
(com exaurimento
Não impede a
de provas)
propositura de
ação individual
(desde que o
consumidor não
tenha atuado como
litisconsorte ativo
na demanda

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
julgada
improcedente).

Não faz coisa Não faz coisa Faz coisa julgada


julgada material julgada material material em
(coisa julgada (coisa julgada relação aos
secundum eventum secundum eventum legitimados
probationis). probationis). coletivos e

É possível a É possível a eventuais


propositura de propositura de litisconsortes que

nova ação coletiva, nova ação coletiva, tenham intervido

Sentença de desde que haja desde que haja no processo

improcedência por prova nova. prova nova. (posição do STJ).

insuficiência de Não impede a


provas propositura de
ação individual
237
(desde que o
consumidor não
tenha atuado como
litisconsorte ativo
na demanda
julgada
improcedente).

OBSERVAÇÃO: O STJ, interpretando o art. 103, inciso III e seu § 2o (que tratam da coisa
julgada nas ações coletivas em que se visa a tutelar direitos individuais homogêneos),
chegou às seguintes conclusões.

1) Se a ação coletiva envolvendo direitos individuais homogêneos for julgada


PROCEDENTE: a sentença fará coisa julgada erga omnes e qualquer consumidor pode se
habilitar na liquidação e promover a execução, provando o dano sofrido.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
2) Se a ação coletiva envolvendo direitos individuais homogêneos for julgada
IMPROCEDENTE (não importa o motivo, ou seja, inclusive por insuficiência de provas):

- os interessados individuais que não tiverem intervindo no processo coletivo como


litisconsortes (art. 94 do CDC) poderão propor ação de indenização a título individual.
Ex: os consumidores do medicamento que não tiverem atendido ao chamado do art. 94
do CDC e não tiverem participado da primeira ação coletiva poderão ajuizar ações
individuais de indenização contra a empresa.

- não cabe a repropositura de nova ação coletiva mesmo que por outro legitimado
coletivo (não importa se ele participou ou não da primeira ação; não pode nova ação
coletiva).

RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. PROCESSO COLETIVO. DIREITOS INDIVIDUAIS


HOMOGÊNEOS. MEDICAMENTO "VIOXX". ALEGAÇÃO DE DEFEITO DO PRODUTO. AÇÃO
COLETIVA JULGADA IMPROCEDENTE. TRÂNSITO EM JULGADO. REPETIÇÃO.
IMPOSSIBILIDADE. INTELIGÊNCIA DOS ARTIGOS 81, INCISO III, E 103, INCISO III E § 2º,
DO CDC. RESGUARDO DO DIREITO INDIVIDUAL DOS ATINGIDOS PELO EVENTO DANOSO.
238
DOUTRINA.

1. Cinge-se a controvérsia a definir se, após o trânsito em julgado de decisão que julga
improcedente ação coletiva para a defesa de direitos individuais homogêneos, é
possível a repetição da demanda coletiva com o mesmo objeto por outro legitimado
em diferente estado da federação.

2. A apuração da extensão dos efeitos da sentença transitada em julgado proferida em


ação coletiva para a defesa de direitos individuais homogêneos passa pela interpretação
conjugada dos artigos 81, inciso III, e 103, inciso III e § 2º, do Código de Defesa do
Consumidor.

3. Nas ações coletivas intentadas para a proteção de interesses ou direitos individuais


homogêneos, a sentença fará coisa julgada erga omnes apenas no caso de procedência
do pedido. No caso de improcedência, os interessados que não tiverem intervindo no
processo como litisconsortes poderão propor ação de indenização a título individual.

4. Não é possível a propositura de nova ação coletiva, mas são resguardados os


direitos individuais dos atingidos pelo evento danoso.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
5. Em 2004, foi proposta, na 4ª Vara Empresarial da Comarca do Rio de Janeiro/RJ, pela
Associação Fluminense do Consumidor e Trabalhador - AFCONT, ação coletiva com o
mesmo objeto e contra as mesmas rés da ação que deu origem ao presente recurso
especial. Com o trânsito em julgado da sentença de improcedência ali proferida,
ocorrido em 2009, não há espaço para prosseguir demanda coletiva posterior ajuizada
por outra associação com o mesmo desiderato.

6. Recurso especial não provido.

(REsp 1.302.596/SP, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, Rel. p/ Acórdão


Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 09/12/2015, DJe
01/02/2016).

Transporte da coisa julgada in utilibus (art. 103, § 3o) – a coisa julgada


procedente (ou seja, favorável) proferida em ações coletivas pode ser aplicável a quem
não foi parte no processo, desde que esse terceiro invoque o direito, proceda à
liquidação e execução do respectivo crédito. 239
O CDC prevê expressamente a possibilidade do transporte in utilibus da
sentença penal condenatória (art. 103, § 4o).

No CDC, a coisa julgada criminal só serve para o cível quando for in utilibus
(sentença condenatória). Na liquidação, é necessário comprovar o montante do prejuízo
sofrido, bem como a condição de vítima.

O art. 104, por sua vez, preceitua que não há litispendência entre ação
individual e ação coletiva. Dessa regra, ressai que a ação individual pode ter curso
independente da ação coletiva e que só poderá ser suspensa por iniciativa do seu autor,
bem como que, se não houver pedido voluntário de suspensão pelo autor da ação
individual à vista da ação coletiva, aquela não sofre nenhum efeito decorrente do
julgamento desta, ainda que procedente (posição do STJ: CC 47731/DF, DJ 05/06/2006).

Caso pretenda se beneficiar dos efeitos de determinada ação coletiva, ao tomar


conhecimento, nos autos de sua ação individual, da existência da ação coletiva, para
poder se beneficiar da futura coisa julgada coletiva, a vítima deverá requerer, no prazo

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
de 30 dias, a contar da ciência da existência da ação coletiva, a suspensão do seu
processo individual (CDC, art. 104).

STJ: Na hipótese dos autos, omitiu-se a parte Ré de informar o juízo no qual


tramitava a Ação Individual acerca da existência da Ação Coletiva proposta pela
Associação Nacional dos Servidores da Justiça do Trabalho-ANAJUSTRA, a fim de
propiciar ao Autor a opção pela continuidade ou não daquele primeiro feito. Desta feita,
à míngua da ciência inequívoca, não há como recusar à parte Autora a extensão dos
efeitos erga omnes decorrentes da coisa julgada na Ação Coletiva (REsp 1593142/DF,
Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em
07/06/2016, DJe 21/06/2016).

Ou seja, para a Corte Cidadã, se não for cumprido o expediente para a ciência,
na ação individual, acerca da propositura da ação coletiva, os autores daquela poderão
se beneficiar dos efeitos positivos desta.

240

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
3.2. JURISPRUDÊNCIA

NOVIDADE 2018 (Informativo 892 STF): No julgamento da ADPF 165, o Plenário do STF
admitiu a possibilidade de celebração de associações privadas celebrarem acordos em
ações coletivas, a despeito da redação literal do art. 5o, § 6o, da LACP.

A Suprema Corte entendeu que a ausência de previsão legal não configura impedimento
para tanto. O fato de o § 6o do art. 5o da LACP mencionar apenas “órgãos públicos
legitimados” dá-se porque os entes públicos somente podem fazer o que a lei
determina, ao passo em que aos entes privados é dado fazer tudo o que a lei não proíbe.

Para o Ministro Relator, outrossim, não faria sentido prever um modelo que autoriza a
justiciabilidade privada de direitos e, simultaneamente, deixar de conferir aos entes
privados as mais comezinhas faculdades processuais, tais como a de firmar acordos.

(ADPF 165/DF, Pleno, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. em 01/03/2018).

241
A eficácia subjetiva da coisa julgada formada a partir de ação coletiva, de rito ordinário,
ajuizada por associação civil na defesa de interesses dos associados, somente alcança os
filiados, residentes no âmbito da jurisdição do órgão julgador, que o fossem em
momento anterior ou até a data da propositura da demanda, constantes da relação
jurídica juntada à inicial do processo de conhecimento. STF. Plenário. RE 612043/PR, Rel.
Min. Marco Aurélio, julgado em 10/5/2017 (repercussão geral) (Info 864). Sobre o
mesmo tema, veja também: STF. Plenário. RE 573232/SC, rel. orig. Min. Ricardo
Lewandowski, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, julgado em 14/5/2014
(repercussão geral) (Info 746).

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3.3. QUESTÕES

1. (TJ/AM – Juiz substituto – 2016 – CESPE) O PROCON do estado do Amazonas, por


intermédio de seu advogado, ajuizou ação civil pública contra determinada empresa
privada de saúde suplementar, pleiteando o reconhecimento judicial da abusividade
da cláusula contratual que prevê aumento dos valores cobrados em todo o estado a
partir do momento que a pessoa atinge a condição de idoso. Requereu, também, a
restituição dos valores pagos por aqueles indivíduos que já haviam atingido a idade de
sessenta anos.

Com referência a essa situação hipotética, assinale a opção correta de acordo com o
tratamento dispensado pelo CDC à defesa do consumidor em juízo.

a) O foro competente para a propositura da ação coletiva em questão é o da sede da


empresa requerida.

b) A hipótese retrata a existência de direitos individuais homogêneos, pois os titulares


podem ser identificados e se encontram em uma mesma situação fática.
242
c) Por se tratar de ação coletiva não proposta pelo MP, a atuação deste no processo é
desnecessária.

d) A sentença de mérito fará coisa julgada erga omnes no caso de procedência do


pedido; caso contrário, o consumidor poderá intentar ação individual, ainda que tenha
integrado a demanda como litisconsorte.

e) O juiz deverá extinguir o processo sem análise do mérito, pois o PROCON não possui
legitimidade para o ajuizamento de ação coletiva.

2. (TJ/DFT – Juiz substituto – 2015 – CESPE) No que se refere à defesa do consumidor


em juízo e às ações individuais e coletivas para tutela do consumidor, assinale a opção
correta de acordo com o CDC e a jurisprudência do STJ.

a) É permitido ao consumidor individual ingressar como litisconsorte ativo em ação


coletiva em que se tutele direito individual homogêneo, hipótese em que ficará o

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
consumidor vinculado ao resultado do processo, mesmo no caso de sentença de
improcedência na ação coletiva.

b) Conforme o CDC, é expressamente proibida a instituição de compromisso arbitral e,


consequentemente, a realização de procedimento arbitral entre consumidor e
fornecedor, ainda que decorrente da livre manifestação de vontade das partes.

c) Para propor ação de responsabilidade civil do fornecedor, o consumidor autor da ação


é obrigado a fazê-lo no foro de seu próprio domicílio, sendo-lhe proibido renunciar ao
direito que possui.

d) Em ação judicial proposta pelo consumidor que tenha por objeto o cumprimento de
obrigação de fazer, é vedado ao magistrado conceder medida diversa da requerida pelo
consumidor, sob pena de se configurar julgamento extra petita.

e) A desconsideração da personalidade jurídica deve ser requerida em ação judicial


autônoma, sendo vedado ao consumidor requerer a responsabilização do sócio de
forma incidental em ação ajuizada somente contra o fornecedor pessoa jurídica.

243
3. (TJPR – Juiz Substituto – 2017 - CESPE). Determinada empresa que fabrica cervejas
divulgou propaganda de sua nova bebida, de cor escura, e estampou uma mulher
negra no anúncio, associando seu corpo às características do produto. O MP ajuizou
ACP pleiteando a alteração do anúncio, sob o argumento de que ele era racista e
sexista e que sua propagação violaria os direitos dos consumidores. Nessa ação,
também foi requerido que o magistrado fixasse dano moral coletivo.

Nessa situação hipotética, conforme a legislação aplicável ao caso e o entendimento


doutrinário sobre o tema,

a) a alegação do MP é compatível com a tipificação de propaganda abusiva, pois, no


caso, ocorreu discriminação a determinado segmento social.

b) o ônus da prova da veracidade e correção da informação publicitária incumbirá ao


MP.

c) tipificou-se violação de direitos individuais homogêneos pela fabricante de cervejas.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
d) o dano moral coletivo só estará configurado se tiver havido abalo à integridade
psicofísica das mulheres negras.

244

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
3.4. GABARITO COMENTADO

1. B

ALTERNATIVA A – INCORRETA: se o aumento abusivo (dano) dos planos de saúde deu-


se em todo o Estado, está-se diante de um dano de abrangência regional, a atrair a
competência da capital do Estado respectivo, conforme previsão do art. 93, II.

ALTERNATIVA B – CORRETA: trata-se, segundo o enunciado da questão, de lesados


(vítimas) com danos individuais subjetivos decorrentes de uma mesma origem comum,
qual seja, o aumento abusivo da mensalidade do plano de saúde em decorrência da
condição de idoso (fato de se completar 60 anos) dos usuários.

Os danos são divisíveis, a depender do tipo de plano contratado, da quantidade de


mensalidades pagas com o aumento etc. 245
A hipótese, pois, subsume-se à previsão do art. 81, parágrafo único, III, do CDC.

ALTERNATIVA C – INCORRETA: segundo o art. 92 do CDC, o Ministério Público, sempre


que não atuar como autor da ação coletiva, deverá atuar como fiscal da lei.

ALTERNATIVA D – INCORRETA: o erro da assertiva reside na sua parte final “ainda que
tenha integrado a demanda como litisconsorte”. Os efeitos da sentença de
improcedência nas ações coletivas que visem a tutelar direitos individuais homogêneos
abrangem os litisconsortes. Segundo o art. 103, § 2o, apenas aqueles que não tiverem
intervido no processo como litisconsortes é que poderão propor ação de indenização a
título individual.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
ALTERNATIVA E – INCORRETA: o art. 82, III, do CDC menciona expressamente a possível
legitimidade ativa de entes despersonalizados especificamente destinados à defesa
dos interesses e direitos consumeristas.

Em razão disso, admite-se que órgãos de defesa do consumidor despersonalizados –


como os PROCONs – manejem ações coletivas em prol de direitos dos consumidores.

2. A

ALTERNATIVA A – CORRETA.

A permissão para ingresso como litisconsorte ativo está prevista no art. 94 do CDC e a
vinculação ao resultado do processo, seja de procedência ou de improcedência, ressai
do art. 103, § 2o, do CDC.

Em caso de improcedência, o legitimado original da ação coletiva para tutela de direitos


individuais homogêneos e eventuais vítimas/sucessores que, à vista da publicação do
246
respectivo edital (conforme art. 94 do CDC), tenham intervido como litisconsortes ativos
não poderão propor a ação a título individual.

A contrario sensu, pois, em caso de improcedência do pedido, os interessados que não


tiverem intervindo no processo como litisconsortes poderão propor ação de indenização
a título individual (art. 103, § 2o, do CDC).

ALTERNATIVA B – INCORRETA.

Não há qualquer previsão nesse sentido no CDC. Somente é nula de pleno de direito a
cláusula contratual que imponha a arbitragem de forma compulsória.

ALTERNATIVA C – INCORRETA.

O consumidor pode optar pelo foro de seu domicílio (art. 101, I). Trata-se de uma
faculdade/opção, e não imposição. Nada obsta, por exemplo, que o consumidor abra
mão dessa prerrogativa e opte por foro de eleição previsto contratualmente, conforme
sua conveniência. O STJ também já entendeu desse modo: “Se a autoria do feito

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
pertence ao consumidor, contudo, permite-se a escolha do foro de eleição contratual,
considerando que a norma protetiva, erigida em seu benefício, não o obriga quando
puder deduzir sem prejuízo a defesa dos seus interesses fora do seu domicílio” (CC
107.441/SP, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em
22/06/2011, DJe 01/08/2011).

ALTERNATIVA D – INCORRETA.

O magistrado pode conceder, inclusive de ofício, medidas que visem à tutela específica
ou ao resultado prático equivalente. A mais notória delas é a possibilidade de imposição
de multa diária, independentemente de pedido da parte, conforme previsto no art. 84,
§ 4o, do CDC.

ALTERNATIVA E – INCORRETA.

Admite-se, com tranquilidade, a desconsideração da personalidade jurídica nos próprios


autos da ação de execução, sendo permitido ao consumidor requerer a
247
responsabilização do sócio de forma incidental em ação ajuizada somente contra o
fornecedor pessoa jurídica.

3. A

ALTERNATIVA A – CORRETA.

É possível identificar a alternativa correta mediante o conhecimento do teor do § 2o do


art. 36 do CDC, que exemplifica, dentre os casos de publicidade abusiva, aquela
“discriminatória de qualquer natureza”.

ALTERNATIVA B – INCORRETA.

Conforme previsão expressa do art. 38 do CDC, “o ônus da prova da veracidade e


correção da informação ou comunicação publicitária cabe a quem as patrocina”. Trata-

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
se de uma previsão de inversão do ônus da prova que decorre de disposição expressa
da lei (ope legis).

ALTERNATIVA C – INCORRETA.

O anúncio em tela, segundo o enunciado da questão, era violador da proibição de


publicidade abusiva, ante o teor discriminatório.

A publicidade abusiva atinge, de forma indivisível, um número indeterminável de


consumidores, que estarão ligados entre si por circunstâncias de fato.

Não se sabe (nem há condições de saber) todos que vieram ou virão a ser atingidos por
essa publicidade (indeterminabilidade dos sujeitos).

Dessa forma, trata-se de direitos difusos em jogo, eis que presentes suas características
principais conforme art. 81, parágrafo único, I, do CDC. Observe-se que, nesta Rodada,
apresentamos como exemplo de direitos difusos exatamente a publicidade enganosa. O
mesmo aplica-se à abusiva.
248
ALTERNATIVA D – INCORRETA.

O dano moral coletivo atinge direitos da personalidade do grupo massificado, sendo


desnecessária a demonstração de que a coletividade sinta a dor, a repulsa, a indignação,
tal qual fosse um indivíduo isolado. Essa é a posição do STJ.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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