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Legislação comentada
Comentários à Lei 13.531/2017: mudanças nos crimes de
dano e receptação
Direito Penal
Foi publicada no último dia 08/12, a Lei nº 13.531/2017, que promove alteração nas qualificadoras dos crimes
de dano (art. 163 do CP) e receptação (art. 180) envolvendo bens públicos.
CRIME DE DANO
Exemplo 1:
Mário, chateado por ter sido mal atendido, pegou um pedaço de ferro que estava na rua e desferiu golpe na
porta de vidro da Secretaria de Saúde do Estado do Amazonas, quebrando-a.
Mário praticou dano qualificado (art. 163, parágrafo único, III, do CP).
Imagine agora que Ricardo, chateado por ter sido mal atendido, pegou um pedaço de ferro que estava na
rua e desferiu golpe na porta de vidro da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, quebrando-a.
Pela redação original do art. 163, parágrafo único, III, Ricardo responderia por dano simples (art. 163, caput,
Exemplo 2:
João, chateado por ter sido mal atendido, pegou um pedaço de ferro que estava na rua e desferiu golpe na
porta de vidro de uma agência do Banco do Brasil (sociedade de economia mista federal), quebrando-a.
João praticou dano qualificado (art. 163, parágrafo único, III, do CP).
Imagine agora que Pedro, chateado por ter sido mal atendido, pegou um pedaço de ferro que estava na rua
e desferiu golpe na porta de vidro de uma agência da Caixa Econômica Federal (empresa pública federal),
quebrando-a.
Pela redação original do art. 163, parágrafo único, III, Pedro responderia por dano simples (art. 163, caput,
do CP).
O STJ entendia que não era possível incluir as empresas públicas uma vez que isso seria realizar analogia em
prejuízo ao réu, o que não é permitido no Direito Penal. Nesse sentido: STJ. 5ª Turma. RHC 57.544-SP, Rel.
Min. Leopoldo de Arruda Raposo (Desembargador convocado do TJ-PE), julgado em 6/8/2015 (Info 567).
Mais uma vez é importante esclarecer que não havia razão lógica para a lei ter feito essa distinção. O que se
pode concluir, portanto, é que houve outra falha do legislador, que se “esqueceu” de mencionar as empresas
públicas no art. 163, parágrafo único.
Dessa forma, agora resta expressamente previsto que configura dano qualificado a prática de dano cometido
contra o patrimônio:
• da União;
• de Estado-membro;
• do Distrito Federal;
• de Município;
• de autarquia;
• de fundação pública;
• de empresa pública;
• de sociedade de economia mista;
• de empresa concessionária de serviços públicos.
O § 6º do art. 180, por sua vez, prevê que a pena é maior quando a receptação envolver bens públicos. Veja
a redação original do dispositivo, ou seja, antes da Lei nº 13.531/2017:
§ 6º - Tratando-se de bens e instalações do patrimônio da União, Estado, Município, empresa concessionária
de serviços públicos ou sociedade de economia mista, a pena prevista no caput deste artigo aplica-se em
dobro.
Primeira pergunta importante. Qual é a natureza jurídica desse § 6º do art. 180 do CP? Trata-se de causa
de aumento ou de qualificadora?
1ª corrente: causa de aumento de pena. Posição de Luiz Régis Prado e Rogério Sanches.
2ª corrente: qualificadora. Opinião de Mirabete, Nucci, Capez, Greco e Masson.
Segunda pergunta importante. Essa majorante do § 6º do art. 180 do CP é aplicada a todas as espécies de
receptação?
NÃO. O § 6º menciona expressamente o caput do art. 180 do CP. Logo, esta majorante somente é aplicada à
receptação simples, própria ou imprópria, prevista no art. 180, caput do CP.
Assim, se o agente pratica a receptação prevista no § 1º do art. 180 do CP (receptação qualificada pelo
exercício de atividade comercial ou industrial) ou no § 3º (receptação culposa), mesmo o bem ou as
instalações sendo públicas, não se aplica o § 6º.
Desse modo, agora resta expressamente previsto que a pena em dobro prevista no § 6º do art. 180 do CP
A Lei nº 13.531/2017 entrou em vigor no dia 08/12/2017. Vale ressaltar que esta Lei não se aplica para os
crimes cometidos antes da sua vigência, considerando que se trata de lei penal mais gravosa. Assim, se no
dia 07/12/2017, alguém praticou dano contra o patrimônio do Distrito Federal ou de uma empresa pública,
responderá por dano simples. Da mesma forma, para as condutas de receptação cometidas até 07/12/2017,
incide a redação anterior do art. 180, § 6º.