Você está na página 1de 4

Disponibilizado para: Mathews Rodrigues Oviedo Espinosa | mathewsoviedo@gmail.com | CPF: 033.144.

900-54
Buscador Dizer o Direito - www.buscadordizerodireito.com.br
Legislação comentada
Comentários à Lei 13.531/2017: mudanças nos crimes de
dano e receptação
Direito Penal

Márcio André Lopes Cavalcante


Atualizado até 11/12/2017

Olá amigos do Dizer o Direito,

Foi publicada no último dia 08/12, a Lei nº 13.531/2017, que promove alteração nas qualificadoras dos crimes
de dano (art. 163 do CP) e receptação (art. 180) envolvendo bens públicos.

Vamos entender o que mudou:

CRIME DE DANO

O crime de dano é previsto no art. 163 do CP:


Art. 163. Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

No parágrafo único estão previstas as hipóteses de dano qualificado.


Repare na redação do inciso III do art. 163 do CP (antes da Lei nº 13.531/2017):
Parágrafo único. Se o crime é cometido:
III - contra o patrimônio da União, Estado, Município, empresa concessionária de serviços públicos ou
sociedade de economia mista;
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa, além da pena correspondente à violência.

Este inciso III possuía duas falhas:


1) Falava em União, Estado, Município, mas não mencionava o Distrito Federal;
2) Falava em empresa concessionária e sociedade de economia mista, mas não mencionava as empresas
públicas.

O que isso significava?


Vamos ver com base em dois exemplos:

Exemplo 1:
Mário, chateado por ter sido mal atendido, pegou um pedaço de ferro que estava na rua e desferiu golpe na
porta de vidro da Secretaria de Saúde do Estado do Amazonas, quebrando-a.
Mário praticou dano qualificado (art. 163, parágrafo único, III, do CP).
Imagine agora que Ricardo, chateado por ter sido mal atendido, pegou um pedaço de ferro que estava na
rua e desferiu golpe na porta de vidro da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, quebrando-a.

Legislação Comentada – Lei nº 13.531/2017 – Márcio André Lopes Cavalcante | 1


LEGISLAÇÃO COMENTADA
Lei nº 13.531/2017

Pela redação original do art. 163, parágrafo único, III, Ricardo responderia por dano simples (art. 163, caput,

Disponibilizado para: Mathews Rodrigues Oviedo Espinosa | mathewsoviedo@gmail.com | CPF: 033.144.900-54


Buscador Dizer o Direito - www.buscadordizerodireito.com.br
do CP).
Como o inciso III não falava no “Distrito Federal”, a conduta de destruir, inutilizar ou deteriorar o patrimônio
do DF não configurava o crime de dano qualificado, subsumindo-se, em tese, à modalidade simples do delito.
O STJ entendia que não se podia, neste caso, fazer analogia in malam partem a fim de ampliar o rol contido
no art. 163, III, do CP, incluindo o Distrito Federal. Nesse sentido: STJ. 6ª Turma. HC 154.051-DF, Rel. Min.
Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 4/12/2012 (Info 515).
Vale ressaltar que foi uma falha do legislador, que se “esqueceu” de mencionar o Distrito Federal no art. 163,
parágrafo único.

Exemplo 2:
João, chateado por ter sido mal atendido, pegou um pedaço de ferro que estava na rua e desferiu golpe na
porta de vidro de uma agência do Banco do Brasil (sociedade de economia mista federal), quebrando-a.
João praticou dano qualificado (art. 163, parágrafo único, III, do CP).
Imagine agora que Pedro, chateado por ter sido mal atendido, pegou um pedaço de ferro que estava na rua
e desferiu golpe na porta de vidro de uma agência da Caixa Econômica Federal (empresa pública federal),
quebrando-a.
Pela redação original do art. 163, parágrafo único, III, Pedro responderia por dano simples (art. 163, caput,
do CP).
O STJ entendia que não era possível incluir as empresas públicas uma vez que isso seria realizar analogia em
prejuízo ao réu, o que não é permitido no Direito Penal. Nesse sentido: STJ. 5ª Turma. RHC 57.544-SP, Rel.
Min. Leopoldo de Arruda Raposo (Desembargador convocado do TJ-PE), julgado em 6/8/2015 (Info 567).
Mais uma vez é importante esclarecer que não havia razão lógica para a lei ter feito essa distinção. O que se
pode concluir, portanto, é que houve outra falha do legislador, que se “esqueceu” de mencionar as empresas
públicas no art. 163, parágrafo único.

O que fez a Lei nº 13.531/2017?


Corrigiu essas duas falhas e incluiu o “Distrito Federal”, as “autarquias”, as “fundações” e as “empresas
públicas” no rol do inciso III do parágrafo único do art. 163 do CP. Compare:
Antes da Lei nº 13.531/2017 ATUALMENTE
Art. 163 (...) Art. 163 (...)
Parágrafo único. Se o crime é cometido: Parágrafo único. Se o crime é cometido:
III - contra o patrimônio da União, Estado, III - contra o patrimônio da União, de Estado, do
Município, empresa concessionária de serviços Distrito Federal, de Município ou de autarquia,
públicos ou sociedade de economia mista; fundação pública, empresa pública, sociedade de
economia mista ou empresa concessionária de
serviços públicos;

Dessa forma, agora resta expressamente previsto que configura dano qualificado a prática de dano cometido
contra o patrimônio:
• da União;
• de Estado-membro;
• do Distrito Federal;
• de Município;
• de autarquia;
• de fundação pública;
• de empresa pública;
• de sociedade de economia mista;
• de empresa concessionária de serviços públicos.

Legislação Comentada – Lei nº 13.531/2017 – Márcio André Lopes Cavalcante | 2


LEGISLAÇÃO COMENTADA
Lei nº 13.531/2017

Disponibilizado para: Mathews Rodrigues Oviedo Espinosa | mathewsoviedo@gmail.com | CPF: 033.144.900-54


Buscador Dizer o Direito - www.buscadordizerodireito.com.br
CRIME DE RECEPTAÇÃO

O Código Penal prevê o delito de receptação no art. 180:


Art. 180. Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe
ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

O § 6º do art. 180, por sua vez, prevê que a pena é maior quando a receptação envolver bens públicos. Veja
a redação original do dispositivo, ou seja, antes da Lei nº 13.531/2017:
§ 6º - Tratando-se de bens e instalações do patrimônio da União, Estado, Município, empresa concessionária
de serviços públicos ou sociedade de economia mista, a pena prevista no caput deste artigo aplica-se em
dobro.

Primeira pergunta importante. Qual é a natureza jurídica desse § 6º do art. 180 do CP? Trata-se de causa
de aumento ou de qualificadora?
1ª corrente: causa de aumento de pena. Posição de Luiz Régis Prado e Rogério Sanches.
2ª corrente: qualificadora. Opinião de Mirabete, Nucci, Capez, Greco e Masson.

Explica Cleber Masson:


“(...) o dispositivo contém uma verdadeira qualificadora. A lei é clara: a pena é aplicada em dobro. Não se
fala no aumento da pena até o dobro, mas na sua obrigatória duplicação. Portanto, a pena da receptação
simples – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa – é alterada. Continua a ser de reclusão, mas seus
limites mínimo e máximo passam a ser, respectivamente, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, sem prejuízo da multa.”
(Direito Penal Esquematizado. 3ª ed., São Paulo: Método, 2011, p. 632).

Segunda pergunta importante. Essa majorante do § 6º do art. 180 do CP é aplicada a todas as espécies de
receptação?
NÃO. O § 6º menciona expressamente o caput do art. 180 do CP. Logo, esta majorante somente é aplicada à
receptação simples, própria ou imprópria, prevista no art. 180, caput do CP.
Assim, se o agente pratica a receptação prevista no § 1º do art. 180 do CP (receptação qualificada pelo
exercício de atividade comercial ou industrial) ou no § 3º (receptação culposa), mesmo o bem ou as
instalações sendo públicas, não se aplica o § 6º.

Terceira pergunta importante. Mesmas falhas explicadas no caso do crime de dano.


A redação originária do § 6º do art. 180 do CP possuía as mesmas falhas do art. 163, parágrafo único, III, do
CP acima explicadas.
O § 6º não mencionou o “Distrito Federal” e as “empresas públicas” e não foi muito claro ao tratar sobre as
autarquias e fundações. Diante disso, a Lei nº 13.531/2017 veio para corrigir essas lacunas:
Antes da Lei nº 13.531/2017 ATUALMENTE
Art. 180 (...) Art. 180 (...)
§ 6º Tratando-se de bens e instalações do § 6º Tratando-se de bens do patrimônio da União,
patrimônio da União, Estado, Município, empresa de Estado, do Distrito Federal, de Município ou de
concessionária de serviços públicos ou sociedade autarquia, fundação pública, empresa pública,
de economia mista, a pena prevista no caput sociedade de economia mista ou empresa
deste artigo aplica-se em dobro. concessionária de serviços públicos, aplica-se em
dobro a pena prevista no caput deste artigo.

Legislação Comentada – Lei nº 13.531/2017 – Márcio André Lopes Cavalcante | 3


LEGISLAÇÃO COMENTADA
Lei nº 13.531/2017

Desse modo, agora resta expressamente previsto que a pena em dobro prevista no § 6º do art. 180 do CP

Disponibilizado para: Mathews Rodrigues Oviedo Espinosa | mathewsoviedo@gmail.com | CPF: 033.144.900-54


Buscador Dizer o Direito - www.buscadordizerodireito.com.br
aplica-se em caso de receptação envolvendo bens do patrimônio:
• da União;
• de Estado-membro;
• do Distrito Federal;
• de Município;
• de autarquia;
• de fundação pública;
• de empresa pública;
• de sociedade de economia mista;
• de empresa concessionária de serviços públicos.

A Lei nº 13.531/2017 entrou em vigor no dia 08/12/2017. Vale ressaltar que esta Lei não se aplica para os
crimes cometidos antes da sua vigência, considerando que se trata de lei penal mais gravosa. Assim, se no
dia 07/12/2017, alguém praticou dano contra o patrimônio do Distrito Federal ou de uma empresa pública,
responderá por dano simples. Da mesma forma, para as condutas de receptação cometidas até 07/12/2017,
incide a redação anterior do art. 180, § 6º.

Márcio André Lopes Cavalcante


Professor

Legislação Comentada – Lei nº 13.531/2017 – Márcio André Lopes Cavalcante | 4

Você também pode gostar