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SENTENÇA
RELATOR (A) : MIN. GUSTAVO GAYER MACHADO DE ARAÚJO
PROCESSO N.º : 0000001-2017.1.00
CLASSE – ASSUNTO : AÇÃO PENAL PRIVADA
REQUERENTE (S) : DANILO GENTILI
ADV. (A/S) : –x–
REQUERIDO (A) : SERGIO MORO
ADV. (A/S) : –x–
Trata-se de Açã o Penal Privada, protocolada pelo Deputado Danilo Gentili, do Partido
dos Trabalhadores, contra o Sr. Sergio Moro, ex-filiado do Partido dos Trabalhadores, atual
filiado do Partido Liberal, pelo crime de calú nia e difamaçã o – crimes contra a honra. A
acusaçã o relata que uma postagem do réu, feita em rede social – Facebook –, causou
repercussõ es maléficas a sua honra pessoal, por configurar a imagem do Partido dos
Trabalhadores a promessas nã o-cumpridas e diversos escâ ndalos de corrupçã o e outros
crimes. A defesa relata que em momento algum teve intuito de caluniar ou difamar pessoa
alguma, mas relatar com transparências fatos comprovados e que, em nenhuma circunstâ ncia,
o Sr. Sergio Moro, rebaixaria seu padrã o de excelência para cometer delitos tã o esdrú xulos.
A prova apresentada por Danilo Gentili relata um caso comum em que um filiado de
direita, representado o seu partido, ataca verbalmente partidos de ideologia oposta, um nosso
caso, os partidos de esquerda. No entanto, a acusaçã o acata o caso como calú nia e difamaçã o
generalizada pelo fato de o réu ter dado ênfase em seus ataques ao Partido dos Trabalhadores.
Entretanto, ao analisar o texto apresentado em material probató rio, nã o percebo indício algum
que resulte em ofensa direta à pessoa, mas sim um texto de esclarecimento e desabafo de um
ex-filiado revoltado com a situaçã o que um partido tã o forte e representativo estava levando
no contexto nacional.
A defesa apresentou sua contestaçã o por meio de arquivo digital codificado, algo que
discorda dos métodos aceitos por este Tribunal, mas rapidamente e, justificadamente, o caso
foi revertido e a contestaçã o apresentada dentro do prazo solicitado. A acusaçã o, por motivo
nã o determinado, apresentou solicitaçã o para que este relator decretasse o Sr. Sergio Moro
como revel por nã o ter apresentado defesa, algo que é contraditó rio ao dito acima; este pedido
foi negado.
Em aná lise dos preceitos do Có digo Penal, noto que o crime de calú nia e difamaçã o sã o
explicitados nos Art. 138 e 139, respectivamente, e possuem a seguinte redaçã o:
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Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por Gustavo Gayer Machado de Araújo.
O uso ou modificação deste documento deverão ser sujeitos a autorização do autor.
Deste modo, noto que para enquadrarmos um discurso fá tico como calú nia ou
difamaçã o ele deveria ter ofensa dirigida diretamente a uma determinada pessoa e nã o a um
grupo. No caso analisado, a ofensa é dirigida ao grupo de filiados do Partido dos Trabalhadores
e em momento algum é citado pronomes pessoais que evidenciem ofensa direta, sendo assim,
nã o vejo crime de calú nia ou difamaçã o no texto apresentado no material probató rio.
Diante o exposto, considerando o conteú do probató rio apresentado pela defesa e nada
além disso, bem como a relevâ ncia da liberdade de expressã o em uma sociedade democrá tica
e a reputaçã o pessoal de ambos os envolvidos, bem como a ineficá cia de demonstrar o delito
cometido, noto que tal postagem não configura o crime de calúnia ou difamação nos
moldes definidos pelos Artigos 138 e 139 do Có digo Penal.
Outrossim, entendo que a puniçã o pelo crime de calú nia ou difamaçã o nã o é apropriada
no caso em aná lise, uma vez que a manifestaçã o do réu, embora provocadora e controversa,
nã o demonstrou ofensa direta.
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