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Psicologia Jurídica
Intervenção psicológica na
Introdução ..................................................................................................................... 3
Sessão 1 ........................................................................................................................ 9
Sessão 2 ........................................................................................................................ 9
Sessão 3 ...................................................................................................................... 10
Sessão 4 ...................................................................................................................... 10
Sessão 5 ...................................................................................................................... 11
Sessão 6 ...................................................................................................................... 12
Referências Bibliográficas.......................................................................................... 13
Introdução
A definição de Psicologia Jurídica e a sua distinção de outras áreas aplicadas paralelas a este
ramo da Psicologia, como a psicologia da justiça, a psicologia forense, a psicologia legal, a
psicologia criminal ou a psicologia do comportamento desviante, entre outras, não é simples nem
consensual (Manita & Machado, 2012).
Para autores como Arce (2005), a Psicologia Jurídica é uma das áreas da psicologia aplicada
que fornece contributos para um melhor exercício do Direito, sendo esta uma conceção
particularmente utilizada sobretudo em países de língua espanhola.
As áreas de intervenção do Psicólogo neste domínio aplicado da Psicologia incluem aspetos
muito diversos, tais como a avaliação psicológica de vítimas e arguidos em processos de crime, a
avaliação psicológica de reclusos, a avaliação psicológica de pais e filhos envolvidos em processos
de regulação do exercício das responsabilidades parentais ou de adoção, a avaliação do dano pós-
traumático, a avaliação psicológica no âmbito da promoção e proteção de crianças e jovens no
âmbito tutelar educativo, assim como o acompanhamento de testemunhas particularmente
vulneráveis em tribunal, o apoio a decisões relacionadas com a reinserção social, a execução de
penas, entre outros (Manita & Machado, 2012; Barroso & Neto, 2020).
Duas das principais áreas de atuação dos Psicólogos nas prisões são o desenvolvimento,
gestão, implementação, facilitação e avaliação de programas de intervenção, o que inclui também o
processo de tomada de decisão sobre a adequação dos candidatos para os programas de intervenção
e também a formação necessária aos profissionais do corpo prisional, entre eles os guardas prisionais
(Ministry of Justice, 2018).
O presente trabalho foi desenvolvido no âmbito da unidade curricular de Psicologia Jurídica
e teve como principal objetivo o desenho de um programa de intervenção ao nível da formação de
guardas prisionais por parte de Psicólogos que integrem o contexto prisional.
Este programa de intervenção será contextualizado e apresentado em detalhe nas secções
seguintes deste trabalho e visa sobretudo dotar os guardas prisionais das competências necessárias
para a identificação e resposta atempada e adequada aos casos em que os reclusos apresentam algum
tipo de sintomatologia depressiva e, particularmente, risco de comportamentos autolesivos,
manifestação de intenção ideação suicida ou atos suicidas.
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Apresentação do Programa de Intervenção
Objetivos
O programa proposto será constituído por 6 sessões com a duração de 1 hora por sessão e
com um intervalo de uma semana entre sessões, desenvolvidas com base nos programas PIPS
(Programa Integrado de Prevenção do Suicídio; Direção-Geral de Serviços Prisionais, 2009),
Erasmus+ (Comissão Europeia, 2017) e SUPRE (World Health Organization, 2007). Todos os
programas têm vindo a apresentar claros indicadores de eficácia, já demonstrada em contexto
nacional (PIPS) e internacional (Erasmus+ e SUPRE), respetivamente.
Tal como referido pela World Health Organization (2007) no artigo “Preventing suicide in
jails and prisons”, é fundamental que estes programas sejam seguidos por um refresh realizado com
uma frequência no mínimo anual, de forma a permitir a revisão dos conhecimentos adquiridos e
também das práticas a adotar pelo corpo de guardas prisionais.
Equipa/Intervenientes
Avaliação
As prisões e instituições penitenciárias têm como um dos seus principais objetivos proteger
e assegurar a saúde e segurança da população prisional, e o seu insucesso ou fracasso nesta tarefa
coloca naturalmente questões sociais e legais, que devem ser analisadas com preocupação (World
Health Organization, 2007).
Segundo diversos autores, entre os quais Zimbardo et al. (2000), as prisões são instituições
que diminuem o sentido de humanidade, colocando em causa a natureza humana e despertando o
pior nas relações sociais entre as pessoas. Para estes autores, este contexto é tão nocivo para os
guardas prisionais como para os presos, no que se refere ao impacto destrutivo que apresenta ao
nível da sua autoestima, sentido de justiça e compaixão humana.
Zimbardo et al. (2000), referem ainda que as prisões foram desenhadas para isolar os presos
da comunidade e, inevitavelmente, deles próprios, afastando-os do suporte social necessário e
impactando o seu valor social e conexões sociais com os próximos. Diversos estudos têm vindo a
explorar os efeitos psicológicos adversos do encarceramento, nomeadamente os elevados níveis de
stress psicológico resultantes da desumanização, privação e o perigo a que os presos estão expostos,
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assim como a retraumatização que esta experiência frequentemente provoca, devido aos padrões e
normas atípicos de vivência e interação com os outros que são experienciados neste contexto
(Haney, 2012). Estes efeitos são, aliás, amplamente estudados cientificamente com resultados muito
consistentes desde o ínicio do século XIX (Haney, 2018).
Segundo Haney (2003), quando os indivíduos entram na prisão, sentem-se forçados a
adaptar-se a condições duras e rígidas, tanto ao nível da sua rotina, como ao nível da ausência da
sua privacidade e liberdade, sendo sujeitos a uma visão estigmatizada e diminuída deles próprios e
a uma vivência diária com recursos materiais e não materiais escassos e limitados.
Para este autor, o termo institucionalização é usado para descrever o processo através do
qual os presos se moldam e se transformam pelo contexto institucional em que vivem, representando
os efeitos psicológicos negativos que daí advêm. Este processo tem sido amplamente estudado por
psicólogos, sociólogos, psiquiatras, entre outros e envolve um conjunto de adaptações psicológicas
que frequentemente ocorrem a vários níveis, em resposta às exigências do período de
encarceramento (Haney, 2003).
Estas adaptações são naturais e graduais, ocorrendo normalmente em diferentes estádios e
surgindo em resposta às condições pouco naturais da vida na prisão, pelo que a disfuncionalidade
destas adaptações não é patológica na sua natureza, apesar de produzir com frequência efeitos e
consequências nocivas (Haney, 2003). É nos casos mais extremos que estas reações se podem tornar
crónicas e excessivamente interiorizadas internalizadas, o que se verifica frequentemente em
períodos de encarceramento mais longos ou com condições particularmente adversas.
Na primeira década do século XXI, mais indivíduos foram sujeitos ao encarceramento,
durante maiores períodos de tempo e com condições que provocam maior stress e potencial
disfunção a longo prazo (Haney, 2003). No entanto, segundo Haney (2012), nem todas as prisões
são iguais em termos de condições e práticas a que sujeitam os presos, assim como nem todos os
presos apresentam experiências idênticas no seu grau de suscetibilidade aos efeitos negativos do
encarceramento.
Estes efeitos psicológicos variam de indivíduo para indivíduo e são muitas vezes reversíveis,
mas são poucos os indivíduos que passam por esta experiência sem serem impactados pela mesma.
A natureza e grau de funcionalidade destas adaptações variam então de indivíduo para indivíduo,
sendo importante destacar que alguns presos são particularmente vulneráveis a estas pressões e
efeitos nocivos gerais do encarceramento. Esta vulnerabilidade deriva das suas experiências prévias,
características individuais, vulnerabilidades pré-existentes, assim como da natureza global do
contexto prisional em que se encontram, o tratamento a que são sujeitos e as experiências que
vivenciam ao longo do período de encarceramento (MacKenzie & Goodstein, 1995; Paterline &
Petersen, 1999; Walters, 2003). Muitos presos pertencem a grupos social e economicamente
marginalizados e já experienciaram muitas situações adversas e traumáticas ao longo da sua infância
e adolescência (Mullings et al., 2004). Estes fatores de risco aumentam a sua vulnerabilidade e
podem diminuir a sua capacidade de gerir os elevados de níveis de stress que por norma são
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vivenciados no contexto prisional, assim como dificultar a sua transição para a vida na comunidade,
para a qual transportam um conjunto de problemas e desafios a nível psicológico a ultrapassar.
De acordo com Haney (2003), o processo de institucionalização inclui diversas adaptações
psicológicas, entre as quais se destacam as seguintes:
1. dependência excessiva da estrutura e contingências institucionais;
2. hipervigilância e desconfiança nas relações interpessoais;
3. excessivo autocontrolo emocional, alienação e distanciamento psicológico;
4. isolamento social;
5. incorporação de normas menos ajustadas da cultura prisional;
6. diminuição do sentido de valor pessoal e próprio;
7. reações de stress pós-traumático;
Na mesma linha, segundo Haney et al. (1973), estes efeitos psicológicos negativos são
verificados tanto nos guardas prisionais, como nos presos. Estes grupos estão fechados numa relação
simbiótica que impacta a natureza humana de ambos, tendo sido identificadas consequências
adversas particularmente na população de reclusos, tais como um constante aumento do nível de
afeto negativo, desvalorização do seu valor enquanto indivíduos, perda do sentido de identidade
pessoal e o autocontrolo das suas vidas, que por sua vez dá origem a passividade, dependência e
afeto positivo diminuído.
Segundo Hocking (1970), a exposição a níveis muito elevados de stress pode resultar em
dano psicológico em qualquer circunstância, mas particularmente perante situações de ameaça ou
ausência de controlo dos indivíduos relativamente ao ambiente e contexto em que se encontram,
sobretudo durante longos períodos de tempo (Evans, 1982). Segundo Haney (2012), estes efeitos
tornam-se ainda mais preocupantes, tendo em conta que frequentemente se prolongam após o
período de encarceramento e regresso à vida em comunidade.
Ao longo do tempo, as prisões podem gradual e profundamente moldar e influenciar a forma
como os presos pensam, sentem e agem. O extremo stress que resulta da experiência de
encarceramento tem efeitos adversos diretos ao nível da saúde mental e física dos presos, mas
também indiretos, uma vez que os presos por norma adotam estratégias para se adaptarem a estes
efeitos adversos que depois se revelam disfuncionais no contexto exterior e na vida em comunidade
(Haney, 2012).
As consequências psicológicas da experiência de encarceramento representam dificuldades
e obstáculos significativos no ajustamento posterior à vida em comunidade. Estes podem interferir
no processo de transição prisão-casa e na reintegração dos reclusos nas suas redes sociais de suporte,
no seu contexto familiar e parental, assim como na sua reintegração a nível profissional (Haney,
2003).
Neste âmbito, Liebling et al. (2005) realizaram um estudo em que observaram que os níveis
de stress de 91.6% das prisões foram “extraordinariamente elevados”. Na mesma linha, Cooper e
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Berwick (2001), evidenciaram que a gravidade do stress ambiental existente em inúmeras prisões
tem claro impacto nos níveis de ansiedade e depressão experienciados pelos presos. Em casos
extremos, estes níveis de stress podem até mesmo ser desencadeadores de comportamentos
autolesivos ou tentativas de suicídio, que apresentam taxas muito elevadas neste contexto
comparativamente ao da população geral (Bland et al., 1990)
Segundo a World Health Organization (2007), este tipo de comportamentos ou
manifestações, além de produzirem consequências negativas graves nos indivíduos que as
apresentam, também representam eventos com elevado impacto para toda a população prisional,
incluindo os guardas prisionais e restantes reclusos. Estas evidências reforçam a importância de
implementar programas de prevenção e intervenção, que serão benéficos não apenas para a
população de reclusos, mas também para a instituição e para todos os seus profissionais.
De acordo com o Plano Nacional de Prevenção do Suicídio divulgado pela Direção-Geral
da Saúde (2013), quanto maior for o risco da população-alvo, mais ativo e precoce deve ser o plano
de prevenção. Neste sentido, a Direção-Geral da Saúde (2013) defende também que os programas a
implementar para intervir nesta área devem ser desenhados não apenas de forma a promover os
fatores protetores, mas também a reverter ou reduzir os fatores de risco conhecidos e devem,
naturalmente, ser devidamente monitorizados e avaliados para permitir a sua redefinição sempre que
tal seja necessário.
Nesta secção será apresentada a estrutura e os principais objetivos de cada uma das 6 sessões
desenhadas para integrar o presente programa de intervenção com intervalo de 1 semana entre
sessões. Em linhas gerais, este programa de intervenção inclui um enquadramento acerca dos fatores
que fazem com que o contexto prisional aumente a probabilidade dos indivíduos desenvolverem
sintomatologia depressiva e maior risco de comportamentos autolesivos ou suicidas, permitindo
também que os guardas prisionais fiquem a conhecer a principal sintomatologia associada, os
principais fatores de risco, fatores protetores, sinais de alerta e como os identificar.
Por outro lado, permite ainda o treino de estratégias de prevenção e promove a utilização de
normas e diretrizes de atuação adequadas perante estes casos, nomeadamente quanto aos
procedimentos a adotar na instituição ao nível da colaboração e comunicação entre os guardas
prisionais e elementos das outras equipas multidisciplinares, como os profissionais de saúde geral e
saúde mental.
Relativamente aos métodos e técnicas pedagógicas, assim como os meios e recursos
utilizados, a presente proposta envolve a sua aplicação uniforme ao longo das sessões, privilegiando-
se os métodos Expositivo, Demonstrativo e Interrogativo, assim como o debate, a partilha de
experiências entre os vários elementos do grupo de guardas prisionais e a simulação ou role-play. A
nível dos materiais, optou-se pela utilização de apresentações em formato digital (p. ex.: power
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point) e materiais em formato físico, entre os quais as checklists de observação e panfletos
informativos.
Sessão 1
Sessão 2
A segunda sessão é direcionada para a identificação dos principais fatores de risco, etiologia
e sintomatologia associada à depressão, particularmente em situações em que existe o risco de se
observarem comportamentos autolesivos, ideação suicida e atos suicidas. Nesta sessão também será
atribuído um especial enfoque na uniformização da terminologia a utilizar e será apresentada uma
checklist de observação, essencial para a identificação de indicadores de risco, a ser aplicada ao
longo da próxima semana.
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• Trabalho prático – Apresentação das normas de aplicação da checklist de observação através
da sensibilização para temática;
• Promoção de uma boa comunicação entre guardas, quer do mesmo turno quer dos restantes
turnos de modo a aumentar o foco e a sensibilidade para esta problemática. Motivar a
passagem de testemunho entre os guardas para os casos de risco observados;
• Duração: 1h.
Sessão 3
A terceira sessão assume um caráter mais prático, uma vez que irá ter como principal
objetivo a análise e debate da aplicação da checklist de observação no contexto prisional por parte
dos guardas prisionais executado ao longo da semana. É fundamental integrar este tipo de
instrumentos em programas de intervenção preventivos, uma vez que fornecem aos profissionais,
neste caso os guardas prisionais, um conjunto de questões objetivas e estruturadas a que devem
prestar atenção no seu dia a dia de trabalho, além de facilitarem a comunicação entre os mesmos e
os profissionais de saúde geral e saúde mental (Comissão Europeia, 2017). Através da identificação
dos fatores ou comportamentos de risco pelos guardas profissionais, é possível informar e ativar
estas equipas multidisciplinares com maior agilidade.
Adicionalmente, será reforçada a importância de realizar este tipo de observações com
periodicidade regular e contínua, mantendo uma atitude vigilante e atenta.
Sessão 4
Sessão 5
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Sessão 6
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Referências Bibliográficas
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