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1.Introdução
A Educação Física, para ser inserida como componente curricular e para justificar-se como
tal, deve proporcionar aos alunos o contato com um conhecimento próprio e específico da
área. Em outras palavras, tem de ensinar algo que se não for ensinado pela Educação Física,
não será ensinado por nenhum outro componente curricular, apresentando dessa forma, valor
e finalidade ao componente curricular enquanto um fenômeno educativo.
Analisada como parte da cultura humana, a Educação Física deve proporcionar ao aluno um
conhecimento organizado e sistematizado sobre as atividades físicas expressas na cultura
corporal de movimento, como: jogos, ginástica, desporto e dança (FERRAZ, 2001),
concebendo seus conteúdos sob os planos: procedimentais (ligados ao fazer), conceituais
(fatos, conceitos e princípios) e atitudinais (normas, valores e atitudes). Segundo Coll et al
(1998), estruturar as propostas curriculares em torno desses três tipos de conteúdos pode
representar uma ajuda aos professores para organizar a sua prática docente e orientá-la para a
maneira mais adequada de proceder.
O processo de ensino-aprendizagem dos conteúdos relacionados com a cultura corporal deve
levar os educandos a compreenderem, fazerem e refletirem sobre por que, para que, onde e
como realizar suas práticas corporais.

A presente pesquisa aborda sobre os procedimentos metodológicos a se tomarem em conta,


no ensino da educação física, destacando de sobre maneira a planificação das aulas e a
questão de organização do conhecimento com o intuito de agregar valores aos profissionais
dessa área na sua actividade de docência.

1. Objectivos
1.1. Geral
 Analisar os procedimentos didáticos e metodológicos empregados no ensino da
educação física.
1.2. Específicos
 Descrever os procedimentos didático-metodológicos no ensino da educação física;
 Identificar as fases da planificação no processo educativo;
 Propor um modelo estrutural de plano de aula de Educação Física.
 Identificar o conhecimento de que trata a Educação Física.
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3.Metodologia
Para a concepção do presente trabalho, foi adotado o método de pesquisa bibliográfica, que se
baseou em leitura de várias obras e artigos que abordam sobre o tema, tal como são
apresentadas as referências na última página do trabalho.

4.Procedimentos didáticos-metodológicos (Planificação)


4.1. Conceito Planificação
Segundo Haydt (2001), Planificar significa fazer a previsão das actividades que o professor
irá desenvolver na sala de aula. Definir os objectivos instrucionais ou específicos, seleccionar
os métodos e meios de ensino a serem utilizados, definir as actividades do professor e dos
alunos em cada uma das funções didácticas.
A planificação é um processo de racionalização, organização e coordenação da acção
docente, articulando a actividade escolar e a problemática do contexto social.

4.2. Níveis de planificação na área da educação


De acordo com Haydt (2001), há vários níveis de planificação, que variam em abrangência e
complexidade.
4.2.1.Planificação de um sistema educacional
Essa planificação é feita em nível sistêmico, ou seja, em nível nacional. Leva em conta a
análise e a reflexão a respeito das diversas facetas de um sistema educacional, para perceber
suas deficiências e prever alternativas de solução. A partir dessas constatações é possível
definir prioridades ou metas, definir formas de intervenção, calcular e definir custos. Esse
nível de planificação reflete a política de educação que se pretende adotar em um
determinado período. O resultado dessa planificação é dependente do jogo de forças políticas
e ideológicas presentes nas instâncias decisórias do Estado.
4.2.2. Planificação Escolar
É a planificação geral das atividades de uma unidade escolar. Nela são expressas os objetivos
a serem alcançados e a previsão de ações administrativas e pedagógicas a serem executadas
pela equipe escolar. Normalmente, a planificação escolar está expressa no Projeto Político-
Pedagógico (PPP) da escola.
4.2.3. Planificação curricular
Trata-se da previsão dos diversos componentes curriculares que serão desenvolvidos durante
o curso, com definição de objetivos gerais e a previsão dos conteúdos de ensino. Na
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elaboração do plano curricular a escola deve seguir as normas fixadas pelos órgãos
deliberativos do sistema de ensino ao qual pertence. Em muitos casos, o respectivo sistema de
ensino permite que a escola proponha ao seu conselho, componentes curriculares para a parte
diversificada. Neste caso a escola opta por alguns componentes curriculares e os submete à
aprovação do respectivo conselho.

4.2.4. Planificação didática ou de ensino


Esse é o nível de planificação que diz respeito mais diretamente aos próprios professores.
Os planos devem ser pessoais. Precisam retratar a personalidade do professor, suas
concepções individuais, sua capacitação profissional. Planos elaborados por outros, ou
mesmo por equipes de educadores, poderão ser consultados como fonte de ideias, mas nunca
deveremos copiá-los. Todo trabalho didático tem de ser criativo, jamais repetitivo
(CARVALHO apud HAYDT, 2001, p. 100).
Existem três tipos de planificação didática, com níveis de especificidade crescente:
 Plano de curso (também chamado de plano de ensino);
 Plano de unidade didática e
 Plano de aula.

4.3. Planificação no ensino de educação física


A planificação é um processo necessário para o alcance dos objectivos seja no ensino da
Educação Física, ou em qualquer área do conhecimento. Em Educação Física, de acordo com
o propósito a que se dirigem, tais objectivos podem ser agrupados em:
 Objectivos dirigidos à adquisição de novas condutas motoras;

 Objectivos dirigidos à modificação de condutas anteriores;

 Objectivos dirigidos à melhoria da condição Física;

 Objectivos dirigidos à vivência de métodos correctos de prática Física;

 Objectivos dirigidos à recreação e disfrute pessoal;

 Objectivos dirigidos à assimilação de conceitos relacionados com a Educação Física;

 Objectivos dirigidos à aquisição de hábitos, atitudes e valores positivos com o


ambiente e com as pessoas
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4.3.1. Fases da planificação no ensino de educação física


Primeira Fase: Diagnóstico
Consiste na análise da etapa educativa em que se encontra, porque esta fase influenciará não
só os passos subsequentes a tomar, como também os factores que influenciarão as decisões a
tomar antes do desenho propriamente dito.

Segunda Fase: Desenho da planificação: Destaca-se nesta fase como uma influência
inevitável os factores que não devem ser considerados como diagnóstico, por tratar-se de
factores de natureza intrínseca ao docente e que se encontram configurados pela sua própria
personalidade: crenças sobre a Educação Física e suas preferências pessoais, as experiências
prévias, a idade, os conhecimentos, etc.).
Todos estes factores pessoais do professor de Educação Física exercem um papel importante
nas decisões a tomar nesta fase do desenho da planificação. Em geral, existem cinco (05)
decisões a tomar nesta fase, que que são decisões pré activas que ajudarão a definir a
planificação inicial a desenvolver-se na fase interactiva do ensino:
 Primeira Decisão: Desenho os objectivos didácticos

 Segunda Decisão: Seleccionar os conteúdos a leccionar

 Terceira Decisão: estruturar e ordenar os conteúdos

 Quarta Decisão: garantir a progressão sequencial da complexidade dos conteúdos a


leccionar

 Quinta Decisão: Temporizar o trabalho, isto é, calendarizar todo o planificado.

Terceira Fase: Realização da planificação: Uma vez desenhada, a planificação necessitará


ser posta em prática, para comprovar os seus resultados na aula de Educação Física.
Nesta fase de realização existem dois (2) tipos de decisões a tomar:
 Decisões interactivas: a realizar dentro da aula de Educação Física;

 Decisões de mudanças (reformas): a executar na planificação, isto é, durante a sua


execução.
Quarta Fase: Avaliação da planificação: Nesta fase, destaca-se a avaliação de la
planificação depois da aplicação total do planificado, isto é, o balanço resultante da
intervenção depois da aplicação da planificação em todo o processo planificado. Depois da
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finalização da planificação, devemos tomar notas e analisar os dados recolhidos durante, e em


função destes, realizar os ajustes ou alterações importantes na planificação futura. Estas são
portanto as decisões derivadas da avaliação final.

4.3.1 Estrutura de um plano de aula de Educação física


O plano de aula é um detalhamento do plano de ensino, no qual os tópicos previstos são
sistematizados e especificados, tendo em vista uma situação didática real. É a descrição do
que vai ser desenvolvido em um dia letivo, detalhando-se as atividades a serem desenvolvidas
por alunos e professor. De acordo com Haydt (2001), ao planificar uma aula, o professor:
 Prevê os objetivos imediatos a serem alcançados (conhecimentos, habilidades,
atitudes);
 Especifica os itens e subitens do conteúdo que serão trabalhados durante a aula;
 Define os procedimentos de ensino e organiza as atividades de ensino e aprendizagem
de seus alunos;
 Indica os recursos (cartazes, mapas, jornais, livros, slides etc.) a serem utilizados
durante a aula para despertar o interesse, estimular a participação e facilitar a
compreensão;
 Estabelece procedimentos para a avaliação.

Actualmente, a maioria dos profissionais de Educação Física utiliza uma estrutura de aula
similar no momento de trabalhar com os alunos/as. O modelo ou esquema actual de aula de
Educação Física Escolar tem a seguinte estrutura:
1-Parte inicial ou aquecimento/motivação:
O professor/a de Educação Física prepara funcionalmente e motiva os alunos, mediante jogos
amenos e dinâmicos, para esforços posteriores mais intensos. Esta parte deve seguir os
seguintes pressupostos:

 Criar um clima agradável para o sucesso da aula de Educação Física;


 O acesso à instalação deve ser o mais rápido possível;
 Organizar o material antes da aula;
 Estabelecer as Tarefas de controlo de contingências e segurança;
 O início da aula deve ser um ponto de encontro onde todos possam ver e ninguém
fique de costas.
 Informar aos alunos os objectivos da aula e introduzir conteúdos conceptuais;
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 Deve ter uma duração aproximada de 5 a 10 minutos

2-Parte principal ou desenvolvimento:


Tem como objectivo propiciar Tarefas motoras para que se cumpram os objectivos didácticos
propostos. Tem como características:
 Pode iniciar-se com uma exploração do nível inicial dos alunos;

 Actividades globais e integrais centradas nos conteúdos e objectivos previstos;

 Ter em conta todos os princípios pedagógicos, problemas de organização e controlo


de contingências;

 Partir do simples ao complexo e do geral ao específico;

 Alternar intensidades em variedade de actividades lúdicas para motivar;

 Em épocas de calor, ter previsto a reposição de líquidos;

 Tem uma duração entre 30 a 40 minutos.

3-Parte final ou volta à calma


Volta-se à normalidade psíquica e fisiológica mediante actividades suaves e jogos
motivadores para que as crianças terminem com uma sensação agradável. Esta parte tem
como características:
 Serve para transferir todos os conteúdos desenvolvidos;

 Realizar tarefas de volta à calma: exercícios de esfriamento, relaxamento e respiração


quando as sessões sejam intensas para os alunos;

 Recolher o material;

 Avaliar a aula e o trabalho dos alunos oferecendo um feed-back colectivo e


específico;

 Comentar brevemente os conteúdos da próxima sessão;

 Sua duração é de 5 a 10 minutos.


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5. Metodologia do ensino de Educação Física: a questão da organização do


conhecimento
5.1. O conhecimento de que a educação física trata
A Educação Física vem sendo muito discutida actualmente sob uma perspectiva cultural, pois
constitui uma área do conhecimento que estuda e actua sobre um conjunto de práticas, ligadas
ao corpo e ao movimento, criadas pelo ser humano ao longo de sua história: os jogos, as
ginásticas, as lutas, as danças e os desportos (DAÓLIO, 1996).
Por muito tempo a Educação física escolar preocupou-se apenas com questões de cunho
biológico e de desenvolvimento, porém as novas tendências principalmente as progressistas,
começam a preocupar-se com questões sociais, e abordam a temática da cidadania nas aulas
de Educação Física escolar. Educação Física, sendo componente curricular obrigatório na
escola, deve integrar o aluno na esfera da cultura corporal de movimento, formando cidadãos
conscientes e capazes de transformar a sociedade.
Os temas da cultura corporal, tratados na escola, expressam um sentido significado onde se
interpenetram, dialeticamente, a intencionalidade/objetivos do homem e as intenções
objetivos da sociedade.
No geral, são meios fundamentais da Educação Física:
 Ginástica

 Jogos

 Desportos.

5.2. O tempo pedagogicamente necessário para o processo de aprendizagem


Uma nova compreensão da Educação Física implica considerar certos critérios pelos quais os
conteúdos serão organizados, sistematizados e distribuídos dentro de tempo pedagogicamente
necessário para a sua assimilação.
O tempo de aprendizagem activo é uma importante variável que interfere na qualidade da
aprendizagem.

Por definição, o tempo de aprendizagem ativo na Educação Física Escolar refere-se ao


período em que os aprendizes estão engajados em alguma atividade Física dentro do objetivo
da aula. Segundo Siedentop, o tempo total de uma aula de Educação Física é analisado
através das acções dos professores e alunos.
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Nesta perspectiva, segundo as acções dos professores, o tempo total de uma aula pode ser
dividido em três momentos:

1. Tempo de organização: tempo usado pelo professor para fazer a chamada, manutenção
das rotinas da aula, trocas de actividades, formação de grupos e equipas de trabalho, etc.

2. Tempo de instrução: tempo usado pelo professor para realizar as explicações da aula, as
demostrações dos exercícios, feedbacks, etc.

3. Tempo de supervisão/observação: tempo usado pelo professor para trabalhos e


observação aos alunos durante as práticas.

Já, segundo as acções dos alunos, o tempo total pode ser dividido em três momentos:
1. Tempo de empenho motor: tempo no qual o aluno realiza a actividade proposta pelo
professor;

2. Tempo de espera: período anterior, entre e posterior à realização das actividades as quais
os alunos aguardam pelo próximo acontecimento.

3. Tempo de instrução: tempo em que o aluno recebe as informações das actividades a


serem realizadas, e observa as demostrações do professor.
Graham et al (1992) dividem o tempo total de um período em quatro sub-tempos:
a) Tempo de aprendizagem activa: relacionado ao tempo no qual os alunos estão
envolvidos em alguma actividade física. Ex: recebendo uma bola; lançando para um alvo;
correndo, etc.

b) Tempo de administração: momento em que os alunos estão se dirigindo ao local da


prática ou não estão recebendo instrução ou envolvidos na actividade da aula. Ex:
respondendo a chamada; mudando de actividade; carregando equipamentos; escutando regras
de conduta ou relembrando algo, etc.

c) Tempo de instrução: ocorre quando os aprendizes estão recebendo informações sobre


como mover-se ou como desempenhar uma habilidade. Ex: como se movimentar no espaço;
discutindo as regras de um jogo; observar uma demonstração, etc.

d) Tempo de espera: refere-se ao período em que os alunos aguardam enquanto outros


colegas estão realizando uma actividade. Ex: afastado da aula por quebra de protocolo;
esperando o professor até que inicie a instrução; esperando pela vez em uma fila, etc.
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6. Conclusão
Tendo em conta as notas tomadas durante a pesquisa, podem se levantar vários aspectos
importantes em forma de considerações finais, a destacar:
 A planificação é um processo reflexivo no qual existe a necessidade de respeitar
certos princípios, porque somente desta forma pode-se sistematizar o processo e
assegurar uma certa eficácia na sua execução.
 Durante o processo de planificação concorrem numerosas decisões e todas
desempenham um papel relevante.
 A realização do plano é necessário pois este aportará à nossa planificação decisões de
reformas a implementar durante a sua execução, dotando à planificação o carácter
dinâmico que permite reavaliações contínuas.
 A gestão da aula representa um elemento primordial na eficácia do ensino das
actividades Física s e desportivas. A maximização da oportunidade de aprendizagem
proporcionada aos alunos depende, em grande medida, de uma correcta repartição do
tempo de aula, pelas diferentes funções de ensino.
 Fica claro que a optimização do tempo nas aulas guia a prática mais frequente das
habilidades motoras, que podem repercutir no desenvolvimento de hábitos de vida
saudáveis.
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7. Referências bibliográficas

BETTI, M.(1994).Valores e finalidades na educação física escolar:uma concepção sistêmica.


Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 16, n. 1, p. 14-21, out..

COLETIVO DE AUTORES. (1992), Metodologia do Ensino da Educação Física. São Paulo:


Cortez,
.
DAÓLIO, J. (1995), A ruptura natureza/cultura na Educação Física. Campinas, SP: Papirus,

DARIDO, S. C.(1998). Apresentação e análise das principais abordagens da educação física


escolar.Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 20, n. 1, p. 58-66.
FERRAZ, O. L.(2001),Os profissionais de educação infantil: intervenção e pesquisa. Revista
Paulista de Educação Física, São Paulo, v. Supl.4, p. 95-109.

GRAHAM, G.; HOLT/HALE, S; PARKER, M.(1992),Children moving: a reflective


approach toteaching physical education. Mountain View, Ca: Mayfield.

HAYDT, Regina Célia Cazaux, (2001). Curso de Didática Geral. 7ª ed. São Paulo: Ática.

HILDEBRANDT, R. & LAGING, R.(1986) Concepções abertas no ensino da educação


física.Trad. Sonnhilde van der Heide. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico

TAFFAREL, C.N.Z.(1985),Criatividade nas aulas de Educação Física. Rio de Janeiro: Ao


Livro técnico.

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