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Aula 1 – 23/02/2021........................................................................................................................................... 1
Aula 2 – 1/03/2021............................................................................................................................................. 6
Aula 3 – 02/03/2021......................................................................................................................................... 11
Aula 4 – 08/03/2021......................................................................................................................................... 16
Aula 5 – 09/03/2021......................................................................................................................................... 22
Aula 6 – 15/03/2021......................................................................................................................................... 30
Aula 7 – 16/03/2021......................................................................................................................................... 36
Aula 8 – 22/03/2021......................................................................................................................................... 39
Aula 9 – 23/03/2021......................................................................................................................................... 47
Aula 10 – 06/04/2021....................................................................................................................................... 53
Aula 11 – 12/04/2021....................................................................................................................................... 56
Aula 12 – 13/04/2021....................................................................................................................................... 64
Aula 16 – 27/04/2021....................................................................................................................................... 74
Aula 18 – 04/05/2021....................................................................................................................................... 80
Aula 19 – 11/05/2021....................................................................................................................................... 93
Aula 20 – 11/05/2021..................................................................................................................................... 104
Aula 21 – 17/05/2021..................................................................................................................................... 109
Aula 22 – 18/05/2021..................................................................................................................................... 119
Aula 1 – 23/02/2021
Sumário:
▪ Apresentação
▪ Funcionamento da disciplina
▪ Direito Fiscal, Fiscalidade e Ciência e Técnica Fiscal
▪ A autonomização do Direito Fiscal
▪ A articulação com outros ramos e saberes do Direito (Direito Constitucional, Direito Administrativo,
Direito da Segurança Social, Direito Penal, Direito do Ambiente e Direito da Contabilidade)
▪ A evolução do conceito de imposto
Bibliografia: sebenta, escolher um manual e comprar coletânea/fazer download dos diplomas na página das
finanças.
1.º momento de avaliação: consulta, feito online; comentar afirmações, expor reflexões; não vamos usar o
Respondus; câmara ligada; é um exame de reflexão
Ciência e Técnica Fiscal – é uma ciência que olha para as questões dos impostos de uma perspetiva mais
sociológica, fáctica. Limita-se a descrever o fenómeno dos impostos e da tributação.
Fiscalidade – é mais complicada de distinguir do Direito Fiscal. A Fiscalidade é uma abordagem mais
multidisciplinar: trata dos impostos, considera alguns aspetos legais; mas combina com outras vertentes,
sobretudo económico-financeira.
A Fiscalidade não se preocupa em perceber se os diplomas legais estão conformes com a Constituição, com a
técnica legislativa utilizada, etc. É mais uma preocupação económico-financeira, pragmática (como se calcula
o imposto, como se amortizam certos bens). Utilizam os mesmos códigos do Direito Fiscal mas cingem-se à
aplicação desses preceitos legais.
A abordagem do Direito Fiscal vai mais longe em termos jurídicos. O Direito Fiscal tem uma abordagem
essencialmente jurídica.
A abordagem do Direito Fiscal é sobretudo legal, normativista. Faz uma indagação mais profunda
relativamente às questões jurídicas.
A Autonomização do Direito Fiscal
O Direito Fiscal é um direito relativamente recente, assim como todo o Direito Público (que surge na sequência
da afirmação das revoluções liberais). O Direito Fiscal pertence ao Direito Público.
Apesar de ser direito público e ter surgido mais tarde, foi dos últimos ramos de direito público a ter surgido.
Surge apenas em Portugal no século XX (misturado até com o Direito Administrativo).
Contudo, isto não significa que o conceito de imposto não seja muito mais antigo.
O Direito Fiscal só surgiu de forma autónoma a partir do século XX.
O Direito Fiscal é um ramo de Direito Público porque:
▪ Através do direito fiscal são prosseguidos essencialmente interesses públicos: o propósito da tributação é
assegurar os interesses públicos da comunidade.
▪ A relação que se estabelece entre o Estado e os particulares (sujeitos ao pagamento de impostos) é uma
relação de supra-infra-ordenação: o Estado está munido do ius imperium.
No passado tentou-se aproximar o Direito Fiscal do Direito Privado, sobretudo em Itália, mas sem grande
sucesso. Hoje é pacífico que o Direito Fiscal é Direito Público.
Contudo, sem prejuízo de podermos admitir que o próprio direito privado influencia o Direito Fiscal.
A articulação com outros ramos e saberes do Direito (Direito Constitucional, Direito Administrativo,
Direito da Segurança Social, Direito Penal, Direito do Ambiente e Direito da Contabilidade)
Como é que o Direito Fiscal se articula com outros ramos de Direito?
O Direito Fiscal caracteriza-se por ser um direito de sobreposição.
Os impostos estão em todas as esferas da vida social: impostos de rendimento, impostos sobre a prestação de
serviços, impostos sobre o consumo, impostos sobre veículos, imposto de selo, impostos sobre a propriedade,
impostos sobre a poluição, impostos sobre sucessões e doações, etc.
Os impostos estão ligados a várias esferas da vida, o que obriga a que o legislador incorpore nos seus códigos
matérias de outros ramos do Direito.
▪ Direito Constitucional – exemplo relativo aos princípios constitucionais, que o Direito Fiscal e os impostos
têm de respeitar.
▪ Direito Administrativo – no direito fiscal existem relações de tipo administrativo (os particulares pagam
imposto a uma autoridade administrativa).
▪ Direito Penal – crimes fiscais
▪ Direito contraordenacional – direito contraordenacional fiscal
▪ Direito do Ambiente – também existe direito fiscal do ambiente. Existem contribuições criadas
especificamente para proteger o ambiente (ex.: IUC, que é calculado em função de vários elementos, sendo
um deles o elemento ambiental, relativo ao CO2)
▪ Direito Comercial – as sociedades são tributadas em IRC.
▪ Direito Civil – no IRS, por exemplo, temos as questões relativas ao casamento.
▪ Direito do Trabalho – questões da sujeição ao IRS por parte dos trabalhadores independentes.
▪ Direito da contabilidade – como se calcula o lucro
O Direito Fiscal é um direito de sobreposição porque utiliza o instituto de outros ramos de direito e adapta-os
à matéria do direito fiscal.
O Direito Fiscal é um direito muito abrangente, não está circunscrito a uma temática.
De entre estes ramos, há um que tem uma ligação mais estreita com o Direito Fiscal: Direito Financeiro.
Inicialmente, nas faculdades de Direito, não se estudava Direito Fiscal, mas sim Direito Financeiro.
Em termos tradicionais, todas estas matérias eram estudadas em Direito Financeiro.
O Direito das receitas divide-se em: direito patrimonial, direito tributário e direito do crédito público.
É no direito tributário que vai entroncar o Direito Fiscal.
O Direito Fiscal é “filho” do direito tributário, que é “filho” do direito das receitas, que é “filho” do Direito
Financeiro.
O Direito do crédito público tem a ver com as obrigações do tesouro, o financiamento dos mercados, etc.
A dimensão do património tem também algum relevo e está relacionado com o património do Estado que gera
rendimentos.
O Direito das despesas está relacionado com as despesas do Estado.
A relação do Direito das receitas com o direito das despesas faz surgir o Direito orçamental.
Os Estados Fiscais têm as receitas principais provenientes dos Impostos.
Os Estados Patrimoniais veem as suas receitas produzidas essencialmente pelo património do Estado.
Exemplos: Estados do médio oriente (receitas provenientes sobretudo da exploração petrolífera).
Em rigor, Direito Fiscal regula unicamente os impostos.
O ramo de direito que cuida dos outros tributos (taxas, contribuições) é o Direito Tributário.
Em rigor é assim, mas na prática, nesta UC, vamo-nos referir aos outros tributos. É inevitável.
No domínio do Direito Tributário dar-se-á uma maior importância ao Direito Fiscal.
Na prática, não é assim tão diferente estudar o Direito Tributário e o Direito Fiscal.
Trata-se de uma questão sobretudo semântica.
▪ Direito Financeiro
➢ Direito patrimonial
➢ Direito tributário
➢ Direito do crédito público
Foi por causa das questões fiscais, dos impostos, que ao longo da história da humanidade, se promoveram
Todos os impérios que se foram criando ao longo da sua história tiveram na sua base a questão fiscal. Por
exemplo, os Romanos cobravam tributos a favor do Imperador (“A Caesar o que é de Caesar, a Deus o que é
de Deus”).
Outro exemplo são as Revoluções. A Revolução Americana, por exemplo, teve na sua base a questão fiscal.
Há uns anos, nos EUA, dentro do Partido Republicano foi criada uma fação denominada de “Tea Party”, que
se referia ao contexto da Revolução Americana em que os ingleses lançaram um imposto sobre o chá sem
consultar os colonos, o que gerou a revolta que culminou com a independência dos EUA.
Há também quem defenda que a própria Revolução Francesa teve na sua base questões fiscais, pelo facto de,
antes desta acontecer, certas classes não pagavam impostos. Com a Revolução, os impostos que eram pessoais,
passaram a dirigir-se a coisas.
Mesmo na atualidade, o debate político passa pelas questões fiscais: mais impostos, menos impostos, mais
intervenção do Estado, menos intervenção do Estado.
Mais recentemente, a questão dos Coletes Amarelos, em França, foi também motivada por questões fiscais.
A própria história da democracia e o surgimento dos parlamentos modernos tem na sua base a questão fiscal.
A matéria fiscal é fraturante, na medida em que desencadeia revoluções, separa ideologias políticas, etc.
O conceito de imposto é muito mais antigo do que o Direito Fiscal. Já existe há muito tempo.
Ao longo do tempo, o conceito de imposto mudou.
Não obstante ser importante ter um conceito operativo de imposto (que permite verificar se estamos pertente
um imposto ou se esse imposto está de acordo com os princípios jurídicos constitucionais), não podemos ter
a noção que o conceito de imposto da atualidade é estático e que vai perdurar.
O conceito de imposto na época clássica não tinha nada a ver com o conceito atual porque:
▪ Não existia uma esfera pública devidamente delimitada – o imperador/sobreano/Rei confundia-se com a
esfera pública. Quando este cobrava impostos, muitas vezes estes serviam interesses pessoais.
▪ O Soberano (poder político) não estava sujeito à lei.
Na idade média existia fragmentação total (relativa aos senhores feudais). Aqui, cobrar impostos era um
apossar arbitrário dos bens dos súbditos.
A grande mudança ocorreu com as revoluções liberais, depois do absolutismo régio.
Mesmo no período liberal, o conceito de imposto não era igual ao de hoje. Estavam relacionados com o Estado
mínimo, pelo que os impostos eram uma espécie de preço, na medida em que o pagamento do imposto estava
diretamente relacionado com a utilidade que se recebia.
O imposto tinha uma nota de bilateralidade: pagava-se o imposto com vista a uma utilidade.
Com a mudança para o Estado de Direito, já não é possível relacionar o imposto que é pago com uma utilidade
concreta, dado que o Estado tem várias funções.
Aula 2 – 1/03/2021
Existem duas formas de se perspetivar o número de tributos que o ordenamento jurídico português consagra:
uma considera a existência de três tipos de tributos e a outra considera a existência de quatro tipos de tributos.
O art.º 4.º da Lei Geral Tributária (LGT) tem três números, referindo-se a impostos, taxas e contribuições
especiais, respetivamente.
No entanto, a par deste artigo, deve ser conjugado o art.º 165.º, n.º 1, al. i) da CRP. Neste artigo, encontramos
a referência a contribuições financeiras a favor de entidades públicas. Aqui reside a existência de quatro tipos
de tributos.
As contribuições especiais podem (na perspetiva da perspetiva das quatro categorias de tributos) ser
consideradas porque, à luz da parte final do art.º 4.º, n.º 3 da LGT, as contribuições especiais são um tipo de
impostos.
Categorias de tributos:
▪ Impostos
▪ Taxas
▪ Contribuições financeiras de entidades públicas
▪ Contribuições especiais – é um tipo de imposto; pode ser considerado um tributo numa perspetiva de 4
categorias de tributos.
Estas categorias de tributos são apenas sugestões. Não se trata de uma tipologia fechada.
Conceito de Imposto – é uma prestação patrimonial, unilateral, definitiva, coativa, exigida a quem tem
capacidade contributiva, reverte a favor de entidades que exercem funções públicas para a prossecução de fins
públicos e não tem caráter sancionatório.
▪ Prestação – o imposto é uma prestação no sentido em que impõe o cumprimento de uma obrigação de dare
(dar), e não uma obrigação de facere (fazer).
→ Obrigação – o art.º 31.º da LGT identifica quais são as obrigações dos sujeitos passivos
→ Constitui a obrigação principal efetuar o pagamento da dívida tributária, mas existem outros tipos de
obrigações.
▪ (Prestação) Patrimonial – a obrigação de dare corresponde a uma prestação em dinheiro, mas a prestação
também pode ser concretizada por bens diferentes de dinheiro, mas estes tem de ser avaliáveis em dinheiro
(dação em cumprimento).
▪ (Prestação) Unilateral – esta é uma característica essencial. Para que o imposto o seja de facto, tem
necessariamente de ser unilateral. Diz-se que é unilateral porque ao pagamento do imposto não está
associada nenhuma contraprestação por parte do Estado.
→ O pagamento do imposto surge por via de um comportamento do sujeito passivo e não depende de
qualquer atividade por parte da autoridade tributária.
→ Não há uma contraprestação associada ao pagamento. O sujeito passivo paga e não vê nenhuma
contraprestação associada de forma imediata e concreta.
→ Por exemplo: o António aufere um rendimento porque celebrou um contrato de trabalho por conta de
outrem. Este rendimento está sujeito a IRS e esse pagamento de IRS não tem nenhuma contraprestação
específica.
→ [Em sentido contrário, o pagamento da propina (taxa) tem como contraprestação o acesso às aulas,
por exemplo]
▪ (Prestação) Definitiva – no sentido em que uma vez pago o imposto, e sendo o imposto legalmente
exigível/devido, ele não é restituído nem reembolsável.
▪ Coativa – o imposto é uma prestação coativa porque é exigida/estabelecida por lei. não depende de ato
voluntário por parte do sujeito passivo: é o legislador que impõe a obrigação de imposto.
→ Esta lei é uma lei da AR ou de decreto-lei autorizado do Governo, nos termos do art.º 165.º, n.º 1, al.
i), da CRP.
→ Trata-se de uma obrigação ex lege, e não ex voluntat.
▪ Prestação exigida a quem manifesta capacidade contributiva – é a capacidade que a pessoa tem para
contribuir, pagando impostos.
→ O sujeito passivo manifesta capacidade contributiva através do rendimento (ex.: IRS), consumo (ex.:
IVA) e património (ex.: IMT)
→ O art.º 4.º, n.º 1 da LGT
→ A capacidade contributiva é o fundamento e o limite para pagar impostos: o contribuinte paga se tiver
rendimentos e até onde o seu rendimento permite.
▪ Prestação que reverte a favor de entidades que exerça funções públicas – podemos falar de impostos que
revertem a favor do Estado, das Autarquias Locais, da UE (ex.: direitos aduaneiros).
→ O art.º 18.º da LGT refere os sujeitos da relação tributária: quer quem exige, quer quem se tem de
sujeitar ao cumprimento.
▪ Prestação que serve para a realização de fins públicos (prossecução do interesse público) – o propósito
essencial ao pagamento de impostos é a prossecução do interesse público.
→ As receitas não estão, em regra, consignadas para fins determinados. Prosseguem fins de interesse
público, em geral.
→ Art.º 103.º, n.º 1, da CRP – remissão para o art.º 7.º e 8.º da LGT [esta remissão é especialmente
destinada à forma como os impostos são criados] e art.º 5.º e ss. da LGT.
▪ Não tem caráter sancionatório – não se confundem com as multas, coimas, juros (que podem estar
associados ao pagamento do imposto).
→ Ex.: o António atrasa-se a pagar o IRS. Os juros que são exigidos pelo atraso do pagamento têm uma
finalidade sancionatória, mas esses juros não são o imposto em si.
Destas dimensões, a unilateralidade é a característica essencial para distinguir os impostos de outras figuras.
Nota: não confundir taxa enquanto tributo da taxa enquanto elemento essencial do imposto!
Ex.: as taxas do IRS são um elemento essencial do IRS; 23% de IVA é a taxa do imposto IVA
Taxas – prestações pecuniárias, bilaterais, definitivas, coativas, que não se regem pelo princípio da capacidade
contributiva, que são exigidas por entidades públicas e que não têm fins sancionatórios.
Noção de taxa do Prof. Sérgio Vasques – prestação pecuniária, coativa, exigida por uma entidade pública, em
contrapartida de uma prestação administrativa efetivamente provocada ou aproveitada pelo sujeito passivo.
Nota: O nome que o legislador dá não releva para efeitos de distinguir se se trata de um imposto ou de uma
taxa! Temos de averiguar as características!
Aspetos fundamentais da noção de taxa, que a permitem distinguir da figura do imposto (critérios jurídicos
para distinguir imposto e taxa):
▪ Bilateralidade
→ Este princípio significa que o valor da taxa que está a ser pago é equivalente/proporcional à utilidade
que se está a retirar daquele pagamento.
→ Esta equivalência/proporcionalidade não têm de ser absolutas.
➢ Por exemplo, a taxa moderadora está fixada num valor muito inferior à utilidade que é retirada
em relação à saúde.
➢ Contudo, noutras taxas, como as propinas ou a taxa de licença de porte de arma há uma tendência
para a equivalência.
▪ Critério da voluntariedade – segundo este critério, as taxas são pagas porque há um comportamento
voluntário do contribuinte.
▪ Critério da divisibilidade da utilidade proporcionada pela taxa (doutrina do Prof. Teixeira Ribeiro) – o
pagamento da taxa existe porque há uma utilidade para o sujeito passivo que é decorrente a prestação de
uma entidade pública. De acordo com este critério, esta utilidade tem de pressupor a onerosidade (implica
o pagamento de alguma coisa) e é uma utilidade que tem de ser individualizável (é uma utilidade
individual) porque é quem paga que beneficia da utilidade.
Exemplo de caso: Há uma taxa de portagem que foi fixada em 2€ quando a utilidade que se retira daquela
autoestrada é de apenas 1€. Quid iuris?
Há uma desproporção entre o pagamento da taxa e a utilidade que se retira. Falha a desproporcionalidade.
Neste caso, inicialmente, poder-se-ia pensar que o euro a mais poderia ser considerado como um imposto
porque só em relação a 1€ é que está a existir bilateralidade. Responder-se-ia, inicialmente, que aquela
norma que criou a taxa padeceria de inconstitucionalidade porque estaríamos a falar de um imposto, e não
de uma taxa, dada a falta da característica da bilateralidade e, sendo um imposto, não foi criado pela Lei
da AR, logo é inconstitucional.
Existem, no entanto, outros entendimentos. Há quem entenda que pode existir aí o direito à devolução por
cada euro cobrado a mais. Trata-se de uma forma de enriquecimento sem causa (o Estado estaria a
enriquecer sem causa).
Poder-se-á ainda entender que estamos perante um caso de inconstitucionalidade, não por violação do
princípio da legalidade , mas sim por violação do princípio da igualdade.
Tudo o que excede a utilidade, estará a ser utilizado para fins de interesse público. O remanescente da taxa
não está a ser utilizado para aquela utilidade. O restante reverte para fins de interesse público, o que
significa que apenas as pessoas que estão a utilizar aquela autoestrada é que estão a contribuir, naquele
remanescente, a favor do interesse público. Há uma violação do princípio da igualdade (art.º 13.º, CRP)
porque esse remanescente que reverte para fins de interesse público só está a ser pago pelas pessoas
concretas que utilizam aquela autoestrada.
Para que a taxa pudesse ser realmente proporcional, ela teria de ser fixada num 1€. No caso, existe 1€
restante que está a ser vertido para um âmbito de fim público. E se o interesse que se prossegue é de fim
público, todos deveriam pagar, e não apenas aquelas pessoas.
Aula 3 – 02/03/2021
Os tributos são normalmente considerados três ou quatro: impostos, taxas, contribuições especiais (não são
bem taxas, nem impostos, mas estão mais perto de serem impostos – a LGT equipara estas a impostos) e
contribuições financeiras a favor de entidades públicas.
As taxas são próximas dos impostos. O que permite distinguir as taxas de impostos é a nota da bilateralidade
e da proporcionalidade.
De um modo geral, o imposto tem um cariz unilateral, ao passo que a taxa é dotada de bilateralidade. Em
relação ao imposto, não há uma ligação direta entre aquilo que se paga e aquilo que se recebe, ao contrário do
que sucede relativamente à taxa.
Esta bilateralidade tem de ser uma bilateralidade estrita, direta.
Relativamente à proporcionalidade/equivalência, o que determina a figura do imposto é a capacidade
económica que cada um tem que permite avaliar o imposto a pagar. Contudo, em relação às taxas, isso
normalmente não acontece.
Por vezes, existem taxas que podem ter em conta a capacidade económica das pessoas, tal como as taxas
moderadoras. Contudo, em geral, as taxas não atendem à capacidade tributária de cada um.
A questão da divisibilidade é muito importante. Está implícita na bilateralidade. Para existir a bilateralidade,
a utilidade prestada pela entidade pública tem de ser divisível e individualizada. Para além disso, a utilidade
deve também ser onerosa para podermos falar em taxa, nas palavras de Teixeira Ribeiro.
As taxas caracterizam-se essencialmente e distinguem-se dos impostos por serem bilaterais, por serem fixadas
com base no princípio da divisibilidade, por serem divisíveis, por, de modo geral, terem uma nota de
voluntariedade e pelo pagamento das taxas ser geralmente consignado.
As características essenciais da taxa são a bilateralidade, equivalência/proporcionalidade e ainda a nota da
divisibilidade, voluntariedade e consignação.
O art.º 4.º, n.º 2 da LGT faz uma categorização tributária em três tipos de taxas:
▪ Taxas de prestação em concreto de um serviço público [ex.: propinas, taxas de justiça, taxa de alteração
do capital social, etc.]
▪ Taxas de utilização de um bem do domínio público [ex.: taxas portuárias, portagens (caráter híbrido na
medida em que se pode tratar da prestação de um serviço), taxas para explorar uma esplanada, taxas de
acesso a parques naturais, etc.]
▪ Taxas de remoção de um obstáculo jurídico ao comportamento dos particulares [ex.: taxa de porte de arma,
licença para caçar, licença para construir, licença para pescar, licenças em geral, taxa de proteção civil,
etc.]
→ O Prof. João Sérgio Ribeiro considera que este terceiro tipo de taxa não se justifica porque estas
licenças pressupõem, na maior parte das situações, a prestação de um serviço. Por exemplo, se a
pessoa quer caçar, as autoridades determinarão se a pessoa é idónea para o fazer.
→ O docente considera que este terceiro tipo já é abrangido pelos dois tipos de taxas anteriores.
→ Muitas das taxas que são reconduzidas ao terceiro grupo se calhar não o são porque assentam num
artifício, ou seja, as autoridades públicas criam um obstáculo jurídico à população apenas para que
possa existir uma taxa. Trata-se de um artifício que existe para gerar receita.
→ Por exemplo, para se ter licença para pescar basta ir ao Multibanco e pagar a taxa. A pessoa pode
licença e não pescar, logo não existiria a relação de bilateralidade.
→ O prof. Sérgio Vasques nega este terceiro tipo de taxas, partindo do mesmo sentido.
→ Exemplos: taxas de proteção civil, taxas sobre a fixação de publicidade em edifícios privados (o TC
considerou durante bastante tempo que não era uma taxa, mas o seu entendimento mudou à posteriori).
→ Existem várias taxas turísticas e vários municípios que avançaram com taxas turísticas.
→ Exemplos: taxa de dormida, taxa de chegada, etc. – a taxa turística tem várias dimensões.
→ Podemo-nos questionar sobre a contrapartida desta taxa, relativamente à bilateralidade. Qual é a
contrapartida?
→ Não existe uma contrapartida direta, estrita. A contrapartida é, nestes casos, meramente eventual,
difusa.
→ Por exemplo, o turista chega e fica doente e passa os dias todos em casa de um amigo. Posteriormente,
vai embora. Não retirou nenhuma contrapartida da taxa que pagou.
→ O TC mudou de opinião, atendendo aos seguintes argumentos: a autarquia está a proporcionar uma
utilidade à entidade que vai beneficiar e essa utilidade visa proteger os valores urbanísticos, o
ambiente urbano, gestão do espaço público etc.
→ Na opinião do Prof. JSR, estas utilidades de proteção dos valores urbanísticos, etc. são indivisíveis,
pelo que estaríamos fora do domínio das taxas, dado que estas utilidades devem ser financiadas pelos
impostos.
→ Assim, essas taxas, na opinião do docente, são desproporcionadas.
→ A proteção civil não beneficia cada pessoa de uma forma direta, porque pode não vir a acontecer nada.
A utilidade é meramente eventual porque a pessoa pode nunca vir a precisar dessa proteção civil.
Trata-se de uma utilidade meramente eventual.
→ A proteção civil está, em primeira linha, direcionada para a comunidade no seu todo.
Na opinião do Prof. JSR, existem algumas utilidades que não podem ser transacionadas nem deveriam ser
consideradas taxas porque fazem parte das funções do Estado.
Devemos estabelecer limites, atendendo ao juízo de preponderância, porque existem funções básicas do
Estado que não deveriam ser conduzidas ao pagamento de uma taxa.
Nos termos do art.º 4.º, n.º 3, parte final da LGT, as contribuições especiais são consideradas como impostos.
Também no art.º 56.º da Lei das Finanças das Regiões Autónomas (Lei n.º 2/2013) e nos Estatutos Político-
Administrativos das Regiões Autónomas encontramos esta ideia de que as contribuições especiais são
impostos.
As contribuições especiais de melhoria assentam na obtenção pelo sujeito passivo de benefícios ou aumentos
de valor dos seus bens em resultado de obras públicas (art.º 4.º, n.º 2, 1.ª parte, LGT).
São contribuições que são exigidas aos sujeitos passivos quando há uma melhoria, que resulta,
consequentemente, num aumento do valor patrimonial.
Existe uma obra pública, da qual resulta uma melhoria e, consequentemente, são cobradas contribuições
especiais de melhoria aos proprietários dessas áreas.
Exemplos:
→ Na sequência das obras da zona que estava degradada e que veio a servir para a realização da Expo 98,
foram cobradas contribuições especiais de melhoria para os proprietários dessa área.
→ Ponte Vasco da Gama
→ Criação de linhas ferroviárias complementares
→ Construção de uma barragem
→ Construção de um pavilhão desportivo.
Em termos de substância, trata-se de um imposto, mas em termos de recorte é ligeiramente diferente. Existem
três pontos que sustentam que as contribuições não são impostos:
→ Existe uma ligeira nota de bilateralidade nas contribuições especiais, o que não sucede nos impostos –
Apesar de esta prestação ser muito próxima dos impostos porque há uma utilidade pública também há aqui
uma nota de bilateralidade, embora seja difusa. Por isso, também não pode ser imposto porque o imposto
é unilateral.
Aula 4 – 08/03/2021
Contribuições – são prestações pecuniárias e coativas, exigidas por uma entidade pública, em contrapartida
de uma prestação administrativa presumivelmente provocada ou aproveitada pelo sujeito passivo.
Diferença entre os conceitos de contribuições e impostos:
Nas contribuições existe uma contrapartida. Nos impostos, tal não sucede. No caso do imposto, uma das
características principais prende-se com a unilateralidade.
Nota: existem figuras a que o legislador dá o nome de impostos ou taxas, mas que, na verdade, pelas suas
características, são contribuições especiais.
Por exemplo:
➢ Taxas de gestão de resíduos – é uma contribuição especial introduzida em 2006 com o propósito de
compensar custos ambientais gerados pelas operações de gestão de resíduos.
➢ Imposto Único de Circulação (IUC) – Trata-se de um tributo que onera automóveis em função dos níveis
de emissão de CO2, cujo uso implica. É uma contribuição de maior desgaste porque é o próprio
contribuinte que, pela sua atuação, provoca um desgaste que vai ter de ser suportado pelo Estado e,
portanto, avança com uma contribuição para o desgaste que o próprio Estado está a ter.
➢ Impostos especiais sobre o consumo – há autores que reconduzem alguns consumos em particular a
contribuições de maior desgaste/despesa.
→ Imposto sobre o Tabaco – parte-se da ideia de que ao consumo de tabaco se associam problemas de
saúde, o que implicará maiores encargos em relação à saúde por parte do Estado e, portanto, trata-se
de uma contribuição para o desgaste que o próprio Estado terá.
→ Imposto de consumo de bebidas adicionadas de açúcar – parte-se da ideia de que ao consumo de
bebida adicionadas de açúcar se associam problemas de saúde, o que implicará maiores encargos em
relação à saúde por parte do Estado e, portanto, trata-se de uma contribuição para o desgaste que o
próprio Estado terá.
→ Imposto sobre o consumo de bebidas alcoólicas – parte-se da ideia de que ao consumo de bebidas
alcoólicas se associam problemas de saúde, o que implicará maiores encargos em relação à saúde por
parte do Estado e, portanto, trata-se de uma contribuição para o desgaste que o próprio Estado terá.
→ Imposto sobre os produtos petrolíferos e energéticos – está relacionado com a questão ambiental
Diferenças entre as contribuições especiais de maior despesa e as figuras dos impostos:
As contribuições especiais de maior despesa são imposições que são exigidas apenas a determinados grupos
de indivíduos. São exigidas apenas a quem adota um comportamento capaz de gerar certos efeitos.
As contribuições especiais são figuras que têm um âmbito subjetivo restrito, na medida em que apenas é
chamado ao pagamento da prestação quem adota este tipo de comportamentos.
A utilização das receitas que são arrecadadas para os fins que justificaram o estabelecimento desta
contribuição é meramente eventual.
De qualquer forma, entende-se que é aquilo que une estas figuras aos impostos é maior do que aquilo que as
separa porque se trata de uma realidade que se aproxima mais da figura dos impostos do que da figura das
taxas.
Não se tratam de taxas porque não é possível reconduzir as contribuições especiais a uma das três tipologias
de taxas (prestação de um serviço público, utilização de um bem do domínio público e remoção de um
obstáculo jurídico ao comportamento dos particulares).
Daí que a parte final do n.º 3 do art.º 4 da LGT considere a figura das contribuições especiais como impostos.
O motivo que nos leva a ter que identificar qual o tributo em concreto em questão (impostos, taxas ou
contribuições) prende-se com a definição do regime que se aplica.
Quem tem legitimidade para criar contribuições especiais é a Assembleia da República mediante Lei da AR
ou o Governo, mediante decreto-lei autorizado, nos termos do art.º 165.º, n.º 1, al. i), da CRP.
Este artigo não se refere especificamente às contribuições especiais, mas ao referir-se a “impostos”, e tendo
em conta que no art.º 4.º, n.º 3 da LGT o legislador considera as contribuições especiais como impostos,
conclui-se que no que respeita ao regime de criação das contribuições especiais se aplica o mesmo regime.
Três palavras-chave: efetividade nas taxas, presunção nas contribuições e eventualidade nos impostos.
Esquema:
O legislador não faz uma referência expressa às contribuições financeiras a favor das entidades públicas na
LGT. Encontra-se, no entanto, uma referência a esta figura no art.º 165.º, n.º 1, al. i) da CRP, quando o
legislador se refere ao regime geral das taxas e das contribuições financeiras a favor de entidades públicas.
As contribuições financeiras a favor de entidades públicas têm como características principais: a bilateralidade
grupal e a proporcionalidade entre a prestação e a contraprestação grupal, pelo que se trata de um tributo que
se aproxima mais da figura de taxa do que da figura do imposto, para além de que o seu regime geral é o
mesmo a que se encontra sujeita a figura de taxa.
Estas figuras das contribuições financeiras a favor de entidades públicas surgem com a Revisão Constitucional
de 1997. Surgem pela circunstância de, à data, serem abundantes as imposições que não se reconduziam ao
nem ao conceito de imposto, nem ao conceito de taxas, na sua pureza dos seus conceitos.
Era necessário perceber qual o regime aplicável a estas figuras.
Até à Revisão Constitucional de 1997, em caso de dúvida sobre estas imposições, era adotada a posição que
as qualificava com a figura do imposto porque a exigência constitucional associada 0é, no caso do imposto,
mais elevada, na medida em que é exigida uma Lei da AR ou Decreto-lei autorizado do Governo.
Contudo, a feitura de leis em termos de procedimento a adotar é mais exigente, não sendo consentânea com a
urgência que por vezes existe na criação destas imposições. Era necessário facilitar a criação destas
imposições, sendo esse o motivo pelo qual, nos termos do art.º 165.º, n.º 1, al. i) da CRP, apenas o regime
geral das contribuições financeiras a favor de entidades públicas é que está sujeito a Lei da AR ou a Decreto-
lei autorizado do Governo.
Tal significa que uma contribuição financeira pode ser criada nos mesmos termos em que uma taxa qualquer
também o é.
→ Existe bilateralidade, mas há também unilateralidade, na medida em que existe um interesse público
subjacente.
→ Por exemplo: é do interesse público que o exercício da função de advogado seja condicionado por um
estatuto específico (Estatuto da Ordem dos Advogados), sendo uma atividade controlada pela própria
Ordem.
➢ Quotizações para ordens profissionais – por exemplo, os Advogados necessitam de estar inscritos na
Ordem dos Advogados e proceder ao pagamento das quotas à ordem dos Advogados.
→ Existe bilateralidade porque as contribuições para a Segurança Social são pagas pelos trabalhadores
com o propósito de, numa situação concreta de maior debilidade/fragilidade económica, o Estado
apoiar os trabalhadores. Trata-se de uma contrapartida em concreto pela assistência que o Estado
garante em situações especiais (ex.: situação de paternidade, maternidade, desemprego)
→ No entanto, também é possível identificar-se a característica da unilateralidade: um trabalhador pode
contribuir para a Segurança Social e nunca vir a beneficiar de qualquer prestação por nunca ter
precisado; como também poderão existir pessoas que não contribuam para a Segurança Social e
venham a beneficiar de assistência social, pelas condições em que se encontram.
→ Estas contribuições não se reconduzem nem à figura das taxas nem à figura dos impostos porque é
possível encontrar bilateralidade e unilateralidade. Ainda assim, o fator que pesa mais na qualificação
destas figuras é o da bilateralidade.
▪ Taxas reguladoras – tributos que são devidos a entidades públicas menores, integrantes na Administração
Indireta, ou então dotadas de um estatuto independente, e são pagos, em contrapartida, de uma atividade
continuada de regulação de setores económicos em concreto.
→ Trata-se de entidades que têm um estatuto próprio, que exercem uma atividade de regulação (regulam
a forma como determinadas atividades são concretizadas) e os respetivos regulados procedem ao
pagamento de taxas reguladoras.
→ As taxas reguladoras podem ser qualificadas como contribuições e ter o seu regime mais próximo ao
das taxas porque se entende que é do interesse do regulado ver a sua atividade controlada, dado que a
entidade reguladora desencadeia a proteção da concorrência, gerando a forma como as diversas
entidades que se dedicam a um determinado setor/serviço desencadeiam a sua função.
→ Existe bilateralidade na medida em que a taxa é paga porque existe regulação.
→ No entanto, apesar de ser possível identificar o fator da bilateralidade, também é possível identificar
o fator da unilateralidade, subjacente a estas taxas reguladoras, porque a regulação também tem a si
associada a prossecução do interesse público.
→ A regulação reconhece a existência de um interesse público a considerar.
→ A questão da unilateralidade ganha um particular peso se se considerar que para o regulado, na
verdade, a regulação é uma forma de condicionar a sua atividade, restringindo a sua liberdade, isto é,
o regulado não pode atuar no mercado como quer. O próprio regulado pode ver o pagamento da taxa
como uma regulação que dispensava.
No entanto, uma parte da doutrina, onde se inclui o Prof. Sérgio Vasques, defende que enquanto não for criado
o regime geral das contribuições financeiras a favor das entidades públicas (a que art.º 165.º, n.º 1, al. i) da
CRP faz referência), então, por uma questão de segurança e certeza jurídicas, estas figuras deveriam ser criadas
por Lei da AR ou por decreto-lei do Governo.
Há uma parte da doutrina que entende que enquanto não for criado o regime geral das contribuições financeiras
a favor das entidades públicas (referenciadas no art.º 165.º, n.º 1, al. i), CRP), então a contribuição
propriamente dita deve seguir as exigências de legalidade previstas no art.º 165.º da CRP.
Aula 5 – 09/03/2021
1) MONOPÓLIO:
Um monopólio pode ter várias origens. Existe um monopólio quando há apenas uma empresa a prestar um
serviço em regime de exclusividade, não tendo concorrentes.
▪ Monopólio natural – existe uma empresa que, por si só, elimina a concorrência de forma natural, no âmbito
da sua atividade
▪ Monopólio legal – são monopólios constituídos por via legal para que uma determinada atividade seja
reservada ao Estado, seja por uma questão estratégica, seja por uma questão de perigo.
▪ Monopólios Fiscais – têm uma origem legal, mas o seu propósito é o de gerar receitas adicionais, pois se
o Estado for o único produtor a prestar certos serviços pode praticar preços superiores, dado que não tem
concorrência.
Os monopólios fiscais não são verdadeiros impostos porque um imposto é uma obrigação de dare, ao passo
que o monopólio fiscal consiste numa omissão, sendo, por isso, uma obrigação de non facere.
Contudo, pode existir uma aproximação ao conceito de imposto quando o Estado, ao produzir determinados
bens e prestar determinados serviços, praticar preços que excedam bastante o valor que reflete o custo/utilidade
do bem ou do serviço prestado. Se essa diferença for manifestamente excessiva ou desproporcionada, poderá
existir nessa componente um imposto.
2) PREÇO:
O preço não é um imposto porque o imposto é unilateral, não pressupondo uma contrapartida direta, enquanto
o preço é bilateral, na medida em que o seu pagamento tem como consequência receber algo em troca.
Para além disso, o imposto é de fonte legal (criado por lei), ao passo que o preço se forma a partir da livre
ação da oferta e da procura.
Existem casos excecionais em que os preços estão tabelados, mas ainda assim, a característica da bilateralidade
está presente, o que permitiria distingui-los dos impostos.
Os preços distinguem-se das taxas pela criação.
▪ Critérios económico-financeiros:
→ Subcritério económico – este critério encontra-se desatualizado. Este critério tem em conta a natureza
económica dos impostos, ou seja, a sua integração ou não nos custos de produção das empresas.
Segundo este critério os impostos diretos são aqueles que não constituem custos de produção das
empresas (designadamente, o IRC) e os impostos indiretos são aqueles que constituem custos das
empresas.
→ Subcritério da repercussão económica – é um critério altamente falível. Segundo este critério, os
impostos diretos não podem ser repercutidos na pessoa e os impostos indiretos podem ser repercutidos
na pessoa.
➢ Este é um critério altamente falível porque, por exemplo, os advogados podem fixar os seus
honorários de forma a serem os seus clientes a pagarem os seus impostos, o que consistiria na
repercussão do imposto na esfera jurídica da pessoa.
▪ Critérios jurídicos
→ Subcritério do role nominativo – este critério já não existe atualmente. Segundo este critério, os
impostos diretos seriam aqueles que assentariam numa lista de roles nominativos, isto é, uma lista de
todos os contribuintes que estavam sujeitos à tributação. Os impostos indiretos seriam aqueles para
os quais não existiria uma lista nominativa.
→ Subcritério do tipo de relação jurídica que está na base do imposto – este é o critério que prevalece e
que é utilizado, estando presente, inclusivamente, nos artigos 112.º e 113.º do TFUE. Este subcritério
separa os impostos diretos dos impostos indiretos, tendo em consideração o tipo de relação jurídica
que está na base do imposto. Segundo este critério, os impostos diretos são aqueles que têm na sua
base uma relação jurídica estável e que dão origem a obrigações fiscais periódicas (ex.: IRS e IRC:
alguém que paga IRS faz parte de uma relação estável de emprego, que produz rendimento,
implicando o pagamento de impostos de forma periódica). Os impostos indiretos são aqueles cujo tipo
de relação que se encontra na base do imposto é distinta, na medida em que se trata de um facto
isolado, não pressupondo uma relação direta estável (ex.: uma pessoa compra água, paga o IVA e a
relação termina).
➢ Este subcritério é tão importante/relevante que foi autonomizado de modo a constituir um critério
autónomo para salientar essa importância: critério que demarca impostos periódicos de impostos
de obrigação única.
▪ Impostos periódicos – têm na sua base uma relação jurídica estável e continuada.
▪ Impostos de obrigação única – têm na sua base uma relação jurídica instantânea/momentânea, localizada
e isolada.
Os impostos reais estão relacionados com a componente objetiva e os impostos pessoais estão relacionados
com a componente subjetiva.
Esta classificação pretende aferir sobre qual das duas componentes é aquela que tem uma base mais acrescida,
para, com isso, classificar os impostos em impostos reais ou pessoais.
▪ Impostos reais – a componente objetiva tem uma base acrescida. O sujeito passivo é entendido de uma
forma distanciada, não sendo considerada a sua situação pessoal.
▪ Impostos pessoais – a componente subjetiva tem uma base acrescida. Atende-se à situação concreta do
sujeito passivo, tendo em consideração, por exemplo, se este é casado, se tem filhos, se tem rendimentos
maiores ou menores, etc.
→ O exemplo máximo de imposto pessoal é o IRS, sendo o único imposto verdadeiramente pessoal
Existem impostos mais pessoais do que outros. O único imposto verdadeiramente pessoal é o IRS, sendo que
os restantes se encontram no campo dos impostos reais, apresentando, contudo, diferentes gradações, podendo
aproximar-se mais ou menos dos impostos pessoais.
Os impostos são mais ou menos pessoais consoante as suas características coincidam mais ou menos com as
características dos impostos pessoais.
O IRC, por exemplo, é um imposto que se encontra entre os impostos pessoais e os impostos reais, mas que
se aproxima face ao IRS.
Mesmo o IVA, que não considera a situação do sujeito passivo, taxa os produtos de forma diferente, o que
pode levar a que de uma forma muito indireta se aproxime da componente pessoal porque se pensa que pessoas
mais pobres consomem produtos que são taxados com taxas mais baixas.
▪ Impostos de prestação fixa – são impostos em que se dispensa o lançamento da tributação, sendo o imposto
dado na sua vertente numérica.
→ Exemplos [já não existem muitos]: taxa militar, contribuição para o audiovisual.
▪ Impostos de prestação variável – são impostos cujo montante varia em função da variação da matéria
coletável. Correspondem a quase todos os impostos. [ex.: IVA]
→ Impostos progressivos – são aqueles em que a variação da proporção/taxa é ascendente, isto é, a taxa
aumenta conforme aumenta a base do imposto [ex.: IRS, IRC, IMT].
→ Impostos regressivos – são aqueles em que a variação da proporção/taxa é descendente, isto é, a taxa
diminui conforme aumenta a base do imposto.
→ Impostos proporcionais (ou de taxa fixa) – são aqueles em que a proporção/taxa é fixa.
▪ Impostos estaduais – o beneficiário/sujeito ativo do imposto é o Estado central (ex.: IVA, IRS, Impostos
sobre o consumo)
▪ Impostos não estaduais – têm como beneficiário/sujeito ativo entes públicos territoriais distintos do
Estado, tal como as Autarquias Locais (impostos locais) ou as Regiões Autónomas (impostos regionais)
→ Ex.: IMI, IMT, ISV (impostos não estaduais locais municipais)
▪ Impostos gerais – estão previstos na lei de modo a aplicarem-se a toda uma categoria de situações
homogéneas.
→ Exemplos: IRS (imposto geral sobre o rendimento), IRC (imposto geral sobre o rendimento), IVA
(imposto geral sobre o consumo), etc.
▪ Impostos especiais – são impostos que são objeto de uma disciplina jurídica especial, isto é, referem-se
unicamente a um certo tipo de consumos
→ Exemplos: impostos especiais sobre o consumo (tabaco, bebidas alcoólicas, produtos petrolíferos e
energéticos), IMT, IMI, etc.
▪ Impostos principais – existem por si, não dependendo da existência prévia de qualquer outro imposto [ex.:
IRS, IRC].
▪ Impostos acessórios – dependem da existência prévia de outros impostos. Seguem as vicissitudes dos
impostos principais de que dependem [ex.: a derrama municipal depende da existência de IRC a pagar
pela sociedade]
▪ Impostos de repartição – são impostos com vista a atingir um valor estipulado, sendo esse valor definido
para que, posteriormente, esse valor seja repartido em forma de tributação pelos contribuintes
→ Ex.: imagine-se que o Governo precisa de 200 milhões de euros. Para isso, parte deste valor e reparte-
o pelos sujeitos passivos].
▪ Impostos de quotidade – são impostos que partem da fixação de uma taxa, sendo o montante do imposto
dependente da base a que se aplica a taxa [correspondem à maioria dos impostos].
IMPOSTOS ESPECÍFICOS E IMPOSTOS AD VALOREM:
▪ Impostos ad valorem – significa que o imposto tem na sua base um valor de rendimento, um preço, um
montante do lucro, etc.
▪ Impostos fiscais – são os impostos que têm por fim gerar receitas. Correspondem à maioria dos impostos.
▪ Impostos extrafiscais – são impostos que, embora gerem receitas, desempenham outras funções que
extrapolam o objetivo da receita propriamente dita. Têm em vista estimular comportamentos, conduzir e
corrigir políticas sociais, corrigir externalidades negativas, etc.
→ Exemplo: imposto sobre as lâmpadas de baixa deficiência energética – tem como objetivo acabar com
o consumo destas lâmpadas
Em bom rigor, todos os impostos têm uma componente fiscal e, de algum modo, uma componente extrafiscal.
A classificação em impostos deste tipo vai depender da preponderância dada a cada uma das componentes.
Mesmo os impostos que, à primeira vista, sejam classificados como extrafiscais, não deixam de ter como
objetivo gerar receitas. O imposto sobre o tabaco, por exemplo, tem como principal objetivo combater o
tabagismo, mas o seu montante não é demasiado elevado porque o Estado também pretende, de certa forma,
auferir receitas sobre eles.
▪ Impostos sobre o rendimento – são aqueles que incidem sobre os acréscimos patrimoniais ou de riqueza
que ocorrem na esfera do sujeito passivo, qualquer que ele seja, tenham uma fonte estável ou fortuita.
→ IRS; IRC; derrama municipal; derrama estadual
▪ Impostos sobre o património – são aqueles que incidem sobre a acumulação de rendimento.
→ IMT; IMI; parte do Imposto de Selo (doações, transmissões gratuitas)
▪ Impostos sobre o consumo – são aqueles que recaem sobre a utilização do rendimento no consumo.
→ IVA; Impostos Especiais sobre o Consumo (IEC) [Imposto sobre os Produtos Petrolíferos e
Energéticos (ISP), Imposto sobre o Tabaco (IT), Imposto sobre o Álcool e as Bebidas Alcoólicas
(IABA), Imposto sobre Veículos (ISV) e o Imposto Único de Circulação (IUC)]
Aula 6 – 15/03/2021
Acórdão 361/2009 – aferir da natureza de uma taxa de regulação e supervisão efetuada pela ERC. O tribunal
julgou inconstitucionais estas normas (fiscalização concreta da constitucionalidade).
Pode ser útil a jurisprudência para efeitos de resposta escrita (é um fator de valorização), tal como a doutrina.
CAAD – parte atendente à parte tributária.
As fontes de Direito Fiscal (enunciação)
Fonte de Direito Fiscal – forma de manifestação e de regulação do Direito Fiscal.
A fonte mais importante pra esta aula prende-se com os princípios jurídico-constitucionais, entre eles o
princípio da legalidade, o princípio da tipicidade, princípio da igualdade fiscal, princípio da segurança jurídica,
proibição do referendo, proteção da escolha e exercício de profissão, etc.
Todas estas dimensões correspondem a fontes de direito fiscal, no sentido em que orientam os termos em que
o legislador infraconstitucional vai criar normas jurídico-tributárias.
O princípio da legalidade não é um princípio exclusivo do Direito Fiscal. Existe em muitos outros ângulos
jurídicos.
Está consagrado no art.º 266.º, n.º 2, da CRP. A administração pública, na prossecução o interesse público,
deve atuar de acordo com a lei.
Não é um princípio especialmente vocacionado para o Direito Fiscal. Atinge diversos âmbitos.
Numa primeira fase, que dura até à Revolução Francesa, a Administração Pública passa a estar vinculada à
lei, numa perspetiva negativa, na medida em que a lei dava conta daquilo que a Administração não poderia
fazer – formulação negativa do princípio da legalidade.
Numa segunda fase, dá-se uma formulação positiva do princípio da legalidade – a lei não só vai dizer o que é
que a Administração não pode fazer, como também identifica aquilo que a Administração Pública pode ou
deve fazer.
O princípio da legalidade nesta vertente positiva, é atendido com uma abrangência maior porque se reporta a
todas as atividades administrativas, e não apenas quando está em causa uma violação dos direitos dos
particulares.
É a partir da Magna Carta Inglesa (1215) que nasce a expressão “no taxation without representation” –
particular preocupação em garantir que a tributação pressupõe representatividade porque há uma ideia de
autoconsentimento em matérias de impostos. Parte-se do pressuposto de que as obrigações fiscais (em
concreto, a obrigação de pagamento) é mais facilmente cumprida se: 1) for autoconsentida e 2) se for
conhecida.
Esta ligação associa-se a um fator psicológico do pagamento de impostos.
A estratégia mais fundamental está assente na necessidade de representatividade. Encara-se o imposto como
sendo uma forma autoconsentida. Os contribuintes pagam impostos porque quiseram. A vontade é assegurada
por via do Parlamento.
Os impostos são criados por Lei da AR ou por decreto-lei autorizado do Governo.
▪ Critério da fonte de produção normativa – Alberto Xavier faz uma subdivisão em:
→ Reserva de lei em sentido formal – determinava que a atuação da autoridade tributária estivesse
fundamentada na própria lei
→ Reserva de lei em sentido material – porque poder-se-á conceber uma atuação da autoridade tributária
fundada numa norma jurídica e, portanto, como norma jurídica que é, dotada de uma generalidade e
de abstração.
→ De acordo com a reserva de lei em sentido formal, a atuação da autoridade tributária deveria ter como
fundamento a lei da AR ou decreto-lei autorizado.
▪ Critério do grau de determinação da conduta da Administração – Alberto Xavier fazia uma distinção entre:
→ Reserva de lei absoluta – a lei que serve de fundamento à atuação da autoridade tributária é exaustiva,
identificando o caminho a percorrer e o sentido da decisão a adotar. O legislador identifica o caminho
e o critério de decisão a adotar.
→ Reserva de lei relativa – a atuação da autoridade tributária, apesar de fundada na lei, é mais ou menos
ampla. Existe uma margem de livre atuação considerável.
→ A diferença depende do nível de detalhe e de amplitude com que a autoridade tributária vai estar
vinculada a atuar nos termos da lei.
Esta proposta de Alberto Xavier surgiu antes da revisão constitucional de 1982, pelo que a sua terminologia
pode causar confusão.
Por ser uma terminologia comum, substitui-se a referência a uma reserva relativa a uma reserva de intensidade
mínima e a ideia de reserva absoluta por uma ideia de reserva de intensidade máxima.
Há uma reserva de intensidade máxima quando o legislador, de um forma intensa e exaustiva, determina o
sentido da decisão da autoridade tributária a dar ao caso em concreto.
Há uma reserva de intensidade mínima quando a lei serve de fundamentação à atuação, mas há uma margem
de atuação considerável.
Fazendo uso deste critério em matéria de impostos, supondo-se que se está perante uma matéria de alteração
Quando se fala em matéria de impostos, em particular no art.º 165.º/1/i, falamos em reserva de lei em sentido
formal e em reserva de lei de intensidade máxima.
▪ Quanto às taxas – está em causa uma reserva de lei em sentido material. Aqui, o legislador constituinte
não é tão exigente porque estes tributos têm uma natureza bilateral, que justifica que a reserva de lei seja
meramente material.
→ Acórdão do Tribunal Constitucional n.º 258/2008 – “A não sujeição das taxas ao princípio da
legalidade estrita é compreensível perante a circunstância das mesmas terem por causa o pagamento
duma prestação pública, não constituindo uma amputação, sem retribuição específica, do património
privado, que exija uma aprovação parlamentar. A existência duma relação jurídica bilateral permitirá
aos seus sujeitos obter outras formas de tutela dos seus direitos, não necessitando da garantia da
exigência da autorização prévia do contribuinte, dada através dos seus representantes.”
▪ Quanto às contribuições financeiras a favor das entidades públicas – por se aproximar ao regime das taxas,
trata-se de uma reserva de lei em sentido material, podendo ser criadas por um decreto-lei simples ou por
via de regulamento.
→ Enquanto não há o regime geral das contribuições financeiras, o prof. Sérgio Vasques considera que
estas contribuições devem ser cidades por reserva de lei formal (lei da AR ou DL do Governo
autorizado) por motivos históricos, na medida em que anteriormente estas figuras se reconduziam à
figura do imposto, pelo que, seguindo o mesmo entendimento, conclui que se deveria repensar a
questão da reserva de lei. Esta é uma posição minoritária.
▪ Impostos:
➢ Taxa enquanto elemento essencial do imposto – as taxas, enquanto parcelas de riqueza exigidas
ao sujeito passivo estão sujeitas à reserva em sentido formal e de intensidade máxima
➢ Benefícios fiscais – falamos de desoneração da carga fiscal, isto é, existe uma atenuação, uma
isenção, etc.
- Estão sujeitos a uma reserva de lei em sentido formal e de intensidade máxima porque a
atribuição de um benefício fiscal a alguém implica a atribuição desse imposto a outros,
através de impostos.
- Estão identificados no Estatuto dos Benefícios Fiscais, em particular no art.º 2.º, n.º 2.
- Art.º 2.º, n.º 2, EBF – “”
- Exige-se uma reserva de lei em sentido formal e uma reserva de intensidade máxima.
- Resulta também do art.º 165.º, n.º 1, al. b)
→ Art.º 103.º, n.º 3, CRP – “”
→ Este preceito vai ao encontro do que resulta do art.º 8.º da LGT.
→ A questão está em saber se, de facto, relativamente à liquidação e à cobrança, estas exigências de
legalidade sem sentido formal e de intensidade máxima também se colocam ou se a lei a que o art.º
103.º, n.º 3, parte final, da CRP é uma lei em sentido material.
→ A liquidação e a cobrança também são matérias tidas como sujeitas a uma reserva de lei formal e de
intensidade máxima?
➢ A cobrança corresponde ao ato de arrecadação propriamente dito e aos termos em que essa
arrecadação é feita
➢ A doutrina divide-se:
➢ A doutrina maioritária tem vindo a entender que a referência a “lei” do art.º 103.º/3 corresponde
a um, ato legislativo (pode ser uma lei da AR, um DL autorizado do Governo, como também
pode ser um DL simples), atendendo precisamente às matérias que estão em causa.
➢ Isto sucede porque no que toca à liquidação, constata-se que há tributos que são autoliquidáveis,
sendo o próprio sujeito passivo a determinar quanto paga e a proceder ao pagamento.
➢ Também na cobrança, o sujeito passivo paga voluntariamente.
➢ Basta um DL simples.
O princípio da legalidade é um princípio jurídico-constitucional dos mais importantes. Por um lado, limita o
legislador; por outro lado, é uma imposição para o aplicador da lei, na medida em que não pode ir para além
do que decorre da lei.
O princípio da legalidade não é exclusivo do Direito Fiscal, mas tem especificidades muito importantes que
nos levam a falar de um princípio da legalidade fiscal.
O princípio da legalidade tem uma base fiscal. Foi na Idade Média que o embrião do princípio surgiu, e isso
aconteceu exatamente no âmbito das matérias fiscais.
O convocar das Assembleias na Idade Média tinha como propósito aprovar o lançamento de impostos. Esta
ideia de sujeitar o executivo à vontade dos representes dos vários grupos sociais antes de ser lançado um
imposto está na base do princípio da legalidade.
Inicialmente, o princípio da legalidade tinha uma vertente unicamente negativa – primado da lei.
Posteriormente, vertente positiva – identificada com a reserva de lei. só a lei é que pode fiar o fundamento da
atuação da Administração.
A especificidade do princípio da legalidade encontra-se no domínio positivo da reserva da lei.
A reserva de lei, em matéria essencial de impostos (incidência, taxa, benefícios fiscais, garantias dos
contribuintes, criação do próprio imposto), a Assembleia da República atua de uma forma mais extensa,
vendado a entrada nestes domínios pela Administração. A AP está vedada ao estabelecido pela AR.
Alberto Xavier caracterizou a reserva de lei através de dois critérios.
Primeiro critério: a forma de revelação do direito pode ser através de uma lei em sentido material ou de uma
lei em sentido formal; ou através de uma lei em sentido formal, sendo que a norma se revela sob a forma de
Lei da AR.
Segundo critério: se a lei fixa apenas o fundamento, mas sem determinar o critério de decisão, está-se perante
uma reserva de lei relativa; se o poder de conduta está fortemente condicionada, tendo a AR fixado o
fundamento e o critério de decisão (forma exata e precisa), está-se perante uma reserva relativa.
O princípio da legalidade tem especificidades no domínio fiscal, que se verificam somente quando estejam
em causa a criação de impostos ou os seus elementos essenciais.
Alberto Xavier qualifica a reserva de lei de acordo com dois critérios.
Segundo o critério do grau de determinação de conduta, a lei pode ser mais ou menos intensa no modo como
condiciona a atuação da Administração: se é muito intensa, diz-se que a reserva de lei é absoluta; se fixa
apenas o fundamento, deixando espaço para juízos valorativos e para uma atuação complementar da
Administração, diz-se que a reserva de lei é relativa.
Princípio da tipicidade
Este princípio está umbilicalmente ligado ao princípio da legalidade.
No âmbito do estudo do princípio da legalidade, introduz-se o princípio da tipicidade. Isto porque a ideia da
reserva de intensidade máxima, no plano concreto, é complexa.
Não é fácil definir a partir de que momento está cumprida a reserva de intensidade máxima.
O princípio da tipicidade é um corolário da dimensão da intensidade máxima do princípio da legalidade.
A caracterização da reserva de intensidade máxima consegue-se perceber melhor no princípio da tipicidade.
A dimensão material do princípio da legalidade (da reserva de intensidade máxima) é tão importante que foi
tratada no âmbito de um princípio autónomo.
O princípio da tipicidade é a concretização da ideia de intensidade máxima/conteúdo/materialidade.
Este princípio foi introduzido em Portugal por Alberto Xavier, que foi influenciado pela doutrina alemã através
de Albert Hensel. Este último, desenvolveu e sustentou que o princípio da tipicidade exige, como expressão
do princípio do Estado de Direito, que tipos fundamentadores de tributos devem ser determinados de modo
que o sujeito passivo possa calcular previamente a carga tributária que lhe corresponda.
➢ Refere o Tribunal Constitucional, no Acórdão n.º 127/04, de 3/3/2004 – “Se não será sempre indispensável
que a norma legal fiscal forneça ao contribuinte a possibilidade de cálculo exacto, sem margem para
quaisquer dúvidas ou flutuações, do seu encargo fiscal, é, porém, de exigir que «a norma que constitui a
base do dever de imposto seja suficientemente determinada no seu conteúdo, objecto, sentido e extensão
de modo que o encargo fiscal seja medível e, em certa medida, previsível e calculável para o cidadão»”
No domínio deste princípio, há certos traços fundamentais/requisitos que têm de estar preenchidos e, só assim,
está cumprida a tipicidade e a intensidade máxima:
1) Origem legal – Os tributos são criados com base em lei formal
2) Seleção – a tipicidade rejeita/afasta a utilização de conceitos indeterminados e cláusulas gerais.
Idealmente, a lei formal deve utilizar conceitos específicos.
3) Numerus clausus – os tipos tributários devem ser taxativos e fechados. Ideia de enumeração fechada
4) Exclusivismo – deve existir uma descrição completa dos elementos necessários e simultaneamente
suficientes para que haja tributação. O legislador fiscal tem de incluir na norma todos os elementos
necessário para que o aplicador faça uso dessa disposição. Tudo o que é necessário tem de estar na norma,
o que está relacionado com a ideia de intensidade máxima, pois se faltassem elementos na norma, abrir-
se-ia espaço à discricionariedade.
5) Determinação – é uma ideia que engloba todas as restantes. O elenco da norma tributária deve ser de tal
modo preciso e determinado que os órgãos administrativos e os intérpretes em geral não possam introduzir
critérios subjetivos na aplicação dessas normas.
Em termos clássicos, o princípio da legalidade era entendido como um princípio estrito no domínio fiscal
porque sempre que estivesse em causa a criação de impostos ou de elementos essenciais dos impostos, a
reserva de lei teria de ser formal e de intensidade máxima.
Contudo, há quem considere que a tipicidade, apesar de ser algo de valioso e que dá segurança e garantias ao
sujeito passivo pode, se for entendida de forma demasiado rigorosa, colocar em causa a igualdade e a
praticabilidade entre os sujeitos passivos.
Grande parte da doutrina portuguesa tem sugerido que a tipicidade, não obstante ser um valor, deve deixar
cair a ideia de numerus clausus e admitir enumerações exemplificativas, estando a justificação com a ideia de
igualdade e de praticabilidade.
Há situações que não estão cobertas pela lei, pelo que há quem diga que a única forma de evitar este
planeamento fiscal é através de estipulações abertas.
O argumento é interessante, mas tem um vício: é mais perigoso abrir o tipo do que manter a tipicidade fechada,
com alguma flexibilidade. O prof. JSR defende que a ideia deve ser a da tipicidade fechada, mas reconhece
que, por vezes, é impossível a tipicidade fechada. É preferível ter uma regra mais ou menos rígida com alguma
flexibilidade do que deixar cair a regra e cair no relativismo.
A desvantagem de não ter regra é tornar a situação dos tribunais mais insustentável, dado que a abertura dos
tipos gerará mais contencioso.
CASO PRÁTICO:
1) O Governo, através de decreto-lei, decide alterar o IRS, com as seguintes alterações: passam a estar sujeitos
a tributação especialmente atenuada os sujeitos passivos que tenham uma família numerosa. Aprecie esta
medida de acordo com o princípio da legalidade.
O órgão é competente? À partida, não, porque se trata de uma reserva formal. O órgão competente é a AR.
Trata-se de uma inconstitucionalidade orgânica.
A medida é contrária à ideia de intensidade máxima porque estão a existir conceitos indeterminados. O
que é uma família numerosa? O que é uma tributação especialmente atenuada? Como se faz a atenuação?
2) A Assembleia da República, através de lei formal, decide alterar o período de tributação para o biénio,
sendo que as sociedades, devido à estrutura acionista, assim o exijam, designadamente, quando tenham:
acionistas estrangeiros, uma atividade sazonal ou então sempre que a situação assim o exija. Aprecie esta
medida de acordo com o princípio da legalidade.
Sob o ponto de vista formal, não há vícios.
Trata-se da alteração de um imposto.
Sob o ponto de vista do conteúdo, ou seja, de reserva de intensidade máxima: para que se aplique a reserva
de intensidade máxima tem de se estar perante os elementos essenciais do imposto.
Princípio da anualidade
Tem concretização no art.º 106.º, n.º 1, da CRP.
̶ Art.º 106.º, n.º 1, CRP – “”
A lei do Orçamento de Estado é votada anualmente e trata de várias matérias, incluindo as receitas que vão
ser gradas. A lei do Orçamento de Estado confirma os impostos que serão tributados.
Há quem diga que esta votação é uma forma de concretizar o princípio da legalidade de uma forma anual.
Se não existisse uma renovação anual dos impostos, os contribuintes estariam a pagar impostos que não tinham
sido aprovados por eles. Para assegurar que uma base anual é renovada a ideia de que não há tributação sem
representação, o Parlamento tem de se pronunciar sobre todos os impostos, renovando-os.
A ideia da representatividade implica que os impostos sejam aprovados pela AR, que representa os cidadãos.
Aula 8 – 22/03/2021
O ponto de partida para a compreensão do princípio da igualdade fiscal é o mesmo assumido para o princípio
da igualdade em termos gerais, ou seja: trata-se de um princípio que exige um tratamento igual para aquilo
que é igual e um tratamento diferente para aquilo que é diferente, na medida dessa diferença.
É necessário perceber qual é o critério que permite determinar as obrigações fiscais e que permite justificar
um tratamento fiscal igual e um tratamento fiscal diferente. Existem três critérios/princípios que o permitem
fazer, sendo que o critério adotado é o princípio da capacidade contributiva.
1) PRINCÍPIO DO BENEFÍCIO:
O princípio do benefício traduz-se na ideia de que cada um deverá ser tributado de acordo com o
benefício/utilidade que retira dos bens públicos.
À luz deste princípio, os sujeitos passivos que retirassem a mesma utilidade de um bem público seriam
chamados ao cumprimento das mesmas obrigações fiscais, visto que estariam dispostos a pagar o mesmo
preço pela utilidade proporcionada por cada um desses bens.
Capacidade contributiva – corresponde à força económica de que cada um é titular. O princípio da capacidade
contributiva refere que os impostos devem ser adequados à força económica do contribuinte.
Para se aferir da existência de força económica utilizam-se indicadores de força económica. O indicador de
força económica é a manifestação de riqueza.
Tipos de manifestações de riqueza que existem:
➢ Rendimento – Consegue-se aferir a força económica atendendo ao facto de uma pessoa ser titular de
rendimentos. A capacidade contributiva depende do rendimento de cada contribuinte [estão fora desta
lógica os contribuintes que tenham rendimentos de tal forma baixos que se fossem sujeitos a tributação a
sua subsistência seria posta em causa].
➢ Património – Consegue-se aferir a força económica atendendo ao facto de uma pessoa ser titular de
património.
➢ Consumo – Consegue-se aferir a força económica atendendo ao facto de a capacidade contributiva ser
manifestada por via de um ato de consumo.
Não basta ser pessoa para que haja tributação. A tributação existe se existir uma força económica revelada.
É o princípio da capacidade contributiva que justifica a diferenciação que se faz entre a igualdade horizontal
e a igualdade vertical.
É à luz da capacidade contributiva que se encontram limites de isenção do limite de existência. Há rendimentos
que não são chamados ao pagamento do imposto porque não se trata verdadeiramente de uma capacidade
contributiva manifestada, dado o rendimento ser de tal forma baixo. Na verdade, seria contrário às exigências
constitucionais determinar a tributação desses mesmos rendimentos.
Casalta Nabais identifica três objeções ao princípio da capacidade contributiva, refutando todas elas:
1) O princípio da capacidade contributiva tem por objetivo o nivelamento social e o consequente desígnio de
aniquilamento da liberdade individual – segundo o autor, esta objeção extravasa largamente o terreno de
uma discussão jurídica e tem apenas por alvo o próprio Estado Fiscal social.
2) O conceito de capacidade contributiva é indeterminado e padece de equivocidade – o autor rejeita tal
objeção, na medida em que existem múltiplos conceitos indeterminados nas atuais constituições que as
jurisdições constitucionais têm de interpretar e aplicar.
3) O princípio da capacidade contributiva não está expresso constitucionalmente – o autor rejeita esta objeção
considerando que tal não passa da expressão do tradicional positivismo que tem assolado o direito dos
impostos.
Em suma, a ideia de igualdade horizontal pressupõe que os indivíduos nas mesmas condições devem pagar os
mesmos impostos, enquanto a igualdade vertical pressupõe que os indivíduos em condições diferentes devem
pagar impostos diferentes.
Relativamente à igualdade horizontal, Teixeira Ribeiro admite que se faça uma discriminação com base na
diferente qualidade dos rendimentos. Dá o exemplo dos rendimentos do trabalho (caráter temporário) e dos
rendimentos de capital (caráter perpétuo) e sustenta que, dado o capital produzir por si só rendimento sem
exigir esforço produtivo e o trabalho estar, para além do esforço produtivo, sujeito a perigos como doença e
incapacidade, então os rendimentos de capital deveriam ser mais pesadamente tributados, de modo a permitir
que os trabalhadores se previnam relativamente ao momento em que a capacidade de trabalho se esgote.
Relativamente à igualdade vertical, imposta questionar de que modo é que esta se realizará.
A igualdade vertical realizar-se-á através de um sistema fiscal progressivo no seu conjunto.
O facto de os sujeitos passivos que estão na mesma condição deverem ser chamados ao cumprimento das
mesmas obrigações fiscais e sujeitos passivos que se encontram em situações diferentes deverem ser chamados
ao cumprimento de obrigações diferentes, leva a um reflexo prático no que toca à tributação de impostos.
Uma tributação feita à luz da capacidade contributiva é capaz de chamar a si uma tributação progressiva. Um
imposto progressivo implica que a taxa média aumente quando o rendimento também aumenta, ao passo que
um imposto regressivo implica que a taxa média diminua quando o rendimento aumente.
Esta progressividade acaba por resultar do próprio texto constitucional, no art.º 104.º, números 1, 3 e 4.
̶ Art.º 104.º, n.º 1 – “O imposto sobre o rendimento pessoal visa a diminuição das desigualdades e será único
e progressivo, tendo em conta as necessidades e os rendimentos do agregado familiar.”
̶ Art.º 104.º, n.º 3 – “A tributação do património deve contribuir para a igualdade entre os cidadãos.”
̶ Art.º 104.º, n.º 4 – “A tributação do consumo visa adaptar a estrutura do consumo à evolução das
necessidades do desenvolvimento económico e da justiça social, devendo onerar os consumos de luxo.”
Na atualidade, o art.º 104.º, n.º 4 tem pouca relevância prática, dado que em muito pouco se reserva ao
legislador ordinário determinar a forma como o consumo é tributado. Em termos práticos, quem o faz é a
legislação da UE.
Não se pode falar em progressividade no contexto da tributação sobre o consumo. A progressividade encontra-
se no IRS.
No âmbito fiscal, o referendo não é tido como um meio adequado, desde logo em virtude do tipo de matérias
que estão em causa.
Neste instrumento de democracia, as hipóteses de resposta destinam-se a “sim” ou “não”, pelo que perante
um referendo sobre a questão da criação do imposto, que agrava a tributação dos contribuintes, seria de se
esperar uma resposta negativa.
Encontram-se, contudo, na doutrina, posições que sugerem equacionar a admissibilidade do referendo para
determinados âmbitos fiscais.
Os impostos que prosseguem uma finalidade ambiental conseguem dar uma concretização a esta exigência.
São impostos corretivos, que funcionam na lógica do poluidor-pagador: quem polui mais, paga mais.
Mais do que gerar receita, há um objetivo de proteger o ambiente.
Atualmente, é unânime de estes impostos não se afastam do conceito de imposto: teoria da finalidade
secundária invertida.
A partir do momento em que a finalidade fiscal existe, está-se perante uma figura reconduzida ao conceito de
imposto, mesmo que essa finalidade seja secundária. Se a finalidade de arrecadação de receita existe, mesmo
que seja secundária em relação a proteção do ambiente (neste caso) não significa que se deixa de estar perante
um imposto.
O rendimento real corresponde ao rendimento que é efetivamente auferido pelo sujeito passivo.
A dificuldade associada ao rendimento real consiste na dificuldade da sua determinação, isto é, na forma como
se consegue determinar em concreto o rendimento efetivamente recebido pelo sujeito passivo.
Face a estas dificuldades, tornou-se corrente identificar o rendimento real com o rendimento apurado com
base nas declarações dos contribuintes, suportadas por elementos contabilísticos. A contabilidade reflete a
situação fiscal em que o sujeito se encontra.
Assume-se que os elementos declarativos e contabilísticos, por serem de fácil verificação, refletem o
rendimento efetivamente obtido por um determinado sujeito passivo de imposto.
Tal assunção parte desde logo da presunção de veracidade de declaração dos contribuintes, que resulta do art.º
75.º da LGT.
̶ Art.º 75.º, n.º 1, LGT – “Presumem-se verdadeiras e de boa-fé as declarações dos contribuintes apresentadas
nos termos previstos na lei, bem como os dados e apuramentos inscritos na sua contabilidade ou escrita,
quando estas estiverem organizadas de acordo com a legislação comercial e fiscal, sem prejuízo dos demais
requisitos de que depende a dedutibilidade dos gastos.”
A contabilidade que serve de base à forma como uma declaração de rendimentos vai sendo preenchida
presume-se como sendo verdadeira.
O problema da contabilidade é que, na prática, nem sempre assume o caráter de veracidade. Nessa medida,
associar o rendimento real àquele que resulta da contabilidade pode ser problemático. Nem sempre a
contabilidade é capaz de expressar o rendimento efetivamente obtido pelo sujeito passivo.
Os parágrafos 9 e 10 do Preâmbulo do Código do IRC dão expressão à preocupação de nem sempre se poder
confiar na contabilidade.
̶ Parágrafo 9, Preâmbulo do Código do IRC – “(…) procura-se sempre tributar o rendimento real efetivo,
que, para o caso das empresas, é mesmo um imperativo constitucional [remissão para o art.º 104.º, n.º 2,
CRP]. Com corolário desse princípio, é a declaração do contribuinte, controlada pela administração fiscal,
que constitui a base da determinação da matéria coletável.”
“A determinação do lucro tributável por métodos indiciários é consequentemente circunscrita aos casos
expressamente enumerados na lei, que são reduzidos ao mínimo possível, apenas se verificando quando
tenha lugar em resultado de anomalias e incorreções da contabilidade, se não for de todo possível efetuar
esse cálculo com base nesta” - Há o reconhecimento de que a contabilidade conhece debilidades e nem
sempre expressa o reconhecimento que foi obtido.
̶ Parágrafo 10, Preâmbulo do Código do IRC
Para efeitos de rendimento real, deve ser tida em conta a contabilidade, mas devem também ser consideradas
outras formas alternativas de determinação da matéria tributável e a consequente consideração da
contabilidade como a única forma legítima.
Aula 9 – 23/03/2021
Por outro lado, as leis que regulam de um modo geral os impostos são leis ordinárias, simples, como é o caso,
por exemplo, da Lei Geral Tributária.
A Lei Geral Tributária é uma lei ordinária, ou seja, uma lei simples, o que significa que vincula apenas o
aplicador (tribunais, sujeitos passivos, etc.), e não o legislador (Assembleia da República). O legislador tem
como referência a LGT, mas pode legislar em sentido diferente.
A esta regra excetua-se o caso da Lei das Finanças das Regiões Autónomas, que assume a forma de lei orgânica
(de valor reforçado) e regula os impostos de um modo geral.
̶ Art.º 164.º, al. t), CRP – “É da exclusiva competência da Assembleia da República legislar sobre as
seguintes matérias: t) Regime de finanças das regiões autónomas;”
̶ Art.º 166.º, n.º 2, CRP – “Revestem a forma de lei orgânica os atos previstos nas alíneas a) a f), h), j),
primeira parte da alínea l), q) e t) do artigo 164.º e no artigo 255.º.”
̶ Art.º 168.º, n.º 5, CRP – “As leis orgânicas carecem de aprovação, na votação final global, por maioria
absoluta dos Deputados em efetividade de funções, devendo as disposições relativas à delimitação
territorial das regiões, previstas no artigo 255.º, ser aprovadas, na especialidade, em Plenário, por idêntica
maioria.”
A Assembleia da República tem competência para legislar em várias matérias, mas dá-se uma importância
acrescida às matérias fiscais porque a Assembleia da República é o órgão legiferante primário por excelência,
competente para legislar sobre a criação de impostos e as matérias essenciais dos impostos.
Decreto-lei
O decreto-lei que não seja publicado no uso de uma autorização legislativa por parte da Assembleia da
República não pode legislar sobre a criação de impostos nem sobre os elementos essenciais dos impostos.
Para um decreto-lei poder regular a matéria de criação de impostos ou de alteração dos seus elementos
essenciais é necessária uma autorização legislativa ao Governo por parte da Assembleia da República.
Nesse sentido, se o decreto-lei não for publicado no uso de uma autorização legislativa que permita ao Governo
legislar sobre matérias constitucionalmente reservadas à Assembleia da República, apenas poderá desenvolver
e completar os princípios ou bases definidos por lei, através de decretos-lei de desenvolvimento (art.º 198.º,
n.º 1, al. c), CRP) ou disciplinar os restantes elementos dos impostos no domínio das matérias que digam
respeito à liquidação e cobrança de qualquer imposto, designadamente o estabelecimento de deveres
acessórios (art.º 103.º, n.º 3, CRP).
̶ Art.º 198.º, n.º 1, al. c), CRP – “Compete ao Governo, no exercício de funções legislativas: c) Fazer
decretos-leis de desenvolvimento dos princípios ou das bases gerais dos regimes jurídicos contidos em leis
que a eles se circunscrevam.”
̶ Art.º 103.º, n.º 3, CRP – “Ninguém pode ser obrigado a pagar impostos que não hajam sido criados nos
termos da Constituição, que tenham natureza retroativa ou cuja liquidação e cobrança se não façam nos
termos da lei.”
No que concerne às matérias do art.º 103.º, n.º 2 da CRP e do art.º 165.º, n.º 1, al. i) da CRP, a competência
da AR é exclusiva, sendo que o Governo não pode dispor contra o preceituado nestes artigos através de um
Decreto-lei.
Contudo, quanto às restantes matérias, a competência é concorrente, pelo que um Decreto-lei do Governo
pode alterar ou revogar uma lei anterior da AR, e vice-versa, nos termos dos artigos 198.º, n.º 1, al. a) e 112.º,
n.º 2, da CRP.
➢ Por exemplo, em matéria de liquidação e cobrança, que se encontra fora da reserva de intensidade máxima,
Governo e a AR atuam de forma concorrente.
̶ Art.º 198.º, n.º 1, al. a), CRP – “Compete ao Governo, no exercício de funções legislativas: a) Fazer
decretos-leis em matérias não reservadas à Assembleia da República.”
̶ Art.º 112.º, n.º 2, CRP – “As leis e os decretos-leis têm igual valor, sem prejuízo da subordinação às
correspondentes leis dos decretos-leis publicados no uso de autorização legislativa e dos que desenvolvam
as bases gerais dos regimes jurídicos.”
Contudo, a AR pode submeter os decretos-lei a apreciação para efeitos de vigência ou de alteração, nos termos
dos artigos 169.º, n.º 1. Excetuam-se os casos em que existam leis de autorização legislativa.
̶ Art.º 169.º, n.º 1, CRP – “Os decretos-leis, salvo os aprovados no exercício da competência legislativa
exclusiva do Governo, podem ser submetidos a apreciação da Assembleia da República, para efeitos de
cessação de vigência ou de alteração, a requerimento de dez Deputados, nos trinta dias.”
Assim sendo:
➢ Em matéria de criação de impostos e dos elementos essenciais dos impostos – a AR é o órgão legiferante
primário de excelência, sendo que o Governo apenas pode legislar mediante autorização da AR.
➢ Em matérias fora do âmbito da criação de impostos e dos seus elementos essenciais – A AR e o Governo
atuam de forma concorrente.
Os números 2, 3 e 4 do art.º 165.º da CRP apresentam uma concretização da ideia de intensidade máxima.
̶ Art.º 165.º, n.º 2, CRP – “As leis de autorização legislativa devem definir o objeto, o sentido, a extensão e
a duração da autorização, a qual pode ser prorrogada.”
̶ Art.º 165.º, n.º 3, CRP – “As autorizações legislativas não podem ser utilizadas mais de uma vez, sem
prejuízo da sua execução parcelada.”
̶ Art.º 165.º, n.º 4, CRP – “As autorizações caducam com a demissão do Governo a que tiverem sido
concedidas, com o termo da legislatura ou com a dissolução da Assembleia da República.”
CASO PRÁTICO N.º 4: o Governo decide, através de decreto-lei, alterar a forma de liquidação do IRS. Pode?
Pode. Trata-se de uma matéria não essencial. É uma matéria de competência concorrente, pelo que, à
partida, o Governo pode fazer esta alteração.
Caso Prático n.º 5: o Governo decide, através de decreto-lei, alterar a forma de liquidação do IRS. No dia
seguinte, a Assembleia da República altera essa decisão. Pode?
Pode. Trata-se de uma matéria não essencial dos impostos, pelo que o Governo e a AR atuam de forma
concorrente.
Contudo, se fizerem alterações de forma sistemática, a AR poderá fazer uso do mecanismo do art.º 169.º
da CRP.
Os decretos legislativos regionais são atos legislativos que versam sobre as matérias que fazem parte dos
Estatutos Político-administrativos das Regiões Autónomas.
Em termos gerais, a criação de impostos e as matérias essenciais de impostos não podem ser reguladas por
decreto legislativo regional, nos termos do art.º 227.º, n.º 1, al. b), da CRP.
̶ Art.º 227.º, n.º 1, al. b), da CRP – “As regiões autónomas são pessoas coletivas territoriais e têm os seguintes
poderes, a definir nos respetivos estatutos: b) Legislar em matérias de reserva relativa da Assembleia da
República, mediante autorização desta, com exceção das previstas nas alíneas a) a c), na primeira parte da
alínea d), nas alíneas f) e i), na segunda parte da alínea m) e nas alíneas o), p), q), s), t), v), x) e aa) do n.º
1 do artigo 165.º;”
Este preceito, especialmente no que respeita à al. i) do n.º 1 do art.º 165.º refere que não pode existir
autorização legislativa para a Assembleia Legislativa Regional legislar em matérias fiscais.
Uma leitura menos atenta do art.º 227.º, n.º 1, al. i), CRP poderia causar alguma confusão face à norma do
art.º 227.º, n.º 1, al. b), da CRP.
̶ Art.º 227.º, n.º 1, al. b), da CRP – “As regiões autónomas são pessoas coletivas territoriais e têm os seguintes
poderes, a definir nos respetivos estatutos: i) Exercer poder tributário próprio, nos termos da lei, bem como
adaptar o sistema fiscal nacional às especificidades regionais, nos termos de lei quadro da Assembleia da
República;”
Este preceito indica que as regiões autónomas podem dispor acerca das matérias essenciais dos impostos
apenas se respeitarem os limites constitucionais impostos, como resulta da parte final do art.º 227.º, n.º 1, al.
b) da CRP (“(…) nos termos de lei quadro da Assembleia da República”).
Assim sendo, a Assembleia Legislativa da Região Autónoma [é o órgão com competência nos termos do art.º
232.º, n.º 1 da CRP] pode, nos termos da lei quadro da AR, que corresponde à Lei das Finanças das Regiões
Autónomas (Lei orgânica n.º 2/2013, de 2 de setembro):
▪ Criar impostos regionais em sentido estrito – são impostos apenas vigentes na região que sejam autorizados
por Lei da AR, pela Lei das Finanças das Regiões Autónomas e pelos Estatutos Político-administrativos
das Regiões Autónomas.
→ Art.º 57.º, n.º 1, Lei das Finanças das Regiões Autónomas – “As Assembleias Legislativas, mediante
decreto legislativo regional, podem criar impostos vigentes apenas na respetiva região autónoma
desde que os mesmos observem os princípios consagrados na presente lei, não incidam sobre matéria
objeto da incidência prevista para qualquer dos impostos de âmbito nacional, ainda que isenta ou não
sujeita, ou, nela não constando, possa ser suscetível de integrar essa incidência e da sua aplicação não
resultem entraves à troca de bens e serviços entre os diferentes pontos do território nacional.”
→ Art.º 56.º, n.º 2, al. b), Lei das Finanças das Regiões Autónomas – “A competência legislativa regional,
em matéria fiscal, é exercida pelas Assembleias Legislativas das regiões autónomas, mediante decreto
legislativo, e compreende os seguintes poderes: b) O poder de adaptar os impostos de âmbito nacional
às especificidades regionais, em matéria de incidência, taxa, benefícios fiscais e garantias dos
contribuintes, dentro dos limites fixados na lei e nos termos dos artigos seguintes.”
Em suma:
➢ A regra é a de que apenas a Assembleia da República tem competência para regular matérias essenciais
dos impostos.
➢ A exceção prende-se com as autorizações legislativas ao Governo.
➢ No domínio regional, não há alteração desta regra, pelo que as Assembleias Legislativas Regionais não
poderão regular matérias essenciais dos impostos ab initio.
➢ No entanto, depois de existirem leis da AR a regular o envolvimento das Assembleias Legislativas
Regionais já poderão haver matérias fiscais a ser reguladas por estas, mas não ab initio. As Assembleias
Legislativas Regionais necessitam de uma lei prévia para regular impostos regionais.
Relativamente aos elementos essenciais, o decreto legislativo regional necessita de uma intervenção legislativa
prévia por parte da AR.
Fora dos elementos essenciais dos impostos, o decreto legislativo regional pode intervir, sem a necessidade
de uma prévia intervenção legislativa da Assembleia da República.
Caso N.º 7: Imagine-se que. tendo em conta a insularidade e a distância dos centros de poder e alguma
periferia, a Assembleia Legislativa Regional dos Açores decide adaptar as deduções específicas no âmbito da
Categoria B (rendimentos empresariais, rendimentos profissionais, etc.). Pode fazê-lo? É constitucional?
À partida, não haverá competência nestas matérias, a não ser que a lei quadro da Assembleia da República,
a Lei das Finanças das Regiões Autónomas e, no caso, o próprio Estatuto Político-Administrativo dos
Açores permita esse tipos de adaptações.
E de facto permite. Tal adaptação está prevista.
Mas a Assembleia Legislativa Regional só tem esse competência porque existem Leis da Assembleia da
República que a consagram. Originariamente, sem a existência destas leis, a Assembleia Legislativa
Regional não poderia regular estas matérias.
Caso Prático N.º 8: A Assembleia Legislativa Regional decide alterar a forma de cobrar os impostos. Uma
pessoa zelosa vai ao Estatuto Político-Administrativo e não encontra lá qualquer questão relativa à liquidação
e cobrança e conclui que não é possível. Esta resposta estará correta?
Não. Fora das matérias essenciais, a competência é concorrente. Logo, não é necessária uma legitimação
prévia
Regulamento
Um regulamento é uma espécie de lei. Existe uma equiparação entre regulamento e lei material, na medida
em que o regulamento é geral e abstrato, abrangendo várias situações.
Os regulamentos podem ser lançados pelo Governo (Portarias, Despachos normativos, Decretos
regulamentares, Resoluções do Conselho de Ministros), pelas Regiões Autónomas (decretos regulamentares
regionais das assembleias legislativas regionais ou dos governos regionais) e pelas autarquias locais.
A fixação dos regimes e das bases gerais das matérias essenciais dos impostos cabem à Assembleia da
República ou ao Governo, mediante decreto-lei autorizado.
Fora do âmbito das matérias essenciais dos impostos, os regulamentos já poderão inovar originariamente.
CASO PRÁTICO N.º 9: O Ministro, através de portaria, decide alterar as taxas de IRS. Pode?
Trata-se de uma matéria essencial dos impostos.
É uma inconstitucionalidade orgânica.
O regulamento não é o ato adequado.
Há uma inconstitucionalidade formal (teria de ser uma lei da AR ou um decreto-autorizado do Governo),
orgânica (porque o órgão não é o Ministro) e material (porque coloca em causa o princípio da legalidade).
Ora, o caráter geral e abstrato dos despachos genéricos, das instruções e circulares, emanados pelas diversas
entidades administrativas não serão fonte de Direito Fiscal, dado que a força de tais diplomas se limita a um
setor da ordem administrativa. Ou seja, esses regulamentos têm uma eficácia meramente interna.
Os regulamentos internos não são fonte de direito fiscal porque têm como propósito essencial o exercício da
autoridade hierárquica dos agentes administrativos relativamente aos seus subordinados, pretendendo-se com
eles homogeneizar práticas dentro do serviço administrativo.
A força vinculativa desses regulamentos resulta apenas da autoridade hierárquica dos agentes aos
subordinados a quem se destinam esses regulamentos (art.º 68.º-A, LGT).
Esses regulamentos não têm como destinatários os tribunais nem os contribuintes, o que lhes retira a qualidade
de normas jurídicas. Nessa medida, no entendimento do Prof. João Sérgio Ribeiro, não são fonte de direito
fiscal.
No entanto, o docente não nega que os contribuintes têm o maior interesse prático em conhecer tais
orientações, dado que é segundo os critérios definidos nesses regulamentos que os funcionários, vinculados
ao seu cumprimento, apreciarão as diferentes situações com que são confrontados.
Deve, por isso, existir todo o interesse em que os regulamentos internos sejam publicados (art.º 55.º e 56.º do
CPPT e art.º 68.º-A da LGT).
Os regulamentos das autarquias locais:
Quando estiver em causa o exercício de uma parcela do poder tributário, como sucede em relação aos
municípios, esse poder só poderá ser exercido pelo órgão deliberativo (Assembleia Municipal) [e não pelo
órgão executivo (Câmara Municipal).
As autarquias locais não podem criar impostos, mas podem criar taxas, através de regulamentos, pelo órgão
deliberativo da Autarquia Local (Assembleia Municipal ou Assembleias de Freguesia).
Aula 10 – 06/04/2021
Os direitos aduaneiros têm uma relação com o Direito Fiscal Internacional, especialmente no domínio da UE.
O Direito Fiscal Internacional é muito vasto, abrange vários níveis: tributação direta, tributação indireta,
matérias de cooperação entre Estados, matérias de tributação ambiental, combate à evasão fiscal, etc.
A abordagem que faremos é mais restrita, porque apesar de estas matérias estarem relacionadas com o Direito
Fiscal Internacional nem todas têm a qualidade de fonte.
Os Estados chegaram à conclusão que só de uma forma articulada poderiam combater estes fenómenos.
O Direito Fiscal Internacional é uma fonte de direito fiscal, mas é uma fonte muito sui generis: porque abrange
diversas matérias e porque é mais mediata.
É uma fonte no sentido em que influencia o legislador fiscal, mas, em rigor, não obriga os sujeitos passivos.
Apenas em determinadas matérias é que o Direito Fiscal Internacional tem uma força coerciva.
Essa força exerce-se no domínio das convenções/tratados para eliminar a dupla tributação.
Isto porque a partir do momento em que dois estados celebram um tratado para eliminar a dupla tributação,
esse tratado é incorporado de forma automática no domínio interno.
Ex.: Imagine-se que um imigrante português em França consulta um advogado português. Se o advogado
português se basear apenas no Código do IRS vai dar uma solução errada ao emigrante, porque conjuntamente
com o Cód. IRS tem de ser aplicada a Convenção entre Portugal e França para eliminar a dupla tributação.
Estes tratados para eliminar a dupla tributação são verdadeira fonte de Direito Fiscal. Relativamente aos outros
instrumentos, são matérias de orientação (soft law).
Noutros Estados, como Inglaterra, adota-se uma abordagem dualista, na medida em que os tratados têm de ser
transformados em lei interna.
A CVDT também se aplica a estes acórdãos fiscais porque são tratados. O elemento distintivos é o âmbito de
aplicação e o objeto: matéria fiscal, mais concretamente a questão da dupla tributação.
A dupla tributação elimina-se restringindo os direitos internos.
A dupla tributação é a tributação dos mesmos rendimentos do mesmo sujeito passivo por dois Estados
diferentes.
Os sujeitos passivos de IRS são tributados num determinado sistema legal porque têm uma conexão com ele.
Por excelência, a conexão é a residência.
Qualquer pessoa residente em Portugal e que obtenha rendimentos é tributada em Portugal por todos esses
rendimentos.
Mas a pessoa não é tributada apenas pela residência. Também se tributa com base no local onde se obtém
rendimento.
Um emigrante será tributado em dois sistemas legais pelos mesmos rendimentos: os dois Estados vão afirmar
o direito de tributar esse sujeito passivo.
Um português que tenha um negócio em Marrocos será tributado em Portugal por todos os rendimentos que
obtenha, incluindo o do negócio em Marrocos.
Estas convenções têm várias funções, mas a função principal é a de eliminar a dupla tributação jurídica:
quando a mesma pessoa é tributada pelos mesmos rendimentos em dois ordenamentos jurídicos diferentes.
No plano fiscal, se é verdade que há dimensões do Direito Fiscal da UE que estão no plano principiológico, a
maior parte do que é produzido pelo direito fiscal da UE é fonte imediata de direito fiscal.
Não existem muitos impostos verdadeiramente europeus, mas existem alguns: imposto sobre os funcionários
da UE; pauta aduaneira comum (direitos aduaneiros); quotizações para o setor do açúcar
O direito fiscal da UE cobre este domínio, mas não se limita a ele. Trata-se de instrumentos que harmonizaram
o IVA; instrumentos que combatem a evasão fiscal; relação do DUE com os tratados; tributação do digital;
resolução de diferendos e conflitos fiscais.
Nem todas estas matérias são fonte porque ainda estão no plano teórico, não têm reflexo em diretivas,
regulamentos, decisões do TJUE, etc.
Mas existem outras que são: no caso do IVA e dos IESC existem uma série de diretivas que já foram
transpostas, pelo que são fonte de Direito Fiscal.
No domínio
São fonte de Direito Fiscal: diretivas transpostas no domínio da tributação indireta (como o IVA); diretivas
transpostas no domínio dos Impostos Especiais sobre o Consumo; troca de informações entre os Estados;
domínio do auxílio da cobrança; avanços no domínio da estruturação das sociedades; decisões do Tribunal de
Justiça
Contrato
Fora das matérias não essenciais dos impostos podem existir contratos.
Um contrato fiscal pode assegurar certos benefícios e vantagens fiscais, mas não o pode fazer sem que antes
a lei o tenha previsto.
Ainda assim, tal é problemático, porque se existe uma lei prévia que permita ao Governo regular benefícios
fiscais, essa lei prévia cumpre apenas os requisitos formais do princípio da legalidade.
Jurisprudência e doutrina
Regra geral, a jurisprudência não é fonte formal de Direito Fiscal. Excetua-se, contudo, a jurisprudência do
TJUE ou do Tribunal Constitucional.
A doutrina não é fonte formal de direito fiscal, embora possa ser relevante.
Costume
Sem prejuízo de ser importante conhecer determinadas práticas burocráticas, o Costume não é e nunca poderá
ser fonte de Direito Fiscal porque decorre do princípio da legalidade fiscal a impossibilidade de criar impostos
ou dispor acerca dos seus elementos essenciais de forma inovadora por outra forma que não seja a Lei da AR
ou Decreto-lei autorizado.
Codificação
A codificação não é fonte: não interessa a forma, interessa o conteúdo. É uma questão puramente formal, não
material.
Aula 11 – 12/04/2021
De uma qualquer norma jurídica resulta, para o seu destinatário, a imposição de um determinado
comportamento, que pode constituir uma ação (levando o destinatário a atuar num determinado sentido) ou
omissão (levando o destinatário a deixar de atuar num determinado sentido).
Uma norma jurídica é vinculativa para os respetivos destinatários, isto é, o cumprimento da norma é
obrigatório, sob pena de surgirem consequências jurídicas. As normas jurídicas têm caráter geral e abstrato.
As normas tributárias são verdadeiras normas jurídicas.
As normas jurídicas são compostas por dois elementos: previsão (situação da vida real que o Direito entendeu
ser relevante e que disciplina) e estatuição (efeito jurídico associado ao facto da vida real que está integrado
na previsão da norma).
No mesmo sentido, as norma tributárias compreendem também esses dois elementos:
▪ Previsão – corresponde ao facto ou conjunto de factos de cuja verificação depende o nascimento da
obrigação fiscal ou de imposto.
▪ Estatuição – corresponde à criação da obrigação fiscal, a qual impende sobre o sujeito a quem diz respeito
o facto previsto na norma.
De entre estes dois elementos é o elemento da previsão que, sumariamente, corresponde ao facto tributário
dado que é na previsão da norma que se encontram previstos todos os elementos necessários para o seu
surgimento.
É, por isso, na previsão que o facto tributário se encontra previsto em todos os seus elementos essenciais.
O facto tributário resulta, por isso, de uma série de disposições jurídicas ou artigos legais situados em vários
diplomas, que em feixe concorrem para a sua determinação, sem que implique que se esteja fora do âmbito da
mesma norma jurídica.
Segundo Alberto Xavier, as normas integradoras ou de segundo grau operam uma interpretação do conceito
pela sua definição, dando lugar a uma redução conceitual, pela sua substituição por outro ou outros de grau
lógico inferior (definição redutiva).
Trata-se de uma sucessão de normas e explanação dos conceitos através de outras normas que, por seu turno,
apresentam conceitos mais restritos.
Assim sendo, sempre que se proceda à delimitação do facto tributário deve atender-se às normas de primeiro
grau, bem como a todas as normas que desenvolvem as normas de primeiro grau e que contribuam para a
definição do seu conteúdo, independentemente do diploma que as encerre.
Facto tributário
O facto juridicamente relevante é um facto da vida real que tem relevância para o Direito. O facto tributário é
uma situação da vida real que tem relevância para o Direito Tributário.
Esta relevância pode expressar-se de várias formas. Há uma forma em particular, que é a mais evidente:
propósito da arrecadação de receitas. Isto porque há um propósito de pagar um imposto sobre uma
manifestação da capacidade contributiva.
A circunstância de se estar perante um facto da vida real com relevância para o direito tributário pode
reconduzir-se, desde logo, ao nascimento de uma dívida de imposto, isto é, de uma obrigação de proceder ao
pagamento de alguma coisa.
Contudo, não se deixa de se estar perante um facto com relevância para o direito apenas porque o sujeito
passivo não está operante a obrigação de pagamento. O que tem relevância para o direito é um facto tributário,
ainda que daí não surja a obrigação de um pagamento.
▪ Dimensão/elemento subjetivo – é o elemento que faz uma ligação de uma determinada categoria de
sujeitos ao elemento objetivo, na medida que faz nascer na esfera jurídica dos sujeitos a obrigação do
imposto.
→ Reporta-se à pessoa em relação a quem o facto surge, isto é, ao sujeito. Corresponde à dimensão
pessoal.
No contexto dos tributos, estas dimensões são particularmente evidentes. Por exemplo:
➢ O art.º 1.º do CIRS (Base do Imposto) está inserido na secção I (Incidência Real) do Capítulo I (Incidência)
do CIRS. Aqui, são identificados os rendimentos deste imposto, isto é, quais os rendimentos que estão
sujeitos a tributação em sede de IRS – componente objetiva
➢ O art.º 14.º do CIRS está inserido na secção II (Incidência pessoal), onde se identificam os sujeitos passivos
da tributação do IRS – dimensão subjetiva
➢ Da junção das duas componentes nasce um facto que se considera relevante para o direito tributário, ou
seja, um facto tributário.
O facto tributário, para que possa ser qualificado como tal, pressupõe sempre a junção destas duas dimensões.
Por um lado, é necessário perceber se o sujeito em causa que desencadeia um determinado comportamento
configura uma pessoa relevante em termos de direito tributário (dimensão subjetiva) e, por outro lado, é
necessário perceber se o seu comportamento é relevante ou não para o direito português (dimensão objetiva).
O facto tributário compreende todos os elementos imprescindíveis para o nascimento da obrigação tributária.
Daqui decorre:
1) Na ausência de qualquer um dos elementos que formam o facto tributário, o efeito jurídico pretendido não
se produz.
2) Não é possível distinguir entre os vários elementos constitutivos do facto tributário no que diz respeito ao
nexo de causalidade existente entre cada um deles e o surgimento da obrigação tributária, pois, só em
conjunto e de forma articulada produzem esse efeito.
A reunião das dimensões subjetiva e objetiva reconduz o facto tributário ao seu nascimento – facto tributário
constitutivo, tal como decorre do art.º 36.º da LGT.
̶ Art.º 36.º, LGT:
O facto constitutivo do imposto resulta da união entre a situação da vida real e a previsão normativa, ou seja,
o facto tributário existe efetivamente quando há uma união entre o facto da vida real e a previsão da norma.
Isto significa que existirão rendimentos que até podem ser auferidos por um determinado sujeito, mas a partir
do momento em que não se enquadrem nas normas tributárias, não podem ser considerados um facto tributário.
Os rendimentos podem existir, mas não existindo a união com a previsão da norma, então não se estará perante
um facto tributário e não existe uma relação jurídica tributária.
O art.º 36.º, n.º 5 da LGT estabelece uma nuance a esta característica de origem legal do facto ao admitir a
existência de contratos fiscais, numa situação que é tida como excecional. A referência aos contratos fiscais
corresponde a uma aproximação de vontades entre a autoridade tributária e o sujeito passivo.
Esta exceção ainda pode ser complementada com os acordos prévios sobre os preços de transferência. O
legislador permite chegar-se a acordo com a autoridade tributária relativamente ao valor que será praticado no
contexto destas relações. Aqui, o valor relevante para efeitos de imposto é o valor que resulta de um acordo
de vontades.
A par do facto constitutivo, existe o facto extintivo, isto é, o facto que extingue as obrigações jurídico-
tributárias.
São exemplos de factos que podem levar à extinção da relação jurídico-tributária:
➢ Pagamento
➢ Caducidade
➢ Prescrição
➢ Morte (dependendo do tipo de obrigações que estejam em causa e dos termos em que os sucessores tenham
sucedido na posição do falecido).
̶ O facto tributário é associado a alguém, mas a obrigação que surge não atende as circunstâncias
especiais e concretas.
̶ Nota em relação ao IVA: não se pode afirmar que os consumidores finais são sujeitos passivos. Os
consumidores finais apenas suportam o encargo, mas não têm a obrigação de entregar esse valor ao
Estado, pelo que não são sujeitos passivos.
➢ Impostos pessoais – têm como fundamento um elemento objetivo que não pode ser concebido senão
enquanto se referindo a uma pessoa determinada [ex.: IRS].
̶ O IRS é um imposto pessoal porque várias das suas soluções atendem à pessoa em relação à qual o
facto objetivo se verificou. Todas as circunstâncias do IRS são de âmbito pessoal e permitem
identificar a relevância que o legislador dá à circunstância pessoal do sujeito passivo.
Nota: para efeitos fiscais, é importante não confundir a obrigação de pagamento do imposto com a liquidação
do imposto.
➢ A liquidação do imposto consiste na determinação de quem é o sujeito passivo e o montante que terá de
ser pago.
➢ A liquidação é uma operação prévia ao pagamento. Liquidar significa determinar o quantum (montante) e
o sujeito adstrito ao pagamento.
➢ Por outro lado, a obrigação do pagamento do imposto é a obrigação principal no contexto da relação
jurídica tributária, mas não é a única. Existem, a par desta, as obrigações acessórias.
➢ A obrigação principal corresponde ao pagamento do imposto. As obrigações acessórias reconduzem-se a
obrigações associadas à obrigação de pagamento (ex.: juros moratórios, juros compensatórios, etc.).
A doutrina identifica quatro subelementos que compõem o elemento objetivo do facto jurídico: material,
temporal, quantitativo e espacial.
Subelemento material:
O elemento material corresponde à situação de facto, ou seja, ao próprio facto na sua materialidade objetiva.
O elemento material pode consistir, por exemplo: num acontecimento natural ou de natureza económica
(perceção do rendimento); num ato ou negócio jurídico; num estado, situação ou qualidade de uma pessoa; na
compra de um bem; na aquisição de um serviço; etc.
De acordo com este subelemento os factos tributários podem ser tidos como simples ou complexos:
➢ Factos tributários simples – factos tributários que são constituídos por um só elemento material.
➢ Factos jurídicos complexos – factos tributários que são formados por vários elementos materiais ligados
juridicamente numa unidade teleológica objetiva.
̶ Por exemplo: a tributação em sede de IRS pressupõe um facto tributário que se vai formando ao longo
do ano. Ao longo do ano forma-se a obrigação de pagamento de IRS.
Subelemento temporal:
O elemento temporal tem vindo a ser reconhecido porque o facto tributário, por natureza, ocupa sempre um
período de tempo, que pode ser maior ou menor.
O elemento temporal é estritamente necessário para que exista o próprio elemento material porque a perceção
de rendimento apenas pode ser determinada através da comparação de duas situações patrimoniais separadas
por um período de tempo. É necessário esperar que cada período de tempo termine, porque só assim é possível
determinar se o sujeito passivo obteve rendimento no período considerado.
Normalmente, a delimitação temporal do facto tributário pauta-se por critérios naturalísticos [ex.: impostos
alfandegários relativamente à passagem de uma determinada mercadoria pela fronteira]. Contudo, existem
casos mais complexos em que o facto tributário perdura no tempo, o que leva a que o elemento temporal
adquira autonomia normativa e seja objeto de disposições especiais [ex.: impostos sobre o rendimento].
Por exemplo:
➢ O IRS refere-se ao período de um ano. Os factos que se desencadeiam ao longo do ano referem-se a esse
mesmo ano (1 de janeiro a 31 de dezembro).
➢ As obrigações relativas ao IVA estão associadas a um determinado período de tempo.
O elemento temporal tem relevância em quatro domínios: (1) estrutura temporal do facto tributário; (2)
momento do nascimento da obrigação tributária; (3) momento da exigibilidade da prestação tributária; e (4)
lei aplicável para a determinação da origem da obrigação.
➢ Impostos periódicos ou duradoura (factos tributários duradouros ou periódicos) – aqueles que se reiteram
no tempo, não se esgotando num momento determinado. Ou seja, o seu ciclo de formação não se completa
num determinado período de tempo [ex.: impostos sobre o rendimento].
Exemplo prático: o art.º 48.º da LGT estipula um prazo de prescrição de 8 anos para as dívidas tributárias.
Contudo, este período conta de em termos prescritos de forma diferente consoante se esteja a falar de impostos
periódicos ou de impostos de obrigação única.
Subelemento quantitativo:
O elemento quantitativo respeita aos fatores legais de medição do objeto material do imposto.
O que se mede não é o facto tributário em si mesmo (perceção do rendimento), mas sim os bens materiais ou
imateriais que formam parte do elemento objetivo do facto tributário.
O elemento quantitativo coloca em causa os preceitos que medem o rendimento, isto é, em que termos o
rendimento é calculado para efeitos de um determinado imposto.
Todos estes preceitos, ao contribuírem para determinar o próprio facto tributário sob o ponto de vista
quantitativo, concorrem para a delimitação da incidência do imposto porque:
→ O conceito de facto tributário está na base da noção de incidência que corresponde à descrição daquele.
→ O facto tributário só surge se todos os elementos e subelementos que o compõem estiverem presentes,
dependendo diretamente de qualquer um deles para surgir e para delimitar a incidência do imposto.
Subelemento espacial:
O elemento espacial surge como um elemento que traduz uma ligação a uma certa ordem jurídica.
É o elemento que identifica o espaço no contexto do qual surge o facto tributário. Mais do que a associação a
um território delimitado geograficamente, este elemento é visto como a associação a um determinado
ordenamento jurídico.
Existem factos tributários que estão conectados com apenas um ordenamento jurídico e factos tributários que
estão conectados com mais do que um ordenamento jurídico.
Aula 12 – 13/04/2021
Acerca da interpretação das normas tributárias, existem várias abordagens que podem ser adotadas:
1) Teoria geral de interpretação:
Esta teoria, defendida, entre outros, por Saldanha Sanches, sustenta que as normas jurídico-tributárias devem
ser interpretadas nos mesmos termos do que qualquer norma jurídica, em sintonia com o prescrito pelo art.º
9.º do Código Civil. Segundo esta teoria, o próprio art.º 9.º do CC pode ser aplicado no domínio do direito
fiscal.
Nessa medida, a teoria geral de interpretação defende que as normas jurídico-tributárias são interpretadas
recorrendo-se aos mesmos elementos de interpretação das normas jurídicas em geral, ou seja: ao elemento
literal (texto da lei); ao elemento teleológico (finalidade); ao elemento sistemático (articulação de uma norma
com as demais); e ao elemento histórico (trabalhos preparatórios).
O Prof. Saldanha Sanches argumenta que este entendimento se justifica com base na ideia de se evitar que o
Direito Fiscal se transforme num enclave jurídico com regras próprias, dentro do ordenamento legal, que
podem criar incongruências.
Nesse sentido, as regras de aplicação que se aplicam nos outros ramos de direito, também devem ser aplicadas
no Direito Fiscal. As especificidades do Direito Fiscal não são tão particulares que obriguem a regras
diferentes de interpretação.
Esta posição foi acolhida no art.º 11.º, n.º 1 da LGT.
Segundo a teoria da interpretação literal, as regras gerais de interpretação podem ser aplicadas nas normas
tributárias, mas as especificidades do Direito Fiscal exigem algumas adaptações, que se relacionam
essencialmente com a conceção do princípio da legalidade.
As matérias essenciais dos impostos (incidência, taxas, garantias dos contribuintes e benefícios fiscais) têm
de ser reguladas pela Assembleia da República através de lei formal, devendo ser respeitada a intensidade
máxima.
Ou seja, a Assembleia da República tem de densificar as normas que respeitem às matérias essenciais dos
impostos modo tal que seja possível vedar juízos valorativos ao aplicador da lei. A intensidade máxima é
determinada com recurso ao princípio da tipicidade.
O entendimento do princípio da legalidade condiciona o modo segundo o qual as normas são interpretadas.
Se este princípio for entendido de forma rígida, então a interpretação terá de ser tendencialmente literal. Se,
pelo contrário, houver espaço para outros elementos de interpretação, tal será o indício de que a Assembleia
da República (lei formal) ou o Governo (decreto-lei autorizado) não respeitaram a intensidade máxima.
A posição do curso tem um entendimento tradicional da tipicidade, isto é, defende uma tipicidade fechada.
A nível da interpretação, tal terá como consequências o facto de, em regra, a interpretação dever ser
tendencialmente literal, o que significa que a norma é suficientemente determinada sem necessidade de
grandes recursos interpretativos.
No domínio das matérias essenciais, a interpretação deve ser tendencialmente literal, porque o texto da lei
deve delimitar de forma mais ou menos suficiente o seu escopo/aplicação porque se parte de um princípio da
legalidade mais rígido, que obriga o legislador a ir para além da lei, o que significa que condicionará de tal
modo esse ato normativo.
Se a interpretação for tendencialmente literal, isto é, se a letra da lei tiver um peso superior aos outros
elementos, o sujeito passivo verá as suas garantias maximizadas porque este é o modo que melhor permite
assegurar a segurança jurídica.
As normas fiscais são interpretadas essencialmente com base na lei e, por regra, são insuscetíveis de
interpretação extensível (isto é, olhar para o espírito da lei e forçar a aplicação do preceito a uma situação que
não está prevista).
Esta teoria não tem vingado em Portugal. É mais notória em Estados Totalitários, o que decorre do facto de
ser uma teoria avessa às ideias de segurança e previsibilidade jurídicas e de Estado de Direito.
No contexto de cada teoria são apontadas duas tendências possíveis que procuram a resolução de situações de
dúvida surgidas no momento da aplicação da lei:
▪ Princípio in dubio contra fiscum – implica que, em situações de dúvida, as normas fiscais são interpretadas
a favor do contribuinte e contra a Administração Fiscal.
▪ Princípio in dubio pro fiscum – implica que, em situações de dúvida, as normas fiscais são interpretadas a
favor da Administração Fiscal (Fisco) e contra o contribuinte.
1) Na determinação do sentido das normas fiscais e na qualificação dos factos a que as mesmas se aplicam
são observadas as regras e princípios gerais de interpretação e aplicação das leis.
2) Sempre que, nas normas fiscais, se empreguem termos próprios de outros ramos de direito, devem os
mesmos ser interpretados no mesmo sentido daquele que aí têm, salvo se outro decorrer diretamente
da lei.
3) Persistindo a dúvida sobre o sentido das normas de incidência a aplicar, deve atender-se à substância
económica dos factos tributários.
4) As lacunas resultantes de normas tributárias abrangidas na reserva de lei da Assembleia da República
não são suscetíveis de integração analógica.
O n.º 1 do 11.º da LGT aproxima-se à teoria geral de interpretação, que domina nos demais ramos de direito.
O n.º 2 do art.º 11.º da LGT levanta algumas reservas na parte inicial, mas, ao inferir, na parte final, a expressão
“salvo se outro decorrer diretamente da lei” está-se a referir à teoria da interpretação literal.
O n.º 3 do art.º 11.º da LGT a abordagem errática agudiza-se, sendo que este preceito se aproxima da teoria
económica da interpretação. Nesta disposição, e como salienta também Casalta Nabais, denota-se que as regras
normais de interpretação não serão suficientes para fazer face a todos os problemas de interpretação.
Em suma, há um reflexo de quase todas as teorias.
Integração de lacunas
O n.º 4 do art.º 11.º refere-se à questão da integração de lacunas.
Uma lacuna existe quando uma determinada situação não se encontra regulada. Por vezes, é necessário regular
este tipo de situações e existem vários recursos para a integração de lacunas, tais como:
➢ Analogia (em que existe uma situação que está regulada na lei que tem diversos pontos de contacto com
uma outra situação que não está regulada e, assim, o regime da norma regulada estende-se à norma não
regulada)
➢ Criação de uma norma ad hoc – é criada uma norma dentro do espírito do sistema.
O n.º 4 do art.º 11.º refere que as lacunas resultantes de normas tributárias não são suscetíveis de integração
analógica. Ou seja, em matérias essenciais não pode existir integração de lacunas por analogia.
Contudo, a posição do curso é a de que em matérias essenciais não pode haver qualquer forma de integração
de lacunas, seja por analogia, seja pela criação de uma norma dentro do espírito do sistema, ou seja por
qualquer outra forma.
Assim sendo, quando estejam em causa elementos essenciais dos impostos estão proibidos quaisquer meios
de integração de lacunas.
Fora das matérias essenciais dos impostos é de admitir a analogia ou qualquer outra forma de integração de
lacunas.
Com base na questão das lacunas, é possível reforçar a tese de que a interpretação deve ser literal porque
enquanto as regras gerais de interpretação permitem a interpretação extensiva, o art.º 11.º, n.º 4 da LGT proíbe
a analogia.
Ora, em termos teóricos e abstratos a distinção entre analogia e interpretação extensiva é linear, mas em termos
práticos é extremamente difícil. A analogia e a interpretação extensiva não estão assim tão distantes, pelo que
é inevitável chegar à conclusão de que se está vedada a via da analogia, seria estranho que se permitisse a
interpretação extensiva.
Assim, a interpretação deve, por regra, basear-se na letra da lei. Apenas em situações excecionais é que se
podem admitir outros elementos interpretativos e sempre com muito cuidado porque não se pode integrar uma
lacuna em normas tributárias.
Em suma:
➢ Existem várias teorias de interpretação. A própria LGT faz uma aproximação às regras gerais de direito,
mas tem uma abordagem errática porque se aproxima a várias teorias nos números do art.º 11.º
➢ Em matérias essenciais dos impostos, tendencialmente, a interpretação deve ser literal. Acessoriamente,
pode-se recorrer a outras teorias, mas a regra é a da interpretação literal.
A aplicação da lei fiscal no tempo relaciona-se com o elemento objetivo do facto tributário.
Um facto só adquire a natureza de facto tributário se quadrar com o que está previsto na norma tributária. A
previsão da norma tributária figura uma espécie de molde, ou seja, se a situação da vida encaixar
milimetricamente naquele molde, surge um facto tributário.
Para delimitar o facto tributário é necessário: cuidar do sujeito (elemento subjetivo) e do objeto (elemento
objetivo através da delimitação da base material, da base quantitativa, da dimensão temporal e da dimensão
espacial).
A questão da aplicação da lei fiscal no tempo está consagrada no art.º 13.º da LGT:
1) Sem prejuízo de convenções internacionais de que Portugal seja parte e salvo disposição legal em sentido
contrário, as normas tributárias aplicam-se aos factos que ocorram no território nacional.
2) A tributação pessoal abrange ainda todos os rendimentos obtidos pelo sujeito passivo com domicílio, sede
ou direção efetiva em território português, independentemente do local onde sejam obtidos.
Para que uma norma tributária se aplique a uma determinada situação concreta é necessário que se verifique
uma conexão entre essa situação e o ordenamento jurídico de que essa norma faz parte.
A aplicação da lei fiscal no tempo comporta dois tipos de conexão:
▪ Conexão de caráter real ou objetivo (art.º 13.º, n.º 1, LGT) – dominam elementos de conexão objetivos
que traduzem uma ligação ao território de determinado Estado [ex.: local de obtenção de um determinado
rendimento; localização de um dado imóvel]
→ Colocam a tónica no local onde os elementos são obtidos.
▪ Conexão de natureza subjetiva ou pessoal (art.º 13.º, n.º 2, LGT) – dominam elementos de conexão pessoal,
relacionados com o sujeito [ex.: nacionalidade; residência; sede; direção efetiva]
→ Colocam a tónica no sujeito que obtém esses rendimentos.
A lei aplica-se no espaço em função do elemento de conexão, que é definido na norma tributária, a propósito
do facto tributário.
Em Portugal, no domínio do IRS coexistem elementos de conexão reais com elementos de conexão pessoais.
Assim:
➢ Os não residentes em Portugal são tributados pelos rendimentos que obtenham em Portugal – elemento de
conexão real.
➢ Os residentes em Portugal são tributados por todos os rendimentos que obtenham, independentemente do
local onde estes sejam obtidos (nos termos do art.º 15.º do CIRS), sendo que, em circunstâncias muito
específicas, pode ser relevante a nacionalidade (nos termos do art.º 16.º do CIRS) – elemento de conexão
pessoal.
̶ Relativamente aos elementos de conexão pessoal há que notar uma diferença entre, por exemplo, os
ordenamentos jurídicos americano e português: os EUA privilegiam a nacionalidade, porquanto
Portugal privilegia a residência, sendo de referir que, em certas circunstâncias também a
nacionalidade tem relevância (art.º 16.º, CIRS), nomeadamente por motivos de combate à evasão
fiscal.
̶ Art.º 15.º, CIRS (âmbito da sujeição) – “1. Sendo as pessoas residentes em território português, o
IRS incide sobre a totalidade dos seus rendimentos, incluindo os obtidos fora desse território. 2.
Tratando-se de não residentes, o IRS incide unicamente sobre os rendimentos obtidos em território
português.”
̶ Art.º 16.º, CIRS (Residência) – “1 - São residentes em território português as pessoas que, no ano a
que respeitam os rendimentos: a) Hajam nele permanecido mais de 183 dias, seguidos ou
interpolados; b) Tendo permanecido por menos tempo, aí disponham, em 31 de Dezembro desse ano,
de habitação em condições que façam supor a intenção de a manter e ocupar como residência habitual;
c) Em 31 de Dezembro, sejam tripulantes de navios ou aeronaves, desde que aqueles estejam ao
serviço de entidades com residência, sede ou direcão efetiva nesse território; d) Desempenhem no
estrangeiro funções ou comissões de carácter público, ao serviço do Estado Português. 2 - Serão
sempre havidas como residentes em território português as pessoas que constituem o agregado
familiar, desde que naquele resida qualquer das pessoas a quem incumbe a direção do mesmo.”
A ligação a uma determinada situação de facto a dois ordenamentos fiscais distintos por via dos elementos de
conexão gera problemas de dupla tributação, que são resolvidos através do método ao crédito de imposto ou
do método da isenção do imposto. Estes mecanismos podem decorrer do direito interno de cada um dos
Estados envolvidos ou de uma convenção que eventualmente tenham celebrado.
O estudo do facto tributário permite perceber o que é a incidência. Para se saber se se está perante a incidência
(103.º, n.º 2, CRP) tem de ser considerado o facto tribuário, isto é, tem de se:
1) Definir quem é o sujeito passivo – dimensão subjetiva do facto tributário
O facto tributário tem uma utilidade extrema, na medida em que: ajuda a perceber o que é a incidência; consiste
numa check list para a resolução de casos práticos de qualquer imposto; e ajuda a compreender a complexidade
e a fragmentariedade da norma tributária.
Destes problemas, importa ao Direito Fiscal a questão da sucessão das leis fiscais no tempo.
A grande questão que surge no âmbito da sucessão das normas fiscais no tempo é a questão da retroatividade,
isto é, de saber se a lei fiscal pode ou não ser retroativa.
Atualmente, e tendo em conta o art.º 103.º, n.º 3 da CRP, tem-se por certo que as leis fiscais não podem ser
retroativas, ou seja, não se podem aplicar a factos passados.
̶ Art.º 103.º, n.º 3, CRP – “Ninguém pode ser obrigado a pagar impostos que não hajam sido criados nos
termos da Constituição, que tenham natureza retroativa ou cuja liquidação e cobrança se não façam nos
termos da lei.”
Contudo, esta questão nem sempre sucedeu desta forma, na medida em que apenas este preceito apenas doi
introduzido com a revisão constitucional de 1997.
Existiram duas situações que ficaram na história por terem implicado a aplicação retroativa de leis fiscais:
➢ Abril de 1978 – lançamento de um adicional de 15% sobre as contribuições predial e industrial, imposto
de capitais, imposto complementar e imposto de mais-valias relativamente a rendimentos de 1977.
➢ Outubro de 1983 – aplicação de um imposto extraordinário sobre os rendimentos de 1982 sujeitos à
contribuição predial, imposto de capitais e imposto profissional.
Para além da aplicabilidade das leis fiscais no tempo encontra-se plasmada no art.º 12.º da LGT, sendo que a
questão da proibição da retroatividade encontra consagração no n.º 1 deste artigo.
1) As normas tributárias aplicam-se aos factos posteriores à sua entrada em vigor, não podendo ser criados
quaisquer tributos retroativos.
2) Se o facto tributário for de formação sucessiva, a lei nova só se aplica ao período decorrido a partir da
sua entrada em vigor.
3) As normas sobre procedimento e processo são de aplicação imediata, sem prejuízo das garantias,
direitos e interesses legítimos anteriormente constituídos dos contribuintes.
4) Não são abrangidas pelo disposto no número anterior as normas que, embora integradas no processo de
determinação da matéria tributável, tenham por função o desenvolvimento das normas de incidência
tributária.
Assim, a lei nova não se pode aplicar a atos praticados anteriormente ou a soluções já inexistentes à data da
entrada em vigor.
Esta solução tem por subjacente a necessidade de proteção da segurança jurídica (por inspiração da doutrina
alemã) e o respeito pela capacidade contributiva (por inspiração na doutrina italiana.
➢ Acórdão n.º 11/83 do Tribunal Constitucional
➢ Acórdão n.º 399/10 do Tribunal Constitucional
Atualmente, é pacífico que não é possível aplicar retroativamente as leis fiscais. Contudo, existem dúvidas
quanto ao sentido a dar ao conceito de retroatividade:
▪ Retroatividade própria – corresponde às situações em que seriam tributados factos constituídos ao abrigo
de lei anterior [ex.: tributação de rendimentos de anos anteriores].
▪ Retroatividade imprópria – corresponde aos factos tributários que ainda estão em formação [ex.: alteração
do IRS antes de ter terminado o ano fiscal]
▪ Retrospetividade – corresponde às situações em que se violam vertas expectativas jurídicas [ex.: alteração
da tributação das mais-valias mobiliárias]
A posição do curso e do Prof. João Sérgio Ribeiro é a de que a retroatividade corresponde apenas à
retroatividade própria, sendo que apenas essa poderá ser reconduzida ao art.º 103.º, n.º 3 da CRP. A
retroatividade deve ser entendida de uma forma estrita, ou seja, só é proibida a retroatividade verdadeira
(quando a retroatividade respeita a situações passadas).
No caso concreto as outras formas poderão merecer proteção, mas tal proteção não decorrerá do n.º 3 do art.º
103.º da CRP. Derivará, antes, dos princípios jurídico-constitucionais de Direito Fiscal como, por exemplo, a
segurança jurídica ou a igualdade.
Exemplo disso é o facto de o n.º 2 do art.º 12.º da LGT, que acautela uma das situações que podem ser
reconduzidas à retroatividade imprópria (factos tributários de formação sucessiva) não remeter essa questão
para o âmbito da retroatividade.
O n.º 2 do art.º 12.º da LGT refere que se o facto tributário for de formação sucessiva (como sucede com o
IRS), a lei nova só se aplica ao período a partir da sua entrada em vigor. Aqui acolhe-se a posição da
retroatividade em segundo grau.
Nas matérias essenciais dos impostos está proibida a aplicação retroativa de normas fiscais.
Relativamente às normas que não se refiram às matérias essenciais dos impostos não está proibida a sua
aplicação retroativa. Nestes casos, a lei nova pode ser imediatamente aplicada a situações criadas ou já em
curso antes da sua entrada em vigor, desde que não se prejudiquem as garantias e os interesses legítimos dos
contribuintes (nos termos do art.º 12.º, números 3 e 4 da LGT).
➢ O n.º 3 do art.º 12.º da LGT refere que fora dos elementos essenciais não há o problema da proibição da
retroatividade, quer seja a de primeiro grau, quer seja a de segundo grau. Exceto nos casos em que sejam
colocadas em causa as garantias, os direitos e os interesses legítimos dos contribuintes.
➢ O n.º 4 do art.º 12.º da LGT refere que tudo o que se relacione com as matérias essenciais dos impostos
não podem ser atingidas por normas de aplicação imediata, independentemente de serem procedimentais
ou processuais.
Conceito de rendimento
O auferir rendimento constitui a base do facto tributário, isto é, a sua dimensão material.
O facto tributário é conformado na previsão da norma, que deve cuidar do elemento subjetivo (no caso do
IRS: as pessoas singulares) e do elemento objetivo, onde deve cuidar de quatro dimensões: dimensão material
(auferir o rendimento), temporal (no caso do IRS corresponde ao ano civil), quantitativa e espacial (como é
que o sujeito passivo que aufere rendimentos num determinado período se conecta ao ordenamento jurídico
português).
Em rigor, fala-se em matéria tributável para se referir à dimensão quantitativa do facto tributário.
Rendimento é um conceito que nem sempre se consegue definir bem porque é o conceito central da ciência
económica, não é um conceito exclusivo do Direito Fiscal.
No âmbito do Direito Fiscal existem várias abordagens ao conceito de rendimento.
O conceito de rendimento aplicado é o conceito de rendimento alargado, também designado como conceito
de rendimento acréscimo ou conceito de rendimento incremento patrimonial.
Considera-se rendimento qualquer acréscimo de património que ocorra na esfera do sujeito passivo durante
um ano fiscal.
Se compararmos o património do sujeito passivo que tem no início do ano fiscal e com o que tem no fim do
ano fiscal, chegamos ao conceito de rendimento. Contudo, deve ainda somar-se-lhes o consumo.
Este é o conceito de rendimento que atualmente serve de referência aos vários códigos.
É um conceito alargado.
Na prática, este conceito não é aplicado na sua pureza, mas em termos teóricos, podemos falar neste conceito
de rendimento acréscimo.
Antes da entrada em vigor do novo Código do IRS, era utilizada a visão estrita.
Apesar da referência teórica ser este conceito abrangente de rendimento, na prática, no caso específico do IRS
mas também no código do IRC, nem toda a expressão desta teoria do rendimento é materializada numa
expressão positiva concreta.
O IRS tem como referência este conceito alargado de rendimento, mas não o leva à prática em toda a sua
dimensão.
O conceito de rendimento acréscimo na sua pureza não é implementado na sua pureza.
→ Ex.: há um trabalhador que é comercial e precisa de almoçar fora com clientes, levá-los a passear. O
facto de este profissional poder ir a restaurantes de luxo deve-lhe ser tributado?
➢ Os benefícios em espécie são rendimento? Em termos teóricos, isso é rendimento (na pureza
teórica do conceito de rendimento-acréscimo). No plano de direito positivo é complicado levar a
implementação do conceito a esse extremo porque muito destes benefícios em espécie podem não
se traduzir em benefícios reais para o sujeito passivo (ex.: o sujeito passivo pode ter problemas
de saúde e isso ser um sacrifício)
➢ E como é que se calculam todos os benefícios em espécie? Não dá. Existe uma limitação prática.
➢ Em termos práticos não é conveniente fazer desses acréscimos benefícios tributáveis.
→ O conceito na sua pureza obrigaria a tributar todos os benefícios em espécie, mas na prática, alguns
são tributados
➢ Vantagens acessórias – ex.: senhas de gasolina das empresas; seguros de saúde; usar um carro da
empresa
→ Há certos benefícios que são derivados do uso de bens próprios do sujeito passivo ou da sua ação
➢ ex.: alguém tem uma horta e em vez de comprar legumes, cultiva. Isto é um acréscimo
patrimonial.
➢ Ex.: uma pessoa que limpa a casa, em termos teóricos,
➢ Ex.: uma pessoa que tem uma casa própria e não precisa de pagar renda, também poderá haver
uma expressão do rendimento acréscimo
➢ Ex.: pessoa que não poe os filhos no colégio e os ensina em casa
➢ Ex.: pessoa que pinta a casa
→ Alguém que não tem trabalho e rendimentos é, muitas vezes, apoiado pelo Estado.
→ Nestes casos, os beneficiários destes benefícios têm acréscimos patrimoniais, em termos teóricos
→ Mas em termos práticos, estes rendimentos não estão tributados
No passado existiam tantos impostos para quantas fontes de rendimento existissem. Atualmente, existe um
único imposto, mas, ainda assim, há algumas reminiscências do passado.
O IRS é tendencialmente global (porque à partida abarca todos os rendimentos) e tendencialmente único
(porque à partida é o mesmo para todos os rendimentos), mas existem exceções.
Nos países nórdicos (Finlândia, Noruega, Suécia) existe a tributação dual (há uma taxa proporcional que é
aplicada a todos os tipos de rendimentos e depois há taxas progressivas que apenas é aplicada aos rendimentos
do trabalho e das reformas).
Depois há o sistema semi-dual (existem taxas proporcionais para rendimentos de capitais e patrimoniais e
taxas progressivas para rendimentos do trabalho e das reformas)
Depois há ainda o sistema que tributa o rendimento através da despesa.
Estes são sistemas teóricos puros, mas na prática todos os sistemas se encontram entre estes.
Em Portugal pode ser tendencialmente global como tendencialmente semi-dual.
Há ainda o sistema da tributação de taxas proporcionais, em que existe uma taxa única para todos os
rendimentos sem qualquer distinção, como existe nos países de leste.
Em Portugal a referência é um modelo de tributação única, mas na prática há exceções, o que não o torna
puramente único e o aproxima do sistema semi-dual.
O art.º 104.º, n.º 1 da CRP diz que o IRS será único, mas na prática não é totalmente único.
Quanto à tipologia dos impostos, o IRS é um imposto direto (quer quanto aos critérios económicos, quer
quanto aos critérios jurídicos), periódico, pessoal (atende de uma forma especialmente rigorosa à situação
concreta do sujeito passivo), de prestação variável (taxas progressivas), estadual, geral, principal, de
quotidade, ad valorem, fiscal e sobre rendimento.
Introdução ao Imposto sobre o rendimento das pessoas singulares
→ Sujeitos passivos não residentes – será tributado em Portugal, desde que obtenha rendimentos em
Portugal
▪ Dimensão objetiva
▪ Categorias – art.º 1.º, n.º 1, CIRS + ver artigos para cada categoria
➢ Palavras-chave: rendas
➢ É difícil que esta categoria tenha palavras-chave porque não tem na sua base um elemento
agregador homogéneo.
➢ Por exemplo, na categoria A todas as situações têm por base um contrato de trabalho (elemento
agregador homogéneo); na categoria B existe a fonte de atividade empresarial;
➢ Nesta categoria não existe um elemento agregador homogéneo como existe nas outras categorias.
➢ Fazem parte da categoria G todos os acréscimos patrimoniais que não podem ser reconduzidos a
outras categorias.
→ Categoria H – Pensões
➢ Palavras-chave: reformas
▪ Dimensão quantitativa
▪ Dimensão temporal
→ Categoria A – há a possibilidade de fazer deduções em valor fixo, por uma questão de igualdade - 25
→ Categoria B – existem deduções específicas (ex.: um advogado – existem uma série de despesas) –
antes de aplicar a taxa, deduzem-se as despesas que foi necessário realizar para gerar este rendimento
– 28.º e 31.º
→ Categoria E – não tem deduções específicas porque se entende que os lucros são gerados pelos
mercados (existe uma atenuação da dupla tributação económica, mas não se tratam de deduções
específicas)
→ Categoria F – tem deduções específicas (ex.: uma pessoa que tem um prédio arre3ndado precisa de
pagar condomínio, pagar IMI, pagar as despesas relacionadas com a manutenção do imóvel – o
senhorio, para gerar rendimentos, necessita de efetuar algumas despesas) – 43.º
→ Categoria G – relativamente às mais-valias existem deduções específicas, mas relativamente aos
outros incrementos patrimoniais não existem deduções específicas
→ Categoria H – existem deduções semelhantes às da categoria A – deduções específicas fixas
→ Antes da aplicação das deduções específicas existem os “rendimentos brutos” (esta definição não é
correta porque, por definição, o rendimento é sempre líquido). Depois de feita a dedução, existem os
rendimentos líquidos.
Incidência pessoal
A incidência pessoal do IRS consta dos artigos 13.º, n.º 1 e 15.º do CIRS.
̶ Art.º 13.º, n.º 1, CIRS – “Ficam sujeitas a IRS as pessoas singulares que residam em território português e
as que, nele não residindo, aqui obtenham rendimentos.”
̶ Art.º 15.º, n.º 1, CIRS – “Sendo as pessoas residentes em território português, o IRS incide sobre a
totalidade dos seus rendimentos, incluindo os obtidos fora desse território.”
̶ Art.º 15.º, n.º 2, CIRS – “Tratando-se de não residentes, o IRS incide unicamente sobre os rendimentos
obtidos em território português.”
A partir destes preceitos, conclui-se que a incidência pessoal do IRS respeita a pessoas singulares, sendo que
estas poderão ser residentes ou não residentes em Portugal.
➢ Pessoas singulares residentes – são pelos rendimentos que obtenham em qualquer parte do mundo
➢ Pessoas singulares não residentes – são tributados pelos rendimentos que obtenham em Portugal
O IRS incide sobre pessoas singulares residentes e sobre aquelas que, apesar de não serem residentes,
obtenham rendimentos em Portugal.
Anteriormente, a regra geral para determinar se uma pessoa seria residente respeitava apenas ao facto de a
pessoa haver permanecido em Portugal por mais de 183 dias, seguidos ou interpelados. Se tal se verificasse,
a pessoa seria considerada residente.
Esta regra foi ligeiramente alterada, sendo que, atualmente, respeita a um qualquer período de 12 meses com
início ou fim no ano em causa.
➢ Por exemplo, à luz desta nova legislação, alguém que chegue a Portugal em outubro de 2019 e aqui
permaneça até março de 2020, será considerado residente fiscal quer no ano de 2019 (de outubro a
dezembro), quer no ano de 2020 (de janeiro a março).
Esta regra supletiva aplica-se quando não é possível determinar se se verifica a regra geral. Aplicar-se-á, por
isso, a uma pessoa cuja habitação em Portugal comporte elementos que permitam concluir que se trate da sua
residência habitual [ex.: receber a correspondência naquela habitação; ser casa de morada de família; etc.].
Estabelece esta norma que relativamente aos tripulantes de navios ou aeronaves, a regra será a de que terão
residência no local de sede ou direção efetiva das entidades que são detentoras desses navios ou aeronaves.
O art.º 16.º, n.º 2 do CIRS refere que se considera como dia de presença em território português qualquer dia,
completo ou parcial, que inclua dormida.
➢ Por exemplo: se a pessoa chega a Portugal às 16h do dia 4 de maio e em Portugal permanece desde aí em
diante, o dia de 4 de maio será contado como dia de residência, na medida em que a pessoa dormiu em
Portugal [não se conta o dia a partir das 00h00].
A primeira parte do n.º 3 do art.º 16.º do CIRS refere que as pessoas que preencham os requisitos das alíneas
a) e b) do art.º 16.º, n.º 1, se tornam residentes em Portugal desde o primeiro dia do período de permanência
em território português.
No entanto, na segunda parte do mesmo preceito consagra-se uma exceção à entrada de residentes em
Portugal: se a pessoa tivesse já sido considerada residente em Portugal no ano anterior, então será considerada
residente durante todo esse período.
➢ Por exemplo: uma pessoa que chegue a Portugal em outubro de 2020, aí permaneça até março de 2021,
mas que tenha já sido considerada como residente no ano de 2019, será então considerada como residente
não só de outubro de 2020 até março de 2021, como desde 2019.
➢ Uma pessoa que chegue a Portugal em junho de 2019 e aí permaneça durante 6 meses (até dezembro de
2019), é considerada residente em Portugal no ano de 2019. Posteriormente, regressa a Portugal em
outubro de 2020 e aí permanece até março de 2021. Sem mais, seria considerada como residente em
Portugal desde outubro de 2020 a dezembro de 2020 e de janeiro de 2021 a março de 2021. Contudo, como
já teria estado em Portugal no ano de 2019, então será considerada residente desde o primeiro dia em que
se considerou como residente no ano de 2019 (no caso, junho de 2019), nos termos do art.º 16.º, n.º 3 do
CIRS.
A primeira exceção à saída de residentes em Portugal é uma simétrica relativamente à regra da entrada de
residentes em Portugal. Ou seja, se uma pessoa for considerada residente em Portugal num determinado ano
e sair de Portugal, voltando no ano subsequente ao da saída, será tributada desde o primeiro dia de residência
do ano em que chegou.
➢ Por exemplo: se que uma pessoa sair de Portugal em abril de 2021, mas regressar em 2022 será considerada
residente, quer em 2021, quer em 2022.
CASO PRÁTICO 10: O Sr. Francisco chega a Portugal em setembro de 2020 e sai em maio de 2021. É
considerado residente em Portugal ou não? E durante que anos fiscais?
O Sr. Francisco é residente em Portugal e é considerado residente de setembro de 2020 a dezembro de
2020 e de janeiro de 2021 até maio de 2021.
ALTERNATIVA 1 AO CASO PRÁTICO 10: Imagine-se que o Sr. Francisco teria já sido residente em Portugal no
ano de 2019. O que muda?
A alteração que se verifica é a de que o Sr. Francisco será tributado relativamente a todo o ano de 2020.
ALTERNATIVA 2 AO CASO PRÁTICO 10: E se, depois de ter saído em maio de 2021, o Sr. Francisco voltar a
Portugal em janeiro de 2022, tornando-se residente em Portugal?
Neste caso, o Sr. Francisco será também tributado durante todo o ano de 2021.
A segunda exceção à saída de residentes em Portugal encontra-se prevista nos números 14 e 15 do art.º 16.º
do CIRS, sendo que esta exceção não colide com a primeira.
̶ Art.º 16.º, n.º 14, CIRS – “Sem prejuízo do disposto no número seguinte, um sujeito passivo considera-se
residente em território português durante a totalidade do ano no qual perca a qualidade de residente quando
se verifiquem, cumulativamente, as seguintes condições: a) Permaneça em território português mais de
183 dias, seguidos ou interpolados, nesse ano; e b) Obtenha, no decorrer desse ano e após o último dia de
permanência em território português, quaisquer rendimentos que fossem sujeitos e não isentos de IRS, caso
o sujeito passivo mantivesse a sua qualidade de residente em território português.”
̶ Art.º 16.º, n.º 15, CIRS – “O disposto no número anterior [art.º 16.º, n.º 14] não é aplicável caso o sujeito
passivo demonstre que os rendimentos a que se refere a alínea b) do mesmo número sejam tributados por
um imposto sobre o rendimento idêntico ou substancialmente similar ao IRS aplicado devido ao domicílio
ou residência: a) Noutro Estado membro da União Europeia ou do Espaço Económico Europeu, desde que,
neste último caso, exista intercâmbio de informações em matéria fiscal e que se preveja a cooperação
administrativa no domínio da fiscalidade; ou b) Noutro Estado, não abrangido na alínea anterior, em que a
taxa de tributação aplicável àqueles rendimentos não seja inferior a 60 % daquela que lhes seria aplicável
caso o sujeito passivo mantivesse a sua residência em território português.”
O art.º 16.º, n.º 14 do CIRS comporta os casos em que um sujeito passivo que tenha saído de Portugal
continuará a ser considerado como residente em território português. Par que tal suceda, terão de estar
preenchidos dois requisitos cumulativos:
1) A pessoa tem de ter permanecido mais de 183 dias, seguidos ou interpolados, no ano em que sai do
território português; e
2) Após ter saído de Portugal, tem de ter obtido rendimentos gerados em Portugal (que estão sujeitos a
tributação no âmbito do IRS).
O n.º 15 do art.º 16.º do CIRS estipula uma exceção à exceção do n.º 14, definindo que o sujeito passivo não
será considerado como residente em Portugal e sujeito à tributação dos residentes se provar que os rendimentos
relativos à al. b) do n.º 14 são tributados por um imposto sobre o rendimento idêntico ao IRS:
▪ Noutro Estado-membro da União Europeia; ou
▪ Noutro Estado que não seja faça parte da União Europeia, mas em que a taxa de tributação aplicável não
seja inferior a 60% da taxa que lhe seria aplicável em Portugal.
Se assim não fosse, uma pessoa que saísse de Portugal em maio de 2021 e se deslocasse para um país onde
não existisse tributação, não poderia ser tributado pelos rendimentos que continuasse a obter em Portugal.
nessa medida, continuar-se-á a considerar que o sujeito passivo é residente em Portugal, sendo tributado
através do regime dos residentes em Portugal.
CASO PRÁTICO 11: Imagine-se que uma pessoa sai de Portugal a 15 de abril, mas nos meses subsequentes
continua a obter rendimentos que seriam tributados em Portugal se essa mesma pessoa continuasse a ser
residente (tem, por exemplo, casas arrendadas e uma empresa). Existe alguma mudança na situação deste
sujeito passivo?
Neste caso, existe uma cumulação de requisitos.
Por um lado, a pessoa teria de ter permanecido em Portugal por um período superior a 183 dias no ano de
saída.
Por outro lado, teria de ter obtido rendimentos gerados em Portugal.
No caso concreto, não se verifica o preenchimento cumulativo dos requisitos, na medida em que, tendo a
pessoa abandonado o país em abril, não poderá estar cumprido o requisito relativo à permanência em
Portugal por um período de 183 dias.
Se a pessoa tivesse, por exemplo, permanecido em Portugal até julho do ano de saída, considerar-se-ia a
exceção à exceção do art.º 16.º, n.º 14 do CIRS. Contudo, ainda assim, tal tributação poderia cair se a
pessoa fosse tributada no território de um Estado-membro da UE ou no território de um Estado que não
seja membro da UE, mas em que a taxa de tributação aplicável não seja inferior a 60% da taxa que seria
aplicável em Portugal.
Não residente em Portugal – será considerado como não residente em Portugal qualquer pessoa que não
cumpra os requisitos do art.º 16.º do CIRS (leitura a contrario).
Ficção legal sobre regimes fiscais favoráveis (paraísos fiscais) (art.º 16.º, números 6 e 7 do CIRS)
Coloca-se ainda a questão de saber como serão tributados os cidadãos de nacionalidade portuguesa que tenham
alterado a sua residência habitual par um paraíso fiscal.
Esta questão encontra resposta na leitura conjugada dos números 6 e 7 do art.º 16.º do CIRS:
̶ Art.º 16.º, n.º 6, CIRS – “São ainda havidos como residentes em território português as pessoas de
nacionalidade portuguesa que deslocalizem a sua residência fiscal para país, território ou região, sujeito a
um regime fiscal claramente mais favorável constante de lista aprovada por portaria do membro do Governo
responsável pela área das finanças, no ano em que se verifique aquela mudança e nos quatro anos
subsequentes, salvo se o interessado provar que a mudança se deve a razões atendíveis, designadamente
exercício naquele território de atividade temporária por conta de entidade patronal domiciliada em território
português”
̶ Art.º 16.º, n.º 7, CIRS – “Sem prejuízo do período definido no número anterior, a condição de residente aí
prevista subsiste apenas enquanto se mantiver a deslocação da residência fiscal do sujeito passivo para país,
território ou região, sujeito a um regime fiscal claramente mais favorável constante de lista aprovada por
portaria do membro do Governo responsável pela área das finanças, deixando de se aplicar no ano em que
este se torne residente fiscal em país, território ou região distinto daqueles”
Estes preceitos aplicam-se, por exemplo, às pessoas que não preenchem os requisitos necessários para serem
consideradas residentes em Portugal para efeitos de tributação e cuja única informação que se tem é de que tal
pessoa já fora residente fiscal em Portugal, mas mudou a sua residência para um paraíso fiscal (regime fiscal
mais favorável) e tem nacionalidade portuguesa.
Nos termos dos números 6 e 7 do art.º 16.º do CIRS, essa pessoa pode ser considerada residente em Portugal,
pelo que estes preceitos se consubstanciam numa ficção legal que tem na sua base a nacionalidade.
A pessoa não é residente nem cumpre os requisitos da residência, mas o legislador equipara o seu contexto ao
de um residente fiscal português.
Com estas medidas, o legislador, com base no elemento de conexão da nacionalidade, frusta as expectativas
do cidadão português que muda a sua residência para um paraíso fiscal com o intuito de escapar à tributação.
Como tem nacionalidade portuguesa, o cidadão português que resida num paraíso fiscal, será equiparado a um
residente.
Os sujeitos passivos residentes nas regiões autónomas estão sujeitos a um regime de tributação diferente, na
medida em que as taxas de IRS são mais baixas.
Para uma pessoa ser considerada residente da região autónoma terá de cumprir os requisitos cumulativos dos
números 1 e 2 do art.º 17.º do CIRS:
▪ Permanecer no território da região autónoma por mais de 183 dias no ano a que respeitam os rendimentos;
e
▪ Tenha residência habitual no território da região autónoma.
̶ Art.º 17.º-A, n.º 1, CIRS – “Os sujeitos passivos residentes noutro Estado membro da União Europeia ou
do Espaço Económico Europeu com o qual exista intercâmbio de informações em matéria fiscal, quando
sejam titulares de rendimentos obtidos em território português, que representem, pelo menos, 90 % da
totalidade dos seus rendimentos relativos ao ano em causa, incluindo os obtidos fora deste território, podem
optar pela respetiva tributação de acordo com as regras aplicáveis aos sujeitos passivos não casados
residentes em território português com as adaptações previstas nos números seguintes.”
̶ Art.º 16.º, n.º 8, CIRS – “Consideram-se residentes não habituais em território português os sujeitos
passivos que, tornando-se fiscalmente residentes nos termos dos números 1 ou 2, não tenham sido
residentes em território português em qualquer dos cinco anos anteriores.”
̶ Art.º 16.º, n.º 9, CIRS – “O sujeito passivo que seja considerado residente não habitual adquire o direito a
ser tributado como tal pelo período de 10 anos consecutivos a partir do ano, inclusive, da sua inscrição
como residente em território português.”
̶ Art.º 72.º, n.º 10, CIRS – “Os rendimentos líquidos das categorias A e B auferidos em atividades de elevado
valor acrescentado, com carácter científico, artístico ou técnico, a definir em portaria do membro do
Governo responsável pela área das finanças, por residentes não habituais em território português, são
tributados à taxa de 20 %.”
̶ Art.º 81.º, n.º 4, CIRS – “Aos residentes não habituais em território português que obtenham, no estrangeiro,
rendimentos da categoria A aplica-se o método da isenção, bastando que se verifique qualquer das
condições previstas nas alíneas seguintes: a) Sejam tributados no outro Estado contratante, em
conformidade com convenção para eliminar a dupla tributação celebrada por Portugal com esse Estado; ou
b) Sejam tributados no outro país, território ou região, nos casos em que não exista convenção para eliminar
a dupla tributação celebrada por Portugal, desde que os rendimentos, pelos critérios previstos no n.º 1 do
artigo 18.º, não sejam de considerar obtidos em território português.”
̶ Art.º 81.º, n.º 5, CIRS – “Aos residentes não habituais em território português que obtenham, no estrangeiro,
rendimentos da categoria B, auferidos em atividades de prestação de serviços de elevado valor
acrescentado, com carácter científico, artístico ou técnico, a definir em portaria do membro do Governo
responsável pela área das finanças, ou provenientes da propriedade intelectual ou industrial, ou ainda da
prestação de informações respeitantes a uma experiência adquirida no setor industrial, comercial ou
científico, bem como das categorias E, F e G, aplica-se o método da isenção, bastando que se verifique
qualquer uma das condições previstas nas alíneas seguintes: a) Possam ser tributados no outro Estado
contratante, em conformidade com convenção para eliminar a dupla tributação celebrada por Portugal com
esse Estado; ou b) Possam ser tributados no outro país, território ou região, em conformidade com o modelo
de convenção fiscal sobre o rendimento e o património da OCDE, interpretado de acordo com as
observações e reservas formuladas por Portugal, nos casos em que não exista convenção para eliminar a
dupla tributação celebrada por Portugal, desde que aqueles não constem de lista aprovada por portaria do
membro do Governo responsável pela área das finanças, relativa a regimes de tributação privilegiada,
claramente mais favoráveis e, bem assim, desde que os rendimentos, pelos critérios previstos no artigo 18.º,
não sejam de considerar obtidos em território português.”
O regime dos ex-residentes em Portugal
O regime de tributação dos ex-residentes em Portugal está consagrado no art.º 12.º-A do CIRS:
1) São excluídos de tributação 50 % dos rendimentos do trabalho dependente e dos rendimentos empresariais
e profissionais dos sujeitos passivos que, tornando-se fiscalmente residentes nos termos dos números 1 e
2 do artigo 16.º em 2019 ou 2020:
a) Não tenham sido considerados residentes em território português em qualquer dos três anos anteriores;
b) Tenham sido residentes em território português antes de 31 de dezembro de 2015
c) Tenham a sua situação tributária regularizada.”
2) “Não podem beneficiar do disposto no presente artigo os sujeitos passivos que tenham solicitado a sua
inscrição como residente não habitual.”
NOTA: O artigo 12.º-A do Código do IRS, aditado pela presente lei, aplica-se aos rendimentos auferidos no
primeiro ano em que o sujeito passivo reúna os requisitos previstos no seu n.º 1 e nos quatro anos seguintes,
cessando a sua vigência após a produção de todos os seus efeitos em relação aos sujeitos passivos que apenas
venham a preencher tais requisitos em 2020.
Este é um regime vantajoso que não pode ser cumulado com o regime dos residentes não habituais, conforme
consta do art.º 12.º-A, n.º 2 do CIRS.
Este regime implica que uma pessoa que já tenha sido residente em Portugal no período anterior a 31 de
dezembro de 2015, que volte a residir em Portugal nos anos de 2019 e 2020, possa beneficiar da exclusão de
uma tributação de 50% dos rendimentos do trabalho dependente e dos rendimentos empresariais e
profissionais dos sujeitos passivos nos quatro anos seguintes, desde que tenha a sua situação fiscal
regularizada.
Verificando-se o preenchimento de todos os requisitos constantes do art.º 12.º-A, n.º 1 do CIRS, os ex-
residentes em Portugal beneficiarão de uma isenção de 50% dos salários ou prestações de serviços durante 4
anos.
Atualmente, mais ninguém pode beneficiar deste regime, mas quem já o iniciou poderá concluí-lo.
O regime dos ex-residentes em Portugal foi muito aproveitado, por exemplo, por ex-jogadores de futebol, que
voltaram a Portugal ao abrigo deste regime.
A unidade fiscal
São os sujeitos passivos singulares que são tributados no âmbito do IRS. Cada sujeito passivo, à partida, estará
obrigado a pagar o IRS.
Acontece, porém, que em algumas circunstâncias o cálculo do IRS se pode fazer também relativamente a
outras pessoas que não o sujeito passivo: poder-se-á fazer o cálculo do IRS considerando a família.
O legislador permitiu que em certas circunstâncias previstas na lei, a unidade fiscal abranja mais do que um
sujeito passivo.
A situação mais pragmática é a situação de um casal ou unidos de facto, cujo cálculo do IRS é feito em
conjunto, incluindo-se neste cálculo os filhos.
Anteriormente, a regra era a da tributação do agregado familiar de forma conjunta. A Reforma Fiscal veio
alterar esta regra, sendo que, atualmente, prevalece a regra da tributação separada.
Contudo, ainda é possível proceder a uma tributação em bloco.
Hoje em dia, o método de determinação da situação fiscal parte de uma pessoa isolada, mas continua a existir
a possibilidade de optar pela tributação conjunta. A tributação conjunta deixou de ser regra para passar a ser
a exceção.
A tributação conjunta tem como efeitos práticos, num primeiro momento, o englobamento de todos os
elementos do agregado familiar e, num segundo momento, a consideração de todas as despesas de caráter
pessoal dos elementos que fazem parte do agregado familiar [deduções à coleta].
Caso seja feita uma opção pela tributação conjunta, então o imposto será devido pela soma dos rendimentos
das pessoas que constituem o agregado familiar, nos termos do art.º 13.º, n.º 3, do CIRS.
̶ Art.º 13.º, n.º 3, CIRS – “No caso de opção por tributação conjunta, o imposto é devido pela soma dos
rendimentos das pessoas que constituem o agregado familiar, considerando-se como sujeitos passivos
aquelas a quem incumbe a sua direção.”
→ A questão relativa aos unidos de facto remete para o art.º 14.º, n.º 2 do CIRS, que consagra como
requisitos para os sujeitos passivos residentes em Portugal: (1) a existência de identidade de domínio
fiscal e (2) a verificação do período exigido por lei para que sejam considerados unidos de facto [2
anos].
→ O art.º 14.º, n.º 3 do CIRS respeita aos unidos de facto que sejam sujeitos passivos não residentes em
Portugal, os quais devem fazer prova documental da identidade de domicílio fiscal.
̶ Art.º 13.º, n.º 4, al. a), do CIRS – “- O agregado familiar é constituído por: a) Os cônjuges não
separados judicialmente de pessoas e bens, ou os unidos de facto, e os respetivos dependentes;”
̶ Art.º 14.º, n.º 2, do CIRS – “A existência de identidade de domicílio fiscal dos sujeitos passivos durante
o período exigido pela lei para verificação dos pressupostos da união de facto, e durante o período de
tributação, faz presumir a existência de união de facto quando esta seja invocada pelos sujeitos
passivos”
̶ Art.º 14.º, n.º 3, do CIRS – “Os sujeitos passivos não residentes em território português durante todo
ou parte do período referido no número anterior podem apresentar prova documental da identidade de
domicílio fiscal no Estado ou Estados onde residiram durante aquele período.”
▪ Cada um dos cônjuges ou ex-cônjuges, respetivamente, nos casos de separação judicial de pessoas e bens
ou de declaração de nulidade, anulação ou dissolução do casamento, e os dependentes a seu cargo (art.º
13.º, n.º 4, al. b) do CIRS)
▪ O pai ou a mãe solteiros e os dependentes a seu cargo (art.º 13.º, n.º 4, al. c) do CIRS)
▪ O adotante solteiro e os dependentes a seu cargo (art.º 13.º, n.º 4, al. d) do CIRS)
▪ Os filhos, adotados e enteados, maiores, bem como aqueles que até à maioridade estiveram sujeitos à tutela
de qualquer dos sujeitos a quem incumbe a direção do agregado familiar, que não tenham mais de 25 anos
nem aufiram anualmente rendimentos superiores ao valor da retribuição mínima mensal garantida (art.º
13.º, n.º 5, al. b) do CIRS)
▪ Os filhos, adotados, enteados e os sujeitos a tutela, maiores, inaptos para o trabalho e para angariar meios
de subsistência (art.º 13.º, n.º 5, al. c) do CIRS) – aqueles que possuem uma condição física ou mental que
os impede de gerar meios de subsistência.
▪ Os afilhados civis (art.º 13.º, n.º 5, al. d) do CIRS) – esta é uma figura nova do Direito Fiscal que é muito
frequente em ambientes rurais.
→ Por exemplo: existe um casal de caseiros que tem um filho que á apadrinhado pelo patrão desse casal.
O legislador fiscal permite que as despesas sejam consideradas no âmbito do agregado familiar de
quem apadrinhou o menor.
TRIBUTAÇÃO AUTÓNOMA DOS DEPENDENTES – ART.º 13.º, N.º 6 DO CIRS
O n.º 6 do art.º 13.º do CIRS consagra a possibilidade de os dependentes procederem a uma tributação
autónoma/separada dos pais, por exemplo. Contudo, excetuam-se aqui os casos de menores, cujos rendimentos
auferidos pela pessoa que pretende a tributação autónoma não lhes pertencer na totalidade.
➢ Por exemplo: imagine-se que o António tem rendimentos que não atingem a retribuição mínima mensal,
mas é muito independente e quer ser tributado individualmente. Se o António for menor e os seus
rendimentos forem administrados pelos seus pais, não o poderá fazer.
̶ Art.º 13.º, n.º 6, do CIRS – “O disposto no número anterior não prejudica a tributação autónoma das
pessoas nele referidas, exceto se, tratando-se de filhos, adotados e enteados, menores não emancipados,
bem como de menores sob tutela, a administração dos rendimentos por eles auferidos não lhes
pertencer na totalidade.”
O art.º 70.º do CIRS consagra ainda uma fórmula que permite a isenção de um mínimo de existência.
A regra é que o dependente apenas pode fazer parte de um agregado familiar. Contudo, existem há uma série
de exceções a esta regra, para além daquelas para as quais este artigo remete, inclusivamente.
➢ Por exemplo, segundo esta regra, uma pessoa que com 18 anos aufere rendimentos baixos e opta por ser
tributada de forma autónoma, não pode simultaneamente ser considerada como dependente no agregado
familiar dos pais.
➢ Por exemplo, imagine-se que existe um acordo de regulação do poder patronal e um dos pais fica com
40% da guarda parental e o outro fica com 60%. Assim, o sujeito passivo a quem incumbe 40% do poder
patronal poderá deduzir 40% das despesas do dependente na sua tributação e o outro sujeito passivo
deduzirá 60%.
Em suma, por definição a tributação é separada, o que não protege em nada os sujeitos passivos com menos
literacia fiscal, se estes não tiverem atentos às opções que devem tomar.
Normalmente, a tributação conjunta, quando há diferenças de salários relevantes entre os cônjuges é muito
mais vantajosa para estes. Se os sujeitos passivos não se encontrarem informados e não optarem pela tributação
conjunta, ficam mais prejudicados.
Como esta tributação conjunta depende de opção, há muitos casais/unidos de facto que poderiam aceder a
vantagens óbvias e não o fazem por desconhecimento.
A matéria da unidade fiscal é relevante, desde logo, para a fase do englobamento e das deduções à coleta.
→ Para determinar o englobamento será necessário verificar se há ou não agregado famílias.
→ Consideram-se nas deduções à coleta as despesas dos dependentes.
Em regra, os ascendentes em primeiro grau não fazem parte do agregado familiar porque o art.º 13.º não faz
referência a essas pessoas. Contudo, as despesas pessoais que o sujeito passivo tem com essas pessoas poderão
ser incluídas nas deduções à coleta.
CASO PRÁTICO N.º 12: Imagine-se que um estudante de engenharia de 20 anos tem dúvidas fiscais acerca do
preenchimento da declaração do IRS e pretende saber se faz parte do agregado familiar dos seus pais.
Em primeiro lugar, é necessário perceber se este estudante é maior: à partida, será (tem 20 anos).
Em segundo lugar, é necessário perceber se este estudante aufere rendimentos superiores ao salário
mínimo nacional:
̶ Se auferir – então não fará parte do agregado familiar.
̶ Se não auferir – então fará parte do agregado familiar
ALTERNATIVA 1 AO CASO PRÁTICO N.º 12: Imagine-se que um estudante de engenharia de 20 anos tem dúvidas
fiscais acerca do preenchimento da declaração do IRS e pretende saber se o seu irmão de 17 faz parte do
agregado familiar dos seus pais.
Não sendo este menor de 17 anos emancipado, então fará parte do agregado familiar.
ALTERNATIVA 2 AO CASO PRÁTICO N.º 12: O estudante de engenharia quer ainda saber por quem serão
deduzidas as despesas pessoais relativas ao menor.
Importa averiguar se os pais são casados ou unidos de facto.
Caso sejam e a tributação que façam seja separada, as despesas serão deduzidas em 50% por cada um.
Caso sejam e a tributação que façam seja conjunta, as despesas serão deduzidas no geral.
ALTERNATIVA 3 AO CASO PRÁTICO N.º 12: Imagine-se que o irmão do estudante de engenharia é talentoso e faz
malabarismos, auferindo um bom rendimento. Contudo, quem administra este rendimento são os pais que
administram. A resposta à alternativa 2 muda?
Não. Os rendimentos serão enquadrados na taxa de IRS dos pais.
ALTERNATIVA 4 AO CASO PRÁTICO N.º 12: Imagine-se que a tia do estudante de engenharia é separada, tem um
filho, sendo que o filho está tanto com a mãe como com o pai. Quem deduzirá as despesas pessoais no IRS?
As despesas do primo são deduzidas pela tia ou pelo tio.
À partida, o primo faz apenas parte de um agregado familiar, mas as suas despesas pessoais podem ser
enquadradas em 50% para cada um dos pais.
ALTERNATIVA 5 AO CASO PRÁTICO N.º 12: E se o tio é muito rico e decide assumir 90% das despesas do filho?
Nesse caso, o pai deduzirá 90% e a mãe deduzirá 10%
Aula 19 – 11/05/2021
Existindo um contrato de trabalho e, em virtude da celebração desse contrato, seja auferida uma remuneração,
esses rendimentos serão enquadrados na categoria A do IRS.
Serão enquadrados nesta beste grupo tanto os rendimentos provenientes de contratos de trabalho como os
contratos equiparados ao contrato de trabalho.
O conceito de contrato de trabalho é aquele que consta do Código do Trabalho.
̶ Art.º 2.º, n.º 1, al. a), CIRS – “Consideram-se rendimentos do trabalho dependente todas as remunerações
pagas ou postas à disposição do seu titular provenientes de: a) Trabalho por conta de outrem prestado ao
abrigo de contrato individual de trabalho ou de outro a ele legalmente equiparado;”
̶ Art.º 2.º, n.º 1, al. b), CIRS – “Consideram-se rendimentos do trabalho dependente todas as remunerações
pagas ou postas à disposição do seu titular provenientes de: b) Trabalho prestado ao abrigo de contrato de
aquisição de serviços ou outro de idêntica natureza, sob a autoridade e a direção da pessoa ou entidade que
ocupa a posição de sujeito ativo na relação jurídica dele resultante;”
Nesta alínea, o legislador não faz referência a qualquer tipo de contrato, seja de trabalho, seja de prestação de
serviços.
O legislador refere-se simplesmente aos rendimentos que os funcionários públicos auferem.
̶ Art.º 2.º, n.º 1, al. c), CIRS – “Consideram-se rendimentos do trabalho dependente todas as remunerações
pagas ou postas à disposição do seu titular provenientes de: c) Exercício de função, serviço ou cargo
públicos;”
Os rendimentos que respeitam a esta alínea referem-se às situações em que a situação laboral de determinada
pessoa foi alterada e esta passou a estar perante um cenário de: pré-reforma, pré-aposentação ou reserva.
Estas três situações podem implicar ou não a existência de uma prestação efetiva de trabalho. O trabalhador
pode estar numa situação de pré-reforma ou de reserva e mesmo assim estar a exercer funções ou não estar.
Nos casos em que determinada pessoa esteja numa destas circunstâncias e obtenha rendimentos, tais
rendimentos serão enquadráveis na categoria A, e não na categoria H. nesta situação, não se tratam de pensões
de reforma.
̶ Art.º 2.º, n.º 1, al. d), CIRS – “Consideram-se rendimentos do trabalho dependente todas as remunerações
pagas ou postas à disposição do seu titular provenientes de: d) Situações de pré-reforma, pré-aposentação
ou reserva, com ou sem prestação de trabalho, bem como de prestações atribuídas, não importa a que título,
antes de verificados os requisitos exigidos nos regimes obrigatórios de segurança social aplicáveis para a
passagem à situação de reforma, ou, mesmo que não subsista o contrato de trabalho, se mostrem
subordinadas à condição de serem devidas até que tais requisitos se verifiquem, ainda que, em qualquer
dos casos anteriormente previstos, sejam devidas por fundos de pensões ou outras entidades, que se
substituam à entidade originariamente devedora;”
5 – RENDIMENTOS REFERENTES ÀS REMUNERAÇÕES DOS MEMBROS DOS ÓRGÃOS ESTATUTÁRIOS DAS PESSOAS
COLETIVAS E ENTIDADES EQUIPARADAS, COM EXCEÇÃO DOS QUE NELES PARTICIPEM COMO REVISORES OFICIAIS
DE CONTAS (ROC) (ART.º 2.º, Nº 3, AL. A), CIRS)
As sociedades comerciais têm vários órgãos, entre eles: órgãos de representação e órgãos de administração.
O gerente (no caso das empresas com sociedades por quotas – Lda.) ou o administrador (no caso das
sociedades anónimas – S.A.) aufere uma remuneração pela atividade que exerce.
Esta remuneração é tributada no âmbito da categoria A do IRS.
Esta disposição apenas não se aplica ao caso do Revisor Oficial de Contas (ROC), que corresponde ao órgão
fiscal das sociedades comerciais. A sua remuneração do ROC não se enquadra na Categoria A.
A remuneração do ROC enquadra-se na categoria B porque é um trabalhador independente.
̶ Art.º 2.º, n.º 3, al. a), CIRS – “Consideram-se ainda rendimentos do trabalho dependente: a) As
remunerações dos membros dos órgãos estatutários das pessoas coletivas e entidades equiparadas, com
exceção dos que neles participem como revisores oficiais de contas;”
O art.º 2.º, n.º 2 do CIRS estabelece um alargamento do conceito de rendimento da categoria A. Segundo o
disposto neste artigo, a categoria A é capaz de abranger qualquer remuneração que pressuponha um trabalho
dependente. O elenco do n.º 2 não é taxativo (“designadamente”).
Esta norma refere, por exemplo, o caso das gratificações. As gorjetas são um exemplo de uma gratificação.
Por exemplo: António é empregado de mesa e recebe gorjetas. O salário que o António recebe é tributável na
categoria A, e as gorjetas (gratificações) que recebe dos clientes também são enquadráveis nesta categoria de
rendimentos.
Nota: ter em atenção o princípio da tipicidade porque se tratam aqui de normas de incidência.
Remunerações acessórias
O art.º 2.º, n.º 3, al. b) refere-se às remunerações acessórias.
̶ Art.º 2.º, n.º 3, al. b), CIRS – “Consideram-se ainda rendimentos do trabalho dependente: b) As
remunerações acessórias, nelas se compreendendo todos os direitos, benefícios ou regalias não incluídos
na remuneração principal que sejam auferidos devido à prestação de trabalho ou em conexão com esta e
constituam para o respetivo beneficiário uma vantagem económica, designadamente:”
Esta norma dispõe de vários subnúmeros, sendo exemplos de remunerações acessórias, entre outros: os abonos
de família; os seguros; as operações do ramo de vida; etc.
Relativamente ao segundo requisito – da existência de uma vantagem económica para o trabalhador – tem-se
vindo a entender que há vantagens económicas para o trabalhador que não serão enquadráveis na categoria A.
O art.º 2.º-A do CIRS identifica os rendimentos que não são enquadráveis na Categoria A. Esta é uma norma
de não incidência (e não é uma norma de isenção).
Existem algumas vantagens económicas que estão presentes neste artigo que não estão sujeitas a IRS, como,
por exemplo, as ações de formação profissional dos trabalhadores (art.º 2.º-A, n.º 1, al. c) do CIRS).
Três tipos de remunerações que preenchem os requisitos do art.º 2.º, n.º 3, al. b) do CIRS, mas que não devem
ser tributados – casos de não sujeição à tributação da Categoria A do IRS:
1) Realizações de utilidade social
Por vezes, certas empresas garantem cresces para os filhos dos seus funcionários, o que constituirá uma
vantagem económica para estes.
Contudo, tal não justificará que essa vantagem seja tributada e se enquadre na categoria A do IRS.
2) Ofertas de acordo com os usos sociais ou comerciais
Na altura do Natal e da Páscoa, algumas empresas têm por hábito oferecer aos seus funcionários um cabaz,
por exemplo.
Esta oferta permite aos funcionários retirar uma vantagem económica. Contudo, essa vantagem económica
não será tributada em sede da categoria A do IRS.
Alargamento subjetivo do conceito de entidade patronal – art.º 2.º, n.º 10, CIRS
Art.º 2.º, n.º 10, CIRS – “Considera-se entidade patronal toda a que pague ou coloque à disposição
remunerações que, nos termos deste artigo, constituam rendimentos de trabalho dependente, sendo a ela
equiparada qualquer outra entidade que com ela esteja em relação de grupo, domínio ou simples participação,
independentemente da respetiva localização geográfica.”
O art.º 2.º, n.º 10 do CIRS avança com um alargamento subjetivo daquilo que se entende por entidade patronal.
Nos termos deste artigo, o rendimento que seja pago por uma entidade patronal que não tenha sede em
Portugal, estando, por exemplo, localizada noutro país, será tributado no âmbito da Categoria A do IRS.
➢ Por exemplo: a emprega alemã XPTO tem sede em Berlim, sendo esta uma empresa do ramo informático.
Esta empresa tem contratos de trabalho com vários trabalhadores, que são residentes em Portugal para
efeitos de IRS. Ora, não é pelo facto de esta empresa estar localizada no estrangeiro que o rendimento
deixa de ser tributado.
É importante não confundir com as despesas das deduções específicas com as despesas das deduções à coleta:
➢ Despesas das deduções específicas – são as despesas que o sujeito passivo suportou para obter
rendimentos.
➢ Despesas das deduções à coleta – são as despesas que o sujeito passivo suportou enquanto pessoa,
relativamente à sua vida.
As deduções específicas da categoria A do IRS estão previstas no art.º 25.º do CIRS.
Art.º 25.º, CIRS:
1) Aos rendimentos brutos da categoria A deduzem-se, até à sua concorrência, e por cada titular que os tenha
auferido, os seguintes montantes:
a) € 4 104;
b) As indemnizações pagas pelo trabalhador à sua entidade patronal por rescisão unilateral do contrato
individual de trabalho sem aviso prévio em resultado de sentença judicial ou de acordo judicialmente
homologado ou, nos restantes casos, a indemnização de valor não superior à remuneração de base
correspondente ao aviso prévio;
c) As quotizações sindicais, na parte em que não constituam contrapartida de benefícios de saúde,
educação, apoio à terceira idade, habitação, seguros ou segurança social e desde que não excedam,
em relação a cada sujeito passivo, 1 % do rendimento bruto desta categoria, sendo acrescidas de 50
%.
2) Se, porém, as contribuições obrigatórias para regimes de proteção social e para subsistemas legais de saúde
excederem o limite fixado na alínea a) do número anterior, aquela dedução é pelo montante total dessas
contribuições.
4) A dedução prevista na alínea a) do n.º 1 pode ser elevada até 75 % de 12 vezes o valor do IAS desde que
a diferença resulte de quotizações para ordens profissionais suportadas pelo próprio sujeito passivo e
indispensáveis ao exercício da respetiva atividade desenvolvida exclusivamente por conta de outrem.
Será estranho pensar em deduções específicas na categoria A porque, em bom rigor, o trabalhador não suporta
despesas pelo rendimento que recebeu.
O trabalhador poderá suportar despesas para efeitos de transporte ou de refeição, mas até nesses casos, as
empresas costumam atribuir subsídios de transporte e de refeição.
O legislador impõe um montante fixo de 4104€ como limite para as deduções específicas, no âmbito da
categoria A do IRS (art.º 25.º, al. a), CIRS).
O legislador também prevê ainda outras deduções específicas nas al. b) e c) do art.º 25.º do CIRS.
Tal não quer dizer que todas estas deduções serão aplicadas: o n.º 1 estabelece “até à sua concorrência”, isto
é, aplica-se o maior destes valores para efeitos de deduções específicas.
➢ Por exemplo: se há uma indemnização superior a 4104€, aplicar-se-á essa indemnização maior.
2) Residentes não habituais que aufiram rendimentos da Categoria A (art.º 16.º, n.º 8, CIRS)
Aos residentes não habituais aplica-se o disposto no art.º 72.º, n.º 10, que remete para a Portaria n.º 12/2010.
Aos residentes não habituais não se aplica, por isso, o regime dos sujeitos passivos residentes em Portugal.
Os rendimentos dos residentes não habituais serão tributados à taxa de 20%, nos termos do art.º 72.º, n.º 10
do CIRS.
Porém, nos termos do art.º 22.º, n.º 3, al. b) do CIRS, poderá existir uma opção pelo englobamento.
Nota: é necessário controlar se é possível existir a opção pelo englobamento ou não.
̶ Art.º 72.º, n.º 10, CIRS – “Os rendimentos líquidos das categorias A e B auferidos em atividades de elevado
valor acrescentado, com carácter científico, artístico ou técnico, a definir em portaria do membro do
Governo responsável pela área das finanças, por residentes não habituais em território português, são
tributados à taxa de 20 %.”
̶ Art.º 22.º, n.º 3, al. b) do CIRS – “Não são englobados para efeitos da sua tributação: b) Os rendimentos
referidos nos artigos 71.º e 72.º auferidos por residentes em território português, sem prejuízo da opção
pelo englobamento neles previsto.”
▪ Rendimentos auferidos no exercício, por conta própria, de qualquer atividade de prestação de serviços,
incluindo as de carácter científico, artístico ou técnico, qualquer que seja a sua natureza, ainda que conexa
com atividades mencionadas na alínea anterior (art.º 3.º, n.º 1, al. b) do CIRS)
Atos isolados
Os atos isolados são tributados, em sede de IRS, na categoria B, nos termos das alíneas h) e i), do n.º 2 do art.º
3.º do CIRS.
➢ Por exemplo: o António é violinista, sendo essa a sua atividade. A convite de uma universidade foi deu
uma aula/conferência. Trata-se de um ato isolado, sendo enquadrado na categoria B.
Os atos isolados são aqueles que não resultam de uma atividade reiterada ou previsível, nos termos do art.º
3.º, n.º 3 do CIRS.
̶ Art.º 3.º, n.º 2, al. h), CIRS – “Consideram-se ainda rendimentos desta categoria: h) Os provenientes da
prática de atos isolados referentes a atividade abrangida na alínea a) do n.º 1;”
̶ Art.º 3.º, n.º 2, al. i), CIRS – “Consideram-se ainda rendimentos desta categoria: i) Os provenientes da
prática de atos isolados referentes a atividade abrangida na alínea b) do n.º 1.”
̶ Art.º 3.º, n.º 3 do CIRS – “Para efeitos do disposto nas alíneas h) e i) do número anterior, consideram-se
rendimentos provenientes de atos isolados os que não resultem de uma prática previsível ou reiterada.”
É importante não confundir a situação que consta do art.º 3.º, n.º 2, al. a) do CIRS com o art.º 4.º, n.º 1.º, al.
n) do CIRS.
̶ Art.º 3.º, n.º 2, al. a), CIRS – “Consideram-se ainda rendimentos desta categoria: Os rendimentos prediais
imputáveis a atividades geradoras de rendimentos empresariais e profissionais;”
≠
̶ Art.º 4.º, n.º 1, al. n), CIRS – “- Consideram-se atividades comerciais e industriais, designadamente, as
seguintes: n) Arrendamento, quando haja opção pela tributação no âmbito da categoria B.
A norma do art.º 4.º, n.º 1, al. n) do CIRS refere que os rendimentos advindos do arrendamento podem ser
enquadráveis na categoria B se existir opção nesse sentido.
A diferença é que o poder de atração do art.º 3.º, n.º 2 surge por causa do contexto em que o arrendamento
surge; enquanto o art.º 4.º, n.º 1, al. n) é mais abrangente porque não está a fazer pender o enquadramento na
categoria B dos termos em que a atividade é imputável a uma atividade empresarial ou não.
No preceito da al. n) do n.º 1 do art.º 4.º do CIRS, o sujeito passivo pode simplesmente optar por enquadrar
na categoria B os rendimentos que seriam enquadrados na categoria E, se assim achar mais vantajoso para si.
Por exemplo:
➢ O António é cozinheiro, criou uma receita e publicou um livro de receitas do qual está a receber direitos
de autor. Estes direitos de autor são tributáveis no âmbito da categoria B, dado que o António é o titular
originário destes direitos.
➢ O disposto no art.º 5.º, n.º 2, al. m) do CIRS, permite que o António ceda temporariamente os direitos de
autor (direitos de propriedade intelectual) ao Berto. Estes rendimentos deixarão de ser enquadráveis na
categoria B e passarão a ser enquadráveis na categoria E (Rendimentos de Capitais).
̶ Art.º 5.º, n.º 2, al. m) do CIRS – “Os rendimentos provenientes de contratos que tenham por objeto a cessão
ou utilização temporária de direitos da propriedade intelectual ou industrial ou a prestação de informações
respeitantes a uma experiência adquirida no setor industrial, comercial ou científico, quando não auferidos
pelo respetivo autor ou titular originário, bem como os derivados de assistência técnica;”
➢ Nos termos do art.º 10.º, n.º 1, al. c) do CIRS, se o Berto vender os direitos de autor ao Carlos, o rendimento
passará a ser tributado na categoria G (Incrementos Patrimoniais), e não na categoria B do IRS.
̶ Art.º 10.º, n.º 1, al. c) do CIRS – “Constituem mais-valias os ganhos obtidos que, não sendo considerados
rendimentos empresariais e profissionais, de capitais ou prediais, resultem de: Alienação onerosa da
propriedade intelectual ou industrial ou de experiência adquirida no setor comercial, industrial ou
científico, quando o transmitente não seja o seu titular originário;”
Se o sujeito passivo obteve rendimentos anuais e líquidos de valor superior a 200000€, o regime aplicável é,
necessariamente, o regime da contabilidade organizada , nos termos do art.º 28.º, n.º 2 do CIRS, leitura a
contrario.
̶ Art.º 28.º, n.º 2 do CIRS – “Ficam abrangidos pelo regime simplificado os sujeitos passivos que, no
exercício da sua atividade, não tenham ultrapassado no período de tributação imediatamente anterior um
montante anual ilíquido de rendimentos desta categoria de € 200 000.” [é necessário uma leitura a
contrario]
Regime da contabilidade organizada – o sujeito passivo pode deduzir as despesas que efetivamente suportou
e que ele próprio contabilizou, nos termos do art.º 28.º do CIRS.
Regime simplificado de tributação – não existe contabilidade organizada, pelo que a determinação do
rendimento líquido depende da aplicação dos coeficientes que o legislador prevê no art.º 31.º do CIRS.
3 – ATOS ISOLADOS
O regime dos atos isolados está previsto no art.º 30.º do CIRS, onde ainda se identificam, no n.º 2 deste artigo,
os termos em que é determinado o rendimento.
Nesse sentido, se se estiver perante um contrato de prestação de serviços puro e duro, em que não há direção
nem autoridade, mas esse contrato for sempre prestado à mesma pessoa, poder-se-ão aplicar as regras da
Categoria A, embora esses rendimentos se enquadrem na categoria B.
5 - IMPUTAÇÃO ESPECIAL
A imputação especial está prevista no art.º 20.º do CIRS.
➢ Por exemplo, os rendimentos dos sócios de uma sociedade de advogados serão tributados no âmbito da
categoria B, de acordo com o regime da imputação especial.
Retenções na fonte
Nos termos do art.º 101.º do CIRS, apenas serão feitas retenções na fonte em relação à Categoria B, se a fonte
dispuser de contabilidade organizada.
➢ Por exemplo: António é advogado e Berto é cliente. António cobra um determinado valor pelas consultas.
Coloca-se a questão é de se saber se o Berto dispõe de contabilidade organizada ou não. Neste caso, Berto
não dispunha de contabilidade organizada, pelo que não faria retenção na fonte.~
Aula 20 – 11/05/2021
Os rendimentos de capitais são os frutos produzidos pelo património mobiliário [ex.: alguém que tenha fundos;
alguém que tenha emprestado dinheiro; alguém que tenha ações numa sociedade].
Nos termos do art.º 5.º, n.º 1 do CIRS: “Consideram-se rendimentos de capitais os frutos e demais vantagens
económicas, qualquer que seja a sua natureza ou denominação, sejam pecuniários ou em espécie, procedentes,
direta ou indiretamente, de elementos patrimoniais, bens, direitos ou situações jurídicas, de natureza
mobiliária, bem como da respetiva modificação, transmissão ou cessação, com exceção dos ganhos e outros
rendimentos tributados noutras categorias.”
Este artigo refere-se aos juros, lucros distribuídos, juros pagos pelas operações financeiras, etc.
▪ Os lucros e reservas colocados à disposição dos associados ou titulares e adiantamentos por conta de
lucros, com exclusão daqueles a que se refere o artigo 20.º (art.º 5.º, n.º 2, al. h) do CIRS) – caso das
pessoas que têm ações numa sociedade/quotas e recebem lucros.
▪ Os rendimentos provenientes de contratos que tenham por objeto a cessão ou utilização temporária de
direitos da propriedade intelectual ou industrial ou a prestação de informações respeitantes a uma
experiência adquirida no setor industrial, comercial ou científico, quando não auferidos pelo respetivo
autor ou titular originário, bem como os derivados de assistência técnica (art.º 5.º, n.º 2, al. m) do CIRS)
RENDIMENTOS PROVENIENTES DE CONTRATOS QUE TENHAM POR OBJETO A CESSÃO OU UTILIZAÇÃO TEMPORÁRIA
DE DIREITOS DA PROPRIEDADE INTELECTUAL OU INDUSTRIAL – ART.º 5.º, N.º 2, AL. M) DO CIRS
Por outro lado, a pessoa que licencia ou vende os direitos de propriedade intelectual ou industrial de outrem
não será tributada na categoria B.
→ Se licencia – será tributada na categoria E
→ Se vende – será tributada na categoria G
➢ Por exemplo, quando o titular originário dos direitos de autor de uma música os vende por 10€ à pessoa
X, o titular originário será tributado por esses 10€ no âmbito da categoria B.
➢ Se a pessoa X cede, posteriormente, a licença desses direitos a uma editora por 11000€, a pessoa X será
tributada por esses 11000€ no âmbito da categoria E.
➢ Se a pessoa X vende, posteriormente, esses direitos a uma editora por 11000€, a pessoa X será tributada
por esses 11000€ no âmbito da categoria G.
A dedução económica respeitante à eliminação da dupla tributação está prevista no art.º 40.º-A do CIRS.
̶ Art.º 40.º-A, n.º 1 do CIRS – “Os lucros devidos por pessoas coletivas sujeitas e não isentas do IRC são,
no caso de opção pelo englobamento, considerados em apenas 50 % do seu valor.”
➢ Por exemplo, se um sujeito passivo recebe dividendos de uma sociedade onde tem participações, esses
lucros serão tributados no âmbito da categoria E. Contudo pode existir uma atenuação da tributação destes
lucros se as condições do art.º 40.º-A forem preenchidas.
Esta atenuação tem como propósito evitar a dupla tributação económica, isto é, a dupla tributação que recai
sobre o mesmo rendimento.
➢ Por exemplo: se a sociedade já foi tributada no âmbito do IRC pelos lucros que gerou e há uma parte desse
rendimento que será distribuída à pessoa que aufere os lucros, verifica-se esta atenuação para não existir
dupla tributação.
Esta regra aplica-se ainda às sociedades sejam residentes na União Europeia ou no Espaço Económico
Europeu, nos termos do art.º 40.º-A, n.º 4 do CIRS.
̶ Art.º 40.º-A, n.º 4 do CIRS – “O disposto no n.º 1 é igualmente aplicável aos lucros distribuídos por entidade
residente noutro Estado membro da União Europeia ou num Estado membro do Espaço Económico
Europeu que esteja vinculado a cooperação administrativa no domínio da fiscalidade equivalente à
estabelecida no âmbito da União Europeia, desde que tal entidade preencha os requisitos e condições
estabelecidos no artigo 2.º da Diretiva n.º 2011/96/UE, do Conselho, de 30 de novembro, relativa ao regime
fiscal comum aplicável às sociedades-mães e sociedades afiliadas de Estados membros diferentes.”
CASO PRÁTICO N.º 13: Imagine-se que o Sr. José tem vários rendimentos e, além disso, tem ações numa
sociedade francesa que distribuiu 100000€ de lucros. Esses 100000€ são englobados?
Esses 100000€ de lucros podem ou não ser englobados.
Podem ou não ser englobados. Normalmente estes lucros estão fora do englobamento.
Contudo, se os sujeitos passivos quiserem aproveitar a atenuação terão de englobar. Caso o façam, apenas
serão tributados em 50% pelo que apenas englobarão 50000€.
ALTERNATIVA 1 AO CASO PRÁTICO N.º 13: Imagine-se que o Sr. José tem vários rendimentos e, além disso, tem
ações numa sociedade brasileira que distribuiu 100000€ de lucros. Esses 100000€ são englobados?
Neste caso, os 100000€ não serão englobados porque o art.º 40.º-A apenas se refere às sociedades
residentes em Portugal, num Estado-membro da UE ou no Espaço Económico Europeu [ex.: Liechtenstein,
Noruega; etc.].
▪ As importâncias relativas ao aluguer de maquinismos e mobiliários instalados no imóvel locado (art.º 8.º,
n.º 2, al. b) do CIRS) – a renda abrange não só os serviços, como também certos mobiliários
▪ A diferença, auferida pelo sublocador, entre a renda recebida do subarrendatário e a paga ao senhorio (art.º
8.º, n.º 2, al. c) do CIRS) – [por exemplo: o estudante arrenda um T#, mas não precisa do apartamento,
então irá subarrendar os outros dois quartos]
▪ As importâncias relativas à cedência do uso, total ou parcial, de bens imóveis, para quaisquer fins
especiais, designadamente publicidade (art.º 8.º, n.º 2, al. d) do CIRS)
▪ As importâncias relativas à constituição, a título oneroso, de direitos reais de gozo temporários, ainda que
vitalícios, sobre prédios rústicos, urbanos ou mistos (art.º 8.º, n.º 2, al. f) do CIRS)
▪ As indemnizações que visem compensar perdas de rendimentos desta categoria (art.º 8.º, n.º 2, al. g) do
CIRS)
▪ As importâncias relativas aos contratos de direito real de habitação duradoura (art.º 8.º, n.º 2, al. h) do
CIRS) – [por ex.: alguém que paga uma semana de férias num empreendimento. Quem beneficiar desse
rendimento está a beneficiar de uma renda].
Por exemplo:
➢ Um grupo de estudantes de direito é proprietário um espaço que poderia ser rentabilizado para festas.
Nessa medida, o grupo arrenda esse espaço. O rendimento proveniente desse arrendamento é uma renda e
será tributado na categoria F do IRS.
➢ Um realizador quer filmar uma cena numa casa de um estudante e esse estudante arrenda o espaço durante
um dia. Trata-se de uma renda, que será tributada na categoria F do IRS.
Nos termos do art.º 41.º, n.º 8 do CIRS, estes gastos “devem ser documentalmente comprovados”.
As despesas com Seguros e Serviços estão fora da tributação da categoria F. Estas deduções específicas apenas
podem ser feitas no âmbito da categoria B.
A categoria F do IRS apresenta uma estrutura mais empresarial e muito mais flexível do que a categoria B.
A al. b) do art.º 9.º, identificam-se indemnizações que visem a reparação de danos não patrimoniais (danos
morais), excetuadas as fixadas por decisão judicial ou arbitral ou resultantes de acordo homologado
judicialmente
2.º tipo – indemnizações de danos emergentes não comprovados
3.º tipo – indemnizações de lucros cessantes
São ainda incrementos patrimoniais as importâncias auferidas em virtude da assunção de obrigações de não
concorrência .- são as importâncias que alguém recebe pelo facto de assumir a obrigação de não entrar em
concorrência com outrem.
São ainda incrementos patrimoniais os acréscimos patrimoniais não justificados – o contribuinte declara à
autoridade tributária um determinado rendimento, e constata-se na sua esfera patrimonial um [ganha o salário
mínimo, mas chega à sua esfera um iate ou um automóvel não justificado] – o contribuinte, com aquele
rendimento, não teria capacidade para
Indemnizações devidas por renúncia onerosa a posições contratuais ou outros direitos inerentes a contratos
relativos a bens imóveis
▪ Mais-valias
→ Para se tratar de uma mais-valia enquadrável na categoria G, esta mais-valia não pode ter existido no
contexto de uma atividade empresarial.
→ Expressão sobre as mais-valias: “as mais-valias são ganhos trazidos pelo vento” – vão surgindo de
vez em quando, se surgirem.
→ Estas mais-valias manifestam capacidade contributiva, pelo que são tributadas no contexto do IRS.
→ Esta valorização foi fruto de uma força exterior, que extravasou a atuação do sujeito passivo.
→ Ex.: O sujeito passivo adquiriu em 2010 um imóvel por 100000€ qualquer numa zona pouco
valorizada. Atualmente, em 2021 aquela zona sofreu alterações significativas e os imóveis aí
localizados aumentaram de valor. Hoje vendeu por 200000€. Este aumento de bem foi fruto de uma
alteração exterior.
→ Há uma valorização do bem por via de uma atuação não imputável ao sujeito passivo
As mais valias estão elencadas no art.º 10.º, mas este não é um elenco exaustivo.
É um elenco considerável, mas ainda assim ficam de fora algumas realidades que seriam capazes de manifestar
capacidade contributiva.
Ex.: O A é professor universitário (funcionário público), em 2010, adquiriu um vaso da dinastia Ming por
50.000€. hoje, o vaso vale 100.000€. E o A vendeu por 100.000€. Este será ou não um incremento patrimonial
tributável em sede de IRS.
O legislador identifica um elenco de bens em relação aos quais se geram mais-valias, mas fá-lo de uma forma
limitada porque corresponde aos bens que são transmissíveis e permitem um controlo por parte da autoridade
tributária.
Mais-valias imobiliárias
Os bens imóveis são aqueles que se encontram ligados ao solo e que não podem ser deslocalizados sem
sofrerem alterações ou a sua destruição.
Gerar-se-á uma mais-valia, tributada em sede de IRS na categoria G, estando em causa a alienação sobre
direitos reais sobre imóveis [ex.: direito de propriedade; direito de usufruto; direito de superfície; direito de
uso e habitação; direito de habitação periódica;] se a valorização tiver existido.
A al. a) do n.º 1 do art.º 10.º ainda se refere a uma outra forma de mais-valia imobiliária –
Aqui pressupõe-se que o sujeito passivo tem duas esferas patrimoniais: esfera particular e a esfera associada
à atividade profissional ou empresarial que desenvolve.
Em ambas as esferas encontram-se bens. se encontramos bens do património particular, agora associada à
esfera profissional e que gera uma mais-valia, será tributada no âmbito da categoria G
Al. d)/1/10 – Cessão onerosa de posições contratuais ou outros direitos inerentes a contratos relativos a bens
imóveis
Al. c) –
Trata-se da alienação onerosa por parte de quem não é o proprietário originário.
Principais a saber:
Três tipos de mais-valias principais do art.º 10.º: al. a) e al. d) do n.º 1 do art.º 10.º
Mais-valias imobiliárias: al. b) do n.º 1 do art.º 10.º (excluem-se as doações); al. c)
Quanto às mais-valias imobiliárias:
Regime transitório no Diploma de Aprovação do Código do IRS – DL 442-A/88, de 30 de novembro
5/10 – “São excluídos da tributação os ganhos provenientes da transmissão onerosa de imóveis destinados a
habitação própria e permanente do sujeito passivo ou do seu agregado familiar, desde que verificadas,
cumulativamente, as seguintes condições: a) O valor de realização, deduzido da amortização de eventual
empréstimo contraído para a aquisição do imóvel, seja reinvestido na aquisição da propriedade de outro
imóvel, de terreno para construção de imóvel e ou respetiva construção, ou na ampliação ou melhoramento de
outro imóvel exclusivamente com o mesmo destino situado em território português ou no território de outro
Estado membro da União Europeia ou do Espaço Económico Europeu, desde que, neste último caso, exista
intercâmbio de informações em matéria fiscal; b) O reinvestimento previsto na alínea anterior seja efetuado
entre os 24 meses anteriores e os 36 meses posteriores contados da data da realização; c) O sujeito passivo
manifeste a intenção de proceder ao reinvestimento, ainda que parcial, mencionando o respetivo montante na
declaração de rendimentos respeitante ao ano da alienação”
“são excluídos” – é uma norma de não sujeição (não relevam para IRS)
Todas as condições têm de se verificar.
Ex.: o A adquiriu um apartamento em 2010 Pelo valor de 100.000. em 2021, A vendeu a B pelo valor de
300.000€. O que se gerou aqui?
Está em causa um incremento patrimonial, sob a forma de uma mais-valia imobiliária, pelo que seria tributada
em sede de IRS.
No entanto, o A diz que vendeu, mas que pretende usar os 300.000€ para comprar uma casa nova ou um
terreno onde vai construir a sua casa nova ou para amortizar o empréstimo que contraiu em 2010 para comprar
o apartamento.
Nesse caso, não será tributado, mas tem de cumprir com o prazo estipulado na al. b) e no ano em que vende
ao B (2021) tem de declarar que vai reinvestir o valor que recebeu.
Se não reinvestir dentro do prazo, o sujeito á chamado a pagar o IRS sobre a mais-valia que devia ter pago em
2021 e não pagou.
Esta é uma norma de não sujeição, mas, em bom rigor, é uma suspensão da tributação.
Se o reinvestimento for feito, não existe tributação; se não for feito, existirá.
n.º 6 do art.º 10.º
Em 2018, surgiu uma nova forma de reinvestimento (medido de justiça social): reinvestimento em fundos e
pensões.
Ex.: A tem 70 anos, vende a sua casa, mas não quer comprar uma nova. A pretende investir no acesso aos
lares ou na habitação com os familiares. Se o reinvestimento for feito nestes fundos
Quanto à determinação do valor de realização – art.º 44.º - por regra, considera-se o valor da contraprestação
(se vende por 100.000 é esse o valor).
De acordo com o TJUE, num acórdão de 18/03/2021, esta solução discrimina os não residentes, pelo que esta
consideração só é válida para os residentes em Portugal.
De acordo com o TJUE esta solução é violadora da livre circulação de capitais, pelo que é expectável que
venha a ser alterada.
Remissão da al. b) do art.º 43.º para o acórdão do TJUE de 18/03/2021
Dizer-se que só se considera 50%, está-se a reduzir o montante que será válido para IRS.
Esta solução só está pensada para residentes, mas é expectável que venha a surgir para não residentes.
Se estivermos a falar de não residentes, atualmente » 72.º » são tributados à taxa autónoma de 28%.
Se estivermos a falar de residentes – são rendimentos alvo de englobamento em 50%.
Se estivermos a falar de não residentes – consideram-se englobadas na totalidade e aplica-se uma taxa de 28%
Remissão do n.º 2 do art.º 43.º para o art.º 72.º, n.º 1, al. a) [para não residentes].
▪ prestações a cargo de companhias de seguros, fundos de pensões, ou quaisquer outras entidades, devidas
no âmbito de regimes complementares de segurança socia
▪ pensões e subvenções não compreendidas nas alíneas anteriores – inconstitucionalidade se incluir vendas
ac. 308/2001
O legislador determinou um montante que vai ser deduzido ao rendimento bruto que é de 4104€
Remissão do art.º 11.º para o art.º 53.º
Até à sua concorrência = até ao maior dos seguintes montantes
No que toca à determinação do rendimento coletável da categoria H, se estes rendimentos tiverem ou forem
de valor anual igual ou inferior a 4104€, é deduzida a totalidade do valor do rendimento auferido até à sua
concorrência.
No caos dos rendimentos brutos da categoria H serem de valor anual igual ou inferior a 4104€, é deduzida a
totalidade do valor do rendimento auferido até à sua concorrência.
Este valor não é a única dedução que se encontra prevista porque no n.º 4 do art.º 53.º preveem-se outras
deduções.
Art.º 83.º-A do CIRS – prevê um regime de tributação distinto para este mesmo efeito ao prever-se uma
tributação autónoma à taxa especial de 20% quando estejam em causa as pensões de alimentos.
As pensões auferidas por residentes não habituais que estejam a ser obtidas no estrangeiro – podem beneficiar
de ausência de tributação
Ex.: O John é britânico e veio para Portugal morar e passar os seus últimos dias e recebe uma pensão de
Inglaterra. Este rendimento não é tributado em Portugal por aplicação do art.º 81.º, n.º 6 (foi revogado)
Mas em Inglaterra essas pensões são tributadas?
Portugal tem uma convenção com a França por causa da dupla tributação
̶
O englobamento
Art.º 22.º
O legislador só prevê o englobamento relativamente a residentes.
Não são englobados para efeitos da sua tributação: a) Os rendimentos auferidos por sujeitos passivos
não residentes em território português, sem prejuízo do disposto nos números 13 e 14 do artigo 72.º; b) Os
rendimentos referidos nos artigos 71.º e 72.º auferidos por residentes em território português, sem prejuízo da
opção pelo englobamento neles previsto.
Por regra, os rendimentos dos não residentes encontram-se excluídos, porque os não residentes são tributados
em Portugal apenas em relação aos rendimentos auferidos em Portugal.
Assim, não se consegue apurar a capacidade contributiva de todos os seus rendimentos.
Em Portugal só são tributados os rendimentos auferidos em Portugal.
Por isso, os não residentes estão sujeitos a taxas liberatórias ou taxas especiais (art.º 71.º e 72.º) do IRS.
22.º, n.º 4 e 5
4 - Ainda que não englobados para efeito da sua tributação, são sempre incluídos para efeito de determinação
da taxa a aplicar aos restantes rendimentos, os rendimentos isentos, quando a lei imponha o respetivo
englobamento.
5 - Quando o sujeito passivo exerça a opção referida no n.º 3, fica, por esse facto, obrigado a englobar a
totalidade dos rendimentos da mesma categoria de rendimentos.
O englobamento, sendo opcional, refere-se à totalidade dos rendimentos auferidos (não pode ser meramente
parcial).
O art.º 22.º, n.º 4 é concretizado por alguns preceitos do EBF que se relacionam com os rendimentos auferidos
que estão em missão diplomática, entre outros. Apesar da isenção, os rendimentos podem ser englobados –
37.º; 38.º; 39; 39.º-A do EBF.
̶
Aula 22 – 18/05/2021
No contexto das mais-valias, a técnica não é a da dedução, mas o efeito é o mesmo. Adiciona-se as despesas
que foram necessárias para gerar o rendimento ao valor da aquisição.
Apesar da técnica não ser a da subtração o resultado é o mesmo.
Existem também correções monetárias para bens adquiridos há mais de dois anos.
Os incrementos patrimoniais são heterogéneos porque a categoria G é uma categoria residual: acolhe os
rendimentos que não podem ser reconduzidos às outras categorias.
Mesmo assim, é possível fazer uma divisão entre as mais-valias e os outros incrementos patrimoniais.
O art.º 9.º fala do que faz parte da Categoria G. fala das mais-valias, e depois fala de tudo o resto.
Não são tributadas todas as indemnizações.
Caso prático: há um aluno de ciências que sai de uma aula zangado e que passa num quiosque e ouve algumas
coisa que não gosta e o aluno destrói o quiosque e agride o dono. Se o aluno, dando-se conta dos seus excessos,
indemniza o dono do quiosque imediatamente, esta indemnização é tributada no âmbito da categoria G
(primeiro tipo de indemnização).
Os danos emergentes, referentes ao quiosque, também é tributável.
A diferença é que se os danos não patrimoniais forem fixados por decisão arbitral ou judicial não serão
tributados.
Se o sr. For para tribunal e o tribunal fixar a indemnização, então nesse caso não há tributação.
Em relação aos danos emergentes há sempre tributação, não interessa se existiu decisão fixada por decisão
arbitral ou judicial.
Al. c) – uma pessoa paga a outra para não abrir uma sapataria na mesma roupa.
d) – alguém tem uma quinta e declara o rendimento mínimo. Com base nesses dados, é possível imputar um
valor a esse sujeito passivo.
Apenas são tributadas as mais-valias que estão listadas no art.º 10.º.
As mais-valias resultantes de bens como móveis, jóias, etc. não são tributadas porque há uma tipicidade
fechada.
Além disso, apenas são tributadas as mais-valias que resultam de aquisições posteriores à entrada em vigor do
Código, a não ser que essas mais-valias já estivessem a ser tributadas à luz da legislação anterior.
O art.º 10.º tem uma lista das mais-valias que são tributadas, excetuando-se as mais-valias que já estivessem
a ser tributadas à luz da legislação anterior. Todas as outras mais-valias só são relevantes se os bens tiverem
sido adquiridos após a entrada em vigor do CIRS.
Os imóveis adquiridos por doação depois da entrada em vigor do CIRS podem não ser tributados na totalidade,
nos termos do art.º 43.º - 50% - e o art.º 10.º diz que os imóveis que tenham sido alienados e gerem mais-
valias que sejam aplicadas na compra de habitação permanente fazem com que essa mais-valia seja isenta.
O valor de realização, de um modo geral, é o valor da contraprestação. Existem alguns casos particulares (ex.:
se há uma expropriação é o valor da indemnização), mas a regra geral corresponde ao valor da contraprestação.
Se for adquirido a título gratuito, o valor da mais-valia não é igual ao valor de realização. O valor de aquisição
corresponde ao valor que teria sido considerado para efeitos de liquidação de imposto de selo e se não foi pago
imposto de selo considera-se aquele que deveria ter sido pago como imposto de selo (art.º 45.º, n.º 1).
Nas partes sociais, se estivermos a falar de ações o valor de aquisição é o valor da menor cotação ou o valor
documentalmente comprovado.
Nessa medida, e nos termos do art.º 50.º do CIRS, aos bens adquiridos há mais de dois anos é feita uma
correção monetária.
Para proceder a esta correção releva a Portaria 220/2020, de 22 de setembro, da qual consta uma tabela de
correção, cujos valores serão multiplicados pelo valor de aquisição do ano em que o bem foi adquirido,
determinando-se assim o valor a ser considerado relativamente às mais-valias.
̶ Art.º 50.º, n.º 1, CIRS – “O valor de aquisição ou equiparado de direitos reais sobre os bens referidos na
alínea a) do n.º 1 do artigo 10.º, bem como de partes sociais no caso da alínea b) do referido número, é
corrigido pela aplicação de coeficientes para o efeito aprovados por portaria do membro do Governo
responsável pela área das finanças, sempre que tenham decorrido mais de 24 meses entre a data da aquisição
e a data da alienação ou afetação”
̶ Art.º 50.º, n.º 2, CIRS – “A data de aquisição é a que constar do título aquisitivo, sem prejuízo do disposto
nas alíneas seguintes: a) Nos casos previstos no n.º 3 do artigo 46.º, é a data relevante para efeitos de
inscrição na matriz; b) No caso previsto no artigo 47.º, é a data da transferência.”
Nos termos do art.º 55.º do CIRS, quando existem rendimentos negativos, as mais-valias não são consideradas.
Se nos anos seguintes o sujeito passivo tiver lucros, poderá deduzir os prejuízos de anos anteriores, até ao
limite de 12 anos, no âmbito da categoria G.
O englobamento corresponde à soma dos rendimentos líquidos das várias categorias do IRS. Contudo, antes
de proceder à operação de englobamento, é necessário verificar se há perdas de anos anteriores referentes a
cada uma das categorias.
Caso existam prejuízos de anos anteriores, tais prejuízos poderão ser deduzidos nos anos seguintes até aos
limites temporais estipulados no art.º 55.º do CIRS.
Nos termos da categoria B, por exemplo, o limite é de 12 anos e nos termos da categoria F o limite é de 6
anos.
Apenas podem ser deduzidos os prejuízos em anos futuros relativamente a rendimentos da mesma categoria
[por exemplo: um prejuízo da categoria B não pode ser compensado com rendimentos positivos da categoria
F.]
Nota para o teste: à partida não sairá, mas será bom referir que se “assume que não há perdas de anos
anteriores a reportar, nos termos do art.º 55.º do CIRS”.
̶ Art.º 55.º, n.º 1, CIRS – “Relativamente a cada titular de rendimentos, o resultado líquido negativo apurado
em qualquer categoria só é dedutível aos seus resultados líquidos positivos da mesma categoria, nos
seguintes termos:
a) O resultado líquido negativo apurado na categoria B só pode ser reportado, de harmonia com a parte
aplicável do artigo 52.º do Código do IRC, aos 12 anos seguintes àquele a que respeita.;
b) O resultado líquido negativo apurado em determinado ano na categoria F só pode ser reportado aos
seis anos seguintes àquele a que respeita;
c) A percentagem do saldo negativo a que se refere o n.º 2 do artigo 43.º só pode ser reportada aos cinco
anos seguintes àquele a que respeita;
d) O saldo negativo apurado num determinado ano, relativo às operações previstas nas alíneas b), c), e),
f), g) e h) do n.º 1 do artigo 10.º, pode ser reportado para os cinco anos seguintes quando o sujeito
passivo opte pelo englobamento.”
Taxas
As taxas liberatórias liberam o sujeito passivo de fazer a declaração de rendimentos (ex.: alguém tem dinheiro
no banco e o banco paga juros. O banco é que faz a declaração desses rendimentos e entrega o montante de
imposto aos cofres do Estado.
Estão fora do englobamento, a não ser que haja uma opção.
A diferença entre as taxas especiais e as taxas liberatórias é que nas taxas especiais o sujeito passivo não está
dispensado de fazer a declaração e nas taxas especiais está.
Ex.: nas taxas liberatórias, se há um banco que paga juros, é a própria instituição que faz a declaração.
No âmbito das taxas especiais (ex.: mais-valias mobiliárias – venda de partes sociais), o sujeito passivo tem
de declarar que realizou essa mais-valia.
As gratificações (gorjetas) são tributadas a uma taxa especial mas, em rigor, as gratificações têm de ser
declaradas.
A diferença entre taxas especiais e taxas liberatórias é que nas taxas liberatórias o sujeito passivo está liberto
de pagar diretamente o imposto e de fazer a declaração porque a declaração é feita pela entidade devedora ao
pagamento.
Nas taxas especiais aplica-se uma taxa proporcional/fixa, mas, ainda assim, o sujeito passivo tem de fazer a
declaração desses rendimentos.
A taxa que se aplica é proporcional (dentro de um escalão) e progressiva no âmbito dos vários escalões.
As taxas do imposto constam do art.º 68.º.
Ex.: uma pessoa que tem um rendimento de 6000€, a taxa a aplicar +e a de 14.5%.
Se o sujeito passivo tiver 11.000€ de rendimento, é necessário dividir em duas partes: uma parte igual ao limite
dos escalões e o restante [10732 aplica-se a taxa da coluna B (17.367); aos restantes 228 aplica-se a taxa da
coluna A (28.50)]
Rendimento de 30.000€ - o maior escalão é o 4.º » aplica-se 25078 à taxa da coluna B (24.967); ao restante
aplica-se a taxa da coluna A do escalão seguinte
No exame temos de dizer como se calcula – aplica-se uma taxa progressiva
Uma parte igual ao limite máximo que caiba nesse valor (aplica-se a coluna B); ao restante aplica-se a taxa da
coluna A do escalão seguinte.
Depois de feito o englobamento, a determinação da taxa é feita com base no art.º 68.º.
Quanto maior é o rendimento, maior é a taxa.
Existem dois níveis de taxas, mas isto não põe em causa a natureza progressiva das taxas.
Quando há a opção pela tributação conjunta há uma vantagem: o rendimento global é dividido por dois para
efeitos de aplicação destas taxas.
Ex.: se um casal tem um rendimento coletável de 40.000€, que, em condições normais, estariam sujeitos à
taxa de 28.838% para os primeiros 36967€ e de 45% para o restante.
Se for um casal, divide-se a taxa por 2: ou seja, aplica-se os 20.000€. no fim, multiplica-se o montante por 2,
mas tal é mais vantajoso do que aplicar os 40.000€ de uma só vez.
Retenções na fonte
Normalmente, no âmbito do rendimento da categoria A, as pessoas recebem um salário mensal, mas esse
salário resulta da dedução de determinadas deduções.
Alguém que recebe um salário bruto de 1200€ mensais, na folha de vencimento estará um valor menor porque
há uma parte que é retida devido à Segurança Social e uma parte que é retida no âmbito do IRS.
As taxas de retenções na fonte acontecem na categoria A e H, mas também nas situações em que o devedor
de rendimentos tem contabilidade organizada e é devedor noutras categorias
Ex.: a F tem contabilidade organizada e arrenda o apartamento a outra estudante. Assim, é obrigada a reter na
fonte.
Uma empresa arrenda um apartamento à pessoa singular. No momento em que paga a renda, não paga a
totalidade da renda porque
As categoria A e H estão obrigatoriamente sujeitas à retenção do imposto, nos termos do art.º 99.º.
Qualquer entidade patronal que tenha trabalhadores dependentes está obrigada a fazer retenção na fonte
Com a retenção na fonte tem a vantagem de anestesia fiscal (é melhor pagar mensalmente do que tudo junto);
assegurar que o sujeito passivo não gastará todo o rendimento (é uma forma de assegurar que o Estado recebe
o pagamento desse imposto); tesouraria e liquidez por parte do Estado (o Estado não está à espera do
pagamento no final do ano).
Relativamente às outras categorias, as retenções na fonte só sucedem quando o devedor dos rendimentos tem
contabilidade organizada.
Art.º 101.º - taxas para as outras categorias
No âmbito das categorias A e H, as taxas de retenção na fonte são aprovadas por despacho do Governo [ver
tabelas de retenção na fonte].
Nas outras categorias, a retenção na fonte não tem a mesma natureza. As retenções na fonte só estará feita se
o devedor fizer contabilidade organizada.
Imagine-se que uma pessoa tem depósitos a prazo no banco, tem juros e opta por englobar esses rendimentos.
O que é que acontece às taxas liberatórias que já foram retidas pelo banco a título definitivo? O que acontece
ao que já foi pago?
Há uma transformação em pagamento por conta – art.º 71.º, n.º 9, CIRS – funcionará como um adiantamento
por conta do imposto.
Deduções à coleta
Depois do englobamento, aplicam-se as taxas do art.º 68.º e chega-se à grandeza da coleta.
Aí, sucedem as deduções à coleta, que se relacionam com despesas de caráter pessoal.
Numa dedução diz-se que os suejitos passivos podem deduzir 15% das despesas de saúde, desde que esses
15% não ultrapassem 200€.
Se existem 100€ em despesas de saúde, podem deduzir-se os 15% (15€), pqlo que se pode deduzir.
Se for 10000€, 15% daria 1500€, pelo que supera o limite numérico máximo de 200€. Só se poderia deduzir
os 200€.
→ Ex.: imagine-se que há uma coleta de 800€ e com as despesas do agregado familiar chega-se logo a
800€ » apenas se poderá fazer a primeira dedução.
→ Faz-se dedução a dedução e só se subsistir alguma coleta é que se continuam a fazer deduções
▪ Isto só não sucede quando as deduções à coleta tem a ver com pagamentos por conta porque aqui não estão
em causa despesas pessoais, mas sim adiantamentos feitos pelo sujeito passivo nas retenções da fonte.
→ Art.º 78.º, n.º 2
→ Imagine-se que um sujeito passivo tem 1000€ de coleta e começa-se a fazer as deduções pelos
dependentes (500€) mais saúde (500€). A coleta já está em zero porque já se fizeram as deduções.
→ Contudo, se o sujeito passivo, em pagamentos por conta, pagou mais do que era devido por causa de
retenção da fonte e pagou 10000€, depois de feita as deduções à coleta e de estar em zero fica 0-
10000, pelo que há um reembolso de 10000.
O art.º 78.º elenca as deduções à coleta, mas elas são desenvolvidas nos artigos seguintes.
Art.º 78.º-A – deduções dos descendentes e ascendentes – 600€ ou 300€ se for tributação separada. [se houver
10 filhos, deduz-se 6000€]
Se o dependente for menor de 3 anos há uma bonificação
78.º-B – despesas gerais familiares – comida, serviços – 35% com o limite de 200€
78.º-C – despesas de saúde isentas de IVA ou tributadas à taca reduzida – 15% até ao limite de 1000€ [se for
uma operação plástica não conta, por exemplo].
Art.º 81.º - alguém que pagou imposto no estrangeiro, esse imposto é deduzido desde que haja coleta.
83.º-A – pensões de alimentos – 20%, a não ser que o menor ou as pessoas que beneficiam da mesma pensão
de alimentos façam parte do mesmo agregado familiar.