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ATIVIDADE EXTENSIONISTA – ESTUDO DE CASO X CNV

1 PRIMEIRA PARTE - LEVANTAMENTO

Trata-se de uma família de baixa renda, onde o foco está no casal Ivo e Paula
que possuem uma empresa de prestação de serviços de montagem na área de
eletrônica.

A partir do isolamento social (Pandemia/2020) a opção foi se ajeitar numa


casa familiar que fica ao lado da empresa, incluindo o casal de filhos e tendo em
vista os maiores cuidados, também, com a matriarca de 85 anos (sogra de Ivo).

Como se trata de um período atípico aconteceu a necessidade de adaptações


nas relações familiares X profissionais.

1.1 COMPARANDO AOS COMPONENTES DA CNV

 OBSERVAÇÃO (Método analítico)

- Estabelecimento de horários para trabalho, distrações, convivência familiar e


descanso.

- Houve mistura de horários, confusões nas relações e atividades com os


filhos, aglomerações de interesses, atrasos de entrega e recebimento dos serviços,
dependência de compreensão e colaboração de funcionários, atropelos na educação
das crianças, mais irritabilidade, impaciência, migração dos problemas.

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 SENTIMENTO (Autorreconhecimento)

Reflexão, conscientização, enriquecimento pessoal e despertar para novas


vontades (entender, administrar e ajudar. Escutar e se ater aos sentimentos
subjacentes.

 NECESSIDADE (Alteridade)

- As crianças precisavam redirecionar suas atenções e resignificar valores.

- Os pais precisavam a reformular vários aspectos da empresa e da vida


pessoal incompatíveis para o período em questão.

- Novas tarefas e cuidados foram inseridos ao cotidiano e ainda não


relacionados ao contexto de tempo.

 PEDIDO (Solidariedade)

- Entender os três estágios (o que o ouvinte está sentindo, pensando e se


está disposto a fazer) e reportar a eles de forma honesta e com empatia.

- Reconhecer as necessidades e usar a criatividade e empatia nas ações.

1.1.1 Os quatros pontos críticos da questão:

1º) Como transmitir o que agrada ou não no relacionamento do grupo de


pessoas e como articular essas observações sem julgamentos, conforme sugere a
CNV?

2º) Como identificar todos os sentimentos (irritações, tristezas, alegrias,


angústias, etc.), de forma imparcial?

3º) Quais são as necessidades ligadas a cada sentimento identificado?

4º) Qual a melhor forma de agir, fazendo um pedido de forma concreta?

1.2 IDENTIFICÃO E LEVANTAMENTO DO GRUPO DE PESSOAS

Trata-se de uma família de 06 pessoas, onde o foco da prática está no casal


Ivo e Paula, que também possuem uma microempresa. O período de isolamento que
ainda perdura, condicionou o casal a associar a vida familiar aos negócios.

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Após o levantamento da situação através de breves entrevistas (introdução),
ficou claro que esse período (praticamente do ano todo de 2020), provocou várias
mudanças no cotidiano da empresa e domiciliar. As funcionárias (04 no momento)
fazem todo o serviços na modalidade home office, entre elas duas não conseguiram
conciliar bem seus afazeres domésticos aos do trabalho, porém como disse a
coordenadora Paula, já era de se esperar, visto que, a própria se autoavaliou como
negligente, comparando ela mesma às funcionárias que desistiram do trabalho,ou
seja, não estava conseguindo adaptar família e trabalho no mesmo local e a
empresa também não tem condições de oferecer recursos, como bancada, cadeiras,
etc. para as adaptações nas residências de suas colaboradoras.

1.3 VIVENCIANDO A CNV – EXERCÍCIO DIÁRIO

Desenvolvendo habilidades de pensamentos e estabelecendo certa qualidade


de conexão entre todos os envolvidos de forma compassiva, me incluindo como
mediadora, o objetivo inicial foi criar as melhores condições para que a necessidade
de cada um fosse atendida, ou seja, esclarecer que todos serão ouvidos e a
vontade, necessidade e valores de cada integrante serão levados em consideração.
A proposta é de cooperação geral e verdadeira.

Segundo a CNV os pontos a serem avaliados e mediados em relação às


necessidades seriam como expressá-las, enxergá-las, verificar se foram
compreendidas, oferecer empatia ao grupo e tentar traduzir as soluções para uma
ação positiva, identificando no decorrer do processo os componentes da CNV,
conforme abaixo. A prática CNV sugere indagar inicialmente as necessidades até o
resultado tender a uma solução satisfatória.

(O) – OBSERVAÇÃO

(S) – SENTIMENTO

(N) – NECESSIDADE

(P) – PEDIDO

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1.4 NECESSIDADE - O CASAL IVO E PAULA EM ENTREVISTAS

- (EU)Ivo, quais necessidades no seu trabalho estão sendo atendida?

- (IVO) Penso em voltar para a Bahia, pra minha família (S), meu casamento não
existe mais (O), e não vejo como isso poderia melhorar!(S)

- (EU) e você Paula, saberia me dizer quais necessidades estão sendo atendidas no
trabalho?

- (PAULA) Não penso nas minhas necessidades, penso nas de todos os outros.(N),
meus filhos, minha mãe, meu marido(O) e até esqueço de mim!(S)

- (EU) A informação que tenho é que vocês estão juntos à 15 anos e proponho agora
me responderem com 30 minutos quais são as necessidades que um sabe que o outro tem,
começamos por você, Ivo.

- (IVO) Bom sei que ela gosta de passear e gastar, gasta o que tem e o que não
tem(O) e tento impedir às vezes.(N)

- (PAULA) Não é bem assim(O), gasto porque precisa e apenas no que precisa(N),
nem penso exatamente em mim. (S)

- (IVO) Ela vive como se o mundo fosse acabar hoje(O), os planos futuros nunca tem
uma base mais sólida(O) e eu não consigo entender isso! (S)

- (PAULA) Eu tento, mas não tenho muito tempo para pensar(S) então eu faço o que
é preciso fazer(N), é só isso!(S)

- (EU) Ivo, quando você consegue controlar um pouco mais o dinheiro, qual
necessidade sua é atendida?

- (IVO) Acho ela irresponsável em relação ao caixa da empresa(O), não existe


controle.(O).

Ficou claro que nenhum dos dois respondeu de fato as necessidades um do


outro e muito menos suas próprias. Ambos fizeram um diagnóstico, perceberam de
certa forma as razões um do outro, mas não entendiam a real necessidade de cada
um. Nesse momento percebem-se críticas e confrontos, e longe de encontrar
soluções que resolvam às necessidades dos envolvidos. A CNV sinaliza que em
análises onde um aponta o erro do outro fica evidente que existem necessidades
não atendidas.

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Percebi em minha prática mediadora que tinha que desenvolver uma
capacidade de perceber quais seriam tais possíveis necessidades para ajudá-los.
Tentei um método mais direto na pergunta.

- (EU) Ivo, você tem necessidade de uma reserva financeira como forma de
proteção para os negócios e para sua família? (N)

- (IVO) Exatamente! (N)

O próximo passo seria verificar se Paula compreendeu bem a mensagem de Ivo. A


CNV sugere que peça ao interlocutor receptor que repita a mensagem transmitida.

- (EU) Paula, repita por favor se você entendeu a necessidade do seu marido.

- (PAULA) Sei que não sou de fazer contas no papel, mas faço de cabeça e sei mais
ou menos quando estou exagerando.(O), mas também preocupo com a empresa e penso na
família! (S)

A CNV, explica que a resposta defensiva acusa que não houve compreensão,
provavelmente seja um momento de externar uma mágoa guardada e que em geral
quando não se escutam as necessidades um do outro pode ser que já estejam
carregados por angústia e dor. Este então seria o momento de oferecer a minha
empatia e tentar entender sua dor.

- (EU) Paula, me diga então o que entendeu e me diga o que você precisa.

- (PAULA) Ele acha que sou burra.(O) e não confia em mim quando se trata de
dinheiro(N). Isso me desanima porque tudo o que faço é pensando em todos. (S)

- (EU) Creio que necessita de um pouco mais de confiança e reconhecimento


pelos seus esforços. Certo? (N)

- (PAULA) Correto! (N)

- (EU) Ivo, você consegue apenas me dizer o que entendeu?

- (IVO) No fundo eu reconheço(S), mas preciso que ela pare um pouco com as
correrias e pondere mais suas atitudes. (N)

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A CNV propõe que esse exercício deve ser repetido até que ambos falem
realmente suas necessidades e depois a necessidade do outro, e assim foi feito. Fiz
uma previsão foi de 30 minutos (Marshall usou 20 min.), porém gastou menos com
minhas interferências incisivas e diretas, com foco na pergunta: “QUAL É A
NECESSIDADE...”

Ao final dessa sessão (1º diálogo), entendi a origem de muitos conflitos e até
guerras. Não somos treinados para expressar nossas necessidades em
contrapartida também não escutamos e nem percebemos as dos outros.
Tragicamente nos ensinam a nos defender, julgar e rotular, com o objetivo de validar
uma “razão relativa”, o que na verdade só faz intensificar conflitos.

1.5 ESTRATÉGIAS – AÇÃO QUE ATENDA ÀS NECESSIDADES DO CASAL

A proposta da CNV consiste em declarar o que se quer um do outro em


tempo hábil (neste momento), segundo a CNV usar o “verbo” no tempo presente
torna a discussão mais respeitosa, pois se uma das partes responder que “não está
disposto...”, facilita descobrir o motivo da negativa, pois quanto mais direto for sobre
a reação do momento, mais fácil de contornar e acertar as arestas do conflito.

Outra sugestão da CNV é de expressar o pedido em forma de ação positiva ,


focar no que se quer de fato para atender às necessidades e não no que não quer
que seja feito (para não dar margem à resistência, outras interpretações e
confusões). Realmente se falarmos o que não se quer, dificilmente mudará uma
situação problemática, pois não sabemos ao certo o que se quer!

A CNV chama a atenção para as mensagens “não” ou “não quero”, na qual


subentende-se uma necessidade de quem nega, ou seja, a expressão demonstra
uma necessidade que não está sendo atendida diante de uma estratégia
apresentada impedindo-o de dizer “sim”. Para alcançar o “sim”, tem que saber ouvir
e entender o porque do “não”, porque todo o processo tem que focar em “atender a
necessidade de todos”. Estratégias boas estão diretamente ligadas à qualidade de
conexão.

A CNV dá ênfase ao respeito como elemento fundamental para alcançar a


solução dos conflitos com sucesso, mas deve-se lembrar que respeitar não é o

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mesmo que ceder e muito menos abrir mão das próprias necessidades. Respeitar a
si é tão importante quanto a outrem. Podemos usar como exemplo a velha máxima
“para você gostar de alguém antes precisa gostar de si mesmo”, desta forma
fazendo uma analogia com a CNV, “se não valorizarmos nossas necessidades os
outros também podem não valorizá-las”.

1.5.1 A CNV explica que existem 03 estágios antes de por em prática a


estratégia:

Muitas vezes absorvemos e nos responsabilizamos por situações que nos


levam a certa anulação dos próprios quereres e sem perceber acabamos por negar
nossas próprias necessidades (Estágio 1, chamado de escravidão emocional). Ao
percebermos que o fardo pesa mais que nossa própria capacidade de carregá-lo e
finalmente entendemos que a solução seria abortar tal missão, transitamos num
espaço de intempéries e reações intermediárias (Estágio 2, chamado de ranzinza).
Por fim assumimos uma postura mais segura, consciente das conseqüências sem
esquecer as necessidades dos outros, lembrando da tradicional frase “seu espaço
termina aonde começa o meu “ (Estágio 3, chamado de libertação emocional).

Resumo esses estágios numa palavra chave “liberdade”, também contada em


verso e prosa e cantada por Natiruts quando diz “liberdade pra dentro da cabeça” e
Renato Russo em “disciplina é liberdade”, ou seja, se reconhecer dentro de um
contexto, se encorajar e reagir, e finalmente se libertar. Segundo a CNV é
fundamental a conscientização de que nunca poderemos atender as nossas próprias
necessidades à custa dos outros. Quando conectamos nossos sentimentos às
nossas necessidades entramos em ressonância (o eu comigo mesmo), assim
podemos tomar as rédeas e enfrentar as oscilações de sentimentos próprios e
oriundos, de qualquer situação.

Para por em prática uma estratégia entre Ivo e Paula passamos por algumas etapas.

1.5.1.1 1ª Etapa – RECONHECIMENTOS

- (EU) Paula, agora sabendo de suas necessidades, me diga o que você acha que
precisa melhorar em você?

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- (PAULA) Ele precisa entender que ando muito cansada e sobrecarregada (S) com o
fato das crianças estarem em casa exigindo mais atenção, cuidar da minha mãe, administrar
os serviços da empresa sem falar dos afazeres domésticos (O).

- (EU) Ok entendo seu dilema, mas o que eu preciso saber agora é onde você acha
que poderia mudar em suas atitudes?

- (PAULA) preciso externar isso(N), mas não sei como faço sem me sentir
culpada(S).

- (EU) Percebo que começa a nascer uma nova necessidade, a de ser “enxergada”,
que ele se atente aos seus sentimentos implícitos, talvez! (N)

- (PAULA) Sim. (N)

- (EU) Me diga então porque se sentiria culpada?

- (PAULA) Me sinto cansada(S), mas sei que ele também trabalha muito e da mesma
forma fica cansado(O).

- (EU) Ivo, sabendo de suas necessidades e também das necessidades de sua


esposa, me diga o que você acha que poderia melhorar em você?

- (IVO) Bom, eu entendo toda a situação estressante do momento(O), mas eu estou


fazendo tudo o que posso!(S)

- (EU) Certo, mas você acha que existe alguma coisa a se fazer para melhorar em
seu comportamento?

- (IVO) Acho que preciso conversar mais(N), mas eu não sei como fazer!(S).

- (EU) Você acha que ela percebe bem o que você quer?

- (IVO) Sim(O), mesmo me contrariando em muitas coisas(S).

- (EU) Paula, Você acha que ele percebe bem o que você quer?

- (PAULA) Algumas coisas sim, outras nem liga(O) e algumas vezes o acho
egoísta!(S).

PROPOSTA FEITA AO GRUPO

- (EU) Então Paula e Ivo, fizemos um levantamento das necessidades de cada


um, esclarecemos algumas dúvidas e agora vamos combinar que vocês irão pensar,
praticar mais compreensão, avaliar todos as situações colocadas, anotarem qualquer
observação ou mudanças que acharem importante e no próximo encontro, daqui a 15
dias, faremos uma relação de pedidos, ok!

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1.5.1.2 2ª Etapa – PEDIDOS (APÓS 15 DIAS)

Após a 1ª Etapa e um prévia de observações, sentimentos, necessidades e


responsabilidades assumidas e transferidas, passamos para a 2ª Etapa.
Combinamos que a partir de então tentaríamos formular pedidos de forma clara e
objetiva com formatos do tipo: “Eu quero isso...” e nunca “Eu não quero isso...” e em
hipótese alguma “Quero que pense isso...adivinhe!”. A prática da CNV explica que o
“não” é uma expressão fraca de uma necessidade e afinal não há nada que impeça
de dizer o “sim”.

Em primeiro momento o diálogo foi individual, pois todo pedido remete


involuntariamente a um retorno (uma resposta) e para o momento isso não seria
conveniente porque poderia comprometer a sinceridade e honestidade ou até
mesmo coibir o pedido, ou ainda travar uma discussão improdutiva. Tudo seria
anotado e confrontado na próxima etapa.

 PAULA

- (EU) Paula, gostaria que fizesse quantos pedidos achar necessário para depois
compartilharmos com seu marido.

- (PAULA) Bom, primeiro preciso que me ajude com as crianças, depois preciso que
me ajude nas entregas dos pedidos. Queria também que me ajudasse a organizar a
casa(P).

- (EU) Me desculpe, mas creio que isso não ficou claro, tem certeza que ele vai
entender?

- (PAULA) Espero que sim...

- (EU) Vamos tentar de novo, o que ele teria exatamente que fazer em relação às
crianças.

- (PAULA) Certo, vou esclarecer, seria conferir, corrigir, ensinar as atividades


escolares, na media do possível, lógico! Pois isso economizaria muito do meu tempo. (P).

- (EU) Como ele saberia a hora de fazer a entrega dos pedidos que você controla?

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- (PAULA) Esse é mais fácil, pois eu o avisaria assim que estivesse tudo embalado,
com endereço de entrega, Nota Fiscal e tudo pronto. Se ele fizesse as entregas eu usaria
esse tempo adiantando outras coisas como os afazeres domésticos. (P).

- (EU) E o que seria ajudar a organizar a casa?

- (PAULA) Esse ponto é bem complexo, porque as coisas surgem, por exemplo se
ele conseguir me ajudar a conscientizar as crianças de guardar os brinquedos todas as
vezes que terminar a brincadeira, seria ótimo! (P).

- (EU) Pedidos anotados... Ok!

 IVO

- (EU) Ivo, gostaria que fizesse quantos pedidos achar necessário para depois
compartilharmos com sua esposa.

- (IVO) Queria que ela parasse de gritar e estressar com as coisas, será que tem
jeito?

- (EU) Bom, é um pedido um pouco vago! Você quer dizer não gosta de vê-la
nervosa e gostaria que refletisse melhor e buscasse uma solução para os “probleminhas” de
forma sensata e mais tranquila? (P).

- (IVO) Sim... Isso mesmo! (P).

- (EU) Mais alguma coisa?

- (IVO) Não quero que ela fique arrumando cozinha ou casa até tarde da noite.

(isso é o que ele não quer).

- (EU) Prometemos não usar o NÃO nos pedidos!

- (IVO) Está certo, então gostaria que ela estabelecesse um horário máximo para
ir dormir, independente da situação da cozinha, casa e outros afazeres domésticos ou
da empresa. (P).

- (EU) Se eu entendi bem você atribui o estresse dela a um período insuficiente de


descanso, é isso?

- (IVO) Sim.

- (EU) Mais alguma coisa?

- (IVO) Não. Se conseguir isso, já estou salvo!


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A CNV, explica que pedido impossível de ser atendido alimenta sentimento de
culpa ou punição, mas antes de qualquer reação ao pedido é importante conferir se
este foi bem interpretado. É importante que o pedido não seja associado à exigência
mesmo que implicitamente. Cada pessoa tem uma forma de ser e nessa hora é
importante impedir que a autodefesa e/ou vitimismo destrua a empatia do pedido.
Como menciona Marshal “é um pedido se a pessoa que pediu oferece em seguida
sua empatia para com as necessidades da outra pessoa”. Significa que podemos
combater uma negativa do pedido se oferecer “a empatia” numa segunda tentativa,
em outras palavras, só será possível distinguir se é pedido ou exigência após a
reação ao pedido e caso seja exigência, com a CNV pode-se combater o mal-
entendido e convertê-la a um pedido.

Importa lembrar que o pedido não deverá ter a pretensão de mudar ninguém,
mas também não exclui mudança desde que seja de livre vontade. A CNV propõe
uma qualidade de relacionamento e para isso tem que satisfazer as necessidades
de todos os envolvidos. Contudo, na hora de externar os pedidos, todo cuidado é
pouco para que as interpretações não sejam redirecionadas para o campo das
“exigências”, pois assim os pedidos acabariam por se transformar em julgamentos.

O objetivo do pedido é enriquecer as relações e não o contrário, para isso é


indispensável que se use ações de linguagem positiva, que o interlocutor confirme
se o pedido foi bem compreendido e que fique claro que o mesmo está livre para ser
aceito ou não.

2 SEGUNDA PARTE – CONFRONTANDO NECESSIDADES E PEDIDOS

Segundo Marshall “a empatia é compreensão respeitosa do que os outros


estão vivendo” e conclui que devemos ouvir com todo o nosso ser (corpo, mente e
alma). O que se precisa imaginar é que cada situação é única porque cada pessoa
tem sua singularidade e ao conduzir qualquer intenção de CNV precisamos, como
se diz no popular, de uma “presença de espírito” para alcançarmos a conexão e
devido entendimento, porque também pode ocorrer de um simples silêncio ou gesto
conseguir comunicar mais do que a própria palavra.

Existem comportamentos subjacentes que impedem ou auxiliam as conexões


empáticas, como encorajamento, conselhos, solidariedade e mais algumas
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derivações, o que não se pode é confundir a empatia com essas atitudes. Não
interessa o que possa pensar daquele que se propõe a escutar com empatia, o
importante é concentrar a atenção na necessidade do outro e reportar uma
mensagem sem o menor sentimento de culpa ou julgamento.

2.1 RECEBENDO COM EMPATIA E CONCILIANDO EM GRUPO

- (EU) Vou tentar repassar as necessidades e pedidos de ambos, mas vamos por
partes, peço paciência e que reflitam antes de se manifestarem, ou seja, pensem com
carinho, ok!

-(EU) Paula, entendi que a necessidade do seu marido é ter mais segurança
financeira. Você entende isso?

- (PAULA) Sim(O), mas reconheço que nem ligo!(S)

- (EU) O que você acha que pode fazer para melhorar isso?

- (PAULA) Entendo que nas minhas correrias faço as coisas deliberadamente e acho
que devo reduzir a marcha e compartilhar as finanças com ele antes de tomar as decisões,
creio que seja o mais viável(N).

- (EU) Entendi que a sua “correria” para dar conta de tudo também te estressa, você
acha que pode melhorar isso também?

- (PAULA) Realmente ando esgotada(S), mas acho que só preciso de ajuda(N).

- (EU) Ivo, a necessidade de sua esposa é simples, um exercício de empatia


ajudaria, você acha que é capaz de se colocar no lugar dela? Assim quem sabe “enxergá-la”
como precisa, reconhecer seus esforços e confiar mais nas suas intenções de gastos!

- (IVO) Acho que começamos a nos entender(O). Se ela realmente compartilhar as


necessidades de gastos e se chegarmos num consenso, creio que no mínimo 50% dos
problemas estarão resolvidos e sim, com certeza minha confiança estará restabelecida(N).
Quanto a reconhecer os esforços eu já disse que vejo isso apesar de não externar(S).
Quanto à “enxergá-la(P) também é fácil, na verdade eu só desvio minha atenção como
autodefesa(S). Contudo, se a proposta for efetiva a fluidez se encarregará de tudo! (O)

- (EU) Bom, quanto a proposta, ela pede ajuda em relação aos cuidados com as
crianças e se possível alguns afazeres domésticos. Assim ela acredita que terá mais tempo

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para fechar, digamos o “cronograma diário”. O que você acha que pode fazer para atender
ao pedido dela?

- (IVO) Certo! Me comprometo a ajudá-la(O), mas preciso saber com clareza onde
ela precisa de mim(N) .

- (EU) Ela quer que você ajude nas atividades escolares, conferindo, corrigindo,
ensinando na medida do possível e ajude a cultivar a importância das crianças cuidarem
principalmente de seus próprios brinquedos.

- (IVO) Tranquilo!(O)

- (EU) Paula, quanto ao pedido de seu marido, além do que já foi combinado sobre
as finanças, diz o seguinte “gostaria que ela estabelecesse um horário máximo para ir
dormir, independente da situação da cozinha, casa e outros afazeres domésticos ou
da empresa”.

- (PAULA) Difícil! (rindo...), mas está certo!(S) Acho que com a ajuda dele em relação
ao meu pedido(N), alcanço minhas metas diárias com folga(O).

- (EU) Então Paula, só para esclarecer que você insinuou inicialmente que ele não
“te enxerga”, posso afirmar através do pedido que ele fez, que você estava enganada, você
percebe isso?

- (PAULA) Sim, ele me acha estressada(O) e só quer que eu descanse mais...


percebi sim! (S)

- (EU) Ivo, parece que a necessidade da sua esposa está diretamente ligada ao seu
pedido, você percebeu isso também?

- (IVO) Sim(O), só que nunca conversamos diretamente sobre isso, agora ficou mais
claro! (S)

3 CONCLUSÃO:

Os índices apontam que mais de 75% dos conflitos são falhas de


comunicação. A CNV é um exercício desafiador, mas pode nos conduzir a um
estágio libertador, quando bem administrada.

No primeiro momento pode parecer técnicas, mas na prática não passa de


simplesmente CNV e o que de simples, também, não tem nada, diante de uma
sociedade cheia de preconceitos e maus hábitos.

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Nessa prática identificar a real necessidade foi o ponto mais crítico e
importante. Marshall nos alerta quanto às expectativas que são pensamentos e que
não devemos escutá-las, ele diz “ouça aquilo que é necessidade” e aprenda a “ouvir
a necessidade por detrás do não” e isso é bem difícil quando não se tem prática
nenhuma desse tipo, como é meu caso e da nossa cultura.

Marshall usa diversos exemplos como forma de tornar mais acessível e atingir
a compreensão de todos. São “N” citações diferentes, mas ainda assim insuficientes
para sanar minhas dúvidas. Contudo, percebe-se que são questões inesgotáveis.

Um ponto que percebi pouco abordado e que considero com demasiado peso
é o orgulho. Penso que esse sentimento é responsável por bloquear vários canais
da CNV, principalmente quando escutamos “eu não quero falar”, pois segundo o
interlocutor a necessidade dele só será atendida se houver a percepção natural do
outro, ou seja, tem que ser de “dentro pra fora” porque se for de “fora pra dentro”,
perderá o efeito que ele necessita.

Outro ponto bem difícil é administrar os julgamentos. Sabemos ser


necessários, mas como ser comedido? Percebi até certo deslize de Marshall em
suas exemplificações quando disse “Aprendi a sempre tratar de “senhor” pessoas
com bíceps como o dele, especialmente quando um deles tem uma
tatuagem.”(pag.124), mas o que tem a tatuagem a ver com isso? Seria talvez um
preconceito? Não importa, o fato é que os julgamentos são necessários, só que
precisamos educá-los e administrá-los.

Por fim, o famigerado pedido, esse deu trabalho porque a primeira


providência é dizer o “não”, “eu não quero...”, “eu não gosto...”, e precisa realmente
fazer uma “ginástica” com as palavras para convencer de que isso não fundamenta
um pedido, mas como tudo depende do contexto, temos um belo exemplo quando
Milly diz “... não quero que a senhora faça nada; só me escute” (pag.160), nesse
caso o pedido é escutar e obviamente incorrerá uma sequência de (O), (S), (N) e
(P). E assim podemos concluir que cada caso é um caso a ser avaliado.

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