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Estudo de Caso-CNV - Registros Do Processo - Parte 1
Estudo de Caso-CNV - Registros Do Processo - Parte 1
Trata-se de uma família de baixa renda, onde o foco está no casal Ivo e Paula
que possuem uma empresa de prestação de serviços de montagem na área de
eletrônica.
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SENTIMENTO (Autorreconhecimento)
NECESSIDADE (Alteridade)
PEDIDO (Solidariedade)
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Após o levantamento da situação através de breves entrevistas (introdução),
ficou claro que esse período (praticamente do ano todo de 2020), provocou várias
mudanças no cotidiano da empresa e domiciliar. As funcionárias (04 no momento)
fazem todo o serviços na modalidade home office, entre elas duas não conseguiram
conciliar bem seus afazeres domésticos aos do trabalho, porém como disse a
coordenadora Paula, já era de se esperar, visto que, a própria se autoavaliou como
negligente, comparando ela mesma às funcionárias que desistiram do trabalho,ou
seja, não estava conseguindo adaptar família e trabalho no mesmo local e a
empresa também não tem condições de oferecer recursos, como bancada, cadeiras,
etc. para as adaptações nas residências de suas colaboradoras.
(O) – OBSERVAÇÃO
(S) – SENTIMENTO
(N) – NECESSIDADE
(P) – PEDIDO
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1.4 NECESSIDADE - O CASAL IVO E PAULA EM ENTREVISTAS
- (IVO) Penso em voltar para a Bahia, pra minha família (S), meu casamento não
existe mais (O), e não vejo como isso poderia melhorar!(S)
- (EU) e você Paula, saberia me dizer quais necessidades estão sendo atendidas no
trabalho?
- (PAULA) Não penso nas minhas necessidades, penso nas de todos os outros.(N),
meus filhos, minha mãe, meu marido(O) e até esqueço de mim!(S)
- (EU) A informação que tenho é que vocês estão juntos à 15 anos e proponho agora
me responderem com 30 minutos quais são as necessidades que um sabe que o outro tem,
começamos por você, Ivo.
- (IVO) Bom sei que ela gosta de passear e gastar, gasta o que tem e o que não
tem(O) e tento impedir às vezes.(N)
- (PAULA) Não é bem assim(O), gasto porque precisa e apenas no que precisa(N),
nem penso exatamente em mim. (S)
- (IVO) Ela vive como se o mundo fosse acabar hoje(O), os planos futuros nunca tem
uma base mais sólida(O) e eu não consigo entender isso! (S)
- (PAULA) Eu tento, mas não tenho muito tempo para pensar(S) então eu faço o que
é preciso fazer(N), é só isso!(S)
- (EU) Ivo, quando você consegue controlar um pouco mais o dinheiro, qual
necessidade sua é atendida?
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Percebi em minha prática mediadora que tinha que desenvolver uma
capacidade de perceber quais seriam tais possíveis necessidades para ajudá-los.
Tentei um método mais direto na pergunta.
- (EU) Ivo, você tem necessidade de uma reserva financeira como forma de
proteção para os negócios e para sua família? (N)
- (EU) Paula, repita por favor se você entendeu a necessidade do seu marido.
- (PAULA) Sei que não sou de fazer contas no papel, mas faço de cabeça e sei mais
ou menos quando estou exagerando.(O), mas também preocupo com a empresa e penso na
família! (S)
A CNV, explica que a resposta defensiva acusa que não houve compreensão,
provavelmente seja um momento de externar uma mágoa guardada e que em geral
quando não se escutam as necessidades um do outro pode ser que já estejam
carregados por angústia e dor. Este então seria o momento de oferecer a minha
empatia e tentar entender sua dor.
- (EU) Paula, me diga então o que entendeu e me diga o que você precisa.
- (PAULA) Ele acha que sou burra.(O) e não confia em mim quando se trata de
dinheiro(N). Isso me desanima porque tudo o que faço é pensando em todos. (S)
- (IVO) No fundo eu reconheço(S), mas preciso que ela pare um pouco com as
correrias e pondere mais suas atitudes. (N)
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A CNV propõe que esse exercício deve ser repetido até que ambos falem
realmente suas necessidades e depois a necessidade do outro, e assim foi feito. Fiz
uma previsão foi de 30 minutos (Marshall usou 20 min.), porém gastou menos com
minhas interferências incisivas e diretas, com foco na pergunta: “QUAL É A
NECESSIDADE...”
Ao final dessa sessão (1º diálogo), entendi a origem de muitos conflitos e até
guerras. Não somos treinados para expressar nossas necessidades em
contrapartida também não escutamos e nem percebemos as dos outros.
Tragicamente nos ensinam a nos defender, julgar e rotular, com o objetivo de validar
uma “razão relativa”, o que na verdade só faz intensificar conflitos.
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mesmo que ceder e muito menos abrir mão das próprias necessidades. Respeitar a
si é tão importante quanto a outrem. Podemos usar como exemplo a velha máxima
“para você gostar de alguém antes precisa gostar de si mesmo”, desta forma
fazendo uma analogia com a CNV, “se não valorizarmos nossas necessidades os
outros também podem não valorizá-las”.
Para por em prática uma estratégia entre Ivo e Paula passamos por algumas etapas.
- (EU) Paula, agora sabendo de suas necessidades, me diga o que você acha que
precisa melhorar em você?
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- (PAULA) Ele precisa entender que ando muito cansada e sobrecarregada (S) com o
fato das crianças estarem em casa exigindo mais atenção, cuidar da minha mãe, administrar
os serviços da empresa sem falar dos afazeres domésticos (O).
- (EU) Ok entendo seu dilema, mas o que eu preciso saber agora é onde você acha
que poderia mudar em suas atitudes?
- (PAULA) preciso externar isso(N), mas não sei como faço sem me sentir
culpada(S).
- (EU) Percebo que começa a nascer uma nova necessidade, a de ser “enxergada”,
que ele se atente aos seus sentimentos implícitos, talvez! (N)
- (PAULA) Me sinto cansada(S), mas sei que ele também trabalha muito e da mesma
forma fica cansado(O).
- (EU) Certo, mas você acha que existe alguma coisa a se fazer para melhorar em
seu comportamento?
- (IVO) Acho que preciso conversar mais(N), mas eu não sei como fazer!(S).
- (EU) Você acha que ela percebe bem o que você quer?
- (EU) Paula, Você acha que ele percebe bem o que você quer?
- (PAULA) Algumas coisas sim, outras nem liga(O) e algumas vezes o acho
egoísta!(S).
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1.5.1.2 2ª Etapa – PEDIDOS (APÓS 15 DIAS)
PAULA
- (EU) Paula, gostaria que fizesse quantos pedidos achar necessário para depois
compartilharmos com seu marido.
- (PAULA) Bom, primeiro preciso que me ajude com as crianças, depois preciso que
me ajude nas entregas dos pedidos. Queria também que me ajudasse a organizar a
casa(P).
- (EU) Me desculpe, mas creio que isso não ficou claro, tem certeza que ele vai
entender?
- (EU) Vamos tentar de novo, o que ele teria exatamente que fazer em relação às
crianças.
- (EU) Como ele saberia a hora de fazer a entrega dos pedidos que você controla?
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- (PAULA) Esse é mais fácil, pois eu o avisaria assim que estivesse tudo embalado,
com endereço de entrega, Nota Fiscal e tudo pronto. Se ele fizesse as entregas eu usaria
esse tempo adiantando outras coisas como os afazeres domésticos. (P).
- (PAULA) Esse ponto é bem complexo, porque as coisas surgem, por exemplo se
ele conseguir me ajudar a conscientizar as crianças de guardar os brinquedos todas as
vezes que terminar a brincadeira, seria ótimo! (P).
IVO
- (EU) Ivo, gostaria que fizesse quantos pedidos achar necessário para depois
compartilharmos com sua esposa.
- (IVO) Queria que ela parasse de gritar e estressar com as coisas, será que tem
jeito?
- (EU) Bom, é um pedido um pouco vago! Você quer dizer não gosta de vê-la
nervosa e gostaria que refletisse melhor e buscasse uma solução para os “probleminhas” de
forma sensata e mais tranquila? (P).
- (IVO) Não quero que ela fique arrumando cozinha ou casa até tarde da noite.
- (IVO) Está certo, então gostaria que ela estabelecesse um horário máximo para
ir dormir, independente da situação da cozinha, casa e outros afazeres domésticos ou
da empresa. (P).
- (IVO) Sim.
Importa lembrar que o pedido não deverá ter a pretensão de mudar ninguém,
mas também não exclui mudança desde que seja de livre vontade. A CNV propõe
uma qualidade de relacionamento e para isso tem que satisfazer as necessidades
de todos os envolvidos. Contudo, na hora de externar os pedidos, todo cuidado é
pouco para que as interpretações não sejam redirecionadas para o campo das
“exigências”, pois assim os pedidos acabariam por se transformar em julgamentos.
- (EU) Vou tentar repassar as necessidades e pedidos de ambos, mas vamos por
partes, peço paciência e que reflitam antes de se manifestarem, ou seja, pensem com
carinho, ok!
-(EU) Paula, entendi que a necessidade do seu marido é ter mais segurança
financeira. Você entende isso?
- (EU) O que você acha que pode fazer para melhorar isso?
- (PAULA) Entendo que nas minhas correrias faço as coisas deliberadamente e acho
que devo reduzir a marcha e compartilhar as finanças com ele antes de tomar as decisões,
creio que seja o mais viável(N).
- (EU) Entendi que a sua “correria” para dar conta de tudo também te estressa, você
acha que pode melhorar isso também?
- (EU) Bom, quanto a proposta, ela pede ajuda em relação aos cuidados com as
crianças e se possível alguns afazeres domésticos. Assim ela acredita que terá mais tempo
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para fechar, digamos o “cronograma diário”. O que você acha que pode fazer para atender
ao pedido dela?
- (IVO) Certo! Me comprometo a ajudá-la(O), mas preciso saber com clareza onde
ela precisa de mim(N) .
- (EU) Ela quer que você ajude nas atividades escolares, conferindo, corrigindo,
ensinando na medida do possível e ajude a cultivar a importância das crianças cuidarem
principalmente de seus próprios brinquedos.
- (IVO) Tranquilo!(O)
- (EU) Paula, quanto ao pedido de seu marido, além do que já foi combinado sobre
as finanças, diz o seguinte “gostaria que ela estabelecesse um horário máximo para ir
dormir, independente da situação da cozinha, casa e outros afazeres domésticos ou
da empresa”.
- (PAULA) Difícil! (rindo...), mas está certo!(S) Acho que com a ajuda dele em relação
ao meu pedido(N), alcanço minhas metas diárias com folga(O).
- (EU) Então Paula, só para esclarecer que você insinuou inicialmente que ele não
“te enxerga”, posso afirmar através do pedido que ele fez, que você estava enganada, você
percebe isso?
- (EU) Ivo, parece que a necessidade da sua esposa está diretamente ligada ao seu
pedido, você percebeu isso também?
- (IVO) Sim(O), só que nunca conversamos diretamente sobre isso, agora ficou mais
claro! (S)
3 CONCLUSÃO:
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Nessa prática identificar a real necessidade foi o ponto mais crítico e
importante. Marshall nos alerta quanto às expectativas que são pensamentos e que
não devemos escutá-las, ele diz “ouça aquilo que é necessidade” e aprenda a “ouvir
a necessidade por detrás do não” e isso é bem difícil quando não se tem prática
nenhuma desse tipo, como é meu caso e da nossa cultura.
Marshall usa diversos exemplos como forma de tornar mais acessível e atingir
a compreensão de todos. São “N” citações diferentes, mas ainda assim insuficientes
para sanar minhas dúvidas. Contudo, percebe-se que são questões inesgotáveis.
Um ponto que percebi pouco abordado e que considero com demasiado peso
é o orgulho. Penso que esse sentimento é responsável por bloquear vários canais
da CNV, principalmente quando escutamos “eu não quero falar”, pois segundo o
interlocutor a necessidade dele só será atendida se houver a percepção natural do
outro, ou seja, tem que ser de “dentro pra fora” porque se for de “fora pra dentro”,
perderá o efeito que ele necessita.
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