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CITOPATOLOGIA

E UROANÁLISE

ORGANIZADORA
FABIANE HORBACH RUBIN
EXPEDIENTE

Coordenador(a) de Conteúdo Revisão Textual


Sidney Edson Mella Junior Salen Nascimento Silva
Projeto Gráfico e Capa Ilustração
Arthur Cantareli Silva Eduardo Aparecido Alves
Editoração Fotos
Ellen Jeane da Silva Shutterstock & Envato
Design Educacional
Vanessa Graciele Tiburcio
Curadoria
Guilherme Gomes Leal Clauman

FICHA CATALOGRÁFICA

U58 Universidade Cesumar - UniCesumar.


Núcleo de Educação a Distância. RUBIN, Fabiane Horbach.
Citopatologia e Uroanálise / Fabiane Horbach Rubin. - Indaial, SC:
Arqué, 2023.

324 p.

“Graduação - EaD”.
1. Citopatologia 2. Uroanálise 3. EaD. I. Título.

CDD - 616.075

Bibliotecária: Leila Regina do Nascimento - CRB- 9/1722.

Ficha catalográfica elaborada de acordo com os dados fornecidos pelo(a) autor(a).

Impresso por:
RECURSOS DE IMERSÃO

A P RO F UNDA NDO EU INDICO

Utilizado para temas, assuntos Utilizado para agregar um


ou conceitos avançados, levando conteúdo externo. Utilizando
ao aprofundamento do que está o QR-code você poderá
sendo trabalhado naquele mo- acessar links de vídeos,
mento do texto. artigos, sites, etc. Acres-
centando muito aprendizado
em toda a sua trajetória.

P E N SA N DO J UNTO S

Este item corresponde a uma PL AY NO CONHECIMENTO


proposta de reflexão que pode
ser apresentada por meio de uma Professores especialistas e
frase, um trecho breve ou uma convidados, ampliando as
pergunta. discussões sobre os temas
por meio de fantásticos
podcasts.

ZO O M N O CO NHEC I M ENTO

Utilizado para desmistificar pontos INDICAÇÃO DE FIL ME

que possam gerar confusão


sobre o tema. Após o texto trazer Uma dose extra de conheci-
a explicação, essa interlocução mento é sempre bem-vinda.
pode trazer pontos adicionais que Aqui você terá indicações de
contribuam para que o estudante filmes que se conectam com
não fique com dúvidas sobre o o tema do conteúdo.
tema.

INDICAÇÃO DE L IVRO

Uma dose extra de conheci-


mento é sempre bem-vinda.
Aqui você terá indicações de
livros que agregarão muito
na sua vida profissional.

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CAMINHOS DE APRENDIZAGEM

5UNIDADE 1

PROCEDIMENTOS PRÉ-ANALÍTICOS E ANÁLISE FÍSICO-QUÍMICA DA URINA . . . . . . 6

63UNIDADE 2

ANÁLISE SEDIMENTOSCÓPICA DA URINA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64

INTRODUÇÃO AOS FLUIDOS CORPORAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94

115
UNIDADE 3

LÍQUIDO CEFALORRAQUIDIANO E FLUIDO SINOVIAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116

SÊMEN E LÍQUIDO AMNIÓTICO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 150

191
UNIDADE 4

TÉCNICAS E MATERIAIS DE COLETA, CONSERVAÇÃO E COLORAÇÃO


DE AMOSTRAS CITOLÓGICAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 192

CITOLOGIA DO TRATO GENITAL FEMININO I . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 228

261 UNIDADE 5

CITOLOGIA DO TRATO GENITAL FEMININO II . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 262

GESTÃO DA QUALIDADE EM LABORATÓRIO DE CITOLOGIA CLÍNICA . . . . . . . . . 302

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TEMA DE APRENDIZAGEM 1

PROCEDIMENTOS PRÉ-ANALÍTICOS
E ANÁLISE FÍSICO-QUÍMICA
DA URINA
FABIANE HORBACH RUBIN

MINHAS METAS

Compreender os processos envolvidos na fisiologia renal para formação da


urina e composição da urina.

Realizar boas práticas laboratoriais para parâmetros pré-analíticos, como


coleta e transporte de amostra de urina para diferentes análises.

Interpretar as análises físicas e químicas da urina.

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UN I C ES UMA R

INICIE SUA JORNADA


Embora a tecnologia venha aprimorando e contribuindo para a realização e
análise de exames, imagine um dia em que os aparelhos não funcionam ou até
mesmo o responsável pela triagem não compareceu. Você sabe como analisar?
Quais seriam as prováveis interferências que poderiam trazer um resultado não
fidedigno da amostra?
Ter conhecimento é vital, pois em ocasiões como essa, o profissional que
souber as informações se destacará, poderá contribuir para um melhor funcio-
namento da rotina laboratorial, mostrando proatividade, além de ter novas opor-
tunidades diante de sua atuação profissional.
Parece simples, mas a prática requer conhecimento e organização. Ao se de-
parar com uma amostra, como no caso em questão é de urina, se você tem co-
nhecimento, saberá como analisá-la, quais são os aspectos normais e anormais,
quais são os passos para uma melhor análise, como armazená-la, dentre outras
características muito importantes. Ou seja, tendo a oportunidade de adquirir
mais conhecimento, por menor que seja, aproveite e se dedique, pois em algum
momento lhe será muito útil.

P L AY N O CO NHEC I M ENTO

A formação da urina é um processo complexo, que envolve


aspectos importantes da fisiologia renal. Para compreendê-la,
vamos recordar a anatomia dos rins com o vídeo ao lado.

VAMOS RECORDAR?
Como ocorre a formação da urina e quais os aspectos
pré-analíticos para a sua análise?
Ouça no seu Ambiente Virtual de Aprendizagem!

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 1

DESENVOLVA SEU POTENCIAL

FORMAÇÃO DA URINA E PROCEDIMENTOS PRÉ-ANALÍTICOS

Os rins somam uma série de importantes constituintes e funções fisiológicas


(EATON; POOLER, 2015). Entre elas, podemos destacar a formação da urina, a
qual poderá ser analisada laboratorialmente de forma eficaz, respeitando algumas
etapas, como, em destaque, a fase pré-analítica.
No entanto, a fase pré-analítica não compreende somente a coleta da amos-
tra biológica, mas também as etapas de seu transporte e armazenamento. Embora
sejam aspectos básicos, esses processos são essenciais, uma vez que grande parte
dos erros em laboratórios clínicos ocorrem na fase pré-analítica. Para amostras
urinárias, isso não é diferente. Assim, caso as etapas que correspondem a essa fase
sejam realizadas de forma incorreta, a análise torna-se comprometida (XAVIER;
DORA; BARROS, 2016).

FISIOLOGIA RENAL

Os rins são essenciais e indispensáveis para a sobrevivência do ser humano. Es-


ses órgãos somam diferentes funções, que ajudam a manter a homeostasia no
organismo como um todo. Entre as suas principais funções, encontram-se: a
gliconeogênese, produção de vitamina D, manutenção do equilíbrio ácido-básico,
controle da resistência vascular, produção de eritropoetina para controle na pro-
dução de eritrócitos, regulação da osmolaridade plasmática, controle do volume
do líquido extracelular, manutenção do equilíbrio hídrico e eletrolítico e, de modo
especial, o processo de excreção de substâncias que não são úteis para o organis-
mo. De maneira geral, essas substâncias em concentrações elevadas podem ser
extremamente prejudiciais, levando à desregulação de condições fisiológicas de
outros sistemas do corpo. Consequentemente, os rins atuam em conjunto, por
exemplo, com outros órgãos, como fígado e coração (EATON; POOLER, 2015).

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UN I C ES UMA R

Formação da Urina

Compreender a essência do funcionamento renal e, consequentemente, da forma-


ção da urina é simples, porque os rins recebem o líquido que chega pela corrente
sanguínea, alteram a sua composição, adicionando ou excluindo constituintes,
e formam a urina, que contém o equilíbrio de cada substância. Esse processo é
realizado nos néfrons renais (Figura 1), responsáveis pela filtração do sangue, os
quais precisam estar em perfeito estado de funcionamento (EATON; POOLER,
2015).

Glomérulo Túbulo
contorcido
distal

Túbulo
contorcido
proximal

Ducto coletor

Alça de Henle

Figura 1 - Néfron renal / Fonte: os autores.

Descrição da Imagem: trata-se de uma ilustração colorida. Ao lado esquerdo, temos uma imagem de um rim na
cor vermelha em um corte longitudinal; ao centro, em tom vermelho vivo, encontra-se uma artéria e logo abaixo
dela, em azul, uma veia. Abaixo, em tons claros, está o ureter. No lado direito, a imagem apresenta um néfron,
que se inicia com uma estrutura arredondada, pequena, em cor clara, ao redor de outra estrutura vermelha no
centro, da qual saem canais com curso em curvas, em tons claros e finaliza com um canal vertical com ramificações.

Cada néfron é formado por um glomérulo e túbulos renais, que se encontram


no ducto coletor. O glomérulo é formado por vasos sanguíneos e “coberto” pela
cápsula de Bowman (corpúsculo renal).

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 1

O sangue penetra pela cápsula de Bowman através das arteríolas aferentes para
os capilares do glomérulo, e a arteríola eferente drena o sangue. Dentro da cáp-
sula, há um espaço vazio, onde o líquido flui dos capilares glomerulares antes de
penetrar na primeira porção do túbulo. Essa estrutura (Figura 2) forma uma bar-
reira essencial para a filtração, similar a uma “peneira”, permitindo a transferência
de grandes volumes e impedindo a passagem de grandes proteínas plasmáticas,
como a albumina (EATON; POOLER, 2015).
A filtração glomerular é a etapa inicial para a formação da urina. O conteúdo
filtrado é muito semelhante ao plasma sanguíneo, contendo substâncias livre-
mente filtradas, como íons inorgânicos (sódio, potássio, cloreto, bicarbonato),
solutos orgânicos sem carga elétrica (glicose e ureia), hormônios peptídicos (insu-
lina, hormônio antidiurético) e aminoácidos de baixo peso molecular (EATON;
POOLER, 2015).

Cápsula de Bowman
Arteríola aferente
Túbulo Proximal

Arteríola eferente
Glomérulo renal

Figura 2 - Glomérulo renal / Fonte: os autores.

Descrição da Imagem: ilustração colorida de um glomérulo renal em corte longitudinal. À esquerda, há duas ar-
teríolas em vermelho, uma voltada para cima e outra, para baixo. No centro, há uma imagem esférica de tamanho
médio; no interior, há um emaranhado de vasos em vermelho e ao redor, um envolto em tons de lilás. À direita,
temos uma estrutura retangular com as pontas curvadas em tons de lilás.

O conteúdo filtrado é medido pela taxa de filtração glomerular (TFG), que é


igual a 180 L/dia em um homem adulto, jovem e saudável. Consequentemente,
o sangue total chega a ser filtrado cerca de 60 vezes ao dia, permitindo a excreção

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de substâncias biotransformadas e a manutenção da homeostasia do organismo.


Como exemplo, podemos imaginar que, caso todo o conteúdo filtrado fosse ex-
cretado de forma íntegra, urinaríamos várias vezes ao dia e ficaríamos desidrata-
dos em questão de poucas horas. Por isso, o conteúdo filtrado será encaminhado
aos túbulos renais, onde ocorrem processos de reabsorção e secreção tubulares,
ou seja, o líquido recebido é modificado de modo específico em cada segmento,
a fim de enviar o líquido para outro segmento.
ZO O M N O CO NHEC I M ENTO

A reabsorção é caracterizada pela remoção de substâncias do túbulo renal


para o sangue circulante; enquanto a secreção se caracteriza pelo acrésci-
mo de substâncias do sangue circulante para o lúmen do túbulo renal
(EATON; POOLER, 2015).

Os túbulos renais são formados logo após o glomérulo e são uma extensão da
cápsula de Bowman, dividindo-se basicamente em túbulo contorcido proximal,
alça de Henle, túbulo contorcido distal e ducto coletor. Essas estruturas são cons-
tituídas por células epiteliais conectadas por junções firmes, responsáveis por
manter as células unidas (EATON; POOLER, 2015).
O túbulo proximal é o primeiro, localizado logo após a cápsula de Bowman.
Dessa forma, ele drena o conteúdo filtrado por esse compartimento para a se-
quência de túbulos. Ele é responsável pelo primeiro processo de reabsorção tubu-
lar, no qual são absorvidos novamente para o organismo cerca de dois terços da
água filtrada, do sódio e do cloreto. Além disso, todas as moléculas orgânicas úteis,
como glicose e aminoácidos, precisam ser reabsorvidas para serem conservadas
no organismo. Compostos – como potássio, fosfato, cálcio e bicarbonato – são
reabsorvidos parcialmente. Apesar de ser essencial para reabsorção, esse com-
partimento é responsável pela secreção de algumas substâncias, como produtos
biotransformados (creatinina, ácido úrico) e fármacos (penicilina) (EATON;
POOLER, 2015).
Logo após, encontramos a alça de Henle, que é um segmento dividido em
ramo ascendente e descendente. De modo geral, é responsável por 20% da reab-
sorção do sódio e cloreto e 10% da água filtrada, líquido que se torna diluído em
relação ao plasma normal, devido à concentração de sal absorvida ser superior

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 1

à concentração de água. O túbulo distal reabsorve cerca de 10% de sal e água, já


o ducto coletor mantém o processo de reabsorver sal e água, excretando, ainda,
ácidos e bases, e regulando a excreção de ureia (EATON; POOLER, 2015).

Capilar peritubular
Arteríola
aferente
S Túbulo
R contorcido
distal
F

Túbulo R S
peritubular
Arteríola Cápsula
eferente de Bowman
R
S
F Filtração R R

R Reabsorção
Duto
S Secreção Alça de coletor
Henle Veia
E Excreção renal

E
Urina

Figura 3 - Filtração, reabsorção e secreção renal / Fonte: Alves ([2023], on-line).

Descrição da Imagem: ilustração dos processos renais de filtração (indicado na seta em vermelho), reabsorção
(indicado na seta em verde), secreção (indicado na seta em lilás) e excreção (indicado na seta azul claro). No canto
superior esquerdo, em tons de lilás claro, há uma imagem esférica em tamanho médio, da qual saem duas linhas
grossas para a esquerda, uma para cima e outra para baixo; e para a direita dá continuidade através de um canal
mais grosso, o qual depois vai afinando e alterando sua configuração em estreito e largo. Este canal, juntamente
com a linha de cima segue um percurso para a direita, fazendo uma curva para a direita e voltando-se para baixo,
faz outra curva em formato de “U”, sobe novamente, curva-se para a direita e finaliza na esquerda.

E U IN D ICO

Para visualizar melhor esses processos renais, assista ao


vídeo, a seguir, sobre o processo de filtração, reabsorção,
secreção e excreção renal

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Portanto, percebe-se que é indispensável que determinadas substâncias sejam


excretadas pelos rins. Esse processo é controlado por diferentes mecanismos,
os quais, geralmente, têm funções muito similares. Assim, quando há uma falha
nos controles de um mecanismo, ela pode ser compensada por outro. Caso isso
não seja possível, o organismo é capaz de se adaptar a determinadas condições
crônicas, modulando sua eficiência com o passar do tempo.
Por fim, para cada substância do plasma, existe uma combinação particular
de filtração, reabsorção e secreção, e a combinação desses fatores resulta no que
será excretado e quanto. Os rins buscam regular as concentrações ideais de cada
substância, de modo que, se algo está acima do normal, será excretado em maior
quantidade ou vice-versa.

Composição da Urina

Como podemos perceber, a urina humana é constituída principalmente por água,


que corresponde entre 90% e 96% do volume total. A água é secretada através
dos rins, coletada na bexiga e excretada na uretra. Além do componente líqui-
do, a urina pode conter solutos, como sódio, potássio, cálcio, magnésio, cloreto,
creatinina, ureia, vitaminas, hormônios, ácido úrico, dentre outros compostos
orgânicos e inorgânicos (ROSE et al., 2015).
Os compostos sólidos totais na urina chegam a pesar cerca de 59g/cap/dia.
A matéria orgânica corresponde de 65% a 85% dos constituintes sólidos secos
da urina. A ureia é mais predominante, variando de acordo com a ingestão de
proteínas, mas constituindo cerca de 50% dos sólidos orgânicos totais. Íons como
Na+, K+ e Ca2+ também variam de acordo com a dieta. Outros íons menos fre-
quentes são amônio, sulfatos de ácidos aminados e fosfatos, que podem mudar
de acordo com o nível hormonal da paratireoide.

Portanto, a composição de soluto é modificada conforme as


condições ambientais

Como uma variação na alimentação, através da ingestão de proteínas, sal, cálcio,


ou ainda, por modulação na secreção hormonal (Figura 4) (ROSE et al., 2015).

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A dieta interfere na excreção renal de sólidos

Dieta rica em proteína Dieta vegetariana

Excreção renal de Excreção renal de


solutos (ureia, solutos (ureia,
fosfato, K+, dentre fosfato, K+, dentre
outros). outros).

Figura 4 - Diferença na composição de sólidos na urina de acordo com a dieta / Fonte: os autores.

Descrição da Imagem: a figura ilustra uma comparação. À esquerda e acima, há uma imagem de alimentos
ricos em proteína, com uma seta vermelha à direita, sinalizando para baixo um corte longitudinal de um rim,
centralizado abaixo. Ainda na esquerda, porém abaixo, há uma seta fina em vermelho voltada para cima com
escritas ao lado direito. À direita da imagem, traz-se uma imagem de frutas e verduras, com uma seta vermelha à
esquerda, sinalizando para baixo (rim). Abaixo dessa imagem, há uma seta fina em vermelho voltada para baixo
com escritas ao lado direito.

A produção total de urina varia de acordo com a ingestão de líquidos, tamanho


do corpo, prática de exercícios físicos excessivos (suor) e de acordo com a raça
(ROSE et al., 2015). A seguir, veja a relação entre esses fatores e a produção de
urina por dia.

INGESTÃO DE LÍQUIDOS

O volume de água ingerido é, geralmente, igual ao volume de urina produzida.

TAMANHO DO CORPO

Crianças produzem uma quantidade inferior de urina (50% a menos) do que adul-
tos. Quanto maior o tamanho do corpo, maior a produção de urina.

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EXERCÍCIOS FÍSICOS EXCESSIVOS

A prática excessiva leva ao suor, que, por sua vez, afeta sua hidratação corpórea.

RAÇA

Mulheres negras têm volume urinário inferior (0,24L/dia) do que mulheres bran-
cas.

FASE PRÉ-ANALÍTICA

A fase pré-analítica compreende fatores que antecedem a análise laboratorial,


voltados ao preparo do paciente, à identificação, à coleta, à manipulação, ao ar-
mazenamento e ao transporte de uma amostra biológica. Consequentemente, é
uma fase repleta de possibilidades para os grandes erros em laboratórios clínicos,
que, muitas vezes, não são controlados e/ou detectados. Uma vez que os erros
ocorrem e não são identificados, isso pode levar a resultados incorretos, que não
condizem com a realidade do paciente (XAVIER; DORA; BARROS, 2016).
No entanto, o laboratório pode e deve buscar minimizar esses erros, pelo
treinamento adequado dos profissionais responsáveis pelas tarefas. Quando exis-
te uma gestão da qualidade da fase pré-analítica, os erros podem ser facilmen-
te identificados e corrigidos, antes que prejudiquem a qualidade dos serviços
prestados pelo laboratório, evitando, assim, outros problemas. Por esse motivo,
uma padronização dos processos deve ser adotada, aumentando a segurança e
confiança do paciente.
Considerando os parâmetros pré-analíticos para amostras de urina, eles po-
dem fugir do controle do laboratório, uma vez que o paciente realiza a sua própria
coleta. Contudo, uma orientação adequada possibilita que o paciente seja instruí-
do da maneira correta para fazer a coleta do material, minimizando os principais
erros pré-analíticos nessa área. A identificação do paciente é de responsabilidade
do laboratório, que deve confirmar o nome completo e dados pessoais do paciente
respectivo à amostra recebida.

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 1

Outro fator a ser analisado na entrega da amostra é se ela se encontra “apta”


para análise, pois, em alguns casos, indica-se uma nova coleta. Esses casos
incluem amostras em recipientes inadequados (vidros de conserva, potes de
plásticos, entre outros); amostras com resquícios de fezes; amostras com tempo
de coleta superior ao tempo de transporte permitido para a análise; amostras
malconservadas. A seguir, poderemos entender mais sobre os processos de
coleta e transporte da amostra de urina e sua importância da fase pré-analítica.

Coleta de Urina Tipo 1 Para Parcial de Urina

A coleta de amostra urinária para realização da análise é relativamente simples,


mas precisa ser seguida à risca, caso contrário, podem ocorrer contaminações
importantes, que exigem a necessidade de uma nova coleta. De modo geral, ela
é realizada pelo próprio paciente, por esse motivo

é necessário fazer uma correta orientação sobre as etapas, a fim de


facilitar as fases analíticas (RAVEL, 1997).

As recomendações da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina La-


boratorial (SBPC/ML) indicam que a primeira amostra da manhã é ideal para o
exame de urina de rotina, porque ela se encontra mais concentrada, permitindo
que os elementos e substâncias químicas presentes sejam adequadamente ana-
lisados. Caso isso não seja possível, alguns laboratórios indicam um intervalo
de duas a quatro horas entre as micções para que, então, a coleta seja realizada
(SBPC/ML, 2017).

A urina é coletada em um frasco de material limpo, seco e à prova de


vazamento.

Os frascos não devem ser reutilizados, uma vez que a reutilização pode resultar
em contaminação da amostra de urina. De modo geral, os laboratórios fornecem
o frasco coletor ao paciente e solicitam que a amostra seja coletada em casa, a fim
de que a primeira urina da manhã seja obtida (RAVEL, 1997).

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O paciente não precisa de nenhum preparo especial para realizar o exame,


mas é importante informar que o uso de medicamentos ou os hábitos alimentares
podem promover alterações significativas na amostra urinária (RAVEL, 1997).
Além disso, o exame só será confiável se a amostra de urina for confiável.
As regras para coleta adequada do material podem ser observadas nas figu-
ras a seguir. São as mesmas regras para os exames parcial de urina ou cultura de
urina (urocultura).

Lave as mãos Exponha


a glande
(cabeça) e
mantenha
o prepúcio
(pele) retraído.

Lave com Enxugue com


água e sabão. o papel toalha.
Enxague
com água em
abundância.

Comece a Sem inter-


urinar no vaso romper a mic-
sanitário. cção, coloque
o copo
descartável
na frente do
jato urinário e
colete aprox-
imadamente
2 dedos de
urina.

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 1

Despreze o Feche o
restante da frasco. Leve
urina no vaso ao laboratório
sanitário. imediata-
mente.

Lave as mãos. Afaste os


grandes
lábios.

Lave a região Enxugue de


vaginal com frente para
água e sabão. trás com
Enxágue em papel toalha.
abundância.

Comece a Sem inter-


urinar no vaso romper a mic-
sanitário. cção, coloque
o copo
descartável
na frente do
jato urinário e
colete aprox-
imadamente
2 dedos de
urina.

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Despreze o Feche o
restante da frasco. Leve
urina no vaso ao laboratório
sanitário. imediata-
mente.

Fonte: https://www.bioanalise.com.br/blog/orientacoes-sobre-sumario-de-urina-e-cultura-de-urina/. Aces-


so em: 12 abr. 2023.

COLETA DE AMOSTRA EM BEBÊS

A coleta em crianças pequenas é realizada com o auxílio de um saco


coletor infantil estéril (Figura 5) e é realizada no laboratório.

Assim como no adulto, é importante realizar uma higiene prévia no órgão genital
do bebê com o auxílio de água e sabão, ou, então, com lenço umedecido, sempre
de cima para baixo. Caso o bebê não urine por um período de 30 minutos a uma
hora, o saco coletor precisa ser trocado e inserido novamente (FLEMING, 2015).
Para colocar o saco coletor da maneira adequada, deve-se retirar o papel que
recobre a parte adesiva do saco coletor e dobrar o adesivo ao meio, deixando a
parte adesiva do saco coletor para fora, a qual será “fixada” na região do interglú-
teo. Entretanto, o saco coletor deve ficar para baixo e há algumas variações para
meninas e meninos (FLEMING, 2015).

Para posicionar adequadamente o saco coletor:

• Em meninos, é necessário colocar o órgão genital dentro da abertura do saco


coletor, o qual é fixado na pele pela parte superior, a fim de evitar vazamentos.

• Em meninas, é necessário abrir os grandes lábios da vagina, fixando a parte


superior do adesivo. Isso é necessário para que a uretra fique dentro do círculo, a
fim de evitar vazamentos.

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 1

Em seguida, assim que a criança urinar, o saco coletor é retirado e o conteúdo


é transferido para um pote coletor padrão. Caso o volume urinário seja muito
baixo, pode ser necessário solicitar uma nova coleta de amostra.

Parte
superior

Parte
inferior

A B

Proteção da
parte adesiva

Figura 5 - Saco coletor de urina infantil / Fonte: Laboratório Fleming ([2023], p. 8).

Descrição da Imagem: na figura, podem ser observadas três fotografias. Nas duas fotografias da esquerda, mar-
cadas com a letra “A”, tomadas em um ambiente claro por um observador humano, podem ser observados sacos
pequenos, transparentes, com escritas, formando um saco coletor com abertura oval acima, em tons de amarelo
e branco. Na fotografia da direita, marcada com a letra “B”, tomada em um ambiente claro por um observador
humano, pode ser observado o saco pequeno transparente dobrado ao meio.

Coleta de Urina em Tempo Marcado (24 horas)

A coleta de urina em tempo marcado é simples e muito utilizada para deter-


minação de algumas substâncias, cuja excreção pode variar no decorrer de 24
horas. Assim, não podemos coletar uma amostra pontual, sem saber exatamente
se a substância está presente naquele momento ou será excretada em maiores
concentrações posteriormente. Dessa forma, precisamos quantificar a excreção
urinária no período de 24 horas, para que os efeitos envolvidos na variação da
excreção, durante diferentes condições ou períodos do dia, não sejam prejudiciais
para o exame (REIS, 2020; PINHEIRO, 2022).
Para realizar a coleta, o paciente deve escolher o horário mais confortável para
a sua realização. De modo geral, indica-se que a primeira urina seja desprezada,
devendo-se anotar o horário em que isso ocorreu.

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Por exemplo, se o paciente acordar às 8h, ele pode esvaziar a bexiga completa-
mente no vaso sanitário. Isso é necessário porque a urina armazenada na bexiga
foi produzida no período da noite, ou seja, se coletássemos essa urina, estaríamos
considerando um período maior do que 24 horas. Ao coletar somente após a
primeira micção e o horário marcado, teremos certeza de que a próxima urina
foi produzida no período adequado (REIS, 2020; PINHEIRO, 2022).
Em seguida, toda nova micção durante as próximas 24 horas devem ser arma-
zenadas no frasco coletor fornecido pelo laboratório, independentemente se for
um volume grande, ou uma simples gota de urina (Figura 6). Caso seja necessário,
mais um frasco deve ser solicitado ao laboratório, mas é importante enfatizar que
todo conteúdo de 24 horas deve ser coletado. No dia seguinte, a coleta deve ser
finalizada no mesmo horário em que iniciou.

Figura 6 - Frasco coletor de urina de 24 horas

Descrição da Imagem: a figura ilustra um frasco coletor de urina de tamanho médio, de cor marrom e tampa
amarela, com uma linha em azul em sua lateral direita.

Uma tolerância de dez minutos é permitida para mais e para menos (7h50min
ou 8h10min, por exemplo), mas, se o paciente tiver vontade de urinar mais cedo
do que o horário final, ele deve tentar ingerir líquidos para conseguir urinar nova-
mente no horário final (REIS, 2020; PINHEIRO, 2022).

Alguns pontos devem ser enfatizados ao paciente, como a importância de cole-


tar toda urina dentro desse período. Se o paciente urinar diretamente no vaso
sanitário, no chuveiro, ou outro local, um novo ciclo deve ser iniciado. Além
disso, o paciente só deve utilizar o frasco fornecido pelo laboratório, para evitar
contaminações. Esses fatores são indispensáveis, pois, caso haja falha na coleta,

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 1

o exame não será confiável e o laboratório não terá ciência disso, fazendo com
que o desfecho clínico para o paciente seja incerto, já que o médico pode tomar
decisões incorretas de acordo com o resultado de uma amostra incompleta.

TRANSPORTE, ARMAZENAMENTO
E IDENTIFICAÇÃO DE AMOSTRA DE URINA
As amostras de urina, sejam para parcial de urina, urocultura, ou urina de 24
horas, devem ser coletadas no recipiente fornecido pelo laboratório. Se o paciente
não realizar a coleta no laboratório, a amostra deve ser encaminhada para análise
em um período de uma a duas horas. É muito importante que a amostra seja man-
tida refrigerada nesse período. A amostra de urina de 24 horas pode permanecer
fechada por até 48 horas em temperatura ambiente, contudo, o mais indicado é
que seja refrigerada e entregue rapidamente ao laboratório (STRASINGER; DI
LORENZO, 2009).
Ao receber amostras de urina, devemos verificar os dados do paciente, como
nome completo, data da entrega e horário da coleta do material. Outro fator pré-
-analítico importante, é verificar se não há contaminação com fezes, menstruação
ou coleta em outros recipientes, pois isso pode prejudicar as análises posteriores
(STRASINGER; DI LORENZO, 2009).

ANÁLISE FÍSICA E QUÍMICA DA URINA


A análise de urina, também denominada como urinálise, é considerada um
parâmetro de baixo custo, não invasivo e relativamente simples, permitindo a
obtenção de informações do sistema genito-urinário e demais sistemas do orga-
nismo. Isso é possível devido às diversas funções dos rins em secretar substâncias
e manter a homeostasia intrínseca. Dessa forma, quaisquer alterações podem
ser detectadas por meio de uma análise simples da urina. Essa análise se inicia
após a coleta da amostra, que chega ao laboratório para a etapa analítica, ou seja,
a etapa em que ocorrem as avaliações da urina como um todo (ALVES, 2011;
DALMOLIN, 2011; NETO, 2017).

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A fase analítica compreende todo o processo de avaliação física e química


da amostra, assim como a identificação de componentes microscópicos. Essas
análises são de modo geral subjetivas, uma vez que o profissional responsável
irá identificar visualmente aspectos físicos, como cor, turbidez, densidade e volu-
me; ou ainda químicos, como bilirrubinas, urobilinogênio, hemácias, leucócitos,
proteínas, glicose, e corpos cetônicos, através das tiras reagentes (ALVES, 2011;
XAVIER; DORA; BARROS, 2016).
É importante que a análise seja cautelosa, uma vez que se passar despercebida,
pode prejudicar o diagnóstico do paciente.
E U IN D ICO

A análise de urina é realizada somente após a cultura da uri-


na, a fim de evitar contaminações durante a manipulação
da amostra. Uma sugestão de leitura sobre o tema está dis-
ponível no QR ao lado.

CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DA URINA

A avaliação das características físicas da urina corresponde a aspectos básicos e,


que, normalmente, são avaliados de modo subjetivo, como cor, aspecto/turbidez,
densidade e volume. Assim, precisamos olhar cada amostra e identificar se há ou
não alteração nesses parâmetros, não necessitando de qualquer outra análise mais
aprofundada. Uma exceção tem sido a avaliação da densidade, que pode ser feita
através da análise da tira reativa, em conjunto com os demais testes bioquímicos.
A seguir, veremos um pouco mais sobre a importância da análise física da urina.

Cor

Uma amostra de urina pode chegar ao laboratório com cores distintas do amarelo,
como verde, azul, marrom, vermelha, rosa ou laranja. Cada uma dessas colorações
é determinada por pigmentos endógenos ou exógenos, que modificam a colora-
ção da urina. A alteração da cor urinária pode indicar modulações fisiológicas,
que resultam na liberação de pigmentos endógenos, ou somente o resultado de

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pigmentos exógenos, oriundos da dieta alimentar. Apesar de ser um indicativo


de que determinada condição esteja acometendo o paciente, a coloração da urina
deve ser avaliada em associação aos demais dados da urinálise e ao quadro clínico
do paciente, a fim de identificar possíveis quadros fisiológicos ou patológicos
(DALMOLIN, 2011; RAMIREZ, 2021).
A coloração considerada normal da urina varia de transparente a amarela. Al-
gumas condições podem aumentar a concentração urinária, resultando em uma
coloração amarela mais escura, enquanto urinas mais diluídas apresentam colo-
rações amareladas mais claras (NETO, 2017; RAVEL, 1997; RAMIREZ, 2021). O
carrossel a seguir demonstra as diferentes colorações de uma amostra de urina.

Urina Urina
Amarelo Amarelo
Claro Escuro

Urina Urina
Laranja Roxa

Urina Urina
Verde Vermelha

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Urina Urina Preta


Azul

Urina amarelo escuro, amarelo claro e transparente

A urina considerada normal, ou seja, aquela com a quantidade adequada de água


e substâncias sólidas, deve estar entre os tons de amarelo-claro e transparente.
Essa coloração se deve à excreção do urocromo, que, quanto mais diluído, menor
o seu grau de coloração. Pacientes que consomem uma quantidade grande de
água diariamente costumam produzir uma quantidade maior de urina. Além
disso, essa urina estará com uma quantidade de água superior à quantidade de
solutos, podendo chegar a ser transparente, dependendo do grau de hidratação
do paciente. Quando a urina está com o tom amarelo-escuro, provavelmente está
mais concentrada, indicando que o paciente consome uma quantidade menor
de água do que o normal, podendo ficar desidratado. No entanto, a coloração
escura ainda é um parâmetro dentro da normalidade, uma vez que o consumo
de água varia de uma pessoa para outra (NETO, 2017; RABINOVITCH et al.,
2009; RAVEL, 1997; RAMIREZ, 2021).

Urina laranja, âmbar e mel

A coloração alaranjada ou até mesmo âmbar/mel da urina pode indicar a ex-


creção de pigmentos exógenos, adquiridos através da dieta. Contudo, de modo
geral, é indicativa de desidratação do paciente. Quanto menor o consumo de
água, mais concentrada será a urina, permitindo que pigmentos como bilirru-
binas se tornem mais presentes e modifiquem a coloração da urina. Além disso,
essa coloração pode indicar problemas hepáticos ou na vesícula biliar, através do
aumento de bilirrubinas no sangue do paciente, que, consequentemente, serão
mais excretadas na urina (NETO, 2017; RABINOVITCH et al., 2009; RAVEL,
1997; RAMIREZ, 2021).

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Urina verde/azul

A urina de coloração esverdeada ou azulada indica o consumo de pigmentos


exógenos, que podem chegar ao organismo pelo uso de medicações ou pela dieta.
Os medicamentos que mais causam alteração da cor da urina para o verde são a
amitriptilina, propofol, nitazoxanida, Sepurin® (metenamina e metiltionínio) e
indometacina, enquanto para a coloração azulada são triantereno, amitriptilina,
indometacina e sildenafil. Quanto à dieta, o consumo de aspargos pode resultar
na alteração de cor para o verde, assim como de alimentos ricos em corantes
verdes/azulados (NETO, 2011; RABINOVITCH et al., 2009; RAVEL, 1997; RA-
MIREZ, 2021). Apesar disso, pode ser indicativo de quadros de infecção urinária,
pois uma bactéria denominada como Pseudomonas aeruginosa é muito conhe-
cida pela liberação de pigmentos esverdeados ou azulados, que podem sair na
urina (RABINOVITCH et al., 2009; RAVEL, 1997).

Urina rosa, vermelha, marrom ou preta

A coloração avermelhada ou rosada da urina é um forte indicativo de hemácias


ou hemoglobina na amostra, condição conhecida como hematúria ou hemoglo-
binúria. A urina vermelha e com aspecto turvo indica a presença de hemácias
(hematúria) íntegras na urina, dando o aspecto turvo devido à membrana celular,
enquanto a urina vermelha límpida indica a presença de hemoglobina ou mio-
globina. Isso acontece em quadros em que ocorre sangramento nas vias uriná-
rias, como em doenças renais e na próstata, ou processos infecciosos e tumores.
Contudo, a coloração também pode ser influenciada pela dieta, pelo consumo de
beterraba e amoras, ou pelo uso de medicamentos, como a rifampicina e vitamina
B (LOPES et al., 2018; MAYO, [2023]; NETO, 2011; RABINOVITCH et al., 2009;
RAVEL, 1997; RAMIREZ, 2021).
Já a coloração mais escura ou, até mesmo, preta indica a presença de hemo-
globina, mioglobina ou, ainda, de bilirrubina na amostra, conhecidas, respectiva-
mente, como hemoglobinúria, mioglobinúria e bilirrubinúria. A hemoglobina se
torna marrom em condições de baixo pH, similar ao que ocorre com o sangue no
fim da menstruação. Essas condições são normalmente relacionadas a problemas
hepáticos ou casos de desidratação severa.

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Outro caso possível é a presença de melanina na amostra, que também pode


deixar a urina escura (LOPES et al., 2018; MAYO, [2023]; NETO, 2011; RABI-
NOVITCH et al., 2009; RAVEL, 1997; RAMIREZ, 2021).
O uso de alguns medicamentos pode resultar na coloração preta ou marrom
da urina, como metildopa, metronidazol, levodopa e cloroquina.

E U IN D ICO

Urina roxa: Apesar de ser pouco comum, pode ocorrer em


pacientes com infecções do trato urinário, principalmente
de pacientes que usam cateter vesical em hospitais. As bac-
térias que são envolvidas nesse processo são Providencia
stuartii, Klebsiella pneumoniae, Pseudomonas aeruginosa,
Escherichia coli ou Enterococcus, pois metabolizam o trip-
tofano, resultando em pigmentos vermelhos e azuis, que,
ao se misturarem, podem ficar roxos. Isso está associado
à modificação do pH da urina e à insuficiência renal. Para
saber mais sobre o assunto, sugerimos que escaneie o QR
code ao lado.

VOLUME

A avaliação do volume tem deixado de ser relevante na urinálise, uma vez que
usamos um valor padronizado para análise de 10 mL e não conseguimos pre-
dizer, com uma única amostra, se o volume excretado resulta de um aumento
do volume urinário. Contudo, a alteração no volume urinário pode ser descrita
pelo paciente durante a anamnese e traz indícios essenciais para complementar
a urinálise do paciente.
De modo geral, o volume da urina indica a quantidade de água excretada
pelos rins e determina o estado de hidratação do corpo, assim como a ingestão
de fluidos, perda de fluidos por fontes não renais, variação na secreção do hor-
mônio antidiurético ou, ainda, a necessidade de excretar grandes quantidade de

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solutos, como glicose e sais. Essa avaliação é mais bem observada na urina de 24
horas, em que o volume pode ser entre 800 e 1.500 mL/dia (STRASINGER; DI
LORENZO, 2009; XAVIER; DORA; BARROS, 2016).
O Quadro 1 indica a denominação para as variações no volume urinário, bem
como as principais causas envolvidas.

ALTERAÇÃO DO VOLUME
DENOMINAÇÃO CAUSAS
URINÁRIO

Desidratação pela perda


de água, seja por vômitos,
Oligúria Redução do volume urinário
diarreia, transpiração,
queimaduras grandes.

Resultado da oligúria, ou
lesão renal grave, assim
Anúria Cessação do fluxo urinário
como redução do fluxo san-
guíneo para os rins.

Aumento na excreção Volume diurno é duas a três


Nictúria
noturna da urina vezes maior que noturno.

Aumento do volume Diabetes melito, uso de


Poliúria
urinário diário diurético, cafeína ou álcool.

Quadro 1 - Variações no volume urinário / Fonte: os autores.

DENSIDADE

A densidade da urina permite verificar qual a concentração da urina, ou seja,


reflete se o rim é capaz de concentrar ou de diluir a urina, não sendo influenciada
pelo tempo de armazenamento da amostra. Ela é definida como a relação entre a
massa de um volume líquido e a massa de um mesmo volume de água destilada,
sendo muito utilizada na prática clínica (STRASINGER; DI LORENZO, 2009).
Existem dois métodos para avaliação desse parâmetro: a refratometria e a medida
em tira reagente. Como a tira reagente é amplamente utilizada em laboratórios
clínicos, dificilmente utilizamos a metodologia de refratometria (também co-

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UN I C ES UMA R

nhecida como urodensímetro), pois, embora seja de uso simples, dificultaria a


rotina do laboratório clínico.
A Figura 7 ilustra o refratômetro. Para utilizá-lo, deve-se levantar a tampa de
acrílico, pingar uma gota da urina no visor, fechar a tampa de acrílico e apontar
o refratômetro para uma luz. Em seguida, irá aparecer uma divisão escuro/claro,
com a medida da densidade da urina.

Figura 7 - Refratômetro / Fonte: os autores.

Descrição da Imagem: a figura ilustra um instrumento preto arredondado, longo e com uma das extremidades
quadrada e pontiaguda, apresentando um vidro em azul e uma tampa transparente.

Para a avaliação através da tira reagente, basta verificar o tom de cor da almofada
respectiva, a densidade e indicar a densidade da urina do paciente. O princípio
do teste é relativo à concentração iônica e se baseia na alteração aparente do pKa,
cuja coloração pode variar entre o verde azulado-escuro e o verde amarelado. É
preciso ter cautela durante a avaliação, pois, caso a glicose e proteína do paciente
estejam alterados, pode ocorrer uma variação na cor da densidade, conduzindo
à interpretação errônea de que o paciente está com a densidade aumentada. Ela
deve estar entre 1005 e 1035, ou seja:

quanto menor a densidade, mais diluída será a urina e, quanto maior a


densidade, mais concentrada.

Portanto, ela varia de acordo com a hidratação do paciente e o consumo de lí-


quidos (BIOTÉCNICA, 2019).

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 1

Assim como a avaliação dos parâmetros que correspondem à urinálise, a


densidade precisa ser considerada em conjunto com as demais análises e com
a clínica do paciente, porque uma diminuição na densidade pode indicar tanto
poliúria (aumento do volume urinário) e polidipsia (aumento na ingestão de lí-
quidos) quanto falência renal primária, já que uma lesão nos túbulos renais pode
conduzir para uma dificuldade renal em concentrar a urina. Portanto, ao avaliar
o grau de hidratação do paciente, é possível verificar se a urina concentrada é
resultado de um paciente desidratado, eliminando falha renal como causa da
desidratação (GRAFF, 1983; RABINOVITCH et al., 2009).

P E N SA N D O J UNTO S

A relação entre volume e densidade é inversa: quanto menor a quantidade


de água na urina, maior a densidade.

Aspecto

O aspecto da urina pode ser associado à avaliação da cor, uma vez que é um
parâmetro subjetivo, avaliado a olho nu. Sua avaliação deve ser realizada rapi-
damente, logo após a coleta de preferência, pois o armazenamento pode facilitar
a precipitação de cristais, principalmente se não for feito do modo correto ou
com tempo superior a duas horas (GRAFF, 1983; RABINOVITCH et al., 2009;
STRASINGER; DI LORENZO, 2009).
Como o paciente realiza a coleta à domicílio na maioria das vezes, é possível
implementar a análise do aspecto logo que a urina chegar ao laboratório, para
evitar que esse parâmetro se altere devido ao prazo para análise.
Com a avaliação do aspecto, deve-se verificar a turbidez da urina, que pode ser
influenciada pela concentração da urina. Quanto mais concentrada uma urina,
mais turva ela será e, quanto menos concentrada, mais límpida. A sua descrição
segue exatamente esse princípio, sendo que a urina pode apresentar aspecto turvo,
levemente turvo ou límpido (Figura 8) (GRAFF, 1983; RABINOVITCH et al.,
2009; STRASINGER; DI LORENZO, 2009).
A presença de fatores celulares, como leucócitos, hemácias, cristais, cilin-
dros, bactérias ou, ainda, muco, leveduras, material fecal e lipídeos, pode deixar
a amostra mais turva.

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Contudo, só é possível identificar a causa de uma variação do aspecto na


avaliação do sedimento urinário (GRAFF, 1983; RABINOVITCH et al., 2009;
STRASINGER; DI LORENZO, 2009).

Figura 8 - Aspectos da amostra de urina / Fonte: Tavares (2017, p. 17).

Descrição da Imagem: a figura ilustra três tubos de urina. A imagem foi tomada em ambiente laboratorial, por um
observador humano, em um suporte branco, com fundo azul escuro. O primeiro tubo, da esquerda para a direita,
mostra a imagem de uma urina com aspecto límpido; o do meio, levemente turvo e o último, turvo.

E U IN D ICO

A amostra de urina pode aparecer com espuma, que, nor-


malmente, está relacionada com a quantidade de proteína.
Para entender mais sobre o assunto, sugerimos como leitura
o seguinte texto da Associação Nacional de Atenção ao Dia-
betes, através do QR code ao lado.

ODOR

O odor da urina não é usualmente utilizado como parâmetro avaliativo em la-


boratórios clínicos, mas é perceptível e pode indicar alguns fatores anormais da
amostra. Contudo, assim como os demais parâmetros, precisa ser avaliado em
conjunto com outros dados (GRAFF, 1983; RABINOVITCH et al., 2009; STRA-
SINGER; DI LORENZO, 2009).

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A urina recém-coletada possui aroma sui generis (único do seu gênero), mas
não é desagradável. No entanto, o odor pode mudar de acordo com a alimenta-
ção do paciente, como a ingestão de alho e aspargos, ou ainda pela presença de
infecções ou outras doenças. O odor fétido pode indicar a presença de infecções,
enquanto o odor frutal pode indicar paciente diabético, com aumento de cor-
pos cetônicos (GRAFF, 1983; RABINOVITCH et al., 2009; STRASINGER; DI
LORENZO, 2009).

AVALIAÇÃO QUÍMICA DA URINA


A avaliação química, também denominada como bioquímica da urina, é reali-
zada através das tiras reagentes. Esse método é qualitativo ou semiquantitativo e
permite monitorar aspectos bioquímicos da urina, como a presença de hemácias,
leucócitos, nitrito, urobilinogênio, bilirrubinas, proteínas, além de avaliar o pH
e a densidade urinária (discutida na avaliação física da urina) (GRAFF, 1983;
RABINOVITCH et al., 2009; STRASINGER; DI LORENZO, 2009).
No entanto, antes de desvendar o significado de cada parâmetro, é preciso
entender como obtemos esses resultados – processo que pode ser observado na
Figura 9. Sua metodologia é simples e rápida. Inicialmente, homogeneizamos a
amostra de urina, retiramos as tiras reativas do tubo e o fechamos imediatamente.
Só então, as tiras são imersas na urina por cerca de dois segundos. É importante
lembrar que todas as almofadas devem entrar em contato com a urina. O excesso
de urina deve ser retirado, acomodando a tira sob um papel toalha, para evitar
que ocorra mistura de reagentes químicos das áreas da reação. Posteriormente,
a leitura do resultado pode ser manual ou automatizada (BIOTÉCNICA, 2019).
A leitura manual é acompanhada com a escala de cores das almofadas cor-
respondentes no rótulo da embalagem nos tempos especificados pelo fabricante,
indicando a presença ou a ausência de cada um dos parâmetros avaliados e ainda
a quantidade dos parâmetros. É importante enfatizar que não podemos tocar nas
tiras reativas para evitar contaminações e erros de leituras (BIOTÉCNICA, 2019).

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A tira reativa é inserida O excesso de urina é Em seguida, a coloração


na urina homogeneizada retirado com auxílio é comparada com o rótulo
de papel absorvente da embalagem

Figura 9 - Técnica manual para leitura da tira reagente / Fonte: os autores.

Descrição da Imagem: na figura, podem ser observadas quatro ilustrações. Na imagem da esquerda, marcada
pelo número “1”, traz-se um frasco redondo, inclinado para à direita e transparente, de tamanho médio, com tampa
em vermelho e uma fita com quadradinhos coloridos no seu interior. A imagem ao centro, marcada pelo número
“2”, mostra um rolo de papel branco de tamanho médio retangular, com o papel voltado para baixo e sobre ele
uma imagem de uma fita retangular com presença de quadrados pequenos coloridos. À esquerda, as últimas
duas figuras, marcadas pelo número “3”, são de uma fita retangular estreita, com quadrados pequenos coloridos
um abaixo do outro e ao lado um recipiente médio, com tampa todo em cor preta e com uma faixa retangular
arredondada branca com quadrados coloridos pequenos um abaixo do outro.

Figura 10 - Leitor automático de tira reagente / Fonte: Grupo Kovalent ([2023], on-line).

Descrição da Imagem: a figura ilustra um equipamento laboratorial. A foto tomada em ambiente claro, por ob-
servador humano, mostra um equipamento retangular médio achatado, em tons de branco, azul e preto. No canto
inferior esquerdo, há uma abertura em preto; atrás, toda a estrutura em branco; e no lado direito, uma faixa azul,
com um visor branco com quadrados pequenos coloridos na extremidade abaixo.
Para desvendar cada uma das leituras realizadas pela tira reagente, a seguir, serão apresentadas informações
muito importantes sobre cada parâmetro avaliado na análise química da urina.

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PH URINÁRIO

O pH urinário não é proporcional ao pH sanguíneo (7,35 a 7,45), sendo relativa-


mente ácido no período da manhã, estando entre 5,0 e 6,0. No decorrer do dia,
esse pH pode variar entre 4,5 e 8,5, podendo ser diretamente influenciado por
equilíbrio ácido-básico do sangue, função renal, dieta ou uso de medicamentos,
presença de infecção bacteriana ou, ainda, pelo tempo de coleta e armazena-
mento da urina (GRAFF, 1983; RABINOVITCH et al., 2009; STRASINGER; DI
LORENZO, 2009).
Todavia, o ponto mais importante para o pH urinário se deve ao fato dos rins,
em conjunto com os pulmões, serem responsáveis pela manutenção do equilí-
brio ácido-básico do sangue, pois promovem a excreção de substâncias ácidas e
básicas. A excreção de hidrogênio, por exemplo, ocorre na forma de íons amônio,
fosfato de hidrogênio e ácidos orgânicos fracos; já o bicarbonato pode ser reab-
sorvido nos túbulos renais. Apesar de ser uma avaliação importante, para deter-
minar a existência de distúrbios eletrolíticos sistêmicos de origem metabólica
ou respiratória, ou, ainda, para o tratamento de problemas urinários que exija o
controle do pH urinário, não existem valores de referência ou normais para o pH
urinário, pois ele deve ser avaliado com os dados clínicos do paciente. Contudo,
com as mudanças no pH urinário, a urina pode ser ácida ou alcalina (GRAFF,
1983; RABINOVITCH et al., 2009; STRASINGER; DI LORENZO, 2009).
O Quadro 2 exemplifica os principais responsáveis pelas alterações de pH
para urina alcalina e ácida.

URINA ALCALINA URINA ÁCIDA

Dieta pobre em proteínas Dieta rica em proteínas

Dieta rica em laticínios Dieta pobre em laticínios

Dieta com frutas cítricas (formação de


Diarreia
bicarbonato de sódio)

Citrato de potássio Uso de diuréticos

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URINA ALCALINA URINA ÁCIDA

Infecções bacterianas por bactérias


produtoras de urease(conversão de Patologia nos túbulos renais
ureia em amônia)

Hipocalemia, pois há maior reabsorção


Uso de medicamentos (por exemplo,
de k+, acompanhada da excreção de
acetazolamida)
íons H+.

Vômito, que induz perda de HCl e K+,


Alcalose respiratória ou metabólica,
promovendo reabsorção de Na+ e
devido à menor excreção de íons H+
bicarbonato da urina.

Decomposição da amônia em ureia,


devido à retenção da urina

Atraso no processamento

Conservação inadequada da amostra

Administração de substâncias básicas

Quadro 2 - Urina alcalina e urina ácida / Fonte: os autores.

Para avaliação do pH, podemos utilizar as tiras reagentes de urinálise, tiras de


pH ou pHmetros. A almofada correspondente ao pH na tira reagente é composta
por um sistema de medição do pH que usa indicador duplo com vermelho de
metila e azul de bromotimol. O vermelho de metila é ativo na faixa de 4,4 a 6,2
de pH, mudando do vermelho para o amarelo, enquanto o azul de bromotimol
é alterado do amarelo para o azul na faixa de 6,0 a 8,6. As faixas de 5,0 a 9,0 na
tira reativa podem ser visualizadas nas cores desde laranja (pH 5,0), passando
pelo amarelo e verde, até o azul-escuro final (pH 9,0). De modo geral, as tiras são
confiáveis, não interagindo com outras substâncias, mas, por serem avaliadas
subjetivamente pelo profissional responsável dentro de um espectro de cores,
pode haver pequenos erros na interpretação da cor apresentada. Dessa forma, o
uso de pHmetros apresenta uma sensibilidade superior, uma vez que liberam de

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 1

modo preciso o pH da urina. No entanto, as tiras reagentes facilitam o dia a dia


do laboratório, sendo mais utilizadas (BIOTÉCNICA, 2019).

P E N SA N D O J UNTO S

Urina de recém-nascido não chega ao pH 9,0 nem mesmo em condições


patológicas. Caso isso ocorra, provavelmente, está ligado à conservação
incorreta da amostra.

Figura 11 - Indicador de PH / Fonte: I Stock (2018, on-line).

Descrição da Imagem: na figura, são observadas quatro fotografias. Na imagem à direita, tomada em fundo
branco, em ambiente claro, por observador humano, pode ser observada uma fita retangular fina, com dois qua-
drados coloridos na extremidade superior. Na imagem ao centro e acima, tomada em fundo branco, em ambiente
claro, pode ser observado um quadrado médio, com quatorze quadrados pequenos, sendo sete um ao lado do
outro e os outros sete abaixo e um ao lado do outro, em tons de laranja, amarelo e verde, com números. Na
parte inferior da imagem dos quadrados, eles se repetem, porém em tons de amarelo, verde e azul. Na imagem
ao centro e abaixo, pode ser observado um frasco pequeno transparente, ovulado, com a ponta mais fina e com
tampa amarela. E à direita, podem ser observadas quatro tiras retangulares brancas, estreitas e com uma faixa
em azul na parte inferior.

GLICOSE

A glicose é filtrada pelo glomérulo e, então, reabsorvida no túbulo contorcido


proximal, não estando presente na composição da urina. Dessa forma, a presen-
ça de glicose na urina, também conhecida como glicosúria, não é considerada

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normal. Quando presente na amostra urinária, a glicose passa pelo processo de


oxidação pela glicose oxidase, originando ácido glucônico e peróxido de hidro-
gênio, o qual reage com o iodeto de potássio na presença da peroxidase. Quanto
mais cromógeno oxidado, maior a variação da coloração, abrangendo de verde a
marrom (Figura 12) (BIOTÉCNICA, 2019).
Caso apareça, duas condições precisam ser investigadas: lesão nos túbulos
renais e hiperglicemia. A hiperglicemia é a principal condição associada à pre-
sença de glicose na urina, a qual ocorre devido ao excesso de glicose que deveria
ser reabsorvida pelos túbulos proximais, que, por estarem sobrecarregados, não
conseguem exercer a sua função, ou seja, a glicose é secretada na urina. Quando
a glicosúria está presente na ausência de hiperglicemia, devemos suspeitar de
lesões tubulares, pois os túbulos renais não estão exercendo sua função normal
de reabsorver a glicose do filtrado glomerular e podem aumentar a excreção de
glicose (GRAFF, 1983; RABINOVITCH et al., 2009; STRASINGER; DI LOREN-
ZO, 2009).
Essa análise, assim como as demais, precisa ser feita com rapidez, pois, caso o
paciente esteja com infecção urinária, as bactérias presentes na amostra de urina
podem consumir a glicose, resultando em um falso-negativo (GRAFF, 1983; RA-
BINOVITCH et al., 2009; STRASINGER; DI LORENZO, 2009).

Figura 12 - Indicador de glicose / Fonte: Clube do Diabetes ([2023], on-line).

Descrição da Imagem: na fotografia tomada por observador humano, com fundo preto, pode ser observado um
frasco médio, arredondado, com fundo branco, com quadrados pequenos coloridos em toda a sua extensão. À
esquerda, é possível observar uma fita branca retangular estreita com um quadrado pequeno em azul na sua
ponta, em cima do frasco.

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CORPOS CETÔNICOS

A presença de corpos cetônicos na urina, conhecida como cetonúria, não é uma


condição fisiológica. Ela ocorre somente em casos de aumento de corpos cetô-
nicos no sangue, que é resultado de um desequilíbrio no metabolismo de ácidos
graxos e carboidratos. Isso pode ocorrer durante dietas rigorosas, com baixo ou
nenhum consumo de carboidratos, ou em jejuns prolongados; durante quadros
de cetoacidose diabética, em que os pacientes diabéticos apresentam aumento de
corpos cetônicos; ou, ainda, em casos de febre, doenças agudas, hipertireoidismo,
gravidez e aleitamento, pois essas condições estão associadas ao aumento de cor-
pos cetônicos no sangue, que resultam na sua excreção na urina (GRAFF, 1983;
RABINOVITCH et al., 2009; STRASINGER; DI LORENZO, 2009).
Para sua detecção na tira reativa, utiliza-se o nitroprussiato de sódio e ácido
acetoacético, que reagem com a acetona, variando de rosa-claro a roxo. O resul-
tado é expresso em cruzes, indicando quantos corpos cetônicos estão presentes
na amostra, podendo ser negativo ou positivos (+, ++, +++ e ++++) (BIOTÉC-
NICA, 2019).

Proteínas

As proteínas não são secretadas na urina, uma vez que não são filtradas pelo
glomérulo. Caso ela esteja presente, pode ser decorrente de problemas renais ou,
ainda, de quadros independentes da função renal. Ao considerarmos mecanismos
independentes dos rins, identificamos que quadros de desidratação, febre, convul-
sões, exercício muscular intenso, frio ou calor intenso podem resultar no aumento
de proteínas no sangue e no aumento de pequenas proteínas que serão filtradas
pelos rins. Esse aumento ainda pode ser um resultado de processos inflamatórios
e infecciosos do trato urinário inferior, que resultam na liberação de proteínas na
urina. Quando pensamos em um quadro decorrente de problemas renais, nor-
malmente, está ligada a processos inflamatórios ou infecciosos nos glomérulos
e/ou túbulos renais, resultando em falhas nos mecanismos de transporte tubular.

Pequenos traços de proteínas podem ser considerados normais.

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Mas esse resultado precisa ser associado à densidade urinária, já que está
relacionado com a concentração da urina (GRAFF, 1983; RABINOVITCH et
al., 2009; STRASINGER; DI LORENZO, 2009).
A determinação desse parâmetro urinário se dá através da avaliação da tira
reagente, que detecta a albumina, liberando resultados semiquantitativos. A rea-
ção para detecção de proteínas se baseia na mudança de cor do indicador azul
de tetrabromofenol que reage com as proteínas, variando do amarelo ao verde
(BIOTÉCNICA, 2019).

Urobilinogênio/Bilirrubina
O urobilinogênio é um produto da degradação da bilirrubina pelas bactérias
intestinais. A bilirrubina, por sua vez, é formada graças à degradação da hemo-
globina. Uma vez formado no intestino, o urobilinogênio chega ao sangue, sendo
que uma pequena quantidade pode ser excretada na urina. Contudo, qualquer
aumento da bilirrubina plasmática leva ao aumento de urobilinogênio urinário,
podendo ser detectado antes que ocorra icterícia, por exemplo. De modo geral, a
bilirrubina direta, ou não conjugada, não é excretada nos rins, já que está ligada à
albumina. No entanto, caso haja uma lesão glomerular, ela pode aparecer na uri-
na. Portanto, o aumento de urobilinogênio está ligado diretamente a problemas
hepáticos ou hemolíticos, assim como em quadros de obstrução das vias biliares,
como nas colestases (GRAFF, 1983; RABINOVITCH et al., 2009; STRASINGER;
DI LORENZO, 2009).
O teste para detecção de bilirrubina se baseia na ligação da bilirrubina com a
diacloroanilna diazotizada em meio ácido, que resulta na variação de cor, direta-
-mente proporcional à concentração na urina. Já para detectar o urobilinogênio,
utiliza-se a reação modificada de Erlich entre os compostos p-dietilaminoben-
zaldeído e ácido urobilinogênico, que, em meio fortemente ácido, resulta na co-
loração rosa (BIOTÉCNICA, 2019).

Hemoglobina e Mioglobina

A presença de sangue na urina (hematúria) indica lesão renal ou lesão do trato


genitourinário, como ocorre em processos inflamatórios, infecciosos e neoplasias.

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 1

Para detectar o sangue, as tiras reagentes utilizam a porção heme, presente na he-
moglobina e na mioglobina, ou seja, a identificação de hemoglobina e mioglobina
ocorre em conjunto nas tiras reativas, mas corresponde a quadros patológicos
diferentes. Sua distinção deve ser observada com cautela e avaliada com outros
dados clínicos e biológicos do paciente (GRAFF, 1983; RABINOVITCH et al.,
2009; STRASINGER; DI LORENZO, 2009).
O aumento de hemoglobina (hemoglobinúria) está associado à presença de
hemácias íntegras que são lisadas no meio urinário diluído, ou quando há elevado
nível de hemoglobina no sangue, devido a quadros de hemólise na circulação
sanguínea. Já o aumento de mioglobina (mioglobinúria) ocorre em quadros de
rabdomiólise, sendo resultado de injúria isquêmica, traumática, tóxica ou ainda
necrose tecidual (GRAFF, 1983; RABINOVITCH et al., 2009; STRASINGER;
DI LORENZO, 2009).
O princípio do teste tem como base a atividade da pseudoperoxidase da he-
moglobina, responsável por catalisar a reação de di-hidroperóxido de isopropil-
benzeno e 3-3’,5,5’-tetrametilbenzidina, resultando em um espectro de cor que vai
do amarelo ao azul. Caso apareçam pontos verdes-azulados ou manchas, tem-se
forte indicativo de eritrócitos íntegros (BIOTÉCNICA, 2019).

E U IN D ICO

“A rabdomiólise (RM) é uma síndrome caracterizada por uma


destruição das fibras musculares esqueléticas e que resulta
na liberação dos constituintes intracelulares das fibras para
a circulação sanguínea”.

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UN I C ES UMA R

NITRITOS

A identificação de nitritos é um parâmetro muito importante e permite identi-


ficar a presença de infecções bacterianas. Caso haja presença de bactérias
Gram-negativas, de modo geral, há a conversão do nitrato urinário em nitrito,
identificado na fita reativa com coloração rosa. É importante esclarecer que re-
sultados negativos de nitrito não indicam ausência de infecção, pois as bactérias
podem não ter tempo suficiente para realizar a conversão, podem não converter
nitrato em nitrito ou, ainda, produzir quantidades insuficientes para serem iden-
tificadas no teste. Assim, a urocultura é a única capaz de confirmar a presença
ou ausência de infecção bacteriana urinária, mas o teste de nitrito positivo é
um forte indicador dessa condição (GRAFF, 1983; RABINOVITCH et al., 2009;
STRASINGER; DI LORENZO, 2009).
A reação para detecção do nitrito é feita pelo uso de ácido p-arsanílico em meio
acidificado, que reage com o nitrito e forma um composto diazônico, o qual se
liga com o 1-naftil-etilenodiamino para produzir a coloração rosa que indica um
teste positivo (BIOTÉCNICA, 2019).

LEUCÓCITOS

Os leucócitos, quando presentes nas amostras de urina, estão diretamente


relacionados com processos inflamatórios ou infecciosos que promovem um
aumento das células de defesa no corpo para tentar combater a infecção ou, ain-
da, a injúria estabelecida, que pode estar localizada tanto no trato urinário baixo
quanto no trato urinário alto (GRAFF, 1983; RABINOVITCH et al., 2009; STRASING-
ER; DI LORENZO, 2009).
A identificação de leucócitos na urina identifica a esterase dos granulócitos. A
esterase reage com o éster de ácido amino pirazol, liberando hidroxipirazol. Por
sua vez, o pirazol irá reagir com o sal diazônico, resultando em um espectro de
cor violeta, que é proporcional à quantidade de leucócitos presentes na amostra
de urina (BIOTÉCNICA, 2019).

ÁCIDO ASCÓRBICO

A detecção do ácido ascórbico permite a identificação de falhas no teste da tira


reagente, uma vez que interfere na detecção de hemoglobina, glicose, nitritos,
bilirrubina e cetonas. Esse teste não está presente em todas as tiras reagentes,
mas pode ser encontrado como controle em algumas marcas (BIOTÉCNICA,
2019).

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Resultados na Tira Reativa

A leitura de uma variação de cores pode ser complexa. Como podemos perceber,
a leitura da tira reagente leva a todos os resultados esperados pela análise quí-
mica da urina. Por esse motivo, não poderíamos deixar de ilustrar, em detalhes,
o espectro de cores das almofadas, indicando a cor respectiva a determinado
resultado. Na Figura 13, podemos observar as alterações de cores que ocorrem
para leucócitos (LEU), nitrito (NIT), urobilinogênio (URO), proteína (PRO), pH,
sangue (BLO), densidade (SG), cetonas (KET), bilirrubinas (BIL) e glicose (GLU)
(BIOTÉCNICA, 2019). Apesar disso, ressalta-se que cada leitura é realizada de
acordo com o kit utilizado e que pequenas alterações no espectro de cores podem
ser encontradas.
Descrição da Imagem: a figura
ilustra um exemplo de teste de
urina em fita reagente. Tomada
em ambiente claro, com fundo
branco, a imagem é represen-
tada por quadrados pequenos
coloridos de cima a baixo, em
tons que vão de branco, lilás,
roxo, azul claro, rosa, verde, la-
ranja e marrom. À esquerda da
imagem, são observadas siglas
uma embaixo da outra durante
toda a extensão da imagem. Ao
lado, observa-se um retângulo
vertical com linhas pretas, en-
globando alguns dos quadrados
pequenos coloridos.

Figura 13 - Escala de cores para leitura da tira reagente / Fonte: I.pinimg.com ([2023], on-line).

URINA DE 24 HORAS
O exame de urina de 24 horas possibilita quantificar substâncias específicas ex-
cretadas na urina e que podem predizer o funcionamento dos rins. Essa avaliação
precisa ser realizada dentro do período de 24 horas, pois a excreção de uma subs-
tância pode variar ao longo dia, o que dificulta a padronização do teste com uma

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amostra coletada em um horário fixo. Ao coletar toda a urina dentro do período


de 24 horas, essa variação é minimizada e a análise se torna mais confiável. No
entanto, utilizamos somente uma pequena alíquota para realizar as análises, não
sendo necessário utilizar todo volume coletado. Além disso, é importante lem-
brarmos que cada substância detém de uma ou mais metodologias específicas
para sua determinação e que cada laboratório irá determinar o que melhor se
adequa a sua realidade.

CLEARANCE DE CREATININA

A creatinina não possui função biológica, sendo excretada pelos rins; é o pro-
duto da degradação da creatina muscular, utilizada como reserva energética dos
músculos. Dessa forma, é correto afirmar que a produção de creatinina varia de
acordo com a massa muscular do paciente (GALANTE; ARAÚJO, 2012).
Atualmente, ela é um importante marcador da função renal, uma vez que é
produzida de modo constante e sofre uma pequena influência da dieta do pacien-
te, mantendo os níveis plasmáticos e urinários praticamente inalterados. Quando
ocorre um aumento da creatinina no plasma do paciente, há um forte indício
de problemas na excreção renal. No entanto, pode decorrer também de quadros
de necrose muscular, atrofias e distrofias musculares, hipertrofia da próstata ou,
ainda, obstrução dos ureteres e da uretra (GALANTE; ARAÚJO, 2012).
Sua determinação pode ser feita por metodologias de cinética enzimática
ou com o uso de ligantes, como no método do picrato alcalino de Jaffé. Para a
realização do teste, uma pequena alíquota da urina do paciente deve ser diluída
em 1:5 ou 1:25, dependendo do teste realizado. O método de Jaffé tem como base
a reação da creatinina presente na amostra com o picrato alcalino e acidificante,
sendo que a reação é monitorada a 510 nm em espectrofotômetro, podendo ser
realizada uma leitura pontual (método de ponto final) ou, ainda, uma leitura
seriada (método cinética), de acordo com as preferências do laboratório (GOLD
ANALISA, 2018a). Já o método cinético, proposto pela bula da Labtest, promove
uma série de conversões enzimáticas a partir da creatinina até formar quinonei-
mina, detectada a 526 nm (LABTEST, 2012).

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São valores de referência para urina de 24 horas:


• Crianças: 8 a 22 mg/kg de peso corporal/24 horas.
• Homens: 21 a 26 mg/kg de peso corporal/24 horas.
• Mulheres: 16 a 22 mg/kg de peso corporal/24 horas.

Para avaliar, de modo preciso, esse parâmetro na urina, é realizado o clearan-


ce de creatinina, ou depuração da creatinina, no qual são necessárias dosagens
plasmáticas e urinárias. Por meio dessa medida, é possível avaliar a depuração de
creatinina endógena (DCE), cuja fórmula é apresentada a seguir, determinando
a quantidade de sangue que os rins conseguem filtrar por minuto. É importante
ressaltar que, para que o exame seja exato, deve-se levar em conta outros fatores,
como o volume da urina, o tempo de coleta e a superfície corporal do paciente
(DUSSE et al., 2016).

E U IN D ICO

Para entender um pouco mais sobre os biomarcadores da


função renal, leia o artigo na integra.

A depuração de creatinina endógena pode ser feita por meio da seguinte


fórmula:

Em que: U corresponde à creatinina na urina (mg/dl); V, ao volume urinário


(mL/ min); P, à creatinina no plasma ou soro (mg/dl); A, à superfície corporal
em m²; e 1,73, à superfície corporal padrão.

Como exemplo, podemos citar um paciente do sexo masculino, de 50 anos de


idade, que obteve os seguintes resultados de creatinina:

• Creatinina na urina: 50 mg/dL.

• Creatinina no soro: 1,2 mg/dL.

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• Volume da urina de 24 horas: 2.000 mL em 24 horas, ou seja 1,39 mL/min.

• Superfície corporal do paciente: 1,80.

Com esses dados, podemos calcular a depuração de creatinina endógena,


utilizando a fórmula descrita:

Como resultado da DCE, temos 120,235 mL/min/1,73 m².

São valores de referência para o resultado:

• Crianças: 40 a 140 mL/min/1,73 m².

• Mulheres adultas: 88 a 128 mL/min/1,73 m².

• Homens adultos: 97 a 137 mL/min/1,73 m².

PROTEINÚRIA

A avaliação da proteína urinária permite identificar com exatidão a quantidade


de proteína excretada. É importante lembrar que em situações fisiológicas essa
excreção não ocorre. Além disso, é possível avaliar a presença de proteínas espe-
cíficas, como a albumina, por exemplo, que quando presente é denominada como
albuminúria (GALANTE; ARAÚJO, 2012).
Para determinação dos níveis de proteínas em uma amostra urinária, podem
ser utilizadas diferentes metodologias, como os métodos colorimétricos, os mé-
todos de ligação a correntes como Bradford, vermelho de pirogalol, Ponceau S e
CBB, ou, ainda, o método de biureto, que determina a concentração de proteínas
precipitadas após um tratamento da amostra de urina com ácido (ALVES et al.,
2017). O valor de referência é de até 150 mg/24 horas.

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SÓDIO URINÁRIO

O sódio é essencial na manutenção da osmolaridade e do volume plasmático,


sendo o principal íon extracelular. A sua concentração plasmática é regulada pelo
sistema renina-angiotensina-aldosterona renal. A dosagem de sódio na urina
é uma forma indireta de identificar a quantidade de sal ingerida pelo paciente
durante a alimentação. Caso o paciente ingira uma quantidade muito elevada
de sódio, este é normalmente excretado nos rins. Todavia, a quantidade de sódio
excretada depende de quanto sódio e água foi reabsorvido nos túbulos renais. Se
pouco sódio for reabsorvido, a produção de urina é maior e, se muito sódio for
reabsorvido, urina-se menos (GALANTE; ARAÚJO, 2012).
Contudo, a manutenção entre o equilíbrio sódio e água pode estar preju-
dicada na doença renal crônica, sendo o primeiro problema importante a ser
reportado durante o agravamento da lesão renal. Em um quadro de doença renal
crônica, o nível de sódio acaba se alterando no organismo, levando ao aumento
ou à diminuição desse íon no plasma (GALANTE; ARAÚJO, 2012).

Para determinar a concentração de sódio na urina, utiliza-se um eletrodo


seletivo para o íon de sódio, por meio do método potenciométrico. No entanto,
para obter uma informação completa a respeito da excreção urinária desse
íon, utiliza-se a fórmula de FENA, na qual se considera a concentração de
sódio na urina (UNa), o sódio sérico (PNa), a creatinina urinária (Ucr) e a creati-
nina sérica (Pcr) (HENRY, 2008).

Em condições normais, o resultado fica entre 0,5% e 1%. Valores superiores


a 1% indicam lesão tubular aguda, não ocorrendo a reabsorção máxima de
sódio; já valores abaixo de 1% podem estar ligados ao aumento de aldoster-
ona, provocado principalmente em casos de desidratação. Ainda é possível
encontrar valores abaixo de 0,1%, que indicam que ocorre uma produção
máxima de aldosterona (HENRY, 2008).

O valor de referência considerado está entre 135 e 145 mEq/L.

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CÁLCIO URINÁRIO

O cálcio é o íon mais abundante no organismo, estando presente, principalmente,


nos ossos, que também são o principal depósito de cálcio. Pode ser encontrado,
ainda, nos tecidos moles e nos líquidos extra e intracelulares. Esse cátion pos-
sui funções essenciais na contração muscular e na coagulação sanguínea, por
exemplo. Seu metabolismo é complexo e envolve a absorção intestinal (quanto
de cálcio é absorvido), a deposição nos ossos e a excreção renal. É regulado por
calcitonina, vitamina D e hormônios tireoidianos e sexuais e, de modo mais es-
pecífico, pelo paratormônio (PTH) (GALANTE; ARAÚJO, 2012).
O aumento do cálcio urinário (hipercalciúria) está diretamente relaciona-
do com a formação de cálculo renal, que pode ser originado pela deposição de
nutrientes como cálcio, oxalato, sódio, potássio, proteínas, purinas, vitamina C e
baixa ingestão de líquidos (GALANTE; ARAÚJO, 2012).

A dosagem na urina de 24 horas ocorre com uso de uma alíquota de 20


mL de urina, à qual são adicionados 20 mL de HCl 6 mol/L. Em seguida, a
amostra é homogeneizada. Para a realização do teste, deve-se esperar cerca
de 60 minutos, sendo uma pequena alíquota retirada do ensaio colorimétrico
de ponto final. De acordo com o teste disponível, o ensaio pode ter, como
princípio, a reação do cálcio com púrpura de ftaleína em meio alcalino, o qual
é mensurado a 570 nm em espectrofotômetro (LABTEST, 2014), bem como a
reação do cálcio com arsenazo III, que é mensurado a 660 nm em espectro-
fotômetro (GOLD ANALISA, 2018b).

O valor de referência do cálcio na urina está entre 150 e 300 mg/dL.

ÁCIDO ÚRICO

O ácido úrico tem origem endógena e exógena. A origem endógena ocorre a


partir da degradação de nucleotídeos, como a adenosina e a guanina; já a exógena
pelo consumo alimentar, que corresponde a 75% do total de ácido úrico diário.
A grande maioria, cerca de 3/4 do total de ácido úrico, é excretada pelos rins e o
restante pelo trato gastrointestinal (GALANTE; ARAÚJO, 2012).

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Quando há um quadro de aumento de ácido úrico urinário, podemos sus-


peitar de doenças como gota, caracterizada por:
• aumento da síntese e da deposição de cristais de urato nas articu-
lações;
• aumento da destruição dos nucleotídeos, como ocorre nas leuce-
mias, na policitemia e no uso de quimioterápicos;
• defeitos enzimáticos na via das purinas, podendo ser por deficiência
enzimática ou pela hiperatividade da enzima;
• distúrbios nos túbulos renais, pois, normalmente, ocorre devido ao
aumento na produção, na excreção ou de ambos.

Esse aumento precisa ser identificado, a fim de evitar a formação de cálculos


renais devido à deposição de cristais de urato. A hiperuricosúria pode estar as-
sociada, ainda, ao aumento do cálcio sérico, a distúrbios ósseos e à diminuição
do ácido úrico plasmático (hipouremia) (GALANTE; ARAÚJO, 2012).

O ácido úrico é determinado por meio da reação de Trinder, a qual tem es-
pecificidade da enzima uricase. A reação ocorre pela oxidação do ácido úrico
pela uricase, formando alantoína e peróxido de hidrogênio, que, por sua vez,
reagem com DHBS e 4-aminoantipirina. Para a urina, uma alíquota de 10 mL é
separada, e o pH é ajustado para 7,0-9,0 com NaOH 5%. Em seguida, a urina
é aquecida por 10 minutos a 56 °C, a fim de que os cristais de urato e ácido
úrico sejam dissolvidos. Posteriormente, é necessário diluir a urina em 1:10
(LABTEST, 2014b). É importante mencionar que cada laboratório terá a sua
metodologia, sendo que, para muitos casos, essas dosagens são totalmente
automatizadas.

Os valores de referência para o ácido úrico na urina são de 250 a 750 mg/dL.

POTÁSSIO

O potássio é um íon encontrado, principalmente, no meio intracelular e tem


como função o controle do metabolismo celular, participando, assim, dos meca-
nismos de excitação neuromuscular.

Alterações nos níveis de potássio podem ser fatais, uma vez que são
essenciais para a manutenção do funcionamento do coração.

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O potássio pode ser utilizado na investigação de doenças nos túbulos renais, uma
vez que, na insuficiência renal, ocorre uma diminuição da excreção de potássio.
Além disso, alguns fármacos podem interferir na sua excreção, como os inibido-
res da enzima conversora de angiotensina, os anti-inflamatórios não esteroides, a
ciclosporina, o cetoconazol, entre outros (GALANTE; ARAÚJO, 2012).

Sua determinação ocorre através de uma alíquota da urina e o uso de um


eletrodo seletivo de íons (ESI), responsável por converter a atividade (ou
concentração efetiva) do íon dissolvido na urina em um potencial elétrico,
mensurado por um voltímetro (ASIRVATHAM; MOSES; BJORNSON, 2013).

O valor de referência do potássio na urina é de 22 a 125 mmol/L.

UROPORFIRINAS

A uroporfirina é uma porfirina solúvel em água e excretada na urina ou, em me-


nores concentrações, no sangue e nas fezes. Para essa análise, a amostra deve ser
coletada em frasco âmbar com conservante (5g de bicarbonato por litro de urina),
mantido sob refrigeração e protegido da luz no período da coleta. Sua detecção
ocorre pelo método de cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC), através
de uma alíquota de 4,0 mL de urina em tubo âmbar. É muito útil no diagnóstico
de porfirias, uma condição que decorre de “deficiências enzimáticas na biossíntese
do grupo heme da cadeia da hemoglobina” (DINARDO et al., 2010, p. 106). Além
disso, é útil no diagnóstico da intoxicação por metais pesados, como chumbo,
leucemias, linfomas e anemia hemolítica.
O valor de referência para uroporfirina é inferior a 35 µg/24 horas.
E U IN D ICO

Conheça um pouco mais sobre porfirias com a leitura do


artigo “Porfirias: quadro clínico, diagnóstico e tratamento”.

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Acesse seu ambiente virtual de aprendizagem


e confira a aula referente a esse tema.

NOVOS DESAFIOS
Chegamos ao final deste conteúdo e esperamos que o tenha aproveitado ao má-
ximo, visando o que comentamos no início, pois saber o básico é essencial, por
isso, faremos um breve resumo do que foi visto:
• O sistema urinário é formado pelos rins, ureter e bexiga. Os rins são
órgãos vascularizados e que recebem inervação do sistema nervoso
central. Já os ureteres, direcionam a urina até a bexiga, enquanto
esta realiza o seu armazenamento, uma vez que será excretada pela
uretra.
• Os rins são indispensáveis para a sobrevivência do ser humano. En-
tre as suas principais funções, estão: a gliconeogênese, a produção
de vitamina D, a manutenção do equilíbrio ácido-básico, o controle
da resistência vascular, a produção de eritropoetina para controle
na produção de eritrócitos, a regulação da osmolalidade plasmáti-
ca, o controle do volume do líquido extracelular, a manutenção do
equilíbrio hídrico e eletrolítico e, de modo especial, o processo de
excreção de substâncias que não são úteis para o organismo.
• Os néfrons renais são formados por um glomérulo e túbulos renais,
que se encontram no ducto coletor. O processo de filtração ocorre
no glomérulo, por meio do qual os sólidos de baixo peso molecular e
a água ultrapassam para os túbulos renais. Em seguida, uma série de
processos de reabsorção e secreção é efetuada por túbulo contorcido
proximal, alça de Henle, túbulo contorcido distal e ducto coletor.

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• A urina é composta principalmente por água (90% a 96% do volume


total) e pode conter solutos, como sódio, potássio, cálcio, magnésio,
cloreto, creatinina, ureia, vitaminas, hormônios, ácido úrico, entre
outros compostos orgânicos e inorgânicos.
• A coleta para parcial de urina e cultura de urina segue como cri-
térios: higienização da região genital; descarte do primeiro jato de
urina; coleta do jato médio urinário até preencher o frasco; e des-
carte do restante no vaso sanitário.
• A urina de 24 horas segue parâmetros diferentes dos estabelecidos
pelo parcial de urina. A primeira urina do dia é desprezada, sendo o
horário anotado. Depois, o paciente coleta toda urina das próximas
24 horas e a armazena no frasco fornecido pelo laboratório. No dia
seguinte, a coleta é finalizada no mesmo horário em que iniciou,
com uma tolerância de dez minutos, que é permitida para mais e
para menos.
• O transporte da amostra de urina deve ser realizado em um perío-
do de uma a duas horas após a coleta e o seu armazenamento, em
geladeira.
• A avaliação bioquímica ou química da urina é feita por meio de tiras
reativas, que auxiliam na detecção de parâmetros importantes da
urinálise, como nitritos, hemoglobina, leucócitos, urobilinogênio,
bilirrubinas, proteínas, corpos cetônicos, glicose e pH.
• A avaliação da urina de 24 horas é muito importante, pois permite
a análise completa de componentes urinários de um paciente, como
creatinina, proteínas, sódio, potássio, ácido úrico e cálcio urinário.
Além disso, o volume urinário só pode ser avaliado, de modo con-
creto, com uma coleta realizada em 24 horas, pois a coleta parcial
de urina indica somente uma pequena parcela do volume urinário
do paciente.
Lembrando que este é conhecimento base para atuar como analista laborato-
rial, para abrir seu próprio laboratório, para quem irá atuar na área hospitalar e
diversos outros segmentos. Para que você se torne um profissional excepcional,
confiável, é necessário entender como os processos ocorrem, quais são as variáveis
que podem ocorrer até que a amostra chegue à bancada e o quanto isso poderá
interferir na liberação do seu resultado. Diante disso, ressaltamos a importância
de entender todo o processo para trazer confiança em seus resultados.

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VAMOS PRATICAR

1. Para realizar a coleta, o paciente deve escolher o horário mais confortável para a sua
realização. De modo geral, indica-se que a primeira urina seja desprezada, devendo-
-se anotar o horário em que isso ocorreu. Por exemplo, se o paciente acordar às 8
horas, ele pode esvaziar a bexiga completamente no vaso sanitário. Isso é necessário
porque a urina armazenada na bexiga foi produzida no período da noite, ou seja, se
coletássemos essa urina, estaríamos considerando um período maior do que 24 horas.
Ao coletar somente após a primeira micção e o horário marcado, teremos certeza de
que a próxima urina foi produzida no período adequado (REIS, 2020; PINHEIRO, 2022).

Em seguida, toda nova micção durante as próximas 24 horas devem ser armazenadas
no frasco coletor fornecido pelo laboratório, independente se for um volume grande, ou
uma simples gota de urina. Caso seja necessário mais de um frasco, este deve ser solici-
tado ao laboratório, mas é importante enfatizar que todo conteúdo de 24 horas deve ser
coletado. No dia seguinte, a coleta deve ser finalizada no mesmo horário em que iniciou.
Uma tolerância de 10 minutos é permitida para mais e para menos (7h50min ou 8h10min,
por exemplo), mas, se o paciente tiver vontade de urinar mais cedo do que o horário final,
ele deve tentar ingerir líquidos para conseguir urinar novamente no horário final (REIS,
2020; PINHEIRO, 2022).

Fonte: PINHEIRO, P. MD Saúde, 2022. Urina de 24 horas – como colher e para que serve.
Disponível em: https://www.mdsaude.com/exames-complementares/urina-24-horas/.
Acesso em: 8 fev. 2023.

REIS, M. Tua Saúde, 2020. Urina de 24 horas: para que serve, como fazer e resultados.
Disponível em: https://www.tuasaude.com/exame-de-urina-de-24-horas/. Acesso em:
8 fev. 2023.

A coleta de urina em tempo marcado é muito utilizada para determinação de algumas


substâncias, cuja excreção pode variar no decorrer de 24 horas. Disserte sobre a meto-
dologia utilizada para essa coleta.

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VAMOS PRATICAR

2. A fase pré-analítica compreende fatores que antecedem a análise laboratorial, voltados


ao preparo do paciente, à identificação, à coleta, à manipulação, ao armazenamento
e ao transporte de uma amostra biológica. Consequentemente, é uma fase repleta de
possibilidades para os grandes erros em laboratórios clínicos, que, muitas vezes, não
são controlados e/ou detectados. Uma vez que os erros ocorrem e não são identifi-
cados, isso pode levar a resultados incorretos, que não condizem com a realidade do
paciente (XAVIER; DORA; BARROS, 2016).

No entanto, o laboratório pode e deve buscar minimizar esses erros, pelo treinamento
adequado dos profissionais responsáveis pelas tarefas. Quando existe uma gestão da
qualidade da fase pré-analítica, os erros podem ser facilmente identificados e corrigidos,
antes que prejudiquem a qualidade dos serviços prestados pelo laboratório, evitando,
assim, outros problemas. Por esse motivo, uma padronização dos processos deve ser
adotada, aumentando a segurança e confiança do paciente.

Considerando os parâmetros pré-analíticos para amostras de urina, eles podem fugir do


controle do laboratório, uma vez que o paciente realiza a sua própria coleta. Contudo,
uma orientação adequada possibilita que o paciente seja instruído da maneira correta
para fazer a coleta do material, minimizando os principais erros pré-analíticos nessa área.
Com relação à identificação do paciente, esta é de responsabilidade do laboratório, que
deve confirmar o nome completo e dados pessoais do paciente respectivos à amostra
recebida. Outro fator a ser analisado na entrega da amostra é se ela se encontra “apta”
para análise, pois, em alguns casos, indica-se uma nova coleta. Esses casos incluem
amostras em recipientes inadequados (vidros de conserva, potes de plásticos, entre
outros); amostras com resquícios de fezes; amostras com tempo de coleta superior ao
tempo de transporte permitido para a análise; amostras malconservadas.

Fonte: XAVIER, R. M.; DORA, J. M.; BARROS, E. Laboratório na Prática Clínica. 3. ed. Porto
Alegre: Artmed, 2016.

A fase pré-analítica compreende todos os processos que antecedem a análise laborato-


rial. Disserte sobre os principais erros pré-analíticos, relatando os cuidados necessários
para evitá-los.

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VAMOS PRATICAR

3. Cada néfron é formado por um glomérulo e túbulos renais, que se encontram no duc-
to coletor. O glomérulo é formado por vasos sanguíneos e “coberto” pela cápsula de
Bowman (corpúsculo renal). O sangue penetra pela cápsula de Bowman através das
arteríolas aferentes para os capilares do glomérulo, e a arteríola eferente drena o
sangue. Dentro da cápsula, há um espaço vazio, no qual o líquido flui dos capilares
glomerulares antes de penetrar na primeira porção do túbulo. Essa estrutura forma
uma barreira essencial para a filtração, similar a uma “peneira”, permitindo que passe
grandes volumes e impedindo a passagem de grandes proteínas plasmáticas, como
albumina (EATON; POOLER, 2015).

A filtração glomerular é a etapa inicial para a formação da urina. O conteúdo filtrado é muito
semelhante ao plasma sanguíneo, contendo substâncias livremente filtradas, como íons
inorgânicos (sódio, potássio, cloreto, bicarbonato), solutos orgânicos sem carga elétrica
(glicose e ureia), hormônios peptídicos (insulina, hormônio antidiurético) e aminoácidos
de baixo peso molecular (EATON; POOLER, 2015).

A reabsorção é caracterizada pela remoção de substâncias do túbulo renal para o sangue


circulante; enquanto a secreção se caracteriza pelo acréscimo de substâncias do sangue
circulante para o lúmen do túbulo renal (EATON; POOLER, 2015).

O túbulo proximal é o primeiro, localizado logo após a cápsula de Bowman. Dessa forma,
ele drena o conteúdo filtrado por esse compartimento para a sequência de túbulos. Ele
é responsável pelo primeiro processo de reabsorção tubular, no qual são absorvidos
novamente para o organismo cerca de dois terços da água filtrada, do sódio e do cloreto.
Além disso, todas as moléculas orgânicas úteis, como glicose e aminoácidos, precisam
ser reabsorvidas para serem conservadas no organismo. Compostos como potássio, fos-
fato, cálcio e bicarbonato são reabsorvidos parcialmente. Apesar de ser essencial para
reabsorção, esse compartimento é responsável pela secreção de algumas substâncias,
como produtos biotransformados (creatinina, ácido úrico) e fármacos (penicilina) (EATON;
POOLER, 2015).

Compreender a essência do funcionamento renal e, consequentemente, da formação


da urina é simples, porque os rins recebem o líquido que chega pela corrente sanguínea,
alteram a sua composição, adicionando ou excluindo constituintes, e formam a urina,
que contém o equilíbrio de cada substância.

Fonte: EATON, D.; POOLER, D. Fisiologia Renal de Vander. 8. ed. Porto Alegre: Artmed, 2015.

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VAMOS PRATICAR

Sobre os processos para filtração do sangue, assinale a alternativa correta:

a) A filtração ocorre no glomérulo, que funciona como uma espécie de peneira, permi-
tindo a passagem de constituintes sólidos de baixo peso molecular e água.
b) A etapa de reabsorção ocorre no túbulo contorcido proximal, no qual são reabsorvidas
grandes quantidades de proteínas.
c) A reabsorção permite que substâncias sólidas, que não conseguiram atravessar pelo
glomérulo, sejam excretadas nos túbulos renais.
d) Os processos de excreção favorecem a retirada de substâncias dos túbulos renais
para a corrente sanguínea, permitindo que as substâncias sejam armazenadas no
organismo.
e) A filtração ocorre no glomérulo, que funciona como uma espécie de passagem livre,
permitindo a passagem de constituintes sólidos de alto peso molecular e água.

4. Os rins são essenciais e indispensáveis para a sobrevivência do ser humano. Esses


órgãos somam diferentes funções, que ajudam a manter a homeostasia no organismo
como um todo. Entre as suas principais funções se encontram: a gliconeogênese, pro-
dução de vitamina D, manutenção do equilíbrio ácido básico, controle da resistência
vascular, produção de eritropoetina para controle na produção de eritrócitos, regulação
da osmolaridade plasmática, controle do volume do líquido extracelular, manutenção
do equilíbrio hídrico e eletrolítico e, de modo especial, o processo de excreção de subs-
tâncias que não são úteis para o organismo.

Fonte: EATON, D.; POOLER, D. Fisiologia Renal de Vander. 8. ed. Porto Alegre: Artmed, 2015.

Os parâmetros químicos da urina são úteis para predizer determinadas condições ou


doenças que possam estar acometendo o paciente. Sobre os parâmetros químicos da
urina, classifique V para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas:

( ) A gliconeogênese, produção de vitamina D e manutenção do equilíbrio ácido básico,


correspondem a importantes funções renais.
( ) Entre as funções renais, está o processo de excreção de substâncias úteis para o
organismo.
( ) Os rins auxiliam na produção de eritropoetina, na regulação da osmolalidade plas-
mática, no controle do volume do líquido extracelular, na manutenção do equilíbrio
hídrico e eletrolítico.

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VAMOS PRATICAR

Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta:

a) ( ) V - V - F.
b) ) ) V - F - V.
c) ( ) F - V - F.
d) ( ) F - F - V.
e) ( ) F - V - V.

5. As recomendações da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial


(SBPC/ML) indicam que a primeira amostra da manhã é ideal para o exame de urina
de rotina, porque ela se encontra mais concentrada, permitindo que os elementos e
substâncias químicas presentes sejam adequadamente analisados. Caso isso não seja
possível, alguns laboratórios indicam um intervalo de 2 a 4 horas entre as micções para
que, então, a coleta seja realizada (SBPC/ML, 2017). Para realizar a coleta, o paciente
deve escolher o horário mais confortável para a sua realização. De modo geral, indi-
ca-se que a primeira urina seja desprezada, devendo-se anotar o horário em que isso
ocorreu (REIS, 2020; PINHEIRO, 2022).

Em seguida, toda nova micção durante as próximas 24 horas deve ser armazenada no
frasco coletor fornecido pelo laboratório, independente se for um volume grande, ou uma
simples gota de urina. No dia seguinte, a coleta deve ser finalizada no mesmo horário em
que iniciou. Uma tolerância de 10 minutos é permitida para mais e para menos (7h50min
ou 8h10min, por exemplo), mas, se o paciente tiver vontade de urinar mais cedo do que o
horário final, ele deve tentar ingerir líquidos para conseguir urinar novamente no horário
final (REIS, 2020; PINHEIRO, 2022).

O exame de urina de 24 horas possibilita quantificar substâncias específicas excretadas na


urina e que podem predizer o funcionamento dos rins. Essa avaliação precisa ser realizada
dentro do período de 24 horas, pois a excreção de uma substância pode variar ao longo
dia, o que dificulta a padronização do teste com uma amostra coletada em um horário
fixo. Ao coletar toda a urina dentro do período de 24 horas, essa variação é minimizada e
a análise se torna mais confiável.

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VAMOS PRATICAR

A coleta de amostra urinária é relativamente simples, mas precisa ser seguida à risca, caso
contrário pode ocorrer contaminações/falhas importantes, que exigem a necessidade de
uma nova coleta. Com base nas regras para coleta de uma boa amostra de urina, analise
as afirmativas a seguir:

I - A coleta da primeira urina do dia é essencial para o parcial de urina, mas, caso o pa-
ciente não possa esperar e já tenha urinado, ele pode coletar após o período de 2 a
4 horas sem urinar.
II - A urina de 24 horas é requerida em situações específicas de substratos excretados
pela urina em diferentes períodos do dia, tornando-se necessário que o paciente
colete toda a urina dentro de um período de 24 horas.
III - A urina de 24 horas exige que o paciente colete a primeira urina da manhã e anote
o horário, coletando toda a urina dentro do período de 24 horas, sem exceção. Após
coletar a primeira urina da manhã do próximo dia, o paciente encerra a coleta e en-
caminha a amostra ao laboratório.

É correto o que se afirma em:

a) I e III, apenas.
b) II, apenas.
c) I e II, apenas
d) II e III, apenas.
e) I, II e III.

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CONFIRA SUAS RESPOSTAS

1. De modo geral, indica-se que a primeira urina seja desprezada, devendo-se anotar o
horário em que isso ocorreu. Em seguida, toda nova micção durante as próximas 24
horas deve ser armazenada no frasco coletor, fornecido pelo laboratório, independente
se for um volume grande, ou uma simples gota de urina. Caso seja necessário mais de
um frasco, este deve ser solicitado ao laboratório, mas é importante enfatizar que todo
conteúdo de 24 horas deve ser coletado. No dia seguinte, a coleta deve ser finalizada
no mesmo horário em que iniciou. Uma tolerância de 10 minutos é permitida para mais
e para menos (7h50min ou 8h10min, por exemplo), mas, se o paciente tiver vontade de
urinar mais cedo do que o horário final, ele deve tentar ingerir líquidos para conseguir
urinar novamente no horário final (REIS, 2020; PINHEIRO, 2022).

2. Amostras em recipientes inadequados (vidros de conserva, potes de plásticos, entre


outros); amostras com resquícios de fezes; amostras com tempo de coleta superior ao
tempo de transporte permitido para a análise; amostras malconservadas.

3. No túbulo contorcido proximal são reabsorvidas grandes quantidades de solutos filtrados


(principalmente sódio); Na reabsorção não há presença de substâncias sólidas; os pro-
cessos de excreção permitem que filtrem as substâncias que devem ser reabsorvidas, e
outras que devem ser excretadas.

4. A segunda alternativa está incorreta, pois entre as funções renais, está o processo de
excreção de substâncias que não são úteis para o organismo.

5. A afirmativa III está incorreta, pois diz que a urina de 24 horas exige que o paciente colete
a primeira urina da manhã e anote o horário, coletando toda a urina dentro do período
de 24 horas, sem exceção. Contudo, ao contrário disso, a primeira urina, neste caso, deve
ser desprezada.

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REFERÊNCIAS

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MEU ESPAÇO

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UNIDADE 2
TEMA DE APRENDIZAGEM 2

ANÁLISE SEDIMENTOSCÓPICA
DA URINA
FABIANE HORBACH RUBIN

MINHAS METAS

Aprender como ocorre a obtenção do sedimento urinário.

Aprender como preparar uma lâmina com o sedimento urinário para leitura
em microscópio.

Identificar células, cristais, cilindros, entre outros constituintes urinários


observados no microscópio óptico.

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UN I C ES UMA R

INICIE SUA JORNADA


Saber manusear a amostra de urina é fundamental, pois através dela teremos
uma excelente amostra, a qual será processada e analisada em microscópio. Ou
seja, o processo parece simples, mas se em algum dos passos do processo algo
ocorrer de forma errada, a amostra a ser analisada poderá não ser fidedigna aos
parâmetros do paciente.
Por isso, a análise microscópica é muito importante, pois complemeta os da-
dos obtidos na análise física e química da urina. E será você o profissional que
terá que fazer essa correlação entre análise física, química e microscópica.
Tenha em mente que cada achado possui morfologia característica e contribui
para identificar ou excluir doenças de todos os sistemas do corpo.

P L AY N O CO NHEC I M ENTO

Para saber mais sobre a importância da análise sedimento-


scópica da urina e quanto o profissional deve estar atento à
correlação das células encontradas, ouça o podcast no seu
Ambiente Virtual de Aprendizagem.

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 2

ANÁLISE SEDIMENTOSCÓPICA DA URINA

A obtenção do sedimento urinário é realizada somente após a leitura dos parâme-


tros físicos e químicos da urina. A análise é precedida de centrifugação, para que
haja a separação física dos componentes da urina de acordo com a sua densidade.
Os elementos pesados e sólidos irão se sedimentar. Para isso, o método clássico
e manual utiliza cerca de 10 a 15 ml da amostra. A amostra é centrifugada de
1.500 a 2.500 rpm, por 10 minutos, e o sobrenadante é descartado. Em seguida,
o sedimento obtido é ressuspenso e uma gota é coletada e colocada sobre uma
lâmina. A análise pode proceder utilizando uma lâmina convencional ou lâmi-
nas específicas, como a câmara de Neubauer e K-Cell (Figura 1), a qual deve ser
analisada no microscópio óptico (ALVES, 2011).

Câmara superior

C
A

Câmara inferior
B D

Figura 1 (a) - Câmara de Neubauer; (b) - e sua grade de contagem; (c) - Lâmina K-Cell; (d) - e amostras
observadas em microscopia óptica / Fonte: Figura (a) - Câmara (2015, on-line); Figura (b) - Câmara (2015,
on-line); Figura (c) - Centerlab ([2023], on-line); (d) - Centerlab ([2023], on-line).

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UN I C ES UMA R

Descrição da Imagem: a figura ilustra quatro imagens distintas de materiais e exemplos de imagem utilizados
na microscopia. Na imagem representada pela letra “A”, pode-se observar um retângulo transparente com dois
quadrados um abaixo e um acima no centro, em tons de cinza. Na imagem à esquerda e abaixo, representada
pela letra “B”, tomada por imagem de microscópio óptico, pode-se observar um quadrado com fundo branco, com
diversos quadrados menores no seu interior, representados pelos números “1” e “2” e quadrados ainda menores,
ao centro da imagem, representados pelo número “3”. Na imagem representada pela letra “C”, tomada de forma
ilustrativa, pode-se observar um retângulo médio, com fundo branco e no seu interior pequenos quadrados com
bordas curvadas; abaixo, um quadrado menor, com seta apontada para a direita, com círculo oval em vermelho
com esferas azuladas em pequeno tamanho, precedido de seta para a direita e um quadrado menor com uma
esfera azulada ao centro. Na última imagem à direita e abaixo, representada pela letra “D”, tomada por imagem de
microscópio óptico, pode-se observar a presença de nove círculos com pontilhados mais escuros em toda a imagem.

A análise microscópica é muito importante, pois complementa os dados


obtidos na análise física e química, em que os elementos sólidos, como
hemácias, leucócitos, células epiteliais, bactérias e cristais, podem ser avaliados
e identificados com mais cautela. Cada achado possui morfologia característica
e contribui para identificar doenças de todos os sistemas do corpo (GRAFF,
1983; RABINOVITCH et al.,2009; STRASINGER; DI LORENZO, 2009).

Além de ser essencial para visualização dos componentes microscópicos,


é útil para identificar possíveis contaminações na amostra, assim como auxi-
liar no diagnóstico das infecções ou lesões renais ou, até mesmo, acompanhar e
identificar um paciente diabético (GRAFF, 1983; RABINOVITCH et al., 2009;
STRASINGER; DI LORENZO, 2009).

CÉLULAS
A análise do sedimento urinário possibilita identificar os constituintes celulares
da urina, como as células epiteliais, hemácias e leucócitos, e, ao quantificá-los,
podemos indicar se ocorrem processos inflamatórios ou infecciosos no trato
urinário.

CÉLULAS EPITELIAIS

A classificação das células epiteliais se dá de acordo com o local de origem, po-


dendo ser células epiteliais escamosas, células epiteliais de transição e células

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 2

epiteliais tubulares. Apesar de ser uma nomenclatura importante, normalmente


não indicamos no laudo qual tipo de célula epitelial estava presente na amostra
do paciente. Assim, o resultado é expresso de acordo com a presença ou au-
sência de células epiteliais na urina. Para quantificação, utilizamos o padrão
de campo, no qual a presença de até três células é conhecida como rara, de quatro
a dez células, como “algumas” e de dez células, como “numerosas” (GREENBERG,
2014; KASVI, 2019; STRASINGER; DI LORENZO, 2009).
No entanto, identificar o tipo celular é importante para predizer se há
alteração na amostra e qual sistema se encontra comprometido. As mais encon-
tradas em amostras de urina são as escamosas (vide Figura 1 do carrossel), pois
constituem o canal vaginal e uretral de mulheres e homens. De modo geral, ao
serem encontradas, podem indicar contaminação da amostra urinária e, nesse
caso, também podemos encontrar uma quantidade significativa de bactérias. Para
identificar se realmente se trata de uma coleta inadequada, devemos avaliar os
demais parâmetros da amostra, assim como a clínica do paciente (GREENBERG,
2014; KASVI, 2019; STRASINGER; DI LORENZO, 2009).
As células epiteliais de transição (vide Figura 2 do carrossel) são provenientes
da descamação normal da bexiga, da pelve renal e dos ureteres. Em quadros de in-
fecção urinária, a presença dessas células estará acompanhada de uma quantidade
significativa de leucócitos (GREENBERG, 2014; KASVI, 2019; STRASINGER;
DI LORENZO, 2009).
Já as células tubulares (vide Figura 3 do carrossel) constituem os túbulos re-
nais e aparecem na urina esporadicamente, mas, quando associadas a cilindros,
são forte indício de problemas renais. Quanto mais células tubulares, maior a
lesão renal e maior a chance de perda de função. Consequentemente, quando
encontramos essas células, podemos identificar parâmetros bioquímicos como
ureia e creatinina alterados também (GREENBERG, 2014; KASVI, 2019; STRA-
SINGER; DI LORENZO, 2009).

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Figura 1 - Célula epitelial escamosa / Fonte: Câmara


(2010, on-line).
Na figura, podem ser observadas duas fotografias.
Na fotografia da esquerda, marcada com a letra “A”,
tomada por imagem de microscópio óptico, pode-se
observar, ao centro, células transparentes com núcleo
pequeno mais ao centro. Na fotografia da direita
marcada com a letra “B”, tomada por imagem de
microscópio óptico, pode-se observar um círculo com
bordas amarelas ao centro, e dentro dele, uma célula
transparente com bordas mais escuras.

Figura 2 - Células epiteliais de transição / Fonte: Câ-


mara (2017, [s. p.]).
Na fotografia tomada por imagem de microscópio
óptico, pode-se observar círculos transparentes com
bordas mais escuras, e um círculo com bordas em
azul e fundo transparente, englobando um conjunto
de círculos.

Figura 3 - Célula epitelial tubular / Fonte: Câmara


(2010, on-line).
Na fotografia tomada por microscópio óptico, pode-se
observar fundo cinza, com duas estruturas arredon-
dadas ao centro da imagem, com círculos menores
em seu interior.

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LEUCÓCITOS NA URINA

A presença de leucócitos (Figura 2) na urina pode ser considerada normal, quan-


do em pequenas quantidades (< cinco leucócitos por campo – 10.000 leucócitos
por ml de urina). No entanto, quando ultrapassa essa quantidade, isso indica
a presença de um processo infeccioso, lúpus eritematosos sistêmicos, doenças
renais ou, ainda, tumores (GREENBERG, 2014; KASVI, 2019; STRASINGER;
DI LORENZO, 2009). O valor de referência no laudo é de até cinco leucócitos
por campo.

Figura 2 - Leucócitos / Fonte: Câmara (2017, [s. p.]).

Descrição da Imagem: na fotografia tomada por microscópio óptico, pode-se observar círculos transparentes com
bordas mais escuras e com grânulos em seu interior.

HEMÁCIAS NA URINA

Uma pequena quantidade de hemácias (Figura 3) na urina pode ser considerada


normal (< três por campo), mas o aumento dessas células está diretamente re-
lacionado com doenças renais. Não é acompanhada de sintomatologia, mas, em
grande quantidade, pode ser visualizada a olho nu pela mudança de coloração
da urina para rosa-claro a vermelho.

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Além de indicar lesão renal, sua presença também está relacionada com
infecção urinária, processos inflamatórios no trato geniturinário, uso de medic-
amentos, como anticoagulantes, presença de cálculo renal ou ainda câncer nos
rins (GREENBERG, 2014; LOPES et al., 2018; MAYO, [2023]). O valor de referência
no laudo é de até três hemácias por campo.

Figura 3 - Hemácia / Fonte: Câmara (2012, on-line).

Descrição da Imagem: na fotografia tomada por microscópio óptico, pode-se observar círculos transparentes com
bordas mais escuras, um quadrado ao centro, e um círculo com bordas reluzentes e fundo transparente, destacado
por uma seta pequena, azul, com contornos em preto, no canto superior esquerdo.

CRISTAIS
Os cristais na urina estão associados à precipitação de substâncias presentes no
organismo, que é resultado de alteração no pH da urina, infecções urinárias, alte-
ração brusca na temperatura do organismo ou, ainda, uma elevada concentração
desses componentes, que pode ocorrer pela dieta ou por uso de medicamentos.
Os mais comuns são as substâncias orgânicas como cálcio, magnésio e fosfato,
sendo que sua presença em quantidades baixas na urina não indica quadro pa-
tológico. No entanto, a grande concentração desses cristais pode indicar doenças
como gota, cálculo renal ou infecções urinárias (GREENBERG, 2014; KASVI,
2019; STRASINGER; DI LORENZO, 2009).

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É importante ressaltar que existem diferentes tipos de cristais diretamente


correlacionados com determinadas condições. Os mais comuns são os cristais
de fosfato triplo, ácido úrico e oxalato de cálcio, mas eles não são os únicos. Por
isso, deve-se ter atenção às informações apresentadas a seguir.

CRISTAL DE FOSFATO TRIPLO

O fosfato triplo (Figura 4), normalmente, é encontrado em urinas alcalinas, sendo


composto por fosfato, magnésio e amônia. Sua presença é considerada normal,
mas o aumento desse cristal pode indicar infecção urinária ou hipertrofia pros-
tática (GREENBERG, 2014; KASVI, 2019; STRASINGER; DI LORENZO, 2009).

Figura 4 - Cristal de fosfato triplo / Fonte: Pimentel (2015, on-line).

Descrição da Imagem: o com bastante pontos mais escuros, e, mais ao centro, na parte inferior, um retângulo
transparente, com bordas em verde, evidenciando um retângulo com bordas escuras e uma linha branca reluzente
ao centro.

CRISTAL DE ÁCIDO ÚRICO

O cristal de ácido úrico (Figura 5) é encontrado em pH urinário ácido e está


diretamente relacionado com uma dieta rica em proteínas, pois é importante
lembrarmos que o ácido úrico é um produto da degradação de proteínas. Apesar

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disso, eles também estão presentes em doenças como gota e nefrites crônicas
(GREENBERG, 2014; KASVI,2019; STRASINGER; DI LORENZO, 2009).

Figura 5 - Cristal de ácido úrico / Fonte: Câmara (2019, on-line).

Descrição da Imagem: na figura, podem ser observadas quatro imagens tomadas por microscópio óptico, todas
de fundo limpo, mais acinzentado, com estruturas em formatos hexagonal, cúbico e tetragonal.

CRISTAL DE OXALATO DE CÁLCIO

O cristal de oxalato de cálcio (Figura 6) é encontrado em urinas neutras ou ácidas


e, apesar de ser normal em baixas concentrações, seu aumento está relacionado
com cálculo renal, devido à baixa ingestão de água e à rica ingestão de cálcio.
Além disso, é comum encontrarmos esses cristais em condições como diabetes
melito, doenças hepáticas ou renais graves (GREENBERG, 2014; KASVI, 2019;
STRASINGER; DI LORENZO, 2009).

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Figura 6 - Cristal de oxalato de cálcio / Fonte: Câmara (2017, [s. p.]).

Descrição da Imagem: na fotografia tomada por microscópio óptico, pode-se observar, em fundo acinzentado,
pequenos quadrados com bordas mais escuras e centro claros e reluzentes, representando o formato em “X”.

URATO AMORFO

Os uratos (Figura 7) ocorrem em pH urinário ácido ou em amostras resfriadas,


sendo encontrados com outros cristais citados anteriormente. O resfriamento
induz a cristalização de algumas substâncias na urina, resultando, assim, no apa-
recimento de uratos. Portanto, a análise rápida da amostra é essencial, para evitar
interferências no laudo. Sua presença em grande concentração pode resultar na
alteração da coloração da urina para rosa, mas, de modo geral, não causam sin-
tomas no paciente. No exame sedimentoscópico, os uratos são caracterizados
por um conjunto granulado amarelo a preto (GREENBERG, 2014; KASVI, 2019;
STRASINGER; DI LORENZO, 2009).

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Figura 7 – Urato amorfo / Fonte: Câmara (2019, on-line).

Descrição da Imagem: na fotografia tomada por microscópio óptico, pode-se observar em fundo acinzentado,
com pequenas estruturas mais escuras e com aspecto de borradas.

OUTROS CRISTAIS

Além dos cristais já apresentados, cristais de bilirrubina, carbonato de cálcio,


cistina, colesterol, leucina, magnésio-amônio-fosfato e tirosina também são en-
contrados na urina, com menor frequência, porém não podem ser descartados. É
muito importante atentar a esse tipo de informação, pois esses cristais são ligados
a condições clínicas, muitas vezes, graves e devem ser identificados no laudo do
paciente de maneira correta. O Quadro 1 apresenta as suas indicações, ilustrando
o cristal.

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CARACTERÍSTICAS
TIPO DE CRISTAL RELEVÂNCIA CLÍNICA
MICROSCÓPICAS

Cristais de Indicam doenças hepá-


bilirrubina ticas.

Cristais de
Podem estar presentes
carbonato de
em urinas alcalinas.
cálcio

Presentes em cistinose,
cistinúria congênita,
Cristais de
insuficiente reabsorção
cistina
renal ou hepatopatias
tóxicas.

Costuma ser um sinal


Cristais de
de perdas maciças de
colesterol
proteína na urina.

Indicam doenças he-


páticas, como cirrose,
hepatite viral, atrofia
Cristais
amarela aguda do fígado
de leucina
ou envenenamento por
fósforo, tetracloreto de
carbono ou clorofórmio.

Podem ser normais,


mais presentes em
Cristais de mag- casos de urina muito
nésio-amônio- alcalina, provocada por
-fosfato infecção urinária pelas
bactérias Protheus ou
Klebsiella.

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Presente na tirosinemia
Cristais de e associadas aos cristais
tirosina de leucina em doenças
hepáticas graves

Quadro 1 - Outros cristais encontrados em amostras de urina / Fonte: Câmara (2017, [s. p.]); Flickr ([2023],
on-line) e Câmara (2019, on-line).

CILINDROS
A presença de uma grande quantidade de cilindros em uma amostra de urina é
indicativa de que alguma lesão renal esteja ocorrendo, isso porque dificilmente
encontramos cilindros em amostras normais de urina. Eles são formados pela
união de várias proteínas Tamm-Horsfall, excretadas nos túbulos contorcidos
distais e ducto coletor. Ao se unirem, forma-se uma estrutura sólida, com o for-
mato de um cilindro. Esse processo costuma ser mais intenso após atividade física,
estresse ou doenças renais e pode estar associado a outros componentes presentes
durante a formação de um cilindro, como bactérias, células epiteliais, hemácias,
leucócitos, células gordurosas, entre outras (GREENBERG, 2014; KASVI, 2019;
STRASINGER; DI LORENZO, 2009).

Existem diferentes composições de cilindros, sendo que a sua identificação é


essencial para que seja possível reconhecer e diferenciar um quadro normal de
um quadro grave de lesão renal. Além disso, dependendo do tipo de cilindro,
ao observarmos esse componente, também encontramos outras alterações
no exame físico e químico da urina, como a presença de proteínas, leucócitos,
hemoglobina, entre outros (GREENBERG, 2014; KASVI, 2019; STRASINGER; DI
LORENZO, 2009). A seguir, conheceremos a morfologia e a relevância clínica dos
diferentes tipos de cilindros.

CILINDRO HIALINO

O cilindro hialino (Figura 8) é muito comum, sendo formado somente pela


proteína Tamm-Horsfall. Por ser o mais comum, é possível encontrar até dois
cilindros hialinos por campo na urina analisada, que pode ser resultado de um

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exercício físico intenso, estresse ou, ainda, calor excessivo. Contudo, quando ul-
trapassa esse valor, pode indicar quadros de lesão renal, como glomerulonefrite,
pielonefrite ou doença renal crônica (GREENBERG, 2014; KASVI, 2019; STRA-
SINGER; DI LORENZO, 2009).

Figura 8 - Cilindro hialino / Fonte: I.ibb.co ([2023a], on-line).

Descrição da Imagem: na figura, podem ser observadas duas fotografias. Na primeira, à direita, tomada por
microscópio óptico, pode-se observar uma imagem de fundo cinza claro, com pontos pretos e uma estrutura re-
tangular, bordas arredondadas e mais escuras e transparentes, um pouco inclinada para cima. À direita, pode-se
observar as mesmas características, sobretudo a estrutura está voltada para baixo.

CILINDRO HEMÁTICO

O cilindro hemático (Figura 9) é composto por um cilindro hialino recheado por


hemácias, sendo um forte indicativo de sangramento no parênquima renal, como
ocorre na glomerulonefrite e em lesões tubulares. Esse cilindro é muito similar ao
cilindro granular, mas costuma ser encontrado em conjunto com a positividade
de hemoglobina na urina, assim como hemácias na análise de sedimentoscopia
(GREENBERG, 2014; KASVI, 2019; STRASINGER; DI LORENZO, 2009).

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Figura 9 - Cilindro hemático / Fonte: I.ibb.co ([2023b], on-line).

Descrição da Imagem: na fotografia tomada por microscópio óptico, pode


-se observar uma imagem de fundo cinza claro, pouca luminosidade, com vários círculos distribuídos, à esquerda
mais transparentes com bordas escuras e um ao lado do outro e mais para à direita, círculos mais sobrepostos,
com grânulos enegrecidos no seu interior, com sobreposição.

CILINDRO LEUCOCITÁRIO

O cilindro leucocitário (Figura 10) é constituído por leucócitos e indica proces-


sos infecciosos ou inflamatórios nos rins. No entanto, a presença desse tipo de
cilindro não confirma se há ou não infecção e/ou inflamação, sendo necessária
a associação a outros parâmetros da análise da urina, bem como avaliação do
exame de urocultura (GREENBERG, 2014; KASVI, 2019; STRASINGER; DI
LORENZO, 2009).

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Figura 10 - Cilindro leucocitário / Fonte: Câmara (2010, on-line).

Descrição da Imagem: na fotografia tomada por microscópio óptico, pode-se observar uma imagem com fundo
azul claro, acima e ao centro um círculo enegrecido com alguns pontos transparentes, ao centro, evidenciado por
setas em verde, um aglomerado de estruturas circulares com bordas mais escuras e o centro granular; mais abaixo,
voltado para a direita, um quadrado com bordas escuras e o interior mesclado com transparência.

CILINDRO EPITELIAL

Os cilindros epiteliais (Figura 11) estão presentes em quadros de lesão dos tú-
bulos renais crônica, sendo associado à toxicidade medicamentosa, a infecções
virais ou, ainda, à exposição a metais pesados (GREENBERG, 2014; KASVI, 2019;
STRASINGER; DI LORENZO, 2009).

Figura 11 - Cilindro epitelial / Fonte: I.ibb.co ([2023c], on-line).

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Descrição da Imagem: na fotografia tomada por microscópio óptico, pode-se observar uma imagem de fundo
cinza claro, trazendo estruturas mais claras, retangulares, não tão nítidas, quase transparentes ao centro, com
alguns círculos granulosos e enegrecidos em algumas extremidades.

OUTROS CILINDROS

Além dos cilindros apresentados, existem outras conformações que merecem


atenção durante a análise microscópica de uma amostra de urina. Por isso, o
Quadro 2 traz um resumo de outros cilindros menos comuns, mas que, ainda
assim, são relevantes na prática clínica.

TIPO DE RELEVÂNCIA CARACTERÍSTICAS


CONSTITUIÇÃO
CILINDRO CLÍNICA MICROSCÓPICAS

Indica
síndrome
Cilindro Célula de gor-
nefrótica
gorduroso dura
ou diabetes
melito.

Pode estar
presente logo
Cilindro Grânulo de pro- após o exer-
granular teínas séricas cício físico ou
em doenças
renais.

Formando pela
proteína Tamm-
-Horsfall, com
Indica doen-
camada mais
ça paren-
fina e frágil,
quimatosa
Cilindro podendo apre-
crônica ou
céreo sentar cortes ao
fase terminal
longo das bor-
de necrose
das e índice de
tubular.
refração maior
do que os cilin-
dros hialinos.

Quadro 2 - Outros cilindros encontrados em amostra de urina / Fonte: I.ibb.co ([2023d], on-line); I.ibb.co
([2023e], on-line) e I.ibb.co ([2023f], on-line).
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OUTROS COMPONENTES URINÁRIOS


Outros componentes podem ser identificados na amostra de urina, sendo, muitas
vezes, essenciais para auxiliar no diagnóstico do paciente. Entre eles, podemos
citar os microrganismos, como bactérias, leveduras e parasitas; espermatozoides
e muco. A seguir, descreveremos as características e a relevância clínica de cada
achado com detalhes, sendo importante sempre atentar para o aspecto morfoló-
gico de cada componente, uma vez que é possível encontrá-los durante a prática
clínica, sendo essencial saber diferenciá-los.

BACTÉRIAS, LEVEDURAS E PARASITAS

A presença de microrganismos, como as bactérias (Figura 12), é muito comum,


principalmente nos casos de contaminação da amostra durante a coleta. Caso o
paciente não faça a higiene de modo adequado, é muito provável que a amostra
de urina contenha uma série de bactérias. No entanto, a sua presença pode indicar
também uma infecção urinária, sendo essencial que esse parâmetro seja avaliado
com os demais exames que compõem a urinálise, além de ser confirmado pela
urocultura (GREENBERG, 2014; KASVI, 2019; STRASINGER; DI LORENZO,
2009).

Figura 12 - Bactérias em amostra de urina / Fonte: Câmara (2010, on-line).

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Descrição da Imagem: na fotografia tomada por microscópio óptico, pode-se observar um fundo cinza claro, com
diversos pontos, filamentos, esferas mais escuras, em evidência mais ao centro da imagem, pequenos círculos
em verde, transparente com pequenas linhas escuras em seu interior.

Outros microrganismos como leveduras, como a Cândida (Figura 13), e para-


sitas, como Trichomonas vaginalis, também podem estar presentes. Nesses ca-
sos, ao encontrá-los, de modo geral, são responsáveis por processos infecciosos
(GREENBERG, 2014; KASVI, 2019; STRASINGER; DI LORENZO, 2009).

Figura 13 - Candida albicans / Fonte: Câmara (2013, on-line).

Descrição da Imagem: na fotografia tomada por microscópio óptico, pode-se observar fundo cinza escuro com
linhas não tão finas com ramificações, com interno transparente e transluzente e bordas escuras, algumas estru-
turas ovaladas são verificadas em alguns pontos da extensão das linhas.

O T. vaginalis (Figura 14) é identificado pela movimentação rápida na lâmina,


mas, por ser muito similar ao leucócito, quando está imóvel, a sua identificação
é muito difícil. Esse achado é resultado de contaminação de secreções vaginais
ou dos ureteres. Caso outros parasitas sejam observados, é muito provável que
tenha havido contaminação com amostra de fezes (GREENBERG, 2014; KASVI,
2019; STRASINGER; DI LORENZO, 2009).

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Figura 14 - Trichomonas vaginalis / Fonte: Kasvi (2019, on-line).

Descrição da Imagem: na fotografia tomada por microscópio óptico, pode-se observar fundo cinza claro, com
várias estruturas arredondadas e uma seta no centro, voltada para cima, enfatizando uma estrutura oval, média
translúcida, com um círculo na parte inferior.

MUCO

Os filamentos de muco (Figura 15) são resultado de processos de descamação


da bexiga e da uretra, sendo essenciais para a defesa do trato urinário. Dessa
forma, esse achado não é indício de doença (GREENBERG, 2014; KASVI, 2019;
STRASINGER; DI LORENZO, 2009).

Figura 15 - Muco em amostra de urina / Fonte: Câmara (2010, on-line).

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Descrição da Imagem: na fotografia tomada por microscópio óptico, pode-se observar um fundo cinza claro, com
pontos escuros, várias estruturas em linhas finas, mais claras e outras mais escuras.

ESPERMATOZOIDE

Os espermatozoides (Figura 16) podem ser encontrados em amostras de urina de


pacientes que tiverem relações sexuais pouco antes da coleta da amostra, sendo
considerado um achado normal (GREENBERG, 2014; KASVI, 2019; STRASIN-
GER; DI LORENZO, 2009).

Figura 16 - Espermatozoides em amostra de urina / Fonte: Dines (2008, on-line).

Descrição da Imagem: na fotografia tomada por microscópio óptico, pode-se observar um fundo amarelado,
com algumas estruturas pouco nítidas, circulares, pontos, linhas, em destaque ao centro para uma estrutura em
formato de “risco”, transparente com a ponta mais ovalada e com bordas mais escuras.

E U IN D ICO

Leitura Complementar: “A importância da análise sedimen-


toscópica diante dos achados físico-químicos normais no
exame de urina”.

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Acesse seu ambiente virtual de aprendizagem


e confira a aula referente a esse tema.

NOVOS DESAFIOS
A partir do conhecimento abordado neste tema, foi possível compreender um
pouco mais sobre como ocorre a prática laboratorial da análise de urina, como a
urina deve ser manuseada para se obter uma excelente amostra, quais os cuidados
necessários para não ocorrer contaminação, qual o passo a passo de cada setor e
como analisar e compreender os achados no microscópio.
É importante lembrar que se deve, sempre, fazer a correlação dos achados com
o quadro clínico do paciente, assim como com os demais exames solicitados pelo
médico, pois assim terá um diagnóstico preciso e correto.
Atrás de uma amostra de urina, existe um profissional, aguardando os re-
sultados para diagnóstico, seja ele para indicar normalidade ou até uma doença,
assim como para direcionar a sua conduta clínica e medicamentosa. Por isso, é
importante olhar com todo o cuidado, atenção e estar em constante atualização,
para entregar ao seu cliente o resultado mais fidedigno.

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VAMOS PRATICAR

1. O cristal de oxalato de cálcio é encontrado em urinas neutras ou ácidas e, apesar de


ser normal em baixas concentrações, seu aumento está relacionado com cálculo re-
nal, devido à baixa ingestão de água e à rica ingestão de cálcio. Além disso, é comum
encontrarmos esses cristais em condições como diabetes melito e doenças hepáticas
ou renais graves (GREENBERG, 2014; STRASINGER; DI LORENZO, 2009).

Com base nisso, analise o caso hipotético a seguir:

Paciente, sexo feminino, 30 anos de idade, chegou ao pronto atendimento com quadro
de tontura, cansaço, náusea e dor abdominal. Durante avaliação, o médico sente um forte
odor cetônico, relacionando o quadro com cetoacidose diabética.

Disserte sobre quais parâmetros estariam alterados no exame de urina da paciente e


justifique.

2. Analise o caso hipotético a seguir:

Paciente, sexo feminino, chega ao pronto atendimento reclamando de dores ao urinar e


febre de 38 °C. Os resultados do exame de urina estão relacionados na tabela a seguir:

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VAMOS PRATICAR

Fonte: o autor.

Disserte sobre o provável diagnóstico da paciente, com base no resultado do seu exame.

3. O cristal de oxalato de cálcio é encontrado em urinas neutras ou ácidas e, apesar de


ser normal em baixas concentrações, seu aumento está relacionado com cálculo re-
nal, devido à baixa ingestão de água e à rica ingestão de cálcio. Além disso, é comum
encontrarmos esses cristais em condições como diabetes melito, doenças hepáticas
ou renais graves.

Com base no exposto, analise o caso hipotético a seguir:

Paciente, sexo masculino, 56 anos de idade, apresentou as seguintes alterações no exa-


me de urina: coloração alaranjada, +++ bilirrubina; cristal de cistina, cristal de leucina e
cristal de tirosina.

Sobre os resultados, assinale a alternativa correta:

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VAMOS PRATICAR

a) O paciente apresenta um clássico quadro de diabetes melito, devido aos cristais en-
contrados.
b) As informações coletadas são condizentes com um quadro de doença hepática.
c) Os achados podem ser relacionados com um quadro normal, devido ao excesso de
atividade física.
d) Os cristais encontrados são relacionados ao pH alcalino da urina, não indicando qua-
dros patológicos específicos.
e) As informações coletadas são condizentes com um quadro de doença reumática.

4. O fosfato triplo normalmente é encontrado em urinas alcalinas. Outros microrganismos


como leveduras, como a Cândida, e parasitas, como Trichomonas vaginalis, também
podem estar presentes. Nesses casos, ao encontrá-los, de modo geral, são responsá-
veis por processos infecciosos.

Paciente, sexo feminino, apresenta normalidade no exame físico e químico da urina. No


entanto, em análise sedimentoscópica, são encontrados raros cristais de fosfato triplo,
oxalato de cálcio, urato amorfo e Trichomonas vaginalis. Com base na análise sedimen-
toscópica da urina, analise as afirmativas a seguir:

I. A presença de T. vaginalis indica que os resultados químicos da urina estão incorretos.

II. A presença de cristais de fosfato triplo, oxalato de cálcio e urato amorfo indica quadro
de infecção por bactérias, responsáveis por acidificar o pH urinário. Isso é comprovado
com o achado de T. vaginalis.

III. Os cristais encontrados não indicam quadro clínico significativo, uma vez que a análise
física e química está normal. No entanto, a paciente está com tricomoníase, devido à
presença do T. vaginalis.

É correto o que se afirma em:

a) II e III, apenas.
b) I, apenas.
c) I e II, apenas.
d) III, apenas.
e) I e III, apenas.

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VAMOS PRATICAR

5. O cristal de ácido úrico é encontrado em pH urinário ácido e está diretamente rela-


cionado com uma dieta rica em proteínas, pois é importante lembrarmos que o ácido
úrico é um produto da degradação de proteínas.

O cilindro hialino é muito comum, sendo formado somente pela proteína Tamm-Horsfall.
Por ser o mais comum, é possível encontrar até dois cilindros hialinos por campo na urina
analisada, que pode ser resultado de um exercício físico intenso, estresse ou, ainda, calor
excessivo.

Com base na análise microscópica do sedimento urinário de um paciente que frequen-


temente realiza atividades físicas e possui um consumo de proteínas, classifique V para
as afirmativas verdadeiras e F para as falsas:

( ) O paciente possuirá uma urina ácida, podendo apresentar cristais como uratos
amorfos e oxalato de cálcio.

( ) É comum aparecerem grandes quantidades de cilindros hialinos em pacientes que


realizam atividades físicas com frequência.

( ) O paciente apresentará pH urinário alcalino e, provavelmente, traços de proteínas,


hemoglobina e leucócitos em tira reativa.

a) V - F - F.
b) V - F - V.
c) F - V - F.
d) F - V - V.
e) F - F - V.

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CONFIRA SUAS RESPOSTAS

1. Nos pacientes com suspeita de cetoacidose diabética, deve-se testar na urina a pre-
sença de cetonas. Os testes com fitas reagentes na urina podem subestimar o grau
da cetose. O resultado é expresso em cruzes, indicando quantos corpos cetônicos
estão presentes na amostra, podendo ser negativo ou positivos (+, ++, +++ e ++++).
Além disso, podem ser encontrados cristais de oxalato de cálcio e até mesmo cilindros
gordurosos.

2. Diante da correlação das análises dos exames físico, químico e microscópico, é provável
ser um caso de infecção urinária.

3. A letra A está incorreta, pois em casos de diabetes melito, são encontrados cristais de
oxalato de cálcio e não os que estão no enunciado. A letra B está incorreta devido a
não se tratar de um quadro normal, mas de doença hepática. A letra D está incorreta
por mencionar que não se trata de um quadro patológico.

4. A afirmativa I está incorreta, pois a presença do T. vaginalis não altera o resultado


químico da urina. A afirmativa II está incorreta, pois estes cristais são encontrados em
urina alcalina.

5. A primeira afirmativa é falsa, pois neste caso os cristais mais propensos seriam os
cristais de ácido úrico. A terceira alternativa está incorreta, pois informa ser em urina
alcalina.

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REFERÊNCIAS

ALVES, M. L. Análises laboratoriais. São Paulo: DCL, 2011.


CÂMARA, B. Atlas com os principais fungos de importância médica. Biomedicina Padrão,
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-com-os-principais-fungos-de.html. Acesso em: 13 abr. 2023.
CÂMARA, B. Como identificar hemácias no sedimento urinário. Biomedicina Padrão, [s. l.],
17 ago. 2012. Disponível em: https://www.biomedicinapadrao.com.br/2012/08/como-iden-
tificar-hemacias-no-sedimento.html. Acesso em: 13 abr. 2023.
CÂMARA, B. Conhecendo a Câmara de Neubauer. Biomedicina Padrão, [s. l.], 7 jan. 2015.
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-neubauer.html. Acesso em: 13 abr. 2023.
CÂMARA, B. Kit Uroanálise: apostila. [S. l.]: Biomedicina Padrão, 2017.
CÂMARA, B. Pequeno atlas de uroanálise. Biomedicina Padrão, [s. l.], 25 maio 2010. Dispo-
nível em: https://www.biomedicinapadrao.com.br/2010/05/pequeno-atlas-de-uroanalise.
html. Acesso em: 13 abr. 2023.
CÂMARA, B. Principais cristais encontrados na urina. Biomedicina Padrão, [s. l.], 8 jan. 2019.
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labsp.com.br/blog/como-utilizar-a-lamina-k-cell/. Acesso em: 13 abr. 2023.
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PIMENTEL, L. Uroanálise: cristais. Biolâmina, [s. l.], 22 ago. 2015. Disponível em: http://bio-
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SEDIMENTOSCOPIA: análise microscópica de sedimento de urina. Kasvi, [s. l.], 27 dez. 2019.
Disponível em: https://kasvi.com.br/sedimentoscopia-analise-urina/. Acesso em: 13 abr.
2023.
STRASINGER, S. K.; DI LORENZO, M. S. Urinálise e fluidos corporais. 5. ed. São Paulo: Li-
vraria Médica Paulista, 2009.

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TEMA DE APRENDIZAGEM 3

INTRODUÇÃO AOS FLUIDOS


CORPORAIS
FABIANE HORBACH RUBIN

MINHAS METAS

Aprofundar conhecimentos sobre os fluidos do organismo.

Nomear as principais funções dos fluidos corporais.

Identificar qual a seção laboratorial que irá realizar as análises dos difer-
entes líquidos corporais.

Analisar os aspectos quantitativos e qualitativos dos fluidos corporais.

Discutir a composição celular normal e anormal dos líquidos corporais


estudados.

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UN I C ES UMA R

INICIE SUA JORNADA


Você já imaginou como é fundamental estudarmos os fluidos produzidos no
corpo humano, quais são suas funções e sua importância para o diagnóstico de
patologias?
Os fluidos corporais são indispensáveis para o diagnóstico e monitorização
de diversas doenças infecciosas, inflamatórias e hemorrágicas. Essas análises en-
volvem diferentes departamentos do laboratório e requerem profissionais com
conhecimentos especializados em diferentes tipos de fluidos.
Há diversos fluidos corporais, os quais desempenham funções importantes
para a manutenção do nosso corpo, portanto, estar capacitado para desempenhar
as análises traz segurança para o profissional.
Esteja apto, aproveite a tecnologia e mantenha-se em constante atualização
profissional. Dessa forma, você conseguirá desempenhar as suas funções de forma
tranquila, leve e segura.

P L AY N O CO NHEC I M ENTO

Neste podcast, abordaremos brevemente os fluidos


corporais. Ouça no seu Ambiente Virtual de Aprendizagem.

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 3

INTRODUÇÃO AOS FLUIDOS CORPORAIS

Tipos de Fluidos Corporais, Composição e Função

Existem diferentes tipos de fluidos corporais além da urina e do sangue, os quais


variam de acordo com as características físicas, tipos de células e contagem de
células. Os principais líquidos biológicos são o líquido cerebrospinal, seminal,
sinovial, suor, líquidos serosos ou cavitários (pleural, peritoneal e pericárdico),
secreções respiratórias como aquelas derivadas do lavado broncoalveolar, líquido
amniótico, dentre outros fluidos e secreções.

Diferença entre fluidos e secreções: fluidos são substâncias permanentes


do nosso corpo e sua produção não depende de estímulos externos, como por
exemplo, o líquido cerebrospinal, que protege o cérebro e a medula espinhal e
o líquido sinovial que lubrifica as articulações. Já as secreções são produzidas
de acordo com as necessidades do nosso corpo, secreções são produzidas
de acordo com as necessidades do nosso corpo, como por exemplo, a secreção
gástrica produzida no estômago para facilitar a digestão de proteínas.

Os fluidos biológicos variam quanto à composição, mas possuem alguns ele-


mentos em comum. De acordo com Mundt e Shanahan (2012), as funções da
água e dos eletrólitos são determinantes essenciais de qualquer composição e
movimento dos fluidos no corpo humano, desempenhando importantes funções
no nosso organismo. A água entra no nosso organismo pelo consumo de água e
alimentos e também por processos metabólicos celulares.
Os líquidos biológicos podem ser divididos em dois grandes compartimentos:
intracelular e extracelular, sendo em torno de 55% a água situada no interior
das células (compartimento intracelular), enquanto a água do meio extracelular
corresponde a cerca de 45%. A composição dos eletrólitos e enzimas dos fluidos
intracelulares difere daquela dos fluidos extracelulares.

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O líquido extracelular tem grandes quantidades de sódio e cloreto e pequenas


quantidades de potássio, cálcio, magnésio, fosfato e ácidos orgânicos, enquanto
o potássio e o fosfato são predominantes no líquido intracelular e contém pe-
quenas quantidades de sódio, cloreto e cálcio (GUYTON; HALL, 2011).

O líquido extracelular, por sua vez, é subdividido em: líquido intersticial, lí-
quidos transcelulares, encontrados em várias cavidades corporais, e plasma.
O plasma troca continuamente substâncias com o líquido intersticial através dos
poros das membranas capilares com permeabilidade a quase todos os solutos do
líquido extracelular, com exceção das proteínas que possuem alta concentração
no plasma. O líquido transcelular é o que está presente nas cavidades corporais,
nas vísceras ocas e demais locais. Esse compartimento inclui o líquido dos espaços
sinoviais, peritoneais, pericárdicos, intraoculares e o líquido cefalorraquidiano
(GUYTON; HALL, 2011).

Rins
Pulmões
Eliminação Fezes Ingestão
Suor
Pele

Plasma
3,0 L
Líquido extracelular

Linfáticos

Membrana do capilar
(14,00 L)

Líquido intersticial
11,0 L

Membrana da célula

Líquido intracelular
28,0 L

Figura 1 - Composição dos líquidos corporais / Fonte: Sampaio ([2023], p. 2).

Descrição da Imagem: a figura representa uma imagem do livro Guyton. Imagem em formato retangular, separada
por cores e posições distintas: na extremidade superior, em tons de lilás, demarcada por um retângulo médio e
dois cilindros pequenos, um voltado para à esquerda e outro para à direita, está representado o “Plasma”; logo
abaixo, um retângulo menor, em tom de azul claro, representa a “Membrana do capilar”. Abaixo, um retângulo
de tamanho intermediário, em tom de rosa envelhecido, representa o “Líquido intersticial”. Abaixo deste, outro
retângulo, porém pequeno, em tom de marrom, representa a “ Membrana da célula” e por último, na parte inferior
da imagem, um quadrado em tom de amarelo claro, representa o “Líquido intracelular”.

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A composição dos fluidos pode ser alterada dependendo das condições locais de
diversas membranas e tecidos adjacentes. A realização de exames bioquímicos
em conjunto com exames citológicos auxilia no diagnóstico e monitoramento
das condições do paciente (MUNDT; SHANAHAN, 2012).
Como já vimos, existem diversos fluidos corporais, os quais desempenham
funções importantes para a manutenção do nosso corpo. Portanto, sua função
principal é lubrificar e nutrir os espaços intra e extracelulares de todo o corpo. As
membranas que envolvem o sistema nervoso central, por exemplo, são lubrifica-
das pelo líquor, substância composta basicamente por água que fornece proteção
mecânica a esse sistema. Os fluidos das articulações também possuem água e
protegem os ossos do atrito. Além disso, o líquido amniótico protege o feto de
impactos durante o seu desenvolvimento. A deficiência ou excesso desses fluidos
podem provocar várias patologias, como por exemplo, edema e efusões serosas.

VOLUME DOS FLUIDOS CORPORAIS, ASPECTOS E COLETA

O volume do fluido corporal varia significativamente de acordo com a cavidade


corporal. Além disso, em condições patológicas, o volume do fluido presente
pode alterar de forma drástica, como por exemplo, nas cavidades serosas que,
em condições normais, encontra-se presente uma quantidade pequena do fluido
e, em casos patológicos, pode aumentar de alguns mililitros até mesmo a litros.
De acordo com Mundt e Shanahan (2012), há forças que promovem a troca
e o equilíbrio dos fluidos: a pressão coloidosmótica do tecido, junto à pressão
hidrostática do capilar, regula o fluxo de saída do líquido a partir do capilar,
enquanto a pressão coloidosmótica do capilar e a pressão hidrostática do tecido
regulam o fluxo de entrada do líquido capilar a partir do tecido.

A P RO F UNDA NDO

Pressão coloidosmótica: é a pressão que o líquido intersticial faz na mem-


brana dos vasos.
Pressão hidrostática: é a pressão que os capilares fazem em direção ao
meio exterior do vaso (pressão de filtração).

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O equilíbrio entre essas duas pressões estabelece o fluxo de saída e entrada de


fluidos nos capilares e nos tecidos. Qualquer desequilíbrio nessas forças, haverá
uma saída excessiva de líquido para o espaço tecidual, levando a um acúmulo
desse líquido.

A coleta e a análise dos líquidos só ocorrem quando existe um derrame presente.


Em situações normais, não são realizadas a coleta nem a análise de qualquer
líquido corporal.

A quantidade de líquidos pode variar de acordo com o órgão e o local. Em con-


dições normais, circulam: na cavidade pleural numa pequena quantidade, cerca
de 1 a 20ml, na cavidade do pericárdio se encontra em torno de 15 a 50ml e
na cavidade peritoneal contém aproximadamente 50ml de fluido (BARCELOS;
AQUINO, 2018). Esses fluidos têm como função primordial a lubrificação das
membranas que os envolvem. Diversas doenças provocam o acúmulo desses
fluidos nas cavidades serosas denominado de efusões, também conhecido como
derrame.
Com base na causa do acúmulo de líquido são classificadas em dois grupos:
transudato e exsudato.
• O transudato ocorre quando fatores mecânicos ou sistêmicos
alteram o equilíbrio na regulação da filtração e absorção do
líquido, como por exemplo, as mudanças na pressão hidrostática
criada por insuficiência cardíaca congestiva e cirrose.
• Os exsudatos são produzidos por condições que comprome-
tem diretamente as membranas da cavidade especial, como
por exemplo, lesão ou inflamação da pleura causada por diferentes
etiologias (ROCHA, 2014).

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A P RO F UNDA NDO

A peritonite é uma inflamação decorrente de infecção que acomete o


peritônio, membrana que reveste a parede interna do abdômen e recobre
a maioria dos órgãos abdominais. Essa infecção pode ser decorrente de
microrganismos (bactérias e fungos). Já a pericardite é um processo
inflamatório que afeta a membrana que recobre e protege o coração. A
doença pode ser aguda ou crônica. A forma aguda ocorre subitamente e se
estende por volta de uma a três semanas, enquanto a forma crônica pode
durar mais de três meses.

A diferenciação dos fluidos pleural e pericárdico em transudato e exsudato, ge-


ralmente é feita pelo uso dos critérios propostos por Light et al. (1972), que
compara alguns parâmetros bioquímicos do fluido com os encontrados no soro
do paciente, representados na Tabela 1.
Com uma sensibilidade de 98%, esses critérios se utilizam de dois parâmetros
principais: nível proteico e nível da desidrogenase lática (LDH). A presença de
qualquer um dos critérios de exsudato confirma sua caracterização, enquanto
para confirmar a presença de um transudato é necessária a presença de três cri-
térios.

PARÂMETROS TRANSUDATO EXSUDATO

Proteína < 3g/100mL ≥ 3g/100mL

Relação entre proteína do líquido pleural/


≤ 0,5 > 0,5
pericárdico e sérica

Relação entre LDH do líquido pleural/peri-


≤ 0,6 > 0,6
cárdico e sérica

LDH no líquido pleural/pericárdico > 2/3


Não Sim
do limite superior no soro ou >220 U/L

Tabela 1 - Critérios de Light / Fonte: a autora.

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Para a diferenciação entre transudato e exsudato no líquido peritoneal, é reco-


mendado o gradiente de albumina soro/ascite (GASA) do que as relações de pro-
teínas e de desidrogenase lática (LDH), pois as doenças malignas classicamente
provocam uma ascite exsudativa. A dosagem de proteínas no líquido peritoneal
não é importante, há muitos equívocos na prática clínica, como por exemplo,
nas ascites transudativa de pacientes com cirrose, 30% apresentam valores de
proteínas superiores a 2,5 g/dL e dos pacientes com insuficiência cardíaca con-
gestiva, 50% apresentam proteínas acima de 3,0 g/dL. Sendo assim, o gradiente
soro/albumina é mais preciso na diferenciação da ascite. O nível de albumina
no líquido é subtraído do nível de albumina no soro, se a diferença for gradiente
inferior a 1,1g/dL, é um exsudato e quando superior a 1,1 g/dL, é um transudato
(STRASINGER; DI LORENZO, 2008).
As características físicas dos fluidos corporais, como cor e o aspecto, depen-
dem da cavidade corporal em que eles foram coletados. Normalmente, os líquidos
cerebrospinal e sinovial são incolores e límpidos, enquanto os líquidos serosos são
amarelados e límpidos (BARCELOS; AQUINO, 2018). Em condições patológicas,
a cor e o aspecto dos fluidos podem ser alterados.

ZO O M N O CO NHEC I M ENTO

Geralmente, os termos mais utilizados para descrever o aspecto são


“límpido”, 'turvo ","purulento " (indica presença de uma grande quantidade
de leucócitos) e “leitoso” (presença de gordura). Para descrever a cor, são
utilizados os termos: “incolor”, ‘hemorrágico” ou ‘vermelho” (indica presença de
hemácias), “xantocrômico” (indica degradação de hemoglobina), entre outros
(BARCELOS; AQUINO, 2018).

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Amostra vermelha é indicativa de hemorragia ou punção traumática. A punção


traumática nada mais é do que quando a agulha atinge um vaso sanguíneo no
momento da coleta. Nesse caso, deve ser realizado o diagnóstico diferencial entre
acidente de punção e a hemorragia. Rotineiramente, é realizada a prova de três
tubos, que consiste em separar o líquido em três tubos, deixar em repouso por
alguns minutos e, em seguida, fazer a comparação dos três tubos. Num acidente
de punção, usualmente, ele clareia entre o primeiro e o terceiro tubo coletado e
permanece uniforme na hemorragia (STRASINGE; DI LORENZO, 2008).
As amostras, em geral, são colhidas em um frasco (urina, sêmen) ou inserindo
uma agulha fina em uma cavidade do corpo e aspirando ao líquido com uma
seringa (líquido cerebrospinal, líquido pericárdico, pleural, ascítico, amniótico
etc). Depois da coleta, são distribuídas em tubos específicos e encaminhadas ao
laboratório, onde são feitos diversos exames, incluindo bioquímicos, como dosa-
gem de proteínas e glicose, contagem global de hemácias e leucócitos, contagem
diferencial de leucócitos, coloração de Gram, cultura e testes imunológicos.
A Tabela 2 descreve os principais fluidos examinados e o tipo de procedi-
mento realizado para a obtenção da amostra a ser analisada.

FLUIDO CORPORAL PROCEDIMENTO

Fluido pleural Toracentese

Fluido peritoneal (ascítico) Paracentese

Fluido pericárdico Pericardiocentese

Punção lombar, suboccipital, cervical


Fluido cerebrospinal
lateral

Fluido amniótico Amniocentese

Fluido sinovial Artrocentese

Tabela 2 - Fluidos analisados e procedimento de coleta / Fonte: adaptado de Mundt e Shanahan (2012,
p. 223).

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As análises citológicas dos fluidos corporais têm o objetivo de realizar a avalia-


ção das células de diversos tipos de fluido, sendo capazes de identificar a presença
de doenças infecciosas, inflamatórias, sangramentos, ou de células neoplásicas
por meio da observação da amostra no microscópio. O exame citológico com-
preende a contagem global de células e contagem diferencial de leucócitos.
Ultimamente tem ocorrido um maior interesse no desenvolvimento da aná-
lise automatizada de fluidos corporais, principalmente devido às limitações da
contagem manual de células ocasionadas pela falta de experiência profissional
ou por falta de padronização do processo da análise, mas a maioria das contagens
de células ainda é realizada de forma manual pelos laboratórios, utilizando-se o
hemocitômetro (MUNDT; SHANAHAN, 2012).

Cabe ressaltar que a diferenciação celular deve ser sempre realizada


em microscopia óptica manual.

Existem diferentes tipos de hemocitômetro, também conhecido como câmara


de contagem, sendo o mais conhecido o hemocitômetro de Neubauer e Fuchs
Rosenthal. Sendo o primeiro o mais utilizado pelos laboratórios.

A P RO F UNDA NDO

Câmara de Neubauer: a grade de contagem tem 3 mm por 3 mm de tama-


nho e contém nove subdivisões quadradas de 1 mm de largura. O quadrado
central é dividido em 25 quadrados, com 0,2 mm de largura. Cada um dos 25
quadrados centrais é subdividido em 16 pequenos quadrados (Figura 2).

Câmara de Fuchs Rosenthal: a câmara tem uma profundidade de 0,2 mm e


uma grande área de 16 mm², um volume total de 3,2 mm² e é dividida em 16
grandes quadrados. Cada um dos 16 quadrados é subdividido em quadrados
menores (COMAR et al, 2009; BARCELOS; AQUINO, 2018). A linha central é o
limite e determina quando uma célula deve ser incluída na contagem ou não.

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Figura 2 - Hemocitômetro de Neubauer / Fonte: Programa Nacional de Controle de Qualidade (2018, p. 31).

Descrição da Imagem: na figura, podem ser observadas três fotografias. Na primeira fotografia à esquerda, mar-
cada com números de “1” a “9”, tomada durante o dia, com fundo branco, pode ser observado um quadrado maior
em preto com a presença de linhas médias verticais e horizontais, nas quais estão representados os números
“1”, “3”, “7” e “9”; ao centro, sobre essas linhas médias, estão linhas mais finas e próximas, cruzando-se entre si,
formando um aspecto de cruz. Nelas, estão representados os números “2”, ”4”, ”5”, ”6” e “8”. A segunda imagem
encontra-se ao centro. Nela, observa-se um quadrado maior com bordas mais espessas em preto; dentro dele, 25
quadrados pequenos e em cada um destes quadrados, mais 16 quadrados pequenos. E na terceira figura, está
representada uma imagem tomada em microscópico óptico, quadrada de fundo cinza claro com linhas brancas e
finas, formando 16 quadrados menores, com três linhas brancas finas em cada lado do quadrado.

Como dito anteriormente, existem vários tipos de câmara de contagem. O que


as diferenciam são algumas características, como resolução, profundidade, com-
posição, que pode ser de vidro ou descartável, o tamanho e desenho da malha.
Antes de fazer a contagem, deve ser realizada a preparação do líquido, de-
vendo ser uma suspensão homogênea, não centrifugada e com concentração
apropriada. Caso esteja muito baixa, pode haver um erro de contagem ao analisar
o resultado por quadrante. Já se estiver muito alta, as células correm o risco de
sobreposição, dificultando a contagem. A amostra deve ser diluída em solução
salina (NaCI 0,9%) caso apresente elevada celularidade, pois isso permite que as
células tenham um espaço adequado para se espalharem, formando uma única
camada na superfície da câmara com sobreposição mínima.
Na câmara de Neubauer, geralmente, são contadas todas as células presen-
tes nos nove milímetros quadrados. Porém, quando a concentração de células
é elevada, os laboratórios podem realizar alguns ajustes no procedimento de
contagem. Segundo Mundt e Shanahan (2012), quando muitas hemácias estão

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presentes na amostra, apenas a contagem do quadrante central pode ser neces-


sária, oferecendo um resultado preciso, assim como a contagem de todos os nove
quadrantes. Caso a presença de células nucleadas seja elevada, as contagens dessas
células nos quatro quadrados do canto geralmente são suficientes.

O cálculo de contagem em hemocitômetro de Neubauer consiste em:

Portanto, N representa o número de células contadas e D corresponde ao fator


de diluição. É necessário multiplicar por 10 para compensar a profundidade da
câmara de 1 mm e dividir por A (área contada em milímetros quadrados), re-
sultando no número de células por milímetro cúbico (MUNDT; SHANAHAN, 2012).

A contagem diferencial de células de líquidos biológicos é realizada quando a


contagem global de leucócitos apresenta-se elevada. Pode ser realizada com o
líquido puro ou o sedimento obtido após centrifugação em baixa rotação. A lâ-
mina pode ser confeccionada com várias técnicas, como esfregaço, gota espessa,
citocentrifugação e câmara de Suta (STRASINGER; DI LORENZO, 2008). A
citocentrifugação é a técnica mais recomendada para a contagem de células em
líquidos biológicos, pois requer pouca habilidade profissional e permite uma boa
recuperação de células.
Após a preparação da lâmina, ela é corada com corantes hematológicos como
Leishmann e Giemsa e observada em microscopia para detecção dos tipos leu-
cócitos predominantes, como neutrófilos, eosinófilos, linfócitos, macrófagos, ba-
sófilos, além de células teciduais. Esses tipos de células se elevam de acordo com
a patologia presente.
Para a diferenciação de hemácias, leucócitos e células teciduais em câmara
de contagem, o profissional deve conhecer as características de cada uma dessas
células. As hemácias são células circulares, com halos e o centro da célula é limpo.
Em caso de hemácias crenadas, pode se apresentar com projeções finas e pontu-
das. Já os leucócitos apresentam um aspecto granular. As células teciduais, por sua
vez, possuem contorno irregular, são grandes e granulares (COMAR et al, 2009).

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Acesse seu ambiente virtual de aprendizagem


e confira a aula referente a esse tema.

NOVOS DESAFIOS
Com este conhecimento abordado, foi possível compreender que existem vários
tipos de fluidos biológicos, os principais: o líquido cerebrospinal, sêmen, sino-
vial, suor, líquidos serosos ou cavitários (pleural, peritoneal e pericárdico), urina,
secreções respiratórias, como o lavado broncoalveolar e líquido amniótico. E
esses líquidos variam quanto à composição, mas possuem alguns elementos em
comum, mostrando-nos a importância de saber diferenciá-los.
Os fluidos corporais são classificados em intracelular e extracelular, e isso
é de extrema importância para profissional, pois saber sua origem permite que
muitos resultados façam ou não sentido.
É preciso ficar atento, pois os volumes dos fluidos variam bastante, assim
como seus aspectos, cores, densidades etc.
Este tema abordado, aqui, será de extrema importância na prática laboratorial,
principalmente hospitalar.

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VAMOS PRATICAR

1. O líquido extracelular tem grandes quantidades de sódio e cloreto e pequenas quanti-


dades de potássio, cálcio, magnésio, fosfato e ácidos orgânicos; enquanto o potássio
e o fosfato são predominantes no líquido intracelular e contêm pequenas quantidades
de sódio, cloreto e cálcio.

Os principais líquidos biológicos são o líquido cerebrospinal, seminal, sinovial, suor, líqui-
dos serosos ou cavitários (pleural, peritoneal e pericárdico), secreções respiratórias como
aquelas derivadas do lavado broncoalveolar, líquido amniótico, dentre outros fluidos e
secreções.

Portanto, sua função principal é lubrificar e nutrir os espaços intra e extracelulares de


todo o corpo.

Os fluidos corporais podem ser divididos em dois grandes compartimentos: intracelular


e extracelular. A composição dos eletrólitos e enzimas dos fluidos intracelulares difere
daquela dos fluidos extracelulares. Com base nessas informações, disserte sobre a com-
posição dos fluidos intracelulares e extracelulares e suas funções.

2. As análises citológicas dos fluidos corporais têm objetivo de realizar a avaliação das
células de diversos tipos de fluido, sendo capaz de identificar a presença de doenças
infecciosas, sangramentos, inflamatória, ou de células neoplásicas por meio da obser-
vação da amostra no microscópio. O exame citológico compreende a contagem global
de células e contagem diferencial de leucócitos.

A maioria das contagens de células ainda é realizada de forma manual pelos laborató-
rios, utilizando-se o hemocitômetro (MUNDT; SHANAHAN, 2012). Cabe ressaltar que a
diferenciação celular deve ser sempre realizada em microscopia óptica manual. Existem
diferentes tipos de hemocitômetro, também conhecido como câmara de contagem, sen-
do o mais conhecido o hemocitômetro de Neubauer e Fuchs Rosenthal. Sendo o primeiro
o mais utilizado pelos laboratórios.

Na câmara de Neubauer geralmente são contadas todas as células presentes nos nove
milímetros quadrados. Contudo, quando a concentração de células é elevada, os labora-
tórios podem realizar alguns ajustes no procedimento de contagem. Segundo Mundt e
Shanahan (2012), quando muitas hemácias estão presentes na amostra, apenas a con-
tagem do quadrante central pode ser necessária, oferecendo um resultado preciso assim
como a contagem de todos os nove quadrantes. Caso a presença de células nucleadas
seja elevada, as contagens dessas células nos quatro quadrados do canto geralmente
são suficientes.

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VAMOS PRATICAR

A contagem diferencial de células de líquidos biológicos é realizada quando a contagem


global de leucócitos se apresenta elevada. Pode ser realizada com o líquido puro ou o
sedimento obtido após centrifugação em baixa rotação. A lâmina pode ser confeccionada
com várias técnicas, como esfregaço, gota espessa, citocentrifugação e câmara de Suta
(STRASINGER; DI LORENZO, 2008). A citocentrifugação é a técnica mais recomendada
para a contagem de células em líquidos biológicos, pois requer pouca habilidade profis-
sional e permite uma boa recuperação de células.

Após a preparação da lâmina, ela é corada com corantes hematológicos, como Leishmann
e Giemsa, e observada em microscopia para detecção dos tipos leucócitos predomi-
nantes, como neutrófilos, eosinófilos, linfocitos, macrófagos, basófilos, além de células
teciduais. Esses tipos de células se elevam de acordo com a patologia presente.

Atualmente tem se aprimorado cada vez mais a análise automatizada de fluidos corpo-
rais, principalmente devido às limitações da contagem manual de células, ocasionadas
principalmente pela falta de experiência profissional ou por falta de padronização do
processo da análise em si, mas a maioria das contagens de células ainda são realizadas
de forma manual pelos laboratórios. Com base nessas informações, explique sobre a
importância do exame citológico em fluidos corporais e as técnicas manuais empregadas
nesta análise.

3. O transudato ocorre quando fatores mecânicos ou sistêmicos alteram o equilíbrio


na regulação da filtração e absorção do líquido, como, por exemplo, as mudanças na
pressão hidrostática criada por insuficiência cardíaca congestiva e cirrose.

Os exsudatos são produzidos por condições que comprometem diretamente as mem-


branas da cavidade especial, como, por exemplo, lesão ou inflamação da pleura causada
por diferentes etiologias (ROCHA, 2014).

A diferenciação dos fluidos pleural e pericárdico em transudato e exsudato geralmente


é feita pelo uso dos critérios propostos por Light et al. (1972), que compara alguns parâ-
metros bioquímicos do fluido com os encontrados no soro do paciente. Com uma sensi-
bilidade de 98%, estes critérios se utilizam de dois parâmetros principais: nível proteico e
nível da desidrogenase lática (LDH). A presença de qualquer um dos critérios de exsudato
confirma sua caracterização, enquanto para confirmar a presença de um transudato é
necessária a presença de três critérios.

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VAMOS PRATICAR

Parâmetros Transudato Exsudato

Proteína < 3g/100mL ≥ 3g/100mL

Relação entre proteína


do líquido pleural/peri- ≤ 0,5 > 0,5
cárdico e sérica.

Relação entre LDH do


líquido pleural/pericár- ≤ 0,6 > 0,6
dico e sérica.

LDH no líquido pleural/


pericárdico > 2/3 do Não Sim
limite superior no soro
ou >220 U/L

Tabela 1 - Critérios de Light


Fonte: a autora.

Muitas doenças provocam o acúmulo de fluidos nas cavidades serosas, denominados de


efusões. Com base na causa do acúmulo, as efusões são classificadas em transudato e
exsudato. Entretanto, é possível distinguir o líquido nas categorias de transudato ou de
exsudato. Com base nisso, assinale a alternativa correta:

a) Um transudato ocorre quando fatores mecânicos ou sistêmicos influenciam na for-


mação e reabsorção dos fluidos.
b) Um transudato apresenta proteínas superiores a 3,0 g/dL e LDH maior que 200 UI.
c) Exsudatos são resultantes de um processo sistêmico, e os transudatos provêm direto
dos revestimentos mesoteliais.
d) Um exsudato apresenta proteínas inferiores a 3,0 g/dL e LDH maior que 200 UI.
e) Um exsudato ocorre quando fatores mecânicos ou sistêmicos influenciam na forma-
ção e reabsorção dos fluidos.

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VAMOS PRATICAR

4. Com uma sensibilidade de 98%, estes critérios se utilizam de dois parâmetros princi-
pais: nível proteico e nível da desidrogenase lática (LDH).

A classificação dos fluidos biológicos serosos entre transudato ou exsudato deve ser um
dos primeiros passos para o diagnóstico laboratorial correto.

A combinação de testes que permite obter resultados mais sensíveis e acurados com
relação à diferenciação do líquido pleural entre essas duas classificações é:

a) Determinação de leucócitos e proporção de proteínas do líquido pleural/soro.


b) Determinação dos níveis de glicose e proporção de LDH do líquido pleural/soro.
c) Proporção de proteínas e Lactato desidrogenase do líquido pleural/soro.
d) Contagem de hemácias e proporção de Lactato desidrogenase (LDH) do líquido
pleural/soro.
e) Proporção de proteínas, apenas.

5.

Fluido Corporal Procedimento

Fluido pleural Toracentese

Fluido peritoneal (ascítico) Paracentese

Fluido pericárdico Pericardiocentese

Fluido cerebrospinal Punção lombar, suboccipital e cervical


lateral

Fluido amniótico Amniocentese

Fluido sinovial Artrocentese

Tabela 1 - Fluidos analisados e procedimento de coleta


Fonte: adaptada de: Mundt e Shanahan (2012, p. 223).

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VAMOS PRATICAR

I. O procedimento chamado de toracocentese é seguro, rápido e indicado para pacientes


com derrame pleural.
II. A obtenção do fluido cerebrospinal ocorre exclusivamente por punção lombar.
III. A paracentese é realizada para obtenção do líquido ascítico.
IV. A obtenção dos fluidos corporais ocorre por punção aspirativa com agulha fina no
interior das cavidades corporais.

É correto o que se afirma em:

a) I, apenas.
b) III, apenas.
c) I e II, apenas.
d) II e III, apenas.
e) I, III e IV, apenas.

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CONFIRA SUAS RESPOSTAS

1. O líquido extracelular tem grandes quantidades de sódio e cloreto e pequenas quanti-


dades de potássio, cálcio, magnésio, fosfato e ácidos orgânicos, enquanto o potássio e
o fosfato são predominantes no líquido intracelular e contém pequenas quantidades de
sódio, cloreto e cálcio. Os principais fluidos corporais são cerebrospinal, sinovial, sêmen,
suor, líquido amniótico e líquidos serosos. Sua função principal é lubrificar, proteger e
nutrir os espaços intra e extracelulares de todo o corpo.

2. O exame citológico dos fluidos corporais é fundamental para identificar a presença de


doenças infecciosas, sangramentos, inflamatória, ou de células neoplásicas por meio da
observação da amostra no microscópio. O exame citológico compreende a contagem glo-
bal de células leucócitos e hemácias e a contagem diferencial de leucócitos. A contagem
global de células é realizada em câmara de contagem de Neubauer ou Fuchs Rosenthal.
A Contagem diferencial de células é realizada quando a contagem global de leucócitos
apresenta se elevada. Pode ser realizada com o líquido puro ou o sedimento obtido após
centrifugação em baixa rotação. A lâmina pode ser preparada por várias técnicas, como
esfregaço, gota espessa, citocentrifugação e câmara de Suta entre outras técnicas,
sendo a citocentrifugação a mais recomendada para a contagem de células em fluidos
biológicos, após a preparação da amostra, ela é corada por corante do tipo Leishmann,
e Giemsa observada em microscopia para detecção dos tipos celulares predominantes.

3. A alternativa B está incorreta, pois transudato apresenta proteínas inferiores a 3,0g/dL.


Na letra C, os conceitos estão invertidos, por isso está incorreta. A letra D está incorreta,
pois o exsudato apresenta proteínas superiores a 3,0g/dL.

4. As letras A, B e D estão incorretas, pois as duas classificações corretas são nível proteico
e nível da desidrogenase lática (LDH).

5. A afirmativa II está incorreta, pois a obtenção do fluido cerebroespinhal pode ser por
punção lombar, suboccipital e cervical lateral.

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REFERÊNCIAS

BARCELOS, L. F; AQUINO J. L. Tratado de Análises Clínicas. Rio de Janeiro: Atheneu, 2018.


(Livro eletrônico).
COMAR, S. R. et al. Análise citológica do líquido cefalorraquidiano. Estudos de Biologia,
Curitiba, v. 31, n. 73-75, p. 93-102, jan./dez. 2009. Disponível em: https://www.researchgate.
net/profile/Samuel-Comar/publication/236585102_Analise_citologica_do_liquido_cefa-
lorraquidiano/links/00b7d51812442d5645000000/Analise-citologica-do-liquido-cefalorra-
quidiano.pdf. Acesso em: 13 abr. 2023.
GUYTON, A. C.; HALL, J. E. Tratado de Fisiologia Médica. 12. ed. Rio de Janeiro: Elsevier,
2011.
MUNDT, L. A.; SHANAHAN, K. Exame de urina e de fluidos corporais de Graff. 2. ed. Porto
Alegre: Artmed, 2012.
PROGRAMA NACIONAL DE CONTROLE DE QUALIDADE. Manual de laboratório da OMS
para o exame e processamento do sêmen humano. 5. ed. Rio de Janeiro: Programa Na-
cional de Controle de Qualidade, 2018. Disponível em: https://pncq.org.br/uploads/pdfs/
manual_laboratorio_oms_A5_web.pdf. Acesso em: 13 abr. 2023.
ROCHA, A. Biodiagnósticos: fundamentos e técnicas laboratoriais. São Paulo: Riddel,
2014. (Livro eletrônico).
SAMPAIO, M. Extensivo residência multiprofissional: enfermeiro. [S. l.]: Cursos na Saúde,
[2023]. Disponível em: https://docplayer.com.br/220202881-Extensivo-ressidencia-multi-
profissional-enfermeiro-disturbios-hidroeletroliticos-equilibrio-liquido-corporal.html. Aces-
so em: 13 abr. 2023.
STRASINGER, S. K.; DI LORENZO, M. S. Urinálise e fluidos corporais. 5. ed. São Paulo: Li-
vraria Médica Paulista, 2009.

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MEU ESPAÇO

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UNIDADE 3
TEMA DE APRENDIZAGEM 4

LÍQUIDO CEFALORRAQUIDIANO
E FLUIDO SINOVIAL
FABIANE HORBACH RUBIN

MINHAS METAS

Nomear as estruturas envolvidas na produção dos líquidos cefalorraquidiano


e sinovial.

Nomear as suas principais funções.

Analisar os aspectos quantitativos e qualitativos dos líquidos cefalorraquidiano


e sinovial.

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UN I C ES UMA R

INICIE SUA JORNADA


Imagine uma amostra de um líquido em sua bancada, dizendo ser uma “biópsia
do líquido cerebral”, com paciente suspeita de meningite. Quais são os primeiros
passos que você, profissional responsável pelo setor, deve fazer?
Antes de qualquer ação, você deve se lembrar dos equipamentos de proteção
individual, ver o prontuário médico, para entender melhor a solicitação, e ter
conhecimento para saber qual a melhor conduta a seguir, uma vez que se trata
de um material delicado e que tem um prazo máximo para a sua análise.
Esse tipo de amostra, geralmente, será encontrado em laboratórios hospitala-
res, o que nos possibilita saber com mais afinco qual a ficha técnica do paciente,
favorecendo assim uma análise mais detalhada.
Por se tratar de uma amostra bastante delicada, frágil e perecível, o profissio-
nal tem que ser ágil, e para que isso seja possível, faz-se necessário ter o máximo
de conhecimento e estar em constante atualização nesse assunto, a fim de não
perder a amostra por demora na sua análise ou até mesmo por não saber como
analisá-la.

P L AY N O CO NHEC I M ENTO

O fluido cerebrospinal e o líquido sinovial são de extrema


importância, pois são líquidos biológicos que conferem
funções muito importantes em nosso corpo. Quer aprender
mais sobre esses fluidos biológicos? Venha comigo neste
podcast! Ouça no seu Ambiente Virtual de Aprendizagem.

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 4

FORMAÇÃO, COMPOSIÇÃO E FISIOLOGIA DO FLUIDO CERE-


BROSPINAL

O fluido cerebrospinal, também conhecido como cefalorraquidiano, líquor ou


simplesmente por LCR (BARCELOS E AQUINO, 2018), é um fluido estéril, de
aparência clara, semelhante ao plasma, que está em íntima relação com o sistema
nervoso central (SNC) e suas membranas. A estrutura do sistema nervoso central
e seus tecidos são muito delicados, por isso, é necessário um sistema de proteção,
que consiste de quatro estruturas: crânio, meninges, fluido cerebrospinal e bar-
reira hematoencefálica.

As meninges são membranas conjuntivas que envolvem o encéfalo e a


medula espinal, que constituem o sistema nervoso central.

Todas essas estruturas estão envoltas por três meninges, conhecidas como dura-
-máter, aracnoide e pia-máter (Figura 1). A dura-máter é a membrana externa que
reveste o crânio e a coluna vertebral. A aracnoide é a membrana intermediária e
a pia-máter é a membrana mais interna (STRASINGER; DI LORENZO, 2009).

Osso

Dura Máter

Aracnóide Máter

Pia Máter

Encéfalo

Vasos Sanguíneos

Figura 1 - Meninges dura-máter, aracnoide e pia-máter.

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UN I C ES UMA R

Descrição da Imagem: a figura ilustrativa de uma parte do Sistema Nervoso Central apresenta uma imagem
em camadas: a primeira, de cima para baixo, representada pela descrição “Osso”, apresenta cor clara; no centro à
esquerda da imagem, em sequência, há uma camada mais fina em azul, representada pela descrição “Dura Má-
ter”; depois, há uma camada ainda mais fina, em tons de rosa claro, representada por “Aracnoide Máter”; e outra
camada, em azul claro com alguns riscos em rosa e duas estruturas arredondadas à esquerda, em vermelho e azul,
representadas por “Vasos Sanguíneos”; em seguida, uma linha fina em tons de roxo representa a “Pia Máter”; e
finalizando, duas camadas em tons de rosa claro estão identificadas como “Encéfalo”.

A inflamação das meninges é chamada de meningite. Provoca febre e rigidez


na nuca. Pode ser causada por microrganismos como bactérias, vírus, fungos
e parasitas. As meningites virais e bacterianas são contagiosas e de maior im-
portância para a saúde pública.

A barreira hematoencefálica (BHE) é formada por células endoteliais que


reveste o plexo coroide alinhada com o epitélio dos capilares, que criam uma bar-
reira entre o sangue circulante e o tecido nervoso, controlando o movimento da
água e dos solutos para o fluido cerebrospinal, bem como do fluido para o tecido
neural (VIEIRA; SOUSA, 2013). Manter a integridade da barreira é essencial
para proteger o sistema nervoso central de substâncias químicas e outras substân-
cias que circulam na corrente sanguínea, que poderiam afetar o tecido nervoso.
Com relação à produção do fluido cerebrospinal, aproximadamente, 70%
dela ocorre nos ventrículos laterais e no terceiro e quarto ventrículo, conhecidos
como plexo coroide, por uma combinação de processos de difusão, pinocitose e
transporte ativo. Sendo os outros 30%, formados pelo revestimento ependimal
dos ventrículos e do espaço subaracnóideo cerebral (MUNDT; SHANAHAN,
2012; BARCELOS; AQUINO, 2018).
O fluido passa dos ventrículos laterais ao terceiro ventrículo através dos fo-
rames intraventriculares. O terceiro ventrículo flui pelo aqueduto cerebral para
o quarto ventrículo. Do quarto ventrículo, parte do fluido entra no canal central
da medula espinhal, no entanto, a maior parte do fluido passa pelas aberturas do
quarto ventrículo. Assim, por entre as aberturas medianas e laterais do quarto
ventrículo, o líquor formado alcança o espaço subaracnóideo e circula de baixo
para cima. Na medula desce em direção caudal, apenas uma parte retorna, pois
há reabsorção nos seios venosos durais por meio de granulações aracnóideas
(STRASINGER; DI LORENZO, 2009).

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 4

O volume produzido normalmente é de 90 a 150 ml em adultos e de 10 a 60


ml em recém-nascidos, com taxa de produção em torno de 500 ml/dia ou 20 ml/
hora (MUNDT; SHANAHAN, 2012).
Plexo coroide do
ventrículo lateral
Cérebro Espaço subaracnóide

Granulação aracnóide/vilos

Pia-Máter
Plexo coroide do Aracnoide
terceiro ventrículo
Dura-Máter

Cerebelo

Plexo coroide do
quarto ventrículo

Medula espinal

Figura 2 - Circulação do líquido cefalorraquidiano / Fonte: Strasinger e Di Lorenzo (2009, p. 194).

Descrição da Imagem: figura ilustrativa de um corte longitudinal do Sistema Nervoso Central. Tomada de forma
ilustrativa, a imagem traz, no ápice, uma estrutura em formato de meia-lua grande, com contornos claros. Logo
abaixo da borda, uma outra meia-lua em azul; abaixo dela, uma estrutura com viscosidades em tom de rosa claro.
Ainda nesta meia-lua, porém no canto inferior direito, há uma estrutura de forma oval com alguns vincos, em tons
de marrom escuro. Ao lado, voltado para o centro da imagem, consta um círculo mais alongado em tons de bege,
o qual vai ao encontro da parte inferior da imagem.

O líquor é composto por aproximadamente 99% de água com concentração


aumentada de magnésio e íons clorídricos, e menor concentração de glicose,
proteínas, aminoácidos, ácido úrico, cálcio, fosfato e íons de magnésio (DIMAS;
PUCCIONI-SOHLER, 2008).
Dentre as funções que o fluido cerebrospinal desempenha, podemos citar a
proteção mecânica que amortece o encéfalo e a medula espinhal contra choques e
pressão. Além da barreira mecânica, o fluido fornece também nutrientes essen-
ciais ao sistema nervoso central, barreira de proteção contra agentes infecciosos,
e por meio dele é realizada excreção de produtos do metabolismo.

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UN I C ES UMA R

COLETA E MANIPULAÇÃO DO FLUIDO


CEREBROSPINAL
A análise do fluido cerebrospinal é indicada para diagnóstico de doenças que afe-
tam o SNC, como meningites, doenças inflamatórias, processos desmielinizantes,
leucemias e linfomas (estadiamento e tratamento), esclerose múltipla, hemorragia
subaracnóidea, tuberculose, neurosífilis, entre outras.
O fluido cerebrospinal pode ser obtido por diferentes vias de acesso, como
lombar, suboccipital e ventricular, sendo a mais utilizada a punção lombar no
espaço intervertebral entre L3 e L4 (MUNDT; SHANAHAN, 2012; LEITE et al,
2016). A região é a mais indicada em virtude do menor risco de dano à medula
espinhal, uma vez que em adultos a medula não atinge essa região.
O procedimento só pode ser realizado pelo profissional médico habilitado.
Antes da coleta, o local é devidamente higienizado e aplicado um anestésico
local (OLIVEIRA et al, 2020). Também, é são feitos alguns questionamentos ao
paciente, como por exemplo, se ele faz uso de medicamentos principalmente
anticoagulantes. O paciente não precisa estar em jejum, deve ser orientado so-
bre os desconfortos e possíveis complicações após a coleta, assinar o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e estar acompanhado.
Após a realização da anestesia, o médico posiciona a agulha na dura-máter
com o paciente, geralmente na posição decúbito lateral e realiza a medição da
pressão intracraniana com aparelho raquimanômetro ligado à seringa, o fluido
é coletado quando a pressão está normal. A pressão inicial e final devem ser me-
didas para análise laboratorial, pois várias doenças podem aumentar a pressão
intracraniana.
A pressão normal em adultos varia de 10 a 200 mmH2O; em bebês e crianças,
o intervalo normal é de 10 a 100 mmH2O (COMAR et al, 2009). Geralmente, são
coletados no mínimo 3 ml em recém-nascidos, 5 ml em crianças, 10 ml em adul-
tos e 13 ml em suspeito de meningite tuberculosa. O volume não pode exceder
de 20 ml (POZZOBON, 2017).

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E U IN D ICO

Assista ao vídeo educacional sobre a técnica, indicações,


contraindicações e possíveis complicações da punção
lombar, produzido pelo New England Journal of Medicine,
traduzido para o português.

O fluido coletado é distribuído em três ou quatro tubos estéreis e sem anticoagu-


lante, devidamente identificados na ordem em que são obtidos (STRASINGER;
DI LORENZO, 2009). O Tubo 1 é encaminhado à seção laboratorial de bioquími-
ca; o Tubo 2, à seção de microbiologia e o Tubo 3, para contagem celular. Caso a
amostra tenha sido coletada apenas em um frasco, deve ser encaminhada à seção
de microbiologia; em seguida, à seção de hematologia e, posteriormente, à seção
de bioquímica e imunologia (STRASINGER; DI LORENZO, 2009).

ANÁLISE LABORATORIAL DO FLUIDO


CEREBROSPINAL
Após a coleta, as amostras são encaminhadas ao laboratório para armazenamen-
to, processamento e análise. A análise deve ser realizada preferencialmente em
até duas horas após a coleta, para evitar a degradação ou alterações morfológicas
das células, diminuição da glicose e concentração de microrganismos (COMAR
et al, 2009).
Como já podemos perceber a análise do fluido cerebrospinal envolve di-
ferentes setores laboratoriais. Diferentes estudos podem ser realizados, entre
eles, podem ser realizadas análise macroscópica (física), análise microscópica
de contagem global de células e contagem diferencial, análise bioquímica, testes
imunológicos e moleculares e culturas microbiológicas.

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UN I C ES UMA R

ANÁLISE MACROSCÓPICA

A análise macroscópica compreende a observação do aspecto, cor, retículo fibri-


noso, e também formação de coágulo.
• Aspecto: o aspecto diz respeito à transparência do fluido. A
turvação começa a aparecer quando ocorre um aumento no
número de células, presença de microrganismos, contraste ra-
diográfico e nível proteico elevado (MUNDT; SHANAHAN,
2012). Outra alteração é quando se apresenta hemorrágico,
indicando hemorragia subaracnóidea ou punção traumática.
Podem ocorrer diferentes graus de turvação no líquor em decorrência da pre-
sença do número de células, recebendo a denominação de pleocitose. O aspecto
pode ser descrito da seguinte forma: límpido (até 45 células), levemente turvo
(de 46 até 300 células), turvo (de 301 a 6.000 células) e purulento (acima de 6.000
células). Com aspecto oleoso, pode ser decorrente da presença de contraste ra-
diológico (POZZOBON, 2017). Caso o aspecto esteja alterado, o fluido deve ser
centrifugado e o aspecto reavaliado, devendo ser informado no laudo o aspecto
antes e após a centrifugação.

ZO O M N O CO NHEC I M ENTO

Pleocitose é aumento do número de leucócitos em fluidos corporais. Em


líquor, está relacionado à vigência de um processo inflamatório do SNC. A
quantidade de células ou o tipo celular predominante pode determinar o
tempo de evolução da patologia e o agente ou grupo de agentes causais.

• Cor: normalmente, o líquor é incolor. Quando anormal, pode


apresentar diferentes cores em decorrência da presença de
substâncias variadas. Quando a cor estiver entre rosa, amare-
lo ou laranja, a amostra é considerada xantocrômica e pode
ocorrer pela hemólise das hemácias, pelas concentrações au-
mentadas de proteínas ou bilirrubina, enquanto eritrocrômico
é proveniente das hemácias recém-hemolisadas.

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 4

ZO O M N O CO NHEC I M ENTO

Xantocromia é considerada fisiológica no período neonatal em virtude da


imaturidade da função hepática no processo de eliminação da bilirrubina.

Quando a espécime apresentar a coloração vermelha, é indicativo de


sangue.

Nesse caso, deve ser realizado o diagnóstico diferencial entre punção traumática
e a hemorragia. Além da prova de três tubos, também podem ser realizadas as
provas de centrifugação e sedimentação (BARCELOS; AQUINO, 2018). No caso
de confirmação de acidente de punção, é feita a correção de células e proteínas
totais do líquido, usando uma fórmula específica.

Prova de sedimentação: consiste em observar a cor do sobrenadante. Caso ele


seja límpido e incolor após centrifugação, é decorrente da punção traumática;
caso fique na cor rosa, é sugestivo de hemorragia.

Prova de sedimentação: consiste em deixar o fluido em repouso após a coleta.


Caso haja a formação de coágulo, trata-se de punção traumática.

Normalmente o fluido cerebrospinal não apresenta retículo, uma vez que não
contém trombina e nem fibrinogênio, o qual pode estar presente em algumas
doenças, como meningite, abscessos encefálicos e poliomielite. A formação de
coágulos pode ocorrer em caso de punção traumática, nas meningites bacterianas
agudas e tuberculosas e neurossífilis.

ANÁLISE CITOLÓGICA

A análise citológica compreende a contagem global de células em hemocitômetro


e a contagem diferencial de leucócitos. A análise citológica deve ser realizada
preferencialmente em caráter de urgência, pois após duas horas, como já vimos,
pode ocorrer a degradação ou alterações morfológicas das células.

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UN I C ES UMA R

Para a realização de contagem global de leucócitos e hemácias, o líquor deve


ser homogeneizado e não pode ser diluído ou congelado. Contudo, em casos
em que a amostra está muito rica em células, pode ser diluída em solução salina
(COMAR et al 2009). As contagens são realizadas em hemocitômetro, sendo o
mais utilizado o hemocitômetro de Fuchs-Rosenthal. O procedimento para con-
tagem global de células varia de acordo com a celularidade da amostra, conforme
mostrado no Quadro 1.
CELULARIDADE PROCEDIMENTO DE CONTAGEM

Contar os 16 quadrados maiores e dividir por


Baixa
3,2.

Contar quatro quadrados maiores, multipli-


Intermediária
car por 4 e dividir por 3,2.

Contar um quadrado maior, multiplicar por


Alta
16 e dividir por 3,2.

Fazer diluição com salina ou líquido de Türk


Altíssima (sobreposição de
(para leucócitos) e multiplicar o resultado
células)
final pelo fator da diluição.

Contar um quadrado menor, multiplicar por


Alta quantidade de hemácias
256 e dividir por 3,2.

Quadro 1 - Procedimento de contagem celular em hemocitômetro de Fuchs-Rosenthal / Fonte: Barcelos


e Aquino (2018, p. 174).

A contagem diferencial de leucócitos é realizada quando a contagem global apre-


senta uma pleocitose. O sedimento obtido após centrifugação, rotineiramente,
é preparado por citocentrifugação. Após a preparação da amostra, ela é corada
por corante do tipo Wright e observada para detecção dos tipos celulares predo-
minantes (MUNDT; SHANAHAN, 2012).
Normalmente deve haver o predomínio de linfócitos (70%), com presença de
alguns monócitos (30%) e quase nenhum neutrófilo. Já os eosinófilos e as células
ependimais raramente são observadas. Quando a pleocitose envolve a presença
de neutrófilos, eosinófilos, linfócitos, monócitos ou macrófagos, a contagem di-

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ferencial fornece importantes informações sobre o tipo de microrganismo que


está causando a meningite (STRASINGER; DI LORENZO, 2009).

A P RO F UNDA NDO

Linfocitose: a pleocitose linfocítica apresenta nos estágios tardios da men-


ingite viral, tuberculosa, fúngica e sifílica, esclerose múltipla e ocasional-
mente em meningite bacteriana.
Neutrofilia: indica meningite bacteriana e processos inflamatórios agudos
da meningite e micótica, virótica e tuberculosa, transformando-se numa
pleocitose num período de dois a três dias. Também é observada em casos
de abscesso cerebral, empiema subdural, hemorragia do SNC e pós-con-
vulsões.
Eosinofilia: em qualquer quantidade, são indicativos de presença de parasi-
tas e fungos no SNC, reação alérgica e drogas.

ANÁLISE BIOQUÍMICA

Na análise bioquímica, geralmente, são realizadas as dosagens de proteínas, lac-


tato desidrogenase (LDH), creatinoquinase (CK), cloreto, glicose, lactato, imu-
noglobulinas e eletroforese. Como já vimos, o líquor é formado pela filtração do
plasma, porém, o processo de filtração é seletivo, ou seja, sua composição química
é controlada pela barreira hematoencefálica, sendo assim, os valores normais do
plasma não são os mesmos do líquor.
• Proteínas: as proteínas de baixo peso molecular podem ter origem
da síntese intratecal. Em sua maioria, são originadas por ultrafil-
tração do plasma pelas paredes capilares nas meninges e plexos
coroides (MUNDT; SHANAHAN, 2012). Os valores normais de
proteínas totais variam no fluido de 15 até 45 mg/dL. Entretanto,
variam com a idade e sítio de coleta, em recém-nascidos e adultos
acima de 40 anos apresentam concentrações mais elevadas, bem
como coletados na punção lombar.

Valores abaixo do normal estão relacionados à perda de fluido no SNC, enquanto


a elevação denominada de hiperproteinorraquia é observada em várias doen-
ças, como danos à barreira hematoencefálica, meningites bacteriana e virótica,

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hemorragia, esclerose múltipla, lesão traumática, encefalite, poliomielite, tumor


cerebral, meningite tuberculosa, abscesso cerebral e medicamentos (STRASIN-
GER; DI LORENZO, 2009). Diversos métodos são usados na determinação de
proteínas totais, frequentemente são usados a turbidimetria, imunoturbidimetria
e método de biureto.
Uma das proteínas específicas avaliadas no líquor é a albumina, derivada da
filtração da barreira hematoencefálica, uma vez que o SNC não sintetiza albumi-
na. Os métodos utilizados para a dosagem da albumina no líquor são a nefelome-
tria (considerado padrão ouro) e a turbidimetria. Os valores de concentração da
albumina variam entre 10 e 30 mg/dL (BARCELOS; AQUINO, 2018).
A avaliação da integridade da barreira hematoencefálica é principalmente
avaliada dosando a proporção albumina líquor/sérica ou um índice albumina
líquor/sérica. De acordo com Mundt e Shanahan (2012).

A proporção normal de albumina líquor/sérica é aproximadamente de


1:230.

Em condições normais, o índice albumina líquor/sérica é menor que 9. Índice


entre 9 e 14 indica comprometimento leve; 15 a 30, comprometimento mode-
rado; superior a 30, comprometimento grave e superior a 100 indica perda total
da barreira hematoencefálica.

Fatores como peso corporal, cigarro, consumo de álcool e hipotireoidismo


influenciam no quociente de concentração de albumina. Também em neonatos
esses quocientes podem ser mais elevados do que em adultos em decorrência
da imaturidade da barreira hematoencefálica.

• Glicose: a concentração de glicose no fluido cerebrospinal é pro-


porcional à concentração de glicose no sangue correspondendo a
60%–70% da concentração do sangue em condições normais. A
variação normal de glicose no LCR corresponde de 50 a 80 mg/dL
com uma proporção normal entre a glicose do fluido e a glicose do
soro de 0,6.

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Os níveis de glicose são importantes para diferenciar a meningite


bacteriana e viral.

A diminuição acentuada e com elevado número de glóbulos brancos e acompa-


nhados de uma neutrofilia são indicativos de meningite bacteriana, entretanto,
se o aumento for de linfócitos ao invés de neutrófilos, é sugestivo de meningite
tuberculosa (STRASINGER; DI LORENZO, 2009).
Nas meningites virais, a diminuição pode ocorrer de forma discreta ou até
mesmo apresentar normal acompanhado de uma linfocitose. A diminuição dos
níveis de glicose no líquor, denominado de hipoglicorraquia pode ser decorren-
te principalmente de alterações nos mecanismos de transporte da glicose através
da barreira hematoencefálica e infecções no SNC, tanto os leucócitos como os
microrganismos consomem glicose (BARCELOS; AQUINO, 2018). A análise da
glicose no líquor e no sangue geralmente é realizada por métodos enzimáticos
colorimétricos.
• Lactato: as concentrações de lactato no fluido cerebrospinal estão
entre 10 e 20 mg/dL (1,1 a 2,2 mmol/L). Diferentemente da glicose,
seu nível independente dos níveis plasmáticos, pois há produção
intratecal. Níveis aumentados de lactato são encontrados na hipóxia
associada à meningite bacteriana, infarto cerebral, arteriosclero-
se cerebral, hemorragia intracraniana, hidrocefalia, lesão cerebral
traumática e edema cerebral (MUNDT; SHANAHAN, 2012). Os
níveis de lactato no líquor são fundamentais na diferenciação da
meningite viral que dificilmente se eleva, o lactato além de 30 mg/dL
de outras formas de meningite (bacteriana, fúngica e tuberculosa)
geralmente é superior a 35 mg/dL.
• Cloreto: os valores normais de cloreto no líquor são entre 118 a
132 mEq/L em adultos. Os níveis diminuídos, denominados de
hipoclorraquia são encontrados principalmente nas meningites
tuberculosa, bacteriana e na criptococose. Os níveis elevados são
encontrados nas nefrites, insuficiência renal e desidratação. O nível
de cloreto não tem muita importância clínica na análise de líquor,
pois sempre que há alteração nos níveis séricos também haverá al-
teração nos níveis no LCR.

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• Eletroforese de proteínas: a eletroforese de proteínas do fluido


cerebrospinal permite avaliar os teores das diferentes frações pro-
teicas. As bandas de proteínas no fluido são similares às encontradas
na eletroforese dos níveis séricos, mas em quantidades e proporções
diferentes.

Estão presentes a transtiretina (pré-albumina) e a albumina, sendo que a quan-


tidade de beta é quase o dobro do presente no soro e a quantidade de gama cor-
responde a praticamente a metade do presente no soro. Também estão presentes
outras bandas de proteínas no líquor, como a transferrina e a alfa1-antitripsina
em pequenas quantidades (MUNDT; SHANAHAN, 2012). A análise eletroforé-
tica das proteínas do líquor é utilizada primariamente para detecção de bandas
oligloconais na região gama, indicando a produção de imunoglobulinas.
A presença de duas ou mais bandas oligloconais que não estejam no soro, são
fundamentais no diagnóstico de esclerose múltipla principalmente acompanha-
do por aumento do índice de IgG. Outras doenças neurológicas como neuros-
sífilis, encefalite e Síndrome de Guillain-Barré podem produzir bandeamento e
estar ausente soro.

ANÁLISE MICROBIOLÓGICA

A amostra do líquor encaminhada para análise microbiológica deve ser mantida


em temperatura ambiente, ou seja, não pode ser resfriada e congelada, uma vez
que a diminuição da temperatura acarreta na diminuição da positividade da
cultura especialmente para as bactérias mais comuns nas infecções das menin-
ges. A amostra após a coleta deve ser enviada imediatamente ao laboratório e o
processamento deve ser realizado urgentemente para evitar a sua contaminação.
Seu processamento se inicia com a centrifugação em 1.500 x g por 15 minutos
para preparação de lâminas e cultura.
A análise microbiológica do fluido cerebrospinal compreende a bacterios-
copia e cultura para identificação do agente etiológico causador das meningites.

A coloração Gram é a principal coloração utilizada para análise


microbiológica microscópica do fluido cerebrospinal.

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Sendo possível a identificação de bactérias Gram-negativas e Gram-positivas,


além de corar todos os fungos como Gram-positivos (BARCELOS; AQUINO,
2018).
A bacterioscopia pela coloração de Gram é realizada como pesquisa obrigató-
ria quando na citologia diferencial houver predomínio de neutrófilo ou quando a
contagem global for superior a 5 células/mm³. De acordo com Barcelos e Aquino
(2018), em casos de suspeita de meningite fúngica observadas durante a colora-
ção Gram, é importante realizar colorações específicas como a Tinta da China ou
nigrosina. Caso exista a suspeita de neurotuberculose, deve ser realizada a pesqui-
sa de BAAR (bacilos álcool-ácido resistentes) pela coloração de Ziehl-Neelsen.
A cultura bacteriológica é considerada padrão ouro na identificação de bac-
térias e testes de sensibilidade aos antibióticos. Deve, então, ser feita em meios
de cultura específicos após resultado da bacterioscopia como o ágar-sangue, tio-
glicolato e ágar chocolate. Os tipos de bactérias frequentemente encontradas em
meningites bacterianas incluem Haemophilus influenzae (um mês a cinco anos),
Neisseria meningitidis (cinco a 29 anos), Streptococcus pneumoniae (29 anos aci-
ma), (BARCELOS; AQUINO, 2018). As meningites podem ser causadas menos
frequentemente por estafilococos, outros estreptococos, Listeria monocytoge-
nes, M. tuberculosis, C. neoformans, leptospiras, amebas e parasitas (MUNDT;
SHANAHAN, 2012).

TESTES IMUNOLÓGICOS

Os testes imunológicos do fluido cerebrospinal não são realizados rotineiramente


nos laboratórios, contudo, alguns podem ser requisitados pelo médico para o
diagnóstico de algumas doenças do SNC. São testes rápidos para detecção de
agentes etiológicos causadores das meningites, sua sensibilidade e especificidade
variam de acordo com os ensaios.
Os exames imunológicos do líquor são indicados em casos de suspeitas de
meningites bacterianas agudas, também para a investigação de sífilis, Cripto-
coccus ssp., cisticercose e toxoplasmose, entre outros. O exame VDRL, do inglês
venereal disease research laboratory, é utilizado no diagnóstico de neurossífilis,
um tipo de sífilis que infecta a medula espinhal e o cérebro.

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Embora o resultado positivo para VDRL confirme o diagnóstico de neuros-


sífilis, podem ocorrer resultados falso-positivos e falso-negativos em decorrên-
cia da alta sensibilidade e baixa especificidade do teste. Em caso de suspeita de
cisticercose, é realizada a técnica de imunofluorescência indireta para pré-diag-
nóstico; caso seja confirmado, será realizado o ensaio enzimático de imunoabsor-
bância (ELISA) para a pesquisa de anticorpos IgG contra o Cysticercus cellulosae
(LEITE et al., 2016).
Existem diversos testes imunológicos para o diagnóstico de microrganismo
no líquor, entre eles, incluem métodos contraimunoeletroforese, aglutinação de
látex, VDRL, teste com anticorpos treponêmico fluorescente e radioimunoensaio.
Esses métodos têm sido utilizados em unidades de emergência, mas não substi-
tuem as colorações microbiológicas e as culturas em virtude da possibilidade de
resultados falso-negativos ou falso-positivos.

A P RO F UNDA NDO

Vimos que a análise do líquor é indispensável no diagnóstico das meningites,


sendo assim, vamos conhecer os resultados laboratoriais para diferenciação
das meningites.
Meningite bacteriana: elevada concentração de leucócitos com
neutrófilos aumentados, elevação das proteínas, diminuição de gli-
cose, nível de lactato superior a 35 mg/dL, bacterioscópico e testes
antigênicos positivos.
Meningite viral: elevada concentração de leucócitos com linfócitos
elevados, proteínas moderadamente aumentadas, nível de glicose e
lactato normal.
Meningite tuberculosa: elevada concentração de leucócitos com
linfócitos e monócitos presentes, moderada a acentuada elevação
de proteínas, nível de glicose diminuído e nível de lactato superior a
25 mg/dl e formação de película.
Meningite fúngica: elevada concentração de leucócitos com lin-
fócitos e monócitos presentes, moderada a acentuada elevação de
proteínas, glicose normal a diminuída, nível de lactato superior a 25
mg/dL, positivo para Cryptococcus neofarmans com Tinta da China
e testes imunológicos.

Fonte: Strasinger e Di Lorenzo (2009).

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LÍQUIDO SINOVIAL
O líquido sinovial é ultrafiltrado plasmático viscoso encontrado nas cavidades
das articulações móveis ou diartroses, conferindo a conexão entre uma extremi-
dade óssea e outra, permitindo-lhe movimento, e são compostos de cartilagem
que revestem as extremidades ósseas, ligamentos, líquido sinovial e cápsula arti-
cular, conforme ilustrado na Figura 3.
Praticamente todas as articulações do corpo humano são revestidas por uma
membrana sinovial, que produzem o líquido sinovial contendo mucina e ácido
hialurônico. A estrutura química do ácido hialurônico contribui para a viscosi-
dade do líquido com função primordial de lubrificação, nutrição, auxiliando no
suporte mecânico e na absorção de impacto da cavidade articular.

Medula óssea amarela


Periósteo
Osso esponjoso
Osso compacto
Ligamento
Membrana sinovial
Cavidade articular (contém líquido sinovial)

Cartilagem articular
Cápsula articular (reforçada por ligamento)

Figura 3 - Esquematização de articulação sinovial / Fonte: Magalhães ([2023], on-line).

Descrição da Imagem: figura ilustrativa de uma parte articular do corpo humano. Tomada de forma ilustrativa, a
imagem traz de cima para baixo, uma estrutura alongada, estreita, com bordas arredondadas em amarelo, represen-
tada por “Medula óssea amarela”. Englobando essa medula, há estrutura em formato em “U” em tons de amarelo
mais escuro com grânulos pretos, que representa o “Osso esponjoso”. Envolvendo esse osso, há uma camada
branca, representada por “Osso compacto”, e ao redor do osso, há uma linha vertical em azul, que representa o
“Periósteo”. Ao centro da imagem, há uma estrutura em tons de vinho, a qual representa a “Cavidade articular”;
mais abaixo dela, há uma estrutura em formato de dente, esbranquiçada, que representa a “Cartilagem articular”;
e abaixo dela, voltam novamente as estruturas já mencionadas acima, e englobando tudo, com o envolto branco
com bordas escuras, está representado o “Ligamento”.

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Os rompimentos das membranas sinoviais provocam dor e rigidez nas articu-


lações, causando a artrite. Atualmente, o estudo do fluido sinovial é um recurso
bastante útil que permite o estabelecimento de diagnóstico de artropatias as-
sociadas a cristais, ajuda no diagnóstico de artrite séptica e ajuda a estabelecer
outros diagnósticos reumatológicos, como monoartrite ou derrame articular,
extrapolando o mero efeito descompressivo da retirada de líquido da articulação.

COLETA E MANIPULAÇÃO DO LÍQUIDO SINOVIAL

A quantidade de líquido sinovial presente na cavidade articular varia com o ta-


manho da articulação e em condições patológicas pode aumentar a quantida-
de do fluido. Na cavidade articular do joelho adulto, o volume normal presente
é inferior a 3,5 ml, mas em condições anormais pode aumentar em até 25 ml
(STRASINGER; DI LORENZO, 2009).

O volume é coletado através de procedimento médico, por punção


aspirativa chamado de artrocentese.

Antes da coleta, o sítio de coleta é higienizado e administrado analgésico local,


uma agulha de calibre adequado é acoplada a uma seringa preferencialmente
heparinizada, pois o fluido patológico pode conter fibrinogênio e coagular. A
maior parte do fluido é obtida da articulação do joelho, das mais atingidas pelas
artrites e também das mais fáceis de aspirar, como o ombro, o cotovelo e o punho.
Após a coleta, o fluido é fracionado em tubos de acordo com os testes a serem
realizados. Para análise microbiológica, são colocadas alíquotas em tubo estéril
heparinizado. Para o setor de citologia, é destinado um tubo heparinizado ou com
ácido etilenodiamino-tetracético (EDTA) para evitar a formação de coágulos e
preservar as estruturas morfológicas das células. Já os tubos destinados aos setores
de bioquímico e imunológico não requerem tubos com anticoagulantes (BAR-
CELOS; AQUINO, 2018). Em alguns casos, são obtidas pequenas quantidades
do fluido. Neste caso, é fundamental que seja obedecida a sequência de setores
do laboratório, sendo o primeiro enviado ao setor de microbiologia para evitar
a contaminação da amostra, posteriormente, ao setor de citologia e, por último,
aos setores de bioquímica e imunologia.

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Vale ressaltar que o procedimento de coleta e envio ao laboratório para testes


em seringa heparinizada ou tubos contendo anticoagulante dependem do volu-
me do fluido obtido e da padronização do laboratório.

Idealmente, as amostras devem ser encaminhadas ao laboratório o


mais breve possível para que os testes e as análises possam acontecer
em no máximo uma hora após a realização da artrocentese.

Ao decorrer desse tempo, os prejuízos às estruturas morfológicas das células,


alterações bioquímicas e os riscos de contaminação por microrganismos são
significativos. Caso não seja possível realizar a análise dentro desse tempo esti-
pulado, a amostra deve ser refrigerada em temperatura entre 2°C e 8°C.
Por fim, a artrocentese é considerada um procedimento simples, mas podem
ocorrer alguns riscos, entre eles, a introdução de infecção na pele, tecido sub-
cutâneo ou intra-articular, reações alérgicas à povidona (solução antisséptica) e
anestésicos e desconforto para o paciente durante o procedimento.

ANÁLISE LABORATORIAL DO LÍQUIDO SINOVIAL

O exame do líquido sinovial está entre os mais importantes exames para com-
plementar a avaliação de pacientes com patologias na cavidade articular, forne-
cendo um diagnóstico específico e orientando o tratamento adequado. A análise
laboratorial do líquido sinovial permite determinar a presença de artrite, bem
como classificar os distúrbios articulares em cinco grupos, numerados de I a IV,
conforme mostrado no Quadro 2.

GRUPO ARTROPATIAS

Osteoartrite
Grupo I - Não inflamatório Artrite traumática
Acromegalia

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GRUPO ARTROPATIAS

Artrite reumatoide
Lúpus eritematoso sistêmico
Febre reumática
Grupo II - Inflamatório
Artrite psoríase
Síndrome Reiter
Colite ulcerativa

Artrite séptica (bactérias, fungos,


Grupo III - Séptica/infeccioso
Micobacterium, vírus etc.)

Grupo IV - Induzido por cristais Pseudogota (condrocalcinose)

Artrite traumática
Grupo V - Hemorrágico Distúrbios de coagulação (hemofilia)
Hemangioma

Quadro 2 - Classificação dos grupos de artropatias / Fonte: Barcelos e Aquino (2018, p. 214).

Os exames laboratoriais comumente realizados do líquido sinovial são a análi-


se macroscópica, a celularidade, contagem diferencial de leucócitos, coloração
Gram, cultura em caso suspeito de infecção e exame microscópico a fresco do
líquido sinovial para identificar células e cristais. No entanto, os exames exatos
frequentemente dependem da suspeita diagnóstica.

ANÁLISE LABORATORIAL DO LÍQUIDO SINOVIAL

A análise física do líquido sinovial compreende a observação do volume, cor,


aspecto, viscosidade e coagulação.
• Volume: como dito anteriormente, o volume do líquido sino-
vial depende do tamanho da articulação o, por exemplo, no
joelho, é inferior a 3,5 ml, sendo que um volume superior é
indicativo de derrame articular. Deve-se, portanto, registrar o
volume de líquido aspirado durante a artrocentese.

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• Cor e aspecto: normalmente o líquido sinovial é incolor e


amarelo pálido, mas, em condições patológicas, pode apre-
sentar outros aspectos, estabelecendo uma relação direta
com a etiologia do derrame. Líquidos amarelos e límpidos
são comuns em artropatias não inflamatórias (Grupo I), já
os líquidos de processos inflamatórios (Grupo II) apresen-
tam uma grande quantidade de leucócitos com tonalidade
acinzentados/turvos. Quando o líquido é de origem séptica
(Grupo III), a amostra é purulenta e bastante turva, enquanto
os líquidos sinoviais leitosos são sugestivos de cristais (Grupo
IV) e líquidos sanguinolentos ou xantocrômicos (Grupo V)
são típicos de hemorragia articular (MUNDT; SHANAHAN,
2012; BARCELOS; AQUINO, 2018). Com a presença de san-
gue no líquido sinovial, assim como no líquido cerebrospinal,
deve ser realizada a diferenciação entre hemorragia articular
e punção traumática pela prova de três tubos, centrifugação
ou sedimentação.

A P RO F UNDA NDO

Além da análise da cor e aspecto do LS, pode conter diferentes inclusões,


como os chamados corpos de arroz decorrentes da degradação da mem-
brana sinovial, observados na artrite reumatoide e também podem ser ob-
servadas partículas pigmentadas, que se assemelham à pimenta moída, que
são fragmentos de próteses articulares metálicas ou plásticas (BARCELOS;
AQUINO, 2018).

• Viscosidade: a viscosidade do líquido é avaliada ao observar


a sua consistência na passagem da seringa para os tubos de
vidro. A viscosidade do LS é decorrente da polimerização do
ácido hialurônico fundamental na lubrificação das articula-
ções. Existem diferentes métodos para medir a viscosidade do
líquido sinovial, sendo o mais comum a realização de teste fio,
que observa a capacidade do LS formar um filamento a partir

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da abertura da seringa, normalmente formará um filamento


de entre 3 cm e 5 cm de comprimento (MUNDT; SHANAH-
AN, 2012). A diminuição da viscosidade indica a presença de
artropatias inflamatórias.
• Coagulação: normalmente o LS não coagula, porém, quando
ocorre um processo patológico, pode conter alta quantidade
de fibrinogênio e fatores proteicos de coagulação, podendo
assim formar pequenos coágulos. O teste de coágulo de mu-
cina, também chamado de teste de Ropes, é usado para avaliar
a integridade do complexo ácido hialurônico-proteína (mu-
cina). O teste reflete a polimerização do hialuronato pela pre-
cipitação do sal proteico, após a adição de ácido acético a 2%.

De acordo com Barcelos e Aquino (2018), a qualidade do coágulo é avaliada


depois de duas horas da seguinte maneira:
Boa: forma um coágulo consistente e viscoso, considerado normal;
Fraco: quando forma um coágulo macio e o sobrenadante ligeiramente
turvo;
Pobre: coágulo pequeno e turvo;
Muito pobre: manchas de precipitado e sobrenadante turvo.

ANÁLISES BIOQUÍMICAS

Como o líquido sinovial é um ultrafiltrado plasmático, os valores das


concentrações bioquímicas são semelhantes aos valores encontrados
no soro.

Os testes mais solicitados nas análises de LS são glicose, proteínas, ácido úrico e
lactato. As determinações bioquímicas no LS têm pouca importância no diagnós-
tico da maioria das artropatias, pois não fornecem informações além das obtidas
em outros exames realizados.

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GLICOSE

Os níveis de glicose normal no LS são 10 mg/dL inferiores aos níveis séricos. A


concentração deve ser sempre comparada com a glicemia preferencial-
mente após jejum de oito horas para permitir o equilíbrio entre os dois fluidos.
Valores diminuídos são indicativos de processos inflamatórios (Grupo II), com
redução entre 0 a 20 mg/dL no líquido sinovial ou séptico (III), com níveis de
redução superior entre 20 a 100 mg/dL no líquido sinovial (BARCELOS; AQUINO,
2018).

PROTEÍNAS

As grandes moléculas de proteínas não são filtradas pela membrana sinovial, que
incluem fibrinogênio, beta 2 macroglobulinas e alfa 2 macroglobulinas. A con-
centração normal é entre 1 e 3 g/dL, valores aumentados são encontrados em
processos inflamatórios, como espondilite anquilosante, artrite, gota, psoríase,
síndrome de Reiter, e doença de Crohn (BARCELOS; AQUINO, 2018).

ÁCIDO ÚRICO

Normalmente o ácido úrico no líquido sinovial varia de 6 a 8 mg/dL. A dos-


agem de ácido úrico é essencial em casos suspeitos de gota em que a pesquisa
de cristais de ácido úrico no líquido sinovial tenha sido negativa. Dessa forma,
quando a dosagem de ácido úrico é mais elevada no líquido sinovial do que no
soro, é indicativo de gota. Os valores aumentados no LS podem levar à formação
de cristais de urato de monossódico (UMS), resultando em processo inflamatório
agudo e doloroso (MUNDT; SHANAHAN, 2012).

Vários cristais podem ser encontrados no líquido sinovial, sendo os mais comuns
o urato monossódico (UMS) e pirofosfato de cálcio (PFC). Podem ser encontra-
dos intracelularmente (dentro dos neutrófilos) ou livres no líquido articular. Os
cristais de urato de monossódico são encontrados em caso de artrite de gota, já
os pirofosfatos de cálcio são encontrados principalmente dentro de leucócitos e
macrófagos na pseudogota.

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A gota é causada pela hiperuricemia. Entre as causas observadas nos pacien-


tes com essa doença, está a ingestão dietética de purinas, álcool e frutose, além
de tratamento quimioterápico de leucemias e diminuição na excreção renal de
ácido úrico (PINHEIRO, 2008). A pseudogota está associada à artrite degenera-
tiva, resultando na calcificação da cartilagem e distúrbios, causando o aumento
dos níveis séricos de cálcio.
Para a realização de pesquisa de cristais no líquido sinovial, é colocada uma
gota do líquido a fresco sobre uma lâmina e coberta com uma lamínula, em pri-
meiro momento, a lâmina pode ser examinada em pequeno e grande aumento
no microscópio óptico regular. Além do exame de preparo a fresco, também
pode ser usada a luz polarizada e luz polarizada compensada para identificação
dos cristais. Os cristais UMS normalmente são vistos em formato pontiagudos,
enquanto os cristais PFC são vistos em formato rômbico ou quadrado.

• Lactato: a medição do lactato no líquido sinovial pode ser útil


no diagnóstico de artrite séptica. O nível normal no LS é inferior
a 25 mg/dL, enquanto na artrite séptica pode ser superior a 1.000
mg/dL.

CONTAGEM CELULAR

A contagem global de células do líquido sinovial, assim como no líquido cere-


brospinal, é realizada manualmente no hemocitômetro de Neubauer ou Fuchs-
-Rosenthal. Quando houver um elevado número de células no líquido, poderá
ser utilizada a diluição, utilizando uma solução salina. No caso do grande número
de glóbulos vermelhos, poderá ser usada uma solução salina hipotônica ou um
ácido fraco.
A contagem diferencial de leucócitos deve ser realizada preferencialmente
em citocentrifugação. Tanto a contagem global como a diferencial são de grande
importância na análise do líquido sinovial para a distinção entre um líquido
séptico, inflamatório e não inflamatório. A contagem de leucócitos inferior a
150 células/µL é considerada normal, sendo sua distribuição média em torno

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de 10% neutrófilos, 25% de linfócitos, 50% de monócitos, 10% de macrófagos e


5% de células de revestimento sinovial (BARCELOS; AQUINO, 2018). Alguns
pesquisadores consideram a contagem normal de até 200 células/µL.
Em casos de infecções graves, a contagem global pode chegar a 100.000 cé-
lulas/µL. No início de uma artrite séptica, o número de leucócitos pode se apre-
sentar normal ou discretamente aumentado, podendo ser relacionado a uma
artropatia inflamatória não infecciosa. Com isso, a infiltração de leucócitos é
relacionada não apenas à etiologia do processo, mas também ao tempo de ex-
posição ao agente.
De acordo com a classificação do líquido sinovial, valores de leucócitos en-
tre 200 e 3.000 mm3 com aumento de monócitos e linfócitos são indicativos de
patologias não inflamatórias (Grupo I); contagem de leucócitos entre 3.000 a
7.500 mm3 com valores elevados de neutrófilos são indicativos de artropatias
inflamatórias (Grupo II); entre 50.000 e 200.000 com neutrófilos acima de 90%
são encontrados nas artrites sépticas (grupo III) e; no grupo IV (induzidas por
cristais), pode variar entre 500 a 200.000 mm3 (BARCELOS; AQUINO, 2018).
Vale destacar que tanto a quantidade como a relação diferencial de leucócitos
não são específicos a um determinado grupo de classificação de artropatias, ou
seja, pode apresentar relação com um ou mais grupos. Durante a interpretação,
devem ser levados em consideração alguns aspectos, como por exemplo, a carac-
terística do agente etiológico, tempo de exposição ao agente, tempo de mobiliza-
ção celular e característica de integridade do paciente para estabelecer a correta
identificação e tratamento adequado da patologia articular.

ANÁLISE MICROBIOLÓGICA

Assim como no líquido cerebrospinal, a análise microbiológica ajuda a diag-


nosticar várias patologias provocadas por agentes infecciosos, como bactérias,
Mycobacterium, vírus e fungos, sendo as bactérias mais comuns. Esses microrga-
nismos penetram a cavidade articular através da corrente sanguínea, decorrente
de infecções, como pneumonia, meningite e septicemia, além disso, podem ser
introduzidos durante a artroscopia e cirurgias articulares prostéticas. A identi-
ficação de microrganismos no líquido sinovial é realizada pela coloração por

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Gram e Ziehl-Neelsen e cultura em meios enriquecidos, como ágar sangue e ágar


chocolate. Os microrganismos mais comuns no LS são Staphylococcus e Strepto-
coccus. Em sepse articular, 50% dos casos são positivos em coloração por Gram.

Acesse seu ambiente virtual de aprendizagem


e confira a aula referente a esse tema.

NOVOS DESAFIOS
Com estas informações, foi possível compreender o quão valioso, perecível, de-
licado e processual são as amostras dos líquidos cefalorraquidiano e sinovial.
Também, o quanto elas estão correlacionadas com outros setores laboratoriais e
a complexidade de seus resultados.
Esses conhecimentos são de extrema necessidade e importância no ambiente
laboratorial. Dessa forma, você deve sempre estar atento(a) aos detalhes, correla-
ções entre exames, entre outros aspectos abordados no contexto.
Se o ambiente hospitalar é uma das áreas de sua pretensão de trabalho, apro-
veite e revise todas as informações que constam neste material.

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VAMOS PRATICAR

1. O fluido coletado é distribuído em três ou quatro tubos estéreis e sem anticoagulante,


devidamente identificados na ordem em que são obtidos (STRASINGER; DI LORENZO,
2008). O tubo 1 é encaminhado à seção laboratorial de bioquímica, o tubo 2 à seção de
microbiologia e o tubo 3 para contagem celular.

Os níveis de glicose são importantes para diferenciar a meningite bacteriana e viral. A


diminuição acentuada e com elevado número de glóbulos brancos e acompanhados de
uma neutrofilia são indicativos de meningite bacteriana, entretanto se o aumento for de
linfócitos ao invés de neutrófilos é sugestivo de meningite tuberculosa (STRASINGER; DI
LORENZO, 2008).

Com base nisso, leia o caso hipotético a seguir:

Criança com 8 anos de idade é levada à emergência do hospital, mãe relata que a criança
iniciou febre há 15 dias de 39 ºC, apresentava ainda cefaleia, perda de apetite e náuseas.
O médico solicitou punção lombar e 10 mL de líquor turvo foi coletado. Foram solicitadas
a bacterioscopia e cultura, dosagens de proteínas totais, cloreto, glicose e contagem de
células.

Descreva como o líquido seria rotineiramente coletado e quais os achados para um diag-
nóstico de meningite bacteriana.

2. Para análise microbiológica são colocadas alíquotas em tubo estéril heparinizado; para
o setor de citologia um tubo heparinizado ou com ácido etilenodiamino-tetracético
(EDTA), para evitar a formação de coágulos e preservar as estruturas morfológicas das
células; já os tubos destinados aos setores de bioquímico e imunológico não requerem
tubos com anticoagulantes (BARCELOS; AQUINO, 2018).

A dosagem de ácido úrico é essencial em casos suspeitos de gota em que a pesquisa


de cristais de ácido úrico no líquido sinovial tenha sido negativa. Dessa forma, quando
a dosagem de ácido úrico é mais elevada no líquido sinovial do que no soro, temos um
indicativo de gota. Os valores aumentados no LS podem levar a formação de cristais de
urato de monossódico (UMS), resultando em processo inflamatório agudo e doloroso
(MUNDT; SHANAHAN, 2012).

Vários cristais podem ser encontrados no líquido sinovial sendo, os mais comuns o urato
monossódico (UMS) e o pirofosfato de cálcio (PFC).

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VAMOS PRATICAR

A gota é causada pela hiperuricemia, assim como ingestão dietética de purinas, álcool e
frutose, além de tratamento quimioterápico de leucemias e diminuição na excreção renal
de ácido úrico (PINHEIRO, 2008). A pseudogota está associada à artrite degenerativa,
resultando na calcificação da cartilagem e distúrbios, causando o aumento dos níveis
séricos de cálcio.

Com base nisso, leia o caso hipotético a seguir:

Uma mulher de 45 anos de idade procura a emergência do hospital com dor e inchaço
no joelho esquerdo. O médico realiza a artrocentese, e 20 mL de líquido sinovial leitoso
é coletado. São solicitados bacterioscópicos, cultura, pesquisa de cristal e dosagem de
ácido úrico.

Com base nas informações fornecidas, descreva os tubos que o líquido seria rotinei-
ramente colocado, se o nível de uricemia do paciente será elevado e quais os tipos de
cristais e distúrbios prováveis.

3. A análise citológica compreende a contagem global de células em hemocitômetro e a


contagem diferencial de leucócitos.

Na análise bioquímica, geralmente são realizadas as dosagens de proteínas, lactato


desidrogenase (LDH), creatinoquinase (CK), cloreto, glicose, lactato, imunoglobulinas e
eletroforese.

A análise microbiológica do fluido cerebrospinal compreende a bacterioscopia e cultura


para identificação do agente etiológico causador das meningites.

A turvação começa a aparecer quando ocorre um aumento no número de células, pre-


sença de microrganismos, contraste radiográfico e nível protéico elevado (MUNDT; SHA-
NAHAN, 2012). Outra alteração é quando se apresenta hemorrágico, indicando hemorragia
subaracnóidea ou punção traumática.

Normalmente o líquor é incolor.

A produção do fluido cerebrospinal ocorre principalmente no plexo coroide. O volume


produzido, normalmente é de 90 a 150 mL em adultos, composto majoritariamente por
água, normalmente límpido e incolor. Diante de uma anormalidade, por sua vez, pode
apresentar-se turvo, purulento ou tingido com pigmentos.

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VAMOS PRATICAR

Sobre as análises laboratoriais do líquor, assinale a alternativa correta:

a) A análise citológica compreende apenas a contagem global de hemácias e leucócitos.


b) Análises bioquímica e microbiológica são eventualmente realizadas e correspondem,
respectivamente, às dosagens de proteínas e glicose e identificação de agentes in-
fecciosos.
c) Amostras hemorrágicas são decorrentes de hemorragias ou acidente de punção.
d) Em condições patológicas, o líquor pode apresentar límpido e incolor.
e) Amostras hemorrágicas são decorrentes de hemorragias, apenas.

4. O exame do líquido sinovial está entre os mais importantes exames para complementar
a avaliação de pacientes com patologias na cavidade articular, fornecendo um diagnós-
tico específico e orientando o tratamento adequado. A análise laboratorial do líquido
sinovial permite determinar a presença de artrite, bem como classificar os distúrbios
articulares em cinco grupos, numerados de I a IV, conforme mostra a tabela a seguir:

Grupo Artropatias

Osteoartrite
Grupo I - Não inflamatório Artrite traumática
Acromegalia

Artrite reumatoide
Lúpus eritematoso sistêmico
Grupo II - Inflamatório Febre reumática
Artrite psoríase
Síndrome Reiter
Colite ulcerativa

Grupo III - Séptica/infeccioso Artrite séptica (bactérias, fungos, Mico-


bacterium, vírus...)

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VAMOS PRATICAR

Grupo IV - Induzido por cristais Pseudogota (condrocalcinose)

Fluido amniótico Amniocentese

Artrite traumática
Grupo V - Hemorrágico Distúrbios de coagulação (hemofilia)
Hemangioma

Tabela 1 - Classificação dos grupos de artropatias


Fonte: Barcelos e Aquino (2018, p. 214).

A diminuição da viscosidade indica a presença de artropatias inflamatórias. A concen-


tração deve ser sempre comparada com a glicemia preferencialmente após jejum de 8
horas, para permitir o equilíbrio entre os dois fluidos. Valores diminuídos são indicativos
de processos inflamatórios (Grupo II), com redução entre 0 e 20 mg/dL no líquido sinovial
ou séptico (III) com níveis de redução superior entre 20 e 100 mg/dL no líquido sinovial
(BARCELOS; AQUINO, 2018).
De acordo com a classificação do líquido sinovial, valores de leucócitos entre 200 e 3.000
mm3, com aumento de monócitos e linfócitos, são indicativos de patologias não inflama-
tórias (Grupo I); contagem de leucócitos entre 3.000 e 7.500 mm3, com valores eleva-
dos de neutrófilos, são indicativos de artropatias inflamatórias (Grupo II); entre 50.000 e
200.000, com neutrófilos acima de 90%, são encontrados nas artrites sépticas (Grupo III);
e no Grupo IV (induzidas por cristais) pode variar entre 500 e 200.000 mm3 (BARCELOS;
AQUINO, 2018).

A análise laboratorial do líquido sinovial permite determinar a presença de artrite, bem


como classificar os distúrbios articulares em não inflamatórios, inflamatórios, infecciosos/
sépticos, induzidos por cristais e hemorrágicos. Determinada amostra de LS apresenta
alterações como baixa viscosidade, níveis de glicose reduzidos e valores de leucócitos
superior a 200.000 mm3, com neutrófilos acima de 90%. Com base nos resultados obtidos
nessa amostra, classifique V para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas:

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VAMOS PRATICAR

( ) Processo induzido por cristais.


( ) Processo não inflamatório.
( ) Processo infeccioso ou séptico.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta:

a) V - F - V.
b) F - V - F.
c) V - V - F.
d) F - F - V.
e) V - V - V.

5. A identificação de microrganismos no líquido sinovial é realizada pela coloração por


Gram e Ziehl-Neelse, e cultura em meios enriquecidos como ágar sangue e ágar cho-
colate.

Os níveis de glicose são importantes para diferenciar a meningite bacteriana e viral.

Os cristais de urato de monossódico são encontrados em caso de artrite de gota, já os


pirofosfatos de cálcio são encontrados principalmente dentro de leucócitos e macrófagos
na pseudogota.

A coleta dos líquidos cerebrospinal e sinovial é realizada inserindo uma agulha específi-
ca em suas cavidades e aspirando o líquido com uma seringa. Depois da coleta podem
ser realizados diversos exames, incluindo avaliação macroscópica, testes bioquímicos,
contagem global e diferencial de células e exames para doenças infecciosas, ajudando
no diagnóstico e tratamento do paciente. Com base nessas informações, analise as afir-
mativas a seguir:

As culturas do líquido sinovial são geralmente plaqueadas em meios enriquecidos com


ágar sangue e ágar chocolate.

II. Na análise bioquímica do fluido cerebrospinal os níveis de glicose são importantes para
diferenciar a meningite bacteriana e viral.

III. Os cristais de urato monossódico são associados à pseudogota, enquanto os cristais


de pirofosfato de cálcio estão associados à gota.

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VAMOS PRATICAR

É correto o que se afirma em:

a) I e II, apenas.
b) II, apenas.
c) I e III, apenas.
d) III, apenas.
e) II e III, apenas.

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CONFIRA SUAS RESPOSTAS

1. O fluido coletado é distribuído em três ou quatro tubos estéreis e sem anticoagulante,


enumerados na ordem em que são obtidos. O tubo 1 é encaminhado à seção de bioquí-
mica, o tubo 2 à seção de microbiologia e o tubo 3 para contagem celular. Na meningite
bacteriana, o fluido é turvo e esbranquiçado, acompanhado de concentrações elevadas
de proteínas e reduzidas de glicose. Números de leucócitos aumentados com neutró-
filos em maior porcentagem. Bactérias podem ser visualizadas em colorações Gram e
confirmadas na cultura.

2. Para análise microbiológica deve ser colocadas alíquotas em tubo estéril heparinizado e
amostras destinadas ao setor de bioquímica, tubos sem anticoagulantes. O líquido leitoso
pode ser observado quando cristais estão presentes no líquido, sendo os mais comuns
o urato monossódico encontrados nos casos de gota, e os de pirofosfato de cálcio nos
casos de pseudogota. A gota é causada pela hiperuricemia, bem como pela ingestão
dietética de purinas, álcool e frutose. A pseudogota está associada à artrite degenerativa
resultando na calcificação da cartilagem e distúrbios, causando o aumento dos níveis
séricos de cálcio.

3. A letra A está incorreta, pois além da contagem de hemácias e leucócitos é feita a conta-
gem diferencial de leucócitos. A letra B está está incorreta, pois as análises bioquímicas
e microbiológicas sempre são realizadas.

A letra D está incorreta, pois o líquor estará límpido e incolor em condições normais.

4. As duas primeiras afirmativas são falsas, pois este quadro é característico de processo
infeccioso ou séptico.

5. A afirmativa III está incorreta, pois está ao contrário: os cristais de urato de monossódico
são encontrados em caso de artrite de gota, já os pirofosfatos de cálcio são encontrados
principalmente dentro de leucócitos e macrófagos na pseudogota.

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REFERÊNCIAS

BARCELOS, L. F; AQUINO J. L. Tratado de análises clínicas. Rio de Janeiro: Atheneu, 2018.


(Livro eletrônico).
COMAR, S. R. et al. Análise citológica do líquido cefalorraquidiano. Estudos de Biologia,
Curitiba, v. 31, n. 73-75, p. 93-102, jan./dez. 2009. Disponível em: https://www.researchgate.
net/profile/Samuel-Comar/publication/236585102_Analise_citologica_do_liquido_cefa-
lorraquidiano/links/00b7d51812442d5645000000/Analise-citologica-do-liquido-cefalorra-
quidiano.pdf. Acesso em: 14 abr. 2023.
DIMAS, L. F.; PUCCIONI-SOHLER, M. Exame do líquido cefalorraquidiano: influência da tem-
peratura, tempo e preparo da amostra na estabilidade analítica. Jornal Brasileiro de Pato-
logia e Medicina Laboratorial, Rio de Janeiro, v. 44, n. 2, p. 97-106, abr. 2008. Disponível
em: https://www.scielo.br/j/jbpml/a/GXw9q7VLbW9ssTL3bpYPq6H/?lang=pt. Acesso em:
14 abr. 2023.
LEITE A. A. et al. Análise do líquido cefalorraquidiano: revisão de literatura. Atas de Ciências
da Saúde, São Paulo, v. 4, n. 3, p. 1-24, jul./set. 2016. Disponível em: https://revistaseletro-
nicas.fmu.br/index.php/ACIS/article/view/1186/1000. Acesso em: 14 abr. 2023.
MAGALHÃES, L. Articulações do corpo humano. Toda Matéria, [2023]. Disponível em: ht-
tps://www.todamateria.com.br/articulacoes-do-corpo-humano/. Acesso em: 14 abr. 2023.
MUNDT, L. A.; SHANAHAN, K. Exame de urina e de fluidos corporais de Graff. 2. ed. Porto
Alegre: Artmed, 2012.
OLIVEIRA, J. P. S. et al. Cerebrospinal fluid: history, collection techniques, indications, con-
traindications and complications. Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laborato-
rial, Rio de Janeiro, v. 56, p. 1-11, 2020. Disponível em: https://www.scielo.br/j/jbpml/a/
DpqyKS9CXBM7dY3QdXvFB6F/?lang=en. Acesso em: 14 abr. 2023.
PINHEIRO G. R. C. Revendo a orientação dietética na gota. Revista Brasileira de Reumato-
logia, São Paulo, v. 48, n. 3, p. 157-161, maio/jun. 2008. Disponível em: https://www.scielo.
br/j/rbr/a/SqgZzzNfzRk4BBTfkHJkC4M/?lang=pt. Acesso em: 14 abr. 2023.
POZZOBON, A. Biomedicina na prática: da teoria à bancada. Lajeado: Univates, 2017. Dis-
ponivel em: https://www.univates.br/editora-univates/media/publicacoes/233/pdf_233.
pdf. Acesso em: 14 abr. 2023.
STRASINGER, S. K.; DI LORENZO, M. S. Urinálise e fluidos corporais. 5. ed. São Paulo: Li-
vraria Médica Paulista, 2009.
VIEIRA, G. D.; SOUSA, C. M. Aspectos celulares e fisiológicos da barreira hematoencefáli-
ca e sua relação com as doenças neurodegenerativas. Journal of Health and Biological
Sciences, v. 1, n. 4, p. 166-170, 2013. Disponível em: https://periodicos.unichristus.edu.br/
jhbs/article/view/38/36. Acesso em: 14 abr. 2023.

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TEMA DE APRENDIZAGEM 5

SÊMEN E LÍQUIDO AMNIÓTICO


FABIANE HORBACH RUBIN

MINHAS METAS

Nomear as estruturas envolvidas na produção dos líquidos seminal


e amniótico.

Analisar os aspectos quantitativos e qualitativos dos líquidos seminal


e amniótico.

Compreender a composição celular normal e anormal dos líquidos.

Compreender o significado dos principais achados macroscópicos e


microscópicos das amostras dos líquidos estudados.

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INICIE SUA JORNADA


Com a vasta qualificação e especialização dos médicos, a rotina laboratorial acaba
tendo uma maior demanda de amostras, antes não muito rotineiras, como no
caso de líquido seminal e amniótico. Se essas amostras chegarem ao seu labora-
tório/setor, você está apto para analisá-las?
A falta de conhecimento frente à análise desses materiais pode ser desfavo-
rável, uma vez que ter a disponibilidade de analisar diversas amostras amplia as
possibilidades de clientes, traz credibilidade, além de ser uma ótima oportunidade
de para que o profissional se torne referência nesses exames, por conta de serem
amostras antes não muito analisadas.
Esteja à frente das atualizações, traga formas práticas de analisar esses mate-
riais, capacite-se e esteja sempre em contato com os médicos, que solicitam esse
tipo de amostra. Isso também irá favorecer uma melhor aprendizagem.
E lembre-se: estar seguro no que faz traz credibilidade e fideliza muitos pa-
cientes, permitindo que o profissional se sobressaia no trabalho.

P L AY N O CO NHEC I M ENTO

Você já ouviu falar em sêmen e líquido amniótico? São fluí-


dos biológicos importantes para o sistema reprodutor mas-
culino e para a gestação, respectivamente. Venha comigo
neste podcast e conheça! Ouça no seu Ambiente Virtual de
Aprendizagem.

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 5

LÍQUIDO SEMINAL

A análise do líquido seminal é o primeiro teste a ser solicitado para avaliar a saúde
da próstata e qualidade dos espermatozoides, e para auxiliar na investigação da
infertilidade masculina.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a infertilidade é um


problema de saúde mundial que afeta em torno de 48 milhões de casais e 186
milhões de pessoas ao redor do mundo, e, no Brasil, cerca de 8 milhões de in-
divíduos podem ser inférteis (MALAVÉ-MALAVÉ, 2022).

O aparelho reprodutor masculino é formado basicamente por estruturas externas


e internas. O pênis e o saco escrotal são estruturas externas do aparelho repro-
dutivo masculino, enquanto os testículos, epidídimos, canal deferente, glândulas
seminais, glândulas bulbouretrais, ducto ejaculatório, uretra e próstata são as
estruturas internas. Os testículos são duas glândulas ovais localizadas no saco
escrotal, formados pelos túbulos seminíferos, onde ocorre a produção de esper-
matozoides pelo de processo espermatogênese e a produção de hormônios, como
a testosterona (LAGE, 2013).

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Após a conclusão da espermatogênese, os espermatozoides migram e ficam


armazenados no epidídimo, onde completam sua maturação e desenvolvem o
flagelo. No momento da ejaculação, eles são impulsionados pelos ductos deferen-
tes para o interior dos ductos ejaculatórios, os quais recebem os espermatozoides,
bem como as secreções das glândulas seminais, próstata e das glândulas bulbou-
retrais, e formam a mistura conhecida como sêmen ou esperma. Assim, durante a
ejaculação, o sêmen é expelido do corpo (STRASINGER; DI LORENZO, 2009).

Vesícula
seminal Bexiga

Ducto
deferente
Uretra

Epidídimo
Pênis

Testículo

Figura 1 - Órgãos internos do sistema reprodutor masculino / Fonte: Mundo Educação ([2023a], on-line).

Descrição da Imagem: na figura ilustrativa, de forma frontal, pode-se observar órgãos internos do sistema re-
produtor masculino. Na parte superior e ao centro da imagem, é possível observar uma estrutura em “meia-taça”
avermelhada, representada pela “bexiga”. Ao final dessa estrutura, ilustra-se pequenos círculos maciços em con-
junto, em tom de amarelo escuro, os quais representam a “vesícula seminal”. Da metade da “bexiga”, descem duas
linhas amarelo escuro, uma para a esquerda e outra para a direita, representando os “ductos deferentes”, os quais
vão descer até estruturas delgadas, caracterizadas como “epidídimos”, que estão na lateral de estruturas ovais
avermelhadas, caracterizadas pelos “testículos”, um fica ao lado esquerdo e outro ao direito de uma estrutura em
formato de “u”, caracterizado pelo “pênis”. No interno do “pênis“, há um canal mais escuro, que caracteriza a “uretra”.

Os espermatozoides representam apenas 1% do volume total do


esperma, o líquido seminal, levemente alcalino, composto de ácido cítrico,
flavinas, potássio e elevadas concentrações de frutose, constitui de 45% a 85%
do sêmen (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2008). O fluido prostático, composto
de fosfatase ácida, ácido cítrico, zinco e enzimas, contribui, em torno de 23%,
sendo responsável pela coagulação e liquefação do sêmen.

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 5

Já as glândulas bulbouretrais contribuem com 1% do volume do sêmen,


ajudando a neutralizar a acidez da próstata e da vagina.
Conforme dito anteriormente, os espermatozoides são formados nos testícu-
los, especificamente nos túbulos seminíferos, a partir de um processo chamado
espermatogênese.

A espermatogênese se inicia ainda na fase embrionária do homem.

Esse processo é dividido em fase espermatocitogênese, fase meiótica e esper-


miogênese; o processo completo leva aproximadamente 74 dias (BARCELOS;
AQUINO, 2018).
A partir das células germinativas primordiais, são formadas as espermatogô-
nias após sucessivas mitoses. Por volta dos 13 anos, elas se multiplicam, e algumas
se diferenciam em espermatócitos primários. Estes se dividem por meiose, resul-
tando em espermatócitos secundários, que se dividem novamente e se tornam
espermátides, as quais perdem parte do citoplasma e desenvolvem, a partir do
centríolo, um flagelo. Assim, por processo denominado espermiogênese, diferen-
ciam-se em espermatozoides.

A espermatogênese é um processo altamente regulado por


hormônios, como o hormônio de crescimento (HGH), a testosterona, o
hormônio luteinizante (LH) e o hormônio folículo estimulante (FSH).

Os espermatozoides são formados por três partes básicas: cabeça, peça interme-
diária e cauda. A cabeça possui a estrutura em formato oval, a qual contém o
núcleo e em sua extremidade, o acrossoma – estrutura em formato de capuz, que
contém enzimas, que auxiliam na penetração do ovócito no momento da fecun-
dação. Na peça intermediária, são encontradas mitocôndrias responsáveis pela
produção de energia necessária para a motilidade da cauda com movimentos
espiralados e rotacionais (STRASINGER; DI LORENZO, 2009).

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Peça
Cauda intermediária Cabeça

Núcleo
Microtúbulos
Acrossomo

Figura 2 - Principais estruturas do espermatozoide / Fonte: Mundo Educação ([2023b], on-line).

Descrição da Imagem: figura ilustrativa de um espermatozoide. Tomada de forma frontal, pode-se observar, da
esquerda para a direita, uma linha sinuosa arredondada rosa claro, que vai ficando mais espessa até o centro da
imagem, representada pela nomenclatura “cauda”. A partir dessa estrutura, há a presença de várias esferas em
tons de amarelo claro, dispostas ao redor de uma estrutura, representada pela nomenclatura “peça intermediária”.
A partir dela, encontra-se uma estrutura oval e achatada, com interior em tons de roxo, azul, verde e vermelho,
caracterizada pela nomenclatura “cabeça”.

Cabe destacar que, durante a formação dos espermatozoides, pode-se apresentar


alguma anormalidade morfológica, como por exemplo, com mais de uma cabe-
ça, com tamanhos fora da média ou ainda com diferentes números de caudas.
Quanto maior a quantidade de espermatozoides com morfologia anormal, maior
será a possibilidade de infertilidade masculina.

COLETA E MANIPULAÇÃO DO SÊMEN

O exame que analisa o sêmen é denominado de espermograma, solicitado por


médicos urologistas e especialistas em reprodução humana, imprescindível na
avaliação da fertilidade masculina, assim como para avaliar parâmetros quanti-
tativos e qualitativos, que ajudam no diagnóstico de infertilidade masculina, bem
como de vários fatores de risco, os quais devem ser identificados, controlados ou
tratados, incluindo o uso de drogas entorpecentes, alcoolismo, tabagismo, medi-
camentos, doenças infecciosas, distúrbios hormonais, varicocele, criptorquidia,
entre outros.

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 5

De forma geral, o exame de espermograma realiza análises em duas esferas


distintas, sendo a primeira delas a análise macroscópica e a segunda, a análise
microscópica. Na análise macroscópica, são analisadas as condições físicas do
material, como aspecto, cor, liquefação, odor, volume e pH e na análise micros-
cópica, são verificados fatores, como a agregação e aglutinação dos espermato-
zoides, concentração, motilidade, vitalidade, estruturas morfológicas e contagem
de células.

Para realizar a análise do sêmen, os procedimentos de coleta devem


ser bem esclarecidos ao paciente, a fim de manter o controle de qualidade
laboratorial. Os procedimentos de coleta e manipulação devem ser realizados,
seguindo as instruções da Organização Mundial da Saúde (WHO, 2010), as quais
são descritas a seguir:

• As amostras devem ser obtidas por masturbação, assegurando a coleta


total do ejaculado.

• A coleta deve ser precedida de abstinência sexual de dois a no máximo sete


dias; a fim de se obter uma amostra que reflita de forma precisa a contagem
e viabilidade espermática.

• A amostra deve ser obtida num recinto silencioso e confortável disponibi-


lizado no laboratório para amenizar os efeitos inibitórios do paciente.

• A coleta domiciliar só deve ser permitida em caso de impedimento físico ou


emocional. A amostra deve ser encaminhada ao laboratório o mais breve
possível após a coleta, pois o material sofre coagulação devido à ação de
uma enzima coagulante formada na próstata.

• Antes da coleta, o paciente deve lavar bem as mãos e o pênis com água e
sabão, e enxugar com toalha descartável.

• A amostra deve ser coletada em frasco estéril aquecido ou recipiente plásti-


co não espermicida fornecido pelo laboratório.

• A amostra deve ser encaminhada ao laboratório em até 30 minutos, pois a


liquefação ocorre entre 30 e 60 minutos. Caso seja necessário aguardar a
análise, devem ser mantidas a temperatura de 20˚C a 37˚C.

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Após a coleta, na recepção, deve ser etiquetada a amostra, registrado o nome do


paciente, o período de abstinência sexual, data e hora da coleta e de recepção da
amostra, além do uso de medicamentos e se houve perda de material durante a
coleta. A perda do material, principalmente durante o primeiro jato, que contém
a maior concentração de espermatozoides, pode influenciar na contagem total
de espermatozoides.

A P RO F UNDA NDO

Todas as amostras do sêmen devem ser manuseadas com precauções de


segurança, desde a recepção até as análises laboratoriais, pois pode conter
microrganismos patogênicos como qualquer líquido (ROCHA, 2014).

ANÁLISE MACROSCÓPICA

Neste momento da análise, é observado o volume de líquido seminal, o pH, que


mede a acidez do material coletado, a cor e o aspecto, a viscosidade, e o tempo
de liquefação, que se refere ao tempo que o sêmen demora para sair do estado
viscoso para o líquido. Os achados macroscópicos em conjunto com os achados
microscópicos auxiliam no diagnóstico e tratamento da infertilidade.

VOLUME

O valor de referência varia de 1,5 a 5 ml em caso de ejaculação total. Sendo


assim, caso o valor identificado pelo exame seja inferior à medida, o diagnóstico
é de hipospermia. Isso indica que o homem apresenta baixa quantidade de
sêmen por ejaculação, podendo estar relacionado à obstrução dos ductos ejac-
ulatórios, ausência congênita das vesículas seminais, hipogonodismo e perda de
material (ROCHA, 2014). Pode ocorrer também a azoospermia, que é a ausência
de espermatozoides observada em caso de vasectomia. Existem tratamentos
para ambos os casos. Valores aumentados, chamados de hiperespermia, po-
dem ser identificados em período de abstinência sexual prolongado. Para medir
o volume, pode ser utilizado pipeta estéril graduada ou um copo cilindro e grad-
uado em incrementos de 0,1 ml. Deve ser evitado o uso de seringas plásticas,
pois podem interferir na motilidade dos espermatozoides.

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LIQUEFAÇÃO

Quando a amostra chega ao laboratório é observada quanto ao tempo de lique-


fação. O sêmen normal costuma coagular e liquefazer entre 30 e 60 minutos
após a colheita, o tempo de liquefação superior a 60 minutos é considerado
anormal. As amostras em que não ocorre a liquefação devem ser submetidas ao
processo mecânico de liquefação, que consiste na passagem uso de bromelina
com concentração 1g por litro ou solução alfa-amilase, a fim de solubilizar o
muco para permitir contagens precisas de espermatozoides (ROCHA, 2014).
Quando a amostra demora a chegar ao laboratório, pode já ter acontecido a liq-
uefação, impedindo a observação da ocorrência da coagulação. A amostra em
que é observada a azoospermia e que não coagula, pode ser indicativo de aus-
ência congênita bilateral dos ductos deferentes e vesículas seminais (MUNDT;
SHANAHAN, 2012).

ASPECTO, COR E ODOR

Dentro dos padrões de normalidade, é opaco e cinza opalescente, branco e


homogêneo. Coloração amarelada ou avermelhada, pode ser um forte indicativo
de infecções no trato reprodutivo masculino e até de doenças mais graves,
como o câncer de próstata. Logo após a coleta, o sêmen tem cheiro característi-
co próprio, que pode ser comparado à água sanitária, e esse odor se deve a
substâncias produzidas pela próstata, podendo ser ausente em caso de atrofia
da próstata e prostatites.

VISCOSIDADE

A consistência da amostra é considerada normal quando é levemente viscosa


e gotas são formadas. Quando forma filamentos de mais de dois centímetros,
é considerada anormal (RODRIGUES, 2018). A viscosidade pode ser observada
durante a mensuração do volume ou pipetagem para outros testes. Viscosidade
aumentada pode estar relacionada à disfunção prostática por inflamação crôni-
ca, presença de muito muco ou presença de antiespermatozoides.

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POTENCIAL HIDROGENIÔNICO (PH)

Mede a acidez da amostra colhida. A medição deve ser determinada dentro do


tempo padrão, não ultrapassando uma hora após a ejaculação, e varia entre 7,2 a
8,0. O recipiente contendo a amostra deve ser mantido fechado para evitar o es-
cape de CO2 para o meio ambiente, que, em contato com o ar, eleva-se e atinge
valores superiores a 8,0, invalidando a medida (BARCELOS; AQUINO, 2018). Va-
lores aumentados indicam infecção no trato reprodutivo, enquanto a diminuição
está associada ao aumento do fluido prostático. Para medir o pH, podem ser
utilizadas tiras de reagentes usadas no exame de urina e as cores comparadas
com a tabela do fabricante.

A P RO F UNDA NDO

Anticorpos antiespermatozoides são a forma mais comum da infertilidade


imunológica nos homens. Eles são um grupo de proteínas que se ligam
aos espermatozoides, e, assim, afetam sua habilidade de movimentação,
impedindo a fertilização do óvulo. Além disso, ao se ligarem aos esper-
matozoides, o corpo os identifica como invasores, e as células de defesa do
organismo os atacam.

ANÁLISE MICROSCÓPICA

A análise microscópica, por sua vez, é mais criteriosa e analisa a concentração


de espermatozoides por 1ml de líquido seminal, a concentração total de esper-
matozoides no ejaculado, a agregação e aglutinação espermática, a morfologia,
que avalia a forma, a concentração de leucócitos, a motilidade e, por fim, a vita-
lidade, que mede a quantidade de espermatozoides vivos na amostra. Os valores
de referência para os parâmetros microscópicos, assim como dos parâmetros ma-
croscópicos foram atualizados pela Organização Mundial de Saúde e publicados
na WHO Laboratory Manual for the Examination and Processing of Human
Semen (2010) e devem ser seguidos pelos laboratórios.
Concentração/contagem de espermatozoides: a concentração refere-se
ao número de espermatozoides por 1ml de sêmen. Segundo a OMS (WHO,
2010) a contagem de espermatozoides deve ser realizada em hemocitômetro de

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Neubauer, onde o sêmen é diluído em 1:2, 1:5, 1:10, 1:20 ou até 1:50 com água
destilada para imobilizar os espermatozoides para contagem.
Deve-se utilizar uma tabela disponibilizada no manual da OMS de correção
para obter o resultado final. São contados apenas os espermatozoides intactos, ou
seja, aqueles que possuem cabeça e cauda. Caso o número de espermatozoides por
campo visual varie consideravelmente, a amostra deve ser novamente misturada
até obter uma amostra homogênea e preparada uma nova lâmina.

TERMINOLOGIA CONCENTRAÇÃO OBSERVAÇÕES

> 15X 106/ml ou


Normozoospermia ____
>39X 106/ml ejaculado

Associada a altera-
ções cromossômicas,
varicocele, problemas
endócrinos e fato-
Oligozoospermia <15X106/ml
res externos, como
exposição aos raios
X, medicamentos e
produtos químicos.

Associada a altera-
ções cromossômicas,
Polizospermia >200x106/ml baixa concentração
de ATP e função
acrossomal alterada.

Esparsos espermatozoides
Criptozoospermia Falha testicular.
no ejaculado

Pode ter origem


obstrutiva que
impede a liberação
dos espermatozoi-
Nenhum espermatozoide no
Azoospermia des no ejaculado ou
ejaculado
falha testicular seria,
também resultado da
vasectomia realizada
com sucesso.

Tabela 1 - Concentração espermática. Valores de Referência (WHO, 2010) / Fonte: Rocha (2014, p. 337).

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O número total de espermatozoides é realizado, multiplicando-se a concentração


de espermatozoide por ml pelo volume, com valor de referência igual ou superior
a 39 milhões/ejaculado.

As concentrações normais de espermatozoides, segundo a OMS,


variam de 15 a 200 milhões/ml, conforme mostrado na Tabela 1.

Quando a concentração é inferior a 15 milhões/ml, o quadro se chama oligo-


zoospermia e pode levar a dificuldades de fecundação do óvulo.
Agregação e aglutinação: em condições normais são ausentes. Para avaliar
a presença ou ausência de agregação e aglutinação, deve ser colocado 20ul de
sêmen a fresco sobre uma lâmina coberta com lamínula em microscópio com
ampliação de até 400 vezes. De acordo com a OMS (WHO, 2010), a agregação é
exclusivamente para espermatozoides imóveis. Devem ser descritos como espe-
cíficos somente espermatozoides imóveis e inespecíficos, espermatozoides agre-
gados a células epiteliais ou filamentos de muco. A aglutinação é exclusivamente
referida aos espermatozoides móveis, que podem ser observados aderidos cabeça
a cabeça, cauda a cauda ou de forma mista, podendo indicar a presença de anti-
corpos antiespermatozoides.

A aglutinação quando presente deve ser descrita, usando-se os seguintes


critérios:

Grau 1: isolado (<10 espermatozoides por aglutinado, muitos livres);

Grau 2: moderado (10–50 espermatozoides por aglutinado, livres);

Grau 3: grande (aglutinados de >50 espermatozoides, alguns ainda livres);

Grau 4: grosso (todos os espermatozoides aglutinados e grupos aglutinados


interligados).

Motilidade: a fertilização de um ovócito depende da capacidade do espermato-


zoide de alcançar e unir-se a este.

O teste de motilidade avalia a capacidade de movimento espontâneo


dos espermatozoides.

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Realizado em câmara de contagem com microscopia óptica e deve ser feito


com 10 µl de sêmen a fresco entre lâmina pré-aquecida e coberta com lamínula,
repousar por alguns minutos e examinar em microscópio óptico com aumento
de até 400 vezes (MUNDT; SHANAHAN, 2012).
A motilidade é classificada de acordo com o movimento dos espermatozoi-
des, sendo dividida em três categorias: espermatozoides móveis progressivos
(MP), espermatozoides móveis não progressivos (NP) e espermatozoides
imóveis (IM). Segundo os critérios da OMS (WHO, 2010), uma amostra seminal
deve apresentar pelo menos 32% de espermatozoides que se movem de forma rá-
pida ou lenta (progressivamente móveis) e ainda 40% de espermatozoides móveis
totais. O número total de espermatozoides progressivamente móveis no ejaculado
é obtido pela multiplicação do número total de espermatozoides no ejaculado
pela percentagem de células progressivamente móveis.
A motilidade pode ser afetada por vários fatores, como temperatura, presen-
ça de anticorpos antiespermatozoides, defeitos na cauda dos espermatozoides,
presença de substâncias contaminantes durante a coleta. Quando temos esper-
matozoides totalmente imóveis no ejaculado, impedindo a movimentação dos
gametas, chamamos de astenozoospermia.
Morfologia: avaliada a partir de preparação de esfregaço corado, preferen-
cialmente com Papanicolau, mas outros corantes, como Giemsa e Whright, po-
dem utilizados, assim são contados de 100 a 200 espermatozoides como normais
e anormais, empregando óleo de imersão (STRASINGER; DI LORENZO, 2009).
Atualmente, os aspectos morfológicos dos espermatozoides são descritos pelos
critérios estritos de Kruger, que avaliam as estruturas da cabeça, corpo, peça
intermediária e cauda dos espermatozoides, sendo considerado normal quando
possui cabeça em formato oval, lisa e regular e região acrossômica entre 40% a
70% da cabeça do espermatozoide, tenha cerca de 5 a 6 µm de comprimento e 3
µm de largura e uma cauda flagelar com aproximadamente 45 µm de comprimen-
to e ainda não haver nenhum defeito na peça intermediária e cauda. Segundo a
OMS (WHO, 2010), a referência de formas normais é igual ou superior a 4% dos
espermatozoides examinados na amostra.

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De acordo com os critérios de Kruger, os espermatozóides podem ter defeitos


na cabeça (fusiforme, piriforme, achatada, achatado no sítio da implantação da
cauda, cabeça ovalada de um lado, redonda); defeitos no acrossomo (acrossomo
pequeno inferior a 40% e acrossomo grande superior a 70); defeito do corpo
e peça intermediária (peça intermediária larga, gota intracitoplasmática, peça
intermediária separada) e; defeitos de cauda (espiralada, ângulo > 90º).
Análise de células redondas: as células redondas são elementos comuns
de aparecer no ejaculado. São observadas células da linhagem germinativa (es-
permatócitos e espermátides), leucócitos (maioria neutrófilos e macrófagos)
e glóbulos proteicos. O valor de referência é igual ou inferior a 1,0 milhão de
células redondas/mL (WHO, 2010). Em caso de valor superior à medida, deve
ser realizada a diferenciação do tipo celular através do teste de Endtz ou pero-
xidase, sendo que os leucócitos coram em marrom e as células jovens, em rosa.
O aumento de leucócitos é denominado leucocitospermia e indica que há um
processo infeccioso.
Vitalidade: o teste realizado para determinar se os espermatozoides imóveis
estão vivos ou mortos (necrospermia) por meio da preparação de esfregaço no
qual pode ser utilizado isoladamente o corante eosina ou junto com o contra-
corante nigrosina, que confere um fundo escuro, permitindo a visualização dos
espermatozoides viáveis e inviáveis (BARCELOS; AQUINO, 2018). É realizada
a contagem de no mínimo 200 espermatozoides em aumento de 400 vezes. Os
espermatozoides mortos apresentam membranas danificadas, deixando o corante
entrar, preenchendo a cabeça de vermelho, enquanto as membranas dos esperma-
tozoides vivos mantêm-se intactas e não deixam o corante entrar. Um indivíduo
normal possui cerca de pelo menos 58% de formas vivas.
Hemácias: normalmente, a presença de hemácias na amostra de sêmen é de
até 1 milhão de hemácias por ml de sêmen. Valores acima indicam hemosper-
mia, sugestivo de doenças da próstata e das vesículas seminais, como inflamações,
hiperplasias e câncer.

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TESTES BIOQUÍMICOS E MICROBIOLÓGICOS

Embora não seja comum o médico solicitar dosagens bioquímicas de amostra


de sêmen, elas podem fornecer informações que auxiliam na investigação das
causas da infertilidade masculinas e são recomendadas pela OMS. De acordo com
Barcelos e Aquino (2018), os marcadores bioquímicos presentes nas glândulas
do sistema reprodutivo masculino incluem ácido cítrico, inositol, fosfatase ácida,
zinco, cálcio e magnésio presentes na próstata, já nas vesículas seminais, estão
presentes a frutose, prostaglandinas e ácido ascórbico, enquanto nos epidídimos,
são encontrados L-carnitina livre, glicerilfosforilcolina e alfaglucosidade neutra.
Existem testes para a determinação desses marcadores, mas ainda não se
sabe de fato o papel de cada uma delas, com exceção da determinação da fru-
tose, substância androgênica-dependente, produzida pelas vesículas seminais,
que consiste em fonte de energia para os espermatozoides. A frutose pode estar
ausente ou diminuída em várias condições que causam infertilidade masculina,
por isso, quando não for observado nenhum espermatozoide na amostra e não se
tratar de uma amostra pós-vasectomia, deve ser realizado um teste quantitativo
para a frutose.

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A P RO F UNDA NDO

A vasectomia é um procedimento cirúrgico simples e seguro que interrompe


o fluxo de espermatozoides produzidos nos testículos. Trata-se de um
método de contracepção que secciona os canais deferentes, tornando o
homem estéril, mas não interfere na produção de hormônios masculinos
nem em seu desempenho sexual. O resultado esperado do espermograma
após a vasectomia é a azoospermia ou haver menos de 100 mil espermato-
zoides imóveis.

As dosagens bioquímicas devem ser realizadas com uma gota de sêmen liquefeita
e centrifugada. Para dosagem da frutose, geralmente, são utilizados os métodos
espectrofotométricos de Roe ou resorcinol (BARCELOS; AQUINO, 2018). Au-
sência de frutose no líquido seminal, baixo volume seminal e a falha do sêmen em
coagular indicam a ausência congênita dos canais deferentes e vesículas seminais
ou a obstrução dos ductos ejaculadores.
Quanto à análise microbiológica do sêmen, avalia-se a presença de leucócitos,
o que pode ser sinal de infecção.

A infecção genital pode ser um fator importante de infertilidade


masculina, causada por vários microrganismos sendo responsáveis
por aproximadamente 15% dos casos.

Depois de confirmada a leucospermia, deve complementar-se a investigação com


espermocultura tanto de microorganismos aeróbicos como anaeróbicos.
Durante a coleta devem ser tomados cuidados para não contaminar a amos-
tra. As bactérias mais frequentes que comprometem a fertilidade do homem são:
Chlamydia trachomatis, Micoplasma hominis, Ureaplasma urealyticum e Her-
pes simplex (MUNDT; SHANAHAN, 2012). Ainda de acordo com o autor, esses
microrganismos podem levar à produção de anticorpos antiespermatozoides.
Já as infecções causadas por Candida albicans podem prejudicar a motilidade
espermática, uma vez que causa a aglutinação de espermatozoides.

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TESTES IMUNOLÓGICOS

A espermatogênese normalmente acontece atrás de uma barreira imunológica


nos testículos, porém, anticorpos autoimunes contra espermatozoides podem
ser desencadeados quando há um trauma, intervenção cirúrgica no órgão genital
ou ainda quando uma infecção provoca ruptura na barreira entre o esperma e
o sangue, assim ocorre produção de anticorpos, podendo ser encontrados tanto
no soro como no sêmen. Atualmente os métodos mais utilizados que detectam a
presença de anticorpos antiespermatozoides no plasma seminal são os métodos
de Immunobead e da reação mista da antiglobulina (MAR test) realizados em
amostra a fresco (BARCELOS; AQUINO, 2018).
O MAR teste é um método direto para detectar a presença de anticorpo an-
tiespermatozoide no sêmen identificando a imunoglobulina IgA ou IgG, através
de partículas de látex. Solicitados quando há diminuição isolada da motilidade,
presença de aglutinação na análise seminal ou em casos de infertilidade sem
causa específica. Esses anticorpos interferem em diversas etapas do processo de
reprodução, já que prejudicam a funcionalidade do espermatozoide, através da
aderência à sua membrana plasmática. O material para realização do teste deve
ser colhido por automasturbação após período de abstinência sexual. A análise
deve ser realizada em até quatro horas após a colheita do material.
Deve ser colocado em uma lâmina 10 µL de partículas de látex IgG ou hemá-
cias de carneiro revestidas de IgG e adicionar 10 µL de sêmen fresco e misturar
com espátula. Posteriormente, adicionar 10 µL de soro anti-IgG diluído em 1:20
em Ringer Frutose, misturar e cobrir com lamínula e observar em microscopia de
fase. Após dez minutos, um total de no mínimo 100 espermatozoides devem ser
avaliados para a determinação da porcentagem de móveis (BARCELOS; AQUI-
NO, 2018).

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O teste é positivo quando na presença de autoanticorpos são observados mais


de 10% de espermatozoides móveis com partículas de látex aderidas, indicando
a probabilidade da ocorrência de infertilidade imunológica masculina. Quando
ausentes são vistos nadando livremente entre as partículas de látex. Nos pacientes
vasectomizados, em 60% dos casos, há o desenvolvimento de anticorpos anties-
permatozoides.
O teste Immunobead utiliza esferas de poliacrilamida ligadas a anticorpos
anti-imunoglobulinas humanas, e é capaz de detectar IgA, IgG e IgM, os tipos
mais importantes na infertilidade imunológica com grande precisão no plasma
seminal ou no plasma sanguíneo. Se mais de 20% ou mais dos espermatozoides
tiverem Immunobeads aderidos na sua superfície, o teste é considerado positivo
(BARCELOS; AQUINO, 2018).

Para conclusão do diagnóstico por meio do espermograma, é recomendado


que o paciente repita esse exame por pelo menos duas vezes em intervalos de
15 dias. Em casos de resultados discordantes, deve ser solicitado um terceiro
espermograma. O exame do líquido seminal é imprescindível para avaliação da
fertilidade masculina no estudo de patologias do trato reprodutivo, como vari-
cocele, infecções genitais, criptorquidia, além de doenças relacionadas a fatores
ambientais, aos medicamentos ou à quimioterapia e aos produtos químicos.
Normalmente, o espermograma também é aplicado após cirurgia de vasectomia
ou de sua reversão para avaliar a eficácia do procedimento.

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LÍQUIDO AMNIÓTICO
O líquido amniótico é um fluido biológico que envolve o feto e preenche a bolsa
amniótica, formada por duas membranas chamadas de córion e âmnion, que
envolve o feto durante os seus nove meses de gestação e com várias funções
importantes para crescimento e desenvolvimento do feto.

Saco
Placenta
amniótico

Saco Cordão
amniótico umbilical

Figura 3 - Líquido amniótico / Fonte: Salvador (2018, on-line).

Descrição da Imagem: tomada de forma lateral, pode-se observar, na figura ilustrativa, em tom de rosa claro,
uma estrutura superior à esquerda, ovalada, fina, semelhante a um balão, denominado “saco amniótico”. Dentro,
há uma estrutura em azul claro, caracterizando um líquido, denominado “líquido amniótico”. Na parte superior
à direita, há uma estrutura pequena, em tons de marrom escuro, caracterizando a “placenta” e logo abaixo, em
cima da estrutura em azul claro, há uma espécie de cordão, arredondado e enrolado em tons de rosa mais escuro,
caracterizando o “cordão umbilical”.

A bolsa amniótica e o líquido começam a ser produzidos por volta do 12° dia
após a concepção, e contêm diversos componentes vitais, como citocinas que
protegem o feto contra infecções, hormônios, enzimas e outras substâncias.
Porém a maior parte do líquido amniótico, em torno de 99%, é urina fetal.
O estudo do líquido amniótico, frequentemente, está relacionado a estudos
citogenéticos, mas podem ser realizados diversos testes laboratoriais, que forne-
cem informações significativas sobre os processos metabólicos durante a matu-
ração fetal, bem como sua progressão. Quando complicações ocorrem e afetam
negativamente o feto, deve ser avaliada a sua capacidade de sobreviver ao parto
prematuro. A análise do líquido amniótico pode ser solicitada para o diagnóstico

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de sofrimento e maturidade fetal, anomalias cromossômicas, defeitos do tubo


neural e distúrbios genéticos. Nesse tópico, discutiremos os principais testes uti-
lizados para detectar essas condições.
O líquido amniótico que se encontra na cavidade amniótica é produzido
pela placenta proveniente dos organismos da mãe e do feto. Esse líquido é muito
similar à composição do plasma materno com presença de um pequeno nú-
mero de células epiteliais mortas do feto, trato urinário e digestivo do feto, que
constituem a base para estudos citogenéticos, além de substâncias bioquímicas
produzidas pelo feto, como bilirrubina, lipídios, enzimas e proteínas (STRASIN-
GER; DI LORENZO, 2009).

O líquido amniótico desempenha várias funções importantes além de amor-


tização do ambiente fetal contra traumas. Além disso, fornece nutrientes para
o seu desenvolvimento, serve como uma barreira contra infecções, mantém a
temperatura homeostática e desempenha papel essencial na troca de água e
compostos orgânicos e inorgânicos entre o feto e a circulação materna (CAMPA-
NA; CHÁVEZ; HAAS, 2003).

O volume do líquido amniótico é regulado por um ajuste entre


mecanismos secretores.

Como a urina fetal e o fluido pulmonar, e a absorção pela deglutição e fluxo


intermembranoso, que é a troca de água e solutos do líquido amniótico pelo sis-
tema circulatório do feto. O volume aumenta regularmente com o transcorrer da
gestação atingindo entre 1.000 ml a 1.500 ml no final da gestação. Normalmente,
o volume aumenta em torno de 250 ml até a 16ª semana, 800 ml na 28ª semana,
até alcançar 1.000 ml na 34ª semana e, em seguida, diminui progressivamente
antes do parto (COSTA; CUNHA; BEREZOWSKI, 2005).
Durante o primeiro trimestre, aproximadamente 35 ml do líquido amniótico
é proveniente do sistema circulatório materno. Na metade da gestação, o feto se-
creta um volume de líquido pulmonar necessário para expandir os pulmões com
o seu desenvolvimento. Durante cada episódio respiratório fetal, o fluido pulmo-
nar secretado penetra no líquido amniótico, evidenciado pelos surfactantes que
auxiliam na avaliação da maturidade fetal (STRASINGER; DI LORENZO, 2009).

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A partir do terceiro trimestre gestacional, é a urina fetal que é a principal fonte


de líquido amniótico e no momento que ocorre a produção de urina fetal, o feto
começa a deglutir o líquido amniótico, regulando seu volume. A deglutição fetal
é o principal mecanismo de reabsorção do líquido amniótico e corresponde à
média de 400 ml/dia até o final da gestação.
O volume reduzido de líquido amniótico é denominado oligodrâmnio,
enquanto o aumento no volume do líquido é denominado hidrâmnio ou poli-
drâmnio. O polidrâmnio é o volume superior a dois litros do líquido, sendo as
principais causas o sofrimento fetal agudo normalmente associado a distúrbios
do tubo neural, malformação fetal, anomalias cromossômicas, diabete materno,
arritmias cardíacas e infecções congênitas, já o oligoidrâmnio é o volume menor
que 500 ml, considerado um grave problema durante a gestação (BARCELOS;
AQUINO, 2018).
A redução do líquido pode estar relacionada a diversos fatores como a ruptu-
ra prematura das membranas (RPM), insuficiência placentária, anomalias congê-
nitas, aumento da deglutição fetal, deformidades do trato urinário e compressão
do cordão umbilical, resultando na desaceleração da frequência cardíaca e
na morte fetal (CAMPANA; CHÁVEZ; HAAS, 2003). Quando o feto começa
a urinar as concentrações de ureia, creatinina e ácido úrico aumentam e as con-
centrações de proteínas e glicose diminuem.
A coleta do líquido amniótico é obtida por um procedimento chamado de
amniocentese. A técnica frequentemente utilizada é a amniocentese transab-
dominal, que consiste na introdução de uma agulha longa e fina através da pa-
rede abdominal da mãe, do útero e da bolsa amniótica para aspiração do líquido,
o procedimento é guiado por ultrassonografia tornando mais seguro principal-
mente após 14 semanas da gestação (BARCELOS; AQUINO, 2018).
Os riscos e complicações da amniocentese são raros, mas pode ocorrer san-
gramento vaginal, cólicas, traumas no bebê e quando realizado no primeiro tri-
mestre de gravidez há maior risco de abortamento.

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E U IN D ICO

Assista a um vídeo sobre o procedimento da amniocentese


transabdominal e observe a cor normal do líquido.

Nesse exame, o volume coletado para análise laboratorial varia de 10 a 20 ml e


no máximo 30 ml por meio da coleta em diversas seringas estéreis para evitar a
contaminação de toda a amostra com sangue materno (MUNDT; SHANAHAN,
2012). É recomendado que os primeiros 2 ou 3 ml coletados sejam descartados,
pois podem estar contaminados por células teciduais e sangue materno.
Após a coleta, a amostra é distribuída em tubos plásticos estéreis, transpor-
tadas e armazenadas de acordo com critérios específicos para cada análise. As
amostras destinadas à cultura de células e estudos cromossômicos devem
ser armazenadas em temperatura ambiente ou incubadas a 37˚C para prolongar
a vida das células fetais. Amostras para teste de maturidade pulmonar fetal
devem ser transportadas refrigeradas para entrega no laboratório e mantidas
refrigeradas em temperatura entre 2 °C e 8 °C e testadas dentro 72 horas. Já as
amostras para exames bioquímicos devem ser centrifugadas de 2.000 a 5.000
rpm/10 minutos para separar totalmente as células fetais e detritos o mais rápido
possível, evitando distorções dos constituintes químicos pelo metabolismo ou
desintegração celular.
A amniocentese pode ser realizada durante a gravidez normalmente a partir
do segundo trimestre de gestação, que corresponde de 15 a 20 semanas de gesta-
ção. Deve ser realizado principalmente quando os testes de triagem gestacional
forem anormais.

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Segundo Barcelos e Aquino (2018), neste período gestacional, é indicada nas


seguintes condições:

• histórico familiar de anomalias cromossômicas;

• presença de malformação detectada ao ultrassom;

• história de malformação ou doença genética em gestação anterior;

• histórico familiar de doenças genéticas ou doenças metabólicas;

• concentrações elevadas de alfafetoproteína no soro materno;

• filho anterior com distúrbio do tubo neural;

• mais de dois abortos espontâneos.

Após 20 semanas, a amniocentese é indicada para avaliar a maturidade pulmo-


nar fetal, infecção congênita, doença hemolítica do recém-nascido causada por
incompatibilidade de Rh e sofrimento fetal.

ANÁLISES LABORATORIAIS DO LÍQUIDO AMNIÓTICO

No líquido amniótico são encontradas substâncias secretadas pelo feto durante


o seu desenvolvimento, bem como células e outros materiais. Essas amostras
podem ser avaliadas em laboratório para atestar a saúde do bebê, além de diag-
nosticar doenças genéticas, defeitos congênitos e anomalias congênitas, avaliar a
maturidade fetal e monitorar doença hemolítica fetal. De acordo com a finalida-
de, os testes podem ser classificados em testes para diagnóstico pré-natal de
anomalias cromossômicas, testes de sofrimento fetal e testes de maturidade fetal.

Análise Física e Citológica

O líquido amniótico normal é claro e transparente nos primeiros meses de ges-


tação, e no fim da gestação, é turvo e leitoso. Em condições patológicas, pode
apresentar-se verde escuro, podendo ser resultado da liberação de fezes no líqui-
do amniótico, chamado de mecônio. O excesso de mecônio ingerido pelo feto
pode provocar sofrimento fetal. Uma coloração amarela-escuro está associada

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à presença de bilirrubina, indicativo de lise das hemácias geralmente provocada


pela doença hemolítica do recém-nascido por incompatibilidade sanguínea. En-
quanto o líquido com coloração vermelho é indicativo de hemorragia e punção
traumática e o líquido marrom indica sofrimento fetal antigo ou óbito fetal. A
diferenciação entre hemorragia e punção traumática pode ser determinada pelo
teste Kleihauer-Betke que identifica a hemoglobina fetal.
A pesquisa de células orangiófilas, também chamada de índice citolipídico,
geralmente é realizada pela coloração de sulfato azul de Nilo. As células da ma-
turidade têm origem descamativas da epiderme fetal, as quais são revestidas de
gordura das glândulas sebáceas (NOMURA et al., 2001). A técnica de pesquisa
consiste na mistura de uma gota do líquido amniótico com uma gota de sulfato
azul de Nilo a 0,1% em lâmina e leitura em microscopia óptica. As células quera-
tinizadas do epitélio (orangiófilas) ricas em gordura coram-se de laranja.
A estimação da maturidade fetal depende da porcentagem das células oran-
giófilas, contando-se em cada caso 500 células; conforme a maturidade fetal, o
número de células orangiófilas aumenta. Barcelos e Aquino (2018) dão as seguin-
tes estimativas para a maturidade fetal: antes de 34 semanas de gestação, menos
de 1% de células orangiófilas são observadas; entre 34 e 38 semanas, observa-se
de 1% a 10%; entre 38 e 40, são vistas de 10% a 40% e, acima de 40 semanas de
gestação, observa-se mais de 40% de células orangiófilas no líquido amnióticos.

Análise do Líquido Amniótico para Anomalias Cromossômicas,


Distúrbios Genéticos e Defeitos Congênitos

O exame citogenético, também denominado de análise cromossômica ou carió-


tipo, fornece informações importantes relacionadas ao sexo do feto, anomalias
genéticas e distúrbios congênitos do tubo neural.

Frequentemente o exame citogenético é realizado para detecção de


trissomia 21 (Síndrome de Down).

O exame é realizado através de cultura de células do líquido amniótico entre a 14ª


e a 20ª semanas de gestação, sendo que nesses casos as células coletadas passam
por cultivo e depois são lisadas para análise cromossômica, avaliando os 22 pares

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de cromossomos, os sexuais e analisando o conteúdo enzimático, verificando


possíveis defeitos de metabolismo (BARCELOS; AQUINO, 2018).

A P RO F UNDA NDO

Cariótipo é um conjunto diploide de células somáticas de uma dada espécie.


A espécie humana possui 46 cromossomos, agrupados em 23 pares, sendo
22 autossômicos e um par alossômico sexual (XX ou XY), diferindo o gêne-
ro masculino e feminino.

Além da Trissomia 21, ocasionada pela presença de um cromossomo 21 extra no


cromossomo 21, várias outras anomalias cromossômicas podem ser identificadas,
como a Síndrome de Turner, causada pela ausência de um cromossomo X em
indivíduos do sexo feminino, e a Síndrome de Patau ou Trissomia 13, causada por
um cromossomo 13 extra, entre outras anomalias (BARCELOS; AQUINO, 2018).
A alfafetoproteína (AFP) é a principal glicoproteína produzida pelo fígado
fetal no início da gestação. Suas concentrações vão declinando até o final da ges-
tação se o desenvolvimento fetal for normal. Os valores normais são baseados na
idade gestacional, a produção máxima de AFP ocorre por volta da 16ª semana,
após esse período vai gradativamente reduzindo até o final da gestação.
Os níveis aumentados são encontrados no soro materno e líquido amniótico,
quando a pele não consegue fechar sobre o tecido neural, como ocorre na espinha
bífida e anencefalia (STRASINGER; DI LORENZO, 2009). Como nessas condi-
ções o tubo neural se encontra aberto, a AFP é diretamente liberada do líquido
cerebrospinal para o líquido amniótico, tendo como consequência os níveis am-
nióticos de AFP elevados. Outras condições, como defeitos da parede abdominal,
obstrução urinária e outras anomalias renais, defeitos de osteogênese e defeitos
congênitos de pele, também podem aumentar os níveis de AFP. Já os níveis redu-
zidos são indicativos de Síndrome de Down e doença trofoblástica gestacional.

O teste de alfafetoproteína é indicado quando os níveis séricos


maternos são elevados ou em caso de histórico familiar de defeitos do
tubo neural.

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Quando as concentrações de alfafetoproteína estão aumentadas é recomen-


dada a determinação da acetilcolinesterase amniótica (ACE), pois em distúrbios
do tubo neural a dosagem da concentração de ACE é mais específica que a do-
sagem de alfafetoproteína.

Testes de Sofrimento Fetal

Diversas condições, como doença hemolítica do recém-nascido (DHRN), tam-


bém chamada de eritroblastose fetal, infecções e síndrome da angústia respira-
tória do recém-nascido (SAR) são associadas ao sofrimento fetal, sendo uma das
maiores causas do nascimento prematuro e aborto espontâneo.

A P RO F UNDA NDO

A DHRN ocorre quando a mãe desenvolve anticorpos contra antígenos da


hemácia do feto e esses antígenos atravessam a barreira placentária provo-
cando a hemólise. Frequentemente a DHRN é causada pela sensibilização de
uma mãe Rh negativa contra um antígeno RhD positivo fetal, mas anticor-
pos contra outros grupos sanguíneos ABO podem desencadear a destruição
de hemácias (MUNDT; SHANAHAN, 2012).

A destruição das hemácias do sangue fetal resulta no aparecimento do produto de


sua degradação no líquido amniótico, a bilirrubina. A quantificação da bilirrubina
no líquido é realizada por análise espectrofotométrica proposta por Liley (1961).
Esse espectrofotométrico estima o nível de bilirrubina no líquido amniótico, que
se correlaciona com a gravidade do processo hemolítico. A densidade óptica
(DO) do líquido amniótico é medida em intervalos entre 365nm e 550nm. Em
450nm, há um aumento na DO, em virtude de ser nesse comprimento de onda
que ocorre máxima absorção de bilirrubina (BARCELOS; AQUINO, 2018).
A diferença da DO, referida como diferença da absorbância a 450nm (Δ A
450) é plotada num gráfico de Liley para determinar a gravidade da doença he-
molítica. Na amostra normal, a DO é maior que 365nm e diminui linearmente
a 550nm. Nos gráficos a seguir (Figura 4), são mostrados a varredura espec-
trofotométrica, que mostra os picos de bilirrubina e oxiemoglobina no líquido
amniótico, e o exemplo do gráfico ou curva de Liley.

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Figura 4 - Espectrofotométrica da bilirrubina e Gráfico de Liley / Fonte: Strasinger e Di Lorenzo (2009, p.


263-264).

Descrição da Imagem: são apresentados dois 2 gráficos. No gráfico da esquerda, é possível observar no eixo “x”
representado por Espectrometria normal (nm), valores de 365 até 550 e no eixo “y” representado por Absorbância,
valores de 0 a 0,6. Além disso, no centro, entre os eixos, é possível observar uma reta descendente que sai do
valor entre 0,6 e 0,5 e vai até 550, abaixo da reta está escrito verificação normal. Acima da reta existe uma linha
curva, ascendente, formando um vale e dividindo a figura em duas partes coloridas, uma em tons de vermelho que
representa pico de oxihemoglobina em 410 e a outra em amarelo que representa pico de bilirrubina em 450. No
gráfico da direita, é possível observar no eixo “x” representado por Idade Gestacional em Semanas, valores que
vão de 20 a 40, com intervalo de 2 e no eixo “y”, representado por Variação da densidade óptica, valores que vão
de 0,01 a 1,0. Ele está dividido por três zonas. De cima para baixo, na altura de 0,20, sai uma linha retilínea com
uma leve descendência que fica entre 0,1 e 0,2. Dessa reta para cima, na altura de 0,20 até 1,0, é representada
a “Zona III” em tons de amarelo escuro, onde se lê: “Feto severamente afetado, o que exige intervenção”. Abaixo
dessa reta, na altura de 0,1 sai outra linha descendente que vai até 40. Aqui está representada a “Zona II”, em
tons de amarelo, onde se lê: “Feto moderadamente afetado, o que requer monitoramento”. E abaixo desta, entre
0,1 e 0,01 está a “Zona I” em tons de amarelo claro, onde se lê: “Feto não afetado ou feto discretamente afetado”.
Tradução de termos: normal scan (verificação normal); gestational age in weeks (idade gestacional em semanas).

O gráfico de Liley relaciona a diferença de absorbância 450nm contra a semana


gestacional, e possui três zonas de gravidade. Sendo assim, resultados dentro da
Zona I (zona inferior) indicam ausência ou anemia hemolítica leve; resultados
dentro da Zona II (zona intermediária) indicam feto moderadamente afetado e
requerem acompanhamento médico; e resultados dentro da Zona III (zona su-
perior) indicam feto severamente comprometido e necessidade de intervenção
médica, como parto ou transfusão intrauterina.

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A amostra para teste de bilirrubina deve ser protegida da luz, desde o momen-
to da coleta até a análise laboratorial. Em caso de exposição à luz, pode ocorrer a
diminuição acentuada dos valores de bilirrubina. Assim, algumas medidas devem
ser tomadas, como colocar o líquido em tubos de cor âmbar ou a utilização de
saco preto para cobrir a amostra.
Em caso de sofrimento fetal, suspeito de infecções, pode ser realizado no
líquido amniótico a coloração por Gram, cultura e testes moleculares para de-
tectar agentes infecciosos. O sofrimento fetal, como vimos no início, pode ser
associado à síndrome da angústia respiratória do recém-nascido (SAR), doença
comum associada à prematuridade. Alterações na quantidade ou na qualidade
dos surfactantes pulmonares resultam no colabamento alveolar, provocando a
SAR também chamada de doença pulmonar das membranas hialinas com con-
sequente atelectasia progressiva, edema, alteração da relação ventilação/perfusão,
levando à hipóxia tecidual.

Dessa forma, a SAR pode ser prevista pelos níveis de surfactantes


pulmonares descritos a seguir.

Testes de Maturidade Pulmonar Fetal

De acordo com Correa Júnior, Couri e Soares (2014), o desenvolvimento do pul-


mão fetal se inicia por volta da terceira semana de vida e por volta de 24 semanas
de gestação ocorre aumento da angiogênese e diferenciação do epitélio cuboide
que reveste os ácinos em pneumócitos do tipo I e II. Os pneumócitos do tipo I
são células responsáveis pela troca gasosa nos alvéolos pulmonares e cobrem a
maioria da área de superfície alveolar, enquanto os pneumócitos do tipo II são
responsáveis pela produção de surfactantes, que é armazenado em células pelas
estruturas chamadas de corpos lamelares que são ricas em lipídios.
Os surfactantes pulmonares fetais presentes no pulmão fetal maduro são
compostos por 90% de fosfolipídios e 10% de proteínas. Os fosfolipídios encon-
trados em maior concentração incluem a lecitina (também chamada de fosfatidil-
colina) e fosfatidilglicerol. A esfingomielina e outros fosfolipídios são encontrados
em menor quantidade. Estes funcionam como detergente, mantendo a tensão
superficial dos alvéolos reduzida, permitindo que inflem de ar e impedindo o

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colabamento durante a inspiração e expiração fetal (CORREA JUNIOR; COURI;


SOARES, 2014).

Assim, quanto mais prematuro for o recém-nascido, menor a


quantidade de surfactante disponível e maior a probabilidade de
desenvolvimento da síndrome da angústia respiratória após o
nascimento.

Os principais métodos utilizados para avaliar a maturidade pulmonar fetal são:


a relação lecitina/esfingomielina, dosagem de fosfatilglicerol, testes de índice de
estabilidade da espuma, contagem de corpos lamelares e o teste de fluorescência
polarizada, sendo a relação lecitina/esfingomielina e a concentração de fosfatil-
glicerol os exames mais recomendados para avaliar a maturidade fetal.

Relação Lecitina/Esfingomielina e Teste Fosfatilglicerol

Como vimos anteriormente, a lecitina é o principal surfactante pulmonar e au-


menta sua quantidade a partir de 28 semanas até o final da gestação. A produção
da esfingomielina e da lecitina são em quantidades relativamente iguais até a 33ª
semana de gestação. Após a 34ª semana, o nível de lecitina aumenta significati-
vamente, enquanto o nível de esfingomielina permanece constante (CORREA
JUNIOR; COURI; SOARES, 2014).
A esfingomielina é utilizada como padrão interno, uma vez que se mantém
constante no último trimestre de gestação. Quanto maior a idade gestacional
maior a relação lecitina/esfingomielina (L/E), correlacionando com a maturidade
do pulmão fetal. Após a 35ª semana, uma proporção de lecitina/esfingomielina
de 1,5 está associada à imaturidade fetal; entre 1,5 e 1,9 significa imaturidade
duvidosa e; superior a 2,0 associa-se a maturidade fetal (BARCELOS; AQUINO,
2018).
A contaminação do líquido amniótico por mecônio interfere nos resultados
do teste de associação L/E, e, portanto, não deve ser utilizado. A medição da re-
lação lecitina/esfingomielina (L/E) é realizada pela cromatografia considerada
padrão ouro para avaliar a maturidade pulmonar fetal, mas devido ao seu alto
custo, tempo e dificuldade técnica para realizá-lo tem sido substituído por outros
testes, como imunoensaios de fosfatidilglicerol.

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A presença do fosfatidilglicerol (FG) na superfície do pulmão fetal também é


um lipídio essencial para avaliar a maturidade fetal. Trata-se do último surfactan-
te a aparecer no pulmão fetal, aparecendo por volta da 36ª semana, e aumentando
com a idade gestacional. Sua produção pode ser retardada em caso de diabetes
materna. Para determinar o nível de fosfatidilglicerol, podem ser empregados
vários métodos, como cromatográficos, enzimáticos e imunológicos.

O método imunológico Amniostat-FLM (Irvine Scientific, Santa Ana, CA) utiliza


anticorpos específicos contra o fosfatidilglicerol. Esse teste é mais rápido em
comparação com a cromatografia em camada delgada e não é afetado pela
presença de sangue e mecônio (STRASINGER; DI LORENZO, 2008).

Índice de Estabilidade da Espuma

A estabilidade da espuma, também conhecida como Shake Teste e Teste de Cle-


ments, é um teste de triagem utilizado para detecção de surfactante pulmonar
no líquido amniótico para avaliar a maturidade fetal. Esse teste fundamenta-se
na capacidade de os fosfolipídios reduzirem a tensão superficial do líquido am-
niótico e formar bolhas na presença de etanol, um agente antiespumante. O teste
desenvolvido por Clements et al. (1972) consistia na adição de líquido amniótico
em um mesmo volume de etanol a 95%, agitado vigorosamente (Shaked) por
15 segundos e deixado em repouso por 15 minutos, se um anel de bolhas fosse
formado indicava maturidade (BARCELOS; AQUINO, 2018).
O teste de Clements foi modificado um ano depois por Edwards e Baillie,
que usaram etanol a 100%. Nesse teste, 0,5 ml deve ser adicionado em três tubos
contendo 0,5 ml de etanol com diferentes concentrações 25%, 50% e 75%, assim
como no teste de Clements, os tubos são agitados por 15 segundos e deixados em
repouso por 15 minutos (BARCELOS; AQUINO, 2018). O teste indica maturida-
de pulmonar quando a estabilidade da espuma persiste nos três tubos. Quando
se forma a espuma estável apenas no Tubo 1, indica imaturidade pulmonar, e a
persistência nos Tubos 1 e 2 sugere maturidade intermediária.
Portanto, o índice de estabilidade da espuma diferencia do teste de Clements
ou Shake teste por utilizar múltiplos volumes de etanol, apresentando sensibili-
dade entre 98% e 100%, porém com especificidade de 85%. Já o método de Cle-

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ments apresentava resultados falso-maduros em pacientes que desenvolveram a


síndrome da angústia respiratória (CORREA JUNIOR; COURI; SOARES, 2014).

Contagem de Corpos Lamelares

Os corpos lamelares, como visto anteriormente, são estruturas fosfolipídicas que


armazenam os surfactantes pulmonares fetais produzidos por pneumócitos fetais
tipo II. Eles são produzidos em torno da 20ª semana da gestação e atingem o
líquido amniótico pelos movimentos respiratórios do feto.
À medida que o pulmão amadurece, aumenta a produção de corpos lamelares
no líquido amniótico, pois o número de corpos lamelares presente no líquido
amniótico corresponde à quantidade de fosfolipídios presente no pulmão fetal.
No último trimestre da gestação, a contagem de corpos lamelares atinge de 50
mil a 200 mil corpos lamelares/ml de líquido amniótico (BARCELOS; AQUINO,
2018).
A similaridade do tamanho dos corpos lamelares com as plaquetas permite
o uso de um analisador hematológico automático para quantificar os corpos la-
melares presentes no líquido. A contagem de corpos lamelares acima de 50.000/
µL sugere maturidade, e abaixo de 15.000/µL, sugere imaturidade. Para valores
intermediários, sugere a realização de testes secundários, como por exemplo, a
relação lecitina/esfingomielina.

Teste de Fluorescência Polarizada

A Fluorimetria de Luz Polarizada é, atualmente, pouco utilizada para avaliar a


presença de surfactantes em líquido amniótico. Os surfactantes reduzem a mi-
crovilosidade do líquido amniótico. Essa redução pode ser medida pelo ensaio
TDx-FLM II (Abbott Laboratories, Abbott, Park, IL), que avalia a relação surfac-
tante/albumina e a polarização fluorescentes desses dois componentes. A albu-
mina atua como padrão interno, assim como vimos na esfingomielina, porque
sua concentração é constante durante toda a gestação.
Nesse teste, é usado um corante fluorescente que se liga aos surfactantes e à
albumina presentes no líquido amniótico. A adição do corante fluorescente con-
fere à amostra um valor mensurável de intensidade de polarização fluorescente.

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Quando se liga ao surfactante, o corante exibe tempo de fluorescência longa


e baixa polarização; e, quando se liga à albumina, a fluorescência é curta e a po-
larização é alta (MUNDT; SHANAHAN, 2012).
A mudança registrada na polarização fornece a relação surfactante/albu-
mina, que é comparada com uma curva padrão com variação de 0 a 160 mg/g
de fosfatidilglicerol (BARCELOS; AQUINO, 2018). O limiar para maturidade
pulmonar é maior ou igual a 55 mg/g; medida igual ou inferior a 40 mg/g pode
ser considerada como imatura e resultados entre 40 e 54 mg/g não podem ser
declarados, requerendo novos testes.

CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES SOBRE O LÍQUIDO


AMNIÓTICO

A análise do líquido amniótico reforça a importância do acompanhamento


adequado de um pré-natal. Cabe ressaltar que todos os resultados laboratoriais
devem ser relacionados com a clínica. Com relação aos resultados dos testes
realizados no líquido amniótico, uma pequena porcentagem pode apresentar
resultados falso-positivos ou negativos. Dessa forma, resultado normal não
elimina todas as complicações que podem afetar a saúde do feto, assim como
resultados alterados podem surgir em fetos saudáveis.

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Vimos que a presença de concentração elevada de alfafetoproteína é indicati-


va de defeitos do tubo neural, um tipo específico de defeito congênito do cérebro,
da coluna vertebral ou da medula espinhal, podendo causar várias complicações
como lesões nervosas, paralisia e até a morte. O ácido fólico é o mais importan-
te fator de risco para os defeitos do tubo neural identificado até o momento. É
possível reduzir os riscos desses defeitos pela suplementação periconcepcional
e durante o primeiro trimestre de gravidez.
A doença hemolítica do recém-nascido (DHRN), identificada no líquido
amniótico pelo aumento da contração de bilirrubina, pode ser evitada com a
administração de imunoglobulina anti-RH na gestante logo após o nasci-
mento do bebê, neutralizando os anticorpos anti-Rh produzidos pelas mães do
grupo sanguíneo Rh- negativo grávidas de bebês Rh+ positivo (BARCELOS;
AQUINO, 2018).
Defeitos congênitos e anomalias cromossômicas não podem ser evitados. Nos
casos de malformações em alguns países, a amniocentese é um modo de diagnos-
ticar esses problemas de forma precoce na gravidez e permitir um aborto nesses
casos. No Brasil, contudo, a lei não é permissiva com doenças de má-formação
ou genéticas, apenas nos casos de bebês anencefálicos, ou quando a mulher corre
risco de vida. A importância do exame no Brasil é mais restrita ao conhecimento
precoce da família sobre o problema de saúde que a criança irá ter. Nesses casos,
é importante a gestante discutir os resultados dos exames com o seu médico, em
alguns casos é recomendado o aconselhamento genético.
Por fim, os surfactantes detectados no exame refletem a maturidade pulmo-
nar fetal, quando as quantidades estão diminuídas o médico pode avaliar e se
possível adiar o parto para permitir o desenvolvimento pulmonar do feto.

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Acesse seu ambiente virtual de aprendizagem


e confira a aula referente a esse tema.

NOVOS DESAFIOS
Através do conteúdo abordado neste tema, foi possível compreender o quão im-
portante é saber analisar amostras de sêmen e líquido amniótico.
Esses materiais requerem uma atenção redobrada, pois além de terem prazo
para que sua amostra seja processada, sua análise é bastante minuciosa, o que
reforça a importância de o profissional estar capacitado para desenvolver esse
resultado.
Amostras como essas estarão presentes em ambiente laboratorial, e no caso
do líquido amniótico em ambiente laboratorial hospitalar.

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VAMOS PRATICAR

1. O volume reduzido de líquido amniótico é denominado oligodrâmnio, enquanto o au-


mento no volume do líquido é denominado hidrâmnio ou polidrâmnio. O polidrâmnio é
o volume superior a 2 litros do líquido, sendo as principais causas o sofrimento fetal
agudo normalmente associado a distúrbios do tubo neural, malformação fetal, ano-
malias cromossômicas, diabete materno, arritmias cardíacas e infecções congênitas;
já o oligoidrâmnio é o volume menor que 500 ml, considerado um grave problema
durante a gestação.

A redução do líquido pode estar relacionada a diversos fatores, como a ruptura prema-
tura das membranas (RPM), insuficiência placentária, anomalias congênitas, aumento
da deglutição fetal, deformidades do trato urinário e compressão do cordão umbilical,
resultando na desaceleração da frequência cardíaca e na morte fetal.

O líquido amniótico desempenha várias funções, como a proteção do feto contra trauma-
tismos e infecções, permitir a evolução pulmonar e evitar fenômenos compressivos do
cordão umbilical. O volume do líquido amniótico aumenta regularmente com o transcorrer
da gestação atingindo até 1500 ml no final da gestação, porém algumas doenças podem
alterar o volume desse líquido. Disserte sobre os principais problemas relacionados ao
volume do líquido amniótico.

2. Quando a amostra chega ao laboratório, é observada quanto ao tempo de liquefação.


O sêmen normal costuma coagular e liquefazer entre 30 e 60 minutos após a colheita;
o tempo de liquefação superior a 60 minutos é considerado anormal.

O teste de motilidade avalia a capacidade de movimento espontâneo dos espermato-


zoides. Realizado em câmara de contagem com microscopia óptica, deve ser feito com
10 µl de sêmen afresco entre lâmina pré-aquecida e coberta com lamínula, repousar por
alguns minutos e ser examinado em microscópio óptico com aumento de até 400 vezes.

Segundo os critérios da OMS (2010), uma amostra seminal deve apresentar pelo menos
32% de espermatozoides que se movem de forma rápida ou lenta (progressivamente
móveis), e ainda 40% de espermatozoides móveis totais.

Já vitalidade é o teste realizado para determinar se os espermatozoides imóveis estão


vivos ou mortos (necrospermia).

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VAMOS PRATICAR

Uma amostra de sêmen foi coletada em casa, usando um preservativo e entregue ao


laboratório após 1 hora da coleta. No laboratório foram realizadas as análises e obtidos
os resultados descritos a seguir: liquefação (liquefeito na entrega), volume (3 ml), cor
(branco), viscosidade (viscoso), pH (7,2), concentração (160 milhões/ml) e motilidade (12%
progressivos, 12% não progressivos e 76% imóveis). Disserte sobre a amostra encontrar-se
liquefeita, a correlação entre o baixo número de espermatozoides móveis e o número de
espermatozoides viáveis.

3. A coleta do líquido amniótico é obtida por um procedimento chamado de amniocentese.


A técnica frequentemente utilizada é a amniocentese transabdominal, que consiste
na introdução de uma agulha longa e fina através da parede abdominal da mãe, do
útero e da bolsa amniótica para aspiração do líquido. O procedimento é guiado por
ultrassonografia, sendo mais seguro, principalmente após 14 semanas da gestação.

Após 20 semanas, a amniocentese é indicada para avaliar a maturidade pulmonar fetal,


infecção congênita, doença hemolítica do recém-nascido causada por incompatibilidade
de Rh e sofrimento fetal.

A amniocentese é uma ferramenta importante no diagnóstico genético fetal. Atualmente,


é bastante utilizada no campo da citogenética, para a determinação do cariótipo fetal
em cultura de células de líquido amniótico ou por análise de DNA. Com relação a esse
procedimento, classifique V para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas:

( ) Suas indicações também incluem infecção fetal e avaliação da maturidade pulmonar.

( ) O período da gestação mais adequado para coleta do líquido amniótico para análise
de maturidade pulmonar fetal é antes das 14 semanas.

( ) A amniocentese deve ser precedida por ultrassonografia, que avalie a vitalidade fetal,
o número de fetos e a localização da placenta.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta:

a) F - V - F.
b) V - F - V.
c) V - V - F.
d) V - V - V.
e) F - F - V.

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VAMOS PRATICAR

4. Para realizar a análise do sêmen, os procedimentos de coleta devem ser bem esclareci-
dos ao paciente, a fim de manter o controle de qualidade laboratorial. Os procedimentos
de coleta e manipulação devem ser realizados seguindo as instruções da Organização
Mundial da Saúde (WHO, 2010) os quais são descritos a seguir:

– As amostras devem ser obtidas por masturbação, assegurando a coleta total do eja-
culado.

– A coleta deve ser precedida de abstinência sexual de 2 a, no máximo, 7 dias, a fim de


obter uma amostra que reflita de forma precisa a contagem e viabilidade espermática.

– A amostra deve ser obtida em um recinto silencioso e confortável, disponibilizado no


laboratório para amenizar os efeitos inibitórios do paciente.

– A coleta domiciliar só deve ser permitida em caso de impedimento físico ou emocional.


Ela deve ser encaminhada ao laboratório o mais breve possível após a coleta, pois o ma-
terial sofre coagulação devido à ação de uma enzima coagulante formada na próstata.

– Antes da coleta o paciente deve lavar bem as mãos e o pênis com água e sabão, e
enxugar com toalha descartável.

– A amostra deve ser coletada em frasco estéril aquecido ou recipiente plástico não es-
permicida, fornecido pelo laboratório.

– A amostra deve ser encaminhada ao laboratório em até 30 minutos, pois a liquefação


ocorre entre 30 e 60 minutos. Caso seja necessário aguardar a análise, deve ser mantida
entre 20 e 37 ˚C.

Fonte: https://apps.who.int/iris/handle/10665/44261. Acesso em: 4 set. 2022.

O espermograma compreende a análise macroscópica e microscópica de um líquido


seminal, a fim de que seja possível identificar se um caso de infertilidade ocorre ou não
por conta dos espermatozoides existentes nele. Sobre os procedimentos de coleta e
preparação da amostra, analise as afirmativas a seguir:

I. A amostra deve ser obtida preferencialmente em domicílio por masturbação e enca-


minhada ao laboratório em no máximo 30 minutos.

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VAMOS PRATICAR

II. A amostra deve ser coletada em frasco estéril aquecido ou recipiente plástico não
espermicida, fornecido pelo laboratório

III. A coleta deve ser precedida de abstinência sexual de 2 a, no máximo, 7 dias.

É correto o que se afirma que:

a) I e II, apenas.
b) II e III, apenas.
c) I e III, apenas
d) III, apenas.
e) I, apenas.

5. Volume: o valor de referência varia de 1,5 a 5 mL em caso de ejaculação total.

As concentrações normais de espermatozoides, segundo a OMS, variam de 15 a 200


milhões/mL.

O sêmen normal costuma coagular e liquefazer entre 30 e 60 minutos após a colheita. O


tempo de liquefação superior a 60 minutos é considerado anormal.

A consistência da amostra é considerada normal quando é levemente viscoso e as gotas


são formadas. Quando forma filamentos de mais de 2 centímetros, é considerado anormal

O sêmen é composto de espermatozoides e fluidos provenientes das glândulas aces-


sórias, principalmente da próstata e da vesícula seminal. O exame que analisa o sêmen
é chamado de espermograma, e permite a análise de diversas características seminal,
assim como a qualidade dos espermatozoides. Sobre a análise laboratorial do sêmen,
assinale a alternativa correta:

a) O valor de referência do volume varia de 1,5 a 8 mL em caso de ejaculação total.


b) A diluição da amostra de sêmen, antes de fazer a contagem espermática, tem como
objetivo a imobilização espermática.
c) As concentrações normais de espermatozoides, segundo a OMS, são iguais ou su-
periores a 200 milhões/ml.
d) O valor de referência do volume varia de 1,5 a 20 mL em caso de ejaculação total.
e) O normal da liquefação é ocorrer em até 60 minutos, e o normal da viscosidade é
quando a gota de sêmen forma filamentos com mais de 3 cm de comprimento na
pipeta.

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CONFIRA SUAS RESPOSTAS

1. O polidrâmnio é o volume superior a 2 litros do líquido sendo as principais causas o sofri-


mento fetal agudo associado a distúrbios do tubo neural, malformação fetal, anomalias
cromossômicas e infecções congênitas; já o oligoidrâmnio é o volume menor que 500 ml,
relacionado a diversos fatores, como a ruptura prematura das membranas, insuficiência
placentária, anomalias congênitas, aumento da deglutição fetal e compressão do cordão
umbilical.

2. A liquefação normalmente ocorre entre 30 e 60 minutos após a coleta. Quando a entrega


ao laboratório ultrapassa 30 minutos, pode já ter ocorrido a liquefação. Tempos de lique-
fação superiores a 1 hora são considerados anormais. A motilidade avalia a movimentação
dos espermatozoides, já a vitalidade é realizada para determinar se os espermatozoides
imóveis estão vivos ou mortos. O resultado do teste de viabilidade confirmou a grande
quantidade de espermatozoides imóveis, no qual apenas 24% dos espermatozoides
estavam vivos. A motilidade e a viabilidade podem ser afetadas por vários fatores, como
temperatura, o uso de preservativos lubrificados e a demora na realização dos testes.

3. Alternativa correta: B.

4. A afirmativa I está incorreta, pois a coleta domiciliar só deve ser permitida em caso de
impedimento físico ou emocional.

5. Alternativa correta: B.

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REFERÊNCIAS

BARCELOS, L. F; AQUINO J. L. Tratado de análises clínicas. Rio de Janeiro: Atheneu, 2018.


(Livro eletrônico).
CAMPANA, S. G.; CHÁVEZ, J. L.; HAAS, P. Diagnóstico laboratorial do líquido amniótico.
Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial, Rio de Janeiro, v. 39, n. 3, p.
215-218, set. 2003. Disponível em: https://www.scielo.br/j/jbpml/a/s6KR3tWpGzwtgyLr-
qKSPC5k/?lang=pt. Acesso em: 17 abr. 2023.
CORREA JUNIOR, M. D; COURI, L. M.; SOARES, J. L. Conceitos atuais sobre avaliação da ma-
turidade pulmonar fetal. Femina, Rio de Janeiro, v. 42, n. 3, p. 141-148, maio/jun. 2014. Dis-
ponível em: http://files.bvs.br/upload/S/0100-7254/2014/v42n3/a4784.pdf. Acesso em: 17
abr. 2023.
COSTA, F. S.; CUNHA, S. P.; BEREZOWSKI, A. T. Avaliação prospectiva do índice de líquido
amniótico em gestações normais e complicadas. Radiologia Brasileira, São Paulo, v. 38, n.
5, p. 337-341, set. 2005. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rb/a/37pkdbJQQQQDLCtjZ-
BrYPym/?lang=pt. Acesso em: 17 abr. 2023.
ESPERMATOZOIDES. Mundo Educação, [s. l.], [2023b]. Disponível em: https://mundoedu-
cacao.uol.com.br/biologia/espermatozoides.htm. Acesso em: 17 abr. 2023.
JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Histologia Básica: texto e atlas. 11. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2008.
LAGE, C. R. D. Análise seminal: variabilidade da concentração, motilidade e morfologia de
espermatozoides com o emprego da metodologia preconizada pela Organização Mundial
da Saúde. 2013. Dissertação (Mestrado em Ciências Farmacêuticas) – Setor de Ciências da
Saúde, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2013.
MALAVÉ-MALAVÉ, M. Infertilidade: o que pode ser feito? Fundação Fiocruz, Rio de Janei-
ro, 27 jun. 2022. Disponível em: https://www.iff.fiocruz.br/index.php?view=article&id=112.
Acesso em: 17 abr. 2023.
MUNDT, L. A.; SHANAHAN, K. Exame de urina e de fluidos corporais de Graff. 2. ed. Porto
Alegre: Artmed, 2012.
NOMURA, R. M. Y. et al. Avaliação da maturidade fetal em gestações de alto risco: análise dos
resultados de acordo com a idade gestacional. Revista da Associação Médica Brasileira,
São Paulo, v. 47, n. 4, p. 346-351, dez. 2001. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ramb/a/
hvJTG4VdYC7hHw6ycfsxsvf/?lang=pt. Acesso em: 17 abr. 2017.
ROCHA, A. Biodiagnósticos: fundamentos e técnicas laboratoriais. São Paulo: Riddel, 2014.
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RODRIGUES, C. T. Avaliação do conteúdo mucoproteico e da atividade de enzimas
proteolíticas no plasma seminal hiperviscoso. 2018. Dissertação (Mestrado em Ciências
Biológicas) – Instituto de Ciências Básicas da Saúde, Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, Porto Alegre, 2018.

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REFERÊNCIAS

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2018. Disponível em: https://www.reproduccionasistida.org/liquido-amniotico/formacion-
-de-liquido-amniotico/. Acesso em: 17 abr. 2023.
SISTEMA reprodutor masculino. Mundo Educação, [s. l.], [2023a]. Disponível em: https://
mundoeducacao.uol.com.br/biologia/sistema-genital-masculino.htm. Acesso em: 17 abr.
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STRASINGER, S. K.; DI LORENZO, M. S. Urinálise e fluidos corporais. 5. ed. São Paulo: Li-
vraria Médica Paulista, 2009.
WHO. WHO laboratory manual for the examination and processing of human semen.
5. ed. World Health Organization, 2010. Disponível em: https://apps.who.int/iris/hand-
le/10665/44261. Acesso em: 17 abr. 2023.

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UNIDADE 4
TEMA DE APRENDIZAGEM 6

TÉCNICAS E MATERIAIS DE COLETA,


CONSERVAÇÃO E COLORAÇÃO DE
AMOSTRAS CITOLÓGICAS
FABIANE HORBACH RUBIN

MINHAS METAS

Compreender a importância das técnicas citopatológicas para a clínica


médica.

Eleger a melhor técnica e os melhores instrumentos para coleta de


amostras clínicas.

Conhecer e empregar as diversas técnicas de preservação das amostras


coletadas, garantindo uma análise citológica dentro dos padrões de
qualidade e excelência.

Conhecer as principais técnicas utilizadas nos exames citopatológicos.

Empregar as principais técnicas de coloração aplicadas à cito-histologia


clínica.

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INICIE SUA JORNADA


Já imaginou estar em sua rotina de leitura de lâminas e em uma delas deparar-
-se com uma situação de lâmina espessa, mal corada, com difícil visualização e
diferenciação celular?
É nessas horas que você vai dar valor para uma coleta bem-feita e uma co-
loração adequada, pois ter um material de qualidade é essencial para que seja
possível observar e analisar aquela amostra com maior exatidão.
Analisar uma lâmina com sobreposição já é difícil com achados dentro da
normalidade, imagina se você se deparar com a situação em que ficará em dúvida
sobre alguns achados celulares por ter essa sobreposição? Geralmente terá que
solicitar nova coleta, o que vai atrasar a liberação desse resultado.
Portanto, assim como nas demais áreas, é de extrema importância frisar que
quanto maior a qualidade do material a ser analisado, mais fidedigno será o re-
sultado.

P L AY N O CO NHEC I M ENTO

Você sabe o que é citopatologia? Citopatologia é o ramo das


ciências médicas e biológicas, em que é possível realizar o
diagnóstico de uma grande gama de doenças, através do
estudo das modificações celulares por microscopia óptica.
E para que isso ocorra, são necessárias técnicas e proced-
imentos específicos para que essa análise seja possível.
Ficou interessado(a) em saber mais informações? Venha
comigo aprender mais sobre o assunto! Ouça no seu Ambi-
ente Virtual de Aprendizagem.

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 6

A citologia, ou ainda a citopatologia, é o ramo das ciências médicas e biológicas


pertencente ao grupo da histotecnologia, que possui imensa relevância clínica,
pois é a partir dela que é possível realizar o diagnóstico de uma grande gama de
doenças que podem acometer os seres humanos e também os animais.
Citopatologia é a ciência que realiza os estudos, e posteriormente o diagnós-
tico, através de modificações celulares – tanto nucleares quanto citoplasmáticas.
Seu desenvolvimento ocorreu principalmente devido aos inúmeros avanços tec-
nológicos, como a invenção do microscópio por Zaccharias até a descoberta e
desenvolvimento de inúmeras técnicas de coloração que permitiram melhores
estudos citológicos por propiciar melhores visualizações das estruturas celulares.
É inegável que técnicas complementares podem ser necessárias para fechar
um diagnóstico clínico como ultrassons, tomografias e ainda a biologia molecular.

Outro fato que deve ser considerado é que nem sempre é possível
obter amostras clínicas de qualidade para as análises e contra-
análises (quando necessárias), por diversos fatores.

Dentre elas, o principal entrave, talvez, sejam os sítios de investigação de difícil


acesso.

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Devemos considerar ainda que as diversas enfermidades (ou doenças) que


acometem os tecidos humanos podem ter diversos agentes etiológicos respon-
sáveis: fungos, vírus, bactérias, protozoários e até mesmo diversos corpos estra-
nhos, e cada um deles exige uma especificidade para seu respectivo diagnóstico.
Então, vamos estudar agora as várias técnicas de coleta, como devemos con-
servar cada uma das amostras, respeitando sempre suas características, e ainda
como utilizar as técnicas de coloração como auxílio nos diagnósticos clínicos.

TÉCNICAS E MATERIAIS DE COLETA

O primeiro relato na literatura sobre a utilização das técnicas citológicas para fins
de diagnóstico é datado de 1843, por Sir Julius Vogel, que realizou a identificação
de células portadoras de malignidade em secreções drenadas de fístulas de um
tumor mandibular. Após ele, foi a vez de Henri Lebert, em 1845, registrar seus
achados morfológicos de células tumorais obtidas por aspirados tumorais.

Em 1853, o pesquisador Donaldson descreveu a citologia de células


tumorais, obtidas de cortes de superfícies tumorais, quando explicava
a aplicação prática do microscópio à época.

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Como outros nomes contemporâneos, com a utilização de técnicas citopatoló-


gicas, temos o professor Lionel Beale, em análises de escarro, e o Doutor Lambl
de Praga, em amostras de urina, ambos com descrições de achados celulares com
características de malignidade (BRASIL, 2012a; INCA, 2019).
Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2012a), foi apenas após os trabalhos
do Dr. George Papanicolaou, em 1917, que as análises citológicas voltaram ao
auge na comunidade científica. Talvez tenham sido necessários avanços relacio-
nados às colorações e às técnicas cito-histológicas para que as análises citológicas
voltassem a ser utilizadas pelos pesquisadores.

E U IN D ICO

Quer conhecer mais sobre a história do Dr. George Papani-


colaou? Acesse o site do Museu Histórico da Faculdade de
Medicina de São Paulo (FMUSP). Vale muito a pena conhecer
mais da história desse médico e pesquisador que viveu mui-
to à frente de seu tempo. Boa leitura!

O Dr. Papanicolaou foi o responsável pela criação da metodologia chamada de


citologia esfoliativa para diagnóstico, sobretudo, precoce, como forma de diag-
nosticar o câncer cervical. Para entender a técnica, faz-se necessário estudarmos
os tipos de descamação celular existentes, que, por sua vez, podem ser de dois
tipos. A primeira é espontânea, em que temos como exemplo a urina e o es-
carro, e a segunda, o método artificial, que é aquele que conta com a utilização
de algum tipo de objeto ou instrumento para a obtenção da amostra citológica
(INCA, 2019).
A citologia esfoliativa é uma técnica muito empregada para estudos celulares
com alterações displásicas – células que apresentam alterações em sua fisiologia
e que na maioria das vezes apresentam crescimento anômalo –, mas também
empregada primordialmente como forma de identificar processos inflamatórios
e fisiológicos, causados por microrganismos nas diversas partes do organismo
humano. Deve-se considerar também que, nessa modalidade de coleta, vários
tipos celulares podem ser identificados – o que reforça ainda mais a necessidade
de reconhecer a maioria deles – como as células pertencentes aos tecidos locais
e circunvizinhos, células sanguíneas (advindas de microlesões, que ocorrem no

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momento da coleta ou ainda devido a processos inflamatórios já estabelecidos


no sítio de coleta) e células do sistema de defesa (sistema imunológico) princi-
palmente leucócitos (BRASIL, 2012a).
Ainda, para o Ministério da Saúde (BRASIL, 2012a), as vantagens dessa téc-
nica são várias: simples execução, rápida amostragem, possibilidade de obter-se
mais de uma amostra relativa ao mesmo sítio, caso desejado, ou ainda quando
solicitado pelo médico assistente, permite excelente sensibilidade para diagnós-
tico, e principalmente, baixo custo.
A citologia preparada em meio líquido vem crescendo nas últimas décadas,
principalmente com o advento da maior sensibilidade das análises citológicas.
Essa metodologia permite preparar as lâminas de análise com menores quantida-
des de materiais sobrepostos, além de propiciar a realização de testes moleculares,
principalmente aqueles destinados à identificação do vírus do HPV.

COLETA DE MATERIAL E CONSERVAÇÃO

Assim como qualquer técnica de diagnóstico possui alguns inconvenientes ou


limitações, com as técnicas citológicas não é diferente. Podemos citar: tempo
relativamente longo para preparo e devidas interpretações, limitação da deter-
minação da extensão das lesões nos casos em que existem, dentre outras.

Temos que ter sempre em mente que os principais objetivos dos exames citopa-
tológicos são:

I - confirmar as suspeitas clínicas;

II - identificar doenças sem sintomatologia clínica (diagnósticos precoces,


como no Papanicolau);

III - acompanhar a terapêutica em tratamento farmacológico ou não (BRASIL,


2012b).

Devemos ter consciência de que as amostras citológicas podem ter variadas ori-
gens. Didaticamente, costuma-se separar as amostras em: citopatológicas não
ginecológicas e amostras ginecológicas. Além dos vários sítios de coleta, temos

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variadas técnicas e preparações, que, ao final, tem o mesmo objetivo: analisar a


existência de possíveis alterações celulares.
Para Molinaro, Caputo e Amendoeira (2010), genericamente, as amostras
podem ser classificadas de três formas: líquidas, em grande parte oriundas de
cavidades corpóreas: como pleura, cápsulas articulares, peritônio, líquor etc., além
da urina; amostras pastosas, advindas de punções ou drenagens e, ainda, os
esfregaços, comumente obtidos de Colpocitologia. Ainda segundo esses autores,
pode-se relacionar a origem da amostra ao método de coleta, e este, à classificação
amostral, conforme exposto no Quadro 1.
CLASSIFICAÇÃO
MÉTODO DE COLETA ORIGEM DA AMOSTRA
DA AMOSTRA

Colpocitologia

Raspagem swab ou
Olhos
espátula (Ayres)

Lavado brônquico

Lesões cutâneas

Distensão celu-
Imprint ou decalque Biópsias
lar (esfregaço)

Peças cirúrgicas

Sangue

Punção aspirativa Lavado brônquio

Líquor espinhal

Escarro
Expectoração

Amostras
Abscessos
pastosas
Punção ou drenagem
Massas necróticas

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Espontânea ou por Urina


cateter

Escovação Líquido sinovial

Escovação ou lavado
Líquido peritoneal ou ascítico

Líquido pleural

Líquido peritoneal ou ascítico


Amostras
líquidas
Líquido pericárdio

Lavado brônquio alveolar


Punção

Lavado vesical

Líquido estomacal

Lavado brônquico

Líquido sinovial

Quadro 1 - Classificação das amostras e métodos de coleta em citopatologia / Fonte: Caputo, Mota e
Gitirana (2010, p. 190).

Escovados e raspados
Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2012a, 2012b, 2012c), os escovados e
raspados são materiais obtidos através da esfoliação das superfícies de interesse
clínico, por intermédio de instrumentos específicos para essa finalidade. São em-
pregadas atualmente “escovinhas” (Figura 1) e espátulas de Ayres (Figura 2).

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Figura 1 - Escova / Fonte: Adobe Stock ([2023a], on-line).

Descrição da Imagem:na fotografia tomada durante o dia e na altura de um observador humano, pode-se
observar uma parte de um corpo humano, à direita da imagem, com um objeto sobre o pescoço. Na mão
direita, há outro objeto, caracterizado por “escova” e na mão esquerda um frasco médio, redondo, transpa-
rente e sem tampa. As mãos estão cobertas por luvas de proteção em tom de azul.

Figura 2 - Espátula de Ayres / Fonte: Adobe Stock ([2023b], on-line).

Descrição da Imagem: na fotografia tomada durante o dia e na altura de um observador humano, pode-se
observar uma parte de um corpo humano ao centro da imagem, vestindo uma roupa branca, segurando
na mão direita um objeto, caracterizado por “espátula”. As mãos estão cobertas por luvas de proteção em
tom de azul.

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Outro instrumento muito utilizado nas coletas de amostras citopatológicas,


Papanicolaou, é o espéculo, ou o popular bico de pato, chamado assim devido ao
seu formato que se assemelha ao formato do bico desse animal (Figura 3). Ele é
utilizado para afastar as paredes da vagina, facilitando a visualização e realização
do exame.

Figura 3 - Espéculo ou bico de pato / Fonte: Adobe Stock ([2023c], on-line).

Descrição da Imagem:na fotografia tomada durante o dia e na altura de um observador humano, pode-se
observar uma parte de um corpo humano ao centro da imagem, vestindo uma roupa branca, segurando na
mão direita, que está coberta por luva de proteção em tom de azul, um objeto, caracterizado por “espéculo
ou bico de pato”.

Para o Ministério da Saúde (BRASIL, 2012a, 2012b, 2012c), bem como para Mo-
linaro, Caputo e Amendoeira (2010), os raspados podem ser obtidos de vários
sítios – pele, boca, cavidades etc. A recomendação é de não realizar a higiene
do local de coleta nem fazer a utilização de medicações tópicas, pois essas prá-
ticas prejudicam a coleta das amostras, podendo comprometer sua análise e,
consequentemente, o diagnóstico. A depender das dimensões da área de coleta,
realiza-se, geralmente, até três raspagens – coleta tríplice –, da maneira mais de-
licada possível para evitar microlesões e prováveis sangramentos, o que poderia,
também, comprometer a amostra.

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Os escovados podem ser obtidos com o auxílio de endoscópios, que facilitam


a visualização de possíveis lesões, sendo que podem ser de diversos sítios, como
brônquico, intestinal e até mesmo gástricos, e as amostras obtidas analisadas
através de esfregaços ou de cell blocks – bloco celular.
A técnica de cell blocks é um procedimento que combina técnicas cito-his-
topatológicas e tem como principal indicação os casos em que a coleta oferece
baixas contagens celulares. Ela permite armazenar todo sedimento celular obtido
na amostragem, pelo método de centrifugação, seja líquida ou pastosa, possibi-
litando análises posteriores, fato crucial nos casos em que existem indícios de
tumores pouco diferenciados (BRASIL, 2012a).
Conforme afirma o Ministério da Saúde (BRASIL, 2012a), após a coleta, o
material é depositado suavemente em distensão em uma lâmina de vidro limpa
e desengordurada (Figura 4), através de um espalhamento fino e rápido, de ma-
neira mais uniforme possível. Outra metodologia possível é cortar a ponta da
escova ou espátula, imergi-la em salina ou em líquido conservante e submetê-la
à centrifugação. Após desprezado o sobrenadante e com auxílio de uma alça bac-
teriológica, pode-se retirar uma alíquota do sedimentado e depositá-la em lâmina
para confecção do esfregaço para posterior procedimento de análise.

Figura 4 - Lâmina de vidro e escovinha / Fonte: Adobe Stock ([2023d], on-line).

Descrição da Imagem: na fotografia tomada durante o dia e na altura média de um observador humano, po-
de-se observar uma parte de um corpo humano ao centro da imagem, vestindo uma roupa branca, segurando
na mão esquerda um objeto de vidro, retangular, transparente, caracterizado por “lâmina”, e à esquerda da
imagem se observa um objeto pequeno, fino, pontiagudo, com haste em tom de azul e ponta com cerdas
brancas, caracterizado por “escovinha”. A mão esquerda está coberta por luva de proteção em tom de azul.

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Após essa etapa, é realizada a fixação, na qual pode ser utilizado álcool a 95% ou
ainda um spray fixador. Esse procedimento deve ser rápido para evitar a desse-
cação do material e comprometer a amostra. Em seguida, é realizada a coloração.
Uma observação importante no momento da fixação, é o cuidado para não criar
artefatos de coleta ou artefatos técnicos – contaminações da amostra com fios
de algodão ou gaze, ou ainda, pelo talco das luvas de procedimento (BRASIL,
2012a, 2012b).

O talco apresenta forma de cristal em aspecto de cruz de malta.

Quando a amostra é contaminada com sangue – chamado na prática laboratorial,


fundo hemorrágico – provavelmente devido a uma microlesão no momento
da coleta da amostra. Outro cuidado que devemos ter é evitar o esmagamento
das células, devido, provavelmente, a uma pressão exagerada no momento da
confecção da lâmina, provocando uma lise celular, que pode ser caracterizada
pelo aparecimento de filamentos basofílicos na lâmina, que na realidade são res-
tos dos núcleos celulares.
Conforme afirma o Ministério da Saúde (BRASIL, 2012a, 2012b), após todos
esses procedimentos, devemos passar para a etapa de fixação dos esfregaços ci-
tológicos, que podem ser feitos em álcool, etanol 95%, que é o fixador de rotina
devido ao baixo custo e baixíssima toxicidade. Ela deve ser realizada ainda com
o esfregaço úmido, por imersão. Somente deverá ser retirado no momento da
coloração. Lembrando que o tempo mínimo recomendado pela literatura é de
15 minutos e o tempo máximo em imersão, deverá ser de 14-15 dias.
O Ministério da Saúde (BRASIL, 2012a) nos alerta para o fato das amostras
que ficam em contato com o fixador por um período maior que o recomendado
(ou se a solução fixadora estiver fora do padrão de concentração), podem com-
prometer a amostra, provocando até mesmo a inviabilização da análise.
Entre os fatores que podem comprometer a análise, temos: opacidade, au-
mento da eosinofilia citoplasmática, aumento das dimensões nucleares (até 6x),
dentre várias outras. Outros fixadores podem ser empregados: Carbowax (etanol
e polietileno glicol) e ainda sprays (álcool isopropílico e glicol). Estes possuem
vantagem sobre o fixador de rotina, devido a maior praticidade de transporte das
amostras quando são obtidas a grandes distâncias do local de análise, evitando,

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dessa forma, possíveis vazamentos ou mesmo danos às lâminas, mas como des-
vantagem apresentam maior custo.
Devemos nos lembrar de que o principal objetivo de todos os tipos de fixado-
res é sempre a preservação da arquitetura celular e de sua composição química,
presentes no momento da coleta da amostra.

Imprints – impressões teciduais

Para o Ministério da Saúde (BRASIL, 2012a), esta técnica baseia-se literalmente


em colocar o material amostral (geralmente um corte de tecido – geralmente his-
topatológico) em contato com a superfície de vidro da lâmina, e, por impressão,
transferir as células para análise na lâmina de vidro. Muitos autores chamam esta
técnica de ‘citologia por decalque’ ou ‘citologia de decalque’.

Lavados

Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2012a), lavados são amostras obtidas


através da utilização de cateteres. A lavagem com soluções salinas de uma de-
terminada cavidade de interesse do organismo. Essa técnica geralmente fornece
baixas contagens celulares para análise. Elas podem ser broncoalveolar (LBA),
brônquios (LB) entre vários outros. A instilação da solução de lavagem geralmen-
te ocorre nos locais onde há lesões ou o máximo possível de proximidade dela,
guiada por endoscópio e posteriormente aspirada.

O procedimento pode ser realizado ambulatorialmente, com paciente


levemente sedado.

Vale lembrar que, após a coleta, os líquidos resultantes são levados à centrífuga,
obtendo-se o sobrenadante que é descartado e o precipitado utilizado para con-
fecção do esfregaço ou cell block. Os fixadores ficam a critério do laboratório
mediante a disponibilidade, mas geralmente emprega-se etanol 95% ou Carbo-
wax. O LBA é uma metodologia bastante empregada no diagnóstico de infecções
oportunistas em pacientes com baixa imunidade, com o de Pneumocysti carinii.

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Essa técnica apresenta sensibilidade de 30% a 70% nos diagnósticos de malig-


nidade, principalmente em tumorações difusas e/ou multifocais (BRASIL, 2012a,
2012b, 2012c).
Os lavados esofágicos e gástricos também são obtidos por meio de guias
endoscópicas. Para o primeiro, há recomendação de jejum de oito horas, para o
segundo, 12 horas.

Os lavados são obtidos de áreas que requerem investigações de


mucosa.

O fixador geralmente mais empregado nesses casos é o etanol a 50% para o pri-
meiro e etanol 95% para o segundo.
De acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2012a), os lavados perito-
neais requerem maior nível de atenção, pois deve-se adicionar à amostra três
unidades de heparina para cada mililitro de volume de amostra e refrigeradas a
4°C até o momento da concentração e realização do esfregaço. Caso a demora seja
um pouco mais prolongada, é necessário o acréscimo de etanol 50% em partes
iguais. Em lavados que apresentam indícios de hemorragia, deve-se adicionar
anticoagulante – o mais utilizado é citrato de sódio a 3,8% na proporção de 1:5
ou ainda heparina, na proporção de 5-10 unidades para cada 10 ml de amostra.

Líquidos Cavitários

Para o Ministério da Saúde (BRASIL, 2012a), as amostras líquidas (pleurais, as-


cíticos ou pericárdicos), são investigados agentes infecciosos, alterações celulares
benignas, e claro, alterações celulares malignas em estágio primário ou mesmo
em metástases.

As amostras devem ser obtidas em ambientes hospitalares e devem


conter entre 2mL e 500mL, amostras maiores ou menores ao intervalo
são consideradas inadequadas.

O processamento ocorre sem adições, exceto em casos hemorrágicos, onde é


acrescido heparina. As análises que ocorrem após 12 horas de coleta devem sofrer

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acréscimo de etanol 50% para sua preservação. Como recomendação comple-


mentar nestes casos, indica-se o emprego da técnica de cell blocks para obtenção
de amostras permanentes para a realização de colorações especiais, caso neces-
sário.

Materiais Obtidos Espontaneamente

Um dos materiais mais analisados na rotina de citopatologia para diagnóstico


lesional no trato respiratório é o escarro, principalmente devido a sua facilidade
de obtenção e que gera pouco ou nenhum desconforto ao paciente. Mesmo com
essas vantagens, a broncoscopia e a punção por agulha fina (PAAF) vem ganhan-
do mais espaço nas análises referentes ao trato respiratório.
Nas amostras de escarro, deve-se verificar a sua adequação à análise, pois a
amostra, para ser adequada, precisa apresentar células cilíndricas ciliadas e ainda
macrófagos alveolares, indicando que o trato respiratório inferior está com repre-
sentatividade amostral. As amostras, múltiplas de escarro, devem ser coletadas em
dias consecutivos, o que confere um aumento de sensibilidade de 42% para uma
amostra e, em casos de cinco amostras, para 91%. Devem ser fixadas com etanol
95% ou, quando não for possível a preparação imediata do esfregaço, deve-se
realizar uma prefixação, diluição em 1:1 de etanol a 50% ou 70% ou ainda com
Carbowax em etanol 50% (BRASIL, 2012a, 2012b).
Outra amostra espontânea comum em citopatologia é a urina. Por meio dela,
pode-se verificar a existência de lesões pré-cancerosas na pelve renal, bexiga, ure-
ter e também da uretra. A primeira urina do dia não é indicada. A recomendação
é que o paciente esvazie a bexiga e faça hidratações a cada 30 minutos por duas
horas. A coleta da próxima urina deve ocorrer ainda pela manhã, diretamente no
coletor, preferencialmente no laboratório que fará a análise, após devida higieni-
zação da genitália com água e sabão é a mais indicada.
Alguns autores aconselham aos pacientes uma prática de atividade física, de
quinze minutos antes da coleta, como forma de provocar uma maior mobilização
da urina dentro da bexiga facilitando o processo de descamação epitelial (e/ou
tecidual), melhorando a qualidade da amostra, que deve ter entre 25 e 100 ml. O
processamento do material deve ser imediato ou em até seis horas após a coleta
(BRASIL, 2012a, 2012b).

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As secreções mamárias também são relativamente comuns em citopatologia


e tem como objetivo diagnosticar infecções, papilomas e até mesmo neoplasias.
Esse tipo de amostra citológica é utilizado somente quando não é possível per-
ceber anormalidades na mamografia ou ainda aquelas percebidas à palpação, e
em muitos casos a secreção é a única anomalia percebida. O obtido deve ser de-
positado diretamente na lâmina de vidro com confecção do esfregaço e posterior
fixação com etanol 95% (BRASIL, 2012a, 2012b).

Punções: por agulha fina (PAAF) e por capilaridade

Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2012a) e o INCA (2019), foi nos Esta-
dos Unidos, em 1926, que a punção aspirativa por agulha fina (PAAF) foi apresen-
tada, por Martin e Ellis, e somente na década de 1950 que passou a ter uso mais
recorrente, quando agulhas de menores calibres passaram a ser utilizadas. Nos
dias atuais, tem sido uma prática comum na clínica, principalmente na obtenção
de amostras celulares em órgãos mais profundos e de difícil acesso às técnicas
citopatológicas.
As punções são metodologias simples, executadas de maneira ágil e apresen-
tam excelente precisão de diagnóstico. Elas podem ser realizadas ambulatorial-
mente e complicações decorrentes do processo são consideradas raras. Existem
apenas algumas contraindicações para grupos específicos de pacientes: portado-
res de distúrbios de coagulação e em uso de anticoagulantes, pacientes com tosse
e tumor carotídeo, aos demais deve-se avaliar o risco-benefício (BRASIL, 2012a).
Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2012a), a assepsia do local a ser
puncionado geralmente é feita com álcool iodado. Existe a recomendação, por
alguns autores, do uso de pistola porta-seringa – instrumentação utilizada para
dar suporte à agulha e seringa. O Ministério da Saúde (BRASIL, 2012a) recomen-
da, ao realizar a PAAF, deve-se colocar o paciente na posição mais privilegiada
para a coleta, de preferência com certo conforto ao paciente. Deve-se previamente
realizar a escolha do local, por palpação ou com auxílio de exames de imagem,
fazer a assepsia do local, segurar o sítio da punção entre os dedos indicador e
médio, e posteriormente, efetuar a punção.

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Para se realizar a punção, conforme afirma o Ministério da Saúde (BRASIL,


2012a), devemos seguir a seguinte sequência de procedimentos:

→ A: manter o êmbolo na posição zero e introduzir a agulha na lesão em ângulo


perpendicular à superfície da pele;

→ B: promover forte pressão negativa no interior da seringa, deslocando o êmbo-


lo para estabelecer vácuo, mantendo-o;

→ C: fazer movimentos de “vai e vem” com a agulha na lesão, nas diversas


direções e profundidades, mantendo a pressão negativa ainda com a agulha na
lesão;

→ D: soltar o êmbolo da seringa, desfazendo a pressão negativa, ainda com a


agulha na lesão;

→ E: retirar a agulha da lesão e comprimir o local com uma gaze;

→ F: retirar a agulha da seringa com o êmbolo na posição zero;

→ G: puxar o êmbolo da seringa, fazendo vácuo;

→ H: acoplar a agulha na seringa para em seguida, empurrando o êmbolo, de-


positar o material na lâmina e proceder a preparação do esfregaço.

Para o Ministério da Saúde (BRASIL, 2012a), bem como para Molinaro, Caputo
e Amendoeira (2010), quando o material resultante da PAAF é líquido, faz-se
necessário centrifugar a amostra, para sedimentar as células para realizar o es-
fregaço (e desprezar o sobrenadante). Nos casos em que a amostra é oriunda de
nódulos sólidos, deve-se apenas permitir a entrada de um pouco de ar, acoplar
nova agulha e fazer o depósito da amostra sobre a lâmina, cerca de 2 a 3 mm e
confeccionar o esfregaço. Em amostras semissólidas ou com traços hemorrágicos,
deve-se utilizar uma lâmina inclinada a 45° para estender o material de forma
delicada, rápida e de maneira uniforme.
Outro tipo de punção muito utilizada na clínica nos dias atuais, segundo o
Ministério da Saúde (BRASIL, 2012a), é a punção por capilaridade, a qual foi
utilizada pela primeira vez, em 1986, pelo médico francês Zajdela em uma coleta
oftalmológica. Nela, a obtenção do material ocorre através do deslocamento ce-
lular promovido pela ponta da agulha (bisel) no ato de sua introdução no tecido,

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não existe o emprego de pressões negativas. Ao perceber a existência de amostra


no bisel, a agulha é retirada da lesão com o material coletado e posteriormente
depositado em várias lâminas para a confecção dos esfregaços.
Essa técnica, ainda segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2012a), foi disse-
minada na comunidade científica posteriormente, e hoje passou a ser empregada
em diversos órgãos, principalmente devido aos menores traumas causadas pela
técnica, ser de fácil execução e, ainda, por fornecer bom quantitativo celular às
análises citológicas. Os materiais utilizados são basicamente os mesmos utilizados
na PAAF tradicional.

COLORAÇÕES EM CITOPATOLOGIA

De acordo com Molinaro, Caputo e Amendoeira (2010), vários fatores


são determinantes para um diagnóstico assertivo em citopatologia
clínica.

Entre eles, temos a qualidade das colorações, a preparação da amostra e sua fi-
xação. Devem ser evitados os artefatos advindos de colorações que podem em
situações extremas inviabilizar a análise do material citopatológico.
Muitos corantes com emprego tradicional em histologia são e devem ser
utilizados em citologia com algumas pequenas adaptações, seja no processa-
mento das amostras ou ainda em condições e situações especiais, como na imu-
nocitoquímica, porém, de maneira rotineira, na citopatologia, a metodologia de
coloração desenvolvida por Papanicolaou é a mais empregada e recomendada.
Outras colorações utilizadas são: hematoxilina-eosina (HE), May-Gruenwald
Giemsa (MMG), Shorr, entre outras (MOLINARO; CAPUTO; AMENDOEIRA,
2010; BRASIL, 2012a, 2012b). Pela grande importância e pelo vasto uso, vamos
estudar mais detalhadamente algumas colorações.
Coloração de Papanicolaou
Molinaro, Caputo e Amendoeira (2010) afirmam que a coloração de Papani-
colaou é formada por um corante natural, a hematoxilina, e ainda por dois outros
corantes com afinidades citoplasmáticas o Orange G6 e o EA, que são formados
pela combinação de eosina, verde luz (também conhecido por verde brilhante)

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e pelo pardo de Bismarck. O conjunto de corantes utilizados por essa técnica


tem como principal objetivo evidenciar a morfologia das células bem como os
graus de maturidade celular (MOLINARO; CAPUTO; AMENDOEIRA, 2010;
BRASIL, 2012a, 2012b).

Essa técnica é realizada em etapas, conforme descrito no Quadro 2. Vale lembrar


que cada laboratório faz suas próprias adaptações, seja pelo tempo de técnica ou
pelo custo da coloração. A hematoxilina tem afinidade pelos núcleos, os quais
são corados de azul-roxo. O verde brilhante cora os citoplasmas de verde-azul
de células parabasais e intermediárias, células colunares e ainda os histiócitos.
A eosina irá realizar a coloração citoplasmática das células superficiais, de nu-
cléolos, mucinas endocervicais e ainda de cílios no tom rosa. O Orange G6 vai
realizar a coloração de hemácia e de células queratinizadas em laranja brilhante.
Em seguida, os esfregaços passam por uma etapa chamada de clareamento, por
xilol (MOLINARO; CAPUTO; AMENDOEIRA, 2010; BRASIL, 2012a, 2012b).

ETAPA CORANTE/REAGENTE N° DE MERGULHOS

1 Etanol 80% 5-10

2 Etanol 70% 5-10

3 Etanol 50% 5-10

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4 Água destilada I 5-10

5 Água destilada II 5-10

6 Hematoxilina de Harris 1 a 5 minutos

7 Água destilada 5-10

8 Diferenciar em álcool-ácido 3

9 Água destilada 5-10

10 Banho de água amoniacal 5

11 Água destilada 5-10

12 Etanol 50% 5-10

13 Etanol 70% 5-10

14 Etanol 95% 5-10

15 Orange G, solução de trabalho 1 minuto

16 Etanol 95% 5-10

17 Etanol 95% 5-10

18 Etanol 95% 5-10

19 Eosina-EA65, solução de trabalho 5 minutos

20 Etanol 95% 5-10

21 Etanol 95% 5-10

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22 Etanol 95% 5-10

23 Etanol 100% I 5-10

24 Etanol 100% II 5-10

25 Etanol 100% III 5-10

26 Xilol I 5-10

27 Xilol II 5-10

28 Xilol III 5-10

29 Selar em meio hidrófobo

Quadro 2 - Método descritivo da Coloração de Papanicolaou / Fonte: adaptado de Brasil (2012a).

Resumo do resultado da coloração, segundo o Ministério da Saúde (BRASIL,


2012a):

I - Células escamosas maduras -> róseo-avermelhada.

II - Nucléolo -> vermelho- arroxeado.

III - Células metabolicamente ativas -> verde azulado.

IV - Citoplasma queratinizado -> laranja ou amarelo.

Coloração de May-Grünwald-Giemsa

Molinaro, Caputo e Amendoeira (2010) discorrem que essa coloração é bastante


utilizada em distensões em que a amostra é oriunda do sangue periférico, medula
óssea, elementos celulares obtidos por punção, esfoliação e imprint. São utilizados
dois corantes e as soluções podem ser ajustadas. Outra observação a ser feita é
que as soluções devem ser preparadas no momento do uso e desprezadas após
seu término.

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ETAPA CORANTE E/OU REAGENTE

1 Fixar em Metanol por 15 min

2 Corar com Solução May-Grünwald por 5 min.

3 Escorrer o corante da lâmina

4 Corar com Giemsa por 10min.

5 Lavar em tampão Soren pH 6,8 e deixar secar naturalmente.

6 Clarificar com xilol e secar em meio hidrofóbico

Quadro 3 - Método descritivo da Coloração de May-Grunwald-Giemsa / Fonte: adaptado de Brasil (2012a).

Resumo do resultado da coloração, segundo o Ministério da Saúde (2012a):

I- Núcleos dos leucócitos -> azul-pálido.

II- Citoplasma -> azul muito claro ou incolor.

III- Granulações neutrófilas -> vermelho claro.

IV- Granulações basófilas -> azul escuro.

V- Eosinófilos e eritrócitos -> vermelho alaranjado.

Coloração hematoxilina eosina (HE)

Esta coloração é utilizada nas preparações cell blocks e ainda nos esfregaços rea-
lizados a partir da PAAF.

O resumo do resultado da coloração é similar àquele apresentado nas colorações


realizadas em cito-histologia, segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2012a):

I- Núcleos -> azul.

II- Citoplasma -> rosa.

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Outras colorações usuais

Várias outras colorações são utilizadas na rotina laboratorial citopatológica, con-


forme discorrem Molinaro, Caputo e Amendoeira (2010). A escolha do tipo de
coloração a ser utilizada vai depender do principal objetivo da análise. Para isso,
deve-se levar em consideração variados fatores, entre eles, as suspeitas clínicas
do médico assistente no ato da solicitação do exame, que vêm descritas na ficha
de solicitação do exame. As mais utilizadas são:
• Panótico: técnica rápida utilizada em amostras por PAAF. São três
soluções (I, II e III) e o tempo de processamento é de 15 minutos.
• Shorr: coloração diferencial de células escamosas superficiais e
profundas, mas não é muito utilizada porque os detalhes nucleares
ficam difíceis de serem percebidos.
• PAS: ácido periódico de Schiff – coloração especial e diferencial.
Cora carboidratos e fungos de cor magenta e o “fundo” (demais es-
truturas) de verde.
• Gram: coloração que permite identificação de bactérias Gram po-
sitivas e Gram negativas além da conformação bacteriana (cocos,
bacilos etc.)
• Ziehl-Neelsen: permite a identificação de bactérias – bacilos – ál-
cool resistentes, chamados de BAAR.

violeta álcool
cristal iodo (descoloração) safranina

Gram-positivo

Gram-negativo

Figura 5 - Coloração de Gram das bactérias / Fonte: Adobe Stock ([2023e], on-line).

Descrição da Imagem:a figura ilustra dois sequenciais de coloração em Gram que ocorre entre setas. O pri-
meiro inicia por Gram-positivo e o segundo por Gram-negativo. Após o início da rotina, os seguintes círculos
são ligados sequencialmente: violeta cristal, iodo, álcool (descoloração), safranina.

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Descrição da imagem: A coloração de Gram permite a diferenciação das bac-


térias que podem estar acometendo determinada região do corpo, o que facilita
a escolha de um possível esquema medicamentoso (os medicamentos de escolha
para combate de Gram positivos geralmente são diferentes daqueles empregados
para Gram negativos) e ainda auxilia na descoberta da morfologia ou arranjo
celular desses agentes infecciosos.

Figura 6 - Amostra submetida à Coloração de Gram: bactéria Escherichia coli – bastonete Gram negativo /
Fonte: Adobe Stock ([2023f], on-line).

Descrição da Imagem: nas fotografias tomadas por microscópio óptico, pode-se observar fundo azul claro,
com diversas estruturas em variados formatos, ovais, retilíneas, curvadas, umas mais próximas e outras
mais afastadas umas das outras, todas em tons de roxo.

Figura 7 - Amostra submetida à Coloração de Gram: bactéria Gram positiva – Estreptococos / Fonte: Adobe
Stock ([2023g], on-line).

Descrição da Imagem: na fotografia tomada por microscópio óptico, pode-se observar fundo rosa claro, com
algumas estruturas circulares, umas em pares, outras em maior quantidade, em tons de rosa.

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Figura 8 - Principais agentes infecciosos em humanos e seus respectivos arranjos / Fonte: Adobe Stock
([2023h], on-line).

Descrição da Imagem: na figura, constam diversas imagens. De cima para baixo, na primeira linha da es-
querda para a direita, temos a primeira figura, na qual estão representados os Staphylococcus aureus, com
morfologia em formato de círculos aglomerados, densos, em tons de roxo, chamado de cocos. Ao centro,
estão representados os Streptococcus pyogenes, de morfologia circular densa, em tons de roxo, dispostos em
linha e por último, à direita, temos os Streptococcus pneumoniae, de morfologia circular em pares, também
em tons de roxo. Na segunda linha, à esquerda, estão representados os Bacillus cereus. Com morfologia em
formato de bastão, um ao lado do outro, formando uma linha, eles têm coloração de rosa claro. Na terceira
linha, da esquerda para a direita estão representados E. coli e Salmonella, com morfologia de vários flagelos
ligados a uma estrutura circular, em tons de rosa..

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Ao centro, está representado Vibrio cholerae, com morfologia de um único flagelo que sai de uma estrutura
oval achatada em tons de rosa claro. E por último, à direita, está representada a Klebsiella pneumoniae.
Com morfologia em formato de bastões encapsulados em diversos tamanhos, eles têm coloração em azul.
Na quarta linha, da esquerda para a direita, temos a imagem representada por Bordetella pertussis, com
morfologia também em bastões encapsulados, sozinhos ou em pares, em tons de rosa claro. Ao centro,
está representado Corunebacterium diphtheriae, com morfologia em formato de cotonete, em tons de roxo.
E por último, à direita, representado por Helicobacter pylori, com morfologia de bastonete em curva, do
qual saem de quatro a seis flagelos, em tons de rosa claro. Na quinta e última linha, da esquerda para a
direita, está representado a Clostridium botulinum, com morfologia em formato de bastonete em tons de
roxo com uma das extremidades com círculo pequeno em branco. Ao lado, está representado o Clostridium
tetani, com morfologia em formato de bacilos com uma extremidade mais circular, e tons de roxo e laranja.
A próxima imagem representa Neisseria gonorrhoeae, com morfologia de cocos em pares, em tons de rosa
claro. E por último, vê-se a representação do Treponema pallidum, com morfologia em forma de linha em
espiral, em tons de rosa escuro.

ADEQUABILIDADE DAS AMOSTRAS


É de extrema importância, antes de efetivamente realizar a análise citológica,
conferir os dados do paciente – nome e sobrenome, número de registro do
exame ou código de barras, com a ficha de cada um dos pacientes que sempre
acompanha as amostras.

O Ministério da Saúde (BRASIL, 2012a) nos alerta sobre um ponto


fundamental: verificar a qualidade da amostra, de sua fixação e da sua
coloração.

Essa análise é feita em menor aumento, objetiva de 4x. O fundo, área em que en-
contramos as células a serem analisadas – tipo celular –, a quantidade dessas célu-
las, como as células estão dispostas e o modo pelo qual se encontram dispostas no
esfregaço são os aspectos a serem considerados para se avaliar a adequabilidade
da amostra, segundo a Nomenclatura Brasileira para Laudos Cervicais e Condu-
tas Preconizadas proferidas pelo Ministério da Saúde, em 2006, que foi adaptado
do Sistema Bethesda de classificação citológica dos esfregaços cervicais de 2001.

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As categorias de avaliação, segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2012a), são:

I- Satisfatória: a amostra apresenta células em quantidade representativa


(8.000 a 12.000 células escamosas) bem distribuídas, fixadas e coradas, de
modo a permitir a visualização e chegar a uma conclusão diagnóstica.

II- Satisfatória, mas limitada para avaliação por falta de informações clínicas:
esfregaços comprometidos entre 50%-75% de sua tonalidade por diversos fa-
tores. Exemplos: esfregaço hemorrágico, esmagamento celular por compressão
na confecção do esfregaço, demora da fixação. Outros fatores fisiológicos
também podem interferir, como a escassez celular por atrofias diversas comuns
na menopausa.

III- Insatisfatória: esfregaço comprometido em mais de 75% (mesmos fatores


citados).

Quando o exame citológico é satisfatório, mas limitado, ou ainda classificado


como insatisfatório para análise, deve ser repetido o mais breve possível.

Figura 9 - Amostra satisfatória de esfregaço vaginal / Fonte: Adobe Stock ([2023i], on-line).

Descrição da Imagem: : na fotografia tomada por microscópio óptico, pode-se observar fundo claro, com
várias estruturas em tons de rosa e azul, caracterizadas por “células”, as quais estão distribuídas em toda
a imagem, são de diferentes formatos, retangulares, ovaladas, pavimentosas, maiores e menores e com
um círculo mais escuro no interior de cada uma delas.

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O Ministério da Saúde (BRASIL, 2012a) traz um importante conselho sobre


as análises/leituras de lâminas de esfregaços: iniciar a análise dos esfregaços sem-
pre da esquerda para a direita, correndo a lâmina de cima para baixo, sempre com
sobreposição das áreas para evitar que passe despercebido alguma arquitetura
celular de importância clínica.

E U IN D ICO

Olá, estudante! Indicamos a leitura do artigo: “Quem foi


George Papanicolaou, criador do exame considerado uma
das armas mais poderosas contra o câncer”.

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Acesse seu ambiente virtual de aprendizagem


e confira a aula referente a esse tema.

NOVOS DESAFIOS
Através de todo este conteúdo abordado, foi possível compreender o quão impor-
tante é uma lâmina ser de qualidade, sem sobreposição de células, bem corada,
pois isso é o que facilitará ao profissional a observação, análise e liberação de
resultados com segurança, pois a lâmina estará adequada para tal ação.
Esse tipo de material será rotina de laboratório de citologia, diferente do am-
biente laboratorial de exames em geral, mas de grande valia conforme vimos
durante o conteúdo.
Trata-se de um ramo que vem crescendo, necessitando cada vez de mais pro-
fissionais capacitados.

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VAMOS PRATICAR

1. A qualidade dos diagnósticos citopatológicos dependem de variados fatores, dentre


eles, a adequabilidade da coleta e, ainda, fatores ligados ao processamento das amos-
tras. Geralmente, os materiais são coletados pelo médico assistente durante a rotina
clínica, principalmente, esfregaços cervicovaginais.

Descreva os procedimentos a serem realizados pelos laboratórios citopatológicos após


a recepção dessas amostras.

2. O Lavado Broncoalveolar (LBA) é uma técnica de coleta de células, partículas, organis-


mos infecciosos e corpos estranhos que, porventura, estejam nos espaços alveolares
do pulmão. É uma técnica que vem sendo bastante utilizada na área clínica como
ferramenta de estudos na área da Imunologia.

Disserte sobre o modo como essa técnica é utilizada nos exames citopatológicos de
vários tipos de doenças.

3. A punção, capilaridade ou por agulha fina (PAAF) é um método bastante utilizado na


obtenção de amostras citopatológicas. Trata-se de uma metodologia simples, rápida e
segura que permite uma boa precisão de diagnóstico. Na realização da técnica, alguns
preparativos e materiais são necessários.

Sobre o exposto, analise as afirmativas a seguir:

I - Prepara-se o local de coleta e o psicológico do paciente.


II - Anestesia-se o local a ser utilizado como sítio da punção.
III - Coloca-se um pequeno curativo oclusivo após a punção.
IV - Espátula de Ayres e espéculo são utilizados.

É correto o que se afirma em:

a) I, II e IV, apenas.
b) III e IV, apenas.
c) I e IV, apenas.
d) I, II e III, apenas.
e) II e III, apenas.

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VAMOS PRATICAR

4. Foi Johannes Müller o responsável pelo primeiro exame citológico em 1838. Nele, foi
descrita a imagem microscópica de células malignas que foram obtidas por raspado
superficial de tumores.

Sobre as técnicas de obtenção de amostras citológicas, analise as afirmativas a seguir:

I - As técnicas de obtenção são procedimentos simples, com menor grau de invasão.


II - As técnicas possuem menores taxas de complicações durante e após a coleta.
III - As técnicas não oferecem vantagens quando comparadas a outras técnicas de coletas
de amostra, como nas biópsias.
IV - As técnicas empregadas permitem diagnósticos rápidos, seguros e de excelente qua-
lidade.

É correto o que se afirma em:

a) I, II e IV, apenas.
b) III e IV, apenas.
c) I e III, apenas.
d) I, II e III, apenas.
e) II e III, apenas.

5. Para garantir que resultados falso-negativos ou falso-positivos não ocorram na rotina


clínica, devemos verificar a qualidade da amostra e, ainda, os procedimentos corretos
e necessários para realizar boas colorações. As colorações podem ser realizadas por
meio de reagentes preparados diretamente nas unidades laboratoriais ou, ainda, po-
dem ser adquiridas prontas no formato de kits rápidos (TR). Cuidados adicionais devem
ser tomados para que seja possível a obtenção de resultados confiáveis, dentre eles, a
leitura atenta das instruções fornecidas pelos fabricantes.

Sobre a prevenção de falhas de análise ou leitura quando empregado os TR, analise as


afirmativas a seguir:

I - Abre-se a embalagem do TR somente no ato da sua utilização.


II - Realizam-se vários TR ao mesmo tempo.
III - Cronometra-se o tempo de teste conforme instruções do fabricante.
IV - Evita-se tocar, bater ou agitar os instrumentos ou reagentes dos dispositivos inte-
grantes do TR de modo que possa comprometer a sua integridade.

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VAMOS PRATICAR

É correto o que se afirma em:

a) I, III, IV, apenas.


b) I, II e IV, apenas.
c) II, IV e V, apenas.
d) I, II, III e V, apenas.
e) II e III, apenas.

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CONFIRA SUAS RESPOSTAS

1. Após a recepção das amostras citopatológicas, os laboratórios citopatológicos seguem um


processo rigoroso de preparação e análise das amostras para garantir a qualidade e preci-
são dos diagnósticos. A seguir, estão descritos os procedimentos gerais realizados pelos
laboratórios citopatológicos após a recepção de amostras de esfregaços cervicovaginais:

Identificação das amostras: as amostras são identificadas com um número de identifica-


ção único para garantir a rastreabilidade e a integridade das amostras.

Preparação das amostras: as amostras são fixadas em uma solução que preserva as
células e impede a deterioração da amostra. Geralmente, é utilizada uma solução à base
de álcool ou formalina.

Processamento das amostras: as amostras são processadas por um técnico de labora-


tório especializado em citopatologia. O processo de processamento envolve a remoção
do excesso de muco e outras impurezas presentes na amostra, bem como a preparação
do esfregaço em lâmina de vidro.

Coloração das amostras: após a preparação do esfregaço em lâmina de vidro, as amos-


tras são coradas com corantes específicos para realçar as características das células
presentes na amostra.

2. Para realizar o exame citopatológico, o LBA é colhido através da introdução de um bron-


coscópio pelo nariz ou pela boca do paciente. O broncoscópio é um tubo flexível que
contém uma câmera e uma fonte de luz na sua extremidade, permitindo a visualização
dos espaços alveolares do pulmão. Uma vez que o broncoscópio é inserido no pulmão,
uma solução salina estéril é instilada e aspirada novamente através do broncoscópio,
coletando assim as células e outras partículas presentes nos espaços alveolares.

As células coletadas pelo LBA são enviadas para o laboratório, onde são preparadas e co-
radas para análise citopatológica. Através da análise citopatológica, é possível identificar
a presença de células anormais, como células cancerígenas, células inflamatórias, bacté-
rias, vírus e outros organismos infecciosos. Além disso, a análise citopatológica também
permite avaliar a inflamação presente nos espaços alveolares e auxiliar no diagnóstico
de doenças pulmonares específicas.

Em resumo, o LBA é uma técnica importante para o diagnóstico de diversas doenças


pulmonares, permitindo a coleta de células e outras partículas presentes nos espaços
alveolares do pulmão para análise citopatológica. Através dessa análise, é possível iden-
tificar a presença de células anormais e organismos infecciosos, bem como avaliar a
inflamação presente nos espaços alveolares, auxiliando no diagnóstico e no tratamento
das doenças pulmonares.

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CONFIRA SUAS RESPOSTAS

3. Alternativa correta: D.

4. Alternativa correta: A.

5. Alternativa correta: A.

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REFERÊNCIAS

ADOBE STOCK. [Sem título]. [2023a]. 1 fotografia. Disponível em: https://stock.adobe.com/


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MOLINARO, E.; CAPUTO, L. F. G.; AMENDOEIRA, M. R. R. Conceitos e métodos para forma-
ção de profissionais em laboratórios de saúde. Rio de Janeiro: EPSJV: Fiocruz, 2010. v. 2.
(Coleção Conceitos e Métodos para a Formação de Profissionais em Laboratórios de Saúde).

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TEMA DE APRENDIZAGEM 7

CITOLOGIA DO TRATO
GENITAL FEMININO I
FABIANE HORBACH RUBIN

MINHAS METAS

Interpretar os diagnósticos citopatológicos, correlacionando-os com a clínica.

Desenvolver as habilidades técnicas mínimas para estudos e análises das


alterações morfofuncionais do trato genital feminino (TGF).

Conhecer as alterações citopatológicas decorrentes dos processos inflamatórios


e degenerativos.

Compreender a importância da realização do exame de Papanicolaou no


rastreamento de alterações celulares benignas, pré-malignas e malignas
no colo do útero.

Reconhecer as alterações pré-malignas e malignas nas amostras cervicovaginais


e fazer constá-las nos laudos citológicos de modo crítico e ético.

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UN I C ES UMA R

INICIE SUA JORNADA


Imagine que você foi selecionado(a) para ser o(a) responsável pela leitura de
lâminas de amostras cervicovaginais. Você, porém, fica inseguro(a), pois não se
recorda sobre o trato genital femino. O que faria?
As informações básicas sobre o trato genital feminino são de grande impor-
tância, uma vez que estará analisando esfregaços cervicovaginais, sendo neces-
sário fomentar muitos achados celulares com a anatomia básica.
Por exemplo, esfregaços de mulheres jovens são diferentes de mulheres mais
maduras, ou seja, entender que existe uma diferença entre essas amostras fará
total sentido. A prática sempre estará relacionada à teoria, e muitos resultados só
serão possíveis uma vez que tiver relação com a análise clínica geral do paciente.

P L AY N O CO NHEC I M ENTO

Você sabe o que é a Citologia do Trato Genital Feminino? É


o estudo das células presentes no trato genital feminino,
principalmente células do colo do útero, nas quais ocorrem
diversas alterações em casos de câncer do colo do útero.
Ficou interessado(a) em saber mais informações? Venha
comigo aprender mais sobre o assunto! Ouça no seu Ambi-
ente Virtual de Aprendizagem.

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 7

DESENVOLVA SEU POTENCIAL


A principal forma de diagnóstico das principais doenças que acometem o trato
genital feminino (TGF) é o esfregaço vaginal, muito conhecido como exame
de Papanicolau. Esse procedimento é não invasivo e não causa nenhuma com-
plicação à paciente, além de apresentar baixíssimo custo.
Vale lembrar que o exame citopatológico é o método de rastreio eleito para
identificação e prevenção do câncer de colo de útero, o qual, segundo estimati-
vas do Instituto Nacional do Câncer (Inca), para o ano de 2020, no Brasil, faria
16.710 novos casos e, infelizmente, 6.596 óbitos. Esses dados apenas reforçam a
necessidade real de estudarmos cada dia mais as particularidades do TGF.

ANATOMOFISIOLOGIA E CITO-HISTOLOGIA
DO TGF
O TGF é constituído por dois ovários ou gônadas, duas tubas uterinas, o útero, a
vagina e a genitália externa ou vulva, além do clitóris, o bulbo do vestíbulo e as
glândulas anexas, vestibulares maiores e menores (JUNQUEIRA; CARNEIRO,
2018).
Os ovários são as gônadas femininas, e segundo Junqueira e Carneiro (2018),
possuem em média 3 cm de comprimento, 1,5 cm de largura e aproximadamente
1 cm de espessura, porém, essas dimensões variam de acordo com cada indivíduo
(variações anatômicas) e a ainda dependem da fase do ciclo menstrual na qual
as características estão sendo avaliadas.
Outra informação importante é que são dois, um de cada lado do útero, es-
tando interligados pelas trompas.

Produzem hormônios sexuais (progesterona e estrogênio) e ainda o


gameta feminino (BRASIL, 2012a; KOSS; GOMPEL, 2014).

Os ovários são revestidos por tecido epitelial cúbico simples, e, em algumas por-
ções, é possível encontrar tecido epitelial pavimentoso simples. Logo a seguir,
temos a túnica albugínea, em que o tecido conjuntivo denso e os vasos sanguíneos

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se fazem presentes além das células de Leydig, que produzem os hormônios


sexuais estimuladas pelas gonadotrofinas, região conhecida como cortical e de
aparência esbranquiçada.
Os folículos ovarianos (ovócitos) se desenvolvem nos ovários e podem ser
encontrados junto ao tecido conjuntivo frouxo, na porção denominada como
estroma, que possui conformação característica (em redemoinhos). Nesta re-
gião, durante o ciclo sexual, dependente hormonalmente de FSH e LH, ocorrem
alterações ovarianas. Aqueles folículos não estimulados permanecem inativos,
como na infância, período em que praticamente não ocorre secreção hormonal.

Figura 1 - Ovário / Fonte: Adobe Stock ([2023a], on-line).

Descrição da Imagem:na ilustração, pode-se observar um fundo rosa; à esquerda, uma estrutura maior com
formato irregular, com ápice mais arredondado, do qual sai uma estrutura em formato de “cano”, no mesmo
tom, de espessura fina, circular, voltado para a direita, fazendo uma leve curva para trás, e finalizando com
estruturas dendríticas, às quais se “liga” uma outra estrutura ovalada, em tons de cinza mesclado, caracte-
rizada por “óvulo”, do qual sai um estrutura fina, circular, ligando-se à estrutura à esquerda.

Um fato que devemos estar atentos é que as mulheres já nascem com sua totali-
dade de folículos, cerca de 400 mil (BRASIL, 2012a; CONSOLARO; MARIA-E-
GLER, 2014). Em geral, cerca de 1.000 ovócitos são recrutados para o amadure-
cimento, porém, na imensa maioria, apenas um, por ciclo, é liberado. Esse ciclo
menstrual é em média de 28 dias, com ovulação em torno do 14° dia (período
fértil), e o folículo pós-período de ovulação transforma-se em corpo-lúteo, im-
pedindo uma nova ovulação. As tubas uterinas são as responsáveis por captar

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o ovócito liberado pelo ovário e levá-lo em direção ao útero (BRASIL, 2012a;


JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2018).
O útero recebe o óvulo fecundado, fornecendo a ele tudo o necessário para
o seu desenvolvimento. Ele é formado por três camadas: internamente, tem-se o
endométrio (revestido por muco), externamente o perimétrio, camada serosa e,
entre elas, existe o miométrio, formado por uma espessa rede de fibras musculares
lisas e colágenas, e elas, a depender do estágio hormonal, apresentam três fases:
proliferativa, secretora e menstrual.

A estrutura uterina é dividida anatomicamente em:

I - corpo do útero – região com maior volume e possui aspecto de triângulo;

II - colo do útero – região mais estreita, por isso chamada popularmente de canal
cervical ou cérvice;

III - istmo do útero – região da parte inferior do corpo do útero;

IV - fundo do útero – região que fica acima do eixo que faz a ligação do útero
com as tubas uterinas.

O colo uterino possui como limites o óstio interno, próximo com o istmo do úte-
ro e o óstio externo, ligado ao canal vaginal. A parede do colo do útero é formada
pela endocérvice e pela ectocérvice. A primeira é uma camada mucosa, revestida
por tecido epitelial colunar simples mucossecretor – produtor do muco cervical –,
e a segunda é formada por um epitélio escamoso estratificado não queratinizado,
semelhante ao da vagina.
A ligação entre essas duas camadas é chamada de junção escamocolunar
(JEC), e pode ter pequenas alterações devido ao estado hormonal, gestacional,
parto ou ainda devido a possíveis traumas.

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Figura 2 - Cito-histologia do útero: endocérvice – tecido epitelial colunar simples mucossecretor / Fonte:
Adobe Stock ([2023b], on-line).

Descrição da Imagem: na ilustração, vê-se, por um corte histológico, de fundo pouco visível, alta quantidade
de estruturas, em tons de rosa claro e roxo, caracterizadas por “células”, “tecidos” e “núcleos”. Ao centro,
é possível verificar uma estrutura com vilosidades, com interior de fundo claro e bordas rosa claro e roxo.

Quando o epitélio da vagina e útero estão maduros, ou seja, em fase reprodutiva,


podemos dividi-lo, basicamente, em quatro camadas:

I - camada parabasal: formada por várias camadas de células arredondadas,


com características basofílicas, corando de azul ou verde;

II - camada intermediária: formada por células poligonais ou elipsoides


grandes, com núcleos redondos vesiculares e citoplasma rico em glicogênio e
núcleos com cromatina delicada e uniformemente distribuída, menos coradas
que as parabasais, células escamosas intermediárias coradas de castanho devi-
do ao grande acúmulo de glicogênio;

III - camada superficial: epitélio composto por células aplanadas com cito-
plasma abundante, eosinofílico, e núcleos picnóticos, células superficiais com
grânulos querato-hialinos;

IV - camada celular em escamas: células dessa camada são as mais comuns


nos esfregaços no período ovulatório do ciclo menstrual, também são poligonais,
mas para diferenciá-las das células intermediárias é fundamental a análise
nuclear. Nestas, o núcleo é picnótico (cromatina condensada) sem evidência de
granulação.

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É importante salientar aqui que todas as camadas, exceto a basal, na verdade


são células em diferentes estágios de amadurecimento das células basais (BRASIL,
2012a).
As células das glândulas endocervicais também são revestidas por epitélio
colunar simples, mucossecretoras, monoestratificadas, quando vistas de frente, ou
ainda em forma de paliçada, quando vistas lateralmente. Possuem citoplasma
cianofílico fraco com presença de vacúolos e grânulos acidófilos e núcleo em sua
região basal e raramente são ciliadas.

METAPLASIAS
Conforme aponta o Ministério da Saúde (BRASIL, 2012a), ocorrem alterações
hormonais nos epitélios da região do colo uterino, principalmente devido à maior
exposição das células ao pH ácido vaginal após a puberdade e ainda durante o
processo gestacional.
Essa situação dá origem a uma eversão, ectopia do epitélio da região endo-
cervical, desencadeando o processo de metaplasia escamosa, que nada mais é que
um processo adaptativo do epitélio colunar, que deixa de existir, dando origem
ao epitélio escamoso estratificado não queratinizado.
Para o Ministério da Saúde (BRASIL, 2012a), tecnicamente, existem três está-
gios no processo de metaplasia escamosa. No primeiro, temos o aparecimento
de uma e posteriormente inúmeras células imaturas de células de reserva, pro-
cesso chamado de hiperplasia das células de reserva. No segundo, existem trans-
formações progressivas das células de reserva em células escamosas, processo
chamado de metaplasia escamosa imatura. Por fim, temos a perda definitiva do
epitélio colunar e o novo epitélio agora mais diferenciado, maduro. Por isso, pas-
sa a ser uma metaplasia escamosa madura, e torna-se praticamente igual a um
epitélio escamoso original.
A região em que ocorreu a alteração metaplásica é chamada de zona de
transformação (ZT), e é justamente nela que ocorrem as maiores incidências
de lesão pré-cancerosa e de carcinoma escamoso do colo do útero.

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Isso provavelmente se deve ao fato de que as células dessa região se


tornam mais suscetíveis às ações de agentes carcinogênicos.

Entre eles, tem maior destaque o papiloma vírus humano, popularmente conhe-
cido como HPV, sendo assim uma área de grande interesse clínico.
Ainda segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2012a), as células metaplá-
sicas imaturas são redondas a ovais, com pequeno aumento da relação núcleo/
citoplasma, com citoplasma delicado que pode apresentar vacúolos. Geralmente,
esse tipo celular se apresenta em agrupamentos frouxos, lembrando ‘calçamento
de pedra’. Já as células metaplásicas maduras apresentam citoplasma mais den-
so e são mais arredondadas, podendo se apresentar também em agrupamentos
frouxos. Esses dois tipos celulares podem apresentar-se, também, em formato
estrelado – prolongamentos citoplasmáticos (Figura 3).
Outra característica comum a elas é no quesito coloração: elas podem apre-
sentar coloração dupla – citoplasma mais denso (ectoplasma) na região periférica
e na região perto do núcleo mais clara, quase pálido. Note esta característica na
Figura 3, na região central da imagem.

Figura 3 - Células com prolongamentos citoplasmáticos / Fonte: Adobe Stock ([2023c], on-line).

Descrição da Imagem: na imagem tomada pela microscopia, pode-se observar um fundo lilás, com um aglo-
merado de células pequenas, bem ao centro, com formas mais alongadas e estreladas, com uma estrutura
menor e ovalada no centro das células, essas células são caracterizadas por “células metaplásicas maduras”.

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Figura 4 - Coloração de células epiteliais escamosas / Fonte: Adobe Stock ([2023d], on-line).

Descrição da Imagem: na figura, pode-se observar um fundo mais claro, em tons de azul, com algumas
células à esquerda, do meio para baixo, de formatos pavimentosos, em tons de azul e ao centro de cada
uma delas, uma estrutura oval em tons de rosa.

CITOLOGIA HORMONAL
É inegável que os hormônios produzem mudanças nos epitélios vaginais e uteri-
nos durante o ciclo menstrual. Estrogênio e progesterona produzem alterações
ativas nesses tecidos, e, dessa forma, provocam alterações morfológicas impor-
tantes no perfil celular das amostras cervicovaginais.
ovulação

Fase folicular fase lútea

folículos ovariano ovo Corpo lúteo


ovulação

FSH
LH
Estrógeno
Progesterona
Endométrio

Dia 1 Dia 14 Dia 28


Menstruação Fase proliferativa Fase secretora

Figura 5 - Ciclo menstrual / Fonte: Adobe Stock ([2023e], on-line).

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Descrição da Imagem: na figura, de cima para baixo, podemos observar, na primeira linha, que o ciclo está
dividido em 28 dias. Nos 14 primeiros dias, está a fase folicular e nos últimos 14 dias, a fase lútea. Ao
meio delas, no 14º dia, está representada a ovulação. Na linha abaixo, pode-se observar que na primeira
fase do ciclo está representada a forma do folículo que é pequeno, circular e vai aumentando com o passar
dos dias. No 14º dia, observa-se a liberação do ovo. Abaixo desta linha, temos uma representação gráfica
dos hormônios, na qual o eixo “x” representa os dias do ciclo e o eixo “y”, os hormônios. Pode-se observar
que o FSH tem o maior pico próximo do dia 14, assim como o LH e o estrogênio também. Já a progesterona
tem o pico maior próximo ao dia 20 do ciclo. Na parte inferior da imagem, está representada a forma do
endométrio. Do dia 1 até o 7, está representada a menstruação, período em que o endométrio está menor;
do 7º ao 14º dia, está representada a fase proliferativa, período em que o endométrio vai aumentando e
do 14º ao 28º dia, está representada a fase secretora, período em que o endométrio tem o maior aumento
e depois vai diminuindo novamente.

Considerando o ciclo menstrual de 28 dias, temos entre o primeiro e o sexto dia


um predomínio de células escamosas intermediárias nas análises de esfregaço
vaginais. Também podem ser visualizadas células endometriais e estromais, além
de hemácias, bactérias e leucócitos.
No segundo período, entre o sexto e o 14° dia, a maior parte das células visua-
lizadas são as superficiais, que estarão sob influência do estrogênio, que podem
estar isoladas ou em agrupamentos frouxos. Nesse período, o esfregaço apresenta-
-se limpo praticamente sem a presença de bactérias e leucócitos (BRASIL, 2012a).
Na terceira fase, período entre o 14° e 24° dia, temos a progesterona em níveis
cada vez maiores, o que propicia um predomínio de células escamosas interme-
diárias em agrupamentos compactos (Figura 6). Células naviculares e bactérias
do tipo lactobacillus também podem estar presentes nos esfregaços. Essas bacté-
rias podem provocar uma degradação celular, o que pode provocar a visualização
de muitos núcleos desnudos e ainda restos de citoplasma.
Por fim, no período entre o 24° e 28° dia, existe um predomínio de células in-
termediárias e naviculares e os agrupamentos celulares maiores, mais compactos
e ainda mais frequentes (BRASIL, 2012a).

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Figura 6 - Células cervicais humanas normais: agrupamento de células superficiais e intermediárias (au-
mento de 600x) / Fonte: Adobe Stock ([2023f], on-line).

Descrição da Imagem: na figura, pode-se observar um fundo pouco nítido, com sobreposição de células de
tamanho médio, em tons de azul e rosa, com pequenas estruturas circulares e densas no interior de cada
célula.

Em algumas fases da vida da mulher, não existe a produção de


estrogênio, como ocorre na infância, na lactação e ainda na pós-
menopausa.

Outras situações não fisiológicas, como a remoção dos ovários, terapias de rádio
e quimioterapia, também podem mimetizar a baixa produção de estrogênio.
Em todos esses casos, ocorre o predomínio de células escamosas parabasais
nos esfregaços cervicovaginais, chamados de atróficos, que podem se apresentar
isoladas ou ainda em arranjos que lembram sincícios (sobreposição nuclear e
limites citoplasmáticos indistintos).
Na gravidez, ocorre um grande predomínio celular de células intermediárias,
frequentemente com arquitetura navicular, principalmente a partir do segundo
mês de gestação. O citoplasma celular apresenta grande quantidade de glicogênio,
o que promove uma coloração acastanhada dessas células.
Essa característica não é exclusiva da gravidez, e pode ser observada também
na fase secretória do ciclo menstrual, devido aos altos índices de progesterona

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característicos desta fase. No período pós-parto, o esfregaço atrófico persiste


por algumas semanas ou até por alguns meses, apresentando células parabasais
com grandes quantidades de glicogênio em seus citoplasmas (BRASIL, 2012a).

CITOLOGIA INFLAMATÓRIA

O TGF contém a vagina, que está com o meio externo, o que propicia o apare-
cimento de variadas infecções, as quais podem ser identificadas por sintomas
clássicos, como prurido, secreções fétidas ou não, dor e até mesmo sangramento
em casos mais crônicos.
Geralmente, o exame citológico é utilizado como forma de prevenção ao
câncer de colo de útero, mas também é muito utilizado para identificação de
processos inflamatórios e ainda ajuda a determinar a sua intensidade, bem como
o agente etiológico. A coleta recomendada é a tríplice, por meio da qual obtêm-se
amostras da ectocérvice, endocérvice e ainda da vagina.
Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2012a, 2012b), identificar a presen-
ça de agentes infecciosos não é indicativo de infecção, pois alguns agentes são
residentes, principalmente na região vaginal, e não provocam sintomatologia.
Na região da vagina, podemos citar como residentes as bactérias anaeróbicas,
como os lactobacilos, o Staphylococcos epidermidis e o Streptococcos viridans,
que não causam obrigatoriamente processos infecciosos. A maior ou menor sus-

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cetibilidade a infecções vai depender de várias condições fisiológicas (gravidez,


menopausa etc.), patológicas (distúrbios hormonais, diabetes etc.) ou ainda locais
(DIU, exposição sexual).

BACTERIANA

Vários agentes bacterianos podem ser identificados no TGF.

Um deles é o Lactobacillus vaginalis, ou bacilos de Doderlein, que são Gram-po-


sitivos e pertencem à microbiota residente. Eles podem provocar citólise das
células escamosas a depender do período do ciclo menstrual e são fundamentais
na defesa contra microrganismos patogênicos.
Agentes bacterianos mistos também podem ser identificados em esfrega-
ços cervicovaginais, como a mistura de bacilos e cocos. O Ministério da Saúde
(BRASIL, 2012a) afirma que a Gardnerella vaginalis também pode ser identi-
ficada. Ela é um coco Gram-negativo, e aproximadamente 50% das mulheres
possuem essa infecção assintomática, porém, quando o pH vaginal é maior que
4,5, essa bactéria pode associar-se a outras, inclusive ao Mycoplasma hominis e
originar infecções múltiplas, chamadas na clínica de vaginose bacteriana. A
presença de estreptococos nos esfregaços tem ocorrência, em média, de 30%. Eles
têm predileção para pH mais alcalino e está associado a Trichomonas vaginalis.
Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2012a), outro achado citológico no
TGF é o Actinomyces, muito comum na cavidade oral do trato gastrointestinal,
porém, recorrente em mulheres que fazem uso do DIU (dispositivo intrauterino)
por longos períodos, que deve ser tratado, pois pode ocorrer sua disseminação
e provocar infecções severas, inclusive com abscessos. Nos esfregaços, eles se
apresentam como estruturas filamentosas, não septadas e com aparência que
lembra aranhas ou ouriços do mar.
A Chlamydia trachomatis, uma Gram-negativa intracelular obrigatória, tam-
bém pode ser comumente encontrada nas análises citológicas do TGF. Apesar
de na maioria dos casos as infecções serem assintomáticas, quando em situa-
ções mais severas, aumentam o risco de aborto espontâneo e morte fetal. Nos
esfregaços, pode-se identificar essa infecção devido à ocorrência de inclusões

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citoplasmáticas diferentes, a depender do seu grau de desenvolvimento, podendo


ser: corpos elementares, reticulares ou ainda agregados. A grande chave diag-
nóstica é a presença de macrófagos, fagocitando linfócitos degenerados. Outro
ponto importante que devemos ressaltar é que quando identificados esses sinais,
o citopatologista está automaticamente autorizado a solicitar exames de imuno-
fluorescência e de cultura para investigar a fundo esse microrganismo.
Outra bactéria que pode ser identificada no TGF é a Leptothrix vaginalis. Ela
é uma bactéria anaeróbia filamentosa que se apresenta nos esfregaços em forma
de “s” ou “u” com enovelamentos. Comumente está associada com o Trichomonas
vaginalis em mais de 75% dos casos (BRASIL, 2012a).

FÚNGICA

Este tipo de infecção é responsável pela maioria dos casos de vaginite nas regiões
tropicais, sendo que mais de 80% deles são causados pela Candida albicans. A
infecção acomete a vulva, vagina e, às vezes, o colo uterino.

Figura 7 - Infecção por Candida albicans / Fonte: Adobe Stock ([2023g], on-line).

Descrição da Imagem: na ilustração, pode-se observar uma parte anatômica do corpo humano. Ao centro,
observa-se uma estrutura em formato de “T” em tons de vermelho e rosa claro, caracterizado pelo “trato
genital feminino”. Enfatiza-se a imagem inferior e ao centro, de tamanho médio, de forma ovalada e acha-
tada, em tons de vermelho com alguns pontos circulares brancos, caracterizados por “Candida albicans”.

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Grande parte das mulheres são portadoras assintomáticas, mas quando nota-
dos, os sintomas podem ser: secreção vaginal espessa e esbranquiçada, podendo
ter relato de prurido e ardência. Nos esfregaços, são notadas hifas e esporos re-
dondos, que podem se corar de vermelho ou marrom.

Figura 8 - Visão microscópica da candidíase (Candida albicans) em citologia de Papanicolau / Fonte: Adobe
Stock ([2023h], on-line).

Descrição da Imagem: na figura, observa-se um fundo mais claro, pouco nítido, com sobreposição de células
de tamanho médio, intercaladas em tons de azul e rosa claro, com estruturas circulares maciças em tons
mais escuros no interior. Ao centro da imagem, é possível observar estruturas pequenas ovaladas, em tons
mais escuros, unidas entre si, configurando hifas, característico de “Candida albicans”.

PROTOZOÁRIA

O principal protozoário encontrado no TGF é o Trichomonas vaginalis. Ele é


flagelado e possui transmissão por via sexual. Segundo relatos do Ministério da
Saúde (BRASIL, 2012a), aproximadamente 50% das mulheres possuem infecção
assintomática por esse protozoário.
Quando os sintomas se fazem presentes, os principais são: corrimento abun-
dante e de cor amarela esverdeada e odor local desagradável. Nos esfregaços,
corados através da técnica de Papanicolaou, raramente é possível visualizar seus
flagelos, sendo possível a visualização de seu núcleo pequeno, excêntrico, redondo
e levemente basofílico.

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Outro ponto característico nas infecções provocadas por esse protozoário é


o fundo purulento, por vezes, provocado pelo grande acúmulo de neutrófilos.

VIRAL

A infecção pelo herpes genital é causada pelo vírus da Herpes simplex tipo 1
(HSV-1) e tipo 2 (HSC-2). Seus sintomas mais comuns são: febre, mialgia, vesí-
culas na pele ou nas mucosas genitais e indisposição. Essas vesículas regridem
espontaneamente em até quatro semanas e são recorrentes, porém, esse meca-
nismo ainda não está totalmente elucidado.
Citologicamente, temos o acometimento das células parabasais, metaplásicas
e ainda as endocervicais, com a identificação de citomegalia e cariomegalia.
Podem ser identificados ainda degeneração da cromatina, dando origem a
núcleos foscos de forma homogênea e ainda uma membrana celular mais espessa.
Outro ponto comum nessa infecção viral é a multinucleação, além de seu
citoplasma também denso e opaco, devido à desnaturação proteica e sua conse-
quente coagulação (BRASIL, 2012a).

CITOLOGIA DAS ALTERAÇÕES REATIVAS


Nos processos de reparação, resultantes de vários tipos de processos, como morte
celular, perda de tecido por ulceração, infecções, traumas etc., ocorre a recons-
trução tecidual com substituição das células mortas por outras viáveis por meio
de dois processos, fundamentalmente. O primeiro, regeneração, em que ocorre
a substituição por células do mesmo tipo de tecido, mantendo-se a integridade e
funcionalidade do tecido, ou, ainda o segundo, fibrose, quando ocorre a prolife-
ração de tecido conjuntivo, perdendo-se, às vezes, a função original.
Citologicamente, nas lesões do epitélio escamoso da ectocérvice ou da endo-
cervical, ocorre proliferação das células basais circunvizinhas à lesão para cobrir
o local acometido pela injúria. Junto a essa proliferação, ocorre a proliferação
de fibroblastos e células inflamatórias que irão originar o chamado tecido de
granulação, que irá promover o fechamento das margens da lesão. Após esse

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processo de reparo, ocorre evolução, para uma fibrose que vai promover as con-
dições normais do estroma, similares àquelas anteriores à lesão.
Nos esfregaços, o fundo pode apresentar hemácias, ainda que raras, e ex-
sudado inflamatório, fatos que geralmente não são identificados nos casos de
cânceres. As células em regeneração apresentam boa coesão em monocamadas
e com a mesma orientação nuclear. O citoplasma é pálido e basofílico com bor-
das indistintas. Como a reparação geralmente ocorre de forma rápida, é possí-
vel identificarmos mitoses e multinucleação, além de cromatina mais grosseira
(BRASIL, 2012a).

ATIPIA CELULAR, LESÕES PRÉ-CANCEROSAS


E CARCINOMAS DO COLO UTERINO

CÉLULAS ESCAMOSAS ATÍPICAS: CLASSIFICAÇÕES, CRITÉ-


RIOS E CONDUTAS

Com a ampliação e popularização dos exames de cito-histologia cervicovaginais,


foi necessária uma uniformização dos termos e por consequência dos laudos.
Dessa forma, foi possível estabelecer critérios para os possíveis diagnósticos dos
processos patológicos relacionados ao aparecimento do câncer cervicouterino,
por todos os profissionais envolvidos no processo.
Dessa forma, a nomenclatura anterior, estabelecida por Papanicolau, é total-
mente desaconselhada (I a V) nos laudos citológicos.

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A partir de 1991, introduzida pelo sistema Bethesda, foi instituída a categoria


de “Atipia de células escamosas de significado indeterminado” – ASCUS – como
forma de padronizar as nomenclaturas e tornar as terminologias uniformes,
indicando a presença de células anormais, mas com características não suficientes
para um diagnóstico definitivo de lesão intraepitelial escamosa.
Com o uso dessa categoria, foi possível minimizar a ocorrência de resultados
citológicos falso-positivos e falso-negativos nas determinações de situações pato-
lógicas do colo uterino. Dessa forma, para aquelas células que possuíam alterações
significativas além dos processos reativos e menos acentuadas que aquelas apre-
sentadas pelas lesões escamosas (NIC), passou-se a atribuir a categoria ASCUS.
Em uma revisão do Sistema Bethesda, em 2001, passou a ser adotada a no-
menclatura ASC – Atipia de Células Escamosas – em substituição a ASCUS. Com
critérios mais refinados, o sistema ASC é dividido em dois grandes grupos: ASC-
-US: atipias celulares escamosas de significado indeterminado; ASC-H: atipia de
células escamosas que não se pode excluir lesões de alto grau. Para o Ministério
da Saúde (BRASIL, 2012a), na ASC-US, tem-se alterações sugestivas de lesões in-
traepiteliais de baixo grau, mas ainda insuficiente para um diagnóstico definitivo.

Entre os critérios citológicos, tem-se:

I- núcleos 2,5 a 3 vezes maiores que uma célula normal;

II- relação núcleo/citoplasma aumentado;

III- hipercromia nuclear e leves alterações na distribuição da cromatina;

IV- anormalidades nucleares concomitantes com alterações citoplasmáticas.


Nesta categoria, estão as células infectadas pelo HPV por exemplo.

Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2012a), na categoria ASC-H, temos


alterações citológicas que ainda não podem ter seu diagnóstico definitivo como
lesão intraepitelial escamosa de alto grau. As mulheres que possuem diagnóstico
nessa categoria apresentam taxas elevadas de lesões pré-cancerosas. Também
estão associadas às infecções de HPV, mas mesmo envolvendo a zona de trans-
formação e a ausência de coilocitose, possuem imaturidade celular, prejudicando
a sua diferenciação de lesões intraepiteliais escamosas de alto grau (NIC 3).

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Os critérios citológicos para esta categoria são:

I - presença de células isoladas ou mesmo em pequenos grupos;

II - células metaplásicas com núcleos 1,5 ou 2 vezes maiores que as células


metaplásicas normais;

III - leve hipercromasia nuclear; IV- leve irregularidade nuclear;

V - cromatina finamente granular uniformemente distribuída ou condensada.

Conforme já dito, a nomenclatura brasileira emprega o sistema ASC, e as pa-


cientes incluídas nessa categoria devem ser abordadas e convidadas a seguir
o esquema proposto pelo Ministério da Saúde do Brasil, conforme a Figura 9,
para ASCUS, e Figura 10, para ASC-H, ambas adaptadas do Ministério da Saúde
(BRASIL, 2012a).

Repetir citologia
em seis meses

Negativa Positiva: sugestiva de


lesão igual ou mais grave

Repetir citologia em seis meses


Colposcopia

Negativa Positiva: sugestiva de lesão Sem lesão Com lesão


igual ou mais grave

Rotina Repetir citologia em seis meses Biópsia

Rotina após duas citologias Recomendação


consecutivas negativas específica

Figura 9 - Conduta proposta pelo Ministério da Saúde para diagnósticos de ASC-US / Fonte: Brasil (2012a,
p. 117).

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Descrição da Imagem:a figura mostra um fluxograma em que os passos estão dentro de retângulos. No
topo, vê-se “repetir citologia em seis meses”, e desse retângulo partem duas setas. Do lado esquerdo, lê-se
a palavra “negativa”, em sequência “repetir citologia em seis meses”, a partir deste texto, há duas setas
com as opções “negativa” e “positiva: sugestiva de lesão igual ou mais grave”. Em sequência, a partir de
“negativa”, uma seta indica o texto “rotina”. Voltando no topo, à direita, há a indicação do texto “positiva:
sugestão de lesão igual ou mais grave”; na sequência, o texto “colposcopia”, do qual partem duas setas:
uma delas, à direita, indica o texto “com lesão”, que é seguido por “biópsia” e, por último, “recomendação
específica”; a outra, à esquerda, indica o texto “sem lesão”, que é seguido por “repetir citologia em seis
meses”. Deste texto, partem duas setas: uma para cima, indicando o texto “positiva: sugestiva de lesão
igual ou mais grave”; outra para baixo, indicando “rotina após duas citologias consecutivas negativas”.

Colposcopia

Com lesão Sem lesão

Biópsia Possibilidade de revisão da lâmina

Recomendação Possível mas não altera o


Possível e altera o laudo
específica laudo ou impossível

Conduta de acordo
com o novo laudo
citológico

Repetir citologia e
colposcopia em seis meses

Citologia sugestiva de
Após duas citologias Citologia sugestiva de lesão
lesão de igual grau ou
consecutivas negativas de baixo grau ou menos grave
mais grave

Figura 10 - Conduta proposta pelo Ministério da Saúde para diagnósticos de ASC-H / Fonte: Brasil (2012a,
p. 118).

Descrição da Imagem: a figura apresenta um fluxograma, no qual os passos estão dentro de retângulos.
No topo, está a “Colposcopia”, da qual partem duas setas: uma à esquerda, indicando o texto “com lesão”,
que é seguido por “biópsia” e “recomendação específica”; outra à direita, indicando o texto “sem lesão”,
que é seguido por “possibilidade de revisão lâmina”. Deste, partem duas setas: uma à esquerda, indicando
o texto “possível e altera o laudo”, que é seguido por “conduta de acordo com novo laudo citológico”; outra
à direita, indicando o texto “possível, mas não altera o laudo ou impossível”, que é seguido por “repetir
citologia e colposcopia em seis meses”. Deste último, partem três setas: à esquerda, indicando o texto
“após duas citologias consecutivas negativas”; ao centro, indicando o texto “citologia sugestiva de lesão
de baixo grau ou menos grave” e a última, à direita, indicando o texto “citologia sugestiva de lesão de igual
grau ou mais grave”.

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LESÕES PRÉ-CANCEROSAS E MORFOGÊNESE


DO CARCINOMA ESCAMOSO
O câncer de colo de útero é o segundo tipo de carcinoma mais prevalente em
mulheres, perdendo apenas para o câncer de mama. Sabe-se que no Brasil e no
mundo o rastreamento dos casos de câncer ainda é baixo, e são necessárias mais
campanhas de conscientização populacional.

O público recomendado pelo Ministério da Saúde como prioritário para o ras-


treio são mulheres com idade entre 25 e 64 anos, e a principal estratégia a ser
empregada é o exame de Papanicolau, o popular Pap Test.
Epidemiologicamente, verifica-se uma relação íntima entre a infecção pelo
HPV e a ocorrência dos casos de câncer de colo de útero e anal. Os mais preva-
lentes são: carcinoma cervical, vaginal, vulvar, peniano e ainda de ânus. Quando
consideramos os casos de câncer de colo de útero, essa relação torna-se muito
sugestiva e significativa, estando presente em mais de 75% dos casos segundo o
Ministério da Saúde (BRASIL, 2012a).
Os carcinomas escamosos têm origem no epitélio metaplásico da Zona de
Transformação (ZT), conforme explicado anteriormente. Também já é sabido
que as células metaplásicas dessa região são mais suscetíveis à ação do papiloma

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vírus humano (HPV). Observe a Figura 11, em que podem ser visualizadas célu-
las escamosas obtidas através de Pap Test, com provável contaminação por HPV.

Figura 11 - Células epiteliais escamosas anormais – critérios de HPV – lâmina citológica com esfregaço de
Papanicolaou / Fonte: Adobe Stock ([2023i], on-line).

Descrição da Imagem:na figura, observa-se um fundo em tons de rosa claro, com a presença de células me-
dianas, em tons de azul claro, com estrutura circular, densa e menor no interior das células. Em destaque,
ao centro da imagem, é possível observar uma célula com uma estrutura circular no seu interior um pouco
maior que as demais, assim como uma outra estrutura em seu interior, semelhante a um vacúolo.

HPV: MANIFESTAÇÕES E DIAGNÓSTICO

Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2012a), existem mais de cento e cin-


quenta tipos de HPV, dentre os quais, trinta estão diretamente relacionados ao
aumento do risco de desenvolvimento de câncer cervicovaginal.

Os tipos mais diretamente ligados ao desenvolvimento dos diversos tipos de


cânceres no TGF são o HPV 6 e o HPV 11, seguidos pelos tipos 16, 18, 31 e 45.
Juntos, eles respondem por mais de 80% dos casos de cânceres cervicais.

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Os casos raros de câncer em que não são encontrados traços de infecção por
HPV poderiam ser explicados por participações de outros tipos de HPV não
identificados pelos testes moleculares empregados rotineiramente.
Dentre as manifestações clínicas mais prevalentes do HPV, tem-se a pre-
sença de condiloma acuminado – verrugas – em 30% dos casos, tanto na vulva
quanto no períneo. A infecção assintomática, em 70% dos casos, geralmente é
identificada em colposcopias, citologias e ainda histologias onde é encontrado o
DNA do vírus através de biologia molecular.
As lesões, quando existentes, podem ser evidenciadas através de exames col-
poscópicos, mediante a utilização de ácido acético. Outros métodos de diag-
nóstico também podem ser empregados para a detecção do HPV, entre eles, os
testes moleculares que detectam o DNA ou o RNA viral: southern blot, dot blot,
hibridização in situ e o PCR, este último considerado como a técnica mais sen-
sível para identificação do HPV.
A aplicação das vacinas contra o HPV no Brasil tem sido foco de várias
discussões, principalmente após a incorporação da vacina quadrivalente (HPV
6, 11, 16 e 18) e/ou bivalente (HPV 16 e 18) nos esquemas vacinais de pessoas
com idade acima de 9 anos.

LESÕES INTRAEPITELIAIS E SUAS


CLASSIFICAÇÕES
As neoplasias intraepiteliais cervicais – NICs – são classificadas levando em
consideração a maturação anormal e as atipias celulares apresentadas pela lesão
e ainda o grau de acometimento da região epitelial.
Dessa forma, as neoplasias intraepiteliais podem ser divididas em três graus:
NIC 1: displasia leve; NIC 2: displasia moderada; NIC 3: displasia acentuada ou
carcinoma in situ. Comparando as classificações de neoplasias intraepiteliais com
o sistema Bethesda, temos uma nomenclatura muito utilizada pela maioria dos
laboratórios citológicos atualmente e que se encontra evidenciada no Quadro 1.

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NEOPLASIA BETHESDA LESÃO


OMS (1974)
INTRAEPITELIAL INTRAEPITELIAL
DISPLASIA
CERVICAL (NIC) ESCAMOSA

Displasia leve NIC 1 Baixo Grau

Displasia moderada NIC 2 Alto Grau

Displasia acentuada/
NIC 3 Alto Grau
carcinoma in situ

Quadro 1 - Sistema de classificação das lesões pré-cancerosas do colo uterino / Fonte: Brasil (2012a, p.
129).

CARACTERÍSTICAS CITO-HISTOLÓGICAS E SEUS


DIAGNÓSTICOS

Os diagnósticos e classificações histológicas (NICs) dependem diretamente


da diferenciação, maturação e estratificação das células e de suas anormalidades.
Também deve ser levado em consideração o grau de acometimento do epitélio
e as atipias identificadas.
Entre as características histopatológicas, podem ser citadas: núcleos au-
mentados e, por consequência, maior relação núcleo/citoplasma; hipercromasia;
variações de tamanhos e polimorfismo nuclear. Ainda é possível ver células em
mitose, extremamente comuns em casos de câncer, pois em tecidos saudáveis são
pouco frequentes e quando se fazem presentes estão restritas às camadas basais.
Com a evolução da gravidade das lesões, também podem ser observadas
mitoses anormais que devem ser levadas em consideração para estabelecimento
do diagnóstico. De maneira resumida, o grau de displasia apresentada pelo epi-
télio à luz da análise histopatológica vai depender da espessura do epitélio e sua
composição de células anormais.

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E U IN D ICO

Para aprofundar seus conhecimentos, indicamos a leitura


complementar de “5 técnicas usadas em laboratório para
descobrir o segredo dos vírus”.

Acesse seu ambiente virtual de aprendizagem


e confira a aula referente a esse tema.

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NOVOS DESAFIOS
Através destes conteúdos, foi possível compreender a importância de saber as
informações básicas do trato genital femino, pois traz diferentes tipos celulares
conforme o ciclo em que a mulher se encontra. Foi possível observar as células
em sua forma dentro da normalidade e também quando ocorrem alterações.
Mesmo tendo uma maior prevalência de amostras dentro da normalidade, é de
extrema importância que o profissional esteja apto para visualizar uma alteração
quando ela existir. Esse tipo de material será analisado em ambiente laboratorial
específico de citologia, outro ramo das análises que vem crescendo e muito.

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VAMOS PRATICAR

1. A herpes é uma infecção causada pelo Herpes simplex vírus. O contato com o vírus
ocorre ainda nos primeiros anos de vida, mas não necessariamente apresenta sinto-
mas. A reativação do vírus pode ocorrer devido a diversos fatores desencadeantes, tais
como: exposição à luz solar intensa, fadiga física e mental, estresse emocional, febre
ou outras infecções que diminuam a resistência orgânica, mesmo que esses

mecanismos ainda não estejam totalmente elucidados. Algumas pessoas têm maior pos-
sibilidade de apresentar os sintomas do herpes. Outras, mesmo em contato com o vírus,
nunca apresentam a doença, pois sua imunidade não permite.

Sobre esse assunto e de acordo com os seus conhecimentos sobre essa infecção, disser-
te sobre as principais alterações citológicas desencadeadas por esse agente infeccioso.

2. O câncer de colo de útero é uma lesão, geralmente, invasiva intrauterina que possui
relação estreita com a infecção causada pelo HPV, o papilomavírus humano. Quando
essa infecção apresenta sintomas, podem ser observadas verrugas na mucosa da
vagina, do pênis, do ânus ou, ainda, da laringe e do esôfago. O câncer de colo do útero
é uma doença de progressão lenta e, em alguns casos, leva mais de dez anos para
desenvolver algum tipo de sintomatologia.

Disserte sobre o câncer de colo de útero e, ainda, sobre a importância da realização de


exames preventivos.

3. Os ovários são duas glândulas localizadas uma em cada lado do útero, abaixo das
trompas. Eles produzem os óvulos e, também, os hormônios sexuais femininos.

Assinale a alternativa que indica corretamente quais são os hormônios produzidos pelos
ovários:

a) Estrogênio e progesterona.
b) Estrogênio e testosterona.
c) Progesterona e testosterona.
d) Testosterona e hormônio estimulador das células intersticiais.
e) Estrogênio e hormônio estimulador das células intersticiais.

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VAMOS PRATICAR

4. O câncer do colo do útero é um problema grave de saúde que atinge muitas mulheres
no Brasil e no mundo. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), é o terceiro
tumor mais frequente na população feminina.

Fonte: adaptado de: https://exercicios.mundoeducacao.uol.com.br/exercicios-biologia/


exercicios-sobre-cancer-colo-utero.htm#questao-6702https://exercicios.mundoedu-
cacao.uol.com.br/exercicios-biologia/exercicios-sobre-cancer-colo-utero.htm#ques-
tao-6702. Acesso em: 2 maio. 2022.

Sobre esse tipo de câncer, assinale a alternativa incorreta:

a) Existem diferentes tipos de HPV, e todos eles podem causar câncer de colo do útero.
b) Em seu estágio inicial, geralmente, o câncer do colo do útero não provoca sintomas.
c) A vacina contra HPV é recomendada para meninos e meninas.
d) O exame preventivo papanicolau auxilia no diagnóstico de câncer do colo do útero.
e) O câncer do colo do útero apresenta diferentes estágios, sendo que, no estágio IV,
pode-se observar metástase.

5. Existem mais de 150 tipos de HPV, estando alguns relacionados ao surgimento de


verrugas genitais e outros, com o desenvolvimento de câncer.

Que tipo de câncer apresenta relação direta com a infecção pelo HPV?

a) Câncer de mama
b) Câncer do colo do útero.
c) Câncer de intestino.
d) Câncer de pele.
e) Câncer de estômago.

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CONFIRA SUAS RESPOSTAS

1. O Herpes simplex vírus pode causar alterações citológicas que podem ser observadas
em amostras citopatológicas de lesões causadas pelo vírus. As alterações citológicas
mais comuns incluem:

1 - Alterações nucleares: As células infectadas pelo Herpes simplex vírus podem apresen-
tar alterações nucleares, como aumento de tamanho e presença de inclusões nucleares.
Além disso, a cromatina pode aparecer mais condensada e o nucléolo pode estar ausente.

2 - Citoplasma eosinofílico: As células infectadas pelo vírus podem apresentar um cito-


plasma eosinofílico, que é um sinal de degeneração celular.

3 - Corpos de inclusão intranucleares e intracitoplasmáticos: Esses corpos de inclu-


são são característicos de infecções pelo Herpes simplex vírus. Eles são formados pela
agregação de partículas virais e podem ser encontrados no citoplasma ou no núcleo das
células infectadas.

4 - Células gigantes multinucleadas: Em casos mais graves, as células infectadas podem


se fundir para formar células gigantes multinucleadas.

É importante ressaltar que essas alterações citológicas são inespecíficas e podem ser
observadas em outras infecções virais. Por isso, é necessário correlacionar as alterações
citológicas com outros dados clínicos, como sintomas e histórico médico, para confirmar
o diagnóstico de infecção pelo Herpes simplex vírus.

Em resumo, a infecção pelo Herpes simplex vírus pode causar alterações citológicas
como alterações nucleares, citoplasma eosinofílico, corpos de inclusão intranucleares e
intracitoplasmáticos e células gigantes multinucleadas. O diagnóstico da infecção pelo
vírus é realizado por meio da correlação das alterações citológicas com dados clínicos e
histórico médico.

2. O câncer de colo de útero é uma das principais causas de morte entre mulheres em todo
o mundo, principalmente em países em desenvolvimento. A infecção pelo HPV é um dos
principais fatores de risco para o desenvolvimento dessa doença. O HPV é um vírus se-
xualmente transmissível que pode ser transmitido por meio do contato íntimo, incluindo
o sexo vaginal, oral e anal.

O câncer de colo de útero é uma doença de progressão lenta, que pode levar anos para se
desenvolver. Durante esse período, podem ocorrer alterações celulares no colo do útero
que são detectadas por meio de exames preventivos, como o Papanicolau e o teste de

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CONFIRA SUAS RESPOSTAS

HPV. Esses exames permitem detectar a presença de células anormais no colo do útero,
o que pode indicar um risco aumentado de desenvolver câncer.

A detecção precoce é fundamental para o tratamento eficaz do câncer de colo do útero.


Quando a doença é diagnosticada em estágios iniciais, as chances de cura são muito
maiores. Além disso, o tratamento nessa fase geralmente é menos invasivo e tem menos
efeitos colaterais.

A realização de exames preventivos é fundamental para a prevenção e detecção preco-


ce do câncer de colo de útero. O exame de Papanicolau é recomendado para todas as
mulheres com vida sexual ativa, a partir dos 25 anos de idade. Esse exame consiste na
coleta de células do colo do útero para análise em laboratório. O teste de HPV também
pode ser realizado em conjunto com o Papanicolau para detectar a presença do vírus.

Além dos exames preventivos, é importante adotar medidas de prevenção, como o uso
de preservativos durante as relações sexuais e a vacinação contra o HPV. A vacinação é
recomendada para meninas a partir dos 9 anos de idade e para meninos a partir dos 11
anos de idade. A vacinação é uma medida segura e eficaz para prevenir a infecção pelo
HPV e, consequentemente, o desenvolvimento do câncer de colo do útero.

Em resumo, o câncer de colo do útero é uma doença grave que pode ser prevenida e
tratada com sucesso quando detectada precocemente. A realização de exames preventi-
vos é fundamental para a detecção de alterações celulares no colo do útero que possam
indicar um risco aumentado de desenvolver câncer. Além disso, medidas de prevenção,
como o uso de preservativos e a vacinação contra o HPV, são importantes para reduzir
o risco de infecção pelo vírus.

3. Alternativa correta: A.

4. Alternativa correta: A.

5. Alternativa correta: B.

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REFERÊNCIAS

ADOBE STOCK. [Sem título]. [2023a]. 1 ilustração. Disponível em: https://as1.ftcdn.net/


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MOSAS&serie_id=442561327&k=C%C3%89LULAS+EPITELIAIS+ESCAMOSAS&get_facet-
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ADOBE STOCK. [Sem título]. [2023f]. 1 fotografia. Disponível em: https://stock.adobe.com/
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REFERÊNCIAS

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ADOBE STOCK. Vaginal thrush. [2023g]. 1 ilustração. Disponível em: https://as2.ftcdn.net/
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BRASIL. Ministério da Saúde. Caderno de referência 1: citopatologia ginecológica. Brasília:
Ministério da Saúde, 2012a. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/
tecnico_citopatologia_caderno_referencia_1.pdf. Acesso em: 19 abr. 2023.
BRASIL. Ministério da Saúde. Caderno de referência 3: técnicas de histopatologia. Brasília:
Ministério da Saúde, 2012b. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/
tecnico_citopatologia_caderno_referencia_3.pdf. Acesso em: 18 abr. 2023.
CONSOLARO, M. E. L.; MARIA-ENGLER, S. S. Citologia clínica cervicovaginal: texto e atlas.
São Paulo: Roca, 2014.
JUNQUEIRA, L. C. U; CARNEIRO, J. Histologia básica: texto e atlas. 13. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2018.
KOSS, L. G.; GOMPEL, C. Introdução à citopatologia ginecológica com correlações his-
tológicas e clínicas. São Paulo: Roca, 2014.

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MEU ESPAÇO

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UNIDADE 5
TEMA DE APRENDIZAGEM 8

CITOLOGIA DO TRATO
GENITAL FEMININO II
FABIANE HORBACH RUBIN

MINHAS METAS

Realizar as análises citopatológicas dentro dos padrões de qualidade, sempre


pautados nos princípios éticos.

Entender as limitações técnicas dos procedimentos de coleta relevantes à


citopatologia.

Compreender a importância da confecção de laudos citopatológicos seguros


e assertivos.

Identificar as principais anormalidades endocervicais e endometriais.

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UN I C ES UMA R

INICIE SUA JORNADA


Em ambiente laboratorial muito se fala sobre pré-coleta e pós-coleta, sobre quali-
dade das informações etc., mas e você? Sabe como monitorar a qualidade dessas
etapas?
Atualmente, os mercados, e, por consequência, os consumidores/usuários de
bens e serviços, estão cada dia mais exigentes quanto à qualidade dos serviços,
e, claro, à qualidade do tratamento e das análises realizadas em suas respectivas
amostras clínicas.
Um diagnóstico assertivo, obtido precocemente, faz toda a diferença na con-
duta médica e na terapêutica do paciente, aumentando muito a possibilidade de
cura e da adesão do paciente, conferindo sucesso ao tratamento.
Todos os setores/segmentos são de extrema importância, e todos inspiram
atenção. Uma vírgula fora de ordem pode mudar todo o percurso de uma amostra.

P L AY N O CO NHEC I M ENTO

Desde 1843, cientistas vêm aprimorando seus conhecimen-


tos e gerando descobertas sobre citologia do trato genital
feminino capazes de prevenir tantas alterações e patologias,
principalmente do câncer do colo do útero. Tem interesse
em saber mais sobre esse assunto? Venha comigo!

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 8

DESENVOLVA SEU POTENCIAL

ESFREGAÇOS CERVICOVAGINAIS

Técnica e Objetivos

Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2012a), foi o cientista Julis Vogel, em


1843, quem identificou as primeiras alterações citológicas – células malignas
– em líquido de uma fístula de um tumor de mandíbula. No entanto, foi somente
nos estudos do Dr. George Papanicolaou (Figura 1), que utilizava esfregaços
vaginais de mulheres e que tinha como interesse inicial verificar os efeitos hor-
monais sobre a mucosa vaginal, que o pesquisador encontrou acidentalmente
células malignas.

Figura 1 - Dr. George Papanicolaou / Fonte: BBC (2019, on-line).

Descrição da Imagem: fotografia de George Papanicolaou em preto e branco. Senhor na faixa etária de
60 anos, com cabelo e bigode escuro, olhos em tons escuros, expressão séria e atenta. Está em ambiente
laboratorial, sentado em uma cadeira, de frente para um microscópio, vestindo camisa e jaleco branco,
gravata pequena e escura. Com sua mão esquerda, está segurando uma lâmina na altura dos seus olhos.

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UN I C ES UMA R

E U IN D ICO

Nesta leitura, é possível entender mais sobre a vida do genial


médico e pesquisador: “Quem foi George Papanicolaou, cri-
ador do exame considerado uma das armas mais poderosas
contra o câncer”.

Após a publicação de seu trabalho, em 1928, Papanicolaou estabeleceu um “novo


diagnóstico de câncer”, que foi reafirmado nesse mesmo ano, pelo patologista
Aurel Babes, de maneira independente, através da publicação do trabalho Diag-
nóstico do câncer do colo uterino por esfregaços (BRASIL, 2012a, 2012b, 2016).
Infelizmente, as pesquisas de Babes e Papanicolaou ficaram em descrédito por
muitos anos.
Mesmo assim, o chefe do departamento onde Papanicolaou trabalhava, Jo-
seph Himsey, aconselhou a continuidade de seus estudos, até que em 1943, ele
publicou o trabalho Diagnóstico de câncer uterino pelo esfregaço vaginal, com
colaboração de outro médico, ginecologista e patologista, Herbert Traut. No tra-
balho, existiam onze ilustrações coloridas e suas respectivas descrições e ainda
48 (quarenta e oito) páginas de texto explicando toda a técnica empregada para
realização do diagnóstico de câncer uterino e ainda as lesões que o precediam,
passíveis de identificação citológica, através da metodologia chamada de “Pap
test”, e ainda explicitava a possibilidade da realização de tal técnica em grande
escala.
George Papanicolaou, em sua publicação de 1954, Atlas de Citologia Esfo-
liativa, trouxe enormes contribuições sobre as características celulares de
amostras de urina e escarro, dentre várias outras, fazendo sempre o paralelo entre
as características normais e aquelas consideradas patológicas. Esse gênio da ci-
topatologia faleceu em 1962 de um infarto súbito do miocárdio, mas nos deixou
inúmeros ensinamentos e técnicas desenvolvidas ao longo de sua carreira.
Outro pesquisador que contribuiu bastante à época foi o médico Ernest
Ayre, que, em 1940, criou uma espátula que possibilitava a coleta direta, por
raspagem, de células do colo uterino. A espátula de Ayre, ainda hoje, é utilizada
na coleta de material cervicovaginal, e passou a ser utilizada ao invés da coleta de

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secreções vaginais ‘espontâneas’ outrora preconizada por Papanicolaou (BRASIL,


2012a, 2012b, 2012c, 2016).

E U IN D ICO

Um artigo muito interessante sobre o exame preventivo é


o “Compreensão de usuárias de uma Unidade de Saúde da
Família sobre o exame Papanicolaou”. Alerte-se para o fun-
damental papel de todos os profissionais de saúde na pro-
moção da saúde da mulher. Não deixe de ler! Bons estudos!

Sem dúvida, o baixo custo operacional, a simplicidade de coleta e técnica, e sua


excelente eficácia diagnóstica contribuíram para o sucesso do teste mundial-
mente, principalmente quando estatísticas mundiais apontam o câncer de colo
de útero como um dos principais responsáveis por óbitos em mulheres.

Infelizmente, a realização do teste de Papanicolaou ainda não é uma prática


adotada por muitos países no mundo. Segundo dados do Ministério da Saúde
(2012a), 500 mil mulheres são diagnosticadas com câncer de colo de útero no
mundo por ano, e destas, infelizmente, 200 mil vêm a óbito devido à doença ou
por consequência dela.

Mesmo com altos índices de óbitos, vários estudos realizados no Brasil e no


mundo comprovam que a realização do exame de Papanicolaou é a estratégia
de escolha para diagnóstico precoce de câncer de colo de útero ou ainda das
situações/alterações preditivas dele, sendo também uma ferramenta fundamental
na monitorização de possíveis casos de câncer. Segundo o Ministério da Saú-
de (2012a), não existem outros testes ou técnicas superiores para o diagnóstico
precoce de cânceres cervicais, fazendo com que a citopatologia tenha seu de-
vido reconhecimento e importância sob a ótica diagnóstica, não só no âmbito
ginecológico, mas de todo o corpo (FERNANDES, 2017; CONSOLARO, 2014).

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E U IN D ICO

Você sabia que mesmo com todas as campanhas para a pre-


venção do câncer de colo de útero ainda existe uma grande
resistência das mulheres em realizar o exame? Acesse o ar-
tigo “Avaliação da não realização do exame Papanicolaou
por meio do Sistema de Vigilância por inquérito telefônico”.
Nele, os pesquisadores verificaram que alguns grupos de
mulheres acham desnecessária a realização desse exame
tão importante.

RECOMENDAÇÕES E INDICAÇÕES DO EXAME


CITOPATOLÓGICO DE PAPANICOLAOU
A indicação de realização do exame de Papanicolaou, segundo as Diretrizes Bra-
sileiras para o Rastreamento do Câncer do Colo do Útero pelo Ministério da Saú-
de/Instituto Nacional do Câncer (Inca), de 2019, é para mulheres sexualmente
ativas entre 25 e 60 anos, porém muitos autores e pesquisadores aconselham
que o início da realização do exame seja concomitante com o início da vida sexual
da mulher (BRASIL, 2012a).
Agora, pensando em periodicidade, a recomendação é a realização de exa-
mes anuais. Esse prazo deve-se à característica evolutiva do câncer de colo de
útero que, segundo dados epidemiológicos, revela a evolução relativamente
lenta, o que facilita a descoberta precoce de possíveis alterações que podem ser
indicativas de câncer, as chamadas lesões pré-cancerosas.
Para mulheres que receberam o diagnóstico de tais lesões, a recomendação
é realizar o exame citológico semestralmente. Após tratar tais lesões, e após dois
exames negativos, a recomendação passa a ser a realização de exame anual.

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PROCEDIMENTOS PRÉ-COLETA

Dentre os principais procedimentos pré-coleta, que devem ser cuidadosamente


explicados ao paciente, segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2012a) estão:

• Não estar em período menstrual, pois podem comprometer a qualidade do es-


fregaço, principalmente o ‘fundo’, impossibilitando a análise do esfregaço.

• Não realizar duchas vaginais.

• Não fazer uso de medicações intravaginais, por exemplo: cremes, pomadas,


óvulos e hormônios por no mínimo 48 horas antes da realização do exame.

• Fazer abstinência sexual, também, por no mínimo 48 horas antes da realização


do exame.

Um ponto a ser observado, de fundamental importância, é a ficha de solicitação


de exame. Ela deve acompanhar o material a ser analisado, e, se, porventura, não
estiver anexa, o laboratório deve, ainda na recepção, rejeitar o material e notificar
tal inconformidade, assim como nos casos de erros de preenchimento ou ainda
possíveis danos sofridos pelo material que podem prejudicar a sua análise.
Devem estar claros na ficha de coleta/solicitação de análise de material, no
mínimo, os seguintes pontos:
• Dados de identificação da paciente: nome completo, idade, do-
cumento de identificação, endereço e contato – no caso do Sistema
Único de Saúde (SUS) deve constar o número de cadastro da pa-
ciente.
• Informações do médico solicitante: nome, endereço e contato.
• Data da coleta.
• Data da última menstruação, informações sobre possíveis gesta-
ções anteriores, possíveis queixas, uso de anticoncepcionais, proce-
dimentos clínicos anteriores.
• Dados macroscópicos da vagina e colo quando existirem.
• Resultados de exames anteriores podem, ainda, acompanhar.

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PROCEDIMENTOS DE COLETA

Imediatamente antes do momento da coleta, o profissional responsável pela cole-


ta deve realizar a identificação da paciente na lâmina de vidro que será utilizada
na confecção do esfregaço. Essa identificação pode ser feita com o número do
cadastro/prontuário ou mesmo o nome e, em alguns casos, até o código de barras
atribuído àquela paciente. Observe, na Figura 2, a lâmina de vidro.

Note que uma das extremidades dela é fosca, justamente para


propiciar a marcação/identificação da amostra a ser analisada.

Figura 2 - Lâmina para esfregaços cervicovaginais / Fonte: Envato Elements ([2023a], on-line).

Descrição da Imagem: na fotografia tomada durante o dia e na altura de um observador humano, pode-se
ver uma mulher, ao centro da imagem, com óculos de proteção, segurando em ambas as mãos uma lâmina
transparente. As mãos estão cobertas por luvas de proteção em tom de azul. À esquerda, é possível observar
parte de um aparelho microscópio.

Essa prática é fundamental para garantir a identificação da amostra e evitar pos-


síveis trocas, principalmente, no momento da análise pelo citopatologista, pois
esse profissional não irá realizar a análise e nem o preparo de coloração de uma
lâmina por vez. Geralmente, um citotécnico analisa em média de 50 a 70 lâminas
em oito horas de trabalho!

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Viu a importância dessa etapa imediatamente antes do momento da análise?


Caro(a) aluno(a), mais um conselho: quando se trata de amostras clínicas, sem-
pre cumpra todos os procedimentos de identificação e de qualidade! Na rotina
laboratorial, existem muitas amostras e análises a serem realizadas por dia, além
da possibilidade da ocorrência de pacientes homônimos. Então, todo o cuidado é
pouco!

Figura 3 - Corantes: preparo de lâminas / Fonte: Envato Elements ([2023b], on-line).

Descrição da Imagem: na fotografia tomada durante o dia e na altura de um observador humano, pode-se
observar uma mulher, à direita da imagem, em ambiente laboratorial, com máscara de proteção, cabelo
preso, segurando em ambas as mãos um objeto não possível de identificar. As mãos estão cobertas por
luvas de proteção em tom de azul. À esquerda, é possível observar potes de vidro com líquidos de diversas
cores sobre uma mesa.

O procedimento de coleta das amostras encontra-se ilustrado na Figura 4. Nela,


podemos observar a coleta de amostra com a espátula de Ayre na porção su-
perior, inclusive com a indicação do procedimento correto, que deverá ser em
círculos (360°) na região da junção escamocolunar, chamada de JEC. Amostras
do fundo da vagina também são obtidas com essa espátula, porém com a outra
extremidade (romba). Para facilitar o acesso do profissional de saúde ao colo do
útero, vemos na figura, a utilização do espéculo, ou popularmente chamado de
‘bico de pato’ devido ao seu formato peculiar.

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Na porção inferior da figura, do lado esquerdo, podemos observar a coleta de


material da endocérvice com auxílio da escovinha. Nesse ponto, é válido ressaltar
que o espéculo a ser utilizado deve estar sem lubrificante, para evitar possíveis
contaminações. O excesso de muco, sangue ou mesmo secreção, caso existam
devem ser removidos, para isso, pode ser utilizado o swab ou mesmo algodão,
com o cuidado de evitar-se também a contaminação da amostra (evitar artefatos
de técnica).

Figura 4 - Coleta de amostras para execução da técnica de Papanicolaou / Fonte: Vida Wellness and Beauty
Center ([2023], on-line).

Descrição da Imagem: na ilustração, pode-se observar uma parte do corpo humano à direita, com simulação
de um profissional na realização de um procedimento. No canto inferior esquerdo, é possível observar
uma estrutura círculo, média, de tom rosado com uma espécie de cotonete encostando no centro. No lado
inferior esquerdo, é possível observar um objeto em formato de cotonete com haste longa em azul claro e
ponta oval e achatada, em tons de rosa.

A Figura 4 ainda nos traz um aspirador endocervical na parte inferior, à direita,


hoje praticamente em desuso. A escovinha deve ser inserida no orifício cervi-
cal externo, e fazer um movimento completo de rotação (360°) no canal. Para
finalizar, recomenda-se realizar movimentos de vai e vem no canal, de forma
delicada para evitar traumas na mucosa, o que poderia dar origem a pequenos
sangramentos que poderiam comprometer a mostra a ser analisada (BRASIL,
2012a, 2019; LIMA, 2001).

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Quando ocorre a coleta tríplice (amostras citológicas de endocérvice, ec-


tocérvice e saco posterior da vagina), as três amostras devem ser dispostas sob
a mesma lâmina na mesma ordem citada. Devido às inúmeras vantagens desse
tipo de colheita, o Inca recomenda apenas a colheita dupla (endocérvice e ecto-
cérvice), visto que o exame citopatológico tem como principal objetivo verificar
a existência de lesões pré ou mesmo cancerosas do colo, ficando a condu-
ta a critério clínico. As amostras devem ser acondicionadas em potes plásticos
contendo etanol 95%, até o momento da fixação e coloração. Sem dúvidas, é
necessário um treinamento adequado para obter-se bons esfregaços e ainda evitar
possíveis artefatos de técnicas, além de situações de esmagamento dos espécimes
celulares e de dessecação de material (BRASIL, 2012a, 2016, 2019).

Confira algumas informações importantes, segundo apontamento de Junqueira


e Carneiro (2018) e do Ministério da Saúde (BRASIL, 2012a), principalmente para
análises de amostras pertencentes a mulheres peri e pós-menopausadas:

• O fundo de saco vaginal pode ser reservatório de células malignas, princi-


palmente advindas de tumorações do endométrio, trompas e ovário, fazen-
do-se fundamental a coleta de amostras dessa região.

• A coleta de amostras vaginais tem grande interesse sob a ótica de identific-


ar-se possíveis microrganismos patogênicos, potencialmente infeccio-
sos.

• Os públicos citados apresentam uma maior dificuldade de obtenção de


amostras, porque existe naturalmente uma diminuição da atividade das
glândulas secretoras, o que provoca um maior ressecamento da mucosa
vaginal. Nessas circunstâncias, as amostras possuem poucas células e, às
vezes, ainda possuem degenerações, o que pode comprometer a amostra –
amostra insatisfatória.

• Nos casos em que a mulher faz uso de estrógenos ou estriol, é aconselhável


a repetição do exame após sete dias de interrupção de uso.

• Em mulheres histerectomizadas (remoção do útero), as amostras a serem


coletadas são raspados da cúpula e das paredes vaginais.

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PROCEDIMENTOS PÓS-COLETA
Como já dito, a lâmina com o esfregaço deve ser conservada em etanol 95%,
imersa nele ainda úmido, onde deverá permanecer até o momento do preparo –
coloração – e posterior análise. O tempo máximo que o esfregaço deverá perma-
necer na solução conservante, de acordo com a literatura, é de até duas semanas
(prazo máximo), conforme aponta o Ministério da Saúde (BRASIL, 2012a).
O método de coloração desenvolvido por Papanicolaou sofreu várias adapta-
ções e deve ser realizado conforme preconizado no laboratório de citopatologia,
no qual a amostra será analisada (KOSS; GOMPEL, 2014; BRASIL, 2012a, 2012b).
Após o processo de coloração, é necessário realizar a montagem dos esfre-
gaços citológicos e para tal, é aplicada uma resina, geralmente o xilol, para
conseguir a adesão da lamínula à lâmina.

É a ligação entre lamínula e lâmina que protege o esfregaço de dessecação e ainda


minimiza a possibilidade de perda de coloração ao longo do tempo. A montagem
deve ser rápida para impedir a entrada de ar entre as duas superfícies e produzir
artefatos de técnica, que também pode prejudicar a análise do material.

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Mas o que deve ser feito antes da análise efetiva (leitura) da amostra? Vamos
ao passo a passo:

• Conferir o nome da paciente com a identificação da lâmina e seu respec-


tivo número de registro.

• Confrontar todos os dados da paciente e ainda ler atentamente todas as


informações clínicas.

• Avaliar a lâmina na objetiva de 4x quanto à fixação, coloração, carac-


terísticas do fundo do esfregaço, quantidade de espécimes celulares, como
está a distribuição celular e ainda como está a sua distribuição.

Uma observação importante sobre a amostra é a ausência de componentes oriun-


dos da zona de transformação (células endocervicais e/ou metaplásicas escamo-
sas), pois esta ausência não impede e nem interfere na classificação do esfregaço
no tocante a sua adequabilidade, mas deve ser relatada no campo de observações.
Segundo o Instituto Nacional do Câncer (BRASIL, 2019), esses aspectos devem
ser satisfeitos, atestando a adequabilidade da amostra, atendendo aos requisitos
da Nomenclatura Brasileira para Laudos Cervicais e Condutas Preconi-
zadas.
Uma dica importante do Ministério da Saúde (BRASIL, 2012a) é iniciar a
leitura da lâmina pela parte superior esquerda do esfregaço, realizando as análises
verticalmente, sobrepondo sempre as áreas já analisadas com aquelas ainda a
analisar. Durante a leitura, é normal realizar-se marcações de campos suspeitos
para uma análise mais criteriosa posteriormente, pelo próprio técnico ou mesmo
pelo médico citopatologista. Essa marcação é feita com caneta ponta fina de tinta
permanente, com um ponto acima ou abaixo da estrutura a ser estudada. Alguns
profissionais preferem circular essas estruturas dando à área um maior destaque.

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Todos os resultados de exames citopatológicos devem apresentar, segundo


Koss e Gompel (2014) e o Ministério da Saúde (BRASIL, 2012a):

• Identificação da paciente.

• Número de registro do laboratório.

• Metodologia de coleta das amostras (fixador, técnica de coloração,


descrição microscópica).

• Conclusão diagnóstica e comentários adicionais quando necessário.

Segundo a resolução n° 1472/1997 do Conselho Federal de Medicina, as lâmi-


nas de exames citopatológicos devem ser arquivadas por um período mínimo
de cinco anos no próprio laboratório – em ordem numérica –, independente-
mente do diagnóstico, ou ainda ser entregue à paciente ou seu responsável legal,
após orientações sobre conservação e o tempo de guarda. Já os laudos devem ser
guardados em sistema informatizado por período indefinido; ambos com acesso
restrito e ainda com protocolos de entradas e saídas das lâminas.

ANORMALIDADES GLANDULARES E SUAS


CLASSIFICAÇÕES
O tipo mais prevalente de câncer de colo de útero é o carcinoma escamoso,
responsável por 75% dos casos registrados, segundo o Inca (BRASIL, 2019). Na
segunda posição, temos os adenocarcinomas, responsáveis por aproximada-
mente 20% dos casos, também segundo o mesmo Instituto.

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A P RO F UNDA NDO

Você sabe o que são adenocarcinomas? Já ouviu falar nesse termo? Para o
Ministério da Saúde (BRASIL, 2012a, 2012c), os adenocarcinomas são, his-
tologicamente, tumores que mimetizam a aparência das células glandulares
endocervicais. Essas neoplasias infiltram-se no estroma do colo do útero
com forma glandular, que podem ter formas e tamanhos variados, e ainda,
podem apresentar projeções em formatos de papilas na superfície e dentro
de glândulas já existentes na região acometida.

A Figura 5 traz um desenho esquemático para relembrar as principais apresen-


tações do tecido epitelial.

Figura 5 - Principais tipos de tecidos epiteliais / Fonte: Wikipedia ([2023], on-line).

Descrição da Imagem: na ilustração, podemos observar sete figuras de epitélios. Na primeira linha, da es-
querda para a direita uma figura mais plana com morfologia de células maiores, representando o epitélio
“Simples escamoso”. Ao centro, está representado o epitélio “Simples cúbito”, com morfologia de células
menores, em cubos com núcleo centralizado. E por último, à direita, está representado o epitélio “Simples
colunar”, com morfologia celular mais alongada e fina, com núcleos mais achatados. Na segunda linha, da
esquerda para a direita, está representado o epitélio “Estratificado escamoso”, com morfologia celular com
diversas camadas, em diferentes formatos. Ao lado, está representado o epitélio “Estratificado cúbico” com
morfologia de células cúbicas e núcleos centrais. Após, está representado o epitélio “Pseudoestratificado
colunar” com morfologia de células colunares e núcleos mais achatados. E por último, à direita, está re-
presentado o epitélio “Transitorial” com morfologia celular em camadas, com formatos cúbicos, circulares
e alongadas.

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ADENOCARCINOMAS CERVICAIS

O número de casos de adenocarcinoma cervical vem crescendo


bastante nos últimos anos, segundo o Ministério da Saúde (BRASIL,
2012a).

Existe uma grande discussão na comunidade científica sobre esse aumento. A


dúvida que paira é a seguinte: esse aumento é real ou aparente? A redução de
casos de carcinoma escamoso cervical é uma consequência direta da efetividade
dos programas de prevenção de câncer de colo de útero? Ou deve-se ao melhor
preparo dos analistas citopatológicos no ato da interpretação e diagnóstico dife-
rencial dos diferentes tipos de lesões?
Essas questões ainda estão longe de serem respondidas e cada vez mais ten-
ta-se buscar correlações, que possibilitem diagnósticos cada vez mais precoces e
precisos. Sabe-se que o carcinoma escamoso e o adenocarcinoma possuem uma
relação íntima com infecções pelo HPV, principalmente os tipos 16 e 18, o
segundo mais com o tipo 18.
Outro fato também em discussão é a relação entre o adenocarcinoma e o uso
prolongado de contraceptivos orais. Fatores que inicialmente não têm relação
com o desenvolvimento de adenocarcinoma são: idade precoce do início da
atividade sexual, bem como o número de parceiros e ainda o tabagismo.

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O diagnóstico precoce envolvendo lesões glandulares ainda é um grande


desafio para os profissionais da área, porque não existem indicadores específicos,
e os achados colposcópicos são na maioria dos casos vagos, compreendendo ape-
nas pequenas alterações topográficas da superfície do colo, o que é muito com-
plicado, pois as glândulas por vezes comprometidas encontram-se mais internas,
profundas, difíceis de serem identificadas de forma precoce (BRASIL, 2012a).
A contraponto, temos as lesões escamosas, que são, por natureza, mais su-
perficiais, logo, muito mais fáceis de serem identificadas em colposcopias, em
que mais uma vez, as lesões ou ‘anormalidades’ glandulares, principalmente o
adenocarcinoma in situ, geralmente são encontradas dentro de canais endocer-
vicais e assim, inacessíveis.
Nesse cenário, temos as análises citológicas como coadjuvantes, para
diagnósticos de lesões glandulares ou mesmo de adenocarcinomas, e uma alta
efetividade para lesões escamosas.

Agregado a isso, temos falhas de interpretação por pouca experiência


dos analistas citopatológicos na identificação de adenocarcinomas
endocervicais ou mesmo de suas lesões precursoras (BRASIL, 2012a;
KOSS; GOMPEL, 2014).

Diagnosticar corretamente as lesões glandulares requer uma ampla per-


cepção e conhecimento de várias características citológicas tanto das células iso-
ladamente quanto de seu comportamento em coleções celulares.
De maneira genérica, elas apresentam-se com citoplasma delicado e pouco
corado devido à grande quantidade de mucina em seu interior. Seus núcleos são
redondos ou levemente ovalados com cromatina granular fina, podendo possuir
um ou até dois nucléolos. Em coleções, são organizadas de forma monoestrati-
ficadas, com limites bem definidos e nucleações mais centrais com distribuição
uniforme; em estruturas de favo de mel, em paliçada ou em ‘tiras’, permitindo
a diferenciação das células endometriais, que são menores e são portadoras de
pouco citoplasma e com cromatina grosseira e nucléolo quase imperceptível.
Segundo o Ministério da Saúde (2012a) e Consolaro (2014), as células endo-
metriais geralmente são observadas em pequenos grupos ou coleções celulares,
geralmente em formato esférico, podendo na maioria das vezes, ocorrer sobre-

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posição nuclear. Isso é um ponto importante a que os analistas citopatológicos


devem estar atentos e familiarizados, pois em alguns casos, como na metaplasia
tubária e na hiperplasia microglandular – reações benignas –, podem tam-
bém apresentar-se desse mesmo modo, e podem provocar falsos diagnósticos
de malignidade.
O fato de existirem lesões escamosas concomitantemente com adenocarcino-
mas, relatadas entre 30% e 50% dos casos, contribuem com o mascaramento desse
tipo de câncer. O que pode ser feito para aumentar o espectro de análise é através
da ‘escovinha’ de coleta de amostras endocervicais com a realização do movimen-
to de vai e vem delicadamente. Essa prática resulta em maior descamação celular
o que auxilia no diagnóstico mais assertivo de possíveis lesões endocervicais.
Esses tumores malígnos que têm aparência de glândulas endocervicais (ade-
nocarcinomas) geralmente são revestidos por epitélio simples ou estratificados de
células tumorais cuboides ou mesmo colunares, com citoplasma turvo e granulo-
so e ainda com núcleos aumentados, hipercromáticos, com cromatina grosseira
e podem apresentar nucléolo.

Para o Ministério da Saúde (BRASIL, 2012a), conforme as recomendações da


OMS, os tumores glandulares podem ser classificados em seis tipos histológicos:

• Adenocarcinoma sem outras especificações.

• Adenocarcinoma mucinoso (70% dos casos) – que pode ser de cinco tipos:
endocervical, intestinal, de células em ‘anel de sinete’, de desvio mínimo e
ainda viloglandular.

• Adenocarcinoma tipo endometrioide.

• Adenocarcinoma de células raras.

• Adenocarcinoma seroso.

• Adenocarcinoma mesonéfrico.

As lesões precursoras do tumor podem ser subdivididas, histologicamente, em


(BRASIL, 2012a):
• Atipia glandular – alterações não neoplásicas associadas à infla-
mação.

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• Hiperplasia atípica (displasia glandular) – neoplasia glandular


intraepitelial de menor intensidade que o adenocarcinoma in situ.
• Adenocarcinoma in situ.

Quanto às anormalidades apresentadas pelas células glandulares, o Ministério


da Saúde (2012a) nos traz a classificação do Sistema Bethesda (2001), nas ca-
tegorias:
• Células glandulares endocervicais atípicas (sem outra especi-
ficação) – células epiteliais glandulares endocervicais atípicas de
significado indeterminado provavelmente não neoplásicas.
• Células glandulares endocervicais atípicas provavelmente
neoplásicas – células epiteliais glandulares endocervicais atípicas
de significado indeterminado possivelmente neoplásicas - Nomen-
clatura Brasileira para Laudos Cervicais (2006).
• Adenocarcinoma endocervical in situ.
• Adenocarcinoma endocervical invasivo.

O sistema de categorização das células glandulares atípicas de significado in-


determinado (AGUS) teve sua origem no Sistema Bethesda de 1988, que foi
renomeada posteriormente para evitar-se prováveis confusões com o sistema
ASCUS de células escamosas, mas ainda hoje podemos nos deparar com esse
tipo de classificação. Atualmente, recomenda-se indicar a origem das células
glandulares atípicas: endocervical, endometrial ou ainda indeterminada.
Um ponto considerado em alguns estudos e que deve ser observado nas
análises citopatológicas é a idade da paciente, pois atipias de células glandulares
endocervicais e lesões consideradas significativas são mais comuns em mulheres
mais velhas (após 35 anos); nas mais jovens, geralmente são mais recorrentes
lesões intraepiteliais escamosas – NICs (BRASIL, 2012a).

ADENOCARCINOMAS ENDOMETRIAIS

Antes de começarmos os nossos estudos sobre os adenocarcinomas endometriais,


temos que ter uma ideia clara: amostras de citologia cervicovaginais não são a
metodologia de escolha nas investigações de lesões endometriais, são apenas
uma metodologia de rastreamento das lesões pré-cancerosas e malignas do colo
uterino (CONSOLARO, 2014; BRASIL, 2012a, 2019).

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Dito isso, vamos começar a estudar as características principais das células


endometriais ‘normais’, aquelas características consideradas fisiológicas. Após
esses estudos, partiremos para as análises celulares patológicas. Então, vamos lá!
As mulheres em fase reprodutiva passam pela fase de descamação do endo-
métrio até o décimo segundo dia do seu ciclo menstrual, conforme demonstra-
do na Figura 6. Porém aquelas mulheres que fazem uso de DIU ou que fazem
terapia hormonal podem apresentar células endometriais em seus esfregaços
cervicovaginais em qualquer período de seu ciclo. Nas amostras em que esses
tipos celulares se fazem presentes, de acordo com o Ministério da Saúde (BRA-
SIL, 2012a) e seguindo mais uma vez as recomendações/diretrizes do Sistema
Bethesda, devem ser sinalizadas, principalmente, para aquelas que não possuem
justificativa aparente e ainda para aquelas com idade superior aos 40 anos.

Figura 6 - Fases do período menstrual: acontecimentos nos ovários e útero de acordo com o ciclo hormonal
/ Fonte: Mundo Educação ([2023], on-line).

Descrição da Imagem: na ilustração, pode-se observar que o ciclo menstrual está dividido em fases. De cima
para baixo, à esquerda, está representada a fase folicular, que vai do primeiro ao 14º dia do ciclo, constituída
pela menstruação e fase proliferativa, na qual o folículo vai crescendo com o passar dos dias. No 14º dia,
está representada a ovulação, com liberação do ovo; à direita desta marca, está representada a fase lútea,
com presença de corpos que vão alterando de tamanho e forma. Esta fase, que vai do dia 14º ao 28º dia,
está constituída pela fase secretora. Na parte inferior da imagem, é possível observar, anatomicamente,
como se apresentam as fases do ciclo. Da esquerda para a direita, observa-se a presença de corpo albicans
na fase de menstruação. Ao lado, há a presença do folículo em crescimento, com endométrio íntegro; após,
observamos a ovulação e por último, corpo lúteo e ovócito.

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A probabilidade da existência de lesões é considerada pequena quando células


endometriais são identificadas em mulheres jovens, portanto tal identificação
deixa de ser obrigatória nessas amostras cervicovaginais. Quando ocorre o con-
trário, células endometriais são identificadas em amostras de mulheres pós-me-
nopausadas, que devem ser obrigatoriamente registradas/apontadas nos laudos
citológicos (BRASIL, 2012a; MOLINARO; CAPUTO; AMENDOEIRA, 2010).
Fisiologicamente, e de maneira genérica, as células oriundas de glândulas
endometriais se apresentam em pequenas coleções. As células, em sua maioria,
são pequenas, com pouco citoplasma e com limites indistintos, podendo ou não
apresentar vacúolos. Seus núcleos são arredondados e com cromatina fina, po-
dendo apresentar cromocentros devido a possíveis alterações degenerativas. Não
é raro serem observados grandes conjuntos celulares, com estrutura esférica, bem
coradas, entre o sexto e décimo dia do ciclo, pois, nesse período, podem ocorrer
descamações importantes das células estromais mais profundas do endométrio.

A esse movimento é dado o nome de “êxodo menstrual” (BRASIL,


2012a).

Agora que conhecemos a estrutura básica fisiológica das células glandulares en-
dometriais, passaremos às características consideradas “anormais”, pois elas
são consideradas por muitos estudiosos na área como características de difícil
identificação quando comparadas às alterações apresentadas pelas células cer-
vicais, tanto que existe uma classificação específica para os casos em que não se
consegue subclassificar: “sem outra especificação e provavelmente neoplásica”,
situação que não ocorre com as células cervicais.
Diante dessa situação, e conferindo a ela a importância que merece, as células
atípicas, ou suas coleções endometriais, apresentam, geralmente, as seguintes
características:

• Coleções celulares relativamente pequenas – entre cinco e dez células.

• Células com núcleos pouco aumentados, em comparação com as células


“normais’’.

• Apresentam leve hipercromasia nuclear e nucléolo pequeno.

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• Possuem pouco citoplasma e na maioria das vezes com presença de


vacúolos.

• Apresentam contornos celulares pouco definidos.

Comumente para serem classificadas, ou consideradas, “células glandulares en-


dometriais atípicas” precisam apresentar várias características, e muitas destas
de natureza reativa, e podem estar associadas com o uso prolongado de DIU,
presença de pólipos endometriais e endometrites, conforme afirma o Ministério
da Saúde (2012a). Nesse grupo de células, estão incluídas aquelas decorrentes de
lesões significativas do endométrio, como nos casos de hiperplasias endome-
triais atípicas e ainda os adenocarcinomas diferenciados.

Sem dúvida, a maior dificuldade no diagnóstico é a diferenciação entre


adenocarcinoma endometrial e endocervical.

Ambas possuem diversas variações (subclassificações) e muitas das carac-


terísticas morfológicas utilizadas para realizar a classificação assertiva podem
estar sobrepostas. Na prática, o adenocarcinoma endometrial está associado com
coleções celulares menores, com células também menores e geralmente isoladas,
com geometria esférica, podendo ou não estar acompanhadas de histiócitos.
Já o adenocarcinoma cervical apresenta-se com uma coleção celular maior,
do tipo colunar, em arranjos de “tiras” com pseudoestratificações, com núcleos
maiores assim como seus nucléolos. Para um diagnóstico assertivo de adenocar-
cinoma, é recomendado um exame histopatológico, pois assim evita-se apenas
sugerir a origem do tumor nos casos em que não é possível definir o quadro.

NEOPLASIAS MALIGNAS METASTÁTICAS


Segundo o Inca (BRASIL, 2016; 2019), os cânceres genericamente possuem ori-
gem genética, a partir de uma alteração no material genético das células sadias
“normais”. Essas alterações podem ser provocadas por variados fatores, entre eles,
produtos químicos (alguns mais cancerígenos que outros), infecções, radiações
etc., conforme Figura 7.

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Com a alteração do material genético celular (DNA – ácido


desoxirribonucleico), irá ocorrer a ativação de genes chamados de
proto-oncogeneses, que nas células normais estão inativos.

Após a ativação, esses genes passam a ser conhecidos como oncogenes, e


serão os responsáveis pelas células “com defeito”, agora mutantes, chamadas de
cancerosas. O processo que transforma células normais em células cance-
rosas chama-se carcinogênese ou oncogênese
DESENVOLVIMENTO CELULAR NORMAL

Tecido saudável

Divisão celular

Célula
normal
Alterações
genéticas Tumor
maligno

Du na
pli ge Divisão da
caç erí
ã o d a célula ca n c célula cancerígena

CRESCIMENTO ANORMAL DE CÉLULAS

Figura 7 - Processo de desenvolvimento do câncer / Fonte: Vecteezy ([2023], on-line).

Descrição da Imagem: a figura apresenta dois ciclos celulares. A imagem está dividida ao meio, de forma
horizontal. Do meio para cima, está representado o desenvolvimento celular normal, no qual há uma célula
circular, em tom de rosa e núcleo denso e mais escuro no interior, dela parte uma seta para cima, a qual indica
o texto “divisão celular”, com morfologia celular circular encapsulada em par. A partir desta parte outra seta,
indicando quatro células de mesma morfologia. A partir desta, parte outra seta em curva, indicando tecido
saudável, com morfologia com diversas células cúbicas, organizadas uma ao lado da outra e com núcleo
central. Do meio para baixo, está representado o crescimento anormal de células, do qual parte uma seta
em forma de curva, indicando o texto “alterações genéticas”, com morfologia celular circular, com borda
irregular, em tom de azul; desta parte outra seta, indicando o texto “duplicação da célula cancerígena”, em
que as células vão aumentando em quantidades, até a última seta, que indica texto “tumor maligno”, com
morfologia em arranjo, com sobreposição e não organizadas.

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Esse processo de transformação, na maioria dos casos, ocorre de forma lenta e


gradual, permitindo a identificação do processo ainda de forma precoce, pois
existem processos que levam anos para poder causar sintomas específicos ou
mesmo tumorações visíveis.
Nesse contexto, vale ressaltar que os agentes cancerígenos, ou agentes carci-
nógenos, geralmente, apenas provocam a iniciação do processo tumoral, mas
o seu acúmulo pode contribuir com sua progressão ou mesmo com os efeitos
inibitórios do tumor. Outro ponto que merece atenção é o fato de o organismo
humano possuir mecanismos de controle dessas células mutantes (apresentam
alterações genéticas), muitas delas são induzidas a entrar em apoptose. Nesse
processo, a célula defeituosa é eliminada e restabelece-se a higidez do organismo.
O grande problema é que esse sistema pode apresentar falhas. Células can-
cerosas conseguem “enganar” o sistema e passam a ter uma multiplicação celular
descontrolada, dando origem aos tumores. O processo carcinogênico basicamen-
te pode ser dividido em três estágios, segundo o Inca (BRASIL, 2019), são eles:

INICIAÇÃO

os genes ficam sob influência dos agentes cancerígenos, que provocam as alter-
ações celulares, mas, neste momento, ainda não é possível identificar o tumor.
Podemos dizer que neste estágio as células estão iniciadas ou mesmo prepara-
das para o desenvolvimento tumoral.

PROMOÇÃO

nesta fase, as células já ‘alteradas’ estão suscetíveis à ação de outras sub-


stâncias, chamadas de oncopromotoras e aí tem-se a célula, antes alterada,
promovida à célula cancerígena maligna. Para essa transformação ser concluída,
tem-se geralmente um grande espaço de tempo, que pode ser reduzido ou
aumentado dependendo do tempo e período de contato com o agente oncopro-
motor, e ainda da suscetibilidade e predisposição do indivíduo portador dessa
célula cancerígena. Na maioria das vezes, quando se retiram as células do
contato com o agente promotor, o processo de tumoração cessa. Sabe-se
que alguns tipos de alimentos, radiações, hormônios e/ou mesmo determinados
tipos de medicamentos podem ser considerados como oncopromotores. Logo,
todo cuidado é pouco, caro(a) aluno(a)!

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PROGRESSÃO

estágio caracterizado pela multiplicação celular descontrolada, praticamente


irreversível, das células magnificadas, e oficialmente, instalado o câncer; com
isso, inicia-se a identificação dos primeiros sinais e sintomas clínicos da doença a
variar dependendo do sítio de acometimento.

Após a ocorrência da mutação, as células perdem características fundamentais


como a inibição por contato. Por isso, com o crescimento descontrolado, perde-
-se o controle da divisão celular, passando a apresentar “características” muito
diferentes daquelas apresentadas pelas células “normais”, como a aparência dos
núcleos, aumento do número de nucléolos, apresentação irregular da cromatina,
coeficientes núcleo/citoplasma anormais etc.
A seguir, segundo o Ministério da Saúde (2012a, 2012b, 2012c) e Inca (2016,
2019), estão resumidas algumas das principais características e ocorrências
de células/tecidos mutagênicos:

• Células multiplicam-se de forma totalmente descontrolada, ou seja,


as células continuam a se dividir constantemente e de maneira rápida.

• O grande quantitativo de células em constante crescimento ultrapassa


os limites do tecido original, invadindo os tecidos circunvizinhos, provo-
cando o adoecimento periférico com invasão progressiva de todo o
organismo.

• Quando o câncer está restrito ao tecido de origem, o consideramos


como um carcinoma in situ, porém quando ele transpassa a membrana
basal e passa a invadir outros tecidos, ele passa a ser considerado um
câncer/carcinoma invasivo.

• As novas células do “bolo” tumoral, provenientes da proliferação celular


descontrolada, estimulam o processo chamado de “angiogênese”, que
será responsável pela formação de novos vasos sanguíneos, que serão, por
sua vez, mantenedores de todos os nutrientes necessários ao crescimento
desordenado das células cancerosas.

• As células tumorais malignas têm grande capacidade de desprendi-


mento do tumor inicial e passam a se deslocar pelo corpo, principal-
mente via corrente sanguínea ou linfática. Quando essas células chegam

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em outros órgãos ou tecidos, e ali se instalam, damos a esse processo o


nome de “metástase”.

• A ocorrência de metástase vai depender do tipo de célula tumoral,


algumas podem apresentar metástases mais rapidamente, outras mais
lentamente, ou ainda, em alguns casos, nem apresentar.

• A sintomatologia apresentada pelo paciente vai depender do local de


acometimento, e o quão rápido o tecido canceroso passa a substituir o te-
cido sadio, tanto no câncer inicial, quanto na metástase. As células tumorais
perdem grande parte de sua especialização, consequentemente, os tecidos
cancerosos perdem suas respectivas funções, por exemplo, quando nos
pulmões, o paciente apresenta dificuldades respiratórias; quando no fígado,
problemas metabólicos etc. Cabe aqui ressaltar que mesmo perdendo uma
grande parte de suas funções, as células cancerígenas guardam algu-
mas características das células originais e de seu tecido de origem, o
que possibilita descobrir a origem da mutação genética.

mutação

célula-tronco nova célula-tronco


normal ou célula cancerosa
progenitora tumor primário

quimioterapia

células-tronco de
câncer refratário
tumor primário tumor de recidiva
C

fuga de
células
tumorais
células-tronco de
câncer metastático Metastases
tumor primário

Figura 8 - Metástase / Fonte: Além das Aulas (2014, on-line).

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Descrição da Imagem: representação do desenvolvimento da metástase. Na primeira linha indicada pela


letra “A”, de cima para baixo, da esquerda para a direita, está representada uma célula célula-tronco nor-
mal ou célula progenitora, com morfologia circular, com tons de azul mais escuro e um círculo mais claro
no interior com borda mais escura e centro mais claro, em tons de rosa. Desta, parte uma seta à direita,
representando a mutação, com morfologia celular semelhante à anterior, porém coloração em tons de verde
e marrom, caracterizando a nova célula-tronco cancerosa. Desta, parte uma última seta indicando o texto
“tumor primário”, com morfologia de grande quantidade celular aglomerada, circular de grande maioria
em tons de roxo e apenas uma célula ao centro em tons de verde e marrom. Na segunda linha, indicada
pela letra “B”, está indicado o texto “tumor primário” com seta à direita caracterizando “quimioterapia”,
com morfologia de aglomerado celular mais opaco, indicando o texto “células-tronco de câncer refratário”,
a partir desta, sai uma outra seta indicando o texto “tumor de recidiva”, com morfologia igual ao tumor
primário. Na terceira e última linha, indicada pela letra “C”, está caracterizado o tumor primário. Deste,
sai uma seta indicando fuga de células tumorais, com morfologia celular unitária em tons de amarelo e
marrom, caracterizando células-tronco de câncer metastático, após essa representação, sai a última seta,
representando metástases, com morfologia em dois aglomerados celulares em círculos, ambos com uma
célula em destaque ao centro de coloração amarronzada.

Agora que já estudamos os mecanismos mutagênicos e as metástases, passare-


mos às ocorrências metastáticas no colo do útero e na vagina.
Esses dois são os principais sítios metastáticos advindos de adenocarcinomas,
segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2012a). Estatisticamente, de acordo com
a pasta ministerial, as tumorações mais recorrentes são os adenocarcinomas de
endométrio, 30%, de ovários, trompas, trato gastrointestinal e de mama (princi-
palmente o carcinoma do tipo lobular). Pensando nos tipos mais raros, temos os
carcinomas de bexiga, pâncreas e pulmão.

Estágio 1 Estágio 2 Estágio 3 Estágio 4


o câncer está o câncer está em o câncer está em o câncer tem
confinado aos um dos ovários e um dos ovários metástase para
ovários se espalhou para e o câncer se locais distantes
a região pélvica espalhou para ou outros órgãos
a margem do fora do abdômen
abdômen ou e região pélvica
para os gânglios
linfáticos na
parte de trás
do abdômen

Figura 9 - Estágios do câncer de ovário.

Descrição da Imagem: representação dos estágios do câncer de ovário. Da esquerda para a direita, podemos
observar uma figura do trato genital feminino, representando o estágio I do câncer, indicando o texto “o
câncer está confinado aos ovários”, apresentando morfologia alterada nos ovários. Ao lado, está represen-
tado o estágio II, indicando o texto “o câncer está em um ou ambos os ovários e se espalhou para a região
pélvica”, trazendo uma alteração ainda maior na morfologia.

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Em sequência, está representado o estágio III, indicando o texto “o câncer está em um ou ambos os ovários,
e o câncer se espalhou para o revestimento do abdome ou para os gânglios linfáticos na parte posterior
do abdome”, trazendo uma morfologia com alterações que se espalham por outros tecidos. E por último,
o estágio IV, o qual indica o texto “o câncer metastatizou para locais distantes ou outros órgãos fora do
abdome e da região pélvica”, apresentando morfologia alterada em outros órgãos.

Quando pensamos nas principais vias de acometimento para colo e vagina, as


estatísticas nos indicam, segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2012a), que
são através das trompas, advindas da cavidade peritoneal ou ainda através dire-
tamente da uretra ou reto. Os principais tipos de câncer de colo do útero são:
os carcinomas de células escamosas presentes entre 80% e 90% dos casos, e os
adenocarcinomas, com 10% a 20% do número de casos notificados.

NOVAS TECNOLOGIAS APLICADAS À


CITOPATOLOGIA CLÍNICA
A área da citopatologia clínica vem crescendo muito nas últimas
décadas.

O baixo custo, método minimamente invasivo e a facilidade de execução facili-


taram muito com a popularidade de suas técnicas, além do enorme sucesso da
técnica no diagnóstico precoce, e também da prevenção, do câncer de colo de
útero, além de inúmeras outras doenças do trato genital feminino.
Nesse contexto, temos o exame de Papanicolaou convencional que tem se
mostrado uma excelente arma contra o câncer de colo de útero e a consequente
diminuição da taxa de mortalidade de mulheres com esse diagnóstico.
Mesmo com a consagração mundial da técnica de Papanicolaou, existem,
infelizmente, taxas consideradas de exames falsos-negativos, o que compromete
a clínica e o prognóstico das pacientes. Sabe-se que a sensibilidade da técnica é
alta, até 90%, segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2012a), porém, devemos
considerar algumas possíveis variáveis decorrentes de falhas de execução, pre-
paração e/ou mesmo de leitura e interpretação (análise) dos achados celulares.
Sem dúvidas, um dos maiores desafios enfrentados na citopatologia é a padro-
nização e otimização das etapas do processo de preparo, cada dia mais cobradas

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pelos usuários, planos de saúde e ainda assim pelas instituições certificadoras


de qualidade. É inegável que para atingir um padrão de qualidade satisfatório é
fundamental a adoção de padrões na rotina clínica.
O padrão nem sempre é atingido, pois sempre estão envolvidos nos proces-
sos analíticos vários profissionais, e mesmo com uma rotina de treinamentos e
programas de reciclagem, existem muitas variáveis envolvidas e ainda uma
alta rotatividade de profissionais na área, o que acaba por comprometer a coesão
da equipe.
Uma das técnicas que vem ganhando espaço no mercado citopatológico é a
citologia realizada em meio líquido, também chamada na área como LBC.
Através dessa técnica, é possível melhorar consideravelmente a visualização das
amostras celulares coletadas em citopatologias do colo uterino. A amostra é ana-
lisada por computadores que requerem praticamente nenhuma sobreposição
celular, o que aumenta consideravelmente a sensibilidade do diagnóstico.
Com o emprego dessa técnica, o citopatologista tem mais facilidade de ana-
lisar a coleção celular e assim melhores condições de identificar possíveis anor-
malidades citológicas, além de conferir uma melhor conservação da amostra.
A LBC ainda propicia a realização de testes de biologia molecular, com a
identificação de DNA do HPV e ainda de outros microrganismos potencial-
mente patogênicos, como a Chlamydia trachomatis e a Neisseria gonorrhoeae,
na mesma amostra citológica. A amostra passa por um processo de suspensão
em meio com o fixador, através de centrifugação, sendo possível dispor sobre a
lâmina uma camada fina de células para serem analisadas.
Devido a esse procedimento técnico, a técnica LBC também é conhecida
como citologia em camada fina ou ainda como citologia em monocamada.
Essa técnica já possui grande uso em países como Estados Unidos e Inglaterra,
e vem substituindo continuamente a técnica Citológica Convencional (CC) nas
análises de colo do útero.
Outras técnicas em meio líquido com maior grau de automatização também
vêm ganhando espaço, como a BD Sure Path e a ThinPrep que são passíveis
de padronização de coleta, preparo e de coloração, padrões que possibilitam a
melhoria analítica e na qualidade dos testes, diminuindo consideravelmente os
procedimentos manuais. Usando a técnica de citologia em meio líquido, segundo

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o Ministério da Saúde (BRASIL, 2012a, 2012b), é possível reduzir em até 81% a


área de leitura, ganho de 50% no tempo de leitura e ainda melhoria de até 73%
na produtividade do laboratório. Esses números se tornam mais impressionantes
quando comparamos a produtividade dos profissionais com e sem auxílio de
equipamentos. Na primeira hipótese, uma média de 50-70 lâminas por dia, e com
o auxílio de equipamentos, até 170 lâminas por dia de trabalho, para jornada de
oito horas. São números impressionantes, não concordam?

Figura 10 - Centrífuga / Fonte: Pixabay ([2023], on-line).

Descrição da imagem: na fotografia tomada por observador humano, é possível


observar um equipamento em cima de uma bancada, à direita, de base branca,
redonda, de tamanho médio, com controle digital à frente e tampa em tom de
azul em formato côncavo e à esquerda, tubos de ensaio em uma estante de ferro.

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VANTAGENS DA LBC, SEGUNDO O MINISTÉRIO DA SAÚDE (BRASIL, 2012A)

Melhor espalhamento das células a serem analisadas sobre a lâmina.


• Melhor preservação das coleções celulares.
• Menor quantidade de variáveis de “fundo”: muco, exsudatos e de hemácias.
• Possibilidade da realização de exames adicionais sem necessidade de nova
coleta.
• Resíduos do centrifugado podem ser utilizados para análises de DNA do HPV
além de outros patógenos.
• Menores quantidades de materiais devolvidos, por “insuficiência da amostra”.

DESVANTAGENS DA LBC (BRASIL, 2012A)

Maior custo operacional.


• Maior tempo de análise.
• Necessidade de treinamento para adaptação do técnico à nova técnica
analítica.
• Maior número de células para análise etc.

Estudos recentes afirmam que a LBC (citologia realizada em meio líquido) apre-
senta um desempenho melhor que aquele apresentado pela CC (Técnica Ci-
tológica Convencional), apresentando sensibilidade maior na identificação
de lesões. Vários pesquisadores da área afirmam ainda a maior sensibilidade
para detecção de lesões nos casos de ASC (Alterações em Células Escamosas
de significado indeterminado) e melhor efetividade no diagnóstico de lesões de
alto grau e ainda naquelas glandulares.
A LBC pode ser realizada através de técnicas automatizadas e não automa-
tizadas, entre elas:

THINPREP

em português significa “preparo fino”. A espessura chega a ser de uma única


célula. O material utilizado: frasco com líquido conservante que receberá as cé-
lulas da amostra coletada no colo do útero, espátula plástica lisa (o que evita a
menor adesão celular da amostra), espátula cervical de pontas protegidas para
evitar-se pequenas hemorragias no ato da coleta, lâmina de vidro, processador
automático.

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SUREPATH (BD SURE PATH TM PAP TEST)

método automatizado com uso de kit para a realização de coletas endocerv-


icais. Possui uma escova endocervical que possibilita maior coleta de amostras
celulares de modo fácil e rápido e recolhimento de 100% da amostra coletada
para análise. Possui vantagens como: análise automatizada e passível de
padronização em todas as etapas, leitura (análise) rápida e fácil, maior produ-
tividade, pois processa e cora até 48 lâminas simultaneamente em no máximo
60 minutos.

LIQUI-PREP

metodologia não automatizada que pode ser empregada em amostras


líquidas de maneira geral. Como vantagem, temos a análise de 100% das
células coletadas, o material também pode ser empregado em biologia mo-
lecular e apresenta grande reprodutibilidade além de ter baixo custo, pois não
utiliza equipamentos especiais. Material utilizado: líquido preservativo no qual
a mostra pode permanecer por até 90 dias; Liqui-Prep Cleaning Solution –
solução que promove a separação física das células; LiquiPrep Cellular Base –
adesivo especial entre células e lâmina de vidro, o que dispensa qualquer outro
tratamento químico posterior. As células são depositadas sobre a lâmina após
processamento em centrífugas, com auxílio de pipetas.

Existem muitas possibilidades técnicas de análises em citopatologia clínica atual-


mente, o que precisa ser feito, previamente, é um estudo criterioso das técnicas
disponíveis, e posteriormente, a eleição daquela com mais benefícios clínicos e
operacionais. Vale considerar, ainda, que atualmente o exame de Papanicolaou
continua sendo a metodologia de escolha, considerada como o “padrão ouro” na
rotina do diagnóstico citopatológico.

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Acesse seu ambiente virtual de aprendizagem


e confira a aula referente a esse tema.

NOVOS DESAFIOS
A partir deste conteúdo, foi possível compreender a importância que a citologia
do trato genital feminino tem, tanto para análise e diagnósticos, como também
como prevenção, principalmente do câncer do colo do útero.
É sabido o tamanho da responsabilidade que um profissional tem ao analisar
uma lâmina, assim como também é de extrema importância contar com profis-
sionais capacitados para realizar a coleta e a confecção do esfregaço, pois uma
vez que a amostra não é satisfatória, ela trará prejuízos para esse diagnóstico.
Caro(a) aluno(a), esteja sempre em busca de atualizações, informe-se, e se
for de sua competência, explique aos profissionais responsáveis pela coleta, o
quanto isso fará a diferença, pois o trabalho em equipe facilita e favorece sempre
nos diagnósticos corretos.

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VAMOS PRATICAR

1. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o câncer de colo do útero é o terceiro


tumor mais frequente na população feminina e está atrás, apenas, do câncer de mama
e do câncer colorretal.

Fonte: adaptado de: https://www.clinicaceu.com.br/blog/diagnostico-do-cancer-de-


-colo-do-utero/. Acesso em: 2 maio 2023.

Diante desta afirmativa, discorra sobre a importância do exame de papanicolau na pre-


venção e no diagnóstico precoce dessa doença.

2. “O adenocarcinoma é um tumor maligno, derivado de células glandulares epiteliais


secretoras, que pode afetar quase todos os órgãos do corpo (pulmões, intestinos,
pâncreas, fígado, colo do útero etc.). Essas células podem também originar um tumor
benigno, o adenoma, o qual guarda a potencialidade de transformar-se em adenocar-
cinoma. Embora a prefixo ‘adeno’ queira dizer ‘junto a uma glândula’, não é necessário
que as células desse tumor pertençam a uma glândula, desde que sejam secretoras.
Em geral, os adenocarcinomas são um tipo de câncer bastante agressivo e de difícil
remoção cirúrgica e têm, por isso, um prognóstico desfavorável. O adenoma, embora
benigno, pode causar sérios problemas ao funcionamento orgânico em virtude de
compressões ou destruição de órgãos”.

Fonte: https://www.abc.med.br/p/cancer/353604/adenocarcinoma+o+que+e+quais+-
sao+as+causas+e+os+sintomas+como+sao+feitos+o+diagnostico+e+o+tratamento.
htm. Acesso em: 2 maio 2023.

Após ler atentamente o texto, explique, com suas palavras e com a maior riqueza de
detalhes possível, o que são adenocarcinomas.

3. “Câncer é um termo que abrange mais de 100 diferentes tipos de doenças malignas
que têm em comum o crescimento desordenado de células, que podem invadir tecidos
adjacentes ou órgãos à distância.

Dividindo-se rapidamente, estas células tendem a ser muito agressivas e incontroláveis,


determinando a formação de tumores, que podem espalhar-se para outras regiões do
corpo.

Os diferentes tipos de câncer correspondem aos vários tipos de células do corpo. Quando
começam em tecidos epiteliais, como pele ou mucosas, são denominados carcinomas.
Se o ponto de partida são os tecidos conjuntivos, como osso, músculo ou cartilagem,
são chamados sarcomas”.

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Fonte: https://www.inca.gov.br/o-que-e-cancer. Acesso em: 2 maio 2023.

Como se chama o processo em que um câncer se espalha para além do local de surgi-
mento?

a) Reação tumoral.
b) Metástase.
c) Translocação
d) Neoplasia.
e) Nenhuma das alternativas anteriores.

4. “A detecção precoce do câncer de colo uterino é feita por um exame tecnicamente


simples e de baixo custo, a partir do esfregaço cervicovaginal. Esse exame também é
conhecido como exame citológico, de lâmina, citopatológico ou citologia cervicovagi-
nal. Embora o principal propósito da citologia cervicovaginal seja a detecção das lesões
precursoras do câncer cervical, o achado de condições infecciosas/reativas também
pode contribuir para a saúde da mulher.

Um dos fatores de risco para o câncer de colo uterino é o histórico de infecções sexual-
mente transmissíveis, sendo comprovada essa relação por vários estudos epidemiológicos
realizados no Brasil. Dessa forma, tem crescido o interesse na utilização do exame pre-
ventivo do câncer de colo uterino para o reconhecimento de infecções cervicovaginais
como uma importante alternativa diagnóstica”.

Fonte: https://download.inep.gov.br/educacao_superior/enade/provas/2013/02_BIO-
MEDICINA.pdf. Acesso em: 2 maio. 2022.

Sobre o tema abordado no texto e sobre a técnica de papanicolau, assinale a alternativa


correta:

a) A técnica é de difícil execução e possui alto custo.


b) Somente a rede particular do sistema de saúde brasileiro preconizou o teste de pa-
panicolau.
c) O teste de papanicolau possui fácil execução, baixo custo e excelente eficácia diag-
nóstica.
d) O teste desenvolvido por Papanicolau não possui eficácia no diagnóstico precoce do
câncer de colo de útero.
e) Nenhuma das alternativas anteriores.

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VAMOS PRATICAR

5. As células do epitélio escamoso, encontradas no esfregaço vaginal, são divididas em


três tipos: superficiais, intermediárias e parabasais. Essas células possuem desenvolvi-
mento hormônio-dependente, desse modo, o aspecto do esfregaço vaginal apresenta
alterações cíclicas em consonância com os ciclos menstrual e ovariano.

Fonte: adaptado de: https://download.inep.gov.br/educacao_superior/enade/pro-


vas/2010/biomedicina_2010.pdf. Acesso em: 2 maio. 2023.

Considerando o processo de maturação das células do epitélio escamoso e a sua corre-


lação com os hormônios sexuais femininos, analise as afirmativas a seguir:

I. Os estrógenos induzem à maturação completa das células do epitélio escamoso, resul-


tando no predomínio de células intermediárias e parabasais no esfregaço vaginal.

II. Em condições de baixa produção de estrógenos, observa-se predomínio de células


parabasais no esfregaço vaginal.

III. Logo após o nascimento, o esfregaço vaginal da lactante apresenta aspecto idêntico
ao observado no esfregaço materno, caracterizado pelo predomínio de células interme-
diárias e superficiais.

IV. O predomínio de células superficiais no esfregaço cervicovaginal é observado durante


a gestação e na fase progestacional do ciclo menstrual.

É correto o que se afirma em:

a) II e III, apenas.
b) I e II, apenas.
c) II e IV, apenas.
d) III e IV, apenas.
e) I e III, apenas.

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CONFIRA SUAS RESPOSTAS

1. O exame de Papanicolau, também conhecido como citologia oncótica, é um método de


rastreamento e prevenção do câncer de colo do útero. Ele consiste na coleta de células do
colo do útero para análise em laboratório, com o objetivo de detectar alterações celulares
que possam indicar a presença de lesões precursoras ou do próprio câncer.

A importância desse exame se dá pelo fato de que o câncer de colo do útero é uma doença
de progressão lenta, que pode levar anos para se desenvolver. Porém, quando detectado
em estágios iniciais, as chances de cura são altas e os tratamentos menos invasivos, o
que aumenta a qualidade de vida da paciente.

O exame de Papanicolau é indicado para mulheres a partir dos 25 anos e deve ser reali-
zado anualmente, exceto em casos específicos orientados pelo médico, como quando a
paciente apresenta resultados normais em exames anteriores. Além disso, é importante
que as mulheres realizem também a vacinação contra o HPV, pois este vírus está rela-
cionado a cerca de 70% dos casos de câncer de colo do útero.

Em resumo, o exame de Papanicolau é fundamental para a prevenção e o diagnóstico


precoce do câncer de colo do útero, possibilitando o tratamento adequado e aumentando
as chances de cura. Por isso, é importante que as mulheres realizem esse exame regu-
larmente, seguindo as recomendações médicas.

2. Os adenocarcinomas são tumores malignos originados de células glandulares epiteliais


secretoras, que podem afetar diversos órgãos do corpo, como pulmões, intestinos, pân-
creas, fígado, colo do útero e outros. Essas células secretoras também podem originar
tumores benignos, conhecidos como adenomas, que têm a potencialidade de se transfor-
marem em adenocarcinomas. Embora o prefixo "adeno" sugira que o tumor seja próximo
a uma glândula, na verdade, é apenas necessário que as células sejam secretoras. Os
adenocarcinomas são, em geral, bastante agressivos e difíceis de serem removidos cirur-
gicamente, o que torna o prognóstico desfavorável. Os adenomas, apesar de benignos,
podem causar sérios problemas ao funcionamento dos órgãos, devido a compressões
ou destruição causada pelo crescimento do tumor

3. Alternativa correta: B

4. Alternativa correta: C

5. Alternativa correta: C

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REFERÊNCIAS

ALÉM DAS AULAS. [Sem título]. [2023]. 1 ilustração. Disponível em: https://alemdasaulas.
files.wordpress.com/2014/10/cancro.jpg. Acesso em: 24 abr. 2023.
BBC. [Sem título]. 2019. 1 fotografia. Disponível em: https://ichef.bbci.co.uk/news/800/
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BRASIL. Inca. Estimativa 2020: incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro: Inca, 2019.
Disponível em: https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files/media/document/esti-
mativa-2020-incidencia-de-cancer-no-brasil.pdf. Acesso em: 25 abr. 2023.
BRASIL. Inca. Manual de gestão da qualidade para laboratório de citopatologia. Rio
de janeiro: Inca, 2016. Disponível em: https://www.inca.gov.br/publicacoes/manuais/ma-
nual-de-gestao-da-qualidade-para-laboratorio-de-citopatologia. Acesso em: 25 abr. 2023.
BRASIL. Ministério da Saúde. Caderno de referência 1: citopatologia ginecológica. Brasília:
Ministério da Saúde, 2012a. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/
tecnico_citopatologia_caderno_referencia_1.pdf. Acesso em: 25 abr. 2023.
BRASIL. Ministério da Saúde. Caderno de referência 2: citopatologia não ginecológica.
Brasília: Ministério da Saúde, 2012b. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publi-
cacoes/tecnico_citopatologia_caderno_referencia_2.pdf. Acesso em: 25 abr. 2023.
BRASIL. Ministério da Saúde. Caderno de referência 3: técnicas de histopatologia. Brasília:
Ministério da Saúde, 2012c. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/
tecnico_citopatologia_caderno_referencia_3.pdf. Acesso em: 25 abr. 2023.
CICLO menstrual. Mundo Educação, [s. l.], [2023]. Disponível em: https://mundoeducacao.
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CONSOLARO, M. E. L.; MARIA-ENGLER, S. S. Citologia clínica cervicovaginal: texto e atlas.
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ENVATO ELEMENTS. [Sem título]. [2023a]. 1 fotografia. Disponível em: https://elements.en-
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FERNANDES, M. G. Práticas de biologia celular. Dourados: Editora UFGD, 2017. (Coleção
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JUNQUEIRA, L. C. U; CARNEIRO, J. Histologia básica: texto e atlas. 13. ed. Rio de Janeiro:
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REFERÊNCIAS

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tológicas e clínicas. São Paulo: Roca, 2014.
LIMA, A. O. Métodos de laboratório aplicados à clínica: técnica e interpretação. 8. ed. Rio
de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001.
MOLINARO, E.; CAPUTO, L. F. G.; AMENDOEIRA, M. R. R. Conceitos e métodos para forma-
ção de profissionais em laboratórios de saúde. Rio de Janeiro: EPSJV: Fiocruz, 2010. v. 2.
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PIXABAY. [Sem título]. [2023]. 1 fotografia. Disponível em: https://cdn.pixabay.com/pho-
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TOMA de Papanicolaou en Tijuana. Vida Wellness and Beauty Center, Tijuana, [2023].
Disponível em: https://www.vidawellnessandbeauty.com/servicios/ginecologia/papanico-
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WIKIPEDIA. Tipos de epitélio. [2023]. 1 ilustração. Disponível em: https://upload.wikime-
dia.org/wikipedia/commons/thumb/6/6a/Illu_epithelium.pt.png/350px-Illu_epithelium.
pt.png. Acesso em: 24 abr. 2023.

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MEU ESPAÇO

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TEMA DE APRENDIZAGEM 9

GESTÃO DA QUALIDADE EM
LABORATÓRIO DE CITOLOGIA
CLÍNICA
FABIANE HORBACH RUBIN

MINHAS METAS

Operacionalizar as principais formas de monitoramentos de qualidade em


laboratórios citopatológicos.

Trabalhar em equipes multiprofissionais auxiliando nas tomadas de de-


cisões técnicas e financeiras, conforme estudos técnicos científicos, de
viabilidade financeira e nas rotinas laboratoriais.

Compreender a importância da gestão da qualidade a fim de minorar pos-


síveis deficiências do processo analítico laboratorial.

Tomar conhecimento das principais formas de acreditação laboratorial den-


tro do setor de citopatologia.

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INICIE SUA JORNADA


Imagine que você, profissional da área laboratorial, investindo em conhecimen-
tos, e tendo uma grande demanda de pacientes, começa a ter, porém, alguns per-
calços por conta da falta de gestão do laboratório?
Ter conhecimento e experiência prática é muito importante dentro do am-
biente laboratorial, mas outro setor indispensável é a gestão de qualidade. Sem ela,
o laboratório não terá como se sustentar, não terá organização e isso irá refletir
tanto na diminuição de pacientes, quanto na transmissão de confiança.
Por exemplo, existe uma grande demanda de certos exames, porém quando
o responsável chega para realizá-los, falta reagente, faltam equipamentos de pro-
teção etc. Isso atrasará a liberação, poderá comprometer a amostra e assim por
diante.
Em outras palavras, assim como em outros segmentos, dentro do laboratório,
faz muita diferença quando se tem uma gestão de qualidade. Quando há essa
gestão, o empreendimento tem uma grande chance de crescimento e inserção
no mercado.

P L AY N O CO NHEC I M ENTO

Gestão é a ciência social que estuda e sistematiza as práti-


cas usadas para administrar um estabelecimento. Dentro
da área laboratorial, tem um papel de extrema importância.
Quer saber mais sobre esse assunto? Venha comigo! Ouça
no seu Ambiente Virtual de Aprendizagem.

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GESTÃO DA QUALIDADE EM LABORATÓRIOS


DE CITOPATOLOGIA CLÍNICA
A primeira edição do Manual de Gestão da Qualidade para Laboratórios
de Citopatologia, organizada pelo Instituto Nacional de Câncer José Alencar
Gomes da Silva (Inca), é de 2012, e foi publicada por meio eletrônico com a fina-
lidade de auxiliar os profissionais inseridos no contexto da citopatologia, sendo
o processamento ideal e desejável dos exames citopatológicos.
Essa e outras ações integram a Política Nacional de Prevenção e Controle
do Câncer, principalmente no SUS, normatizada pela portaria n° 874, de 2013,
que contém dentre diversas outras diretrizes as ações de monitoramento e de
controle de qualidade das amostras citopatológicas empregadas no rastreamento/
diagnóstico do câncer.
Uma segunda publicação, a portaria n° 3388, também de 2013, normalizou
a QualiCito, que deu origem à primeira edição do Manual de Gestão da Qua-
lidade para Laboratórios de Citopatologia. Essas normatizações e a aplicação
delas na rotina laboratorial permitem maior confiabilidade e agilidade na libe-
ração de laudos.
A Word Hearth Organization (WHO), em uma publicação do Inca (BRASIL,
2016), estimou uma cobertura de 80% das mulheres foco dos rastreamentos, com
diagnóstico adequado e assertivo, o que pode reduzir de 60% a 90% dos casos de
diagnóstico de câncer cervical. Esses números já foram confirmados por alguns
países desenvolvidos, onde, após a adesão ao rastreamento citopatológico de
qualidade, conseguiram reduzir em 80% os índices de notificações de câncer de
colo do útero. São admiráveis essas estatísticas!

SISTEMAS DE MONITORAMENTO
Devemos ter clara a ideia de que o rastreamento do câncer de colo de útero deve
ter seu curso baseado na progressão natural da doença, sendo imprescindí-
vel a sua identificação ainda no advento das lesões precursoras (HSIL – lesões
intraepiteliais escamosas de alto grau – e, de AIS – adenocarcinoma in
situ) que são passíveis de tratamento impedindo suas respectivas evoluções até
o estabelecimento do câncer propriamente dito.

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Em pesquisas citadas pelo Inca (BRASIL, 2016), em um estudo transversal,


foram analisados 2.220.298 exames citopatológicos aqui no país, e comprovou-se
o que já sabíamos via literatura:

o exame de Papanicolaou é extremamente efetivo na prevenção de


lesão intraepitelial de alto grau; carcinoma escamoso invasor; adenocarcinoma
in situ e adenocarcinoma invasor, quando os exames foram realizados em um
período de tempo menor que cinco anos. Fato importantíssimo para a saúde
da mulher!

Dessa forma, o nível de qualidade e, por consequência, de confiabilidade


dos exames citopatológicos possuem um peso enorme, pois precisa atender a vá-
rios requisitos que possibilitem minimizar possíveis deficiências do processo
analítico dentro dos vários setores laboratoriais. É inegável que são vários os de-
safios no âmbito laboratorial, desde dificuldades e possíveis dúvidas decorrentes
de interpretações e análises de amostras até aqueles referentes à qualificação dos
profissionais envolvidos nas diversas áreas (BRASIL, 2012a, 2012b, 2012c, 2016).
Como forma de melhoria de processos, ou mesmo de sua otimização, e maior
confiabilidade, os exames citopatológicos nos laboratórios, principalmente aque-
les prestadores da rede SUS, devem realizar monitoramentos internos (MIQ) e
externos (MEQ). Os primeiros referem-se aos critérios iniciais, critérios avalia-
tivos devidamente registrados e documentados, atestando possíveis não confor-
midades identificadas, bem como as ações corretivas e/ou preventivas implemen-
tadas e adotadas para sanar tais não conformidades. Já o segundo estabelece uma
série de quesitos estabelecidos por outro laboratório ou certificador referenciado,
que objetiva a avaliação dos parâmetros de qualidade do laboratório referente
aos exames por ele executados, desde a fase pré-analítica até a fase de liberação/
emissão do laudo clínico.
Existem ainda os requisitos de Boas Práticas em Laboratórios Clínicos
(BPLC) que devem ser adotados pelos laboratórios de citopatologia, que fora
elaborado pela Comissão Técnica dos Laboratórios (CTLE) vinculada ao
Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), a So-
ciedade Brasileira de Laboratórios de Anatomia Patológica e Citopatologia
(Abralapac), a Sociedade Brasileira de Patologia (SBP) e ainda a Sociedade
Brasileira de Citopatologia (SBC), que em conjunto também redigiram uma

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lista de verificação (LV) dos requisitos básicos das amostras laboratoriais.


Uma das formas de se garantir um maior nível de qualidade nas atividades
laboratoriais é estabelecer padrões, e, a partir deles, sistemas de monitoramento,
tanto internos quanto externos, nos diversos setores laboratoriais, para validar
tais padrões. Somente assim, pode-se avaliar o desempenho e ainda identificar
possíveis desvios de qualidade. As aplicações nas análises citopatológicas são
diversas, desde identificar uma alteração em células escamosas e/ou glandulares
até mesmo quantificar possíveis laudos falsos-negativos.
Segundo o Inca (BRASIL, 2016), um sistema de monitoramento da qualidade
elementar deve possuir:

• Manual da qualidade com os objetivos e requisitos de implantação do siste-


ma da qualidade.

• Registros documentados de todas as rotinas e procedimentos adotados no


âmbito laboratorial.

• Revisão dos esfregaços positivos (RP).

• Revisão de todos os esfregaços considerados insatisfatórios.

• Revisão amostral (aleatória) de 10% dos esfregaços negativos (R-10%).

• Revisão dos esfregaços selecionados com base em critérios clínicos de risco


(RCCR).

• Pré-escrutínio rápido de 100% dos esfregaços (PER).

• Implementação e registros de programas de MEQ.

• Participação de comparativos interlaboratoriais.

• Participação em programas de autoavaliação.

• Programas de educação continuada.

• Consultas internas e externas.

• Testes de proficiência.

À primeira vista, os requisitos de padronização e de qualidade podem soar


bastante burocráticos e trabalhosos, porém não passam de simples impressão.

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Esses requisitos após implementação, e no curso da rotina, facilitam muito o


dia a dia das análises. Todos os indicadores incorporados à rotina são de fácil
interpretação e construção, pois buscam refletir a realidade da rotina laborato-
rial, buscando, por parte dos colaboradores, principalmente, uma união, uma
melhoria contínua dos processos e métodos presentes nas rotinas laboratoriais.

Não se pode esquecer que os exames citopatológicos são exames de rastreamento


e, portanto, fundamentais para o sucesso da clínica e da terapêutica do paciente.
Caso não seja realizado a contento, pode chegar a comprometer todo o processo.
Devemos lembrar que estão em jogo não só a prevenção do câncer de colo de
útero, mas todo o círculo em volta do paciente, as estatísticas do serviço e do pro-
grama de prevenção em nível nacional, logo, todas as possibilidades de minorar
os resultados errôneos ou não conformes devem ser exploradas.

MONITORAMENTO INTERNO

Os indicadores de monitoramento interno da qualidade (MIQ) adotados


em laboratórios citopatológicos podem auxiliar na identificação de não confor-
midades anteriores à chegada do material no laboratório e devem ser informados
aos médicos solicitantes/assistentes responsáveis por tais coletas para que eles

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possam implementar ações corretivas com o objetivo de sanar tais não confor-
midades.
Outro ganho com MIQ é o melhoramento e aprimoramento do corpo
técnico e, por consequência, um atendimento de maior qualidade aos pacientes.

Podem ser citados entre os principais MIQs, além daqueles já citados no item de
monitoramento:

• Parâmetros de qualidade validados que permitam a quantificação do


volume de análises e seu acompanhamento por todo o processo no âmbito
laboratorial.

• Realização de correlações com resultados anteriores disponíveis no labo-


ratório e destes com os histopatológicos sempre que possível.

• Reanálise dos exames classificados como discrepantes, como forma de con-


firmação.

• Adoção de medidas corretivas e de melhoria de processos internamente


após aprovação pelos responsáveis técnicos e sua posterior validação.

• Melhoria contínua da qualidade dos exames citopatológicos – analisando


sempre quais as metodologias a serem adotadas e padronizadas pelo labo-
ratório, sempre com o objetivo de se reduzir resultados falso-negativos ou ainda
os falso-positivos.

Outro ponto a ser salientado, aqui, é a conferência e acompanhamento dos dados


de identificação, anamnese e ainda do exame clínico realizado pelo médico soli-
citante. No ato da recepção da amostra, é aconselhável que o profissional tenha
um POP – Procedimento Operacional Padrão –, no qual conste todas as in-
formações necessárias para aceitação ou mesmo rejeição do material amostral, e,
neste último caso, notificar o responsável pela coleta dos pontos não conformes
para adoção das medidas corretivas.
Segundo Barbosa (2021), entre as principais ferramentas de gestão da qua-
lidade, estão o Manual da Qualidade (MQ), Manual de Procedimentos
Operacionais Padrão (POP) e as Instruções de Trabalho (IT). Juntas, essas
ferramentas propiciam a minimização de erros e a padronização dos processos
executados na rotina laboratorial. Nelas, é possível encontrar a descrição e a ope-
racionalização dos processos analíticos, garantindo a qualidade dos processos,

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desde o momento da recepção das amostras para análise até o arquivamento das
lâminas e laudos clínicos. No MQ, é possível encontrar descritos os requisitos de
MIQs, além daqueles de MEQs, adotados no âmbito laboratorial.
O MQ deve ser o ‘retrato da qualidade’ da organização, refletindo as
padronizações e requisitos necessários para se atingir os melhores padrões de
qualidade dentro da instituição analítica. Cada uma dessas ferramentas é criada
especificamente para aquela instituição, respeitando sempre suas nuances, tradi-
ções e particularidades, e após criadas, devem ser divulgadas aos colaboradores
acompanhadas sempre de treinamentos e atualizações. Além disso, todos
esses documentos/ferramentas devem sempre ficar ao alcance de todos os envol-
vidos, aptos a sanar quaisquer dúvidas que possam surgir durante a rotina laboral
(BRASIL, 2012a, 2012b, 2012c, 2016).
A Nomenclatura Brasileira para Laudos Cervicais e Condutas Preco-
nizadas, republicada em 2012, fruto da parceria do Ministério da Saúde com
o Inca, tornou obrigatório termos, formulários e checlists em todo o território
nacional, contribuindo muito com a padronização das rotinas laboratoriais,
principalmente daqueles que atendem a rede SUS (BRASIL, 2019).

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Outro parâmetro fundamental da qualidade é o tempo gasto para a libe-


ração do laudo clínico, mesmo que conforme o escopo do programa de ras-
treamento de lesões pré ou cancerosas do colo do útero não configurem neces-
sariamente um ‘status de urgência’, pois os laboratórios têm um prazo máximo
recomendado de até 30 dias, e é desejável que esse prazo seja minorado, deixando
esse parâmetro a critério do laboratório, sempre pautado na qualidade e na ética.

Devem estar presentes nos laudos as seguintes informações:

• Qualidade da amostra recebida para a realização da leitura/análise.

• Quais coleções celulares, epitélios, fizeram-se presentes na amostra em


estudo (células escamosas, glandulares, metaplásicas ou ainda de natureza
indeterminada).

• A conclusão da análise – diagnóstico.

• Identificação do profissional que realizou a análise (nível superior e habilita-


do) (BRASIL, 2016).

Dentre os MIQs, tem-se ainda a necessidade de confirmação daqueles que se


mostrarem positivos ou mesmo insatisfatórios (dupla conferência/confirma-
ção), que deverá ser sempre realizada por profissional de nível superior habilita-
do através de uma das seguintes metodologias: R-10%, RCCR, PER e RR-100%.
Dentre elas, o critério de escolha de uma ou mais metodologias ficará a critério
da instituição responsável pela análise, e deve, ainda, indiscutivelmente constar
nas ferramentas de qualidade (BRASIL, 2016; BARBOSA, 2021).
A guarda de lâminas em arquivos deve estar de acordo com os parâmetros
requeridos pela portaria n° 3.388, de dezembro de 2013, publicada pela SBC
(Sociedade Brasileira de Citopatologia)/SBCC (Sociedade Brasileira de Citologia
Clínica), em que todas as lâminas positivas ou com suspeita de câncer
deverão permanecer em arquivo por no mínimo 20 anos, e aquelas con-
sideradas negativas ou insatisfatórias, por cinco anos.

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Uma amostragem aleatória e representativa deverá ser reanalisada anual-


mente com o propósito de atestar a qualidade da lâmina, da coloração e ainda
para garantir e atestar a agilidade de busca e recuperação de uma determinada
amostra, caso seja necessário (BRASIL, 2016).

Figura 1 - Porta Lâminas / Fonte: Images.tcdn.com.br ([2023], on-line).

Descrição da Imagem: na fotografia tomada por observador humano, pode-se observar uma caixa entrea-
berta à esquerda, fina, quadrada em tons de marrom claro, contendo em seu interior objetivos retangulares,
transparentes, representando lâminas de vidro.

Quanto aos laudos, cópias, rascunhos e demais documentos referentes ao diag-


nóstico, devem ser arquivados, podendo ser em ambientes virtuais (microfilma-
gens ou ainda informatizados) por no mínimo cinco anos, seguindo a mesma
legislação, mas com recomendação de alguns estudiosos, de guarda indefinida-
mente em ambiente seguro e de acesso controlado, devendo ser acessíveis, quando
e se requeridos (BRASIL, 2016).
Ainda é recomendada a prática de auditorias internas, as quais podem ser de
vários modos e critérios.

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Algumas sugestões encontram-se elencadas em sequência:

• Monitoramento e avaliação da qualidade das colorações.

• Reanálise e discussões interdisciplinares de casos considerados divergentes.

• Revisão de casos com diagnósticos clínicos específicos.

• Análises interlaboratoriais.

• Reanálises de casos considerados como negativos e positivos de modo duplo


cego.

• Monitoramento e reavaliação das amostras consideradas como insatisfatórias.

• Monitoramento do tempo compreendido entre a recepção da amostra e a liber-


ação do laudo.

• Verificações de melhorias contínuas e/ou otimizações de processos (BRASIL,


2016).

MONITORAMENTO EXTERNO

Quando pensamos nos MEQs, temos que ter em mente a revisão dos esfregaços
realizados em uma instituição por outra, desde que devidamente certificada
para isso, ou seja, um primeiro laboratório citológico recebe, processa e analisa a
amostra (BRASIL, 2016). Um segundo refaz todos os procedimentos analíticos
fazendo a revisão do exame. É importante deixar claro que mesmo um laboratório
sendo certificado para reanálise nunca poderá reavaliar suas próprias amostras!
Sempre se faz necessária uma segunda instituição para proceder ao monitora-
mento externo. O laboratório que realiza a primeira análise é chamado de tipo I,
e o laboratório responsável pela reanálise ou monitoramento externo é chamado
de tipo II. Em municípios menores, caso não exista uma segunda instituição
tipo II, deverá proceder o encaminhamento das amostras para outro estado ou
município de referência para a conclusão do monitoramento.

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Para Barbosa (2021), o monitoramento externo é fundamental para a garantia


da qualidade e é indispensável para a melhoria de processos – melhoria contínua
de qualquer instituição.

Quando pensamos nos laboratórios citopatológicos, temos as seguintes finali-


dades, dentre várias outras:

• Avaliação do desempenho do laboratório tipo I.

• Qualidade dos exames citopatológicos do laboratório de origem da amostra de


colo de útero.

• Identificação de possíveis variáveis analíticas interlaboratoriais.

• Identificação de possíveis divergências entre critérios citomorfológicos.

• Minimização de resultados falso-positivos, falso-negativos e ainda daqueles


classificados como insatisfatórios.

• Melhorias dos processos analíticos.

• Ação corretiva de possíveis não conformidades (BRASIL, 2016).

ACREDITAÇÃO PARA LABORATÓRIOS DE


CITOPATOLOGIA CLÍNICA
Segundo uma pesquisa, citada por Brasil (2016), realizada pelo Instituto Brasi-
leiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2009, foi possível identificar 16.657
(dezesseis mil seiscentos e cinquenta e sete) laboratórios de análises clínicas no
nosso país, e apenas 5.854 (cinco mil oitocentos e cinquenta e quatro) deles são
de anatomia patológica e citologia. E, ainda, destes, apenas 1.170 (mil cento e
setenta) são prestadores de serviços do SUS.
Nesse universo, é crucial ter um padrão de qualidade confiável, além de um
acompanhamento sistemático de todas as atividades desenvolvidas desde a re-
cepção da amostra até o seu arquivamento/conservação. Mesmo com a facilidade
e simplicidade do exame citopatológico – exame de Papanicolaou – realizado no
Brasil desde os anos de 1940 pelo SUS e desde lá realizado com praticamente a

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mesma base tecnológica de hoje, com execuções bem manuais, o processo de-
manda uma grande perícia, habilidade e competência técnica do analista citopa-
tológico em meio a tantas variabilidades fisiológicas e patológicas.
O sucesso das análises está estritamente relacionado ao conhecimento, com-
petência técnica e, sem dúvida, com uma boa formação profissional. Esses são
os pilares fundamentais da qualidade em qualquer instituição ou organização.
Nesse sentido, os programas de atualizações, educação continuada e treinamen-
tos são sempre muito bem-vindos quanto à melhoria técnica dos profissionais
envolvidos na prática analítica, principalmente.
Pode-se dizer que a certificação de qualidade das instituições analíticas é
uma terceira forma de se garantir a qualidade, ficando atrás somente dos MIQs
e MEQs. O processo de certificação é conduzido por profissionais qualificados e
habilitados para tal, após uma série de auditorias – verificações documentais e vi-
sitas na planta laboratorial, em suas diversas áreas institucionais, com o intuito de
se verificar a adequabilidade dos processos e condutas em relação aos preceitos e
requisitos exigidos pela BPLC (Boas Práticas em Laboratórios Clínicos). Quando
todos os requisitos são atendidos a contento, tem-se a provação dos processos e
padrões técnicos, conferindo ao laboratório um selo de qualidade e este torna-se
apto a desempenhar a prestação de serviços de saúde com qualidade.
Uma certificação bastante cobiçada e almejada pelas instituições, atualmente,
é a certificação ISO (International Organization for Standardization) – ou
Organização Internacional de Padronização. Trata-se da maior instituição
certificadora que avalia os requisitos e padrões técnicos baseados na família da
ISO 9000, 17000 e 15000. É uma instituição não governamental, fundada na dé-
cada de 1940, que possui como principal objetivo a promoção dos parâmetros
de qualidade no comércio internacional.
A normatização das atividades, e posterior certificação, facilita, e muito, o
comércio internacional de bens e serviços além de abrir portas de cooperação,
tecnológica, profissional, intelectual e econômica, no cenário mundial.

A representante da ISO, no Brasil, é a ABNT (Associação Brasileira de


Normas Técnicas), sob representação do Inmetro (Instituto Nacional
de Metrologia, Qualidade e Tecnologia).

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Segundo o Inca (BRASIL, 2016), a necessidade de acreditar os laboratórios


surgiu a partir da Comunidade Brasileira de Patologistas e Citopatologista
após a demanda do próprio Inmetro em 1997, quando criou a CTLE-04 (Co-
missão Técnica dos Laboratórios de Ensino), com convocação de vários labo-
ratórios e conselhos de classes dos profissionais envolvidos, Medicina, Farmácia,
Biologia e Biomedicina, além de universidades e o Inca. Vale lembrar que a acre-
ditação ISO é um processo totalmente voluntário. Ela é implementada somente
se a instituição assim desejar! Caso o laboratório opte pela certificação, ele deverá
passar a apresentar e atender a vários requisitos mínimos exigidos pelas normas
da ABNT NBR ISO IEC 17025 e 15189, em seguida, o órgão certificador irá rea-
lizar várias auditorias e relatórios situacionais da instituição sobre o atendimento
às normatizações.
As normas ABNT NBR ISO IEC 14500, a Inmetro NIT-DICLA-083 e ainda o
Manual das Organizações Prestadoras de Serviços de Laboratórios Clínicos
da ONA (Organização Nacional de Acreditação), segundo o Incs (BRASIL,
2016) e vários pesquisadores da área, são complementares e facilitadoras no pro-
cesso de implementação de serviços e processos de qualidade no âmbito das
intuições laboratoriais que desejam a certificação internacional.

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Caso existam não conformidades, um prazo será estipulado para a realização


de ações corretivas e as devidas adequações, até que todos os critérios estejam
satisfeitos em todos os setores institucionais. Comprovada a satisfação de todos
os requisitos, o laboratório recebe a certificação de acreditação.

Conforme o Ministério da Saúde (2016), no Brasil, a Agência Nacional de Saúde


Suplementar (ANS) foi criada através da lei federal n° 9.961, de 2000, com o
objetivo de promover a defesa do interesse público na assistência suplementar
de saúde, e sua regulação setorial, com ações de promoção à saúde, assim,
compete a essa agência, dentre outras funções:

• Instituir parâmetros e indicadores de qualidade que objetivem a cobertura as-


sistencial à saúde no tocante a serviços próprios ou de terceirizados

• Controlar e avaliar os critérios de manutenção da qualidade dos serviços


prestados.

• Criar critérios de monitoração, aferição e controle de qualidade dos serviços


prestados por operadoras de planos de saúde.

• Primar sempre pela qualidade dos serviços prestados na assistência à saúde


suplementar.

• Promover cursos de capacitação para equipes, tanto de auditoria interna,


quanto para a equipe gestora.

Quando o laboratório resolve optar pela acreditação e realiza a sua implan-


tação efetivamente, passa a possuir um melhor nível de gestão da qualidade, me-
lhorando o seu nome e respeito no mercado, refletindo sua qualidade nos laudos
analíticos e também na prestação de serviços a seus clientes. Existem atualmente
vários programas de incentivo à acreditação de laboratórios clínicos (BRASIL,
2016), e a participação neles apenas reafirma o compromisso e a responsabili-
dade da instituição com o cliente, na prestação de serviços de qualidade. Esses
programas ainda permitem realizações periódicas de testes de proficiência, de
avaliação e competência profissional e ainda a identificação de possíveis falhas
operacionais que poderiam comprometer a qualidade dos processos, o que, em
última análise, poderia incorrer em riscos para as populações atendidas.

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O sucesso da acreditação para laboratórios de citopatologia deve-se muito à


criação de grupos de trabalho responsáveis pelo estabelecimento de padrões ou
requisitos adotados pelo laboratório (BRASIL, 2016), assim como um planeja-
mento criterioso de cursos de capacitação, formação e de reciclagem de equipes
de auditores, sempre contando com profissionais experientes nas áreas gestoras
e de citopatologia clínica.

E U IN D ICO

Caro(a) aluno(a), recomendo a leitura de “Novas


recomendações de rastreio e tratamento para prevenir o
câncer do colo do útero”.

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Acesse seu ambiente virtual de aprendizagem


e confira a aula referente a esse tema.

NOVOS DESAFIOS
A partir deste tema de aprendizagem, foi possível compreender o quão impor-
tante é a gestão da qualidade dentro do ambiente laboratorial. Através dela, é
possível minorar os erros, agilizar processos e liberação de laudos, aumentar a
credibilidade por meio de acreditações específicas.
Também foi possível entender que não tem mágica, são processos que devem
ser seguidos, instruindo e capacitando os profissionais para desenvolverem as
orientações da melhor forma possível.
Isso é encontrado em qualquer ambiente laboratorial, principalmente, no
ramo da citopatologia.

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VAMOS PRATICAR

1. Existem muitas vantagens para os laboratórios de citopatologia quando implementam


os requisitos de qualidade necessários à certificação, principalmente, a ISO.

Cite alguns aspectos benéficos às instituições pós-certificação.

2. Vários tipos de controles devem ser adotados pela instituição com a finalidade de ga-
rantir um nível de excelência em qualidade.

Disserte sobre os principais tipos de monitoramento existentes e as suas vantagens para


a instituição e os seus clientes.

3. A ISO (International Organization for Standardization) é uma instituição não governa-


mental, fundada em 1947, na Suíça, que tem como função principal a elaboração de
normas técnicas que promovam a padronização das práticas de boa gestão e o avanço
tecnológico, além de ajudar na identificação de organizações que seguem essas regras.
No Brasil, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) é a responsável pela
elaboração e coordenação dessas normas, de acordo com as da ISO.

Fonte: https://www.qconcursos.com/questoesde-concursos/questoes/c6ce9570-06.
Acesso em: 30 jun. 2022.

Sobre a certificação ISO, assinale a alternativa CORRETA:

a) A ISO apenas certifica laboratórios de citopatologia.


b) A ISO apenas auxilia as instituições nas relações comerciais.
c) A ISO tem como objetivo a promoção dos parâmetros de qualidade no comércio in-
ternacional.
d) A ISO é uma certificadora nacional somente para serviços de saúde.
e) Nenhuma das alternativas anteriores.

4. “Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), o câncer de colo do útero é o


terceiro tumor mais frequente na população feminina, atrás apenas do câncer de mama
e do colorretal, e a quarta causa mais comum de morte de mulheres por câncer no
Brasil. São estimados 16.340 novos casos da doença em 2016, com um risco estimado
de 15,85 casos a cada 100 mil mulheres. Até 2030, esse número de novos casos deve
aumentar para 435 mil.

Nesse cenário, o exame de Papanicolau é de grande importância, principalmente para


detectar precocemente as lesões que precedem o câncer de colo do útero (displasias)
e indicar o melhor tratamento antes do seu desenvolvimento. Esse teste também pode

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VAMOS PRATICAR

detectar alterações que indicam a presença nas células do HPV (vírus do papiloma hu-
mano), o mais importante agente causador do câncer do colo uterino.

Segundo o médico patologista e membro da SBP, Victor Piana, o teste de Papanicolau


conseguiu reduzir a mortalidade por câncer de colo uterino na população em todos os
países onde foi implantado. ‘O câncer de colo uterino só não foi eliminado por completo
por fatores como falta de comparecimento das mulheres para a realização do exame,
altas taxas de infecção e reinfecção das mulheres pelo vírus HPV e as falhas na atenção
à saúde, uma vez detectadas as lesões pré-neoplásicas’, conta”.

Fonte: https://www.sbp.org.br/previna-se-contra-o-cancer-de-colo-do-utero/. Acesso


em: 2 maio. 2023.

Sobre o exposto, classifique V para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas:

( ) O rastreamento do câncer de colo de útero deve ter seu curso baseado na progressão
natural da doença.
( ) Os laboratórios de citopatologia somente podem liberar os laudos citopatológicos
com, no mínimo, 30 dias.
( ) O exame de Papanicolaou é extremamente efetivo na prevenção de lesões intrae-
piteliais, de carcinomas e de adenocarcinoma, quando realizados em um período de
tempo menor que cinco anos.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta:

a) V, F, F.
b) V, F, V.
c) F, V, F.
d) F, F, V.
e) V, V, F.

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VAMOS PRATICAR

5. A certificação baseada na norma ISO confere a uma empresa grande credibilidade


junto à sociedade, visto que, além de assegurar padrões, a norma valida a qualidade
dos processos.

Sobre a gestão da qualidade nas instituições, assinale a alternativa correta:

a) As principais ferramentas de gestão da qualidade são o Manual da Qualidade (MQ), o


Manual de Procedimentos Operacionais Padrão (POP) e as Instruções de Trabalho (IT).
b) Não é importante a gestão da qualidade nos laboratórios clínicos.
c) As ferramentas de gestão da qualidade apenas oneram mais os colaboradores, au-
mentando suas respectivas cargas de trabalho.
d) As ferramentas de qualidade auxiliam na maximização de erros de processos na prá-
tica laboratorial.
e) Nenhuma das alternativas anteriores.

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CONFIRA SUAS RESPOSTAS

1. A implementação dos requisitos de qualidade necessários à certificação, principalmente


a ISO, pode trazer diversos benefícios aos laboratórios de citopatologia, tais como:

1 - Melhoria da qualidade dos exames e dos resultados: a implementação de um sistema


de gestão de qualidade ajuda a padronizar os processos, reduzir erros e garantir a pre-
cisão dos resultados.

2 - Aumento da satisfação dos clientes: com processos padronizados e precisos, os


clientes tendem a confiar mais no trabalho do laboratório e sentir-se mais satisfeitos
com os serviços prestados.

3 - Redução de custos: a implementação de um sistema de gestão de qualidade pode


ajudar a identificar áreas de desperdício e ineficiência, permitindo que o laboratório otimize
seus processos e reduza seus custos operacionais.

4 - Aumento da eficiência: a padronização de processos pode ajudar a reduzir o tempo


necessário para realizar exames e produzir resultados, aumentando a eficiência do la-
boratório.

5 - Acesso a novos mercados: muitos clientes, especialmente empresas e órgãos públi-


cos, exigem que seus fornecedores possuam certificação ISO para poderem fazer ne-
gócios com eles. A certificação, portanto, pode abrir novas oportunidades de negócios
para o laboratório.

6 - Maior conformidade regulatória: a implementação de um sistema de gestão de qua-


lidade pode ajudar o laboratório a cumprir com as exigências regulatórias locais e inter-
nacionais.

7 - Melhoria contínua: a certificação ISO não é um fim em si mesma, mas sim um processo
contínuo de melhoria. Os laboratórios certificados tendem a continuar aprimorando seus
processos e serviços ao longo do tempo, o que pode levar a resultados ainda melhores.

2. Existem vários tipos de monitoramento que as instituições podem implementar para


garantir a qualidade de seus processos e serviços. Algumas das principais formas de
controle incluem:

1 - Controle interno: Esse tipo de monitoramento é realizado pela própria instituição, uti-
lizando seus próprios recursos e ferramentas. É uma forma de garantir a conformidade

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CONFIRA SUAS RESPOSTAS

com as políticas, procedimentos e regulamentos internos. O controle interno pode incluir


a revisão periódica dos processos, verificação de registros, avaliação do desempenho dos
funcionários e a realização de auditorias internas.

2 - Controle externo: O controle externo é realizado por entidades independentes, como


órgãos reguladores, certificadoras ou clientes. Esse tipo de monitoramento pode incluir
auditorias de qualidade, inspeções e avaliações de desempenho. A certificação ISO, por
exemplo, é uma forma de controle externo que pode fornecer credibilidade e reconheci-
mento internacional para a instituição.

3 - Controle estatístico de processos (CEP): O CEP é uma ferramenta que utiliza técnicas
estatísticas para monitorar e controlar os processos de produção ou serviços. Ele permi-
te identificar variações nos processos, antecipar possíveis problemas e tomar medidas
preventivas. O CEP pode ajudar a instituição a melhorar a eficiência, a reduzir custos e a
aumentar a satisfação dos clientes.

4 - Controle de documentos e registros: A gestão de documentos e registros é essencial


para garantir a qualidade e a conformidade dos processos. Esse controle inclui a criação,
revisão, aprovação, distribuição, manutenção e descarte de documentos e registros re-
lacionados aos processos. A gestão adequada de documentos e registros pode ajudar a
evitar erros, garantir a rastreabilidade e a transparência dos processos.

Os principais benefícios desses tipos de monitoramento são a melhoria contínua dos


processos, a redução de erros e falhas, o aumento da satisfação dos clientes e a garantia
da conformidade com as normas e regulamentos. Além disso, a implementação desses
controles pode aumentar a eficiência e a produtividade da instituição, reduzir os custos
operacionais e aumentar a competitividade no mercado.

3. Alternativa correta: C.

4. Alternativa correta: D

5. Alternativa correta: A

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REFERÊNCIAS

BARBOSA, J. F. Gestão da qualidade. Contagem: Senai, 2021.


BRASIL. Inca. Estimativa 2020: incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro: Inca, 2019.
Disponível em: https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files/media/document/esti-
mativa-2020-incidencia-de-cancer-no-brasil.pdf. Acesso em: 25 abr. 2023.
BRASIL. Inca. Manual de gestão da qualidade para laboratório de citopatologia. Rio
de janeiro: Inca, 2016. Disponível em: https://www.inca.gov.br/publicacoes/manuais/ma-
nual-de-gestao-da-qualidade-para-laboratorio-de-citopatologia. Acesso em: 25 abr. 2023.
BRASIL. Ministério da Saúde. Caderno de referência 1: citopatologia ginecológica. Brasília:
Ministério da Saúde, 2012a. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/
tecnico_citopatologia_caderno_referencia_1.pdf. Acesso em: 25 abr. 2023.
BRASIL. Ministério da Saúde. Caderno de referência 2: citopatologia não ginecológica.
Brasília: Ministério da Saúde, 2012b. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publi-
cacoes/tecnico_citopatologia_caderno_referencia_2.pdf. Acesso em: 25 abr. 2023.
BRASIL. Ministério da Saúde. Caderno de referência 3: técnicas de histopatologia. Brasília:
Ministério da Saúde, 2012c. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/
tecnico_citopatologia_caderno_referencia_3.pdf. Acesso em: 25 abr. 2023.
IMAGES.TCDN.COM.BR. [Sem título]. [2023]. 1 fotografia. Disponível em: https://images.
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microscopio_variadas_51_1_18551dd2f1b7449e32b18d6e1c89a403_20210903112722.jpg.
Acesso em: 25 abr. 2023.

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