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LEANDRO FRANZONI
ANDERSON DONELLI DA SILVEIRA
INTRODUÇÃO
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), até 2050, o número de idosos chegará
próximo a 2 bilhões de pessoas. Conforme o Ministério da Saúde (MS), o Brasil, em 2030, terá
a quinta maior população idosa do mundo. Diante desse aumento crescente, surgem algumas
preocupações com a qualidade de vida, a saúde e a autonomia durante essa fase da vida. O
exercício físico é uma alternativa muito utilizada para melhorar a qualidade de vida, a saúde e
a autonomia do idoso.1
Ao longo deste capítulo, serão abordados diversos temas relacionados ao exercício físico para
o idoso. Além disso, serão revisados os principais tipos de exercícios utilizados para a
população idosa, bem como os métodos de prescrição de exercício físico.
É de suma importância que o idoso tenha uma atenção especial relacionada à saúde, pois, com
o envelhecimento, naturalmente, ele se torna mais frágil.
O exercício físico é uma ferramenta muito valiosa para dar uma condição física melhor ao
idoso. No entanto, é fundamental que se conheça bem a condição geral de cada indivíduo.
Portanto, serão abordados especialmente os métodos de avaliação para futura prescrição de
cada tipo de exercício.
OBJETIVOS
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
reconhecer os tipos de exercício físico que podem ser utilizados nos idosos;
avaliar a condição física do idoso;
indicar os diferentes tipos de exercício físico para o idoso;
reconhecer as melhores evidências sobre exercício físico para o idoso.
ESQUEMA CONCEITUAL
DEFINIÇÕES
No Brasil, é considerada idosa toda pessoa com idade igual ou superior a 60 anos. No entanto,
segundo a OMS, esse limite mínimo pode variar conforme as condições de cada país.2 Vale
ressaltar que a idade cronológica pode não expressar precisamente alterações que surgem
com o envelhecimento, tais como modificações na saúde, socialização e autonomia das
pessoas.
Existem diversos métodos para retardar o envelhecimento humano, um deles é o exercício
físico. Existe uma grande diferença entre exercício físico e atividade física; no entanto, essa
distinção não é conhecida pela população em geral.
Atividade física é qualquer atividade que coloque o corpo em movimento, como, por exemplo,
caminhar; exercício físico é uma maneira programada de realizar algum tipo de atividade física,
como, por exemplo, participar de um programa estruturado de caminhada orientada
(treinamento físico).3
Um programa de exercício físico será contemplado por algum tipo de atividade física; no
entanto, nem toda atividade física será considerada um exercício físico. O simples ato de
caminhar pode ser considerado um exercício, mas a palavra “exercício” tem uma conotação de
cumprir uma tarefa previamente programada por um profissional da área. Por esse motivo, o
ato de caminhar enquadra-se como atividade física, nesse caso, algo livre, sem programação
prévia.
Um programa de treinamento físico, que tem, como base, o exercício físico, sempre terá um
objetivo a ser alcançado, além de testes específicos para saber a condição atual e posterior ao
treinamento. O objetivo do programa de treinamento dependerá sempre das necessidades de
cada pessoa.
O equilíbrio estático para uma pessoa pode ser a capacidade de manter em harmonia as forças
de reação ao solo, ou seja, a força que é aplicada pelos pés com as forças gravitacionais. Assim,
para manter o centro de massa estável, é necessário que o somatório das forças seja nulo. No
entanto, a presença de equilíbrio estático não quer dizer que o corpo esteja totalmente
imóvel. Muito pelo contrário, existem contrações tanto nas extremidades inferiores, quanto
nas centrais e nas superiores. Para que não ocorra uma queda, por exemplo, o corpo mantém
um equilíbrio entre essas contrações a fim de se manter em uma determinada posição.
Existe um comportamento semelhante para o equilíbrio dinâmico, que necessita manter uma
harmonia entre as forças atuantes no corpo durante um deslocamento, como, por exemplo,
uma caminhada. O corpo utiliza mecanismos relacionados à contração muscular e ao controle
postural para que haja um maior desempenho durante aquele deslocamento, isto é, tenha um
maior equilíbrio dinâmico ou uma melhor estabilidade dinâmica.
Será que é importante o idoso possuir bom equilíbrio estático e dinâmico para realizar suas
tarefas cotidianas? Sem dúvidas! Um idoso sem equilíbrio pode representar grande fragilidade
e até mesmo riscos relacionados à sua saúde, pois, quanto menor o equilíbrio, maior o risco de
quedas e, portanto, mais suscetível o sujeito se torna a fraturas e lesões, que, muitas vezes,
inviabilizam a realização das atividades de vida diária normalmente.4
O exercício físico é capaz de manter uma pessoa fisicamente ativa e afastá-la da zona de perda
natural de força muscular e equilíbrio. Portanto, indivíduos com uma vida fisicamente ativa
têm menores chances de desenvolver distúrbios relacionados à sarcopenia e à redução do
equilíbrio corporal. Existem doenças que acometem os idosos e podem colocá-los na zona de
envelhecimento patológico, levando-os a um declínio muito rápido das suas capacidades
físicas e psicológicas. Nesse contexto, o exercício é uma estratégia valiosa para fazer com que
o indivíduo tenha maior qualidade de vida e melhor capacidade física para realizar as
atividades de vida diária.6
LEMBRAR
O idoso só pode ser considerado uma pessoa frágil quando possui uma doença ou um
problema físico, assim como qualquer outra pessoa jovem e adulta que possua um problema
que limite sua capacidade funcional. O idoso merece atenção especial nos programas de
exercício físico em função do declínio natural de sua capacidade funcional e força muscular. No
entanto, pode realizar todos os tipos de exercício, respeitando os princípios da individualidade
biológica, em que cada pessoa é diferente e precisa ser avaliada para determinar os exercícios
apropriados para ela.
EXERCÍCIO AERÓBICO
O padrão-ouro para avaliação de um idoso a fim de fundamentar a prescrição do exercício
aeróbico é o Teste Cardiopulmonar de Exercício (TCPE) ou Teste Ergoespirométrico
(ergoespirometria).7
O TCPE fornece informações importantes e precisas sobre a capacidade cardiorrespiratóriado
indivíduo, as quais auxiliam a prescrição correta em relação à quantidade e à intensidade do
exercício que deve ser realizado. De modo geral, esse teste é realizado em bicicleta
ergométrica ou em esteira ergométrica.
Para realizar uma boa prescrição, é importante que o TCPE seja específico em relação à
modalidade a ser prescrita. Por exemplo, se o indivíduo fará caminhada ou corrida como
exercício aeróbico, deverá realizar o TCPE em esteira ergométrica.
LEMBRAR
Apesar de o VO2 ser a principal informação de um TCPE, as variáveis mais importantes para
prescrição são os limiares ventilatórios.
A zona de treinamento que vai até o primeiro limiar ventilatório (LV1) representa uma zona
metabólica em que o indivíduo consome predominantemente glicose como substrato
energético para contração muscular. Essa zona é considerada aeróbica extensiva, pois é uma
intensidade em que o indivíduo tolera ficar mais tempo em exposição ao exercício.
A faixa entre o primeiro e o segundo limiar ventilatório (LV2) representa uma zona metabólica
em que o indivíduo já não consegue mais atender às necessidades energéticas com o
predomínio do metabolismo aeróbico, ou seja, utilizar glicose como substrato energético por
meio de sua oxidação.
O LV2 pode também ser chamado de ponto de compensação respiratória, pois o lactato
sanguíneo começa a aumentar exponencialmente, dificultando o metabolismo aeróbico e
fazendo com que haja hiperventilação.
A partir de todas as informações referentes ao TCPE, a variável utilizada para prescrição acaba
sendo a FC, justamente para facilitar a prática clínica sem perder qualidade. No entanto, é
necessário conhecer o LV1, o LV2 e o VO2 para que se obtenha um valor correto das zonas de
treinamento relacionadas à FC. De modo geral, no início de uma periodização de treinamento,
utilizam-se zonas aeróbicas próximas ao LV1 e com maior tempo de duração.
Para a prescrição do exercício, também é possível utilizar a frequência cardíaca máxima (FCmáx)
encontrada no teste. A partir dessa informação, podem ser utilizados percentuais da FCmáx para
prescrição, em que cada percentual representa uma zona de treinamento, que pode ser
contínuo moderado, ou seja, mais perto do LV1, e intenso intervalado, mais próximo do LV2.
No treinamento contínuo moderado, o exercício terá maior volume, ou seja, duração maior,
enquanto, no intenso intervalado, terá menor volume, o que representa menor tempo de
duração.
O conhecimento do verdadeiro valor da FCmáx é muito importante para uma correta prescrição
do treinamento. Infelizmente, nem todos têm acesso à uma ergoespirometria. Existem testes
mais simples e mais baratos, como, por exemplo, a ergometria.8
Um teste ergométrico convencional pode levar o indivíduo ao seu máximo e, principalmente,
identificar a FCmáx, sem a necessidade de coletar o VO2; contudo, não há um critério objetivo de
maximalidade como o quociente respiratório de pico (Rpico) do TCPE.
Não existem argumentos que justifiquem deixar um indivíduo sem fazer exercício por não
haver disponibilidade de um teste padrão-ouro de avaliação.
É evidente que se deve ter cuidado e observar sinais e sintomas que indiquem problemas
cardiovasculares em resposta ao exercício. Além disso, recomenda-se que o indivíduo faça
uma avaliação clínica ou cardiológica, sempre que possível, antes da participação em
programas de exercício.
Há possibilidade de realizar uma prescrição de exercícios sem um teste ergométrico ou
cardiopulmonar? A resposta é sim, justamente porque existem métodos alternativos para se
conhecer a FCmáx sem a necessidade de um teste específico. Assumem destaque as equações
preditivas da FCmáx.
Pontuação Descrição
10
11 Bastante leve (fairly light)
12
14
15 Difícil (hard)
16
18
20
0 Nada mesmo
(nothing at all)
3 Moderado
(moderate)
4 Um pouco forte
(somewhat strong)
9
10 Muito, muito forte Quase máximo
(very, very strong) (almost maximal)
* Máximo (maximal)
EXERCÍCIO DE FORÇA
O método padrão-ouro para avaliação da força muscular e utilização em prescrição é
denominado Teste de 1 Repetição Máxima (Teste de 1 RM).13
O teste de 1 RM é utilizado em diversas populações, inclusive em idosos. De modo geral, é
simples e seguro. No entanto, é necessário que o avaliador seja treinado para aplicar o teste.
Esse teste consiste em avaliar a quantidade de repetições que determinado indivíduo
consegue realizar com determinada quantidade de carga, que, no Teste de 1 RM, pode ser, por
exemplo, a massa total (kg) contida nas anilhas e na barra para realizar o supino reto. O
objetivo é avaliar a quantidade de carga que o indivíduo consegue realizar com uma repetição
máxima (1 RM) em determinado exercício.
LEMBRAR
1 1,00
2 1,07
3 1,10
4 1,13
5 1,16
6 120
7 1,23
8 1,27
9 1,32
10 1,36
Fonte: Baechle, T. R.; Groves, B.R. Weight Training. Champaign. Leisure Press. 1992.
Será tomado como exemplo o exercício de supino reto, realizado para trabalhar a musculatura
peitoral. A carga colocada entre anilhas e barra é de 20kg. O teste começa com 20kg de carga
total, e o indivíduo realiza 8 repetições com 2 segundos de contração concêntrica e 2 segundos
de contração excêntrica. Para fins de protocolo, o correto é realizar o teste mais duas vezes,
com intervalo mínimo de 5 minutos entre cada série. Geralmente, o teste é realizado mais
duas vezes quando o avaliador quer o valor exato de 1 RM, levando o indivíduo ao seu
desempenho máximo no teste. A quantidade de repetições depende muito de cada avaliador;
de modo geral, o teste é realizado uma vez, e, conhecendo-se a intensidade submáxima, é
possível ter um ótimo resultado para uma futura prescrição.
No exemplo descrito, o indivíduo realizou 8 repetições com 20kg de carga total. Para descobrir
sua 1 RM, basta multiplicar 20, que corresponde à carga total, pelo fator de correção referente
a 8 repetições, que é 1,27. A carga máxima para 1 RM, nesse caso, é de 25,4kg. Como a tabela
vai de 1 a 10, caso o indivíduo tivesse realizado mais de 10 repetições, o protocolo deveria ser
repetido, respeitando-se o tempo de intervalo previsto.
1 RM = 23,8kg
É evidente que os métodos descritos podem não ser exatamente precisos na hora de aplicar o
treinamento. Por isso, recomenda-se observar bem o tempo de execução das repetições
durante o treinamento e, caso seja necessário, ajustar as cargas às repetições propostas.
Assim como a avaliação para prescrição de exercício aeróbico, a avaliação da força muscular
possui métodos alternativos para quantificar a força, os quais auxiliam a controlar a
quantidade de carga de maneira subjetiva ou simplesmente dão conhecimento do
desempenho muscular para fins de acompanhamento em um programa de exercício físico.
Uma das formas alternativas mais conhecidas para controlar a carga de treinamento de força é
a Escala de Percepção de Esforço OMNI para Exercício de Força.14 OMNI é uma contração
contemporânea da palavra “omnibus”, do latim “tudo”. Utilizada no contexto das métricas
para percepção de esforço, a Escala OMNI representa uma escala de percepção de esforço que
possui propriedades amplamente gerenalizáveis. Essa escala possui modo verbal e descritores
específicos ilustrativos distribuídos ao longo da escala, os quais são comparativamente
alinhados com respostas numéricas que variam de zero a 10.
A forma de utilização e o momento em que se deve aplicar a Escala OMNI serão abordados no
tópico sobre métodos de prescrição.
Outro método conhecido para avaliar a força muscular e que pode ser utilizado como controle
de desempenho durante um programa de exercícios de força são os testes de avaliação da
resistência muscular localizada abdominal e de flexão do braço. Esses testes possuem tabelas
correspondentes ao desempenho executado durante 1 minuto, e cada faixa etária possui uma
classificação.
A Tabela 4 ilustra o desempenho de homens e mulheres de faixa etária entre 60 e 69 anos no
Teste Abdominal e no Teste de Flexão do Braço.15
Tabela 4
CLASSIFICAÇÃO DO DESEMPENHO NO TESTE DE 1
MINUTO RELACIONADA A GÊNERO E IDADE
O indivíduo deve repetir o mesmo movimento o mais rápido possível em 1 minuto; no entanto,
corretamente e completo. O número de repetições realizadas em 1 minuto deve ser marcado.
LEMBRAR
A falta de manutenção do controle postural pode acarretar graves consequências, pois, a partir
da redução do equilíbrio, os idosos aumentam as chances de quedas, fato que pode causar
desde uma redução da independência funcional até a morte.4
A EEB é uma escala que contém 14 itens, que envolvem tarefas funcionais em diferentes bases
de apoio, com 5 opções que recebem pontuação de 0 a 4, de acordo com o desempenho
realizado pelo indivíduo. É evidente que todo instrumento precisa ser bem estudado para ser
bem aplicado. É fundamental uma experiência prévia com a escala para uma futura aplicação
com êxito. Essa escala avalia tanto domínios relacionados ao equilíbrio estático quanto ao
dinâmico. No entanto, não se pode afirmar que ela avalia equilíbrio estático e dinâmico.
A EEB tem a capacidade de avaliar o equilíbrio funcional, que diz respeito à execução de
movimentos específicos com um determinado desempenho.
Quanto maior o escore na EEB, melhor é o equilíbrio funcional. Essa escala é uma alternativa
acessível para obter uma informação clínica muito importante, que será percursora do
tratamento para melhorar o equilíbrio do idoso.
A EEB pode ser aplicada em idosos que não apresentam déficit de equilíbrio, com a finalidade
de controlar sistematicamente o comportamento desse equilíbrio ao longo do tempo.
Existe outro método que pode avaliar o equilíbrio por meio de um teste simples e de fácil
aplicação. Trata-se do Teste Timed Up and Go (TUG).20 No entanto, esse teste tem a finalidade
de avaliar o equilíbrio dinâmico funcional, pois está relacionado com a execução de
determinada função que envolve caminhada.
Para a realização do TUG, são necessários:
É importante realizar uma tentativa para familiarização com o TUG. O idoso deverá estar
sentado na cadeira para início do teste. Será solicitado que se levante sem apoiar nas laterais
da cadeira e caminhe os 3m, cuja extensão estará sinalizada com a fita adesiva. O cone ou a
garrafa PET indicarão o retorno. Após dar a volta no cone, o idoso deverá retornar ao ponto de
partida e sentar novamente. Todo esse percurso deve ser realizado no menor tempo possível.
A Tabela 6 demonstra o ponto de corte e os graus de comprometimento relacionados ao
desempenho no TUG para idosos.
Tabela 6
TESTE TIMED UP AND GO
LEMBRAR
A tarefa de se levantar da cadeira, caminhar 3m, passar pelo cone e retornar para sentar
parece ser simples. No entanto, em transições de posições, é preciso recrutar o sistema motor
e, principalmente, o controle postural para manter o corpo estável e conseguir realizar o
deslocamento. No momento em que o indivíduo fica em pé, ele precisa imprimir velocidade
para se deslocar. Essa tarefa é complexa do ponto de visto motor, e, para que o corpo se
mantenha em pé, uma grande parte dos músculos precisa se contrair.
Portanto, o Teste TUG, apesar de ser um simples instrumento, pode fornecer informações
valiosas em relação ao equilíbrio dinâmico do idoso.
EXERCÍCIO AERÓBICO
Para o exercício aeróbico, existem dois modelos bastante utilizados na prática clínica: um
deles é mais clássico, denominado exercício aeróbico contínuo (intensidade moderada), e o
outro, um pouco mais atual, é denominado exercício intervalado de alta intensidade.22
A Figura 4 exemplifica um protocolo de treinamento contínuo moderado.
A Figura 4 ilustra o protocolo contínuo para exercícios aeróbicos, em que o indivíduo parte do
repouso e faz um aquecimento, com intensidade muito baixa. Após o término do
aquecimento, é iniciada a parte principal do protocolo contínuo, em que se atinge a
intensidade desejada, mantida até o momento em que se inicia a recuperação. A intensidade
pode ser caracterizada pela FC, enquanto o volume diz respeito ao tempo de exercício. Além
do tempo de exercício, o volume pode ser controlado por meio da distância percorrida. O
produto da intensidade pelo volume representa a carga total de trabalho.
As Figuras 5A e B ilustram o protocolo de treinamento intervalado de alta intensidade.
Figura 5 — A e B) Treinamento intervalado de alta intensidade.
Os dois modelos apresentados nas Figuras 5A e B ilustram dois diferentes tipos de protocolo
de treinamento intervalado de alta intensidade:
um deles possui a recuperação sem exercício, ou seja, passiva, em que, após a parte de
alta intensidade, a recuperação é parada;
o outro, possui recuperação ativa, ou seja, o indivíduo, após realizar alta intensidade,
reduz a intensidade e continua em movimento.
Máximo ≥ 90 ≥ 96 ≥ 91 ≥7
FCreserva: frequência cardíaca de reserva; FCmáx: frequência cardíaca máxima; VO2máx: consumo de
oxigênio máximo.
Fonte: ACSM (2009).23
A Tabela 7 apresentou uma nova nomenclatura ainda não comentada: FCreserva. Mas o que
significa a FCreserva?
A FCreserva representa a diferença entre uma FCmáx medida ou FCmáx prevista e a frequência
cardíaca de repouso (FCrep).9
Exemplo: A FCmáx medida durante o TCPE é de 170bpm. Identificou-se que a FCrep é de 65bpm.
Portanto, a FCreserva é de 105bpm. Em indivíduos saudáveis, teoricamente, a FCreservanão se
modifica. Caso esse indivíduo seja submetido a determinado treinamento, ela pode se
modificar, justamente pela modulação da FCrep, aumentando a FCreserva.
No entendimento dos autores deste capítulo, a FCreserva é a melhor forma para prescrever,
quantificar e controlar a intensidade do exercício aeróbico. Esse método funciona ainda
melhor quando aliado ao uso da Escala de Borg CR 10.
O ideal para a prescrição do treinamento aeróbico é criar uma zona com variação dos valores
percentuais. Por exemplo, se for uma zona moderada, entre 40 e 45% da FCreserva. Essa medida
se justifica porque, durante a sessão de treino, pode ocorrer uma pequena variação da FC, algo
totalmente normal e previsto.
Ressalta-se a importância de utilizar a FCreserva para prescrição, pelo simples fato de que a
FCrep tem a capacidade de alterar a reserva cardiovascular. Para ilustrar, observe-se o exemplo
do cálculo baseado na FCmáx, a partir do exemplo citado anteriormente com uma FCmáx de
170bpm:
LEMBRAR
O treinamento de força pode ser prescrito de diferentes maneiras, com diferentes exercícios e
diferentes formas de controle de volume e intensidade. O volume, no treinamento de força,
pode ser o número de repetições e séries que o indivíduo realizará, enquanto a intensidade
pode ser a quantidade de massa (kg) de uma barra ou halter. O produto de volume e
intensidade é a carga de trabalho (total).
É preciso tomar cuidado para não confundir carga total com carga de um halter. Muitos
determinam que a carga de um halter é de 4kg. Entretanto, a palavra “carga” deve ser
empregada em relação ao produto do volume e da intensidade.
Séries
Recomenda-se de 1 a 3 séries por exercício, ou seja, o indivíduo deverá realizar uma vez ou
três vezes aquele número determinado de repetições, respeitando um intervalo de 1 minuto
para intensidades menores e até 3 minutos para intensidades maiores (10 a 15 repetições:
OMNI 4 a 6; 8 a 12 repetições: OMNI: 6 a 8, respectivamente). Caso o idoso não seja
fisicamente ativo, orienta-se que ele realize uma série apenas para cada exercício, com
progressão para 2 séries após 4 semanas e para 3 séries após 8 semanas.
Repetições
Ao realizar 8 a 12 repetições, o indivíduo prioriza hipertrofia muscular, ao passo que, acima de
12 repetições, ele prioriza resistência muscular localizada.
A lógica para a prescrição se mantém semelhante à do treinamento aeróbico. Inicialmente,
trabalha-se com volume mais alto e, com a progressão do indivíduo, reduz-se o volume,
consequentemente, aumentando a intensidade.
Intensidade
A intensidade deve ser de 70 a 85% de 1 RM, respeitando-se a lógica do treinamento físico, em
que se inicia com intensidades mais baixas (70% de 1 RM ou OMNI 4 a 6) até chegar a
intensidades mais altas (85% de 1 RM ou OMNI 6 a 8).
Quantidade de exercícios
A quantidade deve ser de 8 a 10 tipos de exercício, que trabalhem diferentes grupos
musculares e uma articulação ou mais no mesmo movimento.
É recomendado que se iniciem os exercícios com grandes grupos musculares e mais de uma
articulação envolvida no movimento. À medida que o treinamento progride, são realizados
exercícios com pequenos grupos musculares, que envolvam apenas uma articulação e até
menos unilaterais.
Modalidade
Tanto peso-livre quanto máquinas podem ser utilizados. Recomenda-se que, no momento
inicial do treinamento, sejam preconizados exercícios em máquinas em razão da falta de
repertório motor. À medida que ocorre uma evolução nesse treinamento, o indivíduo poderá
realizar exercícios com barras, halteres e até mesmo a massa do próprio corpo (flexão de
braços).
Frequência
O ideal é que os exercícios sejam realizados, no mínimo, duas vezes por semana, pelo fato de
que todas as adaptações promovidas em uma sessão de treinamento necessitam de um
estímulo sequencial para que haja o desenvolvimento de um benefício esperado, assim como a
manutenção das adaptações promovidas ao longo do tempo necessita sempre ser estimulada.
Caso haja a viabilidade, deve-se administrar um treinamento de força cinco vezes por semana.
Tudo depende da maneira como serão feitas a prescrição e a divisão dos grupos musculares
para cada sessão de treino.
LEMBRAR
LEMBRAR
Exercícios tais como levantar e sentar da cadeira, rotação do tronco e caminhada lateral
devem ser adicionados dentro de uma prescrição para treinamento de força em idosos.
LEMBRAR
O exercício de força abrange uma diversidade de exercícios, os quais podem ser simples ou
complexos. Exercícios de equilíbrio possuem componentes estruturais de força, pois, como foi
citado anteriormente, a falta de equilíbrio, muitas vezes, ocorre pela redução da força
muscular.
Exercício Descrição
EXERCÍCIO COMBINADO
O exercício combinado pode ser contemplado em um programa de treinamento físico para
idosos.25O que é o exercício combinado?
LEMBRAR
Um dos principais prejuízos que acomete o idoso é a sarcopenia. Com o avanço da idade,
ocorre a perda generalizada da massa muscular e da força muscular. Aliada à sarcopenia, o
idoso pode apresentar redução da mobilidade, o que leva a perda da independência funcional
e suscetibilidade a maior risco de quedas, reduzindo sua qualidade de vida, aumentando os
custos com saúde e até mesmo aumentando o risco de mortalidade.
O exercício físico parece ser uma alternativa segura e eficaz para reverter parcialmente a
sarcopenia, aumentando a função muscular do idoso. São recomendados exercícios aeróbicos,
de força, flexibilidade e equilíbrio.6 Além disso, é importante que os idosos mantenham uma
rotina regular de atividade física moderada com mais de 150 minutos por semana, segundo o
Colégio Americano de Medicina do Esporte.
Outro fator que acomete o idoso é a perda de desempenho cognitivo. Algumas evidências
sugerem que o exercício físico regular modifica fatores de risco e possui mecanismos
neuroprotetivos, que auxiliam a reduzir a magnitude de perda do desempenho cognitivo
atribuída ao avanço da idade. Além disso, o exercício físico regular ajuda a proteger contra
mudanças relacionadas a doenças neurodegenerativas, tais como a doença de Alzheimer e
outros tipos de demência.26
Existe uma relação estreita entre risco de prejuízo cognitivo e fatores de risco cardiovascular
(FRC), tais como hipertensão, dislipidemia, síndrome metabólica, diabetes melito (DM) não
controlada, hiperinsulinemia e altos níveis de marcadores inflamatórios. O exercício físico é
capaz de reduzir esses fatores de risco cardiovascular, e o aumento do nível de
condicionamento físico está diretamente relacionado com melhor saúde do cérebro e melhor
desempenho cognitivo.
Por fim, estudos recentes apontam que o exercício físico, tanto aeróbico quanto de força, tem
a capacidade de melhorar a função do sistema imunológico. Com o avanço da idade, ocorre
redução da atividade das células natural killer(NK), que são um tipo de linfócitos citotóxicos
necessários para o funcionamento do sistema imune. Elas têm um papel importante no
combate a infecções virais e células tumorais. Alguns estudos demonstram que o exercício
físico apresenta efeito positivo na atividade citotóxica das células NK, além de melhorar o
sistema imune em geral.28
No Quadro 2, estão resumidos os benefícios do exercício físico em idoso.
Quadro 2
BENEFÍCIOS DO EXERCÍCIO FÍSICO EM IDOSO
Benefícios cardiovasculares
Benefícios na osteoporose
Benefícios no câncer
Benefícios na osteoartrite
Melhora da função
Redução da dor
Benefícios no DM2
Redução da incidência
Melhora do controle glicêmico
Redução dos níveis de HbA1
Melhora da sensibilidade à insulina
Outros benefícios
VO2máx: consumo de oxigênio máximo; DC: débito cardíaco; PAS: pressão arterial sistêmica; DAC:
doença arterial coronariana; IC: insuficiência cardíaca; DM2: diabetes melito tipo 2; HbA1:
hemoglobina glicada; DAOP: doença arterial obstrutiva periférica.
Fonte: Adaptado de Nied e Franklin (2002).29
CONCLUSÃO
O exercício físico é fundamental para o idoso. No entanto, é importante conhecer os tipos de
exercício e dominar as técnicas de avaliação e prescrição para que se obtenham bons
resultados. O idoso pode tanto treinar exercício aeróbico quanto de força. O ideal é que o
idoso seja submetido a ambos os métodos de treinamento, podendo até realizar um
treinamento combinado (exercício aeróbico e de força na mesma sessão).
Além de empregar os dois métodos mais utilizados para treinamento físico, deve-se também
observar como está o equilíbrio estático e dinâmico do idoso. Com o avanço da idade,
alterações posturais surgem, causando desequilíbrio postural e, consequentemente,
aumentando o risco de quedas. Portanto, devem-se avaliar e prescrever exercícios para
trabalhar o equilíbrio, sempre de maneira individualizada, conforme a condição do idoso.
Deve-se trabalhar com promoção de saúde. Quem trabalha com exercício físico deve propagar
a ideia de que as pessoas devem se manter em movimento, independentemente da idade.
Idosos, de modo geral, devem sim participar de programas de treinamento físico, com
variações de intensidade e volume, gerando, assim, adaptações positivas para essas pessoas. O
benefício torna-se enorme quando um idoso consegue fazer suas atividades da vida diária com
mais liberdade e mais confiança. Assim, o papel do profissional é promover a saúde de
maneira competente.
Algumas barreiras específicas à prática de exercício são mais comuns em idosos, como dores e
desconfortos, desabilidades, equilíbrio prejudicado, dependência e pobre suporte social
(Quadro 3). É de suma importância que o profissional da saúde conheça essas barreiras e trace
estratégias para que elas sejam minimizadas e o indivíduo idoso possa se beneficiar do
exercício.
Quadro 3
BARREIRAS ESPECÍFICAS À PRÁTICA DE EXERCÍCIO
PARA IDOSOS
Barreira Abordagem
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Como citar a versão impressa deste documento
Franzoni L, Silveira AD. O idoso e o exercício físico. In: Sociedade Brasileira de Cardiologia; Brandão A, Miranda C,
Précoma DB, Bacal F, Zimerman LI, Lopes MACQ, organizadores. PROCARDIOL Programa de Atualização em
Cardiologia: Ciclo 15. Porto Alegre: Artmed Panamericana; 2020. p. 9–51. (Sistema de Educação Continuada a
Distância, v. 1)