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TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

PSICANÁLISE: RECALQUE x SEXUALIDADE

MELISSA MICHELETTO PEREIRA TEIXEIRA – SP

LICENCIATURA PLENA em: Letras e Pedagogia

PÓS GRADUADA em: Psicopedagogia, Educação Especial, Direitos

Humanos/Responsabilidade Social e Cidadania Global

CURSOS EXTENSÃO/ESPECIALIZAÇÃO: Educação Inclusiva,Terapia ABA e

Neurociências

PROFISSÃO: Professora de Ed Básica (22 anos)

Ocupações: Formadora Secretaria Municipal de Educação de São Paulo

Membro da ClinicaMult_Equilibre: Psicopedagoga e Terapeuta ABA

melissampteixeira@gmail.com

“Não posso ver mérito algum em se ter

vergonha da sexualidade”

(Sigmund Freud)

ACADEMIA ENLEVO – DF

BRASIL 2023
1
PSICANÁLISE: RECALQUE x SEXUALIDADE

MELISSA MICHELETTO PEREIRA TEIXEIRA - SP

ACADEMIA ENLEVO – DF

BRASIL 2023

“Olhe para dentro, para as suas profundezas, aprenda primeiro a se conhecer. ”

(Sigmund Freud)

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INDICE:

Resumo 4-5

Introdução 6

I. “UNTERDRÜCKUNG” 7

II. Sexualidade 11

III. Relações de Proximidade 15

IV. Problemas de Saúde Mental 19

V. Concluindo 25

Referências Bibliográficas 27

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PSICANÁLISE: RECALQUE x SEXUALIDADE

RESUMO

O Artigo que segue, tem por finalidade dar visibilidade, evidenciando a relação

entre recalque e sexualidade dada por FREUD, bem como a importância da sexualidade

junto às queixas dos pacientes.

É notória à expansão dos conceitos psicanalíticos ao longo das décadas pós

Freud, é fato que essa expansão traz consigo aspectos benéficos e outros nem tanto, a

começar pelas interpretações equivocadas dos termos, bem como, a distorção da

empregabilidade dos mesmos, já que existe a interpretação do outro e o momento como

esse se encontra ao receber a informação. O que de fato estamos falando, quando o

assunto é “Sexualidade x Recalque.”

PALAVRAS-CHAVE: Recalque, repressão, projetar e sexualidade.

ABSTRACT

The article that follows aims to give visibility, highlighting the relationship

between repression and sexuality given by FREUD, as well as the importance of

sexuality in the patients' complaints.

The expansion of psychoanalytic concepts over the decades after Freud is

notorious, it is a fact that this expansion brings with it beneficial aspects and others not

4
so much, starting with the misinterpretations of the terms, as well as the distortion of

their employability, since there is the interpretation of the other and the moment as it is

when receiving the information. What are we actually talking about when the subject is

“Sexuality x Repression.”

KEYWORDS: Repression, repression, project and sexuality.

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INTRODUÇÃO

Diversas pessoas, ao realizarem os seus primeiros contatos com a teoria

psicanalítica, interpretam que o recalque é uma maneira útil de deletar certas ideias da

mente, coisas que remetam a desconforto e até a falta de aceitação, no entanto a

abordagem realizada aqui tem por finalidade mostrar que recalcar é uma excelente

maneira, senão dizer a melhor maneira de conservar determinadas ideais em nosso

aparelho psíquico.

Dessa forma é importante ressaltar que na maioria das vezes as questões ligadas

ao recalque, estão diretamente associadas a sexualidade muitas vezes reprimida e

camuflada, para dar conta das demandas e exigências sociais.

É importante dar visibilidade às questões civilizatórias, uma vez que, para que

pudéssemos viver de maneira civilizada o homem enquanto espécie, teve que recalcar

diversos instintos e porque não afirmar colocar um freio moral em seus desejos mais

animalescos.

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I. “UNTERDRÜCKUNG”

A tradução da expressão “Unterdrückung”, termo alemão usado por Freud (o

fundador da psicanálise), para nomear: Recalque/Repressão. Sigmund Freud nomeou

dessa forma a estratégia da psiquê, para instrumentalizar a fuga de nossa mente, quando

surgem em nossa alma/mente, certas ideias que são incompatíveis com a imagem que

idealizamos sobre nós mesmos. Ou seja, seria a fuga do que se sente, na busca de

suprimir o que desagrada o externo e as regras explicitas e ocultas.

I.I. HIPOTETICAMENTE.

“Uma jovem mulher se percebe e deseja continuar se percebendo como uma

pessoa religiosa e casta, do ponto de vista religioso, no entanto, começa a desenvolver

uma relação de amizade, muito intensa e íntima com uma determinada colega de

trabalho, com base nisso, a relação começa a aparecer na alma dessa jovem, que deseja

se ver como sexualmente pura, no entanto os pensamentos sexuais com a colega são

constantes, os desejos de natureza sexual se tornam cada vez mais pulsantes.”

I.II ACIONANDO O RECALQUE .

A referida jovem não pode sequer admitir para ela mesma que possui esses

desejos, afinal de contas o desejo de manter a imagem inicialmente projetada é latente, é

7
nesse momento que segundo Freud o mecanismo do recalque entra em operação,

justamente para se defender das ideias que naturalmente e espontaneamente apareceram

em sua mente, mas que são de natureza homossexual. Para se defender dessas ideias

moça então precisará impedir sua consciência, e ela sequer tomará conhecimento desse

sentimento, justamente pois esses desejos homossexuais, são contrários e incompatíveis

com a imagem que ela projeta de si.

O desejo tem em si mesmo é reprimido a fim de que não seja percebido, e é

exatamente isso que significa recalcar/reprimir, impedir que determinadas ideias se

tornem conscientes, então o indivíduo logo percebe o sentimento e o recalca. Ou seja,

inconscientemente essa moça precisará impedir que as ideias de natureza humana

penetrem na sua consciência.

A princípio uma pessoa que não conhece a teoria psicanalítica poderia pensar:

“Poxa isso é ótimo! Já que a moça deseja continuar se percebendo como pura

sexualmente.” ou: “- que ótimo então, ela bloqueia o acesso à sua consciência fazendo

com que essas ideias não possam manchar ou perturbar a imagem desejada de si mesma,

então qual que é o problema? que mal há em utilizar o recalque?”

O grande problema é que quando utilizamos o mecanismo do recalque, quando

impedimos determinadas ideais, determinados desígnios de acessarem a nossa

consciência, perdemos a possibilidade justamente de analisar e de tratar, o que

eventualmente poderia ser descartado, no entanto se não conseguimos nem acessar essas

ideias e sequer reconhecer a existência delas, como iremos vivenciá-las e supri-las?

Como tratá-las, como analisá-las?

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I.III MECANISMO

Entender esse mecanismo é simples. Para tal segue exemplo: Só conseguimos

descartar um determinado objeto se ele estiver lá, se já realizamos uso do mesmo, e ele

não faz mais sentido de estar ali, logo surge o desejo descartá-lo, contudo, só

conseguiremos descartar o objeto se soubermos que o mesmo está ali, que ele realmente

existe, no entanto, se não soubermos da existência do mesmo como fazer uso ou

descartá-lo? Poderemos tomar essa decisão a partir de um julgamento, de uma

avaliação, mas se esse objeto tiver escondido se não soubermos que ele está presente

como é que eu vou descartá-lo?

Da mesma forma a jovem mencionada na situação hipotética, que deseja ter uma

imagem de si sexualmente pura, por conta da sua filiação religiosa, essa jovem não

poderá eventualmente descartar esses desejos homossexuais, renunciar a satisfação

deles justamente, já que, ela sequer sabe que esses desejos estão ali, a curiosidade está

no fato de se questionarmos a jovem se conscientemente ela deseja viver uma relação

homossexual com alguém, muito provavelmente diria não, ainda complementaria com:

eu quero viver apenas relações heterossexuais e dentro de um casamento,

provavelmente ela tal resposta se daria devido sua filiação religiosa. Logo a referida

descartaria, renunciaria a qualquer inclinação homossexual, paradoxalmente ao reprimir

esses desejos ela está justamente conservando esses impulsos homossexuais na sua

alma, justamente porque se ela não se reconhece ela não tem como analisá-los, ela não

tem como julgá-los, ela não tem como pensar na possibilidade de renunciar a eles, uma

vez que esses desejos, essas ideias que impedimos que se façam presentes na nossa

consciência, não desaparecem, elas vão permanecer numa outra rede. Para tal Freud

chamou de inconsciente e as ideias no inconsciente não ficam paradas, até as quietinhas

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querem o tempo todo se fazer reconhecer, logo a jovem por exemplo muito

provavelmente começaria a perceber as perturbações no seu cotidiano, muito

provavelmente precisaria criar sintomas neuróticos, para continuar se defendendo dos

desejos de natureza homossexual, muito provavelmente ela precisaria fazer isso para dar

vazão a esses desejos, então no inconsciente elas não ficam paradas elas buscam

satisfação o tempo todo, mas só temos condições de renunciar a um desejo, se esse

desejo aparece conscientemente. Dessa forma se não possuímos a segurança suficiente

para olhar para esse desejo e analisá-lo julgá-lo, pensar sobre ele, então o blindamos, o

recalcamos.

O nosso objetivo com tudo isso, acontece inconscientemente, mas nosso objetivo

é nos livrarmos daquelas ideias, daqueles desejos mas paradoxalmente ao reprimirmos,

ao lançarmos mão desse mecanismo de defesa, ao impedir o campo das ideias de

entrarem na consciência, o que acabamos fazendo é conservar essas mesmas ideias

porque lá no inconsciente não tem chance delas serem analisadas, elas ficam como na

analogia mencionada acima, ficam como objetos que estão presentes na nossa casa e a

gente não sabe, pior o objeto presente na casa, não se mexe ele é inanimado já as ideias

que nós mantemos nessa região obscura da alma, nessa região à qual nós não temos

acesso conscientemente , essas vão estar o tempo todo tentando se manifestar, por bem

ou por mal.

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II. Sexualidade

“A sexualidade, para Freud, representa a grande questão do humano na busca

da unidade - desejo incestuoso - como origem da pulsão que nunca se realiza e é

sempre parcial. A busca da unidade pode ser captada: no mito andrógino. Na

bolha narcísica (mãe/filho). No só sim ou só não. Na pulsão de morte, no

inanimado. ” (Monica Rebouças -2002)

Ao estudar a teoria psicanalítica, a tese de Freud de que os sintomas neuróticos,

seriam expressões disfarçadas de impulsos sexuais reprimidos, há o questionamento

quanto a postura de Freud, alguns chegam a afirmar que o mesmo estaria exagerando.

Quando era questionado sobre a ênfase que dava para a sexualidade na etiologia das

neuroses Sigmund Freud, costumava apelar simplesmente para a sua clínica, dizendo

que na verdade ele estava apenas registrando nas suas publicações aquilo que

encontrava diariamente em seu consultório, de que de fato a sexualidade está na origem

de grande parte dos quadros patológicos encontrados no cotidiano de 6 a 8 pacientes

atendidos diariamente por Freud. Por outro lado, podemos tentar explicar, por que que

as coisas são assim, ou seja, considerando que é verdade que a sexualidade exerce de

fato o papel significativo na causa/ação dos processos de adoecimento emocional,

podemos encontrar os motivos pelos quais isso acontece, em outras palavras a pergunta

por que a sexualidade exerce tamanho poder na constituição do adoecimento

emocional?

Segundo a teoria psicanalítica, o motivo primário diz respeito ao estatuto da

sexualidade nos seres humanos diferentemente do que acontece com outras espécies de

seres vivos, a sexualidade humana não é biologicamente determinada, não há negativa

do fato óbvio evidente de que fatores biológicos exercem algum tipo de efeito na

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vivência da nossa sexualidade, é fato o exemplo que as mulheres tendem a estar mais

dispostas a fazerem sexo durante o período fértil, mas isso não significa, porém, que as

fêmeas da nossa espécie permitam a aproximação do parceiro ou da parceira sexual,

apenas nos dias em que estão no período fértil, que é o que acontece com outras

espécies de mamíferos, dessa forma, ao assinalar que a sexualidade humana não é

biologicamente determinada fazemos referência ao fato de que o modo como

expressamos os nossos impulsos sexuais, está indiretamente vinculado às experiências

pelas quais passamos, experiências, que por sua vez ocorrem dentro de contextos

socioculturais específicos.

O modo como um cavalo, vivencia a sua sexualidade não depende ou depende

muito pouco das suas experiências de vida, não dependem em absoluto das coisas que

ele ouviu de seus pais falarem quando era filhote, até porque cavalão fala, a forma como

o cavalo expressa a sua sexualidade depende essencialmente da programação biológica

própria da espécie: “ecos ferus caballus”, como homo sapiens é diferente toda a

discussão, que temos assistido nos últimos anos sobre a famigerada educação sexual,

que evidencia justamente o fato de que nos seres humanos a sexualidade é

fundamentalmente desregulada, o contrário do que acontece com o cavalo, nós não

temos na espécie humana um roteiro biológico rígido, que supostamente nos indicaria

exatamente como nós devemos agir e o que devemos ser no terreno sexual, é como se a

nossa sexualidade fosse uma massa passível de adquirir diversas formas diferentes a

depender dos recipientes nos quais ela é colocada, tais recipientes são justamente as

experiências sócio e culturalmente enquadradas, pelas quais passamos desde o ventre

materno. Mas, a sexualidade humana não é logicamente determinada e mostra uma

maneabilidade grande ao ambiente.

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Todavia, essa lógica vale também para outras dimensões da existência, afinal a

vida humana como um todo é muito dependente do ambiente e das experiências e pouco

influenciada diretamente pela teologia.

II.I- PAPEL PRIVILEGIADO MAS NÃO ACEITO

Porque então a sexualidade teria esse papel privilegiado, porque logo ela e não

outra dimensão da vida exerceria uma influência tão mais significativa sobre o

adoecimento psíquico?

Existe uma outra peculiaridade da sexualidade humana que Freud descobriu e

que também explica não somente a sexualidade em nossas vidas, mas o motivo pelo

qual nós somos naturalmente e constitucionalmente mais propensos a neurose. Essa

peculiaridade refere-se aos impulsos sexuais, que já aparecem nos humanos na tenra

infância desde o nascimento, ou seja, numa fase em que sequer temos ainda o aparato

biológico suficiente para fazer uso desses impulsos em busca da satisfação, a finalidade

biológica da sexualidade que é evidentemente a reprodução, por que que isso acontece

dessa forma, ou qual é a razão evolutiva pela qual a sexualidade aparece em nós já na

primeira infância?

Naquele momento infantil não sabemos mas o fato é que podemos dizer com

muita segurança que a sexualidade se manifesta em nós de maneira precoce, partindo

desse pressuposto de que problemas na infância, nós não só não temos um corpo

biologicamente preparado para a reprodução, como ainda também não tem uma

estrutura psíquica preparada para dar conta dos impulsos sexuais. Por isso, muitas

crianças podem vivenciar a força da sexualidade nelas nessa primeira infância um

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momento sentindo-se ameaçadas por essa força, que parece ter vida própria, apavoradas

muitas crianças podem acabar lançando mão de mecanismos psíquicos patológicos

como a repressão, um recalque a fim de se defenderem dos impulsos sexuais, esse

procedimento por sua vez os impulsos sexuais ao buscarem descargas por vias paralelas

acabam surgindo sintomas neuróticos, dessa forma podemos dizer que sexualidade

exerce importância fundamental e significativa nos processos de adoecimento

emocional, isso se dá por duas razões:

1 - a sexualidade humana não sendo biologicamente determinada está sujeita às

vicissitudes da vida, está sujeita às experiências pelas quais nós passamos, está sujeita

sobretudo pelo enquadramento sócio cultural que se impõe sobre cada pessoa

(recordemos aqui do desejo de sentir-se pura e casta, da situação hipotética acima).

2- a sexualidade exerce tamanha força, tamanho poder de influência nos

processos de adoecimento emocional, porque no caso dos seres humanos ela se

manifesta precocemente, o que faz com que nós tenhamos uma atitude básica de defesa

contra os impulsos sexuais, justamente por eles aparecerem no momento em que a nossa

estrutura psíquica ainda é muito frágil,

3- por isso, somos mais propensos ao desenvolvimento de uma neurose, por isso

que a sexualidade tem tamanho peso na causa e na etiologia na constituição dos

processos de adoecimento emocional.

Me parece que o que há de mais interessante na proposta freudiana da existência de uma

sexualidade infantil, seja o fato de que “infantil”, no fim das contas, não queira dizer “infância”

(Garcia-Roza –2008).

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III. OUTROS OLHARES: RELAÇÕES DE PROXIMIDADE

“Se até quase ao século XIX a sexualidade havia permanecido no domínio exclusivo da ordem

moral e religiosa e orientada por postulados teológicos que distinguiam o lícito do ilícito, com o

advento da modernidade, este campo da vida dos indivíduos adquire, para várias instâncias do

saber, uma importância estratégica, passando a estar sujeito a novos mecanismos de controle e

institucionalização’’ (Michel FOUCAULT, 1994).

Com base no disposto por FOCAULT, observamos que questões de controle e

limitação, no que se refere ao campo da sexualidade sempre estiveram latentes, e porque

não dizer no controle, pontuando de forma oculta ou não, o que se espera dos seres

humanos. Vale ressaltar que o foco é deixar em evidência a relação entre:

III.I. UM BREVE HISTÓRICO

“(...) Por um lado, a instituição dos recenseamentos periódicos da população por

parte de diversos países do Ocidente (no final do século XVIII) contribuiu para redefinir

a importância dos dispositivos do parentesco, da aliança e da reprodução das

populações, colocando a sexualidade na miríade dos discursos e da fiscalização

institucional” (FOUCAULT, 1994; Cristina VIEIRA, 2009).”

15
Por outro lado, as ciências exatas e, em especial, a Medicina, empenhadas em

submeter os mistérios do corpo e do sexo ao método científico, vieram abalar as

concepções religiosas mais enraizadas, propondo, pela primeira vez, noções como as de

dimorfismo sexual e fixando a sexualidade no domínio da biologia e do saber médico

por excelência. (...)

No entanto, não podemos falar da emergência da sexologia sem destacar a

influência dos paradigmas emergentes da psicologia no virar do século XX (RUSSO,

2002). Entre estes contributos, a obra de Sigmund FREUD (1987), fundador da

psicanálise, constitui uma incontornável referência. Em Trois Essaissur la Theorie

Sexuelle, Freud vem reiterar a importância da sexualidade - e em particular das

experiências localizadas na infância - para a vida psíquica dos indivíduos. Para o

psicanalista, as identidades sexuais, longe de serem estáticas e definitivas, vão sendo

moldadas ao longo do tempo por meio da “repressão” exercida pelas normas sociais

sobre as pulsões sexuais inatas. Herdeiros deste legado, outros autores, como o

psicanalista Wilheim REICH (1973) e toda a denominada “esquerda freudiana”

continuam em décadas posteriores a postular a necessidade de uma revolução sexual

como parte fundamental de uma revolução social.

Desta forma, a sexualidade é entendida como o resultado de uma intervenção

psicológica, por forma a adequar a natureza humana (predisposta, segundo o autor, à

perversão) a uma normalidade fixada socialmente(...)

Foi, contudo, preciso esperar até meados do século XX para vermos a

sexualidade abordada numa perspectiva de análise extensiva, inaugurando neste campo

uma tradição querida às ciências sociais. Nas décadas de 1940 e 1950, Alfred KINSEY

e a sua equipe (1975; 1970) publicavam estudos sobre sexualidade masculina e

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feminina que vieram revolucionar o conhecimento no campo da sexologia e abalar

profundamente as mentalidades da época. A partir da aplicação de entrevistas a uma

amostra de 10 mil homens e mulheres americanos, os relatórios de Kinsey desvendaram

uma realidade surpreendente e muito diversificada de comportamentos e ideários

sexuais, desafiando as concepções de normalidade e desvio. Para exemplificar, aquela

que ficou conhecida como “Escala de Kinsey” visou à definição do comportamento

sexual fugindo a uma catalogação binária e propondo um contínuo de seis graduações

que iam desde “exclusivamente heterossexual” ao “exclusivamente homossexual” .

https://conceitos.com/escala-kinsey/

17
https://www.corujafeed.com.br/a-escala-de-kinsey-e-sua-teoria-que-reformula-a-orientacao-sexual/

Para além da tónica na pluralidade das identidades sexuais, o trabalho de Kinsey

foi inovador também por trazer à luz temas como a masturbação e o orgasmo feminino.

E mesmo que, para além de algumas críticas de ordem metodológica e científica

(nomeadamente as avançadas pela American Statistical Association num relatório

intitulado Statistical problems of the Kinsey Reporton Sexual Behavior in the Human

Male (1954)), o trabalho de Kinsey) tenha recebido igualmente importantes reprovações

de ordem moral e ética por parte de grupos mais conservadores da sociedade americana

(James Howard Jones, 1997), é certo que os estudos do autor conheceram um impacto

sem precedentes e, recusando a ortodoxia dominante da época, contribuíram

significativamente para o desenvolvimento de uma perspectiva menos essencialista da

sexualidade.

Nesta mesma linha de pesquisa associada ao contexto terapêutico, podemos

destacar ainda o trabalho do casal William MASTERS e Virginia JOHNSON (1976;

1984) que, recorrendo inclusivamente à observação em laboratório da prática de

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relações heterossexuais, veio abrir novos campos de estudo ligados à fisiologia da

resposta sexual, fixando o prazer como norma para o bom funcionamento sexual e para

a realização do casal. E também o trabalho de Shere HITE (1982) que, estando já

associado ao movimento feminista da década de 1970, veio incidir sobre a sexualidade

das mulheres, desmistificar a questão do orgasmo feminino e denunciar o falocentrismo

dominante nos estudos e nas representações da sexualidade. ”

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IV. PROBLEMAS DE SAÚDE MENTAL

Com base no exposto até aqui fica evidente a relação entre sexualidade e

recalque, frente ao que foi ditado e esperado pela sociedade e tudo quanto ao longo dos

tempos foi imposto, como forma de controle.

Vale ressaltar que os problemas emocionais são mensagens do inconsciente, já

que é preciso existir o sintoma, para que o inconsciente com os seus desejos precisa se

expressar a qualquer custo, diante disso, precisará codificar esses desejos, para que eles

consigam atravessar os muros da censura.

As ansiedades e episódios depressivos relacionados a relacionamentos amorosos

doentios, são chamados de problemas de saúde mental, apenas como problemas, ou

seja, como obstáculos a felicidade, como impeditivos ao nosso bem-estar, como coisas

que precisam ser superadas. Por outro lado a aplicação do método psicoterapêutico

psicanalítico, permitiu descobrir que os problemas de saúde mental, não são apenas

problemas, para além disso eles são fundamentalmente mensagens do nosso

inconsciente, são recalques semeados ao longo da vida, que ainda estão lá na

obscuridade da mente, mas acima de tudo ficam pairando a espera da oportunidade de

aparecerem.

Toda mensagem pressupõe a existência de um emissor, aquele que envia a

mensagem e um receptor, aquele que a recebe. Nesse caso os problemas de saúde

mental chamados pela psicanálise de sintomas, o emissor e o receptor não são duas

pessoas diferentes são exatamente a mesma pessoa, ou seja, eu envio a mensagem

sintomática e eu mesmo recebo essa mensagem.


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O emissor e o receptor da mensagem são exatamente a mesma pessoa, pois, você

enquanto o emissor da mensagem e você como receptor desta mesma mensagem, estão

separados a certa distância, ao contrário do que o senso comum imagina apesar da

psicanálise estar na nossa cultura mais de 100 anos, infelizmente o senso comum ainda

não incorporou suficientemente bem a ideia. O senso comum imagina que nós sabemos

tudo a respeito de nós mesmos, que nós somos transparentes para nós mesmos e que não

existe em nós uma divisão básica, uma divisão entre a nossa consciência e o nosso eu, o

eu que a própria psicanálise chama de inconsciente.

Esquema representando o id, o ego e o


superego como partes de um aicebergue.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Superego

O inconsciente é a parte de nós que envia a mensagem, portanto, o emissor da

mensagem sintomática, é o inconsciente o receptor, por sua vez, é aquilo que em

psicanálise nós chamamos de eu ou de ego,

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https://www.passeidireto.com/arquivo/72326640/isso-eu-e-supereu-id-ego-superego

Então compreendemos que no caso dos sintomas o eu emissor é o inconsciente e

o eu receptor é o ego propriamente dito, que existe no inconsciente, que é feito de

ideias de pensamentos, que não queremos admitir, que não queremos reconhecer que

possuímos, eles estão em nós mas não damos a essas ideias e pensamentos uma

existência legítima dentro de nós, o que nos obriga a permanecer nessa dimensão

inconsciente e inacessível. Esses contam com uma força emocional muito potente como

todo desejo, por conta disso os desejos que estão lá no inconsciente querem se

manifestar, querem se realizar, querem se expressar na nossa vida o tempo inteiro,

contudo o ego não quer reconhecê-los, por conta disso, esses desejos não conseguem

enxergar para além desse muro de censura, que o próprio ego ergueu, para se defender

desses desejos que ele não quer admitir.

É essa censura e esse muro interposto entre o ego e o inconsciente que produz a

distância referida acima, portanto existe uma distância entre essas duas partes de nós

mesmos entre a parte do eu consciente e a parte do inconsciente.

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Logo, existe o sintoma, pois o inconsciente, com os desejos que querem se

expressar a qualquer custo vai precisar codificar/cifrar esses desejos para que eles

consigam atravessar o muro da censura o inconsciente, vai precisar vestir esses desejos

com roupas que sejam aceitáveis para o ego, ou seja, o inconsciente precisará

transformar esses desejos que querem se expressar esses desejos que foram reprimidos,

esses desejos que o ego não está disposto a reconhecer o inconsciente precisará

transformar esses desejos em mensagens codificadas, desta forma os desejos conseguem

penetrar na consciência e não é porque eles estão disfarçados, e sim porque esses

disfarces que os desejos inconscientes utilizam para penetrar no EGO, podem ser

justamente os nossos. Dessa forma, problemas de saúde como a depressão, a ansiedade,

os pensamentos obsessivos, os relacionamentos amorosos falidos e doentios, tudo isso

pode ser a expressão disfarçada de desejos inconscientes, de desejos reprimidos e

desejos que não se aceita reconhecer, que não quer admitir, e é justamente porque você

não quer admiti-los, que em dado momento eles são forçados a penetrar na vida

disfarçada de uma maneira que causa dor, que causa sofrimento, que causa desprazer

mas que é aceito. Observamos que muitas vezes não estamos dispostos a reconhecer os

desejos que foram reprimidos lá atrás, no entanto aceitamos os sintomas, os problemas

de saúde mental, sendo capazes de tolerar depressão e crises de ansiedade, mas não

somos capazes de tolerar os desejos que reprimimos lá atrás. Entrar em contato com

esses desejos é muito angustiante e insuportável, então prefere-se tolerar um

relacionamento falido a reconhecer os desejos que estão no inconsciente, é por isso que

a psicanálise não trabalha como outras formas de terapia com o objetivo primordial de

eliminar sintomas, já que os sintomas são na verdade mensagens que o inconsciente

utiliza para expressar disfarçadamente desejos que foram reprimidos, isso significa que

os sintomas devem ser acima de tudo, antes de qualquer coisa, compreendidos

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interpretados decifrados e é isso que um psicanalista faz com o seu paciente. Na busca

que que venha à tona o que foi recalcado, o psicanalista ajudará o seu paciente a

interpretar o sintoma como uma mensagem do inconsciente e a discernir quais são os

códigos que foram utilizados pelo inconsciente para expressar os desejos reprimidos,

por meio dos sintomas e mais do que isso a psicanálise ajuda o sujeito a adquirir

confiança adquirir consistência, adquirir segurança suficiente, para que ele possa ter a

coragem de olhar para os seus desejos reprimidos e desta maneira não precisar mais ser

invadido pelos sintomas porque se conseguimos reconhecer os desejos que outrora

reprimimos, que estavam lá no inconsciente se conseguirmos nos apropriar desses

desejos, se conseguimos dar a eles um lugar legítimo na vida, não precisaremos de

sintomas, e assim, não precisaremos mais desses problemas de saúde mental, é esse o

objetivo primordial da psicanálise, ajudar o paciente a não precisar mais recorrer a

problemas de saúde mental, com ansiedade e depressão, para conseguirem lidar com

seus desejos, o foco é reconhecer os desejos para que o sintomas não sejam necessários .

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V. CONCLUINDO

Aquilo que ocultamos de nós mesmos e dos outros, as coisas que ocultamos e que

acabou sendo chamado de recalque, dá para que o ser humano a possibilidade de viver

civilizadamente, haja vista a natureza animalesca do homem, que não é totalmente

positivo, também tem em si o mal, claro que contém em si o bem por assim dizer, logo

há que se admitir que há algo de positivo, já que em si o homem carrega a violência,

dessa forma para que a civilização seja possível é preciso que cada um reprima em si

esse mal, essa violência, é preciso também que haja um recursos de repressão como

dispositivos muito bem elaborados, que atuem sobre o ser humano no sentido de que

esse recalque, seja permanente, já que a história nos revela que o homem pode ser em

extremo violento, quando os desejos animalescos vêm a tona.

Dessa forma o ser humano possui em si também, o que não pode aparecer, que na

perspectiva de civilização e civilidade, precisa manter-se em oculto, e isso não por

ocasião, nós somos permanentemente assim, mas recalcamos para que a nossa vida seja

possível, para que a civilização seja possível, é uma consequência entender que há uma

certa cobertura/ camuflagem em nós, que não é preciso raspar muito para que apareça

aquilo que é completamente contrário., vale ressaltar que tal contradição foi vista por

vários filósofos, mas principalmente por três: NIETZSCHE, FREUD e MARX. Nós não

somos constituídos de uma peça só, somos contraditórios e a principal contradição é

entre o bem e o mal, com isso, é preciso então que o mal seja recalcado por nós mesmos

e pelos outros, pela sociedade para que a civilização seja possível.

Em busca dessa desmistificação da sexualidade e suas propensões, Sigmund Freud,

trouxe através da psicanálise a possibilidade de revisitarmos nosso eu emissor que é o

inconsciente e trazer à tona questões que estão profundamente recalcadas, na tentativa

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de aliviar sintomas causados pelo que na maioria das vezes está relacionado à

sexualidade ou ao que reprimimos dela, por conta das demandas sociais, sempre tão

presentes em nossos grupos.

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REFERÊNCIAS

FREUD, Sigmund. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In: Obras psicológicas
completas de Sigmund Freud: edição standard. v. 7. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

FREUD, Sigmund . Inibição, sintonia e angustia (1926-1929)

FOUCAULT, Michael HISTÓRIA DA SEXUALIDADE I - A VONTADE DE SABER


13.a Edição.

MORGADO NEVES, DULCE- 2019 Sexualidade: Saber e Individualidade– Revista de


estudos feministas

GARCIA-ROZA, Luiz Alfredo. Introdução à metapsicologia freudiana. v. 3: Artigos


de metapsicologia, 1914-1917: narcisismo, pulsão, recalque, inconsciente. 7. ed. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 2008.

E Book: NAPOLI, Lucas : PSICANÁLISE EM HUMANÊS em :


https://lucasnapoli.com/ebooks/ebook-psicanalise-em-humanes/

Site: https://www.passeidireto.com/arquivo/72326640/isso-eu-e-supereu-id-ego-
superego

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