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TEMAS
1. Fraturas e luxações;
2. Complicações das fraturas: Osteomielite, pioartrite e embolia gordurosa;
3. Fraturas expostas;
4. Politraumatismo e lesão do anel pélvico;
5. Fraturas do fêmur proximal;
1. FRATURAS E LUXAÇÕES
Fraturas
Fratura é a perda de continuidade da cortical de um osso. As fraturas geralmente ocorrem em virtude
de algum impacto, queda ou esmagamento, sendo essa última normalmente associada à lesão de
tecidos moles.
Fraturas em galho verde: é uma fratura incompleta e ocorre somente em crianças, devido ao
periósteo que é grosso suficiente para evitar lesão das duas corticais. Para sua redução é
necessário transformar cirurgicamente a fratura em completa.
Consolidação óssea
● Direta ou primária: o osso é formado diretamente, sem matriz cartilaginosa ou reparo
intermediário. Só ocorre quando usa-se placa e parafuso.
○ Na radiografia não se nota o calo ósseo, diferentemente da consolidação indireta que
nota-se.
● Indireta ou secundária: antes de formar o osso, forma-se o tecido fibrocartilaginoso
intermediário. Ocorre quando há estabilidade parcial, logo, é a mais comum. Fases:
○ Hematoma fraturário: imediato
○ Calo mole: dura duas semanas.
○ Calo duro: após duas semanas até nove meses.
■ Com seis semanas: consolidação clínica
■ Com seis meses: consolidação radiológica
Tratamento
● Pré-Hospitalar: imobilização com talas.
● Hospitalar: analgesia venosa, redução da fratura, estabilização da redução e profilaxia
antitrombótica.
○ Redução cirúrgica/aberta: Indicada para fraturas cominutivas, instáveis (dor contínua
ou desvio mantido após redução fechada), intra articulares ou expostas em sua
maioria.
○ Redução fechada: Há dois modos de fazer, sendo elas:
■ Manipulação: tração longitudinal >> acentuação da deformidade >> redução
da deformidade.
■ Tração contínua: está em desuso, pois deve ser mantida por duas semanas,
com paciente internado.
○ Estabilização: Pode ocorrer por contenção externa, fixação externa ou fixação
interna:
■ Contenção externa: Gesso ou órteses plásticas. Possui tempo médio de 6
semanas, sendo 3s para falanges e 12s para a tíbia.
■ Fixação externa: Usado em pacientes críticos, fraturas diafisárias expostas
grau IIIB e IIIC ou fraturas diafisárias cominutivas da tíbia e da extremidade
distal do rádio.
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Luxações
A luxação mais comum é a do ombro, podendo ser glenoumeral ou acromioclavicular. O diagnóstico
é clínico radiológico (radiografia do ombro com aumento do espaço articular).
● Luxação glenoumeral: Na maioria das vezes é traumática, sendo a luxação mais comum. O
deslocamento mais comum é o anterior e o mecanismo de luxação baseia-se em: extensão,
abdução e rotação externa do ombro.
Osteomielite
Baseia-se em uma inflamação e destruição óssea causada por bactéria, micobactéria ou fungo. Os
sintomas comuns são dor óssea localizada e sensibilidade com sintomas constitucionais (em
osteomielite aguda) ou sem sintomas constitucionais (em osteomielite crônica).
Osteomielite aguda
● A principal característica é que não ocorre sequestro ósseo!
● A principal região afetada é a metáfise e o principal mecanismo é a disseminação
hematogênica e monomicrobiana.
● As crianças pré-púberes são as mais acometidas por osteomielite aguda.
Sinais e sintomas
● Dor intensa e localizada com impotência funcional, sinais flogísticos.
● Febres e calafrios.
● Trauma ou infecção recente.
● Hipersensibilidade na palpação do processo espinhosos vertebral.
Osteomielite crônica
● A principal característica é que ocorre sequestro ósseo, geralmente acima de 04 semanas.
● O principal mecanismo é por contiguidade na osteomielite que surge após fratura exposta
complicada ou no pé diabético.
● Deve-se suspeitar sempre nos pacientes com consolidação retardada ou pseudoartrose.
● Normalmente temos associação com infecção polimicrobiana por Estafilococos (aureus e
coagulase negativo) e Gram-negativos anaeróbios. Na presença de próteses, temos ainda
associação com Pseudomonas.
Pé diabético
● A visualização do osso sob uma ferida, o toque dele acessível por meio de qualquer
instrumento explorador ou úlcera sobre proeminência óssea acima de 2 cm² já indica alta
suspeição de osteomielite crônica.
Sinais e sintomas
● Dor crônica ou oligossintomáticos
● Anormalidades de consolidação ou consolidação lenta.
● Pseudoartrose
● Fístulas osteo cutâneas.
Osteomielite Hematogênica
● É uma inflamação óssea causada por bactéria que normalmente atinge o osso por via
hematogênica. Os critérios diagnósticos são (dois ou mais):
○ Pus aspirado do osso
○ Cultura positiva.
○ Dor localizada, inchaço, aumento da temperatura local, limitação da ADM de
articulação adjacente.
○ Achados radiográficos característicos da osteomielite.
○ RMN (Método mais indicado, por ser mais sensível e específico, fazendo diagnóstico
precoce, por meio do sinal de hiperintensidade em T2 - acúmulo de líquido - no
interior da medula óssea). Na falta da RMN, fazer uma TC.
Crônica Pacientes com diabetes, o tratamento empírico deve ser eficaz contra
organismos anaeróbios, além de organismos aeróbios Gram-positivos
e Gram-negativos. Ampicilina/sulbactam 3 g IV. A vancomicina 1 g IV
a cada 12 h é acrescentada quando a infecção for grave ou MRSA for
prevalente. Os antibióticos devem ser administrados parenteralmente
por 4 a 8 semanas e adaptados, dependendo dos resultados de
culturas apropriadas.
Pioartrite
É uma infecção causada por, principalmente, bactérias que acometem as articulações, tendo o local
mais comum o joelho. Uma outra causa pode ser as lesões articulares traumáticas. O quadro clínico
engloba dor, calor, edema, redução da ADM e impotência funcional da articulação, febre e sintomas
sistêmicos.
Exames complementares
● O padrão-ouro na confirmação diagnóstica é a punção do líquido articular com os seguintes
exames da punção:
○ Bioquímicos: nível baixo de glicose e alto de proteínas.
○ Citometria: elevados leucócitos.
○ Gram: possível identificação direta, mas improvável.
○ Cultura: com antibiograma.
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● Sangue: Hemograma (leucocitose); PCR (< 10); VHS (< 100); Hemocultura (suspeita de
sepse).
● Imagem: Solicitamos a radiografia simples e, caso haja suspeita de osteomielite associada,
solicitamos RMN. Para realizar a punção é necessário o uso do US, ajudando no diagnóstico.
Tratamento
● Desbridamento articular precoce, cirurgia e antibioticoterapia (cefalexina, cefixime ou
clindamicina VO ou venosa mediante o tempo de evolução por 5-7 dias)..
○ Artrotomia: mais de 24 horas.
○ Artroscopia: < 24 horas
○ Aspiração por punção: neonatos e sintomas < 24 horas.
Embolia gordurosa
A embolia gordurosa ocorre entre 24 e 72 horas após a fratura, podendo surgir em até 2 semanas,
tendo como os principais fatores de risco os pacientes com fratura fechada de ossos longos e pelve.
Tratamento e prevenção
● Tratamento de suporte: oxigenioterapia e VNI.
● A melhor medida é a prevenção com fixação precoce em até 24 horas após a fratura.
3. FRATURAS EXPOSTAS
É uma fratura associada a lesão de pele e partes moles permitindo contaminação do osso ou contato
do hematoma fraturário com o meio externo. Sua classificação ocorre por meio da tabela de
Gustillo-Anderson.
● O Grau I é gerado por trauma de baixa energia, onde a ferida possui menos de 1 cm, causada
pelo osso, sendo assim uma lesão ocasionada de dentro para fora. A partir do Grau II as
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feridas são maiores que 1 cm e menores que 10 cm, geradas por traumas de energia mais
alta, geralmente ocasionada de fora para dentro.
○ Feridas por armas de fogo, ambiente rural ou fraturas segmentares fazem parte do
grau III.
Abordagem
● Como toda vítima de trauma, iremos realizar o ABCDE, buscando fraturas graves que estão
gerando condições letais, principalmente no ABCD. Ao chegar no E - exposure -, iremos
avaliar:
○ Feridas/soluções de continuidade;
○ Se há desvio, realizar a rotação externa do fêmur proximal;
○ Avaliar palidez ou cianose distal, movimentação grosseira ativa, foco de fratura, pulso
distal e reflexos tendinosos profundos.
● Após avaliação inicial, deve-se realizar o curativo estéril e imobilização provisória.
○ Cobrir feridas com gaze estéril, passar crepom e posicionar a tala de espuma para
imobilização. Se o osso for visível, imobilizar na posição em que estiver.
● Iniciar a antibioticoprofilaxia ainda na avaliação primária (indicada no máximo nas primeiras
seis horas), sendo:
○ Gustillo I e II: cefalosporina de 1ª geração (cefazolina), por 24 horas.
○ Gustilo III: cefalosporina de 1ª geração (cefazolina) + aminoglicosídeo (gentamicina
240mg/dia), por 48 horas.
○ Fratura exposta em ambiente rural: cefalosporina de 1ª geração (cefazolina) +
aminoglicosídeo (gentamicina) + penicilina cristalina 2.000.000 UI 4/4h, por 48 horas.
● Iniciar a profilaxia antitetânica
○ Se a vacina antitetânica estiver em dia e comprovada pelo cartão, não é necessária.
Porém, se não existir comprovação, deve ser realizada ainda na sala de emergência,
durante a avaliação primária.
● Realizar uma avaliação radiológica.
○ Essa avaliação vai ser importante para dimensionar a extensão da lesão e possíveis
abordagens cirúrgicas.
● Iniciar o tratamento cirúrgico
○ É considerada uma urgência ortopédica, sendo preciso iniciar a cirurgia em no
máximo 6 horas para ajudar na prevenção da contaminação.
Tratamento cirúrgico
● Realizar a anestesia, assepsia, antissepsia e exploração da ferida.
● Efetuar o desbridamento da ferida e realizar lavagem mecânico-cirúrgica exaustiva.
● Redução e estabilização precoce.
○ Gustillo I até IIIA: placa e parafuso ou haste intramedular (fixação interna).
○ Gustillo IIIB e IIIC: fixador externo provisório (ex: Uniplanar), depois fixador externo
definitivo (ex: Multiplanar ou Lisarov) ou placa e parafuso.
○ Caso haja uma lesão vascular, é importante que primeiro faça a redução e
estabilização do osso e só depois faça um retalho arterial ou venoso.
● Fechamento da ferida baseando-se no grau.
○ Gustillo I: Fechamento no ato cirúrgico.
○ Gustillo II: Fechamento imediato ou após 48 horas.
○ Gustilo III: Fechamento em 48 horas.
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Critérios de amputação
● Absolutos: Fratura de tibia com lesão do N. Tibial (perda da sensibilidade plantar); Fratura
exposta tipo III com mais de 6 horas de isquemia; Fratura exposta tipo III C extensa, que
impossibilita reconstrução.
● Relativos imediatos: Politrauma com choque hemorrágico e risco de vida; Idoso que não
deambula.
● Tardios: áreas extensas insensíveis; Contraturas e dor crônica incapacitante; Prótese
potencialmente mais funcional que o membro.
Temos também o Índice de MESS que pode nos guiar melhor nessa decisão, sendo:
● MESS maior igual a 7: amputação de membro.
● MESS < 7: membro viável.
Politraumatismo
Para ser considerado um paciente de politraumatismo, ou de traumas múltiplos, é preciso que haja
duas ou mais lesões graves em pelo menos duas partes (sistemas) do corpo com repercussão de
parâmetros fisiológicos uma ou mais partes do corpo. Fratura de ossos, lesões cerebrais,
hemorragias, amputações e lesões na coluna são os ferimentos mais comuns que ocorrem nesses
casos.
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Quadro clínico
● Dor inguinal e/ou lombar, especialmente ao comprimir a sínfise púbica e espinhas ilíacas
ântero superiores.
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● A deambulação vai depender do grau das fraturas, pois alguns, podem deambular sem apoio.
● Ao exame físico é importante realizar a inspeção e palpação da pelve, se atentando a
presença de sangue no meato uretral, vaginal ou retal.
● Possíveis sinais de que o sistema nervoso periférico foi acometido são incontinência,
bexigoma com retenção urinária, perda de reflexos perineais e nos membros inferiores.
● A principal complicação da fratura pélvica é a hemorragia (por lesão na veia ilíaca), pode ser
externa ou interna, ambas podendo evoluir para choque hipovolêmico. Outras complicações
são a dispareunia, disfunção erétil, incontinência fecal e/ou urinária.
Diagnóstico
● Tomografia computadorizada: mais usada atualmente.
● Radiografia: usada em locais que não possuem TC.
○ Podemos encontrar o aumento do “cone”, ou seja, o aumento do espaço da pelve
devido à hemorragia.
Tratamento
O manejo inicial a uma pessoa que sofreu uma fratura pélvica, é de acordo com o ABCDE básico do
trauma, visto que muitos dos mecanismos que levam a esta fratura são bem graves, acometendo
outros locais do organismo muitas vezes. Após realizar isso:
● Estabilização com algumas ferramentas, sendo elas:
○ Cinta pélvica em CAP III e CV.
○ Enfaixamento: ocorre por meio da compressão da hemipelve uma contra a outra e
contra a mesa.
○ Clampe de Ganz: Parece um pegador de gelo gigante. Gera uma instabilidade
temporária e não é muito boa se a instabilidade é vertical.
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O fêmur é o osso tubular mais longo, forte e pesado do corpo humano e um dos principais ossos que
suportam carga na extremidade inferior. As fraturas do fêmur proximal podem ser extracapsulares
(trocantérica, transtrocantérica do fêmur ou subtrocanteriana) ou intracapsulares (colo femoral)
● As fraturas de colo e transtrocanteriana são as mais comuns e com mesma incidência. A de
colo, em especial, é considerada uma fratura intracapsular (pior vascularização), o que gera
algumas complicações, como: 25% de mortalidade, instabilidade com desvio e necrose
avascular.
● As fraturas femorais, sempre serão cirúrgicas a menos que o paciente seja acamado e sem
dor.
Fratura Extracapsular
● As fraturas extracapsulares são desencadeadas por trauma de baixa energia (nos idosos) ou
alta energia (nos jovens), sendo mais comum nas mulheres após os 80 anos. Nesse tipo de
fratura a vascularização é preservada e possui menor taxa de complicação na consolidação.
● O quadro clínico baseia-se em dor intensa, membro encurtado e rodado externo, pode haver
hematoma.
● O diagnóstico é realizado por meio de uma radiografia simples em AP, na dúvida (fraturas
ocultas) pode ser solicitado uma RM.
● O tratamento cirúrgico da fratura trocantérica tem como objetivo reduzir os fragmentos e
gerar estabilidade. É realizada por meio de uma haste intramedular e travamento na cabeça
do fêmur, sendo ideal o procedimento ser realizado em 24-48 horas pós fratura.
Fratura Intracapsular
● Esse tipo de fratura ocorre no colo de fêmur, dentro da capsula articular e acabam sendo
negligenciadas na emergência, pois os fragmentos são contidos pela cápsula, mantendo
alguma mobilidade. Há o risco de interrupção da vascularização da cabeça do fêmur e de
necrose da cabeça do fêmur. Teoricamente, é uma fratura muito instável que não consolida
se não for estabilizada.
○ Jovens: Trauma em abdução de alta energia
○ Idoso: fratura espontânea por osteoporose. Quebra e cai.
● Complicações: necrose da cabeça e não consolidação
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○ Fratura com mais de 48h de evolução ou grande desvio dos fragmentos: alta chance
de lesão dos vasos circunflexos e de necrose da cabeça do fêmur.
● Tratamento: Varia de acordo com a situação encontrada.
○ Se necrose, reoperar, tirar a fixação e substituir por prótese.
○ Se fratura do colo muito desviada e com mais de 48h de evolução, colocar a prótese
direto.
○ Baixa expectativa de vida ou cavidade acetabular preservada: prótese parcial.
○ Alta expectativa ou degeneração da cavidade acetabular: prótese total (fêmur
proximal e cabeça).
O tratamento quase sempre é cirúrgico, sendo realizado nas primeiras 12 horas. O tratamento
conservador deve ser escolhido para idosos acamados, com risco proibitivo,
Garden I ou II e sem dor.