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10 de Outubro de 2023

Limbo Jurídico Previdenciário


Trabalhista: Como Orientar o
Cliente
Publicado por Alessandra Strazzi ano passado

Limbo previdenciário: o que é, hierarquia dos atestados médi-


cos, como orientar o cliente com alta médica do INSS e o que
discute o Tema 300/TNU.

Sumário
1) Introdução

2) O que é limbo previdenciário?

2.1) Limbo jurídico previdenciário trabalhista


3) Consequências do "pente-fino" no limbo jurídico

4) Como orientar o cliente

4.1) Súmula 32 TST: empregado não retorna ao trabalho após


alta do INSS

5) Limbo previdenciário: o que fazer?

5.1) Alta médica do INSS e atestado de inaptidão do médico do


trabalho

5.2) Alta médica do INSS e do médico do trabalho, mas atestado


de inaptidão do médico assistente

6) Ordem hierárquica dos atestados médicos

7) Limbo previdenciário: jurisprudência

7.1) Posicionamento do TST

7.2) Tema 300 TNU: Manutenção da Qualidade de Segurado


Durante o Limbo Previdenciário

7.2.1) Qual questão submetida a julgamento?

7.2.2) Qual foi o posicionamento do relator?

7.2.3) Qual foi a tese sugerida pelo relator?

8) 3 Dúvidas comuns sobre limbo jurídico previdenciário


trabalhista

8.1) Limbo previdenciário caracteriza abandono de emprego?


8.2) Quem paga o salário durante o limbo previdenciário?

8.3) Limbo previdenciário é responsabilidade do empregador?

9) Conclusão

Fontes

1) Introdução
Cada vez mais tem se tornado comum ouvirmos casos de segu-
rados que enfrentam o chamado limbo previdenciário.

São pessoas que estavam recebendo benefício por incapaci-


dade do INSS e, após alta médica previdenciária, acaba-
ram tendo seu benefício cancelado. 😖

Mas, o médico do trabalho da empresa concluiu de modo dife-


rente, considerando que o empregado não está apto para vol-
tar ao trabalho e o impedindo de retornar às suas funções.

Então, o segurado não recebe o benefício previdenciário do


INSS, nem o salário do empregador, vivendo em um verda-
deiro limbo jurídico. 😱

Acho que dá para imaginar o desespero do trabalhador que se


encontra nessa situação, né?

Por isso, decidi escrever o artigo de hoje, principalmente para


explicar como o advogado deve orientar o cliente, tendo
como base o posicionamento do TST e da TNU!

Além disso, já adianto que o limbo previdenciário é uma maté-


ria que deve ser conhecida por advogados previdenciaristas e
trabalhistas, porque as duas áreas de atuação podem ser de-
mandadas por aqui. 😎

Portanto, já aproveita para compartilhar o artigo com seus


colegas de ambas as áreas (até mesmo para pensarem em parce-
rias de trabalho).

👉🏻 Dá uma olhada em tudo o que vocês vão aprender hoje:

O que é o limbo previdenciário;

Quais foram as consequências do "pente-fino" no limbo


jurídico;

Como orientar o cliente que se encontra nessa situação;

O que diz a Súmula 32 do TST;

Qual a ordem hierárquica dos atestados médicos;

O que está sendo discutido no Tema n. 300 da TNU so-


bre manutenção da qualidade de segurado durante o
limbo previdenciário;

Quando o limbo previdenciário caracteriza abandono de


emprego;

Quem paga o salário durante o limbo previdenciário;

Se o limbo previdenciário é responsabilidade do emprega-


dor ou do INSS.

E, para facilitar a vida dos nossos leitores, estou disponibili-


zando um Modelo de Petição Inicial para Restabeleci-
mento de Auxílio-Doença. Ele é bem completo e já vem com
pedido de Aposentadoria por Incapacidade Permanente,
Reabilitação e Auxílio-acidente.

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informe o seu melhor e-mail 😉
2) O que é limbo previdenciário?
Em primeiro lugar, quero começar explicando o que é o limbo
previdenciário.

Em geral, o limbo previdenciário acontece quando o beneficiá-


rio de auxílio por incapacidade temporária ou aposentadoria
por incapacidade permanente recebe alta médica do perito do
INSS para retornar ao trabalho, mas não do médico particu-
lar ou da empresa. ❌

Esta cessação de benefício em virtude de alta médica previden-


ciária afasta a suspensão do contrato de trabalho, determi-
nando o imediato retorno do empregado ao serviço.

Consequentemente, passa a ser obrigação do empregador dis-


ponibilizar os meios adequados para o retorno do empregado
ao trabalho (ou até mesmo sua adaptação para outras fun-
ções), além de voltar a ser responsável pelo pagamento do salá-
rio.

Mas, muitos empregadores se recusam a receber o empre-


gado e decidem parar de pagar o salário, sob o argumento
de que, nas condições em que se encontra, seria inviável o exer-
cício de sua antiga função na empresa. 😣
Então, o segurado não recebe o benefício previdenciário do
INSS, nem o salário do empregador, vivendo em um verda-
deiro limbo jurídico.

Essa é uma situação cada vez mais comum, principalmente de-


pois do início da “operação pente fino” do INSS. Mas, a solução
para esses casos não está prevista em qualquer norma.

👉🏻 Desse modo, a partir de uma construção doutrinária e


jurisprudencial, foi criada uma tese para tentar resolver a
questão, como vou explicar nos próximos tópicos!

2.1) Limbo jurídico previdenciário


trabalhista
Vale a pena dizer que o limbo previdenciário também é conhe-
cido como limbo jurídico previdenciário trabalhista ou
emparedamento, por conta das consequências que gera na
área trabalhista.

Então, não estranhe se ouvir algum advogado se referindo à si-


tuação com outro nome, ok?

Trata-se do mesmo conceito, apenas com diferentes nomes!


😉

3) Consequências do "pente-fino" no limbo


jurídico
A “operação pente fino” é uma das iniciativas do governo federal
para diminuir o déficit previdenciário, tendo como princi-
pal objetivo a revisão de benefícios, tornando mais difícil o
procedimento para sua concessão ou renovação.
📜 Entrou em vigor a partir de 2016, com a publicação da MP n.
739/2016 (reeditada em 2017, através da MP n. 767/2017) e, de-
pois, foi transformada na Lei n. 13.457/2017.

Através dela, o INSS começou uma varredura nas concessões


dos benefícios, para apurar possíveis fraudes e realizar uma
intensa revisão, visando atestar se os segurados deveriam ou
não ter o seu direito renovado.

Além disso, foi criado o famoso Bônus Especial de Desempenho


Institucional por Perícia Médica em Benefícios por Incapaci-
dade (BESP-PMBI). 👨🏻‍⚕️

Com as novas medidas, consequentemente, houve um au-


mento de casos de limbo previdenciário.

E, por falar no assunto, sabia que um dos efeitos do “pente fino”


também foi o cancelamento de benefícios concedidos
judicialmente?

No artigo INSS pode cancelar benefício judicial, expliquei que o


INSS até pode fazer isso em alguns casos, mas existem regras
que precisam ser respeitadas. Então vale a pena a leitura! 😊

4) Como orientar o cliente


Imagine a seguinte situação: um segurado que recebia benefí-
cio do INSS e estava afastado, lhe procura dizendo que recebeu
alta previdenciária e perguntando o que fazer.

Você saberia como orientar o cliente neste caso? 🤔

Não se preocupe se a resposta for não, é realmente difícil saber


o que fazer. Por isso, vou passar algumas dicas práticas!
🤓 Em primeiro lugar, pergunte se o segurado é empregado
ou não.

Se empregado ( CLT), ele deve se apresentar para o em-


pregador, explicando sobre a alta previdenciária e se colo-
cando à disposição (mesmo que ainda não esteja efetivamente
apto para o trabalho).

Isso porque, caso não se apresente no serviço dentro de 30 dias


após a alta do INSS e nem justifique a ausência, ele pode ser
demitido por justa causa. 😱

Além disso, se o médico da empresa continuar entendendo


que ele não está apto para trabalhar e emitir atestado de
saúde ocupacional (ASO) neste sentido, é caso de limbo
previdenciário.

Nesta situação, infelizmente, é muito comum o empregador


agir de má-fé e demitir o empregado por justa causa, ale-
gando que ele não se apresentou ou justificou sua ausência den-
tro do prazo de 30 dias após a alta previdenciária.

⚠️ Portanto, recomendo que oriente seu cliente a guardar to-


dos os documentos relativos à alta do INSS e à sua apre-
sentação ao empregador dentro do prazo, para que pelo me-
nos vocês tenham provas se for preciso ajuizar uma ação
trabalhista.

4.1) Súmula 32 TST: empregado não re‐


torna ao trabalho após alta do INSS
A Súmula 32 do TST trata sobre as situações em que o em-
pregado não retorna ao trabalho após alta do INSS (ou
seja, temos jurisprudência a respeito).
⚖️ De acordo com a Súmula, é presumido o abandono de
emprego (art. 482, i, da CLT) se o trabalhador não retornar
ao serviço no prazo de 30 dias após a cessação do benefício
previdenciário ou não justificar o motivo da impossibilidade
de retorno.

Por isso, como expliquei no tópico anterior, o segurado que teve


alta previdenciária deve se colocar à disposição do empregador
ou justificar a ausência, sob pena de demissão por justa causa.

5) Limbo previdenciário: o que fazer?


Agora que você já entendeu o que é o limbo previdenciário, vou
explicar o que fazer nesses casos!

Vale a pena dizer que a estratégia a ser adotada depende se o


advogado atua em favor do empregado ou do empregador (são
dois olhares completamente diferentes para o mesmo pro-
blema). 🤓

Mas, hoje vou falar especificamente sobre a situação do advo-


gado que atua em favor do empregado, ok?

Neste caso, existem dois cenários mais comuns de limbo


previdenciário:

5.1) Alta médica do INSS e atestado de


inaptidão do médico do trabalho
É uma situação típica de limbo previdenciário, em que há du-
pla negativa: do INSS em continuar pagando o benefício e do
empregador em continuar contratando o trabalhador.

Caso o segurado receba alta previdenciária e haja atestado


de saúde ocupacional (ASO) do médico do trabalho decla-
rando inaptidão, o advogado pode protocolar recurso admi-
nistrativo no INSS, visando reverter a decisão de cancela-
mento do benefício. 📄

Também pode ajuizar ação previdenciária requerendo o res-


tabelecimento do benefício cessado, cumulada com pedido de
concessão de tutela de urgência.

✅ Ao mesmo tempo, existe a possibilidade de ajuizar uma re-


clamação trabalhista para recondução do empregado ao
posto de trabalho.

Isso porque existe uma hierarquia entre os laudos e o laudo


do médico do INSS deve ser acatado (como vou explicar no tó-
pico 6).

5.2) Alta médica do INSS e do médico do


trabalho, mas atestado de inaptidão do
médico assistente
Neste caso, a perícia médica do INSS e o médico do empre-
gador atestam que a pessoa está apta para trabalhar.

Mas, o médico particular (médico assistente) do segurado


entende que ele ainda não está pronto para voltar ao
trabalho.

Essa é uma situação mais grave que a anterior, porque nor-


malmente o empregado é convocado para retornar ao traba-
lho e acaba voltando, mesmo incapaz, correndo grande risco
de se acidentar no ambiente laboral. 🤯

Aí, é comum a empresa convocar este trabalhador e logo o de-


mitir, visto que não tem interesse em manter um empregado
doente ou incapacitado.
Para evitar que isso ocorra, a recomendação é que o empregado
procure desde logo um advogado, para ter seus direitos
resguardados.

Então, assim como expliquei antes, o advogado pode protocolar


recurso administrativo junto ao INSS ou ajuizar ação pre-
videnciária com tutela de urgência. 📄

Além disso, é recomendado notificar o empregador, para


que ele fique ciente da situação e o trabalhador possa ser colo-
cado em suspensão não remunerada do contrato de
trabalho.

🧐 Isso evita a caracterização de abandono de emprego en-


quanto tramitar a ação previdenciária de restabelecimento ou
concessão de benefício por incapacidade.

Se mesmo assim o empregador não aceitar e exigir o retorno do


trabalhador para o serviço, envie uma contranotificação.

No documento, insista no pedido de concessão da suspensão


não remunerada de trabalho, bem como avise o empregador de
que o assédio moral e a eventual rescisão injustificada se-
rão reconhecidos e cobrados pela via judicial.

Contudo, ainda é possível que o empregador comunique que


pretende demitir o funcionário. 😣

Caso isto ocorra, é possível ajuizar ação de obrigação de não


fazer na Justiça do Trabalho, requerendo que o empregador
seja impedido de demitir o empregado enquanto estiver em
curso a ação previdenciária.
Lembrando que, existindo provas de demissão discriminatória,
é possível até mesmo ajuizar reclamação trabalhista, assim
como pedir indenização por danos morais. ⚖️

Enfim, existem vários aspectos a serem considerados. Por isso,


minha recomendação é que analise cada caso, para decidir
quais são as medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis!

6) Ordem hierárquica dos atestados


médicos
👉🏻 Como adiantei, o art. 6º, § 2º, da Lei n. 605/1949, prevê
a existência de uma hierarquia entre os atestados, de acordo
com a origem do documento:

1º) Atestado assinado por médico do INSS;

2º) Atestado assinado por médico do trabalho;

3º) Atestado assinado por médico do SUS;

4º) Atestado assinado por médico particular do segurado (mé-


dico assistente).

No mesmo sentido, a Súmula n. 15 do TST diz que essa or-


dem preferencial dos atestados médicos deve ser respeitada
para fins de justificação da ausência do empregado motivada
por doença. 🤓

Portanto, antes de iniciar qualquer procedimento na via admi-


nistrativa ou judicial, tenha em mente esta hierarquia, sabendo
que o atestado do perito do INSS é hierarquicamente
superior aos outros.
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artigo publicado. 😊

7) Limbo previdenciário: jurisprudência


Como expliquei lá no início, a solução para os casos de limbo
previdenciário não está prevista em qualquer norma.

⚖️ Desse modo, vale a pena entender qual o posicionamento da


jurisprudência sobre o assunto. A seguir, vou comentar e tra-
zer alguns julgados do TST e da TNU sobre o tema!

7.1) Posicionamento do TST


O posicionamento do Tribunal Superior do Trabalho (TST)
tem sido justamente no sentido de que o parecer do INSS se
sobrepõe aos demais.

❌ Assim, o empregador não poderia negar o retorno do


trabalhador, devendo ao menos o colocar em alguma função
compatível com eventuais limitações.

Para facilitar a compreensão, selecionei alguns acórdãos do TST


sobre situações de limbo previdenciário:

“[...] 2. DIFERENÇAS SALARIAIS DIANTE DA RECUSA IN-


JUSTIFICADA DA EMPREGADORA EM ACEITAR O TRA-
BALHO OBREIRO APÓS A ALTA PREVIDENCIÁRIA.
LIMBO PREVIDENCIÁRIO. REINTEGRAÇÃO. PAGA-
MENTO DOS SALÁRIOS DEVIDOS, INCLUSIVE AS FÉRIAS.

[...] A decisão recorrida se harmoniza com a ordem jurídica


atual, que aloca o indivíduo em posição especial no cenário so-
cial, despontando nítido o caráter precursor do direito à
dignidade da pessoa humana (1º, III, da CF) sobre todo o
sistema constitucional. Ademais, a Convenção nº 161 da OIT
impõe, como princípio de uma política nacional, "a adaptação
do trabalho às capacidades dos trabalhadores, levando
em conta seu estado de sanidade física e mental".

Dessa forma, cabia ao empregador, ante a cessação do be-


nefício previdenciário, reintegrar ou readaptar o
empregado.

Isso porque, segundo o ordenamento jurídico pátrio, o empre-


gador também é responsável pela manutenção e respeito aos di-
reitos fundamentais do empregado, devendo zelar pela afirma-
ção de sua dignidade e integração no contexto social - e a reade-
quação de suas funções no processo produtivo da empresa faz
parte desse mister. [...]

Logo, permanecendo o vínculo empregatício, é do Re-


clamado a responsabilidade pelo pagamento dos salá-
rios após a alta médica conferida pelo INSS até a deter-
minação de reintegração - tal como decidido. Insta des-
tacar que, ante a determinação de reintegração do Au-
tor, inaplicável à hipótese a Súmula 378/TST. [...]” (g.n.)

(TST, 3ª Turma, Ag n. 8193920135050511, Relator: Mauricio


Godinho Delgado, Julgamento: 11/05/2022, Publicação:
20/05/2022)

“AGRAVO. AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE


REVISTA. ACÓRDÃO PUBLICADO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº
13.015/2014. RETORNO AO TRABALHO APÓS ALTA PREVI-
DENCIÁRIA. RECUSA INJUSTIFICADA DO EMPREGADOR.
READAPTAÇÃO. SALÁRIO DO PERÍODO É DECORRIDO
ENTRE A ALTA MÉDICA E ORETORNO AO TRABA-
LHO. RESPONSABILIDADE. LIMBO JURÍDICO
PREVIDENCIÁRIO.
A jurisprudência desta Corte vem se consolidando no sentido de
que, cessado o benefício previdenciário, há conduta ilícita do
empregador em não permitir o retorno do empregado
ao trabalho. Precedentes. Desse modo, correta a decisão que
deferiu ao autor o pagamento dos salários vencidos e demais
verbas a contar da data da alta previdenciária. Incide, portanto,
a Súmula nº 333 desta Corte como óbice ao prosseguimento da
revista. Agravo não provido.” (g.n.)

(TST, 5ª Turma, Ag-AIRR n. 1563820155020371, Relator:


Breno Medeiros, Julgamento: 12/06/2019, Publicação:
14/06/2019)

“AGRAVO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO


DE REVISTA DO BANCO. ACÓRDÃO REGIONAL PUBLICADO
NA VIGÊNCIA DA LEI 13.015/2014 E ANTERIORMENTE À
LEI 13.105/2015. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. ADI-
ANTAMENTO DE BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. DES-
CONTO DE VALORES NA CONTA CORRENTE DO EMPRE-
GADO. INSCRIÇÃO NO CADASTRO DE INADIMPLENTES.
LIMBO PREVIDENCIÁRIO. QUANTUM INDENIZATÓRIO.
[…] Por outro lado, a conduta da ré em não readmitir o em-
pregado, mesmo após a alta pelo INSS, por não considerá-
lo apto para o trabalho, é ilícita, sujeitando-o ao desamparo
trabalhista e previdenciário e fere a dignidade da pes-
soa humana (art. 1º, III, da Constituição Federal), configu-
rando abuso de direito e ensejando o pagamento de indeniza-
ção pelo ato ilícito perpetrado, nos termos dos arts. 186 e
187 do Código Civil. Note-se que a empresa sequer viabi-
lizou o retorno do autor a uma atividade condizente
com a sua nova realidade física, de acordo com o que dis-
põe o artigo 89 da Lei 8.213/91, por meio da readaptação do tra-
balhador. [...].” (g.n.)
(TST, 3ª Turma, Ag-airr n. 472-48.2013.5.05.0012, Rel. Min.
Alexandre de Souza Agra Belmonte, Julgamento: 13/06/2018,
Publicação: 15/06/2018)

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. SA-


LÁRIOS DO PERÍODO DECORRIDO ENTRE A ALTA MÉDICA
E O RETORNO DO RECLAMANTE AO TRABALHO. LIMBO
PREVIDENCIÁRIO. Atenta contra os princípios da dig-
nidade e do direito fundamental ao trabalho, a conduta
do empregador que mantém o empregado em eterna in-
definição em relação à sua situação jurídica contratual,
sem recebimento de benefício previdenciário, por re-
cusa do INSS e impedido de retornar ao trabalho. Não é
possível admitir que o empregado deixe de receber os salários
quando se encontra em momento de fragilidade em sua saúde,
sendo o papel da empresa zelar para que possa ser rea-
daptado no local de trabalho ou mantido em benefício
previdenciário. O descaso do empregador não impede que o
empregado receba os valores de salários devidos desde a
alta previdenciária, já que decorre de sua inércia em recepci-
onar o trabalhador, o fato de ele ter reiterados pedidos de auxí-
lio previdenciário antes de vir a juízo pretender a reintegração
ao trabalho.

Além disso, com a cessação do benefício previdenciário, nos ter-


mos do artigo 476 da CLT, o contrato de trabalho voltou a gerar
os seus efeitos, cabendo à empresa viabilizar o retorno do
autor a uma atividade condizente com a sua nova reali-
dade física, de acordo com o que dispõe o artigo 89 da Lei
8.213/91, através de sua readaptação. Dentro desse contexto,
correta a decisão regional que determinou o pagamento dos sa-
lários do período em que foi obstado o seu retorno ao trabalho e
sua readaptação. Precedentes. Agravo de instrumento conhe-
cido e desprovido.” (g.n.)
(TST, Airr n. 1444-83.2014.5.02.0006, Rel. Min. Alexandre de
Souza Agra Belmonte, Julgamento: 25/04/2018, Publicação:
27/04/2018)

“RECURSO DE REVISTA. RETORNO DA EMPREGADA APÓS


ALTA PREVIDENCIÁRIA. EMPREGADA CONSIDERADA
INAPTA PELA EMPREGADORA. PAGAMENTO DE SALÁRIOS
DO PERÍODO DE AFASTAMENTO.

[...] Destacou que “o contrato de trabalho é suspenso com a con-


cessão do benefício previdenciário e retoma seus efeitos com a
cessação do benefício, de modo que cessada a suspensão do
contrato de trabalho por alta previdenciária, retomam
sua eficácia as obrigações contratuais” e que “se a in-
terrupção da prestação de serviços se dá por imposição
do empregador que, diferentemente do Órgão Previ-
denciário, não considera o empregado apto ao traba-
lho, como no presente caso, é certo que os pagamentos dos sa-
lários devem ser mantidos, ante o afastamento por ini-
ciativa do empregador e ausente a concessão de benefí-
cio previdenciário, tendo em vista que o trabalhador não
pode ficar sem meios de sobrevivência por divergência de enten-
dimentos entre o empregador e o Órgão Previdenciário em situ-
ação obscura que a doutrina e a jurisprudência atuais denomi-
nam de ‘ limbo previdenciário trabalhista’.

2. Com a cessação do benefício previdenciário, o con-


trato de trabalho voltou a gerar os seus efeitos, con-
forme art. 476, parte final, da CLT. Contudo, a reclamada não
cuidou de viabilizar o retorno da empregada em atividade seme-
lhante à que desempenhava ou, na linha do art. 89 da Lei
8.213/91, sua readaptação em função compatível com eventual
limitação laboral.
3. Portanto, correta a decisão recorrida ao determinar o paga-
mento dos salários do período em que obstado o re-
torno da empregada, bem assim o pagamento de inde-
nização pelos prejuízos morais decorrentes do ato ilícito
praticado. [...]” (g.n.)

(TST, 1ª Turma, Rr n. 1002136-66.2013.5.02.0502, Rel. Min.


Hugo Carlos Scheuermann, Julgamento: 10/05/2017, Publica-
ção: 12/05/2017)

7.2) Tema 300 TNU: Manutenção da Quali‐


dade de Segurado Durante o Limbo
Previdenciário
Em junho de 2022, a TNU iniciou o julgamento do Tema n.
300 ( PEDILEF n. 0513030-88.2020.4.05.8400/RN), que
conta com o IBDP como amicus curiae.

Apesar do julgamento ainda não ter sido finalizado, achei


que seria interessante comentar com vocês alguns pontos do
voto do Juiz Federal Gustavo Melo Barbosa, relator do caso! 🤗

7.2.1) Qual questão submetida a


julgamento?
A questão discutida tratava sobre a manutenção da quali-
dade de segurado do RGPS no período de limbo previden-
ciário, em que o INSS considera o segurado apto ao retorno
ao trabalho, mas o empregador não, impedindo a retomada
do vínculo empregatício.

A Turma de origem adotou como solução a manutenção da


qualidade de segurado durante o limbo previdenciário, di-
ante do entendimento do TST de que o empregador é obri-
gado ao pagamento da remuneração do empregado.
Já a decisão paradigma entendeu que, após a cessação do bene-
fício previdenciário incapacidade, e mesmo diante da recusa do
empregador em acatar a conclusão da perícia do INSS, começa
a contagem do período de graça, conforme art. 15, II, da
Lei n. 8.213/1991.

7.2.2) Qual foi o posicionamento do


relator?
O relator se posicionou no sentido de que o TST não admite
que o empregador, após a alta médica do INSS, se recuse a
receber o empregado de volta, mesmo havendo atestado de
saúde ocupacional (ASO) que conclua pela sua inaptidão.

Então, após a alta médica previdenciária, o contrato de tra-


balho deveria voltar a produzir todos os seus efeitos legais,
inclusive com o pagamento da remuneração. 🙏🏻

Ainda que o empregador não concorde com a alta previdenciá-


ria, ele não teria o direito de recusar o retorno, devendo colocar
o empregado à disposição, nos termos do art. 4º da CLT, ou
em função adaptada.

Assim, durante o período de limbo previdenciário, não seria


possível aplicar o art. 15, II, da Lei n. 8.213/1991, pois o
segurado não deixou (ou não deveria ter deixado) de exercer ati-
vidade remunerada abrangida pelo INSS e nem está suspenso
ou licenciado de suas funções.

⚠️ Mas, o relator destacou que não se enquadra nesta hipó-


tese o segurado que não retorna ao trabalho por decisão
própria, ainda que fundada na sua compreensão de que conti-
nua incapaz para o trabalho e que o INSS cometeu equívoco ao
lhe dar alta médica.
Nesse caso, será caracterizado abandono de emprego, con-
forme a Súmula n. 32 do TST.

7.2.3) Qual foi a tese sugerida pelo relator?


👨🏻‍⚖️ Diante de todas essas considerações, o relator acatou a su-
gestão do IBDP e indicou a fixação da seguinte tese:

“Quando o empregador não autorizar o retorno do se-


gurado, por considerá-lo incapacitado, mesmo após a ces-
sação de benefício por incapacidade pelo INSS, a sua
qualidade de segurado se mantém até o encerramento
do vínculo de trabalho, que ocorrerá com a rescisão con-
tratual, quando dará início a contagem do período de
graça do art. 15, II, da Lei n.o 8.213/1991.” (g.n.)

É importante dizer que o próprio relator esclareceu que na de-


manda não está sendo discutido qualquer outro efeito do
limbo previdenciário.

Ou seja, a TNU não tratou, por exemplo, se o período em que o


segurado ficou no limbo previdenciário poderia ou não ser con-
siderado tempo de contribuição e carência.

Desse modo, não foi infringido o art. 201, § 14, da Constituição


Federal, que veda a contagem de tempo de contribuição fictício
para efeito de concessão dos benefícios previdenciários e de
contagem recíproca.

🔴 Mas, atenção: como houve pedido de vista da Juíza Fede-


ral Luciane Merlin Clève Kravetz, o julgamento ainda não
foi finalizado!
Portanto, não houve publicação de acórdão e muito menos trân-
sito em julgado, motivo pelo qual ainda precisamos aguardar
para termos certeza de que a tese será essa mesma que citei.

8) 3 Dúvidas comuns sobre limbo jurídico


previdenciário trabalhista
Para finalizar, selecionei 3 dúvidas que nossos leitores mais
costumam nos perguntar sobre limbo previdenciário.

Caso tenha mais qualquer dúvida ou sugestão de tema para


os próximos artigos, já sabe né? Compartilhe comigo nos co-
mentários! 😉

8.1) Limbo previdenciário caracteriza aban‐


dono de emprego?
O limbo previdenciário só caracteriza abandono de em-
prego se o trabalhador não retornar ao serviço no prazo de
30 dias após a cessação do benefício ou não justificar o mo-
tivo da impossibilidade de retorno, nos termos da Súmula n.
32 do TST.

Então, se o segurado não retornar ao trabalho por decisão pró-


pria, ainda que fundada na sua compreensão de que está inca-
paz para o trabalho e que o INSS cometeu equívoco ao lhe dar
alta médica, é possível a configuração de abandono de emprego.

Nesse caso, o TST entende que é justificada a rescisão do con-


trato por justa causa. 😥
8.2) Quem paga o salário durante o limbo
previdenciário?
Atualmente, a jurisprudência majoritária é no sentido de
que, em casos de limbo previdenciário, quem paga o salário
é o empregador. 💰

Isso porque, ainda que o empregador não concorde com a alta


do INSS, ele não tem o direito de recusar o retorno, devendo co-
locar o empregado à disposição, nos termos do art. 4º da CLT,
ou em função adaptada.

Além disso, como expliquei no tópico 6, a Súmula n. 15 do


TST diz que a ordem preferencial dos atestados médicos
(prevista no art. 6º, § 2º, da Lei n. 605/1949) deve ser respei-
tada para fins de justificação da ausência do empregado moti-
vada por doença.

Portanto, o atestado do perito do INSS é hierarquicamente


superior aos demais.

8.3) Limbo previdenciário é responsabili‐


dade do empregador?
O pagamento da remuneração e demais direitos durante o
limbo previdenciário é de responsabilidade do empregador,
de acordo com a jurisprudência da TNU e do TST. ⚖️

Desse modo, após a alta médica previdenciária, o contrato de


trabalho deve voltar a produzir todos os seus efeitos legais,
inclusive com o pagamento da remuneração.

Além disso, o empregador que não permite o retorno do empre-


gado ao trabalho, comete ato ilícito e até mesmo pode ser res-
ponsabilizado por danos morais (nos termos dos arts. 186 e
187 do Código Civil).
9) Conclusão
O limbo previdenciário acontece quando o beneficiário de auxí-
lio por incapacidade temporária ou aposentadoria por incapaci-
dade permanente recebe alta médica do perito do INSS para
retornar ao trabalho, mas não do médico particular ou da
empresa.

Apesar de ser uma questão extremamente delicada e que com-


promete a subsistência de muitos trabalhadores brasileiros,
apenas a doutrina e a jurisprudência discutem o tema por
enquanto, não havendo previsão normativa a respeito. 😕

Por isso, é importante que o advogado aprenda como agir


nesses casos, visto que o segurado dificilmente sabe o que pode
fazer e, com isso, acaba ficando sem o benefício do INSS e sem o
salário do empregador.

E já que estamos no final do artigo, que tal darmos uma revi-


sada? 😃

👉🏻 Para facilitar, fiz uma listinha com tudo o que você


aprendeu:

O que é o limbo previdenciário;

Quais foram as consequências do "pente-fino" no limbo


jurídico;

Como orientar o cliente que se encontra nessa situação;

O que diz a Súmula 32 do TST;

Qual a ordem hierárquica dos atestados médicos;

O que está sendo discutido no Tema n. 300 da TNU so-


bre manutenção da qualidade de segurado durante o
limbo previdenciário;
Quando o limbo previdenciário caracteriza abandono de
emprego;

Quem paga o salário durante o limbo previdenciário;

Porque o limbo previdenciário é responsabilidade do em-


pregador.

E não esqueça de baixar o Modelo de Petição Inicial para


Restabelecimento de Auxílio-Doença.

👉 Clique aqui e faça o download agora mesmo! 😉

Fontes
Veja as fontes utilizadas na elaboração deste artigo na publica-
ção original no blog: Limbo Previdenciário: Guia Completo para
Advogados Previdenciaristas

Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/artigos/limbo-juridico-previdenciario-trabalhista-


como-orientar-o-cliente/1633224043

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