A hierarquização do governo em níveis busca conferir uma
maior autonomia às esferas, o que por sua vez visa a melhorar o funcionamento dos mecanismos de administração do país. Entretanto, é fundamental entender que a busca por autonomia deve respeitar a hierarquia existente entre as instâncias federal, estadual e municipal. Cada um desses níveis possui um conjunto de diretrizes (leis e princípios) que são a base para seu funcionamento. São elas a Constituição Federal, as Constituições Estaduais e, para a esfera de cada cidade, as Leis Orgânicas. Neste breve ensaio, apresentarei as perspectivas de alguns autores acerca do conceito de Constituição.
Em sua Teoría de la Constituición, Carl Schmitt atenta para a existência de
quatro conceitos básicos de constituição: absoluto, relativo, positivo e ideal. No conceito absoluto, a constituição “pode significar a concreta maneira de ser resultante de qualquer unidade política existente”. A constituição é o Estado, não pode separar- se dele, é uma forma de governo. Ainda em seu conceito absoluto, a constituição pode ser entendida como uma norma de normas. Em seu conceito relativo, Schmitt se refere a constituição não como uma unidade, mas como uma “lei constitucional”. Por conceito positivo, entende-se que a constituição surge mediante a um ato de poder constituinte. Analisando o conceito ideal de constituição, compreendemos que é a “harmonia dos princípios consagrados na norma com os ideais imperantes em um determinado momento histórico”. ( SCHMITT, Carl. Teoría de la Constituición. Ed. Contraponto, Rio de Janeiro,2014)
Para Kelsen, a constituição possui dois sentidos: lógico-jurídico e o outro,
jurídico-positivo. Em suas palavras: “esta estrutura hierárquica desemboca em uma norma fundamental na qual se baseia a unidade da ordem jurídica em seu automovimento. Essa norma constitui a constituição em sentido lógico-jurídico, quando cria um órgão gerador do Direito. Já a constituição em sentido jurídico-positivo, surge como grau imediatamente inferior no momento em que o dito legislador estabelece normas que regulam a legislação mesma”. (KELSEN, Hans. Teoría General del Estado. Ed. Nacional, México, 1950, p29)
Carlos S. Fayt acredita que o conceito de constituição envolve dois sentidos:
formal e material. No que diz respeito à sua forma, C. Fayt afirma que a constituição é uma norma de organização, geralmente escrita, contendo uma parte dogmática, onde se consigam direitos individuais e sociais; solenemente formada por um órgão investido de poder constituinte. Em sentido material, em sua essência, Fayt conceitua: “a ordem concreta dentro da qual as forças sociais, como uma forma de vida ou sistema de relações através da qual se realiza a efetividade do fazer humano. Predomina o sociológico e o político, e daí a razão pela qual se tem constituição real ou vigente”. (S. FAYT, Carlos. Derecho Político. Abeledo Perrot, Buenos Aires, 4 Ed.,s/d; Teoría de la Política. Abeledo Perrot, Buenos Aires, 1966.)
Por fim, para Pinto Fereira, a constituição é como um edifício de quatro
andares: econômico, sociológico, jurídico e filosófico. No sentido econômico, o conceito de constituição provém das relações econômicas na formação constitucional dos povos. No sociológico, significa “a própria organização estatal, as instituições políticas e jurídicas; ainda não escritas. No sentido jurídico (formal), em suma, a constituição é o conjunto de leis escritas fundamentais formuladas pelo poder constituinte. E, no sentido filosófico (ideal) a constituição é como uma corrente ascensional à perfeição integral da ordem social, e de conteúdo progressista. (FERREIRA, Pinto. Princípios Gerais do Direito Constitucional Moderno. Ed. Revista dos Tribunais, São Paulo, 1971, 1º vol., p.69 es.)
Debater acerca do significado de Constituição é dever da Teoria da
Constituição, ou da Filosofia do Direito Constitucional. Para expressar a importância de entender o conceito de Constituição, fico com as palavras de Konrad Hesse: “entender el Derecho Constitucional vigente implica la compreensión previa de su objeto: la Constituición[...]” (HESSE Konrad. Escritos de Derecho Constitucional. Centro de Estudios Constitucionales, Madrid, 1983,p.3.)