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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA - UDESC

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E DA EDUCAÇÃO - FAED


CURSO: HISTÓRIA
DISCIPLINA: PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO
PROFESSORA: DANIELLE ANTUNES
ESTUDANTE: JULIA DE MELLO FRANZEN
PERÍODO LETIVO: 2023.2

Minha educação foi em uma instituição particular de orientação católica, que, em muitos
aspectos, se revelou repressiva para seus alunos e alunas. Não sei como era para os professores e
funcionários em um geral, porém para os alunos, o ambiente carregava uma atmosfera autoritária,
onde a hierarquia era nitidamente delineada, a utilização de uniformes era rigorosamente imposta.
No entanto, o controle sobre a aparência dos estudantes não se limitava ao vestuário, qualquer
desvio do padrão era rotulado como uma "distração para os demais" ou interpretado como uma
tentativa de "chamar a atenção". Aspectos como cabelos coloridos, acessórios, unhas pintadas e
maquiagem eram estritamente repreendidos. As alunas enfrentavam proibições injustas, como a
restrição ao uso de shorts e leggings mesmo em dias de calor, enquanto os alunos do sexo masculino
desfrutavam de liberdade nesse aspecto. Além disso, os estudantes LGBTQ+ eram frequentemente
alvos de chamadas à coordenação, onde eram aconselhados a evitar demonstrações de afeto em
público. A instituição não hesitava em aplicar suspensões para desencorajar qualquer tentativa de
desafio a essas normas impostas. Essa abordagem repressora gerava um profundo sentimento de
impotência e alienação entre os alunos, que eram tratados como moldes de argila destinados a se
conformar uniformemente, em vez de serem estimulados a desenvolver-se individualmente por
meio do conhecimento.
As aulas eram predominantemente caracterizadas pela memorização de conteúdos
transmitidos em monólogos à frente do quadro-negro, com escassa oportunidade para a
participação dos alunos ou a exploração de métodos de ensino alternativos. No entanto, à medida
que avancei para o ensino médio, comecei a vislumbrar uma transformação gradual na abordagem
educacional da instituição. Embora as imposições estéticas e morais sobre os estudantes tenham
persistido e até se agravado, a metodologia de ensino começou a adotar uma postura mais
participativa, apesar da contínua ênfase no preparo para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Isso foi, em grande parte, influenciado por alguns professores que incorporaram, de alguma forma,
os princípios pedagógicos de Paulo Freire em suas práticas. Esses educadores nos encorajaram a
questionar, a participar ativamente das aulas e a compartilhar nossas experiências e perspectivas
individuais. Gradualmente, percebi que a educação poderia ser concebida como uma via de mão
dupla, na qual os alunos não eram meros receptores passivos, mas sim agentes ativos de sua própria
aprendizagem. Foi nesse contexto que minha paixão pela História floresceu, moldada
profundamente pela influência de meu professor de História do ensino médio. A História se tornou,
para mim, uma fascinante ferramenta para explorar minha curiosidade acerca do mundo, questionar
o status quo e mergulhar nas complexidades das relações humanas ao longo do tempo.

Na faculdade de História, encontrei uma atmosfera mais propícia a abordagens pedagógicas


alinhadas com minha visão da educação. As aulas se tornaram espaços de participação ativa,
debates e discussões eram encorajados, e os alunos eram incentivados a pensar de maneira crítica e
explorar suas próprias perspectivas. Isso me permitiu enxergar a História como uma disciplina viva,
constantemente evolutiva, em contraste com a visão estática que simplesmente acumula fatos do
passado. À medida que fui introduzido às ideias de Paulo Freire através de sua obra "Pedagogia do
Oprimido", percebi que esses conceitos ecoavam fortemente com minha concepção da educação.
Freire defende a premissa de que a educação deve ser uma ferramenta de libertação, capacitando
os alunos a se tornarem sujeitos críticos de sua própria aprendizagem e de suas vidas. Esse processo
envolve a superação da tradicional relação opressora entre educador e educando, onde o primeiro
detém todo o conhecimento e o segundo é reduzido a um mero receptor passivo. Em vez disso,
Freire propõe uma pedagogia dialógica, na qual o conhecimento é construído coletivamente, por
meio do diálogo e da reflexão, conferindo poder e agência aos alunos em seu próprio processo de
aprendizagem.

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