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Caso 1 – Entrevista e Comunicação terapêutica

Maria é uma moradora do bairro desde que nasceu. Seus pais ainda moram aqui
e foi neste lugar que ela constituiu sua família e em que está criando seus filhos.
O bairro é como a maioria dos bairros da cidade, tem uma escola pública próxima
a sua casa, a qual frequentada pela maioria das crianças e adolescentes do
bairro; uma Unidade da Estratégia de Saúde da Família (USF); um Centro de
Atenção Psicossocial (CAPS) de referência, poucas opções de lazer, com
problemas de esgoto, falta d’água, enfim, como boa parte da cidade. Maria
começou a frequentar recentemente o grupo hiperdia da USF. No grupo ela
habitualmente fala pouco, e no último encontro, ela estava ansiosa e quando foi
verificada sua PA estava com 160/110 mmHg. No final do grupo ela havia
solicitado a Enfermeira Jane para conversar com ela em particular. A Enfermeira
Jane pede que ela aguarde para uma entrevista após o grupom pois percebe
que Maria precisa de ajuda. Durante a conversa a Enfermeira pode conhecer
melhor a história de Maria. Maria tem 35 anos, é separada do marido a 4 anos,
tem dois filhos, Mário de 16 anos e Pedro de 12 anos. Há 3 semanas Maria
perdeu seu filho Mário assassinado a tiros em função de dívidas a um traficante
do bairro. No enterro de Mário o caixão estava lacrado, pois seu rosto estava
deformado devido aos tiros que levou. Maria refere estar com dificuldade para
alimentar-se e para dormir (pega no sono no início da noite, acorda de
madrugada e fica desperta até de manhã), tem tido dificuldade com as tarefas
domésticas e de cuidar de seu filho Pedro. Ela diz que tem colocado o lugar a
mesa para Mário e conservado seu quarto arrumado, porque pensa que a
qualquer momento ele vai voltar para casa, pois “parece que isto não é real”. Diz
que ele poderia voltar, pois tantas outras vezes esteve ausente por dias e
retornou. Refere que se sente culpada pois devia ter lutado mais pelo seu filho,
quando ele se envolveu com drogas. Maria ainda relata uma preocupação
crescente com o Coronavírus, ela diz “ainda tem mais esse vírus para acabar de
matar a gente! Só falta ele levar meu outro filho pois com tudo isso que aconteceu
ainda não levou o fiho para tomar a segunda dose da vacina”. A Enfermeira Jane
lembra das informações trazidas pela Agente Comunitária de Saúde (ACS) da
microárea sobre Maria sempre reforçando a busca de ajuda dela por recursos
junto a USF, ao CAPS, a promotoria pública e que mesmo assim o envolvimento
de Mário com o crack levou a situações como a venda de objetos da casa para
comprar drogas, a sua desistência dos estudos e tantos outros conflitos
familiares. Mesmo assim, Mário morava com a mãe e ela por sua vez não desistia
de buscar ajuda. Na entrevista Maria diz que se encontra confusa, sem rumo e
com muito medo do futuro e diz que ainda tem medo da pandemia que cada dia
aparece uma doença nova. Na sua aparência a Enfermeira percebe claramente
a dificuldade de Maria para cuidar de si mesma, seus cabelos estão
desalinhados, sua higiene negligenciada, ela está com pouca roupa embora hoje
seja um dia relativamente frio, além de bastante emagrecida. Ela chora, agarrada
a uma foto de Mário que tem nas mãos. Na entrevista a Enfermeira Jane procura
estabelecer com Maria uma relação de confiança, possibilitar a expressão de
seus sentimentos, reconhecer suas potencialidades e limites e a compreensão
da realidade a partir da perspectiva de Maria. A Enfermeira habilmente procura
coletar o máximo de informações possíveis que lhe permita fazer um contrato
com Maria, a fim de estabelecer um plano terapêutico para ela, a partir de metas
realistas.

Ementa: Simular situações que retomem os conhecimentos sobre a escuta


terapêutica, comunicação e técnica de entrevista, aprendendo a utilizar os
conhecimentos científicos que fundamentam a coleta da história, o
relacionamento empático e as demais condições para a entrevista terapêutica.

Referência: 1. Souza, R. C.; Pereira, M. A.; Kantorski, L. P. Escuta terapêutica:


instrumento essencial para o cuidado em enfermagem. Revista de Enfermagem
da UERJ, 2003; v.11: 92-97.

2. Dalgalarrondo, P. Entrevista. A entrevista com o paciente: anamnese


psicopatológica. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Porto
Alegre: ARTMED, 2000 (p.50-60).

3. STEFANELLI, M. C. Comunicação com paciente – teoria e ensino. 2ed. São


Paulo: Ed. Robe, 2008. (Capítulo 17 e 19- Comunicação terapêutica,
Relacionamento Terapêutico e Recursos Terapêuticos).

4. VIDEBECK; S. L. Enfermagem em Saúde Mental e Psiquiatria. 5ed. Porto


Alegre: Artmed, 2012. (p.116-120).

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