Faculdade de Ciências Jurídicas de Diamantina – UEMG
Discentes: Jordana Kely de Oliveira e Nathália Aparecida de Moura Castro
Limitação de jornada
A limitação de jornada é uma questão fundamental no contexto do mundo do
trabalho, uma vez que se relaciona diretamente com a qualidade de vida dos trabalhadores, a saúde física e mental, bem como com a produtividade e eficiência no ambiente laboral.
Na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), o assunto é abordado na Seção II,
artigos 58 a 65, essas disposições estabelecem os parâmetros para a extensão da jornada laboral, permitindo a adoção de horários flexíveis e a diminuição da carga horária, desde que obedecidos os limites legais e as condições acordadas entre empregador e empregado, por meio de acordo individual ou coletivo. A CLT também estipula as situações em que a jornada de trabalho pode ser aumentada, com autorização do Ministério do Trabalho e Emprego, e os critérios para o pagamento de horas extras e adicional noturno aos trabalhadores que ultrapassam os limites legais de jornada. Além disso, a CLT prevê a salvaguarda dos trabalhadores contra abusos e condições laborais prejudiciais à saúde e segurança, estabelecendo normas de segurança e higiene no trabalho e assegurando o repouso semanal remunerado e as férias anuais. O direito à limitação de jornada é reconhecido internacionalmente como um direito fundamental do trabalhador. No contexto brasileiro, tal direito está amparado pela Constituição Federal de 1988, em seu artigo 7º, XIII, que estabelece a jornada de trabalho de no máximo 8 horas diárias e 44 horas semanais. Essa limitação tem como objetivo principal garantir o descanso e o lazer, promovendo a saúde e o bem-estar dos trabalhadores.
Como um dos marcos de tal temática cita-se a promulgação da reforma trabalhista
em 2017, representada pela lei 13.467/2017. Seu principal objetivo foi legalizar a prática da compensação de jornada de trabalho no mercado laboral. Algumas das principais mudanças trazidas por essa reforma trabalhista no Brasil foram a negociação coletiva fortalecendo a negociação coletiva, permitindo que acordos e convenções coletivas tenham prevalência sobre a legislação em diversos aspectos. Isso significa que sindicatos e empresas podem negociar condições de trabalho específicas, desde que respeitem os direitos mínimos garantidos pela Constituição. Na Jornada de trabalho a reforma introduziu a possibilidade de adoção de jornada de trabalho intermitente, em que o empregado é convocado a trabalhar apenas quando necessário, recebendo remuneração proporcional às horas efetivamente trabalhadas. Além disso, a jornada de trabalho 12x36 (12 horas de trabalho por 36 horas de descanso) foi legalizada para todos os setores. A reforma regulamentou a terceirização, permitindo que empresas contratem trabalhadores terceirizados para realizar qualquer atividade, inclusive as atividades-fim da empresa. A contribuição sindical obrigatória foi extinta, tornando-se facultativa. Antes da reforma, todos os trabalhadores eram obrigados a pagar um dia de trabalho ao sindicato de sua categoria por ano.
É fundamental ressaltar que a redução da carga horária de trabalho é uma
demanda histórica dos trabalhadores, alinhada com a busca por uma sociedade mais justa e igualitária. Além disso, a redução da jornada não deve ser encarada como uma ameaça aos lucros das empresas, mas sim como uma oportunidade de melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores e, por consequência, impulsionar o desenvolvimento econômico, social e as relações de trabalho. Nesse contexto, é fundamental que o Estado assuma um papel central e regulador no mercado de trabalho, evitando a subordinação dos trabalhadores aos interesses econômicos e políticos das elites dominantes.
Essa perspectiva parte do princípio de que o direito do trabalho surge como
resultado de uma luta social entre trabalhadores e empregadores, visando a melhoria das condições de trabalho e de vida. Assim, o direito do trabalho não se resume a um conjunto de leis e normas, mas representa também uma expressão política dos interesses dos trabalhadores. É importante ressaltar que esse processo de construção do direito do trabalho não é linear nem homogêneo, sendo caracterizado por avanços e retrocessos, conquistas e perdas.
No entanto, é crucial enfatizar que as restrições ao direito do trabalho devem ser
proporcionais e não podem violar outros direitos fundamentais. Restrições excessivas ao direito de associação e sindicalização, por exemplo, podem ser consideradas violações desse direito fundamental. É necessário encontrar um equilíbrio entre a proteção dos interesses legítimos da sociedade e a garantia dos direitos fundamentais dos indivíduos no contexto do trabalho. Em resumo, é importante destacar que essa concepção crítica e radical do direito do trabalho não nega a importância das instituições jurídicas e dos mecanismos de proteção social para os trabalhadores. Pelo contrário, reconhece sua relevância, mas os situa em um contexto mais amplo de luta e resistência contra a exploração e opressão dos trabalhadores.
Entretanto, a lógica apresenta limitações e desafios em relação à questão do
pagamento. Por exemplo, a remuneração pode ser utilizada como uma forma de encobrir outras violações dos direitos trabalhistas, como a falta de cumprimento das horas regulares de trabalho. Em muitos casos, os trabalhadores são obrigados a realizar horas extras sem receber uma compensação adequada, o que claramente viola seus direitos. A crítica ao aumento do tempo dedicado ao trabalho e à consequente redução do tempo livre para a família e outras atividades está frequentemente associada à questão do equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. A exigência de longas jornadas de trabalho pode ter impactos negativos na qualidade de vida, nos relacionamentos familiares e no bem-estar geral. Alguns pontos de crítica incluem o desgaste emocional, o estresse, o desequilíbrio entre trabalho e vida pessoal, os impactos nas relações familiares, a diminuição da qualidade de vida, entre outros. É importante ressaltar que é fundamental para a saúde e o bem-estar das pessoas alcançar um equilíbrio adequado entre trabalho e vida pessoal. Políticas que promovam horários flexíveis, limitem as horas extras e cultivem uma cultura de respeito ao tempo livre podem contribuir para mitigar esses problemas. Além disso, as críticas ao aumento do tempo de trabalho também abordam questões estruturais, como a distribuição desigual de recursos e oportunidades, bem como a supervalorização do trabalho em detrimento de outras áreas da vida. Essas críticas frequentemente ressaltam a necessidade de repensar modelos econômicos e sociais que priorizem o bem-estar humano e a qualidade de vida. Apesar da existência desse direito fundamental, é importante ressaltar que a sua efetividade depende da fiscalização e do cumprimento por parte das empresas e dos órgãos competentes. Infelizmente, ainda existem situações em que a jornada de trabalho é desrespeitada, seja por exigência abusiva dos empregadores, seja por necessidades financeiras dos trabalhadores. REFERÊNCIA:
ALMEIDA, Leandro Vieira de; CARRASCOZA, João Luiz. O direito fundamental à
limitação da jornada de trabalho no Brasil. Cadernos de Direito, v. 17, n. 32, p. 65-88, 2017.
BRASIL. Consolidação das Leis do trabalho. Decreto-lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943.