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Teoria Geral do Direito Civil

1.º ano C, 19 de Julho de 2021


120 minutos

Responda fundamentadamente a todas as questões, analisando todos os argumentos e


não apenas um ou alguns, ainda que a procedência desse argumento resolvesse o caso.

António precisa de realizar um exame que lhe permite o acesso a um diploma que passou
a ser necessário para o exercício da sua profissão. Porque não está preparado e faltam 30 dias para
o exame, António contacta o centro de explicações BêaBa, que lhe apresenta um formulário para
o curso intensivo conhecido como o melhor do país, com uma taxa média de aprovações de 95%,
a um custo de 5.000€ mais 10% da remuneração auferida por António nos primeiros 10 anos de
exercício da profissão posteriores à passagem no exame (hipótese a), ou 15.000€ a pagar imediata-
mente (hipótese b). O formulário já se encontrava assinado pelos administradores da BêaBa. An-
tónio, apesar de achar aqueles preços um abuso, aflito, coloca uma cruzinha na opção a) e assina
o formulário. Na mesma ocasião, António paga os 5.000€ com dinheiro que os pais lhe empresta-
ram e no dia seguinte começa as aulas.
António realizou o exame, que até lhe correu bem, mas reprovou. Desolado, dirige-se à
BêaBa e pretende a devolução do seu dinheiro. A BêaBa recusa-se a devolver o dinheiro, chamando
a atenção de António para a cláusula 37.ª do contrato assinado que estabelece que “A BêaBa presta
um serviço e não assegura o sucesso dos alunos nos exames”. António sustenta que ninguém o
avisou da existência dessa cláusula; que 5.000€ de propinas é um valor excessivo (no mercado,
cursos idênticos custam, em média, 1.800€), e que a obrigação de pagar 10% das remunerações
depois da passagem no exame demonstra que a BêaBa assegurava essa passagem.

1. Diga se e, em caso afirmativo, quando, se celebrou um contrato entre António e BêaBa. (3


valores)

2. Admitindo que foi celebrado um contrato, pronuncie-se sobre os direitos de António e da


BêaBa. (3 valores)
Teoria Geral do Direito Civil
1.º ano C, 19 de Julho de 2021
120 minutos
II

Em Maio, Carlos e Dimas celebraram, por escritura pública, um contrato de compra e


venda da casa de família de Carlos, em Bragança, por 200.000€. Consta da escritura que o negócio
ficaria sem efeito se Carlos fosse promovido, no seu trabalho, até ao final do ano de 2021.
Em Julho, Carlos recebe uma proposta irrecusável de uma empresa concorrente e aceita.
Telefona a Dimas e imediatamente combinam que o negócio da compra e venda da casa ficaria
sem efeito caso, no novo trabalho, Carlos fosse transferido para Bragança até Julho de 2022. Adi-
cionalmente, Carlos quer que Dimas lhe ceda, até Julho de 2022, um dos quartos, com saída para
a rua, por 280€ mensais. Dimas recusa-se. Carlos contrata Ésquilo para ir explicar a Dimas que
este tem todo o interesse em concordar com Carlos. Ésquilo, sem qualquer preâmbulo ou expli-
cação, dá uma sova em Dimas e diz-lhe que voltará na semana seguinte se constatar que o seu
amigo Carlos continua infeliz. Dimas, aterrado, apressa-se a escrever a Carlos permitindo que este
fique com o quarto pretendido pelos 280€. Carlos responde, por carta, aceitando.
Em 22 de Janeiro de 2022, Carlos é transferido para Bragança e pretende reaver a casa. Dimas
recusa-se, dizendo que não é isso que consta da escritura. Além disso, pede a Carlos o pagamento
da renda até Julho de 2022. Carlos não quer pagar porque, diz, é agora o proprietário. Além disso,
nunca quis o arrendamento até Julho, mas sim até Junho. Carlos tem um defeito na fala que torna
os “nh” iguais aos “lh”. Costuma dizer mês 6 e mês 7, para evitar o problema, mas esqueceu-se.

3. A quem pertence a casa no dia 23 de Janeiro? (4 valores)

4. Admitindo que o proprietário da casa em 23 de Janeiro é Dimas, pode Carlos recusar-se a pagar
a renda da casa? Se não puder, diga até quando é que Carlos tem de a pagar. (3 valores)

5. Suponha agora que Dimas quer pôr termo ao contrato de arrendamento. Pode? (3 valores)

III

6. Diga em que acepção é usada a expressão “boa fé” no art. 227.º do Código Civil, e comente:
“Na hipótese do grupo II, Ésquilo pode vir a ser responsabilizado por Dimas com fundamento
em culpa in contrahendo”. (4 valores)

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